contos tibetanos

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    ONTOS POPULARES DO TIBETE

    S MAIS BELOS DILOGOS NA LITERATURA BUDISTA

    ESPRITO E A NATUREZA

    ENSAGEM DE SUA SANTIDADE O XIV DALAI LAMA

    ulo: CONTOS POPULARES DO TIBETE

    leo: Jayang Rinpoche

    aduo: Lenis E. Gemignani de Almeida

    pa: Camila Mesquita

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    itor: Antnio Daniel Abreu; Produo Grfica: Kleber Kohn

    DICE

    Esprito e a Natureza

    ensagem de Sua Santidade o XIV Dalai Lama

    Tibete e o Budismo

    Criao

    ame, Chenrezik y Dolma

    Primeiro Rei do Tibete

    dmasambhava e a Echarpe da Felicidadecomo Asanga chegou a ver o Buda Futuro

    Castelo do Lago

    Moo que se Negava a Matar

    Homem Bom

    Transformador do Tempo

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    Tesouro Perdido

    Orao que foi Escutada

    rvoreSombrinha

    Amantes

    R

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    ESPRITO E A NATUREZA

    ENSAGEM DE SUA SANTIDADE O XIV DALAI LAMA

    eio que viestes aqui com algum tipo de expectativa, porm, no essencial, nada tenho a oferecentarei, simplesmente, compartilhar com vocs algumas das minhas experincias e vises.

    idar do Planeta no exige nada de especial ou sagrado, como cuidar da nossa prpria casa. mos outro Planeta como casa depois deste. Apesar de existirem aqui uma srie de problemas esequilbrios, esta a nossa nica alternativa, no podemos ir para outro Planeta. Tomemos comemplo a Lua; desde os tempos antigos, seu aspecto belo, porm, se algum vai instalarse l pver, pode ser horrvel. Esta a minha opinio. Nosso Planeta azul muito melhor e muito maisativo. Portanto, devemos cuidar do lugar onde vivemos, nossa casa, o Planeta.

    esar de tudo, o ser humano um animal social. Com muita freqncia costumo repetir junto aus amigos, que eles no tm necessidade de estudar filosofia, esses temas complicados e

    admicos. Simplesmente, ao observar com freqncia estes inocentes animais, como os insetomigas, abelhas, etc, em geral, tenho um certo tipo de respeito para com eles. Por qu? Eles n

    m nenhuma religio, constituio, fora poltica, nada. No entanto, vivem em harmonia com a lstncia, as leis da natureza.

    que sucede com os seres humanos? Temos grande capacidade de inteligncia e sabedoria por

    m freqncia, a utilizamos de forma incorreta. Como conseqncia realizamos aes que vontra a natureza bsica humana.

    alisada de um certo ponto de vista, a religio um luxo. Se dispomos de uma religio, pode ssitivo, porm, se ficarmos sem ela, podemos sobreviver mas, sem o 3

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    to humano, somos incapazes de viver.

    o bem, o mal e o dio tal como o amor e a compaixo fazem parte da mente, continuo acredit

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    e a fora dominante da nossa mente a compaixo e o afeto humano. Por essa razo normalmeamo a essas qualidades de "espiritualidade", no no sentido religioso. A cincia e a tecnologinto com o afeto humano construtiva. A cincia e a tecnologia a servio do dio, destrutiva.

    ando se pratica uma religio de forma genuna, esta no algo que passa a estar no exterior mm no nosso corao. A essncia de toda e qualquer religio a bondade de corao aberto. szes refirome ao amor e compaixo, como uma religio universal.

    ta a minha religio. As filosofias complicadas, com freqncia trazem mais problemas entradies. Se essas complicadas filosofias so teis para desenvolver um corao bondoso, eemolas plenamente; se, pelo contrrio, se convertem num obstculo para gerar essa bondade drao, o melhor abandonlas. Isto o que sinto.

    observarmos a natureza humana com detalhe, o afeto a chave para a bondade.

    me natureza, em minha opinio, um smbolo de compaixo. Todos temos uma semente de enndosa dentro de ns. Realizar a compaixo depende unicamente de cuidar dela ou no.

    scurso de Sua Santidade o Dalai Lama em Middlebury sobre o tema: Esprito e Natureza, em embro de 1990.

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    TIBETE E O BUDISMO

    rante o perodo que compreendeu, mais ou menos, o ltimo quartel do sculo 4

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    ssado e a primeira metade do atual, o Tibete exerceu, sobre muitos espritos ocidentais, umansidervel fascinao. Fascinao de dupla natureza, diramos: a que se vinculava a seu epte

    as das neves", por uma parte, e a que respondia sua condio de "pas de monges", por ouentuadas ambas pelo difcil acesso ao Tibete fator que o envolvia ainda mais, numa aurstrio.

    sim, pois, cedendo a essa dupla fascinao, a busca do extico, de um lado, e a busca dopiritual, do outro, se orientaram, em certa ocasio, para um objetivo comum; e, alm disso, amareceram, muito freqentemente, combinadas de forma mais ou menos inextricvel. As conotarticulares, com as quais o Tibete aparecia mostrado aos olhos do Ocidente que, intrigado, o iascobrindo, convertiamno no ponto de convergncia de uma nostalgia sentida e expressada de

    erentes maneiras, mas que, fundamentalmente, se pode reputar como nica: a nostalgia das oriostalgia daquele "Pardes", no den, ao Oriente, qual, talvez, muito alm da simples alegoria

    bete estivesse, realmente, em condies de corresponder.

    para um Ocidente excntrico, submerso nas sucessivas ondas da modernidade, o Tibeteresentava de forma eminente o outro prato da balana, intrigante e incmodo ao mesmo tempoaente e problemtico. Intrigante, porque o Tibete nos fazia pressentir "o que ns somos", emodo, porque nos obrigava a abandonar aquilo "que queramos ser".

    te o avano e o estabelecimento das democracias, o Tibete oferecia uma teocracia incontestade o progressismo, uma total fidelidade tradio; ante a extenso a todas as ordens de uma vi

    cular das coisas, a impregnao do sagrado em todas elas.

    sim, a questo do Tibete, como quer que fosse abordada, devia pr sempre em discusso aernativa modernidadetradio e tudo o que ela comporta. S que, tal alternativa, contrariamene se possa pensar, algo mais do que o resultado de uma 5

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    o por qualquer uma das duas ordens de valores, vontade intercambiveis. Na realidade, eduz o contraste entre a noescolha e a escolha, mas ao contrrio do que hoje se pretende. Podrmar e nisto devese ver algo mais do que um uso arbitrrio de palavras que no se escodernidade, mas se cede a ela, enquanto que se escolhe, sim, a tradio, se opta por ela. O "poolhido" , da mesma maneira, o povo

    ue elege". Uma comunidade tradicional , metafisicamente, uma matriz que se tem preparado polher uma semente espiritual concreta e para darlhe forma.

    Ocidente se encontrava, pois, ante um dilema que no era capaz de resolver e no qual

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    nstantemente haveria de tropear. O Tibete, dissemos antes, era sentido obscuramente como umseio, e, ao mesmo tempo, representava um problema difcil. Mas o Ocidente, finalmente, acabcontrando uma soluo para as duas alternativas. Por meio de caminhos sutis, mais misteriosoue o caminho que o peixe segue sob as guas", o Ocidente viuse livre do problema transmitindtros a sua resoluo. Com a "sacrlega invaso do Tibete" (Marco Polo), o implcito denunciamodernidade passava a ser integrado nolens volens ao mundo moderno, ou, mais precisamento mais sinistro deste. E, com a dispora que veio depois, o Ocidente passou a dispor, e nosrcos de sua prpria cultura, dos elementos nos quais acreditava se cifrasse aquele anseio. As

    e, o personagem com o qual Somerset Maugham quis desenhar a atrao do Ocidente pelo Tibderia encontrar a este em sua prpria cidade, "vantagem" esta de duplo "fio".

    Ocidente cria frmulas, vive delas e eventualmente as exporta. Dessa maneira, acredita que, smunismo ou o "American way of life" so exportveis e implantveis em solos vrios, tambmetano pode ser uma semente que d frutos em outras culturas. Mas, esta conceptualizao ificial, e abstrair "o tibetano" do seu contexto original desconhecer sua autntica natureza. Ulidade espiritual como a que o Tibete 6

    p://www.livrosnaintegra.blogspot.compressava se acha misteriosa e indecifravelmente unida a um marco humano e geogrficoerminado, fora do qual os elementos que a integram correm o risco de perder a fora de coese os aglutina e lhes d a sua eficcia.

    sim, pois, entendemos que, a um nvel global, o Ocidente tem sado igualmente perdendo comva situao criada a partir de 1959, e achamos que a nica atitude de seguros frutos para o pridente, atitude to nobre quanto utpica, verdade seja dita, dadas as circunstncias, seria a de

    tar que "o tibetano" fosse restitudo ao Tibete.i dito antes que uma comunidade tradicional era uma matriz preparada para acolher uma semepiritual concreta. O Tibete o foi para o budismo, e, mais particularmente, para o budismo tntre nele achou o receptculo privilegiado para a sua melhor florao. No obstante, a equaobete = budismo tntrico no absoluta em nenhum dos dois sentidos. Nem a realidade do Tibeduz de ser uma expresso da essncia dessa via espiritual, nem a realidade desta se esgota, pa vez, na expresso que recebeu do Tibete.

    ntro das fronteiras do Mahyna, foise desenvolvendo uma corrente particular que, integrandoversos elementos que se encontram igualmente no seio do hindusmo, chegou a se constituir nurceira via", numa terceira "colocao em movimento da roda do Dharma", e ofereceu um cam

    pido, um atalho, para chegar ao objetivo final perseguido por todas as escolas budistas. Se oahyna se baseia nos stras, que recolhem os sermes dos ltimos anos da vida do Budakyamuni nos quais aparece de forma explcita a dimenso misericordiosa e esotrica doarma , o budismo tntrico se baseia nos tantras. Os tantras so textos para os quais no sevindica uma filiao determinada e cuja funo consiste em indicar os meios "tcnicos" a serlizados para alcanar o fim proposto. Meios entre os quais poderamos distinguir: os relacion

    is 7

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    pecificamente com a Ioga, os que se enquadram no Dhyna (meditao), e aqueles que podem nominados "alqumicos", isto , aptos para transmudar as disposies

    aturais" da alma, para espiritualizlas, de acordo com a perspectiva geral do tantrismo, para opaixes no so ms em si mesmas, e no devem, portanto, ser destrudas, mas sim, "convertiseja, reconduzidas Verdade, da qual, em determinadas ocasies, no so seno expresses

    errantes.conjunto destes meios se integra num esquema trplice, que corresponde ao

    rplice Mistrio do Corpo, da Palavra e da Mente": por uma parte, os "ritos de consagrao"

    u iniciaes: abhiseka); por outra, as invocaes de mantras; e, finalmente, as prticas deditao. Conhecese esta via como Mantrayna ou, sobretudo, como Vajrayna ("Veculomantino"), o qual reconhecido pelo smbolo que o distingue em especial: o vajra. Este,ginariamente, representava o raio, como atributo do deus hindu Indra, um equivalente do Zeus

    ego; metafisicamente, simboliza o princpio masculino da manifestao universal. A idiabjacente a esta palavra, no obstante, a de imutabilidade e indestrutibilidade;

    im, na perspectiva budista, se a entende como aplicada "senhora das pedras" (isto o queatamente quer dizer a sua traduo tibetana: dorje I rdo I rje I): o diamante. Serve para simbolmtodo espiritual (upya; tibetano, thabs), a fora invencvel e pura que opera o milagre de quheguemos a ser o que somos". O vajra se concretiza num objeto ritual maneira de cetro, o qudistintivo especfico do lamasmo, a forma tibetana do budismo tntrico.

