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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE UFS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L- Asparagina●H 2 O Pura e Irradiada por ALESSANDRA KEIKO LIMA FUJITA Universidade Federal de Sergipe Cidade Universitaria “Prof. José Aloísio de Campos” São Cristovão SE Brasil.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L-

Asparagina●H2O Pura e Irradiada

por

ALESSANDRA KEIKO LIMA FUJITA

Universidade Federal de Sergipe

Cidade Universitaria “Prof. José Aloísio de Campos”

São Cristovão – SE –Brasil.

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Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L-

Asparagina Pura e L-Asparagina Irradiada

ALESSANDRA KEIKO LIMA FUJITA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de

Pós-Graduação em Física da Universidade Federal de

Sergipe para obtenção do título de Mestre.

Orientador: Profº. Dr. José Joatan Rodrigues Júnior

São Cristovão – SE – Brasil.

Fevereiro de 2012.

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"Não é o quão forte você bate e sim o quão forte

você apanha e ainda assim continua indo em frente”.

Page 4: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

Dedico aos meus pais pelo amor e

carinho, pelos ensinamentos e estrutura

que me deram desde criança.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus por toda a minha vida.

Ao Joatan pela orientação e pelos ensinamentos.

A CAPES e o CNPq pelo o apoio financeiro, sem eles não seria possível

desenvolver esse trabalho.

Ao Professor Fred por ceder e ajudar no Raman.

Grupo de Fotônica do Instituto de Física de São Carlos - USP pelo uso

dos equipamentos de UV-VIS.

Ao meu irmão, Jorge, pela irmandade e apoio.

As minhas amigas Kaori e Tatá por estarem sempre do meu lado e não

me deixarem desanimar com a distância.

A família Xavier, principalmente Tia Sandra e Thiago, que me acolheram

como se eu fosse da família.

A minha família, tios, tias, primos, primas e afilhado que fazem parte da

minha estrutura, e carinho nas minhas voltas a Brasília.

Aos meus amigos, Amanda, Alê, Victor e Vivi que sempre aguardaram

meus retornos para momentos descontraídos, e a Joka, e a Flor pelas

conversas alegres na internet. São amizades sempre especiais.

Aos colegas da sala 09, Jerre, David, Raimundo, Lais, Luiza, Jonh pela

ajuda e convivência sempre alegre.

Aos colegas de Aracaju pelos momentos de companhia.

E aos órgãos do DFI pelos serviços prestados.

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ÍNDICE

LISTA DE FIGURAS I

LISTA DE TABELAS IV

RESUMO V

ABSTRACT VI

CAPÍTULO 1 1

1- INTRODUÇÃO 2

1.1- Características químicas dos aminoácidos 4

1.2- L-Asparagina 9

CAPÍTULO 2 12

2- CRESCIMENTO DE CRISTAIS POR SOLUÇÃO 13

2.1- Cristalização 14

2.2- Métodos de crescimento por solução 20

CAPÍTULO 3 23

3- PROPAGAÇÃO DE ONDA ELETROMAGNÉTICA EM UM MEIO ANISOTRÓPICO

24

3.1- Tensores dielétricos 24

3.2- Elipsoides de índice 26

3.3- Propagação de uma onda plana em um meio anisotrópico 30

3.4- Superfície normal 33

CAPÍTULO 4 38

4- FENÔMENOS ÓPTICOS NÃO LINEARES DE SEGUNDA ORDEM 39

4.1 Polarização não linear 39

4.2- Suscetibilidade não linear 41

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4.3- Casamento de fase (Phase-Matching) para GSH 46

4.3.1- Casamento de fase em cristais uniaxiais 48

4.3.2- Casamento de fase em cristais biaxiais 50

CAPÍTULO 5 52

5- RESULTADOS 53

5.1- Amostras 53

5.1.1- L-Asparagina pura 53

5.1.2- L-Asparagina irradiada 56

5.1.3- Método de abaixamento lento da temperatura 57

5.2- Análise térmica 58

5.3- Análise estrutural 60

5.3.1 Difração de raios-X (DRX) 60

5.3.1- Espectroscopia Raman 62

5.4- Absorção óptica 64

5.6- Eficiência de geração do segundo harmônico 65

5.7 Tratamento térmico 67

CAPÍTULO 6 69

6- CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS 70

CAPÍTULO 7 73

7- REFERÊNCIA 74

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I

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Estrutura geral dos aminoácidos encontrados nas proteínas.

Figura 1.2 – Forma não iônica e “zwitterion” dos aminoácidos.

Figura 1.3 – “Zwitterion” como ácido.

Figura 1.4 – “Zwitterion” como base.

Figura 1.5 – Curva de titulação da glicina.

Figura 1.6 – Estrutura e molécula de L-Asparagina em perspectiva.

Figura 1.7 - Curva da Solubilidade em água da L-Asparagina.

Figura 2.1 - Variação da energia livre total em função do tamanho do

núcleo

Figura 2.2 – Concentração da solução variando com a distância à

superfície do cristal. δ* é a espessura do filme estagnante.

Figura 2.3 – Curva da solubilidade típica de um material com o coeficiente

de temperatura da solubilidade positivo.

Figura 3.1 – Polarização do meio devido a um campo aplicado, (a) material

isotrópico. (b) material anisotrópico.

Figura 3.2 – Elipsóide de índices ou indicatriz óptica de um cristal

anisotrópico.

Figura 3.3 – Elipsóide de índices para cristais biaxiais.

Figura 3.4 – Representação da curva de nível da superfície normal no três

plano: (a)plano kz=0, (b)plano óptico ky=0 e (c)plano kx=0.

Figura 3.5 – Curva normal para cristais biaxiais.

Figura 3.6 – Curvas de nível da superfície normal de um cristal biaxial.

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II

Figura 3.7 – Curvas de nível da superfície de velocidade de raios para

cristais biaxiais.

Figura 4.1 – Experimento de geração de xegundo harmônico em um

cristal de quartzo feito por Franken et al.

Figura 4.2 – Potencial de um meio não centro-simétrico.

Figura 4.3 – Diagramas dos níveis de energia para os efeitos de segunda

ordem: (a) Geração de Segundo Harmônico; (b) Geração de Soma de

Frequência; (c) Geração de Diferença de Frequência; (d) Retificação

Óptica.

Figura 4.4 – As direções de casamento de fase em cristais uniaxiais

formam dois cones, sendo que o ângulo de tipo I é menos do que o tipo II.

A figura menor é a representação de Wulff no plano zy.

Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial.

Figura 5.1 – Cristal de L-Asparagina em crescimento pelo método de

evaporação lenta.

Figura 5.2 – Cristais de L-Asparagina crescidos pelo método de

evaporação lenta do solvente.

Figura 5.3 - L-Asparagina irradiada.

Figura 5.4 – Aparato para o crescimento de cristais em processo de

construção.

Figura 5.5 – Análise de DSC e DTA/TG em L-Asparagina pura.

Figura 5.6 – Análise de DSC e DTA/TG em L-Asparagina irradiada.

Figura 5.7 – Difração de raios-X dos cristais de L-Asparagina pura e L-

Asparagina irradiada.

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III

Figura 5.8 – Análise de espectroscopia Raman nos cristais de L-

Asparagina pura e irradiada.

Figura 5.9 – Absorção óptica dos cristais de L-Asparagina pura e

irradiada.

Figura 5.10. – Efeciência dos cristais de KDP, L-ASN pura e L-ASN

irradiada.

Figura 5.11 - Resultado dos Cristais de L-ASN pura e irradiada aquecida

na estufa.

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IV

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 – Os 20 aminoácidos protéicos, com as respectivas

abreviações e os pH de dissociação.

Tabela 2.1 – Relação entre ∆Ghet e ∆Ghom dependente da afinidade da

superfície e o núcleo.

Tabela 4.1 – Condições de casamento de fase para cristais uniaxiais.

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V

Resumo

Neste trabalho apresentamos os resultados do crescimento de cristais

de L-Asparagina●H2O e do estudo de suas propriedades ópticas, lineares e

não lineares, do cristal como é crescido e após ser submetido a altas doses de

raios-X. Os cristais foram crescidos em solução aquosa pelo método de

evaporação lenta do solvente. Foram realizadas medidas de absorção óptica,

Raman, análise térmica e eficiências de geração de segundo harmônico. Os

resultados demonstram as boas qualidades ópticas dos cristais para aplicação

em dispositivos ópticos, comparáveis ao do KDP (KH2PO4).

Palavras-chaves: Cristais orgânicos, cristais anisotrópicos, crescimento de

cristais, L-Asparagina, propriedades ópticas lineares e propriedades ópticas

não lineares e geração do segundo harmônico.

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VI

Abstract

In this work we present the results of L-asparagine • H2O crystal growth

and the study of their optical properties, linear and nonlinear, of crystal as

grown and after being submitted to high doses of X-ray. Crystals were grown in

aqueous solution by the method of slow evaporation of the solvent.

Measurements optical absorption, Raman, thermal analysis and efficiency of

second harmonic generation were carried out. The results demonstrate the

good optical quality of the crystals for use in optical devices, comparable to that

of KDP (KH2PO4).

Keywords: Organics crystals, anisotropic crystals, crystal growth, L-Asparagine,

linear optical properties, nonlinear optical properties, second harmonic

generation.

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1

CAPÍTULO 1

1 – INTRODUÇÃO

1.1 – Características químicas do aminoácidos

1.2 – L-Asparagina

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2

1- Introdução

O estudo de crescimento de cristais orgânicos vem aumentando para ser

usado em óptica não linear, pois estudos mostraram que esses materiais

possuem estabilidade térmica e mecânica, além de ser possível crescer de

forma simples cristais com boa qualidade óptica e desejável espectro de

transparência. A óptica não linear se diferencia por sua fonte de luz ser

bastante intensa, podendo estudar fenômenos que só se manifestam em

ordem de força elétrica atômica, dessa forma os primeiros cristais para a

aplicação dessa nova fonte de luz foram materiais inorgânicos como o KDP

(KH2PO4) usado nesse trabalho como referência para a medida de eficiência de

geração do segundo harmônico. Porém os cristais inorgânicos possuem

problemas nas aplicações não lineares pelo seu alto índice de refração,

ocorrendo perdas elevadas no acoplamento com outros dispositivos e também

por possuírem alto custo. Por isso a necessidade de pesquisar as propriedades

de outros materiais, como os cristais orgânicos de aminoácidos.

O objetivo do presente trabalho é a caracterização óptica linear e não

linear de cristais de L-Asparagina pura e irradiada, e verificar as mudanças nas

propriedades ópticas do material irradiado, mostrando que ambos os cristais

podem ser usados para aplicações ópticas não lineares.

E como aplicações tecnológicas em óptica não linear temos a indústria

de opto-eletrônica, desenvolvimento de dispositivos inteiramente fotônicos que

funcionam apenas através da luz e de sua interação com a matéria sendo mais

rápida e consome menos energia. Atualmente tem-se conhecimento de um

vasto número de processos ópticos não lineares, como por exemplo, a geração

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3

de novas frequências através de processos de geração de harmônicos, soma e

diferença de frequências entre outros [1].

