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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CAMILA VINKERT DA SILVA CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CAMILA VINKERT DA SILVA

CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA

CURITIBA

2012

CAMILA VINKERT DA SILVA

CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA

Monografia apresentada como requisito parcialpara obtenção de título de Bacharel em Direitodo Curso de Direito da Faculdade de CiênciasJurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Péricles Coelho

CURITIBA

2012

TERMO DE APROVAÇÃO

CAMILA VINKERT DA SILVA

CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do diploma de Bacharel em Direito, Curso deDireito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de____________ de 2012

___________________________________

Professor Doutor Eduardo Oliveira LeiteCoordenador do Núcleo de Monografias

Curso de DireitoUniversidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Dr. Péricles CoelhoFaculdade de Ciências Jurídicas da UTP

______________________________________

Prof. Dr. _______________________________

______________________________________

______________________________________

Prof. Dr. _______________________________

______________________________________

______________________________________

Primeiramente a Deus, meu provedor e minha força.Dedico às pessoas que lutam diariamente ao meu lado,

transmitindo fé, amor, alegria, determinação, paciência, ecoragem, tornando os meus dias mais felizes e bonitos.

Aos meus pais, Cicero e Cinara, ao meu irmão Luis Fernando,e ao meu esposo Eduardo, sem vocês certamente

eu não chegaria aonde cheguei.

AGRADECIMENTO

A Deus por ter me dado forças e iluminando meu caminho para que pudesse

concluir mais uma etapa da minha vida.

Ao meu pai Cícero, por todo amor e dedicação que sempre teve comigo,

homem pelo qual tenho maior orgulho de chamar de pai, meu eterno agradecimento

pelos momentos em que esteve ao meu lado, me apoiando e me fazendo acreditar que

nada é impossível, pessoa que sigo como exemplo, pai dedicado, amigo, batalhador,

que abriu mão de muitas coisas para me proporcionar a realização deste sonho.

A minha mãe Cinara, por ser tão dedicada e amiga, por ser a pessoa que

mais me apoia e acredita na minha capacidade, meu agradecimento pelas horas em

que ficou ao meu lado não me deixando desistir e me mostrando que sou capaz de

chegar onde desejo, sem dúvida foi quem me deu o maior incentivo para conseguir

concluir esse trabalho.

A minha avó Dalva (in memoriam), por ter sido minha estrutura familiar por

muitos anos, uma pessoa que mostrou que muitas vezes um gesto marca mais que

muitas palavras, coração bondoso que dedicou toda sua vida a família, por todo o

amor que me dedicou, meu eterno amor e agradecimento.

Ao meu orientador, professor Péricles Coelho, pelo ensinamento e dedicação

dispensados no auxilio à concretização dessa monografia.

A todos os professores do curso de direito, pela paciência, dedicação e

ensinamentos disponibilizados nas aulas, cada um de forma especial contribuiu para

a conclusão desse trabalho e consequentemente para minha formação profissional.

Por fim, gostaria de agradecer ao meu esposo Eduardo, aos meus amigos e

familiares, pelo carinho e pela compreensão nos momentos em que a dedicação aos

estudos foi exclusiva, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que

esse trabalho fosse realizado meu eterno AGRADECIMENTO.

O amor é o único nexo permanenteválido nas relações familiares. Amar e ser amado

é um desejo de todos. E também um direito quea sociedade deveria proteger e estimular.

(Knobel, 1992)

RESUMO

O presente projeto tem como objetivo definir e explicar a contribuição de melhoria,conhecido pela maioria dos doutrinadores como tributo especial. Ao definirmos o queé a contribuição de melhoria, iremos verificar que esse tributo não poderá serclassificado como taxa, pois não reparte o custo de obra, também não seráconsiderado como imposto, pois não tem capacidade contributiva. Através daspesquisas doutrinarias e jurisprudenciais, identificaremos que o contribuinte não temescolha, havendo a valoração do imóvel o contribuinte é obrigado devolver essacontribuição ao Estado, sob pena de enriquecimento ilícito. Assim, o trabalho emquestão irá analisar e explicar as espécies de tributos, principalmente à contribuiçãode melhoria e assim entendermos o objetivo da contribuição de melhoria, bem comoveremos que a evolução desse tributo e suas vicissitudes, diante a doutrina eatravés das jurisprudências perante nosso Estado. E por fim, concluiremos que otema nos permitiu entender que a contribuição de melhoria, é uma forma de oEstado ser ressarcido das obras realizadas para beneficiar não só um contribuinte esim a população em geral.

Palavras-chaves: Contribuição de melhoria. Tributo. Estado. Contribuinte.

ABSTRACT

This project aims to define and explain the contribution of improvement, known bymost scholars as a special tribute. By defining what is the contribution ofimprovement, we will see that this tax can not be classified as rate because the costof not allocating work, will also not be considered as a tax because it has no ability topay. Through the doctrinal and jurisprudential research, identify the taxpayer has nochoice, with the valuation of the property the taxpayer is obliged to return thecontribution to the state, under penalty of illicit enrichment. Thus, the work in questionwill analyze and explain the kinds of taxes, especially the contribution of improvementand so we understand the purpose of the contribution of improvement and we seethat the evolution of this tax and its vicissitudes, before the doctrine andjurisprudence through before our state. Finally, we conclude that the issue hasallowed us to understand the contribution of improvement, is a way for the state to bereimbursed of the works to benefit not only the taxpayer but the general population.

Keywords: Contribution of improvement. Tribute. State. Taxpayer.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9

2 HISTÓRICO DA TRIBUTAÇÃO E OS TRIBUTOS EM ESPÉCIES ................. 10

2.1 ESPÉCIES DE TRIBUTOS............................................................................... 11

2.2 TRIBUTOS VINCULADOS ............................................................................... 14

2.3 TRIBUTOS NÃO VINCULADOS....................................................................... 15

3 CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIAS E SUAS VICISSUTUDES ........................ 17

3.1 PRINCÍPIOS DA ATRIBUIÇÃO DE MAIS-VALIA ............................................. 18

4 LEVANTAMENTO JURISPRUDENCIAL E O DIREITO

COMPARADO .................................................................................................. 20

4.1 DIREITO COMPARADO................................................................................... 21

5 CONCLUSÃO................................................................................................... 24

ANEXO ................................................................................................................... 28

9

1 INTRODUÇÃO

A contribuição de melhoria pode ser considerada dentro todos os tributos o

mais eficaz, pois só será cobrado se o imóvel for beneficiado por uma obra pública.

A pesar de estar prevista em nossa Constituição Federal, esse tributo não teve uma

boa recepção pelos contribuintes, conforme demonstraremos a seguir.

O presente trabalho tem como objetivo esclarecer o que é contribuição de

melhoria, através de seu estudo histórico, e a evolução na legislação e na jurispru-

dência, é um dos mais importantes, pois seu objetivo principal é evitar o enriquecimento

ilícito, em contrapartida não gerando beneficio, não possuirá custo algum.

A eficácia do dispositivo do artigo 145, III, da Constituição Federal e no que

seja a hipótese de incidência do tributo, e sua respectiva base, gerando este ponto

grande divergência na doutrina e na jurisprudência.

A contribuição de melhoria tem aspectos precisam ser esclarecidos, para

que se tenha melhor conhecimento desse tributo, para melhor aplicação do Estado,

sem desrespeito aos princípios do Direito Tributário.

Ainda, iremos informar que a contribuição de melhoria tem como elemento

obra pública, na forma de benefícios, Geraldo Ataliba (2009, p.171) nos caracteriza:

Contribuição de melhoria é a prestação por aqueles que têm sua propriedadevalorizada na medida dessa valoração. A presente citação nos descreve asimportâncias dessa tributação podem considerar que sejam os mais justodantes todos os tributos previstos em nossa legislação.

O Objetivo do presente trabalho é demonstrar que a contribuição de melhoria

não é taxa e não é imposto. A hipótese de incidência do imposto é um fato qualquer

e a hipótese de incidência da taxa é a cobertura de despesa feita pelo Estado.

Assim, iremos analisar o tributo contribuição de melhoria, compreendendo

em seu contexto histórico, previsão e através da legislação e jurisprudências e do

direito comparado.

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2 HISTÓRICO DA TRIBUTAÇÃO E OS TRIBUTOS EM ESPÉCIES

O Estado, constituído por um grupo de indivíduos reunidos e organizados

permanentemente para realizar um objetivo comum. O Estado é denominado de

sociedade política, pois, tem uma organização determinada por normas de direito

positivo, tem hierarquia na forma de governantes e governados, e tem uma finalidade

própria, o bem público.

Deve-se entender o Estado como obra da inteligência e da vontade dos

membros do grupo social, ou dos que nele exercem o governo e influência. Também

conforme o entendimento Azambuja (1998, p.75):

Os gregos cujo Estado não ultrapassava os limites da cidade usavam otermo polis, daí adveio o termo política, a arte de governar a cidade. Para osromanos as cidades eram denominadas civitas e respubiica. O Estado noevoluir dos tempos foi se transformando, pois tivemos o Estado antigo, omedieval, o moderno e o contemporâneo, cada qual com seu peculiar formato.

Para os povos ocidentais, pode-se dizer que é no séc. XVI que o termoEstado vai entrando na terminologia política; em alemão Staat, inglês State,em italiano Stato e espanhol Estado.

O Estado atual agrega várias funções. A função legislativa pode ser definidacomo a de criação e inovação do ordenamento jurídico; a funçãojurisdicional é a voltada para a aplicação da lei ao caso controvertido, e afunção executiva, tem por objeto a administração da coisa pública. Estaúltima é a principal perante a análise tributária.

Essas funções do Estado, depois de identificadas enquanto tais por Aristótelesfoi ao encontro do pensamento de Montesquíeu, em seu célebre trabalho Oespírito das leis. A grande inovação na obra de Montesquieu consistiuexatamente em demarcar que tais funções deveriam ser exercidas porórgãos distintos, estabelecendo uma divisão orgânica do Estado.

Segundo Paulo Barros de Carvalho (1993, p.16):

O vocábulo “tributo” experimenta nada menos que seis significadas diversas,quando utilizado nos textos do direito positivo, nas lições da doutrina e nasmanifestações das jurisprudências, São elas: - “tributo” como quantia emdinheiro – “tributo” como prestação correspondente ao dever jurídico dosujeito passivo – “tributo” com o direito subjetivo de que o titular o sujeitoativo – “tributo” como sinônimo de relação jurídica tributaria e “tributo” comonorma, fato e relação jurídica.

Analisando o trecho acima verificamos que o tributo está associado há uma

prestação pecuniária, mesmo quando esse significado não esteja explicito, pois seu

objetivo principal é arrecadação. Verificamos também, que toda prestação está dire-

tamente ligada há uma reação, assim, o sujeito ativo, nesse caso o Estado nos beneficia

com uma obra de canalização, os sujeitos passivo, nesse caso os contribuintes, que

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estão residindo próximos à obra, será beneficiados. De acordo com o artigo 3.o do

Código Tributário Nacional diz:

Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valornela se possa exprimir, que não se constitua sanção de ato ilícito, instituídaem lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.Tributo como toda prestação pecuniária compulsória, quer dizer que estaprestação que uma obrigação do contribuinte e independe da vontade dosujeito passivo mesmo contra sua vontade, ou seja, tributo como fato jurídiconão como ato jurídico.

