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Cris Oliveira

História da educaçãoCris Oliveira

História da educação

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SumárioCAPÍTULO 2 – História da Educação no Brasil ..................................................................05

Introdução ....................................................................................................................05

2.1 A Educação na Colônia – um panorama geral ............................................................05

2.1.1 As primeiras letras, o ensino secundário e a pedagogia dos jesuítas ......................06

2.1.2 A expulsão dos jesuítas e um novo modelo de educação .....................................09

2.2 A Educação na Monarquia ........................................................................................10

2.2.1 A primeira monarquia ......................................................................................11

2.2.2 Principais filósofos do período ..........................................................................12

2.3 A Proclamação da Independência e a segunda monarquia ...........................................13

2.3.1 A História da educação no Império ...................................................................14

2.3.2 O positivismo de Augusto Comte e a educação ..................................................15

2.3.3 A educação no império ....................................................................................17

2.3.4 A importância de Nísia Floresta e de Rui Barbosa ...............................................17

2.4 A história da educação na república ..........................................................................19

2.4.1 Educação republicana .....................................................................................19

2.4.2 As reformas da educação elitista .......................................................................20

2.4.3 José Veríssimo e Maria Montessori ....................................................................20

Síntese ..........................................................................................................................22

Referências Bibliográficas ................................................................................................23

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Capítulo 2

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IntroduçãoVocê consegue imaginar um país organizado, independente e republicano sem educação? E uma parcela da população desse país sem ao acesso aos estudos, direito garantido pelo Estado? E sem a educação fundamental I – antigamente denominada de educação primária? Pois bem, na história de diversos países e em especial na do Brasil, essa situação calamitosa já foi vivenciada. O processo de estabelecimento da educação no Brasil foi longo e, por vezes, bastante confuso (MANACORDA, 2010). Você consegue imaginar um país sem escolas?

Ao estudar a história da educação no Brasil, você conseguirá traçar um panorama histórico, ten-do como base alguns dos mais importantes acontecimentos, que vão desde o Brasil Colônia até a Proclamação da República. Assim, você entenderá como a educação se desenvolveu de maneira lenta e complicada para atender às necessidades da família real recém-chegada. Depois, você estudará as razões pelas quais a educação no Brasil é, portanto, de certa maneira, ainda elitista.

Ao refazer toda essa trajetória, você compreenderá melhor algumas dificuldades que a educação enfrenta ainda hoje, mas também conhecerá suas transformações positivas. Com isso, você terá meios de refletir e, quem sabe, contribuir para a melhoria do cenário educacional no país. Afi-nal, é impossível construir uma sociedade sem que os seus membros tenham acesso à aquisição de conhecimento e sem que eles possam desenvolver habilidades, potenciais e, principalmente, tornar-se cidadãos plenos.

Bons estudos!

2.1 A Educação na Colônia – um panorama geralAlguns personagens e pensadores foram fundamentais para todo o processo de desenvolvimento pedagógico e educacional em terras brasileiras, em um período no qual os processos educa-cionais não eram formalizados. Sem eles, o desenvolvimento da educação no país não seria possível. Um dos nomes mais significativos está entre os jesuítas: José de Anchieta. Sem ele, não teriam existido as escolas de meninos, um modelo que ficava entre uma “quase escola” e uma “[...] oca onde os índios e os jesuítas se reuniam para aprender a ler, escrever, se portar à maneira branca e, o mais importante: a conhecer e aceitar a fé católica”. (PILETTI; PILETTI, 2014, p. 71).

História da Educação no Brasil

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História da educação

Figura 1 – O processo inicial da educação no Brasil tinha não uma caráter pedagógico, mas sim colonizador.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Contudo, vale sempre ressaltar que havia uma série de problemas enfrentados pelos jesuítas em sua árdua tarefa educativa e pedagógica. Já quase no fim do período colonial, por razões políticas e de largo interesse administrativo, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas de todas as colônias portuguesas, inclusive do Brasil, em 1759. Será que essa foi uma decisão acertada? Quais foram os reflexos da atuação dos jesuítas na educação brasileira? Eles deixaram um lega-do organizacional que não foi possível copiar. Você saberá mais sobre o assunto a seguir.

2.1.1 As primeiras letras, o ensino secundário e a pedagogia dos jesuítas

A educação no Brasil nem sempre foi como é conhecida hoje. Você sabe como ela teve início? A história da educação no país foi marcada pela chegada dos primeiros padres jesuítas à colô-nia, no ano de 1549. Foram eles os responsáveis por uma fase que duraria quase 200 anos de processos educacionais estabelecidos por aqui. Os jesuítas ainda prestaram uma contribuição ao processo de colonização do Brasil. Você sabia que eles possuíam um sistema educacional e pe-dagógico altamente organizado e funcional, cujas consequências em sua interrupção deixaram as suas marcas na história da educação brasileira?

O primeiro grupo de jesuítas desembarcou em nossas terras sob o comando do padre Manuel da Nóbrega, que já estava à frente da Companhia de Jesus. De acordo com Lima (2000), eles tinham duas tarefas principais: a primeira era a de propagar a fé católica; a segunda, dar educa-ção aos indígenas que aqui viviam. Obviamente, havia interesses tanto da Companhia de Jesus quanto da metrópole. Esta desejava enriquecer e encontrar mão de obra gratuita, aquela queria conseguir mais fiéis.

A tarefa dos padres jesuítas foi muito difícil, porém importante para todo o processo de desen-volvimento educacional do período, como afirma Aranha (2006, p. 131): “[...] valiosa para o processo de colonização, bem como da difusão da Palavra divina, especialmente a povos que não A conheciam – e por meio de uma socialização prolongada.”

