controle de armas de fogo no brasil, criminalidade e

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Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324) 305 MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa Gun control in Brazil, criminality and self-defense Submetido(submitted): 30/04/2016 Rodrigo Sérgio Ferreira de Moura * Parecer(revised): 23/05/2016 Aceito(accepted): 26/09/2016 Resumo Propósito – Discutir o controle de armas de fogo no Brasil, dando ênfase à incapacidade do Estado em retirá-las das mãos dos criminosos e reduzir a assustadora criminalidade, em especial o número de homicídios cometidos por essas armas, deixando o cidadão a mercê da sua própria sorte, sem qualquer mecanismo de proteção à sua disposição. Metodologia/abordagem/design – Análise de normas e literatura sobre o controle de armas de fogo e munições no país, de dados sobre mortes violentas cometidas por armas de fogo, da questão legal da legítima defesa pelo cidadão, dos resultados sobre a criminalidade após o Estatuto do Desarmamento. Resultados – O controle de armas de fogo adotado no Brasil não tem se mostrado eficaz no combate à criminalidade e nem na redução da violência, sobretudo no número de homicídios. Este modelo prioriza, apenas, a restrição e a dificuldade para a aquisição e o uso de armas de fogo e munições pelo cidadão, pois não dispõe de mecanismos capazes de, efetivamente, desarmar o criminoso e nem coibir a circulação de armas no país, tampouco evitar o ingresso destas, de forma ilegal, pelas nossas fronteiras. Apesar da garantia, em nosso ordenamento jurídico, da autodefesa pelas pessoas para a proteção à vida, à liberdade e ao seu patrimônio e a terceiros, o Estado brasileiro não tem propiciado meios ou tem dificultado bastante para aqueles que tenham a necessidade e optem por exercê-la. Implicações práticas – Demonstrar a ineficácia do modelo regulatório de controle de armas no Brasil e os limites impostos à autodefesa pelo cidadão, frente à crescente criminalidade e a impotência do Estado em manter a paz pública. Palavras-chave: Estatuto do desarmamento, criminalidade, incapacidade do Estado, autodefesa. Abstract Purpose – Discuss the firearms control in Brazil, highlighting the State’s inefficiency to deter the access of criminals to weapons and reduce the increase of crimes, especially homicides, leaving citizens unprotected, at their own fate, without any mechanism at their disposal. * Graduado em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba e em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba. Possui especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande. É professor efetivo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, onde atuou como Assessor Jurídico, Pró-Reitor de Extensão e Cultura, Presidente da Fundação de Apoio e Pró-Reitor de Assuntos Estudantis. Email: [email protected].

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Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324) 305

MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016.

Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa Gun control in Brazil, criminality and self-defense

Submetido(submitted): 30/04/2016

Rodrigo Sérgio Ferreira de Moura* Parecer(revised): 23/05/2016 Aceito(accepted): 26/09/2016

Resumo

Propósito – Discutir o controle de armas de fogo no Brasil, dando ênfase à incapacidade

do Estado em retirá-las das mãos dos criminosos e reduzir a assustadora criminalidade,

em especial o número de homicídios cometidos por essas armas, deixando o cidadão a

mercê da sua própria sorte, sem qualquer mecanismo de proteção à sua disposição.

Metodologia/abordagem/design – Análise de normas e literatura sobre o controle de

armas de fogo e munições no país, de dados sobre mortes violentas cometidas por armas

de fogo, da questão legal da legítima defesa pelo cidadão, dos resultados sobre a

criminalidade após o Estatuto do Desarmamento.

Resultados – O controle de armas de fogo adotado no Brasil não tem se mostrado eficaz

no combate à criminalidade e nem na redução da violência, sobretudo no número de

homicídios. Este modelo prioriza, apenas, a restrição e a dificuldade para a aquisição e o

uso de armas de fogo e munições pelo cidadão, pois não dispõe de mecanismos capazes

de, efetivamente, desarmar o criminoso e nem coibir a circulação de armas no país,

tampouco evitar o ingresso destas, de forma ilegal, pelas nossas fronteiras. Apesar da

garantia, em nosso ordenamento jurídico, da autodefesa pelas pessoas para a proteção à

vida, à liberdade e ao seu patrimônio e a terceiros, o Estado brasileiro não tem propiciado

meios ou tem dificultado bastante para aqueles que tenham a necessidade e optem por

exercê-la.

Implicações práticas – Demonstrar a ineficácia do modelo regulatório de controle de

armas no Brasil e os limites impostos à autodefesa pelo cidadão, frente à crescente

criminalidade e a impotência do Estado em manter a paz pública.

Palavras-chave: Estatuto do desarmamento, criminalidade, incapacidade do Estado,

autodefesa.

Abstract

Purpose – Discuss the firearms control in Brazil, highlighting the State’s inefficiency to

deter the access of criminals to weapons and reduce the increase of crimes, especially

homicides, leaving citizens unprotected, at their own fate, without any mechanism at their

disposal.

*Graduado em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba e em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba. Possui especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande. É professor efetivo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, onde atuou como Assessor Jurídico, Pró-Reitor de Extensão e Cultura, Presidente da Fundação de Apoio e Pró-Reitor de Assuntos Estudantis. Email: [email protected].

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Methodology/approach/design – Analysis of the literature and standards on firearms and

ammunition control in Brazil, on violent deaths by firearms indexes, on the legal self-

defense issue, on crime rates after the Disarmament Statute.

Findings – The firearm control adopted in Brazil has been ineffective in fighting

criminality and reducing violence, particularly homicides. This model solely prioritizes

the restriction and difficult on the acquisition of guns and ammunitions by citizens, since

it neither have mechanisms to effectively disarm criminals and restrain the firearms black

market, nor prevent its illegal entrance across our borders. Despite the guarantee of self-

defense in our legal system for life protection, the Brazilian State has not brought any

means to guarantee this provision or has made it difficult enough for those who have a

need or choose to exercise it.

Practical implications – This paper demonstrates the ineffectiveness of firearms control

in Brazil and all the barriers for self-defense, facing the rising criminality rates and the

State’s impotence in maintaining public peace.

Keywords: Disarmament statute, criminality, State’s ineffectiveness, self-defense.

