contribuicoes teoricas da psicol psicanalise fenomenologia parte 1

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Contribuições Teóricas da Psicologia (Psicanálise, Fenomenologia e Behaviorismo) Parte I Conteudista Profª. Me. Ana Cristina Alves Lima

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Contribuicoes Teoricas Da Psicol Psicanalise Fenomenologia Parte 1

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  • Contribuies Tericas da Psicologia (Psicanlise, Fenomenologia e

    Behaviorismo)

    Parte I

    Conteudista

    Prof. Me. Ana Cristina Alves Lima

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    Introduo

    A Psicologia, enquanto disciplina cientfica, tem evoludo progressivamente nas ltimas

    dcadas. As diferentes abordagens, bem como as diferentes reas de atuao ganharam

    fora e disseminaram a profisso pelo pas. O fato de ser uma cincia relativamente

    nova, se comparada, por exemplo, s cincias exatas, levou vrios autores, conforme

    Bock (et all, 2008, p. 21), a detectar a impossibilidade, ainda, no mbito de sua atuao,

    de uma [...]construo de paradigmas confiveis e convincentes que pudessem ser

    adotados sem receios por todos os psiclogos.

    Porm com tanta diversidade de abordagens tericas e reas de atuao tornou-

    se complicado exigir ou pensar em um s paradigma a ser seguido e confivel a todos

    sem qualquer tipo de questionamento. Por ser uma cincia humana, a Psicologia muda

    de acordo com alteraes do seu prprio objeto de estudo: o ser humano e isso, sem

    dvidas, refora tais problematizaes. Como o homem sujeito e objeto de estudo,

    portanto, da Psicologia falaremos, nas prximas semanas, de trs abordagens

    importantes para a compreenso do todo desta cincia: a Psicanlise, o Behaviorismo e

    a Existencial Fenomenolgica.

    A Psicanlise de Freud, bem como de outros autores, desbravou o lado obscuro

    do psiquismo e causou grande impacto em termos dos mtodos de investigao

    desenvolvidos e empregados. O Behaviorismo, por sua vez, pautou suas descobertas em

    procedimentos objetivos de estudo, querendo ocupar uma posio ao lado de cincias j

    reconhecidas. A Psicoterapia existencial surge mediante um contexto em que muitos

    autores questionavam as descobertas de Freud e tais insatisfaes acabaram

    promovendo e estimulando um outro jeito de conceber e compreender o ser humano no

    contexto clnico.

    1. Psicanlise

    Quando se fala em psicanlise o nome de Sigmund Freud a primeira referncia

    que a maioria das pessoas associam, sejam elas leigas ou conhecedoras da Psicologia.

    Freud causou grande impacto com suas descobertas, sendo considerada uma das trs

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    grandes mudanas em todo o registro histrico. A primeira mudana foi quando

    Coprnico (1473-1543) demonstrou, com suas teorias, que a Terra era um dos planetas

    que girava em torno do Sol. A segunda grande mudana foi quando Charles Darwin, no

    sculo XIX, comprovou que o homem um ser de uma espcie superior proveniente de

    formas inferiores de vida animal.

    Levando em considerao tais revolues no pensamento, no de se espantar

    que, ao afirmar que o ser humano sofria influncias inconscientes, Freud provocou uma

    grande mudana no cenrio de pensadores da poca, enfatizando a natureza sexual e

    agressiva das nossas motivaes.

    1.1 O conceito de inconsciente

    As influncias anteriores sobre a Psicanlise so advindas de reflexes

    filosficas a respeito do fenmeno psicolgico inconsciente. Antes de Freud acreditava-

    se que conscincia e razo eram sinnimos de subjetividade. Poucas vezes, podia-se

    admitir que a conscincia continha pores inconscientes e que algumas ocorrncias

    psquicas estavam inacessveis a conscincia.

    Alguns autores como Leibnitz, Hebart e Fechner (Schultz, 2005) antecederam

    Freud em pesquisas sobre o inconsciente, mas foram os estudos de Fechner,

    especificamente, que provocaram grande impacto em Freud, ao revelar uma analogia

    entre o aparelho psquico e o iceberg. No aparelho psquico, a maior parte fica submersa

    e influenciada por fatores e foras no-observveis. J a parte Analogicamente, do

    iceberg que fica acima do nvel do mar, que que se pode observar, pode ser comparada

    a parte da mente que se tem acesso, ou seja, a conscincia.

    Segundo Shultz, (2005, p. 348) Freud reconhecia que outros escritores e

    filsofos antecessores a ele abordaram profundamente esse tema, mas, mesmo assim,

    alegava ser o descobridor da forma cientfica para o estudo do inconsciente.

