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Curso de Atualização em Psicopatologia 3ª aula Decio Tenenbaum Centro de Medicina Psicossomática e Psicologia Médica do Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro

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Cursode

Atualizaçãoem

Psicopatologia3ª aula

Decio TenenbaumCentro de Medicina Psicossomática e

Psicologia Médica do Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro

3ª aula

• O que é adaptação?

• Organismo e sistema adaptativos

• Adaptação psicológica

Seres vivos

• Organismo:

• Sistema adaptativo:

forma individual de vida, como uma

planta, um animal, uma bactéria etc.;

qualquer corpo constituído por órgãos,

organelas e outras estruturas que

interagem fisiologicamente.

estrutura que se organiza com base em

conjuntos de unidades inter-relacionáveis

de duas maneiras: pelas semelhanças e

por hierarquia de funções.

Adaptação

• Processo pelo qual um ser se ajusta a uma nova situação de vida

• Capacidade dos seres vivos se ajustarem aoambiente

Adaptação psicológica

• Entre o mundo subjetivo (mundo interior)

e o mundo objetivo (realidade)

Mecanismos de defesa do ego

• Definição

Operações mentais inconscientes e destinadas a impedir que determinados conteúdos mentais tenham acesso à consciência.

Mecanismos de defesa do ego

Clivagem Controle onipotenteConversão Deslocamento do afeto

Embotamento afetivo/alexitimia Foraclusão ou forclusão

Formação reativa Idealização

Identificação com o agressor Identificação projetiva

Introjeção Intelectualização

Isolamento do afeto Negação

Projeção Racionalização

Recusa Regressão

Rejeição ou repúdio Renúncia altruística

Repressão ou recalque Somatização

Sublimação

Clivagem do egoDefiniçãoTermo utilizado por Freud para designar um fenômeno mental, com fins defensivos, que ocorre no Ego. Trata-se da coexistência de duas atitudes mentais em relação a um aspecto da realidade, interior ou exterior. As duas atitudes psíquicas conexistem ao mesmo tempo, uma levando em conta o aspecto da realidade em questão, enquanto que a outra o nega e coloca em seu lugar algo relacionado diretamente a um desejo relacionado com o aspecto da realidade em pauta.HistóricoO conhecimento acerca de cisões no funcionamento mental é anterior a Freud. Janet, Breuer, Bleuler já haviam reconhecido este fenômeno e todos o consideravam nuclear nas doenças mentais. Pierre Janet (1859-1947), formado inicialmente em Filosofia e depois em Medicina, considerava que na origem da histeria havia a presença de idéias fixas que provocariam uma restrição ou uma dissociação da consciência. Josef Breuer (1842-1925), importante médico vienense que patrocinou o inicio da carreira médica de Freud e com ele desenvolveu estudos sobre a Histeria, atribuía à presença de reminiscências na origem da histeria, as quais levariam a uma clivagem ou dissociação da consciência. Eugène Bleuer (1857-1939) considerava que a cisão da mente estava na base das Esquizofrenias.O uso freudiano deste conceito foi elaborado nos artigos “Fetichismo”, “A Clivagem do Ego no Processo de Defesa” e “Resumo da Psicanálise” (Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vols. XXI e XXII ; Ed. Imago, R.J.).ClínicaFreud observou que o fenômeno em questão tem fins defensivos, é resultado de um conflito mental inconsciente e está relacionado com fenômenos mentais clinicamente observados no fetichismo, nas perversões e nas psicoses. A clivagem do Ego não leva à formação de um compromisso entre as duas atitudes mentais.

ConversãoDefiniçãoO termo conversão foi introduzido por Freud para designar o mecanismo de defesa através do qual um conteúdo mental é transformado, convertido, em fenômenos orgânicos, motores (paralisias, tremores, convulsões, distúrbios da marcha, da deglutição etc.) ou sensitivos (dores, parestesias, anestesias, distúrbios da visão, da audição etc.).ClínicaO sintoma conversivo é a representação, através da linguagem corporal, de um conflito inconsciente. Como todo sintoma psicológico, a conversão tenta solucionar um conflito e, como toda solução de compromisso, ela é constituída pelo impulso reprimido e pela interdição do mesmo. Clinicamente é muito importante fazer-se a distinção entre o sintoma conversivo e a somatização,já que ambos afetam o funcionamento corporal, mas demandam diferentes abordagens. Enquanto que o sintoma conversivo é a representação, através da linguagem corporal, de um conflito inconsciente; a somatização é um distúrbio funcional que aponta para e existência de uma situação de estresse .

