crimes e infrações administrativas
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Crimes e infrações
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Camila Bressanelli*
O Ministério Público
A atuação do Ministério Público, de acordo com o
Estatuto da Criança e do Adolescente, está nos artigos
200 ao 205.
A competência para atuação do Ministério Público
está elencada de forma pormenorizada no artigo 2011
do Estatuto, salientando-se, pois é de fundamental im-
portância, que a participação do Ministério Público,
mesmo nos processos e procedimentos em que não
for parte, será sempre obrigatória quando se tratar de
defesa de direitos de crianças e adolescentes.
A falta de intervenção do Ministério Público acarreta
nulidade ao feito, podendo ser decretada de ofício pelo juiz ou por requerimento de qualquer interessado.
O advogado
Os artigos 206 e 207 do Estatuto sob exame estabe-
lecem a necessidade da presença de um advogado para
a garantia do direito fundamental de acesso à justiça, de
crianças e adolescentes.
* Mestre em Direitos Humanos e Democracia pela Univers
de Federal do Paraná (UFPR). Professora do Centro Universrio Curitiba (UNICURITIBA). Advogada.
1 Assim, prevê o artigo 201, do Estatuto da Criança e do A
lescente, o seguinte: “Art. 201. Compete ao Ministério PúblI - conceder a remissão como forma de exclusão do procesII - promover e acompanhar os procedimentos relativos às inções atribuídas a adolescentes; III - promover e acompanhaações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destção do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curares e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procementos da competência da Justiça da Infância e da J uventuIV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessadoespecialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestaçãocontas dos tutores, curadores e quaisquer administradoresbens de crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98; V - pmover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infâne à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º incII, da Constituição Federal; VI - instaurar procedimentos adnistrativos e, para instruí-los: a) expedir notificações para codepoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não compacimento injustificado, requisitar condução coercitiva, incluspela polícia civil ou militar; b) requisitar informações, examperícias e documentos de autoridades municipais, estaduafederais, da administração direta ou indireta, bem como pmover inspeções e diligências investigatórias; c) requisitarformações e documentos a particulares e instituições privadVII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatóe determinar a instauração de inquérito policial, para apurade ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e àventude; VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garanlegais assegurados às crianças e adolescentes, promovendomedidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; IX - impetrar mdado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualq juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociaindividuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente- representar ao juízo visando à aplicação de penalidade infrações cometidas contra as normas de proteção à infâne à juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidcivil e penal do infrator, quando cabível; XI - inspecionar as tidades públicas e particulares de atendimento e os programde que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas admitrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidaporventura verificadas; XII - requisitar força policial, bem coa colaboração dos serviços médicos, hospitalares, educacioe de assistência social, públicos ou privados, para o desemnho de suas atribuições. §1.º A legitimação do Ministério Púco para as ações cíveis previstas neste artigo não impede aterceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Cotituição e esta Lei. §2.º As atribuições constantes deste artnão excluem outras, desde que compatíveis com a finaliddo Ministério Público. §3.º O representante do Ministério Púco, no exercício de suas funções, terá livre acesso a todo loonde se encontre criança ou adolescente. §4.º O representado Ministério Público será responsável pelo uso indevido informações e documentos que requisitar, nas hipóteses legde sigilo. §5.º Para o exercício da atribuição de que trata o in
VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério Púba) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurandcompetente procedimento, sob sua presidência; b) entendediretamente com a pessoa ou autoridade reclamada, em local e horário previamente notificados ou acertados; c) efetrecomendações visando à melhoria dos serviços públicos erelevância pública afetos à criança e ao adolescente, fixanprazo razoável para sua per feita adequação.
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A proteção judicial dos interesses individuais,
difusos e coletivos das crianças e adolescentes
Na seara da proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coleti-
vos das crianças e adolescentes, os artigos 208 ao 224 do Estatuto da Criançae do Adolescente, propõem longa análise casuística das hipóteses em que
os direitos de crianças e adolescentes não forem respeitados por falta de
oferta ou por oferta irregular.
