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FOMENTO Comitê CONTRIBUIÇÕES ANPEI PARA APRIMORAMENTOS NO CAPÍTULO III DA LEI Nº 11.196/05 LEI DO BEM SETEMBRO 2017

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FOMENTOComitê

CONTRIBUIÇÕES ANPEI PARA APRIMORAMENTOS NO CAPÍTULO III DA LEI Nº 11.196/05

LEI DO BEM

SETEMBRO 2017

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ANPEI

Presidente

Humberto Luiz de Rodrigues Pereira

Vice-Presidente

Luiz Eugênio Araújo de Moraes Mello

Diretoria

Daniel Gonzaga - Natura

Fabio Bueno Netto - 24x7 Cultural

Filipe Miguel Cassapo - FIEP

Geraldo Rochocz - Radix

Marli Elizabeth Ritter dos Santos - PUC-RS

Nádia Andrade Armelin - Yenzah Cosméticos

Raimar van den Bylaardt - IBP

Rafael Correa Fabra Navarro - Braskem

Sayonara Moreira - Whirlpool

Sebastião Lauro Nau - WEG

Gerente Executiva

Marcela Gentil Flores

Avenida Torres de Oliveira, 76 Jaguaré - São Paulo CEP: 05347-902 Tel.: (11) 3842-3533 [email protected] - www.anpei.org.br

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REALIZAÇÃO

Grupo de Trabalho Lei do Bem

Líder do GT: Isabela Saturnino

Vice-Líder do GT: Geraldo Barbosa

Comitê de Fomento à Inovação Anpei

Coordenador: Luis Frade

Vice-Coordenadora: Isabela Saturnino

Diretores Responsáveis: Raimar van den Bylaardt

Geraldo Rochocz

ORGANIZAÇÃO

Marcela Gentil, Ricardo Magnani, Geraldo Barbosa, Carina Leão e Wiliam S. Calegari.

Contribuição dos membros deste Comitê

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ÍNDICE

ÍNDICE ................................................................................................................................................................ 4

A LEI DO BEM .................................................................................................................................................... 5

Importância da Lei do Bem e o uso de incentivos como política pública para o desenvolvimento ................. 5

PROPOSTAS PARA O APRIMORAMENTO DOS DISPOSITIVOS CONSTANTES DO CAPÍTULO III – DOS

INCENTIVOS À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA - DA LEI Nº 11.196/05 (LEI DO BEM) ............................................ 15

Inclusão de Pequenas e Médias Empresas: ..................................................................................................... 23

Fomento ao ecossistema de empreendedorismo ........................................................................................... 28

Fomento à relação ICT-Empresa ..................................................................................................................... 31

Incentivos aos investimentos e modernização relacionados à infraestrutura para a inovação ..................... 38

Substituição de exclusão adicional consequência da concessão de patente: ................................................. 40

Contratação de Terceiros ................................................................................................................................ 44

Gastos no exterior ........................................................................................................................................... 45

Relação de outros elementos a serem aperfeiçoados mediante alterações em instrumentos infra legais: .. 49

Referências bibliográficas ................................................................................................................................ 50

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Brasília, setembro de 2017 À Secretaria de Inovação Tecnológica do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (SETEC / MCTIC). Em atenção ao Secretário Álvaro Prata, Ref: Contribuições ANPEI para aprimoramentos no Capítulo III da Lei nº 11.196/05 (Lei do Bem). Prezado Secretário, É com grande satisfação que a ANPEI remete à sua apreciação um conjunto de propostas para aprimoramento do Capítulo III da Lei nº 11.196/05 (Lei do Bem). O rol de sugestões que apresentamos neste documento é resultado do trabalho dos associados no âmbito do Comitê de Fomento da entidade, composto por representantes de empresas, universidades, institutos de pesquisa públicos e privados, além de agências e órgãos públicos. A seleção e priorização das sugestões colhidas pautou-se no potencial de alavancagem do número de empresas beneficiárias, com vistas à ampliação dos investimentos em inovação no país e o consequente aumento da competitividade de nossas empresas, produtos e serviços. A LEI DO BEM Similar aos incentivos adotados em diversos países, a Lei do Bem instituiu incentivos fiscais para a inovação tecnológica no Brasil. Seus dispositivos, de uma forma geral, permitem às empresas deduzirem, para efeitos de apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL, além dos dispêndios com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica o percentual de 60% a 100% adicional, reduzir 50% do IPI e depreciar integralmente os equipamentos dedicados a P,D&I, amortizar aceleradamente os dispêndios com aquisição de bens intangíveis e reduzir a zero a alíquota de IRRF nas remessas efetuadas para o exterior destinadas ao registro e manutenção de marcas, patentes e cultivares. Importância da Lei do Bem e o uso de incentivos como política pública para o desenvolvimento Políticas públicas, como a Lei do Bem, são instrumentos de desenvolvimento e promoção das nações empregados em todo o mundo. Eles são fundamentais ao processo de desenvolvimento de inovações e estimulam empresas privadas a se submeter a atividade de risco inerente ao processo inovativo. De acordo com o MCTIC, as 1.206 empresas que declararam o uso dos incentivos fiscais da Lei do Bem em 2014 investiram um total bruto de R$ 9,25 bilhões em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I). A renúncia fiscal decorrente totalizou R$ 1,71 bilhão no mesmo período, em valores reais. Neste sentido, verifica-se que o efeito multiplicador da Lei do Bem foi de 1 para 4,4, ou seja, a cada R$ 1 incentivado, as empresas participantes investiram mais R$ 4,41, em 2014. Ao analisarmos o investimento realizado pelas empresas em projetos de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica verifica-se que as empresas beneficiárias, nos nove anos de utilização da Lei do Bem, investiram em despesas de capital e de custeio mais de R$ 60 bilhões, sendo que o valor total de renúncia fiscal do Governo Federal foi em torno de R$ 11,5 bilhões, o que representa aproximadamente 19% do total investido em P,D&I, confirmando o efeito multiplicador mencionado acima. Incentivos fiscais como a Lei do Bem não são benefícios limitados às empresas brasileiras. Trata-se de um instrumento global de desenvolvimento econômico e de atratividade de investimentos em P,D&I. A OCDE já disponibiliza esse indicador em suas séries regulares de indicadores de ciência e tecnologia.

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Se avaliarmos a atratividade do Brasil quanto aos incentivos para investimentos em P,D&I, nos últimos 10 anos, o Brasil perdeu 12 posições nesse indicador, indo da 6ª posição de destaque para a 18ª nesse ranking [30],[31]. Figura 1 - Atratividade do Brasil em relação a taxa de subsídio de Pesquisa e Desenvolvimento em 2008.

Figura 2 - Atratividade do Brasil em relação a taxa de subsídio de Pesquisa e Desenvolvimento em 2016.

Percebe-se por esses indicadores que os benefícios brasileiros não diminuíram, mas outras nações fizeram mudanças nos critérios de aplicabilidade dos benefícios. Pequenas empresas são contempladas e, principalmente, empresas em déficit também são incluídas nas políticas de incentivo. Medida acertada em tempos de crise para manter o estímulo ao investimento em atividades de inovação e na atratividade do país frente a outras nações. Vemos esse movimento exatamente na transição pela qual o mundo todo passou por profunda crise entre 2008 e 2010. Além da atratividade, estudos da literatura indicam a correlação positiva, independentemente da nação ou do setor da economia, do impacto positivo de subsídios fiscais no investimento em P,D&I. Um dos estudiosos pioneiros sobre a análise da eficácia dos incentivos à P,D&I foi Jeffrey I. Bernstein, do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade de Cambridge. No estudo “The effect of direct and indirect tax incentives on canadian industrial R&D expenditures”, publicado em 1986[2], o autor estabelece que, tanto para o regime de incentivos fiscais sobre o imposto à P,D&I, quanto para os incentivos sobre a base imponível, são gerados, aproximadamente, $ 0,8 de investimento em P,D&I adicional por cada dólar

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investido pelo Governo para esta tipologia de incentivos, demonstrando a utilidade e a necessidade destes incentivos. Uma das referências mais recentes, publicada pela faculdade de Negócios e Ciências Econômicas da Universidade de Melbourne, “The effectiveness of R&D Tax Credits: Cross-Industry Evidence”, de 2013[14], apresentou conclusões similares, indicando que as empresas industriais incrementam cerca de $ 0,24 do seu investimento em P,D&I por cada dólar investido. Uma análise similar foi realizada no artigo “Public R&D policies and cost behavior of the US manufacturing industries”, de 1995[3], no qual foi concluído que o investimento em P,D&I financiado com fundos públicos é uma das ferramentas mais adequadas para aumentar a eficiência e, possivelmente, para estimular o crescimento da produção, enquanto a política tributária de P,D&I é uma ferramenta mais apta para estimular o investimento do setor privado. Portanto, ambos os instrumentos, financiamentos públicos e políticas tributárias, são elementos importantes para manter o crescimento e a produtividade no setor manufatureiro. Nesta linha, são múltiplos os estudos que continuam corroborando com a efetividade das políticas fiscais para fomentar o investimento em P,D&I. Estes estudos são sustentados em modelos econométricos, que estimam a elasticidade do custo de pesquisa. Quando a elasticidade é negativa, uma redução do custo de pesquisa estimula as atividades adicionais de P,D&I de forma equivalente ao produto da elasticidade do preço da pesquisa e o índice marginal eficaz do incentivo fiscal. A maioria dos estudos conclui que a elasticidade do custo de pesquisa em curto prazo é próximo a -1 [4], o que evidencia que os incentivos fiscais influenciam positivamente as atividades globais de P,D&I. Adicionalmente, as comparações realizadas entre a elasticidade do custo de pesquisa a curto e a longo prazo sugerem que o gasto adicional em atividades por P,D&I induzida pelos incentivos fiscais aumentem com o tempo[8][9][10] e, a longo prazo, muito mais que as quantidades deduzidas do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (IRPJ e CSLL) por P,D&I [11]. Outro fator relevante sobre esta tipologia de incentivos é a contribuição para atrair atividades de P,D&I de empresas multinacionais. Blomm e Griffith [12] apontam que a redução do investimento governamental britânico e os melhores subsídios de outros países têm levado parte do investimento de empresas britânicas para outros países, como Canadá, EUA e França. No estudo realizado pela OCDE “Maximising the benefits of R&D tax incentives for innovation”, de 2013[30], uma das principais conclusões revelou a dependência da efetividade dos incentivos fiscais à P,D&I com o marco regulatório e da sua estabilidade no tempo. A análise da OCDE também sugere que, nos países que experimentaram reversão da política fiscal de P,D&I, exista um impacto negativo no gasto privado em P,D&I, por isso é importante que os governos mantenham a estabilidade e a clareza nas políticas fiscais à P,D&I, de forma a minimizar a incerteza e insegurança jurídica das empresas. No documento “A Study on R&D Tax Incentives”[17], são analisados diversos estudos sobre este tema, concluindo que os incentivos à P,D&I são efetivos e estimulam o investimento em P,D&I, ainda que o impacto quantitativo seja diferente entre os países e tipos de metodologias. Os estudos mais rigorosos estabelecem que, a cada euro investido em P,D&I, seja obtido um retorno do investimento em, no mínimo, um euro. Nesta mesma linha, em 2014 a Comissão Europeia publicou o documento “Financing R&D and innovation for corporate grouth: what new evidence should policymakers know?”[18], o qual demonstrou a evidência dos trabalhos recentes apresentados durante a CONCORDI-2013, mostrando que os mecanismos de incentivos fiscais dirigidos às grandes empresas podem gerar efeitos positivos, como, por exemplo, no Reino Unido, em que se estimou um aumento de 18% nas atividades de P,D&I empresarial, como consequência da implantação de mecanismos fiscais para a inovação. Isto implica numa elasticidade do custo do usuário de $ 1,35. Além disso, foi demonstrado que é melhor obter dois instrumentos de política ao invés de um, pois a combinação de créditos fiscais à P,D&I e as subvenções à P,D&I são muito mais eficazes para prevenção dos efeitos do deslocamento. As evidências demonstram que os efeitos dos créditos fiscais à P,D&I e as

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subvenções às P,D&I se diferenciam de acordo com as características da empresa e dos projetos de P,D&I. Por exemplo, no caso do novo crédito francês (que absorve 0,25% do seu PIB), foi estimado que houve um aumento de 13% da atividade de P,D&I empresarial no país. Como referência mais próxima, o Instituto Monetário Internacional publicou, em abril de 2016, um estudo sobre o investimento em P,D&I e as políticas fiscais para incentivá-los[19]. No estudo concluiu-se que os incentivos fiscais deveriam reduzir o custo do investimento da empresa em P,D&I em 50%, em média, nas economias avançadas, para que realmente possam ser incentivadas a investir mais nas atividades de P,D&I. Um programa de incentivos fiscais que atinja esse patamar de redução aumentaria as atividades de P,D&I em aproximadamente 40% em comparação com os níveis atuais, e elevaria o PIB das economias avançadas em 5% em longo prazo. Fazendo uma análise macro de diferentes países em diversas regiões do mundo, em 2014 a França foi a líder e proporcionou os maiores subsídios às atividades de P,D&I corporativas em relação ao seu PIB (através de medidas diretas e indiretas). Seguindo a França, a Rússia e a Coreia do Norte acompanham a liderança próximas ao patamar de 0,4% do seu PIB sendo utilizado para subsídios as atividades de P,D&I. As principais economias emergentes, como China e Brasil proporcionaram subsídios moderados, seguidos de perto pela Grécia. Figura 3 - Comparação dos níveis de investimento direto e indireto em P&D Corporativo de nações, OCDE 2014.

Assim, entende-se importante fazer uma análise comparativa com outros países em que existem incentivos similares, de forma a identificar os diferentes modos em que cada um deles aborda estas políticas, dentro do contexto político, econômico e social.

