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CLÁUDIO CRIVELLARO CONTROLE ROBUSTO DE SUSPENSÃO SEMI-ATIVA PARA CAMINHONETES UTILIZANDO AMORTECEDORES MAGNETO-REOLÓGICOS Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Engenharia. v.2 São Paulo 2008

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CLÁUDIO CRIVELLARO

CONTROLE ROBUSTO DE SUSPENSÃO SEMI-ATIVA PARA

CAMINHONETES UTILIZANDO AMORTECEDORES

MAGNETO-REOLÓGICOS

Tese apresentada à Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo para obtenção

do Título de Doutor em Engenharia.

v.2

São Paulo

2008

2

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CLÁUDIO CRIVELLARO

CONTROLE ROBUSTO DE SUSPENSÃO SEMI-ATIVA PARA

CAMINHONETES UTILIZANDO AMORTECEDORES

MAGNETO-REOLÓGICOS

Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia Mecânica Orientador: Prof. Dr. Décio Crisol Donha Co-orientador: Prof. Dr. Edilson Hiroshi Tamai

v.2

São Paulo

2008

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Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador. São Paulo, 17 de dezembro de 2008. Assinatura do autor __________________________ Assinatura do orientador _________________________

FICHA CATALOGRÁFICA

Crivellaro, Cláudio

Controle robusto de suspensão semi-ativa para caminhone- tes utilizando amortecedores magneto-reológicos / C. Crivellaro. -- ed.rev. -- São Paulo, 2008.

439 p.

Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia Mecânica.

1.Mecânica automotiva 2.Amortecedores 3.Suspensão mecâ- nica I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departa-mento de Engenharia Mecânica II.t.

175

Dedico este trabalho aos meus pais, à minha esposa Regiane

e ao meu filho Enzo.

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AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado inspiração, coragem, otimismo e disposição para conduzir e finalizar este trabalho, com qual eu aprendi muito mais do que podia imaginar.

À minha esposa, Regiane, pelo apoio e incentivo, e principalmente pela sua paciência e cumplicidade. Também ao meu filho, Enzo, que com sua alegria e criatividade é uma grande fonte de inspiração para mim.

Aos meus pais, pelo apoio, pelo suporte, e, sem dúvida, pela educação que me proporcionaram.

Ao meu orientador Prof. Dr. Décio Crisol Donha, pela sua perspicácia nas correções, pela críticas enriquecedoras, e pelo apoio e orientação neste trabalho.

Ao meu co-orientador Prof. Dr. Edilson Hiroshi Tamai, por contribuir com materiais imprescindíveis à execução deste trabalho, e pelo suporte no laboratório de dinâmica.

Ao Prof. Dr. Antônio Bombard da UNIFEI de Itajubá, MG, primeiramente pela amizade que construímos, pelos conselhos e dicas, e também por fornecer o fluido magneto-reológico para os protótipos, e pelos artigos e patentes sobre o assunto.

Ao Prof. Dr. José Roberto Cardoso, pela utilização do software Flux2D® no laboratório LMAG do departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP, e pela sua orientação nas análises de elementos finitos magnetostática da válvula do amortecedor magneto-reológico.

Ao Prof. Dr. Jaime da Cruz, pela amizade, pelo incentivo e pelas dicas que me foram muito úteis.

À Prof. Doutora Denise Consonni, pela utilização do seu laboratório para testes do circuito eletrônico de acionamento do amortecedor magneto-reológico.

À Silvia Della Torre, pelas orientações e dicas quanto à organização do texto, organização da bibliografia e às normas e procedimentos das bibliotecas da USP.

Ao Eng.º e Mestre Núncio Perrella, pelo valiosíssimo suporte em relação ao “hardware” do DSP da Texas Instruments, e pela amizade que iniciamos.

À DANA por proporcionar a oportunidade da construção e testes do amortecedor magneto-reológico.

Ao Eng.º Eduardo Carlos Alves e Eng.º Hideo Matsuzaki da Affinia Automotive Group, pelo apoio na construção dos protótipos do amortecedor magneto-reológico.

Ao Eng.º Eduardo Prelog, pela ajuda nos trabalhos de instalação dos equipamentos no veículo e auxílio nos testes experimentais, e pelos finais de semana que deixou de estar com a família para me ajudar montagem e nos testes. E ao seu pai, Sr. Slavko Prelog, por ceder gentilmente a garagem de sua casa para ser nossa oficina.

Ao futuro Eng.º Ricardo dos Santos Lima, pelo seu excepcional trabalho de ferramentaria na construção dos componentes mais importantes dos amortecedores magneto-reológicos, e também pelos seus conselhos e dicas.

A todos os colegas da DANA, da Affinia e da USP que direta ou indiretamente colaboraram na execução deste trabalho.

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"Não creias impossível o que apenas improvável parece". (Shakespeare)

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RESUMO

A utilização de sistemas semi-ativos no controle de movimento e vibração vem crescendo muito nos últimos anos, e está se firmando como a opção mais econômica em muitas aplicações. Os sistemas de controle semi-ativos baseados em fluidos magneto-reológicos (MR) já são empregados no controle de vibrações desde máquinas de lavar a grandes pontes suspensas, e até mesmo no controle de vibração de edifícios sujeitos a abalos sísmicos. No controle de movimento, eles têm sido aplicados em aparelhos de fisioterapia, próteses de joelho humano e embreagens. No setor automobilístico, os sistemas semi-ativos são empregados em sistemas de controle da suspensão e sistemas anti-rolagem, e também no controle de sistemas de torque e tração. Visto a crescente importância dos sistemas de controle semi-ativo, este trabalho aborda este assunto dividindo-o em duas partes: a primeira, apresentada no volume 1, trata do projeto de atuadores magneto-reológicos e do seu modelamento dinâmico voltado para projetos de controle; e a segunda parte, apresentada no volume 2, trata de projeto de controladores para sistemas semi-ativos, mais especificamente voltados para o controle de suspensão veicular semi-ativa, buscando a melhoria do desempenho em conforto, segurança e dirigibilidade do veículo. Na primeira parte, a maior contribuição deste trabalho está em preencher uma lacuna na literatura no que diz respeito a uma técnica sistemática de projeto de atuadores magneto-reológicos e da forma mais adequada de sua representação dinâmica para projetos de controle, que é feita a partir de dados experimentais. Na segunda parte deste trabalho buscou-se desenvolver um sistema de controle economicamente viável para veículos utilitários (caminhonetes principalmente). Estes são os veículos que mais carecem de sistemas de suspensão capazes de atender a uma grande variedade de situações (variação de pista, variação de carga), e cujo mercado exige uma relação custo/benefício melhor que aquela dos mercados de carros de luxo, onde estes sistemas são empregados atualmente. Como resultados mais importantes deste trabalho têm-se: uma proposição para o uso da lei de controle LQG/LTR em sistemas não estritamente próprios; um modelo de um veículo utilitário completo com sete graus de liberdade e capaz de representar as situações mais importantes do comportamento dinâmico deste tipo de veículo; o desenvolvimento de uma estratégia de controle robusto baseado na técnica LQG/LTR, adequada para trabalhar com atuadores semi-ativos, e que utiliza sensores de custo compatível com a aplicação. O sistema de controle proposto foi capaz de melhorar o desempenho em conforto e segurança, evitando situações de perda de aderência dos pneus e comportamentos dinâmicos indesejáveis destes veículos, que foi verificado experimentalmente e através de simulações em computador. Palavras chave: suspensão veicular, caminhonetes, magneto-reológico, controle robusto, LQG/LTR, semi-ativo, modelo Bouc-Wen discreto.

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ABSTRACT The application of semi-active systems to motion and vibration control has significantly grown during the last years, and it is becoming an economically viable option for several applications. Semi-active systems based on magneto-rheological (MR) fluids were applied to vibration control ranging from washing machines to suspended bridges, and also in vibration control of buildings under seismic tremors. Regarding the movement control, they have been used in gym apparati, human knee prosthesis and clutches. More specifically in the automotive industry, semi-active systems have been applied in suspension and anti-roll systems, and also in torque and traction control systems. This work treats this subject dividing it into two parts: the first one, presented in volume 1, deals with the design of semi-active actuators based on magneto-rheological fluids and dynamic modeling; and the second one, presented in volume 2, deals with the design of semi-active control for vehicular suspension systems. The control main objective is the performance improvement in comfort, safety and handling features of a vehicle. In the first part, the main contribution of this work is to fulfill a literature gap regarding a systematic procedure for design of magneto-rheological actuators and to find a better representation for the dynamic behavior regarding the control system development, which is done based on experimental data analysis. The second part of this work leaded with the development of a vehicular suspension system for utility vehicles (for SUVs, and mainly for light trucks), which need suspension systems able to face a great number of situations (road variation, load variation, etc.), and which present stability problems due to its high gravity center height. Important results of this work are: the development of a robust control strategy based on LQG/LTR techniques for non-strictly proper systems, the development of a dynamic model for light trucks and SUVs with seven degrees of freedom; the development of a robust control strategy based on the LQG/LTR synthesis, suit to work with semi-active actuators, and using sensors with costs compatible to the application. The proposed control system was able to improve the performance of comfort and safety, avoiding the loss of adherence between tires and the ground and other undesirable dynamic behaviors of these vehicles, that was verified experimentally and through computer simulations. Key words: car suspension, pickup trucks, magneto-rheological, robust control, LQG/LTR, semi-active, Bouc-Wen discrete-time model. .

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Veículos que já utilizam suspensão semi-ativa e amortecedores MR.............. 197 Figura 2.1 – Densidade espectral de potência de vários terrenos (SEVIN e PILKEY, 1971).

........................................................................................................................... 216 Figura 2.2 – (a) Comparação do modelo dado pela equação (2.1) com n=-2,02 e a medida das

irregularidades de um trecho da “Rochester road” conforme Smith (1982 op. cit.). ................................................................................................................... 217

Figura 2.3 – Direções de medida da vibração no corpo humano.......................................... 218 Figura 2.4 – Limite de exposição, fadiga e conforto para 1 minuto e 24 horas de exposição à

vibração no corpo humano, conforme ISO-2631 (GRIFFIN, 1990)................. 218 Figura 2.5 – Curvas de aceleração com o mesmo valor eficaz. ............................................ 219 Figura 2.6 – Descontinuidade no sinal “força” gerado por um sistema semi-ativo.............. 220 Figura 2.7 – Histerese na relação força versus velocidade nos amortecedores MR. ............ 221 Figura 2.8 – Modelo com um grau de liberdade (1 DOF). ................................................... 222 Figura 2.9 – Desempenho ótimo para modelo de 1 DOF – SkyHook. .................................. 224 Figura 2.10 – Modelo de um controlador ativo baseado na regra SkyHook. ........................ 225 Figura 2.11 – Diagrama de bode de V2(s)/V1(s). ................................................................... 226 Figura 2.12 – Modelo com dois graus de liberdade (2 DOF). .............................................. 227 Figura 2.13 – Acelerômetro baseado na tecnologia MEMS. ................................................ 231 Figura 2.14 – Sensor de deslocamento da suspensão dianteir do Corvette (Halverson, 2003).

........................................................................................................................... 232 Figura 2.15 – Sistema de coordenadas de referência. ........................................................... 233 Figura 2.16 – Desenho do chassi de uma caminhonete em CAD 3D. .................................. 235 Figura 2.17 – Suspensão com feixes de mola, tipo Hotchkiss. ............................................. 237 Figura 2.18 – Variação lateral na região de contato em função da excitação vertical do lado

oposto. ............................................................................................................... 239 Figura 3.1 – Modelo físico do veículo com sete graus de liberdade..................................... 244 Figura 3.2 – Detalhe do modelo físico mostrando os movimentos da carroceria................. 245 Figura 3.3 – Posição do atuador no modelo físico................................................................ 249 Figura 3.4 - Diagrama de Blocos do sistema do modelo do veículo. ................................... 251 Figura 3.5 - Diagrama de Blocos do modelo com separação dos modos de movimentação do

corpo rígido e torção da massa suspensa do veículo......................................... 254 Figura 3.6 - Diagrama de Blocos do sistema de controle em malha fechada. ...................... 257 Figura 3.7 - Diagrama de Blocos do sistema de controle em malha fechada. ...................... 259 Figura 3.8 - Diagrama de Bode para estabilidade e desempenho robustos. ......................... 261 Figura 3.9 - Diagrama de blocos do sistema ativo com o controlador. ................................ 263 Figura 3.10 – Descrição do sistema com o efeito da perturbação na saída da planta.. ......... 264 Figura 3.11 – Novas barreiras de desempenho e estabilidade. ............................................. 265 Figura 3.12 – Diagrama de blocos da estrutura interna do controlador H(s). ...................... 267 Figura 3.13 - Diagrama de blocos do sistema controlado..................................................... 277 Figura 3.14 – Diagrama de blocos da estrutura interna do controlador H(s). ...................... 278 Figura 3.15 – Diagrama de blocos equivalente do controlador H(s). ................................... 279 Figura 4.1 – Dimensões do veículo....................................................................................... 286 Figura 4.2 – Dimensões da suspensão. ................................................................................. 287 Figura 4.3 – Cálculo da rigidez da mola dianteira. ............................................................... 288 Figura 4.4 – Cálculo da rigidez da mola traseira. ................................................................. 289 Figura 4.5 – Modelo 3D em CAD e a massa de cada componente. ..................................... 290 Figura 4.6 – Exemplos de equipamentos de teste “four-post” e “multi-axis”. ..................... 292

181

Figura 4.7 – Forma construtiva de um acelerômetro MEMS da Freescale™. ......................293 Figura 4.8 – Instalação dos acelerômetro na carroceria na posição acima de cada roda.. ....294 Figura 4.9 – Instalação dos sensores acelerômetros nas rodas. .............................................295 Figura 4.10 – Instalação dos sensores de deslocamento no veículo......................................295 Figura 4.11 – Diagrama dos recursos e IO do DSP TMS320F2812. ....................................296 Figura 4.12 – Placa do Kit eZdsp F2812 e seus conectores. .................................................297 Figura 4.13 – Diagrama de blocos em Simulink para aquisição dos dados via RTDX. .......298 Figura 4.14 – Diagrama de blocos para condicionamento dos sinais vindos do bloco ADC.

...........................................................................................................................299 Figura 4.15 – Lombadas utilizadas como obstáculos nos experimentos...............................300 Figura 4.16 – Caminhonete parada com os obstáculos à frente. ...........................................301 Figura 4.17 – Fotos mostrando a seqüencia do experimento com lombadas alternadas. ......301 Figura 4.18 – Placa do Kit eZdsp F2812 montada no veículo e o PC conectado à placa. ....302 Figura 4.19 – Gráfico da integral dos sinais de velocidade ue estimados. ............................306 Figura 4.20 – Janelas identificando as lombadas. .................................................................306 Figura 4.21 – Curvas dos polinômios interpolando o sinal fora das janelas. ........................307 Figura 4.22 – Resultado final da estimação dos contornos dos obstáculos...........................308 Figura 4.23 – Sinais de velocidade vertical impostos pelos obstáculos a cada roda do veículo.

...........................................................................................................................308 Figura 4.24 – Comparação entre os sinais experimentais e simulados da aceleração vertical

da carroceria do veículo.....................................................................................312 Figura 4.25 – Comparação entre os sinais experimentais e simulados do deslocamento

relativo entre roda e carroceria do veículo. .......................................................313 Figura 4.26 – Comparação entre os sinais experimentais e simulados da aceleração vertical

das rodas do veículo. .........................................................................................314 Figura 4.27 – Curvas velocidade versus força dos amortecedores originais do veículo. ......316 Figura 4.28 – Modelo CAD em 3D dos amortecedores MR.................................................322 Figura 4.29 – Detalhamento em CAD 2D dos amortecedores MR dianteiros. .....................323 Figura 4.30 – Detalhamento em CAD 2D dos amortecedores MR traseiros. .......................324 Figura 4.31 – Protótipos dos amortecedores MR. .................................................................325 Figura 4.32 – Resultado do 1º experimento para o atuador dianteiro MR1. .........................326 Figura 4.33 – Resultado do 1º experimento para o atuador dianteiro MR2. .........................326 Figura 4.34 – Resultado do 1º experimento para o atuador traseiro MR3. ...........................327 Figura 4.35 – Resultado do 1º experimento para o atuador traseiro MR4. ...........................327 Figura 4.36 – Gráficos de calibração dos atuadores..............................................................329 Figura 4.37 – Diagrama de blocos em Simulink® do modelo do atuador MR1....................331 Figura 4.38 – Comparação das simulações do Simulink com os sinais de força experimentais.

...........................................................................................................................332 Figura 4.39 – Efeito de atrito de Coulomb do atuador MR1 sem excitação elétrica. ...........333 Figura 4.40 – Efeito de atrito de Coulomb do atuador MR1 sem excitação elétrica e após o

processo de magnetização do núcleo da válvula. ..............................................334 Figura 4.41 – Atuadores MR instalados na caminhonete......................................................335 Figura 4.42 – Comparação entre os sinais para tensão de controle igual a zero volts. .........337 Figura 4.43 – Comparação entre os sinais para tensão de controle igual a 3 volts. ..............338 Figura 4.44 - Diagrama de blocos do sistema de controle em malha fechada. .....................342 Figura 4.45 - Diagrama de blocos do sistema de controle em malha fechada. .....................343 Figura 4.46 – Bode multivariável do sinal D(s) em relação a perturbação W(s)...................344 Figura 4.47 - Bode multivariável do sinal Yo(s) em relação ao sinal de controle U(s). ........344 Figura 4.48 - Bode multivariável GN(s), mostrando todos os valores singulares. ................346 Figura 4.49 - Bode multivariável Gst(s), mostrando todos os valores singulares..................347

182

Figura 4.50 - Bode multivariável Gst(s) com as saídas de deslocamento multiplicadas por 20............................................................................................................................ 349

Figura 4.51 - Bode multivariável Go(s), cuja saída é a soma ponderada das saídas de aceleração e deslocamento (cor preta, traçado grosso). .................................... 350

Figura 4.52 – Comparação dos diagramas de Bode multivariável Go(s) e Gor(s). ............... 352 Figura 4.53 – Valores singulares de Hankel do sistema Gor(s)............................................. 353 Figura 4.54 – Comparação dos diagramas de Bode multivariável Go(s) e Gorb(s). .............. 354 Figura 4.55 – Diagramas de Bode multivariável de Gorbn(s). ............................................... 355 Figura 4.56 – Valores singulares de Hankel do sistema Gorbn(s).......................................... 356 Figura 4.57 – Barreiras de robustez. ..................................................................................... 358 Figura 4.58 – Função objetivo gerada por 1pL e µ =25....................................................... 359

Figura 4.59 – Função objetivo gerada por 2pL e µ =2 x 10-4. ............................................. 360

Figura 4.60 – Função objetivo gerada por 3pL e µ =0,002. ................................................ 360

Figura 4.61 – Função objetivo gerada por 3pL e µ =5 x10-4. .............................................. 361

Figura 4.62 – Resposta em freqüência da MFT )( ωjKFG gerado 3pL , com µ =0,002

(gráfico da esquerda) e µ =5 x10-4 (gráfico da direita). ................................... 362

Figura 4.63 – Resposta em freqüência da MFT )()( R ωω jj HG N ⋅ , com µ =0,002 (gráfico da

esquerda) e µ =5 x10-4 (gráfico da direita). ...................................................... 364

Figura 4.64 – Mapa de pólos e zeros e resposta em freqüência da MFT )(R ωjH , com µ =0,002 (gráfico da esquerda) e µ =5 x10-4 (gráfico da direita). ................... 366

Figura 4.65 – Diagrama de blocos do controlador )(R sH em malha fechada. ..................... 367 Figura 4.66 – Comparação do desempenho entre o controle ativo em malha fechada e a

planta passiva, com µ =0,002 (gráficos da esquerda) e µ =5 x10-4 (gráficos da direita). .............................................................................................................. 368

Figura 4.67 – Variação da deformação dos pneus nos sistemas ativos em relação ao passivo............................................................................................................................ 369

Figura 4.68 – Diagrama de blocos do compensador............................................................. 372 Figura 4.69 – Resultados de simulações do atuador com o compensador “avanço-atraso”. 373 Figura 4.70 – Sinais de velocidade vertical da pista não pavimentada................................. 376 Figura 4.71 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas. ............................ 381 Figura 4.72 – Sinais de deslocamento relativo entre roda e carroceria (“stroke”). .............. 382 Figura 4.73 – Sinais de deformação dos pneus..................................................................... 383 Figura 4.74 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas e “stroke”. ........... 385 Figura 4.75 – Sinais de deformação dos pneus e perdas de contato entre o pneu e o solo... 386 Figura 4.76 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas. ............................ 391 Figura 4.77 – Sinais do “stroke” e de deformação dos pneus............................................... 391 Figura 4.78 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas e “stroke”. ........... 392 Figura 4.79 – Sinais de deformação dos pneus e perdas de contato entre o pneu e o solo... 392 Figura 4.80 – Sinais de força de controle: grampeamento convencional (curva em vermelho)

versus proposto (curva em preto)...................................................................... 393 Figura 4.81 – Comparação da força do sistema ativo (vermelho) com o semi-ativo (preto).396 Figura 4.82 – Gráfico “radar” com os índices de desempenho............................................. 400 Figura 4.83 – Módulos de potência prontos para serem instalados no veículo. ................... 402 Figura 4.84 – Diagrama em blocos do sistema de controle implementado no Simulink®.... 403 Figura 4.85 – Gráficos com o resultado do teste ANOVA. .................................................. 405 Figura 4.86 – Gráfico “radar” com os indicadores dos testes experimentais. ...................... 406 Figura A.1 – Modelo com um grau de liberdade(1DOF). .................................................... 424

183

Figura C.1 – Diagrama elétrico do circuito dos acelerômetros.............................................429 Figura C.2 – Diagrama elétrico do circuito dos sensores de deslocamento. .........................429 Figura C.3 – Circuito de interface entre os sensores e as entradas do ADC.........................430 Figura C.4 – Sensores acelerômetros e de deslocamento encapsulados e prontos para

instalação no veículo. ........................................................................................430 Figura C.5 – Gráficos de calibração dos acelerômetros da carroceria. .................................431 Figura C.6 – Gráficos de calibração dos acelerômetros das rodas........................................432 Figura C.7 – Gráficos de calibração dos sensores de deslocamento dianteiros. ...................434 Figura C.8 – Gráfico de calibração do sensor de deslocamento traseiro esquerdo...............436 Figura C.9 – Gráfico de calibração do sensor de deslocamento traseiro direito...................436

184

LISTA DE SÍMBOLOS

Dα requisito de desempenho para acompanhamento de sinal referência;

Nα requisito de desempenho para rejeição ao erro e ruído de medida;

Rα requisito de desempenho para rejeição à perturbações;

∂α requisito de desempenho para insensibilidade a variações da planta;

cβ coeficiente do modelo do amortecedor convencional na compressão;

tβ coeficiente do modelo do amortecedor convencional na tração;

)(sεM erro de modelagem;

ji ,ε medida do erro do sinal i (i = 2,3 ou 4) com a roda j (j = 1,2,3 ou 4);

ζ vetor dos erros;

fη constante de alavancagem da suspensão frontal;

rη constante de alavancagem da suspensão traseira;

)(tθ ângulo do movimento rolamento; λ′ vetor dos multiplicadores de Lagrange;

)(tξ vetor com os movimentos de translação e rotação da massa suspensa;

Mσ maior valor singular;

mσ menor valor singular;

minσ menor valor singular;

maxσ maior valor singular;

RLτ constante de tempo de um circuito elétrico RL;

)(tϕ ângulo do movimento arfagem; ψ parcela do funcional de custo que depende do tempo final;

∆G(s) classe de incertezas aditivas;

Nω freqüência um pouco acima da freqüência de corte do sistema;

oω maior freqüência de interesse para o projeto do controlador;

Ω freqüência espacial (ou número de onda) [rad/m];

b coeficiente de amortecimento viscoso [N.s/m];

cb coeficiente de amortecimento viscoso de compressão [N.s/m];

tb coeficiente de amortecimento viscoso de tração [N.s/m];

SHb coeficiente de amortecimento viscoso do ”Sky Hook” [N.s/m];

afc coeficiente de amortecimento residuais da suspensão dianteira [N.s/m];

arc coeficiente de amortecimento residuais da suspensão traseira [N.s/m];

cf coeficiente de amortecimento dos amortecedores dianteiros [N.s/m];

foc coeficiente de amortecimento residuais da suspensão dianteira [N.s/m].;

cr coeficiente de amortecimento dos amortecedores traseiros [N.s/m];

roc coeficiente de amortecimento residuais da suspensão traseira [N.s/m];

ct coeficiente de amortecimento dos pneus [N.s/m]; d distância entre centro de massa e a conexão dos elementos da suspensão (m);

185

dse comprimento do semi-eixo do eixo diferencial [m];

Me valor escalar proporcional ao erro de modelagem; f índice que significa “front” ou frente; k coeficiente de rigidez da mola [N/m]; kar coeficiente de rigidez da barra anti-rolamento no modelo do veículo [N/m]; kbe coeficiente de rigidez da barra anti-rolamento real [N/m]; kf coeficiente de rigidez das molas dianteiras [N/m]; kr coeficiente de rigidez das molas traseiras [N/m]; kt coeficiente de rigidez dos pneus [N/m];

12k coeficiente de rigidez entre a massa suspensa e a massa não suspensa [N/m]; l1 distância entre o centro de massa suspensa do veículo e o eixo dianteiro [m]; l2 distância entre o centro de massa suspensa do veículo e o eixo traseiro [m]; lwb distância entre eixos do veículo, é a soma de l1 e l2 ; m1 massa da roda (massa não-suspensa) [kg]; m2 massa do corpo do veículo (massa suspensa) [kg]; m3 massa do eixo diferencial (massa não-suspensa) [kg]; n parâmetro exponencial da fórmula de Thompson;

)(ωp barreira de robustez do desempenho; r índice que significa “rear” ou traseira; ui força do atuador i;

LQu força solução de um problema LQ para um sistema de 1º de liberdade;

u(t) vetor de entrada de controle; v velocidade de movimentação do pistão do amortecedor;

)(tw vetor de distúrbios de entrada; x , x (t) vetor de variáveis de estado;

)(tx& vetor das derivadas das variáveis de estado;

1x deflexão do pneu;

2x& aceleração vertical da massa suspensa;

3x deflexão da suspensão;

)(1 ty vetor dos deslocamentos relativos entre a pista e o centro das rodas;

)(2 ty vetor das acelerações nos quatro pontos do corpo do veículo sobre cada roda;

)(3 ty vetor dos deslocamentos relativos entre as rodas e a carroceria;

( )t4y vetor das acelerações verticais das rodas;

( )t5y vetor das velocidades relativas entre roda e carroceria;

iy5 elementos do vetor ( )t5y ;

ijy , elemento i do vetor de saída j;

)(01 tz vetor dos deslocamentos relativos entre o solo e o centro das rodas do veículo;

)(12 tz vetor dos deslocamentos relativos entre a roda e a carroceria do veículo;

)(0 tz& vetor das velocidades verticais imposta pelas irregularidades da via;

)(01 tz& velocidades relativas;

)(1 tz& vetor de velocidades verticais de cada uma das rodas frontais, a velocidade vertical do centro de massa do eixo diferencial traseiro, e também a sua velocidade angular;

)(12 tz& velocidades relativas entre rodas e carroceria;

)(tzCG movimento vertical do centro de massa do corpo suspenso;

186

A constante de proporcionalidade da fórmula de Thompson; A matriz que relaciona as variáveis de estado às suas derivadas; B matriz que relaciona as entradas )(tu a )(tx& ;

nB matriz B normalizada; mn

C× espaço das matrizes n x m de números complexos;

nC espaço dos vetores números complexos de dimensão n;. C matriz que relaciona as variáveis de estado )(tx às saídas )(ty ;

iC submatrizes da matriz C, i = 1,2,3,4 ou 5;

01C matriz do coeficientes de amortecimento dos pneus;

12C matriz do coeficientes de amortecimento dos amortecedores do veículo; D matriz que relaciona as entradas )(tu as saídas )(ty de uma planta;

ijD submatrizes da matriz D, i = 1,2,3 ou 4 e j = 1 ou 2;

nD matriz D normalizada; DD índice que significa “dianteiro direito”; DE índice que significa “dianteiro esquerdo”; D(s) vetor de sinais de perturbações exógenas;

)(sE vetor de sinais de erro; )(vF força do amortecedor convencional em função da velocidade v;

AF Força aplicada pelo atuador referente à roda dianteira esquerda;

BF Força aplicada pelo atuador referente à roda dianteira direita;

CF Força aplicada pelo atuador referente à roda traseira esquerda;

DF Força aplicada pelo atuador referente à roda traseira direita;

KFG matriz de transferência da identidade de Kalman;

NG matriz de transferência da planta nominal;

)(sG matriz de transferência da planta.; H matriz Hamiltoniana.;

H matriz de transferência do controlador;

nH matriz de transferência do controlador normalizada;

I matriz identidade; J funcional de custo; J3 momento de inércia do eixo diferencial em relação ao eixo ‘x’ [kg.m2];

Jθ momento de inércia da massa do veículo no movimento de rolamento [kg.m2]; Jϕ momento de inércia da massa do veículo no movimento de arfagem [kg.m2];

cK matriz de ganho do controlador;

oK matriz de ganho do observador;

01K matriz de coeficientes de rigidez dos pneus;

12K matriz de coeficientes de rigidez das molas; L matriz Lagrangeana;

1L matriz que relaciona o vetor )(1 tz& às quatro velocidades verticais das rodas;

2L matriz que relaciona os deslocamentos dos movimentos de arfagem, caturro e rolamento com os quatro deslocamentos verticais do corpo suspenso do veículo sob os quatro pontos de conexão da suspensão;

187

1M matriz de inércia composta pelas massas das duas rodas dianteiras, e a massa e o momento de inércia do eixo traseiro;

2M matriz de inércia composta pela massa e pelos momentos de inércia de rotação do corpo rígido que representa a massa suspensa do veículo;

sM massa suspensa do modelo de 1 DOF do veículo [kg];

N(s) vetor dos sinais de erro e ruídos de medida; 0 matriz de zeros;

cP matriz solução da equação de Riccati para o ganho do controlador;

oP matriz solução da equação de Riccati para o ganho do observador;

R2 índice r-quadrado que mede a linearidade; R(s) vetor de sinais de referência;

uS matriz de normalização da planta; TS base de um subespaço vetorial nas dimensões: vertical, rolamento e arfagem;

Ta período de amostragem; TD índice que significa “traseiro direito”; TE índice que significa “traseiro esquerdo”; U força entre solo e massa suspensa no modelo de 1 DOF; U(s) vetor de sinais de controle (ou de entrada); V velocidade do veículo; V1 velocidade relativa entre solo e massa suspensa no modelo de 1 DOF; V2 velocidade vertical da massa suspensa no modelo de 1 DOF;

)(sY vetor de sinais de saída;

Operadores

( )T• operação de transposição de matriz;

( ) 1−• operação de inversão de matriz;

( )⊥• operação de pseudo inversão de matriz;

•& operação de derivada em relação ao tempo; •∂ operador variacional;

•E valor esperado de variável estocástica;

• indica estimativa de variável;

1• norma 1;

2• norma 2;

F• norma de Frobenius;

( )•+→0

limρ

limite de uma função de ρ, com ρ tendendo a zero positivo;

188

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADC “analogic to digital converter” CAD “computer aided design” CAE “computer aided engineering” CCS “code composer studio” CI circuito integrado CPU “central processing unit” DAC “digital to analogic converter” DOF “degree of freedom” DSP “digital signal processor” DVS decomposição em valores singulares EAR equação algébrica de Riccati ER “electro-rheological” ou eletro-reológico FK filtro de Kalman FRF função de resposta em freqüência GNV gás natural veicular JTAG “joint test action group” (vide norma IEEE 1149.1) LPV “linear parameter varying” LQG “linear quadratic gaussian” LQR “linear quadratic regulator” LTR “loop transfer recovery” MR magneto-reológico MEF método dos elementos finitos MEMS “micro-electro-mechanical system” MFT matriz de funções de transferência MIMO “multi-inpu-multi-output MIPS “milhon of instructions per second” MMA “micro-machined accelerator” PC “personal computer” PQS programação quadrática sequencial PSD “power spectral density” PTFE poli-tetrafluoroetileno PWM “pulse width modulation” RAM “random access memory” RISC “reduced instruction set code” RK4 “Runge-Kuta fourth order” RLQ regulador linear quadrático RMS “root mean square” RTDX “real-time data exchange” RTB realização balanceada e truncada RTOS “real-time operating system” SA semi-ativo SISO “single-input-single-output” SPD semi-plano direito SPE semi-plano esquerdo SQP “sequential quadratic programming” SUV “sport utility vehicle”

189

SUMÁRIO

PARTE 1 PROJETO DO AMORTECEDOR MAGNETO-REOLÓGICO.............19

190

PARTE 2 PROJETO DO SISTEMA DE SUSPENSÃO SEMI-ATIVO................193 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 195

1.1 JUSTIFICATIVA................................................................................................... 195 1.2 OBJETIVO............................................................................................................. 198 1.3 METODOLOGIA .................................................................................................. 199 1.4 CONTRIBUIÇÕES................................................................................................ 200

2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................................... 201

2.1 SISTEMAS DE SUSPENSÃO VEICULAR......................................................... 201 2.1.1 PERCEPÇÃO DO CONFORTO ................................................................... 202 2.1.2 SISTEMA DE SUSPENSÃO PASSIVO....................................................... 204

2.2 SISTEMAS DE CONTROLE DA SUSPENSÃO................................................. 205 2.2.1 SISTEMA DE SUSPENSÃO ATIVO........................................................... 206 2.2.2 SISTEMA DE SUSPENSÃO SEMI-ATIVO................................................ 208 2.2.3 HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS SEMI-ATIVOS............. 209

2.3 ESTIMAÇÃO DE ESTADOS E ROBUSTEZ...................................................... 213 2.4 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS .......................................................................... 215

2.4.1 REPRESENTAÇÃO APROPRIADA DOS DISTÚBIOS EXÓGENOS...... 215 2.4.2 CRITÉRIOS DE CONFORTO E O “TRANCO”.......................................... 217 2.4.3 OS CRITÉRIOS PARA PROJETO DO CONTROLADOR ......................... 222

191

2.4.4 REFERÊNCIA PARA COMPARAÇÃO DE DESEMPENHO ....................229 2.4.5 TIPOS DE SENSORES PARA SISTEMAS MECÂNICOS .........................230 2.4.6 POSIÇÃO DOS SENSORES NO VEÍCULO................................................232 2.4.7 AS NÃO-LINEARIDADES DOS ATUADORES.........................................234 2.4.8 FLEXIBILIDADE DO CHASSI DE CAMINHONETES .............................234 2.4.9 AMORTECIMENTOS INERENTES À SUSPENSÃO ................................236 2.4.10 RESSONÂNCIA NO EIXO TRASEIRO E SEUS EFEITOS .......................238

2.5 COMENTÁRIOS GERAIS....................................................................................240 3 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO...........................................................................243

3.1 INTRODUÇÃO......................................................................................................243 3.2 MODELO COMPLETO DO VEÍCULO ...............................................................243

3.2.1 MODELO MATEMÁTICO...........................................................................244 3.2.2 DEFINIÇÃO DAS ENTRADAS DE CONTROLE.......................................248 3.2.3 REPRESENTAÇÃO EM ESPAÇO DE ESTADOS......................................250 3.2.4 SEPARAÇÃO DOS MODOS DE CORPO RÍGIDO E TORÇÃO ...............252

3.3 APERFEIÇOAMENTO DA TÉCNICA LQG/LTR ..............................................255 3.3.1 FORMA CONVENCIONAL DA TÉCNICA LQG/LTR ..............................256 3.3.2 TÉCNICA LQG/LTR ADAPTADA AO CONTROLE SA...........................263 3.3.3 RLQ EM SISTEMAS NÃO-ESTRITAMENTE PRÓPRIOS .......................269 3.3.4 TEOREMA FUNDAMENTAL “LTR” ESTENDIDO..................................276 3.3.5 GENERALIZAÇÃO TEOREMA ESTENDIDO...........................................283 3.3.6 REGULADOR ...............................................................................................284

4 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL.............................................................285

4.1 IDENTIFICAÇÃO DO MODELO DO VEÍCULO ...............................................285 4.1.1 ESTIMATIVA INICIAL DOS PARÂMETROS FÍSICOS ...........................285 4.1.2 SENSORES ....................................................................................................292 4.1.3 EQUIPAMENTO PARA AQUISIÇÃO DE DADOS E CONTROLE..........296 4.1.4 APLICATIVOS PARA AQUISIÇÃO DE DADOS ......................................298 4.1.5 DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO .............................................................300 4.1.6 ANÁLISE DOS DADOS E IDENTIFICAÇÃO DO MODELO ...................302 4.1.7 RESUMO DOS RESULTADOS – IDENTIFICAÇÃO DO MODELO........320

4.2 ATUADORES MAGNETO REOLÓGICOS.........................................................321 4.2.1 ATRITO DE COULOMB E MAGNETIZAÇÃO DA VÁLVULA MR .......333 4.2.2 INSTALAÇÃO DOS ATUADORES NO VEÍCULO ...................................335 4.2.3 MODELO DO VEÍCULO COM OS ATUADORES ....................................336 4.2.4 RESUMO DOS RESULTADOS – ATUADORES MAGNETO REOLÓGICOS...............................................................................................................339

4.3 PROJETO DO CONTROLADOR ROBUSTO .....................................................341 4.3.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.........................................................341 4.3.2 AVALIAÇÃO DAS INCERTEZAS DO MODELO .....................................342 4.3.3 PÓLOS, ZEROS DE TRANSMISSÃO E OBSERVABILIDADE ...............345 4.3.4 ELIMINAÇÃO DO MODO DE TORÇÃO ...................................................346 4.3.5 CRITÉRIOS DE DESEMPENHO E PONDERAÇÃO DAS SAÍDAS .........348 4.3.6 REDUÇÃO, BALANCEAMENTO E NORMALIZAÇÃO DO MODELO .351 4.3.7 SÍNTESE LQG/LTR ......................................................................................357 4.3.8 GRAMPEADOR DE SINAL PARA O ATUADOR SEMI-ATIVO.............370 4.3.9 REDUÇÃO DO TEMPO DE RESPOSTA DO ATUADOR SEMI-ATIVO 372

4.4 SIMULAÇÕES.......................................................................................................374

192

4.4.1 OBJETIVO..................................................................................................... 374 4.4.2 DEFINIÇÃO DO MODELO PARA SIMULAÇÃO..................................... 374 4.4.3 DEFINIÇÃO DOS SINAIS DE ENTRADA PARA SIMULAÇÃO ............ 375 4.4.4 DEFINIÇÃO DOS RUÍDOS DE MEDIDA PARA SIMULAÇÃO ............. 377 4.4.5 AVALIAÇÃO DO “TRANCO” E DO DESEMPENHO EM SEGURANÇA 377 4.4.6 SIMULAÇÃO DO CONTROLADOR ATIVO ............................................ 378 4.4.7 EFEITO DOS RUÍDOS DE MEDIDA.......................................................... 387 4.4.8 SIMULAÇÃO DO CONTROLADOR SEMI-ATIVO.................................. 388 4.4.9 TESTE DAS PROPOSTAS PARA MELHORIA DE DESEMPENHO....... 393 4.4.10 ESCOLHA DA MELHOR CONFIGURAÇÃO DO CONTROLADOR...... 397 4.4.11 DEFINIÇÃO DOS EXPERIMENTOS E INDICADORES .......................... 398

4.5 TESTES EXPERIMENTAIS DA SUSPENSÃO SEMI-ATIVA.......................... 401 4.5.1 ELETRÔNICA DE POTÊNCIA ................................................................... 401 4.5.2 ALGORITMO DE CONTROLE NO SIMULINK........................................ 402 4.5.3 DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO............................................................. 403

4.6 ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................... 405 5 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 407

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................. 409 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 410 APÊNDICE A – SOLUÇÃO RLQ PARA SISTEMA DE 1 GRAU DE LIBERDADE. 424 APÊNDICE B – IDENTIDADES DE ÁLGEBRA MATRICIAL ................................... 428

B.1 – LEMA 1 (LEMA DA INVERSÃO MATRICIAL-LIM)......................................... 428 B.2 – LEMA 2 (DECORRENTE DO LEMA 1) ............................................................... 428

APÊNDICE C – CONSTRUÇÃO E CALIBRAÇÃO DOS SENSORES ....................... 429 APÊNDICE D – PROGRAMA MATLAB PARA USO DO RTDX................................ 437 ANEXO A – CÁLCULO DE R-QUADRADO.................................................................. 438

193

PARTE 2

PROJETO DO SISTEMA DE

SUSPENSÃO SEMI-ATIVO

194

195

1 INTRODUÇÃO

O propósito desta introdução é apresentar a justificativa e os objetivos desta segunda

parte do trabalho, e também apresentar uma breve descrição da metodologia utilizada, como

esta parte do trabalho está organizada e quais são as suas principais contribuições.

1.1 JUSTIFICATIVA

Os primeiros trabalhos expressivos relacionados ao controle ativo e semi-ativo de

sistemas de suspensão veicular datam do início da década de 70 (BENDER, 1968;

THOMPSON, 1971; KARNOPP et al., 1974; CROSBY e KARNOPP, 1973; MARGOLIS e

HROVAT, 1976). Desde então muita pesquisa foi realizada nesta área nos últimos trinta anos.

Contudo os sistemas ativos ou semi-ativos, apesar de suas vantagens ainda não foram capazes

de substituir os sistemas passivos, estando restritos atualmente a alguns carros de luxo,

veículos fora de série, e carros de competição.

Os sistemas ativos de suspensão, ainda que em teoria sejam bastante eficientes,

apresentam muitas desvantagens quando se analisa a sua aplicação em veículos de uma forma

mais ampla. Um veículo automotor é um sistema cujos requisitos mais importantes são o

transporte de passageiros e carga com segurança e boa autonomia. Além disso, este sistema

deve apresentar custos de aquisição e manutenção relativamente baixos, comparado a outros

sistemas de transporte. Os sistemas ativos de suspensão são muito mais caros que os sistemas

passivos, e a sua complexidade reflete-se em maiores custos de manutenção e menor

confiabilidade. O fator segurança está muito ligado à confiabilidade do sistema, uma vez que

um sistema ativo pode desestabilizar um veículo no caso de uma falha, e conseqüentemente

ser responsável por graves acidentes. Por outro lado, dado o crescente aumento no custo do

petróleo e a necessidade cada vez maior de se encontrar fontes de energia alternativas, o

consumo de combustível atualmente é um fator crítico para os veículos automotores. Sob esta

ótica, torna-se inconcebível a inclusão de sistemas que aumentem significativamente o

consumo de energia dos veículos, que é o caso dos sistemas ativos de suspensão.

Os sistemas de suspensão semi-ativos, por outro lado, mostram-se mais compatíveis

com a aplicação veicular. Estes sistemas são mais confiáveis, uma vez que utilizam bem

menos componentes e são mais robustos que os sistemas ativos. Além disso, a probabilidade

196

de uma pane neste sistema levar a uma desestabilização do veículo é muito baixa, pois o

atuador semi-ativo não deixa de ser um componente puramente dissipativo. Estes sistemas

utilizam atuadores que em geral requerem algo em torno de 20 watts de potência para o seu

funcionamento, o que pode facilmente ser suportado pela bateria do veículo, e com um

impacto muito pequeno no consumo de combustível. Entre os atuadores semi-ativos

destacam-se aqueles baseados em fluidos magneto-reológicos (MR), os quais não utilizam

válvulas mecânicas e, portanto, são mais confiáveis. Adicionalmente, o fluido MR responde

em mili-segundos a uma variação do campo magnético, o que permite o desenvolvimento de

sistemas de suspensão semi-ativos em geral mais rápidos que os sistemas ativos baseados em

atuadores hidráulicos.

Apesar destes vários pontos a favor dos sistemas de suspensão semi-ativos, eles

também apresentam suas desvantagens. Como os atuadores destes sistemas são capazes

apenas de exercer forças dissipativas, eles apresentam descontinuidades no sinal de força

quando são solicitados a gerar os esforços necessários para reduzir a transmissão de vibração

para a carroceria; quando solicitados pelo controlador para a produção de força ativa (a favor

do movimento), estes atuadores ficam desligados para que não gerem forças no sentido

contrário. Estas interrupções no sinal de força são responsáveis por gerar excitações em

freqüências mais elevadas, que se manifestam como pequenos solavancos, que acabam por

causar desconforto aos usuários do veículo, indo contra a principal finalidade do sistema de

controle. Um dos desafios do uso deste tipo de sistema é conseguir melhorar o desempenho

em conforto mesmo com os inconvenientes causados por esta característica dos atuadores.

Atualmente as aplicações comerciais de sistemas de suspensão semi-ativos restringem-

se ao mercado de automóveis de alto-luxo. Entre eles destacam-se o Corvette (HALVERSON,

2003), o Cadillac Seville STS (GILBERT e JACKSON, 2002; GEHM, 2001), e mais

recentemente o Audi TT (BIRCH, 2007) e a Ferrari 599 GTB Fiorano que utilizam

amortecedores MR (HALL, 2006), os quais são apresentados na figura 1.1. A razão para a

restrição a este pequeno nicho ainda é o custo elevado deste sistema, se comparado ao preço

dos veículos populares.

197

Figura 1.1 – Veículos que já utilizam suspensão semi-ativa e amortecedores MR.

Por outro lado, um novo nicho que pode ser explorado por estes sistemas de suspensão

é o Mercado das caminhonetes (“pickups”) e dos utilitários esportivos (“SUVs - Sport Utility

Vehicles” e “Crossovers”), que são veículos cujo nível de preço também pode absorver o

custo destes sistemas. No entanto, as dificuldades de engenharia envolvidas nesta aplicação

são maiores que nas aplicações atuais. Enquanto que os veículos de alto luxo em geral são

utilizados apenas em vias asfaltadas e com pouca variação de carga, os SUV e caminhonetes

são utilizados em condições de terreno mais variadas e podem transportar cargas maiores. São

também mais pesados e apresentam em geral centro de massa mais elevado que os carros de

luxo.

Com estas características, os SUVs e caminhonetes necessitam atuadores mais

robustos e com maior capacidade de força, e maior curso de movimentação. Como foi

apresentado na primeira parte deste trabalho, à medida que se aumenta a força dos atuadores

MR, aumenta-se também a indutância do seu circuito magnético, o que resulta em atuadores

mais lentos. O volume ativo de fluido é maior o que aumenta o seu efeito de histerese. Tanto a

lentidão de resposta dos atuadores, como a sua maior histerese, contribuem para degradar a

qualidade de conforto que um sistema semi-ativo é capaz de gerar.

No caso das caminhonetes há outro fator a se considerar. A maioria dos sistemas semi-

ativos aplicados em sistemas se suspensão veicular utilizam a estratégia de controle Sky-hook,

diretamente ou como modelo de referência. O Sky-hook é em geral aplicado de forma

descentralizada, ou seja, quatro sistemas de controle independentes, um para cada roda.

198

Contudo, como as caminhonetes apresentam flexibilidade torcional maior que outros veículos,

faz-se necessário uma estratégia de controle que integre os quatro atuadores. Com a ação

integrada dos quatro atuadores é possível se evitar a geração de forças que excitem o modo de

vibração torcional deste veículo. No caso de controles independentes é difícil fazer isto, e por

isso a utilização de um controlador centralizado e multivariável pode ser uma boa alternativa.

A viabilidade para a aplicação de sistemas semi-ativos em caminhonetes e SUVs está

no desenvolvimento de sistemas de controle mais baratos e mais voltados para as

necessidades específicas dos usuários deste tipo de veículos.

1.2 OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de um sistema de suspensão semi-ativo

para caminhonetes visando à melhoria do conforto, redução da excitação do modo de torção

do chassi, e redução da amplitude de oscilação do eixo traseiro nas freqüências de

ressonância, melhorando assim a tração e aderência à pista.

A estratégia para atingir estes objetivos é o uso do controle multivariável (“MIMO –

multiple input multiple output”) robusto, utilizando como atuadores de força os amortecedores

baseados em fluidos MR.

Os desafios que precisam ser vencidos para o sucesso deste trabalho são:

• O desenvolvimento de um modelo matemático do veículo, capaz de representá-lo

satisfatoriamente e ao mesmo tempo ser adequado ao projeto de controle robusto baseado

na técnica LQG/LTR;

• A adequação do projeto de controle LQG/LTR às necessidades e contingências de um

sistema semi-ativo;

• A defesa da tese de que um controlador robusto LQG/LTR também pode ser aplicado às

plantas com função de transferência não estritamente própria;

• A redução das excitações do modo de torção do chassi da caminhonete, causadas por

forças geradas pela suspensão;

• A redução dos efeitos de desconforto (solavancos) gerados pelos atuadores semi-ativos,

principalmente pelo fenômeno de histerese que é intrínseco ao seu princípio de

funcionamento e construção física;

• A redução das oscilações do eixo traseiro da caminhonete na ressonância, mesmo

considerando-se as limitações de banda de resposta em freqüência dos atuadores.

199

1.3 METODOLOGIA

O desenvolvimento de um sistema semi-ativo de suspensão inicia-se por uma pesquisa

da literatura para a identificação das tendências atuais de desenvolvimento nesta área, e dos

principais problemas de engenharia que se colocam à frente da implementação de um sistema

de suspensão semi-ativa em caminhonetes.

Adicionalmente, realiza-se o desenvolvimento teórico do modelo matemático do

veículo e da adequação da técnica LQG/LTR para aplicação em sistemas com função de

transferência não estritamente própria, através de análises e deduções de álgebra linear.

Os parâmetros do modelo do veículo são identificados experimentalmente utilizando-

se um método de otimização com restrições baseado em programação quadrática seqüencial

(PQS). As verificações da representatividade do modelo são feitas através da comparação de

dados experimentais com dados obtidos por simulação numérica e também através da

animação em 3D gerada a partir de simulações computacionais do modelo com um filme de

eventos reais com o veículo.

O processo de síntese do controlador inicia-se com o projeto do controlador

multivariável (MIMO) robusto utilizando a técnica LQG/LTR, que utilizam critérios

específicos para as barreiras de desempenho. Sub-malhas de controle são definidas para o

controle da força de cada atuador, que é feito de forma indireta a partir de modelos

matemáticos discretos dos atuadores. O projeto do sistema de controle é conduzido levando-se

em consideração todos os aspectos práticos da sua implementação, o que inclui o

comportamento dinâmico do atuador e a discretização no tempo do algoritmo de controle para

a utilização de um controlador digital.

O desempenho do controlador é então analisado através de simulação numérica, e

avaliado segundo critérios de conforto e segurança.

A implementação física do sistema semi-ativo é realizada a partir do projeto,

construção e instalação dos quatro atuadores (amortecedores MR); construção e instalação dos

sensores eletrônicos; da instalação elétrica no veículo (cabos de sinais e cabos de

alimentação), e do uso de um “hardware” da empresa Spectrum baseado no DSP

TMS320F2812 da Texas Instruments (TI). Todo o “software” para o DSP é gerado pelos

aplicativos Matlab® / Simulink® da Mathworks e Codecomposer® da TI, a partir de um

diagrama de blocos criado no Simulink®.

200

A aquisição de dados para análise e identificação do modelo matemático do veículo é

feita a partir do mesmo “hardware” utilizado para o controlador. Os dados lidos através dos

conversores A/D do próprio DSP são transferidos para um computador PC através da porta

paralela, utilizando a ferramenta RTDX (“Real Time Data Exchange”) do Matlab®.

1.4 CONTRIBUIÇÕES

• Modelagem de um veículo completo com 7 graus de liberdade capaz de boa

representatividade do comportamento dinâmico de uma caminhonete e adequado para

projeto de controle robusto multivariáveis.

• Desenvolvimento teórico para o procedimento LQG/LTR aplicado a sistemas com

função de transferência não estritamente própria.

• Metodologia para identificação de modelo via otimização por Programação Quadrática

Seqüencial (PQS), utilizando dados experimentais.

• Procedimento para tornar a matriz da transferência do modelo melhor condicionada,

reduzida e balanceada em termos dos gramianos de controlabilidade e observabilidade.

• Procedimento para reduzir as excitações do modo dinâmico de torção do chassi da

caminhonete.

• Solução de controle para melhorar o contato do pneu com o solo nas freqüências de

ressonância da roda, reduzindo conseqüentemente os efeitos de movimentos laterais

indesejáveis da traseira do veículo.

201

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 SISTEMAS DE SUSPENSÃO VEICULAR

As suspensões veiculares existem desde os primórdios da indústria automobilística,

antes mesmo do primeiro veículo automotor. No principio, a suspensão era basicamente uma

mola, porém, ao longo do tempo, foi adicionado um elemento amortecedor. Na década de 30,

foram adotados sistemas com baixo amortecimento, que garantiam uma excelente sensação de

conforto; contudo, conforme foram surgindo veículos cada vez mais potentes e rápidos, o

número de acidentes começou a aumentar muito na década de 40. A partir daí, os projetos de

sistemas de suspensão veicular passaram a não se preocupar apenas com o conforto, mas

também com a segurança e estabilidade do veículo. Atualmente, é consenso que um sistema

de suspensão veicular deve apresentar três funções principais (STONE e BALL, 2004):

1. Isolar os passageiros e a carga de vibrações e choques. É desejável deixar os

passageiros tão confortáveis quanto possível; assim, o sistema de suspensão deve ser

capaz de absorver choques e amortecer vibrações causadas por irregularidades da

superfície da via1.

2. Garantir e aprimorar a mobilidade. A suspensão provê a sustentação do peso do

veículo, garantindo o espaço entre a via e a parte de baixo do veículo. Ela também garante

a estabilidade lateral e longitudinal, e a resistência ao rolamento.

3. Prover o controle do veículo. A suspensão reage às forças dos pneus, incluindo as forças

devidas à aceleração, frenagem, mudanças de direção. Além disso, o sistema de suspensão

é incumbido de garantir os ângulos corretos2 de direção e “camber”3 em relação à

superfície da via, bem como manter os quatro pneus em contato com a via enquanto em

manobra.

A segunda função é comum a todos os veículos onde a mola deve sempre ser capaz de

sustentar todo o peso estático do veículo, e as restrições cinemáticas são desenhadas para

1 Entende-se por via a superfície por onde o veículo está transitando, podendo ser uma estrada ou rua

pavimentada, ou um terreno irregular sem pavimento. 2 O ângulo correto de direção é aquele que o motorista do veículo deseja que este desempenhe. 3 “Camber” é o nome dado à inclinação lateral das rodas.

