contos maristas - para rir e refletir

78
1 C O N T O S M A R I S T A S PARA RIR E REFLETIR Pesquisa e elaboração Ir. Sebastião Antonio Ferrarini Prefácio Ricardo Tescarolo Revisão Ir. Salvador Durante Colaboração Ir. Ivo Antonio Strobino Ilustrações Emerson da Silva Araújo

Upload: hermanos-maristas

Post on 25-Mar-2016

262 views

Category:

Documents


24 download

DESCRIPTION

Apresenta FATOS DE NOSSA HISTÓRIA DAS ORIGENS. Nele não se deve procurar exatidões de datas, locais e personagens. São cenas do quotidiano marista das origens. Os quadros que apresentamos certamente ajudarão a compor uma imagem mais realista de Champagnat e das primeiras comunidades maristas. Propiciam momentos de risos e também de reflexão. Evitamos notas e explicações para não induzir reações dos leitores e leitoras. Se Champagnat é hoje dos andores, é porque foi muito dos andares!

TRANSCRIPT

Page 1: Contos Maristas - Para rir e refletir

1

C O N T O S M A R I S T A S

PARA RIR E REFLETIR

Pesquisa e elaboração

Ir. Sebastião Antonio Ferrarini

Prefácio

Ricardo Tescarolo

Revisão

Ir. Salvador Durante

Colaboração

Ir. Ivo Antonio Strobino

Ilustrações

Emerson da Silva Araújo

Page 2: Contos Maristas - Para rir e refletir

2

Observação

Contos Maristas – Para Rir e Refletir, apresenta FATOS DE NOSSA HISTÓRIA DAS ORIGENS. Nele não se deve procurar

exatidões de datas, locais e personagens. São cenas do quotidiano marista das origens. Os quadros que apresentamos certamente ajudarão a compor uma imagem mais realista de Champagnat e das primeiras comunidades maristas. Propiciam momentos de risos e também de reflexão. Evitamos notas e explicações para não induzir reações dos leitores e leitoras. Se Champagnat é hoje dos

andores, é porque foi muito dos andares!

PREFÁCIO

“Contos Maristas – para rir e refletir”, elaborado com carinho

e competência pelo Ir. Sebastião Antonio Ferrarini, utiliza um

processo criativo de investigação das diversas fontes e

documentos maristas. Este trabalho reconstitui o cotidiano

profundamente humano do Instituto Marista em suas origens,

valendo-se do grande poder educativo e evangelizador das

narrativas protagonizadas por São Marcelino Champagnat.

Ficam evidentes também a devoção e carinho empregados

pelo Ir. Ferrarini na elaboração deste trabalho. Afinal, como

dizia Paulo Freire, a razão deve sempre estar encharcada de

emoção para que possamos compreender uma realidade

sempre mais complexa, por isso mesmo, mais desafiadora.

A memória resgatada e comentada por “Contos Maristas –

para rir e refletir”, é um verdadeiro presente do passado -

presente no duplo sentido de permanência e dádiva. Ela

demonstra grande fidelidade às nossas origens e nasce de

um sentimento sincero de gratidão por aqueles que antes de

nós abriram o caminho e deixaram como legado um

humanismo cheio de simplicidade e humildade, virtudes que

sustentam o projeto de vida marista e emergem

profeticamente, hoje, como resposta aos nossos anseios de

revitalização.

“Contos Maristas – para rir e refletir” narra a vida de gente

de seu tempo, seres humanos, como nós, impregnados de

um contexto cheio de contradições e incertezas, virtudes e

defeitos, heroísmos e hesitações, esperança e desalento,

levando-nos a reconhecer que uma autêntica espiritualidade

nasce nas circunstâncias próprias de cada pessoa e sofre as

influências, as tradições e os costumes de cada época e de

cada povo.

Convido todos os leitores e leitoras a saborearem “Contos

Maristas – para rir e refletir” em sua descrição das cenas

vividas por Champagnat, seus Irmãozinhos de Maria e

outras personagens que com eles conviveram e com eles

construíram a nossa história, contribuindo assim para

discernirmos ainda melhor os desafios enfrentados por

nossos pioneiros, vivência que se manifesta em um

cristianismo prático e encarnado que soube “ler os sinais

dos tempos”.

Page 3: Contos Maristas - Para rir e refletir

3

E se as cenas descritas nos divertem, também nos fazem

refletir muito (afinal, “ridendo castigat mores”...),

principalmente sobre a espiritualidade de Marcelino

Champagnat, que viveu um processo de conversão baseado na

oração, no exercício permanente da presença de Deus, na

confiança na proteção de nossa Boa Mãe, na fraternidade da

vida comunitária, no exercício das pequenas virtudes e em um

apostolado em que o mais necessitado mereceu sempre muito

cuidado, atenção, misericórdia e solidariedade, enfim, amor.

Ficam bastante destacadas nas histórias que o Ir. Ferrarini nos

conta o bom senso, a prudência, a coragem, a firmeza, o

espírito de justiça, a generosidade, a simplicidade, a tolerância,

a gratidão e a profunda humildade de Marcelino que, não

tendo nascido santo, no entanto “empenhou toda sua vida

nesse sentido”, como observa o Ir. Séan Sammon em sua

Circular “Uma Revolução do Coração”.

“Contos Maristas – para rir e refletir” nos apresenta, enfim,

um Champagnat tão humano que, parafraseando uma

conhecida citação, só podia ser santo.

CHAMPAGNAT

João Batista Champagnat na corda bamba

Os chefes revolucionários nomearam João Batista

Champagnat Juiz de Paz em 1793 e o encarregaram de prender

os padres não juramentados, os religiosos e pessoas honestas.

Parece que o senhor Champagnat esforçou-se pouco, pois

foi acusado de favorecer os mesmos que devia perseguir.

Com efeito, sua irmã religiosa escondeu-se em sua casa e

tolerava que ela assistisse nas caladas da noite, assim como

a sua esposa, a missa de um padre escondido no vilarejo. E

mais, impediu os revolucionários de Saint-Etienne de

demolir a igreja de Saint-Genest embebedando-os com

vinho. Ele foi denunciado de ser negligente no seqüestro

dos bens dos celerados, de prender as beatas e fanáticas e os

padres refratários... (Avit, I, 10).

Quem bebeu, beberá

Certo de que sua paróquia abrigava muitos e excelentes

vinhateiros, o senhor Rebot tirava partido disso. Pessoas

sérias asseveram que ele quis forçar seu vigário a beber

como ele; que era bom para o clero ajudar decididamente os

vinhateiros a escoar seus produtos. O jovem vigário não deu

a mínima para essas idéias e resistiu às suas invectivas. Para

tirá-lo do mau caminho, Champagnat, lhe fez respeitosas

observações. Chegou mesmo a ponto de não beber senão

água durante um ano todo. Não conseguiu muito resultado e

se confirmou o provérbio: quem bebeu, beberá. (Avit, I, 29).

Primeira eleição no Instituto

Crescendo o número de candidatos em La Valla,

Champagnat propôs que a comunidade elegesse, por

Page 4: Contos Maristas - Para rir e refletir

4

votação secreta, o seu superior. Fez-se a apuração e, na

presença da comunidade, Champagnat leu o resultado: eleito o

Ir. João Maria (Furet, 64)

Por cumes e vales

O Ir. Silvestre diz que percorreu algumas vezes com o Pe.

Champagnat a região montanhosa de La Valla. Diz então

compreender o quanto o Fundador deve ter sofrido visitando

as diversas aldeias. Essas idas e vindas não eram só para

visitar os doentes, mas também para reconciliar inimigos,

restabelecer a união nas famílias, consolar os aflitos, socorrer

os pobres, enfim, realizar uma pastoral completa (Sylvestre,

98).

O papagaio do Pe. Champagnat

O prezado Padre Goutorbe, vindo orientar um retiro para os

Irmãos do Segundo Noviciado, contou uma passagem da vida

do nosso Fundador, que merece ser conservada. O cenário foi

a casa natal do pregador do retiro, em Saint-Chamond, onde os

parentes lhe contaram mais de vinte vezes. Esta historinha

pode ser muito interessante seja aos noviços como aos Irmãos

do segundo Noviciado.

Ao se sair da Igreja de São Pedro de Saint-Chamond, pela

porta principal, depois de andar uns cinqüenta passos, chega-

se a uma casa antiga, situada do lado direito da rua e ocupada

atualmente pelo Bazar Miolan. Esta velha casa tinha uma

grande janela envidraçada no andar térreo que servia de

vitrine. Na parte de cima havia, como ornamento, um

escudo e duas janelinhas geminadas, que davam luz a um

dos quartos deste andar.

Nesta casa morava há dois séculos uma honrada família,

cujo chefe à época (por volta de 1835) era o senhor Mateus

Goutorbe, paroquiano exemplar, cujo nome ainda se

encontra gravado na sacristia entre os fabriqueiros; um

homem de grande caridade e grande amigo de nosso

Fundador.

O Pe. Champagnat tinha de se deslocar seguidamente de

Hermitage para Saint-Chamond. Encontrava nesta casa um

acolhimento amigo. Ele era ali estimado pelos bons

conselhos que sempre dava, seu humor, bom senso, espírito

de fé.

Havia nesta casa um lindo papagaio. Maria, a empregada

doméstica o levava muitas vezes para a cozinha, enchendo-

o de mimos. Depois as crianças o lavavam para o andar

superior e ali se divertiam com a linda ave. Daquelas

janelinhas o papagaio podia observar o mundo lá fora.

Quando Champagnat chegava ali, fazia aquilo que todo

mundo faz diante de um papagaio. Dava-lhe com freqüência

pedaços de açúcar.

O filho mais velho, Adriano, talvez de 13 a 14 anos, teve

logo a idéia de ensinar o papagaio a falar. O que lhe

ensinar? Pensou logo ensiná-lo a saudar o Pe. Champagnat.

Que surpresa seria! E logo encontrou a frase apropriada:

"He, bonjour, Monsieur Champagnat". Aprender o Hé não

Page 5: Contos Maristas - Para rir e refletir

5

foi difícil, mas com as outras palavras o pobre do papagaio se

enrolava. O aprendizado foi longo.

Eis que certo dia Adriano observa Champagnat saindo da

Igreja. Correu logo para a janela com a ave e foi coisa de

instantes fazê-la repetir o refrão ensinado: "Hé Champagnat,

Hé Champagnat".

Champagnat ficou estupefato ouvindo uma voz desconhecida

que o chamava com um sotaque tão estranho; parou e deu uma

olhada ao seu redor, mas não viu ninguém. Continuou a andar.

Ao se aproximar da casa Goutorbe nova vibrante saudação: Hé

Champagnat, Hé Champagnat". Levantou então a cabeça e

pode ver o papagaio.

