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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR FRANCISCO DE ASSIS IMTHURN Autorizo que a presente Monografia seja apresentada e defendida em Banca Pública Orientador(a) Itajaí, __/__/_____ Itajaí, novembro de 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS E O CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR

FRANCISCO DE ASSIS IMTHURN

Autorizo que a presente Monografia seja apresentada e defendida em

Banca Pública

Orientador(a)

Itajaí, __/__/_____

Itajaí, novembro de 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS E O CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR

FRANCISCO DE ASSIS IMTHURN

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professor Mestre Clovis Demarchi

Itajaí, novembro de 2010

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todas as pessoas que contribuíram para a minha formação, meus pais, amigos e demais familiares.

Agradeço aos professores e amigos da UNIVALI.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus familiares que me apoiaram no caminhar deste curso.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, novembro de 2010

Francisco de Assis Imthurn Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pel[o] graduand[o] [Nome do Graduando], sob o título

[Titulo da Monografia], foi submetida em [Data] à banca examinadora composta

pelos seguintes professores: [Nome dos Professores ] ([Função]), e aprovada com a

nota [Nota] ([nota Extenso]).

Itajaí, novembro de 2010

Professor Mestre Clovis Demarchi Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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SUMÁRIO

RESUMO..........................................................................................VIII

INTRODUÇÃO .................................................................................... 9

CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 11

DOS CONTRATOS ........................................................................... 11

1.1 DO CONCEITO DE CONTRATO ................................................................... 11

1.2 DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CONTRATO ................................. 14 1.2.1 Do Princípio da Autonomia da Vontade .................................................. 14 1.2.2 Do Princípio do Consensualismo ............................................................ 16 1.2.3 Do Princípio da Obrigatoriedade da Convenção .................................... 17 1.2.4 Do Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato ........................... 17 1.2.5 Do Princípio da Boa Fé ............................................................................. 18

1.3 DA CLASSIFICAÇÃO QUANTO A APLICAÇÃO ......................................... 19 1.3.1 Do Contrato Civil ....................................................................................... 19 1.3.2 Do Contrato de Consumo ......................................................................... 19

1.4 DA EXTINÇÃO DOS CONTRATOS NO DIREITO CIVIL .............................. 20 1.4.1 Da Extinção Normal dos Contratos ......................................................... 20 1.4.2 Da Extinção dos Contratos por Causas anteriores ou contemporâneas à sua formação ...................................................................................................... 21 1.4.2.1 Da Nulidade ........................................................................................................21 1.4.2.2 Da Condição Resolutiva ....................................................................................21 1.4.2.3 Do Direito de Arrependimento ..........................................................................22 1.4.3 Da Extinção dos Contratos por Causas supervenientes à sua formação23 1.4.3.1 Da Extinção por Resolução Contratual ............................................................23 1.4.3.2 Da Extinção por Resilição Contratual ...............................................................24 1.4.3.3 Da Extinção por Morte de uma das partes .......................................................25

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 26

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS.... 26

2.1 DA PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR ........................................... 26 2.1.1 Da Proteção Jurídica do Consumidor na Era Pré-Industrial ................. 26 2.1.1.1 Do Código de Hamurabi ....................................................................................26 2.1.1.2 Do Direito Romano .............................................................................................28 2.1.1.3 Do Absolutismo Francês ...................................................................................28 2.1.1.4 Do Código de Napoleão .....................................................................................29 2.1.2 Da Proteção Jurídica do Consumidor na Era Industrial ........................ 29 2.1.3 Da Proteção Jurídica do Consumidor no Brasil ..................................... 33 2.1.3.1 Das Ordenações .................................................................................................33 2.1.3.2 Do Código Civil de 1917 ....................................................................................34 2.1.3.3 Da Lei da Economia Popular, Lei de Ação Civil Pública e outras Legislações34 2.1.3.4 Da Constituição Federal de 1988 ......................................................................35

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vii

2.1.3.5 Do Código de Defesa do Consumidor ..............................................................37

2.2 DA RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO .................................................... 38 2.2.1 Dos Sujeitos da Relação Jurídica de Consumo ..................................... 41 2.2.1.1 Do Consumidor ..................................................................................................41 2.2.1.1.1 Do Conceito Jurídico de Consumidor na doutrina ................................. 41 2.2.1.1.2 Do Conceito de Consumidor no Código de Defesa do Consumidor ...... 44 2.2.1.2 Dos Fornecedores..............................................................................................46 2.2.2 Do Objeto da Relação Jurídica de Consumo .......................................... 48 2.2.2.1 Do Produto .........................................................................................................48 2.2.2.2 Do Serviço ..........................................................................................................49

2.3 DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACINONAIS COMO CONTRATO DE CONSUMO ............................................................................... 50 2.3.1 Dos Sujeitos do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais ..... 50 2.3.1.1 Do Aluno como Consumidor .............................................................................50 2.3.1.2 Da Instituição de Ensino como Fornecedor .....................................................50 2.3.2 Do Objeto do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais .......... 51

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 52

DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS ............................................................................... 52

3.1 A EXTINÇÃO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ...................... 52 3.1.1 Dos Princípios Contratuais no Código de Defesa do Consumidor....... 52 3.1.1.1 Do Princípio da Transparência..........................................................................52 3.1.1.2 Do Princípio da Boa-fé .......................................................................................53 3.1.1.3 Do Princípio do Equilíbrio Contratual ...............................................................54 3.1.2 Das Disposições sobre Extinção Contratual no CDC ............................ 54 3.1.2.1 Do Direito de Arrependimento no CDC ............................................................54 3.1.2.2 Das Cláusulas Abusivas e a Extinção Contratual no CDC ..............................54 3.1.2.3 Da Extinção dos Contratos de Adesão no CDC ...............................................57 3.1.2.4 Da Revisão dos Contratos e a Extinção Contratual no CDC...........................58

3.2 EXTINÇÃO DO CONTRATO EDUCACIONAL .............................................. 59 3.2.1 Extinção Normal do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais59 3.2.2 Extinção por Causas Anteriores a sua Formação .................................. 60 3.2.2.1 Da Nulidade do Contrato ...................................................................................60 3.2.2.2 Do Direito de Arrependimento ..........................................................................60 3.2.3 Extinção por Causas supervenientes à sua formação........................... 61 3.2.3.1 Da Extinção por Resolução Contratual ............................................................61 3.2.3.2 Da Extinção Resilição Contratual .....................................................................62 3.2.3.3 Da Extinção por morte de uma das partes .......................................................63

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 64

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 67

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RESUMO

A presente Monografia tem como objeto a análise dos

contratos de prestação de serviços educacionais frente ao Código do

Consumidor. No capítulo 1, tratando dos Contratos em geral. No capítulo 2,

tratando da caracterização do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais

como um Contrato de Consumo. No capítulo 3, tratando da especificamente da

Extinção do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais, com base no

Código de Defesa do Consumidor. Quanto à Metodologia empregada, foi utilizado

o Método Indutivo com a aplicação das técnicas do Referente, da Categoria, do

Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a análise dos

contratos de prestação de serviços educacionais frente ao Código do Consumidor..

O seu objetivo é pesquisar sobre as principais formas de

extinção do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais, buscando conhecer

seus principais efeitos.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando dos Contratos

em geral, seu conceito, seus princípios, sua classificação quanto à matéria aplicável

e, mormente, suas formas de extinção ante ao direito privado.

No Capítulo 2, tratando da caracterização do Contrato de

Prestação de Serviços Educacionais como um Contrato de Consumo, onde para

tanto, observar-se-á a evolução histórica da proteção jurídica do consumidor,

analisando ainda a relação jurídica de consumo.

No Capítulo 3, tratando da especificamente da Extinção do

Contrato de Prestação de Serviços Educacionais, conhecendo-se primeiramente, os

princípios e regras aplicáveis à extinção contratual no Código de Defesa do

Consumidor.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o

assunto.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

a) O Contrato de Prestação de Serviços Educacionais caracteriza uma relação jurídica de consumo e portanto, com base na Lei 8.078/1990;

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b) Que nos casos em que o direito de arrependimento for exercido, o Estabelecimento de Ensino poderá reter parte dos valores pagos;

c) Que nos casos de desistência ou abandono de Curso o estudante somente será responsável pelo pagamento da parcelas da semestralidade de forma proporcional a data em que freqüentou as aulas;

d) Que o Estabelecimento de Ensino não poderá resolver o contrato por inadimplência do estudante;

e) Que no caso de morte do estudante, o Estabelecimento de Ensino poderá cobrar dos herdeiros os débitos então existentes, respeitando o limite do patrimônio transmitido.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia

é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas

do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa Bibliográfica7.

1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.

2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.

3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.

5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.

6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.

7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.

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11

CAPÍTULO 1

DOS CONTRATOS

1.1 DO CONCEITO DE CONTRATO

A idéia de Contrato não é recente, sendo muitos os

pensadores e juristas que apresentaram suas impressões acerca do que vem a

ser um contrato.

No direito romano, Ulpiano8 já conceituava contrato como

“est pactio duorum pluriumve in idcm placitum consensuas, ou, em vernáculo, o

mútuo consenso de duas ou mais pessoas sobre o mesmo objeto”.

A idéia de contrato se remonta ao Direito Romano. Neste

período os conceitos de contrato e de pacto não eram sinônimos.

Contrato e pacto eram compreendidos na expressão genérica conventio. O que os distinguia era a denominação que individualizava os contratos (comodato, mútuo, compra e venda), era a exteriorização material a forma (com exceção dos quatro consensuais: compra e venda, locação, mandato e sociedade), e era finalmente a sanção, a actio que os acompanhava; ao passo que os pacta não tinham nome especial, não revestiam forma predeterminada, e não permitiam à parte a invocação de uma ação9

Leciona Orlando Gomes10 que o conceito romano de

contratos tinha dois sentidos: o de vínculo jurídico e o de acordo de vontades. No

primeiro sentido, “compreenderia todas as causas de obrigações que não os

8 ULPIANO apud MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 40ed. São Paulo:

Saraiva 2010. v.5. p. 04. 9 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. p.08. 10 GOMES, Orlando. Contratos. p.20.

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12

delitos”. No outro sentido, “contrato terias sido o acordo de vontades do qual

derivam direitos e obrigações protegidos por ações civis.”11

No direito moderno, os conceitos de contrato e pacto se

aproximaram, atualmente, toda convenção é “dotada de força vinculante, e mune

o credor de ação para perseguir em juízo a prestação em espécie ou em

equivalente”12.

Na Grécia Antiga, Aristóteles13 entendia que “o contrato era

uma lei feita por particulares, tendo em vista determinado negócio”.

Esta idéia, tempos após, foi corroborada por Kelsen14, que

também via no “contrato a criação de uma norma jurídica particular”.

Segundo Savigny15 “contrato é a união de dois ou mais

indivíduos para uma declaração de vontade em consenso, através da qual se

define a relação jurídica entre eles”.

Acerca do conceito de contrato salienta Theodoro Junior16

que duas são as vertentes, aparecendo “ora como o “acordo de vontades” que

produz a relação jurídica obrigacional, ora como a própria “relação” nascida do

acordo de vontades”.

11 GOMES, Orlando. Contratos. p.20. 12 RUGGIERO apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. p.08. 13 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. p.05. 14 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. p.05. 15 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.53. (Biblioteca de direito do consumidor)

16 THEODORO JÚNIOR. Humberto. Contratos e seus Princípios. 3ed. Rio de Janeiro: AIDE Editora, 2001. p.15.

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13

No mesmo sentido, Washington de Barros Monteiro17

conceitua contrato “como o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar,

ou extinguir um direito”.