202

garantir boa estabilidade lateral e longitudinal, e resistência ao rolamento. Por outro lado,

apresentar melhor desempenho na terceira função é característica de veículos esportivos,

bastante manobráveis e com boa aderência à pista. Trata-se, portanto, de uma suspensão

“dura”, com alta freqüência de corte e com um curso pequeno. Entretanto, apresentar bom

desempenho na primeira função em detrimento à terceira, caracteriza veículos que

proporcionam mais conforto; porém com menor desempenho em manobras bruscas, por

exemplo. Trata-se de uma suspensão “mole”, com baixa freqüência de corte, e apresentando

maiores excursões da suspensão, segundo Tamai (1995). Verifica-se, portanto, que as duas

situações exigem requisitos conflitantes, e é esta solução de compromisso que deve ser

resolvida pelos engenheiros projetistas de sistemas de suspensão veicular, buscando sempre o

melhor compromisso com a aplicação final do veículo.

2.1.1 PERCEPÇÃO DO CONFORTO

A opinião dos passageiros quanto ao que significa uma boa qualidade no conforto ao

dirigir obviamente é muito subjetiva. O que uma pessoa considera bom, pode ser inaceitável

para outra. A pessoa que prefere carros esportivos sentirá muita insegurança ao dirigir um

carro grande de luxo, enquanto que proprietários de veículos de grandes de luxo ou clássicos

se sentirão insatisfeitos com o conforto ao dirigirem um carro esporte.

Outros fatores também devem ser considerados quando as pessoas avaliam o conforto ao

dirigir um veículo. Segundo Stone e Ball (2004), a qualidade acústica certamente é um destes

fatores, e embora não seja um resultado direto da suspensão, as pessoas costumam observar os

ruídos, pancadas (“rattles”), e grunhidos (“squeaks”) do seu veículo. Até o controle de clima

no veículo, apesar de não estar relacionado com a suspensão, também influencia na sensação

de conforto. Se uma pessoa estiver desconfortável por causa da temperatura, sua avaliação

subjetiva do conforto ao dirigir será afetada. “Desta forma, um dos desafios que afronta os

engenheiros de suspensão é ter que tratar com avaliações altamente subjetivas, e tentar

convertê-las em padrões quantitativos passíveis de uma análise objetiva” (DATA e

FRIGERIO, 2002).

Algum debate existe para definir qual característica do movimento as pessoas acham

desagradável. Deslocamento não é um problema. Se fosse, a sensação de subir degraus

produziria desconforto, o que não ocorre, muito embora o esforço para isso seja

203

desconfortável. Da mesma forma, a velocidade não é desconfortável, como evidenciada por

pilotos que operam jatos a velocidades superiores a Mach 1, com nenhum efeito danoso. A

aceleração constante é sentida como uma força constante, e numa intensidade moderada

também não gera grande desconforto. Contudo, a taxa de variação da aceleração, chamada de

“jerk” (HROVAT e HUBBARD, 1981), pode produzir desconforto.

Para o motorista, o “jerk” é sentido como variações bruscas de intensidade e direção das

forças (solavancos) que estão agindo sobre seu corpo, e por isso também pode ser descrito

como “tranco”. Mas o “jerk” (ou “tranco”) não é o único elemento que produz desconforto, a

freqüência de oscilação da aceleração e a sua direção também influenciam o conforto.

Veículos cujos movimentos de arfagem4 e rolamento são muito acentuados são vistos como

menos confortáveis do que aqueles que na mesma situação balançam verticalmente sem

tombar para frente ou para os lados, mantendo um movimento plano da carroceria.

Existe muita literatura a respeito da qualidade do conforto ao dirigir e sobre a

percepção humana deste conforto, no sentido de se obter parâmetros mais objetivos para esta

avaliação. Normas como a ISO2631 e a SAE J1490 visam atender a essa necessidade de

avaliação do conforto. Gillespie (1994) apresenta uma visão geral sucinta da literatura sobre

este assunto. Embora as fontes sejam numerosas, Gillespie (op. cit.) conclui que não há um

padrão universalmente aceito para o julgamento do conforto ao dirigir devido a variáveis tais

como a posição do acento, entradas com freqüências simples ou múltiplas, entradas com

direções múltiplas, diferentes períodos de exposição, entradas audíveis e visuais, que muito

interferem na sensação de conforto.

Em resumo, toda a pesquisa e todas as curvas de conforto são apenas pontos de partida

para o engenheiro de suspensão. Ainda não há substituto para a avaliação subjetiva provida

por um teste de campo. Pode-se concluir que o engenheiro de suspensão deveria eliminar toda

a vibração do veículo, contudo esta tarefa tende a não ter fim. Conforme as vibrações são

removidas, os ocupantes do veículo tomam consciência de outra vibração que antes passava

despercebida. Portanto, todo novo trabalho em sistemas de suspensão deve ser encarado como

um aperfeiçoamento e não como uma solução definitiva para o conforto.

4 Termo emprestado da engenharia aeronáutica para descrever o movimento do veículo em torno de seu eixo

transversal (fonte: dicionário Aurélio).

204

2.1.2 SISTEMA DE SUSPENSÃO PASSIVO

As suspensões passivas são simples, de baixo custo, bastante confiáveis, e até hoje têm

sido a melhor relação entre o custo do sistema e a satisfação dos anseios de conforto e

segurança dos condutores de veículos e seus passageiros. Além disso, na prática, um projeto

convencional de suspensão passiva utiliza não-linearidades nas molas e amortecedores, de

forma a melhorar o desempenho do sistema e minimizar suas deficiências (MOTTA e

ZAMPIERI, 2005).

A principal não-linearidade associada aos sistemas de suspensão passivos está nos

amortecedores, que apresentam, em geral, coeficientes de amortecimento diferentes para as

situações de compressão e distensão. Quando se adota um coeficiente de amortecimento

pequeno (“soft” ou macio) na compressão do amortecedor, cria-se uma condição para que um

movimento brusco da roda para cima tenha um menor efeito sobre o corpo do veículo. Por

outro lado, fazendo-se o coeficiente de amortecimento grande (“firm” ou duro) na distensão

do amortecedor, o movimento de descida da roda é que sofrerá a maior resistência do

amortecedor, gerando a maior dissipação da energia, onde somente a massa da roda em

movimento tenta puxar para baixo o corpo do veículo. Como a massa do corpo do veículo é

bem maior que a das rodas, os efeitos na carroceria serão menores. Este procedimento tende a

melhorar o conforto para os ocupantes do veículo.

Além das diferenças entre a compressão e a distensão, os amortecedores apresentam

valores de coeficiente de amortecimento que variam com a velocidade. Estas curvas de

amortecimento são em geral obtidas experimentalmente e seguem características específicas

para cada veículo, no entanto os coeficientes de amortecimento são maiores para baixas

freqüências e diminuem conforme a freqüência de movimentação do amortecedor aumenta.

Outra não-linearidade é normalmente aplicada às molas, que passam a ter sua rigidez

não mais constante, mas dependente da intensidade da sua compressão. Esta prática tem o

objetivo de manter constante a freqüência natural da suspensão (normalmente entre 1,2 e 2,0

Hz). Uma vez que a freqüência natural é proporcional à raiz quadrada da razão entre a

constante de mola e massa, nada mais lógico do que fazer a constante de mola aumentar

quando a massa aumenta, deixando esta razão invariável, ou com variação desprezível. Outra

razão para se utilizar não-linearidade no comportamento das molas é o pequeno curso máximo

da suspensão, principalmente em carros de passeio (±60 mm na posição do amortecedor); e

assim quando a roda do veículo atinge um grande obstáculo de forma abrupta (uma guia de

rua ou uma lombada, por exemplo), a suspensão tenderia facilmente a atingir seu fim de curso

205

e perder totalmente a sua função. Por outro lado, fazendo com que a mola se enrijeça à

medida que a suspensão vai se aproximando do fim de curso, leva a uma situação de transição

menos descontínua e com menor efeito sobre os ocupantes do veículo.

Os feixes de mola ainda apresentam outra não-linearidade indesejável, causada pelo

atrito entre as lâminas. Esta não-linearidade manifesta-se como uma histerese na resposta

dinâmica de força da mola em relação ao seu deslocamento. Para se minimizar esse efeito,

caminhonetes, pequenos caminhões e ônibus costumam utilizar feixes de molas parabólicas,

que apresentam menor contato entre as lâminas, e conseqüentemente menor atrito.

2.2 SISTEMAS DE CONTROLE DA SUSPENSÃO

Os sistemas de controle de suspensão, sejam eles ativos ou semi-ativos, baseiam-se no

princípio de que as forças entre as massas suspensa e não-suspensa do veículo podem ser

geradas segundo um padrão que não mais depende exclusivamente da variação relativa da

distância entre a roda e corpo do veículo. Sendo assim, um dado sistema ativo pode gerar uma

força entre a massa suspensa e a não-suspensa proporcional à velocidade absoluta da massa

suspensa, por exemplo, uma estratégia de controle conhecida por Skyhook (KARNOPP e

CROSBY, 1974, U.S. Patent).

São vários os fatores que podem ser considerados no projeto de sistemas de controle

para suspensões veiculares. Um dos elementos centrais é o requisito de desempenho na

isolação de vibrações em compromisso com o desempenho de contato dos pneus com a via.

Apesar dos sistemas ativos e semi-ativos serem potencialmente superiores aos sistemas

passivos no atendimento deste requisito, o compromisso entre o conforto e a aderência ainda é

um desafio significativo de projeto.

Outro fator importante é o espaço de trabalho (“rattlespace”), que é o deslocamento

relativo máximo permitido entre o chassi do veículo e as rodas. Como as forças do sistema de

suspensão não estão mais vinculadas exclusivamente ao movimento relativo entre massa

suspensa e massa não-suspensa, a tendência é que a excursão da suspensão aumente,

principalmente em sistemas ativos.

Outros fatores a serem considerados são: a estabilidade geral do veículo, a

confiabilidade e os requisitos de dirigibilidade e segurança, que não são influenciados apenas

pela força gerada ente o chassi e a roda, mas também pela geometria da suspensão (sistemas

206

anti-rolagem – ou “anti-roll” – e anti-mergulho – ou “anti-dive”), e pelo sistema de direção do

veículo (STONE e BALL, 2004). Por fim, há a restrição econômica ou de custo financeiro,

que é um fator altamente limitante para a entrada de novas tecnologias, uma vez que não é

possível se saber de antemão se o Mercado será capaz de aceitá-la, valorizando a sua relação

custo/benefício, e dando o retorno necessário ao investimento.

Diferentes tipos de sistemas de suspensão são capazes de satisfazer, em maior ou

menor grau, os requisitos acima. Embora melhorias significativas possam resultar da

capacidade inventiva do projetista, em geral, o desempenho da suspensão depende de se

utilizar um sistema passivo, semi-ativo ou ativo (HROVAT, 1997).

Os sistemas passivos de suspensão, encontrados na maioria dos veículos atualmente,

são caracterizados por não utilizar fontes de energia, pois se compõem exclusivamente de

elementos passivos (molas e amortecedores) ajustados para uma faixa limitada de situações.

Por esta razão este sistema é relativamente barato e confiável. Os sistemas ativos, por outro

lado, requerem fontes de energia (tais como compressores ou bombas) que lhes dão a

capacidade de gerar forças ativas para conseguir um bom desempenho de isolação da vibração

em uma faixa ampla de situações. Contudo, a melhoria de desempenho dos sistemas ativos é

acompanhada de um aumento da complexidade do sistema, custos maiores e redução da

confiabilidade.

O sistema de suspensão semi-ativo (SA), como seu nome sugere, preenche uma lacuna

entre os sistemas puramente passivos e os totalmente ativos. Ele representa um compromisso

entre a melhoria de desempenho e a simplicidade de implantação. Desde sua introdução

(KARNOPP et al., 1974), o conceito SA vem sendo aplicado a uma ampla classe de

problemas de isolação de vibrações.

2.2.1 SISTEMA DE SUSPENSÃO ATIVO

Suspensões ativas são aquelas onde entre a massa suspensa e a massa não suspensa é

acrescentado um atuador capaz de injetar ou retirar energia do sistema. Este atuador é capaz

de gerar esforços continuamente variáveis, e é em geral comandado por controladores

eletrônicos. Estes controladores fecham a malha de controle a partir de medições de sinais

provenientes da carroceria do veículo ou da própria suspensão, como deslocamentos ou

acelerações, por exemplo.

207

A diferença fundamental dos sistemas ativos em relação à suspensão passiva foi bem

descrito por Tamai (1995, p.41):

“Neste tipo de suspensão a força entre a massa suspensa e a massa não

suspensa pode não depender mais apenas de movimentos relativos entre

pontos ligados pela suspensão, mas também de outras variáveis, às vezes

medidas em outros pontos do veículo. Desta forma é possível se obter uma

freqüência natural baixa sem que a deflexão estática seja excessiva, e escolher

a resposta dinâmica da suspensão”.

Entretanto as limitações das suspensões ativas começam pelos aspectos práticos da sua

construção física nos veículos. Considerando-se que a suspensão de um veículo de passeio de

porte pequeno exija potências da ordem de 2kW para a suspensão de cada roda, a dificuldade

de se pôr em prática uma suspensão ativa fica mais evidente. Para esta situação de carga um

atuador pneumático não teria tempo de resposta suficientemente rápido para a tarefa,

considerando-se um compressor e cilindros com porte compatível com o tamanho do veículo.

No caso de um atuador eletromagnético tem-se picos de corrente elétrica da ordem de 200A,

considerando-se tensões de 12V nas baterias, ou 60A, pressupondo a tendência do uso de

tensão de 42V em veículos (SILVA e PAULA, 2002), que seriam correntes muito elevadas

para o conjunto de baterias dos veículos em geral. Restam apenas os sistemas hidráulicos

trabalhando com pressões da ordem de 200 bar (WATTON et al., 2001), sistema que

consumiria até 20% da potência de um motor de 60hp, supondo um rendimento de 80%.

Supondo que um sistema de suspensão ativa com atuador hidráulico (como o citado

acima) fosse instalado em um veículo, ter-se-ía ainda uma série de desvantagens a salientar:

♦ os custos de um compressor hidráulico e de todos os componentes de um circuito

hidráulico (mangueiras, conexões, válvulas, etc.) para pressões de trabalho de 200 bar

são bastante elevados;

♦ altos custos de produção de um sistema deste porte;

♦ o peso que este sistema adicionaria ao veículo também seria elevado, resultando em

maior consumo de combustível;

♦ a complexidade do sistema impõe custo de manutenção também elevado e a

necessidade de revisões preventivas mais freqüentes, em função da grande quantidade

208

de componentes e de peças móveis sujeitas ao desgaste, e do maior risco devido às

pressões elevadas;

♦ o sistema apresenta menor confiabilidade, pois depende do funcionamento constante

do motor para poder atuar, além da sua alta vulnerabilidade em função da

complexidade do sistema (muitos cabos, muitas mangueiras e muitas conexões que

podem acidentalmente se romper).

Em função desta última desvantagem, alguns projetos consideram manter em paralelo

com o atuador ativo, elementos passivos como molas e amortecedores, o que além de

deteriorar a capacidade do controle ativo, aumentam o custo total do sistema.

2.2.2 SISTEMA DE SUSPENSÃO SEMI-ATIVO

Diferentemente do sistema ativo, a suspensão semi-ativa é incapaz de injetar energia no

sistema. Nesta concepção de sistema, a capacidade de controle vem da propriedade de se

conseguir controlar a taxa de dissipação da energia introduzida e armazenada no sistema.

Conseqüentemente este tipo de suspensão é incapaz de atingir os níveis de conforto

proporcionados por um sistema de controle ativo, porém pode alcançar resultados superiores

às suspensões passivas (KARNOPP, 1986).

A base de uma suspensão semi-ativa é um atuador capaz de gerar forças dissipativas

continuamente variáveis. Claro que também é possível se ter suspensões semi-ativas com

atuadores de dois estados (“on-off”), ou de múltiplos estados, porém sem variação contínua

dos valores de força. Estes dispositivos não serão considerados por apresentarem um

desempenho inferior aos continuamente variáveis, além de gerar maiores problemas de

“harshness” (MILLER e NOBLES5, 1990 apud HAC et al., 1996b), ou seja, contribuírem para

a degradação do conforto vibro-acústico, uma vez que geram esforços de forma sempre

descontínua. Os atuadores continuamente variáveis também apresentam problemas de

“harshness”, porém em menor grau e ainda com a possibilidade de que sejam reduzidos,

modificando-se alguns aspectos do controlador (CRIVELLARO, 2003a) ou da própria

construção do atuador (LISENKER et al., 2005).

5 MILLER, L. R.; NOBLES, C. M.; Methods for Eliminacing Jerk and Noise in Semi-Active Suspensions,

SAE Transactions, paper 902284, pp. 943-951, 1990.

209

Em geral, o elemento que assume esta função de atuador semi-ativo é o próprio

amortecedor. Isto pode ser conseguido através de válvulas eletromecânicas (VANNUCCI,

1992), ou se utilizando fluído magneto-reológico e válvulas magnéticas. As válvulas

eletromecânicas além de serem um pouco mais lentas que os sistemas magneto-reológicos,

apresentam uma construção menos robusta e mais suscetível ao desgaste e a falhas. Além

disso, a válvula eletromecânica age aumentando ou diminuindo o coeficiente de

amortecimento viscoso através da variação da restrição à passagem do fluxo de fluido, porém

a força no amortecedor ainda é dependente da velocidade relativa entre massa suspensa e

massa não-suspensa. No caso dos amortecedores magneto-reológicos as variações na força

controlável são menos dependentes da velocidade, havendo apenas uma parcela da força total

que segue uma curva de amortecimento viscoso com coeficiente praticamente fixo e

relativamente baixo.

2.2.3 HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS SEMI-ATIVOS

O conceito de suspensão Semi-ativa (SA) foi introduzido no início dos anos 70

(CROSBY e KARNOPP, 1973; KARNOPP e CROSBY, 1974; KARNOP et al., 1974) na

forma de um amortecimento variável e controlado. Desde então, amortecedores semi-ativos

vem sendo considerados em diversas aplicações, como já foi descrito no Volume 1 deste

trabalho. Aplicações comerciais de alguns conceitos elementares de sistemas SA iniciaram no

início dos anos 80, com o lançamento do primeiro amortecedor variável. Estes amortecedores

variáveis tipicamente alteravam seu coeficiente de amortecimento, entre valores baixos

(“soft”) e altos (“hard”), através de controles manuais ou automáticos, porém lentamente

ajustados, os quais representavam uma forma muito rudimentar de sistema SA. As melhorias

no desempenho do conforto ou dirigibilidade eram mínimas e freqüentemente imperceptíveis

pelos usuários dos veículos.

Uma estratégia um pouco mais sofisticada, chamada de sistema SA “on-off” (liga-

desliga), foi proposta pela primeira vez por MARGOLIS et al. (1975). De forma simples, o

amortecedor permanece desligado (isto é, aplicando forças pequenas ou próximas de zero)

sempre que as massas suspensa e não-suspensa moverem-se na mesma direção e a massa não

suspensa tiver a maior velocidade. Em qualquer outra situação o amortecedor é ligado, de

forma a produzir o máximo de força. A idéia principal de tal estratégia é reduzir a aceleração

e o movimento da massa suspensa, o que foi bem demonstrado em simulações preliminares e

210

estudos experimentais (MARGOLIS et al., 1975; MARGOLIS e HROVAT, 1976; HROVAT

e MARGOLIS, 1981; KRASNICKI, 1981).

No final da década de 80 houve um interesse considerável no conceito SA “on-off” na

Indústria. Como resultados, surgiram melhorias e refinamentos deste conceito (MILLER,

1988; IVERS e MILLER, 1989), que aparentemente trouxeram algum benefício tangível no

conforto e na manobrabilidade.

A proposta original de SA continuamente variável (CROSBY e KARNOPP, 1973;

KARNOPP e CROSBY, 1974; KARNOP et al., 1974) representou o passo seguinte na

sofisticação e na complexidade da implementação prática. Este conceito requer que o atuador

SA reproduza continuamente a força de um sistema ativo sempre que isso for possível do

ponto de vista da restrição de passividade. Quando não for possível, o amortecedor

simplesmente é desligado. Esta estratégia de limitar (“grampear”) a força do atuador SA em

determinadas condições foi chamada de controle SA “clipped” ou “clipped-optimal”

(HROVAT6, 1979, apud HROVAT, 1997; HROVAT et al., 1988; BUTSUEN e HEDRICK,

1989).

A questão do controle ótimo SA foi abordada desde a década de 80, onde se destacam os

trabalhos de HROVAT (1979, op. cit.), HROVAT et al. (1980, 1988), e subseqüentemente

BUTSUEN e HEDRIK (1989) que concluiram que a abordagem SA “clipped” é também

ótima para modelos de um quarto de veículo. Desafortunadamente, esta conclusão não foi

inteiramente correta (conforme, por exemplo, TSENG e HEDRICK, 1993), embora, na

prática, a abordagem SA “clipped” possa se aproximar da solução ótima. Tanto sistemas

lineares como bi-lineares7 foram considerados nestes estudos; de forma que, na abordagem bi-

linear da ação de controle SA, a restrição de passividade8 é obtida apenas limitando-se as

variáveis de controle a valores não-negativos. Esta estratégia, adotada em Hrovat et al. (1988),

foi também utilizada para provar que sob condições relativamente brandas a solução para o

problema não-linear, estocástico de controle ótimo existe; e, mais importante, é dada na forma

de realimentação de estados. De forma geral foi possível alcançar uma solução sub-ótima

aproximada, através de métodos numéricos. Os resultados preliminares indicaram que tal

solução sub-ótima não é significativamente melhor em desempenho que a abordagem SA

“clipped”.

6 HROVAT, D.; Optimal Passive Vehicle Suspensions, Ph.D. Thesis, University of California, Davis, CA,

1979. 7 Na abordagem bi-linear, cada sinal de controle é formado pela soma ponderada de dois estados. No caso da

suspensão, utiliza-se um sinal de controle proporcional à diferença das velocidades da massa suspensa e não-suspensa, o que corresponde a um coeficiente de amortecimento ajustável.

8 A restrição de passividade limita o atuador a gerar apenas forças contrárias ao sentido do movimento.

211

Outra abordagem no sentido de incrementar o desempenho do controle SA foi

introduzido por Kimbrough (1986), baseada na equação de Lyapunov. Apesar de apresentar

desempenho equivalente à abordagem “clipped-optimal”, ou em alguns casos até superior

(JANSEN e DYKE, 2000), o desafio em utilizar esta abordagem está na necessidade de se

escolher uma matriz positiva definida pQ apropriada9.

O uso de atuadores baseados em fluidos eletro-reológicos (ER) e magneto-reológicos

(MR) foi proposto como alternativa para os amortecedores hidráulicos com orifício variável

(PINKOS et al., 1994; STURK et al., 1995). O conceito MR desde então passou a ser o mais

estudado por trabalhar com níveis de tensão elétrica compatível com a dos sistemas elétricos

veículares (12V).

Hubbard e Margolis (197610, apud HROVAT, 1997) introduziram o conceito que

adiciona uma mola semi-ativa, que é colocada em prática por meio de um controle adicional

do tipo “liga e desliga” nos acumuladores de molas a gás (suspensões hidro-pneumáticas, por

exemplo). Esta abordagem é promissora em aplicações práticas de controles SA, visto que,

segundo Hrovat (1997), tanto o amortecimento quanto a rigidez devem ser alterados para uma

adaptação mais eficiente a diferentes condições de pista e velocidade do veículo. Segundo

resultados de Tseng e Hrovat (1989), a rigidez da suspensão tem uma influência significativa

sobre a qualidade do conforto, porém, como nos sistemas puramente ativos, uma suspensão

mais macia leva a um maior conforto, mas também a uma maior excursão da suspensão.

O conceito de controle SA ground-hook surgiu na década de 90, sendo introduzido por

Novak e Valasek (1996) para minimizar a amplitude da deflexão dos pneus. Em trabalhos

mais recentes, como Goncalves e Ahmadian (2002), tem sido estudado o conceito híbrido,

que combina as abordagens skyhook e groundhook em um único controlador. Um

detalhamento maior desta abordagem com resultados experimentais pode ser encontrado em

Goncalves (2001).

Visando uma solução para um controle da suspensão capaz de considerar as não-

linearidades, tanto do sistema como dos atuadores SA, outras técnicas alternativas têm sido

aplicadas. Neste sentido, pode-se citar um controle SA utilizando algoritmo genético (YEH et

al., 1994; BOURMISTROVA et al., 2005); controles SA usando redes neurais (MORAN,

1994; GUO et al., 2004); e utilizando lógica nebulosa ou “fuzzy logic” (RAO e PRAHLAD,

9 A matriz

pQ corresponde ao coeficiente do termo quadrático na derivada da função de Lyapunov, e é utilizado

como termo independente na equação de Riccati. 10 HUBBARD, M.; MARGOLIS, D.; The Semi-active Spring: Is it a Viable Concept? Intersociety Conf. on

Transportation. Los Angeles, 1976.

212

1997; CRAFT, 2003). Contudo nenhum destes trabalhos apresenta um resultado excepcional

com relação ao desempenho.

O trabalho de Mailat et al. (2004), destaca-se por utilizar “Haar wavelets” para

representar as não linearidades das molas e dos atuadores SA, e por buscar uma solução ótima

simultânea da identificação de estados e do valor do índice de desempenho.

Outro trabalho recente e promissor, que foi apresentado por Giorgetti et al. (2005),

apresenta um controle de modelo preditivo (“model predictive control” –MPC) de um sistema

dinâmico híbrido, que é descrito como uma classe de sistemas mistos de dinâmicos e lógica

(“mixed logical dynamical” – MLD systems). Estes sistemas se caracterizam por apresentar

comportamentos distintos em diferentes regiões do espaço de estados; sendo tal setorização

do espaço de estado gerada por regras lógicas. Este trabalho apresenta resultados

interessantes, que foram obtidos a partir de um processo de otimização utilizando

programação quadrática inteira mista (“mixed-integer quadratic programming”).

No Brasil, temos as dissertações de mestrado de Sanchez (1997) e Moura (2003), que

fizeram estudos comparativos entre os tipos de suspensão passivo, semi-ativo e ativo. Ambos

os trabalhos utilizaram apenas modelos matemáticos e simulações para suas conclusões, no

entanto, o trabalho de Sanchez (op. cit.) destaca-se por uma revisão bibliográfica bastante rica

e pelo uso de um modelo completo e mais realista do veículo, e o uso do aplicativo ADAMS®

para realização das simulações. Por outro lado, o trabalho de Moura (op. cit.), apesar de

utilizar um modelo com apenas quatro graus de liberdade, aplicou um atuador MR e

apresentou uma maior preocupação com o mapeamento das relações entre força, velocidade e

corrente de excitação do atuador semi-ativo. Destaca-se também a dissertação de Picado

(1998), que além da comparação entre sistemas passivos, semi-ativos e ativos, também

apresentou outras estratégias de controle semi-ativo, assim como abordou algumas questões

práticas como o tempo de processamento, a quantidade de sensores e dificuldades no

tratamento de sinais. Os três trabalhos mostram resultados similares quanto aos benefícios e

limitações dos sistemas ativos e semi-ativos, contudo não demonstraram muita preocupação

com o “jerk” nos sistemas semi-ativos (apesar deste ter sido abordado na revisão da

literatura), nem com a estimação dos estados que não são mensuráveis diretamente, muito

menos com a sensibilidade aos erros e ruídos de medição.

213

2.3 ESTIMAÇÃO DE ESTADOS E ROBUSTEZ

A hipótese fundamental que precede muitos estudos sobre controle de suspensão, ativos

ou SA, é que todos os estados do sistema são exatamente conhecidos, o que dá as melhores

possibilidades de desempenho para estes sistemas. Na prática, alguns estados podem não ser

facilmente acessíveis, ou não estão disponíveis, como a deflexão dos pneus, por exemplo; ou

não podem ser medidos diretamente, como as velocidades verticais das rodas.

Práticas de integração direta de sinais de aceleração, algumas vezes empregadas em

controles Skyhook não são recomendáveis (RIBEIRO11, 1997, apud PICADO, 1998), o sinal

originário do acelerômetro sofre distorções que após uma integração dupla pode gerar erros de

até 20%.

Para uma aplicação real das abordagens de controle da suspensão, há duas opções.

Uma delas é a realimentação direta e parcial dos estados (HAC, 1996a; BARBIERI, COSTA

NETO e BARROS, 2005), que apresenta desvantagens quanto à sua condição sub-ótima da

solução de controle, a falta de robustez quanto à sensibilidade aos erros de medição, e a

dificuldade de implementação digital do controlador, em razão deste resultar em funções de

transferência não-estritamente próprias. Controladores digitais precisam ser estritamente

próprios, porque existe a restrição de atraso mínimo da ordem de um período de amostragem

entre o sinal de entrada e o de saída, ou seja, não é possível para um sistema digital amostrar o

sinal de entrada e ao mesmo tempo atualizar sua saída. O sinal de saída só pode ser atualizado

no próximo ciclo de amostragem.

Outra possibilidade é a utilização de um filtro de Kalman, que pode ser utilizado até

em abordagens diferentes da LQG (“linear-quadratic-gaussian”), como é o caso da abordagem

Skyhook, por exemplo. Em ambos os casos há uma perda de desempenho a se considerar, que

ocorre em função do atraso e de eventuais erros impostos pelo filtro, apesar de se poder

reduzir bastante o número de sensores. Por outro lado, apesar de várias aplicações de controle

de suspensão utilizarem unicamente a medida do deslocamento relativo entre roda e

carroceria (curso dos amortecedores) como entrada do controlador (YUE et al., 1988), foi

mostrado por Ulsoy et al. (1994) que a abordagem LQG pode aumentar em até 80% o custo

linear-quadrático (LQ) do índice de desempenho. Em outras palavras, isto significa que o

observador pode falsear os critérios de otimização do controlador. Além disso, o controle

11 RIBEIRO, F. J.; Some Comments on Displacement Measurement Using Accelerometers. Technical Report T93/641, Materials in Mechanical Engineering Departement, IME and Mechanical Department PUC RJ, 1997.

214

LQG, em geral, é pouco robusto quanto aos erros de modelagem. Foi mostrado por Ulsoy et

al. (op. cit.) que, para um conjunto “típico” de ganhos de realimentação, a margem de ganho

do regulador LQG “stroke-based” da suspensão pode ser de apenas 0,2 dB, e a margem de

fase de 18º. Apesar desta falta de robustez em controles semi-ativos não gerar instabilidade,

ela pode resultar em uma grande perda de desempenho.

De forma geral, o trabalho de Ulsoy et al. (1994) mostra que é importante se considerar

a robustez do sistema em malha-fechada com respeito aos estados não medidos, às mudanças

estruturais, às incertezas paramétricas, aos modos não modelados, aos erros de medida, e às

simplificações de modelagem dos atuadores. No caso de medições parciais dos estados, é

possível se recorrer a abordagens robustas de controle como LGQ/LTR e ∞H .

Em particular, DeJager (1991) investigou potenciais aplicações da abordagem ∞H no

projeto de suspensões ativas. Baseado no índice de desempenho que considera a deflexão dos

pneus, a deflexão da suspensão e a aceleração vertical da massa não suspensa; foi verificado

que o controlador resultante introduz um amortecimento excessivo no modo de ressonância

das rodas, visto que a técnica ∞H tende a minimizar os picos nas curvas de resposta em

freqüência. Como foi mostrado em Hrovat (1997), o amortecimento excessivo em geral leva à

deterioração do desempenho em conforto. Esta mesma situação havia sido descrita por Kiriczi

e Kashani (1990). Para contornar este problema Yamashita et al. (1990) desprezaram a

deflexão nos pneus no índice de desempenho, justificando já haver suficiente nível de

amortecimento inerente ao seu protótipo. Em vista destas questões, Tran12 e Hrovat (1992,

apud HROVAT, 1997) sugerem que seja utilizada a métrica mista ∞HH /2 , que seria uma

forma de combinar as desejáveis propriedades de robustez da abordagem ∞H com o melhor

desempenho da abordagem 2H . Outra idéia seria utilizar a síntese µ (“ µ synthesis”) que

evita o excesso de robustez do controle ∞H , e baseia-se na adição de incertezas através de

valores singulares estruturados, conceito introduzido por Packard, Fan and Doyle (1988).

12 TRAN, M.; HROVAT, D.; Feasibility Study of Mixed ∞HH /2 Active Suspension Control Design, Ford

Motor Company Internal Memo, Dearborn, MI, 1992.

215

2.4 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

Esta seção apresenta uma síntese dos muitos aspectos práticos relacionados a sistemas

de suspensão semi-ativos e sua aplicação. Como o foco deste trabalho está na aplicação destes

sistemas em caminhonetes e SUVs, algumas características destes veículos também são

destacadas.

2.4.1 REPRESENTAÇÃO APROPRIADA DOS DISTÚBIOS EXÓGENOS

A descrição apropriada dos distúrbios aplicados ao veículo é o primeiro passo para o

estudo de sistemas de suspensão. Os movimentos e atitudes do veículo são influenciados

basicamente por dois tipos de distúrbios: o primeiro é causado pela rugosidade ou imperfeição

do pavimento onde o veículo transita, e o outro é causado por diferentes forças e momentos

gerados em situações de frenagem, mudança de direção, ou mesmo por efeitos aerodinâmicos

devido a rajadas de vento, por exemplo. Para estudos de conforto, o distúrbio gerado pelo

pavimento é o mais importante, e o único que está no escopo deste trabalho.

Assim sendo, o objetivo da melhoria do conforto pode ser visto como uma equivalente

melhoria no processo de filtragem dos efeitos da vibração gerada pelo pavimento. No

contexto das vibrações, a rugosidade da via é tipicamente especificada como um processo

estocástico de uma dada densidade espectral de potência (“P.S.D. – Power Spectral Density”)

de um sinal de deslocamento vertical. Há nestes últimos 40 anos muita pesquisa sobre

aproximações destas curvas de gráficos PSD do perfil da via, entre eles podem-se citar os

modelos de Hać (1987), Hrovat (1993) e Gillespie (1994); contudo, por simplicidade, neste

estudo será utilizado o modelo de Thompson (1979), formalmente dado por:

nAS Ω=Ω)( (2.1)

onde Ω é a freqüência espacial (ou número de onda), tipicamente em unidades “radianos por

comprimento”, e A e n são constantes apropriadas.

216

Figura 2.1 – Densidade espectral de potência de vários terrenos (SEVIN13 e PILKEY, 1971).

Conforme resultados de Sevin e Pilkey13 (1971 apud HROVAT, 1997), apresentados na

figura 2.1, e Smith14 (1982 apud HROVAT, 1997), apresentados na figura 2.2, a curva da

densidade espectral de potência de vários tipos de terrenos tende a se aproximar de uma reta,

se analisada num gráfico bi-logaritmico. A inclinação negativa da reta que aproxima a curva

da densidade espectral apresenta uma relação de 2 para 1, o que leva o parâmetro ‘n’ da

equação (2.1) ser muito próximo de -2. Este valor de espectro de deslocamento dado pela

equação (2.1) implica que o sinal de velocidade vertical aplicado às rodas pelo contato com o

solo pode ser aproximado por um ruído branco. Isto é bastante conveniente para aplicação de

técnicas como o LQG (“Linear-Quadratic-Gaussian”), que apresenta a mesma hipótese para

os ruídos de processo. Assim sendo, o modelo matemático mais adequado para representar o

veículo é aquele cujas entradas de perturbações exógenas são os sinais de velocidades

verticais que o solo ou pavimento aplicam às rodas do veículo. Na equação (2.1) o parâmetro

‘A’ está relacionado à severidade das imperfeições da via, ou seja, quanto mais irregular for a

superfície da via, maior será o valor do parâmetro ‘A’.

13 SEVIN, E.; PILKEY, W. D. Optimum shock and vibration isolation. The Shock and Vibration Information Center, United States Department of Defense, 1971. 14 SMITH, R. E. Amplitude characteristics of Dearborn test track roadways. Ford Motor Company Technical Memorandum, SRM-82-26, Dearborn, MI, 1982.

217

Figura 2.2 – (a) Comparação do modelo dado pela equação (2.1) com n=-2,02 e a medida das irregularidades de um trecho da “Rochester road” conforme Smith (1982 op. cit.).

(b) Comparação do modelo dado pela equação (2.1) com n=-1,99 e a medida das irregularidades de um trecho entre “Broken road” e“Rochester Road” conforme Smith (idem).

Padrões de curvas de densidade espectral de potência para diferentes tipos de

pavimentos de estradas estão normatizados na ISO-8608 (1984).

2.4.2 CRITÉRIOS DE CONFORTO E O “TRANCO”

Há muitas formas para se qualificar objetivamente o conforto. A forma mais simples é

através do valor eficaz ou RMS (“Root-Mean-Square”) das acelerações a que os ocupantes do

veículo ficam expostos. Segundo Regazzi e Ximenes (2000), o valor eficaz da aceleração é

uma medida importante porque leva em conta tanto a cronologia de um sinal de vibração,

como também considera um valor de amplitude proporcional à energia contida no sinal, e, por

conseguinte, indica o poder agressivo da vibração.

Normalmente a aceleração total que uma pessoa sofre dentro de um veículo pode ser

dividida em três componentes lineares nas direções “x”, “y” e “z” (vide figura 2.3). A

componente na direção “z” é resultante do movimento linear do habitáculo do veículo

identificado como “bounce” ou “heave”. Por outro lado, as componentes lineares nas direções

“x” e “y” são resultantes de movimentos de rotação do corpo suspenso do veículo: rolamento

e arfagem (“roll” e “pitch”). Isto na verdade é uma aproximação, visto que uma pessoa dentro

de veículo não tem em geral seu centro de massa coincidente com o centro da rotação do

corpo suspenso do veículo, e como as variações angulares são pequenas, estes movimentos

podem ser aproximados por translações do corpo dessa pessoa.

218

Figura 2.3 – Direções de medida da vibração no corpo humano.

Sob o ponto de vista da fadiga sentida pelo corpo humano exposta a vibrações é

importante considerar também a freqüência da vibração e o tempo de exposição. Existem

várias padronizações internacionais voltadas a esse assunto, das quais se destacam a ISO-2631

(1978, 1997), a BS-6841 (1987) e a SAE J1490 (1987). De forma geral, estas padronizações

mostram que a faixa de freqüências mais crítica para vibrações no eixo z vai de 4 a 8 Hz, e

para os eixos x e y, vai de 1 a 2 Hz, conforme apresentado no gráfico da figura 2.4.

Figura 2.4 – Limite de exposição, fadiga e conforto para 1 minuto e 24 horas de exposição à vibração no corpo humano, conforme ISO-2631 (GRIFFIN, 1990).

219

A norma SAE J1490 apresenta fórmulas matemáticas de curvas de ponderação para

serem aplicadas ao espectro de potência (PSD) das acelerações nos eixos x, y e z, enfatizando

as faixas de freqüências descritas acima nos seus respectivos eixos. Estas curvas têm uma

relação com a potência absorvida pelo corpo humano para cada freqüência de vibração, e

servem como um meio prático de se obter um índice de desempenho objetivo para o conforto.

Para isso, basta obter-se o PSD do sinal de aceleração, ponderar o resultado ponto-a-ponto

utilizando a função de ponderação adequada, e fazer o somatório da “potência” em todas as

raias de freqüência. Assim se obtém a medita da potência total absorvida pelo corpo humano

exposto àquele sinal de aceleração.

Contudo há outra característica do conforto a se considerar. Esta característica é

sentida pelos usuários dos veículos como pequenos solavancos (“jerk” ou “tranco”), e está

associado a um aspecto do conforto chamado de “harshness”. Em língua portuguesa o

”harshness” pode ser traduzido como “aspereza”, porém as palavras da língua inglesa “jerk” e

“harshness” são bastante comuns no jargão da indústria automobilística internacional. O

“tranco” pode passar despercebido quando se calcula apenas o valor eficaz da aceleração. Os

dois gráficos de aceleração mostrados na figura 2.5 apresentam exatamente o mesmo valor

eficaz, contudo pode-se perceber intuitivamente que a situação no gráfico “b” é muito mais

desconfortável.

Figura 2.5 – Curvas de aceleração com o mesmo valor eficaz.

220

A diferença dos dois gráficos pode ser caracterizada pelo “tranco”, que corresponderia

aos solavancos causados pelas mudanças bruscas no sentido da aceleração. Desta forma,

“tranco” pode ser medido através do valor eficaz da derivada do sinal de aceleração, ou pela

presença de harmônicos de freqüência elevada no PSD do sinal de aceleração.

No caso do uso de sistemas de suspensão semi-ativos, é comum ocorrer um aumento

do “tranco” e conseqüentemente gerar uma degradação do conforto, contrariando o objetivo

principal do sistema. Uma das razões para o aumento do “tranco” é o fato das forças aplicadas

pelos amortecedores semi-ativos apresentarem descontinuidades, que são impostas pela regra

de controle. Tomando como exemplo um controle do tipo Skyhook, conforme o diagrama de

blocos apresentado na figura 2.6, tem-se a situação em que a força que o atuador aplica na

massa suspensa deve ser proporcional à sua velocidade vertical, porém em sentido oposto.

Isto seria possível para um sistema ativo, contudo, no caso semi-ativo, o atuador apenas é

capaz de realizar forças dissipativas, ou seja, forças contrárias ao seu movimento relativo.

Figura 2.6 – Descontinuidade no sinal “força” gerado por um sistema semi-ativo.

Como o movimento vertical das massas suspensa e não-suspensa nem sempre estão

sincronizados e também em geral não são de mesma freqüência, conforme mostrado nos

gráficos da figura 2.6, existem situações onde a força solicitada pelo algoritmo Skyhook

deveria ser ativa. Nestes casos adota-se uma regra de controle semi-ativo que “desliga” o

atuador nestas situações, gerando as descontinuidades no sinal de força, como mostra o

gráfico “c” da figura 2.6.

221

Os sistemas semi-ativos também podem apresentar outras descontinuidades da força

devido à histerese presente na relação entre força e velocidade no atuador. A figura 2.7 ilustra

bem este fenômeno da histerese.

Figura 2.7 – Histerese na relação força versus velocidade nos amortecedores MR.

Como os algoritmos de controle semi-ativo chaveiam o sinal de controle do atuador

exatamente quando a sua velocidade relativa passa por zero, e como nesta situação a força não

é nula, sempre ocorre uma variação abrupta da força. Para contornar este problema existem

outras propostas construtivas da válvula magnética dos amortecedores MR para se reduzir o

efeito de histerese, como é o caso da Patente de Lisenker et al. (2005) que acrescenta uma

passagem do fluido pela válvula que não fica exposto ao campo magnético. Em velocidades

baixas de movimentação da haste, ou seja, em pequenas vazões, este canal oferece pouca

resistência à passagem do fluido, reduzindo assim a força que o atuador é capaz de aplicar

nesta situação. No entanto, este tipo de solução tende a reduzir o desempenho geral do

atuador, pois interfere no circuito magnético da válvula, cujo espaço físico é limitado.

O “tranco” pode ocorrer também devido às descontinuidades de força relativas às não

linearidades da suspensão, como fim-de-curso, batentes, e o repique dos pneus em colisão

com o solo. Apesar das inúmeras técnicas de controle já estudadas para aplicações de controle

de suspensão veicular SA, o problema do “tranco” excessivo ainda persiste.

Nesta pesquisa foram identificados alguns trabalhos preocupados com a questão do

“tranco”, como é o caso de Song et al. (2002), que propõe funções alternativas para o Skyhook

222

semi-ativo, chamada de No-Jerk Skyhook. Outro artigo de Bourmistrova et al. (2005) também

busca a redução do “tranco”, porém utilizando um algoritmo evolucionário (algoritmo

genético) com um função multi-objetivo que, entre outras variáveis, penaliza o “tranco”.

2.4.3 OS CRITÉRIOS PARA PROJETO DO CONTROLADOR

Segundo HROVAT (1997), a definição de critérios para se projetar controladores de

sistemas de suspensão ativa ou SA tem sido objeto de investigações nos último 40 anos. De

maneira geral, os critérios utilizados para o projeto destes sistemas são: a redução da

amplitude a aceleração vertical da massa suspensa; a limitação da amplitude do deslocamento

relativo entre a massa suspensa e não-suspensa, chamado de “stroke”; e a limitação da

amplitude relativa de vibração entre massa não-suspensa e o ponto de contato entre o pneu e o

solo.

Figura 2.8 – Modelo com um grau de liberdade (1 DOF).

Partindo-se do modelo mais simples possível de um sistema de suspensão veicular, com

apenas um grau de liberdade (1 DOF – “Degree Of Freedom”) apresentado na figura 2.8, e

aplicando-se os conceitos descritos acima, pode-se chegar a conclusões interessantes. Como

este modelo simples despreza a massa das rodas, o critério de manutenção da amplitude entre

roda e solo também é desprezado. Neste caso, o objetivo passa a ser descobrir que força é

necessária entre a roda e a massa suspensa, representado na figura 2.8 pelo símbolo de

interrogação, para que ocorra a minimização da seguinte função de custo:

223

( )

+= ∫ dtxrxEJ ft

0

22

21 & (2.2)

Na equação (2.2), tem-se os valores r.m.s. do “stroke”, 1x , e da aceleração vertical da

massa suspensa, 2x& , que é ponderada por uma constante r. O segundo termo, 2x& , tem relação

com o conforto, que é melhorado com a redução da amplitude média desta aceleração. O

“stroke” está relacionado com o espaço de trabalho da suspensão, chamado também de

“rattlespace”, e é considerado na função de custo para prevenir que a suspensão atinja os seus

limites físicos de curso, o que traz uma grande degradação do conforto. Na função de custo

considera-se o valor esperado, dado pela função •E , que é necessária devido à consideração

de uma entrada de natureza estocástica para a perturbação que a pista aplica aos pneus. Este

problema de otimização está sujeito a restrições que são dadas pelas seguintes equações de

estado:

wxx −= 21& (2.3)

sM

Uux ==2& (2.4)

Conforme apresentado na seção 2.4.1, a entrada de velocidade vertical que o pavimento

aplica ao pneu, w, é resultante da rugosidade da pista e da velocidade, V, do veículo; e é

tipicamente modelada como um ruído-branco.

É interessante observar que o problema acima tem a forma de um regulador linear-

quadrático (LQR –“Linear Quadratic Regulator”), que também pode ser aplicado a problemas

de sistemas lineares e variantes no tempo. Apesar de haver técnicas numéricas bem-

desenvolvidas para sua solução, este exemplo simples pode ser resolvido analiticamente (vide

APÊNDICE A), e seu resultado é o seguinte:

241

121 2 xrxruLQ

−− ⋅−−= (2.5)

224

Do resultado da equação (2.5), é possível deduzir uma estrutura ótima para o sistema de

suspensão, que consiste da massa suspensa ligada a roda por uma mola de constante elástica

2112

−⋅= rMk s , e ligada a um referencial inercial por meio de um amortecedor de coeficiente

de amortecimento 412 −⋅⋅= rMb sSH , chamado de amortecedor SkyHook, conforme

ilustrado pela figura 2.9.

Figura 2.9 – Desempenho ótimo para modelo de 1 DOF – SkyHook.

Percebe-se que o controle de suspensão chamado de SkyHook tem origem do resultado

do LQR aplicado a um sistema de apenas 1 DOF, e portanto é bastante limitado, visto que os

sistemas reais são bem mais complexos. No entanto, trata-se da estratégia de controle mais

adotada na prática, principalmente em sistemas semi-ativos.

Apesar do fenômeno do “tranco” também ser uma característica importante na

percepção do conforto, ele é difícil de ser considerado diretamente em técnicas convencionais

de controle por realimentação baseados em modelos dinâmicos de veículos. Apesar de que, de

forma bastante simplificada, o “tranco” possa ser avaliado como a derivada da aceleração da

massa suspensa do veículo, esta não é uma grandeza física, e por conseqüência não está

explicitamente disponível em modelos dinâmicos dos veículos em geral. Além disso, o

”tranco” não pode ser medido diretamente através de sensores, visto que derivar o sinal de

acelerômetros não é uma boa prática.

No caso de sistemas SA, a questão do “tranco” é ainda mais complexa, visto que ele é

também gerado por características inerentes à não-linearidade própria dos atuadores semi-

ativos, e também devido às descontinuidades do sinal de força, conforme já descrito na seção

2.4.2. Na prática, como o “tranco” não é realimentado diretamente no controlador, podem

225

ser utilizados caminhos indiretos para reduzi-lo. Por exemplo, no caso do “tranco” gerado

pelo fenômeno de histerese do atuador, pode-se utilizar um modelo matemático fiel do

atuador para orientar o controlador no melhor momento de se comutar a força.

Figura 2.10 – Modelo de um controlador ativo baseado na regra SkyHook.

Por outro lado, no caso do “tranco” gerado pela descontinuidade do sinal de força, uma

possibilidade de melhoria do conforto é a redução do ganho de realimentação relacionado à

velocidade V2. Apesar disso parecer um contra-senso, visto que a redução do coeficiente de

amortecimento SkyHook faz com que as amplitudes da aceleração vertical da massa suspensa

aumentem, a defasagem entre as velocidades V1 e V2 tendem a diminuir nesta situação. Como

as descontinuidades são menores quanto menor for esta defasagem, verifica-se uma possível

redução do “tranco”. Para exemplificar, partindo-se do modelo descrito na figura 2.10, onde

um atuador de força ativo é colocado ao lado da mola exercendo força entre as massas

suspensa e não-suspensa com amplitude proporcional a velocidade da massa suspensa, chega-

se a função de transferência apresentada na equação a seguir:

SHs bsMs

kbs

sV

sV

⋅+⋅

+⋅−=

21

2

)(

)( (2.6)

226

Analisando-se o diagrama de Bode desta função de transferência é possível avaliar a

defasagem que vai existir entre a velocidade vertical da massa suspensa, V2(s), e a velocidade

relativa da suspensão, V1(s), que é proporcional à força aplicada por um atuador semi-ativo

(força dissipativa). A defasagem entre os dois sinais corresponde ao intervalo de tempo que o

atuador semi-ativo teria que ficar desativado; e o valor de 90° de defasagem corresponde à

maior amplitude possível da descontinuidade da força aplicada, e o maior nível de “tranco”.

Tomando-se um exemplo numérico, com k=20 kN/m, b=600 N.s/m, Ms=200kg, e

comparando-se dois diagramas de Bode: um com bSH=2828,4 Ns/m que é o valor ótimo dado

pelo LQR, e outro com bSH=1414,2 Ns/m que equivale à situação do atuador aplicando

metade da intensidade de força “ótima”, chega-se ao gráfico da figura 2.11. Pode-se verificar

que valores menores do coeficiente de amortecimento do SkyHook (bSH) levam a defasagens

menores, principalmente na faixa de freqüência onde tanto V1 como V2 tendem a ter as

maiores amplitudes. Sendo assim, definir ganhos menores do que os definidos como ótimos

segundo procedimentos LQR, pode contribuir para uma melhoria do “tranco”, e

conseqüentemente ser mais um ponto a se considerar como critério de projeto de um

controlador para um sistema de suspensão semi-ativo. O importante é considerar que deve

haver um equilíbrio entre o “tranco” e a amplitude da velocidade vertical da massa suspensa

para que a melhor situação de conforto seja alcançada.

Figura 2.11 – Diagrama de bode de V2(s)/V1(s).

227

Para se levar em conta a segurança de um sistema de suspensão no critério de

desempenho, deve-se considerar um modelo que represente também a massa da roda do

veículo. Neste caso, a forma mais simples de representação é um modelo com dois graus de

liberdade (2 DOF), conforme ilustrado na figura 2.12. O conceito segurança, neste caso,

refere-se especificamente à “aderência” do veículo à pista, e portanto, depende da força de

atrito entre os pneus e o solo. Apresentar boa aderência à pista significa que o veículo tem

uma boa característica de “handling”. Não há uma tradução direta desta palavra para o

português, contudo ela tem haver com a manobrabilidade do veículo.

Figura 2.12 – Modelo com dois graus de liberdade (2 DOF).

Com um modelo de 2 DOF é possível avaliar a deformação do pneu, que está

diretamente ligada à intensidade da força normal que este aplica ao solo. Assim, pode-se

adotar como critério de segurança uma variação limitada da deformação do pneu, ou seja,

pouca variação da deformação do pneu resulta em pouca variação da força normal entre as

rodas e o solo, e, conseqüentemente, pouca perda de aderência entre o pneu e a pista (LOZIA,

1992; HROVAT, 1993).

228

A função de custo que deve ser minimizada para se encontrar os elementos do sistema

de suspensão que resultem no melhor desempenho do sistema quanto aos critérios de

conforto, “rattlespace” e segurança é dada a seguir:

( )

++= ∫ dtxxrxrEJ ft

0

24

232

211 & (2.7)

Nesta equação, 1x e 3x são os estados que representam as deflexões do pneu e da

suspensão, respectivamente, e 4x& é a aceleração vertical da massa suspensa, conforme a

figura 2.12. Os parâmetros 1r e 2r são fatores de ponderação dos diferentes critérios de

desempenho.

Com o acréscimo de uma nova restrição, é natural que o desempenho, em termos das

variáveis aceleração e “rattlespace” (em valores RMS), seja um pouco deteriorado. Em

exemplos numéricos desse estudo, percebe-se que a solução ótima para a realimentação dos

estados ( 4321 e ,, xxxx ) caminha sempre para uma realimentação positiva do estado

2x (velocidade vertical da roda), que corresponde na prática a uma redução do coeficiente de

amortecimento dos pneus. Os critérios de conforto e segurança influenciam a realimentação

deste estado de forma oposta, indicando que a solução ótima para o controle da suspensão

deve ser uma solução de compromisso entre os três critérios.

Já há vinte anos, algumas pesquisas nesta área levaram a conclusões que apontam para

uma degradação de desempenho em conforto relativamente grande devido a consideração do

critério de segurança. Trabalhos, como os de Kawagoe e Iguchi (1985) e Karnopp (1986),

colocaram este assunto com um tom bastante pessimista. Eles afirmaram que, para um mesmo

nível de deflexão do pneu e da suspensão comparável a de sistemas passivos, um controle de

suspensão ativo pode reduzir o valor RMS da aceleração da massa suspensa em apenas 18%.