Introdução

No Brasil, são lugares comuns crimes de homicídio, latrocínio, roubo,

estupro, entre outros crimes que causam repulsa. O Estado não consegue

desempenhar bem o seu papel de guardião dos direitos fundamentais do cidadão,

e não consegue se fazer presente nem mesmo para apurar tais crimes, pois,

apenas cerca de 8% dos homicídios são elucidados no país.

O Estado não é onipresente e, portanto, não pode garantir, de forma

direta, a segurança de todos ou de quase ninguém. Neste sentido, há diversos

questionamentos se o Estado poderia retirar do cidadão o seu direito a

autodefesa, para defender direitos fundamentais básicos, como o direito à vida, à

liberdade e a segurança, pois, em situações que aquele viesse a sofrer uma

injusta agressão e esta pudesse acarretar risco à sua vida ou mesmo à sua

liberdade, o cidadão, caso necessitasse ou quisesse, poderia estar preparado para

se defender, sobretudo quando o Estado não pudesse fazê-lo, e quando não deu

causa àquela agressão, devendo, por óbvio, responder pelos excessos e crimes

que venha a cometer com o uso, por exemplo, de armas de fogo.

Ainda que não disponha de uma política pública apropriada de

enfrentamento à criminalidade, o Estado brasileiro tem demonstrado um receio

de que cidadãos possuam armas de fogo e possam cometer crimes,

principalmente homicídios. A questão que se apresenta é se o Estado pode

intervir de tal modo na esfera privada do cidadão, impedindo-o de, caso

necessite e queira, se autodefender, inclusive com o uso de armas de fogo. As

agressões sofridas pelo cidadão atingem desde os seus bens, passando por

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humilhações, inclusive com graves lesões à honra de sua família, com um

número assustador de estupros, lesões corporais e muitas vezes até à morte.

A doutrina dos direitos do homem é o pressuposto filosófico do Estado

de direito, segundo a qual aquele têm por natureza certos direitos fundamentais,

como o direito à vida, à liberdade, à segurança – que o Estado deve respeitar e

ao mesmo tempo proteger contra toda possível invasão por parte de terceiros.

Atribuir a alguém um direito, significa reconhecer que ele tem a faculdade de

fazer ou não fazer algo e também o poder de resistir, recorrendo, em última

instância, à força contra o eventual transgressor (BOBBIO, 2000, p. 10).

Desde a entrada em vigor da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do

Desarmamento), que visou restringir o porte de arma de fogo para civis e

dificultar até mesmo a sua posse, o Governo Federal promoveu várias

campanhas para reduzir o número de armas de fogo nas mãos dos cidadãos,

apoiando-se na ideia de que conseguiria diminuir os índices de criminalidade.

Entretanto, essa tentativa de redução da criminalidade, inclusive com a entrega

de armas de fogo em troca de uma restituição em dinheiro, não surtiu o efeito

esperado, como se verifica após doze anos da aplicação do Estatuto. Pois,

apenas os cidadãos que temem o império da lei compareceram aos órgãos

policiais para entregá-las.

O ideal seria que as armas fossem retiradas, também, das mãos dos

criminosos, que buscam tirar proveito desse ambiente. Leis restritivas ao acesso

às armas são respeitadas, apenas, pelos cidadãos honestos (GOTTLIEB e

WORKMAN, 2011, p. 26). A solução para esse problema divide especialistas

que defendem ou condenam o desarmamento da população.

Inicialmente, será analisado o controle de armas de fogo no país, em

especial o Estatuto do Desarmamento. Trataremos, ainda, de algumas

experiências sobre o desarmamento em alguns países. Na sequência,

abordaremos o aumento da violência em nosso país, sobre tudo no número de

homicídios, mesmo após o advento desse Estatuto, e falência do Estado em

promover a segurança e paz pública, no sentido de assegurar a fruição dos

direitos fundamentais pelos cidadãos, que a cada dia mais têm sidos deixados a

mercê dos criminosos, que continuam muito bem armados, pois o citado

dispositivo legal em nada lhes afeta, pois não compram armas nem munições em

lojas.

No item seguinte, discutiremos sobre o papel do Estado regulador e a sua

intervenção direta na segurança pública e na vida das pessoas, afetando o direito

do cidadão à legítima defesa, tendo como base à proteção à vida, à liberdade e à

segurança, amplamente assegurados na Constituição Federal e no Código Penal

brasileiro, ante a limitação imposta pelo poder estatal ao uso de armas de fogo,

após a promulgação da Lei 10.826/2003. Aqui a questão central é saber se o

Estado pode intervir de tal modo na esfera privada do cidadão, decidindo o que é

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melhor ou pior para ele, em relação à sua segurança pessoal, uma vez que a

maioria da população tem se mostrado contrária a essa interferência, como

demonstrou, por exemplo, no referendo sobre o desarmamento.

O modelo de desarmamento adotado no Brasil não tem se mostrado

eficaz na redução da criminalidade, principalmente no número de homicídios.

Os criminosos continuam fortemente armados, em vários casos até bem mais

que os policiais, e os cidadãos não dispõem de mecanismos de proteção contra

esta violência que assola todo o país. O número de homicídios por armas de

fogo tem crescido bastante mesmo após a vigência do Estatuto do

Desarmamento.

Com as restrições trazidas por este Estatuto, o Estado brasileiro, por uma

decisão política (mas também ideológica), passou a limitar em muito o exercício

do direito da autodefesa pelo cidadão, apesar da afirmação expressa dessa

garantia em nosso ordenamento jurídico.

1. O Estatuto do Desarmamento

A Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003, conhecida como Estatuto do

Desarmamento, dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo

e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas (SINARM), define crimes e dá

outras providências. Este Estatuto foi criado para restringir o porte de arma de

fogo a civis, limitando bastante os requisitos para a sua obtenção. Foi colocada

em vigor não apenas uma proibição para o uso de arma de fogo, mas também

restrições quanto ao registro, posse e comercialização, já que a intenção da lei é

reduzir a criminalidade praticada com o uso dessas armas.

