curso em parceria entre proged/isp/ufba, undime … proged/plano municipal de... · nacional, de...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
CENTRO DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES PARA O SETOR PÚBLICO – ISP
PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA – PROGED
CURSO EM PARCERIA ENTRE
PROGED/ISP/UFBA, UNDIME e IAT.
Curso
UFBA/ISP/PROGED em parceria com a
UNDIME, apoiando a educação baiana.
Local: IAT e auditórios da SEC/BA.
Salvador, 02 a 04 de abril de 2008.
2
1 – Plano Municipal de Educação (PME)
A seguir, 32 slides utilizadas pela mediadora:
Plano Municipal
de Educação
Realização: Apoio:Ministério
da Educação
Para inPara iníício de conversa...cio de conversa...
C.F./88 e a LDB/96, o município passa a ser:
? ente federado;
? sistema de ensino;
? responsável prioritariamente pela Educação Infantil e Ensino Fundamental.
3
Sistema Municipal de Sistema Municipal de EnsinoEnsino
SME CME
UnidadesEscolares
Art. 87 da Lei 9.394/96 (LDB)
Art. 214 da Constituição de 1988
Art. 2º da Lei 10.172/2001
Art. 2º da Lei 10.330/2006
PME
Marcos LegaisMarcos Legais
4
O que O que éé o PME? o PME?
É um documento que:
? Considera todas as necessidades todas as necessidades educacionais dos muneducacionais dos muníícipescipes, mesmo aquelas que não são atribuições específicas do poder municipal.
O que O que éé o PME? o PME?
? Define políticas e ações de Estado, e não políticas e ações de Governo. Transcende os limites de uma gestão.
? Projeta as políticas públicas de educação para os próximos 10 anos.
5
Enfim...Enfim...
...é um Plano de Educação do
MunicMunicíípiopio. Não é somente um Plano
do Sistema ou Rede Municipal de
Educação.
? Instaurar uma cultura de planejamento: importância e necessidade do planejamento.
? Adequar as metas gerais da educação nacional às especificidades locais.
Qual a importância do Qual a importância do PME?PME?
6
? Definir com clareza as políticas públicas, os programas e projetos.
? Identificar e analisar necessidades e problemas, definindo alternativas de solução.
Qual a importância do Qual a importância do PME?PME?
Qual a importância do Qual a importância do PME?PME?
? Fundamentar o processo de tomada de decisões.
? Desenvolver competência técnica da equipe gestora em planejamento.
? Melhorar a qualidade da educação pública.
7
Alice no PaAlice no Paíís das s das Maravilhas e o PMEMaravilhas e o PME
Fala de Alice: - Por favor, como devo fazer para sair daqui?
Fala do gato: - Depende muito para onde você quer ir...
Fala de Alice: - Para onde não tem importância.
Fala do gato: - Então, não tem importância o caminho que você tomar.
Alice no PaAlice no Paíís das s das Maravilhas e o PMEMaravilhas e o PME
Qual a relação entre a história e a elaboração do Plano Municipal de
Educação?
8
Quais os princípios
norteadoresnorteadores do PME?
Princípio da Gestão
Democrática da Educação
Princípio da Autonomia e Colaboração
Processo de ElaboraProcesso de Elaboraçção do ão do PMEPME
? Autoria do próprio município – equipe técnica e representações da sociedade.
? Processos participativos de elaboração.
? Busca de identidade, autenticidade, vinculação ao contexto.
9
Processo de ElaboraProcesso de Elaboraçção do ão do PMEPME
? Debate político para a produção de consensos.
? Oportunidade de rever a legislação municipal no que concerne à educação.
? Oportunidade de estudo e preparo técnico das equipes gestoras.
Quem participa desse Quem participa desse processo?processo?
? Técnicos da secretaria municipal de educação ou órgão equivalente;
? Representantes da comunidade escolar;
? Representantes da sociedade civil organizada.
10
Qual o papel da SME na Qual o papel da SME na elaboraelaboraçção do PME?ão do PME?
?Nomear uma Comissão Coordenadora (decreto ou portaria), para organizar o processo de elaboração do PME;
?Garantir a participação dos diversos setores da sociedade;
Qual o papel da SME na Qual o papel da SME na elaboraelaboraçção do PME?ão do PME?
?Divulgar o processo de elaboração do PME;
?Sistematizar as discussões desenvolvidas em todo o processo;
11
Qual o papel da SME na Qual o papel da SME na elaboraelaboraçção do PME?ão do PME?
?Organizar o documento preliminar e o final;
?Encaminhar texto final para Câmara de Vereadores;
?Implantar, acompanhar e avaliar o PME.
Qual o papel do CME?Qual o papel do CME?
?Participar do processo de elaboração (incentivando, mobilizando, acompanhando);
?Apreciar o documento final do PME e emitir parecer a respeito;
12
Qual o papel do CME?Qual o papel do CME?
?Gerenciar o acompanhamento das realizações das metas;
?Gerenciar as avaliações periódicas dos resultados do PME e garantir o replanejamento das ações.
Qual metodologia utilizar?Qual metodologia utilizar?
? Participativa, autônoma, democrática.
13
O que fazer antes de iniciar O que fazer antes de iniciar a elaboraa elaboraçção do PME?ão do PME?
?Conhecer as referências institucionais e políticas do município;
?Conhecer o conjunto das atuais políticas educacionais – ESTADUAL e FEDERAL;
?Dominar conhecimento sobre gestão de pessoas, de recursos financeiros, de regime de colaboração...
Como se dComo se dáá a coordenaa coordenaçção ão da elaborada elaboraçção do PME?ão do PME?
Comissão de Coordenação
Comissão Representativa da Sociedade
14
O que O que éé necessnecessáário fazer rio fazer para elaborar o PME?para elaborar o PME?
1. Caracterização Geral do Município.
2. Diagnóstico Educacional.
3. Definição de diretrizes, objetivos e metas.
4. Estabelecimento de estratégias de acompanhamento e avaliação do PME.
Quais as estratQuais as estratéégias?gias?
?Análise de documentos;
?Consulta a publicações oficiais;
?Pesquisa em sites oficiais e outros;
?Entrevistas com membros da comunidade;
?Realização de Conferência.
15
1. Incluir aspectos culturais na educação;
2. Incluir um capítulo específico sobre educação no campo;
3. Conhecer e analisar o PNE;
Algumas recomendaAlgumas recomendaçções ões do MECdo MEC
4. Ampliar e diversificar o convite àparticipação;
5. Atribuir papel estratégico ao CME;
6. Dar transparência às informações sobre os recursos financeiros de que a educação dispõe;
Algumas recomendaAlgumas recomendaçções ões do MECdo MEC
16
7. Substituir a denominação e a concepção de “educação especial” por “educação inclusiva”;
8. Substituir a concepção e o conteúdo do capítulo do PNE sobre Magistério da Educação Básica por Profissionais da Educação Básica;
Algumas recomendaAlgumas recomendaçções ões do MECdo MEC
9. Realizar o mini-censo educacional;
10. Fazer um pacto pela educação;
11. Acompanhar e avaliar o Plano em um processo participativo;
Algumas recomendaAlgumas recomendaçções ões do MECdo MEC
17
12. Avaliar a realização das metas e os fatores que concorreram para o êxito ou o insucesso do Plano, inclusive, o processo de planejamento.
Algumas recomendaAlgumas recomendaçções ões do MECdo MEC
"... à medida que avançamos para a
terra desconhecida do amanhã, é
melhor ter um mapa geral e
incompleto, sujeito a revisões e
correções, do que não ter mapa
algum". (Alvim Toffler - As Mudanças do Poder).
Mensagem final...Mensagem final...
18
Texto para leitura complementar:
PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SUBSIDIOS PARA ELABORAÇÃO
Texto extraído do livro “O apoio à educação municipal no estado da Bahia.../organizadoras, Ana
Maria de Carvalho Luz, Patrícia Rosa da Silva -,
Salvador: ISP/PRADEM?UFBA, 2007. p.105 a 121.
IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO
Não existem dúvidas sobre a importância do planejamento como prática norteadora das
políticas públicas. Os planos, programas e projetos se constituem em verdadeiros aliados
das administrações públicas no cumprimento de suas atribuições e competências com a
maior eficiência possível e otimização dos recursos disponíveis. O exercício de
elaboração desses instrumentos de planejamento subsidia as equipes dos governos
responsáveis pela implementação das políticas públicas com informações a respeito das
necessidades da população, os setores de atuação, os principais problemas relativos ao
atendimento dessas necessidades, as alternativas de solução para tais problemas, o que
permite direcionar as ações com segurança e presteza, de modo a alcançar os objetivos e
as metas fixados.
No caso do setor educacional, o planejamento se configura como uma ferramenta
extremamente útil para que os poderes constituídos cumpram seu dever de assegurar aos
cidadãos brasileiros o direito constitucional a uma educação escolar de qualidade, nos
diferentes níveis e modalidades de ensino, evitando as improvisações e os desperdícios
de recursos, tão escassos para tão nobre missão, principalmente nos dias atuais.
Apesar do consenso em torno dessa importância, o planejamento educacional no Brasil,
como uma prática da administração pública, só vai surgir, concretamente, na segunda
metade dos anos sessenta, no advento das estruturas do planejamento governamental,
sob a égide dos governos militares, quando foram elaborados os Planos Nacionais de
Desenvolvimento (PND) e os seus desdobramentos, os Planos Setoriais, dentre esses os
de educação (PSECD).
Mesmo assim, a necessidade de elaborar planos de educação aparece em alguns
momentos da nossa história, desde o Manifesto dos Pioneiros da Educação, na década
de 30, perpassando alguns documentos legais, como as Constituições Federais de 1934,
1946, 1967 e, por fim, a Constituição Brasileira promulgada em 1988. Nessa trajetória,
muitos planos, programas e projetos da área de educação foram elaborados no Brasil,
19
principalmente nas últimas décadas, tanto no âmbito federal como no dos estados da
Federação, estendendo-se essa prática, também, à esfera de alguns municípios,
principalmente aqueles que constituem sede de governos estaduais.
O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
No que diz respeito às indicações legais recentes sobre a elaboração de planos de
educação, cumpre ressaltar que a Assembléia Nacional Constituinte, no calor do
movimento de redemocratização do país que se instala com a Nova República, a partir de
1985, acata a proposta de explicitar, na Constituição Brasileira, de forma clara e mais
ampla que as Cartas Magnas anteriores, um dispositivo sobre o Plano Nacional de
Educação. O art. 214 da Constituição de 1988 determina a elaboração do Plano Nacional
de Educação, de duração plurianual, “visando à articulação e ao desenvolvimento do
ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público” (BRASIL,
1988), como forma de atingir os principais objetivos do setor educacional estabelecidos
naquele texto constitucional.
Em decorrência dessa determinação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei nº 9394/96), aprovada em dezembro de 1996, vai determinar, no seu Art. 87, que a
União, no prazo de um ano a partir da publicação daquela Lei, deveria encaminhar ao
Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação – PNE, com diretrizes e metas para
os dez anos seguintes (BRASIL, 1996). Depois de três anos de tramitação no Congresso
Nacional, de dois projetos apresentados, de amplos debates, apresentação de emendas e
revisões, o PNE foi aprovado nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal e enviado ao Presidente da República para sanção, o que aconteceu em 9 de
janeiro de 2001, através da Lei nº 10.172/2001.
O Art. 2º dessa Lei, por sua vez, determina que os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios devem elaborar, em consonância com o Plano Nacional de Educação (PNE),
seus planos decenais correspondentes – Plano Estadual de Educação (PEE) e Plano
Municipal de Educação (PME). Com a finalidade de coordenar e subsidiar o processo de
elaboração desses planos de forma articulada com o disposto no PNE foi criada uma
Comissão Nacional constituída pelo CONSED (Conselho de Secretários de Educação),
UNDIME (União dos Dirigentes Municipais de Educação), MEC (Ministério da Educação e
do Desporto), Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados,
Comissão de Educação do Senado Federal, UNESCO (Organização das Nações Unidas
20
para a Educação, Ciência e Cultura) e ABONG (Associação Brasileira de Organizações
Não-Governamentais). Essa comissão assim se expressa:
O PNE, portanto, consolida um desejo e um esforço histórico de mais de 60
anos. Compete aos atuais dirigentes prosseguir essa trajetória da educação,
consolidando o estágio atual e formulando o próximo. A elaboração dos
planos estaduais e municipais constitui uma nova etapa, na qual cada ente
federado deve expressar os objetivos e metas que lhe correspondem, no
conjunto e em vista de sua realidade, para que o País alcance o patamar
educacional proposto no Plano Nacional de Educação, no horizonte dos dez
anos de sua vigência (BRASIL, 2002).
Dessa forma, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios se vêem diante do desafio,
fixado em lei, de elaborarem os seus planos de educação a partir do Plano Nacional de
Educação. Nesse sentido, após o processo de elaboração dos seus respectivos planos,
esses governos deverão encaminhá-los às suas Casas Legislativas e às suas Câmaras
de Vereadores, respectivamente, onde deverão ser submetidos à apreciação e, se
aprovados, transformados em leis estaduais e municipais.
PME: NOVOS DESAFIOS PARA OS MUNICÍPIOS
Os municípios encontram-se, portanto, diante de uma nova exigência legal de elaborarem
seus planos de educação, com projeções para dez anos. Cria-se, assim, uma nova
oportunidade para que o planejamento passe a integrar o cotidiano do setor educacional
do município, como instrumento definidor das políticas públicas e orientador das ações
educativas, o que possibilita às populações desses municípios usufruírem as vantagens
da prática do planejamento 1.
Para tanto, é importante que os municípios construam os seus planos apoiados em dados
estatísticos e consultas aos diversos segmentos da sociedade, através de processos
coletivos ou participativos, mesmo que optem por buscar orientações técnicas em
algumas fases desse processo. Quanto a esse aspecto, é importante ressaltar que tais
orientações devem constituir-se em serviços de apoio e assessoramento técnico, e não
1 Para maiores aprofundamentos nas discussões sobre as repercussões das atuais políticas em educação no planejamento educacional dos municípios ver o texto “Políticas Públicas e Reformas”, da autoria de Tércio Rios de Jesus e Cátia Verônica N. Dantas, publicado na Revista da FACED, n. 07, ano de 2003, p. 109 – 124.
21
em trabalhos realizados por encomenda, elaborados integralmente sem a participação
das equipes locais responsáveis pela elaboração do PME.
