cultura negra no carnaval

32
Diálogos (Maringá. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. DOI 10.4025/dialogos.v16supl.709 A memória dos carnavais afro-paulistanos na cidade de São Paulo nas décadas de 20 e 30 do século XX * Zélia Lopes da Silva ** Resumo. Este artigo discute a memória dos carnavais brincados pelos negros na cidade de São Paulo das décadas de 20 e 30 do século XX. O caminho percorrido por essas reflexões volta-se à busca da trajetória do grupo e os espaços usados para expressar as suas performances durante as festividades dedicadas a Momo, espalhadas pela cidade de São Paulo que ainda tinham o perfil dos segmentos endinheirados que controlavam os seus circuitos. Considerando essa assertiva, a reflexão nesse texto volta-se para perscrutar quais foram os espaços forjados pelo grupo e quais estratégias foram usadas por essa comunidade para agregar-se aos festejos (oficiais ou não) ocorridos na cidade. E, igualmente, demarcar o formato e o sentido das brincadeiras encenadas por esses pândegos na conjuntura. Palavras-chave: Memória dos carnavais afro-paulistanos; Carnavais dos negros; Festejos de Momo. Memoirs of Afro-Brazilian carnivals in São Paulo during the 1920s and 1930s Abstract. Current analysis deals with memoirs of Carnivals celebrated by Negroes in the city of São Paulo during the 1920s and 1930s. The narrative tries to investigate the trajectory of the Afro-Brazilian group and the spaces used to express its performances during the festivities dedicated to Momo throughout the city of São Paulo, which was still characterized by wealthy people that controlled its several sections. Several discussions are endeavored to perceive the spaces fabricated by the group and its strategy to get together and celebrate Carnival (officially or non-officially). The form and meanings of playful art represented by such festivities are also highlighted. Keywords: Memoirs of Afro-Brazilian Carnivals in São Paulo; Negro carnivals; Momo festivities. * Artigo recebido em 22/10/2012. Aprovado em 14/11/2012. ** Livre Docente em História do Brasil. Professora do Departamento e do Programa de Pós- Graduação em História da UNESP. Assis/SP, Brasil. E-mail: [email protected]

Upload: bruno-jeuken

Post on 16-Aug-2015

223 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Cultura Negra No Carnaval

TRANSCRIPT

Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012.DOI 10.4025/dialogos.v16supl.709 A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX* Zlia Lopes da Silva**

Resumo.Esteartigodiscuteamemriadoscarnavaisbrincadospelosnegros nacidadedeSoPaulodasdcadasde20e30dosculoXX.Ocaminho percorridoporessasreflexesvolta-sebuscadatrajetriadogrupoeos espaosusadosparaexpressarassuasperformancesduranteasfestividades dedicadasaMomo,espalhadaspelacidadedeSoPauloqueaindatinhamo perfildossegmentosendinheiradosquecontrolavamosseuscircuitos. Considerandoessaassertiva,areflexonessetextovolta-separaperscrutar quaisforamosespaosforjadospelogrupoequaisestratgiasforamusadas por essa comunidade para agregar-se aos festejos (oficiais ou no) ocorridos na cidade.E,igualmente,demarcaroformatoeosentidodasbrincadeiras encenadas por esses pndegos na conjuntura.Palavras-chave:Memriadoscarnavaisafro-paulistanos;Carnavaisdos negros; Festejos de Momo. Memoirs of Afro-Brazilian carnivals in So Paulo during the 1920s and 1930s Abstract.CurrentanalysisdealswithmemoirsofCarnivalscelebratedby NegroesinthecityofSoPauloduringthe1920sand1930s.Thenarrative triestoinvestigatethetrajectoryoftheAfro-Braziliangroupandthespaces usedtoexpressitsperformancesduringthefestivitiesdedicatedtoMomo throughoutthecityofSoPaulo,whichwasstillcharacterizedbywealthy peoplethatcontrolleditsseveralsections.Severaldiscussionsareendeavored toperceivethespacesfabricatedbythegroupanditsstrategytogettogether andcelebrateCarnival(officiallyornon-officially).Theformandmeaningsof playful art represented by such festivities are also highlighted.Keywords: Memoirs of Afro-Brazilian Carnivals in So Paulo; Negro carnivals; Momo festivities.

*Artigo recebido em 22/10/2012. Aprovado em 14/11/2012. **Livre Docente em Histria do Brasil. Professora do Departamento e do Programa de Ps-Graduao em Histria da UNESP. Assis/SP, Brasil. E-mail: [email protected] Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 38 La memoria de los carnavales afro-brasileos de la ciudad de San Pablo durante las dcadas de 1920 y 1930 Resumen.Esteartculodiscutelamemoriadeloscarnavalesprotagonizados por los negros de la ciudad de San Pablo durante las dcadas de 1920 y 1930. El caminorecorridoporestasreflexionesseorientaabuscarlatrayectoriadel grupoylosespaciosusadosparamanifestarsusexpresionesdurantelas festividadesdedicadasaMomo,realizadasendiversospuntosdelaciudadde SanPablo,bajolainfluenciadelperfildelossegmentosadineradosque controlabansuscircuitos.Enestesentido,lareflexindeltextoseorientaa indagarsobrelosespaciosforjadospordichogrupoysobrelasestrategias empleadasporelmismo,paraagregarsealosfestejos(oficialesono) desarrollados en la ciudad. Tambin se busca demarcar el formato y el sentido de los juegos escenificados por las comparsas en esta coyuntura. PalabrasClave:Memoriadeloscarnavalesafro-brasileos;carnavalesde negros; festejos de Momo. Introduo Nestetexto,serodiscutidasasmanifestaescarnavalescasda comunidade afro-paulistana, nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX, na cidade de SoPaulo,evidenciandosuasprimeirasorganizaesrecreativasqueforam responsveispelaestruturaodessegrupoepororganizaressesfestejos.As lideranasnegras,cientesdasdificuldadesparasuainseronomundodos brancos,decorrentesdepreconceitos,criaramestratgiasparaenfrentaros muitosdesafios,valendo-sedoreforodeseustraosculturais.Criaram,em consequncia,vriasinstituiesquepassaramaagreg-los,taiscomo:os clubes,osterreiros,oscordes,ranchoseblocoscarnavalescosepublicaes peridicasquebuscaramvalorizarogrupoaodivulgaremosseuseventose feitos.Almejavampromover,igualmente,odilogocomasociedademais ampla. Emboraosespaosdeagregaodacomunidadeafrodescendente sejammltiplos,nestetextopretende-seenfocarosfolguedoscarnavalescos A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 39 queseconstituramemelementosparaaorganizaodessacomunidadena cidade de So Paulo, na passagem dos anos 20 aos 30 do sculo XX, a partir de seus cordes, ranchos e blocos, tal o interesse do grupo por essas festividades. Caberessaltar,entretanto,queessasmanifestaesforamlidaspela historiografia especializada da rea de Cincias Sociais no mbito da dicotomia carnavaldeelite/carnavalpopular,interpretaoqueseconsagrouequese confundecomamemriadoscarnavaisdopassado.Essaleituraapoiou-seno fatodeospalcosdasfestanascarnavalescasnoseremosmesmosparaos diferentessujeitos,oqueserviuparaasuafixaoqueseamparouna continuidadedashierarquiassociaisexistentesnasociedade,duranteessas celebraes(QUEIROZ,1995;SIMSON,1989),situaoaparentemente inquestionvel.Porm,nessasanlises,foramnegligenciadasasnuancespara apreender os sentidos e a diversidade das brincadeiras carnavalescas, durante os DiasGordose,tambm,osdesdobramentoscausadospelainserodos segmentospopulares,nadcadade30,noscircuitosdocarnavalelegantede rua.Esseprocesso,contudo,nofoilinearemuitomenosisentodetenses. Assim,seupercursoseracompanhadotomando-secomopontodepartidaa forma como a imprensa diria cobriu as manifestaes desses pndegos, e o seu contraponto,expressonosregistrosdosperidicosoriginriosdoprprio grupo. 1. Os afro-paulistanos modelam seus espaos culturais e miditicos Hconsenso,entreosestudiososdoassunto,dequeocarnaval praticadopelacomunidadenegrafoi,emregra,ignoradopelosrgosde imprensadiriadacidadedeSoPaulo,nasdcadasde10e20dosculo passado.Asnotcias,antesescassas,comearamaaparecer,comcerta regularidade,aps1930.Contudo,aindaeramextremamenteseletivase desproporcionaisemrelaocoberturadocarnavaldaelite.Questoj Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 40 abordadaporOlgaVonSimsonqueobservouadesproporonotratamento dadoaosfolguedosnegrosemrelaoaoscarnavaisdeoutrossegmentos endinheirados. A imprensa noticiava com destaque o carnaval da burguesia: o corso da Av. Paulista e os bailes em clubes e teatros [...]. Quanto aos folguedos negros no havia referncia a eles, a no ser simples meno na seo policial, quando alguma briga ou conflito com a polcia era registrada (SIMSON, 1989, p.180). Essaausnciadenotciassobreaparticipaodosnegrosnesses folguedos, contudo, no significou que no tivessem ocorrido ou, mesmo, sido registrados.Osseusperidicos,Clarim/SP(1923/1924),OClarimdAlvorada (1924/1932),Kosmos/SP(1923-1924),Progresso(1928-1932),Chibata(1932), Evoluo(1933),AVozdaRaa(1933-1937)noticiaramsucintamenteosseus desfiles nos carnavais de rua e, tambm, em seus clubes, ao longo das dcadas de 20 e 30 do sculo XX. Antesdetratardequeformatalpresenafoiregistradaporesses peridicos, convm esclarecer as condies de surgimento dessa imprensa no cenriopaulistano.RogerBastide(1973)eMirianFerrara(1986)atribuema suaemergnciasdificuldadesenfrentadaspelosnegros,emSoPaulo,na sua convivncia com os brancos, no perodo posterior abolio, obrigando-os a construir alternativas prprias para a manuteno de suas vidas em todas asdimenses.AlgunshomensemulherescomoDionsioBarboza,Lino Guedes,CelsoVanderley,SebastianaBarreto,entreoutros,destacaram-se nesseprocesso,aoromperasbarreiraseospreconceitosquedificultavama absorodesuacomunidadenasociedadepaulistana,construindoespaos alternativosdeafirmaodesuaidentidadeporintermdiodacriaode instituiesdiversasedeveculosqueampliaramaaoevozdogrupo, comoasigrejas,osterreiros,osclubeseosjornaisqueforamosseusporta-vozes mais eloquentes.A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 41 Aimprensaassumiupapelestratgiconesseprocesso.Graasaela, tornou-se possvel rastrear as notcias das comemoraes diversas de uma parte dossegmentospopularesquehabitavaacidadedeSoPaulo.Apartirde meadosdadcadade20,porexemplo,acomunidadenegraganhoumaior visibilidadeeexpresso,eissosetraduziunaampliaodeseusveculosde circulaodeideias.De1924a1932,OClarimdAlvoradacobriuoseventos diversosemqueesteveenvolvidapartedacomunidadenegra.Emjunhode 1928,surgiuomensrioProgresso,depropriedadedoSr.ArgentinoC. Wanderley, tesoureiro do Grupo Carnavalesco Campos Elyseos, considerado pela imprensa de So Paulo rgo oficioso do referido bloco. Em abril de 1933, apareceoperidicoAVozdaRaa,comtiragemquevariavaentre1.000e 5.000 exemplares. mantido com auxlio da Frente Negra Brasileira.1

