covid-19 brasil · 6 revista ri abril 2020 ponto de vista. afetadas, já que cada vez mais as...

68
R$ 20,00 EM PAUTA 240 ABR 2020 BRASIL PÓS CRISE DO CORONAVIRUS INVESTIDORES EM TEMPOS DE PANDEMIA A pandemia do coronavírus já provocou milhares de mortes e levou às pessoas no mundo inteiro ao isolamento social o que resultará em uma forte contração econômica. Em meio ao caos - no mercado de capitais - investidores tentam buscar o real valor dos ativos na bolsa e o papel das Relações com Investidores cresce de importância ao prover transparência em demonstrar os fundamentos da empresa. RELAÇÕES COM RELAÇÕES COM INVESTIDORES www.revistaRI.com.br COVID-19 & O DESAFIO DA LIDERANÇA RACIONAL por ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA por ANA BORGES

Upload: others

Post on 01-Oct-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

R$

20,0

0

EM PAUTA

nº240ABR 2020

BRASILPÓS CRISE DOCORONAVIRUS

INVESTIDORESEM TEMPOS DEPANDEMIAA pandemia do coronavírus já provocou milhares de mortes e levou às pessoas no mundo inteiro ao isolamento social o queresultará em uma forte contração econômica.Em meio ao caos - no mercado de capitais - investidores tentam buscar o real valor dos ativos na bolsa e o papel das Relações com Investidores cresce de importância ao prover transparência em demonstrar os fundamentos da empresa.

INVESTIDORESRELAÇÕES COM

RELAÇÕES COM INVESTIDORESwww.revistaRI.com.br

COVID-19 & O DESAFIO DA LIDERANÇA RACIONAL

por ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

por ANA BORGES

Page 2: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Realização:

Ipsos

Apoio metodológico:Pesquisa:

2020

Empresas que apostam em um ambiente mais favorável

para a mulher e sua carreira merecem um prêmio.

A SUA PODE ESTAR ENTRE ELAS.

Vem aí uma nova edição da premiação que destaca as

companhias com as melhores práticas e polít icas corporativas para a

equidade de gênero e a l iderança feminina no Brasi l.

A pesquisa, realizada pelo Instituto Ipsos, é uma iniciativa da WILL (Women in Leadership in Latin

America) em parceria com O Globo, Valor Econômico, Marie Claire

e Época Negócios.

Inscreva a sua empresa até 27/04 em www.latamwill.org/mulheres-na-lideranca

AN_mulheres_lideranca_2020_210x280.indd 1AN_mulheres_lideranca_2020_210x280.indd 1 24/03/2020 14:52:2124/03/2020 14:52:21

O Itaú tem tudo para você resolver sua vida financeira sem precisar sair de casa. Faça transações, consultas, pagamentos e muito mais em nossos canais de atendimento:

Central de AtendimentoCapitais e Regiões Metropolitanas:4004 4828Demais localidades:0800 970 4828

App ItaúFaça o download na sua loja de aplicativos.

Internet BankingAcesse sua conta em itau.com.br

É hora de ficar em casa. Todo mundo tem uma agência do Itaú no bolso.

AFM-26856-032-ITAU-An_COVID_Revsta_RI 42X28cm.indd 1 27/03/20 09:12

Page 3: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

O Itaú tem tudo para você resolver sua vida financeira sem precisar sair de casa. Faça transações, consultas, pagamentos e muito mais em nossos canais de atendimento:

Central de AtendimentoCapitais e Regiões Metropolitanas:4004 4828Demais localidades:0800 970 4828

App ItaúFaça o download na sua loja de aplicativos.

Internet BankingAcesse sua conta em itau.com.br

É hora de ficar em casa. Todo mundo tem uma agência do Itaú no bolso.

AFM-26856-032-ITAU-An_COVID_Revsta_RI 42X28cm.indd 1 27/03/20 09:12

Page 4: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

REVISTA RI©

É uma publicação mensal da IMF Editora Ltda.

Av. Erasmo Braga, 227 - sala 511

20020-000 - Rio de Janeiro, RJ

Tel.: (21) 2240-4347

[email protected]

Publisher e Diretor Editorial: Ronnie Nogueira | Presidente do Conselho: Ronaldo A. da Frota Nogueira (1938-2017)

Conselho Editorial: Antônio Castro, Edison Arisa, Eduarda La Rocque, Fábio Henrique de Sousa Coelho, Geraldo Soares, Hélio Garcia,

Jurandir Macedo, Marcelo Mesquita, Nuno da Silva, Raymundo Magliano Filho, Ricardo Amorim, Roberto Teixeira da Costa e Thomás Tosta de Sá

Projeto Grá� co: DuatDesign | Impressão: WalPrint

Os artigos aqui publicados não pretendem induzir a nenhuma modalidade de investimento. Os dados e reportagens são apurados com todo o rigor, porém não devem ser considerados perfeitos e acima de falhas involuntárias. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. É proibida a reprodução desse volume, ou parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem a autorização prévia e expressa da IMF Editora.

nº 240 • Abril 2020

06 Ponto de VistaBrasil pós crise do CoronavirusPOR ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

08 Em PautaRelações com Investidores em Tempos de PandemiaPOR ANA BORGES

22 Espaço APIMECAs Pandemias e o comportamento dos mercados globaisPOR EDUARDO WERNECK

26 Orquestra Societária Covid-19 e o desafi o da liderança racional e criativaPOR CIDA HESS E

MÔNICA BRANDÃO

34 IBGC ComunicaA jornada da Governança Corporativa é movida a crisesPOR LEONARDO VIEGAS

38 Finanças Sustentáveis ASG: o novo normalPOR OLAF BRUGMAN

40 Governança Corporativa Desafi os inadiáveis dos Conselhos brasileirosPOR ADRIANA DE CANDRADE SOLE

E MARCELO GASPARINO DA SILVA

46 Forum ABRASCAReforma TributáriaPOR ALFRIED PLOGER

48 Educação FinanceiraA segurança e o riscoPOR JURANDIR SELL MACEDO

53 IBRI NotíciasConselho de Administração prepara IBRI para o futuroPOR JENNIFER ALMEIDA

64 OpiniãoCapitalismo SolidárioPOR THOMÁS TOSTA DE SÁ

Page 5: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

WEBSITES

DE RELAÇÕES COM INVESTIDORES, CORPORATIVO E DE SUSTENTABILIDADEEquipe especializada em produção de sites de RI, com ferramentas de acessibilidade (acessíveis para todos os públicos), sites confiáveis e seguros (HTTPS), com tecnologia responsiva e CMS para gerenciamento de conteúdo. Qualidade, atendimento ágil e autonomia para atualizar informações com ferramentas próprias e customizáveis, que otimizam o tempo de manutenção e enriquecem a experiência dos visitantes.

FERRAMENTAS DE RI PRÓPRIAS E CUSTOMIZADASGráficos interativos, simulador de investimentos, evolução das ações, séries históricas, histórico de cotações, plataforma de webcast, gestão e disparo de mailings com relatório de envios, entre outras.

ACESSIBILIDADEAdoção das principais recomendações de acessibilidade do WCAG.

• aatb.com.br/bridge • 55 (11) 3047.5940

TECNOLOGIARESPONSIVA HTTPS SEOCUSTOMIZAÇÃO

FERRAMENTASPRÓPRIAS DE RI

anuncio_bridge.indd 1 31/10/17 2:05 PM

Page 6: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,
Page 7: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,
Page 8: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

por ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

Na realidade, não temos referencial para nos basearmos, pois a situação que estamos vivendo não tem precedentes. A única a certeza é que teremos substanciais mudanças num horizonte de alguns meses, até anos.

Vamos às possíveis consequências:

1. A globalização e o globalismo serão muito afetados. Os países fi carão mais fechados, o que terá um impacto sobre a circulação de capitais.

2. As cadeias de suprimentos entre países serão repensadas. Na medida do possível, os países irão buscar uma verticalização interna desde que tenham viabilidade. Não podendo, terão que buscar mais de um fornecedor externo.

3. O fl uxo de viajantes levará algum tempo para que as pessoas readquiram confi ança para suas viagens de turismo. As viagens de negócios também serão

Uma das poucas certezas que temos nesse grande momento de dúvidas é que essa inédita crise que estamos vivendo será superada. Provavelmente será uma melhora gradual até atingirmos o novo normal. Não arriscaria falar em prazos, mas farei algumas previsões do que aprenderemos da triste convivência com essa pandemia.

Na realidade, não temos referencial para nos basearmos, pois a situação que estamos vivendo não tem precedentes. A única a certeza é que teremos substanciais mudanças num horizonte de alguns meses, até anos.

PÓS CRISE BRASILDO CORONAVIRUS

6 REVISTA RI Abril 2020

PONTO DE VISTA

Page 9: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor, será que num surto nacionalista daremos preferência a produtos brasileiros, restaurantes de bairro brasileiros, férias no Brasil? Outra consequência será uma sensível depreciação do valor dos imóveis em grandes capitais como Nova Iorque, Londres, Paris, Madri e Barcelona que se valorizaram espetacularmente. Isso sem falar da sua liquidez.

4. Dentro dessa mesma linha de raciocínio, também haverá um aumento substancial do trabalho remoto, evitando deslocamentos de funcionários das empresas, o que as tornará mais eficientes, fazendo o trabalho da residência de seus funcionários. Também os conference calls, e vídeo conferências entre empresas, serão mais utilizados.

5. Consequentemente, haverá menor movimentação de pessoas o que aliviará o sistema de transportes e, principalmente, o uso de automóveis.

6. Um subproduto favorável será a melhoria do ar nas grandes cidades, devido a diminuição da poluição.

7. Hábitos de consumo pessoal serão afetados, o que favorecerá a utilização da internet, acelerando o que já vinha acontecendo, e que resultará na alteração do nosso quotidiano.

8. Questões sanitárias serão priorizadas e os hospitais serão favorecidos por investimentos para poder cumprir sua nobre missão com mais recursos e ampliação de serviços. Estímulo à contratação de funcionários especializados para melhor equipar os hospitais.

9. Os investimentos públicos e privados deverão favorecer os segmentos de saneamento e habitação. Está cada vez mais evidente que a população mais prejudicada não dispõem de água e de condições mínimas de higiene, devido , entre outros fatores, a deficiência habitacional.

10. Tema migratório - cada vez mais os imigrantes terão maiores dificuldade de encontrar abrigos em outros países. Os controles de fronteira se tornarão mais rígidos e a xenofobia aumentará.

11. Passada a crise, no campo internacional, as relações com os Estados Unidos e China, novamente viverá tempos muito difíceis, transcendendo a questão comercial, particularmente se houver uma recessão mundial, o que muitos acreditam será inevitável. A se confirmar esse cenário de dificuldades, nossa relação com esses países será submetida a grande stress, pois teremos que manter um relacionamento comercial importante com ambos os países.

12. Mercado de capitais - voltará ao perfil conservados do investidor brasileiro. Infelizmente, a volta das aplicações para Bolsa e participação em IPO’s sofrerá um retrocesso, devido ao impacto do coronavirus, aqui e nos demais mercados. Lamentamos, pois as conquistas alcançadas até o momento em 2019, com investidores nacionais voltando ao mercado, principalmente pessoas físicas, levará algum tempo para que possam recuperar suas perdas.

13. O ‘day after’ da pandemia e seus efeitos sobre os necessários gastos governamentais implicarão em forte impacto sobre o déficit público, necessário para cobrir os gastos com saúde e manutenção de empregos. Provavelmente o Governo terá que lançar mão de aumento na tributação de impostos no segmento de alta renda; impostos sobre heranças e patrimônios, entre outros.

Terminaria com uma visão positiva, pois creio que essa pandemia nos colocou diante de uma nova situação de soli-dariedade entre as pessoas e novos sentimentos de auxílio àqueles mais necessitados, como vem acontecendo no mun-do e nas grandes cidades. A força da união estará presente e seremos menos individualistas e não mais indiferentes às desigualdades sociais.

Não podemos deixar de reconhecer o fortalecimento dos valores familiares resultantes desta crise. RI

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA é economista, e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do Conselho Empresarial da América Latina. Recentemente publicou o livro “Valeu a pena: passado, presente e futuro do Mercado de Capitais. [email protected]

7REVISTA RIAbril 2020

Page 10: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

RELAÇÕES COMINVESTIDORESEM TEMPOS DE PANDEMIA

8 REVISTA RI Abril 2020

EM PAUTA

Page 11: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

A pandemia do coronavírus já provocou milhares de mortes e levou às pessoas no mundo inteiro ao isolamento social o que resultará em uma forte contração econômica. Em meio ao caos, no mercado de capitais os investidores tentam buscar o real valor dos ativos na bolsa e o papel das Relações com Investidores cresce de importância ao prover transparência em demonstrar os fundamentos da empresa.

por ANA BORGES

Com cerca de 1 milhão de pessoas infectadas e mais de 47 mil mortes provocadas pelo COVID-19 até o final do mês de março, o mundo vive uma crise sem precedentes, o que fez com que os governos adotassem a quarentena como forma de reduzir o contágio e evitar o colapso do sistema de saúde. No Brasil, até o fechamento desta edição, foram registrados mais de 6.800 casos com 240 mortes, apesar das medidas de proteção já adotadas. O momento é complicado. Se por um lado, é preciso evitar ao máximo que as pessoas saiam às ruas e fiquem próximas umas das outras, por outro, isso representa o fechamento de estabelecimentos, retração das receitas, corte de custos e despesas e, por consequência, au-mento do desemprego e piora da renda.

A conjuntura desestabilizou o mercado de capitais, em espe-cial o acionário que vinha em tendência positiva. Após ter registrado recorde em meados de janeiro, quando alcançou 119.527,62 pontos no dia 23 de janeiro, o Ibovespa chegou a uma perda acumulada de 46,82% em apenas 2 meses e no dia 23 de março atingia 63.569,62 pontos. O “circuit breaker”, mecanismo disparado toda vez que atinge o limite de baixa de 10%, interrompendo a sessão para proteger o mercado de ações de volatilidades bruscas e atípicas, foi acionado seis vezes. Pela intensidade das quedas registradas, a crise re-cente do mercado acionário se mostrou mais grave do que a registrada pela quebra do Lehman Brothers em 2008.

A conjuntura desestabilizou o mercado de capitais, em especial o acionário que vinha em tendência positiva. Após ter registrado recorde em meados de janeiro, quando alcançou 119.527,62 pontos no dia 23 de janeiro, o Ibovespa chegou a uma perda acumulada de 46,82% em apenas 2 meses e no dia 23 de março atingia 63.569,62 pontos.

9REVISTA RIAbril 2020

Page 12: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

O primeiro trimestre deste ano foi o pior da história do índice, que despencou 36% no período. Se este percentual parece elevado, é preciso lembrar que 17 das 73 ações do Ibovespa tiveram queda acima de 50%. Destas, destacam-se IRB (-75,15%); CVC (-74,66%); Azul (-69,89%) e Gol (-69,10%). Estas três últimas empresas estão inseridas em setores al-tamente impactados pela pandemia, o de turismo e o de transportes aéreos. A busca dos investidores é por encon-trar o novo preço destas empresas que registraram uma queda brusca nas receitas e não é esperada uma recupera-ção no curto prazo.

“A Gol está num setor que sofre na veia. Estamos tomando todas as medidas para mitigar os danos o máximo possível e apoiando o governo na espera de que essa onda de conta-minação se reduza para voltar a atividade normal”, decla-rou Henrique Constantino, co-fundador da Gol Linhas Aéreas, durante a live do Modalmais: Conversa com CEOs. Dos 800 vôos diários, a operação se reduziu a 50. Das 130 aeronaves, a Gol só está operando com 8 e, mesmo assim, com demanda baixa.

Por dia, a empresa transportava 100 mil passageiros nos avi-ões e 1,5 milhão de pessoas nos ônibus. “Esse número não chega hoje a 3 mil passageiros nos aviões e nos ônibus está ao redor de 100 mil. “Para o negócio é um cenário muito ruim. Estamos em busca de preservar empregos. Ainda não temos uma redução de quadro”, ponderou Constantino. A questão agora é a pós-quarentena. “Não está muito claro sobre o que vai acontecer. Talvez os negócios se tornem menores do que eram na pré-crise em um primeiro momento”, avaliou.

A Gol está em meio ao furacão, mas a pandemia afeta a todos os negócios, o que levou à queda do valuation das empresas. Neste cenário, a aproximação do RI com os in-vestidores deve ser ainda maior, mesmo que em home office. “O momento é muito diferente de todas as outras crises, que o mercado já passou. As oscilações nos preços dos papéis dependem muito do perfil e da alavancagem das carteiras dos investidores”, diz Marília Nogueira, di-retora de Comunicação do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).

Para a maioria dos brasileiros que investem hoje na bolsa, essa é a primeira grande crise que presenciam, consideran-do que, desde o início desse movimento, há cerca de dois anos, o mercado apresentou comportamento de alta. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, em meio ao caos, o número de CPFs cadastrados na B3 registrou um novo au-mento em março, atingindo 2.243.362. O crescimento foi de

HENRIQUE CONSTANTINO, Gol

A Gol está num setor que sofre na veia. Estamos tomando todas as medidas para mitigar os danos o máximo possível e apoiando o governo na espera de que essa onda de contaminação se reduza para voltar a atividade normal.

EM PAUTA

10 REVISTA RI Abril 2020

Page 13: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

MARÍLIA NOGUEIRA, IBRI

O momento é muito diferente de todas as outras crises, que o mercado já passou. As oscilações nos preços dos papéis dependem muito do perfil e da alavancagem das carteiras dos investidores.

22,54% na comparação com janeiro, quando o Ibovespa atin-giu seu ápice de pontos.

A percepção é de que os novos investidores entendem que sair na baixa é realizar prejuízos. “O ideal para a pessoa física neste momento é não sair e sim segurar o ativo que possui e esperar toda essa turbulência passar porque grande parte do preço de tela que estamos vendo não ref lete o verdadeiro valuation das empresas. A partir do momento que sai, ela está vendendo o papel muito mais barato do que a empresa vale. Este é um momento de aprendizado para o investidor”, diz Renata Couto, Gerente de RI da AFYA.

A especialista em governança corporativa, Adriana de Andrade Sole, observa que o perfil do investidor que ingres-sou nos últimos dois anos no mercado é bem diferente do que se tinha anteriormente. “Eles entraram com a visão de risco, de adrenalina. Mas agora é o grande momento para que con-ceitos corretos de risco sejam vendidos, pois estão sentindo na pele o impacto do imponderável na bolsa”, lembra.

No caso específico da Klabin, havia 115 mil acionistas PF ao final do pregão de 21/02, que antecedeu a queda do mercado. Na informação mais atual, de 30/03, pouco mais de um mês depois, a base de acionistas PF da companhia apresentou crescimento, passando dos 140 mil investidores. “Houve um aumento significativo nas interações com o mercado nessas últimas semanas, sem impactos no nível de atendimento ou na tempestividade de resposta”, conta Marcos Maciel, gerente de Relações com Investidores da Klabin.

O PAPEL DO RI

Neste momento atual do mercado, o trabalho dos RIs ga-nha mais relevância ao orientar investidores e demonstrar os fundamentos das empresas em comunicados claros e até reuniões abertas. “Em momentos de crise ou situações totalmente adversas, como a que estamos vivenciando, no Brasil e no mundo, o papel dos RIs das empresas é funda-mental para garantir a preservação de valor da companhia, de modo que a desvalorização seja apenas aquela inevitável decorrente da conjuntura e expectativa legítima dos inves-tidores sobre economia, país e impactos adversos, evitando assim que o valor da empresa seja deteriorado por projeções não reais, assimetria de informações ou mesmo as chama-das fake news”, diz Paula Prado, Head de RI da Eletrobras.

