crimes de colarinho branco - os novos perseguidos

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CRIMES DE COLARINHO BRANCO: OS NOVOS PERSEGUIDOS? Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 28 | p. 73 | Out / 1999 Doutrinas Essenciais de Direito Penal | vol. 8 | p. 809 | Out / 2010 DTR\1999\451 Alberto Zacharias Toron Área do Direito: Processual Sumário: - 1.Introdução - 2.O conceito de "crime de colarinho branco". Origem e definição - 3.Associação diferencial e organização social diferencial - 4.Objeção de consciência - 5.Diferenciação de tratamento entre crimes comuns e de colarinho branco - 6.Conclusão - Bibliografia Resumo: O artigo procura definir e conceituar os crimes de colarinho branco numa perspectiva histórica e compará-los, do ponto de vista criminológico, aos crimes patrimoniais comuns. Conclama a necessidade de respulsa moral da sociedade a esta modalidade criminosa, ao passo em que alerta para o perigo de se reprimir tais crimes de modo arbitrário e em desrespeito às garantias constitucionais. Palavra-chave: Crimes do colarinho branco - Associação diferencial e organização social diferencial - Distinção dos crimes comuns - Conscientização. 1. Introdução O título deste trabalho não é nenhuma provocação aos membros do PT. Ao contrário, é uma tentativa de repensar criticamente as práticas punitivas que tanto se combateram em relação aos menos favorecidos e que, agora, não se sabe exatamente o porquê, têm merecido o aplauso de uma esquerda ávida por culpados de uma classe social que até os anos 80, salvo nos crimes passionais, raramente ocupava o banco dos réus. Se herdamos da criminologia positivista do fim do século passado a idéia e o sentimento de que "as classes inferiores nos países civilizados, como todas as classes nos países bárbaros, estão (...) desprovidas da parte mais delicada, desses sentimentos que nós designamos com o nome de sentido moral" 1 e, bem ou mal, as instâncias de controle social, como salienta Paulo Sérgio Pinheiro, fixaram-se na vigilância das classes populares, sempre julgadas " as únicas perigosas", 2 com a crescente democratização da sociedade ampliou-se o espectro de incidência do sistema penal e órgãos de controle como a polícia, Procuradoria das diferentes Fazendas etc., que também passaram a investigar casos até então tidos como irrelevantes. Todavia, com a aparição dos " novos" personagens do mundo do crime, os abusos que antes eram objeto de viva repulsa, passaram a ser não apenas tolerados, como, de certa forma, incentivados. Assim, prisões preventivas são requeridas e decretadas amiúde, empresários e homens de governo são publicamente escrachados, mesmo que se tratem de meros suspeitos. Tem-se a impressão de que se cultiva uma ideologia da "hora e a vez da burguesia na polícia". Esta forma de pensar esquece que numa sociedade edificada sobre a base da dignidade humana, estampada na Constituição como valor reitor (art. 1.º, III, da CF/88 (LGL\1988\3)), não se pode conviver com a execração pública, degradação e linchamento moral dos cidadãos, ainda que abastados, como forma de exercício do poder, tal qual se fazia no absolutismo 3 sem que estivessem garantidos o direito de defesa e o devido processo legal dos atingidos. Por outras palavras, o que outrora se combateu como opressão dirigida aos segmentos desfavorecidos, porque afrontoso aos Direitos Humanos, não pode, perversamente, vir validado e aplaudido como se fosse a " democratização do direito penal", que agora também atinge os ricos. Na verdade, como alerta Zaffaroni, quando o legislativo infla as tipificações criminais, não faz mais do que aumentar o arbítrio seletivo das agências executivas do sistema penal e seus pretextos para exercer um maior poder controlador. 4 CRIMES DE COLARINHO BRANCO: OS NOVOS PERSEGUIDOS? Página 1

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CRIMES DE COLARINHO BRANCO

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  • CRIMES DE COLARINHO BRANCO: OS NOVOS PERSEGUIDOS?Revista Brasileira de Cincias Criminais | vol. 28 | p. 73 | Out / 1999Doutrinas Essenciais de Direito Penal | vol. 8 | p. 809 | Out / 2010

    DTR\1999\451

    Alberto Zacharias Toron

    rea do Direito: ProcessualSumrio:

    - 1.Introduo - 2.O conceito de "crime de colarinho branco". Origem e definio - 3.Associaodiferencial e organizao social diferencial - 4.Objeo de conscincia - 5.Diferenciao detratamento entre crimes comuns e de colarinho branco - 6.Concluso - Bibliografia

    Resumo: O artigo procura definir e conceituar os crimes de colarinho branco numa perspectivahistrica e compar-los, do ponto de vista criminolgico, aos crimes patrimoniais comuns.

    Conclama a necessidade de respulsa moral da sociedade a esta modalidade criminosa, ao passo emque alerta para o perigo de se reprimir tais crimes de modo arbitrrio e em desrespeito s garantiasconstitucionais.

    Palavra-chave: Crimes do colarinho branco - Associao diferencial e organizao social diferencial- Distino dos crimes comuns - Conscientizao.1. Introduo

    O ttulo deste trabalho no nenhuma provocao aos membros do PT. Ao contrrio, umatentativa de repensar criticamente as prticas punitivas que tanto se combateram em relao aosmenos favorecidos e que, agora, no se sabe exatamente o porqu, tm merecido o aplauso de umaesquerda vida por culpados de uma classe social que at os anos 80, salvo nos crimes passionais,raramente ocupava o banco dos rus.

