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Page 1: Curso ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente II PARTE GERAL 1. FUNDAMENTOS PARA O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A Constituição Federal de 1988 destinou à criança e

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Curso

CAE

II Adolescente doe Criança da Estatuto -

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Conteúdo

Parte Geral: Fundamentos para o Estatuto da Criança e do Adolescente ........... Pág. 8

Direitos Fundamentais ......................................................................................... Pág. 12

Prevenção ............................................................................................................ Pág. 32

Parte Especial: Política de Atendimento .............................................................. Pág. 36

Entidades de atendimento .................................................................................... Pág. 37

Medidas de Proteção ........................................................................................... Pág. 41

Prática de Ato Infracional ..................................................................................... Pág. 46

Medidas Pertinentes aos pais ou responsável ..................................................... Pág. 53

Conselho Tutelar .................................................................................................. Pág. 54

Acesso a Justiça .................................................................................................. Pág. 56

Crimes e Infrações Administrativas ...................................................................... Pág. 79

Referências Bibliográficas .................................................................................... Pág. 98

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PARTE GERAL

1. FUNDAMENTOS PARA O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A Constituição Federal de 1988 destinou à criança e ao adolescente especial proteção. As regras protetivas em relação a elas estão contidas, basicamente, no Capítulo VII (Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso), do Título VIII (Da Ordem Social). Estipula a Constituição da República, que a proteção da criança e do adolescente é dever da família, da sociedade e também do Estado. Essa proteção se traduz em assegurar, efetivamente e com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária, colocando as crianças e os adolescentes a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Assim, é dever do Estado promover programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitindo-se a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecidos os seguintes preceitos (art. 227, §1º da CRFB/88):

a) aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil;

b) criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação.

Conforme salienta o parágrafo terceiro do artigo 227 da Constituição Federal de 1988, o direito a proteção especial deve abranger os seguintes aspectos:

a) idade mínima de 14 (quatorze) anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII, também da Constituição Federal;

b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;

c) garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;

d) garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica;

e) obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;

f) estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;

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g) programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.

Também é determinação constitucional, que a lei preveja severa punição para o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente (art. 227, §4º da CRFB/88). Sobre este assunto, avançou a legislação penal brasileira, especialmente mediante a recente alteração no Código Penal, promovida pela Lei n.º 12.015/2009, que criou tipos penais específicos em relação aos menores de 14 (quatorze) anos, além de ter majorado as penas abstratamente previstas em relação aos crimes cometidos em detrimento do maior de 14 (quatorze) e menor de 18 (dezoito) anos. A adoção, consoante determinação constitucional (art. 227, §5º), deve ser assistida pelo Poder Público, na forma da lei, a qual estabelece os casos e as condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. Sobre esse assunto também houve recente alteração por meio da Lei n.º 12.010/2009, objeto de estudo no presente curso. Consoante previsão constitucional, os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, tem exatamente os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (art. 227, §6º). A Emenda Constitucional n.º 65/2010 inclui o parágrafo oitavo ao artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que dispõe:

§ 8º A lei estabelecerá:

I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens;

II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas.

Atualmente, ambos os incisos constitucionais carecem de regulamentação. Os projetos do Estatuto da Juventude e do Plano Nacional de Juventude estão tramitando no Congresso Nacional. Segundo estipulação constitucional, os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, sujeitando-se, pois, às normas da legislação especial (art. 228). E há, ainda, o dever recíproco consagrado no artigo 229 da Constituição Federal, segundo o qual os pais tem o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, enquanto os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 1.1 Disposições preliminares Consoante previsão do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, considera-se:

a) criança, a pessoa até os 12 (doze) anos de idade incompletos;

b) adolescente, aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade.

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Via de regra, o Estatuto da Criança e do Adolescente aplica-se apenas às crianças e aos adolescentes, mas em hipóteses excepcionais, expressamente indicadas, às pessoas entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos de idade. À criança e ao adolescente são assegurados o gozo de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, devendo-lhes ser assegurado, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para que eles possam se desenvolver física, mental, moral, espiritual e socialmente, em condições de liberdade e de dignidade. Nesse contexto, é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (art. 4º, caput, do ECA). E consoante esclarece o parágrafo único do artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, essa garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Nenhuma criança ou adolescente deve ser objeto de qualquer negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido-se na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (art. 5º do ECA). Como se terá oportunidade de analisar, o Estatuto da Criança e do Adolescente estipula diversas práticas, comissivas e omissivas, como crimes ou infrações administrativas, só com o que se pode dar efetividade a muitos dos mandamentos nele contidos. São critérios que devem ser levados em conta para a interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente:

a) os fins sociais a que ele se dirige;

b) as exigências do bem comum;

c) os direitos e deveres individuais e coletivos da criança e do adolescente;

d) a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Como se vê, o Estatuto da Criança e do Adolescente buscou efetivar a determinação constitucional, de modo a conferir à criança e ao adolescente a mais ampla proteção possível. Nesse contexto, veja-se pertinente e interessante informativo do Superior Tribunal de Justiça:

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Informativo nº 0381 Período: 15 a 19 de dezembro de 2008 Terceira Turma RETIFICAÇÃO. REGISTRO. NASCIMENTO. Trata-se de matéria inédita entre os julgamentos deste Superior Tribunal, em que menor, representada por sua mãe, pretende a retificação de seu registro de nascimento para acrescentar o patronímico de sua genitora, omisso na certidão, além de averbar a alteração para o nome de solteira da sua mãe, que voltou a usá-lo após a separação judicial e é grafado muito diferente daquele de casada, tudo no intuito de facilitar a identificação da criança no meio social e familiar. O pai da menor não se opôs, mas o MP recorreu quanto à averbação do nome da mãe concedida pelas instâncias ordinárias, uma vez que o registro de nascimento deve refletir a realidade da ocasião do parto, o que impediria tal averbação nos termos das Leis ns. 6.015/1973 e 8.560/1992. A Min. Relatora observou que, no caso dos autos, conforme comprovado nas instâncias de 1º e 2º grau, há a situação constrangedora de mãe e filha terem que portar cópia da certidão de casamento com a respectiva averbação para comprovarem a veracidade dos nomes na certidão de nascimento, bem como não existe prejuízo para terceiros, o que afastaria o pleito do MP. Os interesses da criança estariam acima do rigorismo dos registros públicos por força do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ademais, essa é a solução mais harmoniosa e humanizada. Com essas considerações, entre outras, a Turma não conheceu do recurso do MP. REsp 1.069.864-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2008. (sem grifos no original)

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2. DIREITOS FUNDAMENTAIS Os direitos e garantias fundamentais apontam amplo leque protetivo à pessoa humana, visando-lhes conferir condições existenciais mínimas, sem as quais não é possível admitir o exercício de uma vida digna. Em sendo a dignidade da pessoa humana um princípio fundamental, desrespeitar qualquer dos direitos elencados a partir do artigo 5º da Constituição de 1988 acarreta, inevitavelmente, em ato atentatório à dignidade da pessoa humana. Embora exista título próprio à disciplinação dos direitos e garantias fundamentais na Constituição, é importante salientar que estes não se resumem àquele título, vez que encontram-se espalhados por todo texto constitucional, tal como o direito à saúde, especialmente abordado no Estatuto da Criança e do Adolescente. O que confere o status de fundamental a um direito não é sua posição metodológica no texto constitucional, mas suas características. Hoje, o critério de respeito e proteção à pessoa humana é extremamente diferente do que já se verificou na história constitucional pátria. Desde a primeira Constituição, a Imperial de 1824, visualiza-se a guarida de direitos destinados a proteção das pessoas. A proteção que se faz necessária na atualidade é exatamente a mesma que se fazia presente durante a vigência de mencionada Constituição, e antes dela também. As pessoas sempre foram carecedores da mais extensa proteção e assistência, de modo a desenvolverem-se plenamente. A diferença está, no que podemos utilizar de um binômio necessidade/possibilidade, não quanto a primeira, mas quanto a segunda. Se a necessidade nunca deixou de existir, a possibilidade era restringida pelo interesse de poucos em detrimento na imensa maioria que sucumbia nas mais básicas necessidades existenciais. A possibilidade fora majorada com o decorrer dos tempos, com a evolução dos direitos e com os movimentos constitucionalistas, mas ainda está longe de ser realizada na medida da atenção necessária à satisfação da necessidade populacional. Os interesses das minorias ainda prevalecem perante os da imensa maioria, mas em moldes muito diferentes dos pretéritos. Em se tratando de crianças e adolescentes, há que se lembrar que a eles deve ser dedicada ampla proteção, com absoluta prioridade. 2.1 Direito à vida e à saúde Os direitos à vida e à saúde são fundamentais à criança e ao adolescente, e se efetivam mediante a adoção de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Conforme salienta o caput do artigo 8º do Estatuto da Criança e do Adolescente, é assegurado à gestante, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o atendimento pré e perinatal.

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A gestante deve ser encaminhada a diferentes níveis de atendimento, segundo critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema (art. 8º, §1º do ECA). É disposição legal, contida no parágrafo segundo do artigo 8º do Estatuto da Criança e do Adolescente, que a parturiente deve ser atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a tenha acompanhado na fase pré-natal. É dever do poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem. Ademais, também é dever do poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal (art. 8º, §4º do ECA). Essa mesma assistência, o poder público também tem o dever de prestar em relação a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção (art. 8º, §5º do ECA). Inclusive, e como se terá a oportunidade de analisar, configura infração administrativa, punível com multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três) mil reais), deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção. Na mesma pena dos profissionais anteriormente mencionados incorre o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixar de efetuar comunicação da mesma natureza, consoante prevê o artigo 258-B do Estatuto da Criança e do Adolescente. No caso de gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, elas devem, obrigatoriamente, serem encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude. O poder público, assim como as instituições e os empregadores devem propiciar condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade (art. 9º do ECA). O Estado cuidou de tutelar a criança, em razão da sua condição de pessoa em desenvolvimento, permitindo que o aleitamento materno, tão relevante no processo de formação da pessoa, não deixe de ser efetuado ainda que a mãe esteja em cumprimento de medida privativa da liberdade. Conforme prevê o artigo 10 do Estatuto da Criança e do Adolescente, os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes públicos e particulares, são obrigados a:

a) manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de 18 (dezoito) anos;

b) identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;

c) proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;

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d) fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato;

e) manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.

Às crianças e adolescentes assegura-se atendimento integral à saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (art. 11, caput, do ECA). No caso de crianças e adolescentes portadores de deficiência, a eles deve ser destinado atendimento especializado, consoante previsão contida no parágrafo primeiro do artigo 11 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ao poder público incumbe fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação (art. 11, §2º do ECA). Os estabelecimentos de atendimento à saúde tem o dever de proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente (art. 12 do ECA), em consagração a regra de ampla proteção e absoluta prioridade que deve ser dedicada às crianças e adolescentes. O ordenamento jurídico brasileiro assegura à criança e ao adolescente ampla proteção. Dessa forma, caso haja suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente, deve haver imediata comunicação ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Esse dever estende-se ao médico, ao professor e ao responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, sob pena de incorrer na infração administrativa descrita no artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê a aplicação de uma pena de multa, variável entre 3 (três) e 20 (vinte) salários de referência, valor que pode ser aplicado em dobro em caso de reincidência. Por derradeiro, consoante previsão do caput do artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é incumbência do Sistema Único de Saúde (SUS), promover programas de assistência médica e odontológica para a prevenção de enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, além de campanhas para educação sanitária destinada aos pais, educadores e alunos. Nesse contexto, conforme determina o parágrafo único do artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pela autoridades sanitárias. 2.2 Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade A liberdade, o respeito e a dignidade como pessoas humanas em desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais são fundamentais à criança e ao adolescente, direitos estes revestidos de índole constitucional e legal.

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Consoante previsão do artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

a) ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

b) opinião e expressão;

c) crença e culto religioso;

d) brincar, praticar esportes e divertir-se;

e) participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

f) participar da vida política, na forma da lei;

g) buscar refúgio, auxílio e orientação.

O direito ao respeito, segundo definição legal (art. 17 do ECA), consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. E consoante previsão do artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. 2.3 Direito à convivência familiar e comunitária Toda criança e adolescente tem direito a uma sadia convivência no núcleo familiar e também comunitário. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, apenas excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. A Lei n.º 12.010/2009 inclui três parágrafos ao artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo o parágrafo primeiro, toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional deve ter sua situação reavaliada, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Já o parágrafo segundo do artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não deve se prolongar por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. E o parágrafo terceiro do mencionado dispositivo salienta que a manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente na sua própria família deve ser medida preferencial em relação a qualquer outra

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providência, caso em que esta deverá ser incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do artigo 23, dos incisos I e IV do caput do artigo 101 e dos incisos I a IV do caput do artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em reprodução ao mandamento constitucional, o artigo 20 do Estatuto da Criança e do Adolescente estipula que os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, tem os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Se anteriormente falava-se em pátrio poder, hoje fala-se em poder familiar. O homem não detém mais a soberania familiar, a qual deve ser exercida por ambos os pais no melhor interesse dos filhos. Nesse contexto, a Lei n.º 12.010/2009 substituiu todos os dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente que utilizavam a expressão “pátrio poder” por “poder familiar”. Dessa forma, o poder familiar deve ser exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma da legislação civil, assegurando-se a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para solução da divergência. É dever dos pais prover o sustendo, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais (art. 22 do ECA). O artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta importante disposição, especialmente para concursos públicos. Segundo ele, a mera falta ou carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão do poder familiar. Assim, não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente devem ser mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio. A determinação contida no artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente, além de extremamente moralizadora, é efetivamente inclusiva. O poder público, por meio da regra legal esculpida no artigo em análise, assume o seu dever constitucionalmente determinado, de conferir absoluta prioridade às crianças e adolescentes, dispensando-lhes ampla proteção. Dessa forma, caso uma criança ou adolescente esteja em um núcleo familiar com dificuldades financeiras, não tem o poder público legitimidade para meramente retirá-la daquele núcleo e incluí-la em outro com melhores condições. Nessas situações, o Estado tem o dever de prestar auxílio a esse núcleo familiar, mantendo a criança ou adolescente no seu núcleo familiar de origem. A perda e a suspensão do poder familiar somente podem ser decretadas judicialmente, em procedimento no qual se assegure o exercício do contraditório e da ampla defesa. A perda e a suspensão do poder familiar pode ocorrer:

a) em todos os casos previstos na legislação civil;

b) na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente, quais sejam, o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,

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além de, observado o interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. No último caso, o descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar também acarreta a infração administrativa descrita no artigo 249 do Estatuto em estudo, que sujeita o infrator a uma pena de multa, variável entre 3 (três) e vinte salários de referência, podendo ser aplicada em dobro no caso de reincidência. 2.3.1 Família natural Família natural, segundo definição legal (art. 25, caput, do ECA) é a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Por sua vez, entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada também por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, parágrafo único, do ECA). A família extensa é, pois, uma espécie de família natural. Os filhos havidos fora do casamento podem ser reconhecidos pelos pais, de modo conjunto ou separado, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação (art. 26 do ECA). O reconhecimento do filho pode preceder o nascimento, assim como pode suceder ao falecimento, caso existam descendentes. Prevê o artigo 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. 2.3.2 Família substituta Família substituta é aquela em que a criança ou adolescente é posto em virtude da impossibilidade, de qualquer natureza, de ser mantido em seu núcleo familiar original. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, consoante estipula o Estatuto da Criança e do Adolescente. A família substituta deve ser dada à criança ou adolescente apenas em casos excepcionais. Como já se teve oportunidade de afirmar, é dever do Estado empenhar-se para a manutenção do núcleo familiar original, adotando políticas direcionadas a esse objetivo. No entanto, como se sabe, em diversas situações torna-se impossível manter a criança ou adolescente em sua família original, de modo que a sua alocação em família substituta torna-se necessária. Sempre que possível, a criança ou o adolescente deve ser previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, devendo ter sua opinião devidamente considerada (art. 28, §1º do ECA).