    budismo tntrico, entretanto, como foi dito anteriormente, no esgota a sua realidade na domasmo. Nascido na ndia e cultivado em centros to prestigiosos como a Universidade deland, um dos centros mximos da irradiao do budismo mahyna, o budismo tntrico teve,tamente, no Tibete um depositrio providencial, que, fazendoo 8

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    u, o preservou de uma possvel extino. As devastaes efetuadas nos sculos XI e XII pelosvasores islmicos haviam causado um dano irreparvel aos centros budistas da ndia e transfe

    o facto ao Tibete a condio de centro do budismo mahyna. De qualquer maneira, paralelammplantao do budismo tntrico no Tibete, ocorreu tambm a sua implantao no Japo,ndamentalmente por parte daquele que fora um dos expoentes mximos da espiritualidade budikai, conhecido por seu ttulo pstumo de Kb Daishi. Este criou, no incio do sculo IX, a ee , provavelmente, a forma mais quintaessenciada do budismo tntrico: o shingon, escola quentinua, hoje, plenamente florescente no Japo. O que nos parece mais interessante destacar a epeito o fato de Kkai ter recebido este ensinamento de mestres chineses, os quais, por sua vviam

    recebido diretamente de mestres hindus de Nland. Por outro lado, essa particular amlgama

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    dismo tntrico com formas mgicochamnicas ancestrais, amlgama que caracteriza o lamasmd o seu timbre peculiar, tampouco exclusiva deste, pois aparece igualmente no shingonons. Isto parece indicar que essa amlgama responderia mais a uma ntima solidariedade,ssvel de se encontrar na prpria natureza das coisas, do que a uma mera integrao circunstanelementos presentes em determinadas condies de tempo e de lugar.

    qualquer maneira, a "originalidade" do Tibete estaria no fato de ele terse identificadojoritariamente como povo com essa forma espiritual concreta, e de ter extravasado nela todo

    nio", produzindo uma sntese nica e exemplar, de uma riqueza, sob todos os aspectos,raordinria.

    conscincia tibetana, distinguemse duas ordens: a que depende de uma Lei divina (Lhachos) seada numa tradio humana (michos). Na primeira categoria entram, na histria tibetana, noenas os ltimos mil e duzentos anos, regidos pelo 9

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    arma (chos), em tibetano bdico, mas, tambm, o perodo indeterminado anterior, regido peloconhece como religio Bon. Tudo o que faz referncia a esta permanece ainda muito poucoclarecido, e acaba sendo muito difcil distinguir, particularmente, o que ela poderia ter sido eme prbudista, e o que hoje ela . Para os seus praticantes, a Bon atual a mesma que em suasgens, as quais coincidiriam com as do Tibete como povo;

    ra os budistas, entretanto, o que hoje se conhece como Bon no mais do que uma heterodoxiadista, surgida como reao ao triunfo do budismo no Tibete e este , certamente, o aspecto ual o budismo tibetano, em geral, tem sido apresentado pelos estudiosos ocidentais que dele

    m ocupado. De todo modo, parece existir, sim, uma vinculao entre o Bon prbudista e as origpovo tibetano como tal, pois este ltimo procederia concretamente do que hoje o Tibetedental, particularmente a regio do Monte Kailas, que continua sendo hoje a regio Bon por

    celncia.

    m disso, no possvel estabelecer uma categorizao rgida em torno das duas noes dechos e de michos, pois, em funo dos elementos de que se dispe, sua linha de demarcao precisa. Por um lado, parece que somente o budismo poderia reivindicar o primeiro qualificas, por outro lado, provvel que o budismo tenha chegado a gozar do mesmo apenas por exteis este corresponderia por definio ao Bon.

    tretanto, caberia, ainda, distinguir entre um "Bon do cu" (gnamBon), primordial e atemporal,on da esvstica" (gyung drung Bon), de origens histricas. De qualquer forma, mesmo o primestes no teria uma vinculao exclusiva com as origens mticas do Tibete, as quais estariampresentadas, de igual maneira, pelos dois elementos bsicos que compem o michos: os "contoticos" (sgrung) e as lendas ou "enigmas" (Ide 'u).

    sim, um texto tibetano nos diz que, durante a vida do primeiro soberano mtico do Tibete,areceram conjuntamente o lhachos, os sgrung e os lde'u, entendendose pelo primeiro o 1

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    on do cu". Mas, e para aumentar a confuso, no relato sobre esse primeiro rei mtico do Tibentido na presente coleo, vse que, ao chegar esse personagem ao Tibete, j havia nesteacerdotes da antiga religio".

    m todo caso e este justamente o dado que nos interessava destacar em especial , o quempre aparece designado como michos (que poderamos traduzir como

    abedoria popular"4) so esses sgrung e lde'u vinculados a um passado mtico, assim como atituio que tem como misso conservlos e transmitilos: a dos bardos (sgrung

    kham). Parecenos particularmente significativo o fato de estudiosos ocidentais terem designadom o nome de "bardos" os cantores tibetanos de contos mticos, pois as analogias que estesresentam com os bardos celtas so notveis. Estes ltimos, transmissores dos ensinamentos douidas que prolongavam, de certo modo, a prpria funo destes como sacerdcio no vincuma religio histrica, mas a uma sabedoria primordial encontram um fiel reflexo nosungmkham tibetanos. Estes continuaram a existir depois da instaurao definitiva do budismo

    bete, e, assim, a situao deste parecenos insinuantemente anloga que se encontra na Idadedia em certos povos celtas cristianizados, nos quais os vestgios da antiga ordem permeavamda todas as camadas da tradio.

    a este respeito, parecenos particularmente digno de nota o fato de o tema por excelncia dosrdos tibetanos ser o da saga do rei Gesar de Ling, personagem equivalente ao Artur cltico; sade, quanto ao mais, aparecem muitos elementos perfeitamente homologveis aos que nos oferelo do Graal.

    narrao dos contos possua, no Tibete, o carter de rito e devia ser praticada respeitando umie de requisitos. Quem a ela se dedicava devia possuir uma srie de condies tambm especis sua funo era de grande responsabilidade, da qual 1

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    pendia, em grande parte, a preservao do que hoje chamaramos de indcios da identidade devo. O bardo tibetano, que se vestia com um estranho chapu, de carter marcadamente simblrecido ao dos bufes das cortes medievais, no somente era poeta, cantor e msico, de memrrfeitamente treinada, mas era tambm um chama, que, como os famosos orculos (chosskyong)maicos, recebia sua inspirao em estados de transe.

    tretanto, nessa tarefa de transmitir a informao tradicional, os bardos no estavam sozinhos:nges errantes, narradores ambulantes manipa e os prprios peregrinos participavam dessa

    umbncia.5 Por outro lado, o prprio povo, dotado dessa magnfica e quase prodigiosa mem

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    e somente se d nas culturas de tradio oral, mantinha vivas e enriquecia, sem com istosvirtulas, as narraes tradicionais. Temse dito que a narrao de contos foi o equivalente, nbete, da nossa televiso. Isto, muito mais do que um chiste, vem revelar uma autntica analogiais ambas narrao de contos e televiso vieram para cumprir, com efeito, o mesmo encansmitir os mitos de uma cultura. S que, no caso dos contos tibetanos, os mitos informavamenticamente sobre a realidade das coisas, e a sua narrao se ajustava tambm a esta realidado pela qual se podia dizer que no Tibete "o Cu escutava os contos".6

    eramos referirnos agora ao Tibete em sua condio de ptria de eleio do budismo tntricosta dimenso, deve incluirse no somente o Tibete estrito, mas, tambm, as demais zonas depulao tibetana situadas ao longo dos Himalaias (como Ladakh, Zaskar, Lahul, a oeste; Mustcentro; e Bhutn, Darjeeling e Sikkim, a este, entre outras) e a Monglia, que recebeu o budismtrico do Tibete mais tardiamente.

    budismo tibetano, o lamasmo, , fundamentalmente, como havamos dito antes, uma amlgamadismo tntrico hindu com a religio e as crenas populares autctonas, 1

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    tipo mgicochamnicas. Reconhecese o lamasmo pela funo primordial que nele desempenhura do lama (blama), quem, em rigor, o mestre espiritual; entretanto, o mesmo ttulo tambicado ao que chamaramos de "dignidades eclesisticas". Embora o lamasmo constitua um comogneo, comporta, no entanto, urna diversidade interna, fruto basicamente da maior ou menoportncia dada aos distintos elementos que o integram. Estruturado, na maior parte emboraforma exclusiva em torno do modelo de vida monstica essa diversidade se traduz nastncia de distintas ordens: quatro, fundamentalmente, que so as que assumem a funo ativaderamos dizer, com respeito custdia e prtica da doutrina budista. O povo simples particso de uma forma adaptada s suas possibilidades, dado o carter propriamente inicitico des

    a;

    s o seu "gnio" tem posto a marca peculiar que possuem as manifestaes exteriores da mesmais do forma imagem que dela se possui no Ocidente.7

    entanto, por ser o resultado da inteirao recproca do substrato religioso e cultural com autrina budista, difcil determinar, por este motivo, o que corresponde, no lamasmo, asenvolvimentos prprios da doutrina budista, e o que corresponde a contribuies do substratigioso e cultural. Da mesma forma, inversamente, acaba sendo difcil decidir at que ponto esbstrato foi modificado pelo budismo, ou est apenas recoberto de uma roupagem bdica ao serpressado. Esta dificuldade melhor apreciada, mais precisamente, nos relatos da presenteeo, nos quais se observa como temas ancestrais esto expressos em termos budistas oueberam uma orientao budista.

    budismo no penetrou no Tibete, foi convidado para ele ponto este que estimamos da maionificao. Estabelecido o budismo, havia j muito tempo, em Cachemira, na China e nas zona

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    ia Central em contato com o Tibete, este permaneceu margem de sua irradiao at meados ulo VII da nossa era. Foi, ento, quando o rei 1

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    Tibete, Songtsen Gampo (Srongbrstansgampo), que por este motivo passou a ser consideradomeiro chosrgyal (Dharmaraja, em snscrito), deu os primeiros passos para a introduo dodismo no Tibete. Esta iniciativa veio a ser propiciada, ao que parece, pela condio de budistas de suas esposas: uma princesa chinesa, Wench'eng, e uma princesa nepalesa, Bhrikutim, as iam convencido o rei nesse sentido. Tudo isto, entretanto, no mais que o translado de umalidade espiritual: tradicionalmente, as duas princesas so consideradas como sendo a encarnTr, qual nos referiremos a seguir, e ao prprio rei como a encarnao de Avalokitesvara.

