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CONTROLE GERENCIAL PARA UNIDADES DE NEGÓCIOS: UM ESTUDO DE CASO Luciana Paulo Ferreira Instituto de Pós-Graduação em Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Mestrado em Administração Orientador: Marcos Gonçalves Ávila PhD em Administração Rio de Janeiro 1999

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CONTROLE GERENCIAL PARA UNIDADES DE NEGÓCIOS:

UM ESTUDO DE CASO

Luciana Paulo Ferreira

Instituto de Pós-Graduação em

Administração – COPPEAD,

da Universidade Federal doRio de Janeiro – UFRJ.

Mestrado em Administração

Orientador: Marcos Gonçalves Ávila

PhD em Administração

Rio de Janeiro

1999

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CONTROLE GERENCIAL PARA UNIDADES DE NEGÓCIOS:

UM ESTUDO DE CASO

Luciana Paulo Ferreira

Dissertação submetida ao Corpo Docente do Instituto de Pós-Graduação em

Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro -

UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de

Mestre em Ciências (M.Sc.).

Aprovada por:

Marcos Gonçalves Ávila

PhD em Administração

Josir Simeone Gomes

Pós-Doutorado em Administração

Roberto Nogueira Fontoura Filho

DSc pela COPPE/UFRJ

Rio de Janeiro

1999

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Ferreira, Luciana Paulo

Controle Gerencial para Unidades de

Negócios: um estudo de caso / Luciana Paulo

Ferreira. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1999.

x, 124p., il.

Tese - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPEAD, 1999.

1. Unidades de Negócio, 2. Controle

Gerencial, 3. Tese (Mestr. – UFRJ/COPPEAD)

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Marcos Gonçalves Ávila, pela orientação paciente e persistente sem a

qual não teria terminado esta tese.

Aos demais membros da banca, professores Josir Simeone Gomes e Roberto

Nogueira Fontoura Filho, pelas críticas e sugestões que enriqueceram este

trabalho.

A todos os companheiros de trabalho, especialmente os chefes, que souberam

apoiar e contribuir nos momentos certos.

A Barbara pelo carinho e presteza com que revisou o abstract.

A minha família que, acreditando em mim desde o começo, me incentivaram e

apoiaram para que eu chegasse até aqui.

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FERREIRA, Luciana Paulo. Controle Gerencial para Unidades de Negócios:

um estudo de caso. Orientador: Marcos Gonçalves Ávila. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 124p. Dissertação. (Mestrado em Administração)

No ambiente econômico extremamente complexo e globalizado que

descortinamos na década de 1990, muitas empresas têm optado por

descentralizar suas atividades em unidades de negócios, com o objetivo de

continuarem competitivas e lucrativas.

No âmbito da descentralização estas empresas se deparam com novos

desafios. Um deles é a adaptação dos antigos sistemas de controle gerencial à

nova realidade de autonomia das unidades de negócios. Surge a necessidade

de se controlar resultados individuais dentro de objetivos globais.

O presente estudo se propôs, portanto, a analisar o processo de

descentralização em unidades de negócios de uma empresa brasileira já

abordada em pesquisa anterior. O trabalho abrange desde os motivos que a

levaram a se descentralizar às mudanças ocorridas em seus sistemas de

controle de modo a acompanhar os efeitos e resultados dessa reestruturação.

Os resultados alcançados permitem concluir que a empresa já fez grandes

progressos e melhorou sua competitividade, apesar de não ter concluído seu

processo de reestruturação ou de adequação dos sistemas de controle

gerencial.

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FERREIRA, Luciana Paulo. Controle Gerencial para Unidades de Negócios:

um estudo de caso. Orientador: Marcos Gonçalves Ávila. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 124p. Dissertação. (Mestrado em Administração)

In the globalized and complex economic surroundings of the ninety's, many

companies have opted for the decentralization in business units in order to

maintain their profitability and competitiveness.

These companies have faced new challenges, one of these being the

adjustment that had to be made in their management controls to keep up with

the new decentralized reality. Thus the need arose to control individual results

within global goals.

This study intends to analyze the decentralization process in a Brazilian

company mentioned in previous research work, starting with the reasons that

led the organization to restructure to the changes made in management

controls in order to follow the effects of the process.

The results have led to the conclusion that this company has made great

progress thereby increasing its competitivity. The company, however, has not

yet concluded its restructure process, nor has it implemented a more adequate

management control system.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 DESDOBRAMENTO DO ROI EM GIRO DOS ATIVOS E PERCENTAGEM DE LUCRO

SOBRE VENDA 15

FIGURA 2 ORGANOGRAMA ORIGINAL SIDER 57

FIGURA 3 ORGANOGRAMA SIDER – 1ª FASE 66

FIGURA 4 ORGANOGRAMA SIDER – 2ª FASE 68

FIGURA 5 ORGANOGRAMA ATUAL SIDER 71

FIGURA 6 FLUXO DE PRODUÇÃO 84

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO 2

2 OBJETIVOS, RELEVÂNCIA E DELIMITAÇÕES DO ESTUDO 4

2.1 OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DO ESTUDO 4

2.2 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO 5

3 METODOLOGIA 6

3.1 NATUREZA DO ESTUDO 6

3.2 A ESCOLHA DA EMPRESA 6

3.3 A COLETA DE DADOS 7

3.4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 7

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8

4.1 O MOVIMENTO DE DESCENTRALIZAÇÃO EM UNIDADES DENEGÓCIOS 84.1.1 Motivadores da Descentralização 9

4.1.2 Problemas e Desafios 11

4.2 COMEÇANDO A MEDIR DESEMPENHO 134.2.1 O Aparecimento do ROI 13

4.2.2 Vantagens na Utilização do ROI 16

4.2.3 Pontos Sensíveis na Utilização do ROI 17

4.2.4 O RI Como Substituto do ROI 23

4.3 AVALIAÇÃO DO GERENTE X AVALIAÇÃO DA UNIDADE 26

4.4 TENTATIVAS DE MODERNIZAR O ROI 28

4.5 REVOLUÇÃO NAS MEDIDAS COM A GLOBALIZAÇÃO: O PAPEL DEMEDIDAS NÃO-FINANCEIRAS 344.5.1 O Novo Contexto dos Anos 80 e Suas Demandas 34

4.5.2 Balanced Scorecard 36

4.5.3 Adições e Oposições à Proposta 40

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4.5.4 EVA (Economic Value Added) 48

4.6 CONCLUSÕES 51

5 CASO SIDER 53

5.1 BREVE PERFIL DA EMPRESA 53

5.2 O MOVIMENTO DE DESCENTRALIZAÇÃO E SEUS MOTIVADORES 555.2.1 Motivadores 55

5.2.2 O Processo de Descentralização 63

5.3 A ESTRUTURA ATUAL 70

5.4 AS UNIDADES DE NEGÓCIOS E SEU RELACIONAMENTO NOPROCESSO PRODUTIVO 765.4.1 Unidade de Metalurgia - DM 76

5.4.2 Unidade de Laminação - DL 78

5.4.3 Unidade de Embalagens - DE 79

5.4.4 Unidade de Serviços Operacionais - DS 79

5.4.5 Unidade de Mineração 82

5.5 DIFICULDADES E DESAFIOS 85

5.6 SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL 875.6.1 As Medidas Financeiras na 1ª Fase 87

5.6.2 Repensando as Medidas Financeiras 93

5.6.3 Medidas Não-Financeiras 97

5.6.4 Modernizando os Controles 99

6 ANÁLISE 102

6.1 MOTIVADORES E DESAFIOS ASSOCIADOS À ESTRUTURAÇÃO EMUNIDADES DE NEGÓCIOS 102

6.2 CRITÉRIOS USADOS PARA APURAR DESEMPENHO 105

6.3 MEDIDAS EM USO X TENDÊNCIA DE MERCADO 109

7 CONCLUSÕES 111

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

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1 INTRODUÇÃO

Conforme pesquisa realizada em um periódico1 de projeção nacional dirigido a

executivos, nos últimos 10 anos, diversas empresas no Brasil, nacionais ou

não - compreendendo 17 diferentes setores da economia, motivadas por

pressões externas e de gestão deram início a processos de reestruturação,

que incluíam a criação de unidades descentralizadas de negócios.

Atrelada à descentralização vem a autonomia e a delegação de autoridade,

permitindo que os executivos de topo se dediquem mais a assuntos

estratégicos, deixando as operações do dia-a-dia com os gerentes das

unidades. Com isso as decisões tendem a ganhar agilidade, podendo ocorrer

redução de custos administrativos, e melhoria no atendimento a clientes,

reforçando a posição competitiva.

Como a direção não exerce mais ingerência direta sobre as decisões e ações,

são necessárias medidas para o acompanhamento e controle daquilo que

ocorre nas operações quotidianas das unidades, bem como sistemas de

remuneração dos executivos que acompanhem esses resultados. Assim,

surgem os sistemas de controle gerencial, com ênfase em medidas de

desempenho.

Este trabalho se propõe a estudar o caso de uma empresa siderúrgica

brasileira descentralizada em unidades de negócios. O objetivo é levantar e

analisar os motivadores que a levaram à descentralização, as dificuldades

encontradas no processo e, finalmente, os sistemas de controle gerencial

utilizados para lidar com a nova estrutura.

1 Revista Exame. Editora Abril, v.21 nº20, p. 102-105, 04/10/89. matéria

de Clayton Netz – ‘Coelho dá Baile em Mastodonte’

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1.1 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este trabalho está organizado em capítulos encadeados que, além de incluir

introdução e organização, estão assim representados:

Capítulo 2, que descreve os objetivos, relevância e delimitações do estudo,

onde definem-se os objetivos do trabalho, detalhando-se as questões que se

busca responder no estudo e o ambiente em que serão procuradas essas

respostas, no caso a empresa escolhida. As delimitações englobam a

relevância específica do estudo e sua abrangência - o que pretende ser

abordado e o que está sendo deixado para outros pesquisadores.

O Capítulo 3 apresenta a metodologia. A intenção neste momento é a de

explicitar a natureza de pesquisa adotada, a forma de coleta de dados e,

conjugado a esses aspectos, justificar a escolha da empresa e a conseqüente

limitação do estudo, devido a especificidades da organização escolhida.

No Capítulo 4, de revisão bibliográfica, busca-se mostrar o referencial teórico

que embasará as análises dos dados colhidos no caso, delimitando-se sua

abrangência e o enfoque para as questões levantadas inicialmente. Deste

modo, parte-se do fenômeno da descentralização, suas causas e efeitos, para

a abordagem das medidas de desempenho em unidades descentralizadas, seu

uso nas empresas e sua importância dentro do controle gerencial.

A descrição e análise das medidas de desempenho de unidades de negócios

passa por um detalhamento evolutivo das medidas existentes, suas vantagens,

desvantagens e aplicações. Essa evolução começa antes da primeira Guerra

Mundial, ganha importância no segundo pós-guerra (devido ao aquecimento da

economia e das empresas na época), pretende-se inovadora na década de 80,

com os desafios impostos pelo mundo globalizado e, alcança um aspecto mais

global - em relação às variáveis internas existentes em qualquer negócio, na

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década de 90, com o assentamento de ambientes externos e internos à

organização altamente competitivos. Todo esse passeio passa pelo

detalhamento das medidas, correntes de pesquisadores prós e contras e, seu

uso pelas empresas, com enfoque no mercado norte-americano.

Dando continuidade, o capítulo seguinte revela a descrição do caso que será

analisado. Nele se procura posicionar a empresa dentro de um contexto

externo e interno e a narrativa, a mais neutra que a situação permite, dos fatos

organizacionais que permitirão a busca por respostas, no capítulo seguinte -

análise.

A partir daí, com os dados disponíveis, parte-se para a Análise do Caso , com

base no referencial teórico pesquisado.

Concluindo-se o trabalho, colocam-se as Conclusões, no sentido de fechar as

respostas às questões levantadas no início do estudo e sugerir novos temas

de pesquisa que pudessem vir a enriquecer e aumentar a compreensão sobre

o tema abordado.

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2 OBJETIVOS, RELEVÂNCIA E DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

2.1 OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DO ESTUDO

O objetivo principal deste trabalho é contribuir para a compreensão e

conhecimento dos motivos que impulsionaram a descentralização das

empresas nacionais, das dificuldades encontradas na mudança, e dos

sistemas de controle gerencial escolhidos para avaliar o desempenho de seus

negócios, partindo da avaliação e controle de suas subunidades ou divisões.

Como foi abordado na Introdução, o processo de descentralização em

unidades de negócios já está sendo realizado por diversas empresas

brasileiras. Na medida em que o trabalho se dará através de um estudo de

caso das atividades voltadas para análise gerencial do desempenho na

empresa Sider, do ramo siderúrgico, sua relevância reside na possibilidade de

enriquecer o banco de dados acadêmico nacional com a documentação desta

experiência e servir como fonte de aprendizado para experiências futuras.

As questões que este estudo de caso se propõe a responder são

fundamentalmente as seguintes:

• Quais foram os motivadores associados à descentralização em unidades de

negócios? Que dificuldades vêm sendo enfrentadas no processo?

• Como está estruturado o sistema de controle gerencial em relação à

medidas de desempenho? Quais são elas?

• Quais, na percepção dos entrevistados, os benefícios/limitações trazidas

pelas escolhas feitas acima?

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2.2 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

O tema abordado neste estudo, qual seja o processo de descentralização das

empresas, passando por seus motivadores e desafios, e chegando até o meio

pelo qual estas organizações estruturaram seus sistemas de controle

gerencial, e o mais importante, seus índices de medição de desempenho

divisional, nos permite mostrar a importância do controle gerencial na

sobrevivência e manutenção da competitividade das organizações modernas.

Este trabalho pretende, portanto, tratar da situação de controle gerencial em

uma empresa siderúrgica recém-privatizada. Ele se propõe a retratar e

analisar suas motivações, êxitos e dificuldades decorrentes da

descentralização; e a elaboração e manutenção de seu sistema de medida de

desempenho por unidade de negócios, passando pelo sistema de controle

gerencial e outras variáveis afins. Por fim, pretende-se mostrar até que ponto

esse processo tem trazido resultados positivos para a empresa e como ela

pretende dar continuidade a esse processo.

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3 METODOLOGIA

Neste capítulo descreve-se a metodologia de pesquisa adotada para a

realização deste estudo. Em primeiro lugar, define-se sua natureza, explicita-

se, então, o processo de coleta de dados, e justifica-se a escolha da empresa

e as considerações sobre as limitações dos resultados do estudo.

3.1 NATUREZA DO ESTUDO

Esta pesquisa enquadra-se na descrição de uma “pesquisa de campo de

natureza exploratória” (KERLINGER, 1973), também chamado de estudo de

caso. A escolha do método se baseou principalmente em duas razões: em

primeiro lugar, por permitir a descrição da situação com uma maior riqueza de

detalhes e, em segundo lugar, em decorrência da impossibilidade de

realizarmos qualquer tratamento estatístico dos dados ou teste de hipóteses,

em função do reduzido número de eventos observados.

Descreveu-se o caso escolhido, comparando a realidade encontrada com o

que é apresentado pela literatura pesquisada quando da revisão bibliográfica.

3.2 A ESCOLHA DA EMPRESA

A empresa escolhida já foi abordada na tese de José Ricardo Alves Pinto

(1997), onde era uma das cinco empresas pesquisadas em relação a processo

de descentralização. Ela é de capital privado nacional e atua no ramo

siderúrgico. De modo a garantir a confidencialidade de algumas informações

apresentadas no caso, e a pedido da própria direção da empresa, será

referenciada pelo nome fantasia de Sider.

As razões de sua escolha baseiam-se fundamentalmente no interesse da

autora em aprofundar um estudo já existente (citado acima), nos aspectos

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relacionados a medidas de desempenho em organizações descentralizadas.

Isto garantiu a existência de um perfil de recente descentralização com

correspondente análise de desempenho divisional – se encaixando no tema da

pesquisa. O fato de ser uma grande empresa com capacidade de influenciar a

economia nacional e o que está ocorrendo neste setor, também foram fatores

influenciadores, assim como a proximidade e facilidade da autora em obter

informações, por trabalhar na empresa, em área de afinidade com o tema do

estudo.

3.3 A COLETA DE DADOS

Pelo próprio objetivo deste tipo de pesquisa, o método adotado foi a realização

de entrevistas, não estruturadas com diversos níveis dentro da organização em

questão. Além disso, publicações, relatórios diversos, planilhas de trabalho

também foram utilizados pela autora para compor o estudo de caso.

Esse método permitiu a obtenção de dados na profundidade necessária a esse

tipo de pesquisa, como também quanto a percepção dos envolvidos direta e

indiretamente no sistema de controladoria.

3.4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

A principal limitação desta pesquisa está na não aplicação das conclusões nela

contidas a outras empresas que não aquela que constitui objeto desta análise.

Outra questão é a necessidade de resumir os fatos e situações transcorridos, o

que pode ter levado a perda da riqueza em detalhes da situação descrita. Além

disto, as observações realizadas pela pesquisadora podem ter sido

influenciadas por sua própria percepção e interpretação dos fatos, por ser ela

funcionária da empresa, a despeito de seu esforço em manter-se imparcial.

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4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 O MOVIMENTO DE DESCENTRALIZAÇÃO EM UNIDADES DE

NEGÓCIOS

A década de 1850 marcou, segundo Chandler (1962), o início da preocupação

das empresas industriais norte-americanas com sua estrutura administrativa.

Até então, o tamanho e o número de atividades envolvidas permitia o controle

da estrutura por um reduzido grupo de executivos. Nesta época, porém, o

crescimento das organizações começou a gerar a necessidade de se pensar

em novas formas de estruturação.

A primeira forma, surgida no final do século XIX, foi a estrutura funcional,

criada pelas empresas verticalmente integradas. Nela, as unidades da

organização eram divididas de acordo com o tipo de trabalho executado

(VANCIL, 1979).

A partir do início dos anos 20 deste século, surge a empresa multidivisional,

impulsionada pela maior diversidade de produtos e pela maior dispersão

geográfica (CHANDLER, 1962). Como veremos a seguir, essa expansão

horizontal tornou iminente adequar estrutura organizacional à fatores internos e

externos, procurando focar os principais negócios e estratégias da empresa.

Como colocou Drucker (1974) o desenho da estrutura organizacional deve

partir dos objetivos e estratégia da empresa em relação as suas atividades

principais, pois o mal gerenciamento destas pode pôr em risco a própria

sobrevivência da organização.

O próprio Chandler (1962) também enfatizava que a estrutura organizacional

deveria ser compatível com a estratégia da empresa, se esta buscasse

eficiência e competitividade. Sua conclusão resulta de uma pesquisa sobre a

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história da evolução das grandes corporações norte-americanas logo após a

primeira Guerra Mundial.

Para clarificar e consolidar o conceito de estrutura multidivisional ou

descentralizada, empresa descentralizada é aquela que se dividiu em unidades

de negócios, onde os gestores são responsáveis pela operacionalização da

unidade, com autoridade sobre decisões de preço, processo produtivo, mix de

produção, segmentos de mercado, entre outras atribuições (SOLOMONS,

1976). Dessa forma, as decisões são tomadas mais rapidamente, uma vez que

os decisores se encontram mais perto da operação do que na estrutura

centralizada/funcional.

4.1.1 Motivadores da Descentralização

A idéia básica da teoria contingencial das organizações, retratada por Burns &

Stalker (1966), Woodward (1965) e Lawrence & Lorsch (1967) sugere que

existem fatores contingenciais, sejam eles necessidades internas ou externas,

que influenciam a maneira como as organizações devem procurar se estruturar

para atingir seus objetivos. Em outras palavras, não existe uma estrutura que

seja a melhor, o importante é se ter consistência entre a estrutura e fatores

estratégicos, internos e externos.

Segundo Kaplan (1990) um ambiente externo instável e complexo demanda

maiores recursos de controle e tomada de decisões mais descentralizada, pois

exigirá conhecimentos mais específicos sobre variados assuntos. Este cenário

é o principal motivador externo à descentralização das empresas.

A descentralização seria a forma de possibilitar a diversificação e expansão

para novos mercados, mantendo a eficiência gerencial (VANCIL, 1979). Desse

modo, a preocupação da administração pode se concentrar nas decisões

estratégicas e na transmissão dessas diretrizes aos gestores das unidades,

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sendo que estes ficariam responsáveis por tomar decisões operacionais

consistentes com estes macro objetivos (KAPLAN, ATKINSON, 1989).

A literatura pesquisada também aponta fatores motivadores internos à

descentralização, os quais estão sumariados a seguir:

• possibilidade de treinar-se executivos para assumirem postos mais elevados

na organização, através do aumento gradual de suas responsabilidades e

autoridade, o que também os tornaria mais interessados/motivados pelo

trabalho (ATKINSON, KAPLAN, 1989);

• facilidade em obter informações imediatas sobre a contribuição das diversas

atividades da empresa sobre o lucro total, de modo a resolver problemas

mais rapidamente e decidir com maior segurança sobre planejamento

estratégico (SOLOMONS, 1976);

• maior agilidade do processo decisório, garantida pela autonomia dos

gerentes locais em tomar decisões e implementá-las rapidamente

(ATKINSON, KAPLAN, 1989; ANTHONY, GOVINDARAJAN, 1995)

• maior qualidade na tomada de decisões operacionais, pois o processo será

conduzido por gestores que conhecem melhor do que seus superiores as

condições do ambiente competitivo daquela atividade/negócio (ANTHONY,

GOVINDARAJAN, 1995; HORNGREN, 1985; VANCIL, 1979);

• possibilidade de aumentar o foco em direção à lucratividade, já que os

gestores terão consciência da sua responsabilidade e procurarão por meios

de aumentar constantemente sua performance, podendo ainda se valer de

sua criatividade e espírito inovador (ATKINSON et al, 1997);

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• dificuldade da alta administração em lidar com negócios diversificados, pela

falta, por vezes, de conhecimentos detalhados e específicos de cada um

(VANCIL, 1979).

4.1.2 Problemas e Desafios

Como todo tópico ligado à gestão empresarial, a descentralização possui, ao

lado das vantagens, riscos e custos associados. Horngren (1985) indica que,

visando melhores resultados individuais e limitados na sua percepção sobre o

que é realmente importante para a empresa, os gestores das unidades de

negócio podem vir a tomar decisões que melhorem o desempenho de sua

unidade em detrimento do de outras unidades, ou mesmo da organização

como um todo.

Detalham-se, então, estes problemas e desafios:

• uma provável duplicação de serviços constitui um dos principais problemas,

pois leva a aumento de custos. Algumas atividades, que poderiam ser

centralizadas, tenderão a ser realizadas dentro de cada unidade, para maior

controle de seu gestor (HORNGREN, 1985);

• um dos maiores riscos associados à descentralização, é a possibilidade de

uma ênfase excessiva em resultados de curto prazo, pois os

administradores estarão sendo avaliados pela rentabilidade corrente de sua

divisão, o que pode levar a medidas que prejudiquem a rentabilidade

/competitividade da empresa a longo prazo (ANTHONY, GOVINDARAJAN,

1995)

• estes mesmos autores também citam uma possível perda parcial de

controles, por parte da alta gerência, uma vez que os relatórios gerados pelo

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controle gerencial nunca serão tão efetivos quanto o acompanhamento

pessoal e direto das operações;

• Solomons (1976) cita a interdependência entre as unidades de negócio

como um desafio para a apuração do resultado de cada uma delas. Caberia,

então, às empresas decisões bem cuidadosas quanto à definição de preços

de transferências dos bens e serviços internos, além de alguma definição

quanto a alocação de custos de serviços de difícil precificação;

• Anthony & Govindarajan (1995) lembram também que a coordenação entre

as divisões, de modo a não criar competição excessiva é outro desafio a ser

enfrentado. As unidades, agindo de forma relativamente independente,

precisam buscar a congruência de seus objetivos individuais, de maneira a

contribuir para o crescimento e sobrevivência a longo prazo da organização,

através da consecução de sua estratégia e de suas metas globais.