Esta afirmação foi um tanto desapontadora, dado que uma redução de apenas 18% (que

equivale a apenas -2 dB) pode não ser percebida como uma melhora significativa do conforto

para a maioria dos motoristas e ocupantes de veículos.

Contudo, dado que as conclusões destes trabalhos foram alcançadas baseadas apenas

num ponto singular de otimização (apenas um conjunto de pesos 1r e 2r foi utilizado), seria

interessante verificar em que extensão a conclusão acima pode ser generalizada. Esta proposta

se concretizou nos estudos de Hrovat (1988), onde a otimização foi desenvolvida para uma

229

faixa de valores de 1r e 2r com significância prática. O trabalho de Hrovat (op. cit.)

corroborou os resultados de Kawagoe e Iguchi (op. cit.), porém mostrou uma visão mais

ampla do assunto e indicou novas direções para o desenvolvimento de sistemas ativos de

suspensão.

Em síntese, foi mostrado que uma das possibilidades de melhoria seria a adoção de

sistemas adaptativos, visto que a necessidade de se manter níveis de deflexão de pneus e

suspensão equivalentes ao de sistemas passivos ocorre principalmente quando o veículo está

em manobras (por exemplo, curvas, frenagens, mudanças de pista, etc.). Dessa forma, em

situações em que o veículo se encontra em velocidade constante e em linha reta, podem-se

adotar critérios mais relaxados para as deflexões, principalmente a dos pneus, e assim se obter

melhorias mais significativas no desempenho da aceleração RMS da massa suspensa. O

controle adaptativo monitora outros estados de veículo, identificando se ele está realizando

manobras ou está trafegando em linha reta e velocidade constante, e assim ajusta os ganhos do

controlador conforme a situação.

Outra possibilidade é a adoção de absorvedores dinâmicos junto à massa das rodas,

sintonizados para se reduzir a amplitude de sua movimentação, e assim permitir o

relaxamento do critério de deflexão dos pneus, sem a perda do desempenho em segurança.

No caso dos sistemas de suspensão semi-ativos, a redução do amortecimento dos

movimentos da massa não-suspensa ocorre em menor intensidade, uma vez que os atuadores

semi-ativos apenas dissipam a energia do sistema. Neste caso, portanto, é possível relaxar em

maior grau o critério de segurança.

2.4.4 REFERÊNCIA PARA COMPARAÇÃO DE DESEMPENHO

Os trabalhos sobre sistemas ativos ou semi-ativos de suspensão em geral usam sistemas

passivos lineares como referência para comprovar a sua melhoria no desempenho em

conforto, como é o caso de Elbeheiry e Karnopp (1996), Hać et al. (1996b), Rao e Prahlad

(1997), Guo et al. (2004), e Stutz e Rochinha (2005), por exemplo. No entanto, na prática,

nenhum veículo utiliza elementos puramente lineares nos sistemas passivos de suspensão.

Como foi apresentado na seção 2.1.2, a utilização de amortecedores e molas não lineares pode

melhorar muito o desempenho de um sistema passivo. Por esta razão, outros trabalhos, como

o de Motta e Zampieri (2005), enfatizam a importância das não-linearidades dos sistemas

230

convencionais passivos, utilizando estes sistemas passivos como referência para verificação

de resultados satisfatórios de sistemas semi-ativos de suspensão.

Enquanto é comum se obterem ganhos em relação a um sistema passivo linear, suplantar

o desempenho de sistemas passivos não-lineares com o uso de sistemas semi-ativo não é uma

tarefa tão simples. Isto ocorre fundamentalmente por dois motivos: primeiro, porque na

utilização de sistemas semi-ativos há uma perda de características importantes do amortecedor

passivo não-linear, que não são substituídas pelo atuador semi-ativo; e segundo, porque o

atuador semi-ativo apresenta atrasos e efeitos de histerese, como é o caso dos atuadores

magneto-reológicos, que contribuem para a deterioração do conforto.

2.4.5 TIPOS DE SENSORES PARA SISTEMAS MECÂNICOS

A melhor situação para um projeto de controlador por realimentação de estados é que

todos os estados pudessem ser medidos através de sensores. Entretanto o custo do sistema de

controle aumenta muito com a adição de sensores. Além disso, sensores também são fontes de

geração de erros, devido a ruídos de medida, ou por causa das quantizações do sinal resultante

das conversões analógicas para digital dos sinais medidos, ou ainda pela adição de um viés

contínuo no sinal (“nível DC”), que podem ser influenciados por variações de temperatura.

Outra restrição é que pode haver estados cuja medição é tecnicamente difícil de ser realizada,

como a variação da distância entre o centro da roda e o ponto de contato entre pneu e solo, por

exemplo, no caso de um sistema de suspensão.

Para o sensoriamento de movimentos em sistemas mecânicos, os sensores mais comuns

são os acelerômetros, e os sensores de deslocamento. Entre estes dois sensores, os

acelerômetros são mais fáceis de instalar e mais robustos.

Os acelerômetros, apesar de serem bastante utilizados em análise de vibração em

estruturas ou mecanismos, são em geral identificados como sensores caros, devido ao alto

custo da sua versão baseada em cristais piezelétricos de alta precisão. Por outro lado,

atualmente estão sendo muito disseminados os sensores chamados de “micro-machined

accelerometers - MMA”, que são acelerômetros inseridos dentro de circuitos integrados

eletrônicos, também chamados de MEMS (“Micro-Electro-Mechanical Systems”), conforme

apresentado na figura 2.13. Estes sensores podem custar até dez vezes menos que um

acelerômetro piezelétrico convencional (~US$15 cada, cotado em 2008), e apesar da sua

banda de freqüência mais restrita, os acelerômetros MEMS apresentam uma resposta rápida o

231

suficiente para a maioria das aplicações em sistemas mecânicos, e em particular nos sistemas

de suspensão veiculares. Sua maior aplicação no setor automobilístico atualmente é a medição

de aceleração para acionamento de “air-bags”, o que comprova a sua grande confiabilidade.

Figura 2.13 – Acelerômetro baseado na tecnologia MEMS.

Com relação aos sensores de deslocamento, os mais comuns são os encoders lineares ou

rotacionais. Há encoders baseados em princípios ópticos e magnéticos, e em ambos não

ocorre contato físico entre as partes que apresentam movimento relativo entre si, o que dá

características de alta durabilidade e robustez a este sensor. Há outros sensores de medida de

deslocamento linear, chamados de magneto-indutivos15 ou magneto-estritivos16, que são

capazes de fazer medições lineares com bastante precisão, e sua instalação é bem mais

simples, pois em uma das partes móveis precisa ter apenas um imã. Outra vantagem destes

sensores é que eles são menos sensíveis a pequenos movimentos perpendiculares à direção

principal de medição.

Uma opção bem mais barata para medição de deslocamento são os potenciômetros.

Estes componentes eletrônicos são em geral rotacionais e sua concepção é a de um contato

elétrico que desliza sobre uma resistência de filme de carbono ou fio, cujo movimento varia a

resistência elétrica entre seus terminais. A grande desvantagem do uso do potenciômetro para

medições de deslocamento em sistemas mecânicos é que mesmo os mais robustos deles

apresentam um desgaste muito rápido, dado que existe contato mecânico e atrito entre as

partes que apresentam movimento relativo entre si. Contudo sua simplicidade e baixo custo

podem ser muito interessantes nas fases preliminares do desenvolvimento de um sistema de

controle.

15 BALLUF, <http://www.balluff.com.br>. Acesso em: 11 jul. 2008. 16 “magnetostrictive”, Novotechnik Stiftung & Co.,<http://www.novotechnik.de>. Acesso em: 11 jul. 2008

232

Para medições de força podem ser utilizadas células de carga, contudo elas são sensores

bastante caros. Além disso, sua massa elevada pode interferir nas medições feitas em sistemas

de pequeno porte. Uma opção são os extensômetros (“strain gages”), usados para medir

deformações e que de forma indireta podem ser utilizados para medir forças, uma vez que se

conheça a relação força versus deformação no ponto onde os extensômetros sejam instalados.

Entretanto, os extensômetros são sensores pouco robustos, e sua utilização restringe-se ao

ensaio de componentes e testes de veículos em campo. Nos sistemas de suspensão veicular, as

medições diretas de força são inviáveis, principalmente porque encarecem muito o sistema,

inviabilizando-o economicamente. Como alternativa, os sinais de força precisam ser

estimados, e isto pode ser feito utilizando-se filtros de Kalman, por exemplo.

2.4.6 POSIÇÃO DOS SENSORES NO VEÍCULO

Em geral, os sistemas de controle de suspensão contam com pelo menos quatro sensores

de deslocamento entre cada roda e a carroceria. Conforme exemplo apresentado na figura

2.14, o Corvette utiliza um “encoder” angular, que é conectado ao braço de controle superior

da suspensão através de um pequeno tirante (em destaque na foto).

Figura 2.14 – Sensor de deslocamento da suspensão dianteir do Corvette (Halverson, 2003).

233

Com relação aos sensores inerciais, pode-se utilizar um único sensor próximo do centro

de massa do veículo, que seja capaz de medir a aceleração linear na direção “z” e acelerações

angulares em torno do eixo “x”, e do eixo “y” (sistema de coordenadas conforme descrito na

figura 2.15). Contudo, no caso de veículos com carroceria mais flexível, e em que o centro de

massa pode variar de posição, esta forma de sensoriamento da aceleração não é adequada,

pois pode levar a erros significativos.

Figura 2.15 – Sistema de coordenadas de referência.

Assim, a melhor forma de sensoriamento de acelerações da carroceria de uma

caminhonete é através da utilização de quatro acelerômetros posicionados sobre cada uma das

rodas. Considerando-se que as variações angulares no rolamento e na arfagem são pequenas

(menores que 6º), as acelerações verticais destes quatro sensores podem ser facilmente

transformadas num vetor contendo a aceleração vertical do centro de massa e das acelerações

angulares de rolamento e arfagem. Isto pode ser feito através de uma transformação linear.

No caso de ocorrer uma torção significativa do chassi num determinado momento, os

sensores se movimentam de forma a não estarem mais posicionado num mesmo plano.

Contudo a transformação linear aplicada age implicitamente como se traçasse um plano

médio, dando uma informação mais real da aceleração da massa suspensa do veículo como

um todo. Outro resultado da utilização dos quatro acelerômetros na carroceria é a

possibilidade de se medir a intensidade de sua torção.

234

2.4.7 AS NÃO-LINEARIDADES DOS ATUADORES

Apesar da importância da dinâmica e das não-linearidades dos atuadores SA, são poucos

os trabalhos que não as negligenciam. Entre os trabalhos que consideram estas características

dos atuadores, destacam-se: Gonçalves e Meirelles (2005), que utiliza modelos não-lineares

de atuadores hidro-pneumáticos semi-ativos; Liu et al. (2004), que apresenta uma função de

transferência para gerar o sinal de tensão elétrica de excitação do atuador concebida a partir

de um modelo fenomenológico do atuador; e Jansen e Dyke (2000), em seu estudo

comparativo de várias estratégias de controle semi-ativo, onde consideram um atraso de

primeira ordem para representar a resposta dinâmica do atuador e dos comandos eletrônicos

da malha de controle.

Hrovat (1997) enfatiza em seu trabalho a importância da consideração dos atritos secos

ou de Coulomb. Segundo ele, a presença do atrito seco nos atuadores é provavelmente a razão

principal do desempenho menor que aquele previsto pelos cálculos teóricos, pois sua

influência pode ser de até 3,3% (RMS) na aceleração da massa suspensa do veículo. Ele

também cita a importância da banda de resposta dos atuadores que deve ser superiores a 20

Hz.

Trabalhos como o de Dyke et al. (1996), Chantranuwathana e Peng (2000) e DeMan et

al. (2007) sugerem sub-malhas de controle para melhorar a resposta de força dos atuadores

semi-ativos.

2.4.8 FLEXIBILIDADE DO CHASSI DE CAMINHONETES

As caminhonetes apresentam um chassi mais flexível que os carros de passeio. Isto

ocorre porque a estrutura em monobloco dos veículos de passeio é bem mais rígida, porém

apresenta custos inviáveis para veículos maiores, tais como caminhonetes e SUVs, que

utilizam quadros em forma de escada (“ladder frames”). Apesar do quadro de chassi

proporcionar um melhor isolamento de vibrações para a carroceria, a forma de construção das

caminhonetes em que a caçamba fica separada da cabine, implica em uma menor rigidez

torcional e de flexão vertical do corpo suspenso do veículo.

Perseguim (2005) descreve alguns fatores que contribuem para que esta flexibilidade do

chassi influencie na deterioração da sensação de conforto. Entre eles podem-se citar:

235

a) o amortecimento estrutural do quadro de chassi é de apenas 1% em média;

b) os amortecedores da suspensão em geral não contribuem para a dissipação da energia

das vibrações da estrutura do chassi, porque é comum a vibração das rodas acompanhar

o movimento do chassi, de tal forma que os deslocamentos relativos entre os dois sejam

de amplitude insuficiente para gerar trabalho significativo nos amortecedores;

c) os elementos elásticos que trabalham em conjunto com o quadro de chassi, como os

coxins (de cabine e motor) e os pneus, apresentam baixos coeficientes de

amortecimento, e portanto não contribuem significativamente para a redução dos modos

de vibrar do quadro de chassi.

Para se identificar qual modo de flexão de um chassi de caminhonete é o mais

importante a ser considerado no projeto de um sistema de suspensão, foi realizado um estudo

orientativo dos modos de vibrar do quadro de chassi de uma caminhonete Ford Ranger. Para

isso, foi utilizando um modelo em CAD aproximado do quadro de chassi real, conforme a

figura 2.16.

Figura 2.16 – Desenho do chassi de uma caminhonete em CAD 3D.

A partir deste modelo em CAD foi criada uma malha de elementos finitos utilizando o

aplicativo I-DEAS versão 9.2. Nesta malha foram utilizados elementos tipo casca (“shell”)

com 24 graus de liberdade, e como resultado deste processo foi obtido uma malha com 24.347

nós e 23.840 elementos. Através da análise modal do chassi, também realizada utilizando-se

aplicativo I-DEAS, foram obtidos os seguintes modos e freqüências naturais, conforme os

eixos x, y e z descritos na figura 2.16. Estes resultados estão na tabela 2.1:

236

Tabela 2.1: Modos de vibrar e freqüências naturais aproximados do chassi.

Modo Freqüência (Hz) Descrição

1 13,0 1º modo de torção em torno do eixo X.

2 25,9 1º modo de flexão da parte traseira na direção Y.

3 26,3 1º modo de flexão do chassi na direção Z (“bending”)

Como conclusão, verificou-se que a torção em torno do eixo “x” é o modo de flexão

mais importante do chassi de caminhonetes, visto que é aquele que apresenta maiores

amplitudes e cuja freqüência natural, em torno de 13 Hz, pode se aproximar bastante das

freqüências de ressonância do sistema de suspensão (~10 Hz), quando consideradas as massas

do motor e carroceria.

Portanto, um sistema de suspensão ativo ou SA voltado para a aplicação em

caminhonetes deve levar em consideração formas de se evitar que o modo de torção de chassi

seja excitado na ação do controlador, visto que isso pode contribuir de forma significativa

para a degradação do conforto. Também se verifica que os controladores de suspensão do tipo

Skyhook agindo de forma independente em cada roda, como quatro sistemas SISO, são

incapazes de gerar ações de controle coordenadas de forma a se evitar problemas com a torção

do chassi.

2.4.9 AMORTECIMENTOS INERENTES À SUSPENSÃO

A principal função do amortecedor em suspensões convencionais passiva é dissipar a

energia cinética da massa, reduzindo a amplitude das oscilações após o veículo ter passado

por um obstáculo. Segundo Perseguim (2005), além dos amortecedores, existem também

outros componentes que dissipam energia cinética, como por exemplo: o amortecimento das

buchas das articulações de suspensão, o atrito entre os componentes, e até mesmo o

escorregamento entre pneu e pavimento que ocorre na movimentação da suspensão devido às

restrições cinemáticas impostas pela sua geometria (efeito anti-rolamento, por exemplo). Sem

a presença dos amortecedores, estes efeitos proporcionam fatores de amortecimento entre 5 e

15% para os modos de vibrar de massa suspensa.

237

No caso de suspensões com feixes de mola, como as do tipo Hotchkiss utilizadas em

caminhonetes (figura 2.17), o atrito entre as lâminas da mola é bastante significativo, e ainda

pode ser aumentado por outros fatores ao longo da vida do veículo, como o acúmulo de poeira

e lama entre as lâminas da mola. Devido a uma boa parcela de este atrito ser do tipo “seco”,

ou atrito de Coulomb, o atrito gera um efeito de histerese nas curvas de rigidez das molas

(STONE e BALL, 2004). Como conseqüência, ao se trafegar por pistas de boa qualidade, a

excitação pode não ser suficiente para vencer o atrito estático entre as lâminas, gerando um

valor elevado de rigidez efetiva da suspensão. Esse fenômeno eleva a freqüência dos modos

de vibrar de massa suspensa e deteriora o conforto.

Figura 2.17 – Suspensão com feixes de mola, tipo Hotchkiss.

No caso da utilização de sistemas semi-ativos de suspensão em caminhonetes, é

importante a consideração de todos estes fatores dissipativos intrínsecos à suspensão, pois

como os atuadores semi-ativos não introduzem energia no sistema, eles são incapazes de

eliminar os efeitos destes amortecimentos. Além disso, há de se considerar os amortecimentos

intrínsecos do próprio atuador semi-ativo, que se somam aos do sistema de suspensão do

veículo gerando um importante fator de limitação da melhoria do desempenho em conforto

através da aplicação de sistemas de suspensão semi-ativos.

Os sistemas semi-ativos de suspensão também são incapazes de eliminar o efeito de

histerese dos feixes de mola, e conseqüentemente mitigar os seus efeitos nocivos ao conforto.

238

2.4.10 RESSONÂNCIA NO EIXO TRASEIRO E SEUS EFEITOS

Eixos rígidos traseiros são bastante comuns em veículos utilitários e de carga, mesmo

em utilitários leves como as caminhonetes. Apesar de apresentar muitas desvantagens em

relação a um sistema de suspensão independente, o eixo diferencial rígido é bastante robusto e

de custo relativamente mais baixo; características importantes para esta classe de veículos.

Na década de 50, Bastow (1951 apud BASTOW, 1976) já havia descrito as principais

desvantagens do eixo rígido em relação à suspensão independente:

• O eixo rígido apresenta um pior “ride” em função da maior razão entre massa não-

suspensa e massa suspensa. Com a suspensão independente se obtém uma redução da

massa não-suspensa, pois a caixa de engrenagens do diferencial é fixa no chassi do

veículo. Além disso, as molas helicoidais ou barras de torção são mais leves que os

feixes de mola, e o conjunto de freios pode ser acoplado diretamente no diferencial

que está fixo no chassi.

• A suspensão independente elimina a transferência de força normal entre as rodas do

eixo de tração durante a aplicação de torque para acelerar o veículo.

• A suspensão com eixo rígido requer maior espaço para instalação.

• Com o eixo rígido, ao passar com um pneu por um obstáculo, ocorre uma

movimentação lateral na região de contato dos pneus com o solo, em ambos os lados

do veículo. Este comportamento é causado devido ao centro de rolamento estar

posicionado acima do eixo, gerando excitações laterais em situações como a descrita

acima. No caso de uma suspensão independente, pode-se reduzir a variação de atitude

do pneu que não passou pelo obstáculo, reduzindo a excitação lateral.

Esta última característica do eixo rígido, descrita por Bastow (op. cit.), já havia aparecido

em trabalhos mais antigos como o de Broulhiet17 (1933, apud PERSEGUIM, 2005), que

descreveu como ocorre esta variação significativa de força lateral no contato entre pneu e

solo; efeito que ele chamou de “side thrust” (arremetida lateral). Perseguim (2005) propõe

novos indicadores para avaliação do desempenho de “ride”, entre eles está o “side thrust” que

prejudica bastante a aderência dos pneus em determinadas situações, conforme ilustrado na

figura 2.18. 17 BROULHIET, G.; Independent Wheel Suspension, SAE Trasactions, vol. 28, 1933.

239

Figura 2.18 – Variação lateral na região de contato em função da excitação vertical do lado

oposto.

É possível verificar na figura 2.18 que quando uma roda sofre um deslocamento

vertical “H” devido ao choque com um obstáculo, o ponto de contato da outra roda com o

solo sofre um deslocamento lateral “D”. Quanto maior for a altura do centro de rolamento do

eixo, maior é a amplitude deste deslocamento lateral. Esse comportamento do eixo diferencial

gera excitações laterais que influenciam no conforto e na segurança do veículo.

De forma geral, este efeito é proeminente quando a pista aplica excitações com

freqüências próximas à ressonância do conjunto eixo e suspensão traseira, pois é nesta

situação em que as amplitudes de deslocamento vertical das rodas são bastante grandes. Além

disso, ele é acentuado em situações onde o sistema de tração está sendo bastante solicitado,

de forma que o torque transmitido pelo eixo cardan facilita a sua ocorrência no sentido de

rotação do cardan. Esta situação pode ocorrer, por exemplo, quando o veículo sobe uma via

em aclive acentuado.

240

2.5 COMENTÁRIOS GERAIS

A pesquisa realizada contribuiu para um melhor entendimento dos aspectos gerais e

práticos dos sistemas de suspensão “inteligentes”, bem como das implicações de sua aplicação

em veículos como as caminhonetes e SUVs.

Foi verificado que o sistema ativo de suspensão, apesar de apresentar alto custo e grande

complexidade, traz melhorias no conforto inferiores a 18% (-2 dB) quando se mantêm o

mesmo desempenho nos aspectos segurança e “rattlespace”, típicos dos sistemas passivos.

Portanto, para melhor aproveitar os benefícios destes sistemas, o caminho é a utilização de

estratégias de controle adaptativo que devem ser aplicadas no sentido de buscar melhores

desempenhos no conforto em detrimento ao desempenho nos aspecto segurança e

“rattlespace”, quando estes não se fazem tão importantes, como, por exemplo, ocorre nos

deslocamentos do veículo em linha reta e velocidades aproximadamente constantes. Ou então

melhorar o desempenho em segurança em detrimento ao aspecto conforto quando o veiculo de

encontra em manobra, como em situações de curva, mudança de pista, ou frenagens bruscas.

Os sistemas de suspensão SA, por outro lado, apresentam um custo e complexidade

mais condizentes com a aplicação automobilística, contudo, além de apresentar desempenhos

inferiores aos sistemas ativos, também apresentam deficiências importantes relacionados ao

fenômeno do “tranco”, principalmente. Critérios de projeto de sistemas de controle para a

redução do “tranco” levam necessariamente a controladores com ganhos menores do que

aqueles possíveis em sistemas ativos. Por outro lado, a deterioração do aspecto segurança por

um sistema SA é menor do que em sistemas ativos, permitindo que seja dada maior ênfase aos

critérios de conforto.

O “tranco” também pode ser reduzido trabalhando-se melhor a questão das não

linearidades dos atuadores SA, buscando-se evitar variações abruptas na força gerada pelos

atuadores. Este objetivo pode ser alcançado com a utilização de modelos fidedignos dos

atuadores, que podem ser utilizados para a estimação de suas forças, informando ao

controlador o momento mais adequado para desligamento do atuador. Estes modelos também

evitam a necessidade de sensoriamento de sinais de força, cujos sensores são caros e com

massas suficientemente altas a ponto de interferir nas medições.

É importante comparar o desempenho de sistemas ativos e SA com sistemas passivos

não-lineares, visto que as não linearidades utilizadas atualmente nestes sistemas melhoram

muito o seu desempenho.

241

A utilização de sistemas de controle MIMO em sistemas de suspensão de caminhonetes

pode ser interessante na busca por melhor coordenação das forças nos atuadores de forma a se

obter melhor controle de movimentos do corpo do veículo, e se evitar a excitação dos modos

de vibrar de torção do chassi. Estas observações levam à necessidade de se desenvolver

modelos matemáticos do veículo que considerem o veículo completo e que sejam adequados

ao projeto de controladores multivariáveis. Além disso, a utilização de controladores com

índices de desempenho quadrático tem melhores resultados em sistemas de suspensão,

conforme foi identificado na seção 2.3, e também se levando em consideração a importância

da utilização de um sistema de controle robusto, ficam claras as vantagens do uso de uma

técnica como a LQG/LTR, por exemplo, visto que ela apresenta estas duas características.

A pesquisa também revelou informações importantes sobre os tipos de sensores

adequados aos sistemas de suspensão, bem como qual a melhor forma de posicioná-los no

veículo.

Um fator altamente limitante no desempenho de um sistema SA, segundo esta pesquisa,

é a existência de amortecimento “residual” e intrínseco significativo nos elementos que

compõe um sistema de suspensão. Visto que um atuador SA poder ser comparado a uma

“válvula” que introduz ou retira amortecimento do sistema, o amortecimento residual diminui

o campo de ação de um atuador SA, limitando o ponto mínimo da sua escala de ação. Em

veículos com suspensão traseira que utiliza feixe de molas, como é o caso das caminhonetes, a

presença do atrito de Coulomb prejudica ainda mais a ação de sistemas SAs de suspensão.

Buscar melhores desempenhos para sistemas SAs aplicados a caminhonetes passa

necessariamente pela alteração estrutural de todo o sistema de suspensão, e não apenas pela

substituição dos amortecedores convencionais por atuadores, como é o escopo deste trabalho.

Sob o aspecto da segurança, verificou-se que um dos pontos mais críticos encontra-se no

comportamento de “side thrust”, que ocorre de forma mais efetiva na freqüência de

ressonância da massa não-suspensa da suspensão traseira tipo Hotchkiss. Um sistema de

suspensão que agregue mais valor a veículos com este tipo de suspensão traseira precisa

proporcionar alguma melhoria nesta característica.

Como conclusão desta pesquisa, verificou-se que o desenvolvimento de um sistema de

suspensão SA para caminhonetes encontra muitas barreiras técnicas, que envolve diferentes

aspectos do sistema e do veículo. A busca por uma solução definitiva para o desenvolvimento

de um sistema comercialmente viável e efetivo na melhoria de desempenho em relação ao

conforto e segurança de veículos utilitários leves exige um montante de recursos e tempo que

extrapolam as possibilidades de um trabalho acadêmico como este. Neste sentido, a

242

orientação deste trabalho foi voltada para se criar uma base sólida para futuras pesquisas nesta

área, que devem buscar o aprimoramento de cada subsistema, e o desenvolvimento de

sistemas adaptativos que sejam capazes de tirar o maior proveito desta tecnologia. O escopo

deste trabalho foi restrito ao desenvolvimento de um sistema SA completo, desde os atuadores

até a instalação física num veículo, propondo soluções para cada barreira técnica identificada,

porém sem a ambição de que estas soluções sejam as melhores, e ciente das limitações

intrínsecas a esta aplicação.

243

3 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

3.1 INTRODUÇÃO

Para que os objetivos deste trabalho fossem atingidos, dois desenvolvimentos teóricos

foram necessários. Primeiramente foi necessário se desenvolver um modelo matemático do

veículo que atendesse os requisitos necessários para o projeto de um controlador robusto para

uma caminhonete, e que fosse baseado em requisitos definidos a partir de tudo que foi

apurado na pesquisa da literatura. Em segundo lugar, para aplicação da técnica de controle

robusto LQG/LTR, foi necessário definir novos critérios de projeto para o controlador

baseados em requisitos de sistemas de suspensão SAs, e demonstrar que a técnica de projeto

LQG/LTR também pode ser aplicada a sistemas cuja matriz de transferência apresenta

funções não-estritamente próprias18. Na representação do modelo matemático do veículo em

espaço de estados, esta condição se manifesta pela existência de uma matriz D não nula,

conforme será apresentado na seção 3.3.

3.2 MODELO COMPLETO DO VEÍCULO

O desenvolvimento completo do veículo teve que partir de um conjunto de requisitos que

são descritos como segue:

• o modelo deve representar o veículo inteiro com as quatro rodas;

• as entradas de perturbação exógena devem ser modeladas como entradas de sinais de

velocidade vertical que a via aplica aos pneus quando o veículo está em movimento,

conforme o modelo de Thompson (1979);

• as entradas de controle devem ser modeladas como forças aplicadas entre as rodas e a

carroceria do veículo, na posição dos amortecedores convencionais;

• o modelo deve representar a barra anti-rolamento e o eixo diferencial traseiro do

veículo que são componentes que afetam muito o seu comportamento dinâmico e não

podem ser desprezados;

18 Esta situação que é gerada pela influência direta das entradas de controle nas saídas de aceleração vertical da carroceria do veículo.

244

• Como saídas, o modelo deve apresentar as acelerações nos quatro pontos da carroceria

sobre cada uma das rodas (relacionadas à avaliação do conforto), a distância relativa

entre cada roda e a carroceria (relacionada à avaliação da amplitude do “stroke”), e as

acelerações verticais das rodas; todos estes três conjuntos de saídas medidos

diretamente a partir de 12 sensores (8 acelerômetros e 4 potenciômetros). Além disso, o

modelo deve apresentar também quatro saídas referentes aos deslocamentos relativos

entre o centro das rodas e os seus respectivos pontos de contato do pneu com o solo,

que apesar de não serem medidas diretamente, estão relacionadas à avaliação da

segurança, ou aderência dos pneus ao pavimento;

• O modelo deve descrever a ação coordenada dos quatro atuadores sobre os modos de

movimentação de corpo rígido da massa suspensa e do modo de torção da carroceria,

de forma que cada um dos modos possa ser controlado separadamente por ações

coordenadas de forças nos atuadores.

Para atender a todos estes requisitos foi proposto um modelo físico com sete graus de

liberdade, ilustrado na figura 3.1.

Figura 3.1 – Modelo físico do veículo com sete graus de liberdade.

3.2.1 MODELO MATEMÁTICO

Conforme a figura 3.1, definem-se as variáveis )(01 tz e )(12 tz como vetores contendo os

quatro deslocamentos relativos entre o solo e o centro das rodas do veículo, e entre cada roda

245

e os quatro pontos na carroceria do veículo onde cada suspensão está conectada. Da mesma

forma )(01 tz& e )(12 tz& são respectivamente as velocidades relativas. Também há )(0 tz& , que é o

vetor das velocidades verticais que as irregularidades do solo aplicam a cada roda quando o

veículo está em movimento, e )(1 tz& é um vetor de velocidades verticais de cada uma das rodas

frontais, a velocidade vertical do centro de massa do eixo diferencial traseiro, e também a sua

velocidade angular.

As variáveis que descrevem a posição do corpo rígido do veículo são )(tzCG, )(tϕ e )(tθ ,

para movimentos: vertical, arfagem e rolamento, respectivamente, conforme a figura 3.2. E

assim define-se o vetor [ ]T

CG tttzt )()()()( θϕ=ξ .

Figura 3.2 – Detalhe do modelo físico mostrando os movimentos da carroceria.

As forças que o sistema de suspensão aplica ao corpo suspenso do veículo são

representadas na equação (3.1):

)()()( 121212122 ttt zCzKF &+= (3.1)

Nesta equação, 12K representa os coeficientes de rigidez das molas e a rigidez da barra anti-

rolamento:

+−

−+

=

r

r

arfar

ararf

k

k

kkk

kkk

000

000

00

00

12K (3.2)

246

e ),,,(12 rrff ccccdiag=C representa os coeficientes de amortecimento. O índice “f”

significa “front” ou frente, e o índice “r” significa “rear” ou traseira. A aproximação do

comportamento dos amortecedores e das molas por relações lineares constitui a primeira

simplificação do modelo.

A força resultante nas rodas está representada na equação (3.3):

)()()()()( 0011101010121 ttttt zCzLCzKFF && +−+−= (3.3)

onde ),,,(01 tttt kkkkdiag=K representa a rigidez em cada uma dos quatro pneus, e

),,,(01 tttt ccccdiag=C representa os seus respectivos coeficientes de amortecimento (o

índice “t” significa “tire” ou pneu). Os pneus também são elementos de comportamento

bastante não-linear, sendo que a sua aproximação por relações lineares é a segunda

simplificação importante do modelo. A matriz 1L é a transformação linear que relaciona o

vetor )(1 tz& às quatro velocidades verticais das rodas, conforme abaixo:

=

se

se

d

d

100

100

0010

0001

1L (3.4)

onde o parâmetro dse representa o comprimento do semi-eixo do eixo diferencial.

Assim a dinâmica do veículo pode ser escrita por duas equações matriciais, conforme

segue:

)()( 1111 tt T FLzM ⋅=&& (3.5)

)()( 222 tt T FLξM ⋅=&& (3.6)

onde ),,( 22 θϕ JJmdiag=M corresponde à matriz de inércia composta pela massa e pelos

momentos de inércia de rotação do corpo rígido que representa a massa suspensa do veículo,

),,,( 33111 Jmmmdiag=M é a matriz de inércia composta pelas massas das duas rodas

247

dianteiras, e a massa e o momento de inércia do eixo traseiro. A matriz 2L é a transformação

linear que relaciona os deslocamentos dos movimentos de arfagem, caturro e rolamento com

os quatro deslocamentos verticais do corpo suspenso do veículo sob os quatro pontos de

conexão da suspensão, conforme mostrado a seguir:

−−

=

dl

dl

dl

dl

2

2

1

1

2

1

1

1

1

L (3.7)

As matrizes 1L e 2L já levam em conta as linearizações do modelo, que podem ser

consideradas válidas para movimentos de rotação do corpo suspenso com pequenas

amplitudes (< 6º). O parâmetro d é a distância entre o eixo longitudinal central do chassi e os

pontos onde os elementos de suspensão se conectam com o chassi. A distância entre o centro

de massa do corpo suspenso do veículo e o eixo dianteiro é dada por l1 e a distância entre o

centro de massa e o eixo traseiro é dada por l2. A soma de l1 e l2 é a distância entre eixos (lwb).

Definindo-se os distúrbios de entrada como )()( 0 tt zw &= e as variáveis de estado

conforme equação (3.8), é possível reescrever as equações (3.5) e (3.6) na forma apresentada

a seguir nas equações (3.9) e (3.10), respectivamente.

( )

=

)(

)(

)(

)(

1

12

01

t

t

t

t

t

ξ

z

z

z

x

&

& (3.8)

( ) )()( 0111 ttt wCxRF += (3.9)

( )tt xRF 22 )( = (3.10)

( )[ ]2121120112011 LCLCCKKR +−−= (3.11)

[ ]21211212442 LCLCK0R −= x (3.12)

248

Os parâmetros do modelo e suas respectivas unidades são mostrados na tabela 3.1. Ao

todo são dezessete parâmetros.

Tabela 3.1. Parâmetros do modelo do veículo.

PARÂMETRO DESCRIÇÃO UNIDADE

m1 Massa da roda (massa não-suspensa) kg m2 Massa do corpo do veículo (massa suspensa) kg m3 Massa do eixo diferencial (massa não-suspensa) kg J3 Momento de inércia do eixo diferencial em relação ao eixo ‘x’ kg.m2 Jθ Momento de inércia da massa do veículo no movimento de rolamento kg.m2 Jϕ Momento de inércia da massa do veículo no movimento de arfagem kg.m2 kt Coeficiente de rigidez dos pneus N/m kf Coeficiente de rigidez das molas dianteiras N/m kr Coeficiente de rigidez das molas traseiras N/m kar Coeficiente de rigidez da barra anti-rolamento N/m cf Coeficiente de amortecimento dos amortecedores dianteiros N.s/m cr Coeficiente de amortecimento dos amortecedores traseiros N.s/m ct Coeficiente de amortecimento dos pneus N.s/m l1 Distância do eixo dianteiro ao centro de massa m l2 Distância do eixo traseiro ao centro de massa m d Distância do centro de massa à lateral do veículo m

dse Comprimento do semi-eixo na traseira m

3.2.2 DEFINIÇÃO DAS ENTRADAS DE CONTROLE

A definição das entradas de controle está relacionada com a forma que os atuadores de

força serão montados fisicamente no veículo. Partindo-se do princípio que os atuadores SA

substituem os amortecedores convencionais, então as entradas de controle do sistema são

necessariamente as forças relativas que estes dispositivos geram entre os seus terminais.

Entretanto, como foi descrito na revisão da literatura, os sistemas de suspensão

apresentam outros amortecimentos além daqueles proporcionados pelos amortecedores

convencionais. No modelo simplificado do veículo, todos estes amortecimentos são

concentrados no componente chamado amortecedor. Na prática, os atuadores substituem os

amortecedores convencionais, contudo para não se perder a representação descrita acima, há a

necessidade de se manter um elemento amortecedor no modelo, contendo apenas os

amortecimentos residuais da suspensão e do próprio atuador, seja ele ativo ou SA. Esta

situação está ilustrada na figura 3.3.

249

Figura 3.3 – Posição do atuador no modelo físico.

Nesta nova representação, a força de cada atuador (ui) é aplicada ao mesmo tempo nas

massas suspensa (chassi) e não-suspensas (rodas), como forças de ação e reação; isto é, se a

força na massa suspensa é positiva então haverá uma força de reação de mesma intensidade

agindo sobre a massa não-suspensa, contudo em sentido oposto.

Conforme mostrado na figura 3.3, para passar do sistema de suspensão passiva para o

ativo (ou SA) a matriz ),,,(12 rrff ccccdiag=C deverá ser substituída por

),,,(12 ararafaf ccccdiag=C , que contém apenas os coeficientes de amortecimento residuais do

sistema.

Define-se, então, um vetor u(t) de entrada composto pelas entradas de força de cada

atuador, conforme a equação (3.13). O índice ”A” refere-se a roda dianteira esquerda, “B”,

dianteira direita, “C”, traseira esquerda e “D”, traseira direita.

( )

=

)(

)(

)(

)(

tu

tu

tu

tu

t

D

C

B

A

u (3.13)

As equações (3.9) e (3.10) devem levar em conta estes sinais de entrada, passando a ser

descritas como segue:

( ) )()( 22 ttt uxRF += (3.14)

( ) )()()( 0111 tttt uwCxRF −+= (3.15)

250

3.2.3 REPRESENTAÇÃO EM ESPAÇO DE ESTADOS

Para utilização do modelo na síntese do controlador é preciso que este esteja na

representação no espaço de estados. Esta forma de representação está descrita nas equações

que se seguem.

( ) ( ) )()( 21 tttt uBwBAxx ++=& (3.16)

( ) ( ) )()( 121111 tttt uDwDxCy ++= (3.17)

( ) ( ) )()( 222122 tttt uDwDxCy ++= (3.18)

( ) ( ) )()( 323133 tttt uDwDxCy ++= (3.19)

A saída )()( 011 tt zy = é o deslocamento relativo entre a pista e o centro das rodas. A

saída )(2 ty é o vetor das acelerações nos quatro pontos do corpo do veículo sobre cada roda;

)()( 123 tt zy = , que é o vetor dos deslocamentos relativos entre as rodas e a carroceria. Como

y1(t) não pode ser medido facilmente, este sinal não foi utilizado na realimentação do sistema;

porém foi considerado para mostrar o comportamento do pneu sob as ações do controlador

comparado com a situação no sistema passivo. Por outro lado, os demais são facilmente

medidos por acelerômetros e sensores de deslocamento.

Definem-se as matrizes como segue:

⋅⋅

⋅⋅

=

221

2

111

1

214444

3414444

RLM

RLM

LL00

0L00

A

T

T

xx

xxx

(3.20)

⋅⋅=

43

0111

1

44

44

1

x

T

x

x

0

CLM

0

I

B (3.21)

251

⋅−=

T

T

x

x

21

2

11

1

44

44

2

LM

LM

0

0

B (3.22)

[ ]114441 xx 0IC = (3.23)

[ ]221

222 RLMLC ⋅⋅⋅= − T (3.24)

[ ]4x74x44x43 0I0C = (3.25)

443212312111 x0DDDDD ===== (3.26)

[ ]T

21

2222 LMLD ⋅⋅= − (3.27)

A figura 3.4 apresenta uma representação do modelo no domínio da freqüência, onde as

matrizes aparecem em diagramas de bloco, como segue:

Figura 3.4 - Diagrama de Blocos do sistema do modelo do veículo.

As matrizes C e D que aparecem no diagrama de blocos da figura 3.4 consolidam o

conjunto das saídas medidas por sensores, e são descritas conforme segue:

=

3

2

C

CC (3.28)

=

=

44

22

32

22

x0

D

D

DD (3.29)

252

3.2.4 SEPARAÇÃO DOS MODOS DE CORPO RÍGIDO E TORÇÃO

Como o veículo utiliza quatro atuadores, existe a possibilidade de que eles excitem o

modo de torção do chassi numa ação em conjunto. Isto ocorre quando o par de atuadores da

dianteira aplica um conjugado de força oposto ao par de atuadores da traseira. Contudo, esta

combinação de força dos atuadores não é muito efetiva para se atingir os objetivos do sistema,

visto que o controle dos movimento da massa suspensa são mais influenciados pelos esforços

coordenados dos atuadores nos modos de rolamento, arfagem e movimento vertical do centro

de massa.

A ação em conjunto dos atuadores no modo de torção seria interessante se o modelo

considerasse o veículo como um corpo flexível, e se os atuadores tivessem uma banda de

resposta em freqüência suficientemente larga para atuar nas freqüências naturais de vibração

da estrutura do chassi do veículo. Como esta não é a forma mais eficaz de se controlar a

vibração da estrutura do veículo, e como os atuadores dificilmente atingem um banda de

resposta em freqüência tão larga, optou-se por não se considerar este tipo de controle no

escopo deste trabalho.

O fato de se considerar as forças dos atuadores como esforços coordendados segundo

um certo modo de movimentação sugere que é mais útil se pensar nos atuadores como um

grupo de forças (ou um vetor de forças) do que como unidades de força individuais.

O quadro da tabela 3.2 apresenta uma relação de como é a contribuição de cada atuador

individual nos grupo de forças coordenadas indetificado. O sinal “+” indica força vertical para

cima, e o sinal “-“ indica força vertical para baixo, com relação às forças que os atuadores

aplicam ao chassi. Este mesmo quadro com a inversão de todos os sinais também é

verdadeiro.

Tabela 3.2 – Ações coordenadas das forças dos quatro atuadores.

Ações coordenadas

Atuador DE Atuador DD Atuador TE Atuador TD

Vertical + + + + Rolamento + - + - Arfagem - - + + Torção - + + -

253

Pode-se criar um paralelo entre os valores de força dos atuadores e um espaço de

coordenadas com quatro dimensões. Neste caso, a relação entre as forças individuais e as

forças coordenadas é dada por uma simples transformação linear. A matriz ortogonal a seguir

pode ser utilizada para esta relação de transformação:

−−−

⋅=

1111

1111

1111

1111

2

1S (3.30)

Aplicando-se esta transformação na saída do controlador pode-se fazer com este gere

apenas comandos de forças coordenadas em quatro situações: força vertical, conjugado de

rolamento, conjugado de arfagem, e conjugados de torção. Esta matriz de transformação

linear traduz os comandos de força para movimentação do corpo do veículo em intensidade de

força individual de cada atuador. Nesta nova configuração do atuador, é possível se eliminar o

modo torção apenas eliminando uma das dimensões da saída do controlador.

Da mesma forma, esta transformação linear pode ser aplicada na saída da planta (ou

entrada do controlador), pois o que foi verificado para os quatro atuadores também ocorre

com relação aos quatro acelerômetros colocados na carroceria sobre cada roda, ou ainda, com

relação aos quatro sensores de deslocamento entre as rodas e a carroceria. Neste caso, a

tranformação linear é utilizada na sua forma transposta e pode ter sua última linha eliminada.

Assim, os sinais dos sensores que estão num espaço quadridimencional são projetados para

um espaço de três dimensões, ou seja, TS é uma base de um subespaço vetorial nas

dimensões: vertical, rolamento e arfagem.

A transformação S deve ser aplicada da seguinte forma:

44

44#

44

44#

2#2

SDS0

0SD

CS0

0SC

SBB

⋅⋅

=

=

⋅=

T

x

x

T

T

x

x

T

(3.31)

254

Eliminando se a i-ésima coluna da matriz #2B , a i-ésima linha da matriz #C , e as i-

ésima coluna e i-ésima linha da matriz #D pode-se fazer com que um determinado modo não

seja excitado na entrada e nem percebido na saída do modelo. Neste caso a i-ésima coluna da

matriz S também deve ser eliminada para manter o casamento das dimensões para

multiplicação das matrizes.

Para fins de projeto de controle, a nova configuração da planta pode ser descrita

conforme a figura 3.5, como segue:

Figura 3.5 - Diagrama de Blocos do modelo com separação dos modos de movimentação do

corpo rígido e torção da massa suspensa do veículo.

É claro que na apresentação final do sistema, a matriz S e sua transposta farão parte do

próprio controlador.

Conforme foi apresentado na seção 2.4.8, a flexibilidade em torção do chassi de

caminhonetes é um complicador no projeto de um sistema de controle para a suspensão. Nem

sempre o atuador é rápido o suficiente para controlar estas vibrações, pelo contrário, os

atuadores numa ação conjunta, mas não coordenada, eventualmente são capazes de excitar as

vibrações de torção do chassi em sua tarefa de conter os movimentos de corpo rígido.

A excitação do modo de torção pelo controlador pode resultar na geração de vibrações

que irão contribuir para a degradação da sensação de conforto, e por isso é uma situação que

deve ser evitada. Além disso, considerar este modo de vibrar no modelo leva a problemas

como o aumento da competição entre os critérios de conforto e segurança. Portanto, a escolha

por eliminar o modo de torção, com relação tanto aos atuadores como aos sensores, é um fator

a ser considerado na síntese de um controlador para o sistema de suspensão de veículos com

quatro rodas.

255

3.3 APERFEIÇOAMENTO DA TÉCNICA LQG/LTR

Da mesma forma que o desenvolvimento do modelo do veículo, a síntese do controlador

partiu de uma série de requisitos identificados através da pesquisa, os quais são descritos a

seguir:

• o controlador deve incorporar os conceitos de estabilidade robusta e desempenho

robusto, ou seja, deve ser realizado de tal forma a manter a estabilidade e o

desempenho, mesmo sob condições adversas;

• o controlador deve ser multivariável para possibilitar o controle de atitude do veículo

de forma global, ao invés da utilização de quatro controladores independentes,

permitindo assim uma atuação mais eficiente nos movimentos de rolamento e

arfagem;

• o índice de desempenho do controlador deve ser baseado na norma 2;

• os ruídos de medida devem ser atenuados (pelo menos -20dB) pelo controlador;

• a malha aberta deve apresentar um ganho restrito na faixa de freqüência de ressonância

da massa suspensa do veículo, para se reduzir o efeito de “tranco” causado pela

defasagem excessiva entre a velocidade vertical da massa suspensa e a velocidade

relativa entre roda e carroceria;

• por se tratar de um sistema de suspensão, o ganho do controlador deve ser baixo em

baixas freqüências (freqüências abaixo de 0,5 Hz) para se evitar que ocorra saturação

das saídas do controlador com excitações quase constantes, como ocorre quando o

veículo está se movendo em aclives ou declives, por exemplo;

• o controlador deve promover a atenuação de vibrações da massa suspensa na faixa de

freqüência entre 1 e 5 Hz;

• a Matriz de Funções de Transferência (MFT) do controlador não pode apresentar pólos

na origem, pois podem haver sinais dos sensores com média diferente de zero, o que

levaria a uma saturação da saída do controlador se ocorresse a integração destes sinais;

• a malha aberta deve ter restrição de ganho em freqüências entre 9 e 12 Hz, onde ocorre

a ressonância do movimento vertical das rodas (“wheel hop”). Ganhos restritos nesta

faixa, apesar de degradar um pouco o conforto, evitam que a oscilação vertical das

rodas seja muito intensa prejudicando o seu contato com o solo. Esta característica do

controlador está ligada com o desempenho em segurança.

256

Entre as diversas técnicas de controle robusto existentes, verificou-se que a técnica

LQG/LTR introduzida por Doyle e Stein (1981) tem condições de atender vários dos

requisitos acima citados. Pela sua forma de projeto, ela proporciona a introdução

relativamente simples de outras condições de projeto que permitem o atendimento a todos

estes requisitos listados.

A técnica LQG/LTR apresenta as seguintes características mais importantes, conforme

Cruz (1996):

• a robustez do controlador em face de uma ampla classe de erros de modelagem é

garantida pelo procedimento;

• a técnica foi concebida para aplicação a sistemas multivariáveis;

• procedimento de projeto é de natureza sistemática;

• a metodologia se baseia numa abordagem freqüencial, aplicando-se assim a sistemas

lineares e invariantes no tempo.

• número de parâmetros de projeto é relativamente pequeno;

• existe software de apoio ao projeto disponível comercialmente.

Além disso, esta técnica utiliza um índice de desempenho quadrático para determinação

do ganho do controlador, o que leva a resultados menos conservadores do que os da

técnica ∞H . A síntese consiste no ajuste de parâmetros de projeto para que os valores

singulares da MFT se enquadrem entre barreiras de desempenho e estabilidade. O

atendimento a requisitos adicionais ao projeto convencional pode ser obtido simplesmente

pela introdução de barreiras adicionais, conforme será descrito na seção 3.3.2. A seguir

apresenta-se uma breve introdução sobre a forma convencional da técnica LQG/LTR.

3.3.1 FORMA CONVENCIONAL DA TÉCNICA LQG/LTR

Os instrumentos mais importantes utilizados para o desenvolvimento da metodologia

LQG/LTR são o Regulador Linear Quadrático (RLQ) e o Filtro de Kalman (FK), de onde se

justifica a parte “LQG” (Linear Quadrático Gaussiano) da sigla que a identifica (CRUZ, op.

cit.). No entanto, tais ferramentas são consideradas de um ponto de vista não ortodoxo na

aplicação desta técnica, ou seja, elas não são interpretadas da forma usual em controle ótimo

estocástico, mas utilizadas em razão de algumas de suas propriedades.

257

Para se conseguir esta condição de forma sistemática, esta técnica utiliza a Identidade de

Kalman e o procedimento de recuperação da matriz de transferência de malha (LTR – “Loop

Transfer Recovery”). Devido à aplicação destes procedimentos surgem limitações da técnica

LQG/LTR, que são:

1. o sistema (planta) descrito no espaço de estados deve ser controlável e observável, ou

no mínimo, estabilizável e detectável (ou seja, as partes não controláveis e/ou não

observáveis devem ser estáveis); e

2. os zeros de transmissão do sistema (planta) devem estar localizados no semi-plano

esquerdo (SPE) aberto do plano cartesiano dos números complexos, ou seja, a parte

real destes zeros deve ser negativa e não nula19.

Com relação à robustez de desempenho, esta técnica considera os seguintes objetivos a

serem atendidos pelo sistema real (vide figura 3.6):

a) acompanhamento de sinais de referência, R(s);

b) rejeição de perturbações externas, D(s);

c) insensibilidade a variações na planta, )(sG∂ ;

d) rejeição do erro e ruídos de medida, N(s).

Figura 3.6 - Diagrama de Blocos do sistema de controle em malha fechada.

A partir do diagrama da figura 3.6 podem ser extraídas as seguintes igualdades:

19 Os zeros de transmissão com parte real positiva não são tolerados no LQG/LTR devido ao procedimento de síntese do controlador buscar a uma inversão da planta, o que não pode ocorrer na presença destes zeros. Vide Kwakernaak e Sivan (1972b) para uma explicação mais aprofundada.

258

[ ]( )[ ]( )[ ]( ) )()()()()(

)()()(

)()()()()()(

1

1

1

sNssss

sDss

sRsssssY

⋅+−

−⋅++

+⋅+=

HGHGI

HGI

HGHGI

(3.32)

[ ]( )[ ]( )[ ]( ) )()()(

)()()(

)()()()(

1

1

1

sNss

sDss

sRsssE

⋅+−

−⋅+−

−⋅+=

HGI

HGI

HGI

(3.33)

Analisando-se as equações (3.32) e (3.33) é possível gerar medidas objetivas para cada

um dos requisitos de desempenho:

• Acompanhamento do sinal referência

( ) ( )R

mR jjjjjR

jE

αωωσαωω

ω

ω 1)()()()(

)(

)( 1≥+⇒≤+≤

− HGIHGI (3.34)

onde Rα é definido para freqüências de sinais de interesse (baixas em geral).

• Rejeição à perturbações

( ) ( )D

mD jjjjjD

jY

αωωσαωω

ω

ω 1)()()()(

)(

)( 1≥+⇒≤+≤

− HGIHGI (3.35)

onde Dα é definido para freqüências de sinais de interesse (baixas em geral).

• Insensibilidade a variações da planta

( ) ( )∂

−≥+⇒≤+≤

⋅∂

αωωσαωω

1)()()()(

/ 1

1jjjj

YYm HGIHGI

GG (3.36)

onde ∂α é definido para freqüências de sinais de interesse (baixas em geral).

• Rejeição ao erro e ruído de medida

( ) ( ) 1)()(1)(

)( 1<<≤⇒<<⋅⋅⋅+≤

NM jjjN

jYαωωσ

ω

ωHGHGHGI (3.37)

onde Nα é definido para freqüências altas, acima da freqüência de corte.

Estas medidas de desempenho podem ser utilizadas como barreiras de projeto. As

referências ∂ααα e , DR podem ser agrupadas numa única barreira )(ωp , de tal forma que:

=

∂αααω

1,

1,

1max)(

DR

p (3.38)

259

Com relação à estabilidade, o controlador deve ser tal que toda uma classe de sistemas

“reais” bem definidos resulte estável. A representação desta classe de sistemas “reais” é feita

a partir da adoção de uma classe de incertezas aditivas, denominadas ∆G(s), que é adicionado

à MFT da planta nominal, ou seja, ao próprio modelo da planta. Esta nova representação

acrescentada ao sistema de controle em malha fechada está descrita na figura 3.7.

Figura 3.7 - Diagrama de Blocos do sistema de controle em malha fechada.