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No caso de adolescente, isto é, maior de 12 (doze) anos, é necessário seu consentimento, que deve ser colhido em audiência, só com o que poderá integrar um núcleo familiar substituto. Para a apreciação do pedido de colocação da criança ou adolescente em família substituta, deve se levar em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida (art. 28, §3º do ECA). Segundo redação do parágrafo quarto do artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente, incluído pela Lei n.º 12.010/2009 , os grupos de irmãos devem ser colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos laços fraternais. A todo momento, constata-se que o objetivo do legislador foi manter a criança ou adolescente em seu núcleo familiar original, admitindo apenas excepcionalmente a mitigação dessa regra, e, ainda quando isso ocorra, determinou-se que em todos os casos tente-se ao máximo manter, ainda que de forma reduzida, os laços fraternais. A colocação da criança ou adolescente deve ser precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar (art. 28, §5º do ECA). E também conforme alteração promovida pela Lei n.º 12.010/2009, que acresceu o parágrafo sexto ao artigo 28 do Código de Ética e Disciplina, em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda obrigatório:

a) que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Constituição Federal;

b) que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia;

c) a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso.

Não se deve deferir a colocação em família substituta de pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou que não ofereça ambiente familiar adequado, conforme estipula o artigo 29 do Estatuto da Criança e do Adolescente. A colocação em família substituta não admite a transferência da criança ou adolescente a terceiros, nem a entidades governamentais ou não-governamentais, sem expressa autorização judicial (art. 30 do ECA).

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A colocação em família substituta estrangeira, segundo o artigo 31 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é medida excepcional, admissível apenas na modalidade adoção. 2.3.2.1 Guarda A guarda, via de regra, destina-se a regularizar a posse de fato de criança ou adolescente, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, mas não poderá ser deferida no de adoção por estrangeiros. A guarda é procedimento de natureza precária, que pode ser revogado a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido sempre o Ministério Público (art. 35 do ECA). De modo excepcional, pode a guarda ser deferida fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou para suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a prática de determinados atos (art. 33, §2º do ECA). Nesse sentido, veja-se pertinente informativo do Superior Tribunal de Justiça:

Informativo nº 0407 Período: 14 a 18 de setembro de 2009. Quarta Turma GUARDA. MENOR. AVÓS. INTERESSE. CRIANÇA. Cuida-se de guarda pleiteada pelos avós para regularização de situação de fato consolidada desde o nascimento do infante (16/1/1991), situação qualificada pela assistência material e afetiva prestada por eles, como se pais fossem. Assim, conforme delineado no acórdão recorrido, verifica-se uma convivência entre os autores e o menor perfeitamente apta a assegurar seu bem-estar físico e espiritual, não havendo, por outro lado, nenhum empecilho ao seu pleno desenvolvimento psicológico e social. Em tais casos, não se tratando de “guarda previdenciária”, o Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser aplicado, tendo em vista mais os princípios protetivos dos interesses da criança, notadamente porque o art. 33 está localizado em seção intitulada “Da Família Substituta” e, diante da expansão conceitual que hoje se opera sobre o termo “família”, não se pode afirmar que, no caso, há, verdadeiramente, uma substituição familiar. O que deve balizar o conceito de “família” é, sobretudo, o princípio da afetividade, que fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia sobre as considerações de caráter patrimonial ou biológico. Isso posto, a Turma não conheceu do recurso do Ministério Público. Precedentes citados: REsp 469.914-RS, DJ 5/5/2003, e

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REsp 993.458-MA, DJe 23/20/2008. REsp 945.283-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/9/2009.

Portanto, a guarda pode ser concedida:

a) nos procedimentos de tutela;

b) nos procedimentos de adoção, exceto por estrangeiros;

c) para atender a situações peculiares ou para suprir a falta eventual dos pais ou responsável (situações em que a guarda possui termos mais restritos).

Em qualquer caso, a guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo ao seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais (art. 33, caput, do ECA). A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários (art. 33, §3º do ECA). Conforme dispõe o parágrafo quarto do artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente, incluído pela Lei n.º 12.010/2009, salvo expressa e fundamentada determinação em sentido oposto, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que devem ser objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público. É dever do poder público estimular, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar (art. 34, caput, do ECA). Nesse contexto, deve ser dada preferência ao acolhimento familiar em detrimento do institucional, observando-se, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida. A pessoa ou casal que, nesses casos, receber a criança ou adolescente mediante guarda, deve estar cadastrada em programa de acolhimento familiar, observados os artigos 28 a 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente (disposições gerais acerca da família substituta). 2.3.2.2 Tutela A tutela é o procedimento passível de deferimento à pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos (art. 36, caput, do ECA). Para que se fale em tutela, há que se falar em prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar. A tutela implica, necessariamente, o dever de guarda (art. 36, parágrafo único, do ECA). A tutela se assemelha ao poder familiar, mas com restrições. Exerce-se a tutela mediante inspeção judicial.

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2.3.2.3 Adoção A disciplina legal da adoção deixou de ser objeto do Código Civil após o início da vigência da lei n.º 12.010/2009, tanto que do capítulo destinado à adoção, restaram apenas dois dispositivos. O artigo 1.618 do Código Civil dispõe que a adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Já o artigo 1.619 estipula que a adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá de assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente. Conforme já se teve a oportunidade de mencionar, sempre que possível, a criança ou o adolescente deve ser previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da adoção, devendo ter sua opinião devidamente considerada. E na hipótese de maior de 12 (doze) anos de idade, é necessário seu consentimento, que deve ser colhido em audiência. Os grupos de irmãos devem ser colocados sob adoção da mesma família substituta, exceto se houver comprovado risco de abuso ou de outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, a todo momento, evitar o rompimento dos vínculos fraternais. A colocação de uma a criança ou adolescente em família substituta deve ser precedida de preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude. A adoção é uma medida excepcional, de caráter irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados todos os recursos para a manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa. Há que se lembrar, pois, que a família extensa é uma espécie da família natural, formada pelo convívio da criança ou adolescente com parentes próximos, com os quais são mantidos laços de afinidade e afetividade. É expressamente vedada a adoção por procuração, conforme determina o parágrafo segundo do artigo 39 do Estatuto da Criança e do Adolescente. O direito de adotar é conferido ao maior de 18 (dezoito) anos de idade, independentemente do estado civil. Se a adoção for conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou que mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. Admite-se a adoção conjunta realizada por divorciados, por separados judicialmente ou por ex-companheiros, desde que eles estejam de acordo sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência, além de comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, de modo a justificar a excepcionalidade da concessão. Neste caso, uma vez provado o benefício ao adotando, assegura-se a guarda compartilhada. Há que se lembrar, pois, que em se tratando de crianças e adolescentes vige o princípio do melhor interesse do menor, o qual fundamenta a excepcionalidade dessas medidas. Os ascendentes e os irmãos da criança ou do adolescente não podem adotá-lo, haja vista o vínculo de parentesco já existente entre eles.

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Exige-se que o adotante seja, ao menos, 16 (dezesseis) anos mais velho que o adotando. E, ainda, que o adotando conte com, no máximo, 18 (dezoito) anos de idade à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres dos demais filhos, inclusive sucessórios, e tem o condão de desligá-lo de qualquer vínculo com pais e parentes biológicos, exceto quanto aos impedimentos matrimoniais (art. 41, caput, do ECA). Nos termos do parágrafo segundo do artigo 41 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º (quarto) grau, observada a ordem de vocação hereditária. Para que possa ser deferida, a adoção deve apresentar reais vantagens para o adotando e deve ser fundada em motivos legítimos. Em se tratando da adoção do tutelado ou curatelado, por seu tutor ou curador, há que se lembrar que ela só se viabiliza a partir do momento em que os últimos prestarem contas de sua administração e saldarem todo o necessário. A adoção é ato que depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando. Entretanto, dispensa-se esse consentimento se os pais da criança ou do adolescente forem desconhecidos ou tiverem sido destituídos do poder familiar. E, lembrando-se, em se tratando de adotando maior de 12 (doze) anos de idade, exige-se seu consentimento, que deve ser colhido em audiência. 2.3.2.3.1 Procedimento para adoção Incumbe a autoridade judiciária manter, em cada comarca ou foro regional:

a) um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados; e b) um registro de pessoas interessadas na adoção.

O deferimento da inscrição dar-se-á mediante prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público. Não será deferida a inscrição de família que revele incompatibilidade com a adoção ou que não ofereça um ambiente familiar adequado. A inscrição dos postulantes à adoção deve ser precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. Sempre que possível, esse período de preparação deve incluir o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional, em condições de serem adotados, a ser realizado sob orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

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Deverá haver, nos termos do parágrafo quinto do artigo 50 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a criação e implementação de cadastros estudais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados, bem como de pessoas ou casais habilitados à adoção. Os cadastros para pessoas ou casais residentes fora do país devem ser diferentes, e consultados somente na inexistência de postulantes nacionais habilitados. É dever da autoridade judiciária providenciar, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção, nos cadastros estadual e nacional, sob pena de responsabilidade. A manutenção e alimentação dos cadastros estaduais e nacional compete à Autoridade Central Estadual e à Autoridade Central Federal Brasileira, respectivamente. Já a fiscalização desses cadastros e das convocações aos postulantes à adoção será realizada pelo Ministério Público. Enquanto não encontrado pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível, deve ser mantido sob a guarda de família cadastrada em programa de acolhimento familiar. Embora faça-se necessário a inserção prévia em cadastro, para apenas então deferir-se a adoção, o Estatuto da Criança e do Adolescente estipulou algumas exceções. Assim, poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente quando:

a) se tratar de pedido de adoção unilateral;

b) for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;

c) for oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer dos crimes previstos nos artigos 237 (subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto) ou 238 (prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa), ambos do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A adoção deve, ainda, ser precedida de estágio de convivência com a criança ou o adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso (art. 46, caput, do ECA). Esse estágio de convivência pode ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo familiar (art. 46, §1º do ECA). Conforme previsão do parágrafo segundo do artigo 46 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência.

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Na hipótese de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do país, o estágio de convivência deve ser cumprido, obrigatoriamente, em território nacional e não pode ser inferior a 30 (trinta) dias. O estágio de convivência deve ser acompanhado por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que tem o dever de apresentar relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida (art. 46, §4º do ECA). Ultrapassadas todas as etapas, o vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão. Essa inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes. O mandado judicial que determina a inscrição no registro civil, que será arquivado, tem o condão de cancelar o registro original do adotado, consoante prevê o parágrafo segundo do artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente. No novo registro, nenhuma observação sobre a origem do adotado poderá constar nas certidões do registro (art. 47, §4º do ECA). A sentença conferirá, ainda, o nome do adotante ao adotado e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a alteração do prenome, caso em que é obrigatória a oitiva do adotando. Também a pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência. A eficácia da sentença de adoção é ex nunc, e sua natureza jurídica é constitutiva, mas há uma importante exceção, pois caso o adotante morra no curso do procedimento de adoção e antes de prolatada a sentença, a adoção poderá ainda assim ser deferida, caso em que sua sentença terá eficácia retroativa (ex tunc), a partir da data do óbito do adotante. A finalidade da exceção é conferir ao adotado acesso à herança do falecido, já que esta se transmite no exato momento da morte (princípio da saisine). Findo o processo de adoção, este deve ser mantido em arquivo, podendo ser consultado a qualquer tempo, nos termos em que orienta o parágrafo oitavo do artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ao adotado é dado o direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. Excepcionalmente, também se admite que o menor de 18 (dezoito) anos tenha acesso ao processo de adoção, a seu pedido, caso em que deve à ele ser assegurada assistência jurídica e psicológica. Por derradeiro, há que se salientar que a morte dos adotantes não restabelece o poder familiar aos pais biológicos (ou naturais), conforme estipula o artigo 49 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou o casal postulante é residente ou domiciliado fora do brasil, nos termos do artigo 51 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

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Como se sabe, a adoção internacional é medida excepcional. Ademais, só terá lugar a adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil quanto restar comprovado:

a) que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto;

b) que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros estaduais e cadastro nacional;

c) que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, após oitiva da criança ou adolescente menor de 12 (doze) anos, quando possível, e mediante consentimento, colhido em audiência, no caso de maior de 12 (doze) anos.

Os brasileiros residentes no exterior possuem preferência aos estrangeiros nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro (art. 51 §2º do ECA). A adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional (art. 51, §3º do ECA). Além das regras gerais quanto à colocação da criança ou do adolescente em família substituta, a adoção internacional deve ser realizada de acordo com as seguintes adaptações:

a) a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual;

b) se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional;

c) a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira;

d) o relatório será instruído com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência;

e) os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado;

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f) a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida;

g) verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano;

h) de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.