Maciel, da Klabin, acrescenta que a área de RI tem também uma grande responsabilidade perante a administração da companhia, de trazer informações dos agentes de mercado

11REVISTA RIAbril 2020

Page 14: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

RENATA COUTO, AFYA

O ideal para a pessoa física neste momento é não sair e sim segurar o ativo que possui e esperar toda essa turbulência passar porque grande parte do preço de tela que estamos vendo não reflete o verdadeiro valuation das empresas.

que servirão como mais um componente no processo de to-mada de decisão. “Nos tempos atuais, fomentados pela velo-cidade com que a informação circula, todos estão expostos à uma enxurrada de fatos diariamente. É importante e papel do RI separar o que é fato do que é ruído”, ressalta.

Na Klabin, são utilizados os tradicionais instrumentos, tais como Comunicado ao Mercado, Fato Relevante etc. para, nos termos da legislação vigente, levar as informações mais im-portantes simultaneamente para todos os públicos de inte-resse. Em paralelo, a equipe de Relações com Investidores tem atuado intensamente nas últimas semanas no aprofun-damento das informações com quaisquer stakeholders que tenham interesse. Pela restrição de reuniões presenciais, o uso de tecnologia foi intensificado para que, cumprindo as diretrizes de isolamento social, seja possível acessar acionis-tas e investidores de todo o globo.

“O papel do profissional de RI não é valorizar o preço da ação, mas sim levar ao mercado de forma transparente as principais informações da Companhia, seus negócios e sua estratégia, para que os agentes tomem a decisão sobre o va-lor justo dos papéis da empresa”, complementa Maciel. Nas interações com analistas e investidores, tem reforçado que, a despeito do choque de curto prazo, não houve alterações significativas nos fundamentos dos negócios.

O conselho do IBRI é de ampliar a transparência em meio à turbulência. “Estamos orientando as companhias que, a despeito da possibilidade de divulgação de ITR (Informações Trimestrais) e Formulário de Referência num prazo maior que o usual, é preciso fazer as divulgações, o quanto antes possível”, diz Bruno Brasil, diretor-presidente do IBRI. Imerso num ambiente de alta incerteza, o mercado se bene-ficiaria de mais informações, de forma que pode favorecer a correta avaliação das companhias se houver aumento da transparência e da manutenção da comunicação.

Para Adriana Sole, o grande desafio é informar as deci-sões não planejadas em um contexto em que tudo muda rapidamente e que os ânimos estão alterados. “É preciso ter uma estrutura para atender os stakeholders - este é o desafio do RI. As coisas estão acontecendo, as empresas tendo que tomar decisões não planejadas como lidar com essa questão em momento de crise. Qual vai ser o tom da comunicação a ser adotado? Isso mexe com qualquer processo de governança. Como uma área de RI vai acom-panhar todo esse processo? Como os stakeholders vão en-tender o posicionamento? A questão é a legitimidade das informações e o entendimento do público para não gerar

EM PAUTA

12 REVISTA RI Abril 2020

Page 15: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

mais insegurança dentro de um contexto que é novo para todo mundo”, resume.

Segundo Paula Prado, o RI deve criar estratégias de comuni-cação com seus investidores e mercado em geral, para garan-tir esclarecimentos tempestivos de fatos e impactos. No caso da Eletrobras, que foi bastante penalizada e chegou perder R$ 27,5 bilhões em valor de mercado entre os dias 1º e 20 de março seguindo a tendência das companhias de energia elétrica, as medidas da área de RI de mostrar a realidade da empresa em frente à crise fizeram a diferença.

A empresa procurou fugir do “lugar comum” de divulgar fatos relevantes genéricos e buscou tratar dos impactos que considerou mais relevantes para seus negócios, explicar o contexto em que está inserida e quais poderiam ser os efei-tos em seus negócios e fluxo de caixa. “Não é possível ser exaustivo neste momento, dado o ineditismo que estamos vivenciando. Mas a Companhia fez uma divulgação bem didática, por diferentes canais, como Fato Relevante, Nota Explicativa de Demonstrações Financeiras e no Relatório de Administração de 2019”, conta.

A companhia também buscou abordar e incluir no seu Fato Re-levante, as principais dúvidas e questionamentos que os ana-listas já haviam enviado à empresa, de forma individual, como foi o caso do risco de exposição cambial, de forma a garantir a simetria de informações. Existe ainda um comitê de crise ins-talado na para monitorar o tema. Durante a quarentena, os atendimentos estão sendo mantidos através do “Ombudsman--RI”, conference calls, videoconferências e há a participação em “road shows virtuais” organizados por instituições.

Em 21 de janeiro deste ano, as ações da Ânima registravam recorde e encerraram o dia a R$ 35,98, após o anúncio da oferta pública restrita de 22,4 milhões de ações ordinárias. De lá até 18 de março, os papéis da empresa sofreram mui-to com a crise, mesmo que seus fundamentos não tenham mudado tanto assim. Neste caso, o RI também teve um papel relevante de esclarecimento.

Para atender as dúvidas dos seus 6 mil acionistas e evitar a assimetria de informações, a empresa foi além dos comu-nicados e realizou uma webinar, que contou com a partici-pação de 131 pessoas. “No momento em que começamos a perceber um número maior de pessoas perguntando, a simetria de informações com o mercado começa a ser um fator de preocupação. Mesmo que façamos um comunicado ao mercado, não necessariamente conseguimos entrar em detalhes. Estamos conversando sempre e se algo ocorrer va-

ADRIANA SOLE

Eles entraram com a visão de risco, de adrenalina. Mas agora é o grande momento para que conceitos corretos de risco sejam vendidos, pois estão sentindo na pele o impacto do imponderável na bolsa.

13REVISTA RIAbril 2020

Page 16: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

mos ter novas iniciativas de webinar”, diz Marina Gelman, diretora de Relações Institucionais da Ânima.

Em sua visão, a proximidade do RI com os mercados neste momento é crucial já que a bolsa está exibindo um com-portamento muito irracional. “Dar o máximo de esclareci-mento possível, conversar com o mercado e estar perto para falar o que está ocorrendo na companhia neste momento é muito importante. Estamos alinhados com o comitê de cri-se, com o CEO e Chairman”, conta.

A Ânima conseguiu adaptar rapidamente suas operações ao home office. Na verdade, foi apenas uma virada de chave, pois os alunos e professores já transitavam entre os ambien-tes virtual e presencial com facilidade devido à metodologia adotada desde 2018. “Migramos de um sistema de ensino para um ecossistema de aprendizagem. Desenvolvemos um modelo em que não há só presencial ou só EaD”, explica. Enquanto a maioria das universidades adota uma disciplina totalmente em EaD e o restante totalmente presencial, na Ânima, o modelo é de todas as disciplinas com 20% em EaD, o que resultou no preparo dos professores em migrar para a plataforma online sem problema algum.

“Este é um fator que acalma o investidor. Porque há o medo do investidor de que as faculdades percam alunos pela mudança da experiência acadêmica. Para nós, a ex-periência não é disruptiva na prática, pois o aluno está no ambiente com o professor dele. Isso faz toda a diferença. Uma coisa é o investidor achar que a empresa colocou os alunos de férias ou mudou completamente a experiência deles e outra coisa é conhecer como estamos tratando as pessoas”, diz.

Renata Couto, RI da AFYA Educacional, focada em cursos de medicina, observa que o momento do mercado é de instabi-lidade como movimentos rápidos. “É muito importante que o RI se posicione de forma a estar presente e disponível. É preciso fazer comunicados demonstrando claramente quais serão os impactos dentro da empresa. O investidor necessita de transparência”, afirma.

No caso da AFYA, foram elaborados comunicados informan-do como a empresa estava sendo afetada, quais as medidas tomadas e qual a posição no momento. A busca foi por dar uma maior tranquilidade possível em um ambiente instá-vel. “A assimetria de informação pode acontecer por alguns momentos visto que tudo ocorre de forma muito rápida. En-tão é muito importante estar atento para mandar novas co-municações ao mercado através de diferentes ferramentas.

MARCOS MACIEL, Klabin

O papel do profissional de RI não é valorizar o preço da ação, mas sim levar ao mercado de forma transparente as principais informações da Companhia, seus negócios e sua estratégia, para que os agentes tomem a decisão sobre o valor justo dos papéis da empresa.

EM PAUTA

14 REVISTA RI Abril 2020

Page 17: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Para o investidor atualizar o valuation precisa ter informa-ções o mais precisas possível”, diz.

As aulas presenciais foram passadas para o online, mas como para medicina há uma carga prática, tais disciplinas precisarão ser repostas aos alunos, o que segundo Renata é um impacto totalmente contornável.

CONTRAÇÃO ECONÔMICA

A reação dos investidores é um esboço sobre as incertezas que pairam sobre a crise de saúde nunca antes vivida no mundo moderno e que arrastará a economia para a bancar-rota. O fato é que haverá retração econômica, mas a dúvida é sobre qual sua magnitude, pois o tamanho da queda depen-de de quanto tempo a quarentena se mantém.

Segundo projeções do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a economia brasileira deve encolher 9% no segundo trimestre em relação ao primeiro e registrar uma retração de 1,8% em 2020. A estimativa leva em considera-ção um período de isolamento social de três meses. Para um período de dois meses de restrição, a queda esperada é de 5% no segundo trimestre (em relação ao anterior). Já para um mês, essa projeção vai para uma redução de 3%, para o mesmo período.

Já a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, espera que a atividade econômica encolha 0,20% no primeiro trimestre e 2,13% no segundo trimes-tre, na comparação com os três meses imediatamente an-teriores. Caso se concretize a projeção, a queda do segun-do trimestre de 2020 pode ser a maior desde o segundo trimestre de 2015. No terceiro trimestre de 2020, ainda haverá retração de 0,8% em relação a igual período de 2019. Já, nos últimos três meses do ano, a expectativa é de que haja alta de 0,9%.

DILEMA

Há um dilema sobre qual o período ideal de isolamento e a bandeira da discordância é hasteada pelo próprio governo. “Bolsonaro não reconheceu a gravidade da situação. Talvez haja pessoas no governo, como o ministro da saúde, mas o próprio presidente não entendeu”, afirma o economista José Alexandre Scheinkman.

O ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta defende a quarentena, de acordo com as recomendações da Organi-zação Mundial da Saúde (OMS). “Nós vamos trabalhar com o máximo de planejamento. E, no momento, nós vamos fazer, sim, o máximo de distanciamento social, o má-

PAULA PRADO, Eletrobras

Em momentos de crise ou situações totalmente adversas, como a que estamos vivenciando, no Brasil e no mundo, o papel dos RIs das empresas é fundamental para garantir a preservação de valor da companhia.

15REVISTA RIAbril 2020

Page 18: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

BRUNO BRASIL, IBRI

ximo de permanência dentro das nossas residências de homeworking, para que a gente possa chegar ao momento de falar, ‘estamos mais preparados e entendemos aonde vamos’, aí a gente vai liberando e monitorando pela epi-demiologia”, declarou durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto.

Mas o presidente da república Jair Bolsonaro vai na dire-ção oposta. E a Secretaria de Comunicação (Secom) chegou a lançar uma campanha contra as medidas de isolamento, denominada “O Brasil não pode parar”, que teve sua divul-gação proibida na justiça. Segundo Bolsonaro os impactos econômicos negativos por si só são a justificativa para pôr fim à quarentena.

Sua postura, de minimizar o problema, chamando o CO-VID-19 de “gripezinha” gerou crise com governadores, o isolamento do presidente e críticas internacionais. A revista britânica The Economist chegou a chamar o líder brasileiro de “Bolsonero” fazendo referência ao imperador Nero que mandou incendiar Roma. “O vírus é igual a uma chuva. Ela vem e você vai se molhar, mas não vai morrer afogado”, dis-se em entrevista ao programa “Brasil Urgente”, da Band, no dia 01 de abril.

O economista Ricardo Amorim, durante palestra ao pro-grama do Mega Hack, uma maratona criativa que tem como objetivo criar um grande banco com projetos reais e ideias para ajudar a reduzir os impactos que o COVID-19, expli-cou que existem atualmente duas linhas de pensamento no Brasil e que as duas trazem riscos. A primeira consiste na ideia de priorizar as vidas e a economia vem depois. “O perigo desta linha é porque a economia afundando tam-bém vai matar gente de várias formas, por falta de acesso à alimentação, aumento da violência e criminalidade, por falta de recursos etc.”

A outra corrente diz: o Brasil não aguenta ficar tanto tem-po na quarentena, portanto, devemos sair rapidamente. “Neste caso, o risco é que se a gente sair da quarentena antes de evitar que o sistema de saúde entre em colapso, vai ter uma mortalidade muito grande que vai fazer com que, num segundo momento tenhamos que voltar para uma quarentena partindo de um número maior de gente infectada, o que faz a quarentena ter que ser muito mais dura e longa”, diz.

Scheinkman observa que o impacto do fechamento de ne-gócios e a economia parada são questões importantes, mas que a crise do sistema de saúde é ainda mais urgente. “Antes

Estamos orientando as companhias que, a despeito da possibilidade de divulgação de ITR (Informações Trimestrais) e Formulário de Referência num prazo maior que o usual, é preciso fazer as divulgações, o quanto antes possível.

EM PAUTA

16 REVISTA RI Abril 2020

Page 19: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

de pensar nos problemas econômicos, é preciso pensar em como reduzir ao máximo o número de pessoas mortas. Isso requer ter um sistema de saúde funcionando. No norte da Itália, por exemplo, o sistema de saúde é muito bom e mes-mo assim não conseguiu dar conta do fluxo de pessoas que ficaram doentes. Este é um problema grave no Brasil, pois não há recursos necessários”, alerta.

MEDIDAS

A discussão sobre qual o período e quem deve permane-cer em quarentena e os desencontros do governo acabam desestabilizando ainda mais a economia. Na ansiedade de demonstrar rapidez em estabelecer medidas, o governo fe-deral publicou no dia 22 de março, a Medida Provisória 927, que trata das medidas trabalhistas que podem ser tomadas durante a crise do coronavírus. O texto inicial permitia que contratos de trabalho e salários fossem suspensos por até quatro meses durante a calamidade sem nenhum tipo de compensação definida aos trabalhadores. Após as fortes crí-ticas o texto foi revogado no dia seguinte.

“O governo parece meio confuso no que faz. Isso fez com que as medidas fossem tomadas tardiamente e, numa confusão, teve que voltar atrás. Nesse momento de alta volatilidade, o governo foi fazer uma proposta e depois verificar ele mesmo que não tinha completado a proposta. Assim, se introduz uma nova fonte de incerteza. Há o medo de o governo fazer uma grande besteira, como chegou a fazer e voltou atrás. Este é um problema adicional”, destaca Scheinkman.

Com a polêmica, o governo passou a adotar medidas opos-tas com pacotes de ajuda tanto para as pequenas empresas quanto para garantir renda aos trabalhadores, principal-mente aqueles que estão na informalidade, cerca de 41 milhões de pessoas segundo o IBGE. Ao todo, as medidas de combate aos impactos econômicos anunciadas tanto pelo Banco Central quanto pelo Ministério da Economia já somam 2,6% do PIB, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes.

ALÉM DE KEYNES

Questões como o crescimento da dívida pública e restri-ção orçamentária como o teto dos gastos e a regra de ouro deixam de ser prioridades neste momento para dar mar-gem para que políticas públicas de ajuda e salvamento da economia sejam adotadas. Na situação de emergência não há limite orçamento. A dívida pública vai crescer em re-lação ao PIB e, após o fim da pandemia, o Brasil sairá em condições piores. Mas só após o fim e que é hora de pensar nas reformas.

MARINA GELMAN, Ânima

Dar o máximo de esclarecimento possível, conversar com o mercado e estar perto para falar o que está ocorrendo na companhia neste momento é muito importante. Estamos alinhados com o comitê de crise, com o CEO e Chairman.

17REVISTA RIAbril 2020

Page 20: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

“É preciso ter a vontade política de fazer e de fazer bem, pois é muito dinheiro e esse dinheiro vai ser custoso para o futuro país. Infelizmente, o nosso histórico não dá essa grande confiança de que o governo vá fazer bem feito. Os programas precisam ser bem definidos de forma a não cair na mão de um amigo de deputado. Essas são deficiên-cias que não podemos arcar”, diz.

Na avaliação de Scheinkman uma das coisas que fun-cionou bem na crise de 2008, que foi muito diferente da crise atual, foi a coordenação entre a Fazenda e o Banco Central. “São dois lados que precisam e devem trabalhar juntos, especialmente em momentos de crise. No Brasil, o Bacen tomou medidas importantes. Do lado da Fazenda também há medidas meritórias, mas que talvez não sejam suficientes, como a extensão de pagamentos de transfe-rência de renda”, analisa.

Scheinkman defende que não é o arcabouço keynesia-no heterodoxo que vai resolver o problema agora, pois é preciso ir além do que Keynes apregoava. “No arcabouço keynesiano heterodoxo, o governo tem que fazer inves-timentos. A questão agora é mais transferência de renda e crédito para os negócios que estão funcionando. Não é imaginar que a Petrobras furando mais poços vai resolver o nosso problema”, resume.

O grande desafio é não deixar que o capital organizacio-nal da economia seja destruído, evitando ao máximo o fechamento de pequenas empresas. “Há toda uma orga-nização em torno da pequena empresa: clientes, funcio-nários fornecedores. Se o pequeno for a falência a organi-zação desaparece. No futuro, pode ser que outra pequena empresa surja no lugar, mas é um processo muito lento para isso. Não é o problema quando um vai embora, mas quando todos vão. Vira uma reação em cadeia”, explica.

As perdas vão ocorrer, mas a busca é por minimizar os da-nos. “Uma cidade no fundo é um monte de interações eco-nômicas. Uma vez que algumas fecham, outras também são afetadas e por aí vai. É toda uma teia construída ao longo do tempo que, se o governo não prestar atenção, po-demos perder uma grande parte que demora muito tempo para ser reconstruída”, diz.

JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN

Nesse momento de alta volatilidade, o governo foi fazer uma proposta e depois verificar ele mesmo que não tinha completado a proposta. Assim, se introduz uma nova fonte de incerteza. Há o medo de o governo fazer uma grande besteira, como chegou a fazer e voltou atrás. Este é um problema adicional.

EM PAUTA

18 REVISTA RI Abril 2020

Page 21: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

CENÁRIOS

Ricardo Amorim traça três cenários para a economia brasi-leira. O primeiro é o otimista, em que a quarentena já traz o efeito positivo e é possível voltar à vida normal mais cedo sem colapsar o sistema de saúde. Neste cenário, vai ocorrer uma queda brutal de atividade no curto prazo, mas com re-cuperação forte e significativa diante de todos os estímulos que estão sendo feitos. Este é o melhor dos mundos, mas - infelizmente - não o mais provável.

No cenário intermediário, pode ser que o Brasil demore mais para chegar a esse ponto e que a quarentena prolonga-da seja necessária para evitar o colapso do sistema de saúde. “Vai custar mais para a economia no curto prazo, mas uma

RICARDO AMORIM

Vai custar mais para a economia no curto prazo, mas uma vez resolvido isso, a gente vai liberando gradualmente a quarentena, a recuperação da atividade vai demorar mais para começar, mas virá. Este cenário me parece o mais realista, mas depende da decisão dos nossos governantes. No pior dos casos, o governo determina que é preciso parar a quarentena o mais rápido possível, mesmo que não haja segurança de que não haverá um colapso do sistema de saúde. O risco é de um aumento brutal de mortalidade.

vez resolvido isso, a gente vai liberando gradualmente a qua-rentena, a recuperação da atividade vai demorar mais para começar, mas virá. Este cenário me parece o mais realista, mas depende da decisão dos nossos governantes”, avalia.

