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1 CPV fgv071dnovdir CPV O cursinho que mais aprova na FGV FGV Direito — 11/11/2007 REDAÇÃO Veja, leia e relacione as mensagens-estímulo apresentadas abaixo. Elas servem de suporte à proposta de Redação. I. Imagem Sebastião Salgado. Trabalhadores. Companhia das Letras. 54 54 54 54 54% das vagas da das vagas da das vagas da das vagas da das vagas da GV D D D D Direito ireito ireito ireito ireito ficaram para os alunos do ficaram para os alunos do ficaram para os alunos do ficaram para os alunos do ficaram para os alunos do CPV

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CPV O cursinho que mais aprova na FGV

FGV Direito — 11/11/2007

REDAÇÃO

Veja, leia e relacione as mensagens-estímulo apresentadas abaixo. Elas servem de suporte à proposta de Redação.

I. Imagem

Sebastião Salgado. Trabalhadores. Companhia das Letras.

5454545454%%%%% das vagas dadas vagas dadas vagas dadas vagas dadas vagas da GV D D D D Direitoireitoireitoireitoireito ficaram para os alunos doficaram para os alunos doficaram para os alunos doficaram para os alunos doficaram para os alunos do CPV

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II. Texto I“Da reconstituição do homem livre e sem posses como uma categoria social concluiu-se que nos ajustamentos entre gruposdominantes e dominados se entrelaçam as duas ‘faces’ constitutivas da sociedade: de um lado, a área que tendia a ordenar-seconforme ligações de interesses, de outro, os setores articulados por via de associações morais. A presença desses princípiosopostos de organização das relações sociais permitiu que fosse levada ao extremo a assimetria do poder, nada limitando aarbitrariedade do mais forte e reforçando a submissão do mais fraco. Todavia, essas condições mesmas de existência do homempobre conduzem, no limite, à possibilidade de sua afirmação como pessoa. A raiz dessa possibilidade se encontra na referidaconstelação de associações morais e ligações de interesse. Destas duas formas de relações sociais, as baseadas em interesseprevaleceram nos grupos dominantes, pois delas dependia a preservação mesma da ordem estabelecida.”

M. S. de C. Franco. Homens livres na ordem escravocrata. Editora UNESP.

III. Texto II“Ao contrário do que ocorreu nos tempos modernos, a instituição da escravidão na antiguidade não foi uma forma de obter mão-de-obra barata nem instrumento de exploração para fins de lucro, mas sim a tentativa de excluir o labor das condições da vida humana.Tudo o que os homens tinham em comum com as outras formas de vida animal era considerado inumano.(...) E a verdade é que oemprego da palavra ‘animal’ no conceito de animal laborans, ao contrário do outro uso, muito discutível, da mesma palavra naexpressão animal ratinonale, é inteiramente justificado. O animal laborans é, realmente, apenas uma das espécies animais quevivem na terra - na melhor das hipóteses a mais desenvolvida.”

H. Arendt. A condição humana. Forense Universitária.

PROPOSTATanto a imagem mostrada pela fotografia quanto as apresentações discursivas realizadas pelas pensadoras manifestam uma

situação evidente e bastante discutida pela cultura em seus meios próprios de expressão.Elabore um texto dissertativo em que as relações entre “condição humana” e “trabalho” formem o eixo temático a partir do

qual você vai construir seus argumentos. Realize-o da forma mais coesa e mais coerente possível, discutindo, de maneira convincente,a linha de reflexão que for desenvolver. Dê um título que sintetize seu texto em seu conjunto.

Comentário do CPV

A prova de Redação do vestibular da FGV-Direito 2007 solicitou que o candidato elaborasse um texto dissertativo que tivesse comoeixo temático as relações entre “condição humana” e “trabalho”. Como base à produção textual, a Banca Examinadora ofereceu umaimagem fotográfica — Trabalhadores —, de Sebastião Salgado, e dois textos. O primeiro evidenciava que princípios opostos regema organização das relações sociais, o que leva ao extremo a assimetria do poder e a arbitrariedade do mais forte em relação ao maisfraco. O segundo texto discute o trabalho escravo na Antigüidade, período em que a escravidão não visava à obtenção de lucro, masà execução de uma atividade desumana.

O candidato do CPV não deve ter encontrado dificuldades, pois provavelmente poderia ter retomado uma abordagem quefizemos na terceira aula do Semi FGV: há determinadas formas de trabalho que extraem do homem sua condição de ser humano.Na aula, trabalhamos o seguinte texto de Karl Marx:

“Uma aranha executa operações que se assemelham às manipulações do tecelão, e a construção das colméias pelas abelhaspoderia envergonhar, por sua perfeição, mais de um mestre-de-obras. Mas há algo em que o pior mestre-de-obras é superior àmelhor abelha, e é o fato de que, antes de executar a construção, ele a projeta em seu cérebro.”

