coradini_estruturas de dominação_interação social em bourdieu e coleman.pdf

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23 BIB, São Paulo, nº 69, 1 o semestre de 2010, pp. 23-41. Introdução Nos últimos anos ocorreu uma crescente expansão dos usos do conceito de capital so- cial. Mais recentemente surgiu também uma literatura crítica ou de questionamento des- ses usos. Um dos principais eixos dessas crí- ticas tem como objeto os usos do conceito de capital social por razões político-ideológicas e, mais especificamente, sua transformação em instrumento de luta a serviço de determi- nadas forças sociais e políticas. Um segundo eixo dessas críticas está centrado em proble- mas de definição conceitual e operacional do capital social. Nessa literatura relativa ao capital social, as principais referências são as definições conceituais de Coleman (1988) e de Bourdieu (1980a), com forte proeminên- cia quantitativa do primeiro. Nessa literatu- ra, a definição de capital social de Bourdieu geralmente é tomada como contraponto positivo, mas meramente de forma alusiva e sem considerar em profundidade suas impli- cações teóricas e analíticas. O objetivo principal deste artigo é de- monstrar que um dos problemas marcan- tes nesses confrontos e críticas em torno do conceito de capital social decorre de seu uso descontextualizado, sem considerar as respectivas bases teóricas e epistemológicas. Esse tipo de ecletismo é muito comum nas Ciências Sociais, no entanto, nesse caso es- pecífico, isso é agravado pela coincidência nominal das noções originárias nos trabalhos de Coleman e de Bourdieu, que têm signifi- Estruturas de Dominação, Integração Social e muito mais: os Confrontos entre as Noções de Capital Social de Bourdieu e de Coleman Odaci Luiz Coradini cados distintos. Para além do ecletismo, as razões para essas apropriações descontextua- lizadas parecem ser diversas e não poderiam ser discutidas em detalhes. Em todo caso, no que tange especificamente ao conceito de ca- pital social, além de sua inserção em deferen- tes configurações semânticas e de interesses, isso está associado a determinada concepção de Ciências Sociais. Nos interesses em pauta, estão incluídos desde aqueles condensados em organizações como o Banco Mundial (um dos principais responsáveis pela difusão de determinadas definições de capital social, especialmente entre economistas), como de- terminados segmentos de disciplinas, como a Ciência Política, que tendem a converter regras sociais ou da moral cívica vigente, como aquela da obrigação da “participação política”, em fundamento das Ciências So- ciais (Memmi, 1985). Porém, para além da inserção e dos usos das Ciências Sociais nes- sas configurações semânticas e de interesses, está presente uma concepção de Ciências Sociais como prática de escolha e “aplicação” de conceitos, numa espécie de permanente busca de analogias. Sendo assim, a apreensão desses signi- ficados requer que os respectivos conceitos de capital social sejam relacionados com o quadro conceitual e com as bases epistemo- lógicas em que foram formuladas. Não se trata de apresentar aqui alguma exegese dos trabalhos desses autores, inclusive porque já se dispõem de muitas, mas de indicar no sen- tido de que tanto para Bourdieu como para

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  • 23BIB, So Paulo, n 69, 1o semestre de 2010, pp. 23-41.

    Introduo

    Nos ltimos anos ocorreu uma crescente expanso dos usos do conceito de capital so-cial. Mais recentemente surgiu tambm uma literatura crtica ou de questionamento des-ses usos. Um dos principais eixos dessas cr-ticas tem como objeto os usos do conceito de capital social por razes poltico-ideolgicas e, mais especificamente, sua transformao em instrumento de luta a servio de determi-nadas foras sociais e polticas. Um segundo eixo dessas crticas est centrado em proble-mas de definio conceitual e operacional do capital social. Nessa literatura relativa ao capital social, as principais referncias so as definies conceituais de Coleman (1988) e de Bourdieu (1980a), com forte proeminn-cia quantitativa do primeiro. Nessa literatu-ra, a definio de capital social de Bourdieu geralmente tomada como contraponto positivo, mas meramente de forma alusiva e sem considerar em profundidade suas impli-caes tericas e analticas.

    O objetivo principal deste artigo de-monstrar que um dos problemas marcan-tes nesses confrontos e crticas em torno do conceito de capital social decorre de seu uso descontextualizado, sem considerar as respectivas bases tericas e epistemolgicas. Esse tipo de ecletismo muito comum nas Cincias Sociais, no entanto, nesse caso es-pecfico, isso agravado pela coincidncia nominal das noes originrias nos trabalhos de Coleman e de Bourdieu, que tm signifi-

    Estruturas de Dominao, Integrao Social e muito mais:os Confrontos entre as Noes de Capital Social de Bourdieu e de Coleman

    Odaci Luiz Coradini

    cados distintos. Para alm do ecletismo, as razes para essas apropriaes descontextua-lizadas parecem ser diversas e no poderiam ser discutidas em detalhes. Em todo caso, no que tange especificamente ao conceito de ca-pital social, alm de sua insero em deferen-tes configuraes semnticas e de interesses, isso est associado a determinada concepo de Cincias Sociais. Nos interesses em pauta, esto includos desde aqueles condensados em organizaes como o Banco Mundial (um dos principais responsveis pela difuso de determinadas definies de capital social, especialmente entre economistas), como de-terminados segmentos de disciplinas, como a Cincia Poltica, que tendem a converter regras sociais ou da moral cvica vigente, como aquela da obrigao da participao poltica, em fundamento das Cincias So-ciais (Memmi, 1985). Porm, para alm da insero e dos usos das Cincias Sociais nes-sas configuraes semnticas e de interesses, est presente uma concepo de Cincias Sociais como prtica de escolha e aplicao de conceitos, numa espcie de permanente busca de analogias.

    Sendo assim, a apreenso desses signi-ficados requer que os respectivos conceitos de capital social sejam relacionados com o quadro conceitual e com as bases epistemo-lgicas em que foram formuladas. No se trata de apresentar aqui alguma exegese dos trabalhos desses autores, inclusive porque j se dispem de muitas, mas de indicar no sen-tido de que tanto para Bourdieu como para

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    Coleman o conceito de capital social tem um significado muito prprio. Num segun-do item so apresentados alguns casos exem-plares das mencionadas posies crticas ao conceito de capital social de Coleman e se-guidores, em geral com referncias positivas mas alusivas ao conceito de Bourdieu.

    Na parte seguinte, apresentada uma sntese dessa discusso mais centrada nas relaes entre capital social, escolarizao e recrutamento de elites1.