Para Orlando Gomes “o contrato é o negócio jurídico

bilateral ou multilateral que sujeita as partes à observância de conduta idônea à

satisfação dos interesses que regularam”18.

Para Maria Helena Diniz19 contrato é o “acordo de duas ou

mais vontades, na conformidade com a ordem jurídica, destinado a estabelecer

uma regulamentação de interesse entre as partes, com o escopo de adquirir,

modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial”.

Para Caio Mário da Silva Pereira20 contrato “é um acordo de

vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar,

transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.”

Assim sendo, observa-se que o que caracteriza o contrato é

o acordo de vontade entre as partes, desde que este acordo atenda a ordem

jurídica vigente;

17 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. p.05. 18 GOMES, Orlando. Contratos. 26 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.17. 19 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v.3. 27ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

p.24. 20 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. vol.3. Rio de Janeiro: Forense,

2010. p.06.

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14

1.2 DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CONTRATO

1.2.1 Do Princípio da Autonomia da Vontade

Nos contratos, o princípio da autonomia da vontade

representa o poder dos particulares em estipular seus interesses, criando norma

jurídica privada.

Deste modo, segundo Orlando Gomes21 “o princípio da

autonomia da vontade particulariza-se no direito contratual na liberdade de

contratar, auto-regulando interesses”.

Ensina Maria Helena Diniz22 que o princípio da autonomia da

vontade “consiste no poder das partes de estipular livremente, como melhor lhes

convier, mediante acordo de vontades, a disciplina de seus interesses, suscitando

efeitos tutelados pela ordem jurídica”.

Para Caio Mário da Silva Pereira23 o princípio da autonomia

da vontade representa “a faculdade que têm as pessoas de concluir livremente os

seus contratos”.

Para Barros Monteiro24 no princípio da autonomia da

vontade “têm os contratantes ampla liberdade para estipular o que lhes convenha,

fazendo assim do contrato verdadeira norma jurídica, já que o mesmo faz lei entre

as partes”.

Uma vez concluído o contrato, passa a constituir fonte formal de direito, autorizando qualquer das partes a mobilizar o aparelho coator do Estado para fazê-lo respeitar tal como está, e assegurar a sua execução segundo a vontade que presidiu à sua constituição25.

21 GOMES, Orlando. Contratos. p.29. 22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.45. 23 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. p.16. 24 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. p.09. 25 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. p.16.

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15

Para Claudia Lima Marques26 “a idéia de autonomia da

vontade está estreitamente ligada a idéia de uma vontade livre, dirigida pelo

próprio indivíduo sem influências externas imperativas”.

Em suma, o princípio da autonomia da vontade traduz a

liberdade de contratar, que por sua vez abrange a liberdade de contratar ou não

contratar; a liberdade de escolher o contraente; e a liberdade de fixar o conteúdo

do contrato.Todavia, o princípio não é absoluto, pois a liberdade de contratar

encontra limites no princípio da supremacia da ordem pública, tendo que respeitar

as normas públicas e os bons costumes.

Neste sentido, ressalta Diniz27 que o princípio da autonomia

da vontade é limitado pelo princípio da função social do contrato, pelas normas de

ordem pública, pelos bons costumes e pela revisão judicial do contrato.

Deste modo, ensina que o Estado assume o dirigismo

contratual28, que é a intervenção estatal na economia do negócio jurídico

contratual com intuito de proteger os economicamente mais fracos. Sendo que “a

aceitabilidade da padronização contratual representou a impossibilidade da

liberdade de discussão do conteúdo dos dispositivos negociais e a submissão do

economicamente mais débil a essa nova situação”29.

Ao Estado liberal sucedeu, em nossos tempos, o Estado social, com a tônica de não apenas declarar direitos individuais e garantias fundamentais, mas de torná-los realidade, mediante política de efetiva implantação de medidas compatíveis com a justiça e o bem-estar sociais. O dirigismo contratual, por meio da multiplicação das regras de ordem pública, passou a dominar a

26 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. p.60. 27 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.34;35. 28 LACORDAIRE apud GOMES, Orlando. Contratos. p. 35. “A expressão “dirigismo contratual”

significa, para JOSSERAND, seu criador, que o contrato se tornou uma operação dirigida, seja pelo poder público, legislador ou juiz, seja por um só dos contratantes, que impõe sua formula e sua condições ao outro”.

29 LISBOA, Roberto Senise. Contratos Difusos e Coletivos: consumidor, meio ambiente, trabalho, agrário, locação, autor. 3ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.84.

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16

preocupação dos legisladores, mudando a feição e atingindo até mesmo o âmago do direitos das obrigações30.

Em suma, explicita Silvio Rodrigues31 que o princípio da

autonomia da vontade “consiste na prerrogativa conferida aos indivíduos de

criarem relações na órbita do direito, desde que se submetam às regras impostas

pela lei e que seus fins coincidam com o interesse geral, ou não o contrariem”.

Sendo assim, o princípio da autonomia da vontade é o

“poder conferido aos contratantes de estabelecer vínculo obrigacional, desde que

se submetam às normas jurídicas e seus finas não contrariem o interesse geral,

de tal sorte a ordem pública e os bons costumes limites à liberdade contratual”32.

1.2.2 Do Princípio do Consensualismo

Leciona Diniz33 que segundo o princípio do consensulismo “o

simples acordo de duas ou mais vontades basta para gerar contrato válido, pois,

não se exige, em regra, qualquer forma especial para a formação do vínculo

contratual.”

Ensina Orlando Gomes34 que nas civilizações anteriores o

contrato era dominado pelo formalismo e pelo simbolismo. Entretanto, no direito

atual o formalismo perdeu espaço para o consensualismo, ou seja, em princípio, o

contrato não exige forma especial, bastando o simples consenso.

30 JÚNIOR. Humberto. Contratos e seus Princípios. p.18. 31 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil. p.15. 32 NERY JR, Nelson apud DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.35. 33 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.39. 34 GOMES, Orlando. Contratos. p.35.

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17

Deste modo, explicita Carlos Alberto Bittar35 que “bastam as

declarações convergentes de vontades para que se considere perfeito e válido o

ajusto, em função dos interesses visados”.

1.2.3 Do Princípio da Obrigatoriedade da Convenção

Segundo Diniz36 o princípio da obrigatoriedade da

convenção denota que “as estipulações feitas no contrato deverão ser fielmente

cumpridas (pacta sunt servanda), sob pena de execução patrimonial contra o

inadimplente”.

O princípio da força obrigatória consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes. Celebrado que seja, com observância de todos pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos imperativos37.

Ensina a doutrina38 que o princípio da obrigatoriedade dos

contratos mantém-se vivo no direito atual, porém sofreu algumas atenuações ante

o princípio do equilíbrio contratual ou da equivalência material das prestações.

Assim, admite-se que o magistrado proceda à revisão contratual em certas

circunstâncias excepcionais ou extraordinárias que impossibilitem a previsão de

excessiva onerosidade no cumprimento da prestação.

1.2.4 Do Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato

Conforme Orlando Gomes39 o princípio da relatividade dos

efeitos dos contratos está ligado a sua eficácia, ou seja, os efeitos dos contratos

atingem somente as partes, sem prejudicar ou ser aproveitado por terceiros.

35 BITTAR, Carlos Alberto. Direito dos contratos e dos atos unilaterais. 2ed. Rio de Janeiro:

Forense Universitária, 2004. p.34. 36 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.39. 37 GOMES, Orlando. Contratos. p.36. 38 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.46. GOMES, Orlando. Contratos. p.37. 39 GOMES, Orlando. Contratos. p.43.

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Maria Helena Diniz40 também explicita que pelo princípio da

relatividade dos efeitos do contrato “a avença apenas vincula as partes que nela

intervieram, não aproveitando nem prejudicando terceiros, salvo rara exceções.”

Em regra, “os efeitos do contrato atinentes à criação de

obrigações são restritos às partes contratantes. Ninguém pode ser obrigado em

razão de contrato de que não participa”41.

1.2.5 Do Princípio da Boa Fé

Orlando Gomes42ensina que o princípio da boa-fé está a

interpretação dos contratos, conhecendo dois significados, quais sejam: que as

partes devem agir com lealdade e confiança; e que o literal da linguagem não

deve prevalecer sobre a intenção manifestada na declaração de vontade.

No mesmo sentido é a lição de Maria Helena Diniz:

Segundo esse princípio, na interpretação do contrato, é preciso ater-se mais à intenção do que ao sentido literal da linguagem, e, em prol do interesse social de segurança das relações jurídicas, as partes deverão agir com lealdade e confiança recíprocas, auxiliando-se mutuamente na formação e na execução do contrato.43

Explicita Carlos Alberto Bittar44 que pelo princípio da boa fé

cada contratante deve “respeitar a posição do outro contratante e operar com

fidelidade e com probidade, a fim de alcance os objetivos pretendidos com o

contrato, agindo consoante padrões éticos normais à contratação pretendida”.

40 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.46. 41 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. vol.3. São Paulo: Saraiva, 2010. p.30. 42 GOMES, Orlando. Contratos. p.42. 43 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.46. 44 BITTAR, Carlos Alberto. Direito dos contratos e dos atos unilaterais. p. 36.

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1.3 DA CLASSIFICAÇÃO QUANTO A APLICAÇÃO

Dentre os inúmeros critérios de classificação dos contratos,

existe o critério quanto a matéria aplicável, ou seja, o ramo de direito que

prevalece na aplicabilidade do contrato.

1.3.1 Do Contrato Civil

Ensina Roberto Senise Lisboa que o contrato civil “é

celebrado entre sujeitos de direito privado, ou seja, os particulares (pessoa física

e/ou jurídica)”45.

Desta forma, sempre que o contrato resultar de uma relação

entre particulares, que não caracterizar uma relação jurídica de consumo, estar-

se-á diante de um contrato civil.

1.3.2 Do Contrato de Consumo

Para Roberto Senise Lisboa46 “contrato de consumo é a

relação jurídica negocial existente entre um fornecedor e um consumidor, para a

aquisição de um produto ou serviço”.

Assim, contrato de consumo é aquele que visa regular uma

relação jurídica consumo (que será analisada no decorrer do segundo capítulo),

cabe contudo, adiantar que ao referido contrato é aplicável o Código de Defesa do

Consumidor com o intuito de proteger o consumidor.

Cabe salientar que basicamente os contratos de consumo

estarão classificados em duas classes: os contratos de fornecimento de produto e

os contratos de prestação de serviços.

45 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: contratos e declarações unilaterais. vol.III.

3ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.180. 46 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: contratos e declarações unilaterais. p.180.

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Importante inferir que os contratos de prestação de serviços

regulam a prestação de atividades que o Fornecedor dispõe no mercado de

consumo, mediante remuneração, aos consumidores.

Desta maneira, dentre os contratos de prestação de serviços

encontram-se os de serviços educacionais, ou seja, são contratos que regulam a

relação jurídica existente em o fornecedor de serviços educacionais e o

consumidor/aluno de tais serviços.

Os Contratos de Prestações de Serviços Educacionais

pressupõem objeto de análise da presente monografia, mormente, suas formas

de extinção e seus respectivos efeitos, sendo que o segundo capítulo terá o fim

de demonstrar que o contrato em tela pressupõe um contrato de consumo,

merecendo por isso, a tutela da Lei 8.078/90.

1.4 DA EXTINÇÃO DOS CONTRATOS NO DIREITO CIVIL

Como já visto, o simples acordo de vontades é suficiente

para gerar um contrato, este por sua vez pode a qualquer tempo se extinto, por

inúmeras causas, os quais serão analisados a seguir.

