conviver aprender - as relações interpessoais e o processo ensino - aprendizagem

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Artigo produzido Pela Professora Dra Marcia Melo B. para o FOR+ProEste texto é parte do livro Conviver e Aprender: Novas formas de relacionamento na escola, menos violência e um clima mais favorável à aprendizagem (2014). É proibida a reprodução deste material.

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  • T3

    SMEC ITAPEVI

    2014

    Formao em HTPC

    Relacionamentos interpessoais na famlia e na escola e a rejeio entre crianas

    1 Este texto parte do livro Conviver e Aprender: Novas formas de relacionamento na escola, menos violncia e um clima mais

    favorvel aprendizagem (2014). proibida a reproduo deste material

    P r o f . D r . M r c i a M e l o

    Texto extrado dos captulos 4 e 5 do livro O dilogo entre o ensino e a aprendizagem de Telma Weisz, Editora tica, 1999.

    ( . . . ) o t r a b a l h o d o c e n t e c o m p e t e n t e u m

    t r a b a l h o q u e f a z b e m . a q u e l e em que o

    docente mobiliza todas as dimenses de sua ao com o

    objetivo de proporcionar algo bom para si

    mesmo, para os alunos e para sociedade. Ele

    utiliza todos os recursos de que dispe e o faz de

    m a n e i r a c r t i c a , c o n s c i e n t e e c o m p r o m e t i d a

    c o m a s n e c e s s i d a d e s concretas do contexto social

    em que vive e desenvolve seu ofcio.

    Terezinha Azerdo Rios.

  • 2

    Relacionamentos interpessoais na famlia e na escola e a

    rejeio entre crianas1

    _____________________________________________________________________________

    P r o f . D r . M r c i a M e l o

    Curso de Psicologia Universidade de So Paulo

    Muitos pesquisadores do comportamento humano defendem que as

    crianas, ao nascerem, manifestam certas caractersticas, um estilo prprio de

    se comportar, que podemos chamar de temperamento. Estabilidade e

    instabilidade do humor, capacidade de reagir diante de situaes sejam elas

    positivas ou negativas , persistncia em suas atividades e adaptabilidade s

    mudanas, so alguns exemplos de traos marcantes demonstrados pelo

    temperamento.

    Desde o nascimento possvel identificar caractersticas nas crianas,

    que as tornam diferentes umas das outras. Isso no podemos ignorar!

    Entretanto, para que a criana desenvolva seu estilo comportamental ou sua

    personalidade, ela precisa estabelecer contato com as pessoas de seu

    ambiente.

    O temperamento sozinho no determina o comportamento da criana

    ou quem ela ser. O que faz toda a diferena como ela aprende a se

    relacionar com o mundo e com as pessoas, desenvolvendo assim suas

    caractersticas e potencialidades.

    No demais ressaltar que os traos de temperamento no so uma

    marca biologicamente determinada; eles so sensveis ao estilo de educar,

    1 Este texto parte do livro Conviver e Aprender: Novas formas de relacionamento na escola, menos violncia e um clima mais favorvel

    aprendizagem (2014). proibida a reproduo deste material.

  • 3

    prprio de cada famlia, somados s experincias com colegas, professores

    e outros fatores do ambiente, como por exemplo os valores culturais.

    Podemos depreender ento que tais caractersticas podem ser modificadas

    no decorrer da vida.

    Outros eventos ambientais que tambm podem afetar o

    comportamento da criana sejam de forma positiva ou negativa so:

    amigos; entrada na escola; nascimento de irmo; mudana de bairro ou de

    escola, perda de bichinho de estimao.

    Tudo isso comea na famlia, especialmente na convivncia com os

    pais. Eles so fontes de aprendizagens e apoio no desenvolvimento social e

    emocional de seus filhos em formao. no contato com os pais que a

    criana comea a aprender a nomear, descrever e expressar sentimentos, a

    lidar com regras e valores.

    Se por um lado, as crianas aprendem com seus pais a se relacionar

    e a conviver com as pessoas, por outro, requerido dos pais um repertrio

    comportamental voltado para a educao do filho. o que profissionais da

    psicologia chamam de prticas educativas parentais ou habilidades sociais

    educativas parentais.

    Prticas Parentais podem ser entendidas como comportamentos, que

    podem se configurar como estratgias ou mtodos, utilizados pelos pais

    para orientar os comportamentos de seus filhos e socializ-los. Essas

    prticas revelam o estilo dos pais de educar a criana e as pesquisas

    apontam consistentemente para as consequncias de prticas positivas

    e negativas na vida da criana.

