cuidar da terra é cuidar da gente: a experiência do casal que com sabedoria e humildade renovam as...

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O conhecimento baseado nas experiênci- as diárias, daquilo que aprendemos juntando os nossos conhecimentos e observando o ambiente que nos cerca, é exatamente o que podemos encontrar na casa de seu Geraldo e dona Isabel. À primeira vista o casal de agricultores ganha a todos com sua simpatia, e logo em seguida, nos encanta ao apresentar seu quintal produtivo e todas as experiências de convivência com o Semiárido encontradas por lá. A comunidade de Chafariz, município de Guanambi, na Bahia, onde o casal vive, recebeu um poço artesiano onde as famílias encontram água suficiente para as necessidades da casa e da lavoura. E é aproveitando essa oportunidade que Geraldo e Isabel cultivam hortaliças e criam ani- mais. Brincalhão, seu Geraldo afirma que: “Aqui eu crio de tudo, crio planta, crio vaca, porco, galinha, cachorro e gato.”Algumas vacas para garantir o leite, o burrinho para ajudar na lida da roça, os porcos para a engorda e as gali- nhas, em maior quantidade, que precisam de pouca água e são mais fáceis de criar. “Semana passada eu vendi umas galinhas na feira. Foi bom porque serviu para inteirar o dinheiro e eu comprei um porquinho”, comenta seu Geraldo ao falar dos animais, sem se esquecer do carinho com os cachorros e gatos, que dão alegria e fazem companhia para o casal, filhos e netos. Segundo ele, é importante cuidar dos bichos e da plantação, não apenas para se alimentar ou vender a produ- ção, mas para viver bem, para ter mais harmonia. Isso pode ser notado ao conhecermos o quintal da família, que apre- Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1804 Maio/2014 Guanambi / BA Cuidar da terra é cuidar da gente: a experiência do casal que com sabedoria e humildade renovam as esperanças no sertão.

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Através de humildade e sabedoria a família prova que as possibilidades encontradas no Semiárido existem e são muitas. Observando outras pessoas e seguindo a própria intuição, podendo manter uma vida saudável, aproveitando cada pedacinho da terra, e como afirmou o próprio senhor Geraldo: "Cuidar da terra é cuidar da gente. Pra mim não tem nada ruim, ruim é você ter a vontade e não plantar".

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Page 1: Cuidar da terra é cuidar da gente: a experiência do casal que com sabedoria e humildade renovam as e

O conhecimento baseado nas experiênci-

as diárias, daquilo que aprendemos juntando os

nossos conhecimentos e observando o ambiente

que nos cerca, é exatamente o que podemos

encontrar na casa de seu Geraldo e dona Isabel.

À primeira vista o casal de agricultores ganha a

todos com sua simpatia, e logo em seguida, nos

encanta ao apresentar seu quintal produtivo e

todas as experiências de convivência com o

Semiárido encontradas por lá.

A comunidade de Chafariz, município de

Guanambi, na Bahia, onde o casal vive, recebeu

um poço artesiano onde as famílias encontram

água suficiente para as necessidades da casa e da

lavoura. E é aproveitando essa oportunidade que

Geraldo e Isabel cultivam hortaliças e criam ani-

mais. Brincalhão, seu Geraldo afirma que: “Aqui eu crio de tudo, crio planta, crio vaca, porco, galinha, cachorro e

gato.”Algumas vacas para garantir o leite, o burrinho para ajudar na lida da roça, os porcos para a engorda e as gali-

nhas, em maior quantidade, que precisam de pouca água e são mais fáceis de criar. “Semana passada eu vendi umas

galinhas na feira. Foi bom porque serviu para inteirar o dinheiro e eu comprei um porquinho”, comenta seu Geraldo

ao falar dos animais, sem se esquecer do carinho com os cachorros e gatos, que dão alegria e fazem companhia para o

casal, filhos e netos.

Segundo ele, é importante cuidar dos bichos e da plantação, não apenas para se alimentar ou vender a produ-

ção, mas para viver bem, para ter mais harmonia. Isso pode ser notado ao conhecermos o quintal da família, que apre-

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1804

Maio/2014

Guanambi / BA

Cuidar da terra é cuidar da gente: a experiênciado casal que com sabedoria e humildade

renovam as esperanças no sertão.

Page 2: Cuidar da terra é cuidar da gente: a experiência do casal que com sabedoria e humildade renovam as e

senta diversas qualidades de frutas e verduras,

desde o capim para os animais até o alimento

orgânico que vai para a mesa de casa. O quintal

produtivo serve para as necessidades da família,

a maior parte do que é plantado vai para a ali-

mentação da casa, mas quando alguma hortaliça

ou fruta produzem muito são vendidas na feira

da cidade ou vão para os vizinhos e amigos que

aproveitam os sabores de fruta e hortaliças como

banana, goiaba, manga, caju, mamão, alface,

cabacinha, cenoura, batata, quiabo, abóbora e

muito mais.

A experiência de vida e a observação do

meio ambiente faz com que seu Geraldo compa-

re o modo de plantar com as situações do nosso

dia a dia. “Se você põe semente demais, não

pode, esquenta. É igual nós, se põe 5, 6 numa cama de casal, não corre ar, ninguém dorme. Do mesmo jeito é a planta,

se planta demais ela esquenta.” Dona Isabel afirma que desde moça sempre gostou de lidar com a terra, e que nunca

usaram agrotóxicos nas hortas. “Nem tomate eu compro mais por causa de veneno. Ano passado plantei uns carreiros

de tomate aqui, cada tomatão! E sem jogar veneno.” O cuidado e o zelo pela terra e pela saúde é percebida não só pelo

pomar e hortaliças que cercam a casa, mas por atitudes como a busca de alternativas como o aproveitamento de

sementes da própria horta, como as sementes de melancia e melão, que ficam guardadas em garrafas de plástico e

estão sempre disponíveis para cada período de plantação ou as sementes das hortaliças cultivadas no terreno, que

servem para renovar a horta, fazendo com que não tenham necessidade de comprar mudas ou sementes em outro

lugar, preservando e mantendo uma reserva sempre que precisarem. Desse modo conseguem poupar as sementes

naturais, que não recebem agrotóxicos e que já

estão adaptadas ao clima da região, criando assim

uma reserva de sementes crioulas dentro de casa,

revivendo o antigo costume da agricultura familiar,

que era armazenar feijão, milho e outras legumino-

sas para plantar durante o período das chuvas.

Através de humildade e sabedoria a família

prova que as possibilidades encontradas no emiá-S

rido existem e são muitas. Observando outras pes-

soas e seguindo a própria intuição, podendo manter

uma vida saudável, aproveitando cada pedacinho

da terra, e como afirmou o próprio senhor Geraldo:

“Cuidar da terra é cuidar da gente. Pra mim não tem

nada ruim, ruim é você ter a vontade e não plantar”.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

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