crônica jornalistica
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Análise dos motivos para as atuais manifestações de jovens pelo país
Por João Pedro Roriz
O momento inflacionário grave que o Brasil vive é maquiado com gráficos e
explicações superficiais dadas por um ministro da economia escorregadio que tem um
nome propício para o cargo. Já não é de hoje que a população estranha o atual
“esplendor desenvolvimentista”divulgado pelos meios de comunicação.
Se antigamente, os jovens tinham que optar entre comer no restaurante ou na
lanchonete; pegar táxi ou ônibus; era uma opção relacionada ao preço. Hoje optam em
pegar ônibus ou lanchar. Andam a pé ou ficam com fome. Não há primeiro emprego: há
escravidão! Agora, com a Copa do Mundo, estão elitizando os estádios de futebol.
Moradia própria é para os ricos. Em que País viverão os que estão começando a vida
profissional e que nem sempre possuem incentivo dos pais ou da família?
Chico Buarque em uma de suas canções traçou as possibilidades daqueles que
viviam a aurora de suas vidas em plena era ditatorial: “não sou ladrão, eu não sou bom
de bola, nem posso ouvir clarim”. A realidade não mudou. A falta de interesse das
empresas pelo jovem é evidente: preferem padecer com a falta de funcionários do que
treinar novos talentos. Por sua vez, jovens não costumam ser muito fieis a seus
empregos: aprendem um ofício em determinada empresa para, logo em seguida, leiloar
o seu talento entre as empresas concorrentes. E são poucos os interessados a começar
por baixo. São ansiosos, querem reconhecimento e bons salários sem, contudo,
desenvolver seus potenciais.
O tecnicismo nas universidades é um dos estopins incendiários dos jovens que
idealizam o futuro profissional, mas não vivenciam o dia-a-dia acadêmico e não
possuem gosto pelo saber: entram e saem das universidades sem interesse no
aprendizado, apenas com foco na formação que lhes dará um diploma, um pedaço de
papel que o permitirá dar cabeçadas no mercado.
E qual é a recompensa? Os jovens encontram cada vez mais dificuldade de
deixar a casa dos pais; os planos de saúde além de caros não dão certeza de um bom
atendimento. Os consultórios médicos estão lotados, os hospitais públicos inexistem e
até os particulares sofrem com a falta de recursos. As escolas públicas inexistem, as
particulares sofrem para educar os filhos daqueles que trabalham muito e não têm tempo
para a família. Esse conforto, esse ideal de felicidade proposto por pais super protetores,
deixa a população universitária mal acostumada. Trabalho, palavra derivada do latim
“tripalium” – que significa literalmente “roda de tortura” – torna-se uma árdua tarefa
para muitos. Se antes, os jovens iam para a balada nos finais de semana para
descansarem após uma semana exaustiva de trabalho, hoje, equivocados, buscam
trabalhos que paguem por esses momentos de diversão.
Vivemos um momento paradoxal. Muitos jovens estão saindo às ruas sem saber
por que protestam. Falta liderança nesse tipo de movimento. E muitos manifestantes
agem como moleques mal educados que reivindicam mudanças sem, de fato, sentirem-
se parte importante dessa imensa engrenagem. As lutas travadas entre manifestantes e
policiais refletem a falta de conhecimento da população sobre seus direitos e deveres.
Os governantes mostram sua inabilidade política ao combater frases de efeito
moral com bombas de efeito moral. Da mesma forma, manifestantes tapam o rosto e
aderem à causa não por interesse social ou idealismo, mas por puro desejo de extravasar
seu ódio e depredar o patrimônio público. Veremos universitários, filhinhos de papai
promovendo vandalismos e ocupando espaços públicos de forma violenta; veremos
marginais aproveitando a oportunidade para atacar pessoas inocentes e veremos muitos
jovens confundindo motivação com falta de opção, opinião com desobediência civil.
Precisamos separar o interesse individual do interesse coletivo dos
manifestantes. Sabemos que hoje existem nas universidades públicas e escolas técnicas
“estudantes profissionais” que ganham salário para permanecer matriculados com o
proposito de captar jovens para partidos com ideais extremistas. Muitos olham as
manifestações como forma de promoção de suas carreiras políticas. Alguns dos atuais
governantes começaram assim suas carreiras e estão diante do espelho.
Esse é momento para a reflexão e não para a guerra. Precisamos refletir sobre os
motivos que levam os universitários às ruas, mas também é preciso avaliar a sua relação
com os novos conceitos políticos e econômicos que regem a força monumental de
regras de nosso grandioso País.
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João Pedro Roriz é escritor e jornalista, autor da obra “Almanaque da Cidadania”, entre outros.