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Copyright©2014AllanFerreiraXavier

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser copiada oureproduzidasobquaisquermeiosexistentessemautorizaçãoporescritodoseditorese/oudosautores.

S586a

Silva,MatheusPassos(coord.).

O financiamento de campanha eleitoral e a sua influência na representaçãopolítica [recurso eletrônico] / Allan Ferreira Xavier, Matheus Passos Silva(coord.).Brasília:Vestnik,2014.

Recursodigital.

Incluibibliografia.

Formato:ePub

Requisitosdosistema:multiplataforma

ISBN:9788567636108

Mododeacesso:WorldWideWeb

1. Direito. 2. Política. 3. Democracia. 4. Representação. 5. Financiamento decampanha.6.Eleições.I.Título.

Todososdireitosreservados,noBrasil,por

EditoraVestnik

CNB13Lote9/10Apto.304–Taguatinga

72115-135–Brasília–DF

Tel.:(61)3201-6437

SobreosautoresAllanFerreiraXavierégraduadoemDireitopelaFaculdadeProjeção(Brasília/DF)e técnico doMPU. Atua na área parlamentar da Procuradoria Geral da Repúblicadesdejunhode2009.

MatheusPassosSilvaébacharelemestreemCiênciaPolíticapelaUniversidadedeBrasília. É professor da Faculdade Projeção (Distrito Federal) nas UnidadesTaguatinga,SobradinhoeGuará.NestaInstituiçãoministraasdisciplinasdeCiênciaPolíticaeTeoriaGeraldoEstado,DireitoEleitoral,DireitoConstitucional,Trabalhode Conclusão de Curso 1 e Metodologia de Pesquisa, Trabalho de Conclusão deCurso 2 (Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso) e Filosofia Geral eJurídica. Faz parte do Núcleo Docente Estruturante do curso de Direito edoColegiadodocursodeDireito,ambosdaUnidadeTaguatinga.FazpartedoNúcleoDocente Estruturante do curso de Direito da Unidade Sobradinho. Também naFaculdadeProjeçãoéresponsávelpeloNúcleodePesquisaeProduçãoCientíficadaEscoladeCiênciasJurídicaseSociais,coordenandotodasaspesquisascientíficasetodos os trabalhos de conclusão de curso realizados pelos discentes dos cursos deDireitoedeServiçoSocialemtodasasUnidadesdestaIES.AtuanaáreadeCiênciaPolítica,comênfaseem“EstruturaeTransformaçãodoEstado”eem“Democracia”.NaáreadeDireitoConstitucional,ênfaseédadaàefetivaçãodosdireitosegarantiasfundamentais. Também é atuante na área do Direito Eleitoral, buscando analisarquestões relacionadas à representatividade e à efetivação da democracia. AtuatambémnaáreadeFilosofiaGeraleJurídica,comênfasenotema“Justiça”.Naáreade História, estuda o tema “Nações e nacionalismo”. Trabalha ainda na área depesquisacientífica,orientandoTrabalhosdeConclusãodeCursonasáreasdeDireitoConstitucional,deDireitoEleitoraledeFilosofiadoDireito.Maisinformaçõessobreesteautorpodemserencontradasnoslinksabaixo:

CanalnoYoutube:http://www.youtube.com/profmatheuspassosPáginanoFacebook:http://www.facebook.com/profmatheusBlogdoProf.MatheusPassos:http://profmatheus.comTwitter:http://www.twitter.com/profmatheusCurrículoLattes:http://lattes.cnpq.br/4314733713823595

SobreoProjeto"JovensJuristas"Venhotrabalhandocomocoordenadorde trabalhosdeconclusãodecurso(TCC)docurso deDireito da FaculdadeProjeção (Brasília/DF) desde janeiro de 2010.Nesteperíodo umdosmeus principais objetivos foi incutir nos alunos a ideia de que umTCCnãopode(nemdeve)servistoapenascomo“maisumtrabalhoacadêmico”:otrabalhofazpartedeumprocessodeaprendizadoe,comotal,deveservistocomooápicedeumagraduaçãoemnívelsuperior.Destamaneira,umdosmeusfocoscomocoordenadoréodetransformarosTCCs,cadavezmais,emverdadeirosprojetosdepesquisaacadêmica,aindaquecomâmbitolimitadodevidoàsuapróprianatureza–muitas vezes um TCC é o primeiro trabalho acadêmico-científico realizado peloaluno.

ÉnestecontextoqueseinsereoProjeto"JovensJuristas".Oobjetivodoprojetonãoéoutrosenãoodeidentificar,dentreosinúmerostrabalhosdeconclusãodecursoquesãoapresentadossemestralmentepelosalunos,aquelesquemaissedestacam,sejadoponto de vista da robustez doutrinária, seja do ponto de vista da inovação e/ouoriginalidade trazidapeloalunoouainda sobopontodevistadaanálisepráticadarealidadepormeiodeumapesquisadecampo,demaneiraquetaistrabalhospossamserpublicadoscomolivroemformatodigital-oconhecidoeBook.TodosostrabalhospublicadospassarampelocrivodeumaBancaExaminadoracompostapeloprofessor-orientadoreporpelomenosmaisdoisprofessores-examinadores.Oprojetoseiniciouem janeiro de 2014 e os livros já publicados podem ser obtidos por meio dositehttp://profmatheus.com/livros.

Este livro, intituladoO financiamento de campanha eleitoral e a sua influência narepresentaçãopolítica, tempor objetivomostrar de quemaneira o atual sistemadefinanciamentodecampanhaeleitoralemvigornoBrasil-ofinanciamentomisto,compredomínioderecursosprivados-interferenoprocessoderepresentaçãopolíticaemnosso país. Para atingir o objetivo foram realizadas pesquisas comparativas entre ovalorgastopeloscandidatosnaseleiçõesde2010paraocargodeDeputadoFederalpeloDistrito Federal e quem foram os candidatos efetivamente eleitos, demaneiraque se pôde comprovar a influência do poder econômico nas eleições e,consequentemente,narepresentatividadeenademocraciabrasileiras.

Oobjetivodo livro, logicamente,nãoéodeesgotaroassunto;aocontrário, tem-secomoobjetivoestimulararealizaçãodemaispesquisasdestetiponoâmbitojurídico,notadamentenaáreadoDireitoConstitucionale,principalmente,doDireitoEleitoral,demaneira que se possa sair da rotina de trabalhos de conclusão de curso que sãogeralmentevistospelosalunoscomoummero"pré-requisito"parasuaaprovaçãoem

uma disciplina. Espera-se que o Projeto "Jovens Juristas" incentive novospesquisadores na área do Direito, além de fazer com que os autores participantespossam,jánoiníciodesuavidaacadêmica,teremseucurrículoumapublicaçãoqueeventualmente poderá ser continuada no âmbito de uma pós-graduação ou de ummestrado.

O texto apresentado a seguir é o original conforme defendido pelo aluno AllanFerreira Xavier perante Banca Examinadora no ano de 2014, já com as devidascorreções sugeridas pela Banca. Espero que a leitura seja agradável e que o textopossa enriquecer seus conhecimentos a respeito de tema que considero defundamentalimportânciaparaoentendimentodapolíticaedademocraciabrasileiras.

MatheusPassosSilva

Coordenadordoprojeto

Setembrode2014

AgradecimentosAgradeço, inicialmente, a Deus por ter me dado saúde e força para superar asdificuldades.

Atodaminhafamíliaquesempredeuoapoioeoconfortocarinhosonosmomentosemqueaangústiaeomedodenãosercapazdeconcluirodesafiopareciamtomarconta.

Aoorientadordestetrabalhodeconclusãodecurso,ProfessorMatheusPassosSilva,pelovalorosotempodisponívelparaasobservações,tambémpeloapoio,poissempremeencorajounarealizaçãodestetrabalho,comconfiançaerespeito.

A todos os professores do Curso de Direito da Faculdade Projeção, por meproporcionar о conhecimento não apenas racional,mas аmanifestação do caráter еafetividade da educação no processo de formação profissional, por tanto que sededicaram а mim, não somente por terem me ensinado, mas por terem me feitoaprender.

Aoscolegasdegraduação,peladisposiçãoemtirardúvidasecolaborarnarealizaçãodesta etapa, em especial àMarineide, pela amizade e estímulos constantes durantetodadaminhagraduação.Muitosdelesvãocontinuarpresentesemminhavidacomcerteza.

Aos meus colegas de trabalho, que souberam compreender o significado destaexperiênciadeaprendizadoeconviveucomminhadedicaçãodivididaentreotrabalhoe o estudo, e também pelas dicas fundamentais durante a elaboração dessamonografia,

A todosquediretaou indiretamenteestiveram,especialmenteaosmeusamigosquetiveram a paciência de conviver com as variações de humor, de acordo com oandamento do trabalho e sempre estiveram presentes nunca deixando que aminhaausênciasignificassedistanciamento.

ResumoA problemática de como se financia as campanhas políticas é um tema delicado,controverso e se apresenta como um dos principais desafios da política em todo omundo, no Brasil não é diferente, ocorre que tanto no âmbito nacional quanto noregional as campanhas eleitorais estão marcadas, cada vez mais, pela grandequantidadede receitas empregadaspelospolíticos a fimde influenciar no resultadodas eleições. Esta dependência do dinheiro parece constituir cenário propenso pararelações espúriasdecorrentesde trocasde favores,oquecaracterizanotadamenteodesrespeito ao princípio da representatividade democrática, consagrado naConstituição Federal.Neste ponto surge a questão a ser estudada neste trabalho:OfinanciamentodecampanhaeleitoralemseuformatoatualgarantealegitimidadenarepresentaçãodopovoeaigualdadejurídicaentreoscandidatosacargopolíticonoDistrito Federal? O objetivo desta pesquisa é demonstrar como as normas definanciamentodecampanhaseleitoraispermitemainfluênciadopodereconômiconapolítica, ao ponto de comprometer a legitimidade e a normalidade do processoeleitoral, o que afeta diretamente os princípios democráticos e a representaçãopolítica,ambos inscritosnos textosdaCartaMagna.Para tanto,pretende-serealizarumarevisitaçãodepontosdevistasexpostoseanalisadospordoutrinadoresacercadotema;apresentararegulamentaçãovigentedofinanciamentoerealizarumapesquisaempírica no âmbito do Distrito Federal; identificar valores e princípios atinentes àdemocracia representativa e por fim analisar os impactos do financiamento decampanhasnestesprincípios.Tendoemvistaqueainfluênciadodinheironoprocessopolíticoeleitoralnacionalafetaessencialmentedoispontosvinculadosdiretamenteàefetividade da democracia representativa: a desigualdade política e a influência nasdecisõespolíticasgovernamentais.

Palavras-chave: Democracia; representação política; financiamento eleitoral;campanhaspolíticas;podereconômico.

IntroduçãoComa aproximação das eleições, discussões sobre política se intensificam entre oscidadãosbrasileirosenacapitalnacional,reconhecidacomocentropolíticodopaís,nãopoderiaserdiferente.Umdostemasmaisdebatidosrefere-seaomodeloadotadoparaofinanciamentodascampanhaseleitorais,umavezqueestáligadoaosrecursosfinanceirosgastosporpartidosecandidatosduranteaseleições.

O Brasil tem como principal instrumento o processo eleitoral para efetivar suademocracia representativa, atravésdaqualhá a concretizaçãoda soberaniapopular.Umsistemademocráticoqualificadopressupõeumprocessoeleitoralquegarantaumaigualdadedeoportunidadesentreoscandidatos,umaeleição isentada influênciadoabusodepodereconômicoedacorrupção,garantindoalegitimidadederepresentaçãodo voto popular. Neste processo, os candidatos devem competir com igualdade deoportunidades,eadecorrentecompetitividade,noprocessoeleitoral,dependedeumequilíbrionosrecursosfinanceiros.

No entanto, as campanhas eleitorais brasileiras são marcadas, cada vez mais, pelagrande quantidade de dinheiro empregada pelos políticos a fim de influenciar noresultadodopleitoeleitoral.Realidadepresente tantonoâmbitonacionalquantonoregional,a influênciadopodereconômicodedeterminadosgrupossociais,comaltacapacidadefinanceira,acabaporgerarconsequênciascomoumadisputaeleitoraldeforma desigual entre os candidatos, o abuso de poder econômico, o favorecimentodesses financiadores de campanha durante e após o pleito eleitoral, bem como acorrupçãopresentenapolíticabrasileira.

O financiamento das campanhas é uma das questões prioritárias na busca por umprocessoeleitoraladequadoemumademocraciarepresentativacomoadoBrasil,naqual "todo poder emana do povo, que o exerce por meios de representantes oudiretamente", artigo 1º, parágrafo único da Constituição Federal de 1988. Essalegitimidadedemocráticaestádiretamenterelacionadaàrealizaçãodeeleiçõeslivresdainfluênciadopodereconômico.

Emvirtudedisso,oestudopropostosobrefinanciamentodecampanhaspolíticasnoprocessoeleitoraldoBrasilganharelevânciaporsetratardeumaformadecontrolefinanceiro dos partidos e candidatos a cargos públicos. Este tema está incluso nodireito eleitoral, ramododireitopúblicoque regulamentaos institutos, asnormaseprocedimentoseletivos.

Percebe-se que as normas sobre o financiamento são essenciais para que haja um

processo eleitoral legítimo e democrático, pois quase sempre exercerá um grau deinfluência durante o pleito. Tendo em vista que, atualmente, os gastos com ascampanhas eleitorais são muito altos, quanto maior o número de eleitores, maisrecursosfinanceirosdeverãoserinvestidospeloscandidatosparaseremeleitos.

JoséJairoGomes(2012,p.289)conceituacampanhaeleitoralcomo"[...]ocomplexode atos e procedimentos técnicos empregados por candidato e agremiação políticacom vistas a obter o voto dos eleitores e lograr êxito na disputa de cargo público-eletivo". Entende, ainda, que o seu financiamento trata de "[…] recursosmateriaisempregadospeloscandidatoscomvistasàcaptaçãodevotodoseleitores"(GOMES,2012,p.290).

Desta forma, o financiamento de campanha eleitoral constitui-se nos recursos,pecuniáriooinnatura,arrecadadospeloscandidatosoupartidos,comoobjetivodeproporcionar ações durante a campanha eleitoral, para que se possa alcançar algumcargopúblico.Quantoasuaorigem,ofinanciamentopodeserdamodalidadepública,privadaoumista.

Ofinanciamentopúblicocaracteriza-sepelousoderecursosprovenientesdogovernopara bancar as campanhas dos candidatos. Neste caso tem-se a receita do fundopartidário constituído em parte pela aplicação de recursos públicos, conformeestabeleceoartigo38daLeinº9.096/1995,apossibilidadedesseusoestáprevistanoartigo 39, § 5º, desta mesma lei, que dá direito aos partidos políticos aplicar oudistribuiressesrecursospelasdiversaseleiçõesnodecorrerdoanoeleitoral.Existemtambém outras formas de incentivos do governo durante a campanha como, porexemplo,acompensaçãotributáriaeadisposiçãodohorárioeleitoral.

O financiamento privado caracteriza-se pelo uso de recursos provenientes dainiciativa privada, com a arrecadação de contribuições de pessoas físicas e pessoasjurídicasparaascampanhaseleitorais,previstonosartigos23e81daLeinº9.504de1997,chamadadeLeidasEleições.Destaforma,oordenamentojurídicopátrioadotaatualmente o sistema misto para financiamento das campanhas eleitorais, ou seja,receberecursospúblicoseprivados.

Oproblemadofinanciamentodecampanhatemsidobastantetrabalhadonadoutrinaenapolítica,entreosprincipaispontoscontrovertidostem-seadiscussãoacercadesuamelhor fonte financeira. Uma preocupação apresentada é a predominância dofinanciamentoprivado,quepodetornaropleitoextremamentedesigual,umavezqueé sabido o quanto o poder econômico pode influenciar na escolha dos eleitores etambémnasdecisõesdosparlamentareseadministradores.

Nestecontexto,adelimitaçãodotemadestetrabalhoéofinanciamentodecampanhados candidatos ao cargo de Deputado Federal do Distrito Federal nas eleições de2010.Paratanto,realizar-se-áumaanáliseempírica,apartirdosdadospresentesnasprestaçõesdecontasapresentadasàJustiçaFederalporestescandidatos,embuscadecompreender essas questões do financiamento neste cenário político, a fim deverificarseopodereconômicoinfluencianaescolhadoseleitoresbrasilienses.

Quantoàanálisedaaplicaçãodasnormasdofinanciamentodecampanha,considerou-se importante o fato de Brasília ser apontada como centro da política brasileira,localizar-se no Distrito Federal, um ente da federação que possui um dos maioresíndicesdedesenvolvimentohumanodoBrasil,comparandocomosEstadosdopaís.Assim, em tese o eleitorado distrital seria formado por cidadãos muito beminformadoseesclarecidosdeseupapelnaseleições,por issohouveaescolhadestelocalparaanálise.

Surge, portanto, a problemática a ser estudada neste trabalho: O financiamento decampanhaeleitoralemseuformatoatualgarantea legitimidadenarepresentaçãodopovoeaigualdadejurídicaentreoscandidatosacargopolíticonoDistritoFederal?

Aquestãoapresentadaédesumaimportância,poiso temapossuigranderelevâncianopanoramaatualdodireitoeleitoralbrasileiroerepresentaumagrandepreocupaçãodasdemocracias,principalmenteemanodeeleições,tendoemvistaainfluênciaqueopodereconômicopodeexercernarepresentatividadedoscidadãosbrasileiro.

Neste ponto está a importância do tema de pesquisa, já que o financiamento decampanha está intimamente ligado ao aspecto financeiro do processo eleitoral econstitui um dos pontos que abrem oportunidade para que haja futuramente umimpacto nas decisões do governo.Alémde ser umestudo complexo, controverso eatual.

É um estudo complexo, devido a sua ligação a vários outros assuntos do DireitoEleitoral, como, por exemplo, os sistemas de governo, dos partidos políticos e daseleições proporcionais e majoritárias, dentre outros, cuja suas análises não fazemparte deste trabalho. Embora, o estudo a respeito do financiamento de campanhaeleitoralpossacolaborarparaprogressodoprocessoeleitoral,maspor si sónão iráresolver todos os problemas que comprometem a legitimidade e normalidade doprocessoeleitoral.

Apresenta-secomoumdostemasmaiscontroversosepolêmicosdoDireitoEleitoral.Oproblemadofinanciamentodecampanhapolíticatemsidobastantetrabalhado,nadoutrinabrasileira,porautorescomoMonicaHermanS.Caggiano,TorquatoJardim,

Mário daSilvaVelloso eWalber deMouraAgra, José JairoGomes, dentre outros,porém não há um consenso a respeito de qual é a melhor forma de custear umacampanhapolítica.Algunsdefendemqueosrecursosfinanceirosdevamsercusteadospelo Estado, outros defendem a iniciativa privada. Observa-se que cada uma dasmodalidades de financiamento apresentam vantagens e desvantagens, argumentosfavoráveisecontrários,aseremdispendidosnocorpodotrabalho.

Essencial se faz escrever sobre este tema, devido a sua atualidade e recorrência napolíticabrasileira.AquestãodofinanciamentotemsidosemprecolocadaempautanaCâmaradosDeputadosenoSenadoFederal,principalmentequandosediscutesobrea reforma política. Contudo, os políticos brasileiros tratam o assunto de formadelicadaeaindanãoconseguiramentraremacordosobreoassunto.

O tema é atual tambémno judiciário, noTribunal SuperiorEleitoral, por exemplo,temrecebidodestaque,sãováriososartigospublicadossobreoassunto,porexemplo:O financiamento público de campanhas na Câmara dos Deputados, de OctávioAugustodaSilva;Adisputabilidade e o financiamento de campanhas eleitorais noBrasil, de Luciano Giambarresi Ganho; Financiamento dos partidos e campanhaseleitorais, de Roselha Gondim dos Santos; todos escritos nos últimos anos emEstudosEleitoraiseRevistaEletrônicaEJEdesteTribunalEleitoral.

Destaca-se ainda no Supremo Tribunal Federal, onde se encontra em pauta dejulgamentoaAçãoDiretadeInconstitucionalidadenº4.650,ajuizadapeloConselhoFederal daOrdemdosAdvogadosdoBrasil, questionando a constitucionalidadedofinanciamento de campanhas eleitorais com recursos originados de doações porpessoasjurídicas.

Dessa forma, verifica-se que não há consenso doutrinário, jurisprudencial e nempolíticoacercadotema,tornandoimprescindíveloesclarecimentodedivergências,éoqueseprocuracomarealizaçãodapesquisa.

Para a realização dessa pesquisa será aplicado o método de abordagem indutivo,considerandoqueestemétodofundamentaoconhecimentoapartirdasexperiências,ouseja, constitui-sedaobservaçãodecasosda realidadeconcreta,para sechegaràgeneralizaçãodofenômeno,suaafirmaçãopartedoparticularparaogeral(SANTOS,2011, p. 196). No entanto, é importante destacar que a indução fornece apenasprobabilidades,suasconclusõescorrespondemaumaverdadequenãoestavacontidanestas premissas, diferentemente da certeza dométodo dedutivo, no qual sendo aspremissasverdadeirasasconclusõestambémserão(MATTAR,2008,p.55).

Estemétododeabordagemfoiescolhidoporqueseviuanecessidadedarealizaçãodo

estudo dos dados referentes à prestação de contas dos candidatos na eleição doDistritoFederal,demodoqueaoseverificarqueomodelodefinanciamentoadotadaatualmente não promove uma legitimidade na representação política e nem umaeleiçãodeformaigualitáriaentreoscandidatosnocasoanalisado,entãopoderáinferirumaverdadegeralcabívelaoordenamentojurídicobrasileiro.

Nestapesquisa,juntamentecomométododeabordagemacimacitado,seráaplicadométododeprocedimentomonográfico,sendoesteumestudosistemáticoecompletosobreumtemarelativamenterestrito,“éoprimeiropassoparainíciodasatividadesdepesquisaouinvestigação”(SANTOS,2011,p.263).CriadoporLePlay,estemétodoconsistenoestudodecasosdeterminados,comafinalidadedeobtergeneralizações.Entende-sequeumfenômenoanalisadoemdetalhepodeexplicarseussemelhantes.

O financiamento de campanhas eleitorais é, como se viu, um tema abordado porvários autores que defendem formas de financiamento diversas, o que demonstra aexistênciadeumaimprecisãonalegislaçãovigente,sendoassim,amelhorformadeabordar o assunto é através dométodo de procedimentomonográfico. Por isso, seutilizará um referencial teórico diversificado, doutrinadores eleitorais econstitucionais,apresentadoumdebatedeideiasentreosautoresarespeitodosseusaspectos, para que se possa analisar amelhor forma a ser aplicada pela legislaçãobrasileira.

Outrométododeprocedimentoutilizadoseráoestruturalista,quepartedoprincípiodequearealidadeéformadaporestruturas.Assimseriapossívelrealizarumestudodessas estruturas e explicar como seus elementos se organizam numa totalidade(MATTAR,2008,p.80).MétodocriadoporLévi-Strauss,“parteda investigaçãodeumfenômenoconcreto,eleva-separaoníveldoabstrato,pormeiodemodelosquerepresentemoobjetodeestudo”(SANTOS,2011,p.105).

Omodelo estrutural consiste no estudodas relações dos elementos constitutivos deumfenômeno,criando-semodelosdescritivos.Primeiroprocede-seaexperimentaçãocom os modelos, após há a comparação entre esses modelos diferentes, com issoconstitui-se a estrutura a partir da observação empírica das relações. Este modelodiferencia-se do método tipológico porque o modelo criado relaciona-se com aestruturaexistentenarealidade.

Ométodoestruturalista seráaplicadoporque serãoestudadososdiferentesmodelosde financiamento de campanha, com a finalidade de se definir um modelo definanciamento ideal em abstrato dentre aqueles que já existentes na realidade. Paratanto,buscar-se-áanalisararelaçãodestefenômenocomarealidadedaseleiçõesdoDistritoFederalde2010paraocargodedeputadofederal.

O objetivo do trabalho é, essencialmente, demonstrar se e como as normas definanciamentodecampanhaseleitoraispermitemainfluênciadopodereconômiconapolítica, ao ponto de comprometerem a legitimidade e a normalidade do processoeleitoral,oqueresultafatalmenteemconflitodiretocomosprincípiosdemocráticosearepresentaçãopolítica,ambosinscritosnaConstituiçãoFederal.

Oestudotraráumainteressanteabordagemsobreotema,facilitandooentendimentodoleitor,paratanto,pretende-sedividirotrabalhoemquatropartes:

Naprimeira,semapretensãodeexaurimento,realizar-se-áumarevisitaçãodepontosdevistasexpostoseanalisadospordoutrinadoresacercadotemadofinanciamentodecampanhaseleitorais.

Nasegunda, far-se-áumaexposiçãodofinanciamentoadotadonoBrasil,atravésdeumabreveexplicaçãodosdispositivosnormativosvigentesaplicáveisaotema,apósapresentar-se-áapesquisaempíricaqueabordaasprestaçõesdecontasdoscandidatosaocargodeDeputadoFederalnaseleiçõesdoDistritoFederalem2010.

Na terceira, abordar-se-á uma conceituação e identificação dos valores e princípiosatinentes à democracia representativa, à representação política e à legitimidadedemocráticanorteadoresdoprocessoeleitoral.

Na última parte, passar-se-á à análise de diversas hipóteses em que as normasinfraconstitucionais,atinentesaotemafinanciamentodecampanhas,sãoprejudiciaisàefetividadedoprincípiodarepresentatividadeedademocracia.

Assim é que, levando-se em consideração as normas vigentes, a doutrina e ajurisprudência,abordar-se-áaanáliseacercadofinanciamentodecampanhaeleitoralcujaimportânciaserevelainequívocaparaoaprimoramentododireitoeleitoral.

1 Financiamento de campanhaseleitoraisNeste primeiro capítulo apresentar-se-á uma análise doutrinária a respeito dasmodalidades de financiamento, abordando seus conceitos, finalidades e argumentosfavoráveis e contrários aos financiamentos público e privado, o que é fundamentalparaoestudodeummodelodefinanciamento.

A problemática de como se financia as campanhas políticas é um tema delicado,controverso e se apresenta como um dos principais desafios da política em todo omundo (FLEISCHER, 1993, p. 243). A questão da influência do poder econômicomostra-seumproblemaaindanãoresolvidonaatualidade,tendoemvistaoaltocustode uma campanha eleitoral (VELLOSO; AGRA, 2012, p. 307). Portanto, pode-seafirmar que as formas de financiamento eleitoral são consideradas uma questãoespecialparaofuncionamentodasdemocraciasmodernas.

