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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) Reitor: Prof. Dr. Sidney Luiz de Matos Mello Vice-reitor: Prof. Dr. Antonio Claudio Lucas da Nóbrega Instituto de Letras Diretora: Profa. Dra. Ida Maria Santos Ferreira Alves Vice-diretora: Profa. Dra. Telma Cristina de Almeida Silva Pereira Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas Chefe: Prof. Dr. Beethoven Alvarez Subchefe: Profa. Dra. Luciana Sanchez Mendes XXIV SEMINÁRIO DE ESTUDOS CLÁSSICOS /UFF Crises e transformações: ontem e hoje. 27 e 28 de setembro de 2017 Campus Gragoatá – Niterói (RJ) Comissão organizadora: Profa. Dra. Gloria Braga Onelley, Prof. Dr. Fábio Cairolli, Prof. Dr. Bruno Gripp, Profa. Ma. Renata Cazarini de Freitas Comitê científico: Profa. Dra. Beatriz De Paoli (UFRJ), Profa. Dra. Dulcileide Virgínio do Nascimento (UERJ), Profa. Dra. Thaíse Pereira Bastos (UFF) Equipe de monitores: Renan de Castro Rodriguez (coordenador), Alexsander Tinoco, Bruna Castro, Cecylia Odate, Débora Dias, Érica Marques, Ewerton Fagundes, Flavia Figueiredo, Jorge Eduardo Cardoso, Julia Rocha, Layza Nascimento, Maria Clara Machado, Mariana de Almeida Gomes, Melyssa Cardozo, Phillipe Thorp, Rita de Cássia Cruz, Thaís Estofano, Thaís Gomes, Yuri Nascimento. Desenvolvedores web: Érica Marques e Marcos Santos. Gestora da página do Facebook: Rafaela Sabino Tauil Barbosa. XXIV SEMINÁRIO DE ESTUDOS CLÁSSICOS /UFF Crises e transformações: ontem e hoje. 27 e 28 de setembro de 2017 Instituto de Letras (UFF) Campus Gragoatá – Niterói (RJ) CADERNO DE RESUMOS DISCERE DOCERE SEMINARE

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) Reitor: Prof. Dr. Sidney Luiz de Matos Mello Vice-reitor: Prof. Dr. Antonio Claudio Lucas da Nóbrega Instituto de Letras Diretora: Profa. Dra. Ida Maria Santos Ferreira Alves Vice-diretora: Profa. Dra. Telma Cristina de Almeida Silva Pereira Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas Chefe: Prof. Dr. Beethoven Alvarez Subchefe: Profa. Dra. Luciana Sanchez Mendes XXIV SEMINÁRIO DE ESTUDOS CLÁSSICOS /UFF

    Crises e transformações: ontem e hoje. 27 e 28 de setembro de 2017 Campus Gragoatá – Niterói (RJ)

    Comissão organizadora: Profa. Dra. Gloria Braga Onelley, Prof. Dr. Fábio Cairolli, Prof. Dr. Bruno Gripp, Profa. Ma. Renata Cazarini de Freitas Comitê científico: Profa. Dra. Beatriz De Paoli (UFRJ), Profa. Dra. Dulcileide Virgínio do Nascimento (UERJ), Profa. Dra. Thaíse Pereira Bastos (UFF) Equipe de monitores: Renan de Castro Rodriguez (coordenador), Alexsander Tinoco, Bruna Castro, Cecylia Odate, Débora Dias, Érica Marques, Ewerton Fagundes, Flavia Figueiredo, Jorge Eduardo Cardoso, Julia Rocha, Layza Nascimento, Maria Clara Machado, Mariana de Almeida Gomes, Melyssa Cardozo, Phillipe Thorp, Rita de Cássia Cruz, Thaís Estofano, Thaís Gomes, Yuri Nascimento. Desenvolvedores web: Érica Marques e Marcos Santos. Gestora da página do Facebook: Rafaela Sabino Tauil Barbosa.

    XXIV SEMINÁRIO DE ESTUDOS CLÁSSICOS /UFF

    Crises e transformações: ontem e hoje. 27 e 28 de setembro de 2017

    Instituto de Letras (UFF) Campus Gragoatá – Niterói (RJ)

    CADERNO DE RESUMOS

    DISCERE DOCERE SEMINARE

  • Editoração: Renata Cazarini de Freitas Revisão: Glória Braga Onelley Agradecimentos: aos conferencistas Prof. Dr. Breno Sebastiani (USP) e Prof. Dr. Matheus Trevizam (UFMG) e aos palestrantes Prof. Dr. Ricardo de Souza Nogueira (UFRJ), Prof. Dr. Bernardo Lins Brandão (UFPR), Prof. Dr. Marcus Reis Pinheiro (UFF), Prof. Dr. Marcos Caldas (UFRRJ), Maria Eichler (UNIRIO), Prof. Dr. Fábio Cairolli (UFF). Agradecimentos aos professores convidados: Profa. Dra. Sílvia Costa Damasceno (UFF), Profa. Dra. Shirley Peçanha (UFRJ), Profa. Dra. Carolina Paganine (UFF), Prof. Dr. André Dias (UFF). Agradecimentos ao Prof. Dr. Gilson Charles dos Santos (UnB), à Profa. Dra. Maria Fernanda Garbero (UFRRJ), ao Prof. Dr. Beethoven Alvarez (UFF) e a Mariana Figueiredo Virgolino (UFF) por terem ministrado minicursos. Agradecimento especial à Companhia Teatro de Letras (UFF).

    XXIV SEMINÁRIO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

    Crises e transformações: ontem e hoje. 27 e 28 de setembro de 2017

    Instituto de Letras (UFF)

    CADERNO DE RESUMOS

    Niterói 2017

  • quanto entre os autores latinos, Medeia servirá às disputas de poder por território e legitimação, como vemos em Sêneca, na representação da barbárie como ameaça ao Império Romano. Através de uma leitura comparada entre esses textos, discutiremos o filicídio como articulador do aniquilamento dessa mulher que se mostra plenamente consciente e em crise com o que pode significar a maternidade, ao questionar a valorização dos homens que vão à guerra, em detrimento das mulheres obrigadas historicamente a parir. Para dar conta dessa leitura a respeito da personagem, um olhar às referências míticas se torna importante. No primeiro dia (2h), debaterei algumas passagens de Medeia que encontramos a partir de Hesíodo, na Teogonia, a fim de verificar como são transformadas as noções de filicídio involuntário, como vemos em diferentes versões do mito, até chegarmos à filicida vingativa que Eurípides nos apresenta. Pela radicalidade que essa imagem projeta, vale ressaltar que é na tragédia apresentada em 431 a.C. que encontramos a personagem monstruosa, cujo crime se torna tão potente por sua crueldade, que autoriza certos silenciamentos acerca do abandono/culpa de Jasão, bem como o que isso desencadearia naquele contexto. Debatidas essas questões, no segundo dia (2h), trabalharei com a relação entre os textos de Eurípides e Sêneca. Ao ser inscrita em ambos os autores como filicida, ainda que com perspectivas diferentes, a personagem passa a mimetizar algo que até então não aparecia nas versões míticas, isto é, a ira desmedida. É dessa representação de uma mulher excessiva em seus atos patéticos que ela emerge como um alerta dos perigos que esse corpo pode significar. Cruzado por marcadores de extrema complexidade (mulher/mãe/não-helênica/feiticeira/desterrada/inteligente), a violência de sua presença também se traduz como um dos sentidos de hýbris. PALAVRAS-CHAVE: Eurípides, Medeia, Hýbris, crise, alteridade.

    SUMÁRIO

    TEMA DO SEMINÁRIO Crises e transformações: ontem e hoje. .................................................04 APRESENTAÇÃO Discussão interdisciplinar..........................................................................06 HOMENAGEM

    30+ do Seminário de Estudos Clássicos da UFF ..............................07 PROGRAMAÇÃO Dia 27 quarta-feira ....................................................................................08 Dia 28 quinta-feira ....................................................................................12

    RESUMOS Conferência de abertura ............................................................................16 Conferência de encerramento ..................................................................16 Mesa 1: Crise e identidade .......................................................................17 Mesa 2: Literatura e crise ........................................................................18 Sessão de Comunicação 1 .........................................................................20 Sessão de Comunicação 2 .........................................................................23 Sessão de Comunicação 3 .........................................................................26 Sessão de Comunicação 4 ..........................................................................30 Sessão de Comunicação 5 .........................................................................33 Sessão de Comunicação 6 .........................................................................39 Minicurso 1 .................................................................................................43 Minicurso 2 .................................................................................................44 Minicurso 3 .................................................................................................45 Minicurso 4 .................................................................................................45

  • Crises e transformações: ontem e hoje.

    Massas de refugiados de guerra e a ascensão de lideranças que alimentam a beligerância no cenário externo, combinadas à instabilidade econômica, política e social no Brasil sugerem um desequilíbrio dos sistemas, erigem a imagem de uma crise global. A corrupção dos valores e a perversão da coisa pública têm exemplos na Antiguidade, e é tal sua persistência na história que nunca se apagam as palavras de Cícero:

    “O tempora! O mores! ” – diz o maior orador de Roma no século I a.C., condenando a atuação política de opositores.

    “O times! O manners!” – diz Edgar Allan Poe no primeiro verso de seu poema, homônimo da frase latina de Cícero, criticando os costumes do século XIX.

    “Shame on the age and on its lost principles!” – diz também o republicano Ted Cruz, em novembro de 2014, num discurso no Senado norte-americano contra Barack Obama, resgatando em boa parte a fala de Cícero de 63 a.C.

    Mas - como argumentou no seu livro “História e Memória” (1977) o medievalista francês Jacques Le Goff (1924-2014) – ler um momento político como decadentista seria simplificá-lo muito. O termo “crise” é, assim, mais apropriado para interpretar as sutilezas históricas:

    Uma sociedade, uma civilização (quando vivas) nem nascem nem morrem, se transformam: recebem heranças, modificam-nas e transmitem-nas a outras civilizações. Mas a noção de decadência talvez esteja a serviço de certos tipos de história, hoje profundamente desacreditados: a história política, a história linear ou cíclica, a história catastrófica e, mesmo, uma concepção de história que implique uma noção de civilização demasiado vaga e pobre em relação aos conceitos de “sociedade global” ou de “formação histórica”. Aliás, onde seria legítimo empregar a palavra decadência, surge outro termo muito adaptado às realidades históricas – “crise”. (...)

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    FUNDAMENTOS DA MÉTRICA LATINA Prof. Dr. Beethoven Alvarez (UFF)

    Este minicurso tem o objetivo de providenciar uma breve iniciação à compreensão dos fundamentos da métrica da poesia romana (em especial, do período dito “clássico”). Diferentemente da métrica de língua portuguesa, a versificação dos romanos antigos se organizava ritmicamente a partir da sucessão de sílabas longas e breves numa cadência regularmente esperada, e não se baseava na alternância de sílabas tônicas e átonas. Então, precisaremos primeiramente discutir algumas características essenciais do sistema quantitativo do verso romano, para estudarmos, em seguida, alguns princípios de prosódia e métrica de sua composição. De acordo com o propósito de um minicurso como este, vamos tratar muito especificamente de dois tipos de verso: o hexâmetro datílico e o pentâmetro datílico (este último, no chamado “dístico elegíaco”). O objetivo do minicurso é fundamentalmente prático, incentivando os participantes a metrificarem e analisarem diversos exemplos selecionados de versos. Poderão realizar o curso todos com noções básicas de latim apenas. No primeiro encontro previsto, veremos conceitos fundamentais da versificação latina, dicas práticas de escansão do hexâmetro datílico e uma introdução à análise estilístico-métrica dos hexâmetros, quando serão analisadas diversas passagens de Lucrécio a Ovídio. No segundo encontro, trataremos da organização do dístico elegíaco, em Catulo e nos elegíacos latinos. No fim do curso, discutiremos ainda questões de tradução poética do hexâmetro e do dístico elegíaco. PALAVRAS-CHAVE: métrica latina, hexâmetro datílico, pentâmetro datílico, dístico elegíaco, estilística.