• Esses mesmos autores citam também o desafio relacionado a definição de

um sistema de preço de transferência adequado. Como os preços de

transferência devem preferencialmente seguir uma orientação de mercado,

o desafio está em coordenar essa troca de produtos/serviços cujo objetivo é

o de melhor apurar performances individuais sem deixar de lado o ponto de

vista das metas globais da empresa.

Como já mencionado, o cenário criado pela descentralização exige que as

empresas dêem mais atenção à medição de seus resultados, desde às

divisões até o desempenho global da empresa. É este tema que começa a ser

tratado a partir de agora: medidas de desempenho.

Page 22: CONTROLE GERENCIAL PARA UNIDADES DE NEGÓCIOS: UM ESTUDO DE ... · 2.1 OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DO ESTUDO 4 2.2 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO 5 3 METODOLOGIA 6 3.1 ... As questões que

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4.2 COMEÇANDO A MEDIR DESEMPENHO

4.2.1 O Aparecimento do ROI

Até o início do século XX a principal medida de avaliação de negócio era o

lucro. E a principal preocupação era aumentar a lucratividade, controlando os

custos (ATKINSON et al, 1997).

Na década de 1920, segundo Johnson & Kaplan (1987), a Du Pont Powder

Company, uma corporação que produzia uma diversificada gama de produtos

químicos, foi pioneira em se diferenciar do padrão vigente de se focar a

organização em um único tipo de produto. Em conseqüência, o corpo gerencial

senior foi obrigado a projetar técnicas mais sofisticadas para coordenar e

controlar as atividades operacionais de suas diversas divisões. Uma das

inovações nesse sentido foi o Retorno sobre Investimento (ROI).

Na Du Pont, os responsáveis pelas divisões decidiam sobre questões

operacionais rotineiras (JOHNSON, KAPLAN, 1987). Logo, o ROI, que já era

usado pela alta gerência para a avaliação de alternativas de uso de capital,

passou a ser usado também para controle e avaliação de performance dessas

divisões.

O ROI é expresso da seguinte forma2:

ROI = Lucro Líquido (LL) x Vendas Líquidas(VL)

Vendas Líquidas (VL) Ativo Total (AT)

Onde LL = medida do retorno sobre vendas

2 É interessante ressaltar que esta fórmula, não tendo sido desenvolvida por contadores, conseguiu relacionar

medida de resultado (retorno sobre vendas) à análise de balanço (giro de capital). A origem desta fórmula écreditada a F. Donaldson Brown, um engenheiro elétrico de formação técnica, sem nenhum treinamento ouexperiência formal em contabilidade, que começou na área de vendas da Du Pont em 1909.

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VL

E VL = medida do giro de capital

AT

O retorno sobre vendas é uma medida associada a avaliação de eficiência, ou

seja, a habilidade em controlar custos a um dado nível de atividade.

O giro de capital mede a produtividade no uso do capital, ou seja, a habilidade

de gerar vendas a um dado nível de atividade.

A necessidade, detectada pela empresa, de possuir informações mais

detalhadas sobre a operação da empresa e a facilidade em se decompor o

ROI em maior profundidade, levou ao uso da seguinte fórmula, mostrada na

figura abaixo.

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Figura 1 Desdobramento do ROI em giro dos ativos e percentagem de lucro

sobre venda

Rec. Vendas EstoqueCirculante

Giro de capital dividido por Contas a recebermais

Ativos totais AtivoPermanente

Caixa

Multiplicado por VendasROI

Lucro menos Custo do produto

Custo devendas

Despesa devendas

dividido por% de Lucro

sobre VendasFrete

Receita devendas

Despesasadministrativas

Essa figura apenas sumariza as 350 tabelas existentes, na época na Du Pont,

que detalhavam e controlavam as operações, com avaliações mensais. O que

a administração pretendia era poder ao avaliar o índice de eficiência, por

exemplo, examinar os diversos componentes de custo: sua evolução e

tendência, seu relacionamento com venda, e com competidores, a fim de

tomar melhores decisões operacionais sobre onde agir. A tomada de decisões

em relação a necessidades de investimentos e/ou cortes no ativo também

funcionava para o índice de produtividade de capital. O detalhamento acima

permitia que se analisasse o giro das contas chaves do ativo – capital de giro e

permanente (ATKINSON et al, 1997).

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Por volta de 1920, Donaldson Brown, até então principal executivo financeiro

da Du Pont, saiu da empresa e foi parar na General Motors onde, junto a seu

presidente Alfred Sloan, levou para a GM o formato multidivisional implantado

na Du Pont (JOHNSON, KAPLAN, 1987). Nessa estrutura, os gerentes

passaram a ter mais liberdade e responsabilidade para tomar decisões de

operações e de investimentos. Foi, aí que o ROI passou a ser usado para

medir a performance da divisão e de seu gerente.

Mesmo com a inspiração advinda dos resultados e crescimento da Du Pont e

com as pressões em favor da descentralização sem perda de controle, muitas

empresas só começaram a adotar o ROI como medida de desempenho por

volta da década de 50 (JOHNSON, KAPLAN, 1987). Até então, ainda que já

contando com descentralização parcial das decisões3, continuavam a se

basear em medidas como lucro ou valor presente líquido - onde ocorriam

alguns problemas especialmente na determinação da taxa de desconto do

fluxo.

4.2.2 Vantagens na Utilização do ROI

Dearden (1973) coloca duas vantagens principais no uso do ROI:

Em primeiro lugar, o ROI é uma medida que permite a compreensão da

performance financeira. Qualquer elemento que afete as finanças de uma

empresa, afetará em algum grau o ROI. Além disso, quando um gerente

maximiza o retorno de sua divisão está ajudando a empresa como um todo a

maximizá-lo também.

3 Algumas empresas americanas já trabalhavam com descentralização a nível de decisões operacionais, desde o início

do século XX. Foi somente após a Primeira Guerra Mundial, no entanto, que algumas delas, sendo a Du Pont apioneira, começaram a adotar uma estrutura divisionalizada.

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E em segundo lugar, o ROI fornece o incentivo necessário para que se utilize

ao máximo os ativos, e para que só se invista em mais ativos quando isto for

aumentar o ROI.

4.2.3 Pontos Sensíveis na Utilização do ROI

Cool & Reece (1978) realizaram uma pesquisa com as 1000 maiores

empresas, listadas pela Fortune; das 620 respondentes, sessenta e cinco por

cento utilizavam o ROI e apenas dois por cento usavam Residual Income (RI)4,

enquanto vinte e oito por cento se valiam de ambos. Ou seja, quase dois terços

das empresas usava o ROI como medida única de avaliação de desempenho.

A principal crítica à utilização dessa medida como única na avaliação do

desempenho de uma unidade de negócios, no entanto, está na possibilidade

do gerente melhorar a sua performance de curto prazo, em termos numéricos,

tomando medidas que contrariam os objetivos gerais da empresa. Isto porque

é possível aumentar o ROI através de baixos investimentos, instalações

antigas, e de outras atitudes que, no longo prazo, prejudicam a posição

competitiva da empresa bem como seu valor de mercado, sem afetar a

avaliação da performance daquele centro e/ou gerente.

A variável mais sensível a essa manipulação, segundo Kaplan & Johnson

(1987), seria a depreciação. Se a base de investimento é depreciada (quer em

linha reta quer acelerada), é possível aumentar o ROI, através do não

investimento. Há a redução do denominador da equação ano após ano, assim

o ROI aumenta, mesmo se os lucros (numerador) não estiverem aumentando.

Além dessa causa, existem outros fatores que serão vistos em detalhes neste

capítulo.

As fontes potenciais de distorção na medida em si são basicamente quatro:

4 Essa medida será explicada em detalhe no próximo capítulo.

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FORMAÇÃO DA BASE DE INVESTIMENTOS

Um primeiro ponto apontado é a questão do tratamento dado a gastos com

investimentos e pesquisa. Seguindo regras que se aplicam a contabilidade

externa5, algumas empresas costumam tratar gastos que prometem benefícios

financeiros futuros (na sua maioria, intangíveis) como despesa, incluindo-os

na Demonstração de Resultados.

Quando se trata de ativo fixo, por exemplo, como ele é sempre contabilizado

como investimento não há problema. Já gastos com desenvolvimento de um

novo produto, promoções, melhorias na distribuição, entre outros, são

contabilizados como despesa; a maioria das empresas, portanto, não os leva

em consideração na formação da base de investimento.

Assim, os lucros serão penalizados no curto prazo e o ROI será incorretamente

superestimado num período posterior. Tanto devido ao aumento do

numerador - já que o lucro, agora sem a contabilização desta despesa, será

maior - quanto à inalteração do denominador, pois esses gastos não foram

apropriadamente incorporados à base de investimentos. Esse tipo de situação

acaba por refletir um cenário enganador onde, divisões que,

caracteristicamente investem muito em aspectos intangíveis - como marketing,

por exemplo - apresentam índices de retorno muito mais elevados do que

setores operacionais. Embora esse tipo de unidade pareça mais lucrativa, na

verdade isto é apenas um reflexo de uma das armadilhas do uso do ROI.

A conta caixa representa outro problema na questão de formação da base de

investimento. Como muitas vezes é controlada a nível global, e não divisional,

o caixa destinado a cada centro é bem menor do que aquele existente, caso o

departamento operasse como empresa independente. Algumas empresas

5 Nos Estados Unidos, o órgão que regula a emissão e confecção de relatórios contábeis oficiais é o Financial

Accounting Standards Board (FASB).

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procuram contornar a situação atribuindo uma porcentagem fixa (sobre vendas,

por exemplo) para constituir a parte de disponível da base de investimentos.

Ativos adquiridos em leasing também não costumam ser contabilizados como

investimento. Isso serve como um desestímulo à gerência. Ela procurará

sempre comprar ativos ao invés de fazer o leasing, mesmo quando às

vantagens financeiras apontem na direção contrária.

A consideração a ser feita quanto às outras contas que compõem o ativo está,

principalmente, na dificuldade de separar o que pertence a cada divisão, uma

vez que existem muitas contas que são comuns à empresa como um todo e,

portanto, difíceis de serem divididas por divisão. Contas a receber e caixa são

um exemplo. Se a empresa não tiver suas divisões separadas fisicamente,

Imóveis, Máquinas e Equipamentos, e outras, também enfrentarão este revés.

Por outro lado, a conta Estoques, costuma ser administrada separadamente, o

que facilita sua incorporação à formula.

AVALIAÇÃO DOS ATIVOS FIXOS

A avaliação dos ativos fixos, envolve tanto métodos de depreciação (que serão

tratados separadamente) quanto de valoração do ativo fixo - custo histórico,

corrigido ou corrente. Esta última é a preocupação básica, em relação ao uso

do ROI como medida de performance, demonstrada por todos os autores

consultados, principalmente por Solomons (1976).

Segundo o mesmo autor, o custo histórico depreciado, ou líquido, era usado

por 70% das 25 empresas pesquisadas em seus estudos, iniciados em 1961, e

que deram origem ao seu trabalho citado nesta revisão6. Esse índice alto se

explica pela adoção deste critério nos sistemas de contabilidade financeira,

sendo, logo, o de mais fácil obtenção. A empresa terá problemas com esse

6 Este dado foi confirmado por ele junto a American Accounting Association (NAA)

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procedimento, quando não reinvestir o montante de depreciação. Isto porque a

depreciação funciona como redutora de ativo. Logo, se esse montante não for

revertido à base de investimentos, esta diminuirá, aumentando o ROI da

divisão, sem que tenha havido alteração na performance operacional.

Uma cultura inflacionária também reflete de forma negativa, aumentando o

valor do ROI (através da correção monetária do ativo fixo), sem que haja uma

correspondência real em crescimento para a empresa. Daí, algumas empresas

usarem o custo histórico bruto, a fim de minimizar os efeitos da inflação sobre

a valoração dos ativos. Ele também permite a comparação de ativos adquiridos

em épocas diferentes, já que não estão depreciados.

Uma grande desvantagem no uso do custo histórico bruto, no entanto, estaria

na inexistência de uma contrapartida na valoração dos ativos para a diminuição

que ocorre na receita, quando contabiliza-se a depreciação. Outro efeito dúbio

ocorre quando se substitui um ativo. O custo histórico, então, é aumentado

somente da diferença entre o equipamento novo e o original. Para a empresa,

porém, o investimento corresponde ao custo do novo ativo menos o

arrecadado na venda do antigo (valor, em geral, bem menor do que o custo

histórico).

Para resolver o impasse entre vantagens e desvantagens, a National

Accounting Association (NAA) sugere que se escolha o método de acordo com

o objetivo pretendido. Já que, por exemplo, como nem sempre é possível

reinvestir o montante depreciado (como sugerido na abordagem do custo

histórico líquido) dentro da mesma divisão (DEARDEN, 1973), nesse caso, o

custo histórico bruto seria mais adequado.

Um terceiro critério consiste em usar valores correntes tanto para o ativo

quanto para a depreciação. Isto resolve vários dos problemas relacionados

aos outros dois métodos. Os ativos adquiridos em épocas diferentes podem

ser comparados de forma equivalente; a tendência a reduzir ativos totais - que

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se dá no caso de custo líquido, não acontece, pois há reavaliação constante

dos ativos; e, finalmente, a inflação deixa de constituir um problema.

Esse método, entretanto, requer uma quantidade e complexidade de cálculos

que nem sempre é compensadora. É preciso estimar os fluxos de caixa

esperados, de modo a tentar aproximar quanto custaria obter ativos

semelhantes que proporcionassem fluxos semelhantes também. Como se

baseia mais em previsões de caráter um tanto subjetivo, a aplicação deste

método se torna mais difícil e, por vezes, não muito confiável.

MÉTODO DE DEPRECIAÇÃO

Ao usarmos a depreciação acumulada em conjunto com custos históricos, o

efeito do investimento em substituição, por exemplo, é reduzido. Quando o

ativo estiver totalmente depreciado, ocorrerá uma diminuição nos custos, com

a cessação da depreciação. Como esta não é real, o ROI aumenta, pois

aumentam os lucros, mas nenhum benefício é incorporado às operações da

empresa. Outro problema aparece também devido a redução da base de

investimentos e o aumento do ROI, com o passar do tempo apenas.

O último fator mencionado se agrava quando se usa a depreciação acelerada

junto ao custo histórico. Além da base de investimentos cair, os lucros sobem -

já que a depreciação é menor a cada ano. Forma-se, então, um círculo vicioso

com medidas de ROI cada vez maiores e novos investimentos, que guardem

correspondência com elas, cada vez mais difíceis.

A depreciação anualizada - seu valor aumenta com o tempo - poderia

solucionar esse problema. Teríamos exatamente o oposto, lucros

decrescentes, bases de investimento também decrescentes, mas em menor

proporção. O que por conseqüência não aumenta o ROI com o tempo,

incentivando investimentos, caso a meta da divisão pretenda ser atingida.

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ALOCAÇÃO DE CUSTOS E DEFINIÇÃO DE PREÇO DE TRANSFERÊNCIA

ÀS DIVISÕES

Quando se fala de custos diretos, não há problemas. Especial atenção deve

ser dada, entretanto, à distribuição dos custos conjuntos e/ou indiretos à

unidade de negócio. Segundo Solomons (1976), apesar da maioria dos

gestores terem a noção de que a atribuição de custos não controláveis às

unidades de negócios pode gerar distorções de resultado, eles acreditam que

somente alocando esse overhead às unidades elas terão a noção de que

existem outros gastos, além dos diretamente atribuídos, a serem cobertos

antes que a empresa como um todo possa dizer que está sendo lucrativa.

Quanto à questão do preço de transferência, ele constitui um dos principais

desafios para empresas divisionalizadas: como precificar de maneira justa um

produto e/ou serviço a ser consumido internamente por outras divisões de uma

mesma empresa sem que os objetivos globais da organização sejam

negligenciados(ANTHONY, GOVINDARAJAN, 1995). O preço de transferência

deve ser definido tendo em vista o apoio à tomada de decisões gerenciais, a

congruência de objetivos e à facilitação da mensuração da performance das

unidades de negócios.

De acordo com esses autores, existem três classes de preço de transferência:

preços de mercado, preços negociados entre unidades e preços baseados no

custo de produção. As empresas devem sempre procurar o preço que retrate o

mais fielmente possível as condições de mercado para os produtos em

questão. Desse modo, a 3ª classe de preço só deverá ser usada quando não

existirem preços referenciais de mercado disponíveis.

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Concluindo, a maior parte das limitações ao uso do ROI deve-se ao uso de

informações contábeis legais com finalidade diversa, qual seja controle

gerencial. Os sistemas contábeis, por não serem direcionados, em sua

concepção, para uso interno, podem levar os gestores a fornecer informações

irrelevantes ou desorientadoras que provocam ações que fogem, muitas vezes,

aos objetivos da empresa (CROSS, LYNCH, 1988). Uma maneira de

minimizar esse impacto seria a utilização de valores econômicos para a

avaliação de ativos fixos, e de depreciação anualizada (caso se use valores

depreciados). Como já foi citado anteriormente, no entanto, estes elementos

são de difícil implementação. Caberia, talvez, a adição/adaptação de outras

medidas ao ROI, para se medir de modo efetivo a performance. Isto como é

visto mais adiante, foi tentado na década de 1970.

4.2.4 O RI Como Substituto do ROI

No período do pós-guerra, a GE desenvolveu o método do lucro residual (ou

Residual Income - RI). O RI é o excesso de lucro líquido sobre o custo do

capital (LYNCH, WILLIAMSON, 1976).

RI = Lucro sobre investimento - (custo de capital x valor do investimento)

O RI, dessa forma, aumentará toda vez que lucros provenientes de um

investimento forem maiores do que o custo de capital. Levando à eliminação

daqueles que não cobrirem esse custo.

O RI torna mais fácil o uso de diferentes taxas de retorno para diferentes tipos

de ativos, de acordo com o risco envolvido. O seu cálculo independe de que

medida esteja sendo usada para medir a performance de um ativo, permitindo

que o gerente se concentre mais no tipo de risco envolvido no negócio. A

conseqüência disto, é que o sistema de avaliação se torna mais consistente

em relação às regras para se tomar decisões de compra de ativos.

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Ao mesmo tempo, pode ser usado como um parâmetro de comparação entre

departamentos. A meta de lucro residual para as unidades, independe do

perfil de lucratividade ou do tamanho que possuam.

Soluciona também um dos grandes problemas do ROI, que é o desestímulo à

investimentos sofrido por divisões que apresentem essa taxa elevada. Novos

investimentos podem ser aceitos se for levado em conta o RI e não a antiga

medida.

Por outro lado, as desvantagens não são poucas. Em primeiro lugar, o RI não

resolve o problema de como incluir ativo fixo na base de investimentos. Ou

seja, todos os problemas associados a essa questão, e já mostrados quando

se falou no ROI, se aplicam também ao RI. O uso de valor histórico bruto pode

levar a ações gerenciais contrárias aos objetivos de longo prazo da empresa;

se usarmos o custo histórico líquido, o RI aumentará pela mera passagem do

tempo; e, além disso, o RI se contrai ao adicionarmos novos investimentos,

pelo aumento do valor líquido nos primeiros anos.

Em segundo lugar, a alta gerência se depara com a dificuldade de se fixar um

valor absoluto de lucro como meta; esse valor absoluto também causa

transtornos por não refletir o tamanho da divisão em análise, dificultando

comparações justas. Se, alternativamente, usássemos o RI como valor

percentual, recairíamos nos mesmos problemas do ROI, advindos dessa

característica (meras alterações de numerador ou denominador que não

refletem a realidade). Outro ponto fraco para o seu uso, seria a facilidade de

se calcular o ROI pelo RI, o que torna a utilização deste último mais rara,

devido a anos de hábito na utilização do primeiro.

O RI se baseia no mesmo banco de dados usado para o cálculo do ROI -

informações contábeis- e por isso apresenta disfunções semelhantes, como as

que ocorrem quando da alocação de custos indiretos ou da decisão de preço

de transferência, por exemplo. Além disso, é uma medida menos familiar para

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os gerentes e não extraível diretamente dos relatórios contábeis, exigindo

cálculos adicionais.

Apesar de apresentar algumas vantagens, o uso do RI não chegou a suplantar

o do ROI. Kaplan (1989) coloca alguns fatores que seriam responsáveis por

essa falta de popularidade. Para começar, o tipo de ação disfuncional gerada

pelo uso do ROI pode não constituir um sério problema na prática. Basta que

os gerentes conheçam essas tendências, e estejam atentos para que não se

tornem realidade.

Para que se calcule corretamente o RI é preciso ter uma definição clara do

custo de capital da empresa. Esse cálculo envolve uma ligeira discrepância

entre o custo de capital usado na contabilidade externa e o usado para fins

gerenciais7. Muitas empresas exigem completa consistência entre os valores

gerados por essas duas atividades. O cálculo do custo de capital também traz

à tona o problema de se especificá-lo por departamento, o que complica o

trabalho da gerência, através da introdução do fator risco para sua

determinação8.

Além do mais, o ROI fornece uma medida percentual, de mais fácil

comparação com outras que servem de parâmetro para a organização, como

taxas de juros, de inflação, índices de lucratividades, entre outras.

A discussão acima indica que, até então não se conseguiu descobrir uma

medida que sozinha possa avaliar de maneira eficiente e eficaz o sucesso de

uma unidade de negócios. Alguns autores sugerem uma separação entre

medidas de lucro e medidas de investimento.

7 O lucro líquido para efeitos de RI é diferente do lucro líquido contábil, pois o custo de capital não é considerado

como redutor de lucro, para a contabilidade financeira.8 Isto a princípio constitui uma vantagem do uso do RI. Constatou-se, porém, que os gerentes deveriam, mas na

verdade, não se interessam em avaliar o risco, quando se deparam com uma decisão de investimento. Preferem ocaminho mais fácil proporcionado pelo ROI.

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O lucro seria comparado à metas orçamentais, e apenas ativos controláveis

seriam considerados, de modo a motivar o gerente em suas decisões. Já os

investimentos seriam controlados por auditorias posteriores à sua

implementação. Isso poderia não resultar na perfeição do sistema, mas ainda

assim melhorá-lo. Ao final deste corpo teórico, outras sugestões mais

contemporâneas serão apresentadas.

O surgimento do RI deixou claro, também, que é preciso comparar resultados

ao custo de capital (quer se utilize o ROI ou o RI) seja para punir os

responsáveis por decisões errôneas, seja para criar maneiras para que

situações deste tipo não se repitam. Mas isto não é o bastante, os lucros de

uma divisão podem ser afetados por muitos outros fatores, não relacionados

diretamente à decisões de investimento. Investimentos para melhoria das

condições de trabalho ou para preservação do meio ambiente, por exemplo,

não se refletem diretamente nos lucros. Apesar disso, são importantes para o

crescimento/manutenção de posição competitiva pelas empresas,

principalmente nos dias de hoje.