De acordo com Teixeira (2005), os principais argumentos dos defensores

do desarmamento, que motivou a aprovação da supracitada lei, residem no

número expressivo de homicídios ocorridos no Brasil entre 1980 e 2000: foram

586.367, destes dois terços ocorreram somente nos anos 90. Para Facciolli

(2010), o Estatuto do Desarmamento foi criado por pressão intensa da mídia e de

ONGs, que promoveram a ilusão de que a proibição da venda e da restrição ao

porte de armas de fogo poderia acabar com a violência. As ações criminosas

organizadas, que financiam e são sustentadas por diversas atividades ilícitas,

além do tráfico de drogas e armas, desafiam os sistemas policiais locais. O crime

organizado constitui-se numa ameaça à própria democracia.

No ano de 2005, realizou-se um referendo popular em que a população

decidiu, por 2/3 dos eleitores, pela não proibição ao comércio de armas e

munições no país, demonstrando o seu descontentamento e sua posição contrária

ao desarmamento. Daí, se esperava que o governo respeitasse a vontade popular

pela defesa pessoal, ainda que aquele seja contra ideologicamente, uma vez que

não conseguiu convencer a população, pelo debate democrático, em votar sim à

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proibição do comércio de armas e munições no país. Na verdade, o argumento

utilizado pelo Estado é aquele que embasa a maioria de objetivos obscuros: "O

cidadão não sabe o que é melhor para ele. Nós sabemos!"

Bobbio (2000, p. 19), observando os limites do poder do Estado, assevera

que no estado de direito deve haver a subordinação das leis ao limite material do

reconhecimento de alguns direitos fundamentais considerados

constitucionalmente. Neste mister, haveria essa subordinação do Estatuto do

Desarmamento, ao limite material do reconhecimento do direito fundamental à

vida, à liberdade e à segurança, expressos em nossa Constituição Federal?

Na concepção Kantiana, a validade do direito relaciona-se com a conexão

entre coação e liberdade. A coação só se justifica como impedimento de um

obstáculo à liberdade. Neste sentido, pergunta-se se existiria obstáculo à

liberdade de alguém pelo fato de algum cidadão possuir ou portar armas para sua

legítima defesa? Ainda que a resposta possa ser negativa, essa conduta é tratada

pelo Estatuto do Desarmamento como um fato típico – e poderia abranger a

maioria das pessoas, pois só em raríssimas exceções é que se concede um porte

de arma. Tal fato cuida-se, na verdade, de crime de mera conduta (crimes sem

resultado, em que a conduta do agente, por si só, configura o crime,

independentemente de qualquer alteração do mundo exterior), que embora

pudesse reduzir o nível de segurança coletiva, não se equiparam aos crimes que

acarretam lesão ou ameaça de lesão à vida, à liberdade ou à propriedade, que

chegam a níveis alarmantes em nossa sociedade.

Ao analisarmos a decisão do STF sobre ação de declaração de

inconstitucionalidade de alguns artigos do Estatuto do Desarmamento (ADI

3.112-1 Distrito Federal), pode-se ver, claramente, a disposição daquele tribunal

constitucional em manter a constitucionalidade da citada lei, ainda que o relator,

o Ministro Ricardo Lewandowski, trouxesse para a discussão argumentos

poucos sólidos para justificar e embasar seu posicionamento, o que foi seguido

pelos demais ministros. Ele afirma o seguinte:

“Como se nota, as ações diretas de inconstitucionalidade ora ajuizadas trazem

ao escrutínio desta Suprema Corte tema da maior transcendência e atualidade,

seja porque envolve o direito dos cidadãos à segurança pública e o

correspondente dever estatal de promovê-la eficazmente, seja porque diz

respeito às obrigações internacionais do País na esfera do combate ao

crime organizado e ao comércio ilegal de armas.” (Grifos nossos)

De fato este tema é da maior transcendência e atualidade, entretanto o

direito dos cidadãos à segurança pública só será promovido pelo Estado através

de políticas eficazes, que combatam diretamente a criminalidade na sua gênese e

não se faz com um mero dispositivo legal, que visa apenas à limitação ao

cidadão à compra e ao porte de armas, pois criminosos não compram armas em

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lojas. Na verdade, o uso do termo Estatuto do Desarmamento para designar a

supracitada lei é inapropriado, pois ele não desarma o criminoso e nem mesmo

consegue retirar das mãos dos civis as armas sem registro, apenas, regula o

direito à posse e ao porte de armas de fogos e munições pelo cidadão.

Algumas campanhas associadas à política de desarmamento é que

conseguiram uma entrega voluntária muito pequena de armas de fogo,

considerada a quantidade de armas ilegais disponíveis no Brasil, em face da

cultura armamentista que sempre predominou nesse país, só alterada,

efetivamente, a partir da edição da Lei 10.826/2003.

Também, a despeito das “obrigações internacionais do país na esfera do

combate ao crime organizado e ao comércio ilegal de armas”, como citou o

Senhor Ministro, o referido Estatuto nada pode fazer. Pois, sua política, como

dissemos acima, é voltada basicamente para a restrição à compra de armas de

fogo legais e ao porte por cidadãos. É verdade que tipifica os crimes por tráfico

de armas de fogo e comina penas, sem, no entanto, oferecer mecanismos de

combate ao crime organizado e ao comércio ilegal de armas. O Estado precisa

implantar outras políticas públicas, muito mais duras e efetivas, que possam

garantir uma maior tranquilidade para a nossa sociedade.

Ainda, nas considerações do relator:

“A análise da higidez constitucional da Lei 10.826, de 22 de dezembro de

2003, denominada Estatuto do Desarmamento, deve ter em conta o disposto

no art. 5º, caput, da Constituição Federal, que garante aos brasileiros e

estrangeiros residentes no País o direito à segurança, ao lado do direito à

vida e à propriedade, quiçá como uma de suas mais importantes pré-

condições.