    As noes de capital social de Bourdieu e de Coleman e seus fundamentos

    No que tange ao conceito de capital social de Bourdieu, antes de considerar sua insero no respectivo quadro conceitual, necessrio ter em conta a prpria concep-o de Cincias Sociais. Tendo em vista o normativismo que est na base da sociologia de Coleman, conforme exposto adiante, necessrio destacar que Bourdieu concebe as Cincias Sociais com uma racionalidade prpria, cuja condio necessria funda-mental sua autonomia relativa. Mesmo sem detalhar as ligaes desses fundamentos com o legado de M. Weber2, necessrio destacar, em primeiro lugar, o requerimento de uma racionalidade prpria das Cincias Sociais, com seus fundamentos no racio-nalismo aplicado e, portanto, de ruptura com as lgicas prticas. dessa autono-mia relativa que decorre a possibilidade de tomar as lutas pelas classificaes legtimas e pela formulao e imposio de universais como objeto de anlise, o que implica o dis-tanciamento diante de qualquer adeso pri-mordial a alguma ordem social (Bourdieu, 1991, p. 376; 1982).

    Embora possa parecer elementar, tendo em vista as resistncias multidimensionali-dade pretendida por essa abordagem, devem

    ser destacadas tambm as relaes das dife-rentes espcies de capital com os processos de objetivao e de legitimao social. A pr-pria estrutura do espao social consiste nas relaes de fora entre o montante e entre diferentes espcies de capitais e respectivos princpios de legitimao e dominao. Por-tanto, a posio social decorrente do mon-tante e da composio do capital possudo. A emergncia de um espao social multidi-mensional implica a existncia de uma plu-ralidade de campos, com maior ou menor autonomia relativa (Bourdieu, 1989, p. 373-383; 1979, p. 109-185). Ou seja, se, por um lado, a modernidade ocidental se caracteri-za pela crescente autonomizao relativa de diferentes esferas ou campos, esses campos de ao consistem na objetivao social e histrica de determinados recursos e dos res-pectivos princpios de legitimao contidos com maior ou menor grau de autonomia ou, ento, de heteronomia. Trata-se de recursos e princpios de legitimao de ordens distintas, com graus variados de autonomia, de con-tradio entre si e de conversibilidade dos recursos constitutivos. Esses recursos podem ser socialmente objetivados e institucionali-zados e, consequentemente, convertidos em ttulos, cujo valor transcende a transitorieda-de individual do respectivo portador, visto que est diretamente associado ao respectivo recurso ou capital e princpio de legitimao e de hierarquizao socialmente objetivado.

    Em sntese, para Bourdieu, o capital como trabalho acumulado dividido em duas formas de objetivao social. Na pri-meira, obtido pela materializao e, na segunda, pela incorporao. Essas duas formas de objetivao do capital dependem do tempo necessrio para a acumulao. A estrutura da distribuio dos diferentes ti-pos e subtipos de capital em determinado momento representa a estrutura imanente do mundo social. Uma vez que, depen-

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    dendo da rea em que funciona, e o custo da transformao mais ou menos extenso [...] o capital pode se apresentar de trs formas fundamentais, como capital econmico, como capital cultural e, como capital social (Bourdieu, 1986, 16-17). Essas diferentes formas de capital e a multidimensionalida-de da estrutura social subjacente so o ponto de partida para sua crtica, em particular, da teoria do capital humano. Em termos gerais, a lgica do funcionamento real do capital, as converses de um tipo para outro [...] no pode ser entendida sem a superao de duas vises parciais opostas, ou seja: o economi-cismo, que reduz o capital ao capital econ-mico e ignora a eficcia especfica de outras formas de capital, e semiologismo, que reduz a trocas sociais aos fenmenos de comunica-o (ibidem, p. 24).

    exatamente na objetivao social e institucionalizao dos recursos e princpios de legitimao que se localiza uma das prin-cipais especificidades do capital social nessa perspectiva. Diversamente de outras espcies de capital, que constituem determinado re-curso respaldado no respectivo princpio de legitimao, com suas regras especficas que remetem a um espao com maior ou menor grau de objetivao social, o capital social irredutvel. Dito em outras palavras, o capital social no se objetiva em nenhum campo e no passa por qualquer processo de institucionalizao e oficializao, ou seja, no convertido em algum universal. Sua existncia e utilizao implica a presena de redes de relaes originalmente formadas para outros fins (de parentesco, amizade, coleguismo escolar ou profissional) em es-paos ou campos e respectivas instituies. Cabe notar que, como indicado adiante, tambm para Coleman o capital social particularstico, mas num sentido comple-tamente distinto, ou seja, por se opor s posi-es que estruturam as organizaes formais,

    o que o torna moral e socialmente positivo e defensvel. Na definio original de Bour-dieu, trata-se do conjunto de recursos atuais ou potenciais ligados posse de uma rede de relaes mais ou menos institucionalizadas e de interconhecimento. Trata-se tambm do princpio dos efeitos sociais que, embora claramente apreensveis ao nvel dos agentes singulares [...] no se deixam reduzir ao con-junto das propriedades individuais possudas por um determinado agente (Bourdieu, 1980a, p. 2. Grifos no original). Sendo as-sim, pelo menos nos respectivos campos que constituem as esferas de atividades profissio-nais nas sociedades capitalistas ocidentais, o capital social nunca legtimo enquanto tal, visto que contradiz o princpio de legitima-o do respectivo campo objetivado e insti-tudo, seja econmico, da cultura erudita, escolar, poltico ou outro qualquer.

    Portanto, as relaes do capital social com as demais espcies de capital depen-dem das condies histricas das estruturas sociais. Sinteticamente, num polo se situam condies como aquelas dos kabile, onde, na ausncia de campos objetivos, historicamen-te constitudos, a dominao est baseada na acumulao e manipulao de capital sim-blico e relaes personificadas. No extremo oposto, esto sociedades modernas, nas quais o capital social constitui um recurso dene-gado na dominao por meio de estruturas legitimadas atravs de universais3, como o meritocratismo escolar. Nessas condies, a importncia do capital social aumenta me-dida que so enfocadas as situaes e esferas mais prximas da elite ou da poltica, onde os demais recursos e princpios de legi-timao tm mais dificuldades em se impor de modo exclusivo.

    Em resumo, nas relaes entre o capi-tal social com as demais espcies de capital entra em pauta o problema da objetivao social dos meios de ao e dominao e dos

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    princpios de legitimao que os respaldam. Com a objetivao social dos mecanismos de dominao atravs da formao de campos e instituies e agentes especializados, diminui a importncia dos recursos que dependem dos esforos pessoais para sua manuteno. Em seu lugar, passam a existir relaes es-tritamente estabelecidas e juridicamente ga-rantidas, definidas pelo seu rang num espao relativamente autnomo de posies e com existncia prpria, distinto e independente de seus ocupantes atuais e potenciais, eles mesmos definidos por ttulos que, como os ttulos de nobreza, os ttulos de proprieda-de ou os ttulos escolares, os autorizam a ocupar essas posies (Bourdieu, 1980b, p. 227-228. Grifos no original). Consequente-mente, por oposio autoridade pessoal, o ttulo, enquanto medida de rang e de or-dem, ou seja, enquanto instrumento formal de avaliao da posio dos agentes numa distribuio, permite estabelecer relaes de equivalncia (ou de comensurabilidade) quase perfeitas entre agentes definidos como pretendentes apropriao de uma classe particular de bens, propriedades imobili-rias, dignidades, cargos, privilgios, e esses bens, eles prprios classificados, regulando, assim, de maneira durvel, as relaes entre esses agentes do ponto de vista de sua ordem legtima de acesso a esses bens e aos grupos definidos pela propriedade exclusiva desses bens (idem, ibidem). Mas isso no implica um processo evolutivo de substituio global e total de um modo de dominao por ou-tro (como alguma teoria da modernizao poderia sugerir), havendo a convivncia con-traditria de recursos e princpios de legiti-mao diversos, inclusive aqueles com base em redes de relaes personificadas.