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Figura 2 - A educação se iniciava com as crianças, que aprendiam a ler e a es-crever, bem como aprendiam as tradições dos portugueses.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Os jesuítas logo perceberam que não seria fácil a tarefa de catequizar os indígenas, mas perce-beram que seria mais amena e eficiente se, ao mesmo tempo em que transmitiam a fé católica e o que consideravam bons costumes, também ensinassem aos nativos um pouco de escrita e de leitura. Usaram, para tanto, duas ferramentas: as orações e o catecismo. Organizaram, então, as primeiras escolas de ler e de escrever, locais nos quais também procuravam ensinar a língua portuguesa, bem como os diversos costumes dos dominadores.

O que mais chama atenção dentro desse trabalho é a capacidade que os jesuítas tiveram para se adaptar. Eles entenderam que, para conseguir influenciar de alguma forma os indígenas, havia a necessidade de adentrar nas aldeias e vivenciar os seus costumes. Orientavam jovens e adultos com a fé, ao passo que também investiam nos primeiros ensinos de leitura e escrita das crianças. Tudo era feito de maneira mútua: aprendiam a língua nativa, e ensinavam-lhes a deles. Assim, garantiam a confiança e a proximidade para poderem atingir os objetivos.

O teatro era usado como ferramenta básica de educação e catequese. O que os jesuítas deseja-vam era angariar mais gentios para a Companhia de Jesus e, para isso, usavam toda a influência que foram conquistando aos poucos no seio da população. As crianças queriam brincar, e os jovens acabavam se dispersando, mas alguns eram acolhidos pela Companhia e deveriam seguir nos planos de Deus.

Para isso, havia um planejamento bem definido, embora melhor visualizado no projeto de ensi-no secundário. Ele foi implantado no ano de 1599 e, além de oferecer as aulas conhecidas de leitura e escrita, dispunha também de mais três modalidades: as Letras Humanas, a Filosofia, e as Ciências. Também havia o curso de Teologia, que era voltado exclusivamente para a formação de padres.

Todo gentio da terra poderia receber tais ensinamentos: filhos de donos de engenho, órfãos advindos de Portugal e os nativos. Para aqueles que desejassem seguir a carreira eclesiástica, os ensinamentos poderiam ser feitos entre os padres. Já aqueles que quisessem dar segmento aos estudos deveriam fazê-lo na Europa.

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História da educação

O método pedagógico que se instituiu entre os jesuítas nos anos que seguiram era de uma rigi-dez que se estendia não apenas aos educandos, mas também aos professores, que deveriam ter uma conduta impecável. Estava entre os bons hábitos e procedimentos a serem seguidos: as ora-ções diárias, a pregação e os ensinamentos da doutrina cristã (tudo feito inclusive aos sábados); a exortação espiritual; os recitais de lições aprendidas duas ou três vezes por dia ou quando o mestre exigisse; muitos trabalhos escritos (em particular, no secundário para a formação eclesi-ástica); sabatinas, exames e muita disciplina. Aos padres não era permitido oferecer castigos “em demasia”, no lugar, era prudente oferecer mais exercícios da matéria ensinada no dia.

Ficou curioso para saber mais sobre como era essa rotina? Leia “Boca do Inferno” (1989), de Ana Miranda, um romance histórico traduzido em diversos países, que tem como pano de fundo o século XVII. A obra desmistifica a ideia de país pacífico e mostra a relação de perseguidores e perseguidos.

NÃO DEIXE DE LER...

Os jesuítas também ofereciam ensino profissionalizante. Até meados do século XVIII, a Com-panhia de Jesus dispunha de algumas oficinas, nas quais se ensinavam alguns dos ofícios mais necessários para atender às demandas de até então (ARANHA, 2006).

Ainda segundo Aranha (2006), com o desenvolvimento da economia e principalmente com o au-mento do processo de urbanização, a procura pelos serviços de artesãos aumentou de maneira significativa. Foram criadas as lojas de ofícios, de acordo com o mesmo sistema que havia na metrópole. O tempo de estudos nas oficinas era de quatro anos, sendo que os estudantes rece-biam certificado de oficiais, logo após os exames.

NÃO DEIXE DE VER...

Para saber um pouco mais sobre as condições em que os jesuítas atuavam e seus dile-mas, assista ao filme “A Missão” (Reino Unido, 1986), de Roland Joffé. O longa é um clássico do cinema e conta a história de um mercador de escravos que se encontra com um padre jesuíta em uma de suas viagens à colônia. Este luta pelos direitos dos índios, mas se vê acuado por várias questões, principalmente econômicas.

Padre José de Anchieta foi o nome de maior contribuição para os processos pedagógicos desse período. Para Lima (2000), ele pode ser visto como o jesuíta que soube como ninguém traba-lhar e catequisar entre os índios. Infiltrou-se de tal maneira entre eles, que absorveu a língua e transmitiu costumes.

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O padre José de Anchieta, que viveu entre os anos de 1534 a 1597, nasceu em Te-nerife, nas Ilhas Canárias. Chegou ao Brasil no ano de 1553, juntamente com o go-vernador Duarte da Costa. Anchieta ainda não havia sido ordenado padre, mas era um nome de relevância na Companhia das Índias. Ajudou a fundar o primeiro Colégio Jesuíta, que hoje é um importante museu na cidade de São Paulo. Sua atuação como padre missionário e professor foi, sem dúvida, uma das mais importantes do período colonial. Foi reitor e superior de importantes instituições da época e acreditava que a tarefa de propagar a fé, ao mesmo tempo em que transformava os pagãos em gentios mais civilizados, era uma tarefa desejada por Deus.

VOCÊ O CONHECE?

Foi dele a ideia de usar o teatro como meio de educar, dando origem ao chamado teatro de Anchieta, que muitas vezes misturava as mímicas, música, trechos de orações e citações da Bí-blia. As peças ainda possuíam caráter moralizador e sempre firmavam a autoridade da Igreja Católica. Para fins pedagógicos, elas eram elaboradas em quatro idiomas: espanhol, português, tupi e latim. Esse recurso pedagógico é um registro das primeiras manifestações escritas em lín-gua portuguesa, durante o período do Quinhentismo, que marca o início da nossa colonização.

