cultura portuguesa contemporânea - latino coelho
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Considerado por muitos o homem dos “sete oficios”, José Maria Latino Coelho foi um marco na história de Portugal. Da engenharia à política, passando pela literatura, este senhor da escrita é proprietário de uma vasta gama de obras literárias de grande nível. De artigos periódicos à tradução de literatura estrangeira para o português, Latino Coelho traduz-se um homem austero e nobre, e durante toda a sua carreira foi condecorado com estimáveis prémios.TRANSCRIPT
Comunicação Cultura e Organizações – 3º Ano – 2º Semestre
Ano letivo 2013/2014
Cultura Portuguesa Contemporânea
Latino Coelho, José Maria
“Vida, obras e análise de artigos periódicos – Século XIX”
Docente: João Adriano Ribeiro
Discente: Vitor Diogo Gomes Moura - 2097909
Funchal, 9 de Junho de 2014
Introdução;
Considerado por muitos o homem dos “sete oficios”, José Maria Latino Coelho
foi um marco na história de Portugal. Da engenharia à política, passando pela literatura,
este senhor da escrita é proprietário de uma vasta gama de obras literárias de grande
nível. De artigos periódicos à tradução de literatura estrangeira para o português, Latino
Coelho traduz-se um homem austero e nobre, e durante toda a sua carreira foi
condecorado com estimáveis prémios.
Ao longo de este trabalho, analisando alguns artigos periódicos da altura, iremos
abordar a ligação de José Maria Latino Coelho a Portugal e à Ilha da Madeira, deste
modo refletindo sobre a realidade portuguesa em pleno século XIX.
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Biografia;
José Maria Latino Coelho, mais conhecido por Latino Coelho, nasceu a 29 de
Novembro do ano de 1825 na cidade de Lisboa. Latino Coelho desde cedo que
demonstrou a sua aptidão para os estudos e foi-se revelando um aluno aplicado e de
nível excecional. Ao longo de toda a sua carreira escolar demonstrou-se um derradeiro
exemplo de estudante aprendendo matérias complexas como ciências exatas, grego e
latim. Já em 1838, Latino Coelho foi admitido no Colégio Militar1, na qual terminou o
seu estudo preparatório como melhor aluno do curso. Assentou praça em 1843, sendo
pouco tempo depois nomeado alferes aluno do mesmo regimento. De Alferes a General,
continuou os seus estudos na escola do exército, obteve três prémios e terminou os seus
estudos em engenharia, com distinção.
Ao longo do tempo inúmeras carreiras fizeram parte da vida de Latino Coelho,
política, engenharia, militar, mas as que mais se evidenciaram foram a de jornalista e a
de escritor. Como jornalista começou a sua carreira na Revolução de Setembro2, através
da qual escrevia uma série de artigos políticos que envolviam a Europa e os ideais
democráticos da altura. Mais tarde, em 1851 fundou A Semana3. Este discriminava um
jornal literário que era publicado semanalmente e contava com a colaboração de grandes
escritores da época. Para além dos seus conhecimentos por línguas estrangeiras, o autor,
escrevia e traduzia em vários idiomas, para revistas e jornais, tanto que era raro o jornal
que não possuísse contributo seu.
