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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
SOCIALCURSO DE DOUTORADO
ADRIENE BARRETO DE FREITAS
JOVENS NMADES DO TEMPO PRESENTE
Rio de Janeiro
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
SOCIALCURSO DE DOUTORADO
ADRIENE BARRETO DE FREITAS
JOVENS NMADES DO TEMPO PRESENTE
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em
Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio deJaneiro como requisito parcial para obteno do Ttulode Doutor em Psicologia Social.
Orientadora: Profa. Dra. Regina Gloria Andrade.
Co-orientadora: Profa. Dra. Hris Arnt.
Rio de Janeiro2009
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CATALOGAO NA FONTEUERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A
F866 Freitas, Adriene Barreto.Jovens nmades do tempo presente /Adriene Barreto Freitas,
2009.282 f.
Orientadora: Regina Gloria Andrade.Co-orientadora: Hris Arnt
Tese (Doutorado) Universidade do Estado do Rio deJaneiro. Instituto de Psicologia.
1. Psicologia do adolescente Teses. 2.Adolescncia Teses. 3. Juventude Teses. I. Andrade, Regina Gloria. II.Arnt, Hris.. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.Instituto de Psicologia. III. Ttulo.
CDU 159.922.8
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
SOCIALCURSO DE DOUTORADO
ADRIENE BARRETO DE FREITAS
JOVENS NMADES DO TEMPO PRESENTE
ORIENTADOR (ES): Profa. Dra. Regina Gloria Nunes Andrade
Profa. Dra. Dra Hris Arnt
BANCA EXAMINADORA:
Profa. Dra Regina Gloria Nunes Andrade (Presidente) UERJ
Profa. Dra Hris Arnt UERJ
Profa. Dra Betnia Maciel UFRPe
Profa. Dra Monica Grin UFRJ
Prof. Dr Luis Antonio Cunha Ribeiro UFF
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Ao meu marido Aloisio, na certeza de que, onde quer que euv, a fora do seu amor estar em mim, e, onde quer que eleesteja, estar no meu pensamento.
minha filha Ana Carolina, meu presente maior, orgulho eeternidade. A razo do meu viver.
Aos meus pais, Clara e Joo Alberto, por ser quem sou.Alm do tempo e espao.
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AGRADECIMENTOS
Profa. Dra. Regina Glria Nunes Andrade, pelas inesquecveis lies como
orientadora deste trabalho;
Profa. Dra. Hris Arnt, pelo incentivo e presena durante os encontros de co-
orientao;
Ao meu irmo Rodney e sua querida Isabela, que sempre estiveram ao meu lado;
A minha sobrinha Gabriela, sinnimo de amor e parceria;
Roberta, sentido do meu trabalho;
Ao Miguel, significado traduzido de amizade;
Francisca, por no me deixar esquecer do que sou capaz;Ao Pedro e sua querida famlia, pelo inesgotvel apoio e fora;
Aos meus jovens, por reinaugurarem em mim a vida e a f;
Aos meus Anjos da madrugada, pelas bnos de coragem e de audcia;
Fundao CAPES, que deu subsdios para que a concretizao da pesquisa se tornasse
realidade.
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RESUMO:
A presente TESE DE DOUTORADO teve como objetos de investigao os jovens imersos nacontemporaneidade e suas experincias/vivncias de vida scio-cultural e, especialmente, suas
relaes com o tempo e o espao social, sob a influncia do conceito de nmades do tempopresente, segundo a viso de Alberto Melucci (1998). Este trabalho foi desenvolvido na PsGraduao em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foramselecionados por indicao vinte jovens de classe mdia alta da cidade do Rio de Janeiro,residentes no bairro da Barra da Tijuca, compreendidos na faixa etria entre 17 e 20 anos.Para entend-los, utilizamos o mtodo de Estudo de Caso, em que foram reunidos uma sriede procedimentos como entrevistas estruturadas no diretivas, amostras de convenincia emtodo de seleo de depoimentos. Foi realizada a anlise das entrevistas atravs de umapesquisa qualitativa, que objetivou saber quem so estes jovens, sua relao com a vida, comoeles percebem o tempo, como sua relao espacial e sua politizao frente a sua cidade e aoseu pas. O tema abordado diz respeito relao da juventude deste novo milnio e sua
conexo com as novas modalidades de relao com a temporalidade, isto , a vivncia dajuventude e do tempo. A fundamentao terica baseou-se em ampla bibliografia, ondefiguram autores como Gilles Lipovetsky, N. Canclini, N. Elias, S. Zukin, Z. Bauman e outrostericos das cincias sociais. Trs conceitos-chave foram articulados ao longo do trabalho enorteadores no aspecto terico assim como na anlise das entrevistas: a cultura juvenil, otempo e o espao social.
Palavras chave: Jovem; Tempo; Espao; Barra da Tijuca.
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ABSTRACT
This DOCTORAL THESIS had as its object of investigation the young people immersed inthe contemporary and their social/cultural life experiences and, specifically, their relations
with the "Time and the Social Space", under the influence of the concept of "nomads in thepresent time", according to the Alberto Melluci's view (1998). This work was developed onthe Social Psychology Post Graduation School, at the Universidade do Estado do Rio deJaneiro. Twenty high/middle class young individuals with ages from 17 to 20, from the Barrada Tijuca neighborhood, city of Rio de Janeiro, were selected by indication. In order tounderstand them, we used the "Case Study" method, where a range of procedures werecombined, such as: non-directive structured interviews, living samples and statements'selection method. An analysis of the interviews through a qualitative research was done, withthe intent of finding out who are those individuals, their relationship with life, how theyperceive the time, how is their space relationship and their politicization to their city and theircountry. The discussed issue focus on the youth's relationship with this new millennium and
its connection with the recent forms of relationship with the temporality, as: the living of theyouth and the time. The theory is based on a wide bibliography, with authors such as GillesLipovetsky, Nestor Canclini, Norbert Elias, Sharon Zukin, Zigmunt Bauman and other socialscientists. Three key concepts were articulated through this work and served as basis for thetheory's aspects and for the analysis of the interviews: the young culture, the time and thesocial space.
Key Words: Young; Time; Space; Barra da Tijuca.
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SUMRIO
INTRODUO..................................................................................................
CAPTULO I CULTURA JUVENIL............................................................
1.1 Conceitos de cultura.....................................................................................
1.2 Cultura juvenil.............................................................................................1.3 Multiculturalidade e interculturalidade no tempo do momento.............
1.4 Situaes da Amrica Latina frente nulticulturalidade,
interculturalidade e ao hibridismo...................................................................1.5 Os diferentes: incluso/excluso e desconexo do jovem.........................
1.6 Juventude......................................................................................................
CAPTULO II A JUVENTUDE E O TEMPO.............................................
2.1 O tempo.........................................................................................................
2.2 O jovem e a percepo do tempo................................................................
2.3 Tempo psicolgico........................................................................................2.4 A percepo e o tempo.................................................................................
2.5 A questo dotempoe os estudos contemporneos....................................
2.6 O tempo na era da informao...................................................................
2.7 A sociedade do hiperconsumo.....................................................................
2.8 O turbo consumidor.....................................................................................
CAPTULO III ESPAO...............................................................................3.1 Espao: definies e tipos............................................................................
3.2 Globalizao e espao..................................................................................
3.3 Cyberespao..................................................................................................
3.4 Exploso multimdia no ciberespao..........................................................
3.5 Espaos da tela: Youtubee Orkut..............................................................
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CAPTULO IV A ILHA DA FANTASIA.....................................................
4.1 A cidade: um antigo e tradicional espao humano...................................
4.2 Segregao urbana.......................................................................................
4.3Cidades-shopping e o fenmeno da disneificao.................................
4.4 Condomnios-shopping ou cidadelas fechadas e a nova reorganizao
do espao.............................................................................................................
4.5 Barra da Tijuca: histrico e caractersticas..............................................
4.6 Influncia da mdia e medo na Barra da Tijuca.......................................
CAPTULO V PESQUISA PSICO-SOCIAL DO JOVEM MORADORDA BARRA DA TIJUCA..................................................................................
5.1 Metodologia..................................................................................................
5.2 Objetivo geral e objetivos especficos.........................................................
5.3 Hipteses formuladas...................................................................................
5.4 Fundamentao terica...............................................................................
5.5 Metodologia do estudo de caso....................................................................
5.6 Categorias de tempo e de espao social......................................................
CAPITULO VI ANLISE DAS ENTREVISTAS.......................................
6.1 Tpico I: sujeito jovem da Barra................................................................
6.2 Tpico II: o tempo e o jovem da Barra......................................................
6.3 - Tpico III: o jovem da Barra e o espao..................................................
6.4 Tpico IV: juventude, conscincia scio poltica e prticas culturais.....
CONCLUSO....................................................................................................
BIBLIOGRAFIA................................................................................................
APNDICE 1......................................................................................................
APNDICE 2......................................................................................................
APNDICE 3......................................................................................................
ANEXO...............................................................................................................
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QUADROS E TABELAS
Quadro 1 Sntese das informaes fixas sobre os jovens do bairro da
Barra da Tijuca-RJ/Brasil.................................................................................
Quadro II Critrios para determinao da classe social, segundo a
Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa.............................................
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O tempo
A vida o dever que ns trouxemos para fazer em casa.Quando se v, j so seis horas!Quando de v, j sexta-feira!
Quando se v, j natal...Quando se v, j terminou o ano...
Quando se v, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se v, passaram 50 anos!Agora tarde demais para ser reprovado...Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relgio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e intil das horas...
Mrio Quintana (A cor do Invisvel).
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INTRODUO
O pensamento escravo da vida, e a vida, brinquedo do tempo: e o
tempo que avista o mundo inteiro precisa ser detido.William Shakespeare, Henry IV.
Esta tese tem como objeto o estudo da relao com a vida, da percepo de tempo, da
relao com o espao, bem como da politizao frente cidade e ao pas de jovens
contemporneos, entre dezessete e vinte anos, de classe mdia alta, moradores no bairro da
Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro.