    r, divindade menor do hindusmo, passou a ter um papel destacado no budismo tntrico. Nestr , fundamentalmente, uma personificao do aspecto feminino da Misericrdia9. No obstaomum que aparea representada, na iconografia tibetana, sob vinte e um aspectos agrupados a

    dor de um nico aspecto central,10 no qual se considera o mentor de Vairocana (ou Amoghasidgundo as escolas), a personificao da "budeidade" universal. Alm disso, fazse, com freqnistino entre a Tr branca (sitaTr); tibetano, sgroldkar) e a Tr verde (symaTr; tibetanolljang), as quais so, respectivamente, a padroeira da Monglia e a padroeira do Tibete. E to justamente estes dois aspectos os que se encarnaram, respectivamente, na princesa chinesa ncesa nepalesa, fazendo com que Tr se tornasse a "responsvel" pela introduo do budismbete. Vejamos como isto pode ser explicado: Tr , tambm, assimilada a outra divindade,ajnpramit personificao de Prajn a beatitude e a misericrdia inerentes Sabedoria,

    bedoria do corao, cujo equivalente poderamos encontrar na designao da Virgem Maria codes Sapientiae. E, dos dois plos entre os quais se articula toda a doutrina do budismo mahprajn o plo feminino; o outro, o plo masculino, upya. Cada um deles se 1

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    seia naquilo que so, respectivamente, os autnticos fundamentos dessa via: o Vazio (snyat)mpaixo ativa (karun).

    ajn, expresso do Vazio, representa a feminidade do princpio, a receptividade primordial, qre ao do upya (que, neste caso, poderamos assimilar ao logos spermatiks) a fim de quenio de ambos, seja alcanada a iluminao espiritual. E

    im, pois, fazendo de Tr a sua padroeira, o Tibete a faz, poderamos dizer, o seu epnimo presso da sua prpria disponibilidade para acolher o upya bdico. Em tibetano, Tr nhecida como Dolma ("Salvadora"), ou, mais especificamente, como a

    el Dolma" (damtshig sgrolma). Pois bem, darntshig (snscrito, samaya, o voto de fidelidade)

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    resenta (diznos o Lama Anagarika Govinda) a "consagrao ao Buda em seu prprio coraosigna a atitude de devoo popular como na meditao inicitica.

    sim, a Tr verde, como padroeira do Tibete, simboliza, acreditamos, a prpria consagrao budismo, o seu "convite" para o mesmo.

    ltando ao plano histrico, diramos que a implantao do budismo no Tibete ainda demorariauito a se tornar definitiva, e teria de sofrer numerosas vicissitudes. Vamos nos restringir a dize

    icamente, que, entre as figuras principais na consecuo dessa implantao, destacase a dedmasambhava,12 a quem, geralmente, se considera como o autntico responsvel pela mesmae uma das figuras mais exemplares foi o famoso asceta Milarepa, que passou a assumir, de cerodo, a condio de modelo da espiritualidade tibetana. Mais recentemente, uma das figurascisivas na histria do lamasmo foi Tsongkhapa (13571419), o grande reformador ortodoxo dodismo monstico. Criador da ordem Gelugpa (Dgelugspa), ou ordem dos "bons amarelos", coomumente conhecida, Tsongkhapa insistiu no celibato dos monges e estabeleceu, de forma ger

    ma maior disciplina monstica. A partir de 157, o chefe da ordem Gelugpa 1

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    ssou a ostentar o ttulo de DalaiLama e a soberania do Tibete, por concesso do soberano montaiKhan, situao que perdurou at que os comunistas chineses se apoderassem do Tibete.

    tro particular ao qual gostaramos de nos referir o de que, concomitantemente a essa primeirciativa a favor da adoo do budismo, o rei Songtsen Gampo mandara a Cachemira um de seunistros, Thonmi Sambhota, a fim de que trouxesse a escrita e a gramtica hindus. Com a adoaptao destas,13 criouse o tibetano literrio (que permanece intacto at hoje), o qual haveriavir, fundamentalmente, para a magna tarefa de verter ao tibetano todos os textos budistas que dessem obter. Com isso, criouse o cnone budista tibetano, dividido em dois corpus: o Kanjurkagyur), que recolhe os ensinamentos de Buda e que se compe tradicionalmente de 108 volumTanjur (Bstangyur), o qual contm os comentrios e consta de mais de 300 volumes. Entre os

    is, esto compilados quase 5.000 textos, que no incluem, entretanto, tudo o que ainda pode secontrado de inspirao bdica na tradio tibetana: hagiografia, teatro, contos, poemas, mxim.

    * * *

    seleo dos relatos que compem este livro, oferecese um mostrurio bsico dos camposbertos pelos relatos populares tibetanos. Desde os mitos cosmognicos at as fbulas de animssando pelas lendas e pelas histrias edificantes, estes relatos nos oferecem, alm disso, um bsaico do povo tibetano, das suas formas de vida e das suas crenas. Mas nos falam, sobretudo

    a fidelidade Verdade, fidelidade que tem levado milhares de tibetanos a um exlio voluntrioompanhando a sua cabea visvel. Se 1

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    hekhinah acompanhou o povo de Israel em seu exlio, sem dvida a "fiel Dolma"

    ompanha o fiel Tibete no seu.

    tas

    A designao de "Pas das neves do Norte" (khabacanj, aplicada ao Tibete, assim como a de "mundo" (que divide com o Pamir, devem ser entendidas primordialmente como designaes

    mblicas, e no como expresso de uma simples contingncia. Alm disso, o Tibete no rticularmente rico em neves. Constitudo em sua maior parte por uma rida meseta, conta comecipitaes muito escassas.

    Ou "Nao dos santos", qualificativo no s exagerado, mas absurdo, que tambm chegou acular. Nem o Tibete era um imenso Athos como se parecia acreditar, nem tampouco eraeralmente o Paraso, nico lugar que poderia justificar a segunda designao. O Tibete era umo de homens que se regiam conformes com a Verdade e que viviam compenetrados danscincia da transitoriedade das coisas e isto muito mais do que se pode conseguir nasndies atuais da humanidade.

    semelhante ao que ocorre com o Japo. O Ocidente "ocidentalizou este pas e depois quis oveito de elementos isolados de sua cultura tradicional, desde o Zen ao Ikebana, para dar doisemplos.

    Mas no no sentido banal que hoje pode ser atribudo a esta expresso, mas no de uma sabedonculada essncia de um povo como tal. Metafisicamente, toda coisa existente um "saber", o

    lhor, a expresso de um modo de conhecimento, e isto vale igualmente para um ente coletivo.

    linamonos mais a ver no michos tibetano uma ordem baseada numa sabedoria atemporal e,deramos dizer, inertes; e no uma ordem profana, baseada numa "lei" que o 1

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    vo se d a si mesmo. Do mesmo modo, tampouco o associaramos a um estado de

    aganismo", como o da Arbia prislmica, por exemplo.

    Devemos citar igualmente, neste contexto, os mistrios sacramentais (achelha

    o, em tibetano), forma de teatro de uma importncia extraordinria no Tibete.

    Para todo o relativo ao pargrafo que acabamos de tratar, seria de grande proveito consultar aportante obra de R. A. Stein, Recherches sur 1'epope et le barde au Tibet, P.U.F. "Bibliothqunstitut des Hautes tudes Chinoises", vol. XIII, Paris, 1959.

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    Estas manifestaes, desde as bandeirolas de preces at as danas de mscara (Cham), passanas decoraes dos santurios domsticos, caracterizavam a "paisagem budista do Tibete, tantanto as manifestaes estritamente monsticas.

    A propsito deste, vejase a nota 1 do segundo relato deste livro.

    Vejase, igualmente, a este respeito, o segundo relato.

    Neste, sempre se a representa com a cor verde, enquanto que, nos outros vinte e um, recebe ares branca, vermelha e amarela.

    Vejase nota 1 do primeiro relato.

    Vejase a seu respeito o quarto relato, particularmente a nota 1.

    Atualmente, existe uma diferena considervel entre a pronncia do tibetano coloquial e aografia que se fixou para o tibetano literrio com este modelo. Da, as duas formas com querrentemente aparecem transcritos os nomes tibetanos: uma, que representa a pronncia real, e

    tra, que uma transliterao da sua forma escrita.

    CRIAO

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    princpio era a Vacuidade, um imenso vazio sem causa e sem fim. Deste grande vazio,antaramse suaves redemoinhos de ar, que, depois de incontveis eons, tornaram

    mais densos e pesados, e formaram o poderoso cetro duplo do raio o Dorje Gyatram.

    Dorje Gyatram criou as nuvens; estas, por sua vez, criaram a chuva. A chuva caiu durante muitos, at formar o oceano primognio, o Gyatso.3 Depois, tudo ficou calmo, tranqilo e silencioceano ficou lmpido como um espelho.

    uco a pouco, os ventos voltaram a soprar, agitando suavemente as guas do oceano, batendoasntinuamente, at que uma leve espuma apareceu na sua superfcie.

    sim como se bate a nata para fazer manteiga do mesmo modo as guas do Gyatso foram batidao movimento rtmico dos ventos para transformlas em terra.

    terra emergiu como uma montanha, e ao redor de seus picos o vento sussurrava incansvel,mando uma nuvem atrs da outra. Das nuvens caiu mais chuva, mas, desta vez, mais forte aindregada de sal; da se originaram os grandes oceanos do universo.

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    centro do universo o Rirap Lhunpo (Sumeru),4 a grande montanha de quatro caras, feita dedras preciosas e cheia de coisas maravilhosas. Existe rios e arroios no Rirap Lhunpo, e muitapcies de rvores, frutos e plantas, pois o Rirap Lhunpo especial: a morada dos deuses e dmideuses.

    deando o Rirap Lhunpo, h um grande lago, e, em volta deste, um crculo de montanhas de ourpois do crculo de montanhas de ouro, existe outro lago, tambm cercado de montanhas de ouim, sucessivamente, at se completarem lagos e sete crculos de montanhas de ouro.5 E, mais

    ltimo crculo de montanhas, est o lago Chi Cyatso.Chi Cyatso se encontram os quatro mundos, cada um deles semelhante a uma ilha, com sua fo

    rticular e seus diferentes habitantes.