Como grande parte das pessoas, Latino Coelho ingressou na ação politica
através da literatura jornalística. Após se tornar conhecido, com os seus artigos da
Revolução de Setembro, começa a sua carreira de político numa lista partidária, deste
modo que o seu percurso chegou à particularidade de deputado por Lisboa. Do Partido
1 Situado em Lisboa, Portugal, é uma escola pública de ensino militar não superior – fundado em 1803;2 Jornal constitucionalista e setembrista, defendendo a Constituição de 1838 – (Surge na primeira metade do séc. XIX) - Contava com José Estêvão, Lopes de Mendonça e Latino Coelho, entre outros jornalistas;3 Jornal literário que se publicava semanalmente, colaborado pelos primeiros escritores da época, em cuja redação Latino Coelho teve parte importante – 1851;
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Regenerador4, ao Partido Republicano Português5, passando pelo Partido Reformista6,
Latino Coelho foi um grande nome da política portuguesa do século XIX, o que levou
ao reconhecimento da sua justiça e sinceridade. Com a sua grande contribuição, nas
vastas áreas do seu conhecimento, José Maria Latino Coelho foi ainda condecorado, e
era comendador da Ordem de Cristo, grã-cruz da Ordem da Torre e Espada e grã-cruz
da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
A 29 de Agosto de 1891, o célebre jornalista, politico e escritor faleceu. O
agradecimento da sociedade era tão vasto que na sua cerimónia fúnebre estiveram
presentes o Rei D. Carlos I7, a Rainha D. Amélia de Orleães e o Infante D. Afonso.
Latino Coelho faleceu mas deixou a sua marca literária, principalmente na área
histórica, romancista e periódica.
Principais Obras publicadas;
Oposição sistemática, Lisboa (1849)
A Ibéria, Lisboa (1852)
Tradução da Viagem à Volta do Mundo da Fragata Austríaca Novara, (1854)
Enciclopédia das escolas de instrução primária, Lisboa (1857)
A Oração da Coroa, (1877)
O sonho de um rei, Coimbra (1879)
História Política e Militar de Portugal, desde Fins do Século XVIII até 1834 (3
volumes publicados entre 1874-1891)
Luís de Camões, (1880)
Vasco da Gama, (1882)
4 Partidos do rotativismo da monarquia constitucional portuguesa, alternando no poder com o Partido Progressista, e que nasce na altura da Regeneração (1851-1868), como partido conservador oposto ao Partido Histórico;5 Partido que propôs e conduziu à substituição da Monarquia Constitucional por uma República Liberal Parlamentar, em Portugal – 1876;6 Partido político português do tempo da Monarquia Constitucional, fundado em 1862 pelo Marquês de Sá da Bandeira;7 Penúltimo Rei de Portugal. Nascido em Lisboa, era filho do rei Luís I de Portugal e da princesa Maria Pia de Saboia, tendo subido ao trono em 1889. Foi cognominado O Diplomata;
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Análise de periódicos do século XIX;
José Maria Latino Coelho, para além das inúmeras obras que concebeu, também
é conhecido pela grande dimensão de artigos publicados em revistas, semanais, jornais e
diários. Durante o século XIX, vários artigos foram publicados em periódicos regionais,
dos quais alguns relatavam informações alusivas à realidade portuguesa da altura, outros
a notícias da publicação das suas obras.
Nos diversos periódicos analisados conseguimos refletir, de certa forma, o
interesse na política de Latino Coelho e exemplo disso é a análise, do autor, em O
Clamor Publico8. Este periódico foi um dos observadores frequentes de inúmeros
artigos de Latino Coelho, e em dezembro de 1855 este famoso semanal transcreve da
Revolução de Setembro um artigo do autor, na qual este reflete e descreve sobre a
situação de Portugal relativamente a suas colónias.
“ Uma nação que tem colonias e estabelecimentos ultramarinos, importantes e
dotados largamente pela Natureza com todos os recursos de prosperidade e
engrandecimento, não deve limitar-se a estabelecer e a fomentar a civilização na sua
metrópole, esquecendo e desamparando os immensos territórios conquistados e
adquiridos a poder de heroicos feitos militares e de perseverantes expedições”9
Do breve excerto anterior, podemos considerar que o autor meditava sobre o
abandono de Portugal às suas colónias. Latino Coelho determinava a importância das
colónias portuguesas para o país, deste modo observando que todos estes domínios de
Portugal eram importantíssimos para o seu desenvolvimento, assim como para uma
vantagem administrativa. O autor realça que não só as colónias são uma mais-valia para
o país como também significam sempre uma origem de riqueza nacional. O patriotismo
do autor está presente ao longo de todo o artigo. Latino Coelho jornalista e com doutrina
política, fomenta a ideia de que para continuar a ter colónias era necessário melhorá-las.