Assim, em Filosofia, acredita-se que o que diferencia o homem dos demais animais é sua capacidade de refletir sobre o que faz.Os animais agem por instinto e o homem, ao longo da História, vem exercendo sua competência de raciocínio, que, associada àmemória, gerou a cultura que, passada de geração em geração, deu aos humanos uma liberdade em relação à própria existência,liberdade essa de que os outros animais não podem dispor. No entanto, com o advento da economia capitalista, baseada na práticada acumulação de capital, surgiu a necessidade, sobretudo no período pós-Revolução Industrial, de adaptar os meios de produçãoà crescente demanda que despontava. Dessa forma, modelos de produção em massa foram desenvolvidos a fim de otimizar aprodução. O fordismo, por exemplo, restringiu a concepção do trabalho aos donos do capital — grupo dominante — e condenou ostrabalhadores — grupo dominado — à execução repetitiva de tarefas que constituíam apenas parte do trabalho. Neste momento, ooperário se viu destituído da autonomia de refletir sobre aquilo que produzia. Deu-se, então, um processo de alienação do trabalho.A partir daí, o homem, por meio da atividade do trabalho, se viu dissociado da sua “condição humana” e reduzido à condição de animal,uma vez que passou a executar operações tão repetitivas e vazias de significação quanto as da aranha e as das abelhas no texto deMarx.

Assunto dadoem aula no CPV

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LÍNGUA PORTUGUESA

Abaixo foi transcrita uma pequena passagem do capítulo “A borboleta preta”, do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas.Leia-a, observando os recursos estilísticos, sobretudo aqueles manifestados na forma de utilização das classes gramaticais para aprodução especial de sentidos.

“O gesto brando com que, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho, queme aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas tornei lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmolugar, senti um repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu.

Não caiu morta; ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça. Apiedei-me; tomei-a na palma damão e fui depô-la no peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou dentro de alguns segundos. Fiquei um poucoaborrecido, incomodado.”

Machado de Assis. Obra Completa. Aguilar.Questão AA.a) Observe e analise as expressões do primeiro trecho, destacadas abaixo. Tendo em vista que inscrevem um olhar do narrador,

identifique e nomeie a figura criada por elas. A seguir, nomeie também a figura criada pela seqüência de ações resultantesdesse olhar e discorra sobre seu efeito de sentido. (1)

“O gesto brando com que, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho, que me aborreceu muito.”

Resolução:Na expressão gesto brando, a figura utilizada pelo narrador foi a sinestesia, pois gesto remete à esfera visual e brando à esfera táctil. Já emescarninho, adjetivo referente a escárnio ou zombaria, a figura utilizada foi a prosopopéia, pois atribui à borboleta uma característicahumana.Quanto à figura criada pela seqüência de ações resultantes do olhar do narrador, é possível identificá-la como gradação, pois observa-seuma progressão de idéias que vai do primeiro contato com o inseto à morte deste.

A.b) No segundo parágrafo, constrói-se um sentido de contradição do narrador em relação às suas ações manifestadas noprimeiro. Escolha três expressões verbais que justifiquem essa contradição e as analise no contexto da passagem. (2)

Resolução: A contradição pode ser constatada nas expressões “Apiedei-me”, “tomei-a na palma da mão”, “Fiquei um pouco aborrecido,incomodado” relativamente ao comportamento e às atitudes do narrador no primeiro parágrafo, no qual ele interpreta a presença daborboleta preta como uma afronta e, a partir daí, toma de uma toalha para matá-la.

A.c) Tendo como base a ambígua relação entre a borboleta preta e o narrador, desenvolva uma análise mais aprofundada, levandoem consideração a leitura do livro, sobre o efeito de sentido produzido pela figura da sinédoque “farpinhas da cabeça” e “napalma da mão”. (3)

Resolução: O aprofundamento analítico necessário para corroborar a ambigüidade da relação entre a borboleta preta e o narrador, passapelo entendimento de que as sinédoques encontradas em “farpinhas da cabeça” e em “palma da mão” (a parte pelo todo), mostram apostura de arrependimento do narrador relativamente à sua atitude e seu comportamento iniciais, revelando um jogo de sentidos contra-ditórios entre aborrecimento e pena, ódio e amor , raiva e afeto.Pode haver alguma dúvida quanto a se as expressões “farpinhas da cabeça” e “palma da mão” seriam realmente sinédoques. No entanto,pode-se partir da simples visão dessas figuras como representantes da relação parte/todo, como também fazer uso de uma análise maisprofunda, baseada no livro como um todo, e dizer que o olhar prepotente ou arrogante do narrador — que sempre busca desculpas parajustificar sua postura projetando a culpa no outro — vê a borboleta como algo insignificante (ou seja, operando uma redução no sentidobásico de “farpas da cabeça” e uma ampliação do sentido de “palma da mão”, fazendo com que, mesmo essa parte do seu corpo seja bemmaior que a do inseto). Têm-se, portanto, sinédoques nessas expressões.

