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Crônicas para recordar

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Crônicas para recordar 10) O Mulherão –Martha Medeiros 11) Complexo de vira-latas –Nélson Rodri- gues 12)Seleção sem povo –Ruy Castro – crônica da Folha de São Paulo 13)Filho pai –Walcyr Carrasco -crônica da Veja 14) As importantes dúvidas da adolescên- cia—crônica conjunta sobre a adolescên- cia Marina Motta Martins SERÁ QUE SÃO ÁLIENS? UM DIA DE FELICIDADE

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Page 1: Crônicas para recordar

Crônicas para recordar

Page 2: Crônicas para recordar

Editorial:

Crônica é um gênero literário muito recente,

o qual aborda situações cotidianas, mas le-

vam a reflexões relevantes e interessantes.

A crônica vem adquirindo uma importância

maior em nossa literatura graças aos excelen-

tes escritores que resolveram se dedicar ex-

clusivamente a ela, como Machado de Assis,

José de Alencar e Carlos Drummond de An-

drade, que também resolveram dedicar seus

talentos a esse gênero. Tudo isso fez com que

a crônica se desenvolvesse no Brasil de forma

extremamente significativa.

Devido à sua grande repercussão nos dias

atuais, decidimos apresentá –los obras de

nossa autoria e de grandes escritores.

Somos Paula Rebello, Marina Motta e Beatriz

Chow e amamos tanto ler quanto escrever

crônicas.

Page 3: Crônicas para recordar

Índice:

1) Será que são áliens? - Momento de des-

coberta -Marina Motta Martins

2) Um dia de felicidade -Momento de des-

coberta -Beatriz Graziano Chow

3) A fragilidade humana -Momento de des-

coberta –Paula Nocito Rebello

4) Pedir esmola é passado –Um olhar sobre

a cidade –Marina Motta Martins

5) Os dois lados da moeda– Um olhar sobre

a cidade– Beatriz Graziano Chow

6) A falta do que não temos -Um olhar so-

bre a cidade –Paula Nocito Rebello

7) Ignorantes ditos não ignorantes –Crônica

esportiva –Marina Motta Martins

8) Rugby: O Esporte do Futuro—Crônica Es-

portiva– Beatriz Graziano Chow

9) A dedicação e beleza da patinação ar-

tística –Crônica esportiva –Paula Nocito

Rebello

Page 4: Crônicas para recordar

10) O Mulherão –Martha Medeiros

11) Complexo de vira-latas –Nélson Rodri-

gues

12)Seleção sem povo –Ruy Castro –

crônica da Folha de São Paulo

13)Filho pai –Walcyr Carrasco -crônica da

Veja

14) As importantes dúvidas da adolescên-

cia—crônica conjunta sobre a adolescên-

cia

Page 5: Crônicas para recordar

SERÁ QUE SÃO ÁLIENS?

Nada como uma boa peça de teatro para alegrar os do-

mingos. Aquela, na qual não conseguimos parar de rir- pi-

adas e trocadilhos exclusivamente brasileiros, nada de hu-

mor americano- ou chorar, ou até refletir sobre o polêmi-

co tema da peça.

Assim foi meu domingo. Assisti a uma peça hilária, com

atores extremamente habilidosos e profissionais. Após o

termino da peça, estava conversando com um dos atores

e percebi que eles viviam em um mundo bem diferente: o

mundo onde o humor e a alegria estão à disposição de

todos, a qualquer momento.

Alegro-me ao pensar que existe um mundo totalmente

paralelo ao da economia, política, trabalho desgastan-

te... Enfim, o planeta onde a maioria das pessoas – inclusi-

ve eu- faz parte. Percebi esse contraste mais ainda no dia

seguinte, enquanto andava na rua e observava curiosa-

mente as pessoas: havia os chefes, aqueles de terno com

cara amarrada; os advogados, sempre brigando ao tele-

fone e os médicos correndo contra o tempo. Entretanto,

de todos esses, nenhum conseguiu me passar um sorriso

feliz ou um olhar satisfeito como aquele ator me transmitiu

em uma simples conversa. A felicidade desses trabalhado-

res liberais pode estar no dinheiro, quem sabe. Ou até po-

dem gostar da vida frenética que vivem. Mas, felicidade

descomplicada como a dos poucos artistas que existem,

não tem igual. Serão eles áliens nesse planeta?