    Se herdamos da criminologia positivista do fim do sculo passado a idia e o sentimento de que "asclasses inferiores nos pases civilizados, como todas as classes nos pases brbaros, esto (...)desprovidas da parte mais delicada, desses sentimentos que ns designamos com o nome desentido moral" 1e, bem ou mal, as instncias de controle social, como salienta Paulo Srgio Pinheiro,fixaram-se na vigilncia das classes populares, sempre julgadas " as nicas perigosas", 2com acrescente democratizao da sociedade ampliou-se o espectro de incidncia do sistema penal ergos de controle como a polcia, Procuradoria das diferentes Fazendas etc., que tambmpassaram a investigar casos at ento tidos como irrelevantes.

    Todavia, com a apario dos " novos" personagens do mundo do crime, os abusos que antes eramobjeto de viva repulsa, passaram a ser no apenas tolerados, como, de certa forma, incentivados.Assim, prises preventivas so requeridas e decretadas amide, empresrios e homens de governoso publicamente escrachados, mesmo que se tratem de meros suspeitos. Tem-se a impresso deque se cultiva uma ideologia da "hora e a vez da burguesia na polcia".

    Esta forma de pensar esquece que numa sociedade edificada sobre a base da dignidade humana,estampada na Constituio como valor reitor (art. 1., III, da CF/88 (LGL\1988\3)), no se podeconviver com a execrao pblica, degradao e linchamento moral dos cidados, ainda queabastados, como forma de exerccio do poder, tal qual se fazia no absolutismo 3sem que estivessemgarantidos o direito de defesa e o devido processo legal dos atingidos. Por outras palavras, o queoutrora se combateu como opresso dirigida aos segmentos desfavorecidos, porque afrontoso aosDireitos Humanos, no pode, perversamente, vir validado e aplaudido como se fosse a "democratizao do direito penal", que agora tambm atinge os ricos.

    Na verdade, como alerta Zaffaroni, quando o legislativo infla as tipificaes criminais, no faz maisdo que aumentar o arbtrio seletivo das agncias executivas do sistema penal e seus pretextos paraexercer um maior poder controlador. 4

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  • No quer isto, evidentemente, significar que a criminalidade dos respeitveis deva estar fora docontrole penal. Apenas se procura evitar o efeito perverso de se permitir que prticas obtusas,quando no canhestras e verdadeiramente perversas, espraiem-se, democratizando no a corretaaplicao da lei, mas a tirania dos dspotas e a corrupo daqueles que, exercendo a autoridade,fazem do ofcio pblico uma arma contra a dignidade e um meio de enriquecimento ilcito como, deresto, se pde ver com a edio de alguns dos tipos penais no Cdigo de Defesa do Consumidor. 5

    Entre um perodo de larga impunidade, seja em decorrncia da ausncia de tipos penais, ou mesmoda lenincia dos rgos de fiscalizao e represso (polcia) e aplicao do direito penal (justia), eoutro, que se procura caracterizar pelo seu oposto, h uma histria que merece ser resgatada. Porisso, o trabalho desenvolve-se a partir da construo do conceito de colarinho branco, procurandodemonstrar sua origem e significado dentro de uma perspectiva histrica. Isto apenas para semostrar as resistncias iniciais quanto a se colocar no banco dos rus empresrios, banqueiros emembros do poder poltico. Depois, busca-se trabalhar a idia da identificao diferencial nos crimesempresariais. Na seqncia, discutir-se- se, dadas as dimenses da prtica de sonegao fiscalentre ns, isto no poderia ser encarado como uma objeo de conscincia. Por fim, retoma-se adiscusso no sentido de saber se h diferenciao em razo do status social dos criminosos docolarinho branco.2. O conceito de "crime de colarinho branco". Origem e definio

    Como herana da criminologia positivista e, certamente, no apenas por causa dela, sempre seidentificou a criminalidade com a ao dos agentes oriundos dos estratos marginalizados dasdiferentes sociedades. O criminoso "(...) pobre, feio, mal vestido. Pertence s mais baixas classesda sociedade, tem problemas mentais, ou ao menos psicolgicos". 6

    Mas se esta identificao da criminalidade com a ao das classes subalternas era a regra, com acrescente interveno do Estado na economia, ' novos' transgressores surgem no cenrio queobrigaram a criminologia e os idelogos em geral a rever suas teorias. Com efeito, ao serem criadosinstrumentos jurdicos e polticos para proteo do funcionamento do sistema de produo,distribuio e comercializao dos bens, conformando um direito econmico que constitui "adisciplina normativa da ao estatal sobre as estruturas do sistema econmico...", 7criaram-se ascondies para o aparecimento de um correlato Direito Penal econmico para reforar a tutela dofuncionamento do sistema. Da uma criminalidade diferenciada e os novos atores do sistema penal.