    MEDEIA: CRISE E DISPUTA NA COMPREENSÃO DO OUTRO Profa. Dra. Maria Fernanda Garbero (UFRRJ)

    Neste minicurso, trabalharei com a leitura que Eurípides propõe em Medeia, para pensar nessa personagem como uma potente inviabilidade no exercício da alteridade com a mulher bárbara, sublinhada por sua ação filicida. Nesse sentido, podemos compreender que, tanto entre os gregos,

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  • CRISE DA REPÚBLICA E AÇÃO POLÍTICA NAS FILÍPICAS, DE CÍCERO

    Prof. Dr. Gilson Charles dos Santos (UnB)

    As Filípicas, do orador romano Marco Túlio Cícero, são uma coleção de quatorze discursos dirigidos contra Marco Antônio, colega de Júlio César no consulado de 44 a.C. O contexto da produção desses discursos remonta não apenas ao assassinato de César, como ainda à Guerra Civil dos anos 49-45 a.C., que abriu caminho para a afirmação do poder autocrático. Daí dizer-se que esses discursos, na abordagem da crise gerada após os idos de março de 44 a.C., representam um ponto de inflexão do processo que poderíamos precariamente denominar “transição” da república romana para o principado. O presente minicurso destina-se à leitura e à análise das Filípicas II, III, V e XIII. No primeiro dia, a partir da discussão sobre a caracterização de Marco Antônio nas Filípicas II e XIII, pretende-se deduzir os elementos que deflagram a impossibilidade de diálogo entre os aliados de César e Cícero e seus partidários dentro do senado – o que incidiria diretamente sobre a justificativa da luta armada. No segundo dia, pretende-se analisar o fracasso de condições particulares ao funcionamento das relações sociais dentro da comunidade a partir do estudo das Filípicas III e V, nas quais Cícero destaca o surgimento de um personagem que, ao mesmo tempo, será decisivo para a solução da crise gerada pelo assassinato de Júlio César, tornando-se, porém, o principal articulador da “queda” da república romana – Otaviano, filho adotivo de César que passará para a História como o imperador Augusto. Como método de análise, serão identificadas as estratégias retóricas que Cícero utilizou para abordar a crise e caracterizar os envolvidos nela, bem como serão elencados os princípios políticos e filosóficos que explicam a oposição do orador às ações de seus adversários. PALAVRAS-CHAVE: Cícero; Filípicas; Júlio César; Guerra Civil. 44

    (...) De resto, o conceito de decadência foi inventado para ler o movimento em história – tendo, neste aspecto, prestado inegáveis serviços – e, uma vez desacreditado pelos seus compromissos ideológicos, deu lugar à problemática mais sutil das fases de crise, filtrada pelo crivo mais fino de um vocabulário muitas vezes metafórico, mas mais preciso e menos carregado de valores subjetivos; mais ligado a esquemas quantitativos, à estagnação, à depressão, ao desmoronamento, à regressão, à derrapagem, ao bloqueio etc., permitindo realçar a diversidade dos modelos de leitura das vicissitudes da História.

    LE GOFF, Jacques. “Decadência”, in: História e Memória.

    A palavra “crise” vem da palavra grega “κρίσις” (krísis: separação,

    distinção, decisão, escolha), do verbo κρίνω (krínō: separar, escolher, decidir, julgar). Ocorre em latim na epístola 83 de Sêneca,1 exatamente, com o seu sentido primeiro em língua portuguesa, quando significa o momento decisivo de uma doença, desencadeador de mudança para pior ou para melhor.

    Daí, crise significará, amplamente, o ponto crucial ou decisivo de uma situação instável que implica mudança - o chamado “turning point”. Assim, entende-se que processos de crise possam ser problematizados como situações oportunas para transformações.

    1 Hic quidem ait nos eandem crisin habere, quia utrique dentes cadunt. [Ele, de

    fato, diz que temos a mesma ‘crise’, uma vez que caem os dentes de um e de outro.]

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  • Apresentação: discussão interdisciplinar.

    O XXIV Seminário de Estudos Clássicos do Instituto de Letras da UFF pretende-se um espaço de discussão interdisciplinar sobre as experiências de crise no mundo antigo, seus lugares de memória e as interpretações possíveis de suas matrizes clássicas literárias.

    O evento se apresenta como uma oportunidade para pesquisadores e universitários interessados em línguas clássicas e suas literaturas, em história e filosofia antigas problematizarem: 1) o emprego do termo “crise” – seus limites e possibilidades; 2) fatores críticos: guerras, epidemias, desastres naturais; 3) processos de crises políticas, econômicas, humanitárias; 4) crises e suas consequências - soluções ou transformações?

    Espera-se que os participantes desse espaço de diálogo contribuam para o debate a partir de múltiplos pontos de vista, tornando manifesta a riqueza da interdisciplinaridade para a apreensão da sociedade atual.

    Podem-se elencar também os seguintes objetivos no âmbito das ações de qualificação e produção acadêmicas:

    Promover intercâmbio entre pesquisadores da UFF e de outras universidades;

    Divulgar pesquisas concluídas ou em andamento na UFF em nível docente e discente;

    Divulgar e promover a atividade tradutória do grego antigo e do latim para o português;

    Estimular instituições a desenvolverem atividades de ensino-aprendizagem, pesquisa e extensão nas áreas de Letras Clássicas, Filosofia Antiga e História da Antiguidade;

    Fortalecer a extensão universitária da UFF estimulando o interesse por estudos clássicos;

    Manter a tradição do Instituto de Letras da UFF com a realização da 24ª edição do Seminário de Estudos Clássicos.

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    RESUMOS DOS MINICURSOS

    INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE RELIGIÕES E SANTUÁRIOS NA GRÉCIA ANTIGA doutoranda Mariana Figueiredo Virgolino (Nereida-UFF/CNPq)

    Jean-Pierre Vernant nos diz que a religião grega era uma “religião da tradição”: segui-la faz parte do “ser grego”, eis porque é chamada de “religião cívica”. As narrativas mitológicas, aprendidas ainda na infância contribuíam para a forma como os helenos concebiam o divino. Ao participarem das festas e cultos, não apenas os laços religiosos são reforçados, mas também os sociais. No que diz respeito aos espaços, a separação em o que é individual (to idion) e o que é público (to koinon) marca a gênese da pólis. Essa última está ligada à ideia de distribuição que funda a ordem política na Grécia arcaica, e a fundação, demarcação e monumentalização de santuários, capelas e outras espacialidades religiosas fazem parte do processo de formação política das comunidades gregas e de identidades pan-helênicas. Ao participarem das festas, da comensalidade, ao fazerem oblações aos deuses, não apenas os laços religiosos são reforçados. Pessoas dos mais diversos estratos sociais se encontram nos templos, convivendo por alguns momentos, trocando experiências e travando novos contatos. Portanto, os santuários se constituíam em espaços políticos, sendo provas físicas das crenças dos habitantes. Sua fundação englobava as preocupações e valores das póleis onde se situavam, auxiliando na composição da identidade do grupo social através das práticas que ali ocorriam e cujo uso e significado se transformavam com o tempo. O minicurso tem como objetivo ser uma introdução aos estudos em religião e espacialidades religiosas na Grécia Antiga. Num primeiro momento apresentaremos as visões dos classicistas contemporâneos sobre os fenômenos religiosos na Hélade. Posteriormente, analisaremos algumas das principais características dos santuários na Hélade: serem locais de comunicação com o divino e entre as pessoas, guardar objetos de valor e também servir como locais neutros onde perseguidos poderiam buscar abrigo através da heketeria (suplicância). PALAVRAS-CHAVE: História Antiga; Grécia Arcaica e Clássica; Religião; Santuários; Espaços Religiosos.

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  • o Hino Homérico à Afrodite, primeiramente, para justificar a correspondência da versão do mito da deusa do amor, sendo ela a Afrodite Pandemos, e, consequentemente, correlacionar algumas características apresentadas no poema arcaico que se aproximam das ierodouloi e seu respectivos procedimentos religiosos, comprovando essa relação entre mito e realidade como uma experiência sagrada comum à sociedade helênica e o corpo como um objeto de transição que auxilia no alcance do divino. PALAVRAS-CHAVE: Afrodite; Hino Homérico; prostituta sagrada.

    A ESTILIZAÇÃO ÉPICA DA FUGA NA ENEIDA Eduardo da Silva de Freitas (UERJ)

    Representação poética inserida no conjunto das lendas sobre a Guerra de Tróia, a Eneida, de Virgílio, tem como tema a fuga dos troianos de sua terra natal em busca de outro lugar para seu estabelecimento. Nesse sentido, não seria absurdo dizer que se apresenta também como narrativa artística sobre refugiados, sobre pessoas expulsas das terras com as quais mantinham laços políticos, culturais, religiosos. Na epopeia virgiliana, há muitas cenas tanto de sofrimento relativo aos insucessos passados, quanto de angústia e esperança com relação aos fatos futuros, que costumam configurar os momentos de crise. Estes sentimentos são representados principalmente nos momentos de contato com outros povos, de chegadas em outras terras, de travessias marítimas. Neste sentido, são de especial interesse as cenas relativas à tomada de Troia, à partida do herói com seus sócios em busca de novo lugar para o estabelecimento da cidade, às tentativas de fundá-la a cada vez que chegam a um território desconhecido, às viagens e às interações com outros povos. Destas cenas, que se espalham, sobretudo, entre o “Livro I” e o “Livro VII”, é que se fará uma análise apontando-se o modo pelo qual o poeta estiliza os sentimentos dos fugitivos troianos para compor sua epopeia. PALAVRAS-CHAVE: Fuga, Épica, Eneida.

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    Breve história dos mais de 30 anos do Seminário de Estudos Clássicos da UFF

    Prof. Dr. Beethoven Alvarez Chefe do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (GLC/UFF)

    A história de mais de 30 anos do Seminário de Estudos Clássicos da UFF remonta a 1985, portanto, há 32 anos atrás, quando, na 37ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), funda-se a SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos). Antes mesmo da 1ª Reunião Anual da SBEC, em 1986, organizam-se Subsecretarias Regionais para serem órgãos de coordenação local e apoio à Secretaria Geral da SBEC, naquele momento sediada na UFMG, em Belo Horizonte. Uma dessas Subsecretarias é a SE3 (Estado do Rio de Janeiro, exceto capital), que ainda em 1985 organiza o Seminário de Estudos Clássicos, em conjunto com a UFF. Durante os primeiros anos de estabelecimento da SBEC, a SE3 realiza com a UFF ainda mais dois eventos nos mesmos moldes: o II e III Seminário de Estudos Clássicos, em 1986 e 1987. Depois, até 2009, um total de 20 edições do Seminário, organizados em parceria com a UFF, são realizados, quando se encerram as atividades das Secretarias Regionais da SBEC.

