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ARTE E MATÉRIA

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Solange Utuari

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Arte e matéria / Instituto Arte na Escola ; autoria de Solange Utuari ; coor-

denação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Instituto

Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 99)

Foco: PC-15/2006 Processo de Criação

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-7762-030-1

1. Artes - Estudo e ensino 2. Materialidade 3. Escultura 4. Lescher, Artur

5. Ribeiro, Flávia I. Utuari, Solange II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque,

Gisa IV. Título V. Série

CDD-700.7

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DVDARTE E MATÉRIA

Ficha técnicaGênero: Documentário com depoimentos dos artistas ArturLescher e Flávia Ribeiro.

Palavras-chave: Diálogo com a matéria; experimentação; ima-ginação criadora; monotipia; escultura; linha; volume; memó-ria; pesquisa de materiais; procedimentos técnicos inventivos;arte contemporânea; química.

Foco: Processo de Criação.

Tema: Processos de criação e a utilização de matérias não con-vencionais na construção das obras dos artistas em foco.

Artistas abordados: Artur Lescher e Flávia Ribeiro.

Indicação: A partir da 5ª série do Ensino Fundamental e Ensi-no Médio.

Direção: Maria Ester Rabello.

Realização/Produção: Rede SescSenac de Televisão, São Paulo.

Ano de produção: 2000.

Duração: 23’.

Coleção/Série: O mundo da arte.

SinopseDois artistas paulistanos: Artur Lescher e Flávia Ribeiro. Nestedocumentário, o vínculo entre eles é o envolvimento na pesquisado comportamento de materiais durante a ação criadora de suasobras. Transitando por imagens colhidas no ateliê dos artistas, odocumentário oferece a fala de Artur Lescher e Flávia Ribeiro,comentando sobre os procedimentos que utilizam, as questõesem que se debruçam durante o processo criador e o uso de no-vos suportes na criação artística. É fazendo ecoar a matéria queArtur, nos objetos tridimensionais, e Flávia, na gravura, mostramsua singularidade na arte, nos fazendo silenciar para observar.

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Trama inventivaPercurso criador. Olhar/sentir/pensar o que antes, simplesmen-te, não era. Cada novo olhar é um outro olhar, e assim vai sefazendo a obra. Existem vontades. Vontades de artista: proje-tos, esboços, estudos, protótipos. Vontades da matéria: resis-tir, provocar, obedecer, dialogar com o artista. Existe um tem-po: do devaneio, da vigília criativa, do fazer sem parar, de ficarem silêncio e distante, de viver o caos criador. Existe um espa-ço: o ateliê. Espaço para produzir, investigar, experimentar.Repouso e reflexão. Espaço-referência. Existe sempre a buscaincansável para o artista inventar a sua poética de tal formaque, enquanto a obra se faz, se inventa o modo de fazer. Inven-ção que, na cartografia, convoca o andarilhar pelo territórioProcesso de Criação.

O passeio da câmera

Artur Lescher e Flávia Ribeiro. Artistas da pesquisa, alquimistasque buscam novos materiais para seus trabalhos: areia, parafi-na, metal, pedras, produtos químicos, madeira e até limões se-cos. Tudo pode servir à elaboração de novas peças, anuncia anarradora deste documentário editado em três blocos.

Em seu passeio pelo ateliê dos artistas, a câmera nos põe aolhar, no primeiro bloco, Artur em seu processo de criação deobjetos tridimensionais com materiais não convencionais, eFlávia, artista que trabalha com a gravura de modo não tradici-onal, utilizando-se de ferramentas não convencionais.

O segundo bloco mostra Artur como um artista de olhar urbanoe seus procedimentos no processo criador: a maquete, o diálo-go do material com a forma pensada e o material como fazedorda obra sem interferência do artista. Flávia, enquanto acompa-nhamos a produção de uma gravura, fala sobre o ato de fazercomo o próprio encanto do trabalho, a experimentação demateriais e a descoberta do ato final.

No terceiro bloco, conhecemos, de Flávia, sua pesquisa de

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ARTE E MATÉRIA

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materiais com formas arredondadas e, de Artur, o trabalho comnovas tecnologias. Finalizando, os artistas comentam sobre apostura que está presente em suas obras e que rebate emquestões sobre a memória, o tempo, o olhar.

O percurso visual e verbal do documentário possibilita curvardiferentes linhas no território arte e cultura: em Linguagens Ar-

tísticas, o desenho, a gravura, a monotipia e a escultura; emMaterialidade, a qualidade e singularidade da matéria, os proce-dimentos técnicos inventivos e ferramentas não convencionais;em Forma-Conteúdo, linha, forma, volume, textura e a temáticacontemporânea ligada à memória; em Saberes Estéticos e Cul-

turais, o estudo da arte contemporânea; em Conexões

Transdisciplinares, física, química, mecânica. Neste material,propomos curvar uma linha para o território Processo de Cria-

ção, como modo de estudar a criação de poéticas que são inten-samente regidas pela pesquisa e diálogo com a matéria.