Neste trabalho crescemos cristais de L-Asparagina para caracterização

e estudo das propriedades ópticas lineares e não lineares mais relevantes. E,

além da L-Asparagina pura, estudamos as propriedades ópticas da L-

Asparagina irradiada, comparando as propriedades de ambas. Os cristais

foram crescidos em solução aquosa pelo método de evaporação lenta do

solvente, pois é um método mais simples de ser empregado nas nossas

condições até construirmos um aparato adequado para crescer cristais pelo

método de variação lenta de temperatura e pelo método usado obtivemos

sementes por cristalização espontânea. As propriedades ópticas lineares

estudadas para caracterização dos materiais foram através da análise de DSC

(Defferencial Scanning Calorimetry) e DTA/TG (Differencial Thermal

Analysis/Termogravimetry), medida de DRX(Difração de raios-X), absorção

óptica e espectroscopia Raman, e para as propriedades ópticas não lineares foi

medido a eficiência da geração do segundo harmônico pelo método do pó.

Esta dissertação está dividia em seis capítulos, dentre eles a introdução

que está subdividida com o tópico das características químicas dos

aminoácidos e um outro tópico com as propriedades especificas das L-

Asparagina. No capítulo 2 mostramos os conceitos básicos para o crescimento

de cristais, como a cristalização, e métodos para crescimento de cristais por

solução. Já no capítulo 3 apresentamos conceitos para propagação da onda

eletromagnética no meio anisotrópico, característica fundamental para cristais

orgânicos, e deduzimos a equação para a elipsoide de índice.

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4

No capítulo 4 dedicamos as propriedades básicas dos fenômenos

ópticos não lineares de segunda ordem, como polarização e susceptibilidade

não linear, e casamento de fase. E o capítulo 5 mostra os resultados do

desenvolvimento e método de crescimento de cristais de L-Asparagina, das

analises das medidas de óptica linear e óptica não linear. Os resultados foram

comparados à literatura e entre os cristais de L-Asparagina pura e L-

Asparagina irradiada.

Finalizando, temos no capítulo 6 a conclusão no qual abordamos as

considerações finais para as propriedades ópticas lineares e ópticas não

lineares dos cristais crescidos desse trabalho.

1.1- Características químicas dos aminoácidos

O primeiro aminoácido descoberto nas proteínas foi a asparagina,

primeiramente no aspargo em 1806. E o último dos 20 aminoácidos, a treonina

identificada em 1938 [2].

Todos os 20 aminoácidos encontrados nas proteínas possuem

características estruturais comuns formados por um grupo carboxila e um

grupo amino, ligados ao mesmo átomo de carbono (o carbono α). A Figura 1.1

mostra a estrutura geral de todos os aminoácidos com exceção a prolina, que é

um aminoácido cíclico, sendo que o grupo R ligado ao carbono é a diferença

entre os aminoácidos. O grupo R varia em estrutura, tamanho e carga elétrica e

influenciam na solubilidade do aminoácido em água.

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5

Figura 1.1 - Estrutura geral dos aminoácidos encontrados nas proteínas.

Os 20 aminoácidos das proteínas são conhecidos como aminoácidos

primários, sendo que o carbono α liga-se a quatro grupos substituintes

diferentes, exceto a glicina: um grupo carbóxila, um grupo amino, um grupo R e

um átomo de hidrogênio, assim, o átomo de carbono α é um centro quiral. Os

aminoácidos com centro quiral ocorrem em duas formas isômeras, D

(destrógiro) e L (levogiro), no qual os aminoácidos nas moléculas proteicas são

sempre L.

Os aminoácidos são classificados pelo seu grupo R, simplificado em

cinco classes principais, tendo como base de classificação propriedades como

sua polaridade, ou tendência para interagir com a água em pH biológico (pH

próximo a 7), variando seu comportamento em não polar ou hidrofóbico

(insolúvel em água) e polar ou hidrofílico (solúvel em água). A Tabela 1.1

mostra os 20 aminoácidos protéicos.

Tabela 1.1 – Os 20 aminoácidos protéicos, com as respectivas abreviações e os pH de dissociação.

Aminoácidos pK1 (--COOH) pK2 (--NH

3) pKR (grupo R)

Aminoácidos com grupo R apolar

Alanina (Ala) 2,35 9,87

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6

Glicina (Gly) 2,35 9,87

Valina (Val) 2,29 9,74

Leucina (Leu) 2,33 9,74

Isoleucina (Ile) 2,32 9,76

Metionina (Met) 2,13 9,28

Prolina (Pro) 1,95 10,64

Fenilalanina (Phe) 2,20 9,31

Triptofano (Trp) 2,46 9,41

Aminoácido com grupo R polar não carregado

Serina (Ser) 2,19 9,21

Treonina (Thr) 2,09 9,10

Asparagina (Asn) 2,14 8,72

Glutamina (Gln) 2,17 9,13

Tirosina (Tyr) 2,20 9,21 10,46

Cisteína (Cys) 1,92 10,70 8,37

Aminoácido com grupo R polar carregado

Lisina (Lys) 2,16 9,06 10,54

Arginina (Arg) 1,82 8,99 12,48

Histidina (His) 1,80 9,33 6,4

Ácido Aspártico (Asp) 1,99 9,90 3,90

Ácido Glutâmico (Glu) 2,10 9,47 4,07

Os aminoácidos podem agir como ácidos e bases, assim quando um

aminoácido é dissolvido em água, ele existe na solução como um íon dipolar,

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7

ou “zwitterion”. A Figura 1.2 mostra a estrutura do aminoácido na forma não

iônica e na iônica.

Figura 1.2 – Forma não iônica e “zwitterio” dos aminoácidos.

A forma não iônica não ocorre em quantidades significativas em

soluções aquosas. O “zwitterion” predomina em pH neutro. Um “zwitterion”

pode agir tanto como um ácido (doador de prótons) quanto como uma base

(receptor de prótons). A Figura 1.3 representa um “zwitterion” como ácido e a

Figura 1.4 um “zwitterion” como base.

Figura 1.3 – “Zwitterion” como ácido.

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8

Figura 1.4 – “Zwitterion” como base.

.

A solubilidade de um aminoácido é influenciada pela propriedade ácido-

base, dessa forma a titulação ácido-base consiste na adição ou na remoção

gradual de prótons. No ponto médio de qualquer titulação, um ponto de inflexão

é atingido, no qual o pH é igual ao pKa do grupo do próton adicionado que esta

sendo titulado. Outra informação importante, derivada da curva de titulação de

um aminoácido é a relação existente entre a sua carga elétrica líquida e o pH

da solução, sendo que para o pH sem carga liquida na molécula, ou seja carga

total igual a zero, é denominado ponto isoelétrico ou pH isoelétrico, pI .

)(2

121 pKpKpI (1.1)

Muitos aminoácidos diferentes compartilham propriedades comuns, o

que permite algumas generalizações simplificadas a respeito do

comportamento ácido-base de suas diferentes classes. Todos os aminoácidos

com um único grupo de α-amino, um único grupo α-carboxila e um grupo R

desprovido de grupos ionizáveis tem curvas de titulação que se assemelham à

da glicina. E quando o pH é igual pI todo aminoácido esta na forma

zwitterionico. É importante salientar que os aminoácidos nunca assumem a

forma neutra em solução aquosa; no estado zwitterionico a molécula não tem

carga líquida, mas os radicais COO- e NH3- continuam carregados. E, é nesta

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9

forma que os aminoácidos cristalizam, portanto o ideal é manter a solução

neste ponto ou bem próximo dele para favorecer a cristalização. Na Figura 1.5

mostramos a curva de titulação da glicina que é semelhante a outros

aminoácidos.

Figura 1.5 – Curva de titulação da glicina.

1.2- L-Asparagina

A L-asparagina é um aminoácido proteico não essencial isso quer dizer

que ele não é sintetizado pelo organismo. Sua formula química, C4H8N2O3,

pertence ao grupo polar não carregado com dois carbonos não simétricos.

Através dos padrões indicados pela difração de raios-X os cristais são do grupo

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10

espacial P212121 com estrutura ortorrômbica e estabeleceram que há quatro

moléculas nas célula unitária com parâmetros de rede a = 5,593(5)Å; b =

9,827(10)Å; c=1,808(11)Å [3]. A molécula é em forma “zwitterions” e é ligado

por sete pontes de hidrogênio distintas, formando uma rede tri dimensional [6].

A Figura 1.6 mostra uma representação da molécula de L-Asparagina.

Figura 1.6 – Estrutura e molécula de L-Asparagina em perspectiva.

A solubilidade do aminoácidos em agua foi desenvolvido por J.B.Dalton

e C.L.A.Schmidt [4] e é dada pela seguinte equação:

2

111log TcTbaS (1.2)

sendo que T é a temperatura e os parâmetros a1, b1 e c1 para a Asparagina são

0,9289; 2,311x102 e -4,981x105, respectivamente. Nesse trabalho iremos

mostrar somente a solubilidade da L-Asparagina que é do nosso interesse.

Com os dados obtidos pela equação (1.2) construímos o gráfico da

Solubilidade X Temperatura mostrando a curva da solubilidade na Figura 1.7.

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11

0 10 20 30 40 50 60

0

2

4

6

8

10

12

14

10, 1.429

55, 11.2

40,5.937

20, 2.351

So

lub

ilid

ad

e e

m À

gu

a (

g/1

00

ml)

Temperatura (C)

S = 0,9289 + 2,311x102T + (-4,981x10

5)T

Figura 1.7 - Curva da Solubilidade em água da L-Asparagina.

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12

CAPÍTULO 2

2 – CRESCIMENTO DE CRISTAIS POR SOLUÇÃO

2.1 – Cristalização

2.2 – Método de crescimento por solução

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13

2- Crescimento de cristais por solução

Um cristal pode ser definido como um sólido poliédrico limitado por faces

planas que exprimem um arranjo interno ordenado de átomos ou moléculas.

Um cristal perfeito ou ideal é uma repetição regular nas três dimensões de uma

unidade de estrutura denominada cela unitária que, para uma substância

cristalina determinada, em condições de pressão e temperatura especificadas,

tem sempre o mesmo tamanho e contém o mesmo número e espécies de

átomos em um arranjo característico. Na natureza dificilmente encontramos

cristais perfeitos em um ou mais aspectos.

Para se formar um cristal real é necessário obter o equilíbrio entre duas

tendências, como a distribuição ordenada das partículas de maneira a se ter

uma máxima compensação das ligações químicas, e outra, é a tendência de

dissolução dos cristais que estão se formando pela ação do movimento térmico

das partículas dissolvidas na solução ao seu redor. A ordem dessas tendências

dependerá das condições que os cristais estarão crescendo, como composição

química, temperatura, concentração, e o grau de perfeição do cristal também

dependerá das condições do meio.

A física de crescimento de cristais envolve dois mecanismos básicos, que

são nucleação (processo de cristalização) e crescimento (crescimento da fase

sólida). A nucleação designa um conjunto de processos que conduz à

formação de uma nova fase estável dentro de uma fase de origem instável.

Gibbs foi o primeiro a compreender que a formação de pequenos aglomerados

com algum tamanho crítico era um pré-requisito para ocorrer uma

transformação de fase microscópica. Estes aglomerados, denominados

núcleos críticos, tem uma probabilidade de sobreviver e produzir entidades

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14

macroscópicas da nova fase somente em sistemas longe do equilíbrio

(supersaturadas ou super-resfriadas) [5].