"Ah malandro, é você", apontando com o dedo, "e eu que te

dava pedaços de açúcar; é assim que você me agradece; não

ganhará mais nada".

E entrou. Adriano, ao mesmo tempo receoso e contente, muito

cioso de seu aluno de penas verdes, pensava o que iria

acontecer.

Mas Champagnat era de bom humor, e todos juntos riram à

vontade da brincadeira. Por certo a ave não deixou de

continuar ganhado o seu pedacinho de açúcar.

Quando a ave morreu, embalsamaram-na para agradar a

doméstica Maria e que ainda era guardado em 1929. (Bulletin,

1929, 77, p. 257-259)

Uma pedra a mais uma pedra

a menos não faz falta

Champagnat contou este sonho que teve: Eu estava no

terraço do noviciado de onde se tem uma visão geral da casa

de l’Hermnitage, quando percebi, vindo das bandas de

Saint-Chamond, um batalhão de homens de grande estatura,

vestidos metade como Irmãos e metade como soldados.

Cada uma dessas caricaturas de Irmãos, passando ao lado da

casa, tirava do edifício uma pedra e a levava consigo.

Inutilmente eu me opunha a essa destruição. Mas eles me

respondiam que uma pedra a mais, uma a menos, não

significava nada a uma tão grande construção. Logo os

muros, cada vez mais desfalcados, se racharam. O teto

desabou e a casa ficou em ruínas. Quando esses homens

chegaram ao meio do jardim que se encontra na frente da

casa, eles se desfizeram das pedras atirando-as na cabeça

dos jovens Irmãos que ali estavam trabalhando. Com isso

um grande número morreu atingido pela nuvem de pedras.

Os Irmãos-soldados continuaram a sua marcha ao longo do

rio e sumiram em um vale estreito tomado de cerração, no

fim do qual havia um abismo (Le Bon Supérieur, 11; Avit

AA I, 142)

Absolvendo sem podres

“Esta manhã, enquanto estava confessando, veio-me à

lembrança que meus poderes estavam por expiar. Logo saí

do confessionário e fui ver minha folha. Meus poderes

terminaram ontem, dia 4 de agosto. Rogo-lhe o favor de

prorrogá-los, se julgar bom. Já vai para 21 anos que peço

Page 6: Contos Maristas - Para rir e refletir

6

prorrogação de meus podres; mas, faça como lhe parecer

melhor” (Cartas nº 127).

Nova moda: dançar agarradinhos

A sociedade francesa não estava afeita à valsa, dança

executada por par em contato físico. Com o regresso dos

campos de batalha no Império Austro-Húngaro, os soldados

franceses incrementaram essa dança na França. Não só a

Igreja, mas também intelectuais desaprovavam-na.

Champagnat fez a sua parte em sua paróquia, reprimindo-a.

Mas inovou pastoralmente, conseguindo assim um equilíbrio

entre o lúdico e o espiritual (Furet, 24).

A eterna tentação das riquezas

As viagens do Pe. Champagnat eram, normalmente, feitas

sempre a pé. Foi assim quase até a sua morte. Muitas vezes

teve de fazê-las guardando longos jejuns, para poder celebrar a

missa. Nessas vistas ele costumava inspecionar tudo para levar

as coisas bem em ordem, examinar se os Irmãos eram sérios

em sua vida religiosa e se educavam corretamente os alunos.

Chegando certa feita a Ampuis, às cinco horas da manhã, os

Irmãos ainda se encontravam dormindo. Visitou toda a casa e

encontrou uma provisão exagerada de pão. Este pão estava

seco e tão duro que só se podia quebrá-lo com martelo. Muito

embaraçado, o Diretor explicou que o preferia, pois não era

mais caro que o pão de farinha integral, que se comia menos e

que alimentava mais. Mas Marcelino asseverou aos Irmãos

que até os sacerdotes não se serviam senão do pão de

farinha integral. E insistiu para que os Irmãos não se se

servissem de outro pão também. Em outra parte descobriu

uma calça de seda que o Diretor tentou explicar que não

custou senão cinco francos; ele a jogou no fogo. Outra feita

soube que um Diretor guarneceu a cozinha com vasilhame

sofisticado. Mas o fundador certificou-se de que ele, na

verdade, era muito simples. As comunidades viviam com

um orçamento bem moderado. O Ir. Avit, dizia mais tarde,

que havia uma enorme diferença entre a vida simples dos

Irmãos no tempo de Champagnat e aquela dos seus dias. E

isso merecia uma profunda reflexão (Avit, I, 58).

Sensibilidade

Os Irmãos tardaram um pouco para perceber que era

necessário dar uma mãozinha ao Pe. Champagnat. Quem se

tocou foi o Ir. Estanislau. Sem reclamar, Marcelino

desempenhava suas lides pastorais, visitava as obras,

mantinha a correspondência, a contabilidade, mil e mil

coisas. Ai o Ir. Estanislau teve o bom senso de lhe pedir

licença para arrumar o seu quarto e fazer a limpeza

(Sylvestre, 112).

O marista não é um trapista

Page 7: Contos Maristas - Para rir e refletir

7

Havia um Irmão que era piedoso, e muito devotado ao

Instituto, mas tinha um caráter duro o que dificultava muito a

relação com os Irmãos. O Pe. Champagnat estava atento em

corrigi-lo. Como o Irmão se admirasse da persistência do

Fundador este respondeu-lhe: “Meu Irmão, se você tivesse

sido chamado a se santificar como um trapista, dentro dos

muros de um convento, eu daria menos atenção a seus defeitos

de caráter, porque atrapalhariam pouco e não o impediriam de

ser um bom religioso. Mas você é um Irmão educador e vive

numa comunidade. O seu caráter perturba muito os Irmãos e

os alunos, a paz e a união estariam comprometidas”. (Le Bon

Supérieur, 189).

Novos druidos

Um vizinho de l’Hermitage escreveu aos país: “Ontem fui

participar das vésperas em Bois Coulaud (nome do lugar onde

se construía o Eremitério, margen direita) mais por curiosidade

do que por devoção. Realmente, são os druidas do tempo

antigo. Uns no mato, outros na relva… O povo de Layat

(aldeia acima do Eremitério, margen esquerda)sai das casas e

vem sentar-se na parte baixa de suas terras, com seus livros.

Enfim, isto merece ser publicado. Ao som do órgão, como os

cantores de Paris” (Furet, nota 6, 117).

Fazendo cobrança e promoção vocacional

Depois da chegada em La Valla do numeroso grupo de

vocacionados, Champagnat enviou um Irmão para a região

deles para informar-se que tipo de gente era e receber sua

módica pensão. Desse modo fez conhecer os Maristas fora

da diocese de Lião. Depois os jovens também escreveram a

seus país, tornando ainda mais curiosa e atraente a vida

marista (Sylvestre, 123).

O jejum dos jovens Irmãos

No tempo do Pe. Champagnat o fervor era grande no

noviciado. Todos os Irmãos, até mesmo os mais jovens

eram levados à prática da virtude por dever, por amor e por

um santo desejo de imitar Jesus Cristo. Nesse clima, em

uma quaresma, os jovens Irmãos resolveram pedir ao Pe.

Champagnat para acompanhar o rigoroso jejum dos Irmãos.

Uma comissão desses jovens foi fazer a petição ao Pe.

Champagnat. O boato logo se espalhou por toda a casa e

edificou a todos, sobretudo o cozinheiro, que teria menos

trabalho. A resposta aos jovens dada por Marcelino, veio no

dia seguinte através de uma palestra. Ele desafiou os jovens

a um outro tipo de jejum: jejuar os olhos pela modéstia;

jejuar a língua, pela prática do silêncio; jejuar as pequenas

paixões; não fazer jejuar a alma com o sadio alimento da

espiritualidade (ALSI, 45).

Page 8: Contos Maristas - Para rir e refletir

8

Champagnat denunciado pela imprensa

Durante a Revolução de 1830, a insegurança imperava por

toda parte. Vieram comunicar ao Padre Champagnat que

l'Hermitage passaria por uma vistoria dos agentes da

revolução. Como se previa grosserias e insultos, um dos

capelães ofereceu-se para levar os formandos para um passeio.

O Fundador não o permitiu, e sendo domingo fizeram-se as

celebrações litúrgicas como de costume. O motivo de tal

vistoria se devia ao fato de se propalar que a casa estava cheia

de armas, e que um marquês ensinava os irmãos a manejá-las.

De fato tal diligência chegou e foi recebida na portaria pelo Ir.

João José. Argüido onde estava o marquês, o Irmão respondeu

não saber o que era um marquês e conduziu seu interlocutor ao

Padre Champagnat que o fez inspecionar todos os lugares da

casa. Como um dos capelães estava ausente e tinha levado a

chave do quarto, abriu a porta a golpes de machado. Resultado

da diligência: nada encontrado, nem armas nem marquês. O

Padre Champagnat ofereceu ao grupo um bom refresco. O

procurador ficou encantado da franqueza e assegurou a

Champagnat que esta visita redundaria em benefício para a

casa. De fato, o magistrado fez um desmentido de todas as

denuncias que foram propaladas pela imprensa (ALSI, 102;

Avit, I, 95).

O incômodo que causa o novo

Champagnat, atento ao que melhor podia oferecer aos

Irmãos e alunos, solicita usar certo tipo de meias, de botões

e mudar o método de alfabetização. Um bom número de

Irmãos criticou as novas medidas. Champagnat, levando em

consideração o adágio ‘vota non sunt numeranda sed

ponderanda’, explicou aos Irmãos: “Há circunstâncias em

que importa menos contar as opiniões do que pesá-las.

Vocês têm o encargo das turmas de alfabetização e estão de

prevenção contra o método, sem o terem examinado ou

experimentado seriamente. Os poucos Irmãos que o

adotaram estão satisfeitos com ele e não se queixam dos

inconvenientes que vocês assinalaram”. Champagnat tinha

razões bem fundadas para realizar as diversas mudanças

(Sylvestre, 156).

Modas e virtudes

Certo dia alguém contou ao Padre Champagnat que a

sociedade achava a batina dos Maristas mais bonita do que

aquela dos Irmãos das Escolas Cristãs. Ao que respondeu

Champagnat: "Sinto muito, mas não é pelo nosso traje, nem

por outras maneiras mundanas que devemos agradar as

pessoas. Mas unicamente por uma vida exemplar que os

possa mover à prática das virtudes" (Avit, I, 76).

