curso de produção de texto e de leituras brasileiras para o cacd 2013 - aula 7

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CURSO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E DE LEITURAS BRASILEIRAS Preparatório para o CACD – 2013 | Profa. Vivian Müller AULA 07 | LB/03 | Slide 1 CURSO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E DE LEITURAS BRASILEIRAS TURMA JOAQUIM NABUCO E TURMA GUIMARÃES ROSA

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CURSO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E DE LEITURAS BRASILEIRAS PARA O CACD 2013 Profa. Vivian Müller. Aula 7 - Romantismo e a ideia de nação no Brasil.

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CURSO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E DE LEITURAS BRASILEIRAS

TURMA JOAQUIM NABUCOE

TURMA GUIMARÃES ROSA

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AULA 07/40 LEITURAS BRASILEIRAS 03/15

TÓPICOS ABORDADOS:

O Romantismo e a ideia de nação brasileira – José de Alencar

OBJETIVOS:

Identificar a importância da nação para o Romantismo; Identificar como a busca pelo conceito de nação brasileira se relaciona com a busca

pela literatura nacional; Identificar a importância de José de Alencar para o Romantismo brasileiro.

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OBSERVAÇÕES INICIAIS

1) Base teórica

RICUPERO, Bernardo. O Romantismo e a idéia de nação no Brasil (1830 -1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004. (Capítulos selecionados)

2) A nação para o Romantismo

Nosso estudo não abordará todas as frentes (temáticas e estéticas) da Escola Romântica. Trataremos apenas da frente que desenvolveu o tema da identificação/formação da nação, que é, para nós, a frente abordada no concurso. Bernardo Ricupero (p. 86) chama a atenção para a importância de tal frente dizendo que

“apenas devido à presença da nação como referência que se pode, no período posterior à independência, desejar criar literatura e historiografia brasileiras.”

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A INTRODUÇÃO AO MOVIMENTO ROMÂNTICO

Ricupero (p. 86) afirma que “antes dos românticos havia literatura produzida por escritores nascidos no Brasil, mas não propriamente literatura brasileira como algo consciente”. (como sistema) Após a independência política, os intelectuais brasileiros ainda buscavam legitimação cultural fora do país, em constantes consultas a Ferdinand Denis. Ele era um forte incentivador/fomentador da fortificação da literatura brasileira. Ricupero (p. 87) assevera que “realizada a independência política, resta adequar a cultura brasileira à nova condição (...): deveríamos ter vida autônoma, superando as formas mentais da época da colônia”. Ricupero (p. 87), referindo-se à constatação de Denis, continua dizendo que

“A literatura teria de procurar ser original, rejeitando os mitos gregos, que não estariam ‘de acordo com nem com o clima, nem com a natureza, nem com as tradições’ locais. Além do mais, os povos exterminados pelos europeus poderiam fornecer inspiração, sob a forma de fábulas misteriosas e poéticas. Isto é, Denis sugere, pouco depois da independência, o programa indianista que tanto marcara o romantismo brasileiro.”

*Poemas épicos de José Basílio da Gama (O Uruguai) e José de Santa Rita Durão (Caramuru).

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O SURGIMENTO DO ROMANTISMO

Espírito do romantismo: apreensão das especificidades de cada povo. Peculiaridade brasileira segundo Denis: “o gênio peculiar de tantas raças diversas nele se patenteia: sucessivamente arrebatado, como o africano; cavalheiro, como o guerreiro das margens do Tejo; sonhador, como o americano” [Ricupero, p. 88].

Somente 10 anos após as prescrições de Denis, a intelectualidade brasileira se movimenta. Em 1836, em Paris, é lançada a Revista Niterói, por Gonçalves de Magalhães (considerado o pai do romantismo brasileiro) e seus colegas Araujo Porto Alegre e Torres Homem. Tal lançamento marca o início do movimento romântico no Brasil.

Niterói publicava estudos de economia política, ciências, literatura nacional e artes. Segundo Ricupero (p. 92),

“Na verdade, a Niterói insere-se num quadro maior de publicações, que, antes e depois dela, procurarão usar a cultura com objetivos práticos, de promoção do progresso material. Ou seja, nesse tipo de revista a motivação mais puramente literária está subordinada a outras considerações, de natureza principalmente política.”