Essesperidicoserampequenasfolhasqueraramenteconseguiam manter-seportempomaisprolongado.E,tambm,tiveramdificuldadepara garantirregularidadedapublicaodeacordocomapropostainicial.Emseus relatosmemorialsticos,osprotagonistasenvolvidosexplicamosmotivosdas dificuldades desses peridicos que geralmente estavam associadas carncia de recursos(parasuapublicao)edeadesodaprpriacomunidade,situaes expressas em seus apelos de ajuda e de queixas da falta de leitores no mbito do prpriogrupo.OClarimdAlvoradaqueixou-sedafaltadeapoioedeinteresse dosmembrosdacomunidadeemrelaoaosseusjornais.Constatou,ainda,a ausnciadepagamentodasassinaturasedeapoiosatividadesprogramadas parasocorreroperidico,comoofestivaldananteorganizadopelocordo

1 Areferidaassociaofoicriadaem16desetembrode1931porArlindoVeigadosSantos, IsaltinoVeigadosSantos,AlfredoEugeniodaSilva,PiresdeAraujoeRoqueAntoniodos Santos com a inteno de organizar os negros em mbito nacional. A FNB era dirigida por um GrandeConselhocompostode20membroseumConselhoAuxiliarformadoporCabos Distritaisdacapital.ComsedeemSoPaulo,eraintegradaporrepresentantesoriginriosda capital, do interior e de outros Estados. Consultar: Ferrara (1986, p.62; 73-74). George Andrews (1998) interpretou que os propsitos da FNB eram a ascenso social do negro e comungava das ideiasautoritriasfascistizantesemvoganoperodo,combatendooliberalismoeassumindo posies xenofbicas, acompanhando os integrantes da Ao Integralista Brasileira. Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 42 carnavalesco CamposElyseos, em 1926, e que, devido s chuvas na cidade, foi umfracassototal,argumentoquedeixouinconformadoosresponsveispelo jornaleco,quenoanoseguintelamentouoocorrido(OCLARIM DALVORADA,17jul.1927).Mesmoassim,essaspublicaestiveram significativopapelagregadorparasuasvanguardaseparademarcarassuas lutas, aspiraes e engajamentos diversos, por se tornarem canais de veiculao dessasaspiraesederegistrosdesuasredesdesociabilidadeeconvivncia social fixando, assim, a memria do prprio grupo e de suas realizaes. Nessesentido,essaspublicaesprocuraramdefinircertoperfil, inclusive com capas que visavam delinear o seu layout e objetivos almejados. O ClarimdAlvorada, por exemplo, era um peridico que tinha vinculao com os cordescarnavalescosepodeservistocomosignodasquestesapontadase, tambm, de uma experincia at certo ponto bem sucedida, considerando que o jornal durou oito anos, em que pesem os percalos enfrentados e as constantes queixas de seus responsveis. I magem1 O Clarim dAlvorada. Fonte: Acervo do Cedap Unesp. A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 43 Nessesimpressos,asperformancesdoscordesefolguedosnegros noscarnavaispaulistanosforamdivulgadasempequenasnotas,suprindo, assim,lacunasobreoassunto.Assuasmatriaspermitiramnosomente acompanharasvriasatividadesgeradasnombitodessacomunidade,mas tambmidentificarasdiferentesassociaesqueorganizaramoscidados negros e, ainda, o papel que desempenharam em seu interior, incluindo entre elasalgunsdoscordeseblocoscarnavalescos.Essasvriasalternativas, propiciadas aos diferentes pblicos da comunidade, sugerem, igualmente, que osseusmembrospartilhavamdasmesmaspreocupaesquebuscavamna distino e nas regras de convvio, to caras ao mundo culto, formas de demonstrar oseuprocessocivilizatrio,bemcomosuasdiferenciaesinternasesuas crenaspolticaseexpressesculturais.Tantofoiassimqueessesperidicos registraramemsuaspginasnotciasquegarantiamaindividuaodeseus membros. Para tal, destacaram os aniversrios, casamentos e mortes e, ainda, os feitos e a notoriedade conquistada por membros da comunidade negra cuja trajetria poderia servir de inspirao aos demais, alm do engrandecimento e valorizao da raa. Noticiaram, tambm, todos os tipos de festas, at aquelas diretamenterelacionadascomasatividadescarnavalescas,evidenciandoque osnegrostinhamumavidamundanae,talqualaelite,conheciamasregrasda polidez,emclarocombateaopreconceitoqueimpediasuainseroplenana sociedade brasileira. Nesse processo de interao da comunidade negra, os clubes tambm tiveramumpapelfundamental.Aooferecerematividadesmltiplas,essas instituiesviabilizaramaessesestratossociaisaampliaodesuasrelaes deconvvioeoengendramentodeprticassociaismaisdiversificadas.Essas agremiaes assumiram, alm da demarcao dos parmetros da sociabilidade desejadaparaosseusintegrantes,igualmente,opapeldedestaqueno delineamentodaidentidadealmejadaapartirdesuasatividadesldicas Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 44 quermesses, piqueniques, serenatas, bailes e poltico-culturais realizadas ao longodosanos.Tantofoiassimque,passadoocarnaval,associedades recreativasdefiniamoutrocalendriodeeventosquecompreendiam:as festividadesdiversas(saraus,bailes,etc)ecomemoraesdedatascvicase polticas, entre as quais a Lei urea, que aboliu a escravido no pas.2 Nombitodessacomunidade,haviadiversidadedeinteressese diferenciaes de ordem econmica que impunham o surgimento de espaos desociabilidadedistintosparasuacirculaocomo,porexemplo,osclubes3 e,deordempolticaque,emalgumassituaes,impediramotrabalho conjuntodessasentidades.4 Aheterogeneidadedeseusintegrantes,contudo, noimpediuqueessasassociaesprocurassemavalorizaoepromoo socioculturaldogrupo,deixandomargemalutacontraospreconceitos, raramente explicitados em seus peridicos.