    Antes da contribuio de Sutherland, a sociologia j utilizava a expresso white collar (colarinhobranco) para designar os trabalhadores no braais em contraste com as vestimentas blue collar, osmacaces, dos obreiros. Como registra Odone Sanguin, na literatura sociolgica a expresso foiutilizada pela primeira vez por Wright Mills para descrever a classe mdia norte-americana,apresentada como a "elite do poder". 8

    Na apresentao da edio integral do trabalho de Sutherland, pois a primeira, em 1949, foraparcialmente censurada pelo editor que temia as conseqncias de se deixar o nome das empresasresponsveis pelos ilcitos apontados, 9destacou-se que a obra redimensionou as teorias docomportamento criminal exatamente porque os delinqentes do colarinho branco no eram fruto delares desagregados, ou privados de boa educao. Ademais, colocou-se em relevo que as violaescometidas no mbito das sociedades constituam verdadeiros crimes e que a qualificao diversados fatos dada no mbito do judicirio "era semplicemente il risultado della parzialit edell'indulgenza" das autoridades chamadas a aplicar a lei e, tambm, do poder do qual gozavam osautores destes crimes. 10

    Sutherland, ao fixar o conceito de crimes de colarinho branco como aqueles cometidos por pessoasde elevada condio socioeconmica, o fez, como expressamente advertiu, por comodidade. Pois, oconceito no pretendia ser definitivo, mas visava a apenas chamar a ateno sobre os delitos quenormalmente no adentravam o mbito da criminologia. E estes crimes, alertava o autor, podem,aproximativamente, ser definidos como aqueles "cometidos por uma pessoa respeitvel e de elevadacondio social no curso de sua ocupao". 11

    Atentando-se para a parte final do conceito, v-se que a referncia prtica do crime no curso daocupao fundamental. Por isso, ao contrrio do que entendeu o ilustre professor Ren Ariel Dotti,12no nos parece que se esteja diante de uma situao em que se defina a criminalidade econmica

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  • "em funo do tipo de agente", como, alis, tambm sustentou o saudoso professor Eduardo Correia.13 que, alm do carter provisrio expressamente adotado e da aludida comodidade para o uso daexpresso crime de colarinho branco, o que nos obriga a entend-la como despida de rigor cientfico,pretendeu-se apenas ressaltar, como j dito, os novos protagonistas do crime.A propsito, adotando um critrio conciliador com os que pretendem caracterizar o delito econmicoem razo da ofensa ao bem jurdico, Klaus Tiedemann acena com o fato de que a moderna literaturaanglo-americana emprega a expresso " occupational crime" e, assim, fundamenta-se menos "en larespetabilidad del autor y su pertenencia a la capa social alta y ms em la peculiaridad del acto(modus operandi) y en el objetivo de su comportamiento". 14Acrescenta ainda que a mesma evoluose observa na doutrina alem.

    Portanto, perfeitamente possvel o emprego da expresso "colarinho branco" que, de resto, corrente na doutrina, jurisprudncia e, tambm, na mdia.Nessa ordem de idias, uma das questes importantes a que o conceito em foco remete a desaber se h diferenas no tratamento dado aos criminosos do colarinho branco. A resposta,obviamente, afirmativa e Sutherland explicava que a aplicao diferenciada da lei pode serdebitada a trs fatores: o status " dell'uomo d'affari", a tendncia ao abandono das sanes penais ea relativa desorganizao na reao aos crimes de colarinho branco. 15

    Quanto ao primeiro, assinala o autor que h um misto de temor e admirao em relao a estesdelinqentes. verdade que o temor apregoado por Sutherland, de o juiz no obter o necessrioapoio financeiro para sua sucessiva candidatura, no tem aplicao para o cenrio brasileiro onde omagistrado goza da garantia da vitaliciedade. Mas, no menos verdadeiro que o namoro com opoder pode facilitar (ou dificultar) promoes, remoes etc, 16dadas as eventuais relaes doshomens de negcios com a cpula do Judicirio. Todavia, a afirmao vale para os membros doPoder Legislativo que, no raro, claudicam em seus deveres para evitar inimizades que, a sim,dificultam a obteno de apoio para campanhas eleitorais. 17

    No mais, juzes, administradores, legisladores e homens de negcios tm uma homogeneidadecultural, o que dificulta caracteriz-los dentro do esteretipo do criminoso. como se o privilgio queo clero teve na idade mdia por ser o grupo mais importante, fosse transferido ao hegemnico hoje,que so os Businessmen.

    No que diz com a tendncia ao abandono das penas, que o autor debitava ao elevamento dacondio social dos mais pobres e circunstncia de que, com os delitos de trnsito, alargou-se ombito de aplicao do direito penal a estratos mais amplos da classe econmica superior, 18convmesclarecer que isto revelou-se um grande equvoco. Basta dizer que, na atualidade, h umverdadeiro incremento no emprego do direito penal para coibir um sem nmero de infraesocasionando o que na doutrina tem se chamado de inflao legislativa. 19

    Como se ver adiante, embora instituies como famlia, escola e igreja tenham abandonado aprtica dos castigos, ao contrrio do que entendeu Sutherland, 20o Estado no ficou privado desustento cultural para utilizar o direito penal.