A procura de orientações e apoio técnico deve representar, pois, um esforço que essas
equipes devem empreender no sentido de superar as dificuldades comumente
decorrentes da ausência histórica de uma cultura ainda não instalada de planejamento
nas várias instâncias de poder da sociedade brasileira. Dessa forma, as equipes locais,
constituídas por profissionais de educação e outras pessoas envolvidas nesse campo,
podem desenvolver com competência as atividades de construção e implementação do
plano.
O amadurecimento dessas equipes locais, propiciado pelo próprio processo, concorrerá
também para que os planos elaborados se constituam em instrumentos políticos e
técnicos norteadores das ações educacionais dos municípios e para que sejam
alcançados os resultados esperados. Com isso, os planos não serão apenas instrumentos
formais, de utilização restrita à comprovação documental para a obtenção de vantagens
junto a órgãos de governo, ou para captação de recursos e negociação de projetos junto a
agências financiadoras. Ao contrário, deverão ser utilizados como ferramentas
orientadoras das práticas educativas no município, auxiliando a realização das avaliações
sobre o curso das ações e contribuindo para o estabelecimento de novos parâmetros de
ação. Dessa forma, poderão ensejar a construção de outros instrumentos de
planejamento e a continuidade dos trabalhos em etapas subseqüentes.
Por outro lado, o exercício de elaboração do PME pelo próprio município concorrerá para
que se solidifique também, em outras instâncias do sistema de educação, a prática do
planejamento como orientador das ações educativas, a exemplo da elaboração dos
projetos político-pedagógicos das escolas da rede de ensino, no âmbito das comunidades
escolares. Tal procedimento, inclusive, é recomendado na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.
PREPARAÇÃO PARA OS TRABALHOS DE ELABORAÇÃO DO PME
Como preparação para o processo de elaboração do Plano, o grupo responsável deve
reunir informações e documentos que constituirão a base sobre a qual será edificado o
novo instrumento de planejamento educacional do município.
Inicialmente, será preciso conhecer as referências institucionais e políticas do governo do
município e sua concepção de desenvolvimento. O plano de educação deve estar
articulado com o Plano de Desenvolvimento do Município, ou seu Plano Diretor. Caso não
22
existam esses instrumentos de planejamento municipal, outros documentos políticos que
demonstrem as intenções da gestão municipal na área social e, principalmente, no campo
educacional, devem ser consultados. Os objetivos e as metas do PME precisam estar
sintonizados com as políticas traçadas pelos vários setores da Administração Municipal.
No âmbito institucional, há ainda a necessidade de se conhecer a Lei Orgânica do
Município e suas referências em matéria de educação.
Sobre a articulação que o setor educacional do município deve manter com as outras
instâncias de poder da Federação, vale lembrar que “autonomia” e “regime de
colaboração” são duas expressões constantes nos textos da recente legislação brasileira,
os quais atribuem novos contornos às ações educacionais do país. É de se esperar,
portanto, conforme determina a legislação, que a União, os Estados e os Municípios
organizem seus sistemas de ensino e elaborem as suas políticas de forma integrada e
articulada.
Nesse sentido, deve-se observar que a Constituição Federal de 1988 consagra a
autonomia dos municípios brasileiros – como entes jurídicos da Federação, com recursos
e responsabilidades próprias – para traçar e implementar políticas próprias de educação e
com liberdade para constituir o seu próprio sistema de ensino.
No caput do Art. 211 do Texto Constitucional de 1988 e, posteriormente, no Art. 8º da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, é estabelecido que a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
seus sistemas de ensino. No entanto, apesar de essa legislação estabelecer a
organização do sistema municipal de ensino como regra geral, a mesma LDB, no seu Art.
11º, dispõe que “Os municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual
de ensino ou compor com ele um sistema único de Educação Básica” (BRASIL, 1996).
Cabe, pois, a cada município decidir entre três possibilidades para a organização da
educação municipal: (a) instituir seu próprio sistema de ensino; (b) integrar-se ao sistema
estadual de ensino ou (c) compor, com o estado, um sistema único de Educação Básica.
Cada uma dessas opções vai implicar procedimentos institucionais específicos.
Os municípios, dessa forma, antes de iniciar a elaboração do seu plano de educação,
necessitam posicionar-se quanto a essa questão. Decidir sobre a criação de um sistema
municipal de ensino, se já não o houver, ou associar-se ao sistema estadual. Acrescenta-
se que, para constituir-se em sistema de ensino, o município precisa dispor de uma rede
própria de escolas, de um órgão de administração educacional na estrutura do seu
governo (Secretaria ou Órgão Municipal de Educação) e de Conselho Municipal de
Educação com função normativa (SARI, 2001).
23
Outra ordem de informações que o grupo de elaboração do PME necessita dominar
constitui-se do conjunto das atuais políticas educacionais traçadas em âmbito federal e
estadual, nesse caso, do Estado onde se situa o município. A equipe precisa conhecer
integralmente o Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei 10.172 de janeiro de
2001, onde é feito um diagnóstico da situação educacional do país, segundo cada nível e
modalidade de ensino, e de aspectos importantes da administração da educação. Nele
são traçadas as diretrizes e estabelecidos os objetivos e as metas nacionais para os dez
anos de vigência do Plano.
Os planos municipais deverão estabelecer suas políticas de forma coerente com essas
diretrizes e metas nacionais, mas observando também as especificidades locais, em
função de uma análise criteriosa dos principais problemas e das carências educacionais
do município.
O Plano Municipal de Educação também deve considerar as políticas educacionais
estabelecidas pelo governo do Estado. Nos casos em que os Planos Estaduais de
Educação encontrarem-se em fase de elaboração, as equipes dos respectivos municípios
necessitam entrar em contato com as equipes estaduais para conhecer suas prioridades,
diretrizes e metas. Esse conhecimento contribuirá para que as políticas municipais sejam
estabelecidas em consonância com a política educacional do Estado. Conhecer essas
políticas também servirá para uma articulação com as autoridades estaduais, no sentido
de estabelecer formas de implementação de ações complementares, através de parcerias
e negociações em termos de distribuição de responsabilidades na execução, de forma a
otimizar os recursos e alcançar os objetivos comuns.
As referências políticas e legais do setor educação, em matéria da administração dos
recursos humanos, precisam ser conhecidas do grupo responsável pela elaboração do
Plano. É necessário verificar as regras que determinam a política de pessoal e,
especificamente, conhecer o Plano de Carreira do Magistério. Caso o município não
disponha desse instrumento, a necessidade da sua instituição deverá constar no PME, no
conjunto das ações de valorização dos profissionais da educação.
Além disso, o grupo deverá obter informações sobre os recursos destinados à educação,
consultando a Lei Orçamentária e os documentos que demonstram as fontes desses
recursos, dentre elas o Fundef, cujas transferências vêm sendo creditadas em conta do
governo do município. Uma conversa com o Secretário de Finanças ou com o Contador
servirá para atualizar a equipe com relação a essas informações. Na elaboração do
diagnóstico do Plano propriamente dito, essas informações deverão ser coletadas e
sistematizadas com mais detalhes, inclusive com a participação das pessoas
24
responsáveis pela gestão dos recursos. Esse conhecimento servirá para auxiliar no
estabelecimento das metas e ações a serem propostas.
Ao lado disso, pode-se discutir a possibilidade de instituir o Fundo Municipal de
Educação, se o município já não dispõe desse instrumento. Esse é um expediente que
favorece a concentração dos recursos vinculados à educação numa única conta bancária,
controlada normalmente pelo Secretário de Educação, o que dará mais autonomia aos
gestores da educação e facilitará a implementação das ações educativas.
O domínio dessas informações fortalecerá o grupo para os estudos imprescindíveis à
elaboração do Plano e poderá desencadear procedimentos de aprimoramento da gestão
da educação no município, que podem ser desenvolvidos em paralelo ou posteriormente
a essa elaboração. Dessa forma, os trabalhos iniciais visarão a instrumentalizar o setor
educação do governo municipal, de modo a construir um Plano o mais próximo possível
das necessidades da população e, com isso, conseguir alcançar seus objetivos com mais
efetividade.
Há outras informações importantes que a equipe de elaboração do PME necessita
dominar, referente às determinações legais ligadas ao conceito e prática do regime de
colaboração entre as várias instâncias de poder e ligadas às competências dos
municípios em matéria de educação. É importante ressaltar que o PME deve ser
considerado um Plano de Educação do Município, não somente um Plano do Sistema de
Ensino Municipal, nem da rede de ensino do município. É um instrumento de
planejamento, que deve considerar todas as necessidades educacionais dos seus
habitantes, mesmo que essa esfera de governo necessite priorizar o atendimento de
determinados segmentos da sua demanda. Nesse sentido, a Constituição Federal de
1988 e a LDB de 1996 já dispõem sobre as competências e atribuições de cada esfera de
poder, segundo níveis e modalidades de ensino. Decorre daí a necessidade de integração
e articulação desses níveis de governo e do município para conceber, de forma global, as
políticas e fazer frente aos problemas. Parte daí, também, a importância de se elaborar o
Plano Municipal de Educação de forma coerente com o Plano Nacional e o Plano
Estadual, conforme preconiza a legislação.
Dessa forma, embora o município não tenha responsabilidade de oferecer, por exemplo, a
Educação Profissional e Superior, o PME precisa definir políticas e estratégias de
envolvimento das ações municipais no atendimento estadual e federal nessas áreas
(MONLEVADE, 2002). Do mesmo modo, mesmo que o município tenha de se concentrar
no atendimento do ensino fundamental e da educação infantil, o PME deve prever em que
25
sentido a atuação do governo estadual poderá auxiliá-lo no cumprimento dessa sua
atribuição.
É evidente que grande parte do PME se refere às ações de educação de
responsabilidade do governo municipal. Mesmo com a convicção de que o PME deva
partir de uma concepção global e integrada quanto às carências educacionais de sua
população, considera-se que, na elaboração do Plano, a responsabilidade de atendimento
do município está delimitada pela própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Essa responsabilidade está fixada da seguinte forma:
Art. 11 – Os municípios incumbir-se-ão de:
I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de
ensino, integrado-as às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;
.....................................................................................
V – oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas e, com prioridade, o ensino
fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem
atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos
acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e
desenvolvimento do ensino. (BRASIL, 1996).
Com base nesse e em outros dispositivos da LDB que reforçam as responsabilidades dos
municípios e dos Estados na oferta da Educação Básica, pode-se depreender que:
a) ao Município cabe atender, com recursos municipais (além de outros recursos
suplementados pelo Estado e pela União), a toda a demanda de educação infantil,
configurada pela procura de matrículas.
b) ao Município e ao Estado, com complementação financeira da União, cabe atender
a toda a demanda de ensino fundamental na idade própria e aos jovens e adultos que não
o freqüentaram na idade apropriada.
A legislação brasileira recente, dessa forma, fez crescer as responsabilidades dos
governos municipais no atendimento à Educação Básica. Por isso, a elaboração de um
plano de educação lhes facilitará, em muito, o cumprimento dessa nova missão. Embora o
PME tenha de prever políticas e fixar objetivos para a educação nos diferentes níveis e
modalidades de ensino para todos os munícipes, vai lidar, de fato, e se responsabilizar,
diretamente, pelo atendimento à demanda do ensino fundamental e da educação infantil,
desenvolvendo ações em curto, médio e longo prazo.
26
PASSOS PARA A ELABORAÇÃO DO PME
A elaboração do PME deve ser de responsabilidade coletiva e coordenada pela Secretaria
de Educação do Município. São muitas as indicações sobre a necessidade e pertinência
da participação da sociedade no estabelecimento de políticas públicas. No caso da área
educacional, pode-se salientar que não só na legislação educacional, como também nos
vários documentos que traçam as políticas educacionais do país, é enfatizada a exigência
de participação da sociedade em geral e da comunidade escolar. A contribuição da
sociedade fará com que sejam bem identificadas as carências do setor educacional,
assim como facilitará as tomadas de decisão no sentido de se alcançar uma educação de
qualidade para todos os cidadãos. Sugere-se, então, que essa participação da
comunidade se dê de diferentes modos e segundo algumas etapas do processo.
Algumas dessas fases se constituem de estudos aprofundados de dados estatísticos
sobre a realidade e de atividades administrativas e burocráticas, que devem ser
desenvolvidas por uma Comissão de Coordenação, permanentemente dedicada a essas
tarefas. Essa Comissão, especificamente constituída para a elaboração do Plano, deve
liderar o processo e deve ser instituída formalmente, mediante um decreto do governo
municipal, onde devem constar os objetivos, os componentes, as atribuições e os prazos
para a realização dos trabalhos, com indicação da coordenação. Salienta-se que o
Secretário(a) de Educação do Município tem um importante papel a desempenhar na
supervisão e acompanhamento sistemático dos trabalhos dessa Comissão. Ressalta -se,
ainda, que a composição dessa equipe deverá resguardar a representatividade do Poder
Executivo (pessoal da educação, do setor de planejamento e de finanças da Prefeitura),
do Poder Legislativo, do Conselho Municipal de Educação, se houver, e dos conselhos
escolares. Dessa forma, a Comissão de Coordenação terá a incumbência de desenvolver
os estudos necessários, sistematizar as informações e os resultados dos debates,
preparar e coordenar as reuniões de discussão, elaborar textos e se encarregar da
redação final do documento.
O desempenho dessa Comissão é que garantirá a coerência interna entre a análise da
realidade social e educacional do município, o estabelecimento das diretrizes, metas e
ações, e a compatibilização do planejado com os recursos financeiros previstos para a
execução do PME 2.
2 Deve-se observar que a elaboração do PME pode ficar a cargo, também, de um Fórum Municipal de Educação, uma instituição que pode ser criada por lei, composta de representantes de organizações da sociedade civil vinculadas à educação. No entanto, o fórum não teria a finalidade única de elaborar o PME, mas também de acompanhar sua implementação e avaliá-la, além de atuar permanentemente como formulador de políticas para a educação no Município. Para maiores informações, consultar MONLEVADE,
27
Por seu turno, os estudos a serem realizados pela Comissão de Coordenação sobre a
realidade social e educacional do município, que demandarão análises de aspectos
qualitativos do funcionamento da rede escolar, deverão ser feitos com a ajuda da
comunidade escolar. Dessa forma, representantes dos diretores de unidades escolares,
dos especialistas que trabalham nas escolas, dos professores, dos alunos da rede de
ensino e de seus pais deverão ser convidados e deverão atuar em determinadas fases da
elaboração do Plano. Essa atuação será imprescindível, sobretudo na avaliação do
funcionamento do sistema de ensino, nos seus aspectos administrativos e pedagógicos,
assim como nos campos da gestão das escolas e das condições de sua infra-estrutura
para o desenvolvimento das atividades do ensino. Na realidade, esses são os atores que
irão viabilizar a execução do Plano, no âmbito das escolas.
