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DIREITO CIVIL II Intensivo II Prof.a Cristiano Chaves de Farias __________________________________________________________________________________ ________________2010 DIREITO SUCESSÓRIO A SUCESSÃO LEGÍTIMA: Fundamentos da Sucessão Legítima: O CC estabeleceu duas diferentes espécies sucessórias: a sucessão legítima e a sucessão testamentária. a)Sucessão Legítima:quando se desdobrar de acordo com a lei; b)Sucessão Testamentária:quando ela se desdobrar de acordo com a vontade do titular. O estudo desta aula é da sucessão legítima, ou seja, da vocação hereditária. A premissa da lei é que através da sucessão legítima beneficiam-se as pessoas que muito provavelmente o autor da herança gostaria de contemplar. A ordem da vocação hereditária é a organização da sucessão legítima. A sucessão legítima se organiza pela ordem de vocação hereditária que é o rol das pessoas legitimadas a suceder por força de lei. Este rol dos sucessíveis é que estabelece como se sucede a sucessão hereditária. Toda regulamentação da sucessão legítima está no Código Civil afastada a vontade das partes.

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DIREITO CIVIL II Intensivo II Prof.a Cristiano Chaves de Farias __________________________________________________________________________________________________2010

DIREITO SUCESSÓRIO

A SUCESSÃO LEGÍTIMA:

Fundamentos da Sucessão Legítima: O CC estabeleceu duas diferentes espécies sucessórias: a sucessão legítima e a sucessão testamentária. a)Sucessão Legítima:quando se desdobrar de acordo com a lei; b)Sucessão Testamentária:quando ela se desdobrar de acordo com a vontade do titular. O estudo desta aula é da sucessão legítima, ou seja, da vocação hereditária. A premissa da lei é que através da sucessão legítima beneficiam-se as pessoas que muito provavelmente o autor da herança gostaria de contemplar. A ordem da vocação hereditária é a organização da sucessão legítima. A sucessão legítima se organiza pela ordem de vocação hereditária que é o rol das pessoas legitimadas a suceder por força de lei. Este rol dos sucessíveis é que estabelece como se sucede a sucessão hereditária. Toda regulamentação da sucessão legítima está no Código Civil afastada a vontade das partes. Por conta disso há uma discussão sobre a possibilidade de renúncia a herança, principalmente depois que, com a nova ordem de vocação hereditária o cônjuge

passou a ser herdeiro e, então, passou-se a discutir sobre a possibilidade dele renunciar à sua parte na herança. Sabe-se que é possível ao cônjuge renunciar à meação, porém, não é possível sua renúncia à herança porque todas as disposições relativas à sucessão legítima são de ordem pública.

Portanto o pacto antenupcial e o contrato de convivência não podem conter cláusulas

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de renúncia à herança. São nulas as cláusulas de renúncia à herança porque a herança é de ordem pública. Outro argumento que serve para justificar a nulidade do pacto antenupcial e do contrato de convivência que contiver cláusulas de renúncia à herança é o disposto no Art. 426 do CC: Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Ordem de Vocação Hereditária: O tema será dividido em duas partes: a) CC de 1916, Art. 1.603 e b) CC de 2002, Artigos 1.829 e 1.790. CC de 1916, Art. 1.603 CC de 2002, Artigos 1.829 e 1.790 Descendentes Descendentes + Cônjuge ou Companheiro Ascendentes Ascendentes + Cônjuge ou Companheiro Cônjuge Supérstite (sobrevivente) ou o Companheiro (acrescido pela Lei nº 9.278/1996) Cônjuge sozinho Colaterais até o 4º grau Colaterais até o 4º grau + Companheiro Fazenda Pública Municipal Colaterais até o 4º grau Companheiro sozinho Obs.: acabou o usufruto vidual (usufruto decorrido da viuvez) que dava ao cônjuge ou companheiro sobrevivente o direito de, todas as vezes em que não fosse herdeiro(quando existisse descendente ou ascendente), ter o direito de usufruto sobre os bens transmitidos aos descendentes ou ascendentes (receberia a administração ou o usufruto de 25% do patrimônio transmitido para o descendente ou ascendente). Este usufruto vidual era vitalício, ou seja, o cônjuge sobrevivente só perderia este direito com sua morte. Com a instalação do divórcio no Brasil o usufruto vidual se tornou uma inesgotável fonte de conflitos.