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GONÇALVES DE MAGALHÃES

Antonio Candido diz, em Formação da Literatura Brasileira, que durante, pelo menos dez anos, Magalhães foi a literatura brasileira.

No primeiro número da Niterói, ele publica “Ensaio sobre a História da Literatura no Brasil”, no qual desenvolve sua argumentação sobre a base do mote romântico: “cada povo tem sua literatura, como cada homem tem o seu caráter, cada árvore o seu fruto”(Magalhães Apud Ricupero, p. 94-95), ou seja, “cada época e povo possuem um espírito que sintetiza os diferentes elementos presentes nos variados contextos históricos e sociais”, completa Ricupero (p. 95). Ricupero ainda assevera que

“Logo a seguir, porém, reconhecerá que ‘esta verdade, que para os primitivos povos é incontestável e absoluta, todavia alguma modificação experimenta entre aqueles cuja civilização é reflexo da civilização de outro povo’. [...] Pode-se, portanto, considerar que a discussão sobre culturas reflexas, que tanto marcará o pensamento brasileiro, inicia-se no mesmo momento que começa a crítica literária brasileira”.

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O CONTRAPONTO A GOLÇALVES DE MAGALHÃES

Ao contrário de Magalhães, Santiago Nunes Ribeiro, no Revista Minerva Brasiliense, que substituiu a Niterói, em 1943, defende que “ ‘em vez de considerar a poesia do Brasil como uma bela estrangeira, uma virgem da terra helênica transportada às regiões do mundo, nós diremos que ela é filha da floresta, educada na velha Europa, onde a sua inspiração nativa se desenvolveu com o estudo e a contemplação de ciência e natureza estranha’ ”. (Nunes Ribeiro, em “Da nacionalidade da literatura brasileira”, Apud Ricupero, p. 99.) Sobre isso Ricupero (p. 99) afirma também que:

“Nem todos, porém, acolheram de maneira positiva as considerações do jovem crítico. Em O Archivista sai artigo que acusa Nunes Ribeiro de anacronismo e de não ter percebido que muitas das condições sociais da colônia eram as mesmas da metrópole, até porque ‘o Brasil era colônia portuguesa, formada de portugueses, que para aqui transportaram seus penates, com a mesma religião, debaixo das mesmas leis’. [Nunes Ribeiro] Santiago rebate à crítica, perguntando ‘que importa que existissem todas essas causas que tendiam a identificar as literaturas dos dois países, se o clima, as inspirações e os novos hábitos que ele trazia deviam necessariamente influir nos brasileiros? Isto é, mesmo que implicitamente reconheça que as instituições e muitos costumes portugueses e brasileiros eram similares durante a colônia, insiste na diversidade do meio físico, que deveria influenciar a inspiração dos poetas brasileiros.”

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TORRES HOMEM E A QUESTÃO DO NEGRO ESCRAVO

O mulato Torres Homem chega a escrever um dos primeiros trabalhos brasileiros contra a escravidão na Revista Niterói: “Considerações econômicas sobre a escravatura”. Ricupero (p. 93) diz que

“A idéia principal de ‘Considerações econômicas sobre a escravatura’ é que a escravidão teria um efeito deletério, favorecendo atitude contrária ao espírito de iniciativa, de desdém pelo trabalho industrial e a inovação, ao mesmo tempo que estimularia a busca de empregos públicos. Além do mais, não haveria maiores estímulos para que imigrantes se interessassem em vir para países onde prevalece a escravidão. Economicamente, como capital fixo, o trabalho servil seria pouco produtivo”.

Ricupero (p. 93) continua dizendo que

“Quanto ao Brasil, nota [Torres Homem] acuradamente um divórcio entre ‘o Brasil político e o Brasil industrial’. No primeiro Brasil, que outros depois chamarão de país legal, os progressos, beneficiados pelo exemplo europeu, teriam, em poucos anos, sido consideráveis. O ‘desenvolvimento industrial porém foi retardado pelo monstruoso corpo estranho implantado no coração de sua organização social. A posse de escravos nos tem evidentemente impedido de trilhar a carreira da indústria’ [Citação de Torres Homem]”.