Entreosdoutrinadores,existeapreocupaçãoemrelaçãoà legitimidadedaseleiçõescontra a influência que o poder econômico pode exercer na decisão dos eleitores,parlamentareseadministradores(KANNAN,2012,p.251),damesmaforma,existeaconsciência do custo gerado pelo funcionamento da democracia que é preciso serpago, e, por isso, é indispensável que seja o sistema democrático o controlador dodinheiro,enãoocontrário(MOBOJI,citadoporZOVATTO,2005,p.289).Porisso,énecessárioregularosistemadefinanciamentodaseleições.

Éevidenteque,nodecorrerdaseleições,háanecessidadedousoderecursosparaqueos candidatos possam promover a sua campanha eleitoral, tornar-se conhecido eapresentar suas ideias e propostas. Contudo, esta discussão sobre a forma definanciamento de campanha deve partir da premissa de que um dos objetivos doprocessoeleitoralégarantiraopovoumaescolhadeseusrepresentantesdemaneiralivreeconsciente(PREZOTTO,2008,p.289).

Oobjetivodofinanciamentoéarcarcomasdespesasnecessáriasparaapromoçãodascampanhaseleitorais,demodoaasseguraraigualdadeentreoscandidatosepartidos.As despesas devem ser entendidas a partir de seus aspectos material e temporal,conformeensinaSergeiMedeirosAraújo (2002,p.58).Emseuaspectomaterial asdespesaseleitoraissão:

[...] todasasdespesas relativasàprodução,àaquisiçãoouàalocaçãodosmeios necessários à propaganda eleitoral; à distribuição, à difusão de

materiais e dos meios de informação audiovisuais, à organização demanifestações ou reuniões abertas ao público, mesmo quando estasapresentamcarátersocial,culturalouesportivo;são igualmentevisadasasdespesas de impressão, bem como toda prestação de serviço ligada àcampanhaeleitoral[...](FAUPINcitadoporARAÚJO,2002,p.58).

Jánoaspectotemporal,busca-sedeterminaroperíodoemqueestasdespesaspodemserrealizadas,paraseremcontabilizadascomodespesasdecampanha.Araújoentendequemesmoasdespesasrealizadasantesdoperíodolegaldecampanha,masquesejamdestinadasaopleitoeleitoral,devemserconsideradaspara finsde limites impostos.Porexemplo,adescobertadacontratação,mesmoantesdoperíodolegal,pelopartidooucandidato,deumassessoremmarketing,quenãotenhasidodeclaradanacontadacampanha,deve ter seucustoestimadoecontabilizadocomodespesaeleitoral,paratodososfins(ARAÚJO,2002,p.62).

Demodogeralpode-seafirmarqueofinanciamentodecampanhacuidadosrecursosmateriaisempreendidospeloscandidatoscomvistasàcaptaçãodevotosdoseleitores.

Em um conceito mais específico, Rui Crull Tabosa, citado por Araújo (2002, p.91/92), entende como “o apoio, pecuniariamente quantificável, prestado pordeterminado sujeito jurídico a uma candidatura eleitoral, com vistas a suportar osencargosdecorrentesdarealizaçãodassuasatividadesdecampanhaeleitoral”.

Acrescenta-seaessadefiniçãoacircunstânciadequeoapoiodeveserefetivadocomoconhecimentodobeneficiário,ouseja,osvalorespecuniáriosouserviçosprestadosporqualquerpessoaà reveliadopartidooucandidato, emapoio a sua candidatura,nãointegramnestecasoasreceitasdecampanhas(ARAÚJO,2002,p.92).

Segundo Araújo (2002, p. 92), o financiamento das campanhas eleitorais pode serclassificadocomopúblico,privadooumisto.Podendoseapresentarnaformadiretaou indireta, quando se tratar de prestações em dinheiro (direto) ou através daconcessãodebenefíciosoudeserviços(indiretos),comoocorrenoacessoaohorárioeleitoralgratuitonorádioetelevisão.

1.1Financiamentopúblico

O financiamento público de campanha é aquele dotado de recursos provenientesunicamentedoEstado.ConformeensinamentodeAliceKanaan, essa subvençãoderecursos, geralmente, compõe-se de fundos público, subsídios ou reembolso dedespesasordinárias,transferidosapartidosecandidatosafimdeassegurarosmeiosnecessários para promoção da campanha eleitoral (KANAAN, 2012, p. 273).

CorroboracomesteentendimentoSergeiMedeirosAraújo(2012,p.316):

O financiamento público de campanha consiste na prestação pecuniáriadiretaounaconcessãodealgumavantagemindiretaqueoEstado,combaseem critérios legalmente fixados, transfere a partidos e candidatos comoforma de assegurar-lhes os recursos e meios necessários para odesenvolvimentodeumacampanhaeleitoral.

Afinalidadedofinanciamentopúblicoépromoverumequilíbrioeacompetitividadeentreospartidospolíticosecandidatos,“fortalecendoosistemapluralistaadotadoemmuitosregimesdemocráticos,emobservânciaaoprincípiofundamentaldaigualdadede oportunidades entre candidatos” (KANAAN, 2012, p. 279). Além de coibir ainterferência das fontes privadas de receitas e assegurar uma maior transparência,quandosefalaemfinanciamento.(SANSEVERINO,2012,p.255).

MotivadopelateoriadeJeanClaudeMasclet,Araújo(2012,p.318)asseveraquesãotrêsosfundamentosqueconvalidamofinanciamentodascampanhaseleitorais,combase em recursospúblicos: “a) o reconhecimento constitucional da importância dospartidospolíticosparaosregimesdemocráticos;b)oprincípiodasoberaniapopular;c)aliberdadedeassociação”.

Estefinanciamentodesmembra-se,ainda,emfinanciamentopúblicodiretoeindireto.

O financiamento público direto de partidos e candidatos consiste nos subsídios,subvenções, a restituição ou reembolso, em pecúnia ou em bônus, transferidodiretamente pelo Estado aos partidos políticos, com vista ao financiamento dasatividadesdecampanhaeleitoral.(KANAAN,2012,p.280).

Ofinanciamentodiretoédefendidopormuitosqueoconsideramcomobasedeumsistemaeficientenocontroledegastoseleitorais,namedidaemquebuscadiminuirouevitaradependênciadecandidatoepartidosemrelaçãoaopodereconômicoprivado,atenuando a questão da corrupção e assegurando uma maior igualdade durante opleito,alémdesuprirgastosdecampanhaseleitorais.Desdequesejaimplantadojuntoa um sistema limitador de recursos privados (ARAÚJO, 2012, p. 328). Afirma-seaindaque

há um consenso de que, nos sistemas de financiamento público para ascampanhas eleitorais, os recursos estatais devem ser substitutivos dofinanciamento privado ou de alguma de suas fontes, ou seja, os recursospúblicosdevemtomarolugardosrecursosdeorigemprivadanossistemasdefinanciamentopúblicopuro,ouseraplicadosdemodoasupriraretração

da fonte de recursos decorrentes de limites impostos às receitas doscidadãosedaspessoas jurídicasnossistemasdefinanciamentomisto.Poressarazão,ofinanciamentopúblicoéindissociáveldeumsistemalimitativodegastos, semoqualo subsídio estatal será somenteumdinheiro amaisnascampanhaseleitorais(ARAÚJO,2012,p.328).

Os recursosdo financiamentopúblicodiretopodemserdistribuídosdedoismodos:atravésdeumsistemadeadiantamentodasreceitasoupelosistemadereembolso.

No sistemaadiantamentode recursos, as receitas serão repassadas aosbeneficiáriosem um momento anterior às eleições. Araújo (2012, p. 329) cita os exemplos dofinanciamento das campanhas presidenciais nos Estados Unidos da América e naFrança.Noprimeirocaso,asreceitasproveematravésdeumfundopúblicoespecialcriado para o financiamento das campanhas presidenciais, o presidential electioncampaign fund.No segundo, os candidatos às eleiçõespresidenciais podem receberantecipadamente um valor referente ao reembolso que farão jus após as eleições,contudo,naFrançaosistemapredominanteédoreembolso.

Osistemadereembolsoocorre,apósoresultadodaseleições,medianteressarcimentoparcial de gastos eleitorais realizados, por isso ele é conhecido por indenizaçãoeleitoral.Neste caso, as receitas públicas são repassadas aosbeneficiáriosmedianteaprovação da prestação de contas de campanha do parlamentar pelo órgãocompetente.Osistemadereembolsopode indenizarporgastosconcretos realizadosouporumaindenizaçãogenérica,fixadadentrodolimitelegal.(ARAÚJO,2012,p.330).

Ofinanciamentopúblicoindiretorefere-seaosserviçosoubenefíciosconcedidospeloEstadoemfavordepartidospolíticosecandidatos(KANAAN,2012,p.280).OautorAraújo(2012,p.322)complementaaduzindoqueserefereauma“açãopositivadoEstado,voltadaparaaconcessãodeumavantagemaospartidosecandidatos,comoformadereduziroscustosefacilitarodesenvolvimentodascampanhaseleitorais”.

Pode-se afirmar que é indireto, porque não se trata da transferência de receitaspúblicas aos partidos ou candidatos, mas de prestações indiretas, como ocorre noacesso gratuito dos meios de comunicação para propaganda eleitoral, que visamreduziroscustosdeumacampanhaeleitoral.

O financiamento público indireto apresenta-se nas seguintes formas: acesso àcomunicação via transmissão gratuita no rádio e televisão, uso gratuito de prédiosoficiaisedelocaispúblicosparareuniõespolíticas,alémdasmedidasdeincentivoaofinanciamentoprivadoqueacarretareduçãodaarrecadaçãoestatal,cujoexemploéa

aplicaçãode sistemasdededuções fiscais as deduções fiscais conferidas às pessoasfísicas e jurídicas sobre as doações e osmatching funds do sistema americano definanciamentodaseleições(ARAÚJO,2012,p.323-4).

O financiamento público indireto, que se realiza por meio da veiculação depublicidade gratuita no rádio e televisão, é considerado de uma relevância políticamaioremvistaàsformasdiretasdefinanciamento,namedidaemquepossibilitaaospartidos políticos e candidatos apresentarem aos eleitores suas ideias, programas epropostas,atravésdapropagandapolítica,quehojetemopoderdedecidirumpleitoeleitoral(KANAAN,2012,p.281).

Devido a sua relevância, o financiamento público indireto “deve realizar-se sob odomínio da igualdade no tratamento entre os concorrentes, da estrita legalidade,moralidadeetransparência”(ARAÚJO,2012,p.322).

Emsetratandodefinanciamentopúblicooutroaspectoimportanteéadefiniçãodoscritérios de acesso e de distribuição dos recursos públicos. Pode-se, neste campo,basearnocritériodeigualdadeabsolutaoudaproporcionalidade,utilizando-secomoparâmetrooenraizamentodospartidosnasociedade,como,porexemplo,onúmerodevotos,arepresentaçãonoparlamentoouacombinaçãodeambos(ARAÚJO,2012,p.325-6).

Cada modelo de financiamento de campanha eleitoral apresenta vantagens edesvantagens,argumentosfavoráveisecontrários,quedevemserconsideradosemumestudoacercadesteassunto.

Dentrodestaperspectiva,sefaznecessário,desdejá,estabelecerospontosfavoráveisao financiamento público, para em um momento oportuno, apresentar os pontosdesfavoráveis, em busca de orientar o leitor na formação de sua compreensão arespeitodotema.

Quando se trata do financiamento público,OlíviaRaposo da SilviaTelles asseguraqueoseuprincipalargumentofavorávelserefereaofatodequeessaformalimitariaainfluência do poder econômico nas decisões políticas, tendo em vista que osfinanciadoresprivadosdisponibilizamseusrecursosparafuturamenteobtervantagensjunto aos eleitos beneficiados com sua ajuda. Afirma que essa ideia se aplica àscontribuiçõeslegais,declaradasàJustiçaEleitoral,quantoàsilegais(TELLES,2009,p.63).Nestesentido,PauloAdibCasseb(2013,p.177)afirmaque

principal argumento favorável ao financiamento publico dos partidos e atentativa de assegurar a independência dos candidatos, especialmente dos

eleitos,emfacedopodereconômicodaquelesquecusteiamascampanhas.Emmuitos casos, esse auxílio financeiro não é realizado pormero ideal,mas no intuito de firmar um compromisso, com a intenção de gerar umacontraprestação do eleito, devolvendo, em forma de favorecimentosdiversos.

Outropontofavoráveléarestriçãodousodedoaçõesilegais,provenientesde“caixadois” e até mesmo atividades ilícitas e crimes organizados, extremamente nocivosparaademocracia.Comesta formade financiamento, ficamais fácil reconhecer asorigens dos recursos dos candidatos e partidos e “sempre que a campanha de umcandidato se destacar pela riqueza ficará evidente o uso de recursos ilícitos”(TELLES, 2009, p. 63). Possibilitando, inclusive, a fiscalização pelos próprioscandidatos.

Defende-se também que o financiamento público propiciaria um maior equilíbrioentreoscandidatosduranteascampanhas,emdecorrênciadalimitaçãodainfluênciado poder econômico nas eleições (TELLES, 2009, p. 64; RIBEIRO, 2006, p. 78).Consequentemente, as eleições seriammais democráticas e as campanhas eleitoraisestariammais voltadas às ideias, propostas e programas dos partidos e candidatos,comintuitodeconvenceraopiniãodoeleitorado.Nesteponto,Kanaan(2012,p.283)adverte:

Ao invés de apresentar ao público propostas e programas alternativos,velando pela lisura das eleições, os candidatos commaior grau de poderpolítico e interesse econômico utilizam-se, de forma indevida, da elevadasofisticação das técnicas de marketing político, influenciando o eleitordiretaoudissimuladamente.

Areduçãodoscustosdascampanhaspolíticaseapadronizaçãoesimplificaçãodosprogramas de propaganda eleitoral, também seriam vantagens desse tipo definanciamento.Aideiadeigualdademaiorentreoscandidatoseospartidospolíticosduranteascampanhaseleitorais,pelorepassederecursosdoEstado,proporcionaumacompetiçãodesenvolvidadeformamaisequitativa,permitindoquetodosospartidosocupem espaços igualitários na produção da propaganda, simplificando epadronizandoosprogramasereduzindooscustosdacampanhaeleitoral(KANAAN,2012,p.284/285).

A maior transparência e controle nas movimentações das verbas públicas,primeiramente, verifica-se que com a origem dos recursos advinda dos cofrespúblicos, facilitaria o controle e fiscalização por parte dos candidatos, da JustiçaEleitoral,doMinistérioPúblicodaEleitoraledoseleitores(SANSEVERINO,2012,

p.255).Comisso,seriamaisfácilcriarumsistemadecontrolemaisrigoroso,“quepudesseelevarograudevisualizaçãoetrazermaiortransparêncianasmovimentaçõesdosgastosqueenvolvemverbaspúblicasefiscalizaçãodoprocessodeprestaçãodecontasdoscandidatosepartidospolíticos”(KANAAN,2012,p.285).

Outrosapontamqueofinanciamentopúblicopossibilitaummaiorcontrolesocialnadistribuição das verbas, uma vez que sabendo a sua origem, aumentaria a pressãopopularpelatransparêncianadistribuiçãoenadestinaçãoqueédadaaessesrecursos,demodoafomentarumamaiorparticipaçãodasociedadenosdebates,aproximandoos cidadãos dos ideais e dos propósitos sociais, em busca da efetiva aplicação dosprincípios éticos,morais e da transparência na gestão da coisa pública (KANAAN,2012,p.286).

Porfimháaquelesqueassinalamofortalecimentodospartidospolíticoscomoumavantagem do sistema estatal de financiamento, pois os partidos exercem um papelessencial para o sistema democrático representativo, por isso, cabe ao Estadoassegurarrecursossuficientesparaoseufuncionamentoordinárioeduranteoperíodoeleitoral(ZOVATTO,2005,p.286).

Com efeito, não haveria a necessidade de candidatos vinculados ao interesseeconômico privado e a responsabilidade de distribuição dos recursos caberia aospartidos, fazendo com que as campanhas políticas enfatizassem os programaspartidáriosnacionais(SAMUELS,2007,p.24).Essaformacontribuiriaparaatenuaro personalismo que tem caracterizado as eleições brasileiras para os cargos dedeputadosevereadores.

Apesar de possuir os argumentos citados em favor do financiamento público, esteapresentatambémalgunsargumentosecontrários.Entreoscontráriosapontam-se:

Aadoçãodofinanciamentopúbliconãopõefimaousoderecursosprovenientesdefontesilícitasnascampanhaseleitorais,poisestaéumapráticageneralizadanoBrasil,os recursos ilegais se somariam aos recursos do financiamento público, sem que aJustiçaEleitoralencontrassemmeiossuficientesparaapurarseuuso(TELLES,2009,p.64).Enfatiza-seaindaque

é evidente que o financiamento público por si só não teria o condão deimpedirascontribuiçõesilícitas.Seriaprecisocompletá-lonãoapenascommedidas efetivas de restrição dos custos das campanhas eleitorais mastambémcomasubmissãodosgastosdecampanhaarigorosafiscalização,ecom a previsão de sanções severas em caso de extrapolação (TELLES,2009,p.64).

Damesmaforma,JairoNicolau(2007,p.9)asseveraquenãopodeserdescartadaapossibilidadedousodedinheiro ilegalporumcandidatoque jágastaumaltovalorem sua campanha, pois continuaria havendo a pressãodopoder econômico comasagravantesdasoperaçõesocultas,obscurasedescontroladas.

O segundo argumento contrário ao financiamento público seria umadeslegitimaçãosocialemvirtudedaoneraçãodoorçamentopúblico.Emumpaís,comooBrasil,comnecessidadede investimentospúblicosemáreasessenciais,dificilmentea sociedadeapoiariaaaplicaçãodeumvolumetãograndederecursosdoorçamentopúblicoemcampanhaseleitorais(RUBIO,2005,p.9).

Isso implicaria emumaumentodapressãopopular contra usodo subsídiopúblico,alémdoque essaoneração tende a aumentar cadavezmais, devido à elevaçãodoscustosdecampanhas,comprometendoaindamaisosistemaorçamentário.

Outro ponto discutido pela doutrina é o fato de que a dependência de recursospúblicos para cobrir os custos de uma campanha eleitoral poderia conduzir umaespéciedeestatizaçãodospartidospolíticos(RUBIO,2005,p.10).Essadependênciaforçosamente repercutirá em uma diminuição da liberdade dos partidos e nodistanciamentodospartidospolíticosemrelaçãoàrealidadesocial(KANAAN,2012,p.274).

Discute-se ainda a dependência entre osDiretórios Estaduais eMunicipais (órgãosinferiores)eoDiretórioNacional,decorrentedofortalecimentodospartidospolíticos,jáqueorepassedosrecursosfinanceirosestataisaosórgãosinferiores,quepassariama ser de responsabilidade do órgão partidário nacional, tende a causar um elevadograu de dependência entre as instâncias (KANAAN, 2012, p. 286-7), reforçandotendênciascentralizadorasepráticasantidemocráticasdentrodospartidos.

EstecontroledodinheiroprovenientedoEstadotrariaimensospoderesaosdiretoresdo órgão de cúpula dos partidos, pois poderiam aplicar estes recursos de forma afavoreceralgunscandidatosemprejuízodeoutros.Aliás,odiretório seriacapazdeexercer uma influência abusiva junto aos diretórios estaduais e municipais,objetivandoaaplicaçãodirecionadadasverbaspúblicasemtrocadoapoiopartidário.

Adoutrinaquestionatambémaproblemáticasobredistribuiçãodosrecursospúblicosdofinanciamento,poisquandoelessebaseiamnaobtençãodecadeirasparlamentaresounaparticipaçãoemeleiçõesanterioresprovavelmentenãoimplicarãonaampliaçãoda participação ou em um ambiente eleitoral competitivo,mas na conservação dospartidos tradicionais no poder e namanutençãodo status quodo sistemapartidário(RUBIO,2005,p.9).

Aautora acima citada enfatiza que essa divisão de subsídios públicos combase noparlamentoabreaoportunidadeparaogovernorealizarmanobrasdeexclusãoafimde dificultar a atuação dos partidos de oposição. Com efeito, “se a lei restringe ofinanciamento político, por exemplo, aos partidos que tenham representaçãoparlamentaresimultaneamenteproíbeosaportesprivados”,poróbvioresultar-se-ánocongelamentodosistemapartidário(RUBIO,2005,p.11).

Por fim, há quem considere que o sistema de financiamento dotado apenas porsubsídiosdopoderpúblicosetornaincompatívelcomopluralismopolítico,segundoapontaKannan(2012,p.286):

Osistemade financiamentoexclusivamentepúblicose torna incompatívelcomopluralismopolíticoconsagradono textoconstitucional, fundamentodoregimedemocrático,porque,deumlado,podegerarodesinteressedospartidos políticos, que, recebendo os recursos unicamente estatais, nãonecessitam mais dos cidadãos, deixando de lado o enraizamento no seiosocial; de outro, a contrario sensu, necessitando do financiamento estatal,passamaatenderaosinteressesdoEstado,mesmocontráriosaoscidadãos,passandoaatuarcomoagentesestataisaserviçodogoverno.Oprincípiodopluralismopolítico, inserido no sistemapolítico constitucional (CF, art.1º,incisoIV,cc.17),caracteriza-sepeladiversidadedeconcepçõesideológicaspartidáriasnasociedadeetambémpelaperfeitainteraçãoentreocidadãoearepresentaçãopartidária.

Assim,adependênciaderecursosprovenientesunicamentedoEstadopelospartidospolíticosrepresentaumriscoaosistemademocrático,umavezquepodeafetarumdeseusprincípiosfundamentais,opluralismopolítico.Porque,seospartidosperderemanecessidadedebuscarrecursosfinanceirosjuntoàsociedade,ficandoadstritosaousododinheiropúblico,entãoa tendênciaédarprioridadeaos interessesdoEstadoemdetrimento aos desejos da sociedade, o que vai de encontro à autonomia partidáriaconsagradanotextoconstitucional.

1.2Financiamentoprivado

O financiamento privado das campanhas eleitorais consiste em toda prestaçãopecuniária,ouvantagensquantificáveisemdinheiro,realizadaporpessoasfísicasoujurídicas, com a finalidade de arcar com os custos da promoção das atividades decampanhaeleitoraldeumcandidatooupartidopolítico(ARAÚJO,2002,p.93).Comisso, pode-se afirmar que o financiamento privado cuida dos recursos oriundos dedoaçõesfinanceirasdeorigemprivada.

Esta modalidade de financiamento pode ser classificada como direta, quando háentregadedinheiroparaocaixadecampanhaeleitoraldeumpartidooucandidato,porexemplo,atravésdecotasdosfiliados,eindireta,quandoaprestaçãoemproldacampanha ostentar vantagem não pecuniária, podendo ocorrer quando o doador,pessoa física ou jurídica, arcar com os custos da prestação de um serviço oufornecimentodeumbem,nestecasooscustosdevemserquantificadosemdinheiroecontabilizadoscomoreceitadecampanhadobeneficiário(ARAÚJO,2002,p.93).

Quanto a sua declaração, as receitas de origem privada das campanhas eleitoraispodemserdeclaradaseocultas.Noprimeirocaso,estãoosrecursospermitidospelalei, que são identificáveisoudeclaradosnaprestaçãode contas.As receitasocultassãoaquelasqueocandidatooupartido,deformacontráriaalei,deixardedeclararemsuaprestaçãodecontasedesubmeteraoconhecimentopúblico(ARAÚJO,2002,p.94). As receitas não declaradas são as que trazem maior preocupação, porconstituírem o chamado caixa dois da campanha eleitoral, uma das práticas ilícitasmaisgravesdaseleições.

Conforme entendeAraújo (2002, p. 94), as contribuições privadas apresentamumadúplice natureza jurídica. Primeiro, quando se refere ao financiamento privado depessoasfísicas,identifica-seamanifestaçãodoexercíciodeumdiretodeparticipação,inerenteàssociedadesdemocráticas,quesereforçacomoreconhecimentodocaráterindissociáveldarelaçãoentreospartidospolíticoseaformaçãodavontadepopular,desenvolvidadurante,emesmoantes,dacompetiçãoeleitoral.

Quando se trata do financiamento originado das pessoas jurídicas, sua naturezajurídica encontra-se situada exclusivamente no campo de um ato de disposiçãopatrimonialdenaturezaprivada(ARAÚJO,2002,p.95).

Aconveniênciaou inconveniênciadaproibiçãodeefetivardoaçõespelasempresas,sindicatos e associações, gera discussão na doutrina. Uns afirmam que quando sãorealizadoscompublicidadeetransparência,nãotemporquelevaraoaumentodograude corrupção política (CONDE citado por ARAÚJO, 2002, p. 96). Para outros, apessoajurídicanãotemcapacidadeeleitoralativanempassiva;nãodeveparticipardafasedoprocessoeleitoral;essaparticipaçãopossibilitaosurgimentodedistorçãonosistema(SANSEVERINO,2012,p.263).

Neste ponto, faz-se necessário a apresentação dos argumentos favoráveis aofinanciamentoprivadodascampanhaseleitoraiseposteriormentedoscontrários.

O primeiro argumento favorável é apontado por Daniel Zovatto (2005, p. 300),segundo este autor o financiamento privado pode ser considerado uma forma

participaçãodiretadoscidadãosnapolítica,nestesentido,oenvolvimentodosfiliadosdeveservistocomoumaprovadoenraizamentodospartidosnasociedade.Alémdoque, a necessidade de arrecadar subsídios de origem privada pode constituir umincentivo para recrutar novos seguidores, consolidando o estreitamento da relaçãoentreospartidoseasociedade,comefeitodecriaçãodeumarededesimpatizantes.

Essa relaçãoentreospartidoseoscidadãoséalgobenéfico, fortaleceaindamaisademocracia,ademais,abuscapelofinanciamentoprivadoconstituiumaformadedarumamaiorvitalidadeaospartidosepromoveraparticipaçãodoscidadãosnodebatepolíticoeemquestõessociais(KANNAN,2012,p.295).

Outroargumento favorável apresentadopela algunsdoutrinadoreséqueospartidospolíticos apresentam natureza de associações privadas, de livre participação. Dessaforma, os partidários e simpatizantes teriam o direito e de arrecadar contribuiçõesnecessárias aos partidos e candidatos cumprirem suas missões (SANSEVERINO,2012,p.258).

