contos pitorescos 15

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De Santa Rosa tanto viu e ouviu certas coisas do cotidiano de muitos lugares, que dessas coisas todas, além do legado doméstico, valores foram confrontados e sentimentos foram forjados, de um modo que resultou num grande despertar sobre cada momento de cada história vivida e conhecida, e assim dessa reflexão surgiu a ideia de compartilhar seus ‘tesouros escondidos’ numa coletânea que apropriadamente foi batizada de Contos Pitorescos.

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Contos pitoresCos

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São Paulo - 2015

De Santa RoSa

Contos pitoresCos

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Jacilene Moraes

Foto da Capa De Santa Rosa - Praia da Ribeira (18/07/15)

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Natália SilveiraColaboração Hamilton Simões

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

R694c

Rosa, De Santa Contos pitorescos / De Santa Rosa. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0464-7

1. Conto brasileiro. I. Título.

15-26376 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

________________________________________________________________14/09/2015 15/09/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Dedico este livro a Tempo Duro, carregador de ca-minhão que foi levado a óbito pela voracidade humana. Homem simples capaz de se comunicar com insetos e plantas. O único erro de “Tempo Duro” era cantar quan-do a cachaça lhe toma o juízo. Canta colibri, canta pássa-ro, que todo este céu lhe pertence.

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Homenagem à D. Maria Conceição Bahia

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prÓLoGo

Contos Pitorescos é uma coleção de casos cons-truídos, pelo que se sabe, pelo imaginário do autor que transporta para seus textos, cenas cotidianas da vida humana nos mais variados ambientes que se possa pensar, afinal de contas o imaginário nos permite criar e recriar o que nos convenha expressar, se quisermos que seja feito, de um jeito ou de outro, haja vista que ao longo dos textos De Santa Rosa conta ricamente detalhes de situações vividas pelos personagens como se ele mesmo estivesse nas cenas descritas, de um modo que suscita a sua cumplicidade na narrativa que faz, como no caso Valdo, protagonista de “BILOLA COM BILOLA”, cabra brabo que assombra só de saber da

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sua existência, e que termina sua história com uma definição avessa à sua convivência social normal.

Para que esses contos pudessem ser contemplativos que nem uma pintura foi preciso ser criativo e descritivo, acima de tudo, para realçar genuinamente o caráter de cada personagem apresentado, de cada cena produzida, pois requerem o inusitado e curioso para forjar seu ideal, mesmo que seja só na mente do autor, por isso mesmo essa coleção de contos trouxe no seu bojo uma caricatura da vida cotidiana de certas pessoas figuradas em persona-gens idealizados por De Santa Rosa com bastante humor e picardia, além de um enxerto do autor para recriar a condição salvadora de uma ficção que se faz necessário à vida em muitas vezes.

ALOÍSIO ANTONIO DALTRO SOUZA

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sumário

Bitonho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13

Bilola com bilola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21

O velho nilson e papai noel . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

Dupla de dois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45

Injustiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52

Kabeça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59

É só kaô, kaô, nada de pescador . . . . . . . . . . . . . . . .69

Marrom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79

O doutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91

Oraboda sereia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97

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Periquito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .105

Panhaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .117

Pepeu, o amante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .123

Piloto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .131

Riso eterno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .141

Saci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147

Sandubão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .157

Tititio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .163

Sa m p, o vampiro que foi sugado . . . . . . . . . . . . . .169

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B i t o n H o

Em Enseada Bela, onde se destaca o encontro do rio e o mar, no porto de saveiros do rio Paraguaçu, se es-coa a produção fumageira da velha Suerdieck, fábrica de charutos. Estes nada ficam a dever aos seus parentes mais próximos, os cubanos.

Neste ninho de artesão, fabricação rústica de embar-cações, muitas delas destinadas aos épicos hollywoodia-nos, e de nobre casta de pescadores, no encontro de céu, e mar, a mão do primeiro Orixá frisou a cidade de Mara-gogipe, que tem como padroeiro São Benedito Apaisano, e por este não ser santo reconhecido pela santa madre igreja, foi destituído do cargo, dando lugar ao seu paren-te mais próximo, São Gonçalo, também destituído por

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decreto imperial. Destituído quando a corte portuguesa se mudou para esta sagrada terrinha, a Bahia, o que foi do bom gosto dos fiéis, apresentar a dança de São Gon-çalo ao rei da coroa portuguesa, já que ele nunca tinha visto a mistura produzida pela mãe África, ficando escan-dalizado com o molejo da dança. Ora, senhores, o que tem de mais seus, ou melhor, suas dançarinas dançarem já que dança é praticada por mulheres, que no desespero de revirar o olho com um amante a que possa ela castrar os desejos para que este tenha o pseudônimo de marido.

Estas dançarinas tudo faziam, e Santo Antônio com suas trezenas fica de escanteio, pois neste objetivo de ca-sório, São Gonçalo está se saindo muito mais eficiente, não sei se é por causa da sensualidade das dançarinas, que de posse da imagem do santo em punho, vão esfregando esta sobre o corpo radicalmente da cabeça aos pés com esmero e sedução, com o detalhe de quando passam pelo seio, a veste é aberta e o Santo fica endemoniado por se ver em movimento sutis junto dos mamilos, e com elas dançando com toda sedução.

Conta a lenda que as dançarinas têm que sentir a carícia nos seios da mão do amante que pretende fisgar. Tente adivinhar quando a imagem chega à virilha.

Neste bom tempo, quando surgiu a dança, não se sabia o que era “strip-tease”, contudo, este já era pratica-do com toda sutileza na dança de São Gonçalo. De vez em quando o santo canônico vem com badalhoca presa na fase, pois as mais sedentas enviavam a cabeça da ima-gem no Zé de obrar e por conta do esfrega, esfrega, a imagem tem eterno cheiro de chibiu.

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Por causa destes desprovimentos, a destituição do santo se deu, e assumiu São Bartolomeu.

Não ficou unânime a posse do referido santo como padroeiro. Os descontentes, devoto do destituído uni-ram-se, e em deboche ao canônico padroeiro quando da sua festa de padroeiro, criaram à margem, a festa da buceta, que vem na rabada da procissão. Em cantos gregorianos seguem as beatas, e nos refrãos, da rabada, saem a nata da criação. A apoteose se dá quando a ima-gem do santo protetor da cidade chega a porta da igreja matriz, com toda cerimônia vai sendo virado de costa para matriz para poder entrar. Os seus fiés com todo vigor do pulmão entoam o canto símbolo do santo feito na terra que ele é padroeiro:

Os descontentes com a transmissão do cargo de pa-droeiro parodiam a música, veem na rabada da procissão puxando outro refrão com todo ar do pulmão:

— “Quando em vim da Bahia, êta, encontrei sete bu-cetas, fazendo discurso na praça. E saem aos gritos, ao, ao, ao, buceta de um real, sendo que, esta já foi anunciada por um cruzeiro, um cruzado, e por aí a fora, sempre um.”.

Nesta terra, onde tudo se procria, com esmero da sapiência dos seus habitantes, vive Bitonho, homem sá-bio, neto de escravos que ainda guarda os ensinamentos da terra mãe, a África. Não sei a que etnia pertencia seus avós, mas é de certo de que não eram guerreiros, pois a palavra mais usada por Bitonho é shikoba.

Ainda muito jovem, por conta da adversidade da vida, foi dele tirado a coisa que ele mais admirava, a roda de capoeira, tendo que enveredar no árduo labu-