A escolha se justifica, sobretudo, porque a realidade de jovens das classes mais
favorecidas representa um campo ainda pouco explorado em nossos meios acadmicos.O ttulo desta tese remete idia defendida por Alberto Melucci, na obra Nomads of
the present (1998), em que o autor prope a figura do nmade como metfora das
trajetrias biogrficas contemporneas, agregando a figura do nmade do presente, que
significa a vivncia do provisrio nas questes sociais e pessoais do tempo de agora.
O primeiro captulo explora o conceito de cultura, sob o ponto de vista social, para
fundamentar a abordagem de fenmenos culturais prprios do Brasil, nos quais os jovens que
estudamos esto mergulhados.Ao se estudar a cultura no Brasil, existe uma preocupao em saber qual a importncia
dos meios de comunicao de massa na vida do pas, alm do questionamento sobre a cultura
das diferentes classes sociais, incluindo-se a a cultura popular.
Nesse captulo, duas categorias provenientes da cultura merecem destaque, a
multiculturalidade e a interculturalidade.
Como a concepo de multiculturalidade expressa uma forte tendncia para a
interseo cultural, ser preciso estudar de que forma essa multiculturalidade se engendra na
Amrica Latina e at que ponto se do a incluso e a excluso dos jovens nos processos
culturais, como pontua Canclini, em Diferentes, desiguais e desconectados(2005).
Na anlise da insero dos jovens na cultura, uma primeira hiptese de trabalho
formulada: os jovens exercem uma funo revitalizadora da vida social, so elementos
potencialmente disponveis para oportunidades que envolvam mudanas no contexto poltico,
econmico e social do mundo.
Os historiadores Levi & Scmitt entendem a prpria juventude como uma construo
social e cultural, ressaltando que em nenhum lugar, em nenhum momento da histria, a
juventude poderia ser definida segundo critrios exclusivamente biolgicos ou jurdicos
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Sempre, e em todos os lugares, ela investida tambm de outros valores (Levi & Scmitt,
1996, p.14).
Segundo a especialista Helena Abramo, a noo de juventude socialmente varivel.
A definio do tempo de durao, dos contedos e significados sociais desses processos
modifica-se de sociedade para sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e atravs
das suas divises internas(Abramo, 2004, p.1).
No segundo captulo, algumas categorias tericas principais, como o tempo e sua
percepo, sero privilegiadas como pilares da discusso.
O socilogo Norbert Elias foi o norteador terico deste trabalho, ao conceber tempo
como uma categoria social, diferente de outras linhas que o colocam como um dado da
natureza. Para Elias, quanto mais avanada a sociedade mais os relgios ocupam um lugardestacado, pois sua funo reguladora. Porm, no se pode esquecer que eles so apenas
instrumentos representativos do tempo, mas no so o tempo. Para o socilogo, o tempo no
existe em si; , acima de tudo, um smbolo social e no pode ser visto como dado objetivo ou
conceito inerente ao ser humano. Elias, em sua obra Sobre o tempo, esclarece:
O que chamamos de temposignifica, antes de qualquer coisa, um quadrode referncia, do qual um grupo humano mais tarde a humanidade inteira se serve para erigir, em meio a uma sequncia contnua de mudanas, limitesreconhecidos pelo grupo, ou ento para comparar uma certa fase, num dadofluxo de acontecimentos, com fases pertencentes a outros fluxos, ou aindapara muitas outras coisas (Elias, 1998, p.60).
A noo de tempo da sociedade no est ligada apenas ao ntimo do indivduo o
tempo psicolgico , mas tambm cultura e sociedade em que se est inserido. O tempo
psicolgico o tempo que a personalidade assume interiormente; o tempo filtrado pelas
vivncias subjetivas, muitas vezes carregadas com toda a problemtica existencial.
Sobre a percepo do tempo, pode-se observar que varia de acordo com o momento devida do ser, ou seja, o tempo percebido de forma variada, a que se denomina relatividade do
tempo.
Nesse ponto, a segunda hiptese elaborada foi: essa relatividade na percepo do
tempo, uma das funes psquicas mais sensveis na atualidade, est ligada acelerao,
velocidade com que as informaes atinge principalmente o jovem.
A rapidez e a velocidade das trocas, bem como a nova temporalizao estudada pelo
socilogo Lipovetsky (2006), tambm sero aprofundadas.
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No terceiro captulo, ser trabalhada a categoria espao e suas mais variadas
conceituaes,dentre elas o espao geogrfico.
Assim como os fatos variam no tempo, o espao acumula-se a partir dos
acontecimentos. As relaes sociais so sempre espaciais e existem a partir da construo de
certas espacialidades. Pode-se considerar uma espacialidade efetivamente vivida e
socialmente criada, ou seja, a construo da espacialidade como um produto de processos
sociais e rebatimentos materiais, ao mesmo tempo concreta e abstrata.
Outra categoria a de hiperespao. A velocidade com que a tecnologia progride e se
expande no espao social um dos principais problemas que se colocam, estabelecendo um
novo espao de descoberta: a Fronteira Eletrnica. O desenvolvimento da tecnologia oferece
um maior leque de experincias nas residncias, nas escolas e nos locais de trabalho, o queleva o homem ao encontro da experincia virtual, no s como observador, mas tambm
como participante ativo de acontecimentos simulados, integrando-o numa verdadeira
comunidade virtual e criando novas concepes do mundo.
O avano tecnolgico permitiu a ampliao e a adaptao do pensamento e da
inteligncia, de forma a assimilarem-se e acomodarem-se as informaes. Esses elementos
so previamente modificados pelo espao virtual e, portanto, se relacionam e interagem com
uma informao diferenciada, que exige outras formas de conexes e relaes, muito mais emrede, interconectadas e carregadas de diversidade de opinies e de formatos intelectuais
distintos.
A globalizao e o desenvolvimento tecnolgico acarretaram a maior parte das
mudanas e transformaes vivenciadas nos ltimos anos. Esses dois aspectos esto presentes
na realidade e no pensamento, desafiando grande nmero de pessoas em todo o mundo e so
componentes de um ciclo contnuo e irreversvel.
O conceito de ciberespao tambm ser discutido e analisado atravs dosesclarecimentos de Pierre Levy (1996).
De acordo com o jornalista Dnis de Moraes,professor do departamento de Estudos
Culturais e Mdia da Universidade Federal Fluminense (UFF), em seu artigo Ciberespao e
mutaes comunicacionais(2002), vive-se a era dos fluxos infoeletrnicos. A fora invisvel
dos sistemas tecnolgicos encurta a imensido da Terra e subverte toda e qualquer barreira.
Dois protagonistas entre os jovens de hoje sero estudados: o YouTubee o Orkut.
A terceira hiptese de trabalho, aqui formulada e investigada, consiste em que o jovem
frequenta assiduamente e vivencia um novo espao, chamado de virtual.
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No quarto captulo,o tema estudado o espao urbano, a cidade, que comporta em si
suas transformaes e consequncias. Atravs da arquitetura, pode-se contar uma histria que
traz registros, como os prdios e estruturas de uma natureza fabricada, que tem o dom de
durar, permanecer, legar ao tempo os vestgios de sua existncia. A cidade um registro, uma
escrita, materializao de sua prpria histria (Rolnik, 2004, p.9).
O espao, como um espao criado, ser observado e estudado. Especialmente no que
diz respeito ao objeto da tese, existe uma idealizao de um espao montado, como lugar
perfeito, em que h uma programao especial a cumprir, uma tentativa de desprogramar os
elementos negativos. A Barra da Tijuca apresenta uma urbanizao peculiar, diversa daquela
dos bairros mais tradicionais.
Nas cidades contemporneas, fica evidente que os territrios so diferenciados,divididos em bairros que refletem o poder aquisitivo da classe social. Quando se menciona a
Zona Sul do Rio de Janeiro ou a Baixada Fluminense, sabe-se que so locais totalmente
diversos. como se a cidade fosse um imenso quebra-cabeas, feito de peas diferenciadas,
onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais (Rolnik, 2004, p.40).
A ocupao da terra urbana foi determinada pela lgica capitalista com a interveno
do Estado. O bairro da Barra tambm um exemplo disso. O arquitetoCardoso (1988), em
sua dissertao Construindo a utopia: urbanismo e modernidade no Brasil, afirma que aBarra da Tijuca uma interveno sobre o urbano, segundo as lgicas e as necessidades da
classe dominante e cuja forma de expresso se d ora atravs da adequao as novas formas
de consumo, ora na articulao do organismo de planejamento com os interesses imobilirios,
ora ainda na destinao elitista do espao sob interveno.
Assim, uma quarta hiptese pode ser considerada: esta paisagem ps-moderna
totalmente fabricada, ela ganha vida real; so cenrios de sonho onde todos os aspectos esto
voltados para o consumo. Instaura-se um clima de perfeio, onde no existe pobreza,problema, insegurana, violncia. Trata-se de um fenmeno de privatizao do espao
pblico.
Na verdade, a Barra da Tijuca tem seu cotidiano estabelecido em arquiplagos de ilhas
urbanas: condomnios, shoppings e centros empresariais. A sensao de no violncia vem
acompanhada de guaritas e guardas. Tudo garante a iluso de violncia controlada, incluindo-
se a populao jovem que se sente protegida com o aparato de vigilncia.
Para o socilogo francs Peretti-Watel, em sua obra La societe du risque, nesse
imaginrio os perigos so previsveis e calculveis, fazendo com que os sistemas de vigilncia
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e as companhias de seguros acabem substituindo, muitas vezes, o papel da justia e mesmo da
polcia (Peretti-Watel, 2001, p. 9).
No quinto capitulo ser apresentada a metodologia utilizada em uma pesquisa
qualitativa, que integra a tese e busca dar-lhe maior concretude. Ela foi realizada atravs de
entrevistas com jovens entre 17 a 20 anos, pertencentes classe mdia alta da cidade Rio de
Janeiro, moradores da Barra da Tijuca. O objetivo geral desta pesquisa foi procurar
compreender, a partir dessa amostra espacial, esse jovem do milnio, influenciado pelas novas
tecnologias, nascido sob o domnio da Era da Informao. Para alcanar este fim, decidiu-se
aplicar a metodologia do Estudo de Caso.