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    mundo do Este o Lu Phak, que tem a forma de meialua. As pessoas do Lu Phak vivem quinheos e so pacficas; no h contendas no Lu Phak. Seus habitantes tm corpos gigantescos e carma de meialua. Entretanto, no so to felizes como ns, pois no tm nenhuma religio parader seguir.

    mundo do Oeste se chama Balang Cho e sua forma a do sol. As pessoas do Balang Cho so,mo as do Lu Phak, de grande estatura e vivem quinhentos anos. Suas caras tm tambm a form. Dedicamse criao de diversas espcies de gado.

    terra do Norte tem a forma quadrada e se chama Dra Mi Nyen. As pessoas de Dra Mi Nyen sas quadradas e vivem mil anos ou mais. Em Dra Mi Nyen, a comida e a riqueza so abundantdo o que um homem necessita nos seus mil anos de vida obtido sem esforo ou padecimentovem com luxo, sem precisar de nada. Mas, durante os sete ltimos dias de sua vida, a dor e omento anmicos acometem os seres de Dra Mi Nyen; e , ento, que recebeu um sinal de que era morrer. Visitaos uma voz uma voz terrvel que lhes sussurra como vo morrer e queonstruosos sofrimentos tero de suportar nos infernos, depois da morte. Em seus ltimos sete dvida, todas as suas riquezas e posses diminuem, e eles experimentam um sofrimento maior do

    osso numa vida inteira. Dra Mi Nyen conhecida como a "Terra da Voz Pavorosa".

    nosso prprio mundo fica ao sul e se chama Dzambu Ling.6 No comeo, ele foi habitado poruses de Rirap Lhunpo. No havia dor nem enfermidades, e os deuses nunca necessitavam demida. Viviam a contento, passando seus dias em profunda meditao.

    o havia necessidade de luz em Dzambu Ling, pois os deuses emitiam uma luz pura de seusprios corpos.

    rto dia, porm, um dos deuses reparou que na superfcie da terra havia uma substncia cremos

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    ovandoa, sentiu que era deliciosa ao paladar; por isso, animou os 2

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    tros deuses a que a experimentassem tambm. Todos os deuses gostaram tanto da substnciamosa, que no quiseram mais saber de comer outra coisa. Sucedeu, porm, que quanto mais

    miam, mais se reduziam os seus poderes. E j no foram mais capazes de permanecer sentadoofunda meditao. A luz, que antes brotava resplandecente de seus corpos, comeou, a pouco,inguir, at que, por fim, desapareceu por completo. O mundo ficou submerso em trevas e os

    andes deuses do Rirap Lhunpo se converteram em seres humanos.

    i, ento, que, na escurido da noite, apareceu, no cu, o sol. E, quando o sol se apagava, a luarelas iluminavam o cu e davam luz ao mundo. O sol, a lua e as estrelas surgiram devido s bes passadas dos deuses, e so, para ns, a lembrana permanente de que o nosso mundo foi, u, um lugar lindo e tranqilo, sem cobias, sofrimentos e dor.

    ando o povo de Dzambu Ling esgotou a proviso da substncia cremosa, comeou a comer ostos da planta nyugu. Cada um tinha a sua prpria planta, que produzia um fruto semelhante ao sses. E todo dia, quando o fruto j havia sido comido, aparecia outro um por dia e istostava para satisfazer a fome dos seres de Dzambu Ling.

    rta manh, um homem despertou e descobriu que a sua planta, em vez de produzir um nico fruvia dado dois. Tomado de avidez, o homem comeu os dois frutos.

    dia seguinte, porm, a sua planta estava vazia. Necessitando satisfazer a fome, o homem roub

    to da planta de outro homem; e assim foram fazendo todos, pois um teve que roubar o outro pader comer. Com o roubo, chegou a cobia, e todos, temendo no ter o que comer, comearam tivar mais e mais plantas nyugu. Com isso, tiveram de trabalhar cada vez mais, a fim de seegurarem de que haveria o suficiente para comer.

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    isas estranhas comearam a ocorrer em Dzambu Ling. O que antes havia sido uma tranqilaorada de deuses do Rirap Lhunpo, estava agora cheio de homens que conheciam o roubo e a com dia houve em que um homem comeou a sentir certo malestar nos rgos genitais e, por isso,rtou: converteuse, assim, numa mulher.

    sa mulher manteve contato com homens e logo teve filhos, os quais, por sua vez tiveram maishos. Em pouco tempo, Dzambu se encheu de gente, e essa gente teve que se procurar comida e

    gar para viver.

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    ntas, as pessoas de Dzambu Ling no conseguiam viver em paz. Havia brigas e roubos, e os honosso mundo comearam e experimentar um sofrimento autntico profundo, que nascia do estinsatisfao em que se encontravam. O povo percebeu que, para sobreviver, tinha que se

    ganizar. Todos se reuniram e decidiram eleger um chefe, a quem chamaram de Mang Kur qunifica "muita gente o tornou rei". Mang Kur ensinou o povo a viver numa relativa harmonia, co

    ma terra prpria onde construir uma casa e cultivar alimentos.

    assim foi como o nosso mundo veio a existir: como, de deuses, nos convertemos em seres hum

    eitos enfermidade, velhice e morte.7 Quando contemplamos o cu, de noite, ou recebemido brilho do sol, deveramos recordar que, se no fossem as boas aes dos deuses da preciontanha de Rirap Lhunpo, viveramos numa total escurido; e, se no fosse a cobia de uma pesso mundo no conheceria o sofrimento que hoje experimenta.

    tas

    Snyat, em snscrito, e stongpanyd, em tibetano. Noo capita! da doutrina budista, que concPrincpio supremo, a Realidade ltima, no de modo objetivo, a 2

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    rtir de seus reflexos na manifestao (porque estes reflexos incluem tambm, embora por desvsso pensamento e o nosso ego, que so precisamente os escolhos a serem transpostos); mas, ddo subjetivo, a partir da experincia dessa Realidade no interior de ns mesmos. Assim, aalidade ltima se identifica com esse mistrio de infinitude que se descobre no ntimo das coim esse mar de bemaventurana onde a sede (trhn) de existir se aplaca definitivamente; e que,rmitir a sada da falsa plenitude da existncia, se mostra como um "vazio" (snya). Partindo dsinamento inicial da nopermanncia das coisas, e de sua ausncia de realidade prpria (antmi, anatt), chegouse, na metafsica do Mahyna, a este postulado essencial da "Vacuidade", c

    ndamento de tudo o que existe, postulado que constitui um dos dois plos desta forma de budisndo o outro o da compaixo (karun) do bodhisattva em relao a todos os seres.

    ta doutrina foi formalizada por Ngrjuna, no sculo II, e constitui o sistema chamado "Do camdio" (Mdhyamika), ou, tambm, Snyavda, em virtude do seu princpio bsico.

    O vajra duplo (visvavajra, tambm chamado karmavajra) , como a svastika, um smbolo da aPrincpio com respeito ao mundo manifesto. Est formado pela unio de dois vajras disposto

    uz.

    budismo mahyna, que, de acordo com a sua perspectiva, "inverte", poderamos dizer, aentao, o vajra duplo o emblema do Dhyni Buddha Amoghasiddhi; este expressa a plenituealizao completa do caminho do bodhisativa, e , igualmente, o Senhor do elemento "ar" ouento" (vyu), o qual no seno o "spiritus" que "adejava sobre a superfcie das guas" nonesis.

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    Poderamos assinalar, a ttulo de informao, que esta palavra tibetana Gyatso (rGyamtsho), qnifica grande oceano, serve de apelativo para o que, no Ocidente, 2

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    nhecido como Dalai Lama, pois "Dalai" no seno uma forma inglesada do mongol

    le", que significa a mesma coisa. Assim, pois, o nome do atual Dalai Lama , em tibetano, Tenatso (Bstandzinrgymtsho).

    o monte Mru da tradio hindu, a montanha "polar", o eixo do mundo, o ponto fixo ao redoal se efetua a rotao do mundo. Como centro do mundo, corresponde ao Paraso terrestre do lo da humanidade (Manyantara).

    entificase com o monte Kailas (Kailsa), em tibetano Gang Tis, situado no Tibete ocidental entro de peregrinaes, tanto para os hindus como para os budistas.

    So igualmente os sete dypas da tradio hindu, que emergem sucessivamente no transcurso derminados perodos cclicos, tendo todos por centro o monte Mru.

    O Jambu dypa da tradio hindu. Identificado popularmente com a ndia, por estar esta,ograficamente, justo ao sul do monte Kailas, corresponde, na verdade, ao nosso mundo terrenou conjunto e em seu estado atual.

    praticamente a mesma explicao das origens do homem e da sua queda que oferece um text

    dista pli o AggannaSutta , cuja sntese, de Frithjof Schuon (lmages de VEsprit, Paris, 19 102103. n. 48), consideramos interessante citar: "A materializaao progressiva do homem e

    u contorno se deve ao fato de que os homens primordiais e "prmateriais" que brilhavam coros com luz prpria, moviamse nos ares e alimentavamse de Beatitude se puseram a comerra, quando a superfcie terrestre emergiu das guas. Esta terra primordial era colorida, perfumoce, mas os homens, alimentandose dela, perderam sua irradiao; foi, ento, que aparecerame a lua, o dia e a noite... Mais tarde, a terra deixou de ser comestvel e se limitou apenas a

    oduzir plantas comestveis. E, mais tarde ainda, somente se pde comer um nmero reduzido dgetais. Da ter tido o homem de se alimentar a preo de duras fadigas. As 2

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    xes e os vcios, e, com eles, as adversidades, haviam entrado, progressivamente, no mundo"

    o mesmo autor menciona, em outro lugar (Tour d'horizon d'anthropologie intgrale, "Connaissas Religions", vol. l/n." 4, Mars 1.986, p. 159): "O homem original no foi um ser simiesco, qu

    apaz de falar e de se manter em p. Foi um ser quase imaterial, encerrado numa aura ainda ces colocada na terra, e que se parecia

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    rroa de fogo' de Elias e nuvem que envolveu a Cristo em sua ascenso."

    quanto respire um nico ser vivo,

    de quer que ele esteja,

    compadecido,

    Buda aparecer,

    carnado.

    GON TOK GYEN

    AME, CHENREZIK Y DOLMA

    Buda celeste Opame (Amithba), olhando para baixo desde a sua Terra Pura, contemplou o muiu o sofrimento de todos os seres. Opame sentiu uma grande compaixo por eles. Deste sentim

    compaixo nasceu Chenrezik (valakiteshvara), a encarnao da compaixo, o Senhor dampaixo.1 As montanhas se abriram e a gua saiu em torrentes, cobriu a terra e correu at oeano ndico. Chenrezik apareceu numa 2

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    a no centro de Lhasa, e, vendo o sofrimento dos seres, fez o voto de ajudlos a alcanarem o

    rvana, a realidade ltima, a paz. Chenrezik fez o voto de no abandonar este mundo sem que tmesmo a ltima fibra de erva, alcanassem a paz.

    via no lago muitos seres e todos eles clamavam por um corpo. Ouvindo suas vozes, Chenrezikulhes os corpos que pediam. Mas os corpos eram todos iguais, e, por isso, os seres suplicaramdiferenciarem uns dos outros. Chenrezik deu, ento, a cada um dos seres um corpo distinto, ca

    m deles caracterstico e diferente dos demais.

    enrezik, o Senhor da compaixo, pregou o Dharma, o ensinamento de todos os Budas, a fim de

    dos os seres do lago, em nmero incontvel, pudessem alcanar o Nirvana. Muitos seres oanaram. Mas, cada vez que Chenrezik voltava ao lago, havia muitos mais seres, muitos e muis que os que j havia podido ajudar. De novo, Chenrezik pregou o Dharma, e, de novo, muitoanaram o Nirvana.

    ando Chenrezik contemplou o lago pela terceira vez e tornou a ver tantos seres necessitando acheuse de desespero. E compreendendo a impossibilidade da tarefa que se havia imposto, claBuda celeste Opame para que revogasse o seu voto, pois agora considerava a tarefa demasia

    ande para que ele, sozinho, pudesse realizla. Em seu desespero e compaixo, o corpo de

    enrezik se fragmentou em inumerveis pedaos.

