correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no...

12
45 Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56 ARTIGO ORIGINAL Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no período pré e pós-cirurgia bariátrica Correlation between the vestibular and auditory symptoms before and after bariatric surgery RESUMO Objetivo: Comparar alterações auditivas e sintomas auditivos e vestibulares em pacientes com obesidade mórbida, pré e pós serem submetidos à cirurgia bariátrica. Método: Foram selecionados 34 sujeitos com obesidade mórbida e em acompanhamento médico no Hospital Regional da Asa Norte/ HRAN- Secretaria de Estado de Saúde/SES-DF e do Instituto Bra- siliense do Aparelho Digestivo (Clínica particular), na cidade de Brasília-DF com indicação para cirurgia bariátrica, na faixa etária de 27 a 50 anos de idade, sendo 06 do sexo masculino e 28 do sexo feminino. Foram realizados, previamente, a aplicação do questioná- rio e os procedimentos de meatoscopia (inspeção do meato acústico externo). Em seguida, foram executadas as avaliações audiométri- cas tonal e vocal. Os mesmos procedimentos se repetiram seis me- ses após a cirurgia, mas somente em 10 pacientes que continuaram na pesquisa. Resultados: Observando os resultados obtidos no pré e pós-cirur- gia bariátrica, os indivíduos avaliados apresentaram melhorias no que se refere à hipertensão arterial, glicose aumentada e uso de me- dicamentos. Nos quadros de sintomas vestibulares também foram observadas melhorias. Valores positivos e negativos muito fortes de correlação foram observados entre as variáveis Zumbido e De- sequilíbrio (r = 1,00) e Zumbido, Desequilíbrio com audição dentro do padrão de normalidade/ADNP (r= -1,00), respectivamente, nos dados após a cirurgia bariátrica. Conclusão: A partir das analises realizadas, foi possível concluir que os sintomas auditivos e vestibulares tendem a melhorar após a cirurgia bariátrica. Palavras-chave: Audiologia; Cirurgia bariátrica; Obesidade mór- bida. Marilene de Oliveira 1 Soraia El Hassan 1 1 Instituto de Estudos Avançados da Audição / IEAA. São Paulo, Brasil. Correspondência Marilene de Oliveira SMHN Quadra 02, Bloco A, Edifício de Clínicas, Sala 701. Asa Norte, Brasília-DF. Brasil. [email protected] Recebido em 24/fevereiro/2014 Aprovado em 08/julho/2014

Upload: others

Post on 23-Mar-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

45Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

ARTIGO ORIGINAL

Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no período pré e pós-cirurgia bariátrica Correlation between the vestibular and auditory symptoms before and after bariatric surgery

RESUMO

Objetivo: Comparar alterações auditivas e sintomas auditivos e vestibulares em pacientes com obesidade mórbida, pré e pós serem submetidos à cirurgia bariátrica.

Método: Foram selecionados 34 sujeitos com obesidade mórbida e em acompanhamento médico no Hospital Regional da Asa Norte/HRAN- Secretaria de Estado de Saúde/SES-DF e do Instituto Bra-siliense do Aparelho Digestivo (Clínica particular), na cidade de Brasília-DF com indicação para cirurgia bariátrica, na faixa etária de 27 a 50 anos de idade, sendo 06 do sexo masculino e 28 do sexo feminino. Foram realizados, previamente, a aplicação do questioná-rio e os procedimentos de meatoscopia (inspeção do meato acústico externo). Em seguida, foram executadas as avaliações audiométri-cas tonal e vocal. Os mesmos procedimentos se repetiram seis me-ses após a cirurgia, mas somente em 10 pacientes que continuaram na pesquisa.

Resultados: Observando os resultados obtidos no pré e pós-cirur-gia bariátrica, os indivíduos avaliados apresentaram melhorias no que se refere à hipertensão arterial, glicose aumentada e uso de me-dicamentos. Nos quadros de sintomas vestibulares também foram observadas melhorias. Valores positivos e negativos muito fortes de correlação foram observados entre as variáveis Zumbido e De-sequilíbrio (r = 1,00) e Zumbido, Desequilíbrio com audição dentro do padrão de normalidade/ADNP (r= -1,00), respectivamente, nos dados após a cirurgia bariátrica.

Conclusão: A partir das analises realizadas, foi possível concluir que os sintomas auditivos e vestibulares tendem a melhorar após a cirurgia bariátrica.

Palavras-chave: Audiologia; Cirurgia bariátrica; Obesidade mór-bida.

Marilene de Oliveira1 Soraia El Hassan1

1Instituto de Estudos Avançados da Audição / IEAA. São Paulo, Brasil.

CorrespondênciaMarilene de Oliveira

SMHN Quadra 02, Bloco A, Edifício de Clínicas, Sala 701. Asa Norte, Brasília-DF. Brasil.

[email protected]

Recebido em 24/fevereiro/2014Aprovado em 08/julho/2014

Page 2: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

46 Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Oliveira M, El Hassan S

ABSTRACT

Objective: To compare auditory changes, vestibular and auditory symptoms in morbidly obese patients before and after undergoing bariatric surgery.