O perfil psico-scio-cultural levantado teve seu enfoque nos comportamentos sociais
dos jovens, como j explicitado no objeto da tese, em sua relao com a vida, na percepo detempo, na relao com o espao, bem como na politizao frente cidade e ao pas.
Os sujeitos foram escolhidos atravs de indicaes sucessivas, feitas pelos prprios
entrevistados. Os participantes foram entrevistados em suas residncias, em mdia com a
durao de uma hora e meia. No total, foram seiscentas horas de entrevistas.
O sexto captulo trata da anlise das entrevistas, que puderam ser desdobradas em
quatro tpicos: I) Sujeito da Barra da Tijuca; II) O Jovem da Barra e o Tempo; III) A Relao
do Jovem da Barra e a Espacialidade; e IV) Juventude, Conscincia Scio-Poltica e PrticasCulturais.
As consideraes finais vm comprovar algumas das hipteses de trabalho. Outras
sero discutidas em futuros trabalhos de investigao. Finalmente, deixo registrada a
relevncia da pesquisa com os jovens moradores do bairro da Barra da Tijuca, que espero seja
esclarecedora para o leitor desta Tese de Doutorado.
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CAPTULO I CULTURA JUVENIL
...todas as reformas revolucionrias so inimaginveis at
acontecerem... e ento percebe-se que eram inevitveis.
Theodore Roszak, 1968.
1.1 Conceitos de cultura
Para dar incio a este captulo, deve-se entender o que cultura e seu significado.
Cultura um conceito complexo, em razo de suas mltiplas definies. Autores como o
antroplogo Canclini (2008), em seu livro Culturas hbridas, a definem como:
Produo de fenmenos que contribuem, mdiante a representao oureelaborao simblica das estruturas materiais, para a compreenso,reproduo ou transformao do sistema social, ou seja, a cultura dizrespeito a todas as prticas e instituies dedicadas administrao,renovao e reestruturao do sentido (Canclini, 2008, p. 27).
J o historiador ingls Peter Burke (1989), em seu livro Cultura popular na idade
moderna, assim a conceitua:
O termo cultura tendia a referir-se arte, literatura e msica (...) hoje,contudo, seguindo o exemplo dos antroplogos, os historiadores e outrosusam o termo cultura muito mais amplamente, para referir-se a quase tudoque pode ser apreendido em uma dada sociedade, como comer, beber, andar,falar, silenciar e assim por diante (Burke, 1989, p.25).
Cultura uma palavra de origem latina e, em seu significado original, tinha relao
com as atividades agrcolas. Vem do verbo latino colere, que quer dizer cultivar. Antigos
pensadores romanos ampliaram esse significado e o utilizaram para referirem-se ao
refinamento pessoal, e esse fato est presente na expresso cultura da alma (Santos, 2008,
p.27).
Ao se estudar a cultura no Brasil, existe uma preocupao em saber o que seria a
cultura nacional, ou, mesmo, qual seria a importncia dos meios de comunicao de massa na
vida do pas, ou, ainda, qual a cultura das diferentes classes sociais, incluindo-se a a cultura
popular.
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A partir de uma idia de refinamento pessoal, a cultura transformou-se na descrio
das formas de conhecimento dominantes nos Estados Nacionais, que se formavam na Europa,
a partir do fim da Idade Mdia.
A preocupao com a pureza cultural fez com que a ateno se voltasse para o
conhecimento erudito, ao qual s tinham acesso setores das classes dominantes dos Estados
em formao. O conhecimento erudito contrapunha-se ao conhecimento apresentado pela
maior parte da populao, um conhecimento que se supunha inferior, atrasado, superado, mas
que, aos poucos, passou tambm a ser entendido como uma outra forma de expresso: a
cultura popular.
Entendem-se, por cultura popular, as manifestaes diferentes e diversificadas da
cultura dominante, que esto fora das instituies vigentes. Assim sendo, podem-se distinguir:i) o erudito, marcado pela branquidade e europeidade e; ii) o popular, marcado pelas
camadas subalternas, mais criativas, mais abertas convivncia humana e ao atendimento
imdiato das necessidades espirituais; tambm dita como vulgar, por ser recheada de
elementos indgenas e africanos.
No nosso entendimento, a cultura est relacionada ao mundo, pleno de diversidades
humanas, e diz respeito ao modo como os povos se comportam e vivem. Expressa-se na
interao multicultural, que abarca uma gama variada de manifestaes espontneas quetornam os indivduos mltiplos em suas aes, constitudos numa sociedade que est sempre
em relao com outras sociedades. Nas palavras de Santos, cultura diz respeito humanidade
como um todo e, ao mesmo tempo, a cada um dos povos, naes, sociedades e grupos
humanos (Santos, op.cit., p.8).
Dessa forma, cultura engloba toda a humanidade e permite ao homem compreender
que ele um ser social e que faz parte de uma natureza compartilhada. Permanentemente,
somos levados a indagar sobre as razes da realidade social da qual fazemos parte e de comoelas se mantm e se transformam. Cada cultura o resultado de uma histria particular, e
isso inclui tambm suas relaes com outras culturas, as quais podem ter caractersticas bem
diferentes (idem, p.12).
Nesse sentido, preciso assumir a importncia da cultura e sua correspondncia a um
momento particular, que, aos poucos, se vai transformando atravs da histria da sociedade
que a criou. A cultura acompanha o nvel de evoluo de cada sociedade, cujos estgios
variam de acordo com o grau de evoluo de sua civilizao. A diversidade das culturas
existentes acompanha a variedade da histria humana, expressa possibilidades de vida social
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organizada e registra graus e formas diferentes de domnio humano sobre a natureza (Santos,
op.cit., p.15).
Na compreenso de uma cultura geral, possvel pinar uma cultura especfica; da o
destaque aqui dado cultura de determinado grupo de jovens cariocas.
A sociedade brasileira apresenta classes e grupos sociais bem diferenciados daqueles
de outras regies fsico-geogrficas, de caractersticas bem distintas. Por ser um pas
continental, com dezenas de pases fronteirios, o Brasil tornou-se grande receptor cultural
local e de vrias partes do mundo, o que o permite, em contrapartida, refletir, marcantemente,
uma grande influncia aliengena no plano cultural nacional. Existem realidades culturais
internas nossa sociedade que podem ser tratadas, e muitas vezes o so, como se fossem
culturas estranhas (idem, p.18). S podemos refletir a sociedade entendendo a diversidadecultural inserida em seu contexto e, dessa forma, perceber melhor o pas em que vivemos. A
diversidade tambm se constitui de maneiras diferentes de viver, cujas razes podem ser
estudadas, contribuindo dessa forma, para eliminar preconceitos e perseguies de que so
vitimas grupos e categorias de pessoas (idem, p.19).
No estudo de culturas preciso compreender as realidades culturais, de forma a
mostrar que elas diferem em funo do contexto da sua prpria histria e das relaes sociais
envolvidas.Existem duas concepes bsicas de cultura, segundo Santos: A primeira preocupa-se
com todos os aspectos de uma realidade social. Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que
caracteriza a existncia social de um povo ou nao, ou ento de grupos no interior de uma
sociedade (idem, p.24). E prossegue: A segunda refere-se mais especificamente ao
conhecimento, s idias e crenas, assim como s maneiras como se manifestam na vida
social (ibidem), ou seja, no possvel dissociar-se cultura da sociedade a que se refere.
Todas as formas sociais da existncia humana esto envolvidas na cultura e tais definiesencerram com clareza sua natureza e seus princpios.
As sociedades diferem em vrios aspectos na organizao de sua vida social, na
formao de relacionamentos afetivos ou de matrimnio, nas regras religiosas, por exemplo;
porm, apesar das diferenas, elas vm partilhando caractersticas comuns.
Por mais diferenas que possam existir entre pases como Brasil, Peru,Qunia e Indonsia, todos eles partilham processos histricos comuns econtm importantes semelhanas em sua existncia social, buscamdesenvolver suas economias dependentes, superar desigualdades sociaisinternas e atingir padres internacionais de qualidade de vida (idem, p.40).
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A cultura traz em si a dimenso de uma sociedade e, como construo histrica, um
processo inacabado e em permanente mudana, visto a ocorrncia repetitiva de eventos
tradicionais influenciadores das culturas locais.
Outra questo relevante a elitizao da cultura. As classes dominantes, outrora,
possuam o conhecimento erudito e este conhecimento era antagnico maior parte da
populao, tida como inferior, mas detentora tambm da cultura popular, formas de
pensamento das camadas mais pobres da populao, apesar do poder da elite de, em certa
medida, determinar a prpria concepo da cultura popular.
Na sociedade brasileira, existe grande diversificao cultural. Por sua grande extenso
territorial, o pas composto de estados e cidades bem diferenciados, com populaes
igualmente distintas, que expressam caracteres especficos de cada regio.As classes sociais se distinguem nas questes de renda financeira, estilos de vida etc.
Existem ainda as diferenas comportamentais entre homens e mulheres, jovens e idosos...
Cada camada da populao apresenta vises de mundo diferentes, comporta-se de formas
distintas e manifesta-se em estilos prprios.
Nesta tese, o objeto de pesquisa ficou restrito a uma parcela da populao jovens de
17 a 20 anos, moradores da Barra da Tijuca, criados num espao restrito de condomnios e de
shopping centers, com se tivessem crescido atrs de muralhas que os protegem e lhesasseguram a integridade fsica, impedidos de circularem a p pelas ruas, devido longa
distncia entre as localidades.
Que tipo de cultura est inserida nessa camada da populao? Como eles pensam, se
sentem e se comportam em relao espacialidade e ao tempo?
1.2 Cultura juvenil
Ao iniciar este item, a idia foi trabalhar a questo da autonomia da pessoa,sobretudo
dos jovens de hoje. A preocupao a mudana do tradicional sistema paternalista para outro
sistema, o de autonomia tica, que agora se desenvolve. Autonomia significa
autodeterminao, o poder da pessoa para tomar as prprias decises, envolvendo sua
integridade fsico-psquica e suas relaes sociais. O termo deriva do grego auto (prprio) e
nomos (lei, regra, norma) e refere-se capacidade de a pessoa estabelecer suas prprias
normas de conduta, ao decidir o que bom e o que considera adequado para si.
