critÉrios para a seleÇÃo das principais cadeias … · o conceito de cadeia produtiva...

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1 CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DAS PRINCIPAIS CADEIAS PRODUTIVAS DO PARANÁ* Natalino A de Souza Odílio Sepulcri INTRODUÇÃO O meio rural Paranaense apresenta uma diversidade de ambientes físicos, recursos naturais, sistemas agrários, agroecossistemas, relações sociais, culturas, etnias, padrões tecnológicos, forma de organização social e política, linguagens e símbolos. Tal diversidade reafirma que o espaço rural paranaense é plural e heterogêneo. Neste ambiente, historicamente, convivem, lado a lado, a agricultura empresarial e familiar, cada uma com as características que lhe são peculiares. A Agricultura Familiar 1 (INCRA/FAO, 2000) representa 86,9% dos estabelecimentos rurais e 41% da área total. Apesar de ocupar 41,0% da área total, a agricultura familiar responde por 48,2% do Valor Bruto da Produção do Estado. Embora essa contribuição para o VBP, cerca de 45,5% dos estabelecimentos familiares estão descapitalizados ou em descapitalização, representando 105.944 estabelecimentos. Esses dados reafirmam a exclusão das unidades produtivas familiares do processo global de modernização da agricultura. Durante um longo tempo de nossa história esse público foi preterido na definição das políticas públicas para o setor. O resultado disso é um estado com agricultura rica e agricultor pobre, refletindo-se nos índices de IDH, na sua maioria, abaixo da média brasileira. *Trabalho elaborado para auxiliar na definição das cadeias produtivas prioritárias a serem trabalhadas pelo Instituto Emater, no período 2007-2010. 1 Art. 3 o da Lei 11.326, de 24 de julho de 2006, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos: I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

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CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DAS PRINCIPAIS CADEIAS PRODUTIVAS DO PARANÁ*

Natalino A de Souza

Odílio Sepulcri

INTRODUÇÃO

O meio rural Paranaense apresenta uma diversidade de ambientes físicos,

recursos naturais, sistemas agrários, agroecossistemas, relações sociais, culturas,

etnias, padrões tecnológicos, forma de organização social e política, linguagens e

símbolos. Tal diversidade reafirma que o espaço rural paranaense é plural e

heterogêneo.

Neste ambiente, historicamente, convivem, lado a lado, a agricultura

empresarial e familiar, cada uma com as características que lhe são peculiares.

A Agricultura Familiar1 (INCRA/FAO, 2000) representa 86,9% dos

estabelecimentos rurais e 41% da área total. Apesar de ocupar 41,0% da área total,

a agricultura familiar responde por 48,2% do Valor Bruto da Produção do Estado.

Embora essa contribuição para o VBP, cerca de 45,5% dos estabelecimentos

familiares estão descapitalizados ou em descapitalização, representando 105.944

estabelecimentos.

Esses dados reafirmam a exclusão das unidades produtivas familiares do

processo global de modernização da agricultura. Durante um longo tempo de nossa

história esse público foi preterido na definição das políticas públicas para o setor. O

resultado disso é um estado com agricultura rica e agricultor pobre, refletindo-se nos

índices de IDH, na sua maioria, abaixo da média brasileira.

*Trabalho elaborado para auxiliar na definição das cadeias produtivas prioritárias a serem trabalhadas pelo Instituto Emater, no período 2007-2010. 1 Art. 3o da Lei 11.326, de 24 de julho de 2006, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos: I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

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TABELA 1: CATEGORIAS DE PRODUTORES RURAIS DO PARANÁ SEGUNDO NÚMERO DE

ESTABELECIMENTOS, ÁREA TOTAL E VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO – 1995/96. Estabelecimentos Área Total (ha) Valor Bruto da Produção

(em 1.000 reais) Categorias

Abs. % Abs. % Abs. % Agricultura familiar 321.380 86,9 6.541.583.586 41,0 5.573.890 48,2Maiores rendas 52.742 14,3 2.205.453.961 13,8 1.593.300 28,6Renda média 100.258 27,1 2.056.799.420 12,9 683.548 12,3Renda baixa 62.436 16,9 884.251.190 5,5 189.924 3,4Quase sem renda 105.944 28,6 1.395.059.015 8,7 217.223 3,9Agricultura patronal 44.273 12,0 9.275.501.333 58,2 2.860.118 51,3Outras categorias 4.222 1,1 129.546786 0,8 29.775 0,5Total 369.875 100,0 15.946.631.705 100,0 5.573.890 100,0Fonte: IBGE/Censo Agropecuário 1995/96. Elaboração INCRA/FAO