O processo de participação na elaboração do PME se amplia também ao incorporar, em
determinadas fases, os diferentes segmentos da sociedade local (instituições de ensino
superior, igrejas, sindicatos, trabalhadores, profissionais liberais, lideranças em geral),
que constituirão a Comissão Representativa da Sociedade. Essa Comissão deverá
acompanhar o processo de elaboração do Plano, concentrando sua atuação na análise
dos resultados dos estudos diagnósticos, na consulta aos principais problemas da
educação do município, no debate sobre as prioridades, nas decisões sobre os objetivos
e metas a serem implementadas, assim como no acompanhamento das ações, ao longo
da sua execução. As discussões sobre a situação educacional e sobre as alternativas de
solução dos problemas encontrados, a serem feitas com a Comissão Representativa da
Sociedade, podem ser desenvolvidas tanto através de sessões temáticas, como de
grupos de trabalho. De uma forma ou de outra, o importante é que os resultados deverão
ser discutidos coletivamente, principalmente, no que se referir ao estabelecimento de
diretrizes e metas.
Definida a forma de participação dos atores a serem envolvidos na elaboração do Plano,
a Comissão de Coordenação iniciará os trabalhos, cujo processo poderá percorrer os
seguintes passos:
? Realização de estudos preliminares sobre a realidade socioeducacional do
município, através da coleta, sistematização e análise de dados que deverão,
inicialmente, servir de suporte às discussões e debates que se darão ao longo da
J. A., Roteiro para elaboração de Plano Municipal de Educação, in: www.undime.org.br. Nos Anais do Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste – EPENN, 2003, Universidade Federal de Sergipe, consultar especificamente a comunicação de Melânia Mendonça Rodrigues e Maria Doninha de Almeida, que relata a experiência de implementação do Fórum Municipal de Educação de João Pessoa – PB, voltado para a elaboração do plano municipal daquele município.
28
construção do PME, mais especificamente quando a Comunidade Local for
convidada a participar do seu processo de construção. Para essa atividade, os
dados a serem trabalhados se situam em duas dimensões diferentes e, por isso,
exigem também procedimentos diferenciados. No primeiro momento, os dados a
serem coletados possuem caráter mais quantitativo, estão numa dimensão
estatística (números, percentuais, projeções estatísticas, etc.). Nesse caso, o
auxílio de uma assessoria técnica ou o envolvimento de profissionais que tenham
experiência de trabalho com dados dessa natureza é fundamental. Um outro
aspecto, a ser levado em consideração, nesse momento, é a forma de
sistematização desses dados. Para o registro de dados, será necessário o uso de
tabelas, gráficos, mapas e quadros, que servirão de base para as análises. Esse
pode ser, talvez, o único momento em que a Comissão de Coordenação trabalhará
sozinha. A outra dimensão do diagnóstico da realidade socioeducacional do
município é mais qualitativa, pois os dados a serem coletados dizem respeito à
organização e funcionamento da rede escolar. Essa é uma dimensão que exige um
nível de participação maior, ou seja, devem ser convidados para colaborar, nesse
momento, os sujeitos que vivenciam diariamente o cotidiano das escolas da rede
municipal. Dessa forma, representantes da comunidade escolar têm um importante
papel a desempenhar, prestando informações a respeito das condições internas de
funcionamento das escolas.
? Sensibilização e mobilização da sociedade, formalizando-se a participação
institucional da sociedade civil através dos representantes da comunidade local,
envolvendo-a no processo de construção do PME. Este é o segundo passo do
processo de construção do Plano, quando se dará a sua publicização e a busca
pelo envolvimento da sociedade civil. Todos os segmentos da comunidade local
devem ser convidados para, através dos seus representantes, participarem desse
processo. Trata-se, nesse momento, da preparação para a realização da fase
seguinte, com os debates para subsidiar a elaboração do diagnóstico definitivo do
Plano. Nessa oportunidade, a Comissão de Coordenação deverá falar sobre as
políticas nacionais e estaduais para a educação e sobre a metodologia empregada
até então na construção do PME. Além disso, deve, junto com a Comunidade
Local, decidir sobre as formas de condução dos trabalhos desse momento em
diante.
29
? O terceiro passo é o desenvolvimento das atividades de análise da realidade
socioeconômica, demográfica e educacional do município e discussão sobre a
situação educacional, com base nos estudos realizados anteriormente, no primeiro
passo. Sugere-se, nesse momento, a realização de debates sobre as deficiências
do atendimento educacional e do funcionamento do sistema de ensino
(diagnóstico), além de discussões sobre os aspectos financeiros e as necessidades
de atendimento às demandas, considerando, também, a distribuição das
atribuições das esferas de poder, de acordo com os níveis e modalidades de
ensino. Essa fase se reveste de complexidade, razão pela qual são indicados
alguns procedimentos que podem contribuir para a realização dessa atividade:
? Apresentação, pela Comissão de Coordenação, de uma síntese do diagnóstico
realizado com os dados estatísticos.
? Após essa apresentação, deve-se reservar um espaço para as colocações dos
participantes, as quais devem ser registradas pela Comissão de Coordenação para
futuros encaminhamentos.
? O debate, considerando os níveis e modalidades de ensino, deve ser aprofundado
em sessões temáticas ou grupos de trabalho, ou ainda, de uma outra forma que
atenda às necessidades do grupo. Após o debate, é interessante que seja redigido
um texto com os principais problemas ligados aos temas trabalhados. Especial
atenção deve ser dada à análise do funcionamento da rede escolar, a qual deve
contar com a participação de representantes dos diretores, coordenadores
pedagógicos, professores, alunos e pais de alunos, que deverão identificar os
principais entraves na área da gestão escolar e do desenvolvimento dos trabalhos
pedagógicos.
? Em um outro momento, deverá ser apresentada a síntese dos resultados das
discussões, chegando-se, ao final, a um panorama geral da situação educacional
no município e dos seus principais problemas.
? Após esse esforço coletivo para analisar o quadro socioeducacional do município,
a Comissão de Coordenação se encarregará de reelaborar o texto inicialmente
apresentado, com as contribuições das discussões e debates, que vai constituir a
30
primeira parte do PME e vai corresponder à análise da realidade socioeducacional
do município.
? O quarto passo corresponde à definição dos objetivos e prioridades do PME, com
base nos grandes eixos de problemas identificados e discutidos junto com a
Comissão Representativa. Esse processo deve ser feito em sintonia com as
políticas nacionais e estaduais, atentando-se para os ditames legais. A proposta de
objetivos e prioridades deve ser discutida entre a Comissão de Coordenação e a
Comissão Representativa, até que se chegue à redação final da versão
consensual.
? O passo seguinte, o quinto, será reservado para a discussão sobre as propostas de
superação dos problemas e definição de diretrizes e metas para o PME. Essa
atividade deverá resultar em subsídios para a proposição de diretrizes e metas
específicas para cada tema trabalhado, que correspondem a cada uma das etapas
e modalidades de ensino, no momento anterior. Esse será um momento de
reflexão, elaboração e decisão sobre as principais alternativas que os rumos da
educação do município deverá seguir. Não significa, porém, que, nessa fase, as
decisões já estejam sendo tomadas. Trata-se, na verdade, da formulação de
possíveis alternativas para a proposição das diretrizes e metas que nortearão o
planejamento especifico de cada uma das etapas e modalidades de ensino e do
funcionamento da rede escolar.
? O sexto passo diz respeito à produção do texto final sobre as políticas
educacionais para o município, ou seja, é a composição do texto base do PME.
Aqui, além da elaboração do texto sobre as diretrizes e metas para cada uma das
etapas e modalidades de ensino, a Comissão de Coordenação deverá retomar os
passos anteriores para a formatação geral do PME. Assim, serão retomados o
Capitulo 1, o Diagnóstico Socioeducacional do Município, e o Capitulo 2, que
corresponde aos objetivos e prioridades do PME. Nesse momento, a Comissão de
Coordenação se encarregará da redação dos capítulos finais do Plano, os quais
devem corresponder às diretrizes e metas para as etapas e modalidades de ensino
e para o funcionamento da rede escolar. No entanto, a participação da Secretaria
Municipal de Educação é indispensável nesse momento, pois, caberá a ela a
operacionalização das metas estabelecidas no PME.
31
? A elaboração dos mecanismos de acompanhamento e avaliação corresponde ao
sétimo passo do processo de construção do PME. Após a elaboração do
cronograma das metas para o período de vigência do Plano, a Comissão de
Coordenação deverá conceber uma sistemática de acompanhamento periódico de
sua execução. Esse é um processo em que a participação da comunidade local é
imprescindível, para que seja mantido o exercício da democracia.
? Finalização da construção do PME e encaminhamento do projeto para a
aprovação. Depois de elaborado o PME, o Poder Executivo do município o enviará
ao Conselho Municipal de Educação, para que esse órgão apresente o seu
parecer. Em seguida, após a análise do parecer do CME, o Plano deve ser enviado
ao prefeito, para apreciação e sua aprovação em forma de projeto de lei, que
deverá ser encaminhado à Câmara de Vereadores. Nessa fase, as Comissões
envolvidas na elaboração do documento desenvolverão um processo efetivo de
participação no acompanhamento da tramitação e análise do Plano, até o final da
sua aprovação. Após esses procedimentos, cabe a divulgação das políticas
aprovadas em uma sessão final, com a participação de todos os envolvidos no
processo de elaboração e através da distribuição do Plano impresso para a
sociedade.
? Torna-se importante ressaltar o papel da Secretaria de Educação na
implementação do PME. É necessário que a Secretaria assuma a sua
responsabilidade nesse processo, pois, o Plano não é auto-executável: ele
demandará processos de coordenação, acompanhamento e avaliação no controle
e operacionalização das metas estabelecidas.
A construção e efetivação do Plano Municipal de Educação, como se vê, não se esgota
no final do processo de sua elaboração, nem nos atos dos Órgãos Oficiais do Governo
que determinam a sua aprovação. Todos os envolvidos na sua elaboração, bem como
toda a sociedade, hão de acompanhar e exigir o cumprimento de seus objeti vos e metas.
Com o Plano elaborado e aprovado, por outro lado, o governo municipal tem um
importante instrumento de planejamento e execução das suas políticas no campo da
educação e deve se valer constantemente desse instrumento em todas as ocasiões em
que tomar decisões nesse campo. Assim, em todos os períodos da elaboração de suas
32
leis orçamentárias ou na elaboração de planos, relatórios ou outros documentos do
Governo, em que a educação esteja enfatizada, o Plano será o documento maior que
traduz as políticas e, por isso, um instrumento de consulta e operacionalização. Suas
metas devem ser respeitadas em cada um dos exercícios de planejamento e
programação do governo, inclusive para fazer valer o cumprimento do dever
constitucional de serem reservados os recursos públicos obrigatoriamente vinculados ao
setor educacional. Nesse sentido, o Plano deverá ser um documento presente e
constantemente consultado no Gabinete do Prefeito, assim como no das Secretarias de
Finanças e de Administração do Governo Municipal, em todos os seus setores, não sendo
necessário enfatizar sua importância em todas as instâncias do sistema escolar,
principalmente nas escolas. Só assim o desejo da população e dos poderes constituídos
de melhorar o quadro educacional no município será verdadeiramente efetivado.
APROVAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO PME
Após a elaboração dos mecanismos de acompanhamento e avaliação da execução do
PME, a Comissão Coordenadora deverá dar inicio ao processo de sua aprovação. Assim,
deverá encaminhar o Plano ao Conselho Municipal de Educação, caso exista no
município, para a devida apreciação e apresentação de parecer. Em seguida, o texto final
do PME será encaminhado pelo prefeito, sob a forma de um Projeto de Lei, para ser
submetido à análise e aprovação da Câmara de Vereadores. Assim, conclui-se a
construção do Plano Municipal de Educação.
Em um primeiro momento, alguns procedimentos a serem adotados poderão contribuir
para que esse processo se dê, por meio de uma ação política conjunta. Uma das coisas
que se deve ter em mente é que a Secretaria de Educação, nesse processo passa a
assumir, de fato, o seu papel como órgão do Poder Executivo. Dessa forma, cabe a ela a
responsabilidade de apresentar ao Conselho Municipal de Educação o texto base do
PME. Mesmo que tenha estado presente durante todo o processo de elaboração do PME,
através dos seus representantes, o Conselho Municipal deverá analisar o documento –
que representa uma proposta do governo e da sociedade civil – e apresentar o seu
parecer.
O parecer do Conselho Municipal de Educação sobre a proposta apresentada deve, caso
seja necessário, ser analisado e discutido pela Comissão de Coordenação e pela
Comissão Representativa. Essas poderão ainda estabelecer um prazo para que sejam
encaminhadas sugestões e contribuições, antes de o PME ser encaminhado ao prefeito,
33
para apreciação e aprovação. Feito isso, a versão final do PME, sob forma de projeto de
lei, será encaminhada ao Poder Legislativo Municipal para a aprovação.
Quanto à tramitação do Projeto de Lei sobre o PME na Câmara Municipal, o esforço de
acompanhamento do processo deverá ser maior, por parte dos envolvidos na sua
elaboração. O ideal seria se os vereadores tivessem sido também envolvidos em todo o
processo de elaboração, de sorte que as análises desenvolvidas na Câmara se
constituíssem em aperfeiçoamento do documento. Não sendo possível esta situação, a
Comissão de Coordenação da elaboração do PME, juntamente com a Comissão
Representativa, deverão pensar em uma sistemática de acompanhamento da tramitação
do Projeto de Lei. Juntas, essas Comissões devem prestar os esclarecimentos possíveis,
agregar informações que solidifiquem as posições assumidas em relação às políticas
adotadas no Plano e subsidiar os debates no plenário da Câmara, por ocasião da
discussão sobre o Projeto de Lei apresentado. Um assessoramento técnico e político
mais intenso deve ser feito ao relator do processo, assim como aos líderes do governo, de
modo a defender os objetivos, as prioridades, as diretrizes e as metas apresentadas no
PME.
Essas Comissões também devem empreender esforços para garantir que o processo de
discussão e análise do Projeto de Lei sobre o PME na Câmara não seja inviabilizado ou
retardado em função de outras discussões. Ou seja, as Comissões devem trabalhar para
que seja garantida a prioridade do PME. Essa atenção é essencial para que os esforços
empregados na elaboração do PME tenham êxito, assim como para que não sejam
proteladas medidas consideradas fundamentais e até urgentes para a educação no
município.