Method: We selected 34 individuals with morbid obesity and un-der care at Hospital Regional da Asa Norte/HRAN - State Depart-ment of Health / SES - DF and Brasiliense Institute of Digestive System (private clinic) , in the city of Brasília – DF, with indication for bariatric surgery , aged 27-50 years , with 06 males and 28 fe-males. Were previously carried out the questionnaire and otoscopy procedures (inspection of the external auditory meatus). Then were executed tonal audiometric and speech evaluations. The same pro-cedures were repeated six months after surgery, but only in 10 pa-tients who continued in the study .

Results: observing results obtained before and after bariatric surgery, the tested individuals showed improvements in relation to arterial hypertension, increased glucose and use of medication. For vestibular symptoms improvements were also observed. Very strong positive and negative correlation values were observed bet-ween Tinnitus and Imbalance (r = 1.00) and Tinnitus, Imbalance with hearing within normal limits / ADNP (r = -1.00), respectively, after bariatric surgery.

Conclusion: It was possible to conclude that the auditory and ves-tibular symptoms tend to improve after bariatric surgery.

Keywords: Audiology; Bariatric surgery; Morbid obesity.

INTRODUÇÃO

A quantidade de obesos no Brasil e no mundo, ao longo dos últimos anos, vem crescendo acen-tuadamente, tanto que a Organização Mundial de saúde (OMS) considerou esta doença como a epidemia global do século XXI1.

A obesidade constitui um importante fator de risco para o aparecimento, desenvolvimento e agravamento de outras doenças. É uma doença crônica que atinge homens e mulheres de todas as idades e etnias, reduz a qualidade de vida e tem elevadas taxas de comorbidade e mortali-dade. Hoje é considerada uma questão de saúde pública2.

São diversas as abordagens terapêuticas envol-vidas na obesidade, dentre elas, a reeducação

nutricional, o aumento da atividade física, o tratamento medicamentoso, o tratamento ci-rúrgico e o tratamento psicológico, levando em conta o aspecto comportamental. No entanto, a cirurgia bariátrica tornou-se um tratamento eficaz e acessível para a correção da obesidade mórbida, reduzindo a incidência de patologias que frequentemente estão associadas, tais como: hipertensão arterial, apneia obstrutiva do sono, diabetes, doenças cardiovasculares e a depres-são. Além disso, os pacientes têm se beneficiado das recentes técnicas dessa modalidade tera-pêutica resgatando a sua autoestima ao conse-guirem as reduções ponderais desejadas.

Realizada atualmente nos mais diferentes paí-ses, esta cirurgia busca proporcionar ao grande

Page 3: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

47Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares

de oxigênio, glicose e disponibilidade de ATP para a manutenção de potencial endococlear. O metabolismo da glicose tem grande influência na orelha interna e tanto a hipoglicemia como a hiperglicemia podem alterar seu funcionamen-to normal. Alterações estas, modificam, portan-to a homeostase coclear e, assim, podem surgir sintomas de hidropsia endolinfática como zum-bido, disacusia e sintomas vestibulares8.

Vertigem, tonturas, desequilíbrio, náuseas, quedas, hipoacusias e zumbido são alguns dos principais sintomas decorrentes de compro-metimento agudo ou crônico dos sistemas au-ditivos e vestibular. Sabemos que na prática de audiologia clínica, esses sintomas, isolados ou em associação, são extremamente comuns em meio, em todas as faixas etárias, podendo ter numerosas causas. Médicos, Fonoaudiólogos e outros especialistas em distúrbio da comuni-cação humana são os profissionais diretamente envolvidos na identificação e resolução desses problemas.

Apesar de notória associação de distúrbios me-tabólicos e vestibulopatias ainda existe uma escassez de pesquisas na área de audiologia e de otoneurologia correlacionando obesidade mórbida/ cirurgia bariátrica. As patologias vestíbulo cocleares sabidamente multifatoriais requerem uma avaliação geral e específica bas-tante acurada no sentido de estabelecermos os reais fatores que as desencadearam. Desta for-ma, o presente estudo pretende relacionar os sintomas auditivos e vestibulares antes e após a realização de cirurgia bariátrica, independente da técnica cirúrgica.

MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado com 34 pa-cientes encaminhados da Unidade de cirurgia Bariátrica do Hospital Regional da Asa Norte/HRAN da Secretaria de Estado de Saúde do Dis-trito Federal/SES/DF e do Instituto Brasiliense do Aparelho Digestivo (Clínica particular), na cidade de Brasília-DF. Foi aprovado pelo Comi-tê de Ética em Pesquisa da Secretária de Esta-do de Saúde do Distrito Federal sob o número 112/2012, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que regulamenta a Pesquisa em Seres Humanos.

obeso melhoria na qualidade de vida e na saúde3. A escolha do procedimento cirúrgico depende-rá de minuciosa avaliação, clínica e psicológica, da necessidade da terapia e da probabilidade es-timada de eficiência do tratamento em relação à perda de peso. Os pré-requisitos para realiza-ção da cirurgia se referem aos obesos de grandes proporções (IMC≥40 kg/m2) resistentes aos tra-tamentos conservadores para perda de peso ou indivíduos com IMC de 35 kg/m2, com doenças crônicas associadas, cuja situação clínica seja agravada pelo quadro de obesidade4.

