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Copyright desta edição:ESETec Editores Associados, Santo André, 2012.

Todos os direitos reservados

Solicitação de exemplares: [email protected] Tel. (11) 4990-5683 www.esetec.com.br

Carmo, J.S.

Contribuições da análise do comportamento à práticaeducacional. Org. João dos Santos Carmo e Maria Julia FerreiraXavier Ribeiro. 1a ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados,2012.

304 p. 21 cm

ISBN 978-85-7918-043-9

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João dos Santos Carmo

Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro

Organizadores

CONTRIBUIÇÕES DAANÁLISE DO

COMPORTAMENTO ÀPRÁTICA EDUCACIONAL

ESETec

2012

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Sumário

Apresentação 7.................................................... Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro.................................................................... João dos Santos Carmo

Parte 1 FundamentosCAPÍTULO 1Reflexões sobre o ato de ensinar dentro da concep-ção galileana de ciência 13

................................................................. José Gonçalves MedeirosCAPÍTULO 2Behaviorismo Radical, Análise do Comportamento eEducação: o que precisa ser conhecido? 37

...................................................................... Maria Ester RodriguesCAPÍTULO 3Skinner que poucos conhecem: contribuições doautor para um mundo melhor, com ênfase na rela-ção professor-aluno 73

............................................................. Maria Martha Costa Hübner

CAPÍTULO 4Análise de contingências em situação pedagógica 87

..........................................................Paulo Sérgio Teixeira do Prado

....................................................................... Márcia Josefina Beffa

.................................................................. Thais Pondaco Gonsales

Parte 2 Ensino de repertórios básicosCAPÍTULO 5Leitura e escrita – avaliando repertórios e detectan-do dificuldades 113

..................................................................................Melania Moroz

CAPÍTULO 6Procedimentos de ensino da leitura e aprendizagemsem erros 153

............................................................................. Olivia Misae Kato

.............................................................Carolina M. de A. Maranhão

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CAPÍTULO 7Raciocínio lógico e aprendizagem de matemática:alguns elementos para análise de relações entreestes repertórios 181

............................................................. Sergio Vasconcelos de Luna

............................................................................... Miriam Marinotti

CAPÍTULO 8A contagem e a formação de classes de equivalên-cia no desenvolvimento do comportamentoconceitual numérico 207

.................................................................... Verônica Bender Haydu

............................................ Priscila Ferreira de Carvalho Kanamota

..................................................................... Lucita Portela da Costa

Parte 3 Contribuições para processos de inclusãoescolar

CAPÍTULO 9Contribuições da análise do comportamento para aeducação de surdos 239

......................................................... Priscila Giselli Silva Magalhães

...................................................... Ruth Daisy Capistrano de Souza

........................................................... Grauben José Alves de Assis

CAPÍTULO 10Desenvolvimento de habilidades básicas emparaprofissionais: intervenção e prevenção naescola 273

............................................................................... Jaíde A. G. Regra

SOBRE OS AUTORES...................................................... 297

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Apresentação

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

A Educação, como área de conhecimento eintervenção, tem alto valor para a sociedade, que a eladestina uma parcela importante de seus recursos. A despeitodos investimentos nela aplicados, a todo tempo surgemalertas para a necessidade de que tais investimentosocorram com eficácia e efetividade. Somente assim secumprirá seu potencial de transformação individual e social.

Por ser um campo de constantes discussões ecom grande disparidade de perspectivas teóricas, aEducação alberga visões e propostas algumas vezescomplementares e, de outras vezes, destoantes e, atémesmo, antagônicas. Nesse terreno fecundo de debateé importante demarcar o espaço aberto à diversidade. Etal diversidade advém de diferentes ciências quecontribuem, cada uma ao seu modo, ao entendimentode aspectos específicos da Educação. Antropologia,Sociologia, Pedagogia, Filosofia e Psicologia são ciênciasque formam essa base de entendimento.

A presente obra oferece aos seus leitores ascontribuições de uma abordagem em Psicologia, conhecidacomo Análise do Comportamento. A Análise doComportamento acolhe os desafios que a Educação, comotarefa social, impõe. Para isso, oferece um modo conceitualde entendimento dos fenômenos educacionais. Este modoconceitual propõe que o comportamento humano afeta seu

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8 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

ambiente – físico e social – e neste processo é de voltaafetado por ele. Assim, os processos de transformação doHomem e do Mundo são indissociáveis.

Em decorrência desta visão conceitual, o interesseda Análise do Comportamento é a relação entre oindivíduo e seu mundo. Por isto, ao voltar-se para asquestões educacionais no âmbito escolar, o analista docomportamento se dedica às relações diversas que naescola ocorrem, com destaque para a relação entreprofessores e seus alunos, dos alunos entre si e entrealunos e materiais didáticos.

No Brasil, em particular, é crescente o interesse e aprodução de estudos e pesquisas em torno de questõesdiretamente vinculadas à Educação. Desde a criação daAssociação Brasileira de Psicologia e MedicinaComportamental, em 1991, inicialmente com fortetendência ao exame, sistematização e divulgação dascontribuições da Análise do Comportamento à psicoterapiae questões relativas à saúde, ficou nítida a diversificaçãode temáticas e interesses ao longo dos encontros anuais.A cada ano cresce o número de trabalhos voltados àEducação. Comunicações orais, pôsteres, simpósios,mesas redondas e comunicações coordenadas queabordam temas educacionais oferecem um importantepanorama do que vem sendo produzido, em nosso país,por analistas do comportamento que lidam com Educação.Entretanto, ainda carecemos de obras que tomem comodesafio facilitar o acesso desses conhecimentos a umpúblico mais amplo.

A editora ESETec tem se destacado no esforçoeditorial de divulgação das contribuições da Análise doComportamento à Educação e, em 2004, lançou a obraAnálise do comportamento para a Educação, organizadapor Martha Hübner e Miriam Marinotti, e composta porcapítulos bastante ricos e que, já naquela época,

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 9

apontavam para o potencial dessa abordagem ao campoeducacional e convidava os educadores em geral adialogarem a respeito. Em que pese a existência decríticas à Análise do Comportamento, muitas delasapressadas e equivocadas, entendemos que essas seconstituem no espaço propício e, por isso mesmo,necessário à divulgação do que analistas docomportamento têm produzido e que podem seraproveitados por professores, pesquisadores epensadores em educação. O presente livro, inspirado naobra de Hübner e Marinotti (2004) pretende ser mais umelemento de contribuição à divulgação e ao debate dasideias e das pesquisas de analistas do comportamentoao fenômeno educacional.

Este livro, portanto, oferece uma parcela dasrelevantes contribuições de analistas do comportamentobrasileiros à Educação. Seus capítulos se organizam emtrês seções, a primeira dedicada aos fundamentos, asegunda dedicada ao ensino, e a terceira aos processosde inclusão escolar.

Na primeira seção estão reunidos quatro capítulosque expõem os fundamentos da Análise doComportamento aplicada à Educação. O leitor perceberáque não são capítulos exclusivamente teóricos.Entretanto, retomam tópicos estruturantes da abordagemanalítico comportamental. O Modelo de Seleção pelasConsequências, o conceito de Contingências deReforçamento, a distinção entre BehaviorismoMetodológico e Behaviorismo Radical e de Análise deContingências são objeto destes capítulos. Os capítulostambém discutem o papel da escola e do professor nestequadro de referência.

A segunda seção compõe-se de textos que tratamdo ensino de repertórios básicos (leitura-escrita ematemática). São chamados de repertórios básicos no

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10 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

sentido de serem fundamentais à aprendizagem dehabilidades mais complexas e por exigirem um olhardirecionado a aspectos muitas vezes negligenciados nosprocedimentos cotidianos de ensino escolar.

Na terceira seção, os dois capítulos que acompõem abordarão, respectivamente, a educação desurdos e a indicação de como paraprofissionais podemser preparados para apoiar alunos com necessidadesespeciais no processo de escolarização.

Os capítulos das três seções permitem tambémsua leitura independente. Cada um deles é precedido poruma breve apresentação de seu conteúdo. Seus autoressão autoridades nas suas respectivas áreas, comcontribuições consolidadas ao ensino e à pesquisa.

Este livro é direcionado a analistas do comportamentoque querem ingressar na área da Educação, e à atualizaçãodaqueles que já estão na área. Dedica-se também aprofessores e demais especialistas da Educação. Ele trazcontribuições recentes que se fundamentam naquilo que atradição da área analítico comportamental já consagrou. Aafirmação de princípios e a proposição de tecnologia daeducação com base em dados empíricos, antes que umaescolha pessoal dos autores, é uma característica daAnálise do Comportamento.

Por isso, recomenda-se que as indicações aquiapresentadas sejam também utilizadas na mesma lógica,a de que a necessidade individual – a avaliação dorepertório – é quem determina a intervenção técnica. Aoferta de intervenções efetivas para contextos epopulações específicas deve ser útil para indicarpossibilidades de escolha de boas evidências de pesquisa.Ela deve se articular à avaliação de necessidades, nasquais serão consideradas características culturais epreferências das pessoas que receberão a intervenção.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 11

1

Fundamentos

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12 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Neste capítulo, José Gonçalves Medeiros contacomo uma tarefa necessária ao aprendizado de alunosde Psicologia – a aplicação de princípios decomportamento em situações experimentais – podeser convertida em uma importante oportunidade deajudar uma criança com uma das tarefas cruciais desua vida escolar: a aquisição da leitura.

Medeiros, que é professor da UFSC, começa nosexplicando como a visão de Galileu ofereceu uma novaforma de ver os fenômenos, como fenômenos de relação,não como coisas. A Galileu importaram as relações entreos corpos celestes e não cada corpo celeste por simesmo, ao psicólogo comportamentalista interessamas relações entre as pessoas, entre a pessoa e seuambiente, e entre os diversos componentes do repertóriocomportamental de um indivíduo.

Por isso, rejeita-se a postura que dicotomizacorpo e mente, tanto quanto aquela que dicotomizaos participantes de episódios escolares, reduzindo-osa coisas indiferentes ao que vivem, fazem, falam esentem os demais participantes.

Medeiros detalha uma experiência de ensinocom alunos de Psicologia que se valeu de umprocedimento de discriminação condicional paraensinar leitura, usado para expandir gradualmente, aolongo de uma seqüência de passos, o repertório depareamentos entre modelos (palavras ditadas peloexperimentador) e estímulos de comparação (palavrasimpressas escolhidas pelos participantes).

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

CAPÍTULO 1

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 13

Reflexões sobre o ato de ensinardentro da concepção galileana de

ciência1

José Gonçalves MedeirosUniversidade Federal de Santa Catarina

Eppur si muove, assim o físico Galileu Galilei napresença de seus algozes redefine a concepção de ciênciacom base na observação do universo, tornando-se, naspalavras de Gomes (1984) “...não apenas o iniciador deuma nova ciência, mas sim o articulador de uma outraforma de conhecer o mundo, de uma nova metodologia”(Gomes, 1984, p. 23). O homem passa a ser visto comouma criatura passível de ser compreendida pelaintervenção humana. Essa visão de ciência, que se alteraa partir de então, contextualiza o homem numa perspectivahistórico/cultural, que passa a ser percebida permeandoe influenciando diferentes correntes teóricas da psicologia.No entanto, se em um dado momento, o fato da existênciade diferenças nas correntes teóricas dentro da psicologiaampliou o debate acerca das concepções de homem, emoutros momentos, reconheçamos que estas diferençasdificultaram a compreensão de homem enquanto um serrelacional. Incorporar à psicologia o modelo galileano de

1 Este texto é uma versão modificada de uma palestra proferida emSão Lourenço D’Oeste (SC), por ocasião do Fórum da Educação,realizado naquela cidade no mês de setembro de 1994 e da mini-conferência proferida na XXVI Reunião Anual de Psicologia, realizadaem outubro de 1996 na cidade de Ribeirão Preto (SP).

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ciência pode ser uma maneira de facilitar essacompreensão.

À tradicional cosmologia metafísica, Galileucontrapõe uma física não mais de objetos, porémde relações entre objetos: a ele não interessamnem a lua nem o mar, isoladamente, mas sim osnexos funcionais entre as fases da primeira e asmarés. Essa física, por outro lado, nasce associadoà idéia de observação controlada e de testes dasnossas hipóteses sobre o mundo, o que equivalea dizer, ela nasce umbilicalmente ligada à idéia deintersubjetividade: suas leis e seus resultados, emprincípio, são acessíveis a qualquer um e podemser testados por cada ser humano que se disponhaa percorrer o caminho necessário para tanto(Gomes, 1984, p.23).

O comportamentalismo surge com essascaracterísticas. Tomemos, para exemplificar, o pensardentro da perspectiva dualista. Historicamente origináriado período metafísico, fortaleceu-se com as doutrinasreligiosas da Idade Média e passou a fazer parte de modotão arraigado do senso comum que chega a ser difícilquestioná-la ou conceber um modo alternativo de pensar(de Rose, 1989). Esta tradição concebe o homem divididoem mente e corpo. A mente tem a função de decidir, depensar por nós. É como se, em nosso interior, houvesseum homúnculo com capacidade para tomar decisões eorientar nossas ações. O corpo, por sua vez, obedeceriaàs decisões desse ser por meio do comportamento.Deste modo, é comum, ao observarmos as ações deum organismo, afirmarmos que elas foram precedidaspor um processo mental, interno, como precedente ecausador das ações observáveis.

A esse processo mental é dado o nome de menteque é visto como algo imaterial, inatingível, místico e, porextensão, também o pensamento, com pouca ou quasenenhuma relação com o meio no qual ele ocorre; é visto

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como uma voz interior que está sempre presente egovernando todas as ações da pessoa. À Psicologia, comeste referencial, é dado o nome de mentalista e secontrapõe, em princípio, ao referencial utilizado nasciências naturais. Estas, por sua vez, estudariam o mundomaterial, segundo os processos físicos e químicos. APsicologia estudaria o mundo interno e imaterial da mente,constituindo-se, dessa forma, como o centro degravidade da ciência psicológica, assim como o Homeme a Terra foram, na Idade Média, concebidos como ocentro do universo.

Esta visão dualista é polêmica constituindo-se comoum aspecto importante para diferenciar as correntesteóricas da psicologia. Se, para os dualistas, a menteconstitui-se no centro dos estudos psicológicos, para osseus críticos, ela não poderia ser considerada como objetode estudo; dessa forma, uma ciência da mente não seriaviável e não poderia, sob qualquer condição, ser consideradacientífica. Há, contudo, concepções equivocadas a esserespeito. Uma delas é conceber mente e subjetividade comosinônimos. Segundo de Rose (1989), nenhuma pessoa debom senso poderia negar que a subjetividade, a reflexão eo pensamento existam. Todos nós podemos observarnosso próprio pensamento, olhando para o nosso interior.Não podemos evidentemente observar o pensamento dosoutros, mas temos inúmeras evidências, ainda que indiretasque as outras pessoas também pensam, de modo similara nós.

Os psicólogos que fazem parte dessa orientaçãoteórica são chamados de comportamentalistas edefendem a existência do pensamento e, por extensão,a subjetividade humana, porém não como um processomental, imaterial, inatingível, mas fazendo parte do seuobjeto de estudo que são as relações comportamentais,tanto públicas, quanto privadas. A esse respeito afirmade Rose (1989, p. 3)

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Os psicólogos comportamentais devem aceitar,portanto, que o pensamento existe. Mas será queeles devem também aceitar que o pensamento éum “processo mental”? Se isto fosse aceito, serianecessário retornar ao dualismo, à divisão dohomem em mente e corpo. O caminho tomadopelos psicólogos comportamentais foi o de buscaruma concepção do pensamento, ou, maisrecentemente, como uma forma de relação entreo comportamento e certos aspectos do ambiente.

Concebido o pensamento dessa forma, torna-sepossível ensiná-lo, assim como ensinamos e aprendemosoutros comportamentos. E assim a psicologiacomportamental, criticada por lidar apenas com osaspectos observáveis do fazer humano, dá um passoimportante e significativo no sentido de compreender osujeito na sua totalidade: reflexão e ação.

1. O pensar e fazer enquanto categoriasdicotômicas e sua influência na práticaeducacional

O tratamento dicotômico do pensar e do fazerenquanto categorias excludentes, isto é, que ocorrem emdomínios diferenciados e não relacionados, influencioumodos de conceber a educação e, por extensão, aconcepção que se tem da relação professor-aluno. Como desempenho do aluno analisado como se independessedo professor, geralmente é alvo da berlinda e depositáriode inúmeros rótulos e estigmas negativos: QI baixo,carente, bloqueado, preguiçoso, ansioso, vagabundo etc.

Em um estudo de observação direta realizado comuma classe de alunos especiais, Medeiros e cols. (1994a)relatam que o professor da turma dava mais atenção aoscomportamentos inadequados dentro de sala de aula doque àqueles considerados adequados, favorecendo aocorrência de comportamentos incompatíveis com a

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aprendizagem. Assim, para controlar o comportamento dosalunos, a professora passa a utilizar a coerção, levando-osa comportamentos de esquiva e fuga nesse contexto.

Nessa situação, mais que um educador, oprofessor exerce o papel de um agente fiscalizador compoder de punição, denominando os alunos comodesconcentrados, bagunceiros e desmotivados paraaprender. Para ele, o fracasso escolar é devido àincapacidade dos alunos em se concentrarem. E mais,ainda, à indolência e falta de motivação em relação aotrabalho em sala de aula. Detentor do poder de avaliarexerce esse papel, olhando apenas para um doselementos da relação, deixando de lado o outro, o papeldo professor. Ao aluno é reservado o estigma deinexperiente, desmotivado, incapaz de aprender, tendoque consumir o que foi transmitido pelo professor numarelação de ensino semelhante ao que Paulo Freire (1979)chama de educação bancária.

Essa maneira de conceber a educação não dámais conta da realidade. Novas concepções de pensare analisar o processo ensino-aprendizagem surgiram naúltima década, nas quais se propõe compreender arelação entre eventos como objeto de estudo e não oseventos em si, isolados do contexto.

Além de professor e aluno serem vistos eanalisados separadamente, o nosso olhar tem sidodirigido apenas para os aspectos formais e acadêmicosdo aprender. O aluno possui sensações, desejos,valores... Enfim não apenas o que visivelmente apareceà nossa percepção... mas também sua subjetividade temsido deixada de lado em nome da eficiência acadêmica.

Esses outros aspectos, ou seja, o lado subjetivodo comportamento do aluno parece não se enquadrarna categoria do que consideramos conhecimento. Aodeixar de lado essas características da interaçãohumana, estamos contribuindo para o empobrecimento

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da relação professor-aluno e certamente para o aumentodo fracasso escolar.

2. As relações no cotidiano da sala de aulaO conhecimento adquirido na escola, como uma

das atividades humanas, resulta do trabalho de atoressociais, portanto, produzido por professores e alunos eminteração, muito embora se privilegie apenas um doselementos da díade. As experiências pedagógicas,principalmente aquelas vinculadas a estágios dos cursosde psicologia, são poucas e nem todas as que sãorealizadas conseguem atingir os objetivos propostos nosentido de uma transformação significativa e relevantedas interações que ocorrem no ambiente escolar e aoseu redor. A primeira questão que pode ser formulada é:o que nós, enquanto educadores, temos feito em nossocotidiano de trabalho no sentido de produzirconhecimento que considere os alunos como elementosimportantes desse processo? Ao simplesmentereproduzir, como é comum na maioria das vezes, nãoestaremos, de fato, contribuindo para manter o alunoapenas como um ouvinte desse processo?

Talvez não seja necessário dizer que nossa práticaeducacional, derivada de um modelo dicotômico etecnocrático seja o da reprodução: reprodução in totumdo livro didático, com pouco ou quase nenhum materialproduzido por professores e alunos. A sala de aula é umcampo ideológico onde se reproduzem modos de pensarde uma classe social. A escola teima em desconsiderara heterogeneidade dos códigos linguísticos presentes emsala de aula. O que nossas práticas têm mostrado é umarelação autoritária de reprodução de valores: produzimos,pensamos e falamos para classes sociais que estão maispróximas do poder do que para o grande contingente dedesfavorecidos que buscam a escola como esperançade vida.

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A segunda questão é aquela que concebe o ensinodicotomicamente, isto é, professores de um lado e alunosde outro, acabando por privilegiar apenas um doselementos da relação, ou seja, o fazer do professor. E noque se constitui esse fazer? Falar a respeito de fatos,teorias, definições, datas, personagens, muitas vezesdistantes e não relacionados ao contexto histórico e socialno qual foram produzidos. Repetir muitas e muitas vezesaté que os alunos consigam também repetir o que estásendo falado. Um decorar e escrever descontextualizados,reproduzindo da mesma maneira aquilo que o professorfalou... e escreveu. Nessas salas de aula não há falantes,mas apenas ouvintes.

E por que o professor não abre diálogo com oaluno? Pergunta-se! Faltam a ele referências seguraspara participar, juntamente com o aluno, da construçãodo conhecimento, deixando de ser o dono do saber parase tornar apenas o mediador da aprendizagem. Suasreferências são, na maioria dos casos, aquelas do livrodidático, cujo conteúdo em grande parte já estápraticamente definido. Não resta a ele senão a imposiçãodo silêncio por meio da coerção.

Mesmo silenciados, os alunos fazem muitasoutras coisas, talvez mais significativas para suas vidas,mas que passam despercebidas pelo professor. Há umlivro com um título original Teaching as a subversiveactivity, traduzido por Contestação: nova fórmula deensino, no qual os autores afirmam que:

A fim de compreender que espécies decomportamentos as salas de aulas promovem, épreciso acostumarmo-nos a observar o que, de fato,os estudantes realmente fazem nelas. Bem a maiorparte senta-se e ouve o professor. São solicitadosa acreditar nas autoridades ou pelo menos fingirque alimentam tal crença, quando são submetidosa exames. São principalmente solicitados a

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recordar. Raramente se pede a eles que façamobservações, formulem definições ou realizemqualquer operação intelectual que ultrapasse arepetição formulada pelo outro como verdadeira.Raramente são encorajados a fazer perguntassubstantivas. Praticamente nunca se ouviu falarde um estudante que tenha sido solicitado adesempenhar um papel na determinação dosproblemas dignos de estudo ou na seleção dosprocessos de investigação que deveriam serusados (Postman & Weingartner, 1969).

A preocupação e determinação de ir além dasdicotomias do processo ensino-aprendizagem, em queo papel de um (o do professor) é valorizado em detrimentoao do outro (o do aluno), fez surgir a proposta de trabalhoque teve como objetivo envolver efetivamente o alunoem formação na condução de um processo de ensinode leitura e escrita a crianças (e adultos) queapresentavam histórico de fracasso escolar. Para istofoi organizada e conduzida uma proposta como descritanos próximos parágrafos.

3. A propostaO trabalho iniciou-se

2 a partir da possibilidade de

integrar3 duas disciplinas

4 com um único plano de

atividades práticas, uma vez que os alunos eram os

2 A experiência será relatada no passado, contudo suasdecorrências permanecem até o presente. Uma profícua Linha dePesquisa em Investigação em Linguagem e Comportamento Verbal(LAB-LIN/UFSC) foi criada propiciando condições para a produçãode conhecimento na área.

3 Os planos de ensino foram organizados com conteúdos teóricosdiferenciados e uma parte prática comum. Os alunos assistiam eparticipavam separadamente das aulas teóricas e realizavam

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 21

mesmos e as disciplinas propunham conteúdo que, emvários aspectos, se assemelhavam. Como estratégia deintegração foi proposto que os alunos aplicassem oprocedimento de discriminação condicional com oobjetivo de ensinar leitura e escrita a crianças (ouadultos), principalmente de escolas públicas, queapresentavam dificuldades na aquisição dessesrepertórios.

Uma proposta com essa característica foipossível porque, há muito, vínhamos discutindo anecessidade com que o aluno de 4ª fase, já na metadedo curso, poderia começar a se defrontar e ficar sob ocontrole de problemas socialmente relevantes. E mais,estávamos decididos a colocar em prática umprocedimento que, na maioria dos currículos depsicologia, é realizado em laboratório tendo animaiscomo sujeitos. Nossa questão era, além da integração,verificar o grau de compromisso dos alunos ao sedefrontarem com problemas tipicamente humanos.

Aos alunos foi proposto verificar se osprocedimentos de discriminação e generalização,ensinados e praticados em laboratório, poderiam seraplicados na resolução de problemas comuns docotidiano escolar. A experimentação com comportamentoanimal é comum dentro dos planos de ensino nas fasesiniciais dos cursos de Psicologia. Isso ocorre em virtudedo organismo infra-humano, no caso ratos e pombos,ser menos complexo do que o homem e porque o

apenas uma parte prática para ambas as disciplinas, com a redaçãode apenas um relatório ao final do semestre, que servia comoavaliação final.

4 Aprendizagem I e Experimental II, oferecidas para uma mesmaturma (4a. fase do Curso de Psicologia da UFSC).

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laboratório constitui-se numa situação privilegiada quepermite observar e manipular variáveis e, ao mesmotempo, verificar seus efeitos sobre outras variáveis. Alémdisso, permite ao aluno ter contato e verificarconcretamente alguns dos princípios básicosfuncionando.

A proposta era também trabalhar com uma novaconcepção de laboratório5 como um lugar onde se podeinstalar e desenvolver comportamentos importantes nosentido de formar um psicólogo mais crítico e, por isso,mais preparado para analisar relações entrecomportamentos e os contextos nos quais eles ocorrem.Esta questão está relacionada à própria definição do queentendemos por laboratório que rompe com a noção desenso comum, ou seja, aquela que concebe de formapreconceituosa como sendo um local com característicasespecíficas e que se define, entre outros equipamentos,pela presença de dispositivos eletroeletrônicos com oobjetivo de estudar o comportamento de animais infra-humanos (usando-se com mais frequência ratos,pombos e macacos) e que permitem a aplicação dechoques nos sujeitos.

O fato é que as informações a respeito da funçãode um laboratório experimental são pouco conhecidas,ensejando, por isso mesmo, uma visão estereotipada,como se os equipamentos utilizados se aproximassemdaqueles utilizados em contextos não acadêmicos, comosanatórios e prisões, daí a visão redutora criada sobre aAnálise do Comportamento. Além dessa visão, ela éentendida apenas como uma psicologia estímulo-resposta (E-R), simplificação repleta de conteúdos

5 O uso do laboratório foi discutido no Encontro de São João Del’Rey(1992) e uma das conclusões foi a de que esta maneira de usá-loconstitui-se numa limitação severa de sua potencialidade.

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ideológicos e que mantém e amplia preconceitos contrao trabalho dos profissionais que atuam em disciplinascom práticas experimentais, em especial, aquelas quelidam com experimentação.

A experimentação não ocorre apenas emlaboratórios. Uma sala de aula constitui-se, por excelência,num espaço de trabalho que pode também ser entendidocomo um laboratório. Não nos damos conta de que nesseespaço, na relação professor-aluno, muitas vezes,aplicamos choques estigmatizantes por meio do uso daviolência simbólica e, nem por isso, nos indignamos oumesmo repudiamos tais práticas. A sala de aula pode sertambém um local de produção de conhecimento, deexperimentação. A visão estereotipada de laboratório depsicologia experimental só se justifica pela possibilidadede pensar que ainda hoje, quando as relações simbólicasdominam as relações entre os homens, nossos parestenham perdido a capacidade de ler o simbólico.

Assim concebido, o laboratório mantém e ampliapreconceitos que, mais do que agregar, afasta aquelesque nele se iniciam. Venho refletindo a respeito de umadefinição menos pautada no geográfico em favor de umadefinição mais funcional, cujos eventos por ela relacionam-se entre si, situando-se ao longo de um continuum, comníveis de determinação diferentes entre si. Isso significadizer que, em certo sentido, encontraremos eventos, nosquais os efeitos de variáveis são mais conhecidos, logo apossibilidade de controle é mais viável; num outro sentido,encontraremos eventos, nos quais esses efeitos são aindapoucos conhecidos e, portanto, o controle é menos viável.

A questão resume-se em detectar qual é a naturezado conhecimento a ser produzido para tornar as relaçõesentre esses eventos mais transparentes, maisconhecidas e, eventualmente, mais controladas. Destemodo, nossa referência para definir laboratório passa,

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de um critério espacial, para um critério metodológico.Assim, clínicas, salas de aulas, salas de atendimentoseriam todas definidas segundo esse critério – ometodológico. Os eventos que ali ocorrem situar-se-iamao longo deste continuum, com diferentes graus decontrole sobre eles; assim redefinido seu própriosignificado, a ideia de laboratório já não seria entendidacomo niveladora de práticas, mas como nomeadora dediferentes metodologias.

Estas questões só passam a ter relevância namedida em que trabalhamos de forma integrada, semdicotomizar os fazeres teórico e prático. Dito de outraforma, é a integração entre teoria e prática, com o fim darenitente discussão de qual deve ocorrer primeiro. Talconcepção facilita a quebra da dicotomia trabalhos delaboratório versus trabalhos aplicados. Em relação a esteaspecto, um dos grupos do Encontro de São JoãoDel’Rey recomendou que...

O laboratório não deve ser apenas uma ocasiãode se fazer demonstrações de princípios básicos,nem ocasião apenas de praticar os exercíciosbásicos de laboratório, mas também umapassagem para o início do desenvolvimento deprojetos de pesquisa. O aluno deve ter, portanto,a oportunidade de participar de projetos depesquisa do professor, fazer auto-experimentação,fazer replicações diretas de pesquisas, etc.(Medeiros e cols., 1999).

Indo além, diria: os laboratórios concebidos dentrodesta perspectiva passam a se constituir o lugar do ensaio,da descoberta, da curiosidade; enfim, do compromissocom a criação e produção do conhecimento sobre asrelações que ali ocorrem, quer públicas quer privadas, nãoimportando sua natureza.

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3.1. A proposta propriamente dita

A proposta enfatizava a produção do conhecimentoa partir de um problema já definido cuja redação erafornecida aos grupos formados por dupla de alunos:ensinar uma criança (ou um adulto) a ler e escrever. Issoimplicou na apresentação por parte do professor doplanejamento e do método que seria utilizado, cabendoaos alunos a descrição das crianças ou adultos por elesescolhidos, o local onde o projeto seria desenvolvido eas palavras6 que seriam ensinadas. Coube a eles definirtambém o tipo de reforçamento que seria utilizado: sesocial ou de outra natureza (reforçadores generalizados,como ficha, ou mesmo reforçadores primários).

O cronograma iniciava-se com uma leitura sobrefracasso escolar e sua contextualização na realidadebrasileira. As demais leituras obrigatórias foramrealizadas com base em textos que davam ênfase aoprocesso de aquisição de leitura e escrita, com o objetivode fornecer o embasamento teórico, necessário àsatividades práticas. A partir daí os alunos foram orientadosa escolher as crianças 7 que apresentavam problemasde aprendizagem, de preferência aquelas com indíciosde que fariam parte dos excluídos da escola, casonenhuma ruptura viesse a ser realizada com o já dito, ojá feito, justificativas comuns desses tempos detolerância com as nossas misérias.

6 Em relação a estas, foram selecionadas a partir de uma entrevistainformal com a criança, escolhendo-se aquelas que faziam partedo seu universo vocabular.

7 As informações para a escolha das crianças foram dadas nasprimeiras aulas. Foram fornecidos endereços de algumasinstituições, como escolas, creches, casas de assistência amenores e outros que, nos semestres anteriores, tiveram interesseem participar do projeto. O aluno era orientado a escolherprincipalmente crianças que já apresentam um histórico defracasso escolar, caracterizado por uma ou mais reprovações.

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Na maioria dos casos, foram escolhidas criançasde escolas públicas, onde os índices de repetênciaestavam próximos dos 50 por cento. Alguns gruposconvidaram adultos que não tiveram a oportunidade dese alfabetizar, como empregadas domésticas e outraspessoas da comunidade8.

Os alunos foram também informados de que cadagrupo desenvolveria o projeto em seu próprio ritmo; asatividades realizadas conjuntamente foram apenasleituras e discussões dos textos teóricos. Desse modo,a sala de aula passou a se constituir basicamente emmais um dos locais de trabalho, onde os gruposorganizavam todo o material necessário para a realizaçãodo projeto e, neste local, o professor supervisionava ostrabalhos de preparação de cada dupla.

Escolhida a criança, o primeiro passo foi umaentrevista informal, onde foram coletadas informaçõessobre sua vida social e escolar, acompanhado do registrodas palavras do seu universo vocabular, do qual foramextraídas aquelas a serem ensinadas, obedecendo aosseguintes critérios: substantivos concretos, dissílabos etrissílabos e que tivessem correspondentes pictóricos.Na sequência, estas palavras foram apresentadas àcriança na forma de um teste de leitura. Aquelas que elanão conseguia ler corretamente fizeram parte da relaçãodas palavras que seriam ensinadas.

As crianças escolhidas foram dois meninos e trêsmeninas. Suas idades situavam-se entre 5 e 10 anos.Três frequentavam o ensino regular e uma o pré-escolar.Uma ainda não estudava. O procedimento principal foi o

8 No semestre 96/1, por exemplo, um grupo trabalhou com umasenhora e sua filha: a mãe, analfabeta e a criança com problemasna escola onde estudava.

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de exclusão, usado para expandir gradualmente, ao longode uma sequencia de passos, o repertório depareamentos entre modelos (palavras ditadas peloexperimentador) e estímulos de comparação (palavrasimpressas escolhidas pelas crianças).

Para isso foi desenvolvido um procedimento dediscriminação condicional, parcialmente semelhante àqueledesenvolvido por Melchiori, Souza e de Rose (1992)9. A basedo procedimento de exclusão consiste na presença, emcada tentativa de pareamento, de um estímulo decomparação conhecido pelo participante, que é apresentadojuntamente com outro estímulo. Quando o experimentadorapresenta o modelo correspondente ao estímulo novo, oestímulo de comparação já conhecido funciona como pistaou dica para que o participante o rejeite e selecionecorretamente o estímulo novo. Assim, neste programa, oprocedimento de exclusão permitia a aprendizagem semerro do pareamento de palavras ditadas com palavrasimpressas. Antes das etapas de ensino, um teste de leituradas palavras selecionadas era realizado com a criança;após as etapas de ensino, a criança era novamente testadapara verificar a aquisição de leitura das palavras

9 O estudo de Melchiori (1992) replicou o programa individualizadode ensino desenvolvido por de Rose, Souza, Rossito e de Rose(1989), diferindo quanto à condição dos participantes. Melchioritrabalhou com crianças pré-escolares sem exposição formal àleitura de sílabas e mesmo de letras. No estudo realizado por deRose e cols. (1989), as crianças já possuíam história de fracassoescolar, tendo sido, portanto expostas à situação formal de leitura.O procedimento empregado por Medeiros (1994) utilizou tanto pré-escolares quanto crianças com experiência prévia em leitura(também com história de fracasso escolar), com maior quantidadede crianças na última condição. Diferiu também quanto aoprocedimento de escolha das palavras a serem ensinadas, ouseja, foram escolhidas a partir de uma entrevista realizada com acriança, sendo escolhidas aquelas palavras que faziam parte deseu universo vocabular.

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emparelhadas por meio do procedimento de exclusão –daqui por diante referidas como palavras de ensino, bemcomo de palavras novas não diretamente ensinadas –referidas como palavras de generalização. Testes adicionaisforam conduzidos para verificar a formação de equivalênciaentre os estímulos palavra impressa, palavra ditada e figura.A formação de uma classe envolvendo a equivalência entreestes três tipos de estímulos é a base da leitura comcompreensão (Mackay & Sidman, 1984).

As palavras de ensino foram dissílabos outrissílabos compostos por sílabas simples e as palavrasde generalização foram obtidas por recombinação dasmesmas sílabas simples – as palavras de ensino e aspalavras de generalização foram todas substantivos –nomes de objetos, de animais ou de eventos corriqueiros– que geralmente fazem parte do universo vocabular dascrianças.

Os critérios para o prosseguimento de uma fasepara outra residiam basicamente nos índices de acertodas crianças. Era sempre necessário que elesapresentassem 100 por cento de acertos nas etapas deaprendizagem e que lessem corretamente todas aspalavras de ensino nos pós-testes. Antes, porém, de iniciaruma nova fase de exclusão com novas palavras, ascrianças precisavam demonstrar que tinham retidocorretamente a leitura das palavras ensinadas na faseanterior. Se isso não ocorresse, a fase anterior era repetidaaté que o critério fosse atingido.

4. Resultados e DiscussãoEstão apresentados resultados obtidos por cinco

grupos de alunos com o objetivo de ilustrar o uso de umprocedimento “relativamente simples” e que poderiatambém ser ensinado para professores como umaalternativa aos métodos tradicionais de alfabetização.

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Foram ensinadas, em média, 12 palavras novaspara cada criança. Todas elas, quando avaliadas no pós-teste, demonstraram ler corretamente as palavrasensinadas, com percentuais de acerto variando entre 67e 100 por cento, exceto P2, cujo percentual situa-se em67 cento nas fases 2, 3, 4 e 5. Com P4 esse percentualocorre apenas na fase 1 e com P5, o percentual é maiselevado, situando-se em 80 por cento nas fases 2, 3 e 5.Submetidas a um teste de generalização (palavras novasformadas a partir de sílabas já aprendidas), três delasapresentaram leitura generalizada. No teste deequivalência todas conseguiram formar novas relações,isto é, conseguiram ler com compreensão as palavrasquando apresentadas juntamente com suas respectivasfiguras e vice-versa.

Os resultados mais significativos foram aquelesreferentes ao envolvimento dos alunos nas atividades deensino de leitura e escrita. Todos os grupos de alunosterminaram o semestre tendo ensinado a criança a ler eescrever. Além da aplicação do procedimento, os alunostinham também como tarefa redigir um relatório final como tratamento e discussão dos dados. No final do semestre(1994/1), os grupos foram convidados a apresentaremos resultados em congressos que se realizariam nosemestre subsequente. Cinco grupos responderam aoconvite. Os dados obtidos por esses grupos foramorganizados num formato de comunicação de pesquisa(Medeiros e cols., 1994b), cujo resumo foi enviado a doiscongressos (um nacional e um internacional10) comaceite para ser apresentado numa das seções orais.

10 À ABPMC, realizado no segundo semestre de 1994 na cidade deCampinas (SP) e ao XXV CONGRESO INTERAMERICANO DEPSICOLOGIA, realizado em Porto Rico em 1995, intitulado Laenseñanza de nuevas palabras a niños con desempeño escolarinsuficiente através del procedimiento de exclusión.

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Os resultados que fizeram parte dessacomunicação estão representados na Figura 1. Estãoapresentados os dados dos pré/pós-testes, dos testes deequivalência e de generalização. Os dados são muitoclaros quanto ao alcance dos objetivos propostos. Foramensinadas, em média, 12 palavras novas para cadacriança. Todas aprenderam a ler as palavras ensinadas,exceto uma (P2) que apresentou apenas 67 por cento deleitura correta. Os demais apresentaram 100 por centode acerto, quando avaliadas no pós-teste de leitura.Submetidos a um teste de generalização (palavras novasformadas a partir de sílabas já ensinadas), três deles (P1,P3 e P5) apresentaram leitura generalizada. No teste deequivalência todos conseguiram estabelecer as relaçõesBC/CB, isto é, conseguiram relacionar as palavras comsuas respectivas figuras e vice-versa.

Os dados mostram que é possível com oprocedimento de discriminação condicional ensinarcrianças por meio de exclusão da palavra conhecida alerem com alta porcentagem de acertos. Os resultadosforam discutidos em termos do alcance social doprocedimento realizado, juntamente com a possibilidadedos alunos aprenderem os princípios de aprendizagemlidando diretamente com problemas sociais relevantes esignificativos.

Na discussão com os alunos durante a realizaçãoda disciplina e principalmente após a realização doprocedimento e tratamento dos dados, mostrava-se queo problema ou dificuldade de aprender a ler e escrevernão se encontra no organismo, mas sim no métodoutilizado. Esses que tiveram o privilégio de seremescolhidos terão provavelmente mais chances de superaras dificuldades de aprendizagem com as quais estavamse defrontando naquele período e provavelmente selibertar dos rótulos de pessoas problemáticas ou comproblemas de aprendizagem, deixando de fazer parte doproblema para fazerem parte da solução.

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Figura 1. Representação dos acertos em porcentagem de leituracorreta das palavras de ensino nos pré e pós-testes, no testede equivalência BC/CB e no teste extensivo de generalizaçãonas cinco fases de exclusão.

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Chamo atenção para o significado dessa experiênciacom problemas de leitura e escrita tanto para os alunosda disciplina quanto para as crianças; ambos os grupos,alunos da disciplina e crianças apossaram-se de um novoconhecimento com decorrências diretas desse programade ensino sobre seus repertórios: o primeiro grupo comuma experiência de lidar já na graduação com apossibilidade de atuar junto a problemas sociaissignificativos e o segundo grupo com a possibilidade deler com compreensão e aumentando com isso apossibilidade de não fazer parte do grupo de analfabetos.No começo, foi possível observar entre os alunos, aocorrência de certo receio, insegurança, pois, afinal, seriaa primeira vez que utilizariam um procedimentoexperimental com pessoas, em situações reais.

Retomo aqui a ideia do continuum entre essas duasinstâncias comportamentais: de um lado, já bastanteconhecidas, encontram-se as atividades de ensinar ratosa pressionar uma barra e de outro, pouco conhecidas,as atividades de ensinar uma criança a ler e escrever...Essa é a ideia de laboratório como um continuum quedefendi neste texto. Pode parecer estranho, mas sãopoucos os alunos que veem semelhança entre ensinarum rato a pressionar uma barra e uma criança aidentificar palavras e sílabas corretamente. Nessadiscussão, com os alunos, ressalto sempre a diferençae complexidade entre ambas as espécies. Começar ainteragir com um organismo mais simples é apenas umaestratégia para que o aluno aprenda a identificar e medirvariáveis e avaliar, no comportamento da espécie sobestudo, os efeitos dessas variáveis.

É, pois, dentro dessa perspectiva que foramconduzidos os trabalhos, mostrando aos alunos, porexemplo, que as técnicas de controle – relações entreestímulos discriminativos, respostas e estímulosreforçadores – são recursos estratégicos para prover o

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indivíduo de um repertório que, nos contextosinteracionais, produzam condições para a ocorrência denovas formas de relações. Uma das decorrências doprocedimento utilizado é a aprendizagem quase imediatade ler e escrever corretamente e ao perceber que estáacertando quase tudo (e isso, logo de início, oprocedimento propicia), é provável que a criança passea se relacionar com mais competência com seuprofessor e colegas de classe, pois pode tambémaprender como as demais crianças; é provável que suaautoimagem de incompetente, ignorante, instalada emantida no contexto escolar por professores e seuscolegas de classe se modifique.

Nas supervisões, foram frequentes os relatos dosgrupos sobre o sucesso (raramente sobre o insucesso)do trabalho e também da surpresa ao verificarem quereforço também funciona com gente. Alguns relataram adificuldade de se conter, quando, nos pós-testes, acriança lia sem dificuldades e sem reforçamento aspalavras que lhes foram ensinadas e também nasequivalências, onde sem qualquer reforçamento, elaapresentava comportamentos emergentes, relacionandofiguras com palavras e palavras com figuras sem teraprendido diretamente essas relações __ Dá vontade deabraçá-las, de beijá-las, mas temos que nos conter __

foram, por exemplo, falas que retratavam a surpresa dealunos diante de resultados tão surpreendentes oriundosdos procedimentos empregados que acabaram porrevelar uma outra questão pouco trabalhada em nossaspesquisas – como lida o comportamentalista com aemergência de suas emoções?

Venho fazendo com que os alunos com os quaistrabalho entendam que podemos considerar a existênciadestes sentimentos como comportamentos que podemse constituírem em legítimos objetos de estudo. Nossosolhares têm sido dirigidos apenas para os aspectos formais

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e acadêmicos do aprender. Aluno e professor possuem emanifestam sentimentos, desejos, valores ... enfim nãoapenas o que visivelmente aparece à nossa percepção...mas também suas subjetividades. E, muitas vezes, emnome da eficiência acadêmica, ela tem sido deixada delado em nossas investigações acerca das interaçõeshumanas. Nós, comportamentalistas, choramos, rimos,temos raiva, enfim nos emocionamos. Esses aspectosdo comportamento parecem não se enquadrar nacategoria do que consideramos conhecimento.

A eficiência acadêmica precisa incorporar asubjetividade, quer por suas características de eventoprivado, acessível apenas ao indivíduo que se comporta,quer por usas características motivacionais, capazes dealterar o valor dos reforçadores. Reconhecer a legitimidadedessas características da interação humana contribuirápara o enriquecimento, quer das relações professor-aluno,quer das relações experimentador/sujeito e, certamente,para o adequado entendimento do potencial de contribuiçãoda abordagem comportamentalista à educação.

Referências

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Medeiros, J. G.; Machado, L. M. C. M.; Croszewicz, L. & Acost,M. B. P. (1999). A contribuição da Análise Experimental doComportamento para a formação do profissional em psicologia.Estudos de Psicologia, 16 (1), 5-12.

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Medeiros, J.G.; Baus, J.; Jeremias, A.E.; Mattos, V.B.; Freitas,M.A.N.; Carla S.S., Silva, I.W., Silva, M.H., Monteiro, C.; Dutra,G. & Franco, R. (1994b). Em busca de alternativas para aalfabetização: Integração ensino/pesquisa/extensão nasdisciplinas de psicologia da aprendizagem e psicologiaexperimental. Comunicação oral apresentada no III EncontroBrasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental.Campinas, SP: ABPMC.

Melchiori, L. E., Souza, D. G. & de Rose, J. C. (1992).Aprendizagem de leitura por meio de procedimento dediscriminação sem erros (exclusão): uma replicação com pré-escolares. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 8 (1), 101-111.

Postman, N. & Weingartner, C.(1974). Contestação: novafórmula de ensino. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.

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A literatura da área da educação, do ensino e daaprendizagem frequentemente menciona a contribuição deB.F. Skinner e, rapidamente, passa a discorrer porque elaseria inconveniente ou insuficiente para a Educação. Assim,antes que possa saber no que consiste a obra skinneriana,os leitores de tais manuais são convidados, ou persuadidos,a não se deter em suas possibilidades e em seu alcancepara a tarefa educativa.

Maria Ester Rodrigues reconhece esta questão epropõe-se, neste capítulo, a apresentar ao leitor a riqueza ecomplexidade da obra de Skinner. Inicia apresentandoconceitos centrais – o conceito de ambiente e a noção decausalidade. Após esta exposição, durante a qual o leitorpercorre, de modo sintético, a questão fundamental da seleçãopelas consequências e dos três níveis de determinação - aontogênese, a filogênese e a história sociocultural do grupoao qual pertence o indivíduo, Maria Ester enuncia quais osconhecimentos que devem ser compartilhados peloprofissional de educação que busca atuar como analista decomportamento: Compreensão dos princípios filosóficos dobehaviorismo radical; Conceitos básicos do behaviorismoradical e análise do comportamento; Método de pesquisa daanálise do comportamento e Formação para o ensino.

Mas, se os conceitos fundamentais estão estabelecidos,se há um conjunto selecionado de saberes necessários aoprofissional da educação sobre o qual há um consenso, porquea Análise do Comportamento ainda não contribui como poderiae deveria? O texto de Maria Ester responde a isto, ao explanarmitos e preconceitos relativos ao Behaviorismo Radical e àAnálise do Comportamento, mais frequentemente resultantesde equívocos conceituais, de incompreensão teórica oumetodológica e ao posicionar o pensamento skinneriano nopanorama das correntes filosóficas.

A leitura deste texto pode ser vista como um guia doque é relevante saber e também dos desafios a superarpara a extensão desta rica parcela do conhecimento científico– a Análise do Comportamento – à Educação.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

CAPÍTULO 2

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 37

Behaviorismo Radical, Análise doComportamento e Educação: o

que precisa ser conhecido?

Maria Ester RodriguesUniversidade Estadual do Oeste do Paraná

O behaviorismo radical tem como principalrepresentante o psicólogo americano Bhurrus FredericSkinner1 (1904-1990), que se encontra entre os 100primeiros nomes da psicologia do século XX. Oito diasantes de morrer, recebeu um prêmio na AssociaçãoAmericana de Psicologia, a APA – AmericanPsychological Association, pela destacada contribuiçãoà psicologia ao longo da vida.

Os behavioristas e o behaviorismo radical estãopresentes no mundo todo, incluindo o Brasil. Existem váriasassociações profissionais espalhadas pelo mundo e a maisrepresentativa nos Estados Unidos é a ABA – Associationfor Behavior Analysis, fundada em 1974, contando commembros nos EUA e no mundo. No Brasil a associaçãomais representativa dos analistas do comportamento é aABPMC – Associação Brasileira de Psicoterapia e MedicinaComportamental, fundada em 1991. Além de reunirprofissionais, pesquisadores, alunos e pessoasinteressadas na área clínica, a ABPMC reúne também

1 Para maiores informações a respeito da diversidade da obraskinneriana pode ser consultado Carrara (1992).

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analistas do comportamento que trabalham em outras áreasaplicadas, como a educação, o trabalho e a comunidade.Existem, ainda, algumas associações regionais brasileirase seus eventos regionais, além de pelo menos um eventonacional anual promovido pela ABPMC.

O título “analista do comportamento” é o nomecontemporâneo dado aos behavioristas que seguem umaorientação skinneriana. Existem diferentes tipos debehaviorismo e o behaviorismo ao qual estamos nosreferindo é o behaviorismo representado por Skinner, qualseja, o radical. Existem outros tipos de behaviorismo,como o behaviorismo metodológico, o behaviorismomediacional etc. Porém, o behaviorismo que existe commais força e com maior número de representantes noBrasil é o skinneriano. A análise do comportamentoderivada do behaviorismo skinneriano é uma abordagemde investigação e aplicação que tem como base afilosofia behaviorista do comportamento behavioristaradical. Conforme Skinner (1974/1993): “O Behaviorismonão é a ciência do comportamento humano, mas, sim, afilosofia dessa ciência”. (p. 7)

1. Behaviorismo Radical: introduçãoDentre os conceitos básicos para o behaviorismo

radical, um dos mais importantes é o conceito de ambiente,entendido como ambiente físico e social ou social e nãosocial. No senso comum a palavra ambiente significa umlugar físico específico como o parque, a escola ou osupermercado. Já para o behaviorismo radical o ambientediz respeito a tudo o que circunda o comportamento,podendo ser um ambiente interno. O ambiente não énecessariamente externo e não diz respeitoexclusivamente ao mundo das coisas, referindo-setambém ao mundo das pessoas e ao mundo da cultura.Skinner recupera o ambiente como instância privilegiada

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onde o cientista busca variáveis e condições das quais ocomportamento é função, o que ocorre não em umarelação dualista, mecanicista e causal, no sentido linear,mas sim em uma visão selecionista, evolucionista,interacional, funcional e histórica. “Como as pessoassentem é frequentemente tão importante quanto o quefazem” (Skinner, 1989). Esta citação de Skinner ilustra asua valoração dos eventos que se passam no mundo soba pele. Por conseguinte, o ambiente, para Skinner, incluitodos os conjuntos de condições e circunstâncias queafetam o comportamento, não importando se taiscondições estão dentro ou fora da pele. O ambiente éexterno à ação e não necessariamente ao organismo.Também não há separação entre mundo interno e externo,portanto, não há dualismo em nenhuma instância.

Qual é o modelo de determinação/causalidade dobehaviorismo radical? É o modelo de seleção porconsequências. Trata-se um modelo que sofreu fortesinfluências darwinianas, sendo as relações entre Skinner ea biologia mais estreitas do que se possa supor pelosiniciantes no tema. O modelo de seleção por consequênciasprivilegia na sua explicação o comportamento operante, umtipo de comportamento proposto ou descoberto por Skinner.Comportamento operante é definido como aquele em queo indivíduo atua, faz, age, opera sobre o ambiente,modificando-o e sendo por ele modificado. Para haverseleção de comportamentos o organismo tem que secomportar2.

2 Isso oferece a ocasião para a lembrança de uma críticabastante comum ao behaviorismo, que é a de que a concepçãode homem na abordagem seria a de um sujeito passivo. Ora, aprópria definição de comportamento operante já inclui a noçãode interação contínua com o meio, ou seja, não é possívelselecionar a ausência de ação. A noção de ação do organismoestá sempre implícita. Ex.: Como pode o professor reforçar a

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O comportamento é produto do quê? O que determinaou causa comportamento? O comportamento é produto detrês níveis de explicação ou de três histórias. Uma delas,que tem milhões de anos, é a história filogenética dasdiferentes espécies, mais especificamente daquela que nosinteressa no momento, a espécie humana. A históriafilogenética vai forjando ao longo de milhões de anos osreflexos e os padrões comportamentais inatos típicos de cadaespécie. A espécie humana tem os seus reflexos e padrõesde comportamento inato. A filogenética faz parte da explicaçãodo comportamento embora seja um aspecto dadeterminação mais propriamente inserido e estudado pelabiologia por meio da etologia.

O segundo nível explicativo do comportamento, maispropriamente inserido na psicologia, seria o segundo nívelde determinação do comportamento, qual seja, aontogênese, que diz respeito à história de vida de cadaum ou, ainda, aos operantes modificados. Desde omomento em que nascemos, sobre os reflexos e padrõestípicos de cada espécie vão surgir os comportamentosoperantes que, por sua vez, vão entrar em interação como mundo, modificando-o e sendo modificados pelasconsequências que produzem. A ontogênese ou históriade vida de cada um é justamente sobre o que podemosintervir quando falamos de psicoterapia, de educação oudo trabalho do analista do comportamento aplicado e dopsicólogo, em geral.

O terceiro nível de explicação do comportamento, paraSkinner, seria o nível da cultura e das práticas culturaisexercidas pela sociedade, forjada durante milhares de anos.

ausência de comportamento? A noção de comportamentooperante é um excelente exemplo de modelo de seleção pelasconsequências em ação, ou seja, a definição de comportamentooperante já desmentiria a “acusação” de suposta passividadedo sujeito no behaviorismo radical.

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Então, no que diz respeito à explicação do comportamento,existem fatores criados no espaço de milhões de anos(filogênese), no espaço de milhares de anos (cultura) e noespaço de vida do indivíduo (ontogênese).