    J no que concerne ao ltimo fator -desorganizao da sociedade na reao ao crime do colarinhobranco -, Sutherland destacava que neste particular o direito e a moral tm especiais relaes portrs razes: a) as violaes das leis pelos homens de negcios so complexas e produzem efeitosdifusos. No se tratam de agresses simples e diretas de um indivduo contra o outro. Ademais,podem permanecer por mais de um decnio sem serem descobertas; b) os meios de comunicaode massa no exprimem uma expressiva valorao moral da coletividade a respeito dos crimes docolarinho branco, em parte porque so fatos complexos, de difcil colocao jornalstica, massobretudo porque tambm os jornais pertencem a homens de negcios que, sua vez, soresponsveis por numerosos ilcitos anlogos; e c) a normativa que disciplina as atividadeseconmicas fazem parte de um setor novo e especializado do ordenamento jurdico, pois os velhosdelitos da common law, assim como reproduzidos nos cdigos penais comuns, constituam-se decondutas danosas para o indivduo. 21

    Se verdade, como acreditava Sutherland, que as leis, em larga medida, so uma cristalizao damoral e todo ato de aplicao das leis tende a reforar a moral, hoje no se pode mais dizer que asdisposies que atinam com o direito penal econmico sejam, pelos motivos alinhados, menos

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  • eficazes. certo como pondera o historiador Boris Fausto, que "a questo da eficcia no apenastcnica, mas est ligada a discriminao social e s opes da poltica repressiva (...) Certascondutas passveis abstratamente de sano s se tornam punveis quando se referem aos pobres.Basta pensar na embriaguez, contraveno aplicvel apenas aos indivduos pouco respeitveis, poisos demais no so bbados, mas pessoas "tocadas", ou um pouco "altas". 22Todavia, ningumignora que os jornais, embora os crimes de sangue ainda representem um grande atrativo, vivemmuito mais dos escndalos econmicos e polticos (vide precatrios, liquidaes de bancos, crimescontra o consumidor "caso Schering agora"). E o espao que tais notcias ganharam sem dvidaalguma diz respeito ao grau de conscincia que o povo atingiu. Sim, porque mesmo os pobres tmum nvel de conscincia maior do que se tinha h cinqenta anos.

    Ento, pode-se dizer que, embora os crimes do colarinho branco sejam mais difceis de se descobrire investigar, hoje h uma forte conscincia quanto importncia de se reprovar penalmente taiscondutas lesivas. Mais do que isso, moralmente falando, comea a se impor um tipo de pensamentoque, longe de ser indulgente com prticas lesivas a amplos setores da coletividade, reclama severaspunies.

    Outra questo que se pe, como corolrio de uma pesquisa de cunho criminolgico, a de saber porque ento os empresrios, banqueiros e homens de negcios em geral delinqem e, mais do queisso, por que, como salientou Pea Cabrera, estes delinqentes, sem romper com os valoresdominantes do setor privilegiado a que pertencem, paradoxalmente, "parecen interpretarautnticamente tales valores" 23. Por isso, conclui o renomado doutrinador, as reaes estatais noconseguem estruturar solidamente a conscincia coletiva frente a danosidade destas condutas. 24

    3. Associao diferencial e organizao social diferencial

    Tiedemann no seu Leciones de derecho penal econmico, referindo-se s pesquisas sobre ascausas do crime do colarinho branco, aponta que tradicionalmente est o interesse de lucro do autore, por conseguinte, tem-se como um meio dissuasrio adequado a cominao de penas de multa deelevada monta. 25Mas h casos, como penso parece ocorrer no Brasil, em que o ganho fcil ouvantajoso explica apenas em parte a ocorrncia de crimes como os de sonegao fiscal ou o deno-recolhimento das contribuies devidas Previdncia.

    Com efeito, h uma cultura de acordo com a qual quem, por exemplo, no pagar impostos obtmmelhores custos de produo, alcanando assim uma posio de privilgio. Isto indiretamentepressiona o concorrente que se v quase compelido a fazer o mesmo para poder sobreviver nomercado, mantendo a competitividade. o que Juan Jose Gonzalez Rus, na doutrina espanhola,chama de " efeito espiral ou ressaca". 26

    Por sua vez, como parece intuitivo, cada um dos fraudadores se converte em elo de uma novaespiral que pressiona outros concorrentes. Assim, comportamentos deste tipo, sobretudo no mbitodos impostos, produzem uma reao em cadeia que se vai transmitindo de um empresrio a outro.Estas condutas so um grande fator crimingeno porque, alm das falsificaes, alcanam a prpriaao da Administrao que se v fortemente comprometida com prticas como a da corrupo.

    Nesse contexto, assumem relevo os mecanismos de associao diferencial e identificaodiferencial. O primeiro faz com que o sujeito v assimilando os valores do meio em que sedesenvolve sua atividade profissional, at o ponto de assumi-los completamente. A difuso decondutas fraudulentas pode chegar a ser norma dentro de uma determinada atividade que asapresenta como necessrias, louvveis e, inclusive, justas. No por acaso que se estabelece umasolidariedade de tal ordem que, nas situaes em que o fisco autua o empresrio, mais se ouvemlamentos do que o regozijo pela ao eficaz do poder pblico.J a identificao diferencial far com que se assimile qualquer comportamento que logre obter asmetas do sistema (xito), acima de qualquer outra considerao. o que se pode chamar desucesso a qualquer preo.

    claro, como assinalam Agustn Fernndez Albor e Carlos Martnez Prez, que ao lado da teoriaindividual do comportamento criminal, Sutherland articulou uma tese social como frmula explicativado nascimento e desenvolvimento da delinqncia do colarinho branco. Trata-se da teoria daorganizao ou associao social diferencial. De acordo com ela -sustentam estes autores -, em uma

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  • organizao social heterognea, o indivduo, para poder atuar conforme s normas, v-se submetido presses sociais contraditrias e mltiplas, derivadas dos distintos modelos de comportamento quemarcam os diferentes grupos sociais. O fato de que existem tantos valores como grupos sociais,influenciando de maneira contraditria o indivduo, desemboca em um estado de desorganizao oude inorganizao social. 27

    Deste modo, um sujeito pode tomar parte de um grupo que luta contra a criminalidade e, no entanto,paralelamente, integrar outro que a favorece. Assim, por exemplo, um empresrio que, acumulandograndes somas, remete dlares para o exterior abrindo uma conta no estrangeiro, sem autorizaolegal, favorece a criminalidade com a evaso de divisas. Da mesma maneira, o empresrio quecompra matria-prima mais barata de origem duvidosa pode estar favorecendo crimes como o rouboou o furto, alm da ao de quadrilhas.

