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Estatuto da Criança e do Adolescente 25 ANOS

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Estatuto da Criança e do Adolescente

25 Anos

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ANA CLAUDIA POMPEU TOREZAN ANDREUCCI ANDREA BOARI CARACIOLA

MICHELLE ASATO JUNQUEIRA Organização

Estatuto da Criança e do Adolescente

25 Anos

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EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-001 São Paulo, SP — Brasil Fone (11) 2167-1101 www.ltr.com.br Outubro, 2015

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

Todos os direitos reservados

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: R. P. TIEZZI X Imagem de Capa: DANIELA TIEZZI HEIDORN Projeto de Capa: FÁBIO GIGLIO Impressão: PAYM Versão impressa — LTr 5327.3 — ISBN 978-85-361-8598-9 Versão digital — LTr 8827.8 — ISBN 978-85-361-8648-1

Estatuto da Criança e do Adolescente : 25 anos / Ana Claudia Pompeu Torezan Andreucci, Andrea Boari Caraciola, Michelle Asato Junqueira, organização. — São Paulo : LTr, 2015.

Vários autores.

Bibliografia

1. Crianças e adolescentes — Direitos – Brasil 2. Crian-ças e adolescentes — Leis e legislação — Brasil I. Andreucci, Ana Claudia Pompeu Torezan. II. Caraciola, Andrea Boari. III. Junqueira, Michelle Asato.

15-07913 CDU-347.157.1(81)(094)

1. Brasil : Estatuto da Criança e do Adolescente 347.157.1(81)(094)

2. Estatuto da Criança e do Adolescente : Brasil 347.157.1(81)(094)

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Sumário

ApresentAção dAs orgAnizAdorAs ........................................................................................................... 11 AnA CláudiA PomPeu TorezAn AndreuCCi; AndreA BoAri CArACiolA; miChelle AsATo JunqueirA

direitos dA CriAnçA — diálogo normAtivo do sistemA internACionAl e A ordem JurídiCA BrAsileirA ............................................................................................................................................. 13 CArlA nourA TeixeirA; elAine CrisTinA PArdi

A proteção internACionAl e A reAlidAde BrAsileirA dA CriAnçA e do AdolesCente refugiAdo .......... 24 AlexAndre sAnson

tolerânCiA e ordem púBliCA: ContriBuições dA Convenção soBre os direitos dA CriAnçA Ao sistemA nACionAl de proteção dA infânCiA ...................................................................................... 34 GusTAvo FerrAz de CAmPos monACo

A CriAnçA e o AdolesCente pós-Consenso de WAshington: o ideAl JurídiCo frente à reAli- dAde polítiCA ........................................................................................................................................ 43 luiz ismAel PereirA; PATríCiA BorBA de souzA

umA visão puBliCistA do estAtuto dA CriAnçA e do AdolesCente ....................................................... 55 AnTonio CeCilio moreirA Pires; liliAn reGinA GABriel moreirA Pires

A doutrinA dA proteção integrAl e seus AindA restritos efeitos soBre As polítiCAs púBli- CAs voltAdAs à CriAnçA e Ao AdolesCente ........................................................................................ 63 GiAnPAolo PoGGio smAnio; PATríCiA TumA mArTins BerTolin

estAtuto dA CriAnçA e do AdolesCente no séCulo XXi: os 25 Anos Como umA dAtA pArA refleXão ............................................................................................................................................... 74 elAine YAChimCiuC

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o perCurso normAtivo do reConheCimento dos direitos seXuAis e reprodutivos de Adoles- Centes .................................................................................................................................................... 78 BrunA AnGoTTi; lAurA dAvis mATTAr

A voltA dA liCençA-mAternidAde: o dilemA dA duplA JornAdA ......................................................... 88 AmAndA vidAl queiroz dos sAnTos; TássiA BeATriz de sousA

A eduCAção multiCulturAl, em perspeCtivA ContrA-hegemôniCA, A pArtir do estAtuto dA CriAnçA e do AdolesCente: ContriBuições pArA A fundAmentAção de polítiCAs púBliCAs de eduCAção em direitos humAnos .................................................................................................... 96 ClAriCe seixAs duArTe; isABellA ChrisTinA dA moTA BolFArini; luís dioGo leiTe sAnChes

A eduCAção integrAl em tempo integrAl ............................................................................................ 106 FeliPe ChiArello de souzA PinTo; miChelle AsATo JunqueirA; lAís lArA moreno de Toledo

eduCAção CientífiCA pArA CriAnçAs e AdolesCentes: o eCA Como fundAmento pArA A Cons- trução de polítiCAs de C&t ............................................................................................................ 118 José FrAnCisCo siqueirA neTo; susAnA mesquiTA BArBosA

CriAnçAs e AdolesCentes indígenAs no BrAsil: ApliCABilidAde do ECA? ......................................... 128 sAndrA Cordeiro molinA; Aline dA silvA FreiTAs

estAtuto dA CriAnçA e do AdolesCente no BrAsil: refleXões dA efiCáCiA do direito à edu- CAção nA zonA rurAl ........................................................................................................................ 138 mAriA CeCiliA lAdeirA de AlmeidA

eduCAção fAmiliAr: A mudAnçA CulturAl e legislAtivA Como medidA de proteção à CriAnçA e Ao AdolesCente................................................................................................................................ 143 rAquel Presser; TArsilA viAnA de morAis

o direito à profissionAlizAção do AdolesCente e A lei do sinAse: Comentários .......................... 149 rAFAel diAs mArques

A errAdiCAção do trABAlho infAntil nAs CArvoAriAs de pArAgominAs ........................................... 156 PATriCiA C. BrAsil; CinTiA de medeiros sueloTTo

trABAlho infAntil no BrAsil: A glAmourizAção em torno do trABAlho ArtístiCo infAntil ........ 163 lorenA mArques Torres; TAmArA reGinA dA silvA

prA lá e prA Cá: o direito de ir e vir dA CriAnçA e do AdolesCente ............................................. 171 déBorA vAnessA CAús BrAndão