Um evento comportamental é, portanto, a confluênciados três níveis mencionados nos parágrafos anteriores(filogênese, ontogênese e cultura). O indivíduo éconsiderado pelo behaviorismo como único, singular e emconstante construção da sua história comportamental, pordois processos, o da variação e da seleção. O que seriao processo da variação? O comportamento operante, aocontrário do respondente ou reflexo, não é eliciado. Aocontrário, é emitido pelo organismo. Na noção de emissãode comportamento operante existe um espaço para oacaso, ou seja, não é possível prever ou controlar a primeiraemissão de um comportamento. As demais emissões serãoexplicadas pelo que ocorreu na sua história passada, masna primeira emissão existe uma dose de acaso, bem como,variações que são absolutamente casuais. Assim comoexistem variações no código genético de um indivíduo,existem variações comportamentais que vão sendoselecionadas, ou na história da espécie ou na história dopróprio individuo. A seleção irá agir no sentido de fortalecerou de enfraquecer determinados tipos de comportamento,ou seja, produzimos consequências, quer sejam positivas(consequências favorecedoras da sobrevivência dessecomportamento e/ou desse organismo), quer sejamnegativas (desfavorecedoras da sobrevivência dessecomportamento e/ou desse organismo). São asconsequências que geram a manutenção decomportamentos ou alteração dos mesmos, diferenciandonovas formas de interação com o mundo.

Quando um comportamento operante é selecionado?Quando uma emissão do mesmo no passado produziu umaconsequência reforçadora, que aumentou sua probabilidadede ocorrência futura. Aqui cabe um comentário advindo da

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nossa experiência pessoal, como ilustração do fenômeno:Algumas vezes alunos comentam: “Professora, eu reforceio comportamento daquele aluno e não deu certo”. Podemosdizer que reforçamos um comportamento se não houvemodificação do referido comportamento? Não. Caso nãotenha havido alteração de frequência do comportamento éporque não o reforçamos, porque não encontramos umaconsequência que tenha poder reforçador sobre aquelecomportamento. Sendo assim, se não houve nenhumaalteração em relação ao aumento da probabilidade deemissão futura do comportamento é porque não houvereforço. Um exemplo de comportamento operantediferenciado (modelado) e selecionado em situação escolarseria o comportamento de ler. Ele é selecionado pelasconsequências produzidas que aumentaram suaprobabilidade de ocorrência, em outras palavras, por que ocomportamento de ler gerou consequências pessoas esociais (obtenção de informações, aumento de sucessona vida em grupo etc.). Obviamente o operante de ler nãoexistiu de forma completa em uma primeira emissão, maso professor efetuou um procedimento de modelagem oude aproximações sucessivas ao objetivo final, graduandoas etapas em objetivos intermediários, que culminaram naprodução de leitura.

O comportamento selecionado envolveu previamenteum agir que, pelas consequências produzidas gerou novasformas de relação com o mundo. A proposta dedeterminação de Skinner é de uma causalidade históricae probabilística ao invés de linear ou mecanicista.Aprendemos muito pela seleção das nossas própriasações, ou seja, emitimos comportamentos operantes quesão selecionados ou não. Outras formas de aprendizado,que não a iniciada pela própria experiência, ou em outraspalavras, pela aprendizagem pelas contingências, se dãopela imitação/modelação ou, ainda, pelas regras oucomportamento verbal.

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Caso tenhamos habilidade suficiente, podemosfazer alguma coisa simplesmente por termos vistoalguém fazer, o que seria exemplo de aprendizagem porimitação ou modelação (aprendizagem pelo modelo3).É claro que nem tudo pode ser aprendido por imitaçãodo modelo. Ex.: Eu posso ver um neurocirurgião fazendouma neurocirurgia e nem por isso terei condições deimitar esse comportamento, mas se eu também for umneurocirurgião, com os pré-requisitos necessários paraimitar uma nova técnica, tenho condições de reproduziraquilo que vejo o outro fazer.

O comportamento aprendido por regras envolvecomportamento verbal e trata-se de outra forma deaprender. Por um conjunto de instruções obtidas pelaleitura de um manual ou pela explicação de alguém, possoter condições de solucionar um problema inteiramentenovo para mim ou executar alguma tarefa nunca dantesexecutada. Não precisamos aprender única eexclusivamente pela nossa própria experiência, podemosaprender pela experiência do outro, seja pela observaçãodo que o outro faz (modelação), seja pelo auxílio docomportamento verbal (aprendizagem por regras).

O ser humano, bem como o seu comportamentoé sempre uma combinação dos três níveis dedeterminação, a ontogênese, a filogênese e a históriacultural do grupo ao qual ele pertence de modo único eabsolutamente singular. A singularidade existe pelaconfiguração dessas histórias, que nunca seráexatamente a mesma para todos os indivíduos. A históriafilogenética é a mesma para os indivíduos da mesmaespécie. Já a história individual e a história social, mais

3 Um equívoco bastante comum, talvez pela semelhançamorfológica das palavras, é confundir modelação (aprendizagempelo modelo) com modelagem (reforço diferencial de aproximaçõessucessivas ao desempenho final).

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especificamente a individual, jamais será exatamente amesma para duas pessoas, bem como, a confluênciadas três histórias. Sendo assim, nunca teremos um serhumano exatamente igual ao outro.

Acerca da relação entre causalidade e comporta-mentos encobertos, poderíamos dizer que oscomportamentos encobertos, conforme já mencionamos,são aceitos como fenômenos passíveis de estudo nobehaviorismo radical ao contrário do behaviorismowatsoniano. Porém, eles não possuem status causal, aocontrário, eles são fenômenos a serem explicados. Noentanto, em nossa cultura, os eventos internos sãotomados como causa do comportamento público. Para obehaviorismo radical, aquilo que pensamos ou sentimosnão é a causa iniciadora do nosso comportamento. Nãochoramos por estarmos tristes, nós choramos e ficamostristes, provavelmente, porque algo aconteceu. Nãodançamos por estamos alegres, dançamos e tambémficamos alegres porque sentimento e ação pública estãoinseridos em um contexto mais abrangente. Quaisquereventos encobertos (pensamentos, sentimentos e outros)são vistos como fenômeno a ser explicado e não sãotomados como ‘a’ explicação. Essa é uma diferença chaveentre a concepção behaviorista radical e a concepção quediz respeito à cultura em geral e a outras correntespsicológicas que existem concomitantemente.

2. O que o profissional deve conhecer paraatuar em consonância com a propostaanalítico-comportamental no ensino(Rodrigues, 2005, 2007 e 2008)

Quais são os principais elementos a seremconhecidos em uma proposta analítica comportamentalpara o ensino? Listamos quatro pontos que retiramos da

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literatura especializada, ou seja, dizem respeito ao que osprofissionais da área consideram importante que osprofissionais de educação saibam a respeito debehaviorismo (Bijou, 1970; Gioia, 2001 e Zanotto, 2000).Efetuamos em nosso trabalho de Doutorado (2005) e emposteriores (2007/2008) uma categorização que guiasse aanálise de teses e dissertações que se prestassem aoferecer propostas de formação a profissionais de educação(que fossem identificadas com a abordagem analíticocomportamental). Tal categorização acabou por se revelaruma espécie de guia a respeito de elementos de propostasformativas que objetivem preparar o profissional deeducação para atuar na perspectiva da análise docomportamento. Propostas formativas, na referidaabordagem devem conter, em nossa opinião (baseada narevisão de literatura acima mencionada), pelo menos algunssub-elementos dos quatro aspectos a seguir:• Filosofia da ciência (Compreensão dos princípios filosóficos

do behaviorismo radical e, por conseguinte, da análise docomportamento e suas implicações para as práticaseducacionais);

• Conceitos básicos do behaviorismo radical e análise docomportamento;

• Método de pesquisa da análise do comportamento;

• Formação para o ensino.

2.1. Filosofia da ciência

Em relação à filosofia da ciência, é importante incluirtemas como: o modelo de determinação ou decausalidade do behaviorismo radical (três histórias eníveis de seleção do comportamento), e o papel dosfatores inatos. É bastante comum ouvirmos dizer que obehaviorismo despreza completamente qualquer tipo defator inato na explicação do comportamento, o que não podeser considerado verdadeiro, uma vez que a filogênese éum dos elementos considerados por Skinner como partedo modelo de determinação de comportamento.

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Outros aspectos importantes sobre a filosofia daciência: conhecer sobre a concepção da abordagem emrelação a eventos privados, ou seja, como a abordagemtrata fenômenos como a subjetividade. Além disso, étambém importante incluir conteúdo sobre como aabordagem entende a singularidade humana, a indicaçãode diferenças em repertórios individuais, e também amaneira como a abordagem entende a questão daliberdade e dignidade humanas. Este último aspectoremete ao esclarecimento do que a abordagem entendepor controle. A palavra ‘controle’ é utilizada na abordagemcomo a descrição de contingências responsáveis pelaocorrência do comportamento, com sentido de explicaçãodo comportamento. Explicar o comportamento equivale ater conhecimento de quais são as variáveis responsáveispela produção desse comportamento e, por conseguinte,ter conhecimento sobre o que controla essecomportamento. Porque é importante saber sobre ocontrole do comportamento? Porque é o que possibilitatanto o autocontrole, como o contra controle, oplanejamento da cultura e qualquer outro tipo deintervenção, entre as quais a intervenção educativa.

2.2. Conceitos básicos de análise docomportamento

Em relação aos conceitos básicos de análise docomportamento, iremos apenas citá-los, porque bonsmanuais já existentes em profusão podem esclarecê-loscom bastante propriedade. Os conceitos básicos de análisedo comportamento dizem respeito à descrição de princípiosembasados e apoiados em dados, bem como aosenunciados que descrevem relações demonstradas entrevariáveis, exaustivamente demonstradas em experimentos.Quais sejam: Conceitos de comportamento operante,objeto de estudo e de pesquisa da análise do comportamentocomo relação homem-ambiente, em que o primeiro atuasobre o mundo e é modificado pelas consequências de

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sua ação e condicionamento operante; conceitos decontingências de reforçamento, ou de relações entre aocasião em que o comportamento ocorre, o própriocomportamento e as consequências por ele produzidas;fatores contextuais como saciação e privação de estímulosreforçadores (operações estabelecedoras).

Também são conceitos básicos na abordagem oreforço positivo e o negativo, seja primário, secundárioou generalizado. A naturalidade e a artificialidade do reforço,os esquemas de reforçamento, a punição, a extinção e asimplicações do uso generalizado do controle aversivotambém são de conhecimento obrigatório, assim como osprocedimentos de instalação e diferenciação da resposta etodos os seus componentes, que atuem sob condiçõesantecedentes e/ou consequentes ao comportamento,como: modelagem, modelação, instrução, entre outros.Outros conceitos básicos para a abordagem seriam ocontrole de estímulos do comportamento operante, comoa discriminação, a generalização, a equivalência deestímulos, a discriminação condicional etc.. Além disso,temas como motivação e comportamento verbal, abertoou encoberto, do tipo tato, textual, ecoico, intraverbal, econtingências envolvidas em sua aquisição e manutençãotambém devem ser conhecidos.

2.3. Métodos de pesquisa na Análise doComportamento

Um terceiro componente importante da formação deprofessores nessa abordagem é o conhecimento sobre osmétodos de pesquisa da análise de comportamento.Diz respeito a conhecer como é que se faz demonstraçãode relações funcionais ou avaliação da aplicação práticadas intervenções analítico comportamentais. Diz respeitotambém aos procedimentos de investigação experimentalque se caracterizam por privilegiarem sujeito único e linhade base múltipla. Ao contrário do que algumas pessoas

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possam supor, a pesquisa behaviorista não é feitaprioritariamente com análise estatística grupal (grupoexperimental e grupo controle), apesar de ser um tipo depesquisa bastante valorizada na psicologia e outros camposde estudo. A análise do comportamento utiliza o própriosujeito como parâmetro e não grupos. Outros elementos aserem inseridos na formação em pesquisa seriam aspectosda pesquisa básica e aplicada.

2.4. Formação para o ensino escolar(Rodrigues, 2005, 2007 e 2008)

Em nossa experiência com formação de professores,verificamos que os princípios do behaviorismo radical podemser aplicados na educação em qualquer nível, seja naeducação presencial ou à distância e em qualquer nível deensino, desde a pré-escola até o ensino de pós-graduação.

Sobre a formação para o ensino propriamentedito, seria importante que um profissional de educaçãotivesse acesso, em primeiro lugar, à concepção deensino-aprendizagem da abordagem, que entende ensinocomo arranjo sistemático de contingências, efetuado parafacilitar a aprendizagem. Existe também a defesa do ensinocomo transmissão de conhecimento social e culturalmenteacumulado pela humanidade, em contraposição à ênfasenas descobertas feitas pelo aluno. O aluno pode aprenderpor conta própria e geralmente isso até ocorre, porém, quemé ensinado aprende em maior quantidade e em espaçomenor de tempo, com menos dificuldades e percalços. Aconcepção de aprendizagem em situação escolar é a demudança de comportamento decorrente do ensino.

A concepção de conhecimento é um doselementos de uma formação analítico-comportamentalvoltada ao ensino e diz respeito à aquisição decomportamento verbal sobre algo (saber falar sobrecoisas) ou à aquisição de habilidades (saber fazercoisas).

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Já a concepção de educação, terceiro elemento,aliado aos anteriores, diz respeito ao preparo para omundo existente fora da escola e no futuro, ou seja, osobjetivos educacionais últimos são voltados para o futuro,como a formação de autonomia e autogoverno do sujeito.

2.4.1. Formação para o ensino – papel do professor(Zanotto, 2000; Rodrigues, 2005/2007/2008)

Qual é o papel do professor nessa abordagem?É um papel muito importante. O professor é oresponsável pelo planejamento de contingênciaseducativas dentro dos princípios e com o uso deconceitos básicos da abordagem. O professor faz isso,primeiramente, identificando qual é o repertório inicialdo aluno, ou seja, qual o nível de conhecimento do alunoe quais são suas possibilidades iniciais. Isso equivale aidentificar o “para quem ensinar” de Zanotto (2000). Paraconhecer quem vai ensinar, o professor deve aprender aobservar e registrar o comportamento do aluno, paraidentificar repertórios comportamentais, para identificarpresença ou ausência de pré-requisitos para aaprendizagem em questão, para identificar diferençasindividuais entre os alunos e, o que é bastante comumacontecer, identificar diferentes suscetibilidades aosdiferentes tipos de reforço, sejam eles naturais ouarbitrários (existem muitas diferenças entre um e outrotipo embora ambos possam ser utilizadas).

O segundo aspecto relativo ao papel do professor éo de explicitar objetivos educacionais. Em um primeiromomento, conforme já mencionado, faz-se umdiagnóstico do repertório existente, identifica-se o paraquem se ensina. Em um segundo momento, partindo dorepertório inicial, deve-se definir quais são os objetivos deensino. Quem não sabe para onde vai, muitoprovavelmente, não chega a lugar nenhum. Daí aimportância de termos objetivos educacionais claros,

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podendo ser objetivos terminais ou intermediários. Taisobjetivos devem ser, preferencialmente, expressos emtermos comportamentais claros, com descrição dedesempenhos esperados, podendo abarcar amplosespectros de comportamentos, sejam comportamentosacadêmicos ou relativos aos conhecimentos e habilidadesafetos à dada área de conhecimento; sejam sociais oufavorecedores de relações produtivas e de diálogo entreprofessor-aluno, aluno-aluno etc.; além daqueles que sãofavorecedores de autogoverno motivacional, ético eintelectual como comportamentos precorrentes deestudar, solucionar problemas e construir reforçadores.

É importante ensinar o aluno a ser independentena busca de seu próprio conhecimento e, portanto, élegítimo incluir ensino de autonomia como objetivoeducacional. Legítimo embora com dificuldadesadicionais para ser implementado. Porém, se o aluno éensinado a estudar, a solucionar problemas, a construiros seus próprios reforçadores, ele fatalmente irá setornar um sujeito autogovernado, auto motivado e,portanto, autônomo.

Existem outros aspectos importantes do papel doprofessor. O terceiro deles é que deve selecionar osconteúdos acadêmicos para consecução dos objetivose, em quarto lugar, deve propor quais os procedimentospara consecução dos objetivos. Esses procedimentoscomportam um amplo espectro de habilidades que oprofessor poderia possuir:• Minimizar ou eliminar contingências aversivas,

bastante comuns nas escolas, desde tempos imemoriais.Os alunos, ainda hoje, estudam mais para se livrar depossíveis consequências negativas (reforço negativo) do quepelo prazer de estudar ou pelo aumento da competência noconhecimento e no trato de alguns assuntos (reforçopositivo). Isso sem falar dos problemas e polêmicasrelacionadas à utilização de punição.

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• Outro procedimento é o referente à habilidade de fornecercondições consequentes ao comportamento do aluno,com privilégio para a utilização correta e efetiva dereforçadores, quer sejam arbitrários ou naturais; dandopreferência ao uso de confirmação de desempenho, indicaçãode progresso, trabalho preferido e aprovação social. Taisexemplos são importantes para diferenciarmos reforços muitodistantes dos que geralmente se encontram no ambienteescolar e, principalmente, muito distantes do desempenhoque se deseja instalar e que, na vida natural, dificilmenteseriam autoproduzidos pelo comportamento em questão.Caso o professor ainda não tenha conseguido instalar orepertório comportamental que produza reforçadores por sisó, poderá utilizar alguns reforços arbitrários, mas compreferência para os reforços arbitrários do tipo social e dotipo mais facilmente encontrado dentro do ambiente da salade aula. Reforçadores muito artificiais são contra indicados.

• O professor deve também substituir progressivamentereforçadores arbitrários por reforçadores naturais. Emoutros termos, o professor pode utilizar reforçadoresarbitrários no início da aprendizagem, mas sempre com ocompromisso de substituí-los por reforçadores naturais aolongo do tempo.

• Os aspectos anteriores relacionam-se com a tarefa depromoção da manutenção e generalização docomportamento após a sua instalação, o que torna oaluno independente de reforço arbitrário. O aluno só irácontinuar estudando no mundo fora da escola e no futurocaso ele consiga produzir seus próprios reforçadores comodecorrência do comportamento que ele está emitindo.

• O professor também deve ter respeito ao ritmo do alunoestabelecendo critério comportamental para reforçamentoe individualização do ensino.

• O professor deve graduar conteúdos por dificuldade,transformando-o em pequenos passos e em sequência. Emoutras palavras, realizar modelagem dos comportamentosque deseja ensinar, expressos nos objetivos curriculares.

• Deve propor e executar estratégias e procedimentosde ensino, atuando sobre as condições antecedentes e

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consequentes ao comportamento, por intermédio demodelagem, modelação, instruções, fading, timeout,instigação, treino discriminativo, discriminação condicional,discriminação condicional por exclusão etc..

• O professor pode utilizar tecnologia do ensino? O queseria considerado tecnologia do ensino? Sim, ele pode aplicarmateriais programados, manuais, softwares educacionais oupacotes instrucionais. No Brasil, os pacotes instrucionaismais identificados com análise do comportamento e maisconhecidos também são o PSI (Personalized System ofInstruction) e o IP (Instrução Programada). O PSI é o ensinopersonalizado e individualizado, desenvolvido pelo psicólogoamericano Fred Keller, na Universidade de Brasília, na décadade 1960. Já a Instrução programada é o “pacote instrucional”elaborado pelo próprio Skinner. Existem vários outros “pacotesinstrucionais” que podem ser identificados com os princípiosanalítico- comportamentais, pouco conhecidos no Brasil(Precision Teaching, Direct Instruction etc.).

· Por último e não menos importante, o professor deve avaliaro desempenho do aluno, a partir dos objetivos e critériosde desempenho anteriormente estabelecidos. Deve avaliarnão somente o desempenho do aluno, mas também ométodo e as condições de ensino, utilizando a avaliação doprocesso ensino-aprendizagem como condição parareplanejamentos, sempre tentando observar e manter registrodo comportamento dos alunos como base para identificaçãode repertórios, para modificação de materiais eprocedimentos de ensino bem como, para estabelecercritérios de desempenho.

3. Mitos e preconceitosO behaviorismo radical e a análise do

comportamento estão envoltos em muitos mitos epreconceitos, na área da educação e em outras áreas deatuação, na própria psicologia e em áreas afins. Rodrigues(2000, 2002) realizou um rastreamento da literatura arespeito de quais explicações existiam para tais mitos epara o fenômeno de oposição generalizada ao

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behaviorismo. Na extensa revisão de literatura realizadana ocasião encontramos vários tipos de críticas, entre asquais, três grandes grupos:1. Baseadas em equívocos: maior parte das críticas dirigidas

ao behaviorismo, críticas em que o autor desconhece asconcepções que critica, utilizando exclusivamente as suaspróprias concepções como se da abordagem criticadafossem;

2. Baseadas em discordâncias: críticas em que as concepçõesdo autor são diferentes das do behaviorismo e onde háconhecimento de ambas, ou seja, a crítica às concepçõesdo behaviorismo não é feita com base exclusiva nas própriasconcepções do crítico, mas com conhecimento em relaçãoàs concepções da teoria criticada;

3. Baseadas em fatores relacionados aos analistas docomportamento.

Discorreremos brevemente sobre cada uma delasa seguir:

3.1. Mitos e preconceitos: equívocos

Os equívocos são os fatores de discordânciamencionados em maior quantidade na literatura. Elescompreendem as críticas relacionadas a conhecimentoinacurado, conhecimento parcial, desconhecimentoda abordagem ou, ainda, a algum tipo deconhecimento datado. Os equívocos estariam ligadosaos repertórios individuais dos críticos, percepçõesnegativas e enviesadas, textos didáticos e cursosministrados, alguns tipos de distorções feitos emcomunicados da mídia, entre outros fatores.

Na origem de equívocos existem também algunsfatores relacionados à terminologia utilizada pelaabordagem. A abordagem utiliza alguns termos comsentido técnico diferenciado daquele que é utilizado nalinguagem do senso comum. Um exemplo é o da própria

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4 1)Dizer que estudar o comportamento retira do foco os fenômenosprivados, sem saber que o conceito de comportamento daabordagem inclui tanto os eventos públicos quando os privados,ou seja, atribuir uma concepção de comportamento – conceito chave

palavra ‘comportamento’. Esta palavra tem umsignificado no senso comum e, para o behaviorismoradical/análise do comportamento, tem um significadodiferente. No dia a dia entendemos comportamento comouma ação exclusivamente observável, geralmentedesignada por verbos de ação: falar, andar, comer, enfim,coisas que eu posso ver o outro fazendo. Para aabordagem analítico-comportamental, a palavra‘comportamento’ designa outros tipos de ação que nãoas exclusivamente observáveis. Inclui também açõesque se passam no mundo dentro da pele do individuo.

Existe também um terceiro grupo de fatoresprodutores de equívoco, os relacionados aodesenvolvimento histórico do Behaviorismo Radical /Análise do Comportamento, o da complexidadecrescente da obra de Skinner. Ao lermos um texto inicialda obra de Skinner, podemos perceber que váriosconceitos-chave da obra do autor só seriam amadurecidosanos mais tarde. Caso alguém leia exclusivamente a obrainicial de Skinner e não tenha conhecimento das derivações,dos aprimoramentos e descartes posteriores, pode vir aefetuar algum tipo de crítica datada em relação à teoria.

O que geralmente acontece é as pessoascriticarem o behaviorismo radical com base nas suaspróprias concepções e não fazerem um contraponto emrelação à diferença entre as suas próprias posições eas posições que são preconizadas pela abordagem. Oque acaba acontecendo, nesse caso, é que se criticaalguma coisa com base naquilo que se presume sobreessa abordagem e não em relação à proposição damesma, ou seja, mero equívoco4.

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Outro exemplo de equívoco bastante comum,inclusive na área educacional, seria a unificação indevidadas propostas de Watson e Skinner. É bastante comumencontrar algumas críticas dirigidas ao behaviorismo, emgeral, sem especificar a qual tipo de behaviorismo a críticase dirige. Quando o crítico faz uma afirmação muitogenérica e não endereça essa afirmação a nenhum tipode behaviorismo ou autor behaviorista é como se oconteúdo ficasse muito diluído e a crítica perdesse a razãode ser. De fato, existem algumas críticas que são feitaspara Skinner que, pelo conteúdo, poderiam ser maiscorretamente dirigidas a Watson. No entanto, eles são doispensadores distintos. Não é possível igualá-los sem umaboa dose de equívoco, uma vez que eles têm posiçõesbastante diferenciadas em relação a muitos aspectos,incluindo aspectos essenciais. Watson é o criador daprimeira versão de behaviorismo, denominadabehaviorismo metodológico. Skinner é um autor maisrecente e é um dos principais representantes da versãobehaviorista denominada behaviorismo radical. Quais sãoas principais diferenças entre Watson e Skinner? Uma dasprincipais diferenças entre ambos é que Watson nãoaceitava como objeto de estudo aquilo que não pudesseser diretamente e publicamente observado (ver Quadro1). Então, se algum fenômeno não pudesse ser observadopor dois ou mais observadores e, consequentemente,fosse impossível existir um critério de verdade por acordoentre diferentes observadores, Watson consideraria sertal fenômeno impossível de ser estudado. Tal posição foiuma reação ao introspeccionismo, posição metodológica

por tratar-se de seu objeto de estudo – que não é a da abordagem;2) Confundir Watson com Skinner; 3) Confundir comportamentooperante com respondente; 4) Dizer que exista defesa de controleaversivo do comportamento; 5) Atribuir passividade na relaçãooperante com o mundo (desmentida pela própria definição do termoem questão); entre outros (Rodrigues, 2006).

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com predomínio vigente na época em que Watson elaborousua proposta ou versão behaviorista. Skinner tem posiçãodiferenciada em relação ao objeto de estudo daabordagem. Ele aceita estudar fenômenos nãoobserváveis, entendendo que o comportamento pode nãoser observável diretamente, o que não quer dizer quecomportamentos não acessíveis diretamente não possamser observados de modo indireto.

A que se refere o adjetivo ‘radical’ do behaviorismode Skinner? Ele é radical porque, em primeiro lugar, negaabsolutamente a existência de algo que escapa ao mundofísico ou ao mundo natural, não é nem mentalista e nemdualista e não divide o homem em duas partes. Tambémé radical porque aceita absolutamente ou radicalmentetodos os fenômenos comportamentais sejam abertos ouencobertos, públicos/observáveis ou privados/nãoobserváveis diretamente. Sendo assim, o sentido de‘comportamento’ para o behaviorismo radical, conformejá mencionado, abarca também todos aquelesfenômenos que ocorrem no ‘mundo sob a pele’ e que,em um sentido cotidiano, não são denominadoscomportamento. Normalmente, quando as pessoasfalam em comportamento, não pensam em termos comopensamento, sonhos, emoções, fantasias, devaneios etc.No entanto, no behaviorismo radical a acessibilidaderestrita dos comportamentos encobertos (acessíveisdiretamente somente ao próprio individuo que secomporta), não torna esses fenômenos menoscomportamentais e também não torna esses fenômenosimpossíveis de serem estudados. O acesso indireto geraum problema metodológico, mas não retira de cena taisfenômenos como objetos de estudo para o behaviorismoradical. Em outras palavras, o acesso indireto não é umproblema insolúvel para Skinner, ao contrário de Watson.Portanto, dizer que o behaviorismo descarta o estudo defenômenos subjetivos é um exemplo de crítica

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Quadro 1. De Watson a Skinner – Objeto de estudo/metodologia

Watson Skinner

Behaviorismo Metodológico Behaviorismo Radical (no sentido de raiz)

Não aceitava como objeto deestudo o que não fosseobservado por limitesmetodológicos de ausência de

Aceita estudar fenômenos nãoobserváveis, entendendo queo nosso objeto de estudo devaser o comportamento, indo aoâmago da questão em doisaspectos, a seguir:

– Nega absolutamente eexistência de algo queescape ao mundo físico/natural (não é mentalista enem dualista)

– Aceita absolutamente todosos fenômenoscomportamentais, sejamabertos ou encobertos, públicosou privados, observáveis e nãoobserváveis

equivocada, ou seja, que confunde dois tipos debehaviorismo e dois autores diferenciados, além de seequivocar também na concepção de comportamento quenorteia a abordagem.

A segunda principal diferença entre Watson eSkinner é que Watson estudou predominantemente ocomportamento e o condicionamento respondente. JáSkinner não somente estudou como propôs o conceitode comportamento operante e sua aprendizagem. Oobjetivo do texto não é efetuar uma comparação entreautores ou tipos diferenciados de comportamento, masconsideramos pertinente oferecer ao leitor um panorama

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58 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Características ComportamentoRespondente

ComportamentoOperante

Unidade de análisee paradigma

S – R R – S ou Cpto –Consequência

Função doselementos do

paradigma

O antecedente tem afunção de causar a

resposta

A consequência éque mantém ou

altera aprobabilidade de

emissão no futuro

Tipo Inato ou aprendido Emitido ao acasoou aprendido

Forma deaprendizagem

Condicionamentorespondente ou

pavloviano

Condicionamentooperante

É adquirido poremparelhamento oupareamento de um

estímuloincondicionado comum estímulo neutro

É fortalecido porconsequências dotipo reforçadoras

(reforço)

Aparecimento É eliciado É emitido

Refere-se à Reflexos (simples Tudo o que se ou condicionados) diz,faz ou pensa

Descobridor e nomemais conhecido

(diferente de“inventor”)

I van PetrovitchPavlov

B. F. Skinner

Definição Resposta eliciadapor um estímuloparticular (seja

incondicionado oucondicionado)

Comportamentoque produz

consequênciassobre o ambiente eé por elas afetado.

Quadro 2. Comparação Comportamento Respondente x Operante

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 59

Determinação É causado (hácausalidade linear, em

sentido estrito). Oestímulo ‘causa’ a

resposta

É probabilístico (existealteração de

probabilidades e nãorelação causal linear/

direta)

Estímulosenvolvidos

Estímulos neutros econdicionados são os

mesmos, mas apenas apósum processo de

emparelhamento com umestímulo incondicionado. Ouseja, sua natureza depende

do tipo de interaçãoorganismo – ambiente

estabelecida.

O estímulo reforçador(consequência que altera

a probabilidade deocorrência no futuro, nosentido de aumentá-la)só pode ser definidocomo tal a posteriori.Caso tenha havido

aumento de frequênciado comportamento que o

antecede pode serconsiderado reforçador.Ou seja, sua naturezatambém depende darelação organismo-

ambiente estabelecida

Rigidez xvariabilidade

Um reflexo só éaprendido em referência

a um já existente noequipamento biológico do

indivíduo. Os reflexosinatos são a base doscondicionados e sãocomuns a todos os

indivíduos da mesmaespécie. É mais fixo e

ligado à filogenia

Refere-se mais àaprendizagem do que

ao comportamentopreviamente existente

no equipamentobiológico do indivíduo.

Permite maisvariabilidade. É maisvariável e ligado à

ontogenia e aspectossocioculturais

(respeitando os limitesdados pela filogenia,

logicamente)

Extinção Um reflexo aprendidopode ser extinto. Um

inato não. A extinção sedá pela apresentaçãorepetida do estímulo

condicionado naausência do estímulo

incondicionado.

Um operante podeser fortalecido, a partir

de emitido. Também podeser extinto. A extinçãose dá pela quebra de

conexão entrecomportamento e

consequência (não maisproduzida pelo

comportamento).

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60 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Recuperaçãoespontânea

Pode haver, mas semnovos pareamentos entre

S incondicionado econdicionado torna a

desaparecer.

Pode haver, massem novos reforços

retorna ao níveloperante.

Modelagemcomportamental

Não é uma questãopara o comportamento

respondente

É um conceitobásico para o

comportamentooperante como meio

de se aprendercomportamentos

novos

Emparelhamentoou Pareamento de

estímulos

É um conceito básicopara o

condicionamentorespondente como

condição paraestabelecimento de

novos reflexos

Não é uma questãopara o

comportamentooperante.

ReforçoNão é uma questão

para o comportamentorespondente

É um conceitobásico para o

comportamentooperante, é uma

operação deconsequenciação

de comportamentos

Relaciona-secom a

explicação de

Explica parte doscomportamentos,especialmente as

emoções aprendidas

Explica a maiorparte das açõeshumanas e deoutros animais(que não sejam

reflexas)

geral das diferenças entre comportamento respondentee operante que se encontra no Quadro 2.

3.2. Mitos e preconceitos: possíveisdiscordâncias

Já as críticas baseadas em discordância, nãoseriam as baseadas em equívocos ou mesmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 61

preconceitos (como as anteriores), existindo em menorfrequência e sendo menos mencionadas pela literatura.Dizem respeito às divergências baseadas emconhecimento sobre o objeto criticado. Estas seriamjustamente as críticas com as quais valeria a penadialogar, além das próprias críticas internas. Como emqualquer outra teoria, nem todos os behavioristas radicaispensam exatamente da mesma forma, existindodiferentes posições em relação a alguns aspectos dateoria entre representantes da mesma abordagem. Umacrítica baseada em discordância é aquela em que épossível identificar uma real incompatibilidade entre ospressupostos do behaviorismo radical e da análise docomportamento, e os do indivíduo que critica.

Esta incompatibilidade entre pressupostos podeestar centrada em vários pontos, entre eles aspectosfilosóficos e epistemológicos. Por exemplo, se aconcepção de homem do indivíduo (dualista) for muitodiferente da concepção de homem do behaviorismoradical (monista), é natural que exista uma discordância.Porém, a crítica, para ser discordante, deve conhecerambas as concepções. O mesmo ocorre em relação adiscordâncias metodológicas.

O leitor pode estar se perguntando agora: Uma vezque existem também algumas críticas, ainda que emmenor quantidade, baseadas em discordâncias, quaisseriam elas? Não pretendemos apresentar todas, masalguns exemplos podem ser expostos a seguir. Para umapessoa que acredita ser a subjetividade humana o fatorexplicativo do comportamento e não um objeto ou umfenômeno comportamental a ser estudado, é natural queela tenha uma discordância em relação ao behaviorismoradical. Porém, nesse caso, o crítico deve saber que parao behaviorismo radical a subjetividade humana é umfenômeno comportamental a ser analisado, portanto, asubjetividade seria um fenômeno a ser explicado e não

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62 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

uma entidade explicativa do comportamento. Trata-se demais um fenômeno a ser estudado e a ser explicadocomo qualquer outro fenômeno comportamental seja eleencoberto/privado, seja ele aberto/público.

Outro exemplo de possível discordância seria aênfase em um agente causal subjetivo mesmoaventando a possibilidade de existência de fatoresbiológicos e sociais atuantes. Para o behaviorismoradical, conforme já mencionado, o que se passa no mundosob a pele, a subjetividade, não tem status causal. Por outrolado, também não existe descarte de possíveis fatoresbiológicos influenciando o comportamento e ainda menosde fatores sociais. Mas, se a concepção do crítico acercado fenômeno subjetivo for o de que ele tem um sentidoexplicativo do comportamento de modo independente deoutros fatores externos, ainda que biológicos, considerandoque eles possam ser internos ao organismo, porém externosà subjetividade, então o crítico terá uma posiçãodiferenciada e realmente irá discordar dos pressupostosdo behaviorismo radical.

Outro exemplo de discordância seria consideraro homem como agente único de sua própria história,livre de qualquer determinação causal incluindo ahistória sociocultural do qual faz parte e responsávelpor suas próprias escolhas, dotado de livre arbítrio.Para o behaviorismo radical, o homem é agente de suaprópria história, mas não é agente único. Ele é agente desua própria história, porém forjado nessa própria história,e existe a procura de explicação, a crença da possibilidadede desvendar a causalidade de um fenômenodeterminado. Para o behaviorismo radical não existe apossibilidade de se considerar um homem como sendoautoproduzido, autodeterminado, livre de qualquer outrotipo de determinação causal. Se o crítico souber disto,porém, acreditar na existência de livre arbítrio, comcerteza não poderá se identificar com a abordagembehaviorista radical.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 63

A concepção de homem também pode se constituirem possível discordância (além de equívoco). Aconcepção de homem em nossa cultura divide o serhumano em duas parte ou substâncias, uma materiale uma imaterial. Uma delas, a material, seria responsávelpor fenômenos comportamentais e a outra, a imaterial,seria responsável por fenômenos tradicionalmenteconhecidos como mentais, pela alma num sentidometafísico ou entidades internas explicativas comoestruturas cognitivas, estruturas de personalidade, pré-existentes ou pré-determinadas. Esta concepção dehomem, além de dicotômica ou dualista, ou seja, além dedividir o homem em duas partes (material e imaterial),divide o ser humano também em uma parte humana eoutra animal. Nos dois casos (dois tipos de divisão) haverádiscordâncias em relação ao behaviorismo. É evidente queexistem diferenças entre diferentes espécies, a espéciehumana possui muitas peculiaridades em relação àsoutras espécies, sendo a principal peculiaridade acapacidade de produção de comportamento verbal. Estaé uma característica bastante diferenciadora do homemem relação aos outros animais, mas não nega e nemafasta a natureza animal do homem. Portanto, aconcepção de homem para o behaviorismo radical é umaconcepção monista e não uma concepção dualista. Emrelação à dicotomia advinda do dualismo cartesiano, nãohá razão nenhuma para ser prolongada ia não ser por umaquestão de preferência e aí cada um tem sua opinião. Nobehaviorismo radical a concepção é realmente monista.Também não existe a separação do contínuo evolutivo danatureza, estando centrado dentro do reino animal emboracom características diferentes de qualquer outra espécie.

Outras possíveis discordâncias, relativas a aspectosmetodológicos, seriam: discordar da possibilidade deuma ciência humana ter como objetivo conhecer seuobjeto de estudo e a partir daí criar técnicas de

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64 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

5 Gioia (2001) encontrou maciçamente imprecisões em materialvoltado ao ensino de análise de comportamento a professoresquanto a conceitos básicos da Análise do Comportamento,princípios básicos do Behaviorismo Radical e visão de Skinnersobre ensino.

intervenção úteis em psicoterapia, educação ouqualquer outro campo aplicado. Mas aí colocaríamosuma pergunta: qual a utilidade e qual o compromisso socialde uma ciência que não possa ser utilizada em benefíciodo bem estar humano?

3.3. Mitos e preconceitos: fatores relacionadosaos analistas do comportamento

Ainda dentro daqueles três grandes grupos de fatoresrelacionados à oposição ao behaviorismo radical,gostaríamos de comentar sobre o terceiro grupo de fatores,quais sejam, os ligados aos analistas docomportamento. São fatores que também contribuem paracriar ou manter atitudes de oposição por si só ou aliadas aequívocos, discordâncias ou qualquer outro fator. Eles estãobasicamente relacionados à ausência de estratégias paralidar com as deturpações correntes e a uma deficiênciano gerenciamento da dificuldade de interagir com opúblico externo, além do próprio público interno. Quemé da comunidade behaviorista sabe do alto nível de exigênciaexistente dentro da própria comunidade.

3.4. Meias verdades comuns sobre behaviorismoradical/análise do comportamento na áreaeducacional

Em textos didáticos voltados ao público educacionale mesmo no discurso de profissionais da área, além dosequívocos, também é comum encontrarmos uma sériede afirmações que podem ser consideradas “meiasverdades”, além dos completos equívocos5. É comum,por exemplo, a equiparação da “didática behaviorista” àspropostas tradicional e tecnicista de ensino. Não

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 65

pretendemos nos aprofundar nos princípios de taispropostas, mas o fato é que as proposições behavioristasradicais chegam a ser, por vezes, incompatíveis com osdo ensino tradicional. A defesa do controle aversivo docomportamento, por meio de punições, presente no ensinotradicional, por exemplo, opõe-se francamente a umaproposição behaviorista radical.

Já o ensino tecnicista é uma vertente educacionalcalcada em inúmeras influências que tornam impossívelefetuar uma correspondência ponto a ponto entre uma eoutra. A possibilidade de utilizar tecnologia de ensino nãonos parece suficiente para igualar ambas as propostas,vindas de diferentes nascedouros e com múltiploselementos compondo-as.

Sobre as influências filosóficas do behaviorismoradical, é comum atribuir origens filosóficas positivistas,quando as raízes estariam mais corretamente centradasna epistemologia pragmatista. O termo “positivista” é muitodiscutível por ser uma concepção muito ampla e, portanto,um pouco “imprestável”. Um rótulo com muita extensão epouca definição torna o seu conteúdo muito diluído. Aciência em geral, especialmente a natural, onde obehaviorismo radical se situa, tem raízes positivistas.Skinner combate a metafísica e acredita ser possívelconhecer o seu objeto de estudo e nele intervir. Mas essasduas últimas razões seriam suficientes para incluir obehaviorismo no positivismo, numa relação unívoca edireta?

Também há os que atribuam características“mecanicistas” ao behaviorismo skinneriano e os que odefinem, novamente de forma muito ampla, como empirista.Skinner de fato enfatiza a suposição de determinismo, emoposição à ausência de causalidade. Isso pode ser razãopara a associação com mecanicismo. Já em relação aoempirismo, existem tantos empirismos e com caracterís-

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66 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

ticas tão diferenciadas, indo de Hobbes a Berkeley, domaterialismo e mecanicismo até o idealismo puro entreoutras vertentes atuais, que se torna difícil, novamente, umacorrespondência ponto a ponto. O que pode explicar talassociação entre Skinner e uma visão empírica é a suavalorização do dado empírico (Micheletto, 1999).

Para Micheletto (1999), tanto o positivismo, quantoo mecanicismo e o empirismo são bastante gerais epodem ser encontradas em propostas metodológicasbastante diferentes. Um exemplo que a autora nos forneceé o da defesa do determinismo e combate à metafísica,que orientaram tanto o positivismo de Comte quanto omaterialismo dialético de Marx. A diferença é que emComte esse determinismo refletiria as relações imutáveisda realidade, descritas em leis não variáveis. Já Marxnegaria a imutabilidade e absolutismo de tais leis,enfatizando a transformação das leis que refletemmúltiplas determinações de uma realidade processual econtraditória. Na obra de Skinner como na de qualqueroutro autor existem momentos de aproximação e deprofundo afastamento a uma característica qualquer dealguma corrente filosófica, como no caso do empirismo.Para o empirista a percepção do objeto é controlada pelomomento atual e pelo estímulo presente, já para Skinner,ela é resultado da história passada de reforçamento doindivíduo e de tudo o que ela contém.

Ainda para Micheletto (1999), o homem não é umatabula rasa e conhecer é mais que responder aestímulos imediatamente presentes. A nossa percepçãodo mundo é nosso comportamento em relação a ele, enão pode ser confundido com o mundo propriamente dito.

Sendo assim, podemos dizer que o dado empíricoé importante para Skinner? Sim, mas isto não o insereautomaticamente nas concepções empiristas doconhecimento. Isso ocorre por duas razões, a primeira

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 67

é que ele difere na forma como explica a percepção e asegunda é porque o conhecimento não pode sercompreendido como representação do mundo, conformeprofessavam os empiristas, e sim como uma forma deação sobre o mundo.

Como Micheletto bem ilustra, a forma comoafirmações aparentemente corretas podem se esvanecerquando analisadas mais de perto, com maisprofundidade e correção, além de menos preconceito.

“Se retomarmos o sentido que as propostas deobservação, de combate à suposição metafísica de umagente iniciador, de controle e de determinação que seapresentam em textos marcados por uma vinculaçãocom as ciências biológicas, e se retomarmos a formacomo Skinner concebe seu objeto – múltiplo, processual,variável – e sua ciência; e a partir desta demanda formosbuscar quem na filosofia da ciência pensa assim, nãoencontraremos nada mais distante que o positivismo,especialmente o positivismo de Comte, para quem aideia de transformação é uma anomalia a ser evitada.Segundo essa análise, o pensamento de Skinner seafasta dos idealistas, se afasta do empirismo e dopositivismo. Incorpora influências de Darwin, mas nãose limita a elas, estendendo a amplas dimensões umprincípio causal que dela retira.” (Micheletto, 1999; p. 43)

4. À guisa de conclusão: Quais elementosuma formação analítico-comportamentalpara professores deve conter?

O desconhecimento generalizado acerca daanálise do comportamento/ behaviorismo radical naeducação, aliado a existência de mitos, equívocos edeturpações acerca do mesmo assunto é uma constantee um problema a ser contornado com a disseminação

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68 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

de informação precisa e combate ao preconceito, quepode ser realizado, entre outras ações, pela proposiçãoe execução de uma formação inicial e continuada quecontenha elementos igualmente precisos e necessáriospara profissionais de educação em exercício (pós-graduação) e em formação inicial (graduação).

Com base na revisão efetuada e expostaanteriormente, acreditamos ser importante que tenhamacesso a informação sobre Filosofia da Ciência(Behaviorismo Radical), Conceitos básicos daabordagem analítico-comportamental, Formação para oensino (aplicação à educação) e Pesquisa/Metodologiaanalítico-comportamental.

Dentre os elementos que compõem a aplicação àeducação propusemos o ensino da concepção de ensino,conhecimento e educação do behaviorismo radical/análisedo comportamento, bem como papel do professor(Identificar Para quem ensinar; O quê ensinar; Para quêensinar e Quanto está sendo ensinado). Tambémpropusemos que deve contemplar tudo o que a abordagempossa trazer de contribuição sobre ensinar a “como ensinar”(Minimização ou eliminação de contingências aversivas;Utilização correta e efetiva de reforçadores; Promoção demanutenção e generalização do comportamento após suainstalação; Respeito ao ritmo do aluno; Observação emanutenção de registros sobre o comportamento dosalunos; Gradação dos conteúdos e da dificuldade; Propor eexecutar estratégias e procedimentos de ensino; Utilizar -ou não- tecnologia de ensino).

Em suma, uma formação que contemple umapsicologia do ensino (e não somente do desenvolvimentoou da aprendizagem) ao mesmo tempo em que forneçauma sólida formação teórica, filosófica e metodológica.Acreditamos que o conhecimento acurado podecombater o preconceito e a desinformação.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 69

Vale ressaltar que a valoração do “como ensinar”,contribuição mais promissora, em nossa visão, que aanálise do comportamento pode oferecer à educação, nãoé posição unânime em educação. Professores em geralnegligenciam o método, usam controle aversivo e nãoconsideram importante analisar processos de ensino enem de aprendizagem. Além disso, a Psicologia ensinadaaos professores é cognitivista desenvolvimentista. ParaGatti (1992) os processos de aprendizagem humana (e,acrescentaríamos, de desenvolvimento), “não conduzdiretamente a traçar em paralelo uma trajetória para oensinar” (p. 73). Muito embora teorias de ensino devessem,a nosso ver, assumir papel fundamental na formaçãodocente, as enfatizadas são apenas as dedesenvolvimento. Além do “desprezo” ao “como ensinar”,o privilégio de teorias cognitivistas/mentalistas naeducação traz outros riscos à mesma, como o uso devariáveis internas na explicação para o fracasso escolar,de modo dissociado das condições de ensino oferecidas.

Em suma, a quantidade de habilidades a serdesenvolvida pelo professor é grande, complexa esofisticada, no entanto, a formação existente é a do tipoanalisada por Gioia (2001). Apesar da complexidade deuma formação analítico-comportamental para o ensino,descartar o conhecimento produzido em AC/BR para aeducação e para a formação de professores é cometero pecado da inocência, conforme Goldberg (1978). Paraa referida autora, em clássico da Psicologia Educacionalbrasileira, muito do conhecimento oferecido pelapsicologia à educação já existe, sendo, porém,subutilizado.

A psicologia e a educação brasileiras merecemcontribuições pautadas em pesquisa empírica, dadosconfiáveis, valoração do como ensinar aliado a umaformação que contenha também formação teórica,

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70 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

filosófica e metodológica, que seja livre de mitos epreconceitos; sejam os meramente categorizados comoequívocos, sejam pontos polêmicos como meiasverdades ou tópicos especialmente sujeitos ainterpretações diversas e discordantes. Nossas criançase escolas também.

Referências

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Gatti, B. (1992). A formação dos docentes: O confrontonecessário professor x academia. Cadernos de Pesquisa. 81,70-74.

Gioia, P. S. (2001). A abordagem behaviorista radicaltransmitida pelo livro de psicologia direcionado à formação deprofessores. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católicade São Paulo, São Paulo.

Goldberg, M. A. A. (1978). Psicologia educacional e educação:Uma relação teoricamente eficaz, porém praticamenteineficiente? Cadernos de Pesquisa. 25.

Micheletto, N. (1999). Bases filosóficas do behaviorismo radical.In R. A. Banaco. (Org.), Sobre comportamento e cognição.(pp. v. 1) Santo André, SP: ESETec.

Rodrigues, Maria Ester (2000). Identificação de fatoresrelacionados à oposição ao Behaviorismo Radical: Análise dorelato verbal de ex-analistas do comportamento. Dissertaçãode Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,são Paulo.

Rodrigues, M. E. (2002). Behaviorismo Radical: Mitos ediscordâncias. Cascavel: Edunioeste.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 71

Rodrigues, M. E. (2005). A Contribuição do behaviorismo radicalpara a formação de professores – uma análise a partir dasdissertações e teses no período de 1970 a 2002. Tese dedoutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SãoPaulo.

Rodrigues, M. E. (2006). Behaviorismo: mitos, discordâncias,conceitos e preconceitos. Educere et Educare, 1 (2), 141-164.

Rodrigues, M. E. (2007) Formação de Professores em Análisedo Comportamento. In: VIII Congresso Nacional de PsicologiaEscolar e Educacional (ABRAPEE), 2007. VIII CONPE em CDROM.

Rodrigues, M. E., & Moroz, M. (2008). Formação de professorese análise do comportamento: a produção da pós-graduaçãonas áreas de psicologia e educação. ActaComportamentalia,16, 347-378.

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Zanotto, M. L. B. (2000). Formação de professores: acontribuição da análise do comportamento. São Paulo: EDUC.

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72 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

CAPÍTULO 3

Em sua tarefa de construção de um modeloexplicativo não mentalista para o comportamento humano,B.F. Skinner escreveu sobre temas muitas vezesnegligenciados na divulgação de sua obra. O texto de MariaMartha Hübner se dirige a esta questão: a consistência daobra skinneriana, que sem declinar da adesão aosprincípios fundamentais do behaviorismo, se aplica daanálise de sentimentos e de pensamentos à análise dacultura.

Maria Martha é professora na Universidade de SãoPaulo. Ela inicia seu texto destacando o papel de Skinnerna Psicologia e na construção de um sistema depensamento que reúne adeptos no mundo todo,distinguindo-o do behaviorismo de Watson. Expõe então aabordagem de Skinner aos sentimentos e, particularmente,ao amor. Esta questão que, aparentemente, seria alheiaao tratamento comportamental dos fenômenos, é aocontrário consistentemente tratada como relação,remetendo ao mundo social e explicitando a unicidade docomportamento.

Do mesmo modo, questões francamente sociais,que poderiam estar fora do alcance de uma ciência quetrata do comportamento do indivíduo, estão perfeitamentecontempladas na obra skinneriana. Isto está ilustrado pelosconceitos trazidos: os conceitos de “Quarto Estado”, daescola como instituição e das práticas culturais. Por fim, otexto de Maria Martha apresenta a proposta do EnsinoIndividualizado, uma das aplicações mais conhecidas daAnálise do Comportamento à Educação.

Com a exposição panorâmica dos conceitos, aautora pretendeu, mais que um tratamento exaustivo,oferecer diretrizes para a exploração e aprofundamento emcada um, assim ampliando as alternativas para construir aescola antevista por Skinner, aquela na qual os alunosdesejarão estar.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 73

O Skinner que poucos conhecem:contribuições do autor para ummundo melhor, com ênfase na

relação professor-aluno

Maria Martha Costa HübnerUniversidade de São Paulo

O presente texto apresenta um panorama daabordagem comportamental, expondo as concepções deSkinner sobre o Behaviorismo e suas análises relativas àeducação, amor, utopia e alternativas ao ensino. Busca,sobretudo, desfazer uma confusão reinante de críticos daabordagem que não diferenciam Watson de Skinner,ignorando que este último propõe o modelo explicativo parao comportamento humano que inclui o estudo defenômenos não observáveis, numa proposta nãomecanicista e histórica. Apresenta a concepção de mundode Skinner e o conceito de “o quarto estado”, na tentativade indicar um possível caminho para um mundo melhor naabordagem skinneriana. Detalha, ainda, a concepção deensino individualizado e as alternativas comportamentaisao sistema aversivo predominante em nosso sistemaeducacional.

B.F. Skinner (1904-1990) está no topo da lista dosmais eminentes cientistas que contribuíram para oavanço da Psicologia no século XX. Skinner aparece emprimeiro lugar na lista dos 100 maiores colaboradorespara a Psicologia no século XX. Freud obteve o terceirolugar, perdendo para Piaget, o segundo colocado. A

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74 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

pesquisa completa, detalhando os critérios usados paraa qualificação, está em Haggbloom e colaboradores(2002), no texto “The 100 most eminent psychologists ofthe 20th century”, publicado na revista Review of GeneralPsychology. Oito dias antes de sua morte recebeu daAPA (American Psychological Association) o prêmio destarenomada associação por “Destacada Contribuição àPsicologia ao longo da vida”. O mestre de cerimôniasteve que interromper um prolongado período de aplausospara iniciar a cerimônia de homenagem.

Behavioristas no mundo e no Brasil são muitos. NosEstados Unidos a ABA (Association for Behavior Analysis),fundada em 1974, tornou-se a maior e mais poderosaAssociação de Análise do Comportamento no mundo.Apresenta um quadro de 4200 membros nos EUA e 6500em todo o planeta. No Brasil, a ABPMC (AssociaçãoBrasileira de Psicologia e Medicina Comportamental),fundada em 1991, tem 2600 membros. É a mais genuínarepresentante da Análise do Comportamento (o nomecontemporâneo dos behavioristas skinnerianos) no Brasil,uma abordagem de investigação e de aplicação que atraium número crescente de pessoas a cada ano.

Apesar desse grande número de adeptos eestudiosos e do crescente impacto da TerapiaComportamental na mídia brasileira, e apesar doreconhecimento internacional, no Brasil, Skinner ainda émuito criticado e no bojo da crítica está uma grandeconfusão que é feita entre ele e seu antecessor JohnWatson. Ambos são muito diferentes em suas propostas,como veremos neste texto.