1.4.1 Da Extinção Normal dos Contratos

A extinção do contrato ocorre de modo normal quando todas

as cláusulas e disposições contratuais são executadas pelas partes, não havendo

pendência a ser cumprida pelas partes em razão do contrato.

A execução é, essencialmente, o modo normal de extinção dos contratos (...) não suscita qualquer problema em relação à forma e aos efeitos. Executando o contrato, estão extintas, por via de conseqüência, as obrigações e direitos que originou47.

47 GOMES, Orlando. Contratos. p.169.

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Desta maneira, a maneira normal de se extinguir um

contrato é pelo seu cumprimento, em todas as cláusulas e disposições,

atendendo a finalidade de sua formação.

1.4.2 Da Extinção dos Contratos por Causas anteriores ou contemporâneas

à sua formação

Os contratos podem ser extintos sem que haja a sua

execução, por causas anteriores ou contemporâneas a formação contratual,

causas que serão conhecidas a seguir.

1.4.2.1 Da Nulidade

O contrato é fruto da autonomia das vontades dos

particulares, todavia, sua validade depende do atendimento de certos requisitos

subjetivos, objetivos e formais.

Neste sentido, ensina Maria Helena Diniz que “a nulidade é,

portanto, uma sanção, por meio da qual a lei priva de efeitos jurídicos o contrato

celebrado contra os preceitos disciplinadores dos pressupostos de validade do

negócio jurídico”48.

A nulidade, por sua vez, pode ser de dois tipos, absoluta ou

relativa. A primeira decorre da violação de um preceito de ordem pública, já a

nulidade relativa deriva de vício de consentimento na celebração do contrato,

1.4.2.2 Da Condição Resolutiva

A condição resolutiva de um contrato poderá ser tácita ou

expressa.

48 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.152.

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A condição resolutiva tácita é aquela que confere a parte

lesada pela inadimplência contratual de outra parte o direito de pedir a rescisão

contratual.

Explica Maria Helena Diniz que “há presunção legal de que

os contratantes inseriram, tacitamente, cláusula dispondo que o lesado pelo

inadimplemento pode requerer, se lhe aprouver, a rescisão do ajusto com perdas

e danos”49.

Cabe firmar, contudo, que nos casos de condição resolutiva

tácita o pronunciamento da rescisão da avença deverá ser judicial, conforme

Código Civil, art. 474, in fine.

Por outro lado, o contrato poderá abrigar expressamente a

condição resolutiva, sem necessidade de pronunciamento judicial.

Explica Maria Helena Diniz que “uma vez convencionada

condição resolutiva expressa, o contrato rescindir-se-á automaticamente,

fundando-se no princípio da obrigatoriedade dos contratos, justificando-se quando

o devedor estiver em mora”50.

1.4.2.3 Do Direito de Arrependimento

O princípio da obrigatoriedade reina após a formação dos

contratos, todavia, em alguns casos, é admitido o arrependimento, sendo que

este direito pode decorrer do próprio contrato e/ou da lei.

O direito de arrependimento pode estar previsto no contrato, quando os contratantes estipularem, expressamente, que o ajuste será rescindido, mediante declaração unilateral de vontade, se qualquer deles se arrepender de o ter celebrado, sob pena de pagar multa penitencial, devida como uma compensação pecuniária a ser recebida pelo lesado com o arrependimento51.

49 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.153. 50 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.153. 51 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.154.

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O prazo para arrepender-se poderá ser estabelecido no

próprio contrato. Para Maria Helena Diniz52 nos casos de silencio contratual o

prazo será o anterior a execução, uma vez que o adimplemento importa na

renúncia do direito de arrependimento.

Cabe ressaltar, que embora o contrato e a lei permitam o

direito de arrependimento, o arrependido deverá ressarcir os prejuízos causados

a outra parte da avença.

1.4.3 Da Extinção dos Contratos por Causas supervenientes à sua formação

Os contratos também poderão ser extintos por causas

ulteriores ao acordo de vontades, podendo a extinção ocorrer por meio de

resolução, resilição ou morte.

1.4.3.1 Da Extinção por Resolução Contratual

A resolução contratual está diretamente relacionada a

inadimplência contratual, sendo que está poderá ser voluntária, involuntária ou

por onerosidade excessiva.

Leciona Orlando Gomes53 que a resolução do contrato

ocorre por inexecução culposa quando o devedor não cumpre suas obrigações

contratuais, o que faculta ao credor exigir a execução contratual, obrigando o

cumprimento da avença ou o pagamento de perdas e danos.

Segundo Carlos Alberto Bittar54 a resolução por inexecução

involuntário ocorre quando a inadimplência de uma das partes contratuais decorre

de fatos alheios a sua vontade, ou seja, uma causa superveniente advinda de

caso fortuito ou força maior.

52 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.154. 53 GOMES, Orlando. Contratos. p.171. 54 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.156;157.

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Conforme elucida Orlando Gomes55 na inexecução

involuntária o devedor, embora queira adimplir com a obrigação, não pode

satisfazê-la por causa alheia e superior a sua vontade.

Conforme lo princípio da autonomia da vontade o contrato

faz vincula as partes, todavia, essa premissa não é absoluta, frente a

subentendida existência da cláusula rebus sic stantibus.

Desta maneira, os requisitos para a resolução por

onerosidade excessiva são expressos pela doutrina de Maria Helena Diniz56,

quais sejam:

� Vigência de um contrato comulativo de execução continuada; � Alteração radical das condições econômicas no momento da

execução do contrato em relação ao momento de sua formação; � Onerosidade excessiva para uma das partes; � Imprevisibilidade e extraordinariedade da modificação.

1.4.3.2 Da Extinção por Resilição Contratual

Na resilição bilateral, também chamada de distrato, as

partes do contrato rompem o laço contratual anteriormente firmado pelas

mesmas, sendo a expressão última do princípio da autonomia das vontades.

A resilição unilateral decorre da simples declaração de uma

das partes, todavia, cabe observar que a resilição contratual é cabível apenas em

alguns contratos, em hipóteses excepcionais, em respeito ao princípio da

obrigatoriedade dos contratos.

Sobre os casos admissíveis, convém citar o Código Civil

brasileiro, em seu artigo 473, parágrafo único:

A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à

55 GOMES, Orlando. Contratos. p.176. 56 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.164.

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outra parte. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Revela Maria Helena Diniz57 que a resilição unilateral é

muito comum no mandato, no comodato, no depósito e em contratos de execução

continuada, assumindo em alguns casos, a forma de revogação, renúncia e

resgate.

Salienta Orlando Gomes58 que a resilição não é retroativa,

produzindo efeitos ex nunc.

1.4.3.3 Da Extinção por Morte de uma das partes

Maria Helena Diniz59 explicita que somente nos contratos

intuito personae60 a morte de uma das partes implicará na extinção do contratos,

nos demais casos, as obrigações serão transmitidas aos herdeiros e sucessores

até as limites da herança.

57 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.164;165. 58 GOMES, Orlando. Contratos. p.187. 59 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p.162. 60 Ou personalíssimos. São os contratos que são realizados levando-se em consideração a

pessoa da parte contratada.

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CAPÍTULO 2

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS

O presente capítulo tem o objetivo de demonstrar o tipo de

relação jurídica que abrange o Contrato de Prestação de Serviços Educacionais,

mormente, pela caracterização de tal contrato como uma relação jurídica de

consumo.

2.1 DA PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR

2.1.1 Da Proteção Jurídica do Consumidor na Era Pré-Industrial

Desde as formas primitivas de sociedade organizada “o

consumidor – quando prejudicado pelo vendedor de um produto – contava com a

proteção do Estado” 61

Em suma, até o advento da Revolução Industrial as relações

de consumo caracterizavam-se pelo caráter pessoal do relacionamento entre o

fornecedor e o consumidor, o direito tinha natureza predominantemente punitiva e

com paulatina característica indenizatória.

2.1.1.1 Do Código de Hamurabi

Na Antiguidade62 “as relações de consumo caracterizavam-

se pelos negócios interpessoais, em que os fornecedores mantinham contatos

61 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 6ed. São Paulo:

LTr, 2006. p.34. 62 COTRIM, Gilberto. História Geral para uma Geração Consciente. 8ed. São Paulo: Saraiva,

2008. p.10. “A Idade Antiga vai do fim da Pré-História (aparecimento da escrita) até o século V d.C., (queda do Império Romano do Ocidente, em 476).”

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diretos com os consumidores, em faixas restritas dos mercados.”63 Assim, “esse

comércio caracterizou-se por seu individualismo, isto é, o produto era

predominantemente de caráter artesanal e o comprador limitava seu interesse a

uma poucas unidades.”64

O direito dos mesopotâmicos já previa uma forma de

proteção da relação de consumo através do Código de Hamurabi que ”já continha

dispositivos de proteção aos consumidores nas fraudes com grãos, gêneros e

metais ou mesmo nos contratos de construção. As punições eram sempre

severas, com violências contra o corpo ou contra a vida do infrator”. 65

São leis do Código de Hammurabi:

“Lei § 229 – Se um pedreiro edificou uma casa para um awilum, mas não reforçou o seu trabalho e a casa, que construiu, caiu e causou a morte do dono da casa, esse pedreiro será morto.

Lei § 230 – Se causou a morte do filho do dono da casa, matarão o filho desse pedreiro”66.

“Lei § 233 – Se um pedreiro construiu uma casa para um awilum67 e não executou o trabalho adequadamente e o muro ameaça cair, esse pedreiro deverá reforçar o muro às suas custas.

Lei § 235 – Se um barqueiro calafetou um barco para um awilum e não executou o seu trabalho com cuidado e naquele mesmo ano esse barco adernou ou sofreu avaria, o barqueiro desmontará esse barco, reforçá-lo-á com seus próprios recursos, e entregará o barco reforçado ao proprietário do barco”68.

“Lei § 218 – Se um médico fez em um awilum uma operação difícil com um escapelo de bronze e causou a morte do awilum ou abriu a nakkaptum de um awilum com um escapelo de bronze e destruiu o olho do awilum, eles cortarão a sua mão”69.

63 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. 3ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

p.01. 64 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.26. 65 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.22. 66 BOUZON, Emanuel. O Código de Hammurabi. p.194. 67 Na sociedade babilônica, awlium era o homem livre, o cidadão em pleno uso de seus direitos. 68 BOUZON, Emanuel. O Código de Hammurabi. p.196. 69 BOUZON, Emanuel. O Código de Hammurabi. p.189.

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Desta forma, pode-se perceber que o Código de Hammurabi

representa a vanguarda da proteção jurídico do cidadão em suas relações de

consumo.

2.1.1.2 Do Direito Romano

No mesmo sentido, o Direito Romano regulava esses

negócios interpessoais abrigando institutos ainda presentes atualmente.

Na velha Roma, as ações para proteção do adquirente de coisa com defeito oculto eram a redhibitoria e a quanti minoris. Com junstiniano, o vendedor tinha de ressarcir o comprador de prejuízos derivados de vícios da coisa vendida, ainda que os desconhecesse.70

Ainda em Roma, também chamava atenção o pensador

Cícero que defendia “que as deficiências ocultas nas operações de compra e

venda seriam sanadas ou então, em caso de impossibilidade, haveria a resilição

contratual (clausula ex empto).”71

2.1.1.3 Do Absolutismo Francês

Mesmo com o advento da Idade Média72 e da Idade

Moderna73, a natureza das relações de consumo permaneceu interpessoal e, da

mesma forma, o direito da época protegia o consumidor.