A efetividAde de Ações soCioeduCAtivAs em proJetos soCiAis ApoiAdos pelAs leis de inCentivo à CulturA ............................................................................................................................................ 179 serGio José AndreuCCi Junior

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puBliCidAde e Consumo infAntil ............................................................................................................ 188 CArolinA BoAri CArACiolA

o desenvolvimento psiCológiCo infAntil e A influênCiA dAs propAgAndAs puBliCitáriAs no ordenAmento JurídiCo BrAsileiro ................................................................................................... 197 JessiCA sACrAmenTo dA silvA Tiozzo

mArCo regulAtório dAs propAgAndAs infAntis no BrAsil: por umA infânCiA dignA ...................... 210 AnnA CArolinA duArTe momBerG

A proteção dA sAúde dA CriAnçA e do AdolesCente e A proiBição dA puBliCidAde de tABACo nos pontos de vendA .......................................................................................................................... 219 renATA dominGues BAlBino munhoz soAres

A eXposição preCoCe de CriAnçAs pequenAs à mídiA: impliCAções JurídiCAs e pArA o desen- volvimento infAntil ........................................................................................................................... 224 TAmArA Amoroso GonçAlves

ClAssifiCAção indiCAtivA: A diCotomiA entre A posição proteCionistA e AutonomistA e seus refleXos nA legislAção BrAsileirA ................................................................................................. 235 helenA roldAn AnTunes; luAnA diAs

poder fAmiliAr: AspeCtos AtuAis de direito mAteriAl e proCessuAl à luz dAs reCentes AlterAções legislAtivAs ................................................................................................................... 245 José AnTonio enCinAs mAnFré; CArlos diAs moTTA

A síndrome dA AlienAção pArentAl e o direito à ConvivênCiA fAmiliAr ......................................... 262 BárBArA mAriA GArCiA CorTez; rAquel sTeFAne CosTAnTi

Adoção: AspeCtos prátiCos ................................................................................................................... 272 FernAndA mAssAd de AGuiAr FABreTTi; humBerTo BArrionuevo FABreTTi

Adoção IntuItu Personae — o equilíBrio entre rAzão e emoção no melhor interesse dA CriAnçA e do AdolesCente ................................................................................................................ 282 mArThA solAnGe sCherer sAAd; liA CrisTinA CAmPos Pierson; mAriA de FáTimA monTe mAlTez

devolução nA Adoção: A ineXistênCiA de limite pArA o ABAndono ................................................... 294 CArolinA Grillo dominGues de CAsTro

A Adoção internACionAl à luz do prinCípio do melhor interesse dA CriAnçA .............................. 301 GABrielA ArAnhA riCk; isABelA GuimArães di Julio; silvAnA de sousA

A vitimizAção infAntil: Breves Comentários A dispositivos espeCífiCos do estAtuto dA CriAn- çA e do AdolesCente .......................................................................................................................... 311 liA FelBerG

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A violênCiA e o prinCípio dA Condição peCuliAr dA pessoA em desenvolvimento ........................... 320 Wilson Gianulo

proteção dA CriAnçA e do AdolesCente ContrA ABuso e negligênCiA .............................................. 328 AnA FláviA messA; AnTônio ernAni Pedroso CAlhAo

BullyIng, violênCiA de “gente grAnde” .............................................................................................. 335 rodriGo FelBerG; CAroline mATos

CriAnçA e AdolesCente: refleXões polítiCo-legislAtivAs soBre A CApACidAde Civil e A mAioridAde penAl no BrAsil ............................................................................................................. 342 AnA CláudiA silvA sCAlqueTTe; CArlos eduArdo niColeTTi CAmillo; rodriGo Arnoni sCAlqueTTe

A redução dA mAioridAde penAl no BrAsil e o ConteXto dA Crise eConômiCA .............................. 349 CAmilA souzA; viníCius mAGAlhães Pinheiro

redução dA mAioridAde penAl nA erA dA soCiedAde do espetáCulo: de novo e mAis umA vez umA propostA legislAtivA inConstituCionAl ................................................................................... 357 AnA ClAudiA PomPeu TorezAn AndreuCCi; mArCiA CrisTinA de sousA Alvim; rodriGo suzuki CinTrA

o prinCípio dA legAlidAde, As mudAnçAs hAvidAs no Código de proCesso penAl e A neCessi- dAde de AlterAção do proCedimento relAtivo Aos Atos infrACionAis ........................................ 367 Guilherme mAdeirA dezem

As medidAs soCioeduCAtivAs diAnte do prinCípio dA proporCionAlidAde ......................................... 374 márCiA mAriA de BArros CorrêA

inefiCáCiA dAs medidAs soCioeduCAtivAs: ressoCiAlizAção do AdolesCente em Conflito Com A lei ..................................................................................................................................................... 383 AnA CAroline nunes FerreirA

JustiçA negoCiAdA e A defesA dos direitos dos AdolesCentes nos proCessos soCioeduCAtivos .... 393 Alexis CouTo de BriTo; GiAnCArlo silkunAs vAY

JustiçA restAurAtivA: Como A eduCAção pode ContriBuir pArA A redução dos Atos infrA- CionAis prAtiCAdos por AdolesCentes .............................................................................................. 404 BrunA luizA Gomes mACulAn; léA mATheus CrivelAri

instituCionAlizAção de CriAnçAs e Jovens em portugAl: um eXemplo pArA o BrAsil ..................... 413 mAriAnA zorzi mAino; PrisCilA Coelho

refleXos dA doutrinA dA proteção integrAl dA CriAnçA e do AdolesCente nos dispositivos proCessuAis do estAtuto dA CriAnçA e do AdolesCente ................................................................ 419 AndreA BoAri CArACiolA; CArlos AuGusTo de Assis

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A utilizAção dA mediAção nAs CAusAs envolvendo A CriAnçA e o AdolesCente ............................. 430 lourdes reGinA JorGeTi BArone

AlgumAs ConsiderAções soBre o poder JudiCiário e A efetividAde de direitos dAs CriAnçAs e dos AdolesCentes ............................................................................................................................... 439 ClAudiA CosTA

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ApreSentAção dAS orgAnizAdorAS

25 anos do ECA. Mais uma vez, impõe-se à reflexão a temática da transversalidade infantojuvenil, com seus avanços, conquistas, desafios e caminhos à serem trilhados na superação dos obstáculos até então vividos.

