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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA CONTROLE VETORIAL PARA VELOCIDADE DE UM MOTOR DE INDUÇÃO TRIFÁSICO UTILIZANDO ESTIMADOR FILTRO DE KALMAN FLÁVIO GONÇALVES DANTAS Natal, RN – Brasil Agosto / 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA

ELÉTRICA

CONTROLE VETORIAL PARA VELOCIDADE DE UM MOTOR DE INDUÇÃO TRIFÁSICO UTILIZANDO ESTIMADOR

FILTRO DE KALMAN

FLÁVIO GONÇALVES DANTAS

Natal, RN – Brasil Agosto / 2011

ii

Seção de Informação e Referência

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Dantas, Flávio Gonçalves Controle vetorial para velocidade de um motor de indução trifásico utilizando

estimador filtro de Kalman / Flávio Gonçalves Dantas. – Natal, RN, 2011. 56 f.; il. Orientador: Andres Ortiz Salazar. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro

de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica.

1. Controle vetorial – Dissertação. 2. Motor de indução trifásico – Dissertação. 3. Estimador – Dissertação. 4. Filtro de Kalman – Dissertação. 5. Controle de velocidade sensorless – Dissertação. I. Salazar, Andres Ortiz. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 681,5

iii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

CONTROLE VETORIAL PARA VELOCIDADE DE UM MOTOR DE INDUÇÃO TRIFÁSICO UTILIZANDO

ESTIMADOR FILTRO DE KALMAN

FLÁVIO GONÇALVES DANTAS

Orientador: Prof. Dr. Sc. Andres Ortiz Salazar – UFRN – CT – DCA.

Natal, RN – Brasil Agosto / 2011

Dissertação submetida ao corpo docente da

Coordenação do Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Elétrica da UFRN (Área de concentração:

Automação e Sistemas) como parte integrante dos

requisitos para obtenção do título de Mestre em

Engenharia Elétrica.

iv

FLÁVIO GONÇALVES DANTAS

CONTROLE VETORIAL PARA VELOCIDADE DE UM MOTOR DE INDUÇÃO TRIFÁSICO UTILIZANDO

ESTIMADOR FILTRO DE KALMAN

Dissertação submetida ao corpo docente da Coordenação do Programa de

Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como parte integrante dos requisitos necessários para a obtenção do título de

Mestre em Engenharia Elétrica.

Aprovado por:

___________________________________________________________

Prof. Andres Ortiz Salazar, D.Sc.(UFRN) - Orientador

___________________________________________________________ Prof. Jose Andres Santisteban Larrea, D.Sc.(UFF-RJ) - Examinador Externo

___________________________________________________________ Prof. André Laurindo Maitelli, D.Sc.(UFRN)

Natal, RN – Brasil Agosto / 2011

v

________________________________________

Agradecimentos

________________________________________

Ao Deus Pai Criador, entrego os meus mais jubilosos louvores de gratidão! A Ele

dou graças por mais essa grande conquista.

Ao Mestre dos mestres, Filho de Deus, Senhor e Salvador, Jesus Cristo.

Ao Consolador de todas as horas, Espírito Santo.

À minha querida e amada esposa, Sara Liziany, por todo seu amor e dedicação.

Aos meus pais Fernandes e Severina, meus irmãos Flademir e Fernanda, meus

sogros Francisco Júnior e Maria das Dores, meu cunhado Joás Letelier, e aos meus

demais familiares, por sempre acreditarem que seria possível alcançar esse ideal.

Ao Professor Andres Ortiz Salazar, por sua orientação, confiança e paciência.

Aos Professores Rasiah Ladchumananandasivam e Marcos Silva, pelo incentivo e

apoio, além do Superintendente de Infraestrutura da UFRN, Gustavo Rosado, pela

compreensão e apoio.

Aos meus estimados amigos e irmãos em Cristo, em especial a Emanuel Jônatas,

Emerson Natã, Isaque Leonardo e Fábio Barbosa, além de todos aqueles que se

lembram de mim em suas orações.

E aos companheiros da pós-graduação que pesquisam no LAMP e no LECA pela

colheita e partilha do conhecimento.

vi

Aos meus amados pais, Fernandes e Severina, e meus irmãos;

À minha adorável esposa, Sara Liziany.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que

todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3.16

vii

________________________________________

Sumário

________________________________________

Sumário Vii

Lista de Figuras e Tabelas ix

Lista de Símbolos xi

Resumo xiii

Capítulo 1 - Introdução 1

1.1. Estimação de Velocidade 2

1.2. Objetivos da Dissertação 2

1.3. Organização da Dissertação 3

Capítulo 2 - Modelagem do Motor de Indução Trifásic o 4

2.1. Introdução 4

2.2. Equações do Motor de Indução Trifásico 6

2.3. Transformação αβ 8

2.4. Transformação d q− 12

2.5. Modelo Vetorial do Motor Orientado pelo Fluxo do Rotor 16

2.6. Conclusões 18

Capítulo 3 - Filtro de Kalman (KF) 20

3.1. Introdução 20

3.2. Definição Matemática do Filtro de Kalman (KF) 21

3.3. Estimador Filtro de Kalman (KF) 22

viii

3.4. Discretização do Estimador Filtro de Kalman (KF) 24

3.5. Conclusões 26

Capítulo 4 - Filtro de Kalman Estendido (EKF) 27

4.1. Introdução 27

4.2. Estimador Filtro de Kalman Estendido (EKF) 28

4.3. Conclusões 32

Capítulo 5 - Estimação de Grandezas do Motor de Indução Trifásico Utilizando o Algoritmo Filtro de Kalman Estendido 34

5.1. Introdução 34

5.2. Discretização do Modelo do Motor 34

5.3. Conclusões 39

Capítulo 6 - Resultados Obtidos 40

6.1. Introdução 40

6.2. Parâmetros do Motor 40

6.3. Inicialização das Matrizes do EKF 41

6.4. Projeto Proposto para Simulação 42

6.5. Resultados da Simulação 46

6.6. Conclusões 50

Capítulo 7 - Conc lusões Finais 51

7.1. Trabalhos Futuros 52

Referências Bibliográficas 53

ix

________________________________________

Lista de Figuras e Tabelas

________________________________________

Figura Pág.

2.1 Esquema elétrico do motor de indução trifásico 6

2.2a Máquina trifásica simétrica 9

2.2b Máquina equivalente de duas fases simétricas 9

2.3 Seção transversal do motor de indução com enrolamentos

bifásicos 9

2.4 Representação vetorial de uma grandeza elétrica do motor 10

2.5 Referência estacionária, transformação de eixos a-b-c para αβ 13

2.6 Transformação da referência estacionária αβ para referência

de rotação síncrona d q− 15

2.7 As correntes do motor nos diferentes referenciais abordados 16

3.1 O ciclo contínuo do Filtro de Kalman discreto 25

3.2

Um quadro completo da operação do Filtro de Kalman,

combinando o diagrama de alto-nível com as equações de

(3.13) à (3.17)

26

4.1 Um quadro completo da operação do EKF, combinando o

diagrama de alto-nível com as equações de (4.21) a (4.25) 32

5.1 Estrutura do Sistema de Controle do EKF 38

6.1 Projeto utilizado para simulação 43

6.2 Estrutura interna do bloco “Inversor a IGBT” 42

x

6.3 Estrutura interna do bloco “Controle de Pulsos” 44

6.4

Comparação da velocidade pelo Sistema de Controle Escalar

(Referência) com a velocidade do Controle Vetorial EKF

(Velocidade Estimada) com aumento de carga

47

6.5

Comparação das correntes de campo e quadratura do Controle

Escalar (Referência) com as correntes de campo e quadratura

do Controle Vetorial EKF (Estimada) sem aumento de carga

48

6.6

Comparação do torque do Sistema de Controle Escalar

(Referência) com o torque do Controle Vetorial EKF (Estimada)

sem aumento de carga

49

6.7

Comparação da velocidade do Sistema de Controle Escalar

(Referência) com a velocidade do Controle Vetorial EKF

(Velocidade Estimada) com aumento de carga

49

Tabela Pág.

6.1 Parâmetros do motor usado na simulação 41

xi

________________________________________

Lista de Símbolos

________________________________________

Símbolo

Descrição

δ Defasagem angular entre o enrolamento da fase “a” do estator e a fase “a” do rotor

φ Defasagem angular no referencial genérico αβ Coordenadas Bifásicas

d q− Eixos direto e quadratura

si e ri Corrente do estator e do rotor

sV e rV Tensão do estator e do rotor

sR e rR Resistências de estator e de rotor por fase

sλ e rλ Fluxo de enlace do estator e rotor

θω Velocidade angular do referencial genérico

mecω e ˆmecω Velocidade angular do rotor medida e estimada

mrω Velocidade angular referente à corrente de magnetização do rotor

LH Indutância de mútua entre enrolamentos de estator e rotor

Ls e Lr Indutâncias próprias do estator e do roto por fase

Te Torque Eletromagnético

Kd Coeficiente de atrito dinâmico

np Número de pares de pólos

J Momento de inércia do rotor

ml Carga constante imposta ao motor

σ Fator de dispersão

Ts Constante de tempo do estator

Tr Constante de tempo do rotor

KF Filtro de Kalman

EKF Filtro de Kalman Estendido

xii

( )v k e ( )w k Ruídos do processo e da medida

( )x k e ( )z k Vetores de medida e estado atuais

( )x kɶ e ( )z kɶ Vetores de medida e estado aproximados

ˆ( )x k Estimativa de estado anterior

ˆ( 1)x k + Estimativa de estado atual

( )y k e ˆ( )y k Valores das saídas reais e estimadas

( )u k e ˆ( )u k Valores das entradas de controle reais e estimados

A, B e C Matrizes de relações do Filtro de Kalman

Ad, Bd e Cd Matrizes de relação A e B discretizadas

R Matriz de ruídos de medição

Q Matriz de ruídos de estados

P Matriz de covariância

K Matriz ganho de Kalman

T Intervalo de amostragem

( )x ke e ( )z ke Erro de processo e de medida

( )ˆx ke e ( )ˆz ke Erro estimado de processo e de medida

si

e ri

Vetor de correntes do estator e do rotor

sV

e rV

Vetor de corrente de estator e do rotor

e rλ

Vetor de fluxo do estator e do rotor

dt

d Operador de derivação de uma função ou variável

∫ Operador de integração de uma função ou variável

sen x e cos x Funções seno e cosseno de um ângulo x genérico

e(x) Função exponencial de uma variável x genérica

xiii

________________________________________

Resumo

________________________________________

Dissertação de Mestrado

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Controle Vetorial Para Velocidade De Um Motor de In dução Trifásico Utilizando Estimador Filtro de Kalman