Por outro lado, neste processo histórico podem-se apontar, na atualidade,

dois caminhos para o desenvolvimento do espaço rural paranaense. O primeiro é

pautado no desenvolvimento agrícola, baseado no agronegócio, cuja natureza é

essencialmente setorial e o segundo adota o princípio do desenvolvimento rural,

com a integração de atividades agrícolas e não agrícolas, rurais e urbanas,

multissetoriais e territoriais (IBASE,2006).

Este trabalho tem o objetivo de estabelecer critérios para a seleção das

cadeias produtivas prioritárias para a atuação do Instituto Emater. Entende-se por

cadeia produtiva “o encadeamento de atividades econômicas pelas quais passam e

vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos, incluindo desde

matérias-primas, máquinas e equipamentos, produtos intermediários até os finais,

sua distribuição e comercialização. Resulta e implica em crescente divisão de

trabalho, na qual cada agente ou conjunto de agentes especializa-se em etapas

distintas do processo produtivo. Uma cadeia produtiva pode ser de âmbito local,

regional, nacional ou mundial (DANTAS, KERTSNERTZKY, PROCHINIC, 2002;

BRITTO, 2002)”.

O conceito de cadeia produtiva organiza-se no setor agrícola, a partir da

necessidade de ampliação da visão de dentro da porteira para antes e depois da

porteira da fazenda. Os sistemas produtivos agropecuários, sob a visão da extensão

rural, são um dos elos mais importantes das cadeias produtivas. Por isso, a análise

deste componente deve ser realizada de forma mais profunda.

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2- CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DAS CADEIAS

Para efeito de seleção e priorização das cadeias produtivas, com importância

estratégica ao desenvolvimento do Estado e das regiões para intervenção da

extensão rural, propõem-se como critérios:

• Renda (Valor Bruto da Produção, renda bruta por unidade de área)

• Distribuição Espacial das Explorações no Estado do Paraná (área e número

de produtores)

• Rota da Pobreza no Estado do Paraná

• Cadeias que mais contribuem com o desenvolvimento local, cuja renda

gerada circula no município

2.1- Renda (Valor Bruto da Produção)

Utiliza-se o Valor Bruto de Agropecuária para selecionar os principais produtos

que contribuem para a formação da renda agropecuária nos níveis estadual, regional

e municipal. A priorização deste indicador permite visualizar os produtos que são

importantes ao processo de desenvolvimento. Estes produtos foram listados

considerando a produção anual.

Para tal, dispõe-se da publicação Valor Público da Produção Paranaense 2004/2005

(DERAL, 2007).

A tabela 2 apresenta a evolução do ranking dos 10 principais produtos do

Estado nos últimos 08 anos. Os grãos de verão, grupo que inclui principalmente

soja, milho, feijão e café, historicamente têm respondido como principal componente

do VBP do Estado. Os demais grupos de produtos sofreram pequenas oscilações ao

longo dos anos, merecendo destaque o grupo dos produtos florestais que, no

período analisado, saltou da sétima para a terceira posição, e os bovinos que caíram

da segunda para a quarta posição.

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TABELA 2 - RANKING DOS SUBGRUPOS DO VBP NO ESTADO DO PARANÁ DE 1996/97 A

2004/05

A tabela 3 apresenta o ranking (de 1 a 10) dos principais produtos formadores

da renda regional, onde se observa uma certa heterogeneidade entre as regiões,

com exceção dos produtos soja, frango, milho, leite e boi que ocorrem de forma

generalizada no Estado.

Dados do Deral mostram que o Valor Bruto da Produção paranaense na safra

2004/2005 reduziu de R$ 29.278.025.571 para R$ 26.016.437.092, em relação à

safra anterior.

5

A soja com VBP de R$ 4.382.322.335 continuou sendo o principal produto de

renda do estado, estando presente em 19 regiões, sendo o principal produto em 13

delas. No ano anterior o VBP da soja foi de R$ 7.024.021.108.