2.1.2 A expulsão dos jesuítas e um novo modelo de educação

Por mais de 200 anos, os jesuítas foram os únicos responsáveis pela educação no Brasil. Fun-daram inúmeras escolas de ler, escrever e aprender a contar, sempre seguindo seus modelos e padrões com caráter religioso. No entanto, o grande foco dos jesuítas sempre esteve nas escolas secundárias, as quais poderiam formar e aumentar o corpo eclesiástico. Esse grau de ensino utilizava-se de uma rede de colégios que eram reconhecidos por sua qualidade e organização.

Muitos jesuítas, inclusive, ofereciam cursos que equivaleriam aos de nível superior (ARANHA, 2006). No entanto, no século XVIII, diversas foram as mudanças sociais, filosóficas, políticas e econômicas na Europa, que também acabariam refletindo no Brasil. Em 1750, pairava sobre todas as nações do velho mundo a primeira Revolução Industrial e os primeiros indícios das posi-ções filosóficas do Iluminismo, que fomentaria a Revolução Francesa poucos anos à frente. Esses fenômenos influenciavam diretamente Portugal, que estava com a economia e política à beira do colapso. Surgiu, então, uma figura que foi pontual nos rumos educacionais do Brasil: Sebastião José de Carvalho e Melo, conhecido como Marquês de Pombal.

O Marquês de Pombal foi ministro em Portugal entre os anos de 1750 a 1759. Durante seu go-verno, tomou uma série de medidas para tentar reerguer o país. Havia o desejo de centralizar a administração da colônia para controlá-la de maneira mais eficiente. Por isso, e também por ou-tras e outras medidas, ele acabou se tornando impopular entre os líderes da Companhia de Jesus.

Considerado um déspota esclarecido, o Marquês de Pombal rompeu com a Companhia e, em consequência disso, expulsou os jesuítas de todas as colônias portuguesas em 1759. Também suprimiu a educação religiosa jesuítica, implantando a educação laica. Criou as aulas régias de latim, de grego e de retórica, que não se tornaram populares nem tinham a qualidade das escolas jesuíticas. De acordo com vários historiadores, em particular Valnir Chagas, especialista no período, a ação fora um fracasso. Era isolada, não havia currículo, os professores eram de baixo nível, além de serem mal pagos. Tudo em contraste com a educação jesuítica. E mais: os alunos não se viam estimulados a aprenderem (PINTO, 2010).

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História da educação

O que é um déspota esclarecido? Essa expressão foi cunhada no século XVIII para denominar os soberanos absolutistas que, de várias maneiras, tentaram implantar as ideias dos pensadores do Iluminismo. É importante entender o papel dos déspotas no contexto geral da história da época, assim como foi o papel deles no desenvolvimento das novas práticas educativas que surgiriam à luz das novas teorias.

NÓS QUEREMOS SABER!

No entanto, algumas instituições ligadas a outras ordens continuaram a atuar na educação, como, por exemplo, o Seminário de Olinda, que se tornou referência na difusão de ideias liberais da época.

A reforma pombalina, como ficou conhecida, e a educação laica, embora tenham sido pensadas com propósitos positivos, deixaram algumas sequelas para a educação brasileira. As escolas je-suítas eram muito organizadas, e o fechamento delas provocou uma lacuna que nunca conseguiu ser preenchida pelos governos subsequentes durante monarquia e império. Os jesuítas deixaram as suas marcas na pedagogia do país, pois eles eram preparados – pedagógica e eruditamente para a época – para transmissão dos saberes, o que não se via nos professores que ministravam as aulas régias. Sem os jesuítas, por exemplo, não haveria o ensino profissionalizante nem gen-tio capacitado para ensinar ofícios na colônia.

Na sequência, com a chegada da família real, Institutos e Universidades surgiram. Será que elas eram eficientes e acessíveis à população? E o que aconteceu com o ensino primário? Prossiga a leitura e descubra.

2.2 A Educação na MonarquiaA implantação de um novo sistema educacional, logo após a expulsão dos jesuítas, gerou dois problemas para o vice-reinado: primeiro, abriu-se uma grande lacuna na educação, que não foi preenchida nas décadas que se seguiram; o segundo foi a criação do imposto denominado “Subsídio Literário” para financiar o ensino primário no Brasil. Acontece que esse subsídio não teve nenhum efeito real no processo de implantação das escolas primárias. Pelo contrário. O Marques de Pombal não conseguiu fazer o uso do imposto para a aplicação de quaisquer que fossem as medidas por ele decretadas. Seguiram-se mais de quase 50 anos entre a expulsão dos padres educadores até a chegada da Família Real, em 1808, quando, de fato, houve uma preocupação com a necessidade de se estabelecer um projeto de educação.

Pode-se dizer que a educação no período da monarquia está dividida em dois momentos dis-tintos. Você conhece quais são eles? Ou, ainda, sabe quais características que os diferenciam? Então, vamos lá.

O primeiro é o do reino, que tem início justamente com a chegada da família real ao porto da Bahia, em 1808. D. João VI baixou uma série de decretos, entre os quais o que determinava a criação da Imprensa Régia, que possibilitou o surgimento da Gazeta do Rio de Janeiro – marco do jornalismo no Brasil. Ao se estabelecerem na cidade do Rio de Janeiro, os portugueses tam-bém perceberam a necessidade de serviços. Havia poucas pessoas qualificadas para executar atividades das mais simples às mais sofisticadas.

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Figura 3 – Com a chegada da monarquia, havia a necessidade iminente de modificar os ru-mos das aulas régias, no entanto, não havia nenhum programa educacional a ser implantado.

Fonte: Shutterstock, 2015.