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GONÇALVES DIAS E O NEGRO ESCRAVO

Começam a aparecer entre os intelectuais, ainda na primeira metade do século XIX, a temática da escravidão. Gonçalves Dias publica, em 1949, na Revista Guanabara, ‘Meditação’, que é considerado “provavelmente o trabalho mais profundo sobre a escravidão” na época. Segundo Ricupero (p. 101), “num tom bíblico, (...) o poema em prosa desenvolve-se entre um velho e um jovem. Como num sonho, o jovem fala de um grande império, onde vê

‘milhares de homens – de fisionomias discordes, de cor vária, e de caracteres diferentes.Esses homens formam círculos concêntricos, como os que a pedra produz caindo nas

águas plácidas de um lago. (...)E os que formam os círculos externos têm maneiras submissas e respeitosas, são de cor

preta: - e os outros, que são como um punhado de homens, formando o centro de todos os círculos, têm maneiras senhoris e arrogantes: - são de cor branca.

E os homens de cor preta têm as mãos presas em longas correntes de ferro, cujos anéis vão de uns aos outros – eternos como a maldição que passa de pais a filhos.’ ”

Ricupero chama a atenção para o fato de que a vacilação, em relação à escravidão, é o traço mais marcante da primeira geração romântica. Segundo o autor (p. 102), “Essa atitude toma forma no poema épico ‘Os Palmares’, de Joaquim Norberto. Nele, ao mesmo tempo que o escravo se revolta contra a ‘infernal senzala’, chora, saudoso, o antigo cativeiro.”

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A IDEIA DE ‘PARTICULAR, PORÉM UNIVERSAL’ Em 1962, Dom Pedro II encomenda de Ferdinand Wolf, iberista austríaco, uma obra sistemática sobre a história da literatura no Brasil. Tal obra nada tem de original. O argumento da obra segue um duplo caminho, segundo Ricupero (p. 108):

“a literatura brasileira e o Brasil podem atrair as demais literaturas e nações civilizadas pelo que têm de diferentes; por outro lado e de maneira complementar, a literatura brasileira e o Brasil, por esses mesmos motivos, aceitos entre as literaturas e nações civilizadas”.

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O IHGB E A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

Em 1938, é fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Resumidamente, sua atuação ocorre, em grande parte, como aparato ideológico do império, no sentido de “elaborar uma imagem da nação brasileira formada pela relação harmônica entre brancos, índios e negros” (Ricupero, p. 113). No panorama do IHGB, dois autores nos interessam: Karl von Martius e Adolpho de Varnhagen.

Em 1840, o IHGB decide promover um concurso com vistas a estabelecer os parâmetros para a história do Brasil. Tal concurso selecionaria “o melhor ‘plano de se escrever a história antiga e moderna do Brasil, organizada com tal sistema que nela se compreendam as suas partes política, civil, eclesiástica e literária’” (Ricupero, p. 124).

Entre os dois trabalhos apresentados, o de Martius é selecionado, sendo considerado extenso e profundamente pensado, segundo Ricupero (p. 124).

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VON MARTIUS E A MESCLA DAS TRÊS RAÇAS

Sobre a tese desenvolvida por Von Martius, Ricupero (p. 125) informa que

“Martius acredita que, para escrever a história do Brasil, deve-se, antes de tudo, ter em conta ‘os elementos que aí concorrerão para o desenvolvimento do homem’. Mas se isso é comum à história de qualquer povo, o ilustre naturalista logo nota que no Brasil ‘estes elementos (são) de natureza muito diversa’. Nossa singularidade residia sobretudo no fato de que aqui, ‘para a formação do homem convergiam de um modo particular três raças, a saber: a de cor de cobre ou americana, a branca ou caucasiana, e enfim a preta ou etíopica’.