2 Em 1925, OClarimdAlvorada noticiou vrias festas que foram organizadas por clubes como: C.R.Paulistano,G.C.CamposElyseos,Club13deMaio,comseosolenee,emseguida, baileemesadedoces.Juntamentecomoutrasatividades,osbailesconstituram-seem elementos significativos na rede de relaes que garantiu a sociabilidade do grupo e que ganhou destaquenonoticiriodeseusperidicos.Em1926,omesmoperidicoOClarimdAlvorada trouxenotciassobrefestasrealizadaspelasagremiaes,commotivaesdiferenciadas, durante os meses de junho e julho. A saber: C.C.CamposElyseos - Em 24/07/1926 realiza, em sua sede, Festival danante em benefcio do O Clarim dAlvorada; G.C. Barra Funda - realizou em 20/06/1926,ChDananteemhomenagemsAmadorasdoBarraFunda,emsuasedenarua Lopes Chaves; Elite da Liberdade - Em 11/07/1926 realizou um sarau; Brinco de Princezas - Matin danante.Emsetembrodomesmoano,omesmojornalpublicounacolunaVidaSocialos bailesnomeadosdematindanante(Kosmos),chdanante(G.C.BarraFunda)esoire (CamposElyseos)realizadosemcomemoraoao7desetembropelasassociaesG.R.D. Kosmos (sede na rua Florncio de Abreu, 45), G.C. Barra Funda e Campos Elyseos. 3 Estas associaes organizavam a comunidade negra e, tambm, estabeleciam diferenas sociais entreseusintegrantes.OsclubesElite,SmartClubeKosmosagregavamoshomensdecor com algumas posses, em ntido esforo de diferenciao em relao sociedade mais ampla e prpriacomunidadenegra.Sobreesseassunto,ver:Andrews(1998,p.220).Paramais informaes sobre outras associaes dos homens de cor, consultar: Siqueira (2009). 4 As divergncias apontadas podem ser identificadas com a criao da Frente Negra Brasileira, dirigida por Arlindo Veiga dos Santos que se alinhou aos integralistas desagradando uma parte de seus integrantes da capital, So Paulo, originando o rompimento do grupo, por discordncias poltico-ideolgicas.OsdissidentesdacapitalformaramoClubeNegrodeCulturaSocialea Frente Negra Socialista. Ver tambm: Andrews (1998, p.239) A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 45 Vale lembrar que nem sempre o dia a dia dessas associaes foi marcado dexitos.Emvriosmomentos,aimprensanegraregistrouospercalos enfrentadosporessasagremiaes,quedesligaramdeseusquadros,anoaps ano,muitosdeseusintegrantesporfaltadepagamentodascontribuies mensais.Asmesmasdificuldadesenfrentaramosseusperidicos,comojfoi assinalado anteriormente (O CLARIM DALVORADA,17 jul. 1927, p.2). Emquepeseasituaoconstatada,noestemquestoarelevncia, os significados e os papis assumidos por tais entidades na aglutinao e defesa de seus interesses, construdos com base em sua rede de relaes sociais que se ampliounoinciodosanos1930,comosurgimentodenovosgrupos carnavalescos e com a presena das mulheres nesse processo (EVOLUO, 13 maio. 1933, p.5), a exemplo do Bloco das Baianas Teimosas (tambm chamadas de BaianasPaulistas)edoCamposElyseos,queteveapresenafemininaintegrando suadiretoria.Mas,nestetexto,aintenoevidenciarcomoosperidicosda comunidadenegraregistraramaperformancecarnavalescadessegrupoaolongo dosanospesquisados,mesmosabendoqueospequenosregistrossobreo assunto eram posteriores ao acontecido. 2.Oscordesnegrosnoscarnavaispaulistanos:dimensesda memria nos registros de seus peridicos e de seus protagonistas OsestudosdessesfestejospeloBrasilaforavmmostrandoqueo percurso do carnaval atual nem sempre foi democrtico. O seu trao definiu-se pelarecorrentepresenadaselitesnoseucomando,cujosresultadosforam imprimirosseusvaloreseocontroledoscircuitosdessascelebraespor muito tempo. At 1850, o carnaval era chamado de Entrudo e compunha-se de diversosjogos5 que,desdeosculoXVII,dividiramaopiniodaselitese

5 Osjogosmaiscomunseram:abrincadeiradejogargua(svezessujaoudecheiro)nos foliesouemquempassassepelarua;enfarinharosfoliesoutravestir-sedepalhao(ou mascarado)earreliaraspessoascomabrincadeiravocmeconhece?,nemsempremuito amistosa. Sobre isto, verCunha (2001). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 46 autoridades,quepassaramaconsider-losperigosos,sujosegrosseiros.Em meadosdosculoXIX,essesjogosdividiramosespaoscomochamado carnavalelegantecompostodebailesdemscaras,dosprstitosdas grandessociedadescarnavalescasqueexibiamricoscarrosalegricos,edo corsodecarrosenfeitadospraticadopelasfamliasendinheiradas,em sintoniacomosseusdesejosderefinamentoedeadesoaosparmetrosde modernidade que se projetavam para o pas. TalsonhomodernizadorprosseguiucomaRepblicaqueinstituiu novas regras para a participao dos carnavais de rua e dos clubes, definindo a obrigatoriedade de inscrio na polcia, das sociedades/clubes, cordes, blocos ou grupos e o pagamento de taxa Prefeitura, se quisessem desfilar, com seus prstitos,nosespaospblicos,ourealizarosbailescarnavalescos.Ouseja, essasagremiaesdeveriamregistrar-senaSecodeDivertimentosPblicos daPrefeituraMunicipal,preenchendofichas,definindoascoresqueseriam usadaspeloagrupamentocarnavalesconasapresentaesepagandoas respectivastaxasparareceberoalvardeautorizaoparaoseventosem espaosfechadosounarua.Paragarantirocontrole,noprpriodiade carnaval,eraprecisoirPrefeituracarimbaroestandarte.Essasexigncias foramreiteradaspelapolcia,aolongodasdcadasde20e30,eamplamente divulgadas pela imprensa. Osilncionosregistrosdaimprensadiriaemrelaopresena popularnessesfolguedossuscitaindagaes:Qualeraentoaparticipao popularnessesfestejos?EainserodosnegrosnoscarnavaisemSoPaulo passava por quais circuitos?Avaliar at que ponto as lideranas negras observaram as regras oficiais de solicitao dos alvars para desenvolver as atividades de rua e dos clubes (em decorrnciadasproibiesexpressascontrainiciativasespontneasde pndegospelasruasdacidade,semautorizaoprvia,oumesmoograude A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 47 tolerncia da polcia), ainda continua uma hiptese de pesquisa a ser perseguida, mas de difcil alcance.6 Os carnavalescos em suas memrias ou em relatos orais reafirmaram, em diversas ocasies, que as dificuldades de aceitao dos desfiles pblicosdosblocosdoshomensdecor,porpartedaselites,aindaeram marcantesnodecorrerdosanos10(SILVA,2000,p.53).Asituao, paulatinamente,modificou-seapartirdemeadosdosanos20,emboraas exignciasderegistrocontinuassememvigor.Nessadcada,porm,no contavamnemmesmocomoapoiodasesquerdas,quequalificavamessas festividadesdealienadasemomentosdeorgiadeclasse7,aexemplodos anarco-sindicalistasqueatribuamaessesfestejosrecorrentesameaass mocinhas ingnuas dos segmentos populares que, nessa perspectiva, eram alvos preferenciaisdasinvestidaslibidinosasdosfilhosdaburguesia,vidospor divertimentos sem compromissos. H informaes, na imprensa negra, da participao dessa comunidade nosfestejoscarnavalescos.OClarimdAlvorada,aexemplodosdemais peridicosdogrupo,publicouemsuaspginas,nodecursodosanos20e30, entre outros assuntos, a participao da comunidade negra nos bailes realizados em seus clubes e, tambm, no carnaval de rua, com os desfiles de seus blocos, cordes,gruposeranchosqueseestruturaramapartirde1914,inicialmente comoG.C.BarraFunda,em1919,comoG.C.CamposElyseos,seguidopor Nova Aliana Lyra da Madrugada, em 1920 (O CLARIM DLVORADA, 05 jan. 1928,p.4).EsseengajamentonosfestejosmomescosforaregistradopeloO Clarin(02 mar. 1924, p.2),ao publicar, sem detalhes, que a comunidade tinha sua disposio os bailes nas sedes dos clubes: Flor das Maravilhas, Princesa