Autor: Eng. Flávio Gonçalves Dantas

Orientador: D. Sc. Andres Ortiz Salazar

Esta dissertação apresenta o desenvolvimento de uma simulação

computacional com a finalidade de demonstrar o funcionamento do controle vetorial

para velocidade de um motor de indução trifásico utilizando método de estimação

pelo Filtro de Kalman Estendido, bem como os procedimentos necessários para sua

implementação prática. A motivação maior que influenciou a pesquisa está na

utilização de um sistema de controle inovador que não necessita de sensores no

eixo da máquina (técnica sensorless), proporcionando desta forma uma considerável

redução nos custos de acionamentos e manutenção, aumento da confiabilidade, da

robustez e da imunidade a ruídos em relação ao controle de motores convencionais

com sensores.

Palavras-chave: Controle vetorial, motor de indução trifásico, estimador, filtro de Kalman, controle de velocidade sensorless

xiv

________________________________________

Abstract

________________________________________

Master Thesis on Electrical Engineering

Post-Graduate Program of Electrical Engineering

Federal University of Rio Grande of Norte

Speed Vector Control of Triphasic Induction Motor E stimator Using Kalman Filter

Author: Eng. Flávio Gonçalves Dantas

Research Supervisor: D. Sc. Andres Ortiz Salazar

This paper describes the study, computer simulation and feasibility of

implementation of vector control speed of an induction motor using for this purpose

the Extended Kalman Filter as an estimator of rotor flux. The motivation for such

work is the use of a control system that requires no sensors on the machine shaft,

thus providing a considerable cost reduction of drives and their maintenance,

increased reliability, robustness and noise immunity as compared to control systems

with conventional sensors.

Keywords: vector control, triphasic induction motor, estimator, Kalman filter, speed control sensorless.

1

_______________________________________

Capítulo 1

_______________________________________

Introdução

Na atualidade diversas pesquisas são realizadas na área de controle para

velocidade de motores de indução trifásico com a finalidade de se obter um

desempenho mais próximo possível do comportamento do motor de corrente

contínua, mantendo as grandes vantagens do motor de indução como a

robustez, construção simples, necessidade de pouca manutenção e

possibilidade de fornecer um motor totalmente fechado (motor de gaiola),

permitindo assim suprir uma maior demanda de aplicações, como em lugares

mais profundos ou submetidos à alta poluição.

Em aplicações onde se faz necessário um alto desempenho dinâmico,

respostas rápidas e alta precisão de regulação de velocidade, o motor elétrico

deve fornecer essencialmente um controle preciso de torque para uma faixa

extensa de condições de operação. Para tais aplicações os acionamentos com

corrente contínua sempre representaram uma solução ideal, pois a

proporcionalidade da corrente de armadura, do fluxo e do torque num motor de

corrente contínua proporcionam um meio direto para o seu controle. Contudo, a

busca por avanços tecnológicos significativos tem diminuído esta hegemonia e,

gradativamente, estão aparecendo opções de novas alternativas, como o uso de

acionamentos em corrente alternada do tipo controle vetorial (Weg, 2004).

Em razão do controle vetorial nas máquinas de corrente alternada, as

componentes das correntes que produzem o torque e o fluxo são desacopladas,

2

desta forma as características de resposta transitória são similares às das

máquinas de corrente contínua de excitação independente. O sistema poderá

se adaptar a qualquer variação de carga e/ou variação do valor de referência

tão rápido quanto à máquina de corrente contínua (Gonzalez, 2004).

Para a aplicação do controle vetorial é de suma importância conhecer a

posição exata das componentes dos eixos d q− , ou seja, a posição correta do

fluxo do rotor (se este for utilizado como referência). Assim, se faz necessário

ter o conhecimento de algum parâmetro que auxilie a encontrar o ângulo do

fluxo do rotor ou a posição dele, obrigando desta forma a medir ou estimar a

velocidade do rotor, e, com o cálculo da velocidade do escorregamento,

determinar a velocidade do fluxo do rotor.

1.1. Estimação da Velocidade

No setor industrial é essencial a redução de custos em sistemas de

acionamentos. Isto pode ser obtido substituindo sensores mecânicos por

técnicas de estimação de velocidade. Esse processo de estimação sem o

auxílio de sensores é denominado técnica “sensorless”. Uma possível

alternativa para determinação da velocidade rotórica do motor é a utilização do

Filtro de Kalman.

1.2. Objetivos da Dissertação

A meta principal deste trabalho é analisar a possibilidade de

implementação de um sistema para controle da velocidade de um motor de

indução trifásico sem a utilização de sensores no eixo da máquina (sensorless)

pelo uso do algoritmo estimador Filtro de Kalman (na sua forma “estendida”, que

será abordada no capítulo 4), o que proporcionaria uma economia nos custos

de acionamentos e manutenção, além do aumento da confiabilidade e robustez

no controle da velocidade.

Para tal objetivo, foi projetado e simulado na plataforma computacional

“Simulink” do Software Matlab um sistema para controle da velocidade rotórica

composto pelo modelo do motor, dispositivos eletrônicos de potência e de

3

acionamentos, bem como o algoritmo estimador Filtro de Kalman Estendido

(EKF) inserido no bloco “Embedded Function” do Simulink destinado para

programação.

1.3. Organização da Dissertação

No Capítulo 2 são apresentadas as equações que determinam o

comportamento das grandezas eletromecânicas do motor de indução trifásico,

bem como as transformações necessárias para implementação do modelo do

motor no Flitro de Kalman e para o controle vetorial da máquina.

O Capítulo 3 apresenta uma introdução do Filtro de Kalman, aborda seus

conceitos matemáticos bem como seu princípio de funcionamento e introduz os

conhecimentos que serão aplicados no estimador Filtro de Kalman.

No Capítulo 4 é abordada a variação estendida do Filtro de Kalman que

será aplicada ao modelo vetorial do motor de indução .

No Capítulo 5 são demonstradas as equações discretizadas e o algoritmo

do Filtro de Kalman Estendido que será usado para o controle sem sensor da

velocidade do motor e em seguida é apresentado o desenvolvimento de uma

simulação através da ferramenta Simulink/Matlab.

Já no capítulo 6 comprovam-se através de simulações os resultados do

funcionamento do controle da velocidade através do algoritmo estimador Filtro

de Kalman Estendido.

No Capítulo 7 são expostas as conclusões oriundas dos trabalhos

realizados, assim como propostas para futuros trabalhos.

4

_______________________________________

Capítulo 2

_______________________________________

Modelagem do Motor de Indução Trifásico

2.1. Introdução

A facilidade de controle de fluxo e conjugado através das correntes de

campo e de armadura e o menor custo de implantação dos acionamentos de

corrente contínua, fizeram do motor de corrente contínua o mais utilizado nas

aplicações onde se exige rapidez de resposta e operação com alto

desempenho, sobretudo em baixas velocidades (Stopa, 1997).

Por outro lado, as desvantagens inerentes à existência de comutadores e

escovas no motor de corrente contínua, com manutenção excessiva, não-

aplicabilidade a ambientes corrosivos e explosivos, capacidade limitada de

comutação em altas velocidades e limitações a tensões e/ou sobrecargas

elevadas, levaram à procura de soluções que empregassem motores de

corrente alternada.

As máquinas de corrente alternada, entre elas os motores de indução

trifásico, são amplamente utilizados nas mais variadas aplicações em

instalações industriais e comerciais. Eles são adequados para o uso em cargas

que exigem velocidades constantes ou variáveis, ou ainda, com as que exigem

reversões e variadas velocidades.

Existem muitos tipos disponíveis, os quais cobrem uma larga faixa de

características de conjugado e podem ser projetados para operar em muitos

5

tipos de fontes de alimentações com diferentes combinações e valores de

número de fases, freqüências e tensões (De Almeida, 2001).

Os principais obstáculos à aplicação da máquina de indução em

acionamentos onde se empregavam máquinas de corrente contínua eram

associados ao limitado desempenho dinâmico das técnicas de controle até

então existentes. O fato das correntes de excitação e de carga na máquina de

indução circularem no mesmo enrolamento e não em enrolamentos separados,

como na máquina de corrente contínua, dificultava o controle. O

desenvolvimento das técnicas de controle vetorial mostrou ser possível o

controle da velocidade nos motores de corrente alternada com desempenho

competitivo com o motor de corrente contínua, despertando a atenção para o

uso de motores de corrente alternada em acionamentos controlados. As

vantagens do controle vetorial são (Weg, 2004):

• Boa regulação de velocidade;

• Alto desempenho dinâmico;

• Controle de torque linear para aplicações de posição ou de tração;

• Operação suave em baixa velocidade e sem oscilações de torque,

mesmo com variação de carga.

O motor de indução com o rotor em gaiola de esquilo, em particular, por

ser uma das máquinas de corrente alternada mais barata e robusta, disponível

em várias as faixas de potência, é uma alternativa bastante interessante.