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    ndo a sua situao, Opame reconstruiu o seu corpo, dandolhe ainda mais poder para ajudar a tseres vivos. Chenrezik tinha agora onze cabeas, coroadas pela cabea do prprio Opame, e

    aos, e ainda um olho onividente na palma de cada mo.2

    as, mesmo assim, inclusive com os mil braos e com as onze cabeas, Chenrezik consideroupossvel a realizao da sua tarefa. Os seres eram incontveis e suas mentes estavammpletamente toldadas por pensamentos impuros. Chenrezik chorou. E, de uma lgrima cristalina face, nasceu Dolma (Tr), para serlhe sua ajuda.3

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    sim, pois, no existe um s ser, por insignificante que seja, cujo sofrimento no chegue a ser vr Chenrezik ou por Dolma, e que no possa ser atingido por sua compaixo.

    tas

    Amithba ("luz infinita"), em tibetano Opame (Odd pagmed), um dos chamados Chyni Buddbudismo tntrico. Estes so aspectos universais, arquetpicos da "budeidade", tal como se

    ostram o esprito em meditao (dhyna).

    Terra Pura o chamado Paraso Sukhvati ou. Ocidental, no qual reside Amithba, e que tem dme a uma via espiritual centrada na invocao do nome deste, via particularmente florescente po.

    alokitesvara como uma extenso de Amithba, uma emanao sua. Seu nome significa "o sene olha para baixo com compaixo", e , pois, a personificao deste ato de Amithba.

    a figura mais popular do panteo budista tibetano, e seu mantra (frmula de invocao) a orar excelncia de todo tibetano; est presente por igual na devoo popular e nas prticas inici

    alokitesvara, em tibetano Chenrezig (Spvanras gzigs), igualmente uma figura de primeira ordtodas as reas do budismo mahyna, como a China e o Japo, onde, na iconografia, assume u

    pecto semifeminino algumas vezes, e abertamente feminino em outras, em virtude da dourasericordiosa que encarna. Na China, conhecido como KuanYin, e, no Japo, como Kannon.

    um bodhisattva ao qual se atribuem diversas encarnaes, e no apenas no mundo dos homensa compaixo abarca todos os mundos. Em particular, considera2

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    o Dalai Lama como uma manifestao terrenal sua.

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    uma das figuras mais representadas na iconografia budista, principalmente com esta forma ( qs aludiremos mais adiante, em nosso relato), de onze cabeas e mil braos, na qual recebe o noadasmukha.

    Traduzimos dessa maneira "allseeing eye". A propsito desta designao e de seu simbolismode ser consultado R. Gunon, Smbolos fundamentais da cincia sagrada, cap. LXXXII, "O ole a tudo v", pp. 384386, Buenos Aires, 1960.

    Esta uma das diferentes verses que existem sobre o nascimento de Dolma, a respeito de qudimos a remisso do leitor ao que foi dito em nossa Introduo.

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    PRIMEIRO REI DO TIBETE

    poca em que os tibetanos eram governados por doze chefes sem importncia, havia muitoscontentamento e muitas contendas, pois eles no tinham um chefe nico e eram uma naovidida. Foi durante esse perodo que o rei de Vatsa, na ndia, teve um filho. A criana, porm,

    um menino normal, pois havia nascido com sobrancelhas de cor turquesa, plpebras salienteos espalmadas.

    rei estava muito aflito e toda a corte se mostrava assustada com o estranho menino. Assim foi erendo livrarse dele, o rei ordenou que o colocassem numa caixa de cobre e que o lanassem o Ganges. Quando isto se efetivou, o rei e a rainha, assim como todos os do palcio, suspiraraviados por se verem livres, finalmente, daquele embaraoso engendro da natureza.

    menino, entretanto, no morreu, pois foi achado por um campons. Este, ao abrir 2

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    aixa e encontrar dentro dela a estranha criancinha, encheuse de amor por ela e a levou para a a, a fim de que vivesse como algum de sua famlia. Dessa maneira, o menino passou umancia feliz, amado e cuidado pelo campons e por sua mulher.

    ando o menino se tornou moo, o campons achou que j era hora de que conhecesse as suasranhas origens. Contoulhe, ento, a histria de como ele havia sido encontrado numa caixa deumbo s margens do wanges. E, para que o rapaz no tivesse a impresso de que havia sido

    andonado, o campons tratou de convenclo de que ele era algum muito especial: na verdadeoderoso", nascido de bero rico. O moo, entretanto, se entristeceu muito ao ouvir a histria dmpons, pois sempre havia acreditado que fazia parte da famlia deste, a quem considerava co. Em sua aflio, o rapaz fugiu em direo aos Himalaias e cruzou a fronteira do Tibete, onde

    ssou dias e dias sozinho, ao abrigo das montanhas.

    sse lugar, o moo acabou encontrando alguns sacerdotes tibetanos da antiga religio. Estes, aorem o estranho jovem, tomaramno por um deus, pois, ao lhe perguntarem quem era, ele respon

    mplesmente: "Um poderoso".1 E quando lhe pediram para dizer de onde havia vindo, o rapaz

    dicara a direo da ndia, do outro lado das montanhas e os sacerdotes acreditaram queivesse indicando os cus. Devido ao obstculo da lngua, os sacerdotes abandonaram os esfora comunicarse com ele;

    enas fizeram com que o moo fosse colocado numa cadeira de madeira, que quatro homensregaram s costas. E os sacerdotes declararam: "Vamos constitulo em senhor nosso".

    assim foi como ficou sendo conhecido "o poderoso da cadeira de mos" e como o Tibete tevenstitudo o seu primeiro rei.2

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    tas

    Este epteto (em tibetano btsanpo) passou a ser aplicado a todos os reis do Tibete.

    Este personagem lendrio conhecido em tibetano como Nyakhri Tsampo (Nyag

    ri btsanpo).

    da "felicidade que existe no mundo nasceu inteiramente do desejo do bem aos outros.

    da a infelicidade que existe nasceu do egosmo.

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    RECEITOS BUDISTAS

    ADMASAMBHAVA E A ECHARPE DA FELICIDADE

    ta uma histria que se conta de Padmasambhava, o famoso mestre hindu, a quem se deve, mae a nenhum outro, a introduo do budismo no Tibete, h mais de 1.200 anos.1

    ntase que o rei do Tibete, que no era budista, andava muito ressentido com o respeito e a

    nerao que o povo do Tibete mostrava para com o grande mestre hindu Padmasambhava.recialhe, na verdade, que reverenciavam mais a Padmasambhava do que a ele mesmo. Assim, cidiu assegurarse de que, quando o grande mestre o visitasse, todos os chefes do pas veriamuele a quem tanto honravam render homenagem a seu rei.

    dia da visita de Padmasambhava, todos os cortesos foram congregados para vlo rendermenagem ao rei; este, com ansiedade, tambm esperava para conhecer o 3

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    ande mestre. O altivo rei mal pde ocultar o seu grande prazer quando Padmasambhava levantaos como que para prostrarse diante do trono real; mas, ao invs disso, das mos dedmasambhava saram chamas que alcanaram as roupas do rei, queimandoas em segundos.quanto os cortesos tratavam de apagar as chamas a golpes, o rei, sufocado pela fumaa que ss pregas de sua echarpe cerimonial, retiroua dos ombros. Comprovando o grande poder do meei lanouse aos ps de Padmasambhava em submisso, e lhe ofereceu a echarpe em sinal de

    mildade.

    dmasambhava aceitou a echarpe, mas logo a devolveu ao rei, colocandoa ao redor do seu pesmo um signo da bno e da vitria da autoridade sacerdotal sobre o poder temporal.

    assim, dizse no Tibete, terra de poucas flores, que Padmasambhava estabeleceu o oferecimentoas, ou echarpes de felicidade, como demonstrao de respeito.2

    tas

    Padmasambhava (o "nascido do loto"; em tibetano, Padma Jungna (Padma

    unggnas), conhecido popularmente como Guru Rimpoch, um dos nomes fundamentais dodismo tibetano.

    nsiderado uma encarnao de Amithba e tido por alguns como outro Buda terrenal cheganlusive, a eclipsar o Buda Skyamuni, foi um mestre tntrico hindu convidado ao Tibete, a measculo VII, pelo rei Khrisrong Lde brstan, para combater os demnios hostis ao budismo, aos

    ais, efetivamente, Padmasambhava subjugou e ps a servio do budismo como divindadesotetoras.

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    tradio o considera um dos 84 mahsiddhas (em tibetaro, dubtob GruThob ou iogues "perfeitueles que obtiveram a "potncia maravilhosa" (siddhi), fora de 3

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    nsmutao alqumica. So figuras semilegendrias, que se encontram j no hindusmo, e cujomero, simblico, expressa plenitude, totalidade. Suas biografias, escritas numa linguagem chindhyblisjs&e conservaram na tradio tibetana melhor que na hindu.

    mse por lugar de seu nascimento Uddiyna (a atual Swat, no Paquisto, mas igualmente nome ma regio simblica). Uma das histrias que falam a seu respeito a de que, aos oito anos,areceu sentado sobre um loto, no centro do lago Riwalsar (em tibetano, Pedmamtsho), no Estandu de Himachal Pradesh.

    dmasambhava fundou no Tibete, no ano 787, o mosteiro de Samye (bSanyas), e dirigiu uma eqtradutores. Os Nyingmapa (os "antigos"), a primeira ordem budista do Tibete, consideramse s

    cessores diretos.

    A kata (khantags) urna tira comprida de tecido, geralmente branca, uma espcie de longaharpe, que pode ser confeccionada com diferentes tipos de tecido, desde seda at gaze atesadade arroz. Literalmente, significa "tecido que une" e simboliza o lao que se estabelece entre

    uele que a oferece e o que a recebe. Era tradicional no Tibete o oferecimento de katas nas mairiadas circunstncias e comemoraes.

    locavamse katas nos altares, ao redor das imagens, dos tankas etc, e ofereciamnas como

    monstrao de respeito aos superiores, e tambm entre iguais, como expresso do desejo deabelecer uma relao autntica ou de comprometerse reciprocamente com algum tipo derigao. Eqivaleria, neste sentido, ao aperto de mo ocidental, o qual, antes de se havervializado, tinha um profundo valor humano. De certo modo, tambm no Tibete o oferecimento as se havia trivializado, porquanto eram entregues, por exemplo, a ganhadores de provas

    portivas, e mais como uma demonstrao de cortesia, de etiqueta social, do que como um gestenticamente espiritual.

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    ando se oferece uma kata a um lama, este pode devolvla e pla em volta do pescoo daqueleferece, como sinal de bno (tal como faz Padmasambhava no nosso relato), e, ao mesmo temlao espiritual entre ambos.

    sim, pois, poderseia dizer que a kata simboliza, entendida num sentido amplo, a idia de relig

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    im como tambm a que expressa a palavra rabe barakah.

    que voc escreve com tinta,

    m pequenas letras negras,

    de perderse inteiramente

    a ao de uma nica

    ta de gua.

    as o que est escrito

    seu corao estar a

    r toda a eternidade.

    ANGYANG CYATSO

    Tshangsdbyangsrgyamtsho, sexto Dalailama (16831706).