Relacionado a este erro, os temas mais comumenteassociados a Skinner são aqueles derivados da pesquisabásica com animais, tais como: caixas de Skinner,laboratório animal, ratos, condicionamento respondente epsicologia S-R. Poucos sabem que Skinner dedicou boa

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 75

parte de sua obra a temas como utopia, educação, amor,humor e linguagem.

E longe de implicar em uma postura fechada elinear, ser um “skinneriano” é ser, antes de tudo, umpensador e um pesquisador. Como diz de Rose (1999):“Penso que o mais importante que Skinner tem a nosdizer é como formular perguntas, se quisermos encontraras melhores respostas” (de Rose, 1999, p. 69).

Ser skinneriano é ser um analista de comportamento,entendendo a Análise do Comportamento como umaciência e corrente do pensamento marcada pela influênciade um pensador do calibre de Skinner.

E como proposta de ciência, necessário esclarecerque o interesse de Skinner pela ciência não édescomprometido, mas ligado a um objetivo de utilizar aciência para a mudança da sociedade e da vida humana.Assim, discorre de Rose (1999), as melhores respostassão aquelas que podem contribuir para a solução deproblemas humanos.

Watson e Skinner: duas propostas distintas

A grande diferença entre Watson e Skinner é que oprimeiro não aceitava como objeto de estudo o que nãofosse observado. Daí o nome de “BehaviorismoMetodológico” de Watson, que nega o estudo defenômenos não observáveis, pelos limites metodológicosde não se poder comprová-los. Foi uma reação derejeição ao introspeccionismo, buscando métodosobjetivos; aceitava a existência de uma mente, mas senegava a estudá-la, pelo limite mencionado.

Já Skinner aceita estudar fenômenos nãoobserváveis, entendendo que o objeto de nosso estudodeva ser o comportamento e, nesse sentido, seuBehaviorismo é denominado Radical, no sentido que vai

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à raiz (e, entendam bem, o termo radical não é no sentidode ser extremado, rígido, mas o que vai ao âmago daquestão), em dois aspectos: nega absolutamente aexistência de algo que escape ao mundo físico, ao mundonatural (não é mentalista, nem dualista), e aceitaabsolutamente todos os fenômenos comportamentais -pensamentos, sonhos, emoções – encobertos e abertos,observáveis e não observáveis.

Recupera o ambiente (social e não social) comoinstância privilegiada, onde o cientista busca variáveis econdições dos quais o comportamento é função, masnão em uma relação dualista, nem mecanicista, nemcausal, mas numa visão selecionista, evolucionista efuncional, interacionista e histórica.

O ambiente inclui o conjunto de condições oucircunstâncias que afetam este comportar-se, nãoimportando se estas condições estão dentro ou fora dapele - o ambiente é externo à ação e não ao organismo;daí não separa mundo interno, de mundo externo. Porisso Skinner não merece a crítica de ser dualista.

Para explicar estas relações entre o homem e oambiente, Skinner propôs o Modelo de Seleção porConsequências, oferecendo a compreensão sobre comose dá a determinação do comportamento, sobretudo ocomportamento operante: aquele em que o organismoatua, faz, opera sobre o ambiente, modificando-o e sendopor ele modificado-selecionado. É um importante conceitopara o modelo, porque para haver uma seleção oorganismo tem que agir.

O comportamento é, pois, a interação organismo-ambiente, que deve sempre especificar três aspectos: aocasião em que a resposta ocorre; a própria resposta, eas consequências da resposta. As inter-relações entreelas são as contingências de reforço, instrumental deanálise de um behaviorista skinneriano.

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O Comportamento, no modelo proposto, é produtode três histórias1: a filogenética – que responde pelosreflexos e padrões típicos da espécie, a ontogenética – ahistória de vida de cada um, os operantes modificados ea cultural – práticas culturais exercidas pelas sociedades.Um evento comportamental seria a confluência dos trêsníveis e um indivíduo é considerado pelo behavioristacomo único, em constante construção de sua história.

Para explicar como tais histórias são construídas,Skinner propõe dois processos básicos: variação – pormutações sendo selecionadas e por seleção – pelosefeitos de nossas próprias ações, um agir que, pelasconsequências, gera novas formas de relação com omundo. Daí se diz que a proposta de Skinner é históricae, portanto, não linear e não mecanicista.

Uma história comportamental também pode serconstruída pela transmissão, através da herança de traços,da imitação e através de regras culturais. O homem ésempre uma combinação dos três processos e dos trêsníveis de determinação, o que o torna complexo e belo.

Skinner e o tema “Amor”.Em seu último livro “Recent issues in the Analysis

of Behavior”(1989), Skinner, no capítulo 1, “O lugar dosentimento na análise do comportamento” (p.3), afirma,para espanto de seus opositores desinformados, que“como as pessoas sentem é frequentemente tãoimportante quanto o que fazem”...

Explica-nos que o que sentimos são condiçõescorporais e o que dizemos sobre o que sentimos não é opróprio sentir.e o dizer, tanto quanto o sentir, são produtosde contingências de reforçamento, mais difíceis de serem

1 Conforme visto no capítulo de Maria Ester Rodrigues, na presenteobra.

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identificadas quando o ouvinte não tem acesso aofenômeno sobre o qual falamos.

E uma vez que os eventos públicos (que todospodem ter acesso) e privados (que só nós mesmos temosacesso) nem sempre coincidem, palavras para ossentimentos são ensinadas com menos sucesso do queas palavras para os objetos. Por isso, talvez, diz Skinner,que filósofos e psicólogos raramente concordem quandofalam sobre sentimentos. E é por isso, continua o autor,que não há uma teoria aceitável sobre sentimentos.

Por séculos foi-nos dito que nos comportamos deuma dada maneira por causa de nossos sentimentos.Mas o que sentimos não é causa iniciadora: “Nãochoramos porque estamos tristes ou nos sentimos tristesporque choramos; nós choramos e nos sentimos tristesporque algo aconteceu” (Skinner, 1989, p.4)

Ao abordar o sentimento do amor, Skinner entendeque o dizer “eu te amo” é equivalente a dizer que alguémnos dá prazer e nos faz sentir bem, que é bom estar aolado de alguém.

E continua reiterando que há um elemento dereforçamento positivo no amor.

O ficar juntos, no amor, é reforçado por suasconsequências e é por isso que os apaixonados ficam omáximo que podem juntos.

Há três nomes gregos para o amor que Skinnerrelembra e os analisa à luz do behaviorismo radical: Eros– amor sexual, presente no processo de seleção naturalque fez permanecerem os que desenvolveramsensibilidade ao reforçamento por contacto sexual, o queé um traço evolutivo; Philia – amor fraternal, produzidopela seleção por condicionamento operante; pelasconsequências de nossas ações (embora seja difícil, àsvezes, a distinção entre Eros e Philia e Agape – amorcoletivo, produzido pela seleção cultural, ao mostrarmos

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nossa satisfação ao que os outros fazem. No amor ágapereforça-se o fazer de um grupo e este é fortalecido; adireção do reforçamento é revertida; não é o nossocomportamento, mas o comportamento dos queamamos que é reforçado.

Skinner e o conceito de Quarto Estado, emsua utopia

Se os futuros dos governos, religiões e sistemascapitalistas fossem congruentes com o futuro dasespécies, o problema do mundo contemporâneo estariaresolvido, diz Skinner. Mas o problema é que osgovernantes estão preocupados com seus própriosempregos e necessidades imediatas.

O agravante é que o mundo contemporâneo estápassando por sérios problemas, tais como apossibilidade de uma guerra nuclear, que geraria uminverno nuclear que destruiria todas as coisas vivas;muitas fontes de vida estão perto da exaustão; apopulação cresce desenfreadamente e o medo é real.

E “por que não estamos agindo para salvar omundo?”, pergunta Skinner. A resposta é simples, emboraassustadora: o governo, a religião e a economia estãosob controle de consequências que afetam sua própriasobrevivência, que são muito menos remotas e muitomais poderosas do que a sobrevivência da espécie. Asarmas nucleares são criadas para garantir asobrevivência dos governos e não da espécie. A indústriado tabaco, que por repetidas vezes cria obstáculos àscampanhas antitabagistas e coloca substâncias químicasque aumentam a dependência da nicotina é um bomexemplo desta preocupação dos poderes em vigor,inconsistentes com a sobrevivência de nossa espécie.

Mas uma das questões salvas da década de 60 éuma preocupação maior com o futuro do mundo e seus

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habitantes, nos relembra o autor. E felizmente nós hojeestamos em melhores condições de expressar taispreocupações: ecologistas e outros cientistas têm feitopredições confiáveis sobre o futuro da terra; os professorese a mídia informam mais pessoas sobre o que podeacontecer…e o governo, instituições econômicas ereligiosas começam a ser afetadas. É possível, diz Skinner,que estejamos testemunhando a evolução de um “QuartoEstado”, composto por cientistas, eruditos, professores ea mídia, pessoas não atreladas aos governos, religiões ecapital. Se este Quarto Poder se mantiver livre dosgovernos, religião e empresas econômicas, talvez possaoferecer os substitutos para as consequências remotase controlaria os controladores.

Neste sentido, a solução para um mundo melhorestaria em uma melhor compreensão do comportamentohumano e Skinner (e os analistas de comportamento)acreditam que isto significa melhor ciência e melhortecnologia. Se elas se desenvolverão com o tempo é agrande questão.

Mas aqueles que estão descontentes com assoluções científicas, algumas vezes asseguram-nos quenós deveríamos resolver nossos problemas de outra forma:quando eles forem ruins o suficiente, quando asconsequências imediatas não forem mais reforçadoras equando as remotas já foram experimentadas. Mas é nanatureza da superpopulação, na exaustão e poluição doambiente e na guerra nuclear que “o ruim o suficiente” setorna um ponto sem retorno, alerta Skinner. E, ao finalizaresta análise, Skinner prevê dois futuros: em uma dasprevisões os habitantes da Terra consumiram mais e maissuas finitas fontes, continuaram a procriação desenfreadae no estrangulamento do que sobrara construíram armastão poderosas que poderiam dar fim ao planeta Terra... eeventualmente pessoas pararam de se preocupar com ofuturo porque não havia mais pessoas. Numa segundaprevisão, aqueles que veem o perigo começaram a fazermais e a falar mais sobre o assunto. Começaram a estudar

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o comportamento humano e uma eficiente tecnologiasurgiu e cresceu livre de governos, ideologias econômicase religião. A Educação emergiu como a força dominantena manutenção e transmissão das práticas culturais. Eas espécies sobreviveram por milhares de anos.

Um fim utópico? Sim, Mas qual utopia? A de ummundo melhor ou a de nenhum mundo? Escolhemos aprimeira, obviamente porque compomos o Quarto Poder,ou Quarto Estado.

Skinner e o conceito de escola e deeducação.

A abordagem skinneriana defende a existência daescola, enquanto instituição, porque a escola da vida não ébem uma escola, não porque ninguém nela aprende, masporque ninguém ensina. “Ensinar é o ato de facilitar aaprendizagem, no sentido de que quem é ensinado aprendemais rapidamente do que quem não é.” (Skinner, 1972, p. 4)

O ensino é, naturalmente, muito importante porque,do contrário, o comportamento não apareceria (tudo o quehoje se ensina deve ter sido aprendido pelo menos umavez, por alguém que não foi ensinado, mas graças àEducação já não é preciso esperar por estes eventos raros).

Práticas culturais envolvidas nodesempenho escolar à luz da Análise doComportamento

As contingências predominantes nas escolas, deacordo com a perspectiva comportamental (oubehaviorista), no sentido de punir muito mais do quereforçar positivamente o que o aluno faz na direção dosaber. Verbalizações espontâneas são ignoradas em salade aula, perguntas só são incentivadas se relativas àmatéria (Gil & Duran, 1993). Um contexto em que acuriosidade é desconsiderada. Uma pesquisa realizada

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com alunos da Pré-Escola à Sétima Série do EnsinoFundamental revela, por seus relatos verbais, que vaihavendo um desencantamento progressivo em relaçãoà escola, inferido pelos relatos verbais de seus alunos:“aprender é pouco legal”; “as aulas são chatas”; “as notassão baixas”; “os colegas não gostam de aprender”. Falasque têm uma frequência crescente da Educação Infantilao Ensino Médio (Caldas & Hübner, 2001).

Além disso, as concepções do aprender, (e) asregras que governam verbalmente o desempenho escolarenfatizam o controle coercivo, infelizmente. “É pelocaminho das pedras que se atinge o estrelato”,” ocaminho do sacrifício e da dor é que tem valor e lugar nocéu” são frases comumente encontradas em escolasreligiosas de tradição judaico-cristã.

Regras e falas que podem se tornar auto-instruções, gerando controle aversivo, pela relação entrecomportamento verbal e não verbal e que afugentam oaluno do processo de aprender na escola, porespecificarem contingências aversivas.

Castigos, retirada de privilégios, humilhação sãoconstantes no meio escolar e seus efeitos colaterais sãodolorosos:

Branco, ansiedade, medo, desligar-se, desistir,lentidão, adiar e autoconhecimento deficiente. Acresce-se ainda a supressão de respostas, que é a paralisiadiante de um contexto em que a coerção prevalece (o“branco” em provas, o não perguntar, por exemplo)(Sidman, 1995). Uma cultura anti-saber.

Um programa de ensino individualizado: aalternativa comportamental

Um dos mais eminentes Analistas de Comportamento,Fred Keller, contemporâneo de Skinner, propôs o ensinoindividualizado como alternativa aos problemas educacionais

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mencionados anteriormente, que apresenta as seguintescaracterísticas básicas: planejamento, aproximaçõessucessivas, respeito ao ritmo do aluno, emprego demonitores, decomposição do ensino em unidades menores,ensinar a pensar, poucas aulas expositivas, reforçamentopositivo. Envolve a aplicação da extensa tecnologia de ensinojá disponível pelos Analistas de Comportamento, que foioriginalmente proposta por Keller, com os seguintes pontosfortes (Hübner, 1998):• Divida seu curso em pequenas tarefas (unidades), 20 a 30

para um semestre, incluindo unidades de revisão.

• Deixe seu aluno passar por essas unidades em seu próprioritmo; uma por uma, do começo ao fim do curso;

• Diga ao aluno o que se espera dele em cada unidade eexija o domínio de cada antes de passar à seguinte; se elenão passar, não jogue isto contra ele; diga-lhe quais são osseus problemas e faça um teste alternativo quando ele estiverpreparado.

• Não dê nota aos testes você mesmo. Use os estudantesmonitores- alunos destacados, cuidadosamenteselecionados e cuidadosamente supervisionados. Compreparo adequado eles podem fazer o trabalho tão bemquanto você (ou melhor) e eles vão dizer coisas sobre seusalunos e o seu curso que você não sabia.

• Eles próprios vão aprender muito e merecerão um ponto oudois de crédito acadêmico, se for possível conseguir, peloseu trabalho.

• Dê aula expositiva de vez em quando para seus alunos; ouofereça uma demonstração; mas não exija frequência e nãofaça a matéria constar de exames. Divirta-se, mas nãoespere uma multidão. Seus alunos talvez prefiram o tempopara estudar para o próximo teste.

• Esteja à mão, seja na classe ou próximo a ela; podem surgirdúvidas quanto ao texto ou às questões de estudo e osseus alunos e monitores podem precisar de uma ajuda quesó você pode dar.

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• Modifique o material do curso imediatamente de acordo coma reação dos seus alunos e monitores. Nem as suasquestões nem as tarefas serão permanentes.

• Dê nota dez a todos os alunos que satisfizerem suasexigências, pouco importando o quanto demorem (dentrode certos limites) ou quantos testes sejam necessários.Seu objetivo principal não é separar o joio do trigo, comoem uma empresa. Nem é medir o QI dos alunos. É apenasensiná-los o que você, como especialista, acha que devemaprender.

• Não comece o curso a menos que você tenha cobertura dodepartamento e/ou da administração em tudo o que vocêestiver propondo e a menos que você disponha de recursosmonetários e tempo suficientes para o empreendimento.

• Mas tudo isso, adverte Keller (1983) pode conduzir o leitora concluir que instrução personalizada é uma panaceia paraos maiores males da educação...Gostaria de pensar que éverdade, diz o autor e acredito que poderia ser, mas osobstáculos são muitos.

Qualquer mudança que afete a duração da hora-aula, o número de semanas do semestre, a política deadmissões, as normas de matrícula etc. provocaprotestos...

Não porque afetariam a qualidade da educação,“mas porque estariam afetando a complicada estruturaburocrática que aloja e protege o sistema de ensino maisantigo” (Keller, 1983).

O advento do computador torna extremamentepossível a aplicação do ensino individualizado. O ensinoà distância, se complementar seus estudos com osprincípios e tecnologia comportamental disponíveis terá,possivelmente, uma trajetória de imenso sucesso noalcance dos objetivos educacionais desejados por todoeducador: o aprendizado efetivo e agradável de seusaprendizes.

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A escola do futuro para SkinnerEm sua utopia de um mundo melhor, Skinner,obviamente inclui a escola ideal: Serão um lugarmuito diferente de qualquer um que tenhamos vistoaté o momento. Elas serão locais agradáveis. Damesma forma que as lojas bem administradas,restaurantes, teatros, elas serão bonitas, soarãobem, cheirarão bem. Os estudantes virão para aescola, não porque serão punidos por ficarem longedela, mas porque serão atraídos pela escola.(Skinner, 1989, p.94)

Referências

Caldas, R. F. & Hubner, M.M.C. (2001). O desencantamentocom o aprender na escola :o que dizem alunos e professores.Psicologia: Teoria e Prática, 3 (2), 71-82.

De Rose, J.C. (1999). O que é ser um skinneriano? Uma reflexãosobre mestres, discípulos e influência intelectual. RevistaBrasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 1 (1), 67-98.

Gil, M.S.C.A & Duran, A. P. (1993). Interação professor-aluno:o que perguntam os alunos? Psicologia: teoria e pesquisa, 9(2),243-259.

Hübner, M. M. C.(1988). Analisando a relação professor-aluno:do planejamento à sala de aula. 2ª ed. São Paulo: CLR-Balieiros.

Keller, F. (1983). Aprendendo a ensinar. Memórias de umprofessor universitário. São Paulo: EPU.

Skinner, B.F.(1972). Tecnologia do ensino. São Paulo: EPU.

Skinner, B.F. (1989). Recent issues in the analysis of behavior.Columbia: Merril Publishing Company.

Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas,SP: Editorial Psy.

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CAPÍTULO 4

As polêmicas teóricas no campo da Educação sãomuitas e não são novas. Há divergência entre as diversasteorias, que muitas vezes oculta convergências existentes,bem como convergências podem sugerir similaridadesque não se sustentam.

O capítulo de Paulo Sérgio Teixeira do Prado,professor da UNESP-Marília, Márcia Josefina Beffa(Faculdade Estadual de Ciências Econômicas deApucarana), Thais Pondaco Gonsales (Fonoaudióloga)examina esta questão contrastando o construtivismo àAnálise do Comportamento. Faz isso examinando um vídeoproduzido para ilustrar como professores de ensinofundamental podem se valer de um aparato desenvolvidopara apresentar um problema a ser resolvido por meio deconceitos da Física. Nele, uma esfera que desce umarampa deve encaixar-se em um pequeno cesto, e issodepende dos alunos descobrirem a adequada relaçãoentre altura de lançamento, velocidade e distância.

O que Paulo Sérgio, Márcia e Thais fazem é analisaras contingências em vigor para os comportamentos deprofessores e alunos no vídeo, enunciando os conceitosrelevantes para as aquisições comportamentais aliexibidas. Indicam ainda aspectos adicionais cujaincorporação poderá melhorar os resultados dos alunos.

Assim, ao contrastar fundamentos das abordagense as implicações para o ensino, seu objetivo principal,este capítulo oferece indicações e sugestões de práticasrelevantes a serem incorporadas ao repertório didático doprofessor.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Análise de contingências emsituação pedagógica

Paulo Sérgio Teixeira do PradoUniversidade Estadual Paulista – campus Marília

Márcia Josefina BeffaFaculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana

Thais Pondaco GonsalesFonoaudióloga

Entre os muitos problemas enfrentados pelaeducação escolar, um deles é a progressiva perda deseu poder de conquistar e manter o interesse dos alunosem aprender aquilo que a escola lhes pode ensinar. Issotalvez se deva menos à natureza dos conteúdos e maisà maneira como eles são ensinados. Consequentemente,embora o Brasil tenha praticamente universalizado oacesso à educação básica, esta parece não seapresentar satisfatoriamente sedutora. Assim, a excitantetarefa de adquirir e produzir conhecimentos acaba setornando algo entediante e fastidioso para o aluno.

Historicamente, a psicologia tem oferecidoimportantes contribuições para tornar o ensino eficaz.Contudo, fatores como disputas entre correntes teóricase equívocos de compreensão e de aplicação de suaspropostas reduzem suas potencialidades. Portanto, aanálise de convergências e divergências entre elas podeser uma contribuição útil para transformar oconhecimento científico em práticas pedagógicasprodutivas. Duas dessas correntes de difícil conciliaçãoe ambas, em geral, muito mal compreendidas são aAnálise do Comportamento e o Construtivismo.

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Equívocos e mal-entendidos relacionados aaspectos teóricos (filosóficos, epistemológicos emetodológicos, inclusive) da Análise do Comportamentocomo um todo e do Behaviorismo em particular (parauma definição conceitual destes termos, ver CarvalhoNeto, 2002) encontram-se esclarecidos em várias obrascomo, por exemplo: Carrara (1998), Rodrigues (2002),Skinner (1974/1982)1. E no que se refere à teoria de J.Piaget, esclarecimentos com relação às críticas maisfrequentes contra ela podem ser encontrados, porexemplo, no texto de Lourenço e Machado (1996). Opresente trabalho, no entanto, tem por propósito identificarpontos de aproximação e distanciamento entre essasduas vertentes teóricas a partir de uma situação práticade execução de uma proposta pedagógica baseada noconstrutivismo. E considerando a maior popularidade dapedagogia construtivista, inclusive em âmbito oficial, aexemplo dos Programas Curriculares Nacionais (PCNs),apresentaremos um breve resumo de ideias pedagógicasanalítico-comportamentais.

Análise do Comportamento e educaçãoComportamento compreende a interação entre o

organismo e o meio, interação esta que resulta de e eminfluências recíprocas. O processo ensino-aprendizagempode ser visto como um sistema de interação entreprofessores e alunos. Sua compreensão requer a análisedos processos comportamentais de ambos (Kubo &Botomé, 2001), em que pesem as dificuldades para seidentificar os componentes comportamentais dosenvolvidos e caracterizar as relações entre eles no quetange à compreensão de se, como e quando ocorre o

1 Ver também o capítulo de Maria Ester Rodrigues na presente obra.

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processo de ensinar e aprender, desafio este que seimpõe à educação em toda a sua complexidade. Comoapontam Kubo e Botomé, a análise do processo deensinar e aprender pode começar pela consideração deque o mais crítico na relação com o ambiente explicitadopela palavra “ensinar” é o efeito do que o professor faz.E o efeito mais relevante é a aprendizagem do aluno, aocontrário do que se encontra em muitas das explicaçõespara o fracasso da aprendizagem, que são, na verdade,explicações para o fracasso do ensino. Ninguém podeafirmar que ensinou, mas o aluno não aprendeu.Portanto, ensinar define-se por gerar aprendizagem – aqual se traduz em modificação de comportamento – enão pela intenção, objetivo ou descrição do professor doque ele faz em sala de aula.

Todo e qualquer processo ensino-aprendizagemvisa modificações no repertório comportamental do alunoe as técnicas de modificação encontram seu fundamentono conhecimento sobre a interação indivíduo-ambiente(para uma visão da psicologia como estudo de interações,ver Todorov, 1989). Não é apenas o que o aluno faz, masas relações entre seu comportamento e aspectosantecedentes e consequentes do ambiente – físico esocial – que evidenciam sua aprendizagem. Nessarelação, a análise do comportamento de ensinar, ou oque o professor deveria fazer para resultar como efeito aaprendizagem, é de primordial importância na efetivaçãodo aprendizado (Matos, 1992). Em decorrência, aresponsabilidade pelo processo ensino-aprendizagemrecai sobre o professor, que deveria atuar como umplanejador do ensino por meio do arranjo decontingências, a aprendizagem concebida comoprocesso de alteração de comportamento, neste caso,em função das interações proporcionadas por tal arranjo(Zanotto, 2000).

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Skinner (1968/1972) aponta a necessidade de sedefinirem claramente objetivos educacionais e chama aatenção para o papel do educador como um “arranjador”de contingências visando não só a aquisição de novoscomportamentos pelo educando, mas também aconsolidação e o refinamento de comportamentosadquiridos, o que requer o uso de conhecimentos acercade tecnologias de ensino – no sentido de métodos deensinar, podendo incluir ou não recursos audiovisuais,de informática etc. – derivados da pesquisa científica.

Mesmo proposições de origens diversas da Análisedo Comportamento, como o Construtivismo, assumem quenão é apenas a análise do que o aluno faz, mas das suasrelações com o meio e de como ambos, aluno e meio, setransformam mutuamente nesse processo, o que deve seranalisado tanto na busca da compreensão como naprodução do aprendizado. Por outro lado, Construtivismo eAnálise do Comportamento apresentam afastamentos notocante à análise dessa interação. Grosso modo, a Análisedo Comportamento enfatiza o comportamento observável,mas, ao contrário do que afirmam alguns críticos, não excluios comportamentos encobertos (Skinner, 1953/1981; 1974/1982). O Construtivismo, por sua vez, dá maior ênfase aosprocessos internos, inferidos a partir de comportamentosobserváveis.

Outro possível ponto de distanciamento são asimplicações das teorias no tocante ao papel docente. Dospressupostos da Análise do Comportamento decorre queo professor deve assumir papel ativo no fornecimentode instruções e regras, na modelação e modelagem docomportamento do aluno (Zanotto, 2000). Para oConstrutivismo, ou versões dele, ao professor caberiaotimizar o ambiente e deixar o aluno interagir livrementecom ele. Contudo, a julgar pelas colocações de Lourençoe Machado (1996) sobre a visão piagetiana das

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interações sociais, seria grave equívoco considerar quesendo a construção do conhecimento um processoindividual, seriam potencialmente nocivas ou, no mínimo,dispensáveis quaisquer interferências do professor.Portanto, esse aspecto pode representar um falso pontode afastamento entre as duas vertentes.

Ambas as perspectivas teóricas, analítico-comportamental e construtivista, preocupam-se com asações do aluno e do professor e as condições contextuaisenvolvidas no processo ensino-aprendizagem. Cabe, pois,perguntar quão contrastantes são as diferenças entre elas.Estaria, por exemplo, a modelagem do comportamentocompletamente excluída de um processo pedagógicoconduzido com base em fundamentos construtivistas?Estaria a reflexão excluída de um processo conduzido nosmoldes comportamentais?

Nossa expectativa é que a análise de contingênciaspresentes na execução de uma proposta pedagógicaconstrutivista de ensino de Física nos auxilie a evidenciarpontos de aproximação e de afastamento entre asabordagens construtivista e analítico-comportamental,razão pela qual este trabalho consistiu da observação eanálise de um vídeo denominado “O problema da cestinha:o pensamento científico dos alunos”, produzido e veiculadopelo Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física (LAPEF),da Faculdade de Educação da Universidade de SãoPaulo2. Uma das preocupações da equipe do LAPEFrelaciona-se com a imagem que os alunos têm da Físicacomo uma disciplina de “invencíveis dificuldades”,conforme afirmam explicitamente Lima e Carvalho (2002),que ponderam: “(...) uma das maneiras de transformaressa imagem em outra, mais agradável e acessível epossivelmente estimular os alunos a prosseguir em seus

2 Disponível no site http://paje.fe.usp.br/estrutura/index_lapef.htm.

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estudos para carreiras científicas e técnicas, é iniciar seuensino já nos primeiros anos de escolarização” (p. 203).

A proposta de ensino de Física ilustrada pelo vídeoanalisado baseia-se na resolução de problemas.Inicialmente, o professor anuncia o que vai ser feito naaula, apresenta o equipamento a ser utilizado e oproblema a ser resolvido, fornecendo instruções sobre omanuseio do material. Os alunos são divididos em grupose, após atuarem sobre os materiais buscando aresolução do problema, eles fazem um relato de suaexperiência, o qual pode ser por escrito ou na forma dedesenho. Finalmente, é feita uma plenária, na qual elesexpõem verbalmente sua experiência e são encorajadosa aplicar a situação ao seu cotidiano.

MétodoA técnica adotada para a coleta dos dados foi a de

observação e registro contínuo, por permitir o registro devárias classes de comportamento (Hall, 1973) ocorrendosimultaneamente, e identificar as condições nas quaiselas ocorrem. Ou seja, ela permite o registro tanto deeventos comportamentais quanto o de eventosambientais – físicos e sociais – antecedentes econsequentes ao comportamento (Dana & Matos, 1982).

Devido às características inerentes à edição dovídeo – apresentação das cenas em cortes rápidos –não foi possível focar a análise sobre o comportamentode um aluno ou grupo específico. Por isso, optou-se pelaobservação e registro do vídeo como um todo, comênfase na interação verbal entre professores e alunos edestes entre si como parte integrante das contingênciasde ensino-aprendizagem.

O vídeo foi observado várias vezes por trêsobservadoras. A transcrição foi organizada em um quadro

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com três colunas especificando, respectivamente, aocasião na qual os comportamentos ocorrem, os próprioscomportamentos e os eventos consequentes a eles. Apartir dessa organização foi conduzida uma análise derelações funcionais.

As situações observadas no vídeo foram divididasem três partes: apresentação do material e do problema(enfoque no comportamento do professor); interaçãoaluno-material e aluno-aluno (enfoque no comportamentodos alunos); discussão dos alunos, em grupo, sobre arealização do experimento e sobre sua relação com ocotidiano (enfoque no comportamento dos alunos). A partirdesta organização, foram feitos recortes das interações,buscando-se analisá-los conforme os objetivos propostospara o estudo.

Resultados e discussãoEm aproximadamente 14’28", o vídeo observado

exibe a execução de uma “mesma” aula por trêsprofessores (duas mulheres e um homem) junto a suasrespectivas turmas de alunos, os quais encontravam-senuma das séries iniciais do ensino fundamental. Oambiente físico, portanto, constitui-se de salas de aulacom o que normalmente se encontra na maior parte delas:cadeiras, mesas, lousa e o material do experimento, alémde aspectos específicos de cada uma, cuja descrição édispensável para os presentes propósitos, pois nãotiveram papel relevante na situação observada. Oambiente social caracterizou-se por alunos de ambosos sexos e seus respectivos professores. Detalhesulteriores a respeito do ambiente físico e social nãopuderam ser obtidos por meio da observação do vídeo.

O material utilizado pelas crianças no experimentoapresentado no vídeo foi um aparato consistindo de uma

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prancha apoiada verticalmente sobre uma base. Numadas faces da prancha é instalado um trilho, este contendouma seção inclinada e outra horizontal. Abaixo do trilho eparalelo à sua seção horizontal há uma haste deslizanteem cuja extremidade encontra-se uma pequena cesta.O problema que os alunos tinham que resolver consistiade soltar uma bola de um ponto na parte inclinada dotrilho de modo que ela caísse dentro da cesta. À medidaque os alunos conseguiam resolver o problema inicial, aprofessora o modificava, aproximando ou distanciandoa cesta da extremidade final do trilho, colocando, assim,novo desafio.

A seguir , serão apresentados excertos3 do registrodas interações observadas, organizados em três partes:1) apresentação do material e do problema peloprofessor; 2) interação aluno-material e aluno-aluno; e3) registros da plenária.

No excerto dos registros apresentado no Quadro 1(página seguinte), como se observa na coluna central, ocomportamento enfocado é o da professora. Esta anunciao que será feito na aula, apresenta o material a ser utilizado,o problema a ser resolvido e fornece instruções, tendocomo antecedente para os respectivos comportamentos:os alunos sentados e olhando em sua direção. Estes, porsua vez, eventualmente consequenciam o comportamentoda professora com respostas curtas a perguntas que lhessão dirigidas.

Um aspecto a ser destacado nesses registros é quea professora fala quando os alunos estão atentos a ela. Éde se imaginar que os alunos estivessem previamenteinformados que aquela seria uma aula diferente e, por essarazão, tivessem se mostrado tão interessados e dispostos

3 A íntegra do registro pode ser obtida por e-mail:[email protected].

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Quadro 1. Apresentação do Material e do Problema

AL: “Estamos!”

Eventosantecedentes

Comportamentos Eventosconsequentes

AL sentados,olhando emdireção a P.

AL: “Tá!”

P1 diz “Hoje nós vamos trabalharum problema que vocês vão meajudar a solucionar, tá bom?”

P1: “Então vocês vão prestaratenção. Eu vou apresentar paravocês o material que nós vamosusar durante a aula.”

AL: “Tá!”

AL sentados,olhando emdireção a P.

P1 diz: “Eu tenho aqui um trilho,certo? E aqui eu tenho uma rampa”(P passa o dedo indicador sobre otrilho e a rampa).

P2 diz: “aqui embaixo tem um outrosuporte, com uma cestinha”(segura a cesta).

P1 diz: “E tem uma bolinha queacompanha o material. Olha abolinha aqui.” (segura a bola namão e mostra aos alunos). “Tãoenxergando a bolinha?”

P3 diz : “e tem uma bacia pra quevocês coloquem aqui, caso a bolinhacaia fora, se vocês errarem, tábom?” (segura a bacia na mão)

AL em silêncioolhando emdireção a P.

ALpermanecemsentadosolhando emdireção a P.

P1 diz: “A bolinha deve ser colocadano trilho, ta?” (segura a bola e aapóia sobre o trilho). “E vocês vãosolucionar pra mim esta questão:vocês vão tentar descobrir comoque nós vamos fazer pra soltar abolinha e ela cair na cestinha. Vocêstão entendendo o que a professorata falando?”

AL = alunos; P = professor(a).

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a cooperar. Esta é uma mera suposição, mas ela se baseiana triste realidade de que, infelizmente, não é o que ocorrena maior parte do tempo nas salas de aula, cuja rotinaaborrecida os alunos anseiam seja quebrada por atividadesque lhes despertem o interesse. Os eventos registradosilustram uma importante lição: a professora fala aos alunosquando estes estão atentos a ela. Esta é uma condiçãoessencial para que o professor consiga ensinar (Skinner,1991). Note que comportamentos dos alunos: “em silêncio,olhando em direção a P”, “Tá”, “Estamos”, consequenciamcomportamentos da professora, podendo vir a ter funçãoreforçadora. É uma típica situação de interação social emque o comportamento de um constitui-se em antecedentee/ou consequente – ambiente social, portanto – para ocomportamento do outro.

Outro aspecto a ser destacado é que as instruçõescontidas na fala da professora especificam as condiçõespara a resolução do problema, as quais podem seridentificadas no momento em que ela apresenta o materiala ser utilizado no experimento e anuncia o comportamentoesperado dos alunos frente ao problema proposto. Aespecificação das condições, a propósito, refere-se a todosos termos da contingência tríplice: antecedente,comportamento e consequência. No que diz respeito àespecificação da consequência, particularmente, ao fazê-lo a professora antecipa o reforço, criando uma “operaçãoestabelecedora” - termo cunhado para designar umainterpretação comportamental da motivação (ver, porexemplo, Cunha e Isidro-Marinho, 2005). Como afirmaCatania (1999): “Algumas instruções funcionam comooperações estabelecedoras, aumentando a efetividade dealguns reforçadores (...)”. (p. 276). No caso descrito, trata-se de um potente reforçador natural sempre disponívelpara o professor: o sucesso (Skinner, 1991).

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Quadro 2. Interação aluno-material e aluno-aluno

Eventosantecedentes

Comportamentos Eventosconsequentes

Bola fora da cesta.

A5 coloca a bola naparte mais alta do trilho,olha para o trilho, fechaum olho e solta a bola.

A6: “Vixi!”

A bola cai fora dacesta.

A7: “Coloca aqui paraver se vai”, apontandopara um ponto maisabaixo no trilho.

Bola fora da cesta.

Bola dentro da cesta.

A8 coloca a bola noponto sugerido por A7 esolta-a.

A9: “Quase!”

A10 solta a bola de umponto ainda mais baixoque A8.

AL gritam: “ÊÊÊ!”

A bola bate dentro dacesta e ricocheteiapara fora.

Bola cai dentro dacesta.

A19 indica um pontono trilho.

A21 pega a bola nacesta e a entrega paraA20.

Bola na cesta.

A20 aponta para amesma região que A19.A20 solta a bola notrilho.AL gritam: “ÊÊÊ!!”,erguem os braços esorriem.

Bola cai na cesta.

Bola rola pelo trilho ecai na cesta.

A21 conta: “Vinte eoito”, pula e sorri.

AL gritam: “Trinta” epulam.

AL gritam: “ÊÊ!”, erguemos braços e sorriem.

A22 diz: “Quatrovezes”, mostra quatrodedos da mão e sorri.

A = aluno; AL = Alunos; P = professor(a).

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O Quadro 2 apresenta registros de momentos emque os alunos trabalham em grupo para resolver oproblema. O foco da análise é sobre o comportamentodeles. O alvo principal de suas ações é o material quelhes fora disponibilizado, principalmente a bola, que deviaser solta do trilho de modo a cair dentro da cesta. Naprimeira tentativa, a bola cai fora da cesta e um dosmembros do grupo lamenta o resultado, exclamando:“Vixi!”. Outro aluno sugere, então, que a bola seja liberadaa partir de um ponto diferente. A bola chega a cair dentroda cesta, mas ricocheteia para fora. O aluno designadocomo A10 faz nova tentativa e a bola cai dentro da cesta,ao que todos comemoram. Episódio semelhante serepete nos outros grupos, como ilustram as duas últimaslinhas do Quadro 2, onde, a propósito, se encontra oregistro da contagem que os alunos fazem do númerode vezes que a bola atinge o alvo, indicando aumento nafrequência da ação que produzia esse efeito.

Foi dada aos alunos a oportunidade de operar sobreuma parte de seu meio ambiente, no caso, o materialque lhes fora entregue contendo o problema a serresolvido. Eles fazem várias tentativas antes de conseguirresolvê-lo, a cada vez colocando a bola num ponto departida diferente. Ao ser solta de um ponto muito alto, abola ultrapassa a cesta e de um ponto muito baixo, elanão a alcança. Mas ao ser liberada de um determinadoponto, ela cai dentro da cesta. Quando os alunosconseguem que a bola atinja o seu alvo, a resposta desoltá-la daquele ponto específico se repete várias vezes,ao passo que diminui a frequência de respostas de liberá-la de outros pontos, numa clara demonstração do efeitoreforçador dessa consequência.

Os eventos registrados no Quadro 2 poderiam serinterpretados como ensaios e erros. A interpretaçãoanalítico-comportamental, no entanto, adota umaperspectiva selecionista (Skinner, 1981). Isto é, no nível

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 99

ontogenético, o comportamento dos indivíduos éselecionado pelas suas consequências. Estas retroagemsobre o organismo no sentido de alterar a probabilidadede ocorrências futuras dos comportamentos que asproduziram. Quando a bola cai fora da cesta, os alunospassam a soltá-la de pontos diferentes. Portanto, soltara bola daquele ponto inicial é uma resposta cuja frequênciadiminui. O termo técnico usado para descrever esseprocesso é: extinção. Um sólido corpo de evidênciasdemonstra que a extinção não se limita à redução dafrequência de respostas, mas é acompanhada de vários“efeitos colaterais”. Um deles constitui-se de respostasemocionais, como na exclamação de um dos alunos:“Vixi”. Outro, de maior relevância para o presente caso,é o aumento da variabilidade comportamental: os alunosprocuram ativamente outros pontos a partir dos quaissoltar a bola (sobre extinção, ver Skinner 1953/1981). Oaparato, portanto, encerra contingências naturais dereforço diferencial e extinção que modelam ocomportamento dos alunos.

No Quadro 3 são apresentados excertos do registrodas observações realizadas durante a plenária. O foco,novamente, é o comportamento dos alunos. A professoravai apresentando perguntas e os alunos as respondem.A coluna correspondente ao registro dos “eventosconsequentes” encontra-se praticamente em branco, poiso vídeo não mostra o que a professora faz frente àsrespostas dos alunos.

Se de fato é parte da proposta que o professor nãoforneça qualquer tipo de feedback aos alunos sobre suasmanifestações verbais, isso nos parece equivocado. Deum lado, embora Piaget tenha enfatizado a construçãoindividual do conhecimento, inclusive tendo por isso sidoalvo de críticas, não é verdade que ele negasse o papeldas interações sociais.

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Quadro 3. Recorte dos registros da plenária

Eventosantecedentes

Comportamentos Eventosconsequentes

P3, sentadanuma cadeiraentre os alunos,pergunta: “O quevocês tinhamque fazer paraque a bolinhacaísse dentro dacestinha?”

A42: “Nós pusemos lá em cima.Ultrapassou. Aí a gente ia maispara baixo, até no lugar exato,até cair na cestinha”.

A43: “Eu ia testando. Eucolocava lá em cima. Se nãodesse, eu ia abaixando atéchegar o nível bom que... elaprecisava para cair na cesta”.

A44: “Se coloca ela bem baixo,ela caía.”

A45: “Também não pode pôrmuito embaixo, senão ela vaidevagarinho e não dá”.

A46: “Eu coloco um dedo nafrente e daí eu vejo se vai cairmesmo (eleva o dedo indicadoraté a altura dos olhos,apontando para frente) se nãocair, eu coloco dois dedos efaço assim” (eleva os dedosindicadores das duas mãos, osaproxima em paralelo um dooutro e apontando para frente).

P3: “Se eu pegassee diminuísse acestinha de lugar,colocasse ela maispróxima, o quevocê teria quefazer com abolinha?”

P3: “Diminuircomo?”

A53: “Diminuir um pouco maisa velocidade”.

A53: “Colocando ela um poucomais embaixo e tentando atécair na cesta”.

A54: “Tinha que colocar maispara baixo. Aí ia maisdevagarinho. Aí acertava”.

P3: “Diminuircomo?”

A = aluno; P = professor(a).

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 101

O indivíduo não viria a organizar suas operaçõesnum todo coerente se ele não se engajasse emintercâmbios de pensamento e cooperação comoutros (Piaget, 1947 / 1967b, p. 174). A sociedadeé a suprema unidade e o indivíduo pode realizarsuas invenções e construções intelectuais somenteà medida que ele é o assento de interaçõescoletivas cujo nível e valor depende obviamente dasociedade como um todo (Piaget, 1967a, p. 508).(Lourenço & Machado, 1996, p. 150).4

Como diria Skinner (1991, p. 119): “Mesmo quandoos estudantes fazem outras coisas – pintar, fazer música,dançar, realizar experimentos científicos – a conversa éessencial.” Além disso, tal atitude implicaria em pelomenos dois riscos. Um deles seria o de extinção decomportamentos desejáveis e adequados. O outro riscoseria o de reforçamento adventício de comportamentosindesejáveis ou inadequados. Embora não propugnemospor um ensino verborrágico, como aponta o próprioSkinner (1991) um dos significados da palavra escola é“lugar onde se conversa” (p. 119).

A nosso ver, é papel do professor proverconsequências para o comportamento do aluno. Em setratando de comportamento verbal, este se constituinaturalmente em antecedente e consequente norevezamento entre falante e ouvinte (ver Skinner 1957/1978).Nas interações entre alunos, isso ocorre de modo natural esem controle. Mas na interação entre alunos e professor, éimprescindível que este tenha condições de consequenciarconscientemente o comportamento de seus interlocutores.

4 The individual would not come to organize his operations in a coherentwhole if he did not engage in thought exchanges and cooperation withothers (Piaget, 1947 / 1967b, p. 174). Society is the supreme unit andthe individual can achieve his inventions and intellectual constructionsonly to the extent that he is the seat of collective interactions whoselevel and value depend obviously on society as a whole” (Piaget, 1967a,p. 508; see also Piaget, 1947/1967b).

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É altamente desejável que o professor reforce respostascorretas dos alunos, seja por meio de elogio, deobservações que as ampliem ou complementem etc., assimcomo não há mal em corrigir eventuais falhas de raciocínioexpresso verbalmente, desde que não se lance mão dapunição.

Todavia, não será demasiado insistir que estasconsiderações baseiam-se em um vídeo editado e que,portanto, o que nele se vê pode não corresponderexatamente à realidade. Queremos com isso simplesmentedizer que, caso o(a) professor(a) reagisse de alguma formaàs manifestações verbais dos alunos, isso não é mostrado.Mas em se tratando de material de divulgação, mesmo quenão tenha sido intenção de seus responsáveis, o aspectodiscutido nos últimos parágrafos pode ser tomado comomodelo pelo expectador. Por isso consideramos oportunoexpressar nossa posição.

Vimos que uma aula é composta de uma série deepisódios de interação social, nos quais o comportamentode um constitui-se em antecedente e consequente para ocomportamento do outro. Quanto mais cônscio o professorestiver de como se dão essas interações, melhores serãosuas condições para controlar as variáveis envolvidas noprocesso de modo a maximizar a aprendizagem dos alunos.Vimos também que o aparato disponibilizado aos alunospara a realização do experimento encerra contingênciasde reforço que modelam seu comportamento. O ponto aser destacado com relação a este aspecto é que ele mostraum arranjo de contingências para a modelagem docomportamento numa proposta pedagógica construtivista,aproximando-a de propostas baseadas na Análise doComportamento. Mesmo que eventualmente negada porconstrutivistas, fato é que a modelagem é um processonatural. Como ciência, a Análise do Comportamento apenaso descreve, oferecendo condições de aplicação tecnológicadesse conhecimento.

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O fato de, tal como exibido no vídeo, o professornão consequenciar o comportamento verbal dos alunosna plenária tem como implicação muito séria oesvaziamento de sua função. Por isso o questionamostanto de um ponto de vista interno ao construtivismo,quanto externamente, de um ponto de vista analítico-comportamental. Pontos ulteriores são discutidos nasconsiderações finais.

Considerações finaisResolução de Problemas

Na visão skinneriana, “(...) os problemas secolocam quando as contingências são complexas. Porexemplo, pode não haver resposta disponível quesatisfaça a um dado conjunto de contingências”. (Skinner,1969/1984, p. 273). O problema colocado aos alunosencaixa-se bem nessa definição, pois, entre as váriaspossibilidades, apenas uma podia satisfazer a exigênciade fazer a bola atingir o alvo. E os alunos não dispunhamda resposta em seu repertório. Para ser solucionado, oproblema exige do indivíduo “mudar a si mesmo ou asituação até que ocorra uma resposta. O comportamentoresponsável pela mudança é adequadamentedenominado resolução de problema, e a resposta queele promove, solução.” (Skinner, 1969/1984, p. 273). Osalunos resolveram o problema manipulando a variávelaltura de lançamento da bola (cf. Skinner, 1953/1981, p.239). Mas há uma diferença entre resolução de problemae a simples emissão de uma solução. Ocorrida a solução,o problema desaparece e a resposta que o solucionavoltará a ocorrer por ter sido anteriormente reforçada emcondições semelhantes (cf. Skinner, 1953/1981, pp. 238-243). Ao alterar a posição da cesta, a professora modificaa situação, colocando, portanto, novo problema, uma vezque o que está em jogo não é simplesmente fazer a bola

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atingir o alvo, mas a relação entre altura de lançamento,velocidade e distância.

Generalização

A variação da distância entre a posição da cesta ea extremidade final do trilho fez com que os alunos seengajassem em comportamentos que os levassem adescobrir, a cada vez, o novo ponto correto delançamento da bola. A descrição dessas contingências,por eles, na forma de desenho, escrita e oral (ver o vídeo)demonstra que eles (pelo menos em parte) conseguiramgeneralizar a relação entre altura, velocidade e distância.Além disso, não podemos deixar de levar emconsideração que o vídeo ilustra pontualmente uma aulasobre resolução de um tipo de problema. Ela é parteintegrante de uma série e não é possível fazer qualquerafirmação sobre os efeitos da série como um todo sobrea habilidade geral de resolução de problemas. Emborase possa imaginar que sejam benéficos, eles teriam queser mensurados de algum modo para permitir qualquerconclusão segura.

Privação e saciação

Referimo-nos anteriormente ao fraco poder desedução da educação escolar. O vídeo analisado registrauma aula em que, ao contrário, os alunos mostraram-semotivados e participativos. Considerando que, com rarasexceções, grande parte do fazer pedagógico na maioriadas escolas concentra-se em exposições orais peloprofessor e em atividades do tipo papel-e-lápis pelosalunos, este quadro equivale ao que, no jargãocomportamental, denomina-se privação, neste caso,privação de atividades pedagógicas instigantes ereforçadoras. Um efeito da privação é o depotencialização de reforçadores. Ou seja, em razão damonotonia da rotina diária de sala de aula, de um modogeral a introdução de qualquer novidade seria

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 105

potencialmente atraente. O contrário da privação é asaciação. Em termos pedagógicos equivale a dizer quea repetição de atividades leva à perda de interesse. Issoaponta para a necessidade de introdução de atividadesvariadas, com objetivos bem definidos. Alunos com algunsanos de escolaridade, como os da situação analisada,expostos a exposições orais e submetidos a tarefas compoucas variações, ficam naturalmente saciados,perdendo o interesse pela escola, com prejuízo para aaprendizagem, para a sua formação e, enfim, para asociedade como um todo. A partir dessas colocações,discutiremos a proposta sob análise à luz de algumasideias de Skinner, bem como elas próprias.

Conhecimento por descrição e por compreensão

Skinner se refere a dois tipos de conhecimento:por descrição e por compreensão. O primeiro relaciona-se diretamente com o conceito de regras (Skinner, 1969/1984). Estas são descrições de contingências, isto é,das relações de dependência entre a ocasião em que ocomportamento ocorre (situação antecedente), ocomportamento propriamente dito e os eventosconsequentes. Conhecimento por compreensão é aqueleadquirido por exposição direta a contingências. Emrelação ao que ocorre na escola, diz Skinner (1991):“Estudantes quase sempre começam comconhecimento por descrição. (...). Se o que aprendem évantajoso, eventualmente adquirirão conhecimento porcompreensão. Mas isso usualmente acontece muitomais tarde.” (p. 120). E ele aponta uma vantagem doconhecimento por compreensão: “[Ele] é muito maisefetivamente executado do que o conhecimento pordescrição.” (Skinner, 1991, p. 120). No entanto,estranhamente, o autor conclui que “O comportamentogovernado pela regra precisa esperar muito tempo atéser modelado pelas contingências. Eis por que as escolasdevem permanecer sendo lugares onde os alunos ouvem

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e leem.” (Skinner, 1991, p. 121. Grifos nossos). Ora, seo conhecimento adquirido por compreensão é maiseficaz que o por descrição, o qual precisa esperar muitotempo até vir a ficar sob controle das contingências,havendo, portanto, o risco de esquecimento, por queentão a escola deve ser apenas um lugar de audiência eleitura? Descrições de contingências podem ser melhore mais facilmente compreendidas se além do contatocom elas houver também algum contato do aprendiz comas próprias contingências descritas. Por isso alunos degraduação fazem estágios, participam em projetos deiniciação científica, extensão etc.

O equipamento disponibilizado aos alunos foiplanejado por profissionais com conhecimento em Física.Ele simplifica relações entre variáveis tipicamenteestudadas por essa ciência, as quais, para seremdescobertas, demandaram longo tempo de exposição acontingências por parte dos cientistas para posteriordescrição delas na forma de leis científicas. Na suasimplicidade, o equipamento permite que os alunospercorram caminho semelhante em tempo muito menor.Esse “caminho” vai desde a exposição às contingênciasque o equipamento encerra até a sua descrição. Alémdisso, é de se destacar o observado efeito motivacionalque o experimento exerceu sobre os alunos, com baseno qual podemos questionar algumas colocações deSkinner. É verdade que, como pondera ele, apenas umapequena parte do mundo pode ser levada para dentro daescola (Skinner, 1991, p. 121). Mas por que não levá-la,se isso puder fazer com que os alunos mantenham-semotivados a continuar frequentando-a e aprendendo?

Reflexão

A reflexão dos alunos durante a plenária é parteimportante do processo. Ao contrário do que diz a críticamal-informada, ela é alvo de atenção da Análise do

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Comportamento. Veja, por exemplo, Skinner (1988). Asmáquinas de ensinar, embora tenham alcançado grandesucesso em determinada época, e apesar de suaeficácia, foram bastante criticadas por alguns eposteriormente abandonadas. O equipamento utilizadona aula analisada não deixa de ser uma máquina deensinar, embora ensine uma coisa apenas, mas com avantagem de proporcionar aos alunos a aquisição deconhecimento por compreensão, além de, na conduçãoda aula, eles serem encorajados a refletir sobre ele.Assim, houve a conjunção de dois importantes fatores:aquisição de conhecimento por compreensão e adescrição (se não por todos, pelos menos por parte dosalunos) das variáveis que controlam o fenômenoanalisado no experimento (generalização).

Participação dos professores

Um ponto que não podemos afirmar com totalsegurança com base apenas no vídeo é que,aparentemente, uma equipe de especialistas desenvolveua proposta e a apresentou aos professores, cabendo aestes apenas executá-la. O ideal seria que osprofessores tivessem condições de formular, de modoautônomo, propostas pedagógicas com sólidoembasamento científico, assim como de executá-las,avaliá-las, revisá-las e assim por diante. Restringir seupapel ao de meros executores significaria, mais uma vez,esvaziamento de sua função.

Acompanhamento individual dos alunos

Considerando que quem aprende é o indivíduo,propostas pedagógicas com base na Análise doComportamento defendem o acompanhamento individualdos alunos. Esse acompanhamento é proposto com afinalidade de se verificar os efeitos da ação educativa.Assim, problemas de desempenho devem levar aoreplanejamento das condições de ensino. No vídeo, não

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fica clara a função dos relatos (orais, por escrito ou pormeio de desenho) solicitados aos alunos.

ConclusãoA análise de uma situação prática de execução de

uma proposta pedagógica permitiu a identificação depontos de aproximação entre duas correntes teóricas dedifícil conciliação. Entre os principais deles destacamoso arranjo de contingências, pelo educador, de modo apromover a interação dos alunos com aspectos do meio,visando à ocorrência da aprendizagem – incluindo adescrição de contingências (reflexão) – dispondo-se deum importante reforçador natural: o sucesso.Considerando que a proposta baseou-se na resoluçãode problema, este aspecto também foi analisado,permitindo-nos concluir que o que foi observado nasituação é compatível com sua conceituação analítico-comportamental. Um possível ponto de distanciamentodiz respeito à atuação do professor.