Como desdobramento desse preceito, num outro plano, o art. 144 da Carta

Magna, estabelece que a segurança pública constitui dever do Estado e, ao

mesmo tempo, direito e responsabilidade de todos, sendo exercida para a

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Trata-se, pois, de um direito de primeira grandeza, cuja concretização exige

constante e eficaz mobilização de recursos humanos e materiais por parte do

Estado.” (Grifos nosso)

Ao fazer essa análise, o relator não consegue demonstrar essa conexão

entre o Estatuto do Desarmamento e à proteção ao direito à segurança, à vida e à

propriedade. De fato, a segurança pública constitui dever do Estado, que deve na

sua promoção utilizar-se das mais variadas políticas públicas que garantam esse

direito, de primeira grandeza, à população. No entanto, não será este instrumento

legal que conseguirá esse desiderato, pois não ficou demonstrado como

conseguirá este Estatuto garantir o direito à segurança, à vida e à propriedade,

uma vez que não trata de qualquer política de segurança para o combate à

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criminalidade desenfreada que assola o nosso país, numa crescente assustadora

de roubos, latrocínios, estupros, tentativas de homicídios e o aumento

significativo da quantidade de homicídios, com números que superam em muito

várias guerras ocorridas nas últimas décadas pelo mundo afora.

Basta pegarmos os dados do mapa da violência de 2015 (WAISELFISZ,

2015), que mostra o número de assassinatos por armas de fogo no país e aponta

que ocorreram 37.979 mortes por armas de fogo no ano de 2002, anterior

ao Estatuto do Desarmamento e em 2012, o número de mortes, por essas armas,

chegou a incríveis 42.416. Neste sentido, a restrição às armas de fogo não tem

conseguido diminuir a criminalidade. O crime continua sendo alimentado com

armas de origem ilícita, algo que o Estado simplesmente não consegue controlar,

pois os criminosos não adquirem armas nas lojas, com a autorização da polícia

federal.

A grande maioria da população concordaria que, em se tratando de

políticas públicas de desarmamento, o mundo ideal seria aquele em que as armas

de fogo fossem retiradas da população, mas principalmente das mãos dos

criminosos. Todavia, leis restritivas ao acesso às armas somente são respeitadas

pelos cidadãos cumpridores de seus deveres. Não são cumpridas pelos

criminosos.

De todo modo, algo precisava ser feito para a regulamentação do

comércio, registro, posse e porte de armas de fogo no país, pois até a alguns

poucos anos, o porte de arma de fogo ilegal era considerado apenas uma

“contravenção” e não um crime. E o acusado poderia livrar-se de prisão simples

pagando uma multa. Ocorre que, com essa regulamentação muito rígida, e

desnecessária para alcançar os seus fins, perdemos a oportunidade de

incentivarmos, de fato, a população a procurarem registrar suas armas nos

órgãos de segurança pública (que não poderia ser somente a polícia federal,

devido a sua estrutura não alcançar todo o país), pois existem milhões de armas

não registradas pelo país e o governo não tem qualquer controle sobre as

mesmas.

Segundo estimativas, o país contava com um vasto arsenal de mais de 15

milhões armas de fogo somente em mãos privadas, sendo 6,8 milhões

registradas e 8,5 milhões não registradas, dentre estas 3,8 milhões em mãos de

criminosos (WAISELFSZ, 2015).

Se o governo tivesse olhado para o problema sem sensacionalismo,

sobretudo para atender a pressão da mídia e de algumas ONG’s, poderíamos ter

dado os primeiros passos para uma correta regulamentação dessa matéria, uma

vez que as pessoas poderiam buscar regularizar suas armas e o Estado ganharia o

apoio da população para combater mais duramente as armas ilegais, mesmo em

posse dos cidadãos. Parte dessas armas ilegais vai parar nas mãos dos

criminosos.

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Carvalho Netto (2003) enfatiza que o Congresso acaba cedendo aos

meios de comunicação de massa o papel que deveria ter na formação da opinião

pública e na agenda do debate nacional. Há a necessidade de uma reflexão

comprometida com a efetividade dos direitos fundamentais, que necessariamente

se desafie a reconhecer os riscos e os limites da racionalidade humana para com

eles melhor lidar.

Ainda, de acordo com Carvalho Netto:

“O problema, entretanto, atine ao fato de que nem sempre (e principalmente

nos chamados casos difíceis) o desrespeito às condições democráticas

apresenta-se de modo bem evidente. Ao revés: as especificações e exigências

concretas de determinadas cláusulas constitucionais (vida, dignidade humana

e igualdade, por exemplo) costumam suscitar profundas divergências,

sobretudo em sociedades pluralistas, como a brasileira”.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal declararam a

constitucionalidade do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003) em 2007.

Apenas três artigos do Estatuto foram anulados. A partir dessa decisão,

entendemos que o STF passa a considerar o Estatuto do Desarmamento como

uma política pública adequada para atender aos objetivos constitucionais de

proteção à vida e à segurança - individual e pública.

Para Waiselfisz (2015), os dados disponíveis indicam que essas políticas,

se conseguiram sofrear a tendência do crescimento acelerado da mortalidade por

armas de fogo imperante no país até 2004, não foram suficientes para reverter o

processo e fazer as taxas regredirem. Faltaria ainda uma série de reformas

necessárias, cuja protelação estabeleceria limites intransponíveis às políticas do

desarmamento, como a reforma do código penal, das instituições policiais, do

sistema prisional, o enfrentamento da impunidade vigente e as transgressões

institucionais de diversos organismos encarregados de fazer cumprir as leis.

As mortes por armas de fogo deram certa freada entre 2004 (primeiro ano

após a aprovação do estatuto do desarmamento) e 2011, mas não reduziram,

como se esperava com o estatuto do desarmamento, para depois disparar em

2012.

Um argumento utilizado para justificar o Estatuto do Desarmamento

(apesar deste não ter reduzido o número de homicídios), é que ele poupou 160

mil vidas entre 2004 e 2012. Para tanto, utilizou-se uma série entre os anos de

1993-2003 e aplicou-se um modelo caracterizado de Experimento de Séries

Temporais, para calcular ano a ano, desde 2004, quanto seria a estimativa do

número de mortes causadas por armas de fogo, caso o Estatuto não tivesse

entrado em vigor. Nessa década de 1993-2003, os homicídios por armas de fogo

passaram de 17.002 para 36.115, um aumento de 112,4%, e 7,8% de

crescimento anual.

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Nesse sentido, em 2004 deveriam ser esperados 38.939 homicídios na

população total, mas aconteceram, somente, 34.187. Se tivesse sido mantida a

desenfreada tendência de crescimento dos homicídios por armas de fogo,

deveriam ocorrer 71.118 mortes em 2012, mas foram registradas, apenas,

40.077. Assim, desde 2004 teriam sido evitadas um total de 160.036 homicídios

por armas de fogo (WAISELFISZ, 2015).