A partir da incerteza aditiva é possível definir uma MFT do erro de modelagem, que

pode ser entendida como a diferença proporcional entre a planta real e o modelo, também

chamada de planta nominal, )(sNG . A MFT do erro de modelagem é definida como segue:

( ) )()()()( ssssεM

1NN GGG −⋅−= (3.39)

Também se pode definir uma função escalar )(ωMe , tal que:

[ ])()( ωεσω je MMM ≥ (3.40)

Esta função )(ωMe é útil na simplificação do procedimento de projeto do controlador. A

partir da aplicação do critério de Nyquist multivariável chega-se ao seguinte resultado para a

condição de robustez da estabilidade:

( )[ ] ωω

σ ∀<+⋅− ,

)(

1)()()()( 1

M

Me

ssss HGIHG NN (3.41)

260

O reflexo da condição de robustez de estabilidade na robustez de desempenho ocorre

através da consideração da função )(ωMe nas barreiras de desempenho e rejeição do erro e

ruído de medida, de forma que:

( ) ( ) o , )(1

)()()()()( ωω

ω

ωωωσωωσ ≤∀

−≥≥+

M

mme

pjjjj HGHGI NN (3.42)

( ) N , )(1

)()( ωωω

αωωσ ≥∀

+≤

M

N

Me

jj HG N (3.43)

Repara-se que tanto a equação (3.42) como a equação (3.43) representam uma

comparação da resposta em freqüência em malha aberta com referências de desempenho e

estabilidade robustos. A equação (3.42) corresponde às barreiras de desempenho, que se

aplicam à faixa de freqüência relativamente baixa, onde oω é a maior freqüência de interesse

para o controle. Por outro lado, a equação (3.43) corresponde à barreira de estabilidade

robusta e rejeição aos ruídos e erros de medida dos sensores, onde Nω é a uma freqüência um

pouco acima da freqüência de corte do sistema, em que o erro de modelagem já passa a ser

significativo, e acima do qual ocorre a maior intensidade dos erros e ruídos de medida.

O projeto de um controlador robusto, portanto, é feito através do ajuste da matriz função

de transferência (MFT) em malha aberta do sistema nominal entre as barreiras de robustez do

desempenho e robustez da estabilidade, conforme pode ser observado na figura 3.8. No caso

de sistemas multivariáveis, o diagrama da razão de amplitude de Bode da MFT é feita a partir

dos gráficos gerados pelas curvas dos valores singulares máximo ( maxσ ou Mσ ) e mínimo

( minσ ou mσ ) da MFT, em função de ω.

261

Figura 3.8 - Diagrama de Bode para estabilidade e desempenho robustos.

Para isso, a técnica LQG/LTR apresenta um procedimento relativamente simples e

com poucos parâmetros.

Apesar de ser uma técnica desenvolvida no domínio da freqüência, ela parte da

especificação do sistema em espaço de estados, como apresentado a seguir:

=

=+=

)()(

)0( ),()()( 0

tt

ttt

Cxy

xxBuAxx& (3.44)

E, portanto, no domínio da freqüência tem-se:

( ) 0 ),()( 01

=⋅⋅−⋅=− xBAIC sUssY (3.45)

O procedimento de projeto compõe-se das seguintes etapas:

i. modelagem matemática da dinâmica da planta;

ii. avaliação do erro de modelagem;

iii. mudança de escala das variáveis de entrada e/ou saída quando necessário;

iv. obtenção das barreiras de desempenho e estabilidade a partir das especificações do

sistema e do erro de modelagem;

262

v. inclusão de integradores ou outros tipos de compensadores na entrada da planta,

quando necessário;

vi. escolher os parâmetros µ e L de maneira que os valores singulares

( )

− LAIC 11si

µσ (3.46)

obedeçam às barreiras de desempenho e estabilidade;

vii. resolver a equação algébrica de Riccati (EAR)

01

=−++ oooo CPC'PLL'A'PAPµ

(3.47)

para calcular a matriz de ganho do observador de estados

'1

CPK ooµ

= (3.48)

viii. Dado: ( ) oKF KAICG 1)( −−= ωω jj (3.49)

verificar se os seus valores singulares continuam a respeitar as barreiras como

resultado da Identidade de Kalman;

ix. resolver a EAR, escolhendo para ρ um valor pequeno (< 10-3)

0'1

' =+−−− cccc PBBPCC'PAAPρ

(3.50)

Para calcular a matriz de ganho do controlador

cc PB'Kρ

1= (3.51)

x. calcular a matriz de transferência do controlador

oo KCKBKAIKH 1)()( −++−= cc ss (3.52)

xi. verificar se os valores singulares de )()( ωω jj HG N obedecem às barreiras e tendem a

se aproximar de )( ωjKFG , o que corresponde ao processo de recuperação da matriz

de transferência (LTR);

xii. caso )()( ωω jj HG N ainda não se enquadre entre as barreiras, deve-se voltar à etapa

ix, e recalcular a matriz de ganho do controlador a partir de valores menores para ρ .

Assim se obtém um controlador robusto H(s) capaz de atender a todos os requisitos de

robustez de desempenho e estabilidade. Uma apresentação mais completa da técnica

LQG/LTR é encontrada em Cruz (1996).

263

3.3.2 TÉCNICA LQG/LTR ADAPTADA AO CONTROLE SA

A aplicação da técnica LQG/LTR no projeto de controladores robustos aplicados em

sistemas de suspensão veicular SA requer uma série de adaptações, além de algum

desenvolvimento teórico. A seguir são apresentadas as propostas para adaptação desta técnica,

bem como é mostrada a necessidade de um desenvolvimento teórico para demonstração da

propriedade de recuperação da matriz de transferência em sistemas não estritamente próprios,

que será feita nas seções subseqüentes.

Por se tratar da síntese de um sistema de controle SA, é importante, a princípio, definir

qual a estratégia de trabalho do sistema com relação aos atuadores SA. A estratégia escolhida

neste trabalho foi similar àquele utilizada no controle “clipped optimal”, ou seja, projeta-se o

controlador como se o sistema fosse ativo e “grampeia-se” o sinal do atuador SA nos

momentos em que o controle solicita uma força ativa. A diferença é que ao invés de um

projeto de controle ótimo, será empregada a técnica LQG/LTR com algumas adaptações.

Figura 3.9 - Diagrama de blocos do sistema ativo com o controlador.

Antes de se iniciar os procedimentos de projeto do LQG/LTR, o primeiro passo é

descrever o diagrama de blocos do sistema completo. A figura 3.9 apresenta o diagrama do

sistema em malha fechada, tomando como ponto de partida o diagrama de blocos do modelo

do veículo da figura 3.5.

Na prática, as matrizes S e ST são implementadas dentro do controlador. Além disso, o

sinal de perturbação )(sD precisa ser representado na saída da planta. Por isso o diagrama foi

redesenhado na forma apresentada na figura 3.10:

264

Figura 3.10 – Descrição do sistema com o efeito da perturbação na saída da planta..

A partir da figura 3.10 pode-se verificar que a entrada de referência )(sR não é mais

considerada, pois, para o sistema de suspensão, o controle funciona como um regulador,

evitando que as perturbações introduzidas pelas irregularidades da pista gerem reflexos nas

saídas.

Uma vez definido o modelo, suas entradas e saídas, faz-se necessário a verificação da

adequação deste sistema às limitações da técnica LQG/LTR:

• o sistema de suspensão (planta) descrito no espaço de estados é no mínimo

estabilizável e detectável, ou seja, que os pólos que não são observáveis e/ou

controláveis são em geral estáveis, visto que o atrito está sempre presente nestes

sistemas;

• os zeros de transmissão do sistema (planta), no caso do modelo completo de um

veículo, em geral estão localizados no semi-plano esquerdo (SPE) fechado, ou seja,

podem existir zeros sobre o eixo imaginários do plano cartesiano dos números

complexos; portanto, caso existam zeros de transmissão com parte real nula, o

requisito não é atendido.

A presença de zeros de transmissão sobre o eixo imaginário acaba ocorrendo em

sistemas de suspensão principalmente quando as saídas são sinais de aceleração da carroceria.

Isto é um fator limitante para a técnica LQG/LTR, pois o seu procedimento de projeto leva o

controlador a apresentar pólos muito próximos destes zeros; e se estes zeros estiverem já

próximos do semi-plano direito (SPD), as margens de ganho e de fase do sistema tendem a ser

265

muito baixas, resultando em baixa robustez. Além disso, o procedimento de recuperação pode

não ser viável. Para se evitar esta situação podem ser consideradas as seguintes ações:

1. Considerar outras saídas além dos sinais de aceleração da carroceria. Uma excelente

alternativa são os sinais de deslocamento relativo entre roda e carroceria;

2. Reduzir os sistemas eliminando as partes não controláveis e não observáveis;

3. Obter uma representação balanceada da planta em termos dos gramianos de

observabilidade e controlabilidade.

O passo seguinte é a definição das barreiras de robustez. Porém as barreiras de robustez

tradicionais não contemplam as novas necessidades impostas pela utilização do controlador

com atuadores SA, e nem algumas que surgem devido à aplicação em sistema de suspensão

veicular.

Pode-se afirmar que a maior adaptação da técnica LQG/LTR a esta aplicação se

encontra na introdução de novos requisitos de projeto. Esta adaptação se dá através da

consideração de novas barreiras de robustez, tanto de estabilidade quanto desempenho. Na

figura 3.11 são apresentadas seis barreiras que cobrem todo o espectro de freqüências (baixas,

médias e altas) de interesse para o projeto, as quais limitam os ganhos do sistema em malha

aberta tanto em relação aos valores máximos como em relação aos valores mínimos.

Figura 3.11 – Novas barreiras de desempenho e estabilidade.

266

A primeira barreira adicionada, ar, está associada ao requisito de desempenho de

limitação do “rattlespace”. Em sistemas de suspensão ativos é preciso limitar o ganho do

controlador em freqüências abaixo de 0,5 Hz, pois, caso contrário, as amplitudes de

deslocamento entre roda e carroceria tendem a ficar muito grandes. Isto é válido também para

sistemas SA. Como o espaço de trabalho é limitado, o movimento entre roda e carroceria

acaba por atingir suas limitações mecânicas, gerando choques entre as partes e muito

desconforto. Além disso, ganhos altos em baixa freqüência estão muitas vezes associados a

integradores, o que não é bom para sistemas cujos sinais de entrada do controlador são

oriundos de acelerômetros. Os acelerômetros podem apresentar um nível médio de sinal

diferente de zero, que se for integrado vai levar a saturação dos atuadores, sejam eles ativos

ou SA.

Outra barreira, ac, que está associada a barreira tradicional de rejeição às perturbações

da saída e a insensibilidade às variações na planta, também está relacionado ao desempenho

em conforto. Conforme apresentado na seção 2.4.2, as freqüências mais críticas com relação

ao limite de exposição, sensação de fadiga e conforto estão entre 1 e 8 Hz. Também se

encontram nesta faixa de freqüência a maior intensidade do sinal perturbações externas,

)(sD , e a maior intensidade das variações da planta devido a alterações da massa suspensa

(diferentes situações de carga de uma caminhonete, por exemplo).

Uma terceira barreira, aj, está associada a uma limitação do ganho de malha aberta

para se reduzir o “tranco” de forma indireta. Como foi visto na seção 2.4.3, ganhos muito

altos tendem a aumentar a defasagem entre a velocidade relativa entre roda e carroceria e a

velocidade vertical da carroceria. Como a força do atuador tende a ser proporcional a

velocidade vertical da carroceria – lembrar que a técnica LQG/LTR também usa a solução

RLQ para o ganho do controlador o que leva a uma solução similar ao SkyHook – uma

limitação do ganho de malha aberta, e conseqüentemente a limitação de ganho do controlador,

pode limitar os efeitos do “tranco” devido a descontinuidade do sinal de força que será

“grampeado”.

Como a característica mais importante do desempenho em segurança é a manutenção

do contato dos pneus com o solo, foi definida uma quarta barreira, as, que limita o ganho de

malha aberta para a freqüência de ressonância da massa não-suspensa (“wheel-rop”). Quando

o controlador age tentando frear os movimentos da massa suspensa nesta freqüência (entre 9 e

12 Hz), a amplitude de movimentação das rodas aumenta, fazendo com que a força de contato

267

entre pneu e solo oscile muito, reduzindo a aderência do veículo à pista. Com o ganho

limitado, este efeito tende a ser reduzido.

Para freqüências acima da ressonância da massa não suspensa, começam a ser

significativas as amplitudes de vibração da estrutura do veículo. Como estes modos de vibrar

não fazem parte do modelo, o erro de modelagem nesta faixa de freqüências cresce, e daí

surge a necessidade de uma quinta barreira, ae, que limita o ganho em malha aberta em seu

valor máximo. Definida uma função )(ωMe , conforme descrito na seção 3.3.1, esta barreira

fica determinada pela curva )(/1 ωMe , com ω entre 30 Hz e 200 Hz.

Por fim, a sexta barreira, am, tem relação com o erro de medida. Na verdade, o

conjunto das barreiras ae e am equivalem á barreira )(1 ω

α

M

N

e+. Apesar de se estar

descrevendo um sistema em tempo contínuo, a implementação real do sistema de controle se

dá por meio de um circuito eletrônico digital, e, portanto, o controlador deve ser discretizado.

Neste caso, a freqüência dos erros e ruídos de medida é igual à taxa de amostragem dos sinais

dos sensores. Sendo assim, esta barreira tem a função de restringir o ganho do controlador a

valores significativamente baixos (-30 dB, por exemplo), de forma que os ruídos e erros de

medida sejam filtrados pelo próprio controlador.

Definidas as barreiras e antes que seja dada continuidade ao procedimento de projeto,

é preciso estabelecer de forma clara a estrutura interna do controlador, que se compõe

basicamente por um filtro de Kalman e uma matriz de ganho de realimentação de estados,

conforme pode ser observado na figura 3.12.

Figura 3.12 – Diagrama de blocos da estrutura interna do controlador H(s).

268

O diagrama de blocos da figura 3.12 mostra o controlador H(s), conforme apresentado

na figura 3.10, acrescido das matrizes S e ST. Uma peculiaridade desta aplicação é que os

sensores na saída da planta são influenciados diretamente pela força dos atuadores, o que

caracteriza um sistema não-estritamente próprio, e que portanto apresenta uma matriz D não

nula. A existência desta matriz D interfere na arquitetura do controlador, conforme é

apresentado na figura 3.12, no ramo de realimentação que passa por (B - Ko D).

Esta situação sempre ocorre em sistemas cujas saídas são acelerações e as entradas são

sinais de força relacionados a uma mesma massa, visto que a relação entre força e aceleração

é uma constante que depende apenas da massa inercial do sistema em questão. Portanto,

cessados os transitórios gerados por uma excitação degrau, por exemplo, a relação entre a

entrada e a saída tende uma constante.

Uma dificuldade encontrada na técnica LQG/LTR para aplicação no controle de

suspensão, cujas forças do atuador interferem diretamente nas acelerações da saída do

sistema, é a presença desta matriz D na descrição do sistema em espaço de estados. Como o

tratamento deste problema não foi encontrado na literatura consultada, um dos objetivos deste

trabalho foi demonstrar que o procedimento de recuperação da matriz de transferência de

malha também ocorre para esta situação sob certas restrições. Esta demonstração está

apresentada nas seções a seguir.

Sob uma ótica mais simplista, pode-se dizer que seria mais fácil se considerar uma

saída )(ˆ ty de tal forma que:

)()()(ˆ ttt uDyy ⋅−= (3.53)

uma vez que u(t) é conhecido; porém isto levaria a alguns problemas como:

• o modelo é apenas uma representação limitada do veículo real, portanto a matriz D do

modelo apresenta de forma intrínseca um certo grau de incertezas;

• mesmo que o sinal de controle u(t) seja calculado, o atuador também apresenta

dinâmicas não modeladas que podem gerar alguma distorção neste sinal.

Portanto, a subtração do sinal )(tuD ⋅ do sinal medido, pode ser considerada uma

arbitrariedade incompatível com o objetivo de se obter um controlador robusto. A melhor

solução, neste caso, é fazer com que a matriz D seja considerada no projeto de controle de

forma explícita.

269

3.3.3 RLQ EM SISTEMAS NÃO-ESTRITAMENTE PRÓPRIOS

O primeiro passo para se demonstrar que o procedimento de recuperação da Matriz de

Transferência do procedimento LQG/LTR também ocorre em sistemas com a matriz D não-

nula é analisar o comportamento da solução de um problema RLQ para esta situação. Assim é

possível verificar o que ocorre com a matriz de realimentação de estados quando se reduz

significativamente o peso das entradas de controle na função de custo (ou índice de

desempenho), pois é esta a estratégia adotada na técnica LQG/LTR para se obter a

recuperação da matriz de transferência.

Neste sentido, chegou-se ao resultado da proposição 1, que é demonstrada na seqüência.

Proposição 1

Dado um sistema de equações diferenciais ordinárias, numa representação em espaço de

estados, com vetor de estados x(t) e saída y(t), tal que:

00 )( ),()()( xxBuAxx =+= tttt& (3.54a)

0 ),()()( ttttt ≥+= DuCxy (3.54b)

e supondo as seguintes considerações:

i. (A,B) é controlável (ou, ao menos, estabilizável);

ii. (A,C) é observável (ou, ao menos, detectável);

iii. a matriz D é não nula e ortogonal.

Existe uma realimentação )()( tt c xKu ⋅−= , onde Kc é a matriz que minimiza o índice

de desempenho:

∫∞

⋅⋅+⋅⋅=0

dtJ TT uRuyQy . (3.55)

Considerando-se que IQ = (matriz identidade) e a matriz R da forma

IR ⋅= ρ , (3.56)

270

quando +→ 0ρ , o problema é denominado RLQ “cheap control”, pois assim se reduz a

importância do sinal de controle no índice de desempenho, pressupondo portanto que os

recursos de controle são ilimitados e “baratos”.

Nesta condição afirma-se que [ ] CDK T

c =+→

)(lim0

ρρ

.

Demonstração 1

Parte-se de um problema geral de otimização de funções multivariáveis com restrições

lineares, descrito conforme segue:

Funcional de custo (ou índice de desempenho):

[ ] ∞<+= ∫ f

t

f ttdttLJ

f

,)( 0

xψ)u,(x, (3.57)

Restrições de igualdade lineares:

0)0( ),,( xxux,x == tf& (3.58)

Este problema pode ser resolvido pelo método de Lagrange. Introduzindo-se as

restrições no funcional de custo através de multiplicadores de Lagrange, representados pelo

vetor λ , resultando na equação (3.59).

( ) ( )[ ]

[ ]∫

′−+=

−′++=

f

f

t

t

f

dtH

dtfLtJ

0

0

)(

xλψ

xλxψ

&

&

, (3.59)

onde o Hamiltoniano H é definido por:

fLH λ′+= . (3.60)

271

Integrando o último termo da equação (3.60) por partes, para eliminar x& , tem-se

[ ]∫ ′++′+=f

f

t

tdtHJ

0

0 xλxλψ & . (3.61)

Calculando o variacional de J, tem-se:

∂+

′+

∂+′+

′−

∂=

f

f

t

tdt

HHJ

00

uu

xλx

xλxλxψ

δδδδδ & , (3.62)

onde x∂∂H denota um vetor linha, cujo i-ésimo componente é i

H x∂∂ . Nota-se que

0 0

=xδ já que x(0) é especificado. Uma escolha conveniente para o vetor de multiplicadores

de Lagrange é agora evidente, admitindo-se:

∂−=′

H& , ft

ftxψ

λ∂

∂=′ )( (3.63)

A expressão (3.62) fica:

∫ ∂

∂=

ft

dtH

δJ0

δuu

. (3.64)

A condição necessária para que 0=δJ dado um uδ arbitrário é então

0=∂

uH

. (3.65)

As equações (3.63) e (3.65) são as famosas equações de Euler-Lagrange, dando as

condições necessárias para )(•u minimizar o funcional J.

Especificamente para o problema em questão, tem-se:

BuAx +=f (3.66)

272

( ))( ftxψψ = (3.67)

Onde o Lagrangeano (L) do funcional de custo é calculado como segue:

( )( )

( ) ( )

( )RuuQDuDuQCxDuQDuCxQCxCx

RuuDuCxQDuCxDuCxy

RuuQyy

Ruuux,yQux,yux,

'''''''''

''

')()'(),(

++++=⇒

′++⋅⋅

′+=⇒

+=

+=

⇒+⋅⋅=

L

LL

tL

(3.68a)

( )uRuxNuNuxxQx

QDCN

QDDRR

QCCQ

′+′′+′+′=⇒

′=

′+=

′=

L (3.68b)

Conseqüentemente o Hamiltoniano (H) resulta em:

( ) )( BuAxλuRuxNuNuxxQx +′+′+′′+′+′=H (3.69)

Calculam-se as derivadas parciais de H em relação à x(t) e u(t):

λANuxQx

'++=∂

∂H (3.70a)

λBuRxNu

'' ++=∂

∂H (3.70b)

As equações de Euler-Lagrange podem ser obtidas a partir de (3.69) e (3.70):

ft

fttxψ

λ Nu,xQλAλ∂

∂=′−−′−= )( )(& (3.71a)

( ))()()( ttt λBxNRu 1 ′+′−= − (3.71b)

Lembrando que

0)0( ),()()( xxBuAxx =+= ttt& (3.72)

273

pode-se obter o seguinte sistema com 2n equações diferenciais lineares:

′−−

′−=

)(

)(

)(

)(

t

t

t

t

λ

x

AQ

BRBA

λ

x 1

&

& (3.73a)

onde

NRBAA 1 ′−= − (3.73b)

NRNQQ 1 ′−= − (3.73c)

porém com dupla condição de contorno

ft

ftxxψ

λx∂

∂=′= )( e )0( 0 (3.74)

Devido a estas condições de contorno, a equação (3.73a) necessita de outras

considerações para poder ser resolvida. Se for considerado o limite de ∞→ft , sob a hipótese

de que o par A, B seja controlável (ou ao menos estabilizável) e o par C,A seja

observável (ou ao menos detectável), pode-se admitir a existência de uma matriz P

(KAILATH, 1980, p. 228, e KWAKERNAAK e SIVAN, 1972a), de dimensão nn × , que

relaciona as soluções )( e )( •• xλ da seguinte forma:

0 )()( ≥∀⋅= ttt xPλ (3.75)

Partindo-se da hipótese de que a matriz P é simétrica e definida-positiva, tem-se:

)()(' ff tt xPxψ ⋅⋅= (3.76)

)()( ff tt xPλ ⋅= (3.77)

Então, o funcional de custo pode ser escrito da forma:

274

[ ] [ ]∫∫ ++⋅⋅=′−+=ff t

ff

t

dtttdtHJ00

'')()(' RuuQyyxPxxλψ & (3.78)

Sob o ponto de vista prático, é natural e freqüente se considerar períodos de controles

longos, ou seja, tf muito grande. Portanto, levando em conta o comportamento assintótico da

solução deste problema, considera-se o limite de ∞→ft . Sob as considerações de

controlabilidade do par A, B e observabilidade do par C, A, pode-se admitir a condição

assintótica de x(t) ir para zero conforme ∞→ft , então o funcional de custo fica:

[ ] [ ]∫∫∞

∞→

+=

++⋅⋅=00

'' '')()('lim dtdtttJ

f

f

t

ff

t

RuuQyyRuuQyyxPx (3.79)

E o problema de otimização assim posto passa a ter as condições de contorno a seguir,

podendo então ser resolvido da forma apresentada na seqüência:

00 )0( e )0( xPλxx ⋅== (3.80)

Então, substituindo (3.75) em (3.73), tem-se

)()()()( tttt λBRPBxAPxPλ 1 ′−=⋅= −&&

( ) )(txPBRPBAP 1 ⋅′−= −

( ) )(txPAQ ⋅′−−= (3.81)

Pode-se notar que a equação (3.81) pode ser satisfeita escolhendo-se P como uma

solução da seguinte equação algébrica de Riccati (EAR)

PAQPBRPBAP 1 ′−−=′− − (3.82a)

isto é,

0=+′−+′ − QPBRPBAPPA 1 (3.82b)

275

Tomando-se o transposto da matriz P, verifica-se que se P é solução da equação

(3.82b), então P’ também é, portanto confirma-se a hipótese de que P é simétrica. Uma vez

conhecida a matriz P, pode-se introduzi-la na equação (3.71b), conjuntamente com a relação à

equação (3.75), obtendo-se:

( ) )()( tt xPBNRu 1 ′+′−= − (3.83)

Desta forma, conclui-se que:

( )PBNRK ''1 += −c (3.84)

Considerando-se que IQ = (matriz identidade) e a matriz IR ⋅= ρ , e que a matriz D é

ortogonal, segue que:

DCN

IDDIQDDRR

CCQ

'

)1(''

'

=

⋅+=+⋅=+=

=

ρρ (3.85)

E, portanto, a equação (3.84) pode ser escrita da seguinte forma:

( )PBCDI

K '')1(

++

c (3.86)

E as equações (3.73b) e (3.73c) podem ser reescritas assim:

CDBAA ′+

−=1

1

ρ (3.87a)

1

1CCCCQ ′

+−′=

ρ (3.87b)

A equação (3.82b) pode ser trabalhada algebricamente, considerando-se a equação

(3.84), e colocada na forma da equação de Lyapunov:

QAPPA~~~

−=+′ (3.88a)

276

onde

cBKAA −=~

(3.88b)

QPBRPBQ 1 +′= −~ (3.88c)

Como A~

é Hurwitz, pois neste caso cK é resultado de um problema RLQ de um

sistema controlável e observável (ou, pelo menos, estabilizável e detectável), e Q~

é definida-

positiva e simétrica, já que Q e Q também são, a equação (3.88a) apresenta uma única

solução P definida-positiva, real e simétrica.

Quando se faz +→ 0ρ , tem-se como resultado que +→ 0Q , e então PBPBQ ′→~

.

Portanto a equação (3.88a) tende a:

PBPBAPPA ′−=+′~~

(3.89)

Uma solução para a equação (3.89) é a solução trivial (P é uma matriz nula). Segundo

Lyapunov, como a matriz A~

é Hurwitz, a solução da equação (3.89) é única para qualquer Q~

(KAILATH, 1980, pág. 179). Portanto, conforme +→ 0ρ , tem-se que a matriz P tende para a

solução trivial, ou seja, 0→P .

Sendo assim, a matriz de realimentação cK [equação (3.86)], resulta em:

( )[ ] ( ) CDPBCDPBNRK ′=

+

+=+=

+++ →

→→

'')1(

1'')( limlimlim 1

ρρ

ρρρ oo

c

o

(3.90)

3.3.4 TEOREMA FUNDAMENTAL “LTR” ESTENDIDO

O segundo passo para se demonstrar que o processo de recuperação da matriz de

transferência ainda ocorre, mesmo para sistemas com matriz D não nula, é comprovar que a

MFT da malha principal de controle tende para a MFT resultante da Identidade de Kalman,

quando o critério de otimização do problema LQG caminha para a situação de “Cheap

Control”.

Desta forma, chegou-se ao resultado da proposição 2, que é demonstrada na seqüência.

277

Proposição 2

Dada uma representação do sistema de controle conforme figura 3.13.

Figura 3.13 - Diagrama de blocos do sistema controlado.

Definindo mC como o conjunto dos vetores complexos de dimensão m e mm

C× como o

conjunto das matrizes complexas mm × .

Os sinais, representados na figura 3.13 através de suas respectivas transformadas de

Laplace, são os seguintes:

• R(s) ∈ mC é o vetor de sinais de referência;

• E(s) ∈ mC é o vetor de sinais de erro;

• U(s) ∈ mC é o vetor de sinais de controle (ou de entrada);

• Y(s) ∈ mC é o vetor de sinais de saída.

Além disso, definem-se as seguintes matrizes de funções de transferência:

• H(s) ∈ mmC

× é a matriz de funções de transferência do controlador;

• G(s) ∈ mmC

× é a matriz de funções de transferência da planta;

• G(s)H(s) ∈ mmC

× é a matriz de funções de transferência de malha para abertura da

malha na saída da planta (“loop transfer function”) ou matriz de funções de

transferência do ramo direto;

• I+G(s)H(s) ∈ mmC

× é a matriz de funções de transferência diferença de retorno;

• [I+G(s)H(s)]-1 ∈ mmC

× é a matriz de sensibilidade;

• C(s)= [I+G(s)H(s)]-1 G(s)H(s) ∈ mmC

× é a matriz de funções de transferência de

malha fechada ou matriz de sensibilidade complementar.

278

Conforme se depreende das relações acima, admitir-se-á sempre que a matriz de funções

de transferência da planta seja quadrada, isto é, a planta apresenta o mesmo número de

entradas e saídas. Essa restrição visa apenas simplificar a apresentação, podendo, contudo, ser

removida, conforme Doyle e Stein (1981) e em concordância com as proposições de

Kwakernaak e Sivan (1972b).

A partir do sistema de controle apresentado na figura 3.13, toma-se apenas o bloco

representativo da planta que é representada no domínio do tempo pelas equações de estados a

seguir:

+=

=+=

)()()(

)0( ),()()( 0

ttt

ttt

DuCxy

xxBuAxx& (3.91)

cuja transformada de Laplace com condições iniciais nulas, chamada de G(s), é apresentada a

seguir:

0 ,)()( 01 =+⋅−⋅= − xDBAICG ss (3.92)

onde a matriz D no caso deste estudo é não nula, ou seja, os sinais da entrada u(t) influenciam

diretamente a saída y(t). Por outro lado, o bloco do controlador, H(s), tem uma estrutura tal

que é constituído por um observador de estados assintótico, com matriz de ganho Ko, e uma

realimentação dos estados estimados através de uma matriz de ganho Kc, conforme

apresentado na figura 3.14.

Figura 3.14 – Diagrama de blocos da estrutura interna do controlador H(s).

279

Os ramos de realimentação podem ser reposicionados gerando-se um diagrama de

blocos equivalente, figura 3.15:

Figura 3.15 – Diagrama de blocos equivalente do controlador H(s).

A MFT H(s) relaciona o sinal de controle U(s) com o sinal E(s), é obtida da seguinte

forma:

( ) )()()( 21 sWsEsW cco ⋅−+−⋅−= DKKCKBKK oo (3.93)

)()()( 11

2 sWssW ⋅−= −AI (3.94)

)()( 2 sWsU c ⋅−= K (3.95)

Substituindo a equação (3.94) em (3.93), obtém-se:

( )[ ] )()()(11

1 sEssW occ ⋅⋅−⋅−++−=−− KAIDKKCKBKI oo (3.96)

Substituindo a equação (3.94) em (3.95), obtém-se:

)()()( 11

sWssU c ⋅−⋅−= −AIK (3.97)

Substituindo a equação (3.96) em (3.97), obtém-se:

( )[ ] )()()()(111

sEsssU occc ⋅⋅−⋅−++⋅−⋅=−−− KAIDKKCKBKIAIK oo

( )[ ] ( ) )()(1

1 sEss occc ⋅⋅−⋅−⋅−++⋅=−

− KAIAIDKKCKBKIK oo

( ) ( )[ ] )(1sEs occc ⋅⋅−++−⋅=

− KDKKCKBKAIK oo (3.98)

280

que resulta na seguinte expressão no domínio da freqüência :

ooo KDKKCKBKAIKH 1)()( −−++−= ccc ss (3.99)

onde a matriz de ganho Kc é obtida a partir da solução de um problema do tipo LQG

convenientemente definido, cuja expressão é dada pela equação (3.84).

Definindo-se:

3.49) equação , ( s(s)

e

3.13) figura aberta, (Malha (s)(s)(s)

1(ii)

(i)

KalmandeeIndentidadoKA)IC(W

HGW

−−−≡

⋅−≡

(3.100)

Afirma-se, por hipótese, que W(i)(s) tende a W(ii)(s), quando a matriz de ganho de

realimentação de estados, Kc, é obtida como solução de um problema do tipo LQG baseada na

situação de “Cheap Control”.

A situação de “Cheap Control” pode ser alcançada, definindo-se IQ = e IR ⋅= ρ , e

fazendo +→ 0ρ . Deste modo, verifica-se o seguinte resultado:

( ) [ ] oKA)IC(DBA)IC(H 111

0

ss)(lim −−−

−⋅+−=+

(3.101)

Considerando-se que:

i. A,B é controlável (ou ao menos estabilizável);

ii. A,C é observável (ou ao menos detectável);

iii. G(s) é quadrada;

iv. Os zeros de transmissão de G(s) se localizam no semi-plano esquerdo (SPE) aberto da

representação cartesiana do plano dos números complexos;

v. A matriz D é não nula e ortogonal.

Demonstração 2

Definindo-se:

1)()( −−≡ AIφ ss (3.102)

1)()( −+−≡ CKAIφ oss (3.103)

281

Pode-se reescrever a eq. (3.99) da seguinte forma:

[ ] ococs KKD)KBφKH ⋅⋅⋅−+⋅=−− 11 ()( (3.104)

Aplicando-se o Lema 1 do Apêndice B, com

=

=

=⋅−=

= −

c

o

V

B

U

A

K

I

BDKB

φ

""

""

""

"" 1

( )[ ] occcs KφKBφKIBφφKH ⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅−⋅=−1

)(

( )[ ] occc KφKBφKIBφKI ⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅−=−1

(3.105)

Aplicando-se o Lema 1 do Apêndice B novamente, com

=

=

⋅⋅=

=

I

I

BφK

I

""

""

""

""

V

B

U

A

c

[ ] occs KφKBφKIH ⋅⋅⋅⋅⋅+=⇒−1

)( (3.106)

Considerando-se que CDK ⋅→⇒→ + T

c0ρ , que é resultado da proposição 1, e lembrando

que D é ortogonal, tem-se:

[ ] o

TTs KφCDBφCDIH ⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅+=

→ +

1

0)(lim

ρ

( )[ ] o

T KφCBφCDID ⋅⋅⋅⋅⋅⋅+⋅=−1

[ ] oKφCBφCD ⋅⋅⋅⋅⋅+=−1

(3.107)

Aplicando-se o Lema 2 do Apêndice B apenas no φ do primeiro fator do segundo membro

da equação (3.107), tem-se:

282

[ ] ooos KφCBφC)KφC(IKφCBφCDH ⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅−⋅⋅+=−−

→ +

11

0)(lim

ρ

[ ][ ] ooo KφCBφC)KφC(IKφCID ⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅−+=−− 11

( )[ ][ ] oooo KφCBφC)KφC(IKφCKφCID ⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅−⋅⋅++=−− 11

[ ] oo KφCBφC)KφC(ID ⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅++=−− 11 (3.108)

Agora, aplicando-se o Lema 2 novamente, desta vez no φ da equação (3.108), tem-se:

[ ] [ ] oooos KφC)KφC(IKφCIBφC)KφC(IDH ⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅−⋅⋅⋅⋅⋅⋅++= −−−

→ +

111

0)(lim

ρ

(3.109)

Aplicando-se o Lema 1 do Apêndice B novamente, com

=

=

⋅⋅=

=

I

I

KφC

I

""

""

""

""

V

B

U

A

o

[ ] =⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅⋅⋅⋅++= −−−

→ + ooos KφC)KφC(IBφC)KφC(IDH 111

0)(lim

ρ

( )[ ] =⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅+⋅⋅+= −−−oooo KφC)KφC(IBφCD)KφC(I)KφC(I 111

[ ] =⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅+⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅+= −−

oooo KφC)KφC(I)KφC(IBφCD)KφC(I 11

[ ] oo KφCBφCDKφCD ⋅⋅⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅+=−1

(3.110)

Considerando-se que DKBB ⋅−= o , tem-se:

[ ] ooos KφCDKφCDKφCBφCDH ⋅⋅⋅⋅⋅⋅−⋅⋅⋅+⋅⋅+=−

→ +

1

0)(lim

ρ (3.111)

E simplificando, tem-se:

[ ] os KφCDBφCH ⋅⋅⋅+⋅⋅=−

→ +

1

0)(lim

ρ (3.112)

Portanto

[ ] osss KA)ICDBA)ICH ⋅−⋅⋅+⋅−⋅= −−−

→ +

111

0(()(lim

ρ (3.113)

283

3.3.5 GENERALIZAÇÃO TEOREMA ESTENDIDO

Como a restrição da matriz D ser ortogonal restringe em demasia a aplicação do

resultado das proposições 1 e 2, apresenta-se a seguir um recurso que permite a extensão dos

resultados obtidos até aqui para qualquer sistema não estritamente próprio em que a matriz D

tenha posto completo. Ainda, caso a matriz D não seja quadrada, o seu posto deve ser pelo

menos igual a sua menor dimensão.

Proposição 3

Caso a matriz D não seja ortogonal, porém tenha posto (“rank”) de coluna completo,

pode-se adotar a seguinte normalização:

un

un

u

SDD

SBB

D)(DS

⋅=

⋅=

⋅= − 21/T

(3.114)

Calculam-se as matrizes de ganho Ko e Kc, no sistema

n

n

DC

BA

M

LL

M

, obtendo-se

assim o compensador:

ooo KKDKCKKBAIKH 1)()( −−++−= cncncn ss (3.115)

Afirma-se que nesta situação vale a igualdade:

)(lim)(lim0

1

0ss un HSH

++ →

→⋅=

ρρ (3.116)

onde )(lim0

sH+→ρ

é conforme a equação (3.113).

A equação (3.116) generaliza, portanto, o procedimento LTR para sistemas não

estritamente próprios em que a matriz D não é ortogonal.

284

Demonstração 3

Partindo-se do resultado da proposição 2, tem-se:

[ ] onnn sss KA)ICDBA)ICH ⋅−⋅⋅+⋅−⋅= −−−

→ +

111

0(()(lim

ρ

[ ] ouu ss KA)ICSDSBA)IC ⋅−⋅⋅⋅+⋅⋅−⋅= −−− 111 ((

( )[ ] ou ss KA)ICSDBA)IC ⋅−⋅⋅⋅+⋅−⋅= −−− 111 ((

[ ] ou ss KA)ICDBA)ICS ⋅−⋅⋅+⋅−⋅⋅= −−−− 1111 (( (3.117)

Portanto:

)(lim)(lim0

1

0ss un HSH

++ →

→⋅=

ρρ (3.118)

3.3.6 REGULADOR

Quando não há sinal de referência, que é o caso de um sistema de suspensão

automotivo, pode-se eliminar o somador da entrada da planta. Como este somador inverte a

saída (subtração), com a sua eliminação, a inversão do sinal na malha de controle passa para

H(s), de forma que:

ooo KDKKCKBKAIKH 1)()( −−++−−= ccc ss (3.119)

Conseqüentemente passam a valer as seguintes definições (vide equação (3.100)):

3.49) equação , ( s(s)

e

3.13) figura aberta, (Malha (s)(s)(s)

1(ii)

(i)

KalmandeeIndentidadoKA)IC(W

HGW

−−≡

⋅≡

(3.120)

Deste modo, o resultado da proposição 2 passa a ser o seguinte:

( ) [ ] oKA)IC(DBA)IC(H 111

0

ss)(lim −−−

−⋅+−−=+

(3.121)

285

4 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL

4.1 IDENTIFICAÇÃO DO MODELO DO VEÍCULO

Como a estratégia de controle a ser adotada para o sistema de suspensão baseia-se num

modelo do veículo, o primeiro passo para o projeto do controlador é a identificação do

modelo, que está dividido em três fases:

• definição preliminar de parâmetros do modelo a partir de cálculos, medições

geométricas, e informações técnicas do veículo e de seus principais componentes, com

a finalidade de se obter uma estimativa aproximada do valor de cada parâmetro;

• construção, calibração e instalação dos sensores no veículo;

• descrição dos testes realizados e coleta dos dados experimentais;

• análise dos dados coletados.

4.1.1 ESTIMATIVA INICIAL DOS PARÂMETROS FÍSICOS

A escolha dos parâmetros físicos do modelo está diretamente ligada à

representatividade do veículo real pelo modelo matemático. Segundo o trabalho de Kim et al.

(1999), quando se utiliza um modelo a parâmetros concentrados, por mais precisos que sejam

os valores de cada parâmetro obtido de forma isolada, o modelo dificilmente apresentará um

comportamento fiel do veículo que está sendo representado. Isto ocorre porque a utilização de

massas concentradas, molas e amortecedores ideais, e a adoção de linearizações destes

elementos e dos movimentos do veículo geram distorções, que dificultam a obtenção de uma

boa representação do veículo real. Daí a necessidade de se ajustar os parâmetros a partir de

dados experimentais, que compensam em certa forma estas distorções, permitindo

representações bastante satisfatórias dentro de certos limites.

De qualquer forma, o melhor ponto de partida para o processo de identificação é a

análise isolada dos diversos componentes que compõe o modelo do veículo. Os valores

“reais” de massas, momentos de inércia, constantes de mola, etc., são a melhor aproximação

para o valor destes parâmetros que se tem a princípio, sejam eles medidos a partir de

experimentos simples, ou calculados a partir de medições indiretas, ou simplesmente

estimados.

286

Além disso, os algoritmos existentes para se fazer um ajuste experimental destes

parâmetros apresentam melhores resultados quando o processo se inicia com boas

aproximações para os parâmetros, de forma a gerar uma convergência mais rápida e segura

destes valores.

Nesta seção é apresentada a forma como foram obtidos todos os valores de grandezas

físicas utilizadas como parâmetros das equações diferenciais da dinâmica do modelo. O

veículo utilizado em todos os experimentos é uma caminhonete Ford Ranger modelo 1998,

cabine simples, com motor de quatro cilindros e barra estabilizadora apenas no eixo dianteiro.

A figura 4.1 mostra as principais dimensões do veículo.

Figura 4.1 – Dimensões do veículo.

Esta caminhonete apresenta suspensão independente nas rodas dianteiras, do tipo duplo

“A”, sendo utilizadas barras de torção como molas. Na traseira, o veículo apresenta suspensão

tipo Hotchkiss, com eixo diferencial rígido e feixes de molas com três lâminas. As posições

aproximadas das molas e amortecedores são apresentadas na figura 4.2.

A tabela 4.1 apresenta uma relação de características técnicas do veículo. Algumas

características apresentam valores máximos e mínimos que serão utilizados como limites no

processo de identificação dos parâmetros do modelo.

287

Figura 4.2 – Dimensões da suspensão.

Tabela 4.1 – Características técnicas do veículo.

288

Como a caminhonete estudada está convertida para o combustível GNV, contando

com um cilindro de 25m3 na caçamba, o veículo foi pesado para se conhecer a sua massa total

(com motorista) com maior precisão. A massa total medida foi de mT=1630 ±5 kg. Todo o

estudo apresentado neste trabalho considerou o veículo em sua situação sem carga, que para

as caminhonetes consiste na situação de menor conforto e segurança, visto que todo o sistema

de molas da suspensão foram projetados para suportar 750 kg de massa adicional, que é a

carga útil do veículo.

Figura 4.3 – Cálculo da rigidez da mola dianteira.

Os valores de constante de mola apresentados na tabela 4.1 foram estimados por

fórmulas simples conforme apresentado nas figuras 4.3 e 4.4. O valor estimado é assumido

como nominal, e limites inferiores e superiores também são estabelecidos. A definição destes

limites é importante porque o valor nominal pode variar em razão das não-linearidades que as

molas apresentam (principalmente o feixe de mola na traseira), e também pela existência de

alavancagens20 na aplicação das forças que dependem dos pontos de apoio e do pivotamento

do sistema de suspensão.

Na figura 4.3 tem-se o cálculo da mola dianteira que no caso é uma barra de torção

que conecta a bandeja inferior da suspensão a um ponto fixo na segunda travessa do quadro

de chassi. Neste caso, como não há alavancagem, o próprio valor da mola foi utilizado como

estimativa inicial, portanto =fk 35 kN/m. O cálculo da barra de reação, ou barra

estabilizadora é o mesmo, porém com dimensões diferentes: d = 29 mm, r = 250 mm e l = 750

mm. Neste caso a rigidez nominal da barra estabilizadora é kN/m 120≅bek , ou seja, para

20 efeito alavanca devido às diferenças da posição do ponto de apoio entre mola e roda em relação à articulação

289

cada milímetro de diferença da distância entre roda e carroceria entre os lados direito e

esquerdo, a barra aplica 120N de forma a reduzir esta diferença. Como a barra esta conectada

a meia distância entre roda e articulação, adotou-se para rigidez de estabilização a constante

kN/m 602 ≅= bear kk como uma estimativa preliminar do parâmetro.

Figura 4.4 – Cálculo da rigidez da mola traseira.

Na figura 4.4 é apresentado o cálculo para a mola traseira. Devido à distância de

aproximadamente 0,23m entre o centro de contado da roda com o solo e o centro do apoio do

feixe de molas sobre o eixo (figura 4.2), foi considerado uma alavancagem que reduz cerca de

20% o valor nominal de rigidez da mola, o que resultou em =rk 50 kN/m como estimativa

preliminar para o modelo.

Os parâmetros mais difíceis de estimar são os momentos de inércia de rolamento (giro

em torno do eixo ‘x’) e arfagem (giro em torno do eixo ‘y’) da massa suspensa do veículo.

Esta dificuldade vem do fato de que não se tem (neste caso em particular) o modelo em CAD

290

exato e detalhado de veículo, que permitiria avaliar os momentos de inércia com relação aos

eixos principais com razoável precisão, além de possibilitar a avaliação dos efeitos das

restrições cinemáticas da suspensão. Como não se dispõe destes dados, foram feitos modelos

3D simplificados em CAD, utilizando o aplicativo Inventor® da Autodesk, onde foi atribuída

massa a cada volume introduzido ao modelo de forma a aproximar o máximo a construção do

veículo real. A descrição desta montagem em CAD é apresentada na figura 4.5.

Figura 4.5 – Modelo 3D em CAD e a massa de cada componente.

Além das massas apresentadas na figura 4.5, adicionou-se uma massa de 80kg

representado o motorista sentado em frente à direção do veículo, e uma massa de 150kg

representado o cilindro de 25m3 de GNV localizado na caçamba próximo à cabine. Como

resultados, foram obtidos momentos de inércia em torno de 2100kg.m2 para a arfagem e

420kg.m2 para o rolamento, ambos referenciados ao centro de massa do corpo suspenso do

veículo. Como em geral, para caminhonetes e SUVs, o centro de giro está mais baixo que o

centro de massa do corpo suspenso, os valores de momento de inércia reais devem ser um

pouco maiores. Dada a incerteza na estimativa dos momentos de inércia e o desconhecimento

dos centros de giro dos movimentos de rolamento e arfagem, foram adotados os resultados do

CAD adicionados de 20% como estimativa inicial dos parâmetros do modelo. Portanto tem-

se: =ϕJ 2500 kg.m2 e =θJ 500 kg.m2.

Com relação às constantes de mola dos pneus (kt), foi adotado um valor de 200 kN/m,

baseado no tipo de pneu, na pressão do ar. Apesar da expressiva não-linearidade do pneu, os

limites para o valor da sua rigidez foram mantidos em ±20%. Para valores de coeficiente de

amortecimento para os pneus (ct) o desconhecimento é ainda maior, por isso foi definido um

291

valor preliminar de 1500 N.s/m, que resulta em um sistema sub-amortecido. Os limites de

variação adotados para o coeficiente de amortecimento foram de ±70%.

Para os amortecedores da suspensão a situação não é muito diferente. Na prática, a

curva força versus velocidade que estes amortecedores apresentam é bastante não linear, além

disso, varia também entre as situações de compressão e tração dos amortecedores (vide tabela

4.1). Apesar destas não-linearidades, neste modelo o coeficiente de amortecimento foi

considerado constante. O valor do coeficiente de amortecimento na traseira foi considerado

maior por causa do feixe de molas já apresentar um amortecimento significativo. Para ambos

os valores foram adotados limites de ±70%, tendo em vista as não-linearidades.

Para tornar o processo de identificação dos parâmetros mais estável e garantir a

convergência para uma solução viável, alguns parâmetros foram definidos como variáveis

dependentes de outros parâmetros e de constantes conhecidas do veículo real. Como

constantes conhecidas têm-se o peso total do veículo (medido por uma balança) e o

comprimento do entre-eixos, que consta do manual do próprio veículo. Outros parâmetros,

que têm características geométricas e seus valores puderam ser facilmente medidos, foram

definidos como constantes.

Os valores preliminares dos parâmetros e seus respectivos limites estão apresentados na

tabela 4.2.

Tabela 4.2. Valores preliminares dos parâmetros do modelo.

PARÂMETRO VALOR TIPO LIMITES UNIDADE

m1 35 Variável ±20% Kg m2 mT -2m1 -m3 Dependente --- kg m3 150 Variável ±20% kg J3 25 Variável ±20% kg.m2 Jθ 500 Variável ±50% kg.m2 Jϕ 2.500 Variável ±50% kg.m2 kt 200.000 Variável ±20% N/m kf 35.000 Variável ±20% N/m kr 50.000 Variável ±20% N/m kar 60.000 Variável ±20% N/m cf 2.000 Variável ±70% N.s/m cr 3.000 Variável ±70% N.s/m ct 1.500 Variável ±70% N.s/m l1 1,0 Variável 0,8 - 2,0 m l2 lWB -l1 Dependente --- m d 0,5 Fixa --- m

dse 0,7 Fixa --- m

292

4.1.2 SENSORES

Para realização de um experimento para aquisição de dados com o objetivo de

identificar o modelo do veículo, a situação ideal seria utilizar um equipamento capaz de

aplicar sinais conhecidos para excitação do movimento das rodas do veículo, como um “four

post”, por exemplo, apresentado na figura 4.6. Porém, como não se dispunha de tal

equipamento, foi necessário buscar alternativas. Neste sentido foram acrescentados mais

quatro acelerômetros, um em cada roda, além daqueles que já haviam sido definidos no

modelo teórico do veículo.

Figura 4.6 – Exemplos de equipamentos de teste “four-post” e “multi-axis”.

Desta forma, tem-se um novo conjunto de saídas do sistema, cujo vetor chamou-se de

)(4 ty , descrito conforme as equações (4.1) a (4.4), dadas a seguir:

( ) ( ) )()( 424144 tttt uDwDxCy ++= (4.1)

[ ]111

114 RLMLC ⋅⋅⋅= − T (4.2)

[ ]0111

1141 CLMLD ⋅⋅⋅= − T (4.3)

[ ]T

11

1142 LMLD ⋅⋅−= − (4.4)

A colocação de sensores nas rodas permite a estimação dos sinais de excitação a partir

de uma simples inversão da planta. Desta forma, quando o veículo transita sobre um obstáculo

conhecido, é possível determinar os instantes exatos em que cada roda passou pelos

obstáculos.

293

Tanto os acelerômetros das rodas e da carroceria, como os sensores de deslocamento

foram construídos a partir de componentes eletrônicos de custo compatível com a aplicação.

Para os acelerômetros foram utilizados componentes MEMS da Freescale™, e para os

sensores de deslocamento foram utilizados potenciômetros.

Os acelerômetros utilizados são circuitos integrados (CI) com elementos micro-eletro-

mecânicos que funcionam como sistemas massa-mola, e são responsáveis pela medição da

aceleração. Este CI contém internamente, além dos elementos sensores, uma série de circuitos

tais como: auto-teste, integradores, filtros, amplificadores, compensadores térmicos,

reguladores de tensão; todos integrados num mesmo “chip”, conforme apresentado na figura

4.7.

Figura 4.7 – Forma construtiva de um acelerômetro MEMS da Freescale™.

Foram utilizados dois modelos de acelerômetros diferentes. Para a carroceria foi

utilizado o modelo MMA1220D que é capaz de medir acelerações entre -8g e +8g com uma

sensibilidade de 240 mV/g quando alimentado com 5V, com freqüência de corte de

=− dBf 3 250 Hz. O acelerômetro utilizado nas rodas foi o modelo MMA1213D que é capaz de

medir entre -50g e +50g com uma sensibilidade de 40mV/g quando alimentado por uma

tensão de 5V, com freqüência de corte de =− dBf 3 400 Hz.

Como se pode notar, a freqüência de corte dos acelerômetros é pelo menos dez vezes

maior que a faixa de freqüências de interesse, que está em torno de 25 Hz. Nota-se também

que os acelerômetros das rodas têm fundo de escala maior do que os da carroceria. Isto ocorre

porque as rodas estão sujeitas a movimentos que podem atingir até 20g de aceleração. A

utilização de acelerômetros com fundo de escala menor na carroceria, os quais apresentam

uma sensibilidade mais alta, resulta numa melhor relação sinal/ruído.

294

A descrição de como os sensores foram construídos e calibrados, e como foi feita a sua

interface com as entradas dos conversores analógico/digital (ADC) do DSP está detalhada no

Apêndice C.

A figura 4.8 mostra como foram instalados os acelerômetros na carroceria. Cada um

destes acelerômetros foi fixado em um ponto da massa suspensa do veículo logo acima de

cada uma das rodas do veículo.

Figura 4.8 – Instalação dos acelerômetro na carroceria na posição acima de cada roda..

Na figura 4.9 podem ser observados os acelerômetros das rodas. Cada um destes

sensores foi posicionado o mais próximo possível do centro de massa de cada roda.

Os sensores de deslocamento, conforme é apresentado na figura 4.10, estão fixados

nas longarinas do quadro de chassi da caminhonete. No eixo de cada potenciômetro é preso

um braço de alavanca que se conecta a parte móvel da suspensão por meio de um tirante. Na

parte dianteira do veículo os tirantes estão fixados na extremidade da barra estabilizadora, e

na traseira, no suporte central dos feixes de mola.

295

Figura 4.9 – Instalação dos sensores acelerômetros nas rodas.

Figura 4.10 – Instalação dos sensores de deslocamento no veículo.

296

4.1.3 EQUIPAMENTO PARA AQUISIÇÃO DE DADOS E CONTROLE

O elemento principal do “hardware” de controle é o DSP (“Digital Signal Processor”)

TMS320F2812 da Texas Instruments21. Esta unidade central de processamento (CPU) é

altamente otimizada para códigos C/C++ com excelentes recursos de interrupção, salvamento

de contexto e capacidade de restauração, o que faz dela uma escolha perfeita para sistemas

operacionais em tempo real (RTOS – “Real Time Operating System”)

O DSP TMS320F2812 é um processador de 32 bits de ponto fixo, com capacidade de

processamento de 150 Milhões de Instruções por Segundo (MIPS). Baseado em arquitetura

Harvard modificada, este processador é uma máquina RISC (“Reduced Instructuion Set

Code”), capaz de realizar operações de multiplicação e soma em um único ciclo de máquina.

A arquitetura deste DSP é composta de três módulos: unidade de processamento, memória e

periféricos. Um diagrama que mostra todos os recursos deste DSP e suas entradas e saídas

(IO) é apresentado na figura 4.11.

Figura 4.11 – Diagrama dos recursos e IO do DSP TMS320F2812.

