controlo motor pelo sistema nervoso

33
38 Fig. 108 Função do fuso muscular. Controlo Motor pelo Sistema Nervoso Os neurónios que controlam os músculos são os neurónios motores. O neurotransmissor utilizado numa sinapse entre um neurónio motor e um músculo é a Acetilcolina. A libertação deste neurotransmissor promove a contracção muscular. Não há um neurotransmissor que inibe a contracção muscular, depende apenas da quantidade de acetilcolina. A regulação dos neurotransmissores é feita através de: Informação proveniente dos músculos e tendões; Efeitos facilitadores ou inibidores do cérebro. Nos músculos existem os fusos musculares que são constituídos por fibras musculares envoltas em tecido conjuntivo. As fibras intrafusais têm uma parte contráctil e captam os estímulos do próprio músculo. O neurónio sensorial forma potenciais de acção de baixa intensidade, mas muito frequentes. Estabelece uma sinapse, ao nível da espinal medula, com o neurónio motor, que depois vai levar a informação para os músculos. Os nossos músculos têm uma contracção tónica e uma contracção basal , ou seja nunca estão completamente relaxados. O esticar de um músculo (aumentar o seu comprimento) estimula o neurónio sensorial a aumentar a frequência de potenciais de acção. Isto vai estimular mais o neurónio motor a aumentar a libertação de Acetilcolina para Fig. 105 Neurónio motor Sistema nervoso Neurónio motor Receptor Acetilcolina Acetilcolina Músculo Fig. 106 Fuso muscular Fig. 107 Tónus muscular

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Page 1: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

38

Fig. 108 – Função do fuso muscular.

Controlo Motor pelo Sistema Nervoso

Os neurónios que controlam os músculos são os neurónios motores. O

neurotransmissor utilizado numa

sinapse entre um neurónio

motor e um músculo é a

Acetilcolina. A libertação deste

neurotransmissor promove a

contracção muscular. Não há um

neurotransmissor que inibe a

contracção muscular, depende apenas da quantidade de acetilcolina.

A regulação dos neurotransmissores é feita através de:

Informação proveniente dos músculos e tendões;

Efeitos facilitadores ou inibidores do cérebro.

Nos músculos existem os fusos musculares

que são constituídos por fibras musculares envoltas

em tecido conjuntivo. As fibras intrafusais têm

uma parte contráctil e captam os estímulos do

próprio músculo.

O neurónio sensorial

forma potenciais de acção de

baixa intensidade, mas muito

frequentes. Estabelece uma sinapse, ao nível da espinal medula, com o neurónio motor,

que depois vai levar a informação para os músculos.

Os nossos músculos têm uma

contracção tónica e uma contracção

basal, ou seja nunca estão

completamente relaxados.

O esticar de um músculo

(aumentar o seu comprimento)

estimula o neurónio sensorial a

aumentar a frequência de potenciais

de acção. Isto vai estimular mais o

neurónio motor a aumentar a

libertação de Acetilcolina para

Fig. 105 – Neurónio motor

Sistema nervoso

somático Neurónio motor

Receptor Acetilcolina

Acetilcolina

Músculo

Fig. 106 – Fuso muscular

Fig. 107 – Tónus muscular

Page 2: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

39

aumentar a contracção do músculo e assim diminuir o tamanho do músculo. A este tipo

de respostas, onde não é necessária a acção do córtex cerebral, chama-se reflexo.

As fibras extrafusais

promovem a contracção do

músculo pelo neurónio motor

α, activado pelo neurónio

sensorial Ia. Simultaneamente há activação do neurónio motor γ que vai promover o

encurtamento das partes contrácteis das fibras intrafusais, que vão ficar sob tensão.

Os órgãos tendinosos de Golgi,

vulgarmente conhecidos por tendões, ligam os

músculos aos ossos. São compostos por fibras

de colagénio e por neurónios sensoriais.

Fig. 109 – Reflexo de extensão:

contracção do músculo em resposta a

uma força de extensão que lhe é aplicada

Fig. 7 – Co-activação dos neurónios motor α e γ.

Fig. 111 – Órgão tendinoso de Golgi.

Fig. 110 – Reflexo de extensão.

Page 3: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

40

Quando a tensão é muito exagerada

o músculo relaxa involuntariamente de

modo a evitar lesões nas suas fibras. Esta

situação dá-se por inibição do neurónio

motor.

A detecção de um peso excessivo

activa o neurónio sensorial do órgão

tendinoso de Golgi, que vai estabelecer

uma sinapse com o interneurónio

inibitório, activando-o. Este vai inibir o

neurónio motor através da libertação de

neurotransmissores inibitórios, causando

o relaxamento do músculo. A este tipo de

reflexo chama-se Reflexo de Golgi.

O reflexo miotático inverso mostra que para haver movimento tem de haver

contracção de um músculo e relaxamento de outro:

O neurónio motor de um dos músculos tem de ser estimulado;

O neurónio motor do outro músculo tem de ser inibido.

Ou seja, há inibição do interneurónio que inibe o neurónio motor, provocando o

relaxamento de um músculo e, ao mesmo tempo, há activação do neurónio motor de

outro músculo.

Fig. 112 – Reflexo de Golgi

Fig. 113 – Reflexo miotático inverso.

Page 4: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

41

No reflexo extensor cruzado e reflexo flector de

retirada, o estímulo actua em 4 músculos diferentes,

provocando contracção ou relaxamento dos músculos

extensor e flexor.

O neurónio sensorial é estimulado e na medula há

uma espécie de interneurónios, uns excitatórios e outros

inibitórios, que activam consuante queiramos contrair ou

relaxar os músculos.

Um exemplo deste tipo de reflexo acontece quando

nos picamos num pé. Não há necessidade de resposta do

córtex, este apenas serve para sentir a dor. Os movimentos

são involuntários, no entanto, até um certo tempo,

podemos estar sobre o estímulo, se quisermos (se,

voluntariamente, não retirarmos o pé).

O relaxamento do músculo extensor permite tirar o

pé e tem de haver contracção do músculo flexor. Para não

cairmos, na outra perna tem de haver contracção do

músculo extensor e relaxamento do músculo flexor, de

modo a haver extensão da perna.

Fig. 114 – Reflexo extensor

cruzado e reflexo flector de

retirada.

Page 5: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

42

Músculos e Movimento Animal

Os diferentes tipos de músculos desempenham uma função importante em todas

as acções do corpo.

Os músculos constituem 40-50% do nosso peso corporal, consumindo 25% do

oxigénio quando estão em repouso, podendo aumentar 10-20% quando estão sujeitos a

esforço.

As funções dos vários músculos são:

Músculos esqueléticos:

1. Movimento corporal

2. Manutenção da postura

3. Respiração

4. Produção de calor corporal

5. Comunicação (ex: falar, escrever, gestos, expressão facial)

Músculo cardíaco:

1. Batimento cardíaco e bombeamento do sangue

Músculo liso:

1. Movimentos da parede do tubo digestivo

2. Fluxo de sangue nos vasos

3. Esvaziamento da bexiga

4. Contracção uterina durante o parto

5. Secreções glandulares

A contracção do músculo esquelético é

iniciada voluntariamente pelo sistema

nervoso, ou seja, tem de haver potenciais de

acção para levar um estímulo do SNC para o

músculo.

No músculo cardíaco e no músculo

liso há uma auto-estimulação das células,

sendo involuntária a contracção.

A estriação transversal do músculo

esquelético deve-se à sobreposição ordenada

dos filamentos contrácteis.

O músculo cardíaco também

apresenta alguma estriação, mas neste caso

as células possuem apenas um núcleo e não

se distribuem em toda a extensão celular,

como acontecia no caso anterior. Além disso

podem distribuir-se topo a topo. A existência

de “gap-junctions” permite que os potenciais

de acção passem rapidamente de célula em

célula, permitindo que a contracção aconteça

ao mesmo tempo em todas as células.

Fig. 115 – Músculo esquelético

Fig. 116 – Músculo cardíaco

Page 6: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

43

As células do músculo liso também

são mononucleadas e o seu citoplasma é

homogéneo. Além disso são células

fusiformes e não estão paralelas umas com

as outras.

O Músculo Esquelético liga-se aos ossos

através de tendões e a sua contracção permite os

movimentos. O músculo é constituído por um

conjunto de fibras, compostas por um conjunto

filamentos delimitados por sarcolema, organizadas

em fascículos. A rodear as fibras há tecido

conjuntivo – endomisio – que permite a manutenção

da estrutura.