Embotamento afetivo/alexitimia

DefiniçãoMecanismo de defesa do ego caracterizado pela retração emocional. A dificuldade de expressar sentimentos decorre da incapacidade de elaborar a experiência.HistóriaO empobrecimento afetivo foi observado inicialmente em pacientes psicóticos, marcadamente na esquizofrenia onde por vezes observa-se o grau extremo de embotamento de toda sensibilidade afetiva que atinge toda a linguagem corporal (a mímica, a postura, a atitude, os gestos etc.). A observação mais acurada dos pacientes psicossomáticos revelou a existência de diferentes níveis de embotamento afetivo. Peter Sifneos cunhou o termo alexitimia (a=não; lexis=palavra; thymós=emoção) para designar a dificuldade de expressar sentimentos que ele observou nesses pacientes e, nessa mesma linha de estudo, Pierre Marty observou um tipo de funcionamento mental pobre em fantasia também nesses pacientes, que chamou de pensamento operatório.ClínicaO embotamento afetivo se apresenta em diferentes níveis e é observado em diferentes tipos de pacientes. Pode variar da incapacidade de perceber determinado sentimento relacionado com uma experiência até a abolição de toda a afetividade e não é específico de nenhum tipo de doença. É um mecanismo de defesa comum em pessoas que vivenciaram tragédias ou experiências traumáticas muito intensas. Curiosamente, no diálogo com pacientes com essa dificuldade pode acontecer do interlocutor sentir o que o paciente está incapaz de experimentar.

Formação reativa

Definição:Trata-se de um mecanismo de defesa empregado pelo Ego para lidar com os impulsos reprimidos. Foi inicialmente descrito por Freud em 1986 com o nome de “sintoma primário de defesa” em “Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa” (Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. III; Ed. Imago, R.J.). A expressào é introduzida no seu artigo “Os Três Ensaios sobre a Sexualidade” (Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, vol.VII; Ed. Imago, R.J.).Natureza do fenômenoÉ um mecanismo psíquico que substitui a representação penosa pelo seu oposto. Um exemplo seria o pudor como formação reativa a impulsos exibicionistas.Caracteriza-se por uma atitude psicológica de sentido oposto ao do impulso reprimido, seja ele um desejo, uma necessidade, um anseio.Este fenômeno pode ser localizado, e manifestar-se por um comportamento peculiar, ou generalizado até o ponto de constituir traços de caráter mais ou menos integrados no conjunto da personalidade.Clínica:Tanto no relato manisfesto quanto no comportamento individual só aparece a oposição aos desejos inconscientes reprimidos.Em algumas pessoas, a formação reativa toma a forma de traços de caráter, através de alterações do ego, que constituem dispositivos de defesa nos quais determinados impulsos implicados em determinado conflito desaparecem. Por exemplo, pessoas que estão sempre dando provas, de um modo geral, de piedade para com os seres vivos enquanto a sua agressividade inconsciente visa determinadas pessoas em particular.

Idealização

DefiniçãoProcesso mental através do qual as qualidades e o valor do objeto elevados à perfeição.HistóricoA fase do narcisismo primário descrita por Freud em seu artigo de 1914 Sobre o Narcisismo: uma introdução (Edição Standard das Obras Completas de S. Freud, vol. XIV Editora Imago) coincide com um momento de identificação primária com a mãe, de unidade com ela, num estado de satisfação e onipotência para o bebê. Com o início da constituição do eu este estado é perdido, desencadeando sentimentos de desamparo e solidão. Os sentimentos de onipotência são, então, atribuídos aos pais gerando a idealização que é a base dos sentimentos de segurança e amparo necessários para a criança se desenvolver. A idealização, particularmente a dos pais, faz parte da constituição das instâncias ideais (ego ideal e ideal de ego) ClínicaOs sentimentos que acompanham este processo incluem a admiração, o temor reverencial, a veneração, o culto, a adoração e a escravização. O uso defensivo da idealização foi estudada por muitos autores, especialmente por Melanie Klein, para quem a idealização do objeto serve como defesa contra a percepção dos impulsos destrutivos do objeto amado. Assim, a idealização do objeto está relacionada a uma clivagem do objeto em objeto bom (idealizado) e objeto mau (negado).

