marim romano
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Marim RomanoReconstituição topográfica e funcional do sítio arqueológico da Quinta de Marim (Olhão, Faro) e elementos da suahistória territorial
Luís Fraga da Silva ([email protected])
Campo Arqueológico de Tavira
Preâmbulos
Nota sobre o texto
Este documento é uma síntese da segunda edição do estudo Marim Romano, ainda em desenvolvimento.
Inclui o prefácio do estudo, um resumo das suas conclusões e da respectiva argumentação – mais desenvolvida
nas partes relativas aos novos elementos desta edição –, a principal bibliografia utilizada e anexos com a sis-
tematização dos aspectos mais importantes da arqueologia da zona.
É um texto de divulgação especializada sobre o estado de conhecimento do sítio arqueológico da Quinta de
Marim (Olhão, Algarve, Portugal) e sobre a sua importância na história do Algarve romano.
Não ficará completamente terminado até à publicação integral do estudo e poderá vir a ser publicado como
comunicação autónoma ou como documento de apoio a uma conferência, destinada a um público mais geral.
Tendo em vista esta última possibilidade, apresenta-se em anexo um glossário dos termos e nomes latinos
usados.
A primeira edição do estudo está publicada na internet no site http://www.arkeotavira.com. Embora bastante
desactualizada serve ainda de texto de referência até à publicação da nova edição.
Prefácio do estudo
O presente trabalho integra-se no projecto Carta da Ocupação Romana do Sul da Lusitânia, concebido pelo
autor no âmbito das actividades do Campo Arqueológico de Tavira. O projecto, em fase de reelaboração, tem
como objectivo a reconstituição corográfica dos territórios do Algarve e do Baixo Alentejo durante a domina-
ção romana, nas suas grandes fases históricas. Pretende materializar-se num atlas digital, com cartas em dife-
rentes escalas, recorrendo a um sistema de informação geográfica. Incluirá também um conjunto de monogra-
fias sobre lugares (entre os quais Marim) e sobre temas de história territorial do Algarve romano1.
O estudo sobre Marim iniciou-se de forma muito mais modesta, na preparação da comunicação às I Jornadas
As vias do Algarve – da época romana à actualidade, com o título A Stacio Sacra. Uma reavaliação geográfica
da sua localização no Algarve romano2. Os desenvolvimentos posteriores fundamentaram o poster sobre
Marim Romano, apresentado ao 4º Encontro de Arqueologia do Algarve em 2006. Vicissitudes várias impedi-
1 FRAGA (2007b)2 São Brás de Alportel, 21 e 22 de Abril de 2006. Nessa comunicação abordavam-se as características das principais obras geográficas da
Antiguidade, em particular a Cosmografia do Anónimo de Ravena, os possíveis significados de Statio e de Sacra e os lugares possíveis oureferenciados bibliograficamente como sendo ou podendo ser a Stacio Sacra, nomeadamente o Cabo de São Vicente/Sagres, Milreu, Marim,Moncarapacho e Fonte Santa (Livramento de Tavira). FRAGA (2006a)
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ram o autor de apresentar uma versão escrita a incluir nas Actas, entretanto já publicadas3. Em 2007 o projec-
to foi interrompido, sendo então publicada a 1ª edição do estudo em versão digital4.
A 2ª edição que aqui se apresenta corresponde a uma reformulação total da obra e à sua considerável amplia-
ção. Inclui a análise de novos materiais e estudos sobre Marim, omitidos ou ainda não disponíveis na edição
anterior. Actualiza a reconstituição corográfica e a respectiva cartografia e acrescenta novas ilustrações e
mapas. Reformula e aprofunda a maioria das teses interpretativas e recorre a uma análise mais fina e sistemá-
tica dos paralelos formais, com um leque de exemplos alargado.
Esta actualização deve-se à considerável evolução das ideias do autor sobre o Algarve Romano nos últimos
dois anos e a uma reacção às importantes publicações de Dennis Graen sobre Marim. A nova evidência mate-
rial e a nova interpretação dos espaços do templo, balneário e necrópole levaram a uma reavaliação, reapre-
sentação e reinterpretação mais matizada do material anteriormente publicado e a uma crítica das conclusões
fundamentais deste autor. Também não é displicente a influência da nova bibliografia incorporada no estudo,
em que sobressai a recentíssima obra de Felix Teichner sobre Milreu, Cerro da Vila e Abicada, que repõe num
patamar superior a discussão sobre as villae tardias do Algarve5.
Um aspecto importante, comum ao presente estudo e aos referidos autores alemães, é a relevância da inter-
pretação científica das plantas de estruturas romanas de Estácio da Veiga, ignoradas ou desprezadas em Por-
tugal até muito recentemente. O estudo dos padrões e conjunturas construtivas a partir de finais do séc. II
tornou-se assim indispensável para a compreensão destas representações insubstituíveis, que correspondem
na sua maioria a estruturas já desaparecidas ou irreconhecíveis. O trabalho de Graen sobre o templo-ou-
mausoléu de Marim mostra como uma reexploração arqueológica singela pode fazer renascer esses dossiês
que se criam perdidos!
A análise das referidas plantas obriga porém ao desenvolvimento de uma crítica meticulosa do seu uso, não
bastando decalcar formas planimétricas quando elas podem ser usadas em contextos arquitectónicos e fun-
cionais múltiplos. O presente estudo inclui uma proposta de metodologia que se pretende mais rigorosa e
aferível no sentido desejado6.
Deve referir-se ainda que a qualidade do presente trabalho sofre – para além das limitações pessoais do autor
– da grande escassez de estudos recentes sobre temas do Algarve romano e de inultrapassáveis lacunas
bibliográficas. Após o "quartel dourado" de 1972-977 seguiu-se um período de estagnação que se prolonga até
hoje, com um reduzidíssimo número de publicações, na sua maioria de qualidade inferior.
Também não existe num raio de centenas de quilómetros uma biblioteca mínima de pesquisa histórico-
arqueológica da Antiguidade, nem com fundos antigos nem muito menos com uma actualização especializada.
3 FRAGA (2006b). XELB, nº 7, Actas do 4º Encontro de Arqueologia do Algarve, Silves 2007.4 FRAGA (2007a).5 TEICHNER (2008a), culminando uma sequência de estudos em que se destacam HAUSCHILD (1964, 1997), HAUSCHILD & TEICHNER (2002) e
TEICHNER (2003, 2006 e 2008).6 Nessa metodologia consideram-se três factores:
Tipologia: edifícios simples (com uma divisão única ou principal); edifícios complexos (divisões, planta parcial, planta integral); e complexos deedificações.
Elementos analíticos: forma (decomposição geométrica, proporção, módulo, simetria, regularidade); dimensão; orientação; contextualizaçãoespacial (topográfica e arquitectónica); e contextualização arqueológica.
Heurísticas de reconstituição: relações estruturais (vãos, espessura de muros, altura dos alçados e tipos de cobertura); e regras de ajustamentode formas à planta (interpolação, extrapolação, criação e eliminação de paredes, pilares, aberturas e outros elementos estruturais comexpressão planimétrica).
7 Período entre a publicação de Arqueologia Romana do Algarve e de Noventa séculos entre a Serra e o Mar, em que se produziram virtualmentetodas as obras importantes sobre o Algarve romano.
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Não deve admirar assim que as prestações mais significativas sobre o Algarve romano continuem, esperemos,
a ser feitas em universidades dignas desse nome, no norte da Europa ou algures.
Historiografia romana da Quinta de Marim
O sítio arqueológico de Marim (Quelfes, Olhão, Faro) é um dos mais importantes do Algarve romano e um dos
mais referenciados na literatura especializada. É referido pela primeira vez em 1593, por André de Resende,
numa notícia relativa a uma inscrição epigráfica8. Em 1607 Fernandes Sarrão descreve o sítio como sendo "de
muitas antigualhas, de muitos mármores, com muitas letras" na sua História do Reino do Algarve9.
Praticamente destruído desde a sua exploração muito sumária por Estácio da Veiga e Santos Rocha, respecti-
vamente em 1877 e 189410, tornou-se notório por uma colecção invulgar de epigrafia funerária – sobretudo
romana mas também paleocristã –, por algumas plantas esquemáticas de vestígios importantes da época
romana e pelo achamento de um tesouro monetário de inícios do séc. V, noticiado em 1786 sem deixar rasto
posterior.11 Os objectos provenientes dessas explorações fazem hoje parte dos acervos do Museu Nacional de
Arqueologia e dos museus municipais de Faro e da Figueira da Foz.
Ao longo do séc. XX, antiquários e arqueólogos amadores recolheram aí objectos, de que há escassas notícias
até 198612 e dos quais só uma pequena parte ficou à guarda dos museus de Olhão e Moncarapacho.
Em 1988-9 a equipa de Tavares da Silva realizou a primeira intervenção arqueológica científica no local, numa
fábrica de salgas entretanto descoberta, intervenção que permanece ainda a mais importante até à data13. Em
1990 Cristina Garcia explorou um novo sítio na vizinhança, com um tanque de salgas. Em 1995 a Carta Arqueo-
lógica de Portugal publicou a primeira localização topográfica do sítio e a notícia de um tanque de salgas inédi-
to14. Em 2002-3 Graen reescavou as fundações do templo romano referido por Estácio da Veiga, revelando
novos elementos arqueológicos e objectos inéditos de colecções particulares15, cujo estudo só foi publicado
muito recentemente16.
Do espólio arqueológico recolhido no séc. XIX destaca-se a epigrafia romana já referida, que foi objecto de
estudo por diversos autores, com realce para Encarnação17. Desde a publicação em 1984 da sua obra Inscrições
Romanas do Conventus Pacensis até hoje, o número de inscrições romanas provenientes de Marim cresceu de
15 para 18. A epigrafia paleocristã, com quatro inscrições, teve também uma releitura e resenha bibliográfica
recentes, da autoria de Alves Dias e Sousa Gaspar18. O exemplar mais recente foi publicado posteriormente,
em 200819.
8 Lapide de C. Annius Romulus= IRCP nº 40. AL fl. 184: "Inter Pharum & Tauillam in turri, quam vocant Marini cippus." Cit. por VEIGA (1866): 22 e n.1. A tradução de Rosado Fernandes omite o topónimo, traduzindo-o erradamente por "Torre Marinha"! (AL: 187).
9 SARRÃO (1607): 16410 ROCHA (1897); ARA II, pp. 249-286. Esta última obra tem uma importância ímpar no conhecimento do Algarve romano, não só pela
sistematização exaustiva dos achados então conhecidos como, sobretudo, pela publicação das plantas e desenhos de Estácio da Veiga.11 Segundo suppl. à Gazeta de Lisboa nº LXIII, de 27 de Outubro de 1786.12 MASCARENHAS (1993).13 SILVA & SOARES (1992). Estes arqueólogos realizaram outra intervenção em 1989 que não foi continuada, permanecendo os seus materiais
inéditos.14 MARQUES (1995): 67-107.15 GRAEN (2005 e 2007).16 GRAEN ET ALII (2008).17 IRCP, pp. 81-101; ENCARNAÇÃO (1986).18 DIAS & GASPAR (2006): 221,224-5.19 ZIMMERMANN (2008): 261
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Outros materiais arqueológicos têm sido estudados por diversos autores20. Inclui-se nesta 2ª edição um estudo
inédito de Lídia Fernandes sobre um capitel romano21, realizado a pedido do autor.
Entre os estudos sobre Marim sobressaem: a interpretação socioeconómica da epigrafia por Encarnação22; a
análise de Tavares da Silva sobre a geoeconomia de Marim romano23 e a obra de Lagóstena Barrios sobre a
economia dos produtos piscícolas na Hispania Romana24 – com numerosas referências a Marim.
O restante conhecimento do sítio deve-se a comentários interpretativos de diversos autores, mais ou menos
fundamentados e repetidos, tendo-se gerado uma copiosa bibliografia: o Levantamento arqueológico-
bibliográfico do Algarve regista 108 referências de 37 autores relativas a Marim nos cento e vinte anos entre
1866 e 198625.
Mais recentemente, os templos de Milreu e Marim têm um lugar destacado em dois estudos sobre esse tipo
de edifícios26. Outro estudo e catálogo sistemático recente das villae tardias da Hispania também inclui
Marim27. Dois outros catálogos descrevem o balneário28. Destaca-se o de García-Entero, de âmbito peninsular,
por apresentar pela primeira vez uma validação da sua função relativamente à planta de Estácio da Veiga,
considerando paralelos hispânicos.
O verbete publicado em 2006 no Diccionario Akal de la Antigüedad Hispana, sintetiza bem o deficiente estado
do conhecimento geral sobre Marim:
"Complexo de ruínas, que, como outros no Sul de Portugal, foi escavado no séc. XIX e não tem uma atribuição clara a uma
villa romana, no sentido tradicional desta. Reúnem-se, dentro de uma extensão considerável de terreno, dependências
industriais, umas termas de boa construção, casas de habitação que tiveram mosaicos, etc. A isso adicionam-se mais de
catorze estelas funerárias, pertencentes a duas necrópoles. O material arqueológico recuperado aponta para uma intensa
actividade agrícola e industrial (ânforas de garum
, dolia de vinho ou de azeite, etc.). A cronologia é indiferenciada e prolonga-se do séc. I ao séc. V d.C. Há no lugar mostras
de cristianização"29.
De facto a interpretação do sítio está longe de ser unânime: seria a Stacio Sacra referida na Cosmografia do
Anónimo de Ravena, no sentido de igreja paleocristã30 ou de portus fisci romano31 ou bizantino32, ou então
20 Adereços metálicos pós-romanos estudados por ALMEIDA (1962); Fragmentos de cerâmica tardia paleocristã por MAIA (1978) e MACIEL (1996);vestígios biológicos da escavação de Tavares da Silva por ANTUNES & MOURER-CHAUVIRÉ (1992); edícula por RIBEIRO (2002); cerâmicas, moedase nova epigrafia da intervenção de Graen, respectivamente por SCHIERL (2008), KLEINSCHMIDT (2008) e ZIMMERMANN (2008).
21 Revelado por GRAEN (2007), fig. 10, p. 284 e GRAEN (2008), fig. 3, p. 50.22 ENCARNAÇÃO (1984, 1985, 1991). A questão da origem das lápides teve réplica em MANTAS (1997a).23 SILVA & SOARES (1992): 355-8.24 LAGÓSTENA (2001).25 GOMES E GOMES (1988): 86. Para o período posterior a 1986, a bibliografia do presente estudo indica as referências mais significativas, sem
preocupação de exaustividade.
Pela negativa destaca-se apenas a planta publicada por J.G. Gorges, que falseia totalmente a escala e as relações espaciais do sítio de Marim,reduzindo o seu tamanho em mais de 1/3! A distância entre os núcleos edificados é reduzida em proporção idêntica (35%), surgindo falsamentepróximos e dando a ideia enganadora de se tratar de um único aglomerado [GORGES (1979): fig. LXVII. Reproduzida acriticamente por BASSANI(2005): fig. 18 e por CHAVARRÍA (2007): fig. 120, p. 180].
O autor não soube interpretar o desenho de implantação de Estácio da Veiga, em que a escala das edificações é maior que a do terreno e em queas orientações são apenas grosseiras. Inventou também uma parte do desenho da necrópole. Independentemente das razões destes erros, a suaconsequência é ajustar à força a topografia de Marim a um modelo pré-concebido de villa romana típica.
26 BASSANI (2005): 95-100 e BOWES (2006): 77-84.27 CHAVARRÍA (2007), nº de catálogo 108, p. 279.28 REIS (2004): nº 070, p. 121-2 e GARCÍA-ENTERO (2005): 437-8, com extensa bibliografia.29 FERNÁNDEZ (2006): 595. Tradução do autor do presente estudo. O texto assume o desconhecimento da história do local e as anomalias da
extensão e dos achados epigráficos, relativamente ao esperado numa villa convencional. Por outro lado o aspecto portuário fundamental éignorado em detrimento de um inverosímil carácter de villa agrícola e industrial – determinado pelo achamento de algumas ânforas e dolia [vernota 51] – Incorre na incorrecção menor de atribuir as lápides às duas necrópoles.
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seria uma villa ou vicus33, uma villa excepcionalmente rica34, uma villa agro-marítima35 ou mesmo uma possível
cidade36.
Lagóstena Barrios, aceitando a sua identificação com a Stacio Sacra, caracteriza o sítio como um núclo
secundário, colocando a hipótese de se tratar de uma statio já desde a época alto-imperial, devido aos ricos
vestígios que datam desta altura. Considera que as instalações conserveiras se teriam desenvolvido articuladas
com as actividades portuária e produtivas do lugar37.
Mais recentemente Graen aceita também a tese da Stacio Sacra mas baseando-se numa interpretação
funerária, pós-romana e páleocristã das plantas de Estácio da Veiga, e na hipotética situação do sítio sobre a
via antiga, retomando assim as teses deste autor. São ilações que o presente estudo considera derivarem
maioritariamente de permissas inaceitáveis e da datação errada de elementos chave38. Esta segunda edição
inclui uma crítica às hipóteses de Graen, sem menosprezar a relevância dos novos vestígios descobertos e das
hipóteses interpretativas daí decorrentes.
Salvo estas interpretações – de âmbito parcial, demasiado sintéticas ou pouco fundamentadas – Marim nunca
foi até agora adequadamente estudado nem objecto de uma restituição arqueotopográfica que pudesse simul-
taneamente ilustrar a morfologia antiga do lugar, expor o seu perfil funcional e a evolução das grandes fases
de ocupação e clarificar a sua posição no quadro territorial do Algarve romano, nomeadamente da sua relação
com Ossonoba.
A questão da localização da Stacio Sacra na zona também não teve, até agora, nem um tratamento sistemático
nem uma contextualização relativa aos sítios articulados com os eixos viários entre Ossonoba e Balsa, identifi-
cados pela reconstituição da corografia antiga.
Objectivos do estudo
Este estudo propõe-se cumprir – dentro de limites razoáveis – os ambiciosos objectivos acima enunciados.
Recorre para tal a uma abordagem característica da geografia histórica, que combina a análise exaustiva da
informação arqueológica e corográfica com as reconstituições da topografia antiga – natural e resultante da
ocupação humana. Certos elementos datáveis e muito característicos permitem também formular hipóteses
mais ou menos fundamentadas da sua articulação com conjunturas geopolíticas regionais da história coeva do
Império Romano.
Para além do sítio de Marim propriamente dito, o estudo aborda a reconstituição da linha de costa antiga, da
corografia da ocupação humana e da rede viária romana na região entre Ossonoba e Balsa.
Trata-se, infelizmente, de uma reconstituição sumária, incompleta e de baixa resolução. Devido ao carácter
demasiado parcelar da evidência material e à má qualidade da maioria do seu registo, uma parte importante
30 VEIGA (1887-91), vol. 2, p. 390. Esta tese teve diversos seguidores.31 LAGÓSTENA (2001): 84, 263, 358. Seria assim uma alfândega fiscal onde se cobrava o portorium, imposto sobre as mercadorias e bens circulados
por via marítima ou terrestre, em fronteiras provinciais ou municipais.32 ALARCÃO (2005): 301-3.33 MANTAS (1990): 188, ENCARNAÇÃO (1991): 230.34 ALARCÃO (1988): nº 8/311, p. 208.35 SILVA & SOARES (1992): 357-9, que reflecte uma opinião difundida pela temática das villae marítimas, desenvolvida por EDMONDSON (1990),
FABIÃO (1994) e MANTAS (1999), entre outros.36 ARA II: 277, como hipótese interrogada.37 LAGÓSTENA (2001): 262.38 Nomeadamente a necrópole principal, que será abordada mais adiante.
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da interpretação baseia-se em paralelismos formais, em tendências históricas generalizadas ou regionais mas
não registadas localmente e na aplicação de modelos de funcionalidade geocondicionada aos parâmetros
locais. As inferências e as "conjecturas informadas" têm assim um peso superior ao que seria desejável num
trabalho deste tipo.
Apesar disso pensa-se que o estudo constitui a interpretação mais abrangente e completa de Marim Romano
entre o Alto-Império e a Antiguidade Tardia, no estado actual dos conhecimentos. Procurou-se englobar num
quadro coerente toda a informação disponível e as respectivas interpretações parciais, tentando-se articular
aspectos até aqui mal explicados ou aparentemente contraditórios.
Os resultados da intervenção pontual de Graen, infelizmente interrompida por razões alheias à vontade do
investigador, revelam claramente a produtividades das possíveis e necessárias intervenções arqueológicas no
local, no sentido do enriquecimento significativo ou mesmo de uma redefinição global do nosso conhecimento
de Marim.
Reconstituição da geografia antiga
Linha de costa
A reconstituição da linha de costa na Antiguidade foi estabelecida a partir de um modelo geral aproximativo da
costa algarvia do autor do presente estudo39. Na zona de Marim o modelo foi ajustado à altimetria local e à
cobertura vegetal identificada, com um referencial foto-cartográfico mais detalhado40. Delimitou-se assim uma
linha de preia-mar conservadora, entre as cotas 2.5 e 3 m actuais, ajustada aos limites das zonas que ainda
possuem actualmente áreas drenadas41.
De acordo com essa reconstituição a laguna de Marim já existia na Antiguidade, articulada com a barra homó-
nima, que constituía o principal acesso a Ossonoba do lado do Levante. A restinga estaria porém mais perto da
costa, correspondendo grosseiramente a uma faixa que incluía parte da actual ilha da Armona. O canal interior
seria também bastante mais largo, estando inundados extensas áreas que hoje são sapais secos e salinas. O
acesso lagunar entre a barra de Marim e Ossonoba far-se-ia muito provavelmente junto à costa, pelo canal
posteriormente designado por "de Olhão"42.
39 Reconstituição baseada: no modelo digital de terreno actual; na análise fotogramétrica de taludes lagunares fósseis; na coro-cartografia histórica;e na evolução esperada de formas específicas de morfologia litoral. Calibrada com dados arqueológicos em Tavira, São Domingos da Asseca,Almargem, Balsa, Vila Moura, Alvor e estuário de Huelva. Esses dados fornecem elementos sobre a regressão do nível do mar (que terá baixadocerca de 50-70 cm desde o máximo local da transgressão marítima dunkerkiana, ocorrida pelo séc. I EC) e sobre a colmatação de antigos esteirosmarinhos (cujas margens alcançavam zonas hoje com cotas de 3-4 m acima do zero cartográfico).
A reconstituição foi aplicada à totalidade da costa algarvia na escala 1:25 000. Em alguns locais foi complementada por análise fotogramétricamais detalhada. Ver os tags Alvor, Lagos, Ossonoba, Portimão e Quarteira no blog http://imprompto.blogspot.com. Sobre as zonas de Balsa,Tavira e sotavento algarvio ver http://www.arkeotavira.com/arqueologia/tavira/atlas/.
40 Base topográfica de referência: ortofotomapas na escala 1:1 000 e datados de 2002 [LUSIGLOB (2006)], georreferenciado no sistema decoordenadas Hayford-Gauss Militar (SHGM) e sobreposto a um modelo altimétrico digital do terreno com curvas de nível equidistantes de 2 m.Este modelo foi sobreposto e ajustado a um segundo modelo digital de terreno derivado da Carta Militar de Portugal [CMP, Instituto Geográficodo Exército, Lisboa, s/d: escala 1:25 000], com curvas de nível equidistantes de 10 m e diversos pontos cotados. Os caminhos e limites existentesem 1951 foram demarcados na CMP, folhas 607, 608, 611 e 612 (edição desse ano) e implantados no sistema de coordenadas acima descrito.
Incluiu-se posteriormente o ortofotomapa de 2005, georreferenciado na escala 1:1 000, publicado no portal Algarve Digital (URL:<http://geo.algarvedigital.pt>, acedido em 1/09/2009).
41 A reconstituição da linha de costa antiga corresponde ao nível estimado da maior preia-mar anual em condições climatéricas normais e ao limiteconjectural das restingas antigas, sendo impossível distinguir nestas entre a parte sempre emersa e sapais. Também não é possível determinar nalaguna antiga: a zona de sapal (entre a preia-mar e a baixa-mar); a rede de canais sempre inundados; e as eventuais ilhotas. Permanece assimindefinida uma parte importante dos sapais, restingas e dunas utilizados como pastos naturais.
42 Ainda existente na década de 1820 [LOPES (1842)] e representado esquematicamente na cartografia dos sécs. XVI e XVII [OLIVEIRA (1984)]. Estáhoje assoreado na sua parte ocidental.
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Revelou-se assim que Marim romano se dispunha na margem de uma pequena baía interior (com 70 a 75
hectares) aberta a Sul, protegida do Levante pela restinga e dos ventos do Sudoeste pelo outeiro da actual
Quinta de Marim. Formava uma autêntica marina natural, fundeadouro e porto de abrigo, em cuja extremida-
de norte se abriam uma pequena cala e uma sub-enseada, directamente articuladas com o habitat romano. É
possível que o sítio do povoado piscatório na ilha da Armona já fosse habitado, pelo menos sazonalmente,
devido à sua posição privilegiada junto à barra antiga.
Edificações arqueológicas e acessos
Os principais documentos da reconstituição arqueológica de Marim são cinco plantas da área arqueológica
explorada por Estácio da Veiga em 1877, publicadas muito posteriormente sem anotações nem chave de
legenda43.
A planta de localização geral é apenas um esquema grosseiro da topografia do local. No entanto, aproveitando
os centros geométricos das zonas arqueológicas prospectadas (representadas na planta numa escala maior
que o fundo topográfico) foi possível distorcer selectivamente o desenho de modo a ajustá-lo ao terreno real,
com um erro inferior a 20 m, a partir de uma dezena de pontos de controlo44.
As estruturas desenhadas individualmente por Estácio da Veiga foram então implantadas na sua verdadeira
escala e orientação, a partir dos centros geométricos da planta geral ajustada à topografia real. As identifica-
ções da planta do templo e do talude da parede sul da villa no ortofoto de 2005 levaram a uma implantação
mais rigorosa destas estruturas (erro <2 e 4 m respectivamente). Marcas topográficas difusas da necrópole
oriental no ortofoto de 2002 permitiram um erro de implantação de cerca de 10 m para esta estrutura. A arti-
culação do templo e necrópole com os caminhos funcionais em 1900 e 1950 levou à reconstituição do traçado
fóssil das duas vias de acesso do povoado romano, ligadas às antigas canadas de Bias.
A localização da necrópole norte - explorada por Santos Rocha em 1894 e orientada e desenhada à escala na
planta deste autor45 - é menos precisa pois define-se grosseiramente a 100 m a noroeste do núcleo de ruínas
da villa46 e a 200 m a oeste da necrópole oriental47. A zona de menor afastamento entre os dois raios e dentro
do rumo indicado define uma área alvo com um erro aproximado de ±20x35 m.
A implantação da fábrica de salgas - explorada pela equipa de Tavares da Silva em 198948 - é mais rigorosa
(erro <2 m), quer pela qualidade topográfica do trabalho quer por a fotogrametria identificar com precisão a
localização das estruturas desenhadas.
Dimensão e organização do espaço edificado
O estudo compara a dimensão de Marim com a de outras villae ou aglomerações secundárias equiparáveis.
Avaliam-se três parâmetros: área da ocupação romana a partir de um espaço contínuo mínimo; distância entre
o templo e o balneário; e distância entre os centros do edifício da villa e da fábrica de salgas49. Verifica-se que
43 ARA II, fig. hors texte entre pp. 276 e 277.44 Torre medieval, ribeiras e caminhos. Utilizou-se, para o efeito, um software especializado que permite a distorção local de uma malha topográfica
triangulada.45 ARA II, pp. 266-267 e fig. hors texte entre pp. 280 e281.46 ROCHA (1897): 168.47 ARA II: 266, cit. Brito Rebelo, "Antiguidades do Algarve", O Occidente, IV, Lisboa, 1881; p. 190.48 SILVA & SOARES (1992): figs. 2 e 3, pp. 365-366.49 Tabela comparativa das dimensões de Marim com outras villae ou lugares secundários romanos.
Continua na pág. seguinte
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Marim Romano apresenta uma extensão demasiado grande para uma villa privada, sendo possível identificar
três núcleos especializados: a villa (que inclui o templo); o assentamento portuário (que inclui o balneário e a
necrópole); e a fábrica de salgas.
Segundo o estudo, a distância física entre a villa e o porto revela as respectivas autonomias e independências
de espaços, separados pela ribeira de Marim, limite tão simbólico quanto efectivo por ser, na época, difícil de
transpor sem uma ponte.
Por outro lado, a distância entre os referidos núcleos é demasiado curta (c. 330 m entre os prováveis centros
geométricos) para se tratar de assentamentos independentes, não se conhecendo no entanto vestígios
arqueológicos ou topográficos entre ambos, o que afasta a hipótese de um vicus que ocupasse toda a área.