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Figura 4 - Comparativo de benefícios fiscais à P,D&I entre diferentes países

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Figura 5.- Comparativo de possibilidade de aplicação do benefício

Figura 6.- Comparativo entre restrições e modelos de segurança jurídica para aplicação do benefício

Analisando o valor do incentivo existente, o Brasil oferece um valor de incentivo interessante (entre 20% e 34% de redução de carga tributária com base nos dispêndios identificados), ainda que não chegue a níveis

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de países como a Espanha, onde o incentivo é mais maduro, podendo atingir valores de até 59%. Comparado com a França, o Chile ou Portugal, com incentivos mínimos de 30% e 35%, o Brasil ainda fica por baixo, mas dentro de margens competitivas. Cabe salientar que, no Brasil, existe uma opção em Lei de grande impacto, trazendo um benefício muito maior do que qualquer um dos incentivos existentes em outros países, relacionado à cooperação entre a empresa privada e a ICT (instituição científica e tecnológica). Através deste benefício (ver Artigo 19A da Lei 11.196/05) a empresa pode ter um retorno fiscal de até 85% do gasto com a ICT, mas não tem aplicação real atualmente por falta de regulamentação em Decreto e pela falta de editais, pelo desconhecimento e a forma de operacionalizá-lo. Analisando a Figura 5, pode-se observar menor flexibilidade no Brasil. O período para poder usufruir o crédito tributário é curto (5 anos frente aos 15 que oferece a Espanha ou os 20 no Canadá); ausência de retroatividade, ou seja, impossibilidade de recuperar o benefício de anualidades anteriores, apesar do período de prescrição fiscal (5 anos) não ter se encerrado; e a inexistência de opção de reembolso do crédito, caso a empresa gere o direito da isenção fiscal mas não gere lucro fiscal no ano (o que é permitido, em determinadas situações, em países como Espanha, França, Canadá ou Estados Unidos). Na avaliação da Figura 6 pode-se observar a limitação imposta pela tipologia de regime de tributação e pelo resultado da empresa, restrições impostas unicamente no Brasil. Em alguns países pode ser observado que a única restrição existente é relacionada a valores muito elevados de gasto com P,D&I, tomando medidas como a redução do valor do incentivo a partir de certo valor (França). Alguns países, como os Estados Unidos, não limitam em forma alguma. Analisando o procedimento de avaliação de algum organismo para o uso do incentivo, só Portugal e Chile obrigam a obtenção de certificados, enquanto os países restantes oferecem opção (vinculante com a Receita Federal), mas não obrigação. No Brasil existe obrigação de informar ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), mas não há vinculação entre o parecer emitido e a possibilidade de usufruir do incentivo. Sob todo este contexto, são indicados dados do Brasil de 2014, período em que as informações foram apuradas e publicadas pelo MCTIC em relação à Lei do Bem.

Indicadores Brasil 2014*

Nº de empresas ativas 17 milhões

Nº de empresas que investem em Inovação 132.529

N° de empresas com inovação em produto/processo 47.700

Nº de empresas registradas para uso da Lei do Bem 1.206

Investimento em P,D&I - empresas R$ 81,5 bilhões

Investimento em P,D&I interno - empresas R$ 24,7 bilhões

Investimentos em P,D&I informados ao MCTIC para uso da Lei do Bem R$ 9,25 bilhões

Dispêndios de custeio informados ao MCTIC para uso da Lei do Bem R$ 7,93 bilhões

Renúncia fiscal pela Lei do Bem R$ 1,68 bilhões

PIB R$ 5,52 trilhões

Arrecadação tributária total R$ 1,85 trilhões

Arrecadação IRPJ e CSLL R$ 171,35 bilhões * Fontes: IBGE, PINTEC, RFB, Empresômetro

Alguns indicadores relevantes que podem ser extraídos destes dados:

Percentual de investimento em P,D&I em relação ao PIB: 1,4%;

Percentual de investimento registrado na Lei do Bem em relação ao PIB: 0,17%;

Percentual de valores investidos em P,D&I que estão sendo alvo de incentivo fiscal: 11,35%;

IR e CSLL supõem 9,26% da arrecadação tributária total no Brasil;

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O incentivo da Lei do Bem supõe, hoje, 0,98% da arrecadação de IR e CSLL, e 0,098% da arrecadação total.

Hoje, os países com políticas mais avançadas nesse quesito estão elaborando e implantando políticas para atingir valores de 3% de investimento em P,D&I frente ao PIB. O incentivo da Lei do Bem atual não tem praticamente impacto em relação à arrecadação tributária do Brasil, pois não chega a 0,1% sobre o total. Se comparado ao percentual do PIB da França dedicado a crédito fiscal à P,D&I, por exemplo, em relação ao Brasil, pode-se observar uma diferença muito elevada (de 0,25% na França para 0,03% no Brasil), o que representa uma dedicação de crédito proporcional ao PIB quase 10 vezes inferior. Outro dado relevante que vale a pena salientar procede da base de dados da FIEP - Federação das Indústrias do Paraná, que mostra o incremento do número de pesquisadores altamente qualificados nos últimos seis anos (pessoal com nível acadêmico de mestrado e doutorado), conforme a figura a seguir:

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Figura 7 - Evolução do número de pesquisadores altamente qualificados no Brasil

A Lei do Bem traz hoje um benefício adicional para aquelas organizações que investem no incremento da equipe de pesquisadores qualificados ano a ano. Na figura anterior pode-se perceber um incremento de 100% nos últimos seis anos desta tipologia de perfis nas organizações. Essa é uma evidência da importância e do efeito que os incentivos fiscais, bem construídos e com real aplicação, podem ter para as organizações e para o país. Pode-se observar, pelo descrito durante todo o capítulo, a relevância das políticas fiscais para fomentar as atividades de P,D&I e para potencializar a competitividade de um país. Analisando esta importância e o baixo efeito que ela tem sobre a arrecadação no Brasil (0,098%), percebe-se a importância em manter a política fiscal à P,D&I existente até hoje, e até revisar a Lei atual para entender como podemos ter maiores efeitos no setor empresarial do Brasil. Nos últimos 5 anos, a Lei do Bem viabilizou a implementação de 15 novos centros de pesquisa e desenvolvimento que propiciaram o surgimento de mais de 20 mil novos produtos ou inovações incrementais. A Lei do Bem beneficia diretamente mais da metade (50,8%) dos projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas inovadoras brasileiras e os recursos dão apoio à atividade de 52% dos pesquisadores alocados nas companhias. De qualquer modo, pouco mais de mil empresas no Brasil, das 17 milhões ativas, estão aproveitando este incentivo hoje, o que corresponde a 0,007% das empresas registradas no país. Porém, o dado mais alarmante é registrado quando se é analisado o índice de empresas com perfil inovador que se utilizam deste benefício, que chega a 2,5% das empresas. Ou seja, só uma em cada 40 empresas com potencial utiliza este benefício. Vale ressaltar que, para este cálculo, só estão sendo incluídas aquelas que informaram que

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realizaram inovação em produto ou processo, de forma bem conservadora, para atender estritamente os conceitos de inovação tecnológica (vinculada, segundo o Manual de Oslo, ao produto e processo, excluindo a inovação em marketing e organizacional). Conclui-se, portanto, que há enorme potencial de expansão do incentivo. Por outro, em uma amostra das empresas participantes do Ranking Valor Inovação Brasil 2017, que avalia a consistência das práticas e resultados da gestão da inovação nas empresas, avaliando inclusive o impacto do resultado do esforço inovativo no faturamento das empresas e a consistência de suas ações de P,D&I, percebemos que há uma forte correlação das empresas que são reconhecidamente inovadoras pelo mercado e aquelas que usam mais fontes e mecanismos de fomento à inovação. Além disso, dentre essas, a Lei do Bem é o incentivo mais utilizado, no qual 51,2% das empresas mencionaram sua utilização. Esse fato nos chama a atenção para a necessidade de amadurecermos as práticas e a consistência dos processos de gestão da inovação nas empresas para ampliar a base de organizações habilitadas nos programas de fomento à inovação. Empresas que usam os incentivos de forma consistentes são líderes e mais inovadoras. Figura 8 - Correlação entre o uso de instrumentos de fomento e a posição no Ranking Valer Econômico Inovação 2017.

Segundo o Relatório Anual de Atividades de P&D 2014 do MCTIC, o investimento em P,D&I pelas empresas brasileiras registrado em 2014, cerca de R$ 9 bilhões, representou apenas 0,15% do PIB do Brasil, quando a meta da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) para o Ano-Base 2014 era de cerca de 1,8% do PIB. Este nível de investimento mostra-se ainda muito baixo se compararmos com outras economias que chegam a investir em P,D&I mais de 4% do seu PIB (países europeus e asiáticos). Uma pesquisa realizada neste ano pelo Jornal Valor Econômico e a Consultoria Strategy& identificou que entre as 50 empresas mais inovadoras do Ranking de 2017 as que mais utilizam instrumentos de incentivo e fomento são as que a Anpei teve acesso prévio. Em razão desse cenário, apresentamos a seguir os principais pontos de melhorias na legislação que poderão contribuir para o alcance das metas governamentais, tais como o aumento da produtividade, a melhoria da competitividade e a retomada do crescimento.

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PROPOSTAS PARA O APRIMORAMENTO DOS DISPOSITIVOS CONSTANTES DO CAPÍTULO III – DOS INCENTIVOS À INOVAÇÃO

TECNOLÓGICA - DA LEI Nº 11.196/05 (LEI DO BEM)

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Atualização da Lei frente à nova realidade da economia digital e serviços

Inovações em serviços, processos e modelos de negócios são alguns dos exemplos que ilustram a nova realidade do ambiente empresarial e da competitividade global. A competitividade da indústria e, por conseguinte, do Brasil depende da competitividade e dos preços dos serviços adicionados. É preciso estimular a competitividade dos serviços. O processo de digitalização da economia é uma megatendência a ser seguida. O texto legal vigente, diante deste novo contexto, demanda atualização para abarcar não só as inovações industriais, mais tradicionais e tangíveis, mas também novos modelos de negócios, cujo desenvolvimento apresente desafio tecnológico. Figura 9 - Smile face curve, organização das funções da atividade industrial em forma sequencial a agregação de valor. [33]

Os serviços já são parcela crescente do valor adicionado dos bens manufaturados nos países industrializados, a relação já passa dos 65%. A crescente complementaridade entre a indústria e os serviços para criar e agregar valor requer que ambas as atividades sejam competitivas, para que elas possam se beneficiar uma da outra. Evidências empíricas mostram que a densidade industrial dos países está intimamente associada à disponibilidade de serviços de agregação de valor e diferenciação do produto. A relevância dos serviços vai além da sua complementaridade com a indústria. Os serviços são a principal fonte de geração de empregos no mundo e o destino de parcela cada vez maior dos Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) em Greenfield (UNCTAD 2013). As evidências empíricas também mostram que serviços estão intimamente associados aos preços das exportações. Encontramos as seguintes evidências para o Brasil [33] Indústria e serviços caminham juntos. Seguindo o padrão dos países desenvolvidos, indústria e serviços já têm relação íntima no Brasil – o consumo intermediário de serviços aumentou ao longo do tempo e a sua contribuição para o valor adicionado já atinge níveis somente comparáveis aos das economias ricas: em 2011, era de 64,5%. Mas os serviços pouco contribuem para elevar a competitividade industrial. Diferentemente dos países desenvolvidos, não encontramos evidências de que os serviços contribuem para elevar a competitividade da indústria. Pelo contrário, as evidências são de que os preços dos serviços são elevados e a qualidade é baixa. Parte importante da explicação da baixa competitividade dos serviços está associada à modesta produtividade do trabalho do setor. Tributação elevada e baixo investimento também parecem ser explicações importantes da limitada competitividade dos serviços. Essa evidência é relevante e indica que os serviços são determinantes para a retomada da competitividade e do dinamismo da indústria brasileira.

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Reforçamos a necessidade de ampliar o incentivo, os investimentos e a inovação no setor de serviços, ajudando a reduzir os custos que impactam na indústria e melhorando a competitividade global da economia brasileira. Limitação de utilização da exclusão adicional e prejuízo fiscal Atualmente, a Lei impede que aquelas empresas que encerram o ano em prejuízo fiscal possam usufruir do incentivo da redução de base de cálculo de IRPJ e CSLL, pois limita-se o benefício até que este zere a base tributável. A limitação decorrente do prejuízo fiscal limita e desestimula os investimentos em inovação por parte significativa das empresas. O processo inovativo requer das empresas processos de gestão e administração de riscos inerentes a atividade de inovar. Tanto do ponto de vista mercadológico, quanto tecnológico há incertezas e perigos associados nesse processo. As empresas presam pela sustentabilidade e perenidade dos negócios e, por essa razão, devem conduzir suas operações preservando a integridade do empreendimento e administrando os riscos mediante as salvaguardas necessárias. As salvaguardas tecnológicas são adotadas administrando o grau de maturidade da tecnologia e avaliando as evidências de viabilidade que ela apresenta ao longo do ciclo de desenvolvimento entre a ideia e a sua comercialização. Esse processo é acompanhado pela administração do investimento financeiro para se obter a evidência de adequação da tecnologia ao seu propósito no produto ou processo idealizado. Os gestores de inovação são os grandes guardiões desse processo e têm como objetivo elevar a maturidade tecnológica e, gradativamente, ampliar o investimento para entregar o valor planejado decorrente da inovação. Isso pode ser ilustrado na Figura 9. Figura 10 - Representação esquemática da administração de riscos tecnológicos e investimentos em um projeto de inovação.