Notadamente na França e Espanha, previam-se penas vexatórias para os adulteradores de substâncias alimentícias, sobretudo a manteiga e o vinho. Assim, na França, em 1481, o rei Luiz XI baixou um édito que punia com banho escaldante quem vendesse manteiga com pedra no seu interior para aumentar o peso, ou leite com água para inchar o volume.74

70 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.26. 71 FILOMENO, Jose Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. São Paulo: Atlas, 2010.

p.28. 72 COTRIM, Gilberto. História Geral para uma Geração Consciente. p.10. “A Idade Média vai do

final da Antiguidade até o século XV (queda de Constantinopla), em 1453). 73 COTRIM, Gilberto. História Geral para uma Geração Consciente. p.10. “A Idade Moderna vai

do final de Idade Média até o fim do século XVIII (Revolução Francesa, em 1789).” 74 FILOMENO, Jose Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. p.28.

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2.1.1.4 Do Código de Napoleão

Antes mesmo da Revolução Industrial, “após a Revolução

Francesa, com o Código de Napoleão, a fase indenizatória ganhou

preponderância.”75 Ou seja, o direito que previa punições drásticas ao mau

fornecedor foi superado pelos “diplomas legais obrigavam aqueles que

praticassem lesões aos consumidores a indenizarem as suas vítimas.”76

Sendo assim, o Código de Napoleão foi o introdutor da fase

eminentemente indenizatória nas relações de consumo.

Iluminismo – autonomia privada

2.1.2 Da Proteção Jurídica do Consumidor na Era Industrial

A Idade Contemporânea77 foi o palco de inúmeras

revoluções, dentre elas, a Revolução Industrial78 que representou o marco divisor

da evolução histórica da relação de consumo.

As grandes descobertas que partejaram a Revolução Industrial vieram modificar, de modo fundamental, as relações de consumo. A pouco e pouco os produtos foram saindo das fábricas em grandes quantidades, fenômeno que repercutiu fundamente nos direitos comercial e civil.79

75 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.22. 76 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.22. 77 COTRIM, Gilberto. História Geral para uma Geração Consciente. p.10. “A Idade

Contemporânea vai do fim da Idade Moderna até os dias atuais”. 78 COTRIM, Gilberto. História Geral para uma Geração Consciente. p.175. “Como um conceito

histórico a Revolução Industrial serve para designar um conjunto de transformações que alteraram a vida da Europa Ocidental durante a segunda metade do século XVIII e quase todo século XIX. Essas transformações estão diretamente ligadas à substituição do trabalho artesanal, baseado na utilização de ferramentas, pelo trabalho assalariado, baseado na utilização de máquinas”.

79 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.26.

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30

Para Gama80 o impacto que a Revolução Industrial causou

nas relações de consumo foi profundo, transformando as relações de consumo de

modo a lhe conferir foros de universalidade.

Nesta perspectiva, “foram surgindo interesses coletivos ao

lado dos interesses individuais. A consciência coletiva encorpou-se com o

desenvolvimento da economia e de outros fatores impulsionadores do processo

evolutivo da sociedade.”81

No entanto, todo processo de mudança que ocorreu

concomitantemente com a Revolução Industrial representou “um conjunto de

forças diante do qual o consumidor, para defender-se eficazmente, contava

apenas com um sistema legal já superado pela realidade social e econômica.”82

Frente a esta superação normativa surgiu “o chamado

“movimento consumerista” teve origem nas lutas dos grupos sociais contra as

discriminações de raça, sexo, idade e profissões vividas no final do século XIX e

no início do século XX”.83 A principio o movimento consumerista estava voltado

para a associação dos “interesses dos consumidores às conquistas sociais então

vividas, como jornadas de trabalho, o respeito ao trabalho da mulher e do menor,

as lutas contra discriminações pessoais e sociais e a presença das empresas nas

vidas comunitárias”.84

Evolutivamente, não demorou para que o movimento

consumerista “começasse a discriminar os comerciantes que não vestissem os

empregados com uniformes higiênicos, que não os mantivessem asseados e

80 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.01 81 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.26;27. 82 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.27. 83 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.02. 84 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.01.

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31

sadios, ou que deles não exigissem melhores tratamentos ou atenções aos

fregueses”.85

Intuitivamente os fregueses passaram a saber que o prestígio a um mau comerciante, a um sonegador, a quem não tivesse bons compromissos sociais ou a quem violasse as boas regras de livre concorrência, representava na verdade enriquecer alguém cuja conduta anti-social era reprovável. Seria estimular e prestigiar uma pessoa má.86

O movimento consumerista logo chegou a uma fase de

valorização da qualidade dos produtos e serviços, historicamente, antes mesmo

da depressão de 1929, grupos de países europeus e dos Estados Unidos já

“estiveram voltadas para a qualidade dos produtos oferecidos ao público.”87

Internacionalmente, “no final da década de 1970 foi criada a

IOCU (International Organization of Consmer Union), adotada oficialmente pela

ONU – Organização das Nações Unidas, e que atua em todos os continentes.”88

Atualmente, o movimento consumerista volta-se para alguns aspectos mais importantes: 1º) a boa informação sobre os produtos e serviços; 2º) a boa conduta dos fornecedores nas estipulações comerciais; 3º) a boa presença dos fornecedores frente às expectativas de valorização da vida comunitária.89

Resumidamente, “com a Revolução Industrial e a produção

em massa, as situações, em que o consumidor precisava ser amparado,

tornaram-se mais numerosas e mais complexas, o que motivou a transformação

do regramento legal específico.”90 Neste sentido, o movimento consumerista lutou

pelo reconhecimento e concretização dos direitos dos consumidores, estando

“sempre ligado ao progresso das relações sociais.”91

85 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.02. 86 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.03. 87 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.04. 88 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.05;06. 89 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.09. 90 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.34. 91 GAMA, Hélio Zagheto, Curso de direito do consumidor. p.09.

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32

A intervenção significativa do Estado na relação de consumo

se deu no momento “quando os interesses das relações de consumo passam a

ser de natureza “social”, logo esses interesse ou “desejos” da sociedade se

integram dentre os interesses sociais, consequentemente, dentre os desejos do

Estado.”92

O homem do século XX vive em função de um modelo novo de associativismo: a sociedade de consumo, caracterizada por um número crescente de produtos e serviços, pelo domínio do crédito e do marketing, assim como pelas dificuldades de acesso à justiça.93

Concretamente, “nos Estados Unidos da América do Norte,

a primeira manifestação oficial do interesse pela proteção do consumidor foi a

mensagem – por sinal famosa – de Kennedy ao Congresso de 1962.”94 Nesta

mensagem o estadista “proclamou como objetivos do seu governo defender os

seguintes direitos dos consumidores do seu país: o direito à opção; o direito à

segurança; o direito à informação; e o direito de ser ouvido.”95

Anos depois, na “Perestroica”, o líder soviético Gorbatchov reiteradas vezes conclamou ao seu povo para “gritar, reclamar, criar caso”, quando alguém recebia mercadorias ou serviços de baixa ou má qualidade. A sofreguidão das reformas soviéticas teve dois objetivos distintos: 1º) permitir maior ou melhor representação política e 2º) permitir o acesso a melhores e mais difusos bens e serviços.96

As primeiras importantes manifestações legislativas

consistiram quando a “Assembléia Consultiva do Conselho da Europa aprovou a

Carta de Proteção do Consumidor. Nesse documento, é o consumidor definido

como uma pessoa física ou coletiva a quem são fornecidos bens e prestados

serviços para uso privado.”97

92 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.13. 93 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. 9ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. p.06. 94 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.35. 95 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.14. 96 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.14. 97 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.36.

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Na Europa, as leis pioneiras que tratam do direito do consumidor foram a Loi Royer (França, 1973), a AGB Gesetz (dispositivo legal de 1976 protegendo os consumidores alemães das cláusulas abusivas), a Lei Portuguesa n.29 (Portugal, 1981) e a Ley General para la Defensa de los Consumidores y Usuários (Espanha, 1984).98

Por fim, “a evolução dos estudos sobre os Direitos do

Consumidor transformou-o em “questão de Estado”.99 Sendo que “o direito do

consumidor surgiu da necessidade da intervenção estatal para controlar as

relações de consumo estabelecendo, assim, o equilíbrio entre o poder econômico

dos fornecedores e dos consumidores”.100

2.1.3 Da Proteção Jurídica do Consumidor no Brasil

2.1.3.1 Das Ordenações

No direito brasileiro as primeiras manifestações de proteção

ao consumidor se deram no Brasil-Colônia, onde se pode perceber que a punição

era o modo de proteger a relação de consumo.

Livro V das Ordenações Filipinas – nosso primeiro Código Penal dispunha, no Título LVII, que, “se alguma pessoa falsificar alguma mercadoria, assim, como cera ou outra qualquer, se a falsidade que nela se fizer, valer um marco de prata, morra por isso”, e, no Título LVIII, que “toda pessoa, que medir ou pesar com medidas, ou pesos falsos, se a falsidade que, nisso fizer, valer um marco de prata, morra por isso. E se for de valia de menos do dito marco, seja degradado para sempre para o Brasil.101

98 GÔNGORA, Cláudia. O Direito do Consumidor e o Mercosul. Relações de Consumo no

direito brasileiro. Glauber Moreno Talavera (Coord.). São Paulo: Método, 2001. p.157. 99 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.15;16. 100 GÔNGORA, Cláudia. O Direito do Consumidor e o Mercosul. p.167. 101 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.31.

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34

2.1.3.2 Do Código Civil de 1917

Mesmo após a superação dessa fase punitiva de proteção

ao consumidor “nosso sistema legal, de modo esparso e desordenado, sem

qualquer sistematização, continuou a ocupar-se das relações de consumo”102.

O Código Civil de 1917 de modo genérico cuidava dos

direito subjetivos individuais do consumidor no art.159, que tinha como texto:

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.” O

ordenamento jurídico brasileiro superou com o Tratado de Direito Privado de 1917

a fase punitiva de proteção da relação de consumo, inaugurando a fase de caráter

indenizatório. Tal como na história geral da relação de consumo, “também no

Brasil as fases punitiva e indenizatória prevaleceram no nosso sistema

jurídico”103.

Apesar da evolução havida com o Código Civil de 1917 “a

produção em massa dava seus primeiros passos e não se cogitva de direito

coletivos ou difusos”104.

2.1.3.3 Da Lei da Economia Popular, Lei de Ação Civil Pública e outras

Legislações

Como salienta Saad105: “posteriormente, o mais importante

diploma legal tendo por objeto a defesa do consumidor foi a Lei n. 1.521/1951 (Lei

de Economia Popular) que previa sanções penais e pecuniárias aos autores de

crimes contra a economia popular”.

102 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.32. 103 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.22. 104 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.32. 105 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.32.

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Da mesma forma, “a Lei Delegada n. 4 de 1962, autoriza a

intervenção da União no domínio econômico para assegurar a livres distribuição

de mercadorias e serviços essenciais ao consumo e uso do povo”.106

A Lei Delegada n. 4 foi alterada pelo Decreto-Lei n. 422 de 1969, sobretudo para fixar a competência da Superintendência Nacional do Abastecimento – SUNAB para fixar preços máximos de taxas, anuidades de estabelecimentos de ensino, ingressos em diversões públicas populares.107

Já na década de oitenta, “tivemos a Lei n. 7.347 de 1985

regulando a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio

ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor histórico, estético, turístico e

paisagístico”108.

De meritória importância a Lei da Ação Civil Pública foi o

primeiro diploma legal brasileira que “tutelava apenas os interesses difusos,

metaindividuais”109

2.1.3.4 Da Constituição Federal de 1988

Em suma, antes da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988 e do Código de Defesa do Consumidor de 1990 no “Brasil, a

exemplo dos demais países, vinha cuidando do assunto por meio de uma série de

leis que se completavam ao longo do tempo e que refletiam as mudanças

operadas no meio socioeconômico”110.