No entanto, Rubio (2005, p. 11) assegura que muitas constituições vigentesreconhecemqueospartidospolíticostêmumanaturezamista,quasepública,emborasejamassociaçõesvoluntárias.Jáqueumadasfinalidadesdospartidoséoacessoaogoverno e a condução dos assuntos públicos, as questões que lhes dizem respeitodeixamdeserdeatribuiçãoexclusivadeseusintegrantes.

O aumento da representatividade social dos partidos políticos revela-se outrajustificativa para o aporte de recursos de origem privada no financiamento. Nesteponto,deve-se teremmentequeafinalidadedarepresentaçãopolíticaéessencialàdemocracia e este processo representativo se dá por meio dos partidos políticos(KANNAN,2012,p.295).

De fato, a representação decorre de estímulos à relação entre partidos políticos e asociedade, com o intuito de propiciar organização, estrutura ou ideologia dessainstituição política, que se desenvolve quer pela conquista de novos partidários esimpatizantes,querpelanecessidadedeprestarcontasaosseusfiliadoseeleitoresarespeitodaspropostaspolíticasdivulgadasemcampanha(KANNAN,2012,p.296).

Nesta mesma linha, afirma-se que em decorrência do pluralismo político, um dosfundamentoselencadosnoartigo1ºdaConstituiçãoFederalBrasileira,“osdiferentesgrupossociaisdevemestarrepresentadosnospartidospolíticos,osquaiscumpremopapeldeintermediáriosentreasociedadecivileoEstado”(SANSEVERINO,2012,p.259).

Destarte, o financiamento privado, como instrumento incentivador da relaçãopartidáriasocial,exercepapelcrucialnodesenvolvimentodemocráticodopaís,edetalformavemacontribuirparaoaumentodarepresentaçãopartidária.

Apresentados argumentos favoráveis ao financiamento privado, passa-se aosargumentoscontráriosaosistemademocráticorepresentativo.

Uma das principais críticas ao financiamento privado de campanhas eleitorais é abrecha que esta modalidade oferece à influência negativa do poder econômico degrupos ou empresas sobre os partidos ou candidatos, em vista a necessidade dearrecadarrecursoseconômicos,podendoinduzirestesagentesatuaremnapolíticaembenefíciodessesprovedoresderecursosdecampanha(ZOVATTO,2005,p.300).

Emdesfavordofinanciamentoprivado,aponta-sequeeleensejaodesequilíbrioentreos concorrentes na campanha eleitoral. Da mesma forma que amplia e favorece aliberdade na arrecadação de recursos por parte de partidos políticos, candidatos ecoligações; esta modalidade de financiamento reduz a igualdade entre estes. Namedida em que apenas os candidatos que arrecadarem uma maior quantidade derecursos, ou seja, forem apoiados por grupos de interesse com maior podereconômico, conseguirão arcar comos altos custosdeumacampanhapolítica, destamaneira, a igualdade de oportunidade estaria seriamente comprometida(SANSEVERINO,2012,p.259).

Éfatonotórioqueasdespesasdascampanhaseleitoraissãocadavezmaioresequenenhum partido político ou candidato consegue disputar uma eleição sem dinheirosuficienteparaarcarcomoaltocustodacampanha.

Consequentemente, os concorrentes podem se valer de ilicitudes relacionadas aofinanciamento privado para arranjar recursos, principalmente provenientes do caixadois, que proporciona o abuso do poder econômico, a corrupção, e acabatransgredindo os princípios da igualdade e da liberdade de escolha entre oscompetidoresnoprocessoeleitoral(KANNAN,2012,p.299).

E mais, os partidos políticos e os candidatos estão cada vez mais vulneráveis acederemàspressõesdospoderososfinanciadoresquecustearamaascensãoaoscargospolíticos, devido à dependência, cada vezmaior, da grande quantidade de dinheiroinjetadonascampanhaseleitorais.Poróbvio,estesinvestidoresnãoofazemdegraça,buscamsimobtervantagensdessesinvestimentos,pormeiodeaçõesouomissõesdogoverno, passando a atender interesses particulares em prejuízo do bem público(KANNAN,2012,p.299).

Aindahána doutrina o descontentamento coma falta de declaraçãoda origemdosrecursos à Justiça Eleitoral. Essa ausência ocorre por causa da fragilidade dosmecanismos de controle da arrecadação e da movimentação dos recursosdisponibilizadosparaascampanhas(KANNAN,2012,p.298).

Na prática, os recursos não são declarados à JustiçaEleitoral por se originaremdefontesespúrias,decaixadoisouemrazãodeestarconexosaatividadesilícitas,comoo crime organizado, ligadas ao narcotráfico e atividades informais. O que dificultaqualquer formadecontroledeorigemou repressãoaoexcessodedinheiro injetadoemcampanhaspolíticas,realidadeagravadapelafaltadeumaestruturaadequadapararealizarauditorianaJustiçaEleitoral.

1.3Financiamentomisto

O financiamento misto das campanhas eleitorais constitui-se de recursos tanto deorigempúblicaquantodeorigemprivada.Estamodalidadedefinanciamentopermiteque os partidos políticos busquem recursos financeiros junto à sociedade,possibilitando uma maior interação entre o cidadão e o partido, sem prejuízo dasubvençãodoEstado(KANAAN,2012,p.273).

Osistemamistodefinanciamentotemafinalidadedispersarsuasfontesderecursossem concentrá-las unicamente noGoverno, unindo as de origempública e privada.Comisso,busca-seassegurar,deumlado,oincentivoàparticipaçãodiretadocidadãonapolítica,pormeiodascotasoudasdoações,e,deoutro,garantira igualdadeeoequilíbrioentreospartidosecandidatosnacompetiçãoeleitoral(KANAAN,2012,p.74).

Estamodalidadedefinanciamento,predominantenaAméricaLatina,édefendidapormuitos autores, uma vez que oportunizam a junção de aspectos favoráveis dosfinanciamentospúblicoeprivado.Emdefesadofinanciamentomisto,Araújo(2012,p.350)entendeque

somenteofinanciamentomistoécompatívelcomomodelopluripartidárioeos princípios da democracia e igualdade de chances que devem reger ascampanhas eleitorais. Um modelo de financiamento misto deve prever,necessariamente,acontribuiçãofinanceiradaspessoasfísicascomoformade participação dos cidadãos na vida política e partidária, bem como deaproximaçãoentreospartidoseasociedade.

Seguindoestamesmalinha,Kanaan(2012,p.307)argumentaaadoçãodeste,

aproveitandooqueosdoismodelosapresentamdemelhorfrenteaoregimedemocráticoebuscandoencontraradequadasoluçãonotocanteaospontosvulneráveis que afetam o regime democrático, principalmenteaprimoramento do sistema de controle e de eficácia quanto às punições,comvistaadesestimularapráticadoabusodopodereconômico,dafraudee da corrupção, preservando-se assim a liberdade e a igualdade que vêmfincadasnaposturaéticadospartidospolíticoseparticipantesdoprocessoeleitoral.

TambémRubio (2005, p. 11) afirma que omais aconselhável é utilizar esta duplafonte,sendoapública,baseadoemcritériosdedistribuiçãoqueadequemosprincípiosdeigualdadeeproporcionalidadecomalgumelementoobjetivodeenraizamentodospartidos na sociedade (voto, bancada parlamentares, fundos arrecadados, etc.). Já aPrivada deve ser regulada de forma a garantir a transparência dos recursos, comrelação à origem e o destino dos recursos recebidos, observando-se limitações quesejamnecessáriasemcadapaís.

Já o autor David Samuels (2007, p. 25/26) defende o financiamento dotado derecursos de ambas as fontes, pública e privada, regulado de forma incentivar adeclaraçãoeatransparênciadosgastosedosrecursosrecebidosduranteacampanha,e não somente ao final, como ocorre atualmente. Sugere ainda reduzir o limitemáximo de doação por parte uma pessoa ou empresa,majorar o autocontrole entrepróprios concorrentes, aumentar a punição por violação as normas, e também umareformana legislação tributáriaefinanceira,como intuitodedesestimularagrandequantidade de dinheiro fora do sistema bancário ou não declarado ao governo,acabandocomocaixadois.

Destemodo,observa-sequeapreocupaçãodosdefensoresdofinanciamentomistoécom a criação de mecanismos inibidores de aspectos negativos existente na formapúblicaenaprivada.

Em contrapartida existem doutrinadores argumentando que continuaria a existir ainfluência do poder econômico no financiamentomisto. Conforme destaca Salmito(2010,p.56):

pelo financiamento misto ou exclusivamente privado de campanhaseleitorais,teríamosainfluênciadocapitalprivadoadesequilibrar,porvezessignificativamente, a disputa pelo voto, que traz como consequência umaespécie de representatividade dos detentores do capital em detrimento darepresentatividadedoseleitores.

Para outros, o misto teria efeito mais perigoso do que o próprio financiamentoprivado. Pois, permitindo-se doações tanto de origem privada quanto de origempública,oscandidatoscontinuariamareceberpropinasdainiciativaprivada,mesmorecebendo subsídio público para o custeio de suas campanhas, assim, a corrupçãocontinuariadomesmojeito,“comoagravantedequepagaremosduasvezesporessaconta: o próprio financiamento público e o reembolso aos doadores pela via dacorrupção”(CAMPOS;ASSIS,2012,p.42).

Contudo, não há um consenso a respeito de qual é a melhor modalidade definanciamento,mascomcertezaaescolhadotiporefletenarepresentaçãopolítica,detalformaainfluenciarnosresultadosdeumaeleição.

Analisadososprincipaispontosacercardasmodalidadesdefinanciamento,abordandoseusconceitos,finalidadese,comcertaênfase,osargumentosfavoráveisecontráriosdecada tipode financiamentodascampanhas,passar-se-áaoestudodamodalidadeadotada na legislação vigente no Brasil, no que se refere ao financiamento dascampanhaspolíticas.

2FinanciamentoadotadonoBrasilNestecapítulo,apresentar-se-áumaanálisedasnormaseleitoraisbrasileiras,noqueserefereaofinanciamentodecampanhapolítica,comissobusca-seoportunizaraoleitoruma visualização normativa acerca do tema, bem como uma observação de pontospositivosenegativosnocasodestepaís.

Inicialmentepassa-seporumabreveevoluçãohistóricadalegislaçãopolíticoeleitorale após uma análise das regras acerca do financiamento das campanhas políticasadotadonalegislaçãovigentenoBrasil,demostrandoaocorrênciadofinanciamentopúblicoedofinanciamentoprivado,queimperanestepaís.

Após,seráapresentadaumaanáliseempíricadofinanciamentobrasileiro,apartirdosdados de prestações de contas dos candidatos ao cargo de Deputado Federal nasultimas eleições do Distrito Federal, realizadas no ano 2010, demostrando ofinanciamentonaprática.

2.1ExplicaçãoecomentáriosàLei

A primeira manifestação normativa do financiamento de campanha foi no CódigoEleitoral de 1950, que tratou de forma sucinta do tema arrecadação e aplicação derecursosnacampanhaeleitorale tambémdoseusistemadecontrole(LORENCINI,2008,p.136).

O artigo 12 da norma citada acima atribuía competência ao Tribunal SuperiorEleitoral para conhecer de reclamações relativas a obrigações legais impostas aospartidos políticos, quanto à sua contabilidade e à apuração da origem dos seusrecursos.

Jáoartigo143tratavadosgastoseleitorais,daarrecadaçãoderecursosedosistemade controle assuntos relativos ao financiamento eleitoral. O artigo 144 elencavalimitesaospartidosparao recebimentode recursos financeirosdediversasorigens,juntamentecomoartigo145,queconsideravaestesrecursosilícitos,assimcomoosauxílios e recurso de origem não identificada, visando coibir as influênciaseconômicas em um processo eleitoral, em conformidade com os princípiosdemocráticos.(LORENCINI,2008,p.137).

Noanode1965,areformaeleitoraltrouxeprofundasalteraçõesnanormatizaçãodapropagandaeleitoralenaorganizaçãodospartidospolíticos,comapromulgaçãoda

Lei nº 4.737 (Código Eleitoral) e da Lei nº 4.740 (Lei Orgânica dos PartidosPolíticos–LOPP). Esta nova legislação apresentoumedidas que consolidavamuma“forteinterferênciadoEstadonaorganizaçãodospartidospolíticosenaformacomoascampanhaseleitoraiseramorganizadas,cujaregulaçãopassouasermaisdetalhadaerigorosa”(ARAÚJO,2012,p.335).

Comoprincipaismedidasdessareformadestacam-se:aimplantaçãodeumsistemadefinanciamentopúblicodaseleiçõesedasatividadesordináriasdospartidospolíticos,com recursos do Fundo Partidário, e a proibição de doações de empresas privadasparapartidospolíticoseparaacampanhaeleitoral(ARAÚJO,2012,p.336).

Nesta reforma, a ideia central dos legisladores era substituir o sistema definanciamentodotadoexclusivamentederecursosdeorigemprivadaporummodelomisto,maspreponderantementepúblico,atravésderecursosdoFundoPartidário,compossibilidadedearrecadaçãoderecursosprivados,oriundosdecotizaçõesdosfiliados(ARAÚJO,2012,p.336).Então,observa-sequenestaépocajásebuscavamajoraraautonomia aos partidos políticos em relação à influência exacerbada do dinheiroprivado.

OFundoPartidáriofoicriadopelaLeinº4.740/65,mantidopelaLeinº5.682/71,eassegurado pela Constituição Federal de 1988, originalmente foi constituído porrecursos de multas e penalidades eleitorais, dotações orçamentárias e das doaçõesparticulares, com a finalidade de subsidiar as atividades dos partidos políticos(ARAÚJO, 2012, p. 336). A finalidade teórica do deste fundo foi explicada porAntonioRoqueCitadini,citadoporAraújo(2012,p.336/337),daseguintemaneira:

AocriaroFundoPartidárioo legisladorbrasileirovisouadarsustentaçãofinanceiralegalaospartidos,livrando-osdearrecadaremdinheiroemfontesinidôneas – fato tão comum na vida partidária brasileira (‘caixinha’,‘banqueirosdobicho’,etc.)ouentãodesubmeterem-sea‘liderançasricas’(quesetornamverdadeirosdonosdepartidos).AideiadeumFundolegal,comum a todos os partidos, é – sem dúvida – umamedida que contribuiparaaconsolidaçãodeumsistemapartidáriodemocráticoe forma,assim,agremiaçõeslivrespara lutaremporsuasideiaseprogramas.Oidealseriaempenharmo-nos para o aumento nas dotações do Fundo, o que viria apossibilitaraospartidosumacompletaautonomiafinanceira.

Em1971,aLeinº4.740/65(LeiOrgânicadosPartidosPolíticos–LOPP)foirevogadapela Lei nº 5.682, de 21 de julho de 1971, que pouco modificou a lei anterior emanteveomodelomistodefinanciamentodaseleições,inclusiveoFundoPartidárioimplantadoem1965(ARAÚJO,2012,p.337).

Omodelo de financiamento público instituído pela LOPP de 1965 e mantido pelaLOPPde1971,nãosemostrouefetivo.Asnormaslegais,emsuaessência,nãoforamsuficientes para modificar certos costumes políticos, não trazendo efetividade aosistema(ARAÚJO,2012,p.338).Nessesentido,Citadini,citadoporAraújo(2012,p.338),emseuscomentáriosàLOPPde1971,assinalou:

Trata-se–abemdaverdade–dedisposiçãonãoobedecidapelospartidosecandidatos, haja vista as campanhas faraônicas que tivemos nas últimaseleições de 1982. Esta determinação legal – sem que a Justiça Eleitoralpossa exercer ummínimo de coação aos infratores – é, na verdade, letramortaeasprestaçõesdecontasdascampanhaseleitoraisconstituem-seempeçadefarisaísmo.

Referindo-seaoFundoPartidário,observou-seque:

Este fundo partidário, na realidade, praticamente inexiste; os partidos naverdade vivem dos donativos de suas bancadas, mais polpudos ou depequena proporção, de acordo com as suas possibilidades [...] O fundopartidárioestáhojesomentenalei.Masograndeproblemanãoélegislar,éexecutaralei.(FERREIRAcitadoporARAÚJO,2012,p.338).

Apesar da falta de efetividade estar ligada à discrepância entre a legislação e arealidadepolítica,atribuía-setambémadeficiênciasdomodelonormativo,conformeapontaAraújo(2012,p.342):

Emsíntese,omodelodefinanciamentopúblicovigentenoBrasilentre1965e 1993 não teve relevante eficácia social por que: a) os candidatosrealizavamdiretamenteseusgastoseleitorais,inclusiverecebendorecursosdepessoasjurídicas;b)oslimitesdegastosfixadospelosprópriospartidoseram meramente fictícios, de modo que o custo da eleição era muitosuperior ao registrado nas prestações de contas, que, portanto, nãocorrespondiam à realidade; c) o sistema de controle exercido pela JustiçaEleitoral e pelos comitês interpartidários não se encontravainstitucionalmenteorganizado,razãopelaqualerameramenteformal;d)osrecursosdofundopartidárioeraminsuficientes,inviabilizandoosistemadefinanciamentopúblico.

Uma nova alteração no sistema de financiamento de campanha eleitoral somenteocorreu já com a restituição do regime democrático noBrasil, atravésConstituiçãoFederal de 1988, após a publicidade de inúmeras irregularidades na arrecadação derecursos para a campanha eleitoral, escândalo que resultou no impeachment de

Fenando Collor, primeiro presidente eleito, assim destaca Alice Kanaan (2012, p.275):

Escândalo notório envolvendo a formação de um caixa dois denominado“Esquema PC Farias”, tesoureiro do então Presidente da República,Fernando Collor de Mello, que recebia durante a campanha eleitoral, emesmoduranteomandato,recursosprovenientesdeempresáriosnacionais,assegurando,emcontrapartida,afacilitaçãodaquelasempresasemcertameslicitatórios com o Poder Público, resultando o esquema fraudulento nainstauração de uma CPI que levou à queda do Presidente, em 29 dedezembrode1992.

Nestecontexto,em1993alegislaçãoeleitoralvoltouatratardeformamaisefetivaofinanciamento de campanhas eleitorais e modificou o sistema adotado, através dapublicação da Lei nº 8.713, ficando instituído um sistema de financiamentopredominantemente privado, no qual a responsabilidade de arrecadação de recursoseracompartilhadaentreospartidoseoscandidatos.

Com o advento desta lei, os candidatos alcançaram uma maior liberdade paraarrecadar recursos para a sua campanha, que anteriormente resumia-se ao FundoPartidário e às quotas dos filiados, passaram a contar commais fontes de receitas:recursospróprios;verbasprovenientesdoscomitês financeiros, inclusivedasquotasdo Fundo Partidário; além de poderem contar com as doações de pessoas físicas ejurídicas,excetoaquelas limitadaspor lei.Nãohouvealteraçãonaformadefixaçãode limitesdegastosporcandidatura.Ospartidoscontinuaramaestabeleceros tetosdasdespesas.Observa-setambémqueassobrasdecampanhasforamespecificamenteregulamentadas, suprindo-se a lacuna existente na legislação anterior (ARAÚJO,2012,p.343).

ALeinº9.504de1997,conhecidaporLeidasEleições,passouaregulamentartodosos pleitos eleitorais, oficializou o sistema de financiamento misto, mas agorapredominantemente privado, no qual a arrecadação de recursos de campanha érealizadapelospartidosoudiretamentepeloscandidatos(ARAÚJO,2012,p.343).

Comoapresentadonocapítuloanterior,oobjetivodo financiamentoéarcarcomasdespesasnecessáriasparaapromoçãodascampanhaseleitorais,demodoaasseguraraigualdadeentreoscandidatosepartidos.Nesteponto,Oartigo26daLeinº9.504de1997arrolaquaisosgastospodemserconsideradoseleitorais,asaber:

Art.26.Sãoconsideradosgastoseleitorais,sujeitosaregistroeaoslimitesfixadosnestaLei:(RedaçãodadapelaLeinº11.300,de2006)

I - confecção de material impresso de qualquer natureza e tamanho,observadoodispostono§3odoart.38destaLei;(RedaçãodadapelaLeinº12.891,de2013)

II - propaganda e publicidade direta ou indireta, por qualquer meio dedivulgação,destinadaaconquistarvotos;

III-alugueldelocaisparaapromoçãodeatosdecampanhaeleitoral;

IV-despesascomtransporteoudeslocamentodecandidatoedepessoalaserviçodascandidaturas;(RedaçãodadapelaLeinº11.300,de2006)

V-correspondênciaedespesaspostais;

VI - despesas de instalação, organização e funcionamento de Comitês eserviçosnecessáriosàseleições;

VII-remuneraçãoougratificaçãodequalquerespécieapessoalquepresteserviçosàscandidaturasouaoscomitêseleitorais;

VIII - montagem e operação de carros de som, de propaganda eassemelhados;

IX - a realização de comícios ou eventos destinados à promoção decandidatura;(RedaçãodadapelaLeinº11.300,de2006)

X - produção de programas de rádio, televisão ou vídeo, inclusive osdestinadosàpropagandagratuita;

XI-(RevogadopelaLeinº11.300,de2006)

XII-realizaçãodepesquisasoutestespré-eleitorais;

XIII-(RevogadopelaLeinº11.300,de2006)

XIV-(revogado);(RedaçãodadapelaLeinº12.891,de2013)

XV-custoscomacriaçãoeinclusãodesítiosnaInternet;

XVI-multasaplicadasaospartidosoucandidatosporinfraçãododispostonalegislaçãoeleitoral.

XVII - produção de jingles, vinhetas e slogans para propaganda eleitoral.

(IncluídopelaLeinº11.300,de2006)(BRASIL,1997).

É importante ressaltarque,paraospartidosarrecadaremrecursosparacustearestasdespesas, a Lei nº 9.504/97 impõe a necessidade de constituição de comitêsfinanceiroscomafinalidadedeadministrarosrecursosrecolhidos,sendoumcomitêpara cada eleição a qual o partido pretenda apresentar candidatura própria. Já oscandidatosestãoautorizadosaarrecadarporcontaprópriaoupormeiodeumapessoaporeledesignadaparaadministrarapartefinanceiraesuacampanha(LORENCINI,2013,p.134).

Esta norma de 1997 tratou do financiamento privado no processo eleitoral, comregulamentaçãodaarrecadaçãoderecursosdepessoasfísicaejurídicanoâmbitodaesferaprivada, instituindoseus limitesevedações.Poroutro lado, amodalidadedefinanciamento público está assegurada pelo artigo 17, § 3º, da Constituição daRepública,quereconheceuodireitoaofundopartidárioeaoacessogratuitoaorádioeàtelevisãoaospartidospolíticos.EstedireitoestáregulamentadopelaLeiOrgânicadosPartidosPolíticos,Leinº9.096de1995(KANAAN,2012,p.276).

Embora a Lei das Eleições faça remissão a um sistema de financiamento decampanhas políticas privado, remetendo a regulação do financiamento público, tãosomente, através de norma programática específica relativa à fonte de recursos deorigemestatal,previsãodoartigo79,daLeinº9.504/97.

É preciso considerar que o modelo de financiamento brasileiro é misto, pois, aomesmotempoemquepermiteousorecursosdeorigemprivada,possibilitaousoderecurso de origem estatal direto e indireto no pleito eleitoral, através do acesso arecursos de procedência do fundo partidário, com previsão no orçamento público,comotambémgaranteoacessoaohorárioeleitoralgratuitonasemissorasderádioede televisão nacionais, mediante a concessão de benefícios fiscais tributários àsempresas(KANAAN,2012,p.276).

OpróprioTribunalSuperiorEleitoralreconheceaorigempúblicaeprivada,noartigonº 14 da Resolução nº 23.217 de 2010, quando elenca as receitas de campanhaseleitorais:recursospróprios,doaçõesdepessoasfísicas,doaçõesdepessoasjurídicas,doações de outros candidatos, comitês financeiros ou partidos políticos, repasse derecursosprovenientesdoFundopartidárioereceitadecorrentedacomercializaçãodebens ou da realização de eventos (BRASIL, Resolução nº 23.217, do TribunalSuperiorEleitoral,2010).

O financiamento direto das campanhas políticas tem origem pública e privada. Ofinanciamento direto público decorre do uso de receitas do fundo partidário, cuja

composiçãoencontra-seprevistanoartigo38daLeinº9.096/1995:

OFundoEspecialdeAssistênciaFinanceiraaosPartidosPolíticos (FundoPartidário)éconstituídopor:

I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do CódigoEleitoraleleisconexas;

II - recursos financeiros que lhe forem destinados por lei, em caráterpermanenteoueventual;

III - doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas por intermédio dedepósitosbancáriosdiretamentenacontadoFundoPartidário;

IV-dotaçõesorçamentáriasdaUniãoemvalornuncainferior,cadaano,aonúmero de eleitores inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao dapropostaorçamentária,multiplicadosportrintaecincocentavosdereal,emvaloresdeagostode1995(BRASIL,1995).

Apossibilidadedousodessafontenascampanhaseleitoraisestáprevistanoartigo39,§ 5º, desta mesma lei, que confirma o direito aos partidos políticos de aplicar oudistribuir esses recursos pelas diversas eleições no decorrer do ano eleitoral.Conformeseverifica:

Em ano eleitoral, os partidos políticos poderão aplicar ou distribuir pelasdiversas eleições os recursos financeiros recebidos de pessoas físicas ejurídicas,observando-seodispostono§1ºdoart.23,noart.24eno§1ºdoart.81daLeino9.504,de30desetembrode1997,eoscritériosdefinidospelos respectivosórgãosdedireção epelasnormas estatutárias (BRASIL,1995).

A legislação brasileira utiliza como regra o critério de distribuição proporcionalutilizandocomoparâmetrodesempenhoeleitoraldaúltimaeleiçãoparaaCâmaradosDeputados, sendo 95% do total a ser distribuído observando a proporcionalidade.Contudo,tenhaestabelecidaumaregradeproteçãodospartidosmenores,adotandoadivisão igualitária de 5% do fundo partidário, descrito no artigo 41-A da LeiPartidária, incluído pela reforma promovida pela Lei nº 11.459 de 2007(LORENCINI,2013,p.136).