Page 9: Contos Maristas - Para rir e refletir

9

Outros saberes além do intelectual

Não se podia deixar de reconhecer que Champagnat era um

hábil operário, e mais do que isso: entendia de obras. Um

padre Marista lhe escreveu em 1836, pedindo-lhe sugestões

para a reforma de uma casa para os Padres, em Lião: “Se tudo

correr bem como esperamos, será desejável que o senhor tenha

a gentileza de vir o mais cedo possível, para ver e examinar

que plano podemos seguir em relação aos diversos consertos

que deveríamos fazer para a entrada dos alunos” (Extraits,

documento 150, 336).

Espírito do mundo

Apesar do cuidado do Fundador, cedo apareceu o abuso de

diretores de ‘freqüentar o mundo’. Paternalmente ele advertia

e orientava os Irmãos. Nas férias em l’Hermitage, ele deu

orientações seguras, mas alguns, desejando continuar esse tipo

de conduta, usaram de grosseria para com o Fundador

(Sylvestre, 154).

Recordando o Lava-pés

No dia de sua eleição, o Superior e seus assistentes servem à

mesa no refeitório, no jantar. Foi o Fundador, ele mesmo,

quem colocou este ato de humildade em prática em 1839,

quando da eleição do Ir. Francisco, seu sucessor. Por este

gesto, ele queria, sem dúvida, recordar ao Ir. Superior e a

seus assistentes, que eles tinham sido eleitos para servir aos

Irmãos, não para dominar; para ser seus pais e não seus

mestres; que o superiorado não é uma honra, mas

devotamento, solicitude e caridade (ALSI, 108).

Havendo batatas, tudo feito Um Irmão Diretor ficou incomodado por não ter nada a

oferecer ao Fundador quando este chegou à comunidade.

Champagnat não se atrapalha dizendo que comerá o que os

Irmãos têm. Iriam comer salada e queijo. O Fundador

perguntou: “Não há batatinhas. – Claro que há”. E ele

mesmo, ajudado pelos Irmãos, começa a preparar a refeição

(Furet, 362).

Versailles, monumentos e jardins

Champagnat, nos tempos vagos, durante sua estada em

Paris, começou a freqüentar a escola de surdos-mudos para

aprender o método de ensino, a fim de passar, mais tarde,

aos Irmãos (Sylvestre, 193).

De religioso, só a batina

Um Irmão foi surpreendido numa falta pelo Pe.

Champagnat. Ele se colocou de joelhos a seus pés dizendo:

Page 10: Contos Maristas - Para rir e refletir

10

"Perdão, padre, eu não sabia que o senhor estava aqui". "E o

bom Deus, pensa você, que não está aqui? Você tem coragem

de fazer diante de Deus o que não tem coragem de fazer diante

de mim! Agindo desta forma, de religioso você tem somente a

batina. Sua vida será cheia de falta e vazia de virtudes" (Avit,

I, 111).

Estilo Champagnat

Champagnat não era orador. Não construía frases rebuscadas

nem parágrafos eruditos. Sua linguagem, como seu estilo era

simples, francês enxuto, sendo, entretanto, claro, firme a

atraente. Os Irmãos gostavam de sua coloquialidade verbal,

preferindo seu estilo simples e paternal aos discursos

grandiloqüentes (Avit, I, 202).

Vizinho incômodo

Champagnat tinha um vizinho incômodo, chamado Motiron.

Chegou a ponto de impedir aos Irmãos de pegar água no Gier

para regar a horta e de utilizar a picada que vai da casa do

Hermitage a Saint-Chamond, costeando o Gier. Champagnat

com a ajuda dos Irmãos abriu então o caminho que vai da casa

até a estrada que liga Saint-Chamond a La Valla. Depois da

morte de Motiron Champagnat dispensou todos os cuidados

necessários à sua viúva (Avit, I, 191).

Estar com os Irmãos: um prazer

As últimas viagens do Fundador eram-lhe um grande

sofrimento, por causa de sua gastrite. Seu estômago não

aceitava mais nada, por vezes apenas uma leve sopinha.

Apesar desse estado, ele se dirigia ao refeitório com os

Irmãos, pois, para ele, estar com os Irmãos era uma grande

alegria (Sylvestre, 199).

Visões sobre Champagnat

As pessoas muito ligadas a ele comentavam sobre sua vida e

sua obra. Uns diziam que fundava um colégio para competir

com o de Saint-Chamond. Que formava uma comunidade

de Irmãos lavradores, de frades eremitas. Outros

inventavam que ia instituir uma seita de beguinos.

Censuravam as normas que prescrevera à sua comunidade,

o estilo de vida, as vestes... (Furet, 107).

Massagear perna de defunto Na quarta feira de cinzas, o Fundador foi acometido de

fortes dores nos rins que não o deixaram mais até a morte.

Era-lhe mais dolorido quando estava deitado, sendo-lhe

então penoso permanecer na cama. Entretanto ficava sempre

calmo, alegre, resignado à vontade de Deus. Assim ele via

sem desanimar a dor e a dissolução de seu corpo trazendo a

Page 11: Contos Maristas - Para rir e refletir

11

morte a seus membros. Um Irmão massageava suas pernas

para diminuir as dores. O bom pai lhe dizia rindo: "Não deve

ser coisa agradável esfregar os membros de um cadáver e,

sobretudo de um pecador. Eu lhe agradeço a caridade" (Avit, I,

297).

Pródigo, não pão duro

A comida dos Irmãos não tinha temperos excessivos e nem era

sofisticada. Nunca se soube realmente o de que Champagnat

gostava ou não gostava. Não era exigente. Servia-se daquilo

que todo mundo se servia. Não era mão-fechada. Não é

verdade e é muito equivocada certa mentalidade de que era

tacanho. Ele era, sim, muito hábil e prudente e nada o

penalizava tanto como o desperdício. Era muito razoável em

questões de compras, gastos e necessidades particulares, Com

anciãos e enfermos era muito pródigo (Sylvestre, 267-270).

Fundador em apuros

Viajando certa vez com alguns Irmãos, na mesma carruagem

havia um sacerdote que perguntou quem eram aqueles

religiosos, ao que Champagnat respondeu: “São Irmãos que

lecionam às crianças do meio rural”. E perguntado sobre quem

os fundou, disse: “Não se sabe ao certo. Alguns jovens se

agruparam, fizeram um projeto, um coadjutor os ajudou, Deus

abençoou a iniciativa e ela prosperou” (Furet, 373).

Correção dos regionalismos

Marcelino procurava corrigir o acento regionalista que os

noviços traziam. Sua argumentação era: esse defeito poderia

acarretar-lhes o ridículo e viciar os alunos. Comenta o Ir.

Silvestre: “Recordo que um bom Irmão tinha o hábito de

pronunciar ‘on’ em vez de ‘an’. Assim, por exemplo, dizia

os ‘onges’ em vez de ‘anges’. É impossível avaliar quanto

trabalho teve o venerável Padre para corrigi-lo de tão

viciosa pronunciação” (Sylvestre, 308).

Severidades com as falta públicas

Champagnat agia com rigor contra as faltas públicas, pois

continham os germens do contágio e destruíam a

comunidade nascente. Um jovem que cometera um abuso

sexual em La Valla, foi severamente punido. Disse-lhe que

tal falta contra um adolescente, era mais grave do que

pisotear a imagem do crucificado (Furet, 384).

Vida Feliz

Enquanto Marcelino conversava com certo Irmão, um dos

velhinhos que ele acolhia em l’Hermitage e dos quais os

Irmãos cuidavam, passou na frente deles e pôs-se a andar de

cá para lá, fazendo trejeitos, pois sendo débil mental, não

Page 12: Contos Maristas - Para rir e refletir

12

podia se ocupar com nenhum trabalho. O Irmão achou graça e

disse: “Este sim é homem feliz, não tem nada a fazer”. Diante

desse elogio da ociosidade, o Padre passou um sermão no

Irmão (Furet, 394).

Arrombador de portas

Champagnat tinha o maior cuidado para com os Irmãos a fim

de que não enfermassem. Sabia o quanto custava formá-los e o

quanto eram necessários para a educação das crianças.

Chegando a l’Hermitage um grupo de Irmãos, em dia de

chuva, deu-lhes logo uma bebida quente e solicitou ao

ecônomo para lhes providenciar roupas enxutas. Como este se

ausentara levando as chaves, Champagnat, na pressa de aliviar

seus filhos, apanhou uma ferramenta e arrombou a porta do

vestiário (Furet, 402).

Castigos no noviciado

Nenhum Irmão tinha o cordão, que atava a batina, antes de

fazer os três votos temporários. O rabat não era permitido aos

noviços senão depois de saber bem direitinho as orações.

Tirava-se o rabat muitas vezes, assim como a batina, como

punição. De resto todos os Irmãos da casa não usavam o rabat

durante o dia (Avit, I, 314; II, 7).

Circulares breves e tecnologia

Durante muitos anos as circulares do Pe. Champagnat eram

escritas a mão; depois Irmãos mais hábeis o ajudavam a

transcrever. Quando as comunidades se tornaram mais

numerosas foram litografadas graças ao trabalho do Ir.

Marie-Jubin que Champagnat mandara aprender a arte em

Paris. Mas ele tinha de trabalhar com ferramentas muito

reduzidas e conseguia fazer somente textos curtos. Isso

explica as, infelizmente curtas, circulares do Fundador. A

partir de 1842 o Ir. Francisco começou a imprimir as

circulares. Imprimia somente o número equivalente ao de

comunidades. Com isso havia dificuldades em se arquivar,

pois muitas se perdiam ou eram destruídas. A partir de 1848

começou a imprimir diversos exemplares a mais a fim de

guardar encadernados nos arquivos (Avit, II, 176).

Projeto Pessoal de Vida exagerado

Um Irmão mostrou ao fundador as resoluções do retiro que

fizera. Ele leu e disse ao Irmão: “Que diria você de uma

criancinha que tivesse a pretensão de carregar um fardo que

um homem de vinte e cinco anos levaria com dificuldade? É

o que você pretende com estas resoluções. Suprima três

quartos e cumpra bem o restante. Isso será suficiente para

você ser um bom religioso” (Furet, 418).

Page 13: Contos Maristas - Para rir e refletir

13

Consolo e colchão

Marcelino foi chamado para socorrer um doente. Encontrou-o

em tal estado de penúria que não achou suficiente dirigir-lhe

palavras de consolo e conforto. Movido de compaixão, manda

lhe enviem um colchão asseado. Como informassem que todos

já haviam sido doados, manda que retirem o de sua cama e, no

mesmo instante, o enviem ao doente (Furet, 476).

Outros possíveis projetos

Em face de tantas ocupações e preocupações, disse certa feita

o Fundador: “Eu poderia viver bem tranqüilo numa

paroquizinha, em vez de estar continuamente atarefado com o

governo desta Sociedade. Mas a glória de Deus e a salvação

das almas exigem de mim este trabalho. Eu poderia também

estar vivendo sossegado na minha família, trabalhando, em

vez de tantas canseiras, preocupações e viagens ocasionadas

pelo governo e a direção dos Irmãos, mas Deus quer assim, e

eu fico satisfeito (Furet, 510).

