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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO CRISTIANE VITÓRIO DE SOUZA SÃO CRISTÓVÃO - SE 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO

CRISTIANE VITÓRIO DE SOUZA

SÃO CRISTÓVÃO - SE

2006

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ii

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

CRISTIANE VITÓRIO DE SOUZA

AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO

Dissertação submetida ao Colegiado do Curso de Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, em cumprimento parcial dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Educação, sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento.

SÃO CRISTÓVÃO - SE

2006

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S729l

Souza, Cristiane Vitório de As leituras pedagógicas de Sílvio Romero / Cristiane Vitório de Souza. – São Cristóvão, 2006.

231 f. : il.

Dissertação (Mestrado em Educação) – Núcleo de Pós-Graduação em Educação, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, 2006.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento

1. História da educação. 2. Sílvio Romero – Biblioteca

pedagógica. 3. Leitura. I. Título.

CDU 37(091):000.028.1

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iv

“AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO”

APROVADO PELA COMISSÃO EXAMINADORA EM 28 DE SETEMBRO DE DE 2006

________________________________________________ Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento – Orientador

_______________________________________________ Prof. Dr. José Gerardo Vasconcelos

_______________________________________________ Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas

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v

A Sílvio Romero (in memorian),

personagem histórico ao qual tenho

dedicado minhas elucubrações.

A Maria Marlene de Souza e

Everaldo Vitório de Souza (in memorian),

meus pais, pelo apoio incondicional

dispensado ao longo da minha vida

acadêmica.

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vi

AGRADECIMENTOS

Colocar o ponto final numa dissertação revela não somente um exercício gramatical ou

o término de uma pesquisa, mas o derradeiro sinal de que, afinal, é hora de acabar.

Durante o trajeto da sua elaboração contei com a colaboração de várias pessoas.

Ao Professor Doutor Jorge Carvalho do Nascimento, meu orientador, agradeço a

indicação dos caminhos a serem percorridos durante a pesquisa e a confiança depositada no

meu trabalho.

Aos Professores Doutores do Núcleo de Pós-graduação em Educação (NPGED), da

Universidade Federal de Sergipe, especialmente Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas,

Edmilson Menezes, Wilma Porto de Prior, Paulo Neves, Miguel André Berger e Maria Helena

Santana Cruz, agradeço as lições generosamente oferecidas nas disciplinas do curso.

Aos Professores Doutores Fábio Maza e José Rodorval Ramalho, agradeço as

sugestões na Banca Examinadora de Qualificação.

Aos Professores Doutores José Gerardo Vasconcelos e Anamaria Gonçalves Bueno de

Freitas, da Comissão Examinadora, agradeço as leituras atentas (estilo pente fino!), as críticas

e sugestões e o incentivo para a continuação da pesquisa.

Aos queridos “companheiros de viagem” Ângela, Ana Luzia, Betânia, Cristina,

Fernando, Genisson, Ísis, José Marcos, Lourdes, Lúcia, Luís, Marco, Marcos, Maryluze,

Neilton, Orlando, Orlandinho, Ricardo e Simone (e Sarinha!), agradeço a disposição de

compartilhar as incessantes inquietações.

Aos funcionários do NPGED, especialmente Edson, agradeço a prontidão com que

sempre me atendeu.

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vii

A Vera, secretária da Revista do Mestrado em Educação, agradeço a parceria em

artigos, seminários e minicursos e o fato de ter se tornado uma amiga querida.

Aos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, da

Universidade Federal de Sergipe, agradeço a troca de idéias e o estímulo.

A Professora Doutora Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento, agradeço o

convite para participar do Grupo de Pesquisa em História das Práticas Educacionais, da

Universidade Tiradentes, e o constante e terno incentivo.

Ao editor mais recente da obra de Sílvio Romero, Luiz Antônio Barreto, agradeço a

atenção e a prestimosa cessão de importantes fontes de pesquisa.

Aos funcionários da Biblioteca Pública Epifânio Dória, local onde praticamente morei

durante alguns meses, agradeço a delicadeza com que atenderam as minhas insistentes

solicitações.

Aos familiares, especialmente Mamis, Zezinho, Rodrigo, Lúcia, Leozito, Voinha,

Mara, Messias, Mila, Teu, Rosivalda (in memorian) e Wesley (in memorian), e aos amigos,

notadamente Jô, Li, Lu e Cassinho, agradeço o carinho e a compreensão durante os

“intermináveis” anos do Mestrado.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS x

LISTA DE QUADROS xi

LISTA DE GRÁFICOS xii

RESUMO xiii

ABSTRACT

xiv

INTRODUÇÃO

11

CAPÍTULO I – COMPETÊNCIAS E PRÁTICAS DE LEITURA DE SÍLVIO

ROMERO

25

CAPÍTULO II – BIBLIOTECA PEDAGÓGICA DE SÍLVIO ROMERO

72

CAPÍTULO III – AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO

104

3.1 APROPRIAÇÃO DE DE L'ÉDUCATION INTELLECTUELLE, MORALE ET

PHYSIQUE, DE HERBERT SPENCER

105

3.2 APROPRIAÇÃO DE OBRAS DA ESCOLA DE CIÊNCIA SOCIAL

120

3.2.1 APROPRIAÇÃO DE HISTOIRE DE LA FORMATION

PARTICULARISTE, DE HENRI DE TOURVILLE

124

3.2.2 APROPRIAÇÃO DE A QUOI TIENT LA SUPÉRIORITÉ DES ANGLO-

SAXONS? E L'ÉDUCATION NOUVELLE, DE EDMOND DEMOLINS

130

3.2.3 APROPRIAÇÃO DE LA VIE AMÉRICAINE, DE PAUL DE ROUSIERS 152

3.3 APROPRIAÇÃO DE L’ARYEN E RACE ET MILIEU, DE GEORGES VACHER

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ix

DE LAPOUGE 160

CONSIDERAÇÕES FINAIS 182

LISTA DE FONTES

187

BIBLIOGRAFIA 220

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x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Sílvio Romero 25

Figura 2 – Pais de Sílvio Romero 26

Figura 3 – Casa-grande do Engenho Moreira 27

Figura 4 – Antônia 28

Figura 5 – Vila de Lagarto 31

Figura 6 – Ateneu Fluminense 39

Figura 7 – Faculdade de Direito de Recife, na Rua do Hospício 48

Figura 8 - Cais Pharoux, aproximadamente 1893-1894 60

Figura 9 - Carimbo da Biblioteca Sílvio Romero 77

Figura 10 - Biblioteca de Sílvio Romero 78

Figura 11 – Folha de rosto De L’éducation intelectuelle, morale et physique, de Herbert

Spencer

107

Figura 12 – Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste, de Henri de

Tourville

127

Figura 13 – Folha de rosto de A Quoit tient la supériorité des anglo-saxons?, de

Edmond Demolins

132

Figura 14 – Folha de rosto de L’éducation nouvelle: l’école des roches, de Edmond

Demolins

140

Figura 15 – Folha de rosto de La vie americaine: l’éducation et la société, de Paul de

Rousiers

152

Figura 16 – Folha de rosto de L’aryen: son role social, de Georges Vacher de Lapouge

165

Figura 17 – Folha de rosto de Race et milieu: essais d’anthrosociologie, de Georges

Vacher de Lapouge

170

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xi

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Editoras e tipografias nacionais 92

Quadro 2 - Editoras e tipografias estrangeiras 94

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xii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Ano da edição das obras da BPSR 83

Gráfico 2 - Tipologia das obras da BPSR 84

Gráfico 3 - Áreas do conhecimento da BPSR 85

Gráfico 4 - Assuntos da área da educação 87

Gráfico 5 - Nacionalidade dos autores 88

Gráfico 6 - Idiomas da BPSR 90

Gráfico 7 - Distribuição de tipografias e editoras nacionais por estados brasileiros

91

Gráfico 8 – Distribuição das editoras estrangeiras por país 94

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo geral analisar as leituras pedagógicas empreendidas

por Sílvio Romero. Esse objetivo geral desdobra-se em três objetivos específicos: analisar as

competências e práticas de leitura do intelectual sergipano, traçar um perfil da Biblioteca

Pedagógica e compreender como se apropriou das leituras de Herbert Spencer, Edmond

Demolins, Paul Rousiers, Henri de Tourville e Vacher de Lapouge. Utiliza como fontes: a sua

Biblioteca, especialmente, a Biblioteca Pedagógica, as obras que escreveu, as cartas enviadas

aos amigos, a literatura de época e a literatura sobre a época. Inspirado na Nova História

Cultural utiliza o método indiciário, de Carlo Ginzburg, a noção de documento/ monumento,

de Jacques Le Goff, as noções de apropriação, competências e práticas de leitura, leitura

silenciosa e oralizada, leitura extensiva e intensiva, materialidade e representação de Roger

Chartier, os conceitos de campo intelectual, capital social e capital cultural de Pierre

Bourdieu. Conclui que a partir das competências que adquiriu tanto na educação formal

quanto na informal tornou-se um leitor crítico das letras nacionais e estrangeiras e apropriou-

se dos livros analisados de modo ativo, apropriando-se das representações que lhe permitiam

pensar a educação brasileira e rejeitando as demais.

PALAVRAS-CHAVE: História da Educação – História da Leitura – Sílvio Romero.

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ABSTRACT

This work has as general objective to analyze the pedagogic readings undertaken by

Sílvio Romero. The specific objectives are: to analyze the competences and practices of

reading of the intellectual, to trace a profile of Sílvio Romero's Pedagogic Library and to

understand as he appropriated of Herbert Spencer, Edmond Demolins, Paul Rousiers, Henri

de Tourville and Vacher de Lapouge's readings. It uses as sources: its Library, especially, the

Pedagogic Library, the works that wrote, the letters sent to the friends, the epoch literature

and the literature about the epoch. Inspired by the New Cultural History it uses the indiciary

method of Carlo Ginzburg, the document/ monument notion of Jacques Le Goff, the

appropriation, reading competences, reading practices, oral reading, silent reading,

materiality and representation notions of Roger Chartier, intellectual field, social capital and

cultural capital concepts of Pierre Bourdieu. It concludes that the competences that he

acquired as in the formal education as in the informal he became a critical reader of the

national and foreign letters and he appropriated of that books in an active way, appropriating

of the representations that allowed to think it the Brazilian education and rejecting the others.

KEYWORDS: History of Education – History of Reading – Sílvio Romero.

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INTRODUÇÃO

“A leitura tem uma história”.1

Essa frase do historiador norte-americano Robert Darnton expressa uma opinião que

se instaurou no campo da História e da História da Educação nos últimos decênios. Partindo

dessa convicção a pesquisa teve como objeto as leituras pedagógicas de Sílvio Romero.

Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero nasceu na Vila de Lagarto, Província

de Sergipe, em 21 de abril de 1851. Entre 1855 e 1862, estudou as primeiras letras na terra

natal, na escola dos professores Bomfim e Badú. Em 1863, cursou os preparatórios exigidos

para a admissão nos cursos superiores no Rio de Janeiro, no internato Ateneu Fluminense. Em

1868, matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife e diplomou-se em 1873. No ano

seguinte assumiu a Promotoria Pública de Estância e foi eleito deputado provincial. Em

1875, voltou para Recife para apresentar tese de doutoramento na Faculdade de Direito do

Recife. No mesmo ano prestou concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio de Artes,

anexa à Faculdade, para a qual foi aprovado, mas não foi nomeado. Em 1876, seguiu para

Parati onde exerceu o cargo de Juiz Municipal e de Órfãos até 1879. No ano seguinte

inscreveu-se no concurso da Cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II, a mais prestigiosa

instituição de ensino secundário do país, onde lecionou durante 30 anos. Foi fundador e

professor da Faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do

Rio de Janeiro e da Faculdade Livre de Direito de Juiz de Fora. Foi eleito deputado federal

em 1900. Participou da fundação da Academia Brasileira de Letras e foi membro do Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia de Ciências de Lisboa e de diversas outras

associações literárias. Escreveu sistematicamente na imprensa periódica e publicou diversos

livros nos campos da Poesia, da Crítica e da História Literária, da Filosofia, da Sociologia,

da Política, do Direito, do Folclore e da Educação. Faleceu em 18 de julho de 1914, aos 63

anos de idade.

1 DARNTON, Robert. O beijo de Lamourrette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 147.

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Constituiu ao longo da sua trajetória uma biblioteca de 1717 títulos. 2 Esse acervo é

composto de impressos nacionais e estrangeiros, sobretudo franceses, que versavam sobre as

mais distintas áreas do conhecimento: Filosofia, Direito, Sociologia, Antropologia, História,

Etnografia, Biologia, Psicologia, Literatura, dentre outras.

Seus biógrafos informam que Sílvio Romero leu avidamente até pouco tempo antes da

morte porque já não conseguia enxergar bem. Múltiplas faces do intelectual sergipano já

foram objetos de pesquisa. Existem inúmeros trabalhos sobre o Sílvio Romero intelectual3,

polemista4, crítico literário5, filósofo6, sociólogo7, folclorista8, e, recentemente, professor9. No

entanto, o Sílvio Romero leitor ainda não foi devidamente estudado.

Essa face tem sido abordada de forma incidental ou incipiente. Entre os estudos que

versam sobre o tema de modo fortuito podemos citar: Sílvio Romero de perfil, de Artur

Guimarães, Itinerário de Sílvio Romero, de Sílvio Rabello, Presença de Sílvio Romero, de

Argeu Guimarães e Sílvio Romero de corpo inteiro, de Carlos Süssekind de Mendonça10.

2 Esse cálculo, baseado nos exemplares adquiridos pelo Governo do Estado de Sergipe, após o seu falecimento, pode ser ampliado levando-se em consideração os livros emprestados e não devolvidos ou que a família tenha preservado sob sua guarda devido a algum valor sentimental. Argeu Guimarães, por exemplo, conta que seu pai, Artur Guimarães, manteve consigo alguns livros do amigo. GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 75. 3 MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e Cultura, 1963; MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero: sua formação intelectual (1855-1880). São Paulo: Nacional, 1938; RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944. 4 Cf. SOUZA, João Mendonça de. Sílvio Romero, o crítico e o polemista. Rio de Janeiro: Companhia Editora Americana, 1976; VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. 5 Cf. CÂNDIDO, Antônio. O método crítico de Sílvio Romero. São Paulo: EDUSP, 1988. 6 Cf. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada ou a influência alemã na cultura brasileira durante a segunda metade do século XIX. Londrina: Editora da UEL, 1999. 7 Cf. MORAES FILHO, Evaristo. Medo à Utopia. O pensamento social de Tobias Barreto e Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL/ Fundação do Nacional Pró-Memória, 1985. 8 Cf. MATOS, Cláudia Neiva de. A poesia popular na república das letras. Rio de Janeiro: UFRJ/ MINC/ FUNARTE, 1994. 9 Cf. ARAÚJO, José Augusto Melo de. Debates, pompa e majestade: a história de um concurso docente nos trópicos no século XIX. Dissertação (Mestrado em Educação) – Núcleo de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2004. 10 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915; RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944; GUIMARÃES, Argeu.

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E entre aqueles que tratam o tema de modo exploratório: Vestígios de um leitor: a

biblioteca pedagógica de Sílvio Romero, de Jorge Carvalho do Nascimento e A Biblioteca de

Sílvio Romero: descoberta e reativação, de Jackson da Silva Lima11

Sobre o Sílvio Romero leitor de textos sobre educação só existe o trabalho já citado de

Jorge Carvalho do Nascimento. Ele focaliza o percurso da Biblioteca de Sílvio Romero nos

meandros da Biblioteca Pública Epifânio Dória, traça considerações acerca do pensamento

pedagógico de Sílvio Romero e assinala a importância do estudo das notas deixadas nas obras

de William James para apreender o modo como o pensamento do filósofo norte-americano foi

apropriado por ele 12

Neste sentido, em decorrência da escassez de estudos que tenham investigado as

leituras pedagógicas de Sílvio Romero, essa pesquisa pretende contribuir para a superação

dessa lacuna.

Além da relevância, esse estudo justifica-se pela exeqüibilidade. A Biblioteca de

Sílvio Romero foi incorporada ao acervo da Biblioteca Pública de Sergipe. Em 1918, quatro

anos após a morte do intelectual sergipano, o Presidente do Estado General Manuel

Prisciliano de Oliveira Valadão autorizou a sua aquisição.Os volumes foram confiados ao

bibliotecário Epifânio Dória. Num primeiro momento, os livros foram incorporados ao

acervo geral da instituição. Em 1974, o acervo do intelectual sergipano ficou indisponível.

Somente em 1995, o acervo foi reorganizado e disponibilizado para consulta13. Essa

biblioteca é a fonte primordial para desvendar quais leituras o intelectual sergipano efetuou

nesse campo e como se apropriou dessas leituras.

Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e Cultura, 1963. 11 NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero. In: SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM; LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit, v. 2, n. 4, 1999. 12 NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero. In: SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM. 13 LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit, v. 2, n. 4, 1999.

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Assim, este trabalho justifica-se pela relevância, uma vez que visa preencher uma

lacuna na historiografia da educação brasileira em virtude da incipiência de estudos sobre as

leituras pedagógicas de Sílvio Romero; e pela exeqüibilidade, pois a biblioteca constituída ao

longo dos anos pelo escritor integra o acervo da Biblioteca Pública Epifânio Dória.

Constituiu objetivo central da pesquisa: compreender como Sílvio Romero se

apropriou de algumas das leituras pedagógicas que realizou ao longo da sua biografia. A

Biblioteca Pedagógica é constituída por 161 textos. Destes, 39 possuem marginálias. Em

virtude do tempo disponível para a realização da pesquisa não foi possível analisar

profundamente a apropriação de cada uma dessas obras. Por essa razão circunscrevi a análise

para os textos dos autores citados por ele nas obras que escreveu sobre o tema. Entre esses

estão: Herbert Spencer, Henri de Tourville, Edmond Demolins, Paul Rousiers e Georges

Vacher de Lapouge.14 Também são citados outros autores como Paul Descamps, Du Bois-

Reymond e Alfred Fouillée. Mas as obras desses autores não constam na sua Biblioteca.

A meta central desdobrou-se em objetivos mais específicos: compreender quais

competências e práticas de leitura adquiriu durante sua trajetória; traçar um perfil da

Biblioteca Pedagógica e analisar a sua materialidade; e investigar como ele se apropriou das

referidas leituras pedagógicas.

A esses objetivos corresponderam algumas hipóteses. A primeira, que Sílvio

desenvolveu competências e práticas de leitura que o tornaram um leitor crítico. A segunda,

que autores, editores e tipógrafos usaram diversos dispositivos para garantir uma leitura

“legítima”. A terceira, que combinou autores de distintas extrações teóricas, adotando as

representações que lhe pareciam adequadas e rejeitando aquelas que lhe pareciam

improfícuas para pensar o seu país.

14 SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral y física. Valencia: F. Sempere Y Companío Editores, [18--]; SPENCER, Herbert. De l'education intellectuelle, morale et physique. Paris: Felix Alcan Editeur, 1894; DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie, 1897; DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie, 1899;; ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'education et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie, [18--]; TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie, [S.d.]; LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899; LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière, 1909.

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Serviram de subsídios para desvelar as leituras diversos tipos documentais. Os livros

da sua Biblioteca, notadamente aqueles que versam sobre educação, foram os principais

testemunhos. A partir da leitura das obras e, especialmente, das marginálias que nelas deixou

foi possível apreender os diálogos que manteve com os autores que leu, e compreender o

modo como se apropriou dos textos.

Também subsidiaram essa pesquisa os textos sobre educação produzidos por Sílvio

Romero. A análise das suas obras permitiu apreender como pensou a educação. O cotejo

entre suas leituras e suas obras serviu para auxiliar o desvelamento da apropriação que fez da

Biblioteca Pedagógica e como construiu a partir dessas leituras suas representações.

Foram utilizadas ainda as cartas enviadas para os amigos. As cartas forneceram

informações preciosas acerca dos hábitos e impressões de leitura.

A literatura de época e a literatura sobre a época também foram de grande valia. Elas

foram úteis na reconstrução do período em que o intelectual viveu.

Foram utilizados também os relatórios oficiais das Províncias de Sergipe,

Pernambuco e Rio de Janeiro, locais onde estudou. Esses relatórios auxiliaram a

reconstituição do contexto em que ele se tornou leitor.

Para coletar essas fontes foram utilizadas fichas construídas de acordo com o tipo

documental e a informação que se pretendeu registrar. Essas fichas foram armazenadas num

banco de dados construído no software Microsoft Access. Esse recurso permitiu a rápida

recuperação das informações desejadas e possibilitou a elaboração de quadros e gráficos.

Também foi muito útil a reprodução fotográfica das obras a serem analisadas, uma

vez que o Acessado ao acervo é restrito ao recinto da Biblioteca Pública Epifânio Dórea. Foi

utilizada a máquina digital SONY DSC - S40 4,1 mega pixels. O tratamento e leitura das

imagens captadas foram feitos a partir do software ACDSee v. 4.

Este trabalho enquadra-se no campo da História da Educação que tem se inspirado

na Nova História Cultural, corrente historiográfica que a partir da década de setenta da

centúria passada fez com que os historiadores deslocassem seus olhares para as práticas

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culturais. Na História da Educação, essa tendência historiográfica provocou uma renovação

na seleção de objetos de pesquisa. A influência da Nova História Cultural sobre os

historiadores da educação fez com que o interesse se deslocasse da investigação das normas

para o estudo das práticas escolares. Os estudos sobre a produção, circulação e apropriação

de impressos pedagógicos adquiriram grande importância. 15 O trabalho sobre as leituras

pedagógicas de Sílvio Romero insere-se nesse contexto. Por esse motivo, foram de grande

valia alguns procedimentos metodológicos e conceitos largamente utilizados pelos

historiadores da educação que se apropriaram das contribuições da Nova História Cultural.

Um procedimento muito útil nesta pesquisa foi o método indiciário, elaborado pelo

historiador italiano Carlo Ginzburg para auxiliar no desvelamento de práticas culturais. De

acordo com esse autor devemos ficar atentos aos pormenores reveladores de modo a

apreender e desembaraçar para lá da superfície aveludada do texto o emaranhado dos fios

que formam a malha textual. A tarefa de estudar o modo como um intelectual se apropriou

dos textos que leu não é de fácil execução. A prática de atribuição de sentido aos signos

gráficos nem sempre é uma atividade que deixa rastros evidentes16. Desse modo, esse

método foi muito útil para compreender a apropriação dos impressos pedagógicos.

Foi utilizada ainda a noção de documento/ monumento de Jacques Le Goff, que

considera que o documento não é neutro, mas é sempre uma tentativa dos sujeitos pretéritos

de impor à posteridade uma determinada imagem de si próprios, que para terem valor de

testemunho precisam ser desmontadas, analisadas e problematizadas enquanto memórias/

monumentos.17

Auxiliaram a compreensão da apropriação de impressos pedagógicos por Sílvio

Romero as noções de apropriação, competências e práticas de leitura, leitura oral e leitura

15 NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Historiografia da Educação e fontes. Cadernos da ANPEd, Porto Alegre, n. 5, set., p. 7-64, 2000; LOPES, Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001; e VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, p. 37-70, 2003. 16 GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 143-179.

17 LE GOFF, Jacques. Documento/ monumento. In: Enciclopédia Einaudi. Porto: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1984, p. 95-106. V. 1.

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silenciosa, leitura intensiva e leitura extensiva18, materialidade e representação elaboradas

por Roger Chartier. De acordo com o historiador os leitores se apropriam das mensagens à

sua maneira. Ao contrário do que afirmava a antiga História das Idéias, os leitores não são

uma cera mole onde se inscrevem de maneira bem legível as idéias e as imagens forjadas por

criadores particulares. Os leitores projetam nelas idéias pessoais, em vez de recebê-las

passivamente. No entanto, a construção de sentido não é aleatória, varia de acordo com as

competências e práticas de leituras próprias da comunidade leitora na qual o leitor está

inserido e a materialidade dos textos.

As competências e as práticas de leitura mudam de acordo como o contexto. Chartier

distingue leitura oral e leitura silenciosa. Até os últimos séculos da Idade Média predominou

a leitura oral em voz alta ou baixa, caracterizada pela lentidão e dificuldade de interiorização

do que é lido. Na Idade Moderna, a leitura, assim como outras práticas culturais, tornou-se

privatizada: a leitura oral deu lugar à leitura silenciosa. A leitura silenciosa, ao contrário da

leitura oral, caracteriza-se pela rapidez e facilidade de interiorização do texto pelo leitor, pois

possibilita que apenas através do movimento dos olhos, o leitor entre em contato com novas

idéias e reflita sobre elas. Mas isso não quer dizer que a leitura oral tenha deixado de existir,

ela continuou sendo utilizada em algumas comunidades leitoras para atender as necessidades

dos analfabetos ou dos leitores neófitos. Na contemporaneidade leitores sem muita habilidade

só compreendem o que lêem quando o fazem em voz alta.

Chartier distingue também leitura intensiva e leitura extensiva. As comunidades

leitoras menos hábeis realizam leitura intensiva. Esse tipo de leitura é caracterizado pelo

manuseio de poucos impressos, que são lidos e relidos, memorizados e recitados. Os que se

dedicam a essa modalidade, sentem-se à vontade com apenas algumas formas textuais e

tipográficas e possuem uma relação de reverência e obediência com os textos.

18 Essas noções foram formuladas em diversos textos, entre os quais: CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Difel, 1990; CHARTIER, Roger. As práticas da escrita. In: ARIÈS, Philippe; CHARTIER, Roger. História da Vida Privada: Da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 113-162. V. 3; CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998; CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998; CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.

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As comunidades leitoras melhor familiarizadas com o mundo da leitura realizam

leitura extensiva. Esse modo de leitura é marcado pelo rápido consumo de grande número de

textos. Os que se dedicam a esse tipo de leitura sentem-se à vontade com todas as formas

textuais e tipográficas e possuem uma relação mais crítica em relação aos impressos.

A partir dessas orientações, estudei a formação recebida pelo Sílvio Romero leitor na

Vila de Lagarto, onde estudou as primeiras letras e aprendeu as orações ensinadas pela

mucama Antônia e as histórias contadas por Antônia, outras escravas e Zefa Nó, uma

moradora da Vila; na capital do Império, onde estudou no ginásio Ateneu Fluminense e

prestou os exames preparatórios; em Recife, onde cursou a Faculdade de Direito; e novamente

no Rio de Janeiro, cidade onde viveu e trabalhou durante boa parte da sua vida e teve a

oportunidade de freqüentar inúmeras livrarias e bibliotecas. Através do estudo da formação

formal e informal de Sílvio foi possível apreender quais as competências e práticas de leitura

que ele adquiriu ao longo da sua trajetória.

Para fazer uma História da Leitura foi preciso também analisar a materialidade na

qual os textos estão inscritos, pois cada forma, cada suporte, cada estrutura da transmissão e

da recepção da escrita afeta profundamente os seus possíveis usos e interpretações. Assim,

considerei os aspectos formais de cada impresso que constitui a sua Biblioteca Pedagógica.

Um outro conceito útil para entender os usos que Sílvio Romero fez dos impressos

pedagógicos foi o de representação19. Conforme Chartier, ao criarem representações os

indivíduos descrevem a realidade tal como pensam que ela é ou como gostariam que fosse e

traduzem os seus interesses e posições sociais. Os impressos são dispositivos através dos

quais os indivíduos visam impor determinadas representações do mundo social. Assim, para

entender como se apropriou dos impressos pedagógicos é necessário compreender as

representações que os responsáveis pela produção e circulação tentaram impor. Do mesmo

modo que os responsáveis pela produção e circulação dos impressos visam impor

representações, os leitores constroem no processo de apropriação outras representações do

19 Esse conceito foi elaborado em diversas obras, entre as quais: CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Difel, 1990; CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998; CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998; CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.

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mundo social. Para entender as representações que construiu a partir das suas leituras

pedagógicas estudei as anotações que fez às margens dos textos, as impressões de leitura

expostas nas cartas que trocou com outros intelectuais e os textos pedagógicos que produziu.

Também foram importantes os conceitos de campo intelectual, capital cultural e

capital social do sociólogo francês Pierre Bourdieu. Ele compreende a sociedade como um

conjunto de campos, microcosmos sociais relativamente autônomos. O campo intelectual é

um espaço de lutas entre os agentes. Essas lutas são decorrentes da distribuição desigual de

capital no interior de cada campo. Aqueles que possuem maior volume de capital ocupam

posições dominantes e aqueles que possuem menor volume ocupam posições dominadas. As

lutas ocorrem em torno da apropriação do capital específico do campo e/ ou da redefinição

daquele capital. As estratégias dos agentes estão relacionadas com as posições que ocupam no

campo. Entre elas estão as de conservação e as de subversão. As primeiras são mais

freqüentes entre aqueles que ocupam posição dominante e as segundas entre aqueles que

ocupam posições dominadas. No século dezenove, quando o grau de autonomia do campo

intelectual ainda não era elevado, além do capital cultural, avaliado pelo conhecimento detido

pelos agentes, era levado em consideração o capital social, ou seja, o capital de relações

sociais que os agentes eram capazes de mobilizar20. Esses conceitos foram importantes para

compreender a posição ocupada por Sílvio Romero no campo intelectual brasileiro.

O trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro, Competências e práticas de

leitura de Sílvio Romero, estudei a sua formação, procurando evidenciar como se tornou um

leitor crítico das letras nacionais e estrangeiras. No segundo, Biblioteca Pedagógica de Sílvio

Romero, tracei um perfil da sua Biblioteca Pedagógica e analisei a sua materialidade,

procurando identificar os dispositivos utilizados pelos produtores das obras para conformar a

leitura. No terceiro e último capítulo, A apropriação de leituras pedagógicas, investiguei

20 BOURDIEU, Pierre. A gênese dos conceitos de habitus e de campo. In: ______. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p. 59-131. Para obter informações sobre Pierre Bourdieu, conferir: ORTIZ, Renato. A procura de uma sociologia da prática. In: BOURDIEU, Pierre. Sociologia. São Paulo: Ática, 1983; PINTO, Louis. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000; MARTINS, Carlos Benedito. Notas sobre a noção da prática em Pierre Bourdieu. Novos estudos CEBRAP, Rio de Janeiro, n. 62, p. 163-181, mar. 2002; MARTINS, Carlos Benedito. Notas sobre a noção da prática em Pierre Bourdieu. Novos estudos CEBRAP, Rio de Janeiro, n. 62, p. 163-181, mar. 2002; WACQUANT, Loïq J. D. O legado sociológico de Pierre Bourdieu: duas dimensões e uma nota pessoal. Revista Sociedade e Política, Curitiba, n. 19, p. 95-110, nov. 2002; CHARTIER, Roger. Pierre Bourdieu e a História. Topoi, Rio de Janeiro, p. 139-182, mar. 2002.

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como Sílvio Romero se apropriou das leituras do evolucionista Herbert Spencer, de Henri de

Tourville, Edmond Demolins e Paul de Rousiers, membros da Escola de Ciência Social e do

antropossociólogo Georges Vacher de Lapouge.

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CAPÍTULO I

COMPETÊNCIAS E PRÁTICAS DE LEITURA DE SÍLVIO ROMERO

O objetivo do capítulo é compreender as competências e práticas de leitura do

intelectual sergipano através do exame da sua trajetória. Compreender o Sílvio Romero leitor

não é tarefa fácil. É preciso romper com a concepção de leitura do nosso tempo e mergulhar

nos tempos idos em busca de indícios que permitam entrever as competências e práticas de

leitura que ele adquiriu ao longo da sua biografia. Inicialmente, recuei às suas experiências na

Vila de Lagarto, onde estudou as primeiras letras. Em seguida, ao Rio de Janeiro, onde cursou

os preparatórios. Depois a Recife, onde se bacharelou em Direito. Por fim, ao Rio de Janeiro,

onde se estabeleceu definitivamente.

Figura 1 - Sílvio Romero Fonte: SÍLVIO ROMERO. Altura: 263 pixels. Largura: 209

pixels. 52117 bytes. Formato JPEG. Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/media/silvio_romero.jpg>

Acessado em: 23/05/2004.

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Sílvio nasceu no dia 21 de abril de 1851, na Vila de Lagarto, no agreste de Sergipe.

Era filho de André Ramos Romero, “português do Norte”, negociante abastado, e Maria da

Silveira de Vasconcelos Ramos Romero, descendente de uma próspera família, também de

origem portuguesa.

No ano do seu nascimento a vila foi atingida por uma epidemia de febre amarela que

grassava nas províncias do Norte. Sua mãe foi acometida pela doença e não pôde amamentá-

lo. Então, foi levado para a casa dos avós maternos, Luiz Antônio Vasconcelos e Rosa

Ludovina da Silveira, no Engenho Moreira, localizado nas proximidades do rio Piauí.

Figura 2 - Pais de Sílvio Romero Fonte: PAIS de Sílvio Romero. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia

A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 122-131.

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A julgar pela fotografia, a casa-grande localizava-se no cimo. Era ampla, porém

singela. Uma pequena escada de três ou quatro degraus dava Acessado ao alpendre cercado

por grosseiras estacas. Várias portas e janelas davam Acessado ao interior. Apesar das marcas

do tempo que esmaeceram a imagem é possível vislumbrar alguns personagens.

No Engenho, Sílvio foi entregue aos cuidados de Antônia, mucama a quem foram

confiados os desvelos de sua meninice. Cedo se acostumou a chamá-la de mãe21. A “adorada

Antônia” transmitiu para o “yoyozinho” os primeiros conhecimentos. Aos 53 anos, em

depoimento ao jornalista e literato Paulo Barreto, conhecido como João do Rio, afirmou que

aprendeu com ela as orações e que se habituou a considerar a religião como coisa séria, “uma

criação fundamental e irredutível da humanidade” 22.

21 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 25. 22 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 26.

Figura 3 – Casa-grande do Engenho Moreira Fonte: CASA-GRANDE do Engenho Moreira. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de

perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 47.

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Não foi possível descobrir se Antônia era letrada. Numa das raras fotografias de

escravos no Brasil, ela portava um livro. Contudo, esse não é um indício suficiente para

concluir pelo seu letramento. No século dezenove, os livros eram muito usados na

composição dos retratos, pois era um bem socialmente valorizado23.

23 Cf. ABREU, Márcia. Diferentes formas de ler. Disponível em: http://www.unicamp.br/Memoria/Ensaios/Marcia/marcia/htm. Acesso em: 26/05/2004.

Figura 4 - Antônia Fonte: ROMERO, Alfeu. Antônia. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur

José de Souza, 1915, p. 81.

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O livro à mão esquerda, possivelmente uma bíblia ou um livro de oração, compunha,

ao lado de uma medalha, que lhe adornava o peito e um terço que segurava à mão direita, a

imagem de uma senhora cristã, seguidora dos mandamentos divinos, responsável pela

educação moral e religiosa das crianças e adolescentes da família, conforme descreveu

Abelardo Romero, sobrinho-neto de Sílvio24. Todavia, para saber orações não era preciso

conhecer o alfabeto. Elas eram transmitidas oralmente geração a geração.

Antônia e as “velhinhas rendeiras” que viviam no Engenho Moreira ensinaram-lhe

também inúmeras histórias, que décadas depois, em depoimento ao literato Coelho Neto,

recordou com saudade:

Em menino o meu maior encanto era à noite, ao copiar ou na eira, entre crianças, ouvir as velhinhas que, com a almofada ao colo, urdindo o crivo, cantavam xácaras peninsulares, narravam conselhos ou espavoriam o auditório ingênuo com histórias sombrias em que aparecia a iurupari ou o saci saltava num pé só, alumiando a brenha com o olhar esbraseado, quando não era o caapora, senhor da mata, que rompia das profundezas com estardalhaço de ramos, montando num caititu monstruoso que afocinhava as sapopemas, grunhindo e estralando os colmilhos. E fábulas e lendas, umas irradiando com o aparecimento de Rudá, o sol, outras melodiosas do canto murmuro das iaras, ou então os contos que faziam rir os pequeninos com as astúcias do jaboti, as manhas do macaco e as palermices da onça sempre ludibriada pela esperteza dos animais matreiros25.

O século dezenove brasileiro foi marcado pela importância crescente do impresso, pois

no início dessa era houve uma ampliação da circulação de livros, devido ao surgimento da

imprensa, da proliferação de livrarias e bibliotecas26. No entanto, a tradição continuou sendo

durante muito tempo a principal forma de transmissão da cultura. As lembranças de Sílvio

ilustram bem a relevância da literatura oral, que muitas vezes provocava mais prazer nos

ouvintes do que a literatura escrita. Ele afirma que:

24 Esse perfil de Antônia foi descrito por Abelardo, sobrinho-neto de Sílvio Romero. Cf. ROMERO, Abelardo. Silvío Romero em família: Aracaju: Saga, 1960. 25 ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 93. 26 Cf. ARAÚJO, Jorge de Souza. Perfil do leitor colonial. Ilhéus: Editora da UESC, 1999; e HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985.

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Nunca livro algum, por mais notável que fosse o seu autor e celebrada a sua fábula, conseguiu atrair-me como aquelas velhas o faziam com o imã dos seus recontos. As primeiras palavras que caíam, lentas, no silêncio atento: ‘Era uma vez...’, o coração batia-me comovido, um calor inflamava-me o rosto, abriram-se-me muito os olhos e eu via, via os caminhos de encanto, as árvores de folha de ouro, as grutas de esmeraldas, os dragões que bufavam chamas, as serpentes, os cisnes, que eram príncipes encantados, as princesas cativas de mouros, todas as coisas e figuras desses poemas da infância, primeiros alimentos da imaginação...27

Além das histórias, lembrou com saudade da moagem da cana. Nestas ocasiões, subia

na almanjarra e ajudava os tangedores a cantar: “Pomba voou, meu camarada. Avoou, que hei

de fazer? Quem de noite leva a boca. De dia que há de comer?” 28. Sílvio informou ao João do

Rio que ainda conseguia sentir no ouvido a melodia simples e monótona desses e de outros

versinhos do gênero e que o seu brasileirismo vinha daí.

Quando completou cinco anos teve que deixar Antônia, as escravas contadoras de

história, os tangedores de gado e regressar à casa paterna para estudar. Segundo a então

nonagenária Antônia, em informação registrada por Abelardo Romero, o dia em que foi

levado para a Vila: “Foi um belo dia de juízo... Agarradinho à minha saia, yoyozinho chorava:

Não quero estudar!”

27 ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 94. 28 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 26.

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Não foi apenas a necessidade de matriculá-lo numa escola de primeiras letras que

motivou o pai a levá-lo do Engenho para a Vila. Mais uma vez Lagarto foi assolada por uma

epidemia, agora de cólera-morbo29. Ao chegar em casa, encontrou a irmã Lídia doente. A

menina não resistiu. A mãe também adoeceu, mas conseguiu escapar da morte. Após o

mordexim André Romero matriculou-o na escola. O menino teve que abandonar a camisola

infantil para usar calças. Dividir o tempo que era apenas das travessuras com os estudos.

Segundo Abelardo, ele foi matriculado na escola do professor Bomfim. Nos

documentos oficiais que versam sobre a instrução pública da Província de Sergipe, não

constam referências sobre professor com essa alcunha. Seguramente ele não era professor

público. A cadeira pública masculina de primeiras letras de Lagarto foi criada em 1819. Não

foi possível descobrir quem foi o primeiro ocupante da cadeira. O segundo foi Antônio

Ricardo dos Mártires, que permaneceu no cargo de 1830 a 1850. O regente da cadeira na

29 A Vila de Lagarto foi a primeira região da Província de Sergipe a ser assolada pelo cólera-morbo em 1855. Cerca de 21% da população faleceu. Cf. SAMARONE, Antônio. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Núcleo de Pós-graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, 1997; SANTOS NETO, Amâncio Cardoso. Sob o signo da peste: Sergipe no tempo de cholera (1855-1856). Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2001.

Figura 5 - Vila de Lagarto Fonte: VILA de Lagarto. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José

Olympio, 1944, p. 55.

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época em que Sílvio viveu em Lagarto era Miguel Teotônio de Castro30. Havia também a

cadeira feminina de primeiras letras criada em 1850. Esta foi ocupada primeiramente por

Tereza Jesus da Mata. Na época em que Sílvio estudou, era regida por Maria José de

Alcântara Brito31.

Bomfim era professor particular. Esses professores às vezes eram preferidos pelas

famílias mais abastadas. As escolas particulares funcionavam na residência do mestre ou do

aluno. Não há muitas informações acerca da experiência de Sílvio na escola do referido

mestre. Há apenas o registro de que o professor costumava morder as orelhas dos alunos que

não cumpriam com seus deveres32. Se essa notícia for verdadeira, pode-se imaginar quão

assustadora foi a reação do menino de engenho, acostumado aos mimos que lhe fazia Antônia,

à rudeza do mestre. A experiência nessa escola foi curta. O mestre teria morrido pouco

depois, envenenado por um de seus alunos33.

Com a morte do mestre antigo, Sílvio foi matriculado na escola do professor Badú.

Também há parcimoniosas informações a respeito dessa escola. Segundo o historiador José

Sebrão de Carvalho Sobrinho, Badú era a alcunha do professor Miguel Teotônio de Castro34.

As escolas públicas de primeiras letras, cujos professores eram reconhecidos ou nomeados

pelos órgãos de Estado responsáveis pela instrução, funcionavam em espaços improvisados, 30 SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 31 SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da duodécima Legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 27 de abril de 1859, pelo presidente, Dr. Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 32 ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 24. 33 ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 24. 34 CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941, p. 92.

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geralmente na casa dos mestres ou em espaços alugados para esse fim. Tais escolas eram bem

diferentes das contemporâneas. O mobiliário não era uniforme. Havia mesas e bancos de

diversos tamanhos. Para escrever usavam-se pedras de ardósia e ponteiro ou papel, pena e

tinta. Os materiais didáticos eram: cartas de sílabas, compêndios de gramática, aritmética e

doutrina cristã e traslados. Os métodos de ensino utilizados eram o individual ou o mútuo. Era

comum o uso de castigos corporais para garantir a disciplina. A palmatória era bem conhecida

pelos infantes35.

Essa foi uma das formas de realização da escola que possibilitou aos oitocentistas o

ingresso no universo da leitura. Nelas os mestres procuravam iniciar seus discípulos nos

35 SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sua sessão ordinária no 1º de março de 1850, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado á Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 20 de abril de 1854, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 1º de março 1855, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 2 de julho de 1856, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de Sá e Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 1º de fevereiro de 1857, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de Sá e Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da duodécima legislatura da Assembléia Legislativa de Sergipe, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor João Dabney Avellar Brotero. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da duodécima Legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 27 de abril de 1859, pelo Presidente, Dr. Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 5 de março de 1860 pelo Presidente, Manuel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da província de Sergipe, no dia 15 de agosto de 1860 ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior, pelo Doutor Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 4 de março de 1861, pelo Presidente, Dr. Thomaz Alves Junior. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Fala com que foi aberta a 1ª sessão da 14ª legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe pelo Presidente, Dr. Joaquim Jacinto de Mendonça, no dia 1º de março de 1862. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.

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rudimentos da leitura, da escrita e do cálculo. Sobre a experiência na escola do professor

Badú, Sílvio deixou comentários sobre os materiais didáticos empregados. Afirma que

aprendera a ler

em velhos autos, velhas sentenças fornecidas pelos cartórios dos escrivães forenses. Histórias detestáveis e enfadonhas em sua impertinente banalidade eram-nos ministradas nesses poeirentos cartapácios. Eram como clavas a nos esmagar o senso estético, embrutecer o raciocínio e estragar o caráter. Era, então, preciso uma abundante seiva nativa para resistir a semelhante desvastação. As sentenças manuscritas eram secundadas por impressos vulgares, incolores, próprios para ajudarem a distribuição. Era o ler por ler sem incentivo, sem préstimo, sem estímulo nenhum36.

No século dezenove era comum o uso de manuscritos cartorários nos momentos finais

da aprendizagem da leitura. O viajante Daniel Parish Kidder, em Reminiscências de viagens e

permanências nas províncias do norte do Brasil, observou que “em certas regiões do interior

as crianças aprendem a ler em manuscritos” 37. Também era recorrente o uso dos paleógrafos,

livros escolares destinados ao aprendizado da leitura da letra manuscrita, na instrução

elementar. Esses livros, impressos por meio do processo litográfico, constituíam uma

antologia de escritas diferentes. Naquela quadra, aprendia-se primeiro a decodificar as letras

manuscritas e após o domínio destas aprendia-se as de forma38.