O autnomo tem liberdade de pensamento e seria livre de coaes internas e externas,
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exercita o poder de liberdade e de capacidade. Nas reflexes de vrios tericos, a questo da
autonomia est sempre presente.
Os estudos tericos sobre jovens esto se desenvolvendo rapidamente a ponto de
serem conhecidos como estudos da cultura juvenil. Isso porque vrios estudiosos que
constituem um grupo de tericos sociais denominaram suas pesquisas de Estudos Culturais,
dentre eles o cientista Douglas Kellner, que nomeia suas pesquisas como fazendo parte desse
novo grupo de abordagem: Os estudos culturais (...) desenvolvem modelos tericos do
relacionamento entre economia, o estado, a sociedade, a cultura e a vida diria, dependendo,
pois das problemticas da teoria social contempornea (Kellner, 2001, p.49).
Os chamados Estudos Culturais so marcados pela valorizao de formas culturais tais
como comunicao de mdia, o cinema, a televiso, a msica popular, desenvolvendo estudosa partir das mesmas.
Foi Kellner quem primeiro chamou nossa ateno para os filmes que no final do
sculo XX apresentavam uma gerao em transformao e de certa forma sequencial
gerao dos anos 60. Atravs do estudo de filmes que expressam os anseios sociais da classe
mdia e dos trabalhadores, ele investigou o modo como os filmes de Hollywood
transcodificaram os discursos polticos da poca. Esses estudos se concentraram na
representao de alegorias que expressam medos, aspiraes e esperanas de certas classes egrupos sociais (idem, p.164).
Dentre algumas observaes de Kellner, esto as que os jovens levam uma vida
desconexa, desregrada e sem objetivos, a vagar de uma cena e de uma situao a outra, sem
metas e finalidades definidas (idem p. 184). A juventude se apresenta perdida sem planos ou
projetos de vida e, em longo prazo, o lema s viver o momento. Como diz Kellner, a
juventude est perdida... vagando pela vida como num sonho sem sonhador (idem, p.186).
Mais tarde, na obra Diferentes, desiguais e desconectados(2005), Canclini apresentaas mais variadas definies de cultura e evoca a questo do cinema na contemporaneidade e
suas influncias frente cultura juvenil. A primeira definio a mais bvia e amplamente
difundida no senso popular e trata da cultura que se assemelha a educao, ilustrao,
refinamento, informao ampla, sendo que o acmulo de conhecimentos e aptides
intelectuais e estticas esto presentes.
Uma outra definio de cultura est ligada auma viso mais antropolgica e filosfica e foi
construda atravs das dicotomias natureza versuscultura e sociedade versus cultura.
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Interessa-nos a definio de cultura o maisampla possvel, pois, a partir da, que trataremos daCultura Juvenil. Assim, a singela definio de quecultura tudo aquilo criado pelo homem se adapta a
esta pesquisa. Modelos de comportamento, costumes edistribuies espaciais e temporais esto envolvidosnessa definio. Enfim, tudo o que faz parte de ns,seres humanos, nossas relaes com a natureza e comos animais cultura, e mais, no h categorizao deculturas nem hierarquias. Evidentemente, a juventudepode ser identificada com essa definio, porque elaenvolve tempo, lassido e abstrao de questessocioeconmicas e culturais.
Canclini (op.cit.) tambm apresenta a definiode cultura que abarca o conjunto dos processos sociais
de significao ou, de um modo mais complexo, acultura abarcaria o conjunto de processos sociais deproduo, circulao e consumo da significao navida social. Chamada de sociossemitica, essadefinio aquela com a qual o autor mais seidentifica no livro citado.
Sob a tica da cultura sociossemitica,Canclini resumiu seus estudos em quatro vertentes deobservao e anlise:
1. a cultura como instncia na qual cada grupo organiza sua identidade. Observa-seo sentido de cultura que rompe suas fronteiras possibilitando a produo e a circulao de seu
consumo, consideradas as trocas com outros grupos no mbito da interculturalidade. A
globalizao como influncia mundial possibilitou a imposio de canais de comunicao e
associao transnacionais que desagregam ou organizam as identidades possveis.
2 a cultura vista como uma instncia simblica da produo e reproduo da
sociedade. Nesse sentido est relacionada com a identificao e incorporao de bens
simblicos e materiais da sociedade como um processo de formao e realizao do indivduoe no apenas como lazer e entretenimento. Todas as prticas sociais contm uma dimenso
cultural, mas nestas prticas sociais nem tudo cultura.
3. a cultura como uma instncia de conformao de consenso e da hegemonia, ou
seja, da cultura poltica e da legitimidade. Neste ponto a cultura est relacionada com a auto-
representao e com a delegao da representao no jogo do poder, diferenciando as classes
sociais com seus significados culturais prprios.
4. a cultura como dramatizao eufemizada dos conflitos sociais. Por isso temos
teatro, artes plsticas, cinema, canes e esportes. A eufemizao dos conflitos no se faz
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provocam os conflitos entre as classes sociais e suas representaes na sociedade
contempornea, ao mesmo tempo em que esta eufemizao (termo utilizado por Pierre
Bourdieu) atua como dramatizao simblica do que est acontecendo na sociedade nas
expresses teatro, artes plsticas, cinema, canes e esportes (Canclini, op.cit., p.43-47).
A cultura, segundo os autores Kellner e Canclini, o foco central da percepo
daqueles que convivem com suas manifestaes. Em relao juventude que, por excelncia,
um grupo com suas prprias compreenses e representaes sociais, as suas expresses ou
contenes significam um alerta e um registro das mudanas do tempo. Como se costuma
dizer que os artistas so os mais antenados (expresso dos jovens para se referirem queles
que percebem rapidamente as mudanas na sociedade e participam das mesmas), o que se
verifica na sociedade contempornea que os jovens esto to antenados que constituem umaCultura Juvenil. Parafraseando Canclini (op.cit., p.209), a averiguao do que significa ser
jovem tambm uma pergunta pelo tempo. Algumas das caractersticas do mundo
contemporneo nos ajudam na busca do perfil do jovem do momento.
1.3 Multiculturalidade e interculturalidade no tempo do momento
Abordar a interculturalidade tambm tratar das trs categorias propostas por Canclini(2005): diferentes, desiguais e desconectados. Segundo este autor, estes modelos no so
excludentes e sim simultneos e complementares: diferentes/integrados,
desiguais/participantes e conectados/desconectados. Estes polos, que no so nem positivos
nem negativos, caracterizam o pensamento crtico assim como a possibilidade de questionar e
repensar o mundo globalizado.
Os termos multiculturalidade e interculturalidade so muitas vezes utilizados como
sinnimos. Neste contexto empregamos a palavra multiculturalidade para significar umarealidade marcada pela presena de diferentes grupos culturais numa mesma sociedade. Com
relao semelhana dos termos, Ricardo Salas, da Universidade Catlica Silva Henrquez,
no Chile, j se discute esta questo tentando encontrar as suas diferenas:
s vezes, em alguns usos mais gerais, se associa noo deinterculturalidade a multiculturalidade. Entre ambas existem claras relaes,porm consideramos que a interculturalidade admite certos sentidos que lheso especficos. Interculturalidade significa que, entre seus sentidos maisimportantes, nas sociedades complexas, as classes e os grupos humanos que
participam da estrutura econmico-social gerem processos identitriosespecficos que possuem linguagens, smbolos, cdigos, prticas e ritos quel b id tifi t i I t lt lid d
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simplesmente duas culturas em contato que se mesclam e se integram,porm, o que tem a ver com mltiplos processos culturais que tendem hibridao como sustentam GarciaCanclini (ou) e Gruzinsky(Salas, 2002,p.46).
Indicar que a interculturalidade fruto do hibridismo cultural ao qual est submetida
nossa sociedade voltar para nossas razes culturais. Para Salas, a compreenso latino-
americana que revela o hibrismo em nosso continente, acompanha todos os autores de Estudos
Culturais do momento. Vale ressaltar que a anlise do autor aponta para uma crise moralem
nosso continente:
A crise moral que afeta nossos pases uma crise de sujeitos individuais ecomunitrios, porm uma crise dos intelectuais que no conseguemplasmar um discurso que excede experincia dos sujeitos individuais. Ditodessa maneira o problema da identidade tem a ver com o que nos constituiu ecomo nos constitui como comunidades. Porm o problema como articul-locom os processos identitrios (ibidem).
Se a juventude, segundo os estudos da psicologia, vive em constante crise de
identidade, sob o ponto de vista social, o momento contemporneo mostra-se especialmente
difcil para o enfrentamento do jovem na sociedade.
Voltando a Canclini, para um esclarecimento da questo das diferenas e da
importncia da miscigenao e hibridizao da cultura, consultamos seu livro A globalizao
imaginada(2003) e seus estudos sobre interculturalidade. Eleobserva que para dizer quem
pertence a uma nao, ou quem tem o direito cidadania, deve-se imaginar traos comuns
para pessoas com lnguas e modos de vida diversos, modos de pensar que no coincidem, mas
podem ser convergentes(idem, p.99). Esta condio faz diferena com a multiculturalidade,
pois esta representa uma forte tendncia para a interseo cultural. Em cada continente revela-
se uma maneira de lidar com esta multiculturalidade, por exemplo:
A Frana e outros pases europeus subordinaram as diferenas idia laicade Repblica. Os Estados Unidos separaram as etnias em bairros e, at emcidades diferentes. Os paises latino-americanos aderiram ao modelo europeuno sculo XIX, mas dando-lhe modulaes diferentes, como veremos em trsformatos de integrao nacional: Argentina, Brasil e Mxico (idem,p.100).
