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1 CPV fgv102fdezeco FGV economia – 2 a Fase – 19/dezembro/2010 CPV O cursinho que mais aprova na fGV LÍNGUA PORTUGUESA 01. Leia a tira e o texto. Foi o que bastou para que o súdito de Sua Majestade se visse arrastado por uma onda de irresistível nostalgia. Mas nada de Pampulha, Serra do Curral, Praça da Liberdade, Rua do Amendoim, essas belorizontices: a lembrança mais forte que Michael guardava da capital mineira, vinte anos depois, era de uma empadinha. Humberto Werneck, O espalhador de passarinhos a) Considerando os valores afetivos da linguagem, comente o sentido assumido pelas palavras morandinho e empadinha, extraídas respectivamente da tira e do texto. b) Em português, a ideia de diminuição das proporções, manifestada pelos sufixos próprios dos diminutivos, em sua forma, caracteriza o grau dos substantivos. Aplique essa regra às palavras morandinho e empadinha, apresentando comentários pertinentes. Resolução: a) O termo “morandinho”, cuja formação não é prevista pela gramática normativa, indica afetividade entre a personagem retratada e sua mãe. Vale destacar que, contextualmente, reconhece-se que “morandinho” indica a regalia de que goza a personagem enquanto mora com a mãe. Em “empadinha”, embora se trate de uma forma usual de se referir a uma espécie de salgado, pelo contexto, identifica-se a valorização afetiva que lhe é atribuída quando se comparam as dimensões dos lugares os quais foram esquecidos e a importância conferida à empadinha, como única digna de recordação. b) A palavra “morandinho” indica a displicência da personagem em relação às obrigações domésticas e confere ao enunciado certa leveza, a qual contrasta com o termo “casadão”. A formação do vocábulo “empadinha” indica o diminutivo de “empada”, substantivo que admite flexão de grau. Contextualmente, é o que há de mais significativo nas memórias de Michael.

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1CPV fgv102fdezeco

FGV – economia – 2a Fase – 19/dezembro/2010

CPV O cursinho que mais aprova na fGV

língua portuguesa

01. Leia a tira e o texto.

Foi o que bastou para que o súdito de Sua Majestade se visse arrastado por uma onda de irresistível nostalgia. Mas nada de Pampulha, Serra do Curral, Praça da Liberdade, Rua do Amendoim, essas belorizontices: a lembrança mais forte que Michael guardava da capital mineira, vinte anos depois, era de uma empadinha.

Humberto Werneck, O espalhador de passarinhos

a) Considerando os valores afetivos da linguagem, comente o sentido assumido pelas palavras morandinho e empadinha, extraídas respectivamente da tira e do texto.

b) Emportuguês,aideiadediminuiçãodasproporções,manifestadapelossufixosprópriosdosdiminutivos,emsuaforma,caracteriza o grau dos substantivos. Aplique essa regra às palavras morandinho e empadinha, apresentando comentários pertinentes.

Resolução:

a) O termo “morandinho”, cuja formação não é prevista pela gramática normativa, indica afetividade entre a personagem retratada e sua mãe. Vale destacar que, contextualmente, reconhece-se que “morandinho” indica a regalia de que goza a personagem enquanto mora com a mãe.

Em“empadinha”,emborasetratedeumaformausualdesereferiraumaespéciedesalgado,pelocontexto,identifica-seavalorizaçãoafetiva que lhe é atribuída quando se comparam as dimensões dos lugares os quais foram esquecidos e a importância conferida à empadinha, como única digna de recordação.

b) A palavra “morandinho” indica a displicência da personagem em relação às obrigações domésticas e confere ao enunciado certa leveza, a qual contrasta com o termo “casadão”.

Aformaçãodovocábulo“empadinha”indicaodiminutivode“empada”,substantivoqueadmiteflexãodegrau.Contextualmente,éoquehádemaissignificativonasmemóriasdeMichael.

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fgv – 19/12/2010 CPV o cursinho que mais aprova na fGV

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Instrução: Leia o texto para responder às questões de números 02 a 04.