As unidades motoras do músculo esquelético

são os nervos motor, compostos por vários

neurónios motor que

chegam ao musculo,

ramificam-se e ligam-

se às fibras para lhes

enviar um estimulo. Ao

complexo neurónio

motor ligado às fibras,

chama-se unidade

motora.

O número de

unidades motoras que são usadas para uma dada contracção

depende da necessidade no momento e é regulado pelo SN.

Os neurónios motor têm o corpo celular na espinal-

medula e o terminal nervoso está nos músculos, onde

libertam acetilcolina. Esta vai activar os receptores

nicotínicos existentes nas fibras, dando-se a abertura dos

canais de sódio, permitindo a entrada desse ião, causando

uma despolarização na membrana do músculo.

Nas fibras musculares há filamentos de actina (mais finos) e de miosina (mais

grossos), organizadas ao longo do filamento em sarcómeros. Cada sarcómero é

delimitado por uma linha Z, estando no topo os filamentos de actina e os filamentos de

miosina no centro, sendo que há alguma sobreposição.

Fig. 117 – Músculo liso.

Fig. 118 - Ligação dos músculos esqueléticos

aos ossos através dos tendões.

Fig. 119 – Fibra muscular,

Fig. 120 – Unidades motoras do músculo

esquelético

Fig. 121 – Transmissão neuromuscular.

Page 7: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

44

Durante a contracção há diminuição do comprimento dos sarcómeros. Sendo que,

quando a contracção é máxima, os filamentos de miosina estão quase em contacto com

a linha Z.

O que acontece é que há um deslizamento dos

filamentos de actina, sobre os filamentos de miosina,

para o centro do sarcómero, mas nenhum dos

filamentos encurta – Modelo da interdigitação e

deslize dos filamentos de actina e miosina.

O sarcómero está dividido em 3 zonas:

A – todo o comprimento do filamento de

miosina;

H – no local onde apenas há miosina;

I – no local onde apenas há actina.

Durante a contracção há uma diminuição das

bandas H e I, mas a banda A mantém-se do mesmo tamanho.

Os filamentos de miosina possuem umas estruturas, tipo umas cabeças, que vão

ligar à actina. Estas cabeças estão

projectadas para o exterior do

filamento, estando estes orientados

de maneira a ficar a cabeça do lado

da linha Z.

O movimento dos filamentos

de actina dá-se para o canto através

da acção das cabeças de miosina que

tem ligadas a si, dando-se a

contracção.

Há proteínas no filamento de

actina que regulam a contracção:

troponina (globular) e tropomiosina

(filamentosa).

A formação de pontes transversais,

entre os filamentos de actina e os filamentos

de miosina, dá-se a partir da hidrólise de ATP

na cabeça de miosina, dando-se, de seguida, a

ligação e liberta-se um grupo Pi para o

exterior. Isto faz com que a conformação se

altere ficando numa posição inclinada,

puxando o filamento de actina. No fim forma-

se novamente ATP e as pontes transversais

são quebradas.

A tropomiosina, num estado relaxado,

ocupa o local de ligação das pontes

transversais, impedindo que estas se dêem.

Quando há contracção, aumenta a

concentração de cálcio, que vai actuar sobre a

troponina fazendo deslocar a tropomiosina,

permitindo a ligação das pontes transversais à

miosina.

Fig. 122 – Teoria da contracção muscular:

Modelo da interdigitação e deslize dos

filamentos de actina e miosina

Fig. 123 – Estrutura dos filamentos de actina e miosina.

Fig. 124 – Ciclo de formação de pontes

transversais durante o deslizamento dos

filamentos contrácteis.

Page 8: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

45

O cálcio está armazenado nas cisternas terminais. Quando o potencial passa pelo

túbulo T há libertação de Cálcio do

retículo sarcoplasmático.

Para este processo voltar ao início

tem de haver uma diminuição na

concentração de Cálcio. Isto acontece

através da recaptação de Cálcio, por

transporte activo, mediado por uma

proteína que hidrolisa ATP.

Ao terminal nervoso chega um

potencial de acção que se vai dispersar

pelo músculo, por alteração do potencial da

fibra. O período em que não acontece nada,

corresponde ao tempo que o potencial de

acção demora a produzir contracção.

Depois de essa contracção acorrer há um

armazenamento de cálcio na fase de

relaxamento.

A tensão ocorre até depois de os níveis de Cálcio atingirem um valor basal.

Podemos desencadear um novo potencial logo de seguida desde que o anterior já tenha

repolarizado o suficiente, ou seja, desde que o período refractário absoluto já tivesse

passado.

A segunda contracção gerada pode somar-se à primeira, até a um ponto onde

ocorre cansaço.

A sobreposição dos filamentos de actina e de miosina, quando o músculo está em

repouso, está numa forma em que permite

formar a maior quantidade de pontes

transversais possível.

Se começarmos um exercício de

contracção com os músculos demasiado

esticados, de tal modo que os filamentos

contrácteis não conseguem formar pontes

transversais, não é possível ocorrer essa

contracção, por muita quantidade de cálcio

que se liberte e esteja disponível. Pelo

contrário, se o músculo estiver demasiado

curto, numa situação de repouso, os

filamentos de actina estão sobrepostos, não

permitindo a formação de pontes transversais.

Conclusão: o comprimento dos sarcómeros, durante o repouso, influencia o

máximo de força de contracção. O comprimento ideal é cerca de 2,25 µm.

No músculo cardíaco, o comprimento dos sarcómeros, em repouso, varia com o

grau de enchimento dos ventrículos.

ACh ACh ACh

Fendasináptica

Propagação dopot. acção ao longodo sarcolema e dostúbulos T

Túbulo T Sarcolema

RS

Pot. de acçãoestimula a lib.de Ca2+ do RS

Iões de Ca2+ ligam-se àtroponina removendo obloqueio dos locais deligação de miosina

Ciclo contractivo

Transporte activo de Ca2+

para o RS após o fim dopot. acção

Tropomiosina volta a bloquearos locais de ligação damiosina nas fibrasde actina.

Fig. 125 – Acoplamento excitação-contracção.

Fig. 126 – Relação entre comprimento e tensão.

Page 9: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

46

A contracção muscular é um processo que necessita de ATP, que é armazenado

sob a forma de fosfocreatina. Quando os níveis de ATP começam a baixar, o ADP reage

com a fosfocreatina para produzir creatina e ATP, que depois vai ser gasto durante os

exercícios de contracção.

Há medida que a fosfocreatina é gasta, tem de haver outras vias para a síntese,

especialmente, de glicose.

Os ácidos-gordos são moléculas muito calóricas e podem ser degradados durante

os exercícios para recuperar ATP.

Se o exercício e a

contracção muscular forem muito

intensos, podem ocorrer reacções

anaeróbias com formação de

ácido lácteo, o que causa as dores

musculares.

As três vias de produção de

ATP que é usado na contracção e

relaxamento muscular, são:

1. Fosfocreatina;

2. Fosforilação oxidativa;

3. Glicolise.

Metabolismo nos músculos-esqueléticos:

a. Durante o repouso há respiração aeróbia, com utilização de ácidos gordos;

b. Se o exercício for moderado a intenso, dá-se respiração anaeróbia durante

os primeiros 45-90 minutos. Depois há uma adaptação aos níveis de

oxigénio e volta a usar-se a respiração aeróbia;

c. Se o exercício for moderado, a respiração aeróbia começa logo 2 minutos

após o início do exercício.

Durante um exercício de baixa intensidade, recorre-se a glicose sanguínea durante

cerca de 10 minutos, sendo que entre os 10 e os 90 minutos usam-se os ácidos gordos

livres e a partir desse tempo usam-se triglicerídeos musculares.

Se a intensidade for intermédia, usa-se glicogénio muscular. Havendo uma

diminuição da quantidade de ácidos gordos e triglicerídeos consumidos.

Se o exercício for intenso, recorre-se menos ao glicogénio armazenado e mais aos

ácidos gordos (gráfico 2)

Fig. 127 – Produção e utilização das reservas de fosfocreatina nos músculos esqueléticos.

Fig. 128 – Vias de produção de ATP.

Page 10: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

47

Há três tipos de velocidades de contracção dos músculos:

a- Quer a contracção, quer o

relaxamento, são muito rápidos, é

o exemplo do músculo extraocular

– que nos permite virar os olhos;

b- A contracção é mais lenta que no a

e o tempo de relaxamento é maior.