Champagnat: um santo mais ou menos

O Ir. Carlos, colocado pelo piedoso Fundador em Saint-

Sauveur, dirigiu esta escola por 43 anos. Ele tinha o hábito de

repetir muito a expressão "mais ou menos", o que tornava as

conversas engraçadas. Um dia, quando os Irmãos falavam

da santidade do Pe. Champagnat, ele disse: "Sim, o Pe.

Champagnat era um santo... mais ou menos". Ele morreu

em Saint-Genis, depois de ter tomado um banho

excessivamente quente (Avit, III, 248).

Firmeza e amor

O Ir. Silvestre afirma que a atitude de Champagnat para

com ele, quando de suas travessuras, fez com que adquirisse

grande amor pelo Fundador, que aliava à sua firmeza na

formação do Irmão, um acendrado amor. Pensava o

Irmãozinho que, depois de tantas que aprontara, o Fundador

o mandaria embora. Entretanto o enviou para uma

comunidade, apesar de ter somente quatorze anos

(Sylvestre, 247).

Liberdade para trabalhar

Champagnat recusou firmemente ser proprietário das

escolas. Estas eram ou do município ou da paróquia.

Explicava a um pároco: “Não fazemos nenhuma questão de

nos tornar proprietários nos municípios onde mandamos

trabalhar nossos Irmãos. Seria um encargo que nos

emperraria por demais a administração e nos atrairia muitos

invejosos” (Cartas, n° 215).

Page 14: Contos Maristas - Para rir e refletir

14

Insensibilidade fraterna

O Ir. Ligório foi recebido pelo Fundador, em L'Hermitage em

1832. Em 1839 ele era superior de seis Irmãos em Valbenoite.

Esses endereçaram ao Padre Champagnat uma carta dizendo:

"Nosso dever e a necessidade nos obrigam fazer o senhor

conhecer muitos abusos cometidos pelo Ir. Diretor: 1º ele não

tem horário para se levantar nem para se deitar; ora é um

horário ora é outro. O senhor imagina os contratempos que

isso traz; não se faz as orações ou são mal feitas. 2º não temos

as coisas mais elementares, sobretudo no que toca ao

vestuário; considere-se feliz aquele que consegue algo à força

de insistência; 3º quanto à comida não temos o necessário e

lamentamos ter de pegar dos alunos. Até agora não pudemos

beber nas refeições um pouco de vinho misturado com água..."

o Ir. Ligório não soube assimilar o espírito de Champagnat

apesar de o fundador ter recebido em l'Hermitage seus pais

que ali morreram e foram enterrados neste ano de 1839

(Letres/Repertoires - 2, 324).

Novo Cirineu

Certo dia Champagnat regressava de uma viagem com o Pe.

Terraillon. Pararam no Seminário Maior de Lião, que se

situava bem próximo do porto Saint-Clair. Certamente

estavam chegando de barco pelo Ródano, que fazia a linha

Lyon-Ais Les Bains. Terraillon desejava deixar sua pequena

bagagem ali, para não ter de atravessar a cidade com ele e

depois enviar um Irmão para vir buscá-la. Mas Champagnat

lhe disse: “Que é isso, me dê esse pacote que eu levo. Eu

sou um camponês, e isso não me importa”. Ele, que já tinha

um grande embrulho, tomou o de Terraillon e carregou os

dois (Extraits, 371).

Erudição ineficiente

Certo dia um Irmão dava uma aula de catecismo, mas usava

um palavreado tão sofisticado para o seu público que o Pe.

Champagnat lhe disse depois: “Irmão, por que ser tão

rebuscado nas palavras? Não é mais interessante, com as

crianças, empregar palavras mais simples? Em vez de dizer

Celeste Sião, porque você não disse Paraíso ou Céu”?

(ALSI, 385).

Escola Agrícola

Houve um momento em que o governo francês favoreceu,

através do político social-cristão Villeneuve-Bargemont, a

abertura desse tipo de escola. Inclusive um bispo chegou a

fazer uma oferta a Marcelino. Por isso, diz o Ir. Silvestre,

ele ficou penalizado por não ter fundado uma instituição

agrícola para os meninos órfãos e temia que Deus lhe

pedisse conta disso. O Ir. Francisco o dissuadiu desse

projeto dizendo que não era objetivo do Instituto (Sylvestre,

207, Extraits, 237).

Page 15: Contos Maristas - Para rir e refletir

15

Movimento Champagnat da

Família Marista

Como um jovem muito enfermo desejasse ardentemente ser

marista, para que ele não morresse triste por esse fato,

Marcelino deu-lhe o manto marista. Afirma o Ir. Silvestre que

poderíamos deduzir, desse gesto paternal de Champagnat, que

ele desejava criar uma espécie de Terceira Ordem de Pequenos

Irmãos de Maria (Sylvestre, 84).

Ambiente festivo nas férias dos Irmãos

Nas férias de 1838, antes de dar o assunto de meditação, o

Padre Besson repreendeu energicamente os Irmãos, pois

faziam muito barulho durante as recreações e andavam se

arrastando pelos corredores. O bom Fundador chamou-o

depois em seu quarto e lhe deu uma reprimenda: "Esses

Irmãos que o incomodam, ganham o seu pão e o nosso, não

esqueça" (Avit, II, 437).

Liturgia mais alegre e participativa

Champagnat era um grande amante do canto. Permitiu que em

l’Hermitage se cantasse durante a missa. Desejava mesmo que

toda a assembléia respondesse ao celebrante junto com o

coroinha (Sylvestre, 93).

Trabalho: sinal de vocação

Quando o Ir. Hipólito bateu às portas de l’Hermitage para

ser recebido tinha claro a vida encantada do mundo e

também a da vida religiosa. Pediu ao Fundador passar

alguns dias na casa para fazer uma prova. Foi acolhido com

bondade, mas Champagnat exigiu que desse a contribuição

exigida para o Noviciado. Ele era um homem de 26 anos e

tinha a profissão de alfaiate. Trouxe o dinheiro e foi

recebido. Champagnat ficou encantado com as boas

disposições deste senhor. Aliás, ele vinha responder uma

necessidade de l’Hermitage: estavam sem alfaiate.

Champagnat disse a um dos Irmãos de seu Conselho:

“Agradeça a Deus, pois ele nos enviou hoje uma pessoa

para a nossa alfaiataria. Estou certo de sua perseverança,

porque ele chegou com um sinal de vocação: entregou-me

300 francos”. Como o Irmão se espantasse, explicou: “Ele

tinha a vida garantida no mundo; sabia economizar e com

essa economia pagou o seu noviciado. Teve a coragem de se

desapegar de tudo” (ALSI, 147).

As três tentações das origens

Da espiritualidade: querer outro tipo de espiritualidade,

mais exigente, tipo anacoreta, como o Ir. João Batista

Granjon. Do apostolado: querer outro tipo de trabalho, mais

exigente, sem discernimento, como o Ir. Estevão Roumesy.

Page 16: Contos Maristas - Para rir e refletir

16

Do sacerdócio: querer outro tipo de vida “mais acabada”,

como o Ir. Luis e o Ir. Silvestre. Os dois primeiros

sucumbiram à tentação e os dois últimos superaram-se (Furet,

140, 142, 143).

Perfis de Marcelino Champagnat

Pe. Maìtrepierre diz que Champagnat humanamente, tinha

todo o necessário para impedir o êxito de sua empresa. Sua

formação acadêmico-educativa era falha. Ele se declarou

pedra bruta colocada no fundamento do edifício (McMahon,

129. Extraits, 362).

O Pe. Colin afirma: “Rogo-lhe de me dar os Irmãos mais

capazes possível e mais seguros, a fim de que eu não tenha

necessidade de procurar alhures. Projeto grandes mudanças no

governo de vossos Irmãos, mas tenho necessidade de vossa

inteira obediência. Vossas idéias me parecem às vezes muito

fixas, vossas maneiras muito bruscas e vossas brincadeiras

muitas vezes deslocadas” (Avit, I, 93).

O Ir. Avit, falando do sucessor do Pe. Champagnat, Ir.

Francisco, comentava: “Apesar de ser muito estimado por

todos, ele não tinha o caráter, a iniciativa, a energia, a

vivacidade do Pe. Champagnat. Não cativava os corações e

não dominava as vontades, como fazia tão bem o Fundador.

Estimava-se pouco o seu gênio frio. Era lento e sentencioso

nas suas instruções. Era meticuloso, atribuindo demasiada

importância a pequenas faltas, recebendo com dificuldade as

desculpas e temendo muito as observações” (Avit, I, 309).

O Pe. Champagnat era de estatura alta, aprumada e

majestosa. Tinha fronte larga, traços fisionômicos bem-

definidos, tez morena, aparência grave, comedida e séria.

Inspirava respeito e, muitas vezes, ao primeiro encontro,

timidez e receio. Bastavam, porém, alguns instantes de

contato com ele para que tais sentimentos se esvaíssem,

substituídos pela confiança e pelo amor. Sob formas um

tanto rudes e um exterior que manifestava algo de severo,

ocultavam um caráter invejável. Tinha espírito de retidão,

discernimento seguro e profundo, coração bom e sensível,

sentimentos nobres e elevados. Caráter alegre, expansivo,

franco, firme, corajoso, ardoroso, constante e equânime

(Furet, 251).

O Ir. Silvestre assim descreve a primeira impressão que

Marcelino lhe causou: “Sua estatura elevada e majestosa, a

aparência bondosa e grave, o vulto que exigia respeito, as

bochechas magras, os lábios pouco salientes que pareciam

querer sorrir, o olhar penetrante e esquadrinhador, a voz

forte e sonora, a palavra nitidamente articulada, sem

laconismo nem prolixidade; todos os seus membros bem

proporcionados”. Outros traços de seu perfil físico: alto

(1,79), reto, fronte larga e descoberta, tez castanha, olhos

grisalhos, boca mediana, rosto alongado, tez pálida. Ele

mesmo, em 1812, achava seu corpo bastante mal moldado,

denotando que sua aparência física não o deixava

indiferente (Mémoires, 84; Cadernos, 19, 56).

O Pe. Chanut diz que o que atrapalhou Champagnat em

Paris, foi a sua grande simplicidade, e que as pessoas,

depois de o terem visto, diziam: “Com certeza é uma pessoa

Page 17: Contos Maristas - Para rir e refletir

17

de bravura, mas com ares de homem do campo, sem muito

refinamento”. Esse padre achava que para essas coisas, se

necessitava de homens mais refinados (Extraits, 360).