Caso a legislação do país de acolhida autorize, admite-se que os pedidos de habilitação para adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados (art. 52, §1º do ECA). À Autoridade Central Federal Brasileira incumbe o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com posterior comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em site próprio para esta finalidade, conforme previsão contida no parágrafo segundo do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente. E nos termos do parágrafo terceiro do mesmo artigo 52, só será admissível o credenciamentos de organismos que:

a) sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil;

b) satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

c) forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção internacional;

d) cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central Federal Brasileira.

E, os organismos internacionais deverão ainda (art. 52, §4º do ECA):

a) perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

b) ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento

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de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal competente;

c) estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;

d) apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal, sob pena de suspensão de seu credenciamento;

e) enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado;

f) tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos.

O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção internacional tem validade de 2 (dois) anos, e poderá ser renovado mediante requerimento perante a Autoridade Central Federal Brasileira, observado o prazo de 60 (sessenta) dias anteriores ao término do respectivo prazo de validade, conforme orientam os parágrafos sexto e sétimo do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente. É importante destacar que não será permitida a saída da criança ou do adolescente adotando antes de transitada em julgada a decisão que concedeu a adoção internacional (art. 52, §8º do ECA). Transitada em julgado a decisão que concede a adoção, a autoridade judiciária deve determinar a expedição de alvará com autorização de viagem, bem como para obtenção de passaporte, devendo constar, obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado (art. 52, §9º do ECA). A finalidade de todas essas exigências é a conferir o máximo de segurança ao procedimento, evitando qualquer manobra ilícita envolvendo crianças ou adolescentes, visando sempre o melhor interesse das mesmas. A qualquer momento a Autoridade Central Federal Brasileira poderá solicitar informações sobre a situação das crianças e adolescentes adotados. Prevê o parágrafo onze do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que é causa de descredenciamento do organismo credenciado, a cobrança de valores que sejam considerados abusivos pela Autoridade Central Federal Brasileira e que não ostentem a devida comprovação.

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Ademais, a Autoridade Central Federal Brasileira possui autonomia para limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado (art. 52, §15 do ECA). Admite-se que uma mesma pessoa ou seu cônjuge sejam representados por mais de uma entidade credenciada, com objetivo de cooperação na adoção internacional. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado fora do brasil tem validade máxima de 1 (um) ano, passível de renovação. Veda-se, no entanto, o contato direto entre representantes de organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, e dirigentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem a devida autorização judicial (art. 52, §14 do ECA). Sob pena de responsabilidade e descredenciamento, é vedado o repasse de recursos provenientes de organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas (art. 52-A, ECA). Eventuais repasses somente poderão ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente (art. 52-A, parágrafo único, do ECA). Há ainda que se mencionar, que nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem da criança ou do adolescente deverá ser conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que deve então comunicar o fato à Autoridade Central Federal e determinar as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização Provisório (art. 52-C, ECA). Nesse caso, a Autoridade Central Estadual, após manifestação do Ministério Público, somente deve deixar de reconhecer os efeitos daquela decisão se ficar demonstrado:

a) que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública;

b) que não atende ao interesse superior da criança ou adolescente.

E no caso de não reconhecimento da adoção, o Ministério Público deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar os interesses da criança ou adolescente, dando comunicação das providência adotadas à Autoridade Central Estadual, que deve comunicar a Autoridade Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem (art. 52-C, §2º do ECA). Por derradeiro, prevê o artigo 52-D do Estatuto da Criança e do Adolescente que nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção de Haia Relativa a Proteção das Crianças e a Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, o processo de adoção deverá seguir as regras da adoção nacional.

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2.4 Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer A educação é o melhor meio para o desenvolvimento das pessoas. Assegurar às crianças e adolescentes uma educação de qualidade é o mesmo que assegurar-lhes potenciais condições para uma futura vida digna. Em sentido oposto, manter crianças e adolescentes longe do caminho da educação é fechar-lhes as portas das oportunidades, e, com isso, minorar-lhes as possibilidades de pleno desenvolvimento. Nesse sentido, prevê o artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que crianças e adolescentes tem direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:

a) igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

b) direito de ser respeitado por seus educadores;

c) direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

d) direito de organização e participação em entidades estudantis;

e) acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Neste último caso, note-se que não há uma determinação, mas sim a previsão de um benefício ao menor. Dessa forma, as finalidades do direito à educação não podem ser deixadas de lado. Nesse sentido, veja-se interessante manifestação do Superior Tribunal de Justiça:

Informativo nº 0443 Período: 16 a 20 de agosto de 2010. Segunda Turma MATRÍCULA. ESCOLA PÚBLICA. GEORREFERENCIAMENTO. A Turma negou provimento ao recurso especial para manter a decisão do tribunal a quo, a qual afastou o critério de georreferenciamento e garantiu o direito de rematrícula da recorrida no estabelecimento público de ensino em que havia concluído o ano letivo. Segundo a Min. Relatora, a regra disposta no art. 53, V, do ECA, que garante à criança e ao adolescente o acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência, não constitui imposição, mas benefício. O referido dispositivo deve ser interpretado de acordo com as peculiaridades de cada caso, ponderando-se qual a solução mais favorável ao aluno: a proximidade da instituição ou a continuidade em escola mais distante, onde o menor, porém, já esteja ambientado. Ressalvou-se que tal concepção não tem o intuito de fazer que o estudante escolha livremente o local em que queira estudar, o que poderia inviabilizar a prestação do serviço. Pretende-se, de acordo com as circunstâncias da demanda ora em exame, buscar o

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entendimento que melhor se ajuste à real finalidade da lei, qual seja, facilitar o acesso à educação e, com isso, garantir o pleno desenvolvimento da criança. REsp 1.194.905-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 17/8/2010. (sem grifos no original)

Para melhor integração do sistema educacional, o parágrafo único do artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, por bem reconheceu aos pais ou responsáveis o direito de terem ciência do processo pedagógico, assim como de participar da definição das propostas educacionais. Segundo o artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

a) ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

b) progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

c) atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

d) atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade;

e) acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

f) oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;

g) atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

O acesso ao ensino obrigatório e gratuito configura um direito público subjetivo, uma vez que efetiva a ampla proteção que deve ser destinada à criança e ao adolescente. Como direito público subjetivo, o não oferecimento do ensino público obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente (art. 54, §2º do ECA). Enquanto o poder público tem o dever de disponibilizar, os pais ou responsável tem o dever de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. Prevê o artigo 56 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que é dever dos dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicar ao Conselho Tutelar:

a) maus-tratos envolvendo seus alunos;

b) reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;

c) elevados níveis de repetência.

No primeiro caso, o dirigente de estabelecimento de ensino fundamental que deixar de comunicar ao Conselho Tutelar a suspeita ou

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confirmação da prática de maus-tratos contra criança ou adolescente incorre na infração administrativa descrita no artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê a aplicação de uma pena de multa, variável de 3 (três) a 20 (vinte) salários de referência, que pode ser aplicada em dobro no caso de reincidência. Por fim, cumpre mencionar que também é dever do poder público estimular pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório (art. 57 do ECA). 2.5 Direito à profissionalização e à proteção no trabalho O trabalho é extremamente importante para o desenvolvimento da pessoa humana. Contudo, em relação as crianças e adolescentes deve-se estar atento para que ele não implique no contrário. Nesse contexto, é vedado aos menores de 18 (dezoito) anos o exercício de trabalho noturno, perigoso ou insalubre e de qualquer tipo de trabalho aos menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 (quatorze) anos. O trabalho realizado sob a modalidade de aprendizagem consiste numa formação técnico-profissional, que deve ser ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação educacional em vigor. Assim, essa formação técnico-profissional deve obedecer aos seguintes princípios:

a) garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;

b) atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;

c) horário especial para o exercício das atividades.

Ao adolescente aprendiz são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários, conforme previsão do artigo 65 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido (art. 66 do ECA). Prevê o artigo 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado o trabalho:

a) noturno, realizado entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte;

b) perigoso, insalubre ou penoso;

c) realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;

d) realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola.

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No trabalho como aprendiz, o adolescente deve receber capacitação para o exercício de atividade laborativa remunerada, atividade esta que deve atender as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando. Portanto, quando o adolescente trabalha sob o regime de aprendizado, deve-se conferir privilégio ao seu desenvolvimento pessoal e social em detrimento do seu aspecto produtivo. Conforme esclarece o parágrafo segundo do artigo 68 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo. Por derradeiro, há que se frisar que o adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre outros (art. 69 do ECA):

a) respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;

b) capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. 3. PREVENÇÃO É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente (art. 70 do ECA). O dever de prevenção é, pois, instrumento de consagração do direito de ampla proteção, constitucionalmente assegurado às crianças e adolescentes. Além da prevenção, observada como regra geral pelo poder público, pela família e pela comunidade, existem regras de prevenção especial, a seguir analisadas. A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (art. 71 do ECA). Não observadas as normas de prevenção, sejam elas gerais ou especiais, a pessoa física ou jurídica deve ser responsabilizada pela sua conduta. 3.1 Prevenção especial 3.1.1 Informação, cultura, lazer, esportes, diversões e espetáculos Dever especial de prevenção recai sobre a informação, a cultura, o lazer, os esportes, diversões e espetáculos direcionados às crianças e adolescentes. É dever do poder público, através de órgãos competente, regular as diversões e espetáculos públicos, informando a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem e os locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada (art. 74, caput, do ECA). E é dever dos responsáveis por diversões e espetáculos públicos afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária

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especificada no certificado de classificação (art. 74, parágrafo único, do ECA). É dado a toda criança o direito de livre acesso às diversões e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa etária (art. 75, caput, do ECA). Já as crianças menores de 10 (dez) anos somente poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável. Prevê o artigo 76 do Estatuto da Advocacia e da OAB, que as emissoras de rádio e televisão somente devem exibir, no horário recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. Nesse contexto, estipula o parágrafo único do mesmo artigo 76, que nenhum espetáculo deve ser apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição. Segundo regulamentação operada por meio da Portaria n.º 264, de 9 de fevereiro de 2007, do Ministério da Justiça, o aviso de classificação indicativa dos programas deve ser operado por meio dos seguintes símbolos:

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Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de programação em vídeo tem o dever de cuidar para que não haja venda ou locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente (art. 77, caput, do ECA). No caso de revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes, elas devem ser comercializadas em embalagem lacrada, acompanhada da advertência sobre seu conteúdo. Ademais, consoante determinação do parágrafo único do artigo 78 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever das editoras cuidar para que as capas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca. É vedado que revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil contenham ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, além de terem o dever de respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. Por fim, é dever dos responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere, além de casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente, não permitir a entrada e a permanência de crianças e adolescentes no local, afixando aviso para orientação do público (art. 80 do ECA). 3.1.2 Produtos e serviços Para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil, é importante memorizar que é proibida a venda à criança ou ao adolescente de:

a) armas, munições e explosivos;

b) bebidas alcoólicas;

c) produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização indevida;

d) fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida;

e) revistas e publicações que contenham material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes;

f) bilhetes lotéricos e equivalentes.

A venda, a entrega e o fornecimento, ainda que gratuito, de qualquer forma, a criança ou adolescente de arma, munição ou explosivo é crime, consoante tipificação do artigo 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Também configura crime, previsto no artigo 243 do Estatuto em estudo, vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida. E o artigo 244 do Estatuto da Criança e do Adolescente tipifica a conduta daquele que vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampido ou de

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artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida. No caso de venda de revistas e publicações que contenham material impróprio ou inadequado a criança e adolescentes, a conduta é passível de punição, mas não configura crime, e sim a infração administrativa descrita no artigo 257 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ademais, é proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável (art. 82 do ECA). Configura infração administrativa, conforme prevê o artigo 250 do Estatuto da Criança e do Adolescente, hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária. 3.1.3 Autorização para viajar Nenhuma criança pode viajar para fora da comarca onde reside sem a companhia dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial. Entretanto, não se exige autorização quando:

a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;

b) a criança estiver acompanhada:

i) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;

ii) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

A pedido dos pais, pode a autoridade judiciária conceder autorização com validade por até por 2 (dois) anos, consoante autoriza o artigo 83, parágrafo segundo, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em se tratando de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente:

a) estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;

b) viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida.

Por fim, conforme regra explicitada pelo artigo 85 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional pode sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

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PARTE ESPECIAL 1. POLÍTICA DE ATENDIMENTO A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 86 do ECA). São linhas de ação da política de atendimento, conforme dispõe o artigo 87 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

a) políticas sociais básicas;

b) políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que deles necessitem;

c) serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

d) serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;

e) proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.

f) políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência.

g) campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.

Já as diretrizes da política de atendimento são as seguintes (art. 88 do ECA):

a) municipalização do atendimento;

b) criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;

c) criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-administrativa;

d) manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;

e) integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional;

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f) integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei;

g) mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade.

A função de membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não deve ser remunerada (art. 89 do ECA). 1.1 Entidades de atendimento As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção e sócio-educativos destinados a crianças e adolescentes, em regime de:

a) orientação e apoio sócio-familiar;

b) apoio sócio-educativo em meio aberto;

c) colocação familiar;

d) acolhimento institucional;

e) liberdade assistida;

f) semi-liberdade;

g) internação.

Segundo determina o parágrafo primeiro do artigo 90 do Estatuto da Criança e do Adolescente, as entidades governamentais e não governamentais tem o dever de proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida no mencionado artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual tem o dever de manter registro das inscrições e de suas alterações, do que deve ser feita comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. Os programas em execução devem ser reavaliados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização de funcionamento:

a) o efetivo respeito às regras e princípios do Estatuto em estudo, bem como às resoluções relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis;

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b) a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela Justiça da Infância e da Juventude;

c) em se tratando de programas de acolhimento institucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso.

E consoante previsão do artigo 91 do Estatuto da Criança e do Adolescente, as entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual deve comunicar o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva localidade. Conforme previsão legal deve ser negado o registro à entidade que:

a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;

b) não apresente plano de trabalho compatível com os princípios desta Lei;

c) esteja irregularmente constituída;

d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.

e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis.

O registro possui validade máxima de 4 (quatro) anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação, observando sempre as hipóteses de negação de registro supra mencionadas. São princípios que devem ser adotados pelas entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional:

a) preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar;

b) integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural ou extensa;

c) atendimento personalizado e em pequenos grupos;

d) desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;

e) não desmembramento de grupos de irmãos;

f) evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;

g) participação na vida da comunidade local;

h) preparação gradativa para o desligamento;

i) participação de pessoas da comunidade no processo educativo.