O grupo da avicultura, constituído por frangos, pintainhos, galinhas, perus,

aves exóticas e codornas, com VBP de R$ 3.986.466.836, responde pela segunda

maior contribuição de renda, estando presente em 14 regiões como cadeia

importante.

O milho apresenta um VBP de R$ 2.075.164.533, sendo importante em 15

regiões, sendo que em 5 delas é a segunda cadeia mais importante em VBP.

O grupo dos produtos florestais (madeira em tora, lenha e carvão, erva-mate,

palanques, mudas florestais e demais produtos), apresenta um VBP de R$

3.213.188.072, estando em dez principais receitas em 14 regiões.

A bovinocultura representa um VBP de R$ 2.168.382.475, sendo

representativa em 14 regiões.

A suinocultura gera um VBP de R$ 1.774.621.539, está presente em 9

regiões e em duas ocupa a terceira melhor posição.

A pecuária comercial – grupo composto por leite, ovos de galinha,

sericicultura, produtos apícolas, ovos de peru, ovos de codorna, lâ, demais produtos

com um VPB de R$ 1.842.519.713, surge entre as atividades mais importantes em

11 regiões. Neste grupo é fundamental destacar a importância do leite que produz

um VBP de R$ 1.288.523.789.

A cultura do trigo gera um VBP de R$ 849.324.111, principal cultivo de

inverno e está presente em 10 regiões.

A cana de açúcar, cultura em expansão no norte do estado pela prioridade

energética, tem importância estratégica em 8 regiões e gera um VBP de R$

802.428.720.

As hortaliças geram um VBP de R$ 1.132.470.954, estão presentes nas

principais regiões metropolitanas, cinturões verdes das grandes cidades e situações

localizadas no estado. No grupo das hortaliças os produtos de maior VBP são: a

batata-inglesa com VBP de R$ 351.871.153, a couve-flor com VBP de R$

148.590.708 e o tomate com VBP de R$ 127.239.043.

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TABELA 3 RANKING DA IMPORTÂNCIA DOS PRODUTOS/CADEIAS AGROPECUÁRIOS PARA A RENDA DAS REGIÕES PARANAENSES 2 Produtos AP CM CV CP CT FB GP IV IR SAP LS LD MG PGÁ PV PB PG TO UM UV Soja 1 1 1 1 10 2 1 1 2 3 1 1 1 7 1 1 1 1 5 Frango 2 2 8 2 1 1 3 2 4 5 3 5 2 3 Milho 3 4 5 6 3 4 2 2 3 6 2 9 2 2 4 Café 5 9 4 7 2 7 10 Trigo 6 3 6 2 10 3 3 8 5 6 8 6 Cana 8 7 3 9 4 2 3 2 Ovos 9 9 9 10 Milho safr 2 8 7 3 3 4 8 Mandioca 5 9 10 6 1 Boi 6 10 5 7 6 5 10 5 6 6 8 2 10 4 Leite 8 3 6 7 4 7 6 4 7 5 7 Vaca 10 5 10 8 9 9 8 4 suínos 4 3 9 8 7 6 4 3 6 Uva 9 5 Banana 10 1 Pinus 1 1 5 1 Madeira 5 4 7 5 3 3 Feijão 7 4 6 10 5 6 Fumo 8 8 7 4 10 7 Cevada 10 Soja safrinh 9 Feno 10 9 Camarão capt 2 Camarão cult 7 Pescado capt 3 Carangueijo 9 Arroz 4 Maracuja 8 Laranja 9 garrotes 10 9 Peru 9 Erva mate 8 Carvão 9 Cenoura 4 Couve flor 7 4 Fonte: Deral (2003/2004).

2.1.1- Renda Bruta por Unidade de Área

Este indicador é importante para aferir as explorações que mais contribuem

com a renda bruta por hectare, fator importante na agregação de renda para a

viabilização das pequenas unidades familiares de produção.