    E COMO ASANGA CHEGOU A VER O BUDA FUTURO

    anga, o douto filsofo, de todo o corao decidido a realizar a sabedoria interior, meditou emido durante muitos anos. O objeto de sua meditao era Champa (Maitreya), o Buda do future reside no cu Tushita aguardando a sua descida terra.

    anga sempre fora perseverante em seus esforos, mas, depois de tantos anos de 3

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    vorosa meditao, ele mesmo j comeava a sentirse frustrado em seu empenho por alcanar bedoria a que aspirava.

    rto dia, quando passeava pelo exterior de sua caverna, Asanga se fixou nuns quantos pssarosusavam numa rocha proeminente que ficava prxima. Justamente onde as asas dos pssaros, ausarem, roavam a rocha, Asanga notou uma profunda fenda. Isto o levou a refletir sobre osontveis anos que deveriam ter sido necessrios para que, pelo nico efeito do roar suave d

    as dos pssaros, se produzisse uma cavidade como aquela.

    voltar sua cova, Asanga, com os sentidos aguados pela meditao profunda, ouviu o brandtejar da gua sobre a pedra. Examinandoo mais de perto, percebeu um pequenino regato que seha adentro: com os anos, o delicado gotejar da gua havia aberto uma profunda passagem na

    cha. "Se as asas dos pssaros e o gotejar da gua podem perfurar a rocha pensou Asanga

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    o tambm eu, com a meditao, posso perfurar as distintas camadas da conscincia, e alcanssa maneira, a sabedoria."

    assim, Asanga continuou meditando, mas meditando sem resultado algum.

    recialhe que, quanto mais ardentemente buscava obter a sabedoria, e quanto mais apaixonadamtava de invocar a Champa, mais impossvel isso se tornava.

    m dia, Asanga deixou sua caverna para ir busca de comida. No caminho, encontrou um homeme esfregava uma barra de ferro macio com um pedacinho de algodo. Asanga perguntoulhe o ava pretendendo obter com aquilo, e ele respondeu que ia fazer uma agulha. Asanga sepreendeu muito por achar possvel fazer uma agulha apenas esfregando uma grossa barra de f

    m um pouquinho de algodo macio; mas, quando expressou isso ao homem, este respondeu:

    e algum est realmente resolvido a fazer uma coisa, no fracassar em seu 3

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    penho, mesmo quando a tarefa possa parecer impossvel."

    anga recobrou novas foras, ao considerar que a sua tarefa no era mais difcil do que a daqumem, e voltou sua caverna animado a continuar a sua meditao.

    pois de haver estado meditando durante doze anos, Asanga decidiuse, finalmente, a abandonairo e deixar de meditar sobre Champa, pois este no se lhe apresentara nunca, nem mesmo dep

    tanto tempo de esforos.

    deixar seu retiro, Asanga encontrou um cachorro ganindo de dor por causa de uma ferida no um dorso infestado de vermes. Asanga sentiu uma grande compaixo pelo cachorro e desejouviarlhe os sofrimentos. Sabia, porm, que se lhe tirasse os vermes, estes iriam morrer, pois niam de onde comer. Para salvar o co, Asanga decidiu tirarlhe os vermes, e, quanto a estes, iroclos em sua prpria carne, para que pudessem continuar vivendo. Asanga j se dispunha airar os vermes com a mo, mas detevese e pensou: "Se os tirar com os dedos, poderia esmagmodo que, fechando os olhos, inclinouse para retirar os vermes lambendo a ferida. No mesm

    tante em que a sua lngua tocava o cachorro, este desapareceu, e, em seu lugar submerso numalsa de deslumbrante luz, apareceu Champa, o Buda futuro.

    mado de emoo, Asanga assim falou a Champa:

    Durante tantos anos e de tantas formas, tentei vlo, sem que o senhor se mostrasse a mim, e agando meu anseio desapareceu, por que se mostra diante de mim?

    ampa respondeu:

    Porque somente agora que, atravs do seu grande ato de compaixo, a sua mente est realm

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    ra e, portanto, apta para verme. Na verdade, eu sempre estive aqui.

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    to, Champa ordenou a Asanga que o levasse sobre os ombros at a cidade para que outrasssoas pudessem vlo. Assim o fez Asanga, mas o povo, com a conscincia obscurecida pornsamentos impuros, no pde ver a Champa, e acreditou que Asanga estivesse louco quandooclamava que levava Champa sobre seus ombros. Mas uma anci conseguiu ver um cachorrinhbre as costas de Asanga, e foi imediatamente acumulada de riquezas. E um pobre carroceiro dulas chegou a entrever os dedos do p de Champa, e, desde aquele momento, teve poder e pazerior.

    ampa levou, ento, a Asanga ao cu Tushita, onde pde receber o ensinamento e obter a sabede, durante tantos anos, o havia evitado.1

    ta

    Asanga natural de Purusapura (a atual Peshawr, no Paquisto), no tibetano, pois, mas hindu,s maiores filsofos do budismo. considerado o criador, junto com seu irmo Vasudandhu, dotema Vijnnavda ou Vijnptimtra, base doutrinai da escola Yogcra (Hoss, no Japo); e,

    mbm, junto com o sistema Mdhyamika, de todo o budismo mahyna.

    adicionalmente, o seu ensinamento considerado como sendo "o samadhi (a meditao criativ

    aitreya", e assim, seu suposto irmo, Maitreyantha ("ntha"

    nifica "senhor"), no seria seno o prprio Buda futuro, como fica claro em nosso relato.

    aitreya, em tibetano Champa (Byamspa), o nome que recebe o bodhisattva que aparecer, ummo o novo Buda em nosso mundo, e que, da mesma forma que Skyamuni, "far girar a roda darma, quando esta se houver detido".

    considerado uma emanao do Dhyni Budda Amoghasiddhi, e seu nome deriva de maitr, que

    nifica a simpatia universal para com todos, a infinita benevolncia e o 3

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    or.

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    CASTELO DO LAGO

    terra do Tibete havia um belo lago rodeado de colinas e montanhas. Era to belo e de guas tras, que os que passavam perto dele ficavam boquiabertos de admirao.

    guns diziam que, quando o sol estava alto e projetava sobre a tranqila massa de gua as sombs picos das montanhas, parecia como se houvesse um castelo no lago, um castelo de proporenormes que tomava toda a gua. Assim, pois, o lago passou a ser conhecido como "o lago d

    stelo".

    iaramse muitas histrias sobre o lago e seu castelo. s vezes se dizia que, quando a lua tremes estrelas refulgiam como diamantes na gua, se podia ver uma estranha gente sair do lago, genm olhos de fogo e cabelos soltos que caam como folhas molhadas ao redor de seus rostos. Ouo, diziase, tambm, apareciam ferozes ces, que estraalhavam as carnes dos viajantes solite caminhavam incautamente por suas praias.

    as, como costuma ocorrer com as lendas, o pai conta filha e a me ao filho, e, assim, durante

    raes e geraes, at que as histrias se ampliam cada vez mais e mais, e acabam por dizer mis do que pretendeu quem as contou pela primeira vez. E

    onteceu que, logo, foi aceito por todos que havia, mesmo, um castelo no lago, e que o castelo tm rei. Este rei, diziase, possua muitos servidores, homens que, por alguma desgraa, haviam c

    lago, ou que haviam sido capturados enquanto caminhavam sozinhos por suas margens, e quepois, foram obrigados a permanecer a servio do rei.

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    rto dia, um jovem pastor estava guardando seus iaques no lado oriental do lago, quando sentiuntade de comer algo; por isso, deixou o seu rebanho e desceu at a margem do lago. Depois dolhado o rosto com gua fresca, sentouse apoiado contra uma grande rocha; tirou um queijo e uo de cevada do surro, acendeu um pequeno fogo para esquentar seu ch com manteiga, e se p

    mer.quanto comia, Rinchen que assim se chamava, o pastor comeou a pensar em sua vida. Suauma mulher cruel, que sempre o havia forado a trabalhar muito, a fim de que ela pudesse

    mprar vestidos novos e comer bem. E, quanto a ele, tinha de contentarse com uns poucos farram as sobras de comida que a me no queria mais. Considerando a vida que levava, Rinchen s a chorar. As lgrimas lhe escorriam pela face e os soluos agitavam todo o seu corpo. Nonseguiria trabalhar mais do que j vinha fazendo, e, entretanto, sua me continuaria a querer mis.

    ovem pastor j comeava a guardar as suas coisas, quando, ao levantar os olhos, viu um hom

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    p junto margem do lago. Era um homem alto e vestia uma chuba1

    gra da qual jorrava gua o que dava a impresso de que havia acabado de sair do lago.

    cordando as histrias que tinha ouvido sobre o lago do castelo e os servidores do rei, Rinchentiu tomado de pnico, e j se ia embora correndo, quando o homem falou:

    Por que voc estava chorando daquele modo?

    nchen se voltou para o homem e percebeu que ele possua uma expresso bondosa e afvel. A z era doce e melodiosa. Todo o medo que o pastor sentira antes pareceu abandonlo, e ele seroximou do homem alto, de chuba negra, que estava na margem do lago. Este repetiu a perguntnchen contoulhe, ento, sobre sua me e sobre como esta o obrigava a trabalhar cada vez maisntla e seus gostos exigentes.

    Entre comigo no lago disse o homem , pois o rei um homem bom e talvez 3

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    ssa ajudlo a resolver o seu problema.

    ovem pastor sentiu que o medo lhe voltava, pois estava certo de que se entrasse no lago jamaderia sair dele. O homem alto percebeu o medo do rapaz e, num tom suave, que era como msra os ouvidos, convenceuo de que no havia nada a temer.

    Sou um dos servidores do rei disse o homem. Eu vou levlo diante do rei e cuidarei para ui volte so e salvo.

    ovem pastor pensou por um momento: "Que posso eu perder? Minha me to cruel, que at orte me seria melhor do que passar o resto da minha vida como o seu escravo". E, assim, afastmedo, Rinchen seguiu o servidor do rei e entrou no lago.

    gua era morna e acolhedora, e o rapaz se surpreendeu de que pudesse respirar com a maismpleta liberdade. O servidor do rei pediulhe que fechasse os olhos enquanto o conduzia pela

    o castelo. Quando pararam e Rinchen abriu os olhos, viu que se encontrava numa grande salamorosamente enfeitada com ouro, prata reluzente e madreprola. No fundo da sala havia um tneste, estava um homem: o rei.

    rei fez sinal ao jovem pastor para que se aproximasse. Ao fazlo, Rinchen percebeu que no ezinho, na sala, com o servidor e o rei, mas que a cada lado do trono havia mais servidores, tods vestidos com chubas negras como a do homem alto que lhe havia falado beira do lago. Quegou aos ps do trono do rei, um dos servidores se aproximou e colocou um tamborete baixo dtrono, para que o rapaz se sentasse nele. Timidamente, Rinchen se sentou e ficou observando

    rimejantes olhos azuis do rei.

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    Por que voc est aqui? perguntou o rei com uma voz profunda que mais parecia o distante reum trovo. O pastor contou, ento, a sua histria, tal como a relatara ao servidor, beira do l

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    rei foi escutando o que o jovem lhe contava e, quando Rinchen terminou o seu relato, voltouseeu corpo de servidores e fez sinal a um deles para que se aproximasse. O servidor se aproximrei e se inclinou diante dele, enquanto este lhe sussurrava algumas instrues. O jovem pastor

    uou o ouvido, mas no pde ouvir o que o rei dizia. O servidor abandonou a sala e voltou dealguns minutos trazendo um co.