Sobre os artistas

Arhur Lescher

(São Paulo/SP, 1962)

Eu posso falar que meu trabalho, as ações que eu utilizo, os verbossão construir, analisar, pensar, juntar ou até refletir.

Artur Lescher

Em Artur Lescher, a gênese da criação está fecundada na preci-são formal e na sua formalidade no uso dos materiais como amadeira e o metal. Suas obras não são apenas esculturas, lidan-do com equilíbrio, gravidade e tensão de formas e materiais, sãoobras que possuem um caráter de instalação, já que interagemcom o local onde são exibidas, redesenhando esses espaços.

Artista paulistano, Artur é um observador atento da cidade enela encontra inspiração para seus trabalhos. No segundo blo-co do documentário, por exemplo, quando fala sobre suamaquete para a série Casa-ideogramas e casa-síntese que tema forma de uma casa alongada de aço inox, Artur diz:

Só que eu tratava essas formas com um rigor, com um material

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que dava primeiro uma sensação de não habitação. São semprevolumes fechados que negam um pouco o significado de casa comomoradia. O material é frio, o metal, e o acabamento dele é muito pre-ciso, quase como um instrumento de corte. Se a gente erra na escala,no material ou no acabamento da peça essas informações escapam.

Artur pertence à linhagem de artistas que deixa de lado o pre-cário e o efêmero, vigente na metade dos anos 60, e que pri-

vilegia o suporte industrializado, conglomerado de madei-

ra, alumínio ou o aço polido, rejeitando a “manualidade”

artesanal e apreciando o acabamento e o perfeccionismo

na execução dos projetos. Um bom exemplo é a obra 0x0 – a

roda (2000), mostrada no primeiro bloco do documentário, fei-ta de madeira e inox, sobre a qual Artur comenta:

essa peça eu pensei em articular duas rodas através de um eixo.Uma roda de madeira, cônica. Um cone de madeira maciço comeixo de madeira também. Aproximadamente 300 kg de madeira quese depositam nesse outro cilindro de aço inox. O que eu acho cu-rioso nesse trabalho é que essa articulação impede o movimento.Não roda. É quase um paradoxo, porque você tem um eixo, duasrodas, mas como eles estão arranjados na relação deles, um impe-de o movimento do outro.

Desde os anos 80, Artur vem desenvolvendo projetos em mídiasdiversas, por meio dos quais reflete sobre a cidade, a arquitetu-ra e a matéria. Em 1997, o artista cria o vídeo Memória com setetelevisores em ação (terceiro bloco do documentário). Cada umdeles mostra uma letra da palavra memória. O suporte em queé traçado o desenho de cada letra é a substância óleo que, porsuas características, recebe a inscrição por contato e pressão.Em segundos, o que é escrito desaparece, surgindo novamenteuma superfície lisa e homogênea na tela da tv. O traço é feito porum elemento similar a um lápis guiado por uma mão. O objeto,uma palavra: memória.

Muito embora o acabamento, a concisão e a elegância de suasobras despontem de imediato a idéia do design, quando nosacercamos delas, nos damos conta de que nada tem utilidade,função, e esses atributos são os primeiros a serem questiona-dos. Artur Lescher, fiel à sua formação filosófica, põe emsuspenso o mundo em sua produção: “eu não gosto das utilida-des das coisas. Eu acho que a arte sobrevive da inutilidade”.

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Flávia Ribeiro

(São Paulo/SP, 1954)

Adoro química, física. Sempre procuro conhecer as propriedadesdos materiais que estou usando.

Flávia Ribeiro

Em Flávia Ribeiro, a gênese da criação está fecundada no própriofazer e sua busca acontece no acolhimento do próprio ateliê. Comoa própria Flávia diz: “a mãozinha gosta de estar em serviço”.

Flávia não é uma artista de projetos, mas artista das mãos.

A carreira da artista se inicia em um contexto privilegiado. Aos16 anos ingressa na Escola Brasil, onde se forma após 4 anos.De 1975 a 1977, estuda desenho e gravura com Dudi Maia Rosae é também sua assistente. Em 1976, recebe o Prêmio Aquisi-ção no VII Salão Paulista de Arte Contemporânea. Estuda gra-vura na Slade School of Fine Art, em Londres. Trabalha comDaniela Thomas na confecção de cenários e figurinos deCarmem com filtro, Eletra com Creta e Navio fantasma, espe-táculos dirigidos por Gerald Thomas. Participa também da cri-ação da cenografia de Nijinsky, sob a direção de Naum Alvesde Souza. Participa das Bienais de São Paulo em 1989, quandoé premiada, e em 1996.