Trata-se de um voto sincero de apelo ao melhoramento e introdução da cultura
8 Ed. e Red. Severiano Gomes de Gouveia. – 1º Volume, nº 1 a 22 de Maio de 1854 – Funchal (Publicado às segundas-feiras);9 Artigo de Lisboa, 3 de Novembro de 1855 em Revolução de Setembro – Sai na edição de Segunda-feira 31 de Dezembro de 1855 – em O Glamour Publico;
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portuguesa em Moçambique e litoral Africano. O artigo termina com um pedido de
instrução, administração ao país daquela riquíssima colónia.
Com o passar dos anos, os artigos de José Maria Latino Coelho cada vez mais
retratavam a sua influência e o seu interesse na política do país. A sua predominância
nos assuntos relativos ao estado eram óbvios e ao longo da sua carreira de escritor
aproveitou também para idolatrar as grandes figuras do passado português e exemplo
disso é a obra, dividida em volumes, Galeria de varões ilustres10.
Luís de Camões11 foi o primeiro número e Vasco da Gama12 foi o segundo
número, da obra. Estas são obras de grande importância em que Latino Coelho retrata
duas grandes personalidades do passado (Luís de Camões e Vasco da Gama) com
intuito de imortalizar a glória da nação e de tornar ainda mais ilustre e celebrado o nome
de Portugal. A notícia da publicação deste livro encontra-se no Diário de Notícias13 em
Setembro de 1882, na qual o artigo ainda refere que a obra foi lançada para comemorar
o centenário de Camões.
“Camões é o génio português, Vasco da Gama o brio nacional. Um é o espírito,
outro a força; um o pensamento, o outro a ação; o estro e a audácia. Um liga a
literatura de Portugal à do restante mudo civilizado, o outro prende e enlaça
intimamente os fados gloriosos da nação aos futuros destinos da humanidade”14
10 Latino, Coelho – Edição David Corazzi -1880;11 Obra editada a 1880;12 Obra editada a 1882;13 Fundado a 12 de Outubro de 1876 pelo cónego Alfredo César de Oliveira;14 Diário de Notícias – Funchal, 06 de Setembro de 1882;
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A Madeira e o Snr. Latino Coelho;
A Madeira e o Snr. Latino Coelho15 é o título de um artigo encontrado no
periódico literário Revista Semanal. Como referido ao longo deste trabalho o autor para
além de jornalista, escritor, político tinha também grandes conhecimentos em diversas
línguas. Este artigo traduzido do alemão, por Latino Coelho, tem por matéria principal a
Viagem da fragata austríaca Novara à roda do globo nos anos de 1858 e 185916. Esta
obra austríaca reconhece a Madeira como ponto fulcral na sua viagem e como prova
disso inclui o seu maior capitulo à sua passagem pela ilha. Cataloga as observações
feitas, os resultados obtidos durante a expedição daquele navio ainda retrata as
observâncias dos fenómenos da natureza.
Comodoro Wuellerstorf-Urbain17, viajante e autor da obra descreve a Ilha da
Madeira como um local emergido do meio das águas do Oceano Atlântico, onde a
natureza se toca e se enfeita de uma eterna primavera e realiza quase literalmente as
suspiradas formosuras do Eden18 tradicional. Como traduz Latino Coelho, a primeira
impressão, que a ilha causa ao viajante é a perspetiva dos seus jardins e suas flores. A
Madeira chega a ser comprada entre uma ilha da Itália meridional e uma paisagem do
equador. Ao longo do artigo incansáveis elogios são concebidos. Uma vasta lista de
plantas é confecionada espelhando ao leitor a sensação de uma ilha rica em vegetação.