    Mas, como o capital social no se le-gitima enquanto tal relativamente a algum campo determinado, sua importncia au-menta medida que as ligaes so mais

    numerosas e intensas, mas tambm, mais ocultas. Muito de sua eficcia decorre do fato de que ficam desconhecidas ou mes-mo clandestinas, como o caso das relaes de parentesco relativamente distantes4. Para Bourdieu (1989, p. 418. Grifos no original), se o capital social relativamente irredu-tvel s diferentes espcies de capital, e em especial ao capital econmico e ao capital cultural [...], sem ser, no entanto, comple-tamente independente, porque o volume do capital detido a ttulo individual por um agente individual incrementado com um capital detido por procurao, o que depen-de do volume do capital detido por cada um dos membros dos grupos dos quais ele faz parte, e do grau de integrao desses grupos: famlia, corporaes etc..

    Do mesmo modo que para Bourdieu, o conceito de capital social de Coleman deve ser compreendido em sua inscrio na res-pectiva concepo de Cincias Sociais, suas bases epistemolgicas e quadro conceitual. No que tange concepo de Cincias So-ciais ou, mais especificamente, de sociologia de Coleman, as diferenas relativamente Bourdieu esto na prpria raiz e abrangem a concepo de racionalidade, o quadro con-ceitual, as relaes entre a Sociologia e a mo-ral e as aes prticas em geral e com as de-mais Cincias Sociais e particularmente com a Economia. Como j mencionado, no caso de Bourdieu pressuposta uma racionalida-de prpria na qual as Cincias Sociais se ins-crevem, onde o distanciamento frente s ra-zes prticas do mundo e das lutas sociais uma condio necessria. Para Coleman, as Cincias Sociais, ou a Sociologia, constituem uma espcie de engenharia social a servio de uma empresa moral, tendo o controle e a integrao social como principal problema a ser enfrentado. As bases epistemolgicas des-sa concepo de Sociologia provm de duas fontes principais, que so a Economia neo-

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    clssica, particularmente a teoria do capital humano de Becker e Schultz e a teoria da rational choice. Trata-se de uma posio ba-seada numa teoria da ao intencional e na aceitao de uma forma de individualismo metodolgico (Coleman, 1986, p. 1310). O prprio Coleman destaca uma srie de ponderaes e de demarcaes frente quilo que considera como individualismo excessi-vo ou atomstico. Assim, pretende, simulta-neamente tomar ao racional como ponto de partida, mas rejeitando as premissas do extremo individualismo que frequentemente a acompanham. Como detalhado a seguir, tendo em vista esse problema que ele intro-duz o conceito de capital social (Coleman, 1988, p. 95 e 97)5.

    Porm, essa introduo de conceitos como o de capital social, das relaes pri-mordiais ou de sistema social, em sntese, da-quilo que visto como no econmico, pode diferenci-lo, mas no exclu-lo dos esque-mas da Economia neoclssica e da teoria da rational choice. Ocorre que a racionalidade da ao pressuposta nessas relaes tambm se circunscreve ao que considerado como purposive, no apenas descartando qualquer sociologia das disposies, mas tambm tudo o que fosse alm do utilitrio. Portan-to, essa expanso dos esquemas da Economia neoclssica, particularmente da teoria do ca-pital humano de Becker e da rational choice tem como base uma concepo de racionali-dade que alguns comentaristas criticam por se restringir racionalidade instrumental (Steiner, 2003, p. 214), mas que seria mais bem definida como meramente utilitarista. Trata-se daquilo que, da tica de Bourdieu (1980b, p. 84) consiste numa espcie de uma construo antropolgica ou concepo de natureza humana como homo economicus. Sendo assim, a incluso dessas relaes no econmicas na abordagem constitui uma es-pcie de extenso dos esquemas da economia

    neoclssica e, particularmente, da teoria do capital humano de Becker, visto que inscreve toda lgica da ao quilo que utilitrio. Consequentemente, inclusive autores e tra-balhos tidos como base dos fundamentos da Sociologia perdem importncia e as menes a Durkheim, em geral, tm mais o sentido de inclu-lo com um precursor das preocu-paes relativas aos problemas de integrao social e menos como fonte de algum instru-mental analtico.

    Portanto, no que tange s Cincias So-ciais, inclusive como decorrncia da insero nos esquemas da Economia neoclssica e da teoria da rational choice, Coleman tem uma concepo estritamente de engenharia so-cial. As Cincias Sociais no contariam com alguma racionalidade prpria, estando a servio da empresa moral de enfrentamento do problema do controle e integrao social. Desse modo, as Cincias Sociais comparti-lham da mesma racionalidade dos protago-nistas do mundo social, apesar das diferenas quanto aos meios de conhecimento, numa posio semelhante da Economia aplicada. Para Coleman, com a eroso das relaes e instituies primordiais e das organizaes voluntrias devido ao crescimento das orga-nizaes formais, a prpria Sociologia teria adquirido uma posio reflexiva (Cole-man, 1986, p. 1319). Porm, trata-se de algo completamente distinto da reflexibilidade das Cincias Sociais para Bourdieu (2001, p. 167-184), no sentido do exame da prpria objetivao e dos condicionamentos sociais e busca de maior autonomia enquanto cincia social. Para Coleman, a reflexividade tem o significado de maior eficcia enquanto ins-trumento da empresa moral, tendo em vista o papel de guia enquanto organizations designer. Isso porque, para Coleman (1986, p. 1310 e 1319), a razo de ser das Cincias Sociais constituir a ligao entre a teoria social positiva e filosofia social.