No momento em que Sílvio estudou as primeiras letras já circulavam no país livros de

leitura, que pouco a pouco substituíram o uso dos traslados. Em relatório de 1856, o

Presidente da Província de Sergipe Salvador Correia de Sá e Benevides, aconselhou que se

fizesse na província um ensaio do método de leitura repentina elaborado por Antônio

Feliciano Castilho39. Este método prometia ensinar a ler e escrever em poucas lições e era

36 ROMERO, Sílvio. Estudos de literatura contemporânea. Rio de Janeiro: Laemmert &. C, 1885, p. 22. 37 KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências no norte do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980, p. 54. 38 BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Paleógrafos ou livros de leitura manuscrita: elementos para o estudo do gênero. Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Batista/notasbat.htm#01>. Acesso em: 02/02/2005. 39 SERGIPE. Relatório apresentado pelo Presidente da Província Salvador Correia de Sá e Benevides em 1856. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.

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indicado tanto para o uso nas escolas quanto para o ambiente doméstico40. No entanto, até o

momento, não foi possível descobrir se o livro didático de Castilho foi realmente empregado

nas escolas sergipanas e se Sílvio Romero teve Acessado a esse impresso.

Sílvio lembra que nos últimos tempos de escola primária, dois livros foram a base do

ensino do mestre de primeiras letras:

Um – Epítome da História do Brasil, de J. P. Xavier Pinheiro, por causa da descrição de nossa terra – de Rocha Pita, que ocorre logo nas primeiras páginas: ‘O Brasil, vastíssima região, felicíssimo terreno, em cuja superfície tudo são frutos... ’ Outro, Os Lusíadas, por muitos trechos que me encantavam. O Brasil da descrição de Pita ficou sendo o meu Brasil de fantasia e sentimento, a poesia de Camões ainda hoje é uma das mais elevadas manifestações da arte no meu ver e sentir, e, com seu ardente amor da pátria, fortaleceu o meu nativismo. Apesar das inúmeras palmatoadas que apanhei na leitura e análise dos dois livros, nunca perdi a simpatia por Luís de Camões e pelo, mais tarde, tradutor do Dante 41.

Essas confissões merecem algumas observações. Pela descrição pode-se inferir que o

livro de J. P. Xavier Pinheiro era, possivelmente, uma coleção de textos escolhidos das obras

de vários autores adaptados para o uso escolar. Não encontrei nenhuma menção sobre a

circulação da obra citada. No entanto, nas escolas brasileiras foram adotados livros que

possuíam essas características.

A partir da citação pode ser feita uma outra inferência. É possível presumir que o

conteúdo do livro estava de acordo com as normas prescritas pelas autoridades imperiais.

Eram recomendados textos que cultivassem o amor à pátria e a moral cristã42. A obra de

40 Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Os livros que aqui gorjeiam. In: _______. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 183-193. 41 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 28. 42 Cf. TAMBARA, Elomar. Livros de leituras de ensino primário no século XIX no Brasil. Disponível em: <http://www.anped.org.br/26/trabalhos/elomarantoniotambara.rtf>. Acesso em: 26/05/2004; e GALVÃO, Ana Maria de Oliveira e BATISTA, Antônio Augusto Gomes. A leitura na escola primária brasileira: alguns elementos históricos. Disponível em: <http://unicamp.br/iel/memória/Ensaios/escolaprimaria.htm.> Acesso em: 26/05/2004.

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Sebastião da Rocha Pita enquadra-se no primeiro caso. Ao lado das estórias contadas pelas

escravas ela pode ter despertado o seu nacionalismo.

Outra observação que pode ser feita relaciona-se à leitura de Camões. O literato

português marcou a aprendizagem na escola brasileira do século dezenove. São várias as

menções em relatos autobiográficos e romances à leitura de Os Lusíadas. Porém, são

incomuns os relatos de admiração. A maioria dos estudantes daquela época deixou imagens

negativas dessa leitura43. Entre as raras notas de entusiasmo destaca-se a de Sílvio, que apesar

das “palmatoadas”, mostrou simpatia pelo autor luso. É possível que na época em que teve o

primeiro contato com a obra, sob o olhar vigilante do mestre, não tenha experimentado uma

sensação tão prazerosa e tenha construído essa representação positiva já na fase adulta.

O uso de castigos, como os “bolos” recebidos pelo menino, também são referências

constantes nas memórias e romances. Em Sergipe, esse hábito foi constante nas escolas,

mesmo após a proibição de castigos corporais por uma lei de 1858, as autoridades provinciais

continuam tolerando o uso dos castigos corporais moderados44. Eles visavam obter uma

leitura adequada. Por essa razão, nem sempre a leitura que dava prazer era aquela realizada na

escola “em impressos incolores”. Muitas vezes a leitura mais agradável era a realizada na

clandestinidade, longe dos olhos do professor e dos familiares45. Infelizmente, Sílvio não

deixou registros acerca dessas leituras. Mas é possível conjeturar que se ele possuía na

infância o mesmo encantamento com os livros que tinha quando adulto, provavelmente, não

deixaria de ler qualquer volume que lhe caísse nas mãos fosse ele autorizado ou não.

Apesar do contato com a cultura escrita possibilitado pelo ambiente escolar, Sílvio não

perdeu o contato com a literatura oral. Além das histórias que, provavelmente, ouvia de

Antônia e das outras escravas quando voltava ao Engenho Moreira, para visitar os avós, há

outros indícios de que não foi apenas através das leituras escolares que teve Acessado ao

43 Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A literatura na escola. In: _______. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 203-217. 44 SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da Província de Sergipe, no dia 15 de agosto de 1860, ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior pelo doutor Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 45 Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Leituras clandestinas. In: ________. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 218-233.

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conhecimento. Quando morava na Vila, costumava assistir as festas populares como reisados,

cheganças, pastoris, taieiras e bumbas-meu-boi. Sílvio comentou que os cantos entoados

durante essas festas o encantavam e fortificaram o seu nativismo46. Também costumava

sentar-se na calçada de Zefa Nó para ouvir histórias encantadas como a da Moura Torta.

Segundo informa Abelardo Romero, Luís, que foi escravo da família, contou que ao visitar a

família, após a morte do pai, em 1894, foi rever Zefa Nó, pediu que lhe contasse novamente a

referida história e ouviu-a absorto como se estivesse ouvindo-a pela primeira vez. Essas

histórias produziram tal encantamento no menino, que já adulto perguntava constantemente

nas cartas ao irmão Benilde pela contadora de histórias47.

Após a conclusão das primeiras letras, aos doze anos, André e Maria prepararam o

enxoval de Sílvio e fizeram a sua matrícula no Ateneu Fluminense, afamado colégio do

Império. Sílvio deixou a Vila para cumprir o destino dos herdeiros de famílias com capital

econômico e social elevado. Conforme informação anterior, Sílvio era filho de André Ramos

Romero, comerciante português, que casou com Maria da Silveira de Vasconcelos Ramos

Romero, também de origem lusa, filha de Rosa Ludovina da Silveira e Luís Antônio de

Vasconcelos, proprietário do Engenho Moreira, cujo dote, aliado à sua aptidão para os

negócios, provavelmente, auxiliou-o a acumular grande fortuna.48 Seu nome não aparece no

livro de votantes da Vila de Lagarto de 1850, quando era recém-casado49. No entanto, no livro

de qualificação de votantes e nas atas eleitorais da década de setenta figura como eleitor e

elegível50. A participação nas eleições é um índice adequado para avaliar as fortunas no

Império, pois o voto era censitário. Os eleitores eram selecionados de acordo com sua renda.

O processo eleitoral era feito em dois turnos: eleições primárias para a formação de um

Colégio Eleitoral que, por sua vez, escolhia nas eleições secundárias os vereadores, juízes de

paz, deputados provinciais e gerais e senadores. Nas eleições primárias só podiam votar os

46 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 26. 47 ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 27-28. 48 CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941, p. 92. 49 ARACAJU. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE. SEÇÃO SERGIPANA. Livro de votantes de Lagarto. 1850. (Manuscrito). 50 ARACAJU. ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE. G1 1508. Ata da Eleição dos eleitores da Paróquia de Lagarto.1872. [Manuscrito]; ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de nomes das pessoas qualificadas como votantes da Paróquia de Lagarto. 1877. [Manuscrito].

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cidadãos com renda líquida anual superior a 100 mil réis. Dos candidatos ao Colégio

Eleitoral, era exigida renda anual superior a 200 mil réis. Os candidatos à Câmara dos

Deputados deveriam comprovar renda mínima de 400 mil réis e, para o Senado, de 800 mil

réis. Em uma lista de qualificação de 1877, André aparece com a renda presumida de dois

contos de réis51. Ou seja, ele poderia ser eleito até senador do Império.

Outro indicador de fortuna no Império é a posse de escravos. Nas décadas de setenta e

oitenta, André cadastrou 42 escravos a serem libertos pelo Fundo de Emancipação. Esses

escravos exerciam funções diversificadas. Eram lavradores, carreiros, costureiras, sapateiros,

padeiros, lavadeiras e responsáveis pelo serviço doméstico52. Alguns desses escravos

confeccionavam os produtos que eram vendidos na sua loja na Rua Estância, atual Major

Mizael Mendonça53. Outros lavravam no Sítio da Catita, de sua propriedade54.

O comendador André, título conferido pela Guarda Nacional, e sua esposa tiveram

imensa prole. Dos dez irmãos de Sílvio, cinco eram homens e cinco mulheres. Lídia faleceu

ainda pequena vítima da epidemia de cólera-morbo. Leonila, Amélia, Lídia, nascida um ano

após a morte da irmã homônima, e Rita seguiram a trajetória reservada para a maioria das

mulheres no século dezenove: o casamento. Leonila casou com Rosendo Hora; Amélia com

Joaquim Dantas, importante senhor de engenho; Lídia com Antônio Luiz Vasconcelos, seu tio

materno; e Rita com José de Lima Fontes. Nilo, Joviniano e Benilde ingressaram nos cursos

superiores disponíveis para os filhos das famílias abastadas. Nilo e Benilde diplomaram-se

bacharéis em Direito e Joviniano optou pela Medicina. Emílio e Celso, não tiveram a mesma

sorte. Como filhos mais novos, assistiram às dificuldades enfrentadas pelo pai em 1879,

quando uma casa bancária baiana onde ele depositava parte de seus haveres faliu, e em 1888,

51 ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de nomes das pessoas qualificadas como votantes da Paróquia de Lagarto. 1877. [Manuscrito]. 52 ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de emancipação. 1873-1875. [Manuscrito]; ARACAJU. ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE. AG1 4A. DOC. 4. Lista de classificação de escravos a serem libertos pelo Fundo de Emancipação na Vila de Lagarto. 1876. [Manuscrito]; ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de emancipação. 1880-1886. [Manuscrito]. 53 Cf. CARDOSO, Severiano. Lagarto – Sergipe: Histórias e costumes. Almanaque Sergipano, Aracaju, 1899, p. 242-256; ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960; CAMPOS, Edilberto. Crônicas da passagem do século. Aracaju: [S.n.], [S.d.]. V. 2. 54 ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 29.

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após a Abolição, quando perdera boa parte da sua fortuna. Desse modo, os temporãos

seguiram a carreira das armas, destinadas aqueles que não possuíam capital econômico

elevado, mas guardavam ainda um considerado capital social. Emílio foi Capitão da Guarda

Nacional, como seu pai fora um dia, e Celso, criado pelo irmão Sílvio, foi Capitão da

Marinha55.

Sílvio, o segundo filho do casal, também se tornou bacharel em Direito. Por essa

razão, após a conclusão das primeiras letras nas escolas dos professores Bomfim e Badú, o pai

o matriculou em regime de internato no Ateneu Fluminense, a fim de prepará-lo para realizar

os exames exigidos pelos cursos superiores.

55 Cf. CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941; GUARANÁ, Armindo. Dicionário biobibliográfico sergipano. Aracaju: Pongetti, 1925; ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960.

Figura 6 - Ateneu Fluminense Fonte: ATENEU Fluminense. In: RABELLO, Silvio. Itinerário de Silvio Romero. Rio de Janeiro:

José Olympio, 1944, p. 127.

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O internato localizava-se à Rua do Passeio e era dirigido pelo Monsenhor Antônio

Pedro dos Reis. A imagem que Sílvio possuía de internato era de “colégio instalado em

enorme casarão, com aparência de caserna, hospício, quartel ou hospital” 56. Essa

representação evoca o choque provocado pela ruptura com a vida familiar e o ingresso no

novo universo do internato. Obras de intelectuais coevos relatam essa experiência de modo

similar. Em O Ateneu, o personagem Sérgio, alter ego de Raul Pompéia menciona a “ruptura

com o aconchego placentário da dieta caseira” 57. Deixava-se o lar, o convívio com os entes

queridos para adentrar no ambiente disciplinado do colégio interno, que era, ao mesmo tempo,

lugar de instrução e de formação moral. Além de oferecer as matérias secundárias, o internato

exercia, na ausência da família, o papel de guardião da moralidade e das virtudes. Para isso a

disciplina ocupava um importante lugar. Talvez seja essa a razão da alusão ao aspecto de

“caserna, hospício, quartel ou hospital”, instituições também marcadas pelo uso da disciplina

como dispositivo de controle.

No entanto, apesar da disciplina que os diretores, inspetores e professores

possivelmente tentaram impor no Ateneu Fluminense, à maneira dos internos do Ateneu de

Pompéia, os alunos desse internato reagiram às normas das escolas, apropriando-se delas ao

seu modo. Reforça essa idéia a alusão de Sílvio aos “vícios, safadezas e infâmias” que

imperavam no internato 58.

Também reforçam a apropriação diversa daquela pretendida pelos profissionais que

atuavam no colégio a afirmação de que preferia ter estudado numa escola inglesa “colocada

no campo, em sítios adrede escolhidos, com as suas verduras, suas várzeas, suas árvores, suas

águas correntes ou os seus lagos, em contato com a natureza e suas cenas mais aptas a lhe

fortalecer a saúde, despertando ao mesmo tempo o interesse pelas coisas práticas” 59.

56 ROMERO, Sílvio. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 76. 57 POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 13. (Primeira edição: 1888) 58 ROMERO, Sílvio. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 182. 59 ROMERO, Sílvio. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 182.

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Além de reforçar o desvio em relação aos dispositivos de controle do colégio, essa

declaração expõe a visão do intelectual em relação à educação. Na sua perspectiva ela deveria

compreender o desenvolvimento intelectual, moral e físico do indivíduo e valorizar a

experiência, a prática.

Mediante consulta aos relatórios dos presidentes e diretores de instrução da Província

do Rio de Janeiro do período em que Sílvio realizou os estudos secundários não foi possível

encontrar informações sobre o Ateneu Fluminense60. Este colégio deve ter sido organizado por

iniciativa particular. Não obstante a carência de informações, além daquelas fornecidas por

Sílvio, podemos imaginar como era esse internato a partir das características que os colégios

secundários do período guardavam entre si.

No século dezenove, o ensino secundário tinha como função habilitar os alunos para

os exames preparatórios exigidos para o ingresso no ensino superior. A escolha do currículo e

dos compêndios empregados nos colégios visava cumprir esse fim61. Sílvio relatou ter

60 Cf. RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, na segunda sessão da décima quinta legislatura, no dia 1º de outubro de 1863, pelo Presidente Dr. Policarpo Lopes de Leão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1864, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1865, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1866, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, no ano de 1867 pelo Presidente da Província. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, na primeira sessão da décima oitava legislatura, no dia 15 de outubro de 1868, pelo Presidente da Província, Conselheiro Benvenuto Augusto de Magalhães Taques. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública Conselheiro Thomas Gomes dos Santos ao Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1863. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública ao Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1865. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública ao Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1868. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; LICEU FLUMINENSE. Exposição da Diretoria do Liceu Fluminense ao Dr. Eduardo Pindahiba de Mattos, Vice-Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 61 Cf. HAIDAR, Maria de L. M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo: EDUSP/ Grijalbo, 1972.

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estudado Latim, Filosofia, Retórica e Poética e História e Geografia62. Além dessas

disciplinas, eram exigidas nos preparatórios para Direito: Francês, Inglês, Aritmética e

Geometria. No Colégio Pedro II, que servia de modelo para os colégios secundários do

Império, ensinava-se também Gramática, Literatura Nacional, Português, Grego,

Matemáticas, Cosmografia, Química, Física e História Natural. Predominavam nos colégios

o ensino científico. 63 Um colégio particular da época, o Liceu Fluminense, possuía em sua

grade curricular: Português, Latim, Inglês, Francês, Geografia, História, História Sagrada,

Doutrina Cristã. Aritmética e Matemáticas. Portanto, também seguia em linhas gerais o

modelo do Colégio Pedro II64.

Sílvio também não revelou quais os compêndios que utilizou no Ateneu. Mas como os

compêndios exigidos pelas Bancas de exames preparatórios eram aqueles adotados no

Colégio Pedro II 65, talvez ele tenha lido compêndios franceses utilizados nas aulas de

Francês, História, Filosofia, Ciências Naturais, Matemáticas, Música e Geografia66. A falta

62 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 28. 63 Embora algumas autoras como Razzini, Haidar e Gasparello afirmem que predominava no Colégio Pedro II o ensino das humanidades, essa tese não se sustenta perante o exame do currículo da escola apresentado à apreciação do leitor nas suas obras. Nota-se que predominam as disciplinas científicas. Cf. RAZZINI, Márcia de Paula Gregório. O espelho da nação: a antologia nacional e o ensino de português e de literatura (1838-1971). Tese (Doutorado em Letras) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2000; HAIDAR, Maria de L. M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo: EDUSP/ Grijalbo, 1972; e GASPARELLO, Arlette Medeiros. O Colégio Pedro II e as humanidades: a invenção do secundário. Disponível em: <www.anped.org.br/25/arletemedeirosgasparellot02.rtf>. Acesso em: 25/08/2004. 64 RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública ao Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1868. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 65 HAIDAR, Maria de L. M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo: EDUSP/ Grijalbo, 1972, p. 113. 66 No período entre 1862 e 1898, eram adotados nas aulas de francês: Gramática francesa de Emile Sevène, Petit Cours de Littérature Française de Charles André, Théâtre classique de Regnier, Seleta francesa de Leopold Marcou, Grammaire historique de A. Brachet. Nas aulas de história: História romana de Rosoir e Dumont, Manuel d'études pour la preparation au Baccalauréat en lettres - Histoire de temps modernes - Histoire du moyen âge, Histoire contemporaine par Chantrel; nas aulas de Filosofia: Cours abregé d'histoire de l'Èglise par J. Chantrel, Cours élémentaire de Philosophie de Barbe, Précis d'un cours complet de Philosophie élémentaire de A. Pellissier, Cours de Philosophie por L. P. Jaffre. Nas aulas de Ciências Naturais: Histoire naturelle de J. Langlebert, Histoire naturelle de F. Hement, Zoologia de Paul Gervais, Geologia de Paul Gervais, Botânica de Soubeirou, Nouveaux eléments de botanique de L. Crié, Mineralogia de Delafosse, Cours élémentaire de hygiene á l'usage des élèves des Lycées par Henri Perrussel, Higiene por Lacassagne, Premiers soins à donner avant l'arrivée du medecin par le Dr. Constantin James (Accidents), Traité élémentaire de physique par Ganot, Física de Drion e Fernet, Lições normais de física por D. Pouille (d'Amiens). Nas aulas de Matemática - Arithmétique de Guilmin, Algébre de Bourdon, Geometrie analytique de Sonnet et Frontera, Calcul infinitesimal de Sonet, Cours élémentaire de geometrie descriptive de Julien. Nas aulas de Música: Manuel du solfége par Alexis de Garaudé, Solfèges des enfants par A. de Garaudé Nas aulas de Geografia: Atlas de Delamarche, Atlas

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de compêndios nacionais e a adoção dos franceses demonstram a importância que a língua

francesa havia assumido na educação das elites.67

Ele aprendeu os rudimentos dessa língua com Francisco Primo de Souza Aguiar68. E

essas noções talvez tenham auxiliado na leitura dos livros francesa realizada ao longo da sua

vida. Dos 1717 títulos que compunham a sua biblioteca, 608 eram edições francesas.

Além do francês, Sílvio teria aprendido também inglês, espanhol e italiano. Afirmou

ter estudado inglês com José da Maia, espanhol com A. Fernando Planas y Branca e italiano

com o Padre Romazza. Os dois últimos não foram seus professores, mas como residiam no

Ateneu, tomou algumas lições com eles. Segundo ele, essas lições possibilitaram-lhe a leitura

de textos nessas línguas com alguma facilidade69. Essa assertiva pode ser comprovada através

da análise da sua biblioteca. Faziam parte do seu acervo 17 obras em inglês, 17 obras em

italiano e 23 em espanhol, muitas delas com anotações marginais.

Sílvio Romero também costumava afirmar que aprendeu a ler em alemão. Mas esta

assertiva é passível de desconfiança. Essa dúvida foi levantada por dois dos seus desafetos. O

primeiro é Machado de Assis. O renomado escritor afirmou que o intelectual sergipano não

conhecia o alemão, como costumava alardear. Chegou a essa conclusão porque Sílvio foi

convidado, assim como o próprio Machado, Capistrano de Abreu, Antônio Herculano de

Souza Bandeira, Ferreira de Araújo e outros intelectuais, para tomar aulas de alemão com o

professor Carlos Jansen e recusou alegando que já conhecia o necessário deste idioma para

sorver o germanismo. Machado interpretou a recusa como vergonha de tornar evidente que

não conhecia tão bem a língua como propagandeava. O segundo a levantar dúvida acerca do

seu conhecimento do idioma alemão foi o escritor José Veríssimo, seu colega no Colégio

de Schrader & Anthoine (ed. Hachette), Eléments de cosmographie de F. I. C. Além de obras variadas como Astronomia popular de Augusto Comte, Les bases de la morale evolutioniste de Herbert Spencer, Précis d'economie politique de Leroy-Beaulieu e Sociologie gènèrale elémentaire de Guillaume de Greeff. Cf. RAZZINI, Márcia de Paula Gregório. O espelho da nação: a antologia nacional e o ensino de português e de literatura (1838-1971). Tese (Doutorado em Letras) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2000. 67 O sociólogo Norbert Elias evidencia, na obra O processo civilizador, que a nobreza alemã também utilizava a língua francesa como estratégia de distinção. Cf. ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1999. Volume 1. 68 ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 67. 69 ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 67.

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Pedro II. Veríssimo galhofou do fato relatado e assegurou que ele lia os autores germânicos

em traduções francesas70.

Sílvio defendeu-se afirmando que recusou o referido convite porque já conhecia o

suficiente da língua, pois a aprendera de modo autodidata no Recife e tomou aulas com o

Barão de Tautfoeus, “mil vezes mais competente”.71 Pontuou que chegou “a entender a língua

escrita e traduzi-la com facilidade” 72 e que o domínio do alemão não era exclusividade sua na

família. Lembrou que Celso, seu irmão, e João e Edgard, seus filhos, aprenderam a língua no

Deutsche Schulle, escola da cidade, e André, seu primogênito aprendeu em Zurich, na Suíça.73

Adiante acrescentou que “o conhecimento de qualquer idioma só é necessário para a

penetração completa das delicadezas da forma na poesia. Até para o sentido geral desta, é

dispensável. Uma tradução basta” 74. Esta última declaração foi uma confissão de culpa?

A análise da Biblioteca de Sílvio Romero leva a crer que sim. Constam no seu acervo

várias obras de autores alemães. Contudo, a maioria não está na língua original. São obras

vertidas para o francês ou para o inglês. É este o caso de textos de autores como Eduard

Hartmman, Ernest Haeckel, Immanuel Kant, Bernard Overberg e Wilhelm Wundt. Há apenas

algumas obras em alemão na sua biblioteca. São livros da autoria de Bitter Münch, Heinrich

Gottlieb Köhler, Samuel Schillings e Gustav Holzmüller75. Esses volumes trazem autógrafo

ou marcas de leitura do seu filho André Araújo Romero76. Essas evidências levam a presumir

que não se sentia tão seguro para ler alemão como propalava, preferia as traduções francesas

das obras germânicas.

70 Cf. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero: sua formação intelectual (1851-1880). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938, p. 260-261. 71 ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 63. 72 ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 68. 73 ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 68. 74 ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 69. 75 MÜNCH, Bitter. Lehrbuch mit einem unhange die grundlehren der chemie uns der mathematifdjen geographie. Freiburg: Breisgan Herderfche Berlagshandlung, 1886; KÖHLER, Heinrich Gottlieb. Logarithmisch-trigonometrisches: handbuch. Leipzig: Bernhard Tauchnitz, 1887; SCHILLINGS, Samuel. Kleine Schul - naturgefchichte der drei reiche. Breslau: Ferdinand, 1889; e HOLZMÜLLER, Gustav. Methodifches lehrbuch der elementar mathematif. Leipzig: B. G. Leubner, 1895. 76 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 112.

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Além de reconhecer o legado dos professores do Atheneu Fluminense no aprendizado

das línguas estrangeiras, Sílvio afirmou que guardar “saudosas reminiscências de cinco

homens que influíram assaz no meu pensamento”. São eles: Padre Gustavo Gomes dos

Santos, lente de Latim, Joaquim Veríssimo da Silva, de Filosofia, do Padre Patrício Muniz, de

Retórica e Poética, Francisco Primo de Souza Aguiar, de História e Geografia, e o já citado

Barão de Tautfoeus77.

O Padre Gustavo Gomes dos Santos, também diretor do Instituto Niteroiense78, teria

despertado-lhe o “prazer literário” ao iniciá-lo nas literaturas clássica, portuguesa e brasileira.

Diante da suposta presença de textos franceses que não levavam em consideração a realidade

local, o contato com outros idiomas, sobretudo o vernáculo, e com outras literaturas, o

entusiasmaram de tal forma a ponto de evocá-los no momento em que refletia sobre a sua

formação.

Joaquim Veríssimo da Silva apresentou-lhe a metafísica alemã, especialmente

Immanuel Kant. O filósofo germânico ocupou posição importante nas suas reflexões. Na sua

biblioteca constam Critique de la raison pure79 e Élements métaphysiques de la doctrine du

droit80. Os volumes estão repletos de anotações marginais nas quais dialoga com o mestre.

O Padre Patrício Muniz81, também o introduziu na filosofia germânica, que combinava

com a escolástica. Confessa que a influência do professor de Retórica e Poética foi

77 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 28. 78 RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública Conselheiro Thomas Gomes dos Santos ao Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1863. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 79 KANT, Immanuel. Critique de la raison pure. Paris: Ladrange, 1835. V. 1; KANT, Immanuel. Critique de la raison pure. Paris: Ladrange, 1836. V. 2. 80 KANT, Immanuel. Élements métaphysiques de la doctrine du droit. Paris: Auguste Durand, 1853. 81 Patrício Muniz nasceu em 1820, na Ilha de Madeira. Estudou direito em Paris e doutorou-se em Teologia pela Universidade Romana. Viveu no Brasil muitos anos, naturalizando-se. Exerceu o magistério e o sacerdócio. Publicou: Meditações Noturnas (1838), Composições poéticas (1839), Sermão sobre a piedade de Nossa Senhora (1860), Teoria da afirmação pura (1863). Cf. JAIME, Jorge. História da filosofia no Brasil. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Faculdades Salesianas, 1997, p. 167-171.

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significativa apesar de afirmar em outra ocasião que o mestre era um “um pensador medíocre,

e um orador nas mesmas condições” 82.

Francisco Primo de Souza Aguiar, professor de História e Geografia, e o Barão de

Tautfoeus, com o qual “mantinha inúmeras palestras nos tempos dos exames” também

ensinaram o germanismo83. O pensamento alemão exercia no Brasil grande influência tanto

nas discussões dos cientistas brasileiros quanto no imaginário popular ao longo do século

dezenove. O germanismo, haurido inicialmente no Ateneu Fluminense, exerceu papel

fundamental nas reflexões de Sílvio, servindo de arma para o combate ao ecletismo e ao

positivismo e para a crítica à hegemonia da cultura francesa no Brasil. Foi fundamental para

que pudesse formular projetos para o desenvolvimento do Estado Nacional84.

O Barão de Tautfoeus despertou-lhe ainda o interesse pela Etnografia. Sílvio

desenvolveu diversos estudos nesse campo a partir da recolha de romances, xácaras, contos,

lundus e cantos em Lagarto, seu torrão natal, Estância, também cidade sergipana, e em Parati,

no Rio de Janeiro. As palestras com o mestre reavivaram em sua memória os tempos em que

ouvia as estórias contadas por Antônia e outras escravas da família no Engenho Moreira e por

Zefa Nó na vila e reforçaram seu interesse pela literatura oral e o seu nacionalismo. Em

depoimento a Coelho Neto, Sílvio disse que

Ninguém imagina como eu quero bem a isto, como acho bonito! Este sol, que não se cansa de nos dar beleza e fartura dengue às nossas mulheres, palavra que, às vezes, tenha vontade de o adorar porque é verdadeiramente um deus. Nós não prestamos para nada. Qual literatura! Toda essa versalhada que por aí anda não vale o canto de um boiadeiro. Se vocês querem poesia, mas poesia de verdade, entrem no povo, metam-se aí, por esses rincões, passem uma noite num rancho à beira do fogo, entre violeiros, ouvindo trovas de desafio. Chamem um cantador sertanejo, um desses caboclos distorcidos, de alpercatas de couro e peçam-lhe uma cantiga. Então, sim. Poesia é no povo85.

82 ROMERO, Sílvio. Obra filosófica. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1969, p. 92. 83 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 28. 84 Cf. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada ou a influência alemã na cultura brasileira durante a segunda metade do século XIX. Londrina: Editora da UEL, 1999. 85 ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 94.

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Nenhuma palavra mais foi proferida por Sílvio Romero a respeito do Ateneu

Fluminense. Desse modo, é difícil saber mais a respeito da sua experiência nesse período.

Após o término do secundário Sílvio apresentou-se perante a Banca de exames

preparatórios, nas dependências da Antiga Igreja de São Joaquim, obtendo autorização para a

matrícula no ensino superior. Aproveitando o capital econômico e social de sua família, que

possuía uma das maiores fortunas de Lagarto, optou pelo curso de Direito. Em 1868, seguiu

para a capital de Pernambuco, com o intuito de estudar na prestigiosa Faculdade de Direito

do Recife.

No primeiro quartel do século dezenove, a Província de Pernambuco foi selecionada

para sediar o curso jurídico no Norte do país. A faculdade foi instalada em Olinda, em 1828.

Inicialmente, funcionou no Mosteiro de São Bento, e em 1852 foi transferida para o prédio da

Ladeira do Varadouro, que ficou conhecido como Academia. O curso permaneceu nesta

cidade durante vinte e quatro anos. De acordo com os memorialistas da instituição, o período

olindense foi marcado pela indisciplina de professores, que faltavam com freqüência, e dos

alunos, que transgrediam todas as normas. Nesse período predominavam as influências

religiosas.

Em 1854, a faculdade foi transferida para Recife. Foi instalada num prédio na Rua do

Hospício, que ficou conhecido como Pardieiro em virtude da inadequação para a função que

exercia.

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Figura 7 - Faculdade de Direito de Recife, na Rua do Hospício

Fonte: FACULDADE de Direito de Recife. In: RABELLO, Silvio. Itinerário de Silvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 185.

Com a transferência de cidade foram tomadas medidas disciplinares para conter a

desobediência que imperava na congregação e nos bancos acadêmicos86. Com a mudança

geográfica ocorreu também uma guinada teórica que buscava dar ao Direito um estatuto

científico. Apoiada em novos aportes interpretativos a Faculdade de Direito de Recife tornou-

se responsável pela conformação de quadros autônomos de atuação política e criação de uma

intelligentsia local apta a enfrentar os problemas específicos da Nação87.

86 Cf. BEVILAQUA, Clovis. História da Faculdade de Direito do Recife. 2.ed. Brasília: INL; Conselho Federal de Cultura, 1977; PINTO FERREIRA, Luiz. História da Faculdade de Direito do Recife. Recife: UFPE, Ed. Universitária, 1980. 87 SCHWARCZ, Lilia Moritz. As faculdades de Direito ou os eleitos da nação. In: _______. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 141-188.

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Apesar da importância da instituição na formação dos intelectuais brasileiros, Sílvio

foi reticente em relação à sua contribuição. Em um dos seus primeiros livros, A Filosofia no

Brasil, afirmou:

Deve-se distinguir entre o que se aprende nas nossas nulas academias

e o que fora delas se pode estudar. Para dar se uma direção positiva às idéias é preciso comprimir e afugentar delas tudo quanto ali se ensina.

Pelo que me toca, há sido a minha vida intelectual uma constante e dolorosa luta para arredar da mente o que nela foi depositado pelo ensino superior que me inoculava e substituir tão frágeis e comprometedoras noções por dados científicos.88

Em entrevista ao João do Rio afirmou que as influências nela recebidas “não fizeram

senão desenvolver o que em mim já existia, desde os tempos do engenho, da vila, da aula

primária e dos preparatórios” 89. Reiterou essa opinião afirmando que:

As três primeiras leituras que fiz no Recife, por um feliz acaso, me serviram para abrir definitivamente o caminho por onde já tinha enveredado, fortalecendo as velhas tendências. Foram um estudo de Emílio de Laveleye acerca dos Niebelungen e da antiga poesia popular germânica, um ensaio de Pedro Leroux sobre Goethe, um livro de Eugênio Poitou sob o título – Filósofos Franceses Contemporâneos. O primeiro meteu-me nessas encantadas regiões de folclore, crítica religiosa, mitologia, etnografia, tradições populares, que me têm sempre preocupado. O segundo nas acidentadas paragens da crítica literária moderna, que tanto me tem dado que fazer. O terceiro no mundo áspero e movediço da filosofia, em que me acho nas mesmas condições. Mas tudo isso já vinha de trás. [Grifos meus]90.

Devemos considerar as afirmações de Sílvio com parcimônia, pois é notório o seu

desejo de afirmar a sua independência em relação aos mestres do Recife. Certamente, a sua

88 ROMERO. Sílvio. A filosofia no Brasil. Porto Alegre: Deutsche Zeitung, 1878, p, 182.

89 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 30. 90 ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 31.

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experiência na faculdade colaborou sobremodo para a sua formação. E talvez para reduzir

essa colaboração ele tenha acentuado a contribuição da fase anterior.

Além de querer reforçar o “autodidatismo”, Sílvio desmereceu a contribuição dos

professores da Faculdade em virtude do malogro na defesa da tese de doutoramento na

instituição e no concurso que prestou para a cadeira de Filosofia do Colégio de Artes anexo à

Faculdade, que serão referidos adiante.

Com o intuito de reforçar essa memória sobre esse capítulo da sua formação Sílvio não

deixou muitos registros sobre a influência dos professores. Na época em que estudou os lentes

da faculdade eram: José Antônio de Figueiredo, José Bento da Cunha Figueiredo, João

Silveira de Souza, Jerônimo Vilela de Castro Tavares, Braz Tolentino Henrique de Souza,

João José Ferreira de Aguiar, Lourenço Trigo de Loureiro, João Capistrano Bandeira de Melo,

João Capistrano Bandeira de Melo Filho, Francisco de Paula Batista, Pedro Autran da Mata e

Albuquerque, Vicente Pereira Rego, Manuel do Nascimento Machado Portela, Antônio

Vasconcelos Meneses Drummond, Aprígio Justiniano da Silva Guimarães, João José Pinto

Júnior, Joaquim Correia de Araújo, João Tomé, Antônio Coelho Rodrigues, Joaquim Tavares

Belfort, Francisco Pinto Pessoa e Graciliano Paula Batista91.

Naquele período, predominava na instituição o ecletismo espiritualista, filosofia que

visava levar ao nível da consciência as verdades implicitamente contidas nela, e o jus

naturalismo, teoria do Direito na qual a ordem social era compreendida como absolutamente

rígida e imutável. Vários compêndios adotados eram de autoria dos professores da instituição,

a exemplo dos manuais de Direito Natural, Direito Público e Economia Política de Pedro

Autran da Mata e Albuquerque, de Direito Civil de Lourenço Trigo de Loureiro, de Direito

Eclesiástico de Jerônimo Vilela de Castro Tavares e de Teoria e Prática do Processo Civil de

Francisco de Paula Batista. Os referidos compêndios seguiam essas orientações92.

91 Cf. BEVILAQUA, Clovis. História da Faculdade de Direito do Recife. 2.ed. Brasília: INL; Conselho Federal de Cultura, 1977. 92 Cf. BEVILAQUA, Clovis. História da Faculdade de Direito do Recife. 2.ed. Brasília: INL; Conselho Federal de Cultura, 1977.

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Sílvio não fez nenhuma menção explícita sobre a leitura desses manuais. Mas

registrou que quando ingressou no curso aderiu ao espiritualismo de Jouffroy93. Talvez essa

adesão tenha ocorrido devido a influência dos mestres do Recife, embora tenha insistido em

afirmar que essa influência foi nula.

No entanto, o entusiasmo de Sílvio por esse autor não durou muito tempo. Logo,

trocou as idéias espiritualistas pelas cientificistas. As teorias cientificistas caracterizam-se

pela aplicação dos métodos das Ciências Naturais às Ciências Humanas e pela crença

inexorável no poder da Ciência. Entre essas teorias enquadram-se o positivismo, o

materialismo, o monismo, o evolucionismo e o determinismo geográfico e racial.

Provavelmente, essas idéias foram disseminadas através de alguns professores simpáticos às

teorias em voga, ou através da circulação de impressos que as difundiam. Sílvio não abona a

primeira hipótese, mas a segunda. Para ele os verdadeiros mestres foram:

Taine, Renan, Max Muller, Scherer, Gubernatis, Bréal, Lenormant e Gobineau. Taine, principalmente, com seu belo livro “Filosofie de l’art em Grèce”, o primeiro dele que li. Renan, por seus admiráveis ensaios sobre “As Religiões da Antiguidade”, “A Poesia das Raças Célticas” e os livros sobre ‘Averroes e o Averrhoismo”, “Vida de Jesus”, “São Paulo”, “Os Apóstolos” e o “Anticristo”. Max Muller, por seus livros sobre linguagem, religião e mitologia. Scherer, por seus belos artigos “Notre race et sés ancêtres”, “Mahomet et lê Mahometisme”, “Mythologie Comparée”, “La Vie de Jesus” (a propósito de Renan) e outros e outros. Gubernatis, por sua “Mitologia Zoológica” principalmente. Bréal, por seu belo estudo “Hércule et Cacus” e “Em des Essarts”; no magnífico ensaio “L’ Hercule Grec”. Lenormant, por sua admirável obra Les civilizations de l’Antiquité. Devo juntar, também o excelente Emile Bornow com o magnífico livro “La Science des Religions” e o conde de Gobineau, com seu excelente “Essai sur l’ inegalité des races humaines”94.

Sílvio pode ter adquirido esses impressos em livrarias recifenses. Também pode ter

lido esses e outros livros de teor cientificista na Biblioteca da Faculdade de Direito de Recife,

93 Cf. ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 95. 94 Cf. ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 126-127.

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que funcionava em prédio anexo, ou na Biblioteca Provincial de Pernambuco, localizada no

Convento do Carmo. Se ele realmente os leu na época do curso, ambas as hipóteses são

plausíveis. Muitas dessas obras constam na biblioteca que pertenceu a Sílvio. A data de edição

de algumas delas permitem conjeturar que elas podem ter sido adquiridas durante o curso, a

exemplo de Hercule et cacus étude de mythologie comparée95 de Michel Brèal, publicada em

1863, Les Apotres96 e L’Antechrist97 de Renan, editadas em 1866 e 1873, e Essai sur l’histoire

des religions98, Essai sur la mythologie comparée les traditions et les costumes99, La science

de la religion100 de Max Muller, vindas a lume em 1872 e 1873. Como elas fazem parte do

seu acervo particular é possível pensar na possibilidade de ter lido os seus próprios

exemplares. Recife era um dos maiores centros impressores do Brasil no século dezenove101.

A cidade possuía diversos tipógrafos e se levarmos em consideração que os tipógrafos desta

centúria também atuavam como livreiros, vendendo seus próprios livros e importando outros

da Europa, podemos imaginar que em Recife existissem livreiros dispostos a atender à sede de

saber dos bacharelandos. Em História da minha formação no Recife, Gilberto Amado, que

estudou na Faculdade em período posterior mencionou a existência da Livraria Nogueira que

vendia livros importados das editoras parisienses Félix Alcan, Albin Michel, Alphonse

Lemerre, Flammarion e Calman Lévy102.

Em relação aos outros textos mencionados, há no seu acervo exemplares que foram

editados em anos posteriores à sua saída da Faculdade, em 1873. É o caso de Mythologie

zoologique ou les légendes animales103, de Angelo de Gubernatis, de 1874, e Essai sur

95 BRÉAL, Michel. Hercule et cacus étude de mythologie comparée. Paris: Chez A. Durand, 1863. 96 RENAN, Ernest. Les Apotres. Paris: Michel Lévi Frères, 1866. 97 RENAN, Ernest. L’Antechris. Paris: Michel Lévi Frères, 1873. 98 MÜLLER, Max. Essai sur l’histoire des religions. Paris: Didier, 1872. 99 MÜLLER, Max. Essai sur la mythologie comparée les traditions et les costumes. Paris: Didier, 1873. 100 MÜLLER, Max. La science de la religion. Paris: Germer Baillière, 1873. 101 Cf. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985. 102 AMADO, Gilberto. História da minha formação no Recife. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955, p. 21. 103 GUBERNATIS, Angelo de. Mythologie zoologique ou les légendes animales. Paris: A. Durand et Pedone Lauriel, 1874, 2v.

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l’inégalité des races humaines104, do Conde de Gobineau, de 1884. O livro Philosophie de

l’art em Grèce105 também consta na sua biblioteca, mas não há menção da data de edição.

Esses livros podem ter sido lidos na Biblioteca da Faculdade ou na Biblioteca Provincial e

posteriormente adquiridos. Ou ainda ele pode ter se equivocado quanto ao período da

realização dessas leituras.

Além da influência das leituras empreendidas, não se pode esquecer da influência

recebida do colega Tobias Barreto que colou grau no ano seguinte ao do seu ingresso. Durante

toda a sua trajetória Sílvio expôs a sua admiração pelo conterrâneo. Inclusive, travou inúmeras

polêmicas com o intuito de afirmar a sua prioridade na vida intelectual brasileira106. Sílvio

afirmou que herdou de Tobias “o entusiasmo de combater, o calor da refrega, o ardor da luta,

o espírito de reação, a paixão das letras, o amor pela vida do pensamento, pelo espetáculo das

idéias”107. No entanto, apesar dos reiterados elogios ao mestre afirmou que tinham “muitas

idéias em comum”, porém divergiam “em pontos gravíssimos em Literatura, em Ciência, em

Direito, em Filosofia”. Em suas conversas sempre discutiam e “cada um ficava com as suas

opiniões capitais” 108.

As leituras realizadas, a amizade de Tobias e talvez a influência, ainda

insuficientemente estudada, de alguns dos lentes da Faculdade contribuíram para a sua

formação, habilitando-o para ingressar na carreira das letras. Um ano após a sua chegada em

Recife começou a escrever na imprensa local. O seu primeiro artigo, intitulado A poesia

contemporânea e a sua intuição naturalista, era uma crítica ao romantismo que predominava

na cena literária brasileira. O texto de estréia foi publicado no periódico A Crença, jornal

estudantil dirigido por Celso de Magalhães. Nos anos seguintes, publicou inúmeros artigos do

mesmo teor em diversos jornais recifenses, alguns de pequeno porte como Americano,

Movimento, O Liberal e Trabalho e outros de grande vulto como o Diário de Pernambuco, O

104 GOBINEAU, Comte de. Essai sur l’inégalité des races humaines. Paris: Firmin Didot, 1884. 105 TAINE. H. Philosophie de l’art em Grèce. Paris: [18--]. 106 Cf. VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. 107 ROMERO, Sílvio. Minhas contradições. Bahia: Romualdo dos Santos, 1914, p. 64. 108 ROMERO, Sílvio. Minhas contradições. Bahia: Romualdo dos Santos, 1914, p. 65.