Os avanços na área de eletrônica de potência, com o barateamento dos

semicondutores de potência e também na área de processamento digital de

sinais, com o surgimento de processadores com velocidades cada vez maiores

e a custos decrescentes, tornaram os motores de corrente alternada uma opção

aos de corrente contínua em acionamentos com velocidades controladas.

Entre as principais vantagens dos motores de indução trifásicos,

podemos citar: menor custo, manutenção mais simples e menos freqüente,

menor relação peso/potência, potências maiores, mais simples de proteger em

ambientes com risco de explosão, além de potências limites superiores ao de

corrente contínua, entre outras (De Almeida, 2001).

6

2.2. Equações do Motor de Indução Trifásico

Para a modelagem matemática de um motor de indução trifásico é

necessário conhecer sua estrutura física e o comportamento dinâmico das

grandezas internas como a corrente e tensão, os enlaces dos fluxos, o torque

eletromagnético além da velocidade e posicionamento do eixo do motor. Ainda

devem ser consideradas as seguintes informações (Krishnan, 2001):

• O entreferro do motor precisa ter tamanho uniforme;

• Os enrolamentos do estator devem ser idênticos;

• A saturação e mudanças de parâmetros não são consideradas.

O motor de indução escolhido para o desenvolvimento deste trabalho foi

do tipo “rotor em gaiola”, conforme as razões explicadas anteriormente. Este

tipo de motor apresenta curto-circuito nos terminais do rotor, o que torna a

tensão nos terminais do rotor nula, ou seja, Vr =0.

O modelo para este tipo de motor possui bobinas trifásicas no rotor e no

estator, conforme representado na figura 2.1, onde δ é a defasagem angular

entre o enrolamento da fase “a” do estator e a fase “a” do rotor, e θ é a

defasagem angular no referencial genérico, e V é a tensão entre os terminais da

bobina, referida “s” para estator e “r” para rotor, assim como sua respectiva fase

(“a”, “b” ou “c”).

Figura 2.1 – Esquema elétrico do motor de indução trifásico

7

Admitindo-se um referencial trifásico genérico “θ ”, o comportamento

dinâmico da máquina, expresso em função das variáveis de estado velocidade,

fluxo do rotor e correntes do estator, é apresentado nas equações a seguir

(Maschio, 2006):

s s s s m s

dV R i K

dt θλ ω λ= + + (2.1)

20 r r r m r

dR i K

dtλ ω λ= + + (2.2)

s s s H rL i L iλ = + (2.3)

r H s r rL i L iλ = + (2.4)

T Te p s m s p r m rT n K i n K iλ λ= − = (2.5)

1

( )mec e D mec l

dT K m

dt Jω ω= − − (2.6)

Com:

ele p mecnθω ω ω= − (2.7)

0 1 11

1 0 13

1 1 0mK

− = − −

(2.8)

Onde:

Rs = Resistência do estator;

Rr = Resistência do rotor;

Vs = Tensão no estator;

Vr = Tensão no rotor;

is = Corrente do estator;

ir = Corrente do rotor;

sλ = Fluxo de enlace do estator;

rλ = Fluxo de enlace do rotor;

θω = Velocidade angular do referencial genérico;

8

mecω = Velocidade angular do rotor;

np = Número de par de pólos do motor;

LH = Indutância mútua entre enrolamentos de estator e rotor;

Ls = Indutância própria do estator;

Lr = Indutância própria do rotor;

Te = Torque eletromagnético;

J = Momento de inércia do motor;

Kd = Coeficiente de atrito dinâmico;

ml = Carga constante imposta ao motor;

As equações do motor podem ser descritas em diferentes referenciais.

Os casos mais adotados são:

• Referência no estator (estacionária): 0θω =

• Referência no rotor: p mecnθω ω=

• Referência no campo do estator (síncrona): eleθω ω=

No processo de estimação de velocidade são necessárias medições de

tensões e correntes no estator da máquina, por esse motivo o referencial mais

adequado será o estacionário.

2.3. Transformação αβ

Modelar um motor de indução trifásico de corrente alternada é

consideravelmente complexo, em razão das três fases do circuito rotórico

mover-se em relação às três fases do circuito estatórico.

O fato do comportamento dinâmico do motor apresentar equações

diferenciais com indutâncias mútuas variando no tempo dificulta ainda mais sua

modelagem. Porém, um motor de três fases pode ser representado por uma

máquina equivalente de duas fases, como mostrado na figura 2.2. Essa

representação é denominada “Transformação 0αβ ”.

9

(a) (b)

Figura 2.2 – (a) Máquina trifásica simétrica; (b) Máquina equivalente de duas

fases simétricas.

Fisicamente a transformação 0αβ transforma o motor trifásico simétrico

em uma máquina simétrica bifásica, representado na figura 2.3, com mesma

potência mecânica, torque, velocidade e número de pólos (Barbi, 1985). Esse

tipo de abordagem no motor é também designado de “Transformação de

Clarke ”.

Figura 2.3 - Seção transversal do motor de indução com enrolamentos

bifásicos.

As grandezas que descrevem o modelo do motor passam a ter

representação como entidades complexas, sendo o eixo Real a projeção em α

e o eixo Imaginário a projeção em β , conforme ilustrado na figura 2.4.

10

Figura 2.4 – Representação vetorial de uma grandeza elétrica do motor.

As equações das grandezas do motor representadas no plano complexo,

considerando que a fase “a” coincida com o eixo real do plano, são

apresentadas a seguir:

22( )

3 a b cV V jV V V Vα β α α→

= + = + + (2.9)

22( )

3 a b ci i ji i i iα β α α→

= + = + + (2.10)

22( )

3 a b cjα βλ λ λ λ αλ α λ→

= + = + + (2.11)

Com:

2 /3je πα = (2.12)

2 4 /3je πα = (2.13)

correspondentes à direção espacial geométrica nas fases “b” e “c”, equivalente

aos operadores de deslocamento espacial de 120º e 240º, respectivamente.

Aplicando a transformada 0αβ nas equações (2.1) a (2.6) para o

referencial estacionário ( 0θω = ), ou referencial fluxo do estator, obtém-se:

s s s s

dV R i

dtλ= +

(2.14)

0 r r r p mec r

dR i jn

dtλ ω λ= + −

(2.15)

s s s H rL i L iλ = +

(2.16)

r H s r rL i L iλ = +

(2.17)

( ) ( )* *3 3Im Im

2 2e p s s p r rT n i n iλ λ= = −

(2.18)

11

1

( )mec e D mec l

dT K m

dt Jω ω= − − (2.19)

O modelo do motor de indução no domínio contínuo pode ainda ser

escrito na forma de equações de estado, que será necessário para a

implementação do Filtro de Kalman, segmentando em parte real e imaginária

em função das variáveis corrente do estator e fluxo do rotor, obtendo-se:

1 1 1 H Hs s s r r r

s s r s r r s r

L Ldi V i

dt L T T L L T L Lα α α α βσ λ ω λ

σ σ σ σ σ −= − + + −

(2.20)

1 1 1 H Hs s s r r r

s s r s r r s r

L Ldi V i

dt L T T L L T L Lβ β β β ασ λ ω λ

σ σ σ σ σ −= − + + −

(2.21)

1 H

r r s r rr r

Ldi

dt T Tα α α βλ λ ω λ= − + + (2.22)

1 H

r r s r rr r

Ldi

dt T Tβ β β αλ λ ω λ= − + − (2.23)

3

( )2e H p r s r s

r

T L n i iL α β β αλ λ= − (2.24)

Com:

2

1 H

s r

L

L Lσ

= −

é o fator de dispersão; (2.25)

ss

s

LT

R= é a constante de tempo do estator; (2.26)

rr

r

LT

R= é a constante de tempo do rotor; (2.27)

Representando as equações acima através de vetores e matrizes, obtém-

se o resultado a seguir (Kubota, 1993):

d

x Ax Budt

= + (2.28)

y Cx= (2.29)

12

Onde:

T

s s r rx i iα β α βλ λ = (2.30)

T

s su V Vα β = (2.31)

T

s sy i iα β = (2.32)

1 2 3

1 3 2

4 5

4 5

0

0

0

0

mec

mec

p mec

p mec

a a a

a a aA

a a n

a n a

ωω

ωω

− − − = − − −

(2.33)

1/ 0

0 1/

0 0

0 0

s

s

L

LB

σσ

=

(2.34)

1 0 0 0

0 1 0 0C

=

(2.35)

Sendo os coeficientes da matriz A definidos por:

1

1 1

s r

aT T

σσ σ

−= +

(2.36)

2H

s r r

La

L L T σ= (2.37)

3H

ps r

La n

L L σ= (2.38)

4H

r

La

T= (2.39)

5

1

r

aT

= (2.40)

2.4. Transformação d q−

Se para o processo de estimação da velocidade é ideal o referencial

estacionário (orientado pelo fluxo do estator) em coordenadas αβ , por outro

lado no controle vetorial é necessária a orientação pelo fluxo do rotor em

coordenadas d q− . Para proporcionar o desacoplamento entre os controles de

13

torque e fluxo, transforma-se o modelo da máquina de indução em um modelo

similar ao das máquinas de corrente contínua, cujo controle é bem mais simples

e eficaz, tanto para altas como para baixas rotações. O controle vetorial é

executado através das componentes d q− das correntes de campo e

quadratura, oriundas da transformação trifásica para bifásica αβ estacionária e

em seguida para coordenadas d q− , designada de “Transformação d q− ”. A

seguir é apresentado o método para obtenção dessas correntes em

coordenadas d q− .

Considere uma máquina de indução de três fases simétricas, com os

eixos as-bs-cs estacionário, defasados de um ângulo de 2π/3, como mostrado

na figura 2.5.