    A partir de então os docentes dos setores de Letras Clássicas do IL-UFF, em parceria com o CEIA-UFF (Centro de Estudos Interdisciplinares da Antiguidade), assumem a organização do evento, que assume uma periodicidade bienal, e organizam 3 edições:

    - em 2010, o XXI SEC: Representações e Apropriações da Natureza na Antiguidade,

    - em 2012, o XXII SEC: Narrativa e Ficção, - em 2014, o XXIII SEC: Amizade e Política na Antiguidade. Em 2016, muito em função de um grande movimento social

    contrário à então PEC 241 do Governo Federal, decidiu-se não se organizar a 24ª edição do evento naquela oportunidade, quando então se poderiam comemorar os 30 anos do Seminário de Estudos Clássicos da UFF, o que, em tempo, fazemos agora, com alvíssaras de mais 30 anos e um futuro de maior justiça e igualdade social.

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  • PROGRAMAÇÃO 27 de setembro quarta-feira

    09h00-11h00 Minicurso 1: Introdução ao estudo de religiões e santuários na Grécia antiga - Sala: 501 C Ministrante: Mariana Figueiredo Virgolino (UFF)

    Minicurso 2: Crise da República e ação política nas Filípicas, de Cícero Sala: 505 C Ministrante: Prof. Dr. Gilson Charles dos Santos (UnB) 11h00-13h00

    Cerimônia de 30 anos do Seminário de Estudos Clássicos da UFF

    Conferência de abertura:

    A crise grega do século II a.C. e a reflexão de Políbio Prof. Dr. Breno Sebastiani (USP) Sala 218 Bloco C – Auditório Ismael Coutinho Intervalo para almoço 14h00-15h30

    Mesa redonda 1: Crise e identidade Prof. Dr. Ricardo de Souza Nogueira (UFRJ), Prof. Dr. Bernardo Lins Brandão (UFPR), Prof. Dr. Marcus Reis Pinheiro (UFF) Mediação: Prof. Dr. Bruno Gripp (UFF) Sala 218 Bloco C – Auditório Ismael Coutinho 15h30-16h00 Café com conversa: tradução Prof. Dra. Shirley Peçanha (UFRJ), Profa. Dra. Glória Onelley (UFF), Profa. Ma. Renata Cazarini (UFF) Mediação: Profa. Dra. Carolina Paganine (UFF)

    Lançamento: Persas de Ésquilo, de Ricardo de Souza Nogueira 16h00-18h00 Comunicações em salas paralelas: 8

    estrutura silogístico-causal, mas que tradicionalmente foram tidos como confusos, inconsistentes e desconsiderados. PALAVRAS-CHAVE: Aristóteles, empirismo, epistemologia, princípios, indução.

    A REPRESENTAÇÃO DO PHÍLOS AGATHÓS NO LIVRO VIII DE ÉTICA A NICÔMACO

    Guilherme Lemos Nogueira (UFRJ)

    Com base na leitura dos livros VIII e XIX de Ética a Nicômaco e na fundamentação teórico-crítica presente em obras de estudiosos modernos, como Konstan, Adkins, Reale, Guthrie, entre outros, que também se dedicam a essa obra aristotélica, pretendemos traçar o perfil do phílos agathós apresentado nos corpora citados e estabelecer sua devida análise, mostrando, oportunamente, sua importância para os livros e o modo com que o phílos agathós serve de base para o conceito de philía, que é o objeto central de discussão nos livros dessa Ética. Semelhante aos gregos em geral, a amizade aristotélica abrange as relações entre familiares, entre cidadãos, entre amantes e, como é atualmente, entre amigos. Contudo, o autêntico phílospertence a uma classe seleta de amigos: a philía téleia (amizade perfeita) obedece a uma igualdade e a um companheirismo, cujas qualidades tornam o amigo por ele mesmo um bem; o autêntico phílos, visto que é bom, é também agradável e útil ao seu amigo. PALAVRAS-CHAVE: Ética a Nicômaco; phílos agathós; philía.

    A DEUSA E A PROSTITUIÇÃO: O CORPO COMO INSTRUMENTO RITUALÍSTICO

    Luiz Henrique Davi de Lemos (UERJ)

    Tendo como pressuposto de que o mito é uma narrativa sagrada, com a finalidade de explicar os acontecimentos do mundo e no mundo, segundo a concepção de Mircea Eliade, além de ser tomado como exemplo para a humanidade, esta pesquisa tem como finalidade apresentar a prática ritualística à deusa Afrodite, usando o corpo como instrumento do processo, a qual era executada pelas prostitutas sagradas de seu templo. O rito tinha como objetivo alcançar o prazer como garantia da verdadeira feminilidade das sacerdotisas e, igualmente, encontrar “uma-em-si-mesma”, conforme afirma Nancy Qualls-Corbert. Como corpus, usaremos

  • reação radical de denúncia e aversão contra o despotismo e a perversão dos valores em seu tempo. A presente comunicação visa, deste modo, a comentar esta questão em torno do cinismo como movimento de resistência e contestação à tirania de Alexandre Magno e seus generais, tendo por base as Vidas e Doutrinas de Diógenes Laércio, a comédia Lisístrata de Aristófanes e as orações Filípicas de Demóstenes. PALAVRAS-CHAVE: cinismo, cosmopolitismo, Diógenes de Sinope, helenismo.

    A CRÍTICA DA CRÍTICA À INDUÇÃO ARISTOTÉLICA

    Daniel Rubião de Andrade (UFRJ)

    As transformações culturais que caracterizaram o que chamamos de Idade Moderna se deram em oposição direta ao que havia vigorado durante a Idade Média. Em termos científico-filosóficos, os modernos se opuseram à escolástica, e, destarte, à filosofia Clássica, visto que aquela era calcada nesta, e em especial na filosofia aristotélica. O pensamento Moderno nasceu da crise do pensamento vigente na época, que não conseguia mais satisfazer as novas aspirações das pessoas por racionalidade e, condizentemente, a filosofia desse período conheceu uma virada em direção às questões epistemológicas de fundamentação do conhecimento. A teoria aristotélica do conhecimento foi repudiada por muitos pensadores modernos, em especial, pelos empiristas ingleses como não justificada por ser erigida sobre pensamentos viciosos que, partindo da nossa experiência particular, provariam o universal. O que é um erro crasso. Esse problema ficou conhecido como o problema da indução e, mesmo entre alguns comentadores contemporâneos de Aristóteles, ainda é um dos grandes “furos” do sistema do filósofo. No entanto, nos parece que esse problema tenha origem não no próprio Aristóteles, por não explicar satisfatoriamente como é possível apreender o universal partindo dos sentidos, mas na interpretação que se fez, desde os comentadores antigos, dos textos relacionados à apreensão dos princípios científicos. A solução aristotélica para esse mal-entendido pode ser encaminhada por uma leitura crítica de textos dos Segundos Analíticos (II 2, II 8 e II 13 dentre outros), que abordam a relação entre pesquisa científica, definição e

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    Comunicações 27 de setembro quarta-feira Sala 212 C Mediador: Prof. Fábio Cairolli (UFF)

    16h00-16h55

    O CONFLITO ENTRE GREGOS E PERSAS NOS EPIGRAMAS DE SIMÔNIDES DE CEOS Luana Cruz da Silva (mestre pela UFRJ/PMA/PMCF)

    A DIÁSPORA EM JUVENAL E NA ATUALIDADE: UMA ANÁLISE INTERCULTURAL Thaísa Regly de Moura Souza (UFF)

    17h05-18h00

    O PROJETO MARÍTIMO ATENIENSE NO SÉCULO V A.C.: CONSTRUINDO A NAUTAI TEKNÉ DOS SEUS MARINHEIROS Prof. Dr. Alair Figueiredo Duarte (NEA-UERJ / LSC-MB / NEMHAAT-UFF)

    OS USOS E ABUSOS DA BATALHA DE LEUCTRA: DA ANTIGUIDADE À HISTÓRIA MILITAR PRESENTE Prof. Esp. José Luiz Pereira Rebêlo (GEHM-CEIA-UFF / SEEDUC-RJ / SMERJ)

    UMA BATALHA NOS CONFINS DA TERRA: A NARRATIVA DE TÁCITO DO CONFRONTO ENTRE AGRÍCOLA E CÁLGACO Prof. Dr. Manuel Rolph Cabeceiras (CEIA-UFF / PLURALITAS-UFRRJ / IGHMB)

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  • Comunicações 27 de setembro quarta-feira Sala 501 C Mediador: Prof. Beethoven Alvarez (UFF) 16h00-16h55

    MONUMENTA ANCHIETANA NA HISTORIOGRAFIA DA LINGUÍSTICA Prof. Leonardo Ferreira Kaltner (UFF)

    UM OLHAR SOBRE OS MORFEMAS PRÉ-DESINENCIAIS DOS VERBOS LATINOS Luiz Pedro da Silva Barbosa (UFF)

    O CONSONANTISMO NA LÍNGUA LATINA Melyssa Cardozo Silva dos Santos (UFF) 17h05-18h00

    O RITMO EM TRADUÇÕES DA SÁTIRA 1.4 DE HORÁCIO Daniel Falkemback Ribeiro (UFPR)

    SENARII IAMBICI: UMA PROPOSTA DE TRADUÇÃO Renan de Castro Rodriguez (UFF)

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    compreensão entre honra e vingança. Por sua imagem forte, sublinhada pela perversão, Medeia compõe o imaginário daquela capaz de matar os próprios filhos, e é a partir dessa personagem que muitos outros enredos serão criados, como é o caso da peça Gota d`água, escrita em 1975, por Chico Buarque e Paulo Pontes. Bem distante de Corinto, a peça se situa num cenário periférico e empobrecido da cidade do Rio de Janeiro. Em lugar de Medeia, está Joana, a esposa de um sambista que a abandona para casar-se com a filha do “dono morro”, homem que, como Creonte, representa o poder naquele espaço abandonado pelas instâncias públicas e em disputa por micropoderes (Foucault, 1979) tramados através do crime e da ameaça. Num percurso análogo ao de Medeia, é da humilhação e da desonra que vemos o filicídio ser concretizado em Gota d`água também como uma imagem que rompe com as projeções sobre a maternidade. Nesse sentido, a feiticeira bárbara se transforma na estigmatizada “macumbeira favelada” que, no desatar de sua ira, põe fim à vida dos filhos e, a reboque, coloca o espectador/leitor em crise com suas próprias noções a respeito do lugar materno na configuração do afeto. PALAVRAS-CHAVE: Medeia; Poder; Maternidades; Tragédia.