Há dúvidas quanto a alguns pontos. A Análise doComportamento insiste no acompanhamento individualdo desempenho por meio de registros docomportamento, cuja função é permitir reformulações noprograma de ensino. No vídeo, não ficam claros a funçãodestinada ao relato solicitado dos alunos nem os efeitosdo procedimento adotado sobre seu comportamento, sejacomo indivíduos, seja como grupo. E quanto ao papel doprofessor, defendemos que ele tenha suficienteembasamento científico para exercer de modo autônomosuas funções profissionais. No vídeo observado,aparentemente os professores apenas executam umaproposta formulada por outrem.

O mais importante a destacar de tudo o que foiaqui apresentado é que as convergências identificadaspodem representar a possibilidade de atuação conjunta.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 109

Não se trata de defender um ecletismo, mas desuspender rivalidades em benefício da educação, com aqual, indubitavelmente, analistas do comportamento,construtivistas e representantes de outras vertentes têmsério compromisso.

Referências

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110 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 111

2

Ensino de repertóriosbásicos

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112 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

CAPÍTULO 5

Uma das premissas das aplicações da Análisedo Comportamento à Educação é de que errosdesnecessários devem ser evitados, por meio dacuidadosa e gradual progressão dos comportamentosa serem adquiridos. Mas, e quando apesar destaprogramação, o aprendiz erra?

Melania Moroz, professora da PUC-SP, expõeneste texto como a análise de erros cometidos na leiturae escrita deve ser feita. Erros, nas palavras de Melania,são evidências de que “o repertório não foi adquirido [...]o ensino não promoveu o aprendizado do que éconsiderado acerto”. Para isso, inicia expondocaracterísticas da leitura em língua portuguesa, que trazdesafios próprios pela inconsistência dacorrespondência entre sons e letras. Ora existeregularidade, ora existe irregularidade. Disso decorremdiferentes tipos de erros e seu reconhecimento deveser objeto da atenção do educador.

Os repertórios de alunos de diferentes idades eníveis de escolarização são avaliados por meio doInstrumento de Avaliação de Leitura – IAI, pautado noparadigma de equivalência de estímulos. Os resultadosdestas avaliações indicam o que controla ocomportamento “erro”, possibilitando que novoscontroles sejam introduzidos para levar à leitura e àescrita corretas.

Ao introduzir o tema da avaliação de repertórios,a leitura deste capítulo remete a uma questãofundamental: aprendizagens são sempre individuais,mesmo quando se dão por meio de processos deensino padronizados e os erros, tanto quanto os acertos,devem ensinar a ensinar.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 113

Leitura e escrita – avaliandorepertórios e detectando

dificuldades

Melania MorozPontifícia Universidade Católica de São Paulo

NEPEN – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Ensino

A língua portuguesa tem algumas características quedevem ser consideradas, quando se pretende que alguémaprenda a ler e a escrever, conforme salientado pordiferentes autores, dentre eles Capovilla, Ferracini,Caparotti, Carvalho e Raad (2004), Meireles e Correa(2005), Silva (2007), Zorzi e Ciasca (2008), Martins eGuimarães (2010). É um sistema de escrita alfabético,isto é, tem por base a correspondência entre estímulossonoros e estímulos gráficos. Diz-se que uma palavraescrita é lida quando os elementos gráficos componentesda escrita são vertidos em seus elementos sonoroscorrespondentes; no caso da escrita, há a inversão destacorrespondência, pois os elementos sonoros (o que sediz) devem ser vertidos em seus elementos gráficoscorrespondentes. Assim, ensina-se o aprendiz a ler e aescrever, se ele converte o texto escrito em seus sonscorrespondentes (a denominada decodificação) e converteos sons da fala (de outras pessoas ou evocados por elepróprio) em seus grafemas correspondentes (adenominada codificação), conforme salientado porCapovilla e outros (2004). Tal correspondência entre grafia

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114 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

e som é destacada por Skinner (1978/1957) ao fazerreferência ao comportamento textual, no qual hácorrespondência ponto a ponto entre o estímulodiscriminativo (escrito) e o produto da resposta (sonoro);quanto à correspondência sonoro-gráfica, esta também ésalientada na escrita, na qual há correspondência ponto aponto entre o produto da resposta (escrito) e o estímulosonorizado (por alguém ou pelo próprio indivíduo).

Na língua portuguesa, tal correspondência está longede ser simples, pois ela pode apresentar regularidade oupode se dar de forma irregular. No primeiro caso, os sonstêm representações gráficas unívocas – para um somcorresponde uma dada forma gráfica, isto é, talcorrespondência permanece qualquer que seja a palavrana qual esteja presente. Parte de tais regularidades refere-se à sonorização referente à sílaba formada por uma únicaconsoante e uma vogal, no caso sílabas formadas pelasconsoantes b, d, f, l, p, t, v. Outra parte de talcorrespondência regular sonoro-gráfica, porém, estápresente quando a combinação envolve mais de duasletras, como nos encontros entre consoantes, que podeocorrer numa mesma sílaba (tr, cl, nh, lh, nas palavrastrêmulo, claro, bolinho, velho, por exemplo) ou em sílabasdiferentes (r e l, intercalado entre vogal e consoante, naspalavras mercado, malvado, por exemplo). Tais situações,embora apresentem regularidade sonoro-gráfica, trazemcomplexidade maior para o aprendizado da leitura e escrita,por apresentarem sonorização cuja grafia correspondenteé dada por mais de duas letras (combinações entreconsoantes e vogais).

Há, no entanto, certas exceções submetidas aregramentos. Algumas correspondências grafofonêmicasocorrem em função da posição que as letras ocupam napalavra, havendo regras indicativas da forma correta dese realizar tal correspondência. Neste caso, o modo comose pronuncia um grafema e se escreve um fonema

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 115

depende de sua posição e da relação com outrosgrafemas ou fonemas componentes da palavra; porexemplo, o som anasalado pode ser obtido tanto pelo mquanto pelo n, devendo ser usado o m antes de p e b, e on antes das demais consoantes. Há também o caso douso do s, que entre vogais deve ser sonorizado como /z/; do uso e ou o nas sílabas átonas em final de palavras,apesar de a pronúncia ser /i/ ou /u/; do uso do r e rr, noscontextos inicial, entre vogais, entre consoante e vogal,apresentando sonorização branda ou forte. Outrascorrespondências grafo fonêmicas podem variar emfunção da classe gramatical da palavra, como o uso dosufixo eza ou esa (se for um adjetivo derivado desubstantivo, a palavra é grafada com s e se for umsubstantivo derivado de adjetivo, é grafada com z, sendoambas sonorizadas como /z/), e o uso do iu, io e il, quepodem ser usados para terminações de verbo, substantivoou adjetivo. Conforme exemplificado por Meireles e Correa(2005, p.78):

Escolher entre o sufixo eza ou esa vai depender dacategoria gramatical da palavra em questão: caso sejaum adjetivo derivado de substantivo será escrita com aletra <s> (chinesa, consulesa), mas se for um substantivoderivado de adjetivo, a palavra deverá ser escrita com aletra <z> (realeza, pureza).

Embora ocorram tais exceções na correspondênciasom-texto, tais correspondências são sistemáticas e,portanto, se for conhecido, pelo aprendiz, o que regularizatais correspondências (as regras), ele realizará acorrespondência de forma adequada.

Diferentemente das situações anteriormente citadas,na língua portuguesa há irregularidades, isto é, a pronúnciaou a escrita correta de certas palavras varia, pois édependente da etimologia da palavra. Como existemsonorizações múltiplas para a mesma letra, ou

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116 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

representações gráficas múltiplas para o mesmo som,então o conhecimento a respeito da própria palavra é acondição necessária para a correção na leitura e escrita.Nessa condição de irregularidade estão palavras escritascom x, que é sonorizado por /ss/, /ch/ e /z/, ou escritaspor s, ss, sc, c, xc, ç, que são sonorizados como /s/, ouescritas com g ou j, com sonorizações semelhantes, porexemplo.

Pelo exposto, pode-se concluir que, na leitura eescrita, há diferentes tipos de erros, e que são indicadoresde níveis diferentes de desempenho. Um dos erros maisbásicos é a inadequação nas correspondências regularessonoro-gráficas; o aprendiz pode cometer este erro pornão discriminação sonora, isto é, ele não diferenciaemissões sonoras diversas, ou por não discriminaçãovisual, isto é, ele não diferencia sutilezas gráficas, como,por exemplo, entre p, q ou m, n ou t, f.

Outros erros, porém, indicam desconhecimento dedeterminadas regras (m antes de p e b; s entre vogaistem som de /z/, entre outras), o que pode ocorrer mesmoque o aprendiz apresente discriminações sonoro-gráficas.Neste caso, ele não domina as regras a partir das quaisdeterminadas grafias devem ser empregadas, mesmocom uma mesma sonorização.

Finalmente, há erros que indicam o desconhecimentodo aprendiz sobre a própria palavra; este é o tipo de erroque pode ocorrer até mesmo com pessoas que apresentamleitura e escrita fluente, pois sempre existe a possibilidadede não se ter conhecimento de alguma palavra cujapronúncia ou grafia seja determinada por sua origemetimológica.

Neste ponto, cabe um destaque. O erro, naperspectiva da sociedade, é a valoração do desempenhode alguém a partir de algum parâmetro; no caso de leiturae escrita, os parâmetros são estabelecidos pela

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 117

comunidade verbal letrada (de acordo com o sistema dalíngua portuguesa). Da perspectiva de quem valora,portanto, há erro e, comumente, a responsabilidade porsua ocorrência é atribuída a quem erra. Da perspectivada Análise do Comportamento, porém, o erro indica queum dado repertório não foi adquirido e, neste caso, isto édecorrência das contingências instrucionais; em outraspalavras, o ensino não promoveu o aprendizado do queé considerado “acerto”. É nesta última perspectiva queserão analisados, no presente texto, os erros cometidospor aprendizes de leitura e escrita.

Desempenho de aprendizes de leitura eescrita

Serão expostos os resultados de pesquisas queavaliaram o repertório de leitura, com pequena incursãopela escrita, de alunos do ensino fundamental e de EJA.Tomaram-se, como referência, os trabalhos de Moroz eRubano (2007), Nibu (2006), Costa (2008), Cesar (2009),Llausas (2009) e Silva (2009), que aplicaram oInstrumento de Avaliação de Leitura – Repertório Inicial(IAL-I). Pautando-se no paradigma da equivalência deestímulos, Moroz e Rubano (2005) propõem uminstrumento para avaliar o desempenho do aluno nasrelações entre estímulos de diferentes modalidades, nocaso palavra ditada (A), figura (B) e palavra escrita (C), eos operantes leitura de palavras (D) e escrita de palavrasa partir de letras (E), sendo algumas relações relativas àleitura (relações AB, CC, BC, CB, AC e CD), e outrasrelativas à escrita (relações AE e CE).

O IAL-I, em sua primeira versão, foi proposto em2005, sendo que em 2007 e 2008 foram realizadasinserções de itens, conforme apresentado na Tabela 1.

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118 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Tabela 1. Itens componentes do IAL-I, por relação, nas

diferentes versões.

* SS - palavras com sílabas simples (formadas por consoantee vocal, com correspondência sonoro-gráfica); SC palavrascom sílabas complexas (com regularidade sonoro-gráficadependente de regras ou com irregularidade sonoro-gráfica).

Re

laçõ

es T

ota

l

2005

Total

2007

Total

20

08

SS

*

200

5

SS

200

7

SS

200

8

SC

200

5

SC

200

7

SC

200

8

CC

6

6 6

6

6

6

-

- -

BC

18

18

2

1

12

12

12

6 6

9

CB

15

15

21

9

9

1

2 6

6

9

AC

33

33

3

3

12

12

12

21

21

21

CD

27

27

2

7

9

9

9

18

18

18

Sub

-tota

l 99

99

1

08

48

48

51

51

51

57

CE

6

12

12

-

6

6

6 6

6

AE

6

12

12

-

6

6

6 6

6

Sub

-tota

l 12

24

2

4

- 1

2 1

2 12

1

2 12

To

tal

111

123

13

2 4

8 6

0 6

3 63

6

3 69

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 119

Verifica-se que foram acrescentados itens,passando de 111 para um total de 132 itens. Desse total,parte refere-se a palavras compostas por sílabas simples,isto é, palavras em que há regularidade fonema-grafemae são formadas por um das consoantes b, d, f, l, p, t, v euma vogal. São sílabas simples apenas aquelas comcombinação CV e com regularidade fonema-grafema; asdemais são consideradas sílabas complexas. SegundoSilvestre (1993), são consideradas sílabas complexas: ça,co, çu, ce ci, ge, gi, gue, gui, que, qui, além daquelasformadas por consoante e h (lh, nh, ch), h inicial, rr, rbrando, r após vogal, s após vogal, l após vogal, s, m, n, rantes de consoante, encontro entre consoantes (br, cl,...), letras com sons de outras (s com som de /z/, x comsom de /z/, x com som de /s/, z com som de /s/). Portanto,as sílabas complexas tanto podem apresentarregularidade sonoro-gráfica, mas nesse caso ou contêmmais de uma consoante e uma vogal ou a regularidade éespecificada por regras, quanto apresentamirregularidades na relação som-grafia.

A seguir, são apresentados os resultados dosdiferentes estudos. Moroz e Rubano (2007) e Llausas(2008) trabalharam, respectivamente, com 11 e 5 alunosde EJA; Nibu (2006) e Costa (2008) trabalharam,respectivamente, com 20 e 37 alunos de 2ª série (atual 3ºano); Silva (2009) e Cesar (2009) tiveram comoparticipantes, respectivamente, 40 alunos de 3ª série (atual4º ano) e 17 de 5ª ou 6ª séries (5º ou 6º anos) do EnsinoFundamental.

Tendo em vista que o número de itens variou, emfunção da versão do instrumento aplicada, optou-se porutilizar o índice de desempenho em porcentagem.Considerou-se o desempenho como Satisfatório quandoatingiu, no mínimo, 80% de acertos, Insatisfatório quandoatingiu entre 60% e 79% de acertos e Deficitário quando oíndice foi inferior a 60% de acertos.

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120 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

A Tabela 2, a seguir, apresenta a porcentagem* dealunos, por nível de desempenho, na nomeação deLetras.

Tabela 2. Porcentagem** de alunos por nível de desempenho,na nomeação de letras.

* Em função da versão do IAL-I aplicada, o total de alunosparticipantes variou entre 99 e 130; em cada atividadeavaliada, calculou-se a porcentagem de alunos, por nível dedesempenho atingido.

** Embora não seja adequado utilizar porcentagens emnúmeros inferiores a 20, decidiu-se fazê-lo com a finalidadede não excluir grupos de alunos da análise.

No que se refere à nomeação das letras do alfabeto,verifica-se que em torno de 75% dos aprendizesconseguem nomeá-las corretamente, embora 10,9%apresentem desempenho deficitário. Como se verá,posteriormente, tal conhecimento não implica, porém, emfacilitar a leitura de palavras, já que grande parte dosalunos que demonstram conhecimento do alfabeto nãosabe ler.

Nível Sujeitos

(n)

Satisfatório

(%)

Insatisfató-

rio(%)

Deficitário

(%)

2ª s NF NF NF NF

2ª s a 37 70,2 10,8 18,9

3ª s 40 70 25 5

5ª e 6ª s 17 76,4 11,8 11,8

EJA 11 100 - -

EJA 5 80 - 20

Total 110 74,5 14,5 10,9

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 121

A Tabela 3 apresenta a porcentagem de alunos,por nível de desempenho, na relação CC, com palavrascompostas por sílabas simples.

Tabela 3. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação CC (palavras com sílabas simples).

Dentre as relações avaliadas, a que é dominada pelaquase totalidade dos alunos (96,9%) é a relação palavraescrita-palavra escrita (CC); verifica-se, pois, que estegrupo de alunos consegue estabelecer relação deidentidade entre palavras, mesmo que as palavrascontenham complexidades. Vele acrescentar que 86,9%dos participantes apresentaram conhecimento total (100%de acertos) das letras que compõem o alfabeto. Como severá, posteriormente, tal relação, embora necessária, nãoé suficiente para garantir a realização de leitura.

A seguir, nas Tabelas 4 e 5, a porcentagem dealunos na relação BC, respectivamente com palavrascompostas apenas por sílabas simples e com palavrascontendo complexidades.

Nível Sujeitos

(n)

Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 95 5 -

2ª s a 37 94,6 - 5,4

3ª s 40 100 - -

5ª e 6ª s 17 94,1 - 5,8

EJA 11 100 - -

EJA 5 100 - -

Total 130 96,9 0,8 2,3

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122 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Na Tabela 4, verifica-se que, com exceção de duasturmas, acima de 82% dos aprendizes domina a relaçãoBC (figura-palavra) em nível satisfatório; uma das turmasse destaca negativamente (a 3ª série) por apresentar77,5% dos participantes com desempenho deficitário.

Tabela 4. Porcentagem de alunos por nível de desempenho, narelação BC (palavras com sílabas simples).

Observando-se a relação BC com palavrascontendo complexidades (Tabela 5), verifica-se queapenas os alunos de EJA e da 5ª ou 6ª séries, em suagrande maioria, apresentam desempenho em nívelsatisfatório. Considerando-se o total de participantes,verifica-se que cerca de 40% não conseguem relacionarcorretamente figura e palavra. Comparativamente aoresultado em palavras compostas por sílabas simples,o desempenho foi ligeiramente inferior nas que contêmcomplexidades. Há que se ressaltar o fato de havergrande variação no desempenho entre as diferentesturmas: duas delas se destacam negativamente, nestarelação, sendo que uma delas apresenta 80% departicipantes com nível deficitário.

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 90 10 -

2ª s a 37 62,2 16,2 21,6

3ª s 40 22,5 - 77,5

5ª e 6ª s 17 82,3 11,8 5,9

EJA 11 90,9 - 9,1

EJA 5 100 - -

Total 130 60,8 7,7 31,5

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 123

Tabela 5. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação BC (palavras com sílabas complexas).

Nas Tabelas 6 e 7, apresenta-se a porcentagemde alunos, por nível de desempenho, na relação CB compalavras compostas por sílabas simples e com palavrascontendo complexidades, respectivamente.

Tabela 6. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação CB (palavras com sílabas simples).

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 60 25 15

2ª s a 37 45,9 8,2 45,9

3ª s 40 20 - 80

5ª ou 6ª s 17 82,3 11,8 5,9

EJA 11 90,9 9,1 -

EJA 5 80 20 -

Total 130 50 9,2 40,8

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitá

2ª s 20 75 15 10

2ª s a 37 48,6 21,6 29,7

3ª s 40 10 20 70

5ª e 6ª s 17 64,7 11,7 23,5

EJA 11 72,7 18,1 9,1

EJA 5 100 - -

Total 130 46,9 17,7 35,4

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124 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Tabela 7. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação CB (palavras com sílabas complexas).

Quando o modelo é a palavra e o aluno deveescolher a figura (relação CB), novamente se verifica queo desempenho nas palavras com sílabas complexas éinferir ao apresentado nas palavras compostas apenascom sílabas simples. A porcentagem de alunos comdesempenho deficitário passa de 35,4% para 46,9 %,sendo que tal mudança foi decorrência, em especial, deduas turmas (uma de 2ª e outra da 3ª série). Verifica-se,também, que ocorre diferença, para pior, no desempenho,comparativamente à relação BC. Embora ambas asrelações – BC e CB – refiram-se à leitura compreensiva,a relação CB apresenta-se como mais difícil para umnúmero maior de alunos, provavelmente porque o modeloé a palavra escrita.

Nas Tabelas 8 e 9, apresenta-se o desempenho dosalunos na relação AC, com palavras compostas por sílabassimples e com palavras contendo complexidades,respectivamente.

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 70 25 5

2ª s a 37 32,4 13,5 51,3

3ª s 40 10 - 90

5ª e 6ª s 17 70,5 5,8 23,5

EJA 11 100 - -

EJA 5 80 20 -

Total 130 43,9 9,2 46,9

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 125

Tabela 8. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação AC (palavras com sílabas simples).

Tabela 9. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação AC (palavras com sílabas complexas).

A relação AC avalia a leitura receptiva, isto é o alunodeve, a partir da palavra ditada, identificar a palavra escrita.Nesta relação, verifica-se que menor porcentagem deaprendizes atinge o patamar satisfatório, comparativamenteàs relações anteriores, especialmente quando se trata depalavras contendo complexidades. Novamente, duasturmas (uma de 2ª e outra de 3ª série) destacam-se porserem aquelas que apresentam maior porcentagem de

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 90 - 10

2ª s a 37 51,3 8,1 40,4

3ª s 40 10 - 90

5ª e 6ª s 17 76,5 5,9 17,6

EJA 11 90,9 9,1 -

EJA 5 100 - -

Total 130 53,1 3,8 43,1

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 60 30 10

2ª s a 37 18,9 21,6 51,3

3ª s 40 - 2,5 97,5

5ª ou 6ª s 17 64,7 11,7 23,5

EJA 11 90,9 - 9,1

EJA 5 80 20 -

Total 130 33,8 13,9 52,3

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126 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

alunos com índice deficitário, tanto em relação às palavrascom sílabas simples quanto com as palavras com sílabascomplexas.

As Tabelas 10 e 11 apresentam o desempenho dosalunos na relação CD com palavras compostas porsílabas simples e com palavras contendocomplexidades, respectivamente.

Tabela 10. Porcentagem de alunos, por nível de desempenho,na relação CD (palavras com sílabas simples).

Tabela 11. Porcentagem de alunos, por nível de desempenho,na relação CD (palavras com sílabas complexas).

Nível Sujeitos

(n)

Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 55 5 40

2ª s a 37 18,9 16,3 64,8

3ª s 40 2,5 - 97,5

5ª e 6ª s 17 47 23,5 29,5

EJA 11 27,3 45,4 27, 3

EJA 5 60 - 40

Total 130 25,4 13,1 61,5

Nível Sujeitos

(n)

Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 40 5 55

2ª s a 37 0 0 100

3ª s 40 0 0 100

5ª e 6ª s 17 17,6 11,7 70,5

EJA 11 45,5 9 45,5

EJA 5 40 10 40

Total 130 13,9 3,8 82,3

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 127

Dentre as relações avaliadas, a CD refere-se àleitura expressiva, na qual se apresenta a palavra escritae se verifica se o aluno emite o comportamento textual.Como pode ser observado, o desempenho é melhor naspalavras compostas por sílabas simples; considerando-se o total de participantes, evidencia-se que somente 25,4% atingem o patamar satisfatório, conseguindodecodificar a palavra (isto é, apresentam, ponto a ponto,as unidades sonoras correspondentes às unidadesgráficas) quando esta é composta apenas por sílabassimples, sendo que apenas 13,9% atingem tal patamarquando as palavras contêm complexidades.

Focalizando cada uma das séries, destacam-se,novamente, duas turmas (2ª s e 3ª s) como as piores;na 2ª série a, acima de 60% dos aprendizesapresentaram nível deficitário até mesmo na leitura daspalavras compostas apenas por sílabas simples, sendoque na 3ª série isto ocorreu com praticamente a totalidadedos alunos. Vale acrescentar que, dos aprendizes 2ª sériea, 32,4% não conseguiram ler sequer uma palavra comsílabas simples, sendo que 70% não o fizeram quando apalavra tinha complexidade. Já com os alunos da 3ª série,isso ocorreu com 45,9% e 97,5%, respectivamente.

Diferentemente, os alunos de EJA apresentaramos melhores desempenhos; além de uma possíveldistorção decorrente do cálculo de porcentagem empequeno número de alunos, há que se esclarecer queos alunos do ensino fundamental foram encaminhadoscom o diagnóstico de dificuldade em leitura, enquantoque os de EJA se submeteram ao IAL-I em virtude deconvite das pesquisadoras. Tais fatores podem explicaro melhor desempenho deste grupo, comparativamenteao grupo de aprendizes do Ensino Fundamental.

Em suma, em relação ao repertório de leitura,verifica-se que os participantes, embora a grande maioria

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128 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

soubesse os nomes das letras do alfabeto, nãoapresentaram repertório em nível satisfatório (mínimo de80% de acertos). De todas as relações avaliadas, a quese refere à identidade física entre os estímulos (relaçãoCC) foi a única em que a quase totalidade dos alunosapresentou desempenho satisfatório. Nas relaçõesarbitrárias, envolvendo estímulos de modalidadesdiferentes (som, texto, figura), estão presentesdificuldades; a porcentagem de alunos que apresentadesempenho deficitário passa a ser maior na relação AC,comparativamente à BC e CB; a relação CD, por suavez, é aquela em que se apresentam os pioresdesempenhos. Evidencia-se, pois, que o domínio daidentidade física (relação CC) não implica o domínio nemda leitura compreensiva (relação BC), nem da leiturareceptiva (relação AC); o domínio de todas essasrelações, por sua vez, não garante que o aluno apresenteleitura expressiva (relação CD).

As Tabelas de 12 a 13, a seguir, apresentam odesempenho em duas relações referentes à escrita:relação CE (reprodução de palavra a partir de letras, quese assemelha à cópia) e relação AE (construção depalavra ditada a partir de letras, que se assemelha aoditado). Embora estas relações não sejam referentes àleitura, elas compõem o IAL-I por permitirem verificar seo aluno apresenta apenas dificuldades em leitura ouapresenta, também, dificuldade na escrita.

Dos participantes que foram avaliados na relaçãoCE, verifica-se que a grande maioria apresentadesempenho satisfatório, seja quando as palavras sãocompostas apenas por sílabas simples seja quandocontêm complexidades. A exceção fica por conta de umadas turmas (2ª s a), que tem em torno de 30% de seusparticipantes com desempenho deficitário. Novamente,há indicações de que relações de identidade física são

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 129

Tabela 12. Porcentagem de alunos, por nível de desempenho,na relação CE (palavras com sílabas simples).

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 55 35 10

2ª s a 37 56,7 13,5 29,7

3ª s 40 90 5 5

5ª e 6ª s 17 76,4 11,7 11,7

EJA 11 90,9 - 9,1

EJA 5 20 60 20

Total 130 70,8 14,6 14,6

dominadas por eles, embora neste caso trate-se deidentidade entre letras e não entre palavras.

As Tabelas 14 e 15 apresentam a relação AE(construção, a partir de letras, de palavras ditadas),respectivamente com palavras compostas por sílabassimples e palavras contendo complexidades.

Tabela 13. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação CE (palavras com sílabas complexas).

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s - - - -

2ª s a 37 59,5 13,5 29,7

3ª s 40 100 0 0

5ª e 6ª s 17 100 0 0

EJA - - - -

EJA 5 100T 0 0

Total 99 81,8 5 13,1

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130 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Tabela 14. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação AE (palavras com sílabas simples).

Tabela 15. Porcentagem de alunos por nível de desempenho,na relação AE (palavras com sílabas complexas).

Diferentemente do que ocorreu na relação CE,verifica-se que agora a grande maioria apresentadesempenho deficitário. Embora a situação seja aindapior quando as palavras contêm complexidades, mesmono caso de palavras compostas apenas por sílabassimples o desempenho é precário. Vale acrescentar queparcela expressiva dos alunos apresentou desempenhonulo na escrita de palavras ditadas (dos 86,8% que

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s - - - -

2ª s a 37 10,8 8,1 81,1

3ª s 40 0 0 100

5ª e 6ª s 17 35,2 11,7 52,9

EJA - - - -

EJA 5 40 0 60

Total 99 8, 1 5,1 86,8

Nível Sujeitos (n) Satisfatório Insatisfatório Deficitário

2ª s 20 5 5 90

2ª s a 37 0 0 100

3ª s 40 0 0 100

5ª e 6ª s 17 5,9 0 94,1

EJA 11 18,2 0 81,8

EJA 5 20 20 60

Total 130 3,8 1,5 94,6

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 131

apresentaram desempenho deficitário em palavras comsílabas simples, 71,7% não conseguiram escreversequer uma palavra, sendo que dos 94,6% com níveldeficitário nas palavras com complexidades, 80,8% dosparticipantes não as escreveram).

Os dados deixam evidentes dois aspectos: odesempenho foi ainda pior no caso da escrita do que emleitura e o domínio da relação CE não implica o domínioda relação AE.

A aplicação do IAL-I a alunos que, segundo seusprofessores, apresentavam dificuldades em leitura e aalunos de EJA permitiu verificar que, dentre as relaçõesavaliadas, as críticas são as CD e AE, nas quais ocorremos piores desempenhos, e que o desempenho varia emfunção do tipo de palavra, sendo pior em palavras quecontêm complexidades. Também, a aplicação do IAL-Ipermitiu identificar quais tipos de erros foram cometidos,tanto na leitura expressiva (relação CD) quanto naconstrução de palavras ditadas a partir de letras (relaçãoAE).

Inicia-se pelos erros cometidos na leitura; aspalavras, tal como lidas pelos participantes, foramretiradas dos trabalhos de Nibu (2006), Llausas(2008),Cesar (2000) e Silva (2009).

Leitura de palavras Nas Tabelas 16 e 17, foram colocadas as variações

ocorridas na sonorização de palavras, não se registrandoa frequência de sua ocorrência. As variações foramanalisadas, identificando-se se ocorreu: troca de letras(Tr let), podendo ser consoante (Tr cons), vogal (Tr vog)ou parte da palavra; omissão de letras (Om let), fossemconsoantes ou vogais únicas ou junções de consoantese vogais; acréscimo de letras (Acres let), fossem

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132 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

consoantes ou vogais únicas ou junções de consoantese vogais; inversão da posição da letra na sílaba (Inv let)e, finalmente, sonorização de outra palavras que não aapresentada (Pal dif). Ressalte-se o fato de que aspalavras foram apresentadas no modo imprensa, o quetraz maior dificuldade de leitura, uma vez que várias letrasse aproximam na forma, diferenciando-se apenas nadisposição espacial, ou em pequenos detalhes.

· Palavras com sílabas simples

A Tabela 16, a seguir, especifica os tipos de errosnas palavras compostas por sílabas simples, isto é queapresentam regularidade sonoro-gráfica e são compostaspor uma consoante e por uma vogal.

Verifica-se que, nas palavras dissílabas etrissílabas formadas por sílabas simples, os erroscometidos indicam que tal correspondência não estásendo realizada pelo aluno. Um dos erros cometidosrefere-se ao acréscimo de letras na palavra; isto ocorreunas palavras sino e sapo, por exemplo, que foram lidascomo /sinto/ e /sapato /. Outro tipo de erro, este maisfrequente, refere-se à omissão de parte das palavras,sejam tais partes sílabas ou consoantes. No caso daomissão de sílabas, esta ocorreu principalmente naspalavras trissílabas; neste caso, o aprendiz leu apenasparte da palavra, como por exemplo, leu /sato, sapo/ emvez de /sapato/, ou leu /náná/ em vez de /banana/; já nocaso da omissão de consoantes, esta ocorreuespecialmente no início da palavra, fosse ela dissílabaou trissílaba, como é o caso de ler /apato, aca, ino/ emvez de ler /sapato, faca, sino/. Houve casos em que aomissão de consoantes foi total, ou quase, tendo oaprendiz sonorizado apenas as vogais; este é o caso de/aio/ e /ai/ em vez de /apito/, e de /aapo/ e /agao/ no lugarde /sapato/. Diferentemente do ocorrido com as

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 133

Palavra Tipos de erros *

faca

Tr cons (d>c**; s>f; m>f; v>f) Tr vogal (o>a) Om let (f,c,fa): fada,

saca, maca, vaca, foca, aca, faa, ca. Pal dif: gato, rato,

azul,telefone.

rato Tr cons (p>r; g>r; f>r; m>r; s>r; d>t; b>t; n>t) Tr vog (a>o) Om let

(ra; rt): pato, gato, fato, mato, rabo, rata, sana, fado, to, ao. Pal

dif: dedo, ovo, abacate.

sino

Tr cons (r>n; d>n; m>n; p>n) Tr vog (a>i) Acres con (t) Om let (s):

siro, sido, sinto, sapo, ino, imo. Pal dif: sofá, faca, zebra.

roxo

Tr cons (c>x; ç>x; d>x; f>x; l>x; s>x; t>x; v>x; z>x) Tr vogal (o>a/

a>o) Om let (r): rodo, rozo, roço, rolo, roxa, rosa, roda, rato, faço,

oco, ovo. Pal dif: macaco, meia, abacaxi.

sapo

Tr cons (b>p; s>p; f>s) Tr vog (o>a) Acres let (at) Om let (s): sabo,

sobo, foso, sapato, abo, aaça. Pal dif: dedo, janela.

cubo

Tr cons (c>b; d>b; p>b; s>c; d>p) Tr vog (a>o; a>u) Om let (c):

cudo, cupo, cuba, cabo, cado, cudo, subo, suco, suba, udo. Pal

dif: hélice, sofá, gato, azul.

sapato

Tr cons (b>p; d>p; g>p) Tr vog (o>a; a>o) Om let (s; t; as; pa; to):

sagato, apato, sabato, sapoto, bato, sato, aapo, agao, ada. Pal

dif: injeção, pedra.

apito

Tr cons (b>p; d>p; g>p), Om let (p; t; to; ap): abito, aito, agio, adi,

ito, aio, ai. Pal dif: abacaxi, sofá, televisão.

banana

Tr cons (c>b; d>b; m>n; d>n) Tr vog (u>a) Om let (b, ba; ban):

danana, damámá, ananá, náná, áná, cadudu. Pal dif: beijo,

dado, janela, zebra, elefante.

Tabela 16. Tipos de erros, por palavra apresentada para serlida (sílabas simples).

*Identificados em negrito.** Leia-se “d em vez de p”

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134 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

consoantes, no caso das vogais praticamente nãoocorreu omissão das mesmas.

Também ocorreu troca de partes da palavra; a trocamais frequente foi a das consoantes, sendo menoscomum a troca de vogais. Das vogais, a troca que maisocorreu foi a>o (leia-se “da vogal a pela vogal o”) e vice-versa (o>a). Em relação às consoantes, houve grandevariação, pois ocorreram c>b; d>b; p>b; d>c; s>c; m>f;s>f; v>f; d>n; m>n; p>n; r>n; b>p; d>p; g>p; s>p; f>r;g>r; m>r; p>r; s>r; f>s; d>t; b>t; n>t; c>x; ç>x; d>x; f>x;l>x; s>x; t>x; v>x; z>x.

Também ocorreu a sonorização de palavrasdiferentes (Pal. dif) das que deveriam ter sido lidas; emoutras palavras, o aprendiz falou uma palavra que nãose aproxima, nem na sonorização nem graficamente, dapalavra avaliada. Isto ocorreu com todas as palavrasformadas por sílabas simples.

· Palavras com sílabas complexas

A Tabela 17, a seguir, especifica os tipos de errosnas palavras que apresentam complexidades.

Um aspecto que se destaca nas palavras contendosílabas complexas é o fato de ocorrerem erros nãoapenas nas complexidades, mas também nas sílabassimples presentes em tais palavras; isto pode serobservado na leitura de praticamente todas as palavras.

Dentre os erros, a troca de consoantes é o maisfrequente, embora ocorra, também, troca entre as vogais,incluindo novos casos como e>i (e vice-versa), o>u (evice-versa), os quais não foram detectados no grupo depalavras compostas apenas por sílabas simples.

Dentre as trocas de consoantes, considerando osdois tipos de sílabas, apareceu grande diversidade (d>b;p>b; t>b; be>b; br>b; bere>br; berra> br; l>br; ss>c; c>ç;c> ch; cr>ch; co>ch; g>ch; gel>ch; j>ch; l>ch; lh>ch;

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 135

Tabela 17. Tipos de erros, por palavra que contemcomplexidades.

Palavra Tipos de erros

breque

Tr con (l>br; g>q, bere>br; berra> br) Tr vog (i>e; a>e;

ê>e) Om let (r) Acres let (n; i): brinque, leque, bereque,

bregue, berraque, breique, brêquê, braque. Pal dif:

queijo, camisa, agasalho, coco, rede, boca, barro,

dedo, dado, díade.

quepe

Tr cons (b>p; d>p; g>q; co>qu; d>q) Tr vog (i>e; ê>e;

o>e) Acres let (i; ato): quipi, quede, queipe, quepato,

guepe, quebe, quêpê, coepo, duebe. Pal dif: blusa,

telefone, azul, jumento, chinelo.

bucha

Tr cons (d>b; br>b; r>b; c> ch; lh>ch; cr>ch; l>ch), Tr

vog (o>u; e>a) Om let (h/): ducha, ruca, dulha, brucha,

boca, bucra, bule. Pal dif: sobrancelha, telefone,

elefante, vocabulário, coração, bufalo.

chaleira

Tr cons (j>ch; sec> ch; gel> ch; g> ch; qu>ch; co>ch;

i>l; f>r) Tr vog (e>a): jaleira, secareira, geladeira,

geleira, qualeira, coaieifa

Pal dif: sobrancelha, azul, dado, colher, janela,

cenário, garrafa, cuca.

bochecha

Tr con (d>b; br>b; qu>ch) Tr vog (u>o; e>a; a>e) Om

let (h) Acres let (vede): buchecha, dochecha, boceca,

bruqueche, docevede, docado.

Pal dif: bacate, hospital, sofá, tanque, pato, boneca,

dedo, dado.

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136 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Xícara

Tr con (s>x; el>x; ss>c; rr>r) Omissão de letras (a):

sícara, elissara, xícarra, xícra. Pal dif: xuxa, sapato,

elefante.

enxada

Tr cons (a>em; l>x; ss>x; b>d; du>n; n>en) Om let (n;

x), Tr vog (a>e; o>a): axada, exada, elada, essaba,

eduxado, nada. Pal dif: escola, mesa, gema, escova,

geladeira.

elefante

Tr con (i>l; e>n; d>t) Tr vog (o>e), Om let (n; fante):

elefate, eiefaedo, ele. Pal dif: janela, caçar, sorvete.

injeção

Tr cons (m>n) Om let (n; inj; jeção), Acr let (n, uan) Inv

let (mi>in): ijeção, eção, in, mijenção, ijuanão. Pal dif:

isaque, vaca, gato, faca, fogo.

ambulância

Tr cons (d>b; n>m; l>m) Om let (m; n) Acres let (etruiz)

Inv let (mo>am): abulância, andulância, abulacia,

albulância, modulância, ametruiz. Pal dif: macaco,

arma, abacaxi, avestruz.

andorinha

Tr cons (m>n; b>d; u>n; f>r; lh>nh) Tr vog (u>o) Om let

(d; n; h) Acres let (e) Inv let (ma>am): amorinha,

adorina, madurinha, aneborina, aubofilha. Pal dif:

antonia, avestruz, ameixa, tigre, meia, orna, maçã.

galinha Tr cons (ss>nh; c>g; d>g) Tr vog (u>i) Om let (h; l) Acr

let (usd): galissa, galina, caluna, daiusda. Pal dif: gato,

vaca, rato, janela, japão, sofá, (a)jeitar.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 137

abajur

Tr cons (d>b; i>j; ch>j; f>r) Om let (r final; a inicial; j;

jur/) Acres let (a): adajur, abajú, adaiufa, bau, ba,

bachu. Pal dif: abaixo, aprender, abacaxi, bote,

galinha, dado. Outro: ga

barriga

Tr cons (c>g; d>g; nh>g; r>rr; f>rr; d>b) Acres let (i):

barrinha, bariga, barreiga, darica, dafida. Pal dif:

amassado, camiseta, sapato, abacaxi, balança, berra,

dado.

relógio

Tr cons (a>g; d>g; f>r; i>l), Tr vog (a>e) Acres let (er; t)

Om let (o): relogerito, ralodi, feioaioPal dif: vaca, sofá,

joão, ratoeira.

besouro

Tr cons (d>b; j>s; ss>s; rr>r; t>b; f>r; p>b) Tr vog (i>e;

a>e; a>o) Acres let (ui) Om let (u): bisouro, bessouro,

desouro, bejouro, dessouro, besourra, bessouro,

tesouro, dessofo, pesouro, bissuiura

explicação

Tr cons (b>p; pr>pl; pel>pl; xi>x; c>ç) Tr vog (i>e; e>i;

a>ã) Acres let (a/) Om let (l/): ixplicação, expricação,

explecação, explicacao, xipelicação, aexibicara. Pal

dif: hospital, maçã, janela, galinha, estudar.

exaltado Tr cons (d>t; p>t; t>d; c>t; ch>x; g>x; ss>x; r>l/) Tr vog

(a>e)Acres let (n; lin) Om let (l; x; ltado) Inv let(al>la):

exatado, exaldado, echaltado, echatado, echaldado,

echantado, elatado, enchatado, enchaltado,

enchadado, achadado, encharcado, egatando,

essapato, linchatado, echa, exieifabe. Pal dif:

escova, ele, pato.

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138 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

qu>ch; sec> ch; b>d; r>b; t>d; a>g; c>g; d>g; a>em;n>em; i>j; ch>j; i>l; r>l; l>m; n>m; e>n; m>n; u>n; lh>nh;ss>nh; b>p; d>p; pr>pl; pel>pl; d>q; g>q; co>qu; f>r; rr>r;f>rr; r>rr; j>s; ss>s; d>t; p>t; c>t; s>x; ss>x; du>n),dentre as quais algumas já detectadas anteriormente.Parte de tais trocas pode ter ocorrido pela semelhançagráfica entre as letras (a, c, ç, g; d, p, b, q, g; i, j, l; f, r, t;u,n, m; cr, ch; lh, nh, pr, pl, por exemplo), parte poraproximação sonora entre elas (p, b, d, t; g, ch, j; a, e;por exemplo).

Tal como nas palavras com sílabas simples, naspalavras que contêm complexidades também ocorreu asonorização de palavras diferentes das que foramavaliadas. Em tais palavras, eventualmente aparecemuma ou mais das letras que compõem a palavraapresentada, e quando isto ocorre as letras maiscomumente presentes são a inicial e as vogais;aparentemente, os aprendizes que não dominam assílabas, isto é a sílaba não é a unidade mínima de leitura,ao identificar uma letra (ou letras) da palavra apresentada,sonoriza qualquer palavra que a contenha. Há até mesmoa sonorização de palavras inexistentes (doravantedenominadas pseudo-palavras), como é o caso de /jeitar/, falado no lugar de galinha, por exemplo; é possível queo aprendiz tenha lido a letra g como /je/ e a letra i,formando /jei/, e completado com /tar/, criando /jeitar/,que se aproxima sonoramente à palavra /ajeitar/.

* Sílabas complexas com regularidade entre som e grafia

Colocando em foco as complexidades presentes,inicialmente serão consideradas as sílabas complexasque mantêm regularidade na correspondência sonoro-gráfica, o que significa que não há variação no modo desonorizar o escrito. Este é o caso das sílabas bre, nha epli, presentes nas palavras breque, andorinha, galinha e

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 139

explicação; da sílaba que, presente em breque e quepe;e, ainda, da sílaba jur, que contém o r final, presente napalavra abajur.

Nas sílabas bre, que, nha e pli, observando-se ostipos de erros cometidos, verifica-se que ocorreramtrocas, tais como gu>qu/co>qu/ du>qu/ lh>nh/ss>nh/pr>pl/ peli>pli/; de forma similar às sílabas simples, parteocorre, provavelmente, por semelhanças gráfica entreas letras (gu, qu, du, qu, lh, nh, ch). Há, porém, umatroca que pode se relacionar à oralidade; faz-se referênciaà sonorização de pr no lugar de pl (/expricação/),sonorização esta comum no linguajar de pessoas nãoescolarizadas. Finalmente, verifica-se que há leitura daconsoante como se fosse sílaba, ou seja, o encontroconsonantal não é reconhecido, embora suas partes osejam (peli>pli/).

Além das trocas, verificou-se, no encontro entreconsoantes, a omissão de um de seus elementos (r embr; h em nh), isto é, o aprendiz respondeu como se assílabas fossem simples e não complexas (/galina/).Houve, ainda, acréscimo de letras, em alguns casossonorizando outra palavra que não a apresentada (comono caso de sonorizar /brinque/ por /breque/), e em outrossonorizando uma pseudo-palavra (como no caso de /quepato/ por /quepe/).

Finalmente, na palavra abajur, verificou-se a trocade consoante (d>b, i>j, ch>j, f>r), o acréscimo de letras(fa) e a omissão de letras, seja o r final seja a sílaba jur.No caso da omissão do r final, por ser comum na fala,pode indicar a transposição da oralidade para a escrita.

Do exposto, chama a atenção a ocorrência deomissões de letras que compõem as sílabas bre, que,nha, já que nestes casos indica que o aluno não respondeao encontro de consoantes, presentes em tais sílabas,

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mas ao encontro de uma consoante e uma vogal apenas,característica das sílabas simples.

* Correspondência grafo sonora por regra

A seguir, serão focalizadas as palavras queapresentam, como complexidade, correspondência grafosonora descrita por regras da língua portuguesa. Nestecaso, os erros indicam o desconhecimento, por parte doaprendiz, a respeito dos regramentos no uso de certasletras (como, por exemplo, m antes de p e b, mas n antesdas demais consoantes; entre vogais, s deve sersonorizado como /z/; r entre vogais deve apresentarsonorização branda e r no início da palavra ou rrapresentam sonorização forte, entre outras regras).

Iniciando pelas palavras que apresentam somanasalado pela presença do m ou do n, caso das palavrasenxada, elefante, ambulância, andorinha, verificou-se quehouve omissão do n e do m (exada, elefate, abulacia,adorina), desta forma não se produzindo som anasalado;troca de letra (e> n, n> m), a última provavelmenterelacionada à outra troca de letras (entre d e b) queocorreu na mesma palavra (andulância); inversão daconsoante, com uso de mo ou ma em vez de am ou an(modulância, madurinha, amorinha), novamentecomprometendo a sonorização adequada. Tal inversãoindica que o aprendiz não está respondendo à sílabacomplexa (am, an, en), mas atua como se a sílabacomponente da palavra fosse simples (consoante evogal).

No caso da letra r (brando ou forte), presente naspalavras barriga, relógio, besouro e chaleira, verificou-se que houve troca de consoantes (r>rr, f>rr, f>r, rr>r);em alguns casos, esta pode ter decorrido da nãodiscriminação gráfica ou sonora entre as letras (caso da

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troca entre f e rr), porém outros (r e rr) provavelmenteforam decorrentes do desconhecimento das regrasrelacionadas à posição das letras na palavra. Tambémse verificou o acréscimo de letras (e, em barreiga) e aomissão de letras (a, em xícra); estes casos mostrampossíveis erros em função da oralidade, já que ambasas sonorizações estão presentes na linguagem falada.

Na palavra besouro, tem-se o caso do s comsonorização de /z/; nesta complexidade, verificou-se atroca das letras ss>s, mantendo-se a sonorização originaldo s, indicativo do desconhecimento da regra, e da letraj>s, indicativa de não discriminação sonoro-gráfica.Ocorreu, também, a omissão da letra u, não sendosonorizada a junção entre vogais, e o acréscimo de letras,com sonorização de uma pseudo-palavra (bissuiura).

Em relação ao uso da consoante g, que acrescidadas vogais a, o, u deve ser lida como /ga/, /go/, /gu/ eacrescida de e, i, deve ser sonorizada como /j/, verificou-se troca de letras (c>g, em barica; d>g, em ralodi; nh>g,em barrinha; a>g, em feioaio).

Como os exemplos mostram, a troca de letras(d>b, r>rr, c>g; f>r, i>l, a>g; a>e, d>g) pode levar àsonorização de pseudo-palavras, implicando na nãocompreensão da mesma.

* Complexidade grafo sonora por origem

A seguir, serão tratadas complexidades em funçãoda etimologia da palavra. Neste caso, não há regrasdescritivas da relação sonoro-gráfica, pois esta é irregularuma vez que depende da origem da palavra.

Insere-se neste grupo o x, com sonorização /ss/ e /z/, presentes nas palavras explicação e exaltado. Quandoo x tinha som /ss/, ocorreu a sonorização /xi/. Quando asonorização era /z/, ocorreu troca de sons (ch>x, l>x, g>x,

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ss>x. xi>xa), sendo mais frequente o uso do som /ch/ nolugar do som /z/, indicando que o aprendiz realizou asonorização que é característica da letra x.

Na palavra exaltado, além de trocas de letras emsílabas que não continham complexidades, houve a trocado ch>x, apresentando-se a sonorização característica dox; do ss>x, uma das possibilidades de sonorização do x edo xi>x; esta última troca também esteve presente na palavraexplicação, troca que pode indicar que o aprendiz não estálendo a sílaba, mas está nomeando a letra (/xis/). Aindaocorreu a omissão do x (em elatado) e a inserção de letras(como em enchatado). Dentre as pseudo-palavras, valedestacar exieifabe, que pode ser resultado de várias trocasde letras: xi>x + e>a + i>l + f>t + b>d + e>a.

Na palavra exaltado também havia, comocomplexidade, o encontro de consoantes pertencentesa sílabas diversas (l antes do t); neste caso, ocorreu aomissão do l (exatado) e do x (elatado), a troca de letras(i>l), o acréscimo de letras (enchaltado) e a inversão daposição do l na sílaba, o qual deixou de finalizar a sílaba/xal/ para compor a sílaba /la/ (elatado).

No caso das sílabas cha e che, presentes naspalavras bucha, chaleira e bochecha, a maior dificuldadeé na escrita, que pode confundir-se com x, sendo que naleitura não há este problema porque a sonorização do ché constante. Na leitura, verificou-se que ocorreram trocas(lh>ch, cr>ch, j>ch, g>ch, qu>ch), provavelmente porsemelhança física entre algumas letras (lh>ch; cr>ch;qu>ch), indicando que variações sutis na forma física nãoforam detectadas. Também ocorreu a omissão de letra h,à semelhança do que ocorrera com o nh, indicando que oaprendiz lê como se a sílaba fosse simples, com apenasuma consoante e uma vogal. O acréscimo de letras esílabas também foi identificado (r, ve, de, do, se, r, ge, d),em alguns casos sonorizando outra palavra que não aapresentada (como no caso de sonorizar /bruxa/ por /

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bucha/, /geladeira/ por /chaleira/), e em outros sonorizandopseudo-palavra (como no caso de /secareira/ por /chaleira/

Escrita de palavrasReferente à escrita, foram avaliados os repertórios

de reprodução de palavras escritas e de construção depalavras ditadas, a partir de letras. A reprodução, comojá salientado, foi realizada praticamente sem erros.Assim, os dados serão relativos à construção de palavrasditadas. Como o programa do software interrompe aescrita, assim que o aprendiz comete o primeiro erro,não se sabe que outros erros poderiam ser cometidos.

A Tabela 18, a seguir, especifica os tipos de errosna grafia de palavras que apresentam complexidades.

Tabela 18. Tipos de erros, por palavra apresentada para serconstruída (sílabas complexas).

Palavra Tipos de Erros

vaca vaa, vaf, vao, vz, vf, vc, a, c, f, z, m.

dedo dedu, dep, di, do, du, dd, dp, dr, b, p, r, e, o, u.

gato gao, gap, gad, go, gt, gd, gi, gp, t, p, d, a, o.

apito apitu, apio, apo, apib, apb, ap, at, ab, al, az, ai, ao, b,

p, t, z, i, o.

banana bani, bam, bm, bn, Bd, bi, a, d, g, m, n, q.

janela janl, jal, jam, jag, je, ji, jg, jm, jn, a, e, g, l, m, n, q.

blusa br, bs, ba, be, bo, bu, l, s, r, z, a, e, u.

quadra quadrá, quada, ga, qa, qg, a, d, g, l, r, u.

colher colha, colho, colhr, cole, coli, cor, cóh, ch, cl, cá, cé,

g, h, l, n, r, a, e, é, i, o, ó.

chaleira chaler, chali , cl, cr, b, c, h, i, l, r, s, z, a, e, i.

exaltado exat, exau, exad, exu, ext, exd, ed, el, eq, ea, ei, eu,

b, d, g, l, q, t, x, a, e, i, o, u.

barriga bari, baf, bai, ba, br, bi, bg, bl, bo, g, l, r, a, ó.

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Como já salientado, o desempenho na escrita émuito inferior ao desempenho em leitura. Pode-seobservar que os erros são cometidos, maisfrequentemente, logo no início das palavras, tanto quepoucos são os exemplos de palavras nas quais o alunoerrou após ter escrito corretamente a primeira sílaba. Emmuitos casos, o grafado é apenas uma vogal ou umaconsoante, sendo que algumas delas sequer fazem partedas palavras, o que mostra a total falta de correspondênciasonoro-gráfica. Fica evidenciado, ainda, que a dificuldadena grafia não se dá apenas nas sílabas comcomplexidades, mas ocorre também nas sílabas simples.

Em suma, considerando-se os resultados do IAL-I nas relações CD e AE, verifica-se que, no caso dassílabas simples, isto é compostas por uma consoante euma vogal e com correspondência regular entre som egrafia, ocorreram trocas mais frequentes entreconsoantes, e menos entre vogais. Parte de tais trocaspode ter ocorrido por não discriminação sonora, partepor não discriminação visual, já que os estímulosapresentam diferenças sutis, e parte, ainda, por umaconfluência de ambas variáveis. Ocorreram, ainda,omissões e acréscimos de letras e sílabas, muitas vezessonorizando-se palavras diferentes ou mesmo pseudo-palavras.

No caso da leitura de palavras com sílabascomplexas, também ocorreram sonorização de palavrasdiferentes e de pseudo-palavras, as quais muitas vezesforam decorrentes de acréscimo ou omissão de letrasou troca de consoantes e vogais. Também houve asonorização de uma sílaba como se o participanteestivesse nomeando a consoante, além de possivelmenteter ocorrido interferência da oralidade, sonorizando-se apalavra da forma comum ao linguajar de pessoas nãoescolarizadas.