O critério de distribuição de recursos que utiliza como base a representaçãoparlamentar, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é consideradoconstitucional. Neste sentido o Supremo ao julgar a Ação Direta de

Inconstitucionalidade nº 1.408-1, cujo relator foi o Ministro Ilmar Galvão, quequestionava a utilização deste critério para divisão do horário eleitoral gratuito,decidiupelaimprocedenteaação,comosevênaementadestejulgamento:

Art.57daLein.9.100,de29de setembrode1995.Eleiçõesmunicipais.Distribuição dos períodos de propaganda eleitoral gratuita, em função donúmero de representantes de cada partido na Câmara Federal. Alegadaausência de generalidade normativa, além de ofensa ao princípio daisonomia. Improcedência da alegação. Solução legislativa motivada pelaprofundadesigualdadequeseverificaentreospartidos.Cautelarindeferida(BRASIL, Supremo Tribunal Federal, ADI nº 1.408-1, relator: MinistroIlmarGalvão,1997).

É importante salientar que as campanhas eleitorais brasileiras estão cada vez maiscaras, dessa formaos recursosdoFundoPartidárionão chegama ser significativosparaopadrãodefinanciamentoatual.Ficandoclaroque“nagrandemaioriadoscasoso financiamentoestatalpouco representacomosubsídioeleitoral” (ARAÚJO,2012,p.346).

Registra-seaquiquealegislaçãobrasileiranãoregulamentouaformadedistribuiçãointernados recursosdospartidos, ficandoadiretoriadas instituiçõespolíticas livrespara decidir a qual das campanhas de seus candidatos investirem suas receitas oudefiniramelhorformadedistribuiçãoemseuestatuto.

Quando se fala em financiamento indireto público, a legislação brasileira prevê autilizaçãodeprédiospúblicospararealizaçãodeconvençãopartidária,noart.8º,§2º,daLeinº9.504/1997;apropagandaeleitoralgratuitaeaimunidadetributária,ambascomprevisãoconstitucional.

A imunidade tributária merece destaque pela sua importância e forte impacto nasfinanças da campanha, tendo em vista a alta incidência de impostos no Brasil,encontraamparonaConstituição.NestesentidoLorencini(2013,p.136)asseguraque

asededopartido,ovalorarrecadadocomascontribuiçõesdeseusfiliados,enfim,qualquerexpressãoderiquezaqueserelacioneapatrimônio, rendaou serviços dos partidos não poderá sofrer incidência de imposto sobrepropriedadeterritorialurbana-IPTU,impostoderenda–IR,entreoutros.Facial imaginar o volume de arrecadação indireta proporcionada aospartidos políticos por aludida regra constitucional, principalmente quandose tem em conta uma elevada carga tributária de impostos, como é noBrasil.

Jáaformamaisrelevantedefinanciamentopúblico indiretoéaprevisãodehorárioeleitoral gratuito em rádio e televisão para a veiculação de propaganda eleitoral,devidoasuagrandeinfluênciaquepodeexercernasdecisõesdoseleitores.

O artigo 99 da Lei nº 9504/1997 estabelece que as emissoras de rádio e televisãotenham direito a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito paratransmissãodapropagandaeleitoraldospartidosecandidatos.Contudo,“autilizaçãodesse espaço, muito embora se trate de uma concessão estatal, representa umadiminuição na arrecadação e um custo de campanha que é assumido pelo PoderPúblico”(ARAÚJO,2012,p.343).Dessaforma,ficacaracterizadoofinanciamentoindiretodascampanhas.

Ofinanciamentoprivadoencontra-se regulamentadopelaLeinº9.504de1997,quepossibilitaaaplicaçãonascampanhasderecursosdoprópriocandidatoedoaçõesdepessoasfísicasoujurídicas,emdinheiroouestimáveisemdinheiro.Observa-seestaprevisão,porexemplo,noartigo20destanorma:

Art.20.Ocandidatoacargoeletivofará,diretamenteouporintermédiodepessoa por ele designada, a administração financeira de sua campanha,usando recursos repassados pelo comitê, inclusive os relativos à cota doFundo Partidário, recursos próprios ou doações de pessoas físicas oujurídicas,naformaestabelecidanestaLei(BRASIL,1997).

A Lei nº 9.504/1997 estabelece ainda limites de natureza temporal (quanto aomomentoemqueépermitido), subjetivos (quantoaodoador),quantitativos (quantoaovalormáximodegastos)eobjetivosparadoaçõesderecursosdeorigemprivada(LORENCINI,2013,p.136).

Quantoaolimitetemporal,entende-sequealegislaçãoestabeleceucomotermoinicialomomentoderegistrodocomitêfinanceirodopartidoparaosconcorrentespoderemrealizar os gastos de campanha. Como termo final, aduz que consiste na data daeleição,casohajasegundoturno,ospartidosecandidatosenvolvidosterãoadatadopleitodecisivopararealizaçãodegastos(LORENCINI,2013,p.136).

Noaspectoobjetivo,asdoaçõesecontribuiçõesparafinsdefinanciamentoprivadodecampanhaseleitoraispoderãoser feitasemdinheiroouestimáveisemdinheiro,nostermosdocaputdoartigo23daLeidasEleições.Lembrandoqueoapoiodeveserefetivado com o conhecimento do partido ou candidato, ou seja, os atos gratuitosprestadosporqualquersimpatizante,comodiscursosespontâneosdepessoaspúblicasem apoio à candidatura, realizados à revelia do partido ou candidato, não sãocontabilizadoscomodoaçõesparafinseleitorais(LORENCINI,2013,p.136).

Apresenta-seaindacomolimiteobjetivoostetosdedoaçõesestipuladosemlei,sendonocasodepessoasfísicasomáximode10%(dezporcento)dosrendimentosbrutosauferidos no anterior à eleição, conforme artigo 23 § 1º, I, da Lei 9.504 de 1997(LORENCINI, 2013, p. 136). Este limite não se aplica às doações estimáveis emdinheirorelativasàutilizaçãodebensmóveisouimóveisdepropriedadedodoador,cujolimitemáximoédeR$50.000,00(cinquentamilreais),nostermosdo§7ºdestemesmoartigo.

Ocritériocitadoacima,debasearolimiteemporcentagemderendimentobruto,naopinião deAraújo (2002, p. 232), é claramente discriminatório, fere o princípio daigualdade entre os cidadãos, da igualdadedeoportunidades entre os candidatos e opluralismopolíticos.Umavezqueprivilegiaainfluênciaexercidapelosmaisricosdopaís,poiselespossuemumacapacidademaiordecontribuirparao sucessodeumacampanhaeleitoraleacabapornãorepresentarumlimiteefetivoàscontribuiçõesdaspessoasfísicascomrendimentosmaiselevados.

Isso poderia levar os candidatos e partidos políticos a defenderem os interesses daparcelamaisricadapopulação,tendoemvistaapossibilidadedereceberemvultuosasquantiasa títulodefinanciamentodecampanhaseleitorais,oqueafrontaosvaloresdemocráticosinscritosnaConstituiçãoFederal.

Osrecursosdeorigemprivadaprovenientesdaspessoasjurídicasestãolimitados2%(doisporcento)dofaturamentobrutonoanoanterioràeleição,conformeartigo81,I,damesmalei(BRASIL,1997).Omesmocomentáriofeitoacimaparaotetodegastosdaspessoasfísicasévalidotambémnocasodaspessoasjurídicas,dadoqueolimitede uma empresa grande é muito maior e capaz de influenciar consideravelmenteduranteopleito.

Nesteponto,éprecisodestacarqueoTribunalSuperiorEleitoralaotratardamatéria,entendeu que tanto as doações feitas em ano eleitoral quanto as efetuadas em anoanterior ao das eleições devem limitar-se, no caso de pessoa física, a 10% dorendimentobrutoe,nocasodepessoajurídica,a2%dofaturamentobruto(GOMES,2012,p.276/277).

A participação das pessoas jurídicas é questionada por Sanseverino (2012, p.263/264),paraele,asempresasnãopossuemcapacidadeeleitoralativanempassiva;sendo assim, não deveriam participar da fase do processo eleitoral; atualmente oordenamentopossibilitaaparticipaçãonoprocessoeleitoralatravésdofinanciamentodas campanhas, o que possibilita o surgimento de distorção no sistema. ComoexemploelecitaumcasoocorridonaRegiãoSul,noqualumempresárioafirmaterinvestido nas eleições umvalorXnodeputadoY, por isso o deputadonãopoderia

contrariar os interesses da empresa, em votação a respeito do tema polêmico emrelaçãoaosinteressesdoempresário.Oquedemonstraquealegislaçãoprecisamudarnesteponto.

Estes limites apresentadosnão são aplicáveis aos candidatosquepretendamutilizarrecursosprópriosnopatrocíniodacampanha,estãovinculadosaolimitequantitativo,ou seja, ao valor máximo de gastos estabelecidos pelo seu partido (LORENCINI,2013,p.136).

No aspecto quantitativo, o legislador pátrio entendeu pela fixação de um limite degastos a ser observado por partidos e candidatos em relação aos dispêndios decampanha.Assimestatuioartigo17-AdaLeinº9.504,definindo:

Art.17-A.Acadaeleiçãocaberáàlei,observadasaspeculiaridadeslocais,fixar até o dia 10 de junho de cada ano eleitoral o limite dos gastos decampanha para os cargos em disputa; não sendo editada lei até a dataestabelecida, caberá a cada partido político fixar o limite de gastos,comunicando à Justiça Eleitoral, que dará a essas informações amplapublicidade(BRASIL,1997).

Contudo,observa-sequeo legisladoratribuiua imposiçãodesse limiteaospartidospolíticos, em caso de omissão legislativa, ou seja, os partidos ficam livres paraestabeleceremoslimitesqueacharemmaisapropriados.Embora,olimitedeveseromesmoparatodososcandidatosdemesmabandeiraemumaeleição,otetodegastospodeserdistintoemrelaçãoaoscandidatosdeoutrospartidos(LORENCINI,2013,p.130).Dessaforma,aausênciadeumtetolegalcontribuiparaodesequilíbrioentreoscandidatos a cargos públicos. Neste sentido, Lorencini (2013, p.131) condena estamedidaimpostapelolegislador:

Há,contudo,anossover,umabrechalegalnodispositivoquepodedarazoadesviosnosalutarmecanismode limitaçãodegastos:ofatodeeventualomissãodolegisladoremeditaraleilimitativaateodia10dejunhodoanoeleitoral permitir que cada partido politico supra a omissão legislativa,fixandopersiotetodegastos,restando-lhe,somente,odeverdecomunicara Justiça Eleitoral acerca da definição. Sem dúvida, existiriam outrosmecanismos viáveis de suprimento da omissão legislativa, que não adelegaçãopurae simplesaopróprioconcorrentedodireitode,a sua livreescolha,definirquantogastaránacampanha.Ora,adelegaçãodestafixaçãoao partido significa esvaziar de sentido e conteúdo a própria ideia delimitaçãodegastos,poisquelimitesháquandoéoprópriointeressadoqueos define?Teria agidomelhor o legislador caso, desde logo, apresentasse

critérios objetivos ou normas gerais de suprimento de eventual omissãolegislativanoanoeleitoral.

As limitações subjetivas referem-se às receitas, em dinheiro ou estimáveis emdinheiros, provenientes de pessoas jurídicas que tanto os partidos quanto oscandidatosestãoproibidosdereceberdeformadiretaouindireta,estãodispostasnoartigo24daLeinº9.504de1997,inverbs:

Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamentedoação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio depublicidadedequalquerespécie,procedentede:

I-entidadeougovernoestrangeiro;

II - órgãoda administraçãopública direta e indireta ou fundaçãomantidacomrecursosprovenientesdoPoderPúblico;

III-concessionáriooupermissionáriodeserviçopúblico;

IV - entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária,contribuiçãocompulsóriaemvirtudededisposiçãolegal;

V-entidadedeutilidadepública;

VI-entidadedeclasseousindical;

VII-pessoajurídicasemfinslucrativosquerecebarecursosdoexterior.

VIII-entidadesbeneficentesereligiosas;

IX-entidadesesportivas;

X-organizaçõesnão-governamentaisquerecebamrecursospúblicos

XI-organizaçõesdasociedadecivildeinteressepúblico.

Parágrafo único.Não se incluemnas vedações de que trata este artigo ascooperativas cujos cooperados não sejam concessionários oupermissionários de serviços públicos, desde que não estejam sendobeneficiadas com recursos públicos, observado o disposto no art. 81(BRASIL,1997).

A esse rol, outras hipóteses têm sido acrescidas, por exemplo, cartório de serviçosnotáriosederegistro,pelaresoluçãodoTSEnº22.715/2008(GOMES,2012,p.279).

Ousodeverbaprovenientede fontevedadacaracteriza captação ilícitade recursoseleitorais.Esteusoconstitui-seirregularidadeinsanável,quealémprovocararejeiçãodasrespectivascontas,ensejaresponsabilizaçãodocandidatobeneficiário,resultandonanegaçãododiplomaounacassaçãodestesejátiversidoexpedido,nostermosdonoartigo30-AdaLeinº9.504/97.Tambémsepodecogitarumaaçãopeloabusodepodereconômicoparafinsdeimpugnaçãodemandato(GOMES,2012,p.280).

Para finalizar,observa-sequeoartigo27prevêquequalquereleitorpoderá realizargastos, em apoio a candidato de sua preferencia, ate a quantia equivalente a 1.000(mil)UFIRs, Tais despesas não estão sujeitas a contabilização, amenos que sejamreembolsados pelo comitê ou partido (LORENCINI, 2013, p.138). Esse ponto danormapossibilitaaocorrênciadefraudes,umavezqueessascontribuiçõesdepessoafísicanãonecessariamenteserãocontabilizadas.

Analisadasasregrasarespeitodofinanciamentodecampanhaspolíticas,observa-seque atualmente neste país a modalidade adotada atualmente é mista e a legislaçãoapresenta algumas falhas, que possibilitam a influência do poder econômico noprocesso eleitoral, capaz de proporcionar uma desigualdade entre os candidatosduranteaseleições.

Nesteponto,verifica-seanecessidadedeumaanáliseempíricadofinanciamentocomo objetivo de verificar até que ponto esta influência pode ser observada durante aseleições.

2.2 Caso do Distrito Federal como exemplo daaplicabilidadedanorma

Nasegundapartedestecapítulo,serárealizadaumaanálisedaprestaçãodecontasdoscandidatosedoresultadodasúltimaseleiçõesparaoscargosdeDeputadosFederaisnoDistritoFederal, realizadasnoano2010,cujoobjetivoéentendercomoocorreàdistribuiçãodasreceitaiseleitoraiseseocorreumainfluênciadodinheironadisputaeleitoral.

Esta análise será baseada nos dados de 77 (setenta e sete) prestações de contasdisponibilizadas no site doTribunal SuperiorEleitoral para o cargo referido acima,sendoexcluídososcasosdoscandidatosquenão receberamvotoseosvotadosquenãoapresentaramsuasprestações.Contudo,osexcluídosreceberammenosde1%dos

votosnominais,demonstrandoqueestascandidaturasnãopossuemrepresentatividadefrenteaoseleitoresdoDistritoFederal.

Éimportanteressaltarqueemboraexistamreceitasquenemsempresãodeclaradasàjustiçafederal,conformeapontaKanaan(2012,p.298):

Pelafragilidadedosistemadecontroledearrecadaçãoedemovimentaçãodos recursosarregimentadospelospartidosecandidatos, recursosdeixam,muitasvezes,deseremdeclaradosàJustiçaEleitoralporteremorigememcaixadoisouem razãode suaprocedência ilícita, existindoconexãocomredesdecrimeorganizado,especificamenteasoriundasdeatividadescomoonarcotráficoeatividadesinformais,emquedificilmenteépossívelcoibiroexcessodedinheiroinjetadoemcampanhaspolíticas,porquefogedoreale efetivo controle das contas, pela falta de uma estrutura própria deauditoriadaJustiçaEleitoral.

A análise das prestações de contas dos candidatos é um método válido para acompreensão do funcionamento do financiamento de campanha, já que a partir deseusdadospode-sedefinirquembancaasreceitasefetivamentedeclaradasàJustiçaEleitoral(caixaum)eseaforçadopodereconômicodessesfinanciadoresbeneficiamos candidatos eleitos. Corroborando com essa afirmação, Reis (2010, p 22/23)asseguraque

Ao analisá-las, percebe-se que as fontes de doações normalmente são deempresas fortemente afetadas pela regulação governamental ou altamentedependentesdecontratoscomogoverno.Essefatosugerequeasprestaçõesde contas são instrumentos válidos de pesquisa, eis que se elas fossemcompletamentefalsas,talafirmaçãonãopoderiaserrealizada,sendoqueosdadosseriamapenasummeroconjuntoaleatóriodenúmeros.

O financiamento de campanhas políticas origina-se de receitas públicas e privadas,conforme demonstrado na primeira parte deste capítulo. Esta análise servirá paraconfirmar a dependência das receitas provenientes de pessoas físicas e jurídicasprivadasnocasoemanálise,comasimplicaçõesnegativasapresentadasnoprimeirocapítulodestetrabalho.

As doações são recebidas diretamente pelos candidatos, por comitês criadosespecialmente para as eleições e tambémpor diretórios dos partidos, que são entespartidários permanentes independentes do pleito eleitoral. Já os recursos do Fundopartidário são recebidos e distribuídos pelos diretórios nacionais dos partidospolíticos.

Neste ponto, a origem dos recursos das eleições de 2010 pode ser observada nográfico abaixo baseado nos dados da tabela 1A de Cláudio Weber Abramo,disponibilizada no artigo: “Poder econômico e financiamento eleitoral no Brasil –Parte1:CustodoVoto”(ABRAMO,2014,p.3.).

Gráfico1-OrigensdosRecursos-Eleiçõesde2010

Fonte:DadosretiradosdeABRAMO,ClaudioWeber.PodereconômicoefinanciamentoeleitoralnoBrasil–Parte1:Custodovoto.[S.L.]:[S.N],2014.p.3.

A partir desse gráfico verifica-se que o financiamento das eleições gerais de 2010apresenta umamaior quantidade de recursos originados das pessoas jurídicas, poisforamresponsáveispor59,50%daarrecadaçãototal,jáFundoPartidáriocontoucomuma fatia de 21,01% dos recursos contabilizados. Constata-se então que ofinanciamentoprivadoépreponderantenaseleiçõesbrasileiras.

Dessaforma,aarrecadaçãodedinheiroprivadosetornaumagrandepreocupaçãodoscandidatos,umavezqueoapoiodasempresaspodefacilitarsuasatividadesnabuscapelo voto dos eleitores. Consequentemente, os concorrentes podem se valer deilicitudesparatentarcompetirdeformamaisigual,conformejávistoanteriormente.

As receitas provenientes das pessoas físicas não tiveram tanto impacto para ascampanhas eleitorais, corresponderam a 10,98% da arrecadação disponível aoscandidatos,quaseseisvezesmenosqueovalorarrecadadojuntoàsempresas.

Noqueconcerneàsdoaçõesdaspessoas físicas, constatou-sequeagrandemaioriadessasdoaçõeséigualousuperioraR$1000,00,sendoassim,considerandoolimitelegalnessecaso,pode-seconcluirquepoucoscidadãosparticiparamdiretamentedofinanciamento. Já que grande parte da população não possui rendimento suficienteparadisponibilizarestaquantia(ABRAMO,2014,p.4).

As autodoações corresponderam a 8,51% da arrecadação, elas são limitadas pelos

partidos,nostermosdoartigo17-AdaLeinº9504,jácitado.Nestequesito,CláudioAbramo (2014, p. 5) observou um volume elevado em comparação com os bensdeclarados, 8,3% dos candidatos fizeram doações superiores a 10% dos bens quedeclaram.Dessaforma,afaltadeumlimiteimplicaemumaeleiçãodesigualentreosadversários,jáqueoscandidatosmaisricospossuemmaiorquantidaderecursosparainvestirememsuascampanhas.

Quantoàarrecadaçãonocasodoscandidatosestudadosnestetrabalhoapresentou-sedaseguinteforma:

Tabela1-ReceitadosCandidatosaDeputadoFederaldoDF

Fonte:DadosobtidospormeiodasbasesdedadosdoTribunalSuperiorEleitoralesite<www.asclaras.org.br>

Emumavisãogeralaarrecadaçãoderecursosparaascampanhasemestudosdeu-sede uma forma mais distribuída se comparado com ao financiamento nacionalapresentadonográficoanterior.Asdoaçõesdepessoasfísicaseasautodoaçõesforammais significativas, enquanto as doações das pessoas jurídicas foram menosexpressivas.

As verbas arrecadadas dos comitês e diretórios partidários foram as maioresapresentadas na tabela, chegaram a 32,69% dos recursos. Aqui, pode-se chegar àmesma conclusão ressaltada por Daniel Reis, quando realizou um estudo dofinanciamento eleitoral nas campanhas para o cargo de Presidente da República,chegou a conclusão de que as “empresas doam recurso ao partido na tentativa deesconder essa operação financeira por algunsmeses, já que o partido prestará suascontasàJustiçaEleitoralsomenteemabrildoanoseguinte”(REIS,2010,p.204).

Outro argumento seria o fato de as doações aos comitês financeiros servirem paramaquiarovinculoentreosdoadoreseosvaloresdoadosedeterminadoscandidatos.Reis explica afirmando que o dinheiro recebido pelo comitê, mesmo que seja

direcionadoparaumacandidatura,podeser repassadaparcialou integralmenteparavários concorrentes, “impedindo que o eleitor e/ou a mídia saiba para quemexatamente dirigiu-se a doação” (REIS, 2010 p. 205). Assim, verifica-se que asdoaçõesdaspessoas físicas e principalmentedas empresas sãomais expressivasdoqueparece.

As pessoas jurídicas doaram R$ 3.449.857,33 diretamente às campanhas doscandidatos ao cargo deDeputado Federal em análise, um percentual de 27,51%, asegundamaior fatia do financiamento, o que demonstra um interessemuito grandenas eleições distritais. Desse total, R$ 3.103.041,28, ou seja, quase 90% foraminvestidosnosdezcandidatosquemaisreceberamrecursos,obtendoêxitonaeleiçãodeseteconcorrentes.

Dessamaneira,nota-seainfluênciadopodereconômicodaspessoasjurídicasduranteopleitoeleitoral.Issopoderialevaroscandidatosepartidospolíticosadefenderemosinteressesdosempresáriosembuscadoseuapoio,comoresultadodeumvinculodedependênciaentreeles.Conformejávisto,Sanseverinoécontrárioaessaparticipaçãonoprocessoeleitoral,queécapazdegerardistorçõesnosistema,deformaaafrontarvaloresdademocracia.

Outro ponto refere-se ao uso de recursos próprios que, nas prestações de contasanalisadas,representou21,30%daarrecadação.Nestequesito,ocandidatoeleitoqueinvestiu mais expressivamente em sua própria campanha foi Luiz CarlosPietschmann,declarandoemseuregistrofinanceiroumaportederecursosprópriosnovalortotaldeR$1.500.995,36,cercade75%dasuaarrecadação.

Diante deste fato, Cláudio Abramo (2014, p. 5) afirma: “quando autodoaçõescompõemumaaltaparceladototaldasdoaçõesrecebidaspeloscandidatos,equandoelessãoeleitos,pode-sedizerque,naprática,compraramosucessoeleitoral”.Oquecomprometeaigualdadeentreoscandidatos,pois,comojádito,queminvestirmaisreceitapossivelmenteterásucessonaeleição.

A partir de agora, far-se-á uma estudo acerca da distribuição de recursos entre osconcorrentes, um importante elemento a ser examinado no financiamento, estarepartiçãoficaacritériodospartidos,jáquenãoéregulamentado.Esteitemdeveseranalisadoporqueénecessárioverificaraefetividadedofinanciamento,ouseja,saberse quem arrecadou mais recursos foram os candidatos eleitos, suplentes ou nãoeleitos.

Quantoàdistribuiçãodereceitas,osrecursosfinanceirosutilizadospeloscandidatosaDeputadosFederaisanalisadosestãorepresentadosnográficoaseguir:

Gráfico2-Distribuiçãodereceitasporsituação

Fonte:DadosobtidospormeiodasbasesdedadosdoTribunalSuperiorEleitoralesite<www.asclaras.org.br>

Conformeosdadosapresentados,podesenotarqueovolumede receitasdeclaradonasprestaçõesdecontasdoscandidatoseleitosébemmaiorqueovolumedeclaradodos demais candidatos, corresponde a 59,24% do total arrecadado, enquanto aarrecadaçãodossuplentesinteiram35,20%eadosnãoeleitostotalizam5,57%.Dessaforma,édesenotarodirecionamentoderecursosaalgunscandidatoscomoescopodeobteremmaischancesdesucesso,anteadiferençadearrecadaçãoentreeles.

Adesigualdadeentreoscompetidoresquantoaosinvestimentoséaindamaisevidenteseforconsideradoonúmerodebeneficiadosemcadasituaçãoeleitoral.Nocasoemestudo, a arrecadação dos eleitos beneficiou as campanhas de somente oitocandidatos,osrecursosdossuplentescorresponderamàsomadequarentaprestaçõesde contas e os recursos dos candidatos não eleitos referem-se a vinte e novecandidatos.

É necessário destacar que existem outros fatores que potencializam as campanhaseleitorais, seja pela fama do candidato ou pelo trabalho exercido em mandatospassados,comonocasodocandidatoaDeputadosFederaisdoDistritoFederalJoséAntonioMachadoReguffe, quenas eleições analisadasdeclarouuma receita deR$143.800,00efoiocandidatomaisvotado,com266.465votos.

Já os outros sete candidatos eleitos foramos quemais juntaram recursos para suascampanhas,todosarrecadaramvaloresacimadeR$650.000,00.Sendoassim,podesedizerqueháumamaiorchancedeêxitoaoscandidatoscommaiorcapitalaplicado,ouseja,adisponibilidadederecursoséfundamentalparaodesenvolvimentodeumacampanhapolíticaeficaz.

Seguindo a análise, é interessante apontar o montante médio, mínimo e máximoarrecadados pelos candidatos eleitos. Segundo dados observados, estes candidatosobtiveramummontantemédiodeR$928.647,70.OmínimofoidocandidatoReguffeno total de R$ 143.800,00 e o máximo corresponde ao valor arrecadado porPietschmannsomandoR$1.500.995,36,quejáforamevidenciadosacima.

Comisso,épossívelnotarquemesmoomontantemínimoaplicadoapresentando-semuito inferioraodosdemaiseleitos,amédiaarrecadadamostrou-semuitoelevada.Destemodo,pode-seinferirqueosvitoriosostiveramquebuscarmuitodinheiroparafinanciar suas campanhas. Ou seja, os números avaliados denotam a existência deumarelaçãoentreofinanciamentoeaquantidadedevotosrecebidosnestepleito.

