cria~ao - catedraportugues.uem.mz1996).pdf · tro de informatica da universidade eduardo mondlane,...

6

Upload: hoangthuy

Post on 27-Nov-2018

231 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: cria~ao - catedraportugues.uem.mz1996).pdf · tro de Informatica da Universidade Eduardo Mondlane, estando em estudo a sua instalacao na rede da Internet; a forma impressa que aparecera
Page 2: cria~ao - catedraportugues.uem.mz1996).pdf · tro de Informatica da Universidade Eduardo Mondlane, estando em estudo a sua instalacao na rede da Internet; a forma impressa que aparecera

I •• /0 Focol LINGUA GPNS C/ENTiF/CAS E TECN/CAS

Informatica no Portugues de Mo~ambique

por outro, 0 facto de serem praticamenteinexistentes para 0 portugues vocabulariosinformaticos especificos deste dominio.

Na primeira fase do projecto, ja concluida,o corpus foiconstituido com base em manuaisproduzidos localmente em lingua portu-guesa. Numa segunda fase, englobar-se-ao

11

Ines Machungo

O. Introdu~ao

(' 'atmli.riO de Informatica" e urn, J projecto conjunto de docentes einvestigadores do Centro deInformatica e do Departamento

de Letras Modernas da Universidade Eduar-do Mondlane.

Este projecto tern como objectivos:1) proporcionar aos utilizadores dos meios

de Informatica urn Vocabulario actua-lizado e comum, permitindo 0 seu acessoe Integracao no mundo da Informaticaem lingua portuguesa;

2) constituir uma base de dados termino-16gica (informatizada e impressa) commateriais confiaveis para atender asnecessidades dos utentes da Informatica.

o Vocabulario restringe-se a area de ges-tao de pacotes de programas. Esta opcaotern como base, por urn lado, dar respostaaspreocupacoes de varias instituicoes voca-cionadas na formacao de monitores eutentes dos varies pacotes de programas, e

C) 1 ntver-adadc Eduardo Mondalc, Maputo

Page 3: cria~ao - catedraportugues.uem.mz1996).pdf · tro de Informatica da Universidade Eduardo Mondlane, estando em estudo a sua instalacao na rede da Internet; a forma impressa que aparecera

.•• JUlHO 1996 N.l5

no corpus manuais, software e outros utili-tarios produzidos por empresas interna-cionais especializadas no ramo.

A primeira versao do vocabulario foi sub-metida a apreciacao de urn corpo maisalargado de informaricos, linguistas e uti-lizadores para possiveis ajustamentos. 0Vocabular io informatizado com 1506entradas encontra-se a disposicao no Cen-tro de Informatica da UniversidadeEduardo Mondlane, estando em estudo asua instalacao na rede da Internet; a formaimpressa que aparecera em Portugues//Ingles e Ingles / Portugues ainda nao estadisponivel.

A base de dados constituida tern sidofonte de pesquisa de aspectos particularesdo portugues de Mocambique do ponto devista sociol6gico e linguistico.

1. Metoclologia

Dadas as caracteristicas do vocabularioque se pretendia constituir, optou-se partamar como base urn corpus constituidopor manuais de ensino elaborados e utiliza-dos por varias instituicoes nacionais que sededicam a formacao em gestae de pacotesde programas; este material escrito foi com-plementado com inforrnacao oral obtidaatraves da participacao dos investigadoresnas aulas ministradas pelas ja mencionadasinstituicoes.

Foi elaborada uma ficha terminol6gica derecenseamento dos terrnos, baseada emoutras utilizadas para fins similares, con-tendo os seguintes campos: C6digo, termo,variante ortografica, sigla, categoria grama-tical, contexto, fonte do contexto, sino-nimo, palavra proposta(l), nota, equiva-lente em Ingles, fonte de referencia doequivalente, instituicao autor e data de ela-boracic da ficha.

Sendo a constituicao de uma base dedados uma das fases mais importantes dapesquisa, foi concebido urn sistema degestae de informacao descrito em manualintitulado "Sistema de Gestae de Termi-nologias - manual do utilizador". 0 objec-tivo do sistema e permitir 0 manuseamentorapido e eficaz de toda a inforrnacao sobreos termos recenseados. No manual des-creve-se urn conjunto de m6dulos escritosem D-base e compilados em Clipper86podendo correr em computadores 286 oude capacidade superior. 0 sistema revelou-se ineficiente tendo sido necessaria a elabo-racao de uma nova versao, "Palavras'' comcaracteristicas identicas mas com maiormaleabilidade, portabilidade e capacidadede consulta cruzada.

2. Mecanismos de cria~aolexicalEmprestimo e traducao sao os principais

meios de criacao dos termos recenseadosno vocabulario. No presente trabalhotra-tar-se-a basicamente da criacao lexical porernprestimo.