A independência da fábrica de salgas relativamente à villa é abordada mais adiante (p. 19).
Segundo o estudo deve destacar-se a distância do núcleo edificado central da villa relativamente à costa, ao
contrário do que se passa, por exemplo, em Cerro da Vila e Boca do Rio. Esse afastamento indicará uma sepa-
ração funcional efectiva entre a residência senhorial e as actividades estuarinas-portuárias, ao contrário dos
dois exemplos citados. Em Marim o centro da villa situa-se no centro de gravidade do território agrícola – defi-
nido mais adiante –, sugerindo tratar-se originariamente de uma exploração agrícola posicionada segundo os
cânones clássicos, que apontam para essa posição central e para um afastamento de águas estagnáveis50.
Condicionantes geográficas da exploração agrícola: Reconstituição do fundus de Marim
A informação arqueológica sobre a economia de Marim romano limita-se quase exclusivamente à fábrica de
salgas, sendo virtualmente inexistente no que respeita à agricultura da villa51. Não pode assim fundamentar
uma reconstituição do fundus de Marim, tal como não é possível "retropolar" para a época romana a realidade
contemporânea da agricultura intensiva local, baseada em solos aluvionares em grande parte conquistados ao
sapal e à laguna em épocas muito posteriores à Antiguidade.
A reconstituição da dimensão e estrutura agronómica da villa só é possível através de um quadro esboçado da
geografia agronómica da zona e da época, construído a partir da identificação espacial e valorização de facto-
res geocondicionados que prevaleceram ou evoluíram desde a época romana até às primeiras décadas do séc.
XX52. Infelizmente este quadro é essencialmente qualitativo, muito limitado pela ausência de estudos sobre a
Sítio Área de ocupação (ha)Distância (m)
Templo aoBalneário
Villa àFábrica de salgas
Marim 6.43 367 860Cerro da Vila 2.91 (incluindo o complexo industrial) - ?Milreu 2.54 65 -São Cucufate 1.02 95 -
50 Varrão: Rerum Rusticarum, I, XII, 2; Columela: Rei Rusticae, I, V, 8; Plínio: Naturalis Historiae, XVIII, VII, 33; Paládio: De Re Rustica, I, VIII.51 A evidência arqueológica e páleo-biológica publicada não permite concluir que a villa de Marim tenha sido o centro de uma "intensa actividade económica".
A única estrutura económica conhecida e importante é a fábrica de salgas, que o estudo pretende demonstrar não pertencer à villa. Os restantes vestígios –três dolia no chão de uma divisão interpretada como cozinha, resíduos alimentares animais e cinzas de pinheiro manso numa fornalha – poder-se-iamencontrar em qualquer pequena exploração rural parcelar.
52 Os principais factores geocondicionados que fundamentam uma proxi possível do fundus de Marim são:
- A fisiografia costeira
Regressão marítima e evolução das ilhas-barreira, tópicos já abordados acima.
- Os recursos hidrográficos: linhas de água e nascentes e suas notícias
Considera-se que a localização dos recursos hidrográficos (nascentes e linhas de água) condiciona grandemente: as fixações humanas em geral; asindústrias grandes consumidoras de água, como é o caso das salgas e da extracção artificial de sal solar; a agropecuária de regadio; e os habitatsespecializados onde existem grandes concentrações de gado estabulado e instalações de banhos, como é o caso da maioria das villae romanas de algumadimensão.
Continua na pág. seguinte
MARIM ROMANO, [email protected] 9 2009-08-13
economia agrícola do Algarve romano e reduzido em grande medida a uma enumeração explícita de questões
basilares que permanecem sem resposta.
Dessa reconstituição faz parte uma estimativa dos limites e das dimensões do fundus, baseada na conjectura
de se tratar de um tracto fundiário contínuo53. Neste modelo de divisão do espaço, o núcleo portuário e a
fábrica de salgas ocupam e desenvolvem-se em enclaves dos terrenos da villa.
A partir da superfície assim determinada – com uma área medida de 805 ha – realiza-se uma delimitação
potencial das zonas agronómicas com base na diferenciação geológica e hidrográfica dos solos e no potencial
de irrigação associado à presença de nascentes e de bacias de escoamento útil das principais linhas de água.
Definem-se assim quatro zonas agronómicas distintas quanto à tipologia agrária, dimensões e usos potenciais
do solo54:
Assinalam-se os principais poços/nascentes existentes em 1950, fora de contextos de colonização rural parcelar contemporânea, originada pelaparcelização de parte da quinta de Marim e pelo crescimento suburbano de Olhão. Considera-se que essas captações reflectem as zonas de maiorpotencial hídrico na Antiguidade. Destacam-se as nascentes da Quinta de Marim e de Olhão (poço velho). A primeira situa-se perto da torre medieval eda provável pars rustica da villa, sendo famosa pela sua inclusão numa lenda popular [F. Ataíde Oliveira: "O Abismo dos encantados ou a Lenda deMarim" in As Mouras Encantadas e os encantamentos no Algarve com algumas notas elucidativas, Tavira, 1898, pp. 157-160] e é referida por Sarrão em1607. A segunda deu origem ao nome da povoação, registado desde o séc. XVI.
As ribeiras de Marim e do Bombarrão terão estado, graças à sua posição, na origem do abastecimento de água, respectivamente do núcleo residencial davilla e do núcleo portuário e respectivo balneário.
- Os usos do solo e recursos agro-pecuários e florestais
Produtos e usos com registo arqueológico e páleo-biológico; ou referidos nos manuais agronómicos romanos e, simultaneamente, existentes no sistemacultural pré-industrial do Litoral algarvio, documentado historicamente em épocas posteriores (dos sécs. XI-XIII, XVI e XIX até 1900). Considera-se haveruma continuidade agronómica do mosaico cultural antigo, embora seja impossível estabelecer a sua estrutura ponderada na Antiguidade.
- A geologia agronómica
Delimitação espacial dos tipos geológicos de solos e sua adequação agronómica às culturas e usos definidos no ponto anterior.
A informação é apresentada como níveis de sobreposição geográfica num mapa de síntese, cujas principais fontes cartográficas são:
Carta Militar de Portugal, 1ª Ed. 1950/1, IGEOE, Lisboa.Carta Militar de Portugal. Hipsometria e hidrografia vectoriais, s/d, IGEOE, Lisboa.Carta de solos da Região Algarve (Coord. G. Manuppella), 1992, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.Carta agrícola de Portugal (Coord. Gerardo Pery), minutas manuscritas: prancheta BD da folha 220 (1900); e prancheta A da folha 221 (1905).Carta de ocupação do solo (COS '90), 1990-91, IGP e SNIG, Lisboa.
53 Desconhecem-se as dimensões e as extremas do fundus da villa de Marim, com excepção do limite compulsivo a sul, formado pela margem estuarina.Mesmo em relação a esta desconhece-se se o limite incluía os sapais, águas da laguna e restingas ou se terminava na margem interior.
Nada se sabe também nem sobre a divisão predial – se os seus praedii formavam uma parcela contínua ou se dividiam em fracções dispersas – nem sobre aforma de exploração em meados do séc. IV: se os campos eram geridos pelo proprietário e cultivados por colonos ou escravos residentes; ou se apenas onúcleo agrícola da villa era explorado por conta própria, sendo o restante arrendado. Também se ignora se a parte agrícola tinha um regime de exploraçãodistinto da parte florestal e da parte lagunar (nomeadamente da mariscagem, da pesca e da muito provável extracção de sal).
No entanto, a conjectura de o fundus de Marim se estender por um tracto contínuo é aceitável, devido à desertificação arqueológica de sítios agro-ruraisconhecidos no seu aro e à ausência de marcas de cadastros fósseis. A análise geográfica da zona permite também propor um modelo de delimitação,baseado nos elementos sintetizados na tabela seguinte:
Factores de delimitação de propriedade
Físicos A proximidade da margem estuarina define forçosamente o limite sul.
Administrativos O termo do município de Ossonoba na Ribeira das Fontes Santas (a 2.5 km do núcleo da villa) marca administrativamente o limite máximo dapropriedade, independentemente do proprietário poder possuir outras no município balsense vizinho.
Geométricos(de simetriatopográfica)
A posição do núcleo da villa entre a ria e a via pública de Ossonoba a Balsa constitui o centro de um arco elíptico definido pelo eixo da via epermite considerar esta como o limite natural do fundus.
Existe uma tripla equidistância costeira: entre o núcleo da villa e o termo municipal de Ossonoba já referido, entre o núcleo da villa e a zona deOlhão e entre esta zona e o núcleo da villa de Torrejão. Esta regularidade topográfica permite propor que a margem estuarina se distribuíaequitativamente pelas villae marítimas do município (pelo menos neste troço da costa) e que os núcleos habitacionais se situavam aproximada-mente no centro dos respectivos domínios fundiários. O termo entre ambas as villae situar-se-ia assim na zona de Olhão.Este tipo de partição das propriedades segundo a margem conduz à tendência de os limites correrem perpendicularmente a esta.
Gromáticos Os marcadores de paisagem conspícuos são candidatos privilegiados a termos de propriedade e a pontos de alinhamentos de limites, segundo asregras gromáticas romanas. Para além do termo municipal e da via pública já referido, considera-se as fozes de ribeiros, colinas onde posterior-mente se estabeleceram marcos geodésicos e entroncamentos viários.
Com base nos factores anteriores e na sua definição topográfica, é possível apresentar uma conjuntura plausível das extremas do fundus:
Norte: Via pública, entre o entroncamento do acesso ao diverticulum ocidental da villa (Casinha da Gala) e o termo augustal de Bias, que marca o limiteoriental do território de Ossonoba.
Nascente: Linha mais curta entre o termo augustal e a Foz da Ribeira das Fontes Santas, fronteira natural entre Ossonoba e Balsa.
Sul: Costa antiga reconstituída.
Poente: Limite definido por dois segmentos: do entroncamento referido na extrema norte ao cabeço do marco geodésico de Olhão-Brancanes; destecabeço à foz da antiga ribeira que desaguava na base da pequena enseada estuarina que deu modernamente origem à caldeira e sapal do Moi-nho do Levante, hoje desaparecida. Este último troço corre de modo aproximadamente perpendicular à costa.
MARIM ROMANO, [email protected] 10 2009-08-13
Zona agronómica Área Usos potenciais do solo
ha %
I
SALTUS MARITIMOa
Margem estuarina, sapais, ilhotase restinga
5 km de frente lagunar linear
40 5 Estabelecimentos e estruturas piscatórias e conserveiras.Salinas industriais ou extracção de sal marítimo natural.Pastos sazonais de gado graúdo (bovinos) e miúdo (caprinos e talvez ovinos) nos sapais e restingas.Piscicultura em lagoas artificiais.Pesca lagunar e mariscagem (sobretudo bivalves).Floresta de pinheiro manso em algumas ilhas.
II
HORTUSPASCUAPlanície de aluviões facilmenteirrigável por duas ribeiras e umaimportante nascenteb
49 6 Principais núcleos agrários habitados.Culturas mimosas em torno dos núcleos habitados: hortas, pomares e vinha de regadio.Policultura intensiva, incluindo cereais.Pastos anuais irrigados, naturais ou plantados: produção de bovinos e, talvez, de equinos.Canaviais. Extracção de canas como material de construção. Provavelmente vime, atabua e esparto.Suinicultura estabulada nos núcleos habitacionais.
IIISILVAc
Zona florestal em terrenosarenosos litorais
352 44Extracção de madeira (construção naval e civil), resina, lenha e carvão de pinheiro manso.
IV
AGERd
Área de litoral de cascalheiras,arenitos e margas argilo-calcárias,com encostas baixas e suaves eterrenos naturalmente poucopedregosos mas menos permeá-veis.
364 45 Pomar de sequeiro: figueiral e olival. O figo destina-se à alimentação humana e animal e à exportação emseco. A azeitona destina-se à alimentação humana, exportação em conserva e produção de azeite.Vinha: em arbustum; de encosta; e em cascalheiras. Uva-passa e vinhos muito alcoólicos e de inferiorqualidade.Cereais de sequeiro: extremes; sob coberto de pomar de sequeiro; e em rotação com leguminosas(nomeadamente fava) ou prados semeados. Trigo e, provavelmente, milho-painço (consumido em formade papas).Pastos de gado miúdo: no restolho cerealífero; em pousios; e em almargens nas bacias interiores maldrenadas.Lenha miúda e matos para camas e estrumes pecuários.
Total 805 100
a. A área desta zona é subavaliada em relação à realidade. O cálculo possível inclui apenas a margem estuarina, isto é, a área costeira estimada acima da linha reconstituída da preia-marna Antiguidade. Exclui sapais, ilhotas e ilhas-barreira, que deveriam representar uma importante área de pastos e floresta.Al-Himyar (fontes anteriores ao séc. XII) refere povoamentos de pinhal nas ilhas em frente a Faro, associando o seu uso à existência de estaleiros navais [PROVENÇAL (1938): 141 §105].
b. Ver nota 52. A ocupação da zona de aluviões depende grandemente do investimento em obras de drenagem, barreiras de dessalinização e obras de captação e distribuição de águas derega.
c. Madeira de pinheiro manso usada como combustível na fornalha da fábrica de salgas [PAIS (1992)].A mancha de pinhal de Marim ainda existe, muito reduzida, na actualidade e está registada na Carta Agrícola de 1900.Considera-se existir uma relação estreita entre as areias e cascalheiras plistocénicas e o povoamento florestal extremo de pinheiro manso. Esse povoamento pode prolongar-se poraluviões intercalares e marginais e pelos areais e dunas quaternários das margens e restingas.Por outro lado, a desflorestação e a agricultura de trabalho intensivo com elevados níveis de estrumação e disponibilidade de água adapta estes terrenos à policultura intensiva,nomeadamente à horta e à vinha.Coloca-se a hipótese de, na Antiguidade, o limite noroeste da mancha de pinhal estar já a ser substituído pela extensão das culturas próprias da zona IV.A exploração florestal de madeira tinha um elevado rendimento económico na Antiguidade, sobretudo quanto efectuada na vizinhança de centros urbanos e junto a linhas de água depermitam o seu transporte, como é o caso de Marim.
d. Al-Idrîsî, em inícios do séc. XII, refere a riqueza da zona de Faro em figos e uvas-passa [Kitâb Rujâr = BRESC & NEF (1999): 262], afirmação repetida por Al-Himyar (ver nota a, acima).O foral de Faro de Afonso III [ver nota 127], refere Marim como terra de figueirais do Rei, o que significa que o figo era aqui já um produto tributário na época islâmica.Frei João de S. José, em 1577, refere para o Algarve a hegemonia económica do figo e a boa qualidade da azeitona, azeite e uva-passa, assim como a escassez da produção de trigo,devido ao clima demasiado seco [S. JOSÉ (1577): 110,114,115,118].Considera-se existir uma homogeneidade cultural (traduzida num mosaico de culturas potenciais específicas) nos solos argilo-calcários do Litoral presentes na área de estudo. Essahomogeneidade está documentada na minuta da Carta Agrícola de 1900 e é verificável ainda na ocupação recente.
O povoamento romano
Marim Romano surge-nos como um povoamento secundário de cariz portuário na antiga orla da laguna de
Ossonoba. A caracterização funcional do sítio portuário é abordada mais adiante, aquando da síntese da sua
situação geográfica, na p. 27, só compreensível após a análise do habitat que se segue.
O complexo arqueológico ocupa uma extensa área – estimada entre 5 e 14 hectares – onde se distinguem três
núcleos bem individualizados: a villa, o porto e a fábrica de salgas.
54 Sobre a geografia económica das zonas estuarinas do Algarve na época romana ver-se [FRAGA 2005: 33-35].
MARIM ROMANO, [email protected] 11 2009-08-13
1. A Villa
O primeiro núcleo corresponde a uma villa rural, em que se destaca um complexo com um templo privado do
séc. IV e um mausoléu senhorial usado nos sécs. II e III55, recentemente identificados com estruturas desenha-
das por Estácio da Veiga.
Estão descritos fragmentos de revestimentos decorativos luxuosos, no que terá sido a domus da vila, que per-
manece quase desconhecida. Uma situação idêntica se passa com a pars rustica, apenas identificada e mal
demarcada56.
Embora haja elementos de uma ocupação desde o séc. I EC57, os vestígios arqueológicos não são suficientes
para caracterizar a villa na sua fase alto-imperial. Em contrapartida toda a epigrafia romana conhecida é dessa
época, de finais do séc. II ou já do séc. III. Ela revela a presença de, pelo menos, três gentilícios (Aemilius,
Annius e Fabius), o que permite propor tratar-se – já nessa fase – de um assentamento multifamiliar e não de
uma villa comum.
A 2ª edição apresenta uma nova conjectura topográfica da implantação da villa e da articulação dos seus ele-
mentos. Conclui-se que a zona explorada por Estácio da Veiga e Santos Rocha corresponde apenas à pars
urbana, que assumiria a forma de uma villa de peristilo, com a entrada e fachada principal voltada para oci-
dente e as dependências utilitárias voltadas para sul, entre as quais se identifica uma grande cozinha58.
O templo
O edifício do templo com ambulatório tem dimensões e uma forma quase idêntica aos existentes em Milreu e
em S. Cucufate e é basicamente semelhante ao templo da villa de Carranque (Toledo, Espanha)59. O modelo da
planta de Milreu – com cella, galeria e temenos – é também virtualmente idêntico à do templo romano-céltico
do forum de Caerwent (Venta Silurum, País de Gales)60. Trata-se de uma variante absidada do modelo geral de
um fanum de tradição celta – comum na Brittannia e na Gallia – destacando-se os exemplos do santuário de
Altbachtal em Trier (Treveris = Augusta Treverorum, Alemanha), já referidos por T. Hauschild na sua análise de
Milreu61.
55 Segundo GRAEN (2005): 268-71, o mausoléu terá sido do tipo torre ou templo, para urnas de incineração, devendo datar-se do séc. II ou iníciosdo III. A ele foi posteriormente adossada uma estrutura que continha um fragmento de sarcófago infantil esculpido, datável do séc. III. Omausoléu era rodeado por um precinto murado onde se encontraram tesselae idênticas às de vários fragmentos de mosaico existentes no MuseuNacional de Arqueologia, para aí levados de Marim por Estácio da Veiga.
56 ROCHA (1897): 164-16857 SCHIERL (2008)58 O estudo realiza uma análise comparativa das dimensões e estrutura da parte da villa representada na planta de Estácio da Veiga, relativamente
ao catálogo de CHAVARRÍA (2007). Desenvolve variantes de um modelo arquitectónico "de peristilo" compatível, baseando-se: em preceitosteóricos de autores latinos; na arquitectura empírica das villae de Milreu, Torre de Palma, Liédena e El Ruedo; e na relação topológica comum aMarim e a estes exemplos.
59 Sobre a villa ver GARCÍA-ENTERO E CASTELO (2008): 348-52 e CHAVARRÍA (2007): 237-40. Sobre o templo ver BASSANI (2005): 98 e BOWES(2006): 80.
60 O templo Caerwent I é datado post quem 265 [WACHER (1995): 378-391 e RODWELL (1980a): 228-9]. Segundo [LEWIS (1966): 17] pertence aotipo Ib ou Id da tipologia deste autor (Cella tipo torre e: ou cella fechada e ambulatório com aberturas; ou vice-versa).
61 HAUSCHILD (1990): 148-9. Planta do santuário de Altbachtal, com 60-70 templos ou aediculae, em LEWIS (1966): 195 fig. 110.
Sobre a tipologia, arquitectura e história dos templos "romano-célticos" veja-se LEWIS (1966): 1-56; WILSON (1980) e RODWELL (1980a).
Segundo LEWIS (1966) o modelo arquitectónico designado modernamente por romano-céltico resulta da aplicação do estilo arquitectónico e dosmétodos construtivos romanos à religião céltica ao ar livre. Esta combinação justifica o referido nome, mais correcto do que "céltico" ou "galo-romano". A combinação de elementos romanos e nativos associa-se, de um modo geral, à assimilação de divindades célticas a romanas e aoprocesso geral de aculturação. A presença deste tipo de templos na Brittania dever-se-á a um processo migratório de populações continentais daGallia Belgica. [idem 9-11]. Sobre o uso de absides, este autor afirma tratar-se de uma forma essencialmente romana, própria de meios militaresimigrados ou de centros muito romanizados [ibidem p. 72].
HORN & KING (1980) contém um catálogo sistemático desse tipo de templos na Europa continental. LEWIS (1966) e RODWELL (1980b),apresentam catálogos exaustivos para a Britannia. Para a Gallia veja-se GROS (1996): 199-203, BEDON (1988): 124-131 e FERDIÈRE (1988): 251-260. Infelizmente, as obras fundamentais sobre a Gallia de Isabelle Fauduet não puderam ser consultadas.
Continua na pág. seguinte
MARIM ROMANO, [email protected] 12 2009-08-13
Todos os autores relevantes interpretam estes edifícios como templos "pagãos", com excepção de Graen, que
afirma serem mausoléus. Os seus argumentos não são porém convincentes62 e omitem quer o flagrante para-
lelismo formal religioso galo-britânico quer a parte de Milreu que indicia mais claramente tratar-se de um
edifício de culto: o tanque de água viva associado à representação mitológica do cortejo de seres marinhos
num friso de mosaico63, articulado com a fonte-tanque situada junto da entrada principal da villa.
Este último elemento, sob a forma de poço ou tanque alinhado no eixo da entrada principal, é considerado
característico das estruturas de culto das águas das villae britânicas64 e a sua presença em Milreu anuncia,
mais do que uma mera transposição de estilo arquitectónico, uma importação específica de um sistema de
crenças e de estruturas de culto oriundas das regiões romano-célticas do Império.
O paralelismo romano-céltico dos templos do Algarve e de S. Cucufate dever-se-á assim a um processo de
importação tardia e de posterior difusão local deste modelo arquitectónico. Não existem de facto quaisquer
fundamentos para o basear em tradições pré-romanas locais, uma hipótese teórica levantada por T. Haus-
child65.
Neste contexto "pagão", documenta-se no Ocidente do Império a vitalidade e mesmo a promoção activa das
religiões não cristãs de âmbito privado, entre os éditos de Constantino I (313) e de Teodósio (391), junto dos
escalões superiores da sociedade, do exército e da administração imperial66. Esta situação traduz a continuida-
de da actividade religiosa dentro dos sistemas de crenças tradicionais e também uma reacção – com apogeu a
partir de 360 – contra o cristianismo ascendente67. Este processo está igualmente documentado na Britannia,
onde se constroem novos templos não cristãos nessa mesma década, no estilo romano-céltico68.
Sobre o templo B de Trier, também referido por Hauschild, ver HORN & KING (1980): fig. 17.6 nº 2, p. 504. Este templo apresenta uma absidereentrante na parede posterior da cella, que mantém uma planta rectangular. O mesmo se passa com um templo romano-céltico da Gallia emViel-Evreux = Gisacum: templo A, fig. 17.23 nº 3 da obra acima referida.
62 Limitam-se ao paralelismo formal da cella absidiada, tipo de planta largamente divulgada em diversos contextos, ignorando o conjunto doambulatório e do temenos. Graen recorre a um processo de justificação circular, dando como exemplos de mausoléus casos que são tambémconsiderados templos por outros autores.
63 As representações mitológicas de índole marinha surgem igualmente noutros contextos, nomeadamente funerários [exemplo do mosaico emMUSCO ET ALII (2008): 35]. Aqui refere-se a sua combinação específica com monumentos aquáticos.
64 RODWELL (1980a): 219 refere exemplos e cita J.T. Smith ["Villas as a key to social structure", in M. Todd (ed.) Studies in the Roman British Villa,117-147]. Veja-se também SMITH (1997): 291-2.
65 HAUSCHILD (1990): 149.66 Para a Hispania veja-se ARCE (1982): 61-62 e JONES (1966): 64. Para a Britannia WATTS (1998). Para o Ocidente, MACMULLEN (1984): 74-85.67 O uso cristão posterior do templo de Milreu e da necrópole romana de Marim fez florescer o wishful thinking apologético, manifestado na
sobrevalorização e antecipação da importância local do Cristianismo; na hiperinterpretação de signos de adopção desta religião desde o séc. I; ena cristianização não fundamentada das expressões artísticas tardias dos temas religiosos greco-romanos.
O estudo denuncia esta tendência historiográfica – sempre vivaz nos estudos peninsulares da Antiguidade Tardia, profundamente influenciadospor investigadores de ideologia católica – contrapondo um quadro geral com os seguintes pontos:
A cristianização compulsiva da administração imperial e municipal só se impõe após 391, nos últimos vinte anos antes da queda do poderromano na Hispania.
O poder dos bispos locais só transcende a sua comunidade de fiéis a partir de meados do séc. V e só se consolida como poder político regionalapós o fim do domínio bizantino, já no séc. VII.
No Sul, as primeiras manifestações edilícias não funerárias são do séc. VI, simultaneamente ao uso generalizado de cemitérios cristãos peloshabitantes de aglomerações. Só a partir deste século se cristianizam estruturalmente os santuários rurais pagãos mais importantes.
Só nos sécs. VII-IX – em grande parte já sob o poder islâmico – se organiza o domínio eclesiástico nos meios rurais, nomeadamente através doculto dos santos moçárabes, em lugares secundários que até então se tinham mantido essencialmente pagãos.
Os elementos pré-cristãos sobrevivem posteriormente em numerosos aspectos das crenças e cultos ligados à terceira função duméziliana,tendo-se integrado no sufismo popular islâmico até à conquista portuguesa.
No Algarve, os grandes santuários de devoção popular só são enquadrados definitivamente na ortodoxia católica no séc. XVI. Apesar dissocontinuam a ser referidos aspectos claramente heterodoxos dos rituais naturalistas rurais até ao séc. XVII. As últimas manifestaçõestradicionais, já sem carácter religioso, morreram na década de 1970, juntamente com o mundo rural que as mantinha.
68 WATTS (1998): 24-51. As omissões bibliográficas impedem a documentação desta fase na Gallia.
MARIM ROMANO, [email protected] 13 2009-08-13
Acautela-se no entanto a possibilidade de o exemplo de Marim ter sido efectivamente um mausoléu familiar
com a forma de um templo com ambulatório, uma vez que não sobreviveram indícios explícitos de culto e de
ele se encontrar junto a um mausoléu anterior. De facto e segundo o estudo agora publicado, não terá de
haver contradição entre as funções religiosas e funerárias destes edifícios (v. nota 116).
A datação deste edifício de Marim é polémica, entre o final do séc. III e meados do IV, embora com a evidência
existente seja mais provável a datação mais tardia, contemporânea do templo de Milreu69.
Contesta-se que Marim possa ter sido o precursor dos templos de Milreu e S. Cucufate e muito menos o seu
modelo, por ser uma versão simplificada e mais pobre. Não tem temenos, podium e pronaos, elementos pre-
sentes em Milreu e característicos, embora não determinantes, do modelo romano-céltico original. A cobertu-
ra abobadada da galeria – existente em Milreu e muito provavelmente em Caerwent70 – parece ter sido substi-
tuída por um telhado coberto com placas de bronze71, solução mais económica. Não fará assim sentido que o
templo de Marim seja anterior aos seus vizinhos mais ricos e completos, a não ser que estes fossem resultan-
tes de uma pouco provável importação posterior, independente e estilisticamente mais perfeita.
Afirma-se, por outro lado, já fazer sentido que Marim tenha sido uma cópia posterior e empobrecida de Mil-
reu, perdendo elementos estilísticos e decorativos nesse processo. Seguindo esta linha de raciocínio, o templo
de Marim terá sido provavelmente edificado num contexto de emulação da villa de Milreu, por um possessor
de riqueza inferior. Formula-se assim a hipótese de ter existido uma relação hierárquica de estatuto desigual
entre os possessores de ambas as villae.
A distribuição temporal dos achados monetários na zona da villa confirma o seu apogeu tardio, a partir de
33772.
O núcleo da villa associa-se ainda a uma pequena necrópole de inumação, sem espólio nem datação mas segu-
ramente posterior à 1ª metade do séc. III, devido à reutilização de lápides desta época73.
2. O Porto e as suas amenidades
O segundo núcleo corresponde a um porto marítimo público, com uma zona de cais, um balneário com uma
possível hospedaria anexa e uma fonte possivelmente sacralizada.
Zona de cais
A sua localização é aproximada, a partir da reconstituição arqueotopográfica da linha de costa e da articulação
desta com os demais elementos arqueológicos e viários.