Marina Motta Martins

Page 6: Crônicas para recordar

UM DIA DE FELICIDADE

Outro dia eu estava vendo os noticiários e uma pesqui-

sa me chamou a atenção. Ela mostrava a taxa de jovens

americanos que são reprovados no SAT. Eu ri quando vi

aquilo, a taxa é tão absurda. Pensei: ―O que é que estes

jovens fizeram até agora e o porquê não se prepararam

ao longo dos anos?‖. O país inteiro mostrou uma obscura

realidade.

Aqui em Stars Hallow, minha mãe, como de costume,

estava pronta para ir trabalhar e eu pronta para ir para a

escola. Porém, me sentia muito mal naquela escola, eu

era uma aluna muito boa e nada que me pedissem eu

não fazia com excelência. Sentia que eu merecia algo

melhor, algum preparo maior e melhor, porque como eu

sempre sonhei, gostaria de entrar na Universidade de Har-

vard. Eu tinha até chegado a prestar um teste para uma

escola particular, mas não sabia se eu tinha entrado ou

não.

Isso e a pesquisa que eu havia visto me fez pensar sobre

como é difícil encontrar hoje, jovens que pensam seria-

mente sobre o seu futuro, que cursos querem fazer, que

universidades desejam freqüentar, que caminhos querem

seguir.

Page 7: Crônicas para recordar

O dia foi passando, como de costume. Lane minha

amiga ao meu lado como sempre. Quando cheguei em

casa com ela, minha mãe estava no sofá, com um enve-

lope aberto e com uma face cheia de lágrimas. Logo,

gritei: ―Mãe, o que houve?‖ e ela replicou ―Você conse-

guiu querida, entrou em Chilton!‖. A escola privada, que

eu almejava estudar. Naquele momento, meu mundo gi-

rou, peguei o envelope e me debrucei no sofá.

Depois disso, pensei se todos os jovens quisessem es-

tudar assim e soubessem os sentimentos positivos que isso

traz para sua vida, aposto que a maioria dos jovens estu-

dariam como eu estudo.

Beatriz Graziano Chow

Este fato pode ser explicado pela falta de incentivo

vindo dos pais ou por muitos jovens não terem os recursos

necessários para cursar a universidade que entram e de-

sejam estudar. Um exemplo disso é um conhecido de mi-

nha mãe que em 1987, havia entrado no M.I.T e seu pai

não pode coloca-lo na univrersidade.

Page 8: Crônicas para recordar

A FRAGILIDADE HUMANA

A fragilidade humana é um tema que, ao pri-

meiro contato realmente assusta. É difícil lidar com a

condição do homem de fragilidade, a possibilidade

de qualquer um, a qualquer hora adoecer, morrer.

Porém, só entende isso quem já teve contato muito

com próximo com a doença ou com a perda de al-

guém muito querido. A vida no geral não é feliz, pois

momentos tristes podem nos trazer para baixo por

muito tempo; cada um constrói a própria felicidade.

Não podemos prever quando cada um sofrerá, mas

cabe a própria pessoa superar suas dificuldades de

cabeça erguida e passar por seus desafios provan-

do que suas forças internas são mais fortes que os so-

frimentos.

E esse modo de ver a vida só é adquirido, na mi-

nha opinião, quando o homem se depara com situ-

ações realmente difíceis. Uma criança órfã, por

exemplo, vivencia isso desde pequena e acaba le-

vando a vida com mais seriedade, porém não ne-

cessariamente saberá como superar os desafios,

mas será de certo modo forçada a lidar com eles

tentando vencer.