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Correio Pernambucano e o Jornal do Recife. Posteriormente, esses artigos foram enfeixados

no livro A literatura brasileira e a crítica moderna109.

Devido à suas idéias polêmicas não foi tão fácil conseguir publicar esses artigos. Certa

vez afirmou que um jornalista ficou zangado após ler o primeiro de uma série de artigos que

escreveu, e que só autorizou a impressão dos demais porque já havia começado. Mas daí em

diante nenhum outro artigo foi publicado por este jornal110. Ou seja, apesar de ter conseguido

ver luzir nas folhas recifenses diversos artigos a sua relação com a imprensa recifense parece

não ter sido muito tranqüila.

Após cinco anos de intensa vida intelectual no Recife, Sílvio diplomou-se em 1873 e

seguiu para a terra natal. No ano seguinte, assumiu a Promotoria Pública de Estância e foi

eleito deputado provincial. Em 1875, voltou para Recife para apresentar a tese de

doutoramento Razões justificativas do art. 482 do Código Comercial Brasileiro na Faculdade

de Direito do Recife, ocasião na qual travou acerba polêmica com o lente Coelho Rodrigues,

membro da banca examinadora, acerca da “morte da metafísica”. No mesmo ano prestou

concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio de Artes, anexa à faculdade, para a qual foi

aprovado, mas não foi nomeado. Após esse episódio seguiu para o Rio de Janeiro onde atuou

até o seu falecimento em 1914. No entanto, apesar da distância, nunca perdeu contato com a

cidade nordestina. Publicou em tipografias recifenses alguns de seus livros: Etnologia

Selvagem, Ensaios de filosofia do direito e Evolução do lirismo brasileiro111. Freqüentemente

trocava cartas com o amigo Artur Orlando, também bacharel pela Faculdade de Direito do

Recife, pedindo que enviasse os periódicos Jornal do Recife, Americano, Diário de

Pernambuco, Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano e outros

impressos112.

109 ROMERO, Sílvio. A literatura brasileira e a critica moderna: ensaio de generalização. Rio de Janeiro: João Paulo Ferreira Dias, 1880. 110 ROMERO, Sílvio. Cantos do fim do século: 1869 – 1873. Rio de Janeiro: Fluminense, 1878, p. 21. 111 ROMERO, Sílvio. Etnologia Selvagem: estudo sobre a memória “Região e raças selvagens do Brasil”. Recife: [S.n.], 1878; ROMERO, Sílvio. Ensaios de filosofia do direito. Recife: Companhia Impressora, 1885; ROMERO, Sílvio. Evolução do lirismo brasileiro. .Recife: Tipografia J. B. Edelbrock, 1905. 112 Cf. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 317; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 15 de agosto de 1888. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 275-276; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de setembro de 1888, In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua

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Lançando mão do capital cultural adquirido na prestigiada Faculdade e do capital

social de sua família foi nomeado Juiz Municipal e de Órfãos de Parati em 1876. Exerceu a

magistratura até 1879. Durante esse período dedicou-se à organização dos artigos publicados

nos jornais de Recife a fim de enfeixá-los em livro. Em 1878, publicou Cantos do fim do

século pela Tipografia Fluminense e A filosofia no Brasil pela Tipografia Deutsche Zeitung de

Carlos Von Koseritz. Esses trabalhos foram recebidos com animosidade pela crítica. Ao

escrever sobre o último, Antônio Herculano de Sousa Bandeira, que foi seu colega em Recife,

acusou-o de depreciar os filósofos brasileiros para realçar a figura de Tobias Barreto. Sílvio

rebateu a crítica tendo início a primeira de um conjunto de polêmicas que foram travadas com

letrados como Araripe Júnior, Machado de Assis, José Veríssimo, Valentim Magalhães,

Teófilo Braga, Manuel Bomfim e Laudelino Freire113.

Um ano após a publicação daqueles textos, fixou-se na capital do Império. Para

garantir a sobrevivência colaborou no periódico O Repórter dirigido por Lopes Trovão, seu

colega do tempo dos preparatórios. Logo na estréia escreveu uma carta ao redator anunciando

que colecionou durante quatro anos as tradições populares do Brasil e pediu o seu apoio para

despertar a atenção do público. Porém, apesar do empenho do amigo só conseguiu publicar o

trabalho quatro anos depois. Neste jornal dedicou-se à crítica das mazelas políticas do país e

geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 276; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de janeiro de 1989. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 277; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 2 de dezembro 1891. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 280; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 1 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 12 de junho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 286-287; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de julho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 287-288; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de fevereiro de 1900. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 288-289; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de outubro de 1901. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 289-290; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de setembro de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 296-297; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 7 de abril de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 298; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de novembro de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 303-304; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 11 de setembro de 1910. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 311; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 10 de junho de 1911. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 311-312. 113 Sobre as polêmicas travadas por Sílvio, conferir: VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

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defendeu a instauração da República. Escondia-se sob o pseudõnimo de Feuerbach, prática

comum à época. Colaborou também na Revista Brasileira, dirigida por Franklin Távora114

Em 1880, inscreveu-se no concurso da cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II, a

mais respeitada instituição de ensino secundário do país. O ponto da tese foi Da interpretação

filosófica na evolução dos fatos históricos. Os candidatos deveriam entregar a tese impressa

em quinze dias. O trabalho apresentado foi impresso impecavelmente, mas o conteúdo chocou

a banca examinadora em virtude do desacordo de idéias entre os argüentes e o candidato. A

nota foi sofrível. A defesa da tese foi considerada boa. O ponto da prova oral foi A Filosofia

de Aristóteles e o da prova escrita foi Da idéia de um ente supremo. Ao contrário da tese,

estas provas receberam a nota ótima dos examinadores. Após o cômputo dos conceitos

obtidos por todos os candidatos, Sílvio foi classificado em primeiro lugar.

Todavia, como suas idéias não se coadunavam com as da Congregação e como nos

concursos do Império não bastava a comprovação do mérito do candidato, a decisão final

ficou a cargo do Imperador que inclusive presenciou o concurso. Para obter a nomeação,

utilizou-se do capital social que amealhou ao longo da sua trajetória. Intercederam a seu favor

o Barão de Tautfoeus, espécie de consultor do Imperador para assuntos educacionais e amigo

de Sílvio desde os tempos do internato, César Marques, o reitor do Internato do Colégio Pedro

II e membro da Comissão Julgadora, Canguru, bedel dessa instituição e da Faculdade Livre de

Direito, que sempre acompanhava o Imperador em suas visitas ao Colégio.115 A decisão talvez

também tenha contado com a concorrência do Conde D’Eu, ao qual Sílvio recorreu por

ocasião de outro concurso, o do Colégio de Artes, para garantir a sua classificação em

primeiro lugar. Afinal por que Sílvio não recorreria a tão importante interlocutor para

assegurar a sua nomeação num concurso tão prestigiado? Após a apreciação do capital

cultural e social do candidato o Imperador D. Pedro II deu parecer favorável ao bacharel

sergipano. Sílvio foi nomeado em 1880. Exerceu o magistério durante trinta anos, jubilando-

se em 1910.

114 Cf. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e Cultura, 1963. 115 Cf. ARAÚJO, José Augusto Melo de. Debates, pompa e majestade: a história de um concurso docente nos trópicos no século XIX. Dissertação (Mestrado em Educação) – Núcleo de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2004.

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O ingresso no magistério garantiu-lhe o prestígio que ainda não havia conseguido. Não

precisou reclamar mais de não ter quem editasse os seus textos. Após a sua entrada na

congregação do Colégio Pedro II publicou Introdução à história da literatura brasileira, em

1881, O naturalismo em literatura, em 1882, Cantos populares do Brasil, Últimos Arpejos e

Ensaios de crítica parlamentar, em 1883, Programa da cadeira de Filosofia do Direito,

Valentim Magalhães, em 1884, Estudos de literatura contemporânea, A filosofia e o ensino

secundário, Estudos de filosofia do direito, Contos populares do Brasil, Contos populares do

Brasil, Valentim Magalhães, em 1885, Uma esperteza, em 1887, Estudos sobre a poesia

popular no Brasil, Etnografia brasileira e História da literatura brasileira em 1888, As

formas principais da organização republicana, em 1889, A história do Brasil ensinada pela

biografia de seus heróis, em 1890, Luis Murat e A imigração e o futuro da raça portuguesa

no Brasil, em 1891, Parlamentarismo e presidencialismo na república brasileira e Doutrina

contra doutrina, em 1894, Enasios de filosofia do direito, A verdade sobre o caso de Sergipe,

em 1895116.

Em 1897, sua produção diminuiu em virtude da arteriosclerose que o acometeu e

ceifou a sua vida algum tempo depois. Mas após a recuperação, o polígrafo voltou a escrever

vorazmente. Lançou: Novos ensaios de literatura contemporânea, A literatura brasileira, em

1900, Ensaios de sociologia e literatura e Martins Pena, em 1901, O elemento português

noBrasil, em 1902, Duque de Caxias e a integridade do Brasil, em 1903, Discursos, Passe

Recibo! e Parnaso sergipano, em 1904, Evolução da literatura brasileira e Evolução do

Lirismo brasileiro, em 1905, Outros estudos de literatura contemporânea, A pátria

portuguesa, O alemanismo no sul do Brasil, Compêndio de história da literatura brasileira,

em 1906, A América Latina, Discurso na Academia de Letras e O Brasil social, em 1907,

Geografia de politicagem, Da crítica e sua exata definição, Zéverissimações ineptas da

crítica, em 1909, Quadro sintético da evolução dos gêneros literários no Brasil, Provocações

e debates e O Brasil na primeira década do século XX, em 1910, e Minhas contradições, em

1914. Muitas dessas obras vieram à lume através de afamadas casas editoriais como: Garnier,

Francisco Alves, Laemmert, Leuzinger do Rio de Janeiro e Chardron do Porto, evidenciando o

prestígio adquirido117.

116 Cf. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO PENSAMENTO BRASILEIRO (Org.). Dicionário biobibliográfico de autores brasileiros. Salvador: CDPB; Brasília: Senado Federal, 1999, p. 419-425. 117 Cf. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO PENSAMENTO BRASILEIRO (Org.). Dicionário biobibliográfico de autores brasileiros. Salvador: CDPB; Brasília: Senado Federal, 1999, p. 419-425.

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Contudo, apesar de não encontrar mais dificuldades para publicar seus livros não

abandonou a imprensa. Fundou com Araripe Júnior a revista Lucros e Perdas na qual

escreveu oito artigos. Escreveu também nos periódicos: Gazeta de Notícias, Diário de

Notícias, Jornal do Comércio, O País, Novidades, Revista Educação Nacional, Revista

Brasileira e Revista Americana do Rio de Janeiro; O Município de São Paulo; A Campanha

de Minas Gerais; e Horizonte e Laranjeirense, de Sergipe118.

Para escrever tanto foram necessárias inúmeras leituras. Sílvio amealhou ao longo da

sua vida uma biblioteca de 1717 títulos. Segundo Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira as

bibliotecas de médicos e advogados do Brasil no século dezenove possuíam cerca de 400

volumes.119 Desse modo o intelectual sergipano constituiu uma biblioteca vultuosa. Esse fato

desautoriza a afirmação de que não havia muito apreço pelos livros no Brasil oitocentista.

Talvez não houvesse muitos leitores, dado o alto índice de analfabetismo, mas aqueles que

possuíam essa habilidade “liam razoavelmente vário e muito” 120.

Esse acervo é composto de impressos nacionais e estrangeiros, sobretudo franceses,

que versavam sobre as mais distintas áreas do conhecimento: Filosofia, Direito, Sociologia,

Antropologia, História, Etnografia, Biologia, Psicologia, Literatura, dentre outras.

Os seus biógrafos, especialmente aqueles que conviveram com Sílvio, fornecem vários

indícios sobre as práticas de leitura de Sílvio Romero.

118 Cf. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e Cultura, 1963. 119 Cf. FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. Bibliotecas de médicos e advogados do Rio de Janeiro: dever e lazer em um só lugar. In: ABREU, Márcia. (Org.). Leitura, História e História da leitura. Campinas: Mercado de Letras; São Paulo: FAPESP, 1999, p. 313-334. 120 Sobre a contestação da tese da inexistência de leitura no Brasil oitocentista, consultar: ARAÚJO, Jorge de Souza. Perfil do leitor colonial. Ilhéus: Editora da UESC, 1999; NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Nota prévia sobre a palavra impressa no Brasil do século XIX: a biblioteca do povo e das escolas. Horizontes, Bragança Paulista, v. 19, p. 11-27, jan./dez. 2001.

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Em quais lugares costumava ler? Artur Guimarães, Argeu Guimarães e Magalhães

Carneiro informam que ele costumava ler em diversos espaços. Um deles era o lar121.

Magalhães Carneiro informa que ele lia na sua biblioteca, que costumava chamar de

“oficina”122, talvez numa alusão ao objetivo que o levava a imergir no mundo da leitura: a

necessidade de escrever seus próprios livros. Não via a biblioteca apenas como espaço de

deleite, mas como uma “oficina”, um lugar de trabalho.

Mesmo considerando o seu gabinete como espaço de labuta, procurava usar roupas

confortáveis para imergir no universo dos livros. Conforme Artur Guimarães, Sílvio metia-se

em “calças leves, brancas ou de brim, de enfiar às vezes, e paletot também leve, sem

collarinho, sem gravata, sem punhos e com camisas de passar. Quando muito calor, fechava-

se no gabinete, em camisolão...” 123

Mas Sílvio não lia apenas em casa. Costumava ler durante os trajetos para o trabalho

ou para casa. Lia nos bondes que o conduziam para o Colégio Pedro II, para a Faculdade

Livre de Direito, para a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, para a Academia

Brasileira de Letras. Lia nas barcas a vapor que o levavam do Cais Pharoux à sua última

residência, em Icaraí, Niterói.

121 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915; GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921. 122 CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial,1921, p. 12. 123 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 26.

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Argeu Guimarães recordou:

a imagem de Sílvio Romero em casa, no bonde, na barca de Niterói, a todas as horas, enquanto durava a claridade solar, com um livro na mão e o lápis em punho, lendo e pondo notas à margem de cada página, notas desenvolvidas com pachorra à medida que avançava na leitura atenta, infatigável, cansativa124.

Sílvio também costumava ler na Livraria Alves, na Rua Gonçalves Dias, 48.

Freqüentemente, após as aulas dirigia-se para a livraria do amigo e editor para “palestrar”

sobre as ultimas novidades do mercado editorial. Em muitas dessas visitas demorava-se um

pouco mais para ler alguma obra recém adquirida125.

124 GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 96-97. 125 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915; GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; BROCA,

Figura 8 - Cais Pharoux, aproximadamente 1893-1894 Fonte: CAIS Pharoux. Altura: 459 pixels. Largura: 310 pixels. 17793 Bytes. Formato JPEG. Disponível

em: < http://www.museuhistoriconacional.com.br/images/galeria03/rioantigo/gt001.jpg>. Acessado em: 30/04/2005.

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Outras vezes ia ler no escritório de Artur Guimarães, no Comissariado de Exportação

do Café, na Rua do Ourives, 173, e, posteriormente, na Companhia Economisadora Paulista,

na Rua 7 de setembro, próximo à Rua Gonçalves Dias. Segundo Artur “sentava-se num dos

velhos cantos do sofá, que com a constância do seu peso tinha a palhinha afundada”126: Argeu

recordou com mais minudência esses momentos:

Sílvio afundava, estirava-se no velho sofá vergado ao seu peso. Livro e lápis na mão, infalivelmente, para prosseguir na leitura, depois das primeiras palavras. Indiferente, então às atividades que o cercavam, mergulhava no estudo, esperando com paciência a hora da saída, em que a pé, íamos os três para o caís Pharoux. No escritório, se alguém o havia precedido no assento predileto, fazia uma careta e resmungava. Se esse alguém era um íntimo, ou um parente, como o bom Totonho, desalojava-o sem cerimônia. E, na falta de sofá, sentava-se numa cadeira, às avessas, em califourchon, com o peito para o espaldar, de braços cruzados127.

De acordo com Artur, o mestre também lia na cama:

Na cama tinha posição também original: curvava uma perna, collocando o pé debaixo da outra, ou trançava ambas, lendo e, de vez em quando, passando a mão em friso, sobre os cabellos brancos da leonina cabeça, de entradas salientes, só nas temporas.128

Pelos depoimentos de Artur e Argeu nota-se que Sílvio gostava de ler em lugares

considerados pouco adequados. Naquela quadra, os professores adeptos do ensino intuitivo

recomendavam que os leitores sentassem com as costas sobre o espaldar, cabeça ligeiramente

inclinada para frente, antebraços sobre o apoio lateral, segurando livros aproximadamente em

ângulo reto ao tronco e paralelo à cabeça, pernas unidas, pés, tocando o piso. Nada

semelhante à prática de Sílvio. Essa discrepância talvez esteja relacionada aos hábitos

Brito. A vida literária no Brasil - 1900. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. MACHADO NETO, Antônio Luiz. Estrutura social da república das letras. São Paulo: Grijalbo, 1973. 126 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 23. 127 GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 177. 128 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 23.

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adquiridos nos bancos escolares na década de cinqüenta, uma vez que naquela época as

exigências eram outras. Os móveis e utensílios das escolas não permitiam que os mestres

exigissem dos alunos uma postura como essa. Artur e Argeu, mais jovens que Sílvio,

educados de outro modo, ficaram tão admirados com seus gestos ao ler que acharam relevante

mencioná-los nos livros que escreveram em sua homenagem.

Também costumava ler na biblioteca do Artur Guimarães, na Rua Pereira de Siqueira,

no Engenho Velho. Argeu mais uma vez forneceu indícios dessa prática:

A biblioteca de Artur Guimarães era no porão da casa e, quando o calor não rescaldava, íamos para o meio dos livros. Sílvio tinha sempre alguma consulta a fazer, muito livro de sua predileção a folhear entre tantos alinhados nas estantes, com boas encadernações francesas. O fundo inicial da rica coleção adquirida por meu pai pertencera a um antigo professor do Pedro Segundo, Lucindo Pereira Filho, latinista, creio, dado também a estudos de demonologia, então em voga em Paris. Sílvio nem tocava, é claro, no Sr Péladan, e nos compêndios da cabala ou do ocultismo ou do espiritismo, que não faltavam na coleção. Desforrava-se em compensação com as recentes aquisições de meu pai, nos domínios da Sociologia e da História. Do espólio de Lucindo Filho restavam apenas as obras clássicas francesas, ao lado das ciências herméticas, enroupadas em fino chagrin. Estou a rever as fileiras de Guizot, Balzac, Flaubert, Goncourt, Rabelais em preciosa edição iluminada... até, na derradeira fila, o grande Larrousse Universal. Tudo isso se perdeu nos vai-vens do acaso. Para ter livros é preciso ser rico!129

A biblioteca de Artur não resistiu muito tempo. Com a crise do negócio do café,

perdeu parte de sua fortuna e viu-se obrigado a desfazer-se dela130. Porém, durante sua

existência Sílvio usufruiu desse acervo. Esta foi mais uma forma que encontrou de ler os

livros de sua preferência. Há um outro indício da sua prática de usufruir os livros do amigo.

Em 1898, Artur fez uma viagem à Europa. Sílvio enviou-lhe uma carta pedindo que

129 GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 11-12. 130 GUIMARÃES, Ary Machado. Sílvio Romero e Querido Moheno unidos num só pensamento: sobre a forma de governo que nos deve reger. Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1932, p. 104.

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comprasse História de Portugal de Schoeffer e Antiguidades Portuguesas de Leite de

Vasconcelos para depois lhe emprestar131.

Não há registro de que ele frequentasse a Biblioteca Nacional. João do Rio, escreveu

uma crônica, em Cinematógrafo, sobre os leitores da instituição. Nela incluiu os mais

afamados, tais como Felisbelo Freire e Capistrano de Abreu. Porém, não menciona Sílvio132.

Talvez ele não apreciasse o ambiente das bibliotecas públicas, preferindo o aconchego da sua

e das bibliotecas particulares dos amigos.

Mas em qual horário Sílvio preferia ler? Segundo Artur Guimarães, o amigo lia apenas

até o crepúsculo:

Desde que travamos relações, em 1896, jamais o vi escrever ou ler de noite; contava-me que assim procedia para evitar perturbações digestivas, de que uma vez fora acommetido.

Fazia o chylo depois do jantar, sentado, palestrando com a família ou com os amigos, ou ainda recostado, meditando.

Recolhia-se, não tendo visitas de cerimônia, entre nove e dez horas e procurava repousar nunca menos de dez horas. Muitas vezes conservava-se deitado, sem somno, até perfazer aquelle espaço de tempo, que reputava indispensável para o seu organismo.

Escrevia de dia, levantando-se entre sete e oito horas a manhã, mas nunca systematizou a producção: estava longe de pensar com Zola, que nullo era o dia sem linha escripta, nem tampouco tinha horas certas de trabalhar.

Aos que o argüiam sobre a não systematisação da escripta, respondia que se não escrevia sempre que se queria, mechanicamente, e sim quando se estava no ponto de produzir. A producção, accrescentava, assemelhava-se a uma délivrance: tem gestação e período certo. 133.

Essa percepção poderia ser verdadeira, visto que naquela época a luz elétrica estava

apenas chegando e deveria ser incômodo ler à luz de velas. Era esperado que os intelectuais

aproveitassem cada momento do dia para volver as páginas impressas. Mas o próprio Sílvio

131 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 2 de fevereiro de 1898. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 234-236. 132 RIO, João do. O cinematógrafo: crônicas cariocas. Porto: Chardron, 1899, p. 34. 133 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915; GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 67.

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desmentiu essa hipótese no relato da viagem que fez à Europa em 1900. Após relatar o

embarque no navio La Plata às 8 horas da noite comentou: “Às 11 horas eu me recolhi ao

beliche e estava a ler o novo e último volume da Sociologia de H. Spencer, o philosopho

magno do século, no meu entender” 134. Em outro passo do relato afirmou:

Lia eu à noite, a Sociologia, nos capítulos que tratam das relações econômicas, quando mãos delicadas fizeram brotar do piano de bordo não sei que tão doces melodias que me fizeram fechar o livro e quedar arrebatado de pensamento em pensamento, n’um embevecer largo e profundo, cogitando nas peripécias e mutações da evolução humana.135

Contudo, apesar de ler a qualquer hora do dia, Artur Guimarães não estava totalmente

equivocado, pois Sílvio parecia ter predileção pelas manhãs. Numa carta a Almáquio Diniz

afirmou que faria um “passeio matinal pelos seus livros” 136.

Na referida missiva Sílvio também relatou os motivos que o levava a interromper a

leitura diurna ou noturna. Um fator constante era a reinação dos filhos menores. Ele teve

dezenove. André, João, Clarinda e Edgar com a primeira esposa Clarinda Diamantina Araújo

Romero (Dondon); Sílvio, Nelson e Sílvia com a segunda Maria Liberato Romero (Vidinha);

e Aquiles, Maria, Maria Sílvia, Josefina Solita, Irene, Ruth, Osvaldo, Regina, Odorico,

Arnoldo, Maria Alice e Lauro com a terceira Maria Petronila Barreto Romero (Mocinha). Na

mesma missiva a Almáquio Diniz afirmou que não havia lido seus livros ainda, não por falta

de amizade, mas de sossego: “Seis meninos a berrar!... Tenha paciência comigo.” 137.

Uma outra razão que atrapalhava as suas leituras eram as reiteradas doenças dos filhos.

André Romero, o primogênito, ficou esquizofrênico por volta de 1895 e foi internado

134 ROMERO, Sílvio. Viagem à Europa. In: ______. Outros estudos de literatura contemporânea. Lisboa: Tipografia da Editora, 1905, p. 87. 135 ROMERO, Sílvio. Viagem à Europa. In: ______. Outros estudos de literatura contemporânea. Lisboa: Tipografia da Editora, 1905, p. 87. 136 ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245. 137 ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245

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repetidamente na Casa de Saúde São Sebastião até ser transferido para o Hospício Nacional

em 1900. João teve varíola também em 1895. Aquiles teve meningite e faleceu em 1896.

Maria teve enterite e faleceu em 1897. Regina faleceu em 1909. Arnoldo teve furunculose em

1912. Odorico quebrou o braço no mesmo ano. As doenças e mortes dos filhos provocaram-

lhe “insônias e pesadelos” que interromperam por algum tempo suas práticas de leitura e

escritura138.

As aulas no Colégio Pedro II, na Faculdade Livre de Direito e na Faculdade de

Ciências Jurídicas e Sociais garantiram o sustento da família e viabilizaram a sua carreira de

escritor, mas às vezes também atrapalharam a leitura, pois lhe tomavam muito tempo. Quando

precisava ler muitos textos, em busca de inspiração, para escrever alguma obra de grande

fôlego, via-se em apuros. Em 1904, quando resolveu escrever o terceiro volume da História

da Literatura Brasileira aproveitou as férias e pediu licença com vencimento ao governo para

transferir-se com a família para Campanha, Minas Gerais, a fim de obter tempo para “ler os

novos prosadores e escrever o tal volume” 139. Em 1910, após 30 anos de serviço, pediu

jubilação do Colégio Pedro II. Desde então pensou em “largar as aulas” nas faculdades e

“meter-se num canto, onde aproveitará as manhãs para terminar a História da Literatura

Brasileira e O Brasil Social” 140.

Sabemos como Sílvio adquiriu suas competências de leitura, quais os espaços em que

costumava ler, os seus horários de leitura, os motivos que algumas vezes a atrapalhavam. No

entanto, restam alguma perguntas: Como ele lia? Lia oralmente ou silenciosamente? Lia de

forma extensiva ou intensiva? Qual a relação que estabelecia entre leitura e escritura?

138 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de outubro de 1895. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 280-281; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 abril de 1897. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 284-285; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de fevereiro de 1909. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 308-309; ROMERO, Sílvio. Carta Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245. 139 ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 7 de fevereiro 1904. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231-232; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de fevereiro de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 294-295. 140 ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245.

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Sílvio fazia leitura silenciosa. Conforme Argeu, numa passagem já citada,

“Indiferente, então às atividades que o cercavam, mergulhava no estudo”141. Este modo de ler

estabelece um espaço de intimidade separando o leitor do mundo exterior. Quer sentado na

sua “oficina”, quer sentado num bonde ou numa barca, numa mesa na Livraria Alves ou no

sofá e na cadeira do escritório de Artur Guimarães, a leitura em silêncio, permitia que ele

permanecesse sozinho com os textos e estabelecesse um diálogo com eles. Essa forma de

leitura transformava o seu trabalho intelectual numa prática remissiva individual, uma leitura

conduzindo à outra numa escala sucessiva de tessituras infinitas. Permitia também que fizesse

vôos imaginários através das páginas, empreendendo viagens em torno de si mesmo. Roger

Chartier acredita que os leitores neófitos, menos hábeis, são incapazes de ler apenas com os

olhos. A leitura silenciosa só é possível para os leitores que possuem pleno domínio do código

escrito142.

Apesar de fazer leitura em silêncio, sentia a necessidade de externá-la para os letrados

mais próximos. Nas correspondências mantidas com Artur Guimarães, Artur Orlando e

Almáquio Diniz compartilhava suas experiências.

Nas cartas que escreveu para Artur Orlando entre 1896 e 1908 fez diversos

comentários sobre suas leituras. Em 1896, comentou que estava fazendo a História e

Geografia do Estado de Minas Gerais, um trabalho sob encomenda, e que a leitura de textos

sobre os bandeirantes colocara-lhe “os miolos em água" 143. Também comentou os textos

produzidos pelo amigo. Em 1903, comentou que gostou muito do artigo que publicou na

Gazeta, ficou "mergulhado no infinito de satisfeito” a ponto de “relê-lo e tornar a ler"144 Em

outra missiva do mesmo ano afirmou que adorou seus três artigos sobre o Japão. Achou-os

141 GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 177. 142 Cf. CHARTIER, Roger. Práticas de escrita. In: CHARTIER: Roger (Org.). História da vida privada: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 113-161. V. 3.; MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Maneiras de ler no Brasil do século XIX. Disponível em: <http://www.educacaoonline.pro.br/maneiras_de_ler.asp>. Acesso em: 19/05/2005. 143 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 1 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283. 144 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de setembro de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 292-293.

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“magníficos, esplêndidos!”145 Em 1904, mencionou que gostou dos textos que recebeu:

"Devorei, deixando tudo que estava fazendo, de lado!”146. Em 1906, comentou a leitura de um

livro do amigo. Informou que estava na página 125 e estava gostando, principalmente da

comparação entre o direito criminal americano e europeu e das discussões sobre a

coexistência do arbitramento, o ensino pan-americano e o direito econômico147. Na carta

seguinte, após terminar a leitura, comentou que no oitavo capítulo gostou das páginas sobre a

economia da família, da cidade e da nação; no nono das páginas sobre direito econômico,

confederação do continente americano; no décimo das páginas sobre o papel dos negros na

América, sobre a participação de Nabuco, Patrocínio, João Alfredo e da Princesa Isabel na

Abolição; no décimo primeiro das páginas sobre o papel da religião e das ciências nas

sociedades modernas, a comparação entre protestantes e católicos e a discussão sobre lógica

racional e lógica emocional. Porém, ficou chocado com a citação de Castelar no começo do

livro “na qual aquele demônio nos molestava com loucas fantasias de latinos sobre

germânicos”. Afirma que se tivesse visto a tempo teria pedido para tirar148. Em 1908, elogiou

os seus livros O Porto e a Cidade do Recife. Achou muito boas as notas sobre clima,

temperatura, salubridade, chuvas, águas e produções naturais, recursos de viver e as

considerações gerais de caráter biológico e social149. Numa última missiva, sem data, afirmou

que leu os textos Zonas geográficas, Flora e fauna brasileiras e Mato Grosso. Disse que o

primeiro tem novidades e instrui. O segundo tem ainda mais novidades e instrui mais. O

terceiro contém pontos de vista mais inesperados e é mais instrutivo ainda. Sugeriu que ao

livro fosse dado o título Brasil: o solo e a sociedade ou Brasil: a terra e o povo. De antemão

deu-lhe os parabéns150.

145 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 11 de outubro de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 293. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de junho de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 295-296. 147 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 301. 148 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 301-302. 149 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de setembro de 1908. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 305-306. 150 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 313-314.

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Nas cartas enviadas à Artur Guimarães fez comentários mais minudentes sobre as suas

leituras. Em 1904 escreveu:

tendo acabado todas as leituras de preparo para o meu amplo quadro social do Brasil durante os quatro séculos de sua existência, máxime o último, submeti a uma leitura rigorosa e de conjunto os originais de seu livro e fiquei satisfeito. Vamos ser os primeiros a falar não no Le Play, mas na sua bela escola de análise social, sob a direção de seus discípulos. Meti-me no inferno, isto é, a fazer um quadro do estado real, positivo, exato, do Brasil, seu povo, sua cultura, sua vida social e política, segundo os princípios da escola de Le Play, e estou abarbado. Tive de ler quarenta e tantos livros, e estou abarrotado...151

Em missiva de 1910, comentou a apropriação de outras leituras:

Li o Mahan, escritor americano, sobre raça branca e seu futuro e perigos que corre, e gostei. Estou acabando o Lapouge, que é muito bom para as questões técnicas na antropologia. Ele e o Ammon são os fundadores da antropossociologia, ciência que reúne a antropologia à sociologia, une Broca a Spencer, como a escola de Le Play une a sociologia à etnografia, une Spencer a Jubainville e outros. Como processo e método para estudar e classificar povos, a escola de Le Play é melhor. Leva-lhe vantagem a de Lapouge e Ammon, quando estabelece no fundo de tudo o elemento raça, que foi sempre a minha velha mania. Há, porém, concordância nas duas escolas quanto aos resultados: o homo europaeus de Lapouge é o particularista de Le Play e consortes; e o alpinus e mediterranaeus de Lapouge são ali os comunários de Le Play152.

Através dessas longas, mas necessárias, citações dos trechos das missivas que trocou

com os amigos e da leitura das marginálias que deixou nos inúmeros textos, é possível

perceber que Sílvio fazia predominantemente leitura extensiva. Ao entrar em contato com os

impressos ele assinava Roméro, S. Roméro ou Sylvio Roméro na folha de rosto, e em seguida

lia cada página fazendo comentários às margens e até na folha de guarda. As anotações às

vezes eram de concordância, outras de discordância. Muitas vezes também comparava a obra

151 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 1904. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 34. 152 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 14 de fevereiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 241-242.

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que estava apostilhando com outras lidas anteriormente. A cada página anotada ia inscrevendo

traços da sua apropriação.

Em 1909, fez algumas objeções ao processo de leitura do professor José Veríssimo,

seu colega no Colégio Pedro II. Afirmou que:

lê atabalhoadamente livros nacionais que lhe mandam ou livros estrangeiros que obtem no Garnier, percorre-os a galope durante algumas horas, toma notas à margem apressadamente, espraia-se depois em banalidades por algumas dúzias de tiras de papel, e eil-o, às segundas-feiras, com a sua litteratura, barata como os gêneros grosseiros das furas do sertão. Reúne depois todas essas drogas em pacotes, que chama livros. [Grifo meu]153

Nota-se que para Sílvio a prática da leitura exigia tempo e cuidado. Mas isso não quer

dizer que ele não realizasse leitura intensiva, que não lesse ao acaso, apenas pelo prazer da

leitura. Na sua biblioteca existem vários textos que não foram anotados. A ausência de

marginálias permite levantar duas hipóteses: ou ele não leu esses textos ou leu rapidamente,

sem nenhum propósito específico, intensivamente.

Durante e após a realização das leituras, além de comentá-las nas missivas, “afundava

a pena no papel” para escrever os seus próprios textos. Para Sílvio leitura e escritura não eram

momentos separados. Ele sentia necessidade de expressar a sua apropriação. A partir dos

relatos apresentados percebe-se que ele dedicava-se com mais afinco às leituras quando

precisava escrever algum “volume”. Para escrever o Brasil Social teve que ler “quarenta e

tantos livros”154.

Sílvio leu infatigavelmente até os momentos próximos à morte. Só nos lances finais de

sua existência interrompeu essa atividade porque já não enxergava bem155.

153 ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 10-11. 154 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 1904. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 34. 155 Cf. GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915; GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955.

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Ao término do relato das suas experiências de leitura é possível concluir que ao longo

da sua trajetória ele teve uma educação formal e informal que o auxiliou a desenvolver

determinadas competências e práticas de leitura.

Na Vila de Lagarto, teve os primeiros contatos com o mundo do conhecimento através

das orações e histórias encantadas que a “adorada Antônia”, as “velhinhas” e Zefa Nó lhe

transmitiram; e aprendeu a ler nos manuscritos e “impressos incolores” das escolas de

primeiras letras dos professores Bomfim e Badú. Foi também durante os primeiros anos que

teve despertado o seu nacionalismo.

No Rio de Janeiro, estudou as humanidades com os mestres que ficaram gravados sua

memória e que ajudaram a reforçar o seu interesse pelas coisas da terra e o introduziram no

germanismo; e aprendeu Espanhol, Italiano, Francês e Inglês, línguas cujo domínio o tornou

um competente leitor de textos estrangeiros.

Em Recife, adquiriu conhecimentos filosóficos e científicos nas aulas dos mestres,

com o colega Tobias Barreto e, principalmente, através das múltiplas leituras que realizou. A

partir das leituras realizadas, escreveu sobre diversos assuntos no periodismo local. Formado

bacharel, seguiu para Estância, onde ficou durante um curto período, e, logo depois, para o

Rio de Janeiro onde se estabeleceu definitivamente.

Na capital federal, sede do campo intelectual brasileiro, deu continuidade a sua

formação. Lia em casa, no bonde, na barca, no navio La Plata, na livraria do amigo Francisco

Alves, no escritório e na biblioteca do amigo Artur Guimarães. Às vezes tinha a leitura

interrompida pelo barulho das crianças, pelas doenças e mortes de alguns filhos ou pelo

excesso de trabalho nas diversas instituições de ensino em que trabalhava. Lia silenciosa e

extensivamente, anotando cada página. Assim como na capital pernambucana, Sílvio escreveu

intensamente no Rio de Janeiro.

Enfim, podemos afirmar que as competências e práticas de leitura que desenvolveu o

tornaram crítico leitor das letras nacionais e estrangeiras. Além de constituir uma considerável

biblioteca, cuja apropriação pode ser apreendida através da análise das marginálias que nela

deixou, ele sentiu a necessidade de expor as representações forjadas na prática da leitura em

inúmeros impressos. Ao escrever nos jornais recifenses, fluminenses e de outros estados e

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publicar livros sobre vários temas pôde expressar as suas opiniões, muitas delas em desacordo

com aqueles que dominavam o campo intelectual até então, e tentar convencer os outros

leitores delas 156.

156 Sobre as potencialidades dos impressos, consultar: PARK, Margareth Brandini. Histórias e leituras de almanaques no Brasil. São Paulo: Campinas: Mercado de Letras, Associação Brasileira de Leitura; São Paulo: Fapesp, 1999; VILELA, Marize Carvalho. Discursos, cursos e recursos: autores da revista Educação (1927-1961). Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000; MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista. Imprensa e práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Fapesp/ Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao editorial (1931-1981). Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001; CATANI, Denice Bárbara. Educadores à meia-luz: um estudo sobre a Revista de Ensino da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo (1902-1918). Bragança Paulista: EDUSF, 2003.

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CAPÍTULO II

BIBLIOTECA PEDAGÓGICA DE SÍLVIO ROMERO

Após a análise das competências e práticas de leitura do intelectual sergipano,

empreendida no capítulo anterior, faz-se necessário traçar um perfil da Biblioteca de Sílvio

Romero, especialmente de sua Biblioteca Pedagógica, e estudar a materialidade dessas obras.

Apenas após esse estudo será possível compreender como ele se apropriou dessas leituras e

constituiu o seu pensamento pedagógico.

A leitura é uma das atividades mais fugidias. Os leitores costumam deixar poucos

rastros, tornando penosa a tarefa de investigar a apropriação que fizeram ao volver as páginas

dos livros. Não é este o caso de Sílvio Romero. Ele deixou copiosos vestígios de leitura:

anotações marginais, páginas dobradas, outras marcadas com fita de cetim, comprovante de

pagamento do bonde ou recorte de jornal.

Mas mesmo quando os leitores deixam vestígios, muitas vezes eles se perdem na

malha do tempo, pois nem sempre as bibliotecas são preservadas. Segundo Chartier, a

proliferação de livros ocasionada pela segunda revolução industrial da imprensa fez com que

as bibliotecas superassem sua capacidade de conservação levando-as a fazer a triagem do que

pode ser preservado e fez com que o sonho de uma biblioteca universal, onde todos os textos

produzidos fossem reunidos, esmorecesse157. As bibliotecas públicas eventualmente precisam

fazer a operação de descarte. Com ela várias marcas de leituras também são descartadas.

No caso das bibliotecas particulares a dificuldade de preservação persiste. Embora a

quantidade de obras seja bem menor, o espaço também é reduzido, conduzindo os

proprietários a se desfazerem de alguns impressos sob a alegação de obter mais espaço. Além

disso, quando os seus donos falecem, não raro as famílias desfazem-se desse patrimônio.

157 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998.

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Felizmente este também não foi o caso da biblioteca de Sílvio. Após a sua morte, o seu

acervo foi preservado. Equivocadamente, Argeu Guimarães lamentou o desaparecimento dos

livros do mestre:

Pena haver-se desgarrado tão valioso espólio, através cujos flagrantes de espontaneidade, reveladores de rumos e diretrizes mentais cheios de vigor, não raro irreverentes e severos seguindo as tendências do seu temperamento, seria possível projetar mais luz sobre uma obra que já não se discute e, apezar das veemências compreensíveis num lutador e semeador de idéias, impõe-se cada vez mais na interpretação social e na exegese da criação intelectual da nacionalidade158.

Ao contrário do que imaginava seu ex-aluno, sua biblioteca foi conservada pelos

familiares, notadamente por Nelson Romero, um dos seus filhos mais velhos. Nelson,

também tinha inclinação para a carreira intelectual. Assim como o pai, foi professor do

Colégio Pedro II159. Talvez por essa razão tenha cuidado do patrimônio legado pelo genitor

com desvelo.

Mas o que levou a família a vender a Biblioteca de Sílvio para o governo do Estado

de Sergipe, uma vez que ela poderia ter sido útil para filhos e netos? Será que Sílvio não

deixou a família em situação financeira confortável?

Segundo Argeu Guimarães, Sílvio, apesar de ser filho de André Ramos Romero, um

abastado negociante, ao constituir a sua própria família e estabelecer-se no Rio de Janeiro

teve que se habituar com a “parcimônia de recursos” 160. Argeu e Artur Guimarães e

Magalhães Carneiro afirmaram que ele mudava freqüentemente de residência. Morou em

vários lugares do Rio de Janeiro: Tijuca, Paineiras, Alto da Boa Vista, Riachuelo, São

Cristóvão e Estrela, na zona norte, e em Camorim, na zona oeste. No município de Niterói,

residiu em Icaraí. Morou temporariamente em Campanha, Juiz de Fora e São João Del Rey,

158 GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 98. 159 TAVARES, Jane Cardote. A congregação do Colégio Pedro II e os debates sobre o ensino de matemática. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Programa de Pós-graduação em Educação Matemática, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002, p. 124. 160 GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 62.

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no estado de Minas Gerais. Conforme seus amigos, sempre viveu em residências modestas

que causavam espanto aos ilustres visitantes. 161

Magalhães Carneiro, que morou um tempo com ele em Icaraí, preocupado com a

impressão que o aspecto humilde da habitação poderia causar nos visitantes abastados,

aconselhou Mocinha a “melhorar a sala de visitas, guarnecendo-a de mais alguns móveis e

completando a ornamentação nas paredes”.162 Depois de relutar, temendo a desaprovação do

cônjuge, ela acabou encarregando-lhe do serviço. Certo dia, na ausência de Sílvio, o cômodo

sofreu a transformação. À tarde, ao chegar das aulas, o mestre penetrou a casa, olhou

demoradamente a sala modificada, mas não pronunciou nenhuma palavra de aprovação ou

repulsa. Todavia, no jantar, disse-lhe de chofre que tinha certeza que foi obra dele e explicou

que não se preocupava com esses requintes porque isso afetava negativamente a vida

espiritual. Conforme Magalhães:

Desse dia em diante não preferia mais a sala de visitas para se refugiar contra ataques da criançada ou para remoer idéia que accaso o acomettesse. Aparecia ali raramente, quando havia visita de cerimônia, mas não se demorava. Muitas vezes ouviu-o monologar da bibliotheca contra a sala contígua, ou de passagem parar fronteiro à porta, apontar para dentro e dizer com affectada expressão de terror: - Está interdicta!163

Também usava roupas simples como “canotier, paletot sacco, collete da mesma côr”

e “relógio dos mais baratos com corrente de plaquet”, embora tenha revelado a Artur

Guimarães, que houve um tempo em que costumava “ajanotar-se, usando cartola, fraque e

bengala” 164. A Magalhães Carneiro, afirmou: “O luxo é um corrosivo; o homem arranjou-o

por vaidade...” 165

161 Cf. GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915; CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921; GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955. 162 CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 13. 163 CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 13-14. 164 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 44-45. 165 CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 11.

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Mas a simplicidade das residências e dos trajes deve ser atribuída apenas ao fato de

considerar o luxo corrosivo? Os indícios sugerem que não.

Sílvio era professor das mais prestigiosas instituições educacionais do Rio de Janeiro.

Mas o salário de professor era modesto. Não foi possível obter informações detalhadas

acerca dos vencimentos dos professores das instituições em que trabalhou, no período de

1880 a 1914. Porém, foi possível descobrir que a viúva de Joaquim Manuel de Macedo,

professor do Colégio Pedro II, recebia do governo a pensão de 1 conto e 200 mil réis por

ano.166 Não era um valor alto, senão Sílvio, que se queixava de falta de tempo para a

produção intelectual, não teria necessidade de pleitear através de missiva ao Barão do Rio

Branco mais um posto: a cadeira de História da Literatura do Colégio do Mosteiro São

Bento167.