Observando mais detidamente essa tentativa de compatibilizao entre as diferenas,
sobressaem mltiplas facetas de desigualdades e de injustias. Uma das razes apontadas por
Canclini a emigrao de latino-americanos, asiticos e africanos para a Europa e para os
Estados Unidos Esse ltimo impe sua cultura por meios econmicos e empresariais pela
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influncia poltica e acadmica e, principalmente, pela comunicao de massa que vetor da
globalizao. Como observa o autor:
Essa interculturalidade globalizada no suprimiu os modos clssicos comque cada nao ajeitava a sua diferena. Mas os ps em interao e tornou oconfronto inevitvel, os resultados foram diversos quando os movimentosglobalizadores trazem a secularizao e o relativismo intelectual, ampliamnossa capacidade de entender e aceitar o diferente Mas quando aglobalizao a convivncia prxima de muitos modos de vida seminstrumentos conceituais e polticos que propiciem sua coexistncia, leva aofundamentalismo e a excluso, acentua o racismo e multiplica os riscos delimpezas tnicas e nacionais (Canclini, op.cit., p.100).
Essas questes levam a vrios problemas. Um deles o fato de que se desenvolve uma
nova forma de influncia imperialista destes pases desenvolvidos que pretendem ditar astendncias e os modos de vida de pases subdesenvolvidos. O modelo utilizado pelos pases
mais ricos tem como objetivo construir uma cultura sob o domnio de um modo nico de
pensar: a globalizao unificaria as naes e, de certa forma, anularia as diferenas.
De maneira extremante simplificada, nota-se que as culturas se mesclam e que no
podemos falar de grupos totalmente puros. A hibridao um dos traos de formao
histrico-cultural. A prpria linguagem reflete diretamente esse processo e, dessa forma,
devemos fazer um estudo aprofundado sobre a linguagem. Temos de entend-la como frutoda multiculturalidade e da interculturalidade, prprias do mundo globalizado e subjetivo
(ibidem).
Por meio dos estudos sobre a linguagem percebem-se, muitas vezes, as diferentes
maneiras como a cultura se traduz. O diferencial lingustico de cada cultura se relaciona com
a formao destas, historicamente. Por exemplo, muitas palavras utilizadas por uma
determinada cultura inexistem em outras. Em algumas, evidenciam-se mltiplos significados.
As palavras de origem latina diferem das palavras de origem germnicas. A palavra mestiono existe em ingls, mas est presente em francs, espanhol ou em portugus, sendo usada
com frequncia.
Vejo a ausncia da palavra mestio, com suas possibilidades de designarmesclas em sentido positivo, hoje frequente nas lnguas latinas, como umsintoma do modo como a questo tratada em ingls. Convm diferenciar ametfora domelting pot usada nos (Estados Unidos) USA, que implica empurificao e destilao para criar uma nova identidade somente com asraas de origem europia, da idia de no multicultural preferida no Canad,
onde cultura frequentemente um eufemismo de raa e os diferentes gruposso integrados dentro da sociedade (idem, p. 101)
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Observa-se facilmente que as palavras denotam um sentido revelador. Elas podem
existir ou no, de acordo com o contexto scio-cultural. As palavras indicam em que
determinado grupo algum se enquadra e ao qual pertence historicamente. H geraes, os
jovens criam sua prpria linguagem. Seus termos, mesmo que sejam de linguagem
corriqueira, recebem outros significados. As grias, as expresses caractersticas e atualmente
a cyber-escrita, conhecida como internets, propem uma nova forma de escrever, presente
nas salas de bate-papo, e hoje em quase todos os ambientes da rede: e-mails, comentrios em
blogs,no orkut, mania nacional, e nos programas de conversa on line.
Os internautas, principalmente os mais jovens, usam cdigos, por exemplo: Td de bom
p vc. Xau, bju!, Blz, t+! A gtn se fla por aki. Bjaum!. So os jovens que contaminam os
usurios e que, a despeito de qualquer regra gramatical, criaram um festival de neologismos,aboliram pontuao, acentuao, uniram e encurtaram palavras. Esta influncia vem da
praticidade das redes mundiais de computadores, buscando reduzir o tempo para
simultaneamente possibilitar inmeras atividades naWorld Wide Web, para encurtar a rede
de alcance mundial. Uma rede de computadores fornece informao em forma de
hipermdia, como vdeos, sons, textos e figuras. Nossa interpretao que o uso desse
instrumental tambm cria um cdigo para a juventude.
Na realidade, estes grupos, por vezes discriminados, acabam por pertencer a certostipos de uso de fala com seus sotaques, e eles s se conseguem firmar tornando-se
comunidades, tais como grupos no Orkut, MSN Messenger etc.
1.4 Situaes da Amrica Latina frente multiculturalidade, interculturalidade e ao
hibridismo
Os pases latino-americanos, especialmente Brasil, Argentina e Mxico elaboraramsuas diferenas nacionais e regionais de diversas maneiras. A Argentina, por exemplo,
substituiu a populao nativa por imigrantes europeus e se homogeneizou como uma nao
branca mdiante a enrgica descaracterizao das diferenas. No Mxico, a populao
indgena foi subordinada ao projeto nacional crioulo e de modernizao ocidental (Quijada
apudCanclini, 2003, p.107).
Canclini (op.cit.) constata que o Brasil apresenta uma sociedade mais disposta
hibridao, devido s mltiplas interpenetraes que existem entre os contingentes de
migrao que constituram o pas.
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A globalizao tenta compatibilizar as diferenasprovocadas pelo hibridismo, porm
encontra extremas dificuldades. Um exemplo clssico para entender este tema a situao em
que um estrangeiro criado em seu pas de origem, por motivos de fora maior, passa a morar
em outro, surgindo dificuldades inmeras de adaptao.
Percebe-se assim, uma primeira dificuldade para generalizar a condio deimigrante. Alguns problemas so comparveis: o estranhamento, a custosaaquisio de direitos na nova sociedade, a divergncia entre formas depertencimento cultural, jurdico-poltico e trabalhista. Mas as maneiras deresolv-los e articul-los variam. Talvez a diferena fundamental nestestempos esteja na facilidade de se desterritorializar por perodos curtos... qued lugar a utilizao do nomadismo prazeroso e eletivo como ideologia
justificadora da globalizao (Canclini, op.cit., p.110).
Pouqussimas anlises indicam caminho diverso. O indivduo experimenta um grande
sentimento de desterritorializao. O estrangeiro tem o seu lugar segundo valoraes
conforme sua geografia e nacionalidade. O subemprego e a condio vulnervel so
categorias com as quais o estrangeiro deve aprender a conviver. Em consequncia deste fato,
evidencia-se o fortalecimento das bases mais profundas de suas razes, seus laos e vnculos
de origem. O sentimento de solidariedade aparece, unindo os iguais compatriotas. Essa
situao ocorre nos mais diversos pases. H cada vez mais o comprometimento e o
sentimento de patriotismo.
Existem algumas formas de conciliar as mltiplas culturas de como reduzir as
discrepncias. De acordo com Canclini, existem trs tipos de organizaes multiculturais: a
europia, a americana e a dos pases latino-americanos. Porm, a esses ltimos soma-se uma
quarta organizao que ele chama de integrao, quando a multiculturalidade est sujeita ao
discurso da mdia e da indstria cultural.
O autor tambm oferece duas formas contemporneas para o enfrentamento da questo
da multiculturalidade:
A primeira consiste em superar o que poderamos chamar de concepesopcionais da diferena (...) o processamento de uma diferena que deslizepermanentemente dentro de outra (...) cujos limites em vez de barrar aspessoas, so lugares atravessados constante e ilegalmente (...) A segundaconsiste em recordar o que no se deixa reduzir a mestiagem nem ashibridaes (...) a diferena no se manifesta como compartimentalizao deculturas isoladas, e sim como interlocuo com aqueles com quem estamosem conflito ou buscamos alianas (idem, p.114-115).
Nessa perspectiva, criam-se vrias possibilidades de convvio multicultural, porm
l d t ti t d lti ibilit d t
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estas mudanas. Na verdade, o que se deseja que alm de aceitar as diferenas, tente-se
compatibiliz-las. Nesse sentido, trata-se de um processo permanentemente inacabado, em
que os princpios democrticos e a relao dialgica entre as culturas fazem-se necessrias.
Assim, estar-se- propiciando de fato um processo intercultural.
Canclini, ainda em Diferentes, desiguais e desconectados, volta ao tema da
muticulturalidadee da interculturalidade.Afirma que a conscincia do carter multicultural
de uma sociedade, no leva necessariamente ao desenvolvimento de uma dinmica social
informada pelo carter intercultural. Ambos os termos implicam dois modos de produo do
social: multiculturalidadesupe aceitao do heterogneo; interculturalidadeimplica que os
diferentes so o que so em relaes de negociao, conflito e emprstimos recprocos
(Canclini, 2005, p.17).Chama igualmente ateno para as culturas juvenis, em que as fragmentaes vo de
certa forma substituir os conflitos multi ou interculturais. Assinala que os jovens atuais
convivem com novos objetos e novos funcionamentos dos objetos. As televises so a cores,
o controle remoto favorece o zappinge quase todos tem acesso ao computador pessoal e a
internet.
O cinema tem sido um dos meios que mais expressam estas dissenses culturais e suas
consequncias. Nele esto presentes no s uma linguagem jovem, como certoscomportamentos, atitudes e maneiras de percepo da cultura peculiar aos jovens. Frente a
estas questes, Canclini indaga: Voltamos ao comeo: o mal-estar dos jovens o lugar no
qual todos estamos nos perguntando quanto tempo nos resta (idem, p.224).
1.5 Os diferentes: incluso/excluso e desconexo do jovem
A melhor reflexo sobre a juventude da Amrica Latina proposta por Canclini emSimpsio na Universidade de Braslia (UnB) em 2003. Sua percepo de que essa juventude
se encontra alheia a uma ideologia de esperana. O jovem da Amrica Latina no participa da
construo deste novo mundo marcado por um tempo instantneo, sem passado e sem futuro.
Ao mesmo tempo em que isto acontece nossos territrios no so demarcados por fronteiras.
A sada seria a globalizao como tentativa de homogeneizao das culturas.