Obs.: A Fazenda pública municipal deixou de constar na relação de sucessão hereditária do CC/2002 porque tecnicamente a Fazenda não é herdeira, ela recebe na

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ausência de herdeiros (vide procedimentos de jurisdição voluntária de herança jacente e de herança vacante). Na nova ordem hereditária do CC/2002: a) Quem mais se beneficiou: o cônjuge porque agora passa a ser um herdeiro necessário e permanente porque ele só não tem direito sucessório se ele não existir. b) Quem mais perdeu: duas categorias perderam: b.1) o companheiro teve uma perda intermediária porque ele perdeu a equiparação com o cônjuge já que a ordem jurídica anterior tratava o companheiro junto com o cônjuge. b.2) descendentes e ascendentes foram os maiores prejudicados porque agora perdem uma parte de sua herança para o cônjuge ou companheiro. c) A Fazenda Pública deixou de ser relacionada porque ela não é herdeira mas sim recebe na ausência de herdeiros através do procedimento de herança jacente ou de herança vacante. d) O descendente ou concorre sozinho ou concorre junto com o cônjuge ou companheiro. e) O ascendente ou concorre sozinho ou concorre junto com o cônjuge ou companheiro. f) O cônjuge pode concorrer com o descendente, com o ascendente ou recebe sozinho.

g) O companheiro concorre com descendente, concorre com ascendente, concorre com colateral e só recebe sozinho na ausência até de colaterais. Logo o cônjuge tem 3 possibilidades sucessórias e o companheiro tem 4 possibilidades.

Sucessão do Descendente: Características:

Duas regras fundamentais: 1. Aplicação do Princípio da Igualdade entre eles - todo descendente tem o mesmo direito sucessório – inclusive o filho adotivo; Obs.: não gera direito sucessório o instituto contemplado no Art. 48 do ECA que é o direito do filho adotivo de conhecer sua origem biológica (direito imprescritível, sendo uma ação personalíssima, ou seja o MP não é parte legítima, só quem pode promover é o próprio titular da ação). Isto porque não se trata de uma investigação de paternidade mas apenas de uma ação para se conhecer sua origem genética. Não se trata de Direito de Família, mas sim de Direito da Personalidade. O único efeito decorrente desta sentença declaratória de ancestralidade é o impedimento matrimonial (que é também eugênico – vide Art. 1.5211 do CC). ECA Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de

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obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. 2. A existência de um descendente mais próximo afasta o chamamento de um descendente mais remoto (Ex.: se tem filho não se chamam os netos; se tem netos não se chamam os bisnetos e assim, sucessivamente). Existe exceção para esta regra: no caso da sucessão por representação ou sucessão por estirpe. Nesta hipótese, excepcionalmente, há uma concorrência entre descendentes de diferentes graus (Ex.: filhos concorrendo com netos).

A sucessão por representação ou por estirpe só existe em 3 casos: 1) Indignidade; 2) Deserdação e 3) Pré-morte. 1Art. 1.521. Não podem casar:

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

Somente a sucessão do descendente é que permite, excepcionalmente, esta concorrência entre descendentes de categorias diferentes (sucessão por representação). Sucessão do Ascendente: Norteia-se pelas mesmas regras da sucessão de descendentes (Princípio da Igualdade e a regra de que o mais próximo afasta o mais remoto). Não se admite na sucessão do ascendente a sucessão por estirpe ou por representação. Esta sucessão é a única que registra a possibilidade de sucessão por linha (linha paterna e linha materna). Por exemplo, se uma pessoa morreu e deixou uma herança de R$ 300.000,00, não tendo descendentes nem cônjuge ou companheiro, tendo pai e mãe vivos, caberá a cada um deles R$ 150.000,00. Se só tiver pai, ou mãe vivos, ele receberá sozinho os R$ 300.000,00 porque não há sucessão por representação no caso de sucessão por ascendentes. Mas, se esta pessoa, por exemplo, não tinha pais vivos, mas tinha dois avós maternos e um avô paterno a divisão se dará por linha, ou seja, R$ 150.000,00 para a linha paterna e R$ 150.000,00

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para a linha materna. Ou seja, no exemplo, o avô paterno ficará com os R$ 150.000,00 e os avós maternos dividirão os outros R$ 150.000,00, ficando cada um com R$ 75.000,00. Havendo um representante na linha ele terá direito à integralidade do valor. Senão tem nenhum representante naquela linha a outra linha será acrescida. Logo, se, por exemplo, tem dois avós paternos e nenhum avô materno, mas os dois bisavôs maternos, os bisavós maternos não podem reclamar sua participação na herança e a linha paterna será acrescida do valor referente à parcela da linha materna.