Após a publicação da resolução do CME e da lei do governo municipal que aprovam o
Plano, procede-se à divulgação das políticas nele adotadas para o período determinado.
Em clima semelhante ao constituído para a sensibilização e mobilização da sociedade na
elaboração do Plano, a Comissão de Coordenação deverá promover um evento para que
a população do município possa conhecer o seu Plano de Educação. Nessa ocasião,
serão apresentadas as principais políticas fixadas para a educação para o próximo
decênio, consubstanciando os compromissos do governo municipal em perseguir o
alcance dos objetivos, das prioridades, das diretrizes e metas do Plano. Esse evento, por
conseguinte, significará o selo desse compromisso político e o estabelecimento de canais
de comunicação e diálogo entre governo e cidadãos, dando a oportunidade para que os
atores sociais se coloquem na vigilância em relação aos compromissos assumidos pelo
governo.
34
O Plano, transformado em Lei, será o instrumento legítimo que o cidadão, as instituições
e os grupos sociais poderão acionar para fazer valer o que foi politicamente estabelecido.
É de se esperar que esse nível de participação, que começou com o processo de
elaboração e se consolidou com o acompanhamento da aprovação e a divulgação das
políticas fixadas, deva permanecer ao longo da execução do Plano. A participação da
sociedade não se encerra aqui, pois ela será novamente convocada para realizar as
avaliações periódicas previstas no próprio documento. Só assim se poderá construir
políticas públicas fortes, com a participação do povo na definição dos seus próprios
rumos. Só assim se conseguirá fazer com que a educação dê os saltos significativos que
a população anseia.
O PAPEL DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO NA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
Após a aprovação e a divulgação das políticas educacionais estabelecidas, começa-se
uma nova fase na administração da educação no município. O processo não termina por
aqui, mesmo que a Comissão de Coordenação da elaboração do PME, nomeada por
decreto do Prefeito para esse fim, depois de cumprida a missão, seja desfeita. O Plano
não é auto-executável. Ele demandará uma equipe para coordenar, acompanhar e avaliar
a sua execução. Desse modo, a Secretaria da Educação necessitará designar uma
equipe para coordenar a implementação do PME. É essa equipe que controlará a
execução das metas, promovendo seus desdobramentos em ações, fará a alocação dos
recursos necessários, providenciará os meios para o desenvolvimento das tarefas, fará a
articulação necessária entre os executores das ações, ficará atenta quanto aos prazos
estabelecidos no PME, fará as negociações necessárias com os agentes externos,
acompanhará e avaliará os resultados e assim por diante.
Essa equipe deverá ter representantes dos vários setores da Secretaria responsáveis
pelo desenvolvimento das metas, que devem se reunir regularmente para análise e
acompanhamento da execução do Plano. Essa equipe também deve contar com a
colaboração dos conselhos escolares, que deverão ser os principais atores no
acompanhamento da execução do Plano nas escolas. Nesse sentido, deve ser elaborado
um cronograma de encontros entre esses representantes e a equipe central da Secretaria
responsável pela coordenação do PME, para que sejam viabilizados todos os meios
necessários para o sucesso das ações do Plano. Esforços também devem ser
empreendidos para sintonizar a elaboração das propostas pedagógicas das escolas com
35
o PME, o que reforça o vínculo que deve ser estabelecido com os representantes das
unidades escolares.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil Brasília, DF:
1988.
______. Lei, 10.172 de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano nacional de Educação e dá
outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 10 jan. 2001.
______. Lei n. º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 1996.
______, Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação especial na
educação básica. Secretaria de Educação Especial MEC; SEESP, 2001.
_______. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação: subsídios para a
elaboração dos Planos Estaduais e Municipais de Educação. Brasília, DF: INEP, 2002.
MONLEVADE, João. Como elaborar o Plano Municipal de Educação. Revista Educação
Municipal - UNDIME, n. 5, ago., 2002.
_________. Plano Municipal de Educação: Fazer para acontecer. Brasília, DF: Idea
Editora, 2002.
SARI, Marisa Timm. Organização da Educação Municipal: da administração da rede ao sistema municipal de ensino. In: RODRIGUES, M. M. e GIÁGIO, M. (orgs.). Guia de Consulta para o Programa de Apoio aos Secretários Municipais de Educação – PRASEM III. Brasília: FUNDESCOLA/MEC, 2001.
37
3. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).
Texto base:
FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE MUDA COM O FUNDEB?
Marcos Paulo Pereira da Anunciação Mestre em Educação – FACED/UFBA
1. Introdução
A questão do financiamento da educação no Brasil tem sido objeto de interesse crescente
por parte de estudiosos e formuladores de políticas públicas. Isto se reflete tanto pela
percepção crescente das limitações do sistema vigente como pelas mudanças
administrativas e fiscais promovidas pela Constituição de 1988, pela Emenda
Constitucional 14/96 que criou o Fundef, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei no 9.394/96), pela Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº
101/00) e, mais recentemente, pela Lei nº 11.494/07 que regulamenta o Fundeb.
A criação do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorização do Magistério) em 1996 foi, sem dúvida, uma das mais importantes
mudanças ocorridas na política de financiamento da educação no Brasil nas últimas
décadas. Seu principal mérito talvez tenha sido o de proporcionar uma melhor
redistribuição dos recursos financeiros educacionais, mediante o critério do número de
alunos matriculados, com o objetivo de atenuar a enorme desigualdade regional existente
no Brasil. Vale ressaltar, também, a contribuição do Fundef quanto ao aperfeiçoamento do
processo de gerenciamento orçamentário e financeiro no setor educacional, bem como
permitindo uma maior visibilidade na aplicação dos recursos recebidos à conta do Fundo.
O tempo de vida útil do Fundef se esgotou em 31 de dezembro de 2006, mas as lições
apreendidas a partir da implementação desse fundo contábil servem de fundamento para
a constituição da nova forma de financiamento da educação no Brasil. O Fundeb, em
vigor desde o início de 2007, tem por objetivo dar continuidade aos pontos positivos do
38
Fundef, aperfeiçoando-os e ampliando o seu alcance. Além disso, deve tentar preencher
as lacunas deixadas pelo antigo fundo, como a prática do baixo valor mínimo por
aluno/ano, a pequena contribuição da União no montante do Fundo, a competição por
aluno entre os entes federados, a ineficiência dos conselhos de acompanhamento e
controle social e, talvez o ponto mais negativo do Fundef: a não cobertura da educação
infantil e do ensino médio.
A idéia da criação de um fundo de financiamento para a educação não é nova no Brasil.
Desde o Manifesto dos Pioneiros (1932) que o saudoso Anísio Teixeira já apontava para a
instituição de um fundo que especificasse as verbas que deveriam ser incluídas no
orçamento público a serem aplicadas exclusivamente no desenvolvimento das atividades
educacionais. Anísio defendia ainda que “o ensino obrigatório deveria estender-se
progressivamente até uma idade conciliável com o trabalho produtor, isto é, até aos
dezoito anos”.
É correto afirmar que a criação do Fundef, 64 anos depois do Manifesto, foi fundamentada
nas idéias de Anísio Teixeira. Entretanto, o conceito de uma educação básica, obrigatória
para todos os brasileiros até os dezoito anos, não esteve presente na formulação do
Fundef. Isso porque, a sua implantação contribuiu para a ampliação do atendimento
apenas no âmbito do ensino fundamental, deixando, porém, à margem do processo de
inclusão as crianças de zero a seis anos (educação infantil) e os jovens que concluem o
ensino fundamental e acessam ao ensino médio, em uma escala crescente de demanda.
Cabe ainda destacar a desconsideração do Fundef em relação aos quase 50 milhões de
jovens e adultos que não têm o ensino fundamental completo.
De acordo com dados do INEP apenas 18,5% das crianças de zero a seis anos são
atendidas nas classes de educação infantil das escolas públicas estaduais e municipais,
enquanto que no ensino médio cerca de 40% dos jovens de 15 a 17 anos estão
matriculados. Na contramão desses números está o ensino fundamental, cujo
atendimento das crianças entre 7 e 14 anos alcança 97%. O descompasso existente no
atendimento dos três níveis de ensino que compõem a educação básica decorre da
ausência de uma política que concorra para a indistinta universalização do atendimento,
sustentada por mecanismos que assegurem melhoria qualitativa do ensino oferecido, com
a valorização dos profissionais da educação (FERNANDES, 2006, p. 146). Portanto, resta
39
esperar e lutar para que o Fundeb possa, de fato, democratizar e assegurar o acesso de
todos à educação básica pública, tal como defendido por Anísio Teixeira.
2. O que é o FUNDEB
O Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação – é um fundo de natureza contábil (sem órgão
administrativo gestor) e “de âmbito estadual” (isto é, que não pertence à administração da
esfera estadual e não pode sofrer retenção). Em linhas gerais, o Fundeb pode ser definido
como um sistema de redistribuição de impostos que garante investimento mínimo por
aluno nos Estados e Municípios. O Fundeb segue o mesmo critério de distribuição de
recursos do Fundef, qual seja, o número de alunos matriculados em cada rede.
A legislação federal não impõe a obrigatoriedade de criação do Fundeb em âmbito
municipal, ou seja, não há necessidade do Município criar uma lei específica instituindo o
Fundeb. O art. 1º da Lei 11.494/07 já institui o Fundo em cada Estado e Município. De
modo concreto, o Fundeb, para cada ente federado, é representado pela conta específica
(aberta no Banco do Brasil) onde são creditados/movimentados os recursos. A retenção,
repartição e distribuição dos recursos se processam de forma automática, por meio de
mecanismos de padrão único de operacionalização. O Fundeb é implantado
automaticamente e seus recursos devem ser geridos pela Secretaria ou órgão equivalente
de educação.
O objetivo do Fundeb é proporcionar a elevação e a distribuição racional dos
investimentos em educação em face de mudanças relacionadas às fontes financeiras que
o formam, ao percentual e ao montante de recursos que o compõem e ao seu alcance,
que estão presentes na Medida Provisória que regulamenta a sua lei de criação; alterando
os critérios de financiamento que constam do atual Fundef. O Fundeb supera a lógica do
Fundef, aponta formas e cria mecanismos para o surgimento de uma nova concepção de
gestão educacional.
2.1 O que muda com o FUNDEB
A seguir são apresentadas algumas das principais mudanças decorrentes da substituição
do Fundef pelo Fundeb no âmbito dos Estados e dos Municípios. A expectativa é para
40
que as alterações propostas pelo Fundeb possam ir além da simples troca da letrinha no
final da sigla.
2.1.1 A cobertura
O Fundeb atenderá não só o Ensino Fundamental (6/7 a 14 anos), como também a
Educação Infantil (0 a 5/6 anos), o Ensino Médio (15 a 17 anos) e a Educação de Jovens
e Adultos3, esta destinada àqueles que ainda não têm escolarização. A inclusão no
Fundeb destes níveis e modalidades de ensino que estavam à margem do processo de
distribuição de recursos do Fundef certamente irá impulsionar o aumento do número de
matrículas nestas etapas. Isso exigirá dos Estados e, principalmente, dos Municípios todo
um planejamento da sua estrutura física e de pessoal (docente e técnico) a fim de que se
tornem capazes de ofertar um ensino de qualidade a estes novos alunos.
O aumento da cobertura é uma das alterações mais significativas do Fundeb, pois pode
representar uma espécie de resgate da concepção de educação básica no Brasil. Ao
privilegiar o atendimento ao ensino fundamental em detrimento dos demais, o Fundef
aprofundou uma situação perversa de segregação entre níveis e modalidades de ensino e
acirrando a competição entre eles por recursos financeiros. A legislação educacional
brasileira, inclusive, contribui para essa segregação ao definir o ensino fundamental como
obrigatório e gratuito; o médio, como progressivamente obrigatório; e a educação infantil,
apenas como direito da criança e da família. Vale ressaltar que a inclusão das creches no
Fundeb é fruto legítimo da pressão exercida pela sociedade sobre os parlamentares, uma
vez que havia a possibilidade desse segmento ficar de fora da cobertura do Fundo.
A obrigatoriedade da educação – em um país que almeja deixar o rol dos “eternamente
em desenvolvimento” - não pode começar apenas aos sete anos de idade e terminar aos
catorze, como defende Vital Didonet (2006, p.35). Pois antes e depois deste período
existe um caminho a ser percorrido, valores a serem entendidos, apropriados e
vivenciados pelos alunos. Ainda segundo Didonet, esta é a razão pela qual o direito à
educação de jovens e adultos é tão sagrado; porque o analfabetismo é uma “des-
humanidade”, além de uma injustiça; porque um tempo mínimo de educação é necessário
para uma pessoa.
3 A Medida Provisória nº 339/06 define que a modalidade de EJA não poderá comprometer mais que 10% do montante de recursos depositados no Fundeb.
41
2.1.2 O prazo de vigência
Outro aspecto favorável do Fundeb em relação ao Fundef diz respeito à elevação do
prazo de vigência de dez para catorze anos (o Fundeb irá vigorar até 31 de dezembro de
2020). O pouco tempo de vida útil do Fundef (para a quantidade de objetivos que este se
propunha alcançar), concebido para durar por apenas dez anos, dificultou para os
gestores a busca por políticas de longo prazo para a solução dos problemas
educacionais. Afinal de contas, os Municípios (principalmente) se acostumaram a receber
recursos que deixariam de vir e, talvez, não estivessem preparados e/ou planejados para
enfrentar tal interrupção. A maioria dos municípios brasileiros ampliou a sua rede de
atendimento ao ensino fundamental e, de repente, não mais receberiam os recursos que
garantiriam a manutenção destas novas incumbências devido à expiração do Fundo.
O Fundef, em sua essência, não trouxe dinheiro novo para a educação. Entretanto, pelo
fato da maioria dos Municípios brasileiros, notadamente os mais pobres, receberem deste
Fundo um montante maior que o valor de sua contribuição, houve uma relação de “ganho”
desses municípios para com o Fundef. Com o final do prazo do Fundef em 31 de
dezembro de 2006 essa política de redistribuição de recursos na qual “quem tem mais
repassa para quem tem menos” certamente faria falta a esses municípios, caso o Fundo
não tivesse continuidade no ano seguinte.