O aniversário dos 25 anos do Estatuto marca um momento em que os diversos atores sociais clamam por sua efetividade social. Já não há mais que se falar em apenas normas programáticas. Há que se falar em vivências práticas. Efetividade. Concretude Social.

E foi pelos questionamentos acerca da efetividade e da concreção social dos direitos infantojuvenis, que essa obra teve origem. Dos intensos debates e reflexões acadêmico-científicas do Grupo de Estudos de Direitos da Criança e do Adolescente no Século XXI, da Faculdade de Direito da Universidade Presbite-riana Mackenzie, que é também coordenado pelas organizadoras da presente obra, bem como da reunião de inúmeros pesquisadores de outras instituições universitárias, essa obra ganhou vez e voz.

A partir da reunião de cosmovisões acerca do universo infantojuvenil, que ora são lançadas à reflexão do leitor, clamamos para uma revisitação na forma de gestão das políticas públicas até então vigentes, bem como a necessária reconstrução social a partir da ênfase dos direitos humanos.

A obra pretende também contribuir para a sensibilização quanto a novos temas que ainda não se encontram positivados, mas que merecem um estudo dotado de acuidade e aprofundamento, em especial, nas questões relacionadas à necessidade real da consolidação de seus destinatários, crianças e adolescentes como sujeitos de direito, imersos em uma democracia alicerçada na cidadania participativa e na igualdade social.

Ana Cláudia Pompeu Torezan Andreucci Andrea Boari Caraciol

Michelle Asato Junqueira

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direitoS dA CriAnçA — diálogo normAtivo do SiStemA internACionAl

e A ordem JurídiCA BrASileirA

Carla Noura Teixeira(*)

Elaine Cristina Pardi(**)

Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração toda vez que o adulto fraqueja ele vem pra me dar a mão

Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão

Há um passado, no meu presente, um Sol bem quente lá no meu quintal

Toda vez que a bruxa me assusta o menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir

Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor Pois não posso, não devo,

não quero viver como toda essa gente insiste em viver E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem

ser coisa normal

Letra de Música “Bola de Meia Bola de Gude” de composição de Milton Nascimento e Fernando Brant

(*) Doutora em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo — PUC/SP. Mestra em Direito das Re-lações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo — PUC/SP. Especialista em Direito Processual Civil pelas Faculdades Metropolitanas Unidas — FMU. Graduada em Direito pela Universidade Federal do Pará — UFPa. Advogada. Professora da Universidade Paulista — UNIP.(**) Doutoranda em Filosofia do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo — PUC/SP. Mestra em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo — PUC/SP. Advogada. Professora da Universidade Paulista — UNIP.

1. o BrasIl e os tratados InternacIonaIs de dIreItos humanos

Os tratados são uma das fontes do direito in-ternacional, possuindo caracteres regidos pela ordem

jurídica internacional. No entanto, quem disciplina esta matéria relativa aos Estados nacionais — en-quanto sujeitos de direito internacional, dotados de personalidade jurídica internacional e, portanto, com legitimidade para contrair obrigações e exigir

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adimplemento de direitos — no âmbito interno é o direito constitucional.

A Constituição Federal de 1988 foi tímida ao abordar as questões pertinentes à incorporação e o status hierárquico dado às normas internacionais pelo Estado brasileiro.

Originariamente os tratados internacionais eram pautados, quanto a sua elaboração e seus efeitos, no costume internacional e em princípios gerais do livre consentimento, da boa-fé e da regra do pacta sunt servanda. A partir das transformações na sociedade internacional com a consolidação das organizações internacionais como sujeitos de Direito Internacional, buscou-se a codificação do direito dos tratados, o que resultou na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969, aplicável aos tratados entre Estados (art. 1º da Convenção — Âm-bito da presente Convenção) e, posteriormente, na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986 (art. 1º Âmbi-to da presente Convenção. A presente Convenção aplica-se: a) a tratados entre um ou mais Estados e uma ou mais organizações internacionais, e b) a tratados entre organizações internacionais).

De modo a facilitar o entendimento da forma-ção do texto compromissivo do tratado, bem como o conhecimento das expressões técnicas que o cir-cundam, adotaremos como parâmetro a Convenção de Viena de 1969. Para esta, tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica (art. 2º Expressões empre-gadas 1.a).

Resumidamente o conceito de tratado envol-ve, no dizer de Jorge Miranda(1): a) um acordo de vontades; b) a necessidade de as partes serem todos

sujeitos de Direito Internacional e de agirem nessa qualidade; c) a regulamentação pelo Direito Inter-nacional; d) a produção de efeitos com relevância nas relações internacionais — sejam estritos efeitos nessas relações, sejam efeitos nas ordens internas das partes.

Quanto à terminologia, a denominação dos tratados é irrelevante para que possam alcançar suas finalidades, sendo assim assumem as seguin-tes denominações: tratados, acordos, convenções, ajustes, pactos, ligas, estatuto, protocolo, ou outras formas. A própria Constituição Federal brasileira de 1988 utiliza invariavelmente e sem distinções as expressões tratados, tratados internacionais, acordos firmados pela União, atos internacionais (Vide CF, arts. 5º, § 2º; 102, III, b; 105, III, a; 178, caput; 84, VIII; e, 49, I).

Desta feita, é de recordar o século XX e o impacto na ordem jurídica internacional das duas Grandes Guerras na evolução do Direito Interna-cional e consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos, por meio da edição de tratados internacionais de direitos humanos consistindo em verdadeiro tecido normativo humanista universal.