Adependênciaentreavotaçãoeofinanciamentoaindapodeserconstatadaapartirdacorrelação estatística entre as receitas dos candidatos e a quantidade de votosrecebidos“qualquerquesejaoâmbitoqueseconsidere(estados,municípios,partidos,cargos)ésempremuitoalta”(ABRAMO,2014,p.6).NopleitoeleitoraldoDistritoFederalnãoédiferente,exibeumacorrelaçãode0,51,conformegráficoseguinte.

Gráfico3-CandidatosaoscargosdeDeputadosFederaisdoDF(Cadapontorepresentaumcandidato)

Fonte:DadosobtidospormeiodasbasesdedadosdoTribunalSuperiorEleitoralesite<www.asclaras.org.br>

Esse quadro demonstra esta lógica arrecadatória exposta nas disputas a cargospolíticos. Vê-se claramente que no caso da última eleição distrital para deputadofederal, o êxitonopleito eleitoral, avaliadopela escolhadoeleitor atravésdovoto,está amplamente ligadoao financiamento,dosoito concorrentes eleitos, sete sãoosmaisbeneficiadosderecursos.

Também,denota-seaexistênciadeumlimitemínimodearrecadaçãoabaixodoqualéimpossívelseeleger.Pode-seperceberquenográficoacimaarrecadarmaisdoqueomontantemínimo não garantiu a eleição do candidato,mas arrecadarmenos que o

limiteinferiorgarantiuqueoconcorrentenãoseelegesse,conformeensinouAbramo(2014,p.6).

Parafinalizar,passa-seàapreciaçãodeoutroelementoreferenteaofinanciamentodascampanhasdistritais,trata-sedocustodovotonaseleiçõesdeDeputadoFederal.Esteassunto deve ser estudado para conferir a influência do poder econômico nosresultadoseleitorais.

Ocustodovotoéobtidoatravésdarelaçãoentreaescolhadoeleitoreaquantidadede recursos disponibilizados pelos candidatos. Sendo assim, o Tribunal SuperiorEleitoral informa que ao todo os candidatos e partidos alcançaram1.285.106 votosválidosparaocargoestudadoeparaissoosconcorrentesdispuseramdeummontantetotal no valor de R$ 12.585.917,18. Ou seja, o custo de voto é de R$ 9,79,considerandotodososcandidatos.

Segundo informações apresentas no site Às claras, dedicado ao estudo dofinanciamento eleitoral no Brasil desde as eleições do ano 2002, a evolução dofinanciamentodoscandidatosaDeputadoFederaldeu-sedaseguinteforma:

Tabela2-EvoluçãodofinanciamentodosDeputadoFederaldoDFaolongodosanos

Fonte:DadosobtidospormeiodasbasesdedadosdoTribunalSuperiorEleitoralesite<www.asclaras.org.br>

Oscandidatosestãogastandocadavezmaisrecursosemsuascampanhas,conformeconstanosdadosacima,eocustodovotoestáficandomaiscaroacadaeleição.Porconseguinte, o peso desse valor deixa os candidatosmais expostos à influência dopoder econômico, devido à necessidade de recursos arcarem com as atividadeseleitoraiscorriqueirasemumacampanhapolítica.

Seguindo esta mesma linha, a partir da análise feita das prestações de contas épossívelvisualizaroscustosdosvotosdoseleitos,suplentesenãoeleitos,dadoque,asreceitasdecadasituaçãojáforamdisponibilizadasnestetrabalho.OcustodovotodoseleitosficounovalordeR$8,19,para907.323votosrecebidos;odossuplentes,novalordeR$13,02,para339.013votosrecebidos;jáosnãoeleitos,novalordeR$

15,42,para45.271votosrecebidos.

Logo,depreende-sequeofinanciamentoeleitoraldotadodemaisrecursostornamascampanhasmuitomaiseficazesqueasdemais,porisso,ovotodoseleitoscustaramum valor menor que os demais. Ou seja, o poder econômico dos financiadoresinfluenciadiretamenteno resultadodaseleiçõesepossibilitaoêxitodoscandidatosmaisfavorecidos.

A partir dessa análise, conclui-se que o dinheiro ocupa posto central no fluxo doprocesso de escolha dos representantes pelos cidadãos, em decorrência de umfinanciamento de campanhas eleitorais predominantemente de origem privada,compostoemsuamaioriadedoaçõesdepessoasjurídicas,oqueevidenciaograndeinteresse dos empresários no pleito eleitoral, aplicando cada vezmais dinheiro nascampanhaseleitoraisdeseuscandidatospreferidos.

Conformeseobservou,ascampanhaspolíticasdoscandidatosaDeputadoFederalnoDistritoFederalnecessitamcadavezmaisdearrecadarrecursosparaseremrealmenteefetivas. Consequentemente, isso pode levar aos efeitos nocivos da influência docapital privado no processo eleitoral, como, por exemplo, a desigualdade entre ospretendentes e a possibilidade de criar um vínculo com os financiadores capaz dedesvirtuardecisõespolíticasfuturas.

3DemocraciaerepresentaçãoAregulamentaçãodofinanciamentodascampanhaseleitorais,comopartedoDireitoEleitoral, deve se elaborada consagrando os valores e princípios estabelecidos naConstituiçãoFederal,queinstituioBrasilcomoumEstadoDemocráticodeDireito.

Oobjetivodestecapítuloéidentificarosvaloreseprincípiosatinentesàdemocraciaeà representação política, especialmente voltados ao problema do financiamento decampanhaseleitorais.Contudo,éimportantesalientarque,noslimitesdestetrabalho,é impossível tratardosvários conceitosexistentesdedemocracia, entãobuscar-se-átrazerumanoçãoligadaàdemocraciarepresentativa.

Justifica-se esta opção porque a Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 1º,caputeparágrafoúnico,reconheceaRepúblicaFederativadoBrasilcomoumEstadodemocráticodedireitoeque todopoderemanadopovo,queoexercepormeioderepresentantes eleito, que são características essenciais a esta concepção dedemocracia.

Ocapítuloseiniciacomaapresentaçãodedemocracia.Emseguidaseráabordadaarepresentação política. Para finalizar, falar-se-á a respeito da legitimidadedemocrática.

3.1Democracia

Historicamente aponta-se aGrécia como sua origem, com base no sistema políticoadotadonacidade-estadodeAtenas,nametadedoséculoVa.C. (COSTA,2010,p.247).Aetimologiadapalavraderivadosgregosquecunharamotermodemokratia:demos(povo)ekratos(poder),ouseja,poderdopovo(GOMES,2012,p.35).Assim,percebe-sequeademocraciaéumconceitoantigoequetemsemodificadoaolongodosanos.

EmumconceitomaisamploBonavides(2001,p.57)entendequeademocracia“éumprocesso de participação dos governados na vontade governativa”. Já NorbertoBobbio (2007, p. 135) afirma que foi sempre definida como uma das formas degovernoexercidopelopovo,oumelhor,umdosdiversosmodosdeexercíciodopoderpolítico. Então, consiste em uma forma de governo em que há participação dosgovernadosatravésdavontadepopular,naqualopovoexercedopoderpolítico.

Ademocracia pode ser entendida tanto pelo aspecto formal quanto por um aspecto

substancial. Quanto ao primeiro, Bobbio (1998, p. 327) conclui que a democraciaformal constitui “um método ou um conjunto de regras de procedimento para aconstituição de Governo e para a formação das decisões políticas (ou seja, dasdecisões que abrangem a toda a comunidade) mais do que uma determinadaideologia”.

Já no aspecto substancial, está ligada aos ideais característicos do pensamentodemocrático,indicacertoconjuntodefins,entreosquaissobressaiofimdaigualdadejurídica,socialeeconômica,independentementedosmeiosadotadosparaalcançá-los(BOBBIO,1998,p.328).

Importa salientar a observação de que são três os fundamentos de um Estadodemocrático:a)asupremaciadavontadepopular,queéaprevalênciadavontadedopovoemdetrimentodavontadedoindivíduoougrupo;b)apreservaçãodaliberdade,“entendidacomoopoderdefazertudooquenãoincomodasseopróximoecomoopoderdedispordesuapessoaedeseusbens,semqualquerinterferênciadoEstado”;c) a igualdade de direitos, “entendida como a proibição de distinções no gozo dedireitos,sobretudopormotivoseconômicosoudediscriminaçãoentreclassessociais”(DALLARI,1998,p.56).

Segundo Bobbio, existem três grandes correntes do pensamento político parademocracia na teoria contemporânea: A teoria clássica baseava-se na teoria deAristóteles,queentendiademocraciacomoogovernodopovo,detodososcidadãos,diferente da monarquia, apenas um governante, e da aristocracia, na qual poucosgovernavam,ouseja,trêsformasdegoverno.Ateoriamedieval,deorigemromana,éfundada na soberania popular, podendo o poder supremo ter se originado do povosendo representativo ou originado do príncipe sendo este delegado. Finalmente, Ateoriamoderna,baseadonoentendimentodeMaquiavel,concebidacomoadventodoEstadoModerno,segundoaqualamonarquiaearepúblicaeramasduasformasdegoverno,jáademocraciaseriaumdasformasderepública(BOBBIO,1998,p.319).

AdemocraciaencontradanacidadedeAtenas,duranteosséculosVeVI,erabaseadana participação direta dos cidadãos, sendo estes legitimados para decisões na vidapolítica,tomadaspelaassembleiadospolitai,enquantoasfunçõesexecutivascabiamao Conselho dos Quinhentos, cujos cargos políticos eram preenchidos por sorteio(COSTA, 2010, p. 212). Estemodelo de democracia direta segue o fundamento dateoriaclássicadepensamentopolíticocontemporâneo.

Nesta formadeautogovernodopovoestavamasseguradasa isonomiadoscidadãos(igualdadede todosperante a lei) e a liberdadede tomarapalavranaassembleia eação política, percebe-se então que o cidadão pode comandar e ser comandado,

conforme preconiza a definição aristotélica (COSTA, 2010, p. 212). Cabe destacarqueestesideaissãoimportantesatéhojequandosefalaemdemocracia.

Nestemesmosentido,Aristóteles,grandepensadorpolíticodesuaépoca,defendidaqueogovernodemocrático tinhacomobasea liberdadeea igualdadedoseupovo.Emsuaobra,destacou:“sealiberdadeeaigualdadesãoessenciaisàdemocracia,sópodem existir em sua plenitude se todos os cidadãos gozarem da mais perfeitaigualdadepolítica”(ARISTÓTELES,1996,p.IV).

Interessante é que nesta época o termo “democracia” era colocado de formapejorativa,porexemplo,paraPlatãocorrespondiaapior formadeGovernoentreasboas e a melhor entre as más, já para Aristóteles correspondia à forma corrupta,ambosapontavam-nacomoogovernodospobres(BOBBIO,1998,p.320).Estavisãodademocracianãosemanteve,paraosdoutrinadoresmodernosesteregimepolíticoseráoquemelhoratendeaosanseiosdapopulação.

Outropontoimportanteparaoentendimentoatualdoassuntofoiàideiapresentenaculturamedieval, quenão se referia auma teoriadedemocracia,masbuscounestaépocaumestudoarespeitodafontedopoder.Osjuristasmedievaiselaboramateoriada soberania popular, segundo a qual, o poder atribuído ao imperador,originariamente, era do povo, ou seja, referia-se a passagem do poder do povo aoimperador(BOBBIO,1998,p.321).

UmaexcepcionalcontribuiçãodestaépocafoiadeMarsíliodePáduaqueatribuíaaopopulusofundamentodaordempolítica,paraelehaviadoispoderesfundamentaisdoEstado:oprincipaldopovo,legislativo,eopoderderivado,executivo,que,paraele

[...] o poder efetivo de instituir ou eleger um Governo diz respeito aolegislador ou a todoo corpodos cidadãos, assim como lhe diz respeito opoderdefazerleis...Damesmaformadizrespeitoaolegisladoropoderdecorrigir e até de depor o governante, onde houver vantagem comumparaisso(PÁDUA,citadoporBOBBIO,1998,p.321-2).

Rousseau,citadoporBobbio(2007,p.145).foioutrograndedefensordademocracia,seguiaateoriadasoberaniapopular,defendiaumademocraciavoltadaàformaçãodeuma vontade geral, com a participação do povo na produção das leis do corpopolítico.Definiaaliberdadecomo“aobediênciadecadaumàleiqueseprescreveu”.

Entretanto, esta forma direta de democracia se tornava impraticável nos grandesEstados territoriais.OpróprioRousseau,citadoporBobbio(2007,p.150)afirmavaque a existência de uma verdadeira democracia somente era possível em Estados

pequenos, “no qual ao povo seja fácil reunir-se e cada cidadão possa facilmenteconhecertodososdemais”.

Anteaimpossibilidadedeaplicaçãodademocraciadireta,passou-seaoutrasformasdeparticipaçãodopovo,Lockedefendiaqueopoderlegislativodeveriaserexercidopor representantes, opondo-se a Rousseau, segundo o qual, deveria ser assumidodiretamentepelopovo.Nesteponto,Bobbio(2007,p.151)assevera:

AúnicaformanãoautocráticadegovernopossívelnumgrandeEstadoéogoverno por representação, que é uma forma de governo democráticocorrigido, temperado ou limitado, e enquanto tal tornado compatível comumterritóriomuitovastoecomumapopulaçãonumerosa.

Corroborandocomesteentendimento,Maquiavel,citadoporBobbio(1998,p.322),entendiaquenademocraciaopoderdeveriaestardistribuídoparaórgãoscolegiadosenãoconcentradonasmãosdeumsó.Dessaforma,percebe-sequeparaospensadorespolíticos modernos a soberania popular deveria ser delegada aos responsáveis porexerceraautoridadeemnomedopovo,ouseja,atravésdarepresentaçãopolítica.

Surgeademocraciarepresentativaqueéumaformadegovernonaqual“odeverdefazer leis diz respeito, não a todo o povo reunido em assembleia,mas a um corporestrito de representantes eleitos por aqueles cidadãos a quem são reconhecidosdireitospolíticos”(BOBBIO,1998,p.324).Nestemesmotoar,Gomes(2012,p.39)aponta:

Indiretaéademocraciarepresentativa.Nelaoscidadãosescolhemaquelesque os representarão no governo. Os eleitos recebem um mandato. Aparticipação das pessoas no processo político se dá, pois, na escolha dosrepresentantesoumandatários.Aestetocaomisterdeconduzirogoverno,tomando as decisões político-administrativas que julgarem com asnecessidadesqueapresentarem.

Ademocraciaindireta(representativa)éaquelaemqueopovonãoexercediretamenteopoderesimoutorgaaresponsabilidadedasdecisõespolíticasaseusrepresentantes,escolhidos para exercer ummandato e, nessa condição, devem externar a vontadepopular,comoseoprópriopovoestivessegovernando(DALLARI,1998,p.57).Issonãosignificadizerqueháumarenúnciadepoder,por issoháumarenovaçãodessaoutorga mediante as eleições. Para Manuel Ferreira Filho (2012, p. 95), écaracterizada:

porpermitira livre formulaçãodaspreferênciaspolíticas,prevalecendoas

liberdades básicas de associação, informação e comunicação, com oobjetivo de propiciar a disputa, a intervalos regulares, entre líderes epartidos a fim de alcançar o poder por meios não violentos econsequentementeexercê-lo.

Esta noção de democracia não está dissociada dos fundamentos democráticos deliberdade, igualdadeeda soberaniadavontadepopular, damesma formaCerqueira(2008,p.183),tambémsegueesteentendimentodefinindo:

Democracia é uma forma de regime político, na qual é permitida aparticipaçãodopovonoprocessodecisórioesua influêncianagestãodosempreendimentosdoEstado,consubstanciadaemvaloresfundamentaisquea norteiam (maioria – o que a maioria do povo decidir está decidido;igualdade – todos os membros da sociedade têm a mesma condição(igualdadeperantealei)–eliberdade–livre-arbítriodeescolha,devotodeconsciência, de pensamento, de ir e vir, etc.) e princípios (soberania – avontadedopovoéaquedecide;eparticipaçãodiretaouindireta–opovodecidindodiretaouindiretamente,porseusrepresentantes,oregimepolíticoaserseguidoetraçado).

Agora a questão a ser trabalhada refere-se à descriçãodas principais característicasdesses fundamentos norteadores do processo eleitoral, tais como os princípios dasoberaniapopular,dosufrágio,dopluralismopolíticoedarepresentatividade.

O princípio da soberania popular significa dizer que o poder se origina do povo,baseado namáximade “todos os cidadãos são titulares do poder soberano e têmodireitodeparticipar emseuexercício” (LIPPOLIS,1998,P.63).Aparticipaçãovaialém do direito de expressão da própria opinião, de reunião ou de associação parainfluirnapolíticadopaís,compreendeaindaodireitodeelegerrepresentantesparaoParlamentoedesereleito(BOBBIO,1998,p.324).Nota-sequeoexercíciodopoderfundamenta-se na legitimação da vontade popular. Neste ponto Karl Lowenstein,citadoporAraújo(2002,p.202),lembraque

Aideiadepovocomodetentorsoberanodopodernãoésenãoumaestérileequívocahipóteseseastécnicaseleitorais,pormeiodasquaisoeleitoradodetermina aos candidatos e aos partidos que deverão representá-los noparlamento e no governo, não estão estabelecidas de tal maneira que oresultadoeleitoral reflitahonrada e exatamente avontadedos eleitores.Osistemaeas leiseleitoraisdevemser imparciaiseabsolutamenteobjetivosfrente a todos os candidatos. Esta exigência somente a cumprirá aquelaordemconstitucionalquegarantaasmesmaschancesatodososcandidatos

e partidos para receber os votos dos eleitores. A absoluta neutralidadepolíticadevesera lei supremaemtodasas fasesdoprocessoeleitoral:osrequisitosdevotaresereleito,adelimitaçãodascircunscriçõeseleitorais,aproclamaçãodoscandidatos,adireçãodacampanhaeleitoral,avotação,oescrutínio,adistribuiçãodosmandatos,deacordocomosvotosemitidosaseu favor, entre os diferentes partidos que participam, e a decisão sobreeleiçõescontestadas,

Ademocraciarepresentativatemcomocaracterísticaapráticadeeleições, istoé,daescolha pelo cidadão de seus governantes através do sufrágio. Conforme ensinaBonavides (1994, p. 228), sufrágio “éopoder que se reconhece a certo númerodepessoas(ocorpodecidadãos)departicipardiretaouindiretamentenasoberania,istoé,nagerênciadavidapública”.Ressalta-sequeépormeiodovotoqueapopulaçãoexpressaasuavontadeeexerceoseudireitodesufrágio.

AconsolidaçãodoEstadorepresentativo,nosensinamentosdeBobbio,passaporumprocessodedemocratizaçãoseguindoduaslinhas:“oalargamentododireitodevotoaté o sufrágio universal masculino e feminino, e o desenvolvimento doassociacionismopolíticoatéaformaçãodospartidosdemassaeoreconhecimentodesuafunçãopública”(BOBBIO,2007,p.153).Quantoàextensãododireitodevotar,segundoDallari (1998, p. 69), pode-se citar dois princípios orientadores do direitoeleitoral:

a) O eleitor deve ter a possibilidade de agir livremente no momento devotar. Se houver qualquer fator de coação, direta ou indireta, viciando avontade do eleitor, sua manifestação já não será autêntica. E a falta deautenticidade no pronunciamento de muitos eleitores compromete todo oprocessoeleitoral,retirando-lheocaráterdemocrático.b)Oeleitordeveterconsciência da significação de seu ato. Evidentemente, não se há depretender que qualquer colégio eleitoral se componha só de indivíduosdotadosdegrandeculturapolítica.Masoqueérazoávelpretenderéqueoseleitores, tendo noções fundamentais da organização do Estado e dascompetênciasqueatribuemaoseleitos,votemcomresponsabilidade.Comoéóbvio,osimplesfatodealguématenderaosrequisitoslegaisparaexercerodireitodesufrágionãoindicaaexistência,defato,depreparoadequado.Cabe aos governos democráticos promover a educação política doeleitorado,atravésdadivulgaçãosistemáticadeconhecimentos,pormeiodeprogramas escolares, e concedendo ao povo amplas possibilidades deexercíciolivredosdireitospolíticos,aproveitandoosefeitoseducativosdaexperiência.

Aseleiçõesviciadas,corrompidas,fraudadaseusadascomocampodepropagaçãodecrimes e abusos do poder econômico ou político atingem diretamente a soberaniapopular. Com base nisso, os fundamentos do regime democrático impõem que nodecorrerdoprocessoeleitoraldevemserasseguradastodasascondiçõesparaqueaseleiçõesocorramdeformalivre,eseuresultadoproclameintegralmenteasescolhasdoscidadãos.

O princípio do pluralismo político é outro essencial nas democracias modernas, aConstituiçãoFederaldoBrasil,artigo1º, incisoV,adotaopluralismopolíticocomoumdosfundamentosdesteEstadodemocrático(BRASIL,1988).

Norberto Bobbio (1998, p. 928) entende que o pluralismo é uma concepção desociedadecompostadeváriosgruposoucentrosdepoder,emconcorrênciaentresi,aos quais é atribuída a função de limitar, controlar e contrasta de tal forma quenenhumdessescentrossejasoberanoemrelaçãoaosdemaisgruposdoEstado.

O pluralismo político é caracterizado pela diversidade de concepções ideológicaspartidárias na sociedade e pela perfeita interação entre o cidadão e a representaçãopartidária (KANAAN, 2012, p. 286). Compreende-se também que os diferentesgrupossociaissefazemrepresentadospelospartidospolíticoseessespossibilitamqueosváriosinteressessemanifestemesecontraponhamdeformapacífica,semincidiremconflitosnasociedade.

Ospartidospolíticos semdúvida assumiramgrande importância àdemocracia, poissãoelesqueviabilizamoexercíciododireitopolíticodevotareservotado.Agregamas diferentes correntes de opinião e permitem o fracionamento ideológico dasociedadeque,entãopodefazeraescolhadaquelesqueirãorepresentareadministrarseus interesses (SOBIERJASKI, 2012, p. 29). Dessa forma, a realização de umaescolha livrepressupõea regulamentaçãodoprocesso eleitoral, inclusivequanto aofinanciamentodecampanha,instituídadeformaareduzirdesigualdadesquepossamafetaropluralismopolítico.

Fundamentalmente,aliberdadeeaigualdadesãooutrosdoisvaloresquenorteiamoprocessoeleitoralinerenteàdemocracia,encontram-seinseridasnoroldosdireitosegarantias fundamentais, caput do artigo 5º, da Constituição (BRASIL, 1988).Reforçandoa ideiadequea liberdade juntocoma igualdadeservecomobaseparademocracia, desse modo, é essencial para este trabalho a descrição desses doisinstitutos.

A concepção liberal de democracia destaca a participação dos cidadãos no poder,mesmoquesejaindiretamente,comaressalvadequeestasejalivre,istoé,sejauma

expressãoeumresultadodetodasasoutrasliberdadesindividuais,deexpressão,deinformação, de pensamento, de imprensa, de reunião, etc. Esta concepção impõetambémqueparaoEstadoserconsideradodemocráticodevereconheceroprincípiodasoberaniapopularealgunsdireitosfundamentaisdeliberdadequetornampossívelumaparticipaçãopolíticaguiadaporumadeterminaçãodavontadeautônomadecadaindivíduo(BOBBIO,1998,p.324).

Liberdade significaque sepodeescolher livrementeentreospartidospolíticos eoscandidatosconcorrentes,votarembrancoeatémesmoanularovoto.Apesardehaverodeverdevotar,todossãolivresparaescolherounãoumcandidato(GOMES,2012,p.44).

Deste modo, o princípio de liberdade, no âmbito do Direito Eleitoral, deve serentendido de duas maneiras: A primeira, a liberdade de participação ativa naseleições, aqui se refere ao direito de se candidatar e também de desenvolver umacampanhaeleitoralefetiva;jáasegunda,aliberdadedeescolhanahoradevotar,ouseja,oexercíciodovotodeveserisentodequalquercoaçãoouvícionavontadedoeleitor, conforme já apontado anteriormente. Posto isso, os cidadãos se encontrarãolivrespararealizarsuasescolhas,comcapacidadededecidirdemocraticamentesemquesoframinterferênciadeoutrem(ARAÚJO,2002,p.206).

Arealizaçãodaseleiçõeslivresdevíciosecoaçõespressupõeajunçãodesteprincípiocomaideiadeigualdadedechancesentreoscandidatos,provandoquealiberdadeeaigualdadecaminhamjuntasnademocracia,demodoqueumarefletenaoutra.

OprincípiodaigualdadeimpõequeatodososresidentesnoBrasildeveserdeferidoomesmotratamento,nãoseadmitindodiscriminaçãodeespéciealgumaamenosqueo tratamento diferenciado reste plenamente justificado, quando será objetivamenterazoávelo tratamentodesigual (GOMES,2012,p. 50).Naspalavrasdo autorFelixOppenheim(1998,p.711):

O princípio da igualdade, ou melhor, do nivelamento das oportunidadesaplica-seporissoàredistribuiçãodoacessoaváriasposiçõesnasociedadeenão à atribuição dessasmesmas posições.O problema é, pois, o de fazercombinar pessoas de dotes desiguais com posições que oferecem umaremuneração, um poder ou um prestígio desigual. A solução é torná-lasacessíveisa todosmedianteacompetição.Hipoteticamente, sea todos fordadoummesmopontodepartida,aposiçãoqueenfimocuparãodependeráexclusivamente da velocidade com que tiverem corrido e da distânciaalcançada.

EsteprincípioadquireespecialrelevonosdomíniosdoDireitoeleitoral,noqualdeveserentendidocomoaigualdadedeoportunidadesnoacessoaoscargospúblicos,istoé,osconcorrentesacargoseletivosdevemcontarcomosmesmospoderesparaseremeleitos e tambémumagarantia de igualdade no valor do voto, isto é, no direito deeleger os representantes, ressalvadas as situações previstas em lei – que buscam oamparo de outros valores – e as naturais desigualdades verificadas entre eles(GOMES, 2012, p. 50). Desse modo, busca-se assegurar a todos os cidadãosoportunidadesiguaiseminfluenciarnasdecisõespolíticas.

A igualdade, assim como a Liberdade, centraliza-se tanto no eleitor quanto nocandidato,logo,odireitodevotar(escolherseusrepresentantes)eodireitoderecebervotos(candidataresereleito)devemobedeceracritériosigualitáriosnademocracia.A vista disso, “as candidaturas assumem a qualidade de igualitárias quando oordenamento jurídico reconhece a todos os cidadãos o direito de concorrer noprocesso eleitoral, cujas restrições somente podem ser aquelas previamenteestabelecidasnalei”(ARAÚJO,2002,p.207).