O segundo momento é marcado pela Proclamação da Independência do Brasil, quando a educação se transformou em uma das preocupações mais centrais da Constituinte. Também é importante salientar que vários pensamentos que fervilhavam na Europa acabaram chegando ao Brasil nesse momento. Diversos intelectuais, poetas e escritores tinham contato com os ideais libertários do Iluminismo. Traziam essas ideias em suas malas, com seus livros, e mesmo que de maneira restrita, tais pensamentos acabavam chegando até outros pensadores que viam nos processos educacionais brasileiros um atraso e um contraste entre a realidade e a necessidade. Havia o desejo de fazer diferente.

2.2.1 A primeira monarquia

Você conhece a história da educação no período monárquico? Sabia que importantes academias de artes foram fomentadas nesse período? O que poucos sabem é que, se por um lado, D. João VI investiu na educação secundária, faltaram investimentos na primária.

O período a que se denomina “Monarquia” vai da chegada da Coroa Real ao Brasil até a Pro-clamação da Independência do país em relação à metrópole, ou seja, entre os anos de 1808 e 1889. Didaticamente, quando o assunto é a educação, o período pode ser estudado em dois momentos distintos. O primeiro trata do ensino que favorecia a profissionalização. O segundo foi quando se investiu nas escolas secundárias e na criação de academias artísticas, das quais sur-giriam importantes instituições. No ano de 1816, por exemplo, aconteceu a chegada da Missão Artística Francesa, da qual se originaria a Escola de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura, que, mais tarde, seria transformada na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Johann Moritz Rugendas foi um pintor alemão que esteve à frente da Missão Artística Francesa. Ele viajou pelo Brasil inteiro, entre os anos de 1822 a 1825, retratando os mais inusitados locais, que até então, eram totalmente desconhecidos. Vale pesquisar mais sobre ele para entender como pensavam os europeus sobre a terra brasilis.

VOCÊ O CONHECE?

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História da educação

A educação primária, contudo, continuou à margem. Não houve investimentos em escolas, pe-dagogias, ou qualquer outro instrumento que pudesse favorecer o ensino primário. No período da monarquia, a educação era ainda para poucos, elitista.

Com a chegada efetiva de D. João VI ao Rio de Janeiro, várias instituições educacionais foram criadas. No entanto, logo nos primeiros anos, o intuito maior era utilitário e profissional. O objeti-vo, portanto, não era a criação de institutos de educação primária, mas sim, a preparação de pro-fissionais que estivessem habilitados a atender às demandas no reino, bem como realizar a defesa das fronteiras. Havia uma larga quantidade de escolas superiores e diversas instituições culturais.

Figura 4 – Com a chegada de D. João VI ao Brasil, as aulas régias trans-formaram-se em um sistema que perdurou até o império.

Fonte: Casa imperial do Brasil, 2015.

A educação ganhou ainda mais um caráter elitista, uma vez que a população comum não tinha interesse pelas escolas primárias, nem o governo por elas. O ensino primário não teve, portanto, um real desenvolvimento.

2.2.2 Principais filósofos do período

Alguns pensadores importantes desse período, que influenciaram o desenvolvimento da educa-ção, vieram de outros países. Você conhecerá três dos mais relevantes, os quais apresentaram ideias que, futuramente, acabariam sendo, de alguma forma, testadas e incorporadas às peda-gogias que se seguiram nos próximos anos. Todos eles são seguidores de Rousseau e começaram a se valer de teorias realmente profundas sobre as pedagogias educacionais.

O primeiro é Johann Heinrich Pestalozzi, que tentou exercer na prática os seus pensamentos sobre educação. Como foi professor primário de escola pública, ele tinha conhecimento de causa sobre o tema. Começou tentando aplicar suas ideias com o filho, depois, estendeu-as ao ensino prático nas salas de aulas destinadas à educação de crianças pobres.

O filósofo acreditava que a educação deveria ser promovida de maneira natural, como principal meio de reforma social. Sua ideia central era trabalhar com “[...] o coração, a mente e as mãos [...]”, ou seja, formar o indivíduo em sua totalidade (CAMBI, 1999, p. 414). Além disso, a pro-

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posta pedagógica desenvolvida por Pestalozzi tem como princípio a formação integral, vinculada à formação moral e religiosa a partir de uma educação profissionalizante (LIMA, 2010).

Pestalozzi também acreditava profundamente que a educação essencial era a destinada às pri-meiras letras, à criança. Segundo ele, somente isso permitiria a saída da ignorância, da imundice e da miséria. Ele ainda procurou definir, em diversas de suas obras, conhecimentos e habilidades práticas, as quais seriam totalmente necessárias para o desenvolvimento da criança. Sem sombra de dúvidas, ele foi quem mais contribuiu para ampliação de teorias que seriam postas em prática por diversos pedagogos ao longo da história.

O segundo também era professor e ensinava filosofia e educação em universidades da Alema-nha: Johann Friedich Herbart. Foi ele quem aprofundou as teorias de Pestalozzi, no entanto, sob um prisma mais teórico. Ele deu total importância ao estudo das práticas pedagógicas, tanto que organizou uma escola prática anexa, que foi um modelo precursor das escolas de aplicação em seu país. O filósofo ainda apontou que a educação como mera informação não é educativa. Para ele, a educação somente surte efeito quando há o interesse por parte do aluno, e que se deve fazer a seleção adequada de conteúdos para que o fim seja atingido. Do contrário, é mera mecanização. Assim como seu antecessor, ele deu profunda importância ao ensino primário e à educação técnica, considerando que, sem eles, a sociedade não teria como se desenvolver.

O terceiro é Friedrich Froebel. Ele corroborou as ideias dos seus colegas filósofos, mas deu total ênfase à figura do professor, embora também destacasse a importância da criança no processo educacional. Dedicou os últimos anos de sua vida totalmente ao conhecimento da educação infantil.

Segundo Arce (2004), é Froebel quem dá início ao que futuramente instituiria a psicologia do de-senvolvimento como fundamento da educação. A principal contribuição pedagógica do filósofo está concentrada na atenção à criança na fase elementar ao ensino fundamental. Em sua obra “A educação do homem”, ele aponta que o desenvolvimento humano está dividido em estágios: a primeira infância, a infância, e a idade escolar. Em cada um desses estágios, é necessário que uma educação distinta seja realizada.