Os livros também não davam tanta rentabilidade. Somente para citar dois exemplos:

o contrato de publicação de Doutrina contra doutrina, com o livreiro Francisco Alves,

rendeu-lhe 1 conto de réis e o da publicação de Cantos e contos populares do Brasil, pelo

mesmo editor, 3 contos de réis168.

Mas ele escreveu inúmeros livros e o montante total das edições, somado aos

vencimentos do magistério seriam suficientes para levar uma vida confortável. Porém, a sua

condição econômica não era tão cômoda porque teve que prover uma imensa prole. A

educação dos filhos consumia boa parte dos seus rendimentos. De acordo com Artur

Guimarães, quase todos os filhos do primeiro e do segundo casamentos se formaram, exceto

um porque não se interessou. André, o primogênito, antes de adoecer, estudou Matemática

em Zurich, na Suíça; Nelson Romero estudou na Universidade Gregoriana de Roma; e Edgar

Romero estudou Direito. E todos os filhos do terceiro casamento estudaram em bons

colégios do Rio de Janeiro. Além das despesas com a educação, Sílvio gastava com o

166 LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 321. 167 ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 7 de fevereiro de 1904. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231-232. 168 BRAGANÇA, Aníbal. A política editorial de Francisco Alves e a profissionalização do escritor no Brasil. In: ABREU, Márcia. (Org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de Letras, Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 1999, p. 458. (Coleção Histórias de Leitura)

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pensionato do André no Hospício Nacional e com o envio de mesadas para a mãe e as

irmãs.169

Sílvio também era previdente. Fez uma apólice no valor de 20 contos de réis numa

Seguradora de São Paulo, afim de que sua esposa não ficasse desamparada na sua ausência.

Também fez pensão vitalícia para os filhos menores na Casa Economizadora Paulista.

Inscreveu-se ainda na Associação dos Funcionários Públicos Civis, pagando religiosamente

suas contribuições. Essas contribuições totalizavam 200 mil réis por mês. Por ocasião da sua

morte, a apólice não estava saldada e a família pouco recebeu. Quanto à pensão dos menores

era preciso que os parentes pagassem mais um lustro, para que as crianças recebessem uma

pequena pensão mensal.170

Diante da necessidade de assegurar melhor cabedal da família, Nelson Romero

vendeu a biblioteca ao governo do Estado de Sergipe. Era política habitual do referido estado

a aquisição das bibliotecas dos seus filhos ilustres. Adquiriu a biblioteca de Gumercindo

Bessa em 1913171 e de Felisbelo Freire em 1917172. Em 1918, quatro anos após a morte de

Sílvio Romero, o Presidente do Estado General Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão

encarregou João Menezes, Maurício Graccho Cardoso e Nelson Romero, de catalogarem e

avaliarem o acervo de Sílvio Romero. Feita a avaliação autorizou a abertura de crédito de 14

contos de réis para a sua aquisição. A biblioteca foi incorporada ao acervo da Biblioteca

Pública de Sergipe. O bibliotecário Epifânio Dória recebeu 1717 títulos com 1949 volumes.

763 volumes estavam encadernados e 1186 volumes estavam apenas brochados. Estes

últimos foram encadernados por A. Simões em 1921 e 1922 por 620 mil réis 173.

169 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 111-112. 170 GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 141-144. 171 SERGIPE. Lei n. 633 de 27 de Setembro de 1913. Colleção de Leis e Decretos de 1913. Aracaju: Typ do Estado de Sergipe, 1913, p. 33. 172 SERGIPE. Lei n. 702 de 15 de Julho de 1916. Colleção de Leis e Decretos de 1916. Aracaju: Imprensa Official, 1918; SERGIPE. Decreto de 02 de Maio de 1917. Colleção de Leis e Decretos de 1917. Aracaju: Imprensa Official, 1918. 173 DÓREA, Epifânio da Fonseca. Relatórios dos anos de 1918 e 1919, apresentados ao Exmo. Sr. Dr. Secretário Geral do Estad,o em 15 de julho de 1919 e 15 de julho de 1920. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commercio, 1920; SERGIPE. Lei nº. 746 de 16 de novembro de 1917. Colleção de Leis e Decretos de 1917. Aracaju: Imprensa Official, 1918; SERGIPE. Lei nº 755 de 21 de outubro de 1918. Colleção de Leis e Secretos de 1919. Aracaju: Imprensa Official, 1919, p. 52; SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia

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Após a encadernação os livros receberam um carimbo circular com a inscrição

“BIBLIOTHECA SYLVIO ROMÉRO”, tendo no centro a estampa de um livro aberto.

Em seguida, os livros foram incorporados ao acervo geral da instituição sem a

preocupação de preservar a sua unidade. Em 1974, a biblioteca, já denominada Biblioteca

Pública Epifânio Dórea, em homenagem ao devotado bibliotecário, foi transferida para novo

prédio e parte do acervo ficou indisponível durante 21 anos. Apenas em 1995, o Secretário

de Estado da Cultura, Luiz Antônio Barreto, incumbiu o diretor do Instituto da Memória e da

Documentação, Jackson da Silva Lima, de reorganizar o acervo da biblioteca esquecido num

depósito infecto. Após oito meses de trabalho, as estantes da instituição foram acrescidas de

Legislativa de Sergipe, pelo Presidente do Estado General Manuel P. de Oliveira Valadão, ao instalar-se a 2ª sessão extraordinária da 13ª legislatura, em 15 de julho de 1918. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919; SERGIPE. Mensagem dirigida à Assembléia legislativa de Sergipe, pelo Presidente do Estado General Manuel P. de Oliveira Valada,o em 7 de setembro de 1918, ao instalar-se a 2ª sessão ordinária da 13ª legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1919.

Figura 9 - Carimbo da Biblioteca Sílvio Romero Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Carimbo da Biblioteca Sílvio Romero. 2005.

Acervo pessoal.

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cerca de quinze mil títulos, entre eles, um banco de teses médicas e as bibliotecas de

Felisbelo e Laudelino Freire, Gumercindo Bessa e Sílvio Romero174.

Inicialmente, a Biblioteca Sílvio Romero foi acondicionada em duas salas, no

segundo andar, com doze estantes de aço com cinco prateleiras cada. Em 2005, foi

transferida do segundo andar para o primeiro e integrada à Documentação Sergipana.

Após a reorganização ela passou a conter 2270 volumes. Ou seja, houve um

acréscimo de 553 livros. Destes, 49 são de autoria de Sílvio ou sobre ele e sua obra. Restam

ainda 504. Segundo o organizador do acervo, as obras originais podem ter sido encadernadas

com obras de procedência diversa e pode ter havido erros no processo de carimbação. Essas

174 Cf. LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit, v. 2, n. 4, 1999; NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero. In: SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM.

Figura 10 - Biblioteca de Sílvio Romero Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório. Biblioteca de Sílvio Romero, 2005.

Acervo Pessoal.

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dúvidas poderiam ser dirimidas se fosse encontrado o inventário do acervo inicial elaborados

pelos membros da comissão encarregada de adquirir a biblioteca175. Porém, isso não impede

o uso da biblioteca pelos pesquisadores. Existem vários vestígios que permitem identificar a

propriedade dos livros. Entre eles estão: o autógrafo de Sílvio Romero, as anotações

deixadas nas margens e as dedicatórias feitas para ele.

A biblioteca é bem diversificada. Não poderia ser diferente o acervo de um polígrafo.

Há obras de Filosofia, Sociologia, Antropologia, Etnografia, Política, Economia, História,

Geografia, Direito, Literatura, Lingüística, Medicina, Biologia, Psicologia, Religião, Artes,

Educação, entre outras. Sobressaem: Literatura, História, Política, Direito, Filosofia,

Educação, Economia, Sociologia, Biologia, Religião, Medicina e Psicologia. Para efeito de

análise selecionei um conjunto de obras que denominei Biblioteca Pedagógica de Sílvio

Romero (BPSR), composto de 161 obras.

Vestígios materiais como carimbos, selos e inscrições em alto relevo encontrados nos

livros permitem afirmar que ele os comprava em estabelecimentos como: a Livraria Universal

de Laemmert & C., localizada a Rua do Ouvidor, 66, que vendia livros portugueses, franceses,

ingleses e alemães176; a Livraria Luso-brasileira de Lopes & C., na Rua da Quitanda, 24, que

vendia livros acadêmicos, religiosos e literários177; a Livraria Espanhola, na Rua de 7 de

setembro, 204, que vendia livros em espanhol178; na Livraria Clássica de Alves & C., na Rua

Gonçalves Dias, 48179; na Livraria H. Garnier, na Rua do Ouvidor, 69180; na Livraria F.

175 LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit, v. 2, n. 4, 1999. 176 Conferir selos em: LETOURNEAU, Charles. La biologie. Paris: C. Reinwald & Cie, 1877; SICILIANI, Pierre. Prolégomènes de la psychogénie moderne. Paris: Germer Baillière et Cie, 1880 ; NORDAU, Max. Psycho-physiologie du génie et du talent. Paris: Félix Alcan Editeur, 1897. 177 Verificar selo em: LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald & Cie, 1877. 178 Consultar carimbo em: SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral y física. Valencia: F. Sempere Y Companío Editores, [18--]. 179 Conferir inscrição em: GOBINEAU, Le Comte de. Essai sur l' inegalité des races humaines. Paris: Firmin-Didot et Cie, 1884. 180 Verificar inscrições em: OVERBERG, Bernard. Manuel de pédagogie ou guide de l'instituteur. Liége: L. Grandmont-Donders Librairie, 1859; e ROD, Édouard. Les idées morales du temps présent. Paris: Perrin et Cie Librairies-Editeurs, 1892.

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Briguiet & C., na Rua do Ouvidor, 69181; a Livraria Internacional P. Lachaud, na Rua Nova

do Ouvidor, 18 e 20182; na Livraria Acadêmica de João Martins Ribeiro, na Rua Uruguaiana,

3 (próximo ao Largo da Carioca), que vendia livros acadêmicos de Medicina, Direito,

Literatura, Educação, atlas e mapas geográficos183; na Livraria A. L. Garraux & C., em São

Paulo184; na Livraria Econômica de Tolentino Álvares e Irmão, na Rua Formosa, 53, Bahia,

que comercializava livros de direito, medicina, religião, educação, literatura, etc185; na

Livraria Franceza, na Rua do Crespo, 9, Pernambuco186, no Centro Bibliográfico, na Rua

Gonçalves Dias, 41, sebo que comprava e vendia livros raros, bibliotecas particulares e

livrarias em falência e servia de intermédio com livrarias das províncias e do estrangeiro187.

Os livros eram comprados ora em brochura, ora em encadernação simples, ora em

encadernação de luxo. Os nacionais geralmente eram adquiridos em brochura ou

encadernação simples e os estrangeiros em encadernação de luxo. No entanto, as inscrições

em alto relevo em algumas dessas obras revelam que eles eram importados em brochura e

encadernados no Brasil, pois as tarifas para a importação de livros eram muito altas para os

formatos mais imponentes188.

Sílvio também ganhava muitos livros. Eles estão repletos de dedicatórias dos autores

ou de amigos. Entre aqueles que o presentearam figuram: Augusto Franco, Antônio Sérgio,

Arnaldo Quintella, Artur Orlando, Carlos Torres, Carneiro Leão, Clóvis Beviláqua, Dias

Martins, Edmundo Lins, Ennes de Souza, H. Castriciano, Ernesto Nascimento, Manuel

181 Consultar inscrição em: ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'education et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie, . [18--]. 182 Conferir selo em: HUXLEY, Th. H. La place de l'homme dans la nature. Paris: J. B. Baillière, 1891. 183 Verificar selo em: KANT, I. Critique de la raison pure. Paris: Librairie de Ladrance, 1836. V. I. 184 Consultar carimbo em: MONTE, J. B. François Bourbon Del. L'homme et les animaux: essai de psychologie positive. Paris: Librairie Germer Baillière et Cie., 1877. 185 Conferir selo em: SPENCER, Herbert. Essais de moral de science et d'esthéthique: essai sur le progrès Paris: Germer Baillière, 1879. V. 1. 186 Verificar selo em: FERTIAULT, Julie. Entre deux jeunes mères: dialogues sur l’éducation. Paris: Librairie Académique Didier et Cie., 1882. 187 Conferir selo em: RIBOT, Th. Psychologie de l'attention. Paris: Félix Alcan, 1889. 188 HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985.

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Soriano Albuquerque, Maurício Medeiros, Oscar Nerval Gouvêa, Paulo Tavares, Phaelante da

Câmara, Reis Carvalho e Virgílio de Lemos. 189 As cartas que trocou com Artur Guimarães,

Almáquio Diniz e Artur Orlando também informam sobre a doação de livros190

189 Conferir dedicatórias em: FRANCO, Augusto. Uma arguição. [S. d. t.]; LEÃO, Carneiro. Educação. Conferência produzida no salão nobre do Gymnasio S. Bento em São Paulo por occasião do 1º Congresso Brasileiro de Estudantes. Recife: Imprensa Industrial, [S.d.]; SPENCER, Herbert. Problèmes de morale et sociologie. Paris: Guillaumin et Cie, [S. d.]; RIBOT, Th. La psychologie allemande contemporaine: école experimentale. Paris Félix Alcan, 1885; SOUZA, A. Ennes de & SAMPAIO, A. J. de. Reforma da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. Central de Evaristo Costa, 1888; LEMOS, Virgílio de. Discurso de posse sobre o ensino secundário pronunciado em sessão solene da Congregação do Ginásio da Bahia em 16 de outubro de 1902. Bahia: Typographia e Encadernação do Diário da Bahia, 1902; CAMARA, Phaleante da. Memória Histórica da Faculdade de Direito de Recife ano de 1903. Recife: Imprensa Industrial, 1904; SILVEIRA, Álvaro da & MASSENA, João. A morte do major ou enumeração das asneiras de um fiscal de ensino publico em Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1904; ALBUQUERQUE, Manuel Soriano de. Memória histórica do ano de 1905. Faculdade de Direito do Ceará. Fortaleza: Typo-Lytographia A Vapor, 1906; MARTINS, Dias. Necessidade de ensino da higiene rural. São Paulo: Typographia Brazil de Rothschild & C., 1907; MEDEIROS, Maurício. Métodos em Psicologia. These de doutoramento. Paris: Ollier-Henry Librairie Editeur, 1907; ORLANDO, Artur. Reforma do ensino. Discurso pronunciado na Camara Federal. Rio de Janeiro: Typ. Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1907; GOUVÊA, Oscar Nerval de. Discurso proferido por ocasião da colação do grau dos bacharéis em ciências e letras do Colégio Anchieta em 12 de dezembro de 1907. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas do Jornal do Brasil, 1908; MARTINS, Dias. Abc do Agricultor. São Paulo: Duprat & C., 1908; TAVARES, Paulo. Questões de ensino. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908; CARVALHO, Reis. A questão do ensino. Bases de uma reforma de instrução pública no Brasil. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1910; JAMES, William. Philosophie de l'expérience. Paris: Ernest Flamarion Éditeur, 1910; CASTRICIANO, H. Educação da mulher. Conferência realizada no dia 23 de julho de 1911. Natal: Typographia do Instituto, 1911; LINS, Edmundo. Discurso pronunciado na colação de grau aos bacharelandos de 1911 da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas, 1912; JAMES, William. L'idée de verité. Paris Librairie Félix Alcan, 1913; QUINTELLA, Arnaldo. Lição inaugural do curso de clínica obstétrica. Rio de Janeiro Typ. Lith. de Pimenta de Mello, 1913; SERGIO, Antônio. Da natureza, da afecção: ensaios de psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1913. 190 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 31 de janeiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 242; ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, sem data. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 247-248; ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245; ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 12 de agosto de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 245;. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de outubro de 1891. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 279; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 1º de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de julho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 287-288; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de fevereiro de 1900. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 288-289; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de maio de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 299; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de setembro de 1911. CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 312.

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Ele também tomava livros emprestados. Há no seu acervo textos com a assinatura de

Joviniano Romero, seu irmão. Os textos emprestados do irmão médico versavam sobre

Biologia e Psicologia, áreas que conhecia em virtude da profissão 191.

Os trabalhos mais antigos que integram a Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

foram publicados em 1835 e 1836. 192 Os mais recentes datam de 1914, ano da sua morte.193 É

difícil precisar o momento em que Sílvio adquiriu ou leu cada obra porque não costumava

datá-las. Só foi possível identificar a data de aquisição de algumas obras que ganhou porque

as pessoas que as ofereceram registraram essa informação. 194 Essas foram adquiridas entre

1894 e 1914. Mas essa é uma amostra muito pequena que não pode ser generalizada. Talvez

seja mais seguro avaliar a partir da análise do ano de edição o período em que seu interesse

pela educação se intensificou.

191 Entre os livros que tomou emprestado do irmão estão: RIBOT, Th. L'hérédité: étude psychologique sur ses phénoménes, ses lois, ses causes, ses conséquences. Paris: Librairie Philosophique de Ládrange, 1873; BAIN, Alexandre. Les senses et l'intelligence. Paris: Germer Baillière, 1874; SPENCER, Herbert. Principes de Psychologie. Paris: Germer Bailliére, 1875 ; HUXLEY, Th. H. Les problèmes de la biologie. Paris: J. B. Baillière et fils, 1892. 192 KANT, Immanuel. Critique de la raison pure. Paris: Librairie de Ladrance, 1835. V. 1; KANT, Immanuel. Critique de la raison pure. Paris: Librairie de Ladrance, 1836. V. 2. 193 BARD, Harry Erwin. Relação intelectuais e morais entre os Estados Unidos e as outras republicas da America. Washington: Endowment, 1914; FACULDADE de Direito Teixeira de Freitas. Estatutos da Faculdade de Direito Teixeira de Freitas. [S. l.]: [S.n.], 1914; PÉREZ, Abel J. Memoria correspondente a los anõs 1911 a 1914, inclusives presentada a la Dirección General de Instrucción Primária y al Ministero de Instrucción Publica. Montevidéu: Talleres Graficos A. Barreiro y Ramos, 1914; REPÚBLICA Oriental del Uruguay. La Instrucción Pública Primária em la Republica Oriental del Urugay. Montevidéu: Talleres Graficos A. Barreiro y Ramos, 1914; SENNA, Nelson de. Legislação de terras: programa da quinta cadeira do terceiro ano do curso geral da Escola de Engenharia. Belo Horizonte: Typ. Commercial, 1914. 194 FRANCO, Augusto. Uma arguição. [S.d.t.]; LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald & Cie., 1877 ; MONTE, J. B. François Bourbon del. L'homme et les animaux: essai de psychologie positive. Paris: Librairie Germer Bailliére et Cie., 1877; SILVEIRA, Álvaro da & MASSENA, João. A morte do major ou enumeração das asneiras de um fiscal de ensino publico em Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1904; JAMES, William. L’idée de vérité. Paris: Félix Alcan, 1913; CASTRICIANO, H. Educação da mulher. Natal: Typographia do Instituto, 1911; ALBUQUERQUE, Manuel Soriano de. Memória histórica do ano de 1905. Faculdade de Direito do Ceará. Fortaleza: Typo-Lytographia A Vapor, 1906; MEDEIROS, Maurício. Métodos em Psicologia. These de doutoramento. Paris: Ollier-Henry Librairie Editeur, 1907; CARVALHO, Reis. A questão do ensino. Bases de uma reforma de instrução pública no Brasil. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1910; JAMES, William. Philosophie de l’expérience. Paris: Ernest Flammarion, 1910; BAYON, Francisco Félix. Enseñanza secundario y normal: bases. Buenos Aires: Compañia Su-Americana de billetes de banco, 1911; QUINTELLA, Arnaldo. Lição inaugural do curso de clínica obstétrica. Rio de Janeiro: Typ. Lith. De Pimenta de Mello, 1913.

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Conforme podemos inferir do gráfico acima, há uma concentração de textos

publicados entre 1897 e 1914, o que leva a crer que no final da vida o seu interesse pelo tema

aumentou. Essa inferência é reiterada pela afirmação, feita em 1883 de que sua “leitura

pedagógica não é, infelizmente, muito vasta”195. Arrisco a hipótese de que, no último lustro

do dezenove, o seu desencanto diante da forma como a imigração vinha sendo conduzida

pelos governantes levou-o a defender, além do branqueamento, a educação como solução para

os problemas brasileiros196. Também foi a partir desse momento que ele escreveu mais artigos

sobre o assunto. Em 1908, na obra Questões de ensino de Paulo Tavares, anotou na folha de

guarda os textos que pretendia redigir, entre eles figurava “artigo e brochura sobre ensino” 197.

A BPSR é composta de anais, aulas, conferências, discursos, estatutos, leis, listas,

manuais didáticos, programas, projetos, recursos, reformas, regulamentos, relatórios e

tratados científicos.

195 Cf. ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In : _______. Ensaios de sociologia e literatura. Paris: Garnier, 1901, p. 111. 196 Cf. ROMERO, Sílvio. O alemanismo no sul do Brasil: seus perigos e meios de os conjurar. Rio de Janeiro: Heitor Ribeiro, 1906. 197 TAVARES, Paulo. Questões de ensino. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908.

GRÁFICO 1ANO DA EDIÇÃO DAS OBRAS DA BPSR

11

555

1

3

76

4

5

332

6

2

3

2

1

222

1

22

333

1

222

8

4

111

22

111

33

44 44

88

0

2

4

6

8

10

12[S

.d.]

1835

1836

1853

1854

1859

1868

1869

1873

1874

1875

1876

1877

1879

1880

1881

1882

1883

1884

1885

1886

1887

1888

1889

1890

1891

1892

1893

1894

1895

1896

1897

1898

1899

1900

1901

1902

1903

1904

1905

1906

1907

1908

1909

1910

1911

1912

1913

1914

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero.

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Apesar da existência de textos de origem técnica predominam os de caráter científico:

tratados (57%), discursos (11%), manuais didáticos (6%) e conferências (4%). Essa

proeminência de obras científicas atesta o perfil de homem de sciencia do intelectual

sergipano. Para travar polêmicas no campo intelectual precisava atualizar-se, conhecer as

novidades do campo.

Os textos da BPSR não são exclusivamente sobre a Educação, mas também de

campos que o auxiliaram a pensar o tema, tais como: a Filosofia, a Sociologia, a

Antropologia, a Biologia e a Psicologia.

GRÁFICO 2TIPOLOGIA DAS OBRAS DA BPSR

1%1% 4%11%

2%2%1%6%

2%1%1%3%

2%6%

57%

Anais Aulas Conferências Discursos

Estatutos Leis Listas Manuais didáticos

Programas Projetos Recursos Reformas

Regulamentos Relatórios Tratados

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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A Pedagogia sempre teve a Filosofia como companheira. Durante muito tempo,

apoiou-se apenas nela para refletir sobre a educação. Mas no século dezenove, considerado o

Século das Ciências, diversos ramos do conhecimento no afã de alcançarem o estatuto de

Ciência, único saber considerado válido, adotaram o modelo de cientificidade das Ciências

Naturais. A Pedagogia não ficou alheia a esse processo. Ela afastou-se da Filosofia, sem

eliminá-la, e aproximou-se de ciências como a Psicologia, a Biologia e a Sociologia, com o

intuito de adquirir um estatuto científico e de se consolidar enquanto um dos saberes-chaves

da modernidade. A pouca expressividade da Filosofia em relação a Ciências como a Biologia,

a Psicologia, a Antropologia e a Sociologia, no interior da BPSR, reflete esse deslocamento

epistemológico que ocorreu na virada do século dezenove para o vinte.198 Sílvio como homem

de sciencia não poderia abster-se da tarefa de abordar os problemas pedagógicos de um ponto

de vista científico. Reitera essa hipótese o fato de Sílvio ter demonstrado um especial

interesse por assuntos relativos a essas Ciências, pois esses textos constituem uma parte

considerável das obras nas quais deixou marginálias. Das 39 obras com anotações de leitura, 8

versam sobre Psicologia e 7 sobre Biologia199.

198 CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999, p. 21-24; 498-502. 199 Entre as obras anotadas de Psicologia estão: FRANÇA, Eduardo Ferreira. Investigações de Psicologia. Bahia: Typographia de E. Pedroza, 1854; NORDAU, Max. Psycho-physiologie du génie et du talent. Paris: Félix Alcan Editeur, 1897; RIBOT, Th. Psychologie anglaise. Paris: [S.n.], 1875; SPENCER, Herbert. Principes de Psychologie. Paris: Germer Bailliére, 1875;RIBOT, Th. Psychologie de l'attention. Paris: Félix Alcan, 1889; TAINE, H. De l'intelligence. Paris: Librairie Hachette et Cie., 1897 ; LE BON, Gustave. Lois

GRÁFICO 3ÁREAS DO CONHECIMENTO DA BPSR

1%9%

57%

8%

16%

9%

Antropologia Biologia Educação

Filosofia Psicologia Sociologia

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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Os textos da área da Educação versam sobre: Avaliação, Disciplinas escolares,

Educação comparada, Educação feminina, Educação infantil, Educação moral, Ensino

agrícola, Ensino normal, Ensino profissional, Ensino público, Ensino secundário, Ensino

superior, História da Educação, Intelectual da Educação, Leitura, Liberdade de ensino,

Manuais escolares, Método de ensino e Reforma de instrução pública. No gráfico a seguir é

possível observar a incidência desses temas:

psychologiques de l'evolution des peuples. Paris: Félix Alcan, 1898; BOURGET, Paul. Essais de psychologie contemporaine. Paris: Alphonse Lemmerre Editeurs, 1883; LE BON, Gustave. Psychologie de l'education. Paris: Ernest Flamarion Editeur, 1902. (Bibliothèque de Philosophie Sientifique). Entre as obras anotadas de Biologia: HAECKEL, Ernest. Origine de l'home. Paris: C. Reinwald & Cie., [S.d.]. (Bibliothèque de Sciences Contemporaines); HUXLEY, Th. H. Leçons de physiologie élementaire. Paris: C. Reinwald Librairie Editeur, 1869;HARTMANN, Eduard. Le darvinisme ce qu'il y a de vrai et de faux dans cette théorie. Paris: Germer Baillière et Cie., 1877; LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald & Cie. 1877;. PARISE, J. H. Réveillé. Physiologie et hygiène des hommes livrés aux travaux de l'espirit ou recherches. Paris: Librairie J. B. Bailliére et fils., 1881; GOBINEAU, Le Comte de. Essai sur l' inegalité des races humaines. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1884; HUXLEY, Th. H. Les problèmes de la biologie. Paris: J. B. Baillière et fils, 1892.

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Os temas Ensino Superior (24%), Ensino Secundário (13%), História da Educação

(9%) e Ensino Público (8%) se destacam. A proeminência deles não significa coincidência,

pois estão no centro das preocupações dos artigos que escreveu sobre a educação.

Vejamos os temas das demais áreas. Os textos da Antropologia focalizam:

Antropssociologia (1) e Racismo (1); os da Biologia estudam: Biologia Geral (3), Fisiologia

(3), Lamarckismo e Darwinismo (2), Evolução (2), Racismo (2), Monismo (1) e

Hereditariedade (1); os da Psicologia abordam: Psicologia Geral (10), Psicologia

Contemporânea (3), Metodologia (1), Psicologia Comparada (1), Hereditariedade (1),

Psicologia Política (1); os da Filosofia versam sobre: Evolução (4), Criticismo (2),

Pragmatismo (2), Epistemologia (2), Monismo (1), Filosofia Geral (1); e os da Sociologia:

Sociologia Geral (2), Evolução (2), Moral (2), Liberalismo (2) e Sociologia Histórica (1).

GRÁFICO 4ASSUNTOS DA ÁREA DA EDUCAÇÃO

2% 5% 2% 2%4%

2%5%

2%

2%

8%

13%24%

9%

2%2%1%

6% 1% 6%

Avaliação Disciplinas escolares Educação comparada

Educação feminina Educação infantil Educação moral

Ensino agrícola Ensino normal Ensino profissional

Ensino público Ensino secundário Ensino superior

História da educação Intelectual da educação Leitura

Liberdade de ensino Manuais escolares Método de ensino

Reforma de instrução pública

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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Mais uma vez a escolha dos assuntos coincidiu com a importância que eles possuíam

em sua obra. Muitos deles são incontornáveis no seu pensamento social e pedagógico.

Os textos que compõem a sua biblioteca foram redigidos por autores de diversas

nacionalidades: alemã, argentina, belga, brasileira, canadense, cubana, escocesa, francesa,

húngara, inglesa, norte-americana, portuguesa, suíça e uruguaia. Predominaram os autores

brasileiros (47%), franceses (21%), ingleses (12%) e alemães (7%).

Figuram na sua biblioteca autores reconhecidos nacional e internacionalmente. Entre

os autores estrangeiros destacam-se: Herbert Spencer, Gustave Le Bon, Theodule Ribot,

Thomas Huxley, Alexander Bain, Henri Bergson, William James, Ernest Lavisse, Eduard

Hartmann, Immanuel Kant, Vacher de Lapouge, Conde de Gobineau, Hippolite Taine,

Wilhelm Wundt, Edmond Demolins, Paul Rousiers, Henri de Tourville, etc.

Os autores estrangeiros foram professores das seguintes escolas superiores:

Universidade de Aberdeen, Colégio da França, Universidade de Lyon, Universidade de Téne,

Escola Real de Minas da Inglaterra, Universidade de Harvard, Universidade de Montpelier,

GRÁFICO 5NACIONALIDADE DOS AUTORES

7%1%1%

47%

21%

1%

1%2%2%1%1% 12%

1%1%1%

Alemã Argentina Belga Brasileira

Canadense Cubana Escocesa Francesa

Húngara Inglesa Italiana Norte-americana

Portuguesa Suiça Uruguaia

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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Universidade Sorbonne, Universidade de Gênova, Universidade de Bolonha, Escola Nacional

de Chartes, Universidade de Nancy, Universidade de Bordeaux, Escola Normal Superior,

Universidade de Paris, Escola Normal de Munster, Escola de Altos Estudos, Universidade de

Zurique, Universidade de Heidelberg e Universidade de Leipzig. Eram também membros de

associações científicas como a Sociedade Real de Londres, Sociedade Asiática de Paris,

Instituto da França, Sociedade de Medicina Prática de Paris, Academia de Paris, Sociedade

de Psicologia de Paris e Academias de Ciências e Sociedades Médicas de Bruxelas, Tolouse e

Constantinopla. Há também diretores da Revista Filosófica, editada em Paris e funcionários

da Biblioteca Nacional da França.

Entre os autores brasileiros encontram-se: Ruy Barbosa, Manuel Bomfim, Abílio

César Borges, Phaelante da Câmara, Felisberto de Carvalho, Lima Drummond, Carneiro

Leão, Edmundo Lins, Dias Martins, Maurício de Menezes, Artur Orlando, Nelson de Senna,

Paulo Tavares, entre outros.

Os autores nacionais foram professores de escolas superiores como a Faculdade de

Medicina da Bahia, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, a Faculdade de Direito do

Recife, a Faculdade Livre de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, a Faculdade Livre de

Direito de Minas Gerais, a Faculdade Livre de Direito da Bahia, a Escola Politécnica do Rio

de Janeiro, a Escola Naval, a Escola Superior de Agricultura do Estado de São Paulo e a

Escola de Agricultura de Piracicaba. Alguns pertenceram a sociedades como a Academia

Mineira de Letras, o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, o Colégio de Advogados

de Lima, a Sociedade de Psicologia de Paris, a Sociedade Suíça de Ciências Naturais, a

Sociedade de Química de Zurich e a Sociedade Alemã de Química. Entre os autores, também

havia ministros e reformadores da instrução, presidentes de províncias, diretores do Hospício

Nacional e do Serviço de Inspeção e Defesa Agrícolas do Ministério da Agricultura200.

Eles nem sempre publicaram os textos nas línguas maternas. Apesar de haver autores

de países de língua italiana, por exemplo, na BPSR figuram apenas textos em alemão,

espanhol, francês, inglês, português e alemão. O gráfico a seguir demonstra a porcentagem

que coube a cada uma dessas línguas:

200 Um dos objetivos da pesquisa foi analisar os dispositivos empregados pelos autores para obter a leitura que desejavam, mas considerando que seria uma tarefa penosa avaliar o as intenções de tantos e tão variados autores, essa análise foi desenvolvida no capítulo terceiro com os autores selecionados.

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Percebe-se o predomínio do português (51%), seguido do francês (42%). O idioma não

estava vinculado à nacionalidade do autor, pois existem muitas traduções. Os textos do inglês

Herbert Spencer, por exemplo, foram traduzidos para o francês e para o espanhol201. Os livros

do norte-americano William James também foram vertidos para o francês202. O idioma quase

sempre foi determinado pela nacionalidade das editoras e tipografias nas quais os textos foram

publicados. As exceções foram: um texto editado nos Estados Unidos em português 203, um

em Paris em português 204 e um na Alemanha em inglês205.

201 SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral e física. Valencia: F. Sempere, [18--]; SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894. 202 JAMES, William. Philosophie de l’expérience. Paris: Ernest Flammarion; JAMES, William. 1913. L’idée de vérité. Paris: Félix Alcan, 1910. 203 BARD, Harry Erwin. Relação intelectuais e morais entre os Estados Unidos e as outras republicas da America. Washington: Endowment, 1914. 204 MEDEIROS, Maurício. Métodos em Psicologia. These de doutoramento. Paris: Ollier-Henry Librairie Editeur, 1907. 205 WUNDT, Wilhelm. Outlines of psychology. Leipzig: Wilhelm Engelmann, 1897.

GRÁFICO 7IDIOMAS DA BPSR

2% 4%

42%

1%

51%

Alemão

Espanhol

Francês

Inglês

Português

GRÁFICO 6

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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Os impressos da BPSR foram publicados por editoras e tipografias nacionais (78) e

estrangeiras (83). Esses índices demonstram a importância da contribuição do mercado

editorial brasileiro na segunda metade do século XIX, contrariando a visão de que o país era

abastecido principalmente por editoras estrangeiras206.

No Brasil, foram responsáveis pela edição da BPSR os estados da Bahia, Ceará, Minas

Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.

Dentre estes, destacou-se o Rio de Janeiro com 65% da produção. Tais dados

autorizam a afirmação de que esse estado foi o principal centro editorial no dezenove, antes

da emergência da indústria editorial paulista no século seguinte.207

206 Cf. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985; MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista. Imprensa e práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Fapesp/ Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001. 207 MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista. Imprensa e práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Fapesp/ Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001, p. 133.

GRÁFICO 7DISTRIBUIÇÃO DE TIPOGRAFIAS E EDITORAS NACIONAIS POR ESTADOS

BRASILEIROS

5%5%

6%

1%3%1%4%

65%

1% 9%

[S. l.]

Bahia

Minas Gerais

Paraná

Ceará

Rio Grande do Norte

Pernambuco

Rio de Janeiro

Rio Grande do Sul

São Paulo

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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No quadro abaixo é possível avaliar quais as editoras e tipografias que mais

sobressaíram:

QUADRO 1 - EDITORAS E TIPOGRAFIAS NACIONAIS

RIO GRANDE DO SUL

EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Editora não identificada -. São Leopoldo 1

PARANÁ EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI

DADE

Editora não identificada -. Curitiba 1

RIO DE JANEIRO

EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Companhia Impressora Rua Nova do Ouvidor, 9. Rio de Janeiro 1

Escola Typographica Salesiana - Niterói 1

H. Lombaerts & C. Rua dos Ourives, 7 Rio de Janeiro 1

Imprensa Industrial Rua Sete de Setembro, 142 Rio de Janeiro 1

Imprensa Nacional/ Tipographia Nacional - Rio de Janeiro 15

Instituto de Artes graphicas Cattaneo & Borseti

Rua Sete de Setembro, 142 Rio de Janeiro 1

Livraria Clássica de Alves & C Rua Gonçalves Dias, 46 Rua da Quitanda, 5

Rio de Janeiro 1

Livraria Francisco Alves Rua do Ouvidor, 166 Rio de Janeiro 1

M. Orosco & C. Rua da Quitanda, 138 Rio de Janeiro 1

Officinas Graphicas do Jornal do Brasil Rua Gonçalves Dias, 51 Rio de Janeiro 2

Typographia Aldina Rua da Assembléa, 96 Rio de Janeiro 1

Typographia Besnard Frères Rua do Hospício, 130 Rio de Janeiro 1

Typographia Central de Evaristo Costa Travessa do Ouvidor, 7 Rio de Janeiro 2

Typographia de Hildebrandt Rua Ourives, 8 Rio de Janeiro 2

Typographia do Instituto Profissional Boulevard 28 de setembro, 33 Rio de Janeiro 2

Typographia Jornal do Comércio de Rodrigues & C.

Rua Ourives, 8 Rio de Janeiro 8

Typographia Leuzinger Rua do Ouvidor, 31 e 36 Rio de Janeiro 2

Typographia-Lithographia de Pimenta de Mello

Rua Sachet, 34 Rio de Janeiro 1

Typographia e Papelaria Ribeiro Rua do Ouvidor, 72 Rio de Janeiro 1

SÃO PAULO

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS

ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Duprat & C. Rua Direita, 26 São Paulo 2

Typographia A Vapor Carlos Gerke - São Paulo 1

Typographia Brazil de Rothschild & C. Rua 15 de Novembro, 30A São Paulo 2

Typographia Espíndola Siqueira & C. Rua Direita, 10A

São Paulo 2

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QUADRO 1 - EDITORAS E TIPOGRAFIAS NACIONAIS

MINAS GERAIS

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS

ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Imprensa Oficial do Estado de Minas - Belo Horizonte 3

Typographia Brazil - Juiz de Fora 1

Typographia Commercial - Belo Horizonte 1

BAHIA

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS

ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Typographia e Encardenação do Diário da Bahia

Praça Castro Alves, 101 Salvador 2

Typographia de E. Pedroza Rua dos Capitães, n 40 Salvador 2

PERNAMBUCO

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS

ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Imprensa Industrial Rua Visconde de Itaparica, 49 e 51

Recife 2

Typographia do Jornal do Recife Rua 15 de Novembro, 47 Recife 1

RIO GRANDE DO NORTE EDITORAS, TIPOGRAFIAS E

LIVRARIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI

DADE

Typographia do Instituto - Natal 1

CEARÁ

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS

ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Typo-Lithographia A Vapor Rua Formosa, 68 Fortaleza 2

Predominaram a Tipografia Nacional/ Imprensa Nacional, do Rio de Janeiro, com 15

textos editados e a Tipografia do Jornal do Commercio de Rodrigues & C. com 8. A

Tipografia Nacional foi instalada em 1808, com a vinda da corte portuguesa para o país, e até

1822 teve o monopólio da impressão. Além de imprimir textos oficiais ela imprimia para

diversas livrarias da cidade. Em 1889, com a Proclamação da República passou a ser

designada Imprensa Nacional208. A Tipografia do Jornal do Commercio foi fundada em 1827

por Plancher. Foi adquirida em 1832 por Villeneuve e continuou nesta família até 1890

quando passou para a propriedade de José Carlos Rodrigues e passou a utilizar a marca

208 HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985. p. 34-49.

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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Tipografia do Jornal do Comércio de Rodrigues & C. Geralmente, os textos impressos por

essa tipografia eram pagos pelos próprios autores209.

No estrangeiro, foram responsáveis pela edição desses impressos: Alemanha,

Argentina, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Portugal, Suíça e Uruguai.

A partir do gráfico acima nota-se que houve um predomínio absoluto da indústria

editorial francesa. Essa preponderância da França não é surpreendente, pois é consenso na

bibliografia sobre o assunto. Mas há um outro dado acerca da edição francesa que causa

espanto. Quando pensamos em editores franceses do dezenove, lembramos de Garnier,

Laemmert ou Hachette. Mas no caso dos impressos pedagógicos de Sílvio, essa expectativa

não se confirmou. Confira no quadro a seguir:

QUADRO 2 - EDITORAS E TIPOGRAFIAS ESTRANGEIRAS

FRANÇA

EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Albert Fontimoing Éditeur (Anciennne Librairie Thorin et fils)

Rue Le Goff, 4 Paris 1

209 HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985, p. 77.

GRÁFICO 8DISTRIBUIÇÃO DAS EDITORAS ESTRANGEIRAS POR PAÍS

7%1%2%

1%

1%

82%

2%1%1%2%

Alemanha

Bélgica

Argentina

Cuba

Suiça

França

Uruguai

Portugal

Espanha

Estados Unidos

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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Alphonse Lemmerre Éditeurs Panage Choiseul, 27-31 Paris 1

Armand Colin et Cie. Rue de Mézieres, 5 Paris 2

C. Reinwald Librairie Éditeur C. Reinwald & Cie. Librairie C. Reinwald Schleicher Fréres & Cte. Editeurs

Rue des Saints-Péres, 45 Rue des Saints-Péres, 61

Paris 4

Ernest Flamarion Éditeur Rue Racine, 26 Prés l'Odeon Paris 5

Felix Alcan Éditeur (Ancienne Librarie Germer Baillière et Cie.)

Boulevard Saint-Germain, 108 Paris 12

Firmin-Didot et Cie. Imprimeurs-Éditeurs Rue Jacob, 56 Paris 6

Fischbacher Paris 1

Germer Baillière Germer Baillière et Cie J. B. Baillière J. B. Bailliére et fils

Rue de l' École de Médicine, 17 Place de L'Odeon Boulevard Saint-Germain, 108

Paris 19

Guillaumin et Cie Rue Richelieu, 4 Paris 4

J. Rothschild Éditeur Rue des Saints-Péres, 13 Paris 1

Librairie Académique Didier et Cie. Quai des grands -augustins, 35 Paris 1

Librairie Grandmont-Donders Librairie Rue Vinave-d’ile, 20-605 Liège 1

Librairie Hachette et Cie. Boulevard Saint-Germain, 79 Paris 1

Librairie de Ladrance Quai des Augustins, 19 Paris 2

Librairie Philosophique de Ládrange Rue Saint-André-des-Arts, 41 Paris 1

Maison Quantin Compagnie Générale d'impression et d' édition

Rue Saint- Benoit, 7 Paris 1

Marcel Rivière - Paris 1

Ollier-Henry Librairie Éditeur Rue Casimir -Delavigne, 8 Paris 1

Perrin et Cie Librairies-Éditeurs Quai des Grandes-Augustins, 35 Paris 1

PORTUGAL

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Chardron de Lello & Irmão Editores - Porto 2

ESPANHA

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

F. Sempere Y Companío Editores Calle del Palomar Valência

1

ALEMANHA

EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI DADE

Bernhard Tauchnitz - Leipzig 1

B. G. Leubner - Leipzig 1

Breisgan Herderfche Berlagshandlung Freiburg 1

Ferdinand Breslau 1

Wilhelm Engelmann - Leipzig 1

SUIÇA

Georges Bridel Éditeur Lausanne 1

ESTADOS UNIDOS

Endowment - Washington 1

ARGENTINA

Compañia Sul-Americana de billetes de Calle Chile, 263 y Calle Buenos Aires 1

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96

banco Cangallo, 559

URUGUAI

Talleres Graficos A. Barreiro y Ramos Calle Bartolome Mitre, 1467 Montevidéu 2

CUBA

Manoel Ruiz S. Enca. Imprenta Y Papelerie Havana 1

Nota-se que as editoras francesas com maior número de edições foram a Germer

Bailliére e a Félix Alcan, ambas de Paris. A primeira editou 19 textos e a segunda 12. È

importante lembrar que nos livros da Félix Alcan aparece a informação de que se tratava da

Ancienne Librairie Germer Baillière et Cie. Então podemos afirmar que a Germer Baillière/

Félix Alcan foi responsável pela publicação de 21 textos da referida biblioteca, que

corresponde a 33% das edições estrangeiras.