Estaria aí, no reconhecimento da ‘importância das três raças como fator histórico na formação da nacionalidade brasileira’, a grande originalidade de Martius. O bávaro seria o primeiro a assinalar que o Brasil é o resultado ‘do encontro, da mescla das relações mútuas e mudanças dessas três raças’. Assim, Martius pode ser visto como o iniciador de toda uma linha de interpretação do Brasil, provavelmente a de maior êxito, tendo mesmo, de filosofia, se convertido em senso comum. Do romantismo a Gilberto Freyre, passando, aos trancos e barrancos, pelo evolucionismo e o positivismo, acreditou-se que o Brasil era essencialmente um país mestiço; o que foi visto por alguns como vantagem e por outros como defeito. Martius merece, portanto, o duvidoso título de avô da ideologia da democracia racial no Brasil.”

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Seguindo o raciocínio, Martius defende “o mito da convivência harmoniosa entre as três raças e a necessidade da unidade territorial”, que será seguido por Vernhagen.

Nesse sentido, Ricupero (p. 126-127) esclarece que

“O próprio autor [Martius] tem plena consciência da razão pela qual esses elementos devem ter boa acolhida no Império escravocrata. Sugere que são eles que justificam a ‘necessidade de uma monarquia em um país onde há um tão grande número de escravos’.

O mito embrionário do país mestiço foi, porém, ainda mais poderoso na defesa dos interesses da classe dominante, já que o fenômeno da pior situação do negro e índio deixa de ser histórico para se converter num dado da natureza, o que se expressa, por exemplo, na imagem popular do ‘preto que sabe seu lugar’.

Mesmo que haja em Martius momentos progressistas, não se pode duvidar de suas intenções conservadoras.”

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VERNHAGEN: A UNIDADE POLÍTICA DA NAÇÃO E O ENCONTRO DAS RAÇAS

Segundo Ricupero (p. 137),

“A importância de Vernhagen é enorme. Estabelece os marcos da hostoria brasileira, numa perspectiva que privilegia a ação do Estado, principalmente em prol da unidade territorial. Como corolário social da unidade política apareceria o congraçamento entre brancos, índios e negros.”

Unidade política da nação

“A unidade brasileira é, para Vernhagen, uma realização tão grandiosa, que, ao analisá-la, oscila entre a explicação histórica e a fatalista. A primeira aparece ao discutir o papel das invasões estrangeiras [...] na conformação de uma consciência brasileira, e no conflito entre D. Pedro, príncipe regente do Brasil, com as Cortes portuguesas no processo que levou a uma independência sem fissuras provinciais. Já a explicação providencial surge, volta e meia, como no trecho da ‘História geral do Brasil’ em que afirma: ‘Deus preza que para todo o sempre, a fim de que esta nação possa continuar a ser a primeira deste grande continente antártico, e algum dia se chegue a contar entre as mais consideradas do universo, o que sem muita união não poderá suceder’”. (Ricupero, p. 137-138)

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O encontro das raças

Vernhagen se distancia da maior parte dos intelectuais do Segundo Reinado em relação, principalmente, à caracterização negativa do índio. Sobre tal posicionamento, Ricupero (p. 142) esclarece, citando trechos de História geral do Brasil,

“ ‘Humanidade bestial, seriam os índios falsos e infiéis; inconstantes e ingratos, e bastante desconfiados’. Ainda no estado de natureza, não conheceriam moral, nem tampouco estabeleceriam nação ou pequenas nações, sendo de estranhar que ‘haja ainda poetas, e até filósofos, que vejam no estado selvagem a maior felicidade do homem’. Em oposição ao bom selvagem rousseuniano, Vernhagen caracteriza a vida dos índios como próxima do homem lobo do homem hobbesiano: ‘desgraçadamente o estado profundo da barbárie humana, em todos os países, prova que sem os vínculos das leis e da religião, o triste mortal propende tanto à ferocidade que quase se metamorfoseia em fera’.Já em seu texto mais político, ‘Memorial Orgânico’, Vernhagem deixara claros seus sentimentos a respeito dos índios. Em primeiro lugar, já que seriam mais propensos a dissolver-se na população branca, representariam uma alternativa menos problemática de força de trabalho do que os escravos africanos”.

Contra essa caracterização, levantam-se, principalmente, Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias.