    Os autores citados sustentam que esta teoria pode no explicar tudo e, menos ainda, serve paraexplicar a causa do delito. Todavia, com ela pode-se entender o paradoxo apontado por PeaCabrera, quando registra que os membros dos extratos sociais mais elevados a um tempo norompem com os valores da sociedade a que pertencem e, a outro, os infringem.

    De outro lado, se as normas penais em matria econmica perdem em eficcia, isto no se dapenas em razo de uma no internalizao dos valores consagrados. Aqui parece ocorrer algo queos tericos do labelling approach chamam de capacidade de "contra restar", isto , capacidade parareagir aos efeitos estigmatizadores da atividade etiquetada como criminosa. Enfim, os criminosos docolarinho branco so capazes de rejeitar "as significaes que lhe tentam atribuir". 28

    Assim, por exemplo, sonegar impostos num pas onde se costuma dizer que o dinheiro arrecadado mal dirigido ou, quando no, alimenta bolsos corruptos, longe de ser uma prtica a ser escondida,passa a ser objeto de justo aplauso e, de resto, poucos escondem que o fazem. Ou, por outra,comprar um objeto descaminhado quando no pas vigia uma poltica de informtica que, a pretextode favorecer a indstria nacional, obrigava o consumidor a comprar computadores e seus acessriosultrapassados e mais caros, era prtica comum e sinal de inteligncia.

    evidente que nestes casos a lei penal tem escassas condies de eficcia, pois no encontra umacultura favorvel para atuar como reforo em relao a valores preexistentes. Seja como for, preciso reconhecer que sempre haver prticas afrontadoras da lei que, no limite, implicaro nareviso desta. o que Durkheim destacava como aspecto positivo do crime na evoluo dasociedade. 29

    H aqui um fio tnue entre a ao criminosa propriamente dita e a objeo de conscincia que, nestecaso, deslegitimaria o ilcito e poderia at mesmo representar uma forma de desobedincia civil.4. Objeo de conscincia

    A desobedincia civil consiste na transgresso da lei com vistas a criar uma situao de reao emcadeia que leve a reforma do diploma contra o qual ocorre a insurgncia. J a objeo deconscincia, de acordo com Rafael Navarro-Valls e Javier Martinez-Torrn, seria a pretenso de quealguns comportamentos individuais, em princpio ilcitos, no so objeto de sano, j que o objetorfez uma eleio preferindo obedecer sua moral ou conscincia do que a lei. 30

    Com efeito, sabido que h comportamentos individuais, inicialmente contrrios lei, mas cujatenaz persistncia, posteriormente, levou o legislador a aceit-los como legtimos. Talvez a primeiradestas manifestaes seja a objeo quanto ao servio militar em virtude de crena religiosa. Ou,num campo oposto, a dos mdicos que, pela mesma razo, recusam-se, nos pases em que o aborto permitido, a faz-lo.

    Tratando da objeo de conscincia fiscal, os citados autores assinalam que neste caso " lapretensin del impago" deve-se a valores de conscincia como, por exemplo, o que repugnaatividades belicosas. 31Aqui, como se percebe, a finalidade no depauperar o errio pblico e, sim,no contribuir para a realizao de determinados gastos que se entendem imorais.

    Ser que neste caso o sonegador brasileiro poderia alegar objeo de conscincia porque o dinheirovai parar em lugares esprios? Penso que no. Na verdade, o caminho natural de quem se ope forma pela qual o dinheiro pblico gasto, no a absteno individual, mas o encaminhamento

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  • poltico desta insatisfao, no se descartando sequer a tomada de medidas judiciais hoje to emvoga. De outro lado, como se exps supra, na melhor das hipteses, quando o objetivo dosonegador no enriquecer, e sim o de competir em condies de igualdade, tambm no h falarem objeo de conscincia. que um tal agir pode at no ser to imoral, mas no pode serequiparado a uma objeo de conscincia exatamente porque no se assenta sobre um valortranscendente (religio, pacifismo etc.). Repousa nica e exclusivamente no desejo de manter onegcio vivo. , portanto, um interesse pessoal.Assim, inexistindo qualquer dissenso quanto ao fim que o dinheiro a ser destinado ao fisco venha ter,no h falar em objeo de conscincia, h sim vontade de levar vantagem indevida o que, emoutros termos, traduz a ocorrncia de crime.

    Em resumo, nestas hipteses de sonegao fiscal, ininvocvel a objeo de conscincia paraafastar a ilicitude do comportamento daquele que a prtica.5. Diferenciao de tratamento entre crimes comuns e de colarinho branco

    Constitui uma espcie de lugar comum a idia de que os ricos tm melhores advogados e, por isso,conseguem escapar das malhas da lei. E verdade, s vezes. Mas a questo ganha maior interessequando se indaga se isto ocorre em razo das leis e da jurisprudncia, independentemente da aodos advogados.