O pensamento da gravura está sempre presente em seus

trabalhos. Porém, Flávia foge do tradicional processo de

gravação, como é mostrado no primeiro bloco do documentário,quando ela forra chapas de ferro com folhas de alumínio e so-bre estas faz riscos circulares com ferramentas não convenci-onais como pedras recolhidas nas ruas, instrumentos de usoodontológico ou de cortar azulejo. Os desenhos serão, depois,submetidos à ação de ácidos que preparam a chapa para a fasefinal da gravura.

A série Mundos desorbitados (terceiro bloco do documentário)mostra a idéia de um olhar obsessivo por formas circulares, comose a artista estivesse dissecando os objetos que usa como ins-piração, revelando suas estruturas básicas ao transformar tudoem “bolas”, como quando faz novelos de seu próprio cabelo:“matéria moldável”, diz Flávia.

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A maneira como Flávia se utiliza de formas orgânicas tem umainfluência direta em sua obra. A curiosidade pelo traço a fazbuscar molde na arte da natureza: flores, folhas, frutas, galhosde seu jardim são matéria para a série Floribus explere quetrafega entre o desenho, a gravura e a aquarela.

O trabalho de Flávia Ribeiro é sua forma de “repensar o tempoe a memória”. Com sua mão obreira, a artista nos põe a olhara delicadeza de suas formas registradas, reanimando em nóspequenas permanências daquilo que já foi transitório.

Os olhos da arteEu jamais poderia prever este resultado. É legal de ver as diferençasda linha, linha de pedra, cobre, ponta seca...

Flávia Ribeiro

O trabalho, em um dado momento, adquire uma fala própria e foge dequalquer controle por parte do artista.

Artur Lescher

Os materiais é que definem o trabalho de Artur Lescher: uma lu-

neta curva feita de areia prensada com gás carbônico, formandouma espécie de tubulação; um cone de ferro sobre o qual despejamercúrio líquido; uma roda de madeira ligada a um eixo do mesmomaterial e que se apóia em um pequeno cilindro de alumínio; for-mas lembrando casas unidas entre si e milimetricamente calcula-das para formar uma espécie de cruz de formas fechadas e semaberturas que possam sugerir realmente habitações...

Para Artur, o material ordena-lhe o trabalho que surgirá. Numa caixavazada de madeira, dentro da qual ele coloca um bloco de ferro,que depois é banhado por um ácido potente, o sal de cobre vaicarcomer o metal eternamente, por meio de reações químicas entrea peça e o composto. Para o artista, o ácido proporcionará uma“mutação eterna” no trabalho que leva a reflexões sobre a perma-nente alteração do mundo e sobre a inconstância da memória.

Flávia Ribeiro, como Artur Lescher, também sente o trabalhoartístico escapar-lhe do controle. Mostrando o processo da

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monotipia, ela espalha pigmentos em uma superfície sobre aqual deposita uma folha de papel e, por sobre essa folha, fazcircular bolas de todos os tipos. Diz ela: “o resultado é sempreinimaginável”, porém Flávia conhece a linguagem do redondo,a artista pensa através da matéria.

No processo criador desses artistas, a criação materializa odesejo em forma, por meio do diálogo com a matéria, conju-gando aquilo que é sabido, controlado, esperado e planejadocom aquilo que se faz surpreender pelos acasos e arbitrarieda-des, acontecimentos em que o artista inicia, avança e estendesuas percepções fazendo, formando, originando a presença denovos objetos e, por que não dizer, de um novo mundo.

Flávia e Artur são artistas que têm o exercício de escuta ligadoa uma gramaticalidade íntima e intrincadamente relacionada àmaterialidade escolhida durante o processo de criação de suasobras. Para Edith Derdyk, “aceitar as vozes e seus timbres écondição: oportunidade para apreender, das substâncias, asexperiências.”1

Artur Lescher - Sem título, 1998 - Madeira, cobre e azeite, 2,20 x 20 x 20 cm

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Mas a expressividade artística não é intrínseca a esta ouaquela matéria. Todas elas têm potencialidade, tudo depen-de do uso que será feito dela. De tal modo que é o processocriativo de Flávia e Artur que provoca modificações na ma-téria escolhida, fazendo com que esta ganhe “artisticidade”.Cecília Almeida Salles diz que:

os objetos, antes de um processo determinado, não têm statusartístico. São escolhidos, saem de seu contexto de significaçãoprimitivo e passam a integrar um novo sistema direcionado pelodesejo daquele artista. Ampliam, assim, seu significado e ganhamnatureza artística.2

Artur Lescher: parafina e pano, ferro e mercúrio, metal, areiaprensada e a elipse como forma geométrica básica. Flávia Ri-beiro: pedra, limão seco, bolinha de papel, emaranhado degalhos e folhas, novelos feitos com os próprios cabelos e aesfera como forma. Basta essa enumeração de matérias emateriais para ver o leque matizado, compreendido pela poé-tica desses artistas que os utilizam sob uma ótica particular,a serviço da imaginação criadora. Artur e Flávia, investigan-do, testando e tirando partido dos variados aspectos da ma-téria, a tornam maleável para receber ou marcar a forma quese lhe queira dar.