Como diz o autor Azambuja nas palavras de Jovilete "A união moral de seres

racionais e livres, organizados de maneira estável e eficaz para realizar um fim comum

e conhecido de todos" (JOVILET1, 1950, p.283 apud AZAMBUJA, 1998, p.2). No

mesmo sentido, aduz o artigo 4.o do código tributário Nacional:

Art. 4.o - A natureza jurídica específica do Tributo é determinada pelo fatogerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I - adenominação e demais características formais adotadas pela lei; II - adestinação legal do produto da sua arrecadação. Nesse caso, para realizara cobrança o tributo é constituído em lei.

Analisando os dois artigos, identificamos que o fato gerador do tributo está

vinculado na prestação de serviço, onde gera uma obrigação que mesmo contra sua

vontade.

2.1 ESPÉCIES DE TRIBUTOS

Segundo a doutrina, identificamos que os tributos são divididos em impostos,

taxas e contribuições de melhorias, alguns doutrinadores consideram como tributos

também os empréstimos compulsórios e as contribuições sociais.

Segundo Paulo de Barros de Carvalho (1993, p.23):

Não é suficiente a descrição hipotética do fato jurídico tributário paraconhecemos a planta fundamental do tributo. É preciso que examinemos,antes de mais nada por imposição hierárquica, a base de cálculo, a fim deque a natureza particular do gravame se apresente na complexidade de seuesquematismo formal. É o que preceitua o constituinte brasileiro em seuartigo 145, § 2.o: As taxas não poderão ter base de cálculo própria de imposto.E, mais adiante, no artigo 154: A união poderá instituir: I – mediante leicomplementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam-não cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dosdiscriminados nesta constituição.

1 JOVILET, Régis. Traité de philosophie. v.2 Emanuel vitte, 1950. p.283.

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Dividem-se os tributos em cinco espécies, impostos, taxas, empréstimos

compulsórios e contribuições de melhoria e contribuições sociais. Iremos analisar

primeiramente o imposto. Segundo Geraldo Ataliba (2009, p.135): "Define-se, assim,

imposto como tributo não vinculado, ou seja, tributo cuja hipótese de incidência

consiste na conceituação legal de um fato qualquer que não se constitua numa

atuação do estatal, um fato da esfera jurídica do contribuinte".

Assim, o Imposto é um tributo de caráter não vinculado que independe de

qualquer atividade ou serviço do estado em face do contribuinte, nesse caso não se

espera uma contraprestação ou indicação sobre sua destinação. O artigo 16 do

Código Tributário Nacional aduz: "Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato

gerador uma situação independente de qualquer atividade esta portal especifica

relativa ao contribuinte".

Segundo Paulo de Barros Carvalho (1993, p.35) "Taxas são tributos que se

caracterizam por apresentarem, na hipótese da norma, a descrição de um fato

revelador de uma atividade estatal, direta e especificamente dirigida ao contribuinte".

Ainda:

Nisso diferem dos impostos, e a analise de suas bases de cálculo deverá exibirforçosamente, a medida da intensidade da participação do Estado. Acaso olegislador mencione a existência de taxa, mas eleja base de calculomensuradora de fato estranha a qualquer atividade do Poder Público, então aespécie tributária será outra, naturalmente um imposto (CARVALHO, 1993, 35).

Assim, a taxa é um tributo que sempre está vinculado à prestação de algum

serviço público, nesse caso trata-se de um tributo vinculado, mesmo o serviço esteja

em andamento. A taxa pode também estar relacionada com atividade estatal de

policia, como fiscalização em geral.

Geraldo Ataliba (2009, p.163) preceitua em sua obra que:

A taxa pela disponibilidade do serviço só é exigível, quando o serviço é porlei administrativa válida, obrigatório. É por exemplo, abastecimento de água,coleta de esgoto, vacinação, identificação, enterramento de mortos, internaçãode loucos ou portadores de doenças contagiosas, remoção de lixo, demoliçãode edifícios perigosos, destruição de aparelhos e instrumentos danosos aomeio ambiente, apreensão de objetos instrumentais de delitos.

Segundo o artigo 77 do Código Tributário Nacional: referenciar "Taxa é o

tributo cobrado em razão de atos decorrentes do poder de policia ou da utilização

efetiva ou potencial de serviço público especifico e divisível, prestado ao contribuinte

ou posto à sua disposição.

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Geraldo Ataliba (2009, p.163) preceitua sobre esse tema: "As taxas de

polícia cabem para cobrir os custos administrativos como o exercício do poder e

polícia diretamente referido a certas pessoas que o provocam, ou o exigem, em

razão de sua atividade".

Ainda, seguindo a ótica de Paulo de Barros Carvalho (1993, p.26):

A competência é exclusiva da pessoa política União e deverá ser exercidamediante lei complementar, em apenas duas hipóteses: a) para atender adespesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública de guerraexterna ou sua iminência; e b) no caso de investimento público de caráterurgente e de relevante interesse nacional, observando o disposto no artigo150, III, b (princípio da anterioridade).

Os serviços individualizáveis dividem-se em compulsórios ou facultativos.

Tributos compulsórios são os serviços que o beneficiário não pode recusar como o

serviço de esgoto e os facultativos são os serviços que beneficiário pode aceitar ou

não, como por exemplo, os serviços telefones.

Em relação aos empréstimos compulsórios, identificamos que se trata de

imposto qualificado pela promessa de restituição. De acordo com uma corrente, o

empréstimo compulsório teria natureza de contrato, pôr uma segunda corrente

entende que o empréstimo compulsório entre os tributos.

Dispõe o artigo 81 da Constituição Federal:

A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo DistritoFederal, ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, éinstituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorizaçãoimobiliária, tendo como limite total a despesa realizada, e como limite individualo acréscimo de valor que obra resultar para cada imóvel beneficiado.

Segundo Aliomar Baleiro (2001, p.569-570):

[...] a contribuição de melhoria é um tributo sui generis, inconfundível, [...]. Acontribuição de melhoria oferece matiz próprio e especifico: ela não écontraprestação de um serviço público incorpóreo, mas a recuperação doenriquecimento do ganho por um proprietário em virtude de obra públicaconcreta no local da situação do prédio. Daí a justificação do tributo peloprincípio do enriquecimento sem causa, peculiar ao Direito Privado.

Contribuição de melhoria é um tributo sobre a valorização de imóvel particular,

em decorrência de obras públicas realizadas:

A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo DistritoFederal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, éinstituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorravalorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e comolimite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvelbeneficiado (CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL, 2003).

14

Segundo a redação do artigo 149 do Código Tributário Nacional:

Compete à exclusividade à União instituir contribuições sociais, de intervençãono domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econô-micas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observandoo disposto nos artigos 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto noartigo 195, § 6.o, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Segundo Paulo de Barros Carvalho (1993, p.38):

As contribuições sociais são tributos que, como tais, podem assumir a feiçãode imposto ou de taxas. Excluímos, de indústria, a possibilidade de apare-cerem com os caracteres de contribuições de melhoria, posto que estaespécie foi concebida em termos de estreito relacionamento com a valorizaçãodo imóvel, traço que não só prejudica como até impede seu aproveitamentocomo forma de exigência e cobrança das contribuições sociais.

Assim, as contribuições sociais também denominadas de especiais ou para

fiscais, são tributos destinados à coleta de recurso para certas áreas de interesse do

poder público, na Administração direta ou indireta, ou na atividade de entes que

colaboram com a Administração. A contribuição social tem destinação certa, sendo

recolhida com uma finalidade predeterminada, indicada pela lei.

2.2 TRIBUTOS VINCULADOS

De acordo, com Geraldo Ataliba (2009, p.132):

Definem-se os tributos vinculados como aqueles cujo aspecto material dahipótese de incidência consiste numa atuação estatal. Esta espéciecomporta duas subespécies, que se estremam pelas características dointeracionamento estabelecido pelo legislador, entre os aspectos materiais epessoa da hipótese de incidência.

São considerados tributos vinculados às taxas e as contribuições, identificam

se a se a hipótese de incidência for de caráter estatal. Nesse caso, o aspecto

material está previsto no artigo 77 do Código tributário Nacional, onde consiste:

Art. 77 - As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federalou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm comofato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetivaou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinteou posto à sua disposição.

Bem como o aspecto pessoal está previsto no artigo 78 do Código Tributário

Nacional:

15

Art. 78 - Considera-se poder de polícia atividade da administração públicaque, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a práticade ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente àsegurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e domercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessãoou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito àpropriedade e aos direitos individuais ou coletivos [grifo nosso].

Assim, os tributos vinculados entram em conexão com o aspecto material

e o aspecto pessoal, não importando se for de modo direto ou indireto, surgindo à taxa

ou contribuição.

Segundo Geraldo Ataliba (2009, p.138):

Na contribuição medeia, entre a atuação e obrigado, uma circunstancia, umfato intermediária. É mediante esse fato ou circunstância que se estabelecea referibilidade entre atuação estatal e o obrigado, o que nos leva areconhecer que se essa referibilidade é mediata, em contraste com o que sepassa na taxa. Na contribuição, ou se tem uma atuação estatal que produzem efeito, o qual se efeito conecta com alguém ou, pelo contrário, se temuma pessoa que desenvolve uma atividade, ou causa uma situação querequer, exige, provoca ou desencadeia uma atuação estatal [grifo nosso].

Do trecho acima, o que nos chama atenção é que nos casos de tributos

vinculados as contribuições em si, o contribuinte só será acionado quando com a

intervenção do estado gerar benefícios, e nos casos das taxas independente se a

intervenção do estará irá gerar benefícios ou não sempre o contribuinte é afetado;

Assevera Paulo de Barros Carvalho (1993, p.75):

A vinculação pode ser direta, com nos casos mencionados, ou indiretos,como na realização de uma obra pública que suscite valorização dosimóveis adjacentes. Sempre que nos depararmos com a vinculação indireta,imediata, teremos as taxas, ao passo que a vinculação direta e mediata,indica a existência de uma contribuição de melhoria.

2.3 TRIBUTOS NÃO VINCULADOS

Segundo Geraldo Ataliba (2009, p.177):

Define-se, assim, o imposto como tributo não vinculado, ou seja, tributo cujahipótese de incidência, consiste na conceituação legal de um fato qualquerque não se continua numa atuação estatal, segundo artigo 16 do CódigoTributária Nacional, um fato da esfera jurídica do contribuinte. Art. 16 -Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situaçãoindependente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.

16

São considerados tributos não vinculados os impostos, pois seu fato gerador

é uma situação qualquer, como por exemplo, vender, exportar, transferir, etc., ou

seja, os tributos não vinculados não tem a intervenção do Estado.

Paulo de Barros Carvalho (1993, p.3), nos descreve a respeito da compe-

tência de instituir os impostos:

A Carta Magna reparte a competência legislativa para instituí-los entre aspessoas políticas de direito constitucional interno (União, Estados, DistritoFederal e Municípios) de sorte que não ficam à disposição dessas entidades,como ocorre com as taxas e as contribuições de melhorias (tributosvinculados), que podem ser criadas por qualquer uma daquelas pessoas desdeque, naturalmente, desempenhem a atividade que serve de pressuposto àsua decretação.