O senhor Géry encontrou-se com Champagnat em Saint-

Etienne e descreve assim a impressão que teve dele: “Parece-

me modesto, bem intencionado e muito piedoso. Não sei por

que eu tinha melhor conceito de sua prudência e piedade que

de seu talento. Pode ser que ele não seja adequado para dirigir

a excelente obra que a Providência lhe confiou. O Espírito de

Deus sopra onde quer e, ademais, pode-se ter o recurso dos

bons conselhos de outros” (Cadernos, 14, 126).

Diversos padres comentavam que Champagnat não era fiel à

palavra dada, até mesmo seu amigo Pe. Mazellier. Mas este

último comentou, um dia, o que o próprio Champagnat lhe

dizia: “Censuram-me porque não cumpro sempre com a

palavra. Prometo e depois, se não posso...”. ”Por estas

palavras compreendi que não se tratava de malícia da parte

dele, mas apenas que não se importava demais” (Cadernos, 19,

57).

No Seminário Maior ele era tido como minus habens

(Testimonios, Bedoin, 182).

IRMÃOS

O tiro saiu pela culatra

A escolinha de Chavanay foi fundada pelo pároco Gaucher,

que para isso fez os primeiros investimentos. O Irmão

Estevão foi o primeiro diretor. Tratava-se de uma

construção muito pequena. As salas abarrotadas de alunos.

Gaucher era muito cioso de sua obra. Levava seguidamente

seus confrades para ver os Irmãos e os alunos. Certo dia

levou um pároco bastante gordo, que depois de tudo

examinar com um olhar matreiro, disse a Gaucher, em

latim, que tudo o que ele via lhe parecia muito desprezível.

O Irmão Estevão respondeu-lhe com uma frase latina muito

sarcástica. O gorducho, aturdido, percorreu o olhar da

cabeça aos pés do Irmão, tomou o chapéu e escafedeu-se. O

padre Gaucher o acompanhou rindo muito (Avit, I, 51).

Desconfiar quando a piedade é exagerada

João Maria Granjon deixou os dois Irmãos na escola de

Bourg-Argental com 200 alunos e refugiou-se na Trapa em

1824. O Padre Champagnat fez-lhe insistentes observações

que não o dissuadiram. Passado um mês retornou, pediu

perdão ao bom Padre e este o acolheu bem. Mas, pouco

Page 18: Contos Maristas - Para rir e refletir

18

tempo depois lhe assaltou a idéia de ter vida solitária.

Construiu para si uma cabana com galharias, sob o rochedo

que domina o local onde se fez, mais tarde, o grande terraço. O

piedoso fundador o deixou fazer, mas durante as férias, proibiu

aos Irmãos de ir vê-lo. O pobre solitário aborreceu-se logo,

abandonou sua cabana e pediu perdão uma segunda vez.

Marcelino queria enviá-lo ou a Saint-Synphorien-le-Château

ou a Charlieu. O falso solitário recusou obstinadamente estes

dois lugares. Em face destas intransigências e não querendo

obedecer, o bom Padre, muito aflito, indicou-lhe a porta de

saída (Avit, I, 56).

Graves acusações contra Irmão

O Ir. Gabriel, recebido em Hermitage em 1833, trabalhou em

Thoissey. Ali ele foi acusado, com certo fundamento ao que

parece, de atos imorais com alguns alunos. Segundo o diretor

de Saint-Didier, muitas vítimas foram recusadas à primeira

Comunhão. As autoridades em geral permaneceram

silenciosas. Apesar das investigações o caso não teve tanta

repercussão. O Irmão Gabriel passou a ser visto como bom

profissional, mas com dificuldades quanto ao aspecto moral.

Faleceu em Hermitage na idade de 32 anos

(Lettres/Repertoires, 2, 237).

Santidade e profissionalismo

O pároco Gaucher, reclamou com o Pe. Champagnat dos

Irmãos da comunidade de Chavanay. "O pobre Irmão

Lourenço é um santo homem, bela alma diante de Deus,

mas, lamento dizer que não tem as qualidades requeridas

para ser diretor. Não tememos afirmar que o senhor nos

manda o refugo". O Ir. Lourenço que tinha um brevê

conseguido do pároco de Saint-Chamond, perdeu-o e não

fez nenhum esforço em adquirir uma duplicata quando

passou por Hermitage (Lettres/Repertoires, 2, 244).

Excesso de zelo

O Ir. João Pedro, depois do retiro de 1824, despediu-se de

Champagnat chorando, pois dizia pressentir seu fim

próximo. De fato, o elevado número de alunos que tinha em

Boulieu, levou-o à estafa, morrendo vítima de seu zelo e

dedicação (Furet, 105; Biographies, 38).

Dificuldade dos jovens Irmãos

O Ir. Gerásimo parece ter entrado em Hermitage em 1834.

Trabalhando em Boën, os Irmãos desta escola foram

responsabilizados pelo insucesso devido à contínua evasão

dos alunos. Uma das causas, diziam, era que o Superior

Geral enviava Irmãos muito jovens e sem experiência. Essas

observações eram compartilhadas tanto pelo inspetor como

pelo pároco. Eles pleiteavam um Irmão diplomado. Mas o

Irmão Gerásimo foi um excelente Irmão, daqueles formados

Page 19: Contos Maristas - Para rir e refletir

19

pelo Pe. Champagnat e enviados ao Pe. Mazelier. Faleceu em

Hermitge em 1892 (Lettres/Repertoires 2, 254).

Próximos do naufrágio

Courveille acabou criando um clima tão ruim e sem esperança

que cada um pensou em prever seu futuro, abandonando a casa

de l’Hermitage. Ele dizia que não se encarregaria das dívidas

de Champagnat e que cada um se lascasse. Foi quando o Ir.

Estanislau entrou em ação, encorajando a cada um dos Irmãos

e fazendo duras observações a Courveille. Ao mesmo tempo

cuidou zelosamente do Fundador, quase moribundo. Foi a

pedra de salvação do Instituto (Sylvestre, 145).

Moderação & sofisticação

O Ir. Avit observa que havia comunidades que gastavam bem

mais do que a média do conjunto das comunidades. Escreve

que os três irmãos de Saint-Syphorien-le-Château gastaram

389 francos no ano de 1827; os de Mornant 400 francos; os de

Charlieu 350 francos. Eles não enriqueceram os mercados de

carne, confeitaria, nem os bares. Estes bons religiosos

acreditar-se-iam condenados se tivessem provado licores e

confeitos. Tinham comido pão de segunda, batatas, queijo e

legumes. Tinham bebido água limpa e sua saúde era excelente

(Avit, I, 75).

Muitos dependuraram a chuteira

A cada ano um numeroso grupo de postulantes tomava o

hábito. O Irmão Avit sempre assinalava que diversos desses

grupos acabavam abandonando o Instituto. Usava de

expressões bizarras como: o Irmão tal levantou âncora;

atirou a batia às urtigas...

Antonio Pascal era empregado em Ampuis, quando o ex-

Irmão Fotino abandonou o Instituto lançando impropérios

contra os Irmãos e sobre tudo o que se fazia na

Congregação. Antonio ficou indignado com a conduta deste

ex-Irmão e decidiu entrar no Noviciado de l'Hermitage

substituindo esse Irmão. Terminado o Noviciado

Champagnat o enviou a Sorbier, onde trabalhava o Ir.

Cassiano. Muitos haviam passado por aí, e nenhum havia

conseguido contentar o Ir. Cassiano. Foi fato notável o

jovem Irmão Antônio tê-lo conseguido. Depois substituiu o

Ir. Luis, como Mestre de Noviços, em cujo cargo ficou por

vinte anos.

Assinalava o Ir. Avit que muitos professos teriam morrido

no Instituto se jamais tivessem sido nomeados diretores

(Avit, I, 98; III, 98).

Pegando no pé do Ir. Policarpo.

Sendo diretor e cozinheiro em Ampuis, o vice-diretor

pregou-lhe uma peça. Escreveu-lhe uma carta recheada de

reprimendas, assinou como sendo o Ir. Assistente e colocou-

Page 20: Contos Maristas - Para rir e refletir

20

a no correio de Vienne. Recebendo-a, o Ir Policarpo ficou

muito confuso. Fê-la ler pelo próprio Vice-diretor que fingiu

lhe consolar e o animou a dirigir-se junto ao Ir. Assistente

como a carta pedia. Tendo se encontrado com o Ir. Luis Maria,

pediu satisfação por este lhe ter ralhado tão rudemente.

Dizendo o assistente que não sabida do que se tratava,

replicou-lhe: "Miserável, olhe aqui a carta". O Ir. Luis Maria

acabou lhe mostrando como seu auxiliar o havia enganado.

"Ah, pequeno pretensioso. Você me pagará". Os alunos lhe

pediam seguidamente "Deo Gratias", durante a refeição, a fim

de poder rir esperando ouvi-lo dizer: "Becamus Domino"

(Avit, I, 102; Lettres/Repertoires 2, 430).

Não confundir Baco com Jesus Cristo

O Ir. Policarpo entrou no Instituto aos trinta anos, tendo já

experiência de professor. Era de uma simplicidade infantil.

Certo dia os Irmãos, para rir, gabavam na sua presença, os

professores leigos. O Irmão lhes respondeu com humor: "Eu

os conheço muito bem, porque fui professor como eles".

Desejando certa feita visitar uma marquesa - ele então era

diretor numa escola - dirigiu-se para lá acompanhado de um

Irmão e foi introduzido na sala de visitas. Quando a marquesa

chegou, ele a saudou polidamente e indicando um quadro lhe

disse: "Nossa, que bela tela de Nosso Senhor"! A marquesa

mordeu os lábios para não rir. O quadro em questão

representava Baco sentado sobre seu tonel de vinho! (Avit, I,

101).

Diabo atrasado

Um postulante, a quem se perguntava o quê faria se o diabo

viesse tentá-lo para abandonar a vocação, respondeu: “Dir-

lhe-ia que veio tarde demais” (Cadernos, 16, 178).

A grande jornada

O Pe. Champagnat enviou o Irmão Luis Maria para a

comunidade de La Côte-Saint-André. Fez o longo percurso

a pé. Pernoitaram em Anjou e no dia seguinte retomaram o

caminho. O Irmão se arrastava sob o fardo da pesada batina

e grossos sapatos ferrados aos quais ele não estava

acostumado. Acabou ficando extremamente fatigado. Mais

alguns quilômetros e ele não agüentava mais. O bom pai

Champagnat alugou uma carruagem que os conduziu a La

Côte. O Ir. Luis Maria assumiu a primeria classe do

pensionato. Seus alunos o achavam muito severo, mas

gostavam dele e diziam: Aqui a gente morre de fome, mas

se aprende". Eram rudes jovens sadios com grande apetite.