O que está representado na Figura 9 pode variar muito dependendo do setor ou da área tecnológica. Por exemplo, as etapas na quais o financiamento ocorre podem ter ordens de grandeza maiores ou menores

Ris

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ecnoló

gic

o

Investimento Financeiro

Ideia Viabilidade Desenvolvimento Escalonamento Comercialização

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dependendo do nível de intensidade de capital necessário à etapa de industrialização da tecnologia. Ou ter dispêndios muito elevados na etapa de ideia, dependendo da dificuldade e do tempo necessário a se obter um conceito viável ao que se pretende. É sob essa ótica que as empresas buscam apoio para minimizar o risco tecnológico e o desembolso financeiro do projeto de inovação. Vem desse processo a necessidade de se ter políticas públicas favoráveis à mitigação do risco tecnológico, evoluindo e amadurecendo a tecnologia a ponto de viabilizar seu fornecimento em escala. É por essa razão que as empresas escolhem um número reduzido de projetos de alto risco e alta rentabilidade para desenvolver. Há um balanceamento da carteira de projetos para que se preserve a saúde financeira da empresa e entregue o valor necessário às projeções da empresa. Logo, é difícil financiar projetos de risco em atividades de P,D&I, mesmo que a previsão seja de elevada rentabilidade. Isto acontece, ainda mais, em momentos de recessão econômica, quando as restrições e liquidez prevalecem. Os incentivos fiscais e a subvenção econômica são instrumentos para contrapor esses riscos e estimular a empresa a aumentar a participação de mais projetos de risco em seu portfólio. Segundo estudo do Fundo Monetário Internacional, as políticas fiscais ajudam a estabilizar o produto e incrementam consideravelmente os investimentos privados em P,D&I, apoiando o aumento da produtividade [22]. Como comentado na análise inicial, o estudo da OCDE “Maximising the benefits of R&D tax incentives for innovation”, de 2013, definiu como uma das principais conclusões que a efetividade dos incentivos fiscais à P,D&I depende, em grande parte, do marco regulatório e da sua estabilidade no tempo. É importante que os governos mantenham a estabilidade e a clareza nas políticas fiscais à P,D&I, de forma a minimizar incertezas e quaisquer insegurança jurídica para as empresas. A Lei do Bem exige a criação de uma estrutura interna e de uma cultura sistemática para a identificação e o controle, tanto contábil quanto fiscal, técnico e outros, que permitam as empresas fornecerem as informações reais aos organismos de tutela correspondentes, de forma a ter a maior segurança jurídica possível. Esta criação de estruturas e o aculturamento consequente não são construídos em uma organização de forma rápida, e sim no decorrer dos primeiros três anos de utilização do benefício, como pode ser observado em muitas das empresas que hoje o utilizam, sendo que tais processos continuam em constante revisão e aprimoramento. Assim, a Lei do Bem exige certos investimentos, tanto diretos quanto indiretos (dinheiro e tempo), e de continuidade. Ante o cenário atual, de um país em crise, com empresas vivendo uma retração do faturamento, faz-se ainda mais necessário investir recursos para o correto uso e aculturamento em relação ao uso do incentivo fiscal. E o fato de não se ter certeza sobre a possibilidade de usufruir do incentivo, faz com que as empresas hesitem em iniciar um projeto neste sentido ou mesmo desistam de dar continuidade a determinada atividade de P,D&I. A descontinuidade e a incerteza no uso implicam em falta de estabilidade do incentivo, e podem impedir que os efeitos desejados pela organização. Ainda em nível global, para o país, impossibilita que a Lei cumpra o objetivo de impulsar efetivamente os investimentos das empresas em P,D&I como pilar estratégico para atingir maior competitividade. Conceitualmente, o fato de descontinuar o aproveitamento deste incentivo pelo simples fato de não ter um resultado fiscal positivo no ano, perde todo o sentido no investimento de projeto de P,D&I, pois, como demonstrado em inúmeros estudos, esses tipos de projetos costumam ter caráter plurianual. No momento de iniciar um projeto de risco e plurianual, o incentivo da Lei do Bem deveria ser um impulsor para o início e manutenção do projeto. No entanto, em vez disso, há um cenário de incertezas para as empresas, por conta

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dessa dependência do resultado fiscal, estando contra o objetivo básico do incentivo, ou seja, facilitar a tomada de decisão para realizar o projeto de P,D&I com base em uma diminuição do risco financeiro. Salientamos que existem algumas empresas com ciclos de investimento/retorno muito definidos, como, por exemplo, algumas empresas com apuração de imposto trimestral que realizam no primeiro semestre um grande esforço econômico em atividades de P,D&I. E só esperam ter resultado fiscal positivo no último semestre, precisamente quando o investimento nesta tipologia de atividades já é pouco expressivo. Assim, pode acontecer que não exista incentivo para elas, inclusive tendo um resultado positivo no ano, por conta das limitações hoje impostas pela Lei. Se observarmos os dados dos relatórios anuais publicados pelo MCTIC, em 2014, em torno de 1.200 empresas apresentaram candidatura para usufruir dos incentivos da Lei do Bem. Revisando o histórico de empresas, percebemos que, desde 2006 o número total de empresas que se candidataram está em torno de 1.800, sendo que em nenhum ano este número foi atingido (o número máximo registrado foi de 1.206 empresas). Isso significa que, do total de empresas com potencial, que hoje estão dentro dos estritos requisitos para poder usufruir deste incentivo, e que já tinham se candidatado em algum momento, só 67% delas estão utilizando esta oportunidade. Analisando números dos últimos cinco anos registrados e analisados pelo MCTIC nos relatórios anuais[26], o valor médio aproximado de crédito de IRPJ e CSLL por organização é de 1,8 milhões de reais. Estima que hoje, em função do comentado no parágrafo anterior, no mínimo 600 empresas não estão utilizando o incentivo por causa da situação do prejuízo fiscal, sendo que o valor do crédito mínimo que está deixando de poder ser usufruído calcula-se em torno de 1 bilhão de reais (600 organizações x um crédito de 1,8 milhões por empresa). Mas, com a proposta sugerida, não existe impacto a curto prazo na arrecadação, pois a organização sem lucro fiscal já não iria pagar IRPJ nem CSLL. Simplesmente permite-se gerar um prejuízo maior, que será compensado em anos posteriores até o limite permitido por Lei (30% do lucro fiscal do ano base). Portanto, o impacto se produz a médio e a longo prazo, com uso do crédito rateado em vários anos em função do resultado da organização a cada ano. Como é indicado em diversos estudos, o resultado da P,D&I costuma ser a médio e a longo prazo. Portanto, é importante entender qual o é o impacto no desempenho da empresa. Alguns estudos, como o realizado por Bronwyn H. Hall [27], permitiram estimar estes impactos, resumidos na tabela a seguir, na qual pode-se observar uma informação interessante, como o fato de que o crescimento nas vendas devido à P,D&I obtém valores médios de incremento de 15% no pior dos casos, ou que a margem de operação experimenta crescimentos de no mínimo 34% como consequência do investimento em P,D&I.

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Figura 11 - Impacto da intensidade de P,D&I

Outros estudos, como o realizado pela “Fundación Española para la Ciencia y la Tecnología” (FECYT), também desenvolveram uma análise econométrica para mensurar o impacto da inovação nas empresas espanholas. Os dados foram muito relevantes, destacando que por cada euro investido em inovação, as vendas aumentam em 3,4 euros. O investimento em inovação aumenta a probabilidade das empresas terem sucesso nas exportações em 12% e a venda de novos produtos procedentes da inovação indicam 33% das vendas totais da organização. Algumas empresas no Brasil informaram que este último índice chega a valores de 60% em determinada tipologia de empresas. Em função de todas as informações indicadas, apresenta-se uma simulação da arrecadação para o país em função das hipóteses a seguir (sempre utilizando os dados mais cautelosos):

Faturamento da empresa cresce em média 340% do valor investido em P,D&I;

Não aplicada inflação;

Redução no custo operacional em 34% devido ao investimento em inovação. Reduzido o custo anual em 34% do percentual de ganho bruto devido à inovação (aplica 1,27 vezes de ganho, segundo a tabela Gross Margin Percentage);

O valor investido em P,D&I de uma empresa é de 1,6%.E o incentivo médio, 70% de exclusão fiscal;

A existência de incentivos fiscais à inovação prevê que o investimento em P,D&I traz um investimento adicional em P,D&I em ano posterior de 0,24 unidades. Ou seja, a cada ano, o valor investido em P,D&I aumenta em 24%;

A não existência do incentivo à inovação não prevê aumento de investimento;

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Sob estas hipóteses, é avaliada a evolução de arrecadação em prazo de 5 anos.

Figura 12 - Evolução arrecadação longo prazo se aplicado incentivo em prejuízo fiscal

Figura 13 - Evolução arrecadação longo prazo se impossibilidade de uso do incentivo no prejuízo

Figura 14 - Comparativa arrecadação em ambas as situações

Nos cálculos indicados, realizados com dados extraídos dos diversos estudos, percebe-se como a arrecadação, a partir do médio prazo, começa a ser superior após a aplicação da proposta sugerida de permitir o uso do incentivo mesmo quando a empresa tem resultado fiscal negativo. Inclusive, a partir do quarto ano, o nível de arrecadação começa a mostrar incrementos consideráveis, chegando a demonstrar como, a longo prazo, o valor total arrecadado chega a sofrer um incremento de 28%, enquanto o impacto no ano em que a organização teve resultado fiscal negativo (ano N) não implica impacto na arrecadação, como já explicado anteriormente. Portanto, a implantação da alteração proposta não impactaria negativamente a curto prazo na arrecadação tributária, que não chega a impactar no médio prazo e permite um aumento a longo prazo, sendo que permitiria, ainda, um melhor planejamento estratégico, pensando em P,D&I como uma ferramenta estratégica de alto impacto para a competitividade das organizações e do Brasil. Dada a importância da existência, da manutenção, da segurança jurídica e da atratividade do incentivo da Lei do Bem no Brasil, e também dada a exclusão adicional dos dispêndios de P,D&I prevista na legislação ficar limitada ao valor do lucro real e da base de cálculo da CSLL, vedado o aproveitamento de eventual excesso em período de apuração posterior (§5° do art. 19), essa restrição desestimula os investimentos em inovação por parte das empresas. Permitir a utilização da base de dispêndios apurada em ano de prejuízo fiscal, bem como eventual excesso em períodos posteriores, com prazo determinado, é uma forma de manter os estímulos pela realização das atividades de P,D&I de forma perene e crescente, blindando tais investimentos das intempéries econômicas. Essa possibilidade, inclusive, está alinhada aos mecanismos internacionais da como França, dos Estados Unidos, da Irlanda, por exemplo. Em tempo, o aproveitamento do prejuízo fiscal de determinado ano em anos seguintes já é uma prerrogativa do Regulamento do Imposto de Renda.

N N+1 N+2 N+3 N+4 N+5

Faturamento anual 506.250.000,00R$ 512.804.520,00R$ 520.932.124,80R$ 531.010.354,75R$ 543.507.359,89R$ 559.003.646,27R$

Despesa operacional 382.500.000,00R$ 376.248.420,00R$ 368.496.460,80R$ 358.884.031,39R$ 346.964.618,93R$ 332.184.547,47R$

Outros gastos 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$

Resultado anual 3.750.000,00-R$ 9.056.100,00R$ 24.935.664,00R$ 44.626.323,36R$ 69.042.740,97R$ 99.319.098,80R$

Investimento em Inovação 8.100.000,00R$ 10.044.000,00R$ 12.454.560,00R$ 15.443.654,40R$ 19.150.131,46R$ 23.746.163,01R$

Incentivo fiscal potencial 5.670.000,00R$ 7.030.800,00R$ 8.718.192,00R$ 10.810.558,08R$ 13.405.092,02R$ 16.622.314,10R$

Resultado após exlusão 9.420.000,00-R$ 2.025.300,00R$ 16.217.472,00R$ 33.815.765,28R$ 55.637.648,95R$ 82.696.784,69R$

Prejuizo compensado -R$ 607.590,00R$ 4.865.241,60R$ 3.947.168,40R$ -R$ -R$

Prejuizo pendente de compensação -R$ 8.812.410,00-R$ 3.947.168,40-R$ -R$ -R$ -R$

Resultado após compensação prejuizo 9.420.000,00-R$ 1.417.710,00R$ 11.352.230,40R$ 29.868.596,88R$ 55.637.648,95R$ 82.696.784,69R$

Arrecadação IR e CSLL -R$ 458.021,40R$ 3.835.758,34R$ 10.131.322,94R$ 18.892.800,64R$ 28.092.906,80R$ 61.410.810,11R$

TOTAL Arrecadação

N N+1 N+2 N+3 N+4 N+5

Faturamento anual 506.250.000,00R$ 512.804.520,00R$ 519.359.040,00R$ 525.913.560,00R$ 532.468.080,00R$ 539.022.600,00R$

Despesa operacional 382.500.000,00R$ 376.248.420,00R$ 369.996.840,00R$ 363.745.260,00R$ 357.493.680,00R$ 351.242.100,00R$

Outros gastos 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$ 127.500.000,00R$

Resultado anual 3.750.000,00-R$ 9.056.100,00R$ 21.862.200,00R$ 34.668.300,00R$ 47.474.400,00R$ 60.280.500,00R$

Investimento em Inovação 8.100.000,00R$ 8.100.000,00R$ 8.100.000,00R$ 8.100.000,00R$ 8.100.000,00R$ 8.100.000,00R$

Incentivo fiscal potencial 5.670.000,00R$ 5.670.000,00R$ 5.670.000,00R$ 5.670.000,00R$ 5.670.000,00R$ 5.670.000,00R$

Resultado após exlusão 3.750.000,00-R$ 3.386.100,00R$ 16.192.200,00R$ 28.998.300,00R$ 41.804.400,00R$ 54.610.500,00R$

Prejuizo compensado -R$ 1.015.830,00R$ 2.734.170,00R$ -R$ -R$ -R$

Prejuizo pendente de compensação -R$ 2.734.170,00-R$ -R$ -R$ -R$ -R$

Resultado após compensação prejuizo 3.750.000,00-R$ 2.370.270,00R$ 13.458.030,00R$ 28.998.300,00R$ 41.804.400,00R$ 54.610.500,00R$

Arrecadação IR e CSLL -R$ 781.891,80R$ 4.551.730,20R$ 9.835.422,00R$ 14.189.496,00R$ 18.543.570,00R$ 47.902.110,00R$

TOTAL Arrecadação

N N+1 N+2 N+3 N+4 N+5 Incremento total

0% -41% -16% 3% 33% 51% 28%Evolução arrecadação

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Assim, apresentaremos a seguir a proposta para eliminação deste limitante, junto com a justificativa correspondente. Alterações em texto legal Texto original

Art. 19. Sem prejuízo do disposto no art. 17 desta Lei, a partir do ano-calendário de 2006, a pessoa jurídica poderá excluir do Lucro Líquido, na determinação do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL, o valor correspondente a até 60% (sessenta por cento) da soma dos dispêndios realizados no período de apuração com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, classificáveis como despesa pela legislação do IRPJ, na forma do inciso I do caput do art. 17 desta Lei. ...