2.1.3 A composição das fontes de recursos
O Fundeb é composto, na quase totalidade, por recursos dos próprios Estados, Distrito
Federal e Municípios, sendo constituído (a partir do 3º ano de implementação) de 20% do:
? Fundo de Participação dos Estados – FPE;
? Fundo de Participação dos Municípios – FPM;
? Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS (incluindo os recursos
relativos à desoneração de exportações, de que trata a Lei Complementar nº
87/96);
? Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações – IPIexp;
? Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações de quaisquer bens ou direitos
- ITCMD;
? Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA;
42
? Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR;
? Receitas da dívida ativa e de juros e multas, incidentes sobre as fontes acima
relacionadas.
Vale ressaltar que o FPE, FPM, ICMS, IPIexp, além dos recursos da Lei Complementar
87/96, já faziam parte da cesta de impostos do Fundef. Com o Fundeb são acrescidos a
esse montante os recursos referentes ao ITCMD, IPVA e ITR. É importante lembrar,
ainda, que enquanto no Fundef o percentual de sub-vinculação era de 15%, no Fundeb
este percentual passa a ser de 20%. Na proposta original de criação do Fundeb, o MEC
indicava o percentual de 25%. Após entendimentos do MEC com o CONSED e a
UNDIME, chegou-se ao patamar de 20%, que parece razoável, uma vez que dá uma
margem para que, no caso dos Estados, haja, fora do Fundo, recursos para as
instituições de ensino superior, além de proporcionar, também, alguma flexibilidade aos
Municípios.
Para os Municípios é positivo o fato dos seus impostos próprios (IPTU, ISS, ITIV) não
fazerem parte da composição das fontes de recursos do Fundeb. Esta posição permite
uma maior flexibilidade para este ente federado, e é mais coerente com o respeito à sua
autonomia, além de evitar demandas judiciais. Entretanto, a não utilização da sua receita
própria no Fundeb não desobriga o Município a aplicar, no mínimo, 25% desses tributos
para a manutenção e o desenvolvimento do ensino. Ficou de fora do novo fundo também
o Imposto de Renda Retido na Fonte, tanto o que é arrecadado pelo Estado quanto pelo
Município.
2.1.4 A Complementação da União
Além dos recursos explicitados no tópico anterior, integra ainda o Fundeb uma
complementação da União aos Estados em que a receita originalmente gerada não é
suficiente para a garantia de um valor por aluno/ano igual ou superior ao valor mínimo
nacional.
A contribuição mínima e apenas eventual da União, via complementação, em relação ao
Fundef sempre foi muito criticada por setores da sociedade ligados à área da educação.
No último ano de vigência do Fundef, por exemplo, apenas dois estados receberam a
complementação da União, sendo que esta representou cerca de um por cento do
43
montante total do Fundo. O Fundeb tenta corrigir esta distorção definindo valores fixos de
recursos federais a serem transferidos para Estados e Municípios, a título de
complementação. Assim, os valores serão de:
? 2,0 bilhões de reais em 2007;
? 3,0 bilhões de reais em 2008;
? 4,5 bilhões de reais em 2009; e
? 10% do valor total do Fundo a partir de 2010.
Para Martins (2006), o valor fixo descola-se de qualquer compromisso de esforço
proporcional no contexto do pacto federativo. Mesmo se, hipoteticamente, nove ou dez
Estados receberem a complementação no primeiro ano de vigência do FUNDEB, se
alguns destes lograrem obter crescimento econômico ou melhoria de arrecadação, fixado
o valor sem referência na média nacional ou com base apenas em percentual fixo, seu
prêmio, a exemplo do que ocorreu no Estado da Bahia em 2005, será a exclusão do rol de
Estados a receberem a complementação. Em outras palavras, se a receita líquida de
impostos crescer nos Estados, em ritmo maior que o da União (que faz crescer sua
arrecadação via contribuições sociais e concede isenções de impostos), pode ocorrer a
situação em que, a cada ano, teremos menos Estados a receber a complementação da
União.
É importante destacar que a União não pode utilizar o recurso do salário-educação para
complementar o Fundeb. O texto da Medida Provisória proíbe tal procedimento. Esse item
foi reivindicado pela UNDIME 4 e pelo CONSED5 para evitar diminuição ou extinção de
importantes programas federais financiados pelos recursos do salário-educação. Vale
ressaltar que os recursos do salário-educação não entram na composição do Fundeb,
mas poderão ser utilizados na educação básica; antes só poderiam ser aplicados no
ensino fundamental.
2.1.5 A distribuição dos recursos
O critério para a distribuição dos recursos do Fundeb segue a mesma lógica adotada pelo
Fundef, ou seja, será baseado no número de alunos matriculados. O que muda é que
agora serão contempladas as matrículas de toda a educação básica pública, e não
4 UNDIME – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. 5 CONSED – Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação.
44
apenas do ensino fundamental, como ocorria com o Fundef. Para os fins da distribuição
dos recursos serão consideradas exclusivamente as matrículas presenciais efetivas,
conforme os dados apurados no Censo Escolar mais atualizado, realizado pelo INEP
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), considerando
as alterações aplicáveis.
Serão computados os alunos matriculados nos respectivos âmbitos de atuação prioritária
(art. 211 da Constituição Federal). Ou seja, os Municípios receberão os recursos do
Fundeb com base no número de alunos da educação infantil e do ensino fundamental,
matriculados em sua rede de ensino, o mesmo acontecendo com o Estado em relação
aos seus alunos do ensino fundamental e médio. Assim, as matrículas estaduais de
educação infantil, bem como as matrículas municipais de ensino médio não serão
contadas para efeito de distribuição dos recursos do novo Fundo. Da mesma forma, a
aplicação desses recursos, pelos gestores estaduais e municipais, deve ser direcionada
levando-se em consideração a responsabilidade constitucional que delimita a atuação dos
Estados e Municípios em relação à educação básica.
Quanto à operacionalização dos recursos, os Municípios devem atentar para o fato de os
orçamentos já terem sido aprovados com a nomenclatura anterior do Fundef quando da
implantação efetiva do Fundeb (1° de março de 2007). Entretanto, considerando que o
objetivo do novo Fundo é o mesmo do anterior, com ampliações, bastam algumas
adaptações à execução orçamentária, dispensando legislação municipal. Em geral, estas
alterações ocorrerão em nomenclaturas de projetos e atividades e também na
classificação institucional, as chamadas subunidades orçamentárias.
2.1.6 As diferenciações no cálculo do valor mínimo
Um conceito central para a eqüidade da educação básica no Brasil é o de valor mínimo.
Um sistema de financiamento pode adotar um valor mínimo regional (que não parece ser
o mais eqüitativo, uma vez que congela desigualdades) ou nacional. O valor mínimo pode
ser, como ocorreu no Fundef, à margem da Lei, arbitrado ano a ano, segundo aquilo que
a equipe econômica considera disponibilidade de caixa, ou obedecer a alguns parâmetros
(MARTINS, 2006).
45
A arbitrariedade na definição do cálculo do valor mínimo por aluno parece estar com os
dias contados com a chagada do Fundeb (é o que todos esperamos). A Medida Provisória
nº 339, que antecedeu a regulamentação do Fundeb, criou uma Junta de
Acompanhamento dos Fundos no âmbito do Ministério da Educação, de caráter
deliberativo, composta por representantes do MEC, CONSED e UNDIME com a função de
dentre outras coisas: especificar anualmente as ponderações aplicáveis entre diferentes
etapas, modalidades e tipos de estabelecimentos de ensino da educação básica.
Para orientar o trabalho da Junta, a Medida Provisória estabeleceu como referência o
fator 1, que corresponde ao valor aplicado por Estados e Municípios, em 2006, para as
séries iniciais do ensino fundamental (1ª a 4ª), e fixou como referências para a distribuição
entre as outras etapas e modalidades o intervalo entre 0,7 (menor) e 1,3 (maior). Como o
fator 1 é o custo aluno das séries iniciais, isso quer dizer que os demais oscilarão 30%
para cima ou para baixo.
O governo decidiu não fixar os coeficientes para a divisão dos recursos do Fundeb na
Medida Provisória, sob a alegação de que a Junta precisaria de tempo para deliberar
sobre esta decisão, que acabou sendo definida dois meses depois. Confira todos os
coeficientes para distribuição de recursos do Fundeb, por etapa e modalidade de ensino:
? Creche: 0,80
? Pré-escola: 0,90
? Séries iniciais do ensino fundamental urbano: 1,00
? Séries iniciais do ensino fundamental rural: 1,05
? Séries finais do ensino fundamental urbano: 1,10
? Séries finais do ensino fundamental rural: 1,15
? Ensino fundamental em tempo integral: 1,25
? Ensino médio urbano: 1,20
? Ensino médio rural: 1,25
? Ensino médio em tempo integral: 1,30
? Ensino médio integrado à educação profissional: 1,30
? Educação especial: 1,20
? Educação indígena e quilombola: 1,30
? Educação de jovens e adultos com avaliação no processo: 0,70
46
? Educação de jovens e adultos integrada à educação profissional de nível médio,
com avaliação no processo: 0,70
A partir destes coeficientes é possível observar que os Estados ganharam a “queda de
braço” que vinha sendo travada com os Municípios desde o início das discussões para a
definição dos coeficientes de distribuição dos recursos do Fundeb. Isso porque o ensino
médio – responsabilidade dos Estados – obteve um coeficiente maior que a educação
infantil – atribuição dos Municípios.
Os governadores pressionaram durante todo o tempo o governo federal para que este
fixasse critérios mais favoráveis aos Estados na divisão do dinheiro do Fundo, que será
repartido com as prefeituras. A alegação dos governadores para tal posição era de que os
Estados “perdiam” recursos com o fundo anterior, já que o dinheiro era repassado
conforme o número de matrículas; e a maioria dos alunos do ensino fundamental da rede
pública estuda em escolas municipais. No calor das discussões no Congresso Nacional
um determinado deputado soltou esta “pérola”: Não é possível equiparar o ensino infantil
com o ensino médio; criar uma escola de ensino médio exige toda uma estrutura. Como
se a educação infantil também não exigisse! (sic).
2.1.7 A implementação gradativa do Fundeb A implantação do Fundeb se dará de forma gradual, em três anos, quando então estará
plenamente implantado. Isso valerá tanto para a subvinculação dos impostos, quanto para
a complementação da União e a inserção das matrículas, conforme tabela abaixo:
Tabela 1: Implementação gradativa do Fundeb 2007 2008 2009 2010 Impostos remanescentes do Fundef 16,66% 18,33% 20% 20%
Impostos novos 6,66% 13,33% 20% 20% Complementação da União 2 bilhões 3 bilhões 4,5 bilhões 10%
Matrículas
Ensino Fundamental + 1/3 das demais
Ensino Fundamental + 2/3 das demais
Toda Educação Básica
Toda Educação Básica
Fonte: MEC Esta implantação gradativa do Fundeb significa que, para efeito de depósito e
recebimento dos recursos, todos os entes federados deverão obedecer à transição
descrita acima. Todavia, não altera a maneira como os Municípios e Estados aplicarão os
47
recursos recebidos, podendo ser utilizados indistintamente entre as etapas e
modalidades, dentro do que estabelece o artigo 211 da Constituição Federal.
2.1.8 A fiscalização e controle social do Fundeb Para exercer o controle e a fiscalização dos recursos do antigo fundo de financiamento foi
criado um Conselho de Acompanhamento e Controle Social no âmbito dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios. A criação desse Conselho foi medida obrigatória, porém
insuficiente para o efetivo acompanhamento da correta utilização dos recursos do Fundef.
Entre os fatores que mais contribuíram para a pouca efetividade desses conselhos podem
ser citados: a forma de provimento, geralmente a partir de uma indicação do Poder
Executivo local, o que de certa forma minou a autonomia dos conselheiros; a falta de
capacitação técnica dos seus membros, o que dificultou a análise das contas do Fundo;
ausência das condições mínimas de trabalho, como a estrutura física e equipamentos.
Essas são algumas das dificuldades que emperraram o trabalho dos conselheiros,
principalmente nos Municípios de pequeno porte.
Com a implantação do Fundeb o controle social tende a sofrer várias mudanças em
relação ao praticado nos tempos de Fundef. Primeiro, no novo Fundo o Poder Público terá
que dar publicidade mensal dos recursos recebidos e executados à conta do Fundeb.
Segundo, os Municípios poderão optar em constituir conselhos de acompanhamento e
controle ou fortalecer seus Conselhos Municipais de Educação. Terceiro, não será
permitido que cônjuges, parentes até segundo grau de gestores e prestadores de serviços
aos órgãos públicos participem de tais conselhos. Quarto, os membros do Conselho serão
indicados por seus pares. Quinto, os conselhos não poderão ser presididos pelos
representantes governamentais. Ainda quanto à sua composição, a novidade em relação
ao Fundef é a participação de um representante do Conselho Tutelar e um representante
do Conselho Municipal de Educação (caso existam). Pelo menos em tese, parece que os
erros cometidos à época do Fundef não serão mais tão freqüentes com o Fundeb em
relação aos conselhos de acompanhamento e controle social.
O prazo para a criação dos Conselhos de Acompanhamento e Controle Social do fundeb
venceu no dia 1º de março de 2007. Apesar da Medida Provisória nº 339/06 não conter
nenhum tipo de sanção, os Estados e Municípios que não conseguiram instituir o
Conselho dentro do prazo legal deverão criá-lo (por meio de legislação específica) o
quanto antes para evitar problemas quando da prestação de contas, que deverá conter o
parecer do mesmo.
48
2.1.9 O piso salarial dos profissionais do magistério O art. 41 da Medida Provisória n° 339, que regulamenta a criação do Fundeb, prevê a
obrigação do Poder Público de fixar em lei específica o piso salarial nacional para os
profissionais do magistério público6 da educação básica, estabelecendo, para tanto, o
prazo de um ano para a sua aprovação, a contar da publicação desta Medida. Estabelece,
ainda, que o Poder Executivo tem um prazo de 90 dias para enviar o projeto de lei ao
Congresso Nacional; o governo tem sinalizado que até 30 de abril o Ministério da
Educação deverá ter concluído a proposta do piso.
A definição do valor do piso nacional tem sido tema de intensa discussão entre
professores, Municípios, e Estados, além da União. Em uma das primeiras reuniões com
representantes das quatro partes para discutir a questão, a Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE) propôs um piso de R$ 1.050,00 para os professores
do ensino básico com carga horária de 40 horas semanais. Os Estados e Municípios
consideram impossível pagar este piso. Autoridades estaduais e municipais alegam que
nem mesmo com 60% dos recursos do Fundeb destinados ao pagamento dos
profissionais da educação conseguiriam dar conta da folha de pagamento. Para eles, a
única forma de o piso se aproximar desse valor é com o aumento de repasses da União.