A renda bruta por hectare da agropecuária do Estado do Paraná variou nas

diversas regiões administrativas da Secretaria da Agricultura de R$ 161

em Paranaguá a R$ R$ 3.214 em Francisco Beltrão (ver Tabela 4). As maiores

rendas ocorreram nas regiões de Francisco Beltrão, Toledo, Apucarana, Cascavel,

2 Considerando apenas os 10 principais produtos de cada região.

7

Irati, Maringá e Londrina. Nestas regiões prevalecem como explorações principais a

soja e o frango, com a soja sendo o principal produto e o frango o segundo produto

formador da renda regional, sendo que na região de Francisco Beltrão (melhor

renda) esta posição se inverte. Exceção se deve fazer à região de Irati na qual as

principais explorações são pinus, soja e milho

TABELA 4 - RENDA BRUTA POR UNIDADE DE ÁREA NOS DIFERENTES NÚCLEOS REGIONAIS Valor Real (R$/há) Núcleos Regionais

Ano 2004 Ano 2005Apucarana 2.341 1.922Campo Mourão 1.589 1.022Cascavel 2.252 2.052Cornélio Procópio 1.571 1.066Curitiba 1.074 1.230Francisco Beltrão 3.377 3.214Guarapuava 797 566Irati 1.743 1.685Ivaiporã 902 673Jacarezinho 1.549 1.367Laranjeiras do Sul 1.093 1.315Londrina 1.929 1.547Maringá 1.829 1.579Paranaguá 170 161Paranavaí 1.020 849Pato Branco 1.293 1.023Ponta Grossa 1.258 1.182Toledo 3.018 2.809Umuarama 1.011 892União da Vitória 1.385 1.457Total do Estado 1.465 1.302FONTE: SEAB/Deral, 2006

2.2- Distribuição Espacial das Explorações no Estado do Paraná

Este indicador permite analisar as explorações mais cultivadas nos

estabelecimentos rurais do Estado do Paraná, em cada uma das regiões

administrativas e, portanto, entender quais as mais importantes na visão dos

agricultores.

8

TABELA 5 - DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE PRODUTORES POR EXPLORAÇÃO E REGIÃO Soma de Produtores

REGIÕES

Produto AP CM CV CP CB FB GP IR IV LD MG PGA PV PB PG SAP TO UM UV Total Global

aves 284 110 2279 75 992 1958 76 116 133 583 404 198 468 543 2256 1620 764 46 12905

boi 1389 2647 3997 1543 1608 3187 6230 438 4969 2282 2218 18 3876 2240 5062 3332 1529 5216 450 52231

Leite

300 1471 7038 693 1923 12108 4817 849 2641 713 875 31 2355 6545 1895 1817 7764 2026 673 56534

bov mista

1794 5465 9753 1973 8658 27092 9421 5497 7344 1526 2183 460 1810 3817 9859 7037 4935 5330 7230 121184

Café

1393 1256 212 2120 0 1671 1851 1492 1042 0 114 3975 732 2806 18664

cana-açuc

500 428 5345 385 285 8791 1801 6 1189 483 523 217 593 2907 45 1063 2152 1058 207 27978

Eucalipto

1000 2186 4464 1592 2472 7133 3099 5712 3699 824 899 22 2891 2012 5826 5160 1841 4578 2972 58382

Fumo

83 300 2794 3977 7014 4684 7823 387 0 0 5 479 6711 12 1136 50 3413 38868

milho

2901 5601 10725 2883 25433 23904 29926 17120 15282 7470 826 162 1282 9230 14644 9122 3165 2825 11895 194396

milho saf

696 4351 7882 1757 2740 11613 1565 1135 3570 2373 3148 509 328 2640 2005 11945 1872 496 60625

Pinus

6 15 164 201 1976 1575 1356 2593 256 9 6 1 364 1892 251 5 3740 14410

Soja

2442 10587 14192 4973 997 12115 5708 1814 8631 5071 5273 224 7372 4337 1136 17877 3256 1560 107565

soja saf

10 58 115 0 903 106 3 0 1 11915 223 39 1 13374

Suínos

415 4965 3704 531 8300 6157 6170 2514 3377 885 1099 97 1512 1581 3974 2044 2556 1848 6360 58089

Trigo

1143 2852 3258 2526 297 4488 837 232 2613 1626 1390 7 1398 776 545 5500 320 36 29844

FONTE: Realidade Municipal – EMATER (2006)

Os produtos cultivados por maior número de agricultores no Estado do

Paraná são:

• Milho – cultivado por 194.396 agricultores

• Soja – cultivada por 107.565 agricultores

• Bovinocultura mista – explorada por 121.184 agricultores com dupla aptidão:

carne e leite.

