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Programa de Aperfeiçoamento em Gestão de Políticas de Proteção e Desenvolvimento Social Curso: Governança e Arranjos Institucionais de Políticas Públicas Professores: Alexandre Gomide e Roberto Pires Período: 3, 4, 10 e 11 de junho de 2014 Aula 4 - Estudo de casos e roteiro de análise Alexandre Gomide e Roberto Pires Brasília, 10 e 11 de junho de 2014

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Programa de Aperfeiçoamento em Gestão de Políticas de Proteção e

Desenvolvimento Social

Curso: Governança e Arranjos Institucionais de

Políticas Públicas Professores: Alexandre Gomide e Roberto Pires

Período: 3, 4, 10 e 11 de junho de 2014

Aula 4 - Estudo de casos e roteiro de análise

Alexandre Gomide e Roberto Pires

Brasília, 10 e 11 de junho de 2014

GOVERNANÇA E ARRANJOS

DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Programa de Aperfeiçoamento para Carreiras - 2014

Estudo de casos e roteiro de análise

[email protected]

[email protected]

Plano do curso

1. Governança e capacidades estatais

2. O ambiente político-institucional brasileiro e a

abordagem dos arranjos institucionais

3. Implementação e coordenação de políticas públicas

4. Estudo de casos e roteiro de análise

5. Exercício avaliativo

Recapitulando

• Arranjos institucionais: ‘aparatos’ que dão sustentação

aos processos decisórios, de execução e monitoramento

de políticas públicas

• Envolvem diversos atores diversos (e seus interesses), regras e

processos que definem a forma particular de interação entre eles

na produção de uma política específica

• Microcosmo: permitem perceber os entrelaçamentos dos traços

mais gerais do ambiente político-institucional com os problemas,

atores e processos específicos de cada política

• As interações entre as burocracias governamentais e as instituições

políticas

• Consequências: a depender da sua configuração podem

“viabilizar” ou “obstacularizar” ações específicas de governo.

A Revitalização da Indústria

Naval no Brasil Democrático Roberto Pires

Alexandre Gomide

Lucas Amaral

Objetivo do estudo

• Analisar o arranjo institucional de implementação da

política de revitalização da indústria naval, avaliando suas

capacidades políticas e técnico-administrativas

• Estrutura

• Contextualização: trajetória histórica do setor no Brasil

• Descrição do arranjo

• Comparação do arranjo atual com o do período burocrático-

autoritário

• Comparação do arranjo formal com sua operação na prática

• Conclusões: arranjo-capacidades-resultados

Contextualização

• Crescimento das atividades petrolíferas off-shore

• políticas explícitas de desenvolvimento da indústria nacional, a

partir das encomendas da Transpetro/Petrobrás

• Objetivos

• Geração de empregos

• Desenvolvimento da indústria de navipeças

• Desenvolvimento tecnológico

• Autonomia no transporte marítimo e redução da remessa de

divisas por fretes

• Programas

• Prominp (2003), Promef (2004), PAC (2007), PDP (2008), PBM

(2001)

Histórico

• Auge na década de 1970: a indústria brasileira chegou a

ocupar a 2ª posição no ranking mundial de encomendas

para construção de navios

• Reserva de mercado e subsídios do Estado

• Ineficiência e defasagem tecnológica

• Corrupção: CPI da Sunamam

• Declínio nos anos de 1980-90:

• Desregulamentação do transporte marítimo e abertura do mercado

à concorrência internacional

• Desmonte da indústria nacional e desnacionalização das

empresas de navegação

• Retomada nos anos de 2000

Evolução do no. de empregados e do vol. produção

3,3

2,5

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1ª Fase 2ª 3ª 4ª 5ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª Fase

Mil

Emp

rega

do

s

Milh

ões

TPB

TPB Contratadas TPB Entregues Empregados

Fonte: Barat et. al. (2013)

O arranjo de implementação

• Atores centrais

• Transpetro: encomendas (80% de todo o investimento)

• Estaleiros e armadores: pleito aos recursos do FMM

• DMM/MT: análise dos projetos e fiscalização das obras

• CDFMM (tripartite): aprovação e priorização dos projetos

• Agentes financeiros (BNDES, BB, CEF, Basa e BNB): absorção do

risco

• Atores ‘periféricos’

• Senado: autorização da ampliação do limite de endividamento da

Transpetro e para concessão de crédito pelo BNDES

• TCU e CGU: controle da aplicação de recursos

• PAC: monitoramento

• Ibama: licenciamento ambiental para construção dos estaleiros

Capacidades relativas do arranjo

Etapas Arranjo burocrático-

autoritário Arranjo atual

Planejamento Sunamam Transpetro: poder de compra

(indução)