    Sessão de comunicações 6

    O CINISMO COMO SOLUÇÃO À CRISE DAS PÓLEIS Roberto Torviso Neto (GEKEMET/CEIA-UFF)

    As campanhas de Alexandre Magno revolucionaram o mundo antigo ao romper parcialmente com a lógica das cidades-estado. A autonomia das cidades-estado é subjugada, dando lugar à lógica provinciana estranha aos gregos, em especial aos democratas atenienses que não gostavam da terceirização administrativa presente na lógica imperial macedônica. Contemporâneo a este vento da mudança que ronda o mar Mediterrâneo temos o cinismo, movimento filosófico radical de crítica às artificialidades e convenções sociais (nómos) em defesa de uma vida mais próxima da lei natural (phýsis) que teve em Diógenes de Sinope seu maior representante. Devido ao criticismo cínico quanto às convenções sociais e frente à crise da participação política, o cinismo de Diógenes e sucessores torna-se a

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  • ESPACIALIDADES EM CRISE: O PÚBLICO E O PRIVADO EM ANTÍGONA

    Guilherme Heitor Melo dos Santos, Júlia Rocha dos Santos e Maria Fernanda Garbero (UFRRJ)

    A partir da peça Antígona, de Sofócles, este trabalho pretende discutir a importância da compreensão trágica para o trato de questões em confronto, representadas na crise das espacialidades domésticas e o que podemos chamar de espaço público. Através do entendimento clássico a respeito dos poderes e deveres correspondentes ao oikos e à pólis, o conflito inegociável que emerge da questão trágica em Antígona nos coloca diante de um texto que reivindica do leitor contemporâneo um exercício continuo de desconstrução de paradigmas, sobretudo em pontos que, de maneiras distintas, estão presentes em nossas relações, como no que se refere ao direito de prantear e sepultar nossos familiares. Desta maneira, é no delineamento de determinadas leis que aparecem no texto sofocliano que podemos encontrar algumas definições sobre direito e dever. Recuperando o que Aristóteles propõe sobre a Tragédia, na Poética, é importante destacar a figura de Antígona como uma personagem que mimetiza determinada ação, o que permitirá sua reelaboração, posteriormente, em certas performatividades que servirão para o estabelecimento de múltiplos debates teóricos, produzidos por distintas áreas do conhecimento e fundamentais aos trabalhos de importantes teóricos. Com efeito, essa constante atualização da personagem nos auxilia a traçar um percurso que enxerga, no panorama clássico, uma potência de questionamento presente em nossos dias. PALAVRAS-CHAVE: Antígona; Trágico; Crise; Público; Privado.

    A GOTA D`ÁGUA NA TRAGÉDIA: MEDEIA E JOANA, UMA LEITURA COMPARATIVA DA MULHER.

    Lucas de Moraes Mendes Ramos, Giovana Castelo Branco de Carvalho e Maria Fernanda Garbero (UFRRJ)

    Possivelmente, ao lado das peças Antígona e Édipo Rei, de Sófocles, Medeia seja o texto mais reencenado desde sua apresentação nas Grandes Dionísias de 431 a.C. Num recorte primário sobre essa tragédia, nela encontramos uma personagem bárbara que escandaliza o cenário helênico com seu duplo filicídio, inscrito numa ambígua

    Comunicações 27 de setembro quarta-feira Sala 505 C Mediador: Profa. Renata Cazarini de Freitas (UFF)

    16h00-17h00 Apresentação de projeto de Desenvolvimento Acadêmico (Proaes) Profa. Renata Cazarini de Freitas (Letras UFF)

    CONSTRUÇÃO DE EXEMPLUM COM SÍMILES NA EPÍSTOLA 30 DE SÊNECA Bárbara Siqueira Martins (Letras UFF)

    A PREPARAÇÃO E O MOMENTO DA MORTE EM SÊNECA Luan Moraes de Souza (Filosofia UFF)

    “MEDITATIO MORTIS” NA EPÍSTOLA 26 DE SÊNECA Wendra Gomes de Moraes (Filosofia UFF)

    17h05-18h00 COMO NERO EVITARIA CRISES? SÊNECA, DA CLEMÊNCIA. Mônica Nunes de Neves (Filosofia UFF)

    SERENIDADE NA CRISE: A EPÍSTOLA 24 DE SÊNECA Profa. Renata Cazarini de Freitas (Letras UFF) NOVA TEMPORA, NOVI MORES – APONTAMENTOS SOBRE A ANTIGUIDADE CLÁSSICA E A MORAL CRISTÃ NO MEDIEVO GERMANÓFONO. Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ) 18h00-20h00 Minicurso 3: Fundamentos da métrica latina Sala: 501 C Ministrante: Prof. Dr. Beethoven Alvarez (UFF)

    Minicurso 4: Medeia: crise e disputa na compreensão do outro Sala: 505 C Ministrante: Profa. Dra. Maria Fernanda Garbero (UFRRJ)

  • PROGRAMAÇÃO 28 de setembro quinta-feira

    09h00-11h00 Minicurso 1: Introdução ao estudo de religiões e santuários na Grécia antiga - Sala: 501 C Ministrante: Mariana Figueiredo Virgolino (UFF)

    Minicurso 2: Crise da República e ação política nas Filípicas, de Cícero Sala: 505 C Ministrante: Prof. Dr. Gilson Charles dos Santos (UnB) 11h00-13h00 Comunicações em salas paralelas: Sala 212 C Mediador: Prof. Renata Cazarini (UFF)

    11h00-11h55 OVÍDIO E O EXÍLIO Gabriela Teixeira Frazão (CEIA-UFF)

    A AMIZADE NA LITERATURA DE EXÍLIO DE OVÍDIO Jonathan Henrique Marcos de Azevedo (UFF)

    A MULHER E O AMOR NAS HEROIDES DE OVÍDIO Bárbara Celi de Souza Aguiar Cardoso (CEIA-UFF)

    12h05-13h00 MINERVA X ARACNE: PIETAS, PATIENTIA X INSOLENTIA, VANITAS. Flavia Figueiredo (UFF)

    NEM IOCARE NEM AMARE: O CARÁTER MISÓGINO E A LINGUAGEM SEXISTA NOS EPIGRAMAS DE MARCIAL Viviane Lourenço Teixeira (UFF)

    O LEÃO VERSUS A VACA, A CABRA, A OVELHA. Luciana Antonia Ferreira Marinho (UFRJ) 12

    na linguagem, no direito e, evidentemente, na religião. Tais dimensões operalizam e embaralham também relações de temporalidade, trazendo à tona a representação não tanto de um passado mítico, mas sim uma tensão contemporânea da sociedade grega de então. O objetivo desta comunicação é comparar a investigação benjaminiana da tragédia como crise mítico-jurídica ao artigo “Tensões e ambiguidades na tragédia grega” (1972) de Jean-Pierre Vernant. Com isso, irá se buscar compreender em que medida a experiência trágica foi, também, crise e, por consequência, momento inaugural e final de determinadas experiências mítico-sociais. PALAVRAS-CHAVE: Benjamin, tragédia, Vernant, mito, direito.

    A CRISE DO HERÓI: HÉRACLES DIANTE DA DOR Fernando Crespim Zorrer da Silva (UFES)

    Na tragédia Héracles, de Eurípides, observamos o filho de Zeus junto a sua família. Ouvimos os perversos falarem e agirem contra os inocentes. Então tudo parece dar certo. Héracles surge, derruba os perversos e reestabelece a ordem e a harmonia. No entanto, o plano dos mortais pode ser um reflexo dos imortais. Se, no mundo dos homens, prevalece a injustiça, o julgamento injusto e a força contra os inocentes, no lado divino também não parece haver um plano melhor. Surgem duas deusas, Íris e Lissa, sob o mando de Hera, que levam Héracles à loucura que, em seguida, mata a sua família. A desolação é terrível, a crise é desoladora, pois não parece haver solução. Eis que surge Teseu e acolhe o amigo dando-lhe o justo conselho que é determinador da dissolução da culpa de Héracles. São justamente as palavras de Teseu que conseguem demover Héracles do pior. É uma das novidades no teatro de Eurípides, o surgimento fortuito e surpreendente dos salvadores, como é o caso de Teseu (ROMILLY, Jacqueline de. La modernité d’Euripide. Paris: Press Universitaires de France, 1986. p. 31). É com a atuação de Teseu que Héracles retorna à vida e consegue lidar com a sua crise. Assim, é com essa estrutura que analisaremos mais de perto os momentos acima mencionados e, até mesmo, compararemos com outras peças nas quais Teseu esteja presente, como Hipólito, na qual é ele um dos responsáveis por um crime e não aquele que possui o justo conselho. PALAVRAS-CHAVE: Héracles; Teseu; Eurípides.

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  • A CRISE NAS TRADUÇÕES DE RÃS Maria Clara Machado (UFF)

    Uma das principais características da comédia aristofânica consistia na capacidade de causar o riso em seus espectadores. Por se tratar de uma peça da Comédia Grega Antiga, Rãs aborda as questões referentes à

    cidade (πόλις), centrando-se na discussão acerca da crise na dramaturgia grega, devido à recente morte dos tragediógrafos Eurípedes e Sófocles, fazendo uso, para tal, da sátira de partes das suas tragédias. Entretanto, com o distanciamento de mais de 2000 anos entre sua produção e os dias de hoje, observa-se uma dificuldade na tradução para que as referências históricas presentes no texto se aliem ao humor e ao caráter poético da comédia grega antiga. O presente trabalho se propõe a uma análise a respeito da manutenção ou não dessas referências à cidade ateniense em traduções do prólogo da peça Rãs (405 a.C.), ou seja, uma análise da dupla abordagem possível dentro da teoria da tradução na qual “ou bem o tradutor deixa o escritor o mais tranquilo possível e faz com que o leitor vá a seu encontro, ou bem deixa o mais tranquilo possível o leitor e faz com que o escritor vá ao seu encontro” (Schleiermacher, 2007, p. 243). Dessa forma, buscamos examinar o quanto é possível ou não atualizar esses textos e quais as possíveis escolhas que podem ser feitas para atingir esse objetivo. PALAVRAS-CHAVE: Tradução, Comédia Grega Antiga, Aristófanes.

    A TRAGÉDIA GREGA COMO CRISE MÍTICO-JURÍDICA: UMA LEITURA DE WALTER BENJAMIN E JEAN-PIERRE VERNANT

    Verena Seelander da Costa (UERJ)

    A encenação da tragédia na Grécia Antiga, apesar da curta duração histórica, configurou-se como um dos fenômenos estéticos mais importantes do Ocidente, com inúmeras interpretações e reflexos na cultura e no pensamento desde a Antiguidade até a atualidade. Ao analisar a tragédia antiga com o fim de compará-la ao drama moderno, o filósofo Walter Benjamin, em sua tese de habilitação “Origem do drama trágico alemão” (1925), coloca que a morte do herói é, na tragédia, crise da relação entre o divino e o humano. É possível identificar que, para o autor, essa crise manifesta-se em três dimensões:

    Comunicações 28 de setembro quinta-feira Sala 501 C Mediador: Profa. Glória Onelley (UFF)

    11h00-11h55

    A COMÉDIA ANTIGA E O GRAU DE COMPROMETIMENTO DO SUJEITO QUE RI DIANTE DA COISA RISÍVEL, EM UM CONTEXTO DE UMA POLIS DEMOCRÁTICA EM CRISE Márcia Regina Menezes (UFRJ)

    “NUVENS” E A CRÍTICA DE ARISTÓFANES Francisca Claugeane da S. Costa (UFF)

    A CRISE NAS TRADUÇÕES DE RÃS Maria Clara Machado (UFF)

    12h05 a 13h15

    A TRAGÉDIA GREGA COMO CRISE MÍTICO-JURÍDICA: UMA LEITURA DE WALTER BENJAMIN E JEAN-PIERRE VERNANT. Verena Seelaender da Costa (UERJ)

    A CRISE DO HERÓI: HÉRACLES DIANTE DA DOR Fernando Crespim Zorrer da Silva (UFES)

    ESPACIALIDADES EM CRISE: O PÚBLICO E O PRIVADO EM ANTÍGONA Guilherme Heitor Melo dos Santos, Júlia Rocha dos Santos e Maria Fernanda Garbero (UFRRJ)

