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    Alguns Teoremas de Curvas Convexasno Plano

    Hilario Alencar Walcy Santos

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    Prefacio

    Neste texto, apresentamos alguns resultados de curvas convexasno plano. Comecamos estudando as curvas localmente. O pri-

    meiro captulo apresenta o comportamento de uma curva dife-renciavel em uma vizinhanca de um ponto de seu traco. Aqui,exploramos o conceito de curvatura de uma curva plana, mos-trando que ela determina a curva, a menos de sua posicao noplano. Depois estudamos as curvas convexas no plano. Alem daspropriedades geometricas de tais curvas, introduzimos a nocaode largura de uma curva e fazemos uma introducao as curvas delargura constante.

    Este texto e parte adaptada do Livro Geometria Diferencialdas Curvas Planas dos mesmos autores ([AS]).

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    Sumario

    1 Curvas Planas 7

    1.1 Curvas Suaves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221.2 Vetor Tangente - Reta Tangente . . . . . . . . . . 241.3 Reparametrizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281.4 Comprimento de Arco . . . . . . . . . . . . . . . 281.5 Campo de Vetores ao Longo de Curvas . . . . . . 341.6 Curvatura e Formulas de Frenet . . . . . . . . . . 371.7 Teorema Fundamental das Curvas Planas . . . . . 461.8 Forma Canonica Local . . . . . . . . . . . . . . . 481.9 Evolutas e Involutas . . . . . . . . . . . . . . . . 501.10 Numero de Rotacao de uma Curva Fechada . . . 561.11 Curvatura Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 641.12 Indice de Rotacao de Curvas Fechadas Simples . . 68

    2 Curvas Convexas 71

    2.1 Curvas Fechadas e Convexas . . . . . . . . . . . . 732.2 Teorema de Schur . . . . . . . . . . . . . . . . . . 902.3 Curvas de Largura Constante . . . . . . . . . . . 952.4 Comprimento e Area de Curvas Convexas . . . . 1062.5 Curvas Paralelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

    Referencias Bibliograficas 117

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    Captulo 1

    Curvas Planas

    Intuitivamente, gostaramos de pensar em uma curva no pla-no como um subconjunto que tenha dimensao igual a 1, porexemplo, o grafico de funcoes de uma variavel real ou figurasdesenhadas com um unico traco, sem tirar o lapis do papel.De forma um pouco mais precisa, uma curva e uma deformacaocontnua de um intervalo, ou ainda, a trajetoria de um desloca-mento de uma partcula no plano.

    Como exemplos dos objetos que queremos definir, veja as figurasa seguir:

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    8 Curvas Planas

    Tornar essas ideias mais precisas e aplicaveis pode ser umtrabalho longo e difcil. Um primeiro ponto de vista, inspiradona Geometria Analtica, seria considerar uma curva em IR2 comoo conjunto de pontos (x, y) IR2 que satisfazem uma equacaodo tipo

    F(x, y) = 0.

    Muitos exemplos que gostaramos de considerar como curvasestao nessa classe de subconjuntos do plano, veja as figuras aseguir:

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    Curvas Planas 9

    ax+by+c= 0 y f(x) = 0 x2 +y2 = 1

    y x2 = 0 4x2(x2 1) +y2 = 0 x3 y2 = 0

    Mesmo para funcoes muito bem comportadas, esse tipo deconjunto pode ficar muito longe da ideia do que consideramosuma curva. Por exemplo, para a funcao definida por F(x, y) =

    xy, a equacao F(x, y) = 0 descreve o conjunto formado peloseixos coordenados, que aparentemente nao se enquadra na nossaideia original, ou seja, de uma figura tracada sem tirarmoso lapis do papel. Por outro lado, existem conjuntos que gos-taramos de considerar como curvas e que nao podem ser des-critos desse modo. Em muitas situacoes, considerar o caso es-pecial em que curvas sao descritas por uma equacao da formaF(x, y) = 0 pode ser util. Um caso especialmente importante equando F(x, y) e um polinomio em duas variaveis. Nesse caso, oconjunto F(x, y) = 0 e chamado uma curva algebrica. O estudodesse tipo de curva e o ponto inicial da Geometria Algebrica,

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    10 Curvas Planas

    um importante ramo da Matematica.

    No contexto de Geometria Diferencial, em vez de conside-rarmos curvas definidas por equacoes, vamos retornar a ideiaintuitiva que uma curva deve descrever a trajetoria contnua domovimento de uma partcula sobre o plano. Se considerarmosque um ponto(t) representa a posicao de uma partcula em mo-vimento contnuo, quando o tempot varia em um intervalo [a, b],o conjunto que iremos considerar eC ={(t)IR2, t[a, b]}.A vantagem dessa abordagem e que ela podera ser facilmenteformalizada e contera varias informacoes sobre como o ponto(t) percorre o conjuntoC, o sentido que o ponto anda sobre

    C: podemos definir sua velocidade, sua aceleracao, etc.. Vamosintroduzir a definicao formal de curva.Definicao 1.1 Uma curva contnua no plano IR2 e uma aplica-cao contnua : I IR2, definida num intervalo I IR. Aaplicacao , dada por (t) = (x(t), y(t)), e contnua, se cadafuncao coordenadax, y:IIR e uma funcao contnua.

    O conjunto imagemC da aplicacao , dado porC ={(t) = (x(t), y(t)), tI} ,

    e chamado de traco de . Observe que, com a definicao acima,

    estamos estudando todo o movimento da partcula e nao apenaso conjuntoC. Nesse caso, e dita uma parametrizacao deC edenominamos t o parametro da curva .

    Se a curva esta definida em um intervalo fechado I= [a, b],os pontos(a) e(b) sao chamados de ponto inicial de e pontofinal de , respectivamente.

    Se esta definida num intervalo I = [a, b] e (a) = (b),dizemos que e uma curva fechada. Uma curva : IRIR2 edita periodicase existe um numero real l >0, tal que

    (t+l) =(t),

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    Curvas Planas 11

    para todotIR. O menor valor l0 para o qual a equacao acimase verifica e chamado de perodode . E claro que a curva ficacompletamente determinada por sua restricao a um intervalo daforma [t0, t0+l0].

    Uma curva : I IR2 e dita simples, se a aplicacao for injetiva. Quando temos que (t1) = (t2), com t1, t2 I et1=t2, dizemos quepossui um ponto duplo (ou multiplo) emt1et2. Uma curva fechada : [a, b]IR2 e ditafechada e simples,se (t)= (s) para todo t= s [a, b) e (a) = (b), isto e,se o unico ponto duplo de ocorre nos seus pontos inicial/final.Quando e uma curva fechada e simples, ela e denominadacurva

    de Jordan. Em muitas situacoes, quando nao houver prejuzo noentendimento, iremos denominar o traco de uma curva de Jordantambem como curva de Jordan.

    Vamos encerrar esta secao com alguns exemplos ilustrativosde curvas contnuas no plano.

    1. Crculos e elipsesO crculo de raio R e centro na origem O, SR(O), e o

    conjunto de pontos (x, y) IR2 cuja distancia ao ponto(0, 0) e constante e igual a R, isto e,

    x2 +y2 =R.O crculo SR(O) e o traco da curva contnua, definida por(t) = (R cos t, R sen t), t IR. O parametro t representao angulo que (t) faz com o eixo Ox. Mais geralmente,o crculo de centro (a, b) e raio R, SR((a, b)), e o tracoda curva : IR IR2, dada por (t) = (a+ R cos t, b+R sen t). Observe que e uma curva periodica de perodo2 e, portanto, quandot percorre a reta real, (t) move-sesobreSR((a, b)) no sentido anti-horario um numero infinitode vezes. Se restringimos o domnio de a um intervalo

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    12 Curvas Planas

    de comprimento 2 entao (t) percorrera SR((a, b)) uma

    unica vez. A curva |[0,2] e uma curva de Jordan.

    A curva : [0, ]IR, dada por

    (t) = (cos 2t, sen2t),

    e uma outra parametrizacao deSR(O). Tal curva tambempercorreSR(O) no sentido anti-horario, porem com o dobroda velocidade escalar de .

    A elipse de focos P1 e P2 e o conjunto de pontos (x, y)

    IR2 cuja soma das distancias aos pontos P1 e P2 e umaconstante. Se escolhemos o sistema de coordenadas de IR2

    de modo que P1 = (c, 0) e P2 = (c, 0), com c >0, entaoa elipse e descrita por uma equacao da forma

    x2

    a2+

    y2

    b2 = 1,

    com a, b numeros reais positivos. Seja (x, y) = (0, 0) econsidere t o angulo que o vetor com ponto inicial na ori-gem e ponto final (x, y) faz com o semi-eixo Ox positivo.

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    Curvas Planas 13

    Agora podemos parametrizar a elipse pelo traco da curva

    : [0, 2]IR2

    , dada por

    (t) = (a cos t, b sen t), a, b >0.

    A elipse intersecta os eixos coordenados nos pontos A =(a, 0), A = (a, 0), B = (0, b) e B = (0, b). Os segmen-tos AA e BB sao chamados de eixos da elipse.

    2. Hiperbole

    A hiperbole de focosP1e P2e o conjunto de pontos (x, y)IR2 cuja diferenca das distancias aos pontosP1 e P2 e, emvalor absoluto, uma constante. Se escolhemos o sistema decoordenadas de IR2, tal que P1= (c, 0) eP2= (c, 0) comc > 0, entao a hiperbole (veja figura a seguir) e descritapor uma equacao do tipo

    x2

    a2 y

    2

    b2 = 1,

    onde ae b sao numeros reais e positivos.

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    14 Curvas Planas

    Consideremos as funcoes cosseno hiperbolico e seno hiper-bolico dadas, respectivamente, por

    cosh t= et +et

    2 e senh t=

    et et2

    .

    Logo, como cosh2 t senh 2t= 1, podemos parametrizar oramo direito da hiperbole pelo traco da curva : IRIR2,definida por

    (t) = (a cosh t, b senh t).

    3. Parabola de NeillA parabola de Neill, veja figura abaixo, e o conjunto depontos (x, y)IR2, tal quex3y2 = 0. Seja (x, y)= (0, 0)e considerethetao angulo que o vetor com ponto inicial naorigem e ponto final (x, y) faz com o semi-eixoOxpositivoe seja t= tan . Assim podemos parametrizar a parabolade Neill pelo traco da curva : IRIR2, definida por

    (t) = (t2, t3).

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    Curvas Planas 15

    4. GraficosSeja f :IIR uma funcao de classeCk. O conjunto

    G ={(x, y)I IR|y=f(x)} IR2

    e chamado de grafico de f. E claro queG pode ser, natu-ralmente, parametrizado pela curva : I IR2 de classeCk, dada por

    (t) = (t, f(t)).

    Por exemplo, se consideramos a funcao f : IRIR, dadapor f(t) =

    a

    2

    et/a + et/a

    = a cosh(t/a), onde a e uma

    constante positiva, obtemos que o grafico de f, ou equi-valentemente, o traco de descreve uma catenaria. Acatena- ria e a curva obtida quando uma corda de pesouniforme e presa em dois pontos e e deixada sob a acaoda forca gravi- tacional. A catenaria tem outros interessesgeometricos, como no estudo de superfcies minimizantesde area.

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    Um outro exemplo de uma curva dessa forma e obtidoquando consideramos f : IR+ IR, dada por f(x) =sen(1/x). Observe que nenhum ponto do segmento {(0, y);1y1}pertence ao grafico de f, porem existem pon-tos do grafico defarbitrariamente proximos de cada pontodesse segmento.

    5. LemniscataA lemniscata, veja figura abaixo, e o conjunto de pontos(x, y)IR2, tal quey2 = 4x2(1 x2). Agora consideremosto angulo entre um vetor de IR2, com ponto final (x, y), eo eixo Ox. Podemos, portanto, parametrizar a lemniscatapelo traco da curva : [0, 2]IR2, dada por

    (t) = ( sen t, sen2t).