§ 5º A exclusão de que trata este artigo fica limitada ao valor do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL antes da própria exclusão, vedado o aproveitamento de eventual excesso em período de apuração posterior.

Sugestão de Alteração: Eliminação do parágrafo § 5º do Artigo 19 Case Apenas como forma de evidenciar o problema do não aproveitamento dos dispêndios com pesquisa e desenvolvimento, quando a empresa encerra o ano em prejuízo fiscal esta não pode fazer uso dos benefícios fiscais da Lei do Bem, posto que, a Lei exige que a empresa tenha lucro, segue abaixo um case real de uma multinacional, líder global no setor automotivo, cujo investimento em P,D&I girava em torno de 3,5% de seu faturamento. Por encontrar-se desde 2014 em prejuízo fiscal e, portanto, sem fazer uso dos benefícios fiscais da Lei, teve em seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento declínio anual, chegando a uma redução de 55% em 2016.

Vejamos os números:

Figura 15 - Investimentos em P,D&I

Período 2013 2014 2015 2016

Exclusão da base do IRPJ e CSLL ∆% 100% -30% -47% -55%

Benefício Bruto ∆% 100% -30% -47% -55%

Prejuízo Fiscal ∆% 0% 100% 100% 100%

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Figura 16 - Investimentos em P,D&I

Essa redução impacta negativamente na contratação de mão de obra especializada, no desenvolvimento de tecnologias, no número de patentes depositadas, na produção em si e, consequentemente, no pagamento de impostos. Por isso, cremos na importância de rever este ponto de acordo com o proposto anteriormente. Inclusão de Pequenas e Médias Empresas: Pouco mais de mil empresas no Brasil, das 17 milhões ativas, estão fazendo uso do incentivo, o que corresponde a 0,007% das empresas registradas no país. Porém, o dado mais relevante é registrado quando analisado o índice de empresas com perfil inovador que utilizam este benefício, que chega a 2,5% das empresas. Ou seja, só uma em cada 40 empresas com potencial utilizam o benefício. É importante mencionar que, para este cálculo, foram incluídas somente as empresas que informaram ter realizado inovação em produto ou processo de forma conservadora, para atender estritamente os conceitos de Inovação Tecnológica (vinculada, segundo o Manual de Frascatti, ao produto e processo, excluindo a inovação em marketing e organizacional). Se compararmos com outros países, onde esse tipo de incentivo já ultrapassou a fase de maturidade, como a França ou a Espanha, pode-se observar que o número de declarantes em 2013 foi de 22.830 e de 17.438, respectivamente. Em relação aos declarantes na Espanha, apenas 3.232 são grandes empresas (18,5%), enquanto o restante, 81,5%, são empresas de pequeno e médio porte. Comparando o setor empresarial destes países com o brasileiro, onde o número de empresas é bastante superior, fica claro que existe algum impedimento na Lei do Bem que faz com que a diferença entre elas seja tão elevada. Aproximadamente, o número de empresas que acessam este incentivo nestes países é 16 vezes maior que no Brasil.

100%

-30%

-47%-55%

100%

-30%

-47%-55%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

-80%

-60%

-40%

-20%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

2013 2014 2015 2016

Investimentos P&D com Prejuízo Fiscal

Exclusão da base do IRPJ e CSLL ∆% Beneficio Bruto ∆% Prejuizo Fiscal ∆%

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Figura 17 - Taxas de subsídio fiscal em dispêndio de P&D

Como pode ser observado na figura acima, nações desenvolvidas estão buscando a manutenção de sua atratividade em relação ao estabelecimento de negócios por intermédio de subsídios a pequenas e médias empresas, estando elas em situação de lucro ou prejuízo fiscal. Recentemente, tivemos o relato na Anpei de empresários recebendo subvenção econômica para se estabelecer em Portugal com 50% de isenção em um financiamento de EUR 1,6 milhões, sem necessidade de garantias, para estabelecer sua operação naquele país. O empresário buscou esse mesmo financiamento no Brasil e, mesmo com 20 anos de relacionamento bancário não teve êxito na operação. Como consequência, está estabelecendo sua operação em Portugal. Exemplos como esse são cada vez mais comuns. Em 2015, a Anpei participou de uma iniciativa de internacionalização de 15 startups com o financiamento do Fundo Trust Britânico. As empresas de base tecnológica foram levadas a conhecer o ambiente de negócios e as facilidades encontradas no Reino Unido para lá se estabelecerem. Essas atividades são cada vez mais comuns. Países, sabendo da taxa de renovação das empresas no longo prazo, investem cada vez mais no empreendedorismo e nos negócios de base tecnológica nascentes como política para o desenvolvimento econômico futuro. No Brasil, por sua vez, vemos o aumento da atenção para as startups. Há iniciativas importantes e que crescem em quantidade e intensidade. Mas muitas delas são bem resolvidas para empresas digitais ou com forte relação com a área de tecnologia da comunicação e informação. Empresas industriais, ou do complexo da saúde ou outra área com ciclos mais longos e intensivos para o desenvolvimento de inovação são ainda marginais nesse processo. Pouco se estimula ou incentiva na realidade de pequenas e, principalmente, médias empresas. As empresas que hoje usufruem dos incentivos da Lei do Bem demonstram a eficácia da Lei, com histórico nos últimos anos que nos mostram a relação existente entre o sucesso de mercado (Ranking Valor Inovação Brasil 2017) e o investimento consistente em inovação; sendo que o investimento em inovação foi continuo nestes períodos, motivado principalmente pela existência da Lei, a qual costuma envolver a diretoria da empresa, dada a sua relevância. Dessa forma, com o objetivo de melhorar, ampliar e atualizar os instrumentos trazidos pela Lei do Bem, o presente estudo propõe uma medida de integração e democratização do benefício da Lei do Bem que possibilite a melhor utilização do benefício fiscal e o fomento das atividades de P,D&I no país com inclusão de pequenas e médias empresas na Lei do Bem e integração das empresas que atualmente se enquadram no regime tributário do Lucro Presumido ao ecossistema de inovação. A fruição dos incentivos por estas empresas obedeceria à regra da proporcionalidade, considerando os benefícios fiscais já existentes decorrentes de seus respectivos regimes tributários.

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No Brasil, estima-se que entre 4 e 5 milhões de empresas utilizam-se do regime de Lucro Presumido, o que representa, aproximadamente, entre 20% e 25% da totalidade das empresas no país. Podem-se enquadrar neste regime aquelas empresas cujo faturamento bruto anual não supere os 78 milhões de reais. Um dos fatores que melhor podem explicar o baixo índice de participação das empresas brasileiras no incentivo da Lei do Bem é, com certeza, o fato de que esta restringe o uso às empresas que tributam no regime do Lucro Real, que representam em torno de 3% da totalidade das empresas no Brasil. Estas organizações são consideradas de grande ou médio-grande porte. Atualmente, a Lei do Bem incentiva as micro empresas e empresas de pequeno porte quando, ao executar atividades de P,D&I para outros stakeholders, as importâncias recebidas não constituem receita, independentemente do regime de tributação da empresa. Mas, no caso de empresas de médio porte, das quais a maioria tributa no regime do Lucro Presumido, existe um vazio que faz com que boa parte dos componentes do ecossistema inovador não tenha a opção de incentivo. Estatísticas indicam a realidade das mais de 47 mil empresas com perfil inovador. Apenas 1.200 se candidatam, ou seja, 3% das empresas que tributam no Lucro Real. Em países como a Espanha, mais de 80% das empresas que usufruem do incentivo fiscal à inovação tecnológica são de pequeno e médio porte (país onde só existe um regime de tributação). Segundo dados da Pintec, pequenas e médias empresas têm taxas de inovação significativamente menores do que as grandes empresas que hoje estão apoiadas por instrumentos de incentivo. Tabela 1 - Taxas de inovação por porte (porcentagem do total de empresas de cada porte) no período de 2009 a 2011

Porte

Produto

novo

para

a

empresa

Produto novo

para o

mercado

nacional

Processo

novo

para

a

empresa

Processo

novo

para o

mercado

nacional

Produto

ou

processo

novo para

o mundo

De 10 a 49 14,6% 3,1% 28,9% 1,5% 0,0%

De 50 a 249 14,0% 6,4% 32,3% 4,8% 2,5%

De 250 a 499 24,2% 11,9% 39,0% 9,0% 3,1%

Com 500 ou mais 26,4% 20,7% 35,9% 17,2% 9,9% Fonte: IBGE/PINTEC, 2013

No mundo, pequenas e médias empresas têm taxas de agregação de valor muito superiores aos que são encontrados no Brasil. Há um enorme potencial para avançar em termos de competitividade se forem devidamente apoiadas e estimuladas a inovar. A próxima tabela apresenta uma classificação dos países em que as médias empresas mais contribuem para geração de valor para a economia nacional.

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Tabela 2 - Geração de Valor para a economia por empresas segundo seu porte

Fonte: OCDE (2011, p. 45) – Ano Base: 2007

Analisando todos estes dados, faz-se evidente que grande parte da falta de eficácia da Lei reside no próprio marco legal de atuação, que restringe o uso a um número muito pequeno de empresas e deixa de inserir um grande núcleo importante para a inovação tecnológica e a competitividade do país. A maioria das empresas de pequeno e médio porte estão fora do regime tributário do Lucro Real. Portanto, se faz necessário editar a referida Lei para que este tipo de empresa tenha um fator motivador na inovação tecnológica.

Micro Pequena Média Grande

1 a 9 10 a 49 50 a 249 Mais de 250

Estônia 32,1% 16,5% 30,8% 20,6%Lituânia 21,2% 14,5% 29,0% 35,4%Japão 9,9% 11,4% 28,0% 50,7%Israel 10,6% 8,1% 28,0% 53,3%Letônia 30,3% 15,9% 26,8% 27,0%Portugal 34,2% 13,8% 22,0% 30,0%Áustria 27,5% 11,9% 22,0% 38,5%Irlanda 4,3% 4,4% 21,8% 69,5%Holanda 28,9% 13,7% 21,6% 35,8%Polônia 24,7% 8,1% 21,2% 46,0%Eslovênia 31,7% 11,0% 21,1% 36,2%México 24,0% 8,7% 20,9% 46,4%Coréia 12,8% 12,3% 20,2% 54,7%Dinamarca 31,5% 13,0% 20,2% 35,3%Alemanha 24,1% 9,7% 19,9% 46,3%Rep. Tcheca 25,0% 10,3% 19,9% 44,7%Eslováquia 8,1% 6,4% 19,5% 66,0%Bélgica 27,4% 12,4% 19,1% 41,1%Hungria 7,7% 6,6% 18,4% 67,3%Suécia 27,7% 10,7% 18,1% 43,5%Luxemburgo 4,9% 4,3% 17,9% 72,9%Espanha 36,8% 13,5% 17,7% 32,0%Finlândia 26,9% 9,8% 16,9% 46,4%Reino Unido 25,6% 8,5% 16,9% 49,0%Noruega 41,0% 7,9% 16,5% 34,6%Grécia 46,5% 12,6% 15,9% 24,9%Itália 43,5% 11,9% 15,9% 28,7%França 29,6% 11,2% 15,2% 44,0%Brasil 7,2% 5,1% 13,2% 74,6%Austrália 39,0% 8,6% 12,3% 40,1%

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Hoje, no Brasil, 74% do valor faturado pelas empresas advém das atuantes no Lucro Real, sendo os 26% faltantes relativos às ME, EPP e médias empresas. Além disso, praticamente 100% das exportações advém, hoje, de empresas tributantes no Lucro Real. Estes dados permitem observar os seguintes fatos.

As empresas de médio porte não estão conseguindo exportar seus produtos ou serviços. Percebe-se que um dos principais motivos é a falta de competitividade no mercado exterior, costuma proceder de dois fatores fundamentais, preço e/ou qualidade. O investimento em inovação permite, como demonstrado em capítulos anteriores, melhorar a performance dos produtos e serviços e diminuir os custos de fabricação e, portanto, ofertar preços mais atraentes para o mercado. Os recursos para investir em inovação para empresas de menor tamanho são mais limitados, por isso, os incentivos fiscais se tornam uma excelente ferramenta para tornar essas empresas mais competitivas.

Conforme indicado na Tabela 2, a agregação de valor à economia do Brasil é representada por menos de 20% se considerarmos pequenas e médias. Considerando que as grandes em regime de Lucro Real, hoje, representam quase 75% da agregação de valor, e que a arrecadação é proporcional a esse indicador, o impacto na arrecadação do Brasil seria muito menor do que o esperado. Um impacto na arrecadação inferior aos 1,7 bilhões das empresas que tributam no Lucro Real, mas o impacto individual para a pequena e média empresa seria enorme, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista de competitividade, da sustentabilidade e do desenvolvimento. É necessário pensar em P,D&I como ferramenta estratégica para o desenvolvimento e a competitividade possível a maioria das empresas brasileiras.