O objetivo é transformar as variáveis as-bs-cs da estrutura de referência

estacionária das três fases em variáveis αβ da estrutura de referência

estacionária de duas fases e então, transformá-la na estrutura d q− de

referência de rotação síncrona e vice-versa. Fisicamente, será a transformação

da máquina bifásica com enrolamentos estatóricos fixos e enrolamentos

rotóricos girantes em enrolamentos estatóricos fixos e rotóricos pseudo-

estacionários (Barbi, 1985). Essa abordagem da máquina é também

denominada de “Transformação de Park ”.

Figura 2.5 - Referência estacionária, transformação de eixos a-b-c para αβ .

14

Supondo que os eixos αβ sejam orientados pelo ângulo θ, como

mostrado na figura 2.5, as correntes si α e si β podem ser expressas em

componentes as-bs-cs e representadas na forma de matriz por:

( ) ( )( ) ( ) 0

cos 1

cos 120º 120º 1

cos 120º 120º 1

as s

bs s

cs s

i isen

i sen i

seni i

α

β

θ θθ θθ θ

= − −

+ + (2.41)

A relação inversa correspondente é dada por:

( ) ( )( ) ( )

0

cos cos 120º cos 120º2

120º 120º3

0.5 0.5 0.5

s as

s bs

css

i i

i sen sen sen i

ii

α

β

θ θ θθ θ θ

− + = − +

(2.42)

is0 é adicionado como componente de seqüência zero, que talvez esteja

presente ou não. A tensão e o fluxo podem ser transformados por equações

semelhantes.

É conveniente fixar θ=0, de modo que o eixo α esteja alinhado com o

eixo as. Ignorando a componente de seqüência zero, a relação de

transformação pode ser simplificada como:

as si i α= (2.43)

1 3

2 2bs s si i iα β= − − (2.44)

1 3

2 2cs s si i iα β= − + (2.45)

e inversamente:

2 1 1

3 3 3s as bs cs asi i i i iα = − − = (2.46)

1 1

33s bs csi i iβ = − + (2.47)

15

A figura 2.6 mostra os eixos d q− em rotação síncrona, que giram com

velocidade síncrona eleω com relação aos eixos αβ e o ângulo ele eletθ ω= . As

duas fases do enrolamento αβ são transformadas em um enrolamento

hipotético projetados nos eixos d q− . As correntes nos eixos αβ podem ser

transformadas para uma estrutura de eixos d q− , como mostrado a seguir:

Figura 2.6 – Transformação da referência estacionária αβ para

referência de rotação síncrona d q− .

Com base no diagrama acima, aplica-se a “Transformação de Park ”:

cosqs s ele s elei i i senα βθ θ= − (2.48)

cosds s ele s elei i sen iα βθ θ= + (2.49)

E a relação inversa, que também é conhecida como “Transformação

Inversa de Park ”, é obtida por:

coss qs ele ds elei i i senα θ θ= − (2.50)

coss qs ele ds elei i sen iβ θ θ= − + (2.51)

16

2.5. Modelo Vetorial do Motor Orientado pelo Fluxo do Rotor

Após as transformações αβ durante a modelagem do motor de indução

de corrente alternada foi estabelecida uma relação entre o torque

eletromagnético e as grandezas fluxo do rotor e corrente do estator, conforme

exposta na equação (3 / 2 ) [ ]e r H p r s r sT L L n i iα β β αλ λ= − . No entanto, para obter um

controle de velocidade idêntico ao do motor de corrente contínua, é necessário

o desacoplamento entre o torque e o fluxo do rotor, sendo este último o

referencial para o referido controle. É possível esta orientação estimando a

magnitude e a posição exata desse fluxo do rotor girante baseado no modelo

vetorial do motor, método pelo qual executa o Filtro de Kalman (KF).

Representando as correntes do motor nos diferentes referenciais

abordados e no mesmo diagrama vetorial, obtém-se o esquema da figura 2.7:

Figura 2.7 – As correntes do motor nos diferentes referenciais abordados

Onde:

mecω é a velocidade mecânica do rotor;

mrω é a velocidade do campo girante do rotor;

mri

é a corrente de magnetização que está relacionada com a

magnitude do campo girante do rotor, calculada como:

17

rmr

H

iL

λ=

(2.52)

Entretanto, se r H s r rL i L iλ = +

, então a nova equação para mri

será:

rmr s r

H

Li i i

L= +

(2.53)

Observando o diagrama vetorial, tem-se que:

s sd sqi i ji= +

(2.54)

De maneira análoga, aplica-se também:

r rd rqi i ji= +

(2.55)

Substituindo (2.54) e (2.55) em (2.53), obtem-se:

( ) ( )rmr sd sq rd rq mrd mrq

H

Li i ji i ji i ji

L= + + + = +

(2.56)

Adotando o referencial solidário com fluxo do rotor, orientado por mrω ,

considera-se que mri

possui apenas parte real, pode-se obter então:

rmrd sd rd

H

Li i i

L= + (2.57)

0rmrq sq rq

H

Li i i

L= + = (2.58)

Com intuito de encontrar as componentes d q− da corrente rotórica em

(2.57) e (2.58), obtem-se as seguintes equações:

18

( )Hrd mrd sd

r

Li i i

L= − (2.59)

Hrq sq

r

Li i

L= − (2.60)

E finalmente, o modelo vetorial contínuo do motor de indução orientado pelo

fluxo do rotor, segmentado em parte real e imaginária, é mostrado a seguir:

1

( )mr mr sdr

di i i

dt T= − (2.61)

sqmr p mec

r mr

in

T iω ω= + (2.62)

e m mr sqT K i i= (2.63)

Onde:

3

(1 )2m sK Lσ= − (2.64)

Como se observa na equação (2.63), o torque eletromagnético eT é

determinado em função da corrente de magnetização mri (que depende da

corrente dsi ) e da componente em quadratura da corrente do estator sqi ,

consequentemente promovendo o desacoplamento entre os vetores fluxo e

torque, o que permitirá o controle vetorial independente de um em relação ao

outro, aproximando-se de um sistema de controle para máquina de corrente

contínua.

2.6. Conclusões

Neste capítulo foi apresentado o modelo vetorial contínuo do motor de

indução na forma de equações de estado em coordenadas αβ de referencial

estacionário, explicitado nas equações (2.28) a (2.40) e que serão utilizados na

implementação do estimador Filtro de Kalman Estendido. Também foi abordada

a transformação d q− do mesmo modelo para obtenção das correntes de

19

campo dsi , que é a responsável pela produção de fluxo, e quadratura qsi , que é

a responsável pela produção de torque, ambas no referencial síncrono (fluxo do

estator) e que serão aplicadas no controle vetorial da máquina.

20

_______________________________________

Capítulo 3

_______________________________________

Filtro de Kalman (KF)

3.1. Introdução

Conforme explicado anteriormente, será aplicado um algoritmo estimador

de velocidade denominado “Filtro de Kalman Estendido (EKF) ”, que é um

método derivado do “Filtro de Kalman (KF) ” convencional. Portanto, para se

compreender o funcionamento do EKF será imprescindível dominar a

metodologia utilizada pelo KF. A seguir será abordada a teoria que envolve as

características do estimador Filtro de Kalman.

O Filtro de Kalman é um conjunto de equações matemáticas que fornece

uma solução recursiva para o problema de estimação de estados para um

processo. A principal vantagem do método recursivo é sua eficiência

computacional em comparação com métodos clássicos, como os mínimos

quadrados, por exemplo. Outra característica importante é que no método

clássico, todas as medidas devem ser conhecidas de antemão para a

estimação, enquanto que o Filtro de Kalman atualiza os cálculos a cada nova

medida que é fornecida pelo sistema de observação. O filtro é muito importante

em vários aspectos como: estimação de estados passados, presentes e futuros,

mesmo quando a natureza do sistema modelado não seja conhecida. O objetivo

deste capítulo é fornecer uma conceituação teórica para a utilização do Filtro de

Kalman (Oliveira, 2004).

21

3.2. Definição Matemática do Filtro de Kalman (KF)

O Filtro de Kalman é utilizado em um problema geral da tentativa do

cálculo do estado nx ∈ℜ de um controle discreto de processo que é governado

por uma equação diferencial estocástica linear (Welch, 2004):

( ) ( 1) ( 1) ( 1)x k Ax k Bu k w k= − + − + − (3.1)

e com uma medida mz ∈ℜ dada por:

( ) ( ) ( )z k Hx k v k= + (3.2)

As variáveis aleatórias w e v representam ruídos do processo e da

medida (respectivamente). É assumido que os mesmos são independentes um

do outro, são do tipo branco, e com distribuições de probabilidade normais:

( ) (0, )p w N Q∼ (3.3)

( ) (0, )p v N R∼ (3.4)

Na prática, as matrizes de covariância do ruído Q e a covariância do

ruído R, podem mudar a cada passo de tempo ou medida, porém aqui são

assumidas como constantes.

A matriz Anxn na equação diferencial (3.1) relaciona os estados no

instante k-1 com o estado do passo k, na ausência de uma função ativadora ou

ruído de processo. A matriz Bnxl relaciona a entrada de controle lu ∈ℜ ao estado

x. A matriz Hnxm na equação da medida (3.2) relaciona o estado com a medida

z. Como as matrizes R e Q, a matriz H também pode mudar a cada passo de

tempo, mas aqui assumimos que ela é constante.