69 Na escavação de 2003 surgiu um nível estratigráfico intacto sob uma pequena área do templo, com um fragmento cerâmico e uma moedadatáveis post quem do último quartel do séc. III [GRAEN (2005): 264; KLEINSCHMIDT (2008): 258]. Surgiu também um fragmento de capitel queGraen data também da 2ª metade do séc. III [GRAEN (2005): fig. 7 p. 263-4]. Este investigador sugere assim que o templo-ou-mausoléu será desteperíodo, anterior aos de Milreu e de S. Cucufate, a quem Marim serviria de modelo. Infelizmente só a moeda é datável com precisão, pois acerâmica – uma forma Hayes 50, infelizmente não publicada – tem um intervalo de produção de mais de um século, até meados do IV[informação de Maria G. Pereira Maia].
Contra esta fraca evidência e contra uma interpretação demasiado restritiva do conceito de post quem, contesta-se a datação anterior de Marime, sobretudo, que possa ter sido o modelo dos edifícios similares do Conventus Pacensis.
70 "As pilastras do lado de dentro do pórtico apontam para a existência de arcos sobre o ambulatório" [LEWIS (1966): 17].71 GRAEN (2005): 26372 KLEINSCHMIDT (2008): Tabela da p. 257, que compara as distribuições de frequência dos achados numismáticos de Marim, Milreu, S. Cucufate e
Conimbriga.73 A necrópole foi explorada por Santos Rocha [ROCHA (1897): 168-176; ilustração em ARA II: hors texte após p. 280]. [VASCONCELOS (1913): 379]
refere o séc. II como período ante quem da reutilização das lápides. Essa data deve porém ser avançada para uma época posterior ao apogeu danecrópole, que terá provavelmente terminado em meados do séc. III.
MARIM ROMANO, [email protected] 14 2009-08-13
O balneário
No balneário foi encontrado um nicho elaboradamente decorado, datado do séc. III74, o que sugere a sua exis-
tência já nesta época.
O estudo faz uma primeira reconstituição da topografia do local, revelando o provável sistema de abasteci-
mento de água e propondo uma interpretação funcional dos espaços do balneário, de acordo com os elemen-
tos identificadores da planta e o modelo organizativo mais comummente difundido neste tipo de edifícios.
Afirma-se que o carácter de balneário do edifício nunca gerou dúvidas a um observador atento, a começar
pelo próprio descobridor, sendo claros e inconfundíveis os seus indícios75.
Uma pequena sala multilobada constitui o seu elemento arquitectónico mais marcante, com 5 absides salien-
tes e três níveis de pavimentos de mosaicos sobrepostos76. Essa sobreposição pressupõe um uso intenso ou
continuado, o que seria de esperar num estabelecimento muito frequentado. Os lóbulos absidiais associam-se
a pias/fontes e são bastante frequentes em divisões maiores articuladas com o tepidarium. Surgem porém
como nichos ou absides reentrantes, ao contrário de Marim, que apresenta um modelo menos frequente nes-
te contexto arquitectónico77. A sala interpreta-se como um destrictarium ou sudatiorium em miniatura, sendo
o tepidarium a sala que com ela conecta a Nascente.
74 RIBEIRO (2002).75 VASCONCELOS (1913): 479-80. Leite Vasconcelos transcreve a nota de Estácio da Veiga referente ao lugar de achamento: "nas ruínas (romanas)
de um edifício de banhos, explorado no sítio da Quinta de Marim denominado os Botelhos (concelho de Olhão, Algarve), em 1877...".
A forma e as dimensões do balneum e edifícios anexos baseiam-se apenas numa planta esboçada por Estácio da Veiga, cuja escala é demasiadopequena para as representar correctamente. Ela é porém aceitável em termos gerais, pois uma planta parcial levantada por M. L. Santos (ARA II:p. 266 e fig. 306 p. 281) – embora incompleta e sem qualidade topográfica – apresenta uma escala compatível com os valores de Veiga, servindocomo confirmação grosseira desta.
Na planta identifica-se um alveus (H) e um anel de esgotos (G) sobre o qual se situava um labrum circular assente numa base quadrada,desenhado à parte (G, com 1.5 x 0.95 m), onde Estácio da Veiga representa a profundidade e a direcção do escoamento de água através dequatro vórtices.
Segundo o estudo, torna-se assim incompreensível a tese de Graen [GRAEN 2007: 279] de se tratar de (mais um) mausoléu, ilação que ignora semcontraditório a fortíssima evidência contrária, com uma ligeireza que desafia a racionalidade.
76 ARA II: 269 refere desenhos de mosaicos feitos por Estácio da Veiga, hoje desaparecidos, respeitantes às plantas da villa e do balneário.Relativamente a estes últimos cita "Uma casa tinha três mosaicos sobrepostos, correspondentes a reconstrução. Os dois primeiros e portantomais antigos, tinham tesselas pequenas de cores ou desenhos de figuras. O último e mais recente tinha tesselas grandes, brancas e azuisescuras". [cit. L. Chaves, "Mosaicos Lusitano-romanos em Portugal" in separata da Revista de Arqueologia, vol. III, Lisboa 1936, p. 9] Algunsfragmentos destes mosaicos terão sido levados para o Museu Nacional de Arqueologia e o seu estudo no presente contexto permanece porfazer.
Na planta do balneário publicada em ARA II identificam-se perfeitamente estes três níveis de mosaico na sala multilobada assinalada com a letraJ. Ligada a esta sala representa-se uma estrutura alongada, quase triangular, cuja planta é característica de um praefurnium ou, menosprovavelmente, de uma cisterna.
77 Os balnea das villae de La Olmeda, Almenara de Adaja, Balazote e Torre de Cardeira possuem divisões com absides triplas salientes, em contextosde piscina, frigidarium, sudatorium e caldarium, respectivamente. A da villa de La Nava tem um sudatorium com quatro pequenas absidessalientes [GARCÍA-ENTERO (2005) fig. 57, 74,2,124,114 respectivamente].
Não se identificaram salas com cinco absides salientes nos catálogos de balnea ibéricos, britânicos e africanos. Porém GRAEN (2007) (fig. 4 p.279) apresenta como mausoléu uma forma quase idêntica à de Marim, publicada em FORNARI (1916).
O presente estudo – baseando-se neste último autor – considera trata-se de um edifício isolado e muito maior que a sala de Marim (áreas úteisaproximadas de 147 m2 contra 14.8 m2, 10 vezes maior!), que terá tido diversos usos desde o séc. IV até ao VII.
No séc. V foi usado activamente como mausoléu cristão. No séc. VII foi reconstruído e convertido em igreja de S. Siríaco durante o papado deHonório I (625-638), sendo improvável a sua construção de raiz nesta época (contra Fornari, que não apresenta evidência neste sentido). Foimartyrium desse santo até ao séc. X [FORNARI (1916): 58-9].
Terá sido originalmente um templo privado de culto das águas, de dimensões consideráveis. As razões desta interpretação são as seguintes:
Tem a forma, dimensões e organização espacial de um nymphaeum monumental [comparável ao de Casal Bertone, em que as absides sãosubstituídas por nichos equivalentes [MUSCO ET ALII (2008): 33-4].
Foi edificado sobre o muro de uma grande cisterna de água romana.
A construção será do séc. IV: pela ausência de sepulturas do séc. V sob os alicerces; pelo aparelho das paredes de "opus mixtum de épocatardia, na parte mais baixa composta de paralelepípedos de tufa e fileiras de tijolos fragmentados e, na parte mais alta, de tufelli e tijolos"; epela homogeneidade da construção, feita de uma só vez [idem 68].
Continua na pág. seguinte
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O balneário, de pequenas dimensões, apresenta-se assim com uma tipologia linear-angular, isto é, com um
plano ortogonal não simétrico definido para um itinerário retrógrado (em que a entrada e a saída se realizam
pelo mesmo local) e em que a viragem se estabelece entre o frigidarium e o sector aquecido78. Considerando o
acesso principal a Sul e a tipologia já referida, é possível reconstituir a sequência funcional das divisões desde a
entrada: apodytérium, frigidarium, tepidarium e caldarium.
A orientação dos absides para um saguão que separa o balneário de um edifício anexo sugere que este é pos-
terior, assim como poderá ser mais recente toda a fachada sul do complexo. O edifício parece estruturar-se
segundo um corredor central, o que permite propor poder tratar-se de uma hospedaria. A sala multilobada e o
tipo dos mosaicos aí recolhidos indiciam uma reconstrução ou ampliação já no séc. IV.
Sacraria
Entre o balneário e o cais antigo, junto à antiga via de acesso ao porto, localizam-se duas estruturas isoladas.
Uma é claramente um tanque ou cisterna de água corrente, como se depreende do cano de escoamento a ela
ligada e ao revestimento interior de opus signinum79. A mais pequena, com uma antecâmara, poderia ser uma
aedicula, mausoléu ou fonte de mergulho. O revestimento aparentemente idêntico ao da anterior sugere esta
última função.
Ambas podem ser interpretadas como fontes cobertas, estruturas de captação de nascentes ou de terminação
de aquedutos, provavelmente abobadadas dada a grossura das paredes. A sua função, integrar-se-ia na activi-
dade portuária, como se depreende da sua localização. Podem ter feito parte do dispositivo de aguada dos
barcos, no cais próximo. Podem também ter estado associadas a um significado religioso, não incompatível
com a sua função utilitária, como aediculae de águas sacralizadas. Nesse caso, a sua designação colectiva como
sacraria talvez seja a mais adequada80.
Necrópole
Este núcleo portuário possuía um acesso viário autónomo, independente do da villa, e um recinto funerário –
em parte semelhante aos de Isola Sacra de Óstia, datados da 2ª metade do séc. II a meados do III81 – que é o
único do seu género até agora identificado no Algarve. Este recinto é a parte conhecida do que terá sido a
necrópole do porto. Ele continuou a ser usado até ao séc. VI como cemitério paleocristão.
Situa-se à beira do diverticulum de acesso da via Ostiensis (no sítio do 7º miliário) a uma importante e antiga villa romana [FORNARI (1916): 66-8 e n. 2 cit. A. Nibby, Viaggio antiquario ad Ostia, 1829, p. 12 e R. Lanciani,Silloge Epigrafica Acquaria, n. 377 p. 475], numa posição típica detemplo doméstico no acesso da villa.
Esta villa pertenceu no final do séc. IV a Q. Aurelius Symmachus (c. 345-c. 402) [idem 66 n. 2 cit. Symmachus, Epistulae I 6.2;II 52.2;VI 8, 35 e66], alto magistrado romano e célebre opositor do partido cristão e da casa de Teodósio I.
A sua datação será assim, muito provavelmente, posterior a meados do séc. IV, como se pode depreender da sua provável pertença a tão ilustreproprietário, que manteve as suas crenças pagãs publicamente até à data da sua morte. A cristianização do local terá ocorrido assim já no séc. V,o que está de acordo com os achados arqueológicos de Fornari.
78 THÈBERT (2003): 120.79 ARA II: II: 265-6 e figs. 305 e 306 nas p. 279 e 281.80 Por analogia com Sacraria, Sacria ou Sacrata (três ortografias para o mesmo local no Ravennate) [RAV 68.35,84.08,117.35,129.54], mutatio
Sacraria nos Itinerários de Antonino. [IA 613.9]
Santuário romano de primeira grandeza, dedicado à divindade fluvial Clitumnus junto do rio homónimo, perto de Spoleto. Já descrito por porSuetónio ["The life of Caligula": 43 in J. C. Rolfe (Trad.), The Lives of the Twelve Caesars, London, 1913-14; URL: < http://webu2.upmf-grenoble.fr/Haiti/Cours/Ak/Anglica/Suetonius4_engl.gr.htm> acedido em 28/05/2009] e por Plínio-o-Jovem ["LXXXVIII. To Romanus"; in W. Melmoth(Trad.) Letters; Vol. IX, Part 4; The Harvard Classics, P.F. Collier & Son, 1909–14; URL: <www.bartleby.com/9/4/> acedido em 28/05/2009], quemenciona as numerosas peregrinações, colunas e inscrições votivas que atestam a religiosidade dos fiéis. O templo situava-se junto da nascente-fonte, próximo de outros templos e altares mais pequenos, dedicados a fontes e a cursos de água mais pequenos. Daí o nome Sacraria (oratóriosou capelas que teriam provavelmente no seu interior tanques com a água sagrada). Deve registar-se que, novamente, segundo Graen seriamedifícios sepulcrais [GRAEN 2007: 279].
81 "Rectangular house-tombs of the Middle Empire" segundo a designação de J.M.C. Toynbee. É um tipo de sepulcro ilustrado por esta autora comexemplos de Roma (Vaticano) e Ostia (Isola Sacra). [TOYNBEE (1971): 132-143].
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A 2ª edição do estudo apresenta uma análise detalhada da planta do recinto, que inclui: a interpretação dos
elementos do desenho e reconstituição de parte da legenda perdida; a reconstituição planimétrica das estru-
turas; e propostas de divisão funcional do espaço no séc. III e nos sécs. V-VI.
De acordo com os resultados dessa análise, a planta permite identificar um complexo funerário edificado, de
forma quase quadrada (dimensões mínimas estimadas de 25m x 20m), constituído por um recinto sepulcral
descoberto com um edifício anexo e por dois jazigos-casa rectangulares independentes, um deles quase desa-
parecido82. O complexo dispunha-se grosseiramente orientado segundo os pontos cardeais, com a fachada de
acesso para poente voltada para a estrada que unia o porto ao cruzamento de Quatrim.
A posição do recinto-pátio entre a via e os jazigos sugere a hipótese de ele ser mais tardio e de os próprios
jazigos terem tido desenvolvimentos posteriores a partir de câmaras funerárias iniciais. O modelo de recinto
funerário rectangular a céu aberto, sem mausoléus e com as sepulturas dispostas regularmente, é de origem
africana, mais especificamente da Byzacena. A necrópole de Pupput (perto de Hammamet, Tunísia) constitui o
82 Súmula da descrição e interpretação do complexo funerário:
Pátio descoberto que ocupa 5/6 da metade oriental do complexo, com o subsolo exaustivamente ocupado por uma grelha regular de fossasfunerárias com muros de alvenaria, estruturalmente semelhantes aos de Isola Sacra [BALDASSARRE (2002): jazigos nº 43-46 (fig. 17, p. 22) e 34(fig. 20, p. 24)]. A sua capacidade original era pelo menos de 60 fossae, organizadas em 4 linhas de 15 sepulturas.
As fossae foram extensivamente reutilizadas nos sécs. V-VI, nada se conhecendo in situ dos espólios e túmulos pré-cristãos. É porém muitoprovável que a maior parte das cerâmicas de Marim (romanas e pós-romanas), hoje no Museu Nacional de Arqueologia, sejam provenientesdestas sepulturas [ARA II:271-3 apresenta uma listagem dos materiais, cujo estudo nunca foi integralmente feito nem compilado relativamenteà sua origem].
Para além do espólio pós-romano das sepulturas destaca-se a sua forma, idêntica às da basílica paleocristã de Mértola [TORRES & MACIAS(1993): 51 e fig. 18 p. 48. Planta da sua localização na basílica no hors texte desdobrável a seguir a essa página]. São sepulturas cobertas porlajes e revestidas com argamassa, tendo originalmente embebidas placas horizontais com inscrições. A face lateral do reboco é afeiçoada emrampa, representada em planta como uma moldura em torno da campa, que pode ter os cantos arredondados. No desenho de Estácio daVeiga da necrópole de Marim, as sepulturas desse tipo são assinaladas com as letras K e L e representadas com os cantos muito arredondados,o que pode não corresponder à realidade por se tratar de uma planta esquemática.
A planta revela que uma parte das sepulturas estava já aberta, estando a parte noroeste do pátio ocupada por entulhos onde sobressaemamontoadas as lajes de cobertura. Apenas uma sepultura (indicada com a letra I) é representada com as lajes na posição original.
Edifício alongado e coberto, com uma só divisão, que ocupa o restante 1/6 da metade oriental do complexo, no lado norte. Tem uma forma elocalização semelhantes aos espaços de culto, reunião e de refeição integrados nos jazigos-casa: Isola Sacra nº 34 [BALDASSARRE (2002):24 fig.20] e Casal Bertone. [MUSCO ET ALII (2008): 35]. Tal como nestes exemplos, o pavimento do edifício de Marim seria também revestido demosaico (a zona da letra H da planta revelará os seus restos). Este edifício pode ter sido um acrescento posterior, à custa do pátio descoberto,sendo igualmente provável o seu uso na ocupação paleocristã do sítio.
Jazigo-casa que ocupa o quadrante sudoeste do complexo. Está na sua maior parte em zona não escavada, sendo os seus limites estabelecidoshipoteticamente por regularidade simétrica. A sua existência não oferece porém dúvidas, pois resta parte da sua câmara funerária, na formade um arcosolium [comparar a forma com a planta e descrição do hypogeum dos Aurelii em Roma, em TOYNBEE (1971): 200-212, sobretudofig. 19 e texto da p. 209]. Parte do seu átrio ou pátio é preenchido com fossae, aparentemente usadas como prolongamento do cemitériopaleocristão.
Jazigo-casa que ocupa o quadrante noroeste do complexo. É o mais bem conservado, embora revele alterações importantes que devem seratribuídas ao seu uso pós-romano. Compõe-se de duas câmaras funerárias (nascente e poente) e de uma área de serviço e/ou culto. Aestrutura seria coberta por três ou quatro abóbadas de berço, segundo se depreende da relação entre a espessura das paredes e os vãos. Acâmara funerária nascente está quase intacta, sendo do tipo de labirinto, com duas sub-câmaras com loculi de inumação e, talvez, um deincineração. A câmara funerária poente – também dupla – está incompleta, havendo apenas indícios da sua parede central, cuja existência nãooferece dúvidas devido à amplitude do vão.
Esta zona e a área anexa de serviço sofreram profundas transformações posteriores, que podem ser contemporâneas do seu uso paleocristãoou já mais modernas. Surge assim na câmara funerária poente uma meia parede que pode ter suportado uma colunata e na câmara funerárianascente foi aberta uma entrada exterior. Um dos elementos jazentes (letra D) pode ser interpretado como fuste e capitel de uma coluna,surgindo outro no monte de entulho já referido.
No caso duvidoso de se tratar de um capitel (sendo então seguramente uma reutilização tardia de elementos arquitectónicos) poderá ser umdos capiteis corintizantes descritos em [ARA II: 278, fig. 308] e em [GRAEN (2007): 284, fig. 10 e GRAEN (2007): 250, fig. 3]. Ao contrário do queeste autor afirma não se tratam de capitéis do séc. VI ou VII nem têm paralelo com os de Mértola, mas são, pelo contrário, capitéis romanosdatáveis entre finais do séc. III e meados do IV (análise de Lídia Fernandes, incluída no texto). A sua localização original pode ter sido emqualquer dos complexos edificados tardios (templo ou fases tardias da villa ou do balneário).
Na área entre as duas câmaras localizam-se o que se interpretam como sendo as stelae e cupae funerárias romanas encontradas e recolhidaspor Estácio da Veiga (letras F e P). A sua posição sugere terem sido arrumadas, nada se podendo dizer sobre a sua localização original.
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seu exemplo de referência83, podendo ser significativa a presença, no espólio das sepulturas aí encontradas,
de ânforas de garum provenientes da Lusitania84.
A hipótese de um modelo funerário africano em Marim não deve ser ignorada, tendo em conta as importantes
relações comerciais e pessoais existentes entre o Sul da Lusitânia e as províncias da Africa e Mauritania, que
terão tido o seu apogeu durante a dinastia Severiana85. A existência de um porto de importação de cerâmicas
africanas em Marim – adiante referido no contexto da fábrica de salgas – e as formas dos monumentos fune-
rários aqui achados (as cupae86 e o programa decorativo87) são vestígios materiais dessas relações, que se
terão igualmente manifestado na origem geográfica dos frequentadores do porto e, possivelmente, de parte
dos escravos.
O recinto funerário de Marim não deverá corresponder à totalidade da necrópole do porto. Segundo os para-
lelos conhecidos, haveria na zona exterior – dispondo-se ao longo e de ambos os lados da estrada – um núme-
ro indeterminado de sepulturas modestas e, eventualmente, de outros tipos de monumentos88.
Prostíbulo/hospedaria
A amostra sobrevivente da epigrafia de Marim inclui um grupo invulgarmente numeroso de belas lápides fune-
rárias, na sua maioria de escravos com nomes gregos e latinos.
Nas palavras de José d'Encarnação, "Os monumentos funerários [romanos do Algarve] mostram, pela sua for-
ma e, sobretudo, pela sua decoração, detalhes totalmente diferentes dos que se podem observar no resto do
panorama epigráfico da Lusitânia... [A necrópole] da Quinta de Marim... pode ser considerada excepcional sob
este ponto de vista, pois as suas estelas apresentam-se com uma graciosidade formal única, com rosáceas e
figurações de colunas, como se o campo epigráfico fosse a fachada de um edifício cujo interior ressaltasse de
jardins bem floridos... Também os altares [funerários] que nos chegaram constituem uma sinfonia decorativa
deslumbrante!" 89.
83 BEN ABED & GRIESHEIMER (2008): 83-5. Segundo estes autores a necrópole de Pupput é contemporânea de Marim (teve o seu apogeu no séc. II e1ª metade do III), sendo constituída por recintos funerários rectangulares descobertos, na sua maioria com muros altos de 2.8 -3.2m e áreasentre 15 e 156 m2 úteis. Alguns com câmaras funerárias, mas a grande maioria com sepulcros alinhados em formas dominantes de caixas dealvenaria rebocada a gesso e cupae, havendo também exemplos de aediculae, de campas cobertas de uma fina camada de argamassa e simplestumulus com um montículo de terra, sendo este o tipo mais frequente. No séc. II coexistem a incineração e a inumação.
Sobre a pertença de Pupput à Byzacena e a sua elevação a colónia por Cómodo (180-192) ver BEN ABED & GRIESHEIMER (2004):5 n. 5.84 BEN ABED & GRIESHEIMER (2004): 22-24.85 Sobre a influência africana no Sul da Lusitânia ver ENCARNAÇÃO (2006) e MANTAS (1997a): 302. LEFEBVRE (2006): 104, tabela 2 apresenta um
catálogo sistemático da evidência epigráfica africana na Península Ibérica (origo e onomástica), onde se destaca a proveniência geográfica daprovíncia de Africa (actual Tunísia), com 60% das originis registadas (9 em 15).
86 BARATTA (2006) apresenta uma resenha das teorias sobre as origens das cupae funerárias. Da sua leitura pode concluir-se que terão tido pelomenos duas origens independentes: africana e céltica. Na Península Ibérica, onde se concentram nas áreas de influência de centros portuários enas maiores cidades, não há dúvidas sobre a sua proveniência africana. As formas maciças em pedra serão posteriores aos modelos originaisargamassados e as formas esculpidas como barris sugerem uma contaminação sincrética das duas tradições originais.
Sobre a origem das lápides ver a nota 89.87 ENCARNAÇÃO (2006)88 O recinto funerário do porto situava-se a 200 m a nascente da necrópole da villa, já referida. A hipótese [defendida por GRAEN (2007): 284] de
ambas pertencerem a uma grande cemitério contínuo não resiste a um pequeno cálculo: se se considerar um razoável formato elíptico alongado(comprimento de 230m, largura igual a metade deste valor) a área respectiva seria x 230 x 115 x ¼ = 20 773m2, ou seja, quase metade da áreaestimada da grande necrópole anelar de Ossonoba [com c. 4.8 ha no mapa de Ossonoba FRAGA (2006c)]. Ad absurdo seria um gigantescocemitério num quase descampado rural, mesmo ignorando-se a virtual improbabilidade de tal ocupação não ter deixado qualquer vestígio!
89 [ENCARNAÇÃO (2006): 1934; tradução do autor deste estudo]. Ainda segundo Encarnação terá existido nesta época (finais do séc. II), em Marim,uma oficina lapidar de grande qualidade, seguidora das regras clássicas mais requintadas da arte funerária, assinalando o importante estatutocultural da família de possessores. Este estatuto reflecte-se também na selecção onomástica dos escravos, erudita e de língua grega.[ENCARNAÇÃO (1991): 233].
O mesmo autor destaca também a contradição entre a qualidade escultórica das lápides, sinal de civilização material facilmente adquirida pelaabastança económica nelas assinalada, e o virtual analfabetismo dos lapidarii (texto em geral mal paginado, com numerosos erros ortográficosdevidos a uma má compreensão da minuta), revelando o fosso social existente entre trabalho manual, mesmo especializado, e alfabetização.[idem: 234-5 e ENCARNAÇÃO (1984): 841-2].
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Essa beleza epigráfica esconde porém uma realidade humana bem mais sombria, que é uma taxa de mortali-
dade selectiva e anormalmente elevada no subgrupo de mulheres jovens de condição servil, identificadas por
um único nome e sem filiação. Neste grupo, 63% não ultrapassam os 25 anos de vida, contra 25% na restante
população90.
A esta alta mortalidade em idade fértil associa-se a sua condição de escravas iletradas, mas com nomes pre-
tensiosos91 e peculii para adquirir lápides elaboradas e, sem dúvida, dispendiosas. É uma situação compatível
com o quadro socioeconómico, cultural e sanitário de um prostíbulo portuário, muito provavelmente integra-
do no estabelecimento de banhos92.
A utilização de jovens escravos de ambos os sexos em serviços sexuais associar-se-ia, naturalmente, a elevados
riscos sanitários e profissionais. Esses riscos atingiam de forma particular o sexo feminino através de uma ele-
vada taxa de mortalidade materna e de uma baixa esperança de vida93.
A localização original destas lápides na necrópole associável ao balneário e ao porto94 permite propor que o
prostíbulo se situava nessa zona – obviamente distinta da villa – e que o balneário já devia existir no séc. III, tal
como atrás se referiu. Segundo os paralelos estudados no mundo greco-romano, a combinação por-
V. Mantas [MANTAS (1997): 304, n. 15 referente à p. 302] afirma em contrapartida que a contradição entre a qualidade dos monumentos e amediocridade das suas inscrições se deverá à sua importação do Norte de África, como frete de retorno do garum.
Enquanto não se determinar a origem geográfica das pedras utilizadas é impossível tomar partido entre posições tão distintas, embora os tiposde calcário descritos em IRCP sejam comuns no Algarve. F. Mascarenhas [MASCARENHAS (1993): 9] reitera a origem algarvia de pelo menos umadas lápides (de Leone), afirmando ser "...em calcário regional do tipo do calcário da Atalaia, da zona de Santo António do Alto, em Faro...". Aanálise físico-química das lápides permanece por fazer até hoje!
90 As idades expressas nas lápides são apenas aproximativas, pois arredondam-se com frequência ao lustro, sobretudo nos estratos sociais iletrados[DUNCAN-JONES (1990): 79-92]. A excessiva precisão, com indicação de meses e dias de vida, deve também ser abordada com reserva [LÀSSÉRE(2005): 236-8, vol. 1].
A tabela seguinte mostra as percentagens:
Escalão deidade de morte
Amostra
TotalMulherescom 1 nome (escravas)
População restante
TotalHomenscom 1 nome (escravos)
Homens e mulheres com 2 e 3 nomesou com filiação (livres e libertos)
11-25 anos 40.0 62.5 25.0 33.3 0.0
26-65 anos 60.0 37.5 75.0 66.7 100.0
Total 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0
Nº indivíduos 20 8 12 9 3
Observa-se um forte factor de mortalidade prematura associado às escravas do género feminino, que não se verifica em mais nenhum subgrupo,incluindo os escravos do sexo masculino: 62.5% das escravas morrem até aos 25 anos, contra apenas 25.0% do resto da população e 33.3% dosescravos masculinos!
No estudo demonstra-se que essa diferença é estatisticamente significativa.91 Ver nota 89.92 RAUH ET ALII (2008): 208: "Estalagens, tabernas e bordéis eram coisas comuns nos portos do Mediterrâneo, tão comuns como molhes, cais,
armazéns e praças de mercado com lojas alinhadas. A camaradagem masculina e o tempo de lazer recreativo eram elementos essenciais na vidados trabalhadores marítimos. No espírito [... destes] os prazeres recreativos eram tão importantes, senão mais, do que as responsabilidades dotrabalho, os perigos das viagens marítimas e a busca incessante de sustento." (tradução do autor deste estudo).
Sobre os bordéis nos portos marítimos e os actores sociais que frequentavam o meio ver idem: 222-7 e 234. A nota 90 p. 220 lista fontes greco-romanas sobre os bordeis portuários.
A relação explícita entre a exploração de balnea e a prostituição de escravos – o que atribui o estigma de infamia ao proprietário – é dada peloDigeste [DIG III, 2, 4: vol. 1, p. 83].
93 RAUH ET ALII (2008) p. 228: "No âmbito de uma indústria recreativa comercializada, a vida de uma prostituta romana era inevitavelmente dura ebreve... existe evidência considerável sobre a prática de prostituição infantil" [fontes antigas listadas na nota 122 dessa pág.].