Constitui consenso que a cirurgia bariátrica atualmente configura o único tratamento para alcançar perda de peso adequada e durável em obesos mórbidos4. Após as operações bariátri-cas, a redução do peso é claramente visível, com consequente melhora das comorbidades e da qualidade de vida4. Usualmente, é considerado sucesso cirúrgico, quando o individuo obeso perde 50% do excesso de peso pré-operatório.

As técnicas cirúrgicas para o tratamento da obesidade podem ser realizadas por laparoto-mia ou laparoscopia e são classificadas pelo mecanismo de funcionamento: cirurgias res-tritivas, mistas predominantemente restritivas e mistas predominantemente malabsortiva5. Além dessas, há o balão intragástrico sendo considerado um método terapêutico3.

Cada abordagem, independente da técnica e da via de acesso escolhida, apresenta benefícios e ris-cos inerentes, no entanto, muitas alterações ocor-rem nos indivíduos obesos após o procedimento cirúrgico. O sucesso da cirurgia bariátrica é espe-cialmente mensurado em relação à quantidade de peso perdido, à manutenção do peso após esta perda e à melhoria das anteriores a operação5-7.

Diversos autores vêm relacionando alterações auditivas às alterações metabólicas. Estas po-dem estar relacionadas à resistência periférica à insulina, à hiperinsulinemia, e à dieta hiperlipí-dica que pode levar a lesões das células ciliadas, prejudicando o funcionamento normal da ore-lha interna. Pacientes com alterações de meta-bolismo da glicose podem apresentar sintomas auditivos, vestibulares ou mistos, incluindo o zumbido. Estruturas labirínticas, principal-mente a estria vascular, apresentam atividade metabólica intensa, sendo sensíveis aos níveis

Page 4: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

48 Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Oliveira M, El Hassan S

Na primeira etapa da pesquisa foram seleciona-dos e avaliados 34 sujeitos com obesidade mór-bida no período pré-operatório para a cirurgia bariátrica, sendo 06 pacientes do sexo mascu-lino e 28 pacientes do sexo feminino, entre 27 e 50 anos de idade. Os critérios de exclusão fo-ram, onde indivíduos portadores de otite média crônica, otoesclerose, neurinoma do acústico, perda auditiva induzida por ruído (PAIR), ci-rurgias otológicas, usuários de aparelho de am-plificação sonora/AASI com idade superior ao estipulado (18 a 50 anos de idade), previamente à cirurgia bariátrica.

Após o consentimento livre e esclarecido, os pacientes foram submetidos a um questioná-rio próprio estruturado pela pesquisadora. Este questionário fazia referência aos sintomas ves-tibulares: Zumbido (ZUMBI), Vertigem (VERT), Tontura (TONT), Desequilíbrio (DESEQ); uso de medicamentos (UM); e a patologias geral-mente existentes com a obesidade, comorbida-des, dentre elas: Hipertensão Sistêmica Arterial (HAS), Diabetes (DIAB), Hipotireoidismo (HI-POT), Glicose Aumentada (GA), e outros (como problema de coluna - PCOL).

As respostas obtidas foram objetivas, “sim” ou “não”. Logo após foram realizados os procedi-mentos de meatoscopia - inspeção do meato acústico externo - onde não foi observado ne-nhum fator de impedimento para a realização dos exames. Em seguida foram executadas a análise de audiometria tonal liminar e o teste de reconhecimento auditivo. Os Limiares foram obtidos por aérea e por via óssea das frequên-cias de 250 a 8000Hz e 500 a 4000Hz respec-tivamente. Foram realizados então testes para detectar possíveis sintomas auditivos: Audição Dentro do Padrão de Normalidade (ADPN), Au-dição Normal Pela Média Tritonal, Mas Com Piora de Limiar em Frequências Isoladas, Perda Auditiva Unilateral Em Grau Leve (PAU) e Per-da Auditiva Bilateral Em Grau Leve (PAB).

A Classificação da perda auditiva foi realizada de acordo com a configuração audiométrica9. Realizamos ainda, para complemento desse primeiro exame, a logoaudiometria com pes-quisa do índice percentual de reconhecimento auditivo (IPRF), limiar de reconhecimento de fala (limiar de inteligibilidade). Destes exames, os resultados do Índice Percentual de Reconhe-

cimento de Fala (IPRF) foram classificados, como sugere o Manual de Procedimentos em Audiometria Tonal, Logoaudiometria e Medi-das de Imitância Acústica de 2013.

Os limiares audiométricos obtidos foram dispos-tos e representados graficamente no audiograma, usando sistema de símbolos padronizados.

Foram utilizados, para a realização dos testes auditivos, os seguintes equipamentos: cabina acusticamente tratada, audiômetro digital de dois canais, marca Beta 6000, calibrado confor-me as normas vigentes, fones de ouvido supra--aurais modelo TDH-39, vibrador ósseo marca Rádio EAR B71, otoscópio marca Tycos, modelo 29092, computador lap top marca HP.

Os indivíduos selecionados realizaram todos os procedimentos acima descritos, sem ônus e em clínica particular de sociedade da pesquisado-ra. Dos 34 pacientes inicialmente avaliados, 24 abstiveram-se para a segunda etapa da pesqui-sa, assim, somente 10 pacientes continuaram após seis meses de terem sido submetidos à ci-rurgia. Os mesmos procedimentos avaliativos descritos foram repetidos seis meses após a ci-rurgia bariátrica nos 10 sujeitos que continua-ram no estudo.