No pior dos casos, o governo determina que é preciso parar a quarentena o mais rápido possível, mesmo que não haja segurança de que não haverá um colapso do sistema de saú-de. “O risco é de um aumento brutal de mortalidade. E a pergunta é será que o Brasil aguenta isso sem que uma nova quarentena seja iniciada por mais tempo? Aí sim teremos uma recessão maior ao longo do ano por mais tempo e com possíveis impactos negativos até 2021”. RI

19REVISTA RIAbril 2020

Page 22: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Conheça o Reserva guaiú,a natureza na sua mais pura essência.

Casas de alto padrão com o máximodo conforto, em meio ao paraíso.

www.reservaguaiu.com.br

Recife de Araripe Foto do local

Reserva

Guaiú

Casa tipo 3 - Living

Um lugar inesquecível e único,

em um dos pontos mais belos do Sul da Bahia.

Casa tipo 02 - Fachada mar

www.nparticipacoes.com.br

Tel.: +55-21-37951921

realização:Projeto:

Mem

or

ial

de

inc

or

por

ação

mat

ric

ula

342

5 C

rec

i 02

3283

/0 -

NG

8Im

agen

s pe

rsp

ecti

vas

mer

am

ente

ilu

str

ativ

as.

AN_420X280_RESERVA_GUAIU_F.pdf 1 1/31/14 22:05

Page 23: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Conheça o Reserva guaiú,a natureza na sua mais pura essência.

Casas de alto padrão com o máximodo conforto, em meio ao paraíso.

www.reservaguaiu.com.br

Recife de Araripe Foto do local

Reserva

Guaiú

Casa tipo 3 - Living

Um lugar inesquecível e único,

em um dos pontos mais belos do Sul da Bahia.

Casa tipo 02 - Fachada mar

www.nparticipacoes.com.br

Tel.: +55-21-37951921

realização:Projeto:

Mem

or

ial

de

inc

or

por

ação

mat

ric

ula

342

5 C

rec

i 02

3283

/0 -

NG

8Im

agen

s pe

rsp

ecti

vas

mer

am

ente

ilu

str

ativ

as.

AN_420X280_RESERVA_GUAIU_F.pdf 1 1/31/14 22:05

Page 24: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

por EDUARDO WERNECK

Estamos vivendo um problema de saúde pública que não é novo. O Coronavírus ficou conhecido desde os anos 60 e sua característica principal, de acordo com os especialistas de saúde, é a infecção respiratória manifestada de diversas formas leves ou graves. Existem hipóteses de que a origem do contágio esteja nos animais, notadamente o morcego. A Organização Mundial da Saúde informou que um animal é provavelmente o transmissor da COVID-19, denominação atribuída ao novo coronavírus.

Analisando os coronavírus anteriores, não temos conheci-mento de qualquer um que tenha sido causa de movimen-tos sistêmicos de baixa acentuados nos Mercados como o atual. Ao contrário, o SARS (Severe Acute Respiratory Syndro-me) teve sua ação forte a partir de 2002 quando as Bolsas es-tavam saindo da recessão provocada pelo estouro da bolha da Internet em 2000 e experimentaram um período de alta expressivo em todo o mundo, inclusive no Brasil, até 2008, quando ocorreu a pandemia econômica da subprime.

Em 2012, tivemos o MERS (Middle East Respiratory Syndrome) com uma taxa de letalidade que chegou a 30%. Mais uma vez não houve impacto nos Mercados Globais impactos, ape-sar da queda do preço das commodities. Diferentemente, O

Brasil sofreu forte impacto pela combinação de queda no preço das commodities e corrupção - mensalão + lava-jato.

O vírus Ebola teve taxa de letalidade muito maior, chegan-do a mais de 80%, mas não provocou qualquer movimento sistêmico profundo. As Bolsas Mundiais continuavam em sua tendência de alta de longo prazo.

Porque este Novo Coronavírus provocou um movimento tão forte tendo uma taxa de letalidade tão baixa. É verdade que a de acordo entre Arábia Saudita e Rússia contribuiu para essa redução da oferta do petróleo, criando um clima (não ambiental) ainda mais pesado para a forte desaceleração econômica com risco de recessão econômica global.

AS PANDEMIAS & O COMPORTAMENTO DOS MERCADOS GLOBAIS: onde está o problema?

ESPAÇO APIMEC

22 REVISTA RI Abril 2020

Page 25: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

O que parece estar diferenciando este vírus dos demais é a alta taxa de contágio em uma Era Global, em que a Internet está reduzindo drasticamente o tempo de comunicação, em uma Era Global em que as doenças contagiosas têm elevada velocidade de propagação, em uma Era Global em que as forças econômicas estão em processo de mudança profunda com a ascensão da China.

No âmbito político, surgem autoridades denominando es-tes Coronavírus de “vírus chinês”, de “vírus do oriente mé-dio”. O nome do vírus Ebola vem do Rio Ebola. Morcego, ca-melo ou o gato civeta estão na relação dos animais citados como incubadores e transmissores. Nessa linha de ação, a ordem científica será identificar “qual animal desarrumou a economia do mundo inteiro. As previsões econômicas na-turalmente têm sido sombrias, pois o pânico nos força a pensar o pior.

Falando do Novo Coronavírus, as orientações à população tem sido:

1. Lavar as mãos e o rosto; 2. Ficar em casa com isolamento social de pessoas

contaminadas e distanciamento social principalmente para os idosos e pessoas dentro dos grupos de risco;

3. Lazer e exercícios domésticos; 4. Alimentação saudável; 5. Não cumprimentar as pessoas. 6. Manter a distância mínima de 1 metro um do outro;7. Evitar o contato entre crianças e avós etc.

São mudanças de paradigmas sociais profundos, que devem resultar em novas lições de convivência entre pessoas e pa-íses, pois as experiências passadas estão mostrando que ou-tras endemias, epidemias e pandemias virão.

Entretanto, mesmo essa situação não é nova. Se voltarmos no tempo,há 100 anos atrás, com o surgimento da Gripe Espa-nhola, que não é espanhola (existem histórias de que tenha surgido em campos de treinamento americano). Ela assim foi batizada porque foi a Espanha, que era neutra na 1ª Guerra,foi o primeiro país a divulgar para o mundo a existência de uma provável epidemia, que chegando ao Brasil vitimando o re-cém eleito Presidente da República Rodrigues Alves.

A leitura do Estadão de 21/10/1918 vai mostrar que quase todas as recomendações para o COVID-19 eram também re-comendações para a Gripe Espanhola, para o qual também não havia vacina. Ela matou mais de 1% da população mun-dial, no período 1918-1919, acima de 20 milhões de pessoas.

A bolsa de Nova York já vinha caindo desde 1916, meados da 1ª guerra mundial e continuou até 1921. Vale destacar que no período crítico da Gripe, de agosto de 1918 a maio de 1919, a Bolsa subiu 16%.

Podemos assim sugerir não haver evidências de relação causal entre pandemias e movimentos “Bear Market” ou de forte correção secundária. Se existisse essa relação o com-portamento foi inverso, dando sinais de que este movimen-to deverá ser limitado no tempo, ressaltando que a história não necessariamente se repete.

Voltando às recomendações da saúde pública, a simples pro-vidência “lavar as mãos”, recomendada por Nostradamus, no século XVI, continua mais complexa do que imagina-mos, especialmente para países como o Brasil, que continua com o acesso à água e esgoto. Segundo o CNI:

• 53% da população têm acesso a serviços de esgoto.• 83% têm acesso à água tratada, mas 38% da água

distribuída se perde no caminho.

Porque este Novo Coronavírus provocou um movimento tão forte tendo uma taxa de letalidade tão baixa. É verdade que a de acordo entre Arábia Saudita e Rússia contribuiu para essa redução da oferta do petróleo, criando um clima (não ambiental) ainda mais pesado para a forte desaceleração econômica com risco de recessão econômica global.

23REVISTA RIAbril 2020

Page 26: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

De acordo com o FGV/IBRE, o Índice de Gini no Brasil em março de 2019 era de 0,6257, revelando a rigidez dos pa-drões de desigualdades sociais. Nesse sentido é natural que o nível de habitações precárias tenha se elevado no perío-do de recessão 2015-2017. O déficit habitacional estimado pela Fundação João Pinheiro para 2015 foi de 6,4 milhões de unidades, dos quais 79% se concentra em famílias de baixa renda. 87,7% do déficit habitacional quantitativo está loca-lizado nas áreas urbanas. São problemas sociais sérios, mas também são oportunidades de investimentos.

Assim antes de procurar o animal culpado desta tragédia econômica global que estamos vivendo, devemos antes per-guntar se a degradação ambiental histórica não tenha sido o fator gerador do consumo de animais exóticos. A China proibiu de forma definitiva o seu consumo. Essa medida po-derá gerar transformações importantes nas relações entre economia, meio ambiente e sociedade, mas é preciso que to-dos os países, que adotam essa prática, sigam esse caminho. E para que esses animais se mantenham em seu habitat, terá de haver uma política de regeneração do meio ambien-te, que também necessita de recursos e compromissos polí-ticos e o caminho a ser seguido deve ser o dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS.

Dessa forma, deve haver o compromisso de que o meio am-biente seja integrado de fato às Políticas Públicas.Não é de-sejável que tenhamos um meio ambiente limpo às custas da paralização da economia, mas não é desejável um cres-cimento econômico que não se sustente do ponto de vista social e ambiental. O equilíbrio é a chave do sucesso.

Nesse sentido, as questões ASG devem estar na base dos fun-damentos de decisão de investimentos e os ODS devem estar na base das políticas públicas e privadas de desenvolvimento.

O COVID-19 está atingindo em cheio a população idosa, que está sendo obrigada a ficar longe do convívio social. A socie-dade fez a opção pela aceleração das taxas de longevidade. Bem isso tem custo. A Gripe Espanhola e o Novo Coronaví-rus curiosamente orientaram igualmente para o cuidado especial com os idosos.

Considerando-se todos os elementos colocados, podemos dizer que:

1. O Novo Coronavírus é mais uma pandemia. Esta última, ao contrário das outras está impondo um forte impacto econômico e social, possivelmente de horizonte previsível, que a Biotecnologia vai resolver se a história se repetir.

EDUARDO WERNECK é vice presidente da Apimec Nacional e special advisor da Resultante. [email protected]

2. Haverá ajustes na Economia de modo a inserir esses custos nos modelos de negócios. Neste caso, fica a pergunta, coeteris paribus: Qual o limite da economia para suportar essa tendência de avanço tecnológico e elevação de custos sociais?

Quando os mercados se comportam com movimentos abruptos insustentáveis revela não raro que estão se des-colando da economia real tornando as expectativas mais difusas impactando negativamente até aqueles investidores que fundamentam suas decisões em padrões ESG e políti-cas públicas baseadas nos ODS.

Temos de entender que em qualquer negócio, os fatores ambientais são condições iniciais do processo, pois eles são finitos, os objetivos sociais devem ser pautados pelo que é possível ser entregue à sociedade, mas respeitando os prin-cípios da igualdade e oportunidades. Os objetivos econômi-cos devem ser alcançados respeitando-se o objetivo social e a condicionante ambiental. A governança pública e privada é a chave para a combinação dos objetivos e condicionantes. Assim podemos chegar ao equilíbrio.

Em síntese, ODS são revelam os objetivos e metas e as ESG de-finem a estrutura de riscos. Esse ambiente tem de comandar o mercado de capitais e não andar a reboque. De outra forma, será dizer que a solução do problema está em buscar o morcego que mordeu o dromedário ou gato civeta que virou sopa ou foi comido por um indivíduo que por pobreza, fome ou cultura acaba sendo contaminado por um vírus que acaba provocando uma desordem social e econômica de sérias proporções.

O mundo tem hoje mais de 7,2 bilhões de habitantes 4 vezes mais do que em 1920, 1,9 bilhões. A expectativa de vida do-brou na “média global” desde a Gripe Espanhola.

O que esperar no futuro? RI

Nota: Este artigo expressa a opinião do autor.

ESPAÇO APIMEC

24 REVISTA RI Abril 2020

Page 27: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

www.globalri.com.br [email protected]

um passo à frente em consultoria

UMA ESPECIALISTA APENAS EM

DESIGN

UMA QUE TEM FOCO EXCLUSIVO

EM TI

UMA QUE APARENTA SER MAIS BARATA

SUA ASSESSORIA DE RI PODE SER:

OU PODE SER A GLOBALRI

Tudo o que você precisa em um só lugar, e bem feito.

ASSESSORIA DE RI: Pré IPO • IPO • Divulgação • Estudo de percepção • Análise pós conferência • Compliance •

Benchmark • Estudos diversos • RI para empresas de capital fechado e familiares

TECNOLOGIA: Website • Mailing • Voto à distância

COMUNICAÇÃO: Relatório de sustentabilidade, anual e de administração • Criação • Consultoria GRI •

Relato integrado

anuncio Global 01-03-17- Revista RI.indd 1 02/03/17 16:06

Page 28: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

COVID-19 &O DESAFIO DA LIDERANÇARACIONAL E CRIATIVA

26 REVISTA RI Abril 2020

ORQUESTRA SOCIETÁRIA

Page 29: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Há algumas semanas, uma das autoras deste artigo teve um breve diálogo com um médico com qualificações acadêmicas e profissionais diferenciadas. Durante a consulta, a paciente mencionou sua percepção quanto à gravidade do novo vírus que ora ameaça a humanidade, a COVID-19, e o médico respondeu: “Sim, é grave. Não existe vacina, que pode levar tempo para aparecer. A prevenção que existe no momento é evitar o contágio. As opções de tratamento são limitadas. A velocidade de propagação é preocupante e a situação em alguns países parece crítica. Como nunca foi tão fácil viajar para outros países ou deles receber visitantes, estamos sob grande risco”.

por CIDA HESS e MÔNICA BRANDÃO

Durante alguns minutos, o aplicado médico se concentrou em alguns exames de saúde a ele levados para fins de diag-nóstico. Na sequência, após orientar a paciente sobre os cui-dados com a saúde a serem tomados, ele retornou ao tema do vírus: “Sabe de uma coisa? Acredito que a humanidade está passando, acima de tudo, por uma grande experiência espiritual. COVID-19 nos obrigará a pensar sobre muitas coisas, e a evoluir espiritualmente. Bem, cuidemos de nós e de quem pudermos ajudar! Cuide-se, ok?”

A consulta teve que ser encerrada, pois outras pessoas aguar-davam atendimento e toda a agenda do consultório encontra-va-se atrasada naquela manhã. Mesmo assim, as palavras do ilustre médico fizeram pensar. O que haveria neste singelo diálogo entre uma paciente e seu médico de longa data, que torna tal conversa merecedora de reflexão sobre um tema que ora atormenta a humanidade?

Alguns apontarão as preocupações presentes na fala do especialista: gravidade do vírus,inexistência de vacina e tratamento efetivo, tempo preciso para a ciência criar

uma vacina, velocidade de propagação, situação crítica de países,necessidade de cuidados para evitar o contágio e o risco dos brasileiros, em um ambiente globalizado interco-nectado. Outros mencionarão na fala do clínico o seu final: “COVID-19 nos obrigará a pensar sobre muitas coisas e a evoluir es-piritualmente”. O que nos chama a atenção é o conjunto da obra: razão e uma percepção fina da realidade, lado a lado, expressas nas palavras do ilustre médico.

O médico em questão, que tem uma clínica concorrida onde é preciso agendar consultas com boa antecedência, é um pro-fessor com doutorado em sua especialidade e tem dado con-tribuições acadêmicas de peso em sua área de conhecimento. Além de clinicar, ele é um pesquisador e um praticante da ci-ência: um cientista. Sua fala nos faz refletir sobre dois aspec-tos tratados na obra de um extraordinário pensador alemão, Max Weber: racionalidade e desencantamento. Conforme pro-curaremos mostrar aos nossos leitores, esses dois conceitos estão estreitamente ligados ao sistema econômico no qual estamos inseridos: o capitalismo. E têm a ver com o tema COVID-19 e com a lógica da Orquestra Societária.

27REVISTA RIAbril 2020

Page 30: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Maximilian Karl Emil Weber (Max Weber) foi um dos três sociólogos cujas ideias são pilares da Sociologia Clássica: Karl Marx, Émile Durkheim e o próprio Weber.Jurista, eco-nomista, historiador e sociólogo nascido em Erfurt, Alema-nha (21/4/1864-14/6/1920), Weber estudou o capitalismo, as relações sociais e seu entrelaçamento entre esses dois temas entre outras questões. Nesses estudos, os termos racionali-dade e desencantamento emergem e ajudam a compreen-der, segundo a visão do pensador, a evolução do capitalismo e como esse sistema econômico poderia ser fortalecido.

Segundo Gabriel Cohn, professor emérito da Universida-de de São Paulo (SP) e sociólogo brasileiro especialista na obra de Max Weber (em entrevista concedida à Fundação Padre Anchieta), o propósito mais profundo de Weber era entender como o estado alemão poderia desempenhar um papel importante no conjunto das nações. Seu foco era a sociedade capitalista, que representava o “horizonte histó-rico de sua época”, pois ele não vislumbrava outro sistema diferente do capitalismo. Esse propósito conduziu Weber a uma forma de entendimento da sociedade baseada em ações sociais, conforme veremos adiante, e a perceber a racionalidade como fundamental para a consolidação do ca-pitalismo, em termos da criação de um aparato legal ou bu-rocracia que organize a sociedade, de um Estado moderno e organizado.

Em nosso tempo, o pensamento weberiano continua fazen-do sentido, mesmo que a sociedade ocidental seja bem di-ferente daquela que Weber conheceu. O sociólogo faleceu prematuramente aos 56 anos (mesmo para os padrões de longevidade de seu tempo), cerca de dois anos após o térmi-no da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que plantou as sementes da Segunda Guerra (1939-1945). Se Weber tivesse vivido mais tempo, muito mais teria a pesquisar e a refletir sobre economia e sociedade, já que esses dois eventos modi-ficaram significativamente a geopolítica mundial e as várias sociedades nacionais ao redor do Planeta. Parte significativa de sua obra somente foi publicada postumamente.

As ideias de Max Weber sobre o capitalismo serão melhor compreendidas pelos nossos leitores se precedidas de uma breve contextualização histórica. Para fins didáticos, a Histó-ria da humanidade está dividida pelos historiadores em cin-co grandes períodos. A criação da escrita assinala o final da Pré-história (até cerca de 4.000 a. C.) e o início da Idade Anti-ga (4.000 a. C. – 476),um período de florescimento de civiliza-ções e povos importantes como egípcios mesopotâmicos, hi-titas, fenícios, hebreus, persas, chineses, gregos e romanos. A deposição do último imperador romano Rômulo Augusto

pelos hérulos (um povo germânico), no ano 476, marca, por sua vez, a transição para a Idade Média (476 – 1453).

Na Idade Média, o legado deixado por vários filósofos gregos, como Aristóteles, Sócrates, Arquimedes, Euclides e outros foi ignorado, em prol do dogmatismo religioso imposto pela Igreja Católica daquele tempo. Especialmente no intervalo conhecido como Baixa Idade Média, compreendido entre os séculos XI e XV, reprimiu-se e reduziu-se o pensamento racio-nal humano, muito presente na filosofia da Idade Antiga, a dogmas baseados na fé sem reflexão. A Igreja exerceu grande controle sobre a civilização ocidental, tornando-se muito po-derosa. Pode-se dizer que essa época representou o auge do dogmatismo mítico no Ocidente, que atrasou em séculos o desenvolvimento intelectual dos seres humanos.

Entretanto, a História é dinâmica e o tempo não para. Mesmo na Idade Média, fatos importantes contribuíram para mudar o status quo adiante e reconfigurar a realidade, na Idade Mo-derna (1453 – 1789). Em meados do século XIV, isto é, ainda na Idade Média, um movimento econômico e artístico im-portante emergiu: cidades como Veneza, Florença, Gênova e a própria Roma, com recursos gerados pelo mercantilismo, receberam investimentos em arquitetura, escultura, pintura e outras áreas, cujos resultados ainda hoje são patrimônio cultural e turístico da Itália. Esse movimento correspon-de aos primórdios do Renascimento, que viria a crescer de modo impressionante em séculos seguintes.