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Como visto, parte das palavras, embora comregularidade entre som e grafia, contêm encontros entreconsoantes, as quais podem fazer parte ou de uma sílabaou de sílabas diferentes; outra parte das palavras têm suaregularidade sonoro gráfica descrita por certas regras. Noprimeiro caso, um erro constante foi a omissão de um deseus elementos; também ocorreu, especialmente naspalavras com l ou n intercalado, a inversão de letras, errosque mostram que o participante respondeu como se assílabas fossem simples, desconsiderando o encontro entreconsoantes. Também houve a sonorização da consoantecomo se fosse sílaba, ou seja, o encontro consonantalnovamente não é reconhecido, embora suas partes o sejam.

Considerações FinaisOs repertórios de leitura e escrita, embora essenciais

para o próprio trajeto escolar do aprendiz e para sua futurasobrevivência na sociedade, não vêm sendo adquiridos porgrande parte dos alunos, a despeito de frequentarem aescola; prova disso são os índices de avaliação divulgadospelas instituições governamentais que afirmam adefasagem entre o nível esperado e o atingido, para asséries avaliadas.

O presente trabalho, ao identificar e refletir sobre asdificuldades apresentadas pelos participantes (alunos dediferentes séries do ensino fundamental e de EJA), permitequalificar melhor tal desempenho. A avaliação do repertóriobásico de leitura, a partir de relações entre estímulos dediferentes modalidades, permitiu verificar que, dentre asrelações avaliadas, a que é crucial, por não fazer parte dorepertório dos participantes, é a relação CD (que avalia ocomportamento textual), especialmente quando as palavrascontêm complexidades.

De todas as relações avaliadas, a relação CC, quese refere à identidade física entre os estímulos, é a única

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dominada pelos alunos, já que nas relações arbitrárias,envolvendo estímulos de modalidades diferentes (som,texto, figura), os alunos apresentam dificuldades – aporcentagem de alunos que apresenta desempenhodeficitário nas relações BC e CB é maior do que narelação CC; o mesmo ocorre na relação AC,comparativamente à BC e CB, e na relação CD,comparativamente às demais. Os dados tornam evidenteque o domínio da identidade física (relação CC) nãoimplica o domínio da leitura compreensiva (relação BC),que por sua vez não implica o domínio da leitura receptiva(relação AC), que não implica o domínio da leituraexpressiva (relação CD).

Um ponto a destacar é o fato de os participantes,em sua quase totalidade, saberem nomear praticamentetodas as letras do alfabeto; infelizmente, porém, eles nãoconseguem ler palavras que as contêm. Tal fato éindicativo de que o nome de cada letra é alvo do ensinoescolar; é possível que o professor ensine o aluno anomear as letras na suposição de que seu aprendizadoé favorecedor do aprendizado da leitura e da escrita. Osresultados do presente trabalho indicam, porém, que talconhecimento não se relaciona, necessariamente, coma aquisição da leitura, já que os aprendizes nomearamcorretamente as letras, mas não conseguiram ler sequerpalavras formadas apenas por sílabas simples.

Embora se tenha feito apenas uma ligeira incursãopela escrita, os dados existentes permitem mostrar algunsaspectos. Primeiro, evidencia-se que os participantesdominam a reprodução de palavras escritas (que seaproxima da cópia), esta analisada por Skinner (1978/1957)como transcrição. Os dados mostram, ainda, que poucosaprendizes conseguem construir palavras ditadas,evidenciando-se que apresentam repertório escrito aindamais rudimentar que o da leitura e que o domínio da

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reprodução de palavras não garante o domínio daconstrução de palavras ditadas, operante tambémanalisado como transcrição por Skinner (1978/1957).

O que para analistas do comportamento não énovidade – leitura e escrita são operantes diferentes,conforme proposta de Skinner (1978/1957) –, para muitosdocentes parece sê-lo, já que é comum fazeremafirmações sobre o nível de alfabetização do aprendiz(por exemplo, o aprendiz está na fase pré-silábica,silábica etc.), a partir de como ele escreve, sem avaliarespecificamente o seu repertório em leitura. A aplicaçãodo IAL-I permitiu evidenciar, claramente, a independênciade ambos os repertórios, quando se considera o iníciode seu aprendizado.

Tendo-se por referência os erros cometidos pelosparticipantes na leitura, verificou-se que ocorreu troca deletras, tanto em palavras compostas apenas por sílabassimples quanto em palavras que continhamcomplexidades. No caso das sílabas simples, ocorreramtrocas mais frequentes entre consoantes, e menos entrevogais. As trocas podem ter ocorrido por não discriminaçãosonora, por não discriminação visual entre estímulos queapresentam diferenças sutis e, ainda, por ambas variáveis.Ocorreram, ainda, omissões e acréscimos de letras esílabas, muitas vezes sonorizando-se palavras diferentesou mesmo pseudo-palavras.

A partir da literatura (Capovilla e outros, 2004;Meireles e Correa, 2005 e Zorzi e Ciasca, 2008) pode-seafirmar que o erro mais básico é o decorrente da nãocorrespondência grafo fonêmica nas situações em quehá regularidade entre a sonorização e a grafia da palavra.E tal tipo de erro esteve presente, independentementeda série cursada, indicando que os participantesapresentam nível rudimentar de leitura e escrita. De fato,tais participantes, em sua maioria, foram identificados,

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por seus professores, como aprendizes com dificuldadesna leitura, muito embora o grau de dificuldade queapresentavam só tenha sido detectado a partir dapresente avaliação do repertório.

Ora, tendo tais erros ocorrido em palavrascompostas por sílabas simples, isto é compostas por umaúnica consoante e uma vogal e com regularidade nacorrespondência sonoro-gráfica, pode-se afirmar que orepertório de leitura, dos participantes que os cometeram,é bastante rudimentar. Ainda pior é o repertório de escrita,que para grande parte dos participantes é inexistente. Taisresultados indicam que a escola não tem propiciadocondições de ensino para que as discriminações sonorase visuais, bem como a correspondência entre elas –repertório basilar da leitura e escrita –, sejam aprendidaspor seus alunos. Tal correspondência deve ser aprendida,e para tanto, sugere-se que se focalize, particularmente,palavras nas quais a regularidade sonoro-gráfica estejapresente, iniciando-se por aquelas compostas por umavogal e uma consoante.

No caso da leitura de palavras com sílabascomplexas, também ocorreram sonorização de palavrasdiferentes e de pseudo-palavras, muitas vezes poracréscimo ou omissão de letras, e troca de consoantese vogais. Também houve a sonorização de uma sílabacomo se o participante estivesse nomeando a consoante,além de possivelmente ter ocorrido interferência daoralidade, sonorizando-se a palavra da forma comum aolinguajar de pessoas não escolarizadas.

Como visto, parte das palavras contêm, comocomplexidade, encontro entre consoantes, as quais podemfazer parte ou de uma mesma sílaba ou de sílabasdiferentes, embora mantenham regularidade sonoro-gráfica.Entre os erros, um deles foi a omissão de um de seuselementos, sendo que também ocorreu, especialmente nas

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palavras com consoante entre sílabas, a inversão de letras,erros que mostram que o participante respondeu como seas sílabas fossem simples, desconsiderando o encontroentre consoantes. Também houve o desmembramento doencontro consonantal como se fossem duas sílabas,indicando que o encontro consonantal novamente não éreconhecido, embora partes o sejam.

Como visto, parte das palavras tem suaregularidade sonoro-gráfica dependente de certas regras.Dentre as regras que foram contempladas – n antes deconsoante, indicativo de nasanalidade, s entre vogais,uso de r brando ou forte –, observou-se a omissão do ne sua troca pelo m, e as trocas r>rr e rr>r. Tais errospodem ser cometidos até mesmo pelo aprendiz queapresenta discriminações sonoro-gráficas, assim taiserros indicam a não familiaridade com regras presentesna língua portuguesa e, portanto, são decorrentes da faltade ensino específico de tais regras. Assim, embora nãose defenda limitar o ensino de leitura e escrita à repetiçãode regras, considera-se que, paulatinamente, à medidaque as correspondências sonoro-gráficas regularespassem a fazer parte do repertório do aluno, comecema ser introduzidas informações sobre regras que regemsituações específicas de tal correspondência. Comoafirmam Zorzi e Ciasca (2008, p. 329), “Nestes casosregras contextuais e morfossintáticas desempenhamimportante papel, devendo ser compreendidas para queos erros ocorram em menor número.”.

Finalmente, certos tipos de erros indicam odesconhecimento do aprendiz sobre a origem da palavra;este é o tipo de erro presente quando há representaçõesgráficas múltiplas do mesmo som ou sonorizaçõesmúltiplas da mesma representação gráfica.

Nas palavras cuja letra pode corresponder a maisde uma sonorização, verificou-se a presença de tais

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sons. Ora, erros desta natureza são passíveis de ocorrer,sem que isto indique desempenho deficiente em leitura,até porque podem acontecer, embora esporadicamente,em pessoas com pleno domínio da leitura e escrita. Apresença frequente de tais erros, porém, indica que osaprendizes não tiveram, e possivelmente continuam nãotendo, contato frequente com textos escritos quecontenham tais palavras.

Como se destacou, anteriormente, apresentar errosna leitura e escrita indica que o repertório do aprendiz nãoatingiu o patamar desejável e indica que o ensino, tal comolhe foi ministrado, não foi eficiente. Conhecer quaisrelações entre diferentes modalidades de ensino nãofazem parte do repertório do aluno e os tipos de erroscometidos permite identificar as dificuldades que aindadevem ser superadas pelo aprendiz, e tal superação sóserá possível se houver uma proposta de ensino queconsidere o repertório já dominado e aquele a ser adquirido,alem de considerar certas características da línguaportuguesa, aspectos que podem tornar complexo oaprendizado da leitura e escrita.

Referências

Capovilla, A. G. S.; Joly, M.C. R. A.; Ferracini, F.; Caparrotti, N.B.; Carvalho, M. R. de; & Raad, A. J. (2004). Estratégias deleitura e desempenho em escrita no início da alfabetização.Psicologia Escolar e Educacional, 8(2), 89-197.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 151

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Meireles, E. S. & Correa, J. (2005). Regras contextuais emorfossintáticas na aquisição da ortografia da língua portuguesapor crianças. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21(1), 77-84.

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Zorzi, J. L. e Ciasca, S. M. (2008) Caracterização dos errosortográficos em crianças com transtornos de aprendizagem.Revista CEFAC, 10(3), 321-331.

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CAPÍTULO 6

Por que um aprendiz erra? Por que um aprendizacerta? Frequentemente, acertos e erros naaprendizagem são explicados como méritos ou comodificuldades pessoais. O que Olívia Misae Kato eCarolina M. de A. Maranhão expõem neste capítulo édiferente disto. Os acertos, tanto quanto os erros,decorrem do modo como se programam as condiçõesdo ensino.

Olívia e Carolina, da Universidade Federal doPará, mostram modos pelos quais a aprendizagempode ocorrer sem erros, “programando-se o ensinode forma a estabelecer previamente todos os pré-requisitos necessários para a emissão docomportamento que se deseja ensinar”. Para isso,retomam conceitos como o de cadeiascomportamentais, modelagem de estímulos,equivalência de estímulos e treino por exclusão etambém oferecem evidências experimentais.

O erro aumenta a aversividade presente noprocesso de aprendizagem. Portanto, evitá-lo por meioda oferta de condições de ensino que promovam oacerto – a aquisição do repertório que é objetivo doensino – diminui a aversividade, pelo aumento dadensidade dos reforçadores disponíveis aocomportamento do aprendiz, tornando o ensino maiseficaz e a aprendizagem mais prazerosa. É nestaperspectiva que as autoras concluem o capítulo,apresentando os procedimentos de aprendizagemsem erro como instrumento de inclusãosocioeducacional.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 153

Procedimentos de ensino daleitura e aprendizagem sem erros

Olivia Misae KatoUniversidade Federal do Pará

Carolina M. de A. MaranhãoUniversidade Federal do Pará

O processo de aprendizagem tem sido comumentedescrito em termos de redução no número de erros e anão-aprendizagem tem sido caracterizada pela ocorrênciados erros. A velocidade na redução no número de errostem sido atribuída à maior ou à menor dificuldade deaprendizagem do aluno. Se a diminuição dos erros é maislenta, considera-se que o aluno tem mais dificuldades. Oinverso também tem sido considerado. Portanto, aresponsabilidade pelo fracasso ou sucesso escolar temsido atribuída ao aluno e não às condições ambientais emétodos de ensino. O ensino pode ser concebido como“um arranjo de contingências sob as quais os alunosaprendem” (Skinner, 1972, p. 62). Neste sentido, ascontingências de ensino podem ser programadas de modoa gerar maior ou menor quantidade de erros.

Podemos aprender com os erros, mas se podemosprogramar o ensino para não produzi-los, por que não ofazemos? Por que não evitamos produzir os efeitosemocionais indesejáveis nos alunos decorrentes daexposição aos erros durante o ensino? Se adotarmos aposição contrária, podemos programar um procedimentomuito eficiente de ensino que promova uma aprendizagemrápida e sem erros. Programar o ensino consiste em

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154 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

identificar e programar contingências apropriadas para queo ensino seja eficiente em promover a aprendizagemdesejada. Para identificar essas contingências, Teixeira(2002) sugere a análise comportamental das atividades deensino disponíveis. Logo, programar o ensino não é umatarefa fácil para o professor, mas pode facilitar aaprendizagem do aluno, tornando-a mais simples se oensino for programado de forma gradual, em pequenospassos. As crianças e, em especial, as pessoas comnecessidades educacionais especiais estão aprendendomenos ou quase nada devido à crença de que devemos“aprender com os erros”. Segundo Sidman (1985), estaconcepção errônea de que a aprendizagem só pode ocorrerpor meio de tentativa-e-erro nos conduz a ensinar menosdo que devemos e podemos. Por meio de tentativa-e-erro,os alunos cometem erros até acertarem. Submetidos a estetipo de procedimento de ensino, alguns alunos serão bemsucedidos enquanto outros, mal sucedidos. Assim,atribuímos o sucesso ou fracasso escolar ao mérito oudificuldade pessoal em vez de atribuirmos ao procedimentode ensino, dentre outros fatores do ambiente físico ou social,seja escolar ou familiar. Essa posição nos impede deprogramarmos o ensino de forma eficiente que produzapoucos ou nenhum erro.

1. A aprendizagem pode ocorrer sem erros?A ocorrência dos erros depende da maneira como

programa-se o ensino. Se o ensino é programado deforma abrupta, sem estabelecer os pré-requisitoscomportamentais necessários à aprendizagem docomportamento alvo, os erros ocorrerão. No entanto, oserros não serão cometidos se todas as habilidadesnecessárias á aprendizagem do comportamento finaldesejado forem ensinadas, programando-se umprocedimento de ensino gradual. Por exemplo, paraensinar uma criança ou qualquer outra pessoa, inclusive

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com necessidades educacionais especiais, a escrevero professor deve verificar se o aprendiz sabe seguraradequadamente o lápis ou caneta e traçar linhas retas ecurvas que serão necessárias para escrever. Ashabilidades que já estão bem estabelecidas e presentesno repertório comportamental do aluno não precisam serensinadas, apenas constatadas.

É perfeitamente possível promover umaaprendizagem sem erros, programando-se o ensino deforma a estabelecer previamente todos os pré-requisitosnecessários para a emissão do comportamento que sedeseja ensinar (Sidman, 1985). Isto se aplica tanto paracrianças e adultos considerados “normais” como tambémpara pessoas com necessidades educacionais especiais.Um passo inicial essencial é transferir a responsabilidadedo fracasso ou sucesso do aluno para as variáveisambientais, dentre elas o método de ensino e de avaliaçãoadotado pelo professor. Com base nessa concepção deque a aprendizagem pode ocorrer sem erros, deve-seinicialmente especificar e descrever o comportamento quese deseja ensinar e, em seguida, deve-se especificar eensinar seus pré-requisitos.

De acordo com Sidman (1985), três passos sãofundamentais para programar o ensino de modo apromover uma aprendizagem sem erros. O primeiro passoé considerar a aprendizagem como comportamento eidentificar o comportamento e as suas modificações queindiquem que a aprendizagem ocorreu. O segundo passoconsiste em “reconhecer que a aprendizagem é umafunção de variáveis identificáveis” (p. 11), que podem sermanipuladas visando a aprendizagem do comportamentodesejado. Portanto, o ensino pode ser programado a partirda reestruturação das relações relevantes entrecomportamento e ambiente. O terceiro passo é considerara aprendizagem de qualquer comportamento como umprocesso descontínuo, tudo ou nada, que ocorre em função

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do estabelecimento ou não dos comportamentos pré-requisitos. Não devemos considerar a aprendizagem comoum processo contínuo de redução gradual nos erros.

Essa concepção de que a aprendizagem podeocorrer sem erros se o ensino for apropriadamenteprogramado inevitavelmente deve conduzir educadores arefletir sobre os fatores que contribuem para o sucesso oufracasso escolar, identificando os que facilitam ou dificultama aprendizagem e ampliando as perspectivas futuras desolução efetiva dos antigos problemas do nosso sistemaeducacional que ainda vigoram sem solução e tem sidoagravado drasticamente. Se o ensino está gerando erros,estes podem ser reduzidos ou eliminados por uma análisedos erros e a reprogramação do ensino. Inicialmente, deve-se identificar o tipo de erro, as fontes geradoras dos erros eem quais fases ou etapas estão ocorrendo os erros. Emseguida, deve-se reprogramar o ensino com base nosresultados dessa análise. Se os erros forem reduzidos oueliminados pela aplicação do procedimento reprogramado,pode-se concluir que o procedimento de ensino estavagerando os erros. Não são os alunos que apresentamlimitações cognitivas ou déficit de atenção. Portanto, estesnão podem ser rotulados de “burros” ou “incapazes”.

Segundo Rey (2003) o professor deve estabelecera relação entre o estudante e o que ele desconhece,apontando ou mostrando o que o aluno não conhece, demaneira que posteriormente o estudante possa aprenderem função das mudanças que ele mesmo deseja, sem anecessidade de instigação por outra pessoa para estudar.Neste sentido, deve-se ajudar a criança a aumentar suasoportunidades de aprendizagem sem erros, o que podefacilitar o processo gradual de independência. Aplicandoalguns princípios comportamentais, Rey propõe algumasestratégias para a aprendizagem sem erros:1. Iniciar o ensino pelo que a criança realmente faz, e não pelo

que ela deveria fazer.

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2. Escrever a sequência de passos necessários para aaprendizagem, antes de ensinar um repertório.

3. Com a sequência pronta, elaborar sequências alternativaspara atender as dificuldades individuais: algumas sequênciasmais curtas (ou de passos maiores) e outras mais longas(ou de passos menores). É recomendável começar pelassequências menores.

4. Elaborar a sequência de passos com base nos resultadosdesejados, de maneira que seja possível reforçar asdiferentes respostas da criança. Não siga os passosrigidamente, sem flexibilidade. Siga a sequência queconduzirá à solução efetiva de forma mais rápida e segura.

Vários procedimentos e técnicas de ensino podemgerar aprendizagem sem erros, desde que devidamentedelineado para que as contingências de ensinoestabeleçam os pré-requisitos comportamentaisnecessários para a ocorrência do comportamentodesejado. Alguns procedimentos e técnicas que podemproduzir uma aprendizagem sem erros, tem sidoaplicados tais como a instrução programada, sistemaindividualizado de ensino ou personalizado de instrução,o encadeamento de respostas, a de esvanecimento emodelagem de estímulos (stimulus fading and stimulusshaping), Equivalência de estímulos (stimulusequivalence), treinamento por exclusão (exclusiontraining) entre outros dependendo do comportamento aser ensinado e de como o procedimento de ensino éprogramado.

De acordo com Sidman (1985), os métodos deensino sem erros são partes integrantes do que seconhece como instrução programada, e sua eficácia estápautada no princípio de que deve-se ensinar todos ospré-requisitos necessários para a nova aprendizagem,programando-se cada novo passo para não gerar erros.A amplamente conhecida instrução programada (Skinner,1972) tem sido aplicada em diversas áreas do

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conhecimento e para diferentes tipos de alunos ou paraoutros aprendizes.

O Personalized System of Instruction (PSI),desenvolvido por Keller (1968, 1983) durante a suapermanência no Brasil, integra os eficientes princípiosbásicos de ensino e visava maior sucesso no ensino.Desde a sua divulgação, o PSI tem sido aperfeiçoado eamplamente aplicado no ensino de diversas áreas doconhecimento e, mais recentemente, tem sido programadoem ambiente informatizado (Marques, Galvão, Kato &Costa, 2009). Vários aspectos o caracterizam e odiferenciam de outros métodos de ensino amplamenteaplicados no sistema educacional brasileiro, que diminuema probabilidade de fracasso e aumentam a probabilidadede sucesso do aluno. O PSI tem sido usado como ummétodo de ensino alternativo aos métodos tradicionaiscoercitivos vigentes no nosso sistema educacional. NoPSI, um assunto é dividido em pequenos passos, fasesou unidades com objetivos comportamentais bemdefinidos para cada passo ou unidade, especificandoprecisamente o que o aluno deve aprender ou oscomportamentos que ele deve apresentar. A eficiência doPSI decorre também da exigência de um elevado nível dedesempenho ou domínio completo para passar para opasso, fase ou unidade seguinte. Outro aspecto refere-seà utilização de monitores, que torna possível a repetiçãodos testes com apresentação de feedback imediato eorientam o aluno, indicando os pré-requisitos que eleprecisa aprender para avançar. O respeito ao ritmo própriode cada aluno para submeter-se ao teste quando sentir-se preparado e o uso de demonstrações e palestras comofonte de motivação, mas não como única fonte deinformação são aspectos igualmente importantes. No PSI,a palavra escrita é priorizada como forma de comunicaçãoentre o professor e o aluno. Todas essas característicassão fatores fundamentais para o sucesso do PSI.

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A maioria de nossos comportamentos envolvemcadeias de respostas que constituem nossas rotinascomportamentais (Spradling, 1999). Uma cadeia ouencadeamento comportamental consiste em umasequência de estímulos e de respostas que conduzema um reforçador final. Os estímulos da cadeia são oselos que ligam uma resposta a outra, exercendo umadupla função, a de estímulo reforçador (SR) da respostaanterior e de estímulo discriminativo (SD) para a respostasubsequente (Ferster, Culbertson & Perrot Boren, 1982;Martin & Pear, 2009; Millenson, 1975). Portanto, cadaresposta na cadeia produz o SD que especifica a próximaresposta. A confecção de origami (dobraduras de papel),escovar os dentes, vestir-se, cozinhar, costurar, bordare ordenação de números ou de objetos são exemplosde comportamentos que envolvem cadeias de respostas.Os exercícios físicos e os esportes também envolvemcadeias de respostas. Até mesmo comportamentossimples como acender uma luz e ligar um ventilador oucondicionador de ar podem ser especificados em termosde cadeias de respostas.

As cadeias comportamentais podem ser instaladaspor procedimentos de ensino de encadeamento derespostas que geram poucos ou nenhum erro. Oprocedimento de encadeamento de respostas pode serprogramado de trás para frente, iniciando o ensino pela últimaresposta e de frente para trás ou para frente, iniciando oensino pela primeira resposta, mas pode também serensinada pela apresentação a tarefa total (Martin & Pear,2009). Nesta, cada tentativa envolve todos os passos doinício ao final da cadeia e a tarefa integral é repetida até odomínio de todas as tapas. Nas etapas intermediárias sãofornecidas deixas se forem necessárias. A escolha doprocedimento a ser adotado depende da cadeia derespostas que se deseja instalar e também do aprendiz,animal ou humano e se o déficit de desenvolvimento é leve

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ou severo. Alguns fatores que favorecem a eficácia doencadeamento comportamental são especificados porMartin e Pear. O ensino pode ser facilitado pela análise datarefa, identificando-se todos os componentes mais simplesda cadeia e programando-se o ensino da cada componentena ordem apropriada da cadeia. Também pode ser um fatorfacilitador, o uso de deixas ou dicas visuais, auditivas, táteisou de modalidade perceptual, dependendo da tarefa. Éaconselhável também, fornecer um modelo da cadeiainteira e a descrição verbal de cada etapa. A seleçãoapropriada de reforçadores depende do tipo de aluno ouaprendiz (animais, crianças ou pessoas com e sem déficitsde desenvolvimento) e deve ser feita também com base nolevantamento individual de reforçadores para cada alunoou aprendiz. O uso de reforçadores sociais ou outrosgeneralizados favorecem a aprendizagem. A assistênciaadicional quando introduzida, deve ser retirada gradualmentelogo que não seja mais necessária.

O procedimento de ensino de trás para frenteconsiste em iniciar o ensino pela última resposta, depois apenúltima, a antepenúltima e, assim sucessivamente, atéa primeira resposta (Martin &Pear, 2009). No ensino de tráspara frente de cada nova resposta, será(ão) exigida(s) aemissão das respostas subsequentes já ensinadas o quepromoverá um aumento gradual da cadeia da últimaresposta para a primeira. Ao contrário, o procedimento defrente para trás ou para frente consiste em iniciar o ensinopela primeira resposta, seguido pela segunda, terceira e,assim sucessivamente, até a última resposta da cadeia(Martin &Pear, 2009). De forma semelhante aoprocedimento de trás para frente, no procedimento frentepara trás também as respostas já ensinadas serão exigidasa medida que novas respostas são ensinadas, aumentandogradualmente a cadeia até que a última resposta sejaensinada. Quanto à aplicação desses procedimentos deensino, Martin e Pear comentam que o encadeamento para

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frente e pela apresentação da tarefa total são de usocotidiano mais frequente devido parcialmente ao fato de queestes seguem uma ordem natural das ações. Ao contrário,o procedimento de trás para frente segue uma inversão daordem em que a cadeia é executada. Este tem sidofrequentemente aplicado com sucesso em pessoas comdéficit severo de desenvolvimento e em animais.

Para estabelecer o responder a certos estímulos(objetos, palavras, ações ou qualquer estímulo visual,auditivo, olfativo, gustativo e táteis) e não a outros oupromover a transferência do controle de certos estímulospara outros pode ser utilizada a modelagem de estímulos(stimulus shaping). Nesta técnica que envolve oesvanecimento do estímulo (stimulus fading), programa-se uma mudança gradual nas apresentações sucessivasdos estímulos e consequências diferenciais para oresponder às mudanças, em vez de programar umamudança abrupta nos estímulos como nos procedimentosde tentativa e erro (Sidman, 1985). Sidman refere-se àmudança gradual nos estímulos e não na aprendizagem,ressaltando que o ensino é gradual, não a aprendizagem.Esta ocorrerá de forma descontínua (sem erros) se forprogramada uma mudança gradativa nos estímulos eocorrerá de forma gradual (redução gradual nos erros) sefor programada uma mudança abrupta nos estímulos.Adotando este procedimento, pode-se introduzirgradualmente um estímulo ou retirá-lo, de modo que umpode substituir o outro no controle do responder.

O esvanecimento pode ser usado para ensinar anomeação de objetos, pessoas ou ações, mas tambémpara ensinar a copiar, desenhar, escrever ou outrocomportamento sob controle de estímulos discriminativos,para o qual podemos programar mudanças graduais emqualquer de suas dimensões. Diversos fatores podemcontribuir para a eficácia do esvanecimento, dentre eles aescolha cuidadosa do estímulo final desejado e da deixainicial, especificando-os claramente. Além da seleção deum reforçador apropriado, é fundamental a programação

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cuidadosa das etapas de esvanecimento, nas quais asdeixas devem ser eliminadas gradualmente. Os critériospara passar de uma etapa para a seguinte são igualmenteimportantes (Martin & Pear, 2009).

A equivalência de estímulos e o treino por exclusão serãoabordados nos itens subsequentes sobre ensino da leitura.

A questão da possibilidade da aprendizagem ocorrersem erros tem sido respondida experimentalmente pordiversas pesquisas, utilizando diferentes procedimentos deensino.

2. Evidências experimentais deaprendizagem sem erros

As pesquisas têm documentado evidênciasconcretas de procedimentos de ensino que gerampoucos ou nenhum erro, se programados de formagradual assegurando o estabelecimento de todos os pré-requisitos comportamentais necessários à aprendizagemdo comportamento desejado.

Alguns estudos investigaram a eficácia de diferentesprocedimentos ou técnicas de ensino, fundamentados nosprincípios de aprendizagem sem erros, em criança comautismo (Velazco-Díaz, 1994), em pessoa com manifestaçãode amnésia anterógrada decorrente de dano cerebral(Martínez, Robayo & Quintero, 2008), em pessoas comesquizofrenia (Kern, Liberman, Kopelowicz, Mintz & Green,2002) e em pacientes nos estágios iniciais da Doença deAlzheimer (Clare, Wilson, Carter, Breen, Gosses, & Hodges,2000; Clare, Wilson, Carter, Roth & Hodges, 2002). Outrosestudos têm investigado a eficiência do SistemaIndividualizado de Ensino (PSI) em ambientes informatizados.Estes são de grande relevância para a Educação à Distância(EAD), que tem sido amplamente adotada no Brasilsubstituindo o ensino presencial. Na EAD, a programaçãode um ensino individualizado e informatizado assume um

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papel ainda mais importante devido a falta de contato diretoentre o professor e o aluno. Marques e colaboradores (2009)apresentam uma análise das variáveis metodológicasdesses estudos, apontando algumas variáveis deprocedimento que podem contribuir para a sua eficácia.

No estudo de Velasco-Días (1994) foi investigada aeficiência da intervenção na instalação de um hábito de auto-cuidado em um caso de autismo infantil. Baseado nosprincípios da aprendizagem sem erros, foi aplicado amodelagem e o encadeamento de respostas em uma meninade 11 anos diagnosticada com autismo. Esta tevedesenvolvimento normal até 30 meses, segundo o relato dospais. Após esses 30 meses, a criança emitia estereotipiacomportamental e não estabelecia nenhuma comunicaçãosocial, pois não apresentava linguagem expressiva verbal egestual. A criança também não tinha repertórios básicos deatenção, imitação e seguimento de instruções, além de nãoapresentar hábitos de auto-cuidado e controle dos esfíncteres.Foi ensinada à criança, uso do sanitário com autonomia,passando a mesma a realizar sozinha todo o processo (ir aobanheiro, retirar a roupa, sentar-se adequadamente nosanitário, defecar, limpar-se e vestir-se).

No estudo de Martínez, Robayo e Quintero (2008)foi aplicado, dentre outros procedimentos, o denominadopelos autores “método de aprendizagem sem erros”. Osresultados indicam a possibilidade de aprendizagem semerros em uma paciente com diagnóstico de amnésiaanterógrada severa. No entanto, os autores analisaramos resultados em termos da teoria da conservação damemória implícita e sugerem que a combinação demétodos, mais do que a aplicação de um exclusivamente,favorece o registro e consolidação da memória.

O método de ensino de aprendizagem sem errostambém foi aplicado para melhorar o desempenho emduas tarefas ao nível de entrada de trabalho de 65 pessoascom séria e persistente doença mental, a esquizofrenia(Kern, Liberman, Kopelowicz, Mintz & Green, 2002). Essas

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pessoas foram designadas randomicamente ao ensinode aprendizagem sem erros ou de instrução convencional.As tarefas consistiram em index card filing e toilet tankassembly e a eficácia foi avaliada imediatamente após otreino e depois de três meses, medida pela acurácia,velocidade e produtividade total. A aprendizagem sem errosfoi significativamente superior à instrução convencional nasduas tarefas medindo-se acurácia e na tarefa index cardfiling quanto à produtividade. Não foi encontrada diferençasignificativa na velocidade entre os dois métodos de ensinoe ocorreu uma queda no desempenho dos participantessubmetidos a ambos os métodos na acurácia eprodutividade na tarefa toilet tank assembly, mantendo-seestável na outra tarefa. Os autores concluíram que ométodo de aprendizagem sem erros parece ser útil paraestabelecer níveis elevados de desempenho introdutóriona reabilitação de trabalho em pessoas com esquizofrenia.

Nos estudos de Clare e colaboradores (Clare,Wilson, Carter, Breen e colaboradores, 2000; Clare,Wilson, Carter, Roth e colaboradores, 2002), foramdelineadas intervenções com condições necessárias parapromover a aprendizagem sem erros e minimizar apossibilidade da ocorrência de erros durante aaprendizagem. Os seis participantes do primeiro estudoe os 12 do segundo apresentarem melhora significativanas tarefas de memória, seguindo ensino baseado nosprincípios de aprendizagem sem erros. Ambos os estudosdemonstraram a eficiência de intervenções na reabilitaçãode problemas de memória, baseado nesses princípios.

3. Procedimentos de ensino da leitura eaprendizagem sem erros

Os princípios comportamentais estabelecidos combase em evidências experimentais, se aplicadosapropriadamente na programação das contingências deensino da leitura, poderá promover uma aprendizagem

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sem erros dos pré-requisitos comportamentais para umaleitura eficiente e a emergência imediata da leitura textuale com compreensão das palavras de ensino. No entanto,a leitura recombinativa de novas palavras nem sempretem sido promovida prontamente para todos osparticipantes da pesquisa, aprendizes da leitura.

Varias programas e procedimentos de ensino daleitura foram implementados visando promover umaaprendizagem com poucos ou nenhum erro e muitosdeles foram reprogramados para reduzir o número deerros que estavam ocorrendo na sua aplicação.

No estudo de Angarita, Montaña, e Díaz, (1974), osprincípios comportamentais e técnicas como reforçamento,fading, e treino de discriminações, entre outros, foramusados na programação de um método de ensino de leiturasem erros. Participaram duas mulheres de 19 anos e umhomem de 20 anos com retardo mental. Este foidiagnosticado com “Síndrome de Down” de articulaçãoaceitável e ligeira deficiência visual. Uma delas, tambémdiagnosticada com “Síndrome de Down”, mas com aarticulação deficiente e acentuada deficiência visual nãocorrigida. A outra participante, com diagnóstico de“Hemiplegia direita”, apresentava acentuada dificuldademotora e deficiência nas articulações da linguagem, alémde pequena deficiência auditiva e visual. Com as 17 sílabasconhecidas foram formadas 25 novas palavras. Osresultados mostraram que o método de ensino de leiturasem erros acelerou e melhorou a aprendizagem de leitura.

Inserido em um programa de individualização doensino em uma pré-escola, foram aplicados individualmenteprogramas de contingências sequenciados sobreconteúdos do ensino infantil na área da linguagem ematemática (Teixeira, 2002). Estes programas de ensino,fundamentados nos princípios de ensino programado, foramdelineados em uma sequência ordenada de pequenos

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passos e respeitando o próprio ritmo de aprendizagem decada aluno. A área da linguagem consistia de 12 programasde contingências, envolvendo um total de 91 passos, suasunidades básicas. A autora coloca que cada programa podeser concebido como uma sequência de tarefas comconsequências diferenciais programadas para as respostas.Parte dos programas foi delineada para ensinar asdiscriminações visuais de cor, de forma, de interação forma-cor, de detalhes, de direção, de posição e de relaçõesespaciais. Os demais foram planejados para ensinarcomposição oral I e II, memória auditiva, associação deestímulos e escrita manuscrita cursiva. Era estabelecidoum padrão de excelência de desempenho de cada aluno,exigindo 100% de acertos em cada passo como condiçãopara avançar na programação. Portanto, era requerida doaluno a demonstração de domínio pleno do que lhe eraensinado. Para suprir as exigências e dificuldadesespecíficas de certos alunos, a programação dascontingências era ajustada. Todas as crianças cumpriramos programas de linguagem e matemática.

Outros programas individualizados têm sidoaplicados para o ensino da leitura. Um deles pode serdestacado por sua complexidade envolvendo um grandenúmero de palavras e por sua ampla aplicação a diferentespopulações (de Souza & de Rose, 2006). O programa já foitestado em diferentes tipos de participantes, obtendoresultados consistentes da aprendizagem e do desempenhode estudantes com repertórios diferentes. Assim, além deser aplicado em estudantes de classes regulares quehaviam fracassado na aquisição de um repertório de leitura,foi aplicado em crianças da pré-escola, estudantes de umaclasse especial para portadores de retardo mental e adultosque não sabiam ler (Melchiori, de Souza & de Rose, 2000).Os resultados desses participantes com diferentesrepertórios iniciais foram similares quanto à leitura daspalavras de ensino e das novas palavras com recombinaçãode sílabas e letras. Nesses estudos, tem sido aplicado oprocedimento de escolha de acordo com o modelo por

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exclusão, visando promover uma aprendizagem sem errosdas relações pré-requisitos entre palavras faladas eescritas. Comparando este tipo de procedimento deemparelhamento ao modelo por exclusão com os detentativa e erro, Ferrari, de Rose, e McIlvane (1993)ressaltam que aqueles promovem uma aprendizagem commenos erros e são mais eficientes por estabeleceremparelhamentos auditivo-visual, especialmente se forprogramado a nomeação de estímulos visuais.

Para de Rose, de Souza, Rossito e de Rose (1989),“exclusão” (aspas dos autores) consiste em excluir oestímulo de comparação conhecido, geralmente umapalavra impressa conhecida, quando a palavra ditada édiferente da palavra emparelhada com aquela palavraconhecida. No procedimento de exclusão, utilizado em deRose e colaboradores (1989), é apresentada uma novapalavra falada como estímulo modelo desconhecido e umanova palavra escrita como estímulo de comparaçãodesconhecido junto com outra(s) palavra(s) comoestímulos de comparação conhecidos. O modelodesconhecido deve ser um estímulo que ainda não tenhasido relacionado a um estímulo de comparação particular.O participante pode então “excluir” os estímulos decomparação conhecidos, selecionando o desconhecido.Após a escolha, será apresentada a consequênciaprogramada para resposta correta. Assim, o participantepode aprender essa nova relação entre o modelo e o estímulode comparação desconhecido se o procedimento forprogramado para ensiná-la.

3.1. Em busca da aprendizagem sem erros: umahistória de pesquisa

Se o ensino da leitura não foi programadoadequadamente e os alunos estão cometendo errosdurante o ensino, deve-se fazer uma análise dos errospara verificar o tipo de erro, em que fase do ensino estes

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estão ocorrendo e em quais sílabas (ou palavras) os errosestão sendo cometidos. Após essa análise, pode-sereprogramar a(s) fase(s) de ensino em passos menorese/ou aplicar um procedimento de ensino que ensinediretamente essas discriminações específicas, nas quaisos erros estão ocorrendo quando o procedimento padrãoé aplicado. Dessa forma, é possível ensinar não apenascrianças consideradas “normais” sem problemas deaprendizagem, mas também crianças ditas “comdificuldades de aprendizagem” e “com necessidadesespeciais” que são caracterizadas como “incapazes”,“deficientes” ou “retardados” por apresentarem umaquantidade excessiva de erros, muito acima dos ditos“normais”.

No estudo de Alves, Kato, Assis e Maranhão (2007)foram verificados vários erros nas fases de ensino dasrelações entre palavras ditadas e palavras impressas oque ocasionava a repetição da fase de ensino, na qualestavam ocorrendo erros. Essas relações têm sidoconsideradas um dos pré-requisitos da leitura comcompreensão, segundo o paradigma formulado porSidman e Tailby (1982). Conforme esse paradigma, apóso ensino direto das relações entre palavras ditadas eobjetos e entre palavras ditadas e palavras impressas,pode emergir as relações de equivalência entre objetose palavras impressas e as relações inversas, quedocumentam a leitura com compreensão. Para eliminarou reduzir esses erros nos estudos subsequentes, foifeita uma análise dos erros e a reprogramação do ensino.Nesta análise, foram identificados os tipos de erro, asfases e as relações entre palavras ditadas e impressas,nas quais estavam ocorrendo os erros. Em seguida, foifeita a reprogramação do ensino de modo a torná-lo maisgradual e, assim, diminuir a probabilidade de ocorrênciados erros. Para as palavras, nas quais ocorriam erros,foram programadas fases de ensino de discriminações

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das relações envolvendo essas palavras de forma aestabelecer as discriminações das suas sílabascomponentes. Como foi constatado que os errosocorriam com mais frequência nas últimas tentativas dasfases longas, estas foram divididas em fases mais curtas.

Os estudos subsequentes ao de Alves e cols(2007) sobre leitura recombinativa utilizaram esseprocedimento de ensino reprogramado e têm promovidouma aprendizagem com poucos ou nenhum erro dealguns pré-requisitos da leitura em crianças da educaçãoinfantil, ainda não alfabetizadas (Cruz, 2006; Santos,2007), crianças com dificuldades de leitura (Sena, Cruz& Kato, 2004; Cardoso & Kato, 2004) e em pessoas comnecessidades educacionais especiais (Maranhão & Kato,2006). Nesses estudos também tem sido documentadaa emergência imediata da leitura textual e comcompreensão das palavras de ensino, após oestabelecimento dos pré-requisitos comportamentais daleitura.

Todas as crianças com dificuldades em leitura dosestudos de Sena e Kato (2004) e Cardoso e Kato (2005),exceto uma, atingiram o critério de acerto em todas asfases de ensino das relações entre palavras ditadas eescritas na primeira exposição a cada fase sem cometererros. No estudo de Sena e Kato, as três crianças (doismeninos e uma menina) também atingiram o critério deacertos em todas as fases do ensino cominado de cópia,ditado e oralização na primeira exposição a cada fase,cometendo poucos ou nenhum erro. Um dos meninosapresentou emergência imediata das relações entrepalavras ditadas e escritas, não necessitando do ensinodessas relações. De forma semelhante, no estudo deCardoso e Kato todas as crianças não cometeram errosdurante o ensino combinado de cópia, ditado e oralização.Esta consiste na repetição oral da palavra ditada. Todas

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as crianças de ambos os estudos apresentaram ainda aemergência imediata da leitura textual e comcompreensão das palavras de ensino, documentadaspelas relações entre palavras escritas e figuras e asrelações inversas (figuras-palavras escritas).

Nos dois estudos com crianças da Educaçãoinfantil, ainda não alfabetizadas, todas as seis criançasapresentaram a emergência imediata da leitura textual ecom compreensão das palavras de ensino (Cruz, 2006;Santos, 2007). As três crianças que participaram doestudo de Cruz (2006) apresentaram 100% de acertosna primeira exposição a todas as fases de ensino dasrelações palavras ditadas e impressas, exceto em umaúnica fase para uma criança. Esta cometeu poucos errosna primeira exposição e nenhum erro na re-exposição àmesma fase. No estudo de Santos (2007), as trêscrianças atingiram o critério de acertos na primeiraexposição à maioria das fases de ensino das relaçõesentre palavras ditadas e impressas. Em algumas fases,essas crianças cometeram poucos erros e foi necessárioa re-exposição à fase para atingirem o critério de 100%de acertos. Em uma única fase, duas criançasnecessitaram da segunda re-exposição.

No estudo de Maranhão e Kato (2006) compessoas com necessidades educacionais especiais, osdois alunos da Associação de Pais e Amigos dosExcepcionais (APAE) cometeram poucos ou nenhumerro na primeira exposição às fases de ensino combinadode cópia, ditado e oralização, exceto na primeira fase deensino para um participante. Ambos atingiram o critériode acertos na primeira exposição na maioria das fasesde ensino. Nas duas fases em que esse critério não foiatingido prontamente, ambos apresentaram elevadopercentual de acertos. No que se refere às relações entrepalavras ditadas e escritas, um dos participantesapresentou a emergência imediata dessas relações sem

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ensino direto e o outro atingiu 100% de acertos na primeiraexposição a todas as fases de ensino, exceto em uma.Os dois alunos apresentaram a emergência imediata daleitura textual e um deles também demonstrouprontamente a leitura com compreensão das palavrasde ensino, esta documentada pelas relações entrepalavras impressas e figuras e as relações inversas. Ooutro participante demonstrou prontamente as relaçõesentre palavras impressas e figuras, mas as inversassomente na segunda re-exposição.

Seguindo uma linha diferente de pesquisa sobreaquisição da leitura com ênfase no ensino explícito dasdiscriminações de sílabas, foi documentada a emergênciaimediata da leitura textual e com compreensão daspalavras com sentido e inventadas para todas as 16crianças da pré-escola (Kato & Peréz-González, 2004;Maués, 2007; Barros, 2007). No entanto, nos dois estudosiniciais todas as seis crianças espanholas (Kato & Peréz-González, 2004) e cinco crianças brasileiras (Maués,2007) cometeram erros em várias fases de ensino dasdiscriminações das sílabas, o que resultava na repetiçãoda fase de ensino até ser atingido o critério de 100% deacertos. Além da ocorrência de erros durante o ensino, aemergência da leitura das sílabas de ensino e comrecombinação das letras das sílabas de ensino nãoocorreu prontamente na primeira exposição a esses testesde leitura. Seguindo a mesma sequência deprocedimentos de análise dos erros, implementou-se areprogramação das fases de ensino no estudo de Barros(2007). Neste estudo, replicou-se os dois estudos iniciaisaplicando um procedimento de ensino das discriminaçõesde sílabas que gerou poucos ou nenhum erro na maioriadas fases de ensino para as cinco crianças. Para duascrianças, foi necessária a repetição de apenas uma fase.Para três outras crianças, repetiu-se somente duas, trêse quatro fases. Nas fases em que foi necessária a

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repetição, as crianças cometeram poucos erros. Os trêsestudos com crianças da pré-escola, sendo 6 espanholas(Kato & Peréz-González, 2004) e 10 brasileiras (Maués,2007; Barros, 2007) mostraram que após o ensino explícitode discriminações de sílabas, ocorreu a emergênciaimediata da leitura textual e com compreensão de palavrascom sentido cultural e inventadas para todas as 16crianças. Também ocorreu a emergência da leitura dassílabas de ensino e das novas sílabas, com recombinaçãodas letras das sílabas de ensino. Todos essesdesempenhos emergentes ocorreram prontamente sema necessidade de procedimentos adicionais de ensino esem estabelecer o controle parcial pelas unidades verbaismenores que a palavra.

4. Implicações Educacionais daAprendizagem sem erros da Leitura

Os procedimentos que promovem umaaprendizagem sem erros são essenciais para qualquerpessoa, especialmente para as pessoas comnecessidades educacionais especiais para as quais énegada a possibilidade de desenvolvimento de suaspotencialidades limitadas. Esses procedimentos podemser programados tanto para instalar comportamentosbásicos muito simples como comportamentos maiscomplexos que envolvem relações simbólicas, tais comoa leitura, escrita e habilidades matemáticas.

O comportamento de ler é imprescindível para odesempenho acadêmico em qualquer área doconhecimento e para a atuação profissional nos diversossetores da sociedade. Sem a leitura, qualquer pessoa comou sem necessidades educacionais especiais não teráassegurada sua permanência no sistema educacional e,portanto, terá pouca ou nenhuma inserção no mercado detrabalho que exige melhor qualificação. Uma metodologia

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ou tecnologia de ensino que promovam a aprendizagemcom poucos ou sem erros tem, sem dúvida, implicaçõesimportantes para a educação. Uma delas é a mudança naconcepção do processo ensino-aprendizagem,considerando a aprendizagem não mais como umaredução no número de erros. Ao contrário, considerar queesta pode ocorrer sem erros desde que as contingênciasde ensino sejam devidamente programadas. Esta novaconcepção implica naturalmente na atribuição daresponsabilidade do sucesso ou fracasso escolar ao alunoem vez dos métodos de ensino. Assim, a não aprendizagemou dificuldades não devem ser atribuídas ao aluno, mas aométodo de ensino se outras variáveis ambientais foremdescartadas como fatores causadores.

Se os procedimentos que geram aprendizagemsem erros fossem aplicados nas escolas para aalfabetização de crianças da educação infantil nãoalfabetizadas ou com dificuldades em leitura, estaspoderiam ser alfabetizadas mais prontamente e semgerar os sub-produtos emocionais indesejáveisassociados aos erros. Além disso, maior número decrianças poderia ser alfabetizadas em menor tempo ede forma mais eficiente.

4.1. Contribuições para a inclusão social

Mantoan (1997), quando se refere à educaçãoinclusiva, ressalta que “a inclusão é, pois, um motivo paraque a escola se modernize e os professores aperfeiçoemsuas práticas” (p.120). Procedimentos que promovam aaprendizagem sem erros são, sem dúvida, um importantefator de inclusão, especialmente para pessoas comnecessidades educacionais especiais por atender suasnecessidades especiais, promovendo uma aprendizagemmais rápida e sem erros. Dessa forma, poderia eliminarou reduzir as limitações cognitivas que dificultam o

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desenvolvimento dessas pessoas e sua inclusão social.Com os métodos tradicionais de ensino, é provável que aaprendizagem não ocorra nunca, mesmo com erros.

A concepção errônea que devemos aprender comos erros e somente aprendemos por meio deles temcontribuído para a exclusão social das pessoas comnecessidades educacionais especiais, considerando-asincapazes devido à aplicação mal sucedida dos métodostradicionais e ineficazes para o ensino dessas pessoas.Essas pessoas tem sido caracterizadas como “não-ensináveis”. Segundo Sidman (1985), essa concepçãodo processo de aprendizagem perpetuou o uso demétodos ineficazes de ensino e contribuiu parasubestimar as capacidades e o isolamento social dessaspessoas. Sidman ressalta que seguindo essa concepçãode que a aprendizagem sem erros é possível, “o problemade educar o deficiente não mais será obscurecido edesviado pela discussão sobre se é ou não possíveleducá-los.” (p. 14) e a inclusão na classe de “deficientesintelectuais” será baseada, pelo menos, nos métodosde ensino mais eficientes. Implica ainda emconsiderarmos que a deficiência está no ensino e nãono “deficiente intelectual”.

Os procedimentos que promovem umaaprendizagem sem erros são essenciais para qualquerpessoa, especialmente para as pessoas comnecessidades educacionais especiais para as quais énegada a possibilidade de desenvolvimento de suaspotencialidades limitadas. Esses procedimentos podemser programados tanto para instalar comportamentosbásicos muito simples como comportamentos maiscomplexos que envolvem relações simbólicas, tais comoa leitura, escrita e habilidades matemáticas.

O estudo das variáveis que afetam a aprendizagemsem erros da leitura e a identificação dos pré-requisitos

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comportamentais necessários para essa aprendizagempoderão gerar novas tecnologias de ensino maiseficientes e econômicas ou o aperfeiçoamento das jáexistentes. Estas, provavelmente contribuirão para ainclusão de pessoas com necessidades educacionaisespeciais na educação fundamental. Se a leituraestabelecida for generalizada, sólida e consistentetambém poderá assegurar a sua permanência no sistemaeducacional, favorecendo a continuidade de suaformação na educação média e superior. Seu ingressona rede escolar poderá ser antecipado, aumentando seuacesso à educação formal e sua permanência até oensino superior. Contribuirá, ainda, para a sua maiorautonomia e aceitação na família e demais setores dasociedade. Poderá, também, ampliar suas chances deinserção no mercado de trabalho e, assim, garantirá seusucesso profissional.

Atualmente a inclusão sócio-educacional depessoas com necessidades educacionais especiais éuma questão primordial e prioritária amplamente debatidae várias tentativas têm sido realizadas para implementarefetivas ações sistemáticas. A inclusão sócio-educacionale os meios de acessibilidade dessas pessoas são direitosconstitucionais (Constituição Federal do Brasil, 1988) eestão também assegurados na Lei de Diretrizes e Basesda Educação (LDB, 1996) e em decreto (DecretoLegislativo, 186/2008). Portanto, qualquer proposta demétodo de ensino ou ações concretas que favoreçamou aumente as oportunidades para a inclusão de pessoascom necessidades especiais, está assegurada eregulamentada na Constituição Federal do Brasil.

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176 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

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CAPÍTULO 7

A resolução de um problema pode serdesempenhada por diferentes indivíduos por meio dediferentes recursos, indicando que os pré-requisitosnecessários para um determinado comportamento desolução de problemas podem variar, não são fixos. A partirdesta constatação, obtida por meio de investigaçãoempírica, os autores deste capítulo propõem a questão:habilidades lógicas são pré-requisito para aaprendizagem matemática ou são apenas facilitadoras,não indispensáveis?

Sérgio Vasconcelos de Luna, da PUC-SP e MiriamMarinotti, do Núcleo Paradigma, respondem à questãoproposta examinando crianças por meio do desempenhoescolar em matemática e em tarefas lógicas. Além deencontrar evidências de associação entre raciocíniológico e desempenho escolar em matemática, seusdados permitiram apontar variáveis que controlam asrespostas das crianças. Também analisam asdificuldades metodológicas enfrentadas na pesquisa.

Como os autores salientaram, “há uma relativaausência de pesquisa sobre habilidades lógicas emcrianças”. O valor deste capítulo inicia-se aí, mas seexpande ao investigar as relações entre elas e odesempenho escolar, ao examinar fontes de erros eacertos nas tarefas propostas e finalmente, aocompartilhar com o leitor dificuldades observadas, o quepermitirá o avanço no campo. Se o ensino da leitura eescrita desafia, com o ensino da matemática dá-se omesmo. Sérgio e Miriam tornam o desafio mais claro, eas soluções mais próximas.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 181

Raciocínio lógico e aprendizagemde matemática: alguns elementos

para análise de relações entreestes repertórios1

Sergio Vasconcelos de LunaPontifícia Universidade Católica de São Paulo

Miriam MarinottiNúcleo Paradigma: análise do comportamento

Ao incluir a educação entre as agências de controlesocial, Skinner ressalta a relação existente entre escolae sociedade. A função da escola e os objetivos a queesta se propõe podem variar bastante a depender dascaracterísticas da sociedade em que a instituição seencontra inserida, ou mesmo do estrato social dapopulação a que atende; do nível de escolaridade que seconsidera; do momento histórico ao qual nos reportamos;da vertente teórico-epistemológica adotada para análisee assim por diante. De fato, podemos constatar naliteratura educacional muita controvérsia acerca dosobjetivos a serem atingidos e de qual seria a melhorforma de alcançá-los.

1 Do Estudo 2, aqui relatado, participaram a seguintes alunas docurso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e daSaúde, da PUC/SP: Andréa Lane Edde (bolsista PIBIC/CEP),Bárbara Narciso Russo ((bolsista PIBIC/CEP), Bruna Gameiro deLima (bolsista PIBIC/CNPq) e Carolina Grazia de Mello (bolsistaPIBIC/CNPq).