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    Alm dessa expanso dos esquemas da Economia neoclssica e da teoria da rational choice, atravs da incluso das relaes no econmicas na mesma racionalidade, um segundo fundamento da abordagem de Co-leman, que deve ser destacado para melhor apreenso de seu conceito de capital social, a empresa moral subjacente, a qual est re-lacionada prpria concepo de Cincias Sociais. Embora Putnam possa ter adquirido mais publicidade como difusor de determi-nada moral cvica, baseada na defesa do ca-pital social, boa parte das publicaes de Co-leman6 podem ser vistas como programas de diagnstico e de prescries para o enfrenta-mento daquilo que visto como a grande transformao e problema social do mundo moderno. Trata-se da j mencionada ero-so das chamadas relaes e organizaes primordiais e, consequentemente, do capital social e sua substituio por organizaes formais ou organizaes propositalmente construdas. Esses processos teriam provo-cado mudanas inclusive na teoria social e na pesquisa (Coleman, 1993, p. 1). Com a eroso das relaes e instituies primordiais e informais e o crescimento das organizaes formais, e o reconhecimento da impossibi-lidade de alguma forma de retorno ao pas-sado, o conjunto de proposies definidas como organizacional design, que estaria a cargo da Sociologia, consistem numa srie de medidas que tm em comum a introdu-o e o incentivo s relaes informais nas organizaes formais. Em geral, essas medi-das apontam no sentido de algum tipo de capitalismo de gesto, em oposio ao que poderia ser designado como capitalismo de comando.

    nessa extenso dos esquemas da Eco-nomia neoclssica e da teoria da rational choice e na empresa moral dirigida ao enfren-tamento do problema do controle e da inte-grao social que o conceito de capital social

    de Coleman se inscreve. Em termos nomi-nais, essa inscrio do conceito de capital so-cial semelhante quela de Bourdieu, visto que se situa na oposio entre as relaes pri-mordiais, que, para Coleman, so particula-rsticas, e as organizaes formais. Ou seja, o capital social est fundado nas organizaes primordiais, que ultimamente so repre-sentadas principalmente pela famlia sua estrutura consiste de pessoas e relaes en-tre as mesmas , enquanto, no caso do ator corporado propositalmente construdo, a estrutura formada por posies e ofcios, onde as pessoas so apenas ocupantes tem-porrios das posies (Coleman, 1993, p. 1). nesse sentido que o capital social particu-larstico, por estar baseado em organizaes primordiais e, portanto, sendo difuso, atribu-tivo (ascriptive) e afetivamente expressivo (Co-leman, 1991, p. 2). Ao contrrio do signifi-cado do particularstico de Bourdieu, para Coleman exatamente esse particularismo que torna as relaes primordiais ou, mais especificamente, o capital social moralmen-te positivo e socialmente eficaz, visto que se ope s organizaes formais estruturadas por posies.

    Como a expanso de outras formas de capital, o capital social para Coleman se-melhante ao capital financeiro, capital f-sico e capital humano, porm, como est embebido nas relaes entre pessoas (Co-leman, 1988, p. 118), tem algumas caracte-rsticas prprias. Esse capital social constitui um tipo particular de recurso disponvel para um ator, sendo identificado por suas funes, com dois elementos em comum: consistem de alguns aspectos das estruturas sociais, e facilitam certas aes dos atores no interior da estrutura. Tal como outras formas de capital, o capital social produ-tivo. Desse modo, gera tanto resultados eco-nmicos como no econmicos, inclusive capital humano. Em primeiro lugar, porque

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    possibilita mudanas nas relaes entre as pessoas que facilitam a ao. Embora seja parcialmente conversvel, menos tangvel que o capital fsico e o capital humano, visto que existe nas relaes entre as pessoas, mas como o capital fsico e o capital humano, o capital social facilita a atividade produtiva (Coleman, 1988, p. S98 e S100-S101). Em todo caso, h uma variedade de recursos que podem constituir capital social, sendo a confiana no meio social e a extenso da obrigao (ibidem, p. 102) suas formas mais gerais. Outra forma importante de ca-pital social constituda pelas informaes inerentes nas relaes sociais, visto que importante para fornecer uma base para a ao. Ainda outro tipo de capital social constitudo pelas normas e sanes efeti-vas, pois quando a norma existe e efetiva, constitui-se em uma poderosa forma de ca-pital social, contribuindo para o controle e a integrao social (ibidem, p.104). Mas, alm dessas formas de capital social, h ainda uma tida como mais importante e que seu efeito a criao de capital humano na prxima gerao. Trata-se do capital social contido na base familiar (family background), que de-pende do capital financeiro e do capital hu-mano de seus componentes (ibidem, p.109). O capital social na famlia e na comunidade desempenha papis de criao.

    Como parece evidente, no se trata de alguma definio de capital social concei-tual e operacionalmente mais delimitada, incluindo uma grande quantidade de com-ponentes e ambivalncias. Operacional-mente, isso resulta em problemas na escolha e definio dos indicadores do capital social, muitos sendo associados de modo indireto a algum tipo de integrao social (ver, por exemplo, Coleman, 1988). Outro eixo de problemas decorrentes dessa definio con-ceitual est ligado s dificuldades de exclu-so de efeitos circulares. Por exemplo, a

    constatao da associao positiva de algum indicador de integrao social ou familiar com o desempenho escolar pode ser tomada como relao causal, mas pode tambm ser o efeito de outros recursos sociais ou eco-nmicos nesse desempenho. De modo se-melhante, pressuposto, por um lado, um efeito positivo do capital social no engaja-mento cvico; por outro, esse engajamento cvico definido conforme a moral cvica em voga, geralmente associada ao chamado modelo pluralista. Em todo caso, no cabe-ria discutir esse tipo de problema operacio-nal nos limites do presente artigo, bastando destacar que esse conceito de capital social, apesar da coincidncia nominal com aquele de Bourdieu, tem em vista outros problemas e objetos de investigao.

    As crticas s definies e usos do conceito de capital social e seus limites

    Como j mencionado, aps a forte ex-panso dos usos dos conceitos de capital social, particularmente aqueles originrios nos trabalhos de Coleman e seus desdobra-mentos nas aplicaes em estudos de temas e problemas crescentemente diversificados, comearam a se intensificar tambm as pu-blicaes com avaliaes crticas desses usos. A hiptese geral deste artigo que as prin-cipais limitaes dessas crticas decorrem do fato de estarem centradas nos respectivos conceitos de capital social de Coleman, de Bourdieu ou de outros autores, e nos pro-blemas tcnicos em sua mensurao, via de regra no incluindo as bases epistemolgicas e tericas dessas noes.

    No seria possvel apresentar em deta-lhes no momento essa expanso e desdobra-mentos das controvrsias relativas ao con-ceito de capital social. Por isso, so tomados apenas alguns casos exemplares no que tange

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    Sociologia poltica, ao desenvolvimentis-mo e chamada nova Sociologia econmi-ca, e, no item seguinte, so includos alguns trabalhos relacionados com o estudo da es-colarizao.

    Tanto em termos cronolgicos como de difuso, as crticas aos usos do conceito de capital social formuladas por Portes encon-tram-se entre as primeiras. Em geral, essas crticas esto centradas em dois aspectos. Em primeiro lugar, so destacados os problemas conceituais e epistemolgicos envolvidos no conceito de capital social, particularmente em relao quele originrio nos trabalhos de Coleman e, em segundo lugar, seus usos poltico-ideolgicos. No que tange aos pro-blemas conceituais, Portes destaca a excessiva amplitude da aplicao do conceito, em dife-rentes contextos, particularmente por parte de Putnam (Putnam et al., 1994; Putnam, 1995), do que resultou sua definio como algo coletivo e no mais apenas de carter individual7. Como corolrio dessa definio, ocorreria uma confuso entre o capital social e os benefcios derivados do mesmo, como uma espcie de raciocnio circular (Portes e Landolt, 1996, p. 19; Portes, 1998, 2000). Quanto aos usos poltico-ideolgicos do ca-pital social, fica evidente que os fundamen-tos da crtica de Portes esto fortemente cen-trados em princpios normativos, ou, mais especificamente, no esforo em distinguir o lado bom ou alto em oposio ao lado ruim ou baixo do capital social. Para Por-tes, os mesmos mecanismos apropriveis por indivduos ou grupos como capital social podem ter consequncias menos desejveis para outros. O mais importante a destacar que, conforme o prprio Portes, esse lado baixo do capital social deveria ser ressalta-do para evitar a armadilha da apresentao do controle social e das sanes como bn-os e para manter a anlise nos limites da anlise sociolgica sria, sem moralismo.