Para esse autor:

“Uma crítica ingênua dos que defendem a revogação do Estatuto do

Desarmamento é que esta lei não teria sido capaz de fazer diminuir a

criminalidade no Brasil, especialmente nos estados do Norte e do Nordeste,

onde a taxa de homicídio aumentou vigorosamente nos anos 2000.

Obviamente, tal crítica é simplória porque a questão das armas de fogo é

apenas um dos muitos elementos que concorrem para condicionar o crime e,

em particular, os homicídios”.

O simples acesso a arma de fogo numa situação de conflito interpessoal

comum (brigas de bar, de vizinhança, de família etc), pode ser um fator

necessário ou mesmo suficiente para que resulte em uma morte, até indesejável

ao próprio agressor (TEIXEIRA, 2005). A apreensão de armas, os flagrantes de

porte de arma, o endurecimento das leis sobre compra, posse e uso de armas de

fogo e, finalmente, a campanha do desarmamento poderia estar influindo na

diminuição de crimes de natureza interpessoal, em que a vítima é conhecida do

autor (MISSE, 2007).

1.1. Algumas experiências sobre (des)armamento

Um estudo publicado pela Universidade de Harvard relata que países que

têm mais armas tendem a ter menos crimes. Nos últimos 20 anos, as vendas de

armas dispararam nos EUA, mas os homicídios caíram 39% e outros crimes

cometidos com armas de fogo despencaram 69%. Apesar da rígida lei

desarmamentista no Reino Unido, sua taxa de crimes violentos é

aproximadamente quatro vezes superior à dos EUA, e apresenta a segunda maior

taxa de criminalidade de toda a União Europeia (SNYDER, 2007).

Lott Jr. (2010) enfatizou que as políticas de liberalização do porte de

armas em vários estados norte-americanos teriam produzido o efeito benéfico de

redução nas taxas de crimes violentos. Entretanto, outros pesquisadores, após

examinarem seus métodos e conclusões, afirmaram que Lott falhou ao não

incluir um número importante de variáveis em seu estudo e que não há

absolutamente qualquer evidência em apoio à ideia que políticas permissivas de

porte de armas de fogo reduzam crimes violentos.

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MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016.

Segundo Wehr (2010), cada cidadão suíço do sexo masculino deve

manter uma arma de fogo em sua própria casa. Quando esses cidadãos

completam 20 anos de idade recebem do Estado um rifle totalmente automático,

de modo que cada um deles fica de prontidão para defender a sua pátria em caso

de necessidade. Ressalte-se que a Suíça, com praticamente uma arma para cada

dois habitantes, tem menos de um homicídio por 100 mil habitantes, o que pode

revelar também uma questão cultural e de educação, além da punição exemplar

àqueles que cometem crimes. Outro fato relevante é que na época da Segunda

Guerra Mundial a Alemanha não invadiu a Suíça.

No México, o porte de armas de fogo é proibido e a posse muito

restringida, o que não impediu a escalada da violência nos últimos anos. As

proibições e o “desarmamento” não detêm criminosos violentos, pois estes

sempre têm maneiras de obter armas.

No Japão é muito rigoroso controle sobre armas em geral, incluindo as

espadas. A Lei Japonesa afirma taxativamente que nenhuma pessoa tem o direito

de possuir uma arma de fogo ou uma espada. Poucas exceções são admitidas a

esta regra geral. O Japão possui uma taxa de homicídios de 0,03 por 100 mil

habitantes. Tóquio é a capital mais segura do mundo.

Por óbvio que não se pode defender que a população brasileira deva se

armar como nos Estados Unidos, até porque acreditamos que apenas uma

parcela da população brasileira, maior de 25 anos de idade (idade mínima

exigida para aquisição de arma de fogo pelo Estatuto do Desarmamento), estaria

apta para o uso e porte de armas de fogo. Não temos a tradição e a cultura norte-

americana de uso de armas de fogo, onde as pessoas já começam a ter contato

desde muito cedo, inclusive pela prática em clubes de tiros. Lá arma é tratada, na

maioria dos estados, como um instrumento de defesa pelo cidadão, inclusive do

próprio território nacional. No Brasil, a arma de fogo é vista como uma ameaça

à sociedade e é propagado que uma arma em casa pode ser usada contra a

própria família, para suicídios ou mesmo para que possa ser roubada pelos

criminosos para que estes cometam novos delitos.

Segundo um comentário do Magistrado Potiguar Henrique Baltazar, da

área de execução penal, pelo Twitter, “vivemos num faroeste, onde os mocinhos

são proibidos, por lei, de se defenderem dos bandidos”.

O tema é polêmico e conduz a fervorosos debates entre defensores e

opositores do desarmamento, e ganha nova relevância com o Projeto de Lei nº

3.722/2012 (em fase já avançada no Congresso), que pretende alterar bastante o

Estatuto do Desarmamento.

Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324) 315

MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016.

2. Criminalidade e homicídios no Brasil

Combater a criminalidade praticada com o uso de armas de fogo é um

dos principais desafios do Estado brasileiro, que tem se mostrado ineficiente

para resolver o problema. Ações e programas dos governos surgem na tentativa

de conter o avanço da violência, porém sem atingir os seus reais objetivos. O

Tráfico de armas e drogas, o acesso a armas ilegais, homicídios e impunidade

sãos alguns dos elementos que compõe essa teia do crime. Os criminosos

continuam a ter livre acesso às armas de fogo.

A impunidade é o maior estímulo que o criminoso tem hoje no Brasil. E

ela começa por delegacias e institutos técnicos científicos de polícia mal

aparelhados, policiais mal remunerados, justiça deficiente e morosa, legislação

que permite protelação e múltiplos recursos, que facilita a liberdade condicional

de criminosos que voltam às ruas para cometer novos delitos e assassinatos.

Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do

Ministério da Saúde, em 2014 houveram 59.627 homicídios no Brasil – o que

equivale a uma taxa de homicídios de 29,1 por 100 mil habitantes. Este é o

maior número de homicídios já registrado ao ano em nosso país. Estas mortes

representam mais de 10% dos homicídios registrados no mundo e colocam o

Brasil como o país com o maior número absoluto de homicídios.