A nota 135 p. 230 refere as evidências de abuso físico e assassínio de prostitutas cit. H. Herter, "Die Soziologie der antiken Prostitution im Lichteder heidnischen und christlichen Schrifttums", in Jahrbuch für Antike und Christentum, 3 (1960); pp. 70-111.
Para além da violência as jovens estavam particularmente atreitas a todo o tipo de doenças e a gravidezes de repetição.94 Uma parte das pedras funerárias do séc. II foi retirada desta necrópole por Estácio da Veiga. Outras foram achadas nas redondezas.
Originalmente a totalidade ou a maioria delas, mesmo as reutilizadas noutros locais, situar-se-iam aí.
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to+banhos+prostíbulo associar-se-á inevitavelmente a uma estalagem/hospedaria95, que se poderia talvez
localizar no edifício anexo ao balneário, parcialmente identificado.
De acordo com esta análise o núcleo portuário incluiria assim uma população residente diversificada, na qual
se destacam os escravos, que executariam os trabalhos de manutenção e serviço das infra-estruturas ancilares
existentes, assim como serviços pessoais prestados aos utentes do porto, com destaque para os de natureza
sexual. Nestes aspectos, Marim seria um porto típico no contexto sociocultural da sua época.
Collegium funerário
A vedação do recinto funerário e o seu modelo arquitectónico revelam uma utilização selectiva, isto é, colecti-
va mas não pública, o que permite propor-se a existência de um relativamente abastado collegium funerário
dos escravos portuários e de outros habitantes. Ficaria assim explicado o "mistério" do financiamento e con-
centração de um grande número das lápides de superior qualidade.
O ajustamento do complexo funerário de Marim aos modelos da 1ª metade do séc. III permitem datá-lo desta
época, datação compatível com as lápides funerárias aí encontradas. O modelo de interpretação sociocultural
apresentado por Ida Baldassarre para a Isola Sacra96 afigura-se significativo na sua aplicação a este contexto:
um grupo social de estatuto ínfimo que adquire uma representatividade funerária própria de uma modesta
classe profissional intermédia, graças à sua solidariedade associativa. Desejo de uma vida de trabalho realiza-
do, promovida como cursus honorum, manifestado no direito a um lugar e a um túmulo funerário diferenciado
num recinto colectivo privilegiado e de acesso restrito.
É impossível com os dados existentes determinar a existência de hierarquias sociais dentro do complexo. A
hierarquia estrutural de três níveis – câmara funerária, pátio de jazigo e recinto descoberto – pode dever-se
apenas a períodos diferentes de expansão construtiva. Por outro lado, a sua existência conjugada com a séria
hipótese de existência de um prostíbulo/hospedaria – em que os escravos são autorizados a guardar e investir
uma parte significativa das suas economias num collegium funerário – pode significar a anuência, participação
ou mesmo interesse da família do leno/a e das autoridades locais no projecto. Neste caso, a câmara funerária
dos jazigos estar-lhe-ia sem dúvida reservada como espaço mais nobre, sendo o espaço anexo e uma eventual
segunda câmara ocupados pela familia servil.
3. A fábrica de salgas
O terceiro núcleo é o da fábrica de preparados piscícolas já referida, associada a um habitat portuário privati-
vo, piscatório e comercial, que se configura como um verdadeiro "arraial" marítimo de pequenas dimensões97.
Nas redondezas identificaram-se dois outros núcleos com um só tanque de salgas.
95 RAUH ET ALII (2008) = R&A contém uma análise mais profunda sobre a cultura dos bas-fonds portuários, que procura associar a interpretaçãosociológica, a exegese das fontes e a arqueologia, apresentando uma bibliografia actualizada.
Sobre a associação generalizada entre prostituição e estalagens e o funcionamento e ambiente destas ver SALLES (1982): 207-9; CASSON (1994):215-17 e ANDRÉ & BASLEZ (1993): 461-4. Também o Digeste refere como sendo comum o trabalho das criadas de estalagens como prostitutas[DIG XXIII, 2, 43.9: vol. 2, p. 204]. Para o meio portuário ver R&A: 208, 218, 220.
Sobre a origem social da prostituição esclavagista e a sua formação profissional ver SALLES (idem): 145-7 e R&A: 227-230.
Sobre os lenonis (e lenae, donos e donas de antros de prostituição) e as suas escravas e o modus operandi destas com os seus clientes ver SALLES(idem): 154-8 e R&A: 230-234.
96 BALDASSARRE (2002): 14, 20.97 Resume-se nesta nota a argumentação do texto, baseada na análise arqueotopográfica do local, nos resultados publicados em SILVA & SOARES
(1992) e em informações de Cristina Garcia.
O estabelecimento possuía um cais próprio, que se pode reconstituir na antiga linha de costa a nascente. O fundeadouro respectivo localizar-se-ia na zona hoje ocupada pela caldeira do moinho de maré ("Moinho de Marim").
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Os Iunii
O estudo defende que – ao contrário do que é afirmado pela generalidade dos autores – a fábrica de salgas
teve uma existência independente da villa, sendo apenas contemporânea da sua fase severiana, com uma
ocupação limitada entre o último quartel do séc. II e o 3º quartel do séc. III. De facto, para além do seu isola-
mento e auto-organização, ela identifica-se – pelas marcas anfóricas encontradas no local – como uma unida-
de produtiva da societas dos Iunii, (proprietária da marca de preparados piscícolas IVNIORVM), firma industrial
e mercantil de considerável dimensão económica e de base aparentemente regional, produtora de produtos
piscícolas, corantes e materiais de construção, importadora de cerâmicas domésticas africanas e exportadora
directa para a zona do Estreito98.
Uma fornalha dupla e simétrica – identificada nas instalações da fábrica – indicia a existência de um plano de simetria do conjunto e marcará oseu eixo. Os espaços contíguos surgem assim como praefurni e as pequenas divisões imediatamente vizinhas como possíveis armazéns decombustível, que se sabe ter sido a lenha de pinheiro-manso, que constituiria então um bosque abundante nas redondezas.
[O uso do fogo destinava-se ao aquecimento da mistura preparatória do garum, para reduzir o seu volume ou acelerar o processo defermentação. SCIALLANO (1997): 37, 39].
A proposta conjectural da forma e dimensões do complexo edificado assenta nesse plano simétrico, definindo-se de um pátio interior com cercade 60x50 pés romanos e duas alas edificadas. O complexo proposto implanta-se num rectângulo de 110x70 pés.
A fachada de 110 pés permite propor uma extensão máxima da bateria linear de cetárias pequenas, que poderia ocupar toda a sua extensão,com o máximo de 12 tanques. É impossível definir uma proposta para o número de tanques maiores. A sua obliquidade face à bateria pequenapermite propor quatro a seis tanques, no máximo.
Durante a campanha arqueológica de 1989 descobriram-se novos vestígios, muito significativos, abaixo do talude que se encontrava a sul dabateria de tanques maiores:
Um grande concheiro constituído exclusivamente de Murex brandaris, muito próximo dos tanques, revelando a existência de produção decorantes, mais especificamente da "púrpura de Tiro" extraída desta espécie (hoje designada por Haustellum brandaris).
A posição do concheiro de resíduos industriais sugere que estes tanques eram os utilizados na preparação de corantes, sendo os maispequenos dedicados aos preparados piscícolas [SCIALLANO (1997): 39].
Um forno de cal isolado, de feitura romana, sem dúvida usada na produção de garum [A cal seria usada como neutralizador de acidez, tal comoo giz. Sobre este ver SCIALLANO (1997): 39].
Uma grande concentração de sigillatas, perto da antiga linha de cais, muito provavelmente resultante de um acidente de estiva, que teráquebrado a carga após o seu desembarque.
98 Os factores que levam a propor tratarem-se de aglomerações distintas são os seguintes:
Achado de quatro ânforas com a marca IVNIORVM, no nível de exploração da fábrica e correspondendo aos contentores utilizados noenvasamento da produção local de preparados de peixe [SILVA & SOARES (1992): 351-3]. Esta marca monopoliza os achados conhecidos,revelando tratar-se do único fabricante local. Existe ainda um exemplar desta marca anfórica no espólio de Estácio da Veiga, encontrado emMarim em localização desconhecida, possivelmente na área da villa [PEREIRA (1977): 248-9]. O lugar de fabrico das ânforas é aindaindeterminado, sendo a zona de Castro Marim uma hipótese [LAGÓSTENA (2001): 91,371 n. 2040].
As ânforas são da forma Almagro 50 [SILVA & SOARES (1992): fig. 7], usadas para acondicionar preparados piscícolas de pequenos peixes[ETIENNE (1990): 16-17], que no caso de Marim seriam preponderantemente a sardinha, o biqueirão, a cavala e a anchova, espéciesdominantes na orla e bancos pesqueiros do Algarve.
Os preparados condicionados nestas ânforas podem ter sido variados, sendo mais prováveis os peixes em salmoura (salsamenta ou muria) e osmolhos e pastas obtidas por autólise pútrida (garum, liquamen, [h]allec). Sobre a nomenclatura, variedades e modos de preparação veja-se[LAGÓSTENA (2007b): 273-277, 281, GROUT (2009) e AGUILERA (1997): 69-73].
Achado de quantidades de cerâmicas de importação, nomeadamente de cozinha norte-africana e de sigillatas com diversas proveniências, emquantidades e variedades altamente improváveis num ambiente predominantemente de autoconsumo, como seria o caso de uma unidadeindustrial doméstica. Destaque para o carregamento de sigillatas quebradas, referidas na nota anterior e ainda não estudadas, vestígio positivoda actividade portuária de importação ultramarina.
Este padrão de achados define claramente um porto industrial (exportação de ânforas com produções locais) e comercial (importação decerâmicas domésticas, finas e comuns), revelando o carácter especializado do assentamento, associado a uma organização industrial emercantil.
Identificação dos Iunii com uma societas independente da época Severiana.
A marca distribui-se pelos centros de produção de Marim, Portimões (Portimão) e Olhos de S. Bartolomeu (Castro Marim), surgindo nestesúltimos dois apenas em tegulae [Síntese e bibliografia em LAGÓSTENA (2001): 408-9 e PEREIRA (1977): 248-9 e 252-3], o que revela adiversificação produtiva dos seus fornos cerâmicos, utilizados quer para a produção de ânforas como de materiais de construção.
Recentemente foram identificados dois novos exemplares da marca, os únicos encontrados até à data em zonas de consumo:
No terreno da villa de Vale do Joio [Inédito, cortesia de Pedro Pires. Fragmento de bocal com inserção de asa de um exemplar da formaAlmagro 50, com a marca NIOR..., forma e marca idênticas às de Marim, acima referidas], revelando a distribuição regional destes produtospor sítios rurais do interior. Sobre a villa de Vale do Joio (S. Brás de Alportel e Estoi) ver [BERNARDES & OLIVEIRA (2002): 69; ESTRELA EBARROS (1999): 37-38 e FRAGA (2002): 69-70].
Em Cacela-a-Velha, fora de contexto arqueológico mas numa área aparentemente não industrial [Informação de Cristina Garcia].
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Na realidade, desconhece-se até à data a produção de salgas na zona de Marim antes ou após o séc. III, o que
não significa evidentemente que ela não tenha existido, mesmo numa base isolada e artesanal, sendo de facto
extremamente improvável a sua ausência.
A situação costeira privilegiada da fábrica-armação-porto-armazém, a sua organização como assentamento
privativo, a integração vertical dos sectores de produção e de distribuição e a dispersão geográfica de estabe-
lecimentos diferenciados (Portimão, Marim, S. Bartolomeu e, possivelmente, outros), revelam uma gestão e
logística empresarial racionalizadas, dentro do quadro de parcelização das unidades produtivas próprio do
Mundo Antigo.
Possivelmente os Iunii tomariam de renda os sítios de assentamento (dos proprietários dos terrenos litorais) e
os direitos pesqueiros e salineiros99 (dos municípios ou dos bens imperiais) numa conjuntura de privilégio
imperial para com este tipo de empresas, iniciada por Sétimo Severo100.
O estabelecimento conserveiro de Marim, e quiçá a própria firma Iuniorum, não terão porém sobrevivido à
grande crise regional de 258-280, que associou os efeitos da "Peste de Aureliano", da invasão Franca da Penín-
sula e, talvez, da usurpação de Próculo e Bonoso101.
Apresenta-se uma reconstituição da topografia do complexo e desenvolvem-se dois modelos: o da produção
de salgas e corantes no contexto estuarino da zona; e o dos circuitos de comercialização mediterrânica dos
produtos produzidos ou comercializados pela firma dos Iunii102.
Destaca-se a originalidade da organização do complexo relativamente à maioria dos modelos conhecidos. Há
uma separação física invulgar entre a unidade de produção e as instalações de apoio, que formam um recinto
à parte. A bateria de tanques tem uma disposição igualmente pouco frequente, em linha dupla separada por
corredor103. Esta organização tem implícita a disponibilidade irrestrita de terreno, que permite explorar ao
máximo a frente de exposição solar. Ela sugere também a hipótese de umas instalações únicas poderem servir
mais de uma unidade de produção.
Duração limitada do núcleo industrial, com uma cronologia não coincidente com o período de ocupação da villa, nomeadamente com odesenvolvimento palatino desta no séc. IV. Se se tratasse de uma zona produtiva da villa seria natural um desenvolvimento conjunto, comapogeu na 2ª metade do séc. IV, tal como sucede noutras villae marítimas tardias.
A fábrica situa-se a 850 m da pars urbana da villa e o seu porto dista 700 m da cala portuária que serviria a pars maritima desta. São portantodois núcleos distintos, a uma distância muito superior às encontradas em villae marítimas com produção de salgas, demasiado afastados parapertencerem à mesma unidade de exploração.
99 Segundo o estudo, a existência de salinas de sal marinho "solar" no local não oferece dúvidas, dadas as grandes necessidades desta substância naprodução [SCIALLANO (1997): 42] e a milenária adequação da zona à sua produção. Sobre a existência deste tipo de salinas na época romana verCARUSI (2008) e MORÈRE (2008). Sobre um exemplo arqueológico na Hispania ver CASTRO (2008) e sobre o seu geocondicionamento na Beticaver LAGÓSTENA (2007a).
100 LAGÓSTENA (2001): 372-3.101 [MONTENEGRO (1978): 491-499; SOLANO & MONTENEGRO (1999): 320-325 e SANZ (2007): 30-36;41-42, que critica a evidência arqueológica da
invasão sem apresentar alternativas]. Esta crise manifesta-se especificamente no Algarve pela ocultação de um tesouro com anéis e 300 moedasde Cláudio II em Balsa, datadas de 268-270 [ARA I: 233 e legenda do esquema original de Estácio da Veiga (1887), entre as pp. 262 e 263; Mantas(1990): 199].
102 A partir das origens das cerâmicas importadas encontradas na fábrica de Marim e da dispersão geográfica da marca Iuniorum, nomeadamenteda sua presença nos destroços do naufrágio "Cabrera III" ao largo das Baleares. LAGÓSTENA (2001): 409 e n. 2040 p. 371; MAYET (1999) eGUERRERO, COLLS & MAYET (1987).
103 A maioria das fábricas de salgas documentadas é do tipo "de átrio": as instalações de produção, armazenagem e apoio dispõem-seconcentricamente em torno de um átrio ou pequeno pátio aberto, formando um bloco edificado rectangular. Minimiza-se deste modo aocupação fundiária. Compare-se com os numerosos exemplos apresentados em PONSICH (1988) e TEICHNER (2008a): 560-561.
Este último autor apresenta um paralelo muito semelhante a Marim: fig.10, Almeria (Calle de la Reina). Ambos os casos definem um segundo tipode fábrica, "de corredor".
MARIM ROMANO, [email protected] 22 2009-08-13
Tanques isolados
A 400 metros a Oeste da fábrica, descobriram-se vestígios de uma segunda unidade de salgas com um único
tanque, cujos materiais não se encontram publicados104.
Este sítio, pela sua grande modéstia, possui o maior interesse, pois assinala a presença de formas de explora-
ção doméstica na indústria romana de preparados piscícolas, independentemente das explorações estatais, do
sector industrial privado e das villae. É seguro que estas pequeníssimas explorações existiriam em muito maior
número do que o registo arqueológico revela. Seria do maior interesse saber se localizavam predominante-
mente como satélites das explorações industriais (como é o caso de Marim) ou se se dispunham aleatoriamen-
te ao longo das margens desocupadas.
Um segundo tanque isolado foi identificado também na vizinhança da fábrica de salgas, mas nada se sabe
sobre ele105.
O séc. IV
As villae tardias de Milreu e Marim
O presente estudo aborda com particular pormenor a ocupação de Marim no séc. IV, comparando-a com a de
outras villae tardias do Algarve e tentando articular esta fase arqueológica com a conjuntura política da época.
Os parágrafos seguintes desenvolvem a argumentação deste tema do trabalho, apenas esboçado na 1ª edição.
Observa-se em Marim uma reconstrução luxuosa da villa e do balneário no séc. IV, característica de numerosas
villae tardias da Hispania, entre as quais as de Milreu, Cerro da Vila e outras no Algarve.
A presença de um importante templo privado não-cristão, já referido, construído possivelmente c. 355-360
como emulação do templo próximo de Milreu, mostra que o possessor local era então uma personalidade
importante da hierarquia regional de Ossonoba, pertencendo sem dúvida a um escalão acima da ordo local.
Essa transformação palatina106 – ou áulica, como a designam vários autores – não parece ter uma base eco-
nómica sustentável num contexto de acumulação privada, numa época em que a "economia de comando"-
compulsivamente controlada pelo Estado – atinge o seu paroxismo; em que o comércio privado se torna uma
sombra do que foi em meados do séc. I; em que a carga fiscal atinge um peso até aí inultrapassado na história
do Império; e em que se indicia um retrocesso demográfico e económico no Sudoeste peninsular, com aban-
dono de terras periféricas e degradação ou abandono de estruturas produtivas agrícolas.107
No caso específico do Algarve – que se considera uma região de recursos agro-pecuários limitados – não tem
grande sentido falar-se de uma prosperidade causada por um processo de latifundização e decorrente concen-
104 Informações de Cristina Garcia. Teria apenas um único tanque, primitivamente coberto por um telheiro (de tegulae) suportado por pilares dealvenaria, situado junto a um pequeno e modesto edifício, que seria um armazém e/ou residência muito pobre. Infelizmente, a ausência doestudo dos materiais datáveis (muito escassos, para além de um fragmento de ânfora) impede o estabelecimento de uma cronologia para a suaexploração.
105 MARQUES (1995): 100-101.106 Usa-se o termo villa palatina como sinónimo de villa especialmente luxuosa no âmbito regional [Na 2ª acepção de SMITH (1997): 173],
independentemente de ter sido a residência oficial de um dignitário do Estado, isto é, um palatium propriamente dito [GINOUVÈS (1998): 154-5]ou de possuir um programa arquitectónico com um "percurso cerimonial" e/ou um sector de representação e recepção [ROMIZZI (2006): 38,GINOUVÈS (1998): 160 n. 107].
107 Afirma-se que, mesmo se estes sinais de sobreexploração tributária – eventualmente exacerbada por catástrofes naturais – se não verificasseme o nível de produção não baixasse, ou inclusivamente subisse, continuaria a ser inexplicável o processo súbito e generalizado de ostentaçãoarquitectónica dispendiosíssima, por razões produtivas ou "comerciais".
MARIM ROMANO, [email protected] 23 2009-08-13
tração de recursos agrícolas privados dos possessores, tal como pode ter sucedido neste período nas grandes
zonas cerealíferas e sobretudo ganadeiras da Península, onde surgem as mais impressionantes villae tardias108.
O possessor de Milreu e a conjuntura regional
No exemplo melhor documentado da villa de Milreu, mais monumental que a de Marim, considera-se que
existe uma discrepância evidente entre a modéstia relativa das instalações produtivas e a dimensão e o luxo
do sítio na sua fase do séc. IV, revelando que a produção agrícola não pode ter sido o motor das transforma-
ções palatinas aí ocorridas109.
Propõe-se assim que essas transformações e a base do seu financiamento não podem ser explicadas por cau-
sas produtivas – sejam elas a extensificação, intensificação ou concentração da produção – ou por uma fictícia
prosperidade comercial, mas devem antes associar-se às consequências económicas de dois factos políticos de
destacada relevância: a transformação da Lusitânia de província praesidialis em província consularis e, sobre-
tudo, a expropriação das terras e fundos fiscais municipais pelo Estado, ambas as medidas levadas a cabo por
Constâncio II entre 353 e 358 110.
Adicionam-se a estes factos as tendências políticas – acentuadas neste período – de exacerbação da ostenta-
ção do poder da hierarquia imperial em todos os seus escalões; de privatização da colecta de impostos; de
favorecimento da apropriação privada de parte dos rendimentos estatais pelos dignitários regionais; e, simul-
taneamente, de remuneração dos officia desempenhados por terratenentes através de imunidade fiscal dos
seus rendimentos privados.
A "promoção" da Lusitânia após a derrota de Magnêncio ter-se-á devido ao desejo de reforço do poder central
na estrutura administrativa de uma província que apoiou o usurpador111. Ela implica a nomeação de uma hie-
rarquia de funcionários provinciais de estatuto mais elevado e com meios financeiros adequados para compe-
tirem e se sobreporem aos potentiores locais.
Por outro lado, a confiscação dos bens curiais e, talvez, dos bens de partidários de Magnêncio terá tido como
consequência a proliferação local de membros dos dois grandes officia do fisco imperial112 e o surgimento de
108 A bibliografia sobre os aspectos arquitectónicos e artísticos desta tendência é inumerável. Consideram-se apenas sínteses recentes sobre o séc.IV, na sua maioria provenientes das colectâneas de CHAVARRÍA ET ALII (2006) e de FERNÁNDEZ ET ALII (2008):
Arquitectura senhorial: sobre a Hispania CHAVARRÍA (2005, 2006 e 2007:93-108) e MAR & VERDE (2008); sobre Itália SFAMENI (2006) eROMIZZI (2006); sobre a Hispania e Gallia do Sul GORGES (2008).
Sistema decorativo: CHAVARRÍA (2007):108-112 e ARCE (2008).
Arquitectura do sector produtivo: LEVEAU & BUFFAT (2008) e SALIDO (2008).109 Não se desvaloriza a grande importância agronómica e económica da produção agrícola, devendo a parte destinada a autoconsumo do
complexo ter crescido substancialmente com o esperado aumento populacional associado à palatização. Reconhece-se também a importânciadas produções excedentárias destinadas ao fisco e ao mercado e a inevitável existência das respectivas estruturas produtivas, indispensáveismesmo em unidades agrícolas relativamente pequenas. Sublinha-se porém a desproporção entre o excedente razoável de uma actividadeagrícola de extensão e intensidade limitadas e a despesa necessária para construir e manter um programa palatino, nas suas componentesedilícia, sociopolítica e doméstica.
Conclui-se que os lagares descobertos em Milreu correspondem a um volume de produção modesto no quadro das grandes villae agrícolasconhecidas, sendo descabidas as teses da importância da exportação de vinho e azeite de Milreu pelo porto de Ossonoba no Baixo-Império. Aprópria extensão das edificações que podem ser interpretadas como horrea, infelizmente desaparecidas, indiciam mais tratar-se de umimportante centro de consumo ou de concentração de géneros do que propriamente de produção. Sobre as estruturas veja-se TEICHNER (2003)e sobretudo TEICHNER (2008a): 207-240, 243-250.
110 Sobre os aspectos administrativos, políticos e socioeconómicos do Baixo-Império, abordados no texto, ver ROSTOVTZEFF (1926): 1077-1130;JONES (1966): 139-180, 199-211, 237-251, 270-298; MACMULLEN (1988): 64-264; CHASTAGNOL (1994): 237-255, 265-302, 376-382; MARCONE(1998); KELLY (1998); HEATHER (1998) e WARD-PERKINS (1998).
Sobre a economia ver JONES (1974):299-319, WHITTAKER (1983), GARNSEY & WHITTAKER (1998) e WHITTAKER & GARNSEY (1998).
Sobre a Hispania ver ARCE (1982): sobretudo 17-29 e 106-135; LOMAS (2002) e SANZ (2007): 30-48; 53-55 e 78-83.111 Sobre os apoios de Magnêncio na Hispania ver SANZ (2007): 53-54.112 Res Privata e Sacrae Largitiones.
MARIM ROMANO, [email protected] 24 2009-08-13
arrendatários de impostos (conductores), no âmbito territorial de Ossonoba ou de uma hipotética circunscri-
ção aduaneira mais vasta.
A cedência dos direitos fiscais mais rentáveis – nomeadamente os da esfera marítima113 – estaria longe de ser
o mero remate de uma hasta pública. O seu detentor, sem dúvida uma das personalidades mais ricas da região
(fortuna indispensável para garantir o arrendamento e, simultaneamente, acrescida pelo rendimento deste),
passaria a ter um cargo de grande relevância política e social, quer nas relações chegadas que devia manter
com os representantes do poder central e da curia, quer no seu efectivo poder coercivo junto de largos secto-
res da população. Esse poder atribuir-lhe-ia importantes responsabilidades no âmbito da manutenção da eco-
nomia e da ordem pública.
Deveria ter assim um prestígio, autoridade e experiência decorrentes de um cursus honorum provado, ser por
nascimento ou promoção um vir clarissimus e ser, sobretudo, alguém da confiança política da Prefeitura do
Pretório e, por conseguinte, da casa imperial. Enquadram-se neste perfil os ex-altos dignitários oriundos da
carreira militar, que permaneceriam na região após a sua comissão, ascendendo ao topo do escalão superior
dos possessores regionais114.
O efeito destas políticas ter-se-á reflectido na exuberância e multiplicação dos símbolos de status e de autori-
dade e na concentração de grandes meios financeiros de origem fiscal nas mãos dos possessores com funções
administrativas ou dos funcionários superiores, nomeados para ocupar cargos e sinecuras dos ramos sub-
provinciais dos diversos officia imperiais.
A riqueza arquitectónica e decorativa manifestada nesta época provirá assim de uma nova repartição do exce-
dente regional, devida a uma maior concentração da massa fiscal e da propriedade imune num número dimi-
nuto de potentiores, num contexto histórico de sobreexploração tributária e de crescimento do poder virtual-
mente absoluto dos officia sobre as cúrias municipais e os collegia coercivos.
Sugere-se que a percepção da relevância do mar – como pilar fundamental da riqueza do regime do Baixo-
Império na região – se manifesta também no plano ideológico da expressão artística. Será concretamente o
caso do peso do simbolismo marítimo nos mosaicos da época, com destaque para a forte componente maríti-
ma da decoração de Milreu e para o "mosaico do Oceano" de Faro, sendo este ainda mais tardio115. As repre-
sentações de espécies de consumo ostentatório e de personalizações mitológicas, em detrimento de quadros
de trabalho e de espécies industriais, reflectirão uma cultura de distanciação aristocrática e de identificação do
poder político com um espírito superior da Natureza.116.
113 Pensa-se que, no caso do Algarve, a posição geoeconómica das grandes villae tardias – junto dos principais pesqueiros, portos e barrasmarítimas ou de estações fluviais do Anas – revela que a principal fonte de acumulação terão sido os rendimentos da esfera marítima, nas suasmúltiplas formas.
O estudo refere que as actividades marítimas são – relativamente à agro-pecuária – mais fáceis de monopolizar e enquadrar por um podercoercivo estatizante ou tributário, devido ao número limitado de interfaces portuários, pontos de passagem e sítios de assentamentogeocondicionado. Esse enquadramento verifica-se no Baixo-Império através de: monopolização estatal de certas produções; organização coercivado trabalho e da repartição dos riscos da navegação; e tributação directa e indirecta de produtos e de trânsitos.
O aparelho policial e administrativo necessário à produção e punção fiscal pode ser assim relativamente restrito e concentrar-se num pequenonúmero de sítios. A relativamente maior produtividade das actividades marítimas – medida em termos de excedente apropriável – tende areflectir-se nos sinais conspícuos de riqueza e poder político desses locais.
114 A Prefeitura do Pretório da Gallia, de quem a Hispania dependia, esteve sob a influência de Juliano a partir de 358-60. A cadeia de postos-chavedo controlo territorial e financeiro terá sido então naturalmente proveniente do círculo militar da sua confiança, formado muito provavelmentepor uma maioria de oficiais pagãos. O estudo afirma ser este o quadro mais provável da origem do possessor de Milreu nesta época.
115 Com base na informação da autora da escavação original do mosaico, denuncia-se o erro, muito difundido, da sua datação no séc. II ou III.Contra LANCHA (1985).