É o que acontece nos músculos

gastrocnémius – que permite

dobrar a perna;

c- Tem tanto a contracção, como o

relaxamento são lentos.

Há vários tipos de fibras musculares:

A actividade da ATPase e a recaptação de Cálcio são tanto mais rápidos, quanto

mais rápido for o movimento.

A elevada concentração de mioglobina no citoplasma fornece aos músculos a cor

avermelhada.

Os músculos do tipo I têm capacidade glicolítica baixa e capacidade oxidativa

elevada, logo formam ATP de forma muito rápida, mas usam pouco logo há pouco

glicogénio.

Fig. 129 – Consumo energético nos músculos, durante um exercício.

Fig. 130 – Diferentes velocidades de contracção.

Características Tipo I Tipo IIA Tipo IIB

Contrácteis

Velo. Contracção Lenta Rápida Rápida

Actividade da ATPase Lenta Rápida Rápida

Duração ciclo contractivo Longo Curto Curto

Recaptação do Ca2+

Lenta Rápida Rápida

Metabólicas

Capilares Abundantes Intremédios Raros

Capacidade glicolitica Baixa Média Elevada

Capacidade oxidativa Elevada Elevada Baixa

Conteúdo em mioglobina Elevado Médio Baixo

Conteúdo em glicogénio Baixo Médio Elevado

Diâmetro Pequeno Médio Grande

Page 11: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

48

Os músculos do tipo IIA formam ATP de forma muito rápida, mas também o

gastam rapidamente, por isso o conteúdo de glicogénio é médio. Os níveis de

mioglobina são elevados de modo a captar mais oxigénio, embora em menor quantidade

que o músculo I.

Os músculos do tipo IIB formam ATP muito lentamente, mas tem uma

capacidade oxidativa muito rápida. Possui um elevado conteúdo de glicogénio e baixos

níveis de mioglobina.

Se aplicar-mos, a um músculo, muito estímulos com elevada frequência, dá-se um

aumento no nível de tensão mas depois há um

relaxamento muscular por fadiga. Se

descansarmos um pouco, conseguimos voltar a

contrair os músculos, mas a fadiga atinge-se

muito mais rapidamente do que na primeira

contracção.

A fadiga não se deve a uma diminuição

nos níveis de ATP, uma vez que este está

constantemente a ser produzido e, mesmo que

baixem, esse abaixamento nunca é muito

relevante. Deve-se, sim, há saída de K+ das

células, em grandes quantidades, gerando

muitos potenciais que não vão permitir que os

canais de cálcio recuperem o gradiente de

repouso.

Também se deve à falta de glicogénio, ou seja, quanto mais glicogénio houver,

mais tempo demora o músculo a entrar em fadiga. Além disso a acidificação que é

gerada pela acumulação de ácido lácteo durante a anaerobiose vai fazer com que a Ca2+

-

ATPase não se possa ligar ao canal de cálcio, não permitindo a entrada deste na célula.

O Músculo Cardíaco também possui alguma estriação que se deve à

sobreposição dos filamentos de actina e

miosina.

As células contactam topo a topo através

de discos intercalares, que possuem “gap-

junctions”, permitindo a passagem rápida dos

estímulos de uma célula para outra.

A entrada de Cálcio do exterior é

importante para a contracção do músculo

cardíaco; fazendo com que o ritmo cardíaco se

altere com a concentração extracelular de

Cálcio, disponível. O cálcio entra na célula

através do Retículo Sarcoplasmático ou por

canais de Ca2+

existentes na membrana.

As células do músculo cardíaco

possuem muitas mitocôndreas, para que estas

possam fosforilar muito ATP e produzir muita energia, necessária para que o coração

possa bater, em média, 70 vezes/minuto, durante toda a vida.

Tempo

Ten

o

Tétano

Fadiga Fadiga

Estímulos Período

de descansoTempo

Ten

o

Tétano

Fadiga Fadiga

Estímulos Período

de descanso

Fig. 131 – Gráfico de tensão muscular até à fadiga

muscular, com um minuto de relaxamento muscular

por fadiga, durante um minuto, para depois voltar a

contrair.

Gap junction

Discosintercalares

ActinaMiosina

BandaA

BandaI

Desmossoma

Tubulos T

RS

Gap junction

Gap junction

Discosintercalares

ActinaMiosina

BandaA

BandaI

Desmossoma

Tubulos T

RS

Gap junction

Fig. 132 – Discos intercalares.

Page 12: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

49

O potencial de acção gerado, nas células do músculo cardíaco, é muito

prolongado, aproximadamente 250 milisegundos, só ocorrendo aquando do fim da

repolarização. Isto deve-se à entrada lenta de

Ca2+

devido à abertura dos canais de tipo L

durante mais tempo.

O máximo de batimentos cardíacos por

minuto poderia ser superior a 200, no entanto é

apenas de 70. Isto deve-se ao facto das células

serem refractárias, necessitando que os potenciais

de membrana de regressem ao estado de repouso,

antes de voltarem a despolarizar. Isto é favorável

uma vez que durante a contracção o coração

esvazia de sangue e no relaxamento enche. Se a

duração do ciclo contractivo fosse mais curto,

cada vez que o coração relaxasse, não se encheria

totalmente de sangue e, consequentemente, a

eficiência do bombeamento e da oxigenação dos

tecidos seria mais baixa.

No caso dos músculos

esqueléticos, os potenciais de

acção e as contracções estão

desfasados, daí podermos

contrair continuamente os

músculos. Nos músculos

cardíacos, há sobreposição de

ambos (potenciais de acção e

contracções), daí a

impossibilidade de o contrair

continuamente, de o tetanizar.

O Músculo Liso não é estriado, porque os filamentos de actina e miosina não

estão sobrepostos, por isso são menos contrateis que os restantes músculos.

Os filamentos de actina e miosina estão ligados à

membrana

plasmática

e, quando

contracção,

o tamanho

da fibra

diminui.

Fig. 133 - Relação temporal entre o potencial

de acção e o ciclo contractivo na célula

muscular cardíaca

Fig. 134 - Potencial de acção e ciclo contractivo de fibras

musculares esqueléticas (FME) e cardíacas (FMC).

Célula muscular lisa

relaxada

Célula muscular lisa

contraída

Feixes de filamentos Corpos densos

Célula muscular lisa

relaxada

Célula muscular lisa

contraída

Feixes de filamentos Corpos densos

Fig. 135 – Células musculares do músculo liso.

Fig. 136 – Contracção do músculo

liso.

Page 13: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

50

As cabeças da miosina estão dispostas obliquamente em relação ao eixo do

músculo. Há muito mais actina do que miosina no músculo liso (16:1). No músculo

esquelético a proporção é de 2:1 o que faz com que a contracção seja muito maior do

que no músculo liso.

Possui “gap-junctions” para permitir que todo o músculo contraia ao mesmo

tempo. É o que acontece nos casos da bexiga e do útero.

O músculo liso possui um maior comprimento

onde é possível formar pontes para contracção,

permitindo uma maior plasticidade dos órgãos. Há uma

diferença fundamental que é o facto de as cabeças de

miosina se encontrarem distribuídas de modo

homogénio ao longo dos filamentos, sendo a sua

ligação aos filamentos de actina o que permite a

contracção dos músculos lisos.

A contracção do músculo liso é regulada por cálcio,

fornecido por duas fontes: canais de Ca2+

e Retículo

Sarcoplasmático. A segunda fonte é induzida pela entrada

de cálcio do exterior.

Quando a concentração de Cálcio aumenta, a

Calmodelina (CaM) ganha afinidade para o cálcio e esta

vai ligar-se a ele, formando um complexo Ca-CaM. Este,

por sua vez, vai activar a enzima MLCK, que existe nas

cadeias livres de miosina, e esta cinase vai hidrolisar o

ATP, activando a miosina (inactiva), ocorrendo

fosforilação das cadeias leves e

formação de ADP. Ao serem

introduzidas cargas negativas na

cabeça da miosina, a sua

conformação altera-se,

adquirindo actividade de

ATPase, o que vai permitir a

libertação da energia necessária para o deslizamento dos

filamentos de actina e miosina.

O relaxamento do músculo liso deve-se a uma

diminuição na concentração de Cálcio, sendo este removido

para a Retículo Sarcoplasmático e para o fluxo

transmembranar.