A conscincia da realidade, em geral, motivada por fatos concretos que explicitam
diferentes interesses, discriminaes e preconceitos presentes no tecido social no modo como
ela administra os interesses da poltica vigente. No caso particular das sociedades capitalistas
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contemporneas, revela-se um imaginrio social permeado por relaes de poder,
historicamente construdo e marcado por desigualdades e esteretipos raciais e culturais.
O que se prope aos jovens, segundo Canclini em texto apresentado durante a
realizao da 4 Cpula Mundial de Mdia para Crianas e Adolescentes em (2004), que se
globalizem como trabalhadores e consumidores. No que diz respeito ao trabalho, sugere-se
que se integrem ao mercado de trabalho sem exigncias, sem protees em relao s leis,
incorporando subempregos plenos de vulnerabilidade. No consumo, prevalece a promessa do
cosmopolitismo, totalmente infundada na pobre realidade da Amrica Latina.
A reflexo de Canclini (2005) sobre cultura juvenil severa e rigorosa, uma vez que
os jovens so colocados como excludos da sociedade de consumo em nosso continente.
Ento, criam-se possibilidades de excluso do mercado de trabalho, assim como essasgeraes so transformadas nos outros, que se revelam em toda a sua concretude. Como os
jovens terceiromundistas so os mais afetados, pois no dominam os cdigos da ps-
modernidade, porque no tm acesso ao processo da globalizao, eles procuram resistir aos
valores incutidos pela sociedade do consumo. Ao sabor desta frgil situao trabalhista, uma
parte dos jovens poder ter acesso capacitao informtica, aos saberes e entretenimentos
avanados que circulam na Internet, enquanto a maioria se limitar televiso gratuita, aos
discos e vdeos piratas (idem, p.212).Para muitos, essa descoberta altamente ameaadora, porque os jovens esto fora
deste sistema dito global. A partir disso, surgem ento comportamentos e dinmicas sociais
que constroem um verdadeiro cerco. Ideologicamente, evita-se o contato e criam-se mundos
prprios, sem relaes com os diferentes. Provocam-se afastamentos sociais e culturais,
processos de confinamento que, nas grandes cidades latino-americanas, se tornam evidentes e
cada vez mais acentuados.
Um dado alarmante, segundo Canclini, revelado pelo Sistema Econmico Latino-Americano (Sela), no seu informe de julho de 2001, ao colocar que cada habitante latino-
americano deve 1.500 dlares ao nascer, ou seja, eles so globalizados como devedores.
O cenrio scio-cultural tambm alarmante. Indagamos como pode a juventude,
responsvel pelo futuro de um pas, j nascer com tal estigma? Poderamos responder que,
observando detidamente, fcil perceber que a juventude manifesta-se nesta sociedade no
papel do includo/excludo-devedor.
Sem levar o pessimismo em considerao, pensamos que a juventude sul-americana
dever enfrentar vrios conflitos, mais cedo ou mais tarde. No contexto econmico-social,
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aspecto cultural, vive um momento de midiatizao e interconectividade, atravessando,
ininterrupta e incansavelmente, um tempo voltil e curto.
Apesar da midiatizao ser em grande parte um processo de dominao atravs de
agncias de notcias, televiso e meios de comunicao, em geral, a mesma no aproxima os
jovens da realidade, ao contrrio, os afasta. A interconectividade diminui as distncias
provocando maior proximidade processos que acontecem ao mesmo tempo e atinge em sua
maioria, jovens de classe mdia alta e classe alta, que esto interligados, interconectados e por
assim dizer reforam suas condies scio-econmica e cultural. So jovens sem preocupao
econmica e com muito menos preocupaes com o futuro e sua participao social. Na
maioria, esto acometidos por mltiplos comportamentos que vm preocupando muitos
autores de diversas reas. No diferente o que ocorre com os jovens da Barra da Tijuca.Uma das questes que surgem neste estrato juvenil a instantaneidade, a velocidade
do aqui e agora que acompanham a vivncia desses jovens. Tudo deve ocorrer imdiatamente,
instantaneamente, sem maiores reflexes para as aes. Neles se desenvolve uma ausncia de
memria e a consagrao do presente. Segundo Canclini:
Nos estudos sobre consumo e recepo, descobrimos que a maioria dosjovens prefere os filmes de ao e entendia-se com os que tratam dos amplos
planos da subjetividade ou dos processos ntimos. possvel interpretar que,diante das dificuldades de saber o que fazer com o passado e com o futuro,as culturas jovens consagram o presente, consagram-se ao instante (idem,p.218).
Este comportamento vem confirmar a hiptese desse trabalho sobre o tempo e o
manejo do mesmo pelo jovem. Estamos em uma poca em que se tem a conscincia de que o
mundo passa por transformaes profundas. A velocidade do tempo outra. A maneira de
lidar com o tempo original e especial. Esta realidade em relao a este manejo provoca em
muitas pessoas e grupos, sentimentos, sensaes e desejos contraditrios; alguns deinsegurana e medo, provocadores de apatia e de conformismo, como tambm de novidade e
esperana. Diramos que h a possibilidade de mobilizarmos as melhores energias e
desenvolver a criatividade. Percebemos que impossvel no mudar diante de fenmenos
como a interculturalidade e como a globalizao ou mesmo como a transnacionalizao
porque se provoca um mundo de intensas trocas culturais.
Na realidade, temos de pensar numa sada para essa frugalidade da juventude e
estimular a conscincia crtica que poderia acarretar mudanas para construir uma novasociedade em que o retorno de utopias funcionaria para a construo de um mundo diferente,
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mais humano e solidrio, um mundo melhor. Observa-se, na clnica, que estas mudanas,
muitas vezes, no so negativas, mas mobilizadoras e, consequentemente, angustiantes.
Canclini (idem) prope algumas sadas para a juventude. Em primeiro lugar, pensa que
se deve estimular a crtica poltica e econmica dos jovens; em segundo, estabelecer polticas
culturais em vrios pases como uma forma de estimular a percepo cultural e, em terceiro,
atravs dos processos educativos que favorecem a transformao dos jovens, obter um novo
desempenho cultural na educao. Com relao a esta ltima proposta, ele cita o carter
artstico do cinema, equivalente s artes plsticas, os filmes como oferecimento de um
horizonte histrico e esttico mais amplo do que entretenimentos domsticos, capacitando os
jovens a compreenderem o mundo com uma conscincia crtica da globalizao.
1.6 Juventude
Na concepo das sociedades clssicas greco-romanas, a juventude referia-se a uma
idade entre os vinte e dois e os quarenta anos. Juvenil vem de aeoum, cujo significado
etimolgico "aquele que est em plena fora da idade".A deusa gregaJuventaera evocada
nas cerimnias do dia em que os adolescentes trocavam a roupa simples pela toga, tornando-
se cidados de pleno direito.Hoje, de acordo com a maioria dos organismos internacionais, considera-se como
jovem a faixa de quinze a vinte e quatro anos. No entanto, outras faixas etrias j so
consideradas como parte da juventude. Para Hall: Nas sociedades tradicionais existe um
ordenamento, o individuo apia-se nas tradies e nas estruturas pr-existentes, h a
valorizao do passado por este perpetua a experincia de geraes (Hall, 2000, p. 25).
Para a Sociologia, a juventude comearia aos quinze e terminaria aos vinte e quatro anos.
Pelos estudos da Biologia, a juventude estaria dividida em duas fases: a pr-adolescncia (de 10 a
14 anos) e a adolescncia (de 15 a 19 anos). Nos estudos da Histria o limite diferente; o
historiador precisa definir o que ser jovem, conforme o perodo e a sociedade estudada. Tempo,
espao e cultura so essenciais para a compreenso do sentido de juventude em histria, pois para
entender o significado do momento jamais poderamos delimitar em idades. Os historiadores
entendem que a juventude uma construo social e cultural, em nenhum lugar, em nenhum
momento da histria, a juventude poderia ser definida segundo critrios exclusivamente
biolgicos ou jurdicos. Sempre e em todos os lugares, ela investida tambm de outros valores
(Levi & Scmitt, 1996, p.14). Segundo a sociloga Helena Abramo, estudiosa da juventude:
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A noo mais geral e usual do termo juventude refere-se a uma faixa de idade,um perodo da vida, em que se completa o desenvolvimento fsico do individuo euma srie de mudanas psicolgicas e sociais ocorre, quando este abandona ainfncia para processar a sua entrada no mundo adulto. No entanto, a noo de
juventude socialmente varivel. A definio do tempo de durao, dos
contedos e significados sociais desses processos modificam-se de sociedadepara sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e atravs das suasdivises internas (Abramo, 2004, p.1).
Pode-se dizer que a juventude situa-se entre a infncia e fase adulta; porm, como
dizia o socilogo carioca, falecido no incio do milnio, Herbert de Souza, mais conhecido
como Betinho, o jovem no o amanh, ele o agora (Revista Pais & Teen, 1997). Esta
frase muito marcante porque jovem aquele em que esto acontecendo mudanas, escolhas
profissionais e afetivas que deflagram o avano na maturidade pessoal, objetivando sua
independncia.
De modo geral, os estudos sobre a juventude no Brasil privilegiam suas manifestaes
partindo da dcada de 1950 em diante. Em cada uma delas, a juventude aparece caracterizada
de uma forma. Por exemplo, na dcada de 1950 chamada de anos dourados a juventude
ficou conhecida como rebeldes sem causa ou juventude transviada; a dcada de 1960
os anos rebeldes tida como revolucionria; na dcada de 1990, fala-se de uma gerao
shopping center.
Os jovens no podem ser estudados sem se levar em conta sua realidade sociocultural.
Isto significa dizer que, nos pases subdesenvolvidos, a maioria da populao jovem no tem
as mesmas chances e se localiza fora de um grupo privilegiado ao qual so dadas as
oportunidades. Para este trabalho, pretende-se fazer uma anlise da juventude atual e, para
isso, analisar a situao que a cerca. O mundo dito global no atinge a todos os jovens,
muito pelo contrrio, uma parcela minoritria tem acesso aos meios de comunicao de ponta.