    O inconsciente no representa o aparelho psquico, mas sim interage e se

    contrape ao pr-consciente conscincia. O inconsciente no como outro rgo do

    corpo, pois se mostra como inacessvel observao, impossibilitando, assim, uma

    verificao emprica por conta da sua natureza. Pode ser reconhecido atravs de

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    instrumentos utilizados e em inferncias sobre sua influncia e efeitos na conscincia.

    Atravs da observao pode-se constatar os efeitos diretos, por exemplo, no discurso,

    como os atos falhos, chamados de Lapso-lingue, e que correspondem ao ato falho da

    linguagem, no qual troca-se o que ia ser dito por outra coisa, como, por exemplo,

    chamar o namorado pelo nome de outro rapaz.

    Freud dividiu o aparelho psquico em pr-consciente, conscincia e inconsciente

    e descreveu a relao desses trs subsistemas. A conscincia tem como funo receber

    tanto estmulos externos quanto estmulos internos, mas no os armazena, pois essa

    uma funo do pr-consciente e do inconsciente. A conscincia responsvel pelo

    julgamento e pelo raciocnio, bem como pela discriminao qualitativa das vivncias, as

    quais so atribudas afetos positivos ou negativos. O pr-consciente se encontra entre o

    inconsciente e a conscincia e funciona como um arquivo, armazenando os contedos

    advindos tanto do mundo interno como do mundo externo, sendo facilmente acessados.

    No inconsciente todas as representaes das coisas so armazenadas, percepes

    antigas, bem como algumas vivncias modificadas so guardadas nesse arquivo visual.

    As imagens guardadas no inconsciente so atemporais, por isso que em sonhos algumas

    imagens de acontecimentos da infncia parecem atuais.

    Na relao entre os trs subsistemas psquicos as estruturas tm como meta

    fundamental manter e recuperar, quando perdido, um nvel aceitvel de equilbrio

    dinmico que maximiza o prazer e evita o que causa dor e sofrimento.

    Segundo Duarte (2005, p.5), so trs os princpios do aparelho psquico:

    Princpio da constncia: como todo organismo vivo, o ser humano

    tem uma forte propenso a manter constante sua tenso interior. O

    princpio da constncia anlogo ao princpio fisiolgico da

    homeostase. Ele busca manter constante ou reduzido ao mximo, o

    montante de energia ou tenso do aparelho psquico.

    Princpio do prazer A atividade psquica em seu conjunto tem por

    objetivo evitar o desprazer e proporcionar prazer. Na medida em

    que o desprazer est ligado ao aumento da tenso ou excitao e o

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    prazer sua reduo, este princpio est a servio do anterior.

    Princpio da realidade Atua ao lado do princpio do prazer

    tentando modific-lo medida que o aparelho psquico vai

    evoluindo. Isso faz com que a descarga de tenso j no se faa

    pelo caminho mais curto, busca-se ainda a descarga, mas promove-

    se adiamentos em funo das condies impostas pelo meio

    exterior. Por exemplo: as crianas pequenas tm uma tendncia a

    querer satisfazer seus desejos a todo custo e de forma imediata,

    com a maturao e a educao vai se desenvolvendo, entretanto, a

    capacidade de espera e elas j sero capazes de suportar os

    adiamentos, segundo exigncias da realidade.

    1.2 Instncias Psquicas e mecanismos de defesa

    Os princpios do prazer e de realidade interferem no funcionamento do aparelho

    psquico, uma vez que a formao da personalidade estruturada a partir de uma

    relao entre mundo externo e mundo interno. Nessa troca o resultado desse

    intercmbio a personalidade.

    A relao entre realidade externa e realidade interna percebida e influenciada

    desde o desenvolvimento da criana, quando esta aprende a lidar com o suprir ou no de

    seus desejos. Na medida em que a criana tem que adiar suas satisfaes, ela entra em

    contato com as condies impostas pelo mundo externo, percebendo que nem sempre

    seus desejos podem ser realizados de imediato.

    A criana, durante a infncia, depende dos pais que desempenham um papel de

    Ego auxiliar na satisfao de suas necessidades. As primeiras experincias so

    incorporadas pela criana tendendo a buscar vivncias que geram a satisfao e recusar

    o que causa dor e sofrimento. A interiorizao do mundo externo vai acontecendo de

    forma progressiva, na qual os pais atuam como mediadores de excitao, fazendo com

    que a criana compreenda e viva a realidade. Alm disso, o mundo interno da criana

    vai sendo organizado na medida em que ela se relaciona com referido mundo e se

    identifica com os modelos e figuras parentais que a cercam.