Neste trabalho foi utilizado um “kit” de desenvolvimento da empresa Spectrum

Digital22, que permite acesso a todas as funcionalidades do DSP TMS320F2812 através de

uma conexão com um micro-computador PC via interface paralela. A figura 4.12 apresenta a

placa do circuito eletrônico e os seus conectores. Esta placa conta com um controlador JTAG

(padrão IEEE 1149.1) que controla o conector P1 e faz a interface entre o JTAG com a porta

21 Site na Internet <www.ti.com >, acesso em 17/jul/2008. 22 Site na Internet <www.spectrumdigital.com >, acesso em 30/ago/2008.

297

paralela P3 para conexão com o PC. A placa da Spectrum Digital também é dotada de uma

memória estática de 65.536 (64K) palavras de 16 bits, que pode ser utilizada para carga de

programas no modo de depuração.

Figura 4.12 – Placa do Kit eZdsp F2812 e seus conectores.

O conector P2 é uma expansão dos barramentos de dados, endereços e controles do

DSP. Os conectores P4, P7 e P8 são para os sinais de entrada e saída digitais, incluindo as

saídas de PWM para controle de atuadores. As entradas analógicas dos ADC são acessadas

pelos conectores P5 e P9. A alimentação de tensão de 5Vcc é inserida através do conector P6.

Para a aquisição de dados dos sensores instalados no veículo, foram utilizadas 12

entradas analógicas, oito do bloco B (pinos 1 até 8 do conector P5) e quatro do bloco A (pinos

2, 4, 6 e 8 do conector P9). Todos os sensores foram conectados a estas entradas via circuito

de interface mostrado na figura C.3 (Apêndice C), que garante um nível de tensão adequado

aos padrões destas entradas. Também foi utilizado o conector P3, que foi acoplado à porta

paralela de um Notebook Dell modelo Latitude D520 via um cabo apropriado.

Este “hardware” proporcionou a vantagem de poder se utilizar a mesma instalação

elétrica realizada no veículo tanto no processo de aquisição de dados para ajuste do modelo do

veículo, como na malha de controle. Além de simplificar o trabalho, o modelo foi identificado

a partir de dados que terão as mesmas características daqueles da operação do controlador. Ou

seja, foram utilizados sinais com os mesmos níveis de tensão, com o mesmo nível de ruído, e

com os mesmos atrasos de fase, e com os sensores colocados exatamente na mesma posição e

com as mesmas interfaces mecânicas e eletrônicas. Isto garantiu uma maior fidelidade do

modelo para seu uso na síntese de controlador.

Para o acionamento dos atuadores foram utilizadas quatro saídas PWM do conector P8,

que serão detalhadas na seção 4.5.1 deste trabalho (pág. 401).

298

4.1.4 APLICATIVOS PARA AQUISIÇÃO DE DADOS

O “kit” de desenvolvimento eZdsp F2812 conta com o aplicativo Code Compose

Studior® (CCS) que é um compilador de código de programação em linguagem C/C++ para a

linguagem de máquina do DSP. Além disso, o CCS tem acesso a todos os recursos da placa

de circuitos eZdsp F2812, sendo capaz de instalar o programa compilado na memória do

processador e colocá-lo no ciclo de trabalho independente do PC onde o CCS é executado.

O CCS também conta com uma interface com o aplicativo Matlab®, que é capaz de

transformar diagramas de blocos criados no Simulink® em códigos em C que podem ser

interpretados pelo CCS e compilados. O aplicativo Matlab apresenta um procedimento

bastante automatizado para esta tarefa, de forma que o usuário nem se dá conta da existência

do aplicativo CCS, que é chamado e executado de forma automática pelo Matlab.

A placa de circuitos eZdsp F2812 é reconhecida pelo Matlab como um ‘target” que é

identificada por um bloco do Simulink conforme é apresentado na figura 4.13.

Figura 4.13 – Diagrama de blocos em Simulink para aquisição dos dados via RTDX.

299

O diagrama criado no Simulink define o algoritmo que será implementado

automaticamente no “target”. Como pode ser visto na figura 4.13, os dados lidos pelas

entradas analógicas a uma taxa de 250 Hz e convertidos para a forma digital ficam disponíveis

através do bloco C28xADC1. Estes sinais passam por um bloco de condicionamento de sinal,

que é detalhado na figura 4.14. Em seguida, passam um conjunto de blocos que realiza uma

média móvel do sinal a cada 5 amostras, passando por um segurador de ordem zero e

reduzindo a freqüência de amostragem para 50 Hz, que é transferido ao PC através do RTDX.

Figura 4.14 – Diagrama de blocos para condicionamento dos sinais vindos do bloco ADC.

Este processo de transformação dos blocos do Simulink em código em linguagem C a

ser compilado pelo CCS é iniciado por um botão (indicado na figura 4.13) que chama uma

rotina de programação do Matlab (m-file). Esta rotina, além de disparar o processo de

compilação e carregamento, faz também a leitura de 1000 amostras de cada sinal através do

recurso RTDX ( “Real-Time Data eXchange”). A rotina m-file é apresentada no Apêndice D.

300

4.1.5 DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO

Para haver um bom ajuste dos parâmetros do modelo do veículo, foi necessário elaborar

um experimento que gerasse movimento em todos os sete graus de liberdade do modelo, e que

fosse capaz de excitar os principais modos de vibrar do veículo. A solução encontrada foi a

utilização de um obstáculo com duas lombadas, posicionadas de tal forma que uma ficasse

mais adiantada do que a outra. O experimento foi variado, ora deixando que a roda da direita

atingisse o obstáculo primeiro, e ora a roda esquerda. Outra variação foi a utilização de apenas

uma lombada, considerando que somente as rodas de uma das laterais do veículo passassem

sobre ela; ora pela direita, ora pela esquerda.

As dimensões dos obstáculos construídos para o experimento estão apresentadas na

figura 4.15 a seguir:

Figura 4.15 – Lombadas utilizadas como obstáculos nos experimentos.

O local do experimento foi um pátio pavimentado com concreto, plano e com

irregularidades superficiais de pequenas amplitudes que puderam ser desprezadas, conforme

apresentado na figura 4.16.

301

Figura 4.16 – Caminhonete parada com os obstáculos à frente.

O procedimento do experimento consistiu em passar com o veículo em velocidade

aproximadamente constante sobre os obstáculos apenas uma vez, evitando acelerações e

frenagens, e continuar na mesma velocidade até que todos os movimentos de oscilação das

massas do veículo estivessem totalmente cessados. O tempo total de amostragem de 20

segundos foi suficiente para isto.

Na figura 4.17 é apresentado um conjunto de fotos que mostra a seqüência de eventos da

passagem do veículo pelos obstáculos, em um dos experimentos.

Figura 4.17 – Fotos mostrando a seqüencia do experimento com lombadas alternadas.

Foram realizados seis experimentos com o amortecedor convencional: dois com

lombadas alternadas e com o lado direito adiantado, dois com o lado esquerdo adiantado, um

com uma lombada apenas do lado direito e outro também com uma lombada, porém

posicionada no lado esquerdo do veículo.

Para cada experimento foram coletadas cerca de mil amostras dos doze sensores do

veículo, numa taxa de 50 Hz. Em todos os experimentos o veículo atingiu os obstáculos

sempre num tempo superior a dois segundos, visto que este primeiro intervalo de amostragem

é utilizado para anular o nível DC dos sensores. Estes primeiros dois segundos foram

descartados em todos os sinais, e em seguida os dados foram armazenados em arquivos de

dados do Matlab (*.dat) para posterior análise.

302

4.1.6 ANÁLISE DOS DADOS E IDENTIFICAÇÃO DO MODELO

Para a análise dos dados foi utilizado o mesmo equipamento que serviu para armazenar

os dados dos experimentos, que é um notebook PC, conforme apresentado na figura 4.18, no

lado direito. Esta mesma figura mostra à esquerda a placa de circuitos eletrônicos com o DSP

montada no veículo, que foi o equipamento utilizado para a aquisição dos dados e conectado

ao PC via interface paralela.

Figura 4.18 – Placa do Kit eZdsp F2812 montada no veículo e o PC conectado à placa.

A análise dos dados dividiu-se em quatro fases:

• a primeira consistiu em se analisar os níveis de ruídos do sinal e a distorção por

quantização gerada pelo ADC;

• a segunda fase teve como objetivo a reprodução dos contornos dos obstáculos

(altura medida no eixo “z”) a partir dos dados coletados de todos os sensores;

• a terceira foi o ajuste dos parâmetros do modelo linear para ajustá-lo aos

resultados experimentais;

• e a quarta fase foi o ajuste de um modelo do veículo contendo modelos não

lineares do amortecedor convencional, e teve como objetivo estimar os

amortecimentos residuais (isto é, amortecimento que não são gerados pelos

amortecedores) e a alavancagem de força dos amortecedores.

Na primeira fase, para a determinação dos níveis de ruído dos sinais foram utilizadas

duas coletas de dados realizadas com o veículo parado em duas situações: uma com o motor

do veículo desligado, e outra com o motor em funcionamento. Para os doze sinais coletados

em cada situação foram calculados os valores RMS e identificados os maiores valores de pico

303

(maior amplitude) dos ruídos presentes nestes sinais, cujos resultados são apresentados na

tabela 4.3:

Tabela 4.3 – Níveis de ruído e quantização dos sinais medidos dos sensores.

Percebe-se, a partir dos dados da tabela 4.3, que na situação com o motor ligado os

níveis de ruído são maiores, principalmente no sinal dos acelerômetros instalados na parte

dianteira da carroceria do veículo, próximo a região do motor. Isto já era esperado, visto que o

motor em movimento gera vibração em várias harmônicas da sua freqüência de rotação, as

quais excitam as estruturas e partes do veículo que acabam por interferir nos sensores,

principalmente nos acelerômetros. O motor a gasolina, que é o caso, também gera

interferências eletromagnéticas relacionadas ao acionamento das velas, feito com alta tensão.

Esta interferência também contribuiu em parte com a geração de ruídos nos sinais.

A tabela 4.3 também apresenta a unidade de quantização dos sinais, que é calculada

dividindo-se a máxima amplitude da escala do sinal medido por 4096, que é o “range”23 da

entrada do ADC. A unidade de quantização, portanto, é a menor quantidade de cada sinal que

pode ser representada na forma digital dentro do processador. Pode-se notar que a quantização

dos sinais é muito pequena, muito menor que o valor RMS do ruído de medida, portanto seus

efeitos podem ser desprezados.

Na segunda fase foram utilizados os valores preliminares da tabela 4.2 (final da seção

4.1.1) e o modelo formado pelas equações (3.16), (3.18), (3.19) e (4.1), onde a matriz A é 23 Maior número inteiro que se consegue representar com 12 bits, que é a capacidade dos ADC.

Sensor Posição Valor RMS Valor de pico Valor RMS Valor de pico

dianteiro esquerdo 0,23 0,52 0,29 0,66 0,010

dianteiro direito 0,32 0,71 0,33 0,85 0,010

traseiro esquerdo 0,23 0,62 0,27 0,67 0,010

traseiro direito 0,25 0,67 0,27 0,72 0,010

dianteiro esquerdo 0,06 0,18 0,23 0,48 0,004

dianteiro direito 0,08 0,20 0,16 0,40 0,004

traseiro esquerdo 0,14 0,30 0,15 0,39 0,004

traseiro direito 0,07 0,25 0,09 0,26 0,004

dianteiro esquerdo 0,08 0,16 0,09 0,21 0,015

dianteiro direito 0,06 0,16 0,07 0,17 0,015

traseiro esquerdo 0,21 0,51 0,24 1,34 0,044

traseiro direito 0,09 0,27 0,12 0,40 0,044

m/s2

mm

Níveis de ruído dos sinaisSinais medidos

Unidade de quantização

do ADC

unidade de

medida

Ace

lera

ção

vert

ical

da

carr

ocer

ia s

obre

cad

a ro

da

Des

loca

men

to r

elat

ivo

entr

e ro

da e

ca

rroc

eria

Motor desligado Motor ligado

Ace

lera

ção

vert

ical

da

s ro

das

304

dada pela equação (3.20) e a matriz B pela equação (3.21), e foram definidas as matrizes C e

D como a seguir:

=

4

3

2

C

C

C

C (4.5)

=

=

41

44

44

41

31

21

D

0

0

D

D

D

D x

x

(4.6)

Na equação (4.5), C2, C3 e C4 referem-se respectivamente às saídas de deslocamento

relativo entre roda e carroceria, acelerações verticais na carroceria e acelerações verticais das

rodas, conforme mostram as equações (3.24), (3.25) e (4.2). Vale a mesma relação para D21,

D31 e D41, com a diferença que o algarismo “1” do índice refere-se à entrada correspondente

às perturbações exógenas que a pista aplica às rodas. As matrizes D21 e D31 são nulas

conforme a equação (3.26), e a matriz D41 é definida pela equação (4.3).

O modelo foi então discretizado através da função “c2d(A,B,Ta)” do Matlab, onde Ta é o

período de amostragem de 0,02 segundos, de forma que se passou a ter o seguinte sistema em

tempo discreto:

kkk uΓxΦx ⋅+⋅=+1 (4.7)

kkk uDxCy ⋅+⋅= (4.8)

onde

aTe

AΦ = (4.9)

BΓ A ⋅

⋅= ∫

aT

tdte

0

(4.10)

A equação (4.10) considera a hipótese de que o vetor de entradas u(t) é constante no

intervalo considerado. Para uma velocidade do veículo de aproximadamente 2 m/s, no período

da amostragem o deslocamento do veículo é de apenas 0,04 m, e portanto, a aproximação

considerada é bastante razoável.

O passo seguinte foi calcular a pseudo-inversa da matriz D, cuja definição é dada pela

equação 4.11. Contudo o cálculo pela definição tem uma precisão numérica ruim, e na prática

305

utiliza-se algum método baseado na decomposição em valores singulares (SVD). Neste caso

fui utilizado a função “pinv(D)” do Matlab, que se baseia na função svd(D).

( ) TT DDDD ⋅⋅=−⊥ 1

(4.11)

Uma estimativa do sinal de entrada pode ser calculada de seguinte forma:

( )111,

1,11

++⊥

+

+++

⋅−⋅=⇒

⋅+⋅=

kkke

kekk

xCyDu

uDxCy (4.12)

Numa seqüência de n amostras correspondentes a um subconjunto do total de amostras

num período de tempo restrito à passagem do veículo sobre os obstáculos, as estimativas para

as entradas foram calculadas na seqüência apresentada a seguir:

( )

( )

( )nnne

nenn

e

e

e

e

e

xCyDu

uxx

xCyDu

uxx

xCyDu

uxx

yDu

x

⋅−⋅=

⋅Γ+⋅Φ=

⋅−⋅=

⋅Γ+⋅Φ=

⋅−⋅=

⋅Γ+⋅Φ=

⋅=

=

−−

,

1,1

333,

2,23

222,

1,12

11,

1

0

M

(4.13)

Em seguida, o sinal de velocidades ue foi integrado numericamente utilizando-se a

função “cumtrapz” do Matlab. Como exemplo, a figura 4.19 apresenta os resultados da

estimativa destes sinais de deslocamento obtidos a partir dos dados de um dos experimentos.

No sinal de deslocamento resultante da integração dos sinais de velocidade, apesar de

apresentar certo desvio (“drift”) devido à integração de níveis médios de sinal introduzidos

pelos ruídos (ilustrado na figura 4.19 pela tendência das curvas em direção a valores

negativos), ainda é possível se identificar os contornos referentes às lombadas sobre as quais o

veículo passou.

306

Nas quatro curvas apresentadas no gráfico da figura 4.19, que correspondem a cada uma

das rodas do veículo, é possível identificar claramente o contorno das lombadas. Neste

exemplo, a seqüência das rodas na passagem pelos obstáculos foi: dianteira direita, dianteira

esquerda, traseira direita e traseira esquerda. No caso de alguma confusão gerada por uma

ondulação excessiva de uma destas curvas, a informação da seqüência das rodas que passaram

pelos obstáculos, associada ao fato de que o obstáculo da roda esquerda inicia imediatamente

depois que o da roda direita termina, ajuda na identificação correta dos contornos.

Figura 4.19 – Gráfico da integral dos sinais de velocidade ue estimados.

Depois de identificados os contornos das lombadas, foram definidas “janelas”

delimitando o período de tempo de cada obstáculo, conforme a figura 4.20, a seguir:

Figura 4.20 – Janelas identificando as lombadas.

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0

0.1Perfil estimado dos obstáculos

Altu

ra d

o pe

rfil

(mm

)

Tempo (s)

307

Cada sinal estimado foi aproximado por um polinômio de grau nove. Neste processo de

interpolação foram excluídos os dados dentro dos períodos de tempo delimitados pelas

janelas. As curvas definidas por estes polinômios estão apresentadas na figura 4.21 na cor

verde (traçado mais grosso).

Figura 4.21 – Curvas dos polinômios interpolando o sinal fora das janelas.

O sinal estimado e integrado referente às entradas do modelo foi subtraído pelo seu

respectivo polinômio resultando num sinal bem mais próximo do contorno real dos

obstáculos. Por fim, a amplitude do sinal é ajustada para que o pico máximo seja de 0,08 m

que é a altura da lombada.

O mais importante desse processo é identificar em que instante cada lombada foi

percorrida pelas rodas do veículo, já que este sofre variações da sua velocidade de avanço por

uma série de razões, sendo a principal delas a resistência oferecida pelo próprio obstáculo.

Um exemplo do resultado final deste processo de estimação é apresentado na figura

4.22. Nesta figura observa-se que o intervalo de tempo médio que o veículo levou para passar

cada obstáculo foi de 0,5 s, e os obstáculos têm comprimento de 1m, portanto, a velocidade

média do veículo neste experimento foi de aproximadamente 2 m/s ou 7,2 km/h.

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0

0.1Perfil estimado dos obstáculos

Altu

ra d

o pe

rfil

(mm

)

Tempo (s)

308

Figura 4.22 – Resultado final da estimação dos contornos dos obstáculos.

Como o sinal de entrada de perturbação do modelo do veículo é um sinal de velocidade

vertical, foi preciso diferenciar o sinal do contorno dos obstáculos no tempo, para assim obter

sinais que pudessem ser utilizados no processo de ajuste dos parâmetros do modelo. O

resultado deste processo aplicado aos sinais da figura 4.22 é apresentado nos gráficos da

figura 4.23. Nesta figura cada gráfico refere-se uma das rodas do veículo.

Figura 4.23 – Sinais de velocidade vertical impostos pelos obstáculos a cada roda do veículo.

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5-0.5

0

0.5Dianteiro esquerdo

Vel

ocid

ade

(m/s

)

Tempo (s)

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5-0.5

0

0.5Dianteiro direito

Vel

ocid

ade

(m/s

)

Tempo (s)

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5-0.5

0

0.5Traseiro esquerdo

Vel

ocid

ade

(m/s

)

Tempo (s)

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5-0.5

0

0.5Traseiro direito

Vel

ocid

ade

(m/s

)

Tempo (s)

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5

00.020.040.060.08

Dianteiro esquerdo

Altu

ra (

m)

Tempo (s)

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5

00.020.040.060.08

Dianteiro direito

Altu

ra (

m)

Tempo (s)

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5

00.020.040.060.08

Traseiro esquerdo

Altu

ra (

m)

Tempo (s)

5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5

00.020.040.060.08

Traseiro direito

Altu

ra (

m)

Tempo (s)

309

Na terceira fase da análise dos dados, foi realizada a identificação do modelo do veículo.

Para isso utilizou-se praticamente o mesmo processo apresentado no Volume 1 deste trabalho

(seção 7.3) na identificação do modelo discreto do amortecedor MR. Porém, como neste caso

foi necessário estimar os parâmetros de um modelo no tempo contínuo, algumas adaptações

tiveram que ser feitas no processo de identificação.

Da mesma forma que na identificação do modelo do amortecedor MR, foi utilizado um

processo de otimização baseada num algoritmo de programação quadrática seqüencial (PQS),

para minimizar erros entre o sinal medido e o sinal simulado pelo modelo através do ajuste

dos seus parâmetros. O problema de otimização é descrito a seguir:

( ) λλλλ

funcMaxMinmaxmin <<

(4.14)

Conforme a equação (4.14), o vetor de parâmetros λ é limitado pelos vetores de valores

mínimo e máximo de cada parâmetro, e o problema de identificação dos parâmetros consiste

em se minimizar o maior valor do vetor de custos resultante da função “func( λ )”.

Os treze parâmetros que compõe o vetor λ são aqueles apresentados na tabela 4.2 e

descritos como tipo “variável”. Os limites mínimo e máximo são calculados a partir dos

percentuais apresentados na mesma tabela.

A função “func” é uma rotina escrita em linguagem de programação do Matlab que

realiza automaticamente as seguintes tarefas:

1. calcula as matrizes de estado a partir dos valores dos parâmetros;

2. transforma o sistema de estados em tempo contínuo em tempo discreto

utilizando a função “c2d” do Matlab, resultando num sistema de equações de

diferenças;

3. calcula de forma iterativa as equações de diferenças, considerando os sinais de

velocidade vertical da figura 4.23 como entradas, gerando uma matriz Y como

estimativa das doze saídas da planta (quatro acelerações da carroceria, quatro

acelerações verticais das rodas e quatro deslocamentos relativos) ao longo de 5

segundos numa taxa de amostragem de 50 Hz;

4. Por fim, ela calcula as normas dos vetores de erros entre os sinais gerados pelas

equações de diferenças e os sinais obtidos das medições feitas no veículo.

310

A forma como é gerado o vetor de custos a partir das normas dos erros é um fator

importante para a convergência e estabilidade do processo de identificação. Esta forma de

cálculo é descrita a seguir:

( )∑=

−⋅=−⋅=n

k

iiiii kykyyy1

2,2,22,2,2,2 )()(ˆ50ˆ50ε (4.15)

( )∑=

−⋅=−⋅=n

k

iiiii kykyyy1

2,3,32,3,3,3 )()(ˆ2ˆ2ε (4.16)

( )∑=

−=−=n

k

iiiii kykyyy1

2,4,42,4,4,4 )()(ˆˆε (4.17)

[ ]4,43,42,41,44,33,32,31,34,23,22,21,2 ,,,,,,,,,,, εεεεεεεεεεεε=ζ (4.18)

Nas equações (4.15) a (4.17) os valores de 2y , 3y e 4y são as saídas da planta,

respectivamente os vetores deslocamento relativo, acelerações da carroceria, e acelerações das

rodas, e que correspondem no modelo às equações (3.18), (3.19) e (4.1). Cada vetor tem

quatro componentes, referente a cada uma das quatro rodas e identificados pelo índice “i”.

Cada componente é composto por n amostras, coletadas em intervalos de 0,02 segundos. Os

valores das saídas estimados pelo modelo são identificados por um acento circunflexo. O

vetor custo, ζ , corresponde ao conjunto de todas as normas dos erros entre os sinais medidos

e os estimados, que são ponderados respectivamente pelos pesos 50, 2 e 1. Os pesos têm as

funções de equalizar a grandeza das unidades, visto que i,2ε é medido em metros e i,3ε e i,4ε

são medidos em m/s2, e também de dar maior importância aos sinais de aceleração da

carroceria e dos deslocamentos, pois são sinais com menores interferências externas, e

conseqüentemente mais “limpos” e confiáveis. Além disso, a grande não linearidade dos

pneus faz com que os erros sejam maiores entre os sinais experimentais e estimados das

acelerações verticais das rodas.

O processo de otimização foi implementado em Matlab utilizando a função “fminmax”

que a cada iteração executa a função “func”, calcula a sensibilidade em relação a variação dos

parâmetros, define limites móveis, aproxima o problema original por um de Programação

Quadrática (PQ), e calcula o ponto de mínimo, oλ . Num novo ciclo, a função “func” é

311

novamente executada, porém desta vez com os parâmetros oλ , com um novo cálculo da

sensibilidade paramétrica e a definição de novos limites móveis, e assim por diante, até que o

ponto de mínimo global seja encontrado, ou que o número máximo de iterações seja atingido.

A importância de se utilizar um algoritmo de otimização do tipo min-max é que a norma

dos erros de cada sinal é avaliada separadamente, e os parâmetros são ajustados de forma a

sempre buscar a redução da maior entre estas normas. Caso o custo fosse formado pelo

somatório de todas as normas de erros dos sinais das diferentes saídas, o processo de

otimização poderia levar a uma redução do custo, porém não garantiria o balanceamento

(considerando-se as ponderações) entre as normas de erros de cada sinal medido que tem

origem em várias posições no veículo.

O processo de ajuste dos parâmetros levou em torno de cinco segundos para aproximar

o comportamento do modelo a cada conjunto de dados obtidos nos seis experimentos

realizados. O processo rodou num micro-computador PC com processador Intel™ Centrino™

Duo Core™ T2300, 1,66 GHz de freqüência de clock, e 1Gbytes de RAM.

Os parâmetros do modelo foram ajustados de forma independente para os dados de cada

experimento com a finalidade de se avaliar a variabilidade de cada parâmetro e assim se obter

uma referência para a incerteza a respeito do seu valor. A tabela 4.4 mostra o valor médio de

cada parâmetro considerando todos os experimentos e o percentual de incerteza de cada

parâmetro.

Tabela 4.4 – Valores médios dos parâmetros ajustados e suas incertezas.

PARÂMETRO VALOR TIPO INCERTEZA UNIDADE

m1 37 Variável ±20% kg m2 1420 Dependente ±3%24 kg m3 136 Variável ±15% kg J3 32 Variável ±25% kg.m2 Jθ 617 Variável ±10% kg.m2 Jϕ 2.060 Variável ±5% kg.m2 kt 187.000 Variável ±20% N/m kf 39.100 Variável ±10% N/m kr 56.500 Variável ±10% N/m kar 48.000 Variável ±5% N/m cf 1.240 Variável ±20% N.s/m cr 3.817 Variável ±20% N.s/m ct 1.938 Variável ±40% N.s/m l1 1,64 Variável ±10% m l2 1,19 Dependente ±14% m

24 Os valores da incerteza dos parâmetros dependentes são apenas ilustrativos, pois são resultado da composição das incertezas dos outros parâmetros utilizados no cálculo do parâmetro dependente.

312

Um exemplo de comparação entre os sinais medidos e os sinais resultantes do modelo

ajustado é apresentado nos gráficos das figuras 4.24, 4.25 e 4.26.

Figura 4.24 – Comparação entre os sinais experimentais e simulados da aceleração vertical da carroceria do veículo.

A curva em azul (traçado grosso) corresponde ao sinal estimado pelo modelo e a curva

em vermelho (traçado fino) corresponde ao sinal medido. A curva em verde corresponde ao

sinal de entrada da roda respectiva, porém está fora de escala, e foi introduzida no gráfico

apenas para ilustrar os momentos em que cada roda passou pelos obstáculos.

Os gráficos da aceleração da carroceria da figura 4.24 apresentaram erros médios (RMS)

entre 0,7 e 0,8 m/s2, o que mostra um ajuste muito bom dos valores da simulação do modelo

ajustado com os dados experimentais. Considerando-se que estes sensores apresentam um

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Dianteiro esquerdo eRMS = 0.7 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Dianteiro direito eRMS = 0.8 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Traseiro esquerdo eRMS = 0.8 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Traseiro direito eRMS = 0.8 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

313

nível de ruído entre 0,1 e 0,2 m/s2, pode-se admitir que o resultado é ainda melhor, ou seja, as

diferenças (RMS) entre o experimental e o simulado encontra-se na faixa de 0,5 a 0,7 m/s2.

Figura 4.25 – Comparação entre os sinais experimentais e simulados do deslocamento relativo entre roda e carroceria do veículo.

Os gráficos da figura 4.25 apresentam a comparação relacionada aos sinais de

deslocamento relativo entre a carroceria e as rodas. Estes gráficos também mostram uma

aderência bastante boa entre os resultados experimentais e as saídas do modelo.

Também é interessante notar nos dois primeiros gráficos da figura 4.25, referente aos

sensores das rodas dianteiras, que apesar de ter havido saturação destes sensores, isto não

interferiu no bom desempenho do processo de identificação do modelo. Melhor ainda é o fato

de que as trajetórias do sinal gerado pelo modelo seguem o caminho provável que o sinal

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Dianteiro esquerdo eRMS = 6 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Dianteiro direito eRMS = 5 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Traseiro esquerdo eRMS = 5 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Traseiro direito eRMS = 4 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

314

experimental seguiria se não tivesse havido saturação, o que mostra a boa capacidade de

generalização do modelo e do método de identificação.

Figura 4.26 – Comparação entre os sinais experimentais e simulados da aceleração vertical das rodas do veículo.

Os gráficos da figura 4.26 mostram a comparação dos sinais de aceleração vertical das

rodas do veículo. Percebe-se que é válida a justificativa de dar um peso menor a estes sinais

no processo de ajuste dos parâmetros, visto que eles apresentam uma série de interferências

resultantes de pequenas irregularidades do pavimento, as quais não foram consideradas nos

sinais de entrada. Mesmo assim os sinais gerados pelo modelo mostraram coerência com os

sinais medidos, apresentando erros RMS na faixa de 1,5 m/s2.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-10

0

10

Dianteiro esquerdo eRMS = 1.5 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-10

0

10

Dianteiro direito eRMS = 1.6 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-10

0

10

Traseiro esquerdo eRMS = 1.5 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-10

0

10

Traseiro direito eRMS

= 1.6 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

315

O modelo com valor médio de cada parâmetro foi simulado com as entradas dos seis

experimentos e suas saídas foram comparadas com os sinais dos respectivos experimentos.

Este modelo “médio” mostrou uma generalidade bastante boa no conjunto das diferentes

situações experimentadas, apesar de apresentar um erro RMS um pouco maior do que aquele

que foi ajustado de forma específica para cada conjunto de dados, O resultado do erro RMS

destas comparações está apresentado na tabela 4.5, a seguir:

Tabela 4.5 – Resultado das comparações das saídas do modelo “médio” com as medições de

cada experimento realizado, através do valor eficaz do erro entre os sinais.

O principal objetivo desta terceira fase da análise foi o de comprovar que um modelo

linear com apenas 7 DOF é capaz de aproximar a dinâmica complexa de um veículo real. Esta

fase também foi importante para validar o processo de identificação proposto. Contudo, a

utilização do modelo na síntese do controlador não pode ser feita apenas com a eliminação

dos coeficientes de amortecimentos correspondentes aos amortecedores (supostos lineares),

visto que existem amortecimentos residuais que não podem ser desprezados. Além disso, é

preciso ter uma medida da alavancagem dos amortecedores em função das condições de

pivotamento da suspensão. O passo seguinte do processo de análise visa resolver estas

questões.

Na quarta fase, foi realizado um processo de identificação do modelo do veículo similar

ao da terceira fase, porém substituindo os amortecedores lineares (coeficientes de atrito

viscoso) por amortecedores com características não-lineares conforme apresentadas na tabela

4.1 que mostra as características técnicas do veículo. Para isso o primeiro passo foi encontrar

curvas contínuas que pudessem aproximar a relação força x velocidade descrita na tabela 4.1.

Foi utilizada uma função similar àquela proposta no trabalho de Motta e Zampieri (2005),

Sensor Posição exper. 1 exper. 2 exper. 3 exper. 4 exper. 5 exper. 6 Média

dianteiro esquerdo 1,3 1,1 0,9 1,0 0,7 0,9

dianteiro direito 1,2 0,8 0,8 0,9 0,8 0,8

traseiro esquerdo 1,4 0,8 0,8 0,9 0,8 0,8

traseiro direito 1,0 0,9 0,7 0,8 0,8 0,9

dianteiro esquerdo 9 8 7 7 5 6

dianteiro direito 6 5 6 6 4 5

traseiro esquerdo 10 5 6 6 6 4

traseiro direito 4 7 5 5 5 5

Sinais medidosunidade

de medida

Ace

lera

ção

vert

ical

da

carr

ocer

ia s

obre

cad

a ro

da

Des

loca

men

to r

elat

ivo

entr

e ro

da e

ca

rroc

eria

Valores RMS dos erros

0,91

5,9

m/s2

mm

316

porém descontínua em zero. A função utilizada para relacionar velocidade e força do

amortecedor é apresentada a seguir:

<⋅−

≥⋅+

=

0 para 1

0 para 1

)(v

v

vb

vv

vb

vF

t

t

c

c

β

β (4.19)

Na equação (4.19), F(v) é a força que se manifesta entre os terminais do amortecedor e v

é a velocidade relativa entre os terminais do amortecedor. Por convenção, na compressão do

amortecedor, tanto F quanto v são positivos, na tração são ambos negativos.

Através da utilização do método dos mínimos quadrados (MMQ), os parâmetros da

função foram ajustados para aproximar ao máximo os pontos da tabela 4.1. Os parâmetros

obtidos são apresentados na tabela 4.6 e os gráficos são apresentados na figura 4.27.

Tabela 4.6 – Parâmetros da relação não-linear entre força e velocidade dos amortecedores.

Amortecedor cb cβ tb tβ

Dianteiro 1706 0,8482 7236 1,4643 Traseiro 2004 0,7898 5954 1,4233

Figura 4.27 – Curvas velocidade versus força dos amortecedores originais do veículo.

317

Foram mantidos no modelo os coeficientes de amortecimento lineares, que serviram

para representar o amortecimento residual. Apesar de parte deste amortecimento no veículo

real ter a característica de atrito de Coulomb, este fato foi ignorado sob pena de não se ter a

representação exata das forças de atrito residuais, pois caso os dois efeitos fossem

considerados simultaneamente não haveria garantia de que a separação entre os efeitos do

atrito viscoso e do atrito seco realizada pelo processo de identificação fosse confiável. Como

o modelo da terceira fase da análise teve uma representação bastante satisfatória, foi

considerado que esta aproximação continuaria sendo válida.

Outro fator acrescido ao modelo foi o ganho da alavancagem. A amplitude do

movimento entre a roda e a carroceria não é a mesma que ocorre entre os terminais dos

amortecedores, já que estes se movimentam num curso menor devido à forma da estrutura

cinemática da suspensão. Como a variável considerada no modelo é a velocidade relativa

entre roda e carroceria, deve-se levar em conta um fator que ajuste este valor de velocidade

para que ele seja utilizado no cálculo das forças do amortecedor. Por outro lado, a força dos

amortecedores não é aplicada exatamente na roda, mas no braço articulado da suspensão,

portanto seu efeito também é reduzido por um efeito de alavanca. Admitindo o modelo do

amortecedor conforme a função descrita pela equação (4.19), a alavancagem foi definida

como um parâmetro multiplicativo acrescido tanto na entrada quanto na saída desta função. A

partir das dimensões da suspensão apresentadas na figura 4.2, admitiu a alavancagem na

suspensão dianteira como sendo %205,0 ±=fη , e na traseira como %2075,0 ±=rη .

Comparando-se os resultados dos coeficientes de amortecimento obtidos na fase anterior

com as curvas dos gráficos da figura 4.27 acrescidos do efeito da alavancagem, foi possível

verificar que o amortecimento residual na traseira tende a ser bem maior que na dianteira.

Assim, foram definidos os coeficientes de amortecimento residuais da suspensão dianteira

como %50 N.s/m 150 ±=foc , e da traseira como %50 N.s/m 1000 ±=roc .

Com a utilização deste modelo não-linear dos amortecedores, foi acrescentada uma nova

saída na planta de forma que a estrutura interna das equações do modelo não precisasse ser

alterada. Foram acrescentadas como saídas os quatro sinais de velocidade relativa entre roda e

carroceria, conforme as equações a seguir:

( ) ( )tt xCy 55 = (4.20)

[ ]21845 ),,,( LL0C −⋅= xrrffdiag ηηηη (4.21)

318

O vetor u(t) de entrada composto pela força de cada atuador, apresentado

anteriormente na equação (3.13), é redefinido como segue:

( )

⋅=

=

)(

)(

)(

)(

),,,(

)(

)(

)(

)(

5

5

5

5

DD

CC

BB

AA

rrff

D

C

B

A

yF

yF

yF

yF

diag

tu

tu

tu

tu

t ηηηηu (4.22)

Onde Fi é a função descrita pela equação (4.19) e o índice ”A” refere-se à roda dianteira

esquerda, “B”, dianteira direita, “C”, traseira esquerda e “D”, traseira direita.

Para se resolver o novo sistema de equações diferenciais não foi possível transformá-lo

no sistema de equações de diferenças, portanto foi necessário programar uma solução

numérica do sistema de equações diferenciais, o que foi feito através de um algoritmo Runge-

Kutta de quarta ordem (RK4). Para isso foi preciso reduzir o passo de integração pela metade,

passando de 0,02 para 0,01 segundos, e a entrada do sinal w(t) foi interpolada linearmente

entre duas amostras consecutivas.

O processo de ajuste dos parâmetros levou bem mais tempo, ficando em torno de seis

minutos para cada experimento. Da mesma forma que na terceira fase, os parâmetros do

modelo foram ajustados de forma independente para os dados de cada experimento. A tabela

4.9 mostra o valor médio de cada parâmetro considerando todos os experimentos e respectivo

percentual de incerteza.

Analisando-se a tabela 4.6 percebe-se que os novos valores dos parâmetros ficam dentro

da incerteza dos parâmetros da tabela 4.4. Além disso, com o modelo é não-linear a variação

do valor dos parâmetros em relação aos seis diferentes experimentos diminuiu, e portando a

incerteza sobre o valor da cada parâmetro também reduziu.

Através desta análise foi possível se conhecer os valores das alavancagens, que se

mantiveram razoavelmente próximas dos valores iniciais e apresentaram pouca incerteza.

Também foi possível se ter uma boa idéia sobre o valor dos coeficientes de amortecimento

residual. Apesar das incertezas destes valores terem ficado relativamente grandes, os valores

ficaram coerentes com o que era esperado.

319

Tabela 4.7 – Valores médios dos parâmetros ajustados e suas incertezas.

PARÂMETRO VALOR TIPO INCERTEZA UNIDADE

m1 31 Variável ±18% Kg m2 1429 Dependente ±8% kg m3 139 Variável ±15% kg J3 27 Variável ±5% kg.m2 Jθ 604 Variável ±8% kg.m2 Jϕ 2.151 Variável ±5% kg.m2 kt 173.700 Variável ±20% N/m kf 38.900 Variável ±10% N/m kr 48.800 Variável ±10% N/m kar 48.000 Variável ±0% N/m cfo 167 Variável ±50% N.s/m cro 1.100 Variável ±25% N.s/m ct 2.550 Variável ±0% N.s/m l1 1,61 Variável ±7% m l2 1,22 Dependente ±10% m ηf 0,543 Variável ±6% adimensional

ηr 0,826 Variável ±6% adimensional

Da mesma forma que na fase anterior, o modelo com valor médio de cada parâmetro foi

simulado com as entradas dos seis experimentos e suas saídas foram comparadas com os

sinais dos respectivos experimentos. O resultado do erro RMS destas comparações está

apresentado na tabela 4.8. A partir destes resultados verifica-se que o modelo “médio” não-

linear apresentou uma generalidade um pouco superior com relação aos seis experimentos

(demonstrado pelos valores médios menores, comparado com a tabela 4.5), o que era

esperado, pois as características dos amortecedores do veículo real foram modeladas melhor.

Tabela 4.8 – Resultado das comparações das saídas do modelo “médio” com as medições de cada experimento realizado, através do valor eficaz do erro entre os sinais.

Sensor Posição exper. 1 exper. 2 exper. 3 exper. 4 exper. 5 exper. 6 Média

dianteiro esquerdo 1,3 1,1 0,7 0,9 0,6 0,9

dianteiro direito 1,1 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8

traseiro esquerdo 1,2 0,8 0,8 0,8 0,7 0,7

traseiro direito 0,9 0,9 0,7 0,8 0,7 0,8

dianteiro esquerdo 10 8 6 7 5 6

dianteiro direito 6 5 5 5 4 4

traseiro esquerdo 9 5 6 6 5 4

traseiro direito 4 7 5 6 6 6

Ace

lera

ção

vert

ical

da

carr

ocer

ia s

obre

cad

a ro

da

Des

loca

men

to r

elat

ivo

entr

e ro

da e

ca

rroc

eria

Sinais medidosunidade

de medida

0,85

5,8

Valores RMS dos erros

m/s2

mm

320

4.1.7 RESUMO DOS RESULTADOS – IDENTIFICAÇÃO DO MODELO

Abaixo está uma relação dos principais resultados obtidos a partir do processo de

identificação do modelo do veículo:

• O modelo do veículo com 7 DOF é efetivo na representação da dinâmica da

movimentação do veículo na faixa de freqüências de interesse para o projeto de um

sistema de suspensão ativo ou SA.

• O método proposto para identificação do modelo mostrou-se eficiente no ajustes dos

parâmetros para aproximar o modelo do veículo real.

• Além disso, o método de identificação proposto apresenta as seguintes vantagens:

o os parâmetros identificados tem significado físico, o que permite uma

avaliação sobre a validade e generalidade dos resultados obtidos;

o quando o método é aplicado a modelos lineares em tempo contínuo, ele

permite que o modelo seja discretizado a cada passo do ajuste dos parâmetros,

obtendo-se assim um processamento bastante rápido (poucos segundos) do

processo de identificação do modelo;

o a flexibilidade do método permite a inclusão de não-linearidades no modelo, e

que parâmetros relacionados a estas não-linearidades também sejam ajustados.

• A limitação do método proposto é que ele necessita de um bom ponto de partida, ou

seja, precisa-se ter “a priori” uma boa estimativa do valor de cada parâmetro. É

importante que pelo menos metade dos parâmetros esteja dentro de uma faixa de

variação de ±20%, podendo outros parâmetros apresentar variações de até ±90%.

• A aplicação deste método de identificação nos dados de diversos experimentos

independentes permite uma avaliação da variação dos parâmetros para o ajuste do

modelo em diferentes situações. Este resultado é interessante, pois revela o grau de

incerteza em relação a cada parâmetro na tentativa de aproximar problemas físicos

complexos por um modelo limitado, e muitas vezes linear. Este tipo de incerteza dos

parâmetros, também chamada de incertezas estruturadas, é uma informação útil no

projeto de controladores robustos, pois permite reduzir o grau de conservadorismo no

processo de síntese do controlador.

• O processo de identificação aplicado ao modelo não-linear do veículo permitiu

conhecer os valores aproximados das alavancagens e dos coeficientes de

amortecimentos residuais da suspensão do veículo.

321

4.2 ATUADORES MAGNETO REOLÓGICOS

Para a implementação prática do sistema do controle foi necessário desenvolver e

construir os atuadores. Foram escolhidos como atuadores os amortecedores MR cuja teoria e

técnicas de projeto e modelamento foram detalhados no volume 1 deste trabalho. Como o

sistema foi aplicado em um veículo vendido comercialmente, cujas características não podiam

ser modificadas, foi necessário projetar e construir atuadores que se adaptassem ao espaço

pré-existente no veículo dedicado aos amortecedores convencionais. Portanto, o primeiro

requisito dos atuadores foi ter que apresentar as mesmas características dimensionais dos

amortecedores originais do veículo, que estão relacionadas na tabela 4.9.

Tabela 4.9 – Dimensões dos amortecedores convencionais do veículo.

Posição Diâmetro

externo (mm) Comprimento aberto (mm)

Comprimento fechado (mm)

Curso (mm)

Dianteiro 52 474 350 124

Traseiro 52 691 421 270

Outros requisitos básicos para o projeto são:

• Força máxima – que é a força que o atuador deve ser capaz de resistir em sua

máxima entrada de tensão elétrica. A meta adotada para o projeto foi de 2800 N,

que é uma força possível de ser atingida por dispositivos com as dimensões

requeridas e que é capaz de controlar os movimentos de um veículo de 1600 kg.

• Tempo de resposta – que é o valor da constante de tempo de um atraso de 1ª

ordem que aproxima a curva de resposta do amortecedor. A meta adotada foi de

10 ms, que possibilita um banda de resposta em freqüência de 16Hz.

• Atrito viscoso residual – que é o coeficiente do atrito viscoso que o atuador

apresenta em seu estado livre de excitação. A meta adotada foi 400 N/m.s.

• Tensão de 12 V – que é a tensão disponível no veículo para acionamento do

atuador.

• Corrente de pico de 3 A – que é a corrente máxima suportada pela bobina da

válvula MR e pelos amplificadores de acionamento.

• Temperatura interna máxima – que é a temperatura máxima suportada pelo

fluido e pelos elementos de vedação. Foi limitada em 125ºC.

322

A partir das metas de “força máxima” e de “atrito viscoso residual”, e tomando como

referência os terminais do atuador movendo-se relativamente a 1m/s, chegou-se a um alcance

dinâmico de 6 como meta de projeto.

Neste projeto foi utilizado um fluido MR desenvolvido na Universidade Federal de

Itajubá, em MG, com propriedades um pouco melhores que as do fluido MRF-132AD da

Lord, como segue:

• 0τ = 27 kPa para um campo magnético (H) em torno de 85 kA/m;

• η = 0,04 (+/-0,02) Pa.s

O projeto dos atuadores MR seguiu o procedimento apresentado na seção 4.3 do volume

1 deste trabalho. O conceito utilizado foi o de amortecedores mono-tubulares conforme o

projeto desenvolvido no aplicativo de CAD Inventor® apresentado na figura 4.28, a seguir:

Figura 4.28 – Modelo CAD em 3D dos amortecedores MR.

Um dos amortecedores frontais já havia sido projetado e construído, e o detalhamento

deste processo foi descrito na seção 6 do volume 1 deste trabalho. Para esta fase, o projeto foi

reavaliado com a utilização do novo fluido MR que possibilitou uma melhoria das

características de força máxima, redução atrito viscoso residual do amortecedor MR, e maior

linearidade de resposta entre a entrada de tensão e a força do atuador.

A figura 4.29 mostra as principais dimensões dos amortecedores MR dianteiros.

323

Figura 4.29 – Detalhamento em CAD 2D dos amortecedores MR dianteiros.

Conforme pode ser observado na tabela 4.10, todos os requisitos dimensionais foram

atendidos, ou seja, diâmetro externo menor, comprimento aberto maior e fechado menor, e

curso maior.

Tabela 4.10 – Comparação das dimensões dos amortecedores convencional e MR dianteiros.

Componente Diâmetro

externo (mm) Comprimento aberto (mm)

Comprimento fechado (mm)

Curso (mm)

Amortecedor Original

52 474 350 124

Amortecedor MR

51 479 347 132

Um novo projeto da válvula MR foi necessário no caso dos amortecedores traseiros.

Como os requisitos dimensionais do amortecedor traseiros exigem um curso bem maior do

pistão, os comprimentos da válvula MR e da câmara de ar tiveram que ser reduzidos. No

novo projeto a câmara de ar teve seu comprimento reduzido de 67 mm para 53 mm, sendo que

os diâmetros internos foram aumentados para reduzir a perda de volume. A nova válvula MR

324

teve redução de 10 mm no seu comprimento total, porém isso acarretou uma redução da

espessura dos isolantes magnéticos e o estreitamento do canal de passagem do fluido MR.

Mesmo assim, os requisitos de máximo comprimento fechado e de mínio curso não puderam

ser atendidos, conforme apresentado na tabela 4.11. Como o curso do amortecedor MR

traseiro 25 mm menor no curso só causaria problemas em situações muito severas, esta

condição foi aceita para o escopo deste trabalho, visto que estas situações não seriam

atingidas nos testes propostos.

Tabela 4.11 – Comparação das dimensões dos amortecedores convencional e MR traseiros.

Componente Diâmetro

externo (mm) Comprimento aberto (mm)

Comprimento fechado (mm)

Curso (mm)

Amortecedor Original

52 691 421 270

Amortecedor MR

51 696 451 245

A figura 4.30 mostra as principais dimensões dos amortecedores MR traseiros.

Figura 4.30 – Detalhamento em CAD 2D dos amortecedores MR traseiros.

325

Os resultados estimados do projeto dos amortecedores MR dianteiros e traseiros com o

novo fluido MR são apresentados na tabela 4.12, a seguir:

Tabela 4.12 – Resultados estimados do projeto dos amortecedores MR (SI).

Estes dados mostram que os valores das forças controláveis e dos coeficientes de atrito

viscoso residuais atenderam aos requisitos de projeto. A nova válvula projetada para os

atuadores traseiros apresentou um resultado similar àquela do atuador dianteiro, apesar de ser

mais compacta, entretanto as análises de elementos finitos mostraram uma indutância elevada

em ambas, que ficou em torno de 45 mH. Como a resistência da bobina foi estimada em 2,2

Ohms, a constante de tempo do circuito RL foi calculada como ms 21/ ≅= RLRLτ , o que

significa que o tempo de resposta do amortecedor ficou mais que o dobro da meta. Devido aos

requisitos de projeto serem conflitantes, foi necessário tomar-se uma decisão de projeto onde

se escolheu deixar de atender a meta de tempo de resposta para atingir as demais metas.

Os protótipos foram construídos a partir dos dados de projeto e utilizaram nas

extremidades os mesmos elementos de conexão dos amortecedores originais para permitir a

montagem no veículo. A figura 4.31 mostra uma fotografia dos quatro amortecedores MR.

Figura 4.31 – Protótipos dos amortecedores MR.

Força controlável

Coeficiente de amortecimento

viscoso

Força máxima a

1m/s

Alcance dinâmico

Força controlável

Coeficiente de amortecimento

viscoso

Força máxima a

1m/s

Alcance dinâmico

Compressão 2719 363 3082 7,5 2621 361 2982 7,3Tração 2507 335 2842 7,5 2417 333 2750 7,3

Estado do amortecedor

Amortecedores MR traseiroAmortecedores MR dianteiros

326

Os quatro protótipos foram testados no mesmo laboratório e com os mesmos recursos já

descritos na seção 8.1 da parte 1 deste trabalho.

Foram realizados os mesmos três experimentos em cada um dos protótipos, com apenas

uma diferença em relação ao primeiro experimento. Ao invés de aplicar somente seis níveis

de tensão espaçados de 2 em 2 volts, utilizou treze níveis (0; 0,5; 1; 1,5; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9;

10 volts). Isto permitiu melhorar a precisão na identificação da relação entre a tensão de

entrada e a força na saída do atuador. Para cada degrau de tensão, o pistão dos protótipos foi

movimentado dois ciclos senoidais com freqüência de 5 Hz e amplitude de 30 mm para os

dianteiros e 50 mm para os traseiros. Também foi tomado o cuidado para que a montagem dos

protótipos com os outros elementos do experimento fossem o mais próximo possível da

montagem do amortecedor no veículo, visando reproduzir o seu comportamento real. As

figuras 4.32 até 4.35 mostram os gráficos das curvas força versus deslocamento (à esquerda) e

força versus velocidade (à direita) do primeiro experimento para cada um dos atuadores.

Figura 4.32 – Resultado do 1º experimento para o atuador dianteiro MR1.

Figura 4.33 – Resultado do 1º experimento para o atuador dianteiro MR2.

327

Figura 4.34 – Resultado do 1º experimento para o atuador traseiro MR3.

Figura 4.35 – Resultado do 1º experimento para o atuador traseiro MR4.

A partir destes gráficos foi possível verificar os seguintes pontos:

• as respostas da força em relação aos degraus de tensão mostraram-se bem lineares, o

que demonstra não ter havido saturação magnética nem do núcleo da válvula e nem do

fluido MR;

• em teoria, os gráficos de força versus deslocamento deveriam formar retângulos

perfeitos, porém, conforme verificado nos gráficos acima, os retângulos sofreram

deformações no seus cantos superior esquerdo e inferior direito devido à deformação

dos elementos de borracha dos elementos conexão originais que permitem montar o

amortecedor no veículo (a partir do gráfico dos amortecedores dianteiros é possível

estimar que a rigidez da borracha da extremidade superior do amortecedor é de

aproximadamente 750 kN/m);

• a deformação das borrachas interfere também no resultado das curvas de força versus

velocidade, fato que é verificado nos gráficos relativos aos amortecedores traseiros,

328

onde a região da curva de histerese sofreu deformações devido à borracha das

conexões destes amortecedores serem não-lineares e bem menos rígidas.

• a rigidez relativamente baixa dos elementos de borracha nas conexões dos

amortecedores MR contribuiu para aumentar o efeito de histerese já característico do

funcionamento da válvula MR, porém com conseqüências negativas para o conforto.

Os resultados do primeiro experimento também permitiram se extrair informações para

a confirmação das expectativas de resposta de força obtidas no projeto. A tabela 4.13

apresenta uma comparação das expectativas de projeto com os resultados desempenhados

pelos protótipos, onde é possível observar que os valores alcançados pelos protótipos estão

bastante próximos dos valores previstos no projeto.

Tabela 4.13 – Comparação das expectativas de projeto com os resultados do 1º experimento (SI).

Também na tabela 4.13 pode ser observada a similaridade de desempenho entre as duas

versões da válvula MR. Pode-se dizer que o projeto da válvula dos amortecedores traseiros foi

inovador uma vez que apresenta volume e massa cerca de 18% menores.

O primeiro experimento também forneceu informações para levantamento das curvas de

calibração dos atuadores, ou seja, a determinação da função linear que aproxima a relação

entre força e tensão elétrica de excitação do atuador. O conhecimento desta relação é

necessário, pois a saída do controlador é um sinal de força que precisa ser convertido para um

sinal de tensão elétrica que é utilizado para acionar os atuadores. Os gráficos da figura 4.36

mostram estes resultados.

Estimativas de projeto

Atuador MR1 Atuador MR2 Observações

Compressão 2719 2684 2597 Medidos à velocidade de 0,18m/s.

Tração 2507 2621 2507 Medidos à velocidade de 0,18m/s.

Compressão 363 360 399Medidos entre as velocidades 0,16 e 0,18 m/s e

tensão de excitação de 1,0 V.

Tração 335 355 341Medidos entre as velocidades 0,16 e 0,18 m/s e

tensão de excitação de 1,0 V.

Estimativas de projeto

Atuador MR3 Atuador MR4 Observações

Compressão 2621 2754 2564 Medidos à velocidade de 0,3m/s.

Tração 2417 2645 2464 Medidos à velocidade de 0,3m/s.

Compressão 361 360 373Medidos entre as velocidades 0,2 e 0,3 m/s e

tensão de excitação de 1,5 V.

Tração 333 312 348Medidos entre as velocidades 0,2 e 0,3 m/s e

tensão de excitação de 1,5 V.

Força controlável

Amortecedores MR dianteiros

Coeficientes de amortecimento

residual

Força controlável

Coeficientes de amortecimento

residual

Amortecedores MR traseiros

329

Figura 4.36 – Gráficos de calibração dos atuadores.

Estes gráficos mostram um “ganho” bastante similar dos quatro atuadores. Verifica-se

também que a aproximação por funções lineares foi satisfatório, o que é comprovado pelo

indicador R2 > 99%.