Sucessão do Cônjuge: Concorre com Descendentes Ascendentes Colaterais até 4º grau Sozinho CÔNJUGE (somente fará jus a este sistema •

Depende do Regime de Bens; •

Incide somente sobre os bens •

Independe do Regime de Bens (terá direito à Se não há descendentes nem ascendentes não pode haver • Independe

do Regime de Bens. • Todo

o patrimônio.

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se ele estiver convivendo) particulares; •

Percentual: o mesmo % dos descendentes assegurado ¼ no mínimo se concorrer com seus descendentes. (Art. 1.832) herança sempre); •

Incide sobre todo o patrimônio transmitido. •

Percentual: 1/3 da herança de concorrer com os dois ascendentes, caso contrário terá direito à metade. (Art. 1.837) colaterais. COMPANHEIRO •

Excluída a meação incide somente sobre os bens comuns; Todos os bens particulares vão para os descendentes. • Percentual:

o mesmo % dos descendentes se ele for ascendente deles; caso ele não

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seja o ascendente terá direito a metade do % que tocar ao descendente. (Art. 1.790, I e II) •

Excluída a meação incide somente sobre os bens comuns; Todos os bens particulares vão para os descendentes. •

Percentual: 1/3 da herança. (Art. 1.790, III) •

Excluída a meação incide somente sobre os bens comuns; Todos os bens particulares vão para os colaterais até o 4º grau. •

Percentual: 1/3 da herança. (Art. 1.790, III) • Excluída

a meação incide somente sobre os bens comuns; Todos os bens particulares vão para a Fazenda Pública

a) Cônjuge com Descendente:

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- Art. 1.829, inciso I do CC: Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime

da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; A concorrência do cônjuge com os dependentes dependerá do regime de bens. Existem alguns regimes nos quais o cônjuge não concorrerá. Regimes que Obstam a Concorrência do Cônjuge com o Descendente: 1. Comunhão Universal de Bens: porque neste regime o cônjuge já tem metade de tudo. 2. Comunhão Parcial sem bens particulares: porque na prática ela corresponde a uma comunhão universal. 3 . Separação Obrigatória: Art. 1.641 do CC2. Obs.: pelo CC/2002 se o regime de casamento for da separação convencional o cônjuge sobrevivente é herdeiro concorrendo com os descendentes do autor da herança. Porém o STJ, em decisão recente (REsp 992.749/MS de 05/02/2010), decidiu que no caso de separação convencional não haverá a concorrência do cônjuge sobrevivente com os descendentes. Porém em prova objetiva deve-se adotar o posicionamento do CC. RECURSO ESPECIAL Nº 992.749 - MS (2007/0229597-9) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI EMENTA Direito civil. Família e Sucessões. Recurso especial. Inventário e partilha. Cônjuge sobrevivente casado pelo regime de separação convencional de bens, celebrado por meio de pacto antenupcial por escritura pública. Interpretação do art. 1.829, I, do CC/02. Direito de concorrência hereditária com descendentes do falecido. Não ocorrência. - Impositiva a análise do art. 1.829, I, do CC/02, dentro do contexto do sistema jurídico, interpretando o dispositivo em harmonia com os demais que enfeixam a temática, em atenta observância dos princípios e diretrizes teóricas que lhe dão forma, marcadamente, a dignidade da pessoa humana, que se espraia, no plano da livre manifestação da vontade humana, por meio da autonomia da vontade, da autonomia privada e da consequente autorresponsabilidade, bem como da confiança legítima, da qual brota a boa fé; a eticidade, por fim, vem complementar o sustentáculo principiológico que deve delinear os contornos da norma jurídica. - Até o advento da Lei n.º 6.515/77 (Lei do Divórcio), vigeu no Direito brasileiro, como regime legal de bens, o da comunhão universal , no qual o cônjuge sobrevivente não concorre à herança,por já lhe ser conferida a meação sobre a totalidade do patrimônio do casal; a partir da vigência da Lei do Divórcio, contudo, o regime legal de bens no casamento passou a ser o da comunhão parcial , o que foi referendado pelo art. 1.640 do CC/02. - Preserva-se o regime da comunhão parcial de bens, de acordo com o postulado da autodeterminação, ao contemplar o cônjuge sobrevivente 2Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:

I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II - da pessoa maior de sessenta anos; III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

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com o direito à meação, além da concorrência hereditária sobre os bens comuns, mesmo que haja bensparticulares, os quais, em qualquer hipótese, são partilhados unicamente entre os descendentes. - O regime de separação obrigatória de bens, previsto no art. 1.829, inc. I, do CC/02, é gênero que congrega duas espécies: (i) separação legal; (ii) separação convencional . Uma decorre da lei e a outra da vontade das partes, e ambas obrigam os cônjuges, uma vez estipulado o regime de separação de bens, à sua observância. - Não remanesce, para o cônjuge casado mediante separação de bens, direito à meação, tampouco à concorrência sucessória, respeitando-se o regime de bens estipulado, que obriga as partes na vida e na morte. Nos dois casos, portanto, o cônjuge sobrevivente não é herdeiro necessário. - Entendimento em sentido diverso, suscitaria clara antinomia entre os arts. 1.829, inc. I, e 1.687, do CC/02, o que geraria uma quebra da unidade sistemática da lei codificada, e provocaria a morte do regime de separação de bens. Por isso, deve prevalecer a interpretação que conjuga e torna complementares os citados dispositivos. - No processo analisado, a situação fática vivenciada pelo casal – declarada desde já a insuscetibilidade de seu reexame nesta via recursal – é a seguinte: (i) não houve longa convivência, mas um casamento que durou meses, mais especificamente, 10 meses; (ii) quando desse segundo casamento, o autor da herança já havia formado todo seu patrimônio e padecia de doença incapacitante; (iii) os nubentes escolheram voluntariamente casar pelo regime da separação convencional, optando, por meio de pacto antenupcial lavrado em escritura pública, pela incomunicabilidade de todos os bens adquiridos antes e depois do casamento, inclusive frutos e rendimentos. - A ampla liberdade advinda da possibilidade de pactuação quanto ao regime matrimonial de bens, prevista pelo Direito Patrimonial de Família, não pode ser toldada pela imposição fleumática do Direito das Sucessões, porque o fenômeno sucessório “traduz a continuação da personalidade do morto pela projeção jurídica dos arranjos patrimoniais feitos em vida”.

Trata-se, pois, de um ato de liberdade conjuntamente exercido, ao qual o fenômeno sucessório não pode estabelecer limitações.. - Se o casal firmou pacto no sentido de não ter patrimônio comum e, se não requereu a alteração do regime estipulado, não houve doação de um cônjuge ao outro durante o casamento, tampouco foi deixado testamento ou legado para o cônjuge sobrevivente, quando seria livre e lícita qualquer dessas providências, não deve o intérprete da lei alçar o cônjuge sobrevivente à condição de herdeiro necessário, concorrendo com os descendentes, sob pena de clara violação ao regime de bens pactuado. - Haveria, induvidosamente, em tais situações, a alteração do regime matrimonial de bens post mortem, ou seja, com o fim do casamento pela morte de um dos cônjuges, seria alterado o regime de separação convencional de bens pactuado em vida, permitindo ao cônjuge sobrevivente o recebimento de bens de exclusiva propriedade do autor da herança, patrimônio ao qual recusou, quando do pacto antenupcial, por vontade própria. - Por fim, cumpre invocar a boa fé objetiva, como exigência de lealdade e honestidade na conduta das partes, no sentido de que o cônjuge sobrevivente, após manifestar de forma livre e lícita a sua vontade, não pode dela se esquivar e, por conseguinte, arvorar-se em direito do qual solenemente declinou, ao estipular, no processo de habilitação para o casamento, conjuntamente com o autor da herança, o regime de separação convencional de bens, em pacto antenupcial por escritura pública.