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A conclusão de Vernhagen

“Se para Vernhagen as três raças contribuíram para consituir o Brasil, o papel de cada uma delas teria sido muito diferenciado. Mais inclusive do que Martius, o visconde de Porto Seguro está persuadido de que índios e negros teriam função subalterna em relação ap branco português. Seria, na verdade, o contato com o branco que os retiraria do estado de barbárie, até mesmo a escravidão apresentando, nesse sentido, aspectos positivos. Além do mais, através da mestiçagem, o brasileiro deveria tornar-se mais branco, aproximando-se dos padrões prevalecentes nas nações civilizadas”. (Ricupero, p. 148)

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CONCLUSÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO IHGB PARA A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL

Bernardo Ricupero (p. 150-151) conclui dizendo que

“Percebe-se, dessa forma, pelo exemplo daqueles mais distantes em relação à historiografia que brotou do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, como essa linha de interpretação do passado brasileiro teve sucesso, convertendo-se em ‘senso comum’. Ou seja, numa operação ideológica, a historiografia saquarema naturalizou a história, tornando inevitáveis fenômenos que poderiam ter tido desenvolvimento diverso. Dessa forma, o Brasil aparece, aos olhos desses historiadores, como grande Império, unido por força da Providência, da ação do imperador e da elite política saquarema e destinado a dar sua contribuição específica à civilização com a mestiçagem das três raças que o formaram.

(...)Assim, a maior prova do sucesso do IHGB é que hoje, mais do que 150 anos

depois de sua fundação, idéias como o papel benévolo da unidade e da relação das três raças no que somos são para nós tão óbvias que praticamente não conseguimos imaginar como podem ser questionadas.”

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O INDIANISMO COMO MITO NACIONAL

“Se o problema principal para os brasileiros depois da independência é se pensarem como brasileiros (...), o índio ou, ao menos, a idéia que se decide fazer dele, lhes oferece para isso múltiplas possibilidades”. (Ricupero, p. 153)

“É próprio da imaginação histórica edificar mitos que, muitas vezes, ajudam a compreender antes o tempo que os forjou do que o universo remoto para o qual foram inventados”. (BOSI, 1992, p. 176)

“a representação acerca dos ‘primeiros brasileiros’ variou durante o Império e continuou a mudar depois da proclamação da República. No período que nos interessa, veremos, de certa forma, o bravo guerreiro da Regência se mestiçar, durante a Conciliação, com os descendentes dos conquistadores europeus até porque, em cada um desses momentos, sua imagem desempenhará diferentes funções ideológicas”. (Ricupero, p. 154)

* Respectivamente, em Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias e em José de Alencar.

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O INDIANISMO EM GOLÇALVES DIAS

Preocupação: Questionar o lugar dos homens livres pobres (mestiços) na sociedade

escravista.

Segundo Ricupero (p. 156), “o Brasil de então (...) é (...) uma espécie de limbo para homens

situados entre a opulência da casa-grande e o inferno da senzala. Assim, onde ‘onde os

brancos governa’ e ‘os negros servem’, só resta ser livre (...), sem que isso signifique que

possua um lugar definido na ordem social.”

O problema da marginalidade dos homens livres pobres, instrui Ricupero (nota 7, p. 156),

teve “que esperar até o modernismo para que o comportamento do homem livre, que não

trabalha e vive de expedientes, ou seja, age como malandro, fosse elevado à condição de

símbolo nacional com Macunaíma, ‘o herói sem caráter’”.

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Sobre o índio em Dias, Ricupero (p. 157) afirma que

“a maior parte da poesia indianista de Gonçalves Dias transcorre antes da chegada do português na América. Dessa forma, seus heróis não encontram adversários pela frente, sendo capazes de desenvolver qualidades guerreiras análogas às da nobreza do Velho Mundo, tão admiradas pelo romantismo europeu e que o autor, que escreveu poesias em estilo medieval, estava longe de desconhecer”. “Além de servir para dar ao índio uma aura guerreira, próxima do cavalheiro medieval europeu, [a poesia de Dias] encontra terreno bastante propício na situação contemporânea do Brasil, onde ainda estavam bastante frescas as lembranças das lutas da Regência” [Ricupero, p. 159].

Ideias em relação ao índio apresentadas por Gonçalves Dias:

- sacrifício / auto-sacrifício [em I-Juca-Pirama, em relação aos prisioneiros tupi] (que é retomada em Alencar, em Iracema);

- escravidão voluntária [em Tabira e em O canto do índio] (que é retomada em Alencar, em O Guarani);

- simbologia antropofágica [em I-Juca-Pirama, em relação aos captores timbiras] (que é retomada e amplificada no Modernismo).