A Germer Baillière foi fundada em 1863 por Gustave Germer Baillière. A casa

editorial era dirigida por Félix Alcan que, depois de algum tempo, tornou-se sócio de

Baillière. Funcionava na Rue de L’Ecole de Medecine, nº 17. Com o falecimento de Gustave

Germer Baillière o empreendimento passou para os cuidados de J. B. Baillière. Além de novo

dono, a editora ganhou novo endereço, passou a funcionar na Rue Hautefeuille, n º19. Em

1882, o herdeiro vendeu a editora para Félix Alcan, que deu seu nome ao estabelecimento. A

casa editorial passou a funcionar no Boulevard Saint-Germain, nº 175, endereço das principais

editoras francesas - Hachette e Garnier. Uma das características da Germer Baillière/ Félix

Alcan era a edição de obras científicas. Publicava revistas como Revue des cours littéraires,

Revue des cours scientifiques, Revue philosophique e Revue historique e coleções como

Bibliotheque Scientifique Contemporaine, Bibliotheque d'Histoire Contemporaine,

Bibliotheque de Philosophie e Contemporaine, Bibliotheque Scientifique Internationale210.

Uma das missões da Germer Baillière/ Félix Alcan era atender a sede de ciência dos leitores

franceses e estrangeiros.

Conforme Chartier, para fazer uma História dos Impressos é preciso mais do que

traçar um perfil dos impressos, mas analisar a materialidade dos textos. Para ele, o texto não

existe em si mesmo, independente de qualquer materialidade, não há texto fora do suporte no

210 TESNIÈRE, Valérie. Le Quadrige: un siècle d’édition universitaire (1860-1968). Disponivel em: <http://h-france.net/vol3reviews/keating.html>. Acesso em: 28/08/2005.

Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero

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qual ele está inscrito, não há compreensão de um texto que não dependa das formas nas quais

ele chega ao leitor. Cada suporte, cada forma, cada estrutura da transmissão da escrita

interferem na construção do sentido.

Ao longo da história os textos tiveram vários suportes: o rolo, o códice e a tela.

Chartier defende que ao mudar o suporte do texto o entendimento também é modificado. Por

essa razão ao estudar o impresso é preciso estar atento às particularidades do seu suporte. Eles

estão inscritos em códices, objetos compostos de folhas dobradas certo número de vezes, o

que determina o formato do livro, da revista ou do jornal. O uso do códice permite uma maior

aproximação entre o leitor e o texto. Ele pode colocá-lo diante de si sobre uma mesa, virar

suas páginas ou então segurá-lo quando o formato é menor e cabe nas suas mãos.211

Os impressos assumem também diversas formas. Na sua construção os produtores

lançam mão de diversos dispositivos formais para definir o público que irá consumi-lo e

garantir uma determinada leitura. Por essa razão, faz-se necessário analisar a materialidade

dos textos da BPSR, compreender as especificidades do suporte e os dispositivos formais

empregados tanto pelas editoras estrangeiras quanto pelas editoras nacionais.

Uma das estratégias empregadas pelos editores foi a das coleções. Roger Chartier

definiu as coleções como impressos com a função de atender um público amplo212. Elas

surgiram no século dezessete, mas se proliferaram no século dezenove. Ao idealizá-las os

produtores de impressos possuem como objetivos; baratear o custo de produção, uma vez que

adotam um padrão único, e oferecer livros atraentes e diferenciados para o leitor. As

principais estratégias dos responsáveis pela coleção são: selecionar autores e textos que

possam interessar ao leitor visado e criar um aparelho crítico que visa apoiar a leitura e

controlá-la. A intenção é que ao adquirirem a obra os leitores confiem na qualidade da seleção

operada pelo editor.213 Na biblioteca em questão, existem livros da coleção Bibliothèque de

211 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998, p. 14, 212 CHARTIER, Roger e MARTIN, Jean. Histoire de l’édition française. Le temps des éditeurs. Du romantisme à la Belle Époque. Paris: Promodis, 1990, p. 78. Tomo 3. 213 Cf. OLIVERO, Isabelle. L’invention de la collection: de la diffusion de la littérature et des savoirs à la formation du citoyen au XIXe siècle. Paris: Éditions de L’IMEC, 1999. (Collection In Octavo) ; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao editorial (1931-1981). Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.

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Philosophie Contemporaine e da Collection historique des grands philosophes da Germer

Baillière, da Biliothéque Philosophique Contemporaine da Félix Alcan, da Collection

d’auteur étrangers contemporains de Guillaumin et Cie., da Bibliothèque de Philosophie

Scientifique da Ernest Flammarion214, da Bibliothèque de Sciences Contemporaines da C.

Reinwald & C215, da Bibliothéque de l’enseignement dês beaux arts publiée da Maison

Quantin C. e Ensino Agrícola Propaganda Popular de uma editora desconhecida do Rio de

Janeiro.

Nos livros que integram as coleções há páginas extras no fim do volume com

propaganda das outras obras da coleção ou de outras coleções das casas editoriais. A Germer

Baillière, a Félix Alcan, Ernest Flammarion e a Guillaumin et Cie tinham essa prática.

Através desse mecanismo visavam conquistar o leitor, fazer com que se interessasse pelos

demais volumes. No caso do intelectual sergipano pode-se afirmar que essa estratégia obteve

êxito, pois Sílvio possuía em seu acervo diversos títulos pertencentes a uma mesma coleção.

Mantinha, por exemplo, diversas obras da Bibliothéque Philosophique Contemporaine da

Félix Alcan 216.

Uma outra estratégia empregada pelos editores foi a apresentação de informações

sobre os autores. Era comum os editores colocarem logo abaixo do nome do autor, na folha de

rosto, ou no verso desta, informações como a faculdade ou instituto de pesquisa nos quais

trabalhavam. Ao apresentar o currículo dos autores as editoras visavam obter a confiança do

leitor. Apostavam que ao ler tais créditos eles ficariam convencidos de que estariam tendo

214 LE BON, Gustave. Psychologie de l'education. Paris: Ernest Flamarion Editeur, 1902. (Bibliothèque de Philosophie Sientifique); JAMES, William. Philosophie de l’expérience. Paris: Ernest Flammarion, 1910. (Bibliothèque de Philosophie Sientifique). 215 HAECKEL, Ernest. Origine de l'home. Paris: C. Reinwald & Cie., [S.d.]. (Bibliothèque de Sciences Contemporaines) ; HUXLEY, Th. H. Leçons de physiologie élementaire. Paris: C. Reinwald & Cie., 1869. (Bibliothèque de Sciences Contemporaines); LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald & Cie., 1877. (Bibliothèque de Sciences Contemporaines); LETOURNEAU, Charles. La Biologie. 12 ed. Paris: C. Reinwald & Cie., 1882. (Bibliothèque de Sciences Contemporaines). 216 SPENCER, Herbert. Principes de psychologie. Paris: Félix Alcan, 1874. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine); RIBOT, Th. La psychologie allemande contemporaine: école experimentale. Paris: Félix Alcan, 1885. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine); SPENCER, Herbert. Classification des sciences. Paris: Félix Alcan, 1888. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine); SPENCER, Herbert. L'individu contra l'Etat. Paris: Felix Alcan, 1885. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine) ; SPENCER, Herbert. De l'education intellectuelle, morale et physique. Paris: Felix Alcan, 1894. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine); NORDAU, Max. Psycho-physiologie du génie et du talent. Paris: Félix Alcan, 1897. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine).

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Acessado a representações autorizadas. 43 das obras da Biblioteca Pedagógica de Sílvio

Romero trazem esse tipo de dispositivo.

O editor francês Gustave Germer Baillière pôs a seguinte informação numa de suas

obras:

PIERRE SICILIANI

Professeur de Philosophie Théorique et Chargé du Cours d'Antropologie et de Pedagogie a l'Université de Bologne217

Um editor brasileiro Evaristo Costa apresentou o seguinte currículo de dois dos seus

autores:

A. Ennes de Souza é lente catedrático de metalurgia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Doutor em Sciencias Físicas e Naturais pela 2ª sessão da Faculdade de Filosofia da Universidade de Zurich (Suissa), engenheiro de Minas, (especialidade metalurgica) pela Real Academia de Minas de Freiberg, na Saxônia, geologo examinado pelos professores Dr. Albert Heim e Dr. C. Mayer da Escola Politechnica Federal Suissa, antigo aluno da Faculdade de Sciencias e da Escola Pratica de Altos Estudos de Paris, membro efetivo das sociedades suissas de Sciencias Naturais e de Chimica em Zurich e correspondente da Sociedade Alemã de Química em Berlim A. J. de Sampaio Lente substituto interino do curso de artes e manufaturas da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Doutor em Sciências Fisicas e Naturais pela 2ª sessão da Faculdade de Filosofia da Universidade de Zurich, chimico techinico examinado e certificado pela Escola Polytechnica Federal Suissa, com o exame de madureza pela Escola Industrial de Winterthur (Suissa), membro correspondente da Sociedade Alemã de Chimica de Berlim e efetivo da Sociedade Suissa de Chimica em Zurich.218

217 SICILIANI, Pierre. Prolégomènes de la psychogénie moderne. Paris: Germer Baillière et Cie., 1880. (Collection historique des grands philosophes) 218 SOUZA, A. Ennes de & SAMPAIO, A. J. de. Reforma da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tipografia Central de Evaristo Costa, 1888.

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Além de informações sobre os autores, muitos editores forneciam informações acerca

dos tradutores. Por intermédio desse dispositivo objetivavam assegurar ao leitor que a

tradução era confiável, fiel ao original. J. B. Baillière et fils utilizou esse estratagema:

Ed. Carrière Lauréat de l'Institut (Academie des Sciences)219

Outros editores optaram por colocar informações sobre outras obras do autor e dos

tradutores. Essa estratégia era semelhante à adotada no interior das coleções, visava atrair o

leitor, fazê-lo comprar outras obras publicadas por eles caso gostasse das idéias do autor e da

tradução. Félix Alcan costumava fazer isso:

OUVRAGES DE M. HERBERT SPENCER

TRADUITS EM FRANÇAIS Le premier principes Classification des sciences La science sociale Principes de physicologie Ouvrages non traduits Education intellectual, moral and physical Social statics Essays scientifics, political and speculative The principes of Biology Ouvrages du traducteur M. Th.Ribot La psychologie anglaise contemporaine L'Herédité La Philosophie de Schopenhauer220

219 PARISE, J. H. Réveillé. Physiologie et hygiène des hommes livrés aux travaux de l'espirit ou recherches sur le phsique et le moral, les habitudes, les maladies et le régime des gens de lettres, artistes, savants, hommes d'État, jurisconsultes, administrateurs. Paris: J. B. Bailliére et fils, 1881. 220 SPENCER, Herbert. Principes de Psychologie. Paris: Félix Alcan, 1874. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine).

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Sílvio às vezes se deixava seduzir pelas obras anunciadas, assinalava-as com sinal de

adição ou asterisco e, em seguida, tratava de adquiri-las. Várias obras marcadas por ele com

lápis preto ou colorido integram o seu acervo.

Para atrair os leitores, os editores, com a ajuda de outros produtores como os

ilustradores, procuravam embelezar as obras. Era comum o uso de vinhetas, ornatos

tipográficos com motivos geométricos, polimórficos, zoomórficos e antropomórficos. Na

BPSR constam 58 obras com vinhetas. Dentre elas predominam as polimórficas (48), seguida

das geométricas (16), das antropomórficas (3) e das zoomóficas (2). Um outro ornato

utilizado era a primeira letra do capítulo estilizada. Mas apenas quatro obras da referida

biblioteca possuem esse ornato. Também poucas obras apresentam fotografias: apenas 18.

Os editores também se preocupavam com a legibilidade do texto oferecido. Na maioria

dos volumes foram utilizados caracteres simples como o romano, que pertence à família de

tipo redondo que se distingue pela variação na espessura dos traços no desenho da letra e pela

existência de remates ou serifas. Os editores sabiam que caracteres mais elaborados forçam a

atenção dos leitores, distraindo-os e irritando-os, fazendo-os abandonar a leitura.

Os responsáveis pelas casas editoriais também estavam atentos ao tamanho das letras.

Tinham conhecimento de que quanto maior a fonte mais legível o texto. Mas era necessário

avaliar duas variáveis: legibilidade e custo. Como o público visado era o erudito, que possuía

habilidade para ler qualquer tamanho, preferindo, contudo, tamanhos maiores para efetuar

uma leitura mais rápida condizente com seu status de homem de letras, os editores optaram

por adotar corpo regular, oscilando entre 10 e 12. Na BPSR existem 98 obras com corpo 10,

41 com corpo 11 e 22 com corpo 12.

O entrelinhamento também foi alvo de preocupação dos editores, uma vez que é

imprescindível para assegurar a legibilidade do texto. As entrelinhas permitem que os leitores

descansem os olhos entre uma linha e outra. Neste sentido, os editores empregaram

entrelinhamentos que oscilaram entre 3 a 4 pontos tipográficos do corpo adotado.

Além dos caracteres, do corpo e do entrelinhamento, os editores estiveram atentos às

margens, a porção do papel que fica em branco entre a parte impressa e as extremidades da

folha. As margens também possibilitam que os leitores descansem a visão. As margens

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adotadas pelos editores da BPSR são irregulares. A menor é a medianiz e vai aumentando na

seguinte ordem: margem superior, margem dianteira e margem inferior. As obras de luxo, que

são poucas, possuem margens mais amplas, oscilam entre 3 e 5 cm. Já as edições mais

simples, mais numerosas, possuem margens maiores, oscilam entre 1 e 2,5 cm. No entanto,

essas conclusões não são definitivas, visto que muitos impressos tiveram as margens

reduzidas durante a encadernação que sofreram ao serem incorporadas ao acervo da

Biblioteca Pública Epifânio Dória.221

Mas os editores não lançaram mão de estratégias apenas para vender livros, mas para

conformar leituras. Para isso construíram aparelhos críticos destinados a controlar a

apropriação dos leitores. Na BPSR há vários desses dispositivos. Há 52 prefácios, 3 notas do

tradutor, 48 notas explicativas, 31 notas de referência, 35 obras com resumos recapitulativos,

11 índices remissivos, 77 índices analíticos, 12 bibliografias comentadas, 12 apêndices e 24

anexos. Esses aparelhos críticos procuraram conduzir as leituras, fazer o leitor aceitar as

representações elaboradas pelos produtores, mas nem sempre essas estratégias lograram o

êxito desejado.

Utilizando a liberdade leitora subverteu o sentido desejado ou imposto pelos

produtores. Segundo Chartier “os textos só existem se houver um leitor para lhe dar um

significado”. Em outras palavras: “o texto é atualizado a cada leitura” 222.

Porém, o que se quis evidenciar nesse capítulo é que a liberdade leitora não é

arbitrária:

contra a representação elaborada pela literatura e retomada pela mais quantitativa das histórias do livro – segundo a qual o texto existe em si mesmo, isolado de toda a materialidade deve-se lembrar que não há texto fora do suporte que o dá a ler (ou ouvir), e sublinhar o fato de que não existe

221 As informações acerca das especificidades das artes gráficas foram obtidas em: PORTA, Frederico. Dicionário de Artes Gráficas. Rio de Janeiro; Porto Alegre; São Paulo: Globo, 1958. 222 CHARTIER, Roger, Comunidades de leitores. In: ______. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora da UNB, 1998.

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a compreensão de um texto, qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele atinge o seu leitor223.

Ao estudar o modo como os leitores se apropriam dos textos e constróem

representações do mundo social, devemos estar atentos aos dispositivos empregados pelos

produtores para moldar as leituras.

223 CHARTIER, Roger, Comunidades de leitores. In: A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora da UNB, 1998..

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CAPÍTULO III

A APROPRIAÇÃO DE LEITURAS PEDAGÓ GICAS

O objetivo deste capítulo é compreender como Sílvio Romero se apropriou das leituras

de L’éducation intelectuelle, morale et physique224 de Herbert Spencer, Histoire de la

formation particulariste225 de Henri de Tourville, A quoi tient la superiorité des anglo-

saxons?226 e de L’éducation nouvelle: l’École des Roches227 de Edmond Demolins, de La vie

americaine: l’éducation et la société228 de Paul de Rousiers, de L’Aryen: son role social229 e

Race et milieu230 de Georges Vacher de Lapouge.

Esses autores e obras foram escolhidos para análise em virtude das recorrentes

citações nos textos que Sílvio escreveu sobre educação231, o que demonstra a importância que

elas tiveram na construção do seu pensamento pedagógico.

224 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894. 225 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.]. 226 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897. 227 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899. 228 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--]. 229 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. 230 LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière, 1909. 231 ROMERO, Sílvio. A filosofia e o ensino secundário. In: _______. Estudos de literatura contemporânea. Páginas de crítica. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p. 129-140; ROMERO, Sílvio. O Professor Carlos Jansen e as leituras das classes primárias. In: ______. Estudos de literatura contemporânea. Páginas de crítica. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p. 159-164; ROMERO, Sílvio. Obrigatoriedade e liberdade de ensino. In: _______. Estudos de literatura contemporânea. Páginas de crítica. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p. 141-146; ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 123 -164; ROMERO, Sílvio. América Latina: análise do livro de igual título do Dr. M. Bomfim. Porto: Chardron, 1906; ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912; ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001.

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Este capítulo está organizado em seções. No início de cada parte exponho algumas

informações biobliográficas do autor de cada texto e uma síntese do seu pensamento ou da

escola a que pertence, no caso dos discípulos de Frédérich Le Play. Depois, faço um resumo

da obra, privilegiando os pontos necessários para o entendimento da apropriação feita por

Sílvio. Em seguida, cotejo as marginálias com os textos que escreveu sobre o assunto e

demais documentos que possam contribuir para a compreensão das leituras pedagógicas.

3. 1 A APROPRIAÇÃO DE DE L’ÉDUCATION INTELLECTUELLE,

MORALE ET PHYSIQUE DE HERBERT SPENCER

Herbert Spencer (1820-1903) nasceu em Derby, na Inglaterra. Não freqüentou o

ensino regular devido a problemas de saúde. Foi educado informalmente pelo pai,

bibliotecário da Derby Philosophical Society, e por preceptores. Iniciou a carreira como

engenheiro de estradas de ferro e permaneceu nesta função até 1846. Editou o jornal

Nonconformist, sub-editou o jornal Birmingham Pilot e a revista Economist e colaborou nas

Westminster Review. Seu pensamento recobre diferentes áreas do conhecimento humano

como a Filosofia, a Sociologia, a Psicologia, a Biologia e a Ética. Entre suas principais obras

estão: Estatística Social (1850), Hipótese do desenvolvimento (1852), Princípios de

Psicologia (1855), Primeiros princípios (1862), O indivíduo contra o Estado (1884) e

Princípios de Sociologia (1876-1896).232

Nesses textos desenvolveu a teoria da evolução. Para Spencer, o universo está em

constante movimento. E essa incessante mudança de estado é provocada pela lei da evolução.

Embora tenha introduzido o termo evolução no vocabulário científico-filosófico em ensaio

sobre o Progresso em 1857, outros pensadores contribuíram para a elaboração desse conceito.

Jean-Baptiste Lamarck foi o primeiro pensador a apresentar cientificamente a doutrina do

transformismo biológico através da publicação de Filosofia zoológica em 1809. Considerou

que a transformação dos organismos ao longo do tempo deve-se às diferenças neles

232 REALI, Giovanni e ANTISERI, Dario. O positivismo evolucionista de Herbert Spencer. In: ______. História da filosofia. Do romantismo até nossos dias. 3 ed. São Paulo: Paulus, 1991, p. 326-331.

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produzidas pelo maior ou menor uso dos órgãos, pela adaptação ao ambiente, e que essas

mudanças são fixadas pela hereditariedade. Charles Darwin também contribuiu para o

desenvolvimento do conceito. Ele elaborou a lei da seleção natural, segundo a qual alguns

seres vivos apresentam em intervalos irregulares de tempo variações orgânicas que podem ser

transmitidas pela hereditariedade aos seus descendentes. Os seres que herdam essas variações

levam vantagem na luta pela existência, que preserva os organismos mais fortes e elimina os

organismos mais fracos. Spencer compartilhou com Jean Baptiste Lamarck a crença na

transmissão hereditária dos caracteres adquiridos. Concordou também com Charles Darwin

acerca da lei da seleção natural. Mas, enquanto Lamarck e Darwin limitavam a evolução aos

seres vivos, Spencer pensou a evolução do universo. Para ele, tanto os fenômenos biológicos

quanto os fenômenos sociais devem ser explicados a partir do processo de evolução. Definiu a

evolução como uma incessante mudança que possui como características: a passagem da

forma menos coerente a mais coerente; a passagem do homogêneo ao heterogêneo; e a

passagem do indefinido ao definido. Spencer defendeu uma visão positiva da evolução.

Postulou que o universo progride para melhor e só termina com a máxima perfeição e a mais

completa felicidade233.

Foi nesse contexto que a educação adquiriu importância no pensamento spenceriano.

Julgou possível a transmissão hereditária de experiências e esquemas de comportamento.

Defendeu que a educação, ao inculcar nos indivíduos comportamentos moralmente adequados

à sociedade industrial, pode introduzir, em longo prazo, modificações essenciais na espécie,

de modo a garantir a sobrevivência dos mais aptos e a evolução social.234

Na Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero constam dois exemplares de Educação

intelectual, moral e física de Herbert Spencer, um espanhol235 e outro francês236. Utilizei

apenas o exemplar francês, pois está repleto de anotações marginais, ao contrário do espanhol.

233 Sobre o pensamento de Herbert Spencer, consultar: ABBAGNANO, Nicolau. Evolução. In: Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 392-395; REALI, Giovanni e ANTISERI, Dario. O positivismo evolucionista de Herbert Spencer. In: ______. História da filosofia. Do romantismo até nossos dias. 3 ed. São Paulo: Paulus, 1991, p. 326-331. 234 Sobre o pensamento pedagógico de Herbert Spencer, ver: CAMBI, Franco. A sociedade industrial e educação entre positivismo e socialismo. In: ______. História da pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 1999, p. 465-487. 235 SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral e física. Valencia: F. Sempere, [18--]. 236 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894.

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Figura 11 – Folha de rosto de L’Éducation intelectuelle, morale et physique, de Herbert Spencer

Fonte : SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de L’Éducation intelectuelle, morale et physique, 2004. Acervo pessoal.

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A obra em questão veio a lume pela primeira vez em forma de quatro artigos

publicados na Revue de Westmister em julho de 1849, na Revue de la Bretagne Septentrionale

em maio de 1854 e na Revue Trimestrielle em abril de 1858 e de 1859. Em 1894, foi editado

em forma de livro pela editora francesa Félix Alcan. Foi integrada à coleção Bibliothèque de

Philosophie Contemporaine. O editor apresentou no verso da folha de rosto informações

sobre outras obras de Herbert Spencer, na esperança de fazer o leitor se interessar por algumas

delas e adquiri-las.

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________________ Résumé de la philosophie de Herbert Spencer, par

H. COLLiNS, avec préface de M. HERBERT SPENCER. 1 vol. in-8 10fr.237

Essa estratégia parece ter funcionado, pois além de De L’éducation intelectuelle,

morale et physique, adquiriu Principes de sociologie, da mesma coleção238. Antes, costumava

comprar as obras de Spencer produzidas por outras editoras, como Hachette e Guillaumin.

A obra em análise foi impressa em formato in-8, um dos padrões desta casa editorial.

Os editores optaram por tipo romano com corpo 12, entrelinhamento com 4 pontos em relação

ao corpo. A margem medianiz possui 1,5 cm, a superior e a dianteira possuem 2,5 cm e a

inferior 4 cm. Essas medidas não são originais, pois a obra foi adquirida em brochura e

encadernada no Brasil. Pode-se concluir que as margens eram ainda maiores, diferindo um

pouco das comuns nesse padrão, que oscilam entre 1 e 2,5 cm. As margens maiores

favorecem o diálogo entre autor e leitor, permitindo que este último tenha mais espaço para

anotar suas concordâncias e discordâncias sobre o texto lido. Há alguns aparelhos críticos

como prefácio do autor, notas explicativas e índice analítico. Através deles os produtores

(autor e editor) procuraram guiar a leitura de Sílvio.

Em De l’éducation intellectuelle, morale et physique Herbert Spencer entrelaçou

constantemente dois objetivos: a crítica do costume educativo antiutilitarista da época, ligado

ao privilégio da educação clássica em detrimento da científica; e a teorização de um processo

educativo que, com base na espontaneidade da natureza e na evolução do indivíduo para uma

realização orgânica e intelectual, dedica-se à formação de um homem capaz de viver uma vida

completa.

A obra foi dividida em quatro capítulos: Quel est le savoir le plus utile?, De l’

Éducation intellectuelle, De L’Education Morale e De L’Education Physique.

237 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894. 238 SPENCER, Herbert. Principes de sociologie. Trad. par M. E. Cazelles. Paris: Félix Alcan, 1890. (Bibliothéque de Philosophie Contemporaine)

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No primeiro capítulo, Quel est le savoir le plus utile?, Spencer fez uma crítica ao

predomínio das disciplinas clássicas. Para ele a Inglaterra preocupa-se apenas com “la

floraison de la vie civilisée”. Negligencia a planta para cuidar da flor. Entendeu que esse

modelo de ensino prepara os indivíduos apenas para brilhar nos salões. Propôs um novo

modelo de educação, capaz de transmitir conhecimentos úteis para a vida moderna. Na sua

perspectiva, a educação deve ser conduzida pelo princípio da utilidade.

Spencer considerou que o alvo da educação é aparelhar o indivíduo para a vida

completa. O indivíduo deve estar preparado para realizar cinco atividades distintas: as que

concorrem para a conservação direta do indivíduo, as que possibilitam a conservação indireta,

as que concorrem para elevar e disciplinar a família, as que asseguram a manutenção da

ordem social e das relações políticas e as que possibilitam o lazer. Cabe à educação prepará-lo

para realizá-los, torná-los fortes para a luta pela existência. Partindo desse princípio, Spencer

advogou uma educação ao mesmo tempo intelectual, moral e física. Ao contrário de outros

pedagogos que privilegiam a educação intelectual, defendeu uma educação integral na qual

todos os tipos de educação tivessem o mesmo valor e estivessem intimamente vinculados e

auxiliando-se mutuamente.

Para ele, a renovação do currículo é essencial para tornar possível esse ideal de

educação guiado pela utilidade. Apesar de reconhecer que todo conhecimento é útil, avaliou

que alguns são mais valiosos que outros. Os conhecimentos de maior valor são os científicos,

porque são os únicos capazes de fornecer aos indivíduos as condições necessárias na luta pela

existência. Então preconizou o predomínio das disciplinas científicas em detrimento das

disciplinas clássicas. Entre as disciplinas que devem constar no currículo estão: a Lógica, a

Matemática, a Geometria, a Mecânica, a Física, a Química, a Astronomia, a Geologia, a

Biologia, a Psicologia, a Sociologia e a História. A dedicação às Artes e à Religião também é

permitida, pois pensa que essas manifestações não estão dissociadas da Ciência. A inclinação

para a Arte é uma aptidão natural, mas a produção e a apreciação artística ganham muito

quando realizadas com a orientação científica. E embora muitos julguem que Ciência e

Religião são incompatíveis, Spencer julgou-as conciliáveis, pois são teorias a priori do

Universo e reconhecem que a realidade última é incognoscível. A diferença é que enquanto a

função da Religião é manter vivo o sentido do mistério, a função da Ciência é procurar

desvelá-lo, embora sabendo que nunca conseguirá captá-lo plenamente. Ademais a devoção à

Ciência é um culto tácito.

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Nos capítulos subseqüentes Spencer defendeu a mudança de método. No segundo

capítulo, De l’éducation intellectuelle, mostrou a ineficiência dos métodos mecânicos,

alicerçados na memorização dos conteúdos. Para ele, no método decorativo o mestre limita-se

à exposição dos conteúdos dos livros e exige a repetição por parte dos alunos. Considera a

criança uma tábula rasa, uma mera receptora de idéias alheias. Apoiando-se na máxima de

Montaigne de que “savoir par coeur, n’est pas savoir” defendeu a necessidade de um método

novo. Mostrou simpatia pelas idéias do pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi, segundo o qual

a educação é um processo que deve seguir a natureza, uma vez que o homem é bom, e cabe

aos mestres ajudar a desenvolver as faculdades naturais do educando por intermédio da

educação intelectual, moral e profissional organizada em torno da observação e da

experiência. Spencer considerou as idéias do pedagogo muito boas e julgou que não haviam

logrado êxito em virtude da falta de preparo dos mestres. Inspirado nas idéias pestalozzianas,

mas respeitando também as linhas centrais do seu pensamento, propôs um método de

educação intelectual no qual a observação e a experiência tinham importância fundamental.

Defendeu que os mestres devem transmitir o conhecimento científico partindo do simples

para o complexo, do indefinido para o definido, do concreto para o abstrato, do empírico para

o racional, respeitando a evolução psicológica do discípulo. Os mestres devem oferecer

algumas noções científicas e deixar o educando tirar suas próprias conclusões. Seguindo esse

itinerário o aprendizado seria compatível com as leis da natureza, espontâneo e agradável. Um

homem educado desse modo estará preparado para se auto-instruir a vida toda.

No terceiro capítulo, De l’éducation morale, defendeu uma nova forma de cuidar

dessa modalidade de educação. Para Spencer a evolução social depende do aperfeiçoamento

do caráter dos indivíduos que compõe o organismo social e não das reformas das instituições

como se costuma pensar. Para realizar a tarefa de preparar os filhos para a vida, a família,

responsável por esse tipo de educação, deve mostrar as conseqüências das boas e das más

condutas para que eles possam conhecer a justiça das penalidades que serão aplicadas pela

natureza. Ao contrário de muitos pedagogos do dezenove, Spencer o rejeitou o uso do castigo

por acreditar que a pena deve ser produzida pela vias naturais. Para ele “la sauvagerie

engendre la sauvagerie et la doucere engendre la doucere”. Antes de tomar qualquer atitude

despótica a família deve lembrar que o alvo da educação é formar um ser apto ao governo de

si mesmo e não um ser apto a governar os outros. As crianças independentes de hoje serão os

pais independentes de amanhã.

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No quarto capítulo, De L’éducation physique, alertou para a estranha negligência em

relação à educação física. Para ele isso é inadmissível, pois a evolução social depende do

vigor físico dos seus indivíduos. Atendendo às mais simples leis fisiológicas as crianças

devem receber uma nutrição substancial e praticar exercícios físicos, de preferência o jogo. Os

excessos devem ser evitados, pois são prejudiciais. Deve-se tomar cuidado com o excesso de

atividade intelectual porque o esforço excessivo para adquirir conhecimento reflete-se no

corpo.

Um outro tema discutido na obra, ainda que transversalmente, foi o papel do Estado

em relação à educação. Spencer se posicionou contra a tendência do Estado de se

responsabilizar pela educação. Para ele, esta deve ser regulada pelas leis do mercado. Do

mesmo modo que não se deve interferir na economia de uma nação, não se deve interferir na

educação. Julgou que as leis da sociedade têm um caráter tal que os males naturais são

corrigidos pelo princípio de auto-adaptação. Assim, o Estado é útil somente para manter a

ordem, do restante o princípio de auto-adaptação se encarrega 239.

O intelectual sergipano leu essa obra atentamente, pelo menos o primeiro capítulo, no

qual fez diversas anotações. Nos demais capítulos assinalou apenas a data em que o ensaio foi

originalmente publicado. No segundo capítulo, referente à educação intelectual, dobrou a

orelha da primeira página, talvez uma promessa de leitura futura. Artur e Argeu Guimarães

afirmaram em suas memórias que Sílvio não lia sem “apostilhar”.240 Contudo, não há indícios

suficientes para assegurar que os capítulos desprovidos de anotações não tenham sido lidos.

Sílvio usou inúmeros sinais para assinalar as passagens mais importantes. Nesse texto

foram comuns: o uso de asteriscos, traços verticais simples ou duplos, sublinhados simples ou

duplos e as letra V e W para assinalar o início e o fim do trecho selecionado.

Nas páginas do capítulo primeiro ele deixou diversas marginálias: As anotações foram

em sua maioria de síntese. Ele foi resumindo passo a passo as informações fornecidas pelo

239 Cf. SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894. 240 Cf. GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; e GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915.

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autor, como se estivesse tentando decodificá-las. Escreveu, por exemplo: “(Decoração)”241;

“(Mulheres)”242, “Sociedade e indivíduo”243; “(A utilidade real e relativa)”244; “(As 3 se

completam e devem ser dadas conjuntamente)”245; “(Meios práticos)”246; “(Estão ligados)”247;

“1º Conselho: liberdade”248; “(Guias naturais)”249; “2º Conselho: sciencia de conservar a

saúde: Hygiene”250; “(Instrucção Supplementar)”251.

Não deixou no livro nenhuma anotação sobre a função da educação. Mas a leitura dos

escritos sobre o tema permite perceber que concordou com Spencer nesse ponto. No texto

Notas sobre o ensino público, publicado em 1902, afirmou que a educação é uma das

principais conquistas das sociedades modernas e é imprescindível como “arma de

aperfeiçoamento na luta pela existência”. Mostrou o quanto foi fundamental no soerguimento

da Prússia após a derrota para os franceses em 1906 e como auxiliou no desenvolvimento de

grandes nações como Estados Unidos, Suíça, Dinamarca, Inglaterra e França. 252 No livro

241 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 4 [margem dianteira]. 242 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 4 [margem dianteira]. 243 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 6 [margem medianiz]. 244 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 9 [margem inferior]. 245 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 10 [margem dianteira]. 246 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 13 [margem dianteira]. 247 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 16 [margem medianiz]. 248 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 20 [margem dianteira]. 249 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 21 [margem medianiz]. 250 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 22 [margem medianiz]. 251 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 39 [margem dianteira]. 252 ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 137.

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América Latina, editado em 1906, mencionou que a educação é “o alimento forte e sadio da

hereditariedade”, pois permite a adaptação e se bem dirigida forma novos hábitos que se

transmitem por herança.

A mais incisiva anotação de concordância foi: “(Agradável solução e útil)” 253. Essa

apreciação foi feita quando Spencer anunciou a idéia de que o ensino clássico deve ser

substituído pelo científico. O momento em que Sílvio leu essa obra coincide com a discussão

no país sobre o conteúdo que a escola deve transmitir aos seus alunos. Nesse debate houve

uma polarização entre humanistas e utilitaristas. Os primeiros defenderam veementemente o

ensino das Humanidades, pois julgavam estes conteúdos capazes de formar homens com

espírito mais largo, com condições de conduzir os negócios públicos sem questionar e ameaçar

a ordem estabelecida. Os últimos advogavam a favor do ensino das Ciências, pois as julgavam

necessárias para tornar possível a vida civilizada.254

Em certo passo do texto Spencer afirmou que na Inglaterra leva-se em consideração

menos o valor real do conhecimento do que o efeito que ele pode produzir perante a

sociedade. Sílvio anotou: “(Isto na Inglaterra. Aqui está peior!!)” 255. Spencer também

mencionou que nas escolas públicas da Inglaterra os conhecimentos científicos, realmente

úteis, são relegados à posição de instrução suplementar. Romero anotou na margem medianiz:

“(Brasil peior)” 256.

253 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 2 [margem superior]. 254 Cf. CHERVEL, André; COMPÈRE, Marie-Madeleine. Les humanités dans l’histoire de l’enseignement français. Histoire de l’Éducation, Paris, INPR, n. 74, p. 5-38, mai. 1997 ; LUCAS, Maria Angélica Olivo Francisco e MACHADO, Maria Cristina Gomes. A influência do pensamento de Herbert Spencer em Rui Barbosa: A ciência na criação da escola pública brasileira. Disponível em: <http://www.faced.ufjf.br/educacaoemfoco/integraartigo.asp?p=13,10>. Acesso em: 23/01/2005; LUCAS, Maria Angélica Olivo Francisco. A concepção de estado e educação em Herbert Spencer. Disponível em: <http://www.ppe.uem.br/publicacao/sem_ppe_2001/FDE/FDE177-182.PDF>. Acesso em: 23/01/2005; SANTOS, Fábio Alves dos. Rui Barbosa e o ensino no Pedro II: um discurso pedagógico oitocentista. 1880-1885. Dissertação (Mestrado) - Programa de Estudos Pós-graduados em Educação, História, Política e Sociedade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005. 255 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 8 [margem dianteira]. 256 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 39 [margem dianteira].

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Essa questão foi debatida amplamente por Sílvio nos textos Notas sobre o ensino

público, O Brasil na primeira década do século XX e O remédio. No primeiro texto, publicado

no alvorecer do século vinte, mas com algumas seções preparadas durante a década de noventa

do dezenove, portanto antes da aquisição de De L’éducation intellectuelle, morale e physique,

editado em 1897, Sílvio condenou a ênfase no ensino prático, científico. Ao tratar dos

conteúdos a serem ministrados nas escolas primárias ironizou:

Nos livros de leitura nada de cantos, de lendas, de creações estheticas, de historias verídicas ou phantasiosas: exigiremos, pelo contrário, receitas práticas, pedaços de physica, chimica, tiradas sobre os saes, as tintas, suas applicações às indústrias, sobre as madeiras, os metaes, tudo bem pratico... É para, desde a mais tenra idade, irmos preparando as cabeças dos pequenos para as lides da vida, os officios, os empregos...: Nada de litteratices, de rhetorismos; o realismo da sciencia em doses adaptáveis às diversas edades e aos diversos grãos em que dividiremos o ensino primário, o realismo da sciencia, este sim, é o nosso ideal.257

Sua opinião não era diferente em relação ao ensino secundário. Era contra a

substituição do ensino de “humanidades clássicas” pelo que denominou “humanidades

modernas” pautadas pelo “industrialismo americanizado”, numa alusão ao fato da defesa do

ensino científico ser defendido com mais entusiasmo nos países anglo-saxões. Afirmou que o

ensino não deve ser livresco e alheio à vida do estudante, mas também não deve ser voltado

exclusivamente para a prática. Para ele, o cultivo das línguas e literaturas clássicas é

fundamental para quem aspira a uma “cultura humana, desinteressada e idealista”.258

Contudo, em outra seção do texto, sobre a organização do ensino secundário, talvez

escrito em data posterior à leitura de Spencer, nota-se sua inclinação pelas disciplinas

científicas. Ao discorrer sobre o currículo a ser seguido, recomendou o ensino de Português,

Latim, Francês, Inglês, Alemão, Matemática (Aritmética, Álgebra, Geometria e

Trigonometria), Cosmografia, Física, Química, Geografia, História Natural (Geologia,

Minerologia, Botânica e Zoologia), História Universal, Corografia, História do Brasil,

257 ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 142. 258 Cf. ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 145.

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Literatura Brasileira, Lógica e Desenho. Sugere a exclusão de diversas disciplinas clássicas

como: Religião, Grego, Italiano, Retórica, Poética, Literatura Universal e Música. O

currículo proposto por Sílvio é predominantemente científico, a despeito das observações

feitas em seção anterior. 259

Em trecho sobre o ensino superior voltou à carga contra o “industrialismo

pedagógico”. Mais uma vez foi mordaz:

Introduziremos também a feição prática: a nossa obsessão é a prática: dêm-nos a pratica... Dest’arte, accrescentam os idolatras da pedagogia do industrialismo contemporâneo, o ensino superior deve ser reduzido áquelles cursos correspondentes às profissões, e tudo com o caracter indefectível, indispensável de visar o fim, a imorredoura – pratica. História moral, philologia, religiões comparadas, archeologia, esthetica, philosophia, tudo isto é fútil, porque não abre a porta a uma carreira não pode ser um meio de vida... Tal é a summa das pretensões dos realistas modernos em matéria de instrução.260

Já nos textos O Brasil na primeira década do século XX e O Remédio não deixou

dúvida acerca da sua mudança de posição quanto à fertilidade do ensino científico. Propôs que

fossem ministradas nas escolas brasileiras as “humanidades contemporâneas”, que permitem

compreender o modo de agir e pensar dos povos diretores hodiernos, os norte-americanos e os

ingleses. 261 Parece que após a leitura de Spencer e, provavelmente, de outros autores com

idéias semelhantes, convenceu-se da superioridade do currículo científico voltado para a

prática.

259 ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 148. 260 ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: : ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 150. 261 Cf. ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912; ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado, 2001.

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Um outro ponto em comum com Spencer é a convicção de que as matérias devem

partir do simples para o complexo, do concreto para o abstrato, levando-se em consideração a

evolução da constituição intelectual dos discípulos.262

Também são coincidentes as opiniões de Spencer e Sílvio a respeito da ineficiência

das reformas das instituições para solucionar os problemas sociais. Para o intelectual

sergipano os males do Brasil não podem ser atribuídos à política e por essa razão não

podemos procurar soluções políticas. No caso do ensino, por exemplo, as reformas são

improfícuas. Sílvio evidenciou, que até o momento em que escreveu O Brasil na primeira

década do século XX, a República havia tentado seis reformas de ensino (A Reforma

Benjamin Constant, a remodelação desta por João Barbalho, a Reforma de Epitácio Pessoa, a

Reforma da Câmara dos Deputados, a Reforma do Senado e a Reforma de Emeraldino

Bandeira) sem sucesso. Na sua opinião, “a realidade é que o ensino público, entre nós, está

completamente desorganizado e não haverá reforma que o endireite, enquanto perdurar o

desmantelo geral de nossa educação, a crise moral de nosso caracter”.263 Para ele, temos

investido nas reformas porque “não queremos confessar a verdade: certa incapacidade

orgânica, oriunda de vícios étnicos, falta de educação ou seleção, apta e extirpá-los nuns

casos, e minorá-los noutros”.264 Retomou a idéia no discurso O remédio. Aconselhou os

jovens bacharéis, seus interlocutores, a “fugir do sestro de enxergar a política em tudo e da

crença infantil de supor que reparos ou remendos de momento sejam capazes de afugentar os

males de qualquer nação” 265. Para reforçar seu ponto de vista citou um trecho de Liberdade e

Servidão, obra na qual Spencer retomou a discussão:

o funcionamento das instituições é fatalmente determinado pelo caráter dos homens, e os defeitos neles existentes trarão inevitavelmente maléficos resultados [...]

262 Cf. ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: _______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 127-216. 263 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p. 139. 264 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p. 142. 265 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 247.

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Um erro fundamental que penetra o pensar de quase todos os partidos, políticos ou sociais, é que os males podem ser corrigidos com panacéias imediatas e radicais [...] Entretanto, tudo que se pareça com uma cura imediata é de todo impossível. Só a modificação lenta da natureza humana, sob a disciplina da força social, pode produzir mudanças vantajosas de cunho permanente.266

Apesar de acreditar que de nada adianta as panacéias políticas sem a modificação do

caráter do povo, discordou da opinião de Spencer em relação ao Estado. Enquanto o pensador

inglês defendeu que o Estado tem papel secundário na resolução dos problemas sociais, Sílvio

defendeu peremptoriamente a intervenção estatal. No texto Notas sobre o ensino público267,

criticou quem pensa o contrário:

A pretensão de afastar o Estado de qualquer intervenção no ensino do povo é uma idéia só abraçada, na actual situação das cousas, especialmente no Brasil, por duas ordens de indivíduos: certa classe de sectários fanáticos que, de sobejo já hão feito mal à República, e que defendem tal idéa com o plano preconcebido de se apoderar do espírito popular e certa ordem de indivíduos: levianos, que não meditaram ainda seriamente neste problema.268

Em Obrigatoriedade e liberdade do ensino e nas Notas sobre o ensino público atribuiu

ao Estado a tarefa de zelar pela obrigatoriedade de ensino. Considerou a obrigatoriedade do

ensino uma das principais conquistas das sociedades modernas. Para torná-la efetiva sugeriu a

gratuidade aos pobres, através da criação de comissões escolares com o objetivo de arrecadar

fundos para tal, difusão de escolas por todo o país e imposição de penas como multas, perda

de certos poderes políticos e prisão em caso de reincidência, aos pais, tutores, protetores que

não mandarem seus filhos e protegidos à escola. 269

266 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 242. Seria importante analisar a apropriação de Liberdade e Servidão para compreender melhor esta questão, mas infelizmente a obra não consta da Biblioteca de Sílvio Romero. 267 ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 127-216. 268 ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901, p. 171. 269 Cf. ROMERO, Sílvio. Obrigatoriedade e liberdade de ensino. In: ______. Estudos de Literatura Contemporânea. Páginas de crítica. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p. 141-146; ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901.