    No plano abstrato da legislao, at a entrada em vigor da Lei 8.137/90, punia-se o sonegadorprimrio, qualquer que fosse o montante ilicitamente alcanado, com sano pecuniria. 32Era, semembargo de quaisquer interpretaes que se possa dar ao fato, uma enorme indulgncia dolegislador que, no entanto, com a Lei 8.137 de 1990, veio a ser erradicada. Todavia, este diploma, noseu art. 14, trouxe consigo a possibilidade de extino da punibilidade que, entre idas e vindas,acabou sobrevivendo com a ecloso da Lei 9.430/96.

    primeira vista nada mais justo em se considerando, de um lado, o propsito incriminador que , emprimeira e ltima anlise, garantir as receitas para o poder pblico e, de outro, que o direito penal instrumento de ultima ratio.

    O que no se compreende, e isto foi objeto de justa indignao da advogada Alexandra LebelsonSzafir, o porqu de em crimes como o furto, mxime em um pas que vive o angustiante problemada superlotao carcerria, em que as penas so iguais s da sonegao e tambm no h violnciacontra a pessoa, no haja previso idntica de extino de punibilidade para os casos em que oagente, antes da denncia, restitua a coisa. 33Num regime democrtico, conclui a renomadaadvogada, "no se pode admitir o binmio: "dois pesos e duas medidas"; o que se espera que olegislador tenha a mesma preocupao com os pobres e os ricos....". 34

    De outro lado, as penas cominadas ao furto qualificado e ao estelionato, pese embora a maiorpotencialidade lesiva deste delito, so acentuadamente diferenciadas. O furto qualificado tem nadamenos do que dois anos de recluso no patamar mnimo; j o estelionato, mesmo na hiptesequalificada, situa-se em um ano e quatro meses. Importa, porm, considerar que o estelionato, aindaque sem qualificao, potencialmente muito mais danoso o que o furto.

    Interessante notar, ainda, que o reconhecimento do privilgio no furto depende do pequeno valor dacoisa (art. 155, 2., do CP (LGL\1940\2)). Diferentemente, no estelionato perquire-se o " valor doprejuzo" (art. 171, 1., do CP (LGL\1940\2)).Dessa forma, percebe-se que o tratamento dado ao estelionatrio muito mais benigno. Sim, porqueaqui no importa a extenso do golpe. relevante apenas o resultado. No furto, ao contrrio, ovalor da coisa em si o bastante para descaracterizar o privilgio.

    Nessa linha de observao, curioso notar que para o reconhecimento do homicdio privilegiado nose faz necessria a primariedade.

    De tudo extrai-se que, no s h um tratamento mais rigoroso nos crimes patrimoniais como,tambm, nestes, quando se cuida da " criminalidade dos pobres", redobra-se a severidade da lei edos seus aplicadores. Alis, a inconvivncia do privilgio nas hipteses de furto qualificado, quandose admite em relao ao homicdio algo incompreensvel. Ou melhor inteligvel luz de ptica

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  • iniquamente repressiva.

    Na jurisprudncia, enquanto para os casos de evaso de divisas ou de gesto temerria se observaa articulao de fortalezas legalistas em torno da correta tipificao dos crimes, 35o Superior Tribunalde Justia veio a editar Smula na qual prestigiou a interpretao de que brinquedo com jeito dearma implica na aplicao da causa de aumento de pena prevista no art. 157, 2., I, do CP(LGL\1940\2) (Smula 174).Com efeito, o art. 157, 2., do CP (LGL\1940\2), prescreve um aumento de pena que varia de umtero at a metade se: inc. I - " a violncia ou ameaa exercida com emprego de arma".

    Em que pese a clareza do dispositivo, tanto no Supremo Tribunal Federal, 36quanto no SuperiorTribunal de Justia 37pacificou-se o entendimento segundo o qual o que importa para a incidncia daqualificadora em foco a capacidade de se tolher a resistncia da vtima.

    Com razo o Des. Silva Leme, em magnfico voto vencido, sem margem a dvidas, deixou expressoo seguinte:

    "O Cdigo Penal (LGL\1940\2) refere-se, expressamente, a arma, e revlver de brinquedo no arma. apenas brinquedo, pouco importando que tivesse sido tomada como arma de verdade pelavtima e lograsse intimid-la a ponto de deixar-se despojar de seus haveres. O brinquedo serviu paracaracterizar o roubo, mas no para qualific-lo" (TJSP, RJTJSP 84/378). 38

    Na doutrina, com a costumeira lucidez, o saudoso Prof. Heleno Fragoso advertia que o fundamentoda qualificadora "reside no maior perigo que o emprego da arma envolve, motivo pelo qual indispensvel que o instrumento usado pelo agente (arma prpria ou imprpria), tenha idoneidadepara ofender a incolumidade fsica. Arma fictcia (revlver de brinquedo), se meio idneo para aprtica de ameaa, no bastante para qualificar o roubo". 39

    A interpretao consagrada pelos tribunais, superiores e locais, ante a clareza da lei, s pode serentendida como uma tentativa de responder escalada criminosa de maneira mais draconiana,ainda que afrontando o princpio da legalidade.