Mais adiante, nesta revisão bibliográfica será citado o EVA, um índice cuja

origem pode ser remetida ao RI, e que procurou adaptar-se de modo a

suplantar algumas das limitações/desafios citados acima.

4.3 AVALIAÇÃO DO GERENTE X AVALIAÇÃO DA UNIDADE

Uma consideração importante no desenho do sistema de mensuração de

desempenho se refere ao objeto de avaliação: o gerente da divisão versus a

divisão em si como um investimento. Alguns fatores que influenciam o

desempenho econômico da unidade podem estar fora do controle do gerente

da mesma.

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Dearden (1987) sugere que as divisões sejam avaliadas pelas medidas

financeiras absolutas e a performance do gerente seja medida de forma

relativa, através do orçamento de lucro. Vai mais além ainda sugerindo que só

sejam consideradas as variâncias de orçamento sobre as quais o gerente

possuir algum poder de influência.

Já Anthony & Govindarajan (1995) defendem uma mensuração de

performance administrativa para avaliação do gerente divisional. Essa seria

representada por cinco possíveis medidas de lucratividade:

• margem de contribuição, que isola os custos fixos (não controláveis pelos

gerentes) da análise, forçando o gestor a focar na maximização da diferença

entre receita e custos variáveis. O único porém é que, apesar de não serem

controlados pelos gerentes, os custos fixos podem ser, até certo ponto,

influenciados por suas ações;

• lucro direto, que mede a contribuição da divisão para os custos indiretos

totais e para o lucro total da empresa, custos não controláveis são

adicionados, mas custos corporativos são deixados de lado;

• lucro controlável, corresponde ao lucro direto menos os custos corporativos,

sobre os quais o gerente possui algum controle. Esta medida também é

defendida por Kaplan & Atkinson (1989) como uma excelente medida, pois

mede a habilidade do gerente em usar eficazmente todos os recursos sob

seu controle e influência;

• lucro antes do imposto de renda, inclui todos os custos, inclusive os não

controláveis, o que faz com que o gerente esteja mais atento aos gastos dos

departamentos corporativos, reduzindo a possibilidade de que incorram em

despesas que não agregam valor à organização;

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• lucro líquido, lucro após impostos. Esta medida é criticada uma vez que

muitas das decisões que influenciam impostos são tomadas ao nível da alta

administração.

Os métodos descritos acima seriam maneiras de se aprimorar o sistema de

controle financeiro do gerente. E a adoção de uma ou outra medida dependerá

da estratégia de controle inerente à cada organização. O importante, segundo

Vancil (1979) e Anthony & Govindarajan (1995), é sempre levar em

consideração o grau de influência do gerente sobre as variáveis que estarão

sendo medidas.

4.4 TENTATIVAS DE MODERNIZAR O ROI

Desde a década de 50, quando grande parte das empresas iniciou o uso do

ROI para aferição de desempenho, até o início da década de 80, viveu-se o

que Johnson & Kaplan (1987) chamaram de management by the numbers, que

pode ser traduzido como uma confiança total nas medidas financeiras, sendo a

principal delas o ROI9.

O que se observa, porém, é que, na década de 7010, alguns estudos foram

realizados com o intuito de melhor adaptar o ROI à necessidade individual de

alguns tipos de empresa ou divisão11.

9 Em pesquisa conduzida por Cool & Reece (1978), já citada anteriormente, 65% das empresas consultadas se

utilizavam apenas do ROI, 28% usavam o ROI e o RI, e apenas 2% só o RI.10 Na verdade, há um exemplo de empresa japonesa, a Matsushita, que, já na década de 1930, utilizava uma das

medidas que compõe o ROI (o retorno sobre vendas), sem contudo utilizar o giro de capital para avaliar suahabilidade em utilizar seus ativos para gerar lucro. O retorno sobre vendas tinha como meta mínima 10% e osinvestimentos eram controlados através de orçamento de capital, sendo os recursos captados e/ou aplicados sempreatravés do banco da empresa (Athos & Pascale, 1982).

11 Um estudo particular nos chama atenção, apesar de não relacionado diretamente à medidas de desempenho.Frederick Searby publicou, na Harvard Business Review de março/abril de 1975, um artigo alertando osexecutivos para a emergência do ROI, em detrimento do EPS (Lucro por Ação), na avaliação dos investidores. Eleexplicava que anos a fio de crescimento pouco lucrativo, haviam elevado o custo de capital acima do retornoobtido pela empresa. Ele, então, sugere maneiras de se incrementar o ROI de modo a atrair potenciaisinvestidores.

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Lambrix & Singhvi (1981) detectaram a necessidade de se fixar alvos móveis

para o ROI em empresas mais sensíveis a volume. Eles observaram que em

empresas onde o ROI é muito impactado pelo volume de vendas, ele, e

conseqüentemente a empresa, tendem a ficar à mercê de variações na

economia e a não refletir o seu real desempenho. Isto ocorre principalmente

em empresas de capital intensivo, que possuem custos fixos elevados.

Eles acreditavam que, trabalhando com metas de ROI mais realistas, os

gerentes pudessem tomar decisões gerenciais mais apropriadas na tentativa

de alcançar o desempenho proposto do que se estivessem sendo prejudicados

por metas inalcançáveis, devido a contingências econômicas do ambiente

externo.

A base do método por eles desenvolvido está em se fazer um link entre a

análise do ponto de equilíbrio (define o volume de vendas onde o lucro é zero)

e o ROI. Para isso, os autores utilizaram como base de investimento, para

cálculos do retorno, o total de ativos, desconsiderando-se contas correntes, de

modo a dissociar a produtividade dos ativos da estrutura de capital da

empresa. Essa conjunção destas duas análises é que possibilitará a

visualização da relação entre volume e retorno esperado, essencial para o

alcance do objetivo proposto pelos pesquisadores.

O método por eles desenvolvido inclui basicamente três análises, sempre

levando em consideração variações no volume de vendas, são elas: o impacto

alavancador dos custos fixos sobre o lucro sobre vendas, o impacto

alavancador de certos ativos fixos sobre o turnover de ativos, o que completa

as influências que podem afetar o ROI, e, finalmente, uma relação de ROI e

volume, que nada mais é do que uma combinação das duas análises

anteriores.

Deste modo, os pesquisadores acreditavam que fosse possível isolar áreas

que precisariam de melhorias, pois bastaria, de posse de um ROI incompatível

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30

com o volume de vendas apresentado, identificar através de uma das duas

primeiras análises que fator ou fatores são responsáveis pelo desempenho em

desacordo com o esperado. E ainda, esperavam que esta técnica pudesse

fornecer aos gerentes uma perspectiva mais ampla do negócio bem como uma

noção do que esperar dele de acordo com o ponto em que se encontra.

Esse artigo foi produzido segundo métodos de medição do ROI usados na

empresa estudada - Armco Inc.. Não se sabe se outras empresas utilizaram o

método sugerido com sucesso ou se tentaram ampliar o escopo estudado

enquadrando outros relacionamentos possíveis envolvendo o ROI.

Outro estudo significativo foi conduzido dentro da área de Marketing,

relacionando lucro à diferentes estratégias de marketing e negócios. É o PIMS

(Profit Impact of Market Strategies - Impacto das Estratégias de Marketing

sobre o Lucro)12. Ele foi elaborado com o propósito de fornecer aos gerentes,

em vários níveis e setores da empresa, informações sobre a performance a ser

esperada dependendo do tipo de negócio e das condições competitivas

envolvidas.

Os pesquisadores partiram do princípio que existem questões essenciais

dentro do planejamento estratégico de uma empresa, tais como: previsão de

lucros, alocação de recursos (sejam financeiros ou não), medição de

performance e avaliação de novos negócios. Essas situações envolvem em

algum grau a determinação de uma meta de ROI, de acordo com a situação.

Daí a idéia de se pesquisar os fatores que estariam influenciando cada tipo de

situação dentro de um determinado número de setores, de modo a permitir

uma identificação mais adequada do ROI apropriado a cada negócio e

momento.

12 O projeto teve início em 1972 e foi iniciado pelo Marketing Science Institute, uma organização de pesquisa ligada

a Harvard Business School.

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A pesquisa13 envolveu 57 empresas, em 620 tipos diferentes de negócios. Ela

pretendia identificar quais fatores (entre estratégicos e inerentes ao mercado),

além do ROI, influenciam a lucratividade de uma empresa e, como estes

afetam o ROI .

Foram identificados 37 aspectos que impactam a lucratividade. Entre eles, os

principais foram: ROI, participação de mercado, qualidade do produto/serviço,

despesas com marketing (inclui desde vendas até pesquisa, com exceção de

distribuição), despesas com pesquisa e desenvolvimento, relação

investimento/vendas, diversidade corporativa (aspectos individuais de cada

indústria/setor pesquisada/o). Os níveis de lucratividade variaram conforme as

estratégias adotadas para cada um desses aspectos e do tipo de negócio

envolvido.

A partir da identificação destes fatores foi possível, então, relacioná-los, em

diferentes níveis, e se obter diferentes “metas” de ROI, segundo as

características do negócio e como a empresa se encaixava (qual a estratégia

empregada) em cada um dos fatores utilizados.

Os pesquisadores acreditavam que esses alvos eram bem mais realistas e

forneciam informações bem mais precisas a respeito de medição de

performance do que as simples comparações de ROI entre divisões; além é

claro de auxiliar nas demais situações inerentes ao plano estratégico de uma

empresa que já foram citadas.

As empresas envolvidas na pesquisa receberam relatórios sobre prováveis

retornos dentro do setor em que atuavam e de uma dada estratégia. Várias

delas começaram, ainda em meados da década de 70, a utilizar essas

informações para medir a performance de suas divisões. Além dessa

aplicação, ao final do artigo, os pesquisadores citam como também de grande 13 Os resultados foram publicados por Sidney Schoeffler, Robert D. Buzzell e Donald F. Heaney na Harvard Business

Review de Março/Abril de 1974, sob o título de Impact of Strategic Planning on Profit Performance.

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32

vantagem para as organizações o uso deste estudo numa melhor elaboração

de planos estratégicos, já que se tornou possível avaliar o impacto de

mudanças nos fatores sobre os resultados esperados, e adaptá-las ao objetivo

de cada organização.

Uma mudança que também provocou algumas reflexões foi a rapidez das

inovações tecnológicas (Berg & Mechlin, 1980; Drucker, 1981). Drucker

acreditava que os esforços inovadores deveriam ser avaliados por um sistema

de medição de performance totalmente diferente dos usados para os negócios

em andamento. Metas relacionadas a aumentos de lucratividade, por

exemplo, tão usuais na época, eram, e ainda o são, totalmente inadequadas

quando se trata de uma inovação. Isto porque, via de regra, nos primeiros três

a cinco anos, seus lucros permanecem estagnados. Em compensação, se for

realmente um sucesso, suas taxas para os anos seguintes estarão bem acima

das expectativas.

Ele colocou que medidas tradicionais, como o ROI, poderiam determinar o

prosseguimento de pesquisas e investimentos onde as oportunidades fossem

limitadas e os riscos fossem grandes. Para que isso não ocorresse, sugeriu

que fossem avaliados os seguintes fatores: oportunidade final, risco de

fracasso e gastos necessários.

Ele cita a Du Pont como um exemplo de empresa que empregava esse

conceito de maneira excelente. Enquanto um negócio estivesse no estágio da

inovação, suas despesas não eram incluídas no orçamento da divisão, eram

tratadas como investimento, mas, tampouco este contribuía para a formação

da base de investimentos para o cálculo do ROI. Desse modo, a performance

financeira da divisão não era influenciada pelo esforço inovador em

andamento, e outros métodos eram utilizados para avaliar seu bom

andamento.

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Berg & Mechlin (1980) atribuem ao uso isolado do ROI para medir

desempenho dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento a queda do

grau de inovação que atingiu os Estados Unidos, no final da década de 70;

enfraquecendo a indústria nacional e forçando os gerentes a repensarem o

papel fundamental deste setor dentro das empresas.

Dentro de uma perspectiva histórica, Berg & Mechlin (1980) relatam que o

início da década de 70 presenciou a ascensão do setor de pesquisa e

desenvolvimento face a necessidade de constantes inovações tecnológicas

como solução para enfrentar a competitividade japonesa, que invadia os EUA.

O ROI imperava na época, como principal medida de desempenho tanto

divisional como global14. O que aconteceu, então, foi que o setor acima citado

começou a ter avaliações pouco satisfatórios em relação a sua performance

financeira. Isto porque nem todos os projetos chegam até o lançamento, ou

chegam e fracassam, o que prejudica uma análise que tem por base o retorno

sobre o investimento realizado. E ainda, algumas inovações mesmo quando

não falham, demoram a dar resultados significativos. O que mais uma vez

prejudica uma avaliação que privilegia resultados de curto prazo.

Observou-se, assim, que o ROI não constituía medida satisfatória para a área,

e que era esse tipo de medição que estava fazendo com que as pesquisas

voltassem a ocupar um papel secundário e pouco significativo dentro das

organizações. Com base nisso, os autores propuseram que fossem

empregados métodos mais subjetivos, que houvesse um julgamento

profissional da validade dos projetos, para medição de desempenho de áreas

ligadas a pesquisa.

Eles não chegaram a definir que métodos seriam estes. Destacam, porém, que

o ROI pode continuar a ser usado, com cuidado, para projetos de 14 Segundo Dearden (1966), nesta época 94% das empresas americanas usavam o ROI como principal índice de

avaliação de desempenho de seus negócios

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desenvolvimento de curto prazo. A maioria, entretanto, deve ter medidas

complementares, sem esquecer que: projetos devem ser avaliados

periodicamente; o grupo responsável pelo projeto deve possuir alguma

autonomia no seu gerenciamento bem como contribuir com parte das

despesas, o que contraria, de certo modo, o exemplo da Du Pont citado por

Drucker (1981); só deve se avaliar conjuntamente projetos que se encontrem

no mesmo estágio evolutivo; se deve medir não só o retorno individual obtido

por um projeto específico, como também o reforço de vendas por ele

proporcionado a uma determinada linha de produtos.

Como se pode ver, na década de 70 já havia pesquisadores preocupados com

a questão da medição da performance face a pequenas mudanças que

estavam surgindo. Muito poucos, no entanto, perceberam que essas

mudanças afetariam a empresa de uma forma muito mais global. Seria preciso

fugir do aspecto puramente financeiro, e começar a pensar em outras

variáveis. Foi só no início dos anos 80, como veremos, que se começou a

perceber a grandeza e implicações das muitas mudanças; apesar dos sistemas

de controle não terem respondido imediatamente a essas demandas

(JOHNSON, KAPLAN, 1987).

4.5 REVOLUÇÃO NAS MEDIDAS COM A GLOBALIZAÇÃO: O PAPEL DE

MEDIDAS NÃO-FINANCEIRAS

4.5.1 O Novo Contexto dos Anos 80 e Suas Demandas

O mercado, desde a década de 80 não é mais local, é global. Os acordos de

união entre países, o surgimento de novas potências industriais, a necessidade

de conquistar cada vez mais consumidores, que por sua vez se encontram

cada vez mais exigentes e com hábitos menos estáveis, transformaram os

mercados em todos os setores da economia. Não basta, hoje, ter padrões de

qualidade e preço aceitáveis. Se as empresas pretendem sobreviver num

mercado global, é preciso ter padrões aceitos internacionalmente.

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A rapidez das mudanças tecnológicas traz novas exigências em termos de

produto (ciclo de vida reduzido) e de processo (automatizar com flexibilidade,

por exemplo), o que fatalmente leva a premência do uso de novas medidas

que provem se uma empresa está conseguindo acompanhar as tendências

mundiais ou não e até que ponto essas inovações representarão vantagem

competitiva no mercado.

A automação, a busca por diferenciação, as preocupações crescentes com

impacto ambiental, a volta da manufatura como função estratégica dentro da

organização (principalmente devido a ascensão da importância da qualidade),

tudo isso traz no rastro novas necessidades e demandas para um sistema de

controle, e, conseqüentemente, para um de medidas de performance também.

São tantos os fatores em cena, atualmente, que é arriscado fazer afirmações

sobre a solidez de uma empresa, a médio e longo prazo, através apenas de

análises financeiras. Indicadores não-financeiros complementam essas

análises, fornecendo um direcionamento melhor do futuro da organização.

Vários autores, além dos citados acima, se manifestaram em relação a esse

problema. Cross & Lynch (1991), por exemplo, reuniram, através de

entrevistas com gerentes de várias empresas americanas, várias reclamações

comuns a respeito da inadequação dos atuais sistemas de performance face

ao novo cenário. Os sistemas contábeis, por não terem sido desenhados com

objetivo condizente às novas demandas, podem levar os gestores a fornecer

informações desorientadoras. Medidas de performance individuais destorcem a

visão do funcionamento efetivo da empresa como um todo, além de não

permitirem medidas corretivas a tempo. Faltam informações relativas aos

clientes, sejam internos ou externos. Aspectos não-financeiros importantes

são ignorados. E, por último, as avaliações são usadas para punir e não para

servir de aprendizado para melhorias futuras.

Baseado nessas novas necessidades emergentes e na constatação empírica

de que os sistemas atuais de medição de performance não mais atendem às

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36

exigências organizacionais, muitos estudiosos do assunto procuraram elaborar

maneiras melhores de se conduzir a questão, como será visto nas próximas

seções15.

4.5.2 Balanced Scorecard

Kaplan & Norton (1992) estruturaram um sistema de medidas abrangendo

vários aspectos do desempenho da operação, tendo sido utilizado por algumas

empresas americanas, o balanced scorecard. Sua elaboração teve origem

durante uma pesquisa com 12 empresas americanas, onde se percebeu que

os executivos além de se sentirem desmuniciados com os sistemas

tradicionais frente às novas pressões competitivas, não achavam que pudesse

existir uma medida única que viesse substituir as já existentes com êxito.

Desse modo, foi preciso reunir medidas financeiras e operacionais num

pacote, a fim de atender às necessidades dos gerentes, pois as medidas

operacionais são drivers para performance financeira futura.

O conjunto de medidas foi então estruturado para fornecer informações

rápidas, fáceis de entender e precisas sobre: perspectiva financeira, como os

acionistas nos vêem; satisfação do consumidor, como os nossos clientes nos

vêem; processos internos, onde podemos exceder; e, inovação e processos de

melhoria organizacionais, possibilidades de melhoria e de criação de valor.

Esse conjunto funciona como elo entre estratégia de longo prazo e ações de

curto prazo, fazendo papel de operacionalização da estratégia da empresa.

Os autores acreditam que com isso os gerentes estarão orientados para os

pontos mais críticos em se criar e manter vantagem competitiva. Seria o caso,

dentro da perspectiva de satisfação do consumidor, da procura por uma atitude 15 Embora a discussão sobre medidas não financeiras tenha aparecido, de maneira mais difusa, apenas na década de

1980, Deakin & Maher (1991) citam que, no início dos anos 50, a General Eletric (GE) possuía um sistema dedesempenho que incluía, além das medidas financeiras, índices de mercado, de avaliação de satisfação ecomportamento de pessoal, de preocupação com consumidor, entre outros. Segundo os autores, o que motivou a

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de orientação para o cliente: tempo de resposta e qualidade melhores, trabalho

em equipe, menores ciclos de lançamento de novos produtos, além de visão

gerencial de longo prazo.

Quanto ao foco de custos, os pesquisadores ressaltam a importância da

percepção de que o preço é apenas um dos componentes dos gastos totais do

comprador com um produto ou serviço. É preciso, portanto, estar alerta para

outros fatores que influenciarão esse custo aos olhos do cliente, pois eles

podem estar relacionados a outros aspectos como confiabilidade e qualidade,

por exemplo. É o caso de custos de espera, de inspeção, associados a

atrasos na entrega, etc.

A perspectiva dos processos internos deve permitir que se avalie até que ponto

as necessidades do consumidor - apontadas na avaliação detalhada acima -

estão sendo expressas em ações internas para alcançá-las. Logo, o sistema

indica, através de seus resultados se houve foco nos processos que mais

afetem a satisfação dos clientes, como tempo de produção, garantia de

qualidade, habilidades dos funcionários, produtividade, entre outros. Só uma

análise adequada das exigências de consumo, porém, poderá revelar caso a

caso que processos e ações devem ser mais enfatizados.

Diante da dificuldade em identificar competências e relacioná-las às metas e

objetivos de maneira que todos na empresa as persigam, os autores sugerem

que se utilize o sistema de informações para auxiliar nessa desagregação. Um

bom sistema deve permitir que o executivo identifique exatamente onde está a

causa de um problema de atraso, por exemplo. Se o sistema for falho nesse

sentido, ele pode enfraquecer todo o conjunto de medidas, tornando-o menos

eficaz do que foi projetado para ser.

empresa foi não só a dificuldade em se medir lucratividade de uma maneira mais acurada como também asexigências não-financeiras de outras áreas-chave dos departamentos

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As medidas relativas a inovação e melhoria contínua se tornam, segundo os

autores, fundamentais frente a competição global com que as organizações se

deparam nos dias de hoje. É preciso muita atenção, então, na hora de

formular que medidas serão utilizadas, de modo que venham a refletir se a

empresa está agindo de acordo com seus objetivos estratégicos em relação a

lançamento e aprimoramento de novos produtos e processos.

As medidas financeiras têm sido bastante criticadas nos últimos anos, mas o

consenso parece ser na direção de que a perspectiva financeira não pode ser

abandonada ou substituída, mas acompanhada por outras.

Um fracasso financeiro, mesmo acompanhado de sucesso em outras áreas,

além de insustentável a longo prazo, constitui fator de grande desmotivação

desde a direção até o mais baixo escalão e fator de grande desânimo e

frustração para os acionistas - o que pode significar grandes quedas em

investimentos futuros.

De acordo com essa proposta de Kaplan & Norton (1992), a tarefa do gerente,

será a de procurar ligar operações a finanças. Identificar e especificar como

ações e/ou melhorias na manufatura se refletirão sobre os aspectos

financeiros. Sabendo que resultados esperar, ficará mais fácil avaliar se a

empresa está ou não no caminho certo. Cabe ressaltar que o uso do sistema

contábil financeiro legal pode prejudicar essa análise se não estiver ajustado

às novas situações que surgiram com o acompanhamento mais atento dos

resultados das operações. Para que não haja esse conflito se faz necessário

uma adaptação dessas medidas financeiras à nova realidade operacional,

como já foi citado.

Esta seria, então, de forma bem reduzida a sugestão dos autores para a

estruturação de um conjunto bem abrangente de medidas que determinem o

sucesso de uma empresa e a ajudem a persegui-lo ou mantê-lo. Não é

pretensão dos pesquisadores garantir êxito para as empresas que se utilizem

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39

desse sistema, mas sim auxiliar no desenho de medidas que espelhem os

objetivos e estratégias de uma dada organização. Cada uma exigirá

informações específicas que possibilitem a monitoração de sua estratégia

global.