Page 9: Crônicas para recordar

Eu fui entender a fragilidade humana na minha

infância, quando minha irmã menor foi diagnostica-

da com câncer. Apesar de me chocar muito, esse

momento foi importante na minha vida, e me fez en-

tender que para ser feliz é preciso batalhar e que é

inevitável a necessidade de nos fortificarmos interna-

mente para superar os desafios. Sendo uma fase

muito difícil, minha família poderia ter entrado em

total desespero, vivido cada dia como um infinito

pesadelo, esquecido de todo o resto das obriga-

ções cotidianas. Apesar disso nós vivemos cada dia

com calma, com muita fé e esperança fazendo o

máximo pra que minha irmã se curasse rápido e

com o menor sofrimento possível. Através do meu

olhar de criança eu via tudo aquilo como um peso

sem causa para todos nós e realmente até hoje

não há quem culpar nem motivo que justifique o

que ocorreu. Então me deparei com a fragilidade

humana, entendendo que a qualquer momento mi-

nha irmã, eu, meus pais poderíamos adoecer com

uma doença qualquer, poderíamos morrer em um

acidente qualquer.

Paula Nocito Rebello

Page 10: Crônicas para recordar

PEDIR ESMOLA É PASSADO

Aquelas crianças que vivem na rua, pedindo esmola

ou vendendo balinhas são, muitas vezes, marginais

para nós. Até fechamos o vidro do carro para eles

não nos perturbarem!

Às vezes, culpamos a mãe pela sua desgraça.

―Aquela megera deve estar comendo tranqüilamen-

te, enquanto o pobre filho está trabalhando para o

―conforto alheio.‖

Mas, desta vez, foi diferente. Na direção do meu carro

parado no farol, vinha um desses meninos, quando a

poucos metros, notei que ele ia se desviando de meu

carro e indo para a calçada. Lá, estava sua mãe, sen-

tada, com um pequeno gibi aberto em sua mãe. Es-

tranhei. Olhei de novo. Sim, um gibi aberto. Uma sen-

sação de desconforto começou a entupir meu corpo.

Mas não era para ela estar brigando com o pobre

coitado? Por que ele não está pedindo esmola agora,

no farol vermelho?

Uma longa buzinada do carro de trás me fez perceber

que o farol já estava verde. Mas eu não queria andar.

Queria ver o que essa humilde família estava fazendo.

Bem devagarzinho, o carro começou a andar, mirei

para o retrovisor e admirei a mãe lendo uma historinha

para seu filho, que, por sua vez, ria incansavelmente.

Sinto-me culpada por ter herdado esses julgamentos

prévios da sociedade em que agora vivemos e ter

considerado aquelas pessoas como sem cultura e

bandidos.

Marina Motta M,artins

Page 11: Crônicas para recordar

OS DOIS LADOS DA MOEDA

Quando estava fazendo uma viagem exótica e cul-

tural pela Europa, notei aspectos peculiares, que nunca

pensei que notaria antes.

Em minha estadia, passei por países que têm muitos

artefatos históricos importantes, que têm muitos museus,

obras de arte, enfim muita cultura.

Porém, certo dia, fazendo muito calor em uma ma-

nhã de sol, percebi algo diferente. Estava em Veneza e

lá notei muitos detalhes, diferentes do que eu imaginava.

Vi, além de beleza, pobreza, miséria e tristeza que eu

pensei somente ser possível ocorrer geralmente em países

subdesenvolvidos, como o Brasil.

Naquele dia, vi uma mulher debruçada sobre o

chão, não sei o que fazia exatamente, parecia dizer algo

indecifrável, presumi que ela estava pedindo dinheiro.

Também vi outras pessoas pedindo esmola. Além disso, vi

pichações nas ruas da cidade.

Esses fatos são comuns em países menos desenvolvi-

dos, no Brasil por exemplo, já estamos acostumados em

ver a pobreza em geral. Mesmo possuindo uma qualida-

de de vida boa, observamos a pobreza o que é realida-

de em nosso cotidiano, não ficamos tão chocados com

ela. Na Europa, ou em continentes mais desenvolvidos,

associamos a beleza do continente com a sua realidade,

porém nem sempre estamos certos, só porque um local é

bonito, não significa que não há coisas horríveis lá.