Cada um comia um quilo de pão por dia (Avit, I, 105).

Caminho errado, uai

Um jovem Irmão dirigia-se para a sua comunidade. Não se

sabe por que motivo, não desceu na estação devida.

Felizmente, alguém que conhecia a escola para onde o

Page 21: Contos Maristas - Para rir e refletir

21

Irmão devia se dirigir, alertou-o que sua estação já tinha

passado. O Irmão ficou tão desorientado que se pôs a chorar.

Uma senhora compadeceu-se dele ainda mais quando soube

que o Irmão não tinha dinheiro para regressar. Uma estação

mais adiante desceram e ela o levou para sua casa para passar

a noite, pois só haveria trem no outro dia. No dia seguinte

levou-o à estação e relatou o ocorrido ao chefe da estação que

foi complacente, não cobrando nada para o Irmão regressar até

a estação onde devia descer (Cadernos, 16, 143).

Gesto de fraternidade

Um dos alunos do Ir. Pascal, trouxe-lhe um dia uma garrafa de

licor e alguns tabletes de chocolate. Como ele solicitava ao

aluno de entregar os presentes ao Ir. Diretor ou ao Irmão

provedor, um dos Irmãos lhe disse: “Guarde isso para você e

use na medida da necessidade”. Mas ele replicou: “Que

conselho estranho você me dá. Eu aceitar uma oferta pessoal!

Não quero infringir a Regra e os votos. Não desejo ser um

egoísta. Quero que os Irmãos partilhem isso comigo” (ALSI,

321).

Eterno noviciado

Certa vez um postulante pediu ao Pe. Champagnat para

permanecer a vida inteira no noviciado, para assim viver mais

na solidão e pensar menos nas coisas mundanas. Disse-lhe o

Padre: “Nada o impede de viver a solidão numa escola e no

meio das crianças...” (Furet, 298).

Pequenos embatinados

O pequeno Silvestre recebeu a batina com doze anos e

meio. Era muito agitado e aprontou muito, o que lhe valeu

numerosas reprimendas. Outro menino, Irmão Basílio,

mano do Ir. Gregório, tomou a batina na idade de nove

anos. O Ir. Silvestre ofereceu-se para cortar o cabelo do Ir.

Basílio, pois dizia que o Padre Champagnat se ausentaria

por quinze dias, tempo suficiente para os cabelos crescerem

novamente. O novel cabeleireiro fez no Ir. Basílio uma

linda tonsura. Mas no dia seguinte chegou o Pe.

Champagnat e presidiu à culpa. Apresentou-se o Ir. Basílio

com pequeno boné que não cobria senão o alto da cabeça. O

Fundador pediu-lhe que o tirasse. Perguntou quem lhe fizera

tamanha arte. O Ir. balbuciou o nome do Ir. Silvestre. Os

Irmãos de mais idade logo acrescentaram uma ladainha de

peraltices. Sugeriram como penitência privar-lhe do hábito

religioso durante algum tempo. E o Pe. Champagnat

acrescentou: "Olhe, seu caso é muito grave, devemos

submetê-lo ao arcebispado”. O jovenzinho tremeu da cabeça

aos pés. Por aqueles dias veio a l'Hermitage um Vigário

Geral e o Fundador pediu ao Ir. Silvestre fazer

humildemente sua culpa. O Vigário Geral lhe disse: "Você

fez isso por leviandade". Abraçou-o e pediu que lhe

restituíssem a batina.

Page 22: Contos Maristas - Para rir e refletir

22

O Ir. João Batista, professor, já não agüentava mais o jovem

Irmão nas aulas. Certo dia deu-lhe para decorar 1200 linhas.

Chorando, o Irmãozinho foi ter com Marcelino. Ele prometeu

pela centésima vez não aprontar mais. Champagnat pediu ao

Ir. João Batista suprimir o castigo. Mas o Irmão insistia em dar

vasa às suas traquinagens. Champagnat o chamou e disse para

preparar-se para ir trabalhar na cozinha na comunidade de

Ampuis. Iria a pé levando sua bagagem às costas. Tinha então

14 anos. Disse o Irmão: "Eu não sei o caminho". O Padre lhe

explicou o roteiro, mas logo que partiu perdeu-se. Um

carroceiro o convidou para tomar lugar em sua carroça.

Transido de medo o Irmão desandou a correr. O Padre o

encontrou e fê-lo subir em sua cavalgadura, ajustou os

estribos, ensinou a conduzir o cavalo e indicou-lhe o caminho.

Trotou bom tempo sem encontrar o ponto de encontro com

Champagnat e acabou entrando em Pélussin onde acontecia

um enterro muito concorrido. Diminuiu a marcha, tirou

respeitosamente seu chapéu e fez continência. Todos os

olhares se dirigiram para ele. Tomando informação, conseguiu

chegar a Chavanay. Amarrou o animal entrou furtivamente na

escola e foi à sala de aula. As crianças prorromperam: "Nossa

que Irmãozinho"! O Ir. Dominique chegou para sua aula e

expulsou o Ir. Silvestre trancando-o num armário. À saída os

alunos insistiam com o Ir. Dominique: "Mostre-nos o

Irmãozinho e nós lhe daremos duas moedas".

Depois de todas esses peripécias chegou o Pe. Champagnat

que inutilmente o aguardara em lugar que combinaram. Mas o

Irmão se atrapalhou e acabou chegando sozinho. O Ir.

Dominique, que não gostava muito dos jovens Irmãos, indicou

o caminho ao Ir. Silvestre e o despachou sozinho para sua

comunidade. Em Condrieu uma galera o perseguiu e o

ameaçou jogar no rio Ródano. Mas ele deu no pé em

disparada. Acolá uma senhora quis retê-lo para seus

serviços. Diversas gatinhas formaram uma roda em seu

redor galanteando-o, mas ele deu uns beliscões e caiu fora.

Entrando na cidade de Ampuis, um senhor o saudou: "Bom

dia piriquitinho". O Irmãozinho fitou-o de soslaio e não o

saudou. Afinal ele chegou furioso ao seu destino

vociferando contra a grosseria do pessoal daquela região

(Avit. I, 107).

Omeletes e carrinhos

O Ir. Silvestre assumiu logo seu posto na cozinha. Os

Irmãos, querendo tirar partido, insinuaram que ele devia

fazer uma omelete. O Irmão muniu-se do necessário e na

hora de virá-la acabou atirando-a contra um quadro num dos

cantos da cozinha. Os dois Irmãos eram por demais sérios

para o gosto do Ir. Silvestre. Procurando diversões sozinho,

levou um carrinho para a sala de estudos. Na reunião anual

os Irmãos fizeram sérias reclamações junto ao Pe.

Champagnat, ao que lhes respondeu: "Vocês são sisudos

demais. Não percebem que o Irmão tem necessidade, de

tempos em tempos, de brincar? Lamento que ele não tenha

ido até o sótão com seu carrinho; eu lhe teria dado uma

recompensa".

Mais tarde o Ir. Silvestre se tornou um inveterado fumante.

Ele fedia a tabaco a dez metros de distância. Nas reuniões

Page 23: Contos Maristas - Para rir e refletir

23

exalava um "perfume" que fazia sofrer os co-Irmãos. Foi

zeloso professor durante toda a sua vida, mas seu método

poderia ter sido mais prático, à altura dos alunos. Ele gostava,

sobretudo de dar o catecismo o que o fez até o fim da vida.

Por ocasião do jubileu de ouro de sua profissão os Irmãos

fizeram uma festinha em Saint- Genis. Foi a primeira do

gênero no Instituto (Avit, I, 108, III, 397, Furet, 256,

Répertoires, 478).

Os Irmãos nem sempre são os melhores

Em Fleurus, todas as crianças que tinham freqüentado a escola

de um velho professor recitavam perfeitamente o catecismo,

até os que não sabiam ler. É a razão por que os pais faziam

questão que os filhos fossem passar algumas horas com ele,

embora freqüentassem a escola dos Irmãos, recém-fundada

(Cadernos, 16, 168).

Prova para obter um certificado

Até 1833, o diploma para poder lecionar era facultativo. O Ir.

Francisco conseguiu um do diretor do Colégio de Saint-

Chamond. O Ir. Lourenço, diretor de Tarentaise, desejando

um, pediu-o ao pároco de Saint-Chamond. Ele então preparou

uma conta bastante grande, não necessitando ao Irmão senão

fazer a soma e remetê-la de volta a ele. Bem que o Irmão

podia ter pedido a outra pessoa para fazer a operação, mas

encontrou a solução por ele mesmo e o pároco lhe deu um

certificado. As leis posteriores foram mais duras e a

universidade era exigente para com os membros de

congregações. Posteriormente ele perdeu o seu diploma e

parece que não fez muito esforço para adquirir outro. Por

volta de 1842 insistia junto ao Ir. Francisco que nada mais o

atraia senão partir pelos vilarejos não tendo senão um

catecismo e uma sineta na mão para ensinar o catecismo ás

crianças (Lettres/Repertoires, 2, 319; Avit, I, 131).

Vocações por atacado

O primeiro diretor da comunidade de Saint-Genest foi o Ir.

Pedro Maria, que já havia cursado bom número de matérias

eclesiásticas. Era mais zeloso que prudente no recrutamento

de vocações. Levava postulantes às pencas para

l’Hermitage, mas a maior parte tomava o caminho de volta

para as montanhas. Passados seis anos já havia doze que

haviam dependurado a batina, não restando senão quatro

perseverantes, cuja qualidade, felizmente compensava a

quantidade. Mas os desertores causavam muito mal estar na

região (Avit, I, 144).

Fantasmas da meia noite

Ao tempo em que o Ir. Avit dirigia a escola de Saint-

Genest-Malifaux, ocorreram fatos misteriosos. A escola

ocupava uma casa alugada pela municipalidade cujo

Page 24: Contos Maristas - Para rir e refletir

24

proprietário, um tal Courbon, morrera há seis anos. Ao que

tudo indica não se havia celebrado nenhuma missa em sua

intenção até então. Um de seus filhos tinha um quarto na casa,

não passando senão a noite ali. Os internos perceberam

durante a noite um barulho misterioso que os pusera em

polvorosa, mas os Irmãos não escutaram nada. Certificaram-se

de que as portas estavam bem fechadas e o tempo calmo. Na

noite seguinte escutaram o mesmo barulho que os meninos.