6 Issoimplicariarastrearadocumentaopolicial,paraverificarasprisesocorridasduranteo carnaval, ao longo dos anos investigados, empreitada difcil pela ausncia de informaes, uma vezqueacoberturadessesfestejos,feitapelagrandeimprensae,tambm,pelosperidicos alternativos, bastante precria. 7 Os comunistas no discutiram este assunto em seu principal peridico AClasseOperria. Ver tambm: (SILVA, 2008, p. 55). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 48 doSul,dosBandeirantes,XVdeNovembro,XIIIdeMaio,Unio Militar e o Grupo dos Trs Carnavalescos. Ao longo dos anos pesquisados, as notcias sobre os bailes nos clubes daraaforamrecorrentes.Em1926,OClarimdAlvoradanoticiouos retumbantesbailescarnavalescos(realizadospelas)sociedadesBrincode Princezas, 15 de Novembro, Kosmos, 13 de Maio, Campos Elyseos, Auri-verde, Paulistano eoutrosmais.Informa-nos,ainda,queoBrincodePrincezas,na3feiraGorda, ofereceutrsprmiossfantasias,selecionadascombasenosquesitos:luxo, originalidadeebeleza.OsmesmosforamconquistadospelasSenhorasSebastiana Oliveira,VirgniaSantoseEsmeraldaGodoy,respectivamente(21/03/1926,p.3).Chibata, outro peridico da comunidade negra, noticiou os bailes carnavalescos realizados,em1932,pelasagremiaes:Kosmos,CamposElyseoseBrincode Princeza (CHIBATA,fev. 1932, p.2).Esseseventosseguiamosmesmosparadigmasdosbailesrealizados nosclubesdaselitesquefaziamcertamesepremiavamasfantasiasmais originais,luxuosasebelas,iniciativasquetinhamporobjetivogarantiro interesseeaunicidadeaoseventosrealizadosnessesespaosfechadose, distino, aos seus associados e frequentadores.Oscarnavaisderuadoscordesegruposdessacomunidadetambm foramrecorrentementenoticiadosporseusperidicos.NacolunaEchosdo Carnaval, em 06 de abril de 1924, OClarin realou a passeata, pelas principaes viasdacidade,dosdoiscordesBarraFundaeCamposElyseos(que)vem deannoemannoscolhendojustasvictrias,graasaobomgostoeaofino espiritocomqueempublicoseapresentam(06abr.1924,p.4). Paulatinamente, os cordes8 mencionados tornaram-se referncia no apenas para a comunidade negra, mas tambm para a sociedade mais ampla. Surgiram a