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O INDIANISMO EM GOLÇALVES DE MAGALHÃES

Preocupação: legitimação do projeto político do Segundo Reinado por meio do “elogio do americano em oposição aos ‘ferozes portugueses’” (Ricupero, p. 160), principalmente, em A confederação dos tamoios.

Magalhães apresenta o embate do índio com os colonizadores, oferecendo duas opções para aqueles: resistir ou aculturar-se ao colonizador. Não posicionou efetivamente. Resolução do impasse: “os índios devem acolher os padres que trazem a religião cristã e são odiados pelos outros portugueses”. Ricupero (p. 161) sinaliza que

“ainda que fossem comuns na colônia os conflitos entre os padres jesuítas e os colonos portugueses, motivados principalmente pela atitude diante dos índios, a solução proposta [por Magalhães] (...) não é das mais realistas. Até porque a colonização foi empresa comercial, justificada ideologicamente pela conversão dos povos infiéis. Portanto, motivos econômicos e religiosos formavam um complexo, mesmo que contraditório, que não pode ser separado.”

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A (VIOLENTA) POLÊMICA MAGALHÃES-ALENCAR (1856)

POSIÇÃO DE ALENCAR (sob o pseudônimo Ig, de Iguaçu, personagem principal de A confederação dos tamoios): “as realizações de Magalhães não estão à altura de suas pretensões de escrever o grande poema nacional brasileiro”, pois “o retrato do Brasil fornecido por Magalhães é artificial, não se diferenciado praticamente daquele feito por um estrangeiro” (Ricupero, p. 162). Segundo Ricupero (p. 162),

“Na verdade, a maior parte daqueles que pensam em fazer literatura brasileira se limitaria a utilizar duas ou três palavras indígenas sem aprofunda-se na compreensão do país, o que contribuiria para que a descrição e linguagem dos poemas fossem medíocres, não avançando muito em relação aos relatos dos cronistas coloniais. (...)

Ou melhor, apesar de ser o introdutor do romantismo no Brasil, Magalhães adotaria ainda, em boa parte atitude neoclássica. Na verdade, a postura básica dos primeiros românticos brasileiros é de indecisão.”

A CONCLUSÃO: “O mais importante da polêmica, contudo, é que ela marca um novo momento no desenvolvimento do romantismo no Brasil.” (...) “a partir da polêmica, o escritor cearense retira os temas em torno dos quais constrói seus romances mais importantes.”. (Ricupero, p. 163)

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DIFERENÇAS ENTRE MAGALHÃES E ALENCAR: Ricupero (p. 164) destaca:

(1) “São evidentes as diferenças que aparecem entre a representação do indígena em Magalhães e em Alencar. Ou melhor, se para os primeiros românticos, que escreviam pouco depois da independência, ainda se tratava de glorificar o índio em oposição ao português, tal problema passa a ser pouco atual, tal problema passa a ser pouco atual com a consolidação do Estado no Brasil. A questão não é mais tanto de afirmar a autonomia brasileira, que já não se discute, mas de como construir uma nação que não pode prescindir da influência do conquistador. Assim, ganha premência o tema da mestiçagem entre índio e português, com a significativa ausência do negro”.

(2) “A diferença fundamental entre Alencar e Magalhães é, porém, outra. O escritor cearense defende a tese de que, para existir literatura nacional, não basta tratar de temas brasileiros, como teria ocorrido na Confederação dos tamoios, sendo preciso também encontrar a forma literária que melhor expresse a experiência da sociedade da qual provem o autor. Para tanto, elege o romance como gênero mais adequado à sua época [pois “procura descobrir e edificar a totalidade secreta da vida”, enquanto “a epopéia imagina uma totalidade de vida atingida por ela mesma (Alencar Apud Ricupero, nota 33, p. 164)].”