Os impostos como previsto na Constituição Federal, pode ser instituídos

tanto pela união quanto pelos municípios. Por isso, observamos que no Brasil, a

grande quantidade de impostos e sua valoração exacerbada.

Para melhor visualização, iremos utilizar o quadro sinótico, que, segundo

Geraldo Ataliba, evidencia o critério da classificação jurídica dos tributos:

QUADRO 1 - CRITÉRIO DA CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA DOS TRIBUTOS

VINCULADOS(taxas e contribuições)

NÃO VINCULADOS(imposto)

Hipótese de incidência consiste numa atuação estatal. Hipótese de incidência consiste num fato qualquer quenão uma atuação estatal.

O estado fornece água, certidão, etc. Alguém vender, exportar, etc.

FONTE: Adaptado de Ataliba (2009, p.132)

17

3 CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIAS E SUAS VICISSUTUDES

Segundo Zelmo Denari (1994, p.91):

A contribuição de melhoria é um tributo sui Genaris, que se não confundecom as taxas, embora com estas guarde certa semelhança. Ambas têmnatureza compensatória, mas enquanto as taxas compensam serviçosprestados pelo poder público, diretamente relacionadas como os particulares, acontribuição de melhoria compensa a obra pública edificada em beneficio dacoletividade.

Salientamos que a hipótese de incidência da contribuição de melhoria é

valorização imobiliária, que é causada por obra publica, que se da antes e depois da

obra. E por fim, essa valoração deverá ser restituída aos cofres públicos.

A contribuição de melhoria é uma espécie tributária autônoma, diferentemente

dos impostos e das taxas, pois conforme mencionamos anteriormente a cobrança da

contribuição de melhoria só será repassada ao contribuinte com a valoração do imóvel

mediante obra pública.

Os tributos são caracterizados através da hipótese de incidência, normalmente

seu aspecto material, frisamos que o aspecto material é o núcleo da hipótese de inci-

dência dos tributos.

O aspecto material da contribuição de melhoria é a valoração imobiliária, que

fora gerada mediante uma obra pública, Geraldo Ataliba (2009, p.135), afirma que

esta lhe é essencial, sendo verdadeiro tributo:

Já na contribuição de melhoria, a base indisponível não está em nenhumadimensão da atuação, mas sim na medida de sua consequência, a valoraçãoimobiliária. Efetivamente, o critério da contribuição de melhoria é a medidada valorização e não qualquer dimensão da obra publica. Em outras palavras:o tributo se proporciona a valorização e não à obra.

Seguindo essa linha de raciocínio Geraldo Ataliba (2009, p.188) ensina:

Já na contribuição de melhoria, a base imponível não esta em nenhumadimensão da atuação, mas sim na medida de sua consequência, a valori-zação imobiliária Efetivamente, o critério da contribuição de melhoria é amedida da valorização e não qualquer dimensão da obra pública. Em outraspalavras: o tributo se proporciona à valorização e não à obra.

Por outro lado, a contribuição de melhoria, esta divida no custo e a valoração.

No custo, o tributo cabível é a realização da obra pública, desde que beneficie o

proprietário do imóvel atingido, bem como o custo da obra. Segundo Baptista Moreira

18

(1981, p.75) "A contribuição de melhoria, isto sim, obedece ao Princípio de Recupe-

ração do gasto público, em proporções do patrimônio".

Nesse caso notamos que a contribuição de melhoria surgiu para ressarcir os

gastos estatais.

Ao estudarmos o critério de valoração esta baseada no princípio da mais

valia, que atinge o imóvel localizado em áreas próximas da obra pública, mesmo

quando há limite na obra. Nesse sentido Aires Barreto (2009, p.75) diz: "A finalidade

da contribuição de melhoria não seria a fazer face o custo da obra, mas sim,

propiciar a incorporação da mais valia imobiliária causada por obra pública".

A contribuição de melhoria, conforme mencionamos anteriormente é inerente

uma atuação estatal, diferentemente dos impostos que não existe essa intervenção.

Ao tentarmos diferenciar contribuição de melhoria das taxas e impostos, notamos

que, a contribuição de melhoria se da através da intervenção do estado, mediante

uma obra pública. Nas taxas se da mediante contraprestação, mas nesse caso trata-

se de serviços públicos. Nos impostos, como já vimos anteriormente não há uma

contraprestação e sim manutenção dos serviços púbicos.

Paulo de Barros de Carvalho ensina (1993, p.35):

Em comparação com as taxas, que também são tributos vinculados a umaatuação do Estado, as contribuições de melhoria se distinguem por doispontos expressivos: pressupõem uma obra pública e não um serviçopúblico; e dependem de um fato intermediário, que é a valorização do bemimóvel. Daí dizer-se que a contribuição de melhoria é um tributo vinculado auma atuação do Poder Pública, porém indiretamente referido ao obrigado.

3.1 PRINCÍPIOS DA ATRIBUIÇÃO DE MAIS-VALIA

De acordo com Geraldo Atalliba (2009, p.75):

A realização de obras públicas, em regra, gera um efeito especifico notável:determina incremento no valor no valor dos imóveis adjacentes e vizinhos.Esta valoração é algo novo do mundo, introduzido como repercussão daobra. É algo de novo que se não confunde com a obra, mas é nitidamenteefeito seu. É o fruto da combinação da obra com algo já existente: osimóveis que lhe são avizinhados.

Ao analisarmos a citação em epígrafe extraímos que a valoração que o Princí-

pio da Atribuição de Mais-Valia é o ressarcimento dos gastos pelas obras públicas, o

19

Código Tributário Nacional em seu artigo 81 dispõe: “[...] é instituído para fazer face

o custo de obras públicas de que decorra a valorização”.

Observamos que a característica da contribuição de melhorias é valorização

imobiliária, o que se espera desse tributo é o ressarcimento dos gastos pelas obras

realizadas.

O Princípio da Contribuição da Mais-Valia decorre das obras do poder público,

nesse caso, a compensação pela valorização do território beneficiado pela obra.

Em relação ao Princípio da Mais-Valia ocasionada por obra pública é a

compensação da indenização devida em processo expropriado com valorização em

algumas áreas.

A sentença que fixa o valor da indenização, através da ação de expro-

priação, atribui à valorização imobiliária da área remanescente ao poder público,

descontando, o montante da área remanescente quanto da fixação da indenização

devida ao proprietário.

20

4 LEVANTAMENTO JURISPRUDENCIAL E O DIREITO COMPARADO

O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que a base de cálculo da

contribuição de melhoria é a efetiva valorização imobiliária dela decorrente,

inadmitida sua cobrança com base exclusivamente no custo da obra. Cabe ainda, ao

ente tributante, o ônus da prova da referida valorização. A confissão da dívida não

inibe o questionamento judicial da obrigação tributária, no que se refere aos seus

aspectos jurídicos.

Ainda, o fato gerador da contribuição da melhoria é a valorização do imóvel,

não cabendo sua fixação meramente sobre o valor da obra realizada, a contribuição

de melhoria tem como fato gerador a valorização do imóvel que lhe acarreta real

benefício, não servindo como base de cálculo tão-só o custo da obra pública realizada.

Assim, a cobrança da contribuição de melhoria deve levar em consideração

o acréscimo do valor do imóvel, decorrente da realização de obra pública, não sendo

possível estabelecer a sua cobrança com base no custo total da obra dividido pelo

número de unidades existentes na área beneficiada.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul entende que o contri-

buinte deverá demonstrar provas suficientes de que a contribuição de melhoria tenha

sido lançada com observância da valorização imobiliária decorrente da obra realizada.

A valorização imobiliária do imóvel na base de cálculo de contribuição de

melhoria segundo o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

consignou que o município rateou o custo total da obra entre os proprietários dos

imóveis que ficavam às margens das ruas asfaltadas, sem prever no edital o limite

individual do benefício trazido ao imóvel de cada contribuinte.

É pacífico no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que a valori-

zação individualizada do imóvel do contribuinte é fator delimitador da base de cálculo

da contribuição de melhoria, não sendo permitido tão somente o rateio do custo da

obra entre aqueles que residem na área em que foi realizada a obra pública.

O art. 81 do Código Tributário Nacional aduz:

A contribuição de melhoria [...] é instituída para fazer face ao custo de obraspúblicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total adespesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obraresultar para cada imóvel beneficiado. Enquanto que o art. 82, § 1.o, do CTNestabelece que "a contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelorateio da parcela do custo da obra [...] pelos imóveis situados na zonabeneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização".

21

Assim, é evidente que a base de cálculo da contribuição de melhoria é a

valorização do imóvel. Assim, não há previsão em nossa jurisprudência de

pagamento sem analise do fato gerador, segue o posicionamento do Ministro

Benedito Gonçalves quando aduz:

Dívida ativa regularmente inscrita goza de presunção de certeza e liquidez,não precisando ela vir acompanhada da prova de notificação ou de qualqueroutro ato administrativo para se constituir em instrumento apto aos finsexecutivos, competindo ao executado o ônus de provar a inexigibilidadetotal ou parcial da quantia que está sendo cobrado.

Vale destacar, quando o Estado ao realiza uma obra pública, tem como conse-

quência, a modificação física de um bem público, como por exemplo, as pavimentações

de ruas ou estradas, canalização de córregos. Assim, a benfeitoria não é realizada

diretamente no imóvel particular e sim em um bem público, porem não será todo o

imóvel valorizado, mas sim aqueles que estão próximos das obras.

4.1 DIREITO COMPARADO

A contribuição de melhoria não surgiu no Brasil, conforme já pré-relatado

explicitado muito países já haviam adotado a contribuição de melhoria, mas com

diferenças, tais como às denominações ao referido tributo, bem como a aplicarão do

mesmo tributo. Nos Estados Unidos, em 1851, o Tribunal de Nova York, definiu:

como constitucional a contribuição de melhoria, como expressão do poder fiscal.

Ruggles, o magistrado que decidiu sobre a constitucionalidade do tributo, foi

referenciado pelas palavras de Seligman "toda a evolução do sistema nos Estados

Unidos seguiu, a Unha traçada por aquele magistrado" (SANTOS, p.4) Na França, a

contribuição de melhoria é denominada de contribuiton sur lês plus values, mas

pelas formalidades exigidas na cobrança, não ocorreu o resultado desejado conforme

ensina Martins (MARTINS, p.367).

Na Inglaterra surge com o nome de betterment tax: alvitrando a lei denominada

de Tower Bridge Act, de 1895. Desde o começo do século XIX, na França, pairou a

sombra das leis de desapropriação por utilidade ou necessidades públicas. Somente

em 1918 é que ocorreu modificação na legislação, tendo esta, sido revista em 1935 e

1936. Quando uma obra pública valoriza imóveis em mais de 15% o proprietário está

sujeito à expropriação ou, alternativamente, à contribuição arbitrada.

22

Atualmente a contribuição de melhoria perdeu sua importância, por ter sido

absorvida pelos impostos locais.

Silva Martins (1995, p.368), em seus estudos sobre a contribuição de

melhoria, afirma que Colômbia e Peru possuem sistema de cobrança semelhante ao

brasileiro, duas são as experiências que conhecemos na América Latina, excluída a

brasileira. A da Colômbia, mais antiga, e a do Peru. Percebe-se em ambos os casos,

que a valorização é o fundamento buscado, mas com limite no custo da obra, como

a nossa ordenação.