Flávia Ribeiro - Sem título - ponta-seca - 2005 - Impressa em papel Fabriano aquarelado rosa

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O passeio dos olhos do professorUma coleta sensorial, em vigília criativa, começa com sua ob-servação do documentário e com a produção de anotações sobresuas primeiras impressões num diário de bordo. Para essemomento, antes da exibição em sala de aula, oferecemos umapauta do olhar, provocando sua percepção:

O que o documentário provoca em você?

Como você percebe o processo de criação dos artistas ArturLescher e Flávia Ribeiro? São distintos ou há semelhanças?

Na relação arte e matéria, como você percebe os procedi-mentos criativos dos artistas com os materiais?

Sobre os materiais utilizados pelos artistas, o que surpreende você?

O documentário lhe faz perguntas? Sobre o que você gosta-ria de pesquisar?

Quais trechos do documentário podem causar atração ouestranhamento em seus alunos?

A partir do documentário, quais estudos poderiam ser de-sencadeados em sala de aula?

Sendo um documentário com três blocos, qual deles seriainteressante para iniciar a exibição em sala de aula?

Lendo suas anotações sobre o documentário, que pauta do olharvocê ofereceria aos seus alunos?

Percursos com desafios estéticosPara investigação do documentário Arte e matéria, propomoscurvar uma linha para o território Processo de Criação, comomodo de estudar a criação de poéticas que são intensamenteregidas pela materialidade. Porém, no mapa potencial do DVD,você poderá encontrar outras linhas tracejadas que demarcamdiferentes territórios para que você e seus alunos sejam tam-bém criadores de outros novos percursos.

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qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade

relações entre elementosda visualidade

repetição, padrões seriais, movimento, equilíbrio,bidimensionalidade, tridimensionalidade, relaçõesentre imagens da câmera e do monitor de tv

temáticas

forma, linha, superfície,textura, volume, espaço

contemporânea:memória, tempo

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte

arte contemporânea, Geração 80, gravuracontemporânea brasileira, Grupo Ruptura

Linguagens Artísticas

meiosnovos

artesvisuais

meiostradicionais

desenho, gravura, monotipia, escultura

vídeo-instalação

Processo deCriação

ação criadorapoética pessoal, diálogo com a matéria, busca constante,percurso de experimentação, séries, repetição, projeto,maquetes, acaso, cálculos geométricos no computador,surpresa diante do resultado

percepção, observação sensível, coleta sensorial, corpo perceptivo,vigília criativa, pensamento gráfico, imaginação criadora,rigor matemático, invenção de recursos, sensibilidade

espaço para vivências sensoriais eprocessualidades, ateliê, viagens de estudo

potências criadoras

ambiência de trabalho

produtor-artista-pesquisador artista-pesquisador, pesquisa em arte, investigaçãodo próprio processo, relação colaborativa transdisciplinar

ConexõesTransdisciplinares

arte, ciênciae tecnologia

mecânica, física, química

procedimentos

poéticas da materialidade

matéria orgânica: madeira,galhos e folhas, água;matérias não convencionais:tecidos, areia, látex, pedras,bolas de papel, óleo,bolas de gesso, limões secos,sal de cobre, novelos decabelo, ferro, mercúrio, inox

computador; ferramentasconvencionais: ponta-seca,ácidos, prensa; ferramentasnão convencionais:alavanca de tirar dentede siso, ferramenta componta diamantada

placa de alumínio,matriz de metal, vídeo,placa de vidro, madeira

procedimentos técnicosinventivos, procedimentostradicionais, artísticos etécnicos, subversão de usos,transgredir a matéria,processo alquímico,experimentação

Materialidade

potencialidade, qualidadee singularidade da matéria,imagens videográficas,pesquisa de materiais,poética da matriz e daimagem impressa, incisãoda linha, elementos danatureza, poética datransformação

natureza da matériasuporte

ferramentas

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O passeio dos olhos dos alunos

Algumas possibilidades:

Chegamos ao fim do dia. De que forma, porém, esse dia segrava em nossa memória? Perguntando isso aos alunos, peçapara escreverem, desenharem, as impressões do dia anterior.A leitura da produção, o que revela? Algo vago, sem nenhu-ma estrutura ou organização? São impressões isoladas dodia? Evocam associações, objetos e circunstâncias, mostran-do-se incompletos? O que permanece em nossa memória?Girando em torno dessas questões, puxe a conversa para:como imaginam um trabalho de arte que apresente a memó-ria? Depois do mapeamento do ponto de vista dos alunossobre a questão, o documentário pode ser exibido a partir doterceiro bloco, quando é mostrado o trabalho Memória, deArtur Lescher. O que surpreende os alunos? Que relações elesestabelecem com a produção que realizaram anteriormente?