22

3.3. Estimador Filtro de Kalman (KF)

Definindo ˆ( ) nx k − ∈ℜ (notação “super menos”) como sendo o estimador

de estado a priori no passo k, determinando o conhecimento do processo antes

do passo k, e ˆ( ) nx k ∈ℜ como sendo o estimador de estado a posteriori no

passo k, após a medida ( )z k . Então se podem definir os erros dos estimadores

a priori e a posteriori como:

ˆ( ) ( ) ( )e k x k x k− −≡ − (3.5)

ˆ( ) ( ) ( )e k x k x k≡ − (3.6)

A covariância do erro no estimador a priori é dada por:

( ) [ ( ) ( ) ]TP k E e k e k− − −= (3.7)

e a covariância do erro no estimador a posteriori como:

( ) [ ( ) ( ) ]TP k E e k e k= (3.8)

Ao derivar as equações para o Filtro de Kalman, tem-se como meta

encontrar uma equação que calcule uma estimativa de estado a posteriori ˆ( )x k ,

como uma combinação linear do estimador a priori ˆ( )x k − e uma diferença

ponderada entre a medida atual ( )z k e uma predição de medida H ˆ( )x k − , como

mostrado na equação (3.9):

ˆ ˆ ˆ( ) ( ) [ ( ) ( ) ]x k x k K z k Hx k− −= + − (3.9)

A diferença ˆ[ ( ) ( ) ]z k Hx k −− em (3.9) é chamada de inovação medida ou

residual. O resíduo reflete a discrepância entre a predição da medida H ˆ( )x k − e a

medida atual ( )z k .

23

A matriz Knxm em (3.9) é escolhida para ser o ganho ou fator de mistura

que minimiza a covariância do erro a posteriori (3.8). Essa minimização pode

ser realizada primeiramente substituindo (3.9) na definição do erro ( )e k , e em

seguida em (3.8), executando as expectativas indicadas, levando a derivada da

substituição do resultado com relação a K, colocando o resultado igual a zero e

resolvendo então para K.

Uma forma para K que resulta na minimização de (3.8) é dada por:

1( ) ( ) [ ( ) ]T TK k P k H HP k H R− − −= + ou ( )

( )( )

T

T

P k HK k

HP k H R

−=+

(3.10)

Observando (3.10), pode-se notar que se a covariância do erro na

medida ( )R k se aproxima de zero, o ganho K atua sobre o resíduo mais

intensamente, especificamente:

1

( ) 0lim ( )

R kK k H −

→= (3.11)

Por outro lado, quando a covariância do erro do estimador a priori ( )P k −

aproxima-se de zero, o ganho K atua menos intensamente no resíduo,

especificamente:

( ) 0lim ( ) 0

P kK k

− →= (3.12)

Outro modo de pensar sobre a atuação de K é que quando a covariância

do erro de medida R se aproxima de zero, a medida atual ( )z k é cada vez mais

confiável, enquanto a predição da medida H ˆ( )x k − é cada vez menos confiável.

Por outro lado, quando a covariância do erro do estimador a priori ( )P k − se

aproxima de zero, a medida atual ( )z k é cada vez menos confiável, enquanto a

predição da medida H ˆ( )x k − é cada vez mais confiável.

24

3.4. Discretização do Estimador Filtro de Kalman (K F)

O Filtro de Kalman faz as estimativas de um processo usando uma forma

de controle de realimentação: o filtro estima o estado do processo em algum

momento e então obtém a realimentação na forma de medidas (ruidosas).

Como tal, as equações para o Filtro de Kalman se dividem em dois grupos:

equações de atualização de tempo e equações de atualização de medida. As

equações de atualização de tempo são responsáveis para projetar adiante o

estado atual, e o estimador da covariância do erro para obter um estimador a

priori para o próximo instante. As equações de atualização de medida são

responsáveis pela realimentação, isto é, por incorporar uma medida nova na

estimativa a priori para obter um estimador melhorado a posteriori.

As equações de atualização de tempo também podem ser vistas como

equações de predição, enquanto as equações de atualização de medida podem

ser vistas como equações de correção. Realmente o algoritmo final de

estimação se assemelha a um algoritmo de predição-correção para resolver

problemas numéricos como mostrado na figura 3.1. As atualizações de tempo

projetam o estimador de estado atual à frente no tempo. A atualização de

medida ajusta o estimador projetado, por uma medida atual naquele momento.

As equações específicas para as atualizações de tempo e medida são

apresentadas abaixo:

ˆ ˆ( ) ( 1) ( 1)x k Ax k Bu k− = − + − (3.13)

( ) ( 1) TP k AP k A Q− = − + (3.14)

Novamente nota-se que as equações de atualização de tempo (3.13) e

(3.14) projetam o estimador de estado e a covariância do erro de estado do

passo de tempo k-1 para o passo k.

1( ) ( ) [ ( ) ]T TK k P k H HP k H R− − −= + (3.15)

ˆ ˆ ˆ( ) ( ) ( )[ ( ) ( ) ]x k x k K k z k Hx k− −= + − (3.16)

( ) [ ( ) ] ( )P k I K k H P k −= − (3.17)

25

Figura 3.1 - O ciclo contínuo do Filtro de Kalman discreto.

A primeira tarefa durante a atualização de medida é calcular o ganho de

Kalman, ( )K k . Note que a equação dada em (3.15) é igual a (3.10). O próximo

passo é medir de fato o processo para obter ( )z k , e então gerar um estimador

de estado a posteriori incorporando a medida como em (3.16). Novamente

(3.16) simplesmente é (3.9) repetida aqui. O passo final é obter um estimador

da covariância de erro a posteriori calculado por (3.19).

Depois de cada par de atualizações de tempo e de medida, o processo é

repetido com o estimador a posteriori anterior usado para projetar ou predizer o

novo estimador a priori. Esta natureza recursiva é uma das características muito

atraentes do Filtro de Kalman e torna a implementação prática muito mais

viável. O Filtro de Kalman recursivamente condiciona a estimativa atual em

todas as medidas passadas.

A figura 3.2 oferece um quadro completo da operação do filtro,

combinando o diagrama de alto-nível da figura 3.1 com as equações (3.13),

(3.14), (3.15), (3.16) e (3.17).

26

Figura 3.2 – Um quadro completo da operação do Filtro de Kalman,

combinando o diagrama de alto-nível com as equações de (3.13) à (3.17).

3.5. Conclusões

Os conhecimentos adquiridos neste capítulo auxiliarão na compreensão

da versão estendida do Filtro de Kalman, pois o princípio de funcionamento do

Filtro de Kalman Estendido (EKF) é semelhante à versão convencional

abordada neste capítulo, divergindo apenas nas aproximações executadas pela

estendida que serão explicadas no próximo capítulo.

27

_______________________________________

Capítulo 4

_______________________________________

Filtro de Kalman Estendido (EKF)

4.1. Introdução

Como descrito no capítulo anterior, o Filtro de Kalman é utilizado em um

problema geral da tentativa do cálculo do estado nx ∈ℜ de um controle discreto

de processo que é governado por uma equação diferencial estocástica linear.

Mas, e se o processo a ser estimado e/ou o relacionamento das medidas do

processo for não-linear? Algumas das aplicações mais interessantes e bem

sucedidas da filtragem de Kalman tem sido nessas situações. O Filtro de

Kalman que lineariza determinado modelo de processo, sobre a covariância e o

modelo corrente, é conhecido como “Filtro de Kalman Estendido ” ou “EKF”.

O Filtro de Kalman Estendido é basicamente, um observador estocástico

de ordem completa apropriado para estimação ótima recursiva de estado de

sistemas dinâmicos não-lineares (em tempo real), usando sinais que são

corrompidos por ruídos.

De certa forma, relacionado com as Séries de Taylor , é possível

linearizar a estimação em torno da estimativa atual, usando derivadas parciais

do processo e funções medidas para computarem estimativas (mesmo diante

de relacionamentos não-lineares). Assumindo que o processo tem um vetor de

estado nx ∈ℜ , mas agora é governado por uma equação diferencial estocástica

não-linear (Welch, 2004):

28

( ) [ ( 1), ( 1), ( 1)]x k f x k u k w k= − − − (4.1)

E com uma medida mz ∈ℜ dada por:

( ) [ ( ), ( )]z k h x k v k= (4.2)

As variáveis aleatórias ( )w k e ( )v k novamente representam o ruído do

processo e da medida (respectivamente), como em (3.3) e (3.4). Neste caso, a

função não-linear da equação (4.1) relaciona o estado no instante k-1 com o

estado no instante k. Isso inclui como parâmetros algumas direções de funções

( 1)u k − e o ruído do processo ( )w k médio nulo. A função não-linear h da

equação (4.2), relaciona o estado ( )x k com a medida ( )z k .

Na prática, não se conhecem os valores individuais dos ruídos ( )w k e

( )v k para cada passo. No entanto, podem-se aproximar os vetores de estado e

medidas sem eles, como:

ˆ( ) [ ( 1), ( 1),0]x k f x k u k= − −ɶ (4.3)

E:

( ) [ ( ),0]z k h x k= ɶɶ (4.4)

Onde ˆ( )x k é qualquer estimativa a posteriori do estado (vindo do passo

no instante k).

É importante notar que uma falha fundamental do EKF, é que a

distribuição (ou densidade no caso contínuo) das várias variáveis aleatórias,

não é normal depois de submeterem-se as respectivas transformações não-

lineares.

4.2. Estimador Filtro de Kalman Estendido (EKF)

Para estimar um processo com relacionamento de medidas e equações

diferenças, novas equações devem ser escritas para governar esta linearização:

29

( 1)ˆ( ) ( ) [ ( 1) ( 1)] W kx k x k A x k x k W −≈ + − − − +ɶ (4.5)

( )( ) ( ) [ ( ) ( )] V kz k z k H x k x k V≈ + − +ɶɶ (4.6)

Onde:

( )x k e ( )z k são os vetores de medida e estado atuais;

( )x kɶ e ( )z kɶ são vetores de medida e estado aproximados de (4.3)

e (4.4);

ˆ( )x k é uma estimativa a posteriori do estado no passo k;

As variáveis aleatórias ( )w k e ( )v k representam os ruídos das

mediadas e do processo como em (3.3) e (3.4);

A é a matriz Jacobiana das derivadas parciais de f referente a x,

calculado como:

[ ][ , ]

[ ]

ˆ[ ( 1), ( 1),0]ii j

j

fA x k u k

x

δδ

= − − (4.7)

W é a matriz Jacobiana das derivadas parciais de f referente a w,

calculada como:

[ ][ , ]

[ ]

ˆ[ ( 1), ( 1),0]ii j

j

fW x k u k

w

δδ

= − − (4.8)

H é a matriz Jacobiana das derivadas parciais de h referente à x,

calculada como:

[ ][ , ]

[ ]

[ ( ),0]ii j

j

hH x k

x

δδ

= ɶ (4.9)

V é a matriz Jacobiana das derivadas parciais de h referente à v,

calculada como:

[ ][ , ]

[ ]

[ ( ),0]ii j

j

hV x k

v

δδ

= ɶ (4.10)

Para simplificar a notação, não foi usado subscrito do passo no tempo k

com as matrizes Jacobianas A, W, H e V mesmo sendo elas diferentes em cada

passo de tempo.