A segunda metade do século XX(2) assistiu ace-leradas às mudanças de paradigmas: o fim da Guerra Fria; a queda do Muro de Berlim; a dissolução da União Soviética; o surgimento de novos Estados; o estreitamento das relações comunitárias balizadas pela experiência da União Europeia; as propostas de agendas comuns com finalidades de proteção ambiental e regramento da exploração biológica; as novas faces da guerra — a exemplo da Guerra do Golfo, uma guerra tecnológica; o desenvolvi-mento de sistemas protetivos de direitos humanos, com ênfase no sistema interamericano composto da Comissão e da Corte interamericana de direitos humanos; enfim, a formação de laços comuns no mundo denominado “globalizado”, no qual há ime-

(1) MIRANDA, Jorge. Teoria do estado e da constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 56-57.(2) Cançado Trindade, ao comentar a celebração do cinquentenário da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, declarou que: “O século XX, que marcha célere para seu ocaso, deixará uma trágica marca: nunca como neste século se verificou tanto progresso na ciência e tecnologia, acompanhado paradoxalmente de tanta destruição e crueldade. Mesmo em nossos dias, os avanços tecnológicos e a revolução das comunicações e da informática, se por um lado tornam o mundo mais transparente, por outro lado geram novos problemas e desafios aos direitos humanos. Mais que uma época de profundas transformações, vivemos neste final de século uma verdadeira transformação de época (CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. O legado da declaração universal e o futuro da proteção internacional dos direitos humanos. In: JUNIOR, Alberto do Amaral; MOISÉS, Cláudia Perrone (orgs.). O cinquentenário da declaração universal dos direitos do homem. São Paulo: Edusp, 1999. p. 45).

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diatidade de comunicações, de intensa circulação de pessoas e capitais — uma grande rede interativa.

Contudo, o porvir — o desenrolar do século XXI — apresentou, já em seu início, novos emba-tes para o Direito Internacional, pois o que autores como Norberto Bobbio(3), Hildebrando Accioly e G. E. do Nascimento e Silva(4), Flávia Piovesan(5) e Cançado Trindade(6) apontavam como maior desafio, qual seja, não mais a conformação e ampliação do Direito Internacional — visto o saldo do século XX —, mas sua eficaz implementação, a seleção de mecanismos efetivos de aplicabilidade, pensamento solapado por fatos novos. O desafio da efetividade do Direito Internacional ainda estava sendo delinea-do quando os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 mudaram de forma inarredável o vértice dos conflitos e dos anseios de segurança. Hoje o mundo está dividido, porém não de forma bipolar — entre

capitalismo e socialismo — e, sim, dividido pelo conflito de civilizações.

Parafraseando a assertiva de Louis Henkin sobre o Direito Internacional: na contemporaneidade o Direito Internacional pode ser classificado como o Direito anterior a 11 de setembro de 2001 e posterior à Segunda Guerra Mundial, e o Direito posterior aos atentados terroristas. Neste ínterim, opções distintas desfilam frente aos Estados nacionais(7): a consoli-dação do diálogo como veículo de aproximação e de busca de consenso, balizadas pelas conquistas pós-1945 na arena internacional com o desenvol-vimento e a multiplicação do direito internacional dos direitos humanos, ou a volta ao Estado Polícia.

O Brasil, porém, firmou-se na arena internacio-nal como ator de relevo na assunção de subsequentes compromissos internacionais. A década de 1990

(3) Área que se desenvolveu apuradamente foi a do direito internacional dos direitos humanos, tendendo, segundo Norberto Bobbio, em duas direções: na direção de sua universalização e naquela de sua multiplicação. A universalização é o ponto de partida de profunda transformação do “direito das gentes”, como foi chamado o direito internacional durante séculos, em direito também dos “indivíduos”, dos indivíduos singulares, os quais, adquirindo pelo menos potencialmente o direito de questionarem o seu próprio Estado, vão se transformando, de cidadãos de um Estado particular, em cidadãos do mundo. Já a multiplicação dos direitos do homem ocorreu de três modos: a) porque aumentou a quantidade de bens considerados me-recedores de tutela; b) porque foi estendida a titularidade de alguns direitos típicos a sujeitos diversos do homem; c) porque o próprio homem não é mais considerado como ente genérico, ou homem em abstrato, mas é visto na especificidade ou na concreticidade de suas diversas maneiras de ser em sociedade, como criança, velho, doente, etc. Em substância: mais bens, mais sujeitos, mais status do individuo (BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 67-68).(4) Vale retratar o ideário dos autores em tela de que a compreensão do papel e alcance do direito internacional somente se consolidará na medida em que se tenha a conscientização da absoluta impossibilidade e inadequação operacional dos sistemas nacionais, isoladamente considerados, como unidades autônomas, muitas vezes se não francamente antagônicas ao menos colidentes, para tender as necessidades do tempo presente. A partir de agora, todo provincianismo cultural está sendo superado pela marcha da História, forçando-nos a pensar em termos internacionais, ante a impossibilidade essencial dos direitos nacionais de satisfazerem as necessidades intrinsecamente internacionais, a pensar em termos universais e forjar parâmetros legais universais. É também agora que a situação histórica do homem no mundo domina a consciência, e o dimensionamento da implementação desses direitos se encontra no cerne do pensamento jurídico, ante o risco iminente de extensão da interferência e controle dos Estados, em face das liberdades e direitos individuais. (5) Como bem alerta Flávia Piovesan “o Pós-11 de setembro aponta o desafio de que ações estatais sejam orientadas pelos princípios legados do processo civilizatório, sem dilapidar o patrimônio histórico atinente a garantias e direitos. O esforço de construção de um “Estado de Direito Internacional”, em uma arena mais democrática e participativa, há de prevalecer em face da imediata busca do “Estado Polícia” no campo internacional, fundamentalmente guiado pelo lema da força e seguran-ça internacional” (PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 15).(6) Segundo Cançado Trindade, “Vivemos um momento sombrio, resultante do recrudescimento do unilateralismo, sobretudo com a ação militar no caso Kosovo (sem a prévia autorização do Conselho de Segurança da ONU) e com as consequências dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que acarretam uma erosão das garantias judiciais e dos princípios gerais do Direito. Há uma vasta jurisprudência internacional condenatória de medidas de exceção que representa hoje um baluarte contra as tentações do cesarianismo e um verdadeiro patrimônio jurídico de todos os povos. A nenhum Estado é dado consi-derar-se acima do Direito. Não se pode combater o terrorismo com a repressão indiscriminada” (entrevista a Revista Jurídica Del Rey, n. 9, de novembro de 2002).(7) A observação do processo que carreou a internacionalização dos direitos humanos, em conjunto ao trágico legado da Segunda Guerra Mundial, patrocinador de lógica destrutiva e reducionista de direitos, presta enorme serviço à apreciação do atual contexto internacional. A certeza de que o ser humano e o Estado, como forma organizada da comunidade nacional, podem alinhavar crimes inomináveis em nome de interesses de minorias, que discriminações possam prevalecer fundadas em teorias culturalmente arraigadas, ou mesmo que o Estado possa licenciar-se dos compromissos da agenda internacional, adotando medidas de exceção, com a roupagem de proteção de seu povo e território, causa ainda pasmo e deve gerar cuidados aos partícipes da ordem internacional.