Com a diminuição da quantidade de cálcio, a CaM vai

perder afinidade para ele e vai desligar-se, desfazendo o

complexo Ca-CaM e, por conseguinte, inactivando a enzima

MLCK. Depois a enzima fosfatase da miosina fazer com que

se fosforile ATP e os filamentos de miosina fiquem inactivos.

Fig. 137 – Relação comprimento vs.

tensão.

Fig. 138 – Regulação da

contracção do músculo liso.

MLCK – cinase das cadeias

leves de miosina.

Fig. 139 – Regulação do

relaxamento do músculo liso.

Page 14: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

51

O facto de haver uma grande contribuição de cálcio, proveniente do exterior das

células, para a contracção do músculo liso, fez com que vários investigadores tentassem

comercializar diversos fármacos para combater doenças, como a hipertensão (tendência

para uma elevada contracção do músculo liso).

Produziram bloqueadores dos canais Ca2+

, como por exemplo a nifedipina, que

promove o relaxamento no músculo liso. Estes bloqueadores são utilizados

clinicamente em doenças como a hipertensão arterial (como vasodilatadores

periféricos) e a angina de peito (redução do espasmo das coronárias).

Há vários tipos de músculo liso:

O músculo liso visceral tem “gap-junctions” e sinapses “en passant”.

O músculo liso multiunitário não tem

“gap-junctions” mas tem sinapses “en

passant”.

Características das junções neuromusculares no músculo liso:

Neurotransmissores: acetilcolina (Ach) e noradrenalina;

Libertação dos NT nas varicosidades e não em botões terminais

(sinapses “en passant”);

O tipo de receptor presente nas células musculares determina se o NT é

inibitório ou excitatório.

Alguns músculos lisos iniciam um ritmo de potenciais de acção espontaneamente,

devido ao seu potencial de repouso ser muito instável.

Fig. 140 e 141 – Tipos de músculo

liso.

Tabela 1: Comparação entre os vários tipos de células musculares.

Page 15: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

52

Sistema cardiovascular e transporte interno

O sistema circulatório envolve dois componentes: o sistema cardiovascular

(sangue, coração e vasos sanguíneos) e o sistema linfático, que é constituído por linfa

que circula em nódulos e vasos linfáticos. Esta mantém o volume sanguíneo normal e

também as células do sistema imunitário, que ficam acumuladas nos nódulos. Aquando

de infecções, estas passam para o sangue. O sistema circulatório tem várias funções, de

transporte de substâncias (gases respiratórios, nutrientes, substâncias de excreção) de

regulação (hormonal, de temperatura) e de protecção (é no sistema circulatório que

existem os principais componentes, que permitem a luta imunitária contra infecções e a

coagulação aquando da quebra dos vasos).

O principal órgão do sistema circulatório é o coração, que bombeia o sangue

para os tecidos através de artérias que se ramificam por todo

o corpo. Em repouso, o volume de sangue movimentado por

minuto, ou seja, o débito cardíaco é de 5 litros por minuto.

Este valor e calculado multiplicando o ritmo cardíaco pelo

volume normal de sangue que enche o coração (em repouso, o

número de batimentos é aproximadamente 70, sendo que por

cada batimento saem 70 ml de sangue, por minuto circulam

4900 ml de sangue, ou seja, cerca de 5 litros).

Quando o exercício físico aumenta, há uma optimização

da distribuição de O2 pelo organismo sendo isto promovido

pelo aumento do débito cardíaco. No coração existem as

válvulas auriculoventriculares (válvula bicúspida ou mitral e

tricúspida, do lado esquerdo e direito respectivamente) que

separam as aurículas dos ventrículos. O seu nome está

relacionado com o número de pregas que possuem. Há ainda um outro tipo de válvulas,

as válvulas semi-lunares que se encontram na entrada das artérias (a da aorta denomina-

se válvula semi-lunar aórtica e a válvula semi-lunar pulmunar).

Sangue Quando se faz uma análise ao sangue,

um dos testes usados é o hematócrito, que nos

dá uma noção da percentagem do volume de

sangue que é ocupada por células

sanguíneas. Este valor pode ser determinado

por centrifugação de uma amostra de sangue.

Se o valor registado for inferior a 45%, deve

ser investigado, pois pode tratar-se de um caso

de anemia.

As células vermelhas sanguíneas, ou

seja, os glóbulos vermelhos, sedimentam no

fundo do tubo. Estes não têm núcleo, sendo que 1/3 do seu peso é composto por

hemoglobina. A separar estas células do plasma sanguíneo encontra-se uma película

esbranquiçada fina, constituída por glóbulos brancos e plaquetas. Por serem menos

densos tendem a ficar acima das outras células sanguíneas.

Fig. 142 - Sistema circulatório.

Fig. 143 – Constituintes do sangue.

Page 16: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

53

Há vários tipos de células sanguíneas:

Eritrócitos ou glóbulos vermelhos – Forma de lente bicôncava,

anucleados e vermelhos. Cerca de 4 a 6 milhões; 120 dias de duração média de

vida; Função de transporte de O2 e CO2.

Leucócitos ou glóbulos brancos – Forma variada, cerca de 5 a 10 mil;

12h a 5 dias de duração média de vida; Função de defesa.

Dentro dos leucócitos encontramos os granulócitos:

Neutrófilos: Granulação grande, núcleos bilobados. Cerca de 54 a 62%

do total de leucócitos; Função de fagocitose.

Eosinófilos: Núcleos bilobados; cerca de 1 a 3% do total de

leucócitos; Função de desintoxicação, dissolução de coágulos, etc.

Basófilos: Núcleos bilobados; menos de 1% do total de leucócitos;

Função de libertação de anticoagulantes.

Existem ainda, dentro dos leucócitos, os agranulócitos:

Monócitos: Possuem um citoplasma abundante. Cerca de 3

a 9% do total de leucócitos; Função de fagocitose.

Linfócitos: Citoplasma pouco abundante. Cerca de 25 a

35% do total de leucócitos; Função de defesa imunológica.

Plaquetas – São pequenos fragmentos citoplasmáticos. Existem cerca de 130 a

400 mil; 5 a 9 dias de duração média de vida; Função de coagulação.

Pessoas com pequenas quantidades de plaquetas poderão vir a ter problemas para

estancar o sangue, em caso de ruptura de vasos.

A hematopoiese é a renovação das células do sistema sanguíneo.

Os glóbulos brancos surgem a

partir de células indiferenciadas da

medula óssea – células estaminais

hematopoiéticas – que se multiplicam,

formando células que a dada altura ficam

comprometidas com uma dada via de

diferenciação (embora sejam

multipotentes ou pluripotentes). Após

comprometidas, as células vão

diferenciar-se nos vários tipos de

células sanguíneas. Este processo

designa-se hematopoiese.

As células que se vão

diferenciando progressivamente em

glóbulos vermelhos passam pela fase de

eritroblasto (células nucleadas em que

já se produz hemoglobina). O núcleo

destas células desintegra-se, formando os

glóbulos vermelhos.

Muitas vezes, em situações

anormais de substituição de glóbulos

vermelhos no sangue, é possível observar

Fig. 144 – Hematopoiese.

Page 17: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

54

reticulócitos (células com alguns resquícios nucleares) no sangue. Normalmente são

produzidos 2.5 milhões de eritrócitos por segundo.

Na medula óssea há uma quantidade enorme de

células que se estão a diferenciar, por isso há vários

factores internos e externos que podem afectar os

processos mitóticos. Um exemplo de factor externo é

o das radiações de alta energia, que inibem a

formação do fuso mitótico. Um outro factor que leva

à anemia é a falta de ferro no organismo, que induz

uma menor produção de glóbulos vermelhos ou uma produção de glóbulos vermelhos pobres em

hemoglobina.

As plaquetas sanguíneas formam-se a partir de

megacariócitos, que libertam porções do seu citoplasma que, por sua vez, dão origem

às plaquetas.

As células estaminais formam-se no saco vitelino. No feto migram para o

fígado, ocorrendo aqui a hematopoiese. Depois no adulto, migram para a medula

óssea, onde se dá a hematopoiese.

A hematopoiese ao dar-se na medula óssea (nos adultos) pode ocorrer em dois

tecidos, o mielóide (medula dos ossos longos) que produz todas as células sanguíneas

e o linfóide (nódulos linfáticos, baço, timo) que produz os linfócitos a partir de células

que tem origem na medula óssea.

A hematopoiese é regulada por algumas substâncias, como a eritropoietina

(hormona renal), que regula a formação dos glóbulos vermelhos, a eritropoiese. Já a

leucopoiese, formação de leucócitos, é regulada por várias citocinas.