Os dados obtidos foram armazenados em ban-cos de dados e tratados estatisticamente em programa Statistical Package for Social Scien-ces/SPSS 17.0.

RESULTADOS

A primeira amostra foi composta por 34 pa-cientes pré-cirurgia bariátrica, sendo a maioria mulheres (82,35%), com somente seis homens no total da amostra (17,65%). A idade do grupo se insere na faixa etária de 27 a 50 anos de idade.

No que se refere às porcentagens de ocorrência de comorbidades, a questão do uso de medica-mentos e problemas de coluna, 25 pacientes apresentaram hipertensão arterial (73.52%), 15 pacientes apresentaram diabetes (44,11%), 5 pa-cientes apresentaram hipotireoidismo (14,70%), 4 pacientes apresentaram níveis aumentados de glicose (11.76%), 1 paciente apresentou pro-blemas de coluna (2,94%) e 100% dos entrevis-tados afirmaram fazer uso de medicamentos.

Page 5: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

49Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares

Sobre os Sintomas Vestibulares, 26,48% apre-sentaram tontura; 11,76% apresentaram verti-gem; 44,11% apresentaram Zumbido; 23,53% apresentaram desequilíbrio e 5,88% apresenta-ram sintomas associados.

Os 34 indivíduos também realizaram os testes audiométricos, onde 19 pacientes apresenta-ram audição dentro do padrão de normalidade (55,88%), 12 apresentaram audição normal pela média tritonal, mas com piora de limiar em fre-quências isoladas (35,29%), dois apresentaram perda auditiva unilateral em grau leve (5,88%) e um paciente apresentou perda auditiva bila-teral em grau leve, sendo 2,94% da população estudada.

Análises com os 10 participantes que participaram do estudo nas duas etapas

Como houve uma desistência de alguns parti-cipantes na segunda fase do estudo, foi interes-sante entender o que ocorreu com os mesmos participantes (10 indivíduos) nas duas fases do estudo.

• Pré-cirurgia Bariátrica

Para os 10 pacientes que participaram das duas etapas da pesquisa, pré e pós-cirurgia bariátrica,

a maioria eram mulheres (80%), com somente dois homens no total da amostra (20%). A idade do grupo se inseriu na faixa etária variando en-tre 27 a 50 anos de idade.

Na Tabela 1 estão inseridos as porcentagens de ocorrência das comorbidades, problema de co-luna e também o uso de medicamentos, obser-vadas em pacientes na fase pré e pós-cirurgia bariátrica. Observando os resultados obtidos, os indivíduos avaliados apresentaram melho-rias no que se refere à hipertensão arterial, ní-veis elevados de glicose e uso de medicamentos. Notou-se uma diminuição de pacientes com HAS (de 5 pacientes que apresentavam HAS no pré cirurgia, somente 2 continuaram com o quadro), uma diminuição de pacientes com gli-cose aumentada (de 1 paciente que apresentava GA no pré-cirurgia para nenhum paciente com esse quadro no pós-cirurgia) e também uma diminuição do número de pacientes que utili-zavam medicamentos do pré/ pós-cirurgia ba-riátrica. Os sintomas vestibulares melhoraram quando comparados os resultados obtidos no pré e pós-cirurgia bariátrica. Houve uma dimi-nuição de 66% de pacientes que apresentavam tontura do pré para o pós-cirurgia bariátrica. Dos 10 pacientes que apresentavam vertigem no pré-cirurgia, nenhum apresentou esse qua-dro após seis meses da realização da cirurgia bariátrica (Tabela 2).

Tabela 1.

Distribuição de frequência (n) e porcentagem (%) de ocorrência de comorbidades, problema de coluna e uso de medi-camentos observados em 10 pacientes no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica

Pré-cirurgia Bariátrica Pós-cirurgia Bariátrica

Comorbidades e outros n % n %

Hipertensão Arterial

Presença 5 50 2 20

Ausência 5 50 8 80

Diabetes

Presença 2 20 2 20

Ausência 8 80 8 80

Hipotireoidismo

Presença 1 10 1 10

Ausência 9 90 9 90

Page 6: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

50 Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Oliveira M, El Hassan S

Pré-cirurgia Bariátrica Pós-cirurgia Bariátrica

Glicose Aumentada

Presença 1 10 0 00

Ausência 9 90 10 100

Problemas de Coluna

Presença 1 10 1 10

Ausência 9 90 9 90

Uso de Medicamentos

Presença 8 80 6 60

Ausência 2 20 4 40

Tabela 2.

Distribuição de frequência (n) e porcentagem (%) de ocorrência de Sintomas Vestibulares observadas em 10 pa-cientes no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica

Pré-cirurgia Bariátrica Pós-cirurgia Bariátrica

Sintomas vestibulares n % n %

Tontura

Presença 9 90 3 30

Ausência 1 10 7 70

Vertigem

Presença 2 20 0 0

Ausência 8 80 10 100

Zumbido

Presença 2 20 1 10

Ausência 8 80 9 90

Desequilíbrio

Presença 2 20 1 10

Ausência 8 80 9 90

No que se refere às observações encontradas nos testes audiométricos, foi possível observar que indivíduos com audição dentro do padrão de normalidade, permaneceram normais no pós- cirurgia bariátrica. Quando se observou a audição normal pela média tritonal, mas com

limiares aumentados em 2 ou até 3 frequências, dos 3 pacientes que apresentaram esses sin-tomas antes da cirurgia bariátrica, somente 2 continuaram a apresentar os sintomas no pós--cirurgia bariátrica (Tabela 3).