    Portanto, a prpria crtica aos usos moralis-tas do conceito de capital social pode conter um carter prescritivo. Em sntese, trata-se de efeitos sociais positivos e negativos, cuja crtica vai na direo, basicamente, da exclusividade e consequente restrio da par-ticipao dos demais na relao ou categoria com mais capital social. A exemplo da maior parte das crticas aos usos do conceito de ca-pital social, tambm para Portes o conceito de Bourdieu destacado positivamente, em oposio queles originrios ou utilizados por Coleman, Putnam e seguidores. Porm, nesse caso tambm, o conceito de capital so-cial isolado do respectivo quadro conceitu-al em que foi formulado, sendo confrontado diretamente com os conceitos concorrentes, no tendo maiores consequncias analticas. Em todo caso, se trataria de uma formulao teoricamente mais requintada, que consis-te em algo instrumental e individual, alm da conversibilidade das diferentes formas de capital, inclusive, do capital social.

    Mais prximo da problemtica, e das polmicas, em torno daquilo que designa-do como desenvolvimentismo, o trabalho de outro dos principais crticos dos usos do conceito de capital social, Harriss (2002) tem como principal objeto de crtica algo um pouco distinto. O principal foco de sua crtica a transformao do conceito de ca-pital social, tomado na definio originria de Coleman, em componente do arsenal das ideologias do desenvolvimento, com as ca-tegorias correlatas, como participao, so-ciedade civil, confiana, organizaes no governamentais e categorias do gnero, com apoio numa srie de interesses e instituies, dentre as quais se destacam aquelas vincula-das ao Banco Mundial (ibidem, p. 2). Mas, nesse caso tambm, em termos conceituais e analticos, as principais crticas se dirigem a: (a) usos dos conceitos de capital social de Coleman e Putnam como algo universal

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    e no especfico e contextual; (b) noo metafrica de capital social que emerge dos trabalhos de Putnam e as consequentes confuses entre confiana interpessoal e le-gitimidade das instituies; (c) excluso do papel das instituies estatais, substitudas por ideias como engajamento cvico, em associao com aquela de sociedade civil, entre outras crticas na mesma linha. Em sntese, o pensamento corrente sobre desen-volvimento passou a estar referido ideia de bom governo, em associao com aque-las de sociedade civil, descentralizao, participao, empoderamento, entre ou-tras e, atravs disso, ocorre a despolitizao dos problemas (ibidem, p. 41-43). Como praticamente em todas essas crticas aos usos do conceito de capital social, nesse caso tam-bm o conceito de Bourdieu destacado po-sitivamente. Porm, essas referncias so me-ramente alusivas, sem contemplar o esquema analtico em que esse conceito se inscreve e sem maiores consequncias para a anlise. Mas as referncias positivas ao conceito de capital social de Bourdieu no impede a concluso mais geral de que o mesmo teria uma concepo bastante catica de capital (ibidem, p. 20). exatamente a premissa da diferenciao social e da multidimensionali-dade, base de definio de qualquer espcie de capital para Bourdieu, que se torna o obs-tculo para a apreenso de qualquer conceito de capital, com exceo daquele de capital social, que confrontado diretamente com os conceitos concorrentes, mas dissociados de seus fundamentos tericos.

    Nessa linha de crticas aos conceitos concorrentes de capital social em associao com as polmicas em torno do chamado de-senvolvimentismo destaca-se tambm, por ser exemplar, o trabalho de Callahan (2005) sobre corrupo poltica na Tailndia. Nesse caso, fica mais explcita a utilizao de um esquema de avaliao normativo, com um

    polo positivo e outro negativo do capital social e, simultaneamente, as menes geral-mente alusivas, e sempre positivas, ao con-ceito de capital social formulado por Bour-dieu. Antes de pressupor alguma coerncia do capital social, pretende demonstrar que deve ser distinguido um polo positivo e outro negativo do capital social. O polo negativo do capital social consiste em fe-nmenos como a corrupo e o crime or-ganizado (ibidem, p. 495). Sendo assim, o capital social poderia aparecer tanto atravs de aes positivas ou cvicas como nega-tivas ou no cvicas (corrupo e cliente-lismo). Tendo isso em vista, Callahan pre-tende utilizar o conceito de capital social de Bourdieu para expandir o foco terico no estudo das relaes entre a populao, o Estado e a sociedade (ibidem, p. 497). Essa ampliao do escopo dos problemas abor-dados, no entanto, no diminui a centrali-dade do capital social cvico e incvico e categorias correlatas, tais como sociedade civil e corrupo, o que vai de encontro concepo das Cincias Sociais com base na autonomia e racionalidade prpria defendi-da por Bourdieu.

    O trabalho de Fine (2001) relativo ao capital social, numa posio explcita de economista, um dos mais abrangentes, mas tambm mais polmicos. O princi-pal ponto de discordncia relativamente a Bourdieu est na prpria definio de ca-pital e, por extenso, de capital social. A discordncia central refere-se multipli-cidade de formas de capital proposta por Bourdieu e falta de especificao, devido no circunscrio ao capitalismo. Isso iria de encontro com a orientao de Bourdieu de uma formulao terica segundo a qual os capitais so social e historicamente con-textuais e construdos (Fine, 2001, p. 53-54 e 170). Ou seja, o principal ponto da crtica tem como objeto aquilo que a definio de

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    capital, inclusive de capital social de Bour-dieu, teria de mais importante e especfico, a saber, a capacidade de captar a multidi-mensionalidade das estruturas e prticas sociais. Por outro lado, o mesmo Fine que apresenta um dos diagnsticos mais con-tundentes no que tange s dificuldades da expanso da utilizao do conceito de ca-pital social de Bourdieu, comparativamente quele de Coleman e seguidores. Dentre as razes da pequena utilizao do conceito de Bourdieu so destacadas a alta abstra-o que caracteriza os trabalhos de Bour-dieu e a teoria social francesa e o fato de Bourdieu estar ligado ao estudo da cultu-ra, o que tornaria a leitura de seu trabalho mais exigente quanto ao conhecimento do campo dos estudos culturais e a confuso provocada pela amplitude da abordagem, fazendo com que possa ser tomado tanto como uma posio marxista dogmtica determinista como, no extremo oposto, da subjetividade ps-modernista (ibidem, p. 53-64). Em sntese, para Fine, a atrao do conceito de capital social decorreria menos de seus fundadores que das demandas e das condies do trabalho intelectual da poca, particularmente no que tange s presses para o aumento da quantidade de publica-es (ibidem, p. 191).