Mas após a pequena tradução, Latino Coelho continua a sua tradução determinando que
nem tudo se vê com bons olhos. “Vandalismo” acaba por ser a designação indignada do
extermínio de algumas plantas, como foi o caso do cedro e o dragoeiro, sendo este das
maiores riquezas da ilha. Aponta o dedo aos economistas e legisladores modernos
identificando problemas na constituição da propriedade da ilha. O gado encontrado nas
lavouras agrícolas também é culpado por tal vandalismo e apenas as levadas são
identificadas como satisfatória apreciação. A famosa cultura das vinhas não é esquecida
15 Revista Semanal – Vol.1 /Nº19 – Funchal, 10 de Outubro de 1861;16 A fragata Novara (1857-1859) foi a primeira missão científica de grande escala ao redor do mundo. Foi autorizado pelo arquiduque Maximiliano e a viagem durou 2 anos 3 meses, de 30 de abril 1857 até 30 de agosto de 1859;17 Austríaco – viajante, escritor e encarregado de descrever toda a viagem da Fragata Novara em redor do mundo – autor do texto transcrito por Latino Coelho;18 É o local onde ocorreram os eventos narrados no Livro do Génesis onde é narrada a forma como Deus cria Adão e Eva, planta um jardim e indica ao homem que havia criado, para o cultivar e guardar;
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e é reconhecida, pelo viajante, como antiga e principal fonte de riqueza agraria da ilha.
Latino Coelho reproduz ainda as palavras do Sr. Wuellestorf, em que este descreve a
introdução da planta cochonilha19 naqueles anos como meio de compensar os desfalques
na doença da vinha. As condições climatéricas também é tema abordado, e este
carateriza a ilha como um refúgio mais agradável da estação invernal da Europa.
Viagem da fragata austríaca Novara à roda do globo nos anos de 1858 e 1859,
acaba também por ser um livro não só dinâmico de letras como também o é de gravuras.
É ilustrado por grande número de desenhos que representam as paisagens e vistas da
ilha, assim como de edifícios e alguns costumes. A pormenorização das gravuras é
intensa que nem os tradicionais vilões20 da Madeira escaparam.
O artigo termina com um agradecimento pessoal, assim como o desejo de
repetição do acontecimento, por parte de A. Cezar de Freitas21 ao Sr. Latino Coelho pela
tradução de tal obra e pela sua promoção da “Princesa do Oceano” na Europa.
19 Opuntia cochenillifera é o nome científico da cactácea forrageira e comestível, de origem mexicana, largamente difundida no Nordeste brasileiro - recebendo o nome genérico de palma. Seu uso varia desde a alimentação ao gado e humana, paisagístico e cerca-viva, como para a produção de corante natural, extraído de inseto parasita;20 Na ilha da Madeira, o termo continua sendo usado para descrever as pessoas não pertencentes às classes sociais mais altas e que habitam as zonas mais rurais;21 Autor do artigo referente à tradução de Latino Coelho da obra austríaca - Viagem da fragata austríaca Novara à roda do globo nos anos de 1858 e 1859 – jornalista da Revista Semanal;
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Conclusão;
Ao longo da vasta carreira de José Maria Latino Coelho inúmeras são as vezes
que refletimos sobre as suas características mais sinceras. A sua envolvência na
literatura e política foi uma mais-valia para a repercussão e difusão de Portugal e ilhas,
deste modo valorizando o país em que nascera e seus heróis. Como podemos rever
Latino Coelho contribuiu para inúmeros periódicos da região, gerando um especial afeto
por parte dos escritores e jornalistas madeirenses.
Denominada por “Princesa do Oceano”, a ilha da Madeira por várias vezes
passou na boca do mundo, e exemplo disso foi a esplêndida tradução da obra austríaca.
Latino Coelho contribuiu para a promoção da região por todo o lado, valorizando mais
uma vez o destino Portugal.
Homem patriótico e de densas raízes portuguesas, sempre ajudou Portugal nos
maus momentos, assim como do mesmo modo elevou e glorificou seu nome em toda a
sua carreira.
Foi um homem de Portugal e um ascensor da Madeira.
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