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demonstrou-se profícua na incorporação de tratados internacionais sobre direitos humanos, quando o Estado brasileiro projetou na edição da Constituição Federal de 1988 o dever democrático, mais que um direito, o dever de agir no sentido democrático em prol do seu elemento soberano, o povo. No devir destes textos internacionais tem-se a construção de um sistema protetivo diferenciado às crianças. É nesse cenário que temos a incorporação da Con-venção Internacional sobre os Direitos da Criança.

2. da convenção InternacIonal soBre os dIreItos da crIança — 25 anos

Com a observância da sistemática de incorpo-ração dos tratados internacionais dispostos no texto constitucional de 1988, a 21 de dezembro de 1990 foi promulgada a Convenção sobre os Direitos da Criança na ordem jurídica brasileira com a edição do Decreto n. 99.710, tendo o mesmo entrado em vigor no Brasil em 23 de outubro de 1990. O Presi-dente da República, no exercício de sua competência privativa, segundo dispõe a Constituição Federal no art. 84, VIII, a ratificou em 24 de setembro de 1990; após os trâmites no Congresso Nacional, expostos na Constituição Federal, art. 49, I, que aprovou a Convenção sobre os Direitos da Criança pelo Decreto Legislativo n. 28, de 14 de setembro de 1990.

O Decreto Executivo, no art. 1º, afirma que “A Convenção sobre os Direitos da Criança, apen-sa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém”.

Esta é a primeira premissa a ser observada no texto internacional, o Brasil comprometeu-se inter-nacionalmente a proceder, adotar políticas públicas, condutas e posturas nos termos da Convenção. Então é reconhecidamente fonte de obrigações e direitos na ordem jurídica brasileira o teor da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança.

O preâmbulo do texto convencional é basilar ao retratar os princípios norteadores do texto com-promissivo:

Recordando que na Declaração Universal dos Direi-tos Humanos as Nações Unidas proclamaram que a infância tem direito a cuidados e assistência especiais;

Convencidos de que a família, como grupo fundamental da sociedade e ambiente natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus mem-bros, e em particular das crianças, deve receber a proteção e assistência necessárias a fim de poder assumir plenamente suas responsabilidades dentro da comunidade;

Reconhecendo que a criança, para o pleno e har-monioso desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão;

Considerando que a criança deve estar plena-mente preparada para uma vida independente na sociedade e deve ser educada de acordo com os ideais proclamados na Carta das Nações Unidas, especialmente com espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade;

Tendo em conta que a necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial foi enunciada na Declaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos da Criança e na Declaração dos Direitos da Criança adotada pela Assembleia Geral em 20 de novembro de 1959, e reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (em particular nos arts. 23 e 24), no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (em particular no art. 10) e nos estatutos e instrumentos pertinentes das Agências Especializadas e das organizações internacionais que se interessam pelo bem-estar da criança;

Tendo em conta que, conforme assinalado na Declaração dos Direitos da Criança, “a criança, em virtude de sua falta de maturidade física e mental, necessita proteção e cuidados especiais, inclusive a devida proteção legal, tanto antes quanto após seu nascimento”.

É de rigor ressaltar que o preâmbulo dos trata-dos internacionais faz parte do conteúdo e constitui norma entre os Estados partícipes e signatários, consiste na primeira parte do tratado, em regra enuncia o rol de partes pactuantes e estabelece os princípios e as razões que motivaram a elaboração do acordo internacional. Na ocorrência de dúvidas quanto à interpretação de algum dispositivo do tratado, o preâmbulo assumirá o papel de auxiliar e indicará critérios para uma adequada aplicação do texto normativo.

A Convenção traz na sua primeira parte a enumeração de direitos e garantias assegurados às

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crianças firmando de princípio que é criança como se extrai do art. 1º:

Art. 1º Para efeitos da presente Convenção con-sidera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes. (g. n.)

Na mesma senda, o art. 3º estatui a responsa-bilidade do Estado pelas ações relativas às crianças tendo como régua o interesse maior da criança.

Art. 3º — 1. Todas as ações relativas às crianças, le-vadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades adminis-trativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.

A Convenção estabelece o papel do Estado (arts. 4º, 5º e 6º) clamando o direito à vida, à so-brevivência e ao desenvolvimento da criança; são assegurados os direitos civis, a identidade nacional, o desenvolvimento em ambiente saudável com am-paro familiar (arts. 14, 15 e 16).

Na segunda metade da Convenção temos a criação do sistema de monitoramento das metas des-critas pelo texto internacional. A criação de Comitê permanente para verificação nos termos do art. 43.

Art. 43

1. A fim de examinar os progressos realizados no cumprimento das obrigações contraídas pelos Estados-partes na presente convenção, deverá ser estabelecido um Comitê para os Direitos da Criança que desempenhará as funções a seguir determinadas.