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    Curvas Planas 17

    6. Curvas de LissajousVamos descrever apenas uma classe especial dessas curvas,as quais aparecem na Mecanica, quando duas oscilacoeselasticas ocorrem simultaneamente em planos ortogonais,por exemplo, os pendulos duplos. A curva de Lissajous eo traco da curva : IRIR2, definida por

    (t) = ( sen at,sen bt), a, b >0, a=b.Note que a lemniscata e um caso particular da curva deLissajous, quando a = 1 e b= 2. A figura abaixo mostraum esboco do traco de no caso em que a= 2 e b= 3.

    Observe que o traco deesta contido no quadrado [1, 1][1, 1]. A curva e periodica, se e somente se a/b e umnumero racional.

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    7. Cicloide

    A cicloide e a trajetoria descrita por um ponto P = (x, y)de IR2, localizado no crculo de raio r e centro O, quegira ao longo do eixo Ox, sem escorregar e com aceleracaoescalar constante. Sejau o vetor com ponto inicial em O

    e ponto final em P, e sejat o angulo descrito pelo vetor u,supondo que P coincida com a origem O, quando t = 0,conforme a figura abaixo.

    Entao o arco

    QP tem o mesmo comprimento que o seg-mento com ponto inicial na origem O e ponto final Q,onde Q e o ponto de intersecao entre o crculo e o eixoOx. Conclumos que rt e r sao abscissa e ordenada, res-pectivamente, de O e, consequentemente,

    x= rt r cos

    3

    2 t

    =rt r sen t

    y= r r sen

    3

    2 t

    =r r cos t

    (1.1)

    sao as coordenadas deP. Logo podemos descrever a ciclo-ide, como sendo o traco da curva parametrizada : IRIR2, dada por

    (t) = (rt

    r sen t, r

    r cos t).

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    Notamos que e possvel eliminar t nas equacoes (1.1). De

    fato, usando essas equacoes, cos t = 1 y

    r e, portanto,

    t= arccos

    1 yr

    . Assim

    sen t=

    1 cos2 t=

    (2r y)yr

    e obtemos a equacao cartesiana da cicloide, dada por

    x= r arccos 1 y

    r(2r y)y.8. Espirais

    A espiral de Arquimedes, veja figura a seguir, e o conjuntode pontos (x, y) de IR2, tal que

    x tan

    x2 +y2

    a

    =y, a >0.

    Observamos que, em coordenadas polares, sua equacao edada por

    r= a, a >0.

    Logo podemos descrever a espiral de Arquimedes, comosendo o traco da curva : [0, )IR2, definida por

    (t) = (at cos t,at sen t).

    Esbocamos abaixo a espiral de Arquimedes com a = 1.

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    20 Curvas Planas

    9. Considere as funcoes f , g: IR

    IR dadas por:

    f(t) =

    e1/t

    2

    , se t= 0,0, se t= 0,

    g(t) =

    e1/t

    2

    , se t >0,0, se t0.

    A curva : IR IR, definida por (t) = (x(t), y(t)) =(f(t) + 1, g(t) + 1), e uma curva contnua cujo traco e auniao das semi-retasy=x, x

    1 e y = 1, x

    1.

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    Curvas Planas 21

    Observe que as funcoes x e y sao diferenciaveis em IR,

    porem x

    (0) = y

    (0) = 0. Este exemplo mostra que otraco de uma curva pode ter bicos, mesmo quando suascoordenadas sao funcoes diferenciaveis.

    10. Curvas que preenchem o espaco - Curva de Peano e curvade Hilbert:Essas curvas foram pesquisadas originalmente pelo mate-matico Giuseppe Peano no seculo XIX, e como homena-gem ao pesquisador, as curvas de preenchimento do espacosao referenciadas como curvas de Peano. Outros pesquisa-dores, como David Hilbert, deram continuidade a pesquisadas curvas de preenchimento do espaco estendendo-as paraes- pacos n-dimensionais. As curvas de Peano-Hilbert fun-cionam baseadas na particao do espaco, de forma contnuae unica. Como cada particao e um subespaco similar aooriginal, a construcao pode ser novamente aplicada a cadaparticao, gerando novas particoes e assim sucessivamente.A curva de Hilbert e a aplicacao limite desse processo, apli-cado ao conjunto formado por tres segmentos de reta decomprimento um, dois a dois ortogonais, formando uma fi-gura U. As figuras a seguir mostram os tracos das cinco

    primeiras etapas da construcao da curva de Hilbert.

    A curva limite obtida por este processo sera uma curvacontnua cujo traco e todo o quadrado [0, 1]

    [0, 1]. E.

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    22 Curvas Planas

    Moore obteve uma construcao similar, tomando-se inicial-

    mente um quadrado, construiu uma curva, chamadacurvade Moore, cujo traco preenche [0, 1] [0, 1], porem em cadaetapa da construcao, temos uma curva de Jordan. A figuraa seguir mostra a quarta etapa da construcao da curva deMoore.

    Podemos fazer uma construcao similar a essa, onde, emcada etapa, temos uma curva de Jordan diferenciavel. Vejaas figuras a seguir:

    1.1 Curvas Suaves

    Nesta secao, vamos estudar localmente uma curvano plano,isto e, fixado t0, estudaremos como se comporta (t) para va-lores de t proximo de t0. Para este estudo, o ideal seria quepudessemos ter uma reta que fosse uma boa aproximacao para

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    Curvas Planas 23

    esta curva numa vizinhanca de um ponto sobre a curva. No en-

    tanto, somente com a definicao de curvas contnuas, isso nemsempre e possvel. Se escrevemos como

    (t) = (x(t), y(t)),

    entao e uma aplicacao suave, se e somente se cada funcaocoordenada x, y : I IR e uma funcao de classeC, isto e,x e y possuem derivadas contnuas de qualquer ordem em todoponto de I. Assim, podemos introduzir o seguinte conceito:

    Definicao 1.2 Uma curva parametrizada suave ou um caminho

    no plano IR2

    e uma aplicacao suave

    : IIR2,

    que a cadatIassocia(t)IR2. Quando nao houver prejuzodo entendimento, iremos nos referir a tais curvas simplesmentecomo curvas parametrizadas ou curvas suaves.

    Vejamos alguns exemplos.

    Exemplo 1.1 (Curva constante)A aplicacao : IRIR2 dadapor

    (t) = (a, b)

    e uma curva parametrizada cujo traco se reduz ao ponto (a, b).

    Exemplo 1.2 ConsidereP = (a0, b0)= Q = (a1, b1) pontos deIR2. A aplicacao : IRIR2, dada por

    (t) =P+t(P Q) = (a0+t(a1 a0), b0+t(b1 b0)),

    e uma curva parametrizada cujo traco e a reta que passa porPeQ.

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    Seja: IRIR2 uma aplicacao definida por

    (t) =P+t3(P Q) = (a0+t3(a1 a0), b0+t3(b1 b0)).

    A aplicacao tambem e uma curva parametrizada cujo traco ea reta que passa porP eQ. Observemos que epossuem omesmo traco. A diferenca entre essas curvas esta na velocidadeque seu traco e percorrido.

    Exemplo 1.3 A aplicacao : IRIR2, dada por

    (t) = (t,

    |t

    |),

    nao e uma curva parametrizada suave. De fato, a funcao y,definida por y(t) =|t|, nao e diferenciavel em t = 0. Porem,a restricao de , a qualquer intervalo que nao contem o pontot= 0, e uma curva parametrizada.

    1.2 Vetor Tangente - Reta Tangente

    Seja : IIR2 uma curva parametrizada, dada por (t) =(x(t), y(t)). O vetor tangente (ou vetor velocidade) de em

    t0I e dado por(t0) = (x

    (t0), y(t0)).

    A velocidade escalar de em t0I e dada pelo modulo do vetorvelocidade (t0), isto e,

    (t0)=

    (x(t0))2 + (y(t0))2.

    Quando (t0)= (0, 0), tal vetor aponta na direcao tangente acurva em t

    0.

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    Curvas Planas 25

    O vetor(t0) aponta na direcao da reta tangente a curva no ponto

    (t0) e esta reta e a reta limite das retas secantes a curva passando por

    (t0) e por(t), quando fazemost tender at0 .

    Definicao 1.3 Dizemos que uma curva parametrizada : IIR2 e regular em t0I, se(t0)= (0, 0), ou equivalentemente,se(t0) = 0. A curva e regular emI, se for regular paratodo t I. Se(t0) = 0, dizemos que e singular em t0 e(t0) e chamada uma singularidade de.

    Como afirmamos, se for uma curva regular, o vetor (t)aponta para a direcao tangente a curva no ponto (t) e pode-mos, portanto, definir a reta tangente a curva em (t) por

    rt(u) =(t) +u(t),

    onde uIR.Veremos mais adiante que a retart0(u) e a melhor aproximacao

    linear de em t0.Intuitivamente, o traco de uma curva regular e suave, sem bi-

    cos, exceto por possveis pontos de auto-intersecao. Localmente,porem, nao tem auto-intersecao como mostra o resultado se-guinte.

    Proposicao 1.1 Seja : I IR2 uma curva parametrizada eregular em t0 I. Entao existe > 0, tal que e injetiva nointervalo I

    0=

    {t

    I| |

    t

    t0|

    < }

    .

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    26 Curvas Planas

    Prova: Como(t0)= (0, 0), temos quex(t0)= 0 ouy (t0)= 0.Vamos supor que x

    (t0)= 0. Logo, visto que x

    e uma funcaocontnua, existe > 0, tal que x(t) = 0, para todo t I0.Nesse caso,xe estritamente monotona e, portanto injetiva, o queimplica que |I0 e injetiva. A prova no caso em quey (t0)= 0, eanaloga.

    Um exemplo de curva parametrizada e regular e dado por: I

    IR2, definida por(t) = (t, f(t)), ondef :I

    IR e uma

    funcao diferenciavel. O traco de e igual ao grafico de f. Como(t) = (1, f(t))= (0, 0),tI, e uma curva parametrizadae regular. Vamos provar que localmente toda curva regular edessa forma.

    Proposicao 1.2 Seja : I IR2 uma curva parametrizadae regular em t0 I. Entao, existe > 0, tal que, restrito aointervalo (t0 , t0+ ), o traco de coincide com o traco deuma curvada forma(t) = (t, f(t)) ou(t) = (f(t), t), parauma func ao diferenciavelf :J

    IR.

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    Prova. Seja dada por (t) = (x(t), y(t)). Como e regularem t= t0, temos que

    (t0) = (x(t0), y

    (t0))= (0, 0).

    Vamos supor quex(t0)= 0. Nesse caso, pelo teorema da funcaoinversa, existe um intervalo (t0 1, t0 + 1), tal que a funcaox eum difeomorfismo, isto e, uma funcao diferenciavel com inversa

    diferenciavel, sobre J = x((t0 1, t0+ 1)). Seja : J IR2

    dada por (t) =(x1(t)). Temos portanto, que e uma curvadiferenciavel e

    (t) = (x(x1(t)), y(x1(t))) = (t, f(t)),

    onde f, dada por f(t) = y(x1(t)), e uma funcao diferenciavel.A prova, no caso em que y(t0) = 0, e analoga e, nesse caso,obtemos que o traco de coincide localmente em (t0) com otraco de uma curva da forma (t) = (f(t), t).

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    28 Curvas Planas

    1.3 Reparametrizacao

    Seja : I IR2 uma curva parametrizada, definida por(t) = (x(t), y(t)), e seja h : J Iuma funcao de classeC.Podemos entao considerar uma nova curva :JIR2, definidapor

    (t) = ( h)(t) =(h(t)).A curva e, portanto, uma curva parametrizada de classeC.Dizemos que a curva e umareparametrizacaode . Pela regrada cadeia, temos que

    (t) = (x(h(t))h(t), y(h(t))h(t)),

    ou ainda,(t) = ( h)(t) =(h(t))h(t).

    A velocidade escalar de e dada por

    (t)=(h(t))|h(t)|.Vamos considerar apenas reparametrizacoes onde a funcaoh

    e estritamente monotona. Nesse caso, h(t)= 0 e, portanto, se for uma curva regular em I, sua reparametrizacao = htambem sera regular em J. Se h e estritamente crescente, dize-mos que a reparametrizacao = h e uma reparametrizacaopositiva ou propria, ou que preserva a orientacao de. No casoem que h e estritamente decrescente, a reparametrizacao e ditanegativa ou que reverte a orientacao de .