Vinha de dois cômodos contíguos, mas sem comunicação

entre eles. Era o barulho como de uma martelada que

acontecia a cada trinta segundos, num e depois no outro

cômodo. Os Irmãos acenderam uma luminária e desceram pé

ante pé, descalços, mesmo sendo inverno. Chegando ao local

se certificaram de que tudo estava bem fechado e que as portas

não faziam nenhum barulho. Ficaram ali por cerca de dez

minutos sem nada escutar. O filho de Courbon roncava num

quarto ao lado. O frio obrigou os Irmãos a se recolherem.

Pouco depois o barulho recomeçou e durou cerca de meia

hora. Os internos estavam apavorados e quase todos

acordados. Colocado a par do acontecido, o filho de Courbon

nada comentou. No dia seguinte as coisas se repetiram. Os

Irmãos imaginaram os internos apavorados pedindo a seus pais

de virem buscá-los. Os Irmãos pediram ao filho do

proprietário se ouvira a zoada. Este nada respondeu. Naqueles

dias, do púlpito, foram anunciadas missas pelo falecido

proprietário da casa, o que surpreendeu os Irmãos. O fato é

que após tais missas os ruídos cessaram completamente e

nenhum dos pensionistas se retirou (Avit, I, 145).

Procurando culpados

Ligório foi um postulante recebido em Hermitage em 1832

na idade de 22 anos. Visitando a comunidade de Valbenoîte,

o Irmão João Batista não ficou satisfeito com o andamento

da escola. O Inspetor também havia feito diversas

observações. Diretor, o Ir. Ligório jogou a culpa nos seus

auxiliares entre os quais estavam os Irmãos Crisógono,

futuro Visitador e Teofânio, futuro Superior Geral. Era

difícil contentar o Ir. Ligório. Ele não tinha horário para se

levantar e se encarregava de supervisionar os estudos dos

alunos mais adiantados (Letres/Repertoires 2, 328)

Vocação ladina

Apesar da sagacidade do Pe. Champagnat em perceber as

falsas vocações, apareceu certa feita no noviciado um jovem

bastante amaneirado e muito devoto. Ganhou logo a estima

e admiração da comunidade, que o tinha por santo. A essa

época grande parte do tempo dos noviços era empregada em

trabalhos manuais. O Pe. Champagnat percebeu de seu

quarto que o dito noviço enrolava muito para iniciar o

trabalho e media vagarosamente os instrumentos de trabalho

para achar o mais leve. Mandou logo chamá-lo e o

despachou. Não tardou muito apareceram guardas para

prendê-lo. Era um escroque (Avit, I, 149).

Page 25: Contos Maristas - Para rir e refletir

25

É fogo guardar muito silêncio

Champagnat se aborrecia muito quando o grande silêncio não

era mantido. Um jovem Irmão, muito piedoso, estava doente.

Haviam colocado um tijolo aos pés da cama para esquentar.

Ocorre que estava de tal forma quente que pegou fogo. Era de

noite, tempo do grande silêncio. Para não perturbar o silêncio

da comunidade, o pequeno enfermo tentou a seu modo

resolver o perigo do incêndio. Mas teria sido assado se o Ir.

Jerônimo não prestasse sua ajuda, quando percebeu o perigo

enquanto fazia a sua habitual ronda noturna (Avit, I, 310).

Comunidade com dificuldades

O Fundador recebeu o jovem José Fayolle em Hermitage em

1832. Veio a ser o Ir. Luis Bernardino. Acabou indo trabalhar

em Beaucamps. Escrevendo ao Superior diz que receberam um

noviço belga e um alsaciano (alemão); nada mais restava que

receber também um espanhol e um italiano. Explica que não

estava se agradando do jardineiro e que o substituiu. E

perguntava: "O que o senhor acha de um jardineiro e

empregado, sendo Irmãos, dormir juntos, isto é, na mesma

cama. Nosso Irmão Antiaque é muito negligente na limpeza.

Tenho dificuldade de fazê-lo levantar-se pela manhã" (Lettres

/ Repertoires 2, 342).

Vocação gatuna

Na comunidade de Bougé-Chambalud apareceu, certo dia,

um jovem dizendo-se postulante e que alguns dias depois o

Ir. Luis Maia viria buscá-lo. Mostrou-se muito piedoso e

falava com naturalidade de muitos Irmãos importantes de

l'Hermitage. No terceiro dia ele se apropriou da carteira do

diretor e desapareceu. Apresentou-se em outra comunidade

e queria matricular-se como aluno; tinha 25 anos. Dirigiu-se

em seguida ao noviciado dos Irmãos de São Gabriel onde

foi recebido. Foi em seguida nomeado para uma

comunidade de onde se evadiu levando o diploma do diretor

e mais 400 francos. Continuou sua ladinagem em Saint-Paul

onde foi recebido no noviciado e disfarçou tudo tão bem

que o capelão o propôs à comunhão freqüente. Nos recreios

falava muito sobre espiritualidade. Foi nomeado para uma

comunidade, mas os noviços lançaram dúvidas sobre a

validade de seu brevê. Interpelado, recusou-se a dar

esclarecimentos. Reconhecido pelos Irmãos, foi detido e

confessou seus roubos (Avit, I, 150).

Caldo de sapatos

Um dos sapateiros de l'Hermitage acabou entrando no

noviciado e recebeu o nome de Irmão Pacômio. Não era

muito hábil e os sapatos dos Irmãos não saiam a contento.

Por vezes empregava couros mal curtidos em que se podiam

ver todos os pelos. O Ir. Ciro recebeu um par de sapatos

novos. Não se agradando perguntou aos Irmãos como fazer

desaparecer os pelos do sapato. Disseram-lhe que era

Page 26: Contos Maristas - Para rir e refletir

26

simples. Toda a manhã cada interno coloca um pedaço de

toucinho na sua panela o que torna o caldo muito gorduroso.

Antes de temperar, coloque os sapatos dentro da panela

durante cinco minutos e você verá o que acontecerá. O jovem

Irmão seguiu a recomendação e imagina-se o resultado. Isto

poderia não ter acontecido se o couro estivesse bem curtido e o

Ir Ciro fosse menos leso (Avit, I, 165).

Boca de ouro

O Ir. Avit trabalhava em Mornant quando o Ir. Crisógono

expulsou da sala de aula um aluno muito rebelde, atou-lhe as

mãos com uma fita e o mandou para o jardim. O aluno

desvencilhou-se das amarras e foi para sua casa. Durante o

almoço seu pai chega furioso. O diretor saiu ao seu encontro,

mas não conseguiu descer a escada e não soube o que lhe dizer

e ficou tolhido como uma estátua. O Ir. Avit veio atrás e o

forçou da descer. O pai começou subir a escada e o Ir. Avit se

colocou entre os dois agarrou o pai pelo pescoço e servindo-se

também dos pés, o forçou a descer, enquanto o pai proferia

grosserias. O diretor conseguiu safar-se desta

(Lettres/Repertoires 2, 63).

Entre puxões e tapas Um jovem Irmão tinha o costume de agarrar e puxar os

colegas, contrariamente ao Regulamento, apesar das

mobservações do Ir. Diretor. A mania não terminou bem. Um

dia em que perturbava outro Irmão de mais idade, este o

repeliu com força. O pobre rapaz caiu no chão e quebrou o

perna. Ambos ficaram desolados (Cadernos, 16, 155).

Músico em apuros

O Ir. Marie Jubin, acolhido pelo Fundador em 1832, foi

com ele a Paris, para aprender litografia. Mais tarde, numa

escola, o seu Diretor reclamava que ele era muito

fleumático, dedicando-se apenas aos seus oito alunos e não

se importando com nada mais. "Ele não sonha senão com

sua música, a sai pela rua atrás de compositores. Ele não

gosta de levar os alunos passear. Se às vezes ele decide

conduzi-los, acaba largando-os para ir não sei aonde e

retorna muito mais tarde que os outros. De manhã quase

sempre permanece na cama. Não sei mesmo se reza o seu

ofício. Mesmo na questão do canto, ele não conseguirá

nada... Como está sempre atrasado, não se pode contar com

ele para a supervisão dos alunos. Ele é muito apático, lento

e, sobretudo egoísta". Sabemos que o autor de cartas desse

tipo (Ir. Apolinário) era muito ardente, ativo, por isso é

preciso nuançar suas críticas. Por sua vez o Ir. Jubin

escrevia ao Superior dizendo que tendo sido encarregado

por ele de organizar um livro de cantos, era difícil chegar a

cabo, pois tinha muitas ocupações como a de cozinheiro e

de todas as comissões da casa. Solicitava que, ou fosse

privado desse encargo, ou que lhe dessem melhores

condições de levá-lo até o fim (Letres/Repertoires 2, 362).

Page 27: Contos Maristas - Para rir e refletir

27

Excentricidades

O Ir. Aleixo era de tal forma amante do jogo de bocha que se

dizia dele: Se no céu não houver esse jogo o Irmão não ficará

lá.

O Ir. Honório, sem ter muito dom musical, na capela fazia os

noviços rirem com sua boca de forno aberta.

O Ir. Anselmo, depois de uma fervorosa meditação no dia da

Ascensão, querendo voar para o céu, lançou-se do alto da

escadaria da capela e "voou" até o chão. Quebrou uma perna e

duas costelas tendo de ficar na cama por 40 dias, após o qual

foi despachado (Avit, I, 166).

Estar na fossa Havia um Irmão diretor que o Pe. Champagant estimava e que,

mais tarde, escreveu-lhe a biografia. Da parte do Fundador, o

Ir. Doroteu deu-lhe o seguinte recado: "O reverendo Padre

deseja que você retire o bezerro que foi jogado aí faz dois dias.

O Irmão diretor obedeceu sem replicar. Quando ia pegar a

carniça o Irmão Doroteu continuou: "Está bem. Isso é

suficiente”. O bom Irmão diretor saiu logo e foi lavar-se. Nas

férias Champagnat encarregou este diretor da cozinha, não

tanto por necessidade, mas para exercitá-lo na humildade e

obediência (Avit, I, 180, Répertoires, 185, Sester, Cartas, 135,

Furet, 418, Biographies, 40).

Obediência e vida mole

O Ir. Aarão foi enviado a Mornant como cozinheiro, onde

trabalhava o Ir. Lourenço. Ela queria uma permissão

particular para cada um de seus atos. Entre outras aprontou

esta: à hora do almoço, ele não havia acendido o fogão e

não se encontrava no seu posto. Descobriram-no

folgadamente num colchão de palha. Perguntado por que

não havia preparado o almoço respondeu sofregamente:

"Ah, caro Irmão, eu não tinha permissão". Advinha-se que

esse Irmão não foi feito para o Instituto (Avit, I, 214).