Existe um consenso de que os professores ganham mal. Por isso, há um reconhecimento
da importância da institucionalização de um piso salarial para estes profissionais. As
discrepâncias salariais são visíveis em todo o país, e mesmo no âmbito dos Estados.
Entretanto, essa institucionalização é difícil de ser construída em âmbito nacional, em
função das diferentes capacidades de arrecadação e de pagamento dos Estados e
Municípios. Existem, inclusive, propostas que defendem a instituição de pisos regionais, o
que só faria “congelar” as desigualdades regionais existentes no Brasil. Há também os
que defendem uma maior subvinculação dos recursos do Fundeb (70%, ao invés dos
atuais 60%) para pagamento dos professores.
Uma questão importante que ficará para decisão do Congresso é se o pagamento dos
aposentados (inativos) da educação nos Estados e Municípios poderá ser feito com
6 São considerados profissionais do magistério, segundo a MP 339/06, todos os docentes e mais os profissionais que oferecem suporte pedagógico direto ao exercício da docência, incluindo-se direção escolar, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional.
49
recursos do Fundeb. Nos tempos de Fundef não havia nenhuma restrição a essa prática,
cabendo aos tribunais de contas a decisão sobre a possibilidade legal do gasto. A
regulamentação do Fundeb mantém essa situação, mas o MEC sinaliza que pretende
propor ao Congresso a proibição, mas com um prazo de cinco a dez anos para que
Estados e Municípios se adaptem ao novo sistema. Os representantes de Estados
(CONSED) e Municípios (UNDIME) na discussão da definição do piso afirmam que,
enquanto os inativos estiverem na folha de pagamento da educação, nenhum Estado ou
Município vai dar conta de um piso salarial maior.
3. Considerações finais É importante ter em mente que não haverá ensino de qualidade para todos, em todas as
regiões do Brasil, nas zonas urbanas e rurais, em estados ricos e pobres se não forem
ampliados os recursos disponíveis para o setor educacional. Ou seja, devemos
compreender que o problema do financiamento da educação no Brasil não se resolve
apenas com o aperfeiçoamento de aspectos gerenciais ou com a diminuição de desvios: é
imprescindível o aporte de novos recursos. Também não devemos esperar que o Fundeb
seja a solução de todos os problemas educacionais do país, mas um pequeno passo para
a construção de uma educação básica de qualidade e para todos os brasileiros.
4. Referências BRASIL. Constituição Federal de 1988. In: Marcos Legais. Brasília: PRASEM, 1999. BRASIL. Emenda Constitucional nº 14. Modifica os arts. 34, 208. 211 e 212 da Constituição Federal e dá nova redação ao art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. In: Marcos Legais. Brasília: PRADEM, 1999. BRASIL. Medida Provisória nº 339. Regulamenta o art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e dá outras providências. Brasília, 2006. DIDONET, V. A educação infantil na educação básica e o Fundeb. In: LIMA, M.J.R.; DIDONET, V. (Orgs.). Fundeb: Avanços na universalização da educação básica. Brasília: Instituto Naciona l de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. p. 35. FERNANDES, F. C. Do Fundef ao Fundeb: mudança e avanço. In: LIMA, M.J.R.; DIDONET, V. (Orgs.). Fundeb: Avanços na universalização da educação básica. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. p. 146. MARTINS, P. S. Financiamento da educação básica: critérios, conceitos e diretrizes. In: LIMA, M.J.R.; DIDONET, V. (Orgs.). Fundeb: Avanços na universalização da educação básica. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. p. 50.
A seguir, 25 slides utilizadas pelo mediador:
50
FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE
MUDA COM O FUNDEB?
Marcos Anunciação
Ensino fundamental (6/7 a 14 anos), Educação infantil (0 a 5/6 anos), Ensino médio (15 a 17 anos) e a Educação de Jovens e adultos,
no máximo, 15% do total dos recursos do Fundeb.
FUNDEB
51
Pelo menos 60% dos recursos totais dos fundos serão destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercíciona rede pública.
A destinação dos recursos
O restante (máximo de 40%) deve ser destinado às outras ações consideradas de manutenção e desenvolvimento do ensino.
A destinação dos recursos
52
O prazo de vigência
O FUNDEB terá vigência de 14 anos (até 31 de dezembro de 2020), a partir do ano seguinte à promulgação da Emenda Constitucional de criação do Fundo.
A composição das fontes de recursos
20% dos seguintes impostos:?ICMS?FPE?FPM?IPI-Exp?LC 87/96
53
A composição das fontes de recursos
20% dos seguintes impostos:
?IPVA?ITR?ITCM
Não entram: IRRF e Impostos próprios municipais.
A distribuição dos recursos
Proporcional ao número de alunos das etapas e modalidades presenciais, nos respectivos âmbitos de atuação prioritária (§§ 2º e 3º do art. 211 da CF).
54
A incumbência de cada ente federado
Exclusivamente nos âmbitos de atuação prioritária:
?Municípios: educação infantil e ensino fundamental
?Estado: ensino fundamental e médio
Diferenciações no cálculo do valor mínimo por aluno
Anualmente com diferenciações para:?Creche: 0,80 (R$ 757,03)?Pré-escola: 0,90 (R$ 851,66)?Ensino médio urbano: 1,20 (R$ 1.135,55)?Ensino médio rural: 1,25 (R$ 1.182,86)?Médio tempo integral: 1,30 (R$ 1.230,18)?Médio + ed. profissional: 1,30 (R$ 1.230,18)?EJA com avaliação no proc.: 0,70 (R$ 662,40)
55
Diferenciações no cálculo do valor mínimo por aluno
?Séries iniciais do EF urbano: 1,00 (R$ 946,29)?Séries iniciais do EF rural: 1,05 (R$ 993,61)?Séries finais do EF urbano: 1,10 (R$ 1.040,92)?Séries finais do EF rural: 1,15 (R$ 1.088,24)?EF em tempo integral: 1,25 (R$ 1.182,86)?Educação especial:1,20 (R$ 1.135,55)?Indígena e quilombola: 1,20 (R$ 1.135,55)
A fiscalização e o controle
O acompanhamento e o controle social sobre a distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos por conselhos instituídos especificamente para esse fim.
56
A fiscalização e o controle
O presidente do conselho do Fundeb será eleito por seus pares em reunião do colegiado, sendo impedido de ocupar a função o representante do governo gestor dos recursos do Fundo.
O piso salarial dos profissionais do magistério
?O Poder Público deverá fixar o Piso Salarial Profissional Nacional até 31 de agosto de 2007.
?PL 619, art. 1º - O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 850,00 pela jornada de quarenta horas semanais.
57
O piso salarial dos profissionais do magistério
Parágrafo único. O valor mencionado no caput compreenderá todas as vantagens pecuniárias, pagas a qualquer título, e será aplicável a todos os profissionais, em caráter permanente ou temporário, no exercício das atividades.
A integralização do valor de que trata o art. 1º será feita progressiva e proporcionalmente até janeiro de 2010, observado o seguinte:
O piso salarial dos profissionais do magistério (Cont.)
58
?Acréscimo de um terço da diferença entre o valor atual e o valor referido no caput do art. 1º até janeiro de 2008;
?Acréscimo de dois terços da diferença entre o valor atual e o valor referido no caput do art. 1º até janeiro de 2009.
O piso salarial dos profissionais do magistério (Cont.)
A Proposta da CNTE para o Piso Salarial
Considerando uma jornada de trabalho de 30 horas, observado o máximo de 70% desta carga horária para atividades de docência, o Piso Salarial do Magistério Público deveria ser de:
59
A Proposta da CNTE para o Piso Salarial
?R$ 1.050,00 para os professores habilitados em nível médio, em cursos normais;
?R$ 1.575,00 para os professores e demais profissionais do magistério, habilitados em cursos de Pedagogia e licenciaturas de graduação plena.
A Proposta do relator do Projeto de Lei do Piso Salarial (PL 619/07)
Considerando uma jornada de trabalho de 40 horas, o Piso Salarial do Magistério Público deveria ser de:
?R$ 950,00 para os professores habilitados em nível médio, em cursos normais;
?O texto do substitutivo não faz referência aos docentes que concluíram o nível superior;
60
A Proposta do relator do Projeto de Lei do Piso Salarial (PL 619/07)
?Não inclusão dos ganhos extras no valor do piso;
?Obrigação da União de complementar as despesas dos Estados e Municípios que comprovarem não ter condições de pagar os salários.
A Complementação da União
Aumento progressivo para os fundos cujo valor por aluno não alcance o valor mínimo por aluno ao ano:?1º ano: R$ 2 bilhões?2º ano: R$ 3 bilhões?3º ano: R$ 4,5 bilhões?A partir do 4º ano: 10% do total
61
A Complementação da União
Fonte de recursos:
?30%, no máximo, oriundos do art. 212
?Proibida a utilização do Salário-Educação
O que significa “implementação gradativa do FUNDEB”?
A implantação do FUNDEB se daráde forma gradual em três anos.Ensino fundamental: a totalidadeEducação infantil, ensino médio e EJA:
62
O que significa “implementação gradativa do FUNDEB”?
Matrículas Rec. FUNDEF Rec.Novos1º ano 1/3 16,66% 6,66%2º ano 2/3 18,33% 13,33%3º ano 3/3 20% 20%
Material para a oficina que acontecerá na tarde do dia 04 de abril de 2008.
RECURSOS DO FUNDEB PARA O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO
1. Assinale com “X” as afirmações corretas sobre o Fundeb:
a. (...) é composto majoritariamente por recursos de Estados e Municípios e
eventualmente por recursos da União;
b. (...) corresponde a 27 fundos estaduais;
c. (...) seus recursos são depositados no caixa único do Município e aplicados de acordo
com as vinculações e subvinculações legais;
d. (...) a fiscalização da aplicação de seus recursos é promovida por conselhos de
acompanhamento e controle social, sem prejuízo do exercício dos controles interno e
externo;
e. (...) constituem recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino no
nível fundamental;
f. (...) a distribuição dos seus recursos dá-se com base no número de matrículas em
cada etapa ou modalidade de ensino;
g. (...) promove a eqüidade, na medida em que os recursos dos estados mais ricos são
redistribuídos para os mais pobres;
63
h. (...) os gastos com a Educação de Jovens e Adultos devem ser limitados a, no
máximo, 15% do total dos recursos recebidos à conta do Fundeb;
i. (...) As matrículas em creches não são consideradas para efeito de distribuição dos
recursos do Fundeb, pois são consideradas como de responsabilidade da Ação Social;
j. (...) Os impostos próprios municipais não fazem parte da composição de recursos do
Fundeb;
k. (...) A União poderá dispor dos recursos provenientes do salário-educação para
complementar os recursos do Fundeb, nos Estados e Municípios que não atingirem o
valor mínimo por aluno;
l. (...) Os municípios podem receber recursos do Fundeb provenientes de matrícula da
rede estadual, desde que seja referente ao ensino fundamental;
m. (...) A distribuição dos recursos do Fundeb é baseada no mesmo coeficiente para
todos os níveis e modalidade de ensino;
n. (...) Os Fundos, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, são compostos por
20% (vinte por cento) de alguns impostos e transferências, desde o primeiro ano de
sua implantação.
2. Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais do Fundeb serão
destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da
educação básica em efetivo exercício na rede pública; o restante deve ser aplicado
em outras ações de manutenção e desenvolvimento do ensino (Lei nº 11.494, Art.
22). Sobre este artigo, é possível afirmar que:
a. (...) Os secretários administrativos das escolas do município não podem ter seus
salários pagos com recursos do Fundeb;
b. (...) Os professores que possuem vínculo contratual temporário não podem ter seus
salários pagos com recursos do Fundeb;
c. (...) Os professores que não estão exercendo a função docente (estando lotados
em outras secretarias) não poderão ter seus salários pagos com recursos do
Fundeb;
d. (...) De acordo com o disposto neste artigo, os aposentados não poderão ter seus
salários pagos com recursos do Fundeb;
e. (...) O restante dos recursos de que trata este artigo podem ser destinados, dentre
outras coisas, a despesas com programas suplementares de alimentação escolar.
64
3. Sobre os conselhos de acompanhamento e controle social do Fundeb é possível
afirmar que:
a. (...) Pode ser presidido pelo representante do governo gestor dos recursos do
Fundo;
b. (...) O Secretário de Educação municipal não poderá ser membro deste conselho;
c. (...) A atuação dos conselheiros do Fundeb é considerada atividade remunerada.
Texto para leitura complementar:
O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL
Marcos Paulo Pereira da Anunciação Mestre em Educação – FACED/UFBA
A discussão sobre o financiamento para a área de educação diz respeito, principalmente,
aos recursos financeiros que viabilizam a formulação, implementação e avaliação das
políticas. Durante muito tempo, a elaboração e execução de orçamentos, a gestão dos
recursos públicos e a prestação de contas de despesas efetuadas em instituições
públicas foram temas sempre considerados difíceis, sobre os quais apenas os
especialistas em finanças públicas tinham domínio e poder de controle.
A discussão sobre orçamento no órgão responsável pela Educação no município e, mais
ainda, nas escolas, era praticamente inexistente. A atual política educacional, inaugurada
pela recente legislação (CF/88, LDB/96, PNE/01) vem introduzindo novos elementos
nesse quadro. Isto vem provocando mudanças na atuação dos que trabalham tanto na
gestão da educação, nas várias instâncias do sistema, como na área de execução das
próprias ações educativas.
No que se refere à área financeira, especialmente após a promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), e com a aprovação da Emenda
Constitucional n.º 14 – que criou o Fundef –, os profissionais da Educação estão cada vez
mais sendo chamados a participar do processo de mudança por que passa a educação
no País. Para exercer efetivamente essa participação, é fundamental que os educadores
– quer seja o Secretário Municipal, quer seja aquele que atua nas unidades escolares –
tenham informações sobre as origens, os valores e os mecanismos de aplicação dos
recursos financeiros destinados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino.
65
Partindo desse entendimento, é imprescindível que todos os profissionais envolvidos na
gestão de um sistema educacional detenham os conhecimentos necessários acerca do
financiamento da educação. Por seu turno, o gestor de um sistema municipal de ensino
necessita dominar todas essas informações para subsidiar o processo de tomada de
decisão, o estabelecimento de planos, programas e projetos, elaborar a programação das
ações e gerir os recursos disponíveis.