    1.4 Comprimento de Arco

    Seja : IIR2 uma curva parametrizada, dada por(t) = (x(t), y(t)).

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    Curvas Planas 29

    A funcao L: IIR, definida por

    L(t) = tt0

    ()d= tt0

    (x())2 + (y())2 d, (1.2)

    t0 I, e denominada comprimento de arco. Como(t) euma funcao contnua, a funcaoL e de classe C1 e, pelo TeoremaFundamental do Calculo,

    L(t) =(t). (1.3)Observe que, se for regular em I, entao a funcao L e de fatode classeC.

    Para t1 < t2, t1, t2I, chamamos comprimento de arco de entre os pontos t1 e t2 ao numero

    L(|[t1,t2]) =L(t2) L(t1) = t2t1

    ()d.

    Note que a definicao acima nao depende da escolha do pontot0I. De fato, se dadot0I, definimos

    L(t) = tt0

    ()d.

    Entao

    L(t)L(t) = tt0

    ()d t

    t0

    ()d= t0t0

    ()d.

    Logo conclumos que a funcao comprimento de arco de estadeterminada de forma unica, a menos de uma constante.

    Definicao 1.4 Dizemos que uma curva : IIR2 esta parame-trizada pelo comprimento de arco, se o parametro t e, a menosde constante, igual aL(t), isto e,

    L(t) =t+C.

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    30 Curvas Planas

    Observe que, se(t)= 1, para todo tI, entao

    L(t) = tt0

    ()d= tt0

    d=t t0,

    e, portanto, esta parametrizada pelo comprimento de arco.Reciprocamente, se

    L(t) =t+C,

    obtemos que(t)= L(t) = 1.

    Provamos entao o resultado seguinte.

    Proposicao 1.3 Uma curva : I IR2 esta parametrizadapelo comprimento de arco, se e somente se

    (t) 1.

    Observacao 1.1 SeI= [a, b], entao o comprimento de existee e dado por

    L() =L(b) L(a).Dizemos que uma poligonalP=P0P1 ...Pn1Pn esta inscritaem uma curva de traco C seP C={P0,...,Pn}.

    E possvelprovar, usando as ideias do Calculo Diferencial, que L e dado

    por

    L() = sup{L(P), sendoP uma curva poligonal inscrita em,

    ligando(a)e(b)}.

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    Curvas Planas 31

    O comprimento de e aproximado pelo comprimento de poligonais

    inscritas no traco de.

    Os dois exemplos a seguir mostram que a definicao de compri-mento de arco coincide com formulas conhecidas da Geometria

    Elementar.

    Exemplo 1.4 SejamA, B IR2, e sejaV0 = B A. A retaque passa porA eB pode ser parametrizada por(t) =A + tV0,tIR. Parat0= 0, temos

    L(t) =

    t0

    ()d= t0

    V0d=B At.

    Em particular, o segmento de reta que ligaA aB tem compri-mento L(

    |[0,1]) =

    B

    A

    .

    Exemplo 1.5 Considere o crculo de raio R parametrizado por(t) = (R cos t, R sen t). Visto que(t)= R, temosL(t) =Rt, tomando t0 = 0. Em particular, se consideramos |[0,2],o comprimento de e 2R. Se damos k voltas em torno daorigem, isto e, se tomamos |[0,2k], temos que o comprimentode e2kR.

    O proximo exemplo mostra que o fato deL(t) sempre existirpara curvas parametrizadas, a integral de (1.2) nem sempre podeser expressa em termos de funcoes elementares.

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    32 Curvas Planas

    Exemplo 1.6 Considere a elipse parametrizada por

    (t) = (a cos t, b sen t), t[0, 2].Temos

    L(t) =

    t0

    a2 sen 2+b2 cos2 d,

    que nao pode ser expressa em termos de funcoes elementares.

    Vejamos que o comprimento de uma curva pode ser finito,mesmo que o seu intervalo de definicao tenha comprimento infi-nito.

    Exemplo 1.7 A espiral (t) = ( et cos t, et sen t), definidaemIR e tal que

    L(t) =

    t0

    ()d=

    2(1 et).

    Em particular, L(|[0,+)) = limt

    L(t) =

    2 e L(|(,0]) einfinito.

    O proximo resultado nos mostra que toda curva regular ad-

    mite uma reparametrizacao pelo comprimento de arco.Teorema 1.1 Toda curva regular : IIR2 pode ser reparame-trizada pelo comprimento de arco. De forma mais precisa, fixadot0I, existe uma bijecaoh : JIde classeC definida em umintervaloJ sobreI, com0J eh(0) =t0, de modo que a curva:JIR2, dada por(s) = ( h)(s), satisfaz(s)= 1.Prova. Visto que e regular, a funcao comprimento de arco,por (1.3), satisfaz

    L

    (t) =

    (t)

    > 0.

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    Curvas Planas 33

    Logo L e estritamente crescente e, portanto, injetiva. Devido

    a continuidade de L, temos ainda que L(I) e um intervalo J.Conclumos entao que L possui inversa diferenciavel

    h: JI .

    ComoL(t0) = 0, 0Jeh(0) =t0, vamos provar quedefinidapor (s) = ( h)(s) esta parametrizada pelo comprimento dearco. Com efeito, visto que h= L1 ,

    h(s) = 1

    L(h(s))=

    1

    (h(s))

    .

    Logo

    (s) = [ h(s)] =(h(s)) h(s).Portanto

    (s)=(h(s)) h(s)=(h(s)) |h(s)|= 1.

    Vejamos agora alguns exemplos de reparametrizacoes de cur-vas pelo comprimento de arco.

    Exemplo 1.8 Considere o crculo de raioR dado pelo traco dacurva definida por(t) = (R cos t, R sen t), t[0, 2]. Logo,se tomamos t0 = 0, L(t) = Rt. Assim uma reparametrizacaopelo comprimento de arco de e dada por

    (s) =

    R cos s

    R

    , R sen

    sR

    ,

    onde : [0, 2R]

    IR2.

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    34 Curvas Planas

    Exemplo 1.9 Seja uma curva, dada por

    (t) = ( et cos t, et sen t),

    tIR. O traco da curva descreve uma espiral, tal que

    L(t) =

    t0

    ()d=

    2(1 et).

    Em particular,

    L1 (s) = ln

    1 s2

    .

    Portanto uma reparametrizacao pelo comprimento de arco dee dada por

    (s) =

    1 s

    2

    cosln

    1 s

    2

    , sen ln

    1 s

    2

    ,

    onde: [0, 2)IR2

    .

    1.5 Campo de Vetores ao Longo de

    Curvas

    Intuitivamente, um campo de vetores X(t) ao longo de umacurva parametrizada : I IR2 e uma aplicacao que a cadatIassocia um vetor com origem em (t).

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    Curvas Planas 35

    Campo de vetoresX(t) ao longo de.

    Logo para determinar X(t), basta conhecer a extremidade finaldo vetor X(t), uma vez que sua extremidade inicial e (t).

    Definicao 1.5 Um campo de vetores de classeCr ao longo dee uma aplicacao X :I IR2 de classeCr. Geometricamente, ocampo de vetores X e dado, em cada ponto (t), pelo vetor deextremidades(t) eX(t).

    Se e uma curva parametrizada e regular, dada por (t) =

    (x(t), y(t)), entao T, definido por T(t) = (x

    (t), y

    (t)), e umcampo de classe C ao longo de. T e chamado campo tangente.No caso em que esta parametrizada pelo comprimento de arco,T e um campo unitario, isto e,T(t) = 1. O campo N, dadopor N(t) = (y(t), x(t)), e tambem um campo de classeCao longo de . Observe que, para todo tI,

    T(t), N(t)=x(t)y(t) +y(t)x(t) = 0,isto e, N e perpendicular a T. N e chamado campo normal. Nocaso em que esta parametrizada pelo comprimento de arco, Ne um campo unitario.

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    36 Curvas Planas

    Dados dois campos X e Y de classeCr ao longo de e umafuncaof :IIR de classe C

    r

    , podemos definir os camposX+Ye f X por

    (X+ Y)(t) =X(t) +Y(t), (f X)(t) =f(t)X(t),

    que tambem serao campos de classe Cr ao longo de. SeX(t) =(X1(t), X2(t)) e um campo de classeCr, comr >0, definimos aderivada de X por

    X(t) = (X1(t), X2(t)).

    Nesse caso, o campo X e um campo de classeCr1 ao longo de. As seguintes relacoes sao facilmente verificadas:

    (X+ Y) =X +Y,

    (f X) =fX+ f X,

    X, Y =X, Y + X, Y.Temos entao o seguinte resultado:

    Proposicao 1.4 SeX, Y sao campos diferenciaveis eX, Ye constante, entao

    X, Y=X, Y. (1.4)

    Prova. Derivando a equacaoX, Y= const., obtemos0 =X, Y =X, Y + X, Y,

    o que conclui a prova.

    Corolario 1.1X e constante, entao X(t) e perpendicular aX(t), para todo tI, isto e,

    X, X= 0. (1.5)

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    Curvas Planas 37

    1.6 Curvatura e Formulas de Frenet

    Vamos considerar nesta secao curvas : I IR2 parame-trizadas pelo comprimento de arco. Observe que por hipotese,(s)= 0. Dessa forma esta bem definido um campoTde vetorestangentes e unitarios ao longo de dado por

    T(s) =(s).

    T(s) e chamado vetor tangente a curva em (s). Se (s) =(x(s), y(s)), entao T(s) = (x(s), y(s)). Observe que podemosdefinir o campo N ao longo de , tal que, para cada s

    I,

    {T, N} seja uma base positiva de IR2, isto e, existe uma rotacaoque leva (1, 0) emT e (0, 1) emN. Assim sendo,

    N(s) = (y(s), x(s)),

    e temos que N e um campo normal e unitario ao longo de ede classeC. Para cada sI, N(s) e chamado vetor normal acurva em (s).

    Definicao 1.6 Seja :I IR2 uma curva parametrizada pelocomprimento de arco. O referencial

    {T(s), N(s)

    } e chamado

    referencial de Frenet de.

    Visto queT = 1, temos, pela Proposicao 1.1, que T(s) eperpendicular a T(s). Como T e Ngeram o espaco IR2, temosque, para cada sI, T(s) e paralelo a N(s). Isso significa queexiste uma funcao k, tal que

    T(s) =k(s)N(s), sI . (1.6)

    Definicao 1.7 A funcao k, definida pela equacao (1.6), e cha-mada curvatura de ems

    I.

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    38 Curvas Planas

    Observe que a curvatura k(s) e dada por

    k(s) =T(s), N(s)=N(s), T(s).Portanto temos que k : I IR e uma funcao de classeC,quando for de classeC.

    Geometricamente, visto queT(s)= 1 e|k(s)|=T(s), afuncao curvatura e uma medida da variacao da direcao de T e,portanto, da mudanca de direcao da reta tangente a em (s).

    A curvatura entao e uma medida de quanto uma curva deixade ser uma reta. De fato, o proximo resultado caracteriza asretas como as curvas cuja curvatura e identicamente nula.

    Proposicao 1.5 A curvatura de uma curva regular e identi-camente zero, se e somente se o traco deesta contido em umareta.

    Prova. Suponha que k(s) 0. Como 0 =|k(s)| =T(s),temos queT(s) = (0, 0). ComoT esta definida em um intervaloI, conclumos que T(s) e um vetor constante V0. Isso implicaque

    (s) =(s0) + s

    s0

    T()d=(s0) +V0(s

    s0).

    Portanto o traco de esta contido na reta que passa por (s0)e e paralela ao vetor V0. Reciprocamente, se o traco de estacontido em uma reta e esta parametrizada pelo comprimentode arco, temos que

    (s) =P0+sV0, V0= 1.Logo T(s) = V0 e, portanto, T

    (s) = (0, 0). Assim conclumosque k(s) = 0.

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    Curvas Planas 39

    Agora vamos estudar a variacao do campoN. ComoN(s)= 1, obtemos que N

    (s) e perpendicular a N(s) e, portanto,paralelo a T(s). Observe que a equacao (1.6) implica que

    x =k(s)y(s),y = k(s)x(s).