2.1. Emprestimoo ponto de vista de que os bilingues tern

maior tendencia para 0 recurso ao ernpres-timo lexical do que os monolingues e par-tilhado por diversos estudiosos (cf. Pop lacke Sankoff 1984). A explicacao para estefacto e a de que os falantes recorrem aoemprestimo de palavras a lingua que me-lhor dominam. No caso dos bilinguesmocambicanos particularmente os envolvi-dos com linguas de especialidade, no casovertente a informatica, 0 tratamento destaquestao nao e linear por diversas razoes.

. a L1 e uma lingua banto que nao disp6ede fundo lexical apropriado neste dorni-nio;

. 0 Ingles, na maior parte dos casos, e a

(1) Neste campo figuram os terrnos que vao constar na versao versao final impressa do vocabulario.

Page 4: cria~ao - catedraportugues.uem.mz1996).pdf · tro de Informatica da Universidade Eduardo Mondlane, estando em estudo a sua instalacao na rede da Internet; a forma impressa que aparecera

•• /0 fOCOIllN6UA6ENS C/ENTif/CAS E TECN/CAS ---

lingua de acesso a inforrnatica, razao pelaqual 0 ernprestirno e feito nesta lingua;

. mesmo quando a lingua de acesso e 0

portugues, este tambern esta impregnadode emprestimos do Ingles, ou, se nao foro caso, a terminologia em portugues naoe de facil acesso.o Ingles e a Iingua-mae do desenvol-vimento da Informatica.

Estas SaD as vertentes que enformam 0

recurso ao emprestirno particularmente delexico do Ingles, pelos utentes mocambi-

canos da linguagem de Informatica em lin-gua portuguesa.

A fronteira entre neologismo e ernpres-timo em linguas de especialidade e bastantetenue, particularmente no processo de pas-sagem de urn termo da sua forma estran-geira para a nativizada. Sao duas respostas auma mesma situacao de ausencia. A palavraestrangeira ao entrar na lingua reciplentepassa por uma primeira fase - peregrinismo-,entra no usa e perde entao 0 estatuto deneologismo por emprestimo, lexicalizando--se.

a c- 402.CAMEROON

o/. lCONGO

xes '%ZAIRE ~

Cuan.(8,.cassat

BOTSWANA

MO<;AMBIQUESuperficie: 799 380 Km2Habitantes: 15milhoesCapital: MaputoLingua oficial: Portugues

J

UGANDA KENYA

§~ RWANDA

BURUNDI

TANZANIA

'0"

Page 5: cria~ao - catedraportugues.uem.mz1996).pdf · tro de Informatica da Universidade Eduardo Mondlane, estando em estudo a sua instalacao na rede da Internet; a forma impressa que aparecera

•• JUlHO 1996 N,IS

Foram identificados dois tip os de em-prestimo - emprestimo estabelecido eemprestimo nao estabelecido. Os crite-rios utilizados sao de ordem estritamentelinguistica(l), resumidos da forma que sesegue: se 0 termo emprestado a linguaestrangeira toma a forma fonologica tipicada lingua recipiente, adquire afixos mor-fologicos proprios desta lingua, e funcionanas frases como uma palavra nativa de umacerta categoria sintactica, entao pode serconsiderado urn emprestimo estabelecido(cf. Poplack e Sankoff, p.100); se estas con-dicoes nao se verificarem 0 ernprestimo enao estabelecido.

No corpus analisado cerca de 40% dosemprestimos sao nao estabelecidos, isto e,entram no portugues conservando as carac-teristicas morfologicas, fonologicas e foneti-cas do Ingles. Ex: template, software, byte,bit, backspace, backup, file, path, hard-ware.

Nos emprestimos estabelecidos ope ram--se os process os de derivacao usuais em lin-gua portuguesa.

Para alguns autores a nominalizacao e 0processo mais usual na criacao do lexico te-cnico: "Les lexiques techniques se referenta l'activite creatrice par la nominalisationplut6t que par la designation du processous la forme verbale" (Guilbert 1971:52).A justificacao para este facto segundoIaquinta (1994: 5) deve-se-a que os subs tan-tivos se integram melhor nas construcoessintacticas (pelo menos do italiano) do queos verbos, que para alern do mais tern deser conjugados.

No corpus analisado mais de 50%do lexi-

co utilizado e constituido por verbos queocorrem em actos ilocutorios directivos.(2)

Os ernprestimos internos constituemoutro dos recursos utilizados na criacao determos informaticos, este processo consisteno ernprestimo a lingua comum ou a outraslinguagens tecnicas de termos que no pro-cesso de integracao sofrem mudancassernanticas, morfologicas e por vezes atesintacticas. Cursor - do latim cursore -adquire 0 significado restrito de 'sinal lumi-noso com funcoes especificas'; 0 adjectivoperiferico e usado como urn substantivo eindica 'urn dispositivo ligado a uma uni-dade central de urn computador'; 0 verbochamar dependentemente do contextopode significar 'tornar visivel no ecran','recuperar', 'activar', ou 0 verbo rotear quesignifica 'distribuir mensagens pelos desti-natarios.'