    So tantas, to variadas e dspares as formas de diferenciao no tratamento legal e jurisprudencial,que, passados quase 50 anos da obra de Sutherland, suas afirmaes, ao menos neste particular,continuam atuais. Resta saber se este descompasso ser diminudo ou dilatado. A tendncia, com oendurecimento legislativo e pretoriano, parece ser a de nivelar tudo por baixo, isto , tratar-se comseveridade todos os casos. Seria isto adequado?6. Concluso - Bibliografia

    Na linha do que escreveu o antroplogo Roberto da Mata em A casa e a rua40pode-se afirmar que hum fosso, quando no uma verdadeira contradio, entre os valores cultuados em pblico e aquelesconcretizados no mbito privado. Assim, no que concerne aos empresrios, curioso observar comoh um discurso profundamente moralista quando se trata de condenar crimes praticados por outrose, nesse diapaso, notadamente, o dos menos favorecidos que, via de regra, furtam e roubam.

    Esta aparente integridade quanto ao respeito aos valores fundamentais da comunidade parececessar quando se trata de sonegao fiscal ou crimes ligados Previdncia Social. Aqui pareceocorrer o fenmeno da associao diferencial ou da identificao diferencial, no qual, como visto, adifuso de condutas fraudulentas chega a ser norma dentro de determinadas atividades, substituindoos valores originais e apresentando prticas fraudadoras como necessrias, louvveis e, inclusive,justas. 41

    Por isso, no muito infreqentemente, ouvem-se expresses de consolo e conforto em relaoquele que teve a desventura de ser apanhado pelas malhas da fiscalizao e, posteriormente,levado s barras do tribunal. Afinal, poderia haver algo mais legtimo do que sonegar quando se julgaque os impostos so exorbitantes e que, por outro lado, pagando-os no se pode fazer frente concorrncia? Isso para no falar nos casos onde se alega que o dinheiro arrecadado destinadopara setores ou atividades pouco legtimos.

    Embora situaes como esta minem a eficcia das normas, j que estas andam em descompassocom a ao de outras instncias motivadoras, fazendo com que sua atuao ocorra de maneira

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  • dbil, 42no se pode perder de vista que rgos de controle e represso como polcia e Secretariasda Fazenda tm tido uma atuao que se pode dizer implacvel. E isto fruto, sem dvida alguma,de uma vontade poltica decorrente de uma mudana cultural. Assim, passa-se a fiscalizar com maiorintensidade prticas antes tidas como irrelevantes ou, ainda que no, toleradas em razo da"respeitabilidade" e poder dos infratores.

    Com a democratizao da sociedade, ficando esta menos relacional, isto , onde o imprio da leipode ser imposto com mais independncia, ainda que no de forma absoluta, cria-se um caldocultural que refora, mais que a conscincia, a necessidade de se reprimirem condutas que emprimeira e ltima anlise revelam-se muito mais danosas do que os furtos e roubos. Agregue-se atudo o fato de que na mdia tambm h, hoje, um forte apelo publicao dos escndaloseconmicos que, de resto, encontram um amplo pblico leitor.

    Mas tudo isto apenas parte da modificao do tratamento dado aos crimes do colarinho branco. Naverdade, a grande virada ocorrer quando sonegar ou comprar bens oriundos do descaminho foremprticas vergonhosas, isto , quando, para exemplificar, o empresrio sentir-se isolado, sozinho, nasonegao e com um comportamento reprovvel. E isto s ocorrer, de um lado, com a instituio depolticas fiscais mais racionais e, de outro, com a diminuio da corrupo que mina a credibilidadedas aes de governo e, por via oblqua, "legitima" este tipo de delinqncia.

    Por fim, preciso registrar que, embora os excessos em matria de atuao do poder pblico e damdia em face dos crimes ocorridos no mbito dos negcios, sejam freqentes, resta muito a ser feitonessa rea para se aperfeioar a fiscalizao represso. Todavia, os erros do passado no que tange criminalidade comum no podem ser repetidos porque isto avilta a cidadania e agiganta a culturado arbtrio j to disseminada entre ns. Ao contrrio, espera-se que o tratamento a se dispensar aesta nova camada criminosa, que provm dos estratos superiores da sociedade, possa iluminar todoo sistema penal com o respeito ao mero suspeito, s garantias da legalidade e do devido processolegal, alm, claro, de um sistema prisional mais humano.

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    (1) Garofalo, em Criminologia, 1885, apud: Juan Felix Marteau, A condio estratgica das normas.So Paulo: Instituto Brasileiro de Cincias Criminais, 1997, p. 74.

    (2) A violncia brasileira, vrios autores, coord. Paulo Srgio Pinheiro, Brasiliense, 1982, p. 8(Apresentao). Em outra parte da mesma obra, quando escreveu " Polcia e crise poltica: o casodas polcias militares, o autor fala que a polcia, mais do que para combater o crime, foi criada paraenfrentar as 'classes perigosas'" (op. cit., p. 63). No mesmo sentido, Zaffaroni em: En busca de laspenas perdidas. Bogot : Temis, 1990, p. 13.

    (3) Sobre o tema ver Michel Foucalt em: Vigiar e punir, trad. Lgia Ponde Vassalo. Rio de Janeiro :Vozes, 1983, p. 11 e et seq.