116 Desenvolve-se a conjectura que este modo de conceber o mundo poderia levar, numa perspectiva do paganismo neoplatónico do séc. IV, acrenças de ascensão das classes dirigentes a um nível divinizado, da esfera de um Espírito Superior regente do Mar. Estas crenças – que sepoderiam manifestar também em contextos não marinhos – levariam ao culto da "heroização" dos domini no seu âmbito doméstico como
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Pode ainda sugerir-se que o possessor de Milreu (e talvez o de Marim) poderá ter sido um militar previamente
estacionado na Britannia ou no norte da Gallia – antes da sua colocação no sul da Lusitânia – ou um possessor
local regressado de uma comissão de serviço numa dessas regiões. Esta hipótese baseia-se no que atrás foi
dito sobre os templos de galeria e o seu contexto histórico-geográfico e religioso e sobre a conjuntura política
das suas nomeações117.
As eventuais transferências de altos oficiais entre a Britannia/Gallia e a Lusitânia devem porém limitar-se a
períodos em que ambas as regiões estiveram submetidas à casa imperial legítima, excluindo-se assim conjun-
turas de usurpação e de conflitos de sucessão no Ocidente. A fase iniciada com a vitória de Constâncio II sobre
Magnêncio (após 353) e que prossegue com Juliano (355-363) é a única compatível com a datação arqueológi-
ca do templo de Milreu, que se pensa ser coevo ou precedente dos restantes edifícios congéneres da região.
O possessor de Marim
A reconstrução luxuosa de Marim poderá revelar assim a instalação ou promoção de um possessor ligado a um
officium da administração territorial do Estado, justificada pela importância estratégica e fiscal do porto, no
contexto de estatização e militarização da administração local que se tornou norma com a Tetrarquia, sobre-
tudo a partir de Constantino I.
A situação de Marim como porto de aproximação de Ossonoba pode ter justificado já a presença de um bene-
ficiarius antes de Diocleciano. De facto, para além do controlo fiscal da pesca e navegação, o estatuto oficial de
Marim reflecte a importância de Ossonoba para a política imperial, evidente desde Valeriano (253-260) através
de uma inscrição encontrada em Faro118. Essa importância ter-se-á consolidado devido à singularidade urbana
da cidade desde a decadência de Balsa, numa costa de escala obrigatória na navegação atlântica. Ossonoba
ter-se-á tornado assim num centro estratégico de controlo do tráfego marítimo entre o Mediterrâneo e o
Atlântico Norte, o primeiro submetido à casa imperial legítima e o segundo uma área de diversas secessões
desde a 2ª metade do séc. III.
Conclui-se assim que o possessor de Marim no séc. IV terá sido não só o dominus privado da sua villa marítima
mas também, e sobretudo, o dignitário regional responsável pela infra-estrutura portuária e pela manutenção
do serviço público, da colecta de impostos e da segurança local. Desconhece-se porém o estatuto e o título
dessa personalidade, assim como a forma de propriedade da villa e do porto (privada, estatal ou municipal), o
seu modo de exploração (sinecura hereditária, nomeação oficial, arrendamento...) e as mudanças que estas
terão tido entre os sécs. I e IV.
O tesouro de Honório
O estudo propõe que o achado de 100 solidi de ouro do imperador Honório I, cunhados em 395-402119 e apa-
rentemente não circulados, corresponde a parte de um estipêndio imperial, confirmativo desse estatuto oficial
de Marim e do valor estratégico de Ossonoba na política hispânica de Honório.
afirmação teocrática de poder, inspirada na divinização do Imperador e no antigo culto rural dos lares das villae [comparar c. BOWES (2006): 80-83]. Seriam assim a culminação da expressão local do Dominato.
Esta conjectura apresenta-se como uma explicação plausível para os templos de Milreu e Marim e para o surgimento no primeiro de ummausoléu, pouco tempo depois da sua construção. Nesta perspectiva esvaziar-se-ia em grande medida a actual polémica sobre a funçãoantagonicamente religiosa ou funerária deste tipo de construções, uma vez que essas funções estariam intimamente ligadas.
117 Ver a nota 114 e o texto a que ela refere.118 IRCP nº 3.119 Transcrição da notícia do achamento:
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A ocultação das moedas pode associar-se aos efeitos locais da usurpação de Constantino III (407-409), que
antecipou o fim efectivo do poder imperial no sudoeste peninsular, ocorrido em 411-12120.
História pós-romana
O sítio romano de Marim, exposto e indefensável, terá sido provavelmente abandonado pela sua elite dirigen-
te ainda na 1ª metade do séc. V, durante a grave conjuntura de insegurança então existente. O abandono não
foi total pois a antiga necrópole do porto continuou em uso como cemitério cristão desde a 2ª metade do séc.
V até uma altura indeterminada do VI.
Como muitos outros locais de origem romana, Marim não sobreviveu ou à grande pandemia de 541-750 ou às
vicissitudes da guerra e pirataria recorrentes ou ainda à reorganização territorial pelo poder visigodo após a
vitória sobre os bizantinos.
O uso posterior da necrópole romana revela-se não só nas três lápides paleocristãs conhecidas e no parco mas
significativo espólio das sepulturas, como também na representação de algumas destas na planta de Estácio da
Veiga121. Tal como sucedeu em inúmeros sítios do antigo império, a infra-estrutura funerária – de grande
durabilidade e ideologicamente aceitável pelo Cristianismo – continuou em uso durante séculos, nomeada-
mente através da reocupação das fossas de inumação.
Nada prova, no entanto, a existência de uma igreja tardia sobre a necrópole, faltando os seus elementos for-
mais mais evidentes. A implantação por Graen de uma basílica dupla semelhante à de Torre de Palma é con-
traditória com os vestígios sobreviventes, podendo assim considerar-se fantasiosa122.
A existência de uma pequena igreja reaproveitando os antigos mausoléus romanos é porém verosímil. De
facto, a dimensão limitada da necrópole e a ausência de elementos construtivos específicos – observando-se
"Descrição das cem medalhas de ouro que se acharam ultimamente no sítio de Marim. Termo de Faro no Algarve.
Cada uma das medalhas tem na parte principal esta inscrição: – D.N. HONORIVS P. F. AUG. com o busto do imperador coroado do Diadema: noreverso uma figura militar com o estandarte dos romanos chamado lábaro na mão direita e, na esquerda, a figura da Vitória, pondo-lhe umacoroa; debaixo do pé esquerdo, a figura de um cativo; e a inscrição – VICTORIA. AUGGG. COMOB e na área – M.D.
Todas estas medalhas se acham perfeitamente conservadas e parecem feitas na mesma fábrica"
[Segundo suppl. à Gazeta de Lisboa nº LXIII, de 27 de Outubro de 1786]. Transcrição de [AZEVEDO (1898): 102]. Idem em [ARA II: 276].
Por esta descrição é possível identificar as moedas como solidi (valor facial de 1/72 libra=4.54 g de ouro) correspondentes às referênciasnumismáticas RIC 1206 e Depeyrot 16/2, cunhados em Mediolanum (Milão) entre 395 e 402.
[Dirty Old Coins. URL: < http://www.dirtyoldcoins.com/natto/id/honorius.htm >, acedido em 01/08/1996].120 O facto de as moedas serem todas idênticas e estarem em condição prístina significa que nunca circularam, tendo chegado a Marim
directamente da oficina de cunhagem ou de um depósito intermediário.
Tratar-se-á assim, não de uma quantia privada acumulada pelo possessor local, mas de uma dotação financeira estatal, revelando o carácteroficial e público das instalações de Marim em inícios do séc. V e o seu valor logístico estratégico na política territorial de Honório. O achadoconstitui uma confirmação importante do carácter público do assentamento no Baixo-Império, já revelado pela sua organização topográfica.
A ocultação terá provavelmente ocorrido entre 407 e 409, na sequência da usurpação de Constantino III na Britannia e na Gallia, durante a suatentativa de conquista da Hispania. Constantino nomeou então uma nova leva de governadores e administradores provinciais, obrigando ahierarquia fiel a Honório à demissão [Sobre este período veja-se ARCE (1982): 151-164 e ARCE (2005): 31-72.].
Esta situação foi aceite de um modo geral com obediência, com excepção da Lusitânia, onde a família Teodosiana, ligada à casa imperial,estabeleceu uma resistência armada ao usurpador, primeiro com os eventuais restos do exército regular e depois financiando e formando umexército privado com as suas clientelas e dependentes. Este facto obrigou Constantino a reforçar a sua força hispânica com um exército deauxiliares bárbaros proveniente da Gália, comandado por Gerontius, que finalmente derrotou a força lealista em 409.
O tesouro terá sido ocultado ou como consequência das nomeações do usurpador ou pela confrontação que se lhe seguiu. A derrota do partidode Honório, a quem sem dúvida pertencia o prócere de Marim, terá impedido a sua recuperação, assinalando uma descontinuidade político-administrativa nesta época, que na realidade veio corresponder ao final do poder regular do Estado Romano na região.
121 Ver nota 82.122 A base de uma das colunatas da nave central atravessaria a meio uma linha de sepulturas! A outra colunata e uma das paredes exteriores
corresponderiam forçosamente a espessos alicerces e não aos estreitos muros das fossae sepulcrais observados em Marim.
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pelo contrário a preservação do plano estrutural primitivo – indiciam um modestíssimo sítio rural paleocristão,
mantido sobretudo graças à "canibalização" das estruturas romanas, notavelmente persistentes.
Conjectura-se assim que Marim é apenas um exemplo dessa realidade, que se terá multiplicado no Algarve em
virtualmente todas as villae e assentamentos especializados que tiveram uma fase de prosperidade edilícia na
2ª metade do séc. IV.
A situação geográfica
O porto de Marim
Para além da sua localização adequada como centro de exploração local de produtos estuarinos, identifica-se
como o porto da barra oriental de acesso à cidade de Ossonoba, no lugar mais próximo dos pesqueiros hoje
conhecidos como de Olhão. Tinha assim uma situação privilegiada como porto de pesca do largo e porto de
escala técnica da navegação de longo curso, na abordagem da referida barra.
A existência de um porto secundário na proximidade de um importante centro urbano portuário justificava-se
plenamente na época pela situação e qualidade naval da paleobaía de Marim – hoje desaparecida – protegida
de todos os ventos e em ligação directa com o canal oriental da laguna, que ligava o mar aberto à cidade de
Ossonoba. O estudo propõe que terá existido uma situação semelhante ou mais importante ainda na barra
ocidental da cidade, onde se situava então o profundo esteiro do Ludo, com uma densa ocupação romana e
indícios da existência de uma aglomeração portuária123.
Marim seria assim um porto de escala técnica e de abrigo temporário para a navegação proveniente do Levan-
te (Bética, Mediterrâneo e Mauritania Tingitana), com uma facilidade de acesso superior ao próprio porto de
Ossonoba, evitando os múltiplos problemas da navegação nos estreitos canais da laguna. A situação relativa-
mente à barra e à cidade permite deduzir o seu uso como porto de espera das marés, factor motriz determi-
nante na passagem dos referidos canais.
Como sítio geocondicionado de passagem e paragem virtualmente obrigatórias, torna-se mais evidente a sua
escolha como antecâmara portuária e estação aduaneira de Ossonoba, dotada de "amenidades" indispensá-
veis às tripulações e viajantes.
Seria também, secundariamente, um porto local de abastecimento e tráfego da retroterra, segundo se deduz
da ligação viária directa com o Norte, através do cruzamento principal de Quatrim (provavelmente do Latim
*quatrin[i]um, “quatro estradas”).
De facto – e contra uma opinião muito repetida mas nunca fundamentada – Marim não se encontrava sobre a
via de Ossonoba a Balsa mas significativamente afastado dela. O estudo mostra que a sobreposição entre a via
romana e a EN 125 é inexistente entre Faro e Livramento de Tavira. A estrada actual, rectificada e alargada em
1986, corre sobre um eixo viário moderno, que no troço de Olhão a Livramento data apenas de inícios do séc.
XIX.
O acesso directo do porto de Marim ao vicus e trivium de Moncarapacho, a 5.5 km de distância, indicia tam-
bém a sua eventual função como porto do importante santuário do Monte Figo, identificado por diversos
123 O estudo geográfico dos acessos marítimos a Ossonoba na Antiguidade é inserido nesta edição, desenvolvendo o argumento de FRAGA (2006c).Avança-se uma conjectura de hierarquização da administração territorial do aro de Ossonoba, em que Milreu surge como um centro deenquadramento superior dos postos administrativos nos três centros portuários locais: da cidade propriamente e das duas barras, de Marim e doLudo-Farrobilhas.
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autores com o cume dedicado a Zéfiro/Favónio referido na Ora Maritima de Avieno, posteriormente consa-
grado a São Miguel.
Marim e a Stacio Sacra
Na descrição da orla costeira ocidental da Spania, a Cosmografia Anónimo de Ravena coloca a civitas Stacio
Sacra entre Balsa e Ossonoba124. Estácio da Veiga localizou-a em Marim125, tendo tido diversos seguidores.
O estudo faz uma resenha sistemática das ocorrências e significados de ambos os termos na toponímia e lite-
ratura corográfica romanas e dos seus possíveis sentidos no Ravennate126.
124 RAV 79.31. Deve notar-se que esta fonte designa como civitas qualquer povoação, independentemente do seu estatuto ou importância.125 VEIGA (1887-91): 390, tomo 2.126 Eis o resumo da análise:
Statio
O corónimo statio surge apenas duas vezes no Ravennate:
• Stacio Sacra, já referida.
• Statio Deventia, Derventia ou Deventiasteno, na Britannia. Considerada como civitas ou castra, a sua localização é duvidosa, correspondendopossivelmente ao forte romano de Nanstallon, na Cornualha [URL: <http://www.roman-britain.org/places/statio_deventiasteno.htm>, acedido em12-10-2009], mas com outras hipóteses, uma em Denbury (Devenibyr) [URL: <http://denbury.net/johnghall1.html>, acedido em 12-10-2009] e outraem Totness, no Devonshire [URL: <http://comp.uark.edu/~mreynold/recint2.htm>, acedido em 12-10-2009].
No repertório do Barrington Atlas – que abrange 24 293 topónimos localizados do mundo greco-romano – o termo surge apenas cinco vezes,sempre em estações viárias, quatro das quais em vias alpinas da Raetia e Noricum [BA. Topónimos seguidos da região do Império, nº do mapa equadrícula: Maiensis Statio, ITL, 19 D3; Statio Bilachiniensis, ITL, 19 F3; 20 A3; Statio Caesariana, ITL, 45 C4; Statio Plorucensis, ITL, 19 F3; StatioTimaviensis ITL, 19 F3].
Statio é considerado um termo relativamente tardio [CHEVALIER (1997): 282. Este autor refere o seu sentido de residência, posto ou estação viária, emrelação com a terminologia militar, citando W.G. Pflaum, "Essai sur le cursus publicus sous le Haut-Empire romain", Mém. Acad. Inscriptions, Paris 1940; pp.189-391], com seis significados distintos [GINOUVÈS (1998) para os cinco primeiros: pp. 22, 83, 157, 193 e 188]:
1. Aquartelamento, sinónimo de stativa. Forte militar onde habita uma guarnição. [Em Suetónio surge a forma verbal statione[s] militum(Tiberius, 24, 37), referida à disposição de guarnições armadas em determinados locais]. O verbo substantivou-se em statio (o lugar daguarnição) e stationarius, (soldado da guarda, ou de uma guarnição).
2. Estação viária de posta (cursus publicus) onde existe um albergue de pernoita (sinónimo de angaria ou mansio). Neste caso e no seguinte, otermo associa-se à presença de uma guarda militar de carácter policial.
3. Casa ou posto da guarda num palácio. Este significado não forma topónimos.
4. Baía marítima natural. O termo statio não produz corónimos conhecidos, sendo estes acidentes geográficos designados por sinus, de que háregisto de 108 casos no BA.
5. Posto ou delegação de serviço administrativo Imperial (statio annonae, statio municiporum). Pode designar assim um posto do fisco imperial,nomeadamente do portorium ou da annona: o primeiro num porto de navegação, fronteira municipal ou provincial ou ainda ponto deportagem viária; o segundo num lugar de concentração de impostos em espécie [VAN BERCHEN (1937):24-25, refere a mansio de Pizos, na Trácia,fundada por Séptimo Severo em 202, para a recolha da annona. Superintendida por curiais locais, nela havia um destacamento militar de stationarii].
6. Porto de etapa marítima Lugar onde os navios permanecem um certo tempo, por oposição a portus, sítio onde invernam. Esta definição surgeapenas no autor latino de finais do séc. IV [M. SERVIUS HONORATUS, Ad Aeneidam, II, 23: "Statio est ubi ad tempus stant navis, portus ubi hiemant".Cit. em SÁINZ (1998), p. 67-8 e n. 33: Statio é onde os navios estão temporariamente (porto-de-escala), portus é onde invernam (porto-de-abrigo)].
As acepções 5 e 6 também não formam corónimos conhecidos. Embora uma estação do cursus publicus possa ser marítima e as stationes portoriise localizem frequentemente em portos de navegação, não há exemplo conhecido de um porto se designar por statio, sendo pelo contráriomuito frequente o termo portus na constituição de topónimos, com 44 ocorrências registadas no BA.
O caso da statio Deventia corresponderá ao primeiro significado. As stationes do BA corresponderão ao segundo.
Por exclusão de partes, a Stacio Sacra corresponderá também ao 2º significado: um lugar secundário associado à função viária, um posto comuma guarnição, sem o estatuto das mansiones dos Itinerários de Antonino.
Sacra
A designação sacra e derivados é igualmente rara no Ravennate, surgindo apenas três vezes nesta obra, que pretende enumerar toda atoponímia do mundo conhecido da época:
• Stacio Sacra, no Algarve, de que não há outra notícia.
• Issa Sacra, ilha da Dalmácia, sobre a qual não se dispõe de mais informação.
• Sacraria, Sacria, Sacrata (três ortografias para o mesmo local): ad sacraria (ver nota80).
O termo surge, nos casos identificados, com os seus três significados mais usuais:
• Um lugar sagrado, isto é, dedicada a uma divindade ou reservada como território funerário (Issa Sacra, na segunda acepção como a InsulaSacra entre Portus e Ostia, na foz do Tibre).
• Uma estação viária de peregrinação nas proximidades de um santuário importante (ad sacraria)
• Um recinto-santuário onde abundam sacrae, isto é, pequenas capelas, oratórios ou altares dedicados a uma ou mais divindades (Sacraria,Sacria, Sacrata)
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Demonstra-se que a atribuição de um sentido paleocristão ao topónimo é virtualmente impossível, por ana-
cronismo antecipatório.
De facto, a toponímia paleocristã – que só se começa a divulgar a partir do séc. VII – está ausente nessa obra
com a única excepção de Christopolis, referida como sendo o novo nome de Neapolis (Kavála, Grécia). A reno-
meação é apenas de finais do séc. VI ou inícios do séc. VII, após a destruição da cidade vizinha de Philippi e
transferência da sua sede episcopal para Neapolis. No Ravennate abundam em contrapartida os topónimos
"pagãos"127.
Stacio Sacra
A Stacio Sacra no Ravennate deverá assim corresponder a um importante santuário pré-cristão (sobre o anacronismo de uma dedicação cristãver a nota 127), em que a relevância corográfica pode ser dupla: religiosa, pela importância do culto no local, e viária, pela sua posição notável narede de transportes: entroncamento, vau importante ou término.
O uso de statio como designado toponímico explícito sugere que o povoado era mais que um ponto de acesso ao santuário, pois carácter destatio prevalece sobre o de sacra, simples designação toponímica (caso contrário o topónimo seria ad Sacrum ou algo semelhante). A formasugere também que o santuário se situava afastado do povoado (senão o topónimo seria provavelmente apenas Sacrum ou uma sua variante outeria apenas a designação da dedicação religiosa, como sucede na grande maioria dos sítios religiosos).
127 A identificação do templo e necrópole de Marim com a Stacio Sacra (paleocristã) baseia-se nas seguintes teses principais:
Tese Crítica
A Stacio Sacra doRavennate diriarespeito a um lu-gar de culto cris-tão entre Balsa eOssonoba.
A toponímia paleocristã – que só se começa a divulgar a partir do séc. VII – está ausente no Ravennate, com uma única excepção,que é Christopolis, referida como sendo o novo nome de Neapolis (hoje Kavála, na Grécia, prov. Macedónia).
A renomeação é apenas de finais do séc. VI ou inícios do séc. VII, após a destruição da cidade vizinha de Philippi (sede da 1ª igrejacristã na Europa fundada por Paulo c. 49-50 e importante centro cristão) por um terramoto e transferência da sua sede episcopalpara Neapolis. Será assim quase contemporânea do Ravennate, datado por Schnetz entre 638 e 678. É, tanto quanto se sabe, oprimeiro topónimo cristão registado nas fontes escritas.
Abundam em contrapartida os topónimos "pagãos". Indicam-se os principais e o respectivo nº de ocorrências: Afrodite (5), Apolo(14), Asclépio (1), Diana (5), Dioníso (3), Hércules (18), Hades (1), Jano (2), Isis (2), Júpiter (1), Minerva (4), Neptuno (1), Príapo (1),Saturno (2), Vénus (2).
É portanto anacrónica a atribuição de um significado cristão à toponímia do Ravennate, quer pela data em que foi escrito como pora esmagadora maioria dos topónimos serem de fontes muito anteriores.
A necrópole e olugar situar-se-iam na vizinhan-ça próxima davia romana deBalsa a Ossono-ba, sendo por-tanto uma statiodessa via.
A teoria da localização da necrópole/igreja de Marim junto à via romana entre Balsa e Ossonoba, factor justificativo para umastatio viária não tem fundamento. De facto, e seguindo o cânone de localização das villae rústicas [Columela, Rei Rusticae, I, 6-7],Marim romano surge marcadamente afastado do trajecto da via principal da época, ligado a ela por diverticula bem identificados[Ver tabelas de distâncias viária, mais adiante]. A estrada actual, anacronicamente identificada com a via romana, só foi abertaapós a construção da ponte de Marim pelo bispo Francisco Gomes do Avelar, em 1817 [OLIVEIRA (1902): 268].
Esta nova estrada, antepassada da EN 125, atravessa o páleo-estuário do Tronco no sítio de Alfandanga, usando a Ponte daTabueira, igualmente moderna. Na época romana este estuário estava ainda activo e era intransponível por estrada até a jusantede Areias, segundo indica claramente a topografia local e a presença da figlina de Alfanxia e do concheiro romano de Murtais.Ainda na Idade Média islâmica a zona de Alfandanga estava alagada, como indica a sua raiz etimológica árabe al-handaq, com osignificado de lodo ou água estagnada (donde deriva a palavra espanhola fango) [Informação de Abdallah Kawli].
Marim é umadesignaçãomedieval queterá encoberto otopónimoanterior
A manutenção dos topónimos tardios Marim e Sambada (Milreu) revelam a sua manutenção como núcleos residenciais tardios depossessores abastados, descartando a sua especialização religiosa tardo-romana:
Marim
Marim é já é assim designado no foral de Faro, de D. Afonso III, datado de 1266: "retineo m(ih)i ... om(n)es ficulneas d(e) Mari(m)",[AFONSO III (1266): 239] revelando tratar-se de um topónimo de origem moçárabe ou anterior. Era então uma propriedade ruralimportante – produtora de figos – sendo esta situação e o nome na sua forma moçárabe seguramente anteriores à conquistaportuguesa.
Marim aparece também designado como Vila Marim (Villamarín, em espanhol) no mapa e memória descritiva do Atlas de PedroTeixeira [TEXEIRA (1634): 340], podendo revelar a memória toponímica da villa romana, situação de que se conhecem váriosexemplos no Algarve.
De facto, Marim é a evolução de um genitivo de posse do antropónimo MARINU, nome de possessor latino. O topónimo originalseria *Villa Marini, forma relativamente tardia que, sem informação complementar, pode ser datado entre os sécs. IV e VII[FERNANDES (1999): 253].
Sambada
Na vizinhança das ruínas de Milreu sobrevive o microtopónimo "Sambada", como corónimo de lugar e designação de propriedade(Monte da Sambada), hoje recoberto pelo novo topónimo "Coiro da Burra".
Trata-se de uma variante privativa do grego, em uso na Gália e na Germânia, do cogn. Sabbatus de origem hebraica e retirado docalendário cristão. [DC 136 e ICG apud NP § 367; Sambatius Ursus <Séc. VIII Treveris (ICG 381)].
Sambada derivará assim de *Villa Sambata, correspondendo a um dos possessores mais tardios da villa de Milreu. Este últimotopónimo é posterior, de etimologia germânica, mas desconhece-se a época da sua formação. A sua primeira atestação data de1518, na forma "quintã" de Milreu [Agradece-se a Maria Alice Fernandes a informação linguística respeitante a Sambada e Milreu].
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Pode-se assim descartar a hipótese de identificação de Marim (ou de Milreu) com a Stacio Sacra, na acepção
paleocristã defendida por Estácio da Veiga e Dennis Graen.
Ao analisar as hipóteses da Stacio Sacra se situar na região128, o estudo mostra que Marim e Moncarapacho
são as únicas duas aglomerações secundárias romanas existentes entre Ossonoba e Balsa e que os principais
santuários são o Monte Figo/Cerro da Cabeça e a Fonte Santa, considerando-se este último como um santuá-
rio médico suburbano de Balsa.
Marim
Segundo a presente reconstituição do sítio romano de Marim e das suas ligações viárias, o seu porto surge
directamente ligado a Moncarapacho, sítio adiante abordado como localização mais provável da Stacio Sacra.
Conjecturalmente, Marim poderia ter sido então um lugar de devoção secundária do referido santuário e
interface portuário de um eventual trânsito de peregrinos transportados por via marítima.
A sua designação como Stacio Sacra passaria assim a ter sentido coronímico e lógica histórico-geográfica,
como porto-de-escala (acepção nº 6 da nota 126) associado a um importante santuário marítimo regional.
Para aceitar esta conjectura, deve igualmente aceitar-se que a ausência do termo statio com sentido portuário
nas corografias e listas toponímicas tardias se deverá apenas a insuficiências documentais. A Stacio Sacra do
Ravennate seria então a sua única abonação literária, correspondendo a uma designação de meados do séc.
IV, cronologicamente bem ajustada à última fase florescente da estação portuária e fiscal de Marim.
Esta possibilidade não é contraditória com a sobrevivência de Marim como antropotónimo de possessor, se se
tiver em conta que este se pode ter formado apenas mais tarde, já após o final do domínio romano, entre os
sécs. V e VII (mais especificamente no séc. V, época de ocupação paleocristã da antiga necrópole romana).
Embora um pouco rebuscada, a hipótese da Stacio Sacra se situar em Marim permanece assim em aberto.
Moncarapacho
Sobre a alternativa de Moncarapacho, o seu conhecimento arqueológico é muito limitado mas o que se sabe é
significativo, com a maior densidade de estações romanas da região e uma importante necrópole tardia129. A
reconstituição da rede viária e da corografia local – apresentada no texto – revela também uma disposição dos
arruamentos integrada na centuriação de Balsa e o centro da povoação como um nó viário de primeira gran-
deza, que unia três mansiones do "Itinerário de Antonino" de Esuri Pace lulia: Ossonoba, Balsa e Arannis130,
esta última identificada em Santa Bárbara de Padrões (Castro Verde, Beja). Situa-se ainda na vizinhança ime-
diata dos santuários do Monte Figo e do Cerro da Cabeça e a eles ligado por vias romanas identificadas pelos
seus vestígios.
A tabela seguinte indica as distâncias empíricas dos principais troços viários reconstituídos. Ela mostra haver
uma concordância exacta das medições dos trajectos identificados (erro <½ m.p.), tanto com o valor indicado
128 Uma corrente historiográfica iniciada por Leite de Vasconcelos considera que a localização da Stacio Sacra entre Ossonoba e Balsa é umainterpolação do Ravennate, devendo antes referir-se a uma povoação no Promunturium Sacro, famoso santuário antigo e hoje promontório deSagres [VASCONCELOS (1905): 198-9]. V. Mantas desenvolve esta ideia, considerando que a Stacio seria um porto nos arredores do santuário[MANTAS (1997b): 317 n. 4].
129 O estudo apresenta em anexo um catálogo das estações arqueológicas do concelho de Olhão, com destaque para as da freguesia deMoncarapacho e identificadas por J. Fernandes Mascarenhas. Na actual área urbana e periferia da povoação contam-se 18 estações romanas etardo-antigas.
130 IA 425.6-426.3. Identificam-se os Itinerários de Antonino pelos "números de Wesseling", de uso universal. No âmbito ibérico, este itinerárioespecífico corresponde ao nº XXI da classificação de Roldán Hervaz [ROLDÁN (1975): 35-6, 77-8], seguida pela grande maioria dos investigadores.