Já na Colômbia, ocorre uma constante aplicação na cobrança de proprietários

beneficiados. Neste caso ocorre a cobrança do tributo, mas levando em conta a

desvalorização da moeda. No Peru, o sistema é semelhante ao da Colômbia, onde a

cobrança nunca pode ultrapassar o valor do aumento causado pela obra pública.

A Argentina, no contexto da América do Sul, foi o país que mais obteve resul-

tados com a contribuição de melhoria.

Segundo Aliomar Baleeiro (2002, p.576):

A ordem jurídica brasileira inexiste oposição entre custo e benefício, pois, tantoo benefício individual quanto a obra pública são o núcleo material da hipóteseda contribuição de melhoria, em que nenhum desses elementos é simplesadjetivo, mas ambos são substanciais para a configuração do fato jurídico.

Nenhum contribuinte pagará mais do que o acréscimo do valor do ganho pelo

imóvel, pois a alíquota deverá ser fixada até esse teto. O total das contribuições exigidas

por uma obra não excederá o custo desta. O lançamento deverá ser repartido, segundo

os critérios da lei, entre os proprietários beneficiados. (BALEEIRO, 2002, p. 580).

No Brasil o dispositivo que serviu como base para a implantação da contri-

buição de melhoria na Constituição de 1934, foi o art. 155 da constituição federal

alemã, onde, embora se diferencie deste por ser restritivo às valorizações diretamente

oriundas de obras públicas, serviu para um completo estudo do assunto pelos aspectos

financeiros, econômicos, jurídicos e políticos.

Seguindo outra linha, a contribuição de melhoria surgiu nos Estados Unidos

em meados dos a nos 50, era considerado pelo Tribunal como um poder fiscal. Sua

maior preocupação na época era o suporte de despesas por obras publicas pela popu-

lação, quando essas obras beneficiavam uma parte da população, esses indivíduos

eram identificados através da valorização imobiliária.

Aliomar Balleiro (1995, p.571) cita em sua obra:

23

O Tribunal de New York em 1985, em decisão celebre do Juiz Ruggles,marca a etapa final, firmando a constitucionalidade da contribuição demelhoria como manifestação do poder fiscal: toda a evolução sistema nosEstados Unidos seguiu, desde então, a linha traçada por aquele magistrado,depõe Seligman, que foi dos primeiros a focalizarem os caracteres e aimportância desse tributo. Mas ele próprio reputa fundamental, sobre oassunto, a monografia de Rosewater, que pareceu pouco depois dos seusEssays in taxation. Assim, à construção jurisprudência, seguiu-se, no fim doséculo passado, a de natureza doutrinária.

A contribuição de melhoria surgiu nos Estados Unidos em meados dos anos

50, era considerado pelo Tribunal como um poder fiscal, conforme citação anterior à

definição desse tributo trata-se de uma decisão jurisprudencial;

Para Roque Antonio Carrazza (1995, p.299) a contribuição de melhoria é:

Um tributo eminentemente social. Por meio dele. o proprietário que, semnada ter feito, recebe da comunidade um especial benefício (a valorizaçãodo seu imóvel), devolverei uma parcela de seu, por assim dizer'enriquecimento sem causa'(isto é, do sobre valor acrescido a seupatrimônio, em virtude de obra pública, para a qual toda a sociedadeconcorreu). É justo e jurídico que ele devolva, à pessoa política que realizoua obra pública (e, portanto, por via oblíqua, a toda a comunidade).

A contribuição de melhoria no Brasil, segundo Aliomar Baleeiro (1995,

p.578): "Desde a constituição de 1934, art. 124, exceção feita à 1937, que foi omissa, a

ordem jurídica brasileira consagra a contribuição de melhoria como espécie própria,

diferente das taxas e dos impostos".

No Brasil, consta registro da aplicação desse tributo no período colonial, foi

considerado em caráter constitucional na constituição de 1934, ainda que somente

na emenda constitucional em 1965, fora considerado como espécie tributária autônoma

dos impostos e das taxas.

24

5 CONCLUSÃO

A contribuição de melhoria é, dentre todos os tributos, um dos mais justos,

se vermos sob a ótica do sistema financeiro, pois é uma forma eficiente para

arrecadação de recursos, que financia as obras públicas. A contribuição de melhoria

fundamental quando da execução de obra pública e da valorização dos imóveis

localizadas nas áreas beneficiadas pelas essas obras, levando em conta o Princípio

de Mais-Valia.

Se analisarmos o princípio da mais-valia, fica evidente que objetivo é evitar a

desigualdade e o enriquecimento ilícito, pois sabemos que muitas obras beneficiam

uma determinada população em determinadas áreas.

Conforme mencionamos anteriormente, a contribuição de melhoria não e

taxa, pois não reparte o custo de obra, também não é considerado como imposto, pois

não tem capacidade contributiva. Nas analises das pesquisas doutrinarias e jurispru-

denciais, identificamos que o contribuinte não tem escolha, havendo a valoração do

imóvel o contribuinte é obrigado devolver essa contribuição ao estado, sob pena de

enriquecimento ilícito.

Verificamos que há duas grandes linhas teóricas quanto à concepção da

contribuição de melhoria leva a um amplo conjunto de definições para o tributo.

Geraldo Ataliba (2009, p.155), assim a caracteriza: “A contribuição de melhoria

é a prestação por aqueles que têm sua propriedade valorizada a medida de sua

valorização”. Assim, o presente trabalho analisou e explicou as espécies de tributos,

para o fim de entendermos o objetivo da contribuição de melhoria, bem como vimos

que a evolução desse tributo e suas vicissitudes, diante a doutrina e através das

jurisprudências.

Em análise lógica é possível concluir, ao contrário da doutrina tradicional

que; a contribuição de melhoria não possui base de cálculo, sendo um tributo de

aspecto quantitativo simplificado.

Da obra pública resultam vantagens gerais para toda a comunidade, mas

resulta uma vantagem especial para os proprietários de imóveis no local em que se

encarta. Não é justo que estes proprietários usufruam dessa valorização, decorrente

de obra realizada com o dinheiro do Tesouro Público. Não é justo que os contribuintes

em geral paguem impostos, e do emprego dos recursos públicos resulte valorização

Imobiliária para determinadas pessoas. Dessa valorização o Estado tem o direito de

25

recuperar o que gastou com a obra respectiva. Por isto é que os legisladores criaram

um tributo capaz de fazer restituir os cofres públicos os valores utilizados em obras

públicas, até o limite da valorização imobiliária justa.

Concluímos que o tema nos permitiu entender que a contribuição de melhoria,

é uma forma de o Estado ser ressarcido das obras realizadas para beneficiar não só

um contribuinte e sim a população em geral.

26

REFERÊNCIAS

ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. São Paulo: Malheiros, 2009.

AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do direito tributário. São Paulo: Saraiva, 1998.

BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense,1995

BARRETO, Aires F. Curso de direito tributário municipal. 2. ed. Rio de janeiro:Saraiva, 2009.

BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do direito tributário. 2. ed. São Paulo:Saraiva, 2002.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil : textoconstitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadaspelas emendas Constitucionais n.os 1/1992 a 68/2011, pelo Decreto legislativo n.o

186/2008 e pelas emendas Constitucionais de Revisão n.os 1 a 6/1994. 35. ed.Brasília: Câmara dos Deputados, edições Câmara, 2012. 454 p. (Série textosbásicos; n. 67). Disponível em:<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1366/constituicao_federal_35ed.pdf?sequence=26>. Acesso em: 10 set. 2012.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Disponível em:<http://www.tjpr.jus.br/>. Acesso em: 14 set. 2012.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Disponívelem: <http://www.tjrs.jus.br/site/>. Acesso em: 14 set. 2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp. 147.094/pr. Rel. Ministro Beneditogonçalves, 1.a turma julgado em 15/02/2011. DJE 21/03/2011 que foi a data deveiculação.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça.. Disponível em:<http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp>. Acesso em: 14 set. 2012.

CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. São Paulo:Malheiros, 1995.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 6. ed. São Paulo: Saraiva,1993.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2010.

27

CÓDIGO tributário nacional. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2003

DENARI, Zelmo. Curso de direito tributário. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributario. 29 ed. Rio de Janeiro:Malheiros, 2009.

MACHADOS, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. São Paulo:Malheiros, 2009.

MARTINS, Ives Granda da Silva. Curso de direito tributário. 4. ed. Sejup, 1995.

MOREIRA, João Baptista. Tratado de direito tributário brasileiro Contribuição deMelhoria. 8 ed. São Paulo: Forense, 1981.

SANTOS, J. N. de Carvalho. Repertório enciclopédico do direito tributário. v.7,Borsai, 1947.

TRIBUTÁRIO, processo civil e constituição federal. Códigos 3 em 1 SaraivaConjugados. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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ANEXO

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 147.094 - PR (1997/0062530-3)

RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVESRECORRENTE : CID OLDEMAR BRANCO E OUTROSADVOGADO : LEONARDO SPERB DE PAOLA E OUTRO(S)RECORRIDO : MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS DO SUL ADVOGADO : PAULO ROBERTO FERREIRA MOTTA E OUTRO(S)

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. BASE DE CÁLCULO. VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA. INDIVIDUALIZAÇÃO. ARTIGOS 81 E 82 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL.1. Recurso especial no qual se discute a valorização imobiliária do imóvel na base de cálculo de contribuição de melhoria instituída pelo Município de Laranjeiras do Sul. O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná consignou que o município rateou o custo total da obra entre os proprietários dos imóveis que ficavam às margens das ruas asfaltadas, sem prever no edital o limite individual do benefício trazido ao imóvel de cada contribuinte.2. É pacífico no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que a valorização individualizada do imóvel do contribuinte é fator delimitador da base de cálculo da contribuição de melhoria, não sendo permitido tão somente o rateio do custo da obra entre aqueles que residem na área em que foi realizada a obra pública. Precedentes: AgRg no REsp 1.079.924/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 12/11/2008; REsp 671.560/RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ 11/06/2007; REsp 615.495/RS, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJ 17/05/2004; REsp 362.788/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 05/08/2002.3. O art. 81 do Código Tributário Nacional dispõe que "a contribuição de melhoria [...] é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado". Enquanto que o art. 82, § 1º, do CTN estabelece que "a contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra [...] pelos imóveis situados na zona beneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização".4. No caso, como o Tribunal de origem consignou que não houve o cálculo individualizado do benefício trazido ao imóvel de cada um dos contribuintes localizados na área abrangida pela respectiva obra pública, forçoso reconhecer, então, que o acórdão recorrido viola os artigos 81 e 82 do CTN.5. Recurso especial provido para restabelecer a sentença de 1º Grau; prejudicadas as demais questões.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial para restabelecer a sentença de 1º grau, prejudicadas as demais

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Superior Tribunal de Justiça

questões, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido, Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Arnaldo Esteves Lima votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 15 de fevereiro de 2011(Data do Julgamento)

MINISTRO BENEDITO GONÇALVES Relator

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 147.094 - PR (1997/0062530-3)

RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVESRECORRENTE : CID OLDEMAR BRANCO E OUTROSADVOGADO : LEONARDO SPERB DE PAOLA E OUTRO(S)RECORRIDO : MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS DO SUL ADVOGADO : PAULO ROBERTO FERREIRA MOTTA E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator): Trata-se de recurso

especial, com base nas alíneas "a", "b" e "c" do permissivo constitucional, interposto por Cid Oldemar

Branco e outros contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, cuja ementa é a

seguinte:

MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. MANDAMUS CONCEDIDO. RECURSO DOS IMPETRANTES NÃO CONHECIDO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO RECOLHIMENTO DAS CUSTAS RECURSAIS JUNTO AO BANCO. CABIMENTO DO WRIT. OBEDIÊNCIA AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE. BASE DE CÁLCULO. LEGALIDADE. REEXAME NECESSÁRIO E RECURSO DO MUNICÍPIO PROVIDOS, POR MAIORIA.Não se conhece do recurso de apelação se o apelante não comprovou o recolhimento das custas junto ao Banco no ato da interposição do recurso.A complexidade dos fatos não exclui o caminho do mandado de segurança, desde que todos se encontrem comprovados de plano, como é o caso dos autos.Restando demonstrado ter sido o tributo criado antes do novo exercício, verifica-se a observância do princípio da anterioridade.Admite-se a cobrança de contribuição de melhoria, pelo custo total da obra realizada, dos proprietários de imóveis que forem beneficiados.