    A GOTA D’ÁGUA NA TRAGÉDIA: MEDEIA E JOANA, UMA LEITURA COMPARATIVA DA MULHER. Lucas de Moraes Mendes Ramos, Giovana Castelo Branco de Carvalho e Maria Fernanda Garbero (UFRRJ) 13

  • Comunicações 28 de setembro quinta-feira Sala 505 C Mediador: Prof. Bruno Gripp (UFF)

    11h00-11h55

    O CINISMO COMO SOLUÇÃO À CRISE DAS PÓLEIS Roberto Torviso Neto (GEKEMET/CEIA-UFF)

    A CRÍTICA DA CRÍTICA À INDUÇÃO ARISTOTÉLICA Daniel Rubião de Andrade (UFRJ)

    A REPRESENTAÇÃO DO PHÍLOS AGATHÓS NO LIVRO VIII DE ÉTICA A NICÔMACO Guilherme Lemos Nogueira (UFRJ)

    12h05-13h00

    A DEUSA E A PROSTITUIÇÃO: O CORPO COMO INSTRUMENTO RITUALÍSTICO Luiz Henrique Davi de Lemos (UERJ)

    A ESTILIZAÇÃO ÉPICA DA FUGA NA ENEIDA Eduardo da Silva de Freitas (UERJ) Intervalo para almoço

    14h00-15h30

    Mesa redonda 2: Literatura e crise Prof. Dr. Marcos Caldas (UFRRJ), Maria Eichler (doutoranda UNIRIO), Prof. Dr. Fábio Cairolli (UFF) Mediação: Prof. Dr. Fábio Cairolli (UFF) Sala 218 Bloco C – Auditório Ismael Coutinho

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    hegemonia ática entre os estados gregos. Havia, então, a necessidade de se reerguer e reconquistar a glória de outrora. Nesse período de crise, surgem no cenário educacional os sofistas e a "educação nova", configurando, para Aristófanes, uma ameaça à ascensão ática e a piora da crise. Almeja-se neste estudo verificar o grau de comprometimento do sujeito que ri diante da coisa risível no contexto desta polis democrática em crise, comprometimento solicitado pelo poeta. Para tanto, o estudo terá como principais referencias teóricos os apontamentos sobre a História de Atenas realizados por Jones, Diakov e Kovalev, além das atuais teorias para o riso pelo ponto de vista das ciências sociais, estudos sobre a origem da comédia e, por fim, a análise de um excerto da parábase de As Nuvens. PALAVRAS-CHAVE: Atenas; comédia; Aristófanes; sofistas; crise.

    “NUVENS” E A CRÍTICA DE ARISTÓFANES Francisca Claugeane da S. Costa (UFF)

    A presente comunicação diz respeito a uma pesquisa que tem como principal objetivo analisar o jogo dialógico entre as personagens que dão corpo ao agón da peça Nuvens, do comediógrafo Aristófanes (V a.C.). É pela erística, clássico modelo de disputa filosófica, que a cena é construída. De um lado, temos o Raciocínio Justo e, de outro, o Raciocínio Injusto. A um deles será incumbida a educação do jovem Fidípides, filho do velho Estrepsíades. Seguindo a linha de alguns intérpretes, como Leo Strauss em seu trabalho intitulado Socrates and Aristophanes e Werner Jaeger em Paideia: a formação do homem grego, o comediógrafo Aristófanes trabalharia em uma relação direta com as transformações que dizem respeito ao campo social ateniense. Suas peças teriam a tônica marcada por uma crítica aos efeitos de um novo modelo pedagógico instaurado na pólis como um contraponto aos valores que compunham o éthos do clássico ateniense. Entende-se que as personagens do agón, assim como a personagem central Sócrates, encarnam as problemáticas do campo social a partir dessas transformações dos valores éticos e pedagógicos. PALAVRAS-CHAVE: Aristófanes, Sócrates, teatro, comédia, agón.

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  • O LEÃO VERSUS A VACA, A CABRA, A OVELHA. Luciana Antonia Ferreira Marinho (UFRJ)

    Roma passou por vários momentos político-sociais conturbados em sua história, entre eles, o Imperial. Nesse período e, principalmente, durante o comando dos líderes políticos da casa Júlio-Claudiana, houve uma considerável represália aos textos literários produzidos pelos autores da época. Fedro foi um deles. Ele não se calou em face dessa realidade hostil, revelando-se, por isso, um autor que soube se utilizar de sua habilidade artística a fim de promover uma reflexão acerca da realidade histórico-social de que participava. Em outras palavras, Fedro conseguiu ser um representante daqueles que não tinham “voz”. A nossa intenção, neste trabalho, é estudar a própria narrativa. Atentamos, para tanto, à investigação sobre a presença de elementos discursivos, bem como nos preocupamos em observar aspectos provenientes daquele contexto sociocultural. Com tal propósito, portanto, escolhemos a fábula denominada Vacca et capella, ouis et leo (“A vaca e a cabra, a ovelha e o leão”) e estudamos seus elementos constituintes. Inclinamo-nos, também, a elencar os aspectos sócio-históricos presentes no texto, tomando diversos autores para ajudar-nos nessa tarefa, dentre outros, Grant (1994). PALAVRAS-CHAVE: fábula de Fedro; gênero narrativo; Análise do Discurso.

    Sessão de comunicações 5

    A COMÉDIA ANTIGA E O GRAU DE COMPROMETIMENTO DO SUJEITO QUE RI DIANTE DA COISA RISÍVEL, EM UM

    CONTEXTO DE UMA POLIS DEMOCRÁTICA EM CRISE. Márcia Regina Menezes (UFRJ)

    A peça As Nuvens, de Aristófanes, encenada na Atenas do século V, pretendeu desconstruir o ethos do filósofo Sócrates, visto por ele como um sofista. A comédia em questão apresenta uma estreita relação com o momento histórico, social, político, filosófico e educacional da Atenas democrática da época em que foi apresentada. O período turbulento de sucessivas e intensas guerras, contra os persas e a Liga do Peloponeso, levaram Atenas a uma situação preocupante, comprometendo a

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    PROGRAMAÇÃO 28 de setembro quinta-feira 15h30-16h30 Café com arte: performance

    Companhia Teatro de Letras O púcaro búlgaro, de Campos de Carvalho Apresentação: Prof. Dr. André Dias (UFF)

    16h30-18h00 Conferência de encerramento:

    Crises e transformações nas Geórgicas de Virgílio Prof. Dr. Matheus Trevizam (UFMG) Sala 218 Bloco C – Auditório Ismael Coutinho 18h00-20h00 Minicurso 3: Fundamentos da métrica latina Sala: 501 C Ministrante: Prof. Dr. Beethoven Alvarez (UFF)

    Minicurso 4: Medeia: crise e disputa na compreensão do outro Sala: 505 C Ministrante: Profa. Dra. Maria Fernanda Garbero (UFRRJ)

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  • RESUMOS

    Conferência de abertura A crise grega do século II a.C. e a reflexão de Políbio

    Prof. Dr. Breno Sebastiani (USP)

    Conforme narrava os 75 anos ao longo dos quais as potências helênicas se enfraqueceram mutuamente até se verem quase todas submetidas à potência romana, Políbio refletia sobre quais erros estariam na base do fracasso grego, interno e externo. De sua extensa meditação (40 livros escritos ao longo de 50 anos), esta conferência examinará três eixos que o historiador aponta já no prólogo: a) meta-historiográfico, sobre o tipo de narrativa mais adequado à compreensão daquele contexto; b) metamítico, sobre a eventual ação da týkhe (sorte) em benefício dos romanos; e c) político-pragmático, sobre a superioridade constitucional-militar dos romanos em relação às potências por eles submetidas.

    Conferência de encerramento Crises e transformações nas Geórgicas de Virgílio

    Prof. Dr. Matheus Trevizam (UFMG)

    Ninguém negaria que o século I a.C. foi, para a república romana, um tempo de crise: esse período, com efeito, assistiu à deflagração das Guerras Civis, à ascensão e assassinato político de Caio Júlio César, à formação e dissolução de dois triunviratos... Nas Geórgicas, obra intermediária na carreira de Virgílio, entrevemos alguns dados históricos, vazados pelo crivo da poesia, que atestam essas turbulências da vida pública romana, além de apontarem para alguma esperança de sua resolução na paz a ser estabelecida por Augusto, primeiro imperador de Roma. Por outro lado, dados internamente vinculados ao próprio fundo agrícola da obra – como o relato da Peste Nórica, no livro III, e a perda e recuperação das abelhas de Aristeu, no livro IV – configuram situação semelhante, de crise grave e busca de transformação positiva pelos afetados. Nosso esforço, nesta conferência, será o de relacionar essas duas faces das Geórgicas – reflexão histórica e agricultura –, submetendo-as ao eixo comum das ideias de crise/transformação, bem como do assim chamado “augustanismo” de Virgílio.

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    esta demonstrou ser insolente e vaidosa. A referência para este trabalho será a obra latina Metamorfoses VI.1-145 (tradução David Gomes Jardim Jr, 1983), tida como magnum opus do poeta Ovídio. PALAVRAS-CHAVE: Ovídio, Metamorfoses, Aracne, Minerva, vaidade.

    NEM IOCARE NEM AMARE: O CARÁTER MISÓGINO E A LINGUAGEM SEXISTA NOS EPIGRAMAS DE MARCIAL

    Viviane Lourenço Teixeira (UFF)

    Muito embora Marco Valério Marcial tenha sido influenciado pelos epigramas gregos e latinos, foi através dos seus mais de 1500 escritos que se tornou um dos maiores representantes do gênero epigramático. Com isso nosso trabalho visa a esclarecer o que é tal gênero e suas principais matérias, para, então, chegar a uma análise que vai além da proposta pela Antologia Palatina, no que tange aos temas. Nossa investigação não estará voltada para a métrica ou a rima utilizada nos mesmos; uma exploração crítica de determinados poemas será feita de modo a demonstrar a importância de não nos deixarmos levar pelas “regras” pré-estabelecidas nos textos clássicos. Ao procurar aclarar a seriedade em se analisar determinados poemas de forma crítica e fundamentada, nosso trabalho tem por referencial a tese de Alexandre Agnolon, Uns epigramas, certas mulheres: A misoginia nos epigrammata de Marcial (40 d. C. – 104 d. C) (2007). Este autor propõe que a leitura desses poemas seja feita através de um viés misógino; com isso, nosso trabalho tem objetivos como perpassar as matérias que nos são apresentadas pela Antologia Palatina; ressaltar o caráter androcêntrico expresso pelo eu-lírico nos epigramas de Marcial; e evidenciar o sexismo linguístico existente nos textos da era clássica, que dialogam com a contemporaneidade. Nosso exposto se insere em uma óptica que busca um diálogo entre a tradição e a atualidade mostrando como elementos que vituperam a mulher são mascarados nos mais variados textos. PALAVRAS- CHAVE: epigramas; misoginia; sexismo linguístico.