(CERQUEIRA, 2016)

Para entendermos melhor a dramaticidade desses números, a ONU

considera como epidemia o índice acima de 10 homicídios por 100 mil

habitantes. Somente em 2014, 44.861 pessoas foram vítimas de homicídio pelo

uso de armas de fogo, o que correspondeu a 76,1% do total de homicídios no

Brasil. Isso representa uma média de 123 pessoas mortas a cada dia, bem

superior aos vários atentados terroristas pelo mundo afora e outros conflitos

armados, além de várias chacinas, como ocorrem nos Estados Unidos e a

imprensa daqui faz o maior alarde.

Cerqueira (2016), analisando a evolução dos homicídios por unidade

federativa, no período entre 2004 e 2014, verificou situações bastante distintas

na variação da taxa de homicídios por 100 mil habitantes. Enquanto São Paulo

teve uma redução de 52,4% dessa taxa, o Rio Grande do Norte teve um aumento

de 308,1%. Seis unidades federativas sofreram aumento nesse indicador superior

a 100%, sendo todos estados do Nordeste. E dentre as unidades federativas que

apresentaram queda da taxa de homicídios nesse período, três pertencem à

região Sudeste.

O mesmo autor analisou a variação das taxas de homicídio apenas após

2010. E observou diminuições nas taxas de homicídios no Paraná (-20,9%) e no

Espírito Santo (-14,8%). Ele alega que, ainda que não se possa atribuir esses

desempenhos às políticas implementadas nessas duas unidades federativas (o

316 Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324)

MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016.

que necessitaria, obviamente, de um estudo aprofundado), cabe mencionar

algumas inovações e ações tomadas por esses governos.

O Espírito Santo lançou, em 2011, o programa Estado Presente, baseado

em dois pilares: repressão qualificada com grandes investimentos feitos nas

polícias e prevenção social focalizada em áreas mais vulneráveis

socioeconomicamente e onde se encontravam as maiores taxas de homicídios. Já

o governo do Paraná investiu na integração entre a Polícia Civil e Militar e na

maior qualificação e fortalecimento do trabalho de inteligência policial e Polícia

Científica, que contribuíram para a identificação de membros de grupos ou de

gangues (CERQUEIRA, 2016).

Segundo o mapa da violência de 2015 (WAISELFISZ, 2015), que traz os

dados de mortes violentas intencionais ocorridas em 2014 no Brasil, os três

estados mais violentos são da região nordeste, figurando Alagoas em primeiro

lugar, com 66,5 mortes para cada 100 mil habitantes, Ceará em segundo, 50,8

mortes para cada 100 mil habitantes e o Rio Grande do Norte em terceiro, com

50 mortes para cada 100 mil habitantes, com crescimento proporcional em

relação ao ano anterior superior aos dois primeiros.

O Nordeste é hoje a região mais violenta do Brasil, apesar dos maiores

centros urbanos do país se concentrarem no Sudeste. Pernambuco foi uma ilha

de diminuição de homicídios no Nordeste, com a redução de 27,3% na taxa de

homicídios entre 2004 e 2014, em oposição aos demais.

O Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Acre e Roraima têm

33% das armas registradas na Polícia Federal. No entanto, esses Estados mais

armados do país tiveram apenas 9% dos homicídios, contra 26% registrados em

2008, em Pernambuco, Bahia, Ceará, Sergipe e Maranhão, que detêm apenas 6%

das armas registradas (WAISELFISZ, 2013).

Os homicídios são a principal causa de morte de jovens (15 a 29 anos) no

Brasil, e atingem especialmente negros, o sexo masculino, moradores de

periferias e áreas metropolitanas. 53,38% dos 56.337 homicídios ocorridos em

2012 foram de jovens (30.072). Desses, 77,0% eram negros e 93,30% do sexo

masculino. Esse quadro representa uma questão de saúde pública e de grave

violação aos direitos humanos (WAISELFISZ, 2014).

A frieza dos números não expressa bem o sentimento de revolta que toma

conta da população brasileira com esta escalada de violência, pois mais de 40

mil pessoas são assinadas, somente por armas de fogo, todos os anos no Brasil,

destruindo famílias e causando revolta e dor no seio de muitas famílias. A cada

dia que se passa aumenta o desprezo pela vida e os crimes são praticados com

mais requintes de violência. Os bandidos não se contentam em “apenas” roubar,

estuprar, eles tem que torturar e até matar após o roubo, sem que a vítima esboce

qualquer reação; espancar e matar após o estupro; assassinar pessoas na frente

dos seus filhos ainda pequenos e cometer os mais diversos atos de sadismos na

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MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016.

prática dos seus crimes, tudo diante de um Estado impotente e um cidadão

desarmado (apenas este).

Muitas vezes os crimes não são investigados da maneira correta, provas

se perdem e a Justiça demora em julgar. Esse é um problema que precisa ser

solucionado urgentemente pelo Estado, para que se possa diminuir a impunidade

no país e, assim, responder aos conclames da população que espera pela

exemplar punição dos culpados, pois apenas cerca de 8% dos homicídios são

esclarecidos.

Elucidar a associação entre presença e disponibilidade de armas de fogo e

o persistente crescimento da violência em nossa sociedade exige um trabalho

árduo de pesquisa.

3. Do direito à autodefesa pelo cidadão

De acordo com o disposto no art. 5º da Constituição da República

Federativa do Brasil, é inviolável o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade. O direito não quer dizer que a República te dará isso,

ele garante que a República não te tirará a vida, a liberdade, a igualdade, a

segurança e a propriedade, sob o qual todos já nascemos com esses direitos, e

que envidará todos os esforços para que tais direitos do cidadão não sejam

violados.

A nossa Constituição Federal não dispõe expressamente sobre a legítima

defesa pelo cidadão. Entretanto, ela garante aos brasileiros certos direitos

individuais e sociais que, caso sejam violados, pode ensejar o exercício do

direito à legítima defesa, vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador (...);

XXII - é garantido o direito de propriedade; Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Percebe-se que o direito fundamental à segurança é traço marcante de

nossa Constituição Federal, de modo que o Estado deve promover os meios

necessários à sua concretização. Para alguns, o texto constitucional legitimaria a

autodefesa, inclusive com a utilização de armas de fogo, pois, caso contrário, de

que maneira alguém poderia impedir a violação de sua segurança, de sua vida,

de sua casa ou de sua propriedade sem o uso de armas de fogo, frente a

318 Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324)

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criminosos cada vez mais armados? De que outro modo isso poderia ser feito?