Para todos os efeitos de direito, o dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao guardião (art. 92, §1º do ECA).

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Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional tem o dever de remeter à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para que se possa decidir pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta. É dever dos entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo e Judiciário, promover conjuntamente a permanente qualificação dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em programas de acolhimento institucional e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar (art. 92, §3º do ECA). E consoante previsão do parágrafo quarto do artigo 92 do Estatuto da Criança e do Adolescente, salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, devem estimular o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, para preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar, assim como para a preparação gradativa para o desligamento. As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional só podem receber recursos públicos uma vez comprovado o atendimento dos princípios, exigências e finalidades determinadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 92, §5º do ECA). Caso sejam descumpridas as disposições do Estatuto em estudo pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de acolhimento familiar ou institucional, este deve ser destituído, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal (art. 92, §6º do ECA). Em caráter excepcional e de urgência, admite-se que entidades que mantenham programa de acolhimento institucional acolham crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, devendo, nesse caso, comunicar o fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e Juventude, sob pena de responsabilidade. E uma vez recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, deve tomar as medidas necessárias para promoção da imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão isso não for possível ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família substituta, observado o disposto no parágrafo segundo do artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 93, parágrafo único do ECA). Prevê o artigo 94 do Estatuto da Criança e do Adolescente que são obrigações das entidades que desenvolvem programas de internação, sem prejuízo de outras:

a) observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes;

b) não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação;

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c) oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos;

d) preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente;

e) diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares;

f) comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares;

g) oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal;

h) oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;

i) oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos;

j) propiciar escolarização e profissionalização;

k) propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;

l) propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;

m) proceder a estudo social e pessoal de cada caso;

n) reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente;

o) informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual;

p) comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas;

q) fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes;

r) manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos;

s) providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;

t) manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento.

No que pertinente, aplicam-se essas mesmas obrigações às entidades que mantêm programas de acolhimento institucional e familiar (art. 94, §1º do ECA). Por fim, em observância ao parágrafo segundo do artigo 94 do Estatuto da Criança e do Adolescente, para o cumprimento das obrigações supra mencionas, as entidades devem utilizar preferencialmente os recursos da comunidade.

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1.1.1 Fiscalização das entidades As entidades de atendimento, sejam governamentais ou não governamentais, são fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e também pelos Conselhos Tutelares. Os planos de aplicação e as prestações de contas devem ser apresentados ao Estado ou ao Município, conforme a origem das dotações orçamentárias (art. 96 do ECA). Uma vez descumpridas as obrigações do artigo 94 do Estatuto da Criança e do Adolescente, são medidas aplicáveis às entidades de atendimento, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos:

I - às entidades governamentais:

a) advertência;

b) afastamento provisório de seus dirigentes;

c) afastamento definitivo de seus dirigentes;

d) fechamento de unidade ou interdição de programa.

II - às entidades não-governamentais:

a) advertência;

b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;

c) interdição de unidades ou suspensão de programa;

d) cassação do registro.

No caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de atendimento, de modo a colocar em risco os direitos que o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura, tal fato deve ser comunicado ao Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dissolução da entidade (art. 97, §1º do ECA). Por derradeiro, conforme prevê o parágrafo segundo do artigo 97 do Estatuto em estudo, as pessoas jurídicas de direito público e as organizações não governamentais responderão pelos danos que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, uma vez caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores das atividades de proteção específica. 2. MEDIDAS DE PROTEÇÃO As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente forem ameaçados ou violados:

a) por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

b) por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

c) em razão de sua conduta.

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No tópico seguinte analisar-se-ão as medidas específicas de proteção à criança e ao adolescente. 2.1 Medidas específicas de proteção As medidas específicas de proteção podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa, assim como podem ser substituídas a qualquer tempo (art. 99 do ECA). O Superior Tribunal de Justiça já emitiu informativo pertinente ao presente estudo:

Informativo nº 0273 Período: 6 a 10 de fevereiro de 2006. Sexta Turma ECA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO. ROUBO. O menor praticou ato infracional equiparado a roubo, sendo-lhe aplicada medida sócio-educativa de semiliberdade e, posteriormente, praticou o ato infracional equiparado a furto durante o cumprimento da medida imposta. O Juízo do Departamento de Execuções da Infância e da Juventude determinou, então, a substituição da medida imposta por internação de prazo indeterminado, segundo relatórios que a recomendavam. Diante disso, a Turma entendeu denegar a ordem por ausência de constrangimento ilegal, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, em seu art. 99, que as medidas impostas podem ser substituídas a qualquer tempo, desde que necessárias e adequadas. HC 43.511-SP, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, julgado em 9/2/2006. (sem grifos no original)

Para a aplicação das medidas de proteção, deve-se levar em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (art. 100, caput, do ECA). Conforme previsão do parágrafo único do artigo 100 do Estatuto da Criança e do Adolescente são também princípios que regem a aplicação das medidas:

a) condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos o Estatuto em estudo e em outras leis, bem como na Constituição Federal;

b) proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida no Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares;

c) responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes pelo Estatuto em estudo e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3

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(três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais;

d) interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;

e) privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;

f) intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida;

g) intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente;

h) proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada;

i) responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o adolescente;

j) prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua integração em família substituta;

k) obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa;

l) oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e, no caso de maior de 12 (doze) anos, observando-se a necessidade de seu consentimento ser colhido em audiência.

Verificada qualquer ameaça ou violação de direitos reconhecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, seja por ação ou omissão da sociedade ou do Estado (art. 98, I do ECA), por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável (art. 98, II do ECA), ou em razão de sua própria conduta (art. 98, III do ECA), a autoridade competente pode determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

a) encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

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b) orientação, apoio e acompanhamento temporários;

c) matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

d) inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;

e) requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

f) inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

g) acolhimento institucional;

h) inclusão em programa de acolhimento familiar;

i) colocação em família substituta.

Tanto o acolhimento institucional como o familiar são medidas provisórias e excepcionais, passíveis de utilização como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação da liberdade (art. 101, §1º do ECA). Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa (art. 101, §2º do ECA). Consoante determina o parágrafo terceiro do artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente, crianças e adolescentes só podem ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente deve constar, dentre outros:

a) sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;

b) o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;

c) os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;

d) os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.

Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar deve elaborar um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e

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princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 101, §4º do ECA). O plano individual deve ser elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e deve levar em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável (art. 101, §5º do ECA). Dentre outros, devem constar do plano individual:

a) os resultados da avaliação interdisciplinar;

b) os compromissos assumidos pelos pais ou responsável;

c) a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.

O acolhimento familiar ou institucional deve ocorrer no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem deve ser incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido (art. 101, §7º do ECA). Uma vez constatada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional deve fazer imediata comunicação à autoridade judiciária, que deve dar vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo (art. 101, §8º do ECA). Caso contrário, em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, deverá ser enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição da tutela ou guarda (art. 101, §9º do ECA). Recebido o relatório, o Ministério Público tem o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda (art. 101, §10 do ECA). É dever da autoridade judiciária manter, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das modalidades previstas no art. 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 101, §11 do ECA).

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O Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social tem acesso ao mencionado cadastro, sendo-lhes dever deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento. Conforme determina o artigo 102 do Estatuto da Criança e do Adolescente, as medidas de proteção supra mencionadas devem ser acompanhadas da regularização do registro civil. Assim, verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou adolescente deverá ser feito à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária (art. 102, §1º do ECA). Nesses casos, os registros e certidões são isentos de multas, custas e emolumentos, além de gozarem de absoluta prioridade, consoante determinação legal (art. 102, §2º do ECA). E caso ainda não tenha sido definida a paternidade, deverá ser deflagrado procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme previsão da Lei n.º 8.560/92, dispensado o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo Ministério Público caso, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção (art. 102, §§3º e 4º do ECA). 3. PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal, quando praticada por menor de 18 (dezoito) anos. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, mas sujeitam-se as medidas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Conforme dispõe o parágrafo único do artigo 104 do Estatuto em estudo, para os efeitos de sua aplicação, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato. No caso de ato infracional praticado por criança, devem ser observadas as medidas previstas no artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que destina tratamento diferenciado em relação ao adolescente. 3.1 Direitos individuais Nenhum adolescente por ser privado de sua liberdade, salvo mediante:

a) flagrante de ato infracional; ou

b) por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.

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O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos (art. 106, parágrafo único, do ECA). Ocorrida a apreensão de qualquer adolescente, deve haver imediata comunicação do fato à autoridade judiciária e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada, devendo-se também indicar o local em que ele se encontra recolhido. Nesse caso, deve ser examinada, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata do adolescente. Dispõe o artigo 108 do Estatuto da Criança e do Adolescente que a internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de 45 (quarenta) e cinco dias. Nesse caso, a decisão deve ser fundamentada e deve basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida (art. 108, parágrafo único, do ECA). Por derradeiro, é direito individual do adolescente, uma vez civilmente identificado, não ser submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, uma vez existente dúvida fundada (art. 109 do ECA). 3.2 Garantias processuais Nenhum adolescente pode ser privado de sua liberdade sem o devido processo legal, em consagração da regra constitucionalmente estabelecida no artigo 5º, LIV da Constituição Federal de 1988. Entre outras garantias, são asseguradas ao adolescente:

a) pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;

b) igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;

c) defesa técnica por advogado;

d) assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;

e) direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;

f) direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. 3.3 Medidas sócio-educativas Constatada a prática de ato infracional, a autoridade competente pode aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

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a) advertência (que pode ser

aplicada sempre que houver

prova da materialidade e

indícios suficientes

de autoria);

b) obrigação de reparar o dano;

c) prestação de serviços à

comunidade;

d) liberdade assistida;

e) inserção em regime de

semi-liberdade;

f) internação em estabelecimento

educacional;

g) qualquer uma das previstas no

art. 101, I a VI do ECA, ou seja:

i) encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

ii) orientação, apoio e acompanhamento temporários;

iii) matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

iv) inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;

v) requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

vi) inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos.

Na aplicação da medida sócio-educativa ao adolescente, deve-se levar em conta a sua capacidade de cumpri-la, assim como as circunstâncias e a gravidade da infração (art. 112, §1º do ECA). Conforme estipula o parágrafo segundo do artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente, em hipótese alguma e sob pretexto algum, deve ser admitida a prestação de trabalho forçado. No caso de adolescentes portadores de doença ou deficiência mental, a eles deve ser destinado tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. Por fim, há que se mencionar que as medidas sócio-educativas tem caráter dúplice, qual seja, o pedagógico e o punitivo, conforme já teve a oportunidade de se manifestar o Superior Tribunal de Justiça:

Informativo nº 0266 Período: 24 de outubro a 4 de novembro de 2005. Sexta Turma ADOLESCENTE. DESCUMPRIMENTO. MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA. PRESCRIÇÃO.

Para imposição destas medidas, exige-se a existência de provas suficientes de autoria e da mate- rialidade da infração, salvo a hipótese de remissão, nos termos do artigo 127 do ECA.

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As medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente não têm a mesma natureza e intensidade das penas estabelecidas no Código Penal, pois devem ser regidas pelos princípios da brevidade, excepcionalidade e observância da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Entretanto, preservado o escopo principal das medidas sócio-educativas (pedagógico), não há como negar o seu caráter repressivo (punitivo); admiti-lo, inclusive, é útil não só aos autores de atos infracionais (adolescentes), mas também às vítimas de tais condutas ilícitas. Assim, as medidas sócio-educativas são, tanto quanto as sanções penais, mecanismos de defesa social, porquanto permitem ao Estado delimitar a liberdade individual do adolescente infrator. Torna-se arbitrária a concessão ao Estado do poder de aplicar ou executar tais medidas a qualquer tempo. Assim, perfeitamente possível a aplicação da prescrição penal aos atos infracionais. No caso, o adolescente, em 19/2/2004, descumpriu medida sócio-educativa (liberdade assistida) imposta, ato que ensejou o início da contagem do prazo da prescrição. A medida, cujo prazo é inferior a um ano, prescreve em dois anos (art. 109, parágrafo único, do CP). Por equiparação, é reduzido de metade o prazo da prescrição quando o agente era, ao tempo do fato, menor de vinte e um anos. Assim a medida sócio-educativa prescreveu em 18/2/2005. A Turma concedeu a ordem. HC 45.667-SP, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 27/10/2005.

3.3.1 Advertência Conforme se mencionou, a advertência pode ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. A medida de advertência consiste em admoestação verbal, que deve ser reduzida a termo e assinada. Para esclarecer, admoestar é o mesmo que dar conselho, reprimir ou advertir com um caráter crítico, com sentido de censurabilidade. 3.3.2 Obrigação de reparar o dano Quando se tratar de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade pode determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima (art. 116, caput, do ECA). No entanto, caso haja manifesta impossibilidade de reparação, a medida poderá ser substituída por outra que seja reputada como adequada.