Page 12: Crônicas para recordar

Então, quando me deparei com esses fatos e o mais

importante, compreendi-os, houve um impacto em mim,

eu pensei que tudo o que havia naqueles países era belo

e puro. O ideal sobre aqueles lugares tinha mudado. Per-

cebi que não há somente desgraça e miséria em países

menos favorecidos como há também em países mais fa-

vorecidos e de muita cultura. Sempre há dois lados da vi-

da, das nações, do mundo. Espero que um dia enten-

dam o que eu quero dizer, como eu pude entender com

esta experiência.

Beatriz Graziano Chow

Page 13: Crônicas para recordar

IGNORANTES DITOS NÃO-IGNORANTES

Para os fanáticos, o esporte é como tempero da sala-

da ou a cereja do bolo: algum complemento indispensá-

vel. As vezes, a derrota do time pode nos derrotar junto, a

vitória pode nos alegrar para o resto da semana e o jogo

pode nos fazer abrir mão de grandes compromissos.

Entretanto, mais fanáticos do que os fanáticos, obvia-

mente, são os próprios esportistas. Eles treinam de 6 a 12

horas por dia, se lesionam e ouvem broncas dos treinado-

res, mas continuam, porque a paixão pelo que fazem grita

mais alto. Infelizmente, sobre esse aspecto, a maioria das

pessoas não dá a mínima bola. Só querem saber de tro-

féus, notonas e bom rendimento. Afinal, não é somente is-

so que importa? NÃO! Claro que não... Pois mais do que

tudo que convivem como disse antes, alguns ainda rece-

bem um mal salário e sofrem por preconceito. Até os joga-

dores de futebol, que, apesar de receberem salários altíssi-

mos, são caracterizados como vagais ou ignorantes.

Esses conceitos prévios que adotamos para os atletas

profissionais podem causar grande desincentivo para eles.

Como consequência, um mal rendimento e derrotas fre-

quentes.

Bom, pelo visto trocaram os papéis dos ignorantes, né?

Marina Motta Martins

Page 14: Crônicas para recordar

RUGBY: O ESPORTE DO FUTURO

Um dia comum, como tantos outros. O sol brilhava

e o dia estava belo. O fato, o qual havia esperado por

um mês estava prestes a ocorrer. O estádio era

consumido aos poucos pela multidão. Porém, não

importava quanto ele lotasse eu já havia garantido o meu

lugar o meu lugar VIP e estava pronto para ver os ―All

Blacks‖.

Era a final da Copa do Mundo de Rugby de 2011 e

estava ocorrendo na Nova Zelândia. A final era Nova

Zelândia e França. Tinha certeza de que os ―azulzinhos‖

iam perder de lavada. O tempo passava e ainda tinha

dez minutos para os jogadores entrarem em campo. Foi ai

que me dei conta de algumas diferenças que o rugby

tem em relação ao futebol.

Por exemplo, os jogadores tem muito mais respeito

pelo arbitro no Rugby, eles não podem nem dirigir a

palavra para ele, somente escutar se este quiser falar

com eles, o único que pode falar com o juiz é o capitão.

Assim se você reclamar, ele te expulsa e muito menos

ofender. A contagem dos pontos é basicamente

constituida de duas formas: o try e o chute. A bola tem

um formato diferente, isto é óbvio. As formações dos

jogadores é interessante não se pode jogar a bola em

linha reta, somente para trás e com as mãos. Outra

diferença é que é um jogo muito violento, porém com

seus principios, suas tradições e o mais importante com

homens muito diciplinados e bem preparados.