Decisão Sunamam

(Empresas Sunamam)

CDFMM

Empresas DMM CDFMM

Financiamento FMM + Sunamam FMM + agentes financeiros

Execução Estaleiros e armadores

privados Estaleiros e armadores privados

Transpetro

Monitoramento Sunamam DMM, agentes financeiros,

Transpetro, PAC

Arranjo atual vs. passado

• Maiores capacidades técnico-administrativas • Coordenação intragovernamental (PAC e CDFMM)

• Corpo técnico (analistas de infraestrutura)

• Monitoramento (vários atores)

• Risco assumido pelos agentes financeiros

• Maiores capacidades políticas • Participação do Legislativo (Senado)

• Participação dos trabalhadores e empresários (decisões de financiamento)

• Órgãos de controle (TCU e CGU)

• Populações afetadas (audiências públicas)

A Sunamam atuava de forma insulada e com déficits de capacidade de gestão, monitoramento e avaliação dos projetos financiados (corrupção, desperdício e captura)

De jure vs. De facto

• Legislativo: apesar de ter aprovado o pedido do Executivo exatamente como proposto, debateu e pediu de informações/esclarecimentos ao governo

• Controle (interno e externo): auditorias resultaram no aumento do quadro de técnicos e adoção de novas técnicas de acompanhamento pelo DMM (BSC)

• CDFMM: discussão e aprovação dos projetos

• Licenciamento: observação dos direitos ambientais, sociais e étnico-culturais das populações afetadas

Conclusões preliminares

• As instituições democráticas não têm criado obstáculos à

implementação da política

• Aprimoramentos e revisões para melhoria de processos

• Criação de oportunidades para a participação de mais atores (além

de governo e empresários)

• Maior controle e transparência (prevenção da captura e rent-

seeking)

• Oxigenação da burocracia estatal (além de burocratas e

empresários)

• Política do tipo “soma-positiva”, com baixo potencial de

conflito.

Conflitos e articulação de

interesses no Projeto São

Francisco Maria Rita Loureiro

Marco Antonio Teixeira

Alberto Ferreira

Objetivo do estudo

• Analisar o arranjo institucional do projeto do Rio São

Francisco:

• O arranjo configura processos decisórios mais democráticos,

incluindo mais pluralidade de atores?

• O arranjo amplia as capacidades de implementação do Estado?

• Componente da carteira do PAC: Urgência e rapidez para

a entrega dos resultados

• Monitoramento intensivo (Casa Civil-MPOG)

• Não sujeito a contingenciamentos

• Uso do RDC etc.

Contextualização

• Lançamento no primeiro governo Lula

• Presente na agenda nos governos Figueiredo, Itamar e FHC

• Integra o PAC em 2007

• Projeto conflituoso

• Disputas federativas

• Oposição da sociedade civil (ambientalistas, direitos humanos etc.)

• Processo de licenciamento ambiental com muitos embates

• Ações judiciais (liminares contra a obra) impetradas pelo Ministério

Público e Organizações da Sociedade Civil

• Contestações por parte dos órgãos de controle

Histórico

Papel da sociedade civil

• O CBHSF se converteu na arena de articulação de

interesses contrários à transposição

• Aprovação de medidas ambientais para a revitalização,

principalmente em MG e BA

Papel dos controles

• Apontamento de irregularidades nos editais de licitação para

construção dos canais

• TCU e CGU passam a acompanhar o MIN na publicação dos novos

editais

• TCU: projetos básicos e licitações dos lotes

• CGU: procedimentos licitatórios e acompanhamento das obras de

revitalização, sobretudo. Busca de soluções conjuntas

Papel do Congresso • Bancadas de MG, BA, SE, AL em oposição as de PE, CE, RN, PB

• Alocação de recursos da União para investimentos para o combate à seca vs.

transposição

• Negociação com a Casa Civil: incorporação de obras demandadas pelos

opositores, atribuição de cargos (ações compensatórias)

Coordenação

• Papel fundamental da Casa Civil na articulação e

negociação (divergências entre MIN e MMA)

• MIN: coordenação do Sistema de Gestão (SGIB) e do

Conselho Gestor do Projeto (MIN, MPOG, MF, MME, MMA, CC,

ANA e estados do CE, RN, PB e PE, e o CBHSF)

• PAC: monitoramento (salas de situação)

Conclusões preliminares

• O atraso na execução não esteve associado à ineficiência

governamental, mas ao funcionamento das instituições democráticas

• Apesar do atraso, o projeto se beneficiou dos processos de

aprendizagem democrática

• Levou em conta os interesses das populações afetadas e os impactos

ambientais (revitalização) na implementação

• Papel importante das instâncias de participação social

• O Comitê não agiu como uma instância de fachada e homologatória

• Papel significativo e positivo dos órgãos de controle

• Recomendações e busca de soluções conjuntas

Quadro comparativo

• Capacidades técnico-administrativas

Programa Organizações Coordenação Monitoramento

PISF Ministérios (MIN,

MP, CC etc.),

agências

reguladoras (ANA),

Ibama.