MARIM ROMANO, [email protected] 31 2009-08-13
no termo augustal de Bias como com as distâncias das etapas do Itinerário de Antonino XXI, de Balsa a Osso-
noba e de Ossonoba a Arannis131:
Moncarapacho define-se assim como o lugar apropriado para uma statio viária (posto policial e fiscal mantido
por militares e frequentemente associado a uma mutatio do cursus publicus) da via mais importante da região,
num povoado de serviço aos santuários mais importantes dos aros de Ossonoba e de Balsa.
131 De acordo com o estudo, a rede viária principal entre Ossonoba e Balsa estrutura-se como uma junção topologicamente triangular, a cujosvértices se ligam os eixos das três direcções fundamentais:
Para ocidente, o vértice de Ossonoba corresponde a Quatrim, que se liga também ao porto de Marim. Entre Ossonoba e Quatrim a via corriapor S. Luís, S. Cristóvão e João de Ourém. A ligação desta via à villa de Marim fazia-se na Casinha da Gala, por Piares.
Para oriente, o vértice de Balsa corresponde ao antigo santuário da Fonte Santa, no actual lugar do Livramento. Entre a cidade e o santuário avia passava a norte da colina do Pinheiro, por um caminho onde se identificaram indícios de calçada.
Para norte, o vértice de Arannis corresponde a Moncarapacho. A via para S. Bárbara de Padrões tem vestígios importantes em Vale da Serra eRibeiro do Lagar, passando por Porto Carvalhoso, Fronteira, Mealha, Monte da Estrada, S. Pedro de Solis e Caiada, onde também há vestígios.
A ligação mais litoral entre os vértices de Quatrim e da Fonte Santa fazia-se por uma das Canadas de Bias, passando pela Ribeira das FontesSantas e Fuzeta, devendo cruzar o então importante esteiro do Tronco. Entre Bias e Fuzeta há notícia de vestígios de calçada. O sítio das FontesSantas é o lugar de achamento do termo augustal e miliário de Bias, exactamente a 10 m.p. (milia passuum) de Ossonoba, o que confere com asua inscrição.
Nesta reconstituição – feita em grande parte sobre troços de caminhos ainda existentes em 1950 – a distância entre Ossonoba e Balsa é de 16m.p. romanas (tanto por Moncarapacho como por Bias) e a distância de Ossonoba a S. Bárbara de Padrões (Arannis), por Moncarapacho, é de 60m.p. Estes valores correspondem exactamente aos indicados nas etapas respectivas do Itinerário de Antonino item de Esuri Pace lulia [Ver nota130 acima].
Nº TrajectoDistância*
km m.p.**
De Ossonoba ao termo municipal oriental
01 Ossonoba – Quatrim poente Por S. Cristóvão e João de Ourém 11.8 8.0
02 Quatrim poente – Bias (Rib. Fontes Santas) Canada de Bias 3.0 2.0
03 Ossonoba – Bias (Rib. Fontes Santas) Por Quatrim poente e Canada de Bias (01+02) 14.8 10.0
Termo e miliário de Bias 10
De Ossonoba a Arannis
04 Quatrim poente – Moncarapacho 4.5 3.0
05 Ossonoba – Moncarapacho Por Quatrim (01+04) 16.3 11.0
06 Ossonoba-Santa Bárbara de PadrõesPor Moncarapacho (05), Calçadas de Vale da Serra eRib. dos Lagares, Porto Carvalhoso, Fronteira, Mealha,Monte da Estrada, S. Pedro de Solis, Caiada, Sete
88.9 60.1
Ossonoba – Aranni (3ª etapa do It. Antonino XXI) 60
De Ossonoba a Balsa
07 Bias (Rib. Fontes Santas) – Fonte Santa Por Fuseta e Esteiro do Tronco 6.93 4.7
08 Moncarapacho – Gião (Marco?) 0.60 0.3
09 Gião (Marco?) – Fonte Santa 5.09 3.5
10 Fonte Santa – Balsa 2.11 1.4
11Ossonoba – Balsa (com passagem fluvial pelo Esteirodo Tronco)
Por Bias (Rib. Fontes Santas) e Fonte Santa (03+07+10) 23.8 16.1
12 Ossonoba – Balsa (trajecto seco por Moncarapacho) Por Moncarapacho, Gião e Fonte Santa (05+08+09+10) 24.1 16.3
Balsa – Ossonoba (2ª etapa do It. Antonino XXI) 16
Acessos de Balsa
13 Balsa – Bias (Rib. Fontes Santas) Pela Fonte Santa (10+07) 9.04 6.1
14 Balsa – Gião (top. "Marco" = 5 m.p. desde Balsa?) Por Fonte Santa (10+09) 7.20 4.9
15 Balsa – Moncarapacho Por Fonte Santa e Gião (14+08) 7.80 5.2
Acessos de Marim
16 Marim – Casinha da Gala Acesso poente à via de Ossonoba 1.68 1.1
17 Marim – Quatrim nascente Acesso norte à via de Ossonoba 1.55 1.0
18 Marim – Moncarapacho Por Quatrim nascente 5.49 3.7
* Distâncias empíricas medidas sobre cartografia georreferenciada (erro máximo estimado inferior a 100 m)
** milia passuum. Milha romana de 1479 m
MARIM ROMANO, [email protected] 32 2009-08-13
Destaca-se o Monte Figo, justificando-se o seu carácter de principal santuário marítimo regional, concreta-
mente como farol diurno (e então talvez também nocturno, o que justificaria em parte a sua via romana calça-
da) e oráculo meteorológico da navegação costeira entre as barras do Arade e de Huelva, funções que mante-
ve até há poucos anos. Não sobrevivem vestígios dos cultos na época romana mas há indícios significativos de
rituais medievais pouco ortodoxos e de costumes etnográficos locais, cujo calendário cíclico de celebração e
formalismo configuram uma origem religiosa muito anterior ao Cristianismo132.
A identificação de Moncarapacho com a Stacio Sacra revela-se deste modo quase evidente, sobretudo após a
desqualificação de Marim. Embora a possibilidade da sua localização no Promontório Sacro não se possa pôr
definitivamente de parte, ela torna-se rebuscada ao ignorar as fortes evidências geográficas e religiosas, subs-
tituindo-as por um desnecessário e incomprovável erro da fonte133.
Conclusão
O estudo termina com duas sínteses: um quadro cronológico da ocupação antiga de Marim, em que se inte-
gram os elementos arqueológicos, toponímicos e históricos referidos no texto; e uma proposta de tipologia de
povoamento do Algarve romano, que pretende incluir as situações complexas de que Marim é um exemplo.
Incluem-se vários anexos: catálogos sistematizados dos achados arqueológicos de Marim, da epigrafia e dos
sítios arqueológicos entre Moncarapacho e o litoral; estudo sobre um capitel romano de Marim realizado por
Lídia Fernandes; impacto espacial do projecto de urbanização "Pinheiros de Marim" na área estimada de ocu-
pação arqueológica; e o portfolio das ilustrações originais: mapas, plantas e infografias.
132 SARRÃO (1607): 164,167-8; MASCARENHAS (1969); NOBRE (1974): 15-24; FRAGA (2002): 47-49, 87-96; FRAGA (2006d)133 Ver nota 128.
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Posfácio
Marim Romano. Uma nova síntese
A estação arqueológica romana da Quinta de Marim é uma das mais importantes do Algarve e um dos sítios
portugueses mais referenciadas na literatura especializada, graças à sua notável colecção epigráfica e ao seu
templo-de-galeria.
Corresponde a um povoamento secundário polinuclear, com três centros dispostos ao longo da margem da
pequena baía estuarina então existente em frente da barra marítima oriental da laguna de Ossonoba. Os três
centros (porto marítimo, villa e fábrica de salgas) individualizam-se dos pontos de vista topográfico, funcional
e cronológico:
1. Porto marítimo.
É o núcleo mais importante, com uma cronologia estabelecida entre finais do séc. II e o séc. VI.
Ocupava uma situação portuária estratégica no acesso marítimo oriental à laguna e à cidade de Ossonoba.
A sua localização numa baía protegida sobre a barra tornava-o: um porto de escala técnica da navegação
de longo curso; um porto de espera de marés da navegação lagunar; e o porto local de acesso mais directo
ao santuário do Monte Figo. A combinação destas funções terá estado na origem da construção de ameni-
dades para os viajantes e, muito provavelmente, da criação de um posto de alfândega fiscal e de controlo
policial e sanitário.
Os seus elementos arqueológicos mais importantes são:
Duas fontes-cisternas, talvez sacralizadas, na vizinhança do cais.
Um pequeno balneário junto de uma edificação importante que poderá ter sido uma estala-
gem/hospedaria.
Uma necrópole sob a forma de recinto murado com pátio funerário e dois jazigos-casa, de onde provirá a
grande maioria das lápides funerárias romanas associadas a Marim, datáveis aproximadamente entre 180
e meados do séc. III.
A invulgar concentração de lápides funerárias requintadamente esculpidas num recinto funerário cuidado e
selectivo – mas com inscrições frustes e associadas a escravos com nomes pretensiosos e a uma elevadís-
sima taxa de mortalidade precoce das jovens em idade fértil – interpreta-se pela existência de um prostíbu-
lo portuário articulado com um collegium funerário.
O prostíbulo e os seus trabalhadores estariam integrados nas actividades de estalajadaria e banhos, servi-
ços essenciais de recreação e lazer prestados às tripulações e utentes do porto.
A necrópole do porto foi usada como cemitério e talvez como igreja paleocristã, sobretudo na 2ª metade
do séc. V, sendo desta época as lápides paleocristãs aí encontradas.
2. Villa agro-marítima.
A sua cronologia estabelece-se entre o séc. I e inícios do V. As partes urbana e fructuaria são mal conheci-
das, subsistindo uma planta muito parcial da primeira, que sugere um modelo arquitectónico de villa de
peristilo.
A villa corresponde a um fundus que conjecturalmente teria pelo menos 800 hectares e uma frente ribeiri-
nha de cerca de 5 km. Cerca de 90 % das terras teriam uma ocupação equitativa de pinhal e culturas de
sequeiro.
MARIM ROMANO, [email protected] 34 2009-08-13
Da pars sacra conhece-se um mausoléu senhorial dos sécs. II e III e uma modesta necrópole mais tardia.
Em meados do séc. IV teve um importante processo de reconstrução ou ampliação monumental, em que
se destaca um templo-de-galeria semelhante aos de Milreu e S. Cucufate, num estilo arquitectónico desig-
nado por romano-céltico, oriundo da Gallia e Britannia. Esta fase de apogeu confirma-se pela frequência
máxima da circulação monetária local durante a 2ª metade do séc. IV.
A simplificação arquitectónica e decorativa do templo de Marim relativamente ao de Milreu sugere que se
trata de uma cópia posterior e mais modesta deste.
A monumentalização tardia e o achamento de um tesouro de cem solidi não circulados (Honório I, cunha-
dos entre 395 e 402), interpretado como parte de um estipêndio imperial, sugerem que a villa se tornou a
residência de um dignitário administrativo e fiscal do porto.
3. Fábrica de salgas (preparados piscícolas e corante de púrpura).
Com instalações industriais, residenciais e um armazém de importação-exportação, pertencia à firma dos
Iunii (marca Ivniorum). Configura-se como um pequeno "arraial" num acesso privilegiado aos "pesqueiros
de Olhão", com uma cronologia entre finais do séc. II e o terceiro quartel do séc. III.
Os Iunni dispunham de diversos estabelecimentos na costa algarvia, de produção de salgas, contentores
cerâmicos e materiais de construção. Possuíam muito provavelmente uma frota pesqueira e de navegação
comercial entre o Algarve e o Estreito. Importavam cerâmicas africanas e as suas conservas surgem no
Algarve e em lotes exportados para portos do Mediterrâneo Ocidental.
Na vizinhança da fábrica existiam pelo menos dois tanques de salgas isolados, em que pelo menos um
deles correspondia a uma exploração autónoma.
A identificação de Marim com a Stacio Sacra – povoação situada entre Ossonoba e Balsa de acordo com a
Cosmografia do Anónimo de Ravena – é possível mas pouco provável. Moncarapacho cumpre melhor o perfil
adequado e, além disso, o topónimo [*villa] Marini já existiria na época.
MARIM ROMANO, [email protected] 35 2009-08-13
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MARIM ROMANO, [email protected] 44 2009-08-13
GLOSSÁRIO DE NOMES E TERMOS LATINOS E GREGOS USADOS NO TEXTO
Não se utilizam formas da língua portuguesa em termos cujos significados originais mudaram ou se diversificaram nasacepções correntes. As formas originais dos nomes de lugar (em sublinhado) possuem um conteúdo informativo específico,pelo que também não são traduzidas.
Para manter a uniformidade usam-se igualmente as formas latinas de termos para os quais existem palavras portuguesasque guardam o sentido original ou que correspondem a traduções eruditas dos termos latinos.
Indicam-se precedidas de asterisco (*) as formas portuguesas que têm um sentido distinto do original latino.
Os significados apresentados são tão resumidos quanto possível, não dispensando a consulta de dicionários e obras espe-cializadas.
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
Aedes ou AedisPl. Aedae
Edifício de culto religioso.Templo na acepção moderna.
AediculaPl. Aediculae
Edícula Diminutivo de Aedes.Nicho ou capela destinada à devoção religiosa.Pequena estrutura coberta, mais ou menosmonumental, originalmente destinada a conterestátuas ou outros símbolos, de entidadessobrenaturais ou de seres humanos, destinatá-rios de culto. Neste último caso destacam-se asaediculae funerárias.
AgerPl. Agri
Campos cultivados, sobretudo com culturasarvenses e plantações arbustivas.Parte das terras de uma villa com esta ocupa-ção.
AlveusPl. Alvei
Álveo Tanque de banho ou de abluções.
Antonini AugustiItinerariaProvinciarum etMaritimum
Itinerários deAntonino
Compilação literária de itinerários oficiais dossécs. III e IV, terrestres e marítimos.As funções dos itinerários originais e a razão dasua compilação não são totalmente conhecidas.O seu estudo revela uma parte da rede viáriaexistente no Império Romano.
Apodyterium Apoditério Sala inicial de um balneum, com vestiário.
Arannis Povoação romana. Mansio de um Itinerário deAntonino.Provavelmente Santa Bárbara de Padrões(Castro Verde, Beja).
Arbustum *Arbusto Vinha-de-enforcado. Culturas da vinha emque as vides usam árvores como esteios.
ArulaPl. Arulae
Diminutivo deAraPl. AraeAltar
Monumento funerário em forma de altar emminiatura. Semelhante a um cippus, com aface superior preparada para a deposição equeima de oferendas, integradas no cultofunerário.
AugustaTreverorum
Ver Treveris.
BalneumPl. Balnea
Balneário,Banhos
Edifício de banhos romanos. Os balnea desig-nam-se também por thermae (termas). Esteúltimo termo reserva-se habitualmente parabalnea de maiores dimensões.
Balsa Balsa Cidade romana.Ruínas perto de Luz (Tavira, Algarve, Portugal).
BeneficiariusPl. Beneficiarii
*Beneficiário Militar com patente de oficial subalterno,destacado em comissões de serviço em meiosurbanos e rurais de província, com amplaautoridade para exercer funções fiscalizadoras,policiais e de moderação jurídica.
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
Betica Bética Província romana. Corresponde aprox. àmoderna Andaluzia (Espanha).
Britannia *Bretanha Região do Império Romano correspondente àInglaterra, País de Gales e Sul da Escócia.
Byzacena Região da província da Africa Proconsularisconvertida em província romana autónomadesde Diocleciano.Corresponde aproximadamente à modernaregião de Sahel, na Tunísia.
Caldarium Caldário Parte mais aquecida de um balneum.
CellaPl. Cellae
*SalaCela
Divisão ou sala coberta. Sala principal de umtemplo.
Christopolis Cristópolis Cidade bizantina.Kavála (Macedónia, Grécia).
CippusPl. Cippi
*Cepo Monumento funerário em forma de pequenacoluna mais ou menos decorada e de secçãogeralmente rectangular. A face principal contéma inscrição funerária. As faces laterais têmhabitualmente baixos-relevos representadoobjectos de culto funerário.
Clitumnus Divindade fluvial romana, personificação do riohomónimo, hoje Clitunno, em Itália.A sua nascente, junto à via entre Spoletium(Spoleto) e Trebia (Trebbia), foi um importantesantuário oracular na Antiguidade.
CollegiumPl. Collegia
*ColégioAssociação,Clube
Associação profissional, religiosa, social oufunerária com personalidade legal. Possuíamcaixas de fundos destinados aos fins daassociação, obtidos através da cotização dosmembros e de doações.
Consularis Consular Provincia romana do Baixo-Império cujogovernador é um ex-consul, pertencente à ordosenatorial.Escalão provincial superior.
ConventusPacensis
ConventoPacense
Região administrativa da província da Lusitânia,correspondente aproximadamente ao Alentejo eAlgarve.
CupaPl. Cupae
*Cuba Monumento tumular semi-cilíndrico, semelhantea um barril, aplicado sobre uma base rectangularsaliente sobre a sepultura. Comummente feitode alvenaria argamassada, acabada a cal. NoConventus Pacensis sobrevivem apenas asformas mais luxuosas (e muito mais raras)esculpidas em blocos de pedra.
Cursus Honorum Carreira de cargos públicos (políticos, militares eadministrativos) desempenhados pelos membrosdas ordens senatorial e equestre ao longo davida. O termo pode também incluir as carreirasdos militares profissionais e dos membros daselites municipais.
MARIM ROMANO, [email protected] 45 2009-08-13
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
Cursus Publicus Serviço de transportes, correio e informações doEstado, mantido pelo Império Romano.A sua administração englobava as infra-estruturas de apoio aos transportes e o respecti-vo pessoal, os animais de tracção e a supervi-são e vigilância policial das estradas.
Destrictarium Districtário Divisão dos balnea onde se procedia à limpezado corpo através de raspagem com um instru-mento específico chamado strigile.
Digeste Compilação de legislação romana dos sécs. II eIII realizada a mando do imperador bizantinoJustiniano I em 529-534.
Diverticulum *Divertículo Ramal, estrada secundária que parte de uma viaprincipal.
DoliumPl. Dolia
Dólio Recipientes cerâmicos, geralmente bojudos e degrandes dimensões, destinados ao armazena-mento de produtos agrícolas.
DominusPl. DominiFe. Domina
Senhor, no sentido de dono de escravos,patrono de clientes, proprietário abastado,senhorio de colonos e chefe máximo de família.No feminino, Senhora, no sentido de dona dacasa, esposa do Senhor.
Domus Casa de habitação, em sentido geral.Complexo edificado de uma villa correspondenteà residência do proprietário.
Esuri,Baesuris
Povoação romana.Término de dois Itinerários de Antonino.Castro Marim (Faro).
Familia *Família Termo que na época romana tinha um sentidojurídico e social mais extenso que na actualida-de. Incluía a família de sangue, cônjuges dedescendentes, membros adoptados ou vincula-dos familiarmente por laços legais, libertos eseus descendentes com o estatuto de clientes e,finalmente, os escravos.
Fanum. Pl. Fana Lugar sagrado, sítio de culto com ou semedificações. Usa-se em contextos religiososoriginariamente não romanos.Certos autores referem os templos romano-célticos da Gallia e Britannia como fana.
Forum, Pl. Fora *Fórum Praça geralmente rectangular e monumentaliza-da, rodeada de edifícios públicos e lojas. Centrocívico das cidades romanas. Geralmente nocruzamento das ruas principais da cidade.
Fossa, Pl. Fossae *Fossa Fossas sepulcrais de inumação, escavadasabaixo do nível do pavimento. Frequentementecom paredes de alvenaria de pedra ou tijolo quepodem formar uma verdadeira grelha regular demuros. Geralmente cobertas de lajes ou tegulaesobre as quais se construía o pavimento ou seelevava um túmulo. Destinadas a um ou maiscorpos. Tipo de sepultura usado tanto emnecrópoles romanas como em igrejas paleocris-tãs.
Frigidarium Frigidário Parte não aquecida de um balneum.
FundusPl. Fundi
*Fundo Propriedade rústica. Extensão dos campos deuma villa.
Gallia Gália Região do Império romano, correspondenteaproximadamente à França e uma parteocidental da Alemanha.
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
Garum Condimento alimentar e medicamento, muitopopular no mundo romano. Molho ou pastasalgada, com aroma e sabor intensos, fabricadopor autólise salgada (fermentação pútrida) devísceras e restos de peixes ou crustáceos.Com numerosas variedades e designaçõessegundo os locais, modos de fabrico e matérias-primas.Distinguem-se:Os molhos líquidos e filtrados, obtidos dasespécies mais cotadas (o garum propriamentedito), de preço muito elevado. As pastas semilíquidas (liquamen).As pastas semi-sólidas ([h]allec), de grandeconsumo, a partir das quais se podia obterartificialmente garum líquido, por adição deágua, vinho, azeite ou vinagre.
Gisacum Cidade romana da Gallia.Viel-Evreux (Eure, França).
Hallec Ver garum
Hispania Hispânia Península Ibérica.
HorreumPl. Horrea
Armazém de produtos e mantimentos.
HortusPl. Horti
Horto, Horta Culturas mimosas: hortícolas, pomares epolicultura de regadio.Parte das terras de uma villa com esta ocupa-ção.
Infamia *Infâmia Estatuto jurídico que coarctava certos direitospolíticos, cívicos e judiciais. A sua atribuiçãoimplicava uma elevada carga moral e socialnegativa.Atribuído individualmente como condenação oucolectivamente a certas profissões do fundo daescala social.
Iunius, Iunii,Iuniorum
Júnio, Júnios,dos Júnios
Gentilício Latino. Nome de família.
LabrumPl. Labri
Bacia de água, utilizada em balneários, ninfeus efontanários.
LapidariusPl. Lapidarii
Profissão de lapicída. Canteiro que gravainscrições de texto na pedra.
LenoPl. LenonisF. LenaF.Pl. Lenae
Proxeneta. Proprietário de bordel e das respecti-vas escravas, usadas como prostitutas. Aplica-se igualmente a proprietários de estalagens ebalneários onde as criadas escravas também sededicam à prostituição.
Liquamen Ver garum.
LoculusPl. Loculi
Cavidade ou espaço circunscrito, destinado adeposição de despojos funerários.
Lusitania Lusitânia Província romana, correspondente aprox. àEstremadura espanhola e à parte de Portugal asul do Douro.
MansioPl. Mansiones
*Mansão Estações de pernoita do serviço de correiospúblicos e de informação política do ImpérioRomano. Usadas igualmente por personalidadesimportantes em deslocações oficiais.Para além da residência podiam ter instalaçõesde banhos. Sempre na proximidade de mutatio-nes e, frequentemente, de estalagens para osviajantes comuns.Associavam-se também frequentemente aarmazéns do Estado e aos respectivos serviçosoficiais de colecta e transporte da annona(imposto em géneros).
Marinu,Marini
MarinoDe Marino
Nome pessoal. Do Mar. Marinho.
MartyriumPl. Martyria
*Martírio Igreja construída sobre um lugar, geralmente umtúmulo, dedicada a um mártir ou santo.
MARIM ROMANO, [email protected] 46 2009-08-13
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
MauritaniaTingitana
MauritâniaTingitana
Província romana. Correspondente a parte deMarrocos: Rif e uma faixa litoral até Rabat.
Mediolanum Uma das capitais do Império Romano no séc. IV.Milão (Lombardia, Itália).
Milia Passuum,m.p.
Milha romana Mil passos. Equivalente a aproximadamente1479 metros.
Muria Salsamenta. Também sinónimo de garum.
MutatioPl. Mutationes
Estação de muda de animais usados na tracçãode veículos do cursus publicus. Pode associar-se a uma estalagem.
NymphaeumPl. Nymphaea
Ninfeu Estrutura ou edifício dedicado ao culto dedivindades aquáticas, generalistas ou associa-das a mananciais concretos.Fontanários mais ou menos monumentais ouverdadeiro templos, com espaços onde a águacorrente e os recipientes de água predominam.
OfficiumPl. Officia
*Ofício Cargos desempenhados no âmbito da adminis-tração territorial, fiscal e militar do Estadoromano, a nível central ou em destacamentos enomeações provinciais ou locais. Esses cargosenquadram-se em estruturas administrativaspermanentes que também se designamgenericamente por officia.
Opus Signinum Opus signino Argamassa/reboco de construção dura eimpermeável, feita com cimento hidráulico ecerâmica moída.
Ora Maritima Orla Marítima Poema literário da autoria de Festo Rufo Avieno(séc. IV), que descreve as costas da PenínsulaIbérica, recorrendo em parte a fontes pré-romanas.
OrdoPl. Ordines
Ordem Escalão sociopolítico da sociedade romana aque se acedia por condição de fortuna enascimento ou, em certas condições, porpromoção.As ordens são três, por ordem decrescente deestatuto: senatorial, equestre e decuriónica. Asduas primeiras são específicas de Roma e doEstado romano. A última aplica-se aos membrosdos concelhos municipais das cidades deprovíncia.
OrigoPl. Originis
*Origem Origem geográfica ou identificação da comuni-dade cívica de um indivíduo.
Ossonoba Ossónoba Cidade romana.Faro (Algarve, Portugal).
Pace Iulia,Pax Iulia
Cidade romana.Capital do Conventus Pacensis.Beja (Alentejo, Portugal).
Pars fructuaria Ver villa.
Pars sacra Designa a parte de uma villa ou povoaçãoocupada com espaços e monumentos funeráriosou religiosos.
Pl. Pascua Pastagens naturais e cultivadas próximas doestabelecimento do rebanho.Parte das terras de uma villa com esta ocupa-ção.
PeculiumPl. Peculii
Pecúlio Economias ou bens pessoais dos escravos,adquiridos por ofertas autorizadas pelos donosou resultantes de actividades remuneradas.
Philippi Filipos Cidade greco-romana.Ruínas perto de Fillipoi (Macedónia, Grécia).
PodiumPl. Podia
*Pódio Base elevada acima do nível do solo sobre aqual se edificam estruturas.
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
Portorium Portório Um dos principais impostos indirectos do ImpérioRomano, englobando direitos alfandegáriosinternos e externos e direitos de portagem.O seu rendimento era repartido pelo Estado epelos cofres municipais e a colecta realizava-senos limites das fronteiras provinciais e munici-pais, nos portos comerciais e em sítios depassagem obrigatória.No apogeu do Império, havia stationes portoriiem todos os agregados urbanos de algumaimportância, nomeadamente os associados aotráfego marítimo e à produção de garum.A logística da sua cobrança definia lugares ondeeram autorizadas, impostas ou proibidasdeterminadas actividades económicas, comdestaque para as portuárias, piscatórias,industriais, os mercados e as passagens detransportes.
Portus Porto Porto naval, marítimo ou fluvial.
Portus Fisci Porto fiscal ou aduaneiro.
PossessorPl. Possessores
*Possessor Proprietários terratenentes abastados, de villae ede outros bens fundiários.
PotentiorPl. Potentiores
Membro da elite local ou regional, com poderderivado da autoridade imperial, do estatutosocial e da riqueza económica.
PraediumPl. Praedii
Prédio Prédio rústico. Tracto contínuo de uma proprie-dade rural.
PraefurniumPl. Praefurnia
Préfurnio Zonas de serviço junto aos fornos de lenhadestinados ao aquecimento dos balnea.
Praesidialis Presidial Provincia romana do Baixo-Império cujogovernador é um praeses (Pl. praesides), militarde alta patente pertencente à ordo equestre.Escalão provincial inferior, relativamente àsprovíncias consularis.
PromunturiumSacro
PromontórioSacro
Santuário pré-romano.Promontório de Sagres.
Pronaos Parte de um templo clássico entre o pórticocolunado a e entrada da cella. No caso dostemplos romano-célticos é um pórtico saliente deacesso ao ambulatório.
Provincia Província Divisão administrativa do Império Romano.
Pupput Cidade romana da Byzacena.Ruínas próximas de Hammamet (Tunísia).
Ravennate Ravenate Ver item seguinte.
Ravennatis Anony-miCosmographia
Cosmografiado Anónimode Ravena
Compilação literária bizantina (séc. VII) dacorografia do Império Romano, incluindoaspectos da geografia do Cristianismo.De autor desconhecido.
Res Privata Departamento de administração financeira dosbens da casa imperial (na maioria rendas deterras) e dos gastos do imperador.
Sacrae Largitiones Departamento de administração financeira doImpério Romano no séc. IV, com um largoâmbito de atribuições na recolha de impostos,administração de manufacturas estatais e dostransportes, etc.