O principal incentivo fiscal da Lei do Bem, exclusão adicional dos dispêndios, é aplicável apenas às empresas que apuram o IR e CSLL pelo Lucro Real. Assim, propõe-se a criação de um incentivo fiscal que seja compatível com as empresas inovadoras que se enquadram na sistemática do Simples Nacional e do Lucro Presumido. Como é cediço, a maioria das empresas brasileiras são optantes desses regimes tributários (Simples Nacional e Lucro Presumido). Sendo assim, essa alteração é fundamental e urgente para que um número maior de empresas inovadoras brasileiras tenha acesso a incentivos fiscais à inovação tecnológica. A usufruição dos incentivos por estas empresas poderia, eventualmente, obedecer a regra de proporcionalidade, considerando os benefícios fiscais já existentes decorrentes de seus respectivos regimes tributários. Como exemplo, no caso do Regime Tributário pelo Lucro Presumido, as empresas poderiam descontar do IR e CSSL a pagar o percentual de 20,4% (60% de exclusão vezes 34% da carga tributária de IR, CSLL e adicional de IR) sobre o valor investido em projetos de P,D&I. No caso de aplicação de exclusões adicionais, segue a mesma regra (por exemplo, 80% de 34% resulta em 27,2%). Alterações em texto legal Devido ao formato de tributação do Lucro Presumido ser diferente ao formato no Lucro Real, opções de alterações são necessárias, conforme a seguir: Texto original

Art. 19. Sem prejuízo do disposto no art. 17 desta Lei, a partir do ano-calendário de 2006, a pessoa jurídica poderá excluir do Lucro Líquido, na determinação do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL, o valor correspondente a até 60% (sessenta por cento) da soma dos dispêndios realizados no período de apuração com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, classificáveis como despesa pela legislação do IRPJ, na forma do inciso I do caput do art. 17 desta Lei.

1ª Sugestão: Adicionar o §7º, 8º e 9º no artigo 19 com a seguinte redação:

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§ 7º Sem prejuízo do disposto no art. 17 desta Lei, a partir do ano-calendário de 2018, a pessoa jurídica que tribute no regime de Lucro Presumido poderá usufruir de isenção fiscal de valor correspondente a 20,4% da soma dos dispêndios realizados no período de apuração com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, classificáveis como despesa pela legislação do IRPJ, na forma do inciso I do caput do art. 17 desta Lei. § 8º A isenção de que trata no § 7º deste artigo poderá chegar a até 27,2% dos dispêndios em função do número de pesquisadores contratados pela pessoa jurídica, na forma definida em regulamento. § 9º Sem prejuízo do disposto no caput e no § 8º deste artigo, a pessoa jurídica poderá usufruir de uma isenção adicional de 6,8% da soma dos dispêndios ou pagamentos vinculados à pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica objeto de patente concedida ou cultivar registrado.

2ª Sugestão: Alteração para o artigo 19, objetivando a inclusão de empresas no regime de Lucro Presumido na Lei do Bem Uma alternativa adicional seria a reescrita de todo o Artigo 19, sem diferenciar as empresas em razão do regime de tributação, permitindo um aproveitamento idêntico dos benefícios, conforme a seguir:

Art. 19 Sem prejuízo do disposto no art. 17 desta Lei, a partir do ano-calendário de 2018, as pessoas jurídicas poderão usufruir de isenção fiscal de valor correspondente a 20,4% da soma dos dispêndios realizados no período de apuração com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, classificáveis como despesa pela legislação do IRPJ, na forma do inciso I do caput do art. 17 desta Lei.

§ 1º A isenção de que trata o caput deste artigo poderá chegar a até 27,2% dos dispêndios em função do número de empregados pesquisadores contratados pela pessoa jurídica, na forma definida em regulamento. § 2º Na hipótese de pessoa jurídica que se dedica exclusivamente à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, poderão também ser considerados, na forma do regulamento, os sócios que exerçam atividade de pesquisa. § 3º Sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, a pessoa jurídica poderá usufruir de uma isenção adicional de 6,8% da soma dos dispêndios ou pagamentos vinculados à pesquisa tecnológica e ao desenvolvimento de inovação tecnológica objeto de cultivar e semicondutor registrado no Brasil ou no exterior, ou tecnologia transformada em depósito de patente em ou patente concedida junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial ou obtido perante qualquer pais integrante do Tratado sobre Cooperação de Patentes (PCT) ou Convenção da União de Paris (CUP). § 4º Para fins do disposto no § 3º deste artigo, os dispêndios e pagamentos serão registrados em livro fiscal e a isenção será aplicada no período de apuração da concessão da patente ou do registro do cultivar. § 5º A isenção de que trata este artigo fica limitada ao valor do IRPJ e da CSLL a ser paga no ano calendário, vedado o aproveitamento de eventual excesso em período de apuração posterior. § 6º O disposto no § 5o deste artigo não se aplica à pessoa jurídica referida no § 2o deste artigo.

Fomento ao ecossistema de empreendedorismo A Lei do Bem possui um mecanismo de aproximação de pequenas empresas no processo de desenvolvimento tecnológico. Ela permite que despesas operacionais da contratação de pequena ou microempresa sejam elegíveis ao montante incentivado.

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O grande ponto nesse mecanismo é a disponibilidade de empresas de base tecnológicas capazes de participar desse processo. É intenso o movimento de corporações na identificação de startups capazes de contribuir com os desafios de inovação nas empresas (Figura abaixo). Figura 18 - Exemplos de programas de corporações com startups em atividade

A taxa de sucesso e a identificação desses potenciais parceiros em setores de tecnologias mais complexas tem a mesma proporção de sucesso de implantação de novas ideias disruptivas, em torno de 1%. O sucesso dos programas em atividade tem se dado muito no âmbito de novos modelos de negócio e digitalização. Por essa razão, há a necessidade de se estimular a criação e o desenvolvimento de startups de base tecnológica como um mecanismo de fortalecer as cadeias produtivas. São inúmeros os benefícios que as empresas (tanto as corporações, quanto as startups) têm ao participar conjuntamente do processo de inovação. Para a startup, a relação com a corporação oferece o mercado e a venda necessária à sua consolidação. Já para a corporação, permite-se um desenvolvimento muito mais ágil e reduz o tempo ao mercado, o que é cada vez mais importante para a sua competitividade no ambiente globalizado. Essa atuação sinérgica permite cada vez mais soluções disruptivas e inovadoras, podendo incrementar a introdução de inovação para o Brasil e o mundo. No entanto, para a criação de novas empresas de base tecnológica, como ocorre com o desenvolvimento tecnológico, há um risco associado muito grande. No mundo todo, o setor de fundos de investimento está se desenvolvendo e é cada vez mais intensa a sua participação na economia dos países, sendo no Brasil cinco a seis vezes menor do que em nações como o Reino Unido e os Estados Unidos.

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Figura 19 - Participação de fundos de investimentos no PIB em diferentes países

O aumento da intensidade desse investimento passa pela disponibilidade de empresas com potencial de investimento. Do ponto de vista de promoção da inovação e a interface com o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, já identificamos em atividades dos comitês da Anpei, que o processo de inovação e seus gestores como são um dos melhores interlocutores com startups para esse encadeamento. É natural para esse gestor trabalhar o risco. Também natural para ele desenvolver atividades dentre as diferentes áreas da empresa. O gestor pode trabalhar o desenvolvimento do produto ou serviço das startups entre as diferentes áreas da empresa. Hoje há na Anpei um movimento crescente de empresas apoiando iniciativas em parceria com entidades como a Anprotec, a ABStartups, a Anjos da Brasil, a ABRAII e aceleradoras no sentido de identificar e de promover a criação de empresas de base tecnológica. O investimento e o incentivo ao empreendedorismo têm muito potencial para a geração direta de empregos e para o aumento da atividade econômica. Apesar de representarem apenas 1,5% do total de empresas empregadoras no Brasil em 2011, as EACs -Empresas de Alto Crescimento - foram responsáveis por 48,5% do total dos empregos gerados entre 2008 e 2011, o que equivale a quase 2,8 milhões de novos empregos. O pequeno negócio é responsável por mais de 52% da geração de empregos formais e 40% da massa salarial no país. Assim, fica demonstrado o quanto o empreendedorismo tem potencial de trazer mais inovação e como pode contribuir com a atividade econômica. No entanto, as condições proporcionalmente mais citadas como limitantes à atividade empreendedora são políticas governamentais (54%), educação e capacitação (49%) e apoio financeiro (28%). No caso das políticas públicas, que é citada tanto como condição favorável (19%), quanto limitante (54%), os especialistas apontam melhoras consistentes nos últimos anos, mas ainda é considerada pelos especialistas a principal condição limitante ao empreendedorismo no Brasil. Para a melhoria das condições relacionadas a políticas governamentais, os especialistas listam iniciativas como a simplificação da legislação trabalhista e tributária, desburocratização de procedimentos

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administrativos e desenvolvimento de iniciativas (programas) de estímulo ao empreendedor nos primeiros anos de vida. No que se refere ao apoio financeiro, as propostas focam na necessidade de adequação das linhas de crédito à realidade dos empreendedores, principalmente pela flexibilização da exigência de garantias reais, da concessão de crédito pela análise do perfil do empreendedor, do potencial do negócio e da desburocratização. Também foi sugerido o desenvolvimento do mercado de capital de risco, incentivos fiscais para investimentos privados em novos negócios e o desenvolvimento de micro finanças, como alternativas aos canais tradicionais. A Lei do Bem pode ser um importante instrumento para a promoção do empreendedorismo e do aumento do investimento privado em inovação. Ao permitir iniciativas de encadeamento e incentivar os investimentos das empresas em startups, incluindo corporate venture, investimento direto, através de fundos ou através de aceleradoras, e considerando os mesmos elegíveis à Lei do Bem, entre outras medidas, endereçaremos em boa medida o mercado de capital de risco e corporate venture. Fomento à relação ICT-Empresa A inovação vem ganhando corpo e conquistando mentes no Brasil. Longe ainda de se considerar que o país esteja passando por um surto inovativo, o que se verifica é que a aquisição dos conceitos sobre inovação é crescente nos ambientes fundamentais para sua realização e consolidação como instrumento de competitividade de fonte de riqueza. Nos ambientes governamentais, são evidentes os esforços para a criação de estímulos à inovação, especialmente nos últimos 12 anos e, mais recentemente, com a publicação da EC 85, que coloca o estímulo à inovação como uma obrigação do Estado, e com a promulgação da Lei 13.243, a nova Lei da Inovação, que pretende endereçar várias questões que limitam as parcerias público-privadas no âmbito da inovação e a interação ICT-Empresas. Nos Estados, a receita se repete. As fundações de amparo à pesquisa, igualmente às congêneres federais, vêm instituindo programas de financiamento às atividades inovativas. Em 14 unidades da federação já foram instituídas leis de inovação própria e novos parques tecnológicos são instituídos em todas as regiões do país. Mesmo na área municipal há registros de Prefeituras que vêm definindo políticas para o incentivo à inovação de empresas locais. No ambiente acadêmico, onde antes os esforços se concentravam quase exclusivamente na formação de recursos humanos e na geração de conhecimentos científicos, também emergem iniciativas direcionadas para o estudo e o desenvolvimento de pesquisas geradoras de inovações. Atendendo a Lei de Inovação, todas as universidades públicas já contam com seus Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT). Nos ambientes empresariais, a inovação também ganha força. E no institucional, a iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em organizar a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), com a participação das federações das indústrias nos Estados também ganha destaque. Essa onda pró-inovação ainda não chegou com toda a força necessária para transformar o panorama, já histórico, de baixa taxa de inovação e poucos investimentos em P,D&I no setor produtivo brasileiro, particularmente nas micro, pequenas e médias empresas. Há ainda um longo caminho a seguir no que se refere à sensibilização e à mudança cultural e de atitude das empresas brasileiras em relação a inovação. Ou seja, o Brasil precisa ainda despertar e melhor utilizar suas potencialidades para se tornar um país inovador.

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Uma das dificuldades para que isso ocorra tem sido a permanência de um fosso entre as empresas e as instituições de ciência e tecnologia - universo que abrange universidades e institutos de pesquisa, ambos de natureza pública nos âmbitos federal e estadual. É certo que as relações entre empresas e ICTs vêm crescendo no Brasil, de modo a se verificar um aumento no número de parcerias entre elas. Observa-se, porém, que se valem dessa interação quase exclusivamente as empresas de grande porte, que já contam com centros internos de pesquisa e desenvolvimento. Para a maioria das empresas, há uma sensível dificuldade para o estabelecimento sequer de uma aproximação com ICTs. Por outro lado, também são amplamente conhecidas as dificuldades das ICTs em estabelecer parcerias com empresas. Natureza, cultura e características próprias das ICTs fazem com que os trâmites para a interação com as empresas encontrem obstáculos, às vezes intransponíveis. Em síntese, empresas e ICTs reconhecem a importância da interação entre elas para a obtenção de resultados-fim positivos para ambas, no entanto, encontram dificuldades-meio que consomem tempo e recursos além do que seria razoável, quando não inviabilizam o desenvolvimento de projetos em conjunto. Para darmos a dimensão da importância da interação ICT-Empresa e o seu potencial para o Brasil é só avaliarmos a diferença entre a produção de artigos científicos e nossas patentes. Ocupamos posição de destaque na produção científica mundial, somos responsáveis por quase 3% da produção mundial de artigos científicos. No entanto, quando avaliamos a geração de patentes, um indicador relacionado a criação de novas tecnologias, não há expressividade em sua produção. Figura 20 - Participação do país em relação ao percentual da produção científica mundial. [34]

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Figura 21 - Produção de patentes triatic por milhão de habitantes. [35]

Chama-se de Sistema Nacional de Inovação (SNI) as instituições e fluxos de conhecimento que compõem o cenário de um país no que refere à busca pelo desenvolvimento, difusão e uso da inovação. Esse sistema se constitui de um grupo articulado de instituições dos setores público e privado, como agências de fomento e financiamento, instituições financeiras, empresas públicas e privadas, instituições de ensino e pesquisa, entre outros, cujas atividades e interações geram, adotam, importam, modificam e difundem novas tecnologias, sendo a inovação e o aprendizado seus objetivos principais a serem alcançados. [36] [...] Nesse ambiente, a inovação é vista como resultante de um processo complexo e contínuo de experiências nas relações entre ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, indústrias e governo. Cada ator da hélice tríplice desempenha papel fundamental nessa relação. Ou seja, a universidade oferece seu conhecimento, a indústria seus recursos de implementação e o governo formula as legislações que estabelecem essa relação, além de disponibilizar recursos.