Page 7: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

51Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares

Tabela 3.

Distribuição de frequência (n) e porcentagem (%) de ocorrência de Sintomas observados nos Testes Audiométricos em 10 pacientes pré e pós-cirurgia bariátrica

Pré-cirurgia Bariátrica Pós-cirurgia Bariátrica

Testes audiométricos n % n %

ADPN

Presença 9 90 9 90

Ausência 1 10 1 10

ANPMT

Presença 3 30 2 20

Ausência 7 70 8 80

Onde: ADPN – Audição dentro do padrão de normalidade; ANPMT – Audição Normal pela Média Tritonal, mas com piora de limiar em frequências isoladas.

Correlação de Pearson

• Pré-cirurgia Bariátrica

Foram realizadas ainda as correlações lineares de Pearson entre as variáveis analisadas (pré e pós-cirurgia bariátrica). Os resultados das cor-relações de Pearson entre os dados analisados no período anterior à cirurgia bariátrica estão apresentados na tabela 4. Os valores de corre-lação de Pearson variaram de -0,67 a 0,76. Va-lores de correlação negativos e fortes foram ob-servados entre as variáveis: idade versus uso de medicamentos (r = -0,78), indicando que quanto maior a idade dos indivíduos avaliados, menor foi à observação do uso de medicamentos no pe-ríodo pré-cirurgia bariátrica. Outro valor forte, mas positivo, de correlação observada foi entre as variáveis: desequilíbrio e ANPMT (r = 0,76). Isso indica que pacientes que apresentam dese-quilíbrio tem a tendência de apresentar audição normal pela média tritonal, mas com piora de limiar em frequências isoladas – ANPMT . or-relações negativas, medianas e significativas foram observadas entre as variáveis Diabetes, Zumbido e Desequilíbrio com ADPN (r = -0,67). Esses resultados indicam que pessoas com audi-ção dentro do padrão de normalidade tem me-nor probabilidade de apresentar diabetes, sinto-mas de zumbido ou desequilíbrio (Tabela 4).

•Pós-cirurgia Bariátrica

Valores positivos e muito fortes de correlação foram observados entre as variáveis Zumbido

e Desequilíbrio (r = 1,00), indicando que pacien-tes que apresentam zumbido também apresen-tam desequilíbrio. Valores da mesma magnitu-de, mas negativos (r = -1,0), foram encontrados entre as variáveis Zumbido, Desequilíbrio com ADNP, indicando que pacientes com capacida-de auditiva dentro dos padrões de normalidade têm mínima probabilidade de apresentar sin-tomas de zumbido e desequilíbrio. As variáveis Zumbido e Desequilíbrio também se correla-cionaram positivamente, mas de intensidade média, com a variável ANPMT (r = 0.67), indi-cando que pacientes que apresentam quadros normais auditivos, mas com algumas frequên-cias alteradas, tendem a ter sintomas de zumbi-do e desequilíbrio (Tabela 5).

DISCUSSÃO

Considerando o total de pacientes que partici-param da pesquisa, observou-se uma tendência de pessoas do sexo feminino terem maior pro-cura para cirurgia bariátrica do que as do sexo masculino. Assim, pode-se inferir que existe um maior número de mulheres com problemas de obesidade que procuram esse tipo de cirurgia. Esse fato pode estar relacionado a diversos fato-res, como questões relacionadas à estética, maior pré-disposição para engordar devido a múlti-plas gestações, questões culturais, entre outras. Além disso, o fato de que as mulheres frequente-mente procuram mais atendimento médico que os homens também pode ter contribuído para os resultados encontrados na pesquisa.

Page 8: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

52 Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Oliveira M, El Hassan S

A idade dos pacientes avaliados variou de 27 a 50 anos. Segundo a Sociedade Brasileira de Ci-rurgia Bariátrica e Metabólica, cerca de 70% das pessoas que fazem cirurgia bariátrica no Brasil são mulheres entre 35 e 45 anos. Esse dado cor-robora com os resultados encontrados no tra-balho atual.

Diversos autores vêm relacionando alterações auditivas às alterações metabólicas. Estas po-dem estar relacionadas à resistência periférica à insulina, à hiperinsulinemia, e à dieta hiper-lipídica que pode levar a lesões das células ci-liadas, prejudicando o funcionamento normal da orelha interna. Além disso, alguns trabalhos têm demonstrado que sintomas de comorbi-

dades tiveram grande melhoria após o proce-dimento de cirurgia bariátrica. Em trabalhos realizados por autores diversos10,11, observou-se que a maioria das voluntárias relataram que todas as comorbidades maiores foram resolvi-das e as outras melhoraram após a cirurgia ba-riátrica. Maggard et al.12, relataram que a perda média de 61% do excesso de peso se relaciona à melhora de diabetes melito tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, síndrome da apneia obstruti-va do sono e dislipidemia. Em estudo realizado por Buchwald et al.4 , a perda de 20 a 30 kg nos pacientes avaliados, mantida após dez anos, as-sociou-se à redução das comorbidades e da taxa de mortalidade para menos de 1% em pacientes com IMC superior a 40 kg/m2.