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3.3.3 Prestação de serviços à comunidade A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a 6 (seis) meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais (art. 117, caput, do ECA). A atribuição das tarefas ao adolescente devem observar as aptidões do mesmo, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de 8 (oito) horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. 3.3.4 Liberdade assistida A liberdade assistida deve ser adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente (art. 118, caput, do ECA). É dever da autoridade designar pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento, consoante disposição contida no parágrafo primeiro do artigo 118 do Estatuto da Criança e do Adolescente. A liberdade assistida deve ser fixada pelo prazo mínimo de 6 (seis) meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor (art. 118, §2º do ECA). É dever do orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:

a) promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;

b) supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;

c) diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;

d) apresentar relatório do caso. 3.3.5 Regime de semi-liberdade O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio-aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial (art. 120, caput, do ECA). A escolarização e a profissionalização são obrigatórias, devendo, sempre que possível, ser utilizados recursos existentes na comunidade (art. 120, §1º do ECA). Por fim, há que se mencionar que a medida em estudo não comporta prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à

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internação, conforme dispõe o parágrafo segundo do artigo 120 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 3.3.6 Internação A internação é medida privativa da liberdade, dotada de caráter excepcional. Só há que se falar na imposição dessa medida caso não exista outra adequada. Assim, a internação sujeita-se aos seguintes princípios:

a) brevidade;

b) excepcionalidade;

c) respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

A realização de atividades externas pode ser permitida a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em sentido oposto (art. 121, §1º do ECA). É importante frisar que a medida de internação não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada 6 (seis) meses. No entanto, em nenhuma hipótese o período máximo de internação pode exceder a 3 (três) anos. Uma vez atingido esse limite temporal, o adolescente deve ser liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida. A liberação compulsória do menor que cumpre a medida de internação ocorre aos 21 (vinte e um) anos de idade, conforme estipula o parágrafo quinto do artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em qualquer hipótese, só há que se falar em desinternação mediante prévia autorização judicial, sempre ouvido o Ministério Público (art. 121, §6º do ECA). Prevê o artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente que a medida de internação só pode ser aplicada quando:

a) tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;

b) por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

c) por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

Na última hipótese, o prazo de internação não pode ser superior a 3 (três) meses, conforme determina o parágrafo primeiro do artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Conforme regra esculpida no artigo 123 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a internação deve ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Durante o período de internação, inclusive provisória, é obrigatória a realização de atividades pedagógicas, consoante determinação complementar, contida no parágrafo único do artigo 123 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Dentre outros, são direitos do adolescente privado de liberdade:

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a) entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;

b) peticionar diretamente a qualquer autoridade;

c) avistar-se reservadamente com seu defensor;

d) ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;

e) ser tratado com respeito e dignidade;

f) permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;

g) receber visitas, ao menos, semanalmente;

h) corresponder-se com seus familiares e amigos;

i) ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;

j) habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;

k) receber escolarização e profissionalização;

l) realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:

m) ter acesso aos meios de comunicação social;

n) receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;

o) manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;

p) receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.

Em nenhuma hipótese admite-se a incomunicabilidade do adolescente (art. 124, §1º do ECA). Admite-se, contudo, a suspensão temporária das visitas, inclusive dos pais ou responsável, por ordem da autoridade judiciária, quando existam motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. Por derradeiro, há que se frisar o dever do Estado consagrado no artigo 125 do Estatuto da Criança e do Adolescente, qual seja, zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança. 3.4 Remissão Antes do início do procedimento judicial para apuração de ato infracional, ao representante do Ministério Público é dada a faculdade de conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional (art. 126, caput, do ECA). Contudo, caso já tenha se iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo (art. 126, parágrafo único do ECA).

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Prevê o artigo 127 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que a remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-liberdade e a internação. Uma vez aplicada determinada medida sócio-educativa por força da remissão, ela poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público (art. 128 do ECA). 4. MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL O Estatuto da Criança e do Adolescente não cuidou apenas da previsão de medidas aos menores, mas também aos pais destes. A justificativa básica para tanto reside no fato da incapacidade que recai sobre os menores. Em não raros casos, a prática de atos infracionais decorre de situação existente no próprio âmbito familiar. Nesse sentido, o Estatuto em estudo apresenta instrumentos de correção de conduta dos menores, mas também dos pais ou responsável pelos mesmos, quando se demonstrar que deles advém a causa para a conduta irregular do menor. Prevê o artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente que são medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

a) encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;

b) inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

c) encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

d) encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

e) obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar;

f) obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;

g) advertência;

h) perda da guarda;

i) destituição da tutela;

j) suspensão ou destituição do poder familiar.

Ademais, sempre que verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária pode determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum (art. 130 do ECA).

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5. CONSELHO TUTELAR O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Prevê o artigo 132 do Estatuto em estudo, que em cada Município deve haver, no mínimo, um Conselho Tutelar, composto de 5 (cinco) membros, que devem ser escolhidos pela comunidade local para mandato de 3 (três) anos, permitida uma recondução. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, são exigidos os seguintes requisitos:

a) reconhecida idoneidade moral;

b) idade superior a vinte e um anos;

c) residir no município.

É competência da lei municipal dispor sobre local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive quanto a eventual remuneração de seus membros (art. 134, caput, do ECA). Nesse contexto, deve constar da lei orçamentária municipal a previsão dos recursos necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar (art. 134, parágrafo único, do ECA). Por fim, deve-se mencionar que o exercício efetivo da função de conselheiro constitui serviço público relevante, estabelece presunção de idoneidade moral e assegura prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo, conforme dispõe o artigo 135 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 5.1 Atribuições do conselho Consoante previsão do artigo 136 do Estatuto da Criança e do Adolescente, são atribuições do Conselho Tutelar:

a) atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII do ECA;

b) atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII do ECA;

c) promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

i) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;

ii) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações.

d) encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;

e) encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

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f) providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;

g) expedir notificações;

h) requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário;

i) assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;

j) representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;

k) representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.

Quando o Conselho Tutelar, no exercício de suas atribuições, entender necessário o afastamento do convívio familiar, deve comunicar incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família (art. 136, parágrafo único do ECA). Uma vez tomadas as decisões pelo Conselho Tutelar, elas só poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem possua legítimo interesse (art. 137 do ECA). 5.2 Competência A competência do Conselho Tutelar rege-se da forma descrita no artigo 147 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo aludido dispositivo, a competência é determinada:

a) pelo domicílio dos pais ou responsável;

b) pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.

Por derradeiro, veja-se a pertinente manifestação do Superior Tribunal de Justiça acerca da competência determinada pelo domicílio dos pais ou responsável:

Informativo nº 0446 Período: 6 a 10 de setembro de 2010. Segunda Seção COMPETÊNCIA. ADOÇÃO. GUARDA. INTERESSE. CRIANÇA. No caso de disputa judicial que envolve a guarda ou mesmo a adoção de crianças ou adolescentes, deve-se levar em consideração o interesse deles para a determinação da competência, mesmo que para tal se flexibilizem outras normas. Logo, o princípio do juízo

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imediato, previsto no art. 147, I, do ECA, sobrepõe-se às regras gerais do CPC, desde que presente o interesse da criança e do adolescente. Assim, o art. 87 do CPC, que estabelece o princípio da perpetuatio jurisdictionis, deve ser afastado para que a solução do litígio seja mais ágil, segura e eficaz em relação à criança, permitindo a modificação da competência no curso do processo, mas sempre considerando as peculiaridades do caso. A aplicação do art. 87 do CPC em oposição ao art. 147, I, do ECA somente é possível quando haja mudança de domicílio da criança e seus responsáveis, após já iniciada a ação e, consequentemente, configurada a relação processual. Esse posicionamento tem o objetivo de evitar que uma das partes mude de residência e leve consigo o processo. CC 111.130-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/9/2010. (sem grifos no original)

5.3 Escolha dos conselheiros É competência dos Municípios, por meio de lei, estabelecer o processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar. Já a realização desse processo deve ser feita sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e mediante a fiscalização do Ministério Público (art. 139 do ECA). 5.4 Impedimentos Segundo dispõe o artigo 140 do Estatuto da Criança e do Adolescente, são impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhado, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. Ademais, estende-se o impedimento (do conselheiro) supra mencionado, em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital (art. 140, parágrafo único do ECA). 6. ACESSO À JUSTIÇA Toda criança ou adolescente tem acesso garantido à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos (art. 141 do ECA).

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No mesmo sentido, a assistência judiciária gratuita deve ser prestada aos que dele necessitarem, por meio de defensor público ou advogado nomeado. No caso de ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude, há isenção de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé, conforme estipula o parágrafo segundo do artigo 141 do Estatuto da Criança e do Adolescente. O artigo 142 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou processual.

Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de representação ou assistência legal ainda que eventual.

Mencionado dispositivo foi parcialmente revogado com o advento do Código Civil de 2002. Assim, os menores de (dezesseis) anos continuam a serem representados, ao passo que os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) necessitam serem assistidos por seus pais ou tutores. Consabido, o Código Civil de 2002 estipulou que ao atingir 18 (dezoito) anos, a pessoa se torna capaz para todos os atos da vida civil. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua a autoria de ato infracional, consoante determinação contida no caput do artigo 143 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Nesse contexto, o parágrafo único do mencionado artigo 143 complementa a regra proibitiva ao dispor que qualquer notícia a respeito do fato não pode identificar a criança ou adolescente, vedando-se o uso de fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. Dessa forma, só há que se falar em expedição de cópia ou certidão de atos relativos a crianças e adolescentes quando deferido pela autoridade judiciária competente, desde que demonstrado o interesse e justificada a finalidade (art. 144 do ECA). 6.1 Justiça da infância e da juventude A previsão legal especifica em relação à justiça da infância e juventude visa conferir às crianças e adolescentes ampla atenção, método por meio do qual se viabiliza o direito de ampla proteção a elas conferido. Dessa forma, aos Estados e ao Distrito Federa foi conferida a faculdade de criarem varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões (art. 145 do ECA).

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6.1.1 Juiz Conforme esclarece o artigo 146, quando o Estatuto da Criança e do Adolescente se refere a autoridade, está se referindo ao Juiz da Infância e da Juventude, ou ao juiz que exerça essa função, na forma da lei de organização judiciária. Determina-se a competência:

a) pelo domicílio dos pais ou responsável;

b) pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.

Nos casos de ato infracional, reputa-se competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção (art. 147, §1º do ECA). A execução das medidas pode ser delegada à autoridade competente da residência dos pais ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente (art. 147, §2º do ECA). Quando se tratar de infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado (art. 147, §3º do ECA). Conforme fixa o artigo 148 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a Justiça da Infância e da Juventude é competente para:

a) conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;

b) conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;

c) conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;

d) conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no artigo 209 do Estatuto em estudo;

e) conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis;

f) aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente;

g) conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.

E quando se tratar de criança ou adolescente que tenha sofrido ameaça ou violação dos direitos reconhecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, por ação ou omissão da sociedade ou do Estado (art. 98, I do ECA), por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável (art. 98, II do ECA) ou em razão de sua própria conduta (art. 98, III do ECA), é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:

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a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;

b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou guarda;

c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;

d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao exercício do poder familiar;

e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;

f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente;

g) conhecer de ações de alimentos;

h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e óbito.

Prevê o artigo 149 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:

I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em:

a) estádio, ginásio e campo desportivo;

b) bailes ou promoções dançantes;

c) boate ou congêneres;

d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;

e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.

II - a participação de criança e adolescente em:

a) espetáculos públicos e seus ensaios;

b) certames de beleza.

Para as mesmas finalidades supra mencionadas, a autoridade judiciária deve levar em conta, dentre outros fatores:

a) os princípios estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente;

b) as peculiaridades locais;

c) a existência de instalações adequadas;

d) o tipo de frequência habitual ao local;

e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes;

f) a natureza do espetáculo.

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6.1.2 Serviços auxiliares Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude (art. 150 do ECA). E compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico (art. 151 do ECA). 6.2 Procedimentos Aos procedimentos regulados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente aplicam-se, subsidiariamente, as normas gerais previstas na legislação processual pertinente, conforme salienta o caput do artigo 152 do Estatuto em estudo. Esses procedimentos tem assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação, assim como na execução dos atos e diligências judiciais a eles referentes. Consoante prevê o artigo 153 do Estatuto em estudo, se a medida judicial a ser adotada não corresponder ao procedimento previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente ou em outra lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério Público. No entanto, isto não se aplica para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de origem, assim como em outros procedimentos necessariamente contenciosos. 6.2.1 Perda e da suspensão do poder familiar Tanto o Ministério Público como quem detenha legítimo interesse pode provocar o procedimento para a perda ou a suspensão do poder familiar. A petição inicial de aludido pedido deve indicar:

a) a autoridade judiciária a que for dirigida;

b) o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se tratando de pedido formulado por representante do Ministério Público;

c) a exposição sumária do fato e o pedido;

d) as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o rol de testemunhas e documentos.

Caso haja motivo grave, pode a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do poder familiar, liminar ou

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incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade. Recebida a ação, o requerido deve ser citado para oferecer resposta escrita, no prazo de 10 (dez) dias, devendo indicar as provas que pretende ver produzidas e oferecer o rol de testemunhas e documentos. Consoante prevê o parágrafo único do artigo 158 do Estatuto da Criança e do Adolescente, devem ser esgotados todos os meios para citação pessoal. Caso o requerido não tenha meios para constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado defensor dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de nomeação (art. 159 do ECA). Se necessário, a autoridade judiciária pode requisitar a qualquer repartição ou órgão público a apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público. Caso não haja contestação do pedido, a autoridade judiciária deve conceder vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, devendo decidir em igual prazo. De ofício, a requerimento das partes ou do Ministério Público, pode a autoridade judiciária determinar a realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos artigos 1.637 e 1.638 do Código Civil 2002, ou no artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Se os pais forem oriundos de comunidades indígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe profissional ou multidisciplinar supra referida, de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, observado o disposto no parágrafo sexto do artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Na hipótese do pedido importar em modificação de guarda, torna-se obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida (art. 161, §3º do ECA). Sempre que for possível a identificação dos pais e desde que estes estejam em local conhecido, é obrigatório que se proceda a sua oitiva, a teor do que determina o parágrafo quarto do Estatuto da Criança e do Adolescente. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária deve conceder vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, designando, desde logo, audiência de instrução e julgamento (art. 162, caput, do ECA). E a requerimento e qualquer das partes, do Ministério Público, ou de ofício, a autoridade judiciária poderá determinar a realização de estudo social ou, se possível, de perícia por equipe interprofissional (art. 162, §1º, do ECA). Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, deve-se seguir o seguinte procedimento:

1º) devem ser ouvidas as testemunhas;

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2º) deve ser colhido oralmente o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito;

3º) deve se manifestar o requerente, pelo tempo de 20 (vinte) minutos, prorrogável por mais 10 (dez);

4º) deve se manifestar o requerido, pelo tempo de 20 (vinte) minutos, prorrogável por mais 10 (dez);

5º) deve se manifestar o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos, prorrogável por mais 10 (dez).

6º) deve ser proferida decisão na própria audiência, podendo a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias.

Conforme regra esculpida no artigo 163 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o prazo máximo para conclusão do procedimento é de 120 (cento e vinte) dias. Por fim, caso a sentença decrete a perda ou a suspensão do poder familiar, tal decreto deve ser averbado à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente. 6.2.2 Destituição da tutela Para o procedimento de destituição da tutela, deve-se observar o procedimento para a remoção de tutor previsto na lei processual civil e, no que couber, o disposto quanto ao procedimento destinado à perda ou a suspensão do poder familiar, conforme dispõe o artigo 164 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 6.2.3 Colocação em família substituta Para a concessão do pedido de colocação em família substituta, há que serem preenchidos os seguintes requisitos:

a) qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste;

b) indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou não parente vivo;

c) qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos;

d) indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;

e) declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.