Enfim, a discussão sobre financiamento deve ser alvo de preocupação constante dos
profissionais da educação, principalmente aqueles que atuam diretamente com a gestão
do sistema escolar. A partir dessa base real de informações, então, todos poderão, diante
dos recursos disponíveis, estabelecer prioridades para garantir a todas a crianças e
adolescentes o acesso a uma escola de qualidade.
Bases Legais do Financiamento da Educação
Os elementos básicos do sistema de financiamento da educação no Brasil incluem
um conjunto de normas constitucionais que regulam o gasto da receita tributária, um certo
número de fontes de receitas vinculadas aos gastos com educação e uma estrutura
burocrática complexa, baseada na centralização da arrecadação de recursos e na
descentralização da responsabilidade dos dispêndios (GOMES & VERHINE, 1996).
Os mais importantes instrumentos legais que explicitam as fontes de recursos que
deverão ser consideradas para o financiamento da educação, assim como as normas de
aplicação desses recursos no Brasil, atualmente, são:
? a Constituição Federal de 1988,
? a Lei 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB,
? a Emenda Constitucional nº 14/96
? a Lei 9.424/96, que regulamenta o Fundo de Desenvolvimento e
Manutenção do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério –
FUNDEF.
O Financiamento da educação na Constituição Federal
No texto da Constituição, o financiamento da educação é tratado nos Artigos 212, 213 e
no Art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). O Art. 212 prevê a
vinculação dos recursos; o Art. 213, a destinação dos recursos públicos; e o Art. 60 do Ato
66
das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) prevê o comprometimento financeiro
das diferentes esferas da administração pública com a universalização do Ensino
Fundamental e a erradicação do analfabetismo, assegurando, ainda, a criação de um
fundo contábil, no âmbito de cada Estado, para a manutenção e desenvolvimento do
Ensino Fundamental e valorização do magistério.
O Art. 212, ‘caput’, da Constituição Federal dispõe que:
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendendo a proveniente das transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
Devido à sua importância, alguns pontos desse artigo merecem o destaque de (VERAS
apud MARTINS, 2001):
? O piso mínimo (25%) para aplicação dos recursos vinculados à manutenção e
desenvolvimento do ensino nos Estados, Municípios e no Distrito Federal poderá ser
elevado por determinação da Constituição Estadual (Estados) e da Lei Orgânica
(Municípios). Aliás, a LDB, em seu art. 69, ‘caput’, já traz esse destaque.
? A vinculação a que alude o artigo é realizada em relação à receita resultante de
impostos e não à totalidade dos recursos orçamentários. Os recursos provenientes de
impostos não correspondem à totalidade da receita tributária; os impostos representam
um subconjunto dos recursos tributários, que contam ainda com as taxas e contribuições
de melhoria, que não entram na vinculação.
? A receita resultante de impostos corresponde à soma dos impostos próprios e das
transferências de impostos previstas pela Constituição, assim como dos valores da dívida
ativa de impostos, multas e juros de mora. No caso dos Municípios, inclui, portanto: os
impostos próprios (IPTU, ISS, ITBI) e a respectiva dívida ativa, multas e juros desses
impostos; as transferências constitucionais recebidas da União (FPM, IRRF, ITR, IOF-
Ouro); as transferências constitucionais recebidas do Estado (ICMS, IPVA, IPI-
Exportação).
? Além das transferências constitucionais, existem ainda as ?transferências legais
??definidas em legislação federal, com recursos provenientes da cota federal do salário-
educação ou outros recursos do Tesouro Nacional (é o caso do PNAE, com recursos da
Cofins, e do PDDE, PNATE, EJA, Brasil Alfabetizado etc., com recursos do salário-
67
educação, todos executados pelo FNDE). Há ainda as ??transferências voluntárias, que
correspondem ao ??repasse de recursos que não decorra de determinação constitucional e
legal (Lei Complementar n° 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal, art. 25), como,
por exemplo, mediante apresentação de Plano de Trabalho Anua l – PTA pelo Município e
assinatura de convênio com o FNDE, também com recursos provenientes da cota federal
do salário-educação ou outros recursos do Tesouro Nacional (é o caso do repasse de
recursos financeiros para construção e reforma de prédios escolares, aquisição de
equipamentos escolares e material didático-pedagógico, ações de formação continuada
do magistério etc.). Vale ressaltar que as transferências legais e voluntárias não entram
na base de cálculo do percentual mínimo obrigatório de que trata o ‘caput’ do art. 212 da
Constituição Federal, pois não se trata de impostos. A vinculação de recursos se aplica
apenas às transferências constitucionalmente estabelecidas.
? Além das transferências constitucionais de impostos dos Estados para os Municípios
(ICMS, IPI-Exportação e IPVA), em algumas Unidades Federadas os governos estaduais
fazem também transferências legais e (ou) voluntárias para as Prefeituras. É o caso, por
exemplo, do repasse de recursos do Tesouro do Estado aos Municípios para os gastos
com o transporte escolar de alunos de escolas estaduais, executado pelas Prefeituras.
? Para calcular o montante de recursos correspondente ao percentual mínimo da receita
de impostos vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino não se consideram as
despesas realizadas com recursos do salário-educação, nem de convênios assinados
com a União e o Estado. Assim, por exemplo, despesas feitas com recursos federais dos
programas de merenda escolar e dinheiro direto na escola (FNDE) não entram no cálculo.
? As receitas provenientes de transferência (desde que constitucionalmente
estabelecidas), mas que tenham como origem os impostos, devem ser computadas como
se impostos fossem, para efeitos de vinculação. Assim devem proceder os Municípios,
incorporando à sua base de cálculo para manutenção e desenvolvimento do ensino as
transferências do Estado e da União que tenham como origem os impostos.
? A receita resultante de impostos pode financiar todos os níveis modalidades da
educação escolar: a Educação Básica, constituída pela Educação Infantil, o Ensino
Fundamental e Ensino Médio; e a Educação Superior. Entretanto, os Municípios devem
atuar prioritariamente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, podendo oferecer
outros níveis apenas quando estiverem atendidas, de forma plena, as necessidades de
sua área de competência. O atendimento a outros níveis exige ainda recursos acima dos
68
percentuais mínimos vinculados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata
o artigo 212 da Constituição Federal (LDB, art. 11, V).
? A obrigação prevista é a aplicação anual dos recursos. Ao contrário do que pensam
alguns, não há obrigação mensal de aplicar os 25% resultantes de impostos e
transferências na manutenção e desenvolvimento do ensino. Essa possibilidade ficaria
comprometida devido às inconstâncias nas arrecadações e, também, nos gastos.
Entretanto, o Município deve fazer a apuração das diferenças entre a receita e a despesa
previstas e as efetivamente realizadas – que resultem no não-atendimento do percentual
mínimo obrigatório – a cada trimestre do exercício financeiro, e corrigi-los nesse prazo
(LDB, art. 69, § 4º). Portanto, cabe ao Município proceder ao planejamento devido para
que a média de cada trimestre atenda ao percentual mínimo de 25% de aplicação em
MDE.
? Os artigos 70 e 71 da LDB definem quais as despesas que podem ou não ser
consideradas como manutenção e desenvolvimento do ensino. O exame desses dois
artigos mostra que a merenda escolar, por exemplo, não pode ser financiada com os
recursos de que trata o ‘caput’ do art. 69. Além disso, mesmo as despesas de que trata os
incisos do art. 70 só serão admitidas se “realizadas com vistas à consecução dos
objetivos básicos das instituições educacionais.” (MARTINS, 2001).
Ressalta-se, também, o fato de que esses dois artigos não tratam da questão dos
inativos, ficando a cargo dos Tribunais de Contas a interpretação dessa questão. Alguns
tribunais entendem que não há impedimento legal para a utilização dos recursos
vinculados no pagamento de aposentadorias. Há outros que não concordam com essa
utilização, pois acreditam que o pagamento dos inativos não corresponde à categoria de
despesa com manutenção e desenvolvimento do ensino. Outro fato importante refere-se
aos programas suplementares de assistência à saúde e alimentação, pois, embora não
seja permitida a sua classificação como despesa de manutenção e desenvolvimento do
ensino, existem Tribunais de Contas que aceitam tal prática, ao arrepio da lei. Esses dois
artigos são de suma importância para as secretarias de educação, municipais e
estaduais, e devem ser de conhecimento de todos aqueles que trabalham diretamente
com a gestão dos recursos públicos para a área educacional.
Conforme dispõe a Constituição Federal (Art. 35, III), a não-aplicação do percentual
mínimo obrigatório resultante da receita de impostos em manutenção e desenvolvimento
69
do ensino acarretará para o Município a intervenção do Estado. Além disso, outras
penalidades poderão advir para o Município (MARTINS, 2001), como:
? a rejeição das contas por parte do Tribunal de Contas, com o posterior
encaminhamento à Câmara de Vereadores e, confirmada a rejeição, ao governador e ao
Ministério Público;
? a impossibilidade de celebração de convênios com o Estado e a União que exijam
certidão negativa do Tribunal de Contas;
? a perda de assistência financeira da União e dos Estados (LDB, art. 76).
A LDB (art. 5º, § 4º) dispõe ainda que, caso seja comprovada a negligência da autoridade
competente em garantir o oferecimento do ensino obrigatório, estará ela sujeita a crime de
responsabilidade. Já o art. 69, § 6º prevê que o atraso na liberação de recursos sujeita as
autoridades competentes à responsabilização civil e criminal. O administrador poderá
ainda correr o risco de ficar inelegível por cinco anos, caso as suas contas sejam
rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível do órgão competente,
salvo se a questão houver sido ou estiver sendo submetida à apreciação do Poder
Judiciário (Lei Complementar nº 64/90, art. 1º, “g”).
A Lei nº 8.429/92 sujeita ainda o administrador às sanções previstas por improbidade
administrativa que, dependendo da gravidade, podem acarretar: a perda da função
pública; o ressarcimento integral do dano (se houver); a suspensão dos direitos políticos
por até dez anos; pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração
percebida; e proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios.
3.1.2 - O Financiamento da Educação na LDB
A LDB, no seu Título VII – Dos Recursos Financeiros, trata o financiamento da educação
de forma mais detalhada que a Constituição Federal. O art. 68 da LDB especifica a origem
dos recursos públicos a serem destinados à educação, como a receita proveniente de
impostos, transferências constitucionais, salário-educação e outras contribuições, além da
receita com incentivos fiscais. O art. 69, por sua vez, praticamente repete o ‘caput’ do art.
212 da CF, mas acrescenta o termo ou o que consta nas respectivas Constituições ou Leis
Orgânicas com relação ao percentual mínimo obrigatório (25%) que Estados e municípios
70
deverão aplicar em manutenção e desenvolvimento do ensino. Nesse artigo, o
financiamento é tratado da seguinte maneira:
? O § 2º exclui das receitas de impostos mencionadas no artigo as operações
de crédito por antecipação da receita orçamentária de impostos.
? O § 3º considera a receita estimada na lei do orçamento anual como base
para a fixação inicial do valor correspondente ao percentual mínimo estabelecido
no ‘caput’ desse artigo.
? O § 4º prevê a correção trimestral da diferença entre a receita e a despesa
prevista e a efetivamente realizada que resultem do não atendimento ao
percentual mínimo obrigatório.
? O § 5º estabelece os prazos para o repasse dos recursos, indicando que os
mesmos deverão ser repassados para o órgão responsável pela educação que,
no caso dos municípios, é a secretaria municipal de educação.
? O § 6º prevê a responsabilização civil e criminal pelo atraso na liberação
dos recursos; aliás, esse dispositivo representa um grande avanço da legislação
com relação ao controle dos recursos públicos destinados à educação, tendendo
a propiciar uma maior eficácia e transparência na aplicação dos mesmos.
Os artigos 70 e 71 definem quais as despesas que podem ou não ser consideradas como
manutenção e desenvolvimento do ensino. Para garantir transparência e eficiência na
fiscalização acerca do cumprimento dos artigos 70 e 71, as receitas e despesas com
manutenção e desenvolvimento do ensino deverão ser apuradas e publicadas nos
balanços do Poder Público (art. 72). O exame dessas contas deverá ficar a cargo dos
órgãos fiscalizadores, como os Tribunais de Contas, quando será observado,
prioritariamente, o cumprimento da aplicação dos recursos vinculados na análise das
contas (art. 73).
Visando a proporcionar um ensino de qualidade para todos, o art. 74 determina que a
União, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, estabeleça um
padrão mínimo de oportunidades educacionais para o Ensino Fundamental, com base no
cálculo do custo mínimo por aluno. Esse custo, no entanto, não pode ser confundido o
custo por aluno/ano do Fundef; trata-se de estabelecer um valor mínimo por aluno que
seja capaz de financiar um ensino de qualidade. O art. 75 prevê a ação supletiva e
71
redistributiva da União e dos Estados, de modo a garantir o padrão mínimo de qualidade
de que trata o artigo anterior, além de buscar diminuir as disparidades de acesso ao
Ensino Fundamental público. Vale ressaltar que a Lei condiciona essa ação supletiva e
distributiva ao efetivo cumprimento do que nela está escrito por parte dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios (art. 76).
Para finalizar, o Título VII da LDB, que dispõe sobre os recursos financeiros, no art. 77,
trata da permissão para aplicação dos recursos públicos em escolas comunitárias,
confessionais ou filantrópicas, estabelecendo, para tanto, algumas condições. Esse artigo,
aliás, dispõe basicamente sobre a mesma matéria de que trata o art. 213 da Constituição
Federal. A principal inovação está na inserção do inciso IV, que prevê a prestação de
contas dos recursos recebidos por essas instituições ao Poder Público, que não consta do
texto constitucional.
O Financiamento da Educação no PNE
O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 10.172/01 e previsto para
vigorar pelo prazo de dez anos, contém um capítulo específico sobre o financiamento da
educação, onde são apresentados 15 objetivos e metas ligadas ao tema. As metas, em
sua maioria, procuram reiterar prescrições da LDB, conferindo-lhes, para isso, mais
instrumentos. Assim, a meta nº 2 refere-se à fiscalização; a meta nº 3 ao repasse
automático para as secretarias de educação; a meta nº 4 ao estabelecimento de
mecanismos que visem a assegurar o cumprimento do disposto nos artigos 70 e 71 da
LDB, que definem os gastos com manutenção e desenvolvimento do ensino; e assim por
diante (MARTINS, 2001). O PNE, como qualquer estratégia de planejamento que envolva
objetivos e metas, necessita estar sintonizado com as fontes de recursos existentes para
o alcance efetivo dos objetivos propostos.