AConstituiçãobrasileiraasseguraaoscidadãosodireitodeparticipaçãonapolítica,determina,nocaputdoartigo14,que“asoberaniapopularseráexercidapelosufrágiouniversal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos”, consagrando oprincípio da igualdade política. Defini, no § 3º do artigo 14, condições deelegibilidade,ouseja,osrequisitosparaoexercíciodacapacidadeeleitoralpassivaeapresenta,nos§§4ºe7ºdoartigo14,hipótesesdeinelegibilidadesconstitucionaiseinelegibilidades infraconstitucionais (BRASIL, 1988). Respeitadas essas regras, aparticipaçãonapolíticarestaráigualparatodos.

No entanto, esta igualdade traduz a ideia da democracia liberal voltada aoindividualismo e na liberdade individual, quer dizer, uma igualdade formal. Naspalavras de Matheus Silva (2005, p. 155), baseado nos ensinamentos de Carter eStokes:

A ênfase da democracia liberal no individualismo e na liberdade doindivíduofrenteaopoderdoestado,entretanto,nãosetraduzemigualdadepolíticareal.Atualmente,todos(oupraticamentetodos)têmodireito(eàsvezes o dever) de participar politicamente nos fóruns legalmenteestabelecidos para tal participação, tais como eleições, plebiscitos,referendos, leis de iniciativa popular etc., mas qualquer tentativa departicipação além desses limites formalmente estabelecidos é vista comoperigosaporameaçarosvalorespolíticosliberais.Essaênfase,aoinvésdeenfatizaraigualdade,fazcomqueasdemocraciascapitalistaspreservemaigualdadepolíticaformal,masneguemaigualdadepolíticasubstantiva.

AConstituiçãoFederalconfiaacriaçãodemecanismosparaprotegeranormalidadeealegitimidadedaseleiçõesàlegislaçãocomplementar,deformaalimitarainfluênciaabusivadopodereconômicoedopoderpolítico,acorrupçãoeafraudenoprocessoeleitoral.Nostermosdoseuartigo14,§9º,oqualprescreve:

Leicomplementarestabeleceráoutroscasosde inelegibilidadeeosprazosdesuacessação,afimdeprotegeraprobidadeadministrativa,amoralidadepara exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e anormalidade e legitimidade das eleições contra a influência do podereconômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego naadministraçãodiretaouindireta(CONSTITUIÇÃO,artigo14,§9º).

Essas normas devem levar a efeito o conjunto desses princípios associados àdemocraciaparanãodesvirtuaraescolhadosrepresentantespolíticospeloscidadãos.A questão se encontra no fato de que, em várias ocorrências, o sistema jurídicoeleitoral possibilita distorções que acentuam os privilégios econômicos dedeterminados setores da sociedade, demaneira a violar a liberdadena formaçãodavontadedopovo,prejudicandoarealizaçãodarepresentaçãopolítica.

Aregulaçãodofinanciamentodecampanhaseleitoraisenquantopartedessesistemaeleitoraldeveserconstruídacomregras, técnicase instrumentosseguroseeficazes,suficientemente capazes de diminuir as desigualdades econômicas e garantir aimparcialidade durante o processo eleitoral, em vista a identificar vontade popular,contribuindoparaefetivarademocraciarepresentativa,preceitoprevistonoartigo1ºdaConstituiçãoFederaldoBrasil.

3.2Representaçãopolítica

Ademocraciarepresentativatemsuaefetivaçãoatravésdarepresentaçãopolítica,umavezquecabeaoscidadãosa“escolhadosrepresentantesoumandatários.Aestetocaomister de conduzir o governo, tomando as decisões político-administrativas quejulgaremcomasnecessidadesqueapresentarem”(GOMES,2012,p.39).

A base fundamental da representação é a ideia de que os homens em geral nãopossuem a capacidade necessária para analisar e consequentemente resolver osproblemaspolíticos,porissoessasdecisõesdevemseratribuídasaosmaiscapazes,osrepresentantes do povo (FERREIRA, 2012, p. 95). Essa tese é atribuída aMontesquieu,citadoporHamon;TropereBurdeau,(2005,p.173),segundooqual:

A maior vantagem dos representantes é que são capazes de falar denegócios.Opovonãoestádeformaalgumaaptoaisso,oquerepresentaum

dos grandes inconvenientes da democracia... Havia um grande vício namaioria das antigas repúblicas: o povo tinha o direito de tomar decisõesativas, o que demanda algum esforço, coisa da qual ele é totalmenteincapaz.Elesódeveingressarnogovernoparaescolherseusrepresentantes,oqueestádefatoaoseualcance.Pois,sehápoucaspessoasqueconhecemoverdadeirograudacapacidadedoshomens,cadaumé,entretanto,capazdesaber,emgeral,seoescolhidoémaisesclarecidodoqueamaioria.

O conceito de representação, no contexto político, torna-se complexo em face àsmudançasemsuaaplicaçãonosistemapolítico,contudo,épossívelafirmarque,paraas democracias modernas, a representação política se concretiza nas assembleiasparlamentares,semdeixardeladoasinovaçõesemoutrasinstituiçõespolíticas,comono executivo, e também em todo o sistema político (COTTA, 1998, p. 1101). Noentanto, tem-se em mente que a representação política apresenta uma evoluçãohistóricaemseuconceito,alterando-seconformeasformasdegovernoapresentadaspelos estudiosos políticos, e que exerce grande importância para o estudo dademocracia.

A representação pode ser entendida como vínculo entre os governados e osgovernantespeloqualestesagememnomedaquelesedevemtrabalharpelobemdosrepresentadosenãopelopróprio(FERREIRA,2012,p.96).Deoutro lado,pode-seatribuirumconceitoligadoàordemsemântica,naqualrepresentarsignificasubstituir,tornar novamente presente, agir no lugar de ou em nome de alguémou de algumacoisa.Oquenapráticasignifica:

a)significadosquesereferemaumadimensãodaação,—orepresentaréuma ação segundo determinados cânones de comportamento; b)significados que levam a uma dimensão de reprodução de prioridades oupeculiaridades existenciais; representar é possuir certas características queespelham ou evocam as dos sujeitos ou objetos representados (COTTA,1998,p.1102).

Com base em suas finalidades, a representação política é definida como apossibilidadedecontroledopoderpolítico,porquemnãopodeexercerpessoalmenteopoder,ouseja,“ummecanismopolíticoparticularparaarealizaçãodeumarelaçãodecontrole(regular)entreosgovernadosegovernantes”(COTTA,1998,p.1101).

Quanto ao conteúdo da função e ao papel dos representantes, há uma discussãodoutrinária a respeitodavinculaçãodasdecisõesdos representantes em relaçãoaosrepresentados,ouseja,seasdecisõespolíticasdeveriamseguiroqueorepresentanteachamelhorouseguirointeressedosrepresentados.

Nesta seara, Cotta (1998, p. 1102) delimitou três modelos sobre a representaçãopolítica: 1) como relação de delegação: neste modo o representante não goza deautonomia para agir, sendo este somente um executor do que lhe foi delegado; 2)como relação de confiança: este modelo garante uma autonomia do representante,devendo este apenas agir conforme o interesse comum; e 3) como relação de“espelho” ou representatividade sociológica: nestemodelo o foco central não é norepresentante,masnoorganismo representativocomoum todo, cujas característicasdevemreproduzirocorpopolítico,emsuapluralidadeediversidadesocialcoletiva.

Aculturamedievalentendiaarepresentaçãocomoumarelaçãodeidentidadeentreaparteeo todo,pressupõeaexistênciadeumaordemjáestabelecida,umasociedadeestruturada, articulada e hierarquicamente ordenada. No ensinamento de Costa, aparte“desenvolveumafunçãoderepresentaçãonãoporsubstituirosmuitos,masporse identificar-se com o todo, com o corpus, com auniversitas” (COSTA, 2010, p.159).Dessaforma,avontadedosrepresentanteserepresentadosseriaumacoisauna,correspondendoaoprimeiromodelocitadoacimaodarelaçãodedelegação.

Diversamentedodiscursomedieval,Hobbesatribuíaàrepresentaçãoumarelaçãodeduplicidade,naqualoatorageenquantoautorizadopeloautor.Paraele,aordemnãoéumagarantianatural,pelocontrárioasociedadetemumatendênciaàdesordem,embusca dessa organização povo estava disposto a concentrar todo o poder a umsoberano,atravésdocontratosocial(COSTA,2010,p.163).Nestecaso,osoberanorepresenta os sujeitos porque a origem do seu poder está na decisão desses, sendoassim,espera-sequeelefaçaaquiloqueoquefordeinteressedopovo,tornando-seumsoberanorepresentativo.

A independência dos representantes em relação aos representados começa a serdiscutida nos séculos XVII e XVIII, alguns pensadores defendiam a representaçãoparlamentar,ouseja,acriaçãodeumparlamentodotadodedecisõesautônomasemrelação aos eleitores. Burke defendia que a representação parlamentar deve serdesvinculada do condicionamento dos eleitores, a legitimação deste órgãorepresentativo emana da ordem jurídica objetiva (COSTA, 2010, p. 167). Sendoassim,estemodelocorrespondeaosegundomodeloapresentadoporCotta,refere-seàrepresentação como relação de confiança, na qual o parlamento é dotado de umaamplaautonomiaemrelaçãoaosrepresentados.

ParaaconcepçãodeSieyès,citadoporOliveira(2005,p.15),“odireitodesefazerrepresentarsópertenceaoscidadãosporcausadasqualidadesquelhessãocomunsenãodevidoàquelasqueosdiferenciam”.Acentuatambémqueointeressecomumdopovoéformadoapartirdasomadeinteressesindividuais,sendoointeressecoletivooobjetivodaassembleiarepresentativadeumanação.Dessaforma,arepresentaçãoé

atribuída à assembleia representativa e a sua legitimidade decorre da vontade dosmembrosdanação,atravésdovotoqueossujeitosconferemaoseleitosàsdecisõescoletivas(COSTA,2010,p.170).

É importante salientarquea representaçãonão transfere avontadedogrupo social,mas apenas atribui um mandato não imperativo aos eleitos, que são dotados deindependênciaemrelaçãoaoseleitores.Nesteponto,Costa(2010,p.175)expõeque“a representação não é o canal de transmissão das vontades dos sujeitosrepresentados,mas o espelho da sociedade, o instrumento que permite à sociedadeespelhar-sepontualmentenaassembleiarepresentativa”.

A representação na democracia moderna baseia-se na lição de Montesquieu, comestruturas de Sieyés, é definida como ummodo de compor o governo, dando aosescolhidos adecisão sobreosmeios emodosde realizarobemgeral (FERREIRA,2012, p. 96). Pode-se dizer que neste modelo de representação há uma maiorautonomiaparaosgovernantes,segundoManoelFerreiraFilho(2012,p.96):

Da eleição resulta que o “representante” recebe um poder de querer, éinvestido do poder de querer pelo todo, torna-se a vontade do todo. Aeleição, a escolha do representante, é, portanto, uma atribuição decompetência. Nada o vincula, juridicamente, à vontade dos eleitores. Nomáximo, reconhece-seque amoral eo seupróprio interesseo impelemaatender os desejos do eleitorado.Amoral porque a eleição não se obtémsempromessas...Oprópriointeresseporqueotempotraránovaeleição.

NestamesmalinhacorroboraDircêoRamos(2012,p.1097)afirma:

Arepresentaçãomodernanãoseprendeàsdecisõesdacomunidade,masorepresentante é que toma as decisões. A comunidade confia nele. Nãopoderáouvirseuseleitores,masfaráoquelhepareçacerto.Opovoescolheos mais capazes, que o representam sem ouvi-lo. Se assim não fosse, oescolhido,mais capaz, teria que ouvir osmenos capazes.O representantedeveagirdeacordocomasuaconsciência,tendoemvistaointeressegeral.

Oobjetivoaserbuscadopelorepresentanteéointeressegeral,contudonãohánadaque impeça legalmente os representantes escolhidos de violar este interesse, comoobjetivode favorecer certos grupos da sociedade.Caso seja violada esta confiança,Oliveira(2005,p.18).lecionaque

[...]restaráatingidaaespinhadorsaldoprópriosistema,comosdeletériosefeitosdaídecorrentes, instalando-se círculovicioso interminável, emque

osrepresentantesdopovo,defatopatrocinaminteressesoutrosquenãoosdosmandantes,ensejandoainstalaçãoeperpetuaçãodeverdadeiracrisenosistema,decorrenteda faltade legitimidadeda investidura,quecontaminatodooexercíciodomandatoparlamentar.

Uma forma de controle seria através da “accountability baseada na capacidade doseleitores, individuais ou grupais, de exigir que os representantes expliquem o quefazem (respondam por, sejam responsabilizados, sejam punidos ou mesmorecompensados pelo que fazem)”. Esta é uma forma de controle posterior, ou seja,uma avaliação retrospectiva, especialmente porque os representantes eleitos nãopodemserobrigadosa cumprir seusprogramasepromessasdecampanha,masnaseleições subsequentesoseleitorespodempuni-lospor seusatoseomissõesde seusmandatos(ARATO,2002,p.91).

Aaccountabilityconsisteemumaformadecontrolesocial,naqualasaçõesdopoderpúblico encontram-se subordinadas a controle de estruturas formaisinstitucionalizadasdeconstrangimento,obrigandoopoderpúblicoaprestarcontasetornar sua administraçãomais transparente.Na dimensão política pode ser definidacomoumaformadefiscalizaçãodosrepresentantesemperíodoseleitoraiseduranteosseusmandatos,pormeiodemecanismosdeparticipaçãopopular,independentedospoderes públicos, restringindo o comportamento daqueles que pensam em umareeleição(PONTES,2009,p.37).

SegundoCarlaPontes(2009,p.39),oempregodemecanismoseficazesdecontrolesocial está diretamente relacionado a uma efetiva participação dos cidadãos noprocessopolítico.BaseadanosestudosdeGuilhermoO’Donnel,estaautoraabordaaaccountabilitynasseguintesformas:vertical,horizontalesocietal.

Aformaverticalocorrequandoaaccountabilityéefetivadapeloscidadãos,pormeiodoexercíciodocontrolepolíticopara fiscalizar seus representantes, esta formaestáassociada a eleições livres e justas, através da qual os eleitores podem punir oupremiar os atores políticos que agem de forma contrária a suas prioridades. Avulnerabilidade desse formato está na sua eventualidade, pois os representantes sãosubmetidosàaccountability somenteduranteopleitoeleitoral,quandoosmandatosdos governantes deveriam ser expostos a uma avaliação periódica de desempenho,tornandoocontrolemaiseficaz(PONTES,2009,p.39).

Oformatoverticaldemonstraaindavulnerabilidadesrelacionadasàrepresentatividadenosistemaeleitoralbrasileiro,quandoestepossibilitaaexistênciadeumarelaçãodeinteresseentreoscandidatoseosfinanciadoresdecampanha,deformaainiciarumadependência entre a decisão do representante e o interesse do grupo financiador,

desconsiderando a prioridade do interesse público. Cita-se também o mecanismopersonalizadodeescolhade representanteatravésde listaaberta, juntamentecomograndenúmerodepartidosecandidatosconcorrendo,necessariamenterepercutemnoexercíciodocontroledaatividadepolíticapeloeleitor(PONTES,2009,p.39).

Aaccountabilityhorizontaléefetivadapelasagênciasestataisque têmodireitoeopoder legal e que estão de fato dispostas a supervisionar e reprimir as ações ouomissõesdeoutrosagentesouagênciadoEstadoquepossamserqualificadascomodelituosas. A falta deste controle poderia trazer consequências para a democracia,liberalismoerepublicanismo,naspalavrasdePontes(2009,p.40):

As ações de accountability horizontal podem afetar as três esferas: ademocráticavioladapordecisõesque,porexemplo,cancelemasliberdadesde associação ou introduzam fraudes nas eleições; a liberal infringida,quandoagentesestataisviolamoupermitemaviolaçãoporatoresprivadode liberdades e garantias, tais como a inviolabilidade do domicílio, aproibição de violência doméstica e a tortura; etc. e a republicana, que serefere às ações de autoridades, eleitas ou não, que implicam uma sériadesconsideração das exigências postas pela tradição republicana, ou seja,quesesujeitemàleieoudeemdecisivaprioridadeaosinteressespúblicos,enãoaosinteressesprivados.

No Brasil, este formato de supervisão é atribuído ao Tribunal Superior Eleitoral,apesar de ser um mecanismo de controle indispensável para a efetivação dademocracia, demonstra não ser suficiente para a responsabilização dos agentespúblicos(PONTES,2009,p.44).Nestequesito,VitorPeixotodefende,emseuartigoFinanciamentodecampanhas:oBrasilemperspectivacomparada,aadoçãodeumsistema com mais informações-resposta na qual as agências de controle poderiamcumprir um papel além de sua capacidade punitiva, produzindo informaçõesnecessárias para a efetivação daaccountability (PEIXOTO, 2009, p. 102).O pontocentraldefendidoporPeixoto(2009,p.103)éque

a revelação de informações sobre os doadores e quantias doadas nãointeressa somente ao controle que as agências fiscalizadoras exercem aposteriori(apósaseleições).Estasinformaçõespodemsercruciaisparaospróprios eleitores no momento da tomada de decisão do voto. Aidentificação dos financiadores das campanhas durante o período eleitoralincrementaria o rol de sinais disponíveis aos eleitores, antecipando atémesmoprováveispuniçõesqueseriamsomentepossíveisquatroanosmaistarde. Em resumo: se as informações estiverem disponíveis aos eleitoresdurante a campanha, poderão atuar como os “sinais” (simple cues) que

substituem a informação completa e conferem maior previsibilidade aosistema.

A accountability societal é apresentada como uma ampliação da forma vertical decontrole,nestadimensãoasaçõesdecontrolepodemocorrerduranteomandatodosrepresentantes, entre os processos eleitorais, neste caso a participação da sociedadeocorrecomousomecanismos institucionaisenão institucionais,comoassociações,movimentos emídia, comoobjetivode transpareceros atosdogoverno, “expondoseuserros,trazendonovasquestõesparaaagendapúblicaouinfluenciandodecisõespolíticasaseremimplementadaspelosórgãospúblicos”(PONTES,2009,p.41).

A efetivação da accountability societal está subordinada a implementação de umsistemade informaçõesdogoverno, em respeitoaoprincípioda transparência,umavezquequantomaisinformaçõesforemdisponibilizadasdeformaclaraeverdadeiramais a sociedade estará apta a realizar suas escolhas políticas, aumentando aaccountability estatal e diminuindo, em contrapartida, os índices de corrupção(PONTES,2009,p.45).

Essecontrole socialparece ter seu impactomitigado,devidoà faltade informaçõesfidedignas prestadas pelos agentes públicos, por exemplo, no caso prestações decontasdoscandidatos,emqueosvaloresdofinanciamentodecampanhasdeclaradospeloscandidatosàJustiçaEleitoral,nãorefletemasituaçãoreal,muitasvezesocorreapráticadenominada“Caixa2”,quesãoasdespesasnãocontabilizadasnaprestaçãodecontas(PONTES,2009,p.45).

ArepresentatividadenosEstadosdemocráticosasseguraaoscidadãosaparticipaçãonapolítica,oupormeiodovoto,comofoivisto,oupormeiodocontrolepolítico,“narealidade, esse controle é indispensável para amanutenção da democracia e para asalvaguarda da própria liberdade individual” (FERREIRA, 2012, p. 138). Dessaforma,percebe-sequeestecontrolepossibilitaafiscalizaçãoquantoàadequaçãodasopções governamentais às opções populares ou ao bem comum para o qual estáparticularmenteindicadooparlamento.

O elemento fundamental domecanismo de garantia da representação é dado pelaseleições dos organismos parlamentares (e em certos casos de outros organismospolíticos). Contudo, é necessária a realização de eleições competitivas e queproporcionemummínimodegarantiasdeliberdadeparaexpressãodosufrágio.Casonão assegure essas garantias, o processo eleitoral não se pode considerar uminstrumento de realização da representação e as interferências durante o pleitopoderiamdesvirtuarvotodocidadãonaescolhadoseurepresentante(COTTA,1998,p.1104).

Arepresentaçãopolíticaéomeiopeloqualseconcretizaademocraciarepresentativa,sendo assim, para que haja uma efetiva aplicação, o sistema eleitoral deve conternormasespecíficasnosentidodegarantirumsistemaeleitoralqualificado,formadordeeleiçõesigualitáriasentreoscandidatos.ConsoanteGomes,oprocedimentolegal“deveserobservadocomisenção,desorteaproporcionarasmesmasoportunidadesatodos os participantes do certame” (GOMES, 2012, p. 54). Para que se possamescolher aqueles que estão aptos para resolver os problemas políticos em prol dasociedade.

Dessamaneira,seofinanciamentodecampanhasnãoforadequadamentereguladodeformaapromoveraeleiçãodosrepresentantes,atravésdeumadisputapautadapelaisonomiaentreoscandidatos,isentadeabusos,desvios,fraudesoucorrupçãocapazesde viciar a escolha popular, o resultado será o desrespeito ao principio darepresentatividade,tantonopleitoeleitoral,quantoduranteogoverno,umavezqueseespera dos representantes decisões que reflitam o que formelhor para a sociedade,visando as reais necessidades dos cidadãos, e não os interesses de gruposdeterminadosdapopulaçãodotadosdepotencialeconômico.

3.3Legitimidadedemocrática

A legitimidade dos mandatários políticos é uma condição essencial à democraciarepresentativa,umavezquearepresentaçãopolíticaapenasestaráasseguradaseforpossível garantir que o mandato político será atribuído apenas aos seus legítimosrepresentantes, istoé,àquelesqueforamescolhidosparaexerceromandatopopularde forma legítima, através do pleito eleitoral, observando-se suas regras latentes atorná-loisentodeinterferênciaseconômicas,abusosoufraudescapazesdeinterferirnavontadedopovo.

Segundo o estudo deLevi (1998, p. 677), pode-se atribuir dois significados para alegitimidade:1)Genérico:segundooqualalegitimidadeteriaumaproximidadecomo sentido de justiça ou de racionalidade; 2) Específico: um significado político dapalavra, sendo a legitimidade um atributo do Estado, consistente uma parcela deconsentimento,departesignificativadasociedade,capazdegarantiro respeitosemnecessidadedousodaforça,anãoseremcasosesporádicos.

Estemesmoautor, afirmaqueo termo legitimidade refere-se, tantoauma situação,como a um valor de convivência social: “A situação a que o termo se refere é aaceitaçãodoEstadoporumsegmentorelevantedapopulação;ovaloréoconsensolivrementemanifestado por uma comunidade de homens autônomos e conscientes”(LEVI,1998,p.678).

Corroborando com este conceito, José JairoGomes considera legítimo “aquele queestádeacordocomaverdade,comaideiadejustiçaecomosvalorespredominantes,é o que observou o procedimento legal adrede traçado, enfim, é o que resulta dasoberaniapopular”(GOMES,2012,p.53).Alémdeafirmarqueopoder legítimoé“aqueleconsentidoouaceitocomojusto.Autoridadelegítimaéaquelarespeitadanacomunidade, sendo seus comandos reconhecidos e observados” (GOMES, 2012, p.54).

O princípio da legitimidade das eleições é de tamanha relevância que se encontraexpressonoartigo14,§9º,daConstituiçãoFederal,embuscadecoibirapráticadainfluênciadopodereconômicoeoabusodoexercíciodefunçãoe,também,garantirodireitodocidadãodeescolherlivrementeaquelesqueexercerãoparceladopoderemseunome.

Também Morlino, citado por Xavier, (2010, p. 17) atribui grande importância àlegitimidade, para ele “uma boa democracia é primeiro e antes de tudo um regimeamplamentelegitimadoquesatisfazoscidadãos(qualidadeemtermosderesultado)”.Este autor entende que a legitimidade também pode ser observada nas ações dasinstituiçõesdemocráticas,considerandolegítimasasaçõesmaisadequadasaformadegovernoeaointeressecoletivo.Segundosuadefinição:

Legitimidade é um conjunto de atitudes sociais positivas para cominstituiçõesdemocráticas,quesãoconsideradasasmaisapropriadasàformade governo. [...] Há legitimidade quando há uma crença amplamentedifundida entre os cidadãos de que, apesar das lacunas e falhas, asinstituições políticas existentes sãomelhores do que quaisquer outras quepudessemserestabelecidas(MORLINOcitadoporXAVIER,2010,p.37).

Uma boa democracia é aquela em que há compatibilidade entre as decisõesgovernamentais e as expectativas enecessidadesdapopulação.Nesteponto,CarlosXaviersugerequeumadasformasdeavaliarumademocraciarepresentativaéatravésde seu grau de responsividade, com base no estudo deMorlino, citado porXavier(2010,p.17),dizque

a responsividade – um componente chave na experiência da democraciarepresentativa – pode razoavelmente se tornar uma dimensão realmentecentral, àmedidaqueela tornapossível averiguar a compatibilidadeentredecisões tomadas, aquelas realmente implementadas e as necessidadesexplícitas e não explícitas dos cidadãos e da sociedade em geralestabelecidas.

Este autor também enfatiza a associação entre a responsividade e a legitimidade, aseguintepressuposição:

Há responsividade, há também legitimidade, na forma de legitimidadeespecíficaousatisfação;inversamente,afaltaderesponsividadeimplicaemgrausvariadosdeinsatisfação.Emoutraspalavras,aconsequênciaempíricada responsividade é a legitimidade específica, e vice versa (MORLINO,citadoporXAVIER,2010,p.38).

Percebe-se entãoqueo reconhecimento de seus representantes e tambémdas açõesgovernamentais pela sociedade é uma condição para a manutenção e exercício dopoderemumEstadoDemocráticodeDireito.Nestalinha,Oliveira(2005,p.17),combasenos ensinamentosdeNiklasLuhmann, concluique, nesta formadeEstado, “afiel observância do procedimento estabelecido para a escolha e investidura dosmandatáriospolíticos,órgãosdeconstituiçãoeexpressãodepoder,legitimaopróprioexercíciodopoderpelostitularesdoscargoseletivos”.

O vício na legitimidade decorrente da indevida influência do desvio ou abuso dopoder econômico, no processo de captação da vontade popular, caracteriza graveviolação à democracia, representa uma afronta ao princípio da representatividade.Conclui-se,portanto,que

[...] a ilegitimidade constitui frontal violação a postulado do EstadoDemocrático do Direito, à cidadania, à liberdade de escolha políticaasseguradanotextoconstitucional,bemcomoaosbensevaloresinseridosnaabrangênciadoprincípioconstitucionaldadignidadedapessoahumana(OLIVEIRA,2005,P.17).