    Por fim, no que se refere chamada nova Sociologia econmica, deve ser des-tacado, em primeiro lugar, que, apesar de originalmente ligada definio de capital social de Coleman, acabou constituindo uma abordagem prpria. O capital social definido como embebido na estrutura so-cial e posto em prtica atravs de redes (Lin, Cook e Burt, 2008). O segundo ponto a ser destacado que, se por um lado, ao tomar o capital social como embeddeness, o aproxima do conceito de Bourdieu, embora no o tor-ne redutvel. Por outro lado, h uma posio explcita de adeso primordial a determinada

    ordem social como fundamento metaterico da abordagem e a tendncia de reduo ca-ricatural da abordagem de Bourdieu a algo centrado na denncia da existncia de uma classe dominante. Para Lin (2008, p. 25), a principal diferena entre o conceito de capi-tal social de Bourdieu e o de Coleman estaria no fato de que, para o primeiro, esse concei-to representa um processo pelo qual indi-vduos na classe dominante, atravs do co-nhecimento e reconhecimento, reproduzem um grupo privilegiado. Assim, essa posio terica poderia ser caracterizada como ven-do o capital social como privilgio de classe. Em termos de genealogia, se poderia ver em Bourdieu uma extenso e elaborao da no-o de capital de Marx, enquanto o esque-ma de Coleman, do capital social visto como um bem pblico, seria uma extenso e elabo-rao da viso integrativa das relaes sociais de Durkheim. A principal justificativa para a superao das teorias clssicas calcadas nas relaes entre classes estaria no fato de que atualmente as relaes sociais entre classes se tornaram desfocadas, com a consequente modificao da imagem da estrutura social e a possibilidade do surgimento das teorias neocapitalistas (ibidem, p. 6).

    Porm, nesse caso, os confrontos so de ordem fundamentalmente metaterica ou com referncia questo de adeso primor-dial determinada ordem social, visto que se trata de uma abordagem mais delimita-da e circunscrita. O capital social constitui basicamente um instrumento de anlise e apreenso dos resduos ou imperfeies do mercado, o que , simultaneamente, ob-jeto central da abordagem e valor implcito. Assim, se trata das relaes e recursos no econmicos no mercado, postos em prtica atravs de redes (ibidem, p. 12). Na verso de Burt (2008, p. 34-35), a escolha da melhor troca no mercado requer informaes sobre bens disponveis e o capital social um meio

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    de intermediao de oportunidades atravs da mediao de indivduos em posies dis-tintas (os structural holes)8. A expanso dessa abordagem centrada na anlise de redes e tomando o capital social como algo positi-vo, geralmente com a utilizao de intensa modelizao matemtica, resultou numa relativamente extensa quantidade de traba-lhos empricos. Alm do problema relativo da maior eficcia dos vnculos fortes ou fracos, boa parte desses trabalhos apresenta constataes empricas dos efeitos e dos li-mites do capital social em diferentes merca-dos de trabalho (ver, entre outros, Mardsen, 2008; Flap e Boxman, 2008; Fors, 1997) e inclusive do papel que o capital social exer-ce na explorao e na desigualdade, na li-nha de argumentao j destacada, de Portes e Landolt (1996), como o caso de Erickson (2008, p. 128).

    As relaes com a escolarizao na origem das formulaes do conceito de capital social e das divergncias

    Ao mesmo tempo que a anlise dos efei-tos da escolarizao est diretamente presen-te nas formulaes e nos usos dos respectivos conceitos de capital social tanto para Bour-dieu como para Coleman, no exame dessa temtica que os significados prprios e apro-priaes variadas ficam mais evidentes. Para Bourdieu (1984, 1989) o conceito de capital social na anlise da escola constitui um ins-trumento analtico para a apreenso daque-les recursos embebidos nas redes de relaes personificadas e, portanto, particularsticas, subjacentes estrutura de poder e especial-mente nas organizaes empresariais e buro-crticas, cuja principal sociodiceia tem como base o meritocratismo escolar. Esse tipo de vnculo e de recurso se contrape e ao mes-mo tempo interage com o pretenso univer-salismo e as sociodiceias associadas ao meri-

    tocratismo escolar. Para Coleman (1988, 1990), o capital social, no que tange escola, constitui um recurso bsico, no apenas por ser moralmente positivo mas por ter efeitos no desempenho escolar e, por consequncia, gerar capital humano. Em sntese, o capital social pode ter um significado de recurso de hierarquizao escolar e social ou, ento, in-cremento pedaggico que contribui para o desempenho escolar, o capital humano e o controle e integrao social.

    Sendo assim, no surpreendente que nos usos de diferentes definies de capital social nos estudos de escolarizao onde as divergncias e mal-entendidos so particu-larmente fortes. Nesse caso tambm, na im-possibilidade de uma apresentao exaustiva, so destacados apenas alguns casos exempla-res. A preponderncia quantitativa absoluta do conceito de capital social de Coleman nesse tipo de estudo, pelo menos para os Estados Unidos, foi constatada no balano de Dika e Singh (2002). Porm, mais que essa constatao, o importante a destacar que inclusive para os autores desse balano a abordagem de Bourdieu (ou seja, a hierar-quizao social com base numa estrutura de capital e as respectivas posies sociais, onde est includo o capital social) reduzida ao capital social como um instrumento da classe dominante. Em contraposio, para Coleman se trataria de controle social posi-tivo (Dika e Singh, 2002, p. 33). Essa pre-dominncia absoluta do conceito de capital social de Coleman no conjunto de trabalhos analisados, em detrimento daquela de Bour-dieu, decorreria do fascnio com a ideia de que estamos em declnio social, o que leva ao argumento de que a fonte do nos-so descontentamento encontrada na falta de controle e coeso social, em oposio ao aumento da desigualdade (ibidem, p. 46).

    Como caso exemplar de posio con-trria a essa, inclusive, de boa indicao da

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    variedade de usos possveis de conceitos como o de capital social na anlise do uni-verso escolar, o trabalho de Burris (2004) muito ilustrativo. Trata-se de uma anlise dos efeitos do capital social nas relaes entre a obteno do ttulo de doutor e o ingres-so no mercado de trabalho. O importante a destacar que, por um lado, esse trabalho se inscreve no esquema de anlise de redes prprio da nova Sociologia econmica. Por outro lado, rompendo com os trabalhos anteriores nessa linha, centrados apenas no mercado, inclusive alguns especificamente sobre o mesmo tema (como o de Hanneman, 2001), introduz o conceito de capital social de Bourdieu como categoria analtica central e as anlises e proposies de Weber quanto aos grupos de status e ao fechamento social. Para o mesmo, mais que produtividade, o prestgio acadmico e a hierarquizao das instituies nas reas examinadas (Sociolo-gia, Cincia Poltica e Histria) decorrem do capital social. Nesse caso, no entanto, como unidade emprica do capital social, tomada a rede de intercmbio entre os departamen-tos na formao e contratao de doutores (Burris, 2004, p. 239). Ou seja, no universo acadmico, o mercado desempenharia um papel restrito, ao contrrio da busca de pres-tgio. Mais recentemente, seguindo numa linha prxima, Weeber (2006, p. 59-62), em um trabalho sobre a diferenciao e hierar-quizao dos professores universitrios de Sociologia nos Estados Unidos, embora sem a utilizao da mesma modelizao matem-tica, chega a concluses semelhantes.