O que é gravar para os alunos? Numa conversa sobre essaquestão e com a escuta das diferentes interpretações dosalunos, proponha uma experimentação com a frottage paraque conheçam alguns aspectos da gravura. Numa mesa,você pode arrumar para a pesquisa de texturas: papelãoondulado, tampinhas, lixas, folhas secas, toquinhos de ma-deira, etc; folhas de papel de seda de cores diversas e pa-pel sulfite; material para registro das texturas: giz de cera,lápis de cor, carvão, grafite; e canetas hidrocor pretas. Oregistro das texturas pode ocorrer em papéis diferentes, des-tacando com caneta hidrocor as diversas formas obtidas. Apesquisa pode ser ampliada com o registro do piso da esco-la, da casa, da parede do banheiro, corrimão da escada, etc.Após a experimentação e comparação dos diferentes resul-tados, provoque uma reflexão: qual material foi mais ade-quado para cada aluno? O que foi matriz e o que foi produtofinal? Quais as semelhanças e diferenças nas diversas com-posições e utilizações de uma mesma matriz? Em seguida,proponha a exibição do documentário partindo do primeiro

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bloco, a partir do momento em que Flávia Ribeiro encapa achapa com o alumínio. O que chama mais atenção dos alu-nos sobre os procedimentos criativos dos artistas com asmatérias? O que seria gravar? “Congelar” um gesto, umaidéia, uma emoção?

Sobre o processo de criação, Artur Lescher diz:

Apesar da preocupação com o conceito, acho que meu trabalhosurge, primeiramente, como imagem. O trabalho acontece, antesde tudo, em minha imaginação, quando eu o projeto. Mas eu só orealizo, o sinto como uma coisa real, depois que ele está pronto.Não existe ensaio prévio. (...) Também não existe a “mão do artis-ta”, e raramente executo o trabalho. Procuro uma produção indus-trial, que agrega o maior número de pessoas possível e reinsere aobra em contextos diversos. (...) Depois, eu gosto quando o traba-lho se apresenta como uma aparição.... pá! Algo que ‘caiu’ ali, umfenômeno que possui força própria e que gera uma série de pro-blemas em volta.3

Flávia Ribeiro, por sua vez, diz:

Engraçado. Pensar e me articular, só depois. Tem que fazer o tra-balho; vivê-lo. Depois que faço o trabalho é que fico – Ah, entãoaconteceu isso, ahn então... (...) Eu sou obreira. Acho que a ação,o fazer, o executar, é pouco intelectual. O trabalho intelectual vemdepois. Sinto que minha mão é a junção do racional com o emoci-onal. Parece que a mão é que liga os dois, junta. E tem essa coisaobreira mesmo. Trabalho pesado, trabalho corporal. Para mim édifícil delegar. Porque tem essa coisa da mão. (...) Acho que temuma coisa da transformação do material, da matéria.4

Partindo desses comentários e propondo a exibição dodocumentário Arte e matéria sobre os dois artistas, o que ima-ginam os alunos? Os artistas trabalham com a mesma lin-guagem de arte? Apesar da diferença entre ambos no pro-cesso de criação, o que pode haver de semelhante entre eles?Depois de os alunos expressarem seus pontos de vista, odocumentário deve ser exibido. O que surpreende os alunos?

Desvelando a poética pessoal

No terceiro bloco do documentário, Flávia Ribeiro comenta so-bre sua procura sempre por uma forma diferente de fazer amesma coisa. Essa repetição de uma ação, para a artista, é umprocesso serial que acaba se fazendo como um mantra. Assim

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como Flávia, a poética pessoal do aluno pode lhe ser desveladapela criação de uma série que possa ser acompanhada, apreci-ada e discutida sob a perspectiva da pesquisa pessoal de lin-guagem, não se resumindo à realização de um único trabalho.A reflexão sobre o próprio processo de criação pode se tornartambém um modo de rever os mitos que o cercam.

Para isso, sugerimos os seguintes desafios, além de outros quevocê pode inventar:

Uma das possibilidades de trabalho pode ser a monotipia,uma forma de gravura que permite invenção, acasos, açãocriativa, e proporciona o prazer da descoberta. No docu-mentário, a artista mostra este processo que começa coma distribuição da tinta sobre uma superfície lisa, na qual opapel, previamente umedecido, é colocado. Em seguida,sobre o papel, é possível escrever, desenhar, pressionarobjetos ou ainda deslocar bolas de diferentes materiais comoacontece no processo de criação de Flávia.