Rodrigo conduziu o velho até o leito, apagou a luz do candeeiro e saiu, dirigindo-se ao quarto de Ângelo. Encontrou-o deitado, os cabelos sobre os travesseiros, as mãos crispadas, apertando as cobertas. No assoalho — pois estava no quarto que fora de Elisa — ao pé da cama, viu o resto de leite no copo, pedaços de biscoitos. (...)

PaulinoDuarte,afisionomiaimóvel,sentiavontadedeabrirosolhos,arrancá-loscomasunhas,naânsiadedestruiraquelascriaturas. Esgotado, os mortos existindo dentro dele, vivos nas trevas, chegara assim à casa da fazenda. Percebera as palavras deÂngelo,roucas,semnexo,eavozdeRodrigo.Sentiuosfilhostirando-lheasbotas,mudando-lhearoupa.

Agora, depois que perguntara a Rodrigo pelo estado de Ângelo, e recebera a resposta, sentia-se desconcertado. Pacientemente, desfazendo a crispação dos dedos, procurou idealizar como seria a sua vida no futuro, como aceitaria aquelas trevas. Quase alegre,pensounaquelefim,naquelacegueira,comoumconsolo.Sim,domesmomodoquecertosprisioneirosacabamamandoosferrosdaprisão,eletambém,forçadopelotempo,acabariaporamá-la.Amá-la?—etodoeletremeu,agitado,aopesodaquelapalavra.Comoamá-la,seelaoenfraquecia,transformava-oemumapresadosmortos,emumainutilidadeparaosvivos?

Adonias Filho, Os servos da morte

02. a) Indicando a função sintática da expressão ao pé da cama, ocorrente no primeiro parágrafo do texto, comente a ambiguidade proveniente do emprego desse termo, no contexto.

b) Demonstre como se pode eliminar essa ambiguidade, apresentando comentários esclarecedores.

Resolução: a) A função sintática de “ao pé da cama” é adjunto adverbial de lugar. O emprego ambíguo desse sintagma permite duas leituras: 1) Rodrigo viu o resto de leite no copo e pedaços de biscoitos que estavam ao pé da cama. 2) Rodrigo, que estava ao pé da cama, viu o resto de leite e pedaços de biscoitos. Essa ambiguidade é acarretada pelo deslocamento do adjunto adverbial para o início do período. b) Leitura 1) — (...) viu o resto de leite no copo, pedaços de biscoitos ao pé da cama. Oadjuntoadverbial,pospostoaoobjetodireto,eliminaaleituradequeRicardoestápróximoaopédacama. Leitura 2) — Rodrigo, ao pé da cama, viu o resto de leite no copo, pedaços de biscoitos (...) Nessaconstrução,explicita-seosujeitode“viu”ecoloca-seoadjuntoadverbiallogoapós“Rodrigo”.

03. a) Comparando as formas verbais perguntara e recebera com procurou e pensou, do terceiro parágrafo, nomeie os tempos emqueestãoflexionadasecomenteadiferençadefunçãodessestempos,nocontexto.

b) Explique em que são distintas as formas sentia e sentiu, no segundo parágrafo, quanto à duração do processo.

Resolução: a) O pretérito mais-que-perfeito é utilizado na língua portuguesa para fazer referência a um passado distante, longínquo; ao passo que o

pretérito perfeito é empregado para aludir a ações pontuais no passado. Assim, as ações expressas por “perguntara” e “recebera” são anteriores às indicadas por “procurou” e “pensou”.

b) A forma “sentia” (pretérito imperfeito do indicativo) denota que “a vontade de abrir olhos” era algo contínuo, recorrente. Aforma“sentiu”(pretéritoperfeitodoindicativo)fazmençãoaoatopontualdeosfilhostirarem-lheasbotas.

04. a) Restringindo-seaoterceiroparágrafodotexto,transcrevaotrechoquepodeexemplificarodiscursoindiretolivre. b) Reestruture o trecho depois que perguntara a Rodrigo pelo estado de Ângelo, extraído do mesmo parágrafo, empregando

o discurso direto.

Resolução: a) Umtrechoqueexemplificadiscursoindiretolivreé: Sim,domesmomodoquecertosprisioneirosacabamamandoferrosdaprisão,eletambém,forçadopelotempo,acabariaporamá-la.