Como vimos, o balanced scorecard exige um envolvimento grande da alta

gerência. O controle deixa de ser o centro das atenções, cedendo lugar à

estratégia. Como as condições de mercado e de trabalho estão em constante

mutação, não é tão relevante para os executivos de topo saberem como os

funcionários estão atingindo as metas, mais importante é se certificar de que

eles conhecem a estratégia da empresa e caminham na sua direção. Desse

modo, o sistema de avaliação de performance se encontra mais em linha com

outras tendências administrativas como integração multi-funcional, parcerias,

trabalho em equipe, entre outras.

Em um artigo de 1993, Kaplan & Norton dão continuidade à pesquisa

mostrando o resultado de três empresas que empregaram com sucesso o

sistema de medidas proposto. Entre os relatos de maior motivação dos

funcionários, clientes mais satisfeitos e leais, e conscientização da importância

da melhoria contínua, surge uma nova aplicação não mencionada

anteriormente.

Observou-se que o uso do balanced scorecard foi especialmente eficaz

quando usado para guiar um processo de mudança - situação cada vez mais

corriqueira em todos os setores, nos últimos tempos. A utilização do sistema

para definir e comunicar prioridades organizacionais aos gerentes,

empregados, investidores e consumidores forneceu uma base sólida para que

a mudança ocorresse sem maiores atropelos. Foi verificado que ele presta um

grande auxílio na definição dos pontos fortes da empresa, mostrando a direção

que ela deveria seguir, minimizando desta forma os conflitos gerados quando

se tenta atingir um consenso entre os responsáveis pela elaboração das

estratégias empresariais, sem um instrumento como este.

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4.5.3 Adições e Oposições à Proposta

No decorrer da pesquisa sobre novas visões acerca das medidas de

desempenho divisionais, foi encontrado o que parece ser o precursor ou

inspirador das idéias de Kaplan & Norton na concepção do balanced

scorecard. Parker, já em 1979, propunha a expansão das medidas de

lucratividade e retorno, para um mix de índices quantitativos e qualitativos, que

poderiam medir o sucesso das unidades de negócio de forma mais ampla e

condizente com os objetivos não só da unidade em questão, como com os de

todas as outras e com os da empresa como um todo.

De maneira semelhante à proposta escolhida como base, o pesquisador

propunha novas medidas baseadas em seis grupos de sujeitos comuns.

Seriam eles: habilidade gerencial para finanças (onde estariam incluídos

índices como giro de estoques, origem e aplicação de fundos, dados sobre

ativo fixo, entre outros); produtividade - num âmbito mais restrito, é comparável

às medidas de processo interno; marketing (incluindo volume de vendas,

posição de mercado, e outras), que numa analogia com Kaplan & Norton

eqüivaleria a um preâmbulo à satisfação do consumidor; pesquisa e

desenvolvimento, seguindo a mesma análise poderia ter dado origem ao que

chamaram de inovação e processos de melhoria organizacional;

responsabilidade social e relações com os empregados. Estas duas últimas

não são citadas pelos autores do balanced scorecard, mas outro pesquisador

também as destacou, como veremos mais adiante.

O próprio Kaplan, em 1987, em parceria com Johnson, já havia esboçado um

pensamento bastante semelhante à estrutura de sua proposta de 1992. Ele já

falava em coerência entre estratégia corporativa e medição de resultados, bem

como da importância de se envolver outras áreas na avaliação e de se obter

informações a partir de fatores internos e externos.

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Além de citar medidas de produtividade e inovação, como no balanced

scorecard, há uma outra contribuição, não mencionada no modelo de 1992. É

a que se refere à avaliação da força de trabalho. Os autores ressaltam neste

estudo que as medidas tradicionais não avaliam a capacidade, nível de

treinamento ou moral dos funcionários. Fatores considerados como pilares,

junto aos já citados anteriormente, para a obtenção de melhores resultados

financeiros e globais. Nesta proposta já se detectava a necessidade de se

operar uma mudança também quanto à avaliação da mão de obra.

Com uma comparação entre gerência e pilotagem de aviões, Willis (1994)

vem acrescentar à proposta de Kaplan & Norton, como já havia feito Parker em

1979, duas dimensões consideradas por ele como de fundamental importância

para o conjunto do sistema de medidas. Sem medo de fornecer ao gerente

uma quantidade excessiva de informações - se um piloto é capaz de

pousar/decolar um avião com segurança tendo na sua frente um painel

contendo diversas informações diferentes e que devem ser integradas com

rapidez, o gerente também é capaz de realizar o mesmo feito com informações

sobre sua empresas ou unidade - ele menciona como adições o

gerenciamento ambiental e o bem-estar humano e social.

A primeira refere-se aos impactos das operações, produtos e serviços da

empresa sobre o ambiente natural e sua capacidade de longo prazo em

subsistir. Sob esse aspecto, o autor cita diversos exemplos de empresas no

Canadá, Estados Unidos, Japão e Europa, que já incluíram em suas análises

estratégicas e de desempenho o aspecto ambiental. Elas consideram

fundamental uma adaptação das informações obtidas em relatórios financeiros

externos para que se possa medir ativos/passivos ambientais, através da

reclassificação de algumas despesas/investimentos.

A segunda dimensão se preocuparia com os impactos das operações,

produtos e serviços de uma empresa sobre os direitos dos seres humanos à

saúde, segurança, dignidade, liberdade, justiça, crescimento e realização.

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Drucker (1992 e 1995) também se coloca de maneira bastante semelhante ao

modelo básico, destacando a importância de se medir posição de mercado,

satisfação do consumidor, inovação e produtividade (a partir de análise da

totalidade de fatores16) e aspectos financeiros. Sua contribuição ao

enriquecimento da proposta de Kaplan & Norton reside principalmente no

conceito de total irrelevância da análise de valores absolutos quando se trata

de medidas. Ele coloca que não existe medida perfeita, mesmo porque não há

informação exata em nenhuma área. Logo, é essencial que os executivos e

gerentes se atenham às tendências das medidas, se elas estiverem na direção

certa - a do sucesso - é o que interessa. A preocupação com pormenores, no

que se refere aos valores em si, é pura perda de tempo e esforço gerencial.

Alguns autores se detiveram mais no aspecto operacional do sistema de

medidas, foi o caso de Hayes & Wheelwright (1988). Apesar de citar a

importância de se olhar para fatores externos, realizar benchmarking de

resultados e de envolver a média gerência na coleta de informação e aferição

de medidas operacionais, o destaque maior do trabalho fica mesmo é com a

análise especial de produtividade, que é citada com outro nome por Drucker.

Esse novo modo de se encarar a produtividade, implicaria no seguinte

processo. Primeiro, seria calculada a eficiência de utilização de recursos para

cada uma das fábricas, em seguida, para saber se o resultado é positivo ou

negativo, se faria uma comparação temporal. E, finalmente, realizar-se-ia a

média ponderada de todos os índices individuais obtendo um fator global de

produtividade. A real noção de êxitos viria não só da comparação desse

resultado com os objetivos gerais da empresa mas também com resultados

dos competidores.

Cross & Lynch (1991) trabalham a questão de um novo sistema de medição de

performance de forma um pouco diferente, mas abordando basicamente os

16 Este conceito será melhor explicado quando analisar a sugestão de Hayes & Wheelwright

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mesmos fatores-chave - expectativas/satisfação do consumidor,

produtividade/melhoria de processos e flexibilidade - enfatizados por Kaplan &

Norton.

O primeiro passo, segundo estes autores, começa com o envolvimento e o

direcionamento do processo pela alta gerência. Estes executivos tendem a

achar que elaboram estratégias e prioridades organizacionais bastante claras.

No entanto, a maior dificuldade está justamente em fazer os empregados

compreenderem e se comprometerem com esses objetivos. É preciso que o

posicionamento da empresa quanto a aspectos-chave já mencionados estejam

bem internalizados em todos os níveis hierárquicos. Só assim, poderão ser

traduzidos em ações locais que visem a alcançá-lo.

Só então deve-se partir para o desenho de um sistema de medidas mais

dinâmico e adequado ao cenário atual. Em primeiro lugar, é necessário um

esforço para se identificar os fatores críticos de performance. Esses fatores

são aqueles que informam como o sistema organizacional está de fato

funcionando. Para essa etapa, a participação dos funcionários mais envolvidos

com o dia-a-dia da empresa é fundamental.

De posse desses dados, parte-se para uma classificação e análise dos atuais

indicadores. É feita uma lista dessas medidas, em seguida analisa-se o

impacto de cada uma sobre as operações e sobre a organização como um

todo. Já podemos, portanto, classificá-las. Ao final desse exercício ficaremos

sabendo se as atuais medidas são as mais adequadas e se elas estão

comunicando a mensagem que seria correta aos funcionários e à gerência.

Ajustes serão realizados caso seja necessário.

E, finalmente, para que a elaboração e a implantação do novo sistema se

realize com sucesso, é importante, como ressaltam os autores, que não

tenhamos medo ou remorso ao proceder a análise e as adaptações

demandadas, caso contrário o novo sistema não se delineará. Também é

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essencial que fatores como time-span de uma decisão e a freqüência de

feedback exigida pela gerência sejam considerados ao estruturarmos um novo

sistema.

Foram citados até o momento pesquisadores e estudiosos que apresentaram

idéias muito próximas, com pequenas variações, do modelo proposto na seção

anterior. Vejamos, então, às oposições.

Um pesquisador muito respeitado, e que tem uma visão bem mais simplista do

sistema de medição de desempenho é Goldratt (1984). É ele o autor da Teoria

das Restrições. Essa teoria tem três enfoques principais. O primeiro mais

voltado para a área de logística, fala da manufatura sincronizada e da

administração de gargalos. O segundo englobando operações e gerência

geral, trata de processos de melhoria contínua. E, finalmente, o terceiro está

relacionado a medidas de desempenho e eficiência. É o conceito de ganho

como indicador básico da performance de uma unidade e/ou organização.

O autor enfatiza que é preciso se mudar de uma mentalidade que privilegia os

custos, principalmente na área contábil e de finanças, para um pensamento

que dê mais atenção ao ganho. Ganho, segundo ele, é a diferença entre o

dinheiro recebido na venda e o dinheiro pago na compra. Esta medida, em

conjunto com informações sobre estoques e despesas operacionais, permitiria

um gerenciamento mais adequado dos negócios, voltado para resultados.

Este pensamento representa um retorno a um sistema de medição de

performance que privilegia os aspectos financeiros, sob um enfoque, porém,

ligeiramente diferente. Apesar disso, muitos executivos parecem acreditar na

proposta de Goldratt.

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Outras duas correntes que também relacionam aspectos relacionados às

perspectivas de medidas sugeridas por Kaplan & Norton, mas numa

abordagem bem diferenciada são as que se seguem.

Tanto Hronec (1993) quanto Foster & Horngren (1991) citam como aspectos

essenciais a serem medidos e controlados, a qualidade, o tempo e o custo.

Deve haver uma orientação interna e externa nessa medição e controle,

procurando sempre adaptar o que será medido em função do ambiente em que

a organização se encontra e em função de sua estratégia competitiva.

Relacionando esses aspectos aos abordados no balanced scorecard, podemos

fazer as seguintes observações: na perspectiva consumidor/mercado de

Kaplan & Norton (1992), fala-se em valores procurados pelo cliente, que são

encabeçados pela qualidade e incluem custos totais (preço mais outros custos

associados à uma compra de bem ou serviço); em processos internos, a

garantia de qualidade e o tempo de produção são enfocados como chave para

se satisfazer expectativas dos consumidores; e, em relação ao aspecto da

inovação e melhorias, podemos associar medidas em relação a tempo de

setup, de entrega, de retrabalho e/ou rejeição.

Segundo Hronec (1993), o perigo representado pela contabilidade tradicional

está justamente na super valorização do aspecto custo. Na busca pela

minimização deste, a empresa pode incorrer no descaminho da deterioração

de qualidade e tempo. Várias são as causas associadas a este risco. O custo

só é relatado depois de incorrido, o que dificulta a adoção de medidas

preventivas, ou mesmo de medidas corretivas mais rapidamente. A alocação

de custos indiretos, por seu caráter arbitrário, tende a distorcer os custos reais

de um produto e/ou processo. A pressão por resultados de curto prazo

também pode exercer efeito semelhante, na medida em que as pessoas são

cobradas por fatores outros que não qualidade, responsividade, flexibilidade e

confiabilidade, por exemplo.

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O que ele propõe, então, é uma reestruturação do sistema contábil de modo a

que se passe a enfatizar qualidade, tempo e custo. Não através da produção

de mais relatórios gerenciais, mas sim pela busca de informações mais

relevantes.

No que se refere a custo, por exemplo, melhores distribuições e medições

seriam conseguidas não só através da introdução de novos medidas (como

tempo de setup, utilização de espaço, velocidade de estoques, etc) como

também pela análise de valor acrescentado ao produto por cada fator de custo

(HRONEC, 1993). A análise de lucratividade por cliente é uma outra

ferramenta que, através do custeio baseado em atividades, permite uma

tomada de decisão mais acertada tanto em relação a resultados financeiros

como em relação a satisfação do cliente (FOSTER, HORNGREN, 1991).

Qualidade significa entender, aceitar, atender e exceder continuamente os

desejos e expectativas dos consumidores (HRONEC, 1993). O que o autor

pretende com isso é mostrar que fatores como satisfação de cliente interno e

externo, gestão de produto e de processo e envolvimento de todos os níveis

organizacionais, estão intrinsecamente ligados a esse aspecto da qualidade.

Logo, é preciso introduzir medidas que se relacionem a esses fatores.

Algumas sugestões apresentadas por ele: controle estatístico do processo e

rastreamento de atividades com identificação das de base. Estas, e muitas

outras, poderão funcionar como motivadores do processo de melhoria contínua

e garantia de qualidade, qualquer que seja seu escopo.

A motivação também pode ser encontrada na análise dos elementos geradores

de qualidade (quality drivers). Eles são aqueles que quando sofrem

mudanças provocam alterações profundas nos níveis de qualidade (FOSTER,

HORNGREN, 1991). O mesmo pode ser dito quando se analisa o aspecto

tempo.

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Já para Hronec, o importante quando se discute tempo, é a noção de

flexibilidade no atendimento da demanda - capacidade e tempo de resposta.

Para isso muito contribuem o fazer certo da primeira vez, a simplificação de

processos, o treinamento dos funcionários, as parcerias com fornecedores e

distribuidores, entre outros.

Dentro desta linha de custo, qualidade e tempo, há um relato de um trabalho

realizado por uma equipe da Edmonton Telephone Corporation, EUA, com um

colaborador da CMA Magazine. Os executivos dessa empresa perceberam

que, a medida que cresciam, novas medidas de performance iam sendo

incorporadas as já existentes, sem que se verificasse o grau de interação entre

elas e entre as estratégias adotadas pela companhia. Decidiram, então,

montar um sistema customizado de medidas que se adequasse mais

perfeitamente ao seu planejamento estratégico.

A base desse sistema foi justamente a procura por indicadores internos de

performance que refletissem as necessidades dos stakeholders17, sendo

medidos em termos de tempo, qualidade e custo. Procurando, sempre,

integrar medidas financeiras e não-financeiras, bem em linha com o

pensamento de Drucker, através, principalmente, do custeio baseado em

atividades.

O trabalho completo envolveu outros itens que, apesar de extremamente atuais

e importantes para o gerenciamento de qualquer empresa, são de pouca

relevância para o escopo deste trabalho, como enfoque no processo,

remuneração variável, empowerment e trabalho em equipe.

17 Vocábulo americano que inclui todos aquelas pessoas envolvidas na gestão de uma empresa - acionistas,

dirigentes, funcionários, fornecedores e clientes.

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Voltando ao Balanced Scorecard, apenas para concluir, já existem registros

mais atuais, de 199618, que citam o uso desse modelo em outras áreas que

não somente a de avaliação de desempenho. Um artigo dos próprios autores

da proposta cita a sua aplicação na área de estratégia global da empresa,

como forma de checar se a esta está sendo seguida da maneira mais

adequada. Neste mesmo âmbito, aparecem também propostas de novos

processos de auditoria, pela KPMG, com vistas a cobrir todo o processo desde

a determinação da estratégia até sua monitoração, através do balanced

scorecard.

4.5.4 EVA (Economic Value Added)

Como foi destacado por Kaplan & Norton (1992) as medidas financeiras têm

importância fundamental em qualquer análise de desempenho. É justamente

com ênfase nesse aspecto, que surgiu o EVA, desenvolvido por Stewart, da

Stern Stewart & Co.

O EVA se propõe a provocar uma mudança da gestão tradicional, onde os

acionistas, através de controles gerenciais, procuram influenciar as decisões

da administração para assegurar que atendam aos seus interesses, para uma

gestão de valor, onde os gestores e todos na empresa se sentem proprietários

da empresa e comprometidos com a geração de riqueza.

Apesar do surgimento recente, as origens do EVA datam do período pós-II

Guerra, quando as empresas começaram a usar o lucro residual ou RI como

ferramenta de seus sistemas de controle gerencial. As principais limitações ao

uso dessa ferramenta, porém, segundo Solomons (1976), eram o grau de

autonomia dos gestores divisionais quanto a investimentos, e a determinação

de um custo médio de capital satisfatório. Isto porque na época eram raros os

casos de gerentes de unidade com poder de decidir sobre investimentos; e

quanto a questão do custo de capital, o cálculo das empresas não 18 Artigos do CPA Journal de março e do Management Accounting de maio, ambos relativos a KPMG. O de Kaplan

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acompanhava a dinâmica do mercado, o valor era considerado fixo por um

grande período de tempo, distorcendo o verdadeiro custo de oportunidade do

capital a ser empregado.

O EVA se propõe, então, a resgatar essa ferramenta de lucro residual,

aproveitando-se de um período de maior autonomia para os gestores de

unidades de negócios, enquanto procura focar a visão do acionista que, pela

própria instabilidade do ambiente externo, demandará um acompanhamento e

controle mais direto do custo de capital da empresa, e trazendo um diferencial

de ênfase no lucro econômico operacional, de forma a manter a fidedignidade

com a realidade da unidade e da empresa.

A operacionalização do conceito se dá através da comparação do lucro

operacional após impostos com o custo do capital empregado na geração

desse lucro. Desse modo, esse indicador está integrando análise de eficácia

operacional com análise financeira.

Outro indicador também surge junto com o EVA, é o MVA (Market Value

Added), mais usado para avaliações mercadológicas, enquanto o EVA é mais

usado em controle gerencial. O MVA compara o valor de mercado (por quanto

o acionista poderia vender suas ações) ao valor patrimonial da empresa -

capital social. Sempre que o valor de mercado for maior, o MVA será positivo,

o que significa dizer que a administração criou valor para os acionistas,

aumentando o valor de seu investimento.

Estudos feitos no mercado americano atestam a existência de um

relacionamento estreito entre o MVA e o EVA, quando vistos numa perspectiva

de médio ou longo prazo. Segundo Stewart (1991), num intervalo de cinco

anos, 55% das variações de MVA são explicadas pelo comportamento do EVA.

Se analisarmos 10 anos, esse número pula para 74%. É preciso cuidado,

& Norton foi publicado na edição de Jan/Fev da Harvard Business Review.

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50

porém, com comparações de curto prazo, pois em épocas de grande

investimento ou ao início de grandes projetos, por exemplo, o EVA pode se

apresentar negativo, apesar do preço das ações continuar subindo - devido a

perspectivas futuras.

O EVA, através de seu modo de cálculo, traz à tona novamente, do ponto de

vista do controle gerencial, o conceito de custo médio de capital. Ele é a taxa

que incidindo sobre o capital nos dá o montante total dos recursos utilizados

para a geração do lucro operacional. Esta taxa é a média ponderada do custo

do capital de terceiros (empréstimos) e do custo do capital próprio (custo de

oportunidade de estar investindo na empresa, ao invés de no mercado -

rentabilidade esperada pelos acionistas). Definido esses valores e a proporção

debt/equity esperada, essa taxa média incidirá sobre o capital investido, que

eqüivale, basicamente, ao investimento usado para cálculo do ROI.

Diferentemente do ROI, porém, o EVA demanda alguns ajustes de cálculo em

relação ao cálculo contábil. Estes variarão conforme a empresa e o setor em

que esteja inserida. Como o indicador procura focar o lucro econômico,

consideram-se apenas as contas de natureza operacional e operações que se

reflitam na situação econômica da organização. Esses ajustes deverão levar

sempre em consideração a materialidade do valor a ser ajustado, o grau de

influência e controle da gerência sobre o item, o futuro entendimento e

assimilação do ajuste por parte do pessoal operacional, além da facilidade de

processamento.

Um exemplo seria o ajuste relativo a pesquisa e desenvolvimento. Estes

gastos podem ser encarados como despesa ou como investimento

(dependendo da previsão de retorno), a adoção de um critério ou de outro

modifica bastante o resultado do EVA. Esse critério deve ser definido com

base nos objetivos globais da companhia.

Stewart (1991) sugere ainda quatro estratégias que uma empresa poderia

adotar no gerenciamento de suas unidades, de modo a aumentar o EVA:

operacional (envolvendo produtos e processos), financeira (incluindo

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benchmarking interno e externo), de investimento, e de racionalização

(estratégias globais, otimização de clientes e canais de vendas).

Ele ressalta também que a avaliação de uma unidade, através do EVA, deve

adotar uma perspectiva evolutiva, o objetivo é o de gerar mais valor, seja

tornando o EVA mais positivo ou menos negativo. Esta visão evolutiva é um

dos motivos que o torna menos sensível a limitações do que o ROI, já que não

se avaliam valores absolutos e que há a possibilidade de mudanças na

estrutura de capital.

Muitas empresas vêm demonstrando estar usando essa ferramenta. Dentre as

100 maiores empresas da lista publicada pela Fortune, 43% também estão

entre as 100 primeiras na classificação MVA/EVA realizada por Stewart e

publicada pela mesma Fortune em dezembro de 96.

4.6 CONCLUSÕES

Pelo descrito até então, a obsolescência dos sistemas de avaliação de

performance, usados ainda por muitas empresas, não ocorreu de um dia para

o outro. Eles funcionaram com eficácia para o cenário que foram projetados.

Com o passar dos anos, no entanto, foram ficando desambientados e

ineficientes. Já não forneciam pistas sobre as deficiências e problemas das

companhias, e nem como tratá-los (KAPLAN, 1984).

As mudanças ocorridas no mundo moderno, quer pela intensificação da

competição global, quer pela rapidez cada vez maior dos progressos

tecnológicos, estão forçando as empresas a desenvolverem habilidades e

técnicas de operações, por exemplo, nunca antes imaginadas. Era necessário

que os sistemas de controle gerenciais também acompanhassem essas

mudanças.

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Como colocou Kaplan (1984), medidas como: qualidade, redução de estoques,

produtividade, flexibilidade, capacitação e moral da mão-de-obra e satisfação

do consumidor, não podem mais ficar de fora de qualquer análise, assumindo,

se possível, caráter prioritário sobre as demais. Esses aspectos devem, além

disso, estar em consonância mais uma vez com a estratégia, estrutura e opção

tecnológica da empresa.

Como Kaplan & Norton (1992) procuraram mostrar, é preciso ressaltar a

importância de enxergar que, talvez, os sinais e informações mais significativos

para a competitividade global que vivemos não estejam inseridos somente nos

sistemas financeiros tradicionais. Isto implicaria em perda relativa da

importância destes tipos de análises para se focar adicionalmente em outros

aspectos que auxiliem na busca por vantagem competitiva.