Froebel acreditava que o investimento na educação deveria ser primordial nos primeiros anos para uma formação humana em sua totalidade (ARANHA, 2006). Foi ele que fundou os Kinder-garten (jardins de infância), em comparação direta com os jardineiros que devem cuidar das plantas desde quando ainda são pequeninas.

As teorias dos três filósofos deixaram marcas visíveis nas modificações pelas quais passou a educação no Brasil.

2.3 A Proclamação da Independência e a segunda monarquiaCom a Proclamação da Independência, no ano de 1822, diversas foram as mudanças no pa-norama social, cultural, econômico e político. Estas, ao menos, pareciam que iriam se estender também ao sistema educacional vigente na época. E o que muitos desejavam acabou acontecen-do: com a promulgação da primeira Constituição, houve um debate muito acalorado por parte de importantes nomes e setores da sociedade. A ideia era que se estabelecesse a obrigatoriedade da educação primária e que ela fosse popular. Também se discutiu a importância da criação de universidades no Brasil. O apoio foi geral. Assim, iniciou-se, didaticamente, a chamada “Segun-da Monarquia”.

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História da educação

A lei de obrigatoriedade das escolas primárias foi promulgada em 15 de outubro de 1827, ga-rantindo a instrução primária e gratuita a todos os cidadãos, e determinando a criação de escolas em vilarejos e cidades do reino, envolvendo as três instâncias do Poder Público. No entanto, em 1834, um Ato Adicional à lei delegou às províncias a responsabilidade de legislar sobre a educa-ção primária, o que comprometeu a educação básica e afastou mais uma vez a responsabilidade do governo de assegurá-la para todos. Havia ausência de ação e principalmente de unidade.

Mais uma vez, a educação básica estaria legada a não sair do papel? Veja quais foram os rumos da educação no Império.

2.3.1 A História da educação no Império

Em 1822, o Brasil tornou-se oficialmente independente de Portugal, entretanto, o país não tinha estrutura para ser livre da dependência de outras nações que já eram bem desenvolvidas. Mui-tas medidas econômicas foram tomadas para tirar o país de uma crise iminente nos campos da economia, da política, da filosofia e da educação. Você sabia que todas as medidas acabavam beneficiando a aristocracia rural? E que havia uma perpetuação da riqueza de comerciantes portugueses, e a tensão entre diversos segmentos continuava a alimentar as diferenças sociais, e por isso, a educação básica permanecia em segundo plano? A educação no Império somente teria outros rumos com atuações que saíram da esfera governamental e tiveram suas ações cen-tradas em figuras sociais de grande relevância para o contexto e, em especial, para o próprio desenvolvimento das pedagogias universalizantes.

Figura 5 – O Brasil estava independente, no entanto, os problemas ape-nas se iniciavam, em especial, no setor da educação.

Fonte: Shutterstock, 2015.

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Além disso, o mundo inteiro fervilhava com outras filosofias já em voga, tais como positivismo, determinismo, darwinismo – propostas que viam na ciência e na educação os únicos caminhos reais para o desenvolvimento do homem e de suas respectivas sociedades. Você conhece algu-mas delas? Vejamos o contexto em que elas estão inseridas.

Com a segunda Revolução Industrial e o agravamento dos problemas intensificados por conta da centralização do poder nas mãos de uma burguesia dominante, diversas foram as correntes que surgiram para tentar explicar a origem de tal contexto. Uma delas influenciaria diretamente os rumos da educação no período imperial: o positivismo de Augusto Comte, que usava métodos científicos para estudar as questões humanas e compreender o mundo físico.

Havia várias pessoas que desejavam estudar e provar que por meio da ciência, da razão e de me-todologias práticas, é possível entender as interações humanas, além das relações econômicas, sociais, políticas e filosóficas. Pode-se dizer que essas pessoas eram conhecidas como cientificis-tas, pois acreditavam que essa era única explicação possível para entender certos desconcertos no mundo, que não poderiam ser explicados por meio da fé.

Hoje, podemos dizer que vivemos em um mundo mais científico do que antigamente? Caso essa reflexão fosse levantada em sala de aula, como você conduziria o debate?

2.3.2 O positivismo de Augusto Comte e a educação

Considerado o pai da sociologia, o filósofo francês Augusto Comte criou a lei dos chamados “três estados”, a qual seria amplamente aplicada em sua teoria futura, o positivismo. Segundo Comte, a humanidade já havia passado por três longos estágios. O primeiro seria o teológico, que se caracterizava por respostas para as anomalias do universo na fé e na religião. O segundo era o estado metafísico, no qual a busca por respostas para os problemas da humanidade estaria diretamente ligada às forças sobrenaturais, portanto, não racional. E o terceiro seria o estado po-sitivo ou científico, com o qual se encontram respostas nas origens das coisas, nos fatos e nas leis.

De acordo com a sua teoria, o mundo positivo é também o científico, precisa de ordem para que haja evolução. Nesse sentido, quando aplicada à educação, a teoria positivista de Augusto Comte pode ser traduzida da seguinte maneira: sem educação, não há progresso (ARANHA, 2006).

Pense na seguinte situação: as sociedades que ao longo dos tempos não conseguiram estabele-cer as bases de sua educação demonstram ter inúmeros problemas, que vão desde os políticos até os sociais. Em geral, não há pessoas qualificadas para os trabalhos menos exigentes, muito menos quem organize e administre a comunidade, o que não proporciona o crescimento delas.

CASOAté mesmo em sociedades mais antigas, havia uma preocupação com o passar e desenvolver dos saberes, justamente porque os líderes comunitários conheciam o valor da importância da trans-missão de conhecimento. As sociedades tribais, que não eram, em geral, letradas, procuravam preparar os seus para que pudessem dar continuidade à cultura, à organização social daquela sociedade, e mais, que eles estivessem preparados de alguma forma para enfrentar as dificulda-des mais simples. E não é apenas isto. Como seria possível manter a comunidade unida e forte, o saber e as tradições, sem a passagem do conhecimento? Como garantir o desenvolvimento de cidadãos, de uma sociedade justa, coerente, sem que ela se desenvolva intelectualmente?