    Tome este co disse o rei ao pastor , mas cuide para sempre darlhe de comer antes que smo o faa. Isto muito importante.

    nchen pegou o co e, com os olhos fechados, deixouse conduzir at a beira do lago. Quando aolhos, estava sozinho com o animal.

    ovem pastor foi embora para casa e com ele seguiu o co. A partir daquele dia, tudo o quenchen desejava sempre aparecia diante dele. Ao despertar pela manh, descobria que havia pvada na caixa da cevada, manteiga na caixa da manteiga, e dinheiro na caixa do dinheiro. Incluareciam roupas novas em seu guardaroupa. Era muito feliz e sempre cuidava muito bem do cguindo as instrues do rei de dar de comer ao animal antes que ele mesmo comesse.

    me de Rinchen, que andava muito intrigada com a sbita e inexplicvel riqueza do filho resolm dia, sair ela mesma com o rebanho de iaques, para ver se podia descobrir a fonte de tanta farenquanto a me se achava fora, o jovem pastor decidiu observar o co, pois tambm estava cur saber como o animal conseguia obter o dinheiro e a comida. Escondendose na casa, observoo: este entrou, aproximouse da lareira e, depois, se ps a sacudirse violentamente.

    ediatamente, a pele do co caiu ao cho, deixando a descoberto uma formosa mulher a quemnchen jamais havia visto. Ela andou at a caixa da cevada, levantou a tampa e ps dentro a cee no se via de onde saa. Depois, fez o mesmo com a 4

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    veta da manteiga, a do ch e a do dinheiro, tirando do nada tudo o que o rapaz e a mecessitavam.

    nchen no se pde conter. Agarrou a pele do co e a lanou ao fogo. A formosa mulher tentou

    pedir que o fizesse, mas j era tarde, pois a pele ardeu rapidamente e logo no foi mais do quande monte de cinzas.

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    meroso de que o filho do chefe visse a mulher e a quisesse por esposa, para ocultar a sua belenchen cobriu o rosto dela com fuligem e a reteve em casa, longe dos olhares do povo.

    m pouco tempo, o jovem pastor tornouse muito rico, e a sua riqueza foio deixando excessivamesado. "Por que me preocupo? perguntouse. Tenho muito dinheiro, e o filho do chefe no seever a roubarme esta mulher, pois posso pagarme armas e homens". Pensando desse modo,nchen limpou a fuligem do rosto da bela mulher e a levou cidade para mostrla ao povo, poigulhava da sua beleza.

    filho do chefe estava na cidade e viu a mulher. Cativado por ela, tomou a firme determinao la sua esposa e enviou homens para buscla. Muito aflito, o jovem pastor pediu ajuda aos hocidade, mas nem um s quis atendlo.

    uito triste, Rinchen foi margem do lago, sentouse junto grande rocha e se ps a chorar. Comz anterior, apareceu o servidor do rei.

    Por que est chorando desta vez? perguntou.

    Porque perdi a minha mulher , respondeu o rapaz. E contou ao servidor toda a histria de cvia lanado ao fogo a pele do co e mantido escondida dos olhares do povo a formosura daulher.

    ntou, tambm, que, por se ter tornado imprudente e demasiado seguro, havia lavado o rosto davem, descobrindolhe, assim, a beleza para o filho do chefe; e, com isso, 4

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    avia perdido para sempre.

    servidor pediu a Rinchen que o seguisse de novo ao lago, pois o rei tinha de conhecer essatria.

    Talvez o rei possa ajudlo outra vez, disse ao jovem pastor, e este logo se encontrou ante o trs ps do rei do lago.

    pois de escutar a histria de como Rinchen havia perdido a bela mulher, o rei estendeulhe umxinha e disse:

    Leve esta caixa e o pastor a pegou. Agora, v ao alto de uma colina e chame guerra o filefe. Quando este tiver congregado as suas tropas na base da colina, abra a caixa e grite: A luta

    sim fez o pastor. E quando abriu a caixa e gritou:

    luta! , milhares de homens saram dela e avanaram sobre os soldados do filho do cheferrotaram.

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    nchen recuperou sua bela mulher e a tomou por esposa. Enriqueceu ainda mais com a metade dras do chefe e se converteu num chefe rico e benvolo. O jovem pastor devolveu a caixa ao reo, agradecendolhe, e viveu em proveitoso contato com ele pelo resto de sua vida.

    ta

    A chuba, palavra da mesma origem que as espanholas "juba", "jubn" ou "chupa"

    o francs "jupe" recebidas do rabe, a roupa tpica dos povos tibetanos. um roupo de l,mo uma espcie de tnica ou toda cruzada, de cor vermelhoescura, que se amarra na cintura,mando uma bolsa (ambac) sobre o peito, na qual se transportam os objetos mnimos necessris deslocamentos de lugares. As mangas da chuba, quando no so 4

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    adas recolhidas, ultrapassam as mos pelo menos um palmo.

    MOO QUE SE NEGAVA A MATAR

    a uma vez um moo que se chamava Tashi. Tashi no era capaz de se ajustar aos costumes dondo. Por mais que seu pai se esforasse, jamais havia conseguido que o moo caasse para obmida. Tashi se negava a tirar a vida de quem quer que fosse, e tampouco comia a carne que seubre pai levava para casa para a panela familiar.

    shi tinha trs irms, que se haviam casado com homens ricos. Amide seus pais se lamentavam

    sorte que haviam tido por terem ficado sozinhos com um filho que no seria capaz de sustentsua velhice, um filho que no queria caar, e que era, por natureza, muito dcil e pacfico.

    Deveria terse tornado monge dizia a me , porque, de que nos serve este nosso filho?ando formos velhos, teremos que mendigar s nossas filhas e aos nossos vizinhos para norrermos de fome.

    ta era a queixa constante dos pais de Tashi, mas, mesmo assim, o moo se negava a tirar uma v

    Toda vida sagrada dizia; no posso matar outro ser.rto dia, o pai de Tashi insistiu para que o rapaz sasse com ele para caarem juntos. Caminharrante muitos quilmetros e o pai j estava muito cansado. Havia sido um dia bastante ruim, podo o que havia conseguido pegar tinha sido um coelhinho. E o pai pensou: " este meu filho, elazar".

    moo estava sentado numa rocha, e enquanto comia sua pobre rao de fruta e queijo, ia gravarao de Chenrezik OM MANI PADME HUM numa rocha que 4

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    via ao lado. Ao largo do caminho, havia outras rochas, nas quais os viajantes tambm tinhamavado esta orao, pois o caminho conduzia a um santurio muito visitado pelos que passavam1

    enrezik, a divindade tutelar e padroeira do Tibete, o Senhor da Compaixo, recebia uma grandvoo da parte do povo.

    ando o pai de Tashi viu o que seu filho estava fazendo, tambm se ps a articular em silncio derosa orao, e o fez repetidas vezes, enquanto desfiava, em suas mos, as contas j gastas drio. Tirar a vida de algum era uma coisa contrria s suas crenas como budista, mas ele

    ecisava conseguir comida para a sua mulher; por isso, tratava de matar os animais o maismanamente possvel, rogando por eles ao fazlo. Mas era evidente para o pai que nunca irianseguir que seu filho raciocinasse como ele. O

    paz jamais tiraria uma vida, por mais fome que passassem, e o pai no via sada alguma para euao.

    i e filho seguiram caminhando ainda um pouco mais, sempre atento, o primeiro, para ver senseguia descobrir algum animalzinho ou ave. De repente, por entre as rvores, viu algo que lhnter a respirao. Ali, no campo que beirava o caminho, estava uma enorme lebre. Era realmelhor oportunidade que se havia apresentado para ele, desde h muitas semanas; por isso, decio deixla escapar de maneira alguma. Pegando a sua funda, arrastouse entre as rvores para te

    ma perspectiva melhor do animal. A lebre corria em direo a eles, e suas pernas traseirasvamlhe tal velocidade, que era impossvel ao pai fazer bem a pontaria.

    repente, a lebre se deteve, como que percebendo que havia perigo. Mexeu nervosamente o nahou para um lado e para o outro e aguou o ouvido. Estava to perto que o rapaz podia vlarfeitamente. O mesmo acontecia com o pai, que j estava 4

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    estes a atirar uma grande pedra com a sua funda. Mas Tashi se levantou e gritou: "No, pai, n

    o a mate!" E a lebre, dando um grande salto no ar, desapareceu num segundo e se escondeu deitado agressor num campo de cevada.

    pai ficou como que atnito durante uns minutos. Sua cara estava plida e lufadas de clerabiamlhe desde dentro. "Por qu?, perguntou ao filho. Por que voc fez aquilo?".

    shi ficou perturbado, pois viu que seu pai estava mais irado do que nunca e que, provavelmenior surra da sua vida j estava esperando por ele.

    pai no pde dominarse por mais tempo. Apanhando uma grande rocha, avanou em direo a

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    ho. "Eu vou matar voc" disse , eu vou matar voc, voc, meu nico filho". Dizendo istose disps a lanar a pedra na cabea de Tashi, mas este retrocedeu assustado, rogando ao papoupasse a vida. Bem ao lado do caminho, havia uma encosta rochosa, e, ao lado desta, se ab

    ma pequena caverna. A abertura era somente uma estreita rachadura, mas o rapaz se enfiou por nseguiu escorregar at o seu interior, antes que o pai lhe atirasse violentamente a pedra na cabpedra atingiu Tashi na perna e o moo gritou de dor.

    ma vez dentro da caverna, Tashi viu que estava a salvo, pois a abertura era demasiado pequena

    ra que seu pai pudesse passar por ela. Tashi no podia fazer idia das dimenses do seu crceha, pois estava escuro e era muito difcil enxergar dentro dele. Avanando palmo a palmo, aongo de uma das pontiagudas paredes, chegou ao fundo da caverna, que estava apenas a uns metentrada. AJi, com a perna sangrando, se estendeu no solo e... perdeu a conscincia.

    uitas horas depois, Tashi voltou a si ao ouvir o rudo de passos, e se levantou. A dor o fez recoo o que o havia levado at ali. O rudo de passos se tornava mais forte. Quis gritar pedindo as sua voz estava muito fraca e somente um leve 4

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    urmrio saiu dos seus lbios. Algum tempo depois, reunindo todas as foras que pde, Tashi gresta vez mais alto. Os passos se detiveram e ele pde escutar vozes que falavam em vozbaixasde o exterior da caverna.

    repente, apareceu uma cabea na abertura, dois olhos procuraram caverna adentro e uma voztou para que sasse.