2. O comitê estará integrado por dez especialistas de reconhecida integridade moral e competência nas áreas cobertas pela presente convenção. Os membros do comitê serão eleitos pelos Estados-par-tes dentre seus nacionais e exercerão suas funções a título pessoal, tomando-se em devida conta a distribuição geográfica equitativa bem como os principais sistemas jurídicos.

3. Os membros do comitê serão escolhidos, em votação secreta, de uma lista de pessoas indicadas pelos Estados-partes. Cada Estado-Parte poderá indicar uma pessoa dentre os cidadãos de seu país.

4. A eleição inicial para o comitê será realizada, no mais tardar, seis meses após a entrada em vigor da presente convenção e, posteriormente, a cada dois anos. No mínimo quatro meses antes da data

marcada para cada eleição, o Secretário-Geral das Nações Unidas enviará uma carta aos Estados-par-tes convidando-os a apresentar suas candidaturas num prazo de dois meses. O Secretário-Geral elaborará posteriormente uma lista da qual farão parte, em ordem alfabética, todos os candidatos indicados e os Estados-partes que os designaram, e submeterá a mesma aos Estados-partes presentes à Convenção.

5. As eleições serão realizadas em reuniões dos Estados-partes convocadas pelo Secretário-Geral na Sede das Nações Unidas. Nessas reuniões, para as quais o quorum será de dois terços dos Estados--Partes, os candidatos eleitos para o comitê serão aqueles que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta de votos dos representantes dos Estados-partes presentes e votantes.

6. Os membros do comitê serão eleitos para um mandato de quatro anos. Poderão ser reeleitos caso sejam apresentadas novamente suas candidaturas. O mandato de cinco dos membros eleitos na pri-meira eleição expirará ao término de dois anos; imediatamente após ter sido realizada a primeira eleição, o presidente da reunião na qual a mesma se efetuou escolherá por sorteio os nomes desses cinco membros.

7. Caso um membro do comitê venha a falecer ou renuncie ou declare que por qualquer outro motivo não poderá continuar desempenhando suas funções, o Estado-Parte que indicou esse membro designará outro especialista, dentre seus cidadãos, para que exerça o mandato até seu término, sujeito à apro-vação do comitê.

8. O comitê estabelecerá suas próprias regras de procedimento.

9. O comitê elegerá a mesa para um período de dois anos.

10. As reuniões do comitê serão celebradas normal-mente na sede das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar que o comitê julgar conveniente. O comitê se reunirá normalmente todos os anos. A duração das reuniões do comitê será determinada e revista, se for o caso, em uma reunião dos Estados--Partes da presente convenção, sujeita à aprovação da Assembleia Geral.

11. O Secretário-Geral das Nações Unidas for-necerá o pessoal e os serviços necessários para o desempenho eficaz das funções do comitê de acordo com a presente convenção.

12. Com prévia aprovação da Assembleia Geral, os membros do Comitê estabelecido de acordo com a

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presente convenção receberão emolumentos prove-nientes dos recursos das Nações Unidas, segundo os termos e condições determinados pela assembleia.

Ainda a Convenção estabelece a obrigação dos Estados-partes de emitirem relatórios demonstrando a adoção de políticas de cumprimento do disposto nos tratados. Tudo permeado de ampla publicidade.

Art. 44.

1. Os Estados-partes se comprometem a apresentar ao comitê, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, relatórios sobre as medidas que tenham adotado com vistas a tornar efetivos os direitos reconhecidos na convenção e sobre os pro-gressos alcançados no desempenho desses direitos:

a) num prazo de dois anos a partir da data em que entrou em vigor para cada Estado-Parte a presente convenção;

b) a partir de então, a cada cinco anos.

2. Os relatórios preparados em função do presen-te artigo deverão indicar as circunstâncias e as dificuldades, caso existam, que afetam o grau de cumprimento das obrigações derivadas da presente convenção. Deverão, também, conter informações suficientes para que o comitê compreenda, com exatidão, a implementação da convenção no país em questão.

3. Um Estado-Parte que tenha apresentado um relatório inicial ao comitê não precisará repetir, nos relatórios posteriores a serem apresentados conforme o estipulado no subitem b do § 1º do presente artigo, a informação básica fornecida anteriormente.

4. O comitê poderá solicitar aos Estados-partes maiores informações sobre a implementação da convenção.

5. A cada dois anos, o comitê submeterá relatórios sobre suas atividades à Assembleia Geral das Nações Unidas, por intermédio do Conselho Eco-nômico e Social.

6. Os Estados-partes tornarão seus relatórios ampla-mente disponíveis ao público em seus respectivos países.

Aqui cumpre-nos refletir sobre o relevo da Convenção sobre Direitos da Criança na ordem ju-rídica brasileira como fonte de direitos e obrigações.

3. Diálogo normativo do sistema internacional e a ordem jurídica brasileira — Considerações sobre os tratados internacionais de Direitos Humanos

após a edição da Emenda Constitucional n. 45 e a inclusão do § 3 º ao art. 5º

São múltiplas as doutrinas surgidas para explicar as relações do Direito Internacional com o direito interno, mesmo sabendo que se trata de um dos problemas mais controvertidos, pois o fun-damento atribuído ao Direito Internacional influi decisivamente na posição eventualmente adotada pelo hermeneuta na solução de litígios.

O Supremo Tribunal Federal foi instado a se pronunciar sobre a relação dos tratados internacio-nais sobre direitos humanos e a Constituição Federal brasileira, em específico, a questão da prisão civil do depositário infiel, por força de controle difuso de constitucionalidade. Desta feita, observamos a mudança de interpretação da Corte Constitucional acolhendo o tratamento diferenciado aos tratados sobre direitos humanos em face a outros temas objeto de convenções internacionais, abandonando a equipa-ração hierárquica dos tratados a leis federais pautados em jurisprudência como do RE n. 80.004/SE.

Nesse sentido, transcrevemos:

O entendimento segundo o qual existe relação de paridade normativa entre convenções internacionais e leis internas brasileiras há de ser considerado, unicamente, quanto aos tratados internacionais cujo conteúdo seja materialmente estranho ao tema dos direitos humanos.