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História da educação

O que fazer diante do não preparo intelectual das pessoas que vivem em uma socie-dade em plena transformação? Como elas vão poder ascender socialmente? É possível haver mobilidade e cidadania em um panorama como esse? No Brasil, haveria preocu-pações com a educação, no entanto faltariam projetos conjugados capazes de oferecer qualificação pedagógica para todos.

NÓS QUEREMOS SABER!

A concepção pedagógico-positivista de Augusto Comte consiste justamente na teoria de seus três estados, bem como na classificação das ciências. Para ele, os saberes mais elevados estão nas ciências exatas e biológicas. Já as ciências humanas, como a poesia e a cultura geral, ser-vem, basicamente, como elemento preliminar, preparando os indivíduos para o conhecimento mais elevado. Em outras palavras, para Comte, as ciências exatas e biológicas são mais elevadas e devem ser mais aplicadas nas escolas. Já as demais devem servir como base para o aprendiza-do de outros saberes, não tão nobres. Foi daí que veio a ideia de que o ensino de matemática é superior ao de línguas, embora ambos sejam de suma importância para o conhecimento humano.

Figura 6 – As novas propostas indicavam que a educação deveria não somente ser laica, mas também científica.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Comte afirmava que há dois períodos importantes na formação do educando: o primeiro é es-pontâneo, e vai dos 7 aos 14 anos. Nessa fase, a criança recebe da mãe e da família todas as influências para desenvolver sua índole e sua linguagem. Já os anos que abrangem a puberdade e a maioridade são classificados como período sistemático. É quando a aquisição do conheci-mento deve ser feita em instituição pública, onde o educando deverá receber os conhecimentos intelectuais (MANACORDA, 2010).

Comte queria fazer um tratado profundo sobre educação, tema do qual gostava e pelo qual an-siava por melhorias. Assim, deixou alguns escritos sobre o assunto, mas foi duramente criticado em seu tempo por suas ideias positivistas.

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2.3.3 A educação no império

O sistema educacional não passou por uma real organização nos anos que se sucederam à Inde-pendência. Ao contrário: cada vez mais, passou a significar a formação de uma elite dominante, em cujas mãos cada vez mais se via o poder centralizador dos comandos do país. Além disso, ao invés de se implantar um sistema que privilegiasse a educação básica, o sistema de ensino nacional priorizava o ingresso nas instituições de ensino superior, a criação de escolas superiores e a regulamentação do acesso a elas, que acontecia por meio do curso secundário.

Em um contexto de grandes mudanças, a educação não poderia ficar estática. Havia o interesse em criar condições para o estudo da população, mas não de maneira universal. A primeira Cons-tituição chamava a atenção para o quanto esse desejo era distante da realidade, ao apontar que a nação se afirmava em preceitos de liberdade e de igualdade perante a lei, mas que a maioria da população era escrava ainda. Esse é um dado importantíssimo que não deve ser deixado de fora quando o tema é a história da educação no Brasil. A pergunta que fica é: essa diferença ainda existe até os dias de hoje?

O ensino primário ficava a cargo das províncias, o que levava à sua não efetivação por ser cus-toso demais para os orçamentos provinciais. Além disso, nada de universalização. Os filhos de escravos não podiam frequentar escolas. Outra questão que dificultava ainda mais a eleição da educação primária como obrigatória, verdadeiramente, é que ela não era exigida para ingressar no secundário.

O ensino secundário era constituído por aulas avulsas, assim como dispersas, que em muito se assemelhavam às aulas régias, que foram implantadas após a expulsão jesuítica. Elas tinham como objetivo preparar os alunos para o ingresso em cursos superiores.

Formaram-se, então, os liceus provinciais. Embora as aulas ainda funcionassem de maneira dispersa, havia uma estrutura que, orgânica, era funcional. Aqui vale uma pontuação: essas ins-tituições eram destinadas apenas aos alunos do sexo masculino. A educação ainda era limitada para as mulheres. No entanto, foi por meio de algumas delas que a educação básica começou a se popularizar e ganhou força em algumas províncias.

Os cursos secundários, por sua vez, eram formados por escolas isoladas da formação profissional, que também foi relegada no período imperial, mesmo o império necessitando de larga mão de obra. Quem optasse pelo ensino profissionalizante não tinha direito a frequentar o ensino superior.

2.3.4 A importância de Nísia Floresta e de Rui Barbosa

Não era dado às mulheres o direito de seguirem nas escolas como se deveria. Isso era um fato posto na história de até então. No entanto, algumas mulheres, à frente de seu tempo, decidiram por si só fazer elas mesmas as escolas onde pudessem estudar, no sentido metafórico e literal. Algumas chegaram a erguer escolas no fundo de suas fazendas, onde alfabetizaram as crianças – meninos e meninas, – dando-lhes oportunidades que não eram comuns.

Uma dessas figuras importantes da história da educação no Brasil, em particular no período im-perial, foi Nísia Floresta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, que viveu no sítio Floresta, em Papari, no Rio Grande do Norte (TELLES, 1997). Nísia foi uma mulher à frente de seu tempo. Nascida em 12 de outubro de 1810, foi não somente poetisa, como também uma grande reno-vadora no que concerne à apresentação e prática de métodos educacionais. Nísia aplicou uma pedagogia que superava as práticas autoritárias, ou seja, implantou o fim dos castigos físicos. Foi largamente uma defensora dos direitos das mulheres, principalmente o direito à educação, que não era dado às meninas de maneira igualitária.