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Defendeu também a liberdade de ensino. Segundo Sílvio há duas concepções distintas

acerca da liberdade de ensino: a brasileira e a prussiana. A brasileira permite que qualquer

pessoa possa ensinar desde que siga os programas formulados pelo governo. A concepção

prussiana controla o acesso ao magistério, exigindo uma instrução sólida, e garante a

liberdade de métodos e doutrinas. Sílvio preferiu a última concepção, pois avaliou que é

função do Estado intervir exigindo habilitação dos professores, mas não é sua atribuição

julgar métodos e doutrinas, estes devem ficar ao critério do profissional. Além disso, julgou a

concepção de liberdade de ensino brasileira nociva porque, ao permitir que qualquer pessoa

ensine, favorece o charlatanismo.

Para Sílvio, só a União pode imprimir um caráter nacional à educação. Cabe ao Estado

a tarefa de controlar o ensino público primário, fornecer as diretrizes do ensino público

secundário através de colégio modelo, fiscalizar as escolas particulares, organizar os

concursos para habilitação de professores, delimitar as matérias a serem estudadas e fiscalizar

os exames finais. Apenas o ensino superior deve ser confiado à iniciativa particular. O Estado

deve abster-se completamente desse ramo porque cabe a poucos e versa sobre “os mais árduos

pontos doutrinários, envolve necessariamente a vexata questio da religião e da philosophia de

cada um, terreno em que o Estado não tem que por o pé sob pena de disparates”.

Uma outra discordância foi emitida por Sílvio em relação à educação integral. Spencer

defendeu que a educação intelectual, a moral e a física possuem valor idêntico e que se

auxiliam mutuamente. Sílvio anotou: “Tudo unido: a physica ajuda a moral e a intellectual

(Provas)” e “A moral ajuda a physica e a intellectual (Provas)”, “A intelectual ajuda a

phisica e a moral (Provas)”.270 É difícil inferir se essas observações são de síntese ou de

concordância. Como nesse passo do texto, Spencer apenas afirmou a inter-relação entre os

tipos de educação, mas não apresentou argumentos que comprovem a assertiva, o nosso leitor

poderia estar solicitando-os para decidir se a afirmativa procede. No entanto, no texto O

remédio, é possível notar que Sílvio foi convencido de que a educação intelectual, a moral e a

física podem auxiliar-se. Nele afirma: “o que se refere aos exercícios físicos e à instrução

intelectual – não tem valor, não aproveita, no caso, senão tanto quanto são indispensáveis para

270 SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 18 [margem inferior].

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ajudar a solução de nosso problema: a educação moral, a formação do caráter”.271 A partir

dessa afirmação não resta dúvida de que para Sílvio a educação intelectual e a educação física

ajudam a educação moral. Esse trecho evidencia também uma discordância: enquanto Spencer

postula o valor idêntico da educação intelectual, da moral e da física, para Sílvio a educação

moral é mais importante, ao menos para a realidade brasileira, que as demais modalidades da

educação, uma vez que elas só têm valor caso auxiliem a formação do caráter.

3.2 APROPRIAÇÃO DE OBRAS DA ESCOLA DE CIÊNCIA SOCIAL

Nesta seção analiso a apropriação de algumas obras da Escola de Ciência Social,

Escola da Reforma Social ou Escola Social de Le Play, vertente que tinha como marca a

aplicação das investigações sociológicas. São analisadas quatro obras: Histoire de la

formation particulariste, de Henri de Tourville, A quoi tient la superiorité des anglos saxons?

e Education nouvelle: l’École des Roches de Edmond Demolins, e La vie americaine:

l’éducation et la société de Paul de Rousiers. Para isso é importante conhecer o fundador da

escola sociológica e as suas principais idéias.

O fundador da referida escola sociológica foi Pierre Guillaume Frédérich Le Play

(1806-1882). Nasceu na Riviere St. Laveur, na França. Estudou no Collège du Havre, na

École Polytechnique e na École des Mines de Paris. Desta última tornou-se professor e

dirigente. Foi membro da Comission Permanente de Státistique de l’Industrie Minerale,

através da qual fez várias viagens de 1829 a 1853 para Inglaterra, Escócia, Irlanda, Bélgica,

Áustria, Alemanha, Rússia, Turquia e Itália. Nelas aproveitou para coligir dados para o

desenvolvimento de suas pesquisas.

De posse desses dados publicou: Les ouvriers européens (1855), La réforme sociale

en France (1864), L’organisation du travail (1870), L’organization de la famille (1871), La

Constitution de l’Angleterre (1875), La méthode sociale (1879), La constituition essentielle de

271 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 245.

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l’humanité (1881). Fundou a Societé Internacionale des Études Pratiques d’Economie

Sociale, a Unions de la Paix Sociale, a École des Voyages e o periódico La Réforme Sociale

com o objetivo de difundir seu método de pesquisa.

Como seus contemporâneos, Le Play era adepto da ciência nomotética. Almejou

descobrir as leis imutáveis que governam os fenômenos sociais. Porém, recusava-se a

encaixar os fatos nos sistemas teóricos construídos a priori. Apostou na observação metódica

como estratégia para fazer a “autópsia do corpo social”. Cumprida a tarefa de coleta das

informações procurou classificar os fatos observados utilizando procedimentos estatísticos e

comparativos para em seguida dispô-los em monografias.

A partir de suas investigações Le Play descobriu que as sociedades são felizes quando

asseguram o pão cotidiano e praticam a lei moral, responsável pelo controle do livre-arbítrio

que completa a natureza imperfeita do homem. No século dezenove as sociedades européias

viviam um momento de instabilidade. Localizou o início desta instabilidade no século anterior

quando as transformações provocadas pela Revolução Industrial levaram a predominância do

espírito de novidade sobre o espírito de tradição. Reconheceu que as inovações

contemporâneas melhoraram a vida material, mas desorganizaram a vida moral. Caberia às

autoridades executar um plano de reformas que mantivesse as conquistas humanas e ao

mesmo tempo recuperasse a felicidade perdida pela rapidez das transformações. Para Le Play,

a Ciência Social poderia cumprir papel importante neste processo.

O sociólogo elegeu a família como a unidade social por excelência. Entendeu que o

progresso e a prosperidade da nação dependem da sua adequada organização. Entretanto, nem

todas as famílias estão constituídas sobre as mesmas bases, nem apresentam características

idênticas. Le Play distinguiu três classes de organização familiar: a família patriarcal, a

família instável e a família troncal.

Na família patriarcal o pai exerce uma ampla autoridade sobre os filhos. Estes, mesmo

casados, permanecem ao lado do patriarca. Quando o pai falece os bens são transferidos para

o primogênito que se torna o novo chefe de família. Neste modelo de organização familiar o

pão cotidiano não falta, pois a produção é controlada mediante as necessidades diárias da

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família; e a lei moral impera, uma vez que as crenças religiosas estão arraigadas e são

responsáveis pela manutenção dos costumes sociais.

Na organização familiar instável a figura do pai não é tão importante. Ao contraírem

matrimônio os filhos abandonam a casa paterna. Nesta ocasião recebem um dote e passam a

dispor exclusivamente do rendimento do próprio trabalho. Quando o pai morre os bens são

distribuídos igualitariamente entre os filhos. Essa divisão forçosa pode levar a fragmentação

da propriedade ou ao desaparecimento de estabelecimentos comerciais e industriais prósperos.

Neste modelo de família o pão nem sempre é assegurado, pois os filhos, solteiros ou casados,

podem ou não conseguir rendimento suficiente para assegurar a própria sobrevivência e de

sua prole a depender das suas aptidões. A lei moral nem sempre vigora, porque sem a

autoridade paterna e a ênfase nas crenças religiosas os indivíduos ficam vulneráveis às más

inclinações. Essa disposição familiar teria levado a sociedade européia ao pauperismo e ao

desregramento moral.

Na família troncal há uma conciliação entre a autoridade do pai e a liberdade dos

filhos. Um dos rebentos casados permanece associado aos pais, os demais recebem um dote e

adquirem a independência. Quando há morte prematura do herdeiro associado, os

descendentes deste tipo de família renunciam à liberdade adquirida e colocam-se à disposição

para regressar ao lar natal e ocupar o lugar do irmão falecido. Esse modelo satisfaz tanto

aqueles que se adaptam às suas origens quanto aos que querem elevar-se na hierarquia social

através de empresas aventuradas. Caso ocorra algum infortúnio haverá sempre a possibilidade

de contar com o auxílio da família. Assim, o pão cotidiano não é colocado em risco. Neste

tipo de organização familiar há também a valorização do conjunto de tradições herdado dos

antepassados. Desse modo, há a garantia da existência da lei moral. Le Play acreditou na

superioridade desta forma de organização familiar, pois estabelece o meio termo entre a

família patriarcal demasiadamente presa ao culto à tradição e a família instável, dominada

pelo espírito de novidade.

O sociólogo francês advertiu que se nos tempos antigos a família bastava para garantir

aos indivíduos sua vida material e a manutenção da lei moral, a constante industrialização das

sociedades modernas exigiu uma modificação nas condições do trabalho e nas relações entre

patrões e operários, cuja base deveria ser a substituição da autoridade do pai pela do patrão

(patronato), que deveria atuar como tutor e vigilante de seus trabalhadores.

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Conforme Le Play, nas sociedades bem constituídas, isto é, quando a autoridade do pai

na família troncal e do patrão na fábrica se encontra fundamentada sobre sólidos cimentos, o

papel do Estado é restringido. Ele ocupa-se apenas das funções que não podem ser atribuídas

à família e à associação. 272

Apesar de ter produzido uma obra numerosa a Escola de Ciência Social não aparece

com destaque nas histórias da Sociologia. Ela é timidamente citada por Lepenies, Cuin e

Gresle, Peter Laslett, Scott e Tily e Hervé Le Bras, Emmanuel Todd e Kalaora e Savoye.

Estes últimos atribuem o obnubilamento desta tradição sociológica à indissociabilidade entre

ciência e ação que gerou dificuldades de estabelecer trocas intelectuais com os cientistas

sociais universitários partidários da neutalidade do saber e do descompromisso do pesquisador

e devido aos acordos políticos dos leplaysianos, especialmente suas ligações com o clero

católico.273

Após a morte de Le Play seus seguidores envolveram-se numa série de conflitos,

frutos dos interesses diversificados daqueles que se julgavam os verdadeiros herdeiros dos

propósitos do mestre. Um grupo permaneceu à frente do periódico La Réforme Sociale e

voltou-se para a elaboração de instrumentos de intervenção social. Entre os integrantes desse

grupo estão: Émile Cheysson, Maurice Bellon, Patrick Geddes, Vitor Branford e Charles

Booth. O outro fundou a revista La Science Sociale e investiu no aprofundamento do estudo

das famílias, via de acesso para a compreensão da sociedade. Entre seus membros estão:

Henri de Tourville, Edmond Demolins, Paul de Rousiers, A. de Préville, Léon Poinsard, Paul

Bureau, Martin Saint-Léon, Robert Pinot, M. Vignes e Vidal de La Blache. Ambos os grupos

tinham em comum a concepção de uma ciência social que deve servir à intervenção. O

desacordo devia-se a uma diferente apreciação sobre a dosagem da ciência e da reforma.274

272 Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas. Tese (Doutorado) - Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001; PEREIRA, Gisela Maria Bandeira. A escola de Le Play e a sua influência no pensamento romeriano. In: _______. O culturalismo sociológico em Sílvio Romero. São Paulo: [S.n.], 2001; BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. The family in the works of Frédérich Le Play. Dados, Rio de Janeiro, v. 45, n. 3, p. 513-544, 2002. 273 Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989. 274 Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-

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No Brasil, a Escola de Ciência Social teve como principais adeptos Sílvio e os seus

discípulos Artur Guimarães e Oliveira Viana. Neste trabalho são estudadas a apropriação de

obras de Henri de Tourville, Edmond Demolins e Paul Rousiers pelo intelectual sergipano

3.2.1 APROPRIAÇÃO DE HISTOIRE DE LA FORMATION PARTICULARISTE :

L’ORIGINE DES GRANDS PEUPLES ACTUELS, DE HENRI DE TOURVILLE

Henri de Tourville (1842-1903) nasceu na Normandia, na França. Estudou Direito na

École de Chartres, mas não seguiu carreira. Escolheu o sacerdócio. Quando conheceu Le Play

abandonou os deveres sacerdotais para se dedicar aos estudos sociológicos. Foi membro da

Societé Internacionale des Études Pratiques d’Economie Sociale. Editou os periódicos La

Réforme Sociale e La Science Sociale.275

Histoire de la formation particulariste é a reunião de artigos publicados pelo autor na

revista La Science Sociale, de fevereiro de 1897 a 1903, ano de sua morte. O livro foi editado

pela Firmin-Didot et Cie em data desconhecida.

A obra foi impressa em formato in-8, um dos padrões de Firmin-Didot. Na sua

elaboração foi empregado o tipo romano com corpo 9, entrelinhamento com 4 pontos em

relação ao corpo. O exemplar apresenta margem superior, dianteira e medianiz de 2 cm e

margem de 3 cm. As margens originais foram respeitadas pelo encadernador da Livraria F.

Briguiet et Cie., no Rio de Janeiro. Há alguns aparelhos críticos como advertência do editor,

notas explicativas e de referência e índice analítico.

Na advertência o editor informa que foi respeitado o título que o autor havia dado à

série de artigos, mas foi acrescentado o subtítulo L’origine des grands peuples actuels para

atrair um público mais amplo, uma vez que o título é claro para o público especializado, leitor

Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas. Tese (Doutorado) -Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001. 275 Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas. Tese (Doutorado) - Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001.

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da revista La Science Sociale, conhecedor das doutrinas da Escola Social de Le Play, mas

obscuro para o grande público.

O objetivo da obra é estudar numa perspectiva histórica a ascensão dos povos de

formação particularista. A obra foi dividida em 30 capítulos. Tourville fez um histórico da

formação dos povos da era antiga até a contemporânea. Estudou a invasão da Roma Antiga,

destacando os germânicos, os góticos, os noruegueses, os saxões e os francos. Analisou o

Império Carolíngio, do apogeu à decadência. Estudou o surgimento e o auge do Feudalismo

Investigou a introdução dos saxões na Grã- Bretanha, o predominio desses povos sobre os

celtas, normandos e dinarmaqueses e a aliança como os anglos. Analisou o Renascimento

Comercial, a descoberta das Índias Orientais e Ocidentais, o surgimento das Monarquias

Européias, a Revolução Francesa, o Império Alemão e os grandes povos particularistas atuais:

ingleses e norte-americanos.

Henri de Tourville é considerado um dos principais renovadores da Escola de

Ciência Social, pois procurou integrar as monografias de famílias e as monografias de

sociedades, procurando realizar de forma inovadora o que seu mestre havia tentado sem muito

sucesso. Para cumprir tal objetivo, investiu na criação de uma nomenclatura dos fatos sociais,

entendida como instrumento que permitiria, partindo da análise da família, estudar as

sociedades. Nesta nomenclatura, os fatos sociais são distribuídos em 25 grandes classes

(lugar, trabalho, bens imóveis, bens móveis, salário, economia, poupança, fases de existência,

patronato, comércio, culturas, intelectuais, religião, vizinhança, corporações, comuna, reunião

de comunas, cidades, comarca, província, estado, expansão da raça estrangeira, história da

raça e hierarquia da raça) que favorecem a descrição metódica da realidade através do

isolamento dos fatos sociais essenciais, sobretudo porque permite ascender a uma explicação

pelo estudo da ação e da reação dos fatos entre si.

Seguindo essa metodologia para a análise da formação dos povos o sociólogo francês

classificou as sociedades humanas em dois tipos: a sociedade de formação comunária e a

sociedade de formação particularista. As sociedades de formação comunária são constituídas

por povos que procuram resolver os problemas da existência apoiando-se na coletividade,

quer da família, da tribo, do clã, do município, da província, do Estado. Notou que as

sociedades comunárias são mais numerosas e apresentam três modalidades típicas conforme a

espécie de família que lhes serve de apoio: a comunária de família, a comunária de família e

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Estado e a comunária de Estado. As duas primeiras são comuns no Oriente Europeu e

Asiático e a última na Europa Central e na América do Sul.

Ao contrário das sociedades de formação comunária, as de formação particularista

procuram solucionar os problemas da vida firmando-se na energia individual, na iniciativa

privada. As sociedades particularistas são menos numerosas e tem como principais

representantes a Inglaterra e os Estados Unidos. Para Tourville, os povos particularistas são os

mais preparados para os desafios da contemporaneidade e para que as outras sociedades

consigam atingir a felicidade devem inspirar-se no modelo de educação desses povos para

transformar a índole comunária em índole particularista.276

276 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.],

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Figura 12 – Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels, de Henri de Tourville

Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório. Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste. 2004. Acervo pessoal.

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As anotações que Sílvio deixou nessa obra foram parcas e têm o caráter de síntese:

“(Comércio longo –antigo)”277; “Godos e saythes”278; “(Germans)”279; “Invasões –

Razão”280; “(O ponto de partida)”281; “(Origens)”282; “(A formação)”283; “(As invasões)”

e “(As transformações)”, “os germânicos são superiores aos romanos possuem forma social

superior formação particularista”284; “Vassalalidade, Patronato, Benefício, Colonato,

Servidão, Recomendação”285; “Noruega/ Planície Saxônica/ França do Norte/ Inglaterra do

Sul/ Estados Unidos/ Austrália/ Canadá/ Nova Zelândia”286

A importância de Henri de Tourville para a elaboração do pensamento social e

pedagógico de Sílvio pode ser aquilatada a partir da leitura dos seus textos.

Em 1904, no prefácio do livro Problemas brasileiros, de Artur Guimarães, afirmou

que os homens cultos do Brasil não têm “lançado as vistas sobre os belos trabalhos da Escola

de Le Play”. A corrente sociológica tem sido citada uma ou outra vez sem grande destaque.

Os professores também não a têm adotado nos seus cursos. Notou ser o único que, há poucos

anos, tem ensinado as doutrinas dessa escola, que na sua opinião tem os melhores trabalhos

277 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 28 [margem dianteira]. 278 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 31 [margem superior]. 279 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 32 [margem medianiz]. 280 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 40 [margem inferior]. 281 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 42 [margem medianiz]. 282 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 60 [margem dianteira]. 283 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 70 [margem inferior]. 284 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 100 [margem dianteira]. 285 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 166 [margem superior]. 286 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 260 [margem superior].

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sobre a índole das nações. Afirmou, inclusive, que os dois últimos capítulos da obra

prefaciada foram solicitados por ele “para servirem de subsídio e documentação” ao trabalho

sobre o Brasil que estava preparando à luz dos processos da escola.287

Seu encantamento pelos métodos empregados por Le Play e seus discípulos evidencia-

se nessa passagem:

Lançam mão de processos de observação local, estudando com monografias especiais cada região do pais sob as mais variadas faces, conforme uma enumeração de questões. Depois de reunida grande massa de documentos do gênero é que os mestres do sistema se atrevem a formular quadros gerais desta ou daqueles nacionalidade e estabelecer as leis de seu desenvolvimento.288

Para Sílvio os procedimentos desta escola são preciosos para quem quer conhecer um

país e o povo que o habita. Revelou que, embora soubesse que fazer um quadro social do

Brasil sob essa direção demandaria muito tempo e trabalho, pretendia fazê-lo caso tivesse

saúde.

Ainda neste trabalho citou Histoire de la formation particulariste, de Henri de

Tourville. Afirmou que é um trabalho digno de leitura, essencial para quem deseja estudar a

índole de uma nação. Em seguida, apresentou os principais pontos da doutrina de Tourville: a

divisão da família em patriarcal, quase patriarcal, instável e tronco; e a divisão da sociedade

em comunária de família, comunária de família e de Estado, comunária de Estado e

particularista. Observou que é um estudo digno de leitura para quem estiver interessado em

conhecer profundamente a nação.

No livro America Latina, aconselhou o médico e pedagogo Manuel Bomfim a adotar

Histoire de la formation particulariste como livro de travesseiro, para não dizer tantos

287 ROMERO, Sílvio. O Sr. Artur Guimarães e seu novo livro (março, 1904). In: _______. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 25-42. 288 ROMERO, Sílvio. O Sr. Artur Guimarães e seu novo livro (março, 1904). In: _______. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 27.

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“impropérios” sobre o povo brasileiro e as nações européias.289 Nesta obra, apontou que a

cura para os males do pais não é a defesa da instrução como prega Bomfim, mas a educação

anglo-saxônica, a única capaz de transformar a índole comunária do povo brasileiro em índole

particularista.

No Brasil na primeira década do século XX, criticou aqueles que atribuem os

problemas do país à inércia dos políticos. Para ele, os problemas devem ser atribuído aos

defeitos decorrentes da formação comunária. Acredita que enquanto não utilizarmos os meios

necessários para modificar o “caráter intrínseco de nossas gentes”, o país permanecerá

mergulhado no atraso.

Em O remédio elencou Histoire de la formation particulariste entre os livros

imprescindíveis para estudar a educação brasileira. Voltou a afirmar a necessidade de

tranformar a índole comunária em índole particularista e indicou os métodos empregados por

“Henri de Tourville, Ed. Demolins, Paul de Rousiers, Paul Descamps, Léon Poinsard, Robert

Pinot, A. de Préville, Champault, Bureau”, os “ilustres” cultores dos processos de observação,

idealizados por Frédérich Le Play.290

3.2.2 APROPRIAÇÃO DE A QUOIT TIENT LA SUPERIORITÉ DES ANGLO-

SAXONS? E L’ EDUCATION NOUVELLE, DE EDMOND DEMOLINS

Edmond Demolins (1852-1907) nasceu em Marselha, na França. Fez os primeiros

estudos na terra natal. Estudou o secundário no Collège Jésuite des Mongré. Formou-se em

História na École de Chartres. Em Paris conheceu Fredéric Le Play e tornou-se um de seus

diletos discípulos. Foi membro da Societé Internacionale des Études Pratiques d’Economie

Sociale, da Union de la Paix Sociale, da Société de Geographie de Paris. Criou a Société pour

le développement de l’ initiative privée. Inspirado nos métodos pedagógicos ingleses fundou a

École des Roches. Dirigiu a revista La Réforme Sociale e fundou e dirigiu a revista La Science

289 ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello & Irmão, 1906, p. 264. 290 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 245.

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Sociale. É autor de A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? (1897), Le Français

d’aujourd’hui: les types sociaux du midi et de centre (1898), L'Éducation nouvelle: L'École

des Roches (1899), Le Français d'aujourd'hui: les types sociaux du Nord (1899), Comment la

route crée le type social: les routes du monde moderne (1900), A-t-on intérêt à s’emparer du

pouvoir? (1902), entre outras.291

A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? e L’éducation nouvelle são analisadas em

conjunto devido a organicidade das obras.

291 Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses continuateurs aux origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas. Tese (Doutorado) -Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001; ROMERO, Sílvio. Edmond Demolins. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 61-82; BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. The family in the works of Frédérich Le Play. Dados. vol. 45, n. 3, p. 513-544, 2002.

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Figura 13 – Folha de rosto de A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? por Edmond Demolins

Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório. Folha de rosto de A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? 2004. Acervo pessoal.

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A quoi tient la superiorité des anglo-saxons?292 era originalmente uma série de artigos

publicada na revista La Science Sociale. Em 1897, foram reunidos e transformados em livro

pela editora Firmin-Didot et Cie. O volume lido por Sílvio corresponde à sua quinta edição.

No verso da folha de rosto o editor fez um convite à leitura de outras obras do autor:

Du même auteur:

Les Français d'aujourd'hui: les types sociaux du Midi et du Centre. 8ª mille. Un vol, in-12, broché. 3 fr. 50 Cartonn percaline 4fr. 50 L'Éducation nouvelle - L'École des Roches. 9ª mille. - Un vol, in-12, avec de nombreuses illustration 3fr. 50 Cet ouvrage a été traduit en espagnol et en russe; cette dernière traduction a été fite par M. Pobedonostzeff, Procureur du Saint Synode. A quoi tient la superiorité des Anglo-saxons. - Éditions anglaise, allemande, espagnole, russe, romaine, polonaise et arabe. Conférence de M. E. Demolins à la Sorbonne sur l'avenir de l'Education nouvelle. Une brochure in-18 0 fr. 50 L'École des Roches: Nos élèves en Angleterre. Une brochure in-8º 0 fr. 75

En préparation:

Les Français d'aujourd'hui - les types sociaux du Nord.293

Além de estimular o leitor a comprar outros exemplares o editor anunciou as diversas

traduções, mostrando a importância da obra, o quanto ela tem sido requisitada. Apresentou

também o preço das obras e ofereceu um dos livros em brochura ou cartonado, para que o

leitor ficasse à vontade para escolher aquele que fosse mais adequado ao seu orçamento. Essas

estratégias parecem ter surtido efeito, uma vez que além de A quoi tient la superiorité des

292 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897. 293 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, verso da folha de rosto.

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anglo-saxons? Sílvio adquiriu L’Education nouvelle e Les Français d'aujourd'hui: les types

sociaux du Midi et du Centre294.

A obra em análise foi impressa em formato in-12, o principal padrão da casa Firmin-

Didot. Na sua confecção foi empregado o tipo romano com corpo 12, entrelinhamento com 4

pontos em relação ao corpo. O exemplar estudado apresenta margem superior de 2,5 cm e

margens inferior, medianiz e dianteira de 1,5 cm. As margens originais eram um pouco

maiores e foram reduzidas quando a obra recebeu encadernação. Isso fica evidente a partir do

corte sofrido por algumas das anotações feitas pelo leitor.

Há alguns aparelhos críticos como prefácios do autor, índice analítico e apêndice do

editor. No prefácio à primeira edição Demolins estabeleceu um diálogo com o leitor. Alertou

para “eviter toute confusion de la part du lecteur” que no segundo capítulo, quando

mencionou a Alemanha, estava se referindo à Alemanha nova e não a Alemanha antiga. No

prefácio à segunda edição rebateu críticas feitas por alguns leitores, especialmente a que

postula a superioridade dos alemães. Alguns críticos alegaram que na Alemanha é forte o

espírito de associação e que isso comprova a pujança do país no concerto das nações

européias. Demolins rebateu afirmando que as associações comerciais alemãs, organizadas

artificialmente, são eficazes para atenuar a inferioridade do meio, das condições de trabalho e

de uma formação social que cultiva mais a ação coletiva que a individual, mas não são

suficientes para suprimir essa inferioridade. Apontou como razão da inferioridade alemã o

regime político imperial implantado após a unificação, excessivamente centralizador e

opressor da iniciativa individual. Estas observações do autor foram sublinhadas por Sílvio

que, ao término do prefácio, observou: “Há erro n’esta apreciação da Allemanha”.295 Este foi

um prenúncio de algumas discordâncias do nosso leitor em relação à obra do sociólogo

francês. No apêndice preparado pelo editor foram publicadas resenhas favoráveis publicadas

na imprensa francesa e estrangeira por autores eminentes. Através desses mecanismos os

produtores procuraram guiar a leitura.

294 DEMOLINS, Edmond. Les français d’aujourd’hui: les types sociaux du midi et du centre. Paris: Firmin Didot, [1898?]; DEMOLINS, Edmond. L’Éducation nouvelle: l’École des Roches. Paris: Firmin-Didot, 1899. 295 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. XVI.

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Nesta obra Demolins estabeleceu como objetivo evidenciar que a superioridade da

Inglaterra e dos Estados Unidos no cenário mundial deve-se à formação particularista dos

povos anglo-saxões. Buscou subsídios na obra de outro discípulo de Le Play: Henri de

Tourville. Adotou a classificação da sociedade em povos de formação comunária de família,

de formação comunária de família e de Estado, de formação comunária de Estado e de

formação particularista. Nas formações sociais comunárias há o predomínio do interesse

coletivo sobre o interesse particular, da vida pública sobre a vida privada e há preferência

pelas profissões liberais e administrativas. Nas formações particularistas há a prevalência do

interesse particular, da vida privada e há maior procura pelas profissões relacionadas à

agricultura, à indústria e ao comércio. Assim como Tourville, julgou que os povos

particularistas são os únicos aparelhados para vencer os desafios da sociedade contemporânea.

Dividiu a exposição em três partes: Le français et l’anglo-saxon dans l'école, Le

français et l'anglo-saxon dans la vie privée e Le français et l’anglo-saxons dans la vie

publique.

No primeiro livro, Le français et l’anglo-saxon dans l'école, evidenciou que cada povo

organiza a educação à imagem e semelhança do seu estado social. Mediante esta convicção

analisou os regimes escolares francês, alemão e inglês com o fito de mostrar qual o modelo

mais adequado para ser adotado na França.

Mostrou que a França, habitada por povos de formação comunária de Estado, prioriza

a educação intelectual, a preparação dos discípulos para o ingresso nas carreiras liberais e

administrativas. Enfatizou que o conhecimento transmitido é superficial, apenas suficiente

para os exames necessários para o ingresso nas escolas superiores. O método de ensino é

mnemônico e visa a obtenção da docilidade.

Em seguida, avaliou o regime escolar vigente na Alemanha, país também constituído

por povos de formação comunária de Estado. Destacou que se o objetivo do regime escolar

alemão é preparar os indivíduos do ponto de vista técnico, oferecendo uma educação literária

de qualidade, do ponto de vista prático, tornando-os aptos para a tarefa de expansão do país, e

do ponto de vista político, formando defensores do Império. Demolins rejeitou o modelo

alemão, que na sua opinião não consegue cumprir o que propõe. Além disso, considerou a

educação oferecida na Alemanha, assim como a fornecida na França, incapaz de produzir

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homens com espírito de iniciativa como exige o desenvolvimento da sociedade

contemporânea.

Analisou também a experiência educacional inglesa. Mostrou que o seu alvo é

desenvolver todas as faculdades humanas. Para atingir esse ideal a escola prima pela prática e

oferece aos discípulos o contato com a natureza e a realidade das coisas. Cita como

exemplares as instituições de Albotsholme e de Bedales. As atividades desenvolvidas nestas

escolas compreendem instrução clássica, física, manual e artística. Ressaltou que a educação

inglesa é sustentada pela iniciativa privada, característica típica das sociedades de formação

particularista. Nas sociedade de formação comunária ocorre o oposto: o Estado controla a

educação a partir dos controle dos exames.

Após analisar os regimes escolares francês, alemão e inglês, debruçou-se sobre o

modelo que deve ser adotado para garantir um futuro luminoso para a França, uma vez que

julgou o modelo vigente inadequado às exigências da sociedade industrial. Avaliou que o

modelo anglo-saxão era o único capaz de corrigir as deficiências da formação social francesa

e livrar o país de uma profunda crise social

No segundo livro, Le Français et l’Anglo-saxon dans la vie privée, evidenciou que a

formação comunária de família e estado da sociedade francesa e o modelo de educação dela

decorrente faz com que os homens se mantenham ligados à família, à comunidade e seus

respectivos modos de existência, provocando uma redução da taxa de natalidade e

comprometendo a longo prazo a situação financeira do país; já a formação particularista dos

povos anglo-saxões e seu respectivo modelo educacional produzem homens de iniciativa

capazes de triunfar ante as atuais dificuldades e assegurar o mais alto grau de

desenvolvimento para o seu país.

Em Le Français et l’Anglo-saxon dans la vie publique, mostrou que a formação de

sociedade e família da França e o modelo de ensino levam os homens a esperarem que a

comunidade e o Estado resolvam seus problemas e a formação particularista dos anglo-saxões

incentivam os homens a resolver seus problemas com seus próprios esforços, apelando para

outras instâncias apenas em último caso. Para Demolins os povos anglo-saxões possuem

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maior possibilidade de alcançar a felicidade que os franceses. Uma solução seria tentar

modificar a França adotando o modelo anglo-saxão de educação.296

Sílvio leu atentamente A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? Assinou Roméro

na folha de rosto. Logo após dedicou-se a ler e anotar o volume.

Para assinalar as passagens mais relevantes utilizou asteriscos, sublinhados simples ou

duplos, traços verticais simples ou duplos ao lado dos parágrafos, a letra V ou parênteses para

assinalar os o início e o fim de um trecho selecionado.

Deixou anotações de síntese, de concordância, de discordância e outras nas quais

comparava o autor com outros autores.

Entre as anotações de síntese figuram: “a escola visa o saber e não a formação do

caráter e as necessidades da vida presente. A escola alemã está submetida ao ponto de vista

técnico, prático e político”297; “A Inglaterra e os Estados Unidos chegaram a perfeição de ter a

força social, dispensando a política. A França está atrasada, só tem a política sem a social; A

Alemanha tem ambas mas tudo leva a crer que [ilegível]”298; “(disputa entre normandos e

saxões pela sobrevivência)”299; “família de sociedade patriarcal – comunária de família/

tronco – particularista/ instável – comunária de estado”, “1º Particularista com família tronco/

2º comunária de família com família patriarcal/ 3º comunária de estado com família instável”;

“quando o homem possue as qualidades fundamentaes ele resolve por sua própria conta a

296 Cf. DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897. 297 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 18 [margem dianteira]. 298 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 135 [margem inferior]. 299 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 188 [margem medianiz].

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questão social e deve ser mestre de si mesmo e independente dos outros (These)”300;

(Indivíduo e sociedade)301; (These)302.

Também deixou algumas anotações de concordância: (tudo isto é capital e lança muita

luz)303; “Seria uma fortuna tomarmos o modelo americano ou inglez”304.

Apesar do entusiasmo pela obra Sílvio deixou algumas notas de discordância.

Demolins afirmou que os alemães pecam por defender uma educação militarizada voltada

para a defesa da soberania nacional. Sílvio contestou: “O imperador tem o ideal prático e

nacional. Nisto tem razão. Pode ter errado nos meios”305. Sílvio também achou que o autor se

confundiu algumas vezes: “Diz que a Alemanha tem formação comunária de estado e outras

vezes faz exceção para a planície saxônica; outras vezes para toda a Alemanha do Norte, há

evidente preocupação com o chauvinismo francez – A verdade é que a Alemanha quasi inteira

é uma sociedade de formação particularista”306.

Mas, na maioria das marginálias de A quoi tient la superiorité des anglo-saxons?,

Sílvio procurou evidenciar a possibilidade da implantação dessas idéias no Brasil. Quando

Demolins discorreu sobre o modelo escolar francês anotou repetidamente em diversas páginas

(Brasil).307 Noutra página afirmou peremptoriamente: (Parece escrito pª o Brasil)308. Quando o

300 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 216 [margem medianiz]. 301 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 332 [margem medianiz]. 302 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 347, 381, 389, 390 [margem medianiz]. 303 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 176 [margem medianiz]. 304 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 177 [margem inferior]. 305 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 61 [margem medianiz]. 306 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 16 [margem inferior]. 307 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 5, 6, 8, 9 e 11 [margem dianteira e medianiz].

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autor escreveu sobre o modelo alemão, mais especificamente sobre o ensino gratuito e

obrigatório, registrou: (Retrato do Brasil).309 Quando Demolins comparou a escola inglesa

com a francesa escreveu na margem dianteira: (Brasil tudo inverso) e (Brasil como França).310

Quando o autor mostrou o programa que deve ser seguido na França escreveu na margem

medianiz: (Sonho no Brasil),(Parece sonho / Incrível) e (Brasil não)311. Quando Demolins

explicou o controle da educação pelo Estado na sociedades comunárias a partir dos exames

escreveu na margem medianiz: (O caso do Brasil)312. Anotou também sobre as dificuldades de

aplicar as idéias de Demolins ao país: “(Não se pode fazer cálculos de nada no Brasil, não há

estatísticas que prestem)”, “(Temos apenas e mal nota de receita e despesa geral e da

importação e exportação geral e mais nada)"313. Apesar dos empecilhos julgou que: “Tudo

que se diz aqui pª a questão social se deve dizer ao brasileiro para solução do atraso do paiz

(Não esquecer)”314.

308 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 13 [margem inferior]. 309 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 16 [margem dianteira]. 310 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 60 [margem inferior]. 311 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 64 [margem dianteira]. 312 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 72 [margem dianteira]. 313 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 122 [margem dianteira]. 314 DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie., 1897, p. 216 [margem medianiz].

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Figura 14 – Folha de rosto de L’éducation nouvelle: l’École des Roches, de Edmond Demolins

Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de L’éducation nouvelle. 2004. Acervo pessoal.

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O exemplar de L’Éducation Nouvelle: L’École des Roches315 foi publicado em 1899,

pela editora Firmin-Didot et Cie. No verso da folha de rosto o editor convidou, como de

costume, à leitura de outras obras do autor:

Du même auteur:

A quoi tient la superiorité des Anglo-saxons. Un vol, in-12, 15ª mille 3 fr. 50 Le même ouvrage: Éditions anglaise, allemande, espagnole, polonaise et arabe. Les Français d'aujourd'hui: les types sociaux du Midi et du Centre. 8ª mille. Un vol, in-12, 6ª mille 3 fr. 50

En préparation:

Les Français d'aujourd'hui - les types sociaux du Nord.316

Usou mais uma vez a estratégia de elencar as traduções e inovou ao exibir a tiragem,

evidenciando a aceitação da obra.

A obra em análise foi impressa em formato in-12. Foi empregado o tipo romano com

corpo 12, entrelinhamento com 4 pontos em relação ao corpo. O referido exemplar apresenta

margens superior, inferior e dianteira de 2,0 cm e margem medianiz de 1,5 cm. Não há sinais

de redução das margens durante o processo de encadernação. Há alguns aparelhos críticos

como prefácio do autor e apêndices do editor. No prefácio Demolins explicou o propósito da

obra para que o leitor compreendesse a sua exposição. Posicionados no final da obra, os

apêndices La réforme de l'enseignement, uma conferência de M. Jules Lemaitre proferida na

Sorbonne, La superiorité de l'École anglaise sur l'École allemande, artigo de um professor

alemão, traduzido por M. J. C., Le type nouveau de l'École professionelle ouvrière e L'avenir

de l'éducation nouvelle, respectivamente, artigo e conferência de Edmond Demolins,

cumpriram a função de reforçar as idéias defendidas pelo autor.

315 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: L'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899. 316 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: L'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899.

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Antes de conhecermos esta obra de Demolins, faz-se necessário compreender que

além de integrar a Escola de Ciência Social, ele é reconhecido pela sua contribuição à

Pedagogia. É considerado um dos integrantes do movimento da Escola Nova que entre a

última década do século dezenove e a terceira do século vinte, afirmou-se na Pedagogia

mundial com experiências educativas consideradas de vanguarda, inspiradas em princípios

formativos diferentes daqueles em vigor na escola tradicional. Na base dessa consciência

educativa inovadora estavam não só as descobertas da Psicologia, que vinham afirmando a

radical “diversidade” da psique infantil em relação à adulta, mas também o movimento de

emancipação de amplas massas populares nas sociedades ocidentais. Embora as “escolas

novas” tenham nascido e se desenvolvido como experimentos isolados, ligados a condições

particulares e a personalidades excepcionais de educadores, elas, justamente porque tiveram

imediatamente ampla ressonância no mundo educativo, propiciaram uma série de pesquisas

no campo da instrução, destinadas a transformar profundamente a escola, não só no seu

aspecto organizativo e institucional, mas também, e talvez sobretudo, no aspecto ligado aos

ideais formativos e aos objetivos culturais.

A característica comum e dominante das “escolas novas”, que tiveram difusão

predominantemente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos deve ser identificada no

recurso à atividade da criança. A infância, segundo esses educadores, deve ser vista como

uma idade pré-intelectual e pré-moral, na qual os processos cognitivos se entrelaçam

estreitamente com a ação e o dinamismo, não só motor, como psíquico, da criança. A criança

é espontaneamente ativa e necessita, portanto ser libertada dos vínculos da educação familiar

e escolar, permitindo-lhe uma livre manifestação de suas inclinações primárias. Em

conseqüência desse pressuposto essencial, a vida da escola deve sofrer profundas mudanças:

deve ser, se possível afastada do ambiente artificial e constritivo da cidade; a aprendizagem

deve ocorrer em contato com o ambiente externo, em cuja descoberta a criança está

espontaneamente interessada, e mediante atividades não exclusivamente intelectuais, mas

também de manipulação, respeitando desse modo a natureza “global” da criança, que não

tende jamais a separar conhecimento e ação, atividade intelectual e atividade prática. Na base

das escolas “novas” existe, portanto, um ideal comum de educação ou escola ativa (como a

definiu o genebrino Pierre Bovet), do qual essas experiências serão, ao mesmo tempo porta-

bandeiras e modelos.

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O experimento das “escolas novas” foi iniciado na Inglaterra por Cecil Reddie (1858-

1932) que, em 1889, abriu em Abbotsholme (perto de Derbyshire) uma escola para rapazes

dos 11 aos 18 anos, que dirigiu até 1927. Reddie defendia a modificação do ensino para torná-

lo mais adequado às exigências da sociedade moderna. Em contraposição a um programa

formativo antiquado (línguas mortas no centro, línguas vivas e ciências à margem) defendia

um programa capaz de “conseguir um desenvolvimento harmônico de todas as faculdades

humanas”. Na sua concepção, o rapaz deve tornar-se “um pequeno mundo real, prático” e

coligar sistematicamente “a inteligência” e “a energia, a vontade, a força física, a habilidade

manual, a agilidade”. Um adepto de Reddie, Haden Badley, afastou-se de Abbotsholme para

fundar Bedales, no Sussex, um internato que se organizava segundo princípios ainda mais

radicais, já que valorizava no seu próprio interior um sistema de autogoverno e o princípio da

co-educação.

Edmond Demolins ao criar a École des Roches inspirou-se nas experiências de Reddie

e Badley. A propósito da Abbotsholme School, da Bedales School e da École des Roches, foi

muitas vezes posto em destaque, e não sem razão, o seu caráter de ilha privilegiada, destinada

a poucos afortunados, de boa extração econômica e social, radicalmente distante dos

problemas emergentes com a escola de massa, que já estava se afirmando nos albores do novo

século.317

Vejamos detalhes dessa experiência na leitura do livro L’éducation nouvelle. A meta

do livro é apresentar à sociedade francesa a École des Roches, internato masculino fundado

em 1899, na França, pelo próprio autor e por Vte. de Glatigny, Alfred Firmin-Didot, Vte. Ch.

de Calan Paul Lebaudy, Pierre Lebaudy, Jules Siegfried Marc Maurel, Édouard H. Krafft,

Olivier Benoist, Olivier Sinn, Raverot, Edmond Marey, P. Lebouteux, políticos, editores e

professores eminentes. A instituição foi organizada de acordo com os moldes das escolas

inglesas, especialmente as de Bedales e Albotsholme. Através da fundação da escola Edmond

Demolins pretendeu cumprir uma das missões dos discípulos de Le Play: reformar a

sociedade. Apoiou-se na idéia de que não é a raça que produz o estado social, mas o estado

social que produz a raça. Desse modo, nada se opõe essencialmente a uma tranformação. Para

empreendê-la julgou necessária a assimilação da enérgica e eficaz educação inglesa, pois

317 CAMBI, Franco. Renovação da escola e pedagogia ativista. In: _______. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999, p. 515-516.

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apenas esse modelo pode auxiliar na modificação da índole comunária do povo francês em

índole particularista, a única em condições de enfrentar os desafios da sociedade vigente.

A obra possui oito capítulos. No primeiro, Le mouvement d'opinion pour la

transformation de l'école, apresentou cartas de pais e artigos e discursos de intelectuais

franceses que mostravam-se encantados com as idéias expostas no livro À quoi tient la

supériorité anglo-saxons? e pediam a implantação de uma escola nos moldes anglo-

saxônicos, capaz de desenvolver o espírito de iniciativa.

No segundo capítulo, Le type ancien du professeur et de l'école, revelou que as escolas

francesas privilegiam a transmissão de um conhecimento superficial voltado para a prestação

dos exames, produzindo um discípulo que não domina nenhum saber. Mostrou que os

professores que atuam nessas instituições são responsáveis por classes de 20 a 40 alunos, o

que os impede de dar atenção especial aos discípulos. Notou que adotam o método

mnemônico: ministram os conteúdos e exigem a repetição por parte dos alunos. Garantem a

obediência através da coerção.