Assim que uma anlise fidedigna dever levar em conta mudanas que ocorreram a partir do
sculo XX, em especial nesta ltima dcada. Nas ltimas duas dcadas do sculo XX, omundo se transformou e ainda no sabemos o que de fato essas mudanas provocaro. De
certo que o passado e o futuro no importam, apenas o presente conta.
O instante precioso. A sociedade contempornea apresenta um ritmo acelerado de
vida, em que so tomadas decises complexas e exigidas inmeras mudanas tecnolgicas,
polticas, econmicas, sociais, culturais que afetam, inclusive, a esfera ntima dos
relacionamentos. A transformao global do planeta Terra impe-nos o acompanhamento de
uma srie de acontecimentos, expostos e absorvidos quase que ao mesmo tempo em que estoacontecendo. No existem mais fronteirasgeogrficas. Em contrapartida, os indivduos no
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mais pertencem nem se identificam apenas com o seu lugar de origem. A evoluo
tecnolgica traz como nova realidade a possibilidade da comunicao sem fronteiras, uma
diminuio das distncias, uma identificao dos sujeitos com culturas a que eles escolhem
pertencer e uma alterao nas concepes de tempo e espao.
As referncias de espaosempre situaram o homem perante seus costumes, tradies,
rituais, gostos, formas de entender e de relacionar-se no mundo entendimento do que somos.
Hoje esto postas novas representaes de espao e, consequentemente, de tempo. A
facilidade e a rapidez de acesso e troca de informaes mudam qualitativamente a noo de
tempo e espao, o que torna essencial rever conceitos para que possamos nos situar melhor na
complexa rede de relaes sociais, alm de ser fundamental para os modos de subjetivao.
Como diz Homi Bhabha, autor que reflete sobre questes da cultura:
O alm no nem um novo horizonte, nem um abandono do passado...incios e fins podem ser os mitos de sustentao dos anos no meio do sculo,mas, neste fin de sicle, encontramo-nos no momento de trnsito em queespao e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferena eidentidade, passado e presente, interior e exterior, incluso e excluso. Issoporque h uma sensao de desorientao, um distrbio de direo, noalm (Bhabha, 2002, p.19).
A hiptese de Bhabha, evidentemente, compreende a ps-modernidade enquanto
espao hbrido e hibridizante, fase que vive ou sobrevive, com a noo de um eu
angustiado, criticamente situado numa fronteira de um eu que no moderno nem ps-
moderno.
Atualmente, existe outra maneira de identificar o mundo. A contemporaneidade reflete
uma sensao de falta de orientao a partir do momento em que perdemos nossas referncias
estruturais. A cada instante podemos mudar nossos conceitos ou nossa maneira de nos
percebermos e de entender o que acontece ao redor. A velocidade dos acontecimentos gera
mudanas em nossa rotina, trazendo a visualizao e o sentimento de um desequilbrio
causador de uma enorme insegurana. H uma necessidade da plasticidade, de flexibilidade
do indivduo, pois ele deve se modelar constantemente para acompanhar esse ritmo e atender
a uma sociedade que faz inmeras exigncias de excelncia, de felicidade contnua e de
sucesso.
Segundo o gegrafo David Harvey, a experincia mutante do espao e do tempo tem,
por referncia, condies materiais e sociais:
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A aniquilao do espao por meio do tempo modificou, de modo radical, oconjunto de mercadorias que entra na reproduo diria... A implicao geral de que, por meio da experincia de tudo comida, hbitos culinrios,msica, televiso, espetculos e cinema , hoje possvel vivenciar ageografia do mundo vicariante, como sendo um simulacro (Harvey, 2002, p.
270-271).
Acreditamos ser de extrema importncia refletir sobre como esses aspectos influem
tanto no comportamento, em geral, como na construo da subjetividade. O conceito de
desterritorializao, escolhido como uma das vicissitudes deste milnio, uma categoria
terica que possibilita a reflexo e a sensao de um mundo cada vez mais comprimido. As
fronteiras ficam sem funo. As pessoas sentem que no h um territrio delimitado, vivem
continuamente suas experincias em diferentes contextos tendo a necessidade de criar novas
formas de subjetividade para se adaptarem s exigncias de cada espao novo que encontram.
Observa-se, na clnica psicolgica, que a criao de novas formas de subjetividade
gera muita angstia. H um grande desconforto oriundo do contnuo conflito de arriscar
expressar-se de forma autntica e, em contrapartida, na necessidade de ser aceito e admirado
socialmente e sem se alienar. Alm da angstia vivida pelos jovens, existe tambm a sensao
embaraosa de se colocar em palavras, gestos e aes em um no-lugar, como props
Marc Auge. Em outras palavras, falar e agir por meio de metforas e expresses de uma
determinada cultura num outro espao onde a subjetividade no encontra ressonncia nem
dilogo. De acordo com o terico Marc Aug:
Os no-lugares so tanto as instalaes necessrias para a circulaoacelerada de pessoas e bens como os prprios meios de transporte ou osgrandes centros comerciais, ou tambm os campos de trnsito prolongadoonde se estacionavam os refugiados do planeta(Aug, 1996 p. 40-41).
A complexidade da vida cotidiana parece ter minimizado o espao e o tempo que, em
geral, os jovens dedicam a confrontar questes perturbadoras em suas relaes interpessoais.
As discusses entre seus pares parecem se tornar superficiais refletindo a busca da
confirmao de premissas pessoais, havendo pouco espao para ouvir o que diferente. A
diferena gera angstia que remete ao limite e represso, assim como vivncia de
castrao. Na primeira teoria da angstia de Freud (1916), h estreita ligao entre angstia e
excesso de sexualidade que se modifica no segundo momento de sua teoria, quando escreve o
textoInibio, sintoma e angstia(1926). Freud prope um movimento sincrnico: ao mesmo
tempo em que os motivos da angstia se concentram sobre o signo da castrao ao mesmo
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tempo a angstia vivenciada, opera-se assim uma reinverso radical do dentro e do fora.
No mais o recalque que produz angstia, mas a angstia que produz o recalque.
Outros tipos de comunicao da atualidade so aqueles referentes ao mundo virtual. O
MSN e o Orkutdespertam novas formas de sociabilidade promovendo descobertas, prazeres,
iluses, encontros, desencontros, gerando conflitos e angstias. Nesses espaos vazios (no-
lugares) em que o jovem interage, tambm pode ter lugar a fuga do risco da interao face a
face, que depende do interesse mtuo. Neste tipo de comunicao, quando um jovem se
desinteressa de falar com o outro, ele pode interromper a conversa a qualquer momento.
A respeito da nova forma de comunicao e chamando a ateno para os sites de
relacionamento, a psicloga Regina Andrade diz que a angstia pode ser provocada a partir
de trs situaes: primeiro, quando h a escolha do nickname, o apelido, o pseudnimo quelida com o conflito do anonimato; segundo, a demanda, quando se deixa um recado sem saber
quando algum vai responder; e terceiro, a perda, o enlace ou desenlace, quando se deleta,
se marca ou se define um encontro. De qualquer forma, o territrio do amor um no-lugar
com o no-corpo em busca da no-relao (Andrade, 2003).
Segundo o psicanalista Benilton Bezerra, vivemos hoje uma nova era dos sujeitos
desamparados e a expresso da moda o vazio. Buscando entender a contemporaneidade
necessrio falar do vazio para descrever as perdas, faltas e ausncias(Bezerra, 2002).O sujeito tenta preencher esse vazio com qualquer coisa que lhe oferea alguma
sensao de estabilidade ou pertencimento. Os jovens de 20-30 anos buscam encontrar, numa
idealizao (com referncias duras e estveis), algo que lhes venha dar uma ancoragem. Nesse
sentido, eles visam encontrar, por exemplo, uma satisfao na mudana de aparncia ou no
que leve construo de uma imagem pessoal aceita e legitimada socialmente. O corpo
trabalhado com ginsticas, expresso corporal, esportes, comida natural, tudo que os leve a
preservar a sade e, principalmente, a conquistar uma imagem corporal ideal. Em algumascircunstncias, a preocupao com a imagem to exagerada que eles se submetem a
cirurgias plsticas violentas. Eugne Enriquez observa que:
O corpo o nosso bem mais precioso, estar bem na prpria pele, tornar-sesaudvel, afastar a dor, provar a si mesmo e aos outros que o cuidado docorpo um cuidado vital, testemunha de nossas capacidades, de nossa
juventude, faz-nos crer em nossa imortalidade (Enriquez, 2001, p.177).
Nessa crena nossos jovens so formados e criados, com valores e objetivos voltadospara a aparncia, a superficialidade da beleza e da sade como modelo de felicidade e
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sucesso, evitando a todo custo a reflexo, o contato com o mundo interno e com os problemas
reais como dor, interrogao do ser, busca da verdade, sofrimento e morte.
Neste primeiro capitulo mostramos a importncia das noes de cultura e
especificamente da cultura juvenil, para entender as mudanas scio-culturais-geogrficas
(para pontuarmos nosso objeto de anlise, ou seja, o jovem da Barra da Tijuca), mostrando, ao
mesmo tempo, o hibridismo a que o jovem est exposto, face multiculturalidade scio-
econmica e, principalmente, a interculturalidade regional, tendo em vista as mudanas de
vida de uma pequena parcela da nossa juventude pertencente s classes mdia alta e alta.
Dando continuidade aos aspectos scio-culturais que envolvem nosso campo de
estudo, analisaremos no prximo captulo as questes conceituais que envolvem a juventude,
introduzindo a temtica sobre o tempo e o espao, sobre o fenmeno do consumo ehiperconsumo, pertinentes aos jovens do tempo presente.
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CAPTULO II A JUVENTUDE E O TEMPO
No estamos no tempo histrico; doravante, estamos notempo real, e, no tempo real, no h mais provas de nada, umavez que o tempo real um gnero de buraco negro onde nada
penetra sem ser esvaziado de sua substncia.Jean Baudrillard, 1997.