A eritropoietina é produzida nos

rins e possui receptores nos

proeritroblastos. Esta hormona é

libertada pelos rins em maior ou menor

concentração, em resposta a uma

diminuição ou a um aumento,

respectivamente, do O2 fornecido aos

rins. Isto está relacionado com o número

de glóbulos vermelhos existentes no

sangue. Quando se dá um abaixamento

da quantidade de O2 que chega aos

rins, dá-se um aumento da secreção de

eritropoietina, pelos rins.

Esta vai para o sangue e quando

chega, em concentrações elevadas, à

medula óssea, vai ligar-se aos

receptores presentes nos

proeritroblastos, induzindo a diferenciação destes em eritrócitos. Quanto mais

eritrócitos são produzidos, maior é a concentração de hemoglobina no sangue e,

consequentemente, maior é a concentração de O2. Ocorre então uma boa oxigenação

nos rins.

Fig. 145 – Produção de células sanguíneas.

Fig. 146 – Regulação da eritropoiese pela

eritropoietina.

Page 18: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

55

O plasma é constituído essencialmente por água (90%), onde se encontram

dissolvidos iões, gases respiratórios,

moléculas orgânicas, entre estas as

proteínas (fibrinogénio, globulinas e

albuminas) e os produtos metabólicos

(ureia, ácido úrico e bilirrubina).

Os sais como o Na+, o Cl

- e o K

+ são

essenciais para a regulação da

osmolaridade do sangue.

As proteínas constituem,

aproximadamente, 7-9 % dos constituintes

do plasma:

A albumina também é muito

importante para a

osmolaridade, constituindo

60 a 80% do total de proteínas;

As globulinas constituem cerca de 20 a 30% das proteínas do sangue e

têm várias conformações: α e β são responsáveis pelo transporte de lípidos

e de proteínas; enquanto que as globulinas γ são anticorpos;

O fibrinogénio constitui cerca de 4% das proteínas do plasma e tem um

papel importante na coagulação.

Os metabólitos são produtos da actividade celular e são libertados do corpo quer

pela forma de urina (ureia e ácido úrico), quer pela forma de bilirrubina – derivado da

hemoglobina degradada dos glóbulos vermelhos, que é removido do sangue na

produção de bílis e é eliminada no tubo digestivo.

Os glóbulos vermelhos têm uma concentração de aproximadamente 300 mM,

distribuída por K+, hemoglobina (em maior quantidade) e PO4

-. Estas partículas, apesar

de diferentes, têm osmolaridade idêntica à do plasma.

A concentração do NaCl no plasma é de, aproximadamente, 150 mM. Assim

temos 150 mM de Na+ e 150 mM de Cl

-, o que origina 300 mOsM de partículas

osmoticamente activas, que contribuem para a osmolaridade do plasma.

Se os glóbulos vermelhos estiverem mergulhados numa solução com 200 mOsM a

água vai entrar na célula, fazendo aumentar o seu volume. As células podem não

rebentar devido à sua forma de disco bicôncavo, não há grande alteração da área

superficial da membrana. Se a entrada de água for muito grande, dá-se a hemólise.

Também pode acontecer que o indivíduo sofra de uma doença que provoca uma

fragilidade na membrana dos glóbulos vermelhos, rompendo mais facilmente.

Há diferenças de volume nos glóbulos vermelhos, consoante a amostra de sangue

se trate de sangue arterial ou venoso. Nos primeiros são mais côncavos e, nos segundos,

mais redondos.

À hemostase correspondem um conjunto de processos responsáveis pelo

estancamento do sangue:

A vasoconstrição é a redução do diâmetro dos vasos afectados, o que vai

levar a uma redução no fluxo de sangue perdido. É uma medida

comandada espontaneamente pelo SN;

A formação de um tampão plaquetário dá-se pela atracção de plaquetas

para a zona do corte;

Fig. 147 – Constituição do plasma.

Page 19: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

56

A coagulação sanguínea é o

que impede efectivamente a

perda de sangue. As fibras de

colagénio ficam expostas, o

que permite que as plaquetas

se associem a elas. As

plaquetas são atraídas através

de factores que são

libertados. A libertação

desses factores é inibida pela

aspirina, por isso uma das

medidas para evitar a

trombose nos idosos passa

por diminuir a concentração

de aspirina, evitando a

formação de coágulos.

Os coágulos de fibrina formam-se a partir de fibrinogénio, que é uma proteína

solúvel no plasma, com estrutura terciária, esférica. Só se forma se houver um corte no

vaso sanguíneo. Neste caso, o fibrinogénio perde a forma esférica e forma fibras que

aderem umas às outras e forma os coágulos.

Há duas vias de coagulação: intrínseca, caso haja corte no tecido, e extrínseca,

quando não há rotura do tecido mas há uma lesão que provoca a saída de factores de

coagulação:

Na via intrínseca: o colagénio, exposto pela ruptura do vaso, vai activar o factor

XII, que vai ficar com actividade proteolítica, indo activar o factor XI, que por sua vez

vai activar o factor IX e

este vai activar o factor X.

Mas, para este ultimo passo

se poder realizar é

necessária a presença de

factor VIII (este factor é

inexistente nos hemofílicos).

O factor X vai

catalisar a passagem de

protrombina a trombina,

que por sua vez vai catalisar

a passagem de fibrinogénio

a fibrina. A trombina vai

actuar sobre o fibrinogénio

formando monómeros,

fibras de fibrina.

O factor XIII,

também activado pela

trombina, vai levar à

junção das fibras de

fibrina, formando um coágulo de fibrina.

O colagénio não é a única substância a desencadear esta cascata de activação. Por

exemplo, o contacto do sangue com um tubo promove a activação do factor XI.

Fig. 148 – Formação do tampão plaquetário.

* inibido por aspirina.

*

Fig. 149 – Cascata de activação dos factores de coagulação sanguínea.

Page 20: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

57

Na via extrínseca: o corte expõe o factor III que vai activar o factor VII, indo

ambos activar o factor IX e/ou o factor X.

O factor X activo também pode levar à activação do factor VII.

O problema destas cascatas de activação é que a inexistência ou deficiência de

um dos factores pode parar toda a cascata. É o que acontece no caso dos hemofílicos.

O Ca2+

pode ser um co-factor para a reacção de activação dos factores.

Todas estas proteínas existem no citoplasma na sua forma inactiva, a não ser que

haja a activação da cascata de coagulação – via intrínseca da coagulação sanguínea. A

cascata inicia-se na exposição do colagénio e passa pela activação do Factor XII.

As nódoas negras são consequência de um traumatismo em que se esmagam

alguns vasos, podendo rebentar, mas não há libertação de sangue à superfície.

Nos vasos mais ou menos traumatizados há saída dos factores para o exterior –

via extrínseca. A activação de moléculas biológicas por proteólise é muito comum,

assim como algumas hormonas também são activadas por proteólise.

Uma vez activado, o factor XII pode ir activar vários factor XI, o que causa uma

amplificação do processo. As enzimas, que por acaso não se gastem na reacção, podem,

também, activar vários factores, fazendo com que o processo seja tão rápido.

A formação e a dissolução de um coágulo pode dar-se por Fibrólise,

transformando a fibrina em pedaços mais

pequenos até que se desintegram. A

trombina activa o plasminogénio em

plasmina, proteína que normalmente

existe na forma inactiva. Este efeito é

muito mais lento, a activação para a

formação do coágulo é muito mais rápida.

O coágulo tem várias moléculas de

plasminogénio acumuladas. A plastina,

enzima proteolítica, começa a fragmentar

as fibras de fibrina fazendo com o

coágulo se dissolva de dentro para fora, embora também haja algumas à superfície.

Há várias substâncias que inibem a coagulação:

Todas as substâncias que liguem Ca2+

são inibidoras da coagulação;

A Heparina vai activar a antitrombina III que inibe a acção da trombina;

A cumarina funciona ao nível do fígado e inibe a síntese de factores de

coagulação, competindo com a Vitamina K (responsável pela síntese de

factores de coagulação), podendo ser usada como anticoagulante.

As anomalias na coagulação podem ser originadas por:

Hemofilia, onde há uma deficiência hereditária do factor VIII de

coagulação;

Deficiência em Vitamina K, que leva a uma deficiência na formação dos

factores de coagulação (ex: protrombina).