Identificação com o agressor

Definição

Mecanismo de defesa descrito por Anna Freud, através do qual a pessoa identifica-se inconscientemente com o seu agressor, assumindo, desta forma, o papel de agressor consigo próprio ou com outras pessoas.

Histórico

A identificação com o agressor e a renúncia altruísta, descritas por Anna Freud em 1936 em seu livro “O Ego e os mecanismos de defesa” foram os dois mecanismos de defesa não descritos por Freud. Para Anna Freud, a identificação com o agressor está na origem do superego, pois para esta autora a principal fonte do superego é a agressão externa, enquanto que para Melaine Klein é a agressão interna, ou seja, a pulsão de morte.

Clínica

Através da identificação com o agressor (pessoa) ou com a agressão (ação exercida pela pessoa temida) consegue-se transformar a angústia/ansiedade desencadeada pelo objeto temido em segurança e, ao mesmo tempo, sair da posição de passividade, geralmente associada com sentimentos de fragilidade, vitimização e humilhação, para a de atividade, geralmente associada com sentimentos de força, competência e poder

Identificação projetiva

Definição Mecanismo psicológico inconsciente descrito por Melanie Klein.

HistóricoM. Klein (1882-1960), que se dedicou predominantemente ao estudo do relacionamento humano nas etapas iniciais da vida e foi uma das precursoras do tratamento psicanalítico de crianças pequenas, em 1946 descreveu um tipo particular de identificação que julgava estabelecer o protótipo de uma relação agressiva. Através de uma mecanismo inconsciente aspectos, sentimentos e desejos de uma pessoa, e por ela rejeitados, são projetados para o interior de um objeto (não necessariamente animado) para o lesar, o possuir ou o controlar.

ClínicaPor ser um mecanismo primitivo, seu uso denota uma regressão mais intensa e maior incapacidade da pessoa lidar com sua realidade interna.Seu uso excessivo implica em um importante empobrecimento e enfraquecimento egóico

Introjeção

Processo inconsciente através do qual um objeto externo passa a fazer parte do corpo da pessoa. É tanto um alvo pulsional quanto um modo de relação característicos da fase oral da libido , embora não seja exclusivo desta fase. Constitui o protótipo corporal da introjeção e da identificação.

Intelectualização

DefiniçãoMecanismo de defesa através do qual a pessoa se utiliza dos processos cognitivos para dominar suas emoções, fantasias e conflitos, evitando assim o contato com sua realidade psíquica.HistóricoEsse processo foi inicialmente estudado por Anna Freud (1895-1982) como sendo um mecanismo defesa utilizado para dominar as pulsões ligando-as a idéias conscientemente manejáveis. ClínicaOs processos cognitivos e afetivos precisam estar ligados para a aquisição e para o uso adequado do conhecimento, que é o melhor e mais eficiente meio que o ego tem para lidar com as realidades interna e externa. Quando tal não ocorre, as aquisições decorrentes dos processos cognitivos podem ser utilizadas defensivamente contra a emergência de elementos dos processos afetivos ou como resistência ao próprio conhecimento, principalmente aquele oriundo do processo terapêutico. Embora guarde alguma semelhança com a racionalização , dela deve ser diferenciada. Enquanto que a intelectualização tem uma função defensiva em relação aos afetos, emoções e sentimentos, a racionalização tem a função de atribuir justificativas lógicas e morais a diversas produções mentais.

Isolamento do afeto

Mecanismo que consiste em neutralizar um afeto doloroso, separando-o do respectivo pensamento.

Negação

DefiniçãoMecanismo de defesa descrito por Freud para descrever o processo mental através do qual a pessoa, ao mesmo tempo, expressa algum desejo reprimido e dele se defende negando que lhe pertença.HistóricoO termo “verneinung” empregado por Freud e traduzido por negação, às vezes, por denegação, apresenta um duplo sentido: a) a negação lógica e gramatical de algo (“eu não tenho medo”, “eu quero...”); b) a negação psicológica de algo que acabou de ser dito ou que foi a mim atribuído (“eu não disse isso”, “eu não pensei aquilo”).O tema foi amplamente desenvolvido no artigo “A Negação” (Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XIX; Ed. Imago, R.J.).ClínicaNa clínica, o uso deste mecanismo em resposta a algo dito pelo terapeuta tem o valor de confirmar o que acabou de ser dito e está sendo negado pelo paciente.Nas palavras de Freud, “A negação é um meio de se tomar consciência do reprimido” e ”Por meio do símbolo da negação *não+ o pensamento liberta-se das limitações da repressão” (“A Negação” in Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XIX; Ed. Imago, R.J.).