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5 CASO SIDER

5.1 BREVE PERFIL DA EMPRESA

A Sider foi constituída durante o Governo Getúlio Vargas, com o objetivo de ser

a primeira usina brasileira integrada a coque, que iria se tornar a maior da

América Latina. Sua operação teve início no fim da década de 40.

Sob controle estatal desde sua formação, a empresa, seguindo o Programa de

Desestatização iniciado no Governo Collor, foi privatizada em 1993. Hoje é

líder no setor siderúrgico brasileiro e responde por mais de 17% da produção

nacional de aço bruto.

A Sider, de capital nacional predominante, tem suas ações bem dispersas,

sendo controlada por um grupo de acionistas, onde encontramos bancos,

fundos de pensão e empresas privadas. As ações da Companhia são

negociadas nas Bolsas de Valores do Rio de Janeiro, São Paulo e Nova

Iorque, onde se negociam ADR nível 2, num mercado semelhante ao de

balcão. Em 1997, entre ações negociadas na NYSE e na BOVESPA, 20% do

controle acionário já eram de origem estrangeira.

Tendo como foco a produção e comercialização de produtos de aço, a Sider

possui uma única usina, localizada no Vale do Paraíba, no estado do Rio de

Janeiro. Esta usina tem capacidade anual de produzir 4,6 milhões de toneladas

de aço líquido e fabrica produtos siderúrgicos diversos: bobinas, chapas e

folhas, a um dos mais baixos custos da siderurgia mundial.

A Sider lidera, no Brasil, a produção de aços revestidos (estanhados,

cromados e galvanizados), que são produtos siderúrgicos nobres, cada vez

mais demandados pela indústria consumidora. Entre os seus principais clientes

destacam-se os setores automotivo, de eletrodomésticos, de embalagens

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metálicas e construção civil. Parte de sua produção, cerca de 30%, é

encaminhada ao mercado externo, onde a Sider desfruta de conceito de

fornecedor confiável.

Como em toda indústria recém-privatizada, a Administração da Sider colocou

em prática um programa de modernização e atualização tecnológica, que

prevê investimentos de US$ 1.300 milhões, a serem concluídos até o ano

2.000. A maior parte dos recursos destina-se à melhoria da qualidade e da

competitividade dos produtos. O aumento de produção e o resgate do passivo

ambiental também estão incluídos nesse planejamento.

Em paralelo, conforme será discutido mais detalhadamente no decorrer do

caso, a Sider trava luta permanente para reduzir os fatores de custo do aço,

motivo pelo qual investe em transportes ferroviários, portos e energia. Os

custos associados a essas áreas - logística e energia - tem um peso grande na

composição de custo dos produtos. Ao mesmo tempo, a Sider busca identificar

sinergias com outras empresas, razão que a levou a liderar o consórcio que

disputou e venceu o leilão de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, a

terceira maior mineradora do mundo.

Desse modo, se pode dizer que a empresa dedica-se basicamente a três tipos

de negócios: aço, energia e infra-estrutura. De modo a apoiar essas áreas de

negócios e possibilitar que se foquem no dia-a-dia de suas operações, possui

uma diretoria de apoio – Centro Corporativo. A estruturação desses negócios

demandou, nos últimos anos, a criação de subsidiárias no exterior e a

aquisição de participação em controladas. O foco deste trabalho, porém, serão

as unidades de negócios decorrentes de descentralização administrativa; isto

é, unidades que, pertencentes a mesma entidade jurídica, possuem gestões

independentes.

A controladora possui, além da Usina Bela Vista (UBV), localizada no Rio de

Janeiro, minas de minério de ferro e fundentes (calcário e dolomita), em Minas

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Gerais. Este diferencial competitivo, permite à Companhia auto-suficiência

destas matérias-primas, com destaque para o minério de ferro, cujo excedente

é vendido ao mercado nacional.

5.2 O MOVIMENTO DE DESCENTRALIZAÇÃO E SEUS MOTIVADORES

5.2.1 Motivadores

Como já vimos acima, a Sider é hoje uma empresa privatizada. E para

entender as implicações desse fato para sua posição atual, é preciso voltar ao

cenário da empresa quando estatal.

Até meados da década de 1980, a Sider vivia uma situação extremamente

confortável. No mercado nacional havia apenas três grandes fornecedores de

produtos siderúrgicos, todas empresas estatais, sendo a Sider uma delas. As

matérias-primas básicas eram parte importada – carvão, com benefícios

concedidos pelo governo, e parte provinha de minas cedidas pelo governo –

minério de altíssima qualidade sem prazo de exploração.

Num mercado em que o preço era determinado em comum acordo entre os

concorrentes e a importação era acompanhada de altas taxas e restrições

alfandegárias, os clientes (basicamente construção civil, setor automobilístico e

de embalagens - alimentos) escolhiam entre os três competidores baseados

em proximidade e prazo de entrega. Aliado a isso, vivia-se, durante o período

dos governos militares, uma época de desenvolvimento econômico, o que

contribuía para o crescimento da demanda nos três principais setores

consumidores acima citados e o que motivava o governo a subsidiar o preço

do aço, de modo a continuar incentivando esse crescimento. E por fim, quanto

aos canais de distribuição e abastecimento, eram formados por ferrovias

estatais, transportadores rodoviários privados e transporte marítimo com

operações portuárias também estatais.

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As informações colhidas através de relatos de funcionários que estão na

empresa desde essa época, revelam que a empresa, de maneira condizente

com o cenário em que se encontrava, era uma organização voltada para a

produção, sem preocupações competitivas. A estratégia básica era aumentar a

produção, quebrar recordes. Não havia grandes preocupações em colocar

essa produção no mercado, e quanto maior a produção melhor, pois a

demanda estava crescendo. Nem tampouco existiam preocupações em investir

na empresa, manter seus equipamentos atualizados ou investir em qualidade,

por exemplo.

Em termos de sistemas de controle gerencial e da área financeira, a empresa

se preocupava apenas em manter os pagamentos em dia. Não era necessário

um controle de fluxo de caixa ou políticas de crédito e de captação, o governo

estava sempre pronto a cobrir os eventuais problemas ou necessidades, para

que a empresa continuasse operacional, além do já garantido subsídio no

preço.

Em termos de estrutura organizacional, a empresa estava assim estruturada:

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Figura 2 Organograma original Sider

Presidência

Diretoria deOperações

DiretoriaAdministrativo/Financeira

DiretoriaComercial

Diretoria dePlanejamento eControle

Superintendência-Geral deRedução

DepartamentoPessoal

Escritório deSão Paulo

AdministraçãoTributária

Superintendência-Geral de

Aciaria Tesouraria Escritório Riode Janeiro

Contabilidade

Superintendência-Geral de

Laminados aQuente

Contas aPagar

Escritório dePorto Alegre

Superintendência-Geral de

Laminadosa Frio

ServiçosGerais

Escritório deNova

Iorque

Superintendência-Geral deZincados

Superintendência-Geral de Folhas

Metálicas

DiversasGerências de

Serviços deApoio

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No final da década de 1980, a Sider era caracterizada pelos dirigentes e

funcionários da seguinte forma: “... os gestores se preocupavam apenas com a

produção, não havia nem controle de qualidade”, “... com o preço subsidiado

pelo governo defasado e os custos aumentando, os prejuízos começaram a

aparecer”, “... refletindo sobre aquela época acho que éramos realmente

muitos funcionários”. Temos o retrato de uma empresa que não destinava

recursos para investir na modernização de seus equipamentos, não se

preocupava com as reações do mercado, não tinha um bom faturamento,

devido aos preços subsidiados, e cujos resultados, conseqüentemente,

começavam a refletir essa situação.

Nesta época, algumas mudanças estavam ocorrendo no ambiente externo.

Nos Estados Unidos vivia-se a década da qualidade e do boom de consumo, o

que, por sua vez, impulsionava o aparecimento de materiais e tecnologias

alternativas para bens de consumo, principalmente no setor de embalagens

para indústria alimentícia. Na Europa, de onde provinha e ainda provem o

carvão importado pela Sider, mudanças políticas estavam acontecendo, como

o enfraquecimento do comunismo e a queda do muro de Berlim, e

influenciando preço e freqüência de entrega do carvão exportado. Aos poucos

esses fatores somados ao momento vivido na economia nacional foram

refletindo-se no mercado brasileiro. Como destaca uma reportagem da revista

Exame de 22.02.89, com o Plano Verão, os setores mais dependentes do

governo, como a indústria do aço, foram os mais atingidos, tanto pelo corte de

investimentos como pela defasagem dos preços (que no setor siderúrgico era

de cerca de 33,5%).

Toda essa conjuntura contribuiu para que em 1989, o Governo, depois de ter

injetado muito dinheiro na empresa apenas tentando mantê-la operacional,

resolvesse trocar a gestão e sanear a empresa, o que já era uma preparação

para a privatização.

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Esta nova gestão implantou programas de qualidade, demitiu cerca de 30% do

efetivo e começou a se preocupar com o controle financeiro e gerencial dos

negócios. Mas a maioria dos problemas não podia ser resolvida de imediato,

demandava tempo, negociação com credores, reconquista de clientes, etc.

Além disso, o aspecto cultural de uma empresa sempre demanda mais tempo

para mudança. Ou seja, a mentalidade de empresa voltada para produção era

muito arraigada dentro da organização, e eram necessárias grandes mudanças

estruturais no seu modo de gestão, para que a empresa pudesse recuperar o

tempo perdido. Como colocou um gerente daquela época “... as mudanças de

qualidade implementadas, e até mesmo a redução de pessoal, ajudaram a

empresa a sair do sufoco, mas o retorno proporcionado ainda era muito baixo

para uma companhia daquele porte”.

O contexto acima caracteriza a empresa com a qual os acionistas – como já

citamos no início, bancos, fundos de pensão e grupos privados nacionais - se

depararam ao comprar a empresa, em 1993.

Os acionistas-investidores logo perceberam que a empresa não estava

preparada para enfrentar o ambiente econômico e de negócios que se estava

descortinando. As restrições à importação estavam sendo reduzidas

progressivamente – início do governo Collor, outras siderúrgicas estavam

sendo privatizadas, o que significaria reais competidores entrando no negócio,

os clientes estavam se tornando mais exigentes, devido a existência de

concorrência nacional e internacional e do surgimento de produtos substitutos,

além do que, oportunidades de negócios relacionados à siderurgia (como nas

áreas de energia e logística) estavam aparecendo, devido ao programa de

privatizações do governo.

Este era o cenário que se descortinava quando o capital privado aportou na

Sider. No tocante a pretensões estratégicas desses acionistas, como se verá

abaixo em detalhe, elas estão ligadas intimamente às etapas fundamentais da

cadeia de valor da empresa.

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Essas etapas, apresentadas a seguir, são fornecimento, produção e

distribuição.

FORNECIMENTO

O processo produtivo na Sider tem uma característica peculiar de ser

ininterrupto. Isto é, os equipamentos usados neste tipo de siderúrgica não

podem ser desligados, tanto a Coqueria como os Alto-Fornos (veremos esses

equipamentos em detalhe na seção 5.4.1) precisam funcionar 24 horas por dia,

sete dias por semana. Apenas paradas programadas de manutenção, ocorrem

em períodos prédeterminados. Isto implica na necessidade de um fluxo

confiável e constante das matérias-primas envolvidas – carvão e minério de

ferro. Segundo um folheto de divulgação da companhia, aproximadamente

18.000 toneladas de matéria-prima são necessárias diariamente para

abastecer os alto-fornos. Existem estoques de segurança, mas como os

volumes e os valores envolvidos são grandes, esses estoques não

ultrapassam 4 dias. O carvão, como já foi dito, é importado, chegando por via

marítima/ferroviária e o minério é extraído pela própria empresa, sendo

transportado por ferrovia. Logo, para garantir que não ocorram interrupções no

fornecimento de suas matérias-primas básicas, a empresa necessita de

fornecedores, operações portuárias e transportes ferroviários confiáveis.

PRODUÇÃO

A produção de aço, através da utilização de gusa líquido, demanda a presença

de pelo menos um alto-forno próximo ao local onde se localiza a aciaria – que

produz o aço líquido. Isto porque ele deve ser misturado aos outros

componentes do aço ainda incandescente. A operação de um alto-forno, por

sua vez, demanda grande quantidade de energia elétrica. A temperatura dentro

de um equipamento deste tipo não pode cair abaixo de 1.500º C. A utilização

de material refratário, nas paredes internas do alto-forno, ajuda a manter a

temperatura, mas o que a sustenta é a energia. Assim, podemos concluir que o

consumo energético dentro de uma siderúrgica é extremamente elevado, e a

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qualidade e ininterrupção do fornecimento deste tipo de energia é essencial

para a continuidade da produção. Conforme pesquisa da própria Light, a

empresa é responsável hoje por cerca de 11% do consumo total dessa

distribuidora.

DISTRIBUIÇÃO

Na indústria siderúrgica, assim como na maioria dos outros setores, o frete da

distribuição é pago pelo cliente, sendo que no caso de exportação, esse frete

não compreende o transporte da usina até o navio. Os produtos de aço, em

especial as bobinas, são itens pesados (uma bobina pode pesar até 45t) e

volumosos, e, portanto, seu transporte é oneroso. Apesar dos principais

clientes nacionais da Sider se encontrarem na região sudeste e da exportação

responder por cerca de 30% das vendas, as tarifas de frete constituem um

aspecto importante na decisão de compra do cliente. Assim, a empresa precisa

fazer esforços para tentar reduzir seus custos com transporte, principalmente

por ser ela a contratante do transportador.

Toda essa conjuntura da Sider estimulou a principal estratégia da alta direção

ao assumir a empresa recém-privatizada: integração vertical. Para continuar

competitiva, reduzindo custos, a administração ciente do cenário descrito

acima, julgava precisar controlar todos os aspectos de sua cadeia de valor,

desde o fornecimento e transporte do carvão e minério até a distribuição de

bobinas e chapas, dentro e fora do país. Podemos confirmar essa posição pelo

depoimento de um dos membros do Conselho de Administração “... apesar de

nossa localização geográfica estratégica, representada pela pouca distância

dos principais clientes e fornecedores e pela circunvizinhança de portos

(Sepetiba, Angra e Rio de Janeiro) e ferrovias, precisamos assegurar o bom

funcionamento desses serviços para garantirmos que o processo como um

todo nos trará o retorno esperado”.

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A época que o país estava vivendo então era a do início das privatizações.

Logo, a estratégia de integração começou a ser posta em prática com

aquisições de participações em diversos negócios ligados à área de infra-

estrutura (ferrovias e portos) e à área de energia. As participações adquiridas

em ferrovias incidiram em malhas ferroviárias da região sudeste, ligando o

porto de entrada das matérias-primas e de escoamento dos produtos finais à

usina, e as minas de minério e fundentes à usina. A participação adquirida em

empresa de energia elétrica se deu em instituição responsável pelo

fornecimento de energia à região do Vale do Paraíba, como também as

participações em projetos de investimento em usinas hidroelétricas ocorreram

em situações que pudessem beneficiar a UBV. Não entraremos em detalhe em

relação a essas aquisições, por não constituírem objeto de análise desse

estudo.

Outra estratégia da gestão privada se evidenciava na procura por nichos de

mercado, através de produtos de altíssimo valor agregado e cujas

especificidades tornassem difícil a importação por parte dos consumidores

nacionais. Os projetos de investimento para operação de mini-usinas

siderúrgicas e de centros de serviço e beneficiamento de produtos faziam parte

desta estratégia.

Além da estratégia de integração vertical que já tornava a gestão da empresa

bastante complexa, a Sider possuía demandas internas, relacionadas à

diversificação da cadeia de produtos de aço produzida.

Os programas de qualidade possibilitaram o crescimento das linhas de produto

mais nobres, envolvendo outros setores da economia entre os seus clientes. O

próprio relatório anual da empresa em 1994 destaca o aumento de

participação dos setores automobilístico e de eletrodomésticos. Com isso, um

único gestor de operações estava envolvido com variáveis e aspectos de

negócios – produção e comercialização - distintos entre si. Isto é, a

complexidade para gerenciar o dia-a-dia estava ficando cada vez maior, e,

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portanto, havia uma necessidade de conhecer mais detalhes sobre suas

atividades, de modo a melhor gerenciar seu dia-a-dia. Da mesma forma, a alta

direção desejava poder identificar quais atividades eram realmente lucrativas,

quais poderiam ser terceirizadas, e quais careciam de maiores investimentos.

Internamente, então, os fatores que representavam um incentivo à mudança

eram a complexidade das atividades inerentes ao aço e a diversificação de

negócios, com a inclusão da infra-estrutura e energia.

Todo esse cenário de instabilidade no ambiente externo, que levava à

necessidade de mudança estrutural na organização, aliado ao cenário interno

de grande diversificação e complexidade das atividades levou a administração

da Sider à decisão de descentralizar suas operações.

Foi, assim que, no início de 1996, a partir desses motivadores externos e

internos, que a empresa partiu de sua estrutura funcional para uma estrutura

descentralizada em áreas de negócios.

5.2.2 O Processo de Descentralização

A descentralização se deu através da divisão em áreas de negócios e da

divisão de uma das áreas de negócio – a área de negócio Aço, antiga Direção

de Operações - em Unidades de Negócios. Dentro das unidades de negócio,

as diversas funções são gerenciadas por superintendentes-gerais, que

respondem diretamente ao diretor da unidade de negócio.

As áreas e unidades de negócios são responsáveis pela gestão operacional do

negócio: pelas decisões operacionais, de comercialização, de pessoal, pelo

levantamento de necessidades de reinvestimento no próprio negócio, bem

como de novas oportunidades de investimento, também relativas a seu

negócio. O gestor da unidade de laminação definiu assim o seu papel “Nós

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funcionamos como se fôssemos uma pequena empresa independente, com

fornecedores e clientes cativos, que tem que se manter lucrativa de modo a

atender a um sócio capitalista que, na qualidade de fornecedor de recursos,

nos cobra o retorno por essa utilização.”

Desde esse primeiro momento até os dias de hoje, a empresa vem passando

por uma fase muito dinâmica na sua estrutura hierárquica organizacional, como

é descrito adiante.

1ª Fase - São criadas as áreas de negócios Aço, Energia e Corporativa.

A Corporativa englobava funções de apoio administrativo/financeiro, à

exceção dos Recursos Humanos, que estavam ligados diretamente à

diretoria do Aço.

A Área de Negócio Energia incluía apenas o controle de

investimentos em controladas.

A Área de Negócio Aço era dividida em seis unidades de

negócios, sendo cinco unidades produtivas e uma de serviços

operacionais. Eram elas: unidade de Redução (DR), responsável pelas

minas de minério e fundentes e pelo ferro-gusa – 1º produto do

processo siderúrgico, dentro da UBV; unidade de Metalurgia do Aço

(DM), que era responsável pela aciaria, cuja principal matéria-prima é o

gusa e cujo produto final é o aço em forma de placas; unidade de

Laminados a Quente (DQ), sempre seguindo a cadeia produtiva,

englobava a laminação das placas em bobinas e chapas a quente, onde

as primeiras serviam de insumo à unidade seguinte, sendo que já há

comercialização de parte da produção (cerca de 40%); unidade de

Laminados a Frio (DF), recebendo a bobina quente da unidade anterior,

seu processo incluía a decapagem, a laminação a frio e a zincagem,

produzindo como produto final bobinas e chapas a frio ou zincadas,

totalmente destinadas à venda no mercado; unidade de Embalagens

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(DE), a partir da bobina decapada fornecida pela DF, produzia o produto

mais nobre da empresa as bobinas e folhas revestidas - cromadas ou

estanhadas. Estas unidades funcionavam com operações e

comercialização independentes e utilizavam-se dos serviços prestados

pela unidade de Serviços Operacionais (DS). A DS atendia às unidades

nas áreas de compras, serviços gerais e de pessoal, manutenção,

distribuição de gases, energia, distribuição/tratamento de água, logística

de abastecimento e escoamento, reparos de peças e contratação de

terceiros para efetuar qualquer um dos serviços acima, onde a DS não

fosse mais competitiva.

É importante observar que o processo produtivo na Sider segue um

encadeamento, onde produtos acabados de uma unidade constituem

matéria-prima para outra unidade. Dentro deste processo o grau de

imobilização é maior no início da cadeia. Isto é os equipamentos de

maior porte e valor produzem itens de menor valor agregado.

Além dessas unidades de negócios, duas superintendências

funcionavam como apoio/assessoria ao diretor da área: a de controle da

produção, que decide sobre que produtos serão produzidos, ordem de

produção, prioridades, entre outras questões; e a uma de tecnologia,

que funcionava como um filtro para as mudanças e inovações no setor

siderúrgico.

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Figura 3 Organograma Sider – 1ª Fase

Conselho deAdministração

Diretor-Superint.Área de NegócioAço

Diretor-Superint.Área de NegócioEnergia

Diretor-SuperintendenteÁrea Corporativa

Unidade de NegóciosRedução

Controladas Fundo dePensão

Unidade de NegóciosMetalurgia do Aço

Projetos deInvestimento

Fundação Sider

Unidade de NegóciosLaminação a Quente

Controladoria

Unidade de NegóciosLaminação a Frio

Superintendênciade Planejamento/

Controle Produção Finanças

Unidade de NegóciosEmbalagens

SuperintendênciaTecnologia

Comunicação

Unidade de NegóciosServiçosOperacionais

Relações como Mercado

Superintendência-Geral de RecursosHumanos

Jurídico

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2ª Fase –Com a criação da Área de Negócio Infra-Estrutura, devido a

novas aquisições de participação em controladas, a área de mineração

passou a ter uma importância maior dentro da Sider. Foi, então, elevada

à condição de unidade de negócio, dentro desta nova diretoria.

Enquanto as outras diretorias começavam a se expandir e se

envolver em novos projetos, a diretoria da Área de Negócio Aço passava

por uma grande reorganização interna, que deu origem à 3ª fase.

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Figura 4 Organograma Sider – 2ª Fase

Conselho deAdministração

Diretor-Superint.Área de NegócioAço

Diretor-Superint.Área de NegócioEnergia

Diretor-Superint.Área Corporativa

Diretor-Superint.Área Neg. Infra-Estrutura

Unidade de NegóciosRedução

Controladas Fundo dePensão

Minas

Unidade de NegóciosMetalurgia do Aço

Projetos deInvestimento

FundaçãoSider

Controladas

Unidade de NegóciosLaminação a Quente

Controladoria

Unidade de NegóciosLaminação a Frio

Superintendênciade Planejamento/

Controle Produção Finanças

Unidade de NegóciosEmbalagens

SuperintendênciaTecnologia

Comunicação

Unidade de NegóciosServiçosOperacionais

Relações como Mercado

Superintendência-Geral de RecursosHumanos

Jurídico

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3ª Fase - No intuito de agilizar as decisões e tornar a Companhia cada

vez mais competitiva, foram promovidos estudos com consultores

externos sobre maneiras de melhorar a descentralização das atividades

produtivas e de apoio nas diversas unidades de negócios. Foi assim que

as unidades de Redução e de Metalurgia do Aço foram fundidas em

uma só, as unidades de Laminação a Quente e Laminação a Frio

também foram fundidas em uma só, devido a identificação de grandes

similaridades entre os dois negócios. Esses estudos deram origem,

então, a fase atual da estrutura organizacional sobre a qual se dará a

análise do caso.