O princípio da exclusividade, que rege a vida do casal e veda a interferência de terceiros ou do próprio Estado nas opções feitas licitamente quanto aos aspectos patrimoniais e extrapatrimoniais da vida

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familiar, robustece a única interpretação viável do art. 1.829, inc. I, do CC/02, em consonância com o art. 1.687 do mesmo código, que assegura os efeitos práticos do regime de bens licitamente escolhido, bem como preserva a autonomia privada guindada pela eticidade.Recurso especial provido. Pedido cautelar incidental julgado prejudicado. A sucessão quando há concorrência entre o cônjuge e os dependentes do autor da herança Depende do Regime de Bens e incide somente sobre os bens particulares (neste sentido o Enunciado 270 da III Jornada). 270 – Art. 1.829: O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aqüestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes. O percentual devido ao cônjuge é definido no Art. 1.832 do CC: Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer. Se concorrerem herdeiros de que o cônjuge é ascendente com outros herdeiros filhos de outras uniões a lei é omissa de quanto deverá ser o % devido ao cônjuge e a doutrina é controvertida quanto ao tema.

Há autores quem dizem que aplicando-se a norma de que toda regra que estabelece benefícios deve ser interpretada restritivamente, entende-se que o cônjuge somente terá a garantia do ¼ dos bens se concorrer exclusivamente com descendentes comuns. Outros autores dizem que basta ter um filho comum para que a regra da garantia do quinhão de ¼ seja aplicada e há outros que defendem a aplicação de uma “regra de três” uma proporcionalidade. Para a Professora Giselda Hironaka, que segundo o professor foi quem melhor tratou o assunto, a solução deste problema passa por duas soluções: ou o artigo vai ser revogado nesta parte ou a jurisprudência cuidará de normatizar por súmula.

b) Cônjuge com Ascendente: Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau. Importante observar que o cônjuge só terá direito ̀ Pa sucessão se estiver na convivência do autor da herança, ou seja, se ele não estiver separado judicialmente, separado de fato ou divorciado. Pela lógica o cônjuge deveria perder o direito a sucessão se estivesse separado de fato independentemente de prazo. O STJ vem entendendo, analogamente, que se o cônjuge está separado de fato ele perde o direito ao regime de bens, à partilha de bens, independentemente do prazo da separação de fato, apesar do CC/2002 dizer que esta

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comunhão de bens permaneceria por 5 anos (Art. 1.642, inciso V). Esta decisão do STJ está calcada no Princípio da Proibição do Enriquecimento sem Causa. Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: ......................................................... V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos; Ocorre que, por força do Art. 1830 do CC o cônjuge só perde o direito à sucessão se estiver separado de fato há mais de 2 anos:

Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. A parte final do Art. 1.830 do CC é denominada pela doutrina de “culpa funerária” ou “culpa mortuária” que é a culpa do morto, ou seja, a culpa de quem já se foi. Ou seja, pela letra deste artigo, mesmo que o cônjuge esteja separado de fato há mais de dois anos, ele poderá manter seu direito sucessório se comprovar que a convivência com o de cujus se tornara impossível por culpa dele. Além de meação (a depender do regime de bens) e de herança (a depender da combinação sucessória) o CC/2002 confere ao cônjuge o direito real de habitação (Art. 1.831 do CC).

Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar. Direito Real de Habitação: é o direito oponível erga omnes constituído em favor do cônjuge sobrevivente, garantindo-lhe manter-se no imóvel que servia de lar para o casal. Só existe direito real de habitação quando se tratar de imóvel residencial único. Se houver mais de um imóvel de habitação o cônjuge terá direito de preferência de ficar com o imóvel para si a título de meação ou de herança. Como o direito real de habitação é oponível erga omnes tem uma situação extremamente desagradável que ele gera. Por exemplo no caso de um homem que tenha 4 filhos de um primeiro casamento do qual se divorciou e que ao falecer tenha

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deixada viúva uma nova mulher fruto de nova união sem filhos e apenas um imóvel como herança. Neste caso cada filho terá direito a 1/5 do valor deste imóvel e a segunda esposa também terá direito a 1/5 deste imóvel porque não é ascendentes destes filhos. Neste caso formou-se um condomínio, naquele imóvel, onde ela é minoria, só possui 1/5 do total. Neste caso ela poderá continuar morando no imóvel, sem pagar aluguel aos filhos do primeiro casamento porque o direito real de habitação é erga omnes.