Os recorrentes alegam que o acórdão recorrido, além de divergir da jurisprudência de outros

tribunais: (i) viola os artigos 81 e 82 do Código Tributário Nacional e os artigos 1º e 2º do Decreto-Lei n.

195/67; e (ii) declara válida lei local (LC n. 43/1989) contestada em face de lei federal (Lei n. 5.172/1966

- Código Tributário Nacional). Sustentam, em resumo, a "necessidade de se considerar o benefício

individual de cada imóvel como critério individualizador da base de cálculo da contribuição de melhoria"

(fl. 630).

Contrarrazões regularmente apresentadas (fls. 657-662).

Tendo sido os recursos especial e extraordinário admitidos na origem, o então relator, Ministro

José Delgado, determinou o sobrestamento dos autos até o julgamento do extraordinário, o qual restou

improvido pelo Supremo Tribunal Federal.

Com o retorno dos autos ao Superior Tribunal de justiça, foram-me distribuídos, vindo-me

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Superior Tribunal de Justiça

conclusos em 11 de janeiro de 2011.

É o relatório.

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 147.094 - PR (1997/0062530-3)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. BASE DE CÁLCULO. VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA. INDIVIDUALIZAÇÃO. ARTIGOS 81 E 82 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL.1. Recurso especial no qual se discute a valorização imobiliária do imóvel na base de cálculo de contribuição de melhoria instituída pelo Município de Laranjeiras do Sul. O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná consignou que o município rateou o custo total da obra entre os proprietários dos imóveis que ficavam às margens das ruas asfaltadas, sem prever no edital o limite individual do benefício trazido ao imóvel de cada contribuinte.2. É pacífico no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que a valorização individualizada do imóvel do contribuinte é fator delimitador da base de cálculo da contribuição de melhoria, não sendo permitido tão somente o rateio do custo da obra entre aqueles que residem na área em que foi realizada a obra pública. Precedentes: AgRg no REsp 1.079.924/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 12/11/2008; REsp 671.560/RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ 11/06/2007; REsp 615.495/RS, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJ 17/05/2004; REsp 362.788/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 05/08/2002.3. O art. 81 do Código Tributário Nacional dispõe que "a contribuição de melhoria [...] é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado". Enquanto que o art. 82, § 1º, do CTN estabelece que "a contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra [...] pelos imóveis situados na zona beneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização".4. No caso, como o Tribunal de origem consignou que não houve o cálculo individualizado do benefício trazido ao imóvel de cada um dos contribuintes localizados na área abrangida pela respectiva obra pública, forçoso reconhecer, então, que o acórdão recorrido viola os artigos 81 e 82 do CTN.5. Recurso especial provido para restabelecer a sentença de 1º Grau; prejudicadas as demais questões.

VOTO

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator): Em discussão a base de

cálculo de contribuição de melhoria instituída pelo Município de Laranjeiras do Sul.

Os recorrentes, defendendo a tese de que o valor da contribuição de melhoria deve refletir o

benefício individual (valorização imobiliária) que cada contribuinte obteve com a obra, sustentam

que (fl. 623):

Entendendo que seria dispensável para a cobrança da contribuição de melhoria a aferição do benefício individual que a obra trouxe para cada imóvel, o acórdão propiciou violação ao disposto nos artigos 81 e 82 do CTN e nos artigos 1º, 2º e 3º do Decreto-Lei n. 195/69. Com

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Superior Tribunal de Justiça

efeito, em franca desobediência aos diplomas citados, a Lei Municipal n. 43/89, em seu art. 2º, considera para fins de cálculo do tributo apenas o valor da obra, rateado entre os contribuintes, na proporção da testada dos respectivos imóveis [...]

Consigna-se que o acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça paranaense decidiu, no que

interessa, o seguinte, com grifo nosso (fls. 590 e seguintes):

[...]Quanto ao princípio da anterioridade, observa-se que, efetivamente, restou observado, uma vez

que teve seu projeto de n. 009/93 aprovado e concluído mediante posterior vistoria pela Comissão da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano, tendo sido criado o tributo por lei municipal n. 43/89.

Portanto, observa-se que muito antes da edição do Decreto n. 008/95, o qual previu a forma de pagamento, descontos incidentes e dia do primeiro pagamento o tributo já havia sido instituído, uma vez que o competente edital de contribuição de melhoria n. 005/94 não foi impugnado por nenhum dos impetrantes.

Assim, resta claro a legalidade do procedimento adotado pela municipalidade, uma vez que o tributo foi formalmente criado antes do novo exercício, tendo sido apenas o ato administrativo de lançamento e arrecadação materializado no Decreto n. 008/95, o que evitou a surpresa decorrente da tributação sem observância do princípio da anterioridade.

Em segundo lugar, quanto à efetiva valorização trazida aos imóveis, em nenhum momento foi negada pelos impetrantes, os quais insurgiram-se somente quanto ao fato de não ter sido discriminado o valor da valorização de cada imóvel, argumentação esta aceita pela decisão monocrática e contra a qual o impetrado se insurge.

Realmente, restou incontroverso o fato de que o município rateou entre os proprietários dos imóveis que ficavam às margens das ruas asfaltadas o valor integral do custo global da obra, não constando no edital o limite individual do benefício trazido ao imóvel de cada contribuinte.

[...] considerando que os impetrantes não negaram a real valorização imobiliária com a melhoria efetuada, agiu corretamente a administração daquele município, uma vez que, tratando-se de contribuição de melhoria, é correta a cobrança do tributo, seja tomando-se por base a valorização do imóvel em decorrência da obra pública, seja pelo benefício presumido que esta obra acarrete e com isto enseje a repartição do seu custo entre os beneficiários desta.

Tendo em vista, portanto, que o edital de notificação, contendo inclusive o demonstrativo de custos e os demais elementos exigidos pela legislação tributária, foi publicado de modo regular, antes da cobrança do tributo, e, ainda, porque o procedimento adotado é legal, no que se refere à forma de cobrança, bem como porque os apelados não demonstraram a inexistência de benefício em seu imóvel, ao contrário, não há que se falar em nulidade do seu lançamento, devendo pois, ser dado provimento ao reexame necessário e recurso voluntário do município.

Como se observa, o Tribunal de origem Realmente deixou consignado que o município rateou o

custo total da obra entre os proprietários dos imóveis que ficavam às margens das ruas asfaltadas, sem

prever no edital o limite individual do benefício trazido ao imóvel de cada contribuinte.

A jurisprudência firmada no Superior Tribunal de Justiça, contudo, apoia-se em entendimento

diverso.

Com efeito, é pacífico no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que a valorização

individualizada do imóvel do contribuinte é fator delimitador da base de cálculo da contribuição de

melhoria, não sendo permitido tão somente o rateio do custo da obra entre aqueles que residem na área

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Superior Tribunal de Justiça

em que foi realizada a obra pública.

É que o art. 81 do Código Tributário Nacional dispõe que "a contribuição de melhoria [...] é

instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo

como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra

resultar para cada imóvel beneficiado". Enquanto que o art. 82, § 1º, do CTN estabelece que "a

contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra [...] pelos

imóveis situados na zona beneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização".

A propósito, confiram-se:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. PLENO VIGOR DOS ARTS. 81 E 82 DO CTN E DL 195/1967. VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO.1. Cuidam os autos de cobrança de contribuição de melhoria com base no custo da obra e não na valorização do imóvel, onde o agravante, ao argumento de que os arts. 81 e 82 do CTN e os arts. 1º e 2º do DL 195/67 teriam sido revogados por legislações supervenientes, sustenta que o legislador optara por substituir o critério valorização pelo critério custo.2. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que: i) os artigos 81 e 82 do CTN estão em pleno vigor; ii) a contribuição de melhoria é tributo cujo fato imponível decorre da valorização imobiliária causada pela realização de uma obra pública, cabendo ao ente público o ônus da sua comprovação a fim de justificar o tributo estipulado. Precedentes.3. Agravo regimental não provido (AgRg no Ag 1159433/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 05/11/2010).

AÇÃO DE ANULAÇÃO DE LANÇAMENTO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. BASE DE CÁLCULO. NECESSIDADE DE VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO.I - A contribuição de melhoria é tributo cujo fato imponível decorre de valorização imobiliária causada pela realização de uma obra pública. Nesse passo, sua exigibilidade está expressamente condicionada à existência de uma situação fática que promova a referida valorização. Este é o seu requisito ínsito, um fato específico do qual decorra incremento no sentido de valorizar o patrimônio imobiliário de quem eventualmente possa figurar no pólo passivo da obrigação tributária. Precedentes: REsp nº 766.107/PR, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 28/04/08; REsp nº 629.471/RS, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ de 05/03/07; REsp nº 647.134/SP, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 01/02/07 e REsp nº 615.495/RS, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ de 17/05/04.II - Importante destacar que, tanto os arts. 81 e 82 do CTN, quanto os dispositivos do Decreto-lei nº 195/67, ainda continuam em vigor, os quais exigem a valorização do imóvel para a cobrança da contribuição de melhoria.III - O provimento do recurso especial acarreta automaticamente a inversão dos ônus sucumbenciais. A condenação do agravante ao pagamento dos honorários advocatícios e das custas processuais é apenas conseqüência lógica de tal decisão.IV - Agravo regimental parcialmente provido, tão-somente para restabelecer os ônus sucumbenciais fixados na sentença de fls. 67/74, a teor do art. 20, § 4º, do CPC (AgRg no REsp 1079924/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/11/2008, DJe 12/11/2008).