Se Weber tivesse vivido mais tempo, muito mais teria a pesquisar e a refletir sobre economia e sociedade, já que esses dois eventos modificaram significativamente a geopolítica mundial e as várias sociedades nacionais ao redor do Planeta.

ORQUESTRA SOCIETÁRIA

28 REVISTA RI Abril 2020

Page 31: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

(do século XVI ao XVII) e Industrial (1760 a algum momen-to entre 1820 e 1840), ambas iniciadas na Idade Moderna. A primeira reconheceu o empirismo e a experimentação científica como caminhos para a demonstração de hipóte-ses de estudo. Quanto à segunda, esta constituiu-se em um movimento de substituição da produção baseada no traba-lho artesanal por aquela baseada no uso de máquinas, que resultou nas primeiras indústrias.

Em continuidade ao movimento incessante da História, a queda da Bastilha, ocorrida em 1789, marcou o início da Idade Contemporânea, que perdura em nosso tempo. É nessa etapa que Max Weber procura explicar a emergência do capitalismo, as relações sociais e o entrelaçamento en-tre ambos, entre outras questões. E desenvolve os termos racionalidade e desencantamento. Mas antes de focalizarmos Weber e suas ideias, completemos nossas breves considera-ções sobre a Idade Contemporânea, marcada por grandes e muitos eventos. Sem pretender entediar os nossos leitores, apresentamos a seguir uma pequena seleção de fatos histó-ricos, não exaustiva:

De 1789 ao século XIX

• Revolução Francesa (1789 – 1799) e a “igualdade dos homens perante a lei”;

• Era Napoleônica, associada à liderança de Napoleão Bonaparte (1799 – 1815);

• Independência das 13 colônias inglesas na América do Norte (4/7/1776);

• Colonização da Ásia e África por europeus, em busca de matérias primas para a indústria, com legados sofríveis para a região ou país colonizado (século XIX);

• Primeiros movimentos de trabalhadores e emergência conceitual do marxismo de Friedrich Engels e Karl Marx (século XIX).

Século XX

• Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que plantou as bases da Segunda Guerra;

• Revoluções Comunistas na Rússia (1917) e na China (1948 – 1952);

• Crise econômica de 1929;• Segunda Guerra Mundial (1939-1945);• Criação da Organização das Nações Unidas – ONU

(1945);• Guerra Fria entre os EUA e a URSS, envolvendo países

alinhados às duas superpotências (1945 – 1991);• Guerra do Vietnã (1/11/1955 – 30/4/1975);• Primeiros passos do homem na Lua, o que foi

viabilizado pelos EUA (21/6/1969);

Outro evento com raízes na Idade Média corresponde ao des-contentamento de vários públicos com a Igreja, que, além de deter grande poder político e econômico, afastou-se das premissas religiosas das primeiras gerações de cristãos. Ape-sar da perseguição brutal dos primeiros tempos aos cristãos, com o tempo, líderes romanos abraçaram o catolicismo e o Estado o adotou como religião oficial. O poder da Igreja e o seu afastamento em relação às crenças cristãs originais con-duziram a desconfortos tanto entre líderes da elite econômi-ca e política quanto entre outros segmentos sociais daquele tempo. As regras religiosas então ditadas cerceavam o pen-samento e a livre iniciativa; ademais, o imposto pago pelo povo à Igreja – o dízimo –, tornou-a a entidade mais rica da Europa Ocidental. Ainda hoje suntuosas igrejas na Europa atestam como muitos recursos financeiros foram gastos em sua edificação.

Considerada por vários historiadores anglo-saxônicos como marco inicial da Idade Moderna, apesar das contro-vérsias, a conquista de Constantinopla pelos turcos otoma-nos, ocorrida no ano de 1453, foi sucedida por vários even-tos, que reconfiguraram o panorama europeu. O Renasci-mento cresceu e terminou por conquistar vários países da Europa. Um de seus principais pilares era o pensamento racional ou racionalidade e a razão passou a ser considerada por diversos intelectuais europeus como caminho único para o conhecimento, sobrepondo-se à fé sem reflexão. O Renascimento foi marcado pelo retorno à filosofia grega e ao estudo crítico das ideias de filósofos como Aristóteles (frequentemente considerado como pai da lógica), Platão, Sócrates, Arquimedes, Euclides e outros, sem influências do cristianismo e visando racionalidade, questionamento e a busca pela verdade.

Um segundo evento muito relevante para a mudança do panorama da Europa Ocidental foi a Reforma Protestante, que reside no cerne das mudanças ocorridas. Tal movimen-to confrontou o dogmatismo vivenciado na Idade Média, criando uma nova forma de pensar a religiosidade, segun-do a qual a salvação de uma alma não residiria nas indul-gências pagas à Igreja, mas em trabalhar duramente, de forma racionalizada, previsível e baseada em calculabilida-de, para acumular capital, mostrando-se merecedor peran-te Deus. A Reforma Protestante da Idade Moderna libertou energias reprimidas pelo catolicismo da Idade Média, in-centivando a livre iniciativa e deflagrando o crescimento do capitalismo.

Outros dois eventos fortemente associados ao pensamen-to racional ou racionalidade foram as Revoluções Científica

29REVISTA RIAbril 2020

Page 32: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

• Maior intensidade na globalização, iniciada com as grandes navegações, na Idade Moderna e elevada a um patamar de grande conectividade (a partir dos anos oitenta);

• Emergência de um movimento pela sustentabilidade, com base nos esforços da ONU, deflagrado a partir dos anos setenta pela Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, na Suécia (1972);

• Emergência de um movimento pela governança corporativa, a partir dos EUA, na Califórnia, iniciado por grandes investidores institucionais, em função de escândalos corporativos; o movimento se disseminou pelo Planeta (1984 em diante);

• Queda do Muro de Berlim (9/11/1989);• Emergência da China como uma das grandes forças

econômicas potenciais do mundo (especialmente a partir dos anos noventa); e,

• Criação da União Europeia (1/11/1993).

Século XXI

• Ataques terroristas em New York, que criaram forte comoção mundial (11/9/2001).

• Lei Sarbanes-Oxley nos EUA, em função de escândalos corporativos (30/6/2002);

• Crise econômica a partir do sistema financeiro dos EUA, no segmento subprime (2008);

• Primavera Árabe ocorrida em países do Oriente Médio e do Norte da África, para denunciar a repressão política ali existente (2010);

• Occupy Wall Street, movimento ocorrido em várias cidades dos EUA, em protesto contra a desigualdade e o grande poder de corporações, especialmente financeiras, sobre o governo desse País; o movimento se expandiu para outras cidades no mundo (2011);

• Reaproximação entre os EUA e Cuba, no governo Barack Obama (2014);

• Movimentos de refugiados de países como a Síria e outros, em fuga contra guerras, o que não se via desde a Segunda Guerra Mundial (2015);

• Decisão do povo britânico de se retirar da União Europeia – Brexit (2016);

• Governo Trump nos EUA, com a reversão de algumas realizações do governo Obama.

• Decretação da pandemia COVID-19 (2020, em curso).

No que tange ao tema tecnologia e considerando conjunta-mente as Idades Moderna e Contemporânea,mencionam-se, de modo não exaustivo, as máquinas a vapor, o telégrafo, a locomotiva, o fonógrafo, a fotografia, a lâmpada incandes-cente, o radar, o avião, o submarino, o cinescópio,o rádio, o telefone, a televisão, o computador, o satélite, a internet, o

smartphone, as vacinas e tratamentos para várias doenças e muito mais.

Uma vez apresentada essa breve retrospectiva (esperando não ter tornada a leitura deste artigo enfadonha), consideremos a visão de Max Weber: para ele o capitalismo está relaciona-do à Reforma Protestante, forte impulsionador desse sistema econômico, com base nas ideias de Martinho Lutero e, prin-cipalmente, de João Calvino. Na lógica calvinista, as pessoas a serem salvas por Deus já teriam sido por Ele previamente escolhidas. Mesmo assim, o homem crente em Deus, incerto sobre ter sido ou não um dos escolhidos, deve lutar diligente-mente pela salvação de sua alma. Como? Deixando de pagar indulgências à Igreja, tratando o dinheiro de forma desvincu-lada de estruturas religiosas, trabalhando racional, discipli-nadamente, sem desperdícios, e acumulando capital. A busca de acumulação de capital reside no cerne da lógica capitalista.

De acordo com Weber, esse novo modo de pensar, baseado em forte racionalidade no trabalho e no trato do dinheiro, com previsibilidade e calculabilidade, teve grande influência sobre o capitalismo, nos primórdios desse sistema. Ressalta--se que Weber colidiu com aqueles que defendiam que o pen-samento econômico precedia a visão religiosa, entendendo que isso pudesse ocorrer, o oposto também se verificaria, já que o mundo é complexo.

No que concerne, especificamente, aos vocábulos racionali-dade e desencantamento, associados às ideias de Weber sobre capitalismo e sociedade, os tópicos a seguir buscam resumir o pensamento weberiano:

1. Os indivíduos devem ser vistos com olhar social, isto é, considerando suas interações com os demais. Assim, é preciso considerar as ações sociais dos indivíduos, isto é, aquelas que envolvem outros seres humanos.Nem toda ação é social. Comer um sanduíche em uma via pública é uma ação individual, mas oferecê-lo a alguém que tem fome é uma ação social.

2. Ações sociais podem ser categorizadas em quatro tipos: i) baseadas nas tradições e costumes, como cumprimentar alguém; ii) baseadas em emoções, positivas ou negativas, como expressar alegria ou contrariedade pela chegada de alguém; iii) baseadas em valores e princípios que os seres humanos absorvem ao longo de suas existências, refletidos, por exemplo, no ato de devolver uma carteira com dinheiro ao proprietário que a perdeu; e, iv) racionais, baseadas em algum objetivo ou finalidade, como adquirir um imóvel.

ORQUESTRA SOCIETÁRIA

30 REVISTA RI Abril 2020

Page 33: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

3. Em comunidades, as ações sociais tradicionais e afetivas são aquelas mais pertinentes, em função do menor número de pessoas e de sua proximidade. Já na sociedade, contexto mais amplo em que as interações entre os indivíduos se revestem de maior complexidade e têm maior potencial de conflito, as ações baseadas em valores e, muito especialmente, as ações racionais são aquelas que fazem maior sentido.

4. A racionalidade ou racionalização da vida social por meio de leis e outras regras emerge em vista da necessidade de simplificar as interações que ocorrem no contexto da sociedade, padronizando-se regras e criando-se impessoalidade, mitigando os riscos de conflitos. Quanto mais complexa a sociedade se torna, mais leis e outras regras exigirá e, portanto, maior nível de racionalidade. Quanto mais a sociedade avança, mais ela se racionaliza.

5. A consequência da racionalização é a redução ou eliminação do encanto em relação a várias crenças mágicas, em seres e eventos sobrenaturais, forças do além e outras que colidem com a ideia de racionalidade.A redução do encanto com o mundo mágico constitui-se no desencantamento, o qual enfraquece as religiões, com destaque para o catolicismo da Idade Média. O desencantamento pode ser comparado ao exemplo da árvore que, ao invés de ser admirada em sua beleza, passa a ser considerada como objeto de utilidade para seres humanos.

Max Weber associa, portanto, aspectos dos indivíduos que modelam seus relacionamentos (as tradições nas quais ele acredita, suas emoções, valores e objetivos) ao nível de com-plexidade do contexto no qual ele vive (comunidade ou so-ciedade). E como a complexidade aumenta com a vida em sociedade, é preciso aumentar a racionalidade e seus instru-mentos – leis e outras normas –, visando mitigar os riscos de conflitos nas interações sociais e, consequentemente, de perdas econômicas decorrentes desses conflitos, quando se adere a um sistema capitalista com a forte crença na busca da salvação da alma e na acumulação de capital.

Segundo o professor Gabriel Cohn (na mesma entrevista à Fundação Padre Anchieta antes citada), para Weber, sem racionalidade e previsibilidade, não seria possível um capi-talismo forte, com empresas lucrativas. Ele ainda obser-va que Weber também se preocupou com a criatividade e a inovação, já que a racionalidade e a burocracia podem inibi-la. O Estado, na visão de Weber, deve contar com um aparato administrativo eficiente, capaz de formular e im-plementar políticas públicas e de forma dinâmica, sem engessar a criatividade. Permitindo, portanto, racionalida-de e criatividade. Elas não são antagônicas, afinal, mas complementares.

Como o histórico anterior e as ideias de Max Weber aqui ex-postas (entre muitas outras, pois ele foi profícuo em seus es-tudos) nos ajudam a compreender os desafios que a COVID 19 impõe à humanidade? Primeiramente, a História demonstra o assombroso desenvolvimento intelectual e material regis-trado principalmente na Idade Contemporânea, conforme mostram os fatos. Abraçar o pensamento racional e a raciona-lidade fez muita diferença na caminhada dos seres humanos.Entretanto, a racionalidade não foi a única grande responsá-vel por tal diferença. O abandono do excesso de dogmas pa-rece ter libertado poderosas forças humanas criativas, muito inspiradas.Nesse contexto de racionalidade e criatividade, o pensamento humano evoluiu, subiu de patamar.

Diante do exposto, podemos dizer que a voz de Max Weber, quase 100 anos após o seu falecimento, se eleva do passado para nos dizer: senhores, usem sua racionalidade, mas usem tam-bém suas potencialidades criativas! Esses e outros atributos in-tangíveis dos seres humanos são imprescindíveis para lidar com os desafios do nosso tempo, como a forte desigualdade social existente no Planeta, a destruição em curso do meio ambiente, diversas guerras e vários outros itens que as so-ciedades e economias, mesmo gerando muito conhecimento e riqueza material, ainda não conseguiram resolver. E em meio a tantos desafios, ora emerge a COVID 19.

O Estado, na visão de Weber, deve contar com um aparato administrativo eficiente, capaz de formular e implementar políticas públicas e de forma dinâmica, sem engessar a criatividade. Permitindo, portanto, racionalidade e criatividade.

31REVISTA RIAbril 2020

Page 34: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Ao mesmo tempo, a História e a voz de Weber também pa-recem enviar uma mensagem aos líderes das organizações, neste momento crítico em que vivemos uma espécie de Ter-ceira Guerra Mundial, contra um inimigo invisível aos olhos humanos: acreditem! A humanidade tem sobrevivido a muitos per-calços ao longo do tempo! Usem sua racionalidade e criatividade! De que maneira? Nossa resposta, inspirada pela Orquestra Socie-tária, é: por meio de uma gestão de crise (parte integrante da gestão de riscos, mais ampla) racionalizada e participativa, bem como do forte estímulo à criatividade para enfrentar uma realidade nunca vivida – não em uma aldeia tão globa-lizada e interconectada. Racionalidade e criatividade são ele-mentos que devem estar presentes em um Modelo de Gestão Sustentável (MGS), permeando todos os seus fundamentos.

Com base nas considerações até aqui apresentadas – e indo além das empresas e demais organizações da economia –, atrevemo-nos a afirmar que ambos, racionalidade e encanta-

CIDA HESSé economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações. [email protected]

MÔNICA BRANDÃO é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora. [email protected]

Ao mesmo tempo, a História e a voz de Weber também parecem enviar uma mensagem aos líderes das organizações, neste momento crítico em que vivemos uma espécie de Terceira Guerra Mundial, contra um inimigo invisível aos olhos humanos: acreditem! A humanidade tem sobrevivido a muitos percalços ao longo do tempo! Usem sua racionalidade e criatividade!

mento são necessários aos seres humanos. Não o encantamen-to pautado pelo excesso de dogmatismo e falta de reflexão da Idade Média, tratado por Weber, mas aquele mais elevado, que leva as pessoas a acreditarem que, sim, é possível ven-cer desafios, por meio da religiosidade que não oprime, mas liberta (independentemente da crença religiosa), bem como pela crença na força criativa do ser humano e em suas per-cepções subjetivas. Por construção, seres humanos são racio-nais, criativos, perceptivos e muito mais.

Finalizamos este artigo retornando à fala do gentil e dedi-cado médico mencionado no início, que é, a um só tempo, racional, quando ele cita os aspectos que tornam a COVID-19 algo muito preocupante, e encantada, quando percebe a ne-cessidade de os seres humanos aprenderem algo importante com as dificuldades criadas pelo novo vírus. Racionalidade e encantamento convivem lado a lado em nossas vidas e em nos-sas mentes. Nossos leitores concordam? RI

ORQUESTRA SOCIETÁRIA

32 REVISTA RI Abril 2020

Page 35: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Saiba mais:www.compliancecomunicacao.com.br

www.haven.com.brEstratégias que geram valor Conectando empresas ao Mundo

Emgajamento de Stakeholders

Desenvolvimen-to de sites, gera-ção de conteú-do, gestão de mídias sociais e otimização dos motores de busca SEO.

Presença na Web

Engajamento de Stakeholders

C o m u n i c a ç ã o contínua e estra-tégica com seus públicos de inte-resse.

A história daCompanhia

Apuração, reda-ção e edição de relatórios anuais, livros corporati-vos e publica-ções customiza-das.

Relações comInvestidores

Auxílio na elabo-ração de infor-mações relevan-tes e posiciona-mento da com-panhia com rela-ção ao mercado de capitais.

Transparência e destaque na

imprensaA divulgação na imprensa, quando realizada de forma estratégica, é a maneira mais efetiva de uma empresa transmi-tir seus valores e mensagens aos públicos que pretende atingir.

Formada por pro�ssionais com ampla experiência na cobertura do mercado �nanceiro e em assessoria de imprensa, a Compliance, em parceria com a Haven, dispõe das melhores ferramentas para atender às necessidades de comunicação das empresas. Con�ra nossos cases no site!

Todas as soluções de comunicação que uma companhia aberta precisa

Page 36: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

A JORNADA DA

É MOVIDA A CRISES

GOVERNANÇA

É MOVIDA CORPORATIVA

34 REVISTA RI Abril 2020

IBGC COMUNICA

Page 37: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Em 1995, o Brasil começava a recuperar o fôlego depois de longo período de desordem econômica. Maior estabilidade e programas de desestatização estimularam um pequeno grupo de empresários, profissionais liberais e acadêmicos a criar um Instituto de Conselheiros de Administração, que foi o predecessor do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Essa iniciativa pioneira foi inspirada inicialmente pelo movimento então liderado pelo Reino Unido em favor de melhores práticas de governança nas organizações.

O repentino colapso financeiro de duas empresas havia aba-lado a confiança dos investidores e motivado a constituição de uma comissão governamental de alto nível, cujas reco-mendações foram resumidas num código de boas práticas de governança corporativa que ficou conhecido como Cadbury Report, em alusão a Sir Adrian Cadbury, na época conselhei-ro do Banco da Inglaterra, que presidiu a comissão. O Código enfatizou a importância dos conselhos de administração e defendeu sua independência em relação à diretoria execu-tiva. Cadbury, aliás, esteve no Brasil em 1996 a convite do IBGC para uma palestra e inspirou a primeira edição do Có-digo das Melhores Práticas de Governança Corporativa, publicado em 1999 (e hoje em sua 5ª edição).