    Prticas parentais que incluem suporte emocional, comunicao clara e

    bidirecional e limites ajudam a criana a desenvolver uma boa autoestima

  • 4

    empatia, respeito pelo outro, cooperao. Em contrapartida, prticas dos

    pais pautadas na falta de dilogo, na ausncia de limites, em excessivas

    exigncias, no controle aversivo, na punio seja ela fsica ou verbal

    indicam para a criana que essa a forma de se relacionar com os outros,

    alm de influenciar significativamente, e negativamente, na construo de

    sua autoimagem.

    No incomum o professor atribuir os comportamentos do aluno

    estruturao da famlia. Algumas caractersticas da famlia parecem

    claramente explicar o comportamento da criana, mas outras vezes o

    professor num primeiro momento no consegue entend-lo. Aquela famlia

    to bem estruturada, os pais tem uma boa condio financeira, a criana

    est sempre com boa aparncia, a me sempre vem s reunies... O que

    ser que acontece? Ser que m ndole? Tais situaes nos indicam o

    quanto o comportamento humano complexo e que as relaes que

    tentamos estabelecer no so diretas. Isso significa, por exemplo, que

    pobreza no resulta em mau desempenho escolar ou delinquncia e que

    boas roupas e bons colgios no esto diretamente associados a bom

    desempenho acadmico, a respeito e a cooperao.

    Isso nos impele a considerar, em uma avaliao mais acurada,

    aspectos do relacionamento familiar que se do em mbito privado e aos

    quais o professor s tem acesso quando do relato da criana ou dos pais.

    Nessa busca pela compreenso do comportamento da criana, no mbito da

    famlia, uma primeira pergunta que o professor pode se fazer : quais

    mensagens os pais, com suas atitudes, esto transmitindo aos filhos?

  • 5

    Esta pergunta pode ser de grande utilidade para iniciar reflexes sobre o

    papel das pessoas significativas no processo de constituio da criana

    como indivduo e como cidado.

    O ingresso da criana em novos contextos, especificamente na

    escola, amplia as possibilidades de interaes sociais seja com outros

    adultos seja com outras crianas. Na escola, a criana se depara com

    um mundo novo, que vai lhe propiciar outras experincias e

    aprendizados nas esferas acadmica, social e at mesmo institucional.

    principalmente neste momento que oportunidades so oferecidas a ela

    para o desenvolvimento de habilidades sociais, na formao de redes de

    apoio variadas e de amizades.

    Vale destacar que as esferas acadmica e social tm se mostrado

    indissociveis. Consistentemente, as pesquisas tm demonstrado o

    quanto as interaes sociais afetam o desempenho acadmico e vice-

    versa, reafirmando a necessidade de investir numa formao que

    contemple essas dimenses.

    Sabe-se que interaes negativas com colegas e adultos no

    ambiente escolar esto associadas com problemas como a delinquncia;

    abuso de drogas e fracasso escolar. Em contrapartida, parece evidente

    que interaes sociais positivas, especialmente com outras crianas, so

    requisitos necessrios para o sucesso acadmico. Na mesma direo

    vo as pesquisas que descrevem o professor como uma pessoa

    relevante para a constituio da classe como um grupo. Tem sido

    observada a forma como o professor se relaciona com os alunos

    estabelece uma referncia para a constituio de regras e valores que

    permeiam a convivncia entre essas crianas.

  • 6

    Em outras palavras, a qualidade do desenvolvimento infantil depende no s

    de relacionamentos que envolvam o apego com pessoas de maior poder, como

    por exemplo, os pais e professores tipo vertical de relacionamento mas

    tambm de relaes com os colegas da mesma

    faixa etria e igual poder social tipo horizontal.

    A primeira oferece segurana e proteo

    criana, assim como modelos de condutas e

    elaborao de regras que orientaro seu modo

    de agir no futuro.

    A segunda, por seu turno, cria oportunidades

    para experincias de cooperao, competio,

    conflito e intimidade, possibilitando a prtica das

    habilidades adquiridas na convivncia com os

    adultos.

    Os momentos de brincadeiras e os jogos constituem experincias

    significativas para a apreenso da organizao social, a aprendizagem de

    regras, a identificao de habilidades associadas aos diferentes papis e,

    portanto, para o desenvolvimento da competncia social. As demandas do

    contexto escolar e do grupo de iguais induzem tambm ao raciocnio pr-social e

    moral, que formam uma base importante para o desenvolvimento de vrias

    habilidades, especialmente a da empatia.

    Alm da nfase no desenvolvimento da linguagem e na assimilao de

    estruturas de comunicao verbal, de grande valor para a competncia social, os

    relacionamentos com os companheiros estabelecem um conjunto de condies

    que podem modelar as caractersticas do desempenho social do indivduo. As

    relaes de amizade, o status social adquirido no grupo, as experincias de

    aceitao e rejeio, assim como as preferncias que se formam esto

    Diz-se que um indivduo

    socialmente competente quando

    ele consegue comportar-se de

    forma a garantir o alcance de

    seus objetivos em uma situao

    interpessoal. Isso est vinculado

    melhoria e/ou manuteno da

    interao com a outra pessoa.