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5.3 A ESTRUTURA ATUAL

Hoje, a empresa está dividida em quatro áreas de negócios: aço, energia, infra-

estrutura, corporativa, comandadas por executivos com larga experiência em

suas áreas. Estes diretores respondem diretamente a um Conselho de

Administração.

O Conselho de Administração é o órgão máximo dentro da empresa,

responsável pelas decisões estratégicas globais, e pelo controle e

acompanhamento dos resultados operacionais dessas diretorias. Ele se reúne

uma vez ao mês para tomar conhecimento dos resultados da empresa e

decidir sobre novos investimentos e andamento de grandes projetos, além de

decisões ligadas à estrutura de capital. Abaixo do Conselho está este grupo de

diretores-superintendentes que se reúne em colegiado uma vez por semana

para tomar decisões estratégicas mais específicas, decidir que

opções/escolhas de projetos e financiamentos serão encaminhadas ao

Conselho, além de decidir sobre questões operacionais mais abrangentes, fora

do alcance executivo dos gestores de unidades.

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Figura 5 Organograma Atual Sider

Conselho de Administração

Diretor-Superint.Área de NegócioAço

Diretor-Superint.Área de NegócioEnergia

Diretor-Superint.Área de Neg.Infra-Estrutura

Diretor-Superint.Área Corporativa

Unidade deNegócio

Metalurgia

CTE Unidade deNegócio

Mineração

Super. GeralJurídica

Unidade deNegócio

Laminação

Controladas Portos Super.Geral de

Controladoria

Unidade deNegócio

Embalagens

Controladas(Malhas

Ferroviárias)

Super. Geralde R H

Unidade deNegócioServiços

Operacionais

Super. GeralComunicação

Social

Subsidiáriasno Exterior

Super. Geralde Finanças

Super.Geral dePlanejamento

Estratégico

Super. GeralRelações

c/Mercado

Fundação Sider Fundo de Pensão

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Serão detalhados a seguir, o funcionamento das áreas de negócio e das

unidades de negócio descentralizadas administrativamente. O objetivo é

conhecer o funcionamento das unidades, as atividades envolvidas e o grau de

interrelação entre elas.

ÁREA DE NEGÓCIO AÇO - DSA

Como o nome já diz é responsável por todas as unidades de negócios e todos

os investimentos ligados diretamente ao processo produtivo da siderurgia. É a

área responsável pela operação da UBV e pelo acompanhamento dos outros

investimentos na área. Tem como fornecedor interno a Área de Negócios

Infra-Estrutura e como cliente o mercado – nacional e externo.

Esta área de negócio, pela diversidade dos produtos fabricados e setores

industriais com os quais se relaciona, é dividida em três unidades de negócio e

uma unidade de serviço, que possuem autonomia para gerir seus negócios. As

unidades, que serão mais exploradas a frente, são: Metalurgia, Laminação,

Embalagens e Serviços Operacionais.

A Companhia também possui projetos de mini-usinas siderúrgicas no Nordeste

e no Sul do país. No nordeste, já está em andamento a construção de um

empreendimento no Ceará. Em joint-venture com uma empresa alemã e

usando tecnologia de última geração serão produzidos principalmente

laminados a frio para atender ao mercado em crescimento da região. Quando

estiver em operação, funcionará como uma subsidiária, subordinada

gerencialmente ao diretor da área de negócio, e será tratada internamente

como unidade de negócio, juridicamente constituída. Seu relacionamento com

as demais unidades, porém, será praticamente nulo já que utilizará recursos

energéticos e matéria-prima da região.

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Está em estudo também a construção de uma mini-usina na região Sul.

Utilizando a mesma tecnologia do Ceará, esta usina atenderia aos mercados

da região, fabricando laminados a frio e revestidos.

O uso da estratégia de mini-mill (ou mini-usina) é novo no Brasil e a decisão

pioneira da Sider de adotá-la é explicada pelo depoimento do diretor da área

de negócios Aço: “Com o aumento da produção de aço mundial, o diferencial

competitivo será cada vez mais o aspecto custo. Com equipamentos mais

baratos, de mais fácil manutenção, e com cerca de 1/5 do pessoal envolvido

hoje na produção de uma usina siderúrgica do porte da UBV, podemos

produzir a mesma quantidade de aço no mesmo tempo e com a mesma

qualidade em uma mini-mill.”

ÁREA CORPORATIVA - DSC

É responsável pelas áreas de apoio administrativo/financeiro da Sider, tendo

como cliente as outras áreas da empresa. Engloba várias funções, gerenciadas

por superintendentes-gerais.

São funções de sua responsabilidade:

• Finanças - que inclui toda parte de gerenciamento de fluxo de caixa, contas

a receber e a pagar, uma gerência de captação e aplicação de recursos e

uma de análise de investimentos. Esta última, além de analisar novas

oportunidades de investimento em empresas e projetos também avalia

todos os investimentos feitos dentro da UBV que, na sua grande maioria,

fazem parte de programa de modernização e atualização tecnológica.

• Controladoria - cuida da contabilidade legal da empresa - no Brasil e no

exterior; dos controles e reportes gerenciais; e, além disso possui uma área

dedicada a planejamento tributário, que procura um melhor aproveitamento

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fiscal nas operações diárias da empresa, e, junto à área de finanças, analisa

os investimentos sob o aspecto tributário também.

• Jurídica - com amplas responsabilidades, atende às exigências do direito

societário, cuida de contratos em geral, da parte tributária, e atua como

intermediário na contratação de terceiros em processos judiciais ou no

exterior.

• Relações com o mercado - esta parte se dedica a fornecer informações da

empresa, quer financeiras quer operacionais, ao mercado investidor. Foi

criada após a privatização como parte da estratégia de tornar a empresa

transparente aos olhos desse mercado.

• Comunicação Social - realiza toda a parte de comunicação, interna e

externa, e também promove eventos e é responsável pela elaboração de

material institucional - relatórios, propagandas, releases...

• Recursos humanos - última área a ser incorporada a esta diretoria, antes

fazia parte da Área de Negócio Aço. Engloba desde funções burocráticas,

típicas de um departamento pessoal, até funções que demonstram maior

preocupação com o desenvolvimento e bem-estar dos funcionários, como:

treinamento, avaliação de desempenho, recrutamento, ...

• Planejamento estratégico - é o elo entre o rumo que os acionistas

pretendem dar a empresa e o dia-a-dia operacional.

Além dessas superintendências, relativamente semelhantes em qualquer

empresa de grande porte, a Área de Negócios Corporativa também engloba o

fundo de pensão dos empregados - Fundo de Pensão dos Empregados da

Sider (FPS); e a Fundação Sider, cujo objetivo é prestar serviços de saúde,

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educação e cultura aos empregados da Sider e às comunidades onde a

Companhia atue.

ÁREA DE NEGÓCIO ENERGIA - DSE

Esta diretoria tem como função: controlar e gerir os empreendimentos

relacionados a geração e distribuição de energia. Para tal é representante da

Sider junto a investimentos em controladas, ao mesmo tempo em que

coordena o projeto de construção de uma central termoelétrica, na UBV, que,

utilizando gases residuais do processo siderúrgico, atenderá a 60% das

necessidades de energia elétrica da UBV (hoje, a maior conta individual de

energia elétrica do estado do RJ).

Esta termoelétrica, quando em operação, continuará nesta diretoria e

funcionará como uma unidade de negócios, no que se relacionar aos controles

internos da Companhia.

ÁREA DE NEGÓCIO INFRA-ESTRUTURA - DSI

Esta diretoria foi constituída, inicialmente, para controlar os investimentos em

ferrovias. Hoje, porém, também envolve mineração e operação portuária. Isto

é, é responsável pelos negócios de base como fornecimento de matéria-prima,

e transporte, através da participação em controladas.

É de sua responsabilidade, a administração das minas da Sider, em Minas

Gerais. Elas são vitais para o processo siderúrgico na UBV, pois fornecem,

principalmente, minério de ferro de altíssima qualidade e a um custo de

extração baixíssimo para os Alto-Fornos. No primeiro momento da

descentralização, estavam sob a gerência da unidade de Redução, dentro da

Área de Negócio Aço. Hoje, as minas constituem uma unidade de negócios.

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Esta diretoria também opera o Porto de Sepetiba, arrendado pela Sider em

1997. Por ele passam 100% do carvão importado pela empresa - que junto ao

minério de ferro é uma das principais matérias-primas da siderurgia tradicional.

Além disso realiza operações portuárias para clientes externos.

Como já mencionado, também gerencia as atividades de transportes

ferroviários, através do acompanhamento de participações em controladas.

5.4 AS UNIDADES DE NEGÓCIOS E SEU RELACIONAMENTO NO

PROCESSO PRODUTIVO

5.4.1 Unidade de Metalurgia - DM

Primeira unidade de negócio dentro do processo produtivo, é a responsável

pela fabricação de placas. Essa unidade não tem clientes externos, sendo que

sua produção abastece exclusivamente à unidade de Laminação. Tem como

principal matéria-prima o carvão importado, que é descarregado no porto

operado pela empresa e transportado por uma das ferrovias controladas pela

Sider, também sendo abastecida pelo minério e fundentes produzidos pela

unidade de Mineração.

Responsável pelas Coquerias, Sinterizações, Calcinação, Alto-Forno, Aciaria e

Lingotamento Contínuo, compreende a parte do processo de produção de aço

que vai desde a transformação do carvão importado em coque, até a entrega

das placas de aço à Unidade de Laminação.

O processo siderúrgico na Sider se inicia nos pátios de carvão. O carvão,

100% importado - em sua maioria da Alemanha, é armazenado em pátios onde

ficam no máximo por quatro dias. Ele é a matéria-prima que alimenta as

coquerias, baterias de fornos refratários em funcionamento 24 horas por dia,

sete dias por semana, que produzem o coque, um dos componentes que

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formarão o ferro-gusa. A coqueria provê também a escória, um resíduo do

processo vendido à indústria de cimento, que a utiliza como matéria-prima.

Anexa à Coqueria, há uma fábrica de Carboquímicos, onde resíduos do

primeiro processo são transformados em alcatrão, amônia, enxofre, nafta,

piche e outras substâncias, que são vendidas no mercado nacional.

Enquanto o carvão está sendo processado na coqueria, parte do minério de

ferro, proveniente das minas da Sider, em Casa de Pedra, MG, entra nas

Sinterizações, gerando o sinter, uma variação de minério que é um dos

principais elementos de composição do gusa.

Outro processo, que se utiliza dos fundentes, provenientes também das minas,

é a Calcinação. Seus produtos finais, a cal calcítica e a cal dolomítica

alimentam o Alto-Forno e a Aciaria.

Após o processamento desses materiais, são todos jogados no Alto-Forno.

Minério de ferro sinterizado, fundentes - calcinados ou não, oxigênio e gases

reaproveitados do processo são injetados, cada um a seu tempo neste

equipamento principal de uma siderúrgica integrada. Nele, as altas

temperaturas somadas aos materiais acima citados produzem,

ininterruptamente, o ferro-gusa. Este, ainda incandescente, é levado

diretamente, por linhas férreas para a Aciaria.

Na Aciaria, além do ferro-gusa, entram no forno-panela, onde o aço é

processado, sucata (recolhida da Usina, e, por vezes, adquirida fora),

magnésio, alumínio e gases reaproveitados do processo. Daí para o

Lingotamento onde o aço líquido se transforma em placas de aço. Estas,

segundo requisição do cliente, terão misturas diferentes de seus componentes,

diversificando a qualidade do aço. Essas placas são transferidas para a

Unidade de Laminação, onde darão início a produção de bobinas e chapas.

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5.4.2 Unidade de Laminação - DL

Essa unidade de negócio é responsável pela produção de bobinas e chapas a

quente, a frio e zincadas. Seus clientes são a unidade de Embalagens, que

responde apenas por cerca de 25% da receita total dessa unidade, e clientes

externos, dos setores automobilísticos, de construção civil e linha branca,

responsáveis pelos 75% de receita restantes. Em relação à unidade de

Embalagens é única fornecedora. Noventa e nove por cento de seu

fornecimento vêm da unidade de Metalurgia. A compra de placas externas é

limitada a aços muito específicos não fabricados pela Sider. Para distribuir

seus produtos entre os clientes externos conta com o apoio da unidade de

Serviços que contrata e controla os transportadores.

Essa divisão engloba as superintendências de Laminação a Quente (LQ),

Laminação a Frio (LF) e Zincagem (LZ). Como já foi colocado a matéria-prima

utilizada são as placas. Estas só são compradas fora quando a especificação

exigida não é produzida pela Sider, caso do aço IF, cujas placas são

importadas pela Unidade de Metalurgia, de modo a atender a Laminação.

Pelas linhas de equipamento envolvidas, pode-se ver que de dentro dessa

unidade saem vários tipos de produtos. Apenas um, no entanto, a bobina

quente decapada, é transferido à Unidade de Embalagens, sendo o restante

absorvido pelos mercado nacional e estrangeiro.

Na laminação a quente, são produzidas bobinas e chapas quentes e bobinas

quentes decapadas. Esta última é transferida, em parte, para Embalagens,

parte para a laminação a frio, dentro da própria unidade. Da laminação a frio,

saem bobinas e chapas a frio, e uma variação desta, a bobina full-hard, que é

levada até uma Central de Serviços, em SP, para corte/embalagem e venda ao

setor automobilístico. Na zincagem, as bobinas são recozidas para receberem

o zinco, originando as folhas zincadas ou galvanizadas de uso bastante intenso

no setor automobilístico e de eletrodomésticos - linha branca.

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O processo é contínuo sendo uma linha abastecida por bobinas provenientes

da linha anterior.

5.4.3 Unidade de Embalagens - DE

A unidade de Embalagens é responsável pela produção e comercialização das

bobinas e folhas revestidas, cromadas e estanhadas, também chamadas de

folhas metálicas. Ela é abastecida pela unidade de Laminação e seus clientes

são todos externos e pertencem ao setor de embalagens, principalmente

ligados à indústria de alimentos. A exemplo da unidade de Laminação ela

conta com o apoio da unidade de Serviços para distribuir seus produtos.

Fabricante da linha mais nobre, na Sider, esta unidade engloba as

superintendências de Não-Revestidos, Cromagem e Estanhagem.

O processo começa nos Laminadores de Tiras a Frio, onde as bobinas a

quente decapadas são transformadas em bobinas a frio especialmente

destinadas a fabricação de bobinas não-revestidas.

As bobinas não-revestidas alimentam a cromagem e a estanhagem, de onde

sai, então, o produto mais nobre da siderurgia, as folhas metálicas. A Sider é

praticamente a única fabricante nacional deste produto (responde por cerca de

98% do mercado), tendo, portanto, uma grande responsabilidade e prioridade

para com seus clientes.

5.4.4 Unidade de Serviços Operacionais - DS

Essa área foi definida pela empresa como unidade de negócios, mas existe

uma peculiariedade que torna esse conceito um pouco paradoxal. Essa

unidade não realiza vendas externas, apesar de não possuir nenhum

impedimento em fazê-lo, a não ser por raras exceções, como é o caso da

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80

venda de serviços de informática e da venda de produtos da fundição, mas

essas vendas representam menos de 1% das receitas da empresa. É intenção

da empresa, porém, reverter um dia esse quadro, como foi possível perceber

pela colocação do diretor dessa unidade: “ algumas áreas, como pesquisa

(parte laboratorial), informática e logística têm condições tecnológicas e

capacidade para competir no mercado de prestação de serviços, nos falta

apenas uma melhor organização para atendermos ambos os mercados

(interno e externo à empresa) com qualidade”.

Essa unidade, como já se disse anteriormente, era responsável por uma gama

bem ampla de serviços, tendo como cliente, na grande maioria dos casos, a

própria Área de Negócio Aço, como também a Área de Negócio Infra-Estrutura.

Hoje, após muitas mudanças - com transferências e incorporações, atende à

Área de Negócio Aço e à Área de Negócio de Infra-Estrutura. A tendência,

dentro da empresa, é a de continuar enxugando esta área, de modo a agrupar

funções sinérgicas à Área de Negócio Energia, Infra-Estrutura e mesmo a Área

Corporativa. Ela se resumiria, no final, então, a uma área de tecnologia e

pesquisa.

Como mencionado acima, aconteceram transferências e incorporações de

atividades/funções. A atividade transferida foi:

• operacionalização da manutenção, que passou a ser realizada nas próprias

unidades produtivas, sendo que a tecnologia continua administrada pela

unidade de serviços.

Além disso, passou a incorporar a gestão de áreas, que anteriormente

encontravam-se diretamente subordinadas ao diretor da Área de Negócio Aço.

São elas:

• informática - desenvolvimento e atendimento ao usuário.

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• pesquisa e desenvolvimento - laboratórios de análise e tecnologia

/desenvolvimento.

• gerência de preços e informações de mercado - fundamental na época de

estatal de modo a gerir o monopólio de preços entre as três grandes do

setor. Com a globalização e o aumento de competitividade forçando a

empresa a trabalhar com preços de mercado, passou a ser utilizada mais

para informações e como auxiliar às áreas de vendas, no controle

informativo de preços.

• planejamento da produção - gerenciamento de todos os pedidos e

encomendas dentro da Usina. Como o processo é contínuo e integrado,

esta área está desvinculada das unidades de negócio produtivas, de modo a

não dar lugar a desigualdades de competitividade e avaliação de

performance.

Os serviços que permaneceram os mesmos foram:

• logística, tanto transporte de insumos (quer do porto, quer das minas) para a

Usina, como interno à Usina, e transporte de mercadorias vendidas até os

portos. A Sider possui 130km de linhas férreas dentro da UBV, operadas por

essa superintendência. Além disso, a contratação de frete

rodoviário/ferroviário também é feita e administrada por ela.

• compras, vai desde a compra de sobressalentes e itens de uso comum à

compra de matéria-prima. Na 1ª fase da reestruturação, a compra de

insumos estava sob a responsabilidade das unidades de negócio produtivas.

Descobriu-se, porém, que haveria ganho de escala e melhores negociações

com a recentralização dessa área.

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• tratamento/distribuição de utilidades - energia, água, vapor e gases - inclui

tratamento e distribuição de água, geração de vapor, redistribuição de

energia elétrica e gases do processo siderúrgico. Uma das grandes

vantagens competitivas da Sider é a fartura dos recursos hídricos, por estar

localizada às margens do rio Paraíba do Sul, e baixos custos no consumo

de vapor, oxigênio e nitrogênio, pela existência de uma fábrica de oxigênio,

hoje operada pela White Martins, dentro das instalações da UBV.

• oficina de reparos, incluindo compra de suprimentos, gerência dos

almoxarifados centrais e reparos em geral - componentes de equipamentos,

principalmente.

5.4.5 Unidade de Mineração

Como mencionado na descrição da estrutura atual, a mineração de minério e

fundentes, que responde à Área de Negócio de Infra-Estrutura, também é uma

unidade de negócios. Seu principal cliente é a unidade de Metalurgia,

pertencente à Área de Negócio Aço. Vende para clientes externos apenas o

excedente de produção, sendo que toda a sua distribuição é feita através de

uma das ferrovias controladas pela empresa.

Dela fazem parte duas instalações distintas, que datam da época da estatal.

Em Casa de Pedra, MG, existe a mineração do minério de ferro. Esta mina a

céu aberto, cujo direito de exploração foi concedido à empresa gratuitamente

pelo Governo Federal, na época de estatal, possui unidades de refino do

minério, estando nestes equipamentos e nos de exploração do minério bruto

seus únicos ativos. Este baixo nível de imobilização e os baixos custos de

extração, por ser mina a céu aberto, aliados às grandes reservas (capazes de

abastecer a Sider por cerca de 80 anos), fazem desta mina um dos ativos que

garantem a vantagem competitiva da Sider. Parte dessa produção é vendida

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no mercado nacional, sem prejuízo do abastecimento da UBV, que tem

absoluta prioridade.

A outra mina é de fundentes e fica em Arcos, MG. O calcário e a dolomita, aí

extraídos, são transportados por ferrovias até a UBV, onde alimentarão a

Calcinação e o Alto-Forno. Neste caso, não há venda direta de fundentes ao

mercado, mas de seus resíduos, que constituem excelentes adubos para

agricultura.

As duas minas são servidas por ferrovias, que levam até a UBV, em Volta

Redonda, seus produtos finais.

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Figura 6 Fluxo de Produção

Outrasmatérias-primas

Carvãoimportado

Coqueria

Minas deMinério deFerro, Calcárioe Dolomita

Sinterização Alto-Forno

Gusa

Aciaria

AçoLíquido

Laminador Tirasa Frio

BQD

Decapagem

BQ

LaminadorTiras a quente

Placa

LingotamentoContínuo

BF

GalvanizaçãoBF

Estanhamento FM,BNR, BCr

BZn

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5.5 DIFICULDADES E DESAFIOS

A 1ª fase do processo de reestruturação organizacional concentrou, sem

dúvida, o maior número de problemas. O primeiro deles foi a duplicação de

atividades, que ocorreu em níveis relativamente baixos. Atividades como

recursos humanos, processamento e análise de custo, e compras existiam em

maior ou menor escala em mais de uma unidade e/ou área. Com o passar do

tempo e a constante pressão por maior agilidade e precisão das informações e

por redução de custos, a administração percebeu que, recentralizando essas

atividades, haveria maior qualidade das informações processadas, além de

possíveis reduções de custos e de tempo. Como reportou um dos diretores das

unidades de negócios, “Um dos maiores problemas na nossa gestão atual é a

existência de mais de uma apuração para um mesmo fato, é arriscado demais

tomar decisões em cima de números pouco confiáveis”.

Essas atividades foram então recentralizadas para equacionar o problema do

aumento de custos e da qualidade de informações. Recursos humanos e

processamento e análise de custo (dentro da Controladoria) dentro do Centro

Corporativo (como mostrado na descrição da 3ª fase); e compras dentro da

Área de Negócio Aço, subordinada diretamente ao diretor da Área de Negócio.

Outro desafio enfrentado pela Sider foi o de lidar com o clima de

competitividade, beirando a rivalidade, entre as unidades de negócio. O diretor

da área de negócio aço, por vezes, era compelido a interferir em algumas

decisões e a contornar conflitos, buscando evitar uma tomada de decisão

prejudicial ao desempenho global da empresa. O desafio no caso era interferir

sem prejudicar a autonomia dos gestores dentro de suas unidades. Esse

problema foi contornado na 3ª fase com a troca dos gestores das unidades de

negócios. Eles foram transferidos para outros empreendimentos iniciados pela

empresa, como a usina no nordeste e os projetos ligados à produção de

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energia. Atualmente, segundo avaliação dos executivos da Sider, essa

situação está resolvida.

Outros grandes desafios, porém, permanecem até hoje. O primeiro é a

dificuldade em se apurar os resultados das unidades, devido ao alto grau de

interdependência entre elas. A apuração individual de resultados é

fundamental para que a direção possa avaliar o desempenho dessas unidades,

conhecer e analisar sua lucratividade, retorno e desempenho operacional.

Através dessas ferramentas a alta direção pode decidir com melhores e

maiores informações sobre onde concentrar investimentos, onde descontinuar

um negócio, entre outras decisões estratégicas.