Outro modo pode ser a monotipia com xérox de fotos, texturasou qualquer outra imagem. O processo consiste em espalharuma fina camada de goma arábica sobre uma placa de vidro,zinco, acrílico ou similar. Em seguida, coloque o xérox sobre aplaca, com a imagem voltada para cima. Depois, espalhe (comum pedaço de tecido) delicadamente goma arábica em uma ca-mada fina e uniforme. Com um rolo de borracha, passe suave-mente tinta de impressão sobre a imagem. Umedeça o xéroxcom uma camada bem fina de água fria, retirando cuidadosa-mente, em seguida, o excesso, com algodão ou outro materialabsorvente. Levante o xérox, agora retirando-o da placa comtodo o cuidado. Transfira depois a imagem sobre papéis paragravura, tecidos ou outro suporte com o auxílio de uma prensa5 .

As imagens coletadas na observação de elementos quepertencem ao cotidiano, como objetos, prédios, casas, fo-lhas, enfim coisas com as quais convivemos diariamente,podem ser o ponto de partida para percursos pessoais decriação, seja na escolha de um objeto ou suas possíveisarticulações como matérias e temas.

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A elaboração de um objeto artístico passa também peloplanejamento, criação de projetos que podem explorar a lin-guagem do desenho. Dessa forma, podemos propor aosalunos que, ao criarem seus projetos, utilizem o desenhocomo forma de registro.

Ampliando o olharUm percurso de estudo sobre o processo de criação emmonotipia pode envolver os artistas: Garner Tullis, um dosgrandes expoentes da monotipia; Edgar Degas, para quema monotipia é um desenho engraxado que é transferido parao papel. Cerca de um quarto dos pastéis de Degas foramfeitos sobre uma base de monotipia; Em sua obra Dorço

feminino, Degas usa literalmente sua impressão digital comodispositivo de marcar a sua imagem; Mira Schendel6 quenos anos 60 produz mais de dois mil desenhos em monotipiassobre finos papéis japoneses; Carlos Vergara, que em 1997realiza a série Monotipias do Pantanal, na qual explora ocontato direto com o meio natural. Algumas obras da sérieutilizam a técnica de cobrir o chão com pigmentos e trans-ferir para uma tela traços de texturas de pedras, folhas egalhos. Outras são deixadas ao relento para sofrer interven-ção direta de animais, como jacarés e tamanduás; LuiseWeiss que é também professora de gravura no Instituto deArtes da Unicamp, Campinas/SP.

Artur Lescher, no primeiro bloco do documentário, mostra suaobra “quase ponte” - Sem título (1993), de madeira, alumínioe água - e comenta: “Eu não gosto da utilidade das coisas. Euacho que a arte sobrevive da inutilidade. À medida que elavira ponte para se passar, ela perde o significado da imagemque ela produz”. Retomando essa passagem do documentário,qual o ponto de vista dos alunos? Concordam ou discordamdo artista? A arte é um objeto utilitário e, como tal, sujeito àsregras capitalistas que abarcam qualquer produto criado paraser consumido? A arte não pode ser útil e nem consumida?A arte tem valor de consumo? Ou não?

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O desenho é uma linguagem presente no processo da gra-vura. Os artistas, em geral, durante o processo de criaçãotambém se utilizam do desenho para fazer esboços, anota-ções rápidas sobre determinados acontecimentos, diários,gráficos, etc. Investigando a linguagem do desenho, a pro-posta é a produção de um álbum de desenhos inspiradosem elementos da natureza, como pedras, folhas, cascas deárvores, ou elementos como casas, prédios, carros, peçasde máquinas, entre outros. A coleção de desenhos pode sercomposta com os mais diversos temas, explorando o dese-nho com carvão, lápis, vegetais, graxas, etc.

Na obra Memória (1997) de Artur Lescher, apresentada noterceiro bloco do documentário, sete televisores estão emação. Cada um deles corresponde a uma letra da palavra. Oespectador vê, na tela, um pincel ou lápis traçando capricho-samente o “m”, o “e”, o “m” de novo, o “ó” da palavra “me-mória”. Cada letra, no vídeo, aparece traçada sobre um fun-do negro, feito de óleo. Assim, cada letra se fixa e desapare-ce sobre esse fundo, fazendo-se puro traço evanescente nassete telas de tv. É preciso parar e ficar olhando para ver, nadissolução da caligrafia, a palavra memória. As letras dan-çam e se apagam. A obra fez parte da exposição City canibal

(1998) no Paço das Artes/São Paulo e traz uma visão artís-tica reflexiva sobre a tensão entre memória e esquecimento.A reexibição dessa passagem do documentário pode levar àdiscussão sobre o processo de criação com a imaterialidade,quando o trabalho de arte utiliza imagens videográficas oucriações multimídias. Sobre esse assunto consulte docu-mentários disponíveis na DVDteca Arte na Escola7 .