8 Nohaviaumaclaradistinoentreblocosecordes.Muitasvezeselessurgirameforam registradoscomogrupoeassimcontinuarammesmoquandosuacaractersticaeestrutura foram alteradas devido ao seu crescimento. A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 49 partir de um grupo inicial familiar e de amigos que habitavam espaos distintos dobairrodaBarraFunda.Essasaes,contudo,iamalmdoscordes. Dionsio Barboza, por exemplo, teve papel de destaque pela liderana assumida naagregaodogrupo,aoorganizarpiqueniques,serestaseaparticipaonas festasdeSoBomJesusdePirapora,entreoutras.E,tambm,notabilizou-se pelacriaodaagremiaoG.C.BarraFundaqueagregouacomunidadenegra daquela regio. Atrajetriadessasagremiaesjfoidevidamenteregistradapela historiografiaespecializada,emboranemsemprehajaconsensonessa rememorao.Porm,issonoumproblema,considerando-sequea construodamemriadequalquergrupoouinstituiodefine-seemmeioa controvrsias, disputas e esquecimentos (POLLAK, 1989), deixando submersas outrasvivnciascomofoipossvelpercebernosregistrosdaimprensadiria sobreaausnciadessegruponosfestejoscarnavalescosocorridosnacidade. Nombitodogruponegro,atrajetriadessescordesnofoidiferente.No cotejamentosobreasorigenseospercursosdessasagremiaesconstatam-se disputas,esquecimentosdasorigens,dedatasedeseusfundadores.Porm,a controvrsiasobreostemposdistintosdefundaodessasagremiaesede seusfundadorestraduzfragmentosdelembranasjesgaradasejparte constitutivadamemriadoacontecercarnavalescodoprpriogrupo,cujo marcotemporalpodedeslocar-seindefinidamenteporqueprescindede qualquer dimenso factual para sua afirmao (NORA, 1993).AtrajetriadoG.C.BarraFundaemblemticaparaasdemais associaes, no por ser a primeira, mas pelo papel aglutinador que exerceu na comunidadenegradaBarraFunda.Oseucaminhofoirememoradopelos peridicosdaraaeporseusprotagonistas,nasentrevistasdadass pesquisadorasIdaMarquesBrittoeOlgaVonSimson,emmomentos diferentes da dcada de 80, para os seus estudos do carnaval paulistano. O G.C. Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 50 Barra Funda foi fundado, em 1914, por Dionsio Barboza, Victor de Souza, Luiz Barboza.SegundointerpretaodeOClarimdAlvorada,elesderam(forma) 1iniciativadeumpequenogruponoqualtomarampartecomofigurade destaqueoSr.SilvanoVidalSilveira,eAntenordosPassos,SebastioDias, Tiburcio de Almeida e outros componentes (05 fev. 1928, p.4). I magem2 Dionsio Barboza-Fundador do Camisa Verde. Fonte: (SIMSON, 2007, p. 300). I magem3 Sr. Victor (do cavaquinho), um dos fundadores do Camisa Verde; Sr. Antenor do Clarinete e Sr Mximo do violo. Fonte: (SIMSON, 2007, p. 304). IdaMarquesBritto,emseulivroSambanacidadedeSoPaulo(1900-1930):umexerccioderesistnciacultural utilizando-se de depoimentos de vrios fundadores,expsversodiferentedasanterioresparaosintegrantesque originaramoG.C.BarraFunda,aoenfatizarqueomesmofoicriadoporum pequeno grupo de parentes e amigos, de seis a oito rapazes companheiros de jogodemalho(BRITTO,1986,p.73)lideradoporDionsioBarboza,Luiz Barboza(irmo),ocunhadoComlioAires,entreoutros.Brittoinformouque ogruposaiupelobairrocantandomsicaprpriaelevandocomo instrumento o pandeiro e o chocalho feito de tampinhas de garrafas de cervejas fazendo tchic, tichich, tchic. Da precria sada inicial, foram se organizando, calasesapatosbrancos,chapudepalhaecamisaverde,substituindoos A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 51 trapos e remendos de sua primeira exibio. No ano seguinte, foi acrescentada a surdinha e uma caixa remendada. E, em 1920, sua estruturao j era outra, bem mais complexa:Em1920tinhamjsuaorquestra:SirvanodeTieteseusaxofonemuito velhoeremendado,JoodoBandolim,CapistanodoTrombone,Marcio, Mario,JandiroeVitocomcavaquinhoseumclarinete,DionsioBarbozae seupandeiroe,omaisimportante,osurdoouobumbonasmosde Marcelo Roque, que comandava, l de trs, toda a bateria. Dos oito ou doze participantesiniciais,passaramavintee,noaugedocrescimentoem1920, eraaotodosessentahomens,sendoquenocomeoalgunssetravestiam (BRITTO, 1986, p.74). Osregistros,veiculadospelaimprensanosanos30,apontavamcomo vestimentadoG.C.BarraFundaumacalabrancaeumacamisaverdee,na cabea,umcapacetedeestiloromano.Osseusdesfileseramanimadospelas marchassambadas,easmsicascantadaseramdeautoriadecompositoresdo prpriocordo,geralmentefeitascoletivamenteporDionsioBarboza,Joo Brs, Feij (Jair Bento Ferreira) e Vitor (BRITTO, 1986, p. 76). Naformaodocordoapareceramosconhecimentosevivncias anterioresdeBarbozanocarnavaldoRiodeJaneiro,noranchodeReisdo pastoril, notadamente nas figuras do mestre-sala e da porta-bandeira, introduzida nas exibies pblicas. Abrindo o desfile vinha o baliza, figura que teve origem e inspirao nos desfiles militares. Depois de 1921, foram introduzidas as amadoras (que executavam evolues) e, posteriormente, o abre-alas uma grande alegoria comafiguradeumfalco.Todasessasideiasforamintroduzidaspeloprprio Dionsio Barboza. A esse respeito Britto esclarece: Ogruposaanaordemseguinte:Balizanafrente,atrsseisbatedorescom bastes s mos, o porta-estandarte, o mestre-sala, que corria desde o baliza atabateria,asamadoras(depoisde1921)eogrossodocordo;os instrumentos ficavam divididos: clarinete mais frente, uma caixa ao meio e porfimosinstrumentosdecorda,opessoaldochoronafrentedabateria quefechavaogrupo.Comessadivisoasseguravaadistribuiodosom, todoscantandoascomposiesprpriasdogrupo,deautoriadeseus compositores (1986, p.75). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 52 Igualmente no h consenso quanto ao percurso e ao dia do desfile do cordo.NainterpretaodeBritto,ogruposaiuinicialmenteaosdomingos, repetindo nos anos seguintes o mesmo roteiro. DesfilavamapportodaaBarraFunda,AvenidaSoJoo,subindoa avenidaAnglicaataAv.Paulista,descendopelaAv.BrigadeiroLuiz Antonio at o Largo So Francisco, Rua So Bento, o Tringulo at a Praa doPatriarca.Depoisogrupovoltavacomamesmaorganizao,passava pelo Correio, faziam uma parada para as mocinhas tomarem guaran, subia aav.SoJooechegavafestivosededaBarraFunda,RuaConselheiro Brotero,casadeDionisioBarbozaedepoisnaRuaVitorinoCarmilo,no mesmo bairro (1986, p.75-76). Simson(2007),porsuavez,assinalouqueogrupodesfilou inicialmentena3feira,partindodobairroemdireoPraadaS, repetindodiaepercursonosanosseguintes.Asnotciasveiculadaspelo CorreioPaulistano,em1929,reafirmamqueoditocordodesfilavana3feira Gorda. Porm,desde1919,oG.C.BarraFundapassaraadividirosespaos pblicoscomoG.C.CamposElyseos,cordotambmdaBarraFunda,que apareceucomumaestruturabemmaiselaboradaeintegradapor50rapazes. Logosedestacoupelaqualidadedeseusinstrumentistas.Suascoreseramo roxo(camisas)eobranco(calas).Traziacomoemblemaumanimal,misto deguiaedrago,queoidentificavaemsuasapariespblicas,assim informa O Clarim dAlvorada, em 1927. NaanlisedeBritto,osCamposElyseosdestacavam-seporseus[...] instrumentistas,comopredomniodapercusso,svezesemumnmero superiora10:caixas,surdosebumbosdetodosostamanhos.Aestes juntavam-se o grupo de choro, o chamado conjunto choro, com trombone, o clarinete,oviolo,banjos,chocalhos,pratosepratocombaqueta(1986,p. 77).SeemrelaoaoG.C.BarraFundaacontrovrsiaemrelaoaos seusfundadores,asdvidasemrelaoaoG.C.CamposElyseosreferem-se A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 53 sua data de fundao. Ida Britto (1986) afirma que o grupo saiu pela primeira vezem1917,comumconjuntode50pessoas,jportandocamisaroxae calabranca.EraoriginriodoBlocodosBomios,quedesde1913existiade formanoestruturadanaAlamedaGlette,naBarraFunda.Nainterpretao de Simson (1989), a agremiao foi fundada em 1918 (como cordo), por um grupodenegros,comsituaofinanceiraumpoucomelhordoqueaquelesque formavamoCamisaVerdee,tambm,saasruass3feiras(CORREIO PAULISTANO,08fev.1929,p.4).Mas,operidicoProgresso,vinculadoao cordo, define sua origem em 1919.Essa associao carnavalesca no desenvolvia enredo, mas definia um temaparaapoiarassuasfantasias.Notinhasedeprpriaepodiainiciaro seudesfiletantodaBarraFundaquantodequalqueroutropontodacidade. DizBritto:AsmsicasdoCamposElyseoseramfamosaseoriginriasdeseu ncleodecompositores:AlcidesMarcondes,JoodeSouza,Benedito Carmelinho,pianistarespeitadoeoritmoeraamarchaenoasmarchas sambadas do Camisas Verdes (Barra Funda) (1986, p.78). Osucessodessasagremiaesmaterializou-seemsuasperformances duranteosfestejoscarnavalescos,anoapsano,comoinformouOClarim dAlvorada.Em1926,esseperidico,nacolunaEchosdoCarnaval,noticiouo xitoalcanadopelosdoiscordesBarraFundaeCamposElyseos,graasao bom gosto e ao fino esprito com que em pblico se apresentaram. (21 mar. 1926, p.3) Noanoseguinte(1927),osfoliesafro-paulistanoscontaramcom mais uma agremiao, AFlordaMocidade, originada a partir da dissidncia no G.C.BarraFunda.Mas,aoqueparece,essarupturanocausouabalos significativosnotrabalhodearregimentaodotradicionalcordoque,em 1928,demonstravaaampliaodonmerodeseusparticipantes, estruturando-seporintermdiodaformaodecordesinternosquepermitiao Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 54 crescimentodoGrupoeaconsolidaodeumaestruturadescentralizada, capaz de fortalec-lo e no o contrrio. Trazem nomes convencionais, exceto Misria e fome que jocosamente faz crtica as prprias condies do grupo e, por extenso, da sociedade. Actualmente(1928)vemoGrupoCarnavalescoBarraFundapor intermediodeseusfundadores,organizandooscordesinternosos quaestemsidoaplaudidosedandoaomesmogrupoenorme desenvolvimentotaescomo:MisriaeFomevictoriosoincontestavel; oAngudaBahiananossorival;Camponesesnossorival; Cozinheirosnossosdiscipulososquaestrazemcomochefeosr.Z m-m o terrivel folgazo Carloca que s tem encontrado com o terrivel paulista,C.edadoparatras;osr.JosAlexandreSilvanobiscoito, mais...temqueperderporqueoC.nodorme.Aseguirtemosochefe geralSrDionsioBarbozaauctoredirigentedoGrupoInfantilBarra FundajuntamentecomosrJorgeRaphaelesforadoDirectordo GrupoCarnavalescoBarraFunda,quetemprocuradooenlevodo mesmo.A seguir temos um grupo de amadoras estas que sero o brao direito do Grupo Carnavalesco da Barra Funda conforme suas foras legaes - so ellasquedoasmaisbellasprovasCarnavalescaseemtodasasmais distinctasfestasdestasociedadeempregandoseusesforos(OCLARIM DALVORADA, 05 fev. 1928, p.4). Nofinaldadcada,essescordesganharamdestaquesnonoticirio da imprensa diria. Em 1929, o tradicional jornal Correio Paulistano mencionou ocostumeirodesfiledoCamisasVerdes(G.C.BarraFunda),na3feirade carnaval(dia12/01/1929),eodesfiledoCamposElyseos,compostode100 figurantes.Seguindoatradio,ojornaldescrevequeoprstitodocordo CamisasVerdespercorreuinicialmenteasruasdobairro,dirigindo-seem seguida ao centro da cidade, onde cumprimentar as altas autoridades, visitar as redaces dos jornais, conforme a praxe dos annos anteriores (CORREIO PAULISTANO, 08 fev. 1929, p. 4). Alm dessa notcia, o Chibata ( fev. 1932, p.2) comentou sucintamente osucessodoranchoDiamanteNegroedoscordesGrupodasBahianas,Grupo Vai Vai e Grupo dos Desprezados (Interno dos Campos Elyseos). No ano seguinte, Evoluodestacou,emsuaspginas,asexibiesbemsucedidasdosranchos, A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 55 cordeseblocosdacomunidadenegranocarnaval,enfatizandoopapel desempenhadopeloInterventorparaobrilhodetaisfestejose,tambm,as homenagensdoperidicoaosfeitosdanossagentecomosseusvitoriosos cordes:asBahianas(Paulistas),osDesprezados,BarraFunda,CamposElyseos, Mocidade,DiamanteNegro(rancho)eVaeVae (EVOLUO, 13 maio. 1933, p.15). Nofinaldadcadade20,essescordespartilharoosespaos pblicoscomoCordoEsportivoCarnavalescoVaiVai,fundadoem1930,no Bexiga,porFredericoPenteado(Frederico),DonaIracema,Tino,Guariba, Henrico,BeneditoSardinha,DonaCasturina,entreoutros. 9 Eraoriginrio do clube de futebol Vai-Vai, em oposio a outro clube, o Cai Cai, ambos da rua Marques Leo. O Vai Vai estreou naquele carnaval fantasiado de marinheiro, de preto e branco, as mesmas cores do seu clube de futebol. Como os outros cordes, o Vai Vai no tinha um enredo, embora desenvolvesse temas para dar suporte s suasfantasias;aestruturadeseusdesfileseratradicional(asfileiraslaterais), mas,jincorporavaasnovidadesquefaziampartedosdesfilesdosoutros cordes, como por exemplo, o estandarte carregado por uma mulher. Oestandarte,porexemplo,vinhacarregado,pormulher,D.Iracema,uma inovao de 1921 do cordo. Os Desprezados da Barra Funda, dirigido pelo Neco.Nafrente,abrindoocortejo,estavamosbalizas,presenteD.Sinh, entocom12anos,nicamulherdentre10rapazes.Logodepois,vinhaa porta-estandarte, seguida de uma comisso situada entre fileiras laterais, e no meio,aporta-bandeira.[...]Nodecorrerdadcadade30,oVai-Vai introduziu personagens de corte com a figura de uma rainha e de uma dama queemobedinciaascoresdocordo,traziaindumentrianegra,sendo apelidada de dama de negro iniciativa esta, na idia e na representao, de D.Olmpia,umadasprimeirasfigurantesfemininascomquecontouoVai Vai (BRITTO, 1986, p.79).

9 Essecordotransformou-senofinaldadcadade1960naEscoladeSambaVaiVai,e permanece com suas luxuosas exibies, em preto e branco, nos desfiles carnavalescos dos dias atuais. Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 56 As msicas cantadas durante as exibies do cordo eram de autoria de seuncleodecompositores:Tino,GuaribaeHenrico,conhecidossambistas desse perodo. Alm dos fundadores, outros integrantes projetaram-se, sobretudo osmembrosdabateria,algunsdelestornaram-seapitadorescomoSr.Livinho aclamadocomooPrimeiroapitadordeSoPaulo(SIMSON,1989,p.307), PatoNguaeSebastioEduardoAmaral,ofamosoPRachado10,quese integrou ao Vai Vai em 1933 (e tornou-se seu diretor de bateria, posteriormente). I magem4 Sr. Livinho, um dos fundadores do Vai Vai (primeiro apitador) fantasiado de Cossaco, 1933. Fonte: (SIMSON, 2007, p. 307). I magem5 - Pato Ngua, um dos principais apitadores do Vai Vai. Fonte: (SIMSON, 2007, p. 308).