Várias tentativas já foram feitas no sentido de contornar esse problema:

revisão e discussão do método de definição de preço de transferência e de

alocação de custos indiretos, e separação de outras contas de resultado e

contas patrimoniais por unidade. Estas tentativas serão detalhadas à frente.

Quanto a alocação de custos indiretos e de abertura de contas, o controller só

acredita que este problema estará resolvido quando o novo sistema de gestão

integrada (SAP R3 – mais detalhes na próxima seção) entrar em operação. Isto

porque dentro do seu projeto está a parametrização da entrada das

informações, de modo a permitir a separação de receitas, despesas, ativos e

passivos das unidades de negócios, viabilizando uma análise mais adequada

de seus desempenhos individuais.

O outro desafio, como colocado por um dos gerentes entrevistados, é

representado pela sobrecarga de trabalho para as pessoas das áreas de

apoio, principalmente corporativa. Com a centralização de tarefas, sempre há

um aumento na demanda por serviços, e com a estratégia da empresa de

aproveitar oportunidades de investimento que estejam surgindo, em termos de

privatização e/ou joint ventures, têm sido difícil, para alguns profissionais de

finanças e controle dar conta de todas as demandas envolvidas. A

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conseqüência direta disto é a perda de alguns bons profissionais, que se

evadiram devido às pressões no ambiente de trabalho.

5.6 SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL

5.6.1 As Medidas Financeiras na 1ª Fase

Com o início da valorização do controle gerencial, após a privatização, um dos

primeiros índices de medição de desempenho para o qual a Sider se voltou foi

o ROI, o qual adotou como medida única na avaliação da performance das

unidades de negócio.

Havia inclusive um trabalho, de consultoria externa, com as metas desse índice

para empresa, junto a seus fatores críticos de sucesso. Como este trabalho de

consultoria não sugeria como qualificar essas metas e esses fatores por

unidade de negócio, começaram a surgir as primeiras dificuldades.

Para compor o cenário, começa-se com uma descrição dos critérios/cálculos

na apuração do ROI. Primeiramente a fórmula usada é igual a de Du Pont,

onde ROI = Lucro Líquido/Vendas Líquidas x Vendas Líquidas/Ativo Total. A

primeira diferença vem na separação dos itens operacionais dos não-

operacionais para a composição do índice. Ao final, analisava-se o todo, mas

deste modo a controladoria acreditava poder ligar melhor a performance

operacional à financeira. Enfim, acreditava-se que as decisões pudessem ser

tomadas considerando estes dois aspectos fundamentais.

Nenhum tipo de ajuste gerencial era feito nos itens de composição do índice.

As informações eram colhidas diretamente na contabilidade. E, apesar de

alguns gerentes terem sugerido a realização de alguns ajustes a fim de

minimizar o risco de uma decisão mal-direcionada, a existência de uma

contabilidade gerencial, diferente da legal - cujo lucro era “palpável e real”, era

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vista pelos dirigentes das unidades de negócios como elemento de confusão

na tomada de decisão.

Para entender-se que tipo de mal-direcionamento poderia ser gerado, cabe

ilustrar alguns aspectos de apuração de itens do ROI. O imobilizado estava a

custo histórico depreciado, tendo sido reavaliado recentemente. Os gastos com

pesquisa e desenvolvimento eram considerados como investimento diferido,

apenas nos casos permitidos pelas regras contábeis. Os custos indiretos eram

alocados de três maneiras, dependendo do gasto e do centro de custo

envolvidos: proporcional à mão de obra, proporcional às horas de

funcionamento do equipamento e proporcional ao consumo de utilidades.

A decisão de investimento dependia de aprovação do Conselho de

Administração, e o ROI era utilizado também para avaliar viabilidade de

projetos. Se estivesse abaixo da meta estabelecida pelo Conselho, o projeto

tinha poucas chances de ser aprovado.

Como se pode ver pelo cenário traçado, a descentralização em unidades de

negócios trouxe muitas dificuldades à continuidade de apuração do ROI

condizente com a nova estrutura. Já que a contabilidade visava puramente

atender requisitos legais e que os investimentos eram tratados puramente sob

o ponto de vista financeiro e menos sob o ponto de vista estratégico.

Como já havia sido ressaltado por José Ricardo Alves Pinto (1997), em sua

tese sobre descentralização e controle gerencial, no estudo de caso da

empresa A, a apuração do capital empregado por unidade de negócio na Sider

possuía algumas particularidades. A separação de algumas contas

patrimoniais foi, então, o primeiro desafio para a apuração do ROI por unidade

de negócio.

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As disponibilidades e as dívidas não tinham como ser divididas de forma

considerada coerente por todos, mesmo a proporcionalidade com ativos fixos

foi considerada pouco justa, apesar de bastante prática; ao final acabou sendo

usada. Os estoques comuns a todas as unidades possuíam mensuração

individual totalmente inviável e por não se chegar a um acordo sobre como

fazê-lo, se acabou por adotar como alternativa a concentração destes na DS,

responsável pela sua administração.

Havia também a questão das metas de retorno a serem adotadas. As metas

estabelecidas, a partir da remuneração esperada pelos acionistas e da

cobertura de todos os recursos envolvidos na operação, eram globais, como

dividi-las de modo a não gerar sobrecarga em uma unidade e ociosidade em

outra? A solução encontrada pela administração, segundo pode-se perceber

foi a mola propulsora para a mudança de medida financeira dentro da Sider.

A Administração adotou uma meta única de retorno mínimo aceitável, baseada

no custo médio de capital e nas metas elaboradas pela consultoria externa.

Esse retorno era, então, aplicado ao capital empregado da unidade (ou ativo

total), e este montante era deduzido do lucro. Se o lucro ajustado fosse zero, a

meta teria sido cumprida, se positivo a meta teria sido superada ou vice-versa.

Por fim, o último desafio, nessa fase inicial e talvez um dos maiores, foi o

estabelecimento de um preço de transferência para os produtos e serviços

transacionados entre as unidades. Após muita discussão entre os dirigentes

das unidades e estudo/intermediação, por parte da controladoria, chegou-se a

um conceito definido e aprovado por todos.

O preço de transferência seria diferenciado para produtos e serviços. Os

produtos transferidos internamente, à exceção do ferro-gusa, possuíam preço

referencial de mercado. Desse modo, o preço de mercado seria a base. No

entanto, como a Sider vendia tanto para o mercado nacional como para o

mercado externo, e a diferença de preço entre ambos era grande - cerca de

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30% ou mais, far-se-ia uma ponderação tendo como base os volumes

destinados a cada mercado. E como o processo era contínuo, essa

ponderação partiria do cliente do último produto transferido, chegando até o

primeiro fornecedor - que estaria sendo influenciado pelas vendas nacionais ou

externas de toda a cadeia produtiva a sua frente.

A administração pretendia, com isso, tornar o preço mais adequado a realidade

de mercado, um equilíbrio entre comprador (que não pode negociar com

fornecedores externos) e fornecedor (que provavelmente não teria condições

de vender toda sua produção no mercado interno, onde os preços são

melhores).

Além disso, sobre esse preço base, incidiriam descontos, a serem acordados

pelas partes interessadas, baseados em fidelidade, inexistência de tributos,

menores despesas comerciais e outros. Estes incluiriam

abatimentos/acréscimos para os casos não rotineiros de: reprocessamento de

bobinas, pedidos emergenciais (que implicassem em mudança na

programação de produção) e produtos fora de especificação (com qualidade

inferior à requerida mas ainda passíveis de venda para outros clientes).

Com essa variável de desconto envolvida, a empresa pretendia estimular um

processo de negociação entre os gestores das unidades, para que eles

acordassem sobre os preços internos. O que aconteceu, porém, foi que esta

negociação acabou por arrastar o processo, pois o entendimento acerca do

preço ideal se mostrou extremamente difícil e demorado, como é visto mais

detalhadamente à frente.

Para o ferro-gusa e os serviços prestados pela DS, a base seria o custo orçado

mais um percentual que permitisse à unidade alcançar o retorno mínimo dela

esperado. Desta forma, quando a variação orçamentária fosse positiva a meta

teria sido superada, quando negativa não teria sido alcançada. Como o

orçamento era amplamente negociado e passava pela aprovação do Conselho

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de Administração, a administração acreditava, conforme colocou o próprio

diretor do Aço, na época, que não haveria perda de controle.

Como esta fase do processo de adaptação dos controles gerenciais à nova

realidade de empresa descentralizada da Sider foi descrita em detalhes na

tese de José Ricardo Alves Pinto (1997), mencionada anteriormente nessa

seção, não será aqui alongada.

O aspecto do preço de transferência, porém, pode e deve ser mais detalhado

neste estudo, devido a sua importância estratégica dentro deste processo de

descentralização, pelo elevado grau de interrelação entre as unidades de

negócios e, devido a maiores esclarecimentos sobre o seu processo, desde a

definição até o equacionamento dos conflitos.

Como já foi colocado, o critério acordado para preço de transferência foi o

preço de mercado. Este, entretanto, dependendo do mercado (interno ou

externo) varia em média 35%, por esse motivo a controladoria propôs a

ponderação dos preços em cada mercado, segundo a destinação dada ao

produto pelo seu cliente direto. Nesse momento começaram os conflitos.

Como os preços no mercado nacional são mais vantajosos, as unidades de

negócios privilegiam este mercado e com isso o preço de transferência pago

também aumenta. Além disso, havia a questão dos descontos. Os volumes

vendidos internamente são muito altos, especialmente dos laminados a

quente, e dificilmente esses produtos teriam saída no mercado nacional, pois

não haveria clientes suficientes. Os maiores conflitos se deram, então, nesta

parte do processo.

A unidade de laminação a frio (unidade-cliente) reivindicava um desconto a

altura de sua fidelidade e volume, e achava justo que esse preço se

aproximasse bastante do preço do mercado externo, já que a unidade de

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laminação a quente (unidade-fornecedora) não conseguiria vendê-lo no país.

Esta última, por sua vez, alegava que a unidade-cliente nunca conseguiria

comprar esse volume externamente e que sendo única fornecedora,

freqüentemente, era forçada a alterar seus planos de vendas, em função de

necessidades da laminação a frio. Por isso, achava justo que o desconto fosse

tal que aproximasse o preço mais ao do mercado nacional.

A controladoria, segundo depoimento do gerente responsável por esse projeto,

tentou resolver o problema promovendo debates entre as partes, conduzindo

estudos dos descontos concedidos a clientes, fazendo simulações de resultado

com diversas opções de preço, mas após quase um ano dessa intermediação

e de uma mudança estrutural (que juntou as laminações) ainda não havia um

acordo sobre desconto.

Foi somente após a interferência do diretor da área de negócios Aço, que

propôs um desconto baseado em preço internacional, que a questão foi

equacionada. Na mesma época também ocorreu a troca dos diretores de

unidades de negócios, que foram transferidos para a coordenação de novos

projetos na área. Desse modo, a arbitragem do preço pela alta direção

transcorreu sem problemas. Nas palavras de um novo diretor de unidade “O

importante é dar início ao processo de apuração dos resultados por unidade,

para que possamos, com o tempo, fazer as mudanças necessárias a fim de

que o preço de transferência possa ajudar a exprimir a realidade das unidades

dentro da empresa”.

Encerrando a questão da medição de performance das unidades, é preciso

mencionar a avaliação de seus gestores - superintendentes-gerais, diretores

de unidades de negócio e diretores de áreas de Negócio.

Para começar é preciso dizer que a Sider não possui avaliação formal de

desempenho para seus funcionários. Nesse sentido, existe muito mais uma

subjetividade de análise, a cargo puramente do superior imediato e, por vezes,

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de seus pares, conforme depoimentos dos próprios. Os únicos critérios

objetivos de análise e que passam por avaliadores de performance dos

gestores são o controle orçamentário e o alcance da meta de ROI

estabelecida. Desse modo, esse novo sistema influenciava sensivelmente a

avaliação dos gerentes.

Como, entretanto, não existia nenhum sistema de compensação ligado

diretamente ao desempenho, os gestores, conforme depoimentos colhidos

junto aos próprios, mostravam-se satisfeitos com as medidas usadas, já que, a

avaliação final, recheada por explicações circunstanciais e justificativas

racionais, acabava tendendo para a subjetividade citada acima.

De posse dessas medidas, a Sider apurou o ROI de suas unidades, até que

mudanças nos ambientes interno e externo guiaram a empresa para a adoção

de medidas, inicialmente puramente financeiras, mais condizentes com seu

cenário na época.

Deve-se ressaltar, porém, que nem nesse momento o ROI foi usado

efetivamente como instrumento de controle, o orçamento continuava a ser a

ferramenta usada para demandar melhores resultados e melhor desempenho

operacional. O ROI era usado apenas como referencial, sem constituir

verdadeiramente um indicador de desempenho.

5.6.2 Repensando as Medidas Financeiras

Com a transição para a 3ª fase da reestruturação organizacional, se começou

a pensar numa sofisticação dos controles existentes.

A diretoria e os gestores de unidades de negócios estavam insatisfeitos com a

demora no fornecimento das informações e com o baixo grau de confiabilidade

das mesmas. A própria diretora da área Corporativa colocou “Fica difícil

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preparar uma apresentação para o Conselho quando a cada dia informações

diferentes me são apresentadas, e a informação final correta só é repassada

na véspera, me deixando sem nenhum tempo de preparo”. Isto porque a Sider

estava trabalhando com diversos sistemas de processamento de informações,

que não se comunicavam entre si e deixavam muita margem de erro devido à

grande interferência humana no processo, quer através de digitação quer

através do processamento de alguns dados em microcomputador, em

planilhas.

Percebendo as dificuldades existentes com relação a sistemas e a

necessidade de integrar os diversos processamentos de dados, a fim de

manter a integridade e confiabilidade das informações geradas e agilizar a

tomada de decisões, a administração tomou a decisão de adquirir um sistema

integrado para geração e controle dessas informações. Após meses avaliando

propostas, se decidiu pelo Sistema R319, da empresa SAP.

Como o R3 é um sistema que interliga todo o processamento de informações

dentro da empresa, controlando desde as ordens de compra, passando pelo

processo produtivo e controle de pessoal, até os pedidos de clientes; é

possível rastrear diariamente a situação de uma determinada transação e/ou

investimento com rapidez e confiabilidade, o que agiliza bastante o processo

decisório. Mesmo o fechamento contábil que, na época, saía por volta do

oitavo dia útil, com o novo sistema a empresa disporá do balanço e

demonstração de resultados no 1º dia do período subsequente.

Outra vantagem proporcionada pelo sistema foi detectada na fase de estudos

para implantação do R3. A empresa percebeu que ele poderia solucionar o

problema da apuração dos resultados individualizados das unidades de

negócios, pois permitiria uma identificação mais apropriada dos gastos de cada

unidade, reduzindo a um mínimo os gastos a serem distribuídos através de 19 Sistema integrado de gestão, que possibilita às empresas integrar, desde o abastecimento até às vendas, todos os

seus sistemas de controle

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alocação de overhead. Com isso o cálculo do capital empregado poderá ser

processado sem aqueles ajustes de proporcionalidade mencionados na seção

anterior e o problema da alocação de custos estará então equacionado.

Somando-se a estas promessas futuras, o fato de que a Sider já possuía um

cálculo de rentabilidade mínima aceitável que era baseado no custo médio de

capital da empresa, o controle gerencial das unidades começou a se focar na

avaliação do seu RI - Lucro residual.

Quanto ao cálculo da rentabilidade mínima aceitável é preciso dizer que ela se

eqüivale ao custo médio de capital da empresa. Este, ao contrário do que foi

colocado por Solomons (1976) (ver capítulo 4), não constituía, então, um

problema à utilização do RI como medida de controle.

Analisando o histórico desse custo médio de capital retornamos a 1996. Nesta

época, uma nova gestão assumia a empresa recém-privatizada. Esta gestão

teve como prioridade a reestruturação financeira da Sider. Esse fator incluiu

diversas ações, sendo que as principais estavam relacionadas a novos meios

de captação de recursos – lançamento de títulos no exterior e operações de

securitização de exportações - e ao aumento do uso de capital de terceiros em

relação ao uso de capital próprio. Elas também abrangiam, porém, critérios

mais rigorosos para a aprovação de investimentos, quer internos ou externos.

Essas mudanças trouxeram consigo a necessidade de se controlar de perto o

custo médio de capital da empresa e de tentar reduzi-lo, já que ele estaria

sendo usado como critério para aprovação de projetos de investimento.

Foi assim que se conduziu um trabalho extenso de cálculo do custo médio de

capital, trabalho esse que até hoje é revisado e acompanhado de perto, pela

superintendência de planejamento estratégico, de modo a se ajustar a

mudanças no cenário econômico mundial e nacional.

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Definida a ferramenta de controle: lucro residual, ficou acertado, que, após a

entrada em operação do R3, as unidades passariam a ter um demonstrativo de

resultados, onde seria apurado seu lucro operacional, levando-se em conta as

vendas/compras internas ao preço de transferência - nos mesmos critérios já

citados. Ao final do relatório, seria calculado o capital empregado, tendo por

base as contas circulantes de cada unidade (capital de giro) mais o ativo

permanente a elas relacionados (sendo ele imobilizado, investimento ou

diferido). Sobre esse capital total, incidiria o custo médio de capital (ou taxa

mínima aceitável de rentabilidade). O valor residual restante mostraria o

cumprimento ou não dos objetivos da unidade.

Enquanto ele não entrasse em operação, haveria um esforço no sentido de se

apurar, ainda que não com 100% de acuidade, os resultados gerenciais das

unidades, através da controladoria.

Aliado a esse lucro residual, as unidades continuavam a ser cobradas por seu

desempenho orçamentário.

Neste momento pelo qual a Sider estava passando, os gestores das unidades

e áreas de negócio continuavam a ter sua avaliação de desempenho

totalmente vinculada ao desempenho de sua unidade ou área de negócio. O

critério, no entanto, continuava não sendo seguido a risca, já que a

subjetividade da avaliação continuava presente. A pressão por resultados

financeiros, tangíveis (como rentabilidade, principalmente), porém, começou a

crescer. E na opinião de alguns gerentes, não haviam muitas variáveis que

pudessem ser gerenciadas para melhoria de resultados, no nível esperado.

Os custos já estavam dentro de um programa de redução, e muitas vezes esta

dependia da finalização de investimentos de atualização/modernização.

Sobrava ainda o capital empregado. Este era de mais difícil manipulação. O

imobilizado, maior representante dentro do capital, era muitas vezes obsoleto,

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mas sua baixa dependia de aprovação do Conselho de Administração, que não

via com bons olhos essa despesa afetando o lucro da empresa.

Os investimentos, que também dependiam de aprovação do Conselho, eram

muitas vezes demorados e representavam grandes somas, o que também não

facilitava sua aprovação. Das contas circulantes, a única sob controle total da

unidade eram os estoques - onde esforços enormes estavam sendo

realizados para sua redução. O contas a receber e a pagar, apesar de ser

gerado pela unidade era gerenciado pela Área Corporativa, que nem sempre

encarava o gerenciamento e controle dessas contas sob o mesmo ângulo da

operação.

Logo, a responsabilidade de se gerar recursos acima do custo do capital

empregado, numa área de negócio altamente imobilizado como o siderúrgico,

começou a pesar sobre os ombros dos gerentes, e eles começaram a

demonstrar sua insatisfação com as novidades trazidas ao controle gerencial,

antes mesmo que ele começasse, formalmente, a existir, através da entrada

em operação do R3.

5.6.3 Medidas Não-Financeiras

Com a estrutura organizacional consolidada, aqui denominada de estrutura

atual, o entendimento do processo foi bastante facilitado. Com a produção do

gusa junto à metalurgia do aço, não era mais preciso usar o orçamento como

base de preço de transferência. Permanecia, porém, a questão de como

avaliar a unidade de Serviços (cujo preço de transferência também era

composto dessa forma) de maneira mais equilibrada, sem envolver apenas o

controle orçamentário.

A Controladoria sugeriu, então, que se montasse, junto ao pessoal da área, um

conjunto de medidas/índices que refletisse de maneira abrangente os fatores

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críticos de desempenho em todas as funções por ela englobadas. Melhor

dizendo, pretendia-se, com isso, a elaboração de um Executive Information

System (EIS)20 para monitoramento dos elementos-chave da unidade.

Segundo as palavras do gerente responsável pelo projeto “A empresa

precisava de um banco de dados confiável e de um sistema que permitisse

não só a captura como também o manuseio dessas informações de modo a

auxiliar os gestores nas tomadas de decisão”.

A Sider, então, contratou uma consultoria externa para auxiliá-la nesse

trabalho, sendo que havia dentro da empresa um superintendente-

patrocinador/defensor da idéia, que planejava e ainda planeja para a empresa

uma evolução nas medidas de desempenho empregadas e no fornecimento de

informações relevantes à tomada de decisões.

Dentro do escopo deste trabalho, foi feito um levantamento minucioso das

atividades da unidade de Serviços e de seus fatores críticos de sucesso, para

consolidar a proposição de índices que poderiam ser usados na sua avaliação.

Seus fatores críticos de sucesso enfocavam principalmente questões de custo,

qualidade, serviço e produtividade. Os índices propostos tratavam da evolução

de custos, controláveis e não controláveis; do percentual de atendimento ao

cliente e a metas da companhia; do nível de reclamações em relação à

qualidade dos serviços, entre outros.

Como as atividades são fundamentalmente de serviço, a consultoria chegou,

inclusive, a sugerir a adoção do sistema de custos ABC para essa unidade,

que funcionaria como módulo de teste para uma possível implantação desse

sistema na empresa como um todo, mas a idéia foi descartada tanto pela

diretoria como pelos gestores diretamente envolvidos, devido a sua

complexidade de implantação.

20 Sistema automatizado amigável e de acesso simplificado que permite ao gestor dispor e trabalhar as informações

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99

Com a satisfação demonstrada pela diretoria com os resultados deste

levantamento inicial, ele foi estendido às demais unidades. Com isso todas as

demais unidades da Área de Negócio Aço tiveram suas atividades esmiuçadas,

os fatores críticos de sucesso levantados, e índices de acompanhamento e

facilitação à tomada de decisão apontados.

Além dos itens já mencionados na unidade de serviços, os fatores críticos de

sucesso das unidades de negócios ligadas à produção englobavam aspectos

relativos a desempenho do pessoal, produtividade e retorno sobre novos

investimentos. Esses fatores foram, posteriormente, estendidos para a unidade

de Serviços. Os índices aprovados, então, se relacionavam basicamente a:

medidas de margem e lucratividade; prazos, desde a produção até a entrega;

desenvolvimento da força de trabalho; qualidade, com controle de custo; giro

de ativos e retorno sobre capital investido, ROI, valor presente de

investimentos, entre outros.

Dessa forma, a partir da necessidade detectada em uma unidade específica, a

empresa passou a possuir um sistema mais amplo de medidas, validado pelos

usuários e pelos controladores. Pelo menos era isso que se pretendia na

teoria, na prática o EIS das unidades ainda não saiu do papel. Problemas

como a inexistência de um sistema adequado para apuração e

acompanhamento das medidas não-financeiras ainda não permitiram que

estas fossem postas em prática.

5.6.4 Modernizando os Controles

Ao final de 1997, no início de minhas pesquisas, pude perceber que os estudos

que a empresa havia iniciado na tentativa de obter um controle melhor sobre o

desempenho de suas operações recentemente descentralizadas não haviam

sido postos em prática. Na teoria eles eram bastante satisfatórios, segundo

que julgue necessárias à tomada de decisão ágil e eficaz.