No Direito Brasileiro o direito real de habitação do cônjuge sobrevivente é: vitalício incondicionado. Por exemplo, se a viúva resolver casar de novo ela não

perderá o direito de habitação. Independe do regime de bens. Se o direito real de habitação é vitalício incondicional o que ocorre se menores ficarem sem local de habitação? O que deve prevalecer? O direito real de habitação ou a proteção aos menores? R – Na letra fria da lei não há solução. Porém pode-se invocar o Princípio da Proteção Integral e da Prioridade Absoluta da Criança e do Adolescente previsto no Art. 227 da CRFB/88 para se imaginar uma solução diferente daquela prevista no texto de lei. Porém para prova objetiva deve-se responder que sempre prevalece o direito real de habitação do cônjuge.

Seria possível ao cônjuge renunciar ao direito real de habitação sem afetar seu direito à meação e à sucessão hereditária? R – A doutrina vem entendendo que sim (vide Enunciado 271 da Jornada) 271 – Art. 1.831: O cônjuge pode renunciar ao direito real de habitação, nos autos do inventário ou por escritura pública, sem prejuízo de sua participação na herança. Sucessão do Companheiro: A Sucessão do Companheiro parte de uma premissa elementar:o direito sucessório do companheiro incide somente sobre os bens adquiridos onerosamente na constância da união estável (são os chamados aquestos). Esta solução é dada pela combinação dos artigos 1.725 e 1.790 do CC/2002. Sobre estes bens o companheiro já possui a meação de acordo com o Art. 1.725 do CC: Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens

Logo o direito sucessório do companheiro incide sobre os bens comuns que são exatamente os bens sobre os quais incide a meação. Assim o companheiro tem meação sobre os bens comuns e também direito à sucessão sobre os mesmos bens.

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Porém sobre os bens particulares o companheiro não tem nem meação nem herança. Esse regime se mostra inconveniente tanto para a união estável como para o casamento. O sistema é discriminatório, a um só tempo, com o casamento e com a união estável porque ele gera situações extremamente desproporcionais, situações em que a opção pelo casamento ou pela união estável implica na produção de vários efeitos ou na retenção destes efeitos. Assim, por exemplo, se alguém se casa pelo regime jurídico da separação parcial de bens com outra pessoa, que não possua bens, mas que, na constância do casamento venha a adquiri-los, terá direito tão somente à meação não tendo direito á sua sucessão hereditária; porém, se, no mesmo caso, ao invés de se casar, resolva manter com ele uma união estável, terá direito meação e, também, à sucessão hereditária nestes bens. Resta claro que a escolha entre o casamento e a união estável repercutirá no sistema sucessório porque o sistema sucessório do companheiro foi afastado da regra geral do sistema sucessório do cônjuge. Para a doutrina, o ideal seria a equiparação entre a sucessão do cônjuge e a do companheiro, mas não é a opção do CC/2002.

a)Companheiro com Descendente: Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; Ao usar o vocábulo “filho” no inciso I do Art. 1.790, o CC/2002 usou uma metomínia, ou seja, quis falar da parte se referindo ao todo, falou de filho para se referir à descendente (neste sentido o Enunciado 266 da Jornada): 266 – Art. 1.790: Aplica-se o inc. I do art. 1.790 também na hipótese de concorrência do companheiro sobrevivente com outros descendentes comuns, e não apenas na concorrência com filhos comuns. b) Companheiro com Ascendente: Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: .............................................................................................................. III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da

herança; d) Cônjuge Sozinho:

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Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: .............................................................................................................. IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. Há autores que promovem uma interpretação construtiva do inciso IV do Art. 1.790 do CC/2002, para evitar a interpretação esdrúxula dos bens particulares irem para a Fazenda Pública, dizendo que este inciso IV está abrindo uma exceção aoca p u t do Art. 1.790 e, portanto, quando ele diz “totalidade da herança” ele está incluindo os bens comuns.

O CC/2002 não contemplou o direito real de moradia para o companheiro mas a maioria da doutrina entende que encontra-se em vigor o Art. 7º, Parágrafo Único, da Lei nº 9.278/96: Lei nº 9.278/1996: Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei será prestada por um dos conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos. Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao imóvel destinado à residência da família. Porém o direito real de habitação do companheiro é vitalício, porém, condicionado a que ele não constitua uma nova unidade familiar. Há julgados do TJ/RS e do TJ/SP reconhecendo a inconstitucionalidade do Art. 1.790 e mandando processar a sucessão do companheiro de acordo com a regra da sucessão do cônjuge.

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DIREITO CIVIL II Intensivo II Prof.a Cristiano Chaves de Farias _______________________________________________________________________________________________________2010