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  • A MULHER E O AMOR NAS HEROIDES DE OVÍDIO Bárbara Celi de Souza Aguiar Cardoso (CEIA-UFF)

    O presente trabalho tem como objetivo analisar as Heroides (OVIDIO. Heroides. Rio de Janeiro: Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1975) a fim de buscar compreender como o poeta representa o amor e a mulher. Para tanto, teremos como base a noção de pudicitia, um dos valores tidos como essencialmente romanos que compunham o mos maiorum, isto é, os costumes dos ancestrais, e que remete à virtude moral e sexual, especialmente das mulheres. A obra em questão, produzida entre 20 e 15 a.C., é composta por um conjunto de cartas imaginárias de amor escritas em versos elegíacos. As remetentes das quinze primeiras cartas – que compõem a coletânea original – são figuras femininas mitológicas que se dirigem aos respectivos amantes. A despeito de não ter sido o inventor das cartas ficcionais, Ovídio com suas Heroides elevou a um novo patamar a conexão entre as mulheres, o amor e as cartas. A presente comunicação é fruto do trabalho de conclusão da disciplina Estudos de Epistolografia Latina do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Cultura, Língua e Literatura Latina da Universidade Federal Fluminense (UFF). PALAVRAS-CHAVE: Ovídio, Heroides, epistolografia, mulher, amor. MINERVA X ARACNE: PIETAS, PATIENTIA X INSOLENTIA, VANITAS

    Flávia Figueiredo (UFF)

    Os deuses sempre foram reverenciados e admirados pelos mortais. A eles ofertavam alguns sacrifícios, que, em contrapartida, os beneficiavam atendendo alguns desejos. Aracne assumiu uma atitude de imortal e desafiou, mesmo depois de ter sido advertida, a deusa das artes, representada na mitologia latina pelo nome de Minerva e, na grega, pelo de Atená, ao entrar em uma disputa de quem seria a melhor tecelã. Saiu derrotada e humilhada. A crise e o conflito interno fizeram com que a mortal se suicidasse. A divindade viu nobreza no ato e não só recobrou a vida da perdedora como a metamorfoseou, transformando-a em um aracnídeo, assim, essa passaria a fazer sempre o que mais gostava para o resto da vida: tecer. Neste trabalho será abordado como a deusa da sabedoria foi piedosa e paciente com a mortal, que fez de tudo para provar ser superior à divindade, e como

    RESUMOS

    Mesa 1: Crise e identidade

    A tragédia grega contando a história da Atenas Clássica no séc.V a.C. Prof. Dr. Ricardo de Souza Nogueira (UFRJ)

    A cidade de Atenas, no decorrer do século V a.C., é pensada como um ambiente de contínua grandeza e beleza, mas é preciso lembrar que, durante esse tempo, houve frequentemente embates bélicos que assolaram os pilares da cidade e a deixaram desestruturada em todos os sentidos. As Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso, com a terrível peste que, emblematicamente, levou Péricles à morte, em 429 a.C., emolduraram o século V, trazendo sofrimento para o povo ateniense. O objetivo deste trabalho é apresentar como as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípides contaram a história desse tumultuado século no período do denominado Imperialismo Ateniense.

    Aristóteles para os dias de hoje: a política das virtudes como proposta para os impasses contemporâneos

    Prof. Dr. Bernardo Lins Brandão (UFPR)

    Vivemos em um período de crise. Em todo o mundo, a democracia se vê ameaçada por grandes desafios, que os tradicionais princípios do liberalismo político não parecem resolver. Diante de tal situação, vemos, na filosofia política contemporânea, a busca por novos paradigmas e modos de pensar. Uma das propostas mais interessantes é a do resgate de uma política das virtudes a partir dos moldes da ética de Aristóteles. Em um notável intercâmbio entre antigos e modernos, Aristóteles parece ter dado novo fôlego ao trabalho de autores como Alasdair MacIntyre, Michael Sandel, Maurice Glasman e Phillip Blond, entre outros, com influência no debate político contemporâneo, por exemplo, no Reino Unido, com a ascensão dos red tories e do blue labour. Nesta comunicação, apresentando uma síntese do debate, busco avaliar em que medida uma política das virtudes pode apresentar caminhos, antigos e novos, para os nossos impasses.

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  • RESUMOS

    Mesa 1: Crise e identidade

    Determinismo do destino e resistência política em Epicteto Prof. Dr. Marcus Reis Pinheiro (UFF)

    Em I,2 dos Discursos, Epicteto nos narra uma estranha anedota envolvendo Helvidio Prisco, um senador estoico, e Vespasiano, o Imperador de Roma. Nela, Helvidio desafia a autoridade do imperador sem romper com um dogma fundamental do estoicismo: não procurar modificar aquilo que não está sob seu encargo. Se não se pode modificar o mundo exterior que se encontra totalmente subjugado ao destino, como posso fazer frente à tirania e buscar justiça? Assim, a apresentação desenvolverá um panorama da tensão estoica entre a noção de determinismo do destino e a necessidade de resistir aos tiranos.

    Mesa 2: Literatura e crise

    Um papiro contra todos: o Papiro de Fayyum 20 e a Crise do Império Romano no século III d.C.

    Prof. Dr. Marcos José de Araújo Caldas (UFRRJ)

    Este pequeno ensaio tem a pretensão de oferecer um exemplo de como o estudo de documentos papirológicos e materiais afins pode interagir com a pesquisa sobre história romana. O papiro grego Fayyum 20 fornece a oportunidade de analisar diferentes fenômenos que ocorreram no período da crise romana do terceiro século d.C. Nos anos recentes, muitos historiadores têm questionado a pertinência do conceito de crise para os eventos que ocorreram no século III de nossa era, mas registros papirológicos têm se mostrado uma das mais importantes fontes para observar a dinâmica socioeconômica ao longo desse período e melhorar nosso entendimento sobre a economia romana.

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    poesia revela como ele vivenciou na Antiguidade o que os refugiados de hoje experimentam quando se veem obrigados a se deslocar para outros países, afastados de suas pátrias. O presente trabalho trata do exílio de Ovídio a partir do corpus de 46 epístolas em versos elegíacos conhecido como Epistulae ex Ponto ou Cartas pônticas (OVÍDIO. Cartas Pônticas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009), escritas nos seus últimos anos de vida, entre 12 e 16 d.C., e do papel de tal obra no contexto da literatura de exílio. Esta comunicação é fruto de uma monografia da disciplina Estudos de Epistolografia Latina do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Cultura, Língua e Literatura Latina da Universidade Federal Fluminense (UFF). PALAVRAS-CHAVE: Ovídio, Pônticas, Roma, exílio, epistolografia.

    A AMIZADE NA LITERATURA DE EXÍLIO DE OVÍDIO Jonathan Henrique Marques de Azevedo (UFF)

    Considerando a fragilidade das relações humanas em situações de adversidade, proponho nesta comunicação fazer uma breve análise acerca da amizade na obra Tristia ou Cantos Tristes, do poeta latino Públio Ovídio Nasão (43 a.C.-18 d.C.), banido em 8 d.C. de Roma para a cidade de Tomos, na região do mar Negro, por motivo não esclarecido. Os Cantos Tristes são uma coleção de 50 elegias distribuídas em cinco livros, incluindo algumas na forma epistolar, como a 5.13, que começa e se encerra com as saudações formulares, além de tratar de temas caros à correspondência pessoal, como a amizade e a saúde (TRAPP, Michael, ed. Greek and Latin Letters, an Anthology with Translation, 2003: 64-5). As epístolas contidas na referida obra (3.3, 5.2, 5.7, 5.13) constituem o corpus para a análise das relações de amizade do poeta durante o exílio, numa tentativa de aferir se o outrora vasto círculo de amigos resistiu à nova situação de Ovídio, a de banido da sociedade romana. Na sua produção literária de exílio, que inclui as Epistulae ex Ponto ou Cartas pônticas, o poeta apresenta sua situação como crítica e busca apoio para reverter a decisão do princeps Augusto e regressar a Roma. Ovídio morreu no exílio, onde hoje é a cidade de Constança, na Romênia. A análise é fruto de uma monografia da disciplina de Estudos de Epistolografia Latina do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Cultura, Língua e Literatura Latina da Universidade Federal Fluminense (UFF). PALAVRAS-CHAVE: Ovídio; Tristia; epistolografia; exílio; amizade. 31

  • NOVA TEMPORA, NOVI MORES – APONTAMENTOS SOBRE A ANTIGUIDADE CLÁSSICA E A MORAL CRISTÃ

    NO MEDIEVO GERMANÓFONO Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

    O legado cultural do mundo clássico durante as temporalidades componentes da Idade Média europeia manifestou-se, entre inúmeras tipologias textuais, em exercícios escolares em língua latina, que serviram à solidificação de um modus cogitandi eclesiástico baseado em um ideal de cristandade (LE GOFF, 1990). Nesse sentido, tais textos, em boa parte rimados, veiculavam lições morais comportamentais ligadas aos ideais da Cúria Romana, conhecidos como sententiae ou proverbia. No tocante ao mundo germanófono dos séculos XII ao XV, é recorrente o uso de personagens e temas vinculados à cultura da Antiguidade Clássica em parêmias, como bem salienta Bragança Júnior (2012), funcionando como indicadores de posturas e vivências a serem geralmente evitadas. Pretendemos nesta comunicação enumerar, de forma sucinta, alguns provérbios encontrados em manuscritos coligidos no Sacro Império Romano nos séculos citados, épocas de crise e tensão social principalmente entre Império e Papado, nos quais Baco, Vênus, as Erínias, Ovídio e Catão simbolizavam modelos de tempos antigos revisitados e muitas vezes transformados pelos litterati do medievo em antíteses da moral cristã. PALAVRAS-CHAVE: Antiguidade Clássica; paremiologia medieval; Sacro Império; latim medieval.

    Sessão de comunicações 4

    OVÍDIO E O EXÍLIO Gabriela Teixeira Frazão (CEIA-UFF)

    Tendo em vista a temática do fluxo internacional de refugiados que o seminário se propõe a abordar, o escritor Ovídio (43 a.C.-18 d.C.) se insere em tal contexto ao nos apresentar a visão de um homem banido de Roma em meio à política ‘moralizante’ de Augusto, que buscava evitar a corrupção dos valores romanos. Ovídio, mesmo tendo a sua cidadania romana preservada, se vê obrigado a viver em Tomos, atual Constança, na Romênia, longe da sua cultura e de seus familiares. Sua

    RESUMOS

    Mesa 2: Literatura e crise

    Patriae tempore iniquo (Lucr.1. 41): epicurismo e “revolução cultural” na Roma de meados do século I AEC

    Maria Eichler (UNIRIO)

    Com o termo "revolução cultural”, o historiador inglês Wallace-Hadrill refere-se às mudanças profundas na sociedade romana do século I AEC, atinentes aos campos da política e da religião, e desencadeadoras de rupturas e novos desenvolvimentos de caráter ideológico e cultural. Esse conjunto de transformações exigiu novos métodos de crítica e de julgamento, estimulados também pelo estreitamento do contato dos romanos com os sistemas de pensamento grego e helenístico. Lucrécio, impelido pelas mudanças em curso e pelas contingências do tumultuado cenário político das guerras civis, foi instado a “pensar em plena crise” dos modelos de autoridade e valores morais tradicionais romanos. O poeta e filósofo propugnou pelos princípios ético-morais da doutrina epicurista, cuja “função social emancipadora” trouxe aos magistrados e sacerdotes de seu tempo novas fontes de autoridade, além de novas estratégias de ação política e atitude religiosa para sua atuação nos rituais e cerimônias públicas da urbs.

    Pérsio: a crise da forma e o mundo em crise Prof. Dr. Fábio Paifer Cairolli (UFF)

    A presente comunicação pretende apontar percursos interpretativos da noção de crise na obra do poeta satírico Aulo Pérsio Flaco (34-62 d.C.) através da explicitação de dois conceitos presentes na primeira das seis sátiras desse autor: em primeiro lugar, a ‘crise da forma’, isto é, a discussão dos vícios das letras no presente da enunciação; logo, ‘o mundo em crise’, isto é, o recorte da realidade que os poetas satíricos em geral, e Pérsio em particular, evidenciam por meio de sua matéria.