Amá-la? b) Há duas possibilidades para a reescritura do enunciado em discurso direto: 1) ...depois que perguntara a Rodrigo: — Como está Ângelo ? 2. Alternativamente, é possível, retomando-se o contexto, apresentar a seguinte construção: O velho depois que perguntara a Rodrigo: — Como está Ângelo ?

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CPV o cursinho que mais aprova na fGV Fgv – 19/12/2010

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05. Analise a tira.

a) Tendoemvistaasignificaçãodaspalavraseseuempregonalíngua,transcrevaduasexpressõesdatiraquesãoutilizadasnormalmente em situações mais informais, relacionando-se a variedades sociais ou regionais.

b) Articulando tais expressões a situações típicas de um contexto mais formal, substitua-as por termos mais comuns à norma padrão da língua, reescrevendo as frases em que aparecem.

Resolução: a) Asexpressõessão“baita”e“ué”.Elaspertencemavariantesregionais,dosuldeMinasGeraisedointeriordeSãoPaulo. b) Reescrevendo as frases, tem-se —...edeuumgrandenó... — Estranho! Qual foi ... / — Nossa! Qual foi ...

Instrução: Leia os textos para responder às questões de números 06 e 07.

Não sei, pois, a quantas edições do programa eu assisti,masacreditoqueumaúnicaexperiênciajáteriasidoobastante,porque a mensagem era clara para as crianças da minha geração.

IstoÉ, 14.07.2010. Adaptado

Dedos frios e trêmulos tocaram-no, prenderam seu braço. Não se voltou, pois sabia a quem pertenciam. Num segundo, recordouosfinoscabelosdeAlineàbrisadanoite,aalegriasufocada,culposa,aânsiadefugir,odesejodevoltar,seubelorosto ardente, as mãos frias...

Osman Lins, Os gestos

06. a) Transcreva do texto de Osman Lins uma passagem em que se encontre um caso de regência verbal semelhante à ocorrida no trecho grifado no texto da revista IstoÉ.

b) Expliqueambasassituações,identificandooconectivoutilizadoparaarticulararegênciaedemonstrandosuanecessidade.

Resolução:

a) No contexto de Osman Lins, a passagem em que se encontra um caso de regência verbal semelhante à ocorrida no trecho grifado no texto da revista IstoÉ (“a quantas edições do programa eu assisti, ...”) é “... pois sabia a quem pertenciam.”

Ambos os verbos (assistir e pertencer) são transitivos indiretos. b) Na passagem “...a quantas edições do programa eu assisti”, o verbo “assistir” é complementado por uma expressão de sentido quantitativo

(“edições”, substantivo feminino, plural) — daí o conectivo “quantas”. Na passagem “... pois sabia a quem pertenciam”, o verbo “pertencer” é complementado por uma expressão denotadora de pessoa

“possuidora”, daí o conectivo “quem”.

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07. a) O sentido expresso pela conjunção pois,nasocorrênciasverificadasnosdoistextos,nãoéomesmo.Expliciteadiferençaentre ambas.

b) Comente o papel da pontuação, na caracterização desse termo, nas duas passagens.

Resolução:

a) Em “Não sei, pois, a quantas edições ...”, o conectivo possui valor conclusivo. Em “ Não se voltou, pois sabia...” apresenta noção explicativa. Issosejustificapelofatode,noprimeirocaso,aconjunçãoestardeslocada(antesdoverbodesuaoração),diferentementedoque

acontece no segundo caso. b) No primeiro caso, o conectivo aparece entre vírgulas por estar deslocado (nesse caso, pode ser substituído por “ logo”, por exemplo).

No segundo caso, uma vez que introduz oração explicativa, é antecedido por vírgula.

Instrução: Leia os textos para responder às questões de números 08 e 09.

Mas não foi isso que aconteceu. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-senumcinzentotriste.Eveioosilêncio:[opássaro]deixoudecantar.(...) Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade. Os jovens são aves que voam pela manhã: seus voos sãoflechasemtodasasdireções.