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182 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Entretanto, a despeito destas divergências, umponto que parece ser consensual refere-se ao papel daescola no desenvolvimento de indivíduos autônomos,capazes de raciocinar lógica e criticamente. Assim, porexemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)em vigor atualmente afirmam:

Como no desenvolvimento de outras capacidades,a aprendizagem de determinados procedimentos eatitudes - tais como planejar a realização de umatarefa, identificar formas de resolver um problema,formular boas perguntas e boas respostas, levantarhipóteses e buscar meios de verificá-las, validarraciocínios, resolver conflitos, cuidar da própriasaúde e da dos outros, colocar-se no lugar de outropara melhor refletir sobre uma determinada situação,considerar as regras estabelecidas - é o instrumentopara a construção da autonomia. Procedimentos eatitudes dessa natureza são objeto deaprendizagem escolar, ou seja, a escola podeensiná-los planejada e sistematicamente criandosituações que auxiliem os alunos a se tornaremprogressivamente mais autônomos. Por isso éimportante que desde as séries iniciais as propostasdidáticas busquem, em aproximações sucessivas,cada vez mais esta meta. (Brasil, 1997, p. 59)

Skinner, por sua vez, afirma que “Educação é oestabelecimento do comportamento que será vantajosopara o indivíduo e para outros em algum momento futuro”(1953, p. 42). Podemos depreender, de seus textos, quepara alcançar esta meta a escola deveria estar preparada,dentre outras coisas, para:a) instalar repertório de resolução de problemas que permitisse

aos indivíduos lidarem, de forma produtiva, com situaçõesnovas e/ou para as quais não tenham a resposta-soluçãoimediatamente disponível;

b) promover a manutenção de comportamentos desejáveis sobcontrole de consequências distantes, por meio, por

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 183

exemplo, de esquemas intermitentes e/ou baixa densidadede reforçamento;

c) propiciar condições para o desenvolvimento de múltiplosrepertórios;

d) promover variabilidade comportamental (no sentido deaumentar a probabilidade de o indivíduo emitir respostasnovas quando as condições o exigirem);

e) possibilitar a instalação e aprimoramento de repertórios deautogerenciamento: auto-observação; tatos auto-descritivos;identificação e manipulação de contingências que atuamsobre o próprio comportamento.

Assim, ao se dedicar à análise do autogovernointelectual e da resolução de problemas, Skinner abordatemas tradicionalmente tratados como ensinar a pensarou desenvolvimento do raciocínio lógico, incluindo-osnaquilo que concebe como a meta prioritária daeducação.

Em síntese, tanto Skinner, quanto os PCNs e osplanejamentos elaborados pelas escolas ressaltam aimportância de que estas propiciem condições para queos alunos aprendam a raciocinar eficientemente,logicamente, como um dos requisitos para o seudesenvolvimento como indivíduos críticos e autônomos,capazes de contribuir efetivamente para a sociedade àqual pertencem.

Além disso, raciocinar logicamente é, comfrequência, considerado um repertório pré-requisito paraa aprendizagem de conteúdos acadêmicos, em especial,para a aprendizagem da Matemática; daí, expressõescomo raciocínio lógico-matemático serem frequentes emdocumentos relacionados ao planejamento educacional.

É sobre este último aspecto que nos concentraremosneste texto, buscando fornecer elementos para análise derelações supostas – embora, raramente testadas – entreos repertórios lógico e matemático.

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184 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Possíveis relações entre habilidades lógicase matemáticas

Se, por um lado, parece óbvio que a aprendizagemda Matemática pressupõe habilidades2 para raciocinarlogicamente, por outro, não temos suficientemente claroquais habilidades lógicas contribuiriam para quaishabilidades matemáticas. Um aspecto intrigantedecorrente da busca por literatura foi a relativa ausênciade pesquisa sobre habilidades lógicas em crianças3.Contudo, Nunes, Bryant, Evans, Bell, Gardner, Gardnere Carraher (2007) conseguiram estabelecer, por meiode dois delineamentos, a correlação entre habilidadeslógicas e desempenho matemático, e a eficácia do treinonas primeiras para produzir bom desempenho emmatemática. Estava estabelecido empiricamente o queparecia uma relação inevitável.

Estabelecida por Nunes e cols. (2007), a relaçãoentre desempenho em “problemas lógicos” edesempenho em problemas matemáticos, outrasperguntas foram por nós formuladas. Por exemplo, dando

2 Raciocínio lógico ou raciocínio matemático são expressões quese referem a fenômenos bastante complexos, os quais envolveminúmeras classes de respostas que atuam de forma integrada.Assim, utilizaremos as expressões habilidades lógicas oumatemáticas em detrimento de comportamento lógico oumatemático não por acreditarmos que se trate de fenômenos deoutra natureza que não comportamental, mas sim para evitar aimpressão equivocada de que se trata de uma única classe decomportamentos. Ademais, depurar esta questão é parte dosobjetivos do trabalho que vimos realizando.

3 Foram encontradas, sim, várias pesquisas sobre teorias ouesquemas conceituais específicos que lidavam com princípioslógicos (por exemplo, Santana e Roazzi, 2008; Rodrigues, Dias, eRoazzi, 2002), mas, em nenhum desses casos, o objetivo dotrabalho, ou seu referencial explicativo era compatível com os dopresente projeto..

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 185

prosseguimento a essa pesquisa, importa demonstrarse a classe de estímulos antecedentes “não-matemáticos” que controla determinados repertórios(estabelecer relações; discriminar entre informaçõesrelevantes / irrelevantes; organizar informações verbais;derivar conclusões a partir de premissas/ informaçõesdadas etc) controla igualmente repertórios que envolvemproblemas matemáticos. Dito de outra forma, ambas assituações antecedentes fazem parte da mesma classede estímulos?

Segundo revisão bibliográfica feita em trabalhos deorientação analítico-comportamental não encontramos,até o momento, trabalhos que se voltassem diretamentepara esta questão ou que, em conjunto, tenham produzidoconhecimento sistemático e consistente que permitamresponder às perguntas aqui formuladas.

Textos baseados numa vertente construtivista-piagetiana, que é a orientação dominante na educaçãoem nosso país atualmente, por outro lado, apontam,aspectos da lógica matemática que devem controlar ocomportamento da criança, para que ela aprenda aresolver problemas matemáticos. Por exemplo, Nunese Bryant (1997) assinalam que, para seremnumeralizadas, crianças devem reconhecer a naturezaordinal dos números (em que A > B > C); devem saberque cada número deve ser contado apenas uma vez eque, na sequência, o último contado corresponde aonúmero de objetos existente no conjunto. Propriedadeslógicas-matemáticas (conservação, reversibilidade,transitividade, proporcionalidade, por exemplo),incorporadas por Piaget ao seu esquema explicativo dagênese da inteligência, são também apontadas.

Segundo esta perspectiva, habilidades lógicasconstituiriam pré-requisitos para a aprendizagem damatemática; ou seja, deveriam ser adquiridas antes dedeterminados conhecimentos matemáticos, condição

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esta imprescindível para que ocorresse umaaprendizagem adequada (não mecânica) da matemática.

Mesmo admitindo que isto possa ser verdadeiro emalgumas situações – isto é, conhecimento lógico comocondição sine qua non para aprendizagem da matemática– não devemos ignorar outras possibilidades.

Uma primeira alternativa a considerar é quehabilidades lógicas sejam desenvolvidas a partir de ouconcomitantemente com situações que requeremdesempenho matemático. Ou seja, a relação seriabidirecional: habilidades lógicas poderiam embasar aaquisição de novas habilidades matemáticas e vice-versa.

Um segundo aspecto, ainda concernente àsrelações entre habilidades lógicas e habilidadesmatemáticas, refere-se à aparente suposição de que aaprendizagem só possa ocorrer de um determinadomodo, numa dada sequência. Entretanto, há fortesevidências de que diferentes pessoas adquirem novoscomportamentos (acadêmicos, no caso) ou resolvemproblemas utilizando-se de recursos bastante diversos,embora chegando ao mesmo resultado. Por exemplo,em trabalho anterior (Marinotti, 1992) relatamos situaçõesem que, confrontados com determinada situação-problema, tanto crianças quanto adultos as resolviam deformas bastante diversa. Resoluções observadas frenteao problema descrito abaixo servem como exemplodisto.

Temos 21 copos de vinho sendo que 7 deles estãocheios, 7 meio-cheios e 7 vazios. Como podemos dividi-los entre 3 pessoas de formam que recebam o mesmonúmero de copos e a mesma quantidade de vinho?

Este mesmo problema foi dado a adultos, comformação universitária completa, e a crianças de

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diferentes idades, sendo que a única diferença noenunciado fornecido a adultos e crianças era a quantidadede copos e de líquido disponível. Frente a este enunciado,então, observamos diferentes formas de resolução.

Algumas pessoas utilizaram representaçõespictóricas para fazer a distribuição, como no exemploabaixo:

Uma variação desta estratégia consistiu em ir“esvaziando” alguns copos e “enchendo” outros, viadesenho, até chegar-se à distribuição desejada.

Outros, utilizaram um procedimento algébricosomando a quantidade de litros de vinho disponível,dividindo tal quantia pelo número de pessoas:

(7 + 3,5=10,5)

(10,5 : 3 = 3,5), chegando, então, à quantidade devinho que cada um deveria receber. A seguir, procediamà distribuição do vinho dos copos, resultando na seguinterepresentação gráfica:

A: 3C + 1(1/2) + 3V

B: 2C + 3(1/2) + 2V

C: 2C + 3(1/2) + 2V

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Parece evidente que os pré-requisitos necessáriosa cada uma destas modalidades de resolução sãobastante distintos e provavelmente a mera análise doenunciado não seria suficiente para indicar as váriasformas de resolução possíveis e, consequentemente, ospré-requisitos necessários.

Fato análogo pode ocorrer quando pressupomos– na ausência de evidências empíricas – quedeterminados comportamentos sejam pré-requisitos paraa aprendizagem de outros. A mera análise “lógica” doque parece estar envolvido na aprendizagem de dadoconteúdo ou resolução de determinado problema pode,a despeito de sua correção formal, não corresponder afenômenos comportamentais. Isto é, talvez algumaspessoas efetivamente abordem a questão da formasuposta; entretanto, outras poderão abordá-la de formasdistintas chegando, a despeito disto, a resultadossimilares.

Assim, habilidades lógicas podem desempenhardistintos papéis na aprendizagem da matemática:algumas podem, efetivamente, constituir pré-requisitosindispensáveis; outras podem mostrar-se apenascondições facilitadoras para a aprendizagem matemática,sem que sejam indispensáveis para que esta últimaocorra.

Ao pensar em habilidades lógicas como facilitadorasda aprendizagem matemática, a primeira razão queencontramos refere-se àquelas situações nas quaisdeterminado tipo de raciocínio lógico compõe a sequênciade passos necessários para o desempenho matemáticoesperado. Assim, por exemplo, a resolução de um problemamatemático depende do estabelecimento de certas relaçõesentre os elementos contidos na formulação do problema;analogamente, a conclusão relativa à possibilidade ou nãode solucionar determinado problema, com as informações

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fornecidas, também envolve análise lógica dos dadosdisponíveis e das relações que guardam entre si.

Outra possibilidade é que raciocínio lógico eraciocínio matemático envolvam algumas classes derespostas em comum ou com alta probabilidade degeneralização de um contexto para outro. Abaixo sãodescritas algumas possibilidades

a) Tanto raciocínio lógico, quanto raciocínio matemáticopodem envolver expressões ou sequências(encadeamentos) verbais que facilitam a resoluçãode problemas. Segundo Skinner:

(....) A distinção entre a estrutura lógica de umasentença e os termos particulares queeventualmente ocorrem nela é a distinção entrerespostas autoclíticas e (em particular, quadrosgramaticais....) e operantes verbais simples. Aose engajar em comportamento verbal lógico ecientífico o falante aos poucos adquire sentenças-”esqueleto” intraverbais que combinam comrespostas que são apropriadas a determinadaocasião. Assim como o poeta que escreveu muitospentâmetros iâmbicos acha mais fácil “pensar”nesta métrica, o lógico que emitiu muitas respostasde determinada estrutura lógica achará mais fácilcompor outras no mesmo padrão. Isto é facilitadopelo fato de que operantes-”esqueleto” oufragmentários se combinam a outras respostas emcausação múltipla e também pelo fato de querespostas que não apresentam um padrãocostumeiro são rapidamente rejeitadas comoinadequadas e estranhas. (1957, p.422)

Assim, o controle exercido por estruturas verbaisdo tipo “se ...então....”, por exemplo, pode ser funcionaltanto em tarefas de natureza lógica, quanto matemática.Ou ainda, o aprendizado de raciocínio silogístico permiteum encadeamento de informações que pode ser utilizado

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para organizar dados de um problema matemático. Aodiscutir resolução de problemas, Skinner afirma que:

O silogismo lógico é um meio de dispor estímulos.O lógico possui um repertório verbal no qual certasconclusões tem maior probabilidade de seremfeitas a partir do enunciado de certas premissas,mas um determinado problema pode não seapresentar na ordem requerida. Resolver oproblema consiste em arranjar o material de formasilogística (1953, p. 250)

b) O controle exercido por relações causais (identificaçãode causas e consequências; identificação do fato queB só pode ter ocorrido porque A ocorreu) ou porrelações temporais (o que ocorre antes / depois), podefacilitar o desempenho naquelas situaçõesmatemáticas que envolvem transformações, comopor exemplo, os problemas matemáticos trabalhadosnas séries iniciais do ensino fundamental.

c) Tanto situações que envolvem raciocínio lógico, comoaquelas que envolvem raciocínio matemático podemrequerer que o comportamento fique sob controle decondições hipotéticas, simbólicas ou “abstratas”.Assim, o indivíduo que apresentar comportamentoeficiente sob controle de estímulos desta natureza,tenderá a se sair melhor em ambas as esferas.

d) Outro repertório importante para o desempenhoadequado na resolução de um problema (matemáticoou não) é reconhecer a verdade material das premissas.De duas premissas – Há dinheiro no banco e Hábancos na praça – a conclusão de que Há dinheiro napraça pode estar formalmente correta, mas estáincorreta do ponto de vista material (conteúdo). Estahabilidade é importante para que se entenda o conteúdoda proposição contida em um problema e, a partir daí,derivar (ou não) uma conclusão válida delas.

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Certamente, outros tipos de relações, envolvendohabilidades lógicas e matemáticas podem serhipotetizadas; no entanto, nos restringiremos a estas,que nos parecem mais relacionadas aos dados depesquisa que comentaremos a seguir.

Síntese dos aspectos metodológicosrelativos aos estudos já realizadosProcedimentos

A partir das considerações acima expostasrelativas à importância de habilidades de raciocínio lógico,seja para a aquisição de repertórios acadêmicos, sejapara a vida cotidiana dos indivíduos em qualquer etapade suas vidas, nos propusemos a abordar o tema de umponto de vista empírico, isto é, a partir de dados primáriosoriginados por pesquisa.

Conforme já dissemos, também, não localizamos,até o presente momento, trabalhos de orientaçãoanalítico-comportamental que envolvessem, diretamente,este assunto. Desse modo, consideramos que pesquisasnesta área terão também importância para odesenvolvimento da própria abordagem, explorando aspossibilidades apontadas por Skinner naqueles trabalhosem que sinaliza contribuições da Análise doComportamento à educação e, de forma mais específica,ao desenvolvimento de habilidades para solucionarproblemas.

Dada a precariedade de dados relativos às relaçõesentre habilidades lógicas e matemáticas, na literaturaanalítico-comportamental consultada, o programa depesquisa a que vimos nos propondo teve início com osseguintes objetivos:

• Inicialmente, coletar dados que apontem (cor)relaçõesentre estes conjuntos de habilidades;

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• A partir dos dados obtidos nesta primeira aproximaçãoao tema, planejar novos estudos que possam, enfim,propor delineamentos experimentais para ainvestigação de relações sugeridas pela pesquisa.

Neste artigo, iremos apresentar e discutir alguns dadosjá produzidos e analisados, com a expectativa de fomentar odebate e avanço de pesquisas nesta área. Visto que não setrata de relato das pesquisas propriamente dito, nosrestringiremos a fornecer aquelas informações imprescindíveispara a compreensão do texto. Eventualmente, nos referiremosàs pesquisas já conduzidas como Estudo 1 e Estudo 2 sendoque o primeiro foi conduzido em 2008, em uma escola públicada Zona Leste da cidade de São Paulo e o segundo numaescola pública da Zona Oeste de São Paulo. As consideraçõesabaixo abarcam o conjunto de dados produzidos pelos doisestudos.

As pesquisas foram conduzidas com crianças de2º e 3º anos do ensino fundamental (antigas 1ª e 2ªSéries), no próprio ambiente escolar.

De um modo geral, temos procurado identificarpossíveis relações entre desempenho em problemaslógicos e desempenho em matemática. Para tanto,temos planejado/coletado, como fontes de dados:

a. Desempenho matemático

• Dados de avaliação oficial: SARESP (até o momentonão conseguimos acesso a estes dados dos sujeitosestudados)

• Classificação dos alunos como “fracos”, “médios” ou“fortes” em Matemática, pela professora

• Consulta a cadernos escolares

• Avaliação dos problemas a serem empregados, napesquisa, pelas professoras dos sujeitos

• Respostas a conjuntos de problemas que envolvemraciocínio matemático aplicados pelos membros daequipe de pesquisa

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• Problemas sem número. Apresentavam-se 12problemas às crianças que deveriam indicar como serianecessário proceder para encontrar a solução, sem,contudo, efetuar qualquer operação. Um exemplo era:

Minha mãe quer mandar fazer uma almofada.Como é que ela pode fazer para saber o preço daalmofada, quando já sabe: quanto custa a espuma,quanto custa o tecido e quanto a costureira cobrapara fazer?

• Problemas solúveis ou insolúveis. Foram elaborados12 problemas, parte dos quais tinha como respostacorreta a indicação de que ele era insolúvel e a razãodisso. Nos demais, que podiam ser solucionados,esperava-se que a criança fornecesse a respostanumérica e/ou operações matemáticas adequadas aoproblema. A ordem de apresentação era randomizadaa fim de evitar controles espúrios sobre as respostas.4

Minha professora disse que meu peso é 15 quilose a do meu irmão é 17 quilos. Qual é o peso daminha irmã mais nova?

Antônio leu 19 páginas de um livro. Se ler mais 28,acabará de ler o livro. Quantas páginas tem o livro?

b. Desempenho lógico

Foram elaborados três conjuntos de problemas,de acordo com o tipo de violação lógica envolvida, frenteaos quais a criança deveria indicar se o que a afirmaçãodizia era possível ou impossível.

• (IC - Inversão causal). Problemas com inversão causal,nos quais causa e consequência eram invertidas.Exemplos:

O time de João fez mais cestas na partida porqueganhou o jogo.

4 O mesmo recurso foi utilizado nos problemas de natureza lógica,descritos a seguir.

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194 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

A pedra era muito pesada porque eu não conseguiempurrá-la.

• (IT – Inversão temporal). Problemas com inversãotemporal, nos quais a sequência temporal dos fatosera invertida. Exemplos:

Tirei nota B na prova da semana que vem.

Antes de levantar da cama, eu sempre abro asjanelas e calço os chinelos.

• QG – Questões gerais. Problemas nos quais aviolação lógica baseava-se em outras razões que nãoas descritas em IC e IT. Exemplos:

Vesti mais blusas porque fiquei com muito calor.

Eu me cortei com a faca porque saiu muito sangue.

Silogismos. A construção deste instrumento, bem comoparte de sua estruturação, inspirou-se nas questõesde silogismos propostas por Dias (2000) e foiadaptado a partir delas. Quatro tipos de silogismosforam elaborados em função das relaçõesestabelecidas entre a premissa maior e a conclusão:

• Fatos conhecidos – Conclusão coerente com aspremissas (FC-CC). Exemplo:

Toda pessoa que nasce no Brasil é brasileira

Aninha nasceu no Brasil

Aninha é brasileira

• Fatos conhecidos – Conclusão incoerente com aspremissas (FC – C)I. Exemplo:

Nenhuma boneca é gente

Larissa é uma boneca

A Larissa é gente

• Fatos contrários ao conhecido – conclusão coerentecom as premissas (FCt – CC). Exemplo:

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 195

Todo cachorro tem chifres

Ájax é um cachorro

Ájax tem chifres

• Fatos contrários ao conhecido – conclusão incoerentecom as premissas (FCt– CI). Exemplo:

Todo remédio é amargo

Minha mão me deu um remédio por causa daminha tosse

O remédio que minha mãe me deu era doce

De posse dos dados obtidos, e após a tabulaçãodas respostas a cada tipo de problema, realizou-se ocruzamento de informações entre:

a) avaliação feita pela professora e demais instrumentosrelativos ao desempenho matemático;

b) avaliação feita pela professora e desempenho dascrianças nos problemas lógicos

c) desempenho evidenciado pelas crianças nosdiferentes problemas matemáticos

d) desempenho das crianças nos diferentes problemaslógicos;

e) desempenho em problemas lógicos X desempenhoem problemas matemáticos.

Alguns resultadosDe um modo geral, podemos dizer que os dados

obtidos nestes estudos não permitiram responder demodo claro à nossa questão básica, que consistia naidentificação e explicitação de relações entre habilidadeslógicas e habilidades matemáticas.

Por um lado, a tabulação global das respostas emfunção da classificação prévia feita pelas professoras

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196 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

(fortes e fracos em matemática) indicou resultadospositivos, na direção esperada. Por exemplo, tomados os12 sujeitos do Estudo 2, os quatro melhores desempenhosnas questões lógicas IG, IC e IT5 foi de alunos consideradosfortes; igualmente, os quatro piores resultados provieramde alunos considerados fracos. Os quatro intermediáriosapresentaram desempenhos bastante semelhantes,embora não na ordem esperada (fortes > fracos).

Por outro lado, vários resultados exigem cautelana sua interpretação. Talvez uma das mais importantesrazões para isso tenha sido a variabilidade entre eintrasujeitos, indicando que as relações pretendidasdependem de fatores não levados em consideração, atéagora. Embora não caiba aqui um detalhamento dasrespostas, sujeito a sujeito, prova a prova, é importanteregistrar que alguns sujeitos considerados fracos, porexemplo, apresentaram respostas e justificativas muitosuperiores às de outros considerados fortes. Igualmente,é difícil entender que fatores fizeram cair o desempenhode uma criança considerada forte e que vinha sedesempenhando bem em provas semelhantes.

Contudo, além de, considerados globalmente, osresultados apontarem na direção pretendida, elesevidenciaram que os instrumentos empregados exigiamdesempenho dentro do repertório das crianças, já que,fortes e fracos, todos entenderam as instruções ecomportaram-se “logicamente”.

Foi difícil tratar as respostas aos silogismos demodo a tornar os resultados comparáveis com as demaisprovas. Em primeiro lugar, deve ser dito que esta provaé bastante mais difícil do que as demais, justamente porenvolver a consideração das duas premissas com aconclusão e implicar dar conta do fator material e formal.

5 A questão dos silogismos será discutida adiante.

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Inicialmente, deve ser dito que, também nestecaso, os resultados globais falam a favor de um melhordesempenho dos considerados fortes em relação aosfracos. Um segundo elemento importante a considerarfoi o fato de os silogismos em que a premissa maior eraum fato conhecido (FC) terem produzido um númeromuito maior de acertos do que quando ela era um fatocontrário (FCt). Da mesma forma – e agora curiosamente– os silogismos em que a conclusão contrariava oafirmado na premissa maior (FC-CI) gerou quase o dobrode acertos do que aqueles em que a conclusão eracoerente com as premissas (FC-CC).

Como já aqui reiterado, as respostas ao problemaoriginal não puderam ser dadas de forma clara,inequívoca, ainda que os resultados sejam favoráveis aele. Ao mesmo tempo, as respostas dadas pelascrianças, bem como suas justificativas, foram muito úteisno sentido de a) apontar variáveis que controlam asrespostas das crianças e que, com frequência,“competem” com o raciocínio lógico requerido pelasquestões e b) sinalizar dificuldades metodológicasenvolvidas neste tipo de investigação.

Identificação de variáveis de controle sobreas respostas das criançasProblemas de solução possível x impossível

Problemas que não contemplam solução possível(por exemplo, não oferecem informação suficiente paraa solução) ou questões que afirmam impossibilidadeslógicas controlaram os sujeitos de formas diferentes ebastante peculiares. Por exemplo, deve ser lembrado,os problemas sem solução eram intercalados comproblemas com solução possível. Em geral, as criançascometeram mais erros na identificação de situações

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impossíveis do que nas possíveis. Com frequência,apresentavam soluções para aqueles problemas que nãoofereciam informações suficientes para serem resolvidos.Por exemplo, no problema:

Um navio está levando 26 cabras e 13 bodes.Qual a idade do capitão do navio?6

várias crianças responderam 39, somando 26 a 13.Respostas semelhantes foram encontradas em outrosproblemas que não permitiam solução.

Observamos fatos análogos em sala de aula: nãoraro, frente a enunciados de problemas matemáticos,as crianças operam com os algarismos constantes doenunciado, sem levar em conta a lógica matemáticaenvolvida no enunciado. É possível que isto constitua umaresposta de esquiva, seja por “acabar logo a tarefa”, sejapor constituir uma resposta de menor custo.

No ambiente escolar podemos identificar algumascondições que facilitam a ocorrência deste tipo derespostas: a) em geral, o que a professora (e demaisautoridades dentro da escola) pedem que seja feito, devee pode ser realizado; b) em geral, as crianças sãoconfrontadas apenas com problemas passíveis de seremsolucionados; portanto, há pouco treino que permitaensinar os alunos a questionarem, antes de mais nada,se aqueles dados fazem sentido, ou se permitem aresolução do problema; c) as crianças são expostas auma variação de problemas bem restrita do ponto de vistade seus enunciados, o que permite a manutenção derespostas “mecânicas”, com índice razoável de acertos.

O que chamou atenção ao observarmos este tipode erro em nossos estudos foi o fato de que a instrução

6 Trata-se de um problema já clássico na literatura sobre o ensinode problemas

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 199

dizia explicitamente que alguns problemas não poderiamser solucionados e, apesar disto, as crianças “forçarem”uma solução. Uma hipótese seria uma generalização doque ocorre no ambiente escolar. Entretanto, é um dadoque mereceria um estudo mais aprofundado.

Questões com algum tipo de violação lógicaAs questões que continham algum tipo de inversão

lógica produziram resultados discrepantes em relação acada tipo de questão (G, IC ou IT). No entanto, tambémnestes casos, sujeitos “distorceram” as condiçõesoferecidas na questão, geralmente inserindo algumacondição que tornasse a afirmação possível. Por exemplo,à afirmação: Chovia muito naquele dia em que nosbronzeamos na praia, algumas crianças responderam queera possível porque poderia ter parado de chover e sair osol depois; ou, diante da frase Beatriz bebeu toda a água edepois deixou o copo cheio em cima da pia, uma criançarespondeu: “Tem muitas pessoas que ela coloca a águano copo e depois não quer mais, joga a água fora ou deixao copo em cima da pia”.

Prevalência de aspectos concretos sobre osformais ou lógicos nas respostas dadaspelas crianças

Os dados evidenciaram forte controle deconhecimentos prévios (situações vividas ou observadaspela criança), e de regras (adequadas ou não) sobre suasrespostas. Com frequência, este controle exercido porsituações cotidianas competiu com o raciocínio exigidopelas questões, levando a respostas e/ou justificativasincorretas. Seguem alguns exemplos de categorias dejustificativas dadas pelas crianças que ilustram este fato.

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As duas primeiras categorias descritas foram as maisfrequentes nas justificativas dadas pelas crianças.

JM-C - julgamento moral ou convencional. A justificativadada pela criança enfoca a adequação moral e/ouconvencional do fato descrito na questão e não suapossibilidade / impossibilidade lógica. Por exemplo:

Moro no 4º. andar. Todos os dias eu subo asescadas prá brincar com minha prima que mora no2º. andar.

Resposta da criança: (É possível) Por que se vocêpede prá sua mãe e ela deixa, então pode ir brincar.

Beatriz bebeu toda a água de depois deixou ocopo cheio em cima da pia.

Resposta da criança: (Não é possível) por que ...eu bebi a água, eu deixo em cima.... vai que uma pessoabeba no mesmo lugar que eu, pode pegar meusmicróbios.

CRI - controle por regra inadequada. Justificativa envolvea afirmação de relações incorretas ou circunstanciais.Exemplos:

Marcelo tropeçou numa pedra e não caiu.

Impossível. Quem ia tropeçar e não cair?! ou Setropeçar tem que cair!

SitPart - Situação particular - A justificativa da criança sebaseia em situação real já vivida por ela, ou da qualtem conhecimento. Exemplo:

Marcelo foi o melhor jogador do campeonato,mas seu time foi desclassificado.

Resposta da criança: (possível) Às vezes seu timetá em primeiro e perde. Isso acontece mesmo (contahistória ocorrida com o pai num campeonato de futebol)

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 201

Controle verbal inadequado exercido peloenunciado ou parte dele

Com frequência, as crianças responderam oujustificaram inadequadamente suas respostas devido acontrole verbal ineficiente ou inadequado exercido peloenunciado.

Algumas destas respostas foram agrupadas numacategoria denominada Parte -Pt, que envolvia aquelasjustificativas que não consideravam o enunciado comoum todo, mas apenas parte ou elementos o mesmo.Exemplos:

Quando chegar o Natal, eu ganhei muitospresentes.

Resposta: (possível) Porque pode ganhar presentesno Natal.

Chovia muito naquele dia em que nosbronzeamos na praia.

Resposta: (possível) Porque pode estar na praia epode cair um temporal

Eventualmente, as crianças deram respostasdiferentes do que seria considerado certo devido acompreensão incorreta, ou imprevisível, de expressõesou palavras. Por ex.:

Hoje acordei bem descansado porque ontemfui dormir cedo

Resposta: (Não pode) por que a gente não vaidormir cedo; a gente dorme à noite

Depois que as roupas secarem, o sol vai sair.

Resposta: (não pode) por que o sol nunca saiou (não pode) porque o sol vai continuar no lugar.

Em decorrência, provavelmente, dos dois últimosaspectos apontados - Prevalência de aspectos concretos

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202 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

sobre os formais ou lógicos nas respostas dadas pelascrianças e Controle verbal inadequado exercido peloenunciado ou parte dele - o melhor desempenho dascrianças ocorreu nas questões do tipo QG. Tais questões,quando comparadas com as dos tipos IT e IC, podem tersido mais fáceis por se relacionarem mais estreitamente asituações cotidianas e por envolverem apenas umaafirmação, enquanto que IC e IT envolviam duas afirmaçõese alguma expressão que indicava a relação entre elas.

Por outro lado, ao compararmos os resultadosobtidos pelas crianças nas questões IT e IC, observamosque houve um maior número de acertos em questões IT.Isto provavelmente ocorreu devido ao controle exercidopor palavras ou expressões que funcionavam comomarcadores temporais (advérbios, tempos verbaisutilizados nas frases etc) e que sinalizavam de formamais clara a inadequação de algumas frases.

Em relação às frases do tipo IC, as respostascorretas exigiam um controle verbal mais sutil, edificultaram a identificação das frases incorretas. Aidentificação da inversão foi pouco frequente e aexplicitação deste fato nas justificativas, mais raro ainda.Apesar de algumas crianças afirmarem: Tá invertido....;é ao contrário..., muitas vezes, ao serem solicitadas ajustificar suas respostas para aquelas afirmações queestavam erradas, ao invés de apresentar uma justificativa,tendiam a apresentar a oração “corrigida”. Por exemplo:

A história que eu ouvi era muito triste porqueeu chorei.

Resposta da criança: A história que eu ouvi eratriste E eu chorei.

Vou convidar meus amigos para virem à minhafesta na semana passada.

Resposta da criança: Vou convidar meus amigospara virem à minha festa ESSA semana.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 203

A consideração da existência de controle exercidopor parte da formulação da questão permite discutir umapeculiaridade verificada nas respostas de crianças aossilogismos. Estritamente falando, as respostas eramconsideradas corretas se viessem acompanhadas dasdevidas justificativas, respeitadas as condições da questão.Entretanto, a análise das respostas aos diferentessilogismos nos permitiu identificar dois tipos de controle“parciais” verificados nas respostas. O primeiro ocorreuem situações em que a premissa maior era falsa, isto é,contrária ao conhecido. Nestas circunstâncias, algumascrianças – a despeito de serem instadas a ouvir todas asfrases antes de responder – afirmavam o erro tão logo apremissa maior era dita. O segundo tipo de controle parcialera verificado em relação à falsidade da conclusão, ouseja, apenas a falsidade do conteúdo da última frase eramencionada na justificativa. Desta forma, em ambos oscasos, as crianças deixavam de cumprir o aspecto formaldo silogismo, prendendo-se apenas ao conteúdo material.

Desafios metodológicos encontradosTanto as questões / problemas apresentados às

crianças, como as justificativas solicitadas,possibilitavam uma diversidade muito grande derespostas. Esta diversidade efetivamente ocorreu, istoé, as crianças davam respostas bastante diferentes paraa mesma questão. Tal fato trouxe algumas dificuldadesque não puderam ser adequadamente contornadasnestes estudos:

a) Treinamento de aplicadores - vistas a diversidade eimprevisibilidade das respostas, foi particularmentedifícil treinar os aplicadores para o inquérito quedeveriam fazer. Talvez, a partir da análise dos dadosdestes primeiros estudos, surjam elementos para aestruturação desta tarefa.

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204 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

b) Extensão do inquérito - visto que os problemasaplicados tinham como finalidade fornecer dados dePré-Teste a partir dos quais procedimentos de ensinoseriam delineados e implementados, o inquéritodeveria fornecer elementos suficientes para quepudéssemos compreender as respostas dascrianças. Entretanto, se estendêssemos ouaprofundássemos muito o inquérito, ele próprio jápoderia se constituir num procedimento de ensino,descaracterizando esta fase como de avaliação e nosprivando de dados de linha de base. Nestas condições,optamos por restringir as perguntas feitas no inquérito,mesmo com o risco de “perder” (não compreender)algumas das respostas dadas pelas crianças.Novamente, esperamos que da análise dos dados atéaqui obtidos resultem em pistas para uma melhorcondução desta questão.

c) Natureza do conteúdo das questões. As evidênciasreferentes à diversidade de respostas às mesmasquestões, o fato de as mesmas crianças variaremmuito nas respostas a questões de mesma natureza(IT ou IC, por exemplo) indicam a conveniência de setestarem alguns fatores que podem ter controlado asrespostas além daquilo que se esperava comoraciocínio lógico. Um exemplo disso seria fazer variaras possibilidade de envolvimento de julgamento moral(ou seja, promover o aparecimento de questões commaior probabilidade de ocorrência desse tipo dejustificativa) ou manipular questões com maior oumenor probabilidade de descreverem situações docotidiano da criança.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 205

Referências

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental (1997) Parâmetroscurriculares nacionais : introdução aos parâmetros curricularesnacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:MEC/SEF

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Marinotti, M. (1992) Análise de relações entre habilidadeslinguísticas, estratégias de solução de problemas edesempenho acadêmico em crianças de pré-escola e primeirograu. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católicade São Paulo, São Paulo.

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206 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

CAPÍTULO 8

Contagem e comportamento conceitual numéricosão dois repertórios matemáticos básicos que possuemmuitos pontos de entrelaçamento. Em geral são aspectosnegligenciados no ensino da matemática elementar, masque são extremamente necessários à aquisição derepertórios mais complexos.

O texto das professoras Verônica Haydu (UEL),Priscila Kanamota (UNIFEV e UNESP/Bauru) e Lucita Costa(FUNDESEM, Espanha) apresenta uma pesquisaexperimental e convida o leitor a um olhar diferenciadoacerca em relação a estudos experimentais pautados emoutras tradições de pesquisa, a começar pela questãonorteadora: em que medida a presença da contagem podefacilitar a emergência de relações que compõem o conceitode número, aqui tratado como comportamento conceitualnumérico. É um estudo que tem como modelo experimentale preditivo o paradigma de equivalência de estímulos,desenvolvido por Murray Sidman, e que nos ajuda aidentificar, a partir de uma rede de relações equivalentesentre estímulos, quais as relações que o aprendiz já possui,e quais as que poderão emergir sem ensino direto,completando o quadro de estímulos equivalentes.

O estudo fomenta importantes reflexões e forneceelementos necessários ao entendimento do papel dacontagem na aquisição de comportamento conceitualnumérico, além de indicar a eficiência e eficácia doprocedimento de matching to sample amplamenteconhecido por analistas do comportamento e que podeser aproveitado em sala de aula.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 207

A contagem e a formação declasses de equivalência no

desenvolvimento docomportamento conceitual

numérico

Verônica Bender HayduUniversidade Estadual de Londrina

Priscila Ferreira de Carvalho KanamotaUNIFEV - Centro Universitário de Votuporanga e UNESP,

Campus de Bauru

Lucita Portela da CostaFundesem – Alicante, Espanha

O fracasso escolar, alvo de grande preocupação doseducadores está, em parte, relacionado com as dificuldadesde aprendizagem durante a alfabetização dos aprendizes. Acomplexidade dos processos envolvidos no ensinar e noaprender a ler, a escrever e a fazer cálculos, requer doseducadores conhecimentos que nem sempre são colocadosao alcance deles por aqueles que são estudiosos dessesprocessos. Em relação ao ensino da Matemática,frequentemente não é dada a devida atenção para odesenvolvimento de repertórios básicos, que são pré-requisitos para o processo de aprendizagem, como, porexemplo, o processo de formação do conceito de número. Aprópria formação do conceito de número tem pré-requisitosimportantes para o aprendizado do comportamentomatemático (Prado & Carmo, 2004).

Os processos envolvidos na formação do conceitode número têm recebido atenção de pesquisadores das

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208 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

áreas da Educação e da Psicologia, como, por exemplo,Carmo (2000), Carmo e Prado (2010), Fayol (1996), Piagete Szeminska (1975), Ribeiro, Assis e Enumo (2007), Siegel(1971, 1974). Nessa bibliografia, podem ser encontradasdiferentes definições e caracterizações do que éconsiderado conceito de número. No presente capítulo, esseconceito será considerado, com base em princípios daAnálise do Comportamento, como uma rede de relaçõesde equivalência (Sidman, 2000; Carmo, 2000; Prado & deRose, 1999), caracterizando-se como um processocomportamental.

Comportamento é um processo de interação doorganismo com seu meio, incluindo os comportamentosabertos (públicos) e os comportamentos encobertos(privados). Assim, ao estudar o comportamento dosorganismos, deve-se considerar que eles podem não serdiretamente observáveis, o que pode tornar a tarefa dopesquisador bastante complexa. Entretanto, avançosmetodológicos e tecnológicos na área da Análise doComportamento têm contribuído para que se possamestudar, por meio de procedimentos que se caracterizamessencialmente como sendo análises de relaçõesfuncionais, fenômenos como o comportamento conceitual,o comportamento simbólico e outros comportamentosemergentes, explicados em abordagens cognitivistas pormeio de constructos hipotéticos (por exemplo, Rips,Bloomfield, & Asmuth, 2008; ver também Wong, 1999, quefaz uma análise crítica de uma dessas abordagens).

Para o analista do comportamento, afirmar que alguémpossui o conceito de número ou adquiriu esse conceito,significa dizer que esse indivíduo é capaz de comportar-sede determinada forma diante de determinadas condições doambiente, com base em suas experiências anteriores. Oscomportamentos conceituais foram caracterizados comosendo comportamentos observáveis, dentre eles, o de

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 209

discriminar elementos de classe de estímulos diferentes egeneralizar elementos de uma mesma classe (Keller &Schoenfeld, 1950/1971). De acordo com Matos, para que sepossa compreender como ocorre a formação de conceitos,deve-se descrever como diferentes eventos ambientaisadquirem as mesmas funções comportamentais. Esseprocesso tem sido explicado, por meio do paradigma daequivalência de estímulos proposto por Sidman e Tailby (1982,ver também Sidman, 2000).

O paradigma da equivalência de estímulos consisteem um modelo experimental que permite demonstrar aemergência de classes de equivalência, quando seensinam relações condicionais arbitrárias entre estímulos.Para que uma classe de equivalência seja demonstrada,deve-se estabelecer pelo menos duas relaçõescondicionais com um elemento em comum e demonstrara emergência de relações condicionais que caracterizemas propriedades de reflexividade, simetria e transitividade(Sidman & Tailby, 1982). Esse ensino pode serexemplificado da seguinte forma:1) diante da palavra ditada “dois” (A1), a resposta de escolher

a palavra impressa DOIS (B1) e não a palavra impressa TRÊS(B2), é seguida por uma consequência reforçadora;

2) diante da palavra ditada “três” (A2), a resposta de escolhera palavra impressa TRÊS (B2) e não a palavra DOIS (B1), éseguida por uma consequência reforçadora;

3) diante da palavra ditada “dois” (A1), escolher o numeral 2(C1) e não o numeral 3, é seguido por uma consequênciareforçadora;

4) diante da palavra ditada “três” (A2), escolher o numeral 3(C2) e não numeral 2, é seguido por uma consequênciareforçadora.

Como resultado, observa-se com alta probabilidadea emergência de respostas que não foram diretamenteensinadas que são:1) diante da palavra impressa DOIS (B1) dizer “dois” (A1);

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210 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

2) diante da palavra impressa TRÊS (B2) dizer “três” (A2);

3) diante do numeral 2 (C1) dizer “dois” (A1);

4) diante do numeral 3 (C2) dizer “três” (A2);

5) diante da palavra impressa DOIS (B1) escolher o numeral 2(C1).

6) diante da palavra impressa TRÊS (B1) escolher o numeral 3(C2).

Além dessas seis relações condicionais emergentesque caracterizam a simetria (D1-B1, D1-C1) e atransitividade/equivalência (B1-C1 e C1-B1) emergem asrelações de reflexividade, que consistem em: diante deA1 selecionar A1; diante de B1 selecionar B1, e assim pordiante para todas as relações de igualdade entre estímulos.As relações condicionais descritas aqui e que se referemà palavra “dois” e à palavra “três” (ditadas e faladas peloparticipante); à palavra DOIS e TRÊS (impressas); e osnumerais 2 e 3, estão representadas na Figura 1, que éuma adaptação do diagrama apresentado por Sidman eTailby (1992, ver também Carmo, 2000).

Cada um dos diagramas representados na Figura1 permite inferir que as relações condicionais entrenumeral, palavra impressa e palavra falada são parte darede de relações caracterizada como leitura comcompreensão da palavra à qual corresponde o numeral.Assim, pode-se sugerir que o paradigma de equivalênciade estímulos possibilita identificar relações condicionaisque fazem parte do conceito de número e pode ser usadopara testar o comportamento de aprendizes, dandooportunidade ao professor avaliar as relações que eles jáapresentam e aquelas que ainda precisariam serensinadas. No entanto, é importante destacar que oesquema da Figura 1 é, segundo Carmo (2000),insuficiente para representar o conceito de número. Essaquestão foi alvo de estudos desenvolvidos por analistasdo comportamento, conforme será descrito a seguir.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 211

Figura 1. Diagrama esquemático das relações condicionais aserem ensinadas entre palavra ditada e numeral, entre palavraditada e palavra impressa (setas continuas) e as relaçõesemergentes de simetria e de transitividade (setaspontilhadas) que se espera que derivem desse ensino. Nãoestão representadas as relações de reflexividade, baseadasna semelhança física dos estímulos.

Estudos sobre o Conceito de Número baseadosno Modelo da Equivalência de Estímulos

Para investigar quais eram as relações condicionaisdo conceito de número apresentadas por crianças comidades variando de 3 a 7 anos, Prado e de Rose (1999)realizaram um estudo com seis participantes. As tarefaseram realizadas em um computador e o procedimentopara estabelecer as relações condicionais entre osestímulos foi o de escolha de acordo com o modelo. Atarefa requeria, inicialmente, a nomeação de numerais,contagem, emparelhamento de número ditado comconjunto, seleção de numerais a partir de número ditado,pareamento de conjuntos com numerais e sua inversa. OPasso 2 incluiu conjunto/conjunto e excluiu a seleção denumerais a partir de número ditado, e o Passo 3 incluiu a

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relação conjunto/conjunto. Os resultados permitemobservar que houve diferença quanto ao desempenho entreos diferentes participantes. As respostas dos participantesque tinham por volta de 3 anos de idade estavam ao níveldo acaso na maioria das tarefas. As crianças de 4 anosapresentaram resultados melhores, mas com maisvariação entre eles. Os participantes de 6 e 7 anos tiveramdesempenhos quase perfeitos, porém com oscilaçõesocasionais nas tarefas que envolviam a contagem. Pradoe de Rose (1999) sugeriram que as dificuldades dascrianças em demonstrar o conceito de número poderiamestar relacionadas com o fato de elas não terem aprendidoa contar.

Outro estudo que também envolveu o modelo daequivalência de estímulos com a participação de trêscrianças em idade pré-escolar foi conduzido por Carmo eGalvão (1999). Esse estudo teve como objetivo analisar oaprendizado das relações que compõem o conceito denúmero e a posterior generalização do novo repertório parasituações do dia a dia. Para tal, utilizaram um quadro noqual fixavam cartões com os estímulos a seremensinados. Os estímulos usados no ensino das relaçõescondicionais eram: numerais (A), conjuntos de bolinhas(B), palavras impressas (C) e palavras ditadas (D). Osvalores dos estímulos variavam de um a seis. O ensinoenvolvia o estabelecimento de relações condicionais entreA-B, A-C e D-A, e foram testadas as relações emergentesB-A, C-A, C-B e D-D, D-C e a nomeação, pelosparticipantes, dos estímulos A, B e C. Para o testemanutenção, foi adaptado um jogo de dominó, contendo24 peças. Em cada metade de uma peça do jogo eracolocado um valor de uma classe diferente dos estímulos.Verificou-se que as crianças aprenderam as diferentesrelações numéricas (número ditado, número impresso,conjunto e nomeação) e houve generalização deestímulos. Carmo e Galvão concluíram que existem

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 213

algumas habilidades que podem ser consideradasfundamentais na formação do conceito de número: 1) aresposta oral emitida deve corresponder tanto aosestímulos numéricos escritos, quanto aos conjuntos deobjetos; 2) os estímulos numéricos devem ter umacorrespondência com o número ditado; 3) o numeral, apalavra escrita e a palavra oralizada, devem equivaler auma quantidade de objetos num contexto específico; 4)habilidade para ordenação; 5) produção verbal de cadeias;6) comparar conjuntos de objetos a fim de discriminar asrelações de magnitude e 7) contextualizar as palavras-número no dia a dia. Além disso, concluíram que para havero aprendizado das relações que compõem o conceito denúmero e a generalização para outras situações do dia-a-dia, os elementos envolvidos no processo deaprendizagem devem partilhar funções e possibilitar queos indivíduos emitam a mesma classe de respostas diantede estímulos diferentes.

Conforme foi descrito no parágrafo anterior, Carmoe Galvão (1999) destacaram que habilidades como acontagem, entre diversas outras, são importantes para aformação do conceito de número. Eles definiram essecomportamento como sendo o de verbalizar acorrespondência de termos “um a um”, na medida emque diferentes objetos são apresentados. Esta seria então,uma resposta discriminativa sobre controle da relaçãoobjeto-número, que segundo Drachenberg (1990), éfundamental para poder contar.

Os resultados dos estudos de Prado e de Rose(1999) também mostram a importância de se incluir acontagem dentre os elementos a serem ensinados paragarantir a formação do conceito de número. Elesenfatizaram que “(...) para o reconhecimento de um valorcomum a grupos distintos de objetos é indispensável ouso da contagem” (p. 228) e, assim como Drachenberg(1990), salientaram que a contagem pressupõe que o

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indivíduo seja capaz de dizer os nomes dos números, suaordem, as relações entre os nomes dos números e asquantidades. Também consideram importante o uso deuma metodologia que possa servir como um recurso paraidentificar as necessidades individuais de aprendizagem,por meio da especificação das relações que já sãoapresentadas, das ausentes e das que não foram bemestabelecidas. Para facilitar essa identificação, Prado ede Rose (1999) adaptaram o diagrama das relações deequivalência do conceito de número, por meio do qual foipossível representar graficamente outros desempenhos,além daqueles representados na Figura 1. Essa adaptaçãoencontra-se representada na Figura 2.

Ao reconhecer a utilidade do modelo da equivalênciade estímulos para o estudo do conceito de número,Haydu, Carvalho e Portela (2002) realizaram um estudopara o qual consideraram a contagem e a nomeação

Figura 2. Diagrama esquemático da rede relacional do conceitode número (fonte: Prado & de Rose, 1999). Algumaspequenas alterações foram feitas para o presente capítulo.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 215

como sendo respostas pertencentes a classes distintas(Figura 3). Esse diagrama é diferente daqueleapresentado por Prado e de Rose (1999 - Figura 2 nestecapítulo) para os quais ambas as habilidades pertencemà mesma classe de respostas. Haydu e cols. tambémconsideraram como relevante para a contagem que essecomportamento esteja correto: a produção de somenteum rótulo verbal numérico para cada elemento de umconjunto; a produção da mesma sequência verbal a cadacontagem (recitação); começar a contagem por qualquerelemento do conjunto; formar conjuntos e responder aositens desse, independente do tipo de objeto que o compõe(abstração).

O estudo foi realizado com alunos pré-escolares,com idades variando entre 5 e 6 anos. Os participantesforam designados aleatoriamente a comporem dois

Figura 3. Diagrama esquemático da rede relacional do conceitode número com a inclusão da contagem.

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216 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

grupos. Os participantes do Grupo 1 foram submetidosao pré-tese, ao procedimento de escolha de acordo commodelo e aos testes das relações emergentes. Osparticipantes do Grupo 2 fizeram o pré-teste, o ensino dacontagem e depois foram submetidos ao procedimentode escolha de acordo com modelo e aos testes dasrelações emergentes. Ao final do procedimento, todosforam submetidos a um pós-teste para avaliar odesempenho final. Os resultados obtidos permitiramobservar que os participantes já haviam aprendido asquantidades de um a seis quando submetidos ao pré-teste(todos apresentarem porcentagens de acerto acima de70%), não tendo sido obtidas aumentos acentuados naporcentagem de acertos ao se comparar o pré e o pós-teste (a diferença máxima foi de 16%). Diante desseresultado, foi formulado o objetivo do presente estudo, queconsistiu em replicar aquele desenvolvido por Haydu e cols.(2002), mas com crianças mais jovens.

O Papel da Contagem na Formação doConceito de Número: um Estudo com Pré-escolares de 3 a 4 anos

A fim de investigar se o ensino da contagem facilitaa emergência das demais relações condicionais quefazem parte da rede diagramada na Figura 3, foi propostoum estudo similar ao realizado por Haydu e cols. (2002),com crianças de 3 a 4 anos. Participaram 20 criançasque frequentavam um Centro de Educação Infantil.

Para a coleta de dados foram utilizadas pastas-catálogo contendo figuras impressas, com quatromodalidades diferentes de desenhos e númerosimpressos de um a seis. Na parte superior da folha, eramcolocados os estímulos-modelo, que podiam serdesenhos ou numerais e, na parte inferior, subdividida

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 217

verticalmente em três partes iguais, eram apresentadosos estímulos de comparação (ver Figura 4).

Para as fases de pré-teste e no ensino de contagemforam utilizados cartões de cartolina de 15 cm decomprimento por 10 cm de largura, contendo numeraise conjuntos de frutas impressos (ver Figura 4 – ladoesquerdo) e cartões formando sequências numéricascom quantidades de 1 a 6. Para os testes da contagem,foram usados os cartões com conjuntos de figurasimpressos e para a tarefa que envolvia a montagem deconjuntos, os mesmos estímulos foram impressos emcartões menores, de 4 cm de comprimento por 2 cm de

Figura 4. Exemplo de uma tentativa de escolha de acordocom modelo, contendo uma relação entre número impressoe quantidade (acima) e número ditado/número impresso econjunto/conjunto com variação forma (parte inferior).

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largura, com figuras e numerais individuais, conformepode ser visualizado na Figura 5 (centro e lado direito).

Procedimento

Os participantes foram distribuídos em dois grupos.Os dois grupos foram submetidos, inicialmente, aoprocedimento de familiarização com os materiais. Emseguida, foram submetidos a um pré-teste paraestabelecer-se a linha de base de quais eram as relaçõesda rede que cada participante já respondia.Posteriormente, os participantes do Grupo 1 foramsubmetidos ao procedimento de escolha de acordo commodelo e aos testes das relações emergentes, e osparticipantes do Grupo 2, ao ensino da contagem, testeda contagem, ao procedimento de escolha de acordocom modelo e aos testes das relações emergentes. Porfim, os dois grupos realizaram um pós-teste, semelhanteao pré-teste.

Familiarização: os participantes foram familiarizadoscom os estímulos. Primeiramente, eram mostrados, acada participante, os cartões com numerais impressosde um a seis. Em seguida, eram apresentados cartõescom quatro tipos diferentes de frutas, arranjados emconjuntos com quantidades de um a seis e solicitava-seque os participantes apenas observassem as figuras e

Figura 5. Exemplo de cartões utilizados no ensino e teste dacontagem (lado esquerdo) e na montagem de conjuntos (ladodireito).

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 219

os numerais nos cartões que lhes eram apresentadas.O ensino prévio teve um total de 18 tentativas.

Pré-teste: O Pré-teste era composto por quatro partes.A Parte 1 era formada por quatro blocos de tentativas deteste (Blocos 1, 2, 3 e 4), que avaliavam o responder àsrelações entre conjuntos e suas variações (C-C, CCa,C-Cb e C-Cc). A Parte 2 era composta pelos Blocos 5 e6, que cujo objetivo foi testar as relações entre númerosditados e conjuntos (A-C) e entre números ditados enúmeros impressos (A-B). Na Parte 3 (Blocos 7 e 8),era solicitado ao participante que nomeasse os conjuntos(C-D) e que nomeasse os números impressos (B-D).Na Parte 4, eram testadas as relações de transitividade/equivalência entre conjuntos de estímulos e numeraisimpressos (C-B) e entre número impresso e conjunto(B-C), conforme está resumido na Figura 6. Não houvefeedback após as respostas emitidas pelos participantes.O resultado desse teste foi usado para selecionar osparticipantes que seriam submetidos ao procedimentoexperimental. O critério estabelecido para essa seleçãoera de 70% de acertos em cada parte do pré-teste.