Neste contexto histórico brasileiro, o movimento

consumerista também esteve presente.

No Brasil surgiu na década de 1970 como uma Associação de Defesa do Consumidor em Porto Alegre, RS, que edita a importante Revista Consumidor. Outras associações foram

106 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.33. 107 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.33. 108 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.33. 109 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.34. 110 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.34.

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36

criadas no Rio de Janeiro e em São Paulo nos anos 80, dentre eles o Idec – Instituto de Defesa do Consumidor.111

Entre outras, no Rio de Janeiro foi criada “a Associação dos

Pais de Alunos de Escolas Particulares e Públicas do Estado (Apaerj) assumindo

a defesa dos consumidores dos serviços escolares”112.

Para Gama113 o movimento consumerista brasileiro se

apresentou na contramão do movimento do resto do mundo. Enquanto em outros

países as manifestações emergiram do setor privado, no Brasil o movimento de

defesa do consumidor nasceu do poder público.

Por ocasião das discussões que conduziram à Constituição Federal de 1988, as matérias do Direito do Consumidor passaram a ser consideradas num relevo especial. Funcionava então o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, órgão do Ministério da Justiça, com a função de aconselhamento, orientação e coordenação da Defesa do Consumidor no país. 114.

A Assembléia Nacional Constituinte proclamou que é dever

do Estado promover a Defesa do Consumidor, prevendo em seu conteúdo a

confecção de um Código de Defesa do Consumidor.

Além da previsão da edição do Código de Defesa do

Consumidor, a Constituição Federal de 1988 “veio situar-se na linha de

desenvolvimento do direito moderno ao dispor no inciso XXXV do art. 5º: “A lei

não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.”115.

Este dispositivo constitucional superou as Constituições anteriores que só faziam

menção a proteção a direito individual. Como salienta SAAD “esse texto permite

ao legislador infraconstitucional incluir, em tal garantia constitucional, os direitos

coletivos e difusos”116

111 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.06. 112 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.06. 113 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.08;09. 114 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.07;08. 115 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.30. 116 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.30.

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2.1.3.5 Do Código de Defesa do Consumidor

Neste contexto de reconhecimento dos direitos coletivos e

difusos e, em especial, dos direitos do consumidor, “o Código de Defesa do

Consumidor, representou importante marco do movimento consumerista

mundial”117.

Em suma, “o Código de Defesa do Consumidor veio

implantar e implementar uma terceira fase, a fase de prevenção, sem descurar

daquelas outras mais antigas fases punitiva e indenizatória”118.

Esta nova fase “se caracteriza por instrumentos de proteção

aos consumidores (...), ao invés de priorizar as punições aos maus fornecedores,

a fase preventiva procura evitar danos”119.

Salienta Filomeno120 que o Código de Defesa do

Consumidor representa um microssistema jurídico, que como princípio central

está a vulnerabilidade do consumidor, tendo em seu conteúdo normas de outros

ramos do Direito, como o Direito Penal, Civil, Administrativo, etc.

Em suma, o Código de Defesa do Consumidor, representa o

apogeu legislativo da proteção jurídico do consumidor, sendo que um de seus

capítulos foi dedicado a tratar da Proteção Jurídica do consumidor em matéria

contratual, como ainda será exposto.

Por fim, a análise histórica da proteção jurídica do

consumidor revelou a posição vulnerável do consumidor em relação ao

fornecedor representa a razão de ser do tratamento especial concedido a este

117 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.08. 118 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.22. 119 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.22. 120 FILOMENO, Jose Geraldo Brito. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor:

comentado pelos autores do anteprojeto. p.19;20.

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38

tipo de relação jurídica, proteção essa que também refletiu nas relações

contratuais.

2.2 DA RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

A evolução histórica da proteção jurídica do consumidor

revelou que “tornou-se premente proteger o consumidor contra abusos e lesões

decorrentes do poder cada vez maior das empresas em conseqüência

responsabilizá-las devidamente, buscando assim um equilíbrio nas relações de

consumo”.121

Considerando que a relação de consumo nada mais é que

uma relação jurídica dotada de características próprias, far-se-á uma análise

introdutória sobre Relação Jurídica. Neste contexto, “Ihering não hesitou em

afirmar que a relação jurídica é a pedra angular da Ciência do Direito e que está

para esta como o alfabeto está para a palavra”.122

Explicita Orlando Gomes123 que a Relação Jurídica pode ser

encarada por dois aspectos. De um lado, a doutrina que entende relação jurídica

como “o vínculo entre dois ou mais sujeito de direito que obriga um deles, ou os

dois, a ter certo comportamento”. Em contrapartida, a concepção que defende

que a relação jurídica “é o quadro no qual se reúnem todos os efeitos atribuídos

por lei a esse vínculo, ou a esse poder. Em outras palavras, é o conjunto dos

efeitos jurídicos que nascem de sua constituição, consistentes em direito e

deveres.”124

121 BULGARELLI, Waldirio. Questões Contratuais no Código de Defesa do Consumidor. 3ed.

São Paulo: Atlas, 1999. p.22. 122 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.50. 123 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 20 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p.94. 124 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. p. 94.

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39

Leciona Gomes125 que toda relação jurídica tem como

pressuposto um fato que adquire significação jurídica se a lei o tem como idôneo

à produção de determinados efeitos, estatuídos ou tutelados, reunindo os

seguintes elementos: a) sujeito – se todo direito pressupõe a faculdade de agir, e

somente uma pessoa tem esta faculdade, não é admissível uma relação jurídica

sem um sujeito; b) objeto – é bem sobre o qual incide o poder do sujeito, ou a

prestação exigível; c) fato propulsor – seria o acontecimento a que a lei atribui a

função de criar, modificar o extinguir direitos.

Deste modo, deve-se salientar que a Relação Jurídica de

Consumo consiste em uma espécie do gênero Relação Jurídica, possuindo

características comuns a todas as relações jurídicas, além de seus elementos

específicos.

Indo ao encontro do exposto por Orlando Gomes, salienta

Bulgarelli126 sobre relação jurídica de consumo que “trata-se de uma relação

fática, potencial ou real, a que o Direito atribui efeitos jurídicos”.

Relações Negociais de Consumo aquelas relações em que se estabeleceu – ou que podem vir a se estabelecer quando de um lado porta-se alguém com a atividade de ofertador de produtos e serviços e, de outro lado, haja alguém sujeito a tais ofertas ou sujeito a algum acidente que venha ocorrer com sua pessoa ou com os seus bens.127

Para Grinover128 são elementos caracterizadores de uma

Relação Jurídica de Consumo: as partes da relação (consumidor e o fornecedor);

o fim de satisfazer uma necessidade privada do consumidor; e a submissão do

consumidor ao poder e condições dos produtos dos bens e serviços.

125 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. p. 98-100. 126 BULGARELLI, Waldirio. Questões Contratuais no Código de Defesa do Consumidor. p.27;

28. 127 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.32. 128 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.31.

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40

No contexto do Código de Defesa do Consumidor, cabe

inferir que “os conceitos de consumidor e de fornecedor têm caráter relacional”.129

Devendo “a identificação de um deles em dada relação jurídica somente se

verifica a partir da presença do outro na mesma relação”130.

Sendo assim, para a caracterização de uma relação jurídica

de consumo é essencial a presença comoriente da figura do consumidor e do

fornecedor.

O legislador do Código de Defesa do Consumidor preferiu

por definir os conceitos de consumidor, fornecedor, produto e serviço. Todavia,

cabe a doutrina e a jurisprudência interpretar todos os elementos formadores

destes conceitos legais.

Quanto a esfera de aplicação, “o âmbito de incidência do

Código de Defesa do Consumidor é delineado pelo conceito de relação de

consumo”.131 O Código de Defesa do Consumidor não explicita a natureza

relacional dos conceitos de consumidor e de fornecedor, seu “caráter relacional

decorre, portanto, entre nós, da interpretação sistemática, com a consideração

dos diferentes regimes jurídicos de disciplina das obrigações privadas”.132

No mesmo sentido leciona Pasqualoto133 que “a relação de

consumo, tal como se pode concluir das definições contidas nos arts.2º e 3º do

Código de Defesa do Consumidor, configura o objeto da legislação protecionista

do consumidor”.

129 FERREIRA DE ALMEIDA apud COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do

Consumidor: o cálculo empresarial na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. São Paulo; Saraiva, 1994. p.44.

130 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.44.

131 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.47.

132 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.44;45.

133 PASQUALOTTO apud COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p. 43.

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41

Deste modo, “a relação de consumo, como já acentuada

passos atrás, nada mais são do que relações jurídicas por excelência,

pressupondo, por exemplo, dois pólos de interesses: o consumidor-fornecedor e a

coisa, objeto desses interesses”.134

Assim, seguindo a lição de Orlando Gomes sobre os

elementos caracterizadores de uma relação jurídica pode inferir que a relação

jurídica de consumo é integrada por: a) sujeitos – consumidor e fornecedor; b)

objeto – a coisa, o produto ou o serviço; c) fato propulsor – o fato de adquirir ou

utilizar produto ou serviço.

2.2.1 Dos Sujeitos da Relação Jurídica de Consumo

2.2.1.1 Do Consumidor

2.2.1.1.1 Do Conceito Jurídico de Consumidor na doutrina

A análise da doutrina revela a existência de duas

concepções acerca do conceito jurídico de consumidor, a objetiva e a subjetiva.

Ensina Marques135 que a noção subjetiva de consumidor

entende o conceito de consumidor como o do não profissional que adquire ou

utiliza produtos ou serviços, já que o profissional que adquire ou utiliza produtos

ou serviços não receberia proteção jurídica especial, pois estaria agindo com o

fim do lucro.

Corrobora Fabio Ulhoa Coelho136 que na concepção

subjetiva de consumidor, o “conceito jurídico recai sobre a sua qualidade de não-

profissional em relação ao fornecedor profissional.”

134 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.46;47. 135 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.302;303. (Biblioteca de direito do consumidor)

136 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial

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42

Para Alberto do Amaral Júnior137

a noção de consumidor se compõe de dois elementos: um de caráter geral, que é a submissão dos consumidores aos poder dos titulares dos meios de produção; e o segundo, que é a não profissionalidade do consumidor, a aquisição de bens ou serviços para fins não-profissionais.

Para Jean França138 “consumidor é a pessoa que realiza um

ato jurídico que lhe permite obter um bem ou um serviço para satisfazer a uma

necessidade pessoal ou familiar”,

Para Saad139 “consumidor é aquele (..) realiza compra para

usar o bem ou o serviço em proveito próprio”.

Para Fabio Konder Comparato140 consumidor é “aquele que

se submete ao poder de controle dos titulares de bens de produção, isto é, os

empresários”; acrescenta o doutrinador que todo produtor é consumidor de

insumos, todavia, só tem proteção o consumidor que “se apresenta no mercado

como simples adquirente ou usuários de serviços, sem ligação com a sua

atividade empresarial própria”141.

Para Benjamin142 consumidor é

todo aquele que, para seu uso pessoal, de sua família, ou dos que se subordinam por vinculação doméstica ou protetiva a ele, adquire ou utiliza produtos, serviços ou quaisquer outros bens ou informações colocadas à sua disposição por comerciantes ou por qualquer outra pessoa natural ou jurídica, no curso de sua atividade ou conhecimento profissionais.

na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.45.

137 MANDELBRAUM, Renato. Contrato de Adesão e Contrato de Consumo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p,167.

138 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.61. 139 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.51. 140 MANDELBRAUM, Renato. Contrato de Adesão e Contrato de Consumo. p.164;165. 141 MANDELBRAUM, Renato. Contrato de Adesão e Contrato de Consumo. p.165. 142 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2009.

p.27;28.