Outras crises se sucederam, no Brasil e no exterior. Nos Es-tados Unidos, o conflito de interesses entre acionistas e exe-cutivos – conhecido entre os economistas como conflito de agência - foi a principal causa de uma sucessão de escânda-los por volta do ano 2000, que provocaram o desaparecimen-to de empresas como Enron, Worldcom e dezenas de outras. Em 2008, soçobrou um grande banco americano, Lehman Brothers, detonando uma crise financeira mundial e críti-cas à elevada remuneração de altos executivos baseada em fraudes e incentivos de curto prazo. Autópsias empresariais concluíram que em todas essas crises houve falhas de go-vernança. Em defesa do mercado, a reação de reguladores com as leis Sarbanes-Oxley e Dodd-Frank, nos EUA, exigi-ram maior transparência na prestação de contas e limites à remuneração excessiva de curto prazo dos executivos.

Mais recentemente afloraram escândalos de corrupção que levaram três empresas brasileiras a figurar entre as 40 maiores multas aplicadas pelo governo norte-americano, nossa Petrobras destacada em desonroso segundo lugar.

por LEONARDO VIEGAS

No Brasil, o conflito de agência se manifesta pelo abuso de acionistas controladores sobre minoritários (minoritários em poder político, porque, frequentemente, eles são os maiores acionistas), que inibe investidores, o mercado de ca-pitais e o desenvolvimento do país. Mais recentemente aflo-raram escândalos de corrupção que levaram três empresas brasileiras a figurar entre as 40 maiores multas aplicadas pelo governo norte-americano, nossa Petrobras destacada em desonroso segundo lugar.A Lei 13.303, conhecida como Lei das Estatais, foi uma das respostas do regulador brasilei-ro, logo apoiada e defendida pelo IBGC.

35REVISTA RIAbril 2020

Page 38: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

O lado positivo dessa sucessão de desastres empresariais foi o amadurecimento da cultura de governança, o aperfeiçoa-mento da regulação e autorregulação, e a profissionalização dos conselhos de administração. Testemunhei como as li-ções aprendidas foram imediatamente incorporadas aos de-bates, publicações e cursos para conselheiros no IBGC.

ORIGEM

Quando foi criado, o foco inicial do instituto, por influên-cia de seus líderes,eram as empresas de capital aberto – ca-racterística reforçada, alguns anos depois, com a criação do Novo Mercado. O segmento especial de listagem da Bolsa de Valores de São Paulo, atualmente B3, reuniu as companhias dispostas a elevar os padrões de governança exigidos pela le-gislação, com destaque ao princípio de “uma ação, um voto” – que alinha o poder político ao poder econômico.

Mas as empresas privadas de capital aberto não são o único foco de atuação do IBGC. Ao longo dos anos, a atuação do instituto foi progressivamente alargada, pela demanda de seus associados e do mercado, para abranger todo o siste-ma de governança de organizações de diferentes naturezas, portes e estágios de amadurecimento. Estão no radar do IBGC empresas familiares, famílias empresárias, sociedades de economia mista, associações, cooperativas e entidades do terceiro setor. Todas essas organizações precisam com-partilhar os princípios básicos de transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade, mesmo que os ins-trumentos e as práticas difiram na forma, mas não no con-teúdo. A boa governança corporativa teria muito a ensinar também ao setor público brasileiro e muitos de seus agentes.

O histórico de crises (ainda que motivadoras de avanços) nos deixa em estado de atenção e, por consequência, em cons-tante aperfeiçoamento. Assim nasceu a Jornada Técnica in-

ternacional. Os primeiros destinos dessa viagem de estudos foram centros financeiros nos EUA e na Inglaterra. Na se-quência, outros modelos de governança foram analisados. Na Suécia, vimos in loco o modelo de liberdade econômica com amplos benefícios sociais. Na Alemanha, empresas lon-gevas de classe mundial. Na Austrália, um pujante mercado de capitais mesmo para pequenas empresas e em Singapura, estatais bem governadas. Nas jornadas mais recentes, para o Vale do Silício e Israel, mergulhamos no ecossistema de ino-vação, repleto de startups e onde princípios outrora sagrados, como o de “uma ação, um voto” são questionados.

Aprendemos com as diferenças e estimulamos a diversida-de. O primeiro conselho de administração do IBGC contava com duas mulheres em sua composição e entre 2012 e 2016 tivemos nossa primeira mulher na presidência do conselho. Buscamos a diversidade não apenas de gênero, mas também de opiniões e experiências. Nos últimos três anos venho coordenando um colegiado composto por oito experientes ex-conselheiros do instituto, entre os quais dois ex-presiden-tes, que voluntariamente analisam de forma independente a governança praticada pelo próprio instituto, além do pro-cesso eleitoral de seus conselheiros. É um desafio garantir a sustentabilidade do IBGC e preservar seu propósito – “uma governança melhor para uma sociedade melhor”.

Neste ano, o IBGC completará 25 anos. Vivemos muitas cri-ses, influenciamos e fomos influenciados por elas. Hoje, o mundo enfrenta mais um momento de grande tensão, este de dimensões e gravidade ainda incalculáveis. Os setores responsáveis discutem em escala global a crise na saúde e sua consequência na economia e na sociedade. A qualida-de da liderança nas empresas enfrenta novos desafios. Os princípios e os valores que motivaram a criação do instituto seguem inabalados e devem nortear as soluções mais res-ponsáveis e menos dolorosas para a sociedade.

“A governança corporativa é uma jornada, não é um destino.” RI

LEONARDO VIEGAS é cofundador do IBGC, criado em 27 de novembro de 1995. Desde então, foi conselheiro de administração do instituto por três mandatos e atualmente é coordenador do Colegiado de Apoio ao Conselho – Governança e Indicação (CAC-GI). [email protected]

O histórico de crises (ainda que motivadoras de avanços) nos deixa em estado de atenção e, por consequência, em constante aperfeiçoamento.

IBGC COMUNICA

36 REVISTA RI Abril 2020

Page 39: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Plurale: Plural até no nome www.plurale.com.br twitter @pluraleemsite e-mail [email protected]

ano oito | nº 51 | março / abril 2016 R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTEw w w . p l u r a l e . c o m . b r

FOTO

DE

LUC

IAN

A TA

NC

RED

O –

MO

RR

O D

O P

AI IN

ÁCIO

– C

HAP

ADA

DIA

MAN

TIN

A (B

A)

A INCRÍVEL CHAPADA DIAMANTINA

ARTIGOS INÉDITOSILHAS VANUTA E MÉXICO

MARIANA, MEMÓRIAS DA TRAGÉDIA

PLURALE EM REVISTA E PLURALE EM SITE: DOZE ANOS DE INFORMAÇÃO PLURAL SOBRE

SUSTENTABILIDADE

FOTO

DE

LUC

IAN

A TA

NC

RED

O –

MO

RR

O D

O P

AI IN

ÁCIO

– C

HAP

ADA

DIA

MAN

TIN

A (B

A)

A INCRÍVEL A INCRÍVEL CHAPADA

DIAMANTINADIAMANTINA

ARTIGOS INÉDITOSILHAS VANUTA E MÉXICO

PLURALE EM REVISTA – JUL/AGO 2016 – N°52

ano

nove

| nº

52

| jul

ho /

ago

sto

2016

R$

10,0

0A

ÇÃ

O | C

IDA

DA

NIA

| AM

BIE

NTE

ww

w.p

lura

le.c

om

.br

CA

MP

EC

HE

,PA

RAÍS

O EC

OLÓG

ICO

EM F

LORI

PA

AR

TIG

OS

IN

ÉD

ITO

SFE

STA

S

PO

PU

LAR

ES

,ED

UCAÇ

ÃO A

MBI

ENTA

LE

PALE

STIN

A

CORUJAS NO CAMPECHE - FLORIANÓPOLIS –FOTO DE RONALDO ANDRADE

PLURALE EM REVISTA E PLURALE EM SITE:

AR

TIG

OS

IN

ÉD

ITO

SFE

STA

S

PO

PU

LAR

ES

,ED

UCAÇ

ÃO A

MBI

ENTA

LP

OP

ULA

RE

S,

EDUC

AÇÃO

AM

BIEN

TAL

PO

PU

LAR

ES

,

E PA

LEST

INA

Plurale: Plural até no nome www.plurale.com.br twitter @pluraleemsite e-mail [email protected]

ano oito | nº 50 | novembro / dezembro 2015 R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

w w w . p l u r a l e . c o m . b r

ESPECIAL OITO ANOS:

ARTIGOS INÉDITOS, BELAS, FAMOSAS

E ENGAJADAS

CAUSA ANIMAL

GANHA FORÇA

FOZ

DO

RIO

DO

CE

- R

EGÊN

CIA

- L

INH

AR

ES (E

S) -

FO

TO D

E FR

ED L

OU

REI

RO

(SEC

OM

-ES

)

LIÇÕES DA TRAGÉDIA DE

MARIANAE ENGAJADAS

TRAGÉDIA DETRAGÉDIA DE

Page 40: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

A mudança climática vem cobrar respostas em relação às múltiplas crises que atravessaram as últimas décadas sem soluções, resultantes de um modelo de desenvolvimento que ignora os limites planetários e fracassou em gerar bem-estar para as pessoas.

ASG:por OLAF BRUGMAN

Essa mensagem que ecoa há pelo menos duas décadas nas discussões sobre sustentabilidade, agora está na boca de investidores que começam a se dar conta de que ações prejudiciais à sociedade também prejudicam os negócios e destroem valor para os acionistas.

Essas foram palavras do próprio CEO da BlackRock, Larry Fink, maior investidor institucional do mundo, que em sua carta anual às empresas investidas destacou a sustentabili-dade como novo padrão de investimento e anunciou o com-promisso da firma de integrar aspectos ambientais, sociais e de governança integralmente à gestão dos portfólios e ativos até o final de 2020.

O NOVO NORMAL

Para alcançar esse compromisso, os investidores precisam contar com informação o que vem sendo objeto de trabalho de organizações que construíram e aprimoraram por meio do diálogo com múltiplos stakeholders normas para trans-parência em aspectos ambientais, sociais e de governança.

Em se tratando de riscos climáticos, apontados com maior ênfase na carta, eles já são foco dos indicadores econômi-cos da GRI – Global Reporting Initiative desde a sua pri-meira geração de normas para o relato de sustentabilidade lançada nos anos 2000. Hoje, são mais de 8.000 em âmbito global, sendo mais de 400 apenas no Brasil, reportando in-formações segundo as normas da GRI.

A integração de aspectos Ambientais, Sociais e de Governança caminha para se tornar o novo normal na decisão de investimentos.

38 REVISTA RI Abril 2020

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

Page 41: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

OLAF BRUGMANé superintendente de Sustentabilidade da Sicredi, membro do Conselho de Administração da Global Reporting Initiative (GRI)[email protected]

Para os negócios, as mudanças climáticas envolvem riscos e oportunidades além do carbono e da energia, incluindo direitos humanos, restrições de recursos, biodiversidade e muitos outros. A GRI ajuda as organizações a entender as conexões entre mudanças climáticas e outros desafios de sustentabilidade e, assim, têm contribuído para integrar riscos físicos, legais e sociais relacionados às mudanças cli-máticas à gestão dos negócios. Esse exercício está em linha com as recomendações da Força-Tarefa de Divulgação So-bre Informação Financeira Relacionada a Mudanças Climá-ticas (do inglês, TCFD), do Financial Stability Board.

Essas normas para o relato de sustentabilidade já conso-lidadas proporcionam a disponibilização de informação consistente e comparável das empresas, aspectos que são fundamentais para a tomada de decisão. As informações dos relatos de sustentabilidade com base nas normas GRI alimentam plataformas de informação para investidores como a Bloomberg e são consideradas em ratings e índices para tomada de decisão de investidores.

Apesar de já haver uma massa crítica de empresas relatando suas informações ambientais, sociais e de governança, falta-va ainda um sinal claro de que as decisões de investimento

Cabe agora aos investidores debruçarem-se sobre essas informações disponíveis e engajarem as empresas para transformação dos seus modelos de negócios de modo que não apenas minimizem seus impactos negativos, mas gerem benefícios para a sociedade e o ambiente. Além de gerar insights para adequar a gestão a esses novos tempos, o exercício de relato de sustentabilidade também tem papel fundamental para gerar informações de qualidade para a tomada de decisão de investimentos, considerando aspectos Ambientais, Sociais e de Governança.

de fato são tomadas com base nessas informações com o mes-mo peso em que são considerados aspectos financeiros.

Cabe agora aos investidores debruçarem-se sobre essas in-formações disponíveis e engajarem as empresas para trans-formação dos seus modelos de negócios de modo que não apenas minimizem seus impactos negativos, mas gerem benefícios para a sociedade e o ambiente. Além de gerar insights para adequar a gestão a esses novos tempos, o exercício de relato de sustentabilidade também tem papel fundamental para gerar informações de qualidade para a tomada de decisão de investimentos, considerando aspec-tos ambientais, sociais e de governança. RI

39REVISTA RIAbril 2020

Page 42: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

DESAFIOS INADIÁVEISDOS CONSELHOS BRASILEIROS DE ACORDO COM OS DATA DRIVEN MERCADOLÓGICOS:

& FOCAR ESGESTRUTURAR ASGIMPLEMENTAR GCR,

GOVERNANÇA CORPORATIVA

40 REVISTA RI Abril 2020

Page 43: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Tendo como referencial básico para desenvolver este artigo os Princípios de Governança Corporativa do G20 e da OCDE, versão 2016 que orientou as últimas atualizações dos códigos nacionais e institucionais mais tradicionais nos chama a atenção a evolução e ampliação de atribuições e responsabilidade dos agentes principais em Governança Corporativa em três dimensões específicas das seis existentes: 1) O enquadramento efetivo das empresas; 2) O papel dos Investidores Institucionais, mercado de ações e outros intermediários, e o que nos diz mais a respeito; e 3) Funções do Conselho.

A primeira, faz referência ao papel atual das empresas como promotoras de mercados transparentes e justos, assim como alocadoras eficientes de recursos e garantidoras da integrida-de destes mercados e do Estado de direito. Este foco ultrapas-sa em muito as diretrizes anteriores que pontuavam apenas o dever das empresas como geradoras de condições institu-cionais para as boas práticas de Governança Corporativa.

A segunda completamente nova focaliza o papel dos investi-dores institucionais como incentivadores robustos de toda a cadeia de investimentos dos mercados acionistas na direção da boa governança das sociedades. Os objetivos dos princí-pios anteriores giravam em torno do papel da Governança Corporativa como protetora dos direitos dos shareholders e no reconhecimento dos interesses dos stakeholders.

Por último, o novo documento da OCDE transformou o pa-pel dos Conselhos de Administração de orientador, fiscali-zador e prestador de contas ao mercado para o de “Garantir a orientação estratégica da sociedade, o controle eficaz da equipe de gestão e impõe a responsabilização do Conselho perante a sociedade e seus acionistas”. Resumindo como

por ADRIANA DE ANDRADE SOLÉ e MARCELO GASPARINO DA SILVA

palavras chave atuais da missão de um conselho segundo a OCDE temos: Orientar e controlar uma Diretoria executiva e se responsabilizar por tudo o que acontece na empresa. Por mais draconiano que possa ser esta diretriz para nós, Conse-lheiros, esta é a referência pela qual seremos avaliados daqui para frente pelo Mercado e seus agentes.

Como conselheiros de administração convictos de nosso pa-pel nas empresas em que estamos atuando nos preocupa a falta de foco dos atuais debates em nossas instituições e a tremenda perda de energia que tem sido gasta em direções que estão longe destas orientações OCDE. Em que pese a im-portância dos temas como diversidade de gênero, cyber go-vernança, tecnologias disruptivas e outros, nos parece que a lição de casa mínima não está sendo feita. Como estamos ur-genciando e controlando nossas empresas na implementação do direcionador estratégico GCR, como estamos estimulando a transversalidade da atuação responsável de nossas empre-sas para as questões ambientais e sociais das suas unidades produtivas traduzidas pelos indicadores ASG e como estamos focando o rating ESG que bem traduzem os objetivos de de-senvolvimento sustentável ODS para o mundo corporativo.

41REVISTA RIAbril 2020

Page 44: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Baseados em nossa experiência, entendemos como entrega mínima de qualquer Conselho a implementação efetiva do data driven GCR: Governança, Compliance e Riscos. Na prá-tica significa estruturar o processo de Governança Corpora-tiva compatível com o tamanho e ciclo de vida da empresa, garantir a sua resiliência e integridade assim como a de seus administradores através da implementação de programas de compliance e ter como painel de bordo o monitoramento dos principais riscos corporativos de forma integrada e prio-rizada. A qualidade da tomada de decisão de um Conselho dependerá da competência integrada de seus membros para avaliar aqueles riscos de alta, média e baixa probabilidade de acontecer mas com alto impacto para a empresa, priorizá-los e direcioná-los no sentido da mais abrangente harmoniza-ção dos múltiplos interesses de seus stakeholders. Acreditamos que, o sucesso ou fracasso de nossa atuação como Conselhei-ros dependerá deste envolvimento construtivo com a empre-sa e suas partes interessadas.

Isso significa que em empresas pequenas e médias, fami-liares ou não, o data driven GCR precisa ser entendido como pilar básico para garantir de forma consistente a correta pre-paração destas empresas para os processos de diluição de ca-pital de controle derivado da passagem de bastão geracional das famílias envolvidas ou abertura de capital e do processo de divórcio entre a propriedade e gestão , momento da pro-fissionalização da empresa com a saída dos donos da gestão. Conselheiros de administração, consultivos ou independen-tes nestas organizações precisam focar na qualidade dos seus acordos de acionistas, dos protocolos familiares, dos estatu-tos e principalmente orientar para o modelo de Governança mais adequado ao tamanho e ciclo de vida destas empresas. O entendimento de que existe uma hierarquia a ser seguida é importante para garantirmos a coesão entre estes docu-mentos e isso precisa ficar claro para os acionistas e donos: é a partir de um acordo de acionista bem estruturado que o Estatuto da empresa é montado, e é a partir deste Estatuto que o modelo de Governança adequado ao ciclo de vida do empreendimento é definido.

A alta mortalidade das empresas familiares brasileiras se justifica pela desatenção e imaturidade dos seus acionistas, Conselheiros e consultores nestas questões tão básicas. Os números atuais são assustadores, de acordo com pesquisas PWC 2019, 75% das empresas familiares brasileiras fecham após serem sucedidas pelos herdeiros e de cada 100 empresas apenas 7 chegam a terceira geração.

De forma geral em organizações de maior robustez e maturi-dade, o sistema de Governança Corporativa já está montado.

Como Conselheiros sabemos que não existe Governança sem fiscalização e controle e, para esta tipologia de empresas e instituições a consolidação prática do data driven GCR exige a estruturação do sistema de fiscalização e controle compa-tível com os propósitos futuros da instituição. A montagem das instâncias como Conselho Fiscal, comitês de auditoria, auditoria independente e interna passa a ser o objetivo estra-tégico mais urgente .A função Compliance assumiu um certo protagonismo neste sistema a partir de 2013 por exigência da lei 12.846, a nossa lei de Compliance. Os programas de compliance e integridade, passaram a ser evidencias legais exigidas pelos principais órgãos públicos de controle e de-terminantes nos processos de licitação na maior parte dos Estados Brasileiros.

O aspecto sutíl do data driven GCR, que gostaríamos de deixar pontuado neste artigo é que quando bem estruturado, este passa a ser a garantia tanto da legalidade das atividades e ações da empresa quanto da criação de uma ambiência ne-cessária a formação da cultura ética na empresa. Segundo Lauretti e Solé 2019, a cultura ética tem como pilar básico

A alta mortalidade das empresas familiares brasileiras se justifica pela desatenção e imaturidade dos seus acionistas, Conselheiros e consultores nestas questões tão básicas. Os números atuais são assustadores, de acordo com pesquisas PWC 2019, 75% das empresas familiares brasileiras fecham após serem sucedidas pelos herdeiros e de cada 100 empresas apenas 7 chegam a terceira geração.