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100

apreciação da diretoria (todas as apresentações dos estudos acima foram

amplamente elogiadas e consideradas como mais um passo no caminho de

uma gestão moderna e voltada para resultados), mas na prática não havia

resultados. Esta situação levou a Administração a se voltar para o que estava

ocorrendo no cenário externo e em outras empresas, na tentativa de encontrar

uma solução mais prática e adequada.

A alta direção tinha noção de que para a Sider continuar a crescer e conquistar

mercado, num ambiente de grande competição global, era necessário, acima

de qualquer indicador não-financeiro, ter um perfil de empresa sólida, lucrativa

e que gera retorno para seus acionistas/investidores. É o mercado que

determina quem se aproveitará dos escassos recursos financeiros existentes.

E os boletins internos procuravam ressaltar essa idéia reforçando a

importância da imagem da empresa no mercado, principalmente em relação à

transparência dos reportes e à evolução tecnológica e financeira.

Com o início da crise da Ásia, em 1997, ficou claro que a estabilidade das

ações no mercado determinaria quem receberia os investimentos. Era preciso,

portanto, crescer no mercado acionário, aumentar o preço e/ou as perspectivas

relacionadas às ações da Sider. E as publicações internacionais de negócios,

como a Fortune21, por exemplo, indicavam o emprego cada vez mais difundido

de um novo indicador, o EVA22.

A decisão de se usar o índice ainda não foi completamente acertada, mas a

alta direção lhe tem dedicado atenção e estudo. As razões para tal ficam claras

ao analisarmos a trajetória da empresa. Como o EVA representa uma medida

de lucratividade, aliada a retorno e estruturação financeira, ele se apresentou

como uma alternativa para testar a reestruturação financeira executada

recentemente (citada na seção 5.6.2) ao mesmo tempo em que irá medir

21 Desde 1995, a Fortune publica uma lista das 1000 empresas com maior EVA e MVA22 Economic Value Added - Indicador desenvolvido pela Stern&Stewart, consultoria que detém sua trade mark ,

tendo sido a responsável pela sua implantação na maioria das empresas norte-americanas que adotaram esse índice

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101

lucratividade e retorno sobre capital investido. Isto tudo de uma maneira

facilmente comparável a outras empresas e transparente para os

acionistas/investidores quanto ao retorno do investimento e valorização de

suas ações. Este último motivo é explicado pela estreita relação do EVA com o

MVA (Market Value Added) que indica a valorização ou não da empresa no

mercado acionário.

Quanto à operacionalização do índice, a diretoria entende que a adoção do

EVA, neste momento, nada mais seria do que uma sofisticação e ampliação do

escopo do RI usado hoje para as unidades de negócios. E um dos aspectos

mais importantes é justamente o conhecimento e controle sobre o valor criado

por cada unidade de negócio, ou seja, sua contribuição para a agregação de

valor para os acionistas da Companhia.

A implantação já teve início, ainda que embrionário, pois está sendo feito um

estudo dos ajustes que seriam necessários, tendo sido calculados,

preliminarmente, o EVA global dos dois últimos exercícios, para comparação

com projetos futuros. Ainda não se sabe, no entanto, como esse processo se

dará em caráter definitivo e automatizado. Mas os primeiros passos para a

adoção do conceito já estão sendo dados.

Permanece, porém, pelo menos até a implantação do sistema integrado de

gestão R3, o problema de separar contas patrimoniais (necessárias ao cálculo

do capital total) por unidade de negócios. A administração acredita, entretanto,

que o processo de implantação do EVA possa evoluir junto ao do R3, para

que, já a partir de 1999, possa estar avaliando seus negócios por meio deste

índice.

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6 ANÁLISE

Neste capítulo far-se-á a análise dos fatores que levaram a Sider à

descentralização, dos desafios e problemas enfrentados e, por fim das

medidas de desempenho adotadas para avaliar suas unidades de negócios em

cada momento. Ao final, a análise recairá sobre as tendências e planos futuros

da empresa sobre o tema.

6.1 MOTIVADORES E DESAFIOS ASSOCIADOS À ESTRUTURAÇÃO EM

UNIDADES DE NEGÓCIOS

Analisando o movimento de reestruturação organizacional sob a ótica da teoria

contingencial, retratada por Burns & Stalker (1966), Woodward (1965) e

Lawrence & Lorsch (1967), a empresa percebeu a necessidade de adequar

sua estrutura interna às mudanças que estavam ocorrendo no ambiente

estratégico interno – grande diversificação e complexidade de atividades - e

externo – aumento da competitividade com entrada de competidores globais.

Esse foi um dos principais motivadores à descentralização.

Também se pode destacar que, assim como Drucker (1974) colocou a

necessidade das empresas de se dividirem em unidades descentralizadas,

como parte de uma necessidade de descobrir e alimentar seu core business,

da mesma forma o fez a Sider. Tendo nas mãos uma empresa de grandes

proporções, precisando de profunda reestruturação interna, vinda de um

mercado protegido e prestes a enfrentar competidores internacionais dentro e

fora do país, a alta administração tomou a decisão de descentralizar suas

unidades, entre outros motivos, para conhecer melhor seus negócios e buscar

excelência na gestão dos mais lucrativos.

Analisando esses fatores em detalhes, verificamos que a variedade de

produtos e a complexidade no fornecimento de informações e,

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conseqüentemente, na tomada de decisões também influenciaram esse

processo. Como abordou Vancil (1979), isso já estava ameaçando sua

competitividade, pois não sabia qual era o seu core business, e a tendência

era do cenário piorar, prejudicando a sobrevivência da empresa no longo

prazo.

Existe ainda o aspecto da possibilidade de se explorar novos negócios, trazida

pela maior flexibilidade de uma estrutura divisional (SLOAN, 1963), que

também está presente na empresa estudada. Como foi abordado na seção

5.2.1, o ambiente externo estava propício ao investimento em setores que

apresentavam sinergia com o siderúrgico, como energia e logística; o que

possibilitou a empresa se integrar verticalmente, segundo a estratégia adotada

após a privatização.

Além dos motivadores, existem problemas que merecem ser citados. Como

alertou Horngren (1985), o foco em resultados individuais, e não no resultado e

sucesso global da empresa pode minar a sobrevivência e excelência da

organização a médio ou longo prazo. A Sider, logo na 1ª fase de seu processo

de descentralização, presenciou uma competitividade quase nociva entre os

gestores das unidades de negócios. Essa situação foi contornada pela

habilidade do Diretor da Área de Negócio Aço que soube interferir no processo

sem minar a autonomia de seus gestores. Este talvez tenha sido um dos

principais motivadores na reformulação da divisão em unidades, ocorrida na 3ª

fase, e na troca de alguns gestores.

A duplicação de funções, também citada por Horngren (1985) também chegou

a ocorrer na empresa, novamente na 1ª fase do processo. Uma das medidas

tomadas para sanear esse problema, que ocorria principalmente com recursos

humanos e compras, foi um estudo por um consultor independente das

atividades ligadas a unidade de serviços operacionais. O resultado deste

trabalho pode ser visto no desenho da estrutura atual, onde a unidade foi

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bastante reduzida, e algumas tarefas foram recentralizadas na Área de

Negócio Corporativa.

A questão do preço de transferência, citada por Anthony & Govindarajan

(1995) também representou um desafio para a Sider. A empresa até então não

havia demonstrado indícios de ter um sistema implantado de preço de

transferência, apesar dos evidenciados esforços realizados nesse sentido.

A dificuldade na apuração de resultados é um problema que se evidencia na

descrição do caso. A interdependência entre as unidades de uma mesma área

e, por vezes, de áreas de negócio diferentes, é muito grande.

Soma-se a isso o fato de, devido a preferenciabilidade de negócios da linha de

revestidos (folhas metálicas), qualquer alteração no início do processo de

produção significar perda de produtividade e rentabilidade para os produtos

intermediários. Além disso, a coleta de informações, da maneira como foi

estruturada no passado, nem sempre atendia as necessidades de análise das

unidades separadamente.

Por esses motivos, a Sider não tem, até hoje, passados quase dois anos da

primeira restruturação, um sistema eficiente de apuração e controle de

desempenho de suas unidades de negócios, segundo depoimento do próprio

colegiado de diretores.

Um ponto positivo, porém, é a questão relativa ao risco na ênfase em retorno

de curto prazo, sem perceber que pode estar afetando a rentabilidade de

médio/longo prazo (ANTHONY, GOVINDARAJAN, 1995). Trata-se dos

investimentos em controladas. O retorno esperado é de médio e longo prazo e

nem por isso deixou de contar com a aprovação do Conselho. Isto porque são

percebidos como oportunidades estratégicas que não devem ser descartadas

por apresentarem retornos imediatos abaixo das metas estabelecidas. O

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105

mesmo comprometimento tem sido demonstrado para com os programas de

modernização da UBV.

6.2 CRITÉRIOS USADOS PARA APURAR DESEMPENHO

Para uma empresa, no passado, despreocupada com o aspecto de controle

gerencial dos resultados do negócio, a Sider seguiu os mesmos passos

iniciados por grandes corporações, principalmente norte-americanas, na

década de 50. A partir do momento que percebeu a importância de se gerar

retorno aos investidores do negócio - acionistas, a empresa procurou

relacionar lucratividade com o tamanho do capital investido para gerá-la. Isto é,

passou a usar o ROI como principal medida de desempenho, ainda global.

Contudo, alguns cuidados básicos citados por Dearden (1976) não foram

tomados. Os dados eram colhidos diretamente na contabilidade e, portanto,

valores referentes a imobilizado, gastos com retorno a médio/longo prazo e

outros itens corriam o risco de apresentarem distorções, devido a normas e leis

contábeis, que não possuem os mesmos objetivos do controle gerencial.

Isto porque, como vimos no caso, o desenvolvimento de uma contabilidade

gerencial alinhada com os interesses e estratégias da empresa, a fim de

prestar informações que mais auxiliassem a tomada de decisões, era

considerado como desnecessário, e até mesmo indesejado.

O que acontecia, conseqüentemente, era uma maior valorização do

cumprimento de metas orçamentárias do que o alcance de metas de ROI. Isto

porque sempre havia explicações para uma redução do ROI, como algum

investimento com retorno a longo prazo, por exemplo. O ROI continuava

existindo, mas servia apenas como referencial não atuando realmente como

fator de pressão e cobranças aos responsáveis pela gestão do negócio.

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Outro aspecto referenciado por Anthony & Govindarajan (1995) como um dos

principais desafios à apuração do ROI em empresas descentralizadas é a

questão do preço de transferência. Na Sider, a administração acreditava que

com o critério de preço de mercado, observados os ajustes referentes a

impostos, despesas de vendas e descontos, conseguiria estimular um

ambiente competitivo saudável entre as unidades. Entretanto, como pudemos

perceber o processo de negociação se prolongou por tanto tempo sem que

houvesse um acordo entre as partes, que foi preciso a interferência da diretoria

para que o problema fosse resolvido.

Com a empresa operando de forma descentralizada, a administração sentiu

necessidade de repensar suas medidas de desempenho. Além das

dificuldades em separar o investimento, ou capital empregado, pelas unidades

para cálculo do ROI, havia o problema de como avaliar este índice para cada

unidade, uma vez que os preços e mercados eram bem diferenciados entre

elas.

Como foi visto na seção 4.4, na abordagem do estudo sobre PIMS, conduzido

por Buzzel et alli, 1974, diferentes negócios demandam metas diferenciadas de

ROI, já que suas características específicas influenciarão nesse resultado. A

Sider, portanto, aparentemente, não tomou uma decisão acertada ao adotar

uma meta única de ROI para todas as unidades (com base no custo médio de

capital da empresa). Já que algumas unidades procuraram compensar

possíveis perdas com tentativas de adaptar critérios e objetivos do preço de

transferência às suas necessidades individuais, ao invés das necessidades

globais da empresa.

Uma empresa de capital intensivo como a Sider, com um alto custo fixo,

precisa adotar metas de ROI mais variáveis, como colocado por Lambrix &

Singhvi (1981). Especialmente em se tratando de unidades de negócios onde

quanto maior a imobilização da unidade, de menor valor agregado o produto

por ela produzido e comercializado.

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107

Ou se adotavam metas diferenciadas de ROI ou se usava um outro índice, que

atendesse essa distorção em relação a imobilização e custo fixo. Optou-se por

adotar um índice ligeiramente diferente, mas que não atendia à solicitação feita

acima. A Sider passou a usar o RI, que chamava de Lucro Operacional após

Juros s/Capital Empregado.

Em paralelo, na tentativa de solucionar uma situação individual, a empresa

tentou implantar o EIS. Era uma tentativa de introduzir medidas não-financeiras

na empresa, a exemplo do que fez a GE nos anos 1950 (DEAKIN, MAHER,

1991), para que o negócio começasse a ser analisado em todos os aspectos

relacionados.

Apesar dos quinze anos de atraso em relação a seus principais competidores

norte-americanos, cujo movimento em direção a medidas alternativas de

desempenho começou na década de 80, segundo Johnson & Kaplan (1987), a

Sider parecia estar no caminho certo. A contratação de pessoas de fora para

realizar o levantamento, com o concomitante envolvimento das pessoas-chave

de cada unidade, era, sem dúvida, o método mais recomendado pela literatura

para alcançar o sucesso.

Após meses de discussões, reuniões e pesquisas, no entanto, a empresa não

deu ao EIS a importância a que o documento se propunha. Os fatores críticos

de sucesso levantados e seus índices correlacionados abrangiam aspectos de

custo, qualidade, serviço, satisfação do cliente, rentabilidade, agilidade,

flexibilidade, enfim, tudo aquilo que Kaplan & Norton consideraram como

fundamentais e inseriram no balanced scorecard, em 1996, dentro de um

sistema completo de medição de desempenho. Este parece ser um caminho

adequado a tomar, na prática, porém, ainda não existem sistemas para medir e

acompanhar os índices relacionados a esses fatores, de modo que eles

possam realmente suportar decisões.

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Continuou-se, então, na mesma direção - ênfase em medida financeira. Dentro

das unidades, os superintendentes-gerais até eram cobrados pelo seu

desempenho em outros setores, como qualidade, agilidade e satisfação do

cliente, mas o bottom line valorizado pela alta administração, e pelo qual os

gestores eram responsabilizados e cobrados, era rentabilidade e cumprimento

de metas orçamentárias.

Apesar da grande pressão para reduzir custos e melhorar resultados

financeiros, não havia muita discricionariedade dos diretores nas decisões de

investimento, não-investimento ou mesmo desmobilização de ativos. Ao

contrário do exemplo dado pela Du Pont (como citaram JOHNSON, KAPLAN,

1987), que desde antes da segunda guerra mundial, já proporcionava a seus

gerentes alguma autonomia em decisões de investimento, na Sider, todas as

decisões em relação ao capital empregado da empresa, têm que ser levadas

ao Conselho de Administração e exigem sua aprovação.

Essa situação, além de tornar lenta a implantação de projetos de investimentos

(na maioria das vezes, relacionados a redução de custos), também colocava

sob a responsabilidade dos diretores de unidades e de área de negócio um

capital sobre o qual não tinham poder decisório. Isto acaba por dificultar o

atendimento às metas da Companhia.

Numa última tentativa, pelo menos até a época em que foi feita a análise, de

adequar as medidas de desempenho à estruturação e estratégia da Sider, a

alta administração colocou em estudo o uso de outra medida de desempenho,

também financeira, o EVA.

Como a proposta do EVA implica em uma análise evolutiva, dando maior

importância ao crescimento ou redução do índice do que a valores positivos ou

negativos, o problema de alta imobilização e custo fixo, que ocorre mais em

determinadas unidades, já citado anteriormente nesta seção, promete ser

resolvido. Não se estará adotando taxas diferenciadas de custo de capital, mas

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como o valor econômico adicionado será analisado comparativamente no

tempo, e não entre unidades, isto não representaria mais um problema.

6.3 MEDIDAS EM USO X TENDÊNCIA DE MERCADO

A Sider não apresentou, até o momento, uma ênfase coerente de intenção de

uso de um sistema de medidas de desempenho realmente completo, como o

balanced scorecard de Kaplan & Norton (1992), por exemplo. Suas inúmeras

tentativas de acertar, melhorar ou adequar medidas as suas particularidades e

objetivos atingiram apenas medidas financeiras. Desde o controle orçamentário

até o EVA, esses índices estão preocupados fundamentalmente com geração

de riqueza, com maior rentabilidade para o capital investido pelos acionistas. É

claro que a análise financeira é um importante objeto de análise, como

colocaram os mesmos autores citados acima. Porém, o que a maioria das

empresas, entre elas a Sider, parece ainda não ter percebido é que não é

apenas por esse tipo de análise que se pode avaliar verdadeiramente o êxito

de um negócio.

O que autores como Kaplan & Norton (1996), e outros com idéias semelhantes

(ver seção 4.5.3), procuraram mostrar é que a análise, a monitoração e o

controle de outros aspectos do negócio, como inovatividade, relacionamento

com o consumidor, relacionamento com a concorrência e melhoria de

processos internos, também podem, juntamente com os fatores financeiros,

levar a melhores resultados e também devem ser vistos como instrumentos de

geração de valor/riqueza para os investidores/acionistas.

Na Sider, porém, como foi possível perceber pelas entrevistas com

funcionários de variados escalões, ainda se confundem conceitos como

qualidade, por exemplo, com aumento de custos. Considera-se que alguns dos

aspectos citados como integrantes do balanced scorecard são apenas

geradores de custo.

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A idéia de análise de atividades e de value drivers, ou sistema ABC, já foi

abordada em algumas tentativas na Sider, mas a administração ainda crê que

os benefícios resultantes não compensariam o trabalho em se levantar suas

milhares de atividades rotineiras. Até mesmo para fazê-lo em pequenos

movimentos, com análises gradativas por unidade, a proposta foi rejeitada.

Resumindo, em relação à evolução no uso de medidas de desempenho, a

empresa está tentando encontrar alternativas melhores e, apesar da

administração acreditar que o ritmo de mudança esteja um pouco mais lento

do que o desejado, continua buscando a consolidação do sistema de controle.

Quanto a medidas alternativas (não-financeiras), como já foi mencionado na

análise do EIS, é preciso apenas do empenho da alta direção e um pouco mais

de tempo para para que a cultura organizacional se adapte às novas

demandas do cenário competitivo em que a empresa está inserida. A adoção

imediata de um sistema de indicadores mais completo poderia resolver muitos

dos problemas e desafios enfrentados pela empresa hoje, pois novamente

como colocaram Kaplan & Norton (1992), as medidas não-financeiras são um

reflexo no curto prazo do desempenho financeiro e da própria sobrevivência da

empresa no médio e longo prazo.

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7 CONCLUSÕES

O objetivo deste trabalho foi o de descrever o processo de descentralização e

medição de desempenho de unidades de negócios em uma empresa que, já

tendo sido alvo de estudos anteriores, passa por processos de mudança e

aprimoramento tão dinâmicos que permitiram, ou antes provocaram, esta nova

pesquisa.

Essencialmente, a decisão da empresa pela descentralização em unidades de

negócios surgiu da percepção da necessidade de adequar sua estrutura

organizacional às mudanças que estavam ocorrendo no ambiente estratégico

do setor, e do que isso poderia trazer em termos de identificação e valorização

do core business bem como de diversificação de investimentos.

Apesar dos desafios e problemas enfrentados, a Sider acredita ter um saldo

positivo nesse processo: ganhou competitividade reduzindo custos e iniciou

investimentos promissores buscando nichos de mercado em seus negócios de

maior rentabilidade. Na percepção dos entrevistados, isto foi alcançado devido

à gestão de especialistas nas áreas de negócios, o que permitiu à empresa

galgar novas expertises.

Os índices usados para medir desempenho divisional e global da empresa

foram expostos, discutidos à luz evolutiva desses conceitos na literatura de

controle gerencial e à luz do que há de mais moderno no setor. Além de

analisados sobre sua eficácia, pontos positivos e negativos.

Em relação a essa questão, o que se pode concluir é que a Sider se encontra

em pleno processo de aprimoramento de seus sistemas de controle gerencial.

Ainda não existe um sistema completo de medidas, a exemplo do balanced

scorecard, mas os trabalhos desenvolvidos para o EIS e os estudos iniciais do

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EVA indicam que a alta administração da empresa tem privilegiado o

desenvolvimento de um sistema eficaz de controle.

Diversas escolhas, em termos de modelos teóricos a serem utilizados no

sistema de controle gerencial, já foram feitas. A alta Administração da empresa

já sabe que precisará de indicadores não-financeiros que a auxiliem no

processo de tomada de decisão, e para isso já tem preparado um sistema de

EIS, desenvolvido passo a passo – desde a definição de fatores críticos de

sucesso à definição de critérios para os indicadores a serem acompanhados -

para todo as partes de seu processo produtivo. Além disso, já tem definidos os

índices de performance que serão utilizados – EVA e retorno sobre capital

empregado. E já sabe qual ferramenta será usada para a consolidação e

operacionalização do sistema – R3/SAP.

Pode-se concluir que está faltando consolidar todos essas escolhas em um

sistema de controle gerencial integrado e implantá-lo na empresa. Para isso,

além da operacionalização de fato do sistema, o caso mostra que seria

adequado um trabalho de gerenciamento da mudança. Este facilitaria a

aceitação e efetivo uso do sistema numa cultura organizacional muito forte,

que ainda guarda resquícios do tempo de estatal, e que mesmo após tantas

mudanças, ainda mostra indícios de reservas quanto a novos projetos sendo

implementados.

A Sider é uma empresa de grande porte, que tem evidenciado estar na busca

de uma maior competitividade nos mercados doméstico e internacional e que

está disposta a passar por mudanças/restruturações internas para crescer e se

adequar às suas estratégias. A alta administração acredita, porém, que os

funcionários e os sistemas de controle estão tendo dificuldades em

acompanhar o ritmo em que estas mudanças ocorrem. Isto pode levar ao

aparecimento de dificuldades, tais como: dúvidas quanto aos objetivos e metas

a perseguir, coleta inadequada de informações, insegurança quanto à

permanência na organização, desmotivação, entre outros.

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Reforçando o que já foi colocado ao concluir o arcabouço teórico, as empresas

estão demandando atualmente, ainda que muitas ainda não o tenham

percebido, sistemas mais adequados ao fornecimento de informações

precisas, pontuais, analíticas e atuais. Esses sistemas devem não só avaliar

como também motivar as unidades descentralizadas e seus gestores, qualquer

que seja sua função ou localização dentro da organização. Esse é um passo

muito importante no caminho para o sucesso. Ele provê o apoio de que a

empresa precisa para satisfazer melhor seus consumidores dentro de sua

estratégia, fator decisivo no cenário competitivo atual.

Finalmente, este trabalho deixa um campo fértil para pesquisas de

aprofundamento em sistemas de controle gerencial desta ou de outras

empresas, estudos de acompanhamentos das mudanças no controle gerencial

em relação a medidas de desempenho da Sider, ou mesmo a abordagem de

outros aspectos de controle como: análise de desempenho, a questão do

preço de transferência, avaliação do gestor ou ainda a questão da estratégia

nas tomadas de decisão gerenciais.

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