Page 15: Crônicas para recordar

Enquanto pensei nisso pensei que é tão evidente

estas diferenças e ninguém as reconhece, tantos pontos

negativos no futebol, mas é o esporte mais importante do

Brasil, certo? Espero que as pessoas possam perceber o

que eu estou tentando dizer e que o Rugby ainda se

torne muito popular no Brasil, como já é na maior parte

do mundo, como o esporte do futuro. Também pensei na

estrátegia de Brian O'Driscoll em seu jogo recente,

defendendo a Irlanda contra os "Wallabies". Espero que

essa estrátegia maravilhosa seja usada pelos "All Blacks"

também hoje e que Richie McCaw possa segurar a taça.

Beatriz Graziano Chow

Page 16: Crônicas para recordar

A dedicação e a beleza da patinação artística

A patinação artística é o esporte mais belo entre to-

dos. É a perfeita mistura da graciosidade do ballet com

a velocidade e audácia sobre rodas. Quando assistimos

á uma apresentação ficamos impressionados e choca-

dos com a beleza do esporte. Quando observamos, pa-

rece até que é fácil dar um salto triplo no ar, de tão leve

que a patinadora parece ao saltar. No entanto sei, por

experiência própria, que seis meses de trabalho árduo

na patinação não bastam para dar um salto inglês (de

180 graus) perfeito. Imaginem então as patinadoras de

olimpíadas, o quanto não se esforçaram para chegarem

até lá...

Minha mãe patinava muito bem, participava de

competições e eu me senti motivada, além de achar o

esporte bonito. Logo, durante os nove meses fiz patina-

ção e sempre fui a mais velha do grupo. Havia dois ní-

veis - o do Vini (campeão mundial) que dava aula para

o grupo básico, do qual eu fazia parte e o da Hedit,

uma polonesa grossa de uns 50 anos, que vivia de cara

amarrada e dava aula para o grupo avançado, para as

―federadas‖ (participam de competições federais). Essa

mulher sempre gritava com suas alunas, raramente elo-

giava seus saltos e costumava por defeito em tudo.

Foi depois de ver algumas aulas da Hedit que eu per-

cebi como a pressão para nunca errar era grande entre

as patinadoras, as alunas sempre davam o máximo de

Page 17: Crônicas para recordar

si, para se auto superarem. Competiam umas com as

outras e mesmo sabendo que um pouco disso é neces-

sário para ser uma patinadora campeã, eu acho que

seria saudável um pouco mais de elogios da parte da

professora, uma aula mais light se é que você me en-

tende. Assim as alunas se sentem mais motivadas ao in-

vés de com medo.

Já o meu grupo tinha garotas com uma idade mé-

dia de 7 á 11 anos e eu tinha 14. No começo era co-

nhecida como a grande e ruim do grupo e pessoal-

mente, não é muito agradável ficar caindo no chão

enquanto umas menininhas de 8 anos dão saltos lindos

na sua frente e ficam te julgando. Bom, me esforcei,

não desisti e acabei melhorando mas mesmo assim

quando errava meu professor olhava para mim e ria fa-

lando ― Que belo exemplo as maiores dão, hein‖. De-

pois de um tempo me senti totalmente desmotivada,

sem a mínima vontade de patinar, não via mais razão

para me esforçar tanto numa aula com um professor

chato e sem muitas amigas, então deixei de patinar.

Mas até hoje continuo admirando muito as patina-

doras e esse esporte lindo, mas percebi que deveria ter

começado a patinar antes se quisesse algum sucesso

no esporte. E toda essa pressão de ser a melhor e de

conseguir fazer saltos, realmente não é para mim.

Paula Nocito Rebello

Page 18: Crônicas para recordar

O mulherão

Peça para um homem descrever um mulherão. Ele

imediatamente vai falar do tamanho dos seios, na medi-

da da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum

e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser

loira,1,80m,siliconada,sorriso colgate. Mulherões, dentro

deste conceito, não existem muitas: Vera Fischer, Leticia

Spiller, Malu Mader Adriane Galisteu, Lumas e Brunas.

Agora pergunte para uma mulher o que ela considera

um mulherão e você vai descobrir que tem uma a cada

esquina.

Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para

ir ao trabalho e mais dois para voltar, e quando chega

em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma fa-

mília morta de fome. Mulherão é aquela que vai de ma-

drugada para a fila garantir matricula na escola e aquela

aposentada que passa horas em pé na fila do banco pa-

ra buscar uma pensão de 100 Reais.