Agora definindo uma nova notação para a predição do erro:

( ) ( ) ( )x ke x k x k≡ −ɶ ɶ (4.11)

30

E a medida residual:

( ) ( ) ( )z ke z k z k≡ −ɶ ɶ (4.12)

Relembrando que na prática, não se tem acesso a ( )x k em (4.11), ele é o

vetor de estado atual, por exemplo, a grandeza a ser estimada. Por outro lado,

tem-se acesso a ( )z k em (4.12), que é a medida atual usada para estimar ( )x k .

Usando (4.11) e (4.12), as equações do processo de erro tornam-se:

( ) ˆ[ ( 1) ( 1)] ( )x ke A x k x k kε≈ − − − +ɶ (4.13)

( ) ( ) ( )z k x ke He kη≈ +ɶ ɶ (4.14)

Onde ( )kε e ( )kη representam novas variáveis aleatórias, tendo matrizes

de covariância WQWT e VRVT, com Q e R como em (3.3) e (3.4),

respectivamente.

Note que as equações (4.13) e (4.14) são lineares, e são muito parecidas

com as equações de medida e diferença (3.1) e (3.2) do Filtro de Kalman

Discreto. Isso motiva a usar a medida atual residual ( )ze kɶ em (4.13) e um

segundo Filtro de Kalman (hipotético) para estimar a predição do erro ( )xe kɶ

dado por (4.13). Esta estimativa, chamada de ˆ( )e k , poderia ser usada junto com

(4.11) para obter uma estimativa do estado a posteriori para um processo não-

linear como:

ˆ ˆ( ) ( ) ( )x k x k e k= +ɶ (4.15)

As variáveis aleatórias de (4.13) e (4.14) tem aproximadamente as

seguintes probabilidades de distribuição:

( ) ( ) ( )[ ] [0, ( )]Tx k x k x kp e N E e eɶ ɶ ɶ∼ (4.16)

[ ( )] [0, ( ) ]Tp k N WQ k Wε ∼ (4.17)

[ ( )] [0, ( ) ]Tp k N VR k Vη ∼ (4.18)

31

Dado estas aproximações, a equação do Filtro de Kalman para estimar

ˆ( )e k é:

( )ˆ( ) ( ) z ke k K k e= ɶ (4.19)

Substituindo (4.19) em (4.15) e usando (4.12), vê-se que não há

necessidade do segundo Filtro de Kalman (hipotético):

( )ˆ( ) ( ) ( ) ( ) ( )[ ( ) ( )]z kx k x k K k e x k K k z k z k= + = + −ɶ ɶ ɶ ɶ (4.20)

A equação (4.20) pode agora ser usada na atualização de medidas do

Filtro de Kalman Estendido, com ( )x kɶ e ( )z kɶ vindo de (4.3) e (4.4), e o ganho

de Kalman vindo de (3.15), com a substituição apropriada para a covariância do

erro medida.

O conjunto de equações de atualização de tempo e de medida do EKF é

mostrado seguir:

ˆ ˆ( ) [ ( 1), ( 1),0]x k f x k u k− = − − (4.21)

( ) ( ) ( 1) ( ) ( ) ( 1) ( )T TP k A k P k A k W k Q k W k− = − + − (4.22)

As equações de atualização de tempo (4.21) e (4.22) projetam os

estados e a covariância estimada do tempo k-1 para o tempo k. Novamente, f

em (4.21) vem de (4.3), já A(k) e W(k) são as Jacobianas no passo k, enquanto

Q(k) é a covariância do ruído (3.3) no passo k.

1( ) ( ) ( ) [ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ]T T TK k P k H k H k P k H k V k R k V k− − −= + (4.23)

ˆ ˆ ˆ( ) ( ) ( )[ ( ) ( ( ) ,0)]x k x k K k z k H x k− −= + − (4.24)

( ) [ ( ) ( )] ( )P k I K k H k P k −= − (4.25)

As equações de atualização de medidas (4.23), (4.24) e (4.25) corrigem a

covariância e os estados estimados com a medida ( )z k . Novamente, h em

32

(4.24) vem de (4.4), H(k) e V(k) são as Jacobianas medidas no passo k,

enquanto R(k) é a medida da covariância do ruído (3.4) no passo k.

A figura 4.1 mostra a operação do EKF.

Figura 4.1 – Um quadro completo da operação do EKF, combinando o

diagrama de alto-nível com as equações de (4.21) a (4.25).

Uma característica importante do EKF é que a matriz Jacobiana H(k) na

equação para o ganho de Kalman K(k) , propaga corretamente somente as

componentes relacionadas com a informação de medidas. Por exemplo, se não

há uma mapeamento um-a-um entre a medida ( )z k e o estado via H, a matriz

Jacobiana H(k) afeta o ganho de Kalman, assim somente aumenta a porção da

residual ˆ( ) [ ( ) ,0]z k H x k −− que afeta o estado. É claro que se as medidas não

apresentarem um mapeamento um-a-um entre a medida ( )z k e o estado via H,

então o filtro pode divergir rapidamente. Nesse caso o processo não pode ser

observado.

4.3. Conclusões

Com a teoria apresentada neste capítulo fica evidenciado que, para um

sistema de estimação de variáveis aplicadas ao motor de indução, a versão do

Filtro de Kalman compatível é a Estendida, já que o modelo da máquina é não-

33

linear, devido à variação paramétrica peculiar deste tipo de motor, além da

variável de estado mecω estar inserida na matriz de parâmetros A, modificando

esta para A=A(x) . O próximo passo é tornar linearizado e discretizado o modelo

do motor não-linear contínuo, correspondido pelas equações (2.28) a (2.40),

para devida aplicação do EKF. Esse procedimento será apresentado no capítulo

a seguir.

34

_______________________________________

Capítulo 5

_______________________________________

Estimação de Grandezas do Motor de Indução Trifásic o

Utilizando o Algoritmo Filtro de Kalman Estendido

5.1. Introdução

O Filtro de Kalman Estendido (EKF) é um estimador de estado ótimo

recursivo utilizado em sistemas estocásticos para estimar parâmetros e estados

de sistemas dinâmicos não lineares.

O EKF é formulado matematicamente em termos de variáveis de estado e

sua solução é computada recursivamente, ou seja, cada estado estimado

atualizado é computado a partir de valores anteriores estimados e dos novos

dados. Em tempo discreto, o EKF fornece um algoritmo para computar a

estimativa ótima e o erro de covariância para um sistema linear dinâmico

discreto estocático. No caso de sistemas não-lineares um procedimento de

linearização pontual pode ser manipulado para se obter o chamado Filtro de

Kalman Estendido com as mesmas propriedades do caso estocástico linear. No

estudo do motor de indução trifásico o Filtro de Kalman Estendido será aplicado

usando a aproximação linearizada no ponto de operação a cada amostragem.

5.2. Discretização do Modelo do Motor

No estágio inicial dos cálculos do Filtro de Kalman Estendido, a predição

de estados é realizada com a utilização do modelo contínuo discretizado do

35

motor. Para isso, utiliza-se o método de Euler nas equações (2.28) e (2.29) do

modelo vetorial do motor no referencial estacionário, o que resulta nas

equações a seguir:

ˆ( 1) ( ) ( )d dx k A x k B u k+ = + (5.1)

( ) ( )y k Cx k= (5.2)

Sendo que as matrizes discretas de estado e entrada são calculadas

utilizando a aproximação até a primeira ordem da Série de Taylor da

exponencial matricial como mostrado a seguir:

2( )exp[ ] ...

2d n

ATA AT I AT= = + + + (5.3)

2

1(exp[ ] ) ...2d n

ABTB A AT I B BT−= − = + + (5.4)

Nas equações de estado (2.28) e (2.29) as variáveis de estado são as

correntes de estator e fluxo de rotor. Com a implementação do Filtro de Kalman,

o vetor de estados é estendido para englobar a velocidade do rotor como um

estado adicional, conforme será demonstrado na equação (5.8)

Utilizando o modelo do motor de indução trifásico, o algoritmo do Filtro de

Kalman Estendido será executado através dos seguintes estágios:

1º Estágio: Predição do vetor de estado

ˆ( 1) ( ) ( )d dx k A x k B u k+ = + (5.5)

Onde:

1 2 3

1 3 2

4 5

4 5

1 0 0

0 1 0

( ) 0 1 0

0 1 0

0 0 0 0 1

p mec

p mec

d p mec

p mec

a T a T a n T

a T a n T a T

A I AT a T a T n T

a T n T a T

ωω

ωω

− − − = + = − − −

(5.6)

36

1/ 0

0 1/

0 0

0 0

0 0

s

s

d

L

L

B BT

σσ

= =

(5.7)

ˆ ˆˆ ˆ ˆˆ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )T

s s r r mecx k i k i k k k kα β α βλ λ ω = (vetor de estados estimados

no instante anterior) (5.8)

( ) ( ) ( )T

s su k V k V kα β = é o vetor de medidas de entrada; (5.9)

T é o período de amostragem.

E os coeficientes da matriz A definidos pelas equações (2.42) a (2.46).