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História da educação

Nísia mudou-se de sua cidade para o Rio Grande do Sul, foi dirigente de uma escola para meni-nas e, posteriormente, também foi fundadora de um colégio no Rio de Janeiro, também dedicado à educação do gênero. Escreveu uma série de obras nas quais discute a educação feminina, bem como todos os problemas que acercavam o gênero à época, nunca deixando de focar com es-pecial atenção a questão educativa. Nísia foi uma grande lutadora de seu tempo por direitos de igualdade. Aplicou com afinco muitas das ideias de Augusto Comte, uma vez que teve o contato com elas em uma de suas idas à França.

Figura 7 – Se a elas não eram dados os mesmos direitos à educação, elas construíram os seus próprios direitos.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Outro importante nome que não pode ser desprezado e lutou por uma reforma na educação foi Rui Barbosa. Uma de suas frases mais célebres é de que “[...] num país onde o ensino não existe quem disser que é conservador em matéria de ensino, volteia as costas ao futuro, e desposa os interesses da ignorância”. (BARBOSA, 1947, p. 143). Ao lado de Nísia, foi um dos que mais brigaram pela institucionalização de um ensino igualitário, público, primário e popular.

“Rui Barbosa, pensamento e ação” (2002), de Maria Cristina Gomes Machado, livro que revela uma faceta até então oculta da figura republicana. Nele, você pode encontrar uma interessante abordagem dos pensamentos de Rui Barbosa acerca da educação brasileira.

NÃO DEIXE DE LER...

Com um modelo herdado do império, o próximo período da história do Brasil, a chamada “Pri-meira República”, fez questão de questionar o modelo em questão, que era totalmente ligado à elite. O nome que aqui se destaca é o de José Veríssimo, que deixou uma grande contribuição à instituição de um novo modelo educacional. Você conhecerá mais sobre esse contexto no pró-ximo tópico.

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2.4 A história da educação na repúblicaO desenvolvimento da educação brasileira durante o que se conhece como Primeira República, entre os anos de 1889 a 1930, seguia, de certa maneira, a herança dos tempos do império. Ain-da se privilegiou durante anos a fio a educação elitizada, vigorante nos modelos do secundário e do superior. Você enxerga alguma semelhança com a educação que vigora nos dias de hoje? Será que, em nenhum momento, esse modelo seria questionado ou posto em xeque? Fatores como mudanças no setor econômico, social e político não teriam uma influência direta nas ini-ciativas educacionais?

Os ideais republicanos passaram a alimentar cada vez mais o desejo de uma mudança para que fosse implantado um projeto educacional para um novo Brasil, inclusive no que concernia à edu-cação vigente. Vale lembrar que um dos ideais era a transformação do país em uma federação que fosse de fato democrática e que atendesse aos interesses não somente de uma elite que se fazia forte e presente, mas também aos direitos de uma maioria que não tinha quase sempre voz para modificar o status quo.

Por todos os lados da república, via-se o desejo de um progresso econômico, bem como o de uma independência cultural, visto que o Brasil importava todos os modelos culturais e exportava as mentes brilhantes para se formarem em terras estrangeiras, em particular na França e na Inglaterra.

Nesse período, um dos nomes que se destacou foi o de José Veríssimo, que, além de crítico lite-rário, publicou uma das mais significativas obras a respeito da educação no Brasil. Seu livro “A educação nacional”, publicado em 1890, criticava duramente as primeiras reformas republica-nas feitas na educação. Outra figura de suma importância foi Maria Montessori, que hoje é um dos nomes mais respeitados nos currículos dos especialistas.

Vamos entender como se deram tais processos?

2.4.1 Educação republicana

Segundo Aranha (2006), a primeira república foi marcada pela longa dualidade do sistema educa-cional. Se, por um lado, o sistema educacional já era tido como federal, de competência e preocu-pado com a universalização da educação primária, por outro, ainda era voltado quase unicamente para as elites brancas, dominantes, burguesas ou da aristocracia rural. Isso estava claro pela predileção dos sistemas de ensino secundário e superior. Embora os sistemas estaduais legalmente pudessem instituir escolas de todos os graus e modalidades, eles se limitavam a manter escolas de educação primária, bem precárias. O mesmo acontecia com a educação profissionalizante.

Mesmo a Constituição promulgada em 1891 tendo estabelecido, em seu artigo 34, que o ensino superior e os demais serviços, como educação primária e secundária, deveriam ser providos pelo governo da União, por toda a Primeira República o governo havia se limitado a manter apenas o ensino superior. Não houve o menor movimento por parte do Governo, durante o período, no sentido de prover ou melhorar as condições da educação primária no Brasil.

A única movimentação, ocorrida por meio de um decreto, aconteceu quando eclodiu a Primei-ra Guerra – o decreto federal n. 13.041, de 4 de maio de 1918, determinava que as escolas estrangeiras que, por ventura, existissem no sul do país, deveriam ser substituídas por escolas nacionais. Não havia, entretanto, lógica qualquer nesse tipo de pensamento, uma vez que as escolas lideradas por estrangeiros eram as que melhor funcionavam em suas comunidades. Além disso, demonstrava por parte do governo um iminente temor relacionado a problemas diplomá-ticos (ARANHA, 2006).

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História da educação

2.4.2 As reformas da educação elitista

As escolas enquanto instituições tinham uma legislação a se fazer cumprir. Isso porque, por meio de diversos decretos do Poder Executivo, autorizados pelo Legislativo, atendiam aos interesses quase que exclusivamente de uma minoria, que, por meio da formação do secundário, tinha um trampolim para acessar os cursos superiores que eram, para estes, oferecidos. O governo, por sua vez, legislava e regulamentava o ingresso nos cursos superiores, e para isso, havia uma grande exigência nos secundários. No entanto, vale lembrar que havia dois tipos de instituições secundárias: as que eram particulares e as que eram públicas. Em ambas, obtendo o nível dese-jável nos exames, os alunos poderiam ingressar nos cursos superiores. Dessa maneira, cada vez mais se privilegiava o grupo dominante (ARANHA, 2006).