Mulherão é a empresária que administra dezenas de fun-

cionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias

da semana. Mulherão é quem volta do supermercado se-

gurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e

feito malabarismo com o orçamento.

Martha Medeiros

Page 19: Crônicas para recordar

Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes,

que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto al-

to, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem

nenhum convite para ser capa de revista. Mulherão é

quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, le-

va os filhos para a natação, busca os filhos na natação, le-

va os filhos para a cama, conta histórias, dá um beijo e

apaga a luz. Mulherão é aquela mãe de adolescente que

não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã

bem cedo já está de pé, esquentando o leite.

Mulherão é quem leciona em troca de um salário mí-

nimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é

quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é

quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha

atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha,

quem dá expediente de oito horas e enfrenta menopau-

sa, TPM, menstruação. Mulherão é quem arruma os armá-

rios, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não

desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzei-

ros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o

que cada filho sente e qual o melhor remédio pra azia.

LUMAS,BRUNAS,CARLAS,LUANAS E SHEILAS: Mulheres nota

dez no quisito lindas de morrer, mas MULHERÃO É QUEM

MATA UM LEÃO POR DIA

Martha Mederios

Page 20: Crônicas para recordar

COMPLEXO DE VIRA-LATAS

Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da sema-

na. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais

obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por

toda parte, há quem esbraveje: - "O Brasil não vai nem se classificar!".

E, aqui, eu pergunto: - não será esta atitude negativa o disfarce de

um otimismo inconfesso e envergonhado?

Eis a verdade, amigos: - desde 50 que o nosso futebol tem pudor

de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última

batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi

uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode cu-

rar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo

que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno pos-

sa causar uma dor tão grande. O tempo em vão sobre a derrota. Dir-

se- ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio ar-

rancou, de nós, o título. Eu disse "arrancou" como poderia dizer: -

"extraiu" de nós o título como se fosse um dente.

E, hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvidas: - é

ainda a frustração de 50 ez de acreditar na seleção. Mas o que nos

trava é o seguinte: - o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E

guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma

coisa: - se o Brasil vence na Suécia, e volta campeão do mundo! Ah,

a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as com-

portas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.

Mas vejamos: - o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades con-

cretas? Eu poderia responder, simplesmente, "não". Mas eis a verdade: -

eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: - sou de um patriotismo inatu-

al e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto jogadores

de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam,

Page 21: Crônicas para recordar

aqui, do aspirante-enxertado Flamengo. Pois bem: - não vi ninguém que se

comparasse aos nossos. Falasse num Puskas. Eu contra-argumento com um

Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.

A pura, a santa verdade é a seguinte: - qualquer jogador brasileiro, quan-

do se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de

único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: - te-

mos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida

as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de "complexo

de vira-latas". Estou a imaginar o espanto do leitor: - "O que vem a ser is-

so?". Eu explico. Por "complexo de vira-latas" entendo eu a inferioridade em

que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto

em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos "os

maiores" é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Porque,

diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humil-

dade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-

latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários.do

empate. Pois bem: - e per- demos da maneira mais abjeta. Por um motivo

muito simples: - porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fô-

ssemos.

Eu vos digo: - o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técni-

ca, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O bra-

sileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol pa-

ra dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que se convença disso, ponham-no

para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da

anedota. Insisto: - para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.

Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: - e perdemos da

maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: - porque Obdulio nos tra-

tou a pontapés, como se vira-latas fôssemos. Eu vos digo: - o problema do

escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente.

É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que

não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma

vez que se convença

disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar,

como o chinês da anedota. Insisto: - para o escrete, ser ou não ser vira-latas,

eis a questão.

