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Curso de Especialização Latu Sensu a Distância: Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva Desafios do curso de Licenciatura em Computação e Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Santo Augusto na Inclusão de Alunos Surdos Aluna: Ana Luisa Hentges Lorenzon Orientador: Prof. MSc. Tarcísio Samborski

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Page 1: Curso de Especialização Latu Sensu a Distância: Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva Desafios do curso de Licenciatura em Computação e Técnico

Curso de Especialização Latu Sensu a Distância: Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva

Desafios do curso de Licenciatura em Computação e Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Santo Augusto na Inclusão de Alunos Surdos

Aluna: Ana Luisa Hentges LorenzonOrientador: Prof. MSc. Tarcísio

Samborski

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Exclusão e Educação Especial

A escola caracterizou-se, ao longo do tempo, por uma educação de exclusão justificada nas práticas educacionais, eliminando indivíduos que não se encaixavam nos modelos da escola e segregando pessoas com necessidades educacionais especiais - PNEE’s.

A educação especial surgiu, então, para atender as necessidades das pessoas com alguma deficiência, sob um discurso de que elas necessitavam uma educação diferenciada e de uma escola especial, devido às suas especificidades. Mas a escola especial levava os alunos ao isolamento e acabava por excluí-los da sociedade, especialmente do convívio com a sua geração escolar.

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Integração

Num outro momento, surge a proposição de abrir a rede regular de ensino para o acesso dos PNEEs, proporcionando sua integração, em busca da igualdade, reintegração e da sua reabilitação.

A pessoa é que tem a responsabilidade de tornar-se apta a participar da sociedade, não ocorrendo um movimento de autotransformação da sociedade. O aluno é que devia adaptar-se às exigências da escola, e não o contrário.

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Inclusão Escolar

Diante do fracasso da política de integração, surge um movimento mundial pela inclusão escolar, que busca envolver a esfera política, pedagógica, cultural e social, defendendo o direito de participação dos PNEE’s na sociedade, sem que sofram discriminações.

A busca da inclusão escolar está baseada na ética, no direito de todo ser humano ter acesso à educação, onde a igualdade deve ser desvalorizada no momento em que ela se torna um fator de exclusão social e educacional, e valorizada quando busca a igualdade do direito e deveres para todos, buscando condições para que todos aprendam.

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O Campus Santo Augusto

A escola oferece atualmente cursos de nível médio, pós-médio e superiores (licenciaturas e tecnologias), contando com aproximadamente 590 alunos matriculados, tendo dois alunos surdos matriculados: uma aluna no curso de Licenciatura em Computação, e um aluno no Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio.

O Campus Santo Augusto busca a inclusão de alunos com NEE’s, tendo como princípio norteador o direito que todos os alunos possuem de aprenderem juntos, não importando quais sejam suas diferenças ou dificuldades, considerando também seus ritmos de aprendizagem.

No Brasil, há a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, que propõe a vinculação da educação com o mundo do trabalho.

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Vigotski é um dos defensores da presença da heterogeneidade nas diversas áreas sociais.

A abordagem vigotskiana baseada no sócio-interacionismo compreende que a construção do conhecimento se dá pela interação do sujeito, situado historicamente, com o ambiente sócio-cultural onde ele vive.

Nesse contexto, o meio social pode tanto bloquear como promover esse processo de desenvolvimento.

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MetodologiaA metodologia utilizada na pesquisa foi baseada nos seguintes

passos:

revisão bibliográfica sobre o assunto;

análise dos Projetos Pedagógicos dos cursos de Licenciatura

em Computação e do Técnico em Informática Integrado ao

E.M. do Campus Santo Augusto;

análise das unidades didáticas e os equipamentos existentes

nas mesmas;

entrevistas semi-estruturadas com os alunos surdos e suas

mães, e com os professores dos cursos;

sistematização das informações encontradas.

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A aluna do curso de Licenciatura em Computação

A aluna tem 24 anos, e tem surdez adquirida (perdeu a audição aos três meses de idade).

Fonoaudióloga insistia no desenvolvimento da fala, em detrimento da comunicação através de gestos e sinais.

É alfabetizada em Libras e busca difundir o conhecimento que possui.

Entende que Libras é a língua oficial dos surdos.

Aceita e busca a cultura surda.

É independente, e tornou-se uma liderança entre a comunidade surda de Santo Augusto.

Demonstra preferência em freqüentar uma escola de surdos, em detrimento da escola inclusiva.

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O aluno do curso Técnico em Informática

O aluno tem 17 anos, e tem surdez congênita, devido à rubéola que a mãe teve durante o 2º mês de gestação.

A fonoaudióloga e a mãe do aluno insistiam no desenvolvimento da fala do aluno, treinando-o intensamente.

Possui pouco conhecimento de Libras, e, assim como sua mãe, nega a comunicação através de Libras e também a cultura surda.

Possuem preferência pela fala e leitura labial ao invés de se expressar por gestos, mas sua fala é difícil de ser entendida pelas pessoas.

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Durante os estudos iniciais do aluno, houveram algumas demonstrações de preconceito.

A vida do aluno é quase que totalmente guiada por seus pais.

O aluno, bem como sua mãe, afirmou ter preferência em freqüentar uma escola regular inclusiva.

A família o protege demasiadamente, pelo fato de não terem uma boa aceitação da sua surdez.