SacrariumPl. Sacraria
Sacrário Pequena aedicula ou capela, geralmentefechada, onde se guardam objectos simbólicos,relíquias ou manifestações de uma divindade.
MARIM ROMANO, [email protected] 47 2009-08-13
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
Salsamenta Salmoura ou conserva em salmoura.Peixes pequenos inteiros ou maiores empedaços, ou moluscos, conservados emsalmoura e guardado em ânforas.
Saltus Bosques, pastagens e incultos, geralmentecondicionados pela orografia, margem marinhaou distância.Parte das terras de uma villa com esta ocupa-ção.
Sigillata Terra sigillata.Nome moderno de um tipo característico delouça romana de mesa e decorativa. Feita emcerâmica fina, decorada ou não, com acabamen-to vermelho ou alaranjado brilhante.Fabricada em várias regiões do ImpérioRomano.
SilvaPl. Silvae
Floresta bravia ou destinada à exploraçãosilvícola.Parte das terras de uma villa com esta ocupa-ção.
SocietasPl. Societates
Sociedade Firmas comerciais, industriais ou mistas.Frequentemente administradas por gruposfamiliares de libertos e seus descendentes, numâmbito de relações clientelares que mantinhamna retaguarda os detentores do capital financeiroe da influência política.Mais comuns nos meios portuários e ribeirinhos,ligados à importação-exportação, à navegaçãocomercial e à produção de garum e materiaiscerâmicos.
SolidusPl. Solidi
*Sólido Moeda romana de ouro, cunhada no séc. IV.
Stacio Sacra Estação Sacra Povoação referida no Ravennate entre Balsa eOssonoba.Provavelmente Moncarapacho.
StatioPl. Stationes
*Estação Posto militarizado. Sinónimo de stativa. Quartelde um beneficiarius e de stationarii (guarniçãodo posto).Com funções de posto policial e fiscal.Existentes nas raias militarizadas; em fronteirasadministrativas e em algumas municipais; emportos e centros de mercados; em sedesregionais do fisco; e em algumas passagensestratégicas.
StelaPl. Stelae
Estela Monumento funerário com a forma de placa depedra disposta ao alto, de cantos talhados emais ou menos decorados. A inscrição funeráriaapresenta-se na face principal.
Sudatiorium Sudatório Divisão de uma balneum aquecida com vapor.
TegulaPl. Tegulae
Tégula Telhas romanas planas, de grandes dimensõese com um rebordo de encaixe.
Forma Latina FormaPortuguesa
Significado ou nome actual
Temenos Recinto descoberto e murado, ou sinalizado, querodeia um templo.
TemplumPl. Templa
Templo Lugar de culto religioso. Santuário. Pode incluirou não um edifício (Aedes) ou limitar-se a este.
Tepidarium Tepidário Parte de um balneum moderadamente aquecida.
TesselaPl. Tesselae
Tessela Peça elementar de mosaico. De cerâmica, vidroou pedra, com uma face superior plana mais oumenos colorida.
Treveris Uma das capitais do Império Romano no séc. IV.Trier (Renânia-Palatinado, Alemanha).
Trivium Entroncamento de três estradas.
Venta Silurum Cidade romanaCaerwent (País de Gales, Reino Unido).
Via, Pl. Viae Via Via ou estrada romana
Vicus, Pl. Vici Aglomerado populacional multifamiliar, nosentido moderno de aldeia.Aglomeração secundária sem autonomiaadministrativa urbana, embora possa terelementos de arquitectura urbanística e de poderlocal.
Villa, Pl. Villae *Vila Exploração agrícola de proprietário mais oumenos abastado, com residência rural de traçaarquitectónica romana.Correspondente aos conceitos modernos dequinta ou de herdade com monte.A sua extensão pode variar entre umas dezenase milhares de hectares. A residência pode sersumptuosa ou mesmo um verdadeiro palácio,associável a funções políticas e administrativasque transcendem a habitação do proprietário.Designa-se então como villa áulica ou palatina.A villa inclui uma pars urbana (residencial) euma pars rustica (dependências agropecuárias eresidências dos serviçais rurais).Os celeiros, adegas e lagares podem designar-se por pars fructuaria, lugar de armazenamentodos frutos da produção. As villae costeiras possuem geralmente umapars maritima: zonas de fundeadouro e cais e deestruturas associadas à pesca, salicultura eindústria de salgas.Chama-se villa rustica quando não possui parsurbana.
Vir clarissimusPl. Clarissimi
Título de cidadão romano da ordo senatorial
MARIM ROMANO, [email protected] 48 2009-08-13
ARQUEOLOGIA 1. Epigrafia romana de Marim
A. Catálogo
IRCP(a)
Tipo(b) Lugar de achamento e notas
ÉpocaSéc.EC
Inscrição Figura
Localização actualTexto Nomes
Sexo
Idade
Anos
Meses
Dias
(f)
38 ALugar de achamento indeterminado.A atribuição a Marim baseia-se nasemelhança com outras lápides destaproveniência [IRCP: 82 n. 1]
Trans.II-III
AEMILIA / SATVRNINA V(ixit)A(nnis) LX/IIII M(ensibus) VI D(iebus)XVII / S(it) T(ibi terra) L(evis)
AemiliaSaturnina F 64 6 7 MNA E 6416
40 A?
Na parede da torre medieval deMarim: "Inter Pharum & Tauillam inturri, quam vocant Marini cippus" [ALfl. 184 e p. 187]
II
D(is) M(anibus) S(acrum) / C(aius)ANNIVS / ROMVLVS / ANNORVM /XXVIII / H(ic) S(itus) E(st) S(it) T(ibi)T(erra) L(evis)
CaiusAnniusRomulus
M 28 Desconhecida
41 C
"Inter sepulcrorum multorum rude-ra"(e) juntamente com as lápides nº44 e 53 [CIL II 5145 – Estácio daVeiga – apud SL: 290 nº 17]
III
D(is) M(anibus) S(acrum) / AVINTI-NA / VIXIT ANN(is) / XXXVPA/TROCLVS / MERENTI / POSVITH(ic) S(ita) E(st) (sit tibi) T(erra)L(evis)
Avintina F 35
MNA E 6399Patroclus M Dedicante
42 Apeq.
Nas ruínas de um templo [IRCP:86;CIL II 5146 – Hübner – apud ARA II:251 nº 4, nota 10]
2ª ½ IID(is) M(anibus) S(acrum) / CALE-MERA / VIX(it) ANN(is) XXVIIII/MENS(ibus) VIIII D(iebus) X / H(ic)S(ita) E(st) S(it) T(ibi) T(erra) L(evis)
Calemera F 29 9 10 MNA E 6410
43 E-F?Sobre uma sepultura de quatropessoas [IRCP:87].Reaproveitada como tampa sepulcralem uma das necrópoles?
2ª ½ IID(is) M(anibus) S(acrum) / CHRY-SANTVS / VIXIT / ANN(is) XXIIM(ensibus) II / H(ic) S(itus) E(st) S(it)T(ibi) T(erra) L(evis)
Chrysantus M 22 2 FC MM Olhão[Verificação pessoal]
44 C Idem lápide IRCP nº 41 Trans.II-III
D(is) M(anibus) S(acrum) / DIODO-RA VIX(it) / ANN(is) XXV / / H(ic)S(ita) E(st) S(it) T(ibi) T(erra) L(evis)
Diodora F 25 FP MNA E 6401
45 E-FTduplo
Reaproveitada como tampa sepulcralna necrópole menor escavada porSantos Rocha(c)
[SRO: 172 e fig. 4 p. 175]
Trans.II-III
D(is) M(anibus) S(acrum) / DIO-NY/SIANVS / VIX(i)T / ANN(is) /XXXVIIII D(ic) V(iator) / DINITL /TTBL
Dionysianus M 39
DP MM Figueirada Foz
D(is) M(anibus) S(acrum) / MARI-TIM/A VIX(i)T / ANN(is) XXV D(ic)V(iator) D / INITL / TTBL
Maritima F 25
46 C
"Inter sepulcrorum multorum rude-ra"(e)
[CIL II 5149 – Hübner apud SL:292 nº20]
trans.II-III
D(is) M(anibus) S(acrum) / HIRINIA-NA / VIX(it) / ANN(is) LII / MINS(ibus)II D(iebus) IIII / S(it) T(ibi) T(erra)L(evis)
Hiriniana F 52 2 4 MNA E 6398
48 A
"Inter sepulcrorum multorum rude-ra"(e)
[CIL II 5152 – Hübner apud SL: 293nº 22]
IID(is) M(anibus) S(acrum) / MON-TANVS / VIXIT / ANN(is) XXXIII /MENSIB(us) II DIEB(us) VII / S(it)T(ibi) T(erra) L(evis)
Montanus M 33 2 7 FC MNA E 6413
49 E-FT
Reaproveitada como tampa sepulcralna necrópole menor escavada porSantos Rocha(c)
[SRO: 171 e fig. 3 p. 174]
Trans.II-III
D(is) M(anibus) S(acrum) / PATRI-CIA VI/XIT ANNIS XI / D(iebus) IIII Patricia F 11 4
DP MM Figueirada FozD(is) M(anibus) S(acrum) / PATRI-
CIVS VI/XIT ANNIS XLIII M(ensibus)III D(iebus) X/IIII PISPI
Patricius M 43 3 14
50 CNa parede da torre medieval deMarim[CIL II 5143 – Estácio da Veiga apudSL: 289 nº 16]
IIID(is) M(anibus) S(acrum) / ETPATRICIAE / VIXIT ANN(is) / XXVMENS(ibus) / VII DIEB(us) VIIII /STB TRIBS
Patricia F 25 7 9 FC MNA E 6387
51 E-FT
Reaproveitada como tampa sepulcralna necrópole menor escavada porSantos Rocha(c)
[BO: 25, 26 nº 42]II
[D(is) M(anibus) S(acrum)]? /PAVLLIANVS VIX(it) / AN(nis) XVIM(ensibus) V / S(it) T(ibi) T(erra)L(evis)
Paullianus M 16 5 FC MM Faro nº442
52 E-FTReaproveitada como tampa sepulcralna necrópole menor escavada porSantos Rocha(c)
[BO: 25, 26 nº 41]
2ª ½ II
D(is) M(anibus) S(acrum) /P[R?]O[T?]YPVS / V(i)X(it) AN(n)IS[LX?] MENS(ibus) VII D(iebus) V/IIIH(ic) S(situs) E(st) S(it) T(ibi) T(erra)L(evis) / MERENTIS/SIM/O
P[r]o[t]ypus
M
60? 7? 8
FC MM Faro nº441D M S / C...OS IVLIANVS / VX
ANNIS XV / MENS VII D X / IIIEREXIT B / MERENTIS / I M[Leitura de Pereira Boto, em BO 26nº 41]
C..osIulianus 15 7 13
MARIM ROMANO, [email protected] 49 2009-08-13
IRCP(a)
Tipo(b) Lugar de achamento e notas
ÉpocaSéc.EC
Inscrição Figura
Localização actualTexto Nomes
Sexo
Idade
Anos
Meses
Dias
(f)
53 E-SC? Idem lápide IRCP nº 41 II
D(is) M(anibus) S(acrum) / TROILVS/ VIXIT AN(nis) XXX / ME(n)S(ibus)IIII / H(ic) S(itus) E(st) S(it) T(ibi)T(erra) L(evis)
Troilus M 30 4 FP MNA E 6386
54 E-FTReaproveitada como tampa sepulcralna necrópole menor escavada porSantos Rocha(c)
[BO: 25 nº 40]
FinaisII
D(is) M(anibus) S(acrum) / TYCHEVIXIT / ANNIS XX M(ensibus) II /H(ic) S(ita) E(st) S(it) T(ibi) T(erra)L(evis)
Tyche F 20 2
FC MM Faro nº443D(is) M(anibus) S(acrum) / HEREN-NIANVS / VIXIT ANNIS / XXVM(ensibus) III / H(ic) S(itus) E(st)S(it) T(ibi) T(erra) L(evis)
Herennianus M 25 3
X1 CI
Encontrada do lado norte da EN 125,em frente da Quinta de Marim, em1986 [IRCPA: 101], juntamente comoutros materiais não especificados,aquando da construção da novaponte sobre a Ribeira de Marim. [MA:13].
2ª ½ II
D(is) M(anibus) S(acrum) / FABIAC(aii) F(ilia) / MACIA/ECA [?]AN(norum) / XXXXII / H(ic) S(ita)E(st) S(it) T(ibi) / T(erra) L(evis)[Leitura de José d'Encarnação emIRCPA: 101-102]
FabiaMacia[eca?] F 40
FC MM Olhão[Verificação pessoal]
CaiusFabius M Pai
X2 C
Descrição original em MA: 9-12.Encontrada num montão de pedrasretiradas da zona da necrópole maior,juntamente com fragmentos de maisduas lápides (uma paleocristã e outranão identificada) e uma base e váriosfustes de colunas. [MA: 9]
1ª ½ III
D(is) M(anibus) S(acrum) / LEONE /... AN(norum) / ...[Leitura de José d'Encarnação apartir de MA: 10, a pedido do autor]
Leone M FP Desconhecida.Colecção particular?
X3 E
Descrição original em ZIM.Muito provavelmente encontrada nalocalização de X1 ou de X2 (junta-mente com uma nova placa demármore paleocristã, tambémdescrita em ZIM).
III
D M S PARTICE / VIXSIT ANNIS /XXXI MESES VI / DIES XXVIII /MERITA MA/RITOFECIT / [ – – – ]..TL[Leitura de Nikolaus Zimmermannem ZIM: 260]
Partice(por Patri-cius ouParthicus)
M 31 6 28FP Colecção particular
Merita F Esposa
a Segue-se a numeração de IRCP para as lápides incluídas nesta obra e um número sequencial Xn para as descobertas posteriormente. A informação corresponde à de IRCP, excepto se referido em contrário.
b A: Ara ou cipo; C: Cupa; E: Estela; FT: Frontão triangular; SC: Frontão semicircular; CI: Cipo.
c "Cipos" reutilizados como tampa da sepultura identificada na nota e) da planta deste autor [ARA II: fig. extra texto entre pp. 280 e 281], em quese individualizam quatro estelas deitadas, de frontão triangular (uma delas com uma dupla inscrição, correspondente a IRCP 49) e uma esteladupla (invertida, em posição vertical), que corresponde a IRCP 45.
d Os nºs de inventário do Museu Municipal de Faro são extraídos de PAULO (2005): 84-86.
e "No meio de sepulcros e de muitas ruínas", isto é, na necrópole maior ou oriental, a norte do balneário.
f FC: foto a cores; FP: foto a preto e branco; DP: desenho a preto e branco
Abreviaturas bibliográficas
Referências à bibliografia geral
AL RESENDE (1593)ARA II SANTOS (1972)BO BOTO (1896)
DG DIAS & GASPAR (2006)GRA GRAEN (2008)HU HÜBNER (1895)
IRCP ENCARNAÇÃO (1984)IRCPA ENCARNAÇÃO (1986)MA MASCARENHAS (1993)
SL LAMBRINO (1962)SRO ROCHA (1897)ZIM ZIMMERMANN (2008)
MARIM ROMANO, [email protected] 50 2009-08-13
B. Sexo e nomes
SexoIndivíduos*
TotalCom 1 nome
Com 2 nomes Com 3 nomesLatino Grego Total
M
13
ParticePaullianusPatriciusMontanus
HerennianusLeone**ProtypusDionysianusChrysantusTroilusPatroclus (d)
Caius Fabius (p) Caius Annius Romulus
4 7 11 1 1
F
11
Merita (d)PatriciaPatriciaMaritimaAvintina
TycheHirinianaDiodoraCalemera
Fabia Maciaeca (com filiação)Aemilia Saturnina
5 4 9 2M+F 24 9 11 20 3 1
* (d) Dedicante, (p) Pai em declaração de filiação
** Sexo duvidoso. Considera-se masculino nestas tabelas.
C. Lugar de achamento das lápides
Local Nº Identificação Sítiooriginalmaisprovável
Tipo* Comentário
Desconhecido 1 Aemilia Saturnina ? A A sua origem é atribuída a Marim apenas com base noparalelismo formal da lápide.
Torre 2 Caius Annius RomulusPatricia
Villa?Necrópolegrande
A?C
"Cipo" desaparecido.Há notícia de, pelo menos, uma cupa anepígrafa.
Necrópole grande 6 Avintina / PatroclusDiodoraHirinianaMontanusTroilusLeone
Necrópolegrande
CCCAE-SC?C
"Inter sepulcrorum multorum rudera".Monte de pedras e materiais na destruição final da necró-pole nos anos 1980.
Templo 1 Calemera Necrópolegrande?
Apeq.
Presume-se que seja o templo da villa. Pode ser umareutilização no séc. IV, tal como na necrópole pequena.
Necrópole pequena 5 Dionysianus & MaritimaPatricia & PatriciusPaullianusP[r]o[t]ypusTyche & Herennianus
Necrópolegrande
E-FTE-FTE-FTE-FTE-FT
Reutilizações como tampas de sepulturas de inumação,pobres e sem espólio, de época indeterminada (séc. IV ouV possivelmente).Escolha selectiva de lápides da necrópole grande, apro-priadas para tampas de sepulturas (tipo E-FT).
Uma das necrópoles(tampa)
1 Chrysantus Necrópolegrande
E-F? Pode ser um caso idêntico ao anterior ou uma reutilizaçãopaleocristã de um dos locus da necrópole grande.
A norte da necrópo-le grande (vizinhan-ça da EN 125)
1 Fabia Macia[eca]/ CaiusFabius
Necrópolegrande
CI Transporte recente (inícios séc. XIX ou posterior) junta-mente com mais materiais romanos, para as obras daestrada e da ponte.
Na necrópolegrande ou na vizi-nhança da EN 125
1 Partice/Merita Necrópolegrande
E No amontoado anterior ou no amontoado de entulho danecrópole grande. Provavelmente recolhida conjuntamen-te com a de Leone.
Total 18
*A: Ara ou cipo; C: Cupa; E: Estela; FT: Frontão triangular; SC: Frontão semicircular; CI: Cipo
MARIM ROMANO, [email protected] 51 2009-08-13
C. Escalões etários, sexos e nomes
Escalão deidade de morte
Indivíduos
TotalMulherescom 1 nome (escravas)
População restante
TotalHomenscom 1 nome (escravos)
Homens e mulheres com 2 e 3 nomesou com filiação (livres e libertos)
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
11-15 1 5.0 1 12.5 0 0.0 0 0.0 0 0.0
15-20 2 10.0 1 12.5 1 8.3 1 11.1 0 0.0
21-25 5 25.0 3 37.5 2 16.7 2 22.2 0 0.0
26-30 3 15.0 1 12.5 2 16.7 1 11.1 1 33.3
31-50 6 30.0 1 12.5 5 41.7 4 44.4 1 33.3
51-60 2 10.0 1 12.5 1 8.3 1 11.1 0 0.0
60-65 1 5.0 0 0 1 8.3 0 0.0 1 33.3
11-25 anos 8 40.0 5 62.5 3 25.0 3 33.3 0 0.0
26-65 anos 12 60.0 3 37.5 9 75.0 6 66.7 3 100.0
Com idade 20 100 8 100 12 100 9 100.0 3 100.0
Sem idade 4 - 1 3 - 2 - 1 -
Total 24 - 9 - 15 - 11 - 4 -
ARQUEOLOGIA 2. Epigrafia paleocristã de Marim
Nº(a) Lugar de achamento e notas Época
Séc. EC
Inscrição
Localização actualTexto Nomes
Sexo
124Descrição original em HU: 178. Sem dúvida umalápide encontrada por Estácio da Veiga.Exemplo da nova escrita cursiva do séc. V.
V ROGATA / FAMOLA / DEI VIX(it) A-/NNORVM LV /RECE[ssit] / I[n pace---] Rogata F Desconhecida
Estava no MNA
127 Vestígios de decoração (?) ou de letras paleocristãs. MNA E 16880
129 Descrição original em MA: 9-12.Ver lugar em X2 na Epigrafia Romana. [---]?[---] / IN PAC[e---] / IVL[ias?] Iulias? MP Moncarapacho?
P1 ZIM: 261Fragmento de placa de mármore branco [ – – – vixit an]N(is) XL / [ – – – – ]M H
a Segue-se a numeração e a informação de DG, excepto se referido em contrário. Para as lápides não incluídas nesta obra usa-se uma numeraçãosequencial Pn.
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ARQUEOLOGIA 3. O espólio arqueológico da fábrica de salga
Síntese e sistematização da informação recolhida e publicada por SILVA & SOARES (1992).Não dispensa a leitura do original.
Estratigrafias
Compartimento 1 (c)
Camada cm Espólio ObservaçõesC.1 25-
50t. s. sudgálicat. s. hispânica Triticumt. s. hispânica Andujart. s. clara At. s. clara Ct. s. clara Dcerâmica cozinha norte-africanaânforas Dr. 2-4, Bel. II, Dr. 20, Pél. 47, Alm. 50cerâmica medieval/moderna
desmantelamentos da parte superior de C.2,provocado pelas lavourasmateriais arrastados e revolvidos, fora decontexto
C.2 20 escassos materiais, s/ pedras derrube da taipa que formaria a parte superiordas paredes
C.3 20-25
carvões de Pinus pineaabundantes frag. dispostos na horizontal, sobretudo de ânforasAlm. 50cerâmica cozinha norte-africana: Hayes 7:196, 24:197cerâmica comum vermelha e branca: 2 pratos covos, 5 panelasde bordo em aba, 1 pote, 1 testo, 1 bilhat. s. clara A: Hayes 1:9, 2:14, 2:23 (1 queimado), 9:27malha de jogosestércio Maximino3 pesos rede4 folhas de chumbo de pesos de rede abertosalfinete de ossoescassas conchas: ostrea, cardium, glycimeris2 valvas roladas e perfuradas (pesos de rede?)escassos ossos de mamífero: porco e cabra
nível de ocupação
C.4 1-3 areia com frag. ânfora, argamassa cal e areianumerosas tessalae brancas e negras
pavimento: enchimento das depressões daformação geológica de base
C.5 conjunto lítico mustieroide base geológica
Tanques de salga (t)
Camada cm Espólio ObservaçõesC.1a - camada superficial revolvida pelas lavourasC.1b 25 areia argilosa negra
numerosas conchas: ostrea e cerastoderma (as mais abundantes),ruditapes, murex
cerâmica medieval/moderna com vidrado melado ou verde ecaneluras
base da camada 1, apenas nos tanques I e II
C.2a 35-45
areia acastanhada ou amareladat.s. sudgálicat.s. clara At.s. clara Dcerâmica manual ou de torno lento, "tardo-romana"doliaânforas Beltran II, Almagro 51 A-Btelhas curvas e tegulaeraras conchas: murex, ostrea, cerastoderma, ruditapesescassos ossos: cabra
nível de abandono, com poucas pedras eescasso espólio de diversas épocas
C.2b 70*t II
nível de lixeira cinzento-escuro, rico em conchas: ruditapes (abun-dante), solen/ensis, cerastoderma, mytilus, murex
ossos: cabracerâmica manual ou de torno lento, "tardo-romana"dolia
Derrubes na parte superior e lixeira "tardo-romana" na base
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Camada cm Espólio Observações
raros frag, tegulae e imbricesânforas Almagro 50escassa t.s. sudgálica e clara C
C.3 70máx
areia argilosa amarelada com grandes blocos de calcário e frag. deopus signinum. Escasso espólio
t.s. sudgálica,t. s. hispânicat. s. clara A (Hayes 2/3, 23, 27)t. s. clara Ct.s. clara D (formas indeterminadas)ânforas (Beltran II, Almagro 50, Almagro 51 A-B)cerâmica cozinha norte-africana (Hayes 196 e 197)doliatelhas curvas e tegulaetesselae de calcário brancoconchas: charonia, murex, monodonta, cerithium, conus, ostrea,ruditapes, venus, cerastoderma, mytilus, solen/ensisossos: cabra
Derrubes
C.4 2-15
"Lodos" assentes no fundo dos tanques (argila cinzenta)conchas: ostrea, ruditapes, murex, espécies mais abundantes, ecerastoderma, solen/ensis, mytilus, cerithium, monodonta, espé-cies rarasvértebras de peixes e ossos de cabrat.s. sudgálicat.s. hispânicat.s. clara A (Hayes 14)t.s. clara C (Hayes 50A)ânfora Almagro 50escassas telhas curvas e tegulae, tesselae de calcário branco
Abandono da fábrica
C.5 *tIV Pó amarelo-acastanhadoabundantes espinhas de peixes pequenos
Restos da última produção de salga
cabouco 25 cm argila muito compacta40 cm argamassa cal e areia e blocos calcários
t.s, sudgálica: Drag. 15/17, 27 e 18t.s. clara A: caçarola Hayes 23bojo ânfora forma indeterminadategulaetesselae de calcário brancoconchas: ostrea, ruditapes, murex
muro Norte tanque I
*t n: apenas no tanque nt.s.: terra sigillata
Espólios
Objectos Qnt* formas Especif. Local** ObservaçõesCerâmica doméstica terra
sigillatasudgálica 60 Dragendorff 15/17,
18, 24/25, 2749 (82%)
lisas
Drag. 29, 37 11(18%)
decoradas. 37 amais frequente
hispânica(Tritium)
43 Drag. 15/17, 27Drag. 33 (?)
?1
lisas. 15/17 amais frequente
Drag. 29, 37 decoradas. 37 amais frequente
hispânica(Andujar)
31 Drag. 15/17, 27Drag. 46
301
lisas. 15/17 amais frequente
clara A 97 Hayes 23B, 27, 3B,3C
1 f. 92 f.142 f. 23(1 Q)9 f. 27
C.3-c
Hayes 2/3, 6B, 8(?),9A, 9B, 14, 28/29
clara C 9 Hayes 48, 50A 50A em C.4-t
clara D 4 formas indetermi- C.3-t e
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Objectos Qnt* formas Especif. Local** Observaçõesnadas posteriores
cozinhaNorte-africana
24 caçarola Hayes 197 C.3.c abundante,domina a cerâ-mica comum
7 tampa/prato Hayes196
comumdiversa
vermelha 1 prato covo Q C.3-c cozinha5 panelas 1 Q C.3-c1 pote com tampa C.3-c1 testo Q C.3-c
branca 1 bilha C.3-c1 prato covo C.3-c
contentores ânforas Dressel 2-4 1 A C.1-a vinária Campânia?
Dressel 7-11 1 L C.2-IV salga Bética
Beltran II (A e B) 6 L, 1P C.1,C.4-IVC.3-VI
salga Bética
Oberaden 83 1 L C.1-a oleária Bética
Dressel 20 3 L C.1-a oleária Bética
Pélichet 47 (Gaule-sa 4)
4 L, 1P C.1-a vínica Sul Gália
Keay XI (?) 1 L C.1-a oleária Tripolitâ-nia
Almagro 50 18 L, 3 P C.3-c 4 frg. com marcaIVNIORVMsalga Algarve
Almagro 51A-B 1 L, 1P C.3-VI salga Algarve
dolia ? C.2b-toutros ? panelas/vasos de bojo esféri-
co e coloestrangulado, grosseiros
C.2b-t
Utensílios osso alfinetes 2 C.3-cchumbo pesos de
pescasubcilíndricos(s)
18 3 em C.3-c15 em C.1-a
cilíndricos 5 C.1-afolhas de pesos(s) abertos
4 C.3-c
cerâmica malha 3 1 em C.3-c2 C.1-a
marcas de jogo
Moedas sestércio Maximino 1 C.3-c 235-236* Nº de fragmentos de objectos cerâmicos, nº de objectos de utensílios e moedasA: asa, L: lábio, P: pé, Q: queimado** C.n: camada n; I-VI: tanque de salga; t: idem, não especificado; c: compartimento 1; a: "armazéns", fora de contexto estratigráfico
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ARQUEOLOGIA 4. Exploração das ruínas de Marim. Santos Rocha (1894)
Análise do texto de Santos Rocha sobre a zona do edifício explorado por Estácio da Veiga
Fontes: texto Rocha (1897): 164-168ARA II: Planta nº 30 B, hors-texte entre pp. 276-277
Planta da parte escavada do edifício da villa, por Estácio da Veiga em 1877. Reproduzida pela 1ª vez em ARA II.
Sobrepõem-se as zonas descritas por Santos Rocha – que desconhecia a planta – correspondentes à sua exploração de1894 e sistematizadas no texto.
ZONA A Análise e comentários
Edifício explorado por E. da Veiga de forma rectangular, alongado de Este a Oeste Zona A da figura.Não indica dimensões do edifício!
1. Estruturas
Embasamentos de paredes de alvenaria ordinária, com duas camadas de rebocona face interna:- Camada profunda de argamassa de cal, areia e pedra miúda, estriada profunda-mente e com a espessura de 2-3 cm;- Camada superficial de cal e areia, fixada nas estrias da anterior
Não indica dimensões das paredes!