Partes Blocos Relações Testadas

1

1

2

3

4

Relação C-C (conjunto/conjunto)

Relação C-Ca (conjunto/variação tamanho)

Relação C-Cb (conjunto/variação espacial)

Relação C-Cc (conjunto/variação forma)

2 5

6

Relação A-C (número ditado/conjunto)

Relação A-B (número ditado/número impresso)

3 7

8

Relação C-D (conjunto/nomeação)

Relação B-D (número impresso/nomeação)

4 9

10

Relação C-B (conjunto/número impresso)

Relação B-C(número impresso/conjunto)

Figura 6. Relações testadas nos diferentes blocos do Pré-

teste, formando quatro partes.

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220 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Ensino de Relações Condicionais: A partir dos resultadosdo pré-teste, foram especificadas as relações às quais osparticipantes não respondiam, para serem ensinadas noensino de escolha de acordo com o modelo. Caso oparticipante não tivesse respondido a nenhuma relaçãoentre número ditado/numeral impresso, número ditado/conjunto e conjunto/conjunto, o procedimento de ensino eracomposto de três etapas. Nas Etapas 1 e 2 de ensino, cadaestímulo-modelo (os números 1 a 6) era apresentado 12vezes, num total de 72 apresentações por etapa. Na Etapa3 (Relação C – C*), os estímulos sofreram as seguintesvariações: forma, disposição espacial e tamanho; sendoessas variações apresentadas na função de estímulo decomparação (parte inferior da folha de tentativas – ver Figura3). Para o ensino da Relação C-C*, cada número de 1 a 6foi apresentado 18 vezes, totalizando 108 tentativas. Osnumerais apresentados como estímulos de comparaçãoforam dispostos de forma a envolver as quantidades de uma seis, sendo que os estímulos apareciam nas trêsdiferentes posições. A Tabela 1 resume esse procedimento.

Tabela 1.Relações apresentadas em cada fase do procedimento deescolha de acordo com modelo, juntamente com as etapas,cada qual contendo os numerais treinados e o número detentativas.

Etapas Fase

s

Relações Números

ensinados

Nº de

Tentativas

1 1 a 3 9

2 4 a 6 9 1

3

Relação A-B

(número ditado-numeral

impresso) 1 a 6 54

1 1 a 3 9

2 4 a 6 9 2

3

Relação A-C

(número ditado-conjunto)

1 a 6 54

1 1 a 3 27

2 4 a 6 27 3

3

Relação C-C*

(conjunto-conjunto)

1 a 6 54

(*) variações da forma, dimensão espacial e tamanho dos estímulos.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 221

As fases de cada etapa eram repetidas, caso oparticipante não atingisse o critério estabelecido de 70%de acertos. Para todas as respostas dos participantes,houve um feedback verbal informando se a respostaestava correta ou não.

Teste das relações B-C, C-D, C*-C: Após o procedimentode escolha de acordo com modelo, foram testadas asrelações B-D (numeral/nomeação), C-D (conjunto/nomeação) e C*-C (conjunto/conjunto). Houve duastentativas para cada numeral presente nas relações B-De C-D, totalizando 24 tentativas. Quanto à relação C*-C,cada numeral apareceu três vezes como estímulo-modelo, de tal forma que as combinações do estímulo decomparação continham os valores de um a seis. Essaparte do teste teve um total de 18 tentativas. No teste desimetria, o experimentador instruía o participante acontinuar escolhendo de acordo com o modelo, mas semapresentar feedback.

Teste de Transitividade/Equivalência: Esse teste avaliavaa emergência das relações de equivalência B-C (numeralimpresso/conjunto) e C-B (conjunto/numeral impresso).Em cada parte do teste, cada numeral aparecia três vezescomo estímulo-modelo, totalizando de 36 tentativas. Ocritério foi de 90% de acertos.

Familiarização, Ensino e Teste da Contagem. Osparticipantes do Grupo 2 que não atingiram 70% de acertosno pré-teste foram submetidos ao ensino de contagem.Inicialmente foi realizado um procedimento de familiarizaçãoque constou de três partes, sendo que na primeira eramapresentados cartões com números impressos de um aseis e os participantes eram instruídos a nomeá-los. Nasegunda parte, cartões contendo conjuntos de frutas eramapresentados e se solicitava que o participante contasseoralmente a quantidade. Na terceira parte, eramapresentadas três sequências numéricas aleatórias comoestímulos de comparação e uma sequência numérica como

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222 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

estímulo-modelo, idêntica a um dos estímulos decomparação. O participante era instruído a apontar qual oestímulo de comparação correspondia ao estímulo-modelo.Para o ensino de contagem, as Partes 1 e 2 do procedimentoforam executadas 12 vezes, cada uma com um numeralde 1 a 6. A Parte 3 do procedimento foi executada apenasuma vez. Apesar de terem sido fornecidas instruções paraa nomeação e para as respostas de apontar os estímulos,o participante podia não responder.

Após a familiarização, foi iniciado o ensino dacontagem, também dividido em três partes. A tarefa aser realizada pelo participante na primeira e segundapartes era idêntica às Partes 1 e 2 do procedimento defamiliarização. Na Parte 3, o participante era instruído arelacionar os numerais aos conjuntos de frutas queestavam dispostos nas partes inferiores das folhas. Emtodas as partes do ensino de contagem, houve cincotentativas de apresentação para cada numeral. Paratodas as respostas, o experimentador informava oparticipante se ele havia acertado ou errado.

Ao final do procedimento de ensino da contagem,realizou-se um teste. Nesse teste, a tarefa do participanteera montar conjuntos em sequência de um a seis enumerar os conjuntos montados com os cartõescontendo apenas uma figura de fruta.

Pós-Teste. Após o procedimento de ensino e teste dacontagem, todos os participantes dos Grupos 1 e 2realizaram um pós-teste. Esse teste era igual ao pré-teste. As respostas dos participantes nesse teste nãoeram seguidas de feedback.

ResultadosA análise dos dados foi feita com base nos dados

de apenas 10 dos 20 participantes submetidos ao pré-teste, em virtude de quatro participantes desistirem da

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 223

pesquisa e seis participantes terem acertado mais de70% das relações testadas no pré-teste e. Os dados dopré-teste e do pós-teste de cada participante do Grupo 1(ensino de relações condicionais) e do Grupo 2 (ensinoda contagem e de relações condicionais) foram divididosem quatro partes conforme está descrito a seguir. NaParte 1, analisou-se o responder aos diferentesconjuntos; na Parte 2, o responder aos numerais econjuntos ditados; na Parte 3, a nomeação dos conjuntose dos numerais; e na Parte 4, as relações de equivalênciaentre numerais e conjuntos.

As porcentagens de acertos de cada participanteno pré-teste determinaram quais seriam as relaçõesensinadas. Assim, cada participante passou por fases deensino referentes às relações que não foram observadasno pré-teste. Na Figura 7 estão representadas asporcentagens de respostas corretas dos participantes doGrupo 1 (treino de discriminação condicional) e do Grupo2 (treino de discriminação condicional e treino dacontagem) em cada uma das quatro partes dos pré e pós-teste. Pode-se observar nessa figura que todos osparticipantes apresentaram um aumento nasporcentagens de acertos no pós-teste em comparaçãoao pré-teste em pelo menos uma das partes. Osresultados dos 10 participantes podem ser enquadradosem três categorias de análise: Categoria 1 - participantescom porcentagem de acertos abaixo de 70% em somenteuma das partes do pré-teste e desempenho alto nasdemais partes (acima de 70%), e que no pós-teste atingiramporcentagens de acertos iguais ou superiores a 90% emtodas as partes; Categoria 2 - participantes comporcentagens de acertos abaixo de 70% em duas ou maispartes do pré-teste e que no pós-teste atingiramporcentagens iguais ou superiores a 90% de acertos emtodas as partes; Categoria 3 - participantes comporcentagem de acerto abaixo de 70% em duas ou mais

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224 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Por

cent

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Figura 7. Porcentagens de respostas corretas apresentadasem cada uma das quatro partes dos pré e pós-testes pelosGrupos 1 e 2.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 225

partes do pré-teste e que no pós-teste apresentaramporcentagens inferiores a 90% em uma ou mais partes.

Os participantes P1, P6, P7 e P10 apresentaram odesempenho que se enquadra na Categoria 1. As diferençasentre a menor porcentagem de acerto e o desempenho naparte correspondente do pós-teste foram de 54,2% (P1),33,4% (P6), 41,6% (P7) e 45,5% (P10). Pode-se observarna Figura 6 que, embora tendo cometido erros em partesdiferentes do pré e pós-testes, todos os participantesenquadrados na Categoria 1 de análise acertaram acimade 90% das relações testadas no pós-teste.

Os participantes P4, P8 e P9 apresentaram odesempenho que se enquadra na Categoria 2. Asdiferenças entre a menor porcentagem de acerto e odesempenho na parte correspondente do pós-teste foramde 91,6% (P4 e P8) e 41,6% (P9). Pode-se observar naFigura 6 que, assim como os participantes que seenquadraram na Categoria 1, os que se enquadram naCategoria 2 também acertaram acima de 90% dasrelações testadas no pós-teste.

Os participantes P2, P3 e P5 apresentaramdesempenho que se enquadra na Categoria 2. No pré-teste, o P2 apresentou acertos iguais ou inferiores a 50%em todas as partes; o P3 respondeu corretamente a 66,6%das relações nas Partes 3 e 4 e as porcentagens deacertos do P5 foram iguais ou inferiores a 33,3% em trêspartes. Embora tenha havido um aumento na porcentagemde acertos, P3 e P5 acertaram menos de 90% em umaou mais partes do pós-teste. A porcentagem de acertosdo P5, por exemplo, aumentou aproximadamente 30% emtodas as partes em relação ao pré-teste, embora tenhapermanecido inferior a 90%. Deve-se ressaltar que todosos participantes que compuseram essa categoria deanálise faziam parte do Grupo 1, não submetido ao ensinoda contagem.

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226 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

A Tabela 2 apresenta o número de blocos de ensinoa que os participantes dos Grupos 1 e 2 tiveram que sersubmetidos em cada uma das três fases das três etapasdo procedimento ensino. Os traços indicam que oparticipante não necessitou o ensino daquela fase, por teracertado a relação no pré-teste. Quatro participantes doGrupo 1 (P2, P3, P4 e P5) e quatro participantes do Grupo2 (P6, P7, P8 e P9) foram submetidos à Etapa 1. Doisparticipantes do Grupo 1 (P2 e P5) e quatro participantesdo Grupo 2 (P6, P8, P9 e P10) realizaram da Etapa 2. Trêsparticipantes do Grupo 1 (P1, P2 e P5) e quatro participantesdo Grupo 2 (P7, P8, P9 e P10) realizaram a Etapa 3.

Pode-se observar ainda, na Tabela 2, que todos osparticipantes do Grupo 1 foram submetidos a duas ou maisvezes às fases de ensino das relações condicionais, empelo menos uma das fases do procedimento, e que oparticipante P5 repetiu de cinco vezes as três fases dasEtapas 1 e 3. Nenhum participante do Grupo 2, que passoupelo ensino da contagem, foi submetido a mais de um blocode ensino em cada fase.

Na Tabela 3 estão representadas as porcentagensde acertos dos participantes dos Grupos 1 e 2 nos testesdas relações B-C, C-D, C*-C e teste de equivalência. Emrelação ao teste de simetria, observa-se, nessa tabela, quesomente três participantes do Grupo 1 (P3, P4 e P5)apresentaram porcentagens inferiores a 90% de acertos.Todos os demais participantes desse grupo e todos os doGrupo 2 acertaram mais de 90% das relações de simetria.

No teste de transitividade/equivalência, asporcentagens de acertos de P1 e P4 do Grupo 1 foramacima de 90%, mas P3 e P5 apresentaram as porcentagensmais baixas (63,88%) de todos dos dois grupos. Osparticipantes do Grupo 2, no teste de equivalência, atingiramporcentagens de acertos superiores a 90%, com exceçãode P8, que acertou 88,8% das relações testadas. Essaporcentagem pode, no entanto, ser considerada comoestando de acordo com o critério.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 227

Tabela 2.Número de blocos de ensino requeridos pelos participantesdos Grupos 1 e 2 em todas as fases do ensino das relaçõescondicionais. As Fases 1 das três etapas continham relaçõescom valores numéricos de 1 a 3; as Fases 2, valores de 4 a 6e as Fases 3, de 1 a 6. Os traços significam que o participantenão necessitou o ensino daquela fase.

Fas

es

1

2 3

1

2

3

1

2

3

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art

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1

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- -

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1

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- -

- -

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1

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1 -

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1

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1

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1 1

1

1

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1

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1

1

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1

1

2

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1

1

1

1

1

1

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228 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Discussão e Considerações Finais do EstudoO estudo descrito no presente capítulo, que foi

desenvolvido com pré-escolares de 3 a 4 anos, teve comoobjetivo investigar se a contagem afeta a probabilidade deformação da classe de equivalência que caracteriza oconceito de número. O resultado dos testes de B-C, C-D,C*-C e dos testes de transitividade/equivalência permitemafirmar que P1, P4, P6, P7, P9 e P10 formaram as classesde equivalência e que, de forma geral, todos osparticipantes dos Grupos 1 e 2 apresentaram um aumentona porcentagem de acertos no pós-teste em relação aopré-teste, mesmo aqueles que não conseguiram formaras classes de equivalência. As menores porcentagens deacertos se concentraram nas Partes 2, 3 e 4 do pré-testepara ambos os grupos. Esse resultado do pré-tese sugereque crianças de 3 a 4 anos não apresentam todas as

Grupos Participantes

Teste das relações B-

C,

C-D, C*-C

Teste de

Transitividade/

Equivalência

P1 97,6 94,4

P2 92,8 86,1

P3 83,3 63,8

P4 85,7 100

1

P5 71,4 63,8

P6 90,4 94,4

P7 90,4 91,6

P8 95,2 88,8

P9 95,2 97,2

2

P10 97,6 97,2

Tabela 3.

Porcentagens de acertos nos testes de simetria e equivalência

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 229

relações pré-requisitos do conceito de número que envolveos numerais de 1 a 6.

A comparação dos dados dos dois grupos sugereque três participantes do Grupo 1 (P2, P3 e P5), nãoconseguiram formar as classes de equivalência deestímulos. Esses participantes demonstraram, no pré-teste, a nomeação de apenas alguns dos numerais de 1a 6, apresentando porcentagens inferiores a 70% deacertos em relações que envolviam esses numerais. Issoindica que a execução do procedimento de escolha deacordo com modelo parece ter sido insuficiente paraensinar a relação número impresso/conjunto, quando arelação numeral/nomeação não estava bemestabelecida. Por outro lado, os participantes que foramsubmetidos ao ensino da contagem, mesmo não sendocapazes de nomear os numerais, conseguiram, no finaldo procedimento de ensino, discriminar e nomear essesestímulos.

É importante ressaltar que o desempenho inicialdos participantes que compuseram o Grupo 2, excetono caso de P8 e P9, foi melhor do que os do Grupo 1 eisso pode ter interferido nas diferenças do desempenhodos dois grupos no pós-teste tornado os resultadosinconclusivos. No entanto, embora houvesse essadiferença inicial, os resultados individuais parecem indicarque todos os participantes apresentaram aumento nasporcentagens de acertos em uma ou mais partes do pós-teste. Os desempenhos individuais indicam que osparticipantes que passaram pelo ensino de contagemapresentaram um aumento maior de desempenho emcomparação àqueles que foram submetidos somente aoprocedimento de escolha de acordo com modelo. Comoexemplos podem ser citados os dados do P4 (Grupo1) edo P9 (Grupo 2), que acertaram, na Parte 3 do pré-teste,50% das relações testadas e no pós-teste, 91,6% e 100%de acertos, respectivamente.

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230 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

O número de blocos do procedimento de escolhade acordo com modelo requerido pelos participantes éoutro aspecto a ser considerado para análise. Osparticipantes que foram submetidos ao ensino dacontagem (Grupo 2) necessitaram ser submetidosapenas uma vez à fase de ensino do procedimento deescolha de acordo com modelo, enquanto que osparticipantes do Grupo 1 repetiram até cinco vezes omesmo procedimento. As diferenças entre o número derepetições das fases e as porcentagens de acertosindicam que a inclusão da contagem como elemento darede de relações favoreceu as demais discriminaçõesenvolvidas na rede. Isso provavelmente ocorreu porqueesse ensino expunha o participante a algumas relações,como, por exemplo, às relações CD (conjuntos enomeação/contagem) e BD (numerais impressos enomeação/contagem) durante a contagem, que eramensinadas, subsequentemente, por meio doprocedimento de escolha de acordo com modelo. Assim,o ensino da contagem envolveu relações entre numeraise conjuntos, possibilitando ao grupo que realizou acontagem uma maior oportunidade de aprendizagem dasrelações entre esses estímulos e, provavelmente,possibilitou que os participantes que não eram capazesde nomear os numerais, no final do procedimento deensino, discriminassem e nomeassem esses estímulos.

Nos testes de simetria e de transitividade/equivalência também há diferença nas porcentagens deacertos dos dois grupos. Do Grupo 1, somente P1 e P2apresentaram porcentagens superiores a 90% de acertosno teste de simetria e do Grupo 2 todos os participantesacertaram acima de 90%. O mesmo se deu no teste detransitividade/equivalência: P1 e P4 (Grupo 1), e P6, P7,P9 e P10 (Grupo 2) acertaram mais de 90% das relaçõestestadas.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 231

Os resultados permitem ainda considerar umaspecto adicional relacionado à faixa etária dosparticipantes do presente estudo, que era de 3 a 4 anos,em comparação ao estudo de Haydu, Carvalho e Portela,(2002), que era de 5 a 6 anos. Durante a coleta de dados,verificou-se que alguns dos participantes de 3 a 4 anosrespondiam à maior parte das relações testadas. Essedado permite inferir que mesmo antes de seremsubmetidas ao ensino formal, as crianças aprendemnoções de maior e menor, longe e perto e até mesmorecitar numerais. Seis participantes que realizaram o pré-teste não foram incluídos no estudo porque atingiram umaporcentagem superior a 70% de acertos em todas aspartes.

No presente estudo, observou-se que osparticipantes aprenderam relações que fazem parte dacontagem como: comparação e ordenação de conjuntos,nomeação dos elementos, recitação de sequênciasnuméricas e montagem de conjuntos com elementosdistintos. Esse dado permite sugerir, como foi feito porTeixeira (2010), que esse tipo de repertório deve serensinado, pois são pré-requisitos de aprendizagens maiscomplexas. No entanto, deve-se considerar quenumerosidades 1, 2, 3 e possivelmente, 4 sãodiscrimináveis sem o recurso à contagem (Barbosa,2007), de modo que esse comportamento deve ter tidofeito, principalmente, nos casos que envolveram asnumerosidades 5 e 6, o que indica que em estudosfuturos esse aspecto deva ser controlado, aumentandoos números até 9, por exemplo.

Pode-se concluir que o presente estudo permitiuidentificar os efeitos da contagem sobre o responder arelações de equivalência que compõem o conceito denúmero. Os participantes submetidos ao ensino dacontagem apresentaram porcentagens de acertos

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232 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

superiores aos que não participaram desse ensino. Aintrodução de um procedimento de ensino da contagemrealmente parece acelerar a aprendizagem das demaisrelações numéricas, conforme sugerido por Carmo eGalvão (2000). Isso provavelmente ocorre porque acontagem facilita a discriminação condicional dosnumerais, contribuindo para o aprendizado da classe deresposta mais ampla – o conceito de número. Além disso,foi possível reafirmar a eficiência do procedimento deescolha de acordo com o modelo no ensino decomponentes envolvidos no contar, bem como a utilidadedo procedimento para detectar as possíveisnecessidades individuais de aprendizagem. Isso foidemonstrado por meio da identificação das relações queos participantes apresentam, das ausentes e/ou das quenão foram bem estabelecidas durante o processo deaprendizagem, como foi feito nos estudos de Oliveira,Carvalho e Figueiredo (2001).

Conclui-se que o ensino da contagem favoreceu aaquisição do conceito de número. A contagem, quandoensinada como mais um elemento da rede relacional,proporcionou a nomeação dos elementos, recitação desequências numéricas e formação de conjuntos comelementos distintos. Dessa forma, a inclusão dacontagem como um dos elementos que participa da redede relações parece contribuir tanto no aprendizado dasdemais relações da rede como na formação do conceitode número, corroborando os estudos de Gonzáles eGarcia (1984), e Carmo e Galvão (2000). Sugere-se queestudos adicionais sejam realizados em que haja umadistribuição mais equilibrada do repertório de entrada dosparticipantes nos diferentes grupos e que sejamrealizados estudos com, numerosidades maiores do queas usadas no presente estudo (por exemplo até nove)para que os dados mais conclusivos possam ser obtidos,

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 233

uma vez que numerosidades até quatro sãodiscrimináveis sem o recurso da contagem.

Referências

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234 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 235

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3

Contribuiçõespara processos de

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238 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

CAPÍTULO 9

Este capítulo aborda aspectos a considerar naeducação de surdos. Para tanto discute os princípiosda Análise do Comportamento referentes aoplanejamento de ambientes de ensino, aplicando-osà aprendizagem de surdos.

Seus autores são Priscila Giselli SilvaGuimarães (UFPA), Ruth Daisy Capistrano de Souza(Faculdades Ipiranga) e Grauben José Alves de Assis(UFPA). Os aspectos que abordam incluem oplanejamento do ambiente físico – a sala de aula – demodo a ampliar o controle de estímulos. Apresentamtambém o planejamento, a programação e a avaliaçãode repertórios, tendo sempre como referência orepertório individual . Trazem as contribuições doparadigma de equivalência, do paradigma de relaçõesordinais e do ensino individualizado.

Trata-se, portanto, de uma proposta inclusiva,pois a consideração destes elementos no ensino é aefetiva consideração da aprendizagem do surdo,analogamente ao que se faz com aprendizes queouvem. A leitura deste capítulo, ainda que dedicada àquestão da educação de surdos, enriquece oentendimento da aplicação dos princípios da Análisedo Comportamento à educação em geral.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 239

Contribuições da análise docomportamento para a educação

de surdos

Priscila Giselli Silva MagalhãesUniversidade Federal do Pará;

Ruth Daisy Capistrano de SouzaFaculdade Integrada IpirangaGrauben José Alves de AssisUniversidade Federal do Pará

Atualmente há uma preocupação com a educaçãode pessoas surdas que tem fortalecido o engajamento dediversos setores, levando a avanços político-sociais-educacionais, uma vez que têm permitindo ações deenfrentamento às dificuldades que o surdo tem passadonas práticas pedagógicas.

Em relação à educação de surdos, há umadiversidade de propostas, com diferentes enfoquesmetodológicos e baseadas em abordagens teóricasigualmente diversificadas.

No estudo de Bisol, Simioni e Sperb (2008) foiconduzido um levantamento no período entre 1995 e 2005em periódicos nacionais de estudos de Psicologia sobresurdez. Os autores deste estudo destacaram que o interesseda psicologia pela surdez está muito relacionado com oconceito sócio-antropológico de surdez. A predominânciadesse conceito, segundo os autores, está marcada pelaconsideração da surdez como algo mais complexo que adeficiência sensorial em si. Portanto, nota-se uma visão nãopatológica de surdez, com frequentes conclusões queenfatizam o desenvolvimento de pessoas com surdezquando dadas as condições sociais e educativas adequadas.

Ainda no estudo de Bisol e cols. (2008) identificou-seque as temáticas de maior interesse são: 1) linguagem e a

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240 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

língua, em que os autores associam a aquisição da línguade sinais com o desenvolvimento cognitivo do surdo eapontam para as diferenças entre os processos derepresentação e construção de significado pelos ouvintese pelos surdos, devido à diferença entre língua oral e línguade sinais; 2) desenvolvimento cognitivo, em que sãoabordados o uso da metacognição para o desenvolvimentocognitivo de crianças surdas e a capacidade dos deficientesauditivos oralizados e usuários de língua de sinais deresolver problemas silogísticos em comparação com acapacidade dos ouvintes; e 3) relações familiares, tais como,a preocupação com a qualidade das interações entre paisouvintes e filhos surdos, a importância de se compreendera dinâmica e a estrutura familiar e o impacto do nascimentode uma criança surda na família. A interface da psicologiacom a educação é pouco explorada e envolve basicamentea inclusão de alunos surdos em escola regular.

Nota-se que os trabalhos possuem em comum ofato de problematizarem os métodos de ensino e sãotrabalhos interessados na relação entre a psicologia, aeducação especial e o bilinguismo na relação entreespecialistas ouvintes e sujeitos surdos na identidade ena família. Portanto, as propostas vigentes na educaçãodo surdo, embora apresentem alguns avanços, aindacarecem de uma metodologia rigorosa e definiçõesconceituais mais seguras no campo da aprendizagem quepossibilitem a aplicação dos conhecimentos produzidos.

O presente ensaio busca oferecer um panoramadas contribuições da Análise do Comportamento para ocontexto educacional e apresentar possíveis aplicaçõesda tecnologia resultante desse campo conceitual para aeducação do surdo.

Conceitos básicos da Análise doComportamento para a educação

A Análise do Comportamento (AC) baseada nobehaviorismo radical de Skinner (1985) estabelece que a

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aprendizagem envolve mudanças no comportamento doorganismo, que ocorrem devido a mudanças no ambiente,com o qual o organismo interage, o que levam à emissãode novos comportamentos. A aprendizagem a partir dessemodelo conceitual ocorre através da seleção docomportamento pelas consequências (Skinner, 1985).

Para os analistas do comportamento, o comportamentooperante é aquele que opera sobre o ambiente, modificando-o de algum modo. Esta modificação, como uma consequênciado próprio comportamento, opera de volta sobre ele, alterandosua probabilidade de ocorrer novamente em situaçõessemelhantes.

Segundo Skinner (1972) a aprendizagem nocontexto de sala de aula se dá pelo mesmo processo,pelas consequências das ações dos indivíduos. Skinner(1980) ainda amplia sua análise ao propor que a relaçãoentre organismo e ambiente não é uma relação estática,mas devem-se considerar as constantes interações entreos mesmos. Estas interações envolvem as contingênciasde reforçamento.

A definição da expressão contingência dereforçamento envolve para Skinner (1980) uma formulaçãoadequada da interação organismo-ambiente em quesempre deve-se especificar a ocasião na qual a respostaocorre, a própria resposta e as consequências por elaproduzidas. As relações entre esses três elementosconstituem as contingências de reforçamento, assimdenominadas devido ao provável efeito da consequênciaaumentar a probabilidade de ocorrência de uma respostasemelhante àquela que produziu uma dada consequência.

Princípios da AC no planejamento deambientes para a aprendizagem de surdos.

De acordo com os princípios da AC e com assugestões das possíveis aplicações desses princípios noambiente escolar pretende-se descrever alguns aspectos

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importantes que podem ser utilizados por professores naorganização de contingências que facilitem aaprendizagem. Tais como: 1) O planejamento do ambientefísico (sala de aula) de forma a ampliar o controle deestímulos; 2) Planejar a partir do repertório inicial de cadaindivíduo; 3) Programar repertórios; 4) Avaliar repertórios;5) O paradigma de equivalência; 6) O paradigma derelações ordinais; e 7) ensino individualizado.

Cada um destes aspectos será detalhado a seguir:

1. O planejamento do ambiente físico (sala de aula) deforma a ampliar o controle de estímulos

Iniciativas no processo educacional têm conduzidopráticas para as adaptações do espaço físiconecessárias a aquisição da aprendizagem, bem como,os recursos materiais acessíveis a elaboração dasatividades de forma a garantir a eficiência daaprendizagem.

Para Zanotto (2000) na perspectiva da Análise doComportamento, a aprendizagem requer a análise cuidadosade três aspectos: 1) os reforçadores, disponíveis ou adisponibilizar por meio de operações apropriadas, porexemplo, conhecer as preferências dos alunos; 2) o repertóriocomportamental do aluno, ou seja, aquilo que ele já sabefazer; e as contingências de reforçamento mais adequadaspara fortalecer comportamentos compatíveis com osobjetivos pretendidos, como por exemplo, a identificação dasconsequências que mantêm seus comportamentos.

Ao se fazer uma relação destes aspectos com oambiente escolar, o que geralmente se observa é a atribuiçãoao aluno e às suas características individuais aresponsabilidade pela falha na aprendizagem (como porexemplo, déficit de atenção, baixo desempenho acadêmico,problemas comportamentais). Mas, de acordo com a AC oaluno está sob a responsabilidade direta do educador e, senão aprende, não é somente porque “não sabe”, “não

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consegue”, “é deficiente”, ou possui “atraso em áreas do seudesenvolvimento”, mas por que o educador pode não estarutilizando métodos, técnicas e recursos apropriados para oensino, ou ainda, não conhece estes métodos porque nãoteve a oportunidade de receber formação para o ensino deconteúdos específicos (Rossit & Zulliani, 2003; Skinner, 1972).

Skinner (1972) também enfatiza que uma tecnologiado ensino pode resolver muitos problemas criados pelasdiferenças individuais, suplementando histórias ambientaisdeficientes e assegurando-se de que as contingênciaseducacionais estão completas e são eficazes. Portanto,a educação de acordo com esse modelo não deve serpadronizada. Ao contrário, deve-se descobrir e valorizaras diferenças próprias. Se for baseada em uma sábiapolítica, será também capaz de planejar contingênciasambientais que darão lugar a mais promissora diversidade.

Então, devem-se considerar as diferentes históriasde aprendizagem, avaliando-a de forma contínua,permanente e individual. Processo inverso parece acontecerna educação do surdo, que até então tem ocorrido de formapadronizada para estes, geralmente, sem se levar em contaas dificuldades e/ou avanços individuais.

Dificuldades também podem ser verificadas quandohá um fraco controle de estímulos, pois discriminarestímulos e eventos do ambiente é fundamental parapraticamente todos os aspectos da vida diária de indivíduoscom déficit cognitivo, com dificuldades de aprendizageme/ou com deficiência. Professores em sala de aula,terapeutas, pais e profissionais envolvidos com o cuidadodireto desses indivíduos frequentemente aplicamprogramas de ensino como um meio de instalarhabilidades discriminativas. Geralmente, observa-se autilização de atividades manipulativas sobre tabuleiros, queenvolvem jogos manuais ou informatizados e atéinstruções verbais estabelecendo relações entre símbolos

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de comunicação e seus referentes. Os instrutores tentaminstalar e manter controle de estímulos sobre ocomportamento dos estudantes que ocorre na presençade estímulos relevantes, ou seja, aqueles estímulos querealmente chamam a atenção do aluno (Serna, Lionello-DeNolf, Barros, Dube & Mcllvane, 2004). Por exemplo, nocaso de alunos surdos o professor pode utilizar estímulosvisuais chamativos, como figuras ou ilustrações emtamanho grande, figuras coloridas, vídeos, além de ao falare gesticular fazer isso de forma expressiva, com o uso deexpressões faciais e localizar-se em uma posição quegaranta a visualização dos sinais emitidos.

2. Planejar a partir do repertório inicial de cada indivíduo,saber estabelecer objetivos comportamentais

Vê-se que há necessidade de se planejar de formaa garantir que o professor, ao utilizar os recursosnecessários a uma aprendizagem eficaz, primeiramenteconheça o repertório comportamental do aluno,identificando o que o aluno já conhece para ensinar novoscomportamentos (Skinner, 1972; Zanotto, 2000).

Nesse contexto, identifica-se a importância do papelativo ao aluno no processo de aprender, já que ao agirele produz as consequências que determinam seupróprio comportamento, e ao atribuir ao professor a tarefade planejar e dispor as condições que tornem prováveisos comportamentos que quer ensinar ao aluno, a análisedo comportamento coloca uma condição adicional parao planejamento eficaz do ensino: o conhecimento,mesmo que parcial, pelo professor, de cada um de seusalunos e das diferenças significativas entre eles, no quediz respeito aos comportamentos possivelmente jáaprendidos e às variações na suscetibilidade aosreforçadores disponíveis na situação de ensino (Zanotto,2000). Portanto, ao conhecer o aluno, o professor podeplanejar cuidadosamente os passos envolvidos no ensinoe fazer com que este seja realmente eficiente. Isto

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significa conhecer o que o aluno já sabe fazer como pontode partida para o planejamento do que será ensinado.

3. Programar repertórios

Skinner (1972) evidencia algumas peculiaridadessobre a educação quanto à coerência de suas análises.Os temas abordados são basicamente os mesmos. Doponto de vista do aluno: a ênfase na sua atividade, anecessidade de se respeitarem seu ritmo próprio e suahistória de vida, um planejamento capaz de tornar aaprendizagem algo reforçador (aí implicada a eliminaçãode todo e qualquer uso de contingências aversivas) egarantir um ensino que promova o indivíduo cada vez maiscapaz de gerenciar sua aprendizagem e de prescindir deintermediários. Do ponto de vista do professor, a ênfasefoi sempre a de conceber sua atividade como planejada,orientada e avaliada em função do aluno.

A partir de então, pode-se inferir que o planejamentoda dinâmica escolar precisa atender a sua funcionalidadeno que diz respeito a relação ensino e aprendizagem eas condições próprias em garantir a ação docenteconsiderando o cotidiano e a cultura do aluno, pois taispreocupações podem facilitar esta relação.

Portanto, para Skinner (1972) educação pode serdefinida como:

(...) o estabelecimento de comportamentos queserão vantajosos para o individuo e para o grupoem um tempo futuro. O comportamento finalmenteserá reforçado em muitos dos modos que jáconsideramos; entrementes os reforços sãoarranjados pela agência educacional com opropósito de condicionamento. (...) A educação dáênfase à aquisição do comportamento em lugarde sua manutenção (p. 437).

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Assim, entende-se que Skinner (1972) propõe queo reforço educacional pode tornar alguns tipos decomportamentos mais prováveis em determinadassituações preparando o indivíduo para situaçõessemelhantes no futuro, ou seja, os comportamentos quese pretendem ensinar no contexto educacional deveriamser ampliados para outras situações do cotidiano doindivíduo.

Mediante esse contexto, considera-se que para aocorrência de um ensino eficaz, alguns requisitos sãonecessários: (1) Especificar completamente ocomportamento que se deseja ensinar, ou seja, definiçãode metas e objetivos a serem alcançados diante dashabilidades que se pretende desenvolver junto ao aluno;(2) Reforçar imediatamente comportamentos-objetivo,para que se possa garantir a aquisição desses; (3) Reforçarapenas aquelas respostas efetivamente apresentadaspelo aluno, de forma a oportunizar e exigir respostas domesmo e usar situações de aprendizagem naturalmentereforçadoras; (4) Usar sempre o princípio de progressãogradual para estabelecer repertórios complexos, para queo aluno alcance de forma sistemática e independente umbom desempenho; (5) Escolher cuidadosamente assituações antecedentes de ensino-aprendizagem, ou seja,deve-se atentar para àquelas que facilitam aaprendizagem; (6) Programar e monitorar respostas deobservação e de imitação pelo aluno, a fim de se escolherum bom material visual e verbal que garanta tanto odomínio do conteúdo quanto a atenção do aluno; (7) Evitarsituações que levem o aluno a cometer erros, pois,situações em que se cometem erros, podem gerar efeitosemocionais que podem deteriorar a aprendizagem; (8)Observar o aluno e permitir que elabore seu próprioprograma de aprendizagem, de forma que o mesmodemonstre ser capaz de descrever o que sabe, o quegosta, o que pode fazer. Portanto, parece ser tarefa do

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professor atentar ao desenvolvimento do processo deensino e de aprendizagem, com o objetivo de se precaverquanto à ocorrência de respostas que possam apontarpara a possibilidade de um fracasso escolar, ou mesmoresultar em efeitos não planejados do uso do controleaversivo (Matos, 1993).

Skinner (1972) considera que a educação deve servista como a principal responsável nesse processo deaprendizagem, na medida em que há um planejamentoeducacional através de contingências estrategicamentearranjadas para a aquisição de certas habilidades, demaneira mais rápida e eficaz do que as contingênciasdo ambiente natural do indivíduo.

Nas palavras do próprio autor:

O ensino é um arranjo de contingências sob asquais os alunos aprendem. Aprendem sem seremensinados no seu ambiente natural, mas osprofessores arranjam contingências especiais queaceleram a aprendizagem, facilitando oaparecimento do comportamento que, de outromodo, seria adquirido, vagarosamente, ouassegurando o aparecimento do comportamentoque poderia, de outro modo, não ocorrer nunca.(p. 62)

Dessa forma, a partir da contribuição conceitualda AC para a educação, faz-se necessário questionar:Os programas de ensino vigentes na educação têmprocurado desenvolver uma tecnologia de ensino eavaliação voltada para aqueles, especialmentedeficientes, que têm apresentado defasagens nocurrículo escolar? E dificuldades de aprendizagemapresentadas. Esses e outros questionamentos têmocorrido de forma inquietante entre os pesquisadores nabusca de produzir programas que atendam asnecessidades dessa população.

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Assim, dificuldades de aprendizagem apresentadaspelo surdo estariam relacionadas a que fatores? Comoplanejar um ensino eficiente para crianças com estascaracterísticas? Qual (is) tecnologia (s) de ensinoapropriada? Que condições próprias de aprendizagemestariam ocorrendo? Quais os fatores que estariamcontribuindo como reforçadores para as respostasenvolvidas na aprendizagem do surdo? Como promovera qualificação do professor? Quais os pré-requisitosnecessários à aprendizagem? Mediante tais reflexões,parece ser conveniente verificar quais os entendimentosque a análise do comportamento vem trabalhando junto àeducação, sobre as condições de aprendizagem quepossam contribuir para uma eficiência de resultados. Taisquestionamentos estarão sendo tratados a seguir.

4. Avaliar repertórios

A avaliação tradicional de habilidades acadêmicastem comumente sido utilizada no processo educativo,resumindo-se basicamente a testes e atribuição de notasque, em geral, não identificam o que de fato pode estarafetando a aprendizagem dos alunos nem tampoucoparecem oferecer medidas de acompanhamento erestabelecimento de seus desempenhos.

Assim, contrariando este modelo tradicional deavaliação, a AC propõe um modelo de avaliação individualchamado de pré-teste-ensino-pós-teste que,inicialmente, identifica as habilidades já apresentadaspelo aluno por meio de testes, em seguida, apresentaroteiro de ensino com base nestas habilidades pré-requisito e, por fim, reaplica os testes iniciais com oobjetivo de verificar se ocorreram mudanças nodesempenho do aluno. Portanto, a medida decomparação do indivíduo passa a ser ele mesmo, o quepossibilita a verificação do desempenho inicial, durantee após a aprendizagem. Por exemplo, no ensino de cores,

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o professor poderá, inicialmente (pré-teste), disponibilizarvárias tarefas para identificar se o aluno conhece corese, se as conhece, quais. Estas tarefas de pré-testepodem envolver: a apresentação de cartões coloridos esolicitar que o aluno diga o nome da cor diante de cadacartão e apresentar brinquedos com diferentes cores esolicitar que o aluno pegue o brinquedo conforme a corsolicitada, fazendo isso com cada brinquedo. Emseguida, para o ensino de cores não conhecidas peloaluno, o professor fará a correspondência entre cores,objetos e palavras (impressas ou sinalizadas). Por fim,o mesmo teste aplicado inicialmente será reaplicado paragarantir se houve aprendizagem.

5. O paradigma de equivalência

Uma das contribuições teóricas mais atuais daAnálise Experimental do Comportamento refere-se aoparadigma de equivalência de estímulos (cf. Sidman,1994). A importância para a Análise do Comportamentodeve-se ao seu potencial de compreensão docomportamento humano complexo, principalmente acompreensão do simbolismo e da linguagem e,especialmente por suas aplicabilidades no ensino.

Desde o trabalho já clássico na literaturaapresentado por Sidman (1971) em que, após o ensinode relações condicionais através do procedimento deescolha com o modelo (matching to sample - MTS),demonstrou-se que relações equivalentes entreestímulos auditivos e visuais são pré-requisitossuficientes para a emergência de leitura comcompreensão, a aplicabilidade do paradigma deequivalência no desenvolvimento de repertórioslinguísticos e no ensino de habilidades acadêmicas temrecebido grande atenção por parte dos analistas docomportamento.

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Também existem importantes contribuições para acompreensão do comportamento conceitual numérico,produzindo vários estudos, especialmente com pessoasque apresentam atraso no desenvolvimento cognitivo(Lynch & Cuvo, 1995; Rossit & Goyos, 2005), pré-escolares (Drachenberg, 1990; Monteiro & Medeiros,2002), alunos do ensino fundamental (Donini, Del Rey, &Micheletto, 2006; Haydu, Costa, & Pullin, 2006), sem fazeruso de qualquer mediação verbal.

As investigações sobre as variáveis deprocedimentos para o ensino de relações complexas emcrianças surdas, entretanto, têm sido raras na literaturada Análise do Comportamento, especialmente usando oparadigma de equivalência de estímulos (cf. Sidman, 1994).Alguns estudos (Elias, 2007; Magalhães, 2010; Sella, 2009;Verdu, 2004; Williams, 2000) documentaram achadosexperimentais sobre o tema usando esse paradigma.

Especificamente no ensino de pessoas surdasdestaca-se o trabalho pioneiro de Williams (2000) o qualinvestigou a formação de uma classe numérica equivalentecom crianças surdas. Os objetivos deste trabalho foramreplicar dados de pesquisas anteriores sobre equivalênciade estímulos em participantes surdos e desenvolver ummétodo eficiente de ensino da matemática para estascrianças utilizando a Língua Americana de Sinais. Osparticipantes foram quatro crianças surdas com idadeentre 4 e 8 anos que apresentavam dificuldades com todosos números abaixo de 10. O procedimento evolveu oensino dos numerais de 1 a 6 na Língua Americana deSinais (ASL), e os participantes deveriam estabelecer arelação entre os numerais hindu-arábicos de 1 a 6, nomesescritos dos números e as quantidades correspondentes,através de testes. De forma geral, os participantesapresentaram desempenhos consistentes com o treino eeste estudo trouxe contribuições quanto à possibilidadedo ensino de comportamento conceitual numérico a

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indivíduos surdos utilizando somente a modalidade visualno procedimento MTS, a partir do acréscimo de elementospróprios da linguagem de sinais.

Estudos com deficientes auditivos que receberamimplante coclear têm sido realizados adotando o modelodas relações de equivalência e demonstram que estesparticipantes têm aprendido discriminações auditivo-visuais por meio do procedimento de MTS, e entreestímulos visuais e essas relações compartilham derelações de equivalência. Como estímulos auditivos, têmsido adotados palavras convencionais, pseudopalavrase estímulos elétricos (pulsos aplicados no implante);como estímulos visuais, têm sido adotadas figurasgeométricas e formas não representacionais.

No primeiro estudo, conduzido por Verdu (2004), comcrianças com deficiência auditiva submetidas ao implantecoclear, o objetivo foi verificar a aquisição de funçõessimbólicas por estímulos sonoros linguísticos. Participaramdo Estudo 1 sete crianças pós-linguais (perda auditivadepois da aquisição da linguagem). Inicialmente, foramconduzidos um pré-treino e um pré-teste. Em seguida, foramensinadas as relações condicionais auditivo-visuais entrepalavra falada e figura correspondente (AB e AC). Foramconduzidos testes de formação de classes (BC e CB),seguidos pelos testes de nomeação (BD e CD) e decomportamento ecóico (AD). Seis participantes aprenderamas relações ensinadas envolvendo pseudopalavras e quatroatestaram 100% de precisão nos testes de formação declasses. Houve emergência de nomeação para a maioriados participantes e no ecóico houve mais acertos napresença de pistas orofaciais. O Estudo 2 teve como objetivoreplicar os resultados do Estudo 1 em participantes pré-linguais (perda auditiva antes da aquisição da linguagem).Participaram duas crianças que foram submetidas àsmesmas condições experimentais do Estudo 1. Ambasaprenderam as relações ensinadas (AB e AC), porém

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apenas uma delas atestou a formação de classes naprimeira exposição. Os resultados dos testes de nomeaçãoreplicaram os obtidos no Estudo 1. Os resultadosdemonstraram a aquisição de funções simbólicas porestímulos sonoros linguísticos em pessoas que receberamo implante coclear independente do período de aquisiçãoda deficiência auditiva.

Já o estudo conduzido por da Silva e cols. (2006),teve como objetivo estender a metodologia das relaçõesde equivalência no estudo de relações entre estímulossonoros e visuais e funções simbólicas em implantados.Duas crianças pós-linguais e duas pré-linguaisprimeiramente aprenderam relações condicionais entrefiguras (AB e AC) e demonstraram a emergência derelações derivadas, ou seja, de relações simbólicas (BCe CB). Em seguida, uma sequência de cinco pulsos deum segundo foi apresentada via implante coclear e foiconduzido o ensino das relações condicionais DC e,então, foi testado se as funções adquiridas pelo estímulovisual (C) pelo emparelhamento DC seriam estendidaspara os outros estímulos visuais (B e A) pelas relaçõesde equivalência estabelecidas. Os resultados dosparticipantes pós-linguais demonstraram a aprendizagemdas relações envolvendo pulsos elétricos (DC) peloprocedimento de escolha de acordo com o modelo, masnão demonstraram a emergência das novas relaçõesauditivo-visuais (DA e DB). Os participantes pré-linguaissequer aprenderam as relações com estímulos elétricos.Embora o aspecto promissor do estudo tenha sido acondução da pesquisa em controle de estímulos em rotinade hospital e tenha demonstrado emergência de relaçõessimbólicas visual-visual em implantados, o estudo impôsalgumas questões sobre a aprendizagem relacionalenvolvendo estímulos auditivos em surdos quereceberam o implante coclear. Dentre essas questões,destacou-se verificar sob quais condições deficientesauditivos que receberam o implante coclear aprenderiam

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relações auditivo-visuais e demonstrariam relações deequivalência decorrentes dessa aprendizagem.

Almeida-Verdu e cols. (2008) conduziram umasequência de quatro estudos em que avaliou-se opotencial de crianças surdas que receberam o implantecoclear exibirem relações de equivalência entre figuras epalavras ditadas pelo procedimento de escolha de acordocom o modelo. Dez crianças com surdez pré-lingual equatro com surdez pós-lingual foram estudadas e todasaprenderam as relações entre palavra ditada e figura e amaior parte delas demonstrou a formação de classes. Aofinal de cada um dos Estudos 1, 2 e 3, foram conduzidostestes de nomeação de figuras, mas as crianças nãodemonstraram resultados consistentes com os resultadosobtidos nos testes de equivalência. De maneira geral, ascrianças demonstraram a mesma vocalização para asfiguras que foram emparelhadas à mesma palavra ditada,porém a vocalização não fazia correspondência ponto aponto com essa palavra, ditada na fase de ensino.

Esses trabalhos têm sido conduzidos considerandoa possibilidade de fazer pesquisas em controle de estímulodurante o processo de acompanhamento hospitalar apósa cirurgia de colocação do implante coclear em surdos,aliado à necessidade de aprendizagem e expansão derepertório de ouvir em surdos implantados. Isto é, sãotrabalhos voltados para a reabilitação de pessoasdeficientes auditivas.

Sob outra perspectiva, alguns estudos conduzidosno Brasil buscaram ensinar repertórios úteis tantoacademicamente quanto para a vida diária de pessoassurdas utilizando estímulos exclusivamente visuais,principalmente nos casos de pessoas com surdezprofunda em que a estimulação auditiva é pouca ouinexistente.

No estudo de Elias (2007) procedimentos de ensinoinformatizados foram utilizados para o ensino de sinais

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para adolescentes e adultos com surdez e/ou deficiênciamental. O Estudo envolveu quatro experimentos. O autorensinou relações entre sinais e figuras (AB), palavrasimpressas e figuras (CB) e testou as relações inversas.Os resultados demonstram que, de um modo geral,houve emergência das várias relações testadas, masque houve melhor desempenho de sinalização napresença de figuras do que na presença de palavras. Oque demonstra que estimulação visual por figuras exerceuinfluência maior sobre o comportamento de sinalizardestes alunos surdos.

No estudo de Magalhães (2010) buscou-se verificaro efeito de um procedimento de ensino de relaçõescondicionais através do procedimento MTS e CRMTS(escolha com o modelo com resposta construída) sobre aprodução de equivalência monetária em crianças surdas.No experimento 1, participaram 10 crianças surdasdistribuídas em dois grupos experimentais: Crianças commaior repertório matemático (Grupo I) e crianças commenor repertório matemático (Grupo II). Inicialmente, osparticipantes foram submetidos à pré-testes e a um pré-treino de identidade. Em seguida, ao ensino de relaçõescondicionais via MTS entre valores monetários em LIBRASe numerais decimais (AB), e figuras de moedas (AC) efiguras de notas (AD), seguido dos testes de simetria etransitividade. Posteriormente, houve ensino via CRMTSfiguras de notas e numerais decimais (DB’), seguido detestes de simetria e transitividade. No experimento 2participaram 3 crianças surdas e o procedimento foi similarao procedimento utilizado no experimento 1, mas com aintrodução de algumas fases experimentais: 1) tentativasrandomizadas de ensino, ensino de componentesnuméricos e pré-treino de CRMTS. Os resultados obtidosreplicam os resultados da literatura quanto ao ensino dehabilidades monetárias com participantes com atraso nodesenvolvimento cognitivo através dos procedimentos de

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MTS e CRMTS. Entretanto, no CRMTS, os dados de ambosexperimentos mostraram variabilidade no responder nostestes para algumas relações. A autora concluiu que asdiferenças no repertório de entrada dos participantespareceram não interferir na a aprendizagem, isto é, os pré-requisitos devem estar no planejamento das contingênciasde ensino e não no sujeito. O trabalho mostrou-se pioneiroao ensinar repertórios importantes não só academicamente,mas para a vida social e profissional de pessoas surdas.Entretanto, permanece uma lacuna quanto à aprendizagemde relações monetárias com maior nível de complexidadepor crianças surdas.

Os conceitos e métodos da pesquisa deequivalência de estímulos sugerem uma estruturaçãopara análise do desempenho da linguagem e damatemática, envolvendo figuras, palavras impressas,números entre outros e podem ser usados comocomplemento na sala de aula. Para tanto, sugere-sealgumas dicas de como os professores podem trabalharem sala de aula.

• Ensinando através de tarefas de escolha de acordocom o modelo

Neste tipo de tarefa, os professores podemapresentar estímulos que devem estar relacionados umcom o outro e pode apresentar estímulos visuais para oensino, tais como, figuras, palavras impressas, sinaisem LIBRAS impressos ou feitos por ele mesmo, entreoutros. O mais comum é a utilização de cartões comfiguras e cartões com palavras.

Dessa forma, dar-se-á um exemplo de umprofessor que pretende ensinar a leitura de algumaspalavras para seus alunos surdos. Este professor podeapresentar cartões com figuras (A) relacionadas apalavras impressas correspondentes (B), sendo que,

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adotando o que foi sugerido por Skinner (1972) o ensinodeve ser gradual, portanto, o professor pode começarutilizando palavras monossílabas até chegar a palavrastrissílabas ou mais. Isso pode facilitar o controle deresposta no momento da aquisição, ou seja, servem parafacilitar a aprendizagem. Ver exemplo a seguir:

Apresentar alguns cartões com figuras:

Figura 1. Estímulos que podem ser apresentados como modelopelo professor.

E pedir que os alunos apontem a palavracorrespondente em outros cartões:

Figura 2. Estímulos que podem ser apresentados como escolhapelo professor.

As tarefas de escolha de acordo com o modelo parao ensino de leitura também pode envolver os sinais daspalavras. O professor faz/apresentar cartões com um sinalde uma palavra (C) e pede à(s) criança (s) paraescolher(em) e segurar(em) uma figura correspondente (A)de um conjunto apresentado em frente a cada criança. Estatarefa avalia as relações entre os sinais do estímulo modeloe figuras dos estímulos de escolha (CA). Ver exemplo:

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Apresentar alguns cartões com sinais em LIBRASde objetos:

Figura 3. Estímulos que podem ser apresentados como modelopelo professor.

E pedir que os alunos apontem a figuracorrespondente ao objeto em outros cartões:

Figura 4. Estímulos que podem ser apresentados como escolhapelo professor.

A mesma coisa pode ser feita usando sinais comomodelos (C) e palavras impressas (B) como escolhaspara ensinar relações sinal-palavra. Estas tarefas sãodesignadas como escolhas de acordo com o modelo,visual por razões óbvias.

O professor pode verificar se houve aprendizagemconduzindo testes ao apresentar as relações contrárias,isto é, apresentando cartões com palavras impressas epedindo para que o(s) aluno(s) escolha(m) o cartão coma figura correspondente (BA), apresentando cartões comfiguras e pedindo para que o(s) aluno(s) escolha(m) ocartão com/faça(m) o sinal correspondente (AC) eapresentando cartões com palavras impressas e pedindo

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para que o(s) aluno(s) escolha(m) o cartão com/faça(m)o sinal correspondente (BC).

É importante ressaltar que os métodos utilizadosem pesquisa sob a perspectiva da AC e que podem serestendidos ao contexto de sala de aula devemcomplementar o currículo (leitura/matemática/escritaentre outros) que o professor estiver usando e nãosubstituí-lo.

O que o trabalho de equivalência pode oferecer?Uma resposta possível será a de ajudar a concentrar aatenção do professor nos desempenhos individuais,avaliação e a abordagem individual de comportamentosde crianças em atividades separadas. Em situação degrupo, o professor pode monitorar as atividades escritas.No entanto, se ocorrerem erros deve-se verificar a origemdos problemas. Com planejamento, os testes propostospodem levar um certo tempo, mas permitemacompanhamento detalhado dos resultados do ensino.

6. O paradigma de relações ordinais

Inicialmente, faz-se necessária uma definição derelações ordinais, as quais segundo Carmo (2002): “(...)implicam na comparação entre duas situações nãoequivalentes, sejam estas cardinais, ordinais, de medidaou de sequência. Nestas situações, um elementoprecede ou sucede a outro” (p. 187).

Já o termo ordenação vem sendo usado para designarum tipo de responder sequencial na presença de um conjuntode estímulos apresentados de maneira simultânea. Porexemplo, a aprendizagem da classificação dos filhos pelaordem de nascimento. Segundo Assis, Miccione e Nunes(2010), o primeiro filho necessariamente é apontado combase no evento que ocorreu antes, relativamente aos eventosque o sucederam. Aprender a discriminar o ontemrelativamente ao hoje e ao amanhã tem uma funçãoimportante para o repertório social do indivíduo (p. 84).