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43

Para Gomes143 consumidor é “quem compra um bem para

uso pessoal ou quem utiliza um serviço para um fim da mesma natureza, no

mercado, como destinatário da atividade empresarial”.

Em contrapartida, a noção objetiva de consumidor entende

que é consumidor toda pessoa que adquire produto ou serviço, sendo que “a

única característica restritiva seria a aquisição ou utilização do bem como

destinatário final”144.

Explicita Fábio Ulhoa Coelho145 que na acepção objetiva o

consumidor se posiciona como “elo final na cadeia de distribuição de riqueza.

Nela, o aspecto ressaltado pelo conceito jurídico é o do agente econômico que

destrói o valor de troca dos bens ou serviços, ao utilizá-los diretamente, sem

intuito especulativo.”

Para Filomeno146 em uma acepção individual “consumidor é

qualquer pessoa física ou jurídica que, isolado ou coletivamente, contrate para

consumo final, em benefício próprio ou de outrem, a aquisição ou locação de

bens, bem como a prestação de um serviço”.

Luiz Amaral147 entende que consumidor é “sempre uma

pessoa física (ou jurídica) cuja necessidade (lato sentido) de consumo torna-a

subordinada às condições e interesses que o titular dos bens ou serviços impõe”.

143 MANDELBRAUM, Renato. Contrato de Adesão e Contrato de Consumo. p.166. 144 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. p.303. 145 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial

na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.45. 146 MANDELBRAUM, Renato. Contrato de Adesão e Contrato de Consumo. p.166. 147 MANDELBRAUM, Renato. Contrato de Adesão e Contrato de Consumo. p.166.

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44

2.2.1.1.2 Do Conceito de Consumidor no Código de Defesa do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor define a Categoria

Consumidor em seu Art.2º nos seguintes termos:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”148.

Salienta Filomeno149 que o “o conceito de consumidor

adotado pelo Código foi exclusivamente de caráter econômico”.

Partindo do conceito legal, pode ser consumidor tanto

pessoas físicas como pessoas jurídicas. As pessoas físicas são as que possuem

personalidade jurídica na forma do art. 2º do Código Civil, sendo que “a

personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida, mas a lei põe

a salvo, desde a concepção dos direitos do nascituro”.150

O conceito legal de consumidor também elenca as pessoas

jurídicas como possíveis consumidoras, “quando o Código de Defesa do

Consumidor foi concebido, os estudiosos do assunto só entendiam como

consumidoras as pessoas físicas”.151 A evolução dos debates acerca do Direito do

Consumidor revelou “como consumidores as entidades beneficentes e a pequena

empresa, em razão de suas manifestas vulnerabilidades no mercado de

consumo”.152

Cinco espécies de vulnerabilidade: a Técnica, representada pela falta de conhecimento sobre o produto ou o serviço adquirido; a Jurídica, representada pelo desconhecimento nas áreas jurídica, contábil e econômica; a Fática, representada pelo desconhecimento das regras ordinárias da experiência; a Sócio-econômica , representada pelo baixa renda ou nível cultural

148 BRASIL. Código de defesa do consumidor. São Paulo: Riedel, 2010. 149 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.27. 150 BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Brasília: Congresso Nacional, 2007. 151 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.29. 152 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.29.

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45

inferior; e a Insuficiência no Mercado, representada pela pessoa jurídica atuando fora de sua área de atividade.153

Deste modo, “do conceito de vulnerabilidade partiu-se então

para um alargamento do conceito de consumidor”.154 Chegando, hoje, ao conceito

legal que considera “consumidor qualquer pessoa jurídica – pública ou privada –

que adquire bens ou serviços no mercado de consumo”.155

Desta maneira “o texto brasileiro consagra concepção

objetiva de consumidor, e, apesar disso, a questão (...) não se encontra só por

isso resolvida”.156 Essa consideração ainda dependerá da pessoa jurídica agir

como destinatário final. Todavia, ensina Coelho que a pessoa jurídica pode ser

destinatário final sob o ponto de vista material, já que fisicamente os bens ou

serviços deixaram de circular, mas em uma acepção econômica “esses bens ou

serviços se incorporam aos oferecidos ao mercado do consumo pelo empresário

que os adquiriu. Em uma palavra, são insumos.”157

Conforme análise do conceito legal de consumidor, pode-se

observar que tanto pessoas físicas como jurídicas podem ser consumidoras,

todavia, a qualidade de destinatário final de produtos ou serviços é o elemento

essencial para caracterização da figura do consumidor.

Neste sentido, o Código de Defesa do Consumidor regula

situações em que haja destinatário final que adquire produto ou serviço para uso

próprio sem finalidade de produção de outro produto ou serviço.

O Código de Defesa do Consumidor não regula situações nos quais, apesar de ser poder identificar um destinatário final, o produto ou serviço é entregue com a finalidade específica de servir de bem de produção para outro produto, ou servir e via de

153 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.10. 154 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.30. 155 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.30. 156 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial

na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.47. 157 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial

na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.47.

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46

regra não está colocado no mercado de consumo como bem de consumo, mas como de produção; o consumidor comum não o adquire.158

Para Saad159 destinatário final é aquele que “adquire um

produto para satisfazer a uma necessidade pessoal ou a uma necessidade

desvinculada da atividade básica em se tratando de pessoa jurídica”

Se o nosso sistema jurídico conceitua por consumidor o destinatário final do produto ou serviço, desde que ele não adquire produtos ou serviços para repassá-los a terceiros por revendas ou por quaisquer processos de agregação, fracionamentos e parcelamentos, certamente seria deles o destinatário final. Por conseguinte, será o consumidor final de tais produtos ou serviços.160

Para Fábio Ulhoa Coelho a Lei nº. 8.078/1990 abraçou “o

conceito objetivo de consumidor, na medida em que enfatiza a posição terminal

na cadeia de circulação de riqueza por ele ocupada”.161

Adotar-se-á na presente monografia o conceito de

consumidor indicado pelo Código de Defesa do Consumidor, ou seja, consumidor

é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como

destinatário final.

2.2.1.2 Dos Fornecedores

Para Saad162 fornecedor é “o exercente das atividades

econômicas que discrimina, está a dizer que se trata de pessoa física ou jurídica

que exerce profissionalmente, isto é, com continuidade, essa atividade”.

Para Plácido e Silva, fornecedor, deriva do francês fournir, fornisseu, é todo comerciante ou estabelecimento que abastece

158 NUNES, Luis Antônio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumdor: direito

material (art.1º a 54). São Paulo: Saraiva, 2010. p.87;88. 159 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.60. 160 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.11. 161 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial

na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.45. 162 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.68.

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ou fornece, habitualmente uma casa ou estabelecimento dos gêneros e mercadorias necessários ao seu consumo.163

O Código de Defesa do Consumidor em seu art. 3º traz a

definição de Fornecedor:

Art.3º. Fornecedor é todo pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

A analise do conceito legal de fornecedor deixa patente sua abrangência e amplitude. É fornecedor: a) o industrial que fabrica o produto; b) o comerciante que põe em circulação e vende-o a clientela, mas só assumindo determinados riscos; c) aquele que exporta para outros países nossa produção ou aquele que importa do estrangeiro bens para vende-los no território nacional; d) o prestador de serviços.164

Deve-se considerar que “o uso do termo atividade está

ligado a seu sentido tradicional. Têm-se então, atividade típica e atividade

atípica”165 Neste contexto, “o núcleo da atividade é que caracteriza os

fornecedores”.166

A condição de fornecedor está intimamente ligada à atividade de cada um e desde que coloquem aqueles produtos e serviços efetivamente no mercado, nascendo daí, por fato eventual responsabilidade por danos causados aos destinatários, ou seja, pelo fato do produto.167

Desta forma, “aquela pessoa que eventualmente vende um

bem ou preste um serviço, sem caráter de habitualidade, não é fornecedora e os

163 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.43. 164 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.71. 165 NUNES, Luis Antônio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumdor: direito

material (art.1º a 54). p.90. 166 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.31. 167 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.44.

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negócios feitos com ela não são abrangidos pela proteção ensejadas pelo Código

de Defesa do Consumidor”.168

Podem ser fornecedores “qualquer pessoa física, ou seja,

qualquer um que, a títulos singular, mediante desempenho de uma atividade

mercantil ou civil, de forma habitual, ofereça no mercado produtos ou serviços, e a

jurídica, da mesma forma, mas em associação mercantil ou civil e de forma

habitual”.169

Cabe ainda ressalvar que “o Código de Defesa do

Consumidor não distingue os fornecedores de acordo com sua potência

econômica”.170

2.2.2 Do Objeto da Relação Jurídica de Consumo

A Relação Jurídica de Consumo pressupõe dois sujeitos, o

consumidor e o fornecedor, e um objeto, ou seja, um produto ou um serviço.

2.2.2.1 Do Produto

A lei 8.078/1990 também trouxe em seu art.3º §1º a seguinte

definição: “Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”.

Ensina Gama171 que “tudo que seja suscetível de uma

valoração econômica é um produto”, sendo que “melhor seria falar-se em bens e

não produtos (...) o primeiro termo é bem abrangente do que o segundo”.172

168 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.39. 169 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.43. 170 COELHO, Fábio Ulhoa. O Empresário e os Direitos do Consumidor: o cálculo empresarial

na interpretação do Código de Defesa do Consumidor. p.46. 171 GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de Direito do Consumidor. p.39. 172 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.47.

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Quanto a abrangência, “o Código só se refere ao bem

jurídico, o objeto de direito subjetivo, àquele que goza de tutela jurídica e que tem

natureza patrimonial”173

Para Rodrigues174 “bens são coisas que, sendo úteis aos

homens, provoca a sua cupidez e, por conseguinte, são objeto de apropriação

privada ”.

Para Saad175 “produto é qualquer objeto de interesse em

dada relação de consumo, e destinado a satisfazer uma necessidade do

adquirente, como destinatário final”.

2.2.2.2 Do Serviço

A relação jurídica de consumo pode de ter como objeto o

fornecimento de um serviço.

Na definição do art.3º, §2º do Código de Defesa do

Consumidor: “Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,

mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e

securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

Para Saad176, serviço é “uma atividade humana que, na ótica

deste Código, exerce um vínculo empregatício e, de conseguinte, com autonomia,

mas sempre remunerada, pois o serviço gratuito escapa à regulamentação legal”.

Para Phlip Kotler177 “os serviços podem ser considerados

como atividades, benefícios ou satisfações que são oferecidas à venda”.

173 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.81. 174 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p. 47. 175 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

pelos autores do anteprojeto. p.49. 176 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.84. 177 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado

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Reitera o mesmo que o serviço é uma “obrigação de fazer,

quem, habitualmente, tanto na esfera pública como na privada, presta um

determinado serviço em troca de remuneração, é um fornecedor de serviços”.178

2.3 DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACINONAIS COMO

CONTRATO DE CONSUMO

Conforme já observado, o contrato de consumo é aquele

que regula a relação jurídica de consumo, ou seja, o vínculo existente entre o

fornecedor e o consumidor.

2.3.1 Dos Sujeitos do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais

2.3.1.1 Do Aluno como Consumidor

Como já visto, segundo o Código de Defesa do Consumidor,

é consumidor toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou

serviço como destinatário final.

Assim, pelo Código de Defesa do Consumidor fica

caracterizado que o aluno figura como consumidor no Contrato de Prestação de

Serviços Educacionais, uma vez que é uma pessoa física que utiliza um serviço

como destinatário final.