    Assim

    N(s) = (y(s), x(s)) =k(s)(x(s), y(s)) =k(s)T(s).(1.7)

    Os campos T e Nsatisfazem o seguinte sistema:

    T(s) = k(s)N(s),N(s) = k(s)T(s). (1.8)As equacoes desse sistema sao denominadasEquacoes de Frenetda curva . Vamos definir a curvatura de uma curva regularnao necessariamente parametrizada pelo comprimento de arco.Como vimos anteriormente, toda curva regular admite uma repa-rametrizacao pelo comprimento de arco.

    Definicao 1.8 Seja : I IR2 uma curva parametrizada eregular, e seja : J IR2 uma reparametrizacao pelo compri-mento de arco de. Definimos a curvatura deemt

    I como

    a curvatura deno pontosJque corresponde ao pontotI.O proximo resultado expressara a curvatura de uma curva

    regular e nao necessariamente parametrizada pelo comprimentode arco.

    Proposicao 1.6 Seja : I IR2 uma curva regular, definidapor(t) = (x(t), y(t)). Entao a curvatura de emtI e dadapela expressao

    k(t) =x(t)y(t) x(t)y(t)

    ((x)2 + (y)2)3. (1.9)

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    40 Curvas Planas

    Prova. Consideremos : J IR2 uma reparametrizacao po-sitiva de pelo comprimento de arco. Entao, se escrevemos(s(t)) =(t) = (x(t), y(t)),

    (x(t), y(t)) =(t) =d

    dss(t)

    e

    (x(t), y(t)) =(t) =d2

    ds2(s(t))2 +

    d

    dss(t).

    Usando a primeira equacao acima e o fato de ques(t)> 0, temosque s(t) =(t) e, portanto,

    s(t) =

    (t),

    (t)(t) .

    Logo obtemos que

    T(s(t)) =d

    ds(s(t)) =

    (t)

    (t) = 1(x)2 + (y)2

    (x(t), y(t))

    e

    dT

    ds(s(t)) =

    d2

    ds2(s(t)) =

    1

    (s(t))2[(t) s(t)T(s(t))]

    = 1

    (x(t))2 + (y(t))2[(x(t), y(t)) s(t)T(s(t))] .

    Por definicao do campo normal,

    N(s(t)) = 1(x)2 + (y)2

    (y(t), x(t)).

    A equacao (1.6) nos diz que

    k(s(t)) = dT

    ds

    (s(t)), N(s(t)) .

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    Curvas Planas 41

    Substituindo as expressoes dedT

    ds

    eNna equacao acima e usando

    o fato de queTeNsao ortogonais, obtemos o resultado desejado.

    Em muitas situacoes, uma curva pode ter uma expressao maissimples, se ao inves de descreve-la em relacao ao sistema de co-ordenadas cartesianas, usarmos coordenadas polares. O proximoresultado nos dara a expressao para a curvatura em coordenadaspolares.

    Proposicao 1.7 Sejar= r () uma curva regular, definida poruma equacao polar. Entao sua curvaturak() e dada por

    k () =(r ())2 + 2 (r ())2 r () r ()

    (r ())2 + (r ())2 32

    . (1.10)

    Prova. Seja () =r ()(cos , sen ) = (x(), y()) a equacaoparametrica da curva dada por r = r ().

    Logo

    () = (x, y) =r (cos , sen ) +r (

    sen , cos )

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    42 Curvas Planas

    e, consequentemente,

    () = (x, y) =r (cos , sen ) +r ( sen , cos ) +r ( sen , cos ) +r ( cos , sen ) =

    = (r r)(cos , sen ) + 2r ( sen , cos ) .Portanto, substituindo os valores de x, y, x, y em (1.9), obte-mos a expressao desejada.

    Seja : [a, b] IR2 uma curva regular, dada por (t) =(x(t), y(t)). Podemos definir (t) como sendo o angulo que o

    vetor tangente a faz com o eixo x.

    Portanto, nos intervalos em que x nao se anule,

    (t) = arctany (t)

    x(t).

    Caso x se anule, podemos considerar

    (t) = arctanx(t)

    y(t).

    Assim temos um resultado simples e util, envolvendo a derivadade e a curvatura de .

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    Curvas Planas 43

    Proposicao 1.8 Seja : [a, b] IR2 uma curva de classeC2,parametrizada pelo comprimento de arco e definida por (s) =(x(s), y(s)). Seja(s) o angulo que o vetor(s) faz com o eixox. Entao

    (s) =k(s), (1.11)

    ondek e a funcao curvatura da curva.

    Prova. Suponha que(s) = arctany (s)

    x(s), isto e, em pontos com

    x(s)= 0. E claro que

    (s) = 1

    1 +

    y(s)x(s)

    2 x(s)y(s) x(s)y(s)(x(s))2=

    x(s)y(s) x(s)y(s)(x(s))2 + (y(s))2

    =x(s)y(s) x(s)y(s).

    Agora, usando a equacao (1.9), obtemos o resultado desejado.

    Interpretacao Geometrica

    Vamos considerar uma curva regular : I IR2, com cur-vatura k(s), para cada sI.1. Do sinal de k:Se k(t0) >0, entao, para todo t suficientemente proximo de t0,(t) esta no semi-plano determinado pela reta tangente a curva em (t0) para o qual aponta N(t0). De fato, basta verificarque a funcao

    f(t) =

    (t)

    (t0), N(t

    0)

  • 7/24/2019 curso convexa

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    44 Curvas Planas

    e maior ou igual a zero, para t proximo de t0. Observe que

    f

    (t0) = 0 e, por (1.8), f

    (t0) = k(t0) > 0. Logof possui ummnimo relativo estrito em t0. Como f(t0) = 0, conclumos aprova. Observe que, de modo analogo, se k(t0) < 0, f possuium maximo relativo estrito em t0 e, portanto, (t) pertence aosemi-plano determinado pela reta tangente a curva em t0 parao qual aponta o vetorN(t0).

    k(t)> 0 k(t)< 0

    2. Do valor de k:Suponha que k(t0) > 0. Para cada > 0, sejam P = (t0) +N(t0) eC o crculo de centro em P e raio . Entao, para tsuficientemente pequeno, (t) esta contido no interior deC, se > 1

    k(t0)e esta contido no exterior de

    C, se < 1

    k(t0).

  • 7/24/2019 curso convexa

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    Curvas Planas 45

    0 = 1

    k(t0), 0< 1 < 0 < 2

    De fato, vamos considerar a funcao g definida por

    g(t) =(t) P2 2

    proximo de t0. Agora usando a definicao de g e as Equacoes deFrenet, temos que g(t0) = g

    (t0) = 0 e g(t0) =k(t0)+ 1.

    Logo, se < 1k(t0)

    , entao g possui um mnimo estrito em t0 e,

    se > 1k(t0)

    , g possui um maximo estrito em t0, o que concluia prova da afirmacao. Em geral, nada se pode afirmar quando= 1

    k(t0).

    Quando k(t0) > 0, definimos o raio de curvatura de emt0 por 0 =

    1k(t0)

    . O pontoP0 = (t0) + 1k(t0)

    N(t0) e chamadode centro de curvatura ou ponto focal de em t

    0 e o crculo

  • 7/24/2019 curso convexa

    46/118

    46 Curvas Planas

    C0 e chamado crculo osculador de em t0. Observe queC0e tangente a curva em (t0) e tem a mesma curvatura que nesse ponto.

    1.7 Teorema Fundamental das Curvas

    Planas

    Nosso objetivo e mostrar que, de certa forma, a funcao cur-vatura determina a curva. Esse fato e demonstrado pelo seguinteresultado:

    Teorema 1.2 Sejak : IIRuma funcao de classeC. Entao,dados s0 I, P = (P1, P2) IR2 e V0 = (V1, V2) IR2, comV0 = 1, existe uma unica curva parametrizada pelo compri-mento de arco : I IR2, tal que a curvatura em cada ponto(s) e dada pork(s), (s0) =P e

    (s0) =V0.

    Prova. Suponha que , definida por (s) = (x(s), y(s)), sejauma curva parametrizada pelo comprimento de arco e possuacurvaturak. As Equacoes de Frenet, veja (1.8), implicam que asfuncoes x e y satisfazem

    x(s) = k(s)y(s),y(s) = k(s)x(s),

    com condicoes iniciais dadas porx(t0) =P1,y(t0) =P2,x(t0) =

    V1 e y(t0) = V2. O sistema acima tem uma integral primeira,

    dada por

    x(s) = cos

    ss0

    k()d+a

    ,

    y(s) = sen s

    s0

    k()d+a ,(1.12)

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    47/118

    Curvas Planas 47

    onde a e determinado pelas relacoes cos a = V1 e sen a = V2.

    Integrando as equacoes do sistema acima, obtemosx(s) = P1+

    ss0

    cos

    s0

    k()d+a

    d,

    y(s) = P2+

    ss0

    sen

    s0

    k()d+a

    d.

    E facil verificar que a curva dada por (s) = (x(s), y(s)) satisfazas condicoes do teorema.

    Vamos provar agora a unicidade de tal curva. Suponhamosque existam duas curvas, definidas por (s) = (x(s), y(s)) e

    (s) = (u(s), v(s)) nas condicoes do teorema. As Equacoes deFrenet para e implicam que as funcoes f(s) =x(s) u(s)e g(s) =y (s) v(s) satisfazem o sistema

    f(s) = k(s)g(s),g(s) = k(s)f(s).

    Isto implica entao que

    1

    2(f2 +g2)(s) =f(s)f(s) +g(s)g(s) = 0.

    Logo (f2 + g2) e uma funcao constante e como e nula ems = s0,temos que (f2 +g2)(s)0 e, portanto, f(s) =g(s) = 0. Assimconclumos que

    (s) =(s), sI .Agora, usando o fato de que (s0) = (s0) = P0, obtemos que(s)(s), o que conclui a prova do teorema.

    Esse resultado tem, como consequencia, que a curvatura de-termina uma curva, a menos de sua posicao no plano.

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    48 Curvas Planas

    Corolario 1.2 Duas curvas, :IIR2 parametrizadas pelocomprimento de arco com a mesma funcao de curvaturak: IIR2 sao congruentes, isto e, existem uma rotacao A: IR2 IR2e uma translacao por um vetorbIR2, tal que, para todo sI,

    (s) = (A )(s) +b.

    Prova. Fixe s0 I. Seja A : IR2 IR2 a rotacao que leva(s0) em

    (s0), e seja b = (s0)A((s0)). Temos que acurva , dada por (s) =A (s) +b, e tal que (s0) =(s0),

    (s0) =

    (s0) e a curvatura em cada ponto (s) e k(s). PeloTeorema Fundamental das Curvas Planas, (s) (s), o queconclui a prova.

    1.8 Forma Canonica Local

    Iremos ver novamente que a curvatura e uma medida dequanto a curva difere da reta tangente para pontos proximosdo ponto estudado, agora atraves da expansao de Taylor. Seja

    : IIR2 uma curva regular parametrizada pelo comprimentode arco. Considerando a aproximacao pelo polinomio de Taylorde cada coordenada de , temos que

    x(s) = x(s0) + (s s0)x(s0) +(s s0)2

    2! x(s0)

    +(s s0)3

    3! x(s0) +r1(s),

    y(s) = y(s0) + (s s0)y(s0) +(s s0)2

    2! y(s0)

    +(s s0)3

    3! y(s0) +r2(s),

    (1.13)

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    Curvas Planas 49

    onde lims0

    r1(s)

    |s s0|3

    = lims0

    r2(s)

    |s s0|3

    = 0.

    Pelas Equacoes de Frenet, obtemos que

    (x(s0), y(s0)) =

    (s0) = (k(s)N(s))|s=s0

    =k (s0)N(s0) +k(s0)N(s0) =k

    (s0)N(s0) k2(s0)T(s0).Portanto

    (s) =(s0) + (s s0)T(s0) +(s s0)2

    2! k(s0)N(s0)

    +(s s0)3

    3! [k(s0)N(s0) k2(s0)T(s0)] +R(s), (1.14)

    onde limss0

    R(s)(s s0)3 = 0. A equacao (1.14) mostra que k(s0) de-

    termina o quanto (s) difere da reta tangente a curva em s0,para pontos proximos de (s0). De fato, (s) difere da retatangente pelo fator

    (s s0)22!

    k(s0)N(s0) +(s s0)3

    3! [k(s0)N(s0) k2(s0)T(s0)] + R,

    para pontos proximos de s0.