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Figura 22 - Apresenta-se a relação hélice tríplice entre os atores envolvidos [38]

Neste sentido, a hélice tríplice é um modelo de sistema de inovação cunhado por Henry Etzkovitz e Loet Leydesdorff nos Estados Unidos na década de 90, no qual aborda as relações entre governo-universidade-indústria, que, segundo Valente [37], somente através da interação desses três atores é possível criar um sistema de inovação sustentável e durável na era da economia do conhecimento. A interação ICT- Empresa pode contribuir muito para que o conhecimento gerado nas ICTs seja aplicado, contribuindo para a criação de novas patentes, tecnologias, processos, produtos e serviços com maior valor agregado. Essa afirmação pode ser constatada a partir da análise de resultados de empresas que têm tido parcerias de forma estratégica e de longo prazo, como observado na Petrobras. Em avaliação conduzida de 1982 a 2000, a Petrobras desenvolveu 502 projetos inovadores que resultaram em pedido de patente. Deste total, 454 projetos foram resultado do desenvolvimento de fontes internas da organização e 48 projetos foram resultado do desenvolvimento de parcerias com fontes externas, com a participação dos mesmos de 26 universidades, institutos de pesquisa e empresas (Tabela 3), sendo 13 empresas e 13 instituições de ensino e/ou pesquisa, sendo duas empresas e duas instituições de ensino e/ou pesquisas internacionais (Tabela 3). Tabela 3 - Total de patentes concedidas, projetos tecnológicos desenvolvidos internamente e projetos tecnológicos desenvolvidos em parceria, para o período de 1082 a 2000

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Tabela 4 - Parceiros da Petrobras identificados pelas patentes, no período de 1982 a 2000

Como pode ser observado de forma indireta por intermédio das patentes, no exemplo da Petrobras, a relação ICT-Empresa é primordial para alavancar a inovação, aumentar o Know-how. Além do incremento nos resultados de inovação, o aproveitamento da infraestrutura instalada nos institutos e universidades, podem também contribuir com a otimização de possíveis custos com Pesquisa. A Tabela a seguir trás em detalhe ganhos mútuos encontrados na parceria ICT-Empresa[40].

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Tabela 5 - Ganhos identificados na relação ICT-Empresa

No entanto, é importante que as empresas, ao se relacionarem com as ICTs, conheçam as particularidades de atuação e da sua parceira. Da mesma forma, as ICTs devem compreender as necessidades das empresas e suas estratégias com intuito de viabilizarem a interação. O conhecimento das nuances do outro é fundamental. Negociação transparente, acordos bem definidos e comprometimento das empresas e das ICTs representam o sucesso da interação. Esses cuidados aumentam a possibilidade de efetividade na interação, minimizando o risco inerente a parceria, colocando a atenção no risco tecnológico, que permanece e deve ser estimulado a ser perseguido pelas empresas. Nesse cenário, o Governo pode ser um indutor muito importante do estímulo à parceria. Como representantes do Governo no Brasil, as Agências de Fomento surgem como um dos atores essenciais para a criação e estruturação de ambientes propícios à inovação e, consequentemente, para a relação ICT-Empresa [39]. Casos Em publicação da Anpei editada em 2015 - a 3ª Edição do Guia de Boas Práticas para a Interação ICT-Empresa - são relatados sete casos de sucesso, nos quais as parcerias geram resultados, novos conhecimentos, produtos, tecnologias e patentes nas mais variadas áreas, envolvendo empresas de grande e pequeno porte, como a Fuamjet e a Nanox, além de instituições públicas de ensino ou institutos. Em todos eles, além dos requisitos e cuidados anteriormente informados, há um único elemento em comum em 100% dos casos: a presença de apoio governamental na forma de fomento, seja ele por órgão estadual ou federal [41]. Além da Petrobras, muitas outras empresas utilizam amplamente as parcerias para alcançar sua autonomia tecnológica e vencer os desafios para a sustentabilidade de longo prazo da corporação.

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Programas como o Natura Campus, em atuação desde 2001, vêm crescendo significativamente, tendo em mais de 10 anos de atuação mais de 70 projetos, centenas de propostas e milhares de grupos de pesquisadores cadastrados. Não são poucos também os resultados alcançados. Figura 23 - Evolução do programa Natura Campus. [42]

Produtos inovadores, como o Extrato de Passiflora, ativo utilizado em linha de composições cosméticas farmacêuticas da linha Chronos da Natura, geraram divisas à Universidade Federal de Santa Catarina de mais de meio milhão de reais, duas patentes, três publicações e mais de 140 citações. Podemos citar os 10 anos de desenvolvimento de produtos cosméticos inovadores sem testes em animais na Natura como outro aspecto relevante indicado como resultado de parcerias, que envolveu mais de 20 instituições em mais de 51 projetos, que resultaram em 22 pôsteres, 10 artigos e 67 métodos desenvolvidos. [42] Há relatos também de desenvolvimento sustentável e social mediante soluções em sistemas agroflorestais para a obtenção de Óleo de Palma. Esse projeto, realizado com a Embrapa, a CAMTA, a UESC, a Unesp, a Unicamp e a UFV, desenvolveu três unidades demonstrativas de manejo e a subsequente avaliação da viabilidade econômica e os impactos sociais decorrentes. Um projeto de oito anos que foi possível pelo incentivo fiscal da Lei do Bem e a obtenção de subvenção da Finep, alavancando em cinco vezes o incentivo dado. Uma iniciativa mais recente que observamos em empresas pioneiras e que se destacam no cenário de inovação, como a Embraer, a Natura, a Vale, a PSA e outras, são os programas em parceria com agências de fomento estaduais. Iniciativas como a da Natura, na criação do centro de bem-estar junto com a Fapesp, promoverá o investimento de mais de R$ 20 milhões em 10 anos, reforçando o investimento público em C,T&I e promovendo o avanço da fronteira do conhecimento em áreas relevantes do ponto de vista econômico e social. Apostas de longo prazo, orientadas a desafios sociais, tem sido a temática de nações desenvolvidas e maduras do ponto de vista tecnológico há décadas.

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Figura 24 - Comparação das políticas públicas de C,T&I de Brasil e EUA. [34]

Exemplos como esses demonstram a importância das parcerias e da existência do perene dos instrumentos de fomento, permitindo a viabilização de projetos de impacto econômico e social, que também sustentam a posição de destaque do Brasil e de suas instituições como país que preserva seus recursos naturais e promove o desenvolvimento econômico, preservando os ativos naturais e as comunidades locais. Para evoluir e fortalecer a parceria ICT-Empresa é muito relevante que seja incluída como despesa operacional elegível para cômputo dos investimentos em P,D&I na Lei do Bem os dispêndios relacionados a pagamentos de royalties a ICTs públicas ou privadas decorrentes de projetos desenvolvidos ou não em conjunto, bem como os dispêndios que a empresa fizer para financiar editais em conjunto com as FAPs. Esta proposta não se refere ao licenciamento de tecnologia que, eventualmente, uma ICT faça a uma empresa beneficiária da Lei do Bem. Incentivos aos investimentos e modernização relacionados à infraestrutura para a inovação Inovações em serviços, processos e modelos de negócios são alguns dos exemplos que ilustram a nova realidade do ambiente empresarial e da competitividade global. O texto legal vigente, diante deste novo contexto, demanda atualização para abarcar não só as inovações industriais, mais tradicionais e tangíveis, mas também novos modelos de negócios, cujo desenvolvimento apresente risco tecnológico. Além disso, destaca-se que o próprio conceito de ‘risco tecnológico’, importante para a avaliação da elegibilidade de um projeto, não está expresso na legislação. Assim, é interessante aproveitar esta oportunidade de ajustes no texto legal para que tal critério se torne evidente. Considerar como dispêndio elegível os gastos com construção de laboratórios e plantas piloto exclusivas para as atividades de P,D&I (investimentos em infraestrutura para inovação). Essa permissão contribuiria significativamente para a tomada de decisão das empresas em viabilizar estruturas voltadas para P,D&I em território nacional e, consequentemente, a realização de um número maior de atividades de P,D&I, aumento

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de contratação de pesquisadores, aceitação de projetos de modernização, retrofit, automação industrial e conectividade de equipamentos. Com a indústria 4.0 é comum as empresas se atualizarem, mesmo utilizando-se dos equipamentos existentes. Se a empresa está investindo é porque precisa ser mais competitiva, aumentar a qualidade em seus produtos e inovar sua linha de produção. Estes gastos e manutenção poderiam ser aceitos sem restrições. A modernização, com retrofit, inclusive, que reduz ou otimiza investimentos, será constante. Fábricas ou empresas radicalmente diferentes serão a tônica dos próximos anos. O Brasil deve prever em sua legislação apoio às inovações com cláusulas ou regras claras e inclusivas afim de fomentar cada vez mais essas estratégias. Trata-se de dividir o risco, não só tecnológico, mas também do novo negócio, afim de reduzir o custo Brasil de uma forma mais estratégica, sem retirar “proteção” ao trabalho. Justificativa As soluções da 4ª Revolução Industrial e a Indústria 4.0 indicam uma série de componentes e conceitos importantes que, combinados, podem gerar uma série de sistemas e plataformas avançadas, como, Big Data, IoT, impressão aditiva, data analitycs, inteligência artificial, robôs autônomos e interligados, gêmeos digitais, entre muitos outros. O desafio é saber como dosar e combinar estes itens, de forma alinhada com a maturidade da empresa e coerente com a direção estratégica. A abordagem 4.0 extrapola o ambiente fabril, se estendendo por toda a organização, integrando várias áreas e processos visando, inicialmente, ganhos de produtividade e eficácia. Adicionalmente, outro eixo muitas vezes esquecido é o da cadeia de valor como um todo, no qual as aplicações 4.0 trafegam desde as matérias-primas e fornecedores, passando pela organização mãe, navegando através de uma logística inteligente e chegando até o cliente final. O último passo é integrar todas estas peças e atores para idealizar e implementar modelos de negócio completamente disruptivos. Em recente evento internacional ocorrido em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, entre 27 e 30 de março, organizado pelo governo desta nação juntamente com a UNIDO da ONU, traçou-se um cenário sem volta de adoção de todas estas tecnologias e aplicações em praticamente todos os setores industrias e processos de negócios. A preocupação dos Emirados é com o crescimento da disponibilidade e utilização de energias renováveis e consequente redução futura dos preços dos combustíveis fósseis. Para eles só existe uma saída: tornar-se uma economia altamente industrializada e focar em políticas de governo e parcerias mundiais que levem a esta drástica mudança na economia. Como exemplo, investirão quase 200 bilhões de dólares nos próximos 35 anos para isto, e com decisões firmes, como transformar totalmente o currículo da educação básica, além de implantar fábricas e laboratórios em vários pontos do país. Com as novas tecnologias, processos automatizados, uma engenharia integrada e produção virtual (com o conceito de elementos ou processos gêmeos, testáveis sem a necessidade destes existirem materialmente, em todas as fases), a tendência é que as fábricas, em tese, possam ir para qualquer país, pois haverá uma drástica redução da mão-de-obra fabril necessária (no passado o movimento era contrário, inviabilizando em vários países a produção local e levando regiões como a China a centralizar a fabricação em massa). Inclusive, nesta linha, já se questiona quem será o trabalhador do futuro: o homem, o robô ou o computador? Este andamento rumo ao mundo 4.0 é um caminho sem volta, pois com o advento de tecnologias como IoT (que estará nos produtos, processos e pessoas), apenas para citar um exemplo, todas as compras, necessidades e transações serão registradas nominalmente, permitindo uma modelagem totalmente diferente das organizações perante ao fluxo de consumo, à mobilidade em geral, à troca de informações e até em relação às interações entre seres humanos e com o meio ambiente. Só existe uma maneira para não ficarmos para trás: estudar, entender e implantar também estas soluções no Brasil, nem que seja parcialmente e em áreas delimitadas, mas sempre aplicando uma revisão contínua e inteligente, garantindo uma atualização e uma equiparação de nossa sociedade aos mais modernos conceitos mundiais.

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Novo texto sugestão à Lei do Bem 2017 Com a possibilidade de inclusão dos gastos com construção de laboratórios e plantas piloto exclusivas para as atividades de P,D&I, incluindo os investimentos em infraestrutura para P,D&I. O texto acrescido o §12 no Artigo 17 da Lei 11.196/05: “§12 - O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se também aos dispêndios com construção de laboratórios e plantas piloto exclusivas para a atividade de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica, incluindo projetos de modernização, retrofit, automação industrial e conectividade de equipamentos. Substituição de exclusão adicional consequência da concessão de patente: No atual marco da Lei 11.196/05 existe um incentivo que, ainda que escrito em Lei, não tem aplicação real ou pouca aderência das empresas. Trata-se da exclusão adicional que pode ser obtida através da obtenção de patentes ou registro de cultivar decorrentes de projetos de pesquisa e desenvolvimento. A seguir, será sugerida uma alternativa, baseada em incentivos fiscais existentes em outros países, que tem relação com a aplicabilidade real e pode ajudar as empresas a fomentar ainda mais a utilização do benefício. Alterações em texto legal Texto original Art. 19. Sem prejuízo do disposto no Art. 17 desta Lei, a partir do ano-calendário de 2006 a pessoa jurídica poderá excluir do Lucro Líquido, na determinação do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL, o valor correspondente a até 60% (sessenta por cento) da soma dos dispêndios realizados no período de apuração com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, classificáveis como despesa pela legislação do IRPJ, na forma do inciso I do caput do art. 17 desta Lei.

... § 3º Sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, a pessoa jurídica poderá excluir do Lucro Líquido, na determinação do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL, o valor correspondente a até 20% (vinte por cento) da soma dos dispêndios ou pagamentos vinculados à pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica objeto de patente concedida, cultivar registrado.