No caso de adoção, além destes devem ser observados os requisitos específicos (art. 165, parágrafo único do ECA).

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Quando os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado, conforme estipula o caput do artigo 166 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Caso haja concordância dos pais em relação ao pedido de colocação em família substituta, esses devem ser ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, devendo suas declarações serem tomadas por termo (art. 166, §1º do ECA). O consentimento dos titulares do poder familiar deve ser precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida (art. 166, §2º do ECA). Nesse caso, o consentimento dos titulares do poder familiar deve ser colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre manifestação de vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa (art. 166, §3º do ECA). Caso não haja ratificação em audiência, nenhuma validade terá o consentimento que tenha sido prestado por escrito, conforme frisa o parágrafo quarto do artigo 166 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ademais, o consentimento é retratável até a data da publicação da sentença constitutiva da adoção. E mais, só tem valor jurídico o consentimento prestado após o nascimento da criança. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, deve determinar a realização de estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional, para que então possa decidir sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência (art. 167, caput, do ECA). Deferida a concessão da guarda provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o adolescente deve ser entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade (art. 167, parágrafo único do ECA). Após a apresentação do relatório social ou do laudo pericial, deve a criança ou o adolescente ser ouvido, sempre que possível, dando-se vista dos autos, após, ao Ministério Público, que terá o prazo de 5 (cinco) dias para se manifestar, mesmo prazo que é dado à autoridade judiciária para decidir. Prevê o artigo 169 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em família substituta, deve ser observado o procedimento contraditório previsto nas Seções do Estatuto que tratam “Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar” e “Da Destituição da Tutela”. Admite-se, ademais, que a perda ou a modificação da guarda seja secretada nos mesmos autos do procedimento, desde que mediante ato fundamentado e ouvido o Ministério Público. Concedida a guarda ou a tutela, deve o responsável prestar compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.

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Concedida a adoção, o que ocorre mediante sentença, deverá haver sua inscrição no registro civil do adotado, inscrição que deve consignar o nome dos adotantes como pais, assim como o nome dos seus ascendentes. Uma vez colocada a criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar, a entidade por ele responsável deve ser comunicada pela autoridade judiciária no prazo máximo de 5 (cinco) dias (art. 170, parágrafo único do ECA). 6.2.4 Apuração de ato infracional atribuído a adolescente O adolescente apreendido por força de ordem judicial deve ser, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária, conforme determina o artigo 171 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Já o adolescente apreendido em flagrante de ato infracional deve ser, desde logo, encaminhado à autoridade policial competente, a teor da estipulação. Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição de repartição especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria (art. 172, parágrafo único do ECA). Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto no artigo 106, parágrafo único e artigo 107 do Estatuto da Criança e do Adolescente, tem o dever de:

a) lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;

b) apreender o produto e os instrumentos da infração;

c) requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração.

Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência circunstanciado, consoante previsão do parágrafo único do artigo 173 do Estatuto em estudo. Mediante o comparecimento de qualquer dos pais ou responsável, o adolescente deve ser prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública (art. 174 do ECA). No caso de não liberação, a autoridade policial deve encaminhar, imediatamente, o adolescente ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência (art. 175, caput, do ECA). Caso seja impossível a apresentação imediata, a autoridade policial deve encaminhar o adolescente à entidade de atendimento, que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de 24 (vinte e quatro) horas (art. 175, §1º do ECA).

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Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial especializada, o adolescente deve aguardar a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo de 24 (vinte e quatro) horas (art. 175, §2º do ECA). Se o adolescente for liberado, a autoridade policial deve encaminhar, imediatamente, cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência ao representante do Ministério Público. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de adolescente na prática de ato infracional, a autoridade policial tem o dever de encaminhar ao representante do Ministério Público relatório das investigações e demais documentos (art. 177 do ECA). Conforme prevê o artigo 178 do Estatuto em estudo, o adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do adolescente, deverá proceder imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas (art. 179, caput, do ECA). Contudo, em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público deverá notificar os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil e militar. Adotadas as providências supra mencionadas, pode o representante do Ministério Público:

a) promover o arquivamento dos autos;

b) conceder a remissão;

c) representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.

Caso seja promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante termo fundamentado, que deve conter o resumo dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para homologação (art. 181, caput, do ECA). Tão logo seja homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária deverá determinar, conforme o caso, o cumprimento da medida (art. 181, §1º do ECA). Entretanto, se a autoridade judiciária discordar, deverá remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, o qual deverá:

a) oferecer representação (em substituição ao membro originário do Ministério Público);

b) designar outro membro do Ministério Público para apresentá-la; ou

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c) ratificar o arquivamento ou a remissão.

Apenas na última hipótese estará a autoridade judiciária obrigada à homologação (art. 181, §2º do ECA). Conforme prevê o artigo 182 do Estatuto da Criança e do Adolescente, se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão, deverá então oferecer representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar mais adequada. Nesse caso, a representação deve ser oferecida por petição, com o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária. É importante frisar que a representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade, consoante estipula o parágrafo segundo do artigo 182 do Estatuto da Criança e do Adolescente. E dispõe o artigo 183 do Estatuto em estudo, que o prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, é de 45 (quarenta e cinco) dias. Assim que oferecida a representação, a autoridade judiciária deve designar audiência de apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, observado o disposto no artigo 108 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ato contínuo, o adolescente e seus pais ou responsável devem ser cientificados do teor da representação, e notificados a comparecer à audiência, acompanhados de advogado. Caso os pais ou responsável não sejam localizados, a autoridade judiciária deverá nomear curador especial ao adolescente. E caso não seja localizado o adolescente, deve a autoridade judiciária expedir mandado de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do feito, até que ocorra a efetiva apresentação. Estando o adolescente internado, deve ser requisitada a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável. Decretada ou mantida a internação pela autoridade judiciária, ela não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional, conforme estipula o caput do artigo 185 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Caso não exista na comarca entidade exclusiva para adolescentes, o adolescente deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima. Contudo, sendo impossível a pronta transferência, o adolescente deverá aguardar sua remoção em repartição policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de 5 (cinco) dias, sob pena de responsabilidade. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária deverá proceder à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado (art. 186, caput, do ECA). Caso a autoridade judiciária entenda adequada a remissão, deve então ouvir o representante do Ministério Público, para proferir decisão na sequência, conforme dispõe o parágrafo primeiro do artigo 186 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

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Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado constituído, deve para ele nomear defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligências e estudo do caso (art. 186, §2º do ECA). Nesse caso, o advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de 3 (três) dias, contado da audiência de apresentação, deve oferecer defesa prévia e rol de testemunhas. Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, deve ser concedida a palavra ao representante do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério da autoridade judiciária, que em seguida deverá ser proferida decisão (art. 186, §4º do ECA). Caso o adolescente, devidamente notificado, não compareça, injustificadamente à audiência de apresentação, a autoridade judiciária deverá designar nova data, determinando sua condução coercitiva (art. 187 do ECA). Há que se frisar, a teor da disposição contida no artigo 188 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que a remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, desde que antes da sentença. A autoridade judiciária não deve aplicar qualquer medida, quando reconheça na sentença:

a) estar provada a inexistência do fato;

b) não haver prova da existência do fato;

c) não constituir o fato ato infracional;

d) não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.

Nesse caso, se o adolescente estiver internado, deverá imediatamente ser posto em liberdade. Conforme prevê o artigo 190 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a intimação da sentença que aplicar medida de internação ou regime de semi-liberdade deverá ser feita:

a) ao adolescente e ao seu defensor;

b) quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.

Caso seja outra a medida aplicada, a intimação deverá ser feita unicamente na pessoa do defensor (art. 190, §1º do ECA). E caso a intimação recaia na pessoa do adolescente, deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença (art. 190, §2º do ECA).

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6.2.5 Apuração de irregularidades em entidade de atendimento O procedimento de apuração de irregularidades em entidade governamental e não-governamental tem início mediante portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos, conforme dispõe o caput do artigo 191 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mediante a existência de motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade, mediante decisão fundamentada. Nesse caso, o dirigente da entidade deve ser citado para, no prazo de 10 (dez) dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas que devam ser produzidas (art. 192 do ECA). A autoridade judiciária poderá designar audiência de instrução e julgamento quando reputar necessário, devendo intimar as partes para comparecimento, tenha ou não sido apresentada resposta. Dispõe o parágrafo primeiro do artigo 193 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão 5 (cinco) dias para oferecer alegações finais, devendo a autoridade judiciária decidir em igual prazo. Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária deve oficiar à autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, marcando prazo para a substituição (art. 193, §2º do ECA). Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária pode fixar prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo deverá ser extinto, sem julgamento de mérito (art. 193, §3º do ECA). Por derradeiro, consoante previsão do parágrafo quarto do artigo 193 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a multa e a advertência deverão ser impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento. 6.2.6 Apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao adolescente O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração às normas de proteção à criança e ao adolescente pode ter início por representação do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, se possível (art. 194, caput, do ECA). No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração (art. 194, §1º do ECA). Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, os motivos do retardamento (art. 194, §2º do ECA). O prazo para o requerido apresentar defesa é de 10 (dez) dias, contado da data da intimação, que deverá ser feita:

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a) pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na presença do requerido;

b) por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que entregará cópia do auto ou da representação ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;

c) por via postal, com aviso de recebimento, se não for encontrado o requerido ou seu representante legal;

d) por edital, com prazo de 30 (trinta) dias, se incerto ou não sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal.

Caso a defesa não seja apresentada no prazo legal, a autoridade judiciária deverá conceder vista dos autos do Ministério Público, por 5 (cinco) dias, devendo decidir em igual prazo. Em contrapartida, se apresentada a defesa, a autoridade judiciária deverá conceder vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, ou, sendo necessário, deverá designar audiência de instrução e julgamento (art. 197 do ECA). Colhida a prova oral, manifestar-se-ão sucessivamente o Ministério Público e o procurador do requerido, pelo tempo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério da autoridade judiciária, que em seguida deverá proferir sentença (art. 197, parágrafo único do ECA). 6.2.7 Habilitação de pretendentes à adoção Os postulante à adoção, domiciliados no Brasil, devem apresentar petição inicial na qual conste:

a) qualificação completa;

b) dados familiares;

c) cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;

d) cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas;

e) comprovante de renda e domicílio;

f) atestados de sanidade física e mental;

g) certidão de antecedentes criminais;

h) certidão negativa de distribuição cível.

A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, deve conceder vista dos autos ao Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:

a) apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se refere o art. 197-C do Estatuto da Criança e do Adolescente;

b) requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em juízo e testemunhas;

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c) requerer a juntada de documentos complementares e a realização de outras diligências que entender necessárias.

Conforme prevê o artigo 197-C do Estatuto da Criança e do Adolescente, deve intervir no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios contidos no Estatuto em estudo. É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos (art. 197-C, §1º do ECA). Sempre que possível é recomendável, essa etapa obrigatória de preparação deverá incluir o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar (art. 197-C, §2º do ECA). Consoante prevê o artigo 197-D do Estatuto da Criança e do Adolescente, certificada nos autos a conclusão da participação no programa supra referido, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, deverá decidir acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público e deverá determinar a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e julgamento. Caso não haja o requerimento de diligência, ou caso estas sejam indeferidas, a autoridade judiciária deverá determinar a juntada de estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, devendo decidir em igual prazo. Deferida a habilitação, o postulante deve ser inscrito nos cadastros mencionados pelo artigo 50 do Estatuto da Criança e do Adolescente (cadastro de crianças e adolescentes em condição de serem adotados e cadastro de pessoas interessadas na adoção), sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis (art. 197-E, caput, do ECA). Nos termos em que dispõe o parágrafo primeiro do artigo 197-E do Estatuto da Criança e do Adolescente, a ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária quando comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando e quando:

a) se tratar de pedido de adoção unilateral;

b) for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;

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c) oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos artigos 237 ou 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Por derradeiro, conforme estipula o parágrafo segundo do artigo 197-E do Estatuto da Criança e do Adolescente, a recusa sistemática na adoção das crianças ou adolescentes indicados importará na reavaliação da habilitação concedida. 6.3 Recursos Por expressa disposição legal, contida no artigo 198 do Estatuto da Criança e do Adolescente, fixou-se que nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude adota-se o sistema recursal do Código de Processo Civil (Lei n.º 5.869/73), com as seguintes adaptações:

a) os recursos serão interpostos independentemente de preparo;

b) em todos os recursos, salvo o de agravo de instrumento e de embargos de declaração, o prazo para interpor e para responder será sempre de 10 (dez) dias;

c) os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;

d) antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de 5 (cinco) dias;

e) mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou o instrumento à superior instância dentro de 24 (vinte e quatro) horas, independentemente de novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da intimação.

Proferida decisão com base no artigo 149 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o recurso cabível para atacá-la é a apelação. Para recordar, veja-se o teor do artigo 149 do Estatuto em estudo:

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:

I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em:

a) estádio, ginásio e campo desportivo;

b) bailes ou promoções dançantes;

c) boate ou congêneres;

d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;

e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.

II - a participação de criança e adolescente em:

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a) espetáculos públicos e seus ensaios;

b) certames de beleza.

A sentença que defere a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando (art. 199-A do ECA). A sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do poder familiar sujeita-se a apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo (art. 199-B do ECA). Os recursos nos procedimentos de adoção e de destituição de poder familiar, em face da relevância das questões, devem ser processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Público, em obediência ao artigo 199-C do Estatuto em estudo. É dever do relator colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua conclusão (art. 199-D do ECA). O Ministério Público deve ser intimado da data do julgamento e pode na sessão, se entender necessário, apresentar oralmente seu parecer. Ademais, pode o Ministério Público requerer a instauração de procedimento para apuração de responsabilidades se constatar o descumprimento das providências ou prazos supra mencionados. 6.4 Ministério Público O Ministério Público tem atuação fundamental na defesa dos interesses das crianças e adolescentes. As funções do Ministério Público previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente devem ser exercidas nos termos da sua respectiva lei orgânica. Segundo prevê o artigo 201 do Estatuto em estudo, compete ao Ministério Público:

a) conceder a remissão como forma de exclusão do processo;

b) promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes;

c) promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude;

d) promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e adolescentes nas hipóteses do artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente;

e) promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à

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adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;

f) instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los:

i) expedir notificações para colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar;

ii) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias;

iii) requisitar informações e documentos a particulares e instituições privadas;

g) instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e determinar a instauração de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à juventude;

h) zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;

i) impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente;

j) representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;

k) inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;

l) requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência social, públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições.