Fig. 150 – Formação e dissolução de um coágulo.

Page 21: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

58

O Coração Anatomicamente o coração é

constituído por 4 cavidades, 2 aurículas

e 2 ventrículos, e pelas válvulas: válvula

semilunar pulmonar, válvula semilunar

aórtica, válvula tricúspida e válvula

bicúspide. A ligar as válvulas aos

ventrículos há umas pregas que

impedem que as válvulas de desloquem

para as aurículas durante a contracção e

os movimentos do sangue.

Cada ciclo cardíaco é composto

por uma sístole auricular, que faz o

sangue passar para o ventrículo

relaxado. Quando as válvulas fecham

dá-se a sístole ventricular, empurrando

o sangue para fora o coração. Após

isto, todo o coração fica em diástole,

permitindo que as aurículas se enchem

de sangue para dar origem a um novo

ciclo.

Este ciclo repete-se cerca de 70

vezes por minuto, durante toda a vida.

O coração não necessita de estar no

interior do corpo para bater. Depois de ser

extraído do corpo, pode continuar a bater

durante algumas horas.

Se separarmos as partes do coração,

ficando num fragmento o nódulo sino-

auricular, vimos que há uma diminuição do ritmo de contracções nos ventrículos e nas

aurículas, excepto no fragmento que tiver o nódulo sino-auricular (composto por células

Fig. 151 – Secção sagital do coração. A válvula

semilunar não é visível nesta perspectiva.

Fig. 152 – Válvulas do coração.

Fig. 153 – Ritmo cardíaco.

Fecho da válvula A-V (1º som)

Fecho da válvula aórtica

(2º som)

Abertura da válvula aórtica

Abertura da válvula AV

Fig. 154 – Sons, pressão ventricular e volume do coração.

Tipos de células cardíacas

Tipo Localização Função

Célulasmiocardiais

Aurículas eventrículos

Contracção e geraçãode força

Células“pacemaker”

Nódulos ASe AV

Iniciam a contracçãocardíaca e controlam oritmo cardíaco

Célulascondutoras

Feixe de HisFibras de PurkinjeFibras auriculares

Coordenam acontracção

Page 22: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

59

Fig.158 – Potenciais de acção nas células miocardiais do

ventrículo.

“pacemaker”) uma vez que é nessa zona

que se gera maior quantidade de potenciais

de acção. Depois esses potenciais de acção

vão passar de célula em célula através das

“gap-junctions”, fazendo com que todas

contraiam ao mesmo tempo.

Os restantes fragmentos também são

auto-excitáveis, mas como o ritmo é mais

elevado no nódulo sino-auricular, é essa

informação que as células vão reproduzir,

despolarizando.

O potencial de membrana destas

células não estabiliza num valor, assim que

o atinge, rapidamente volta a despolarizar.

A parte de despolarização até ao

limiar chama-se despolarização

“pacemaker”. Esta falta de estabilidade é

causada pelos canais de iões e a sua

permeabilidade.

Na despolarização lenta, os

canais de K+ vão fechando lentamente e

abrem os canais de Ca2+

tipo T, activam

mais lentamente.

No potencial de acção abrem os

canais de Ca2+

do tipo L, estão abertos

durante mais tempo. Depois estes canais

fecham e começa a sair Ca2+

, dando-se a

repolarização.

Depois dá-se uma nova

despolarização, começando pela

despolarização lenta.

A diferença entre as células

“pacemaker” e as células nervosas é que

nestas a despolarização da membrana dá-se

através da entrada de Ca2+

, enquanto que nas

células nervosas é devido à estrada de Na+.

Nas células miocardiais o potencial de

repouso é estável e tem canais de Na+

sensíveis à voltagem, por isso o potencial

de acção atinge-se muito mais rapidamente,

Fig. 155 – Sistema de condução do coração.

Fig. 156 – “Pacemaker e potenciais de acção no

nódulo sino-auricular

Fig. 157 – Geração de potenciais de acção numa

célula “pacemaker”

Page 23: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

60

mas também inactiva rapidamente. Mas estas células também possuem canais de Ca2+

do tipo L, o que permite que o potencial se mantenha durante mais tempo. Depois

abrem os canais de K+, originando a repolarização.

Estes potenciais de acção mantêm-se durante mais tempo do que os potenciais de

acção das células nervosas.

Com o potencial de acção dá-se a contracção e mais tarde, cerca de 150 ms, é que

se dá o relaxamento.

Os períodos refractários:

Absoluto: desde o potencial de acção, na parte da despolarização,

até ao inicio do relaxamento;

Relativo: desde o inicio do relaxamento muscular, até ao potencial

de repouso.

A vantagem desta alternância

contracção/relaxamento dos ventrículos

permite que estes se esvaziem e voltem a

encher completamente até contraírem

novamente.

O nódulo aurículo-ventricular atrasa o

potencial de acção, permitindo que os

ventrículos possam encher de sangue, antes

de contraírem. Isto permite que o sangue que

eles bombeiam saia a uma pressão elevada.

No Electrocardiograma (ECG)

temos as ondas P, que correspondem ao

somatório do potencial de acção nas

aurículas. Depois há uma parte em que

o potencial não altera, o que

corresponde ao tempo em que o

potencial de acção está “retido” no

nódulo aurículo-ventricular. De

seguida, a onda QRS corresponde à

contracção do ventrículo. Mais tarde dá-

se a onda T, informando da

despolarização e relaxamento

ventricular.

No ECG não se mede potenciais de

acção, mas sim alterações no potencial de

membrana.

Aquando das ondas QRS há um

aumento da pressão causada pela contracção

e depois a pressão diminui, com o

relaxamento.

Fig. 159 – Correlação entre o potencial de acção e a

contracção do miocárdio.

Fig. 160 – Electrocardiograma (ECG).

Fig. 161 – Condução de impulsos cardíacos e ECG.

Page 24: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

61

O primeiro som cardíaco corresponde ao fecho das válvulas aurículo-

ventriculares, o segundo ao fecho das válvulas semilunares aórtica e pulmonar. Estas

válvulas abrem durante a sístole para

permitir a saída de sangue.

Há também um terceiro som, não

audível ao estetoscópio, durante a diástole

de todo o coração que corresponde ao

deslizamento do sangue pelas paredes do

ventrículo, quando este passa da aurícula

para o ventrículo.

Circulação A maior artéria do nosso corpo

é a aorta. É também a mais espessa,

uma vez que tem de suportar as

enormes pressões sanguíneas

necessárias para levar o sangue para

todo o corpo. Esta depois transforma-

se em artérias mais estreitas e que dá

origem a arteriolas, que por sua vez

vão terminar em capilares, nos

tecidos. Depois, nessa região dão-se

trocas gasosas e, de seguida, os

capilares vão voltar juntar-se

formando as vénulas, que se juntam

nas veias e que por sua vez se unem

todas na veia cava, terminando no

coração.

A parede dos vasos sanguíneos divide-se em 3 túnicas: interna, média e externa,

separadas do lúmen através do endotélio.

As arteriolas e os capilares possuem apenas endotélio a constituir a parede do

vaso. As vénulas possuem apenas endotélio e túnica

externa.

Além disso, as vénulas e as veias possuem

válvulas que impedem que o sangue recue no seu

fluxo de volta para o coração. A contracção dos

músculos esqueléticos permite o fluxo de sangue no

sentido oposto à gravidade.

A túnica média é maior nos vasos onde a

pressão sanguínea é maior, de modo a impedir que

estas se rompam (aorta e artérias). Nas veias a

túnica média é muito estreita.

Fig. 162 – Alterações na pressão ventricular e ECG

Fig. 163 – Vasos sanguíneos.

Fig. 164 - Microcirculação

Page 25: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

62

Entre as arteriolas e os capilares pode haver anéis de músculo liso – esfíncter pré-

capilar – que, ao contrair impede a passagem do sangue.

Há também ligações directas entre as arteriolas e as vénulas. Estas ligações

permitem que o sangue seja enviado apenas para onde é necessário, não perdendo

nutrientes e oxigénio em locais de menor necessidade.

A aterosclerose é a forma mais comum de arteriosclerose. Desenvolve placas

(ateromas) formadas por células cheias de gordura na parede das artérias, que pode

reduzir o fluxo de sangue drasticamente em órgãos vitais, como o cérebro ou o coração.

Se houver rotura desses vasos, pode haver formação de coágulos, o que vai

dificultar ainda mais a circulação.