GOVERNANÇA CORPORATIVA

42 REVISTA RI Abril 2020

Page 45: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

um código de conduta derivado dos Princípios e Valores da Empresa. Não podemos nos esquecer de que quem define os Princípios e Valores de uma empresa são seus acionistas, seus donos, representados por um Conselho de Administra-ção. O tom ético, a força dos princípios e a efetividade de um programa de compliance passa pela monitoração, controle e estímulo por parte do Conselho de Administração. A in-tegridade civil e criminal dos administradores de qualquer organização (seus Conselheiros e Diretores) depende desta diligência advinda do Conselho.

Estruturado o GCR, entendemos que o papel dos Conselhos passa a ser o de direcionar e garantir a legitimidade das ações da empresa frente aos seus stakeholders, principalmen-te aos investidores institucionais e as comunidades aonde as unidades produtivas estão inseridas. O binômio estratégico de atenção dos conselheiros aqui pode ser resumido pelo quadrante legalidade x legitimidade, representado na Figura 1, bem pontuado por HILB, Martin 2009 em seu livro A nova Governança Corporativa. Ferramentas bem-sucedidas para Conselhos de Administração.

FIGURA 1: CONTEXTO NORMATIVO DA BOA GOVERNANÇA: LEGALIDADE X LEGITIMIDADE

Fonte: HILB, Martin. A nova governança Corporativa

Adaptando e interpretando o recado de Hilb, entendemos que a tomada de decisão de um Conselho passa necessaria-mente na busca do consenso daquilo que traduz os mais al-tos níveis de legalidade e legitimidade, na maioria de suas pautas, o que é demonstrado no quadrante superior direito da figura 1.

No eixo da legalidade, a conformidade legal necessária é ga-rantida em boa parte pela estruturação do data driven GCR já comentada nos parágrafos anteriores.

No eixo da legitimidade, definindo este termo como aquilo que é verdadeiro, autêntico, que está de acordo com o bom senso, do que é considerado justo, entra em cena os stakehol-ders da empresa com seus múltiplos interesses. A identifica-ção, monitoramento, e conhecimento das demandas daque-

les que são mais críticos à empresa passa a ser condição sine qua non para a tomada de decisão colegiada na direção da harmonização necessária entre eles. A transversalidade dos impactos das atividades e decisões das empresas precisa ser endereçada tendo como cerne a questão da sustentabilidade, discurso básico da sociedade em rede vigente. Esta socieda-de civil em rede, a cada dia que passa ganha força por sua conectividade virtual e empodera mais o poder da opinião pública que passa a assumir o papel de quase um tribunal, pressionando e julgando o mundo corporativo de acordo com a sua percepção sobre os fatos e não necessariamente levan-do em conta a competência técnica que subsidiam boa parte das decisões corporativas. Aos membros do Conselho cabe a monitoração desta força, o entendimento das diversas de-mandas e a busca da estratégia correta na tratativa com cada um dos stakeholders corporativos.

43REVISTA RIAbril 2020

Page 46: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Percebemos que foi a partir de 2016, com os novos princípios de Governança da OCDE que os financiadores, investidores, reguladores e formuladores de políticas públicas começaram a endereçar questões de sustentabilidade como requisitos para a concessão de crédito, redução do custo de captação e deci-são de investimentos nos mercados financeiro e de capitais .Em 2019 , a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), lançou o GUIA ASG que incorpora aspectos deste data driven nas análises de investi-mento levando em consideração as instruções CVM e resolu-ções normativas CMN que determinam a adoção de práticas de sustentabilidade pelas empresas e instituições brasileiras.

Em nossos frequentes contatos pessoais com investidores institucionais certificamos a incorporação dos requisitos ASG/ESG (ASG: Ambientais, Sociais e de Governança e ESG: Environment, Social and Governance) pautando suas apresenta-ções institucionais e nos questionando sobre a existência dos mesmos nas estratégias das empresas em que atuamos. No nosso dia a dia confirmamos a visão OCDE de que estes sta-

keholders tem se posicionado como os grandes incentivado-res da boa governança em toda a cadeia de investimento dos mercados acionistas.

Particularmente, acompanhamos com interesse pessoal a evolução da série FTSE4GOOD Index lançada em 2001 e afe-rida sistematicamente pela Financial Times Stock Exchange (FTSE) Russell, uma divisão especial da Bolsa de Londres, re-presentados pela figura 2 abaixo. Para nós esta série traduz na prática as reais exigências e a visão do mercado sobre as práticas ESG e norteia uma ampla variedade de participantes do mercado para criar e avaliar fundos de investimentos.

Cabe aqui uma observação sobre o nosso entendimento so-bre as siglas ASG e ESG . Entendemos que o foco brasileiro em ASG é na realidade o reforço básico inicial das dimensões “E” e “S” do data driven ESG global, o que é mais compatível com a maturidade de nossas empresas. Fatores ambientais são mais compreensíveis e palatáveis do que Environmental factors and its multiple sub sector allocation.

FIGURA 2: INDICADORES ESG FTSE4GOOD RUSSEL QUE MEDEM COMO A EMPRESA OPERA E QUANTO OS SEUS PRODUTOS TRADUZEM A PREOCUPAÇÃO COM A CAUSA AMBIENTAL

Fonte: FTSE Russell Sustainable Investment. ESG ratings as an opportunity to improve sustainability disclosure and performance - 4thJune 2019

GOVERNANÇA CORPORATIVA

44 REVISTA RI Abril 2020

Page 47: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Direcionar estrategicamente uma empresa é a essência de um Conselho e é nossa obrigação primeira como Conselheiros garantir e reforçar o senso de direção das organizações em que atuamos.

ADRIANA DE ANDRADE SOLEé Conselheira de Administração certificada pelo IBGC desde 2010. Engenheira Eletricista, pós-graduada em Gestão de Negócios e Engenharia Econômica. Palestrante e Consultora em temas ligados a Governança Corporativa, Compliance, Riscos e Códigos de Conduta. Pesquisadora da Fundação Gorceix, Co autora dos livros Governança Corporativa: Fundamentos, Desenvolvimento e Tendências; Código de Conduta: A Ponte entre a Ética e Organização. [email protected]

MARCELO GASPARINO DA SILVAé Conselheiro de Administração certificado por experiência pelo IBGC - CCIe. Advogado Especialista em Administração Tributária Empresarial pela ESAG, participou do Programa top level CEO FGV. É Presidente do Conselho de Administração da Eternit, membro do Conselho de Administração da Cemig, membro Suplente do Conselho de Administração da Vale e Membro do Conselho Fiscal da Petrobras. Foi Chairman da Usiminas. [email protected]

Atualmente para serem incluídas nos índices FTSE4Good, as empresas devem, por exemplo, apoiar os direitos humanos, ter boas relações com as várias partes interessadas, progredir para se tornar ambientalmente sustentável, garantir bons pa-drões de trabalho não apenas para sua própria empresa, mas também para as empresa que fazem parte da sua da cadeia de suprimento, e combater o suborno e a corrupção. Um comitê independente de especialistas, em consultas com ONGs (orga-nizações não-governamentais), acadêmicos, órgãos governa-mentais e investidores, desenvolvem os critérios e atualizam e revisam regularmente a conformidade com seus padrões ESG.

São proibidas de fazer parte desta carteira as empresas de taba-co, fabricantes de sistemas de armas nucleares, fabricantes de sistemas de armas inteiras, utilidades envolvidas na produção de eletricidade a partir da energia nuclear e empresas envolvi-das na mineração ou processamento de urânio. As empresas de siderurgia, petróleo e gás são avaliados rigorosamente e sis-tematicamente com base em seus esforços para reduzir a pro-dução de combustíveis fósseis e transformar seus negócios em operações mais ecológicas. Citamos como exemplo brasileiro de empresa que integra este índice desde 2017 a SulAmérica.

Direcionar estrategicamente uma empresa é a essência de um Conselho e é nossa obrigação primeira como Conselhei-ros garantir e reforçar o senso de direção das organizações em que atuamos. E isso passa pelo correto entendimento dos data drivens mercadológicos expostos neste artigo. Somos os guardiões dos propósitos organizacionais, de seus valores e expectativas de retorno. Nossa visão tem que ser de longo prazo e nos parece que os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - os ODS - são focos irrecusáveis a serem perse-guidos. Entendemos que o data driven ESG da Bolsa de Lon-dres traduz de forma bem eficiente para o mundo corporati-vo boa parte destes objetivos.

Pensar no longo prazo e agir no curto é o desafio maior dos Conselheiros. A ciência e a convicção da importância do nos-so papel no futuro de qualquer empresa é fundamental para

a escolha do nosso tom pessoal na passagem por elas. O nos-so envolvimento construtivo com as estruturas e unidades das empresas é fundamental para entendermos os seus prin-cipais desafios. Conselheiro, embora não coloque as “mãos na massa” (função da diretoria executiva), precisa “cheirar” a empresa, para se posicionar adequadamente. Não podemos deixar dúvida de que lado nós estamos e sempre estaremos. É prerrogativa de um Conselheiro se posicionar no que for melhor para empresa em momentos de decisão. Convicção, coragem, competência, ousadia e independência são pré-re-quisitos de qualquer Conselheiro, principalmente daqueles que possuem o desafio extra de serem Chairman. Em mo-mentos cruciais para empresa, o seu voto pode significar a demissão de um CEO em reuniões ordinárias de Conselho, e essa postura e coragem por experiência própria, além de solitária não é nada fácil. RI

45REVISTA RIAbril 2020

Page 48: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Existem atualmente no Congresso Nacional mais de 100 projetos de Lei de parlamentares de diversas correntes políticas propondo a taxação de dividendos. As justifi cativas predominantes são: (i) aumentar a arrecadação; (ii) promover justiça fi scal, pois o dividendo é visto como “isento”; e (iii) penalizar os acionistas, supostamente a parcela mais rica da população.

por ALFRIED PLÖGER

A Abrasca sempre combateu a proposta de alteração do IRPJ escolha feita pela Receita Federal, ainda no século passado, de integrar na pessoa jurídica toda a carga fi scal incidente sobre a atividade empresarial. Optou-se por cobrar na pes-soa jurídica o imposto devido pela empresa e pelo empre-endedor, simplifi cando a fi scalização dado que há menos companhias do que contribuintes pessoas físicas.

Assim, fi cou defi nida que a carga total que incidiria sobre a atividade empresarial seria de 34%, já considerado o impos-to devido pelo empresário ou acionista referente à parcela do lucro a eles distribuída para equilibrar as cargas inciden-

tes entre a dívida e o equity. Defi niu-se a possibilidade de dedução do equivalente à TJLP como despesa, evitando o in-centivo fi scal ao endividamento.

Portanto, para a Abrasca, a alíquota do IRPJ integrado à tri-butação de dividendos tem que ser competitiva em relação às demais economias que disputam com o Brasil investimentos externos. Nesse sentido, a Abrasca elaborou um documento técnico, com um perfi l bem objetivo para enviar aos con-gressistas mostrando (i) que dividendos já são pesadamente tributados na pessoa jurídica, em nível inclusive superior ao dos países da OCDE; e (ii) que foi o equilíbrio encontrado

REFORMATRIBUTÁRIACompetitividade das empresas brasileiras deve ser foco da Reforma Tributária

FÓRUM ABRASCA

46 REVISTA RI Abril 2020

Page 49: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

entre as cargas fiscais dos rendimentos dos instrumentos de capital e dívida que possibilitou o grande influxo de investi-mentos externos diretos no Brasil a partir de 1996.

A iniciativa se mostrou exitosa e vimos essa mudança de en-tendimento se refletir nas últimas proposições parlamenta-res. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por exemplo, alterou a forma de custeio do PL que cria o 13º salário aos beneficiários do Bolsa Família retirando a previsão de tribu-tação de dividendos e as mais recentes proposições de tributa-ção de dividendos vieram acompanhadas da redução do IRPJ.

DISCUSSÕES GANHAM NOVA ABRANGÊNCIA

À medida que ganhavam espaço as propostas de Reforma Tributária, as discussões ficaram mais abrangentes passan-do a ser citada a mudança ocorrida na Europa e Estados Unidos, que taxam os dividendos, mas reduziram o imposto para a pessoa jurídica.

Em meio às discussões, a Abrasca, em junho do ano pas-sado, divulgou seu entendimento sobre a necessidade de discutir um regime de tributação de dividendos com as seguintes características (i) Redução da carga tributária global; (ii) Tributação única dos dividendos na cadeia de investimento; (iii) Segurança jurídica com a observância ao princípio da anterioridade e segregação dos lucros auferi-dos e não distribuídos em períodos anteriores à aprovação da reforma para assegurar a manutenção de seu regime tributário; e (iv) Manutenção do equilíbrio entre as cargas tributárias do financiamento das companhias por dívida e por capital próprio.

Em uma apresentação na nossa Comissão de Relações Ins-titucionais e Governamentais (CRIG), ocorrida no mês pas-sado, Eduardo Fleury, sócio e head da área tributária da FCR Law, destacou as razões pelas quais o Brasil teria que mudar a tributação dos lucros citando como exemplo os países da OCDE onde a alíquota média caiu de 31,71% em 2000 para 23,83% em 2018 garantindo a competitividade das empresas do bloco. Alertou que se este movimento não for feito no Brasil as consequências são: perda de in-vestimentos estrangeiros e perda de competitividade das multinacionais brasileiras e das empresas que atuam no comércio exterior.

Destacou que um dos argumentos para não mudar o impos-to corporativo no Brasil é que o país vai perder arrecadação. Fato é que a falta de competitividade fiscal afasta o empre-endedor e o resultado final acaba sendo menor receita fiscal. Essa redução, segundo Fleury, já vem ocorrendo em impor-

tantes setores da economia: o IRPJ/CSLL sobre a indústria, que representava 3,11% da arrecadação total em 2008, pas-sou a responder por 1,99% em 2017.

Certamente existem outros motivos inclusive a excessiva car-ga burocrática a que são submetidas as empresas, mas creio que a falta de competitividade fiscal tem importante papel neste resultado. Além disso, multinacionais importam cada vez mais partes e peças adicionando pouco valor no país.

Nos EUA uma empresa paga 21% de imposto e aqui 34%, o que significa que ela tem que ser muito mais lucrativa no Brasil. Na verdade proposta semelhante já está em discussão por meio do Projeto de Lei n° 2015/19 do Senador Otto Alen-car (PSD-BA), que altera a legislação do imposto de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro líquido.

No início de março, o senador Jorge Kajuru (Cidadania/GO) apresentou à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Se-nado Federal um novo parecer ao PL 2015/2019. No parecer, Kajuru destaca que, caso aprovado o projeto, os lucros ou dividendos distribuídos com base nos resultados apurados, estarão sujeitos à incidência do Imposto de Renda Retido na Fonte à alíquota de 15%. O imposto descontado será conside-rado como antecipação do imposto devido na declaração de ajuste anual do beneficiário pessoa física.

Para a pessoa jurídica tributada com base no lucro real, o va-lor descontado será considerado como antecipação compen-sável com o imposto de renda que tiver de recolher relativo à distribuição de lucros e dividendos.

No momento a Abrasca está avaliando este Parecer e preten-de apresentar sugestões. De qualquer forma consideramos a proposta um avanço, pois rompe com a toada monocórdia da simples taxação dos dividendos sob uma falsa alegação de “justiça social”. A discussão, que está se ampliando, abre espaço inclusive para o incentivo à competitividade das em-presas brasileiras sem precarizar as contas públicas. RI

ALFRIED PLÖGER é presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA) [email protected]

47REVISTA RIAbril 2020

Page 50: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

A SEGURANÇA & O RISCO

48 REVISTA RI Abril 2020

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Page 51: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

O novo coronavírus, o COVID-19, espalhou o medo ao redor do mundo. Talvez como nunca, a humanidade esteja experimentando um sentimento de pânico coletivo tão grande. Sim, já enfrentamos riscos muito maiores, porém este é transmitido em tempo real.

Antes do perigo chegar até nós, já calculávamos quando ele chegaria. Mesmo não sendo a imagem real, qualquer criança que veja a esfera multipontas é capaz de reconhecer o vilão. O número de contaminações e mortes no mundo é compar-tilhado instantaneamente; infectologistas e cientistas das mais diferentes áreas fazem projeções do número de mortos em nosso território.

Esse medo, que ora se transforma em pânico, afetou os mer-cados financeiros internacionais de forma dramática, entre-tanto, foi particularmente cruel com uma parcela significa-tiva de brasileiros que, pela primeira vez na vida, tinham se aventurado no mercado de renda variável. Quando falo em renda variável, não me refiro apenas a ações e fundos de ações, mas também a fundos multimercado, fundos imobi-liários e títulos públicos pré-fixados.

Já tivemos outras crises econômicas duras, porém, agora, como nunca, a crise afetou um número extremamente gran-de de novatos. Também é diferente das outras pois parece que o refúgio sumiu. Correr para onde? Liquidar os investi-mentos e se refugiar no Tesouro SELIC para ganhar menos de 3% ao ano? Ou comprar dólares acima de R$ 5 para colocar em uma mala?

Sim, olhemos para o longo prazo, mas como diria John May-nard Keynes “no longo prazo todos estaremos mortos”. E ago-ra José? Agora é a hora que crianças viram adultos, é o bar mitzvah dos investidores.

por JURANDIR SELL MACEDO

Já tivemos outras crises econômicas duras, porém, agora, como nunca, a crise afetou um número extremamente grande de novatos. Também é diferente das outras pois parece que o refúgio sumiu. Correr para onde? Liquidar os investimentos e se refugiar no Tesouro SELIC para ganhar menos de 3% ao ano? Ou comprar dólares acima de R$ 5 para colocar em uma mala?

49REVISTA RIAbril 2020

Page 52: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Claro que, diante da perspectiva da morte, os problemas fi-nanceiros parecem pequenos para quem não os tem. Mas o que é ter problemas financeiros? É não ter como fazer frente a um evento raro como a atual pandemia ou perder muito do muito que se tem?

INVESTIGANDO A POUPANÇA

Muitos animais poupam, sejam os esquilos que acumulam nozes, sejam as gralhas que enterram os pinhões e assim acabam “plantando” as Araucárias no Sul do Brasil, sejam os ursos que poupam através de uma grande camada de gor-dura. Porém, todos os animais que poupam sempre o fazem em tempos de fartura. Nenhum, exceto os humanos, é capaz de se auto impor restrições temporárias em função de um maior consumo futuro.

E por que nós humanos somos diferentes dos outros ani-mais? O Homo sapiens, “homem sábio”, é a única espécie de primata bípede do gênero Homo ainda viva. Nossa espécie surgiu há cerca de 350 mil anos e adquirimos o comporta-mento moderno há cerca de 50 mil anos. E o que quer dizer “comportamento moderno”? Significa que nosso córtex pré--frontal passou a funcionar em sua plenitude.

É no córtex pré-frontal que processamos pensamentos com-plexos, que planejamos e imaginamos o que ainda não exis-te. É lá que refletimos sobre o passado e projetamos o futuro, foi o pleno funcionamento dessa estrutura que nos transfor-

mou na subespécie sapiens-sapiens, “homem que sabe o que sabe”. Nosso hardware tem cerca de 50 mil anos, porém nos-so software está em constante transformação. Agora mesmo, nesta pandemia, nosso software se transforma.

O sapiens-sapiens viveu 38 mil anos exclusivamente como caçador coletor, estimativas dão conta de que consegui-mos chegar a 2 milhões de habitantes desta subespécie no planeta terra apenas vivendo da caça e coleta. Porém, em algum lugar, provavelmente no Crescente Fértil, há cerca de 12 mil anos, descobrimos a agricultura. Lentamente ela começou a mudar nosso modo de vida e transformar o próprio planeta. Ainda existem raros habitantes que so-brevivem da caça e da coleta, porém a quase totalidade dos 7,8 bilhões de humanos da terra depende da agricul-tura para sobreviver.