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. ARTS. 81 E 82 DO CTN. DECRETO-LEI 195/67. BASE DE CÁLCULO. VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. PRESUNÇÃO IURIS TANTUM. ÔNUS DA PROVA.1. "'A alteração superveniente da competência, ainda que ditada por norma constitucional, não afeta a validade da sentença anteriormente proferida', sendo que, 'válida a sentença anterior do juiz que a

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prolatou, subsiste a competência do tribunal respectivo' (CC 6.967-7, Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 26.09.97). Com base em tal orientação a jurisprudência do STJ afirmou a sua competência para julgar recursos especiais interpostos antes da EC 45/04, mesmo quando tratem de matéria que, por força da referida Emenda, foi atribuída a outros órgãos jurisdicionais (Nesse sentido: CC 57.402, 1ª Seção, Min. José Delgado, DJ de 19.6.2006, no CC 58.566, 1ª Seção, Min. Eliana Calmon, DJ de 7.8.2006, no AgRg no REsp 809.810, 1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de 15.5.2006 e no REsp 507.907, 2ª Turma, Min. Castro Meira, DJ de 25.9.2006).” (REsp 598.183/DF, 1ª Seção, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 27.11.2006).2. De acordo com a jurisprudência desta Corte, continuam em vigor os arts. 81 e 82 do Código Tributário Nacional, bem como as disposições do Decreto-Lei 195/67, os quais regulamentam a contribuição de melhoria.3. “Só depois de pronta a obra e verificada a existência da valorização imobiliária que ela provocou é que se torna admissível a tributação por via de contribuição de melhoria” (CARRAZZA, Roque Antonio. "Curso de Direito Constitucional Tributário", São Paulo: Malheiros, 2006, pág. 533).4. O lançamento da contribuição de melhoria deve ser precedido de processo específico, conforme descrito no art. 82 do Código Tributário Nacional.5. Cabe ao Poder Público apresentar os cálculos que irão embasar a cobrança da contribuição de melhoria, concedendo, entretanto, prazo para que o contribuinte, em caso de discordância, possa impugná-los administrativamente. Trata-se, pois, de um valor presumido, cujo cálculo está a cargo da própria Administração.6. O procedimento administrativo não exclui a revisão pelo Judiciário.7. Recurso especial desprovido (REsp 671.560/RS, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/05/2007, DJ 11/06/2007, p. 265).

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. FATO GERADOR. VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. ARTS. 81 E 82, DO CTN. DL Nº 195/67. PRECEDENTES DO STJ E DO STJ.1. A entidade tributante, ao exigir o pagamento de contribuição de melhoria, tem de demonstrar o amparo das seguintes circunstâncias: a) a exigência fiscal decorre de despesas decorrentes de obra pública realizada; b) a obra pública provocou a valorização do imóvel; c) a base de cálculo é a diferença entre dois momentos: o primeiro, o valor do imóvel antes da obra ser iniciada; o segundo, o valor do imóvel após a conclusão da obra.2. “É da natureza da contribuição de melhoria a valorização imobiliária” (Geraldo Ataliba).3. Diversidade de precedentes jurisprudenciais do STJ e do STF.4. Adoção, também, da corrente doutrinária que, no trato da contribuição da melhoria, adota o critério de mais valia para definir o seu fato gerador ou hipótese de incidência (no ensinamento de Geraldo Ataliba, de saudosa memória).5. Recurso provido (REsp 615.495/RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/04/2004, DJ 17/05/2004, p. 158).

TRIBUTÁRIO - CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA - CTN ARTS. 81 E 82.1. A contribuição de melhoria tem como limite geral o custo da obra, e como limite individual a valorização do imóvel beneficiado.2. Prevalece o entendimento no STF e no STJ de que não houve alteração do CTN pelo DL 195/67.3. É ilegal a contribuição de melhoria instituída sem observância do limite individual de cada contribuinte.4. Recurso especial conhecido e provido (REsp 362.788/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/05/2002, DJ 05/08/2002, p. 284).

Assim, à luz do que vem sendo decidido pelo STJ, não basta a mera presunção de que o imóvel

valorizou-se com a obra pública para se permitir o rateio do custo desta, por isso que o § 2º do art. 82 do

CTN dispõe que, "por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deverá ser notificado do

montante da contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integram o

respectivo cálculo".

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Nesse diapasão, deve-se reconhecer que, dentre aqueles elementos que devem integrar a base de

cálculo e ser divulgados ao contribuinte, a valorização individualizada de cada imóvel é de rigor,

conforme preceitua os artigos 81 e 82 do CTN.

Como o Tribunal de Justiça consignou que não houve o cálculo individualizado do benefício

trazido ao imóvel de cada um dos contribuintes localizados na área abrangida pela respectiva obra

pública, forçoso reconhecer, então, que o acórdão recorrido viola os artigos 81 e 82 do CTN.

Ficam, assim, prejudicadas as demais questões.

Ante o exposto, conheço recurso especial pela alínea "a" do permissivo constitucional e lhe dou

provimento para restabelecer a sentença de 1º Grau.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA TURMA

Número Registro: 1997/0062530-3 REsp 147.094 / PR

Números Origem: 27595 931004

PAUTA: 15/02/2011 JULGADO: 15/02/2011

RelatorExmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. AURÉLIO VIRGÍLIO VEIGA RIOS

SecretáriaBela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : CID OLDEMAR BRANCO E OUTROSADVOGADO : LEONARDO SPERB DE PAOLA E OUTRO(S)RECORRIDO : MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS DO SULADVOGADO : PAULO ROBERTO FERREIRA MOTTA E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Contribuições - Contribuições de Melhoria

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial para restabelecer a sentença de 1º grau, prejudicadas as demais questões, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido, Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Arnaldo Esteves Lima votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 15 de fevereiro de 2011

BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑASecretária

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.215.217 - RS (2010/0185553-9)

RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVESAGRAVANTE : MUNICÍPIO DE CANELA ADVOGADO : WAGNER ADILSON KOCH E OUTRO(S)AGRAVADO : CLEVI FÁVERO HOFMEISTER E OUTROSADVOGADO : HELENA FAVERO XAVIER E OUTRO(S)

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. TRIBUTO OBJETO DE DISCUSSÃO ADMINISTRATIVA. TERMO INICIAL DO PRAZO LEGAL DE 120 DIAS PARA A IMPETRAÇÃO. NOTIFICAÇÃO DO JULGAMENTO DO RECURSO ADMINISTRATIVO. ALEGAÇÃO DE QUE A VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA FOI OBSERVADA POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ.1. Trata-se de agravo regimental no qual se discute a aplicação do entendimento da Súmula n. 7 do STJ à alegação recursal de que o ato de lançamento da contribuição de melhoria teria observado a valorização imobiliária decorrente das obras realizadas, ao contrário do que constatado pelo Tribunal de origem, bem como o termo inicial do prazo para a impetração do mandado de segurança, no caso de haver recurso administrativo contra a notificação para pagamento.2. No caso, no acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, ficou consignado não haver provas nos autos de que a contribuição de melhoria tenha sido lançada com observância da valorização imobiliária decorrente da obra realizada. Assim, a pretensão recursal relacionada com a alegação de violação do art. 81 do Código Tributário Nacional e do art. 1º do DL n. 195/1967 depende de reexame fático-probatório, o que atrai a incidência do entendimento sedimentado na Súmula n. 7 do STJ. Precedente: EDcl no Ag 1.123.311/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 20/05/2010.3. No que se refere ao prazo legal para a impetração do mandado de segurança, o acórdão do TJ/RS está em consonância com a jurisprudência do STJ, pois, no caso de ter havido a interposição de recurso administrativo, o termo a quo do prazo se inicia após o seu julgamento pela administração tributária, com a notificação do sujeito passivo. Precedentes: REsp 778.008/RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJe 29/09/2008; AgRg no RMS 33.287/RJ, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe 15/03/2011.4. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Arnaldo Esteves Lima e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Licenciado o Sr. Ministro Francisco Falcão. Brasília (DF), 1º de setembro de 2011(Data do Julgamento)

MINISTRO BENEDITO GONÇALVES Relator

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.215.217 - RS (2010/0185553-9)

RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVESAGRAVANTE : MUNICÍPIO DE CANELA ADVOGADO : WAGNER ADILSON KOCH E OUTRO(S)AGRAVADO : CLEVI FÁVERO HOFMEISTER E OUTROSADVOGADO : HELENA FAVERO XAVIER E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator): Trata-se de agravo

regimental interposto pelo Município de Canela contra decisão que negou seguimento a seu recurso

especial, cuja ementa é a seguinte:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. TRIBUTO OBJETO DE DISCUSSÃO ADMINISTRATIVA. TERMO INICIAL DO PRAZO LEGAL DE 120 DIAS PARA A IMPETRAÇÃO. ALEGAÇÃO DE QUE A VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA FOI OBSERVADA POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.

O recorrente alega que "o entendimento de que não foi demonstrada a valorização imobiliária é

contrária aos documentos existentes no processo. [...] E essa análise não se trata de reexame do contexto

fático-probatório dos autos, circunstância que redundaria na formação de nova convicção acerca dos

fatos, mas sim de valoração dos critérios jurídicos concernentes à utilização da prova e à formação da

convicção, ante a distorcida aplicação pelo Tribunal de origem e deste relator da tese que o cálculo do

tributo havia se dado pela testada do imóvel" (fl. 316). Aduz que, "em se tratando de prazo decadencial

para a interposição de mandado de segurança que se discute lançamento tributário, o início começa fluir a

partir da data da notificação para pagamento, não se operando em interrupção a interposição de recurso

administrativo" (fl. 317). Salienta "que os agravados apresentaram manifestação de inconformidade com

os lançamentos, administrativamente, em 05 de julho de 2008, porém, o mandado de segurança foi

distribuído somente em 07/11/2008, portanto, já transcorridos 120 dias da ciência do ato impugnado, o

qual ocorreu com a notificação da dívida em 3 de junho de 2008" (fl. 321).

É o relatório.

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.215.217 - RS (2010/0185553-9)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. TRIBUTO OBJETO DE DISCUSSÃO ADMINISTRATIVA. TERMO INICIAL DO PRAZO LEGAL DE 120 DIAS PARA A IMPETRAÇÃO. NOTIFICAÇÃO DO JULGAMENTO DO RECURSO ADMINISTRATIVO. ALEGAÇÃO DE QUE A VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA FOI OBSERVADA POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ.1. Trata-se de agravo regimental no qual se discute a aplicação do entendimento da Súmula n. 7 do STJ à alegação recursal de que o ato de lançamento da contribuição de melhoria teria observado a valorização imobiliária decorrente das obras realizadas, ao contrário do que constatado pelo Tribunal de origem, bem como o termo inicial do prazo para a impetração do mandado de segurança, no caso de haver recurso administrativo contra a notificação para pagamento.2. No caso, no acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, ficou consignado não haver provas nos autos de que a contribuição de melhoria tenha sido lançada com observância da valorização imobiliária decorrente da obra realizada. Assim, a pretensão recursal relacionada com a alegação de violação do art. 81 do Código Tributário Nacional e do art. 1º do DL n. 195/1967 depende de reexame fático-probatório, o que atrai a incidência do entendimento sedimentado na Súmula n. 7 do STJ. Precedente: EDcl no Ag 1.123.311/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 20/05/2010.3. No que se refere ao prazo legal para a impetração do mandado de segurança, o acórdão do TJ/RS está em consonância com a jurisprudência do STJ, pois, no caso de ter havido a interposição de recurso administrativo, o termo a quo do prazo se inicia após o seu julgamento pela administração tributária, com a notificação do sujeito passivo. Precedentes: REsp 778.008/RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJe 29/09/2008; AgRg no RMS 33.287/RJ, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe 15/03/2011.4. Agravo regimental não provido.