Texto para as questões B e C

“Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu, umcírculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedras, clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e osmeninos deitados. De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaçosesfriavam recebendo o ar que entrava pelas rachaduras das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quandoiam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não erampropriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.”

Graciliano Ramos. Vidas Secas.Livraria Martins Editora.

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Questão B: “Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu,um círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedras, clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e osmeninos deitados.”

B.a) As ações de Fabiano nesse primeiro trecho desencadearam outras ações com efeitos plásticos e semânticos no contexto.Partindo dessa afirmação, analise, nas orações destacadas em itálico, os sentidos criados pela seqüência dos verbos, tantosob o ponto de vista físico, quanto sob o ponto de vista simbólico, denunciando o estado das personagens. (4)Resolução: As orações destacadas são todas coordenadas assindéticas, configurando uma justaposição de orações absolutas, numasobreposição de imagens descritivas. Do ponto de vista físico, observa-se a presença predominante da figura de linguagem prosopopéia,resultando numa gradação de sentido que parte do estado inerte para o movimento. Do ponto de vista simbólico, as brasas iluminam partesdo corpo das personagens em um jogo de luz (precária) e sombra que remete à própria condição dessas, em que momentos de esperançae de desespero se alternam ao longo da narrativa.

B.b) Em clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e os meninos deitados, Graciliano Ramos se vale detécnicas que se assemelham às do cinema, como se fosse o olhar da câmera. Explique esse mecanismo e contextualize seuefeito de sentido com base na obra lida. (5)Resolução: O mecanismo cinematográfico a que a técnica utilizada pelo narrador remete é o do traveling, em que a câmera se move paramostrar diversos aspectos de um cenário. Essa técnica permite associar a condição de miséria das personagens à condição de miséria dapaisagem em elas se inserem.

Questão C: “De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaçosesfriavam recebendo o ar que entrava pelas rachaduras das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quandoiam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não erampropriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.”

C.a) O caráter realista da descrição se vale de vocábulos de natureza concreta que imprimem formas distintas de sensações àexpressão verbal. Escolha três palavras de categorias gramaticais diferentes que sejam decisivas na construção da cenavisual e justifique as suas escolhas. (6)Resolução: Dentre os substantivos utilizados no texto, poderiam ser selecionados lume, rachadura, gretas, parede, janela, trempe (trêspedras em forma de triângulo); dentre os adjetivos, fraco, soltas, espaçadas; e dentre os verbos mexiam, esfriavam, entrava, arrepiavam-se, chegavam-se, ouviam. A justificativa para a escolha desses vocábulos remete à idéia de coisas concretas, objetivas ou palpáveis. Portratar-se de uma descrição de cena realista, esses vocábulos constroem a situação vivenciada pelas personagens da narrativa de formaverossímil.

C.b) Na passagem, o modo “descritivo” de narrar e o uso de determinados núcleos de sujeito em relação aos predicados verbaissugerem uma forma de desumanização, de reificação dos meninos. Explique esse procedimento valendo-se de elementos dotexto. (7)Resolução: Os meninos não têm nomes, as referências a eles são feitas por meio de pronomes demonstrativos e indefinidos, como no casode “estes se mexiam” (núcleo do sujeito é o pronome demonstrativo estes) e de “Outros pedaços esfriavam” (núcleo pedaços fazendoreferência a partes do corpo).

C.c) Assinalando alguns termos dos três últimos períodos da passagem, temos: “Por isso não podiam dormir. Quando iampegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Nãoeram propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.”No trecho, o que se percebe é a ocorrência do efeito de negatividade incidindo sobre duas ações por motivos diferentes.Analise a natureza dos referidos motivos dentro do contexto do romance. (8)Resolução: O efeito de negatividade incide sobre “não podiam dormir” e “não eram propriamente conversa”. O não poder dormir estáligado à causa de o ar (frio) entrar pelas rachaduras da parede e pelas gretas da janela; já não ser propriamente conversa está ligado àcausa de a comunicação entre Sinha Vitória e Fabiano ocorrer por meio de frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.Dentro do romance, dadas as condições sociais e geográficas em que as personagens estão inseridas, estas encontram-se privadas domínimo que torna as pessoas “humanas”, como, por exemplo, uma casa e uma cama decentes (queixa de Sinha Vitória) e acesso à culturaletrada (queixa de Fabiano).

Comentário do CPVA prova da FGV-Direito de 2007 pode ser considerada difícil, por sua abordagem perspicaz à interpretação de textos e à necessidade de umconhecimento superior para a aplicação dos componentes estruturais da gramática.A prova prestigiou a interrelação dos conhecimentos gramaticais do candidato à estilística e à semântica, procurando verificar a competência desteno que toca ao entendimento profundo do relacionamento entre os componentes do plano da expressão da Língua.

Todos os assuntos foramdados em aula no CPV