    Nesse contato com o outro,

    busca-se ainda o equilbrio de

    poder e a continuidade de trocas

    na relao.

  • 7

    vinculados aos comportamentos de cooperao, ajuda, seguimento de regra,

    controle de raiva e de agressividade.

    Os padres de comportamentos coercivos aprendidos em casa

    provavelmente se repetiro nas relaes com colegas e professores e, por

    conseguinte dificultaro o ingresso da criana neste novo ambiente. Ao mesmo

    tempo, as aes coercivas emitidas na escola afetaro os pais, que sero

    constantemente convocados escola em funo dos comportamentos de seus

    filhos. Trata-se do caso clssico da criana que tem problema de relacionamento

    na escola, perturba a ordem da classe, apresenta temperamento explosivo,

    recusa-se a participar das atividades em grupo. No incomum que crianas

    com tais caractersticas sejam rejeitadas pelos colegas e fiquem estigmatizadas

    como problemticas, afastando-as cada vez mais de interaes sociais

    satisfatrias para ela e para o outro. O comportamento coercivo comea a afetar

    tambm o desempenho acadmico, fato que a distancia cada vez mais de seus

    colegas, que no manifestam tais dificuldades.

    A consequncia direta desta situao consiste na incluso da criana em

    grupos de colegas que tenham comportamentos semelhantes aos seus,

    constituindo os grupos de pares desviantes. Estes so de fcil identificao por

    apresentarem atitudes negativas na escola e na relao com as figuras de autoridade.

    Contribuem assim para o aumento da delinquncia e do abuso de substncias

    qumicas, na adolescncia.

    Muitos desses jovens se envolvem em atos infracionais que decorrem em

    problemas recorrentes com a lei, que podem se cronificar na idade adulta.

  • 8

    As pesquisas vm consistentemente demonstrando estreita

    correlao entre crianas rejeitadas por outras crianas e mau

    ajustamento na juventude, incluindo uso de drogas, evaso escolar e

    delinquncia juvenil. Como mencionado anteriormente, as crianas

    excludas da convivncia com o grupo de colegas vm de uma histria

    familiar de interaes coercivas, com tendncia agressividade, no

    cooperao e violao de regras. Todos estes elementos comprometem

    diretamente a qualidade das relaes interpessoais, produzindo dficits

    cada vez mais significativos de competncia social.

    Desse modo, a rejeio entre pares pode, realmente, constituir o

    incio de um crculo vicioso em que a criana passa a se relacionar com

    companheiros igualmente excludos da convivncia com a classe pela

    sua conduta antissocial e habilidades sociais deficitrias, passando a ser

    reforada pelos valores desse novo grupo.

    Muitas vezes, ao se deparar com alunos com dificuldades

    comportamentais, os professores podem se perguntar o que podem fazer

    uma vez que tais dificuldades tm seu incio e se mantm, em grande

    medida, por contingncias familiares. Antecipo que podem fazer muito!

    Crianas, especialmente aquelas com dificuldades de relacionamento

    interpessoal, podem ter na escola oportunidades de aprender e

    estabelecer novos parmetros de convivncia. Esses novos parmetros

    as ajudaro a estabelecer um contraponto significativo com seu

    repertrio atual, orientando-as a selecionar e a investir em interaes

    sociais mais habilidosas que permitam a elas o acesso a sensaes de

    satisfao no estar com o outro que os comportamentos prossociais

    podem viabilizar.

  • 9

    Questes

    Texto: Relacionamentos interpessoais na famlia e na escola e a rejeio entre crianas

    Profa. Dra. Mrcia Melo

    A forma como o professor se relaciona com os alunos estabelece uma referncia

    para a constituio de regras e valores que permeiam a convivncia entre essas

    crianas. Tomando em conta esta afirmao contida no texto, quais aes suas

    voc observa influenciar a forma como as crianas se relacionam entre si?

    Diante de um aluno que interage pouco com voc e com os colegas, como voc

    costuma agir? Partilhe e discuta com o grupo as conquistas e as dificuldades que

    voc tem enfrentado.

    Em sua sala de aula h a formao de grupinhos de alunos? Uma vez que voc os

    tenha identificado, como voc avalia este tipo de movimento dos alunos?

    Na tabela abaixo, descreva trs aes voc tem adotado para possibilitar

    maior interao entre os alunos. Considere 0 (no funciona), 1 (funciona

    poucas vezes) e 2 (funciona a maioria das vezes). Discuta com seus colegas

    os motivos pelos quais essas aes funcionam ou no.

    AES DO PROFESSOR O QUANTO FUNCIONA

    0 1 2

    0 1 2

    0 1 2

  • 10

    ANOTAES

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