Encontram-se em ascensão no estado as atividades ligadas ao cultivo

florestal, fruticultura, milho-safrinha, cana-de-açúcar e agricultura orgânica

9

2.3- Rota da Pobreza no Estado do Paraná

De acordo com o IPARDES (2003), o estado do Paraná apresenta 2.355.578

pessoas abaixo da linha de pobreza. Para a definição da linha de pobreza foram

consideradas as pessoas de famílias com renda inferior a meio salário mínimo per

capita (0,50 SM) mensal.

Estes dados guardam uma relação muito estreita com os dados referentes ao

Índice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDHM) que é um indicador utilizado

para aferir a qualidade de vida da população considerando as dimensões renda,

educação e saúde. Por este indicador, 33% da população paranaense vive em

municípios com IDHM inferior ao do Brasil.

TABELA 6 - PERCENTUAL DOS MUNICÍPIOS E DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR SITUAÇÃO

DE DOMICÍLIOS, SEGUNDO RECORTES DE IDH-M DO PARANÁ

POPULAÇÃO IDH-M

MUNICÍPIOS (%) Total Urbana Rural

0,620 a 0,699 14,79 5,73 3,08 17,350,700 a 0,763 57,39 28,17 22,28 53,980,764 a 0,799 21,80 29,01 30,67 20,870,800 a 0,849 5,51 20,45 23,36 7,700,850 a 1,000 0,50 16,64 20,41 0,10FONTE: IPARDES, 2003.

Da população total do estado, apenas,16,64% encontra-se em municípios

com IDHM alto.

Dos 20 municípios com menor IDHM do Estado, veja tabela em anexo, 13

estão localizadas na região central do Estado.

10

FIGURA1 – MAPAS ILUSTRATIVOS DO IDHM E DOS SOLOS DO PARANÁ

FONTE: IPARDES, 2003.

Comparando os mapas do IDHM e da pobreza verifica-se uma perfeita

coincidência na localização dos pontos de maior vulnerabilidade social. E esta

situação coincide com os aspectos de solo e relevo do estado, verificados nos

mapas acima. Os pontos de maior vulnerabilidade estão no entorno das regiões de

relevo mais acidentado e solos de menor fertilidade natural.

2.4- Cadeias que mais contribuem como desenvolvimento local

As cadeias produtivas ou as exploração agro-pecuárias podem ser analisadas

como de maior ou menor importância para a economia local em função dos

encadeamentos locais e regionais desenvolvidos à montante e a jusante da

produção, e em função da maior ou menor quantidade de empregos gerados.

Algumas explorações conseguem atrair para os pólos de produção novas empresas

que se aglomeram no seu entorno, formando elos da cadeia produtiva que

potencializam os efeitos positivos para a economia local. Outras são mais

importantes pela geração de empregos diretos no processo produtivo. De outro lado,

algumas não geram encadeamentos e nem são grandes geradores de empregos

diretos no campo.

De qualquer forma, é importante uma leitura dos negócios que se

desenvolvem no entorno das explorações agropecuárias e dos empregos que são

11

gerados para entender e dimensionar a maior ou menor importância que as

explorações desenvolvem no cenário local.

Para analisar os volume de empregos gerados no campo, foi construída a

tabela 7 tendo como base a necessidade por mão-de-obra das principais

explorações agropecuárias do Estado.

TABELA 7 – QUANTIDADE DE EMPREGOS GERADOS NO PROCESO PRODUTIVO DAS

PRINCIPAIS EXPLORAÇÕES DO ESTADO DO PARANÁ

INDICADORES PRODUTOS Área de Plantio/Produção

Equiv. Homem EMPREGOS GERADOS

Soja 4.108.277 ha 0,02 82.166Frango 1/20000Milho 1.278.331ha 0,03 38.350Bovino de corte Suínos 300.000 matrizes 1/30 10.000Produção de leite 2.518.929.000 L 1/250 L 27.604 Trigo 1.269.981 0,02 25.400Café 106.219 0,5 a 1,0 80.500Cana 404.520 0,2 80.904Mandioca 174.627 0,2 34.925Feijão 298.211 0,1 29.821Fumo 78.385 0,7 54.870Couve flor 2.405 0,8 1.924Pinus 605.000 0,1 60.500Uva 4.211 1,0 a 2,8 11.791Tomate 3.301 1,5 4.952Banana ELABORADO PELOS AUTORES.