Em Le type nouveau du professeur et de l’école mostrou que a École des Roches,

baseada no sistema inglês, objetiva formar o homem completo, prepará-lo para as diversas

funções. O ensino é ao mesmo tempo teórico e prático. O professor tem de 25 a 30 anos,

conhece perfeitamente a matéria, é educado, trabalhador e pontual, goza de boa saúde e tem

experiência. Freqüentemente são submetidos a estágios nas escolas inglesas para aprenderem

os métodos lá empregados. O professor é responsável por classes de 10 a 15 alunos, fator que

facilita o acompanhamento das atividades. Visando esse acompanhamento o professor reside

na escola e, além de ensinar, supervisiona os alunos nas atividades corriqueiras do internato.

Asseguram a disciplina através da persuasão.

No capítulo seguinte, Le programme des études dans l'école actuellle, mostrou que o

currículo vigente no sistema escolar francês privilegia o ensino clássico. O ensino de Latim,

Grego, Francês, Inglês e Alemão ocupam a maior parte do tempo, enquanto o ensino de

Geografia, História, Matemática, Geologia, Botânica, Física, Química e Filosofia são

colocadas num segundo plano. De acordo com o autor esse programa não atende às

necessidades do país.

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No quinto capítulo, Comment résoudre la question du latin, propôs um novo método

para o ensino do Latim. Lembrou que a melhor maneira de ensinar um idioma é ensinar a

falá-lo. Contudo, como no caso do Latim isso não é possível, propôs o método da tradução,

que permite a interpretação de páginas, capítulos e obras inteiras.

Em Le programme des études dans l'école nouvelle, apresentou o programa da École

des Roches. Ele é ao mesmo tempo clássico e moderno e está dividido em duas seções: a geral

e a especial, cada uma com a duração de três anos. Na seção geral são ensinados Francês,

Inglês, Alemão, Literatura, História, Geografia, Geologia, Botânica, Zoologia, Química,

Física, Matemática, Filosofia e Educação Física. As línguas vivas são ensinadas mediante a

leitura dos melhores autores e através do intercâmbio. As demais matérias são ensinadas

visando a prática, a aplicação dos conhecimentos estudados. A seção especial promove o

aprofundamento dos conhecimentos obtidos na seção geral com o intuito de preparar os

alunos para uma carreira. Ela subidivide-se em Letras, Ciências, Agricultura e Colonização e

Indústria e Comércio. O estudo das Letras é indicado para aqueles que desejam seguir as

carreiras liberais e administrativas. Nesta modalidade predomina o ensino de Grego e Latim.

Já o estudo de Ciências, Agricultura e Colonização e Indústria e Comércio é para quem

almeja as profissões habituais. Nesta modalidade há o aprofundamento das disciplinas

científicas. Ressaltou que o currículo da École des Roches leva em consideração o

desenvolvimento psíquico dos alunos.

No sétimo capítulo, La vie de l'école nouvelle décrite par les éleves, apresentou relatos

dos alunos sobre o aproveitamento nas atividades desenvolvidas na escola: nos estudos

clássicos e modernos, nos trabalhos manuais, nos jogos e exercícios físicos e nas atividades

literárias e artísticas.

No último capítulo, L'École des Roches. renseignements pratiques, apresentou

informações que poderiam ser úteis aos leitores. Informou a localização da escola, numa

propriedade de 23 hectares, com um castelo e área livre para as aulas práticas, em Verneuil,

na região da Normandia. Reiterou o alvo da escola de formar homens completos e

desenvolver o espírito de iniciativa; a adoção de um programa clássico e moderno adaptado à

natureza da criança e as necessidades de ensino; a divisão do tempo escolar em três períodos,

que permite que os alunos retornem freqüentemente para casa permitindo que os pais

verifiquem as mudanças introduzidas pela escola no espírito de seus filhos. Informou também

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as condições de admissão: a criança deve ter a partir de 8 e o preço varia de 2000 a 2250

francos. Lembrou que é mais barato manter o filho numa escola convencional, mas deixa-se

de oferecer uma educação energética compatível com os tempos modernos.318

Sílvio não deixou muitas anotações em L’Éducation Nouvelle. Não por ter considerado

a obra sem interesse como teremos a oportunidade de perceber adiante, mas talvez pela

natureza informativa do texto, sem grandes elocubrações teóricas que demandassem maior

esforço para decodificar as representações oferecidas pelo autor.

Há algumas passagens grifadas, assinaladas com astericos ou entre parênteses. Grande

parte das anotações foram de síntese: “Inspetor”319; “Mentir”320; “Mentira”321; “As

cidades”322; “Exames”323; “O professor”324; “O methodo”, “Pequeno número” 325; “Professor e

inspetor”, “Especialista”326; “O professor”327; “O professor”328; “2 typos de ensino/ 2 de

programmas”329; “Grego”, “Latim”330; “As duas secções”331; “As línguas maternas”332;

318 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899. 319 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 42 [margem dianteira]. 320 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 43 [margem dianteira]. 321 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 47 [margem medianiz]. 322 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 49 [margem medianiz]. 323 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 52 [margem dianteira]. 324 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 54 [margem dianteira]. 325 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 58 [margem dianteira]. 326 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 62 [margem dianteira]. 327 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 77 [margem dianteira]. 328 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 76 [margem dianteira]. 329 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 98 [margem dianteira].

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“Línguas vivas”333; “As línguas no estrangeiro”334; “Geo e Hist.”335; “Novo centro”336;

“Méthodos naturaes”337; “O corpo”338; “Gramática”339.

Em algumas páginas comparou as representações do autor sobre a educação francesa

com a realidade brasileira. Quando o autor criticou a falta de acompanhamento dos alunos

pelos professores no modelo francês, quando defendeu a necessidade de educar as crianças

em liberdade, em contato com a natureza e quando defendeu a inadequação do modelo

vigente e a necessidade de substituição do modelo francês anotou ao lado: “Brasil”.340

Sílvio citou a leitura das obras de Demolins em diversas ocasiões. Em “Carta ao Ilmo.

Sr. Dr. José Oiticica” explicou-lhe as vantagens da Escola de Le Play, citou o “vibrante” A

quoi tient la superiorité des anglo-saxons? e lamentou que os brasileiros “dessem escassos

330 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 100 [margem dianteira]. 331 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 152 [margem dianteira]. 332 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 154 [margem dianteira]. 333 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 169 [margem dianteira]. 334 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 160 [margem dianteira]. 335 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 162 [margem dianteira]. 336 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 167-168 [margem dianteira]. 337 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 171 [margem dianteira]. 338 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 184 [margem medianiz]. 339 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 168 [margem inferior]. 340 DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 60, 69, 107, 108 e 111 [margem dianteira e medianiz].

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ouvidos” e o tomassem por uma espécie de “touriste”, que tivesse visitado a Inglaterra e

houvesse ali encontrado algumas coisas dignas de serem imitadas.341

Afirmou que mais tarde o mesmo Edmond Demolins escreveu o “belo volume”

L’éducation nouvelle: l’École des Roches e, desta vez, muitos brasileiros que “vivem de se

entreter com as cousas do ensino” imaginaram que podiam contar com mais “um modelo

pedagógico a ser imitado superficialmente como é hábito fazer com muitos outros que a

Europa nos exporta”.342

Sílvio explicou para o interlocutor que a “crítica indígena” não quer reconhecer que o

novo processo de educação é a consequência de uma “especial doutrina de ciência social” e

tem apenas por fim arrancar as gentes francesas e, com elas, as espanholas, as italianas, as

portuguesas, as latino-americanas e outras congêneres, de sua “detestável” formação

comunária e fazê-las adquirir o caráter dos povos de formação particularista.343

Em 1907, na ocasião da morte de Edmond Demolins, Sílvio publicou o seu necrológio.

Evidenciou a desolação do pequeno número de seus adeptos do Rio de Janeiro e aproveitou

para fornecer algumas informações bio-bibliográficas do “grande sociólogo” e traçar alguns

comentários sobre alguns pontos de sua doutrina, afim de torná-lo mais conhecido do público

brasileiro.

Sobre A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? afirmou que é um “excelente

trabalho de aplicação da escola da ciência social” e que “quem o lê com espírito aberto à

aquisição de idéias e não a ouvir frases sonoras, sente-se verdadeiramente transportado a um

mundo novo”344

341 ROMERO, Sílvio. A Escola de Le Play no Brasil (1906) ou Carta ao Ilmo Sr. Dr. José Oiticica. In: ______. Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 44. 342 ROMERO, Sílvio. A Escola de Le Play no Brasil (1906) ou Carta ao Ilmo Sr. Dr. José Oiticica. In: ______. Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 45. 343 ROMERO, Sílvio. A Escola de Le Play no Brasil (1906) ou Carta ao Ilmo Sr. Dr. José Oiticica. In: ______. Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 43-49. 344 ROMERO, Sílvio. Edmond Demolins (1907). In: ______. Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 73.

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Contudo, não é apenas nas marginálias e nos comentários elogiosos que é possível

compreender a apropriação que Sílvio fez das obras de Edmond Demolins. Nos textos sobre

educação que produziu a partir de 1906, América Latina345, O Brasil na primeira metade do

século XX346 e O remédio347, é possível avaliar o quão importante as representações do

sociólogo francês foram para a construção do seu pensamento pedagógico.

Em América Latina criticou Manel Bomfim por acreditar na instrução (educação

intelectual) como remédio para os males do país. Afirmou que apenas esse expediente não era

suficiente, pois a causa das mazelas da nação era o caráter apático do povo brasileiro, fruto da

formação comunária da nossa sociedade. Para tranformar a índole comunária em índole

particularista sugeriu a “reforma da educação no sentido anglo-saxônico da iniciativa

individual”.348

No texto O Brasil na primeira metade do século XX, aplicando os conceitos da Escola

de Le Play, evidenciou que, assim como a França, o Brasil é uma sociedade de formação

comunária de Estado. As famílias são apáticas e vivem à espera dos favores dos clãs e do

Estado. Os pais visam as carreiras liberais e administrtivas para seus filhos. Por essa razão não

valorizam a aquisição de saber. Para eles, basta que seus filhos sejam aprovados nos exames,

para que consigam ingressar nos cursos superiores e obter algum emprego público. Segundo

Sílvio, é em virtude deste estado de coisas que o Brasil não figura entre as grandes nações.

Para o intelectual sergipano, o Brasil só ingressará na trilha do progresso quando

modificar a índole comunária em índole particularista. Somente com homens de largo espírito

de iniciativa, dispostos a labutar em quaisquer ramos da atividade humana (agricultura,

pecuária, mineração, comércio, indústria, navegação) e aptos a resolver as dificuldades da luta

da existência é que o Brasil poderá sonhar com a possibilidade de ingressar no conserto das

nações civilizadas.

345 ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello & Irmão, 1906. 346 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2 ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912. 347 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 247. 348 ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello & Irmão, 1906, p. 265.

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Propôs para efetuar a modificação da índole do povo brasileiro o “regime de educação

severíssimo preconizado por Edmond Demolins”.349

Uma visão mais nítida da adoção do modelo proposto por Demolins é possível na

leitura de O Remédio. Neste discurso aos bacharelandos da Faculdade Livre de Direito,

defendeu novamente a necessidade de transformação do caráter comunário em caráter

particularista. Indicou como bálsamo a educação. Mas não se trata de qualquer educação.

Deve-se buscar a inspiração nos “valentes” escritores da ciência social leplayana:

nos cultores da Educação Nova, nos fundadores da École des Roches, nos propugnadores da iniciativa, da autonomia da vontade, da energia do caráter, do largo espírito empreendedor, nos admiradores do são particularismo anglo-saxão e ianque, nos homens que pregam ao indivíduo que em si mesmo deve procurar as forças impulsoras da vida e não acostado à proteção do grupo: – família, partido, clã, igreja, estado! [grifos do autor]350

Segundo Sílvio “eles fizeram especialidade do estudo das medidas indispensáveis aos

povos denominados comunários, para conseguirem a modificação de sua índole apática e sua

transformação particularista” e, portanto, são os mais gabaritados para ajudar a “liquidar” essa

questão.

Foi na pista desses moldes que definiu como deveria ser a educação brasileira.

Considerou que a educação deve ter por fim aparelhar os homens para a luta pela

existência, para os desafios da sociedade contemporânea.

As escolas devem fugir das grandes cidades e instalarem-se no campo. Devem também

fugir dos casarões e dividir-se em casas.

349 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p. 62. 350 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 250.

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Os professores e diretores devem residir com suas respectivas famílias na escola,

proporcionando ao aluno, um ambiente próximo ao do lar.

Ao contrário dos mestres tradicionais que apelam para o castigo para conseguir a

obediência dos discípulos, os mestres modernos devem estimular o sentimento de obediência

estabelecendo com os discípulos uma relação de confiança e cooperação.

Os professores devem estimular os sentimentos de iniciativa, honra, retidão, lealdade,

responsabilidade, pois de posse dessas características os homens saberão sair das dificuldades

por si mesmo, independentemente da carreira que abrace.

Após a exposição Sílvio aconselhou que “se parecer difícil trasladar para cá e espalhá-

los pelo nosso Brasil numerosos modelos de escolas e colégios à inglesa” cada pai de família

pode estimular esses sentimentos nos filhos, não encorajando seus lamentos e “queixumes”,

deixando-os desembaraçarem-se sozinhos e à medida que forem crescendo “incutir-lhes na

alma que devem criar suas próprias posições e que deverão partir para formar novo lar;

habituá-los a saber defender seus interesses e a conhecer o valor das coisas; fazê-los tomar o

prazer dos cuidados higiênicos, o gosto dos jogos em pleno ar”.

Através da comparação entre as marginálias que deixou em A quoi tient la supériorité

des anglo-saxons? e L’éducation nouvelle e os textos de Sílvio é possível perceber que as

representações do escritor francês acerca da sociedade e da educação causaram-lhe forte

impressão levando-o a adotá-las para analisar o Brasil.

Uma objeção de Sílvio em relação ao pensamento de Demolins é a classificação dos

alemães entre os povos comunários. Sílvio, devido ao seu germanismo, cultivado em outras

leituras, defendeu que os povos da Alemanha são superiores, que estão no mesmo nível dos

ingleses e dos norte-americanos. Ele atribui essa imagem negativa do autor em relação aos

alemães ao chauvinismo típico dos franceses.351

351 Sobre o germanismo de Sílvio Romero consultar: NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada ou a influência alemã na cultura brasileira durante a segunda metade do século XIX. Londrina: Editora da UEL, 1999.

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3.2.3 APROPRIAÇÃO DE DE LA VIE AMERICAINE: L’ÉDUCATION ET LA

SOCIÉTÉ, DE PAUL DE ROUSIERS

Paul de Rousiers (1857-1934) nasceu na França. Estudou Direito no Institute

Catholique de Paris. Integrou o corpo docente do Collège Libre des Sciences Sociales e da

École des Hautes Études Sociales. Foi membro da Societé Internacionale des Études

Pratiques d’Economie Sociale. Fundou a Union de la Paix Sociale. Foi diretor do Musée

Sociale. Publicou inúmeros artigos em La Réforme Sociale e La Science Sociale.352

O exemplar de La vie américaine: l’éducation et la société353 constante na Biblioteca

de Sílvio foi editado pela editora Firmin-Didot et Cie e corresponde à segunda edição. A obra

foi impressa em formato in-12, principal padrão desta casa editorial. Foi empregado o tipo

romano com corpo 10, entrelinhamento com 4 pontos em relação ao corpo. Apresenta

margens superior e medianiz de 1 cm, margem inferior de 2 cm e margem dianteira de 1,5 cm.

As margens originais eram maiores e foram reduzidas quando encadernadas pela Livraria F.

Briguiet e Cie, no Rio de Janeiro. Algumas marginálias foram perdidas nesse processo. Há

apenas um aparelho crítico: um índice analítico no final da obra. O Table des matiéres aponta

pormenorizadamente os assuntos tratados na obra. Esse dispositivo tem a intenção de dirigir a

leitura, fazê-lo vislumbrar o texto com o mesmo olhar dos produtores.

Em La vie américaine Paul de Rousiers teve como objetivo evidenciar a superioridade

do modelo escolar norte-americano e da sociedade de formação particularista. A obra foi

divida em dez capítulos.

No primeiro capítulo, L’éducation américaine, evidenciou porque é importante estudar

a educação nos Estados Unidos. Notou que a família norte-americana estimula seus filhos a

desenvolverem o espírito de iniciativa e o sentimento de responsabilidade. Logo que

ingressam nas universidades são incentivados a trabalhar para prover o próprio sustento. No

352 Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas. Tese (Doutorado) -Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001. 353 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--].

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Figura 15 – Folha de rosto de La vie américaine: l’éducation et société, de Paul de Rousiers

Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de La vie américaine. 2004. Acervo pessoal.

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início da carreira os jovens aceitam qualquer tipo de emprego. Como são empreendedores

costumam alcançar êxito em qualquer atividade que desenvolvam. As filhas recebem

tratamento similar. Pratica-se a co-educação dos sexos. As jovens podem escolher o próprio

marido ou podem seguir alguma carreira. Costumam trabalhar em manufaturas, hotéis e

escritórios.

No capítulo seguinte, Les fiançailles et le mariage, estudou a transmissão hereditária

dos bens. Ao contrário de outros países, inclusive anglo-saxônicos, nos Estados Unidos os

pais de família possuem o livre direito de testar. Os filhos também não recebem dotes ao

contrair matrimônio. Após as núpcias, o marido e esposa, passam a compartilhar os mesmos

direitos. Caso não consigam viver harmoniosamente podem recorrer ao divórcio. Para o autor,

uma das razões para a freqüência do divórcio na América é o predomínio do protestantismo,

mais condescendente com a separação que a Igreja Católica que prega a indissolubilidade do

casamento.

No terceiro capítulo, Les américaines chez eux et hors chez eux, analisou os diversos

tipos de habitação existentes nos campos e nas cidades, destacando o conforto e a praticidade.

Evidenciou que há poucos profissionais responsáveis pelo serviço doméstico porque os norte-

americanos estão acostumados a cuidar da própria casa. Mostrou a importância das viagens

como forma de adquirir experiência.

Em La vie journalière, analisou o cotidiano dos norte-americanos. Destacou a

alimentação, a severidade dos costumes, a simplicidade dos divertimentos.

No quinto capítulo, L’aristocracie em Amérique, analisou a velha aristocracia do Sul,

que perdeu a direção da sociedade após a Indepedência dos Estados Unidos e, principalmente,

após a Guerra da Secessão, que pôs fim ao trabalho escravo, sem que os seus antigos

proprietários recebessem qualquer indenização; e a nova aristocracia, que se dedica ao

patronato e a criação de fundações que visam o bem público e são responsáveis pela

manutenção de hospitais, bibliotecas e universidades. Para Rousiers, esse novo modelo de

aristocracia é reponsável pelo desenvolvimento da democracia norte-americana.

Em L’espirit d’association et les intéréts généraux mostrou que graças ao espírito de

iniciativa os norte-americanos não recorrem às formas coletivas sem necessidade. Quando

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isso acontece eles não recorrem ao Estado como as sociedades comunárias fazem, mas ao

espírito de associação. São comuns nos Estados Unidos as associações de interesse comum,

como as de ajuda mútua, de segurança, as esportivas, as bibliotecas comunitárias e as

associações do bem público como as associações cristãs de jovens homens que têm ao mesmo

tempo função moral e prática. Para Rousiers a prática da associação educa para o exercício da

democracia.

No sétimo capítulo, La vie politique, evidenciou a corrupção dos poderes públicos e

dos políticos da América e como ela cresceu ao longo das décadas. O que salva a sociedade

norte-americana é o caráter restrito dos poderes públicos em virtude da supremacia da

iniciativa privada. O poder dos esforços individuais é que fazem a força da América.

No capítulo seguinte, La vie intellectuelle aux Étas-Unis, mostrou a importância que

os norte-americanos atribuem à educação. Consideram-na uma arma essencial na luta pela

vida. O ensino primário é considerado o mais importante porque fornece ao indivíduo

conhecimentos importantes para que eles desenvolvam o self-government. O programa

compreende Leitura, Escrita, Cálculo, Desenho, Geografia e História dos Estados Unidos e

da Inglaterra, Inglês e Alemão. Após o término do primário vão para a High School na qual

aprofundam o conhecimento recebido anteriormente e passam a estudar também História

Natural, Química, Física e Literatura. A seguir ingressam no ensino superior que dura de três

a quatro anos. Não há predileção pelas carreiras liberais e administrativas ou pelas carreiras

técnicas, voltadas para a Agricultura, a Indústria e o Comércio. Qualquer carreira é

considerada digna pelos norte-americanos. Todos os níveis de ensino aliam teoria e prática.

Além da educação formal, os jornais e revistas que circulam nos Estados Unidos, ao contrário

dos que circulam na França, são muito instrutivos e auxiliam na formação.

No nono capítulo, La situation religieuse, explicou que há diversas seitas religiosas

nos Estados Unidos fundadas na livre interpretação da bíblia. Observou que existem muitos

americanos que são indiferentes à religião. No entanto, julgou que não é honesto afirmar que

eles não acham a religião importante. Em geral, eles respeitam a crença alheia, financiam

construção de templos, comemoram o Dia de Ação de Graças, consideram a Bíblia um livro

de origem divina e descansam no domingo mesmo que seja do ponto de vista dos efeitos

desse repouso para o trabalho. Evidenciou que a Igreja Católica tem muitos adeptos nos

Estados Unidos, mas o número de católicos ainda é muito inferior ao das seitas protestantes

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reunidas. Os principais obstáculos ao catolicismo nos Estados Unidos são a centralização

expressa no romanismo que causa repulsa aos norte-americanos que são avessos a qualquer

centralização e a neutralidade das escolas públicas que não permitem o ensino religioso

porque os protestantes não aceitam que seus adeptos ouçam as preces de uma outra religião. A

chance que a Igreja Católica tem de prosperar nos Estados Unidos é que o seu principal

dogma combina com o espírito americano. O catolicismo defende a salvação pela fé e pelas

obras e os norte-americanos são extremamente dedicados às obras devido ao seu espírito de

iniciativa. Ponderou que para que a Igreja Católica prospere na América é preciso que alguns

padres católicos parem de lutar contra o espírito americano, pois o êxito só ocorrerá quando

ela se acomodar às características dos novos fiéis.

No décimo capítulo, Conclusion, afirmou que a sociedade americana possui graves

desordens, mas possui uma maravilhosa arma para superar a crise: a energia individual de

seus membros. A superioridade dos americanos perante os outros povos reside no fato de

considerarem a vida uma luta e não um prazer.354

Sílvio assinou Roméro no verso da folha de rosto. Pôs-se a ler e anotar diversas

páginas. Ao término da leitura anotou na folha de guarda os assuntos abordados na obra:

“Educação, Ensino, Família, Política, Patriotismo, Sociedade, Fortuna pública e privada,

Iniciativa, Trabalho e Propriedade”355

Há outras anotações na folha de guarda, mas devido à oxidação do suporte estão

ilegíveis.

Existem várias notas de síntese: “(Dignidade)”356; “(Nó da questão)”357; “(These)”358;

“(As moças)”359; “(A responsabilidade material, a propriedade, a conveniência é soma da

354 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--]. 355 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--]. 356 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 10 [margem dianteira]. 357 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 11 [margem dianteira]. 358 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 12 [margem dianteira].

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manifestação exterior de uma qualidade moral)”360; “aristocracia velha – conjunto de antigas

famílias que exercem o poder hereditário sobre o território da união/ aristocracia nova –

conjunto de indivíduos que se dedicam ao bem público (yankees)/ (Brasil não tem esta)” –

margem inferior – p. 144-145361; (aristocracia nova)362; “(A aristocracia natural governando e

corrigindo os políticos)”363; “(Associações tem dupla característica: moral e prática)”364;

“(línguas vivas obrigatórias)”365; “(Sentido de escola neutra)”366.

Outras marginálias evidenciam o esforço do leitor de aplicar o que leu ao país. Quando

Rousiers afirmou que a educação americana tem como alvo desenvolver tanto quanto possível

os sentimentos de dignidade pessoal e de independência registrou: “(mundo novo para o

brasileiro)”367; No final do primeiro capítulo, acerca da educação americana: “A educação

doméstica no Brasil. Os paes. Os filhos. As filhas. Em todas as classes. Os empregos. O

caráter. As aptidões”368. Ao término do segundo capítulo, sobre compromissos e casamentos,

anotou: “O casamento no Brasil. Dote. A aventura em tudo e o acaso. A mulher solteira. A

casa no Brasil”369. No terceiro capítulo escreveu: “Brasil inteiro/ Casa, costumes, refeições,

359 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 24 [margem dianteira]. 360 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 114 [margem inferior]. 361 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 144-145 [margem inferior]. 362 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 160 [margem dianteira]. 363 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 162 [margem dianteira]. 364 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 174 [margem dianteira]. 365 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 243 [margem medianiz]. 366 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 260 [margem inferior]. 367 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 21 [margem dianteira]. 368 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 29 [margem inferior]. 369 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 59 [margem inferior].

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divertimentos, visitas, passeios, viagens”370. No capítulo sobre a aristocracia anotou: “(Brasil

tem a velha aristocracia) e (Brasil como na França)”371. No capítulo sexto sobre as

associações escreveu: “No Brasil prevalecem os clãs que se associam para fazerem alianças

para atacar os sectários que não pertencem ao grupo, à cotérie. Prevalece o grupo sobre as

idéias”.372 Ainda neste capítulo anotou os clãs que existiam no Brasil: “Clan de Delfim,

Alcindo, Medeiros, Pinheiro Xavier, Bomfim”, “Clan de Frontin, Sampaio, Müller,

Serzedello, Santos, Americo” e “Clan de Machado, Rodrigo Octávio, J. Veríssimo, J. Ribeiro,

Bilac, L. Passos, Medeiros, João Bandeira, Coelho Neto”373. Na conclusão, quando Rousiers

afirmou que uma das mais marcantes características da sociedade americana é a energia

individual, escreveu: “(Brasil não/ These)”374.

A apropriação de La vie americaine por Sílvio torna-se mais clara a partir da leitura

dos textos que escreveu sobre educação.

.

Ele citou Paul de Rousiers em dois textos: O Brasil na primeira década do século

XX375 e O remédio376. No primeiro, ao comparar a sociedade norte-americana de formação

particularista com o Brasil de formação comunária de Estado, sugeriu a leitura de La vie

americaine, o “belo livro” de Paul de Rousiers. Apoiou-se nas informações desse livro para

evidenciar as diferenças entre os dois povos:

Percorreis as zonas do criatório dos gados, as regiões agrícolas, as terras de mineração, as grandes cidades manufatureiras, por toda a parte nota-se a

370 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 97 [margem inferior]. 371 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 144 [margem dianteira]. 372 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 172 [margem inferior]. 373 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 190, 197 [margem inferior]. 374 ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 321 [margem dianteira]. 375 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912. 376 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado, 2001, p. 237-272.

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intensidade da vida, o calor da atividade popular. Os milionários, que se contam por milhares, colaboram com os operários de todas as classes, de todas as categorias. Por todos os lados estua o entusiasmo, sente-se o fragor da onda humana no labutar sem tréguas. No Brasil, com que tristeza se é obrigado a dizer: nada disso! O povo, apático, espera a palavra, o apoio, a proteção dos governos; estes dão tratos à cabeça para multiplicar os expedientes ilusionistas que adiem as crises e mascarem as prementes necessidades.377

Não foi apenas em Brasil na primeira década do século XX, que Sílvio procurou

informações para evidenciar as vantagens dos povos particularistas. Fez o mesmo no texto O

Remédio. Mostrou o exemplo do Japão que conseguiu transformar a sua sociedade e tornar-se

uma grande nação mirando-se no exemplo dos Estados Unidos. Relatou que a inspiração

norte-americana foi buscada de dois modos. Inicialmente,

enviaram dúzias e dúzias de moços inteligentes, decididos, voluntariosos, inflamados de um patriotismo irredutível que só encontra o seu igual em rápidas fases da Roma primitiva, para um meio, como os dos USA, por exemplo, a fim de, nos trabalhos mais rudes, até, muitas vezes, como criados de servir, aprenderem o viver íntimo, daquele povo extraordinário. Uns metiam-se pelas estâncias de criar, pelas fazendas agrícolas, pelas terras de mineração, pelas oficinas industriais de toda a casta; outros pelas escolas, pelas academias, pelas universidades, a ver, a estudar, a esmiuçar de tudo, assimilando, no aprendizado e na prática, essa portentosa educação energética, que, de um povo de servos feudais, oprimidos por ferrenha aristocracia, relegados em ilhas do oceano, produziu em poucos anos uma das mais fortes, mais poderosas, mais formidáveis nações do mundo!... Só a verdadeiramente criadora educação particularista e energética de anglo-saxões, ingleses e ianques seria capaz de produzir este milagre histórico.378

Aqui Sílvio revelou que se interessou tanto pela educação formal norte-americana

quanto pela informal, apreendida a partir da experiência cotidiana com as “portentosas gentes

particularistas”, descritas por Paul de Rousiers.

377 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p. 178-179. 378 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado, 2001, p. 265.

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O outro expediente empregado pelo Japão para modificar a índole do seu povo foi

atrair professores e especialistas para transformar as escolas do Império do Sol Nascente.

Conforme Sílvio: “assim procede quem quer seriamente educar-se com altos planos e

desígnios”.379

3.3 APROPRIAÇÃO DE L’ARYEN E RACE ET MILIEU SOCIAL, DE GEORGES

VACHER DE LAPOUGE

Georges Vacher de Lapouge (1854-1936) nasceu na França. Estudou na École d’

Anthropologie de Paris. Foi bibliotecário da Faculté de Science de Montpellier. Nesta mesma

instituição ministrou um curso livre de Ciência Política. Publicou seus estudos em diversas

revistas, tais como: Revue de Anthropologie, L’Anthropologie, Revue d’Économie Politique e

Revue Internationale de Sociologie. Publicou também os seguintes livros: Les seléctions

sociales (1896), L’Aryen: son rôle social (1899) e Race et milieu social: essai

d’Anthropologie (1909).380

Lapouge insere-se num debate importante no século dezenove sobre a origem da

humanidade. De um lado os monogenistas afirmavam que os homens descendem de uma

única espécie. De outro lado os poligenistas defendiam que os homens descendem de diversas

espécies. Esta última crença levou ao surgimento da noção de raça. Rapidamente estabeleceu-

se a correlação entre o domínio fisiológico e o psicológico. Acreditava-se que o

pertencimento a certo grupo racial determinava as características psicológicas do indivíduo.

Esse debate ajudou na delimitação da Etnologia e da Antropologia. Os monogenistas

reuniram-se em torno da análise etnológica e se mantiveram numa tradição mais vinculada à

379 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado, 2001, p. 265. 380 Cf. HAWKINS, Mike. Social Darwinism in European and American Thought 1860-1945: Nature as Model and Nature as Threat. Cambridge: Cambridge University Press, 1997; MACHADO, Fernando Luís. Os novos nomes do racismo: especificação ou inflação conceptual? Sociologia, São Paulo, n. 33, p. 9-44, set. 2000; RAMOS, Jair de Souza. Ciência e racismo: uma leitura crítica de Raça e assimilação em Oliveira Vianna. História, ciência e saúde - Manguinhos, vol.10, n. 2, p. 573-601, 2003 LAGUARDIA, Josué. The use of the "race" variable in health research. Physis, Rio de Janeiro, n.2, v.14, p.197-234, july/ dec. 2004.

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161

Filosofia da Ilustração. Já os poligenistas concentraram-se nos estudos antropológicos e

dialogaram com a Biologia. Compreendida como um ramo das Ciências Naturais, a

Antropologia dedicava-se à naturalização da diferenças entre os homens. Procurava explicar

os diferentes comportamentos como resultado da natureza poligenista. Para isso dedicava-se à

medição de esqueletos e viventes e à análise de documentos escritos e pictóricos que

descreviam os nossos antepassados. Com base nesses estudos os antropólogos determinavam

os riscos de degeneração e de tendência à loucura ou à criminalidade.

Lapouge enquadra-se no campo da Antropologia. Foi discípulo de Émile Blanchard,

Maurice Duval, Gabriel de Mortillet, eminentes antropólogos, na École d’Anthropologie de

Paris. A partir dos estudos realizados nos laboratórios antropométricos, Lapouge dedicou-se a

criação de um novo ramo do saber: a Antropossociologia. Definiu essa nova ciência como o

estudo das relações recíprocas entre o a raça e o meio.

Para ele a humanidade é constituída por duas raças fundamentais: as dolicocéfalas e as

braquicéfalas, que possuem suas variações. As dolicocéfalas possuem crânio e face longos e

são inquietos, enérgicos e audaciosos. Predominam na Inglaterra, na Holanda, na

Escandinávia, na Península Ibérica, na Alemanha do Norte e nos Estados Unidos. Já os

braquicéfalos possuem crânio e faces arredondados e são sedentários, não tem largueza de

espírito nem são empreendedores. Prevalecem na França, na Suiça, na Áustria, na Alemanha

do Sul, na Península Balcânica, na Polônia, na Ásia Menor, na Armênia, na Região do

Cáucaso.

Conforme Lapouge os tipos humanos estão submetidos à seleção natural e à seleção

social, isto é, à seleção do meio. Os dolicocéfalos e braquicéfalos foram ao longo dos

milênios se modificando devidos às necessidades de aclimatação, de viverem e reproduzirem-

se em novos meios, diferentes do habitual. Mas sem perder as características fundamentais

determinadas pela hereditariedade. Considerava a influência do meio mais limitada.

O antropossociólogo desconfiou da transmissão de caracteres adquiridos propugnada

pelos neolamarckistas. No início da carreira ele negou peremptoriamente esse postulado. No

entanto, com o aprofundamento de suas pesquisas reconheceu que se sabe pouco a respeito da

hereditariedade e que não é possível ainda explicá-la suficientemente. O que se sabe é que do

ponto de vista da hereditariedade os indivíduos não se ligam aos seus pais, herdam os

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caracteres transmitidos pelos avós. Durante a fecundação algumas modificações produzidas

pelo meio podem ser introduzidas no plasma germinativo, material responsável pela

hereditariedade contida nas células reprodutivas. Porém, isso não significa que o ser humano

resultante desta fecundação apresentará essas modificações. Esses caracteres só serão

transmitidos às gerações seguintes, caso a modificação química adquirida persista. Embora

considerasse com certa relutância a possibilidade de trasmissão de alguns caracteres físicos

adquiridos, assim como os demais darwinistas, julgava impossível a trasmissão do caracteres

psíquicos adquiridos.

Outra questão que ocupou suas reflexões foi o cruzamento. Enquanto autores como

Artur de Gobineau afirmavam que a miscigenação levava à degenerescência, Lapouge a

defendia. Contudo, o cruzamento deveria ser sistemático e contínuo. Sistemático porque era

preciso selecionar as raças a serem cruzadas para produzir tipos aprimorados; e contínuo

porque só é possível aquilatar o resultado em média de quatro a oito gerações. Para Lapouge o

selecionismo ou eugenia é de importância capital para o futuro da humanidade. Porém,

julgava difícil encontrar legisladores dispostos a implantar medidas para promover o

aprimoramento das raças.

Sem o cruzamento sistemático e contínuo, acompanhado por antropossociólogos, a

mistura das raças pode ter efeitos positivos ou negativos. Existem quase dezessete milhões

possíveis de combinação dos elementos hereditários. Assim, a mistura pode gerar um ser

“aprimorado” ou um “medíocre”. Ao contrário de Herbert Spencer, para quem a evolução era

sempre progressiva, Lapouge avaliava que ela também poderia ser regressiva. Mas essa

regressão não é irreversível, uma vez que a cada geração há uma nova seleção que corrige os

defeitos e retorna à raça originária. Esta é a lei da persistência.

Portanto, Lapouge julga impossível produzir uma raça homogênea e única, com a qual

sonhavam os cientistas monogenistas, pois as leis da hereditariedade fazem com que as raças

sempre retornem aos tipos fundamentais. Prova disso é que as diversas raças européias se

combinam sem cessar a milhões de anos e a raça única, fusão de todas as raças da

humanidade, ainda não surgiu.

Com essas idéias, Lapouge conseguiu seduzir diversos cientistas como Otto Ammon,

seu principal colaborador, Henri Muffang e Carlos Closson. Por outro lado, a correlação que

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fazia entre o domínio físico e o domínio psicológico rendeu críticas de diversos antropólogos

reconhecidos no campo como Célestin Bouglé, Manouvrier, Colajanni Finot.381

No Brasil figuram entre seus leitores Sílvio Romero e Oliveira Viana. Seus livros

auxiliaram Sílvio a pensar a sociedade e a educação brasileira.

O volume de L’aryen: son role social382 lido por Sílvio foi publicado pela Albert

Fontimoing Editeur, em 1899. No verso da folha de rosto, o editor, assim como seu

concorrente Firmin-Didot, estimulou o leitor a adquirir outras obras do autor:

OUVRAGES DU MEME AUTEUR

ESSAI HISTORIQUE SUR LE CONSEIL PRIVE OU CONSEIL DES PARTES. 1878. Brochure in-8. 1 50 ÉTUDES SUR LA NATURE ET SUR L' EVOLUTION HISTORIQUE DU DROIT DE

SUCCESSION. - ÉTUDE PREMIERE: THEORIE BIOLOGIQUE DU DROIT DE

SUCCESSION. 1885. Brochure gr. in-8 2 » L'ANTROPOLOGIE ET LA SCIENCE POLITIQUE (DISCOURS D'OUVERTURE DU

COURS DE 1886-87). Brochure gr. in-8. 2 » *LE SELECTIONS SOCIALES. COURS LIBRE DE SCIENCE POLITIQUE, PROFESSE

A L'UNIVERSITE DE MONTPELLIER (1888-1889). 10 » * THE FUNDAMENTAL LAWS OF ANTHROPO-SOCIOLOGY. Brochure grand in-8 2 50 * L'ARYEN [anotação de Sílvio Romero]383

Abaixo das obras indicadas pela casa editorial Sílvio marcou com asterisco Les

selections sociales e The fundamental laws of anthropo-sociology e anotou logo abaixo dos

381 HAWKINS, Mike. Social Darwinism in European and American Thought, 1860-1945: Nature as Model and Nature as Threat. Cambridge: Cambridge University Press, 1997; SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1999; MACHADO, Fernando Luís. Os novos nomes do racismo: especificação ou inflação conceptual? Sociologia, São Paulo, n. 33, p. 9-44, set. 2000; RAMOS, Jair de Souza. Ciência e racismo: uma leitura crítica de Raça e assimilação em Oliveira Vianna. História, ciência e saúde - Manguinhos, vol.10, n. 2, p. 573-601, 2003; LAGUARDIA, Josué. The use of the "race" variable in health research. Physis, vol.14, n.2, p.197-234, july/ dec. 2004. 382 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. 383 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899.

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livros elencados o título do exemplar que tinha em mãos. Essas anotações indicam interesse

pelas obras, mas, a menos que alguma obra tenha sido extraviada da Biblioteca de Sílvio

Romero, ele não se reverteu na compra de livros. O único título adquirido depois de L’Aryen

foi Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie e pertence a uma outra editora.

A obra em análise foi impressa em formato in-8, o principal padrão desta casa

editorial. Na sua confecção foi empregado o tipo romano com corpo 11, entrelinhamento com

4 pontos em relação ao corpo. O exemplar estudado apresenta margens superior, medianiz e

dianteira de 2 cm e margem inferior de 3,5. As margens são originais, pois Sílvio adquiriu a

obra numa encadernação de luxo da própria casa editorial. Há alguns aparelhos críticos como

índice analítico detalhado, remissivo e de tabelas, bibliografia comentada e apêndices.

No prefácio o autor estabeleceu um diálogo com o leitor. Explicou que o livro é

resultado do curso livre de Ciência Política que ministrou na Université de Montpellier e que

resolveu publicá-lo sem grandes alterações de forma e sentido, apenas suavizou a ênfase na

oratória em certos trechos. Afirmou que o espírito da obra é monista e selecionista e que o

leitor pode reter os fatos sem reter a doutrina. Logo após o prefácio, consta a bibliografia

empregada pelo autor, com o objetivo de mostrar o quão autorizadas são as suas opiniões. Ao

final apresenta dois apêndices com fontes antigas: textos assírio-babilônicos e textos clássicos

(gregos e latinos).

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Figura 16 – Folha de rosto de L’aryen: son role social, de Georges Vacher de Lapouge

Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de L’aryen. 2004. Acervo pessoal.

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O objetivo da obra é mostrar a superioridade da raça ariana. Divide-se em oito

capítulos. No primeiro capítulo, evidenciou que a raça dolicocéfala-loira é superior às demais

porque conseguiu dominar as outras raças primitivas. No segundo, apresentou as

características anatômicas e fisiológicas do ariano. No terceiro, analisou a origem da raça

ariana. No quarto e no quinto mostrou a supremacia que a raça ariana conquistou perante as

raças braquicéfalas ao longo da história e os riscos que ela corre em virtude do fortalecimento

social das raças inferiores. No sexto estudou a psicologia do ariano. No sétimo analisou a

posição social desse grupo. E no último discorreu sobre o futuro do raça ariana.

Nos interessa mais de perto, para o objetivo de compreender as representações sobre

educação apropriadas por Sílvio Romero, o sexto capítulo sobre a psicologia do ariano. Neste

capítulo, Lapouge expôs a visão de que a psicologia humana é determinada pelas leis da

hereditariedade. O homem é o que a natureza permite que ele seja. Criticou os neo-

lamarckianos que acreditam plenamente que os caracteres adquiridos podem ser herdados. Na

sua opinião é impossível legar à gerações sucessivas os caracteres psíquicos adquiridos. Nem

mesmo a linguagem, pilar da educação, pode ser legada. Diante disso, a educação tem o poder

apenas de fortalecer as faculdades naturais.

Ainda neste capítulo, Lapouge dialogou com a Escola de Ciência Social. Inicialmente,

comparou a educação anglo-saxônica e a francesa. Apresentou a educação oferecida na

Inglaterra e nos Estados Unidos como um modelo que privilegia o currículo científico e

estimula o desenvolvimento da iniciativa e da responsabilidade, possibilitando que os ingleses

e os norte-americanos estejam preparados para desempenhar qualquer papel na sociedade. A

educação ministrada na França é, por sua vez, apresentada como um modelo que prioriza o

ensino das Humanidades e tem por alvo formar a aristocracia para assumir o controle do

Estado católico e centralizado. Considerou o modelo inglês superior, capaz de reforçar as

aptidões naturais das raças.

No entanto, desconfiou do desejo expresso por Demolins, no trabalho A quoi tient la

superiorité des anglo-saxons?, de através da educação dar aos franceses um espírito anglo-

saxão. Para ele de nada adianta levar os franceses, na sua maioria braquicéfalos, a agir de um

modo que não coaduna com a sua natureza. A modificação é apenas artificial, pois a educação

não pode alterar substancialmente o homem. O trabalho dos educadores torna-se infinito, deve

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ser repetido a cada geração. Para Lapouge esperar que a educação faça os franceses

assemelharem-se aos anglo-saxões é contar com o impossível. 384

Sílvio leu cuidadosamente L’Aryen. Assinou Roméro na folha de guarda. A seguir,

percorreu as páginas, impregnado-as de anotações. Não o encarou como volume para ser lido

apressadamente e depositado numa estante. Debruçou-se sobre ele. Leu e releu. Na folha de

guarda fez uma espécie de índice remissivo. Anotou alguns assuntos abordados por Lapouge e

as respectivas páginas.

Raças p. 14, p. 160 Mestiço p. 42 Demolins 392 Judeos 162 Individualismo e solidariedade 373 A intersticial e infiltrativa – 40385

Foi um expediente que encontrou para voltar aos temas de sua predileção com

facilidade, visto que os produtores da obra não lançaram mão desse recurso.

Para assinalar as passagens mais relevantes utilizou asteriscos, sublinhados simples ou

duplos, traços verticais simples ou duplos ao lado dos parágrafos, as letra V e W ou

parênteses para assinalar o início e o fim de um trecho selecionado.

Além desses sinais deixou anotações de síntese e de concordância.

A maior parte das anotações foi de síntese. À medida que o autor expunha suas idéias,

Sílvio ia colocando às margens palavras, frases ou orações capazes de sintetizá-las e facilitar o

entendimento. Entre essas anotações estão: “(A these)”386; “(Sobre causa da glaciação)”387;

“Dolichocephalos claros/ Dolichocephalos morenos e até negros/ Brachycephalos claro/

384 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. 385 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. 386 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 20 [margem dianteira]. 387 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 20 [margem medianiz].