ProjeçãoDefiniçãoMecanismo de defesa através do qual a pessoa inconscientemente expulsa de si e localiza no exterior, em pessoas ou coisas, aspectos psicológicos seus: qualidades, defeitos, sentimentos, desejos e até mesmo objetos internos que ela não aceita ter em si.HistóricoJá em seus primeiros estudos psicanalíticos Freud fala deste mecanismo (Novas Observações sobre as Neuropsicoses de Defesa in Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. III; Ed. Imago, R.J.), por ele considerado como um mau uso do mecanismo psicológico comum de procurar no exterior a origem de um desprazer. Inicialmente vinculado à Paranóia, em 1915 Freud considerou que este mecanismo também está presente na construção fóbica, onde ocorre a projeção do verdadeiro perigo, que é pulsional: “O ego comporta-se como se o perigo de desenvolvimento da angústia não proviesse de uma moção pulsional, mas de uma percepção e pode portanto reagir contra esse perigo exterior pelas tentativas de fuga das evasivas fóbicas.” (O Inconsciente in Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XIV; Ed. Imago, R.J.). Ele também está presente no ciúme paranóico, onde a pessoa defende-se dos próprios desejos de infidelidade projetando-os no conjuge; na mitologia e no animismo, onde projetam-se na natureza as qualidades e paixões humanas.Projeção e introjeção têm um papel fundamental na constituição da separação entre o sujeito (ego) e o objeto (mundo exterior): A pessoa “... assume no seu ego os objetos que se lhe apresentam na medida em que são fonte de prazer, introjeta-os (segundo expressão de Ferenczi) e, por outro lado, expulsa de si o que no seu próprio íntimo é ocasião de desprazer (mecanismo de projeção)” (Instintos e suas vicissitudes in Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XIV; Ed. Imago, R.J.). ClínicaÉ considerado como sendo um mecanismo de defesa primitivo e seu uso excessivo implica em um importante empobrecimento e enfraquecimento egóico.

Racionalização

Definição

Processo através do qual a pessoa se utiliza de explicações coerentes e racionais, aceitáveis do ponto de vista lógico e/ou moral, para alguma ação, atitude ou produção mental (idéia, sentimento, emoção, sintoma, traço de caráter etc.).

Histórico

Descrito pela primeira vez por Ernest Jones (1879-1958) em 1908, no artigo “A Racionalização na Vida Quotidiana”, é um processo de uso muito freqüente e abrangente.

Clínica

Embora tenha nítida função defensiva, pois através de seu uso a pessoa evita entrar em contato com sua realidade psíquica, a racionalização não é considerada como um mecanismo de defesa, pois seu objetivo é disfarçar os elementos do conflito e não impedir da satisfação pulsional que originou o conflito.

Recusa

DefiniçãoMecanismo defensivo inconsciente descrito por Freud para lidar com uma percepção (realidade) traumatizante. HistóricoO conceito foi elaborado nos artigos “Organização Genital Infantil” e “Consequências Psíquicas da Distinção Anatômica entre os Sexos”) quando Freud aborda algumas conseqüências psicológicas que podem advir da percepção da ausência do pênis nas meninas e no artigo “Clivagem do Ego no Processo de Defesa” (Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII; Ed. Imago, R.J). É apenas no sobre o “Fetichismo” (Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XXI; Ed. Imago, R.J.) que Freud vincula este mecanismo psíquico a esse tipo de patologia. O mecanismo descreve, não a rejeição de uma percepção, o que seria a psicose, e sim a recusa das consequências psicológicas da percepção, ou seja, a recusa das consequências a que a consciência (dos significados) desta percepção levaria. Freud ensina que isso (a recusa dos significados da percepção) é conseguido através de uma divisão do ego. A percepção é registrada, mas seus significados não existem. Enquanto a rejeição diz respeito ao esfacelamento da representação de si mesmo, na recusa esta representação é mantida, embora às custas de algo (o fetiche) cuja presença e existência são fundamentais para a representação de si mesmo se manter.ClínicaNos dois primeiros artigos acima citados, Freud ressaltou que esta maneira de lidar com a realidade é habitual nas crianças, mas no adulto estaria próxima da psicose. Realmente, é comum uma criança brincar, por exemplo, com uma caixa de fósforos como se ela fosse um carro e, ao mesmo tempo, saber que é uma caixa de fósforos.Enquanto que a repressão está relacionada a estímulos pulsionais (amorosos e agressivos), a recusa e a rejeição são usadas pra lidar com a estímulos externos (percepções da realidade).