Tabela 4.

Correlação de Pearson entre as variáveis analisadas em 10 pacientes pré-cirurgia bariátrica

IDADE SEXO HAS DIAB HIPOT GA PCOL UM TONT VERT ZUMB DE-SEQ ADPN ANPMT

IDADE 1 -0,11 -0,45 -0,43 0,19 -0,19 -0,38 -0,78** -0,62 0,25 -0,04 -0,50 0,47 -0,62

SEXO 1 0,50 -0,25 -0,17 0,67* -0,17 0,25 0,17 -0,25 -0,25 0,38 0,17 0,22

HAS 1 0,00 -0,33 0,33 -0,33 0,50 0,33 0,00 0,00 0,50 -0,33 0,65*

DIAB 1 -0,17 -0,17 -0,17 0,25 0,17 -0,25 0,38 0,38 -0,67* 0,22

HIPOT 1 -0,11 -0,11 0,17 0,11 0,67* -0,17 -0,17 0,11 -0,22

GA 1 -0,11 0,17 0,11 -0,17 -0,17 0,67* 0,11 0,51

PCOL 1 0,17 0,11 -0,17 -0,17 -0,17 0,11 -0,22

UM 1 0,67* 0,25 -0,38 0,25 -0,17 0,33

TONT 1 0,17 0,17 0,17 -0,11 0,22

VERT 1 -0,25 -0,25 0,17 -0,33

ZUMB 1 0,38 -0,67* 0,22

DESEQ 1 -0,67* 0,76*

ADPN 1 -0,51

ANPMT 1

** Correlações significativas a 1% de significância.* Correlações significativas a 5% de significância.

Onde: Hipertensão Sistêmica Arterial (HAS), Diabetes (DIAB), Hipotireoidismo (HIPOT), Glico-se Aumentada (GA), e outros (como problema de coluna (PCOL); Zumbido (ZUMBI), Vertigem (VERT), Tontura (TONT), Desequilíbrio (DESEQ); uso de medicamentos (UM); Audição Dentro do Padrão de Normalidade (ADPN), Audição Normal Pela Média Tritonal, Mas Com Piora de Limiar em Frequências Isoladas (ANPMT).

Page 9: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

53Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares

Tabela 5.

Correlação de Pearson entre as variáveis analisadas em 10 pacientes pós-cirurgia bariátrica

IDADE SEXO HAS DIAB HIPOT PCOL UM TONT ZUMB DESEQ ADPN ANPMT

IDADE 1 -0,09 -0,34 -0,44 0,20 -0,36 -0,73* -0,07 -0,50 -0,50 0,50 -0,58

SEXO 1 0,38 -0,25 -0,17 -0,17 -0,10 0,22 -0,17 -0,17 0,17 -0,25

HAS 1 -0,25 -0,17 -0,17 0,41 0,22 -0,17 -0,17 0,17 0,38

DIAB 1 -0,17 -0,17 0,41 -0,33 0,67* 0,67* -0,67* 0,38

HIPOT 1 -0,11 0,27 -0,22 -0,11 -0,11 0,11 -0,17

PCOL 1 0,27 0,51 -0,11 -0,11 0,11 -0,17

UM 1 0,09 0,27 0,27 -0,27 0,41

TONT 1 -0,22 -0,22 0,22 -0,33

ZUMB 1 1,00** -1,00** 0,67*

DESEQ 1 -1,00** 0,67*

ADPN 1 -0,67*

ANPMT 1

** Correlações significativas a 1% de significância.

* Correlações significativas a 5% de significância.

Onde: Hipertensão Sistêmica Arterial (HAS), Diabetes (DIAB), Hipotireoidismo (HIPOT), e outros (como problema de coluna (PCOL); Zumbido (ZUMBI), Tontura (TONT), Desequilíbrio (DESEQ); uso de medicamentos (UM); Audição Dentro do Padrão de Normalidade (ADPN), Audição Normal Pela Média Tritonal, Mas Com Piora de Limiar em Frequências Isoladas (ANPMT).

No estudo atual, verificou-se que houve uma diminuição do número de pacientes que apre-sentavam hipertensão arterial do pré para o pós-cirurgia bariátrica. Além disso, o paciente que apresentava glicose aumentada antes de realizar a cirurgia não apresentou mais esse sintoma seis meses após a cirurgia. Esses resul-tados foram interessantes e são corroborados com os relatos dos trabalhos referidos acima. Além disso, no que se refere à hipertensão arte-rial13, num trabalho relacionado com aspectos nutricionais em obesos antes e após a cirurgia bariátrica, verificou-se que a cirurgia bariátri-ca foi um procedimento eficaz para promover perda ponderal e sua manutenção por dois anos, assim como melhora de parâmetros bioquími-cos e comorbidades, tais como a hipertensão arterial. A obesidade então tem grande relação com hipertensão arterial. Isso foi comprovado em pesquisa realizada em Porto Alegre, que ve-rificou que a enfermidade foi responsável por

aumento de aproximadamente 70% no risco de incidência de hipertensão arterial.