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Brachicephalos morenos e até negros”388; “mestiçamento de acaso/ mestiçamento

sistemático”389; “(Cruzamento)”390; “(Eugenismo)”391.

As marginálias de concordância não foram muito numerosas: Destacam-se: “Mto bom

para questões anthropologicas”392; “These correta”393. Essa última nota refere-se à afirmação

de Lapouge de que os alemães do Norte pertencem à raça dolicocéfalo-loira, considerada

superior.

Os textos que compõe Race et milieu social: essai d’Anthropolosociologie394 foram

publicados inicialmente em periódicos franceses. Em 1909 foram reunidos pelo autor e

editado pela Marcel Rivière. A obra em análise foi impressa em formato in-8. Na sua

confecção foi empregado o tipo romano com corpo 10, entrelinhamento com 4 pontos em

relação ao corpo. O exemplar estudado apresenta margens superior, medianiz e dianteira de 2

cm e margem inferior de 3 cm. As margens sofreram redução na encadernação realizada na

Livraria Briguiet et Cie. Há alguns aparelhos críticos como introdução, índice analítico, notas

explicativas e bibliografia. Na introdução, explicou que o objetivo da obra é fornecer ao

público francês uma idéia do estado geral da Antropossociologia, uma vez que os ensaios

foram publicados em revistas especializadas, de pequena circulação. Alertou que adicionou

uma bibliografia comentada no final para indicar obras que julga úteis para que o leitor

conheça o estado atual da Antropossociologia. É importante assinalar que as obras dos autores

que fazem oposição ao autor receberam críticas mordazes. Por exemplo:

388 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 271[margem dianteira]. 389 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 390 [margem inferior]. 390 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 489 [margem medianiz]. 391 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 583 [margem dianteira]. 392 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 151 [margem dianteira]. 393 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 320 [margem medianiz]. 394 LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière, 1909.

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FINKELHAUS FINOT. - Le préjugé des races. Paris, Alcan, 1905. Critique d'amateur contre l'anthroposociologie.395

Já as obras preferidas pelo autor receberam comentários elogiosos. Note:

LIVI (Ridolfo). - Antropologia militare. Risultati ottennti dallo spoglio fri fogli sanitari dei militari delle classi 1859-63. - Roma, 1896. Le plus grand recueil d'anthropométrie sur le vivant.396

Utilizando esse dispositivo tentou fazer com que o leitor percorresse o caminho pré-

estabelecido por ele e aderisse às suas representações.

395 LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière, 1909, 382. 396 LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière, 1909, 385.

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Figura 17 – Folha de rosto de Race et milieu: essais d’Anthroposociologie por Georges Vacher de Lapouge

Fonte : SOUZA, Cristiane Vitório. Folha de rosto de Race et milieu. 2004. Acervo pessoal.

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Dividiu a obra em quatorze ensaios. Neles abordou: a nomenclatura zoológica em

antropologia, a origem dos arianos, o método crítico para o estudo das populações do passado,

a evolução antropológica da população da França, as pesquisas antropológicas sobre a

diminuição da população francesa, as correlações entre sucesso financeiro e índice cefálico, as

leis fundamentais da antropossociologia, os trabalhos de Jacoby e Nicéforo, a inferioridade

natural das classes pobres, Durand de Gros e a análise étnica, o selecionismo de Broca, o

concurso de Iéna, a obra de Woltmann e as idéias de Houzé.

Em vários pontos da obra retomou a discussão sobre educação encetada em L’aryen.

Segundo ele, há um debate entre educacionistas e selecionistas. Os educacionistas, apoiados

nos postulados neolamarckianos insistem que os efeitos da educação podem ser trasmitidos

para as gerações vindouras. Pensam que a instrução é o remédio para todos os males da

sociedade.

Por sua vez, os selecionistas, entre os quais insere-se Lapouge, discordam

radicalmente dessas idéias. Mostram que o aprofundamento do estudo das leis da

hereditariedade que regem a seleção evidenciam que a transmissão dos caracteres psíquicos

adquiridos é impossível. Desse modo, a educação é útil apenas para o indivíduo, mas não para

a raça. Para esse grupo de cientistas, a única forma efetiva de aprimorar o ser humano é

através do selecionismo prático, do cruzamento acompanhado das raças.397

Sílvio realizou leitura atenta de Race et milieu. Na página de rosto deixou o seu

autógrafo: Roméro. Nas páginas seguintes deixou diversas marginálias. Assim como nas

demais obras assinalou trechos mais relevantes com asteriscos, sublinhados simples ou

duplos, traços verticais simples ou duplos, as letra V e W ou parênteses simples e duplos.

As anotações foram de síntese ou relativas à aplicabilidade das idéias expostas ao

Brasil.

397 LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière, 1909.

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Como se estivesse tentando decodificá-la a obra, escreveu: “(A persistência)”398;

“(These básica)”399; “A evolução não é só progressiva; é também regressiva”400; “A evolução

é indifferente”401; “Os exaggeros dos neolamarckistas sobre os caracteres adquiridos”,

“(Educação)”402; “A transformação radical pelo meio cae/ O educacionismo cae/ O processo

indefinido cae”403; “A herança adquirida cae/ Força da hereditariedade básica e constitucional

– fica”404; “O mestiço é que tende a acabar com o retorno as raças mães”, “Neste caso volta ao

branco mas também ao índio (Brasil)”405; “pª o desapparecimento do mestiço vigoram a

reversão e a infecundidade futura”406; “Contra mudanças feitas pela educação. Os caracteres

fortes não mudam”407; “pª Durand – o meio; pª Broca – raça; pª - Lapouge – ambos e mais a

última”408; “1º Que se transmitem os neo-lamarckistas (Spencer)/ 2º que não se transmitem/ 3º

Os neo-darwinistas que se transmitem quando eles são o plasma”409; “* Nada sabemos sobre o

mecanismo de hereditariedade”, “(Selecção e herança)”, “Aqui herança/ Herança normal ou

398 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XI [margem dianteira]. 399 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XI [margem medianiz]. 400 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XXIV [margem superior]. 401 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XXVIII [margem medianiz]. 402 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XXX [margem medianiz]. 403 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XXXI [margem medianiz]. 404 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 35 [margem inferior]. 405 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 36 [margem dianteira]. 406 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 87 [margem superior]. 407 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 216 [margem superior]. 408 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 219 [margem superior]. 409 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 229 [margem inferior].

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dos caracteres fundamentais (sim)/ Herança dos adquiridos (não)” 410; “Os adquiridos passam

senão quando das misérias físicas que modificam o plasma e isto só se manifesta na 2ª

geração. Os da 1ª trazem a dita modificação que activa as condições da descendência”411;

“*Logo a educação serve ao menos pª o indivíduo”412.

Há várias anotações em que defendeu a aplicação de Lapouge ao Brasil: “Tudo isto se

applica ao Brasil mas não existem estudos anthropologicos sobre as gentes brasileiras nem

antigas, nem modernas, nem de negros, nem de índios, nem de brancos ou suppostos taes,

nem de mestiços, etc - Nada temos não”413; “Brasil só zonas puras em pontos de índios e de

allemães em alguns pontos do Sul”414; “Brasil”, “mulato casado só com negro volta ao negro

e casado com branco volta ao branco. Mas, de facto vai quase sempre no mulato que é mais

espalhado”, “instabilidade/ retorno/ infecundidade”415; “No Brasil o negro e o índio produzem

mais que o mestiço”416; “(Mistura com estrangeiros diversos no Brasil)”417; “Aqui há cousa a

se applicar ao Brasil mas faltam documentos. Em que medida o índio e o negro diminue, se é

que diminue; em que escala se está dando a reversão; quem emigra de um ponto pª outro,

etc.”418; “Aqui os descendentes dos portugueses são dolichocephalos; os negros também; os

indios são brachicephalos”419; “Os novos contigentes italianos dolichocéfalos da peior; os

410 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 312 [margem dianteira]. 411 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 313 [margem inferior]. 412 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 317 [margem dianteira]. 413 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 70 [margem inferior]. 414 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 82 [margem inferior]. 415 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 89 [margem superior e inferior]. 416 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 90 [margem dianteira]. 417 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 97 [margem inferior]. 418 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 138 [margem inferior]. 419 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 168 [margem superior].

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polacos e alemães, quase todos do sul são brachicéfalos”420; “No Brasil o estudo

anthropologico é mto difficil; temos péssimos elementos dolichocephalos (índio, negros) e

brachicephalo (portugueses)”421; “(Como aplicar no Brasil?)”422; “(Brasil)/ # Pela hygiene =/

# Pela instrucção =/ #Pela educação moral e física/ # Pela escolha sexual systematizada/ #

pela mistura ethnica boa e acertada/ # pela suppressão da possível decadência dos

degenerados”423; “Spencer, Lapouge e Le Play em 1º lugar, e depois Greef, Buckle, etc/

Foram por mim escolhidos”424; “São os particularistas da S. Social”425; “(Particularistas

agricultores) (Cf. Le Play)” – margem medianiz, p. 154426.

A anuência às idéias de Lapouge ganha contornos mais nítidos quando as marginálias

são confrontadas com outras fontes. No primeiro capítulo, apresentamos uma carta que Sílvio

enviou para Artur Guimarães em 14 de fevereiro de 1910. Nela comentou a leitura que estava

empreendendo: “Estou acabando o Lapouge, que é muito bom para as questões técnicas da

antropologia. Ele e o Ammon são os fundadores da antropo-sociologia, ciência que reúne a

antropologia à sociologia”. E reforçando a afirmação de que o antropossociólogo era útil no

que diz respeito à antropologia afirmou: “Leva vantagem quando estabelece no fundo de tudo

o elemento raça, que foi sempre a minha velha mania”.427

Para compreender a apropriação que Sílvio fez das obras de Lapouge, para escrever os

textos sobre educação, não podemos desprezar as noções mais gerais do seu pensamento. A

420 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 175 [margem inferior]. 421 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 186 [margem inferior]. 422 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 186, 197, 200 e 203 [margem inferior]. 423 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 312 [margem inferior]. 424 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 127 [margem medianiz]. 425 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 152 [margem medianiz]. 426 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 154 [margem medianiz]. 427 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 14 de fevereiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 241-242.

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questão racial é um ponto incontornável no pensamento do intelectual sergipano, está no

centro de todas as suas reflexões.428 Sílvio julgou que para resolver os problemas do Brasil era

necessário o aperfeiçoamento das raças. Em Estudos de poesia popular no Brasil429 e em

História da Literatura Brasileira430 fez o elogio da miscigenação. Defendeu que o

cruzamento entre índios, negros e portugueses trouxe um ganho evolutivo para o Brasil, pois

ajudou o colonizador branco a se adaptar à luta pela sobrevivência nos trópicos e, ao mesmo

tempo, incorporou o negro e o indígena à civilização. Porém, era preciso melhorar a qualidade

do mestiço brasileiro. Para isso, era preciso incentivar o seu cruzamento, e o dos portugueses,

negros e índios que ainda não tivessem sofrido a mestiçagem, com imigrantes europeus de

raças brancas superiores, que deveriam ser espalhados por todo o território brasileiro. Assim,

no prazo de três ou quatro séculos a população brasileira se tornaria branca. E aí sim o Brasil

poderia trilhar o caminho do progresso.

Sua confiança no branqueamento da população foi abalada por volta da virada do

século dezenove para o século vinte. Em Martins Pena, de 1901, fez a autocrítica da fé nos

benefícios do cruzamento. Considerou as fusões prejudiciais, pois os povos cruzados são

sempre inferiores às raças ditas puras: “Os mestiços tomados em totalidade são

fundamentalmente inferiores, como robustez, ao negro e ao branco, como inteligência e

caráter, ao branco, sem a menor dúvida”.431

Em 1913, no prefácio do livro Questões e problemas de Tito Lívio de Castro,

questionou a viabilidade do branqueamento, considerando a previsão, feita em História da

Literatura Brasileira, de que esse processo se completaria em três ou quatro séculos,

excessivamente otimista quanto às reais possibilidades de extinção das raças inferiores.

Defendeu então sete ou oito séculos para o branqueamento de negros e índios puros. Já os

428 Acerca do pensamento racial de Sílvio Romero, consultar: SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991; SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 429 ROMERO, Sílvio. Estudos de poesia popular no Brasil (1870-1880). Rio de Janeiro: Laemmert &. C., 1888. 430 ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio; INL, 1980. V. 1. (1ª edição: 1888) 431 ROMERO, Sílvio. Martins Pena. Ensaio crítico. Porto: Chardron, 1901, p. 159-162

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mestiços, fruto do cruzamento ao acaso com diversas raças, julgou que jamais evoluiriam

porque “populações que se mestiçaram – nunca mais deixam de ser mestiçadas, e esse é em

geral o caso de todas as populações da Terra!”. 432

Essa imagem negativa da mestiçagem pode ter sido forjada após a leitura do teórico

racista Lapouge que prevenia sobre o perigo do cruzamento ao acaso que poderiam gerar

epiléticos, loucos, criminosos ou tipos infecundos. Podemos afirmar a partir da carta que

enviou a Artur Guimarães, que em 1913, ele já conhecia alguma obra do autor e estava

positivamente impressionado, pelo menos no tocante às questões antropológicas. A

coincidência de frases numa das margens do livro e na carta reforçam a idéia de que a obra

mencionada na missiva tenha sido L’Aryen: “Mto bom para questões anthropologicas”433; e

“Estou acabando o Lapouge, que é muito bom para as questões técnicas da antropologia”.434

As noções antropológicas foram as que mais cativaram Sílvio. Mas vejamos as

questões relativas à educação.

Foi a partir da reflexão sobre a antinomia entre hereditariedade e educação que Sílvio

definiu o papel que a educação pode cumprir. Numa das páginas de L’Aryen escreveu:

“(Exaggero contra a herança e contra a educação)”435. Sílvio discordou da ênfase de Lapouge

na intransmissibilidade dos caracteres psíquicos adquiridos e na desconfiança no poder da

educação. Isso é perceptível tanto nas marginálias, quanto nos textos que escreveu sobre a

educação.

Em 1906, discutiu essa questão pela primeira vez em América Latina, obra que

escreveu com o objetivo de criticar a obra homônima de Manuel Bomfim que defendia a

instrução como panacéia para a cura de todos os males do país. O diretor do Pedagogium

criticou as homologias e analogias entre biologia e sociedade: “Está um pouco desacreditado,

432 ROMERO, Sílvio. “Prefácio”. In: CASTRO, Tito Lívio de. Questões e problemas. São Paulo: Empresa de propaganda literária luso-brasileira, 1913, p. 15. 433 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899, p. 151 [margem dianteira]. 434 ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 14 de fevereiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 241-242. 435 LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 362 [margem medianiz].

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em sociologia, esse vezo de assimilar tudo, em tudo e para tudo, as sociedades aos organismos

biológicos”436. Ainda que investigasse a sociedade e a história latino-americana com base em

noções tomadas de empréstimos da biologia e da zoologia, procurou marcar os limites de

validade dos conceitos transpostos de um campo para outro. O principal conceito que

empregou foi o de parasitismo. Mas procurou diferenciar o parasitismo orgânico do

parasitismo social. O parasitismo orgânico traria modificações irreversíveis nos organismos e

o social poderia ser extirpado pelos parasitados. Ao analisar a América Latina concluiu que os

males que afligiam o continente eram males de origem, frutos da ação parasitária dos

colonizadores ibéricos. Para salvá-la sugeriu:

Soffremos, neste momento, uma inferioridade, é verdade, relativamente aos povos cultos. É a ignorância, é a falta de preparo e de educação para o progresso, eis a inferioridade effectiva: mas ella é curável, facilmente curável. O remédio está indicado. Eis a conclusão última d’esta longa demonstração: a necessidade imprescindível de attender-se à instrucção popular.437

Sílvio Romero inscreveu-se resolutamente contra essa tese: “A INSTRUCÇÃO, apesar

de ser uma bella coisa e uma arma muito útil, é inefficaz para preparar um longo e brilhante

futuro ao Brazil.” 438 Para ele:

Não se pode haver maior engano. O Rio de Janeiro está cheio de escolas, collegios, lyceus, aulas publicas e particulares, academias civis e militares, conservatórios, cursos de bellas-artes, cursos commerciaes; transborda de poetas, romancistas, contistas, críticos, jornalistas homens de letras de toda a casta, de todos os gêneros, de advogados médicos engenheiros, publicistas de todos os matizes, padres de todas as religiões, feiticeiros de todas as mágicas sonhadas e por sonhar, políticos e politiqueiros de todos os credos e de todas as cores, e nada obsta a que sejamos frívolos e incapazes. Nada quase existe digno de nota, n’este paiz de norte a sul, de leste a oeste, que seja uma conquista exclusiva, um acto de força creadora, autônoma, só da vontade nacional.439

436 BOMFIM, Manuel. América Latina: males de origem. Paris: Garnier, 1905, p. 20. 437 BOMFIM, Manuel. América Latina: males de origem. Paris: Garnier, 1905, p. 339. 438 ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello & Irmão, 1906, p. 254. 439 ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello & Irmão, 1906, , p. 257-258.

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Para Sílvio, a instrução (educação intelectual) não pode auxiliar a sanar os males do

país, uma vez que esses não residem no parasitismo dos colonizadores e políticos brasileiros,

mas no caráter do nosso povo, marcado pela apatia. Só a educação moral pode fazer isso. Só a

partir da modificação “do caráter comunário do povo através da reforma da educação no

sentido anglo-saxônico da iniciativa individual” é possível pensar num futuro alvissareiro para

o país. Acreditou que através da educação recomendada pelos discípulos de Le Play era

possível modificar a índole, um dos caracteres psíquicos, fato negado pelos defensores da

intransmissibilidade dos caracteres adquiridos.

Em Brasil na primeira década do século XX, tocou rapidamente nesta questão.

Defendeu que não haveria um futuro largo para o país “enquanto por seguros meios de

seleção sociológica, de educação moral e, até certo ponto, de instrução científica;

devidamente generalizados, se não modificar - para melhor – a índole, o caracter intrínseco de

nossas gentes” 440 E afirmou que se ainda descuramos dessa questão “é que não queremos

confessar a verdade certa incapacidade crônica, oriunda, de vícios étnicos, falta de educação

ou seleção, apta a extirpá-los nuns casos, a minorá-los e noutros”441

Mas, é em O Remédio, sua obra derradeira que enfrentou a questão mais

explicitamente. Nesse texto, defendeu a educação energética como “remédio” para a cura dos

males brasileiros. Para isso, rebateu as três objeções mais comuns: “a vozeria romântica que

endeusava o abc como a solução para tudo; a exagerada reação que hoje aí manda enriquecer

para depois aprender; e a argumentação antropossociológica de Vacher de Lapouge”. 442

A primeira objeção já havia sido comentada no texto em que criticava Manuel

Bomfim, um dos representantes desse grupo. Mais uma vez alertou que essa “panacéia

universal” não era capaz de solver todas as dificuldades imagináveis da Nação. O estudo mais

aprofundado dos autores “modernos e contemporâneos” da Escola de Le Play e a constatação

440 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2 ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912; p. 106. 441 ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2 ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p. 102. 442 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, 250.

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de que as reformas realizadas nessa direção não surtiram efeito mostraram-lhe as fortes doses

de ilusão dessa visão.

Rebateu também os negativistas exagerados do ensino que sustentam a tese de ser a

riqueza que traz o saber. Para ele, essa opinião era despropositada porque “saber e riqueza,

riqueza e saber, são coisas correlatas na evolução geral, e funciona cada uma delas, ora como

efeito e ora como causa”.443

Eliminadas essas oposições atacou as “muito mais sérias” objeções do “desabusado”

mestre da antropossociologia Vacher de Lapouge. Primeiro expôs as idéias do autor:

Ataca de frente, com uma rudeza sem igual, os preconceitos correntes sobre a instrução, como fator de seleção social: mas se excede, a meu ver. A instrução é ineficaz, afirma, para alterar o tipo intelectual dos indivíduos; depende estreitamente de sua organização cerebral e de suas qualidades nativas. O homem instruído não possui um grande cérebro, por ser instruído; ao contrário, é instruído porque nasceu com um cérebro maior e mais poderoso. A instrução nada pode fazer a favor dos idiotas, dos imbecis, dos nulos, dos medíocres. Não os melhora. Mesmo com relação aos mais inteligentes, não lhe altera a índole; é impotente para inocular-lhe a bondade, a ardileza, a iniciativa. É de notar, escreve, muitas vezes a intensidade do espírito de sequacidade, o espírito gregário em homens dos mais instruídos e que fazem autoridade em sua especialidade. A mais leve manifestação de uma idéia independente os melindra; rejeitam a priori, como perniciosos erros, tudo que lhes não foi ensinado por seus mestres. Tais sujeitos, terríveis obstáculos ao progresso científico e material, exibem a reunião de uma inteligência muito culta, de vastos conhecimentos e de um servilismo de espírito que nada pôde modificar.444

Para reforçar a exposição Sílvio traduziu um trecho de L’Aryen:

Os conhecimentos adquiridos não se transmitem por herança; é fato fora de dúvida... A instrução é, destarte, ineficaz para assegurar os progressos da humanidade... Há cem mil anos, talvez, que o homem fala; e se não ensinássemos nossos filhos a falar, é claro que a hereditariedade não se

443 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 251. 444 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 252.

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encarregaria disto. E o que se diz de linguagem, repete-se de todo o saber: não se transmite.445

Questionou: “Será verdade que os salutares e enérgicos efeitos da educação,

fortalecendo o organismo, não modifiquem para melhor as qualidades nativas, as faculdades e

potências cerebrais?”.446

Lembrou que o próprio Lapouge admitiu estar errado a respeito da transmissibilidade

ou não por herança dos caracteres adquiridos. De um profundo negativismo, apoiado na obra

Die Continuitaet des Keimplasmas de Weissmann, publicada em 1885, foi obrigado a

reconhecer, pelas experiências que realizou, que quando a qualidade adquirida modifica o

plasma germinativo é possível haver transmissão dos caracteres adquiridos. Passou a ocupar

uma posição intermediária entre seu primeiro modo de ver e o dos neolamarckistas. Mas

manteve-se irresoluto a respeito da transmissão por herança dos caracteres psíquicos.

O intelectual sergipano concordou que a educação não dispensa as qualidades nativas

e delas depende. Porém, alegou que embora não se herde diretamente esta ou aquela língua; se

herda uma maior facilidade, uma mais desenvolvida tendência para a linguagem; não se herda

o conhecimento da música, da pintura, da escultura, mas se herda o talento para a arte; não se

herda o saber; mas se herdam mais pronunciadas faculdades para as ciências. Considerou que

entre os “medíocres” que ela não pode modificar e os “gênios” que ela pode ajudar há uma

“multidão infinita de espíritos de todos os graus” que a educação bem orientada desenvolve e

fortalece.

Diante da impossibilidade de contar com o antropossociólogo para respaldar a sua

crença no poder da educação, recorreu a Herbert Spencer, que acreditava na transmissão de

comportamentos e experiências adquiridas, na força da hereditariedade social:

445 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 253. Conferir o trecho original em: LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899, p. 296. 446 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 252.

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Não modifica a índole, o caráter, natureza intrínseca dos indivíduos... Não é de todo exato. O saber é, às vezes, um auxiliar da vontade, mas seu fim principal não é criar heróis; é fornecer armas na luta pela existência. Para o indivíduo é sempre um companheiro fiel, alargando-lhe os horizontes do espírito, fornecendo a compreensão das coisas, dos fatos e dos homens. Para a espécie é inestimável; é a origem dessa acumulação de idéias, de doutrinas, de teorias, de descoberta que é a fonte inesgotável da civilização, da cultura, das ciências, das artes, das indústrias. Que seria da humanidade sem tais recursos? Não se transmitem, como a mecânica dos instintos, por herança biológica... Sim; mas se transmitem por acumulação, por esse processo que poderemos chamar a hereditariedade social.447

447 ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 253.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, estabeleci como objetivo compreender como Sílvio Romero se

apropriou das obras L’éducation intelectuelle, morale et physique de Herbert Spencer,

Histoire de la formation particulariste de Henri de Tourville, A quoi tient la superiorité des

anglo-saxons? e de L’éducation nouvelle: l’École des Roches de Edmond Demolins, de La

vie americaine: l’éducation et la société de Paul de Rousiers, de L’Aryen:son role social e

Race et milieu de Georges Vacher de Lapouge.

Antes de analisar especificamente a leitura das referidas obras, julguei necessário

analisar as competências e práticas adquiridas por Sílvio Romero ao longo da sua trajetória.

Foi possível perceber que através da educação formal e informal que recebeu o intelectual

sergipano desenvolveu competências e práticas que o tornaram um leitor crítico das letras

nacionais e estrangeiras. Lia na sua “oficina”, quando não era interrompido pela reinação e

doenças dos filhos, nas barcas a vapor do Cais Pharoux, a caminho do trabalho ou de volta

para casa, no navio La Plata, na Livraria Alves, no escritório do amigo Artur Guimarães, no

qual costumava acomodar-se num sofá de palhinha ou numa cadeira em califourchon, e na

biblioteca do referido amigo. Fazia leitura silenciosa. Porém, costumava compartilhar suas

leituras com os amigos, relatando-as nas missivas. Lia extensivamente, anotando cada página,

concordando ou discordando dos autores. Para Sílvio Romero, leitura e escritura não estavam

dissociadas, lia para “afundar a pena no papel” e escrever algum volume sobre a pátria.

Após apreciar o perfil do leitor, julguei necessário também fazer um estudo sobre a

Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero, com o intuito de compreender como adquiria os

livros, quais textos despertavam seu interesse e quais as estratégias empregadas pelos

produtores para conformar a leitura. Notei que os livros nacionais e estrangeiros que a

compõe foram comprados em livrarias fluminenses, paulista, baiana e pernambucana,

presenteadas por amigos ou tomadas por empréstimo; que a biblioteca é bem diversificada;

que apesar da existência de textos de origem técnica predominam os de caráter científico; que

além de textos da área da Pedagogia engloba textos de áreas como a Filosofia, a Sociologia, a

Biologia e a Psicologia, que o auxiliaram a pensar a educação, que figuram na sua biblioteca

autores reconhecidos nacional e internacionalmente; que os textos foram publicados em

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alemão, espanhol, francês, inglês e português, com predomínio do português e do francês; que

os principais centros editoriais foram o Rio de Janeiro, destacando-se a participação da

Tipografia Nacional/ Imprensa Nacional e da Tipografia do Jornal do Commercio de

Rodrigues & C., e Paris, destacando-se as editoras Germer Bailliére e a Félix Alcan. As

editoras lançaram mão de diversas estratégias para atrair o leitor e garantir uma determinada

leitura. Uma das estratégias empregadas pelos editores foi a das coleções. Uma outra

estratégia empregada pelos editores foi a apresentação de informações sobre os autores,

tradutores e suas respectivas obras. Os editores procuraram também, com a ajuda dos

ilustradores, embelezar as obras. Ainda se preocuparam com a legibilidade do texto oferecido,

garantida pela adoção do romano, do corpo entre 10 e 12, do entrelinhamento entre 3 e 4

pontos do corpo e o uso de margens entre 1 e 2,5. Utilizaram também aparelhos críticos como

prefácios, notas do tradutor, explicativas e de referência, resumos recapitulativos, índices

remissivos e analíticos, apêndices e anexos.

Por fim debruçei-me sobre a análise das leituras pedagógicas empreendidas por Sìlvio

Romero. Através desse estudo foi possível perceber que ele buscou subsídios para elaborar

representações da educação brasileira em diferentes matrizes teóricas: o evolucionismo de

Herbert Spencer, o culturalismo sociológico da Escola de Le Play, representada por Henri de

Tourville, Edmond Demolins e Paul de Rousiers e a antropossociologia de Georges Vacher

de Lapouge.

Sílvio costumava afirmar que não escrevia pelo gosto de escrever, mas com o sentido

de ser útil à sua pátria. Poderia parafraseá-lo e afirmar que não lia pelo gosto de ler, mas com

o desejo de buscar subsídios para auxiliar no progresso da nação.

Sílvio buscou nas referidas leituras subsídios para pensar a educação adequada para o

país. Durante as suas leituras esbarrou em uma primeira dificuldade: qual o legado do

processo educativo para a humanidade?

Encontrou em Herbert Spencer e na Escola Social de Le Play a resposta que desejava.

Tanto Spencer quanto Tourville, Demolins e Rousiers acreditam na fertilidade da educação.

Consideram-na uma arma eficaz para ser utilizada na luta pela existência e para enfrentar as

dificuldades da sociedade contemporânea. Spencer acredita que a educação auxilia no

desenvolvimento das faculdades naturais. Os discípulos de Le Play acreditam que ela pode

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transformar a índole dos “atrasados” povos comunários em índole particularista, para que a

humanidade possa compartilhar vantajosamente as conquistas da sociedade industrial.

Todavia, como apostar no poder da educação se a Ciência havia lhe ensinado que a

raça está “no fundo de todas as coisas”, e de acordo com esse conceito há uma correlação

imediata entre o domínio físico e o domínio psíquico? Como modificar, através da educação,

a raça brasileira, composta por portugueses e negros (dolicocéfalos da pior espécie), índios

(braquicéfalos) e mestiços, que, como ele mesmo afirmou eram inferiores às raças puras e

poderiam gerar epiléticos, loucos e criminosos?

Para decidir sobre a fertilidade da educação era preciso superar a antinomia educação

x hereditariedade. Com intuito de resolver essa questão inseriu-se no renhido debate entre

neolamarckistas e neodarwinistas ao lado de Lapouge e Spencer. Enquanto os

neolamarckistas apostavam na transmissibilidade dos caracteres adquiridos, os neodarwinistas

defendiam a intransmissibilidade desses. Lapouge, após certa vacilação, ocupou uma posição

intermediária no debate. Defendeu que alguns caracteres físicos adquiridos poderiam ser

legados caso conseguissem alterar o plasma germinativo. No entanto, o antropossociólogo

condenou a transmissão dos caracteres psíquicos adquiridos. Sílvio Romero questionou esse

ponto da sua doutrina e apoiou-se em Spencer, que defendia a possibilidade de transmissão

hereditária das experiências e comportamentos adquiridos que, submetidos à seleção poderia

garantir a evolução social. A Escola de Le Play não foi útil para discutir essa questão porque

não operou com o binômio natureza-sociedade. Os leplayanos utilizavam o conceito raça no

sentido sociológico, como sinônimo de grupo ou classe de indivíduos, desprezando o sentido

antropológico. Este aspecto foi apontado por Sílvio como uma das grandes falhas da escola. O

intelectual sergipano recusou-se a abandonar os pressupostos racistas, analisou a sociedade

brasileira procurando estabelecer um equilíbrio entre mundo natural e mundo social.

Resolvida essa questão da eficácia da educação na transformação dos indivíduos,

procurou definir o papel da educação. Buscou respaldo no evolucionismo spenceriano e na

Escola de Ciência Social. Para Spencer o papel da educação é preparar o homem para a luta

pela vida. Os discípulos de Le Play também acreditam neste postulado. O papel da educação é

formar homens para os desafios da sociedade contemporânea.

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Para buscar o modelo formativo ideal para os brasileiros buscou inspiração novamente

em Spencer e Le Play. De Spencer adotou a concepção de que é preciso formar o homem

completo através da educação intelectual, moral e física. Com os discípulos de Le Play

aprendeu que é necessário oferecer uma educação integral, mas que a moral é mais importante

porque na índole dos povos reside o potencial para o progresso. Assim como os leplayanos,

avaliou que os povos comunários devem copiar o modelo de educação dos povos

particularistas.

Para definir currículo e método recorreu mais uma vez a Spencer e aos sociólogos da

Escola de Ciência Social. Spencer propôs a primazia do ensino científico, o único capaz de

transmitir conhecimentos úteis. Outros autores da época defendiam a primazia do ensino

humanístico assentado nas disciplinas clássicas. Demolins, defendeu a adoção de um currículo

ancorado tanto no ensino clássico quanto no científico, pois é preciso habilitar os alunos a

exercerem todas as profissões. Sílvio mostrou predileção pelo ensino científico preconizado

por Spencer, embora não descartasse a manutenção de algumas disciplinas clássicas no

currículo.

Em relação ao método, apoiou-se tanto em Spencer quanto em Demolins. Ambos

recusaram o método mnemônico comum nas escolas daquela época. Spencer defendeu que os

mestres devem desenvolver as faculdades naturais do educando através da observação e da

experiência, partindo do simples para o complexo, do indefinido para o definido, do concreto

para o abstrato, com o objetivo de respeitar o desenvolvimento psíquico dos indivíduos.

Demolins preconizou o método ativo, valorizando o conhecimento e a ação, a fim de

estimular o desenvolvimento das inclinações primárias e fortalecer os sentimentos de

iniciativa, responsabilidade, honra, retidão e lealdade. Ambos pregavam que a obediência

deve ser obtida através de métodos persuasivos. Sílvio achou as duas propostas interessantes e

complementares.

Quanto à organização do espaço escolar, Sílvio buscou apoio nas idéias de Demolins

e no modelo da École des Roches. As escolas devem ser estabelecidas no campo, com o

intuito de livrar os discípulos dos vícios da cidade. Devem também ser divididas em casas,

que também podem servir de residência para professores e diretores.

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Também considerou útil a educação informal que, segundo Paul de Rousiers, pode ser

oferecida em países de formação particularista, e o intercâmbio de profissionais com o intuito

de aprender o modelo anglo-saxônico de educação tido como o mais eficiente para enfrentar

os desafios da vida contemporânea.

Uma última questão que ocupou a reflexão de Sílvio foi a que diz respeito à assunção

da responsabilidade da educação. Rejeitou a opinião de Spencer que considera que o Estado

não deve intervir nessa matéria e apoiou-se em Demolins que julga que o ideal é o exercício

do self-government, mas nas sociedades de formação comunária, organização social na qual o

Brasil se enquadrava na opinião de Sílvio, é recomendável a intervenção do Estado, uma vez

que os povos com essa formação não conseguem resolver sozinhos os seus problemas.

A partir da análise das leituras empreendidas por Sílvio Romero, é possível concluir,

deixando de lado qualquer conotação ideológica, que Sílvio leu essas obras de modo crítico.

Não se apropriou das representações oferecidas pelo autor in totum. Caminhando entre as

leituras, combinou teorias distintas, aderindo às representações que considerou adequadas

para pensar a educação nacional e rejeitando aquelas que julgou impróprias.

A conclusão deste trabalho não significa que as leituras pedagógicas de Sílvio Romero

foram completamente desveladas. Muitos estudos ainda devem ser empreendidos com o

intuito de compreender essa face do intelectual sergipano. As marginálias gravadas em sua

biblioteca particular clamam por pesquisadores que se disponham ao exercício de decifrá-las!

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BIBLIOTECA DE SÍLVIO ROMERO

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OBRAS DE SÍLVIO ROMERO

ROMERO, Sílvio. Cantos do fim do século: 1869 – 1873. Rio de Janeiro: Fluminense, 1878. ROMERO. Sílvio. A filosofia no Brasil. Porto Alegre: Deutsche Zeitung, 1878. ROMERO, Sílvio. Interpretação filosófica na evolução dos fatos históricos. Rio de Janeiro: Imprensa Industrial, 1880. ROMERO, Sílvio. Ensaios de filosofia do direito. Recife: Companhia Impressora, 1885. ROMERO, Sílvio. Estudos de literatura contemporânea. Rio de Janeiro: Laemmert &. C., 1885. ROMERO, Sílvio. Estudos de poesia popular no Brasil (1870-1880). Rio de Janeiro: Laemmert &. C., 1888. ROMERO, Sílvio. História do Brasil ensinada pela biografia dos seus heróis. Rio de Janeiro: Alves, 1890. ROMERO, Sílvio. Doutrina contra doutrina. O evolucionismo e o positivismo na República do Brasil. Rio de Janeiro: J. B. Nunes, 1894.

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CORRESPONDÊNCIA ATIVA DE SÍLVIO ROMERO

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ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 22 de fevereiro de 1912. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 247. ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 17 de agosto de 1913. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 248.

CARTAS A ARTUR GUIMARÃES

ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 2 de fevereiro de 1898. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 234-236. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 7 de julho de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 77-78. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 15 de julho de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 78-79. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 22 de julho de 1900. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 236-237. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 27 de julho de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 80. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 1º de agosto de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 80-82. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 20 de agosto de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 82-83. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 3 de setembro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 83.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 4 de setembro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 83-84. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 12 de setembro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 84-85. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 14 de setembro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 85-86. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 21 de setembro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 86-87. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 28 de setembro de 1900. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 237. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 5 de outubro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 88. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 23 de outubro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 88. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 17 de novembro de 1900. In: GUIMARÃES, Arthur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 88-89. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 29 de agosto de 1904. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 238-241. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 31 de janeiro de 1910. In: R RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 242. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 14 de fevereiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 241-242.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 24 de fevereiro de 1912. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 242-243. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 29 de fevereiro de 1912. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 243.

CARTAS A ARTUR ORLANDO

ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 277-278. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 313-314. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 314. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 315-316. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 316-317. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 317. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 318. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 15 de agosto de 1888. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 275-276.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de setembro de 1888. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 276. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de janeiro de 1889. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 277. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de janeiro de 1891. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 278-279. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de outubro de 1891. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 279. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 2 de dezembro de 1891. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 280. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de outubro de 1895. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 280-281. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 1 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 8 de janeiro de 1897. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, 283-284. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de abril de 1897. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 284-285.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de abril de 1897. CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 285-286. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 12 de junho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 286-287. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de julho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 287-288. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de fevereiro de 1900. In CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 288-289. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de outubro de 1901. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 289-290. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de maio de 1902. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 290-291. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 5 de junho de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 291. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 2 de julho de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 291-292. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 05 de julho de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 292. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de setembro de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 292-293.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 11 de outubro de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 293. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 19 de janeiro de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 293-294. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de fevereiro de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 294-295. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de junho de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 295-296. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de setembro de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 296-297. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 7 de abril de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 298. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de maio de 1905. In: CHACON, Vamireh. 1969. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, p. 298. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de maio de 1905. In: CHACON, Vamireh. 1969. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, p. 299. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de maio de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 299. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de junho de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 300.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 15 de janeiro de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 300. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 301. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 301-302. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 22 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 302-303. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de outubro de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 303. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de novembro de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 303-304. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 3 de fevereiro de 1907. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 304-305. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de setembro de 1907. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 305. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 18 de julho de 1908. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 306-307. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de setembro de 1908. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 305-306.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de outubro de 1908. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 307. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 12 de novembro de 1908. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 308. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de fevereiro de 1909. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 308-309. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 20 de julho de 1909. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 309. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 10 de setembro de 1909. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 310. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 4 de maio de 1910. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 310. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de maio de 1910. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 311. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 11 de setembro de 1910. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 311. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 10 de junho de 1911. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 311-312. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de setembro de 1911. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 312.

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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de novembro de 1911. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 312-313. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 22 de julho de 1912. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 313. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 3 de janeiro de 1913. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 310.

CARTA A DOMÍCIO DA GAMA

ROMERO, Sílvio. Carta a Domício Gama, de 13 de abril de 1906. In: RABELLO, Sílvio. 1944. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 234.

CARTAS A MAGALHÃES CARNEIRO

ROMERO, Sílvio. Carta a Magalhães Carneiro, sem data. In: CARNEIRO, Magalhães. [S. d]. Sílvio Romero na Intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial.

CARTAS AO BARÃO DO RIO BRANCO

ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 23 de abril de 1903. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, 1944, p. 229. ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 1 de junho de 1903. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 229-230. ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 6 de junho de 1903. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 230.

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ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 6 de julho de 1903. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231. ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 7 de fevereiro de 1904. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231-232. ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 29 de maio de 1907. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 232. ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 24 de setembro de 1909. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 233. CARTAS AO CONDE AFONSO CELSO

ROMERO, Sílvio. Carta ao Conde Afonso Celso, de 25 de maio de 1911. In: RABELLO, Sílvio. 1944. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 233-234. ROMERO, Sílvio. Carta ao Conde Afonso Celso, de 8 de junho de 1914. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 232-233.

LITERATURA DE ÉPOCA

AMADO, Gilberto. História da minha infância. São Cristóvão: Editora da UFS/ Fundação Oviêdo Teixeira, 1999. AMADO, Gilberto. História da minha formação no Recife. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955. AMADO, Gilberto. Mocidade no Rio e primeira viagem para a Europa. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1956. ARANHA, Graça. O meu próprio romance. São Paulo: Nacional, 1931. BOMFIM, Manuel. A América Latina: males de origem. Paris: Garnier, 1905.

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CAMPOS, Edilberto. Crônicas da passagem do século. Aracaju: [S.n.], 1965. 6 v. CARDOSO, Severiano. Lagarto – Sergipe: Histórias e costumes. Almanaque Sergipano, Aracaju, 1899, p. 242-256. EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. Rio de Janeiro: Conquista., 1957. GUARANÁ, Armindo. Dicionário biobibliográfico sergipano. Aracaju: Pongetti, 1925. GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955. GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A vapor de Artur José de Souza, 1915. GUIMARÃES, Ary Machado. Sílvio Romero e Querido Moheno unidos num só pensamento: sobre a forma de governo que nos deve reger. Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1932. KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências no norte do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980. MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1878. NABUCO, Joaquim. Minha formação. 10 ed. Brasília: Editora da UNB, 1981. POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Martin Claret, 2004. RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994. RIO, João do. Cinematógrafo: crônicas cariocas. Porto: Chardron, 1909. ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Aracaju: Saga, 1960. VERÍSSIMO, José. A Educação Nacional. 3 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.

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MENSAGENS E RELATÓRIOS DOS PRESIDENTES DAS PROVÍNCIAS DE SERGIPE, RIO DE JANEIRO E PERNAMBUCO

MENSAGENS E RELATÓRIOS DOS PRESIDENTES DA PROVÍNCIA DE SERGIPE

SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sua sessão ordinária, no 1º de março de 1850, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório apresentado á Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 20 de abril de 1854, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 1º de março 1855, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 2 de julho de 1856, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de Sá e Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.

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SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 1º de fevereiro de 1857, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de Sá e Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da duodécima legislatura da Assembléia Legislativa de Sergipe, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor João Dabney Avellar Brotero. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da duodécima Legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 27 de abril de 1859, pelo Presidente, Dr. Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 5 de março de 1860, pelo Presidente Manuel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da Província de Sergipe, no dia 15 de agosto de 1860, ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior pelo Doutor Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 4 de março de 1861, pelo Presidente, Dr. Thomaz Alves Junior. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Fala com que foi aberta a 1ª sessão da 14ª legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, pelo Presidente Dr. Joaquim Jacinto de Mendonça, no dia 1º de março de 1862. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa de Sergipe pelo Presidente do Estado General Manuel P. de Oliveira Valadão, ao instalar-se a 2ª sessão extraordinária da 13ª legislatura, em 15 de julho de 1918. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919. SERGIPE. Mensagem dirigida à Assembléia legislativa de Sergipe pelo Presidente do Estado General Manuel P. de Oliveira Valadão, em 7 de setembro de 1918, ao instalar-se a 2ª sessão ordinária da 13ª legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1919.

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RELATÓRIOS DOS PRESIDENTES DA PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO

RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, na segunda sessão da décima quinta legislatura, no dia 1º de outubro de 1863, pelo presidente Dr. Policarpo Lopes de Leão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1864, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1865, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1866, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, no ano de 1867, pelo Presidente da Província. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, na primeira sessão da décima oitava legislatura, no dia 15 de outubro de 1868, pelo Presidente da Província Conselheiro Benvenuto Augusto de Magalhães Taques. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.

RELATÓRIOS DOS PRESIDENTES DA PROVÍNCIA DE PERNAMBUCO

PERNAMBUCO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Pernambuco pelo Exmo. Sr. Barão de Villa-Bella na sessão do 1º de março de 1868. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004. PERNAMBUCO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Pernambuco, pelo Exmo. Sr. Conde de Baependy, Presidente da Província, na sessão da

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RELATÓRIOS DA BIBLIOTECA PÙBLICA DO ESTADO DE SERGIPE

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DOCUMENTOS CARTORÁRIOS

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