VOTO

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator): A decisão ora agravada

negou seguimento ao recurso especial do ora agravante em razão do entendimento contido na Súmula n. 7

do STJ e em observância à ao entendimento jurisprudencial pacífico do STJ sobre o termo inicial para a

impetração do mandado de segurança. E as razões do recurso não trazem qualquer fundamento que

implique em sua reforma, razão pela qual merece ser mantida, conforme se sustenta a seguir.

O voto condutor do acórdão objeto do recurso especial tem, no que interessa e com grifo nosso,

o seguinte teor:

“2. Decadência. Segundo o artigo 23 da Lei n° 12.016/09, é de 120 dias o prazo para o ajuizamento da ação mandamental contado da ciência do ato impugnado. No caso, conquanto os Apelados tenham sido notificados acerca do lançamento em 03 de julho de 2008, o prazo decadencial

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somente começou a fluir após 18 de agosto de 2008, data na qual fora julgado o recurso administrativo interposto (fls. 30/31). Nesse sentido, os seguintes precedentes deste Tribunal:[...]

Assim, proposta a presente ação em 07 de novembro de 2008, deve ser rejeitada a preliminar. 3. Mérito. É de ser negado seguimento ao recurso, nos termos da decisão de fls. 91/96, verbis:“2. Ainda que se admita a desnecessidade de lei específica para a cobrança da contribuição de

melhoria, é de ser mantida a decisão recorrida por seu outro fundamento. [...]Quer dizer, a cobrança da contribuição de melhoria não decorre apenas do fato da obra. Isso

porque, na lição de ALIOMAR BALEEIRO, “a contribuição de melhoria não é a contraprestação de um serviço público incorpóreo, mas a recuperação do enriquecimento ganho por um proprietário em virtude de obra pública concreta no local da situação do prédio. Daí a justificação do tributo pelo princípio de enriquecimento sem causa peculiar ao Direito Privado. Se o Poder Público, embora agindo no interesse da coletividade, emprega vultosos fundos desta em obras restritas a certo local, melhorando-o tanto que se observa elevação do valor dos imóveis aí situados, com exclusão de outras causas decorrentes da diligência do proprietário, impõe-se que este, por elementar princípio de justiça e de moralidade, restitua parte do benefício originado do dinheiro alheio”. Nesse sentido, igualmente, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, conforme se lê do seguinte acórdão proferido no julgamento do Resp 615495/RS, pela Primeira Turma, Rel. Min. José Delgado, de seguinte ementa:

[...]No caso, conforme se lê dos artigos 90, 92 e 97, inciso II, da Lei Complementar Municipal nº

06, de 30 de novembro de 2004, juntados aos autos às fls. 65/174, “A Contribuição de Melhoria será individualmente determinada pelo rateio do custo da obra entre os imóveis beneficiados, na proporção da metragem linear de suas testadas”. Tal, portanto, infringe o Decreto-lei nº 195/97. Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do Resp nº 280248/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, a cujo teor “a contribuição de melhoria tem como fato gerador a valorização do imóvel que lhe acarreta real benefício, não servindo como base de cálculo, tão-só o custo da obra pública realizada.” (in DJU, 28.10.2002, p. 267).

[...]Registre-se, ainda, que não procede a afirmação de que o Agravante não levou em conta “para

fins de cálculo do tributo tão-somente a testada dos imóveis, tendo observado a valorização imobiliária que foi agregada aos imóveis beneficiados pela obra pública” (fl. 13). Isso porque a presunção é de que foi aplicada a legislação municipal sobre a matéria, a qual, como visto, estabelece que o tributo seja calculado pelo rateio do custo da obra entre os contribuintes de acordo com a metragem do respectivo imóvel.”

Desse modo, não tendo o Apelante trazido aos autos qualquer prova no sentido de que o tributo fora calculado tendo em vista outros elementos, que não somente a testada do imóvel, correta a decisão recorrida, que declarou a inexigibilidade do crédito tributário.”

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.

Observando o contexto delineado pelo acórdão a quo, nota-se que o recurso especial não merece

ter seguimento.

Primeiro, porque a pretensão recursal relacionada com a alegação de violação do art. 81 do

Código Tributário Nacional e do art. 1º do DL n. 195/1967 depende de reexame fático-probatório,

atraindo a incidência do entendimento sedimentado na Súmula n. 7 do STJ, porquanto o Tribunal de

origem consignou que a alegação de que a contribuição de melhoria teria observado a valorização

imobiliária não foi comprovada.

A esse respeito, vide, dentre outros:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO.

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CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 81 E 82 DO CTN. VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. NÃO DEMONSTRAÇÃO PELO MUNICÍPIO. RECURSO ESPECIAL. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. INVIABILIDADE. SÚMULA 07/STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE COTEJO ANALÍTICO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO (EDcl no Ag 1.123.311/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 20/05/2010).

Segundo, porque, no que se refere ao prazo legal para a impetração do mandado de segurança,

observa-se que o acórdão a quo está em consonância com a jurisprudência do STJ, pois, no caso de ter

havido a interposição de recurso administrativo, o termo a quo do prazo se inicia após o seu julgamento

pela administração tributária, com a notificação do sujeito passivo. Nesse sentido, vide:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IPTU. MANDADO DE SEGURANÇA. DECADÊNCIA. RECURSO ADMINISTRATIVO CONTRA LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO.1. Nos casos em que o ato questionado pelo contribuinte – lançamento do IPTU – for objeto de recurso administrativo, a contagem do prazo decadencial para impetração da ação mandamental somente tem início com a decisão final posta no procedimento, a qual torna exeqüível o ato impugnado.2. Recurso especial provido (REsp 180.715/SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, DJ 25/04/2005).

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IMPUGNAÇÃO DO AUTO DE LANÇAMENTO POR MEIO DE RECURSO ADMINISTRATIVO COM EFEITO SUSPENSIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. TERMO INICIAL DO PRAZO PARA IMPETRAÇÃO.1. Nos termos do art. 18 da Lei 1.533/51, "o direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos cento e vinte dias contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado". Contudo, apresentado recurso administrativo com efeito suspensivo, mostra-se inadequada a utilização do writ, enquanto não efetuado seu julgamento (art. 5º, I, da Lei 1.533/51).2. Como bem observa Mauro Luís Rocha Lopes, "o termo inicial do prazo para requerer mandado de segurança será a data da ciência do ato atacado, pelo interessado. No seio tributário, podem ser vislumbrados vários marcos iniciais, como a ciência do auto de infração, da decisão proferida em processo administrativo, da inscrição em dívida ativa etc".3. Na hipótese, em virtude da apresentação de recurso administrativo com efeito suspensivo, a contagem do prazo para a impetração do mandamus teve início com a ciência da respectiva decisão, e não com a lavratura do auto de lançamento, como equivocadamente entendeu o Tribunal de origem.4. Recurso especial provido (REsp 778.008/RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJe 29/09/2008).

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO TRIBUTÁRIO. ICMS. EXTINÇÃO DO PRAZO DECADENCIAL. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. INTEMPESTIVIDADE.1. Intempestivamente interposto o recurso administrativo, tem-se-no como não apresentado, devendo o prazo para impetração de mandado de segurança iniciar-se trinta dias após a data em que teve ciência o contribuinte do auto de infração. Precedentes.2. Agravo regimental improvido (AgRg no RMS 33.287/RJ, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe 15/03/2011).

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA TURMA

AgRg no

Número Registro: 2010/0185553-9 REsp 1.215.217 / RS

Números Origem: 04110800025577 10800025577 70033809039 70034376103 7003559983 70037004421

EM MESA JULGADO: 01/09/2011

RelatorExmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES

Subprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. DARCY SANTANA VITOBELLO

SecretáriaBela. MÁRCIA ARAUJO RIBEIRO (em substituição)

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : MUNICÍPIO DE CANELAADVOGADO : WAGNER ADILSON KOCH E OUTRO(S)RECORRIDO : CLEVI FÁVERO HOFMEISTER E OUTROSADVOGADO : HELENA FAVERO XAVIER E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Contribuições - Contribuições de Melhoria

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE CANELAADVOGADO : WAGNER ADILSON KOCH E OUTRO(S)AGRAVADO : CLEVI FÁVERO HOFMEISTER E OUTROSADVOGADO : HELENA FAVERO XAVIER E OUTRO(S)

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Arnaldo Esteves Lima e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

Licenciado o Sr. Ministro Francisco Falcão.

Documento: 1085447 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/09/2011 Página 7 de 7

Curitiba, 20 de Agosto de 2012 - Edição nº 931Diário Eletrônico do Tribunal de Justiça do Paraná