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  • Sessão de comunicações 1

    O CONFLITO ENTRE GREGOS E PERSAS NOS EPIGRAMAS DE SIMÔNIDES DE CEOS

    Luana Cruz da Silva (PMA/PMCF)

    Durante a Antiguidade, os conflitos entre gregos e persas, as Guerras Médicas, foram tema de elegias, epigramas e outros gêneros textuais. O epigrama grego foi um gênero em que esses conflitos foram tematizados. Sabe-se que os epigramas eram inscrições gravadas em estátuas, objetos honoríficos e lápides. Além da inscrição gravada havia também um ritual associado ao estabelecimento do monumento. Segundo Day (1989, p. 23), com base em fontes literárias, é possível inferir que o ritual de erigir um monumento poderia ser acompanhado do canto de uma poesia. O estudioso defende ainda que, embora o monumento recordasse o ritual, o epitáfio institui uma voz poética que o perpetua. É possível destacar, neste âmbito, os epigramas atribuídos a Simônides de Ceos (V-VI a. C.), em que há a celebração dos guerreiros que morreram lutando durante os conflito gregos e persas entre. Pretende-se nessa comunicação analisar como os epigramas ratificam os valores gregos em oposição aos dos persas, e, ao mesmo tempo, aludem a um pan-helenismo incipiente. PALAVRAS-CHAVE: epigrama; guerra; Simônides de Ceos.

    A DIÁSPORA EM JUVENAL E NA ATUALIDADE: UMA ANÁLISE INTERCULTURAL

    Thaísa Regly de Moura Souza (UFF) Decimus Iunis Iuuenalis foi um satírico que viveu no Império Romano entre os séculos II e I a. C. Sua vida transcendeu dinastias de imperadores e o poeta pôde observar drásticas mudanças administrativas ao decorrer dos anos. Tendo sido parte de sua vida marcada pela censura exacerbada, Juvenal vê em si um sentimento tão forte que torna a indignatio a maior característica de seus poemas. Usando sua máscara satírica, Juvenal aponta contra tudo e todos, e sua revolta com a “degradação” da sociedade romana é implacável. Sendo um espectador do período de maior expansão do Império Romano, o poeta testemunha as mudanças sociais causadas pelo contato com novos povos conquistados e também seus costumes, que muitas vezes entram em choque com a

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    (meditatio) como exercício diário a ser realizado pelo imperador, bem como busca descrever a oposição apresentada no pensamento senequiano entre a clemência e a misericórdia daquele que governa. PALAVRAS-CHAVE: Sêneca; Roma; estoicismo; clemência; meditação.

    SERENIDADE NA CRISE: A EPÍSTOLA 24 DE SÊNECA

    Renata Cazarini de Freitas (UFF) Na iminência de uma situação crítica, não há por que antecipar o sofrimento, alerta Sêneca na epístola 24 da sua volumosa correspondência de parenética estoica endereçada ao amigo Lucílio. “Est sine dubio stultum, quia quandoque sis futurus miser, esse iam miserum” (24.1): “Sem dúvida é uma tolice que já estejas infeliz porque podes ficar infeliz no futuro”. Importante propagador do estoicismo, Sêneca, que foi preceptor do imperador Nero, propõe-se a guiar o destinatário dessa suposta troca epistolar pela via filosófica que o levará à serenidade (uia ad securitatem) diante da morte ou de qualquer outro destino terrível, como o exílio, a prisão ou a mutilação. A proposta desta comunicação é analisar a epístola 24 como exemplo da sofisticação do autor no trato com a matéria filosófica adaptada ao gênero epistolográfico. Ele usa com elegância os exempla históricos. Também se dirige a mais de um interlocutor nessa epístola: além de Lucílio, fala diretamente com a morte. É uma epístola que deixa entrever um contexto político tenso e imprevisível. “Quod aequissimum est spera et ad id te quod est iniquissimum compara ” (24.12): “Tem esperança no que é mais justo e prepara-te para o que é mais injusto”. Sêneca teria escrito as cartas nos anos finais de sua vida, sob o império de Nero, que o compeliu à morte voluntária em 65 d.C.. Como afirma Roland G. Mayer (Roman Historical Exempla in Seneca, in: FITCH, ed. Seneca), Sêneca coroou seu longo engajamento com os exempla, tornando-se um ele mesmo. PALAVRAS-CHAVE: Sêneca; Roma; epistolografia; estoicismo; latim.

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  • de preparação para a morte. Ou seja, é por meio da meditatio mortis que o ser humano aprende a aceitar a morte e aprende também a não vê-la mais com um mal, pois ao fazermos uma reflexão sobre a vida percebemos que a mesma não é possível sem o seu contrário, a morte. Portanto, não há por que temer a morte, pois ela faz parte da natureza humana. Observamos no último parágrafo a importância desse exercício como forma de não sermos apegados a vida caso um dia seja necessário deixá-la por meio não natural, a saber, por meio do suicídio. Assim, o estudioso Anthony A. Long em Ler os estóicos nos diz que: “A melhor leitura das Cartas de Sêneca consiste em lê-las como uma injunção a tomar posse de si mesmo antes que morte inevitavelmente intervenha”.O propósito deste exercício é deixar de temer algo intrínseco ao ciclo da vida e aproveitar o momento presente. Esta pesquisa integra o projeto de desenvolvimento acadêmico “Autonomização para leitura crítica de textos do estoicismo imperial” da Universidade Federal Fluminense (Proaes/UFF). PALAVRAS-CHAVE: Sêneca, estoicismo, morte, meditação.

    COMO NERO EVITARIA CRISES? SÊNECA, DA CLEMÊNCIA. Mônica Nunes de Neves (UFF)

    Em Da clemência, Sêneca, autor do século I d. C., faz recomendações ao imperador Nero, de quem era preceptor, com o intuito de orientá-lo na condução de um governo virtuoso. O filósofo postula que, ao pôr em prática seus ensinamentos fundados no estoicismo, o jovem imperador poderia manter-se em harmonia com os cidadãos romanos, evitando assim crises ou turbulências quanto à sua autoridade. Sendo o imperador visto como um árbitro da vida e da morte, Sêneca entende que um governo justo e clemente precisa seguir um modelo de sabedoria. O historiador Tácito (Anais XIII.1, tradução de Leonardo Pereira, p.191) afirma que Nero “prometeu em frequentes discursos usar sempre da mesma clemência. Esses discursos eram da lavra de Sêneca, que neles ostentava, pela voz do príncipe, seus talentos e a sabedoria de seus conselhos”. No entanto, tal empreitada requer um árduo e efetivo exercício de moderação. Com base nessas considerações, o presente trabalho se volta para a análise da importância da meditação

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    tradição romana. Entre eles, destaca-se o povo judeu que, nesta época, sobrevivia à sua segunda Diáspora. Agora, o mundo também vivencia trocas políticas intensas, e uma nova crise social com os milhares de civis que estão fugindo da Guerra na Síria, na pior crise de refugiados já vista desde a Segunda Guerra Mundial. Percebem-se semelhanças na descrição do encontro entre o povo judeu e o romano na poesia de Juvenal e o encontro entre o Mundo Islâmico e o Ocidente, inclusive a indignatio. PALAVRAS-CHAVE: Roma; Juvenal; diáspora; judeus; muçulmanos

    O PROJETO MARÍTIMO ATENIENSE NO SÉCULO V A.C.: CONSTRUINDO A NAUTAI TEKNÉ DOS SEUS MARINHEIROS

    Alair Figueiredo Duarte (NEA-UERJ/LSC-MB/NEMHAAT-UFF)

    A pólis dos atenienses, buscando atender seu projeto marítimo, disciplinava os tripulantes das galeras – cidadãos thetes, assim como metécos e escravos – para que fossem capazes de se mobilizarem e, com isso, produzirem um considerável contingente de homens hábeis no remo, inclusive em sua reserva. As ações de Temístocles, ao início do século V a.C., foram fundamentais para que a pólis dos Atenienses tivesse a prática de se mobilizar para guarnecer suas embarcações no mar. A campanha ateniense para a Sicília deu-se entre 415/413 a.C. e foi um grande exemplo do poder de mobilização marítima dos atenienses. Tucídides (VI: 31) menciona que essa foi a maior mobilização ateniense, tanto por efetivos navais, quanto por efetivos terrestres. O fato nos dá demonstração da disciplina da armada ateniense em planejar uma operação naval dessa envergadura. PALAVRAS-CHAVE: Guerra do Peloponeso, império ateniense, Sicília, poder naval, historiografia.

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  • OS USOS E ABUSOS DA BATALHA DE LEUCTRA: DA ANTIGUIDADE À HISTÓRIA MILITAR PRESENTE

    José Luiz Pereira Rebêlo (GEHM-CEIA-UFF/SEEDUC-RJ/SMERJ)

    A Batalha de Leuctra foi narrada de quatro modos distintos na Antiguidade, primeiro por Xenofonte – o único contemporâneo dela –, depois por Diodoro Sículo e Plutarco e, por último, por Pausânias. Mesmo havendo divergências entre esses relatos é comum encontrar na historiografia contemporânea uma síntese na qual se destacam três pontos sobre essa batalha: o uso (considerado) inédito da ordem oblíqua, como tática, pela falange tebana, a (suposta) genialidade de Epaminondas – um dos beotarcos deles – e o homoerotismo dos hoplitas Tebanos, membros do Batalhão Sagrado. A par disso, pretende-se nesse estudo contextualizar cada narrativa dessa batalha na Antiguidade, visando demonstrar que a síntese que dela é feita na História Militar presente ainda incorre em usos e abusos, manipulando-a como uma lição prática e didática do princípio da tática do ataque escalonado. PALAVRAS-CHAVE: guerra antiga, Grécia clássica, historiografia.

    UMA BATALHA NOS CONFINS DA TERRA: A NARRATIVA DE TÁCITO DO CONFRONTO ENTRE AGRÍCOLA E CÁLGACO Manuel Rolph Cabeceiras (CEIA-UFF/PLURALITAS-UFRRJ/IGHMB)

    A derradeira batalha campal pela conquista da Britânia, levando os domínios romanos ao seu ponto mais setentrional ocorreu em Monte Gráupio (Mons Graupius), em 84 A.D., durante o reinado de Domiciano, sendo as legiões conduzidas por Cneu Júlio Agrícola enquanto a resistência dos britanos liderados por Cálgaco. A única narrativa deste confronto que chegou até nós devemos a Públio (ou Caio) Cornélio Tácito na obra Vida de Agrícola (De uita et moribus Iulii Agricolae), escrita provavelmente em torno de 98, cinco anos após a morte do seu protagonista. A proposta que trazemos aqui, a partir de considerações desenvolvidas em nossa tese de doutorado, é debater os elementos retóricos empregados e os mecanismos de construção narrativa do confronto incluído no relato taciteano tendo como instrumental, em consonância com a análise histórica, a semiótica textual proposta por Greimas e Courtès. PALAVRAS-CHAVE: exército romano, historiografia, relações romano-bretãs, retórica, semiótica.

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    Homero e Virgílio. Esta pesquisa integra o projeto de desenvolvimento acadêmico “Autonomização para leitura crítica de textos do estoicismo imperial” da Universidade Federal Fluminense (Proaes/UFF). PALAVRAS-CHAVE: Sêneca; epistolografia; estoicismo; morte; símile.