O artigo 2082 do Estatuto elenca as situações em que as ações de respon-
sabilização por ofensa aos direitos da criança e do adolescente serão cabí-
veis, observando-se, mormente, os seguintes aspectos principais: a garantia
do direito fundamental à educação; a assistência social para a proteção fami-
liar; a proteção ao direito à convivência familiar como direito fundamental.
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Crimes
Conforme a previsão legal dos artigos 225 ao 244-B do Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente, no capítulo que dispõe sobre crimes praticados contra
a criança e o adolescente, contemplam-se as hipóteses de cometimento de
crime por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.
Aplica-se a esses crimes o disposto na Parte Geral do Código Penal e, quanto
ao processo, aplicam-se as regras pertinentes ao Código de Processo Penal.
Crimes em espécie
Destacar-se-á, no estudo dos crimes em espécie previstos no Estatuto daCriança e do Adolescente, aqueles cuja relevância é significativa. Ademais, ecomo opção de abordagem desse tema, utilizar-se-á o critério da inovaçãolegislativa, no sentido de que alguns desses crimes foram recentemente de-finidos e alterados por legislações que inseriram novas previsões no ordena-mento jurídico brasileiro.
Em atenção à saúde da gestante, os artigos 228 e 229 do Estatuto da Crian-ça e do Adolescente objetivaram coibir as práticas relacionadas a uma moda-lidade ilícita de adoção, a denominada usualmente “adoção à brasileira”.
2 O artigo 208, do Estatutoda Criança e do Adolescen-te, contempla as seguin-tes hipóteses: “Regem-sepelas disposições destaLei as ações de responsa-bilidade por ofensa aosdireitos assegurados àcriança e ao adolescente,referentes ao não ofereci-mento ou oferta irregular:I - do ensino obrigatório;
II - de atendimento edu-cacional especializado aosportadores de deficiência;III - de atendimento emcreche e pré-escola àscrianças de zero a seis anosde idade; IV - de ensino no-turno regular, adequado àscondições do educando;V - de programas suple-mentares de oferta dematerial didático-escolar,transporte e assistênciaà saúde do educando doensino fundamental; VI -de serviço de assistênciasocial visando à proteçãoà família, à maternidade, àinfância e à adolescência,bem como ao amparo àscrianças e adolescentesque dele necessitem;
VII - de acesso às ações eserviços de saúde; VIII - deescolarização e profissio-nalização dos adolescen-tes privados de liberdade;IX - de ações, serviços eprogramas de orientação,apoio e promoção socialde famílias e destinados aopleno exercício do direitoà convivência familiar porcrianças e adolescentes.§1.º As hipóteses previstasneste artigo não excluemda proteção judicial outrosinteresses individuais, difu-sos ou coletivos, própriosda infância e da adoles-cência, protegidos pelaConstituição e pela Lei.§2.º A investigação do de-saparecimento de criançasou adolescentes será reali-zada imediatamente apósnotificação aos órgãoscompetentes, que deve-rão comunicar o fato aosportos, aeroportos, PolíciaRodoviária e companhiasde transporte interestadu-ais e internacionais, forne-cendo-lhes todos os dadosnecessários à identificaçãodo desaparecido”.
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Decorre que é bastante comum a ocorrência de partos, mesmo em ma-ternidades e/ou estabelecimentos hospitalares, sem o devido registro esem respeito à documentação da mãe, tampouco da criança. Não raro sãoos casos em que mães “adotivas” (à brasileira) saem das maternidades carre-gando como seu o filho de outra pessoa, que, pelas mais diversas razões, não
pôde ou não quis criá-lo.
Foi justamente para coibir tais práticas que o legislador estatutário, previunos referidos artigos, penalização para os crimes dessa natureza.
Em seguida, em relação ao artigo 232, percebe-se a proteção à integri-dade psicofísica de crianças e adolescentes, através da coibição de prá-ticas de maus-tratos ou constrangimentos desferidos contra crianças eadolescentes.