    Podemos escolher um sistema de coordenadas de IR2 de modoque (s0) = (0, 0) e a base canonica seja{T(s0), N(s0)}, isto e,T(s0) = (1, 0) e N(s0) = (0, 1). Se em relacao a este referencial,a curva e dada por (s) = (x(s), y(s)), a equacao (1.14) nosdiz que

    x(s) = (s s0) k2(s0) (s s0)3

    3! +R1(s)

    y(s) = k(s0)(s s0)2

    2! +k(s0)

    (s s0)3

    3! +R2(s).

    (1.15)

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    50 Curvas Planas

    A representacao (1.15) e chamada forma canonica localde e

    descreve o comportamento de qualquer curva regular na vizin-hanca de um ponto (s0). Em particular, ela nos diz que, sek(s0)= 0, o traco de fica de um lado da reta tangente a ems0.

    1.9 Evolutas e Involutas

    Vamos considerar curvas regulares : I IR2 parametriza-das pelo comprimento de arco, tais que sua curvatura k nao seanule em I. Nesse caso, para cada t

    I, esta bem definido o

    centro de curvatura de em t, dado por

    e(t) =(t) + 1

    k(t)N(t),

    onde N e o campo normal e unitario de . A aplicacao que acada t Iassocia e(t) define uma curva diferenciavel em IR2,e e chamada evolutada curva . Vamos estudar a regularidadede e. Usando as equacoes de Frenet, obtemos

    e(t) =(t) +

    1

    k(t)N(t) k

    (t)

    k2(t)N(t) = k

    (t)

    k2(t)N(t). (1.16)

    Temos, portanto, que e e regular, se e somente se

    k(t)= 0.Os pontos singulares da evoluta de uma curva sao aquelespara os quais a curvatura de possui um ponto crtico. Antesde vermos alguns exemplos de evolutas, observamos que, se :I IR2 e uma curva regular, com k(t) = 0, a expressao daevolutae de e dada por

    e(t) =(t) + 1

    k(t)

    N(t) =(t) + (t)2

    (t), N(t)N(t). (1.17)

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    Curvas Planas 51

    Notemos que nao esta necessariamente parametrizada pelo

    comprimento de arco.

    Exemplo 1.10 Se o traco de uma curvadescreve um crculode raio R e centro P0, sua evoluta e a curva constante dada pore(t) =P0. De fato, parametrizando a curva por

    (s) =P0+ (R cos s

    R, R sen

    s

    R), s[0, 2R],

    temos quek(s) = 1/R e, portanto,

    e(s) =(s) +R(

    cos s

    R,

    sen s

    R) =P0.

    Exemplo 1.11 Considere a elipse dada pelo traco da curva:[0, 2]IR2, definida por

    (t) = (a cos t, b sen t).

    A curvatura de e dada por

    k(t) = ab

    (a2 sen 2t+b2 cos2 t)3/2= 0.

    A evoluta de, pela equacao (1.17), e dada por

    e(t) = (a cos t, b sen t) +a2 sen 2t+b2 cos2 t

    ab (b cos t,a sen t)

    =

    a2 b2

    a cos3 t,

    b2 a2b

    sen 3t

    .

    O traco da evoluta da elipse e descrito pelo astroide (ax)2/3 +(by)2/3 = (a2 b2)2/3, que nao e regular nos pontose(t), comt= 0,

    2, e

    3

    2 .

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    52 Curvas Planas

    Elipse e sua evoluta.

    Exemplo 1.12 Considere a cicloide dada pelo traco da curva, definida por(t) = (t sen t, 1 cos t), t (0, 2). Suacurvatura e dada por

    k(t) = cos t 1

    (2 2cos t)3/2= 0.

    A evoluta de e a curva definida por

    e(t) = (t sen t, 1 cos t) +2 2cos tcos t 1 ( sen t, 1 cos t)

    = (t+ sen t, cos t 1).

    Observe que (t+) =e(t) + (, 2).

    Logo, a menos de uma translacao, a evoluta de e a pr opriacicloide.

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    Curvas Planas 53

    Evoluta da cicloide

    Note quee deixa de ser regular emt= .

    A equacao (1.16) mostra que o vetor N(t) e paralelo ao vetore(t) e, portanto, a reta normal a curva em(t) coincide coma reta tangente a e em e(t). Um outro modo de interpretaresse fato e dizer que a evoluta de uma curva tem a propriedadede, em cada instante, ser tangente as retas normais da curva.Nesse caso, dizemos que a evoluta de uma curva e a envoltoriada famlia de retas normais dessa curva.

    Em geral, a evoluta de uma curva parametrizada pelo com-primento de arco nao esta parametrizada pelo comprimento de

    arco. Considere J Ium intervalo no qual e seja regular. Ocomprimento de arco de e, a partir de t0J, e dado por

    s(t) =

    tt0

    e()d = tt0

    1k() d= 1k(t) 1k(t0)

    ,onde usamos que k e k nao trocam de sinal em J. Da definicaoda evoluta e de uma curva , temos que

    (t) =e(t) 1k(t)

    N(t).

    A equacao (1.16) nos diz que o campo tangente unitario dee eigual aN, se k(t)> 0. Podemos, portanto, recuperar a curva, a partir de e, pela equacao

    (t) =e(t) + 1

    k(t)

    e(t)

    e(t).

    Vamos introduzir agora uma nocao dual a de evoluta de umacurva regular : I IR2. Seja t0 Ifixado, e sejaL:I IRo comprimento de arco de a partir de t0,

    L(t) =

    t

    t0

    ()d.

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    54 Curvas Planas

    Definicao 1.9 Uma involuta da curva regular : I IR2 e acurvai:IIR

    2

    , dada por

    i(t) =(t) + (CL(t))T(t),

    sendo To campo tangente de, eC e uma constante real posi-tiva.

    Observe que, para valores diferentes de C, obtemos involutasdiferentes de, porem todas sao equidistantes, conforme mostraa figura a seguir.

    Agora estudaremos a regularidade da involuta de uma curvaregular. Calculando o vetor i(t), obtemos

    i(t) =(t) L(t)T(t) + (CL(t))T(t)

    =(t) (t)T(t) + (CL(t))k(t)(t)N(t) (1.18)= (C

    L(t))k(t)

    (t)

    N(t),

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    Curvas Planas 55

    onde k e a curvatura de . Portanto, seC=L(t) e k(t)= 0,entao i e regular em t. Vamos supor que C >L(t),t I enos restringir aos subintervalos J de I nos quais k(t)= 0. Sek(t) > 0 em J, temos que os campos tangente Ti e normal Nida involutai se relacionam com os campos correspondentes dacurva por

    Ti(t) =N(t) Ni(t) =T(t),

    enquanto nos intervalos onde k(s)< 0, temos

    Ti(t) =

    N(t) Ni(t) =T(t).

    Dessas equacoes, temos que as retas normais da involuta i saoas retas tangentes a , e as retas tangentes de i sao paralelasas retas normais de nos pontos correspondentes.

    O calculo da curvatura ki de i nos da que

    ki(t) =Ti (t), Ni(t)

    i(t) =T

    (t), N(t)i(t)

    =k(t)(t)

    i(t)Pela equacao (1.18), se k(t)> 0,

    ki(t) = 1C L(t) ,

    e, se k(t)< 0,

    ki(t) = 1CL(t) .

    O proximo resultado nos dara a evoluta de i.

    Proposicao 1.9 A curva e a evoluta de qualquer uma de suasinvolutas, isto e,

    (i)e(t) =(t).

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    56 Curvas Planas

    Prova. Temos, por definicao da evoluta de i, que

    (i)e(t) = i(t) + 1ki(t)

    Ni(t)

    = (t) + (C L(t))T(t) (C L(t))T(t)= (t).

    1.10 Numero de Rotacao de uma Curva

    Fechada

    Nesta secao vamos definir o numero de rotacao de uma curvafechada : [a, b] IR2. Intuitivamente, o numero de rotacaomede o numero algebrico de voltas que o vetor posicaoV, relativoao ponto P0, dado por V(t) = (t)P0, da em torno de P0,quando t varia de t= a a t = b. Para tornar esta nocao precisa,vamos estudar a a funcao angular. O primeiro resultado quetemos e o seguinte:

    Teorema 1.3 Seja : [a, b]IR2 uma curva contnua, e sejaP0 um ponto nao pertencente ao traco de. Entao existe umafuncao contnua: [a, b]IR, tal que

    (t) ((a) P0, (t) P0) mod 2,

    para todo t[a, b]. Alem disso, se e uma outra funcao comoacima, entao e diferem por um multiplo de2, isto e,

    (t) =(t) + 2k,

    para todo t [a, b] e para algumk Z fixado. Em particular,existe uma unica funcao como acima, tal que(a) = 0.

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    Curvas Planas 57

    Prova. A prova deste resultado pode ser encontrada em [AS].

    Definicao 1.10 A funcao , dada pelo Teorema 1.3, tal que(a) = 0, depende do ponto P0. Vamos denomina-la funcaoangular de com respeito aP0.

    Observe que, set, s[a, b], entao a funcao angular satisfaz(s) (t) ((t) P0, (s) P0) mod 2.

    Alem disso, se te s sao suficientemente proximos (por exemplo,

    |t

    s|< , com escolhido como na observacao (??)), temos

    (s) (t) = ((s) P0, (t) P0).A ultima observacao decorre do fato de que, fixado s, a funcaog, definida porg(t) = 1

    2[(t) (s) ((t) P0, (s) P0)],

    e contnua se|t s|< , g(t) Ze g(s) = 0.

    Seja : [c, d] IR2 uma reparametrizacao positiva de :[a, b] IR2, isto e, existe uma bijecao crescente e contnua :[c, d]

    [a, b], tal que (t) =

    (t). Observe que (c) = a.

    Entao, se e uma funcao angular para em relacao a P0, afuncao: [c, d]IR, dada por

    (t) =((t)) (a), (1.19)e uma funcao angular para , com(c) = 0. De fato,

    ((s)) = ((a) P0, ((s)) P0)= ((a) P0, ((c)) P0)++ (((c))

    P0, ((s))

    P0)

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    58 Curvas Planas

    =((c)) + ((c) P0, (s)) P0).

    Se e uma curva diferenciavel, o proximo resultado nos dauma expressao para uma funcao angular.

    Proposicao 1.10 Seja : [a, b]IR2 uma curva diferenciavel,e seja P0 um ponto fora do traco de . Entao a funcao :[a, b]IR, dada por

    (t) =

    t

    a

    (() P0), ()

    ()

    P0

    2

    d, (1.20)

    e uma funcao angular da curva, com relacao aP0.

    Estamos prontos para definir o numero de rotacao de umacurva fechada no plano em relacao a um ponto P0, nao perten-cente ao seu traco.

    Seja : [a, b] IR2, (a) = (b), uma curva fechada econtnua e seja P0 um ponto fora do traco de. Seja a funcaoangular decom relacao aP0, com(a) = 0. Como(a) =(b),temos que

    (b) ((a) P0, (b) P0)0 mod 2.

    Definicao 1.11 O numero

    W(, P0) = 1

    2(b) Z

    e chamado de numero de rotacao de em relacao aP0.

    O numero de rotacao W(, P0) mede o numero algebrico devoltas que o vetor posicao V , relativo ao ponto P

    0, dado por

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    Curvas Planas 59

    V(t) =(t) P0, da em torno de P0, quando t varia de t= a at= b. Se e uma curva de classeC

    1

    , entao, por (1.20),

    W(, P0) = 1

    2

    ba

    (() P0), ()() P02 d. (1.21)

    Essa expressao tem uma consequencia surpreendente: o membrodireito da equacao acima e sempre um numero inteiro.

    Neste captulo vamos estudar o comportamento do campotangente a ouma curva regular e fechada. Para isso, vamos es-clarecer o tipo de curvas em que esse estudo faz sentido. Umacurva : [a, b]

    IR2 e uma curva fechada, se (a) = (b).