Consoante dispõe o parágrafo primeiro do artigo 201 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a legitimação do Ministério Público para as ações supra mencionadas não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo disposições constitucionais e do próprio Estatuto. O Ministério Público possui legitimidade para, por exemplo, pleitear alimentos para criança ou adolescente em comarca onde não haja defensoria pública. Nesse sentido, veja-se pertinente manifestação do Superior Tribunal de Justiça:

Informativo nº 0444 Período: 23 a 27 de agosto de 2010. Terceira Turma ALIMENTOS. LEGITIMIDADE. MP. O menor que necessita dos alimentos em questão reside com sua genitora em comarca não provida de

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defensoria pública. Contudo, é certo que o MP tem legitimidade para propor ações de alimentos em favor de criança ou adolescente, independentemente da situação em que se encontra ou mesmo se há representação por tutores ou genitores (art. 201, III, da Lei n. 8.069/1990 – ECA). Já o art. 141 desse mesmo diploma legal é expresso ao garantir o acesso da criança ou adolescente à defensoria, ao MP e ao Judiciário, o que leva à conclusão de que o MP, se não ajuizasse a ação, descumpriria uma de suas funções institucionais (a curadoria da infância e juventude). Anote-se que a Lei de Alimentos aceita a postulação verbal pela própria parte, por termo ou advogado constituído nos autos (art. 3º, § 1º, da Lei n. 5.478/1968), o que demonstra a preocupação do legislador em garantir aos necessitados a via judiciária. A legitimação do MP, na hipótese, também decorre do direito fundamental de acesso ao Judiciário (art. 5º, LXXIV, da CF/1988) ou mesmo do disposto no art. 201 do ECA, pois, ao admitir legitimação de terceiros para as ações cíveis em defesa dos direitos dos infantes, reafirma a legitimidade do MP para a proposição dessas mesmas medidas judiciais, quanto mais se vistas as incumbências dadas ao parquet pelo art. 127 da CF/1988. A alegação sobre a indisponibilidade do direito aos alimentos não toma relevo, visto não se tratar de interesses meramente patrimoniais, mas, sim, de direito fundamental de extrema importância. Precedentes citados: REsp 510.969-PR, DJ 6/3/2006, e RHC 3.716-PR, DJ 15/8/1994. REsp 1.113.590-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/8/2010. (sem grifos no original)

Ademais, as atribuições supra mencionadas não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público. Ao representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, é conferido o direito de livre acesso a todo local onde se encontre criança ou adolescente (art. 201, §3º do ECA). E o representante do Ministério Público tem o dever de guardar sigilo quanto as informações e documentos que requisitar, em obediência as hipóteses legais, sob pena de responsabilidade. Para o exercício da atribuição do inciso VIII do artigo 201 do Estatuto em estudo, qual seja, zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis, pode o representante do Ministério Público:

a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o competente procedimento, sob sua presidência;

b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou acertados;

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c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública afetos à criança e ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita adequação.

Nos processos e procedimentos em que não for parte, deve atuar obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida o Estatuto em análise, hipótese em que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos e requerer diligências, usando de todos os recursos cabíveis (art. 202 do ECA). Em qualquer caso, a intimação do Ministério Público deve sempre ser feita pessoalmente, sob pena de nulidade (art. 203 do ECA). Também acarreta a nulidade do feito, a ausência de intervenção do Ministério Público, a qual pode ser declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. Quanto ao prazo, segue-se a regra do artigo 188 do Código de Processo Civil, segundo o qual computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer. Sobre o assunto, veja-se o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

Informativo nº 0162 Período: 17 a 21 de fevereiro de 2003. Quarta Turma ECA. MINISTÉRIO PÚBLICO. ART. 188, CPC. O Ministério Público tem o prazo em dobro para recorrer, seja nos casos em que funciona como parte, seja naqueles em que oficia como custos legis. Assim, aplica-se o art. 188 do CPC às ações e aos procedimentos regidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Precedentes citados do STF: RE 94.064-SP, DJ 17/12/1982; do STJ: REsp 15.319-SP, DJ 23/11/1992, e REsp 2.065-RJ, DJ 28/5/1990. REsp 281.359-MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, julgado em 20/2/2003.

Por fim, conforme salienta o artigo 205 do Estatuto da Criança e do Adolescente, todas as manifestações processuais do representante do Ministério Público devem ser acompanhadas da devida fundamentação. 6.5 Advogado A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, assim como qualquer pessoa que possua interesse legítimo na solução da lide, podem intervir nos procedimentos de que cuida o Estatuto da Criança e do Adolescente, por meio de advogado, o qual deverá ser intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça. Nesse sentido, deve ser prestada assistência judiciária integral e gratuita àqueles que dela necessitarem (art. 206, parágrafo único, do ECA).

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Consoante previsão do artigo 207 do Estatuto em estudo, nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, poderá ser processado sem defensor. Quando o adolescente não possuir defensor, um deverá ser-lhe nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência. A ausência do defensor não determina o adiamento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou apenas para efeito do ato (art. 207, §2º do ECA). Por fim, conforme disciplina o parágrafo terceiro do artigo 207 do Estatuto da Criança e do Adolescente, dispensa-se a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária. 6.6 Proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos Regem-se pelas disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente, as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:

a) do ensino obrigatório;

b) de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência;

c) de atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade;

d) de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

e) de programas suplementares de oferta de material didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental;

f) de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;

g) de acesso às ações e serviços de saúde;

h) de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de liberdade.

i) de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.

As hipóteses supra mencionadas não excluem da proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição Federal e pelo próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 208, §1º do ECA). Conforme redação do parágrafo segundo do artigo 208 do Estatuto da Criança e do Adolescente, dada pela Lei n.º 11.259/2005, a investigação do desaparecimento de crianças ou adolescentes deve ser realizada imediatamente após notificação aos órgãos competentes, que deverão

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comunicar o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à identificação do desaparecido. As ações para proteção dos interesses individuais, difusos e coletivos mencionadas neste tópico, devem ser propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores. Em se tratando de ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente:

a) o Ministério Público;

b) a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os territórios;

c) as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Estatuto em estudo, dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.

Admite-se o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que trata o Estatuto da Criança e do Adolescente. No caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado poderá assumir a titularidade ativa (art. 210, §2º do ECA). Os órgãos públicos legitimados podem tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial (art. 211 do ECA). Prevê o artigo 212 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que para a defesa dos direitos e interesses por ele protegidos, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes. Para estas, aplicam-se as normas do Código de Processo Civil. Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público, que lesem direito líquido e certo previsto no Estatuto em estudo, cabe ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança (Lei n.º 12.016/2009). É importante a disposição contida no artigo 213 do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual, na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz poderá conceder a tutela específica da obrigação ou poderá determinar providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. Nesse sentido, quando relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu. E seja na concessão de tutela liminar ou em sentença, pode o juiz impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, desde que suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito. A multa, nesse caso, só será exigível do réu após o trânsito em julgado da

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sentença favorável ao autor, embora seja devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento. Consoante previsão do artigo 214 do Estatuto da Criança e do Adolescente, os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município. Mas enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro deverá permanecer depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em julgado da decisão deverão ser exigidas por meio de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados (art. 214, §1º do ECA). Ao juiz é lícito conceder efeito suspensivo aos recursos, com a finalidade de evitar dano irreparável à parte (art. 215 do ECA). Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao poder público, o juiz deve determinar a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão (art. 216 do ECA). Prevê o artigo 217 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. Deve o juiz condenar a associação autora a pagar ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformidade do parágrafo quarto do artigo 20 do Código de Processo Civil, sempre que reconhecer que a pretensão é manifestamente infundada (art. 218 do ECA). No caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos, conforme fixa o parágrafo único do artigo 218 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Nas ações relativas a esse tópico, não se admite o adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, conforme estipula o artigo 219 do Estatuto em estudo. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção (art. 220 do ECA). Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura de ação civil, devem remeter peças informativas ao Ministério Público para as providências cabíveis (art. 221 do ECA). Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, que devem ser fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias, conforme determina o artigo 222 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Conforme prevê o artigo 223 do Estatuto em estudo, o Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações,

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exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual, no entanto, não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis. Instaurado inquérito ou outro procedimento, se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação cível, deve promover o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente (art. 223, §1º do ECA). Uma vez arquivados, os autos do inquérito civil ou das peças de informação devem ser remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público (art. 223, §2º do ECA). E até que seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que devem ser juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação (art. 223, §3º do ECA). Obrigatoriamente, a promoção de arquivamento deve ser submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento. Caso o Conselho Superior deixe de homologar a promoção de arquivamento, deverá designar, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação (art. 223, §5º do ECA). 7. CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS 7.1 Crimes Basicamente, a diferença entre crime e infração administrativa é a gravidade em relação a lesão praticada e ao bem jurídico ofendido. No caso de crime, há maior gravidade na conduta perpetrada, e também o bem jurídico ofendido recebe do Estado maior proteção, ao passo que na infração administrativa, há uma conduta dotada de menor lesividade em relação a um bem que é juridicamente tutelado, mas em menor intensidade. Aos crimes definidos no Estatuto da Criança e do Adolescente aplicam-se as normas constantes da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as normas do Código de Processo Penal. Todos os crimes definidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente são de ação penal pública incondicionada, conforme estipula o seu artigo 227. 7.1.1 Crimes em espécie É importante conhecer, ainda que sumariamente, quais condutas foram tipificadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Os artigos 228 a 244-B do Estatuto em estudo tipificam diversas condutas, as quais serão sucintamente mencionadas na sequência.

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Antes, no entanto, é necessário citar o artigo 10 do Estatuto em estudo, referido pelos tipos penais dos artigos 228 e 229, também do Estatuto:

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:

I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;

II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;

III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;

IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato;

V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.

Por oportuno, veja-se o primeiro tipo penal descrito pelo Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

A proteção conferida pelo citado artigo 228 do Estatuto da Criança e do Adolescente abrange, pois:

a) a gestante;

b) a parturiente;

c) o recém-nascido.

A manutenção de prontuário médico pelo prazo legal visa tutelar futuras situações relacionadas à mãe, no caso de uma nova gestação, e ao(s) filho(s), em decorrência do que com ele(s) tenha ocorrido durante o período pré e pós natal. Como se constata, o crime em análise pode ser

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praticado sob a conduta culposa, conforme estipula o parágrafo único do citado artigo 228. Já o artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente tipifica:

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

O objetivo fundamental desse tipo penal é evitar a ocorrência de trocas de recém-nascidos nos hospitais. Ademais, esse dispositivo tutela tanto a mulher como a criança, protegendo-lhes a vida e a saúde. Como se vê, é dever dos profissionais mencionados pelo tipo penal proceder aos exames legalmente determinados, não podendo se eximir do dever mediante alegação de culpa, que também é punível segundo previsão do parágrafo único do dispositivo em estudo. Segundo o artigo 230 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é típica a seguinte conduta:

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.

A liberdade é direito fundamental da pessoa humana. Não há como se admitir sua privação sem que haja ordem escrita de autoridade judiciária competente ou sem estar o adolescente em flagrante de ato infracional. Há que se lembrar, pois, que a pessoa até 12 anos incompletos (criança), não pode ser apreendida mediante flagrante de ato infracional, isto porque ela se sujeita apenas a medidas de proteção, conforme dispõe o artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Enquanto as duas primeiras condutas típicas analisadas eram identificadoras de crimes próprios (artigos 228 e 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente), esta identifica um crime comum, ao passo que qualquer um pode ser responsável pela privação da liberdade de crianças e adolescentes. Em continuidade, veja-se a conduta tipificada pelo artigo 231 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata

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comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

O tipo penal supra citado criminaliza o desrespeito ao mandamento constitucional contido no artigo 5º, inciso LXII, que dispõe: “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.” A garantia constitucional tutela a todos, mas especialmente os absoluta ou relativamente incapazes, motivo ensejador, pois, da prática criminosa acima tipificada. Como se vê, trata-se também de um crime próprio, uma vez que apenas a autoridade policial pode cometê-lo, mediante conduta omissiva (deixar de fazer imediata comunicação). Note-se, porém, que esse dispositivo não tem previsão de conduta culposa. Já o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê:

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Toda criança ou adolescente tem direito ao respeito e a dignidade. Submeter uma criança ou adolescente a vexame ou constrangimento é, pois, desrespeitar mencionados direitos. Essa conduta típica só pode ser praticada por quem detenha a guarda ou a vigilância da criança ou adolescente, tratando-se, portanto, de um crime próprio. Inobstante, pode tanto ser praticada tanto por funcionário público como por particular. O artigo 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente foi revogado pela Lei n.º 9.455/97, lei que definiu os crimes de tortura e abrangeu a conduta anteriormente descrita pelo Estatuto em estudo. Na sequência, veja-se o artigo 234 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Há que se lembrar que as crianças e adolescentes tem absoluta prioridade, uma vez que são pessoas em desenvolvimento e carecem de todo o apoio do Estado e da sociedade. Assim, o tipo penal em análise criminaliza a conduta daquele que, competente para liberar a criança ou adolescente, não o faz inobstante tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão. Como se vê, trata-se de mais um crime próprio, sem que se possa falar em conduta culposa. Veja-se o artigo 235 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:

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Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Dispõe o artigo 236 do Estatuto em estudo:

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Qualquer pessoa pode praticar o delito em análise, ao passo que o Estado é sempre seu sujeito passivo. Também pode figurar como sujeito passivo a criança ou adolescente em relação a qual praticar-se-ia determinada medida prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Note-se que não há previsão de conduta culposa. Na sequência, veja-se a previsão do artigo 237 do Estatuto em estudo:

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:

Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

É importante notar que há finalidade específica no dispositivo em análise, qual seja, a colocação em lar substituto. Como se vê, portanto, a intenção (dolo) é específica. Ademais, não há que se falar na configuração do tipo em estudo se houver a subtração de criança ou adolescente de quem não detenha a respectiva guarda, decorrente de lei ou de ordem judicial, pois esta é uma elementar objetiva do tipo penal. Prevê o artigo 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:

Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.