10 Entrevistagravadaem02/10/1981,noMuseudaImagemedoSom/SP.(Fita112.31-32 CarnavalPaulistano).SebastioEduardoAmaraleramineiroeem1934veioaSoPauloa passeio,comamigos.Instalaram-senoBexigaarranjandotrabalhocomopedreiro,emboraem Minas fosse padeiro. Em 1934, viu o VaiVai e resolveu se ligar ao grupo. Em Minas tinha um bloco e j tocava surdo acompanhando congada. Em seu depoimento diz que entrou para o Vai VaipormeiodeseuamigoCota.Ficounafilaparaentrarnabateria.Esperoudoisanospara entrar no surdo. Depois passou a tocar bumbo, em substituio a um rapaz que morreu. Depois passou para apitador. No tinha interesse de ser apitador, quando Pato Ngua se retirou, assumiuessaposio.Ficoutrsanosdirigindoabateria.AmaralafirmaqueoVaiVaiteve importncia significativa na dcada de 1930 e decaiu nas dcadas de 1940 e 1950.A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 57 I magem6- Sebastio Eduardo AmaralIn: Blog Multissamba Mestre P Rachado. Disponvel em: http://multisamba.blogspot.com.br/2010/09/mestre-pe-rachado.html. Acessado: 22 out. 2012. VaiVaidestacou-seemrelaoaosoutroscordes,comolembra SebastioEduardoAmaral,porprevalecerosinstrumentosdecouro,almda caixa,rufo,pratoechocalho,quevinhamnafrentedosbumbosenormes, sempremaisdeum.Depois,ocordocriouacaixacariocaqueproduziaum somsemelhanteaorepiniquedostemposmodernos.Aparticipaodos elementos de choro era menor entre os instrumentistas, como informa Amaral, ementrevistaaIedaM.Britto,em1979.Emborafosseumcordodobairro Bexiga e composto de ncleo familiar, tal qual os demais cordes, aglutinou em torno de si folies originrios da Barra Funda ou integrantes do Campos Elyseos. A memria dos carnavais dessa comunidade vai alm das notcias sobre aparticipaonosdesfilesocorridospelacidade.Noinciodadcadade30,a FrenteNegraBrasileira(FNB)instituiuumcertameparaasagremiaes carnavalescasdacomunidadenegraeofereceuataaArturFriedenreichem homenagemaofamosojogadordefutebol,filhodealemoemeafro-brasileira , inaugurando uma situao peculiar no mbito desses festejos, uma vezqueaspreocupaesdessaorganizaovoltavam-separaquestesgerais, comoaeducaodogrupo,asmoradiasprprias,acessoaosempregos Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 58 pblicos,informadasporconcepespolticasdedireitaprximassdos integralistas, atuantes na conjuntura.Embora no atuasse no carnaval, a FNB procurou marcar sua presena nacomunidadenegra,organizadaemtornodosfolguedosdeMomo,criando umcertameque,emdetrimentodesercalcadonosmoldesdaqueles patrocinadospelaselites,perseguiuumcaminhoprprio,valorizandoosseus conesesmbolos,aohomenagearosmembrosproeminentesdeseugrupo. Mesmo assim, teve dificuldade para garantir a unanimidade desejada, pois nem todasasagremiaescompareceramaoevento,evidenciandoumalinhade tenso entre a FNB e os outros grupos organizados dessa comunidade, uma vez quenopartilhavamdasmesmasposiespoltico-ideolgicas,muitoembora no explicitassem essas diferenas. As informaes publicadas pelo peridico A VozdaRaaenfatizaramque[...]participaramdoconcursoosseguintes cordes:CamisaVerde,BlocodoBoi,CordodasBahianas,Blocoda Mocidade;nocompareceramaoconcurso,pormotivosqueaindaignoramos osseguintes:Desprezados,Vae-Vae,CamposElyseoseDiamanteNegro(01 abr. 1933, p.3). 11 O certame, diferente dos demais, ocorreu no Clube S. Paulo ao qual foi confiada a incumbncia de sua realizao. O desfecho final ocorreu em baile convocado especificamente para a entrega do trofu, cuja posse era apenas por um ano. Nocarnavalde1934,novamente,temosnotciasdaocorrnciadetal certame, embora a taa oferecida ao primeiro premiado tenha sido denominada FrenteNegraBrasileiraenofaanenhumarefernciaaojogadordefutebol homenageadonoanoanterior.NacolunaEcosdoCarnaval,publicadaemA VozdaRaa, o jornal noticiou o concurso institudo pela FrenteNegraBrasileira,

11 Est ausente desse concurso o GC CamposElyseos e alguns cordes de sua rea de influncia, como VaeVae, Desprezados (grupo que saiu do GC BarraFunda). Foi a partir desse grupo que saiuaentidadeque,naconjuntura,faziaoposioFNB,pordiscordardesuasposies poltico-ideolgicas. A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 59 entreoscordespaulistasquedisputavamartsticataa,oqualfoirealizado na3feiradeCarnaval.Informou,ainda,queojulgamentofoifeitopela seguinte comisso: Salatiel de Campos, Altino Mendes e Francisco Lucrcio. Compareceramaoeventoosseguintesblocosecordes:Mocidadedo Lavaps,CaveiradeOuro,BaianasCarnavalescas,FlordaMocidade,BlocoNaval,Vae Vae,Desprezados.Oresultadodoconcursoapontouovitorioso,opopular cordo G.C. Vae Vae que se apresentou com cento e tantas figuras estandarte balisas-comissodefrenteclarim-msica,fazendograciosasevolues, cantandoasmarchasmaislindasinclusiveumaemhomenagemaF.N.B..O segundolugarcoubeaoBlocoCarnavalescoFlordaMocidade.Outrosprmios foramoferecidosaosbalizas:AoBalisadoG.C.VaeVaeumataa oferecida pela Voz da Raa; Ao Balisa do Caveira de Ouro, Sr Avelino Traves uma medalha de prata oferecida por esta redao; Ao Balisa Flor da Mocidade, Sr.ValdomiroCorradosSantosumamedalhadeprata(AVOZDA RAA, 14 abr. 1934, p.3). 3. As barreiras para colocar o bloco na rua e os novos aliados Aaparenteausnciadeconflitonopodeconfundiroleitor,poisas proibiesaosdesfilesdosblocosecordesquenotivessemoalvarda polcia foram uma realidade vivenciada pelos negros (e demais folies pobres), situao que se agravava pelo fato de no terem um espao definido para suas apresentaes,aocontrriodoqueocorriacomosdemaiscomponentesde agremiaes da elite endinheirada. Por exemplo, os primeiros cordes lutaram, sem sucesso, para desfilar nas avenidas centrais. Apesar da investida fracassada, em todos os desfiles dirigiam-se ao centro da cidade para prestar homenagem autoridadepolicialmxima,pedindo,informalmente,asuaanunciaparaa continuidadedodesfile.Tambmdesfilavamemfrenteaosgrandesjornais. Dirigiam-se,emseguida,aosclubesdaraalocalizadosnaregiocentralda Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 60 cidadedeSoPaulo,ondepodiamexibir-sesemsepreocuparemcomas investidasdapolcia.Fugiraesseenquadramentosignificavaentrarem confrontocomapolciaquetoleravaosfolguedosnegros,comsuasmarchas-sambadas,apenasduranteosdiasdefoliacarnavalesca(SIMSON,1989).O sambista Alberto Alves da Silva, o Seu Nen da Vila Matilde, em depoimento aAnaBraia,falasobreessamemriadarepressopolicialaosmsicosnegros nolivroMemriasdeSeuNendeVilaMatilde,noqualoautorcorrobora informaesquejhaviamsidodadaspeloscontemporneos,sobrea perseguiopolicialaosnegros,nosanos20esuaextensoaosamba,queera tolerado apenas durante o carnaval.12 Asdificuldadesenfrentadaspelosnegrosemseucotidianoobrigaram-nosapensaroutrasestratgiasparacontornarasinterdieseproblemasque noseresumiamapenassinvestidasdapolcia.Nosbairrosondemoravam, embora fossem a maioria, tambm tinham que conviver com imigrantes pobres decorbranca,dediferentesnacionalidades.NobairrodaBarraFunda,por exemplo,tambmmoravamitalianos,portuguesesesrios.Eracomessa populaoqueoscordesteriamdeestabelecerrelaescordiaisetentar conquist-la, para poderem ocupar o espao comum das ruas para seus ensaios e apresentaes (SIMSON, 1989, p.171). Sebastio Amaral tambm fala sobre essarelao,sobretudo,comositalianosbatateiroseossrios,informando que ambos ajudavam financeiramente o Vai Vai.13

Entre os integrantes do cordo Camisas Verdes (G.C. Barra Funda) havia preocupao em relao a essa aproximao. Com os italianos, ela manifestou-sedediversasmaneiras:apoiofinanceiro(contribuionolivrodeouro),