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(2.1.) RESSALVA CONTEXTUAL“Mas não é por ter encontrado a forma literária mais adequada às suas

circunstâncias que Alencar resolva automaticamente o problema de como apresentá-las. (...) O problema principal deles, como mostra Roberto Schwarz, é que ‘a nossa imaginação fixara-se numa forma cujos pressupostos, em razoável parte, não se encontram no país, ou encontravam-se alterados.

Isso ocorre principalmente porque o Brasil Império, ao mesmo tempo que estava integrado ao capitalismo internacional, internamente não era propriamente capitalista, já que, no interior de sua formação social, a escravidão era a forma de trabalho predominante. A partir daí, desenvolveram-se relações paternalistas, em que o espaço para o indivíduo-problemático, é bastante limitado. O problema de Alencar encontra-se, portanto, além do gênero literário que elege; reflete a situação de um país ligado ao capitalismo, desde o início de sua história, mas de maneira peculiar, colonial ou dependente. Em sociedades desse tipo, quando as formas do centro são reproduzidas, mas sem realizar-se mediação adequada delas com a realidade, estimula-se um sentimento de mal-estar e desconforto.” (Ricupero, p. 164-165)

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O INDIANISMO EM ALENCAR

“Apesar das qualidades estéticas de muitas de suas obras, as realizações de Alencar efetuam-se principalmente no campo ideológico. Mais especificamente, o principal feito do escritor cearense consiste me criar um mito de origem para o Brasil e os brasileiros” (Ricupero, p. 165).

Essa construção ideológica não é tão simples de observar. Vejamos alguns elementos que comprovam uma função ideológica para o romance de Alencar:

“Nas histórias de Peri [O Guarani] e de Iracema a entrega do índio ao branco é incondicional, faz-se de corpo e alma, implicando sacrifício e abandono da sua pertença à tribo de origem. (...) O risco de sofrimento e morte é aceito pelo selvagem sem qualquer hesitação. Como se a sua atitude devota para com o branco representasse o cumprimento de um destino, que Alencar apresenta em termos heróicos e idílicos”. (BOSI, 1992, p. 178-179)

Nesse sentido, Ricupero (p. 165) afirma que “Os romances indianistas de Alencar não são (...) propriamente romances no sentido europeu. (...) São romances que ainda possuem características de epopéia, até porque a prosa romanesca, diferentemente daquela do escritor cearense, não apreende o extraordinário, o heróico, mas o típico e rotineiro”.

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Em O Guarani (1857), há clara distinção entre tribos boas (como os goitacás, de Peri) e tribos más (como os aimorés). Na obra, há também indicação clara da valorização do perfil europeu, encarnado por Peri, e a necessidade da conversão ao cristianismo como forma de existência humana e civilidade. Ricupero (p. 169) afirma que

“Mas Peri é mais do que o bom selvagem: no seu hábitat natural, a floresta, afloram qualidades análogas às do nobre europeu, sugerindo-se até que seria ‘um cavalheiro português no corpo de um selvagem’. São essas as qualidades que possibilitam que o patriarca português o considere um quase igual. Não é igual aos brancos precisamente por sua devoção a Ceci não conhecer limites, o que a converte em escravidão. (...) Aos olhos de Alencar a grande, a grande qualidade de Peri: é ele, diferentemente dos ‘selvagens’ aimorés, o escravo que se submete inteiramente à senhora.”

Bosi complementa afirmando e comprovando que:

“O índio de Alencar entra em íntima comunhão com o colonizador. Peri é, literal e voluntariamente, escravo de Ceci, a quem venera como sua Iara, ‘senhora’, e vassalo fidelíssimo de dom Antônio. No desfecho do romance, em face da catástrofe iminente, o fidalgo batiza o indígena, dando-lhe o próprio nome, condição que julga necessária para conceder a um selvagem a honra de salvar a filha da morte certa a que os aimorés tinham condenado os moradores do solar:

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Se tu fosses cristão, Peri!...O índio voltou-se extremamente admirado daquelas palavras.— Por quê?... Perguntou ele.Por quê?... disse lentamente o fidalgo. Porque se tu fosses cristão, eu te

confiaria a salvação de minha Cecília, e estou convencido de que a levarias ao Rio de Janeiro à minha irmã.

O rosto do selvagem iluminou-se; seu peito arquejou de felicidade, seus lábios trêmulos mal podiam articular o turbilhão de palavras que lhe vinham do íntimo d’alma.