Os artigos 238 e 239, do Estatuto sob exame, contemplam as hipóteses de
penalização ao tráfico de crianças. Inclusive, o governo federal tem feito diver-sas campanhas nesse sentido, exigindo-se, por exemplo, que nos processosde adoção internacional a criança somente possa sair do país após a sentençaconstitutiva da adoção e de toda a documentação brasileira necessária.
Importante conteúdo do Estatuto da Criança e do Adolescente, e quesofreu a recente alteração da Lei 11.829, de 25 de novembro de 2008, foi odos artigos 240 e 241-E, que tratam da penalização dos crimes sexuais nainternet.
É uma realidade bastante frequente a utilização da imagem de crianças
e adolescentes para pornografia, pedofilia, exploração sexual, prostituçãoinfanto-juvenil e abuso sexual, de forma virtual e também real. Nesse senti-do, e com um texto bastante adequado à sociedade contemporânea, é queesses artigos do Estatuto em comento abordaram a tipificação das condutascriminosas dessa natureza.
O artigo 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente foi expresso aopenalizar aquele que oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, pu-blicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de infor-mática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cenade sexo explícito ou pornografia envolvendo criança ou adolescente, com
pena de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
E ainda, sofre a penalização aquele que fornecer meios para a armazena-gem desse material fotográfico.
O artigo 244-A do Estatuto prevê a proteção contra a prostituição e explo-ração sexual infanto-juvenil.
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As infrações administrativas
Quanto às infrações administrativas, os artigos 245 ao 258-B do Estatuto
da Criança e do Adolescente previram-nas de forma bastante casuística, e,
portanto, far-se-á menção às mais inovadoras, em termo de legislação, sem
pretensão de esgotamento do tema.
Assim, o artigo 247 do referido Estatuto prevê a proibição da divulgação
sem autorização e em qualquer meio, de nome, imagem, ato ou documen-
to de procedimento judicial, administrativo ou policial, relativo a crianças e
adolescentes, em respeito, inclusive, aos mandamentos da Lei 10.764/20033.
Ademais, e em atenção às recentes alterações legislativas, a Lei 12.010/2009
exige que as famílias pretendentes à adoção, e também as pessoas que uni-
lateralmente desejam adotar uma criança ou adolescente, estejam cadastra-
das em um banco nacional e estadual. Assim, também, as crianças e adoles-centes que estão postos à adoção devem estar cadastrados. O artigo 258-A
do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê pena de multa (de R$1.000,00
a R$3.000,00) para os casos em que os cadastros estaduais e nacionais de
crianças e adolescentes aptos para a adoção e de possíveis pais não tenham
sido feitos.
Dicas de estudo
Competência para a atuação do Ministério Público: artigo 201, do Es-
tatuto.
Análise dos crimes em espécie e as inovações introduzidas pela Lei
11.829, de 25 de novembro de 2008.
Os desafios propostos pelo artigo 245 do Estatuto para a garantia de
direitos fundamentais.
Referências
ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. ( Coleção Curso e Concurso – v. 31 – Coordenação Edílson Mouge-
not Bonfim).
3Nesse sentido, o artigo
1.º: “O parágrafo único doart. 143 da Lei nº 8.069, de13 julho de 1990, passa avigorar com a seguinteredação: “Art. 143 – [...].Parágrafo único. Qualquernotícia a respeito do fatonão poderá identificar acriança ou adolescente,
vedando-se fotografia, re-ferência a nome, apelido,filiação, parentesco, resi-dência e, inclusive, iniciaisdo nome e sobrenome.”
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Paulo: Saraiva, 2005.
______. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069, de
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DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006.
FACHIN, Luiz Edson.Teoria Crítica do Direito Civil: à luz do novo Código Civil
brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
______. Questões do Direito Civil Brasileiro Contemporâneo. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008.
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TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite. (Coord.). Manual
de Direito das Famílias e das Sucessões. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008.
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