2.3.1.2 Da Instituição de Ensino como Fornecedor

Importante reafirmar que pelo Código de Defesa do

Consumidor é fornecedor toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,

nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que

desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,

pelos autores do anteprojeto. p.48.

178 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.84.

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transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de

produtos ou prestações de serviços.

Ensina Eduardo Gabriel Saad179 que o estabelecimento de

ensino, de qualquer grau, é um prestador de serviços, seja oficial ou particular.

Assim, a Instituição de Ensino caracteriza-se como

fornecedora na medida em que é uma pessoa jurídica que desenvolve atividades

de prestações de serviços.

2.3.2 Do Objeto do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais

Compete firmar que o objeto do Contrato de Prestação de

Serviços Educacionais são os Serviços Educacionais.

Pelo Código de Defesa do Consumidor, serviço é qualquer

atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as

de natureza bancária, financeira, de crédito e sucuritária, salvo as decorrentes

das relações de caráter trabalhista.

Para Eduardo Gabriel Saad180 as relações jurídicas travadas

entre o aluno e o estabelecimento de ensino podem ser alvos do Código de

Defesa do Consumidor.

Sendo assim, os serviços educacionais são atividades

fornecidas no mercado de consumo mediante remuneração, demonstrando-se

assim a caracterização da relação jurídica de consumo.

179 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.130. 180 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.130.

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CAPÍTULO 3

DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS

3.1 A EXTINÇÃO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor corou a

proteção contratual do consumidor com a adoção de alguns princípios e regras,

que acabaram por refletir em toda amplitude do instituto contrato, mormente, o

que será objeto de análise a seguir, nas extinções contratuais.

3.1.1 Dos Princípios Contratuais no Código de Defesa do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor dedicou um capítulo

especial para tratar da proteção contratual, que acabou enunciando alguns

princípios particulares.

3.1.1.1 Do Princípio da Transparência

Ensina Claudia Lima Marques que o princípio da

transparência visa “possibilitar uma aproximação e uma relação contratual mais

sincera e menos danosa entre consumidor e fornecedor”181.

Elucida ainda a autora que ter transparência contratual é

informar clara e corretamente o consumidor sobre o produto ou serviço fornecido,

seria agir de modo leal.

O referido princípio foi consagrado pelo Código de Defesa

do Consumidor em seu artigo 46, nos seguintes termos:

181 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. p. 714;715.

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Os contratados que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance182.

Desta maneira, o princípio da transparência indica que os

contratos devem ser informados em todas as suas fases de modo verdadeiro,

claro e inobscuro.

3.1.1.2 Do Princípio da Boa-fé

Salienta Claudia Lima Marques183 o genericamente o

princípio da boa-fé é o princípio máximo do Código de Defesa do Consumidor.

Explicita João Batista de Almeida que o Código de Defesa

do Consumidor “exige que os agentes da relação de consumo, fornecedor e

consumidor, estejam predispostos a atuar com honestidade e firmeza de

propósito, sem espertezas ou expedientes para impingir prejuízos ao outro”184.

Ensina Ruy Rosado de Aguiar Júnior185 que a boa-fé tem o

condão de limitar o direito subjetivo inerente a liberdade contratual, todavia, seu

objetivo principal é manter o vínculo contratual, com base nos princípios da

confiança, da lealdade, da honestidade e da verdade.

Por fim, cabe ressaltar que no Código de Defesa do

Consumidor o princípio da boa-fé contratual veio proteger civilmente o consumidor

de fatores como a publicidade enganosa e das práticas comerciais, prevendo

ainda o direito de arrependimento mesmo depois de firmado o contrato.

182 BRASIL. Código de defesa do consumidor. 183 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. p. 799. 184 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.139. 185 AGUIAR JR, Ruy Rosado de. Apud ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do

Consumidor. 7ed. p.140.

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3.1.1.3 Do Princípio do Equilíbrio Contratual

O intuito de proteger o consumidor não é o de lhe conceder

uma vantagem, mas de equilibrar as forças da relação entre o fornecedor e o

consumidor.

Para equilibrar os pólos contratuais cita João Batista de

Almeida que “deve haver equilíbrio entre direitos e deveres dos contratantes,

como objetivo de alcançar a justiça contratual”186.

3.1.2 Das Disposições sobre Extinção Contratual no CDC

3.1.2.1 Do Direito de Arrependimento no CDC

Sobre tal dispositivo comenta Eduardo Gabriel Saad187 o

alcance do dispositivo é estrito tão-somente aos contratos que se formam fora dos

estabelecimentos comerciais, sendo que no caso de arrependimento o fornecedor

deve devolver todo valor recebido.

Salienta João Batista de Almeida188 que o Código de Defesa

do Consumidor foi omisso quanto aos casos em que o fornecedor tiver despesas

ou prejuízos em razão da venda, entendendo o mesmo que a não haverá

qualquer dedução.

3.1.2.2 Das Cláusulas Abusivas e a Extinção Contratual no CDC

Leciona João Batista de Almeida189 que o Estado passou a

intervir no conteúdo dos contratos visando coibir certas condutas, assim, o

186 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.140. 187 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.414. 188 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.152.

189 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.141.

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dirigismo contratual limitou a liberdade contratual buscando restabelecer o

equilíbrio contratual.

Neste contexto, o Código de Defesa do Consumidor tipificou

as chamadas cláusulas abusivas, prevendo como sanção sua nulidade.

Para Eduardo Gabriel Saad são cláusulas abusivas aquelas

que “onerem sobremaneira o consumidor, provocando o desequilíbrio que, de

ordinário, deve haver entre as partes”190.

Dentre as cláusulas abusivas, algumas dizem respeito à

extinção do vínculo contratual e seus efeitos, merecendo por isso, serem

destacadas, quais sejam:

Art. 51 São nulos de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja concedido ao consumidor.

Primeiramente, cabe analisar que o Código de Defesa do

Consumidor tipificou como cláusula abusiva aquela que visa impedir o reembolso

dos valores já pagos, nos casos previstos no Código.

Desta forma, a Lei 8.078/90 prevê cinco hipóteses onde há o

direito de reembolso das quantias já pagas:

Na responsabilidade do fornecedor pelo vício do produto, onde poderá escolher pela restituição imediata da quantia paga caso o vício não seja sanada em trinta dias;

Nos casos onde houver uma significante variação da quantidade do produto, oportunidade em que o consumidor poderá optar pela restituição imediata da quantia paga;

190 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.427.

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Nos casos onde os serviços tiverem vício de qualidade ao ponto que lhe torne impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, ou ainda quando houver disparidade em que as indicações publicitárias, oportunidade em que o consumidor poderá também optar pelo reembolso da quantia paga;

Nos casos em que o fornecedor do produto ou serviço recusar a cumprir à oferta, onde o consumidor poderá optar pela rescisão contratual, com direito a restituição da quantia eventualmente antecipada;

Nos casos em que o consumidor exercitar o direito de arrependimento.

Nestas hipóteses, será nula de pleno direito a cláusula

contratual que dispõe de modo diverso, ou seja, que impeça o reembolso total e

imediato da quantia já paga.

Por conseguinte, salienta Roberto Senise Lisboa191 que o

Código de Defesa do Consumidor é norma de direito público, sendo assim, não

há como uma cláusula contratual impedir o reembolso dos valores pagos nos

casos em que o Código permite.

Além disso, conforme observado acima, também é tipificada

como abusiva e contraria ao direito público a cláusula que permite que apenas o

fornecedor cancele o contrato unilateralmente.

Para João Batista de Almeida

após celebrado, o contrato deve ser cumprido pelos contratantes. Para desfazê-lo, igualmente, haverá necessidade do concurso de contratantes para tanto, ou, pelo menos, que tal faculdade seja outorgada a todos os contratantes. O que não se concebe é somente o fornecedor gozar da faculdade de cancelar o contrato unilateralmente, não se outrogando idêntico direito ao consumidor, o que denotaria, sem dúvida, a superioridade contratual do fornecedor, que a própria lei busca mitigar192.

191 LISBOA, Roberto Senise. Contratos Difusos e Coletivos: consumidor, meio ambiente,

trabalho, agrário, locação, autor. p. 365. 192 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.145.

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O cancelamento contratual que trata o dispositivo é a

resilição contratual unilateral o que conforme a Lei 8.078/90 não poderá ser

facultada apenas ao fornecedor.

Neste sentido é a lição de Roberto Senise Lisboa:

Para garantir o equilíbrio contratual da relação jurídica, o legislador dispôs a vedação da resilição unilateral, caso uma das partes não possa se utilizar desse expediente. Contudo, se a cláusula contratual estipular a possibilidade de denúncia por qualquer uma das partes, concedendo-se-lhe o mesmo efeito decorrente de tal, o dispositivo em apreço será permitido193.

Por fim, cabe inferir que são cláusulas abusivas que

interessam ao instituto da extinção contratual a que impede o direito de reembolso

das quantias já pagas nos casos previstos no Código de Defesa do Consumidor e

a que faculta somente a uma das partes o direito de resilição contratual unilateral,

todavia, fora deste casos, é importante observar que as cláusulas de extinção

contratual sempre deverão respeitar o princípio do equilíbrio contratual.

3.1.2.3 Da Extinção dos Contratos de Adesão no CDC

Ensina Eduardo Gabriel Saad194 que o contrato de adesão

não é uma espécie de contrato, mas uma forma de elaboração do mesmo, que se

caracteriza pela pré-constituição de seu conteúdo.

Todavia, cabe ressalvar que a vontade do aderente ficou

extremamente limitada, porém, não há ausência de consentimento, uma vez que

o consumidor pode optar por aderir ou não ao contrato.

O Código de Defesa do Consumidor traz em seu artigo 54 a

definição de Contrato de Adesão, conforme transcrito:

Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas

193 LISBOA, Roberto Senise. Contratos Difusos e Coletivos: consumidor, meio ambiente,

trabalho, agrário, locação, autor. p. 365. 194 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.486.

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unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo195.

No que se refere à extinção contratual, o Código de Defesa

do Consumidor dispõe em seu artigo 54, parágrafo segundo que “nos contratos

de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que alternativa, cabendo a

escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2º do artigo anterior”196.

Neste contexto, salienta Eduardo Gabriel Saad que cabe

ao consumidor escolher entre a manutenção do contrato ou a sua resolução mediante a devolução do que pagou, mas com os descontos a que alude o § 2º do artigo anterior: vantagem econômica auferida com a fruição do bem; os prejuízos que a desistência causar ao fornecedor197.

A Cláusula Resolutória, como já visto no item 3.1.2.2.,

poderá ser expressa ou tácita. Na tácita o inadimplemento gera a resolução

contratual somente por via judicial, podendo o prejudicado pleitear pelo

cumprimento do contrato ou pela rescisão com perdas e danos. Na expressa o

inadimplemento gera a resolução contratual automática, porém, a regra civil, não

permite a opção pelo cumprimento do contrato.

Entretanto, a regra consumerista “trouxe uma alteração a

essa regra geral: sendo lesado o consumidor, este poderá optar entre a rescisão

contratual com perdas e danos e o cumprimento da obrigação”198.

3.1.2.4 Da Revisão dos Contratos e a Extinção Contratual no CDC

Em regra, o princípio da obrigatoriedade dos contratos

continua prevalente no direito civil, todavia, modernamente, “a doutrina e a

jurisprudência passaram a engendrar mecanismos para adaptar-se às mudanças

195 BRASIL. Código de defesa do consumidor. 196 BRASIL. Código de defesa do consumidor. 197 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.492. 198 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.159.

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no meio social, destacando-se dentre elas a adoção das teorias da imprevisão e

da quebra da base do negócio, de modo a permitir a revisão dos contratos”199.