    Uma curva fechada e diferenciavel, se existe um > 0 e umacurva diferenciavel : (a , b+)IR2, tal que (t) =(t)para todo t [a, b] e(a) e(b) sao vetores nao-nulos commesma direcao e sentido. Uma curva fechada e diferenciavel

    : [a, b]IR2 e de classeCn, se (a) =(b), dk

    dtk(a) =

    dk

    dtk(b)

    para todo k = 1,...,n e dn

    dtn(t) e um campo contnuo ao longo

    de . Desse modo, podemos falar em curvas fechadas e regu-lares, isto e, uma curva fechada e diferenciavel tal que seu vetor

    tangente e nao-nulo para todo t [a, b]. Uma curva fechada : [a, b]IR2 e dita simples, se, restrita ao intervalo (a, b], elafor uma aplicacao injetiva.

    Se e uma curva fechada e regular de classeC1, podemosconsiderar a curva : [a, b] IR2. Essa curva e fechada,contnua e, por ser regular, (0, 0) nao esta no traco de .Entao temos que o numero de rotacao de em relacao ao ponto(0, 0) esta bem definido.

    Definicao 1.12 Seja : [a, b] IR2 uma curva fechada e re-gular e de classe

    C2. O ndice de rotacao de, R

    , e definido

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    60 Curvas Planas

    por

    R= W(, (0, 0)).

    Observe que, a priori, R nao tem nenhuma relacao com osnumeros de rotacao de em relacao a pontos fora de seu traco.O ndice de rotacao mede o numero de voltas (orientadas) que ovetor tangente de da em torno da origem, quando percorremoso traco de .

    Se : [a, b]

    IR2 e uma curva regular, podemos definir

    a indicatriz tangente T : [a, b] S1 IR2, dada por T(t) =(t)

    (t) e a indicatriz normal N : [a, b] S1 IR2, dada por

    N(t) =T(t). E claro que se e uma curva fechada e de classeC1, T e N sao curvas fechadas e contnuas em [a, b] e assumemvalores no crculo unitario S1. Como consequencia da definicaodessas curvas, temos que , T e N possuem a mesma funcaoangular (t) em relacao a origem, com (a) = 0. Portanto

    R= W(

    , (0, 0)) =W(T, (0, 0)) =W(N, (0, 0)) =

    1

    2 (b).

    A ideia de associar uma curva regular ao movimento circu-lar do vetor tangente unitario T ou, equivalentemente, do vetorunitario normalN e devida a C.F. Gauss, no incio da GeometriaDiferencial, e essa ideia tem um papel fundamental na teoria dascurvas planas diferenciaveis. Observe que T eNdiferem apenaspor uma rotacao constante de um angulo

    2ao redor da origem.

    T e/ouNsao frequentemente chamadas deimagem tangente (deGauss) e/ou imagem normal (de Gauss) de no crculo S1.

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    Curvas Planas 61

    Exemplo 1.13 Seja : [0, 2]IR2 uma curva, dada por(t)= (R cos nt,R sen nt), comn Z, n= 0. A curvaparametrizao crculo de raio R que da|n| voltas em torno da origem, nosentido anti-horario, sen > 0 e, no sentido horario, sen < 0.Um calculo simples mostra que

    R= n.

    A curva descreve o crculo que dan voltas em torno do seu centro e seu

    ndice de rotacao e igual an.

  • 7/24/2019 curso convexa

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    62 Curvas Planas

    Exemplo 1.14 Considere a lemniscata, dada pelo traco da curva

    : [0, 2]IR2

    , definida por(t) = ( sen t, sen2t). A curvae uma curva regular, fechada e

    R= 0.

    A lemniscata possui ndice de rotacao igual a zero.

    Os dois exemplos acima nos mostram que qualquer nZ podeser ndice de rotacao de uma curva regular e fechada.

    O ndice de rotacao de uma curva fechada e regular e inva-riante por reparametrizacoes proprias de e tambem se conside-ramos outro ponto inicial/final para . Porem, se consideramos a curva obtida percorrendo na orientacao oposta, temosque R =R.

    Para entendermos o comportamento de R, quandodeforma-mos, vamos introduzir o conceito de homotopia regular:

    Definicao 1.13 Duas curvas fechadas e regulares, : [a, b]IR2 sao ditas regularmente homotopicas, se existe uma aplicacaoH : [0, 1] [a, b]IR2, tal que

    1. H(, t) e contnua em [0, 1] [a, b]; H e de classeC1 emrelacao a variavelt, isto e, H

    t e uma funcao contnua;

    2. Para cada [0, 1], a curva(t) = H(, t), t [a, b] euma curva fechada regular;

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    Curvas Planas 63

    3. H(0, t) =(t) eH(1, t) =(t).

    A aplicacao H e dita uma homotopia regular entre e.

    Para curvas regularmente homotopicas, temos o seguinte re-sultado:

    Proposicao 1.11 Sejam , : [a, b] IR2 duas curvas fecha-das e regulares. Se e regularmente homotopica a, entao

    R=R.

    Prova. Basta observar que, se H(, t) e uma homotopia regular

    entre e , entao Ht (, t) e uma homotopia entre e e,

    portanto,

    R=W(, (0, 0)) =W(, (0, 0)) =R.

    Tendo em vista o resultado acima, temos que nao e possvelconstruir uma homotopia regular entre a lemniscata, dada por(t) = (sen t, sen2t), t [0, 2], e o crculo unitario (t) =(cos t,sen t), t [0, 2]. Note que, como IR2 e convexo, essascurvas sao homotopicas (como curvas contnuas) em IR2. Vale

    observar que estamos pedindo regularidade em cada estagio dadeformacao que leva em .

    Nao e possvel eliminar o laco a esquerda da curva acima, usandoa sequencia de deformacoes, uma vez que o vetor tangente ao

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    64 Curvas Planas

    longo desse laco muda muito de direcao, independente do ta-

    manho do laco. A continuidade de

    implica que esse vetordeve anular-se no limite final.

    Por outro lado, temos o seguinte teorema devido a Whitney eGraustein (veja [MR], Teorema 9.9 p.397) que nos da a recprocado proposicao anterior.

    Teorema 1.4 Duas curvas fechadas e regulares , : [a, b]IR2 sao regularmente homotopicas, se e somente se

    R= R.

    Exemplo 1.15 Seja : [a, b]

    IR2 um crculo que da uma

    volta no sentido anti-horario em torno de seu centro, e seja:[a, b]IR2 a curva que percorre uma vez a lemniscata com umlaco, ver figura abaixo, na orientacao indicada.

    Temos queR= R = 1.

    Logo, pelo Teorema de Whitney-Graustein, e sao regular-mente homotopicas. Voce consegue imaginar uma homotopia re-gular que leve em?

    1.11 Curvatura Total

    Vamos supor agora que : [a, b]IR2 e uma curva fechada,regular e de classe

    C2. Nesse caso, os campos vetoriais , T e

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    Curvas Planas 65

    N sao campos de classeC1 ao longo de . Pelas Equacoes deFrenet, o vetor tangente da curva T satisfaz

    T(t) =k(t)(t)N(t),onde k(t) e a curvatura de em t. Portanto a velocidade dacurva T(t) e|k(t)| (t), ou simplesmente|k(t)|, se estiverparametrizada pelo comprimento de arco. Decorre da expressaoacima que Tpercorre o crculo unitario no sentido anti-horario,se k(t)> 0 e no sentido horario, se k(t)< 0.

    Seja a funcao angular para a curva T em relacao a origem(0, 0), que satisfaz (a) = 0. Pela equacao (1.20), temos que

    (t) = ta

    T, T()d = ta

    k()()d.

    Portanto(t) =k(t)(t). (1.22)

    No caso em que esta parametrizada pelo comprimento de arco,temos que a curvatura de e exatamente a taxa de variacao doangulo orientado, determinado pelos vetores tangente a curva e o vetor T(a). Observe que o vetorT(a) pode ser substitudopor qualquer outro vetor fixo, sem alterar o valor de .

    Definicao 1.14 Seja : [a, b] IR2 uma curva de classeC2.A curvatura totalCT() da curva e dada por

    CT() = 1

    2

    ba

    k()()d.

    Observe que o teorema de mudanca de variaveis para integraisimplica que CT() e invariante por reparametrizacoes propriasde classeC2 de . A curvatura total representa, geometrica-mente, a menos de um fator constante, o comprimento algebri-

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    66 Curvas Planas

    co da imagem deTsobre o crculo unitario, isto e, os arcos que

    T percorre no sentido anti-horario sao considerados com com-primento positivo, enquanto aqueles que T percorre no sentidohorario sao considerados com comprimento negativo. Em parti-cular, temos que

    CT() = 1

    2

    ba

    k()()d = 12

    (T(a), T(b)).

    No caso em que e uma curva fechada, regular e de classeC1,sua indicatriz tangenteT e uma curva fechada, portanto o ndicede rotacao de e dado por

    R= W(T, (0, 0)) = 1

    2(b) =

    1

    2

    ba

    k()()d = C T().

    Como consequencia, chegamos a um resultado surpreendente:a curvatura total de uma curva fechada e sempre um numerointeiro. Mesmo para curvas simples, tal resultado nao e obvio.

    Teorema 1.5 Seja : [a, b] IR2 uma curva fechada, regulare de classeC2. Entao sua curvatura totalCT() e dada por

    CT() = 12 ba

    k()()d = R,

    onde R e o ndice de rotacao de . Em particular, CT() esempre igual a um numero inteiro.

    Exemplo 1.16 Considere a elipse (t) = (a cos t, b sen t), t[0, 2]. Temos queR= 1, o que implica entao queCT() = 1.Calculando diretamente a curvatura total de, obtemos que

    k(t)

    (t)

    =

    ab

    a2 sen 2t+b2 cos2 t

    ,

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    Curvas Planas 67

    e, portanto,

    1

    2

    20

    ab

    a2 sen 2+b2 cos2 d= C T() = 1.

    O resultado nao e de modo algum obvio (tente calcular analiti-camente. E possvel!!!).

    Visto que o ndice de rotacao de uma curva e invariante porhomotopias regulares, a sua curvatura total tambem e invariantepor homotopias regulares. Vamos usar a formula do numero deintersecoes para calcular W(T, (0, 0)) e, portanto, a curvaturatotal de . Sejav0 um vetor unitario fixado e considere o raio

    rv0 com origem em (0, 0) e na direcao de v0 parametrizado porrv0(s) =v0s, s[0, ). ComoT(t) esta sobre o crculo unitario,o raio rv0 ira intersectar o traco de Tno maximo quando s = 1.Essa intersecao, em geral, se da em um ponto multiplo. Paraobtencao de todas essas intersecoes, devemos saber para quaisvalores do parametro t temos que

    T(t) =v0.

    Suponha que, apenas para um numero finito de valores t1,...,tk,a equacao acima seja satisfeita. Observe que a condicao para

    que cada intersecao seja transversal e dada por0=T(ti), v0 =k(ti)(ti)N(ti), N(ti)= k(ti)(ti),

    para todo i= 1,...,k, isto e, se k(ti)= 0, para todo i= 1,...,k,o numero de intersecoes em cada ti e

    (ti) = sinalT(ti), v0 = sinal k(ti).Portanto, nesse caso, verifica-se a seguinte relacao:

    1

    2 b

    a

    k()()d = R= W(T, (0, 0)) =k

    i=1 sinal k(ti).

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    68 Curvas Planas

    Novamente, e surpreendente que o ultimo membro da equacao

    anterior nao dependa da escolha particular do vetorv0nas condi-coes acima.

    1.12 Indice de Rotacao de Curvas Fe-

    chadas Simples

    O ndice de rotacaoRde uma curva regular fechada e, pordefinicao, o numero de rotacao da curva. Portanto o ndice derotacao fornece uma informacao sobre o comportamento global

    de

    , que, a princpio, nao tem por que ser parecido com ocomportamento global de . Por outro lado, determina, amenos de uma translacao, a curva original e reciprocamente.Logo nao seria de todo surpreendente que o ndice de rotacaoRnos desse alguma informacao sobre a geometria de . Vamosdiscutir um importante resultado nessa direcao. Para curvasfechadas, regulares e simples, temos o seguinte resultado:

    Teorema 1.6 (Teorema da Rotacao das Tangentes) Seja :[a, b]IR2 uma curva regular, fechada, simples e de classeC1.Entao

    R=1.Alem disso, se e de classeC2, entao sua curvatura totalC T()satisfaz

    CT() = 1

    2

    ba

    k()()d =1.