O crescimento de um cristal é um processo dinâmico que envolve uma troca

recíproca de átomos, ou moléculas, ou íons entre a fase cristalina e a fase de

origem, e passa por no mínimo dois processos: a difusão das moléculas para a

superfície de crescimento e a sua incorporação na rede cristalina. Na fase do

equilíbrio termodinâmico a troca é zero, então, para que o crescimento ocorra

este equilíbrio deve ser perturbado por uma mudança controlada em uma ou

mais variáveis do processo termodinâmico, como temperatura, pressão,

concentração entre outras. Conseguindo chegar nessa fase de “quase-

equilíbrio” o sistema pode trocar energia com sua vizinhança para compensar a

diminuição da entropia ocasionada pelo ordenamento das unidades de

crescimento no cristal com a liberação do calor de cristalização.

2.1- Cristalização

Como mencionado, a cristalização acontece em dois processos na

nucleação e no crescimento, posterior desenvolvimento do cristal. A nucleação

é o conjunto de processo que conduz à formação de uma fase estável e uma

fase instável, que é denominada “fase mãe”. Nesse trabalho a fase instável

será uma solução do material de L-Asparagina e a fase estável será o sólido

cristalino. E existem dois tipos de nucleação, a nucleação homogênea que já é

uma solução livre da superfície e a nucleação heterogênea que é quando

existe uma superfície e que é a mais comum.

Page 28: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

15

Os núcleos surgem quando há flutuações dos parâmetros

termodinâmicos numa fase mãe, dando origem a pequenos aglomerados de

moléculas, ou átomos, ou íons. Imagina-se que esse processo ocorra em um

nutriente perfeitamente livre de superfícies sólidas e a probabilidade desse

núcleo crescer e tornar-se estável dependerá da mudança na energia livre do

sistema solução-núcleo. O aparecimento de uma nova fase devido à variação

de energia é dado por,

vs GGG (2.1)

sendo, sG representa a variação de energia livre da superfície, que é sempre

positiva. E vG é a variação de energia livre devido ao volume da nova fase,

sempre negativa. Dessa forma, a variação de energia livre de superfície

dependerá somente do raio do núcleo ( r ) e da tensão superficial ( )

2

1)( rrGs (2.2)

sendo que 1 é um fator de correção geométrico. E a variação de energia livre

de volume é dada pela diferença entre os potenciais químicos das fases sólida

e liquida (fase mãe),

nGv (2.3)

em que n é numero de moles do núcleo.

Agora, se considerarmos que o núcleo é esférico teremos que 41 , e

a equação (2.2) ficará:

24)( rrGs (2.4)

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16

E, n que é dado em função de r e do volume molar ( mv ), temos,

mv

rn

3

4 3 (2.5)

É possível demonstrar a variação de energia livre do sistema, substituindo as

eqs. (2.3), (2.4) e (2.5) em (2.1),

32

3

44)( r

vrrG

m

(2.6)

para a nucleação de sólidos em soluções liquidas é dado por:

eC

CRT ln (2.7)

Sendo que R é a constante dos gases, T é temperatura, C é a concentração

atual da solução e eC é a concentração de equilíbrio.

Na figura 2.1, mostra a variação da energia livre total em função do

tamanho do núcleo, e a variação de energia livre de superfície e a variação de

energia livre de volume.

Figura 2.1 - Variação da energia livre total em função do tamanho do núcleo.

Page 30: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

17

A figura mostra que a variação de energia livre tem o ponto máximo para

crr , raio crítico e equivalente ao volume crítico. Assim o núcleo se tornará

estável e se desenvolverá formando um cristal. Já abaixo desse ponto, é

provável que ocorra a dissolução do núcleo. Para calcular o ponto máximo é

preciso derivar a equação (2.6) e iguala-la à zero, determinando o raio crítico.

RT

vr mc

2 (2.8)

e

e

C

CC → supersaturação relativa (2.9)

Portando, substituindo a eq. (2.8) em (2.6) encontramos o valor máximo

de G , que é definida de energia de ativação do processo de crescimento do

núcleo.

222

3

3

16)(

TR

vrG mc (2.10)

Observa-se que na eq. (2.10), o tamanho do núcleo e a energia de ativação é

inversamente proporcional à supersaturação, com isso, quanto maior a

supersaturação menor será a energia de ativação do sistema, favorecendo o

aparecimento de núcleos.

Na nucleação heterogênea, que acontece na maioria dos casos, é

quando a formação de uma nova fase ocorre em condições de laboratório e

acaba tendo a presença de superfícies sólidas na solução (impurezas, parede

do cristalizador, suporte para a semente e outras). Nessas condições a energia

de ativação da nucleação heterogênea será menor que na nucleação

homogênea [6].

Page 31: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

18

Se considerarmos a superfície como sendo plana e o núcleo como um

segmento de uma esfera, formando um ângulo de contato θ com a superfície,

analogamente ao sistema de nucleação homogênea, a variação da energia

livre de formação de um núcleo em sistemas heterogêneos é dada por:

cos2cos13

sencos122

3222

m

SLSNNLhetv

rrrG

(2.11)

sendo que N é o núcleo, L é o líquido e S é o substrato.

De acordo com a eq. (2.11), podemos encontrar o ponto de máximo e o

raio do núcleo crítico,

RT

vr mc

2 (2.12)

que é idêntico a eq. (2.8) do núcleo crítico para sistemas homogêneos. E, da

mesma forma a variação da energia livre do sistema heterogêneo é:

4

cos2cos1

3

162

222

3

TR

vrG mchet

(2.13)

Comparando as eqs. (2.10) e (2.13) temos que,

fGGhet hom (2.14)

f é chamada de função de molhamento e 10 f .

A Tabela 2.1 mostra a relação entre hetG e homG dependente da

afinidade entre a superfície e o núcleo.

.

Tabela 2.1 – Relação entre ∆Ghet e ∆Ghom dependente da afinidade da superfície e o núcleo.

Afinidade Ângulo f Relação hetG →

Page 32: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

19

homG

Nenhuma 180º 1 hetG = homG

Parcial 0º<θ<180º 0< f

<1

hetG < homG

Total 0º 0 hetG =0

Para o nosso caso usaremos sementes do próprio material que será

crescido, portanto a semente e o nutriente da solução têm afinidade total e não

será preciso trabalho para acontecer à nucleação. Mas para um cristal crescer

é necessário que:

Os átomos ou moléculas sejam transportados até a interface cristal-líquido;

Os átomos ou moléculas transportados devem ter probabilidade não nula de

aderirem à interface;

Por algum processo o calor latente e o excesso de componentes segregados

devem ser levados para longe da interface.

O processo de cristalização por solução envolve simultaneamente o

transporte de massa e calor entre a superfície do cristal e o nutriente

circunvizinho. Experimentalmente, os métodos de crescimento de cristal a partir

de solução são baseados na dependência da solubilidade de uma substância

com os parâmetros termodinâmicos, como temperatura, pressão e

concentração [2,3]. O processo que estamos tratando é de uma solução

composta de um soluto, o nutriente, e um solvente, a água, e nesse caso o

transporte de massa é feito por difusão. Assim, o transporte de material se dá

Page 33: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

20

por difusão, com a adesão dos nutrientes na superfície do cristal e pelo

transporte do material segregado e calor por convecção [7].

Nernst e Bruner em 1994 propôs que difusão do nutriente da solução se

dá por um filme estagnante presente na superfície do cristal, desde variação da

concentração de equilíbrio da solução ( C ) até a concentração na interface do

cristal ( iC ) [7].

No modelo, a variação da concentração é linear e a espessura do filme é

δ*. Observando a figura 2.2, vimos que C deve ser maior que 1C , caso

contrario o cristal não cresceria. E, é esta diferença de concentração que causa

um fluxo de material da solução para o cristal por difusão. Logo, é o fluxo

difusivo que irá governar a velocidade de crescimento do cristal [6].

Figura 2.2 – Concentração da solução variando com a distância à superfície do cristal. δ* é a espessura do filme estagnante.

2.2- Métodos de crescimento por solução

Um fator importante no crescimento de cristal por solução é a

solubilidade do soluto no solvente, sendo que, um grande número de

substâncias tem o coeficiente de temperatura da solubilidade positivo

Page 34: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

21

concluindo que a solubilidade aumenta quando a temperatura também

aumenta. E esse é um comportamento do material tratado nesse trabalho.

Assim mostraremos na Figura 2.3 uma típica curva da solubilidade.

Figura 2.3 – Curva da solubilidade típica de um material com o coeficiente de temperatura da solubilidade positivo.

A curva da solubilidade mostrada na Figura 2.3, é dividida em uma região

saturada e uma região supersaturada. Na curva da saturação temos uma

solução saturada com as fases sólida e líquida podendo fica em equilíbrio por

um tempo indeterminado. Já na região não saturada só existe a fase líquida e

se fosse colocada uma fase sólida nessa região, ela se dissolveria, pois existe

uma carência de material nesta região.

A região de supersaturação é onde ocorre à cristalização e se divide em

instável e metaestável, onde é nesta região que é possível crescer

monocristais de boa qualidade óptica. A linha pontilhada é chamada de curva

de supersaturação, ponto que limita a região metaestável. Miers define o limite

entre as duas regiões como a concentração máxima em que a cristalização em

larga escala de uma solução se inicia [6].

Page 35: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

22

Então, manter a solução na região metaestável pode-se crescer

monocristais bem sucedidos, variando somente a concentração ou a

temperatura da solução. Para esse trabalho dois métodos mais relevante para

o crescimento dos cristais por solução a baixa temperatura:

1. Método de evaporação lenta do solvente – aqui a concentração é mantida pela

retirada do solvente da solução por evaporação. Este método é mais simples

de ser empregado e é usado para a obtenção de sementes por cristalização

espontânea. Este foi o método utilizado no presente trabalho.

2. Método de variação lenta de temperatura – outra maneira de manter a

concentração variando a temperatura, normalmente diminuindo, À medida que

a solução esfria, a supersaturação se dá a uma concentração menor. Pode-se

então mantê-la sempre supersaturada, este método necessita de um controle

mais eficiente da temperatura, o que dificulta um pouco o seu uso.

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23

CAPÍTULO 3

3 – PROPAGAÇÃO DE ONDA ELETROMAGNÉTICA EM UM MEIO

ANISOTRÓPICO

3.1 – Tensores Dielétricos

3.2 – Elipsoides de Índice

3.3 – Propagação de um Onda Plana em um Meio Anisotrópico

3.4 – Superfície Normal

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24

3- Propagação de onda eletromagnética em um meio anisotrópico

Existem muitos materiais cujas propriedades ópticas dependem da direção

de propagação, bem como a polarização das ondas de luz. Esses materiais

opticamente anisotrópicos incluem cristais como calcita, quartzo, e KDP, e bem

como cristais líquidos. Neste capítulo explica como se propaga uma onda

eletromagnética em meio no qual as propriedades ópticas variam com a

direção de propagação, em um meio anisotrópico.