Esta doença contribui para a morte, por AVC ou enfarte do miocárdio, de 50%

desses casos a nível mundial.

Os principais factores de risco são:

Colesterol sanguíneo elevado;

Hipertensão arterial;

Fumo de tabaco;

Inflamação do endotélio dos vasos;

Diabetes;

Sedentarismo.

Os ateromas formam-se entre o endotélio e o

músculo liso. Quanto mais gordura e cristais de

colesterol houver, mais o endotélio é empossado,

diminuindo o lúmen do vaso, o que pode

originar rotura e/ou coagulo.

O colesterol é transportado no sangue na

forma de glicoproteínas e pode haver duas

formas:

LDL (Low Density Lipoproteins) – são

maiores e menos densas;

HDL (High Density Lipoproteins) –

são mais pequenos e muito mais densos.

As LDL possuem uma proteína especial –

apoproteína B. São esferas grandes, com muita

gordura e isso permite que a sua densidade seja

baixa.

AS HDL têm maior quantidade de

proteína em relação à quantidade de lípidos, o

que faz aumenta a sua densidade. Esta proteína

chama-se apoproteína A.

A diferença entre estas lipoproteínas,

quanto à sua malignidade, é que há receptores

no endotélio dos vasos para a apoproteína B, o

que faz com que as LDL possam sair do lúmen

dos vasos sanguíneos. Ao contrário do que

acontece com a apoproteína A, em que não há

receptores.

Fig. 165 – Aterosclerose – ateroma.

Fig. 166 – Colesterol: LDL e HDL.

Page 26: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

63

Os ateromas são formados a partir das

moléculas de LDL oxidadas, que saem do

lúmen do vaso através dos receptores

existentes no endotélio. Formam-se também,

no endotélio, proteínas de adesão que ligam

monócitos (VCAM – Moléculas de Adesão

a Células Vasculares) e que, por diapdese,

saem pela parede do vaso. As células T vão

produzir citosina e esta vai diferenciar os

monócitos em macrofagos. Estes vão

fagocitar as LDL e formar aglomerados de

LDL.

Por acção das citosinas, as células do

músculo liso também podem formar estes

aglomerados.

Todo este processo é causado por

uma inflamação, provocada pela

gordura, que atrai as células T. Isto só

acontece quando há um aumento da

quantidade de LDL.

As células do endotélio

expressam partículas de adesão,

causadas por mutações genéticas que

ocorrem devido ao aumento da pressão

arterial, ou ao aumento da concentração

de colesterol e triglicerídeos.

O colesterol é o LDL oxidado, ou

seja, os lípidos que aderem às

lipoproteínas estão num estado

oxidado.

Os macrofagos que captam as

partículas de LDL, só têm afinidade

para estas se estiverem oxidadas.

O fumo do tabaco facilita a oxidação das moléculas de LDL e provoca lesões no

lúmen dos vasos que levam à ocorrência das inflamações precursoras do processo.

Avaliar os níveis de colesterol no sangue tem sido uma das formas para detectar o

risco de aterosclerose (mede-se o colesterol total, sobre a quantidade de HDL). Também

há uma proteína C reactiva, que existe no fígado, e que a sua quantidade relativa

aumenta muito quando há inflamações em qualquer parte do corpo, sendo um bom

modo para detectar a existência e o grau de inflamações.

A revista “Scientific American”, em Maio de 2002, relaciona estes dois factores e

conclui acerca do risco relativo.

Podemos verificar que os níveis de colesterol elevados, mesmo havendo pouca

inflamação dos vasos, causa maior risco do que níveis de colesterol mais baixos, mesmo

com muita inflamação das paredes dos vasos.

Fig. 167 – Formação dos aglomerados de LDL,

formando os ateromas.

VCAMMoléculas de adesãoás células vasculares

Hajjar e Nicholson (1995) American Scientist 82, pg. 460-467

Fig. 168 – Ligação do monócito à VCAM e reacção

desencadeadas no endotélio.

Page 27: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

64

Também é possível verificar

que o valor de risco é mais baixo

quando os dois valores são baixos, e

é mais alto quando ambos os valores

são elevados.

Em pessoas com um ateroma

nas coronárias e em que o vaso está

tapado por um coágulo, podemos

verificar, através de um

electrocardiograma que há uma

maior dificuldade na repolarização e

a onda S é mais profunda – Sintoma

de Isquemia.

Nestes casos fazem-se outros

testes, um deles a ver se as células

morreram. Como terapia usam-se

vasodilatadores, mas a recuperação

não é nada fácil.

Quando os vasos das artérias coronárias estão

muito obstruídos, faz-se uma cirurgia introduzindo um

“by pass” coronário que faz a ligação directa do sangue

desde a Aorta e até depois da obstrução, deixando

passar o sangue para o resto da artéria.

Também é possível “raspar” as artérias com um

cateter, mas esta técnica não é muito boa porque vai

eliminar o endotélio.

Fig. 169 – Relação entre a quantidade de Proteína C Reactiva e a quantidade de colesterol, para o risco relativo de

surgimento de ateromas.

(Peter Libby: “Atherosclerosis: the new view”; Scientific

American, May 2002, Vol. 286: 28-37)

Fig. 170 – Depressão do segmento S-T em miocárdio com Isquemia.

Fig. 171 – “By pass” coronário

introduzido num coração.

Page 28: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

65

O sistema linfático Os vasos linfáticos absorvem o excesso

de líquido dos tecidos e trazem-no de volta

para o sangue, ajudando a manter os níveis

sanguíneos.

Também existem vasos linfáticos nas

vilosidades intestinais que absorvem as

gorduras da nossa dieta e canalizam-nas para o

sangue.

Os nódulos linfáticos têm células

fagocíticas que destroem os agentes

patogénicos, antes de serem lançados na

corrente sanguínea. Por essa razão, quando

temos uma inflamação, os nódulos

aumentam muito o seu tamanho. Porque há

um aumento do número de células que estão nessa zona.

Os vasos linfáticos ramificam-se nas várias partes do corpo e convergem em

canais maiores, que possuem nódulos linfáticos. Na veia cava há ligação do sistema

linfático com o sanguíneo.

Regulação da circulação O débito cardíaco é o volume de sangue que é lançado pelo coração. Pode ser

controlado através do SN Simpático e Parassimpático, alterando o volume de sangue

bombeado.

O SN Parassimpático vai diminuir o ritmo cardíaco, enquanto que o SN

Simpático aumenta o ritmo cardíaco e o débito sistólico.

O débito sistólico é regulado pelo efeito de Frank-Starling e pelo volume

diastólico.

Fig. 172 – Sistema linfático e Sanguíneo.

Fig. 173 – Ramificação dos vasos linfáticos pelo

corpo.

Débito Cardíaco = Ritmo Cardíaco + Débito Sistólico

Fig. 174 – Regulação do débito cardíaco. Fig. 175 – Efeito dos SN simpático e Parassimpático nos

potênciais de acção.

Page 29: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

66

Fig. 178 – Aumento da força de contracção

cardíaca nas células miocardiais.

Quando o coração está a funcionar a um ritmo “Potencial Pacemaker” normal

(geralmente 70 bat/min) e houver uma estimulação do:

SN Simpático, vai haver um aumento da velocidade de despolarização,

aumentando a frequência de potenciais, fazendo aumentar o ritmo cardíaco

SN Parassimpático, diminui a velocidade de despolarização, fazendo diminuir

o ritmo cardíaco.

Os neurotransmissores que são libertados nos terminais nervosos do coração,

diferem consoante o SN em questão: no SN Simpático é libertada noradrenalina,

enquanto que no SN Parassimpático é libertada acetilcolina.

Quando a acetilcolina liga aos

receptores muscarínicos vai activar

uma Proteína G (com 3 subunidades:

α, β e γ). As subunidades β e γ vão

activar os canais de K+. Como estes

estão acertos durante mais tempo, vai

causar uma hiperpolarização mais

longa, fazendo diminuir o ritmo

cardíaco por diminuição da

excitabilidade das células no nódulo

sinoauricular, que provoca diminuição

do ritmo de potenciais de acção.

Quando recebemos uma má

noticia ou apanhamos um susto ou

outra coisa que nos faça entrar em estado de choque, o ritmo cardíaco diminui muito,

podendo mesmo levar ao desmaio. Isto é causado porque nessas situações é activado o

SN Parassimpático.