Casa Civil e

Conselho

Gestor do

Projeto

PAC e Sistema

de Gestão

(SGIB)

RIN DMM/MT, empresas

e agentes

financeiros estatais,

atores privados

Transpetro

CDFMM

DMM/MT,

Transpetro,

Agentes

financeiros, PAC

Quadro comparativo

• Capacidades políticas

Programa Agentes políticos Participação

social

Controles

PISF Intensas

negociações no

Congresso

CBHSF

Audiências

públicas

(licenciamento)

Papel

significativo do

TCU, CGU e

MP

RIN Autorização do

Senado

Federal

CDFMM

Audiências

públicas

Papel

importante do

TCU

Quadro comparativo

• Resultados observados

Programa Execução Inovação

PISF Baixa (atraso na entrega

da obra, de 2012 para

2015)

Incorporação do vetor

revitalização

RIN Alcance das metas de

investimento e empregos

Aprimoramento dos

processos de avaliação e

monitoramento.

COMO ANALISAR

ARRANJOS Um roteiro passo a passo

Passo 1

• Identificar os objetivos da política,

programa ou projeto

• Perguntas

• Qual (tipo, área)?

• Quando (tempo)?

• Onde (territorialidade)?

• Os objetivos envolvem tensões, incoerências,

divergências?

Passo 2

• Identificar os atores envolvidos diretamente ou indiretamente

• Burocráticos

• Órgãos federais responsáveis pela gestão e implementação da política

• Órgãos dos entes federados

• Órgãos de controle

• Órgãos do Judiciário

• Órgãos do Legislativo

• Da sociedade civil

• Organizações da sociedade civil (associações, movimentos sociais, etc.)

• Setor privado (sindicatos de trabalhadores e empresários)

• Usuários e beneficiários da política

• Político-partidários

• Lideranças políticas (Prefeitos, governadores, parlamentares, etc...)

• Partidos políticos

Passo 3

• Identificar processos, mecanismos e espaços que organizam as relações entre atores • Coordenação

• Instrumentos de pactuação e mediação de conflitos

• Mecanismos de coordenação e articulação inter e intragovernamental

• Mecanismos de coordenação e articulação Estado e mercado

• Interfaces Estado-sociedade

• Espaços e instâncias de participação

• Outros tipos

• Gestão interna

• Mecanismos e sistema de acompanhamento, monitoramento e avaliação

• Regulamentações e atos normativos

• Controles horizontais (interno e externo)

• Relações entre poderes Executivo, Legislativo e Judiciário

Passo 4.1

• Avaliação das capacidades estatais

• Capacidades Técnico-Administrativas:

• O arranjo conta com burocracias competentes e em quantidade

adequada?

• O arranjo envolve os atores-chave para a execução? (tanto no nível

horizontal quanto vertical/federativo)

• O arranjo com recursos técnicos necessários?

• O arranjos possui processos e mecanismos de articulação de esforços

entre esses atores na execução das tarefas?

• O arranjo estabelece processos de monitoramento e acompanhamento

da execução?

Passo 4.2

• Avaliação das capacidades estatais

• Capacidades Políticas:

• O arranjo inclui os diversos atores interessados ou impactados pela

execução da política/programa?

• Processos participativos?

• Interação com atores políticos (Congresso e parlamentares, partidos

políticos, governadores, prefeitos, etc...)?

• Interação com os atores privados?

• O arranjo possui espaços e processos para a expressão e o

processamento/mediação de conflitos?

• O arranjo lida com processos de controle externo e exibe

transparência?

• O arranjo produz legitimidade (aceitabilidade da política)?

• O arranjo é capaz de propiciar a introdução de novidades ou mudanças

durante a implementação da política?

Passo 5

• Avaliação dos efeitos do arranjo sobre os resultados

observados

• Em que medida as características do arranjo ajudam a explicar o

“sucesso” e “fracasso” na realização dos objetivos das políticas?

• Quais aprendizados e lições para reforma dos processos de

gestão e implementação podem ser extraídas?

Encadeamento lógico

Objetivos das políticas e

explicitação dos conflitos

Análise dos arranjos em termos de capacidades

técnico-administrativas e

políticas

Implicações dos arranjos para os

resultados produzidos ou

observados