2º Estágio: Predição de matriz de covariância

ˆ( 1) ( 1) ( ) ( 1)TP k f k P k f k Q+ = + + + (5.10)

Onde f é a matriz gradiente definida por:

ˆ ( )( 1) ( ) |d d x x kf k A x B ux

δδ =+ = + (5.11)

Por causa da linearização realizada no ponto t=k, a matriz f torna-se:

1 2 3 3

1 3 2 3

4 5

4 5 3

1 0

0 1

( 1) 0

0

0 0 0 0 1

mec r

mec r

p mec r

p mec r

a T a T a T a T

a T a T a T a T

f k a T a T n T T

a T n T a T a T

β

α

β

α

ω λω λ

ω λω λ

− − − − + = − − − −

(5.12)

Sendo que:

ˆ( )P k é a matriz de covariância estimada no instante anterior;

Q é a matriz de covariância de ruídos provenientes da medição

das tensões do estator.

3º Estágio: Computação da matriz ganho de Kalman

A matriz ganho de Kalman é dada por:

37

1( 1) ( 1) ( 1)[ ( 1) ( 1) ( 1) ]T TK k P k h k h k P k h k R −+ = + + + + + + (5.13)

Onde h é a matriz gradiente definida por:

( 1)( 1) ( ) |d x x kh k C xx

δδ = ++ = (5.14)

Considerando Cd=C, tem-se:

1 0 0 0 0

( 1)0 1 0 0 0

h k

+ =

(5.15)

Sendo ainda:

R é a matriz de covariância de ruídos provenientes da medição

das correntes do estator.

4º Estágio: Estimação do vetor de estado

A estimação do vetor de estado é computada somando o termo de

correção ao estado obtido na etapa de predição, conforme as equações a

seguir:

ˆ ˆ( 1) ( 1) ( 1)[ ( 1) ( 1)]x k x k K k y k y k+ = + + + + − + (5.16)

Sendo:

( 1) ( 1) ( 1)T

s sy k i k i kα β + = + + é o vetor de correntes medidas; (5.17)

ˆ ˆˆ( 1) ( 1) [ ( 1) ( 1)]s sy k Cx k i k i kα β+ = + = + + é o vetor de correntes estimadas; (5.18)

Com o vetor de estados ˆ( 1)x k + computado, o que corresponderá às

estimativas ˆ ( 1)si kα + , ˆ ( 1)si kβ + , ˆ ( 1)r kαλ + , ˆ ( 1)r kβλ + e ˆ ( 1)mec kω + , será possível

determinar o ângulo do fluxo girante do rotor pelas equações:

2 2

ˆ ( 1)( )

ˆ ˆ( 1) ( 1)

rele

r r

ksen

k k

β

α β

λθ

λ λ

+=

+ + + (5.19)

2

2 2

ˆ ( 1)cos( )

ˆ ˆ( 1) ( 1)

rele

r r

k

k k

α

α β

λθλ λ

+=+ + +

(5.20)

38

Garantindo com isso a orientação necessária para o controle vetorial do

motor.

5º Estágio: Estimação do erro da matriz de covariânc ia

ˆ( 1) ( 1) ( 1) ( 1) ( 1)P k P k K k h k P k+ = + − + + + (5.21)

6º Estágio: Atualização de vetores e matrizes; retorn a ao 1º estágio

ˆ ˆ( ) ( 1)x k x k= + (5.22)

ˆ ˆ( ) ( 1)P k P k= + (5.23)

1k k= + (5.24)

Na figura 5.1 é ilustrada a estrutura que representa a malha de controle

sem sensor do Filtro de Kalman Estendido.

Figura 5.1 – Estrutura do Sistema de Controle do EKF.

39

5.3. Conclusões

Neste capítulo foi calculado o modelo vetorial discreto do motor que foi

utilizado pelo algoritmo estimador EKF, além do detalhamento dos estágios que

formam a estrutura computacional do filtro. E finalmente, apresenta-se no

próximo capítulo uma simulação proposta baseada na teoria abordada sobre

motor de indução trifásico e Filtro de Kalman Estendido, bem como são

expostos os resultados obtidos.

40

_______________________________________

Capítulo 6

_______________________________________

Resultados Obtidos

6.1 Introdução

Através da teoria apresentada neste trabalho foi possível propor um

protótipo de simulação que demonstre o comportamento das variáveis de

estado do motor, como a corrente do estator e o fluxo do rotor, bem como da

velocidade estimada pelo EKF. A simulação proposta é constituída pelo motor

de indução trifásico, dispositivos eletrônicos de potência e acionamentos, além

do algoritmo estimador Filtro de Kalman Estendido simulado no bloco

“Embedded Function” do Simulink destinado para programação em linguagem

de alto nível. Os dados e parâmetros usados para obtenção deste modelo foram

projetados de acordo com a disponibilidade de blocos e dispositivos eletrônicos

do Simulink.

6.2 Parâmetros do Motor

Na tabela 6.1 se encontram os parâmetros e dados de um motor de

indução trifásico simulado no Simulink, especificados no bloco “Asynchronous

Machine”.

41

Parâmetros do Motor Resistência do Estator 1.63 Ω Resistência do Rotor 0.74 Ω Indutância do Estator 0.47 H Indutância do Rotor 0.21 H Indutância Mútua 0.85 H

Momento de Inércia 0.0045 kg/m2

Coeficiente de Atrito Dinâmico 0.001 N.m.s Número de Par de Pólos 2

Potência/Tensão/Frequência 5HP/380V/60Hz

Tabela 6.1 – Parâmetros do motor usado na simulação

6.3 Inicialização das Matrizes do EKF

Na simulação foram considerados os ruídos de estado e de medição não

correlacionados e com média zero, representados pelos vetores ( )v k e ( )w k

respectivamente, com matrizes de covariância Q e R, respectivamente. O

grande desafio do EKF é a inicialização destas matrizes, pois as mesmas

influenciam na estabilidade e tempo de convergência do filtro. Um aumento nos

elementos da matriz Q representa um maior grau de incerteza em relação ao

estado do sistema, este aumento produz um incremento na matriz ganho de

Kalman K, aumentando a velocidade de convergência da estimação. Já um

aumento nos elementos da matriz R significa que as medições das correntes

estão sujeitas a um maior grau de ruídos, implicando na diminuição da matriz K

e consequentemente diminuindo a velocidade de resposta do filtro (Lino, 2001).

Existem vários métodos para a determinação dos valores iniciais das

matrizes de covariância, entre eles o mais utilizado é a técnica de tentativa/erro,

cuja finalidade é a obtenção do melhor desempenho para convergência das

estimações do EKF. Usando este método, os melhores valores para os

elementos das matrizes de covariância foram:

0.15 0

0 0.15R

=

(6.1)

42

0.01 0 0 0 0

0 0.01 0 0 0

0 0 0.004 0 0

0 0 0 0.004 0

0 0 0 0 0.00003

Q

=

(6.2)

0.001 0 0 0 0

0 0.001 0 0 0

0 0 0.001 0 0

0 0 0 0.001 0

0 0 0 0 0.001

P

=

(6.3)

6.4 Projeto Proposto para Simulação

Baseando-se nas informações expostas neste trabalho, foi possível

projetar no Simulink a estrutura reproduzida na figura 6.1.

Observando o projeto, fica evidenciado que o motor de indução trifásico é

alimentado por um inversor de freqüência a IGBT, ambos foram especificados no

Simulink segundo as orientações contidas na seção 6.2. A figura 6.2 demonstra

a estrutura utilizada para simulação do inversor a IGBT.

Figura 6.2 – Estrutura interna do bloco “Inversor a IGBT”

O período de amostragem aplicado na simulação foi de 0,001s.

43

Figura 6.1 – Projeto utilizado para simulação

44

O controle para o chaveamento do inversor é obtido pelo bloco “Controle

de Pulsos”, onde está inserida a programação do PWM. A figura 6.3 apresenta a

estrutura utilizada para simulação do controle de pulsos.

Figura 6.3 – Estrutura interna do bloco “Controle de Pulsos”

O bloco “Clarke” se encarrega de obter a transformação trifásica para

bifásica em coordenadas αβ no referencial estacionário. Enquanto que no bloco

“Park” são executadas as transformações bifásicas de αβ estacionário para

d q− síncrono, orientado pelas estimativas da posição angular do fluxo do rotor

calculadas pelo EKF. Os programas utilizados nos blocos para simulação das

transformadas de Clarke (para correntes e tensões) e Park (para correntes) são

respectivamente:

function [Ialfa, Ibeta] = Clarke(Ia, Ib, Ic) Ialfa=2/3*[1 -1/2 -1/2]*[Ia;Ib;Ic]; Ibeta=2/3*[0 sqrt(3)/2 sqrt(3)/2]*[Ia;Ib;Ic]; function [Vsalfa, Vsbeta] = Clarke(Vsa,Vsb,Vsc) Vsalfa=2/3*[1 -1/2 -1/2]*[Vsa;Vsb;Vsc]; Vsbeta=2/3*[0 sqrt(3)/2 sqrt(3)/2]*[Vsa;Vsb;Vsc]; function [Isd,Isq] = Park(Ialfa,Ibeta,Cos,Sen) Isd=Ialfa*Cos+Ibeta*Sen; Isq=-Ialfa*Sen+Ibeta*Cos;

No bloco “EKF” são realizadas as estimativas necessárias para orientação

do controle de pulsos e funciona de acordo com a estrutura apresentada na

figura 5.1.