Alteração sugerida: Reescrita do § 3ª do artigo 19 da Lei 11.196/2005

§ 3º Sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, a pessoa jurídica poderá excluir do lucro líquido, na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, o valor correspondente a 20% (vinte por cento) da soma dos dispêndios ou pagamentos vinculados à pesquisa tecnológica e ao desenvolvimento de inovação tecnológica que superar, no ano calendário, o montante registrado no ano calendário anterior. * Outra proposta seria a seguinte: “§ 3º Sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, a pessoa jurídica poderá excluir do Lucro Líquido, na determinação do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL, o valor correspondente a até 20% (vinte por cento) da soma dos dispêndios ou pagamentos vinculados à pesquisa tecnológica e ao desenvolvimento de inovação tecnológica objeto de cultivar ou semicondutor registrado no Brasil ou no exterior, ou tecnologia transformada em depósito de patente em ou patente concedida junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial ou patente obtida perante qualquer país integrante do Tratado sobre Cooperação de Patentes (PCT) ou Convenção da União de Paris (CUP).*

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Justificativa Em publicação realizada em 2015, um estudo realizado da Unicamp estimou que o prazo médio para concessão de uma patente no Brasil é de aproximadamente 11 anos. A Lei do Bem permite que os gastos com P,D&I em projetos que tenham patente concedida tenham um incentivo adicional. Assim, o gasto do projeto, que se utiliza como base para o cálculo deste incentivo adicional, acontece em ano N, sendo que a patente não será concedida no mesmo ano, isto é, a concessão ocorrerá até o ano N+11. Além disso, a Lei obriga a realização de um controle no LALUR destas informações desde o ano N até o ano em que, talvez, possa ser utilizado este incentivo adicional, em função da resposta do organismo avaliador. Em 11 anos uma tecnologia que poderia ser objeto de patente no momento da solicitação já pode estar obsoleta. Assim, o incentivo torna-se impraticável e perde seu objetivo, pois será necessário esperar em média 11 anos para obtê-lo. Logo, atualmente, por conta da demora na concessão das patentes, há a inviabilização do fomento adicional para a atividade de P,D&I que tem por objetivo gerar patentes ou cultivares, o que, consequentemente, inibe o investimento em atividade desse tipo no Brasil. O objetivo do incentivo adicional existente em Lei é beneficiar as empresas que objetivem a obtenção de uma patente a partir de projetos de P,D&I. A seguir, são indicados os números de solicitações de patentes e resultados obtidos nos dois últimos anos (2015 e 2016). Figura 25 - Dados INPI ano base 2015

Figura 26 - Dados INPI ano base 2016

A seguir, seguem dados 2015 e 2016 na Espanha [25]:

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Figura 27 - Dados OEPM ano base 2015 e 2016: depósito de patentes nacionais

Figura 28 - Dados OEPM ano base 2015 e 2016: concessão de patentes nacionais

De todas estas fontes de dados, podem ser extraídas as seguintes conclusões:

O número de patentes depositadas no Brasil reduziu de 2015 a 2016;

O percentual de patentes concedidas comparado ao número de depósitos representa entre 12% e 15%;

Comparativamente à Espanha, o número de solicitação de patentes é muito maior (em proporção 10 vezes superior), mas o percentual de concessões comparado ao número de depósitos é muito menor (13% no Brasil frente a 77% na Espanha).

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Analisando estas informações, junto com os dados indicados no início da justificativa, pode-se concluir que, para uma organização aguardar 11 anos para depósito cuja eficiência na concessão é tão reduzida, e tendo em conta os controles que implica, esta medida não é um incentivo real. Inclusive, os dados permitem observar que este incentivo não está cumprindo o seu objetivo principal, pois não está trazendo o incremento do número de patentes depositadas no país, o que seria lógico, já que existe um incentivo para tal fim. A seguir, pode-se observar o impacto numérico deste incentivo que, em nenhum caso, chega nem perto de 1% do impacto total [26], além disso, este número é cadastrado em função das patentes solicitadas, mas pode não ter aplicabilidade real (até a concessão, que só acontece em 13% dos casos). Figura 29 - Histórico Lei do Bem últimos 5 anos (*quantidade de reais x1000)

Como observado no capítulo de análise, os indicadores do Brasil quanto ao investimento em P,D&I, em relação ao PIB, estão ainda em níveis baixos quando comparados aos países da Europa e da Ásia. A Lei do Bem tem importância fundamental para promover os investimentos em atividades de P,D&I no país, porém entendemos que tal legislação precisa ser aprimorada e atualizada para atingir as expectativas geradas sobre ela, tanto das empresas usuárias, quanto do próprio Governo. Dessa forma, as duas primeiras propostas pretendem ampliar tanto o número de empresas que podem se utilizar do benefício, quanto as garantias de uma maior estabilidade e segurança nas organizações para contar com a Lei do Bem nos seus planos estratégicos. Esta proposta tem a finalidade de estruturar outra forma de potencializar o incremento do investimento em P,D&I já é utilizada em outros países (ver o caso da Espanha, por exemplo, [23]). Consiste em premiar aquelas empresas que, ano a ano, aumentam o valor do investimento em atividades de P,D&I. Hoje a Lei já prevê, no seu Artigo 19, parágrafo 1º, um incentivo adicional, consistente no incremento de equipe interna de pessoas com dedicação exclusiva a atividades de P,D&I. Seguindo esta mesma linha de raciocínio e analisando o que acontece em alguns outros países, chegou-se à conclusão de que poderia ser seguida uma linha estratégica similar e oferecer um incentivo adicional àquelas empresas que, além de substituir trabalho externo por interno em P,D&I, incrementem o seu volume de gasto nesta tipologia de atividades ano a ano. A alteração sugerida foi elaborada devido à inviabilidade do uso do incentivo adicional pela geração de patentes. Assim, com a alteração proposta busca-se uma alternativa coerente com a atual linha de raciocínio da Lei, e muito mais coerente na aplicabilidade, com maiores chances de motivar as empresas, não só mantendo os níveis de investimento atuais, mas também aumentando o investimento ano a ano. Ampliando a informação indicada na última figura, pode ser analisado o impacto na arrecadação que se estima com a substituição proposta.

2010 2011 2012 2013 2014

Gasto em P&D (custeio) 7.183.248,91R$ 6.680.924,23R$ 5.212.929,71R$ 6.644.176,79R$ 7.933.819,42R$

Número de empresas 639 767 787 977 991

Exclusão fiscal por gatso com P&D 4.272.621,37R$ 3.708.936,11R$ 2.565.712,92R$ 3.986.506,08R$ 4.280.000,00R$

Percentual exclusão base sobre total 85% 89% 84% 86% 86%

Incentivo por patente 751,13R$ 6.216,35R$ 3.155,35R$ 19.512,25R$ 10.000,00R$

Percentual patente sobre total 0,01% 0,15% 0,10% 0,42% 0,20%

Exclusão por incremento pesquisadores 759.562,80R$ 429.177,60R$ 483.281,31R$ 649.633,16R$ 660.000,00R$

Percentual pesquisadores sobre total 15% 10% 16% 14% 13%

Exclusão total 5.032.935,30R$ 4.144.330,06R$ 3.052.149,58R$ 4.655.651,49R$ 4.950.000,00R$

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Figura 30 - Estimativa do impacto proposta do retorno de IR e CSLL (*quantidade de reais x1000)

Pode-se observar como nos anos de 2013 e 2014, únicos anos do estudo nos quais existiu incremento de gasto em P,D&I, o valor do incentivo adicional estaria abaixo dos 100 milhões de reais, supondo uma diferença com o atual incentivo da patente de em torno a 80 milhões. Este valor supõe 0,05% da arrecadação anual de IR e CSLL, e praticamente não tem impacto na arrecadação anual do Brasil, que atinge os 1,85 trilhões de reais, conforme indicado em capítulo anterior. Mas teria um efeito positivo, ao incentivar as empresas que ampliam o investimento a cada ano, buscando impacto similar ao obtido com o incentivo adicional pelo incremento de número de pesquisadores, que permitiu, como demostrado através de indicadores anteriores, o aumento de pessoal acadêmico no mundo empresarial, o que fortaleceu as atividades de P,D&I. Contratação de Terceiros Sugere-se incluir na legislação (i) concessão ampla dos incentivos fiscais nos casos em que ocorre a contratação de serviços de terceiros nos projetos de P,D&I, independentemente do porte ou estrutura organizacional. Neste caso, é comum a intepretação do MCTIC que os serviços de terceiros utilizados nos projetos de P,D&I não podem ser incluídos no incentivo fiscal sob argumento de o risco tecnológico não pertencer ao contratante. Isso, na maioria dos casos, não ocorre, já que a gestão, o controle, a coordenação e o risco são do tomador do serviço; (ii) utilização dos dispêndios com contratação de terceiros nos projetos de P&D, independentemente do porte da pessoa jurídica contratada e da forma de organização empresarial, desde que fique comprovado que não haverá fruição do incentivo em duplicidade. O objetivo é deixar regulamentado o entendimento que já foi formalizado em Solução de Consulta da Receita Federal do Brasil. Justificativa Nos termos da Constituição Federal, o Estado deve promover e incentivar o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação, em todas as suas formas, estimulando:

(i) A formação e o fortalecimento da inovação nas empresas e demais entes públicos e/ou privados; (ii) A criação e manutenção de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes promotores da inovação; (iii) A atuação dos inventores independentes e a criação, absorção, difusão e transferência de tecnologia.

Nesse sentido, os incentivos fiscais à inovação tecnológica deveriam considerar os benefícios gerados para o desenvolvimento do país, independentemente da forma adotada pelas empresas para a promoção de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento e fruição dos benefícios.

2010 2011 2012 2013 2014

Gasto em P&D (custeio) 7.183.248,91R$ 6.680.924,23R$ 5.212.929,71R$ 6.644.176,79R$ 7.933.819,42R$

Número de empresas 639 767 787 977 991

Exclusão fiscal por gatso com P&D 4.272.621,37R$ 3.708.936,11R$ 2.565.712,92R$ 3.986.506,08R$ 4.280.000,00R$

Percentual exclusão base sobre total 85% 89% 84% 86% 86%

Incentivo por patente 751,13R$ 6.216,35R$ 3.155,35R$ 19.512,25R$ 10.000,00R$

Percentual patente sobre total 0,01% 0,15% 0,10% 0,42% 0,20%

Exclusão por incremento pesquisadores 759.562,80R$ 429.177,60R$ 483.281,31R$ 649.633,16R$ 660.000,00R$

Percentual pesquisadores sobre total 15% 10% 16% 14% 13%

Exclusão total 5.032.935,30R$ 4.144.330,06R$ 3.052.149,58R$ 4.655.651,49R$ 4.950.000,00R$

Retorno fiscal IR e CSLL 1.711.197,96R$ 1.409.655,12R$ 964.883,16R$ 1.582.921,50R$ 1.680.599,64R$

Incremento 301.542,84-R$ 444.771,96-R$ 618.038,34R$ 97.678,14R$

Exclusão adicional estimada -R$ -R$ -R$ 286.249,42R$ 257.928,53R$

Retorno fiscal IR e CSLL estimado -R$ -R$ -R$ 97.324,80R$ 87.695,70R$

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Considerando a importância da inovação aberta para o processo célere e efetivo da inovação nos dias atuais, em que a tecnologia resulta da contribuição em redes, a imposição de formas de organização empresarial para estimular ou beneficiar o processo inventivo é contrária aos objetivos constitucionais de tutela à promoção da inovação e do desenvolvimento científico no país. Gastos no exterior Admitir que um determinado percentual (à sugestão de 10%) dos dispêndios com pesquisa e desenvolvimento seja realizado no exterior (contratação de pesquisador estrangeiro, compra de insumos para protótipos de fora, etc.). Isso permitiria a troca de conhecimento entre centros de excelência mundial e empresas brasileiras. O conhecimento poderá ser difundido e internalizado nas empresas nacionais, impactando diretamente no desenvolvimento tecnológico realizado no país. Case e Justificativa para os Gastos no Exterior em P,D&I O escritório de propriedade intelectual e inovação Vaz e Dias Advogados & Associados foi contatado em 2012 por uma empresa local (subsidiária), na área petrolífera, para restruturação da parte de contratos comerciais e compartilhamento de propriedade/proteção patentária às hipóteses dos Arts. 17, 19 e 19ª da Lei do Bem. O CEO da empresa contratante afirmou, um ano após a conclusão dos trabalhados de restruturação interna dos negócios relativos aos programas de P,D&I, que todo o trabalho realizado para investimentos em P,D&I estava em perigo. Mesmo a empresa contratante tendo o interesse e o dinheiro necessário para investir em inovação no território brasileiro (aliás, o investimento era e é compulsório), inexistiam ICTs, empresas e microempresas aqui no Brasil com capacidade tecnológica e conhecimentos técnicos na área de interesse. Portanto, eles não conseguiriam atender aos requisitos legais de investimento mínimo local, seguindo as regras de promoção interna e de alocação de recurso em parcerias com ICTs e microempresas. Aliás, conforme discutido à época com o CEO, nenhuma empresa ou mesmo país consegue obter todas as tecnologias e conhecimentos tecnológicos possíveis e em todas as áreas cientificas. Essa “fragilidade” é minimizada ou dirimida por meio da inovação aberta, que compreende os programas de P,D&I, aquisição tecnológica ou celebração de contrato de transferência de tecnologia com centros tecnológicos/empresas de outros países. Nesta perspectiva, para buscar adequar o investimento em P,D&I às exigências legais, principalmente fiscais quantos aos benefícios explicitados pela Lei do Bem, o escritório explicitou a recomendação para internalização de empresas/parceiros estrangeiros de base tecnológica ao Brasil com a consequente constituição de empresas brasileiras. Essa proposta adotada envolveu o atendimento aos seguintes requisitos: (i) constituição de empresa local; (ii) atendimento aos requisitos legais para enquadrá-la como brasileira; (iii) averbação na Junta Comercial e produção de livros comerciais; (iv) atendimento à escrita contábil e livros comerciais exigidos pela legislação local e, (v) principalmente, transferência de uma parte da pesquisa para o território brasileiro. Os gastos com a internalização foram imensos, principalmente considerando que as empresas parceiras de base tecnológica eram de pequeno e médio porte. Esses custos administrativos, em grande parte, poderiam ter sido evitados caso a Lei do Bem fosse mais acolhedora aos dispêndios com P,D&I no exterior. Exigir que um centro de pesquisa ou empresa se estabeleça no Brasil puramente para atender requisitos locais não parece se adequar à presente ordem de inovação aberta. Ainda, de acordo com um estudo de 2007, de consultores da Booz & Company,1 as principais empresas globais em termos de gastos com P&D, aplicaram 55% desses gastos no exterior, principalmente aquelas de origem europeia e japonesa. O estudo da Booz & Company evidenciou ainda que as empresas com 1 Dados extraídos do livro “Gestão de Novos Produtos”. 11ª. edição. Amgh Editora.