12 Consultar sobre o assunto, o livro Seu Nen de Vila Matilde (Alberto Alves da Silva) no qual o autor relembra que nos anos 19 e 20, o samba s era permitido nos dias de carnaval (SILVA; BRAIA, 2000, p. 53). 13 A presena de brancos no cordo Vai Vai somente ocorreu em 1953, segundo o depoimento j citado, de Sebastio Amaral (MIS - Fita 112.31-32 Carnaval Paulistano). A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 61 aplausosetorcida.Porm,aparticipaodebrancoscomointegrantesdos blocos e cordes negros, segundo os depoimentos dos sambistas, no era bem aceitapelosprpriosbrancosquehostilizavamaquelesque,emalgum momento,manifestaraminteresseemintegrar-sebrincadeira.Nesse particular,haviacertareciprocidade.Emboraasexplicaesdeambos procurassemamenizarasdivergncias,elasnoconseguiramesconderqueos obstculos eram tnicos e no culturais. Emquepeseapaulatinaincorporaodosnegrosaosfolguedosmais amplos,issonosignificouaeliminaodopreconceitoedaintolerncia,que ainda definiam as relaes entre negros e brancos, nos anos 30. O Seu Zezinho, docordoCamisasVerdes(emdepoimentoaoMuseudaImagemedoSom MIS), msico que integrava o conjunto guias da Meia Noite, de maior projeo de So Paulo, afirma que o grupo enfrentou muitas dificuldades para tocar nas rdios locais, por causa do preconceito. Em seu relato diz que era msico, mas trabalhavaantes,parasobreviver,emtrabalhopesadocarregandosacasde caf.Comomsico,informaquetrabalhounardioAlvorada,comogrupo guias....Masnoconseguiugravarsuasprpriasmsicas,oquelevoua desagregaodogrupo,anosdepois,porcausadosproblemasde sobrevivncia:oscachserammuitobaixosenemtodososintegrantes queriamviverexclusivamentedaatividademusical,comogostariaque ocorresse.14 Aspesquisasqueabordaramoutrosaspectosenvolvendoa comunidadenegrachamaramaatenosobresuaexcluso,inclusiveno mercadodetrabalholivre,cujainseroocorreusobcondiesde desigualdade,secomparadasadapopulaobranca(ANDREWS,1998). Outros aspectos de seu cotidiano tambm foram afetados por essa intolerncia.

14 Sobre o assunto, consultar o depoimento que se encontra no Museu da Imagem e do Som de So Paulo. (MIS - Fita 112.4-5 Carnaval Paulistano) e Moraes (2000). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 62 O jornal AVozdaRaa, na matria Os Sambas e os bailes, publicada em 30 desetembrode1933,protestoucontraotratamentodadoaosnegros,pelos senhorios. Quando se candidatavam ao aluguel de um imvel, as exigncias do proprietrioiamdaproibioderecebervisitasataderealizarbailes, deixando-ostolhidosemsuaprivacidade.Ironizaotrminodaescravidoe defende o direito privacidade, como no seguinte trecho: Atacasaquensalugamosepagamospontualmente,notemosodireito defazerumdivertimento.Eupensoquedepoisquenstrabalharmosseis dias em qualquer servio que seja para a manuteno da nossa prole, tambm temosodireitodeprocurarmosumdivertimentoqualquerporem,licito, comordemerespeito,quesoasprincipaesda(s)Bases(da)Educao(A VOZ DA RAA, 30 set. 1933, p.3). Emmeiosdificuldadeshouve,tambm,valorizaodonegrono planosimblico,pelosintelectuaismodernistas,queemsuasrepresentaes passaramaconsiderarasuacultura,comoospintoresTarsiladoAmaral,Di Cavalcanti e Portinari e os escritores Jos Lins do Rego (Moleque Ricardo - 1933) eJorgeAmado(SubterrneodaLiberdade)oque,apesardospercalos,definiao seu lugar na sociedade brasileira. Essasaesforamalmdadimensosimblica.Em1935,oPrefeito FbioPradooficializaosfolguedospraticadospelosranchos,blocose cordes,aodefinirumlugarespecficoparasuaexibio.Certamente,o intelectualmodernistaMriodeAndradefoipartcipedessadeciso,na qualidadedeDiretordoDepartamentodeCulturadaPrefeituranaocasio15. Tambmerasabidooseucontatocomoredutonegromaisinacessvelda Barra Funda, devido ao seu interesse pela msica e demais expresses culturais do grupo. Assim,foinessecontextoque,noscarnavaisde1935a1938,as diversas agremiaes dos negros e as das classes populares brancas participaram

15 Informaes sobre a gesto de Mrio de Andrade, consultar Moya (2011). A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 63 dos desfiles organizados pela Prefeitura da capital, que definiu como palco para suasapresentaesaruaLberoBadar,distintodoespaocenogrficooficial montadonaAv.S.Joo,destinadosexibiesdasgrandessociedades carnavalescasprovenientesdaselitesouporelasapoiadas,qualificadasdeo grandecarnavaloucarnavalburgus.Essaparticipaopressupunha inscrever-seoficialmenteparaosdesfiles,nosdiasmarcadospelaPrefeitura, paraaexibiodesuasagremiaesqueseriamavaliadasporespecialistas definidospelaComissoOficialdosfestejos,segundoosquesitos:luxo, originalidade,escultura,harmonia,indumentria,canto,evoluese iluminao (CORREIO PAULISTANO, 05 mar. 1935, p. 7).Essasalteraesfaziampartedomovimentodenacionalizaodo carnaval,queintroduziu,emsuaestrutura,aslendas,osmitosbrasileiros diversoseasmsicas,osritmoseogingadoprovenientesdouniversoafro-brasileiro. Durante esses festejos, a cada ano, foram institudos concursos para elegerasmelhoresmarchasesambascarnavalescos.Essascanespassarama animar os bailes pelo Brasil afora e, em So Paulo, deram vida s exibies dos desfilespblicos,considerando-sequeapenasosblocos,ranchosecordes negrostinhamumncleodemsicosecompositores.Osdemaiscordes parodiavam as letras das canes que faziam sucesso nas rdios (SILVA, 2008, p.184).NocasodeSoPaulo,oscompositoresnegrosnochegarama alcanar a mesma projeo obtida pelos seus colegas do Rio de Janeiro, embora alguns tenham se destacado, como j assinalado anteriormente. Nocarnavalde1935,porexemplo,houveumavastaprogramaode eventospblicos,atumconcursooficialdemarchasesambas,masnoh notciasdaparticipaodemsicosecompositoresnegros.Asnotcias focalizamosdesfilesdegrupos,blocos,cordeseranchos16,cujospr-

16 A definio de cada categoria era feita pelo nmero de participantes, a saber: Grupo - at 25 pessoas;Blocos-de25at50pessoas;Cordes-de50pessoasparacima;Rancho, qualquer nmero de pessoas, sendo, porm, obrigatrio o enredo. Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 64 requisitos,paravencerocertame,seriamoseuenquadramentoaoscritrios acimaespecificados.Ouseja,exignciasqueasentidadesnegrastinham dificuldades em cumprir e, nesse sentido, estavam formalmente concorrendo, masemgrandesdesvantagensfrenteaosseusconcorrentesdeorigembranca. Naquele ano, os inscritos foram os seguintes: Grupos-Vindosdoserto-Nomemisturo-GrupoXdaRadio Educadora - Veteranos da Serra. Blocos-Franco-Brasileiro-BlocodoRoma-FlrdaMocidade- Mocidade do Lavaps - Filhos da Candinha - Bloco Moderado - Cordo dos Innocentes - Bloco do Jockey Clube Nossa Vida um Mystrio - Bloco da Banda Auri-Furgente de Jundiahy - Bloco Banda. Cordes-Luso-Brasileiro-Caveiranos-Gerandino-Terminiano- CordoRugggerone-CamisasVerdes-CamposElyseos-Tenentesdo Hispano-CaveiradeOuro-BahianasPaulistas-Vae-Vae-Marujos Paulistas-CordoSammarone-CordoLiberdade-Peccadoressem arrependimento - Bloco das Misses, de Santos. Ranchos-GarotosOlympicos-DiamanteNegro-MimosoPrncipe Negro-RanchoLuizGama-ArranchadosdeQuitauna(CORREIO PAULISTANO, 05 mar. 1935, p. 7). Nohregistrossobreamsicaeotema,exibidospelosdiversos gruposnessesdesfilesoficiais.Aparticipaonegranoconjuntodeeventos realizadosnesseanoficourestritaaodesfiledosblocosecordes,marcando umapresenasignificativamentedesigual,secomparadadosdemaiseventos organizadospelosclubeseassociaesdaeliteedaclassemdia.Concorrer com o luxo do carnaval da elite branca era extremamente difcil, considerando-se a origem dessas agremiaes. Nos anos seguintes, os blocos, ranchos e cordes fizeram sua exibies naruaLberoBadar.Em1937,asassociaesinscritasforamavaliadaspelos jurados:Prof.AchillesBlochdaSilva,FernandoMendesdeAlmeida,Menotti delPicchia(literato),SerpaDuarteeCastroCarvalho(OESTADODES. PAULO,11fev.1937,p.7).Em1938,osdesfilesforamseparadospelas modalidadesranchos,cordes,blocosegrupos cadaumadelasjulgadas porcritriosespecficos.Osranchosforamavaliadospeloenredo,luxo, A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 65 iluminao,evoluo,porta-estandarteemestre-sala17,eoscordespelos quesitosluxo,iluminao,canto,evoluoebaliza.18 Eosblocosegrupos pelo luxo, originalidade, canto e evoluo.19 Emboranosejapossvel,porfaltadeinformao,saberoquefoi apresentadoporessescordesnosreferidosdesfilesquetraziamobaliza frente, o estandarte e a no-obrigatoriedade de enredo , sabe-se que a pugna para integrar-seaoscarnavaisdacidadeeraantiga.Certamente,aspressesdos segmentospopulares,tendocomoaliadospartedaselites,movidasporinteresses mltiplos, entre eles os do comrcio, da indstria e dos meios de comunicao de massa imprensa e rdios que viam a a possibilidade de negcios lucrativos, tornaramvivelessainsero.Umdosargumentosarroladospelaimprensa,em algunsmomentos,foianecessidadedessafestarepublicanizar-separarecuperara animao dos folguedos. Consideraes finais Nestetexto,portanto,procurou-serefletirsobreoenvolvimentodos negrosnoscarnavais(oficiaisouno)deruadacidadedeSoPauloe,emseus clubes,nasdcadasde20e30dosculopassado.Aparticipaonoscertames oficiaissomenteviabilizou-senagestodoPrefeitoFbioPrado,em 1935/1936/1937, graas presena de Mrio de Andrade frente da Secretaria de Cultura e Recreao do Municpio de So Paulo que criou modelo de apresentao dasagremiaespopulares,nosespaospblicos,inclusiveasdosnegros.A propostaenvolviaojulgamentodasexibies,pormsicos,literatoseartistas