3.1- Tensores dielétricos

Para o meio isotrópico temos que a susceptibilidade é independente da

direção ao qual o campo é aplicado e a polarização induzida é sempre paralela

à força elétrica,

0eP (3.1)

sendo e é a susceptibilidade elétrica e 0 é a permeabilidade do vácuo. Mas

para o meio anisotrópico isso não é verdade, sendo que o cristal é formado por

matriz periódica de átomos, ou moléculas, com certa simetria, podemos

esperar que a polarização induzida dependa tanto da sua magnitude, quanto

da sua direção, na direção do campo aplicado. Assim a suscetibilidade torna-se

um tensor de terceira ordem.

0ˆ eP (3.2)

Fazendo a eq.(3.2) para os planos x, y e z, temos:

Page 38: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

25

)(

)(

)(

3332310

2322210

1312110

zyxz

zyxy

zyxx

P

P

P

(3.3)

Figura 3.1 mostra um esquema para a polarização em meio isotrópico e para

um meio anisotrópico.

Figura 3.1 – Polarização do meio devido a um campo aplicado, (a) material isotrópico. (b) material anisotrópico.

Desta forma, cada componente do vetor polarização P passa a depender

linearmente das três componentes do vetor campo elétrico. Temos assim um

tensor com nove termos, mas para simplificar a matriz podemos escolher os

eixos ortogonais, e sendo assim eixos que não estiverem na diagonal serão

nulos, e as direções desses eixos ortogonais são chamados de eixos

dielétricos principais dos cristais. Assim a eq.(3.3) fica dessa forma:

zz

yy

xx

P

P

P

330

220

110

(3.4)

De acordo com a eq.(3.3) obtivemos o vetor deslocamento elétrico D e

esse vetor depende de E e P, assim temos,

PD 0 (3.5)

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26

Substituindo a eq.(3.2) em (3.5) e o tensor dielétrico dado por, 0)1(ˆ e .

Temos que:

3

1

ˆ

j

jijiD

D

(3.6)

Dessa forma, definindo o vetor dielétrico que depende do campo elétrico E e do

tensor dielétricos para os eixos x, y e z temos que,

zyxz

zyxy

zyxx

D

D

D

333231

232221

131211

(3.7)

Como vemos, para um meio anisotrópico a relação entre D e E envolve

nove escalares, ji . Mas se considerarmos que o meio anisotrópico seja

homogêneo, não absorvedor e magneticamente isotrópico, temos somente seis

termos independentes para o tensor dielétrico simétrico e essa simetria do

tensor poderá ser demostrada através da densidade de energia elétrica

correspondente ao campo elétrico de uma onda eletromagnética. Então temos:

jiij (3.8)

3.2- Elipsoides de índice

Da mesma forma que a polarização varia de direção em um material

anisotrópico, temos que o índice de refração varia com a direção de

propagação definindo como um tensor:

0

2

ij

ijn (3.9)

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27

Se considerarmos um meio anisotrópico, homogêneo, não absorvedor e não

magnético teremos a expressão para a densidade de energia elétrica como:

ij ij

jiijjijie EEnEEDEU 20

22

1

2

1

(3.10)

sendo D

o vetor deslocamento elétrico, que se relaciona com a polarização e

o campo elétrico, usando os eixos dielétricos principais da eq.(3.7) e

considerando que,

i

ijiij nn (3.11)

Podemos substituir na eq. (3.10) resultando em:

)(2 222222

0

zzyyxxe EnEnEn

U

(3.12)

Lembrando que 0

2 ijij n , e aplicando a eq.(3.6) na (3.12) obtivemos:

e

z

z

y

y

x

x Un

D

n

D

n

D02

2

2

2

2

2

2 (3.13)

Para resolvermos a eq.(3.13) temos que tomar os pontos das setas dos vetores

D propagando em todas as direções e com origem em uma região do espaço, e

tomando que Ue em uma superfície seja constante para todas as direções de

propagação e para cada ponto descrito pelo vetor D contido no vetor posição

eoUDr 2/

, assim temos a eq.(3.13) resolvida.

12

2

2

2

2

2

zyx n

z

n

y

n

x (3.14)

Esta equação é de um elipsoide, que tem como eixos principais os índices de

refração do material nas direções dos eixos dielétricos principais, cujo, os eixos

principais correspondem aos índices de refração xn , yn e zn . Esse elipsoide é

conhecido como elipsoide de índices ou indicatriz óptica que é representado na

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28

Figura 3.2. O conhecimento dos índices de refração é importante porque

determina como uma onda eletromagnética se propaga no meio [1].

Figura 3.2 – Elipsoide de índices ou indicatriz óptica de um cristal anisotrópico.

Em cristais isotrópicos, os índices de refração nos três eixos principais

são iguais e o elipsoide se reduz a uma esfera. Já para cristais anisotrópicos,

existem duas possibilidades:

1º caso: zyx nnn

2º caso: zyx nnn

No primeiro caso, a seção transversal no plano xy é um circulo e os cristais que

têm esse comportamento são chamados uniaxiais. No segundo caso, a seção

transversal no plano xy é uma elipse e os cristais desse grupo são chamados

de biaxiais.

Os cristais anisotrópicos podem ainda ser classificados pelos valores

relativos entre os índices de refração nos eixos principais. Assim, os cristais

uniaxiais e biaxiais se subdividem em positivo e negativo.

Cristal Uniaxial Positivo : yxz nnn ;

Cristal Uniaxial Negativo: yxz nnn , xn e yn (ordinários, on ).

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29

Para cristais biaxiais, convencionou-se que o menor dos três índices

seria o xn , o intermediário yn e o maior zn .

Cristais Biaxiais Positivo: yn aproxima -se mais de xn .

Cristais Biaxiais Negativo: yn aproxima-se mais de zn .

O eixo óptico é a direção onde todas as ondas com o mesmo comprimento

de onda, têm a mesma velocidade, independente da sua polarização, ou seja,

a seção formada por um plano perpendicular ao eixo óptico, que passa pela

origem do sistema de referência e o elipsoide de índices, é circular e tem raio

igual à en [6]. Os cristais uniaxiais neste trabalho não tem tanto importância,

pois o cristal aqui trabalhado é um cristal biaxial. Sendo assim o cristal biaxial é

composto por dois eixos ópticos contidos no plano xz e entre seus eixos óptico

é formado um ângulo chamado de 2V, sendo que para cristal biaxial positivo a

bissetriz do ângulo 2V passa pelo eixo z e o cristal biaxial negativo pelo eixo x,

como mostrado na Figura 3.3.

Figura 3.3 – Elipsóide de índices para cristais biaxiais [1].

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30

3.3- Propagação de uma onda plana em um meio anisotrópico

Em um meio anisotrópico tal como um cristal, a velocidade de fase da

luz depende do seu estado de polarização, bem como sua direção de

propagação. Por causa da anisotropia, o estado de polarização de uma onda

plana pode variar, uma vez que se propagam através do cristal, assim a

velocidade da luz dependerá tanto da polarização da onda plana quanto da

direção de propagação [6]. Portanto, dada uma direção de propagação no

meio, existem, em geral, duas soluções bem definidas de polarização e

velocidade de fase da onda.

Considerando o meio sem cargas livres, ρ = 0, e sem corrente, J = 0, os

campos elétricos e magnéticos são descritos dessa forma:

)(

0

trkieEE (3.15)

)(

0

trkieHH

Resolvendo para o plano x,y e z temos,

kEjEiEE zyxˆˆˆ

0 (3.16)

zHjHiHH zyxˆˆˆ

0

sendo,

snknsc

k 0

(3.17)

e n é o índice de refração efetivo, corresponde á uma dada polarização real do

campo elétrico. Das equações de Maxwell temos as relações:

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31

t

BE

(3.18)

t

DH

Usando as expressões dos campos dadas pelas eqs. (3.15) em (3.18)

obtemos:

HEk

(3.19)

EHk

onde 0 é um escalar em meios não magnéticos. Fazendo o produto

vetorial da primeira eq. (3.19) por k

e eliminando H

temos:

HkEkk

(3.20)

02 EEkk

E usando o tensor 2n

, definido pela eq.(3.9), juntamente com a eq.(3.17),

encontramos:

0)ˆˆ( 22 EnEssn

(3.21)

Usando a identidade vetorial: )()()( BACCABCBA

, obtemos:

sEsEEsssEsEss ˆ)ˆ()ˆˆ(ˆ)ˆˆ(ˆˆ

(3.22)

Assim, a eq.(3.21) fica na forma: 0ˆ)ˆ( 22 EnEsEsn

, ou explicitamente

para componente i:

022

j

j

ijii

j

jj EnEsEsn (3.23)

Escrevendo esta equação num sistema de eixos dielétricos principais, onde a

eq.(3.11) é válida, temos:

j

jijjiij Essnn 022 (3.24)

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32

Esta equação pode ser considerada como uma equação de autovalores.

Sua solução leva aos valores de 2n e às componentes jE para cada valor de

2n , fornecendo dois pares, campo propagante e índice de refração, para uma

dada direção de propagação s . O sistema formado por esta equação tem três

equações homogêneas, que só tem solução não trivial se o seu determinante

for igual à zero, ou seja:

0

)1(

)1(

)1(

22222

22222

22222

zzzyzxz

zyyyyxy

zxyxxxx

snnssnssn

ssnsnnssn

ssnssnsnn

(3.25)

O determinante da eq.(3.25) tem quatro raízes de valores n , essa

equação é conhecida como equação biquadrada e é complicada de se

resolver, então para uma solução mais simples consideraremos somente as

raízes positivas e sabendo que por definição n é positivo. Também,

consideraremos como sistema de referencia os eixos dielétricos principais, que

diagonalizam o tensor 2n

, dessa forma usando novamente a eq.(3.9), temos:

024 CBnAn (3.26)

onde:

222222

zzyyxx snsnsnA

222222222 )1()1()1( yxzzxyzyx nnsnnsnnsB (3.27)

222

zyx nnnC

Resolvendo a eq.(3.26) encontramos os dois valores possíveis para n .

Para obter as componentes do campo elétrico, referentes a cada valor de n ,

basta substitui-lo na eq.(3.24).

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33

3.4- Superfície normal

Usando as eq. (3.17) e (3.22) podemos escrever a segunda eq.(3.20) na

seguinte forma:

022

22

22

z

y

x

yxzyzxz

zyzxyxy

zxyxzyx

E

E

E

kkkkkk

kkkkkk

kkkkkk

(3.28)

Para que esse sistema tenha solução não trivial, seu determinante tem que ser

igual a zero. Assim:

022

22

22

yxzyzxz

zyzxyxy

zxyxzyx

kkkkkk

kkkkkk

kkkkkk

(3.29)

A equação acima pode ser representada por uma superfície

tridimensional no espaço k ’s, conhecida como superfície normal que é

composta de duas camadas que se sobrepõem em quatro pontos para os

cristais biaxiais. As restas que ligam dois pontos, diametralmente opostos,

coincidem com os eixos ópticos do cristal. Para cada direção de propagação

existem dois valores para k que são soluções de eq.(3.29), uma para o raio

ordinário e outra para o extraordinário, sendo que nas direções dos eixos

ópticos, as duas soluções coincidem. Estes valores são dados pela interseção

da direção de propagação com a superfície. A visualização da superfície

normal é um pouco difícil, por esse motivo é mais comum usar suas curvas de

nível. Vamos verificar alguns casos particulares dessas curvas de nível.