O PNE aponta na direção de algumas diretrizes para a gestão, inclusive financeiras, a
serem seguidas pelos Municípios que merecem destaque: gestão de recursos por meio
de fundos de natureza contábil e contas específicas, como o Fundo Municipal de
Educação (como será visto adiante); transparência; descentralização; desburocratização;
gestão democrática e; sistema de informação.
72
3.2 – Estrutura de Financiamento da Educação Nacional
A estrutura de financiamento da educação (Quadro 1) é mista e complexa, com a maior
parte dos recursos proveniente de fontes do aparato fiscal, que é o caso típico dos
recursos da vinculação de impostos. Parcela razoável provém das contribuições sociais,
principalmente daquelas originalmente destinadas ao financiamento da seguridade social
e da contribuição criada exclusivamente para a educação (salário-educação7). Outra parte
provém de operações de crédito com agências internacionais e, por último, têm-se as
outras fontes em que compreendem desde as aplicações financeiras do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) até os recursos arrecadados diretamente pelas
instituições vinculadas (CASTRO, 2001).
A seguir, é apresentado um quadro-resumo mostrando a estrutura da arrecadação dos
impostos e transferências para a educação básica no âmbito da União, dos Estados e dos
Municípios brasileiros.
Quadro 1 – Estrutura da arrecadação dos impostos e transferências para a educação segundo a legislação brasileira
Esfera União Estados Municípios
Impostos Próprios
Importação e Exportação ITR IR IPI IOF
IPVA ICMS
IPTU ITBI ISS
Impostos Transferidos
FPE (IR+IPI) IPI (Exp.) IRRF
? Pela União FPM (IR+IPI) ITR IRRF ? Pelo Estado IPVA ICMS IPI Exp.
Elaborado por: Marcos Anunciação
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (Fundef)
Na estratégia de priorizar o Ensino Fundamental e de reafirmar o papel do MEC como
coordenador das políticas nacionais, entendendo-se que a execução das mesmas seria
7 Com a aprovação da Lei nº 10.832, de 2003, os Municípios passaram a receber, a partir de 2004, recursos do salário-educação de forma automática e diretamente do FNDE, de acordo com a matrícula no Ensino Fundamental nas redes municipais de ensino, apurada pelo Censo Escolar de 2003.
73
deixada a cargo dos governos estaduais e municipais, uma das linhas de ação prioritárias
adotadas pelo Ministério, a partir da segunda metade da década de 90, foi a criação de
um fundo contábil, no qual transitariam os recursos relevantes para o financiamento do
Ensino Fundamental. Para tanto, o Governo Federal encaminhou e foi aprovada pelo
Congresso Nacional a Emenda Constitucional nº 14/96, que modificou os Arts. 34, 208,
211 e 212 da CF de 88 e deu nova redação ao Art. 60 das Disposições Transitórias,
criando o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (Fundef).
Esta Emenda, como forma de garantir o acesso de todos os brasileiros ao ensino
obrigatório e melhorar a remuneração dos profissionais da educação, subvincula recursos
para o ensino fundamental da seguinte forma: por dez anos (ou seja, até 2006), no
mínimo 60% dos 25% da receita resultante de impostos vinculados para MDE nos
Estados, Distrito Federal e Municípios devem ser aplicados nesse nível de ensino.
Portanto, no mínimo 15% da totalidade da receita resultante de impostos, incluindo os
impostos próprios e as transferências constitucionais de impostos, devem ser aplicados
em despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental, no ensino
regular, na educação especial e na educação de jovens e adultos (incluindo ensino
supletivo).
O Fundef tem por objetivo promover a equidade na distribuição dos recursos entre
Estados e Municípios, diminuindo, dessa forma, as desigualdades existentes quando da
alocação dos recursos, devido à inexistência de critérios bem definidos. A instituição do
Fundef reitera o dispositivo constitucional que estabelece a obrigatoriedade do Ensino
Fundamental e a prioridade da sua oferta, pelo poder público, já que permitiria:
1) aperfeiçoar o processo de gerenciamento orçamentário e financeiro no
setor;
2) ampliar os recursos alocados;
3) implementar uma política redistributiva de correção de desigualdades
regionais e sociais;
4) dar visibilidade à gestão dos recursos e;
5) capacitar e valorizar o magistério.
Os recursos do Fundef deverão ser aplicados, exclusivamente, no Ensino Fundamental,
sendo vedada a sua utilização na Educação Infantil, no Ensino Médio e no Ensino
Superior. A Lei 9.424/96, que regulamenta o Fundo, dispõe ainda que esses recursos são
74
destinados ao Ensino Fundamental público. Portanto, não podem ser destinados às
instituições privadas, mesmo que estas estejam conveniadas ao Poder público. Esses
recursos devem ser aplicados no Ensino Fundamental regular, na modalidade de
Educação Especial e, embora as matrículas não sejam consideradas, também na
modalidade Educação de Jovens e Adultos.
O Fundef é constituído por 15% da receita de impostos:
? do Estado – FPE (Fundo de Participação dos Estados), ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços), cota do IPI-Exportação (Imposto sobre Produtos
Industrializados para exportação);
? dos Municípios – FPM (Fundo de Participação dos Municípios), cota do ICMS, cota do
IPI-Exportação.
Incluem-se também os 15% da receita proveniente da compensação financeira, prevista
na lei complementar 87/96 (Lei Kandir) para as perdas provocadas pela desoneração do
ICMS das exportações.
Além desses recursos, integra ainda o Fundo uma complementação da União aos
Estados em que a receita originalmente gerada não é suficiente para a garantia de um
valor por aluno/ano igual ou superior ao valor mínimo nacional fixado pelo MEC.
O Fundef subvincula, no mínimo, 60% dos recursos para a remuneração dos profissionais
do magistério em efetivo exercício no Ensino Fundamental público. Inclui-se, nessa
categoria, também, os profissionais que exercem atividades de suporte pedagógico direto
à docência, como diretores, vice-diretores, coordenadores pedagógicos e orientadores
educacionais. Com os recursos dessa parcela do Fundef podem ser pagos, ainda, os
encargos sociais desses profissionais devidos pelo Poder Público, mas não despesas
com transporte e alimentação, uma vez que não têm natureza salarial. A recente Lei nº
10.845, de 5 de março de 2004, que instituiu o Programa de Complementação ao
Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência – PAED,
dispõe (art. 3º, parágrafo único) que os profissionais do magistério cedidos pelos Estados,
Distrito Federal e Municípios às entidades privadas sem fins lucrativos que oferecem
Educação Especial , no desempenho de suas atividades, serão considerados como em
efetivo exercício no Ensino Fundamental público, para fins de seu pagamento com
recursos da parcela do Fundef vinculada à remuneração dos profissionais do magistério.
75
O restante dos recursos do Fundo (máximo de 40%) deve ser destinado às despesas com
manutenção e desenvolvimento do Ensino Fundamental, de acordo com o disposto no art.
70 da LDB.
Os valores devidos a cada Estado e a cada Município são definidos em função do
montante de recursos que formam o Fundo no âmbito de cada Estado, e do número de
alunos do Ensino Fundamental atendidos pelo Estado e pelos municípios, de acordo com
as informações do Censo Escolar do ano anterior. As transferências dos recursos do
Fundo são realizadas mediante créditos automáticos em conta específica aberta no Banco
do Brasil para esse fim. Ocorrem em cada mês, em datas distintas, de acordo com a
origem dos recursos:
- Recursos originários do ICMS – semanalmente;
- Recursos originários do FPM, FPE e IPIexp. – a cada dez dias;
- Recurso da desoneração de exportações e Complementação da União – ao
final de cada mês.
3.2.2 - Os Recursos do Salário-Educação
Prevista pela Constituição Federal de 1988 (art. 212, § 5º) como fonte adicional de
financiamento do Ensino Fundamental público8, a contribuição social do salário-educação
é recolhida pelas empresas, calculada com base na alíquota de 2,5% sobre o total da
folha de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados
empregados (Lei nº 9.424, de 1996, art.15). Desde 1964, quando instituído por decreto-
lei, até 2003, os recursos do salário-educação eram distribuídos em duas cotas, a cota
federal e a cota estadual, correspondendo respectivamente a um terço e a dois terços dos
recursos arrecadados. Com o crescimento de sua participação na oferta do Ensino
Fundamental, os municípios passaram a reivindicar, a partir dos anos 90, que parte dos
recursos do salário-educação passassem a ser direcionados para as redes municipais de
ensino.
Em conseqüência, a Lei nº 9.766, de 1998 dispôs que os recursos da cota estadual
fossem redistribuídos entre o governo do Estado e seus Municípios, de acordo com
critérios a serem fixados em lei estadual. Entretanto, em 2003, somente cerca de 13
Estados haviam elaborado essa legislação.
8 Alterado em virtude da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, que regulamenta o Fundeb. Assim, o salário-educação passa a ser fonte adicional de financiamento de toda a educação básica.
76
Diante da dificuldade de receber esses recursos por meio dos Estados, os Municípios
continuaram a luta pela criação de uma cota municipal do salário-educação. A recente Lei
nº 10.832, de 29 de dezembro de 2003, alterou a legislação vigente nos seguintes pontos:
? ?criou a cota estadual e municipal dessa contribuição social, em substituição à cota
estadual;
?? ?fixou que a cota federal e a cota estadual e municipal do salário-educação serão
calculadas em relação a 90% (noventa por cento), e não mais em relação a 100% (cem
por cento), da arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito Federal;
?? ?estabeleceu que a cota estadual e municipal será integralmente redistribuída entre o
Estado e seus Municípios de forma proporcional ao número de alunos matriculados no
Ensino Fundamental nas respectivas redes de ensino, em substituição à determinação de
que critérios para essa redistribuição fossem estabelecidos por lei estadual.
Com isso, a União passou a gerir diretamente 40% do montante arrecadado como salário-
educação (os recursos da cota federal correspondentes a um terço de 90%, ou seja, 30%,
mais 10% que deixam de ser considerados na base de cálculo dessas cotas), em lugar
dos anteriores 33% (um terço de 100%). Atendendo à reivindicação de Estados e
Municípios, o MEC destinou esses 10% – os chamados recursos desvinculados do salário-
educação – ao financiamento do transporte escolar e de Educação de Jovens e Adultos.
Com esses recursos é que o governo federal está financiando os programas instituídos
pela Lei nº 10.880, de 2004. Essa Lei institui o Programa Nacional de Apoio ao Transporte
do Escolar – PNATE e o Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à
Educação de Jovens e Adultos.
Como o salário-educação dirige-se ao financiamento do Ensino Fundamental, que é
oferecido pelos Estados e Municípios, os recursos da cota federal dessa contribuição
social são direcionados para programas de apoio às redes estaduais e municipais de
ensino, mediante a distribuição de bens adquiridos pelo MEC (é o caso do Programa
Nacional do Livro Didático – PNLD), ou do repasse de recursos financeiros (como no
Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE, instituído em 1997). Os recursos da cota
federal do salário-educação são utilizados pela União no desempenho de sua função
supletiva e redistributiva em relação à escolaridade obrigatória.
77
De acordo com o Decreto que regulamenta a Lei do Fundef, a União pode utilizar os
recursos do salário-educação para complementar os Fundos estaduais, até o limite de
20% do valor dessa complementação.
3.2.3 Os recursos da seguridade social
A Constituição Federal de 1988 fixou, no item VII do art. 208, Capítulo III, que o Estado é
responsável pelo atendimento ao educando no Ensino Fundamental, através de
programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde. A nova LDB, em 1996, reconheceu como de direito esse
atendimento ao educando, fixando, no Art. 70, que as aquisições de material didático
escolar e a manutenção de programas de transporte escolar se enquadrem no conceito
de MDE, podendo então ser financiadas por recursos da vinculação. No entanto, a lei não
considerou como MDE os programas suplementares de alimentação, assistência médico-
odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social, ou seja,
não podem ser financiados com recursos da vinculação de impostos para a educação.
Daí a necessidade de recursos de outras fontes para o financiamento dessas ações.
Para o financiamento dessas últimas ações de assistência ao educando, foram
direcionadas as fontes provenientes da seguridade social (renda de loterias, contribuições
sobre o lucro e seguridade social). Para tanto, existe a cobertura legal dada pelo
parágrafo 4º do art. 212 da CF, o qual fixa que os programas suplementares de
alimentação e de assistência à saúde serão beneficiados com recursos provenientes de
contribuições sociais e outros recursos orçamentários não especificados.
3.2.4 - As Operações de Crédito Externo
Os recursos de operações de crédito se inserem dentro da estratégia de algumas
instituições multilaterais de cooperação técnica à educação brasileira, por meio de
projetos de co-financiamento. As atividades de cooperação internacional se inserem no
âmbito de uma interação política bilateral. A receptividade do MEC em relação aos
recursos de agências de fomentos internacionais, principalmente do Banco Mundial
(BIRD) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) deve-se, em grande parte,
às expectativas geradas pelas vantagens técnicas e financeiras atribuídas aos projetos,
principalmente quanto às expectativas de impactos, pelo aporte de recursos adicionais e
pela capacidade de intervenção nas distribuições estruturais.
78
Os elementos sobre a organização da educação municipal no contexto nacional e a
discussão sobre o financiamento da educação, consolidam o objetivo maior da primeira
parte desse documento: a composição de um quadro teórico que dê sentido e significado,
à necessidade de (re)organização do órgão gestor da educação no contexto atual. Com
base nisso, a segunda parte desta publicação reúne um conjunto de procedimentos
políticos, pedagógicos, administrativos, técnicos e, ainda, conceituais, em uma proposta
aberta e flexível que possa orientar as equipes gestoras na concepção de um modelo de
estrutura, organização e funcionamento do órgão gestor da educação municipal.
De uma forma em geral, a discussão feita até aqui tem a intenção de contribuir para a
reflexão sobre as reconfigurações que as relações entre escola e sociedade, escola e
poder, educação e políticas públicas, estado e sociedade e outras assumem na
contemporaneidade. Essa reflexão é fundamental na compreensão dos aspectos e
implicações dessas mudanças na construção de novas concepções de gestão em
educação e as possibilidades que essas representam, para que a escola seja um espaço
onde, realmente, indivíduos e coletividades tenham suas necessidades sociais, políticas,
econômicas, históricas e culturais asseguradas. Esse é o principio em que se fundamenta
a atuação do órgão gestor da educação municipal, ao assumir um compromisso ético e
político com a sociedade e aderir à proposta de criação de um novo modelo de gestão.