(TEIXEIRA, 2001).

Não se espera que os cidadãos vão até a polícia federal, e depois de

atendidos todos os rigorosos requisitos, consiga uma autorização para adquirir

uma arma de fogo (de baixo calibre) e depois saia por aí roubando, estuprando,

cometendo latrocínios e outros delitos, até porque o comércio ilegal de armas de

fogo supre muito bem qualquer pessoa que deseje cometer crimes.

O Código Penal (BRASIL, 1940) traz a definição de legítima defesa em

seu art. 25, com redação dada pela Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984:

“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”

Da análise do aludido art. 25 do Código Penal, mostra-se imperioso

averiguar quais são os meios necessários à concretização do direito à legítima

defesa pelo cidadão brasileiro. Se os criminosos utilizam armas de fogo para

cometer seus crimes – muitas vezes encontram-se mais bem armados que a

própria polícia, com armas de grosso calibre – de nada adianta ao cidadão, que

quer se ver em segurança, utilizar armas brancas, como as facas, ou outros

instrumentos para promover sua autodefesa. Ele terá de utilizar meios eficazes

para se defender à altura da agressão, sob pena de não ser suficiente para repelir

ou impedir a ocorrência da agressão. (TEIXEIRA, 2001)

Nesse diapasão, entende-se que a atual política de desarmamento civil

afronta diretamente o direito à legítima defesa dos cidadãos, nos moldes

postulados no Código Penal, assim como impossibilita o efetivo exercício do

direito à segurança, constitucionalmente garantido. Esta política tem fracassado

no combate à criminalidade, de modo que se torna imperioso o estabelecimento

de uma nova abordagem sobre o tema, mais adequada à realidade nacional.

O cidadão comum é duplamente punido pelo Estado, que não cumpre

com sua função básica de garantia da vida e da segurança, em não protegê-lo, e

por não permitir que este tenha o direito de optar por exercer à legítima defesa,

dentro dos limites legais, com o uso da força proporcional à usada pelos

criminosos.

É cediço que qualquer pessoa possui o direito de defender a sua própria

integridade física, bem como o seu patrimônio, sendo o exercício desse direito

conhecido como legítima defesa. A despeito de nossa legislação salvaguardar a

possibilidade de o próprio cidadão defender a sua vida e o seu patrimônio,

encontramos atualmente um cenário em que aquele que se propõe a expor tais

ideias é tido como um instigador da violência, alguém que “não é da paz”.

A legítima defesa, por qualquer meio necessário, inclusive armas de

fogo, é uma ferramenta da sociedade hábil a repelir a agressão injusta, devendo

Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324) 319

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o direito de autodefesa ser efetivamente garantido àqueles que queiram exercê-lo

– ainda que não concordemos ou não desejemos exercitá-lo – haja vista que na

enorme maioria das vezes o Estado não estará no local para defender o cidadão

no momento em que ele mais precisa.

Nesse sentido, deve-se proporcionar efetivamente os meios necessários

ao exercício desse direito, cabendo ao próprio cidadão decidir sobre o que é

melhor para si, por óbvio quando não trouxer prejuízos aos demais, salvo na

hipótese de legítima defesa. Isso é uma opção que deva ser dada ao cidadão,

dentro dos limites constitucionais. O Estado não tem o direito de dizer o que é

mais perigoso ou menos perigoso para o cidadão. É este quem tem que avaliar e

responder pelos seus atos e por suas consequências, não podendo, no entanto, ter

seu direito à legítima defesa restringido de forma arbitrária.

Desde a época do homem das cavernas até os dias atuais, o homem

sempre se utilizou de algum meio ou objetos para proteger a si e a sua família e

suas posses de alguma ameaça, seja de animais ou de outros seres humanos. O

que mudou foram as armas ou os meios utilizados, a descoberta de novos

materiais e as novas tecnologias que surgiram ao longo da própria evolução

humana. As armas de defesa foram evoluindo, passando por pedaços de

madeiras, lanças, arco e flecha, facas, espadas e similares, chegando às armas de

fogo depois de muitos séculos.

Desde a chegada dessas armas, o homem sempre pode utilizá-las para a

sua defesa, inclusive no Brasil, até o advento da Lei 10.826/2003, que

praticamente proibiu o uso de armas de fogo para a defesa fora da residência e

do local de trabalho do cidadão – e dificultou bastante mesmo nestes locais –

pois, hoje é praticamente impossível de se conseguir a autorização da polícia

federal para se portar uma arma de fogo, mesmo para empresários, que são

constantemente vítimas de assaltos e sequestros, por exemplo. O critério de

concessão deixou de ser meramente discricionário e passou a ser autoritário.

Nesse mister, é possível indagar se é lícito ao Estado,

constitucionalmente constituído para manter a ordem, a paz social e garantir os

direitos fundamentais do seu povo, diante de sua falência institucional em

manter a ordem pública e garantir os direitos mais básicos do cidadão à vida, à

liberdade e ao patrimônio, impor uma proibição àqueles que demonstrem ter

capacidade e necessitem e queiram defender a si próprio e a sua família de uma

injusta e irremediável agressão à vida, à liberdade, à honra e ao patrimônio,

utilizando-se dos meios necessários e proporcionais à agressão.

Para Waiselfisz (2015), apesar das armas de fogo ser o instrumento

utilizado em mais de 70% dos homicídios acontecidos no país, as discussões

sobre o tema de seu controle e limitação fatalmente desaguam em duas posturas

antagônicas:

320 Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324)

MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016.

“Por um lado, a presença de armas de fogo em mãos da população, diante das deficiências do aparelho de segurança pública, desestimularia o crime, dado que a autodefesa armada aumentaria os riscos e os custos para a criminalidade; Por outro lado, armas de fogo em mãos da população aumentaria o risco de conflitos ou de disputas terminarem em assassinato.”