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34

Para o caso em que o plano kxky , temos uma onda propagando numa

direção paralela ao plano kxky, logo, kz = 0. Assim a eq.(3.29) é simplificada.

0

00

0

0

22

22

22

yxz

zxyxy

yxzyx

kk

kkkk

kkkk

(3.30)

ou,

0222222 yxxyyxyxz kkkkkk (3.31)

Para que esta equação seja satisfeita, um dos termos, ou ambos, deve ser

igual à zero. Fazendo o primeiro termo nulo, teremos:

0222 yxz kk

2

222

cnkk zzyx

(3.32)

Esta equação é de uma circunferência de raio igual a c

nz

no plano xy.

Agora, fazemos o segundo termo da eq.(3.31) igual à zero, temos:

02222 yxxyyx kkkk

12

2

2

2

2

2

2

2

cn

k

cn

kkk

x

y

y

x

x

y

y

x

(3.33)

Esta é a equação de uma elipse com os eixos principais dados pelos

denominadores da eq.(3.32). E, dessa mesma forma repetimos o procedimento

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35

para encontrar as curvas de nível nos planos kxkz (ky=0) e para o plano kykz

(kx=0).

A Figura 3.4 mostra a representação das curvas de nível nos planos

citado acima.

Figura 3.4 – Representação da curva de nível da superfície normal no três plano: (a)plano kz=0, (b)plano óptico ky=0 e (c)plano kx=0.

Como podemos observar na Figura 3.4, no plano kxkz é o plano que

mostra o plano óptico por isso esse plano é conhecido como o plano óptico.

Após visualizar as curvas nos planos principais, agora podemos compreender

melhor as curvas em três dimensões representadas pela Figura 3.5.

Figura 3.5 – Curva normal para cristais biaxiais[6].

Page 49: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

36

Se usarmos a eq. (3.17) que nos dá a relação entre k e o índice de

refração da onda propagando na direção k

, podemos reescrever a eq. (3.29)

dessa forma,

ckn x

x

ckn

y

y (3.34)

ckn z

z

A Figura 3.6 mostra as curvas de nível em termos dos índices de

refração, usando as equações acima, que é da curva de nível da superfície

normal. Já a Figura 3.7 mostra a forma das curvas de nível pela definição de

outra superfície sendo que as distâncias entre a origem e as curvas são

proporcionais às velocidades dos raios propagando em uma dada direção, e,

essa superfície é denominada de superfície de velocidade de raio.

Figura 3.6 – Curvas de nível da superfície normal de um cristal biaxial.

Page 50: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

37

Figura 3.7 – Curvas de nível da superfície de velocidade de raios para cristais biaxiais.

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38

CAPÍTULO 4

4 – FENÔMENOS ÓPTICOS NÃO LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

4.1 – Polarização Não Linear

4.2 – Susceptibilidade Não Linear

4.3 – Casamento de Fase (Phase-Matching) para GSH

4.3.1 – Casamento de Fase em Cristais Uniaxiais

4.3.2 – Casamento de Fase em Cristais Biaxiais

Page 52: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

39

4- Fenômenos ópticos não lineares de segunda ordem

A óptica não linear é o estudo da interação da luz com a matéria, em que

suas propriedades ópticas são modificadas pela presença da luz tais

fenômenos só são observados na presença de campos intensos. Somente no

inicio da década de 60, os processos ópticos não lineares foram observados

experimentalmente a partir do desenvolvimento dos primeiros lasers.

A Figura 4.1 mostra o experimento feito por Franken et al. que marcou o

inicio da óptica não linear [8]. Eles observaram a geração do segundo

harmônico, conversão da radiação incidente noutra com o dobro da frequência

original, em um cristal de quartzo usando um laser de rubi, este experimento é

considerado como o marco inicial dos estudos de óptica não linear.

Figura 4.1 – Experimento de geração de segundo harmônico em um cristal

de quartzo feito por Franken et al.[8].

4.1 Polarização não linear

Para obtermos a resposta do meio ao campo aplicado, calcula-se a

polarização com a presença de um campo elétrico. Para o caso linear temos,

Page 53: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

40

EP 10 , mas para o caso não linear aproximamos a resposta expandindo a

polarização em série de potência do campo elétrico [10].

...)()()()(

...))()()(()(

321

3

3

2

210

tPtPtPtP

tEtEtEtP (4.1)

Sendo que 1 é o tensor susceptibilidade linear e q ,..., 32 são os tensores

que definem o grau de não linearidade da resposta do meio ao campo e são

caracterizados pelas propriedades de simetria do meio. Cada um desses

termos está associado a uma classe de processos, que são os processos de

segunda ordem, que é o caso do segundo termo do lado direito da eq. (4.1),

dependente do quadrado da amplitude do campo elétrico. E, o de terceira

ordem que tem dependência cúbica com a amplitude do campo elétrico e assim

sucessivamente.

A Geração de Segundo Harmônico (GSH) é um processo não linear de

segunda ordem e se assemelha ao processo de soma e subtração de

frequências, envolvendo a interação de três ondas, duas com frequência ω e

uma com frequência 2ω. Esse processo consiste em irradiar um material com

uma luz laser de determinado comprimento de onda λ e dela extraírem uma

radiação com comprimento de onda que será a metade da onda de entrada λ/2

[9]. Nesse trabalho veremos com mais detalhes apenas a GSH para os cristais

de L-asparagina pura e L-asparagina irradiada.

Resolvendo a eq.(4.1) para o meio dielétrico e sem cargas é necessário

às equações de Maxwell.

Page 54: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

41

0

0

B

E

t

DH

t

BE

(4.2)

E por consequência das eq.(4.2) para o meio dielétrico, temos:

PED 0 (4.3)

Assim, usando a eq.(4.1) é possível determinar a equação de onda para o meio

não linear,

2

2

2

2

2

22

2

2

2

22

t

P

t

E

c

nE

t

P

t

EE

NL

NL

(4.4)

Calculando para NLP , temos:

...)( 4

4

3

3

2

20 EEEPNL (4.5)

O termo NLP da eq.(4.4) funciona como fonte de radiação, haja vista que toda

vez que ele não é nulo, cargas são aceleradas gerando radiação

eletromagnética. É fácil ver que quando NLP , é nula, a eq.(4.4) se reduz à

equação de onda para o meio linear [6].

4.2- Suscetibilidade não linear

A susceptibilidade é a responsável pelas propriedades lineares de refração

e absorção. E o cálculo dessas propriedades é feito em meio utilizando o

modelo oscilador harmônico amortecido, que descreve o movimento de um

elétron ligado ao núcleo atômico, e assim podemos calcular o deslocamento do

Page 55: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

42

elétron aplicado em um campo eletromagnético, que é utilizado para calcular a

polarização induzida no meio e usando este modelo podemos encontrar as

susceptibilidades de ordens superiores. O resultado obtido com o modelo do

oscilador harmônico amortecido mostra que a susceptibilidade não depende da

intensidade da luz [1]. Porém, no presente trabalho só abordaremos as

propriedades até a segunda ordem.

Consideraremos que os átomos só tenham uma frequência de ressonância

ω0. Essa é uma boa aproximação quando a frequência da radiação incidente é

menor que a frequência de ressonância do material. Também limitaremos a

materiais não centro simétrico, visto que cristais que apresentam centro de

inversão não apresentam processos de segunda ordem [6,10].

Assim, será necessário adicionar termos não harmônicos para deduzir a

expressão clássica para a susceptibilidade não linear. Temos o potencial

nesses materiais,

322

0 max3

1

2

1 xmU (4.6)

sendo que o primeiro termo é o potencial harmônico e o segundo é o termo

anarmônico.

Page 56: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

43

Figura 4.2 – Potencial de um meio não centro simétrico.

A equação de movimento de um elétron, neste potencial, devido a um

campo elétrico polarizado na direção x, é dada por:

m

teEaxx

dt

dx

dt

xd )(2 22

02

2

(4.7)

onde,

rarestaurado forçamax

atenuação de força2

elétron do carga

22

0 xm

dt

dxm

e

Quando o parâmetro que define a não linearidade é nulo, a equação do

movimento se reduz ao caso de um oscilador harmônico amortecido.

Para considerarmos o caso mais geral, suponhamos que o átomo está

sujeito a duas ondas de frequências diferentes, de forma que:

..)( 21

21 cceEeEtEtiti

(4.8)

sendo que c.c. é o complexo conjugado. Para facilitar a solução, consideramos

o termo não harmônico da eq.(4.7) suficientemente pequeno para que

Page 57: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

44

possamos tratar como uma perturbação, usando a teoria das perturbações.

Desta forma a eq.(4.7) fica na forma:

m

teEaxx

dt

dx

dt

xd )(2 22

02

2

(4.9)

onde λ é o parâmetro da perturbação e podemos escrever as soluções para a

equação de movimento como uma soma de soluções particulares,

sucessivamente aproximadas:

...3

3

2

2

1 xxxx (4.10)

Cada termo proporcional a λ, λ2, etc, deverá satisfazer a solução da

eq.(4.9) separadamente. Logo,

0][2

)(2

2

12

2

02

2

2

2

1

2

01

2

1

2

xaxdt

dx

dt

xd

m

teEx

dt

dx

dt

xd

(4.11)

A solução da primeira eq.(4.11) fica:

..)()()( 21

21111 ccexextxtiti

(4.12)

sendo que as amplitudes x1(ω1) são dadas por:

jj

j

ji

E

m

ex

2)(

22

0

1

(4.13)

Com isso podemos escrever a polarização de primeira ordem como:

i

meN

P2

)(

22

0

2

(4.14)

Substituindo a eq.(4.13) na eq.(4.12) e elevando ao quadrado, termos

com frequências 2ω1, 2ω2, (ω1+ω2), (ω1 –ω2) e 0. Logo, a solução para

a perturbação de segunda ordem, da eq.(4.9) terá termos que oscilam nessas

Page 58: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

45

frequências. Resolvendo cada um desses termos separadamente

encontraremos as seguintes amplitudes x2(ωj) [6],

)()2(

)()2(

2,1

2

2,1

2

2,1

2

2,12

DD

Em

eax (4.15a)

)()()(

)()(

2121

21

2

212

DDD

EEm

eax

(4.15b)

)()()(

)()(

2121

21

2

212

DDD

EEm

eax (4.15c)

)()()0(

)(2

)()()0(

)(2)0(

22

22

2

11

11

2

2

DDD

EEm

ea

DDD

EEm

eax (4.15d)

onde o termo em ω1+ω2 é responsável pela geração da soma de frequências,

ω1-ω2 pela diferença das frequências, 2ω1 e 2ω2 pela geração de harmônicos e

0 pela retificação óptica, que é a criação de um campo DC no material.