    A PREPARAÇÃO E O MOMENTO DA MORTE EM SÊNECA Luan Moraes de Souza (UFF)

    Escritor e propagador do estoicismo, Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) relata, numa de suas epístolas ao amigo Lucílio, como seu espírito, apesar da idade avançada, está jubiloso e vive seu momento áureo, ao contrário do corpo, que está devastado e nos seus momentos finais. Seu espírito gere as ações com sobriedade, pois não é mais refém dos vícios do corpo. No entanto, não é correto pensar que o mero envelhecer do corpo seja suficiente para fortalecer o espírito e promover a libertação dos vícios. Sêneca dá a entender que é preciso mais que isto: requer que se medite diariamente sobre o fatídico momento. Sêneca adota um procedimento de se fiscalizar e autocorrigir. Tal exercício constitui uma preparação para a morte, momento que, para Sêneca, é crucial para julgarmos se nossos atos e palavras foram dotados de verdadeira virtude ou se não passavam de fingimentos. Esta comunicação busca, portanto, apresentar esta preparação para a morte, levando em conta, além da epístola 26 de Sêneca a Lucílio (“Edificar-se para a Morte: das Cartas morais a Lucílio”, trad. Renata Cazarini de Freitas, Vozes, 2016), também a descrição que Tácito (58-117 d.C.) faz da morte de Sêneca (“Anais”, trad. Leopoldo Pereira, Tecnoprint, s/d.), averiguando basicamente se sua doutrina se espelha em seus atos. Esta pesquisa integra o projeto de desenvolvimento acadêmico “Autonomização para leitura crítica de textos do estoicismo imperial” da Universidade Federal Fluminense (Proaes/UFF). PALAVRAS-CHAVE: Filosofia, estoicismo, Sêneca, Tácito, morte.

    MEDITATIO MORTIS NA EPÍSTOLA 26 DE SÊNECA Wendra Gomes de Moraes (UFF)

    Sêneca foi um importante intelectual do século I d.C. e disseminador do estoicismo imperial. Considerando a importância de sua obra e, principalmente, as Cartas a Lucílio, proponho nesta comunicação fazer uma apresentação da epístola 26 e, mais especificamente, dos três últimos parágrafos em que está presente o tema da meditatio mortis como uma via

  • poética nessas passagens. Entretanto, esse trabalho visa observar a construção poética desses versos, muito especialmente em relação à sua variação rítmica (métrica) e seus efeitos sintático-semânticos. Daí, emerge a pergunta: “como traduzir esse ‘ritmo’ de um texto tão distante do leitor moderno?”. Para auxiliar nessa discussão, utilizamos alguns estudiosos da tradução de poesia, como Ezra Pound (2013 [1970]), Haroldo de Campos (2010), Walter Benjamin (2008), e ainda Friedrich Schleiermacher (2001 [1813]). Como resultado, apresentamos uma tentativa de transcriação desse sistema poético latino, construído em versos quantitativos, para um sistema poético vernáculo, construído em versos de caráter proemiente acentuado, a saber, o dodecassílabo. PALAVRAS-CHAVE: Plauto, Comédia Palliata, Asinária, Tradução Poética, Senário Iâmbico.

    Sessão de comunicações 3

    CONSTRUÇÃO DE EXEMPLUM COM SÍMILES

    NA EPÍSTOLA 30 DE SÊNECA Bárbara Siqueira Martins (UFF)

    Na iminência de sua morte, Aufídio Basso, historiador já muito idoso, mantinha ainda uma atitude digna de emulação, segundo o seu contemporâneo Sêneca, importante autor e divulgador do estoicismo imperial no século I de nossa era. Admirando-se diante de tamanha preparação para a morte, Sêneca se coloca como aprendiz de Basso e, após apresentá-lo no primeiro parágrafo da epístola 30 da coleção de 124 cartas endereçada ao amigo Lucílio (Epistulae ad Lucilium), o autor faz uso de símiles para construir esse exemplo (exemplum) de homem que mantém a coragem e a resiliência. Serão analisados nessa comunicação os símiles dos parágrafos 2, 3, 8 e 13 da referida epístola, em que são estabelecidas comparações com um capitão de navio, um gladiador e um auriga. O símile, de acordo com Heinrich Lausberg (Elementos de retórica literária, 2011, p. 228) é uma figura de pensamento de alargamento semântico, um recurso literário do qual o autor pode fazer uso como meio de comprovação de alguma ideia e/ou como ornato literário (ornatus). Na literatura clássica, o símile é muito recorrente e produtivo, como se constata nas epopeias de 26

    Sessão de comunicações 2

    MONUMENTA ANCHIETANA NA HISTORIOGRAFIA DA LINGUÍSTICA

    Leonardo Ferreira Kaltner (UFF)

    Consiste a apresentação em debate acerca do trabalho de edição crítica e tradução das poesias novilatinas de São José de Anchieta, SJ (1534-1597) pelo Pe. Armando Eugênio Cardoso, SJ (1906-2002), um dos responsáveis pelo trabalho filológico com os Monumenta Anchietana, as obras completas de Anchieta. A discussão será pautada pelos pressupostos da Historiografia da Linguística (BATISTA, 2013), com o intuito de evidenciar métodos e processos de trabalho de crítica textual e tradução, para analisar a importância do trabalho deste latinista, que atravessou décadas de crise e de desenvolvimento também no Brasil, servindo como exemplo de dedicação às Letras Clássicas para gerações atuais de profissionais da área. O aporte teórico para a análise historiográfica remete-se ao trabalho desenvolvido por linguistas que se dedicaram especificamente ao tema e remontam à corrente da Historiografia da Linguística (KOERNER, 2006, SWIGGERS,1974). A questão central a ser debatida é como deve ser descrito e analisado o trabalho filológico com as fontes textuais novilatinas de Anchieta, desenvolvido por Cardoso ao longo de décadas, como este trabalho se desenvolveu e como dialogou com diversos momentos históricos, e até mesmo de crise, no Brasil, e quais são as perspectivas futuras de recepção das obras novilatinas anchietanas. PALAVRAS-CHAVE: filologia; latim renascentista; tradução poética; Historiografia da Linguística.

    UM OLHAR SOBRE MORFEMAS PRÉ-DESINENCIAIS DE VERBOS LATINOS

    Luiz Pedro da Silva Barbosa (UFF) Este trabalho faz parte dos estudos realizados durante o doutorado em Estudos de Linguagem, na UFF, que se debruçam sobre os morfemas pré-desinenciais dos verbos em Latim. Nesta etapa, a delimitação do tema conduziu ao levantamento dos elementos localizados entre o tema verbal e suas respectivas desinências. Uma observação inicial mostrou que tais elementos podem ser divididos em dois grupos (MONTEIL, 1974): um deles inclui morfemas como um sufixo frequentativo –ta e um sufixo

  • estativo, –ē; já o outro inclui morfemas como um sufixo desiderativo –s e um sufixo denominativo –y. Os dois grupos se diferenciam, sobretudo, por serem, respectivamente mais e menos composicionais. A visão teórica em que este estudo se baseia é a da Linguística Funcional Centrada no Uso, da qual utilizamos a vertente da Gramática de Construções (TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013); para as análises, utilizamos também os aportes de Hopper & Thompson (1980) e de Corôa (2005), bem como trabalhos já elaborados em etapas pregressas de nossa trajetória. O corpus desta pesquisa é composto pelas peças do comediógrafo Plauto, que viveu entre os séculos III e II a.C., cuja obra possui um caráter eminentemente popular e se constituía como um ambiente favorável à inovação e à mudança linguística. As considerações parciais apontam para uma relação entre os sufixos e traços aspectuais dos verbos, mostrando uma relação entre morfologia, sintaxe e semântica. PALAVRAS-CHAVE: sufixo, desinência, aspecto, morfologia, semântica.

    O CONSONANTISMO NA LÍNGUA LATINA Melyssa Cardozo Silva dos Santos (UFF)

    O presente trabalho tem objetiva mostrar as alterações fonéticas consonantais na língua latina, em comparação com a língua grega, até chegar à atualidade: a língua portuguesa. Primeiramente serão abordadas as características que abrangem o consonantismo latino: as classificações, quanto à zona e ao modo de articulação, e as transformações fonéticas nas consoantes e nos temas consonânticos de terceira declinação (FARIA,1957). Além de apresentar os fatores citados anteriormente, será abordada também uma visão comparativa entre o alfabeto grego e o latino, as consoantes latinas e as consoantes gregas e algumas transformações fonéticas da língua grega. Com base nessas comparações, será feita uma última reflexão acerca das consoantes e das transformações fonéticas, agora, na língua portuguesa, incluindo as leis fonéticas: lei do menor esforço, lei da permanência da consoante inicial e da persistência da tônica e os fatores de mudança linguística: a economia linguística, a gramaticalização e a analogia (BAGNO, 2011). PALAVRAS-CHAVE: Consoantes; transformações fonéticas. 24

    O RITMO EM TRADUÇÕES DA SÁTIRA 1.4 DE HORÁCIO Daniel Falkemback Ribeiro (UFPR)

    A tradução em Portugal se tornou prática letrada consagrada, como parte do movimento academicista, a partir do século XVII, contexto que favoreceu a promoção da literatura clássica no país, em especial entre os árcades mais tarde. Horácio, por exemplo, fazia parte do cânone arcádico, aí incluída sua produção satírica, ainda que com menos atenção do que os outros gêneros nos quais o poeta atuou (MENÉNDEZ PELAYO, 1885). Analisamos em especial a recepção da sátira 1.4, cuja primeira tradução poética em português foi feita por António Diniz da Cruz e Silva, ou Elpino Nonacriense. A ela se seguiu, no início do século XIX, a versão de todas as sátiras por António Luiz de Seabra, trabalho que se distingue do anterior em muitos quesitos, entre os quais destacamos o ritmo. Este é um dos principais recursos pelos quais se pode apresentar, em outra língua, uma interpretação de um poema pela prática tradutória, entendendo-a como criação e crítica (CAMPOS, 2013) em sua relação intrínseca com a ética e a política (MESCHONNIC, 1982; 2010). Com base nesse cenário, buscamos situar a sátira 1.4 como expressão de um Horácio português em dois momentos, com ritmos próprios que indicam caminhos para a compreensão da recepção da poesia latina pela reescrita no contexto lusófono. PALAVRAS-CHAVE: Horácio; sátira; recepção; tradução; ritmo.

    SENARII IAMBICI: UMA PROPOSTA DE TRADUÇÃO Renan de Castro Rodriguez (UFF)

    Este trabalho, fruto de uma inicição científica na área dos Estudos de Tradução e de Língua Latina, busca apresentar os resultados obtidos a partir da tradução, em dodecassílabos vernáculos, de quatro cenas, construídas em senário iâmbico, da peça Asinária (207 a.C), de Tito Mácio Plauto (c. 254-184 a.C.). O senário iâmbico, verso sem acompanhamento musical, foi um dos principais metros utilizados na composição das peças, com cerca de 40% de presença na comédia romana (MOORE, 2012). Em todo corpus plautino que nos foi legado, cerca de 8200 versos são senários iâmbicos, que, muitas vezes, têm sua prosódia entendida como um reflexo da linguagem cotidiana dos romanos educados daquele período republicano (LINDSAY, 2002 [1907]). Esse entedimento, por conseguinte, pode levar à ideia de que haveria menor nível de elaboração