Regressão

Definição Mecanismo inconsciente através do qual há um retorno a um funcionamento mental anterior.TiposRegressão tópica: é aquela que ocorre em relação aos sistemas em funcionamento na mente. Está presente em todos os processos nos quais o estímulo caminha em direção oposta ao usual, como, por exemplo, nos sonhos e nas alucinações e na memória onde o pensamento caminha em direção ao polo perceptivo e não para o polo motor.Regressão temporal: é aquela na qual são retomadas formas mais antigas de organização mental decorrente do retorno a formas anteriores de satisfação libidinal, a objetos anteriores e a formas anteriores de organização egóica.Regressão formal: é aquela na qual as formas mais antigas de expressão e de representação (Processo Primário de Pensar) voltam a predominar. ClínicaFenômeno muito observado na clínica, costuma ocorrer em diferentes graus de intensidade conforme a situação existencial: na fadiga, no sono, em todos os estados de diminuição do grau de lucidez da consciência, em todos os casos de doença orgânica e em todos os estados de sofrimento físico e mental. Segundo Abram Eksterman, a regressão é sempre um clamor pelo espaço de segurança que originalmente foi criado na relação materno-infantil.

Rejeição/ForclusãoDefiniçãoMecanismo de defesa relacionado descrito por Freud no âmbito dos seus estudos sobre o fenômeno psicóticoHistóricoO conceito “verwerfung” surgiu em 1894 (“As Neuropsicoses de Defesa” in Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. III; Ed. Imago, R.J) para designar um mecanismo diferente da usual defesa neurótica (verdrägnung). Neste artigo, estudando a “Confusão Alucinatória” ou “Psicose Alucinatória”, mas estendendo o mecanismo para “as outras psicoses comuns nos asilos”, Freud diz textualmente: “Existe uma defesa muito mais eficaz que consiste em o Ego rejeitar (“verwirft”) a idéia incompatível com o respectivo afeto e se comportar como se a idéia nunca tivesse ocorrido”. Explica, então, que o fato psicótico se deve a que a rejeição da idéia e do afeto necessariamente se acompanha da rejeição do “pedaço de realidade” concernente a essa experiência. Freud tembém empregou este conceito na descrição clínica do tratamento do “Homem dos Lobos” (Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XVII; Ed. Imago, R.J), paciente considerado por Freud como psiconeurotico, mas que posteriormente abriu um quadro psicótico.ClínicaEnquanto que a repressão (“verdrängung”) é utilizada para lidar com os estímulos pulsionais a recusa (“verleugnung”) e a rejeição (“verwerfung”), são usadas pra lidar com percepções da realidade, interna e externa. Enquanto na repressão (“verdrängung”) algo perde, temporariamente ou não, o seu sentido, na rejeição (“verwerfung”) esse algo deixa de existir, resultando um vazio mental que será preenchido pelo delírio e/ou alucinação. Clinicamente, parece que a rejeição (“verwerfung”) está relacionada com experiências descritas por Freud “versagnung”, cujo significado é muito, mas muito mais forte que a tradução consagrou como frustração. O uso desta palavra em alemão pode chegar à força de um insulto do tipo: “você é um fracasso!”. Portanto, diz respeito a algo que seria tão violento para o indivíduo que a única saída para sua sobrevivência psicológica (representação de si mesmo) seria rejeitar completamente a experiência. E isso significa entrar no mundo psicótico. A rejeição (“vewerfung”), portanto, está relacionada com uma experiência que, ultrapassando a capacidade egóica, engendra algum nível de ruptura do Ego. O delírio e a alucinação são tentativas de recuperação que trazem sempre algo verdadeiro da experiência que foi rejeitada.