45

A seguir é apresentado o programa que é executado no bloco “EKF”. Os

ruídos de estado e de medição que ocorrem frequentemente nos sistemas de

controle convencionais foram representados no programa pelas matrizes de

covariância Q e R, respectivamente.

function [wmec,cos_teta,sen_teta] = EKF(isalfa,isbeta,vsalf a,vsbeta) % Declaração das constantes Rs=1.15;

Rr=0.74; Ls=5.97e-3; Lr=5.97e-3; Lh=0.2037; J=0.02; D=0.001; np=2; k1=Ls-(Lh*Lh)/Lr; delta=1-(Lh^2/Ls*Lr); T1=Ls/Rs; T2=Lr/Rr; a=(1/(T1*delta))+((1-delta)/(delta*T2)); b=Lh/(delta*Ls*Lr*T2); c=(np*Lh)/(delta*Ls*Lr); d=Lh/T2; e=1/T2; v1=1/Ls*delta; T=1e-3;

% Declaração das tensões de entrada % inicialização das variáveis

isdest=zeros(1,10000); isqest=zeros(1,10000); wmecest=zeros(1,10000); flxrd=zeros(1,10000); flxrq=zeros(1,10000); Hk=[1 0 0 0 0;0 1 0 0 0]; K=[0.001 0;0.001 0;0.001 0;0.001 0;0.001 0]; C=[1 0 0 0 0;0 1 0 0 0]; B=[v1*T 0;0 v1*T;0 0;0 0;0 0]; Cd=[1 0 0 0 0;0 1 0 0 0]; % valores estabelecidos pela seção 6.3 Q=[0.01 0 0 0 0;0 0.01 0 0 0;0 0 0.004 0 0;0 0 0 0. 004 0;0 0 0 0 0.00003]; R=[0.15 0;0 0.15]; P=[0.001 0 0 0 0;0 0.001 0 0 0;0 0 0.001 0 0;0 0 0 0.001 0;0 0 0 0 0.001];

% Declaração dos estados iniciais isdest(1)=0.0001; isqest(1)=0.0001; wmecest(1)=0.00001; flxrd(1)=0.000001; flxrq(1)=0.000001;

% vetor estados iniciais x=[isdest(1);isqest(1);flxrd(1);flxrq(1);wmecest( 1)]; for i=2:1:10000 y=[isd;isq]; u=[usd;usq];

46

%EKF %Etapa 1 - Predição do Vetor de Estado

Ad=[1-(a*T) 0 b*T c*np*wmecest(i-1)*T 0;0 1-(a*T) - c*np*wmecest(i-1)*T b*T 0;d*T 0 1-(e*T) -np*wmecest(i-1)*T 0;0 d*T np*w mecest(i-1)*T 1-(e*T) 0;0 0 0 0 1]; Bd=[v1*T 0;0 v1*T;0 0;0 0;0 0]; xpred=Ad*x+Bd*u;

%Etapa 2 - Predição da Matriz de Covariância fpred=[1-(a*T) 0 b*T c*T*wmecest(i-1) c*T*flxrq(i-1 );0 1-(a*T) -c*T*wmecest(i-1) b*T -c*T*flxrd(i-1);d*T 0 -e*T -np *T*wmecest(i-1) T*flxrq(i-1);0 d*T -np*T*wmecest(i-1) -e*T T*flxrd( i-1);0 0 0 0 1]; Ppred=fpred*P*fpred'+Q;

%Etapa 3 - Computação da matriz de ganho de Kalman K=Ppred*Hk'*inv(Hk*Ppred*Hk'+R);

%Etapa 4 - Estimação vetor de estado yest=C*xpred; xest=xpred+K*(y-yest);

%Etapa 5 - Estimação do erro da matriz de covariânc ia Pest=Ppred-K*Hk*Ppred; x=xest; isdest(i)=x(1,1); isqest(i)=x(2,1); flxrd(i)=x(3,1); flxrq(i)=x(4,1); wmecest(i)=x(5,1); P=Pest;

end ; end

6.5 Resultados da Simulação

Foram analisados e comparados durante as simulações o comportamento

das curvas de velocidade, correntes e torque, tanto de referência como às que

foram estimadas pelo sistema de controle em malha fechada com a utilização do

EKF, conforme apresentado na figura 6.1, considerando os ruídos provenientes

dos sensores de correntes e tensões com suas respectivas variâncias

representadas pelas matrizes R e Q das equações 6.1 e 6.2.

A simulação foi executada comparando as seguintes situações:

1° Caso : Motor em funcionamento através de Controle Escalar “V/f

constante” sem aumento de carga e com sensor de velocidade no eixo do rotor,

em comparação com Motor em funcionamento através de Controle Vetorial por

orientação estimada pelo EKF sem aumento de carga e sem sensor no eixo do

rotor;

47

2° Caso : Motor em funcionamento através de Controle Escalar “V/f

constante” com aumento de carga e com sensor de velocidade no eixo do rotor,

em comparação com Motor em funcionamento através de Controle Vetorial por

orientação estimada pelo EKF com aumento de carga e sem sensor no eixo do

rotor;

Resultados da Simulação referentes ao 1° Caso :

Figura 6.4 – Comparação da velocidade do Sistema de Controle Escalar

(Referência) com a velocidade do Controle Vetorial EKF (Velocidade

Estimada) sem aumento de carga

É perceptível pela análise da figura 6.4 o desempenho comprometido do

controle por EKF se comparado à referência, tanto pelo atraso das respostas de

controle em regime transitório como pelo erro em regime permanente, além das

variações ocorridas por determinados instantes até a estabilidade desejada.

Este comportamento já era esperado, pois na seção 6.3 foi explicado que para

obtenção de uma maior estabilidade do sistema de controle o grande desafio do

EKF é a inicialização das matrizes R e Q, pois as mesmas influenciam na

estabilidade e tempo de convergência do filtro. Um aumento nos elementos da

matriz R, por exemplo, significa que as medições das correntes estão sujeitas a

um maior grau de ruídos, implicando na diminuição da matriz K e

48

consequentemente diminuindo a velocidade de resposta do filtro. Durante as

simulações foram alterados os valores das matrizes R e Q para comparar as

respostas. O que se constatou foi que em alguns casos a resposta em regime

transitório era eficaz, porém se comprometia a estabilidade do sistema de

controle e o aumentava o erro em regime permanente. Em outros casos, houve

um grande atraso na resposta em regime transitório, mas o erro de regime

permanente diminuiu e estabilidade foi alcançada mais rapidamente. No

entanto, a configuração de resposta para controle da velocidade aplicando um

compromisso entre estabilidade, resposta rápida no regime transitório e menor

erro em regime permanente foi obtido pela simulação da figura apresentada

anteriormente.

Figura 6.5 – Comparação das correntes de campo e quadratura do

Controle Escalar (Referência) com as correntes de campo e quadratura

do Controle Vetorial EKF (Estimada) sem aumento de carga

Nas equações 5.16 a 5.18, observamos que as correntes foram

grandezas estimadas pelo EKF, desta forma como um estimador recursivo

eficiente para sistemas não-lineares, as correntes estimadas se aproximaram

consideravelmente das correntes de referência.

49

Figura 6.6 – Comparação do torque do Sistema de Controle Escalar

(Referência) com o torque do Controle Vetorial EKF (Estimada) sem

aumento de carga

Como ocorreu com a velocidade, o torque do motor foi comprometido

pelas mesmas razões aplicadas à análise da inicialização das matrizes de

covariância.

Resultados da Simulação referentes ao 2° Caso :

Figura 6.7 – Comparação da velocidade do Sistema de Controle Escalar

(Referência) com a velocidade do Controle Vetorial EKF (Velocidade Estimada)

com aumento de carga

50

Em decorrência do aumento de carga, o erro em regime para a

velocidade estimada praticamente permaneceu o mesmo em relação à

simulação do 1º caso (sem aumento de carga), o que tornaria o EKF

implemantável no controle de motores de indução usados na indústria,

evidentemente com as devidas modificações para solucionar as respostas em

regime transitório e a estabilidade.

6.6 Conclusões

Com os resultados obtidos nesta simulação através da plataforma

proposta, conclui-se que é possível analisar a viabilidade de se implementar um

sistema real para o controle de velocidade sem utilização de sensores no eixo

rotórico do motor usando em malha fechada grandezas estimadas pelo EKF,

embora seja necessário um maior aprofundamento em métodos para obtenção

das matrizes de inicialização e ruídos mais precisos.

51

_______________________________________

Capítulo 7

_______________________________________

Conclusões Finais

O presente trabalho apresentou a teoria sobre modelos de motor de

indução com destaque para o modelo no espaço de estados, cuja finalidade foi

utilizá-lo como modelo no sistema de controle para estimação de velocidade

com o EKF.

A estimação de velocidade foi apresentada com enfoque no método que

utiliza somente a medição das tensões e correntes do estator a fim de se obter

a velocidade e fluxo do rotor. A utilização do EKF para estimação da velocidade

trabalha com o modelo vetorial da máquina e é apresentada em detalhes com

as equações necessárias para uma futura implementação do algoritmo

utilizando-se DSP (Processador Digital de Sinal). Os resultados foram

analisados em regime transitório e permanente. O erro em regime foi

satisfatoriamente mínimo, mesmo com aumento de carga e na presença de

ruídos nos sensores simulado através das matrizes de covariância, o que

habilita ao EKF condições razoáveis de se testá-lo na prática.

De acordo com os conhecimentos abordados nesta pesquisa, conclui-se

que foi possível desenvolver um protótipo de sistema de controle para um motor

de indução onde se pode observar a não necessidade de sensores, embora

necessitando de melhores respostas de estabilidade e no regime transitório e do

aperfeiçoamento dos métodos de inicialização do EKF, este modelo

apresentado pode servir de base para uma implementação prática ou para

auxiliar na criação de novos e mais eficientes sistemas de controle que

contribuam em melhor desempenho.

52

7.1. Trabalhos Futuros

O projeto simulado apresenta compatibilidade ao desenvolvimento de

novos métodos para o controle não apenas de máquinas de indução

convencionais, mas também para inovações tecnológicas de natureza

construtiva do motor, como controle de motores sem mancais.

53

_______________________________________

Referências

_______________________________________

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