O Código de Defesa do Consumidor definiu em seu artigo 6º,

V como direito básico do consumidor “a modificação das cláusulas contratuais

que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos

supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”200.

No que se refere a extinção contratual, a revisão dos

contratos pode ocorrer quando há um ônus excessivo a uma das partes.

Ensina João Batista de Almeida que “caso não seja possível

restabelecer esse equilíbrio, apesar dos esforços de integração, pois que o ônus

excessivo terá de ser suportado por uma das partes, nessa hipótese permite o

CDC a resolução do contrato”201.

3.2 EXTINÇÃO DO CONTRATO EDUCACIONAL

3.2.1 Extinção Normal do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais

Atendendo ao já demonstrado, a extinção normal do

Contrato de Prestação de Serviços Educacionais se dá com sua execução, ou

seja, com o cumprimento de todas as suas cláusulas e disposições.

Desta forma, respeitada todas as avenças dispostas no

contrato, mormente, a prestação dos serviços educacionais e a eventual

remuneração paga em contrapartida, estar-se-á diante de um contrato que atingiu

a sua razão de ser, estando, portanto extinto de maneira normal.

199 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.162;163. 200 BRASIL. Código de defesa do consumidor. 201 ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.169.

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60

3.2.2 Extinção por Causas Anteriores a sua Formação

3.2.2.1 Da Nulidade do Contrato

Preteritamente foi observado que todo contrato precisa

atender alguns requisitos, sob pena de ser declarado nulo.

Levando em conta que o Contrato de Prestação de Serviços

Educacionais não pede forma especial, os principias requisitos para sua validade

são agente capaz, objeto lícito e determinando e forma prescrita ou não defesa

por lei.

Além disso, o Contrato de Prestação de Serviços

Educacionais não poderá estar eivado de vícios, assim como dolo, coação,

simulação, sob pena de anulabilidade.

3.2.2.2 Do Direito de Arrependimento

Observou-se anteriormente que o direito de arrependimento

pode estar previsto em lei ou no próprio contrato.

Sendo assim, o Contrato de Prestação de Serviços

Educacionais pode incluir uma cláusula prevendo o direito de arrependimento, ou

seja, um dispositivo prevendo a possibilidade de cancelamento de matrícula por

ato formal dentro de um determinado prazo.

Por outro lado, o direito de arrependimento pode ser

estabelecido em lei, como ocorre no Código de Defesa do Consumidor, onde o

consumidor poderá desistir do contrato no prazo de sete dias, sempre que a

contratação de fornecimento de serviços que ocorrer fora do estabelecimento

comercial.

Partindo, primeiramente, do dispositivo expresso na Lei

8.078/90, sempre que a contratação de serviços educacionais ocorrerem fora do

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estabelecimento de ensino, o aluno terá o direito de arrepender-se do contrato no

prazo de sete dias.

De modo contrário, a priori¸ com base em uma interpretação

literal da Lei 8.078/90 em seu artigo 49, o Contrato de Prestação de Serviços

Educacionais firmado no Estabelecimento de Ensino não garante ao aluno o

direito de arrependimento.

Por outro lado, analisando genericamente os casos de

venda fora do estabelecimento, à doutrina202 entende que não deve haver

dedução, devendo todo valor ser restituído.

Cabe inferir que a restituição total dos valores, nos casos de

serviços educacionais contratados no Estabelecimento de Ensino, significaria uma

afronto os princípios como da boa-fé, equilíbrio contratual e da proporcionalidade,

uma vez que o Estabelecimento de Ensino lograria prejuízo injustificado, pois

movimentou todo seu arcabouço administrativo para prestar os serviços ao

estudante, depreendendo tempo, elementos de recursos humanos, equipamentos

e materiais.

3.2.3 Extinção por Causas supervenientes à sua formação

3.2.3.1 Da Extinção por Resolução Contratual

Um contrato se extingue por resolução contratual quando

ocorre uma inadimplência dentro do contrato.

No Contrato de Prestação de Serviços Educacionais a

inexecução voluntária por parte do Estabelecimento de Ensino poderá ensejar,

nos termos da lei civil, o cumprimento da avença ou o pagamento de perdas e

danos.

202 SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. p.414.

ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ed. p.152.

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Todavia, é interessante ressaltar que a inadimplência do

estudante não poderá ensejar a resolução contratual, ou seja, o Estabelecimento

de Ensino não poderá cancelar a matrícula do estudante devida a inadimplência,

isso devido ao advento da Lei 9.870 de 1999 em seu artigo 6º abaixo transcrito.

São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de documentos escolares ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento, sujeitando-se o contratante, no que couber, às sanções legais e administrativas, compatíveis com o Código de Defesa do Consumidor, e com os arts. 177 e 1.092 do Código Civil Brasileiro, caso a inadimplência perdure por mais de noventa dias.

Deste modo, a Lei nº. 9.870/99 veda qualquer restrição

pedagógica ao aluno inadimplente entendendo a jurisprudência que a Instituição

de Ensino não cancelar a matrícula do mesmo, ou seja, proíbe a resolução

contratual por inadimplência do estudante.

3.2.3.2 Da Extinção Resilição Contratual

A resilição contratual decorre da volitividade de uma ou

ambas as partes do contrato, sendo em muito aplicado no Contrato de Prestação

de Serviços Educacionais.

Neste contexto, dentre as formas de resilição contratual

estão o trancamento de matrícula, a desistência ou abandono do curso, a

transferência para outra Instituição e desligamento de aluno.

Acentua-se que trancamento de matriculo “é uma

interrupção do curso requerida pelo aluno, por motivos diversos, que a direção do

estabelecimento poderá regimentalmente conceder”.

Por outro lado, ocorre o desistência ou abandono do curso

quando o estudante no curso do vínculo contratual formaliza um ato onde

demonstra a vontade de desfazer o vínculo com a Instituição.

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Já a transferência “é a mudança de aluno de um para outro

estabelecimento isolado de ensino superior, federal ou particular, processada

ampla e livremente, sem exclusões de series iniciais ou terminais de cursos”.

Existe ainda a resilição contratual por desligamento de

aluno que pressupõe a pena imposta, em processo sumário, ao estudante de

estabelecimento público ou particular em cometer qualquer das infrações

configuradas na especificação, agrava com a proibição de matricular em outra

instituição de ensino pelo prazo de três anos, e de gozar, pelo prazo de cinco

anos de qualquer benefício, seja bolsa de estudo ou auxílio individual.

Por fim, importante frisar que a resilição contratual é a forma

mais freqüente de extinção do Contrato de Prestação de Serviços Educacionais,

afora sua extinção normal, sendo essencial que o estudante formalize o ato de

resilição, uma vez que o referido contrato também foi formalizado.

Neste sentido, cabe relembrar que a resilição opera efeito ex

nunc sendo então devidas todas as obrigações anteriores a manifesta e expressa

vontade de resilir o contrato.

3.2.3.3 Da Extinção por morte de uma das partes

Importante salientar que o Contrato de Prestação de

Serviços Educacionais não é personalíssima, podendo ser executada pelos

herdeiros.

Sendo assim, no caso de falecimento de estudante que

tenha débitos junto a Instituição de Ensino, a mesma, na abertura da sucessão,

poderá habilitar-se, sendo certo que a cobrança terá como limite o valor da

herança transmitida, conforme ditame constitucional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Monografia teve como objeto a análise do

Contrato de Prestação de Serviços Educacionais e o Código do Consumidor e por

objetivo, pesquisar e ponderar sobre as principais formas de extinção do Contrato

de Prestação de Serviços Educacionais.

A monografia foi dividida em três capítulos, sendo, no

Capítulo 1, tratado dos Contratos em geral, seu conceito, seus princípios, sua

classificação quanto à matéria aplicável.

No Capítulo 2, trata da caracterização do Contrato de

Prestação de Serviços Educacionais como um Contrato de Consumo. Observa-se

a evolução histórica da proteção jurídica do consumidor, analisando ainda a

relação jurídica de consumo, e, por conseguinte, a configuração da relação

jurídica de consumo na educação.

No Capítulo 3, trata especificamente da Extinção do

Contrato de Prestação de Serviços Educacionais e regras aplicáveis à extinção

contratual no Código de Defesa do Consumidor.

Quanto às hipóteses levantada para a presente pesquisa,

observa-se:

Quanto a primeira hipótese: O Contrato de Prestação de

Serviços Educacionais caracteriza uma relação jurídica de consumo, com base na

Lei 8.078/1990;

Observou-se que a relação jurídica de consumo nada mais é

do que uma relação jurídica dotada de características especiais. Nesta toada,

uma relação jurídica pressupõe três elementos básicos: sujeitos (consumidor e

fornecedor), objeto (produto ou serviço) e fato propulsor (adquirir ou utilizar).

Assim sendo, considerando como aplicáveis os conceitos propostos pela Lei nº.

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8.078/1990, visto que o Contrato de Prestação de Serviços Educacionais

caracteriza uma relação jurídica de consumo, merecendo por isso, a tutela do

Código de Defesa do Consumidor.

Quanto à segunda hipótese: que nos casos em que o direito

de arrependimento estiver previsto em contrato, o Estabelecimento de Ensino

poderá reter parte dos valores pagos;

O direito de arrependimento poderá ser exercido nos casos

em que exista previsão contratual. Com isso, vem à tona a discussão do valor a

ser restituído ao estudante nos casos em que o mesmo exerça o direito de

arrependimento. Observa-se que a jurisprudência nacional entende que o

Estabelecimento de Ensino poderá reter parte dos valores já pagos com o fim de

custear despesas administrativas.

Quanto à terceira hipótese: que nos casos de desistência ou

abandono de Curso o estudante somente será responsável pelo pagamento da

parcelas da semestralidade de forma proporcional a data em que freqüentou as

aulas;

Observa-se que, o estudante que deseja resilir seu contrato

deverá manifestar-se por meio de um ato expresso, do contrário sua própria

segurança jurídica estaria comprometida. Assim, a primeira vista, parece claro

que é imprescindível um ato expresso para que o contrato seja extinto. Assim,

entende-se como não confirmada a terceira hipótese da presente monografia,

visto que o ato que caracteriza a desistência ou abandono é o expresso

solicitando o fim do contrato e não a simples não freqüência às aulas.

Quanto à quarta hipótese: que o Estabelecimento de Ensino

não poderá resolver o contrato por inadimplência do estudante;

Demonstrou-se que a Lei 9.870/99 determina de modo claro

que o Estabelecimento de Ensino não poderá prejudicar o estudante por motivo

de inadimplência. Sendo assim, mesmo que o estudante não cumpra as bases

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contratuais, não honrando com as obrigações financeiras, o Estabelecimento de

Ensino não poderá extinguir o contrato por resolução, ou seja, não poderá

cancelar a matrícula do inadimplente, restando, assim, confirmada a quarta

hipótese.

Quanto à quinta hipótese: que no caso de morte do

estudante, o Estabelecimento de Ensino poderá cobrar dos herdeiros os débitos

então existentes, respeitando o limite do patrimônio transmitido.

Evidenciou-se que o Contrato de Prestação de Serviços

Educacionais não é um contrato personalíssimo, ou seja, não é um contrato em

que apenas o estudante poderia cumprir com as obrigações. Nos contratos

personalíssimos a morte do contratante gera automaticamente a extinção do

contrato.

Neste contexto, levando-se em conta que se trata de um

contrato impessoal, no caso de morte do estudante, o Estabelecimento de Ensino

poderá cobrar débitos dos herdeiros até o limite da herança transmitida.

Por último observa-se que a intenção da pesquisa não foi o

de esgotar o assunto, mas trazer elementos para ampliar a discussão.

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