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    Alm de explicar o aparelho psquico, Freud props um modelo fictcio na tentativa

    de explicar o funcionamento complexo das trs instncias. O ID, Ego e Superego representam

    o aparelho psquico.

    O ID o reservatrio da energia psquica e inteiramente inconsciente, regido

    pelo princpio do prazer, o qual procura satisfao imediata para as necessidades. a

    estrutura original da personalidade e est exposta tanto s exigncias somticas do corpo

    quanto s exigncias do ego e superego. Ao nascer, o ID regula toda a atividade do

    recm nascido que chora quando est com fome, quando precisa ser trocado, quando

    est com dor ou quando quer colo ou calor humano. A satisfao imediata a principal

    meta do ID. Ao longo do desenvolvimento o ID continua a influenciar nosso

    comportamento, mas aprendemos a regular a relao entre o princpio do prazer com o

    princpio da realidade, ou seja, entre o que se quer fazer e o que deve e pode ser feito. A

    partir do ID nasce o Ego, que sofre influncias externas diretas por intermdio do

    sistema de percepo-conscincia.

    O Ego se forma devido a relao com o mundo externo, que contribui com

    regras e leis, que, por sua vez, sero introjetadas pelo indivduo regulando suas aes.

    Por ser regido pelo princpio de realidade, o ego tem como funo garantir o equilbrio

    psquico, mantendo as tenses a um nvel constante, aplacando o que pode vir a

    interferir na dinmica do sujeito com o mundo externo. O ego ainda dispe de

    mecanismos de defesa que auxiliam na reduo do impacto de qualquer situao que

    coloque a integridade e constncia do indivduo em perigo.

    Com o desenvolvimento do ego a partir de uma certa idade, no se pode mais

    chorar e espernear quando uma necessidade no for satisfeita. Se um adulto faz birra

    quando seus desejos ou necessidades no forem atendidos pode ser um sinal de que esse

    indivduo no tenha recebido os limites necessrios sua realidade, durante a infncia,

    e, por isso, no tem maturidade para perseguir seus objetivos de forma adequada e

    madura. Porm, se o meio no aceita algo que desejamos intensamente, seja por

    princpios morais, culturais ou religiosos incompatveis com a situao vivenciada, o

    ego vai recalcar esse desejo ou representao insuportvel. O recalque um dos

    mecanismos de defesa do ego.

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    A terceira instncia apontada por Freud o Superego que se ope ao Ego como

    uma espcie de sensor de conscincia. Desde criana somos expostos e convivemos

    com padres morais de nossos pais e dos ambientes os quais frequentamos como a

    escola, para citar apenas um desse ambientes.As censuras as quais somos submetidos

    quando criana, como, por exemplo, fazemos algo errado e nossos pais dizem no faa

    isto, iro ecoar at a idade adulta, na medida em que internalizamos essas

    representaes e julgamento morais e sem que algum nos repreenda, pois ns mesmos

    acabamos por exigir e cobrar um comportamento adequado situao e ao meio.

    O Superego quem vai informar quando os nossos desejos no esto de

    acordo com as regras, ou so imprprios, sendo, estes, geralmente, os desejos de ordem

    sexual. Ao introjetarmos as regras e leis que compem um plano moral do mundo

    externo, tais condicionamentos se alojam dentro de ns, constituindo uma parte

    importante que o Superego. Os desejos, especificamente sexuais, surgem desde cedo e

    suas manifestaes podem ser censuradas pelos adultos, que reprovam, por exemplo, a

    ereo no menino, dizendo: Que coisa feia!, No mexa a, gerando,

    consequentemente, na criana, um sentimento de culpa que armazenado no Superego e

    generalizado para tudo que diz respeito ao sexo, desenvolvendo desde cedo um conflito

    entre prazer e culpa que pode seguir pelo resto da vida.

    Nessa relao entre mundo externo e mundo interno, Freud ainda apontou a

    construo de um Ideal de Ego, no qual a criana vai introjetando modelos que sero

    comparados a sua auto-imagem, - que ter que ser perfeita-, buscando sempre a

    gratificao dos pais. um movimento narcisista que est relacionado com a imagem

    que os pais tm dos filhos ou aquela que este captou. O filho de forma inconsciente vai

    tentar se colocar no lugar de objeto ideal segundo o modelo que agradaria os pais.