AP 885.717-0, rel. Juiz Fernando Zeni, 1ª CC., j. 16/03/2012; AP 814.456-7, rel. Des.Dulce Maria Cecconi, 1ª CC., j. 21/11/2011; APRN 655.374-2, rel. Des. Idevan Lopes,1ª CC., j. 22/03/2011; AP 784.433-3, rel. Des. Silvio Dias., 2ª CC., j. 21/06/2011;AP 771.843-4, rel. Des. Eugenio Grandinetti, 2ª CC., j. 24/05/2011 e AP 752.795-1,rel. Des. Salvatore Antonio Astuti, 1ª CC., j. 30/08/2011; AP 698.230-9, de minharelatoria, 1ª CC., j. 21/09/2010. Não dissente Ives Gandra Martins3 ao ensinar:"Contribuição de melhoria é instituto cujo conceito doutrinário é sedimentado, aquie lá fora, como tributo incidente sobre a valorização imobiliária decorrente de obrapública". E ainda: "Supor diversamente implica admitir o absurdo de o Poder Públicopoder exigir esse tributo mesmo diante de desvalorização do imóvel. Nesse caso,ter-se-ia tributo sobre a não-manifestação de conteúdo econômico. A prevalecertal esdrúxula postura, deveria o proprietário pagar contribuição de melhoria pelaconstrução de matadouros, de estações de tratamento de esgoto e por obras outrasque, além da desvalorização, o premiam com gases deletérios". Para encerrar, a liçãodo mestre Aliomar 4 Baleeiro , discorrendo sobre o fato gerador da contribuição demelhoria: "Do exposto, isto é, a adoção pelo Direito brasileiro do critério do benefícioe não o do custo, o fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização efetivado imóvel, de que seja proprietário, ou enfiteuta, o contribuinte, por decorrência deuma das obras públicas arroladas pelo DL 195/67. Não basta a existência da obrarealizada pelo sujeito ativo no local de situação do imóvel passivo. É indispensávelque dessa obra, por uma relação de causa e efeito, se origine aumento positivo dovalor do imóvel". Esse o entendimento da doutrina. Na jurisprudência, e já sob aégide da Carta Magna, o Supremo Tribunal Federal vem mantendo entendimentoque já era pacífico a respeito do assunto: "DECISÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO.TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. BASE DE CÁLCULO: CUSTODA OBRA. ILEGALIDADE. JURISPRUDÊNCIA DESTE SUPREMO TRIBUNAL.AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Agravo de instrumentocontra decisão que não admitiu recurso extraordinário, interposto com base noart. 102, inc. III, alínea a, da Constituição da República. 2. O Tribunal de Justiçado Rio Grande do Sul julgou apelação em ação ordinária, nos termos seguintes:`TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. DECRETO-LEI N° 195/67. FATOGERADOR. VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. O só fato da obra pública não dá ensejoà cobrança de melhoria. O fato gerador consiste na valorização imobiliária deladecorrente. Ilegalidade da instituição do custo da obra como base de cálculo dotributo. Violação ao Decreto-lei 167/67, que foi recepcionado pela ConstituiçãoFederal de 1988. Hipótese em que o tributo foi calculado tendo em conta a testadado imóvel e não a plus valia. Precedentes do STJ. Recurso provido por ato doRelator. Artigo 557 do Código de Processo Civil' (fl. 16). 3. A decisão agravada tevecomo fundamento para a inadmissibilidade do recurso extraordinário a circunstânciade que o acórdão recorrido estaria em harmonia com a jurisprudência desteSupremo Tribunal. 4. No recurso extraordinário, alega que o Tribunal a quo teriaafrontado o art. 145, inc. III, da Constituição. Apreciada a matéria trazida na espécie,DECIDO. 5. Razão jurídica não assiste ao Agravante. O Tribunal a quo decidiupela ilegalidade da instituição do custo da obra como base de cálculo do tributo.Esse entendimento não diverge da jurisprudência deste Supremo Tribunal Federalsegundo a qual a contribuição de melhoria incide sobre o quantum da valorizaçãoimobiliária. `CONSTITUCIONAL, TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA.VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA. CF/67, art. 18, II, com a redação da EC nº 23/83.CF/88, art. 145, III. I. `Sem valorização imobiliária, decorrente de obra pública, nãohá contribuição de melhoria, porque a hipótese de incidência desta é a valorização ea sua base é a diferença entre dois momentos: o anterior e o posterior à obra pública,vale dizer, o `quantum' da valorização imobiliária. II. `Precedente do STF: RREE115.863-SP e 116.147-SP (RTJ 138/600 e 614). III. `R.E. conhecido e provido' (RE114.069, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ 30.9.1994 `grifos nossos).E, ainda, as decisões monocráticas: RE 352.535, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ17.6.2003; RE 279.027, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 19.8.2005; RE 469.578,Rel. Min. Celso de Mello, DJ 19.6.2006; RE 335.924, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ12.4.2005, entre outros. Não existe divergência entre a decisão agravada, embasadanos dados constantes do acórdão recorrido, e a jurisprudência deste SupremoTribunal Federal, pelo que nada há a prover quanto às alegações da parte agravante.6. Pelo exposto, nego seguimento a este agravo (art. 557, caput, do Código deProcesso Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).Publique- se. Brasília, 3 de março de 2009. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora" (AI741694/RS, j. 03/03/2009, rel. Min. Carmen Lucia). "RECURSO EXTRAORDINÁRIO.Constitucional, Tributário. Contribuição de melhoria. ART. 18, II, da CF/67, com aredação dada pela EC n. 2383. Recapeamento Asfáltico. Não obstante alterada aredação do inciso II do art. 18 pela Emenda Constitucional m. 23/83, a valorizaçãoimobiliária decorrente de obra pública - requisito ínsito a contribuição de melhoria- persiste como fato gerador dessa espécie tributária. Hipótese de recapeamentode via pública já asfaltada: simples serviço de manutenção e conservação que nãoacarreta valorização do imóvel, não rendendo ensejo a imposição desse tributo.RE conhecido e provido." No mesmo sentido, na Primeira Turma, em acórdão derelatoria do Min. Octavio Gallotti, por ocasião do julgamento do RE 116148, assimementado: "EMENTA: Contribuição de melhoria. Recapeamento de via pública jáasfaltada, sem configurar a valorização do imóvel, que continua a ser requisito ínsitopara a instituição do tributo, mesmo sob a égide da redação dada, pela Emendan. 23, ao art. 18, II, da Constituição de 1967. Recurso extraordinário provido, pararestabelecer a sentença que julgara inconstitucional a exigência." (RE 237710/SP,rel. Min. Ellen Gracie, j. 09/02/2001). No Superior Tribunal de Justiça mantém-seesse entendimento a respeito da matéria: REsp 147.094/PR, Rel. Min. BeneditoGonçalves, 1ª T., j. 15/02/2011; REsp 107.6948/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., j.04/11/2010; AgRg no RESp 1304925/RS, Rel. MIn. Napoleão Nunes Maia Filho, 1ªT., j. 17/04/2012; AgRg no AgRg no REsp 1018797/RS, Rel. Min. Mauro CampbellMarques, 2ª T., j. 17/04/2012 e REsp 1075101/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, 2ª T.,j. 02/04/2009. Nesse último acórdão, no voto condutor do julgamento, a Min. Eliana

Calmon esclarece a polêmica relativa aos limites total e individual dessa espéciede contribuição, à luz do critério trazido com o art. 145, III, da Constituição Federalde 1988 e o disposto no Código Tributário Nacional e no Decreto-Lei 195, de 24de fevereiro de 1967 sobre o tema. Assim, a eminente Relatora assinala que apolêmica verificada quanto à observância de ambos os critérios, haveria de sersuperada sob a compreensão de que "Recepcionado o art. 81 do CTN pela CF/88,parece certo afirmar-se, dentro de um critério de razoabilidade interpretativa, quehá continuidade dos limites global e individual, e é incabível admitir a revogaçãodos arts. 81 e 82 do CTN pelo DL 195/67, como o fez o acórdão impugnado,dispensando, para efeito de avaliação da espécie de que se cuida, o limite individualconstante do referido art. 82. A jurisprudência do STF e desta Corte é unânimeem exigir o limite individual, valorização do imóvel, para que se legalize a exação.Neste sentido, são os arestos do STF (...)". 5 Destarte, a Constituição Federal de1988, recepcionou o Decreto-Lei 195/67 (art. 34, §5º, do ADCT), de modo quetambém não se pode acolher a alegação de inconstitucionalidade formulada peloMunicípio apelante. À vista desses fundamentos conclui-se que para cobrar o tributoo Município deveria comprovar, de forma cabal, haver cumprido o disposto noDecreto Lei 195/67 (não incompatível com a Constituição vigente), bem como noTítulo V, Seção II, do Capítulo V do Código Tributário Nacional, diploma recepcionadopela Constituição vigente, demonstrando, desde logo, a valorização do imóvel docontribuinte para justificar a cobrança da contribuição de melhoria. Com efeito,conclui-se que o lançamento do tributo se deu de maneira ilegal, na medida em queseu fato gerador não ocorreu, pois para ser devidamente lançada a contribuição demelhoria é mister que se demonstre a real valorização do imóvel do contribuinte, oque não restou comprovado. III. Dos Honorários Advocatícios. No que diz respeitoaos honorários advocatícios, requer o Município apelante a sua redução. Pois bem.Como é sabido, não há dúvida de que quem tem melhores condições de avaliaro trabalho dos advogados no processo é o juiz sentenciante e, salvo infração anorma legal ou evidente absurdo, não é aconselhável que a instância recursalaltere a fixação de honorários para mais ou para menos. Some-se a isto o fato deque é a Fazenda Pública Municipal que figura como sucumbente e as questõesdebatidas nos autos não exigiram dilação probatória, nem representaram dificuldadeou complexidade. Por esse motivo específico, recorre-se à citação de julgado doTASP, extraída da conhecidíssima obra Honorários Advocatícios6 de Yussef Cahali,que busca explicar o motivo do tratamento diferenciado à Fazenda Pública quandosucumbente: "Percebe-se que o legislador, entre as exceções do § 4° deu à FazendaPública um tratamento especial, porque ela não é um ente concreto, mas a própriacomunidade, representada pelo governante que é o administrador e preposto (...)".(4ª Câmara do TJSP, 18.09.88, RJTJSP 116/148). O Superior Tribunal de Justiça járeconheceu a possibilidade de aplicação em desfavor da Fazenda Pública, de ambosos sistemas de fixação de honorários de sucumbência previstos nos parágrafos 3ºe 4º, do artigo 20, CPC, obtemperando, contudo, a necessidade de prevalência emtal hipótese, da apreciação equitativa do juiz. É Theotônio Negrão7 que registra ojulgado, assinalando que na exegese da Corte de legalidade sobre essa hipótese,esses diferentes sistemas de fixação de honorários (parágrafos 3º e 4º do CPC)podem ser aplicados complementarmente. Confira-se: "Na verdade, os §§ 3º e 4ºnão deveriam ser vistos como microssistemas isolados. Desse modo, `nas açõescondenatórias em que o pedido é julgado procedente, ainda que sucumbente aFazenda Pública, os honorários advocatícios devem ser fixados sobre o valor dacondenação. Inteligência do art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC." (STJ 5ª T., REsp 624.356-AgRg, rel. Min. Arnaldo Esteves, j. 15.12.05, negaram provimento. No voto condutordeste julgamento, o Min. Arnaldo Esteves afirmou que, em sendo vencida a FazendaPública, aplica- se o § 4º, do artigo 20 do CPC. Daí, caber ao juiz fazer interpretaçãoequitativa, o que não exclui a possibilidade de assim proceder, isto é, de usar aqueleslimites ou de fixar sobre o valor da condenação, mas não de forma obrigatória,porquanto se assim fosse não seria a fixação dos honorários de acordo com ocomando da equidade. O Superior Tribunal de Justiça pôs fim à controvérsia sobre otema no julgamento pela Corte Especial, dos Embargos de Divergência no REsp nº491.055/SC (em 20.10.2004), consagrando entendimento de que, na sucumbênciada Fazenda Pública, o critério da equidade rege a fixação dos honorários devidosao vencedor: "EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. HONORÁRIOS DE ADVOGADO.FAZENDA PÚBLICA. INTERPRETAÇÃO DO § 4º DO ART. 20 DO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL. 1. Vencida a Fazenda Pública, aplica-se o § 4º do art. 20 doCódigo de Processo civil, fixando-se os honorários de acordo com o critério deequidade, não sendo obrigatória a observância, seja dos limites máximo e mínimo,seja da imposição sobre o valor da condenação constantes do parágrafo anterior.2. Embargos de divergência conhecidos e rejeitados." Em seu voto condutor, oMinistro Menezes Direito, demonstrou as correntes interpretativas existentes sobrea matéria, a fim de enfatizar a importância da equidade como critério norteadorda fixação da verba honorária quando a Fazenda Pública restar vencida: "(...) Nacorrente doutrinária que agasalha a interpretação divergente há quem sustenteque o dispositivo malfere o princípio da igualdade, sendo inconstitucional quandoprivilegia a Fazenda Pública. Por outro lado, há ainda interpretação no sentido decompatibilizar a regra sob análise de modo a torná-la abrangente, de tal modo quehavendo condenação não se há de excepcionar a regra geral, embora deva o Juizconsiderar as disposições do § 4º do art. 20, do Código de Processo Civil. Nessesentido, por exemplo, é o precedente da Primeira Seção desta Corte, Relator oeminente Ministro Milton Luiz Pereira (EREsp nº 77.932/SP, DJ de 6/4/98; no mesmosentido: EREsp nº 86.268/DF, Relator o Ministro Milton Luiz Pereira, DJ de 15/12/97).Mas o certo é que o § 4º do art. 20 do Código de Processo Civil é muito claroe expresso ao determinar incidência nas "causas de pequeno valor, nas de valorinestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a FazendaPública e nas execuções, embargadas ou não". Com isso, tenho que a interpretaçãoque se deve acolher é aquela que determina, tal e qual fez o acórdão embargado,a incidência do art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil, ficando na apreciação

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