Definimos,

jjj iD 2)( 22

0 (4.16)

Através de sucessivas interações é possível obtermos não linearidades

de ordens superiores. Usando a expressão ENexP ~0 , podemos

encontrar a susceptibilidade de ordens superiores. Assim definimos a

polarização oscilando na frequência 2ω, como:

2

20 ),,2()2( EP (4.17)

)2()2( 2 NexP (4.18)

A eq.(4.18) é a densidade de dipolos e N é a densidade de átomos. Se

igualarmos as eq.(4.17) e (4.18) e usarmos a eq.(4.15a) encontramos:

)()2(

)(),,2(

2

0

2

3

2

DD

am

eN (4.19a)

Page 59: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

46

Da mesma forma calculamos para os termos das eq.(4.15), encontrando as

expressões para as susceptibilidades de segunda ordem em outras

frequências, temos:

)()()(

)(),,(

21210

2

3

21212

DDD

am

eN

(4.19b)

)()()(

)(),,(

21210

2

3

21212

DDD

am

eN (4.19c)

)()()0(

)(),,0(

110

2

3

112

DDD

am

eN (4.19d)

Na Figura 4.3 apresentamos o diagrama de nível para cada um dos

efeitos de segunda ordem. É importante ressaltar que os níveis representados

são virtuais e não reais.

Figura 4.3 – Diagramas dos níveis de energia para os efeitos de segunda

ordem: (a) Geração de Segundo Harmônico; (b) Geração de Soma de

Frequencia; (c) Geração de Diferença de Frequência; (d) Retificação Óptica.

4.3- Casamento de fase (Phase-Matching) para GSH

Page 60: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

47

Como os termos não lineares da polarização são muito menores que o

termo linear, da ordem de 10-7 para o termo de segunda ordem, os fenômenos

não lineares só são observados quando a luz que se propaga por um cristal é

suficientemente intensa, e a condição de casamento de fase é satisfeita [6].

Um pré-requisito para uma eficiente geração do segundo harmônico é

quando ∆k=0, ou, usando ω3=2ω, ω2=ω. Mas se ∆k≠0, o segundo harmônico

gerado em algum plano, terá propagado para algum outro plano (z2), e não

estará em fase com o segundo harmônico gerado em z2. Dessa forma para a

geração de soma de frequência, a condição de casamento de fase é dada por:

213 kkk (4.20)

onde os vetores k1,2 são os vetores de onda incidentes e k3 é o vetor de onda

da luz gerada pelo processo. Sendo que o modulo dos vetores ii

i nc

k

e as

três ondas são colineares, assim a eq.(4.20) fica:

221133 nnn (4.21)

assim para a geração de segundo harmônico, ω1=ω2, temos que o casamento

de fase é satisfeita para

nn

nn

2

2 22 (4.22)

Essa condição de casamento de fase para geração do segundo harmônico é

somente para cristal anisotrópico que apresentam birrefringência, pois devido à

dispersão normal e por nω<n2ω o cristal isotrópico não satisfaz essa condição.

Temos dois processos de casamento de fase classificados como tipo I e

tipo II. O casamento de fase tipo I as duas ondas do fundamental tem a mesma

polarização e o harmônico gerado tem polarização perpendicular ao da onda

Page 61: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

48

fundamental. Já o casamento de fase tipo II, as ondas do fundamental que se

misturam tem polarização ortogonal enquanto o harmônico gerado tem a

polarização paralela a uma delas, dependendo do tipo de interação que ocorre

[9].

4.3.1- Casamento de fase em cristais uniaxiais

Para cristal uniaxial a superfície de velocidade de raio tem duas

camadas, uma esfera onde um índice de refração no é referente à onda

ordinária que a polarização é perpendicular ao eixo óptico, e a outra um

elipsoide onde o índice de refração ne(θ) é referente a onda extraordinária. A

equação para o índice de refração extraordinária ne(θ) depende da direção de

propagação como:

21

22

e

22

0

e0e

)cosnsen(n

nn)(n

(4.23)

θ é o ângulo polar com relação ao eixo z.

A condição de casamento de fase desenvolvida na eq.(4.22) é satisfeita

as direções onde as superfícies normais da onda fundamental, na frequência

ω, e da onda gerada na frequência 2ω se interceptam, ou nas direções onde a

superfície normal da onda fundamental e a superfície (n0ω+neω)/2 se cortam. A

interseção dessas superfícies se dá em dias curvas simétricas em torno do eixo

óptico, eixo z, e formam dois cones com ângulo θm(I) e θm(II). E pode se

observar na figura abaixo que o ângulo de casamento de fase tipo II é sempre

maior que para o tipo I.

Page 62: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

49

Figura 4.4 – As direções de casamento de fase em cristais uniaxiais formam dois cones, sendo que o ângulo de tipo I é menos do que o tipo II. A figura

menor é a representação de Wulff no plano zy [18].

No cristal uniaxial positivo, o primeiro conjunto de direções tem a forma

de um cone com ângulo de abertura θm(I) que é a direção de casamento de

fase tipo I em torno do eixo óptico e ocorre com a interação de duas ondas

extraordinárias na frequência ω, gerando um onda ordinária na frequência 2ω.

O segundo conjunto de direções, também tem a forma de um cone com ângulo

de abertura θm(II) que é o casamento de fase tipo II e ocorre com a interação

de uma onda ordinária e outra extraordinária na frequência ω, gerando uma

onda ordinária na frequência 2ω. No cristal uniaxial negativo é observado de

forma semelhante. A tabela 4.1 mostra as equações das curvas de casamento

de fase dos dois tipos para os cristais uniaxiais positivos e negativos.

Tabela 4.1 – Condições de casamento de fase para cristais uniaxiais.

Cristais Uniaxiais Tipo I Tipo II

Page 63: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

50

Positivo e02 nn

]n)(n[2

1n 0e02

Negativo 0e2 nn

]n)(n[2

1n 0ee2

O locus Φ(θ) é independente do ângulo azimutal Φ e pode ser

encontrado através das equações da tabela 4.1.

Desta forma quando duas ondas na frequência fundamental, com a

mesma polarização, interagem para gerar uma onda na frequência harmônica,

temos o casamento de fase tipo I. e quando interagem ondas com polarizações

ortogonais, o casamento de fase é tipo II [6].

4.3.2- Casamento de fase em cristais biaxiais

Da mesma forma que foi feito para o cristal uniaxial, podemos encontrar as

direções de casamento de fase para um cristal biaxial através da interseção de

velocidades de raios da onda fundamental e do segundo harmônico. As

superfícies de velocidades são obtidas a partir da indicatriz do cristal e que são

as duas soluções da equação abaixo, então uma vez que a velocidade de

propagação é proporcional ao inverso do índice de refração temos:

0nn

cos

nn

sensen

nn

cossen2-

z

2-

2

2-

y

2-

22

2-

x

2-

22

(4.24)

em que nx, ny e nz são índices de refração principais do elipsoide de índices

para determinado comprimento de onda, e, θ e Φ são os ângulos polares com

relação aos eixos z e x, respectivamente. Para determinar o índice de refração

Page 64: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

51

maior os termos ordinários e extraordinários estão no sentido de designar a

onda lenta, já o índice de refração menor para a onda rápida.

Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial [9].

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52

CAPÍTULO 5

5 – RESULTADOS

5.1 – Amostras

5.1.1 – L-Asparagina pura

5.1.2 – L-Asparagina irradiada

5.1.3 – Método de abaixamento lento da temperatura

5.2 – Análise térmica

5.3 – Análise estrutural

5.4 – Absorção óptica

5.5 – Espectroscopia Raman

5.6 – Eficiência de geração do segundo harmônico

5.7 – Tratamento térmico

Page 66: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

53

5- Resultados

Neste capitulo apresentaremos os resultados do trabalho proposto,

explicando como foi preparado as amostras e a análise das amostras. Foram

feitas medidas de análise térmica (DSC e DTA/TG), análise estrutural (DRX),

absorção óptica, espectroscopia Raman e por último a eficiência da geração do

segundo harmônico, comparando os resultados das medidas entre o cristal de

L-Asparagina pura e o irradiado, e a medida de eficiência de GSH foi

comparado com a amostra de KDP.

5.1- Amostras

5.1.1- L-Asparagina pura

Neste tópico mostraremos os resultados experimentais para o crescimento

de cristais de L-ASN (L-Asparagina). As sementes de L-ASN foram crescidas

pelo método de evaporação lenta do solvente, em uma solução aquosa a

temperatura ambiente. E somente com esse método conseguimos crescer

cristais com boa dimensão e qualidade óptica, apesar de ser um método

demorado e existir contratempos por não termos o controle da quantidade do

solvente evaporado e da temperatura.

O primeiro passo para o crescimento de cristais de boa qualidade e volume

é a partir de boas sementes [6]. Escolhida as melhores sementes, o ideal são

sementes pequenas e livres de defeitos. Então foram penduradas de forma

livre presa a um fio em uma solução aquosa que foi preparada no dia anterior

Page 67: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

54

para que a solução fique em equilíbrio térmico e os cristais foram crescidos

pelo método de evaporação lenta a temperatura ambiente, 20º C.

Nas primeiras tentativas as sementes diluíram, pois ainda não sabíamos a

quantidade da preparação exata da solução para o bom crescimento. Após

essas tentativas mal sucedidas, conseguimos as medidas exatas onde foram

diluídos 2,4g de Asparagina em 100 ml de água destilada e uma pequena

quantidade de azida sódica (NaN3). A azida sódica foi usada para inibir o

aparecimento de microrganismos, sugerida na literatura [7], pois os

aminoácidos são ótimos nutrientes para o aparecimento de colônias de fungos.

Para obter uma melhor semente foi necessário lixá-la com pó de esmeril

2000 utilizando Nujol como lubrificante, fazendo com cristal movimentos em

oito para que a força fosse aplicada igualmente em todas as direções. Após

esse procedimento, a semente é colocada na solução para crescimento,

observando a posição de crescimento para que possa ser amarrada por um fio.

Esse processo de crescimento é repetido com a mesma semente crescida,

como um ciclo. As pontas foram cortadas e escolhemos a melhor com maior

transparência. E então repetimos o procedimento de retirar os defeitos, lixando.

Assim cada ciclo de crescimento, o cristal obteve um ganho na área.

Repetido esses ciclos conseguimos cristais transparentes com

aproximadamente 2 cm3 de área transversal. E após o primeiro ciclo foi feito

uma solução com o dobro do material já citado, para que o cristal crescesse

por mais tempo antes da solução evaporar até o topo do cristal. Mas o

problema desse processo é que leva um longo tempo para o desenvolvimento

de cada ciclo, cerca de cinco semanas por isso a necessidade de se fazer

Page 68: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

55

vários ciclos, 3 a 4 ciclos, obtendo cristais com tamanhos apropriados para o

uso de dispositivos ópticos.

Como mencionado, usamos o método de evaporação lenta do solvente.

O processo de crescimento foi deixado na temperatura ambiente, 20º C, e

como câmera de crescimento foi usada béqueres tampados com papel filme e

furados para facilitar a evaporação do solvente. Antes de colocar a solução

dissolvida no béquer que servirá de câmara é necessário filtra-la em um filtro

de papel, para que não haja resquícios de pó e a solução fique o mais próximo

de ser homogênea.

A semente é presa por um fio encerado (fio dental) e colocada na

solução, em uma posição em que a semente fique no centro da solução como

mostrada na Figura 5.1.

Figura 5.1 – Cristal de L-Asparagina em crescimento pelo método de evaporação lenta.