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Análise dos cursos de Licenciatura em Computação e Técnico em Informática

Integrado ao E.M.

Os Projetos Pedagógicos dos cursos não fazem referência alguma sobre a entrada de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE’s) no curso.

A maioria dos professores da escola que foram entrevistados afirmou ser a favor da inclusão de alunos NEE’s.

Difícil compreensão sobre o que os alunos surdos escrevem em seus trabalhos e provas.

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Utilização de avaliação diferenciada para os alunos surdos por parte de alguns professores.

Alguns professores ainda não modificaram suas práticas e seus métodos educativos na busca de uma educação inclusiva.

A professora tradutora-intérprete de Libras iniciou suas atividades na escola recentemente, no final do primeiro semestre letivo deste ano.

Após o início das atividades da tradutora-intérprete de Libras, houve uma melhora efetiva no processo de ensino-aprendizagem em relação à aluna surda, o que não foi observado em relação ao aluno surdo.

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Considerações Finais Muitos alunos surdos, devido à falta de estímulos

adequados, podem ter o seu desenvolvimento da aprendizagem prejudicado, levando-os muitas vezes à exclusão.

São necessários momentos de diálogo na escola, em parceria com o NAPNE, sobre o processo de inclusão, além de um processo de formação continuada para os professores e equipe administrativa do Campus Santo Augusto, para que atendam à diversidade e especificidade dos alunos com NEE’s.

É preciso que os professores repensem o ensino e revejam suas práticas, adaptando-as para as necessidades do dia-a-dia, reconhecendo as possibilidades dos alunos.

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Na percepção da aluna surda, o Campus Santo Augusto não está totalmente apto para a inclusão, preferindo assim freqüentar uma escola de surdos, mas talvez se a escola for totalmente inclusiva, com um número maior de alunos surdos, a aluna poderá sentir-se realmente incluída nos processos educacionais.

Reformulação dos projetos pedagógicos da escola.

Inclusão do ensino de Libras na escola.

Eliminação das barreiras arquitetônicas e atitudinais.

A escola deve buscar ser um espaço adequado que permita aos PNE’s serem incluídos nos mais diversos processos, por meio do conhecimento e valorização da sua cultura e história.

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Questionamentos (im)pertinentes

Dois alunos, duas concepções sobre inclusão.

Um aluno praticamente não é alfabetizado em Libras, e a família não deseja esse tipo de comunicação, tendo preferência pela escola regular inclusiva.

Outra, além de ser alfabetizada em Libras, o que é apoiado por sua família, é uma liderança entre os surdos na cidade, defende uma escola de surdos e a cultura surda.

Como a pessoa surda poderá desenvolver uma língua e fazer uma identificação com relação à sua cultura e identidade surda se ela não conviver com outros surdos que façam uso da língua de sinais?

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A pessoa surda deve ter a possibilidade de estudar em escola de surdos e lutar por espaços onde possa comunicar-se e ser entendido adequadamente, interagindo entre si para que a língua de sinais esteja em evolução e os usuários tenham fluência lingüística?

A pessoa surda deve estudar em uma escola regular inclusiva que permite que inúmeras trocas de vivência e conhecimento aconteçam no cotidiano escolar, ampliando as visões de mundo, de confrontos, de solidariedade, levando consecutivamente a um aumento das aptidões individuais e à valorização das diferenças?

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Referências BEYER, Hugo Otto. Por que Lev Vygotski quando se propõe uma educação

inclusiva? Revista Educação Especial, Santa Maria, n. 26, 2005.

BORGMANN, Marta Estela. Dificuldade de aprendizagem: análise e alternativa de mediação. Ijuí: UNIJUÍ, 2000.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 2, de 11 de setembro de 2001. Institui diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.

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BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências.

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

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BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.

BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências.

BRASIL. Ministério da Educação. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Brasília, 2004.

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CARVALHO, Maria de Fátima. Conhecimento e vida na escola: convivendo com as diferenças. Ijuí: UNIJUÍ, 2006.

FREITAS, Soraia Napoleão. Uma escola para todos: reflexões sobre a prática educativa. Inclusão: Revista da Educação Especial/Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, Brasília, ano 2, n. 3, p. 37-40, dez. 2006. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao3.pdf>. Acessado em: 2 de maio de 2008.

MARQUES, Luciana Pacheco. O professor de alunos com deficiência mental: concepções e prática pedagógica. Juiz de Fora: UFJF, 2001.

PADILHA, Anna Maria Lunardi. Práticas educativas: perspectivas que se abrem para a educação especial. Revista Educação e Sociedade, Campinas, ano 21, n. 71, p. 197-220, jul. 2000.

PINO, Angel. As marcas do humano: às origens da constituição cultural da criança na perspectiva de Lev S. Vigotski. São Paulo: Cortez, 2005.

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SASSAKI, Romeu Kazumi. Educação Profissional: desenvolvendo habilidades e competências. Ensaios Pedagógicos - Educação Inclusiva: direito à diversidade. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, Brasília, p. 95-108, 2006. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ensaiospedagogicos2006.pdf>. Acessado em: 24 de junho de 2008.

SIRGADO, Angel Pino. O social e o cultural na obra de Vigotski. Revista Educação e Sociedade, Campinas, ano 21, n. 71, p. 45-78, jul. 2000.

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Obrigada!!!

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