Conhecendo pela pesquisaNo segundo bloco do documentário, Flávia Ribeiro comen-ta sobre sua invenção de ferramentas: “ferramenta de den-tista, alavanca de tirar dente de siso, que transformei numaponta seca; ferramenta de cortar azulejo, com ponta diaman-tada, que é ótima para riscar uma chapa. Pedra é a ferra-

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menta que dá um outro caráter de linha, diferente de umalinha feita com a ponta seca. Na ponta seca, a característi-ca é uma rebarba que a gente levanta e é aí que a tinta vaisecar. É isso que dá a qualidade da linha da ponta seca; elaé aveludada, fica toda a tinta na rebarba”. Partindo dessafala da artista, a pesquisa pode envolver a investigação dediferentes possibilidades na construção da linha. Por exem-plo: desenhando com pedras, gravetos, ferramentas domés-ticas, garfos entre outros, sobre uma folha de sulfite comuma outra folha de papel carbono por baixo. O que os alu-nos percebem sobre a relação entre o caráter da linha e aferramenta usada para traçá-la?

Para Cecília Almeida Salles8 :

No elo estabelecido entre o uso da matéria e a tendência do projetode um artista, pode-se perceber, muitas vezes, que uma matéria éeleita em meio à complexidade de uma manifestação artística.

Para Fayga Ostrower9 :

Cada materialidade abrange certas possibilidades de ação e ou-tras tantas impossibilidades. Se as vemos como limitadoras parao curso criador, devem ser reconhecidas também como orienta-doras, pois dentro das delimitações, através delas, é que surgemsugestões para se prosseguir um trabalho e mesmo ampliá-lo emdireções novas.

Pesquisando no documentário, quais percursos visuais osalunos percebem que dialogam com as afirmações acima?

As obras de Artur Lescher são em sua maioria Sem título. Em2006, na exposição Paisagens mínimas, na Galeria NaraRoesler/São Paulo, Artur traz algo distinto, nomeando suasobras, tais como: Raio, Rio, Rio Prata, Praia, Chuva. O que essesnomes sugerem? Os nomes teriam relação com as obras? Quala importância dos títulos em obras de arte? O título é um ele-mento constitutivo da obra ou um simples acessório? A au-sência de um título é uma exigência da obra? A presença deum título prejudica a capacidade da obra falar por si mesma?O título é importante ou não para o espectador?

Alguns movimentos de arte são concomitantes, e pesquisarsobre eles e os artistas envolvidos permite um entendimen-

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to do contexto das artes visuais que cercam Artur Leschere Flávia Ribeiro. Os temas para essa busca podem ser: aEscola Brasil, a Geração 80, o Grupo Ruptura e as 20a, 24a

e 25a edições da Bienal de São Paulo, entre outros.

Quais diálogos podem ser estabelecidos entre os trabalhosde Artur Lescher e Ana Maria Tavares? O que está presenteno processo de criação desses artistas para que sejam reco-nhecidos como pertencentes a uma arte urbana e elegante?

Segundo o artista Hans Richter10, desde criança Max Ernstpossuía um olhar aguçado em observar as coisas ao seuredor. Quando as pessoas perguntavam o que mais gosta-va de fazer respondia: “olhar”:

(...) ele desenvolveu o método da frottage, observando o assoalho demadeira de seu quarto. Fascinado pelo estranho desenho de madeira,ele cobriu-o com uma folha de papel, e esfregando (friccionando) umlápis sobre ela obteve um decalque destes padrões naturais, que in-duziam a novas invenções. Deste processo nasceram as incontáveisproduções com formas de florestas e madeiras, que, na obra de MaxErnst, se repetem em paisagens, árvores, seres humanos e animais.

O que os alunos podem descobrir sobre Max Ernst e afrottage que foi, particularmente, usada pelos surrealistas?

Amarrações de sentidos: portfólioEm Arte e matéria, olhando as obras apresentadas, percebe-se que a forma geométrica básica em Artur Lescher é a elipse,e, em Flávia Ribeiro, a circular. Para a confecção de um portfóliopersonalizado, a idéia que os alunos escolham um formato: naforma de elipse ou circular. Assim, poderão construir não só acapa, mas elaborar uma programação visual em todo trabalhoa partir da forma escolhida, organizando toda a produção rea-lizada durante o projeto: a leitura do documentário, as pesqui-sas, os desafios de poética pessoal, os textos escritos, etc.

Valorizando a processualidadeA leitura dos portfólios em conjunto com os alunos pode contarsobre muitos aspectos do percurso percorrido. É um momentointeressante também para saber: o que mais gostaram de estu-

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dar? O que ficou mais significativo? O que gostariam de continuarestudando? O que descobriram sobre o próprio processo de cria-ção e poética pessoal? O que conhecem agora sobre arte que antesnão conheciam? Você, retomando seu diário de bordo, tambémpode olhar seu percurso de professor-propositor: o que essa ex-periência modificou em seu fazer pedagógico? O que foi novo paravocê e para os alunos? O que você descobriu sobre o campo daarte que antes não conhecia? Que outro documentário poderia serinteressante para seus alunos na continuidade do estudo dasmuitas questões que ficaram em aberto?