Apesar da aparente linearidade da relação tensão versus força, o atuador MR é bastante

não linear. O usual é se separar os efeitos da força controlável e do coeficiente de atrito

viscoso residual, contudo este coeficiente também sofre influência da tensão elétrica aplicada

à válvula do atuador MR. Como conseqüência as calibrações apresentadas na figura 4.36, que

foram realizadas numa velocidade específica, sofrem variações para outras velocidades. Além

disso, essa relação linear também não leva em conta os efeitos de histerese que aparecem nos

gráficos que relacionam a força com a velocidade do pistão destes dispositivos, que têm um

efeito importante na mudança de sentido da velocidade. Resulta destes fatos, portanto, a

importância de se considerar um modelo não-linear e dinâmico para representar o atuador

MR, conforme foi citado na seção 2.4.7 da revisão da literatura.

Neste sentido, foi utilizado o modelo discreto desenvolvido na seção 6 do primeiro

volume deste trabalho para se conseguir uma representação mais fidedigna do atuador MR,

considerando todas as não-linearidades e o seu comportamento de histerese.

330

A partir dos dados dos três experimentos foi aplicado o procedimento de identificação

dos parâmetros do modelo discreto do atuador MR conforme já foi descrito na seção 8.3 do

volume 1. Como resultado, foram ajustados os 21 parâmetros para os quatro modelos, os

quais são apresentados na tabela 4.14:

Tabela 4.14 – Parâmetros ajustados para os quatro modelos dos atuadores MR protótipos.

A partir dos dados desta tabela foi verificado que os dados mostraram coerência de um

modelo para outro, apresentando valores de parâmetros com ordens de grandeza semelhantes.

As maiores diferenças ficaram para os parâmetros de variáveis de ordem maior que dois,

como era esperado. Foi possível também verificar a parir do parâmetro η que a constante de

mm6,911,018,39,1xo

N/mm23,917,113,423,7ko

N.s/(m.V2)-45,0-56,3-46,9-76,5coc

N.s/(m.V)244,0263,2618,9184,5cob

N.s/m270,9347,4235,0336,0coa

N/(m.V5)10,826,630,74-12,50αf

N/(m.V4)156,914,8153,871,8αe

N/(m.V3)-1915-3489-7276-5797αd

N/(m.V2)35988464482792126822αc

N/(m.V)115961699844767937αb

N/m131890610611537αa

--1,0221,0141,0151,045ξ

1/V25,103,8420,1615,05Ac

1/V-22,86-17,63-91,77-75,95Ab

--28,4922,77119,94106,23Aa

1/(m2.V2)761,9241,7782,053,1βb

1/m2-28077-24822-11338-28655βa

1/(m2.V3)-9,5-2,4-308,2-361,2γc

1/(m2.V2)-3108-2271-7712-9448γb

1/m243627429483839259228γa

rad/s45,343,137,640,4η

UnidadeAtuador MR 4

Atuador MR 3

Atuador MR 2

Atuador MR 1

Parâmetros

mm6,911,018,39,1xo

N/mm23,917,113,423,7ko

N.s/(m.V2)-45,0-56,3-46,9-76,5coc

N.s/(m.V)244,0263,2618,9184,5cob

N.s/m270,9347,4235,0336,0coa

N/(m.V5)10,826,630,74-12,50αf

N/(m.V4)156,914,8153,871,8αe

N/(m.V3)-1915-3489-7276-5797αd

N/(m.V2)35988464482792126822αc

N/(m.V)115961699844767937αb

N/m131890610611537αa

--1,0221,0141,0151,045ξ

1/V25,103,8420,1615,05Ac

1/V-22,86-17,63-91,77-75,95Ab

--28,4922,77119,94106,23Aa

1/(m2.V2)761,9241,7782,053,1βb

1/m2-28077-24822-11338-28655βa

1/(m2.V3)-9,5-2,4-308,2-361,2γc

1/(m2.V2)-3108-2271-7712-9448γb

1/m243627429483839259228γa

rad/s45,343,137,640,4η

UnidadeAtuador MR 4

Atuador MR 3

Atuador MR 2

Atuador MR 1

Parâmetros

331

tempo de resposta ficou até mais alta do que era esperado, resultando em valores em torno de

25 ms. Nesta condição a banda de resposta dos atuadores ficou bastante limitada, respondendo

com atenuações inferiores a 3 dB apenas para freqüências até 6,4 Hz.

Para se obter melhores resultados no processo de ajuste dos parâmetros o sinal de

excitação que varia de 0 a 10V foi dividido por cinco, fazendo com que o modelo

internamente trabalhasse com valores entre 0 e 2.

Os modelos discretos dos atuadores MR foram implementados no Simulink, cujo

diagrama de blocos é apresentado a seguir:

Figura 4.37 – Diagrama de blocos em Simulink® do modelo do atuador MR1.

O diagrama da figura 4.37 apresenta três entradas (velocidade, deslocamento, tensão

elétrica) e uma saída (força) e pode ser simulado utilizando como entradas os dados

experimentais. Isto foi feito para se obter uma comparação entre os resultados de força do

modelo com os resultados medidos experimentalmente. Os gráficos da figura 4.38 mostram a

comparação destes sinais para os quatro modelos dos atuadores MR.

Para cada gráfico foi calculado o valor eficaz do erro entre o sinal de força do modelo e

o sinal de força experimental. O maior erro foi apresentado pelo modelo do atuador MR4 que

ficou em 115 N, o que é um valor pequeno comparado aos 3000 N de força que estes

atuadores alcançaram no experimento.

332

Figura 4.38 – Comparação das simulações do Simulink com os sinais de força experimentais.

Como as velocidades de movimentação do pistão dos atuadores nos experimentos não

superaram 0,32 m/s, e como na prática estas velocidades podem chegar a 2 m/s em situações

severas, foram feitas simulações com os modelos atingindo esta situação de velocidade para

verificar se o comportamento dos modelos se mantinha coerente. O resultado desta análise

mostrou que os modelos demonstraram boa generalização do seu comportamento para

velocidades mais altas.

0 5 10 15 20 25

-2000

0

2000

Modelo do atuador MR1 eRMS = 79.3 N

For

ça (

N)

0 5 10 15 20 25

-2000

0

2000

Modelo do atuador MR2 eRMS = 67.6 N

For

ça (

N)

0 5 10 15 20 25

-2000

0

2000

Modelo do atuador MR3 eRMS = 90.0 N

For

ça (

N)

0 5 10 15 20 25

-2000

0

2000

Modelo do atuador MR4 eRMS

= 115.0 N

Tempo (s)

For

ça (

N)

333

4.2.1 ATRITO DE COULOMB E MAGNETIZAÇÃO DA VÁLVULA MR

Os valores de coeficiente de amortecimento residual do atuador MR apresentados na

tabela 4.13 são definidos pela inclinação das curvas do gráfico de força versus velocidade. No

entanto, em velocidades inferiores a 0,03 m/s, mesmo sem nenhuma excitação elétrica nos

terminais da válvula de controle do fluido, ocorre um efeito similar ao atrito de Coulomb

conforme é apresentado na figura 4.39, que mostra o gráfico de força versus velocidade do

atuador com zero volt na sua entrada de controle.

Figura 4.39 – Efeito de atrito de Coulomb do atuador MR1 sem excitação elétrica.

Este efeito tem basicamente duas causas: uma gerada pelo atrito entre as partes móveis

do atuador e outra devido a uma característica do fluido MR.

A primeira delas corresponde ao atrito seco da haste com o seu mancal na extremidade

do tubo do atuador, ao atrito do pistão com a parede interna do tubo, e ao atrito do êmbolo

flutuante com a parede interna do tubo do atuador. Estes atritos são inerentes à forma

construtiva do amortecedor MR e podem ser atenuados com a utilização de materiais

especiais, como PTFE e Viton®, porém isso resulta num custo mais elevado do atuador.

Apesar dos atritos entre as partes móveis contribuir para o efeito de “atrito de

Coulomb”, o comportamento do fluido MR é o principal responsável por este efeito. Da

mesma forma que outros fluidos pseudo-plásticos ou plástico de Bingham, o fluido MR

apresenta uma tensão de cisalhamento mínima a partir da qual o seu escoamento passa a ser

efetivo. Esta tensão de cisalhamento está entre 10 e 20 Pa em geral, e é responsável pelo

comportamento quasi-newtoniano do fluido MR. Portanto, este efeito será tanto menor quanto

334

menor for esta tensão mínima de escoamento, e que é uma característica normalmente

informada pelo fabricante do fluído.

Há ainda um terceiro fator que pode aumentar este efeito de “Coulomb” em baixas

velocidades, que é a magnetização do núcleo ferro-magnético da válvula de controle do fluido

MR. Esta magnetização residual é devido às propriedades de coercividade e remanência do

material do núcleo, que no caso foi o aço 1020.

Este efeito pode ser reduzido com a inversão da polaridade da bobina dentro de certos

intervalos de tempo. Contudo devido a uma simplificação da construção dos atuadores, um

dos terminais do circuito magnético ficou ligado à carcaça do atuador, que fica sempre

aterrada quando montado ao chassi do veículo, impedindo a inversão da polarização da

bobina, e impossibilitando a desmagnetização do núcleo magnético da válvula.

Para avaliar o efeito da magnetização, os atuadores foram expostos durante cinco horas

a surtos de corrente elétrica de até 3 A, que é a corrente máxima permitida segundo o projeto

do atuador, de forma que a temperatura do fluido não ultrapassasse 80ºC. Após este

procedimento, novos testes foram realizados com os atuadores MR para se levantar novas

curvas da relação força versus velocidade. A figura 4.40 mostra como ficou a relação força

versus velocidade para o atuador MR1 após a magnetização do núcleo. Percebe-se que houve

um aumento de 120 N no desnível da força na mudança de sentido da velocidade. Este efeito

pode ser modelado como se houvesse uma tensão elétrica contínua aplicada aos terminais da

válvula. A partir dos resultados dos testes verificou-se que esta tensão “residual” ficou entre

0,7 e 0,8 volts para os quatro atuadores MR.

Figura 4.40 – Efeito de atrito de Coulomb do atuador MR1 sem excitação elétrica e após o

processo de magnetização do núcleo da válvula.

335

4.2.2 INSTALAÇÃO DOS ATUADORES NO VEÍCULO

A instalação dos atuadores MR na caminhonete foi uma tarefa simples, uma vez que

foram projetados com dimensões similares e com conectores idênticos dos amortecedores

originais do veículo. A figura 4.41 mostra os quatro atuadores instalados no veículo. Os

atuadores foram instalados sem pressurização para facilitar esta tarefa. A pressurização dos

mesmos foi feita em seguida utilizando-se um cilindro de gás nitrogênio dotado de uma

válvula reguladora de pressão. As pressões nos atuadores ficaram entre 14 e 16 bar.

Figura 4.41 – Atuadores MR instalados na caminhonete.

336

4.2.3 MODELO DO VEÍCULO COM OS ATUADORES

Uma vez obtidos os atuadores e conhecidas as suas características e modelamento

dinâmico, o passo seguinte foi a validação do modelo do veículo considerando o atuador no

lugar dos amortecedores convencionais.

Para isso, foram realizados mais três experimentos do veículo montado com os

atuadores no lugar dos amortecedores convencionais e passando sobre obstáculos. Os dois

primeiros experimentos foram realizados sem aplicação de tensão elétrica nos terminais de

controle das válvulas, e o terceiro foi realizado com a aplicação de 3 V contínuos em cada um

dos quatro atuadores MR. Em todos os experimentos foram aquisitados os 12 sinais já

descritos na seção 4.1.

Na análise dos dados foi seguido o mesmo procedimento da quarta fase de análise

descrita na seção 4.1.6, porém no lugar das funções não lineares dos amortecedores

convencionais foram utilizados os modelos discretos dos atuadores MR. Foi acrescentado um

novo parâmetro que corresponde à tensão elétrica de excitação dos quatro atuadores, todos os

demais parâmetros foram fixados com os valores descritos na tabela 4.7. O processo de

identificação consistiu em se ajustar apenas o parâmetro tensão elétrica para validar o modelo

previamente ajustado com os amortecedores convencionais.

Para simplificação, a entrada de deslocamento do modelo dos atuadores foi eliminada

juntamente com os parâmetros ko e xo, pois eles servem apenas para modelar o efeito mola da

pressurização do atuador MR. Como o valor da força gerada por estes elementos não passa de

250 N, considerou-se que o seu efeito ficou incorporado às molas da suspensão do veículo.

Assim, com as entradas de velocidade e tensão elétrica nulas, a força do atuador MR também

é zero. Na prática o efeito desta força no veículo é apenas a variação de alguns milímetros na

distância entre roda e carroceria no equilíbrio estático, portanto os efeitos desta simplificação

são desprezíveis.

Assim, o modelo dos atuadores ficou apenas com duas entradas: velocidade e tensão

elétrica. E do mesmo modo que ocorreu com os amortecedores convencionais, o fator de

alavancagem foi multiplicado na entrada de velocidade e na saída de força dos modelos dos

atuadores. A entrada de tensão elétrica recebeu o único parâmetro variável do modelo que foi

ajustado no processo de identificação. Os quatro atuadores receberam o mesmo sinal de

entrada, cujos limites foram definidos entre 0 e 5 volts.

Devido aos modelos discretos dos atuadores terem sido estimados para intervalos de

amostragem de 4 ms, foi utilizado este período no passo de integração do algoritmo de RK4.

337

Como resultado do processo de identificação, era esperado que o valor de tensão

ajustado para o modelo se aproximasse do valor de tensão realmente aplicado na entrada dos

atuadores. E, devido à magnetização do núcleo da válvula do atuador, também se esperava

que o valor identificado estivesse aproximadamente 0,8 volts maior que a tensão real.

Conforme os resultados apresentados na tabela 4.15, os valores de tensão ficaram bem

próximos do esperado, o que valida o modelo do veículo com os quatro atuadores MR.

Tabela 4.15 – Resultado do processo de ajuste da tensão de entrada dos atuadores.

A seguir são apresentados os gráficos comparativos do segundo experimento:

Figura 4.42 – Comparação entre os sinais para tensão de controle igual a zero volts.

Sensor Posição exper. 1 exper. 2 exper. 3 Médiadianteiro esquerdo 1,1 0,9 0,9dianteiro direito 0,9 0,9 0,8traseiro esquerdo 0,8 0,7 1,0traseiro direito 0,8 0,9 1,2dianteiro esquerdo 9 8 5dianteiro direito 7 6 4traseiro esquerdo 6 5 6traseiro direito 6 7 5

0,71 1,06 3,83

mm

Tensão estimada (V)

unidade de

medida

Valores RMS dos errosSinais medidos

Ace

lera

ção

vert

ical

da

carr

ocer

ia

sobr

e ca

da

roda 0,91 m/s2

Des

loca

men

to

rela

tivo

entr

e ro

da e

ca

rroc

eria

6,2

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Dianteiro esquerdo eRMS = 8 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Dianteiro direito eRMS = 6 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Traseiro esquerdo eRMS = 5 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Traseiro direito eRMS = 7 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Dianteiro esquerdo eRMS = 0.9 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Dianteiro direito eRMS = 0.9 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Traseiro esquerdo eRMS = 0.7 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Traseiro direito eRMS = 0.9 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

338

Os gráficos da figura 4.42 apresentam dados experimentais na cor vermelha (traçado

fino) e os dados da simulação em azul (traçado grosso). Nestes gráficos é possível observar

uma grande similaridade entre o comportamento do modelo e do veículo real equipado com

os atuadores MR, o que é demonstrado pelos baixos valores do erro RMS entre os sinais. Na

figura 4.43 são apresentados gráficos referentes ao terceiro experimento, onde a tensão

elétrica aplicada aos atuadores foi de três volts contínuos. Estes gráficos também mostraram

uma boa correspondência entre os sinais experimentais e simulados.

Figura 4.43 – Comparação entre os sinais para tensão de controle igual a 3 volts.

O objetivo deste procedimento foi verificar se a força gerada pelos modelos dos

atuadores estava de acordo com a força real aplicada pelos atuadores instalados no veículo. O

procedimento reverso (ou seja, encontrar o valor de tensão aplicada ao modelo a partir da

comparação entre os dados experimentais e simulados) mostrou que a forma de interação

entre o veículo e os atuadores estão corretamente modelados e parametrizados.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Dianteiro esquerdo eRMS = 5 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Dianteiro direito eRMS = 4 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Traseiro esquerdo eRMS = 6 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-50

0

50

Traseiro direito eRMS = 5 mm

Des

loca

men

to (

mm

)

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Dianteiro esquerdo eRMS = 0.9 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Dianteiro direito eRMS = 0.8 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Traseiro esquerdo eRMS = 1.0 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

-5

0

5

Traseiro direito eRMS = 1.2 m/s2

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

339

4.2.4 RESUMO DOS RESULTADOS – ATUADORES MAGNETO REOLÓGICOS

O desenvolvimento do projeto e construção dos atuadores MR trouxe várias

contribuições sobre aspectos relativos aos próprios atuadores e outros relativos à sua

aplicação em controle. O resumo destes resultados é apresentado a seguir.

• Mais uma vez, a técnica de projeto desenvolvida no volume 1 deste trabalho mostrou-se

eficaz no projeto de dispositivos baseados em fluido MR.

• Foi verificado que os requisitos de força, velocidade de resposta e alcance dinâmico para

atuadores voltados ao controle de caminhonetes são bastante severos e difíceis de

alcançar. À medida que se buscou atingir forças maiores e ao mesmo tempo garantir uma

boa vazão para o fluido na válvula desligada, foi necessário aumentar muito a capacidade

de magnetização da válvula, acarretando indutâncias muito elevadas e conseqüentemente

velocidades de resposta mais lentas.

• Os atuadores MR mostraram uma boa linearidade na relação força versus tensão elétrica

de controle, o que mostra que houve pouca saturação do núcleo magnético e das partículas

de ferro carbonilo do fluido MR. Foi uma evolução em relação ao segundo protótipo

apresentado na seção 7 do volume 1 deste trabalho, que apresentou variações decrescentes

de força em função de variações constantes da tensão elétrica nos gráficos de força x

deslocamento e força x velocidade. A melhoria se deu pela utilização de partículas de

ferro carbonilo mais duras no novo fluido que resultarem numa saturação menor.

• O modelo discreto proposto para modelagem do atuador na seção 6 do volume 1 mostrou-

se mais uma vez eficaz na representação do atuador MR real. Este modelo foi facilmente

implementado no Simulink, que é o primeiro passo antes de poder ser transformado em

código de máquina para ser executado por um microcontrolador ou DSP.

• Foi verificado que o aço 1020 utilizado na construção do núcleo magnético das válvulas

apresenta coercividade suficiente para alterar o comportamento do atuador. O efeito da

magnetização pode ser modelado como uma tensão elétrica constante aplicada aos

terminais da bobina magnética da válvula. Para estes protótipos, está tensão ficou entre

0,7 e 0,8 V.

• O efeito da magnetização do núcleo da válvula, associado ao efeito dos atritos entre as

partes móveis do atuador, e também ao comportamento não-newtoniano do fluido MR são

os fatores responsáveis pelo considerável desnível de força dos atuadores na inversão da

340

velocidade do pistão. Este comportamento indesejável contribui com a redução da

eficiência do atuador MR, fazendo com que seu desempenho quanto ao conforto seja

reduzido e ainda seja uma fonte para intensificar o “tranco”.

• O mesmo processo de identificação utilizado para ajustar os parâmetros do modelo do

veículo também serviu para validar a combinação do modelo do veículo com o modelo

dos atuadores MR para representação do veículo utilizando os atuadores no lugar dos

amortecedores convencionais.

• O modelo linear do veículo com os parâmetros descritos na tabela 4.7 (que considera

apenas os amortecimentos residuais da suspensão e os fatores de alavancagem) é o modelo

mais apropriado para utilização na síntese do controlador. Contudo, com a utilização dos

amortecedores MR, é necessário adicionar amortecimentos residuais a estes atuadores.

Apesar destes amortecimentos não serem puramente viscosos devido à presença de outros

efeitos que se aproximam do atrito de Coulomb, a aproximação por coeficientes de

amortecimento viscoso é a alternativa mais simples de modelamento que mantém a forma

linear, e que é necessária na síntese de controle LQG/LTR.

• Outro resultado importante é que os parâmetros ko e xo do modelo do atuador MR, que

servem para modelar o efeito mola da pressurização do mesmo, são necessários no

processo de identificação, porém são dispensáveis na utilização do modelo do atuador

acoplado ao modelo do veículo. Esta aproximação é aceitável, pois a força deste efeito

mola pode ser incorporada a força da mola da própria suspensão do veículo que é bem

maior. Os últimos resultados desta seção comprovam este fato.

341

4.3 PROJETO DO CONTROLADOR ROBUSTO

Nesta seção foi colocada em prática a metodologia da síntese de controlador robusto via

LQG/LTR adaptada para o projeto de sistemas de controle de suspensão veicular.

Este desenvolvimento começa pela análise do modelo, avaliando as suas incertezas

(estruturadas e não-estruturadas), sua estabilidade e condicionamento da sua matriz de

tranferência. Ainda antes da síntese do controlador, o modelo da planta passa por

transformações que visam eliminar a parte não controlável, reduzir a ordem do sistema, e

torná-lo internamente balanceado com relação aos seus gramianos de controlabilidade e

observabilidade. Estes procedimentos visaram conduzir a um modelo reduzido em relação ao

modelo original da planta, e que apresentasse um melhor condicionamento numérico nos

procedimentos computacionais utilizados para a síntese do controlador.

4.3.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Para a síntese do controlador robusto foi adotado o modelo linear cujos parâmetros estão

descritos na tabela 4.7, que considera os fatores de alavancagem da suspensão conforme as

equações (4.21) e (4.22).

Foram adicionados aos coeficientes de atrito residuais da suspensão do modelo os

valores relativos ao atrito residual nos atuadores MR. Apesar do coeficiente atrito viscoso

destes atuadores ser de aproximadamente 350 N.s/m, foi adicionado ao modelo o valor de 500

N.s/m com uma incerteza da ±20%, devido ao efeito de “atrito de Coulomb” descrito na seção

4.2.1.

Apesar da constante de tempo do atraso de primeira ordem do sinal de tensão de

controle dos atuadores MR ser de aproximadamente 25 ms, esta dinâmica não foi considerada

na síntese do controlador. As razões para isso foram duas: em primeiro lugar pelo controlador

estar focando a atuação sobre a faixa de freqüência de vibração da massa suspensa, e em

segundo, pela intenção de se utilizar uma sub-malha de controle no atuador, de forma a

reduzir seu tempo de resposta para aproximadamente 8 ms. Este erro de modelagem foi

considerado na formação das barreiras de projeto.

Toda a síntese do controlador foi feita no tempo contínuo, apesar da implementação

final do controlador ser em um circuito eletrônico digital (DSP). As matrizes de estado do

controlador no final do projeto foram discretizadas para sua aplicação real.

342

4.3.2 AVALIAÇÃO DAS INCERTEZAS DO MODELO

As incertezas do modelo foram divididas em incertezas estruturais e incertezas não-

estruturais. As incertezas estruturais estão relacionadas às incertezas nos parâmetros do

modelo e foram modeladas segundo os valores de incerteza descritos na tabela 4.7, que são

resultantes do processo de identificação do modelo. Por outro lado, as incertezas não-

estruturais tem relação com as dinâmicas não modeladas e com discontinuidades como:

saturação, histerese, efeito de Coulomb, zona morta, etc. Estas incertezas foram representadas

pela adoção de uma classe de incertezas aditivas, denominadas ∆ G(s), conforme apresentado

na figura 4.44.

Figura 4.44 - Diagrama de blocos do sistema de controle em malha fechada.

Conforme descrito na seção 3.3.1, pode ser definida uma função escalar )(ωMe que deve

ser sempre maior que o maior valor singular da MFT do erro de modelagem para qualquer ω .

Neste projeto esta função escalar foi definida como:

ωω ⋅= 005,0)(Me (4.23)

Esta função mostra que o erro de modelagem em 200 rad/s é 1 ou 100%, e que ele

aumenta 20 dB a cada década.

Segundo a representação do sistema na figura 4.44, considera-se uma perturbação

exógena D(s) na saída da planta. Apesar de algumas perturbações externas afetarem

diretamente as saídas, como ocorre com ações de frenagem e aceleração do veículo, ou

acelerações laterais geradas por mudanças de direção do veículo, por exemplo, a maior fonte

343

de perturbações tem origem nos movimentos verticais que o perfil da pista impõe às rodas do

veículo. A forma de transferir estas perturbações para a saída está descrita no diagrama da

figura 4.45, onde o vetor de sinais de velocidades verticais impostos pela pista, W(s), é

introduzido na entrada do modelo do veículo através da matriz B1, gerando a contribuição

desta perturbação ao vetor de sinais de perturbação exógena D(s).

Figura 4.45 - Diagrama de blocos do sistema de controle em malha fechada.

O conhecimento da intensidade do sinal D(s) dentro do espectro de freqüências de

interesse para este projeto é importante para definição da barreira de desempenho a ser

utilizada na síntese do controlador. Para isso foi feito um gráfico de Bode multivariável25 da

função de transferência com entrada W(s) e saída D(s). Com a intenção de se obter uma

análise mais completa, as incertezas estruturais também foram consideradas. Isto foi feito

através da sobreposição de 15 diagramas de Bode multivariável gerados a partir de uma

simulação Monte-Carlo das incertezas do modelo do veículo. Como D(s) corresponde a oito

sinais: quatro sinais de aceleração vertical da carroceria e outros quatro de deslocamento

relativo entre roda e carroceria, o resultado foi dividido em dois gráficos a fim de facilitar a

análise. Estes gráficos são apresentados na figura 4.46.

A partir de uma análise no gráfico da figura 4.46 é possível verificar que a faixa mais

crítica para a perturbação D(s) está compreendida entre as freqüências 5 e 25 rad/s com

relação aos sinais de aceleração vertical da carroceria. E também abaixo de 1 rad/s para os

sinais de deslocamento relativo entre rodas e carroceria, além de apresentar também um

pequeno pico na mesma faixa de freqüência da aceleração vertical. Percebe-se também que as

25 O gráfico de Bode multivariável é feito a partir da representação da variação dos valores singulares da matriz de transferência ao longo do eixo das freqüências.

344

incertezas estruturais não impactam de forma importante a forma da variação destes sinais na

freqüência.

Figura 4.46 – Bode multivariável do sinal D(s) em relação a perturbação W(s).

No estudo do efeito das incertezas no comportamento do modelo, outra análise

importante é o efeito das incertezas estruturais na resposta em freqüência da saída da planta

Yo(s) em relação à entrada de controle U(s). Para isso também foi utilizada uma simulação de

Monte Carlo que gerou 15 diagramas de Bode multivariável que foram sobrepostos e

apresentados nos gráficos da figura 4.47. Nestes gráficos pode-se notar que as variações

máximas dos valores singulares devido ás incertezas estruturais encontram-se dentro de uma

faixa de ±2 dB, que é um valor relativamente baixo.

Figura 4.47 - Bode multivariável do sinal Yo(s) em relação ao sinal de controle U(s).

345

4.3.3 PÓLOS, ZEROS DE TRANSMISSÃO E OBSERVABILIDADE

Antes da síntese do controlador é preciso analisar a matriz de transferência GN(s) para

verificar se ela se enquadra nos requisitos necessários para aplicação da técnica LQG/LTR.

O primeiro passo foi encontrar os pólos e zeros de GN(s). A Tabela 4.16 apresenta este

resultado. Através destes resultados, é possível observar que todos os pólos são estáveis e não

há zeros de transmissão de fase não-mínima. Apesar de o sistema apresentar um pólo na

origem, não se trata de um sistema com estabilidade crítica ou marginal, visto que o zero na

origem cancela este pólo do sistema. No entanto, este cancelamento de pólo e zero mostra

uma condição de falta de controlabilidade, ou seja, uma parte da dinâmica interna do sistema

não é afetada pela entrada de controle.

Tabela 4.16 – Pólos e zeros de transmissão do sistema

-51,88 ±85,43i

-52,15 ±64,54i

-75,52 ±48,65i

Pólos relacionados aos movimentos verticais das rodas dianteiras e ao movimento de translação e rotação do eixo

traseiro da caminhonete.

-30,58 ±47,71i

Pólo na origem. 0,0

-1,28 ±11,25i

-0,74 ± 9,67i

Pólos relacionados aos movimentos de arfagem,

rolamento e vertical da massa suspensa.

-1,23 ± 9,81i

Zero de transmissão na origem 0,0

Para completar a análise, foram verificadas a controlabilidade e observabilidade na

forma do sistema GN em espaço de estados, ou seja, na sua representação no tempo. Para ser

totalmente controlável e observável, o posto dos gramianos de controlabilidade e

observabilidade deveriam ser quinze, que é a ordem da matriz de transferência. Como o posto

do gramiano de controlabilidade resultou em apenas quatorze, significa que há uma parte não-

controlável do sistema com ordem igual a 1, o que já era esperado, dado o cancelamento de

pólo e zero. Como todos os pólos são estáveis, a parte não controlável do sistema é estável,

346

então o sistema pode ser considerado estabilizável, o que é suficiente para a aplicação da

técnica LQG/LTR. Por outro lado, o posto do gramiano de observabilidade resultou em

quinze, o que sinaliza que o sistema é totalmente observável. Entretanto, o número de

condicionamento do gramiano de observabilidade resultou muito grande (>1012),

demonstrando um mau-condicionamento. Esta característica do gramiano de observabilidade

indica que pode haver problemas numéricos nos algoritmos utilizados na síntese do

controlador.

Estes resultados mostram que antes da síntese do controlador é importante que o sistema

seja reduzido para eliminar a parte não controlável, e balanceado e truncado para melhorar o

seu condicionamento numérico no processo de síntese do controlador.

4.3.4 ELIMINAÇÃO DO MODO DE TORÇÃO

No gráfico das acelerações verticais da figura 4.47, que foi apresentado na seção 4.3.2,

um dos valores singulares da matriz de transferência GN(s) foi ignorado, pois ele apresentou

valores próximos de zero. No gráfico da figura 4.48, onde se juntou os diagramas de Bode

multivariável das acelerações verticais da carroceria (cor azul) com o Bode dos

deslocamentos relativos entre roda e carroceria (cor magenta), pode-se verificar de fato esta

situação.

Figura 4.48 - Bode multivariável GN(s), mostrando todos os valores singulares.

100

101

102

-400

-350

-300

-250

-200

-150

-100

-50

FRF Yo(s) = GN(s).U(s) (Modelo original)

Freqüência (Hz)

Val

ores

sin

gula

res

(dB

)

347

A razão pela qual um valor singular da matriz é praticamente nulo é que existe uma

situação onde os atuadores exercem uma força coordenada no sentido de torcer o chassi do

veículo, a qual não altera o valor da saída (acelerações da carroceria). Isto ocorre devido ao

modelo considerar que o corpo suspenso do veículo é rígido. Como o ganho da matriz GN(s) é

nulo para esta dimensão do vetor de entrada de forças em qualquer freqüência, no diagrama

de Bode multivariável aparecerá uma linha mostrando valores muito próximos de zeros,

conforme pode ser observado na figura 4.48.

Para eliminar este problema, foi aplicada a transformação linear S nas entradas e saídas

da planta nominal GN(s), conforme foi descrito na seção 3.2.4. Assim se obteve uma nova

matriz de transferência Gst(s) dada por:

( ) ( ) ##21

#

43

432

1

43

43st )( DBAICSD

S0

0SSBAIC

S0

0SG +⋅−⋅=⋅⋅

+⋅⋅−⋅⋅

=

−−sss

T

x

x

T

T

x

x

T

(4.24)

Nesta transformação foi utilizada a matriz S da equação (3.30), porém sem a última

coluna que se refere ao modo de torção, assim as dimensões de GN(s) que eram 8x4 passaram

a ser 6x3 em Gst(s). Um novo diagrama de Bode multivariável foi traçado para esta nova

matriz de transferência, o qual é apresentado na figura 4.49. Este gráfico mostra que o valor

singular próximo de zero desapareceu, conforme era esperado.

Figura 4.49 - Bode multivariável Gst(s), mostrando todos os valores singulares.

100

101

102

-180

-160

-140

-120

-100

-80

-60

-40

FRF Y#(s) = Gst

(s).U#(s) (Modelo sem torção)

Freqüência (Hz)

Val

ores

sin

gula

res

(dB

)

348

4.3.5 CRITÉRIOS DE DESEMPENHO E PONDERAÇÃO DAS SAÍDAS

O modelo do veículo na condição atual apresenta três saídas de aceleração, cuja unidade

é [m/s2], três saídas de deslocamento, cuja unidade é [m], e três entradas de controle, cuja

unidade é [N]. O que se propõe ao controlador é que os seis sinais de saída sejam

realimentados de forma a gerar o sinal de entrada “ótimo” para melhorar o desempenho do

sistema em conforto, “rattlespace”, e segurança. As saídas de acelerações do corpo suspenso

do veículo podem ser utilizadas como indicador para avaliação do conforto, e as saídas de

deslocamento relativo da suspensão podem ser utilizadas como indicador para avaliação do

“rattlespace”. Contudo o sistema carece de uma medição objetiva da deformação dos pneus,

que seria um bom indicador para o critério de segurança, pois teria uma relação direta com a

força normal que cada roda aplica à pista.

Diferentemente de outras técnicas de controle avançado como ∞H , a técnica LQG/LTR

não considera critérios de desempenho sobre sinais que não estejam nas saídas da planta. Na

prática, isto não significa uma grande desvantagem para esta aplicação, pois o sinal de

deformação que um controlador ∞H acaba utilizando “internamente”26 não é fidedigno. Isto

decorre do fato de que o pneu é um elemento extremamente não linear, e a entrada de

perturbação gerada pelo pavimento nem sempre pode ser aproximada por um ruído gaussiano

de média zero.

Sendo assim, a estratégia de projeto foi tratar o desempenho em segurança de forma

indireta na síntese do controlador LQG/LTR. Neste trabalho a proposta foi explorar este

problema a partir da escolha da matriz L que define a malha objetivo27. A desvantagem desta

estratégia e que a matriz L não é definida a partir de um processo de síntese, porém de

tentativa e erro. A vantagem é que uma vez definida a forma de cálculo da matriz L, a mesma

forma de cálculo poder ser utilizada em outros projetos de controle para suspensão veicular.

Quanto aos demais critérios de desempenho, cujos sinais estão presentes na saída da

planta, ainda é preciso reanalisar o gráfico da figura 4.49. Neste gráfico percebe-se que o

ganho da planta com relação ao sinal de aceleração da massa suspensa é bem superior ao

ganho relativo ao sinal de deslocamento entre roda e carroceria. Se não for utilizada uma

constante de ponderação que potencialize o efeito das saídas de deslocamento, haverá o

predomínio do desempenho sobre o conforto na ação do controlador. Porém, além do efeito

26 O uso da palavra “internamente” tem o sentido de que o controlador utiliza uma realimentação de estados que são estimados por um observador, e que estes estados só estão disponíveis dentro do controlador. 27 A matriz L é um dos parâmetros de projeto da técnica LQG/LTR, conforme descrito na seção 3.3.1 da parte 2 deste trabalho.

349

de que o curso da suspensão possa alcançar amplitudes elevadas, a pior conseqüência é que o

controlador resultante deste projeto apresentaria pólos muito próximos da origem. Para um

controle de suspensão não é bom que o controlador apresente pólos próximos da origem, pois

é comum os sinais de sensores de aceleração apresentarem certo viés, e em função do atrito de

Coulomb, a suspensão nem sempre pára na mesma posição, ou seja, existe uma zona morta

cujo efeito resulta também num viés dos sensores de deslocamento. Pólos próximos da origem

podem amplificar o efeito destes vieses e levar os atuadores à saturação.

Para solucionar este problema, o sinal de deslocamento foi multiplicado por 20, que

permitiu aumentar a importância do sinal de deslocamento, porém ainda mantê-lo inferior ao

sinal de aceleração para freqüências superiores a 1 Hz. Este resultado é apresentado no gráfico

da figura 4.50. A curva na cor vermelha representa o sinal de deslocamento relativo

multiplicado por 20. Pode-se verificar que para freqüências abaixo 0,7Hz, este sinal já supera

o de aceleração da massa suspensa. Esta condição garante que o pólo do controlador mais

próximo da origem apresente parte real mais negativa que -2,5.

Figura 4.50 - Bode multivariável Gst(s) com as saídas de deslocamento multiplicadas por 20.

Foi criada uma mova matriz de transferência quadrada (3x3) resultante da matriz de

transferência Gst(s) com a soma ponderada da sua saída, conforme apresentado pela equação

(4.25).

350

[ ] [ ] ( ) [ ] #3333#21

#3333st3333o 2020)(20)( DIIBAICIIGIIG ⋅⋅+⋅−⋅⋅⋅=⋅⋅=−

xxxxxx sss (4.25)

O diagrama de Bode multivariável desta nova matriz de transferência Go(s) é

apresentado na figura 4.51, representado pela curva em traçado grosso e na cor preta.

Figura 4.51 - Bode multivariável Go(s), cuja saída é a soma ponderada das saídas de aceleração e deslocamento (cor preta, traçado grosso).

A matriz de transferência Go(s) passa a ser então a referência para a síntese do

controlador, contudo ela ainda passará por transformações visando a eliminação a parte não

controlável, e seu balanceamento e truncamento. É importante salientar que as transformações

que serão descritas a seguir foram aplicadas a partir das matrizes C# e D#, visto que elas

precisam manter a sua dimensão (6x3) para serem utilizadas na síntese do controlador. A

multiplicação pela matriz de ponderação [ ]333320 xx II⋅ só ocorre em pontos específicos do

processo de síntese, que será descrito adiante.

100

101

102

-140

-120

-100

-80

-60

-40

-20

FRF Y#o(s) = Go(s).U#(s) (Modelo sem torção)

Freqüência (Hz)

Val

ores

sin

gula

res

(dB

)

351

4.3.6 REDUÇÃO, BALANCEAMENTO E NORMALIZAÇÃO DO MODELO

Antes de se iniciar o processo de síntese do controlador foi realizada uma redução do

modelo, com balanceamento dos gramianos de controlabilidade e observabilidade. Além

disso, o modelo foi normalizado segundo o critério definido na seção 3.3.5 da parte 2 deste

trabalho, através da proposição 3.

Para avaliar a condição do sistema foram plotados os diagramas de Bode multivariável a

cada fase deste processo, a fim de verificar se o modelo manteve a mesma resposta em

freqüência após consecutivas transformações de similaridade e truncamento.

Para avaliar melhoria no condicionamento do sistema foram calculados os valores

singulares de Hankel28 ( Hσ ), que são os valores singulares da matriz resultante do produto

dos gramianos de controlabilidade (Wc) e observabilidade (Wo). Os valores singulares de

Hankel estão relacionados com a “energia” de cada estado do sistema. O ideal é que esta

“energia” esteja distribuida de forma equilibrada em todos os estados. O objetivo é que a

redução, o balanceamento e a normalização levem a uma condição mais equilibrada da

“energia” no sistema.

4.3.6.1 Redução de Ordem do Sistema

Como o posto do gramiano de controlabilidade Wc resultou em quatorze, significa que

existe uma dimensão do sistema (A,B,C,D) que não é controlável. A primeira etapa deste

processo consiste em obter uma transformação de similaridade To, de forma que seja possível

separar a parte controlável da não-controlável. O algoritmo usado para obter a matriz To foi o

“Staircase Algorithm” (Rosenbrock, 1970)29, implementado no Matlab® no comando “ctrbf”.

A transformação de similaridade To, foi então aplicada da seguinte forma:

TT

o##2o2oo ; ; TCCBTBTATA ⋅=⋅=⋅⋅= (4.26)

28 Por definição, para sistemas estáveis os valores singulares de Hankel são calculados por: )( oc WW ⋅= eigHσ 29 Rosenbrock, M. M., State-Space and Multivariable Theory, John Wiley, 1970.

352

O sistema transformado passou a ter a forma apresentada na equação (4.27), mostrando

claramente a separação entre a parte controlável (identificada pelo índice ”nc”) e a não-

controlável (identificada pelo índice “c”):

[ ]cnc2c

2c21

nc ; ; CCCB

0B

AA

0AA =

=

= (4.27)

A última operação é separar somente a parte controlável para ser utilizada na síntese do

controlador. O sistema resultante é:

( ) [ ] ( ) [ ] #33332c1

cc3333or 2020 DIIBAICIIG ⋅⋅+⋅−⋅⋅⋅=−

xxxx ss (4.28)

A figura 4.52 mostra dois diagramas de Bode multivariável das MFT Go(s) e Gor(s)

respectivamente. Percebe-se que praticamente não houve nenhuma alteração na resposta em

freqüência, o já que era esperado.

Figura 4.52 – Comparação dos diagramas de Bode multivariável Go(s) e Gor(s).

Com a eliminação da parte não controlável é então possível calcular os valores

singulares de Hankel. Como a MFT Gor(s) tem ordem quatorze, existem quatorze valores

singulares de Hankel. Este resultado é apresentado na figura 4.53. Neste gráfico é possível

observar que os dois últimos valores singulares são tão pequenos que nem aparecem no

gráfico. Isto sugere que o sistema pode ser truncado em doze estados apenas30.

30 A queda brusca do sexto para o sétimo valor singular também sugere um truncamento neste ponto, contudo isto elimina demasiadamente a quantidade de graus de liberdade do sistema, que passa a não ser mais adequado.

353

Figura 4.53 – Valores singulares de Hankel do sistema Gor(s).

4.3.6.2 Realização Balanceada e Truncada (RBT)

O procedimento RBT, apresentado pela primeira vez por Moore (1981), baseia-se na

informação obtida a partir dos gramianos de controlabilidade (Wc) e observabilidade (Wo),

que podem ser obtidos a partir da solução das duas equações de Lyapunov apresentadas na

equação (4.29):

cccooc2c2ccccc ; CCAWWABBAWWA TTTT −=+−=+ (4.29)

Uma vez resolvidos os gramianos este procedimento consiste em mais seis passos:

1. Calcular os fatores de Cholesky: Wc = LcLc

T, Wo = LoLoT;

2. Calcular a decomposição em valores singulares (DVS) do produto de Cholesky UΣΣΣΣV

= LoTLc, onde ΣΣΣΣ é uma matriz diagonal e positiva e U, V têm colunas ortogonais;

3. Computar a transformação de balanceamento, conforme as equações (4.30):

TT

o1

c

21

21

LUΣT

ΣVLT

⋅⋅=

⋅⋅=−−

(4.30)

354

4. Colocar na forma da realização balanceada, conforme as equações (4.31):

1cb

c2b

1cb

⋅=

⋅=

⋅⋅=

TCC

BTB

TATA

(4.31)

5. Ordenar a matriz ΣΣΣΣ na ordem decrescente dos valores singulares de Hankel e colocar

as matrizes Ab, Bb e Cb organizadas na mesma ordem;

6. Truncar as matrizes Ab, Bb e Cb para formar uma realização reduzida do sistema a

partir da eliminação de linhas e colunas relacionadas aos valores singulares com valor

desprezível.

Este procedimento foi aplicado às matrizes de espaço de estados do sistema Gor(s), que

originalmente tinha ordem quatorze e foi truncado resultando no sistema Gorb(s) de ordem

doze, descrito conforme segue:

( ) [ ] ( ) [ ] #3333b1

bb3333orb 2020 DIIBAICIIG ⋅⋅+⋅−⋅⋅⋅=−

xxxx ss (4.32)

A figura 4.54 mostra dois diagramas de Bode multivariável das MFT Go(s) e Gorb(s)

respectivamente. Percebe-se que praticamente não houve nenhuma alteração na resposta em

freqüência, mesmo com a eliminação de mais dois estados.

Figura 4.54 – Comparação dos diagramas de Bode multivariável Go(s) e Gorb(s).

355

4.3.6.3 Normalização

A normalização tem basicamente dois objetivos: obter uma matriz de ganhos que

deixe o sistema com ganho próximo de 1, e fazer a ortogonalização da matriz D# segundo a

proposição 3 da seção 3.3.5 da parte 2 deste trabalho.

Como a matriz D# tem posto de coluna completo, pode-se adotar a seguinte

normalização:

un

un

u

SDD

SBB

)D(DS

⋅=

⋅=

⋅= −

#

b

21##

/T

(4.33)

Com esta normalização o sistema resultante é:

( ) [ ] ( ) [ ] n3333n1

bb3333orbn 2020 DIIBAICIIG ⋅⋅+⋅−⋅⋅⋅=−

xxxx ss (4.34)

A figura 4.55 mostra o diagrama de Bode multivariável da MFT Gorbn(s). Através

deste gráfico percebe-se que a normalização cumpriu o seu papel, deixando o ganho do

sistema em torno de 1, e aproximando os valores singulares da MFT, que é a situação ideal

para o início do processo de síntese do controlador.

Figura 4.55 – Diagramas de Bode multivariável de Gorbn(s).

100

101

102

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

FRF Gorbn(s) (Realização balanceada e normalizada)

Freqüência (Hz)

Val

ores

sin

gula

res

(dB

)

356

Com a finalização do processo de redução, balanceamento, truncamento, e

normalização foram calculados novamente os valores singulares de Hankel. Como a MFT

Gorbn(s) tem ordem doze, existem doze valores singulares de Hankel. Este resultado é

apresentado na figura 4.56. Neste gráfico pode-se observar que a distribuição da “energia”

entre os estados do sistema melhorou, pelo menos em relação aos seis estados mais

importantes. A eliminação dos dois estados com energia desprezível melhorou bastante o

condicionamento do sistema para a síntese do controlador.

Figura 4.56 – Valores singulares de Hankel do sistema Gorbn(s).

O sistema resultante Gorbn(s) não apresenta mais o pólo e o zero de transmissão na

origem. Os pólos do sistema com relação a entrada U(s) são apresentados na tabela 4.17.

Tabela 4.17 – Pólos do sistema

-58,33 ±60,36i

-52,15 ±64,54i

Pólos relacionados aos movimentos verticais das rodas dianteiras e ao movimento de translação e rotação do eixo

traseiro da caminhonete. -30,58 ±47,71i

-1,28 ±11,25i

-0,74 ± 9,67i

Pólos relacionados aos movimentos de arfagem,

rolamento e vertical da massa suspensa. -1,23 ± 9,81i

357

4.3.7 SÍNTESE LQG/LTR

O processo de síntese do controlador LQG/LTR segue basicamente o roteiro descrito na

seção 3.3.1 desta parte do trabalho. Como já se tem o modelo da planta bem condicionado e

normalizado, e já foi feita a avaliação dos erros de modelagens e das incertezas estruturais e

não-estruturais, o passo seguinte é a definição das barreiras de desempenho e robustez.

4.3.7.1 Definição das Barreiras de Projeto

As barreiras de desempenho e estabilidade foram definidas conforme descrito na seção

3.3.2 desta parte do trabalho. Os parâmetros e funções que as definem são apresentados a

seguir:

ar)(1

1

feM+= para 0,03 < f ≤ 0.1 Hz

aj)(1

10

feM+= para 0,1 < f ≤ 10 Hz

ac)(1

2

feM−= para 1 < f ≤ 3 Hz

as)(1

1

feM+= para 10 < f ≤ 20 Hz

ae)(1

316,0

feM+= para 20 < f ≤ 200 Hz

am)(1

1,0

feM+= para f > 200 Hz

onde )( feM resulta da equação (4.23) como segue:

fffeM ⋅=⋅⋅⋅= ππ 01,02005,0)( (4.35)

As barreiras de robustez foram representadas no gráfico 4.57, que mostra seus valores

em dB com relação ao eixo das freqüências. Esta representação gráfica é que orientou o

posicionamento da resposta em freqüência da MTF de malha aberta na seqüencia deste

procedimento de síntese do controlador.

358

Figura 4.57 – Barreiras de robustez.

4.3.7.2 Escolha dos parâmetros µ e L

Os parâmetros µ e L são utilizados para definir a função objetivo, ou seja, a forma

como a resposta em freqüência da MFT em malha aberta deve se comportar. Na verdade a

forma desta função é dada pela matriz L, e o parâmetro µ é utilizado apenas para movimentar

a função para cima e para baixo no diagrama de resposta em freqüência. A função objetivo é

definida a seguir:

( )

− LAIC 1bp

1si

µσ (4.36)

onde

[ ] b3333p 20 CIIC ⋅⋅= xx (4.37)

359

Conforme foi mencionado na seção 4.3.5, a matriz L foi o parâmetro utilizado para

melhorar o critério de segurança. Neste sentido foram propostas três matrizes L, identificadas

por 321 e , ppp LLL , e definidas como segue:

SBTTL ⋅⋅⋅= 1o1p (4.38)

( ) 1

ppp2

−⋅⋅= TT

p CCCL (4.39)

( ) 1

ppp3

−⋅⋅⋅⋅= TT

p CNCCNL (4.40)

A matriz 3pL segue uma proposta apresentada em Cruz (1996), onde a matriz N pode

ser qualquer matriz simétrica com dimensões 12x12 (já que o sistema reduzido tem ordem

12). Para esta aplicação, escolheu-se a seguinte forma para a matriz N:

( ) 1

bb

−⋅= TAAN (4.41)

A seguir, nas figuras 4.58, 4.59 e 4.60, são apresentados três diagramas mostrando as

funções objetivo geradas por cada uma das três propostas para a matriz L. Nestes diagramas

as curvas em traçado fino representam a função com µ =1, e as curvas em traçado grosso

representam as curvas com o valor de µ ajustado para posicionar as funções objetivo entre as

barreiras de desempenho e estabilidade.

Figura 4.58 – Função objetivo gerada por 1pL e µ =25.

360

Figura 4.59 – Função objetivo gerada por 2pL e µ =2 x 10-4.

Figura 4.60 – Função objetivo gerada por 3pL e µ =0,002.

Como é possível observar nos diagramas das figuras 4.58, 4.59 e 4.60, a função

objetivo gerada por 3pL e µ =0,002 é a que apresenta a melhor forma para se encaixar entre

as barreiras. Esta é uma das razões pela qual ela foi escolhida para a síntese do controlador. A

outra razão foi porque esta é a proposta que apresenta melhor resultado quanto ao critério de

segurança medido pela amplitude máxima de deformação dos pneus, conforme é apresentado

na seção 4.3.7.7.

361

Neste trabalho é apresentada a síntese de dois controladores, ambos partindo de funções

objetivo definidas pela matriz 3pL , porém utilizando valores diferentes para parâmetro µ .

Como se pode observar na figura 4.60, a função objetivo gerada por µ =0,002 intercepta um

pouco as barreira “aj” e “ac”, ou seja, ela busca um melhor compromisso entre o desempenho

com relação ao “tranco”, à filtragem das excitações exógenas impostas pela pista onde o

veículo transita, e à insensibilidade em relação às variações da planta.

Foi também utilizada uma função objetivo com µ =5 x10-4 que resultou na função

apresentada na figura 4.61.

Figura 4.61 – Função objetivo gerada por 3pL e µ =5 x10-4.

A partir da figura 4.61, observa-se que a nova função objetivo respeita a barreira “ac”

porém intercepta em maior grau a barreira “aj”. O objetivo de se realizar a síntese de dois

controladores a partir destas duas funções objetivo é o de demonstrar a eficácia da barreira

“aj” no sentido de redução do “tranco”, o que será mostrado a partir de simulações e

resultados experimentais.

A seqüência do procedimento da síntese do controlador mostra a partir deste ponto os

resultados parciais obtidos a partir de cada um dos parâmetros µ .

4.3.7.3 Cálculo da matriz de ganhos do observador

O passo seguinte da síntese do controlador é o cálculo da matriz de ganhos do

observador e a verificação da Identidade de Kalman.

362

A matriz de ganho do observador foi calculada a partir da matriz Po que é a solução da

seguinte EAR:

01

qq33bb =−++ oooo PCCPLLAPPA TT

pp

T

µ (4.42)

onde

b3333

3333q

20C

I0

0IC ⋅

⋅=

xx

xx (4.43)

O ganho do observador foi então calculado por:

T

q

1CPK oo

µ= (4.44)

Com o resultado obtido para o ganho do observador, calculou-se a seguinte MFT:

( ) oKF KAICG 1bp)( −

−= ωω jj (4.45)

A resposta em freqüência desta MFT foi desenhada e verificou-se uma boa aderência à

curva da função objetivo, comprovando-se o resultado da Identidade de Kalman. Este

resultado é apresentado nos gráficos da figura 4.62.

Figura 4.62 – Resposta em freqüência da MFT )( ωjKFG gerado 3pL , com µ =0,002

(gráfico da esquerda) e µ =5 x10-4 (gráfico da direita).

363

4.3.7.4 Cálculo da matriz de ganhos do controlador

Para o cálculo da matriz de ganhos do controlador foi resolvida a seguinte EAR:

01

1cnnccc =

+−++ PBBPQAPPA TT

ρ (4.46)

onde

qqnb 1

1CDBAA T

+−=

ρ (4.47)

1

1qq CCCCQ TT

+−=

ρ (4.48)

n3333

3333q

20D

I0

0ID ⋅

⋅=

xx

xx (4.49)

Para a recuperação da matriz de transferência (resultado LTR), é necessário fazer o

parâmetro ρ ser um número muito pequeno. Neste projeto foi utilizado ρ =10-10.

A matriz de ganhos do controlador foi calculada da seguinte forma:

( )cnqq)1(

1PBCDK TT

c ++

(4.50)

Como a matriz de ganhos do controlador não depende de µ , apenas um resultado foi

calculado e serviu para os dois controladores.

4.3.7.5 Cálculo da MFT do controlador

A partir dos resultados obtidos para as matrizes de ganhos do observador e do

controlador ( cKK e o ) foi obtida a MFT do controlador conforme descrito na seção 3.3.4 da

parte 2 do trabalho, porém com o sinal negativo, pois se trata de um regulador. A seguir

apresenta-se a expressão da MFT do controlador com as matrizes consideradas no projeto:

ooo KKDKCKKBAIKH 1qqnb )()( −−++−−= ccc ss (4.51)

364

Contudo as matrizes S e Su utilizadas nos processos de eliminação do modo de torção e

normalização da planta, não fazem parte da planta nominal )(sNG . Sendo assim estas

matrizes têm que fazer parte do controlador, que passa a se chamar controlador real, )(R sH , e

é definido a seguir:

⋅−++−⋅⋅−= −

T

x

x

T

ccc ssS0

0SKKDKCKKBAIKSSH ooo

43

431qqnbuR )()( (4.52)

Uma vez determinada a MFT do controlador é preciso verificar se os valores singulares

da MFT )()( R ωω jj HG N ⋅ obedecem às barreiras e tendem a se aproximar de )( ωjKFG , o

que corresponde ao processo de recuperação da matriz de transferência (LTR). Os gráficos da

figura 4.63 apresentam estes resultados para os dois controladores que foram sintetizados a

partir parâmetros µ diferentes.