Segundo o autor Paulo Bonavides (2001, p. 18) ao defender uma democraciaparticipativa,destacouasconsequênciasqueafaltadelegitimidadepodegerar:

[...] a queda de legitimidade dos órgãos legislativos e executivos se fazpatente,profunda, irreparávelnosmoldesvigentes.Urge introduzir,poisomaiscedopossívelanovalegitimidade,cujabaserecompostaé,novamente,acidadania,masacidadania redimida,semospercalçosque lhe inibemaação soberana, sem a perversão representativa, sem o falseamento devontade, sem as imperfeições conducentes às infidelidades domandato eaosabusosdarepresentação.

Nessecontexto,pode-seconcluirque,numEstadocujoregimesejaademocracia,asnormas relativas ao processo eleitoral são essenciais para que haja uma eleição

legítima e democrática e a sua observância é extremamente relevante para alegitimidade do mandato parlamentar, a fim de evitar a interferência de interessespolíticoseeconômicosparticularesespecíficos.

Ademais, o financiamento de campanha política, como ferramenta de controlefinanceironopleitoeleitoral,constituiinstrumentoeficazagarantiralegitimidadedaseleições,desdequesejaconstituídopormecanismoscapazesdeinibirainterferênciaqueopodereconômicopodecausarnaescolhadoslegítimosrepresentantesetambémna legitimidade das ações dos representantes, cujas decisões devem refletir asexpectativaseasnecessidadesdapopulação.

4 Análise dos impactos dofinanciamento de campanha nademocraciaenarepresentaçãopolíticaIdentificadososprincípiosconstitucionaisqueservemdefundamentodelegitimidadee validade do processo eleitoral e, por isso, estão intimamente relacionados aofinanciamento de campanhas eleitorais, passa-se agora à análise dos impactos dofinanciamentonademocraciaenarepresentaçãopolítica.

O objetivo deste capítulo é analisar os preceitos do financiamento de campanhasapontados nos dois primeiros capítulos deste trabalho, que podem desvirtuar avontade dos cidadãos no processo de escolha de seus representantes, ao permitir ainfiltraçãoexcessivadopodereconômicoduranteaseleições,contribuindoparaumprocessoeleitoralprofundamentecontrárioaosvaloresigualitárioseaosfundamentosdemocráticosidentificadosnoterceirocapítulo.

A democracia representativa é caracterizada pela possibilidade de uma livreformulaçãodasescolhaspolíticas,emquedevemsergarantidasliberdadesbásicasdeassociação, informação e comunicação, com o objetivo de assegurar uma disputaigualitáriaentreosconcorrentesea liberdadenamanifestaçãodavontadedopovo.Para tanto, o processo de escolha dos representantes deve se concretizar de formalivre, transparente, isento de vícios e influências decorrentes do abuso do podereconômico.

Énecessáriodestacar,maisumavez, aprevisãodoartigo14,§9º,daConstituiçãoFederal, pois além de resguardar importantes valores jurídicos, como probidadeadministrativaemoralidade,procuraconferirespecialatençãoacercadanormalidadeelegitimidadedaseleições,visandosuaefetivaproteçãocontraainfluênciadopodereconômico(BRASIL,1988).Dessaforma,emquepeseotextoconstitucionalinvocaro legislador a criar mecanismos inibidores da influência do dinheiro na política, oBrasilparececaminharemdireçãocontráriadestaconvocaçãoconstitucional.

A realidade condizente com o sistema de financiamento de campanhas eleitoraisadotadonoBrasiléoutra,oquesepercebeéqueodinheiroutilizadoparaarcarcomasdespesasde campanhas, comomarketing eleitoral, parecedefinir previamenteosvencedores da corrida eleitoral, atuando de forma contrária a esta convocaçãoconstitucional,éoqueserádemonstrado.

Conformeexpostonocapítulo2,alegislaçãovigentequedisciplinaofinanciamentode campanha eleitoral não estabeleceu limites fixos para os gastos de campanhaseleitorais,deixandoacargodospartidosa imposiçãodeumteto;demodoqueestevalormáximotambémservede tetoparaousodaprópriafortunapeloscandidatos,entretanto, na realidade não existe limite para os gastos eleitorais (LORENCINI,2013,p.136).

Portanto, a falta de um limite máximo para os gastos de campanhas, tal comoapontado,associadoaoslimitesestipuladosemleiparadoaçãoporpessoasfísicas,novalor máximo de 10%, que se modificam conforme seus rendimentos, e para aspessoas jurídicas,novalormáximode2%,baseadonofaturamentodoanoanterior,apenasfazemconfirmarapressuposiçãodequeasregrasdomodelodefinanciamentopredominantementeprivadonão são suficientespara alcançar ametade reduçãodainfluência do poder econômico no processo eleitoral, pelo contrário tendem afavoreceroaumentodosgastosdecampanhas.

A análise empírica apresentada no segundo capítulo confirmou que os custos dascampanhas eleitorais brasileiras estão cada vez maiores, ilação que se extraifacilmente do cotejo de gastos para o cargo deDeputado Federal nas eleições dosanos de 2002 e 2010, quando foram gastos R$ 3.907.762,00 e R$ 12.585.897,00,respectivamente, representando um crescimento quase quatro vezes superior, sendoesta questãoumdospontos controversosdo financiamentode campanhas eleitoraisque evidenciam o elastecimento da influência do poder econômico na corridaeleitoral.

Observou-se,deigualmodo,queaatuaçãodopodereconômiconadisputaeleitoralestudadaapresentou-sedotadadegrandeefetividade,namedidaemqueoscandidatosque empregaram mais recursos obtiveram maior quantidade de voto e as suascampanhasnotabilizaram-sepelaeficiênciaemdetrimentodasdemaiscampanhas,aopontodeovotodoseleitoscustaremmenosqueovotodosdemais,assim,a lógicaeconômica nas eleições indica que quemmais gasta obtém commais facilidade oretorno perseguido, o voto. Dessa forma, pode-se concluir que o modelo definanciamentoadotadodestoadopreceitoconstitucionaleparecefavorecerousododinheiroparafavorecimentonaseleições.

Na democracia representativa, não só os elevados custos empregados durante ascampanhas políticas, mas também os métodos espúrios usados nos financiamentosacarretamum fortedesnivelamentoentreos competidorespolíticos, resultandonumsistemailegítimoderepresentatividadequebuscaresguardareinteressesfinanceiros,legaiseilegais.(KANNAN,2012,p.297).

O cenário resumidamente demonstrado do financiamento de campanhas revelabrechas que contribuem diretamente para a influência do poder econômico noprocessoeleitoralbrasileiro.Oqueimplicaemgraveviolaçãoàefetivaçãodoregimedemocrático.

Ocorrequeanormatizaçãodoprocessoeleitoralé incapazdeestabelecercondiçõesjurídicas apropriadas para evitar interferências privadas que levam desigualdadepolítica na capacidade eleitoral ativa e passiva.Asvantagensqueos cidadãosmaisricospossuempodemserobservadasnosseguintesfatorescitadosporMateusSilva(2005,p.156):

1) Os mais ricos têm dinheiro para gastar em campanhas políticas e emlobby, o que faz com que suas demandas tenham mais probabilidade deserem aceitas e/ou aprovadas. 2) Os mais ricos estão em uma melhorposição de barganha para atingir seus objetivos, já que as sociedadesprecisam dos recursos que estão nasmãos dessesmais ricos. 3)Osmaisricos controlam os principais ativos da sociedade, tanto em termoseconômicos,políticosouculturais,controlandoaagendadodebatepolíticodevido à sua força econômica. 4) Os mais ricos tendem a ser mais bemeducados,oquefazcomquepossamtomarmelhoresdecisõesemrelaçãoaoseuinteressepróprioeemrelaçãoàprópriasociedade.

Este mesmo autor destaca ainda que esses pontos refletem a desigualdade deoportunidade que a diferença de riqueza na sociedade fatalmente gera na esferapolítica,aoafirmarque

a partir do momento em que todos têm direito a voto e têm acesso areferendos e plebiscitos –, a consequência natural do capitalismo é fazercomquealgunstenhammaisretornoeconômicodesuasatividadesdoqueoutros, e tal retorno a mais para uns e a menos para outros leva àdesigualdade política, refletida pelos quatro pontos citados anteriormente(SILVA,2005,p.156).

Nesta linha de raciocínio, é possível apontar as consequências domodelo atual definanciamento:

a) em primeiro lugar, os candidatos e partidos políticos que contam comacessodiferenciadoaosrecursosfinanceirosdosdoadoresdecampanha,emsua maioria, pessoas jurídicas (75% do total doado) ou pessoas físicasvinculadas ao meio empresarial tenderão a aumentar sua representaçãopolítica;b)emsegundolugar,olhandoamanutençãodostatusquodoponto

de vista daqueles que contribuem, os “contatos” e os “espaços deinfluência”juntoaosrepresentantespolíticosbeneficiarãoossegmentosquedispõem dos recursos que financiarão as campanhas eleitorais em futurospleitos; c) porúltimo,masnãomenos importante, um sistemapolíticonoqualodinheiroexercepapelcentralnosresultadoseleitorais(sobretudonaseleições proporcionais, pois nas majoritárias os doadores distribuem osrecursos entre os candidatos mais competitivos) tenderá a conferirprioridade aos interesses, valores e visões de mundo de determinadosegmentodasociedade(BACKES;VOGEL,2014,p.9).

Comefeito,aregulaçãodofinanciamentovaideencontroaospreceitosprevistosnotexto constitucional, pois, a um só tempo, viola a igualdade do valor do voto e aparidadedeoportunidadesentreos candidatos, e ao“invésdepromovera lisuranapolíticarepresentativa,acabacriandoumambienteinstitucionalpropícioàcorrupçãoeaoestabelecimentode relaçõesantirrepublicanas” (SARMENTO;OSÓRIO,2014,p.8).

A competição entre os pretendentes aos cargos públicos faz parte de um processoeleitoral democrático, desde que se desenvolva em condições igualitárias, de formaque os recursos econômicos das campanhas eleitorais não definam previamente oscandidatos eleitos. Mas que a escolha dos eleitores seja conquistada pelas ideias,programas e propostas dos competidores, resultando, assim, em uma verdadeirarepresentaçãopolítica.

Noqueconcerneaoscandidatos,SarmentoeOsórioafirmamqueestadesigualdadede oportunidades desestimula a participação dos candidatos carente de recursospróprios e de articulação junto às empresas, que poderiam disponibilizar fundosnecessários para concorrer às eleições. Consequentemente, os cidadãos comunssimplesmente não teriam condições de se eleger (SARMENTO;OSÓRIO, 2014, p.10), situação esta que desrespeita profundamente o princípio da liberdade naparticipação política, no que se refere ao direito de se candidatar e de desenvolverumacampanhaeleitoralefetiva.

Corrobora com esta situação, três singelas questões, apontadas na análise dasprestações de contas do segundo capítulo: primeira, as 59,50% são de origem daspessoasjurídicas,maiorfatiadofinanciamentodecampanha;segunda,oscandidatosmais abastados podem contribuir pormeio de autodoação e as doações de pessoasfísicasoriginam-sedosmaisricosdapopulação,eaderradeiraquestãoresidenofatodequeagrandequantidadedereceitainfluenciadiretamentenachancedeêxitonaseleições.Avistadisso,oscandidatos,representantesdosmaisricosefomentadosporpessoas jurídicas, estão em vantagem entre os competidores no pleito eleitoral,

ilidindocabalmenteoprincípiodaigualdadepolítica.

AquicabeumaobservaçãofeitaporDanielSarmentoeAlineOsório(2014,p.8)noartigoUma mistura tóxica: política, dinheiro e o financiamento das eleições, nosseguintestermos:

Diantedestecenário,políticosgastampartesignificativadasuaenergianaarrecadação de fundos para suas campanhas. Entretanto, tais candidatosraramente vão bater às portas de seus eleitores em busca de recursos eapoio.Émuitomaisconvenientesolicitaroauxíliodeumagrandeempresa– que, pelas regras vigentes, pode fazer doações milionárias – do queconvencer vários cidadãos a fazerem modestas contribuições para suascampanhas.

Umdosargumentosfavoráveisdofinanciamentoprivadoéjustamenteapossibilidadedeparticipaçãonapolítica,nestesentido,oenvolvimentodosfiliadosdeveservistocomo uma prova do enraizamento dos partidos na sociedade. Uma vez que, anecessidade de arrecadar subsídios de origem privada pode constituir um incentivopara recrutar novos seguidores, consolidando o estreitamento da relação entre ospartidos e a sociedade, com efeito de criação de uma rede de simpatizantes(ZOVATTO,2005,p.300).Noplanoidealseriatotalmentelegítimaestaparticipação,no entanto, percebe-se que a forma como acontece o financiamento nas eleiçõesbrasileirasnãoenalteceoaumentodarepresentatividadesocial.

Essarealidadecontribui,ainda,paraacrisederepresentaçãoeparaoafastamentodasociedadedapolítica.Afinal,seoscandidatosarrecadamosrecursosnecessáriosparaseelegerapenascomauxíliofinanceirodeempresas,semnecessitardecontribuiçõesde cidadãos; a ilação que se extrai é que o esquema de arrecadação de receitaseleitorais restringe a representatividade do sistema e deixa os cidadãos comuns àmargemdapolítica,comaimpressãodequeapolíticasimplesmentenãoéparaeles(SARMENTO;OSÓRIO,2014,p.11).

Quandosetratadoseleitores,asnormasbrasileirasdefinanciamentogeramumasériede vícios na representatividade. Primeiramente, a desigualdade nas condições depromoveracampanhaeleitoralexistenteentreoscandidatoscomprometealiberdadede escolha do cidadão em razão da influência, ainda que indireta, do podereconômico. Apesar de os eleitores poderem escolher qualquer dos candidatos, suaescolha está absolutamente comprometida em razão das condições absolutamentedistintasemqueosconcorrentesseapresentam(PREZOTTO,2008,p.292).

Alémdisso,Silva(2005,p.157)apontaparaumadesigualdadenopesodovotodos

cidadãosemvistaadisponibilidadederecursosdesproporcionais,paraele

O capitalismo desregulado defendido pelos economistas clássicos, bemcomo pelos neoliberais da atualidade, garante uma igualdade políticaformal, onde a função do voto é destacada e considerada como a grandepossibilidadedeparticipaçãopolítica.Noentanto,aqualidadedovotonãoélevada em consideração, fazendo com que os votos daqueles que tenhammaisrecursossejamvotos“melhores”porseremmaisinformadosoumaisconscientes. Além disso,mesmo que o voto tenha peso igual para todos,aquelesquedispõemdemaisrecursossãocapazesdeinfluenciarovotodeoutrem,fazendocomqueosmesmosnãosejamtãolivresquantoparecememumprimeiromomento.

Como também, afirma-se ainda que a possibilidade de contribuição, na formaestabelecida em lei, deturpa a participação dos cidadãos na política em virtude dadesigualdadenocampoeconômico,noseguintesentido:

Se o voto já não é mais a única “ficha” de um cidadão nas eleições apossibilidadedecontribuircomdinheiroparacampanhaseleitoraispermiteque a desigualdade econômica presente na sociedade seja reproduzida naarenapolítica.Comoresultado,aspessoasricasganhamummaiorpesonadefiniçãodos resultadosdas eleições e, consequentemente, seus interessessãosobrerepresentadosnoParlamentoenoExecutivo,emdetrimentodoscidadãosmaispobres(SARMENTO;OSÓRIO,2014,p.11).

Essadesigualdadeentreoseleitoresemrelaçãoasuafortunaseperduramesmoapósas eleições, namedida emqueos candidatos eleitos, por certo, possuemomáximointeresseembeneficiarcidadãosmaisabonados,dotadosdepotencialidadefinanceira,visandofuturacooperaçãoparacampanhaàreeleição,secomparadocomosdemaiscidadãos,cujoapoiopoucosignifique (SARMENTO;OSÓRIO,2014,p.13).Nestesentido,entende-sequeosmaisricosinfluemnasdecisõespolíticas,mesmosehouverumcontroleefetivodacorrupção,pois

hámuitomaisemjogodoqueopapeldodinheiroemcampanhaseleitorais.Os ricos têm uma grande influência em todas as fases de criação eimplementação de políticas mesmo quando a corrupção direta está sobcontrole efetivo, o que obviamente não é o caso em muitos países(RUESCHEMEIER,citadoporXAVIER,2010,p.43).

Conforme já visto, as pessoas físicas podem doar até 10% dos rendimentos brutosauferidosnoanoanterioràeleição,olimiteestabelecidopelolegislador,éclaramente

discriminatório,poisoscidadãosmaispobresnaturalmentejáestãoprejudicados,umavezqueadoaçãodegrandemonta jácomprometea suaprópria subsistência.Alémdisso,olegisladorproibiuosmenosricosderealizarumadoaçãodeigualvalorqueos mais abonados, mesmo desfrutarem de tais recursos, ferindo o princípio daigualdade entre os cidadãos, no sentido de privilegiar o poder de participação e ainfluênciaexercidapeloscidadãosmaisricosdopaís.

Vulnera, ainda, a igualdade de oportunidades entre os candidatos e o pluralismopolíticos, uma vez que as correntes político-partidárias, que defendem as ideias eprojetos de maior interesse para setores empresariais ou da parcela mais rica dapopulação, terão, sob o amparo legal, mas em afronta ao espírito da Constituição,maiores chances de arrecadarem uma quantidademais expressiva de recursos parasuas campanhas eleitorais, oque pode acentuar um eventual desequilíbrio pré-existenteentreaquelesquedisputamaseleições.(ARAÚJO,2002,p.232).Seguindoessalinha,SarmentoeOsório(2014,p.14)enfatizam:

o critério de discriminação adotado pelo legislador para definição doslimitesdedoação–rendadodoador–queseafigurailógicoedesarrazoado.Oprincípio da igualdade impõe que as diferenças de tratamento guardemuma relaçãodepertinência lógicacomosobjetivosaquevisamaatingir.Naturalmente,nocasodaimposiçãodelimiteadoaçõesdecampanha,ofimperseguidoéareduçãodainfluênciadopodereconômicosobreapolítica.(…) É absurdo tratar como ato ilícito uma doação de mil reais a umcandidato,feitaporumdoadorpobre,econsiderar lícitaacontribuiçãodemilhõesdereaispromovidaporoutro,quesejamuitorico.

A regulação do financiamento eleitoral quanto ao uso de recursos próprios pelosconcorrentes,damesmaforma,nãoseharmonizacomosprincípiosdaigualdadeedaliberdade. Conforme já foi apontado, ainda que o limite máximo para gastos comdinheiro da própria fortuna deva ser determinado pelos partidos, é certo que, naprática,nenhumlimiteéestabelecido(LORENCINI,2013,p.136).

Ainexistênciadelimiteabsolutoimplicaemumacorridaeleitoraldesigualparaquemestá disputando, fato que pôde ser observadona campanha eleitoral do candidato aDeputadoFederalLuizCarlosPietschmann,quedeclarouemseuregistrofinanceiroumaportederecursosprópriosnovalortotaldeR$1.500.995,36,chegandoa75%dasua arrecadação. Diante deste fato, Cláudio Abramo afirma: “quando autodoaçõescompõemumaaltaparceladototaldasdoaçõesrecebidaspeloscandidatos,equandoeles são eleitos, pode-se dizer que, na prática, compraram o sucesso eleitoral”(ABRAMO,2014,p.5).Verifica-se,entãoqueestafalhanalegislaçãocomprometealivreconcorrênciadascampanhas,emfavordosmaisricos.SegundoAraújo(2012,p.

340):

Alémdeseerigircomoumfatordeconsideráveldesigualdade,namedidaemqueomaiorpoderdearrecadaçãoegastoimplicaousodesequilibradodosmeiosdepropaganda eleitoral, a falta deum teto financeiro e limitesmateriais adequados dificulta, por ausência de um parâmetro palpável, averificaçãodocumprimentodasregrasfinanceiraseventualmenteimpostas.Nãoéporoutrarazãoquealimitaçãodosgastosdecampanhaconstituiumadas principais medidas de controle adotadas nas democracias ocidentaismodernas.

Comrelaçãoàparticipaçãodaspessoasjurídicas,oquadroéaindapior.Asempresassão instituições fictícias de direito criadas para facilitar o convívio social, e nãopossuemstatusdoscidadãos,aosquaisé legítimooexercíciodosdireitospolíticos,dosufrágioatravésdovotoqueéaexteriorizaçãodavontadepopular,daescolhadosrepresentantespelopovo.Logo,asempresasnãosãotitularesdedireitospolíticos,porisso não são legítimas para participar do processo eleitoral. Neste sentido DanielSarmentoeAlineOsório(2014,p.14)argumentam:

As pessoas jurídicas são entidades artificiais às quais o direito emprestapersonalidade jurídica, reconhecendo-as como sujeito de direito para odesempenho de fins específicos. No entanto, elas não são titulares dosmesmos direitos atribuídos a pessoas naturais: a elas não se aplicam, poróbvio,osdireitospolíticos,quesomentesãoasseguradosàcidadaniacomocorolário da soberania popular.Afinal, o poder emanado povo e não dasempresas.

Assim,“apessoa jurídicanão temcapacidadeeleitoralativanempassiva;nãodeveparticipardafasedoprocessoeleitoral;atualmenteparticipadoprocessoeleitoralnafase de financiamento das campanhas e possibilita o surgimento de distorção nosistema” (SANSEVERINO, 2012, p. 263). Em outras palavras, quando se fala emexercíciodasoberaniadopovo,apenasocidadãoélegitimadoparaexercê-la.

EmreferênciaaesteassuntoOrdemdosAdvogadosdoBrasilpropôsaAçãoDiretadeInconstitucionalidadenº4.650,combasenosprincípiosdaigualdade,republicanoeda representatividade,comoobjetivodedeclarar inconstitucionais,peloSupremoTribunalFederal,osdispositivosdalegislaçãoeleitoralque:

(i) instituem um limite às doações de pessoas naturais baseado empercentual de seus rendimentos, (ii) não definem limites para o uso derecursos próprios por candidatos e (iii) admitem doações de pessoas

jurídicas., notadamente quanto aos seguintes aspectos: princípio daigualdade, princípio democrático, princípio republicano e princípio darepresentatividade115, que são feridos basilarmente pela exorbitanteinfluência do poder econômico nos resultados dos pleitos eleitorais e doprocesso de formulação de políticas públicas (SARMENTO; OSÓRIO,2014,p.12).

Ocorre que o legislador, ao permitir doações de pessoas jurídicas a campanhas decandidatos,acabaporassegurarrepresentatividadepolíticaaquemnãopodeexercerodireitodevoto,oqueresultaemprejuízoàdemocracia.Partindodapremissadequesuas contribuições equivalem à maior parte das receitas arrecadadas, é inarredávelinferirpelaexistênciadeumagrandedependênciadoscandidatosnotocanteaestesrecursos, o que assegura que os interesses das empresas financiadoras sejamprivilegiados na ocasião das decisões políticas. Portanto, as normas legais quepermitem a arrecadação de doações por pessoas jurídicas também resultam emprofundo vício de inconstitucionalidade, por transgredirem a igualdade política,liberdade e a democracia, enraizando ainda mais a influência do dinheiro sobre apolítica.

Alémdomais,ummodelofinanciamentopredominantementeprivado,quecontemplana realidade a ausência de limitações dos gastos de campanha com a possibilidadearrecadaçãoderecursomuitotolerantequantoàsdoaçõesdosmaisricosedaspessoasjurídicas, proporciona um cenário propenso para relações espúrias decorrentes detrocasdefavores.Nessesistema,oscandidatosnãoiniciamadisputadomesmopontodemocrático,istoé,nãoiniciamoprocessoeleitoralcomasmesmasoportunidadesdeseremeleitos,poisexisteumagrandedependênciadodinheiro,oqueterminaabrindoespaçoparaacorrupção.

A corrupção é um dos principais problemas associados ao processo eleitoral e ademocracia, segundo o autor Carlos Xavier, em sua pesquisa de mestrado Acorrupçãopolíticaecaixa2decampanhanoBrasil,esteregimedegovernoéafetadoprincipalmente em relação sua qualidade. Entende que a corrupção “pressupõe oenvolvimento de uma entidade privada como beneficiária do uso indevido dosrecursospúblicos”.Afirmaque“énadoaçãoprivadaaofinanciamentodecampanhaquesepodeencontraindíciosdoimpactodacorrupçãopolítica”(XAVIER,2010,p.27).Umadasconclusõesapresentadaspeloautorfoique“tantoparteconsideráveldosrecursosaplicadossobaformadecaixa2nofinanciamentodecampanhaseleitoraistempororigemacorrupçãopolítica,quantoparteimportantedacorrupçãopolíticasedestinaaofinanciamentodecampanhas”(XAVIER,2010,p.105).Avistadisso,ficaevidentealigaçãoentreacorrupçãoeofinanciamentoprivado.QuantoàcorrupçãoSarmentoeOsório(2014,p.16)acentuamque

O campo empírico fornece exemplos eloquentes de que os frequentes elastimáveis casos de corrupção no país – e, mesmo, no mundo – têmorigem, em grande parte, no contexto do financiamento privado decampanhas. Na maioria dos casos, a corrupção encontra-se diretamenterelacionadaàdependênciafinanceiradoseleitosemrelaçãoaumpequenonúmero de doadores, que dá origem a acordos quid pro quo entre oscandidatos e seus financiadores. As relações promíscuas nascidas nesteambientetêmsidofonteabundantedegravesdesvioséticosedecorrupção,comorevela,porexemplo,ojulgamentodaAçãoPenal470peloSupremoTribunalFederal.

Asconsequênciasnegativasdacorrupçãopolíticaparaademocraciasão:

1) a corrupção solapa a regradamaioriaque éprópriadademocracia; 2)corróiosfundamentosdamodernateoriadarepresentaçãoqueestánabasedoidealdemocrático;3)afetaoprincípiodepublicidadeedetransparência;4) empobrece a qualidade da democracia ao subtrair da agenda públicatodas aquelas questões que constituem a contraprestação corruptacorrespondenteàrecepçãoporpartedospartidosdefundosirregulares;e5)provocaumasériedeilícitosemcascata,istoé,osdirigentespolíticos,paradissimularosfundosobtidosirregularmente,seveemjogadosnumaespéciede lei de Gresham, em que são obrigados a realizar ações incorretas ouindevidas para evitar ações ou consequências ainda piores, com adeterioração que isso implica para a vida cidadã (MALEM, citado porZOVATTO,2005,p.290-1).