Alguns termos estao na fronteira entreemprestimo nao estabelecido e emprestimointerno, isto e, os utentes oscilam entre 0uso de urn ou de outro. Ex: backspace /barra de espacos, output / saida, file /arquivo.

2.2. Regras derivacionais de forma~aodos termos

A derivacao por sufixacao e sem duvida aregra mais produtivap) na formacao dostermos do corpus analisado. Os sufixosmais usados sao:

0) no nominolizoyoO(4)

-mento: alinhamento, deslocamento, ende-

(1) Embora a Iiteratura sobre 0 ernprestimo seja imensa, algumas questoes permanecem sem resposta como sejamaspectos linguisticos, sociologicos e de aquisicao, e tambern aspectos metodologicos de identificacao ecaracterizacao dos ernprestimos.

(2) Recorda-se que 0 vocabulario foi constituido com base em manuais com fins didacticos em que este tipo deconstrucoes e abundante.

(3) A produtividade e aqui tomada no sentido mais gerai, isto e, tern aver nao so com 0 ruimero de paiavras novasgeradas, mas tambem com as diferentes bases a que 0 afixo se junta. 'The more general a word -formationprocess is, the more productive it will be assumed to be' (Katamba 1993:617).

(4) Anorninalizacao e basicamente de verbal.

Page 6: cria~ao - catedraportugues.uem.mz1996).pdf · tro de Informatica da Universidade Eduardo Mondlane, estando em estudo a sua instalacao na rede da Internet; a forma impressa que aparecera

)5

'0

it~i)1

C

IC

I,

IIIjr

10FOCOILlN6UA6ENS C/ENTiFlCAS E TicN/CAS

recamento; deeremento-agem: aneoragem, lineagem, indexagem- izacdo: digitalizacdo, inicializacao,

uisualizacdo

b) no odjecfivofOo

- vel: questiondvel

c) no verbolizofoo(l)

Oar:aeessar, indentar, indexar, salvar,digitar, teclar, escapar, cliear.

A derivacao por sufixacao e menoscomum sendo os prefixos mais usuais reo,esub-; 0 prefixo re- esta ligado a formacao deverbos enquanto que sub- forma nominais:reo:rerotear, reinieializar, reprogramarsub-: subrotina, subdireetoria, subco-

mando

Na criacao de novos termos, a compo-si~ao, e urn processo largamente utilizado,mas dele nao trataremos neste trabalho.

3. Conclusaoo presente trabalho pretendeu, por urn

lado, divulgar alguns dos trabalhos queestao sendo desenvolvidos em Mocam-bique no ambito da terminologia da infor-matica, e muito particularmente na area degestae de pacotes de programas; por outrolado, pretendeu-se tambem dar a conheceralguns dos resultados da analise linguisticaa que se submeteu a base de dados doVccabulario. Esta analise limitou-se a identi-ficacao dos principais processos e regras decriacao dos termos, podendo-se conduirque (tal como ja foi observado por muitosautores) nao existem processos novos nemsequer a nivel de linguagem especializada -

os processos sao universais, no que dizrespeito as regras, ainda nao foram sujeitasa urn estudo exaustivo, mas dados prelimi-nares indicam tambem a nao existencia deregras novas; em sintese, processos e regrassao os comummente utilizados em linguaportuguesa.oVocabulario constiruido nao tern carac-

teristicas proprias da variante mocambicanado portugues. Confrontadof-) com outrosvocabulanos/glossarios obtidos por proces-sos similares e com fins identicos, nome a-damente 0 Glossdrio de Microinformdticaproduzido por docentes da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciencias Humanas doBrasil, constatou-se haver uma percen-tagem reduzida (menos de 5%) de termosidentificaveis apenas com uma das varianteslinguisticas.

REFERENCIAS:

GUILBERT,L. (1971)"La Neologie Scientifiqueet Technique". In: La Banque des Mots.I,CILF:Paris.

KATAMBA,F (1993) Morphology. St. Martin'sPress: New York.

IAQUINTA, G (1994) "II Computerese". In:Italie d'Aujourd'hui - les LangagesSectoriels,Editions du Crix: ParisX.

MACHUNGO, I. (1994) "Vocabulano de Infor-matica - urn projecto em curso". In: Bole-tim de Informatica n.6. CIUEM:Maputo.

POPIACK, S. & Sankoff, D. (1984) "Borrowing:The Synchrony of Integration". In:Linguistics22,99-135 Mouton Publishers.

(1) Todos os verbos sem excepcao pertencem it primeira conjugacao.

(2) Acomparacao foi realizada com informacao de que dispunha a equipe brasileira em Agosto de 1994. ~1