Contudo, conseguimos cristais com um bom tamanho e boa qualidade

óptica, repetindo por três vezes esse ciclo de crescimento, e só foi observado

defeitos em torno da semente. A Figura 5.2 mostra os cristais crescidos neste

trabalho.

Page 69: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

56

Figura 5.2 – Cristais de L-Asparagina crescidos pelo método de evaporação lenta do solvente.

5.1.2- L-Asparagina irradiada

As amostras de L-Asparagina foram irradiadas com uma fonte de raios x do

Grupo de Polímeros do Instituto de Física de São Carlos. Os cristais foram

irradiados por 20 minutos, tempo suficiente para adquirirem uma coloração

amarela uniforme. Já as amostras irradiadas por tempos maiores, até 40

minutos, não apresentaram mais mudanças, indicando que o processo de

formação de centro de cores saturou. A Figura 5.3 mostra a semente de L-

Asparagina irradiada.

Page 70: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

57

Figura 5.3 - L-Asparagina irradiada.

5.1.3- Método de abaixamento lento da temperatura

Durante esse trabalho tentamos construir um aparato para crescer os

cristais para que fosse possível crescer as sementes pelo método de

abaixamento lento da temperatura. O aparato foi feito com o formato de um

banho térmico com a estrutura de ferro e paredes de vidro. Serão utilizadas

duas resistências e um agitador para homogenizar a temperatura. O sistema de

controle terá um controlador de temperatura ligado a um módulo de potência,

utilizando um sensor de platina tipo PT100. E, por fim para que não haja trocas

de calor com o meio será todo isolado com isopor. A Figura 5.4 mostra o

aparato para o crescimento de cristais em processo de construção.

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58

Figura 5.4 – Aparato para o crescimento de cristais em processo de construção.

5.2- Análise térmica

Os materiais estudados para fins de utilização prática não é necessário

somente a caracterização ópticas, mas também há a necessidade de análise

nas propriedades térmicas, observando se há mudança estrutural durante o

processo térmico. Pois eles terão que ser estáveis termicamente no intervalo

da temperatura que se deseja trabalhar. Pensando nessa necessidade, fizemos

analises térmicas utilizando as técnicas do DSC e do DTA/TG para os cristais

de L-Asparagina pura e irradiada.

Na técnica de DSC é comparada a variação do calor absorvido entre a

amostra e uma amostra referência, sendo que essa amostra não poderá ter

mudanças na sua estrutura e nem variação do calor especifico no intervalo de

temperatura medida. Durante a variação de temperatura ocorrem reações

Page 72: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

59

endotérmicas (absorção de energia) ou exotérmicas (liberação de energia) e

essas reações causam mudança de fase e estrutural, fusão, evaporação,

desidratação entre outras reações químicas. Já a técnica DTA/TG compara a

variação do calor absorvido entre as amostras, como no DSC, e também

determina a perda de massa com a variação na taxa de temperatura [11].

As amostras em pó foram analisadas no equipamento de modelo Universal

V3.1E TA, realizadas com a taxa de aquecimento de 10º C/min com intervalo

de temperatura de 0ºC a 300ºC. E o objetivo dessas analise foi determinar o

intervalo de temperatura onde os cristais são estáveis e comparar a

estabilidade estrutural em altas temperaturas da L-Asparagina Pura com a

irradiada.

Observou-se que na analise da L-ASN Pura teve dois picos um a 100ºC e a

10% da massa que caracteriza a perda de agua e por consequência a perda da

transparência e o outro pico próximo a 250ºC antes da fusão com perda de

40% da massa. Esses detalhes podem ser visto na Figura 5.5 que representa

os gráficos de DSC e DTA mostrado a seguir.

50 100 150 200 250 300

-20

-15

-10

-5

0

5

10

L-Asparagina Pura

DSC

Flu

xo

de

Ca

lor

(W/g

rau

)

Temperatura (ºC)

50 100 150 200 250 30060

65

70

75

80

85

90

95

100

105

Pe

so

(%)

Temperatura(ºC)

L-Asparagina Pura

DTA/TG

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0,0

0,1

Dife

ren

ça

de

Te

mp

era

tura

Figura 5.5 – Análise de DSC e DTA/TG em L-Asparagina pura.

Page 73: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

60

Já a analise da L-ASN Irradiada não houve diferenças em relação a L-ASN

Pura, e mostrou que continuou com a mesma estrutura. Como observado no

gráfico da Figura 5.6 abaixo.

50 100 150 200 250 300 350 400

-4

-2

0

2

4

6

8

Flu

xo

de

Ca

lor(

W/g

rau

)

Temperatura(ºC)

L-Asparagina Irradiada

DSC

0 50 100 150 200 250 300

70

75

80

85

90

95

1000,0

Pe

so

(%)

Temperatura(ºC)

L-Asparagina Irradiada

DTA/TG

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

Figura 5.6 – Análise de DSC e DTA/TG em L-Asparagina irradiada.

5.3- Análise estrutural

5.3.1 Difração de raios-X (DRX)

Na técnica de difração de raios-X (DRX) foram utilizadas amostras

maceradas em pó bem fino para o estudo da estrutura cristalina. Essa técnica

consiste na interferência dos raios-X incidentes sobre a amostra, refletindo

parte dos raios e transmitindo a outra parte. A interferência construtiva entre os

raios refletidos dá origem aos picos no padrão de difração.

Para determinar a estruturas cristalinas na difração de raios-X é utilizado

um contador de radiação para detectar o ângulo e a intensidade do feixe

difratado. Assim, podemos registrar simultaneamente os ângulos dos feixes

difratados em função dos ângulos de difração 2θ.

Como um cristal atua como uma grade de difração tridimensional, então,

para que haja difração, os feixes de raios x espalhados por planos cristalinos

Page 74: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

61

adjacentes precisam estar em fase. Caso contrário, ocorreria interferência

destrutiva de ondas e basicamente nenhuma intensidade espalhada é

observada [13].

A condição de refração é dada pela Lei de Bragg,

2dsenn (5.1)

difração de ângulo2

Bragg de ângulo

onde λ é o comprimento de onda da radiação incidente, d é o espaçamento

entre planos cristalinos adjacentes e θ é o ângulo de incidência do feixe.

As analises de DRX feitas no pó fino dos cristais de L-ASN pura e L-ASN

irradiada são mostradas na Figura 5.7. Observamos nas analises que não

houve mudança na estrutura da amostra de L-ASN irradiada em relação a L-

ASN pura, e comparando a nossa analise da L-ASN pura com a Figura 5.8

tirada da analise do artigo de Mohd. Sharkir et al. [12], onde ele confirma que o

cristal crescido pertence ao sistema ortorrômbico, com o grupo espacial

P212121 e parâmetro de rede a=5,593, b=9,827 e c=11,808 Å. Com isso,

provamos que os parâmetros da rede permanecem iguais para as duas

amostras, L-ASN pura e irradiada, assim, ambos os cristais crescidos e os

irradiados continuam a pertencer ao sistema ortorrômbico e ao grupo espacial

P212121.

Page 75: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

62

Figura 5.7 – Difração de raios-X dos cristais de L-Asparagina pura e L-

Asparagina irradiada.

5.3.1- Espectroscopia Raman

A espectroscopia estuda a interação da radiação com a matéria, sendo um

dos seus principais objetivos a determinação dos níveis de energia de átomos

e moléculas. Diretamente obtêm-se as transições entre estes, e a partir destas

medidas determinam-se as posições relativas dos níveis energéticos. No caso

de moléculas, a região espectral onde estas transições são observadas

dependendo do tipo de níveis envolvidos: eletrônicos, vibracionais ou

rotacionais.

Page 76: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

63

A interação de radiação eletromagnética com o movimento vibracional dos

núcleos origina o espectro vibracional no infravermelho ou o espalhamento

Raman. Uma maneira indireta de observar os espectros vibracionais é

transferir as informações para a região do visível que seriam normalmente

obtidas no infravermelho, é através do espalhamento Raman, ou seja, do

espalhamento inelástico da radiação eletromagnética monocromática que

interage com as moléculas. As frequências vibracionais são determinadas

pelas diferenças entre as frequências das radiações espalhadas e a da

radiação incidente.

No espalhamento Raman uma radiação, geralmente no visível ou no

ultravioleta, interage com a molécula e é espalhada com frequência

ligeiramente modificada. Esta variação de frequência corresponde à diferença

de energia entre dois estados vibracionais. Considerando os mesmos estados

vibracionais, a frequência Raman seria a mesma do infravermelho. A atividade

no Raman difere no sentido de que o momento de dipolo a ser considerado é o

induzido pela radiação eletromagnética, isto é, dever haver variação da

polarização da molécula durante a vibração.

As analise Raman foi feita no Espectrofotômetro Senterra da Bruker e

antes de serem realizadas as medidas nas amostras foram deixadas por 24

horas no dissecador para tirar o excesso de umidade nos cristais. O objetivo

para que fizéssemos as medidas Raman foi para obtermos mais um

procedimento no qual poderíamos comparar e provar se houve ou não

mudança na estrutura do cristal irradiado. Dessa forma o espectro das

amostras foi obtido na faixa de 0 a 3100 cm-1, e observando a Figura 5.8

Page 77: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

64

concluímos que a identificação dos picos de acordo com as vibrações

moleculares das amostras de L-ASN pura e L-ASN irradiadas são semelhantes.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

In

ten

sid

ad

e R

am

an

(u

.a.)

Número de Onda (cm-1)

L-Asparagina Irradiada

L-Asparagina Pura

Figura 5.8 – Análise de espectroscopia Raman nos cristais de L-Asparagina pura e irradiada.

5.4- Absorção óptica

As medidas de absorção óptica foram realizadas no espectrômetro de

UV.VIS de duplo feixe. O resultado de tal medida é mostrado na Figura 5.9.

Page 78: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

65

200 400 600 800 1000

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

Absorb

ância

Comprimento de Onda (nm)

L-Asparagina

L-Asparagina Irradiada

Figura 5.9 – Absorção óptica dos cristais de L-Asparagina pura e irradiada.

Analisando os resultados, observamos que o intervalo de transparência

dos cristais é de 247-1100 nm isso mostra que tanto a L-ASN pura quanto a

irradiada tem boa transparência óptica, pois ambas as frequências estão na

região do visível (532 nm). Porém o cristal irradiado apresenta uma banda na

região de 250 a 550 nm. Contudo, essa região de transparência ainda permite

a GSH onde a frequência do laser pode ser acima da região de 1100 nm

gerendo o segundo harmônico na região próxima a 550 nm.

A absorção nesse comprimento de onda no cristal irradiado é na faixa do

espectro azul, assim a sua componente de absorção é na faixa do espectro do

amarelo, concluindo que esse é um motivo para que o cristal de L-ASN após a

radiação tenha ficado na cor amarela.

5.6- Eficiência de geração do segundo harmônico

Page 79: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

66

Para medir a eficiência de geração do segundo harmônico seria necessário

determinar o loci de casamento de fase, que é a medida das direções do cristal

satisfazendo a condição de ∆k=0, mas não conseguimos crescer um cristal

suficiente grande para esse tipo de medida. Então a medida de eficiência de

geração do segundo hamônico foi realizada no laser Vibrant 355 II da Opotek,

conforme o método em pó de Kurtz & Perry [10]. As medidas foram feitas nas

amostras em pó dos cristais de L-ASN pura e L-ASN irradiada e comparadas

com a medida do cristal de KDP, que foi usado como referência, os resultados

foram 9,52 mV, 8,72 mV e 11,0 mV, respectivamente.