A agricultura possibilitou o sucesso que tivemos em coloni-zar o planeta, porém trouxe uma dificuldade enorme para os que abandonaram a coleta em favor do cultivo da terra. O fracasso de uma colheita não poderia ser compensado por um esforço redobrado na coleta do dia seguinte, o fracasso só poderia ser compensado no ano seguinte.

A agricultura reforçou imensamente a importância da pou-pança. A falta de poupança, expressa em cereais estocados, poderia representar a fome e a morte de uma comunidade. Portanto, aí temos o primeiro motivo para poupar. Reserva para uma colheita imprevisível – a reserva de imprevistos nos tempos modernos.

Historicamente, ao estocar cereais, os humanos sofriam per-das; ter reserva para imprevistos representava um custo. Os caçadores coletores tinham algum senso de propriedade ter-ritorial, mas a agricultura elevou exponencialmente a ideia de posse da terra. Para um caçador coletor, ter um escravo não representava nenhuma vantagem competitiva, o que não acontecia na agricultura.

Um grupo de agricultores com reservas de alimentos poderia tomar as terras e a mão de obra de um grupo sem reservas durante uma frustração de colheita. Logo, a poupança além de salvar o próprio grupo durante um período difícil tam-bém poderia servir de ferramenta de expansão da atividade econômica durante uma crise.

Portanto, a formação de reservas passou a ter importância capital na sobrevivência e na multiplicação da riqueza. A poupança, assim, além de propiciar segurança também se transforma em instrumento de progresso financeiro.

Claro que, diante da perspectiva da morte, os problemas financeiros parecem pequenos para quem não os tem. Mas o que é ter problemas financeiros? É não ter como fazer frente a um evento raro como a atual pandemia ou perder muito do muito que se tem?

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

50 REVISTA RI Abril 2020

Page 53: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

JURANDIR SELL MACEDOé doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)[email protected]

Aqui surge um ponto fundamental que gostaria de salien-tar, a poupança que representava um custo e servia para a segurança se transforma em uma oportunidade de multipli-car o capital.

Dando um salto de 14 mil anos chagamos ao suitability, ou aportuguesando, adequabilidade de aplicações financeiras dos investidores. Normalmente o resultado de um teste de suitability classifica os investidores em relação a sua propen-são ao risco: conservador, moderado e agressivo.

O problema é que poucas pessoas compreendem de fato o que é risco; até que tenham que pagar o preço por assumi-lo, é errado dizer que alguém é conservador ou agressivo.

A finalidade precípua da poupança é e sempre foi nos prote-ger dos imprevistos da vida. É por isso que pessoas sérias que trabalham com finanças sempre indicam que se reserve um montante das nossas poupanças para imprevistos, por mais agressivo que o investidor se considere.

Durante muito tempo, o brasileiro conseguiu ganhar dinhei-ro com sua reserva de imprevistos. Aplicações de elevada li-quidez como os títulos públicos vinculados à SELIC, fundos DI e até a caderneta de poupança rendiam juros reais.

Quando os juros caíram, não foram poucos os “educadores financeiros” que berraram aos quatro cantos que essas apli-cações estavam mortas, pois geravam prejuízo aos investido-res,esquecendo que desde a pré-história se preparar para um futuro incerto representa um custo.

Infelizmente, a COVID-19 colheu muitos brasileiros no con-trapé; pessoas que abandonaram a segurança das aplicações pós-fixadas na busca de maior rentabilidade nas aplicações pré-fixadas e no mercado de renda variável. Esses investidores estão aprendendo da pior forma possível a respeitar o risco.

Retornando à pergunta do início do artigo: o que é ter problemas financeiros? Certamente o pior problema fi-nanceiro é precisar de dinheiro e não ter, é não ter como pagar as contas, como comprar comida e ter condições mí-nimas de sobrevivência e depender da ajuda de terceiros para viver.

Porém, ver os recursos duramente acumulados sumindo gera enorme desgaste emocional em pessoas não treinadas para tal. Então,classificar o sofrimento de quem perde suas reservas como não importante, pois não é pior do que o sofri-mento de não ter reservas, não é correto.

Infelizmente, a COVID-19 colheu muitos brasileiros no contrapé; pessoas que abandonaram a segurança das aplicações pós-fixadas na busca de maior rentabilidade nas aplicações pré-fixadas e no mercado de renda variável. Esses investidores estão aprendendo da pior forma possível a respeitar o risco.

Os juros reais negativos que eram novidades para os brasilei-ros provavelmente vão se incorporar à nossa rotina. E agora, o risco, das aplicações de risco, deixa de ser teórico para ser real. E sim, as aplicações de baixo risco e de rentabilidade negativa sairão mais vivas que nunca desta crise.

Assim como o agricultor que guarda a safra para poder se proteger da falta de alimentos no futuro, o investidor precisa entender que a liquidez é uma característica importante dos investimentos. Todo investidor precisa poder dispor rapida-mente de parte da poupança para o momento em que surgir uma necessidade – ou, quem sabe, até uma oportunidade. Da forma mais dolorida,o investidor brasileiro está amadu-recendo. RI

51REVISTA RIAbril 2020

Page 54: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

63REVISTA RI 19REVISTA RINovembro 2008

Tel.: (21) 2240-4347 ou E-mail: [email protected]

Peça o seu exemplar.

IMF Editora384 páginas | R$ 45,00

O “Novo Testamento”das Relações com Investidores

de William F. MahoneyPrefácio por Geraldo Soares

Page 55: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

53REVISTA RIAbril 2020

IBRI participa de Iniciativa doMercado de Capitaisdo governo federalPÁGINA 58

Comunicado IBRI:COVID-19 e asRelações comInvestidoresPÁGINA 61

IBRI e Cescon Barrieupromovem debates sobre preparaçãopara AGOsPÁGINA 56

por JENNIFER ALMEIDA

PÁGINA 54

Conselho de Administração prepara IBRI do futuroAnastácio Ubaldino Fernandes Filho detalha os planos para os próximos dois anos da gestão do Instituto.

Page 56: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

IBRI Notícias

54 REVISTA RI Abril 2020

Conselho de Administração prepara IBRI do futuroO Conselho de Administração do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) tem realizado reuniões para traçar estratégias para o futuro. “Uma das prioridades é atrair mais associados e empresas que ainda não têm profissionais de RI como participantes do Instituto”, declara Anastácio Ubaldino Fernandes Filho, presidente do Conselho de Administração.

POR JENNIFER ALMEIDA

ANASTÁCIO UBALDINO FERNANDES FILHO

“Ao conversar com o Comitê Superior de Orientação, Nomi-nação e Ética do IBRI, estabelecemos como meta fortalecer a imagem do Instituto, uma vez que estamos vivendo um momento importante para os profissionais de RI. O IBRI não pode perder esta oportunidade de exercer plenamente seu papel no mercado”, afirma. A grande missão que foi definida pelos conselheiros é de rever todas as frentes de trabalho e as parcerias.

“Vamos reforçar as parcerias com as entidades do mercado, bem como nos aproximar mais das companhias abertas e as que analisam a possibilidade de abrir capital no futuro”, frisa Anastácio Fernandes Filho.

Uma ação do Conselho de Administração que já foi posta em prática foi a recente aprovação do IBRI para fazer parte da IMK (Iniciativa de Mercado de Capitais), fórum de discussão presidido pelo BCB (Banco Central do Brasil) e com cadeiras permanentes da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); SU-SEP (Superintendência de Seguros Privados); PREVIC (Supe-rintendência Nacional de Previdência Complementar); RFB (Receita Federal do Brasil); e do ME (Ministério da Economia).

O Grupo tem como objetivo avaliar e propor medidas de aperfeiçoamento regulatório para reduzir o custo de capi-tal no Brasil; estimular o crescimento da poupança de lon-go prazo e da eficiência da intermediação financeira e do

Page 57: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

55REVISTA RIAbril 2020

Conselho de Administração prepara IBRI do futuro

investimento privado; além de desenvolver os mercados de capitais, de seguros e de previdência complementar.

Na visão de Anastácio Fernandes Filho, para atrair mais asso-ciados para o Instituto, “vamos buscar cumprir a missão de formar e valorizar os profissionais de Relações com Investido-res, por meio de ações como aperfeiçoamento e oportunida-des para agregar conhecimento”. Além disso, a utilização de ferramentas de comunicação será uma aliada do IBRI. “Que-remos estar na vanguarda de tudo aquilo que possa gerar benefícios para o associado, seja atraente para as empresas abertas e para as que pretendem abrir o capital”, explica.

Segundo ele, o planejamento estratégico da entidade não deve ser interpretado como algo estático. “Não queremos um planejamento estratégico para cumprir tabela. Ele deve ser formalizado após aprovação do Conselho, para ser exe-cutado pela Diretoria Executiva. O Conselho deve exercer o papel de controle da execução. É muito importante que o planejamento seja claro, sucinto e realizável”, diz.

Ele adianta que o Conselho pretende também fortalecer a área de comunicação do Instituto. Em sua visão, “a marca tem que ser valorizada por meio de ações claras, para que a imagem do Instituto agregue valor para os profissionais de Relações com Investidores”, analisa. Além disso, “a regu-lação do mercado de capitais brasileiro tem mudado muito nos últimos anos. É uma área que o IBRI pode continuar contribuindo bastante”, declara.

A chegada de novos profissionais ao mercado também é uma das preocupações do Conselho de Administração do IBRI. “Que-remos exercer o papel de tutor dos novos profissionais, mostran-do experiências de vida positivas e até negativas, especialmente sobre como tratar a informação, e como criar uma relação de confiança com os interlocutores do mercado”, enfatiza.

Ao falar sobre a interação dos novos membros do Conselho, Anastácio Fernandes Filho diz estar “muito satisfeito com o time de conselheiros, em termos de energia, experiência e vontade de trabalhar pelo bem do IBRI e dos profissionais de RI”. “As reuniões que já realizamos foram muito boas e es-tamos imbuídos de fazer acontecer. Estou muito animado”, ressalta Anastácio Fernandes Filho.

A ESSÊNCIA DO RI CONTINUA A MESMANa época em que era vice-presidente da Companhia Vale do Rio Doce (atualmente, Vale), em 1997, Anastácio Fernandes

Filho e um grupo de profissionais do mercado de capitais ti-veram a ideia de fundar uma entidade, que representasse os profissionais de Relações com Investidores no Brasil. Nascia, então, o IBRI. “Voltar agora na posição de presidente do Con-selho de Administração foi motivo de orgulho e satisfação. De ver algo que ajudei a criar e agora poder ajudar no dire-cionamento do IBRI”, destaca. Passados 23 anos, Anastácio Fernandes Filho cita a forte evolução tanto no mercado de capitais quanto no papel dos profissionais de Relações com Investidores.

Para o presidente do Conselho do IBRI, o profissional de Re-lações com Investidores precisa ter conhecimento, entender o negócio e saber ouvir até mesmo as críticas. Além de assu-mir o papel de interlocutor do mercado, transmitindo cre-dibilidade e transparência. “Deve priorizar a prestação de contas. É algo que valorizo muito e faz toda a diferença para as empresas no mercado”, enfatiza.

Para Anastácio Fernandes Filho, um item relevante que “não mudou nesses anos, e é necessário que não se altere, é a con-fiança no interlocutor. Esse sempre foi um ponto que apren-di muito”, comenta. Ele observa que o profissional de RI pre-cisa sempre dizer a verdade, mesmo que seja desagradável. “É preferível fazer isso a omitir. A confiança é algo que não se pode abrir mão”, analisa.

Apesar de todas as mudanças e evoluções que o mercado de capitais viveu e que ainda estão por vir, o presidente do Con-selho de Administração do IBRI acredita que a essência do papel do RI, que é fazer a interface da empresa com os inves-tidores, analistas e mídia especializada, “é a mesma e tem que estar sempre nas prioridades do profissional”.

SOBRE ANASTÁCIO UBALDINO FERNANDES FILHOEngenheiro Elétrico pela PUC/MG, pós-graduado em Engenha-ria Econômica pela Fundação Dom Cabral. É Conselheiro de Administração na Aegea Saneamento. Foi CEO da Kepler We-ber S/A. Foi diretor administrativo financeiro e de operações da Companhia AIX de Participações, diretor superintendente da Braspérola Indústria e Comércio S/A, e diretor-presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Possui experiência como Conse-lheiro de Administração nas seguintes empresas e entidades: Rio Doce Limited, Vale do Rio Doce Alumínio, Rio Doce Geolo-gia, Aço Minas Gerais, Bahia Sul Celulose, Salobo Metais, Bolsa de Valores do Rio de Janeiro – Câmara de Liquidação e Custó-dia, ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas) e IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores).

Page 58: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

IBRI Notícias

56 REVISTA RI Abril 2020

IBRI e Cescon Barrieu promovem debates sobre preparação para AGO’sO IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e o escritório de advocacia Cescon Barrieu realizaram “Workshop Assembleia de Acionistas – A organização das AGO’s”. Os eventos aconteceram no mesmo horário (das 09:00 às 12:45), no dia 12 de março de 2020, no Rio de Janeiro, e em 13 de março de 2020, em São Paulo. Anastácio Fernandes Filho, presidente do Conselho de Administração do IBRI, abriu o evento no Rio de Janeiro. André Vasconcellos, diretor técnico do IBRI, prestigiou, também, o workshop. Michel Corrêa, gerente de Relações com Investidores da TIM Brasil, fez, também, apresentação.

Alessandra Paschoalini Borges, Gerente de Desenvolvimen-to de Empresas Listadas da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), relatou a evolução do uso do voto a distância nas Assembleias.

Carlos Augusto Junqueira e Fernanda Montorfano, sócios do Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados, realizaram palestras sobre a organização das Assembleias Gerais Ordi-nárias (AGOs). Luiz Di Sessa, sócio do Cescon Barrieu, dis-correu sobre a Lei Geral de Proteção de Dados.

Michel Corrêa, Gerente de Relações com Investidores da TIM Brasil, observa que “o evento proporcionou aos profissionais que atuam na área acesso a um conhecimento mais amplo das disposições legais sobre o tema, bem como das melhores práticas adotadas, em benefício das companhias, dos seus acionistas e do mercado em geral”. “As análises apresentadas acerca da evolução do voto a distância possibilitarão às com-panhias e aos órgãos reguladores uma reflexão mais profun-da dos pontos positivos da sistemática e dos aspectos que ainda têm espaço para melhorias”, declarou.

Em São Paulo, Rodrigo Lopes da Luz, membro do Conse-lho de Administração do IBRI, abriu o evento e agradeceu a parceria com o escritório Cescon Barrieu e com a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) na realização do workshop, em São Paulo (SP). Rodrigo Luz destacou que o evento já é tradicional no ca-lendário dos profissionais de Relações com Investidores com atualizações sobre a organização de AGOs.

Fernanda Montorfano e Luciana Mares, sócias do Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados, realizaram palestra so-bre a organização das Assembleias Gerais Ordinárias. Ales-sandra Paschoalini Borges, Gerente de Desenvolvimento de Empresas Listadas da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), destacou o uso do voto a distância nas Assembleias. Luiz Di Sessa, sócio do Ces-con Barrieu, discorreu sobre a Lei Geral de Proteção de Dados.

Houve, também, nos eventos, o lançamento do Guia Rápido Relações com Investidores. O Guia de RI é uma iniciativa do IBRI e do escritório Cescon Barrieu.

Segue o link para o Guia de RI: http://cesconbarrieu.adv.br/arquivos/a597e50502f5ff68e3e25b9114205d4a.pdf

Nos eventos, foram apresentados os seguintes painéis: Orientações para as Assembleias Gerais Ordinárias – atuali-zações normativas e novidades nos precedentes do Colegia-do da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); Aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados para companhias abertas e as responsabilidades previstas; a visão da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) sobre a experiência do voto a distância; e os princi-pais desafios trazidos pela sistemática do voto a distância sob a perspectiva da companhia e Relações com Investido-res: Conquistas e Desafios – Caso TIM.

Os palestrantes trouxeram orientações sobre a aplicação da Instrução CVM nº 614/2019, que altera a redação do Boletim

Page 59: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

57REVISTA RIAbril 2020

LUIZ DI SESSA, CESCON BARRIEU; FERNANDA MONTORFANO, CESCON BARRIEU; LUCIANA MARES, CESCON BARRIEU; RODRIGO LUZ, IBRI; E ALESSANDRA PASCHOALINI BORGES, B3.

Foto: Amanda Amaral

de Voto a Distância (Instrução CVM nº 481/2009). A nova re-dação regulamentar possibilita que acionistas com direito a voto possam manifestar suas intenções de voto tanto no campo 12 do Boletim de Voto a Distância previsto na norma, que diz respeito a eleição geral de membro do Conselho de Administração, quanto nos campos 13 e 13-A, que tratam da hipótese de requisição e eleição em separado de membro do

Conselho de Administração por titulares de ações com voto. Anteriormente, o acionista que manifestasse seu voto por meio de Boletim de Voto a Distância, e que optasse pelo ins-tituto da eleição em separado, ficava sujeito ao risco de não ter seu voto computado caso não se alcançasse o percentual mínimo exigido por Lei para a realização da referida moda-lidade de eleição. Com a mudança, acionistas com direito a voto passam a ter a possibilidade de utilizar suas ações para votar em eleição geral de membro do Conselho de Adminis-tração, inclusive por meio de voto múltiplo, na hipótese em que não seja possível alcançar os quóruns mínimos. Outra alteração apresentada pelo Ofício Circular é aquela ocorri-da no sistema CI.CORP. A referida alteração permite que o acionista votante possa distribuir, a seu critério, de forma manual, o percentual de voto múltiplo a ser atribuído a cada candidato, inclusive de chapas diferentes. Tal possibilidade não existia no sistema anterior, que apenas permitia que a distribuição do voto se desse entre candidatos de uma mes-ma chapa, e não de chapas diferentes.

Segue link para as apresentações: http://www.ibri.com.br/Upload/Arquivos/eventos/2020/Wor-kshop_de_Preparacao_para_AGOs_RJ_SP/Workshop_de_Preparacao_para_AGOs_RJ_SP.html

As análises apresentadas acerca da evolução do voto a distância possibilitarão às companhias e aos órgãos reguladores uma reflexão mais profunda dos pontos positivos da sistemática e dos aspectos que ainda têm espaço para melhorias.

Page 60: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

IBRI Notícias

58 REVISTA RI Abril 2020

IBRI participa da Iniciativa de Mercado de Capitais do governo federalO IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) foi aprovado para fazer parte da IMK (Iniciativa de Mercado de Capitais). A IMK é um fórum de discussão presidido pelo BCB (Banco Central do Brasil) e com cadeiras permanentes da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); SUSEP (Superintendência de Seguros Privados); PREVIC (Superintendência Nacional de Previdência Complementar); RFB (Receita Federal do Brasil); e do ME (Ministério da Economia).

POR JENNIFER ALMEIDA

Trata-se de um Grupo de Trabalho do Governo Federal com o objetivo de: avaliar e propor medidas de aperfeiçoamento regulatório para reduzir o custo de capital no Brasil; estimu-lar o crescimento da poupança de longo prazo e da eficiência da intermediação financeira e do investimento privado; e de-senvolver os mercados de capitais, de seguros e de previdên-cia complementar.

“O ingresso na IMK vai nos proporcionar mais uma fren-te de atuação de alto nível junto à coordenação do Banco Central, do Ministério da Economia e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), para fazer o que é preciso no sentido de quebrar paradigmas, melhorar as regras e os modelos do mercado que, muitas vezes, dificultam o interesse e a moti-vação das empresas de abrirem o capital”, destaca Anastácio Ubaldino Fernandes Filho, presidente do Conselho de Admi-nistração do IBRI.