    Decorre diretamente desse resultado a seguinte consequencia:

    Corolario 1.3 Toda curva fechada, regular e de classeC1 comR

    = 0 ou

    |R

    | 2 possui auto-intersecao. Se e uma curva

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    Curvas Planas 69

    fechada e de classeC2, com curvatura total satisfazendoC T() =0 ou|CT()| 2, entao possui pontos de auto-intersecao.

    Observe que a recproca desse resultado nao e verdadeira,isto e, nao e verdade, em geral, que se o ndice de rotacao deuma curva for igual a1, a curva seja simples. Como exemplo,considere a lemniscata com laco (veja exemplo 1.15). Ela temndice de rotacao igual a um e nao e simples.

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    70 Curvas Planas

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    Captulo 2

    Curvas Convexas

    Neste captulo, estudaremos as propriedades geometricas dascurvas regulares cuja curvatura nao troca de sinal. Inicialmente,introduziremos o conceito de curva localmente convexa.

    Definicao 2.1 Dizemos que uma curva : I IR2 e convexaem t0 I, se existe > 0, tal que((t0 , t0+ )) esteja in-teiramente contido num dos semi-planos determinados pela retatangente a em t0. A curva e dita estritamente convexa emt0, se e convexa em t0 e existe > 0, tal que(t0) e o unico

    ponto de((t0 , t0+)) sobre a reta tangente de emt0.A definicao de curva convexa em t0 implica que, para todo t(t0 , t0+), a funcao definida por

    ht0(t) =(t) (t0), N(t0),onde N(t) e o campo normal de , nao muda de sinal.

    Proposicao 2.1 Seja : IIR2 uma curva regular e de classeC2. Se a curvatura de em t0 I e n ao-nula, entao e estri-tamente convexa emt

    0.

    71

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    72 Curvas Convexas

    Prova. Suponha quek(t0)> 0. Pela observacao acima, devemos

    provar que existe > 0, tal que a funcao ht0 seja nao-negativaem (t0 , t0+ ), e ht0(t) = 0 nesse intervalo, se e somente set= t0. Sem perda de generalidade, podemos supor que a curvaesta parametrizada pelo comprimento de arco. Nesse caso,

    ht0(t0) =(t0), N(t0)= 0

    e

    ht0(t0) =k(t0)> 0.

    Portanto t0 e um ponto de mnimo estrito local de ht0. Como

    ht0(t0) = 0, existe > 0, tal que ht0(t) > 0, para todo 0 0. Aprova no caso em que k(t0)< 0 e analoga.

    O proximo resultado nos permite considerar o caso em que acurvatura se anula, mas nao muda de sinal.

    Proposicao 2.2 Seja : I IR2 uma curva regular com cur-vatura k. Suponha que existe > 0, tal que, para todo t(t0 , t0+ ) I, k(t) 0. Entao e convexa em t0. Alemdisso, o traco de |(t0,t0+) esta contido no semi-plano deter-minado pela reta tangente a curva emt0 para o qual aponta ovetorN(t0).

    Prova. Escolha o sistema de coordenadas de IR2 de modo que(t0) = (0, 0), T(t0) = (1, 0) e N(t0) = (0, 1). Suponha, semperda de generalidade, que esteja parametrizada pelo compri-mento de arco e, em relacao ao sistema de coordenadas acima,seja dada por

    (t) = (x(t), y(t)).

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    Curvas Convexas 73

    A prova reduz-se, nesse caso, a mostrar que existe 1 > 0, tal

    que y(t)0, para todo t(t0 1, t0+ 1). Considere a funcao, definida por

    (t) =

    tt0

    k()d.

    Pela equacao (1.12),

    (x(t), y(t)) =(t) = (cos (t), sen (t)).

    Como k(t)0, t(t0 , t0+), existe 0< 1, tal que

    y(t) = sen (t)

    0, se t0

    t

    t0+

    1,

    ey(t) = sen (t)0, se t0 1tt0.

    Logo a funcao y e nao-crescente no intervalo [t0 1, t0] e nao-decrescente em [t0, t0+ 1]. Comoy(t0) = 0, temos quey(t)0,para todo t[t0 1, t0+1], o que conclui a prova.

    2.1 Curvas Fechadas e Convexas

    Dizemos que uma curva regular : [a, b] IR2 e convexa,se, para cada t0 [a, b], o traco de esta inteiramente contidoem um dos semi-planos determinados pela reta tangente a emt0. De modo mais preciso, ser convexa significa que, para todot0[a, b], a funcao ht0, definida por

    ht0(t) =(t) (t0), N(t0),

    nao muda de sinal em [a, b]. Em particular, e convexa emtodot

    [a, b]. A curva e dita estritamente convexa emt

    0, se o

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    74 Curvas Convexas

    traco de, exceto pelo ponto(t0), esta inteiramente contido no

    semi-plano aberto determinado pela reta tangente a curva em(t0). Em termos da funcaoht0, definida acima, esta propriedadesignifica que ht0 somente se anula emt= t0.

    curva convexa curva n ao convexa

    Na secao anterior, vimos que a nocao de convexidade esta

    fortemente ligada com a curvatura de . De fato, para curvasfechadas e simples, obtemos o seguinte resultado:

    Teorema 2.1 Uma curva regular, fechada e simples : [a, b]IR2 e convexa, se e somente se sua curvatura nao muda de sinal.

    Prova. Como e uma curva de Jordan, pelo Teorema de Jor-dan, seu traco delimita uma regiao limitada e conexa IR2.Orientamos de modo que em algum s0[a, b] o vetor normalno ponto(s0) aponta para a regiao . Pela continuidade do ve-tor normalNde, temos que, para todos

    [a, b],N(s) aponta

    para . Observe que em s0,k(s0)0, uma vez que o traco deesta contido no semi-plano determinado pela reta tangente a ems0. Comok nao muda de sinal,k(s)0, para todo s[a, b].Vamos provar que e convexa. Fixe s1[a, b] e vamos mostrarque a funcao

    hs1(s) =(s) (s1), N(s1),nao muda de sinal em [a, b]. Suponha, por contradicao que issonao ocorre. Como hs1 e contnua, ela assume um mnimo nega-tivo e um maximo positivo em pontos s

    2 e s

    3, distintos de s

    1.

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    Curvas Convexas 75

    Como hs1(s) =(s), N(s1), as retas tangentes a curva ems1, s2 e s3 sao paralelas. Por hipotese, e uma curva simples.Logo, pelo Teorema 1.6, seu ndice de rotacao e R =1 ecom a orientacao que escolhemos, R = 1. Seja : [a, b] IRuma funcao angular para indicatriz tangente de em relacaoa (0, 0), com (a) = 0. Observe que, pela equacao (1.22), aderivada de e dada por (t) = k(t)(t) 0. Logo enao-decrescente. ComoR= 1 e e nao-decrescente, a imagemde e o intervalo [0, 2]. Como temos pelo menos tres pon-tos do traco de com retas tangentes paralelas, em pelo menosdois desses pontos, a funcao possui o mesmo valor. Como

    e nao-decrescente, ela deve ser constante em algum intervaloda forma [si, sj], i, j {1, 2, 3}. Isto significa que o traco de contem um segmento de reta ligando (si) a (sj). Portantohs1(si) = hs1(sj), o que contradiz a escolha dos pontos s2 e s3.Logohs1 nao muda de sinal. Como s1 e arbitrario em [a, b], econvexa.

    Reciprocamente, vamos provar que, com essa orientacao es-colhida anteriormente, k(s) 0. Suponha que para algums1 [a, b], k(s1) < 0. Escolhemos um sistema de coordenadasde IR2 de modo que

    (s1) = (s1, 0),(s1) = (1, 0).

    Nesse caso, podemos reparametrizar uma vizinhanca do ponto(s1) de modo que o traco de seja dado pelo grafico de umafuncao f : (s1 , s1+)IR. Observe que, como k(s1) < 0,pela equacao (1.14), para ssuficientemente proximo de s1,

    (s)

    (s1), N(s1)

    =

    k(s1)

    2 (s

    s1)

    2 +R(s)< 0,

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    76 Curvas Convexas

    onde limss1

    R(s)(s s1)

    2= 0. Isso implica que, para suficientemente

    pequeno, f(s) > 0, se 0

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    Curvas Convexas 77

    De modo analogo, o segmento aberto de extremos P e Q e dado

    por]P Q[={tQ+ (1 t)P, 0< t 0, tal que B(P) A. Nesse caso, P e ditoponto interior de A.

    2. Existe >0, tal que B(P) A=. Nesse caso, P e ditoponto exterior de A.

    3. Para todo >0, B(P) A=e B(P) (IR2 A)=.Nesse caso, P e dito ponto de fronteira de A.

    O conjunto de pontos interiores de A e chamado de interior

    de A e sera denotado

    A ou intA. O conjunto de pontos defronteira e chamado fronteira ou bordo deA e sera denotado por

    A. O fecho de A e dado por

    AA e sera denotado por A.

    A primeira propriedade que iremos provar e uma caracterizacaodos conjuntos convexos de IR2 com interior vazio.

    Proposicao 2.3 Seja um conjunto convexo deIR2 com inter-ior vazio. Entao esta contido em uma reta.

    Prova. Se possui no maximo um ponto, nada ha que se pro-var. Suponha que existam dois pontos distintos P e Q em .Como e convexo, [P Q]. Vamos provar que esta contidona retar determinada por P eQ. Suponha por contradicao queexiste um pontoT

    comT

    r. Sendo convexo, ele contem

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    78 Curvas Convexas

    todos os segmentos de reta da forma [T X], comX[P Q]. Por-tanto contem a regiao limitada pelo trianguloP QT. Comoessa regiao possui pontos interiores, chegamos a uma contradicaocom o fato que o interior de e vazio.

    Uma nocao util para o estudo de conjuntos convexos e a retasuporte.

    Definicao 2.2 Sejam A IR2 e P A. Diremos que umareta r passando por P e uma reta suporte para A em P, seA estiver totalmente contido em um dos semi-planos fechadosdeterminados porr.

    r1, r2, r3 e r4 sao retas suporte para; r5 nao e reta suporte para.

    Observe que, seP A, entao nao existem retas suporte paraApassando por P. Mesmo para pontos da fronteira de A, podenao existir reta suporte passando por esses pontos.

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    Curvas Convexas 79

    No entanto, conjuntos convexos possuem reta suporte pas-

    sando por todo ponto de sua fronteira, como mostra o seguinteresultado:

    Proposicao 2.4 Se e convexo e P , entao existe umareta suporte para passando porP.

    Prova. Se o interior de e vazio, o resultado segue da Proposi-

    cao 2.3. Suponhamos que

    = e seja Q

    . SejaQP a

    semi-reta com origem em Q e passando por P. Considere l0 a

    semi-reta com origem em P e que esta contida emQP. Vamos

    provar inicialmente que l0 intersecta apenas no ponto P. Por

    contradicao, suponha que existeP =P, comP l0. ComoQ esta no interior de , existe uma bola aberta B(Q) intei-ramente contida em e, portanto, existe um segmento de reta

    ]MN[, centrado emQ, de comprimento 2, perpendicular aQP

    e que esta inteiramente contido em . Sendo convexo, paratodo X]MN[, o segmento [XP] esta contido em . Portanto contem a regiao limitada pelo trianguloMN P e P e umponto do interior dessa regiao, contradizendo o fato de P .

    Seja u0 o vetor diretor unitario para a semi-reta l0, isto e l0 ={P +tu0, t 0}. Considere agora l, [0, 2], a semi-retacom origem em P e com vetor diretor u, onde = (u0, u).Sejam

    1

    = sup{

    |

    l=

    {P

    }}

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    80 Curvas Convexas

    e

    2= sup{| l2 ={P}}.

    Observe que 1+2 . De fato, se 1+2 < , temos que assemi-retas l1+ e l2, com 0< , temos que qualquer retarpassando porPe contida na regiao limitada por l1+ e l2, que nao contem e reta suporte para passando por P.

    O proximo resultado sera util na prova da relacao entre aconvexidade de uma curva de Jordan e a convexidade da regiaoque ela delimita.