A eficiencia GSH relativa dos cristais de L-ASN pura é 0,8145 vezes o

KDP, e para o cristal de L-ASN irradiada é 0,8305 vezes o KDP. Com esses

resultados vimos que a eficiencia da L-ASN irradiada não muda em relação a

L-ASN pura, ambas é 0,8 vezes o cristal de KDP.

A comparação da eficiência de geração do segundo harmônico é mostrada

na Figura 5.10.

Figura 5.10. – Efeciência dos cristais de KDP, L-ASN pura e L-ASN

irradiada.

Page 80: Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L ... · Figura 4.5 – Direções de casamento de fase para um cristal biaxial. ... Figura 5.4 – Aparato para o crescimento

67

5.7 Tratamento térmico

No trabalho de Mohd. Shakir et al [11] foi proposto um tratamento térmico

nos cristais de L-ASN para melhorar a qualidade dos cristais. Então, em uma

estufa ele aqueceu o cristal por seis horas a 60ºC e através da analise de DRX

de alta resolução mostrou que os cristal aquecido houve uma melhora na

estrutura. Após esse tratamento, ele usou a mesma amostra e colocou-o

novamente na estufa por mais seis horas a 80ºC. e mais uma vez atraves do

DRX de alta resolução analisou a amostra. E dessa vez na analise da amostra

observou diferenças nos picos da estrutura cristalina e se prolongando esse

aquecimento a altas temperaturas observou uma perda na perfeição cristalina.

Resolvemos fazer o que foi proposto nesse artigo [11]. Colocamos na

estufa quatro amostras de cristais de L-ASN pura, sendo que uma das

amostras foi L-ASN irradiada, a temperatura da estufa foi estabilizada a 80ºC.

A amostra (01) foi deixada na estufa por quatro horas, a amostra (02) por seis

horas e a amostra (3) e a amostra (4), L-ASN irradiada, por doze horas. No

nosso experimento em todas as amostras houve quebra da molecula de água,

ocorrendo desitratação e deixando-os opacos (esbranquiçados), com essas

características não foi possivel realizar análises ópticas.

A Figura 5.11 mostra o resultado do tratamento térmico que realizamos nos

cristais de L-Asparagina pura e irradiada.

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68

Figura 5.11 - Resultado dos cristais de L-ASN pura e irradiada aquecida na estufa.

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69

CAPÍTULO 6

6 – Conclusões e Trabalhos Futuros

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70

6- Conclusões e Trabalhos Futuros

Nesse trabalho apresentamos os resultados do crescimento de cristais de

L-Asparagina e do estudo de suas propriedades ópticas, lineares e não

lineares, do cristal como é crescido e após ser submetidos a altas doses de

raios-X. Os cristais crescidos foram obtidos através de repetidos ciclos usando

como semente cristais do crescimento anterior para aumentar o volume. Foi um

processo demorado, pois repetimos esse ciclo 3 a 4 vezes e a cada ciclo durou

seis semanas para conseguirmos cristais de 2 cm3 com boa qualidade e

transparência. E além do procedimento ser demorado houve algumas

complicações como falta de energia assim aumentando bruscamente a

temperatura do ambiente onde estava crescendo os cristais, e atrapalhando o

processo de crescimento dos cristais e a qualidade da transparência dos

mesmos.

Primeiramente, para caracterização das amostras realizamos analises

térmicas, através das técnicas do DSC e DTA/TG, sendo que tais técnicas

determinaram a estabilidade térmica das amostras de L-ASN pura e irradiada.

Mostrando-nos que apesar da L-ASN ter sido irradiada e a criação de radicais

na rede cristalina, obtivemos os mesmo resultados para a estabilidade térmica

da L-ASN pura. Os cristais mantiveram sua estabilidade até aproximadamente

100º C, quando ocorre a desidratação da molécula, a partir de 230º C ocorre a

fusão incongruente do material.

Para verificarmos a estrutura cristalina dos materiais realizamos medidas

de DRX e mais uma vez comparando as amostras de L-ASN pura e irradiada

concluímos que não houve mudanças visíveis na estrutura de ambas às

amostras, referente aos estudos já realizados na literatura. Outra forma usada

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71

para verificarmos se houve mudanças significativas na estrutura cristalina entre

asparagina L-ASN pura e radiada realizamos medidas de espectroscopia

Raman na região de espectro de 0 a 3100 cm-1, assim identificamos que os

picos das vibrações moleculares são semelhantes. Com as analises concluidas

vimos que a fonte de raios-X realizada na amostra de L-ASN não modificou

significativamente as propriedades estruturais do cristal irradiado,

provavelmente pelo pequeno número de radicais criados em comparação ao

número total de moléculas no volume.

Já para análise de absorção óptica tivemos uma pequena diferença na

região de transparência do cristal de L-ASN irradiada, 250 à 550 nm, pois o

espectro da região de transparência obtida nos cristais foi de 200 à 1100 nm,

mesmo assim ambos os cristais possuem a região de transparência onde

favorece a GSH. Assim, concluindo o estudo das propriedades ópticas do

cristal da L-ASN pura e irradiada medimos a eficiência da geração do segundo

harmônico através do método do pó, obtivemos bons resultados para eficiência

de GSH em ambas as amostras e como referência usamos o cristal de KDP,

dessa forma, tanto a amostra pura quanto a amostra irradiada mostraram que

são cristais com boa GSH. E também para o desenvolvimento mais detalhado

do nosso trabalho tentamos realizar um tratamento térmico na estufa a

temperatura de 80°C com diferentes tempos. Porém todas as amostras tiveram

uma desidratação devido à quebra da molécula de água e ficaram opacos,

impossibilitando qualquer tipo de análises das propriedades ópticas.

Com os resultados das propriedades de ópticas lineares e ópticas não

linear realizadas nas amostras deste trabalho concluímos que os cristais de

aminoácidos de L-ASN pura e L-ASN irradiada são materiais aptos para

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72

aplicações em dispositivos ópticos. Pois a sua eficiência de GSH foi bem

próximo do KDP, além de ser cristais de fácil crescimento e por possuírem

absorção óptica na região de transparência.

Como trabalhos futuros o Grupo dará continuidade na montagem do

aparato de crescimento de cristais que será possível crescerem cristais pelo

método de abaixamento lento da temperatura. Assim, serão obtidos cristais

maiores que possibilitaram realizar medidas como índice de refração,

determinar os loci e propriedades não lineares de terceira ordem. Além de

estudarmos as propriedades ópticas dos demais cristais de aminoácidos que

ainda não tenham estudos detalhados.

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73

CAPÍTULO 7

7 – Referências

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74

7- Referência

[1] - S.C.Zilio, “Óptica Moderna – Fundamentos e aplicações”

[2] – D. L. Nelson e M. M. Cox, “Lehninger Princípios de Bioquímica”, 3º edição,

São Paulo (2002).

[3] – J.J. Verbist, M.S. Lehmann, T.F. Koetle e W.C. Hamilton. Acta

Crystallography, B.28 3006 (1972).

[4] – J.B. Dalton e C.L.A. Schmidt. J. Biol. Chem.,103, 549 (1933). [5] – A. C. Hernandes, “Tópicos em Crescimento de Cristais”, São Carlos,

2001. Apresentação para Concurso de Livre-Docência, Instituto de Física de

São Carlos, USP.

[6] – J. J. R. Júnior, “Crescimento e Caracterização Óptica de Cristais de L-

Treonina e L-Lisina.HCL”, Dissertação de Mestrado – Instituto de Física de São

Carlos, USP (1999).

[7] – A.C. Hernandes, “Estudo in Situ do Perfil de Concentração do Soluto

Durante o Processo de Crescimento e Dissolução de Monocristais de α-HgI2”.

São Carlos, 1993. Tese de Doutorado – Instituto de Física e Química de São

Carlos, USP.

[8] – A. Yariv & P. Yeh. “Optical Waves in Cristals”, Jonh Wiley & Sons, 1986.

[9] - L. Misoguti, “Estudos das Propriedades Ópticas Lineares e Não Lineares

de Cristais de L-Alanina, L-Treonina e L-Lisina”, São Carlos, 1999. Tese de

Doutorado – Instituto de Física de São Carlos, USP.

[10] - S. K. Kurtz and T. T. Perry, “A Powder Technique for the Evolution of

Nonlinear Óptical Materials”, J. Appl. Phys. 39, 3798 (1968).

[11] R. W. Boyd, “Nonlinear Optics”, Academic Press, 3º ed (1992).

[12] – R.F. Speyer, “Thermal Analysis of Materials”. TLF e BOOK (1993).

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75

[13] - Mohd. Shakir et al. Journal of Applied Crystallography B.172, 9-14 (2010).

[14] – D.R. Askeland, P.P.Phulé. “Ciência e Engenharia dos

Materiais”,Cengage Learning, 2008.

[15] – D.Jain et al. Thermally Stimulated Depolarization Current Studies of

Relaxion in L-Asparagine Monohydrate. IEEE-Transactions on Dielectrics and

Electrical Insulation, vol.17, n.4, 1128-1134 (2010).

[16] – E. E. Wahlstrom. “Cristalografia Óptica”, 3º edição. Rio de Janeiro

(1969).

[17] – E. E. Wahlstrom. “Cristalografia Óptica”, Universidade de São Paulo,

1969.

[18] – V.G.Dmitriev, G.G.gurzadyan, D.N.Nikogosyan. “Handbook of Nonlinear

Optical Crystals”, Springer series on optical sciences, v.64, 1997.

[19] - Mohd. Shakir et al. Journal of Applied Crystallography 43, 491-497

(2010).

[20] – Mohd. Shakir et al. Journal of Crystal 312, 3171-3177 (2010)

[21] – P.Rajesh, P.Ramasamy. Comparative study on L-asparagine

monohydrate doped ADP crystals. Physica B 405, 1287-1293 (2010)

[22] – A.S. de Menezes et al. Journal of Applied Crystallography 44, 954-957

(2011).

[23] – T. Hatakeyama e F.X. Quinn, “Thermal Analysis”. John Wiley & Sons,

2ºed. (1999).

[24] - Oswaldo Sala, Fundamentos da espectroscopia Raman e no

infravermelho. Editora UNESP, 1996.

[25] – M. Contineanu et al. Radiation Physics abd Chemistry 79, 1047-1051

(2010).

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76

[26] – D.M. Close e R.S. Anderson. Journal Chemical Physics, vol.60, Nº. 7

(1974).

[27] – A.J.D.MORENO, “Estudo de Transições de Fase por Espectroscopia

Raman em Monocristais de L-asparagina Monohidratada”. Tese de Doutorado

– UFC (1996).

[28] – I.C.V.B.Bastos, “Crescimento de Cristais de L-Asparagina Monohifratada

Dopada com Metais de Transição e Propriedades Vibracionais a Altas

Temperaturas”. Tese de Doutorado – UFC (2006).