— Peri quer ser cristão! exclamou ele.D. Antônio lançou-lhe um olhar úmido de reconhecimento.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O índio caiu aos pés do velho cavalheiro, que impôs-lhe as mãos sobre a

cabeça.Sê cristão! Dou-te o meu nome! O Guarani, parte IV, cap. X)”

(BOSI, 1992, p. 177-178)

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“Não está em causa, nestas observações, a sinceridade patriótica do narrador, sentimento que, de resto, não guardaria qualquer relação causal com o valor estético dos seus textos. O que importa é ver que a figura do índio belo, forte e livre se modelou em um regime de combinação com a franca apologia do colonizador. Essa conciliação, dada como espontânea por Alencar, viola abertamente a história da ocupação portuguesa no primeiro século ´(é só ler a crônica da maioria das capitanias para saber o que aconteceu), toca o inverossímil no caso de Peri, enfim é pesadamente ideológica como interpretação do processo colonial” (BOSI, 1992, p. 179).

Nesse sentido, Ricupero (p. 173) chama a atenção para o fato de “O Guarani ter sido escrito em plena Conciliação, período durante o qual se buscou a convergência entre forças políticas até então opostas, depois das lutas da Regência e da alternância no poder de liberais e conservadores nos primeiros anos do Segundo Reinado”.

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ÁPICE DO ROMANTISMO NO BRASIL

“Em 1872, um pouco mais de trinta anos depois de aportar no Brasil, o romantismo, mais do que se aclimatar, já conseguira fincar raízes bastante profundas no país. Criou-se definitivamente, a partir de dele, a literatura brasileira, que pôde produzir um autor como José de Alencar, com compreensão de pintar um quadro bastante completo da vida de sua sociedade. Talvez ainda mais importante, dessa época em diante, o esforço de Alencar e de outros, de retratar o Brasil, não escapará as a críticas que visam sobretudo aquilo que neles é falso e artificial”. (Ricupero, p. 178)

O FIM DO ROMANTISMO NO BRASIL

“Os ideias românticos repugnavam aos jovens, e foi traduzido um pensamento geral que Sílvio Romero, no importante prefácio apôsto aos Contos de Fim do Século (1878), declarava que o Romantismo já ‘era um cadáver, e pouco respeitado’. Por volta de 1880, o Romantismo estava morto, tendo a sua agonia durado quase toda a década de 70”. (Coutinho, 1965, p. 6)

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Bibliografia citada:

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

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Bibliografia para leitura:

Está no Dropbox os seguintes textos, que devem ser lidos na ordem indicada:

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

RICUPERO, Bernardo. A independência literária. In: O Romantismo e a idéia de nação no Brasil (1830 -1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 85-111. RICUPERO, Bernardo. No passado, as bases da nação. In: O Romantismo e a idéia de nação no Brasil (1830 -1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 115-151. RICUPERO, Bernardo. O indianismo como mito nacional. In: O Romantismo e a idéia de nação no Brasil (1830 -1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 153-178. RICUPERO, Bernardo. Alencar e a crise do império. In: O Romantismo e a idéia de nação no Brasil (1830 -1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004. p.179-204. SCHWARZ, Roberto. A importação do romance e suas contradições em Alencar. In: Ao vencedor as batatas. 6. ed. São Paulo: Editora 34, 2012. p. 35 -79.

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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

SODRÉ, Nelson Werneck. As razões do Indianismo. In: História da literatura brasileira. 10. ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2002. p. 291-310. SODRÉ, Nelson Werneck. O Indianismo e a sociedade brasileira. In: História da literatura brasileira. 10. ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2002. p. 311-334. SODRÉ, Nelson Werneck. Declínio do Romantismo. In: História da literatura brasileira. 10. ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2002. p. 382-400. SANTIAGO, Silviano. Liderança e hierarquia em Alencar. In: Vale o quanto pesa – Ensaio sobre questões político-culturais. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p.89-115.

BIBLIOGRAFIA ESPECIAL

CASTRO, Eduardo Viveiros de. O mármore e a murta. In: A inconsistência da alma selvagem – e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2011. p.183-264.