17 AComissoJulgadoraeracompostadosseguintesmembros:Dr.MiguelPauloCapalbo; EscultorVictorBrecheret;PintorB.BastosBarreto(Belmonte);JosdeCastroCarvalho;Dr. Jos Corra da Silva Junior. 18 AComissoJulgadoraeracompostadosseguintesintegrantes:Dr.MiguelPauloCapalbo; EscultorVictorBrecheret;PintorB.BastosBarreto(Belmonte);JosdeCastroCarvalho;Dr Jos Corra da Silva Junior. 19 IntegravamaComissoJulgadora:Prof.AchillesBlochdaSilva;PintorJ.WashRodrigues; Dr.RibasMarinho,lvaroVieira;MaurcioLoureiroGama(CORREIOPAULISTANO,26 fev. 1938, p. 10). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 66 plsticos,deformaoacadmica,originriosdasescolasdeBelasArtesedos ConservatriosdeMsica,reordenamentoqueserviudeparmetroparaos carnavais posteriores.Nota-se,nesseprocesso,acomplexidadedasrelaesculturaisentre brancosenegros,comosugereThompson(1998,p.17),comelementos consensuais,mastambmsituaesdeconflitoscujosresultadosforam,aps insistentesnegociaes,nemsempreexplicitadas,paraaparticipaodos carnavaisoficiaisdacidade.Essaquestofoiexploradacombaseemindcios dispersos, tal a precariedade das notcias da presena do grupo nestes festejos, at mesmo em seus peridicos, cujos registros resumem-se a rpidos informes sobre os desfilesdeseuscordeseranchospelasruasdacidade.Porm,asrelaesde conviviabilidade,entrebrancosenegros,emboraperpassadaspordificuldadese conflitos, elas no impediram prticas culturais partilhadas e, tambm, dissonantes nosmoldesdaacepobakhtiniana(BAKHTIN,1987),apartirdosanos30, considerando-sequeasmsicaseritmos(marchasesambasprovenientesdos ncleosculturaisnegros)chegaramaossalesfrequentadospelaselitesepelos segmentosmdiosdasociedadebrasileiradeformadesigualnopas.Nocasode SoPaulo,houvepartilhadosespaospblicosnocorso,comapresenados caminhes(modalidadenoabordadanestetexto),enosdesfilesoficiaiseda mdia(jornaiserdios).Porm,aincorporaopretendidapelosnegrosafro-paulistanos,nessaconjuntura,foiaqumdoesperadoporessesprotagonistas20, vistoqueosmsicosdogrupotiveramdificuldadesdeinseronosespaos culturais da cidade.21

20 O deslocamento de elementos da cultura negra para o mundo das elites, como foi se explicitando nos carnavais do Rio de Janeiro, nas dcadas seguintes, com festejos que passaram a ser regidos pelo ritmoeogingadodosambaedobatuque,originriosdaqueleuniversocultural,redefine paulatinamente o perfil dos carnavais do pas para os anos seguintes, o que somente ocorreu em So Paulo no final dos anos 60, com a oficializao das Escolas de Samba. Informa Sebastio Amaral que o cordo Camisas Verdes e o Vai Vai somente mudaram para Escola de Samba em 1971. 21 Esta questo foi discutida amplamente por Jos Geraldo Vinci de Moraes (2000) que constata os preconceitoseasdificuldadesparaosmsicosnegrosconseguiremespaosefinanciamentosnas rdios da cidade e, tambm, as dificuldades de gravao de suas msicas.A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 67 Fontes A VOZ DA RAA. So Paulo, 01 abr. 1933; 30 set. 1933; 14 abr. 1934. CHIBATA. So Paulo,fev. 1932. CORREIO PAULISTANO. So Paulo, 08 fev. 1929;05 mar. 1935 . DEPOIMENTO.SebastioEduardoAmaral(PRachado).MIS(Fita112.31-32 Carnaval Paulistano). DEPOIMENTO. Seu Zezinho. MIS (Fita 112.4-5 Carnaval Paulistano). EVOLUO. So Paulo, 13 maio. 1933. OCLARIMDALVORADA.SoPaulo,21mar.1926;17jul.1927;05jan. 1928; 05 fev. 1928. O CLARIM. So Paulo, 02 mar. 1924; 06 abr. 1924. O ESTADO DE S. PAULO. So Paulo, 11 fev. 1937. Referncias ANDREWS,GeorgeReid.NegrosebrancosemSoPaulo(1888-1988).Trad. Magda Lopes. Bauru/SP: Edusc, 1998. BAKHTIN,Mikhail.AculturapopularnaIdadeMdiaenoRenascimento:o contextodeFranoisRabelais.Trad.YaraFrateschiVieira.SoPaulo: Hucitec/UnB, 1987. BASTIDE,Roger.AimprensanegradoestadodeSoPaulo.EstudosAfro-Brasileiros. So Paulo/Perspectiva, p. 129-156, 1973. BRITTO, Ieda Marques. Samba na cidade de So Paulo (1900-1930): um exerccio de resistncia cultural. So Paulo: FFLCH/USP, 1986. CUNHA,MariaClementinaPereira.Ecosdafolia:umahistriasocialdo carnaval carioca entre 1880 e 1920. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.FERRARA,MiriamN.Aimprensanegrapaulista(1915-1963).SoPaulo: FFLCH/USP, 1986. MOYA, Fernanda Nunes. ADiscotecaPblicaMunicipaldeSoPaulo: um projeto modernista para a msica nacional. So Paulo: Cultura Acadmica, 2011. MORAES,JosGeraldoVincide.Metrpoleemsinfonia.Histria,culturae msica popular na So Paulo dos anos 30. So Paulo: Estao Liberdade, 2000. Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 68 POLLAK, Michael. Memria, Esquecimento, Silncio. Estudos Histricos. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989. QUEIROZ,MariaIsauraPereira.Aordemcarnavalesca.TempoSocial.So Paulo, v. 6, n. 1-2, p. 25-45, 1995. SILVA, Alberto Alves; BRAIA, Ana. MemriasdoSeuNendaVilaMatilde. So Paulo: Lemos Editorial, 2000. SILVA,ZliaLopesda.OscarnavaisderuaedosclubesdacidadedeSoPaulo: metamorfoses de uma festa (1923-1938). So Paulo: Edunesp: Londrina: Eduel, 2008. SIMSON,OlgaRodriguesMoraes.Von.Brancosenegrosnocarnavalpopular paulistano.1914-1988.1989,2451f.Tese(DoutoradoemCinciasSociais)- Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, USP, So Paulo, 1989. SIMSON,OlgaRodriguesdeMoraes.Carnavalempretoebranco.Carnaval popularpaulistano(1914-1988).SoPaulo:Editorada Unicamp/Edusp/Imprensa Oficial, 2007. SIQUEIRA,Uassyr.Clubesrecreativos.Organizaoparaolazer.In: AZEVEDO, Elciene et al. Trabalhadores na cidade. Cotidiano e cultura no Rio de janeiroeemSoPaulo,sculosXIXeXX.Campinas:EditoradaUnicamp, 2009. p. 271-311. THOMPSON, E. P. Costumesemcomum. Trad. Rosaura Eichemberg. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.