É que, como já referido, a superveniência, em dezembro de 2004, da EC n. 45 introduziu um dado juridicamente relevante, apto a viabilizar a reelaboração, por esta Suprema Corte, de sua vi-são em torno da posição jurídica que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos assumem no plano do ordenamento positivo do-méstico do Brasil. Vale dizer, essa nova percepção crítica, legitimada pelo advento da EC n. 45/04 — que introduziu um novo paradigma no cenário nacional — estimula novas reflexões, por parte do Supremo Tribunal Federal, em torno das relações da ordem jurídica interna.

Ainda: Em decorrência dessa reforma constitucional, e ressalvadas as hipóteses a ela anteriores (considera-do, quanto a estas, o disposto no § 2º do art. 5º da Constituição), tornou-se possível, agora, atribuir, formal e materialmente, às convenções inter-nacionais sobre direitos humanos, hierarquia jurídico-constitucional, desde que observado,

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quanto ao processo de incorporação de tais convenções, o iter procedimental concernente ao rito de apreciação e de aprovação das propostas de emenda à Constituição, consoante prescreve o § 3º do art. 5º da Constituição [...]. É preciso ressalvar, no entanto, como precedentemente já enfatizado, as convenções internacionais de di-reitos humanos celebradas antes do advento da EC n. 45/04, pois, quanto a elas, incide o § 2º do art. 5º da Constituição, que lhes confere natureza materialmente constitucional, promovendo sua integração e fazendo com que se subsumam à noção mesma de bloco de constitucionalidade”.(trechos do voto do Min. Celso de Mello, Habeas Corpus n. 87.585-8 TO). (grifo nosso)

Contudo, em outra manifestação da Corte:

Parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não po-deriam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos da pessoa humana. (trecho do voto do Min. Gilmar Mendes, no RE n. 466.343/SP)

Tese explanada anteriormente em RHC 779785 — RJ.

Diante desse cenário a leitura dos §§ 2º e 3º do art. 5º da Constituição Federal brasileira permite algumas conclusões:

i) Antes do pronunciamento sobre a alteração pro-duzida pela EC n. 45, para o Supremo Tribunal Federal os tratados internacionais, independen-temente do conteúdo, se de direitos humanos ou outras matérias, deveriam ser observados pela ordem constitucional brasileira como normas in-fraconstitucionais com o status de lei ordinária. Tal equiparação persiste para aqueles textos compro-missivos que não versem sobre direitos humanos;

ii) A redação do § 3º do art. 5º da Constituição Federal brasileira estabelece um quorum de três

quintos com apreciação em dois turnos pelas Casas do Congresso Nacional, para que um tratado de direitos humanos seja considerado equivalente a norma constitucional (à semelhança de emenda à Constituição) quando aprovados por este meio — procedimento a ser observado para àqueles tratados em que o Brasil vier a participar da formulação ou aderir posteriormente a promulgação da EC n. 45 — nesta hipótese assumem aspecto formalmente constitucional;

iii) A manifestação do Supremo Tribunal Federal superou toda a controvérsia doutrinária quanto a hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos, que persistia mesmo após a edição da EC n. 45, ao determinar o status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pela Brasil, estando abaixo da Constitui-ção, porém acima da legislação interna (Acórdãos nesse sentido: HC 88.240/SP de 7.10.2008; RE 349703/RS de 3.12.2008, dentre outros).

Não obstante todo o esforço doutrinário e jurisprudencial, em elucidar a inclusão do § 3º ao art. 5º do texto constitucional como norma a inter-pretar e dirimir o dissenso sobre a hierarquia dos tratados de direitos humanos ainda observamos que ocorreu um desprestígio do § 2º, art. 5º da Cons-tituição Federal, pois este prevê que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em a Republica Federativa do Brasil seja parte” (g. n.). É possível compreender que a Constituição Cidadã recepciona direitos oriundos de tratados interna-cionais, independentemente de quorum específico (o que a priori está sendo afirmado pela integração dos tratados de direitos humanos em que o Brasil é parte ao bloco de constitucionalidade).

3. reflexões derradeIras: reconhecImento do Jus Cogens InternacIonal(8)

Eis a revelação que se avizinha, persistindo a interpretação de que os tratados internacionais de direitos humanos devem ser observados como normas infraconstitucionais, porém, supralegais, reconhece-se a existência de dois sistemas jurídicos distintos: o internacional e o nacional — sendo que

(8) Dados extraídos da obra TEIXEIRA, Carla Noura. Direito internacional para o século XXI. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 311-319.

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só se depositará validade jurídica ao conteúdo do primeiro por força do expresso consentimento estatal. Ora, sob a perspectiva de validade e força interna das normas oriundas da ordem jurídica internacional no ordenamento brasileiro, teríamos a criação de um sistema curioso, pois as fontes do Direito Interna-cional, em especial os tratados internacionais sobre Direitos Humanos, se sujeitariam aos aspectos proce-dimentais de sua incorporação somados à adequação histórica e política, isto é, da conveniência para sua interpretação como antinômica ou conflitante ao texto constitucional ao sabor da ocasião.

Reafirma-se aqui que tal interpretação não é a de maior valia ao indivíduo destinatário das normas internacionais protetivas de direitos hu-manos, quando constitucionalizados, por que não nomeá-los fundamentais. Ainda, sob a apreciação do texto constitucional in totum, é inadvertidamente a recusa da interpretação sistêmica considerando os princípios que regem a República Federativa do Brasil já enunciados no art. 1º da Constituição Federal ao insculpir o princípio da dignidade da pessoa humana; ainda o art. 4º aduz aos princípios que regem o Estado brasileiro nas relações interna-cionais e claramente consolida o compromisso da defesa dos direitos humanos; ademais toda carta de direitos e garantias fundamentais estatuídas no art. 5º sem olvidar o caráter de cláusulas pétreas constitucionais por força do art. 60, § 4º. Tudo isso somado a interpretação do § 2º do art. 5º que estabelece dispositivo de recepção constitucional de outros direitos e garantias fundamentais ainda que oriundos de tratados internacionais.