    No posso moverme disse Tashi, estou ferido, e me difcil caminhar os poucos metros qseparam da entrada da caverna.

    cabea desapareceu e logo foi substituda por outra. Depois, um pequeno corpo vestido com ubito passou pela abertura e avanou de rastros pela caverna at Tashi.

    te pde ver que se tratava de um monge, que avanava at ele com os braos estendidos paraantlo e levlo a um lugar seguro. Uma vez fora da caverna, Tashi viu que eram trs monges.

    javam juntos em peregrinao aos lugares santos.

    monges o levaram a um matagal de plantas delicadas, puseramno no solo e cuidaram da sua ppois de repartirem com ele a sua comida, os monges pediram a Tashi que lhes contasse a suatria, como havia chegado quela situao to penosa. O

    oo contoulhes tudo, referindose sua recusa a caar, e dizendolhes como, no fim, seu pai,sesperado, havia pensado em matar a seu nico filho.

    monges escutaram em silncio. Depois, o monge principal convidou o moo a acompanhlos

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    as viagens. E Tashi assim o fez, vestido com o hbito de um monge mendicante.

    fim de alguns dias, os peregrinos chegaram casa da irm mais velha de Tashi.

    monge principal se aproximou da casa, chamou porta e, quando apareceu a moa, pediulhe umola. Depois de dar comida aos monges errantes, quando estes j se preparavam para partir, aoa perguntou se no teriam encontrado, por seu caminho, seu 4

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    mo desaparecido. Disselhes que estava desaparecido h muitos dias e que a famlia estava mueocupada. O monge principal respondeulhe que no o haviam visto, mas que, se isso viesse aontecer, logo tratariam de dar alguma notcia aos familiares.

    rm mais velha de Tashi no reconhecera o irmo com o hbito de monge.

    uco depois, chegaram casa da segunda irm do rapaz. De novo, o monge principal se aproxicasa e pediu uma esmola. Esta lhes foi dada. E foilhes perguntado, tambm, se haviam encontrmo desaparecido. O monge principal respondeu que no e seguiram seu caminho.

    ando chegaram casa da irm menor de Tashi para pedir uma esmola; ela reconheceuediatamente o irmo desaparecido e o estreitou em seus braos, pedindolhe que permanecesseque lhe queriam bem.

    trs irms se reuniram na casa da irm menor e fizeram um banquete para celebrar a volta de

    shi. Os monges foram muito obsequiados pelos parentes do rapaz, os quais lhe pediram quermanecessem como convidados todo o tempo que quisessem. Os monges, entretanto, agradeceonvite e deixaram a casa da irm mais nova de Tashi para prosseguirem a sua viagem.

    shi agradeceu s irms por toda a sua ajuda e por todo o seu interesse, mas pediulhes que oenoassem, pois desejava partir e levar a sua prpria vida. As irms se entristeceram ao ver sico irmo sair para enfrentar o mundo e deramlhe, como presente, um cavalo mgico que falavshi pegou o cavalo e se dirigiu para as regies mais remotas do pas.

    nda no havia ido muito longe, quando alcanou uma vasta plancie. O cavalo lhe disse, entoateme. Estenda a minha pele sobre a plancie e espalhe as minhas cerdas por todas as partes, pe o vento as leve aos confins desta plancie.

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    rapaz ficou horrorizado e negouse a matar o cavalo. Em lugar disso, depositou seu fardo no ch

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    meu o que suas irms lhe haviam dado e se disps a passar a noite ali.

    as, durante a noite, enquanto Tashi dormia, o cavalo lanouse de um precipcio escarpado etouse.

    ando Tashi se levantou, pela manh, procurou o cavalo, mas no o encontrou em parte algumaplorando toda a plancie, o rapaz chegou ao precipcio e, olhando para baixo, viu o corpostroado do cavalo. Sentindo invadirlhe uma tristeza enorme e pensando na conversa na noite

    erior, Tashi decidiu fazer o que o cavalo lhe havia pedido.gou a pele, estendeua no centro da plancie, e depois espalhou as cerdas do cavalo por todas artes, lanandoas ao ar para que o vento as levasse at os confins mais distantes da plancie.

    ediatamente, a pele do cavalo se converteu numa grande manso e as cerdas se converteram emelhas e iaques, que pastaram pela plancie at se perderem de vista. O

    valo tornou a aparecer a Tashi e assim lhe falou:

    Voc tem mostrado uma grande compaixo para com todos. Esta a sua recompensa.

    zendo estas palavras, o cavalo partiu a galope e desapareceu ao longe. E Tashi notou que no cr onde os cascos do cavalo haviam tocado, haviam aparecido montinhos de ouro.

    pecionando a sua nova casa, Tashi pensou nos pais e se perguntou como estariam se arranjandra sobreviver. Decidiuse a ir vlos e a trazlos para viverem com ele na manso. "Meus pais o de precisar buscar por comida, nunca mais", disse a si mesmo.

    assim pensando, o moo se vestiu novamente com o hbito de monge, pois no 4

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    eria que seus pais soubessem de sua recmadquirida fortuna. Depois, apanhou duas tortas e seigiu casa dos pais. Ao chegar a esta, encarapitouse no telhado, espiou por uma pequena jane

    u os pais acocorados diante do fogo. Tashi deixou cair uma das tortas. Sua me a agarrou, dize

    um presente dos deuses!" Mas o pai, esfaimado, arrancou a torta das mos da me, e se ps amla com avidez. Tashi deixou cair, ento, a outra torta para a me. Depois, desceu do telhadoamou porta. Sua me abriua e, imediatamente, reconheceu o filho. Estreitouo nos braos ediulhe que no voltasse a deixlos. O pai, embargado de emoo, pediu perdo a Tashi.

    shi contoulhes sobre sua nova casa e sobre sua riqueza, e os levou a viver com ele, na plancii, colocou a me num trono de ouro purssimo; fez o pai sentarse num trono de prata purssimaanto a ele, o nico filho varo, sentouse num trono de madreprola purssima, tambm.

    tas

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    A propsito do mantra de Avalokitesvara (Chenrezik), a frmula sagrada por excelncia dodismo tibetano, gostaramos de citar as palavras do Lama Anagarika Govinda: "Est nos lbiodos os peregrinos, na reza dos moribundos, na confiana dos vivos. a melodia eterna do Tibe o homem religioso percebe no murmrio dos regatos, no rumor das cascatas ou no fragor da

    mpestades; e que sada o ser humano desde os rochedos e desde as pedrasmam, que o acompar todas as partes, ao largo dos caminhos e dos escarpados desfiladeiros". (Fundamentos da Metana, Madri, 1975, p. 29). numa dessas "pedrasmani" que grava Tashi em nosso relato;

    stem em grande nmero no Tibete e nas regies limtrofes, Podem tratarse de pedras isoladaspequenos muros, e quando um budista passa junto a uma delas, deve 4

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    ntornla no sentido das agulhas do relgio, deixandoa sempre sua direita, como se faz com orten e outros smbolos sagrados. Para uma boa ilustrao de uma pedramani, consultese Javiemez Rea e Dedvan Sen: Himalaia, os mosteiros dos auras. Coleo "O

    iverso do Esprito", n." 1, Madri, 1985, pp. 2021.

    O tema do "cavalo que fala" muito freqente nas lendas tibetanas, e se encontra vinculado, erticular, figura do rei Gesar de Ling e ao mito de Sambhala.

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    HOMEM BOM

    a uma vez um homem muito bom e generoso. Suas obras faziamno querido e admirado por todrto dia, chegou a seu povoado um lama muito famoso. O homem pediu para falar com o famos

    ma, e quando este desejo lhe foi concedido, prostrouse aos ps do santo homem e lhe falou ass

    Queria chegar a ser um iluminado, cheio de compaixo e sabedoria, para poder ajudar a todoes vivos e dedicar a minha vida ao ensinamento de Buda. Que devo fazer?

    ama viu que o homem era sincero em suas intenes. Recomendoulhe, ento, que fosse sontanhas e que passasse a sua vida orando e meditando. Deu ao bom homem uma orao especra invocar e lhe explicou que se assim procedesse continuamente e com grande devoo, entoderia estar certo de que se converteria num iluminado, capaz de ajudar a todos os demais combedoria e compaixo.

    homem fez tal como o lama lhe havia recomendado. Partiu para as montanhas que rodeavam ovoado, entrou numa caverna e se ps a meditar com o maior fervor.

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    rante muitos anos, foi perseverante, mas, apesar disso, no obteve a iluminao.

    ssados vinte anos, o famoso lama visitou novamente o povoado. O homem bom soube da suaegada e desceu da sua caverna nas montanhas para obter uma audincia com ele.

    ve de esperar muitos dias, pois muita gente fazia fila para ver o famoso lama e obter a sua bnnalmente, lhe foi concedido ver o santo homem. Depois de lhe ter rendido homenagemostrandose trs vezes aos seus ps, e de terlhe oferecido uma echarpe branca, o bom homem clama a sua situao:

    Tenho estado h vinte anos orando e meditando como o senhor me recomendou

    disse , mas ainda no obtive a iluminao. Devo estar fazendo algo errado. O lama adotourte solene e perguntou ao homem:

    O que eu lhe disse que fizesse?

    homem bom contoulhe tudo o que havia estado fazendo durante os vinte anos.

    Oh! disse o lama temo que isso no tenha servido para nada. Foi errado o que eu lhe digora nunca mais obter a iluminao.

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    homem bom ficou desesperado, e, lanandose aos ps do lama, chorou.

    Sinto muito, disse o lama, mas no posso fazer nada por voc.

    homem bom, que j estava muito velho, sentiu que havia perdido vinte anos de sua vida. De va caverna, perguntavase: "Que vou fazer? Durante todos estes anos, acreditei que poderia obteminao e agora devo abandonar toda a esperana de alcanar esse objetivo.

    ntouse sobre a laje que, durante vinte anos, tinha sido seu travesseiro, sua cama e sua mesa, crpernas, fechou os olhos e pensou: "Vou continuar com a minha orao e com a minha meditarque, que outra coisa, se no isso, poderia fazer 5

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    ora?"

    sim, pois, sem nenhuma esperana de obter a iluminao, psse a meditar e a invocar as orae se haviam tornado to familiares a ele, durante todo aquele seu longo retiro. E, imediatamenteve a iluminao. Viu o mundo em toda a sua realidade.

    do estava claro. Compreendeu, por fim, que havia sido apenas a sua nsia por obter a iluminae o impedira de alcanla. Agora, poderia ajudar a todos os seres vivos a encontrarem a paz,aas a sua sabedoria e sua compaixo. Agora, abandonaria a sua caverna e voltaria ao mundo palhar os ensinamentos de Buda.

    iu da sua caverna e contemplou o povo l embaixo. Tantas vezes o havia visto antes, mas nuncm tanta claridade como agora. Por um momento, acreditou ouvir o doce riso do famoso lama,quanto levantava os olhos para o cu e contemplava o imenso arco

    s que se estendia sobre os picos nevados.1

    ta

    Neste relato vemos um exemplo da colocao de prtica, por parte do lama, de uma das virtu

    u perfeies: paramits) do bodhisattva: a upyakausalva ouabilidade nos meios".

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    TRANSFORMADOR DO TEMPO

    a uma vez um homem sbio. Viajava por toda a vasta terra do Tibete, e se detinha nos povoadoades onde quer que se requeressem seus servios. Podia predizer o futuro, podia vaticinar a u

    mlia os dias mais favorveis para viajar ou comerciar, e 5

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    dia, inclusive, mudar o tempo. O homem sbio era muito admirado e as pessoas lhe pagavam m os seus servios.

    ulgar por seu aspecto, deverseia desculpar a quem pensasse que era pobre. Os que o conheciabiam muito bem que no era assim. Ouvindoo falar, podiase tomlo facilmente por um homem bea louca, mas aqueles que iam lhe pedir ajuda, tinham, sem dvida, outra idia. Esse homemranho, com sua chuba andrajosa, um tamboril duplo e uma conca feita de um crnio pendurado

    turo,1 no era nem pobre nem estpido. Possua, segundo diziam alguns, poderes mgicos. Eava estes poderes para o bem de todos os seres, mas e isto era o essencial do caso se algsasse criarlhe dificuldades, ele podia desviar seus poderes mgicos para outros usos, e acabaim, com qualquer oposio. Era conhecido por todo o mundo como o "transformador do temp

    algum tivesse podido ver, por acaso, o que continham a chuba e o surro do transformador dmpo, teria descoberto muitos tesouros, pois, ao no ter residncia fixa,