Na questão do desarmamento, temos os cidadãos que julgam que a defesa

de suas vidas e propriedades requer o armamento e aqueles que acreditam que

para a redução da violência há necessidade de proibir imediatamente o uso de

armas de fogo. Porém, os criminosos utilizam desde armas de pequeno porte,

como revólveres e pistolas, para a prática de homicídios e crimes contra o

patrimônio em geral, até armas consideradas “de guerra”, como fuzis e

submetralhadoras para a realização de atividades criminosas organizadas como o

roubo a estabelecimentos financeiros e transporte de drogas (TEIXEIRA, 2005).

Se quisermos de fato conseguir o apoio da população brasileira para

abraçar o desarmamento, entregar suas armas (que são milhões de exemplares

dos mais diversos calibres), o Estado deverá implementar uma política séria e

efetiva para desarmamento e punição severa dos criminosos, que passa pela

fiscalização ostensiva nas fronteiras para evitar o tráfico de armas, operações

que envolvam polícia federal, forças armadas e polícias estaduais para captura e

desarmamento das facções criminosas; combate rigoroso ao tráfico de drogas e à

violência gerada por essa atividade criminosa para, só então, chegar para o

cidadão trabalhador, honesto e dizer que ele precisará contribuir, também, com a

redução da violência, sobretudo naquelas relações interpessoais de brigas

domésticas, entre vizinhos, no trânsito, nos bares e que ele deverá entregar suas

armas que estão irregulares, sob pena de altas punições, e que para ele poder ter

uma arma precisará atender a critérios legais rigorosos, como os constantes no

Estatuto do Desarmamento em vigor.

Dessa forma, aqueles que são contrários ao desarmamento ficariam sem

argumentos para manterem armas irregulares e caso quisessem adquiri-las lhes

restariam apenas recorrer aos procedimentos do citado Estatuto, assim, o

governo teria um controle muito maior sobre as armas. O que os

desarmamentistas não conseguirão é desarmar a população brasileira com a

aprovação de um Estatuto, que restringe a posse e praticamente elimina o porte

de armas de fogo legais, com raras exceções, apenas para o cidadão, ficando os

criminosos fortemente armados e permitindo a circulação de milhões de armas

ilegais nas mãos da população.

Muitos desarmamentistas, que moram em condomínios fechados ou

regiões geográficas mais privilegiadas, não levam em consideração em seus

argumentos a realidade de milhões de pessoas que residem pelos diversos

rincões desse país, onde muitas vezes são até expulsos de suas residências pela

violência, sobretudo em propriedades rurais, pois várias regiões no campo estão

Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324) 321

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sendo abandonadas pela falta de segurança e o aumento da criminalidade que

não encontra limites.

Por fim, não se poderá defender, jamais, um conflito armado entre os

cidadãos, nem tampouco o armamento ostensivo, como no modelo americano ou

suíço, pois nossa cultura e preparo em lidar com armas de fogo não permite a

adoção desses modelos. Contudo, não há como não reconhecer o direito à

legítima defesa para aqueles que demonstrem capacidade, que necessitem e

queiram realizar essa opção que lhes é garantida em nosso ordenamento jurídico,

para preservação de valores básicos de uma sociedade, constituída sob um

Estado democrático de direito, como o direito à vida, à integridade física e ao

seu patrimônio.

Conclusão

O modelo adotado para o controle de armas de fogo no Brasil, por meio

da política de desarmamento da população, posta em prática a partir de 2004,

parece ser apenas um exemplo de ações frustradas no combate a criminalidade

no país, pois, não conseguiu estabelecer formas eficazes de desarmar os

criminosos e nem reduzir a criminalidade, sobretudo o número de homicídios

cometidos por armas de fogo.

Apesar do desarmamento não ser uma solução mágica para a redução da

violência, pode contribuir para tal, uma vez que vai se formando uma cultura de

desarmamento entre os cidadãos que não sentem a necessidade alguma de ter

uma arma de fogo em casa e assim vão passando para outras gerações.

Mesmo que o Estatuto do Desarmamento tenha contribuído para diminuir

a proliferação das armas de fogo, mas especialmente entre os cidadãos que estão

à margem da criminalidade, uma vez que criminosos não compram armas em

lojas, devido ao registro no SINARM e a exigência de idoneidade, é possível

que outros eventos tenham atuado no sentido contrário, para fazer aumentar a

aquisição de armas de fogo, como a expansão do negócio de drogas ilícitas e o

crime organizado.

O desarmamento da população, por si só, não é suficiente para diminuir

esse quadro de violência que afeta todo o país, pois seria necessária uma política

de segurança pública acompanhada de outras medidas governamentais voltadas

para combater a prática da violência com o uso de armas de fogo, pois são

múltiplos e complexos os fatores envolvidos nessa questão e não se deve

subestimá-los.

O que de fato está incomodando a sociedade é a criminalidade

desenfreada (homicídios, latrocínios, lesões seguidas de morte, roubos, estupros,

tráfico de drogas, entre outros), não são as brigas em bares, no trânsito ou entre

vizinhos que mais preocupam. O que incomoda não é a quantidade de armas,

322 Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa (p. 305-324)

MOURA, R. S. F. de. Controle de armas de fogo no Brasil, criminalidade e autodefesa. Revista de Direito Setorial e Regulatório, Brasília, v. 2, n. 2, p. 305-324, outubro 2016.

propriamente, mas sim a cultura, índole, educação, impunidade, delinquência

generalizada, falta de políticas públicas, sucateamento da polícia e a guerra com

o narcotráfico ou entre narcotraficantes.

Discordar ou concordar com o desarmamento não é fator impeditivo ao

reconhecimento do direito pelo cidadão à autodefesa, amplamente assegurado

em nosso ordenamento jurídico, inclusive com a utilização de armas de fogo. O

Estado brasileiro tem limitado e até coibido, na maioria dos casos, o exercício

desse direito.

Analisando o nosso ordenamento jurídico e a nossa cultura local, não

conseguimos encontrar elementos mais sólidos a legitimar essa imposição do

Estado em restringir àqueles cidadãos que caso necessitem e queiram, e que

preencham os requisitos legais, disponham de armas de fogo para nessas

condições optarem por exercer ou não o seu regular direito de legítima defesa,

respondendo, obviamente, por seus atos, ainda que ideologicamente possamos

não concordar com o uso de armas de fogo.

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