Pavimentum. Formado por um leito de argamassa de cal e areia, com mistura defragmentos de cerâmica e cascalhos, e revestida no nível superior só com arga-massa
Corresponderá ao pavimento C da planta.Não é claro se inclui o espaço A ou se estefoi explorado por Santos Rocha.
Orifícios de três dolia, com c. 1m de diâmetro no pavimentum, escavados por E.da Veiga
Ausentes na planta de Estácio da Veiga!Define uma área de pequena capacidadede armazenagem de géneros, numa zonaquente e seca (azeite, azeitona, figo? –vinho está fora de questão pois exige umsítio frio e voltado a Norte, segundo ocânone agronómico).Provável despensa na zona da cozinha.Nunca uma cella olearia com 3 dolia!
Parte duma escada do lado do sul, onde parece que o terreno contíguo já eramais baixo, ao tempo da construção, do que o terreno do lado do norte
Zona A1 da figura.A escada não é localizada. A a sua exis-tência confirma a presença de um murode suporte da basis villae, hoje transfor-mado em talude da terraplanagem aindaexistente (a).
A
B1
B2
A1
Zonas
Cima(Norte)
Baixo(Sul)
Direita(Nascente)
Esquerda(Poente)
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2. Elementos estruturais
Poucos restos de dolia Provavelmente provenientes dos doliaenterrados no pavimento.
Alguns fragmentos de placas de mármore Paredes ou pavimento. Impossível preci-sar se correspondem à mesma áreaurbana luxuosa dos estuques decoradosou, pelo contrário, a uma zona utilitáriade águas, em B B' ou no tanque/fonte F.
Bastantes fragmentos de telhas de rebordo e curvilíneas [tegulae e imbrices] A diferença de telhas justifica-se pelaexistência de telhados distintos, comcobertura diferenciada, entre as grandessalas da zona A e as pequenas da zona B1.
3. Objectos
[Fragmentos] de ânforas[Fragmentos] duma patera de fino barro[Fragmentos] de outros vasos
Louça doméstica e de cozinha.
4. Resíduos
[No meio de] muitos carvões e cinzas Restos de fogo de cozinha, confirmadosmais adiante. Possível incêndio concomi-tante.
Restos de cozinhaConchas de moluscos marinhosSobretudo ostrasOssos de cabritoOssos de bovídeos
Zona de preparação de comida.
ZONA B
Terreno contíguo pelo norte da zona A, "onde não haviam chegado as escavações deEstácio da Veiga"
Rocha desconhecia que Veiga já tinhaexplorado a zona B1 da figura.
1. Estruturas
Alguns pedaços de alicerce de outro edifício romano Zona B1 da figura, correspondente àspequenas divisões DBD.
Numa pequena porção de alicerce havia uma interrupção, indicando o vão dumaporta ou outra abertura semelhante, guarnecida ainda dum lado por uma grandepedra aparelhada (Ver abaixo VÃO NA ZONA B).
A destruição não poupou envasamentos, pavimentos e alicerces. Ausência depedras de construção [de alicerces e paredes]
Zona B2 da figura, sem alicerces.A hipótese de Rocha (p. 165) de umasonegação selectiva e sistemática demateriais para reaproveitamento érebuscada e contraditória com a presençade bases de colunas.
2. Elementos estruturais
Bases de colunas romanas de pedra, sem aplicação Zona B2 da figura. Indício da presença deum pórtico.É também possível que os capiteis encon-trados algures sejam provenientes daqui.
Abundantes restos da construção espalhados e soltos no entulhoFragmentos de argamassaFragmentos de telhasFragmentos de tijolos
Zona B2 da figura.Cobertura de telha. É possível que um dostipos de telhas encontrados tenha per-tencido à cobertura do pórtico e daspequenas divisões da planta.Indícios de construção ligeira: pavimentose socos de colunas. Fustes de materiallatericio rebocado?
Muitos fragmentos de estuque com pinturas murais a frescoLisos e ornamentados, com cores branca, amarela, azul, vermelha e castanhaFragmentos azuis e vermelhos de um ressalto [ou moldura] com c. 4.5cm
O aparelho das paredes para a pintura é constituído por um reboco de cal e areia,coberto superficialmente por um fina camada de cal.
Paredes finamente decoradas. Possivel-mente na transição entre B1 e B2, naparede voltada a norte, ou em alguma(s)das pequenas divisões D.Prova arqueológica da função residencialurbana da parte norte do edifício.
3. Objectos
Restos de cerâmica muito fina e de cozinha, espalhados na maior desordem Zona de louça doméstica de mesa e decozinha.
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Vão na zona B
Espólio de um pequeno depósito no vão de um alicerce que parecia ter escapado aosremeximentos
Uma das pequenas divisões DBD. Apoio àpreparação de alimentos.Revela tratar-se de um depósito selado,passível de datar pelo seu espólio daúltima fase do edifício: facas, vidros ecerâmicas romanas, finas e comuns(muito provavelmente finais do séc. IV ou1ª metade do V, nunca mais tarde).
V1. Objectos
Instrumentos metálicos
Três facas de ferro muito oxidadas, do tipo culter coquinaris ROCHA (1897): 166, fig. 1.Instrumentos de cozinha e mesa
Objectos de vidro e cerâmica Vidros e cerâmicas romanas, finas ecomuns. Segundo Rocha, um dos vasos decerâmica comum é de uso de mesa ou decozinha.
Fragmento de uma pequena taça de vidro finíssimoAlguns fragmentos de vasos de barro muito puro, contendo um deles vestígiosde ornamentação gravada na pastaFragmentos dum vaso mais grosseiro que, restaurado em parte, nos deu umaforma semelhante á de alguns vasos romanos de Santa Olaia (cucuma, hir-nea?).Fragmentos de cerâmica muito grosseira
V2. Resíduos A presença de cinzas e carvões conjunta-mente com recipientes de cozinha quei-mados e restos de comida indicia forte-mente a presença de uma lareira oufornalha de cozinha.
Carvões, cinzas e objectos queimados
Restos de cozinhaConchas de ostrasConchas de outros mariscosOssos de cabritoOssos de boi
(a) Descrição do local em 2005, onde foi realizada uma prospecção geofísica sem resultados úteis: Dennis Graen, Torsten Kleinschmidt, ThomasSchierl, Nikolaus Zimmermann; "The site of Quinta de Marim (Olhão): results and perspectives of investigation"; Xelb 8; pp: 247-265."For a more precise architectural analysis of the villa’s main building, respectively to prove the ground plan of 1877, ... a geomagnetic prospection[was conducted ]on the 70 times 60 meters large terrace. Unfortunately, however, neither the recovered image [fig. 8, p. 255] nor the originalground plan from 1877 allows any specific conclusions regarding the shape and character of the assumed main building of the villa. A large-sizedstructure must be expected in any case, because of the many anomalies that occurred on the geomagnetic image, several visible walls of substantialstrength and the conspicuous terracing of this spot."
Facas de ferro, de uso domésticoROCHA (1897): 166 fig. 1
Pequeno vaso cerâmico.Unguentário. Uso funerário.ROCHA (1897): 169 fig. 2
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ARQUEOLOGIA 5. Exploração da necrópole pequena de Marim. Santos Rocha (1894)
Sistematização da descrição de Santos Rocha
Fontes: Rocha (1897): 168-176ARA II: Planta hors-texte entre pp. 280 e 281
Planta
Planta da necrópole. Original no M.M. Figueira da Foz. Dimensões do original (aresta exterior da moldura grossa): 30x20 cm.
Transcrição integral com actualização ortográfica. Anotações do sistematizador entre [].
[Título]
Museu Municipal da Figueira
Cemitério luso-romano de Marim (Algarve), descoberto na quinta do Ex.mo Sr. João Lúcio Pereira, de Olhão.
Cemitério de escravos (?) [sic]
Planta das fossas sepulcrais, exploradas por Santos Rocha em Dezembro de 1894
Escala 0.01m P 1.00m [1:100. A escala da reprodução em ARA II não é indicada mas corresponde empiricamente à dimensões originais daplanta e à escala indicada]
[Rumo] N.M. [Norte magnético]
[identificação das fossas]
Estimativa
a) Escavação de 0.50m na marne [sic, por marga] calcária. Revestimento interior de alvenaria ordinária e tijolo. Inumação horizontal deum adulto com a cabeça para NO apoiada numa almofada de argamassa. Ossos humanos de outros esqueletos aglomerados aos pés e10 pregos grandes de ferro, talvez provenientes do suplício de crucificação [sic].
b) Escavação de 0.45m na mesma rocha sem revestimento interior. Inumação horizontal de um adulto com a orientação do anterior.Cabeça apoiada no fundo da fossa em um ressalto da rocha.
c) Escavação de 0.50m na mesma rocha com revestimento interior de paredes de tijolo e de argamassa. Um esqueleto de adulto nascircunstâncias do anterior.
d) Escavação de 0.50m na mesma rocha sem revestimento. Esqueleto de adulto nas circunstâncias dos dois anteriores. Uma ampulla aolado esquerdo do crânio.
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e) Quatro cipos provenientes doutras sepulturas e algumas pequenas lajes e tijolos. Outro cipo invertido formava a parede da sepulturado lado do NO. [O desenho tem um erro na representação do cipo vertical e2, que é colocado paralelamente aos demais e não "emcutelo", como a planta e o texto de Rocha indicam].[De acordo com a legenda ("Cobertura da fossa a") estes cipos referem-se à sepultura a, estando assim desenhados fora da sua posi-ção topográfica].
f) Sepulturas destruídas.
Localização
100m a NO do edifício da villa.
200m a O da necrópole escavada por Estácio da Veiga.
"A 100 metros aproximadamente para NO destas ruínas a exploração do solo pôs a descoberto uma pequenanecrópole"..."Estácio da Veiga explorou outra necrópoleque existia para leste, a uns 200m da nossa".
Sepulturas
Tipo Inumação horizontal
Forma Rectangular ou trapezoidal, com almofada decabeceira
Nº Exploradas 4
Destruídas 5
Orientação NO-SE, com cabeceira a NO
Sepulturas exploradas
Descrição das fossas sepulcrais
ID Planta
CoberturaMaterialda cabeceira
Revestimento dasparedes internas (f)
Conteúdo Dimensões (cm) (b)
OssadasInumaçãohorizontal (e)
Espólio
Profundidade
Comprim
ento
Largura
a 4 lápides epigráficasreutilizadas e algunstijolos e pedaços delajes, tudo fortementecimentado com arga-massa dura de cal eareia [e na planta]. Umadas lápides com ainscrição voltada parafora. (c)
Argamassa de cal eareia
Na parede SO umalápide epigráficareutilizada, assenteverticalmente, emcutelo, com a inscriçãovoltada para dentro. (d)
Nas paredes restantes,tijolos e alvenaria depedra e argamassa.
1 esqueletode adulto.Aos seus pés,ossadasremovidas deoutros esque-letos.
10 [na legenda daplanta] ou 9 [notexto] pregos de ferromuito oxidado, aospés do esqueleto.
50 200/220
60
b Lajes Ressalto esculpidona rocha natural
Sem revestimento 1 esqueletode adulto(a)
Sem espólio 45 200 50/60
c Lajes Ressalto esculpidona rocha natural
Tijolos e alvenaria depedra e argamassa
1 esqueletode adulto(a)
Do lado esquerdo docrânio, um pequenobarro de vaso alvadiodo tipo ampulla[unguentário dematerial cerâmico,ROCHA (1897): 169,fig. 2]
50 200 55
d Lajes Ressalto esculpidona rocha natural
Sem revestimento 1 esqueletode adulto(a)
Sem espólio 50 170 60
(a) Numa destas, não especificada, haveria também ossadas removidas de outros esqueletos aos pés do esqueleto principal.(b) As dimensões de uma das sepulturas "de mediana grandeza" (b ou c) são 195/200cm de comprimento por 50 /60cm de largura. Os restantes comprimen-tos e larguras são calculadas a partir das proporções da planta, arredondados a 5 cm.(c) Pelo desenho [e1] é possível identificar esta lápide com a de Patricia e Patricius (IRCP 49), a única que associa um frontão simples a inscrições duplas.(d) Pelas 5 arestas da lápide vertical representadas no desenho [e2] é possível identificá-la com a de Dionysianus e Maritima, a única que possui um frontãoduplo (IRCP 45).(e) Numa das sepulturas, não descriminada, o esqueleto tinha um crânio "notável pela pequena elevação do frontal e forte desenvolvimento das arcadassupraciliares...em que o fémur tem a pilastra também extraordinariamente desenvolvida".(f) O leito ou face inferior das fossas é a rocha nativa.Os tipos de tijolos de revestimento e de cobertura são os seguintes: Rectangulares: 30 x 20.5 x 6.5 cm; Trapezoidais: 27 x 22/17 x 4 cm; Alongados: 18 x 5.2 x3.8 cm
N.M.
[e1]
[e2]
a
Cobertura da fossa a
b c
d
e
f f f
f f
MARIM ROMANO, [email protected] 60 2009-08-13
ARQUEOLOGIA 6. Sítios arqueológicos do concelho de Olhão
Inclui todos os sítios identificados ou referidos por José Fernandes Mascarenhas, nos seus diferentes opúsculossobre arqueologia regional. De outros autores inclui apenas os datados da Antiguidade Clássica e Tardia.O conjunto consiste em 62 estações distintas, das quais 42 da Época Romana e/ou da Antiguidade Tardia.
Abreviaturas bibliográficas do catálogo
ADD Algumas doações de D.Dinis em Faro e seu termo, J. Fernandes de Mascarenhas, separata dos Anais do Município de Faro 1974,Faro
AMA VEIGA (1887-91)
ARA SANTOS (1972)
CA MARQUES (1995)
EAA Elementos de Arqueologia sobre o Algarve, 1967, J. Fernandes de Mascarenhas, Tavira
EPS SILVA & SOARES (1992)
FC Fornos de cerâmica e outros vestígios romanos do Algarve, 1974, J. Fernandes de Mascarenhas, Lourenço Marques
IRCP ENCARNAÇÃO (1984)
NAH Notas de Arqueologia e História sobre o Algarve, 1989, J. Fernandes de Mascarenhas, Olhão
NDA MASCARENHAS (1993)
RMM Roteiro dos monumentos militares portugueses, Vol. III, João de Almeida, 1947, Lisboa
RP ALARCÃO (1988)
SBA FRAGA (2002)
SEP A sepultura do Séc. II de um guerreiro com espada (Morgado de Dona Menga – Tavira), Conimbriga, XXXVIII, 1999, David Calado,pp. 215-223
SQM GRAEN (2007)
SQM2 GRAEN ET ALII (2008)
TRM GRAEN (2005)
Catálogo
Nº Nome Localização Achados Período Bibliografia
1 Cerro da Cabeça Muitos machados de pedra "Pré-História" AMA, IV, p.106
2 Moncarapacho Junto à aldeia Dois machados de pedra polida (um representado naestampa XX, nº3)
"Pré-História" AMA, I, p.84-85AMA, IV, p.106-7
3 Moita Redonda 3 sepulturas de inumação com fragmentos de ânfo-ras, destruídas
AntiguidadeTardia
CA, p.83
4 Moncarapacho Sobrados(Estrada paraSanta Catari-na)
Necrópole de inumação páleo-cristã. Sepulturas deforma trapezoidal semelhantes às de Odrinhas eMértola. 1.70x.45m escavadas no caliço e cobertaspor duas lajes toscas de caliço.Sem espólio ma com vestígios de sudário. Orientadasa E-O numa encosta voltada a Nascente. Esqueletosditados de lado ou encolhidos com a cabeça voltadapara Oeste.Uma estela anepígrafa desaparecida24 sepulturas, mas deve ter havido muitas mais poisapareceram na zona muitos outros esqueletos.
AntiguidadeTardia
EAA, p.48-56
5 Barria Ídolo oculado e sepultura desaparecida Calcolítico NDA p. 14-17
6 Cerro da Cabeça Gruta Placa ídolo Calcolítico NDA, p.17
7 Moncarapacho Sem localiza-ção
Três ídolos oculados (exceptuando o da Barria) Calcolítico NDA, p.14-17 e 19-22
8 Canada de Bias 40 m a N daestrada deFaro
Sepultura quadrangular de inumação com fragmen-tos de cerâmicaNa área e no caminho para o poço da Amoreiraforam destruídas outras semelhantes, com pedras deraio e “lancetas de sangrar gado” em cobre.
Idade doBronze
CA, p.99AMA, IV, p.105-6
9 Cerro da Cabeça Fazenda deJosé Catarina
Sepulturas quase quadradas, destruídas Idade doBronze
AMA, IV, p.106
MARIM ROMANO, [email protected] 61 2009-08-13
Nº Nome Localização Achados Período Bibliografia
10 Cerro de Argil SE do cerroda Cabeça
Sepulturas quase quadradas, destruídas. Idade doBronze
AMA, IV, p.106
11 Foupana Propriedadede AntónioPalermo
Sepulturas quase quadradas, destruídas. Idade doBronze
AMA, IV, p.106
12 Rua dosParreirões
Fazenda deFranciscoPacheco
Sepulturas quase quadradas, destruídas. Idade doBronze
AMA, IV, p.106
13 Cerro da Cabeça Gruta doAbismo
Objectos “deixados pelos mouros”. Indetermina-do
AMA,I, p.84
14 Cerro de SãoMiguel
Marco geo-désico
Vestígios de ruínas e construções circulares na faceSul.
Indetermina-do
Inédito
15 Poço da Areia Silo. Indetermina-do
CA, p.87
16 Cerro de SãoMiguel
Ermida Pia de pedra, com a forma de rosa de oito pétalas,semelhante à de Cacela. Usada provavelmente paraabluções e posteriormente reutilizada como pia deágua-benta.
Islâmico NAH, p. 18-21
17 Hortinhola Dentro deum poço
Silo, alcatruzes, cerâmica comum, poçoCerâmica “visigótica”?
Islâmico EAA, p.59-60
18 Moinho doTesouro
Cerâmicas comuns de pasta branca e vidrada. Islâmico CA, p.83
19 Palmeira Silo. Islâmico CA, p.75
20 Vale da Serra Cerâmica vidrada e melada, telhas. Islâmico CA, p.71
21 Poço da Amoreira Bias do Norte Silo, Torre. Islâmico ? EAA, p.61CA, p.95
22 Murtais Muros arruinados de torre ou fortificação. Medieval ? RMM
23 Alfanxia Dois fornos de olaria, quantidades enormes de restosde cerâmica e cinzas. Fornos cilíndricos com tecto emabóbada de tijolo, com 5 arcos. 2m de altura e 2.8 mde diâmetro. Poço de cinzas com 17 m de compri-mento.Lateres, tégulas, imbrices, dólias, ânforas e lucernas(uma com um caranguejo em relevo).Asa de ânfora com marca de oleiro DASIM/VSTELIMuros, tanque de formigão com 1.8x1.6m.Canal de abastecimento de água.Moeda de Augusto e de Nerva.Mó quebrada.Necrópole com várias sepulturas de inumação,revestidas de placas de argila. Uma tinha um cipoepigrafado D.M.S./AMIMETVS/VI. ANN.XXIII/H.S.E.S.T.T.L., datável de finais do séc. II ouprincípios do III.
Romano FC, p.9-14,20EAA, p.36-37NAH, p.15IRCP, p.83-84
24 Areias Moeda de bronze de Maximino Pio ou Maximiano(Séc. III).
Romano NAH, p.16
25 Arouca Prop. de JoãoMascarenhasde Mendonça
Lápide funerária de Titus Manlius Lacon, datada doséc. II.D(IS) M(ANIBVS) S(ACRVM) T(ITVS) MANLIVS LACONANNOR(VM) LV H(IC) S(ITVS) E(ST) S(IT) T(IBI) T(ERRA)L(EVIS)
Romano EAA, p.41-43CA, p.87IRCP, p.92
26 Atabueira Tégulas e moedas várias, desaparecidas. Romano
27 Barria Moeda(s?). Romano NAH, p.15
MARIM ROMANO, [email protected] 62 2009-08-13
Nº Nome Localização Achados Período Bibliografia
28 Belamandil Benamadil no tempo de D. Dinis.Necrópole de incineração destruída, com objectos devidro.Patera funerária e lateres. 3 unguentários deposita-dos no Museu de Faro.Moeda de bronze de Cláudio I.
Romano ADD, p.4-6ARA, p. 247-8
29 Bias do Sul Algunsmetros a Sulda EstradaNacional,perto dumanora
Marco miliário e termo Augustal: AVG(VSTO) PONTI-FICI / MAXIMO / MILLIA PASSUUM DECEM
Romano EAA, p.7-15
30 Bias do Sul Entre aestrada e omar
Numerosos vestígios de materiais de construçãoromanos, próximo do mar, sobretudo tijolos muitoreutilizados. Fuste de grossa coluna maciça, encon-trado perto da estrada. Tradição local de "cidade"perto da costa.
Romano EAA, p.10-11
31 Cerro de SãoMiguel
Face Oriental Troço de calçada na base, próximo de um forno decal, e via parcialmente escavada na rocha pela faceNorte do barranco, com muros de suporte e prová-veis sinais de rodado de carroças. O caminho estácortado pelo talude da estrada moderna, de acessoao cume.
Romano SBA, mapa 5Verificado porMaria e ManuelMaia
32 Cruz da Pedra Moeda(s?). Romano NAH, p.15
33 Gião Moeda(s?). Romano NAH, p.15
34 Horta doQuintalinho
Moeda(s?). Romano NAH, p.15
35 Livramento Conc. deTavira
Moedas do séc. III e IV. Romano RP, p.209
36 Marim Quinta deMarim
Grande villa, com numerosos elementos arquitectó-nicos e decorativos e planta de duas grandes divi-sões, uma com três dolia.Templo pagão privado de meados do séc. IV, decora-do com mosaico, junto de mausoléu com fragmentode sarcófago infantil (séc. III).Nicho decorado do séc. IV .Balneário com estrutura do séc. IV e com edifícioanexo.Duas pequenas estruturas isoladas: fontanário eedícula ou mausoléu.Duas necrópoles com numerosos vestígios epigráfi-cos, tumulares e de espólio funerário (sécs. II-III eséc. V).Diversos objectos domésticos e pessoais.Tesouro de 100 aurei de Honório.Elementos Tardo-Antigos do séc. V e talvez posterio-res, incluindo cerâmica "late roman C" e inscriçõespaleocristãs.Fragmentos de cerâmicas, vidros e objectos metáli-cos diversos, datados desde inícios do séc. I d.C.
RomanoAntiguidadeTardia
ARA, p.249-286IRCP, p.82-101RP, p.208NDA, p. 9-13TRMSQM, p. 279, 284SQM2
Marim Marinhas daAna Pereira
Fábrica de salga, com edificações, duas linhas decetárias, duas fornalhas, forno de cal. Concheiro de"Murex brandaria". Espólio diverso e abundante,nomeadamente ânforas e sigillatas de várias origens,cerâmica africana e local. Pesos de pesca, 1 moedado séc. III, 4 ânforas Almagro 50 com a marcaIVNIORVM, de produções locais de produtos piscíco-las.
RomanoSéc. III
EPS
38 Marim Guarda Fiscal Tanque de salga isolado, com ruínas de edificaçãomodesta e poucos vestígios.
Romano Informação deCristina Garcia
39 Marim Ria Formosa Tanque de salga (cetária). Romano CA, p. 99-101
MARIM ROMANO, [email protected] 63 2009-08-13
Nº Nome Localização Achados Período Bibliografia
40 Marinhas de JoséGuerreiro
Ânforas romanas intactas.Tijolos de argila vermelha.
Romano FC, p.15-16
41 Moncarapacho Casa deXavier Mar-tins
4 tégulas com sulcos digitais sinuosos. Provavelmen-te pertencentes a sepultura de incineração.
Romano FC, p.18
42 Moncarapacho Horta dopadre Graça
Moedas e achados não especificados, Silo. Romano NAH, p.15CA, p.79
43 Moncarapacho Largo doPoço
2 moedas, 1 de Sétimo Severo. Romano NAH, p.15
44 Moncarapacho Sobrados Vestígios de forno de olaria: grande quantidade derestos de louça de barro e cinzas. Paredes de alvena-ria revestidas a formigão romano.Poço com 2 m de profundidade, revestido a formigãoromano.Local junto à necrópole.
Romano EAA, p.51
45 Moncarapacho Sem localiza-ção
Moeda de bronze de Honório Romano EAA, p.52
46 Morgado deD.Menga
Materiais de construção.Muitas sepulturas de inumação, algumas com brincosmetálicos.Moedas, das quais 1 bronze de Séptimo SeveroMó de lagar (de azeite?).Duas construções subterrâneas, uma com cascas demarisco no fundo.Túmulo de incineração tapado com grande laje,construção quadrada em tijolo com unguentárioverde translúcido, idêntico ao do M.N.A:Sepultura de inumação coberta por três lajes depedra,de militar com espada de ferro de 55cm,aparentemente germânica e fragmentos de aryballosem vidro da 2ª metade do séc. I e copo do Séc. II.Orientação N-S.Na propriedade existe uma nascente chamada Bura-co Santo, a que se atribuem propriedades medicinaisna cura de chagas.
Romano EAA, p.29-31SEP
47 Murtais Cerâmica comum e sigillata associadas a concheirocompacto.
Romano CA, p.75
48 Olarias Moeda(s?). Romano NAH, p.15
49 Palmeira Materiais de construção. Romano NAH, p.32-33
50 Parra Várias sepulturas de inumação, cada uma com doisesqueletos em sentido oposto. Pequeno frasco devidro na cabeceira de cada um delas.
Romano FC, p.19-20
51 Quelfes Junto à ponte Lápide votiva: [...]REI[...]NI TVRVBRI[...]/[...]E EXNARAC[...]/[...]V SVOTV SO[LVIT?]
Romano FC p.20-23IRCP, p.81
52 Quintã Sarcófago de pedra 1.94x0.56x0.51 originalmentecom tampa.
Romano FC p.17-18
53 Romeirão Estruturas arrasadas e grande lápide com inscrição,destruída. Materiais de construçãoDiversas moedas romanas do período imperial.
Romano ARA, p.291AMA II, p.578
54 Torrejão Velho Belamandil Balneário.Sepulturas desaparecidas.Tijolos, lateres, frag. de vasos de vidro.Anzóis de bronze e obj. metálicos.Capitel coríntio.Tesouro de muitas moedas, grande parte espalhadas,com um núcleo de 50, da República ao séc. IV. As deConstantino Magno são as mais numerosas, seguidasdas de Filipe o Árabe e sua mulher.
Romano NAH p.7-13
MARIM ROMANO, [email protected] 64 2009-08-13
Nº Nome Localização Achados Período Bibliografia
55 Vale da Serra Represa em opus signinum Romano CA, p.75EAA, p.32-33
56 Vale da Serra Restos de calçada entre o cerro da Calada a da Cabe-ça, na direcção da Foupana.
Romano EAA, p.32-33
57 Lameiro Calçada, que se prolongava até à D. Menga. Romano ? NAH, p.32-33
58 Poço do Ouro 3 sepulturas quadradas de incineração, revestidas atijolo em todas as faces.
Romano ? FC, p.12
59 Cerro da Cabeça Face NE Via calçada na direcção Norte-Sul. O troço mais longotem um pavimento de pequenas lajes irregulares,segundo uma tipologia medieval ou moderna. Cor-responde a um caminho e logradouro público conhe-cido localmente como "dos caçadores" e de "Portu-gal". Foi recentemente apropriado, em grande parte,por propriedade privadas. Mantém, na sua extremi-dade NE, transformada em "rua" privada de ummonte tradicional, uma parte com lajeado de carac-terísticas romanas, no sentido do Monte do Tesouroe Estiramantens.
RomanoIdade MédiaModerno
SBA, mapa 5Verificado porMaria e ManuelMaia
60 Moncarapacho Sobrados(Casa doPovo)
Anel de ágata com figura de legionário armado(elmo, lança e escudo oval).5 sepulturas idênticas às da necrópole."telhas muito grossas", pedaços de potes.
Romano,AntiguidadeTardia
EAA, p.34-35
61 Olhão Doca depesca, pertoda FábricaFialho
Tanques de salga (num raio de 30 metros), anzóis. Romano ARA, p. 215-7CA, p. 95-97
62 Olhão Sob o cinema Vários tanques de salga. Romano NDA, p.7
OMISSÕES DA VERSÃO CORRENTE (02-12-2009 16:31:00)
Resumo da reconstituição da planimetria e da organização funcional da villa. Falta a figura correspondente.
Apêndice arqueológico sobre a planta do edifício da villa, de Estácio da Veiga