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porcentagens superiores de gastos em P&D aplicados em outros mercados (países) saíram-se melhor do que a média em várias medidas importantes de desempenho, como retorno sobre o investimento e retorno total para o acionista.

(i) Restrições na Lei do Bem com Gastos no Exterior Encontra-se vedada a possibilidade de dispêndios incorridos no exterior com P,D&I se enquadrarem como despesas operacionais, bem como a remessa de valores pela contratação tecnológica necessária para a área de P,D&I usufruir de incentivos à inovação, conforme o Art. 22 da Lei 11.195/2005 (Lei do Bem). Essa vedação encontra-se expressa no art. 22 da Lei do Bem. Na verdade, a Lei do Bem não inovou sobre essa restrição, pois o Art. 43 da Lei 10.637/2002 já determinava que a dedutibilidade de despesas operacionais relativas aos dispêndios com P,D&I somente poderia ocorrer se pagos a pessoas físicas ou jurídicas residentes e domiciliadas/sediadas no Brasil. Ainda, a Lei do Bem não trata adequadamente de incentivos para as dedutibilidades, créditos e isenções fiscais relativas à contratação de tecnologia no exterior, seja por meio de compra ou licenciamento ou pagamento ao exterior por essa contratação, necessárias para a promoção do programa de P,D&I liderado localmente pela empresa estrangeira. Conforme o §3º. do Art. 17 da Lei do Bem, o tratamento dessa contratação encontra-se limitado aos parâmetros do atual regramento incidente aos contratos de transferência de tecnologia. Esse regramento decorre de leis e regulamentos das décadas de 50 e 60 (Arts. 52 e 71 da Lei 4.506/64 e Portaria do Ministério da Fazenda n. 436/58), o que é incompatível com a atual política de promoção tecnológica.

(ii) Antecedentes Permissivos aos Dispêndios no Exterior Torna-se importante ressaltar que até a vigência da Lei 10.637/2002 era possível a dedutibilidade de dispêndios com inovação e tecnologia pagos a pessoas físicas ou jurídicas não residentes/sediadas no Brasil, sem qualquer restrição. Aliás a MP 66/2002 (anterior à Lei 10.637/2002) restringia aos residentes no Brasil somente a possibilidade de exclusão “na determinação do Lucro Real, valor equivalente a cem por cento do gasto total de cada projeto que venha a ser transformado em depósito de patente, devidamente registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e, em pelo menos, uma das seguintes entidades de exame reconhecidas pelo “Patent Cooperation Treaty (PCT). ” Isso significa que não havia vedação para a exclusão de despesas/gastos com investimentos em P,D&I no exterior para a determinação da base do Lucro Real. O INPI também registrou contratos de inovação tecnológica – denominados cost-sharing – que envolviam o fluxo de tecnologia entre empresas domiciliadas no país e empresas e centros de pesquisa no Brasil ou no exterior que possuíssem capacidade de geração de conhecimentos tecnológicos. Esse registro ocorreu por meio do Ato Normativo 116, de 22/10/1993, e persistiu até 1995, quando foi revogado pelo Ato Normativo 125/97. Permitia-se a participação de empresa brasileiras em acordos de cooperação tecnológica, bem como o compartilhamento de valores/custos incorridos em cost-sharing tecnológicos no exterior (“pool tecnológico). Neste procedimento de averbação, o INPI impunha algumas restrições, como um “cap” ou alíquota máxima para o cost-sharing nos valores equivalentes aos índices de dedutibilidade fiscal da Portaria 436/58. Os requisitos a serem preenchidos eram: (i) comprovação dos dispêndios serem necessários e normais às operações da empresa; (ii) não serem computados nos custos e (iii) comprovação das atividades tecnológicas do investidor brasileiro; (iii) exigência de os resultados tecnológicos decorrentes do cost-sharing serem transferidos para o investidor brasileiro e (iv) impedimento do investidor brasileiro em realizar qualquer

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outro pagamento, posteriormente, direto ou indireto, pela tecnologia resultante do desenvolvimento tecnológico contratado.

(iii) Irrazoabilidade das Restrições Existentes A restrição existente no Art. 22 da Lei do Bem é irrazoável face ao disposto nas alterações propostas à Constituição Federal pela Emenda Constitucional 15/2015. Essa Emenda insere ao Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação a colaboração de entes públicos e privados em geral, sem qualquer restrição à nacionalidade das empresas.2 Tal assertiva de não discriminação entre entes nacionais e estrangeiros encontra-se embasada no Art. 3º e seu parágrafo único da Lei 13.243, de 11/01/2016, que busca inserir quaisquer tipos de entidades voltadas à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, bem como as redes e projetos internacionais ao sistema de inovação, como segue:

“Art. 3o A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as respectivas agências de fomento poderão estimular e apoiar a constituição de alianças estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas, ICTs e entidades privadas sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que objetivem a geração de produtos, processos e serviços inovadores e a transferência e a difusão de tecnologia. (Redação pela Lei nº 13.243, de 2016), Parágrafo único. O apoio previsto no caput poderá contemplar as redes e os projetos internacionais de pesquisa tecnológica, as ações de empreendedorismo tecnológico e de criação de ambientes de inovação, inclusive incubadoras e parques tecnológicos, e a formação e a capacitação de recursos humanos qualificados. (Redação pela Lei nº 13.243, de 2016).

Do ponto de vista prático, é necessário abrir a possibilidade para as empresas brasileiras terem os dispêndios realizados no exterior, especificamente para promoção de inovação tecnológica, classificados como despesas operacionais para fins de dedução fiscal. Mais uma vez, inexistem todos os tipos de tecnologias no território brasileiro. Além disso, muitas vezes, o investimento em inovação no exterior pela empresa brasileira pode reduzir custo e maximizar o desenvolvimento da pesquisa e da tecnologia a ser desenvolvida localmente.

(iv) Propostas para Modificação da Lei do Bem As propostas para modificação da Lei do Bem podem ser realizadas em três áreas distintas, porém complementares, quais sejam: 1ª. Modificação – Área da Dedutibilidade Fiscal: Deve-se permitir que as despesas incorridas no exterior com pesquisa cientifica e tecnológica para promoção de parcerias tecnológicas com centros de pesquisa, organizações não governamentais e empresas estrangeiras, possam ser classificadas como despesas operacionais (logicamente atendendo aos requisitos de dedução) para o fim de apuração do Lucro Real.

2 “Art. 219-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão firmar instrumentos de cooperação com órgãos e entidades públicos e com entidades privadas, inclusive para o compartilhamento de recursos humanos especializados e capacidade instalada, para a execução de projetos de pesquisa, de desenvolvimento científico e tecnológico e de inovação, mediante contrapartida financeira ou não financeira assumida pelo ente beneficiário, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015).

Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) será organizado em regime de colaboração entre entes, tanto públicos quanto privados, com vistas a promover o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015).

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Essas despesas devem ser compatíveis e estar comprovadamente inseridas dentro de um programa de parceria e desenvolvimento tecnológico. O Art. 18 da Lei do Bem pode ser utilizado como referência para a estipulação da dedução fiscal. A nossa recomendação de nova minuta para esse artigo 18 é a seguinte:

“Poderão ser deduzidas como despesas operacionais, na forma do inciso I do caput do Art. 17 desta Lei e de seu § 6o, as importâncias investidas ou dispendidas om empresas, entidades públicas e organizações sem fins lucrativo no exterior, destinadas à execução de pesquisa tecnológica e de desenvolvimento de inovação tecnológica de interesse e por conta e ordem da pessoa jurídica que promoveu a transferência, ainda que a pessoa jurídica recebedora dessas importâncias venha a ter participação no resultado econômico do produto resultante.”

No nosso entender, a soma dos dispêndios realizados no período de apuração com P,D&I, classificáveis como despesas operacionais pela legislação do IRPJ deve ser integral, ou seja, não deve haver qualquer restrição de montante. Acreditamos que as regras dos Art. 17 e 19, bem como do Art. 349 do RIR/99 podem ser consideradas como pontos relevantes e de partida para a propositura das modificações. O inciso II do Art. 22 da Lei do Bem deve ser consequentemente revogado. 2ª. Modificação – Área da Contratação Tecnológica: Esse ponto envolve a contratação tecnológica estrangeira por meio da compra de ativos intangíveis ou do licenciamento de conhecimentos tecnológicos a serem diretamente utilizados em programas de P,D&I desenvolvidos por empresas brasileiras. Recomenda-se a isenção do imposto de renda retido na fonte para efetivação dos pagamentos ao exterior pela contratação tecnológica, diretamente utilizáveis nos programas de P,D&I pela empresa brasileira contratante ou a concessão de crédito máximo entre 50% até 100% do imposto de renda retido na fonte incidente sobre o pagamento de empresas estrangeiras pela contratação tecnológica. O uso desse crédito deve ter compatibilidade com os programas de P,D&I (incluindo prazo da pesquisa) liderados pela licenciada/compradora brasileira e evidenciar a importância da contratação tecnológica estrangeira. Como alternativa e sugestão, pode-se reforçar o retorno do inc. V do Art. 17 da Lei do Bem, revogado pela Lei 12.350/2010, como segue:

“V - Crédito do imposto sobre a renda retido na fonte incidente sobre os valores pagos, remetidos ou creditados a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior, a título de royalties, de assistência técnica ou científica e de serviços especializados, previstos em

contratos de transferência de tecnologia averbados ou registrados nos termos da Lei no 9.279, de 14 de maio de 1996, nos seguintes percentuais: a) 20% (vinte por cento) relativamente aos períodos de apuração encerrados a partir de 1o

de janeiro de 2006 até 31 de dezembro de 2008; b) 10% (dez por cento) relativamente aos períodos de apuração encerrados a partir de 1o

de janeiro de 2009 até 31 de dezembro de 2013;

Os limites de dedutibilidade fiscal dos valores pagos ao exterior, decorrentes do licenciamento tecnológico, devem ser eliminados com a consequente revogação do §3º. do Art. 17 da Lei do Bem. Pode-se adotar regramento explicito quanto à dedutibilidade integral dos valores pago ao exterior e oriundos do licenciamento tecnológico por tecnologia contratada e utilizadas nos programas de P,D&I. Ainda, deve-se buscar a revogação imediata da Portaria 436 de 1958, que limita quantitativamente as despesas operacionais decorrentes do licenciamento de tecnologia, assim como os Arts. 52 e 71 da Lei

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4.506/64. Todo esse regramento é incompatível com o nível de desenvolvimento tecnológico no Brasil e com o interesse do país em promover atividades tecnológicas. Relação de outros elementos a serem aperfeiçoados mediante alterações em instrumentos infra legais: Adicionalmente, a Anpei acredita que tão importante quanto a manutenção deste incentivo, é o seu constante aprimoramento, além da criação de condições que tragam maior segurança jurídica para as empresas inovadoras. Ajustes no Decreto n. º 5.798/06, na Instrução Normativa RFB n. º 1.187/11 e no FORMP&D - Cálculo do incremento de colaboradores envolvendo P,D&I: (i) simplificar o cálculo do incremento de pesquisadores, deixando clara a metodologia adotada; e ampliar a dedução para até 100%, sem que seja necessário o cálculo do incremento de pesquisadores; ou (ii) 80% de exclusão adicional sempre que houver aumento do quadro de funcionários envolvidos em projetos de P,D&I de um ano para o outro, inclusive no primeiro ano de tomada do benefício. - Artigo 19A: propõe-se regulamentação para uso efetivo do dispositivo por parte das empresas e ICT’s de modo a: (i) desburocratizar o acesso ao incentivo do 19-A, de forma que seja desnecessária a aprovação prévia, bem como Chamada Pública; (ii) adoção de regra clara e objetiva em relação ao envio de projetos por parte das ICTs. - Medidas de desburocratização: (i) retirar a obrigatoriedade prevista na IN RFB 1.187/2011 sobre a necessidade de constar no contrato de trabalho a função de pesquisador; (ii) retirar a obrigatoriedade de aditivo contratual para funcionários com dedicação parcial à P,D&I, uma vez que a questão da propriedade intelectual decorrente de projetos de P,D&I já é tratada pela CLT. - Melhorias no FORMP&D:

Aumentar o número de caracteres dos campos de descrição dos projetos;

Ao fazer atualizações nos itens de preenchimento dos projetos, ao salvar os dados, a página retorna para o cabeçalho inicial. Sugerimos que a página volte para o lugar onde está sendo editada;

Deixar mais claro, caso a empresa opte por enviar anexos no FORMP&D, se é possível o envio da descrição em um formato livre, sendo o limite de páginas por projeto maior (ex. 4 páginas). E ainda explicitar quais são as informações que o MCTIC considera importante constarem no anexo, caso a empresa ache necessário enviar (ex.: objetivo, desafio tecnológico, gráficos, ilustrações que ajudem na compreensão do conteúdo do projeto, cronograma, etc.);

Ajustar o quadro de 5.4 itens de dispêndios - 2.3 Serviço de Apoio Técnico e/ou Tecnologia Industrial Básica, Viagens e outros dispêndios indiretos relacionados as atividades de P,D&I (Despesas de acordo com o Capítulo III da Lei 11.196/05, Decreto 5.798/06, e Instrução Normativa 1.187/11);

Tornar possível a reutilização de dados já preenchidos no FORMP&D e que podem se repetir entre os projetos (ex. CPF, CNPJ, Razão Social, Nome dos colaboradores, etc.);

Verificar se o bug do quadro de pessoal já foi solucionado (em 2014 o quadro mudava o preenchimento das informações);

Verificar os bugs relacionados ao arredondamento de casas decimais, de forma a garantir que em todos os quadros em que os resultados estão linkados, os valores sejam os mesmos;

Publicar o FORMP&D com maior antecedência.

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