    Por fim, para tomar um ltimo caso exemplar de uso do conceito de capital so-cial e anlise de redes, dessa vez numa pers-pectiva oposta ao supracitado trabalho de Burris (2004), cabe mencionar aquele de Godechot e Mariot (2003) sobre a Cincia Poltica na Frana. Nesse caso tambm, os conceitos de capital social utilizados so ori-

    ginrios da nova Sociologia econmica, mas com o objetivo explcito de analisar os di-ferentes tipos de capital social, individual ou coletivo. Alm disso, tem a pretenso de utilizar a anlise de redes no para a ten-dncia corrente na Sociologia das cincias e sim na Sociologia econmica. Ou seja, o objeto da pesquisa constitudo explicita-mente como um problema de Sociologia econmica. Uma das justificativas dessa abordagem estaria no fato de que na Fran-a, a sociologia da vida acadmica tem sido fortemente influenciada pelos trabalhos de Bourdieu e seus colaboradores [...] Se, com o instrumento conceitual do campo, a di-menso relacional afirmada, frequente-mente ela se reduz nas anlises estatsticas a uma diferena de estado ou de grau de pos-sesso de capital etc. (ibidem, p. 7).

    Como parece evidente, uma das princi-pais limitaes do instrumental da chamada nova Sociologia econmica decorre da re-duo da abordagem s relaes do capital social nas redes que embebem o mercado e a estrutura social. Sendo assim, todas as de-mais questes e dimenses ficam excludas, particularmente aquelas relativas s relaes das redes que formam o capital social com as estruturas de poder (que no o poder em-butido no prprio capital social em suas re-laes com as redes e o mercado). Assim, o recorte do objeto se limita s relaes consi-deradas como constitutivas do capital social, excluindo, tambm, as prprias condies de existncia do mercado. Consequentemente, todas as lgicas de ao e recursos presentes nesse universo, que inclui burocracias, ad-ministrao colegiada, autoridade cientfi-ca, respaldada em diferentes recursos, entre outras, so reduzidas a algo como investi-mentos em relaes diversificadas e no re-dundantes, que permitem obter bens raros (os cargos de professor e pesquisador para os doutores) (ibidem, p. 14).

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    Ao confrontar esse reducionismo s pro-posies de Bourdieu relativamente a esse problema, o primeiro ponto a destacar no consiste apenas na diversidade de capitais, onde a respectivo conceito de capital social faz sentido, mas tambm na especificidade dos recursos e princpios de legitimao. Sendo assim, alm das relaes do capital social com as demais formas de capital, e respectivos graus de objetivao social e ba-ses de legitimao, no prprio campo cien-tfico defrontam-se diferentes espcies de capital cientfico. A prpria objetividade do espao universitrio constituda por uma pluralidade de princpios de hierarquizao concorrentes, com valores incomensurveis, associados a interesses antagnicos (Bour-dieu, 1984, p. 23). Dentre essas modalidades de capital cientfico no campo universitrio e seus efeitos nos respectivos trajetos profis-sionais, de um lado, se constitui um polo por aqueles que investem sobretudo no tra-balho de acumulao e de gesto do capital universitrio e, no extremo oposto, aqueles que investem mais na produo e, secunda-riamente no trabalho de representao que contribui para a acumulao de um capital simblico de notoriedade externa (Bour-dieu, 1984, p. 77 e 131). Em sntese, den-tre as modalidades de capital universitrio e respectivos princpios e bases de legitimao, se destacam a competncia especificamente cientfica e o poder burocrtico, de controle da produo cientfica. Porm, o que deve ser destacado que, em nenhum desses ca-sos, o capital social legtimo enquanto tal.

    Consideraes finais

    Como mencionado no incio, o presente texto limita-se apresentao do exame dos confrontos entre os conceitos de capital so-cial originrios das formulaes de Bourdieu e de Coleman. Embora esse tema possa se

    constituir num convite para prosseguir com algumas hipteses no sentido de uma Socio-logia mais geral da difuso e dos usos desse tipo de questo, isso est alm dos limites do presente texto. Por exemplo, no que tange aos Estados Unidos, Fine (2001) tem, nas tendncias quanto a demandas culturais e de consumo de produtos das Cincias Sociais e as presses institucionais decorrentes da in-tensificao da competio por quantidade de publicaes, os principais responsveis pela expanso da utilizao do conceito de capital social com base nas formulaes de Coleman. Nos que tange s condies pe-rifricas e, mais especificamente, Amrica Latina, Dezalay e Garth (2002) e Dezalay (2004) sugerem que, alm do atual estado na estrutura de importao/exportao nor-te/sul de novos universais (direitos humanos, democracia, sociedade civil etc.), os prprios cientistas sociais esto inseridos e, portanto, comprometidos, com os esquemas de media-o entre as estruturas de poder locais e as elites e centros internacionais.

    Porm, independentemente dessas ques-tes mais gerais, o material sucintamente apresentado aponta para outros problemas. O exame do material bibliogrfico, mesmo no sendo exaustivo, demonstra que a ques-to abarca muito mais que diferenas quanto a definies e usos de conceitos como o de capital social. Trata-se do problema das con-dies e possibilidades de apropriao de um conceito como aquele de capital social sem os respectivos fundamentos epistemolgicos e o esquema conceitual em que se inscreve. Como, em geral, os confrontos acontecem apenas entre as respectivas definies de ca-pital social, e no entre os esquemas anal-ticos, tende a ocorrer dois fenmenos que se complementam. O primeiro a rpida e diversificada expanso dos usos do conceito de capital social, inserida em diferentes l-gicas de ao, interesses e causas ou em-

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    presas morais. O fenmeno complementar o crescimento das crticas de determinados usos desse conceito, particularmente no que tange ao chamado desenvolvimentismo e moral cvica dominante, que geralmente se apresenta como engajamento cvico ou algo do gnero.

    Porm, como o texto tenta demons-trar, quase todas essas crticas, se, por um lado, tomam alusivamente o conceito de capital social de Bourdieu como o plo positivo, tm como fundamento uma perspectiva normativa e prescritiva. Desse modo, as menes positivas ao conceito de capital social de Bourdieu, alm de no ter maiores implicaes analticas, tendem a aparecer como instrumento de denncia de algo como diferenciao social ou domi-nao de classe. O esquema analtico e os fundamentos epistemolgicos que funda-mentam essa definio so excludos desses confrontos.