Rubem Alves, Concerto para corpo e alma

Amentalidadepredominainclusivenoplanofederal,ondevaleamáximadeabrirastorneirasparairrigarasurnascomvotos.

IstoÉ, 14.07.2010

08.Metáforaéumafiguradelinguagemqueconsistenasubstituiçãodosignificadodeumapalavraporoutro,emvirtudedeumarelação de semelhança subentendida.

a) Combasenessadefinição,transcrevadoisexemplosdemetáfora,notextodeRubemAlves. b) Transcrevaumexemplodamesmafigura,dotextodarevistaIstoÉ,justificandosuarespostacomumaexplicaçãosobre

osentidodesseusofigurado,nocontexto.

Resolução:

a) SãodoisexemplosdemetáforanotextodeRubemAlves: “Osjovenssãoavesquevoampelamanhã”e“seusvotossãoflechasemtodasasdireções”. b) Existe metáfora em “abrir as torneiras para irrigar as urnas com votos”, que pode ser mais evidenciada em “abrir as torneiras é irrigar as

urnascomvotos”.Nocontexto,“abrirastorneiras”significafazer concessões ou dar dinheiro, e “irrigar as urnas com votos” indica atrair muitos votos.

09. Considere a seguinte passagem do texto de Rubem Alves:

Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade.

a) Sabendoqueotempopresentepodecorresponderaumaaçãoqueacontecenomomentodafaladoenunciador,comentese o verbo sabem, nesse contexto, preenche esse requisito.

b) Reescrevaamesmafrase,utilizandoumtempoverbalquepressuponhahipóteseoudúvida,comrespeitoàaçãofocalizada.

Resolução:

a) A forma verbal “sabem” não corresponde a uma ação que acontece no momento da fala do enunciador, no contexto empregado por Rubem Alves. Ela enuncia uma ação habitual, de validade permanente.

b) “Os jovens e adultos pouco saberiam sobre o sentido da simplicidade” ou “Os jovens e adultos talvez pouco saibam sobre o sentido da simplicidade”.

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10. Leia o texto.

A rede de espionagem desmantelada pelos americanos surpreendeu por usar métodos da Guerra Fria, ao colocar russos comidentidadesfalsificadasparaviverememmeioàpopulaçãocomumdosEUA.

Usando,pois,ummétodocaroeultrapassado,ossupostosespiõesnãoteriamconseguidoinformaçõesimportantes.Alémdisso,segundoanalistasdeinteligência,dificilmenteelesrecolheriaminformaçõesquenãoestejamdisponíveisnainternet.

O Estado de S.Paulo, 09.07.2010

a) Levando em conta o contexto, comente o sentido da expressão analistas de inteligência, em face de “pessoas de inteligência”, explicando a diferença existente entre elas.

b) Elabore uma frase em que apareça a palavra para, com um sentido diferente do encontrado no texto (inclusive com mudança declassegramatical),justificandosuaresposta.

Resolução:

a) A expressão analistas de inteligência refere-se a pessoas que coletam, organizam e interpretam informações importantes ou relevantes. A expressão pessoas de inteligência refere-se a pessoas que possuem inteligência ou características relacionadas a essa aptidão.

b) Chuva paraSãoPaulo. No exemplo em questão, para pode ser verbo (parar) ou então preposição indicativa de destino ou destinatário.

CoMentÁrIo Da proVa De língua portuguesa

AexemplodoocorridonaprovadeLínguaPortuguesaparaoCursodeEconomia,emsuaprimeirafase,abancaexaminadoradaFGVoptoutambémpeloequilíbrionasolicitaçãodequestõesdeGramáticaedeEstilística/Semântica(50%decadaárea),nestasegundaetapa.

Oníveldedificuldadeapresentadoaoscandidatos,emtermosdeseusconhecimentosdelínguapátria,destavezpodeserconsideradodemédioa elevado — algumas questões, como a 1, 5, 8 e 10 provavelmente tenham dado mais trabalho de raciocínio aos vestibulandos.

A prova foi muito bem elaborada, com bastante objetividade e clareza, cobrindo aspectos importantes e necessários à carreira dos economistas (interpretação, semântica, pontuação e reestruturação de períodos).