Figura 4.63 – Resposta em freqüência da MFT )()( R ωω jj HG N ⋅ , com µ =0,002 (gráfico da

esquerda) e µ =5 x10-4 (gráfico da direita).

A partir dos gráficos da figura 4.63 percebe-se que houve uma boa aproximação da

resposta em freqüência da MFT )()( R ωω jj HG N ⋅ com relação à resposta da MFT )( ωjKFG ,

e respeitando da melhor forma possível as barreiras de desempenho e estabilidade,

comprovando os resultados teóricos das seções 3.3.4 e 3.3.5 da parte 2 deste trabalho.

365

4.3.7.6 Avaliação das margens de ganho e margens de fase

Para uma avaliação mais completa da robustez destes controladores pode-se fazer uma

avaliação estimada das suas margens de ganho e de fase. Em sistemas MIMO estas margens

podem ser estimadas a partir da função de sensibilidade, dada por:

( )[ ]1R88 )()()( −

⋅+= ωωσω jjS xM HGI N (4.53)

E definindo-se:

( ) Ω∈= ωω domínio no )(max SM s (4.54)

Os valores mínimos das margens de ganho GM e de fase FM podem ser calculados

através das seguintes equações (ǺSTÖM, 2002, capítulo 7, página 254):

1−=

S

SG

M

MM (4.55)

⋅⋅=

S

FM

arcsenM2

12 (4.56)

Considerando-se o domínio Ω a faixa de freqüência entre 0,03 e 300 Hz, os resultados

para os controladores obtidos neste projeto foram:

GM >4,46 e FM >45,6º para µ =0,002

GM >4,42 e FM >45,5º para µ =5 x10-4

Como valores de margem de ganho entre 2 e 5 e margem de fase entre 30º e 60º

caracterizam sistemas com boa robustez, pode-se considerar que os controladores obtidos por

este processo de síntese apresentam uma robustez satisfatória.

Os controladores )(R sH foram também analisados a partir do seu mapa de pólos e

zeros e da sua resposta em freqüência. Estes resultados são apresentados na figura 4.64.

366

Através destes gráficos verifica-se que os controladores não apresentam zeros de transmissão

e nenhum integrador. Os pólos mais próximos da origem apresentam parte real menor do que

-2, que é um bom resultado, pois evita que a saída do controlador sature caso algum sensor

apresentar viés.

Figura 4.64 – Mapa de pólos e zeros e resposta em freqüência da MFT )(R ωjH , com µ =0,002 (gráfico da esquerda) e µ =5 x10-4 (gráfico da direita).

Nos gráficos de resposta em freqüência dos controladores (figura 4.64), verifica-se um

ganho abaixo de 30 dB em freqüências acima de 200 Hz. Como a saída do controlador é um

sinal de força medido em [N] e as entradas são acelerações medidas em [m/s2] e

deslocamentos medidos em [m], este ganho significa que ruídos com amplitude de 0,5 m/s2

nas entradas de aceleração irão gerar perturbações de apenas 16 N na saída. No caso das

entradas de deslocamento a sensibilidade aos sinais de nesta faixa de freqüência são ainda

menores.

4.3.7.7 Avaliação do desempenho

Para se analisar o comportamento do controlador em malha fechada, tomou-se como

planta o modelo completo desenvolvido na seção 3.2. Neste modelo as saídas são os sinais de

deformação dos pneus (Y1(s)), que não são medidos, e os sinais de deslocamento relativo entre

roda e carroceria e de aceleração vertical da carroceria em quatro pontos posicionados acima

das rodas (Y(s)). Os sinais do vetor Y(s) são medidos pelos sensores já mencionados na seção

4.1.2 da parte 2. O diagrama da planta em malha fechada com o controlador é apresentado na

figura 4.65.

367

Figura 4.65 – Diagrama de blocos do controlador )(R sH em malha fechada.

O desempenho da planta controlada foi analisado a partir de uma comparação com o

desempenho de um modelo linear representativo do veículo real. Nesta análise foi utilizado o

modelo linear ajustado experimentalmente segundo procedimento descrito na seção 4.1.6 e

cujos parâmetros estão listados na tabela 4.7. O desempenho foi avaliado através da resposta

em freqüência dos três vetores de saída (deformação dos pneus, deslocamento relativo da

suspensão (“stroke”) e acelerações da carroceria) em relação ao vetor de entradas

representado pelos sinais de velocidades verticais que a pista aplica às rodas através do

contato com os pneus (W(s)), enquanto o veículo se encontra em movimento à uma

velocidade constante e em linha reta. Esta análise se restringe ao desempenho de

controladores ativos, dado que se pressupõem modelos lineares e atuadores capazes de

exercer forças sem limite e em qualquer sentido de movimentação da suspensão. O resultado

desta análise está apresentado nos gráficos da figura 4.66, onde os gráficos da esquerda

referem-se ao controlador sintetizado a partir do parâmetro µ =0,002 e os da direita, com

parâmetro µ =5 x10-4 . As curvas mostradas nos gráficos representam o maior valor singular

da matriz de transferência a cada freqüência do vetor de sinais de entrada. Nestes gráficos a

linhas grossas representam o resultado do sistema de suspensão ativo e as linha finas o

sistema passivo utilizado como referência.

368

Figura 4.66 – Comparação do desempenho entre o controle ativo em malha fechada e a planta passiva, com µ =0,002 (gráficos da esquerda) e µ =5 x10-4 (gráficos da direita).

Como resultado da análise dos gráficos da figura 4.66, verifica-se que os dois

controladores foram capazes de atenuar a amplitude das acelerações na carroceria do veículo

(1º gráfico, linhas na cor azul), o que é um indicador de melhoria do conforto. O controlador

com µ =5 x10-4 apresentou melhor desempenho na faixa de freqüência entre 1 e 6 Hz, o que

era esperado, em razão do posicionamento da resposta em malha aberta deste controlador ter

se posicionado melhor em relação à barreira de desempenho.

Com relação ao “stroke” (2º gráfico, linhas na cor magenta), verifica-se que os sistemas

controlados aumentaram um pouco a amplitude dos deslocamentos relativos entre roda e

carroceria nas faixas de freqüência entre 0,6 e 1,2 Hz e acima de 20 Hz. Porém, não houve

aumento para freqüências abaixo de 0,5 Hz que seria uma situação indesejável. O controlador

com µ =0,002 foi o que apresentou menores amplitudes de ‘stroke”, sendo neste caso a

melhor opção. Os dois controladores reduziram a amplitude do “stroke” na faixa entre 1,2 e

3,0 Hz.

A faixa de freqüência mais crítica para a deformação dos pneus está ente 8 e 12 Hz,

onde em geral ocorre a ressonância de vibração vertical da massa das rodas. Os gráficos da

figura 4.66 (3º gráfico, linhas na cor vermelha) mostram que apenas o controlador com µ =5

369

x10-4 apresentou uma amplitude significativamente maior que o sistema passivo. Mesmo com

esse resultado, estas amplitudes se mantiveram em níveis aceitáveis, o que demonstra que o

critério de segurança foi levado em conta de forma implícita na síntese destes controladores.

Para demonstrar que o critério de segurança está ligado à escolha da matriz L, foram

sintetizados outros dois controladores utilizando as matrizes 1pL e 2pL . Os valores de µ

foram ajustados de forma que a amplitude máxima da resposta em freqüência dos sinais de

aceleração31 fosse 15 dB. Nesta situação, as respostas em freqüência dos sinais de deformação

dos pneus foram comparadas com as mesmas respostas do sistema passivo, sendo calculada a

sua variação percentual. Este resultado é apresentado no gráfico da figura 4.67, onde o nível

zero significa que a amplitude resultante do sistema ativo é igual ao do passivo, e acima de

zero significa que a amplitude do sistema ativo e maior do que o do sistema passivo. A curva

em azul é o resultado do controlador sintetizado a partir de 3pL , a curva em magenta é o

resultado da síntese com 1pL , e a curva em vermelho é resultado da síntese com 2pL .

Analisando-se o gráfico da figura 4.67, concluiu-se que o controlador sintetizado a partir

de matriz 3pL foi o que apresentou a menor variação da amplitude da deformação dos pneus

ao longo de todo o espectro analisado, mas principalmente na faixa de freqüência mais crítica

que se encontra entre 8 e 12 Hz. Isto demonstra que a matriz 3pL é realmente a melhor opção

para a síntese de controladores para sistemas de suspensão.

Figura 4.67 – Variação da deformação dos pneus nos sistemas ativos em relação ao passivo.

31 Equivalente aos gráficos da aceleração, com linhas azuis, no topo da figura 4.66.

10-1

100

101

102

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

Freqüência(Hz)

Var

iaçã

o em

rel

ação

ao

sist

ema

pass

ivo

(%)

Deformações dos pneus - Comparação de três versões da matriz L

370

4.3.7.8 Discretização do controlador

Colocando-se a MTF dos controladores na forma de espaço de estados, as matrizes A, B

e C ficaram assim:

ccc KDKCKKBAA oo qqnb −++= (4.57)

⋅=

T

x

x

T

c S0

0SKB o

43

43 (4.58)

cc KSSC ⋅⋅−= u (4.59)

Neste caso a matriz D é nula.

Os controladores foram discretizados através da função “c2d(Ac,Bc,Ta)” do Matlab,

onde Ta é o período de amostragem de 4 ms, de forma que se passou a ter o seguinte sistema

em tempo discreto:

kcdkcdk yBxAx ⋅+⋅=+1 (4.60)

kck xCu ⋅= (4.61)

onde

acT

cd eAA = (4.62)

c

T

t

cd

a

c dte BB A ⋅

⋅= ∫

0

(4.63)

4.3.8 GRAMPEADOR DE SINAL PARA O ATUADOR SEMI-ATIVO

Como o atuador SA só é capaz de gerar forças dissipativas, o seu sinal de controle deve

ser levado a zero quando o controlador solicitar a ação de uma força ativa. As variáveis que

mostram se a força é ativa ou dissipativa é a própria força solicitada pelo controlador e a

velocidade relativa entre roda e carroceria ( 12z& ).

Assim a regra usual utilizada para o grampeamento do sinal de força é definida como:

371

( )( ) ( ) ( )

( ) ( )

≤⋅

>⋅=

0 se 0

0 se

12

12

iik

iikik

iSA zu

zuuf

&

& (4.63)

onde ku é o vetor das forças solicitadas pelo controlador discretizado no período “k” , o

índice “i” representa o i-ésimo elemento dos vetores que têm 4 elementos (cada um

relacionado com um das rodas do veículo). E a variável SAf é o sinal de força grampeado para

o atuador SA.

Entretanto, como foi verificado na parte 1 deste trabalho, os atuadores baseados em

fluidos MR apresentam um comportamento de histerese na sua relação força versus

velocidade de movimentação do pistão. Este comportamento faz com que a força gerada pelo

atuador seja diferente de zero no instante em que velocidade do pistão passa por zero. Neste

caso, a regra de grampeamento descrita na equação (4.63) torna-se inadequada, pois nos

instantes próximos às mudanças de sentido da velocidade do pistão, o atuador poderá estar

gerando forças no sentido oposto ao solicitado pelo controlador.

Para resolver este problema, propõe-se a utilização do sinal de força gerado pelo atuador

SA no lugar das velocidades 12z& na regra que define o grampeamento. Porém, para não se ter

a necessidade da medição do sinal de força, visto que células de carga para medição de forças

na faixa dos 5 kN tem um custo muito elevado para a aplicação, propõe-se a utilização de uma

estimativa da força gerada por um modelo do atuador MR. Desta forma a equação (4.63) pode

ser reescrita como:

( )( ) ( ) ( )

( ) ( )

≤⋅

>⋅=

0 se 0

0 se

iSAik

iSAikik

iSA fu

fuuf )

)

(4.64)

Uma vez definida a força que se deseja que o atuador SA aplique ao veículo, é

necessário transformar este valor em uma tensão elétrica de excitação do atuador. Para isso, as

aproximações lineares das relações entre força e tensão elétrica de excitação descritas nos

gráficos de calibração dos atuadores da figura 4.36 são utilizadas para fazer esta

transformação. Assim, o valor absoluto de cada elemento do vetor SAf passa por uma

transformação linear que inverte as funções apresentadas da figura 4.36.

372

4.3.9 REDUÇÃO DO TEMPO DE RESPOSTA DO ATUADOR SEMI-ATIVO

Conforme foi verificado a partir dos experimentos com os atuadores, a constante de

tempo de resposta dos atuadores MR ficou em torno de 25 ms, que é relativamente alta para

esta aplicação, de forma que a banda de resposta em freqüência do atuador não seja larga o

bastante para o controle de vibração das rodas, cuja ressonância ocorre em torno dos 10 Hz.

Portanto, qualquer medida que resulte numa redução do tempo de resposta traz benefícios ao

desempenho do sistema como um todo.

Por outro lado, sabe-se também que a maior parcela deste atraso (>80%) é causada pela

alta indutância do circuito eletromagnético da válvula de controle do fluido MR. Como o

controle efetivo da força do atuador se dá pela intensidade da corrente elétrica que percorre a

bobina da válvula MR, pode-se controlar a intensidade da tensão de excitação do atuador de

forma a corrente atinja mais rapidamente os valores desejados.

Assim, foi desenvolvido o compensador “avanço-atraso” cujo diagrama de blocos é

apresentado na figura 4.68. Nesta figura Ta é o período de amostragem do sinal e ηo tem um

valor de cinco vezes o parâmetro η atuadores MR. O último bloco, denominado saturação,

limita a saída entre +10 V e -10 V que é a capacidade da fonte de energia elétrica disponível

no veículo.

Figura 4.68 – Diagrama de blocos do compensador

A ação deste compensador é ilustrada nos gráficos da figura 4.69. Neste exemplo são

aplicados degraus de tensão de amplitude 3 V na entrada do atuador. No primeiro gráfico da

figura 4.69 observa-se que o compensador gera um pulso de tensão com amplitude 2,5 vezes a

tensão aplicada na entrada (curvas na cor azul), forçando a corrente elétrica no circuito RL

atingir mais rapidamente o valor desejado. A mesma coisa acontece quando o sinal de entrada

vai para zero, onde o compensador gera um pulso de tensão negativo para vencer a inércia da

corrente elétrica no circuito indutivo. Esta estratégia fica limitada quando as solicitações de

373

tensão se aproximam dos 10 V, visto que a saturação da saída impede que o pulso atinja a sua

máxima intensidade.

Figura 4.69 – Resultados de simulações do atuador com o compensador “avanço-atraso”.

A partir do resultado do terceiro gráfico da figura 4.69 verifica-se que a resposta do

atuador ficou mais rápida. Estimou-se que a constante de tempo do atraso reduziu de 25 ms

para 8 ms, o que já é satisfatório para a aplicação.

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1-10

-5

0

5

10Tensão de entrada: normal(vermelho) e gerada pelo compensador (azul)

Ten

são

elét

rica

(V)

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1-1

-0.5

0

0.5

1Velocidade do pistão do atuador

Vel

ocid

ade

(m/s

)

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1-1000

-500

0

500

1000Resposta do atuador: normal (magenta) e compensada (preto)

For

ça (

N)

Tempo (s)

374

4.4 SIMULAÇÕES

A partir dos modelos dinâmicos já ajustados para representar de forma bem aproximada

o desempenho dos sistemas reais, foi possível desenvolver uma série de análises a partir de

simulações numéricas destes modelos. Destas análises foram extraídas conclusões sobre as

proposições realizadas ao longo deste trabalho, e foi definido o procedimento mais conciso e

objetivo para realização dos testes experimentais.

4.4.1 OBJETIVO

Os objetivos das simulações foram:

1. comparar o desempenho do controlador ativo e SA com o sistema de suspensão passivo;

2. correlacionar índices de desempenho do sistema com os parâmetros de projeto;

3. verificar a eficácia das proposições para a nova forma de grampeamento do sinal do

atuador e para a redução do tempo de resposta dos atuadores;

4. avaliar os efeitos do ruído de medida e viés dos sensores no desempenho do sistema;

5. definir os índices de desempenho mais adequados para a análise dos dados experimentais;

6. restringir os experimentos ao mínimo de testes necessários para as validações dos

resultados teóricos e de simulação, visto que os testes experimentais são sempre

dispendiosos no seu custo e no tempo necessário apara sua realização;

4.4.2 DEFINIÇÃO DO MODELO PARA SIMULAÇÃO

Conforme resultado da pesquisa (seção 2.4.4 da parte 2) é importante utilizar modelos

não-lineares como referência para comparação de desempenho entre os sistemas

convencionais e os sistemas SA de suspensão. Neste sentido foi utilizado como modelo de

referência o mais completo modelo da caminhonete, identificado na seção 4.1.6 (parte 2),

cujos parâmetros estão listados na tabela 4.7.

Este modelo conta com uma entrada que já considera as alavancagens da suspensão e

pode ser utilizado com os amortecedores convencionais não-lineares, e também com os

modelos dos atuadores MR (vide seção 4.2.3, parte 2).

375

Porém, como as simulações visam uma avaliação do desempenho em segurança, que

neste caso está relacionado com as forças de contato dos pneus com o solo, foi acrescentada

uma não linearidade de contato que pode representar a perda do contato entre o pneu e o solo.

Para isso, o modelo sofreu as seguintes modificações:

• o efeito da gravidade, assim as molas e o pneu passaram a apresentar uma deformação no

equilíbrio estático do modelo, que antes era zero;

• o efeito da cessão da força que o pneu exerce na roda, quando este perde contato com o

solo e não apresenta mais deformação;

• a introdução de uma curva não-linear de força versus deformação dos pneus;

• e o efeito da interrupção do sinal de entrada quando o pneu perde contato com o solo.

O modelo com esta nova configuração foi validado através dos dados experimentais e os

resultados foram equivalente àqueles apresentados na tabela 4.8, com uma variação de no

máximo 5% dos valores RMS dos erros.

O modelo da caminhonete foi simulado em tempo contínuo no aplicativo Simulink

utilizando o algoritmo Runge-Kutta quarta/quinta ordem32 (RK45). Como o controlador e o

modelo do atuador MR foram implementados no modo discreto e precisaram interagir com o

modelo em tempo contínuo, foram utilizados blocos “segurador de ordem zero” (“zero order

hold” - ZOH) para adequação ao uso do algoritmo RK45.

4.4.3 DEFINIÇÃO DOS SINAIS DE ENTRADA PARA SIMULAÇÃO

Para simular o modelo do veículo é necessário ter à disposição dados sobre as

perturbações exógenas, que neste caso são as velocidades verticais que o contorno da

superfície do terreno aplica às quatro rodas do veículo. Estes dados podem ser sintetizados a

partir da definição de uma curva de densidade espectral de potência, ou obtidos por meio de

experimentos. Neste trabalho deu-se preferência por dados obtidos experimentalmente,

explorando o veículo em duas situações bem definidas: primeiro passando lentamente (~2m/s)

por um obstáculo, no caso a lombada utilizada no processo de identificação do modelo, e

32 Dormand, J. R. and P. J. Prince, A family of embedded Runge-Kutta formulae, J. Comp. Appl. Math., Vol. 6, 1980, pp 19-26.

376

segundo, trafegando a aproximadamente 14 m/s numa pista não pavimentada em que ocorre o

efeito denominado “side thrust”, descrito na seção 2.4.10 (parte 2).

Assim, foram selecionados dois conjuntos de sinais de entrada:

• Lombadas alternadas, conforme a figura 4.23 (seção 4.1.6, parte 2), que

correspondem a 6 segundos de dados coletados a uma freqüência de 50 Hz;

• Pista não pavimentada, onde as “ondulações” da superfície foram capazes de

gerar o efeito “side thrust” no veículo, e que correspondem a 12 segundos de

dados coletados a uma freqüência de 50 Hz.

A figura 4.70 apresenta os sinais de entrada relativos à pista não pavimentada.

Figura 4.70 – Sinais de velocidade vertical da pista não pavimentada.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12-4

-2

0

2

4Posição dianteira esquerda

Vel

ocid

ade

m/s

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12-4

-2

0

2

4Posição dianteira direita

Vel

ocid

ade

m/s

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12-4

-2

0

2

4Posição traseira esquerda

Vel

ocid

ade

m/s

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12-4

-2

0

2

4Posição traseira direita

Vel

ocid

ade

m/s

Tempo (s)

377

4.4.4 DEFINIÇÃO DOS RUÍDOS DE MEDIDA PARA SIMULAÇÃO

Os ruídos de medida foram simulados a partir de sinais aleatórios com distribuição

gaussiana com média e variância definidas conforme a tabela 4.18

Tabela 4.18 – Média e variância dos sinais de ruído gaussiano.

As médias diferentes de zeros visaram representar o viés de cada sensor. As variâncias

foram definidas a partir da análise dos sinais reais dos sensores.

4.4.5 AVALIAÇÃO DO “TRANCO” E DO DESEMPENHO EM SEGURANÇA

O desempenho em segurança é medido através da avaliação das forças normais do

contato entre cada roda e o solo. Esta avaliação é feita através de um índice que é definido

como o valor RMS do sinal correspondente às deformações dos pneus menores do que 10

mm. Este sinal é zero quando a deformação é maior que 10 mm, e igual a 10 mm menos a

deformação do pneu quando esta é menor do que 10 mm. Este índice representa um valor

proporcional ao tempo que o pneu permaneceu com deformação menor do que 10 mm, e

também à intensidade da redução das forças normais.

O “tranco” é medido de duas formas: a primeira é através do valor RMS dos sinais

resultantes da derivada das acelerações verticais da carroceria, a outra é através do maior

valor absoluto que cada sinal da derivada das acelerações apresentou durante a simulação. O

primeiro avalia o “tranco” como a média da “energia” dos solavancos ao longo de toda a

simulação. O segundo avalia a intensidade do maior solavanco que ocorreu durante a

simulação.

Média Variânciadianteiro esquerdo +0,30 m/s2 0,25 m2/s4

dianteiro direito -0,10 m/s2 0,25 m2/s4

traseiro esquerdo -0,20 m/s2 0,25 m2/s4

traseiro direito +0,05 m/s2 0,25 m2/s4

dianteiro esquerdo -0,003 m 10-6 m2

dianteiro direito -0,001 m 10-6 m2

traseiro esquerdo +0,004 m 10-6 m2

traseiro direito -0,002 m 10-6 m2

Ace

lerô

met

roP

oten

ciôm

etro

Sensor

378

4.4.6 SIMULAÇÃO DO CONTROLADOR ATIVO

O controlador ativo foi simulado substituindo o modelo do amortecedor convencional

pelos sinais de força calculados pelo controlador na sua forma discreta. Entre as saídas do

controlador e as entradas de força de suspensão do modelo do veículo foram acrescentados

atrasos de 1ª ordem com constante de tempo de 5 ms com a finalidade de representar o tempo

de resposta estimado de um atuador ativo. Na entrada do controlador foram aplicados os

quatro sinais de aceleração vertical da carroceria e os quatro sinais de deslocamento relativo

entre roda e carroceria.

Foram simuladas três versões do controlador para cada sinal de pista descrito na seção

4.4.3. Dois controladores foram projetados com os parâmetros 002,0=µ e 4105 −⋅=µ

descritos na seção 4.3.7, e foi feito um novo projeto com 4102 −⋅=µ . O objetivo de se

simular este terceiro controlador, dado que ele não respeita as barreiras de robustez, foi

apenas de criar um terceiro ponto para análise da variação dos índices de desempenho em

relação ao parâmetro de projeto µ . Este terceiro ponto permite identificar uma curva de

tendência da variação.

Seis índices de desempenho foram definidos para se avaliar o desempenho dos

sistemas ativo e SA em comparação com o sistema passivo:

1. Valor RMS da “aceleração vertical da carroceria sobre cada roda” (conforto 1): trata-

se de uma medida indireta das acelerações a que os ocupantes do veículo ficam

expostos. O valor RMS é valor proporcional à energia contida no sinal, e que indica o

poder agressivo da vibração. Quanto menor for este indicador, menor é a “agressão”

aos ocupantes do veículo, e portanto, melhor é o conforto.

2. Valor RMS da “derivada da aceleração vertical da carroceria sobre cada roda”

(conforto 2): a derivada da aceleração da carroceria é o “tranco”, ou seja, o indicador

de solavancos percebidos pelos ocupantes do veículo. Quanto menor for este

indicador, menor é a incidência de solavancos, e portanto, melhor é o conforto.

3. Valor RMS do “deslocamento relativo entre roda e carroceria” (“rattlespace”): é um

indicador do uso do espaço de trabalho da suspensão. Quanto maior for este valor

significa que os movimentos da suspensão estão mais próximos dos seus limites, e o

risco de se atingir um batente é maior. Quando a suspensão atinge um batente (ou fim-

de-curso) ocorre um solavanco, que gera desconforto. Quanto menor o valor deste

indicador, melhor é o desempenho relativo ao “rattlespace”.

379

4. Valor RMS do “índice de falta de perda de aderência no contato entre roda e solo”

(segurança): Este é o índice de segurança descrito na seção 4.4.5. Um valor zero neste

índice indica que em nenhum momento na simulação a deformação do pneu foi menor

que 10 mm, ou seja, a força normal do contato foi sempre superior a 1700 N.

5. Valor RMS da “força de torção aplicada ao chassi” (conforto e segurança): Este

indicador mede o quanto as forças geradas pelos atuadores (sistema ativo ou SA) ou os

amortecedores (sistema passivo) atuam no sentido de torcer o chassi do veículo. As

vibrações de torção do chassi levam tanto a aspectos de desconforto como também de

insegurança. Quanto menor este indicador, melhor é o desempenho neste quesito.

6. Valor de pico da “derivada da aceleração vertical da carroceria sobre cada roda”

(conforto 3): Este indicador é uma variação do indicador descrito no item 2, que ao

invés de medir a quantidade de solavancos, mede a intensidade do maior deles. Quanto

menor o valor deste indicador, melhor é o desempenho em conforto.

A tabela 4.19 mostra os resultados destes seis indicadores relacionados às simulações

dos sistemas ativo e passivo, com o veículo passando sobre as lombadas, com velocidade

média de aproximadamente 2 m/s.

Tabela 4.19 – Resultados da simulação do veículo passando sobre obstáculos: ativo em comparação com o sistema passivo.

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005 µ=0,0002

dianteiro esquerdo 2,00 0,58 0,38 0,32dianteiro direito 1,78 0,60 0,39 0,31traseiro esquerdo 1,48 0,53 0,36 0,31traseiro direito 1,61 0,55 0,37 0,32dianteiro esquerdo 23,3 6,7 4,1 3,3dianteiro direito 21,0 7,0 4,4 3,4traseiro esquerdo 16,3 5,9 3,9 3,2traseiro direito 18,8 6,4 4,3 3,5dianteiro esquerdo 12,94 10,03 10,47 10,83dianteiro direito 11,80 9,70 10,68 11,24traseiro esquerdo 13,48 11,97 12,26 12,42traseiro direito 14,76 12,61 14,08 14,78dianteiro esquerdo 0,77 0,03 0,08 0,11dianteiro direito 0,73 0,01 0,32 0,46traseiro esquerdo 0,00 0,00 0,00 0,00traseiro direito 0,00 0,00 0,00 0,00

439 0 0 0 N

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005 µ=0,0002

dianteiro esquerdo 92 39 26 20dianteiro direito 93 37 25 20traseiro esquerdo 61 32 24 20traseiro direito 92 42 31 25

mm

Des

loca

men

to

rela

tivo

entr

e ro

da e

ca

rroc

eria

mm

Sinais avaliadosunidade

de medida

Ace

lera

ção

vert

ical

da

carr

ocer

ia

sobr

e ca

da

roda m/s2

Valores RMS

m/s3

"JE

RK

" de

rivad

a da

s ac

eler

açõe

s ve

rtic

ais

da

carr

ocer

ia

Torção

Índi

ce d

e ad

erên

cia

dos

pneu

s ao

sol

o (s

egur

ança

)

m/s3

Sinais avaliados Valores de picounidade

de medida

"JE

RK

" de

rivad

a da

s ac

eler

açõe

s ve

rtic

ais

da

carr

ocer

ia

380

Analisando os resultados da tabela 4.19, pode-se observar que os três indicadores de

conforto melhoram a medida que o parâmetro µ diminui, o que faz sentido, uma vez que a

diminuição do parâmetro µ leva a um aumento do ganho em malha aberta. Os três

indicadores de conforto dos sistemas ativos são bem melhores que o indicador do sistema

passivo, o que também está coerente, pois as vibrações geradas pela passagem sobre as

lombadas estão na faixa de freqüência de maior ganho da malha de controle.

Os dois indicadores relacionados ao “tranco” também melhoram a medida que o

parâmetro µ diminui. No entanto, o “tranco” é um problema mais importante nos sistemas

semi-ativos.

O indicador de desempenho no “rattlespace” tende a piorar um pouco conforme µ

diminui, porém permaneceu menor que o valor do sistema passivo para os três controladores

ativos.

Conforme o que ocorre com o “rattlespace”, o indicador de segurança também

aumenta seu valor na proporção que µ diminui, porém os três sistemas ativos apresentam

valores bem melhores que o sistema passivo. De fato, a diminuição de µ leva a função de

transferência de malha aberta a interceptar a barreira “as”, a qual se refere ao requisito de

segurança.

O valor RMS das forças de torção ficou nulo para os sistemas ativos, o que mostra a

eficácia da ação de se eliminar o modo de torção da ação do controlador. Como o chassi do

veículo não sofre menos estímulos de torção vindo da suspensão (ele ainda recebe esforços

das molas), ele tende a vibrar menos neste modo de vibração, gerando benefícios tanto para o

conforto como para a segurança.

Os valores de pico das derivadas das acelerações da carroceria também apresentam

redução conforme o parâmetro µ diminui, reforçando que o “tranco” não é um problema tão

importante para sistemas ativos.

Os gráficos das figuras 4.71, 4.72 e 4.73 mostram as saídas dos sensores de aceleração

da carroceria e deslocamento relativo da suspensão, e também do sinal de deformação dos

pneus que não é medido. Através destes gráficos é possível se comparar o comportamento dos

sistemas ativos ( 002,0=µ , 4105 −⋅=µ e 4102 −⋅=µ ) com o sistema passivo. Nestes

gráficos, as curvas em vermelho representam o sistema passivo, as curvas em azul

representam o sistema ativo com 002,0=µ , em verde, 4105 −⋅=µ , e em preto, 4102 −⋅=µ .

381

Figura 4.71 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas.

Nos gráficos da figura 4.71, é possível observar que a amplitude dos sinais de

aceleração da carroceria dos sistemas ativos foi reduzida significativamente se comparada

com a amplitude dos sinais do sistema passivo. Embora existam diferenças de desempenho

entre os sistemas ativos, estas diferenças são pequenas se comparadas à melhoria que ocorreu

entre o sistema passivo e o sistema ativo com 002,0=µ . Verifica-se também que os sinais de

aceleração dos sistemas ativos não apresentaram transições abruptas de amplitude, mantendo

oscilações suaves ao longo de todo o período da simulação.

0 1 2 3 4 5 6-10

0

10Dianteiro Esquerdo

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

0 1 2 3 4 5 6-10

0

10Dianteiro Direito

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

0 1 2 3 4 5 6-5

0

5Traseiro Esquerdo

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

0 1 2 3 4 5 6-10

0

10Traseiro Direito

Ace

lera

ção

(m/s

2 )

Tempo (s)

382

Figura 4.72 – Sinais de deslocamento relativo entre roda e carroceria (“stroke”).

Os gráficos da figura 4.72 apresentam os sinais de deslocamento relativo entre cada

uma das rodas e a carroceria (“stroke”). Nestes gráficos percebe-se que também há pouca

variação de desempenho entre os sistemas ativos, e que os sinais dos sistemas ativos não

ultrapassaram significativamente na amplitude os sinais de “stroke” do sistema passivo,

mostrando que a consideração deste sinal no critério de desempenho do controlador foi eficaz.

Verifica-se também que os picos de amplitude dos sinais de “stroke” dos sistemas ativos

ocorrem exatamente no momento em que as rodas passam pelo obstáculo (sobre a lombada).

0 1 2 3 4 5 6

-50

0

50

Dianteiro Esquerdo"S

trok

e" (

mm

)

0 1 2 3 4 5 6

-50

0

50

Dianteiro Direito

"Str

oke"

(m

m)

0 1 2 3 4 5 6

-50

0

50

Traseiro Esquerdo

"Str

oke"

(m

m)

0 1 2 3 4 5 6

-50

0

50

Traseiro Direito

"Str

oke"

(m

m)

Tempo (s)

383

Figura 4.73 – Sinais de deformação dos pneus.

Os gráficos da figura 4.73 apresentam os sinais de deformação dos pneus. Estes sinais

são bastante úteis para se avaliar o desempenho destes sistemas em relação ao critério

“segurança”. As forças normais de contato entre a roda e o solo são diretamente proporcionais

a estas deformações, e as forças laterais que os pneus podem gerar dependem da intensidade

das suas forças normais. Nestes gráficos foi desenhada uma faixa entre 0 e 10mm

representando uma área crítica para a o critério segurança, dado que nesta faixa as forças

normais entre a roda e o solo são inferiores a aproximadamente 1700N. Percebe-se, através

dos gráficos, que no caso do sistema passivo a deformação dos pneus dianteiros entra na área

crítica. No caso dos sistemas ativos, isto ocorre apenas com o caso de 4102 −⋅=µ , o que era

de se esperar, visto que este projeto extrapolou a barreira relativa ao critério de segurança. De

forma geral, os sistemas ativos apresentaram melhora no desempenho em relação ao critério

“segurança”.

384

A tabela 4.20 mostra os resultados dos seis indicadores relacionados às simulações dos

sistemas ativo e passivo, com o veículo trafegando numa via não pavimentada a uma

velocidade de aproximadamente 14 m/s. Como já foi mencionado, este trajeto apresenta

irregularidades capazes de gerar o efeito “side thrust”, que corresponde a um escorregamento

lateral da parte traseira do veículo devido a um movimento do eixo diferencial, onde uma das

rodas perde contato com o solo em movimentos oscilantes. O objetivo desta simulação foi o

de verificar o comportamento dos sistemas ativos para sinais de entrada exógena com

freqüências próximas às ressonâncias das massas das rodas, e de reproduzir os

comportamentos dinâmicos que lavam à ocorrência do “side thrust”.

Tabela 4.20 – Resultados da simulação do veículo na pista não pavimentada: ativo x passivo.

Analisando os resultados da tabela 4.20, verifica-se que não há, neste caso, uma

melhoria dos três indicadores de conforto à medida que o parâmetro µ diminui, e pode-se

dizer até que em conjunto estes indicadores pioraram um pouco. Isto mostra que houve uma

consideração intrínseca do critério “segurança” na síntese do controlador, pois é característica

de sistemas ativos de suspensão que consideram este critério no seu projeto, a perda de

conforto em freqüências próximas de 10 Hz, para se conseguir manter amplitudes mais baixas

na deformação dos pneus. Mesmo assim, os três indicadores de conforto dos sistemas ativos

foram melhores que os indicadores do sistema passivo.

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005 µ=0,0002

dianteiro esquerdo 2,21 1,61 1,70 1,65dianteiro direito 1,82 1,27 1,31 1,22traseiro esquerdo 1,92 1,43 1,48 1,41traseiro direito 2,33 1,85 1,94 1,85dianteiro esquerdo 135,3 104,8 112,9 111,2dianteiro direito 106,6 80,1 84,0 80,0traseiro esquerdo 106,0 80,2 85,1 83,2traseiro direito 132,4 107,8 115,1 112,9dianteiro esquerdo 10,78 8,71 8,61 8,56dianteiro direito 10,51 8,70 8,70 8,75traseiro esquerdo 9,56 9,56 10,06 10,93traseiro direito 12,08 11,51 11,04 11,97dianteiro esquerdo 0,63 0,41 0,45 0,69dianteiro direito 0,59 0,38 0,45 0,64traseiro esquerdo 0,77 0,61 0,88 1,05traseiro direito 0,69 0,65 0,98 1,24

1634 0 0 0 N

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005 µ=0,0002

dianteiro esquerdo 726 521 574 595dianteiro direito 554 405 398 385traseiro esquerdo 572 455 494 475traseiro direito 790 523 562 556

"JE

RK

" de

rivad

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m/s3

Sinais avaliados Valores de picounidade

de medida

Sinais avaliados Valores RMS unidade

de medida

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roda m/s2

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Torção

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pneu

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sol

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ranç

a)

mm

385

O indicador de desempenho no “rattlespace” não varia significativamente conforme µ

diminui, e mostrou uma pequena melhora dos sistemas ativos em relação ao sistema passivo.

O indicador de segurança, neste caso, também aumenta seu valor na proporção que µ

diminui, porém a melhoria em relação ao sistema passivo não é mais tão evidente, e no caso

de 4102 −⋅=µ , o resultado do sistema ativo ficou pior que o do sistema passivo. De fato, este

valor de µ levou a função de transferência de malha aberta a interceptar a barreira “as”, que

se refere ao requisito de segurança, portanto, trata-se de um resultado coerente.

O valor RMS das forças de torção manteve-se nulo, conforme esperado.

Os valores de pico das derivadas das acelerações da carroceria apresentam aumento

conforme o parâmetro µ diminui, porém ficando bem abaixo dos valores apresentados pelo

sistema passivo, confirmando que o “tranco” não é um problema para sistemas ativos.

Os gráficos da figura 4.74 mostram as saídas dos sensores de aceleração da carroceria

e deslocamento relativo da suspensão. Nestes gráficos, as curvas em vermelho representam o

sistema passivo, as curvas em azul representam o sistema ativo com 002,0=µ , e as curvas

em preto representam o sistema ativo com 4105 −⋅=µ . Apesar da simulação ter sido rodada

sobre 12 segundos de dados de entrada, apenas o trecho entre 8 e 10 segundos foi apresentado

nos gráficos, que se refere à parte mais crítica da via onde supostamente ocorre o efeito de

“side thrust”.

Figura 4.74 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas e “stroke”.

386

Através dos gráficos da figura 4.74 verifica-se que as amplitudes das acelerações na

carroceria reduziram-se apenas um pouco no caso dos sistemas ativos. O mesmo ocorre com o

“stroke”. Isso mostra a tendência do controlador em priorizar o critério “segurança” nessa

faixa de freqüência das perturbações que entram através das rodas.

Os gráficos da figura 4.75 mostram os sinais de deformação dos pneus (gráficos à

esquerda) e os pontos onde ocorreram as perdas de contato entre o pneu e o solo (gráficos à

direita). Representaram-se graficamente apenas os sinais de deformação dos pneus resultantes

da simulação do sistema passivo (curvas em vermelho) e da simulação do controlados ativo

com 002,0=µ (curvas em preto), que apresentou o melhor desempenho nesta análise.

Percebe-se através dos gráficos, que o sistema ativo reduziu a amplitude de variação da

deformação dos pneus evitando a perda de contato.

Os instantes em que ocorreram as perdas de contato são mais bem definidos a partir

dos gráficos da direita (figura 4.75). Apesar do eixo vertical destes gráficos não apresentar

uma escala definida, a amplitude significa um valor proporcional à intensidade com que a

roda se separou da pista. A partir destes gráficos, verifica-se que o sistema ativo com

002,0=µ evitou quase por completo a perda de contato entre pneus e o solo, o que não

ocorreu com o sistema ativo com 4105 −⋅=µ . Dado que estas perdas de contado nas rodas

traseiras poderiam ter resultado num efeito “side thrust”, é possível afirmar que o sistema

ativo com 002,0=µ seria capaz de mitigar este efeito indesejável da suspensão de

caminhonetes.

Figura 4.75 – Sinais de deformação dos pneus e perdas de contato entre o pneu e o solo.

387

4.4.7 EFEITO DOS RUÍDOS DE MEDIDA

Um dos aspectos analisados através das simulações foi a sensibilidade do sistema aos

erros e aos ruídos de medida. Foi uma premissa do projeto do controlador que os ruídos na

faixa de freqüência de amostragem do sinal deveriam ser bastante atenuados (> 20 dB), e que

algum viés presente nos sinais dos sensores não levasse os atuadores à saturação.

Através de uma simulação, adicionando-se aos sinais medidos os ruídos com média e

variância definidos na seção 4.4.4, chegou-se aos resultados apresentados na tabela 4.21:

Tabela 4.21 – Resultados do desempenho dos sistemas ativos com e sem o ruído de medida.

Analisando-se estes resultados, verifica-se que os ruídos e erros de medida contribuíram

para uma pequena piora do desempenho dos dois sistemas ativos analisados. O sistema ativo

sintetizado a partir de 002,0=µ , foi o que apresentou a menor sensibilidade a esta

característica dos sinais medidos, sendo a conseqüência dos seus efeitos desprezível do ponto

de vista prático. O viés dos sensores, principalmente dos acelerômetros, resultaram num viés

dos sinais de força na saída do controlador. Nestes sistemas, a força residual do atuador foi

contrabalançada pelas molas da suspensão e o sistema alterou em alguns milímetros seu ponto

de equilíbrio estático.

Descrição Posição Sem ruído Com ruído Sem ruído Com ruído

dianteiro esquerdo 0,58 0,59 0,38 0,40dianteiro direito 0,60 0,60 0,39 0,39traseiro esquerdo 0,53 0,52 0,36 0,36traseiro direito 0,55 0,54 0,37 0,37dianteiro esquerdo 6,7 7,3 4,1 7,3dianteiro direito 7,0 7,5 4,4 7,2traseiro esquerdo 5,9 6,3 3,9 6,5traseiro direito 6,4 6,7 4,3 6,4dianteiro esquerdo 10,03 11,47 10,47 14,60dianteiro direito 9,70 10,10 10,68 11,71traseiro esquerdo 11,97 11,63 12,26 11,86traseiro direito 12,61 14,76 14,08 16,10dianteiro esquerdo 0,03 0,00 0,08 0,01dianteiro direito 0,01 0,03 0,32 0,40traseiro esquerdo 0,00 0,00 0,00 0,00traseiro direito 0,00 0,00 0,00 0,00

Descrição Posição Sem ruído Com ruído Sem ruído Com ruído

dianteiro esquerdo 39 39 26 33dianteiro direito 37 40 25 38traseiro esquerdo 32 39 24 39traseiro direito 42 39 31 29

µ=0,002Valores RMS

µ=0,0005

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sobr

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Sinais avaliadosunidade

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pneu

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Sinais avaliadosunidade

de medida

Valores de pico

µ=0,002 µ=0,0005

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carr

ocer

ia

m/s3

388

4.4.8 SIMULAÇÃO DO CONTROLADOR SEMI-ATIVO

O controlador semi-ativo foi simulado sob as mesmas condições do controlador ativo.

Os atrasos de 1ª ordem, utilizados para representar a dinâmica do atuador ativo, foram

substituídos pelo modelo dinâmico em tempo discreto dos atuadores MR. Foram utilizados

quatro modelos, cada um com o conjunto de parâmetros ajustados especificamente para cada

atuador real, conforme descrito na seção 4.2 (parte 2). O controlador semi-ativo foi

implementado em três versões: uma versão chamada de “Controlador SA Básico”, outra

chamada “Controlador Proposta 1”, e a terceira versão chamada “Controlador Proposta 1 e 2”.

A versão “Controlador SA Básico” utilizou a regra definida pela equação 4.63 para

fazer o “grampeamento” do sinal, que é a forma mais tradicional segundo a literatura

consultada. Como a saída desta regra de “grampeamento” ainda é um sinal de força, e a

entrada do modelo dinâmico do atuador é uma tensão elétrica, foi utilizada a função inversa

da calibração do atuador (vide figura 4.36, parte 2) para se converter um sinal em newtons

para um sinal em volts. As tabelas 4.22 e 4.23, e os gráficos das figuras 4.76, 4.77, 4.78 e

4.79 foram gerados a partir da simulação deste modelo.

As versões “Controlador Proposta 1” e “Controlador Proposta 1 e 2” utilizaram as

propostas introduzidas nas seções 4.3.8 e 4.3.9 (parte 2), e serão analisadas na seção 4.4.9.

Na simulação do veículo passando por obstáculos também foram utilizadas três

versões do controlador ( 002,0=µ , 4105 −⋅=µ e 4102 −⋅=µ ), com o objetivo de se

identificar as tendências de variação dos indicadores em função do parâmetro µ . Os

resultados desta simulação são apresentados na tabela 4.22. A partir da análise destes

resultados verificou-se que existe uma tendência de redução do valor RMS das acelerações da

carroceria à medida que µ diminui. Em média este indicador de conforto melhorou acima de

30% em relação ao sistema passivo.

Por outro lado, os outros indicadores de conforto baseados no “tranco” mostraram um

desempenho ruim. O valor RMS do “tranco” ficou apenas 7% melhor que o respectivo

resultado do sistema passivo, mostrando um tendência de leve piora a medida que µ diminui.

Porém o valor de pico do “tranco” piorou cerca de 95% em relação ao resultado do sistema

passivo, e não mostrou uma tendência clara de variação em relação ao parâmetro µ .

Em relação ao “stroke” e ao índice de segurança, as melhoras foram em média de 30%

e 75% respectivamente, onde só o índice de segurança mostrou uma tendência de piora com a

389

diminuição de µ . A força de torção foi o índice que mais piorou, mostrando uma forte

tendência de piora na proporção que µ diminui.

Tabela 4.22 – Resultados da simulação do veículo passando sobre obstáculos: semi-ativo em

comparação com o sistema passivo.

Na simulação do veículo trafegando por uma via não pavimentada foram utilizadas

apenas duas versões do controlador ( 002,0=µ e 4105 −⋅=µ ). Os resultados desta simulação

são apresentados na tabela 4.23.

A partir da análise destes resultados verificou-se que existe uma tendência de variação

do valor RMS das acelerações da carroceria mudou. Nesta simulação este indicador aumentou

conforme µ diminuiu. A melhora em relação ao sistema passivo foi menor que aquela

apresentada na tabela 4.22. O “tranco” não apresentou um resultado tão ruim, mas mostrou

uma tendência de piora a medida que µ diminuiu.

Os indicadores dos “rattlespace” e segurança melhoraram numa taxa menor que na

simulação com obstáculos, porém as tendências se mantiveram.

A força de torção curiosamente melhorou em relação ao desempenho do sistema

passivo, e mostrou uma tendência de piorar na proporção que µ diminuiu.

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005 µ=0,0002

dianteiro esquerdo 2,00 1,22 1,13 1,11dianteiro direito 1,78 1,21 1,13 1,11traseiro esquerdo 1,48 1,09 1,02 1,01traseiro direito 1,61 1,12 1,04 1,02dianteiro esquerdo 23,3 18,4 18,8 19,1dianteiro direito 21,0 19,1 19,3 19,7traseiro esquerdo 16,3 16,5 17,0 17,4traseiro direito 18,8 19,1 18,3 18,4dianteiro esquerdo 12,94 8,44 8,25 8,38dianteiro direito 11,80 7,50 7,57 7,78traseiro esquerdo 13,48 10,48 9,85 9,90traseiro direito 14,76 10,21 9,83 9,90dianteiro esquerdo 0,77 0,15 0,28 0,34dianteiro direito 0,73 0,21 0,29 0,26traseiro esquerdo 0,00 0,00 0,00 0,00traseiro direito 0,00 0,00 0,00 0,00

439 791 1072 1121 N

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005 µ=0,0002

dianteiro esquerdo 92 182 174 166dianteiro direito 93 168 144 148traseiro esquerdo 61 115 133 128traseiro direito 92 204 202 193

mm

Des

loca

men

to

rela

tivo

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ca

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Sinais avaliadosunidade

de medida

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roda m/s2

Valores RMS

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s ac

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rtic

ais

da

carr

ocer

ia

m/s3

Sinais avaliados Valores de pico unidade

de medida

390

Tabela 4.23 – Resultados da simulação do veículo na pista não pavimentada: semi-ativo em comparação com o sistema passivo.

Os gráficos das figuras 4.76 e 4.77 mostram as saídas dos sensores de aceleração da

carroceria e deslocamento relativo da suspensão, e do sinal de deformação dos pneus.

Através destes gráficos foi comparado o comportamento dos sistemas semi-ativos

( 002,0=µ , 4105 −⋅=µ e 4102 −⋅=µ ) com o sistema passivo. Nestes gráficos, as curvas em

vermelho representam o sistema passivo, as curvas em azul representam o sistema semi-ativo

com 002,0=µ , em verde, o sistema ativo com 4105 −⋅=µ , e em preto, 4102 −⋅=µ .

A primeira constatação que pode ser feita através dos gráficos da figura 4.76 é que os

sinais de aceleração da carroceria nos sistemas SA apesar de apresentarem amplitudes

menores que no caso do sistema passivo, mostram um sinal irregular, com variações menos

suaves. Verifica-se também pouca diferença no desempenho entre os diferentes controladores

avaliados. A partir da análise dos sinais de força constatou-se que nos três casos ocorreram

saturações na força dos atuadores MR, pois estes atingiram o máximo da sua capacidade. Isto

pode ser uma causa importante do desempenho similar dos três controladores.

Por outro lado, os gráficos da figura 4.77, não apresentam diferenças importantes com

relação aos gráficos das figuras 4.72 e 4.73, a não ser pelos sinais dos sistemas semi-ativos

apresentarem amplitude um pouco maior.

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005

dianteiro esquerdo 2,21 1,83 2,02dianteiro direito 1,82 1,43 1,59traseiro esquerdo 1,92 1,61 1,81traseiro direito 2,33 2,06 2,26dianteiro esquerdo 135,3 118,6 137,0dianteiro direito 106,6 89,1 106,1traseiro esquerdo 106,0 87,7 102,3traseiro direito 132,4 116,9 130,7dianteiro esquerdo 10,78 8,76 8,32dianteiro direito 10,51 8,73 8,25traseiro esquerdo 9,56 9,32 8,98traseiro direito 12,08 11,12 10,71dianteiro esquerdo 0,63 0,50 0,54dianteiro direito 0,59 0,43 0,40traseiro esquerdo 0,77 0,54 0,59traseiro direito 0,69 0,56 0,64

1634 712 1045 N

Descrição Posição Passivo µ=0,002 µ=0,0005

dianteiro esquerdo 726 1136 1157dianteiro direito 554 675 1111traseiro esquerdo 572 565 895traseiro direito 790 878 930

"JE

RK

" de

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rtic

ais

da

carr

ocer

ia

m/s3

Sinais avaliados

Sinais avaliados

Ace

lera

ção

vert

ical

da

carr

ocer

ia

sobr

e ca

da

roda m/s2

"JE

RK

" de

rivad

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eler

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s ve

rtic

ais

da

carr

ocer

ia

m/s3

Des

loca

men

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rela

tivo

entr

e ro

da e

ca

rroc

eria

mm

Torção

Índi

ce d

e ad

erên

cia

dos

pneu

s ao

sol

o (s

egur

ança

)

Valores RMS

Valores de pico

mm

unidade de

medida

unidade de

medida

391

Figura 4.76 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas.

Figura 4.77 – Sinais do “stroke” e de deformação dos pneus.

392

Os gráficos das figuras 4.78 e 4.79 seguiram o mesmo padrão dos gráficos das figuras

4.74 e 4.75. Nos gráficos de aceleração da carroceria da figura 4.78 (lado esquerdo), as

atenuações na amplitude foram menores que o resultado mostrado pelos sistemas ativos, o que

era esperado. Com relação ao “stroke” (lado direito) não houve diferença significativa.

Conforme os gráficos de deformação dos pneus da figura 4.79 (lado esquerdo), os

sistemas semi-ativos apresentaram um resultado superior aos sistemas ativos, o que é

confirmado pelos gráficos da perda de contado entre os pneus e o solo (lado direito).

Figura 4.78 – Sinais de aceleração vertical da carroceria sobre as rodas e “stroke”.

Figura 4.79 – Sinais de deformação dos pneus e perdas de contato entre o pneu e o solo.

393

4.4.9 TESTE DAS PROPOSTAS PARA MELHORIA DE DESEMPENHO

As propostas de melhoria definidas nas seções 4.3.8 e 4.3.9 foram testadas em

simulações para se avaliar a efetividade da sua ação sobre o desempenho do sistema como um

todo. A melhoria proposta na seção 4.3.8 visa evitar que o sinal de força mude conforme a

transição da velocidade pelo zero, momento em que a força ainda não é nula (histerese)

gerando um pico de força em sentido contrário. Os resultados de simulação das duas regras de

grampeamento são apresentados no gráfico da figura 4.80. Neste gráfico é possível observar

claramente o efeito descrito acima, notando se os pequenos transientes do sinal em vermelho

quando a força está próxima de zero. No sinal de força resultante da regra de grampeamento

proposta (linha a cor preta), estes transientes deixam de existir.

Figura 4.80 – Sinais de força de controle: grampeamento convencional (curva em vermelho)

versus proposto (curva em preto).

Nas simulações realizadas comparou-se o desempenho os sistemas SA básico (sem

nenhuma das propostas) com um sistema SA com a proposta da nova regra de grampeamento,

chamada, “proposta 1”, e com outro sistema SA dotado das duas propostas, chamado de

“propostas 1 e 2”. Estas três situações foram simuladas utilizando-se os dois projetos de

controlador ativo, um sintetizado a partir de 002,0=µ , e outro a partir de 4105 −⋅=µ . A

tabela 4.24 mostra o resultado destas simulações com o sinal da pista com obstáculos

(lombadas).

394

Tabela 4.24 – Resultados da simulação com obstáculos: controle SA básico x propostas.

Neste primeiro resultado não é possível se perceber uma melhora significativa no

desempenho geral do veículo, inclusive alguns indicadores até pioraram seu resultado. Mesmo

assim, pode-se considerar que, de forma geral, as duas propostas trabalhando em conjunto

lavam a resultados um pouco melhores.

A tabela 4.25 mostra o resultado com a pista não pavimentada.

Tabela 4.25 – Simulação do veículo na pista não pavimentada: SA básico x propostas.