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A análise da emergência de relações ordinais derivadasdas contingências de reforçamento é importante para acompreensão de sequências complexas como àquelasobservadas na organização de frases e sentenças (para umarevisão mais atualizada sobre o tema, ver Assis, Baptista &Nunes, 2009).

Portanto, estas relações de ordem implicam nacomparação entre duas situações, nas quais um elementoprecede ou sucede outro. Ou seja, organizar objetos em umasequência significa dispor esses objetos com base em umadeterminada ordem. As implicações educacionaisprovenientes desse modelo conceitual são óbvias nocotidiano das pessoas, como no exemplo da gramática, namúsica, na matemática ou nas próprias rotinas da vida diária(cf. Mackay & Fields, 2009).

A seguir alguns estudos experimentais serão descritoscom base no paradigma de relações ordinais.

No Laboratório de Análise do Comportamento eCognição (www.ufpa.br/ppgtpc/lacc), na Universidade Federaldo Pará, trabalhos com surdos têm sido desenvolvidosutilizando o modelo de equivalência de estímulos sequenciais.Um destes estudos foi conduzido por Souza, Assis eMagalhães (2005). No Experimento 1, os autores avaliaramos efeitos de um procedimento de ensino por sobreposiçãode estímulos sobre relações ordinais com cinco criançassurdas. Os participantes deveriam responder a sequênciasde quatro pares de estímulos (com numerosidade)sobrepostos. Em seguida testes de transitividade (seleçãode estímulos discriminativos em pares não-adjacentes) econectividade (responder sequencialmente aos estímulos de2 conjuntos diferentes) foram aplicados. No Experimento 2,três outras crianças surdas foram expostas ao mesmoprocedimento, além de testes de generalização e re-testes.Os participantes de ambos experimentos responderamcorretamente na primeira tentativa aos testes. Os resultadosconfirmaram a eficiência do procedimento de ensino adotado,

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evidenciando que equivalência pode ocorrer mesmo fora dosparâmetros formais de emparelhamento com modelo.

Em um segundo estudo desenvolvido pelo grupo(Souza, Assis, Magalhães & Prado, 2008), cinco criançassurdas foram ensinadas a produzir sequências de estímulospelo procedimento de sobreposição sob controle condicional.O procedimento foi informatizado (REL 5.0 for windows –versão atualizada de Santos, Silva, Baptista & Assis, 1997).Os estímulos arbitrários eram apresentados na tela docomputador e o participante devia selecioná-lossequencialmente (por exemplo: A1’!A2, na presença da corverde e A2’!A1, na presença da cor vermelha). Todos osparticipantes alcançaram o critério de acerto, sendo que, umprecisou de re-exposição às condições de ensino. Emseguida, testes foram aplicados. Nos testes de transitividade,conectividade, transferência de funções e de generalização(estímulos do ambiente natural), todos os participantesresponderam conforme o programado na maioria dastentativas. Os resultados corroboraram a eficiência doprocedimento, sugerindo que a equivalência de estímulossequenciais pode ocorrer sob controle condicional emcrianças surdas.

Mais recentemente, Souza, Assis, Magalhães eGoulart (submetido) realizaram um estudo com o objetivode estabelecer controle contextual sobre relações ordinais.Participaram cinco crianças surdas, matriculadas em umaEscola Pública Especializada, com história experimentalde exposição a controle discriminativo simples e condicional.Utilizou-se o mesmo procedimento de ensino informatizadodo estudo anterior. Os estímulos eram apresentadossimultaneamente aos pares na tela do computador e osparticipantes deveriam selecioná-los sequencialmente sobcontrole contextual do circulo ou triângulo e sob controlecondicional das cores “verde” ou “vermelha”. Foramaplicados testes de transitividade e conectividade. No ensinotodos os participantes alcançaram o critério de acerto,

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porém dois precisaram de mais re-exposições. Todos osparticipantes responderam aos testes de transitividade econectividade. Segundo os autores, os resultados indicarama eficiência do procedimento de ensino por sobreposiçãode estímulos sob controle contextual, sugerindo que oensino sob controle discriminativo simples e condicional(realizados em estudos anteriores com os mesmosparticipantes) foram pré-requisitos para a emergência declasses ordinais sob controle contextual.

• Ensinando através de tarefas de ordenação

Considerando uma situação de ensino de relaçõesordinais em sala de aula pode-se sugerir que o professorutilize materiais, como cartões com figuras, ocomputador, brinquedos de encaixe, entre outros quepossam facilitar a aprendizagem destas relações. Porexemplo, se um professor pretende ensinar relaçõesordinais envolvendo numerais para crianças surdas, elepode disponibilizar cartões com numerais arábicos esolicitar ao participante que aponte qual o primeiro, osegundo e assim por diante. Ver exemplo:

Apresentar os seguintes cartões com numeraisarábicos:

Figura 5. Estímulos que podem ser apresentados para o ensinode relações ordinais envolvendo numerais arábicos.

E perguntar: “Qual é o primeiro?”, “Qual é osegundo?” e assim por diante.

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O professor também pode fazer isso utilizandonumerais em LIBRAS, seguindo as mesmas instruçõesdo exemplo anterior. Ver exemplo:

Figura 6. Estímulos que podem ser apresentados para o ensinode relações ordinais envolvendo numerais em LIBRAS.

A partir desse modelo conceitual de relaçõesordinais, Spradlin (1999) destacou que grande parte docomportamento humano é organizado por sequênciascomportamentais com variações de extensão ecomplexidade que, por regularidade, foi estabelecido pelanatureza do ambiente físico, por treinamento ou porcircunstâncias acidentais. O autor ainda sugere o termo“rotina” para se referir à sequências repetidas deestímulos e respostas topograficamente diferentesenvolvidos em diversas atividades que diariamenterealizamos. Certas rotinas, como escovar os dentes, sãotão estabelecidas que torna-se possível a previsão deseus componentes (pegar o creme dental, abrir a bisnagade pasta, apertá-la e assim por diante).

Em uma situação de sala de aula o professorapresentar cartões com figuras que demonstremsequência lógica de situações cotidianas, como a deescovar os dentes. Observe esse exemplo:

Apresentar cartões com figuras que ilustram asituação de escovar os dentes E solicitar que o alunoordene as figuras na sequência correta:

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Figura 7. Figuras que podem ser apresentadas pelo professorno ensino de sequências de situações do cotidiano.

O professor também pode ensinar diretamente asequência de comportamentos que devem ser emitidosem situações do cotidiano, tais como escovar os dentes,amarrar os cadarços dos sapatos entre outras situações,apresentando reforçadores para cada resposta(modelagem), ou seja, ensinando a sequência passo-a-passo.

Estudos na Análise Aplicada do Comportamentotêm explorado ainda as implicações do procedimento deensino por encadeamento no ambiente institucionalizado(Saunders, 1996; Spradlin, 1999).

Portanto, destaca-se a importância de estudoscom base no paradigma de relações ordinais, já que, osresultados destas pesquisas podem contribuir paraanálise de comportamentos conceituais numéricos e dasintaxe, através da elaboração de procedimentos deensino que envolva relações ordinais, inclusive paraindivíduos que precisam organizar longas rotinas deatividades diárias e apresentam dificuldades naaprendizagem relacional.

7. O ensino individualizado

Skinner (1972) descreve algumas alternativas paraa educação dentre as quais o ensino individualizado e asmáquinas de ensinar. Este ensino envolve basicamente o

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planejamento de contingências em que o aluno aprende,isto é, condições ambientais antecedentes, ocomportamento objetivo e as condições ambientaisconsequentes.

Skinner (1972) deu ênfase à instrução programadaque correspondia a um conjunto de contingências dereforçamento planejado ou programado para um ensinoobjetivado. Assim como a pesquisa em laboratório exigiaequipamentos mecanizados para dispor contingênciasde reforçamento para os animais, a efetivação dainstrução programada requeria a utilização deequipamentos mecânicos que pudessem garantir aapresentação precisa das condições antecedentesselecionadas para o ensino, registro preciso derespostas e apresentação precisa de consequênciasprevistas para os desempenhos dos alunos. Estesequipamentos o autor denominou de máquinas deensinar.

No mesmo período o Sistema de EnsinoPersonalizado (PSI) foi criado pelo professor Fred Keller(1972) e tornou-se bastante popular na década de 70.Em 1979, havia diversos cursos conhecidos baseadosno PSI, um periódico específico para o assunto (Journalof Personalized Instruction) e, de 1973 a 1979, manteve-se em funcionamento no Center for PersonalizedInstruction na Georgetown University.

No PSI, aulas expositivas e demonstrações têmpapel motivacional, em vez de fonte de informaçõescríticas para o transcorrer da disciplina. Cada alunorecebe seu próprio material (manuais, resumos, texto,listas de exercícios, etc.), e é instruído sobre comoconduzir seus estudos, não havendo necessidade deaulas para transmissão do conhecimento. É comum, noPSI, que o aluno participe de uma aula somente apósdominar o conteúdo que será tratado naquela aula.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 265

Este modelo de ensino possui algumascaracterísticas fundamentais: 1) Domínio sequencial doconteúdo, em que o mesmo é dividido em pequenasunidades, o aluno só avança de uma unidade para outraapós demonstrar domínio da unidade anterior e as formasde avaliação da aprendizagem de cada unidade; 2) ênfasena palavra escrita, em que o conteúdo que o aluno deveaprender, bem como as instruções de como fazê-lo, sãopassados a ele em forma de textos e manuais, que podemser acessados pelo aluno nos momentos em que lhe formais conveniente; 3) Ritmo próprio, como a programaçãodo curso não é baseada num calendário acadêmico, ecada aluno recebe seu próprio material, ele pode conduzirseus estudos independentemente do ritmo de seuscolegas e, caso um aluno não atinja os critériosnecessários para passar para uma nova unidade, ele poderevisar o conteúdo e tentar novamente; 4) O papel domonitor é destacado pois durante o curso, sempre que oaluno necessitar, ele pode contar com a ajuda de ummonitor. O monitor, além de prover feedback imediato paraos alunos, sobretudo nos momentos de avaliação dasunidades, fomenta os aspectos sociais do processoensino-aprendizagem.

Considerações FinaisDiante do exposto ao longo deste trabalho pode-se

concluir que não existe um método comportamentalcompleto e fechado para se aplicar nas salas de aula, enem essa era a proposta de Skinner (1972). O que existeé a utilização de uma visão behaviorista de homem parase compreender como uma pessoa aprende e porque elafaz isso, a partir das contingências de reforçamento.

Pode-se dizer que utilizar procedimentosexperimentais pode auxiliar na complementação docurrículo no ensino de surdo, com base em alguns

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princípios e conceitos aqui descritos da AC, como porexemplo, reforçamento positivo, discriminação e controlede estímulos.

Além disso, os trabalhos realizados têm propiciadocompreensão cada vez mais clara sobre os processosde aquisição de leitura/escrita e matemática, permitindoanálises funcionais e estruturais da composição e funçãodas palavras, estabelecimento de relações entre numeraise quantidade, relações ordinais e habilidades monetárias.

O que a AC traz de novo é a forma de programar ospassos de ensino e ainda algumas vantagens: 1) Podemser usados os mesmos materiais que os professoresnormalmente usam, tais como: cartões com figuras,palavras impressas, entre outros ; 2) O ensino pode serindividualizados ou em grupo; 3) O programa pode seradaptado a diversos conteúdos, como a matemática e oensino de Línguas, inclusive a língua de sinais.

Também vale ressaltar que a produção teórica daanálise do comportamento, mais especificamente doparadigma da equivalência e das relações ordinais têmuma série de implicações como: (1) A possibilidade deaplicação dos conhecimentos da AEC em diferentescontextos, principalmente o escolar; (2) A economia noensino, já que, se comparado com o currículo escolarpode-se ensinar relações como matemáticas em umtempo relativamente curto; (3) Procedimentos têmimplicações diretas e muito bem demonstradasexperimentalmente no ensino de leitura, escrita,comportamento matemático; (4) E eficiência deprocedimentos com base nesses paradigmas já foiexperimentalmente demonstrada no atendimento acrianças e jovens deficientes ou com problemas deaprendizagem.

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 267

Pode-se também considerar que as pesquisasnessa área são condizentes com a educação inclusiva,pois consideram e analisam as diferenças entre osaprendizes e isto é importante para buscar procedimentospreventivos que minimizem as dificuldades envolvidas noensino.

As contribuições da AC sobre a importância doensino individualizado também destacam a importânciade se respeitar o ritmo do aluno para que as contingênciasque controlam seu comportamento sejam efetivamenteplanejadas e controladas. Também destaca-se atecnologia de ensino como uma ferramenta naaprendizagem, pois o ensino computadorizado permitemonitorar diariamente o progresso educacional e adetecção no tempo de qualquer modificação necessárianos programas.

Portanto, os princípios apresentados pela AC podemcontribuir significativamente para a educação dos surdos,pois o conhecimento proveniente deste campo teóricopode preparar efetivamente os profissionais que trabalhamno atendimento educacional desses indivíduos. Isto requerque haja iniciativa quanto à formação de professores paraassegurar a revisão de concepções e novos paradigmasna prática educativa, principalmente quanto à inserçãodesse aluno na escola inclusiva, que não tem suprido asreais necessidades daqueles que fracassam na escola.

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272 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

CAPÍTULO 10

Os processos de inclusão escolar de crianças comnecessidades especiais trazem à escola desafiosdiversos. Essas crianças tem o direito de estar na escola etambém de serem eficientemente atendidas por ela. Issopode exigir uma revisão da estrutura da escola, abrindoespaço para a ação de paraprofissionais.

Essa é a proposta deste capítulo, escrito por JaideRegra. Ela propõe meios pelos quais a preparação deparaprofissionais pode ocorrer para que eles desenvolvamintervenções efetivas e preventivas na escola, em apoio aotrabalho da escola e de outros profissionais (notadamenteo psicólogo) que também atendam a estas crianças.

Para isso, começa detalhando o modelo educacionalde intervenção do psicólogo. Este modelo supõe uma açãoeducativa sobre os demais profissionais que atuamdiretamente com a criança. É neste contexto que surge oparaprofissional, “aquele que passa por treinamento, soborientação de um profissional, para aplicar procedimentose/ou outros programas comportamentais em outrosindivíduos”. Jaide passa então a oferecer ao leitor um elencode sugestões e aspectos a serem considerados notreinamento.

As considerações e sugestões que oferece podemser estendidas à formação de pais, de professores e decuidadores em geral. O trabalho com crianças, mesmo odo clínico, sempre implicará, em alguma instância,trabalhar com outras pessoas de relevo na vida da criança.Assim, ao oferecer subsídios para a preparação deparaprofissionais, a leitura deste capítulo interessa a quemquer que trabalhe com o ambiente social de seus clientespara formar neste ambiente agentes de mudançacomportamental.

Maria Júlia Ferreira Xavier RibeiroJoão dos Santos Carmo

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 273

Desenvolvimento de habilidadesbásicas em paraprofissionais:

intervenção e prevenção naescola

Jaíde A. G. RegraConsultório particular

(psicóloga de crianças e adolescentes)

As escolas enfrentam muitos problemas emrelação ao atendimento de crianças que fazem parte doprocesso de inclusão. A lei nº 10.172 de 9 de janeiro de2001, no que se refere ao atendimento em classescomuns, de crianças com determinadas dificuldades, éconsiderada um avanço para a integração de todosindivíduos na sociedade. Favorece o processo deinclusão na medida em que crianças com problemasespecíficos podem conviver na escola comum comoutras crianças tidas como “sem problemas”. Da mesmaforma que essas crianças têm o direito de frequentar asclasses comuns, elas também têm o direito de ter umatendimento eficiente, com intervenções específicas parasuas dificuldades. A escola é uma prestadora de serviçose deve cumprir suas funções. Integrar não é colocar juntofisicamente.

As dificuldades aparecem quando muitas escolas,tendo que cumprir a lei, se descobrem sem estruturapara arcar com tal responsabilidade. Não é possíveldecretar que ocorra um atendimento escolar, comintervenções que melhorem o problema da criança, semgarantir que haja estrutura adequada, com profissionaishabilitados para lidar com esses problemas.

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274 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

Neste trabalho pretende-se destacar um, dentrevários aspectos relacionados à inclusão, para seranalisado, e sugerir formas de atuação do psicólogo, quepossam favorecer o processo de inclusão, com relaçãoao atendimento das necessidades educacionais doaluno.

Em primeiro lugar uma questão de modelos.O Modelo Clínico envolve uma relação um a um,

do psicólogo e seu cliente, ou seja, um terapeuta paraum cliente ou um terapeuta e pequenos grupos. Estarelação é direta: o psicólogo faz intervenções diretas como cliente. Na Orientação de Pais, o terapeuta ensina ospais a aplicarem procedimentos com seus filhos. Nestacondição, dizemos que a relação é direta com os pais eindireta com a criança. Podemos nomear este tipo deorientação realizada indiretamente, como orientação depais, orientação de paraprofissionais, treinamento deparaprofissionais ou ensino para desenvolvimento dehabilidades básicas em paraprofissionais.

No Modelo Educacional temos um psicólogo numaescola ou em qualquer instituição, trabalhando commuitas crianças. Embora citemos a escola comoinstituição, o Modelo Educacional não se define pelo localde atuação, mas sim, pela forma que se faz intervenção.Se este profissional selecionar apenas algumas crianças,consideradas mais problemáticas, para aplicar testes efazer intervenções individualizadas, dizemos que estepsicólogo está fazendo clínica na escola. Ao se usar omodelo educacional, deverão ocorrer intervenções comtodas as crianças da escola de forma indireta, emborapossam haver intervenções paralelas em pequenosgrupos, com dificuldades específicas.

O Modelo Educacional requer um profissional paraum grande número de crianças, onde todas possam serbeneficiadas pelas intervenções. Isto só é possível

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 275

através de uma relação indireta, como mostra a relaçãoabaixo:

Profissional �Paraprofissional � alunos, externose internos de qualquer instituição educacional e de saúde.

No caso de um psicólogo educacional trabalhandonuma escola, teremos uma relação indireta, em que opsicólogo faz intervenções, indiretamente com os alunosatravés dos professores e funcionários da escola. Nestecaso, teremos:

Psicólogo � professores e funcionários da escola� alunos da escola.

O psicólogo ensina os procedimentos (formas deintervenções) aos professores e funcionários, comobjetivos de alterar os problemas de comportamentosdos alunos. Trabalha a interação professor/aluno atravésde um planejamento sistemático. Para isso é necessárioque o psicólogo faça reuniões quinzenais com osprofessores, para levantar as necessidades do grupo,ensinar como fazer análise de comportamento e elaborarprocedimentos para serem aplicados pelos professores,que facilitem as mudanças.

O Modelo Educacional prevê treinamento deparaprofissionais.

De acordo com a proposta da análise docomportamento, o paraprofissional é aquele que passapor treinamento, sob orientação de um profissional, paraaplicar procedimentos e/ou programas comportamentaisem outros indivíduos.

O treinamento, a orientação ou o desenvolvimentode habilidades, prevê ensinar as habilidades básicas

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necessárias à elaboração e aplicação de programascomportamentais.

Este modelo pode ser usado em diferentescontextos como: casa (pais, babás, avós), escolas(professores e funcionários), creches (professores ecuidadores), asilos (atendentes, enfermeiros, médicos),hospitais (enfermeiros, médicos e funcionários) etc.

Ao usar esse modelo o psicólogo necessitaaprender as habilidades de, elaborar programascomportamentais, treinar os paraprofissionais, avaliar osresultados do programa e do desempenho dosparticipantes, quer sejam professores ou alunos. Opsicólogo desempenhará o papel de coordenador deprogramas.

Essas considerações levantam várias questões:

1. Como aprender a elaborar programas:a) o processo de tomada de decisões sobre as metas, segundo

um critério de relevância social;

b) a análise da população participante: professores efuncionários da escola, enfermeiros, cuidadores de crianças,de idosos, pais, atendentes, etc;

c) como elaborar os programas necessários;

2. Como treinar paraprofissionais para aplicar osprogramas.

3. Como avaliar a execução do programa e avaliar osresultados.

Para compreender e lidar com as questões acimaé interessante se reportar aos pesquisadores eidealizadores do ensino programado individualizado. Azzi,Bori e Keller (1964) elaboraram um curso programadoindividualizado com características que levassem emconta os critérios de aprendizagem, em acordo com a

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análise do comportamento, especificando um conjuntode características como se segue:

1) As contingências: é importante a programação dascontingências que aumentem a probabilidade deemissão dos comportamentos que o programadorplaneja estabelecer no repertório do aluno, querindividual ou em grupo.

2) O ritmo próprio do aluno: envolve o tempo em que aaprendizagem pode ocorrer para cada indivíduo. Oimportante é que a aprendizagem ocorra num dadotempo que pode ser diferente de indivíduo paraindivíduo.

3) A motivação para a aprendizagem.

4) O critério de aprendizagem.

5) A definição do objetivo comportamental terminal.

6) A definição dos objetivos comportamentaisintermediários.

7) A sequência de ensino: programação em passos –com estabelecimento de critério de mudança paracada passo.

8) Os procedimentos fundamentados na análise docomportamento.

9) A avaliação dos objetivos intermediários e finais, paraidentificar se a aprendizagem ocorreu.

Procedimentos básicos utilizados naprogramação de contingências1. Reforçamento positivo – é selecionado o

comportamento que se pretende ensinar (ex: vestir ascalças sem ajuda). É dada uma instrução, na presençada qual, se a criança emitir o comportamento, será

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reforçada (com aprovação ou qualquer feedback deque acertou). Se aumentar a frequência de ocorrênciado comportamento, considera-se que ele foi reforçadopositivamente (Madi, 2004).

2. Encadeamento de trás para frente: desdobrando ocomportamento a ser ensinado, numa sequência depequenos comportamentos, que terminam com ocomportamento final. Inicia-se o treino, começando doúltimo elo dessa sequência comportamental, depois pelopenúltimo e assim por diante até chegar no primeiro elodessa sequência comportamental (Hübner, 2004).

3. Esvanecimento (fading): quando é introduzido umconjunto de ajudas para facilitar a emissão de umcomportamento e em seguida, essa ajuda vai sendoremovida gradualmente até que a aprendizagemocorra sem nenhuma ajuda (Medeiros, 2004).

4. Modelagem: é usado o método de aproximaçõessucessivas como parte da técnica de Modelagem. Oscomportamentos podem ser classificados em doisgrupos: as respostas pertencentes ao grupo 1(respostas que se aproximam do comportamentoalvo), são aquelas que ao serem emitidas e seguidasde reforçamento, aumentam a probabilidade deemissão dessas resposta selecionadas. As respostaspertencentes ao grupo 2 (respostas que se afastamdo comportamento alvo) são aquelas que ao serememitidas, diminuem a probabilidade de emissãodessas respostas por não serem seguidas dereforçamento. O procedimento pelo qual se executao método de aproximação sucessiva é denominadoreforçamento diferencial. Quando se reforçadiferencialmente, as respostas do grupo 1 sãoselecionadas para serem seguidas pelo reforçoenquanto que as respostas do grupo 2 não sãoseguidas por esta consequência. Ao mudar

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gradualmente as respostas do grupo 1, seguidas peloreforço, para exigir uma aproximação cada vez maiorda resposta final, algumas rerspostas do grupo 1, nãoseguidas de reforço, vão reduzindo de frequência eas respostas cada vez mais próximas da respostafinal é que aumentam de frequência, até que a novaresposta ocorra. As respostas do grupo 2 entram emextinção (Regra, 2004).

Para desenvolver programas comportamentaisnos deparamos com a questão de como aprender aelaborar esses programas.

Panyan (1974) apresenta um conjunto de sugestõesrelevantes para desenvolver programas comportamentaispara crianças com déficits graves de desenvolvimento oque serve como ilustração para elaboração de outros tiposde programas:

1. Seja específico na formulação de seu comportamentofinal. Descreva a habilidade como por exemplo: “cortaras unhas das mãos” e não “ser asseado”.

2. Faça uma lista dos pequenos passos que constituemo comportamento final. (Preveja passos intermediáriospara cada passo, caso haja dificuldade)

3. Disponha os passos em uma sequência lógica docomeço ao fim.

4. Estabeleça um critério apropriado para a progressãode um passo a outro e para o término do programa.

Exemplos de passos de um programa para ensinara vestir calça (pode ser usado com autistas, criançascom déficits comportamentais e crianças pequenas, paradesenvolver autonomia).

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Passos (Adaptação feita por Martin em 1974, utilizadopara treinamento de atendentes de uma instituiçãopara crianças autistas em Manitoba, Canadá).

1º passo: Vestir as calças na criança parando a uns 8cm da cintura. Dar a ordem: “Levante as calças”

2º passo: Vestir a calça na criança parando nosquadris.”Levante as calças”.

3. Vestir a calça parando nos joelhos.”Levante as calças”

4. Vestir a calça na criança parando nos tornozelos.“Levante as calças”.

5. Colocar as calças sobre os pés da criança. “Vista ascalças”.

6. Colocar as calças na frente da criança. “Vista ascalças”.

Procedimento 4-3-2-1-0Esse procedimento é aplicado em cada um dos

passos acima, da seguinte forma: o primeiro passocontém cinco níveis, iniciando com ajuda total e reduzindogradualmente a ajuda até que o comportamento sejaemitido sem ajuda:

0 – refere-se a ajuda total – coloca-se a mão dacriança sobre o cós da calça que está a 8 cm. da cintura.O aplicador, estando atrás da criança, coloca sua mãosobre a mão da criança; dá a instrução: “Levante ascalças” e ao mesmo tempo levanta as calças,conduzindo a mão da criança para cima, de modo a fazerjunto o movimento requerido. Quando a criança nãocompreende instrução verbal a ajuda total tem comofunção parear a instrução com o movimento, de modo afacilitar a compreensão da criança sobre a tarefasolicitada.

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1 – se refere a redução mínima da ajuda de modo que acriança seja solicitada a fazer algum movimento emdireção a levantar a calça, ao mesmo tempo em quese recebe a instrução: “Levante as calças”.

2 – é oferecido uma ajuda mínima à criança de modoque ela execute o movimento quase sozinha, juntocom a mesma instrução e uma dica física demovimento de mãos para cima, sem tocar na criança.

3 – estando o aplicador de frente para a criança, é dadaa instrução verbal mais detalhada; “Coloque as mãosna calça e puxe. Levante as calças”,

4 – é dada a instrução verbal: “Levante as calças” eespera-se a emissão do comportamento motor delevantar as calças, sem nenhuma ajuda.

Para o ensino de qualquer habilidade é importantedesdobrar em pequenos passos.

Desenvolvimento de habilidades no ensinode paraprofissionais

A descrição de um Curso ProgramadoIndividualizado de Psicologia do Desenvolvimento,ministrado ao 3º ano de Medicina (Regra Nalin, 1975)será usada para introduzir as especificações do cursoprogramado individualizado que podem auxiliar naelaboração do treinamento de paraprofissionais.

É importante descrever os comportamentos doplanejador de um curso que favoreçam a aquisição deum repertório comportamental no aluno. O planejador sedepara com determinadas questões, que quandorespondidas de modo satisfatório, ajudam naespecificação dos comportamentos-alvo.

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Ao planejar o curso sobre Psicologia doDesenvolvimento para médicos, foi necessário aoplanejador perguntar-se:

— O que meu aluno fará quando formado e de que modousará a Psicologia do Desenvolvimento em suaprofissão?

— O que meu aluno fará em sua profissão após adquiriresse novo repertório comportamental?

Respostas a estas questões ajudarão na tomadade decisão sobre os objetivos comportamentais do curso.Qualquer proposta de ensino deve levar em conta estasquestões.

Em 1972 a disciplina Psicologia doDesenvolvimento fazia parte do currículo obrigatório doaluno de 3º ano do curso de medicina da Santa Casa deMisericórdia de São Paulo (todo aluno tinha quefrequentar o curso, independente da especialidade queviesse a escolher).

Um curso deve traçar objetivos que sejamrelevantes para todos os alunos. O que o aluno serádepois de formado? (no caso do treinamento deparaprofissionais também devemos questionar sobre “oque fará após desenvolver a nova habilidade?”)

No caso deste curso a resposta é: será médico.

Em qual especialidade da medicina fará uso daPsicologia do Desenvolvimento? A maioria dos alunosacreditava que a Psicologia do Desenvolvimento somenteseria útil àqueles que escolhessem Pediatria e Psiquiatria.O planejador do curso considera que: se um curso dePsicologia do Desenvolvimento é oferecido ao 3º ano demedicina em caráter obrigatório, deve ser útil a todosalunos, em qualquer especialidade que possa vir aescolher. Se não for assim, não deverá ser obrigatório.

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Foi então selecionado um conjunto decomportamentos comuns às diferentes especialidades,que deveriam ser emitidos pelo médico, quando nodesempenho de suas funções.

De que modo a Psicologia do Desenvolvimentopode ser útil para o médico em qualquer especialidade?

Bijou e Baer (1969) utilizam o termodesenvolvimento, como indicação de mudança,considerando todo desenvolvimento psicológico dacriança como qualquer modificação de seucomportamento.

Concluiu-se que seria relevante para o médico, emqualquer especialidade, detectar variáveis ambientaisresponsáveis pelo aparecimento de problemascomportamentais e também que pudesse diferenciarentre variáveis orgânicas que pudessem produzirsintomas semelhantes. Esta diferenciação ajudaria omédico a fazer encaminhamentos para o profissionalcompetente, qualquer que fosse sua especialidade.

Quais seriam os comportamentos requeridos doaluno quando estivesse em plena atividade profissional?

Como médico, na vida profissional, seria colocadonuma situação de consulta, sendo requerido dele,detectar os problemas orgânicos que prejudicam odesenvolvimento da criança e diferenciar das possíveisvariáveis ambientais.

Para identificar as variáveis orgânicas, utilizaria astécnicas e instrumentos que a medicina lhe forneceu.Em determinadas situações, necessitaria diferenciarentre as variáveis orgânicas e as variáveis ambientaisque conduzem a sintomas semelhantes.

Poderia se utilizar da Entrevista Comportamental,como um instrumento a mais para auxiliá-lo a detectar

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falhas de desenvolvimento relacionadas às variáveisambientais.

Entrevista Comportamental: é necessário que oEntrevistador emita comportamentos efetivos para obterdados relevantes que possibilitem a análise decomportamento e possa inferir sobre o desenvolvimentopsicológico da criança.

O programa procurou levar o aluno a adquirir umconjunto de comportamentos a serem emitidos numasituação de Entrevista Comportamental durante umaconsulta feita pelo médico.

Cada passo do programa tinha por objetivo aaquisição de comportamentos específicos, adquiridosgradualmente, de modo que, ao final do curso o alunodeveria ser capaz de emitir todos os comportamentosque foram definidos como relevantes para o desempenhoda Entrevista Comportamental.

Método: os participantes eram 35 alunos inscritosna disciplina – Psicologia do Desenvolvimento –ministrada como parte do currículo do 3º ano demedicina.

Pessoal do Curso: um professor assistente e trêsmonitores. A Entrevista era supervisionada e discutidaapenas pelo professor.

Programa da Disciplina: foi dividido em 15 passos,com prazo máximo de 15 semanas para terminar. Oaluno poderia usar seu próprio rítmo para completar ospassos. Eram feitos dois atendimentos semanais aosalunos, com um professor e os três monitores, pararealização de cada passo, feito por escrito, comdiscussões orais. O critério era de 100% de acerto parapassar ao passo seguinte. O aluno que não atingisse ocritério deveria reler o material e voltar para refazer a

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avaliação referente ao passo, quantas vezes fossemnecessárias.

Objetivos terminais definidos segundo Mager(1962):

1. Dada uma situação onde o entrevistador (aluno) secoloca na presença do entrevistado, fazer perguntasde maneira que o entrevistado:

- especifique uma lista de comportamentos da criança,definidos operacionalmente, como também sua frequência;

- descreva os consequentes e os antecedentes de cadacomportamento;

2. Dado um registro de comportamentos com oscomportamentos antecedentes e os consequentes,obtidos através da Entrevista, ser capaz de:

- prever a probabilidade de ocorrência futura de cadacomportamento;

- prever se o desenvolvimento psicológico da criança ocorrerácom problemas;

- encaminhar ao profissional competente caso detecteproblemas de comportamento.

Alguns exemplos de objetivos Intermediários:- dada uma situação onde o observador (aluno) se coloca

frente a uma criança, ser capaz de definir operacionalmente,um comportamento e registrar sua frequência;

- dada uma situação escrita ou oral, ser capaz de definir oprocedimento de reforçamento, extinção, discriminação emodelagem.

- dada uma instrução escrita, ser capaz de elaborar um roteirode entrevista, especificando questões que favoreçam aobtenção de informações relevantes, durante a EntrevistaComportamental.

Atividades do Curso: 1. Leitura 2. Observação eregistro de comportamento 3. Planejamento de EntrevistaComportamental 4. Execução da Entrevista

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Comportamental 5. Relatório da EntrevistaComportamental.

Exemplo de passos planejados:Passo 1: Como o comportamento é afetado por suasconsequência; Passo 2: Observar e registrar umcomportamento;Passo 3: 2ª observação; Passo 4:Reforçamento positivo;Passo 5: Consequentes quereduzem a frequência da resposta; Passo 6: Modelagem;Passo 7: registro de frequência de comportamento social,em grupo de 3 alunos; Passo 8: teste de fidedignidade;Passo 9: esquemas de reforçamento; Passo 10:discriminação e os antecedentes; Passo 11: Punição; Passo12: executar um roteiro de Entrevista Comportamental;Passo 13: Executar duas Entrevistas; Passo 14: Relatórioda Entrevista Comportamental.

Resultados: a avaliação do programa tornou possívelidentificar se o grupo de alunos atingiu o objetivo terminal.Foi feito o cálculo da percentagem obtida em relação aoscomportamentos antecedentes, comportamentos dacriança e comportamentos consequentes, obtidos durantea Entrevista Comportamental. Os problemas naidentificação dos estímulos antecedentes ocorreramprovavelmente, ou porque os pais não identificavam osconsequentes (o que se seguia aos comportamentos dacriança) e não forneciam as informações ou a hipótesemais provável era de que o texto lido pelos alunos sobreestímulo discriminativo, para instrumentalizá-los para essatarefa, não favorecia extrapolar para o contexto daEntrevista. Em vista dessa análise o texto foi retirado daprogramação do próximo curso, sendo consideradoinadequado para esse fim.

Como usar as informações do exemplo descritoacima sobre o planejamento de um curso, para planejarum treinamento de paraprofissionais numa escola?Poderiam ser feitas adaptações para qualquer tipo desituação. A descrição abaixo pretende mostrar como fazer.

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O Treinamento de Paraprofissionais foi feito emescola usando alguns dos critérios do planejamento docurso, descrito acima. Os participantes eram, umestagiário da escola, aluno de 3º ano de Psicologia e umprofessor de uma classe de oito alunos, com distúrbiode aprendizagem. Foi selecionada uma criança de 6anos (nomeada como Carlos), com grande dificuldadede autocontrole e com comportamento agressivo, quedificultava o funcionamento adequado da classe. Todasas crianças participaram do programa, comomanutenção do comportamento de concentraçãoenquanto que a criança selecionada, participava doprograma de aumento de concentração e redução daagressividade. Comportamento agressivo: jogava suacarteira e cadernos no chão, derrubava as lancheiras equebrava alguns materiais da sala. O comportamentoantecedente não foi identificado pela professora. Foilevantada a hipótese de que esse comportamento ocorriafrente a uma dificuldade na tarefa e com essecomportamento a criança evitava o enfrentamento dasituação. A criança apresentava comportamentosimpulsivos com dificuldades de autocontrole frente apequenas situações de frustração. Além da dificuldadeem autocontrole esse comportamento poderia tambémestar sendo mantido por evitação de situação aversiva efortalecido como comportamento de esquiva. O psicólogocoordenava o programa e a aplicação dos procedimentosera de forma indireta através da estagiária e do professor,que faziam as intervenções diretas.

Observações realizadas pela estagiária: quandoocorria o comportamento agressivo a professora retiravaas crianças da sala e três atendentes entravam paraconter a criança. Os pais das outras criançasreclamavam e solicitavam a saída dessa criança daescola.

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Frequência de ocorrência dos comportamentosagressivos: 1 a 2 vezes ao dia (média de 40 vezes aomês).

Programa de desenvolvimento de habilidades naestagiária e professora: a estagiária já havia passado pelotreinamento básico semelhante ao descrito no Curso dePsicologia do Desenvolvimento e a professora seriatreinada pela estagiária através do modelo e reuniõescom o psicólogo e estagiária.

Treino de procedimento específico à situação

1. Escolha do reforçador: foi definida uma brincadeira decirco nos 15 minutos finais da aula, no pátio livre daescola.

2. Para ir ao circo eram necessárias 12 fichas entreguesà professora e trocadas pelo ingresso do circo.

3. As fichas só seriam obtidas com a emissão docomportamento alvo, especificado previamente paraas crianças.

4. Aplicação do procedimento – os combinados sobrecomo ganhar as fichas e o ingresso eram feitosantecipadamente com as crianças: 1. a cada 15minutos a estagiária que havia sido treinada noprocedimento junto com a professora, distribuía umaficha para quem estava fazendo a tarefa de classecom concentração e descrevia bem baixinho para acriança o seu comportamento alvo; 2. ocomportamento alvo da criança era consequenciadocom uma ficha, em intervalos de tempo que foramgradualmente aumentando; 3. na hora de sair da salapara ir ao circo, brincadeira realizada no pátio, aprofessora ficava na porta da classe para trocar asfichas pelo ingresso; 4. a criança que conseguisse12 fichas pegava seu ingresso e ia participar da

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brincadeira e quem não tivesse 12 fichas não poderiaobter o ingresso e ficaria na classe com a estagiária,que daria atenção reduzida à criança.

Resultados: no primeiro dia do circo, todos conseguiramo ingresso menos Carlos que havia tido uma “crise deagressividade” e não obteve as fichas de concentração,nesse período Não pode ir para a brincadeira de circo.Todas as crianças saíram da sala. Carlos ficou com aestagiária. Três atendentes da escola, treinadas, ficaramde plantão do lado de fora da sala. As atendentes nãoforam acionadas. Pela primeira vez, diante de umafrustração, Carlos chorou ao invés de agredir. No diaseguinte Carlos não jogou sua carteira, fez as tarefas econquistou as 12 fichas necessárias para ir ao circo. Noprimeiro mês de aplicação do procedimento, a frequênciado comportamento agressivo caiu de uma média de 40vezes ao mês, para 3 ocorrências num mês.

A estagiária completou o treinamento da professorapara que ela pudesse dar continuidade ao procedimento,o que se tornou possível devido ao espaçamento naentrega de fichas, a qual passou a ser a cada meia hora.

Aplicação de ProgramasConsiderar que pais, professores, enfermeiros,

atendentes e cuidadores, possam tornar-se agentes demudanças comportamentais, tem motivado profissionaispara a elaboração de programas de treinamento epesquisas que comparem os procedimentos maisefetivos para treinamento de paraprofissionais, comoWilliams e Matos (1984), Silvares (1995) e outros.

Moura, Silvares, Jacovozzi, da Silva e Casanova(2007) estudaram os efeitos dos procedimentos devideofeedback e modelação em vídeo na mudança de

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comportamentos maternos. Compararam os resultadosdo uso dos procedimentos de videofeedback emodelação em vídeo na orientação de mães de criançaspré-escolares quanto a agilidade na produção demudanças, nos comportamentos relacionados ao usodo reforçamento diferencial (aumentar a atenção positivapara comportamentos apropriados e diminuir a atençãonegativa e punição aos comportamentos inapropriados).A modelação em vídeo consiste em realizar orientaçãoatravés de um vídeo previamente gravado, em que umterapeuta experiente demonstra a aplicação deexperimentos com a criança. Videofeedback: os pais sãogravados em vídeo interagindo com seus filhos emsituações naturais ou arranjadas; depois assistem a simesmos junto com o terapeuta de quem recebemfeedback sobre seu desempenho e sobre as mudançasnecessárias.

A comparação dos resultados desse estudo como uso dos procedimentos de videofeedback e modelaçãoem vídeo foi feita quanto à agilidade na produção demudanças, nos seguintes comportamentos parentais: a)aumento na frequência de comportamentos de interaçãopositiva com a criança (elogios descritivos, elogiosgenéricos); b) diminuição da frequência decomportamentos punitivos dirigidos à criança e seucomportamento (críticas e comandos).

Os resultados mostraram a frequência doscomportamentos da mãe nas 4 categorias: 1. Elogiosdescritivos 2. Elogios genéricos 3. Críticas 4. Ordens/direcionamentos. Os comportamentos foram analisadosquanto a significância clínica, segundo os critérios: a)aumento na categoria dos comportamentos a seremfortalecidos de 30% mínimo b) redução na frequência dascategorias comportamentais a serem enfraquecidas, de aomenos 30% em relação a linha de base para cada díade.

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Resultados: observou-se que a modelação em vídeo foiefetiva para alterar significativamente as 4 categoriascomportamentais. Todas as categorias obtiveram umaalteração acima de 56% na avaliação

A segunda intervenção, o videofeedback, produziuum efeito de manutenção dos ganhos adquiridos e nãoparece ter impacto importante nas metas propostas.

As autoras concluíram que o videofeedback temefeitos positivos na mudança de comportamento, emboraa modelação em vídeo pareça produzir mudanças demaior magnitude.

Esse trabalho mostra a importância do uso de uminstrumento que pode favorecer a eficácia dos treinosde paraprofissionais.

Os trabalhos acima citados pretendem ressaltar aimportância de estudos comparativos.

A partir dos trabalhos citados, é possível extrapolarpara outros contextos institucionais, como a escola, eaprender “como fazer um planejamento e medir se as metasforam atingidas”, “como medir se a aprendizagem ocorreu”,“como aplicar intervenções que sejam efetivas” e “comogeneralizar esses resultados para o contexto escolar”.

O trabalho nas escolas pode atingir melhoresresultados quando seus profissionais são instrumentalizadossobre “como fazer” ao lidar com o processo de inclusão.

Implicações e Perspectivas para o planejamentoescolar ao incluir as crianças com necessidadesespecíficas:

1. Necessidade em considerar o repertório de entradada criança: o programa não pode ser igual a todoscom diferentes repertórios de entrada.

2. Individualização do programa em acordo com aestrutura da escola, criando gradualmente novas

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condições que favoreçam uma melhor adaptação dacriança.

3. Respeitar o ritmo próprio do aluno e intervir paraacelerar esse ritmo.

4. Garantir os critérios de aprendizagem para avançarna programação sem criar defasagens pedagógicas.

5. Usar salas de recursos, com atividades que permitemàs crianças, fazer escolhas sobre a ordem, tipo equantidade das tarefas, desde que cumpra as tarefasnum determinado prazo.

Os professores, pedagogos, psicólogos,orientadores educacionais e toda a equipe escolar nãosão, nem necessitam ser especialistas em todos osproblemas específicos que chegam à escola, após a leide inclusão. A escola também não pode deixar de receberuma criança explicando que não está instrumentalizadapara lidar com aquele problema.

Uma lei tão interessante para o problema deinclusão social pode ter gerado um impasse para pais epara a escola? Os pais querem que seus filhos sejamincluídos em classes comuns, mas também querem queeles recebam todo atendimento necessário às suasespecificidades, para que possam evoluir no processoeducacional. A escola deve promover a inclusão nasclasses comuns embora muitas delas não apresentemas condições necessárias para produzir odesenvolvimento dessas crianças.

São necessárias discussões e propostaseducacionais sobre formas de resolver esses problemase mudanças no processo educacional para encontrarformas de intervenção mais eficazes em nossas escolas.Temos saída para os problemas enfrentados pela escolaapós a lei de inclusão?

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Johnson e Myklebust (1983) apresentam umaproposta antiga e muito interessante para ser resgatada:propõem um programa itinerante, composto por umespecialista em dificuldades específicas dodesenvolvimento infantil, que tenha o papel de Consultore Coordenador de Programas. Esse profissional faria oplanejamento das crianças com necessidadesespecíficas e treinaria um grupo de professores paraaplicar procedimentos específicos com crianças comdistúrbios de aprendizagem.

Esta proposta não engloba o processo de inclusão.Como tem aspectos interessantes, pode ser adaptadade modo a favorecer a adaptação acadêmica e tambéma inclusão social com outros programas paralelos.

Cada professor trabalharia em 3 a 4 escolas, deforma itinerante, orientando professores a executar osprogramas e eventualmente formando pequenos gruposde crianças que possam fazer reforços em momentosespecíficos. Isto somente seria possível com o apoiogovernamental para aprimorar a aplicação da lei deinclusão. As escolas particulares poderiam ter esquemassemelhantes ao se unir com quatro outras escolas, oque seria menos dispendioso.

Esses programas deveriam trabalhar asdificuldades específicas da criança na própria sala,quando possível, e em salas de recurso, como ensinoadicional. Paralelamente, aplicar programas paradesenvolver habilidades sociais e propiciar a integraçãosocial. Tudo isto com vistas para que o paraprofissionalse torne um agente de mudança na cultura escolar e nasociedade.

Podemos também sugerir que um psicólogotreinado pelo consultor possa fazer o trabalho itineranteem três a quatro escolas e seja coordenador dosprogramas em cada uma delas.

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Cada escola formaria seu Banco de Procedimentosque funcionaria como a memória da escola, que podeser consultada toda vez que for necessário encontrarprocedimentos para situações semelhantes.

Esta proposta pretende sugerir formas deintervenção para um dos aspectos relacionados àinclusão, para encontrar formas de lidar com tãoimportante problema. A lei da inclusão é pertinente, masnão se muda comportamentos de uma equipe escolarnem a estrutura de uma escola, por um simples decreto.Todas as mudanças são graduais e devem ocorrer nadireção certa. A lei deve considerar as propostas desolução dos problemas que foram gerados pela suaaplicação.

Referências

Azzi, R.; Bori. C. M.; & Keller, F. S. (1964). Um curso modernode Psicologia. Ciência e Cultura, 16, 4.

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296 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

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Contribuições da análise do comportamento à prática educacional 297

SOBRE OS AUTORES

Organizadores:João dos Santos Carmo

Psicólogo pela Universidade Federal do Pará.Doutor em Educação pela Universidade Federal de SãoCarlos. Professor do Departamento de Psicologia daUFSCar. Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência eTecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino.Tem experiência na área de Psicologia Escolar eEducacional, com ênfase em Análise do Comportamentoe Psicologia da Educação Matemática, ensino eaprendizagem de matemática; ansiedade à matemática;comportamento matemático; habilidades numéricasfundamentais; programação de condições de ensino. E-mail: [email protected]

Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro

Psicóloga. Doutora em Psicologia Escolar e doDesenvolvimento Humano pela Universidade de SãoPaulo. Professora do Programa de Mestrado em Gestãoe Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté.Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase emRelações Interpessoais, atuando principalmente nosseguintes temas: habilidades sociais, assertividade,análise funcional do comportamento, terapiacomportamental, comportamento pró-ambiental epsicologia escolar. E-mail: [email protected]

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Colaboradores:

Carolina Monteiro de Albuquerque Maranhão

Psicóloga e Mestre em Teoria e Pesquisa doComportamento pela Universidade Federal do Pará. Temexperiência na área de Psicologia, com ênfase emPsicologia experimental, Psicologia da Saúde, PsicologiaOrganizacional e Educação a Distância. E-mail:[email protected]

Grauben José Alves de Assis

Psicólogo pela Universidade Federal dePernambuco. Doutor em Psicologia (PsicologiaExperimental) pela Universidade de São Paulo. Docenteda Faculdade de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento,Universidade Federal do Pará. Bolsista de Produtividadeem Pesquisa do CNPq. E-mail: [email protected]

Jaíde Regra

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica deCampinas. Doutora em Psicologia (PsicologiaExperimental) pela Universidade de São Paulo. Temexperiência na área de Psicologia, com ênfase emPsicologia do Ensino e da Aprendizagem. Atuandoprincipalmente nos seguintes temas: Sessões, Emoções,Aprendizagem. E-mail: [email protected]

José Gonçalves Medeiros

Psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica deCampinas. Doutor em Psicologia (Psicologia

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Experimental) pela Universidade de São Paulo. Professordo Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal deSanta Catarina. Tem experiência na área de Psicologia,com ênfase em Aprendizagem e DesempenhoAcadêmicos, atuando principalmente com os seguintestemas: equivalência de estímulos, discriminaçãocondicional, classes emergentes de resposta, fracassoescolar e ensino por computador. E-mail:[email protected]

Lucita Portela da Costa

Graduanda em Psicologia pela UniversidadeEstadual de Londrina.

Márcia Josefina Beffa

Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina.Doutora em Educação pela Universidade EstadualPaulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP, campus deMarília). Professora da Faculdade Estadual de CiênciasEconômicas de Apucarana (FECEA), professora eorientador do Instituto Brasileiro de Estudos e PesquisasSócio-Econômicos. E-mail: [email protected]

Maria Ester Rodrigues

Psicóloga pela Universidade Federal do Paraná.Doutora em Psicologia da Educação pela PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo. Professora AdjuntaB UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste doParaná - Cascavel PR. Tem experiência na área dePsicologia, com ênfase em Psicologia da Educação,

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300 Contribuições da análise do comportamento à prática educacional

atuando principalmente nos seguintes temas:behaviorismo radical/análise do comportamento,psicologia da educação, formação de professores,processos de ensino-aprendizagem, tratamento eintervenção psicológica. E-mail:[email protected]

Maria Martha Costa Hubner

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica deSão Paulo. Doutora em Psicologia (PsicologiaExperimental) pela Universidade de São Paulo.Professora da Universidade de São Paulo. É presidenteda divisão da Association for Behavior Analysis no Brasile membro de contato da B.F. Skinner Foundation. Temexperiência na área de Psicologia, com ênfase em Análisedo Comportamento, atuando principalmente nosseguintes temas: análise do comportamento,comportamento verbal, aprendizagem, leitura,equivalência, leitura recombinativa e terapiacomportamental. E-mail: [email protected]

Melania Moroz

Pedagoga pela Universidade de São Paulo. Doutoraem Educação (Psicologia da Educação) pela PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo. Professora doPrograma de Pós-Graduação em Educação: Psicologiada Educação da PUC/SP. Tem experiência nas áreas deensino-aprendizagem e formação docente, e naelaboração, aplicação e avaliação de procedimentos deensino de diferentes repertórios acadêmicos, a partir dediscriminações condicionais e com utilização de softwareeducativo.

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Miriam Marinotti

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica deSão Paulo. Doutora em Psicologia da Educação pelaPUC/SP. Atividades atuais: atendimento clínico emconsultório particular; professora e supervisora de cursosno Núcleo Paradigma. Co-organizadora, juntamente comMaria Martha Hubner do livro: Análise do Comportamentopara a Educação: contribuições recentes (ESETec, SantoAndré, SP). E-mail: [email protected]

Olivia Misae Kato

Psicóloga pela Universidade Federal. Doutora emPsicologia (Psicologia Experimental) pela Universidadede São Paulo e Pós-Doutorado na Universidade deOviedo, Espanha. Professora do Núcleo de Teoria ePesquisa do Comportamento da Universidade Federaldo Pará. Tem experiência na área de AnáliseExperimental do Comportamento, com ênfase emencadeamento de respostas, equivalência de estímulose leitura recombinativa em crianças da educação infantile com dificuldades em leitura, cegos e com outrasnecessidades educacionais especiais. E-mail:[email protected]

Paulo Sérgio Teixeira do Prado

Pedagogo pela Universidade Federal de SãoCarlos. Doutor em Psicologia (Psicologia Experimental)pela Universidade de São Paulo. Professor daUniversidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”(UNESP, campus de Marília). Tem experiência na áreade Psicologia, com ênfase em Aprendizagem eDesempenho Acadêmicos, atuando principalmente nosseguintes temas: crianças, habilidades numéricas,

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biblioteca interativa, procedimento informatizado e ensinofundamental. E-mail: [email protected]

Priscila Ferreira de Carvalho Kanamota

Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina.Mestranda em Psicologia do Desenvolvimento eAprendizagem pela NESP/Bauru. Professora do cursode Psicologia do Centro Universitário de Votuporanga.Tem experiência em Terapia Comportamental e PsicologiaOrganizacional.

Priscila Giselli Silva Guimarães

Psicóloga e Mestre em Psicologia pela UniversidadeFederal do Pará. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, daUniversidade Federal do Pará. Tem experiência emPsicologia, com ênfase em Processos de Aprendizagem,atuando principalmente nos seguintes temas: análise docomportamento e estudo de relações matemáticas emcrianças surdas. E-mail: [email protected]

Ruth Daisy Capistrano de Souza

Pedagoga pela União das Escolas Superiores doPará. Doutora em Teoria e Pesquisa do Comportamentopela Universidade Federal do Pará. Docente daFaculdade Integrada Ipiranga/Universidade Estadual Valedo Acaraú. Tem experiência na área de Psicologia, comênfase em Processos de Aprendizagem, atuandoprincipalmente nos seguintes temas: educação, relaçõesnuméricas, inclusão, educação especial e diversidadehumana.E-mail: [email protected]

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Sérgio Vasconcelos de Luna

Psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica deSão Paulo. Doutor em Psicologia (PsicologiaExperimenta) pela Universidade de São Paulo. Professorda Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, filiadoaos programas de Pós-Graduação em Educação:Psicologia da Educação, e Psicologia Experimental:Análise do Comportamento. Atua na área da Psicologia,com ênfase em Psicologia Experimental, analise docomportamento e educação, behaviorismo e educação,contingências de ensino, contingencias educacionais,contingencias na pós-graduação, desenvolvimentoinfantil, dissertações e teses, ensino de pós-graduaçãono Brasil, ensino e pesquisa e ensino universitário. E-mail: [email protected]

Thais Pondaco Gonsales

Fonoaudióloga e Doutora em Educação pelaUniversidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”(UNESP, campus de Marília). Tem experiência na área deFonoaudiologia, com ênfase em educação e saúde pública,atuando principalmente em atividades de promoção dasegurança e prevenção de acidentes infantis realizadasno contexto escolar. E-mail: [email protected]

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