2.1 O tempo
A opo terica de abordagem do objeto de nosso estudo levou-nos a buscar a
compreenso da viso do tempo na sociedade contempornea, para, num segundo momento,
localizarmos sua repercusso na maneira de pensar do jovem de classe mdia alta da Barra da
Tijuca. Essa perspectiva remeteu leitura orientada de Heidegger, cuja smula segue abaixo.
A profunda reformulao da viso do tempo na contemporaneidade, em que foram
abolidas as fronteiras entre atividade e descanso, trabalho e lazer, fez com que as atividades
profissionais, pessoais e culturais passassem a ser realizadas de forma contnua. A
possibilidade de atividade permanente resulta num impacto do hiperconsumo, na juventude.
Heidegger, em sua obra O ser e o tempo, apresenta uma concepo terica ontolgicaa respeito da categoria Tempo.
Por toda sua vida madura, Heidegger esteve obcecado pela possibilidade de existir um
sentido bsico do verbo ser, que jaz atrs de sua variedade de usos. Suas concepes quanto
ao que existe uma ontologia (o estudo do que , do que existe: a questo do Ser). Escreveu
sobre ansiedade, pensamento, perdo, curiosidade, angstia, cuidado, medo, com certeza no
se referindo psicologia. Mais ainda, discorreu sobre o homem, sem pretender que suas idias
estivessem restritas ao campo da sociologia, antropologia ou cincia poltica. Suasproposies objetivavam descobrir modos do Ser.
Heidegger aponta o homem do ponto de vista de seu Ser, como Dasein (juno da
palavra da, do alemo, que significa "a, com a palavra Sein, tambm do alemo, que
significa ser). A questo fundamental para Heidegger era o homem e sua relao com o
prprio Ser, como enuncia Nunes:
Em primeiro lugar, o Dasein o ente que compreende o Ser, o que significa
compreend-lo em sua existncia como possibilidade sua, de ser ou de noser si mesmo, com a qual est concernido. Se o Dasein um ente, um enteque pe em jogo o seu prprio ser (Nunes, 2002, p.12).
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Em O ser e o tempo, o propsito declarado de Heidegger trazer luz o que significa
o Serpara o homem, ou como o Ser. O que visa na obra a elaborao da questo do Ser.
Para ele, o ente somos ns mesmos e o homem existe segundo certos fenmenos e de acordo
com os modos como ele est a, na luz.
Dasein aquele que, em virtude de seu prprio ser, tem a possibilidade de colocar
questes (...) ODaseincomo ente ser-no-mundo (idem, p.13-14). Isso significa que ser-no-
mundo implica em transcender o mundo. ODasein no habita o espao, ele espacializa: abre
o espao que ocupa como ser no mundo (idem, p.17).
O que gera o presente no Dasein que este s retrovm advindo a si, ou seja, um
movimento entre o passado e futuro. Ele denomina como movimento exttico o fora de si
em si e para si mesmo da existncia que se chama temporalidade (idem, p.25). Na verdade,o passado ainda est presente, como mostra a retrovenincia. ODaseinainda o passado sem
deixar de ser presente. E, no presente, est comprimindo o passado; como no passado
antecipa-se o futuro (idem, p.26).
Heidegger fala de uma temporalidade imprpria, tendendo infinitude, que ocorre
quando o presente se torna simplesmente agora. Neste momento, o futuro modifica a
expectativa e o passado cai no esquecimento, pois j passou.
Atravs do presente, Heidegger prope o intratemporal, que significa o agora, um aquidentro do mundo. Olhar o relgio, ver as horas, significa utiliz-lo para a regulao de
atividades, dizendo agora tempo de (idem, p.29).
2.2 O jovem e a percepo do tempo
A narrativa mitolgica da Grcia antiga bastante rica em imagens arquetpicas, que
oferecem metforas criativas para pensar a experincia e as relaes humanas. Para o Tempo,h duas representaes, Chronose Kairs, e essas imagens esto associadas a uma dimenso
da temporalidade humana.
Segundo a mitologia grega, Chronos filho de Urano e Gaia. Urano ocultava
sistematicamente seus filhos, ao nascerem, no corpo de Gaia. Revoltada, ela convence
Chronos a enfrentar Urano. Ao lutarem, Urano acaba sendo castrado por Chronos, que
assume o poder. Ele se casa com Ria e tm vrios filhos. Mas, ao tornar-se o soberano,
Chronos aprisiona seus irmos e passa a devorar sistematicamente os prprios filhos, logo
aps terem nascido, por receio a uma profecia lanada por Urano, segundo a qual Chronos
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refugia-se numa gruta, onde cresce em segurana. Mais tarde, Zeus enfrenta Chronos, e o faz
libertar os outros filhos que havia engolido.
O termo Kairsrefere-se tanto a uma personagem da mitologia, quanto a uma antiga
noo grega para referir-se a um aspecto qualitativo do tempo. A palavra Kairs, em grego,
significa o momento certo. Sua correspondente em latim, momentum, refere-se ao instante,
ocasioou movimentoque deixa uma impresso forte e nica para toda a vida .
Na mitologia grega, Kairs um atleta de caractersticas obscuras, que no se
expressa por uma imagem uniforme, esttica, mas por uma idia de movimento.
Metaforicamente, ele descreve uma noo peculiar de tempo, uma qualidade complementar
em relao noo de temporalidade representada por Chronos.
Kairs uma experincia temporal, na qual percebemos o momento oportuno emrelao a determinado objeto, processo ou contexto. Em outras palavras, Kairs revela o
momento certo para a coisa certa; simboliza o instante singular que guarda a melhor
oportunidade; representa o momento crtico para agir, a ocasio certa, a estao do tempo
adequada. Sendo assim, o Tempo continua uma categoria relativa (Chronos) e abstrata
(Kairs), na qual os seres humanos, jovens ou velhos, transitam e vivenciam
existencialmente, cada um a seu modo de ser.
Para o jovem, o tempo no limita nem delimita sua vida. Suas aes e expectativas noso controladas pelo tempo porque sua durao pode parecer infinita. O futuro, por exemplo,
sentido como muito distante. Quando se pensa o tempo, ele concebido diferentemente, de
acordo com as idades. Isso quer dizer que a criana ou o idoso tem percepes e vivncias
diferentes em relao ao tempo.
H vrias definies de tempo. De acordo com Ferreira (1986), o tempo a sucesso
dos anos, dos dias, das horas, etc, que envolve, para o homem, a noo de presente, passado e
futuro: o curso do tempo; o tempo um meio contnuo e indefinido no qual acontecimentosparecem suceder-se em momentos irreversveis.A partir dessa definio, torna-se evidente a
irreversibilidade do tempo. No se volta atrs, no d para parar, ele contnuo porque nada o
detm.
A teoria da relatividade de Einstein, o espao e o tempo esto interligados. Assim,
parecem se coadunar, se combinar, se influenciar intimamente, ganhando o tempo um outro
significado dentro do chamado espao temporal. Pode-se dizer que passa a existir um binmio
espao-tempo, que gerido no ambiente e que gera novas relaes entre pessoas, produo e
disseminao de informaes, de bens etc. Em velocidade prxima da luz, a massa de um
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2.3 Tempo psicolgico
O tempo psicolgico o tempo que a personalidade assume interiormente; o tempo
filtrado pelas vivncias subjetivas, muitas vezes carregadas com toda a problemtica
existencial. Assim que o tempo psicolgico se alarga ou se encurta, conforme o estado de
esprito em que se encontra a pessoa.
Esse tempo da subjetividade tambm chamado de tempo virtual, porque h mudana
e manejo, conforme o momento em que ele vivido. Em qualquer situao psicolgica, o
tempo cronolgico relativizado em confronto com este tempo que varia de acordo com as
vivncias emocionais, cognitivas e comportamentais.
Observa-se que, na anlise da imagem fotogrfica, pode ser captada a subjetividade,onde os sentimentos e o prazer visual aparecem entrelaados. Um gesto, um olhar, uma
tenso, etc., captados pela imagem de um filme que nos comove, transmitem uma
possibilidade de vivncia real e tambm virtual do tempo. A imagem tem tal poder. O tempo
subjetivo um tempo catrtico, pois supe uma suspenso do fluir temporal, porque o que
irrompe na imagem a prpria experincia subjetiva do ator.
Rolland Barthes, no livro Fragmentos de um discurso amoroso (1981), diz que a
espera um encantamento. A angstia da espera no sempre violenta; tem seus momentosde calma; espero, e tudo que est em volta da minha espera atingido de irrealidade(idem,
p.95). J para a imagem, prope a contemplao das fotografias de um lbum familiar, que a
um estranho nada podem comunicar. Sem dvida, a projeo dos prprios fantasmas do
intrprete faz com que a contemplao de uma fotografia se converta numa atividade de
intensa emoo e intimidade, mas tambm numa vivncia do passar do tempo e do registro do
tempo cronolgico, apesar de estar sendo sentida como subjetiva.
O tempo amoroso tratado por Barthes na categoria do encontro, que significa umtempo especial:
Esse tempo feliz adquire sua identidade pelo fato de se opor continuao:continuao o longo desfile de sofrimentos, mgoas, angstia, aflies,ressentimentos, desesperos, embaraos e armadilhas, dos quais me tornopresa, vivendo ento sem trgua sob a ameaa de uma decadncia queatingiria ao mesmo tempo o outro, eu mesmo e o encontro prodigioso, que,no comeo, nos descobriu um ao outro (Barthes, 1981, p. 84).
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observadores, mas tambm, e muito, de uma poca para outra. Em outras palavras,
o tempopassa muito mais depressa hoje do que uma pessoa da mesma idade o
percebia no passado.
O interesse dos dois pesquisadores surgiu em funo de uma reportagem
feita sobre o estudo do psiclogo Peter Mangan, professor da Universidade de
Virgnia (USA) (EUA), no final de outubro de 1997. Em Nova Orleans, no encontro
anual da Sociedade para a Neurocincia, em 1998, Mangan fez uma pesquisa com
base na medio da percepo do intervalo do minuto realizada com grupos de
voluntrios de quatro diferentes faixas de idade: de 10 a 14 anos, de 20 a 24 anos,
de 45 a 50 anos e de 65 a 75 anos. A pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de
saber como cada grupo percebia passar u