Encontra-se bem estabelecido que a obesidade constitui fator de risco para muitas doenças, com taxas de comorbidade crescentes, como hipertensão, dispneia aos esforços, apneia do sono, artropatias, diabetes mellitus, psicopato-logias, cardiopatias e problemas na mobilidade. Apos as cirurgias bariátricas, a redução do peso é claramente visível, com consequente melhora das comorbidades e da qualidade de vida14. A perda de peso e maior no primeiro ano pós-ope-ratório, diminuindo o ritmo apos este período e atingindo redução máxima entre 18 meses a 24 meses, com consequente estabilização.

No que se refere a sintomas vestibulares, obser-vou-se uma grande melhoria do relato de tontura dos pacientes que realizaram cirurgia bariátrica. Esse sintoma muito relatado antes da cirurgia

Page 10: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

teve uma melhoria de 66% após seis meses de ci-rurgia bariátrica. Os outros sintomas vestibulares também apresentaram mudanças, sendo 100% de melhoria dos casos de vertigem, e 50% de melho-ria nos casos de zumbido e desequilíbrio.

Ferreira et al.15, em trabalho realizado sobre a caracterização do zumbido em idosos e de pos-síveis transtornos relacionados, observou que em relação à distribuição por gênero, dentre as 100 pessoas estudadas, uma frequência maior de mulheres idosas portadoras de zumbido (61,0%) foi verificada. Mondelli et al.16, observaram em trabalho realizado sobre correlação entre os achados audiológicos e incômodo com zumbido, observou que houve predomínio deste no sexo feminino na maioria das faixas etárias, porém esta predominância não foi significativa e tanto no sexo feminino como no masculino ocorreu aumento gradativo do número de pacientes com queixa de desse sintoma com o avanço da idade. O zumbido também foi maioria em indivíduos de sexo feminino no presente trabalho.

Segundo Ferreira et al.15, as comorbidades po-dem ocasionar o surgimento de zumbido, ou precipitar um zumbido insipiente, e na obser-vação feita no trabalho, a amostra apresentou um alto percentual de idosos utilizando medi-camentos (o que implica na polifarmácia co-nhecida entre os idosos) e hipertensos. Na rea-lidade, pouco se tem de concreto, mas é sabido pela prática clínica que alterações nos níveis pressóricos, glicêmicos, de zincemia 19 e até mesmo de compostos da dieta (tais como xan-tinas) interferem na frequência do zumbido. Esses fatos corroboram com os resultados do trabalho atual onde se observou que 80 % dos pacientes utilizavam medicamentos. No entan-to, após seis meses da realização da cirúrgica bariátrica, observou-se uma diminuição do uso de medicamentos, de oito do pré-cirurgia para seis pacientes no pós-cirurgia bariátrica.

Com a realização de testes audiométricos, a grande maioria dos pacientes apresentou au-dição dentro dos padrões de normalidade no pré e no pós-cirurgia bariátrica. No entanto, dos nove pacientes, três apresentavam audição normal pela média tritonal, mas com piora de limiar em frequências isoladas. Observou-se então uma melhora nesse quadro após a cirur-gia bariátrica, sendo que somente dois pacien-

tes permaneceram com essa piora de limiar em frequências isoladas. Esse fato pode estar relacionado também com a perda de peso dos pacientes e a melhoria da qualidade de vida destes, depois de realizarem procedimentos de cirurgia bariátrica.

Estudos mostram que alterações auditivas e vestibulares, podem ser observadas em pacien-tes que apresentam hipertensão arterial sistê-mica, hipotensão arterial, insuficiência cardía-ca, infarto do miocárdio, arritmias e anemias. Pode-se observar a presença de vertigem, zum-bido, baixa de audição, entre outros sintomas, em decorrência do comprometimento periféri-co e/ou central dos sistemas auditivo e/ou ves-tibular7. Em estudo realizado com indivíduos portadores de hipertensão arterial sistêmica, Tiensoli et al.7, encontraram alterações vestibu-lares mais prevalentes que alterações auditivas. Esses resultados corroboram com os resultados encontrados no atual estudo onde a presença de sintomas vestibulares foi maior que os sin-tomas auditivos.

Com os resultados de correlações de Pearson realizados com os dados antes e após cirurgia bariátrica, observou-se uma tendência de que à medida que a idade dos pacientes aumentava, menor era o uso de medicamentos. Esse fato foi interessante já que normalmente pessoas com idade mais avançadas costumam utilizar maiores quantidades de medicamentos. No en-tanto, sugere-se que estudos posteriores sejam realizados a fim de obter resultados realmente conclusivos, visto que o presente estudo foi rea-lizado com somente dez pacientes e num prazo aproximado de seis meses.

Correlações interessantes e significativas fo-ram observadas entre zumbido e desequilíbrio, indicando que normalmente esses sintomas aparecem juntos nos pacientes. Além disso, esses dois sintomas vestibulares se correlacio-naram negativamente com audição dentro dos padrões de normalidade indicando que pacien-tes com audição normal têm menor tendência a ter esses tipos de sintomas. O zumbido, também conhecido como tinnitus ou tinido, é definido como um som nos ouvidos ou na cabeça sem a presença de uma fonte externa. Ele não é uma doença, mas sim o sinal de que alguma coisa está errada. Na verdade, ele pode ser o sintoma

Page 11: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

55Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares

Os sintomas vestibulares preponderaram em relação aos auditivos, nos portadores de obesi-dade mórbida com hipertensão arterial como comorbidade.