O tipo penal supra citado trata da “compra” e “venda” de crianças e adolescentes. Naturalmente, só o dolo é elemento subjetivo do tipo. O dispositivo em análise objetiva, pois, a tutela da dignidade da pessoa humana, que não pode ser tratada como mercadoria. Veja-se a previsão do artigo 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:

Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.

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Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.

A proteção destinada às crianças e adolescentes em todo o Estatuto da Criança e do Adolescente completa-se com o dispositivo penal em análise, que prevê como típica a conduta de todo aquele que promover ou auxiliar o envio de criança ou adolescente ao exterior:

a) sem observância da forma legal;

b) com a finalidade de lucro.

E o parágrafo único do aludido dispositivo prevê uma forma qualificada da conduta, sempre que houver o emprego de violência, grave ameaça ou fraude. Já o artigo 240 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê:

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

§1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.

§2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:

I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;

II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade;

III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.

O artigo 240 do Estatuto em estudo protege a dignidade, o respeito, a decência e a moral da criança ou adolescente. A exploração sexual do menor é uma das maneiras mais degradantes da vida humana. Atento a essa realidade, o legislador tipificou as condutas (principais) de produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar cena de sexo explícito ou pornografia, envolvendo menores, assim como as condutas (acessórias) de quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput do dispositivo, e também daquele com contracena com o menor.

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No mesmo sentido, prevê o artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Como se vê, a pena para quem pratica esse delito é a mesma da conduta descrita no caput do artigo anterior. E assim como no crime anterior, o elemento subjetivo deste é exclusivamente o dolo, não havendo que se falar em conduta culposa. Veja-se, na sequência, o artigo 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§1º Nas mesmas penas incorre quem:

I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;

II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.

§2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo.

O tipo penal em análise tem por objetivo reduzir toda forma de exploração sexual de crianças e adolescentes, para isso prevendo punição para todo aquele que oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outro registro de menor envolvido em cenas de sexo explícito ou pornografia. Também criminosa, segundo o parágrafo primeiro do citado dispositivo, é a conduta daquele que assegura os meios ou serviços para o armazenamento do material ilícito, inclusive por computadores. Assim, também o que mantém site utilizado por outrem para divulgação das cenas envolvendo menores incorre nas penas deste tipo penal. Contudo, para que se fale na punibilidade destes, há que se notificá-los oficialmente, para que retirem do ar o material ilícito, e, apenas se deixarem de retirar mencionado conteúdo é que serão passíveis de punição.

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Em continuidade, prevê o artigo 241-B do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 241-B.Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo.

§2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:

I – agente público no exercício de suas funções;

II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo;

III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário.

§3º As pessoas referidas no §2º deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido.

Enquanto o artigo 241-A pune as formas de distribuição do material que contenha cena de sexo explícito ou pornografia envolvendo criança ou adolescente, o artigo 241-B pune as maneiras de aquisição desse conteúdo. Há que se atentar, que quando o armazenamento tiver por finalidade a comunicação às autoridades competentes, não há que se falar em crime. Já o artigo 241-C do Estatuto em estudo prevê:

Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste artigo.

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Também punível é a conduta de todo aquele que simular a participação de menor em cena de sexo explícito ou pornográfica, seja adulterando, realizando montagem ou modificando fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual. Note-se que as mesmas penas sujeitam aqueles que distribuem, por meio das condutas descritas no parágrafo único, o material ilícito elaborado com base nas condutas descritas no caput do dispositivo. Em continuidade, prevê o artigo 241-D do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso;

II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.

A conduta descrita no supra citado tipo penal tem por finalidade evitar a prática de atos libidinosos com crianças, protegendo-lhes o pudor e a dignidade sexual. Ademais, objetiva o tipo penal evitar o estupro, censurando a conduta daqueles que tenham por objetivo, utilizando qualquer meio de comunicação, aliciar, assediar, instigar ou constranger criança. Porém, note-se que o tipo em análise utiliza apenas a expressão criança, ou seja, pessoa com até 12 anos incompletos de idade, tendo deixado de fora os adolescentes. Já o artigo 241-E do Estatuto da Criança e do Adolescente apenas esclarece:

Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfico” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.

O dispositivo supra citado apenas define o que seja “cena de sexo explícito ou pornográfica”, complementando o conteúdo dos artigos anteriores. Em sentido diverso dos tipos anteriores, prevê o artigo 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:

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Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.

Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo do tipo penal supra citado. Note-se que se abrange toda forma de distribuição de arma, munição ou explosivo a criança ou adolescente, tendo por objetivo tutelar a dignidade, a integridade e o sadio desenvolvimento do menor. Não há que se falar em conduta culposa, como se extrai da análise do dispositivo. Prevê o artigo 243 do Estatuto em estudo:

Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:

Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

O tipo penal em análise tem por objetivo afastar o efeito maléfico de substâncias entorpecentes nas crianças e adolescentes, que são pessoas vulneráveis. Protege-se, assim, a saúde física e mental da criança e do adolescente. Note-se que o fornecimento de substância cujo componente possa causar dependência física ou psíquica, mediante justa causa, pode ser admitido e não configurará crime, como no caso de remédios receitados ou ministrados por profissionais qualificados. Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo do crime em análise. Prevê o artigo 244 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescentes fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida:

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

Por meio deste dispositivo pretende-se efetivar a proteção da integridade física da criança. Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo deste delito. O crime em questão é de perigo, que se consuma mediante a simples venda, fornecimento ou entrega independentemente da ocorrência de qualquer dano físico. Já o artigo 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê:

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:

Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa.

§1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.

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§2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

O crime descrito no caput do dispositivo supra descrito pode ser praticado por qualquer pessoa. Note-se que nas mesmas penas de quem submete, incorre aquele que é proprietário, gerente ou responsável pelo local em que ocorra a submissão da criança ou adolescente à prostituição ou à exploração sexual. Em relação a esse delito, como estipula o citado parágrafo segundo, é efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e funcionamento do estabelecimento. Prevê o artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet.

§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990.

O último dispositivo dos crimes em espécie, do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi incluído pela Lei n.º 12.015/2009. O tipo penal em comento tutela a dignidade e o desenvolvimento da criança e do adolescente. Qualquer pessoa pode praticar o delito em análise, que pode ser cometido por meios eletrônicos, como através de salas de bate-papo na internet, por exemplo. Consoante estipula o parágrafo segundo do artigo em estudo, as penas previstas no caput devem ser aumentadas de 1/3 (um terço) caso a infração cometida ou induzida esteja incluída no artigo 1º da Lei dos Crimes Hediondos. Por fim, veja-se quais são esses crimes:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V);

II - latrocínio (art. 157, § 3º, in fine);

III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º);

IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º);

V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);

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VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º).

VII-A – (VETADO)

VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e §1º, § 1º-A e §1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998).

Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado.

7.1.2 Infrações administrativas Não tão graves a ponto de configurar um crime, as infrações administrativas traduzem condutas ilícitas, passíveis de punição, mas em menor intensidade. Há que se mencionar que as infrações administrativas sujeitam-se a prescrição, e para tanto devem ser utilizadas as regras do Código Penal, conforme informativo do Superior Tribunal de Justiça abaixo citado:

Informativo nº 0280 Período: 3 a 7 de abril de 2006. Primeira Turma INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. ECA. PRESCRIÇÃO. APLICAÇÃO. CP. As normas referentes às prescrições previstas no Código Penal são aplicáveis às infrações administrativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. A Turma deu provimento ao recurso e decretou a prescrição. REsp 820.297-RN, Rel. Min. José Delgado, julgado em 6/4/2006.

É importante conhecer as condutas tratadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente como infrações administrativas. Prevê o artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

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Como se vê, trata-se de uma infração própria, em que pode figurar como sujeito ativo o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche. Note-se que a conduta da infração é omissiva, isto é, deixar de comunicar. Já o artigo 246 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê:

Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

O sujeito ativo da infração em análise é o responsável ou funcionário de entidade de atendimento, seja ela governamental ou não-governamental. Frise-se que a infração em análise só se consuma quando há impedimento de exercício de alguns direitos do artigo 124 do Estatuto da Criança e do Adolescente, e não de todos. Para recordar, os direitos referidos pela infração em análise são:

a) peticionar diretamente a qualquer autoridade (art. 124, II, do ECA);

b) avistar-se reservadamente com seu defensor (art. 124, III, do ECA);

c) receber visitas, ao menos, semanalmente (art. 124, VII, do ECA);

d) corresponder-se com seus familiares e amigos (art. 124, VIII, do ECA);

e) receber escolarização e profissionalização (art. 124, XI, do ECA).

Já o artigo 247 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê:

Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se atribua ato infracional:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.

§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação ou a suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como da publicação do periódico até por dois números.

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Como já se teve a oportunidade de expor, a criança e o adolescente a que se atribua a prática de ato infracional têm direito ao sigilo. Assim, caso haja a violação do sigilo, mediante a divulgação do nome, ato ou documento do procedimento policial, administrativo ou judicial relativo ao menor, haverá caracterização da infração em análise. Quanto à expressão tachada, a mesma foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, por meio da ação declaratória de inconstitucionalidade n.º 869-2. Prevê o artigo 248 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pelos pais ou responsável:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência, independentemente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso.

Incorre na infração supra citada todo aquele que trouxer adolescente de outra comarca, para a finalidade de prestação de serviço doméstico, e não o apresentar aprazadamente (5 dias) à autoridade judiciária, para regularização da guarda, ainda que haja autorização dos pais. Assim, findo o 5º (quinto) dia da chegada do adolescente, consumada estará a infração em estudo. Veja-se a previsão do artigo 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

A responsabilidade do exercício do poder familiar não possui apenas índole moral, e uma vez descumprido dever a ele inerente, o agente sujeita-se à sanção supra citada. Note-se que também incorre nesta infração aquele que descumprir dever inerente a tutela ou a guarda, assim como aquele que descumprir determinação da autoridade judiciária ou do Conselho Tutelar. E mais, veja-se que há previsão para conduta culposa. Prevê o artigo 250 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:

Pena – multa.

§1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade judiciária poderá determinar o

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fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.

§2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada.

O dispositivo em análise tem o objetivo de evitar situações que possam constranger a dignidade, o respeito e as integridades física e moral das crianças e adolescentes. Como pessoas vulneráveis, os menores não devem ser hospedados sem a companhia dos pais ou responsável, evitando-se assim, eventuais danos que lhes podem advir. Veja-se o artigo 65 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

No mesmo sentido do dispositivo anterior, o artigo supra citado visa à prevenção. Com isso, pretende-se evitar a lesão à dignidade, ao respeito e às integridades física e moral das crianças e adolescentes. Para recordar, veja-se a redação dos artigos 83, 84 e 85 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial.

§1º A autorização não será exigida quando:

a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;

b) a criança estiver acompanhada:

1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;

2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

§2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por dois anos.

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente:

I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;

II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida.

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Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

Veja-se, na sequência, o artigo 252 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Como já oportunamente estudado, a afixação em lugar visível e de fácil acesso, da natureza da diversão ou espetáculo e da faixa etária especificada é dever do responsável pela apresentação, sob pena de incorrer na infração supra citada. No mesmo sentido, veja-se a redação do artigo 253 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a que não se recomendem:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.

Como se vê, trata-se de outro desdobramento do dever de indicação dos limites de idade recomendados à apresentação de peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos. Também no mesmo sentido, veja-se o artigo 254 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação:

Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias.

Como se vê, pratica a infração administrativa não só aquele que transmite espetáculo sem o aviso da classificação indicativa, como também aquele que o transmite em horário diverso do permitido. Ainda que autorizada a exibição de determinados programas, mediante a indicação de

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sua classificação, alguns têm limitação de horário, não podendo ser exibidos a qualquer tempo. Veja-se o artigo 255 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão competente como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:

Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

A previsão da infração supra citada visa prevenir quaisquer práticas destinadas a alterar o sadio desenvolvimento da criança e do adolescente. Assim, o responsável pela realização de um espetáculo onde sejam admitidas crianças e adolescentes deve estar atento para que, durante a sua realização, nenhum filme, trailer, peça, amostra ou congênere que seja classificado como inadequado aos menores seja a eles exibido. Veja-se, na sequência, o artigo 256 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo, em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente:

Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Enquanto a infração anteriormente citada tem âmbito de proteção coletiva, este dispositivo destina-se à proteção individualizada da criança e do adolescente, proibindo-se a venda ou a locação de fita de programação em vídeo em desacordo com a classificação que tenha sido atribuída pelo órgão competente. Prevê o artigo 257 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 desta Lei:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de apreensão da revista ou publicação.

O que se proíbe por meio da citada infração é a venda das revistas e publicações que contenham material impróprio ou inadequado para crianças ou adolescentes, tal como publicações pornográficas ou com anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições. Para recordar, veja-se a redação dos artigos 78 e 79 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes

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deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.

Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca.

Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Já o artigo 258 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê:

Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua participação no espetáculo:

Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Apontadas as restrições pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, e recordando-se que a proteção das crianças é um dever da família, do Estado e de toda a sociedade, os responsáveis por estabelecimentos ou empresários tem o dever de impedir a violação das normas do Estatuto em estudo. Se deixarem de fazê-lo, permitindo que uma criança permaneça em determinado estabelecimento quando não poderia, responderão pela infração em análise. O artigo 55 do Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe, por exemplo, a entrada de menor de 18 (dezoito) anos em casa de jogo, determinação que deve ser por todos observada. Incluído pela Lei n.º 12.010/2009, prevê o artigo 258-A do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e no §11 do art. 101 desta Lei:

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento institucional ou familiar.

Os cadastros previstos no artigo 50 do Estatuto em estudo são:

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a) um de crianças e adolescentes em condições de serem adotados;

b) um de pessoas interessadas na adoção.

Já o parágrafo onze do artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente trata do cadastro que deve conter informações atualizadas sobre crianças e adolescentes que estejam em regime de acolhimento familiar e institucional. Por fim, também incluído pela Lei n.º 12.010/2009, prevê o artigo 258-B do Estatuto em estudo:

Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção:

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no caput deste artigo.

Portanto, os profissionais supra referidos tem o dever de efetuar o imediato encaminhamento à autoridade judiciária, dos casos de mães ou gestantes interessadas em entregar seu filho para adoção. O dispositivo visa efetivar a ampla proteção que o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura aos menores, de modo que com o apoio profissional, a mãe ou gestante possa receber todo o apoio do Estado para cuidar de seu filho, ao invés de apenas entregá-lo para adoção, ou, se ainda assim desejar fazê-lo, que a criança ou adolescente não seja colocado em situação de risco, evitando-se sua entrega por meios à margem da lei.

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