GlossárioDiálogo com a matéria – o artista estabelece um relacionamento íntimoe tensivo com a matéria, manipulando e transformando-a. Nessa ação, háuma troca recíproca de influência, artista e matéria vão se conhecendo, sereinventando, conseqüentemente, artista e matéria são ampliados pelaação criadora. Fonte: SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processode criação artística. São Paulo: Annablume, 1998, p. 128.

Frottage – do francês, fricção. Técnica de desenho no qual um papel écolocado sobre qualquer material áspero, como pedaços de madeira oupedra, e tratado com lápis ou crayon até adquirir a qualidade superficialda substância abaixo. O padrão resultante é, em geral, utilizado comoestímulo à imaginação, servindo como ponto de partida para pinturas queexpressam o imaginário subconsciente. Marx Ernst foi um pioneiro da téc-nica, que foi muito usada por outros surrealistas. Fonte: CHILVERS, Ian.Dicionário Oxford de arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 202.

Videoinstalações ou videoesculturas – “Obras tridimensionais, perten-centes ou não a um cenário, que combinam, usualmente, diversos monitoresagrupados em certa ordem ou disposição, e cujas imagens, distintas, com-plementares ou seqüenciais, conduzem a um ‘complexo visual’ de tipo pic-tórico ou mesmo dramático.” Fonte: CUNHA, Newton. Dicionário SESC: alinguagem da cultura. São Paulo: Perspectiva: Sesc São Paulo, 2003, p. 671.

BibliografiaBERNARDES, Marilda. Uma poética da ação do tempo nas artes plásticas: a

monotipia. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Artes - Unicamp, Campi-nas, 2003. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000317670>. Acesso em 15 jun. 2006.

DERDYK, Edith. Linha de horizonte: por uma poética do ato criador. SãoPaulo: Escuta, 2001.

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HOLM, Anna Marie. Fazer e pensar arte. São Paulo: Museu de Arte Moderna, 2005.GRAVURA: arte brasileira do século XX. Apres. Ricardo Ribenboim. Tex-

tos Leon Kossovitch, Mayra Laudanna e Ricardo Resende. São Paulo:Cosac & Naify: Itaú Cultural, 2000.

LESCHER, Artur. Artur Lescher. Textos Aracy Amaral, Rafael Vogt e ArthurNestrovski. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1986.______. Acasos e criação artística. Rio de Janeiro: Campus, 1990.SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artísti-

ca. São Paulo: Fapesp: Annablume, 1998.

Seleção de endereços de artistas e sobre arte na rede internet

Os sites abaixo foram acessados em 15 jun. 2006.

GERAÇÃO 80. Disponível em: <www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo6/vaivc/index.html>.

GRAVURA, Cadernos de. Disponível em: <www.iar.unicamp.br/cpgravura/cadernosdegravura>.

____. Disponível em: <www.itaucultural.org.br/experiencias_educacionais/caderno_gravura.pdf>.

GRUPO RUPTURA. Disponível em: <www.mac.usp.br/projetos/seculoxx/modulo3/ruptura/ruptura.html>.

LESCHER, Artur. Disponível em : <www.nararoesler.com.br/artistas_p.asp>.MONOTIPIA. Disponível em: <www.iar.unicamp.br/cpgravura/cadernosdegravura>.

Veja artigo de Luise Weiss no caderno nº 2, nov. 2003, parte 2.

Notas1 Edith DERDYK, Linha de horizonte: por uma poética do ato criador, p. 40.2 Cecília Almeida SALLES, Gesto inacabado: processo de criação artística, p. 72.3 Entrevista concedida à Editora Cosac & Naify. Disponível em:<www.cosacnaify.com.br/noticias/lescher.asp>.4 REA, Silvana. Transformatividade: aproximações entre psicanálise e ar-tes plásticas: Renina Katz, Carlos Fajardo, Flávia Ribeiro. São Paulo:Annablume: Fapesp, 2000, p. 128.5 Consulte: Anna Marie HOLM, Fazer e pensar arte, p. 38.6 Consulte na DVDteca Arte na Escola, o documentário Mira Schendel: a

transparência essencial.7 Consulte os documentários: Rafael França: obra como testamento;Videoarte: experimentos de imagem e [art.digital].8 Op. cit., Cecília Almeida SALLES, p. 67.9 Fayga OSTROWER, Criatividade e processos de criação, p. 32.10 RICHTER, Hans. Dadá: arte e antiarte. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 218.

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