Foi então que houve a primeira grande reforma na educação secundária, ainda durante a Primei-ra República. Alguns nomes importantes para a educação do período, como Benjamin Constant, Epitáfio Pessoa, Rivadavia Correia, Carlos Maximiliano e João Luis Alves, foram os promotores de tal reforma, que consistiu em estabelecer novos objetivos para a educação secundária. Nesse mo-mento, ela não deveria ter função direta com o ensino superior, ou seja, não havia a obrigatorie-dade de cursar o ensino secundário para que o aluno tivesse direito a ingresso no ensino superior.

O período de duração do secundário passou por várias modificações. Primeiro, diminuiu de sete para quatro anos em 1890. Em 1901, passou a ter duração de seis anos para os que seguissem para os externatos e quatro anos para os que estivessem no internato. Em 1915, passou a ter cinco anos. Em 1925, o secundário ainda tinha cinco anos, com a obtenção de certificado de aprovação, mas, para bacharelado em Ciências e Letras, a duração era de seis anos. Estes dois últimos eram vinculados aos cursos preparatórios para universidade.

Ainda conforme Aranha (2006), também verificou-se uma modificação nos conteúdos, com uma significativa redução na carga horária das Humanidades e dos Estudos Sociais, em benefício do ensino das ciências exatas, como Matemática e Ciências. Portanto, as disciplinas foram redistri-buídas ao longo dos anos de sua duração.

O ensino superior se manteve com as mesmas características do tempo do império.

2.4.3 José Veríssimo e Maria Montessori

Crítico literário, José Veríssimo fez da educação uma de suas grandes preocupações como ci-dadão e pensador. Diversas de suas obras foram a base para algumas das reformas pelas quais passou a educação secundária. No entanto, assim como tantos outros pensadores, ele era con-tundente em afirmar que a educação primária deveria ser o grande objeto de interesse do gover-no e da população (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2015).

Sua crítica era direcionada à instrução da época, que não somente não privilegiava o coletivo, como também preteria a formação do que ele denominava de sistema orgânico. Para Veríssimo, todos os sistemas educacionais deveriam ser integrados e constituírem um projeto que fosse in-teresse de todos no país.

Maria Montessori não é figura brasileira, mas, no contexto de seu tempo, deixou um legado com resultados práticos que, posteriormente, seriam implantados em várias escolas aqui no Brasil. Primeira mulher a se formar em medicina na Itália, orientou seu estudo para o ramo da psiquia-tria e, ao observar histórias reais de retardo mental, levou as aprendizagens não somente para o campo da medicina, mas também para a história da educação. Ela atuou na primeira escola destinada a crianças, aberta em uma localidade bem pobre de Roma (ARANHA, 2006).

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Embora seu nome esteja associado diretamente à educação infantil, ela provou o que todos os filósofos e pedagogos dos dois últimos séculos fizeram questão de salientar: que a formação de uma criança precisa ser autônoma e que a educação é, acima de tudo, uma grande conquista.

No final, o que se pode tirar de ensinamento é que todos os pedagogos sabiam o que os gover-nantes se negavam em fazer: o investimento em educação de base, primária, é o que leva, de fato, à constituição de uma nação sólida e forte.

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Síntese• A educação, nos primeiros anos de Brasil colônia, esteve a cargo exclusivamente dos

jesuítas. José de Anchieta foi um de seus principais nomes.

• A educação dos jesuítas, embora privilegiasse a propagação da fé, constituiu um importante legado educacional até os dias de hoje. As escolas jesuítas possuíam uma organização e didáticas muito eficientes e que foram implantadas em escolas de outras ordens religiosas.

• A expulsão dos padres jesuítas deixou uma lacuna que nem no período monárquico nem no império conseguiram ser sanadas. O marquês de Pombal não conseguiu dar continuidade ao projeto educacional dos jesuítas, que, mesmo religioso, era eficiente.

• A educação, durante o período da monarquia, privilegiou o imediatismo, ou seja, a necessidade de conseguir mão de obra para tarefas especialistas, bem como trabalhadores de frente militar.

• Mesmo durante as tentativas de reformas durante o império, o elitismo foi o que prevaleceu no sistema educacional. Nomes como Augusto Comte e Nísia Floresta são os destaques do período.

• No Império, as questões referentes à educação primária perduraram, não havia um projeto educacional para o país. A Constituição outorgada logo após a Independência, embora legitimasse a educação popular, não saiu do papel. José Veríssimo e Rui Barbosa foram importantes pensadores brasileiros para a educação.

• O legado educacional do Império para a República denotava a falta de projeto educacional para o país.

• As primeiras modificações e reformas efetivas na educação secundária aconteceram somente no início da Primeira Grande Guerra.

• Desde a monarquia, o que sempre se privilegiou foi uma educação elitista e voltada para o ensino superior.

Síntese

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ReferênciasACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. José Veríssimo. Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=780&sid=203>. Acesso em: 29 jun. 2015.

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ARCE, Alessandra. O jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento educacional de Friederich Froebel. Cadernos CEDES, Campinas, vol. 24, n. 62, abr. 2004.

BARBOSA, Rui. A reforma do ensino primário – 1883. Rio de Janeiro: MEC, 1947.

CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.

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MACHADO, Maria Cristina Gomes. Rui Barbosa: pensamento e ação. São Paulo: Autores As-sociados, 2002.

MANACORDA, Mario. Histórias da educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 2010.

MIRANDA, Ana. Boca do inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

A MISSÃO. Direção de Roland Joffé. Reino Unido, Warner Bros., 1986.

PILETTI, Claudino; PILETTI, Nelson. História da educação: de Confúcio a Paulo Freire. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2014.

PINTO, Aloylson Gregório de Toledo. Valnir Chagas. Recife: Massangana, 2010. (Coleção Educadores).

TELLES, Norma. Escrita, escritoras, escrituras. In: PRIORE, Mary Del (Org.); BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/UNESP, 1997, p. 401-442.

Bibliográficas

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