Dessa maneira, o financiamento das campanhas dos candidatos, ao se encontrarassociado à corrupção, ao invés de colaborar para o fortalecimento da democracia,resultamuitas vezes ocasionando o efeito contrário, acentuando a desconfiança emrelaçãoàsinstituiçõespolíticaseafaltadecredibilidadedosprópriosrepresentantes(ZOVATTO,2005,p.290).

Não se harmoniza com o princípio do pluralismo político a desigualdade eleitoral,sustentadapelopoderdodinheirodecorrentedosgrandesfinanciadoresoudaselites,“faz comque os partidos políticos ou candidatos acabemassumindo compromissosfuturos com esses poderosos agentes domercado ou grupos de interesse, refletindouma atuação política à margem da legalidade” (KANNAN, 2012, p. 297). Dessaforma, através da prática da corrupção são favorecidas as preferências dessa eliteminoritária que paga pela sobrevalorização de seus interesses em detrimento damaioria, oque implica emumefeitonegativo sobre a responsividadedosgovernos(XAVIER,2010,p.15).

É possível, então, supor ummecanismo do sistema de financiamento operando daseguinteforma:odinheiroassumegrandeimportâncianacorridaeleitoral,jáque,ascampanhaseleitoraisnecessitamdemuitodinheiroparaqueoscandidatosepartidostenhammaiores chances de se tornaremvitoriosos nas eleições, fato que resulta nanecessidadedefavorecimentodaspreferênciasdessesfinanciadoresatravésdapráticada corrupção política, prejudicando a responsividade dos governos em relação àspreferências damaioria dos cidadãos, o que, por outro lado, acaba por distorcer acompetição em favor dos corruptos e trazer impacto na eficácia do accountabilityvertical,ouseja,napuniçãodoscorruptos.

Conformeseextraidocapítuloanterior,aaccountabilityserefereàcapacidadequeoscidadãos têmde imporpuniçõesaosgovernantes,notadamente reelegendoaocargoaqueles quemelhor desempenhama sua função e punindoos quepossuematuaçãoinsatisfatória.Abrangeaprestaçãodecontasdosgovernanteseleitoseojulgamentodessas prestações de contas pela população. Esta está associada a eleições livres ejustas,atravésdaqualoseleitorespossamexercerseuveredicto(PONTES,2009,p.37).

Já a responsividade diz respeito à compatibilidade das decisões dos representantescom as expectativas e necessidades dos representados; ou, em outras palavras, àdisposição dos governantes de adotarem as melhores políticas em favor de seusgovernados(MORLINOcitadoporXAVIER,2010,p.17).Avistadisso,épossívelextrair a ilação de que a responsividade, ou seja, disposição dos governantes emrespeitarasnecessidadesepreferênciasdasociedade,dependedapossibilidadequeoseleitores dispõem de exercer a accountability, ou seja, punir ou premiar ocomportamentodosrepresentanteseleitos.

Paraqueumeleitorpossa,nomomentodaescolhadeseusrepresentantes,decidirsevaipremiaroupuniralgumpolíticoépreciso ter informaçõessobreoscandidatosefundos de financiamento quanto aos doadores e suas quantias arrecadadas pelosconcorrentes. Estas informações são da maior importância para a eficácia doaccountability,conformedemonstradonocapítuloanterior.Ocorrequemuitasvezes,os candidatos deixam de incluir gastos na prestação de contas à Justiça Eleitoral,mesmo assim tem suas contas aprovadas. O que se percebe é que as instituiçõesresponsáveispor este controlenãopossuempoder suficientepara responsabilizaçãodosagentespúblicos(PONTES,2009,p.44).

Ocontroleporpartedoeleitoratravésdaaccountabilityverticaltambémseencontraprejudicado,pois,conformeexpostoacima,asnormasdofinanciamentodecampanhaeleitoralpossibilitamaexistênciadeumarelaçãodeinteresseentreoscandidatoseosfinanciadoresde campanha, de formaa iniciar umadependência entre adecisãodo

representante e o interesse do grupo financiador, desconsiderando a prioridade dointeressepúblico,noentanto,apuniçãoporpartedoseleitoressomenteiráocorrernaspróximaseleições,ocorrendodeformaeventual,quandoosmandatosdosgovernantesdeveriamserexpostosaumaavaliaçãoperiódicadedesempenho,tornandoocontrolemaiseficaz(PONTES,2009,p.39).

Em razãodo exposto, nãohá que se falar emdemocracia representativa quandoosgovernantes eleitos desenvolvem suas funções políticas voltadas a favorecerinteresses de uma pequena parcela do povo, afastando-se das expectativas enecessidades observadas na comunidade política. Fica evidente que as normas doatualmodelode financiamentode campanhas eleitoraisnão seharmonizamcomosprincípios democráticos do pluralismo político, da igualdade, da liberdade, darepresentatividadeedalegitimidadeinscritosnotextoconstitucional.

Poressesmotivos,muitosautoressãofavoráveisàadoçãodofinanciamentopúblicoexclusivodecampanhaseleitoraisnoBrasil,porexemplo,OctavioAugutsodaSilvaOrzari, no seu artigo O financiamento público de campanhas na Câmara dosDeputados,eEdmoD’El-ReiLima,noseuartigoFinanciamentopúblicoexclusivodecampanhaseleitoraisnoBrasil.

Os argumentos favoráveis ao financiamento público de campanhas foramapresentados no primeiro capítulo deste trabalho, os principais são: a) reduziria ainfluênciadopodereconômiconasdecisõespolíticas,b)podetrazermaiorigualdadedisputa eleitoral, c) trariamumamaior transparência e controle nasmovimentaçõesdas verbas de campanha, d) contribui para o fortalecimento dos partidos políticos,poisexercempapelfundamentalnademocracia.

Ofinanciamentopúblicoexclusivodecampanhasseapresentacomoumaexperiêncianova,masnecessáriaporcontadasfalhasdosistemapolíticobrasileiro,quedevesertestadoemantidosealcançaroêxitopretendido(LIMA,2010,p.12).Oproblemaéquealgunssetoresdaclassepolíticamantêmlaçoscomocapitalprivado,porisso,namaioriadasvezes,sãointeressadosnasreceitasdeorigemprivadaquandonãosãoosprópriosrepresentantesdessasempresasfinanciadoras(LIMA,2010,p.9).

Ofinanciamentopúblicodecampanhasestimulariaaparticipaçãodecidadãosmenosendinheirados,quenãopossuemcondiçõesdeentraremumadisputaeleitoraldevidoao alto custo das campanhas políticas brasileiras. Dessa forma a adoção dofinanciamento público de campanha possibilitaria uma maior competitividade,igualdadeepossibilidadedeêxitonaseleições,oquetornariaoingressoaoscargospúblicosmuitomais democráticos (LIMA, 2010, p. 10).Comefeito, não haveria anecessidade de candidatos vinculados ao interesse econômico privado e a

responsabilidadededistribuiçãodosrecursoscaberiaaospartidos, fazendocomqueascampanhaspolíticasenfatizassemosprogramaspartidáriosnacionais(SAMUELS,2007,p.24).

A adoção do financiamento público de campanhas eleitorais aumentaria arepresentatividade política na medida em que possibilitaria a chegada ao poder decidadãosdescomprometidossocialmente,poisoseleitosnãonecessitariamderetribuirfavores de grupos financiadores, que normalmente são desfavoráveis aos interessespúblicos(LIMA,2010,p.11).Comcampanhassemanecessidadedocapitalprivadohaveriadesvinculaçãodosinteressesdosfinanciadores,emconsequência,sereduziriadoimpactododinheironapolítica.

Um argumento contrário apontado no primeiro capítulo se deve ao fato de que ocidadãotemodireitodeparticipardiretamentedavidapolíticaejuntoaospartidos.Noentanto,Orzari(2013,p.77)argumentaque

o cidadão, como financiamentopúblico exclusivo, já participaria davidapolítica apartir domomentoemquepaga tributos.Porém, argumento,deíndole liberal, que criticao financiamentopúblico exclusivo sustentaque,ínsito ao direito político, estaria a possibilidade de interferir na políticamediante a contribuição financeira a campanhas, como se ajudasse napropagaçãodeargumentoscomosquaisocidadãoconcorda.Nesseponto,valeobservarquediscute-sesepessoasfísicasejurídicaspodemigualmentedoar recursos a campanhas políticas, sendo indubitável que o argumentoacimaseencaixamelhornahipótesededoaçõesdepessoasfísicas.

Assinalam também que a doção do financiamento público poderia afetar a relaçãoentre partidos políticos e a sociedade (KANNAN, 2012, p. 295). Para Lima, estasrelações deveria se consubstanciar através do voto dos eleitores e das propostas,projetoseprogramasdospartidoseparlamentareseleitosparaascasas legislativas,bem como pela implementação de políticas e ações por parte dos governantes edirigentesexecutivosnoexercíciodopoderenãopelascontribuiçõesfinanceirasparaascampanhaspolíticas(LIMA,2010,p.12).

Alémdomais,aadoçãodeumfinanciamentoexclusivamentepúblicodecampanhaseleitorais não impediria a doação das pessoas físicas, filiadas ou não, aos partidos.Contudo,nestecasopassariaaservedadaautilizaçãodestesrecursosdiretamentenascampanhaseleitorais,taiscontribuiçõesprivadaspoderiamserutilizadasem:

atividades de pesquisa, capacitação política, realização de cursos,seminários,publicaçõescientificas,jornais,revistas,manutençãodeescolas

de formação política, criação de bibliotecas áudios-visuais nas suas sedesnacionais,estaduaisemunicipais,dentreoutrasatividades.Seriapermitidaautilização em infra-estrutura das sedes, como a construção de auditóriosparareuniõeseeventos(LIMA,2010,p.18).

Não se pode esquecer que uma eventual adoção da modalidade pública exclusivaimplica na criação de um sistema claro e equilibrado de distribuição dos recursos.Pois,

Ofinanciamentoestatalpurofortaleceriaemdemasiaascúpulaspartidáriasse a elas fossem delegadas a administração exclusiva dos recursos e adistribuiçãocomoscandidatos.Estaconcentraçãodepodernãoaconteceráse os critérios de distribuição forem previamente definidos em lei ouresoluções, protegendo os candidatos de possíveis favorecimentos de unsemdetrimentodeoutros(LIMA,2010,p.9).

Dessa forma os recursos seriam “distribuídos através de critérios previamentediscutidos e regulamentados em lei, observando-se parâmetros semelhantes com osusadosparadistribuiçãodofundopartidário,porémmenosdesiguais”(LIMA,2010,p.17).

Verifica-se também a necessidade criação de um teto fixo para os gastos com asatividadesdecampanha,ouseja,adefiniçãodeumvaloruniformeparaosgastosdetodos os candidatos, de acordo com o cargo pretendido, de modo a não causardiscriminações ilegítimas, consequentemente, como resultado, traráuma reduçãodopesodadesigualdadeeconômicaentrecandidatos(SARMENTO;OSÓRIO,2014,p.14).

SegundoAnaBackeseLuizVogel(2014,p.10),afixaçãodeumtetoprevistoemleiacarreta uma freada no aumento dos custos das campanhas, que poderia serinteressanteparaamaioriadosatoresenvolvidos,umavezqueocustodeaumentarosgastosalémdolimitepassariaaserconsideradoilegal,comassançõesestabelecidasnalei.Consequentemente,reduziriaadiferençaentreosprincipaisarrecadadoreseosdemaiscandidatos,pois“aalteraçãodostatusquotenderiaadiminuiraschancesdoscandidatos que contam com acesso privilegiado aos financiadores privados dascampanhas”.

AadoçãodamodalidadepúblicadevesempreestaratreladaaumsistemadecontroledosórgãoseleitoraiscomoTribunalSuperiorEleitoral,TribunaisEleitoraisRegionais,como acompanhamento e fiscalizaçãodoMinistérioPúblicoEleitoral e daReceitaFederal (LIMA,2010,p.12).Ocontrole e a fiscalização seriam facilitados,porque

esta modalidade traria uma maior transparência às movimentações dos recursosadvindossomentedoscofrespúblicos(SANSEVERINO,2012,p.255).Comefeito,haveria um fortalecimento da ação conjunta desses órgãos de fiscalização e decontrole,atribuindomaior forçaeautonomia.Porconseguinte,eventuais fraudesnaprestação de contas de campanhas seriam prevenidas. Nesse ponto, acentua Lima(2010,p.18):

Refiro-me à articulação que deve existir entre Justiça Eleitoral, ReceitaFederaleBancoCentralnavigilânciae transparênciadousodosrecursosfinanceiros distribuídos aos partidos pelo Estado. Demais, alterações quefossemintroduzidasnaatuallegislaçãotenderiamaresolveroproblemadofinanciamentoexclusivamentepúblicodecampanhas.

Contudo, a adoção do financiamento público de campanha busca inibir o forteimpacto do poder econômico no processo eleitoral e nas decisões políticas. Busca,ainda,trazerumlivreprocessodeescolhaeacessoacargospúblicosmaisigualitários,ou seja, mais voltado aos princípios democráticos, pois diminuiria o custo dascampanhaseleitorais,equilibrandoaseleiçõesemfavordetodososcandidatos.Comefeito, aumentaria o grau de representatividade na medida em que os partidos ecandidatoseleitosnãoteriamdefavorecerosinteressesdeseusfinanciadores,atuandocommaisliberdadeembenefíciodointeressedasociedade.

ConclusãoOfinanciamentodecampanhaseleitoraisé reconhecidopeladoutrinacomoumdosprincipais desafios da política. A influência do poder econômico mostra-se umproblema ainda não resolvido na atualidade, tendo em vista o alto custo de umacampanhaeleitoral.Por isso,pode-seconcluirqueo financiamentodecampanhaséumdospontoscríticosparaofuncionamentodasdemocraciasmodernas.

O principal objetivo deste trabalho foi demonstrar se e como as normas definanciamentodecampanhaseleitoraispermitemainfluênciadopodereconômiconapolítica, ao ponto de comprometerem a legitimidade e a normalidade do processoeleitoral, o que afeta diretamente os princípios democráticos e a representaçãopolítica,ambosinscritosnaConstituiçãoFederal.

Percebe-sequeosargumentosfavoráveisaofinanciamentopúblicodecampanhassãobemaceitospeladoutrina,principalmente,quantoàpossibilidadedemaiorigualdadedisputa eleitoral, à redução de a influência do poder econômico nas eleições e nasdecisões políticas e também à probabilidade de gerar uma maior transparência econtrolenasmovimentaçõesdasverbasdecampanha.

Já os principais argumentos do financiamento privado se referem ao direito departicipaçãodiretadoscidadãosnapolíticaetambémnarelaçãoentreospartidoseoscidadãos que seria favorável à representatividade, já que esta se dá por meio dospartidos.

AmodalidademistadefinanciamentodecampanhaseleitoraiséaadotadanoBrasil.A realidade condizente com a aplicação desta modalidade aponta para uma fortedependênciaentreapolíticaeopodereconômico.

Asnormasque regulamentamo tema financiamentode campanhas, emdiversosdeseus dispositivos, autorizam as doações e contribuições de origem privadas acampanhaseleitorais,sejadepessoasfísicasoudepessoasjurídicas,semaimposiçãodeumlimitefixoparaessasdoações,caracterizandoumaaberturaexcessivanaformadefinanciamentobrasileiro.

Aprevisãolegaldelimiteparadoaçãoporpessoasfísicas,novalormáximode10%,que semodificamconforme seus rendimentos, epara aspessoas jurídicas, novalormáximode2%,baseadonofaturamentodoanoanterior,éclaramentediscriminatória,fereoprincípiodaigualdadeentreoscidadãos,daigualdadedeoportunidadesentreoscandidatosedopluralismopolíticos.

QuantoàpossibilidadedeusoderecursosdoFundoPartidárionaseleições,conclui-sequeascampanhaseleitoraisbrasileirasestãocadavezmaiscaras,dessaformaosrecursos do Fundo Partidário não chegam a ser significativos para o padrão definanciamentoatual.

Frente à desigualdade dos cidadãos em relação à disponibilidade de recursosfinanceiros, a autorização legal para uso da fortuna do próprio candidato em suacampanhapodesignificarumfatordedesequilíbrionacompetiçãoeleitoral.

Um dos grandes problemas do sistema brasileiro de financiamento de campanhasdecorredapossibilidadedoaçãode recursosprovenientesdaspessoas jurídicasparapartidosecampanhas.Pois,estesentessãoinstituiçõesfictíciasdedireitocriadasparafacilitar o convívio social, não possuem a capacidade de exteriorização da vontadepopular,mesmoassimsãoquantitativamentedoadorasdamaiorpartedosrecursosdecampanhaepossueminteressesdiretosemlicitações,contrataçõeserelaçõescomogoverno.

Da análise das normas atuais do sistema de financiamento deflui a necessidade decriaçãodeumvalormáximoparagastoscomasatividadesdecampanhas,baseadonocargopretendido,oqueéessencialparaoumadisputaeleitoraligualitária.Umavezque a legislação vigente que disciplina o financiamento de campanha eleitoral nãoestabeleceulimitesfixosparaosgastosdecampanhaseleitorais,deixandoacargodospartidosaimposiçãodeumteto.

De fato, os recursos financeiros são essenciais para o pleno desenvolvimento dacompetição eleitoral, pois as atividades de campanha têmumpreço, afinal este é ocustoparaaefetivaçãodademocracia.Ocorrequeestescustosnãopodemprejudicara liberdade e a igualdade inerentes a qualquer eleição. No entanto, a análise dasprestações de contas dos candidatos a cargo de deputados federais apresentadas aJustiça Eleitoral, referentes à eleição de 2010 noDistrito Federal, comprova que opoder econômico influência diretamente nos resultados do processo eleitoral,afastandoaigualdadeealiberdadedacorridaeleitoral.

Estaanálisedemonstraqueo financiamentonão foidistribuídode forma isonômicanas eleições do Distrito Federal, confirma o aumento dos custos das campanhaseleitoraisequeasdoaçõesdaspessoas jurídicas impactamnadisputaeleitoral,poisforamasmaioresdoadorasdereceitasparaascampanhasdospretendentesaocargodedeputadoFederal.

Além disso, visualiza-se uma grande efetividade do poder econômico na disputaeleitoral,namedidaemqueoscandidatosqueempregarammaisrecursosobtiveram

maior quantidade de voto e as suas campanhas notabilizaram-se pela eficiência emdetrimentodasdemaiscampanhas,aopontodeovotodoseleitoscustaremmenosqueovotodosdemais.

Nestecontexto,a lógicaeconômicanaseleições indicaquequemmaisgastaobtémcom mais facilidade o retorno perseguido, o voto. Fato que corrobora para umagrande necessidade de dinheiro e pode levar os candidatos e partidos políticos adefenderemosinteressesdosempresáriosembuscadoseuapoio,comoresultadodeumvinculodedependênciaentreeles.

A democracia representativa é caracterizada pela possibilidade de uma livreformulaçãodasescolhaspolíticas,emquedevemsergarantidasliberdadesbásicasdeassociação, informação e comunicação, com o objetivo de assegurar uma disputaigualitáriaentreosconcorrentesea liberdadenamanifestaçãodavontadedopovo.Nelaopoder soberanopermanecenasmãosdopovo,noentanto,o seuexercício éatravés dos representantes eleitos. Porém, o processo de escolha dos representantesencontra-se corrompida em sua liberdade, igualdade e transparência, em meio aosvícioseinfluênciasdecorrentesdoabusodopodereconômico.Dessaforma,naformaem que se encontra o processo eleitora não se harmoniza com o princípiodemocrático.

Ademocracia representativa temsuaefetivaçãoatravésdarepresentaçãopolítica, jáqueoscidadãosescolhemseusrepresentantesoumandatáriosparaqueestespossamgovernaretomarasdecisõespolíticasquejulgaremnecessárias.Opovoqueédonodopoder,pormeiodovoto,delegaavontadeaosrepresentantesquedeveriamdecidirem nome da coletividade. Entretanto, na realidade, o que ocorre é uma fortevinculaçãoentreasdecisõespolíticaseopodereconômico, resultandoemaçõesdogovernoquerefletemos interessesdaparcelamaisricadapopulaçãoenãooqueémelhor para a sociedade, muitas vezes esta vinculação tem íntima relação com ofinanciamentodecampanhas.

Oprincípiodalegitimidadedevesergarantido,conformeprevisãodoartigo14,§9º,daConstituiçãoFederal,quealémderesguardarimportantesvaloresjurídicos,comoprobidade administrativa emoralidade, procura conferir especial atenção acerca danormalidade e legitimidade das eleições, visando sua efetiva proteção contra ainfluênciadopodereconômico.

Todaviaemquepeseotextoconstitucionalinvocarolegisladoracriarmecanismosinibidoresdainfluênciadodinheironapolítica,oBrasilparececaminharemdireçãocontráriadestaconvocaçãoconstitucionalaopermitirousodopodereconômicoparafavorecimento de candidatos nas eleições do Distrito Federal, acarretando uma

notávelafrontaàlegitimidadeenormalidadedoprocessoeleitoral.

O principal obstáculo para a representatividade é a influência excessiva do podereconômico.Oquesepercebe,nestepaís,équeodinheiroutilizadoparaarcarcomasdespesas de campanhas, como marketing eleitoral, parece definir previamente osvencedoresdacorridaeleitoraleestarelaçãodefinidaduranteaseleiçõespodeacabargerando reflexos nas decisões políticas, desvirtuando-as em favor de interessesprivadosdegruposfinanciadores.

Ainfluênciadodinheironoprocessopolíticoeleitoralnacionalafetaessencialmentedois pontos diretamente vinculados à efetividade da democracia representativa: adesigualdadepolíticaeainfluêncianasdecisõespolíticasgovernamentais.

Oprimeiro se refereàdesigualdadepolíticanacapacidadeeleitoral ativaepassiva,aquioscidadãosmaisricosouosquemaisarrecadamreceitasparasuascampanhascompetemdemaneiradesigualemrelaçãoaosdemaisconcorrente,umavezquetemmaischancedeêxitoaoscandidatoscommaiorcapitalaplicado.Noqueserefereàcapacidade ativa dos cidadãos, há umdesnível em a sua participação e também aopesodovoto,jáqueoscidadãosmaisendinheiradospossuemumamaiorcapacidadedeinfluirnaseleiçõeseoseuvotoédeumaqualidademelhor,porteremmaisacessoàsinformaçõeseseremmaisconscientes,podendoatéinfluenciarnovotodosoutroscidadãos.

Osegundopontocorrespondeaofatodeasdecisõespolíticasestaremcadavezmaisinfluenciadas e convergidas aos interesses daqueles que financiaram as campanhasdoscandidatoseleitos,distorcendoo idealdemocráticoderepresentação,segundooqual os representantes devem trabalhar em busca do interesse comum.Consequentemente, Essa ligação entre o poder econômico e a política prejudicagravemente um regime que se diz democrático, quando os governantes eleitosdesenvolvemsuas funçõespolíticasvoltadasa favorecer interessesdeumapequenaparcela do povo, afastando-se das expectativas e necessidades observadas nacomunidadepolítica.

Asnormasdofinanciamentodecampanhaeleitoralpossibilitamaexistênciadeumarelação de dependência de interesse entre os candidatos e o interesse privado dedeterminados grupos sociais, com alta capacidade financeira, de maneira queproporciona um cenário propenso para relações espúrias decorrentes de trocas defavores,oqueterminaabrindoespaçoparaacorrupção.

Este favorecimento das preferências desses financiadores através da prática dacorrupçãopolíticaprejudicaaresponsividadedosgovernosemrelaçãoàspreferências

damaioriadoscidadãos,oque,poroutrolado,acabapordistorceracompetiçãoemfavordoscorruptosetrazerimpactodiretonaeficáciadoaccountabilityvertical,ouseja,napuniçãodoscorruptos.

Fica evidente que as normas do atual modelo de financiamento de campanhaseleitoraisnãoseharmonizamcomosprincípiosdemocráticosdopluralismopolítico,daigualdade,daliberdade,darepresentatividadeedalegitimidadeinscritosnotextoconstitucional.

Comoalteraçãoessencial,defende-se,primeiramente,avedaçãototaldapossibilidadededoaçõesoriginadasdaspessoasjurídicas.Trata-sedeumamedidanecessáriaafimde sanar problemas verificados e possibilitar uma corrida eleitoral de forma maisigualitária.

Uma solução possível seria o financiamento público exclusivo das campanhaseleitoraisqueseapresentacomoumaexperiêncianova,masnecessáriaporcontadasfalhas do sistema político brasileiro, que deve ser testado emantido se alcançar oêxito pretendido.O problema é que alguns setores da classe políticamantêm laçoscomocapitalprivado,porisso,namaioriadasvezes,sãointeressadosnasreceitasdeorigem privada quando não são os próprios representantes dessas empresasfinanciadoras.

A adoção do financiamento público de campanha busca inibir o forte impacto dopodereconômiconoprocessoeleitoralenasdecisõespolíticas.Busca,ainda, trazerum livre processo de escolha e acesso a cargos públicosmais igualitários, ou seja,mais voltado aos princípios democráticos, pois diminuiria o custo das campanhaseleitorais, equilibrando as eleições em favor de todos os candidatos. Com efeito,aumentariaograuderepresentatividadenamedidaemqueospartidosecandidatoseleitosnãoteriamdefavorecerosinteressesdeseusfinanciadores,atuandocommaisliberdadeembenefíciodointeressedasociedade.

Asdoaçõesdepessoasfísicasfiliadasaospartidospodematésermantidasdesdequetenhaumvalormáximoprevistoemleienãobaseadoemporcentagemderendimentobruto.Nestecaso,passariaaservedadaautilizaçãodestesrecursosdiretamentenascampanhas eleitorais, poderiam ser utilizadas, tais contribuições privadas poderiamserutilizadasematividadesdecunhoideológico,citadasnotrabalho,assegurandoaparticipaçãodoscidadãosnavidapolíticadospartidosefortalecendoarelaçãoentreeles,oqueésalutarparaumademocracia.

A discussão sobre o tema financiamento de campanhas eleitorais ainda se mostramuito aberta, de maneira alguma, procurou-se neste trabalho exonerar todas as

questõessobreo tema.NoCongressoNacionaloassuntoéalvodemuitapolêmica.No Supremo Tribunal Federal aguarda julgamento a Ação Direta deInconstitucionalidadenº4.650propostapelaOrdemdosAdvogadosdoBrasil.Enfim,o debate acerca do desta questão é de suma importância para a conservação dademocraciarepresentativa.

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