Participam representantes das seguintes entidades por parte do mercado: ABECIP (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança); ABFintechs (Associação Bra-sileira de Fintechs); ABRACAM (Associação Brasileira de Câm-bio); ABRAPP (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar); ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas); ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital); AMEC (Associação de Inves-tidores no Mercado de Capitais); ANBIMA (Associação Brasi-

leira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais); ANCORD (Associação Nacional das Corretoras e Distribuido-ras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias); B3 (Brasil, Bolsa, Balcão); CNSEG (Confederação Nacional das Seguradoras); FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos); IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa); e IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores). Estão programadas diversas reuniões para que as entidades possam propor temas de interesse para discussão, norteando as seguintes perspectivas: Inclusão (para facilitar o acesso ao mercado a investidores e tomadores, nacionais e estrangei-ros, grandes e pequenos); Competitividade (para promover a adequada precificação por meio de instrumentos de acesso competitivo aos mercados); Transparência (para melhorar a transparência no processo de formação de preços e nas infor-mações de mercado e do Banco Central); e Educação Finan-ceira (para estimular a participação de todos no mercado e a formação de poupança).

André Vasconcellos, Diretor Técnico do IBRI, participou de uma reunião do Grupo, em 03 de março de 2020, quando agradeceu a possibilidade do Instituto integrar a IMK. Segun-do ele, “as ações a serem propostas pelo IBRI devem alme-jar a simplificação e desburocratizar o acesso ao mercado de capitais, assim como contribuir para o desenho de um país melhor, fundamentado no livre mercado”.

Page 61: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

59REVISTA RIAbril 2020

A IMK fará “a análise e a seleção, de acordo com critérios pró-prios, das iniciativas mais promissoras para o país, para que se-jam amadurecidas e viabilizadas”, afirma André Vasconcellos.

Os associados que desejarem sugerir temas para serem en-viados para a IMK devem entrar em contato com o IBRI pelo telefone (11) 3106-1836 ou pelo e-mail: [email protected]

IBRI: Como o senhor vê o ingresso do IBRI na IMK?

Júlio César Costa Pinto: A IMK é um fórum de discus-sões entre governo e iniciativa privada de medidas que ob-jetivam desenvolver os mercados financeiro e de capitais. Por parte do governo, participam, além do Ministério da Economia, os quatro reguladores desses mercados (Banco Central, CVM, SUSEP e PREVIC). As discussões ocorridas nesse fórum perpassam diversos aspectos, como questões tributárias, maior eficiência das garantias dadas em ope-rações de crédito, financiamento às pequenas e médias empresas e mecanismo de enforcement dos direitos de in-vestidores brasileiros. Dada a importância e expertise do IBRI no fortalecimento e aperfeiçoamento do papel de RI para o mercado de capitais brasileiro, sua participação na IMK engrandecerá as discussões das medidas que estarão na agenda 2020.

IBRI: Quais são os principais resultados alcançados

pelo Grupo em 2019?

JÚLIO CÉSAR COSTA PINTO

Entrevista:

Júlio César Costa Pinto, diretor do Programa na Secretaria Especial de Fazenda do Ministério da Economia, afirma que o IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) será um importante ator na construção das medidas debatidas pela IMK (Iniciativa de Mercado de Capitais). Acompanhe a entrevista.

Júlio César Costa Pinto: Em 2019, conseguimos ende-reçar importantes medidas. Muitas delas já foram efetiva-das via medidas infralegais. Por exemplo, em dezembro de 2019, aprovamos no CNSP (Conselho Nacional de Se-guros Privados) e no CMN (Conselho Monetário Nacional) duas resoluções que tratavam da aplicação das entidades abertas e fechadas de previdência complementar e de seguradoras e resseguradoras. Algumas medidas já têm propostas fechadas de texto, mas por se tratarem de alte-ração legal, aguardam oportunidade de encaminhamento ao Congresso Nacional. Outras medidas continuarão na pauta de 2020, como a que trata de Hedge Cambial para fi-nanciamento à infraestrutura, modernização da Lei dos Fundos de Investimento Imobiliários, melhoria da gover-nança de empresas privadas, entre outras.

Diretor do Ministério da Economia comenta o ingresso do IBRI na IMK

JÚLIO CÉSAR COSTA PINTO

Page 62: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

IBRI Notícias

60 REVISTA RI Abril 2020

IBRI: O que os profissionais de RI e o mercado de

capitais podem esperar?

Júlio César Costa Pinto: No âmbito do mercado de capitais, esperamos que as medidas possam dar mais simplicidade a leis e normas aplicáveis a companhias abertas, sem reduzir a transparência e a completude das informações necessárias aos investidores e regula-dores. Além disso, buscamos reduzir os custos de cap-tação das empresas, seja num desenho mais apropriado dos instrumentos de dívida ou desenvolvimento de pla-taformas de negociação, seja nas discussões ligadas às melhores práticas de Governança Corporativa. Medidas que contribuam para investimentos em equity também

devem constar da pauta de 2020.

IBRI: Quais temas são prioridades para 2020?

Júlio César Costa Pinto: Recebemos diversas pro-postas de entidades representantes do mercado pri-vado. Estamos na fase de definição da agenda 2020. Mas podemos ver que alguns assuntos foram encami-nhados por mais de uma entidade, como o desenvol-vimento do mercado secundário de títulos privados e a revisão de processos para aderência aos requisitos de ESG (Environmental, Social and corporate Governance). O IBRI será um importante ator na construção das medidas.

Matheus Torga, diretor regional IBRI Minas Gerais, e Marina Miranda, coordenadora do Grupo de WhatsA-pp de RI do IBRI, realizaram palestras no Programa do IDMC (Instituto de Desenvolvimento do Mercado de Capitais), no painel “Estratégia e Operação de um Departamento de Relações com Investidores”. O evento ocorreu, em 04 de março de 2020, das 15 às 16 horas, no Hilton Garden Inn, em Belo Horizonte. Torga agradeceu a Eduardo Matias Campos, diretor do IDMC, pelo convite para a realização de palestras dos re-presentantes do IBRI MG. “Minas Gerais é um Estado muito promissor para o mercado de capitais e eu fico feliz em ver tantas empresas mineiras impulsionando o crescimento”, declara Marina Miranda. Nas palestras, os representantes do IBRI discorreram sobre as atividades e desafios da área de Relações com Investidores.

Representantes do IBRI MG realizam palestras no Instituto de Desenvolvimento do Mercado de Capitais

A 22ª edição do Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais ocorrerá, nos dias 25 e 26 de agosto de 2020. É o maior evento de Relações com Investidores e Mercado de Capitais da América Latina.

O Encontro anual é uma realização do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e da ABRASCA (Associação Brasi-leira das Companhias Abertas). O Encontro ocorrerá no WTC Events Center, Avenida das Nações Unidas, 12.559, em São Paulo.

As edições do evento têm proporcionado conhecimento técnico aos profissionais de RI, bem como enriquecedores

22ª edição do maior encontro de RI da América Latina será em agosto de 2020

debates sobre temas que fazem parte do dia a dia do profis-sional, como mudanças na legislação, interação do RI com seus públicos estratégicos, como agregar valor para a com-panhia, quais são as novas ferramentas de comunicação, dentre outros temas.

O evento já tem o patrocínio das empresas: B3, blendON; BNY Mellon; Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados; DATEV; Deloitte, Gerdau, Greenberg Traurig; Itaú Uniban-co; MZ Group; Refinitiv, S&P Global; The Media Group; e Valor Econômico. Acompanhe as informações sobre o evento no site: https://encontroderi.com.br

Page 63: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

61REVISTA RIAbril 2020

O IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) divulgou, no dia 11 de março de 2020, comunicado sobre COVID-19. Segue a íntegra do comunicado:

O que COVID-19 pode afetar nas atividades

de Relações com Investidores?

O aumento do número de casos do novo Coronavírus, tec-nicamente chamado de COVID-19, já está trazendo impac-tos econômicos e políticos em todo o mundo, porém ainda sem sabermos a extensão que esses efeitos podem chegar. Como em todas as profissões, em Relações com Investido-res, alguns aspectos importantes, além dos já publicados pelos órgãos de saúde, devem ser considerados no dia a dia do profissional.

• Avaliar as orientações divulgadas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) quanto a necessidade de divul-

gar fato relevante acerca do impacto de COVID-19, ou de previsões acerca do mesmo nas atividades que a Companhia atua;

• Avaliar viagens nacionais e internacionais para roadsho-ws e Conferências e a possibilidade de contatar os inves-tidores via videoconferência ou teleconferência;

• Evitar eventos e aglomerações, verificando sempre a possibilidade de participação via webinar;

• Sempre que uma reunião presencial for necessária, ve-rificar se as pessoas não fizeram viagens recentes para as áreas de risco.

Para mais informações - CVM: www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2020/20200310-1.html

Comunicado IBRI: COVID-19 e as Relações com Investidores

Conselheira do IBRI participa de evento sobre Fundo de Investimento 2020Renata Oliva Battiferro, membro do Conselho de Administração do IBRI, participou do “Painel Fundo de Investimento 2020”, no escritório BNZ Advogados, em 18 de fevereiro de 2020, a partir das 19 horas, em São Paulo. O evento foi aberto com palestra Águeda Yoshii (BNZ Advogados). Também participaram como painelistas: Rebeca Nevares (Ella´s Investimentos); Amanda Marinho (Fundo de Previdência de Campinas); e Gabriela Filgueiras (Criteria Investimentos).

“Estamos acompanhando um crescente de novas gestoras democratizando o acesso a fundos de investimen-to, antes acessíveis apenas a investidores qualificados. Em um cenário de juros baixos, em que as pessoas estão buscando retornos acima da inflação, evento como o painel promovido pelo escritório BNZ Advogados promove mais conhecimento do público em relação à dinâmica dos fundos de investimento e permite des-mistificar a atuação direta de investidores no mercado de capitais”, destaca Renata Oliva Battiferro.

Diante deste cenário, Renata Oliva acredita que a atuação da área de Relações com Investidores tem se tornado cada vez mais estratégica e fundamental, indo muito além da disponibilização de informações financeiras. “Cabe ao profissional de RI informar aos mais diversos perfis de investidores questões relacionadas à companhia, permi-tindo que a empresa possa ser avaliada de forma correta pelos mais diversos públicos”, conclui.

Page 64: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

IBRI Notícias

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: Presidente: Anastácio Ubaldino Fernandes Filho (AEGEA SANEAMENTO) | Vice-Presidentes: Diego Carneiro Barreto (IFOOD); e Guilherme Setubal Souza e Silva (DURATEX) | Conselheiros: Eduardo Pavanelli Galvão (GRUPO ULTRA - ULTRAPAR); Fernando Foz de Macedo; Geraldo Soares Leite Filho (ITAÚ UNIBANCO HOLDING S.A.); Guilherme Luiz Nahuz (HAPVIDA); José Antonio de Almeida Filippo (NATURA COSMÉTICOS); José Sálvio Ferreira Moraes; Renata Oliva Battiferro (TRACK&FIELD); Rodrigo dos Reis Maia (GERDAU); e Rodrigo Lopes da Luz.

DIRETORIA EXECUTIVA: Presidente: Bruno Brasil (ITAÚSA) | Diretor Vice-Presidente e Diretor Regional São Paulo: André Luiz Gonçalves (JSL LOGÍSTICA) | Diretor Regional Minas Gerais: Matheus Torga (HERMES PARDINI) | Diretora Regional Rio de Janeiro: Carla Dodsworth Albano Miller (PETROBRAS) | Diretor Regional Sul: Roberto Pezzi (FRAS-LE) | Diretor Técnico: André Vasconcellos (ELETROBRAS); Diretora de Comunicação e Eventos: Marilia Barbosa Nogueira (EDP ENERGIAS DO BRASIL).

Rua Boavista, 254 / 3º andar - sala 311 - 01014-000 - São Paulo, SP Tel.: (11) 3106-1836 Fax: (11) 3106-1127Website: www.ibri.com.br | Email: [email protected]

Novos Associados do IBRI Ana Laura Pereira Pongeluppi (HOGAN LOVELLS); Fabio Araujo de Lucena Henriques Lima;

Fernando de Andrade Mota (VILARINHO LAW); Fernando Poncio Paiva (BANESTES);

Liliane Oliveira Kotleski (COPEL); Matheus Torga (HERMES PARDINI);

Renato Lulia Jacob (ITAÚ UNIBANCO HOLDING).

Rodrigo Maia, presidente da COMEC (Comissão de Mercado de Capitais) da ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas) e membro do Conselho de Administração do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores); Gustavo Mulé e Vinicius Janela, gerentes da Superintendência de Relações com Empresas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), participaram do evento da ABRASCA e B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) sobre Ofício Circular CVM/SEP 02/20 (file:///C:/Users/User/Downloads/oc-sep-0220%20(1).pdf). O evento ocorreu, na sede da ABRASCA, em São Paulo (SP), em 28 de fevereiro de 2020, e contou com o apoio do IBRI. Segue link para vídeo sobre o evento: http://tvb3.com.br/Watch.aspx?Palestra_ID=2294&iPos

IBRI apoia evento da ABRASCAe B3 sobre “Orientações CVM”

O IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e a FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atua-riais e Financeiras) oferecem curso de ensino a distância so-bre “Relações com Investidores na prática”.

O corpo docente do curso é especializado, experiente e de referência no mercado de Relações com Investidores. Haverá a possibilidade de realizar o curso com escolha de Módu-lo Básico (24 horas); Módulo Avançado (16 horas) e Módulo Completo (40 horas).

O IBRI e a FIPECAFI são parceiros desde 2001 quando

ofereciam o MBA em Finanças, Comunicação e Relações com Investidores, que possibilitava aos profissionais uma visão global em business e o entendimento conceitual e operacional das diversas atividades relacionadas com o mercado financeiro e de capitais, mais especificamente em Relações com Investidores. Desde então, o IBRI e a FIPECAFI fornecem conteúdo para o aprimoramento de profissionais que desejam estar em dia com as demandas da profissão.

Mais informações e inscrições: www.fipecafi.org, Fone (11) 2184-2051 ou E-mail: [email protected]

IBRI e FIPECAFI oferecem curso de ensino a distância “Relações com Investidores na prática”

Page 65: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Leia na

Revista RI.

Assine já! e tenha acesso a todas as edições da Revista RI.

www.revistaRI.com.br/assinatura

Page 66: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

A pandemia do Coronavírus despertou entre destacados economistas, do Brasil e do exterior, um sentimento de solidariedade que estava afastado das suas preocupações de desenvolvimento econômico sustentado.

Capitalismo Solidário

por THOMÁS TOSTA DE SÁ

Há alguns anos publiquei no jornal Valor Econômico um ar-tigo também intitulado: “Capitalismo Solidário”, que em sín-tese, dizia que o sucesso futuro do capitalismo dependeria de uma melhor forma de distribuição do lucro, entre os fatores de produção responsáveis pela geração da riqueza dos inves-timentos feitos pelas empresas: do capital humano, do capi-tal financeiro e do capital ambiental, ou recursos naturais.

Na atual crise, além dos cuidados necessários para evitar a propagação da doença, economistas recomendam a transfe-rência de recursos para a população desassistida que mora nas ruas, para o gigantesco número de trabalhadores infor-mais, para micro e pequenas empresas, além de apoiarem as medidas de antecipação de benefícios previdenciários e de li-nhas de crédito pelos bancos governamentais para empresas de maior porte anunciadas pelo governo. Tudo em nome de um espírito de solidariedade que achava-se esquecido.

O apoio ao capitalismo solidário, que pode ser chamado de outros nomes, é a única forma de darmos continuidade ao modelo econômico que teve mais sucesso, desde a revolu-ção industrial, proporcionando um crescimento econômico mundial, nos dois últimos séculos, jamais visto na história da humanidade. É verdade que a forma injusta de distribui-ção dos lucros privilegiou os detentores do capital financeiro gerando a necessidade de sua correção.

Mas no Brasil temos que olhar também para a enorme distância da remuneração entre funcionários públicos e dos trabalhado-res do setor privado. É hora de uma participação solidária dessa categoria, aceitando uma redução temporária em seus benefí-cios, para reduzir o impacto fiscal das medidas anunciadas.

Como dizia Winston Churchill, há quase cem anos: “O gran-de problema do capitalismo é que ele concentra a riqueza na mão

de poucos, mas é muito melhor do que o socialismo que distribui a pobreza para todos”. No ano passado o Codemec - Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais realizou com a FGV-IBRE o fórum: Desafios do Capitalismo, com importante participação de au-toridades, professores, economistas e empresários para de-bater esse tema. Voltaremos a realizar conjuntamente, em agosto, um outro fórum para debatermos o tema: “Educação, Habitação e Produtividade” que se não for enfrentado com um espírito de solidariedade às populações de baixa renda, não resolveremos o problema da educação das crianças que mo-ram nas favelas e outras comunidades. Como diz o ditado popular “Educação vem do berço”. Como edu-car crianças que não têm creches e escolas de tempo integral morando em casas onde muitas vezes dormem com toda a fa-mília em um único cômodo em ambientes sem abastecimen-to de água, esgoto, limpeza de lixo e segurança. Que muitas vezes têm como sua única refeição a merenda escolar. Espero que a luta contra o Coronavírus incendeie o espírito de solidariedade e possamos encontrar o caminho do Capita-lismo Solidário e da Educação e Habitação para atendermos as necessidades dos milhões de brasileiros desassistidos. RI

THOMÁS TOSTA DE SÁé presidente do CODEMEC - Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA)[email protected]

OPINIÃO

64 REVISTA RI Abril 2020

Page 67: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

Realização:

Ipsos

Apoio metodológico:Pesquisa:

2020

Empresas que apostam em um ambiente mais favorável

para a mulher e sua carreira merecem um prêmio.

A SUA PODE ESTAR ENTRE ELAS.

Vem aí uma nova edição da premiação que destaca as

companhias com as melhores práticas e polít icas corporativas para a

equidade de gênero e a l iderança feminina no Brasi l.

A pesquisa, realizada pelo Instituto Ipsos, é uma iniciativa da WILL (Women in Leadership in Latin

America) em parceria com O Globo, Valor Econômico, Marie Claire

e Época Negócios.

Inscreva a sua empresa até 27/04 em www.latamwill.org/mulheres-na-lideranca

AN_mulheres_lideranca_2020_210x280.indd 1AN_mulheres_lideranca_2020_210x280.indd 1 24/03/2020 14:52:2124/03/2020 14:52:21

O Itaú tem tudo para você resolver sua vida financeira sem precisar sair de casa. Faça transações, consultas, pagamentos e muito mais em nossos canais de atendimento:

Central de AtendimentoCapitais e Regiões Metropolitanas:4004 4828Demais localidades:0800 970 4828

App ItaúFaça o download na sua loja de aplicativos.

Internet BankingAcesse sua conta em itau.com.br

É hora de ficar em casa. Todo mundo tem uma agência do Itaú no bolso.

AFM-26856-032-ITAU-An_COVID_Revsta_RI 42X28cm.indd 1 27/03/20 09:12

Page 68: COVID-19 BRASIL · 6 REVISTA RI Abril 2020 PONTO DE VISTA. afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor,

R$

20,0

0

EM PAUTA

nº240ABR 2020

BRASILPÓS CRISE DOCORONAVIRUS

INVESTIDORESEM TEMPOS DEPANDEMIAA pandemia do coronavírus já provocou milhares de mortes e levou às pessoas no mundo inteiro ao isolamento social o queresultará em uma forte contração econômica.Em meio ao caos - no mercado de capitais - investidores tentam buscar o real valor dos ativos na bolsa e o papel das Relações com Investidores cresce de importância ao prover transparência em demonstrar os fundamentos da empresa.

INVESTIDORESRELAÇÕES COM

RELAÇÕES COM INVESTIDORESwww.revistaRI.com.br

COVID-19 & O DESAFIO DA LIDERANÇA RACIONAL

por ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

por ANA BORGES