    As trs instncias psquicas, ento, funcionam tentando manter o equilbrio psquico

    diante das exigncias do ID, bem como com a ansiedade e frustraes produzidas que

    geram o conflito de tentar supri-las de acordo com as adequaes da realidade externa.

    Essa tentativa de responder s exigncias do ID e de se adequar realidade externa,

    podendo distorcer ou negar a natureza do conflito, so operaes do inconsciente, ou

    seja, mecanismos de defesa do ego.

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    1.3 Estgios Psicossexuais do desenvolvimento da Personalidade

    Freud causou impacto, mais uma vez, com sua teoria dos estgios psicossexuais

    do desenvolvimento, afirmando que as vivncias na infncia eram determinantes para o

    curso do desenvolvimento saudvel ou patolgico. Acreditava, tambm, que todas as

    estruturas importantes para a personalidade j estavam formadas at os cinco anos de

    idade. Os estgios de desenvolvimento psicossexuais so centrados nas zonas ergenas,

    as quais nomeam cada uma das fases. Nesse sentido, as fases apontadas por Freud

    recebem os nomes de oral, anal, flica e genital. Alm dessa classificao, Freud

    descreve, ainda, um perodo, o qual nomeia de latncia; perodo, este, intermedirio

    entre a genitalidade infantil e a genitalidade adulta.

    O conceito de libido, como energia afetiva que mobiliza o organismo em busca

    de seus objetivos, ir sofrer progressivas transformaes durante o desenvolvimento, no

    qual em cada uma das fases ser suportada por uma organizao biolgica, chamada de

    zona ergena.

    Na fase oral a estimulao da boca a principal fonte de satisfao sensual, por

    intermdio do ato de sugar, morder e engolir. Freud acreditava que uma satisfao

    inadequada podia gerar no adulto uma preocupao com hbitos bucais como fumar,

    beijar e hbitos alimentares. A fase oral ocorre at os dois anos de idade do indivduo,

    continuando o desenvolvimento com o deslocamento da libido para a regio anal.

    Na fase anal, a libido deslocada para o nus e a criana obtm prazer na regio

    anal. Essa fase que vai at os 3 ou 4 anos de idade, no incio, coincide com o treino do

    piniquinho,ou seja, o perodo da retirada da fralda. A criana pode reter ou expelir as

    fezes e esses comportamentos podem produzir, analiticamente, um desprezo pelos

    desejos dos pais.

    A fase flica, que acontece por volta dos 4 anos de idade, caracterizada pelo

    reconhecimento dos genitais, bem como a manipulao, carcias e exibies dos rgos.

    O complexo de dipo ocorre nesse estgio, porm, no entraremosem detalhes sobre

    esse complexo.

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    Entre os 5 e 12 anos a criana passa por um perodo de latncia, no qual a libido

    no tem nova organizao ergena, aguardando a prxima fase para ressurgir. Na fase

    genital todas as adaptaes biolgicas e psicolgicas j foram realizadas e o indivduo

    comea a se preparar para as exigncias da vida adulta, como o casamento, a

    paternidade ou a maternidade.

    *Para saber mais: o livro Noes bsicas de psicanlise (1973), de Charles

    Brenner, pode ser uma boa leitura, bem como as Obras Completas, de Freud,

    encontradas em livrarias em vrios volumes.

    Os mecanismos de defesa

    Os mecanismos de defesa do ego so aes inconscientes que realizamos para

    nos livrarmos da angstia gerada diante de um conflito interno, ou seja, ou um desejo

    que no foi satisfeito ou algo do mundo externo possa colocar em risco nossa

    organizao interna.

    Para evitar o desprazer, a realidade externa distorcida atravs dos mecanismos

    de defesa. So vrios os mecanismos que um indivduo pode utilizar e so processos

    inconscientes realizados pelo ego. Todos ns utilizamos tais defesas em nosso dia a dia

    e seus usos no necessariamente correspondem a uma doena patolgica. Ainda que

    distoram a realidade, esses mecanismos protegem, de alguma forma, o aparelho

    psquico de perigos reais ou imaginrios advindos do mundo exterior.

    Para completar a leitura terica da semana, utilizem o material para leitura

    complementar que descreve alguns dos mecanismos de defesa do ego. Vocs

    utilizaro esse material para a realizao da atividade tarefa da semana. Acessem

    tambm o link http://goo.gl/bI3rr para ler o artigo intitulado "Dora" contempornea

    e a crise teraputica da psicanlise, escrito por Luiz Augusto M. Celes, que trar

    mais informaes sobre a cincia que a Psicanlise. Bom estudo!

    http://goo.gl/bI3rr