Nélson Rodrigues

Page 22: Crônicas para recordar

De 1958 a 1982, o Brasil teve um caso de amor com sua se-

leção de futebol. E ela fazia por onde: venceu três Copas do

Mundo, jogou partidas memoráveis no Maracanã e no Mo-

rumbi e consagrou três gerações de jogadores. Havia mais

craques na praça do que vagas no time, e nada superava a

honra de uma convocação.

Fora da seleção, esses jogadores entravam em campo to-

dos os domingos por seus clubes - nossos clubes. Podiam ser

amados ou odiados no fragor doméstico, mas, no que vesti-

am a camisa amarela, cessava o vodu. A seleção tinha até

torcedores próprios, e não apenas entre os que só se ligam

em futebol na Copa por um vago ardor patriótico.

Mas isso acabou. A seleção é, há muito, um feudo de jo-

gadores que atuam no exterior, defendendo camisas com as

quais nada temos a ver. Por vários motivos, também não a as-

sistimos em nossos estádios - há sete anos, por exemplo, ela

não joga no Rio. E, como aconteceu na última Copa, a sele-

ção, convocada na Europa, não veio ao Brasil nem para pe-

dir a bênção do povo que representava. Deu no que deu.

As razões são muitas, mas o fato é que a seleção se divor-

ciou do povo. Não é mais o Brasil. Reduziu-se a uma legião es-

trangeira que, mecanicamente, canta o hino antes do jogo.

Ex-ídolos nacionais como Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Robi-

nho preferem jogar por seus milionários clubes que pela sele-

ção. E estão certos: só quem vai à Europa sabe o que eles re-

presentam em paixão para os torcedores desses times. São

deuses em Milão, Barcelona, Madri.

Vem aí uma opaca Copa América. Os craques a despre-

zam e a torcida brasileira, com razão, também não está nem

aí. Qualquer campeonato local envolvendo o Arapiraca, o

Botucatu ou o Cascavel será mais emocionante, se um desses

for o nosso clube de coração. A camisa precisa estar perto

do peito.

Ruy Castro

Seleção sem povo

Page 23: Crônicas para recordar

Filho pai

Quando eu tinha pouco mais de 20 anos, morava com mi-

nha família em um pequeno sobrado de vila. Meu pai era fer-

roviário. Minha mãe se dedicava a bicos, como vender rou-

pas feitas ou blusas de lã que ela mesma tricotava. Eu estuda-

va e contribuía para parte das despesas trabalhando aqui e

ali. Não havia luxos, mas o dia-a-dia era relativamente confor-

tável. Na época eu não seria capaz de avaliar a contribuição

que meu pai dera à minha vida. Minha carreira de jornalista e

escritor ainda engatinhava. O estímulo para que eu estudas-

se, os livros que ganhara ao longo dos anos, o curso de inglês,

a máquina de escrever, tudo isso me parecia obrigação. Pelo

contrário. Eu me ressentia dos modos autoritários de papai.

De sua braveza. E também de suas parcas condições finan-

ceiras. Observava meus amigos bem de vida, alguns ricos.

Achava que ele, pai, poderia ter ganho mais dinheiro. Eu

também sentia dificuldade em conversar abertamente. Havia

uma espécie de muro entre nós dois.

Sua mãe, minha avó, vendeu a casinha no interior. O di-

nheiro acabou rapidamente. Ela veio morar conosco. Logo

teve um pequeno derrame. Fosse por isso ou por alguma ou-

tra doença, perdeu o juízo. De repente, a vovó que adorava

fazer doces tornou-se uma pessoa furiosa. Dizia coisas horren-

das. Pior. Parecia ter desenvolvido uma sensibilidade especial

para atingir o ponto fraco de cada um. Um psicanalista teria

feito uma tese com suas frases, tal a súbita argúcia para alar-

dear velhos ressentimentos, mágoas escondidas, tensões

ocultas. Não me poupou:acusava-me de não me dar bem

com meu pai. Eu me sentia culpado ao ouvi-la, pois acredita-

va que ele me devia mais carinho, mais cuidados, mais con-

fortos.

Pior era com mamãe. Nunca se deram bem. Fora uma tor-

turada relação entre nora e sogra. Agora vovó levava minha

mãe às lagrimas algumas vezes por dia. A situação era ruim.