Descrição Posição SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2 SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2

dianteiro esquerdo 1,83 1,84 1,77 2,02 2,02 1,94dianteiro direito 1,43 1,45 1,38 1,59 1,59 1,51traseiro esquerdo 1,61 1,60 1,57 1,81 1,77 1,65traseiro direito 2,06 2,04 1,99 2,26 2,21 2,13dianteiro esquerdo 118,6 119,3 114,8 137,0 136,3 130,0dianteiro direito 89,1 89,9 86,1 106,1 105,1 99,0traseiro esquerdo 87,7 86,9 87,1 102,3 99,1 96,0traseiro direito 116,9 115,6 114,0 130,7 126,6 123,0dianteiro esquerdo 8,76 8,83 8,60 8,32 8,38 8,34dianteiro direito 8,73 8,81 8,57 8,25 8,30 8,26traseiro esquerdo 9,32 9,34 9,34 8,98 9,01 9,08traseiro direito 11,12 11,17 11,21 10,71 10,83 10,95dianteiro esquerdo 0,50 0,50 0,48 0,54 0,54 0,53dianteiro direito 0,43 0,44 0,41 0,40 0,41 0,41traseiro esquerdo 0,54 0,53 0,56 0,59 0,56 0,59traseiro direito 0,56 0,53 0,54 0,64 0,60 0,60

712 721 633 1045 1029 917 N

Descrição Posição SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2 SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2

dianteiro esquerdo 1136 1140 747 1157 1260 1010dianteiro direito 675 702 620 1111 982 730traseiro esquerdo 565 543 575 895 790 834traseiro direito 878 879 901 930 821 861

Valores RMS µ=0,0005

Valores de pico µ=0,002Valores de pico µ=0,002

Valores RMS µ=0,002

unidade de

medida

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RK

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carr

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m/s3

unidade de

medida

Ace

lera

ção

vert

ical

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ia

sobr

e ca

da

roda m/s2

Sinais avaliados

Descrição Posição SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2 SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2

dianteiro esquerdo 1,22 1,22 1,21 1,13 1,10 1,11dianteiro direito 1,21 1,20 1,20 1,13 1,10 1,10traseiro esquerdo 1,09 1,04 1,04 1,02 0,95 0,97traseiro direito 1,12 1,10 1,09 1,04 1,00 1,00dianteiro esquerdo 18,4 18,1 18,0 18,8 18,2 18,2dianteiro direito 19,1 18,6 18,6 19,3 18,4 18,6traseiro esquerdo 16,5 15,4 15,4 17,0 15,2 15,6traseiro direito 19,1 17,5 17,3 18,3 17,0 17,0dianteiro esquerdo 8,44 8,61 8,71 8,25 8,62 9,10dianteiro direito 7,50 7,51 7,61 7,57 7,54 7,88traseiro esquerdo 10,48 10,54 10,62 9,85 9,92 10,27traseiro direito 10,21 10,18 10,26 9,83 9,75 10,07dianteiro esquerdo 0,15 0,14 0,16 0,28 0,27 0,28dianteiro direito 0,21 0,20 0,22 0,29 0,33 0,31traseiro esquerdo 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00traseiro direito 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

791 783 791 1072 1126 1038 N

Descrição Posição SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2 SA básico Prop. 1 Prop. 1 e 2

dianteiro esquerdo 182 185 185 174 209 212dianteiro direito 168 171 170 144 184 182traseiro esquerdo 115 125 125 133 119 128traseiro direito 204 221 221 202 216 223

unidade de

medida

"JE

RK

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rivad

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ocer

ia

m/s3

Valores de pico µ=0,002 Valores de pico µ=0,002

Torção

Sinais avaliados

Índ

ice

de

ader

ênci

a do

s p

neus

ao

sol

o (s

egur

ança

)

mm

Des

loca

men

to

rela

tivo

entr

e ro

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mm

"JE

RK

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icai

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ca

rroc

eria

m/s3

unidade de

medidaA

cele

raçã

o ve

rtic

al d

a ca

rroc

eria

so

bre

cad

a ro

da m/s2

Valores RMS µ=0,002 Valores RMS µ=0,0005Sinais avaliados

395

Analisando-se os resultados da tabela 4.25, nota-se que as melhorias proporcionadas

pelas duas propostas são mais evidentes. Mostra também que as melhorias proporcionadas

neste teste com pista não pavimentada superaram as pequenas perdas de desempenho que

ocorreram no teste com os obstáculos, confirmando que a aplicação da nova regra para o

grampeamento do sinal de força em conjunto com o compensador “avanço/atraso” é a melhor

opção.

Para evidenciar melhor este resultado foi feita uma síntese dos dados das simulações,

considerando a média dos resultados dentro de cada índice de desempenho. Nesta análise

considerou-se apenas o sistema SA básico, chamado apenas de “básico” e o sistema SA com

as duas propostas juntas, chamado de “proposto”. A síntese destes resultados comparados

com os resultados do sistema passivo é apresentada nas tabelas 4.26 e 4.27. A partir da análise

dos dados destas tabelas, percebe-se que o sistema “proposto” além de melhorar o resultado

de alguns índices de desempenho, tornou menos desfavorável o resultado negativo de outros

índices, como ocorre com o “conforto 3” que está relacionado com os valores de pico do

“tranco”. O índice “conforto 1” é o valor RMS da aceleração da carroceria, e o “conforto 2” é

o valor RMS do “tranco”.

Tabela 4.26 – Resultados da simulação do veículo passando sobre obstáculos: ativo x passivo.

Tabela 4.27 – Resultados da simulação do veículo passando sobre obstáculos: ativo x passivo.

Básico Proposto Básico Proposto

Conforto 1 32% 33% 37% 39%Conforto 2 7% 12% 7% 12%Conforto 3 -98% -107% -95% -120%

Torção -80% -80% -144% -137%"Rattlespace" 31% 30% 33% 30%

Segurança 76% 75% 62% 61%

µµµµ=0,002 µµµµ=0,0005Critério

Básico Proposto Básico Proposto

Conforto 1 17% 19% 7% 13%Conforto 2 14% 17% 1% 7%Conforto 3 -22% -7% -59% -31%

Torção 56% 61% 36% 44%"Rattlespace" 12% 12% 15% 15%

Segurança 25% 26% 20% 20%

µµµµ=0,002 µµµµ=0,0005Critério

396

Uma vez verificada o vantagem das propostas, foi realizada uma nova simulação com

o objetivo de comparar o sinal de força gerada pelo controlador ativo com o sinal de força

gerado pelo controlador SA proposto. Este resultado obtido a partir da simulação com o

veículo passando pelos obstáculos, e é apresentado nos gráficos da figura 4.81.

Figura 4.81 – Comparação da força do sistema ativo (vermelho) com o semi-ativo (preto).

Estes gráficos mostram o que o sinal de força do controlador ativo é muito mais suave

que o sinal de força do controlador semi-ativo, o que explica o pior resultado no “tranco”

verificado neste último. É importante notar também, que apesar do controle semi-ativo não

conseguir perfeitamente o sinal do controle ativo, ele faz uma aproximação bastante coerente.

397

4.4.10 ESCOLHA DA MELHOR CONFIGURAÇÃO DO CONTROLADOR

O objetivo desta seção foi a escolha da configuração do controlador que seria

implementado num sistema real. Para isso foram definidos pesos para cada um dos critérios

de desempenho, e a partir dos resultados das simulações obtido até aqui, foi calculada uma

pontuação para cada proposta. Foram analisadas quatro propostas:

• Controlador ativo com 002,0=µ e grampeamento convencional (básico);

• Controlador ativo com 002,0=µ , nova regra de grampeamento e

compensador (proposto);

• Controlador ativo com 4105 −⋅=µ e grampeamento convencional (básico);

• Controlador ativo com 4105 −⋅=µ , nova regra de grampeamento e

compensador (proposto);

Os índices de desempenho receberam pesos de 1 até 3, proporcionais a sua participação no

desempenho geral do veículo segundo a minha percepção pessoal, como usuário de

caminhonetes. Estes resultados são apresentados na tabela 4.25:

Tabela 4.28 – Avaliação ponderada dos resultados das simulações.

Como pode ser observado, o sistema que obteve a melhor nota foi o controlador ativo

com 002,0=µ , e com a nova regra de grampeamento e compensação (propostos). Portanto,

este foi o sistema escolhido para ser experimentado em testes reais com uma caminhonete.

Básico Proposto Básico PropostoConforto 1 1 0,2 0,2 0,1 0,1Conforto 2 3 0,4 0,5 0,0 0,2Conforto 3 2 -0,4 -0,1 -1,2 -0,6

Torção 1 0,6 0,6 0,4 0,4"Rattlespace" 2 0,2 0,2 0,3 0,3

Segurança 3 0,8 0,8 0,6 0,6Conforto 1 1 0,3 0,3 0,4 0,4Conforto 2 3 0,2 0,4 0,2 0,4Conforto 3 2 -2,0 -2,1 -1,9 -2,4

Torção 1 -0,8 -0,8 -1,4 -1,4"Rattlespace" 2 0,6 0,6 0,7 0,6

Segurança 3 2,3 2,3 1,9 1,8

2,4 2,8 -0,1 0,5

Sim

ulaç

ões

com

o

veíc

ulo

tran

sita

ndo

em v

ia n

ão

pavi

men

tada

.

Critério µµµµ=0,002 µµµµ=0,0005Pesos

Sim

ulaç

ões

com

o

veíc

ulo

pass

ando

po

r ob

stác

ulos

(lo

mba

das)

.

398

4.4.11 DEFINIÇÃO DOS EXPERIMENTOS E INDICADORES

Para definição dos experimentos com o sistema semi-ativo real, foram realizados alguns

testes preliminares do sistema. Nestes testes foi verificado que a taxa de aquisição dos dados

via interface RTDX é de apenas 25 Hz, quando o processador de dados (DSP) está rodando o

algoritmo completo de controle. Nesta condição, os sinais aquisitados só poderiam ser

analisados até uma freqüência de 12,5 Hz.

Para se calcular os novos índices foi definida uma matriz 3L , conforme segue:

−−

−−

−−

=

1//1

1//1

1//1

1//1

2

2

1

1

3

dhlh

dhlh

dhlh

dhlh

L (4.65)

onde l1, l2 e d são as mesmas constantes utilizadas no cálculo da matriz 2L na equação (3.7), e

h é a medida da altura do tórax de uma pessoa dentro da cabide do veículo em relação ao

centro de giro dos movimentos de rolamento e de arfagem. Admitiu-se h = 1m.

O objetivo de se utilizar a matriz 3L é de transformar os sinais de aceleração medidos

verticalmente em quatro cantos da carroceria em três sinais de aceleração agindo sobre a

pessoa dentro da cabine, segundo os eixos x, y e z definidos conforme a figura 2.3. E mais um

sinal de aceleração do modo de torção do chassi. Para isso, é feita uma multiplicação da

transposta de 3L pelos sinais de aceleração provenientes dos acelerômetros presos à

carroceria.

Foram então definidos novos índices de desempenho e novas formas de cálculos para

estes índices, de forma a se avaliar mais adequadamente os resultados segundo esta limitação

imposta pela tecnologia aplicada no experimento.

Os novos índices e sua descrição estão listados a seguir:

• Índice a2: este índice é calculado tomando-se o valor máximo do vetor composto

pelos valores RMS dos sinais dos acelerômetros presos à carroceria do veículo.

• Índice d12: este índice é calculado tomando-se o valor máximo do vetor

composto pelos valores RMS dos sinais dos potenciômetros presos entre as rodas

e a carroceria do veículo.

399

• Índice Torção: este índice é calculado a partir do somatório do valor absoluto de

todas as raias de freqüência (entre 0 e 12,5 Hz) do PSD do sinal de aceleração do

modo de torção.

• Índice az: este índice é calculado a partir do somatório do valor ponderado de

todas as raias de freqüência (entre 0 e 12,5 Hz) do PSD do sinal de aceleração na

direção z (vertical) que afeta a pessoa dentro da cabine. A função de ponderação

foi definida conforme a norma SAE J1490.

• Índice ay: este índice é calculado a partir do somatório do valor ponderado de

todas as raias de freqüência (entre 0 e 12,5 Hz) do PSD do sinal de aceleração na

direção y (lateral) que afeta a pessoa dentro da cabine. A função de ponderação

foi definida conforme a norma SAE J1490.

• Índice “jerk”: este índice é calculado a partir do somatório do valor absoluto de

todas as raias de freqüência (entre 0 e 12,5 Hz) do PSD multiplicada pela

respectiva freqüência de cada raia. Este cálculo é feito sobre os sinais de

aceleração vertical da carroceria. A multiplicação do valor absoluto de cada raia

pela sua freqüência tem o objetivo de se calcular a derivada temporal destes

sinais de aceleração, a fim de se ter um valor representativo do “tranco”. Para o

indicador toma-se o maior valor dos quatro valores calculados a partir dos quatro

sinais de aceleração.

Uma simulação foi realizada com a configuração do controlador escolhida para o teste

experimental. Nesta simulação os dados dos sensores foram amostrados numa taxa de apenas

25 Hz, conforme a limitação do sistema real. A simulação foi rodada sobre os dados da pista

não pavimentada, visto que na prática o experimento de passagem sobre as lombadas é difícil

de ser repetido com precisão, tornando impossível uma comparação entre o sistema passivo e

o semi-ativo. Como o sinal da via não pavimentada é mais rico, ou seja, apresenta um

espectro de freqüências mais amplo, ele tende a se aproximar de um ruído branco, criando

uma condição mais satisfatória para comparação estatística dos resultados dos sistemas

passivo e semi-ativo.

Os índices calculados a partir dos dados destas simulações são apresentados na tabela

4.29. Como os modelos não apresentam liberdade na torção, os resultados deste índice foram

nulos para os dois sistemas simulados.

400

Tabela 4.29 – Resultado dos novos índices calculados a partir de sinais simulados.

A partir dos dados da tabela 4.29 é possível desenhar um gráfico do tipo “radar” com o

valor de resultados relativos. Conforme apresentado na figura 4.82, a linha em vermelho que

passa pelos seis indicadores com valor 1, representa a referência dada pelos resultados do

sistema passivo. Os valores relativos dos resultados do sistema semi-ativos são desenhados

com a linha na cor azul. Com exceção do sinal de torção, do qual não se pode tirar nenhuma

conclusão, os demais índices apresentaram uma melhoria significativa nos seus resultados e

que tem coerência com as demais análises realizada anteriormente. Isto demonstra que este

procedimento é confiável para ser aplicado nos experimentos reais.

Figura 4.82 – Gráfico “radar” com os índices de desempenho.

a2 d12 Torção az ay "Jerk"

m/s2 m m/s2"energia" "energia" m/s3

Passivo 1,9877 0,0088 0,0000 0,1758 0,6229 35,4474

SA 1,6931 0,0086 0,0000 0,1165 0,3679 29,7694

Sistema

401

4.5 TESTES EXPERIMENTAIS DA SUSPENSÃO SEMI-ATIVA

A parte final do trabalho foi o teste experimental do sistema semi-ativo. O sistema

passivo foi também testado nas mesmas condições para que fosse possível ser realizada uma

comparação entre os dois sistemas. Para colocar em funcionamento o sistema de controle

semi-ativo, outros circuitos eletrônicos foram acrescentados para interconectar o módulo de

controle digital com os atuadores. Também foi preparado um diagrama de blocos do

controlador completo no Simulink®, para se programar o DSP através dos aplicativos Matlab®

e Code Composer Studio® (CCS) trabalhando em conjunto. O trabalho de Perrella (2005) é

uma boa referência para aplicações de controle que utilizam “kits target” baseado em DSP e o

aplicativo CCS, e foi utilizado para orientar implementação nesta aplicação.

4.5.1 ELETRÔNICA DE POTÊNCIA

Um circuito eletrônico de potência foi desenvolvido para conectar o módulo de controle

digital aos atuadores. Este circuito foi chamado “módulo de potência” e foi construído com

componentes de baixo custo e facilmente encontrados no mercado.

Como os sinais de saídas do modulo de controle são digitais do tipo modulação por

largura de pulso (“PWM”), foi necessário acrescentar um filtro passa-baixas na entrada do

módulo de potência. A freqüência dos sinais de saída foi configurada para a faixa de 20 kHz,

e o filtro passa-baixas para freqüência de corte em 5kHz, o que praticamente não interfere em

nada na faixa de freqüências de trabalho do sistema de controle.

O módulo de potência foi projetado para fornecer os atuadores tensões entre -10V e

+10V. Para tensões positivas o módulo tem capacidade para fornecer corrente elétrica até 3 A

em regime permanente, e 15 A de pico em transitórios de curta duração (menor que 1

segundo). Para tensões negativas a corrente em regime permanente é de apenas 400 mA e a de

pico de 3 A. Apesar das corrente em tensões negativa serem menores, elas são suficientes para

esta aplicação, visto que as tensões negativas ocorrem apenas de forma transitória para

acelerar o processo de redução da corrente no indutor da válvula magnética. O módulo de

potência foi alimentado apenas com a bateria de 12V disponível no veículo.

Foram construídos quatro módulos de potência idênticos. A figura 4.83 mostra uma

fotografia dos módulos prontos para serem instalados no veículo. Cada módulo de potência

402

foi instalado o mais próximo possível do seu respectivo atuador para se evitar cabos muito

longos que pudessem ocasionar redução na tensão máxima durante surtos altos de corrente.

Figura 4.83 – Módulos de potência prontos para serem instalados no veículo.

4.5.2 ALGORITMO DE CONTROLE NO SIMULINK

O algoritmo de controle foi implementado no Simulink conforme o diagrama de

blocos da figura 4.84. Como se pode observar neste diagrama, os sinais oriundos dos

conversores analógico/digital (ADC) passam por um condicionamento de sinal similar ao

descrito na seção 4.1.4 (parte 2). Os sinais condicionados são levados a entrado do

controlador implementado na sua forma discreta em espaço de estados. Em paralelo os sinais

de deslocamento relativo entre roda e carroceria são filtrados por um filtro passa baixas, com

freqüência de corte superior a do sistema de controle. Estes sinais filtrados passam por um

derivador discreto, resultando em sinais de velocidade relativa entre rodas e carroceria, os

quais são aplicados nas entradas dos modelos dos quatro atuadores MR (após os devido

ajustes de alavancagem). A saída do controlador entra no bloco que calcula a regra de

grampeamento a partir da realimentação dos sinais de força da saída dos modelos dos

atuadores MR. Os sinais da saída do bloco grampeador são aplicados nas entradas dos

compensadores “avanço-atraso” que por sua vez, injetam sinais nas entradas de controle dos

modelos dos atuadores. Estes mesmos sinais são levados às saídas tipo PWM do sistema, que

por sua vez irão alimentar os módulos de potência e acionar os atuadores reais.

403

Figura 4.84 – Diagrama em blocos do sistema de controle implementado no Simulink®.

4.5.3 DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO

Os testes experimentais foram realizados baseados nos resultados das simulações. Como

a passagem pelas lombadas não é um procedimento fácil de ser repetido devido à variação da

velocidade do veículo, decidiu-se restringir o teste comparativo entre o sistema passivo e o

sistema semi-ativo a um trecho de pista não pavimentada. O veículo percorreu este trajeto em

18 segundos, com velocidade aproximadamente constante. Este teste focou apenas a coleta de

informações relacionadas ao conforto, à amplitude do deslocamento entre roda e carroceria, e

ao “tranco”.

Conforme foi verificado nos testes preliminares do sistema, a taxa de aquisição dos

dados via interface RTDX é de apenas 25 Hz quando o processador de dados (DSP) está

rodando o algoritmo completo de controle. Contudo, esta situação já foi testada nas

404

simulações, e os novos índices de desempenho definidos na seção 4.4.11 foram capazes de

uma avaliação satisfatória do desempenho dos sistemas passivo e semi-ativo.

Foram realizados ao todo 15 experimentos, 10 com a suspensão passiva e 5 com a

suspensão semi-ativa. Todos os experimentos foram realizados em uma pista não

pavimentada e plana, representando um sinal “rico” que pode ser aproximado por um ruído

branco. Nesta pista, o veículo transitou em linha reta, sempre na mesma velocidade, e

percorrendo (com erro de no máximo 0,5 m) o mesmo caminho. O percurso de

aproximadamente 100 m foi percorrido a aproximadamente 20 km/h, onde foram amostrados

20 segundos de dados à taxa de 25 Hz.

As tabelas 4.30 e 4.31 apresentam os índices calculados a partir dos dados amostrados,

respectivamente a partir do sistema passivo e do sistema semi-ativo.

Tabela 4.30 – Índices calculados a partir dos dados dos testes da suspensão passiva.

Tabela 4.31 – Índices calculados a partir dos dados dos testes da suspensão semi-ativa.

a2 d12 Torção az ay "Jerk"

m/s2 m m/s2"energia" "energia" m/s3

1 2,251553 0,019357 2,471275 0,334324 0,661833 20,14192 2,22608 0,016648 3,124217 0,258192 0,616482 20,771023 2,196444 0,017048 2,666179 0,311337 0,509946 19,858154 2,590968 0,022639 2,935117 0,354763 0,497908 20,541785 2,253748 0,01861 2,999528 0,25147 0,430778 18,62899

amostra

a2 d12 Torção az ay "Jerk"

m/s2 m m/s2"energia" "energia" m/s3

1 2,44611 0,01806 3,59058 0,44588 0,58826 24,592822 2,71548 0,01854 4,21160 0,53690 0,69359 24,362143 2,60162 0,01784 3,56642 0,49577 0,60424 23,550474 2,45854 0,01872 3,97592 0,38104 0,52187 21,384665 2,63007 0,01814 4,41520 0,46133 0,53008 25,294916 2,65456 0,01734 4,66218 0,49738 0,56236 26,287627 2,51372 0,01714 3,55531 0,41716 0,54091 24,283148 2,48189 0,01733 3,69672 0,45841 0,65723 23,793359 2,63706 0,01769 3,59231 0,39302 0,75085 23,3546010 2,49185 0,01767 4,99339 0,41174 0,56751 26,00323

amostra

405

4.6 ANÁLISE DOS DADOS

Cada um dos índices de desempenho calculados a partir dos dados coletados nos 15

experimentos foi analisado estatisticamente através de um teste ANOVA “one way”. Este

teste leva em conta a variância das amostras para identificar com que confiança pode-se

afirmar que se trata de resultados de médias distintas. Os gráficos da figura 4.85 mostram os

resultados nesta análise. Como resultado pode-se afirmar com certeza superior a 99,8% que os

indicadores a2, Torção, az e “jerk” do testes com a suspensão semi-ativa correspondem a

médias diferentes dos mesmos indicadores referentes à suspensão passiva. Com relação aos

índices d12 e ay não se pode afirmar que correspondem a médias diferentes, pois poderia se

cometer um erro nesta afirmação com uma probabilidade superior a 20%.

Figura 4.85 – Gráficos com o resultado do teste ANOVA.

406

Os indicadores e as suas incertezas foram desenhados num gráfico tipo “radar” e são

apresentados na figura 4.86. Por meio deste gráfico é possível verificar melhorias nos quatro

indicadores onde se pode afirmar que os resultados do sistema semi-ativo são diferentes dos

resultados do sistema passivo. Isto comprova o sucesso da implantação prática do controlador

e de toda a teoria desenvolvida ao seu respeito.

Figura 4.86 – Gráfico “radar” com os indicadores dos testes experimentais.

Infelizmente os recursos técnicos não foram suficientes para se realizar testes objetivos

para avaliação experimental do desempenho em situações que geram o “side thrust”, que é um

dos principais fatores de segurança que afetam as caminhonetes.

407

5 CONCLUSÕES

Os sistemas de suspensão “inteligentes”, sejam eles sistemas ativos ou semi-ativos,

podem trazer benefícios de conforto e segurança aos usuários de veículos em geral. Devido à

busca por veículos mais econômicos, mais baratos, robustos, e com baixo custo de

manutenção, o Mercado automobilístico não vê com bons olhos os sistemas ativos, que são

caros, consomem mais energia e apresentam maiores custos de manutenção. Por isso, os

sistemas semi-ativos são o caminho mais provável para a disseminação dos sistemas de

suspensão inteligente para além dos limites do Mercado dos veículos de luxo.

Na aplicação destes sistemas em caminhonetes encontrou-se uma série de desafios

técnicos que precisaram ser suplantados para o sucesso deste trabalho. Como a premissa foi

desenvolver um controlador multivariável robusto e semi-ativo, visto que esta estratégia

poderia trazer benefícios em relação aos tradicionais sistemas de controle “Sky-hook”, vários

desenvolvimentos precisaram ocorrer para tornar possível a execução deste objetivo.

O primeiro desafio foi o desenvolvimento de um modelo matemático do veículo com

sete graus de liberdade e capaz de representar de forma satisfatória as principais dinâmicas do

corpo suspenso do veículo e de suas rodas. Além disso, o modelo precisava ter seus

parâmetros ajustados para uma representação mais fiel possível dos comportamentos reais do

veículo, e assim também foi desenvolvida com sucesso uma metodologia para identificação

dos parâmetros. Essa metodologia, além de identificar parâmetros com significado físico, o

que ajuda ao engenheiro a identificar possíveis erros no modelamento e poder fazer uma

análise crítica dos resultados do processo de identificação, permite também a identificação do

modelo do veículo acrescido de algumas não-linearidades importantes para sua utilização

prática.

O segundo desafio foi a adequação da síntese de controle LQG/LTR às necessidades e

contingências de sistemas de suspensão e com o uso de atuadores semi-ativos. Foi necessário

o desenvolvimento teórico no sentido de se mostrar que o procedimento LTR também ocorre

em aplicações onde as plantas apresentam funções de transferência não estritamente próprias,

que foi um resultado importante para esta classe de sistemas de controle. Também foi

necessária a inclusão de novas barreiras de projeto que considerassem situações peculiares

dos sistemas de suspensão. Como benefício de se utilizar um controlador multivariável,

buscou-se também a coordenação das forças de controle para se evitar a excitação do modo de

torção do chassi, o que foi conseguido e verificado através de dados experimentais.

408

Para se buscar a redução dos efeitos de solavancos (“tranco”), característicos de

sistemas de suspensão semi-ativos, foram propostas soluções como a nova regra para o

grampeamento do sinal de força realimentado por uma modelo dinâmico do atuador. O uso

deste conceito evitou a ocorrência indesejável de transientes no sinal de força devido à

histerese da relação força “versus” velocidade nos atuadores MR. O modelo dinâmico do

amortecedor MR, que foi um dos resultados da parte 1 deste trabalho, foi fundamental para a

aplicação desta idéia, visto que uma realimentação direta de sinais de força seria inviável em

razão dos custos e dimensões dos sensores.

A preocupação de melhorar o conforto sem prejuízo da questão segurança foi uma das

premissas deste trabalho. Neste sentido, o foco foi tentar mitigar a ocorrência da dinâmica

conhecida por “side thrust”, em que a traseira da caminhonete desloca-se lateralmente, em

razão do eixo diferencial ter uma de suas rodas oscilando com amplitude maior do que a

outra. A redução do “side thrust” foi verificada a partir da análise de resultados de simulações,

onde se constatou que os sistemas semi-ativos geraram uma redução das perdas de contato

entre o pneu e o solo, atuando no sentido de reduzir as amplitudes de oscilação das rodas.

Infelizmente esta constatação não pode ser evidenciada de forma experimental por deficiência

de recursos técnicos disponíveis.

A implementação prática do sistema também foi outro desafio, que começou com o

projeto e construção dos quatro atuadores baseado na teoria estudada na parte 1 deste

trabalho. Foi necessário se desenvolver atuadores que pudessem atingir forças até 3kN e ao

mesmo tempo permitir rápidas movimentações do pistão com baixas resistências à este

movimento, e com amplitudes de movimentação grandes. Também foi necessário aprender a

trabalhar com circuitos eletrônicos de controle baseados em “chips” DSP, e desenvolver os

circuitos eletrônicos para as interfaces entre sensores, unidade de controle e atuadores.

O trabalho utilizou técnicas de simulação para testar as soluções de controle em várias

situações de forma a reduzir a quantidade de testes experimentais para validação do sistema, e

também para testar situações impostas pela própria limitação dos recursos experimentais, tal

como a limitação da taxa de amostragem do sinal.

Apesar do resultado do experimento real ter sido satisfatório para um trabalho

acadêmico, ainda há um bom caminho a se percorrer para se chegar a um produto comercial.

No entanto, a maior contribuição deste trabalho foi criar uma base sólida para futuras

pesquisas nesta área, propondo soluções que poderão ser bastante úteis em trabalhos futuros

sobre sistemas de suspensão, bem como outros trabalhos que vierem a utilizar sistemas semi-

ativos e atuadores magneto-reológicos.

409

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Seguem algumas sugestões para trabalhos futuros.

♦ Estudar a utilização de controle semi-ativo em sistemas de suspensão com amortecedores

hidro-pneumáticos. Este tipo de amortecedor utiliza um sistema pneumático como “mola”,

além da parte hidráulica que faz a função de dissipação de energia. Um amortecedor MR

com esta característica pode levar a varias melhorias construtivas e a um melhor

desempenho em conforto.

♦ Estudar o desempenho do controlador proposto neste trabalho em relação a variação de

carga de uma caminhonete.

♦ Aumentar os graus de liberdade do modelo do veículo, considerando movimentos de

“yaw”, e modelos mais sofisticados para os pneus que considerem as forças laterais e

longitudinais destes. Assim é possível se analisar o desempenho de sistemas ativos

durante manobras e em condições de aceleração e frenagem do veículo. Além disso, a

consideração do torque do motor sobre o eixo traseiro ajuda melhorar a representação dos

efeitos de “side thrust”, visto que estes torques influem bastante no comportamento

dinâmico do eixo.

♦ Estudar o acionamento de atuadores semi-ativos na transferência de forças entre rodas

direitas e esquerdas, numa manobra de curva, com o objetivo de se controlar o

comportmento do veículo no sentido de torná-lo “understeer” ou “oversteer”.

♦ Incorporação de um sensor no atuador magneto-reológico com o objetivo de se medir

diretamente a velocidade de movimentação do pistão. Além da velocidade do pistão poder

ser medida com mais precisão, medir a diretamente o sinal de velocidade é uma

alternativa melhor em relação a se medir o deslocamento e então calcular a derivada deste

sinal.

♦ Estudar a síntese H∞ para sistemas lineares com dependência paramétrica (LPV) com o

objetivo de se projetar um controlador considerando a característica semi-ativa do atuador,

ao invés de se fazer um projeto de um controlador ativo e grampear o sinal do atuador.

Uma boa referência para este estudo é o trabalho de Poussot-Vassal et al. (2006).

♦ Considerar um re-projeto da suspensão (molas, articulações e restrições cinemáticas),

reduzindo-se o seu atrito residual e levando-se em conta a existência de atuadores semi-

ativos.

410

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424

APÊNDICE A – Solução RLQ para sistema de 1 grau de liberdade

Dado o sistema de equações diferencias referente à figura A.1

==

−=

sM

tUtutx

twtxtx

)()()(

)()()(

2

21

&

&

(A.1)

Figura A.1 – Modelo com um grau de liberdade(1DOF).

onde w(t) é um sinal que pode ser aproximado por um ruído branco de média zero.

Deseja-se minimizar o funcional de custo

( )

+= ∫ dtxrxEJ ft

0

22

21 & (A.2)

A partir da hipótese de que a variável aleatória, w(t), tem média nula, pode-se afirmar que,

quando ∞→ft , vale a seguinte aproximação para o funcional de custo J:

( ) ( )dtxrxdtxrxEJft

0

22

21

t

0

22

21

f

lim ∫∫∞

∞→

+≅

+= && (A.3)

O sistema da equação (A.1) pode ser escrito na forma matricial, como segue:

425

uwx

x

x

x⋅

+⋅

−+

=

1

0

0

1

00

10

2

1

2

1

&

& (A.4)

ou ainda

uw ⋅+⋅+⋅= BLxAx& (A.5)

onde

=

−=

=

=

1

0 e ,

0

1 , ,

00

10

2

1 BLxAx

x (A.6)

Admitindo-se também a hipótese de que existe uma matriz P positiva-definida real e

simétrica, tal que:

( ) ( ) [ ]∞∞∞

−=+=+≅ ∫∫ 0

00

22

21 PxxRuuQxx TTT dtdtxrxJ & (A.7)

onde

r=

= RQ e ,

00

01 (A.8)

Considerando-se o problema de controle ótimo de determinar a matriz K de ganho de

realimentação de estados, de forma que:

)()( ttu xK ⋅−= (A.9)

A equação (A.7) pode ser desenvolvida como segue:

( ) ( )

( )( ) xBKAPxPxBKAxxRKKQx

xPxPxxRKxKxQxx

PxxRuuQxx

)()'( −−−−=+⇒

−−=+⇒

−=+

TTTT

TTTTT

TTT

dt

d

&& (A.10)

Comparando ambos os lados da equação (A.10) e notando que esta equação deve ser

verdadeira para qualquer x, impõe-se que:

426

( )RKKQBKAPPBKA T+−=−+− )()'( (A.11)

Pelo segundo método de Liapunov, se a matriz )( BKA − é Hurwitz, a matriz positiva

definida P existe e é única. Considerando-se que 0)( =∞x segundo a hipótese de

estabilidade, o índice de desempenho pode ser escrito como:

)0()0( xPx ⋅⋅= TJ (A.12)

Para se poder resolver a equação (A.11) é preciso definir K como uma função de P.

Dado que r=R , é possível então se considerar a seguinte relação:

PBK T

r⋅=

1 (A.13)

Assim, a equação (A.11) pode ser reescrita conforme segue:

01

' =+⋅−+ QPPBBPAPA T

r (A.14)

A equação (A.14) , conhecida como Equação Algébrica de Riccati (EAR), precisa ser

resolvida para se encontrar a matriz P. Como este resultado somente é válido se a matriz

)( BKA − é Hurwitz , antes é necessário verificar se o posto da matriz:

[ ]TTT SAS M (A.15)

é igual a 2, onde a matriz S é definida por

[ ]0100

01=⇒

== SQSST (A.16)

o que confirma a hipótese de que )( BKA − é estável, visto que o posto de (A.15) é de fato

igual a 2.

Desenvolvendo-se a equação (A.14), tem–se:

427

[ ]

=

+

⋅⋅

⋅−

+

+

00

00

00

0110

1

01

00

10

01

00

2212

1211

2212

1211

2212

1211

2212

1211

pp

pp

pp

pp

r

pp

pp

pp

pp

(A.17)

Que pode ser simplificada para:

=

+

⋅−

+

00

00

00

011

0

0002222212

2212212

12

11

1211 ppp

ppp

rp

p

pp (A.18)

De onde se obtém as seguintes equações:

02

0

01

122212

1221211

1212

=−

=−

=−

rpp

rppp

rp

(A.19)

Resolvendo este sistema de equações e impondo que P seja positiva-definida, obtém-se:

=

=

2

24

32

1

21

41

2212

1211

rr

rr

pp

ppP (A.20)

A matriz de ganho de realimentação ótima K é então obtida de:

[ ] [ ]22

210

14

12

1

43

21

21

41

−−=

⋅⋅= rr

rr

rr

rK (A.21)

Portanto o sinal de controle ótimo é:

)(2)()()( 214

12

1

txrtxrttu ⋅⋅−⋅−=⋅−= −−xK (A.22)

c.q.d.

428

APÊNDICE B – Identidades de Álgebra Matricial

B.1 – LEMA 1 (Lema da inversão Matricial-LIM) Também conhecido como Woodbury formula (WOODBURY, 1950), ou Sherman-

Morrison-Woodbury formula, esta identidade matricial é definida conforme segue:

( ) 1111111 −−−−−−−+−=+ VAU)VAU(BAAUBVA . (B.1)

onde A, U, B e V denotam matrizes de tamanho compatível. No caso mais geral A é nn × , U é

kn × , B é kk × e V é nk × . Casos especiais decorrem quando n = k, ou quando uma ou mais matrizes são matrizes identidade (I). B.2 – LEMA 2 (decorrente do Lema 1) Dadas as matrizes )(sφ e )(sφ definidas como

1)()( −−≡ AIφ ss

1)()( −+−≡ CKAIφ oss

Existe a seguinte expressão que relaciona ambas

)())(()()()( 1 sssss oo CφKCφIKφφφ −+−= (B.2)

Prova: Aplicando-se o resultado do LEMA 1 em )(sφ , de forma que

=

=

=

−=

→+−= −

C

I

K

AI

CKAIφ

""

""

""

""

)()( 1

V

B

U

sA

sso

o

O que resulta em

11111 )())(()()()( −−−−− −−+−−−= AICKAICIKAIAIφ sssss oo ,

e, portanto,

)())(()()()( 1sssss oo CφKCIKφφφ −+−= φ .

429

APÊNDICE C – Construção e Calibração dos Sensores

Os acelerômetros MEMS são montados em circuitos eletrônicos conforme o diagrama

elétrico da figura C.1. Neste diagrama podem ser observados os componentes R1 e C2 que

formam um filtro passa baixas na saída do CI acelerômetro. Por outro lado, o capacitor C1

serve para filtrar transitórios de alta freqüência presentes na alimentação do CI.

Figura C.1 – Diagrama elétrico do circuito dos acelerômetros.

Os sensores de deslocamento, baseados em potenciômetros, são montados conforme o

diagrama elétrico apresentado na figura C.2. Da mesma forma que no diagrama elétrico do

acelerômetro, o capacitor C2 associado à impedância de P1 formam um filtro passa baixa, e o

capacitor C1 tem a mesma função descrita no diagrama anterior.

Figura C.2 – Diagrama elétrico do circuito dos sensores de deslocamento.

Para adequar o sinal dos sensores às entradas dos conversores analógico/digital (ADC) e

reduzir a impedância na transmissão do sinal, foi utilizado o circuito representado pelo

diagrama elétrico da figura C.3.

430

Figura C.3 – Circuito de interface entre os sensores e as entradas do ADC.

Todos os circuitos depois de montados foram encapsulados em caixas vedadas para

impedir a entrada de poeira e umidade, conforme apresentado na figura C.4.

Figura C.4 – Sensores acelerômetros e de deslocamento encapsulados e prontos para

instalação no veículo.

Todos os sensores depois de testados foram calibrados. A calibração foi realizada com

toda eletrônica de controle montada, ou seja, com cada sensor conectado às suas respectivas

entradas do ADC. Além disso, todos os circuitos foram alimentados com tensão de 12V

431

conforme a condição no veículo, e os sensores de deslocamento montados com suas

respectivas alavancas de acionamento, também conforme a montagem final. O objetivo da

calibração não foi apenas verificar a linearidade e precisão dos sensores, mas estender esta

avaliação a possíveis não-linearidades associadas aos demais circuitos eletrônicos e ao

mecanismo de acionamento dos sensores. Daí a necessidade do experimento englobar todo o

conjunto, do sensor até a unidade de controle.

No caso dos sensores acelerômetros, que já vem calibrados de fábrica, foram realizados

experimentos mais simples, amostrando-se apenas três pontos (0g, 1g e 2g). Cada

experimento foi repetido três vezes para cada acelerômetro, de forma a reduzir pequenas

variações que poderiam ter sido introduzidas pelo processo de medição. Os valores medidos

são dados já convertidos para o padrão digital, de forma que os valores ±10 correspondem aos

limites superior e inferior de saturação dos ADC. Utilizando-se as médias das medições

foram feitas regressões lineares para obter a curva de ganho de cada sensor. Os dados e os

gráficos dos sensores acelerômetros da carroceria do veículo estão apresentados na figura C.5.

Os quatro sensores receberam uma numeração de 1 até 4 para identificá-los e relacioná-los

com a sua respectiva curva de calibração.

Figura C.5 – Gráficos de calibração dos acelerômetros da carroceria.

432

Da mesma forma, os dados e os gráficos dos sensores acelerômetros das rodas do

veículo estão apresentados na figura C.6. Embora os experimentos com os acelerômetros não

tenham alcançado o fundo de escala do sensor, a linearidade do sensor em toda a escala é

garantida pelo fabricante. O ensaio, neste caso, teve o objetivo maior de levantamento do

ganho de cada sensor e a integridade de todos os circuitos eletrônicos envolvidos. A

linearidade do circuito de interface entre os sensores e as entradas do ADC em toda faixa de

trabalho, por outro lado, será verificada no ensaio dos sensores de deslocamento, e uma vez

que se tratam do mesmo circuito, o resultado será assumido como válido para os

acelerômetros também.

Figura C.6 – Gráficos de calibração dos acelerômetros das rodas.

No caso dos sensores de deslocamento, os ensaios de calibração foram mais

detalhados porque não se dispunha de dados sobre a linearidade e precisão do potenciômetro.

Também havia uma alavanca conectada ao eixo do potenciômetro de forma a transformar

deslocamentos lineares em angulares, o que introduz certa não-linearidade que precisa ser

avaliada de forma mais precisa. Da mesma forma que nos ensaios dos acelerômetros, cada

433

experimento foi repetido três vezes em cada sensor. As tabelas C.1 e C.2 apresentam os dados

dos sensores de deslocamento da suspensão dianteira do veículo.

Tabela C.1 – Dados de calibração do sensor de deslocamento dianteiro esquerdo.

Tabela C.2 – Dados de calibração do sensor de deslocamento dianteiro direito.

A grandeza ‘z’ indicada nas tabelas corresponde à medição do deslocamento vertical em

centímetros, onde os valores positivos referem-se ao deslocamento para cima da referência

zero, e os valores negativos, para baixo. Os limites de sensibilidade dos sensores de

deslocamento dianteiros foram limitados em ±3 cm, medido a meia distância entre roda e

articulação, o que equivale a um range de ±6 cm de movimentação vertical das rodas

dianteiras, o que é bastante significativo. Os dados medidos são valores de tensão já

convertidos para o formato digital, de forma que os valores ±10 correspondem aos limites

superior e inferior de saturação dos ADC.

z (cm) valor 1 valor 2 valor 3 média Erro3,0 9,875 9,943 9,932 9,917 0,1092,5 8,419 8,417 8,423 8,420 0,0092,0 6,831 6,836 6,835 6,834 0,0091,5 5,193 5,195 5,343 5,244 0,2581,0 3,478 3,466 3,475 3,473 0,0190,5 1,772 1,810 1,804 1,795 0,0610,0 0,001 0,005 0,014 0,007 0,019-0,5 -1,721 -1,739 -1,737 -1,732 0,030-1,0 -3,536 -3,535 -3,541 -3,537 0,009-1,5 -5,449 -5,453 -5,463 -5,455 0,022-2,0 -7,475 -7,488 -7,476 -7,480 0,020-2,5 -9,416 -9,388 -9,418 -9,407 0,050-2,7 -9,945 -9,961 -9,948 -9,951 0,026

Lado Direito

z (cm) valor 1 valor 2 valor 3 média Erro2,8 9,971 9,964 9,910 9,948 0,1002,5 9,292 9,201 9,245 9,246 0,1372,0 7,630 7,576 7,515 7,574 0,1731,5 6,045 5,993 5,834 5,957 0,3301,0 3,991 3,961 4,000 3,984 0,0620,5 2,062 1,904 1,986 1,984 0,2370,0 -0,034 -0,076 -0,079 -0,063 0,076-0,5 -2,084 -2,082 -2,082 -2,083 0,003-1,0 -3,792 -3,790 -3,787 -3,790 0,008-1,5 -5,548 -5,527 -5,550 -5,541 0,038-2,0 -7,293 -7,297 -7,303 -7,298 0,016-2,5 -8,873 -8,960 -8,949 -8,927 0,143-3,0 -9,916 -9,929 -9,927 -9,924 0,021

Lado Esquerdo

434

Os dados das tabelas C.1 e C.2 foram plotados e foi feita uma regressão linear, cujas

curvas são apresentadas nos gráficos da figura C.7. Como o teste de linearidade resultou em

R-quadrado33 > 99%, foi assumida como satisfatória a aproximação da resposta dos sensores

por curvas lineares. A forma de cálculo do R-quadrado é apresentada do Anexo A.

Figura C.7 – Gráficos de calibração dos sensores de deslocamento dianteiros.

Com relação aos sensores d deslocamento da traseira, foi realizado o mesmo procedimento,

contudo, como o curso da suspensão traseira é bem maior (±13 cm), foram coletados 41

pontos em cada experimento, o qual foi repetido por três vezes para cada sensor. O alcance do

e medida do sensor foi limitado em ±10 cm, e os dados foram coletados a cada 5 mm de

deslocamento vertical da alavanca de acionamento. Os dados coletados para os dois sensores

de deslocamento traseiros estão apresentados na tabela C.3.

Como se pode observar nestes gráficos, o teste de linearidade resultou em R-quadrado

> 99,9%, mostrando que a resposta destes sensores traseiros é mais linear que a dos

dianteiros; fato justificável devido ao braço de acionamento traseiro ser mais longo. O braço

dianteiro mede 100 mm, enquanto que o traseiro mede 250 mm. Após os sensores testados e

calibrados, tendo suas curvas de resposta levantadas e aproximadas por funções lineares, foi

realizada a sua instalação no veículo.

33 O valor de R-quadrado é um número de 0 a 1 que revela o grau de correspondência entre os valores estimados para a linha de tendência e os dados reais. A linha de tendência é mais confiável quando o valor de R-quadrado é 1 ou próximo de 1. Conhecido também como coeficiente de determinação. Vide Anexo A.

435

Tabela C.3 – Dados de calibração dos sensores de deslocamento traseiros.

Os gráficos desenhados a partir destes dados, bem como a sua respectiva regressão

linear, estão apresentados nas figuras C.8 e C.9.

z (cm) valor 1 valor 2 valor 3 média Erro z (cm) valor 1 valor 2 valor 3 média Erro10,0 -9,945 -9,945 -9,949 -9,946 0,007 10,0 -9,928 -9,931 -9,922 -9,927 0,0139,5 -9,945 -9,945 -9,949 -9,946 0,007 9,5 -9,832 -9,836 -9,834 -9,834 0,0069,0 -9,945 -9,945 -9,949 -9,946 0,007 9,0 -9,370 -9,364 -9,366 -9,367 0,0098,5 -9,934 -9,932 -9,936 -9,934 0,006 8,5 -8,879 -8,873 -8,870 -8,874 0,0148,0 -9,439 -9,428 -9,431 -9,433 0,018 8,0 -8,428 -8,431 -8,431 -8,430 0,0047,5 -8,794 -8,797 -8,801 -8,797 0,009 7,5 -7,829 -7,827 -7,824 -7,827 0,0077,0 -8,305 -8,313 -8,312 -8,310 0,013 7,0 -7,327 -7,327 -7,325 -7,326 0,0046,5 -7,636 -7,635 -7,632 -7,634 0,006 6,5 -6,853 -6,842 -6,835 -6,843 0,0286,0 -7,226 -7,215 -7,217 -7,220 0,017 6,0 -6,337 -6,329 -6,323 -6,329 0,0215,5 -6,614 -6,615 -6,611 -6,613 0,007 5,5 -5,794 -5,781 -5,784 -5,786 0,0205,0 -6,133 -6,137 -6,136 -6,135 0,006 5,0 -5,316 -5,312 -5,319 -5,315 0,0104,5 -5,461 -5,457 -5,458 -5,458 0,005 4,5 -4,868 -4,858 -4,859 -4,862 0,0164,0 -4,899 -4,902 -4,896 -4,899 0,008 4,0 -4,290 -4,267 -4,257 -4,271 0,0523,5 -4,287 -4,284 -4,282 -4,284 0,009 3,5 -3,775 -3,764 -3,771 -3,770 0,0163,0 -3,695 -3,698 -3,698 -3,697 0,005 3,0 -3,250 -3,244 -3,232 -3,242 0,0282,5 -3,122 -3,112 -3,116 -3,117 0,014 2,5 -2,699 -2,698 -2,697 -2,698 0,0032,0 -2,456 -2,466 -2,462 -2,461 0,015 2,0 -2,194 -2,177 -2,172 -2,181 0,0341,5 -1,830 -1,835 -1,840 -1,835 0,015 1,5 -1,665 -1,656 -1,650 -1,657 0,0221,0 -1,283 -1,282 -1,279 -1,281 0,007 1,0 -1,048 -1,052 -1,041 -1,047 0,0160,5 -0,659 -0,664 -0,665 -0,662 0,010 0,5 -0,511 -0,512 -0,502 -0,509 0,0170,0 -0,012 -0,021 -0,014 -0,016 0,014 0,0 -0,009 -0,005 -0,004 -0,006 0,007-0,5 0,584 0,586 0,596 0,589 0,018 -0,5 0,490 0,500 0,498 0,496 0,017-1,0 1,264 1,266 1,267 1,265 0,004 -1,0 0,978 1,017 1,015 1,003 0,065-1,5 1,908 1,911 1,912 1,910 0,007 -1,5 1,557 1,573 1,580 1,570 0,035-2,0 2,530 2,526 2,534 2,530 0,012 -2,0 2,136 2,150 2,147 2,144 0,022-2,5 3,022 3,025 3,026 3,025 0,006 -2,5 2,642 2,661 2,671 2,658 0,044-3,0 3,672 3,670 3,666 3,669 0,010 -3,0 3,259 3,272 3,280 3,270 0,032-3,5 4,253 4,258 4,259 4,257 0,010 -3,5 3,671 3,686 3,699 3,685 0,041-4,0 4,741 4,745 4,743 4,743 0,006 -4,0 4,335 4,330 4,332 4,333 0,007-4,5 5,347 5,351 5,355 5,351 0,012 -4,5 4,948 4,948 4,952 4,949 0,006-5,0 5,945 5,949 5,959 5,951 0,021 -5,0 5,440 5,448 5,459 5,449 0,029-5,5 6,518 6,522 6,519 6,519 0,006 -5,5 5,908 5,923 5,910 5,914 0,025-6,0 7,116 7,109 7,114 7,113 0,011 -6,0 6,461 6,470 6,468 6,466 0,013-6,5 7,612 7,615 7,621 7,616 0,014 -6,5 7,108 7,104 7,121 7,111 0,026-7,0 8,244 8,241 8,236 8,240 0,012 -7,0 7,718 7,735 7,735 7,729 0,028-7,5 8,727 8,739 8,739 8,735 0,022 -7,5 8,136 8,141 8,143 8,140 0,011-8,0 9,143 9,159 9,164 9,156 0,033 -8,0 8,591 8,593 8,599 8,594 0,012-8,5 9,732 9,732 9,732 9,732 0,000 -8,5 9,185 9,186 9,181 9,184 0,007-9,0 9,995 9,995 9,995 9,995 0,000 -9,0 9,949 9,954 9,948 9,951 0,009-9,5 9,995 9,995 9,995 9,995 0,000 -9,5 9,995 9,995 9,995 9,995 0,000-10,0 9,995 9,995 9,995 9,995 0,000 -10,0 9,995 9,995 9,995 9,995 0,000

Lado DireitoLado Esquerdo

436

Figura C.8 – Gráfico de calibração do sensor de deslocamento traseiro esquerdo.

Figura C.9 – Gráfico de calibração do sensor de deslocamento traseiro direito.

437

APÊNDICE D – Programa Matlab para uso do RTDX

function varargout = runc2812rtd_A2(varargin) [cc, err] = PrepareTargetandLoad (); if err == 1 return end % Configura os buffers do canal, 15 buffers de 1024 bytes cada configure(cc.rtdx,1024,15); % Sinal sonoro de início do processo de aquisição de dados beep pause(0.3) beep % Abre o canal de leitura (que deve ter o mesmo nome do bloco "To RTDX" do simulink) open(cc.rtdx,'ADC_ochan','r'); % Abilita o canal de leitura enable(cc.rtdx,'ADC_ochan'); % Abilita a comunicação RTDX enable(cc.rtdx); % Compila o programa e carrega o target run(cc); % Lê valores do ADC do target via RTDX usando o comando readmsg dentro do loop NumOfSamples = 1000; r = cc.rtdx; % Inicializa a variável que irá receber os dados ydata = zeros(15,NumOfSamples); for k = 1:(NumOfSamples) % Lê os valores do canal RTDX e armazena na variável ydata numMsgs = r.msgcount('ADC_ochan'); if (numMsgs > 0), aux = readmsg(cc.rtdx,'ADC_ochan', 'double',[1 15]); ydata(:,k) = aux'; end pause(0.01); end disp('Ending demo...'); % Limpa o RTDX try r.disable('ADC_ochan'); r.disable; catch % if channels are not open, nothing to close end % Reseta o CCS (Code Composer Studio) cc.reset; % Salva a variável ydata no arquivo yA2.dat save yA2 ydata % Sinal sonoro de fim do processo de aquisição de dados beep pause(0.3) beep

438

ANEXO A – Cálculo de R-quadrado

O R-quadrado é uma estatística que mede quão bem sucedido é o ajuste de uma curva

com relação à variação de um conjunto de dados. Em outras palavras, R-quadrado é o

quadrado da correlação entre os valores da curva e os valores dos dados. Ele é também

chamado de quadrado do coeficiente de correlação múltipla e coeficiente de determinação

múltipla.

A figura An.A.1 mostra o exemplo de uma regressão linear de um conjunto de dados.

Neste exemplo n=19 é a quantidade de dados iy . Os respectivos valores da regressão são

identificados como iy . Os resíduos são definidos como iii yyr ˆ−= e o valor médio do

conjunto de dados é:

n

y

y

n

i

i∑== 1

Figura An.A.1 – Exemplo de uma regressão linear.

A medida estatística R-quadrado é definida como a razão entre a soma dos quadrados

da regressão (SSR – “sum of squares of the regression”) e a soma total dos quadrados (SST –

“total sum of squares”).

439

SSR é definido como:

∑=

−=n

i

i yy1

2)ˆ(SSR

e SST, que também é chamado de soma dos quadrados em torno da média, é definido como:

n

y

yyy

n

i

in

i

i

n

i

i

2

1

1

2

1

2)(SST

=−=

∑∑∑ =

==

Outra definição importante é que SST = SSR + SSE, onde SSE é a soma do quadrado

dos erros (“sum of squares due to error”), e é definido por:

∑=

−=n

i

ii yy1

2)ˆ(SSE

Dadas estas definições, R-quadrado e calculado da seguinte forma:

SST

SSE1

SST

SSRR 2 −==

O valor de R-quadrado pode variar entre 0 e 1. O valor próximo de 1 indica que a

regressão se ajustou muito bem aos dados. Por exemplo, um valor R2 de 0,8234 significa que

o ajuste explica 82,34% da variação total dos dados em torno da média.

A estatística R-quadrado pode ser utilizada em qualquer ajuste de curvas a conjuntos

de dados, não se restringindo a regressões lineares.