Quando o SN Simpático

é activado, e é libertada

noradrenalina, esta vai activar

um receptor nor-adrenérgico

que vai activar uma Proteína

G. A subunidade α vai activar

o adenilato ciclase, que vai

converter o ATP em cAMP.

Este, por sua vez, irá activar

uma proteína cinase para esta

ir activar os canais iónicos.

Todo este mecanismo permite à célula despolarizar

mais rapidamente.

O SN Simpático também pode influenciar o

aumento da contracção cardíaca. Neste caso, a

proteína cinase activa vai fazer migrar Ca2+

para o

retículo sarcoplasmático. Com esse Ca2+

armazenado e o que entra pelos canais de cálcio,

fazendo com que a sua quantidade aumente,

fazendo aumentar também a força e a velocidade de

Fig. 176 – Receptores muscarínicos nas células “Pacemaker”

do coração. Abertura dos canais de K+ e consequente

diminuição da excitabilidade das células.

Fig. 177 – Receptores nor-adrenalinogénicos nas células

“Pacemaker” do coração. Abertura dos canais Na+ e CA2+ e

consequente aumento da excitabilidade das células.

Page 30: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

67

contracção, uma vez que há mais Ca2+

para activar a troponina e tropomiosina

facilitando a formação de pontes transversais entre os filamentos de actina e de

miosina.

O potencial de acção que se forma com a noradrenalina é diferente, mas apenas

na sua forma e não na sua duração. Neste caso a despolarização é um pouco maior.

Pelo Mecanismo de Frank-Starling o volume que está armazenado no

ventrículo, durante a diástole, vai alterar a forma dos sarcómeros do miocárdio:

No caso de haver muito sangue,

os sarcómeros aumentam muito o

seu tamanho e quando o músculo

é estimulado a contrair, não

consegue formar pontes

transversais suficientes para

contrair o coração

convenientemente (d);

No caso de o volume de sangue

ser intermediário, o sarcómero

fica com um tamanho normal,

conseguindo formar um número

de pontes transversais suficiente

para contrair maximamente (c);

No caso de o volume de sangue,

que entrou durante a diástole, ser

muito baixo, os sarcómeros

ficam muito curtos e há

encavalgamento dos filamentos

de actina, impedindo a formação

de pontes transversais, não

conseguindo contrair (a).

Ou seja, o coração apenas consegue

contrair convenientemente, durante um

intervalo de comprimentos dos

sarcómeros.

Na situação de estimulação pelo SN Simpático, há um aumento da quantidade de

Ca2+

, aumentando a força de contracção e o ritmo cardíaco.

O volume de sangue venoso que regressa ao coração durante a diástole, depende:

Do volume de líquido que fica retido na urina;

Do volume que fica retido nos tecidos;

Do ritmo e da profundidade da respiração, porque aquando da inspiração

forma-se uma situação de vácuo – aumento da pressão negativada – na caixa

torácica, que também facilita o retorno do sangue venoso;

Da pressão venosa, afectada pela bomba gerada pelos músculos esqueléticos e

em situações de veniconstrição (contracção do músculo liso das veias)

estimulado pelo SN Simpático.

Fig. 179 e 180 – Mecanismo de Frank-Starling.

Page 31: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

68

Quando o sangue chega aos capilares, nos tecidos, traz uma certa pressão. Esta

pressão vai fazer sair, por filtração, substâncias para os tecidos. Quando a pressão

diminui, o líquido é reabsorvido, aumentando à medida que é menor. Isto acontece

porque no plasma há proteínas plasmáticas (que nunca saem dos vasos) e no exterior a

concentração de proteínas é muito inferior, fazendo com que a pressão osmótica seja

maior no interior, facilitando a entrada de líquido.

Pensa-se que cerca de 9/10 do líquido que é

libertado, é reabsorvido pelos capilares

sanguíneos. O restante é reabsorvido pelos vasos

linfáticos.

Regulação do fluxo de sangue nos vasos:

O fluxo é directamente proporcional à

diferença de pressão e inversamente proporcional

à resistência.

A resistência depende do comprimento e

do raio dos vasos. Quanto maior o diâmetro,

menor a resistência; e quanto maior o

comprimento, maior a resistência.

O número de glóbulos

vermelhos interfere na

viscosidade do sangue. Quanto

maior a concentração, em

glóbulos vermelhos, mais

viscoso é o sangue.

O sangue que sai do ventrículo esquerdo a

uma pressão de 120 mm Hg, chega à aurícula

direita com uma pressão de 0 mm Hg.

Há medida que o sangue se afasta do

coração e das grandes artérias, a sua pressão

diminui continuamente até chegar à aurícula

direita com 0.

A diferença de pressão no

interior das grandes artérias é menor

Fig. 183 – Variação da pressão sanguínea nos vasos.

Podem dividir-se em 3 grupos:

Vasos de resistência

Vasos de troca

Vasos de captação.

Fig. 181 – Troca de substâncias nos capilares

sanguíneos, nos tecidos.

Fig. 184 – Relação entre o raio e a resistência no fluxo sanguíneo.

Fluxo de sangue

aResistênciFluxo

P

4raResistênci

L

L - comprimento dos vaso

- viscosidade do sangue

r - raio do vaso𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 =

∆𝑃 × 𝑟4

𝐿 × 𝜂

Fig. 182 - Variação da pressão sanguínea ao longo da via circulatória.

Page 32: Controlo Motor Pelo Sistema Nervoso

69

Fig. 185 – Relação entre a área transversal total

dos vasos e a velocidade de passagem do sangue.

do que no interior do ventrículo devido ao fecho da válvula aórtica e à elasticidade das

paredes das artérias, o que impede as variações de pressão no seu interior.

Os capilares são muito mais pequenos, mas são muito mais em número, tanto que

a área de secção transversal total é maior nos capilares e vai diminuindo até às artérias e

veias.

A velocidade de passagem do sangue

pelos capilares é a mais baixa de toda a

circulação sanguínea. Depois dos

capilares, nas vénulas, a velocidade volta a

aumentar, mas não tanto como nas

arteriolas.

A baixa velocidade do sangue, ao

nível dos capilares, é benéfico para as

trocas, uma vez que permite este se

mantenha mais tempo ao nível dos

capilares.

A actividade dos músculos esqueléticos vai aumentar o fluxo sangue venoso que

regressa ao coração, aumentando o volume cardíaco e aumenta o ritmo cardíaco.

Provoca também a vasodilatação para aumentar, o fluxo sanguíneo para o coração e

músculos.

O aumento da inspiração vai criar uma

pressão na caixa torácica, que vai ajudar no

regresso do sangue venoso ao coração.

A activação do sistema simpatoadrenal,

alem de aumentar o volume cardíaco, vai

aumentar o ritmo, aumentando o sangue que é

posto em circulação.

A vasoconstrição ao nível das vísceras

vai aumentar o fluxo de sangue para os

músculos.

O SN Parassimpático também pode activar estes mecanismos.

A pressão arterial é directamente proporcional ao débito cardíaco (ritmo cardíaco

e volume por batimento) e à resistência total periférica (vasoconstrição).

𝑷𝒓𝒆𝒔𝒔ã𝒐 𝒂𝒓𝒕𝒆𝒓𝒊𝒂𝒍 𝜶 𝐷é𝑏𝑖𝑡𝑜 𝑐𝑎𝑟𝑑í𝑎𝑐𝑜 × 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑒𝑟𝑖𝑓é𝑟𝑖𝑐𝑎

Fig. 186 – Adaptações cardiovasculares para o exercício.

Estímulo

Estímulo

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Fig. 187 – Localização dos

barorreceptores.

Fig. 188 – Via de passagem de

informação dos barorreceptores até

ao cérebro.

Os barorreceptores são receptores localizam-se no arco aórtico e no seio das

carótidas. São activados pelo aumento da pressão na parede dos vasos sanguíneos, que

causa uma distensão da parede, e depois enviam a informação para o cérebro, que vai

influenciar o ritmo cardíaco através da estimulação do nervo vargo, pelo SN

Parassimpático. Isto no caso de a pressão sanguínea ser muito elevada.

O nervo vargo, quando estimulado, vai libertar acetilcolina que vai provocar uma

hiperpolarização no nódulo sino-auricular. Isto vai levar

à diminuição do ritmo de potenciais de acção e,

consequentemente, à diminuição do ritmo cardíaco.

Quando a pressão sanguínea diminui, os

barorreceptores vão captar essa diminuição e vão

estimular o SN Simpático e inibem o SN parassimpático,

de modo a aumentar o ritmo cardíaco.