    (4) En busca de las penas perdidas, ob. cit., p. 16.(5) Nesse sentido minha crtica no Aspectos penais da proteo ao consumidor, Revista Brasileira deCincias Criminais (RBCCrim). So Paulo : RT, 1995, ano 3, n. 11, p. 89.(6) Lola Aniyar de Castro, apud: Juan Felix Marteau, op. cit., p. 76.(7) Fbio Konder Comparato. O indispensvel Direito econmico, apud Manoel Pedro Pimentel ,Direito penal econmico. So Paulo : RT, 1973, p. 8. Pea Cabrera assinala que o direito penaleconmico comea na Primeira Guerra mundial e sua consolidao se acentua por ocasio do VICongresso de Direito Penal da Associao Internacional de Direito Penal realizado em 1953 nacidade de Roma, intitulado: Le droit pnal social conomique. El bien juridico en los delitoseconmicos. RBCCrim, op. cit., n. 11, p. 41.

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  • (8) Introduo aos crimes contra o consumidor. Perspectiva criminolgica e penal, Fascculos decincias penais. Porto Alegre : Sergio Antonio Fabris, 1991, ano 4, v. 4, n. 2, p. 18.

    (9) Cf. na apresentao dos professores Gilbert Geis e Colin Goff da traduo italiana de Il criminedei colletti bianchi, trad. Gabrio Forti. Milo : Giuffr, 1987, p. XVII.

    (10) Idem, ibidem.(11) Il crimine dei colletti bianchi, op. cit, p. 8.(12) Algumas reflexes sobre o direito penal dos negcios, Direito penal dos negcios (crimes docolarinho branco). So Paulo : AASP, sem data, p. 14.(13) Notas crticas penalizao de actividades econmicas, Direito penal econmico. Coimbra :Centro de Estudos Judicirios - CEJ, 1985, p. 16.

    (14) Poder econmico y delito, trad. Amelia Mantilla Villegas. Barcelona : Ariel, 1985, p. 10-11.(15) Il crimine dei colletti bianchi, op. cit, p. 67.(16) Interessante a propsito a ajuda que Nelson Hungria prestou a Assis Chateaubriand em litgiofamiliar e como o juiz que estava testa do caso foi afastado do caso (Fernando Morais, em Chat: orei do Brasil. So Paulo : Cia. das Letras, 1994).(17) O fato, alis, retratado com rara felicidade numa pea de teatro sugestivamente intituladaCaixa dois.

    (18) Op. cit., p. 69.(19) Por todos: vide Ren Ariel Dotti em Direito penal dos negcios, op. cit., p. 24-25 ou no seuBases e alternativas para o sistema de penas. So Paulo : Saraiva, 1980, p. 23, 28 e 185.

    (20) Il crimine dei colletti bianchi, op. cit, p. 69.(21) Op. cit. p. 70.(22) Crime e cotidiano. So Paulo : Brasiliense, 1984, p. 18.(23) El bien juridico en los delitos econmicos. RBCCrim, op. cit., n. 11, p. 44.(24) Idem, ibidem.(25) Op. cit. Barcelona : PPU, 1993, p. 260.(26) Los interesses economicos de los consumidores - proteccin penal. Madri : Instituto Nacional delConsumo, 1986, p. 38.

    (27) Delicuencia y economia. Santiago de Compostela : Universidad de Santiago de Compostela,1983, p. 26.

    (28) A condio estratgica das normas, op. cit., p. 100. Lembra o autor que " desviado umapessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com xito" (idem, ibidem).29 ) As regras do mtodo sociolgico, trad. Maria Isaura Pereira de Queiroz. So Paulo : Cia. EditoraNacional, 8. ed., 1977, p. 61.

    (30) Las objeciones de conciencia en el derecho espaol y comparado. Madri : McGraw-Hill, 1997, p.10/11.

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  • (31) Idem, p. 81.(32) Cf. art. 1., 1., da Lei 4.729/65(33) O direito penal dos ricos. Boletim do IBCCrim, n. 54, p. 8.(34) Idem, ibidem.(35) Sobre a evaso de divisas emblemtica a deciso do caso de um conhecido dono deFaculdades, depois Deputado Federal, que levava mais de cem mil dlares para fora do pas quandoveio a ser detido. O TRF da 3. Regio (HC 027/89) trancou a ao penal sob o argumento de queno agiu com qualquer ardil, subterfgio ou meio suscetvel de iludir a fiscalizao. J no que atinacom a gesto temerria, em recente acrdo o mesmo Tribunal pela voz eloqente da ilustre Des.Federal Sylvia Steiner, com largo desenvolvimento da eficcia do princpio da legalidade,reconheceu-se a inexistncia do crime dentro de uma interpretao acertadamente restritiva do tipopenal que, de resto, muito vago e beira a inconstitucionalidade (HC 96.03.077760-9).(36) RTJ 114/341 .(37) RT 654/362.(38) Apud Alberto Silva Franco e outros. Cdigo penal e sua interpretao jurisprudencial. So Paulo: RT, 4. ed., 1992, p. 1072.

    (39) Lies de direito penal. Rio de Janeiro: Forense, 7. ed., 1992, p. 296. Diferente oentendimento de Hungria para quem a ratio da qualificadora " a intimidao da vtima, de modo aanular-lhe a capacidade de resistir" ( Comentrios ao Cdigo Penal (LGL\1940\2), Rio de Janeiro :Forense, 4. ed., 1980, v. VII, p. 58).(40) Ob. cit. So Paulo : Brasiliense, 1985, p. 12 e et seq.(41) Nesse sentido a observao de Juan Gonzales Rus em Los interesses economicos de losconsumidores - Proteccion penal, op. cit., p. 39.

    (42) Assim Muoz Conde em Derecho Penal e control social. Jerez : Fundacin Universitaria deJerez, 1985, p. 38.

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