    Lema 2.1 Seja : [a, b] IR2 uma curva de Jordan, regulare de classeC1 e seja o fecho da regiao delimitada pelo tracode. Se e um conjunto convexo, entao, para todo t [a, b],a reta tangente a curva em t e a unica reta suporte para passando por(t).

    Prova. Como =traco de , a existencia da reta suporte emcada ponto (t) e garantida pela Proposicao 2.4. Vamos pro-var a unicidade de tal reta. Fixe t0 [a, b]. Sem perda de ge-neralidade, podemos supor que esta parametrizada pelo com-primento de arco e vamos orienta-la de modo que N(t

    0) aponte

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    82 Curvas Convexas

    para regiao . Vamos escolher o sistema de coordenadas de IR2

    de modo que

    P=(t0) = (t0, 0) e (t0) = (1, 0).

    Com essa escolha,N(t0) = (0, 1) e a reta tangente a curva emt0 e o eixo 0x. Usando a Proposicao 1.2, existe > 0 tal que aparte do traco de que esta contida na bola B(P) de centroP e raio e o grafico de uma funcao diferenciavel f : I IR,onde I e um intervalo contendo t0. Da escolha do sistema decoordenadas, temos que

    f(t0) = 0 e f(t0) = 0.

    Diminuindo-se, se necessario, podemos afirmar que

    int B(P) ={(x, y)IR2|(x t0)2 +y2 < 2 ey > f(x)}.Vamos provar que toda reta que passa por P, diferente do eixo0x, passa por pontos do interior de e, portanto, nao pode serreta suporte para . Sejar uma tal reta. A equacao de r e daforma

    y=m(x t0), mIR, m= 0.Observe que,

    limxt0

    m(x t0) f(x)x t0 =m limxt0

    f(x)

    x t0

    =m limxt0

    f(x) f(t0)x t0 =m f

    (t0) =m.

    Suponha que m >0. Pela definicao de limite, dado >0, com0 < < m, existe > 0, tal que para todo x, com 0 < x < ,tem-se que (x, f(x))B(P), (x, m(x t0))B(P) e

    m

    0,

    ou seja, m(x t0)> f(x).

    Portanto (x, m(x t0)) int B(P) para todo x, com 0 0

    suficientemente pequeno;

    h1, h1 eh1 sao suficientemente proximas de zero, para quea curvatura do grafico da funcao H, dada por H(x) =

    h(x) +h1(x) seja maior que 1

    2.

    Seja : [0, c]IR2 uma parametrizacao, pelo comprimento dearco, do grafico de H = h+ h1, com (0) = (1, 0) e (c) =(

    1, 0). A curva satisfaz:

    1. Existe > 0, tal que ([0, ] [c , c]) esta contido emS1+;

    2. O traco de nao esta contido em S1+;

    3. A indicatriz tangente T da curva descreve um semi-crculo;

    4. k(s)>1

    2, onde k e a curvatura de .

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    102 Curvas Convexas

    Considere a curva : [0, 2c]IR2, dada por

    (s) =

    (s), se 0sc,(s c) + 2N(s c), secs2c,

    onde N(s) e o vetor normal unitario de .

    A condicao (1) garante que esta bem definida e (0) =(2c). Logo e uma curva fechada e de classeC. Vamosprovar que e regular. A forma como esta definida e pelofato de ser regular, resta-nos provar a regularidade de nointervalo [c, 2c]. Temos que s

    [c, 2c],

    (s) =(s c) 2N(s c).

    Usando as Equacoes de Frenet obtemos

    (s) = (1 2k(s c))T(s c).

    A propriedade (4) da curva implica que(s)= 0. Um calculodireto nos mostra que a curvatura k de e dado por

    k(s) =

    k(s), se s[0, c],k(t c)2k(t c) 1 , se s[c, 2c].

    A condicao (4) implica quek >1

    2. A propriedade (3) nos diz que

    o ndice de rotacao dee igual a um e, portanto, e estritamenteconvexa. E imediato vermos que a largura de e constante eigual a dois.

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    103/118

    Curvas Convexas 103

    Vamos provar, em seguida, que o comprimento de uma curvade largura constante L0 depende apenas de L0. Esse resultadofoi demonstrado originalmente por E. Barbier no seculo XIX,usando metodos probabilsticos.

    Teorema 2.7 (Teorema de Barbier) O comprimento de qual-quer curva convexa, regular, fechada, simples e de largura cons-

    tanteL0 e igual aL0.Prova. Seja : [0, L] IR2 uma curva parametrizada pelocomprimento de arco, com as hipoteses do teorema e positiva-mente orientada. Pelo Teorema 2.3, como e fechada, simplese convexa, o ndice de rotacao de e igual a um. Considere aextensao periodica de , definida em IR por

    (s+nL) =(s), s[0, L], nIN.Sejauma determinacao diferenciavel do angulo que a indicatriztangente de,T(s), faz com (1, 0). Visto que o ndice de rotacao

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    104/118

    104 Curvas Convexas

    de e igual a um, temos

    (s+L) (s) = 2,sIR.Pela equacao (1.22), temos que

    (s) =k(s),sIR.Vimos que a curva e estritamente convexa. Portanto k(s)> 0ee estritamente crescente. Logo possui inversa diferenciavel.

    Agora, para cada s IR, considere a aplicacao que a cadasIR associa (s), dada por

    (s) =(s) + L0N(s),onde N e o campo normal e unitario ao longo de. Temos,portanto, que e diferenciavel, periodica e, para todo s IR,(s) e(s) sao pontos antpodas. Antes de continuarmos a de-monstracao do teorema, necessitaremos de seguinte resultado:

    Lema 2.2 Com a notacao acima, e uma reparametrizacaopositiva de, isto e, existe uma funcao diferenciavelh : IRIR,tal que

    (s) =

    h(s),sIR.

    A funcao h e tal queh(s+L) = h(s) + L, para todo s IR, esua derivada e estritamente positiva em todos os pontos.Prova do lema. Sejaha funcao, dada porh(s) =1((s)+).Temos que h e diferenciavel, e sua derivada e positiva. Alemdisso,

    h(s) =(s) +.Observe que h(s) = 1((s) + ) =(s) + . Portanto,se T e a indicatriz tangente de, temos que

    T(h(s)) = (cos( h(s)), sen( h(s))= (cos((s) +), sen((s) +)

    = ( cos((s)), sen((s)) =T(s).

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    105/118

    Curvas Convexas 105

    Entao T h(s) =T(s) e, portanto,(s) e(h(s)) sao pontosantpodas. Assim(s) =(h(s)).

    Vamos concluir a prova do Teorema 2.7. Pelo lema anterior,

    (s) + L0N(s) =(h(s)).Derivando essa expressao, obtemos

    T(s) + L0N(s) =T(h(s))h(s).

    Pela equacao (1.8),

    T(s) L0k(s)T(s) =T(h(s))h(s).

    Visto que T(h(s)) =T(s), temos

    (1 k(s)L0+h(s))T(s) = 0,

    o que acarreta

    h(s) =k(s)L0 1.Usando as propriedades da funcao h e o fato de que o ndice

    de rotacao de e igual a 1, temos que

    L= h(L) h(0) = L0

    h(s)ds =

    L0

    (k(s)L0 1)ds

    = L0

    L0

    k(s)ds

    L= 2L0 L.

    Portanto

    L= L0.

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    106 Curvas Convexas

    2.4 Comprimento e Area de Curvas

    Convexas

    Nesta secao, vamos determinar expressoes para medir o com-primento de uma curva estritamente convexa, bem como para aarea da regiao limitada por essa curva. Esses resultados seraoconsequencia de escrevermos a curva usando coordenadas po-lares tangenciais. SejaCo traco de uma curva regular, fechada,convexa e positivamente orientada em IR2. Seja O um ponto naregiao limitada porC, e escolha o sistema de coordenadas de IR2

    de modo que a origem seja o ponto O. SejaP = (x, y) um ponto

    sobre C, e seja rPa reta tangente a curva C em P. Considere(P) o angulo que a reta nP, perpendicular a rPe passando porO, faz com o semi-eixo positivo do eixo Ox. Defina () comoa projecao orientada P sobre nP. Se N(P) e o campo normal eunitario a curva C, a projecao e dada por

    () =P, N(P).

    A funcao e tambem conhecida por funcao suporte de C.

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    107/118

    Curvas Convexas 107

    Vamos descrever a curva C, usando como parametro. Para

    obtermos (x, y) como funcao de , observemos que qualquerponto sobre a reta rp possui a mesma projecao sobre np. LogoP = (x, y) satisfaz

    () =x cos +y sen .

    Derivando essa equacao em relacao a e usando que rp enp saoperpendiculares, obtemos

    () =x sen +x cos +y cos +y sen

    =x sen +y cos .Portanto

    x() = ()cos ()sen y() = ()sen +()cos .

    (2.6)

    Das expressoes acima, segue-se que, dados e , podemosdeterminar (x, y) C, e, reciprocamente, as equacoes em (2.6)tambem determinam, de modo unico, e em funcao de (x, y).

    Definicao 2.5 O par (, ()) e chamado de coordenadas po-lares tangenciais deC.

    Vamos agora obter as expressoes para o comprimento de arco epara curvatura deCem funcao de . Inicialmente, derivando asequacoes (2.6),

    x() = [() +()] sen ,y() = [() +()] cos .

    Seja s a funcao comprimento de arco deCa partir de um pontoP0 C. Entao s e uma funcao monotona crescente de , 0

    2, e, por conseguinte, invertvel. Seja (s) a expressao de

  • 7/24/2019 curso convexa

    108/118

    108 Curvas Convexas

    como funcao de s. Seja uma determinacao diferenciavel do

    angulo que (x

    (s), y

    (s)) faz com o vetor (1, 0). Entao

    (s) =(s) +

    2.

    Assimd

    ds(s) =(s) =k(s),

    onde k e a curvatura de C. Logo

    1

    k(s())=

    ds

    d =() +()> 0. (2.7)

    Portanto, em termos da funcao suporte, a curvatura de C e

    k() = 1

    () +().

    Se L denota o comprimento de C,

    L=

    L0

    ds=

    20

    ds

    d d

    = 20

    [() +()]d = 20

    ()d.

    Assim provamos o seguinte resultado:

    Teorema 2.8 (Formula de Cauchy) O comprimento L de umacurva fechada, regular, simples e estritamente convexaC e dadopor

    L=

    20

    ()d,

    onde e a funcao suporte deC.

  • 7/24/2019 curso convexa

    109/118

    Curvas Convexas 109

    SejaAa area da regiao limitada pela curva C. Para estimaro valor deA, vamos considerar triangulos com um vertice naorigem e o lado oposto a esse vertice, sobre a reta tangente a Cem P, tendo comprimento ds, conforme a figura a seguir.

    Observe que a altura relativa ao vertice (0, 0) e(). Portanto aarea de cada um desses triangulos e

    1

    2()ds.

    Usando as ideias do Calculo Diferencial, passando ao limite quan-do dstende a zero, obtemos

    A= 12

    C

    ((s))ds.

    Utilizando a equacao (2.7), obtemos

    A= 12

    20

    ()[() +()]d. (2.8)

    Porem, integrando por partes, temos que

    2

    0

    ()()d = ()()2

    0

    2

    0

    (())2 d

  • 7/24/2019 curso convexa

    110/118

    110 Curvas Convexas

    =

    2

    0

    (())2 d.

    Substituindo essa expressao em (2.8), obtemos

    A= 12

    20

    [2() (())2]d.

    Provamos, entao, o seguinte resultado:

    Teorema 2.9 (Formula de Blaschke) A areaA da regiao li-mitada por uma curva fechada, regular, simples e estritamenteconvexaC e dada por

    A= 12

    20

    [2() (())2]d,

    onde e a funcao suporte deC.

    O proximo resultado ira nos dar estimativas do comprimentoL e da areaA em funcao dos valores maximo e mnimo da cur-vatura de C.

    Teorema 2.10 Seja C uma curva fechada, regular e estrita-mente convexa. Sejam L o comprimento de C eA a area da

    regiao limitada porC. Entao

    2

    k1L 2

    k2

    e

    k21 A

    k22,

    onde k1 e o valor maximo ek2 e o valor