3- COMENTÁRIOS

As teorias mais recentes sobre desenvolvimento, têm defendido como modelo

adequado, aqueles que integram atividades agrícolas e não agrícolas, rurais e

urbanas, multissetoriais e territoriais. Portanto, a agricultura familiar e empresarial

não podem ser consideradas excludentes e, sim, elos de integração e

oportunidades que devem ser exploradas em prol do desenvolvimento dos

municípios e regiões. A cadeia produtiva de um determinado setor se compõe com

esta complementariedade.

12

O desenvolvimento local deverá atender os requisitos da sustentabilidade3.

Além dos recursos produtivos, o fator mais decisivo na contribuição do

desenvolvimento local são as competências essenciais (conhecimento, habilidade e

atitude) dos atores locais. O capital humano é decisivo neste processo.

Os agricultores familiares, por residirem no próprio município e em

comunidade, fazem com que a maioria da renda gerada pelo fruto de seu trabalho

circule no comércio local, dinamizando os outros setores da economia, ao contrário

daqueles que residem em outras regiões.

Emprego – a cadeia de grãos é a que menos contribui na geração de

empregos diretos por unidade de área. Sua grande contribuição para o Estado está

no volume de empregos gerados no campo. As hortaliças, plantas medicinais e

frutíferas são melhores geradoras de empregos e ocupações, variando de um a oito

empregos por hectare por ano. A bovinocultura de leite, aves e suínos, também são

grandes absorvedoras de mão-de-obra (tabela 7).

A densidade de renda por área – as cadeias com tais características são

importantes na agricultura familiar pela capacidade de gerar alta renda em pequenas

áreas. Neste grupo encontram-se as frutas, hortaliças, plantas medicinais, leite,

aves, suínos, café, sericicultura e outros, porém todas elas estão limitadas pelo

tamanho da demanda de mercado.

No Estado do Paraná ainda se pratica uma agricultura em que prevalece um

baixo grau de diversificação das unidades produtivas, e uma agricultura ainda muito

dependente da produção de grãos. Com este perfil, o que tem-se

3 Para Jiménez (1997), o desenvolvimento sustentável considera cinco dimensões: econômica, humana, ecológica, tecnológica e cultural. Econômica – possibilitar a manutenção do sistema produtivo e o seu crescimento no longo prazo; Humana – refere-se a um sólido avanço para a estabilidade da população, distribuição e alcance de melhores condições na qualidade de vida; Ecológica – referente à necessidade de novas práticas agrícolas e de manejo de recursos naturais que permitam manter a produção ao longo do tempo, de maneira que não contaminem o ambiente, produzam alimentos saudáveis e gerem interações positivas entre populações; Tecnológica – refere-se às condições nas quais se aplica a tecnologia à indústria, à agricultura, ao transporte e a outras atividades relevantes da vida da comunidade; Cultural – inclui aqueles valores, crenças e formas de vida que se relacionam com um sentido da natureza, seu ambiente e sua transcendência.

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observado é que em anos de bons preços das commodities no mercado

internacional, a renda dos agricultores são boas, mas em anos em que caem os

preços no mercado internacional, a agricultura entra em crise. Este fato, justifica um

esforço estratégico de reconversão da agricultura, com o estabelecimento de

projetos de diversificação das unidades produtivas, incentivando explorações que

apresentem maior densidade de renda por unidade de área.

Neste contexto, é importante que o Estado estabeleça mecanismos de apoio

ao processo de agregação de renda aos pequenos produtores, através de

programas de estímulo a diversificação das unidades produtivas e de processos que

estabeleçam uma nova ordem na produção de grãos, com racionalização dos

fatores de produção e sistemas que privilegiem os chamados "produtos limpos", em

que prevaleçam práticas de manejos de solos e água, manejos biológico de pragas

e doenças, comércio justo e outras de caráter solidário e sustentável.

Curitiba, março de 2007.