Assim, a partir das análises realizadas, foi pos-sível concluir que os sintomas auditivos e ves-tibulares tendem a melhorar após a cirurgia bariátrica.

Embasados na importância do tema, a obesida-de, com suas consequências danosas abrangen-do todo espectro biopsicossocial do individuo, essa pesquisa nos estimula a novas abordagens visando contribuir, prevenindo complicações, reduzindo o consumo de medicamentos com efeitos colaterais e custos elevados e garantindo uma melhoria na qualidade de vida humana.

7. Tiensoli, Luciana. et al. Fatores associados à vertigem ou tontura em indivíduos com exame vestibular normal. Revista CEFAC, São Paulo, jan-mar. 2004. Disponível em: <http://www.ciape.org.br/matdidatico/anacristina/Tontura_3.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2013.

8. Almeida T, et al. Sensação subjetiva do zumbido pré e pós intervenção nutricio-nal em alterações metabólicas. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, out-dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pfono/v21n4/en_05.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2013.

9. Steffen R, Potoczna N, Bieri N, Fritz FH. Suc-cessful multi-intervention treatment of se-vere obesity: a 7-year prospective study with 96% follow-up. Obes. Surg. 2009; 19: 3-12. Pedrosa IV, Burgos MGP de A, Souza NC, Morais CN de. Aspectos nutricionais em obesos antes e após a cirurgia bariátri-ca. Rev. Col. Bras. Cir. Rio de Janeiro. 2009; 36 (4).

de mais de 200 problemas de saúde, que vão de questões odontológicas até psicológicas, pas-sando por questões hormonais, doenças do la-birinto, alterações vasculares, problemas mus-culares e aumento do colesterol1.

Observou-se ainda que pessoas que apresentam quadro de diabetes apresentam também a ten-dência de ter zumbido. O zumbido e as queixas de diminuição na capacidade de escutar são queixas observadas em grande maioria de pa-cientes com diabetes.

CONCLUSÃO

Os indivíduos obtiveram maiores benefícios em relação à melhora das comorbidades, sinto-mas vestibulares e sintomas auditivos quando comparadas as avaliações da primeira e segun-da etapa deste estudo.

REFERÊNCIAS

1. Sanchez TG, et al. Zumbido em pacientes com audiometria normal: caracterização clínica e repercussões. Rev. Bras. Otorrino-laringol. 2005; 71(4): 427-431.

2. Ferreira V, Magalhães R. Obesidade: Ten-dências Atuais. Revista Portuguesa de Saú-de Pública, jul/dez. 2006.

3. Buchwald H. Bariatric surgery for morbid obesity: health implications for patients. Health Professionals and Third-Party Players. Consensus Conference Painel. J. Am. Coll. Surg. 2005; 200 (4): 593-604.

4. Buchwald H, Avidor Y, Braunwald E, et al. Bariatric surgery: a systematic review and meta-analysis (published corrections ap-pears in JAMA. v. 293, p. 1728, 2005). JAMA. 2004; 292: 1724-37.

5. Capella JF, Capella RF. The weight reduc-tion operation of choice: vertical banded gastroplasty ro gastric bypass. Amer. J. Surg. 1996; 171: 74-79.

6. Fobi MA. Surgical treatment of obesity: a re-view. J. Natl. Med. Assoc. 2004; 96 (1): 61-75.

Page 12: Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares no ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...auditivos_vestibulares.pdf · Correlação entre os sintomas auditivos e vestibulares de oxigênio,

56 Com. Ciências Saúde. 2014; 25(1): 45-56

Oliveira M, El Hassan S

dade. Revista de Nutrição, Campinas. 2004; 17: 523-533.

14. Dietel M, Greenstein, R.J. Editorial: Re-commendations for reporting weight loss. Obes. Surg. 2003; 13 (2): 159-160.

15. Ferreira L M de B M, Ramos J, Alberto N, Mendes E P. Caracterização do zumbido em idosos e de possíveis transtornos rela-cionados. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2009; 75 (2).

16. Mondelli MFCG & Rocha AB da. Correla-ção entre os achados audiológicos e incô-modo com zumbido. Arquivos Int. Otorri-nolaringol. (Impr.). 2011; 15 (2): 172-180.

10. Faria OP, Pereira VA, Gangoni CMC, Lins RD, Leite S, Rassi V, Arruda SLM. Obesos mórbidos tratados com gastroplastia re-dutora com bypass gástrico em Y de Roux: análise de 160 pacientes. Brasília Med. 2002; 39 (1-4): 26-34.

11. Titi M, Jenkins JT, Modak P, Galloway DJ. Quality of life and alteration in comor-bidity following laparoscopic adjustable gastric banding. Postgrad Med J. 2007; 83: 487–491.

12. Maggard MA, Shugarman LR, Suttorp M, et al. Meta-analysis: surgical treatment of obesity. Ann Intern Med. 2005; 142 (7): 547-59.

13. Pinheiro ARO, Freitas SFT, Corso ACT. Uma abordagem epidemiológica da obesi-