Page 24: Crônicas para recordar

Tornou-se insustentável quando ela passou a ameaçar mamãe

fisicamente. Descobrimos uma espécie de estilete escondido

entre seus objetos pessoais.

Hoje teria sido possível a contratação de uma enfermeira. Na

época, nem podíamos oferecer-lhe um quarto. Eu dormia na

sala. Ela dividia um aposento com meu irmão menor. Só havia

uma solução. Interná-la em uma casa de saúde.

Meu irmão mais velho, já casado, escolheu uma que parecia

adequada, embora modesta. (Ao longo dos anos seguintes, tro-

camos de lugar várias vezes, quando constatávamos deficiên-

cias.) Todos os netos se cotizaram para pagar a mensalidade.

Em um sábado, meu irmão veio com o carro. Vovó pareceu ter

percebido alguma coisa, apesar de nada ter sido explicado.

Gritou:

— Não quero ir!

Foi preciso alguma firmeza para convencê-la a entrar no auto-

móvel. Meu pai assistiu a toda a cena da sala. Fiquei com ele,

enquanto levavam vovó. Fechei a porta. Ouvimos o motor, a

partida. Houve um silêncio.

Papai subiu as escadas lentamente. Senti um nó na gargan-

ta. Fui atrás. Ele atirou-se na cama de casal. Chorou. Pela pri-

meira vez em toda a minha vida, eu via meu pai chorar. Um

choro convulsivo, com soluços, o peito estremecendo. Debrucei

-me sobre ele. Abracei-o.

— Não chora, pai. Não chora!

Permaneci com meu pai nos braços. O muro se rompeu. Per-

cebi que há um momento na vida em que o pai se torna filho e

o filho, pai. Agora era minha vez de cuidar dele. Abracei-o mais

fortemente, oferecendo reservas de sentimento guardadas.

Descobri, então, como era profundo meu amor por papai, e

como eu estava disposto a fazer o impossível para que ele não

sofresse tanto.

Walcyr Carrasco

Page 25: Crônicas para recordar

As importantes dúvidas da adolescência Para mim, a adolescência é a fase mais complicada de todas. Além de termos que lidar com mais responsabilidades, tarefas, te-mos que formar nossos valores, nosso caráter e muitas vezes acaba-mos sofrendo ao nos depararmos com as dificuldades dessa idade e constantes dúvidas. É realmente uma fase difícil. Os pais dos adolescentes se veem com dificuldades para lidar com a adolescência devido à rebeldia, hipersensibilidade deles, dis-tanciamento deles de suas famílias e aproximação deles de seus amigos. Apesar disso, os pais tem que entender que se é difícil para um pai lidar com seu filho adolescente, é mais complicado ainda pa-ra seu filho lidar com si mesmo. Mudanças no corpo, na personali-dade, na mente. Perguntas começam a surgir. Perguntas existenciais, sobre a origem da vida, do universo, sobre a morte, a religião. E o pi-or de tudo é que elas não tem resposta. Nossa cabeça fica toda ba-gunçada e queremos mais do que tudo entender por que existe de-sigualdade no mundo, por que existem as doenças, por que nasce-mos na família que nascemos. Então, com o passar do tempo, aprendemos a lidar com a nova realidade que nos cerca, as novas preocupações, as novas dúvidas, os novos sonhos. Aos poucos aquela nuvem confusa vai se movendo e aceitamos que algumas perguntas não tem resposta, aceitamos nós mesmos do jeito que somos e conforme isso acontece, nós ado-lescentes vamos amadurecendo, construindo valores, entendendo mais sobre a vida. A confusão começa a se estabilizar e aprendemos como lidar com essa fase que, apesar de difícil, é muito boa em nos-sa vida e muito importante. Criação conjunta

Page 26: Crônicas para recordar

Alunas-

Beatriz Chow n-2

Marina Motta n-17

Paula Rebello n-19

2-1MA5

PTE

Professora Érika Salgado