    Isso no se aplica do mesmo modo chamada nova Sociologia econmica, visto que conta com seus prprios fundamentos tericos e metodolgicos. Esses fundamen-tos, no entanto, como indicado, no ex-cluem o reducionismo de tomar o capital social apenas relativamente ao mercado. Tambm no exclui uma postura de resistn-cia explicitamente ideolgica frente ao con-ceito de capital social de Bourdieu, tambm com base numa adeso primordial a deter-minada ordem social. Por outro lado, apesar de centrada apenas nas relaes entre o capi-tal social embutido nas redes que permeiam o mercado, tem o mrito de estar na base de uma srie de estudos empricos que consti-tuem, pelo menos, boas indicaes quanto s condies de existncia e aos limites dos efei-tos do capital social em diferentes mercados

    de trabalho. O principal contraponto negati-vo so as extrapolaes dessa abordagem que pretendem reduzir estruturas como o espao e as instituies escolares ou de poder em ge-ral ao mercado ou s redes nas quais o capital social est embutido.

    Em todo caso, tudo indica que a prin-cipal concluso que pode ser extrada des-ses confrontos entre formulaes e usos de noes como a de capital social que est em pauta muito mais que verses do conceito que objeto de disputa. Por um lado, a tendncia em circunscrever os con-frontos a determinado conceito, no abar-cando suas bases epistemolgicas e tericas, pode ser consequncia de uma viso das Cincias Sociais como exerccio da aplica-o de conceitos e no como confronto de princpios explicativos. Por outro lado, isso pode estar associado prpria diversidade de concepes e dos fundamentos das Ci-ncias Sociais. No limite, isso pode pr em questo as prprias possibilidades de comu-nicabilidade dos significados contidos em cada posio terica e epistemolgica em confronto. Nessas condies, a tendncia em tomar um conceito isolado, como aque-la de capital social, pode parecer uma alter-nativa prtica. O mais intrigante que esse tipo de distoro nos confrontos criados pela importao/exportao e circulao in-ternacional cruzada de teorias sociolgicas foi destacado pelo prprio Bourdieu (1991, p. 382). Isso foi publicado no eplogo de uma coletnea cujo prlogo, elaborado por Coleman (1991), tem como tema central o controle social nas organizaes primor-diais e nas organizaes construdas ou formais, ou seja, temas conexos a suas preo-cupaes com o capital e, simultaneamente, integrao e ao controle social.

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    Notas

    1 Outra verso deste texto foi publicada em Social Science Information, v. 49, n. 4, Dec. 2010.

    2 Sobre as relaes dos meios de ao em diferentes ordens e as noes de racionalidade, legi-timidade e modos de dominao, ver Weber (1984, p. 8, 27 e 64).

    3 Para mais detalhes relativos aos processos de universalizao, ver, em especial, Bourdieu (1994) e sobre a universalidade das prticas sociais de reconhecer como vlidas as condu-tas que tm como princpio a submisso, mesmo que aparente, ao universal, ver especifi-camente as pginas 164-167. No que tange s relaes do capital escolar com os universais e os processos de universalizao e suas associaes com a oficializao e com a magia do Estado, ver Bourdieu (1984, 1989) e sobre as classificaes profissionais e suas relaes com os processos de universalizao, ver especialmente a pgina 175 (1989).

    4 Para mais detalhes, ver particularmente Bourdieu (1989, p. 418, 515-516).

    5 Para mais detalhes sobre os trabalhos de Coleman, ver particularmente a reunio de vrias publicaes, inclusive a de 1988 como captulo dedicado ao capital social, em Coleman (1990). Para uma srie de comentrios sobre essa publicao, ver o nmero especial da Revue Franaise de Sociologie, v. 44, n. 2, avr.-jui., 2003. Sobre a posio de Coleman nas Cincias Sociais norte-americanas, ver especialmente Wacquant e Calhoun (1989).

    6 Ver particularmente Coleman (1991, 1993).

    7 Para algumas crticas especficas aos trabalhos de Putnam e seus usos poltico-ideolgicos, ver Skocpol (1996) e Tarrow (1996).

    8 Para uma crtica a essa viso de mercado, ver especialmente Zelizer (1992), e sobre o mer-cado regulado, ver Bourdieu e Christin (1990).

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    Artigo recebido em julho/2010

    Aprovado em maro/2011

    Resumo

    Estruturas de dominao, integrao social e muito mais: os confrontos entre as noes de capital social de Bourdieu e de Coleman

    Com a grande expanso do uso do conceito de capital social em diversas frentes, vem crescendo tambm a literatura crtica a respeito. O principal objetivo deste artigo justamente demonstrar alguns problemas decorrentes do uso descontextualizado do conceito, que desconsidera suas bases tericas e epistemol-gicas: em Coleman e Bourdieu, os significados do conceito so distintos. Por isso, o texto apresenta, sinteticamente, as noes de capital social fundamentadas nesses autores, e destaca casos exemplares de posicionamentos crticos ao conceito de Coleman e seguidores, em geral com referncias positivas e alu-sivas ao conceito de Bourdieu. Por fim, traz uma sntese dessa discusso mais centrada nas relaes entre capital social, escolarizao e recrutamento de elites.

    Palavras-chave: Bourdieu e capital social; Coleman e capital social; Capital social e teoria sociolgica; Capital social e titulao escolar; Capital social e teoria social.

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    Abstract

    Domination structures, social integration and more: confrontations between Bourdieus and Colemans concepts of social capital

    With the great expansion of the use of the concept of social capital on several fronts, is also growing critical literature about it. The main aim of this paper is precisely to show some problems arising from the use of decontextualized concept, which ignores its theoretical and epistemological ground: Coleman and Bourdieu on the meanings of the concept are different. Therefore, the text presents, in summary, the notions of social capital based on these authors and highlights exemple cases in positions critical to the concept of Coleman and followers, often with positive references and allude to the concept of Bourdieu. Finally, brings a summary of this discussion focused on the relationship between social capital, education and recruitment of elites.

    Keywords: Bourdieu and social capital; Coleman and social capital; Social capital and sociological theory; Social capital and schooling degree; Social capital and social theory.

    Rsum

    Structures de domination, intgration sociale et davantage: les confrontations entre les concepts de capital social selon Bourdieu et Coleman

    Grce la grande expansion de lutilisation du concept de capital social sur plusieurs fronts, la littra-ture critique ce sujet a galement cr. Lobjectif principal de cet article est prcisment de dmontrer certains problmes qui dcoulent de lusage hors contexte du concept, qui ignore ses bases thoriques et pistmologiques : daprs Coleman et Bourdieu les significations du concept sont diffrentes. Par consquent, le texte prsente, synthtiquement, les notions de capital social fonds sur ces auteurs et des cas exemplaires de prises de position critiques par rapport au concept de Coleman et de ses partisans, en gnral avec des rfrences positives et allusives au concept de Bourdieu. Finalement, larticle propose une synthse de cette discussion davantage centre sur les rapports entre le capital social, la scolarisation et le recrutement des lites.

    Mots-cls: Bourdieu et le capital social; Coleman et le capital social; Capital social et thorie sociologique; Capital social et titre scolaire; Capital social et thorie sociale.