RepressãoDefinição Freud empregou este termo em dois sentidos: a) Em seu sentido específico, designa o processo inconsciente através do qual um conteúdo mental é impedido de ter acesso a consciência; b) Em um sentido mais vago, foi algumas vezes utilizado como sinônimo de defesa.HistóricoO termo alemão utilizado por Freud (verdrängung) foi traduzido em inglês como repressão e em francês como recalcamento, ambos transmitindo uma idéia equivocada a respeito do processo pelo qual uma idéia é impedida de ter acesso à consciência: ambos dão a impressão que uma idéia é mantida inconsciente graças a uma força de cima para baixo. Hoje já é de domínio quase geral que não se trata disso. O termo alemão designa um afastamento, deslocamento, do tipo que um navio quebra-gelo provoca num mar gelado. É a separação entre afeto e a representação ideativa que afasta o indivíduo de um auto-conhecimento (consciência). Com esse afastamento, algo deixa de ter sentido e, portanto, de fazer ou ser parte do indivíduo. Cada componente pulsional terá então um destino ou uma vicissitude diferente.ClínicaA repressão é um processo em dois tempos: repressão primária ou repressão própriamente dita e a repressão secundária, ligada ao retorno do reprimido. Substituto é a formação psíquica que toma o lugar da idéia reprimida na 1ª etapa da repressão; o sintoma surge na 2ª etapa da repressão, isto é, quando há o retorno do reprimido. As condições para que haja retorno do reprimido estão relacionadas com um enfraquecimento das defesas (fadiga, doença, sono), um reforço pulsional (puberdade, por exemplo) e acontecimentos atuais que evoquem o rerpimido. A simbolização, os sintomas e a sublimação são derivados mentais do reprimido. Quanto mais intensa a vida de fantasia, maior repressão ocorreu. Na histeria, o objeto da repressão é a libido; na neurose obsessiva, é a agressividade; na fobia tanto pode ser a lidido quanto a agressividade, enquanto que nas psicoses, os mecanismos defensivos utilizados fundamentalmente são a rejeição e a recusa da realidade (interior ou exterior).

SomatizaçãoDefiniçãoTermo introduzido por Otto Fenichel (1897-1946) em seu livro “Teoria Psicoanalítica de las Neurosis” (Ed. Paidós, B.Aires), para descrever uma das condições nas quais o funcionamento fisiológico de um órgão ou de um sistema do organismo é alterado por influência psicológica.HistóricoO conceito de organoneurose de Otto Fenichel segue a formulação proposta por Freud no artigo de 1910 “A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão” (Ed. Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Ed. Imago, RJ), no qual ele diferencia duas formas de alterações do funcionamento normal do organismo por influência psicológica: a conversão histérica, na qual a alteração funcional é a expressão de um conflito psicológico, tendo, portanto, um significado inconsciente específico expresso em linguagem corporal, e aquelas nas quais a influência psicológica se dá sem um significado inconsciente específico. Na época, Freud considerava que o segundo tipo de alteração se dava por uso inadequado da função, mas hoje em dia sabe-se que interferência psicológica sem significado inconsciente específico se dá através do mecanismo do estresse. Atualmente o termo organoneurose está praticamente em desuso, sendo mais usado o termo somatizaçãoClínicaA distinção entre conversão e somatização é fundamental na atividade clínica já que cada uma exige uma abordagem diferente.

Sublimação1- DefiniçãoTermo empregado por Freud para designar o processo inconsciente de desvio da libido para atividades de grande valor cultural.2- HistóricoO termo tem uma dupla origem: por um lado, há o processo químico de sublimação através do qual um sólido, por aquecimento, se transforma em vapor que, sendo resfriado e sofrendo recondensação, produz uma forma purificada da substância original; por outro lado, a palavra sublime designa tudo aquilo que atingiu um grau elevado na escala moral, intelectual ou estética. Assim, o comportamento socialmente valorizado representa uma versão purificada e mais sublime do comportamento instintual. Freud utilizou as atividades artísticas e intelectuais para exemplificar o processo no qual a meta original da pulsão sexual é trocada por outra não sexual, mas que psiquicamente se aparenta com ela. Esse processo de dessexualização foi também utilizado por Freud no estudo da formação dos traços do caráter e da identificação. Para Anna Freud, a sublimação é um mecanismo de defesa envolvido na resolução dos conflitos infantis, enquanto que para Melanie Klein ela é uma tendência a serviço da restauração do objeto bom atacado pelas pulsões agressivas. 3- ClínicaClinicamente, observa-se que a sublimação é uma das maneiras de se modificar impulsos libidinais e agressivos dando origem a comportamentos social e culturalmente valorizados.