A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança claramente faz parte da construção nor-mativa internacional que ingressou formalmente na ordem jurídica brasileira segundo o procedimento constitucionalmente previsto para sua incorpora-ção; contudo, a interpretar os tratados de direitos humanos como normas infraconstitucionais mas supralegais, dá-se abertura para descumprimento

dos mesmos na arena internacional, ademais, reti-ra-se seu poder estatuído na Constituição Federal no § 2º do art. 5º. Assim, deve-se revelar a falsa dicotomia nas ordens internacional e nacional, senão vejamos:

No âmbito relacional do Direito Internacional e das ordens jurídicas estatais tem se firmado, inclusive, exemplificativamente, na Constituição portuguesa de 1976, no art. 8º(9), a distinção entre Direito In-ternacional geral ou comum e Direito Internacional Convencional(10). O primeiro vinculativo de todos os Estado (e dos demais sujeitos) ou, pelo menos, não especificamente vinculativo de alguns, e o segundo, só vinculativo dos partícipes.

Na incorporação expressa de princípios internacionais pelas ordens estatais, vigora a demonstração de quão falso é o conflito que se pretende em sistema dual das relações entre Direito internacional e Direito nacional — dualismo; posto como já demonstrado, que se consideramos duas ordens independentes: The two systems do not come into conflict as systems since they work in different spheres. each is supreme in its own field(11). O que se tem demonstrado é a inserção de princípios in-ternacionais nas ordens estatais como normas de coexistência, reconhecidas nas relações globais, estreitamente aproximadas na segunda metade do século XX.

Para Ian Brownlie:

In the recent past some eminent opinions have supported the view that certain over-riding of international Law exist, forming a body of jus cogens.

The major distinguishing feature of such rules is their relative indelibility. They are rules of customary law which cannot be set aside by treaty or acquiescence but only by the formation of a subsequent customary of contrary effect. The least controversial examples of the class are the prohibition of the use of force, the law of genocide,

(9) Constituição da República Portuguesa, art. 8º (Direito internacional). 1. As normas e os princípios de direito internacional geral ou comum fazem parte integrante do direito português. 2. As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o Estado português. 3. As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal seja parte vigoram diretamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos.(10) Dados extraídos da obra de MIRANDA, Jorge. Curso de direito internacional público. Cascais: Principia, 2002. p. 28.(11) BROWNLIE, Ian. Principles of public international law. Coimbra: Calouste Gulbenkian, 2003. p. 33.

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the principle of racial non-discrimination, crimes against humanity, and the rules prohibiting trade slaves and piracy.

[…]

Other rules which have this special status include the principle of permanent sovereig-nty over natural resources and the principle of self-determination.(12)

A Convenção de Viena de 1969 sobre o Di-reito dos Tratados é explícita em prever a nulidade de tratado internacional em conflito com norma imperativa de Direito internacional. Boa parte da doutrina internacionalista aponta a não existência de hierarquia entre as fontes de Direito internacional. Tratados internacionais, costumes internacionais, doutrina, jurisprudência, princípios gerais de direito, decisões de organismos internacionais, dentre outras — todos estariam no mesmo patamar hierárquico. Se dúvidas sobreviessem quanto à aplicabilidade, bastaria buscar o critério temporal ou da especiali-dade para dirimir o conflito.

Contudo, o texto da Convenção de Viena — anteriormente mencionado —, no art. 53, define o que seja uma norma imperativa de Direito interna-cional geral, chamando de jus cogens, uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito interna-cional geral da mesma natureza.

Esse texto, ao lado de outros, como o da própria Carta das Nações Unidas, tem permitido o reconhecimento de estruturas hierarquizadas no Direito internacional, em que se verifica uma plêia-de de princípios, valores que regem a sociedade internacional.

Nesse sentido, Jorge Miranda:

Alguns recentes fenômenos permitem salientar normas com diferentes funções: são os princípios de jus cogens, as normas (ou algumas delas) da Carta das Nações Unidas e do Estatuto do Tribunal interna-cional de Justiça, ou as normas constantes

das Convenções de Viena sobre conclusão, interpretação, validade, aplicação e cessação de vigência de tratados.

Poder-se-á então falar em Direito Inter-nacional fundamental ou constitucional, em Direito estruturante das relações internacionais e da própria comunidade internacional; num conjunto de normas definidoras da posição jurídica dos sujeitos de tais relações e do quadro em que elas se desenvolvem; num conjunto de normas de vária origem, mas de função nuclear, e algumas das quais (as de jus cogens) possuem um valor superior ao de todas as demais.(13) (g. n.)

Na esteira evolutiva do Direito internacional constitucional e de sua migração para outros países, podemos também vislumbrar a formulação e o reco-nhecimento de princípios internacionais que vieram a coordenar a convivência dos entes internacional-mente reconhecidos. Em paralelo à consolidação da noção de que um Estado só será considerado um Estado de Direito quando assentado em bases constitucionais e de que, então, a Constituição é a norma fundamental, fundadora da ordem jurídica nacional, está a consolidação de princípios como: i) a igualdade de direitos; ii) a autodeterminação dos povos — consolidando-os como princípios, anteriormente citados —; iii) proibição do uso ou ameaça de força; iv) solução pacífica das contro-vérsias; v) não intervenção nos assuntos internos dos Estados; vi) dever de cooperação internacional; vii) igualdade soberana dos Estados; e viii) boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais. São processos simultâneos, não excludentes, e sim dotados de complementaridade.

Ao observarmos a história recente, vimos que a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 introduziu uma extraordinária inovação; combinando o discurso liberal da cidadania com o discurso social, passou a elencar tanto direitos ci-vis e políticos (arts. 3º a 21) como direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 a 28). Preceitos que não têm força de lei, pois a Declaração tem a forma de uma Resolução.

(12) BROWNLIE, Ian. Principles of public international law. Coimbra: Calouste Gulbenkian, 2003. p. 488-489.(13) MIRANDA, Jorge. Curso de direito internacional público. Cascais: Principia, 2002. p. 29-30.

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