As três bestas

O Ir. Castulo, outrora empregado na comunidade dos

Irmãos de La Côte, era muito brincalhão indo às vezes à

excentricidades. Como a doméstica, dita irmã Marta, era

muito chata, tomou uma longa corda e amarrou uma ponta

no braço da infelizarda e outra no pescoço de uma vaca e

outra no outro braço ao pescoço de uma cabra. Depois

excitou das duas bestas, rindo dos gritos que soltava a irmã

Marta (Répertoires, 157, Avit, I, 258).

Trocando de penas

Um tipo pedante apareceu no noviciado de Hermitage.

Como vinha de uma paróquia muito pagã, permitiu-se-lhe

uma visita aos seus, mais para prová-lo e para trazer o

pagamento do noviciado. No caminho de volta muniu-se de

Page 28: Contos Maristas - Para rir e refletir

28

um cinturão e de um rabat eclesiástico. Ele tinha uma irmã tão

pedante como ele. Regressando ao Heremitério contou como

havia se disfarçado pelo caminho e que toda a gente de sua

terra o tinha tomado por um pároco e o saudava

respeitosamente. Disse que na sua terra as pessoas não iam à

missa, mas que o respeito humano não o impediu de ir lá.

Como retornou sem o dinheiro, foi-lhe devolvido seu enxoval

e despedido. Que perda! (Avit, I, 258).

Tamanho é argumento

O Ir. Silvestre conta que o seu Diretor não gostava de Irmãos

de pequena estatura e, depois de dois meses, resolveu se

desfazer dele argumentando que não fazia bem a cozinha.

Alegando que precisava de um chapéu, o enviou para

l’Hermitage. Ele, sem o saber, levava a carta de sua

condenação. Champagnat o acolheu muito bem. Depois, à

medida que lia a carta, foi tomando um semblante sério e disse

a ele que seu diretor solicitava a sua transferência. Ele tentou

explicar cada ponto enumerado pelo Diretor e, no fim, disse

que o motivo principal não estava contido na carta, que era o

fato de ele ser de baixa estatura. Para reforçar esse real

argumento, citou o exemplo de o Diretor não querer que ele o

acompanhasse à Igreja, por medo de provocar gracejos por

parte do público (Sylvestre, 51).

Caserna e urtigas

O Ir. Chaumont era um antigo soldado. Tinha o costume de

se barbear todas as manhãs. Foi diretor de um pensionato.

Tendo encontrado inúmeras dificuldades, e sendo pouco

resistente, atirou sua batina às urtigas dizendo: "Eu dou

minha demissão de Irmão" (Avit, I, 258).

Questão de posição

O Ir. Eleazar era bastante lerdo, mas de bom espírito e

grande devotamento. Foi-lhe confiada uma sala de aula. O

Ir. Luis Maria fê-lo, certo dia, exercitar-se na matemática,

chamando-o ao quadro. Deu-lhe uma conta para fazer

(divisão de frações). O Irmão saiu-se muito mal. O

professor se impacientou e ameaçou descer do estrado. O

Ir. Eleazar lhe disse calmamente: "Ah, o senhor faria muito

bem". Vendo que não tinha inspiração para sair dessa, o Ir.

Luis Maria gritou: "Burro, inverta a fração divisora". O

aluno retornou compassadamente, tomou o quadro negro

colocado sobre um cavalete, o virou de cabeça para baixo.

Aí ninguém mais agüentou, nem o sisudo professor (Avit, I,

261).

22. Chefões

Já no seu tempo, o Pe. Champagnat, havia organizado as

numerosas comunidades em "distritos". Havia dois tipos de

diretores: o diretor local (da escola e da comunidade) e o

diretor do distrito, que era um diretor local, mas

Page 29: Contos Maristas - Para rir e refletir

29

encarregado também de supervisionar as outras escolas do

distrito. Logo, espíritos não muito dados à nova organização e

com certa malícia, puseram estes chefes de distrito no ridículo

apelidando-os de chefões (Avit, I, 281).

Carnaval marista

Certa feita o Ir. Silvestre passeava com o Ir. Francisco pelo

jardim, quando perceberam um fogaréu na alameda dos

plátanos, onde os Irmãos faziam o recreio. Pararam e se

interrogaram o que seria aquilo. Aproximando-se viram os

Irmãos pulando por sobre o fogo e soltando gritos de alegria,

como fazem os foliões. É que alguns tinham tido a idéia de

realizar um carnaval, à moda da gente da região, e que nesta

época acendem fogueiras e ao redor delas dançam, saltam e

fazem alvoroço (Sylvestre, 302).

Salvo do fogo e da água

Luis Bouteille (Ir. Paulo) teve o pensamento de ser trapista e

certamente não aconteceu porque foi convocado para o serviço

militar.Lutou na Itália nos anos de 1813 e 1814. Contava, mais

tarde dos perigos que passou. Atribui sua vida á proteção de

Maria a quem recorria no fogo cruzado. Sabendo do revés da

armada napoleônica, desertou. Uma brigada foi no seu

encalço. Ele e seus companheiros deitaram-se numa depressão

e os guardas passaram sem vê-los. Conseguiu retornar à

França, depois de mil perigos, fome e toda espécie de

privações. Era uma pessoa de muitos talentos. Certo dia

teve de tratar de negócios pessoais na cidade. Para isso tinha

de passar um riacho que devido às chuvas transbordara.

Uma pessoa vindo em sua mula, ofereceu-lhe a garupa. Mal

a cavalgadura avançou afundou numa depressão e os dois

caíram. O que ofereceu “carona” ficou preso com um pé no

estribo e saiu arrastado pelo muar. A forte correnteza levou

Luis, que não sabia nadar. Em alta voz se recomendou à

Virgem Maria e fez voto de se tornar religioso se fosse

salvo. Quando se viu estava na margem. Cumpriu a

promessa e se dirigiu à trapa de Aiguebelle. Rezando o

terço pelo caminho, pensou ser a vida religiosa coisa muito

séria e resolveu ir a Valence aconselhar-se com o Bispo.

Este estando ausente, foi recebido pelo Pe. Fière que lhe

disse: “Não é a Trapa o seu lugar”. E fez-lhe conhecer o seu

projeto: os Irmãos da Instrução Cristã de Saint-Paul-Trois-

Châteaux. Ele foi pois a pedra fundamental desse Instituto

que mais tarde seu uniu aos Irmãos Maristas (Biographies,

129, Furet, 239).

Castelo assombrado

A última fundação de Champagnat foi o noviciado de

Vauban. Desde os primeiros dias que os Irmãos ali

estiveram, ouviram ruídos estranhos. Um dia, encontrado-se

no vestíbulo, o Ir. Teófilo escutou um barulho estridente à

moda da queda de um grande bloco de granito sobre

superfície dura, como se parte do castelo ruísse. Os outros

Page 30: Contos Maristas - Para rir e refletir

30

Irmãos também ficaram apavorados. Percorreram o castelo

sem nada encontrar de anormal. Pode-se julgar o terrificante

que foi tal experiência pelos seus corolários: o Ir. Teófilo

teve, em seguida, diversos ataques de epilepsia e sua saúde

agravou-se. Foi necessário substituí-lo pelo Ir. Emilio (Avit, I,

296).

Enrolado em números

O Irmão Próspero era um tipo mais pretensioso que capaz. O

Irmão Avit assistiu a uma de suas aulas. Ele fazia

demonstrações matemáticas a perder de vista e enchia o

quadro de números. Os ouvintes ficavam de olhos arregalados

não compreendendo nada. Ele os tratava de estúpidos e

acabava algumas vezes, ele mesmo enrolado em seus números.

Fala-se que a sua pretensa sabedoria acabou esmagando sua

espiritualidade. Infligia aos alunos castigos terríveis, e usava

prodigamente a vara. Com essas atitudes a escola ficou quase

sem alunos. Abandonou o Instituto (Lettres/Repertoires 2, 436.

Avit, II, 21).

Perdizes e papa-figos

Explica o Ir. Avit que, por volta de 1830, a comida começa a

melhorar. Mas ainda não era tempo de comer perdizes e papa-

figos. O pão era mais bem preparado e cada um se servia

conforme o apetite. Comia-se um pouquinho de carne.

Misturava-se um pouco de vinho à água do Gier (Avit, I, 115).

Entre de alhos e queijos

O Ir. Bartolomeu, natural de La Valla, foi recebido pelo

Fundador em 1819. Na cidadezinha de Saint-Synphorien

teve de suportar os maiores insultos. Colocavam inscrições

pelas paredes contra ele; as crianças caçoavam-lhe. Sabiam

que ele detestava o alho e o queijo. Então esfregavam esses

produtos em seus livros e cadeiras. Quando ele ia

inspecionar uma sala de aula os alunos lhe ofereciam à porta

dentes de alho o que o fazia recuar logo não vendo o que se

passava nas salas. Em carta ao Ir. Francisco ele dizia que a

comunidade estava descontente com o Ir. João Batista por

causa das vistas mal feitas, sem resultados, que ele fazia à

comunidade (Lettres / Repertoires, 2, 74).

Decepção com a missão

O Ir. Cláudio Maria, recebido em Hermitage em 1835 foi

enviado para as missões da Oceania. De Kororareka ele

escreve lamentando a frustração com a missão. Não era o

que sonhava ao partir da França. Os padres o destinaram ao

trabalho manual e à cozinha. Teve inclusive que se despojar

do hábito marista para passar a usar traje comum. Diz que

lhe foram provações muito duras. Confessa que não estava

habituado a manejar os instrumentos de trabalho manual.

Seu sonho era catequizar os nativos ensinando-lhes o amor

Page 31: Contos Maristas - Para rir e refletir

31

a Jesus e a Maria. Mas ele se resignava a essas provações

(Letrres/Repertoires 2, 137).

Destino das muitas cartas

Conta o Ir. Silvestre que, quando o Fundador morreu, ele

estava na escola de La Côte. Explica que escrevia

regularmente a Champagnat e que em todas as respostas o

Fundador dava provas de muita afeição e o encorajava. Ele

desejaria citar algumas delas, mas por infortúnio, elas lhe

foram tomadas e algumas ele as perdeu. Sobrou, entretanto,

uma nesse naufrágio (Sester, Cartas, 158; Répertoires, 476,

Sylvestre, 252).

Cabarés e pocilgas

O Ir. Didier ingressou no Noviciado de Hermitage em 1835,

com 17 anos e analfabeto. A escola onde ele trabalhou estava

cercada de casas noturnas perturbando o sono dos Irmãos. Na

casa os cômodos eram muito apertados. Em toda localidade

onde o Ir. Didier trabalhou sempre criava um porco. Ele ficava

num cercado junto à latrina...! Quando o animal estava bem

gordo ele o abatia. Isso se constituía numa festa ocasião em

que as comunidades vizinhas eram convidadas. Certa feita o

Visitador também compareceu a uma dessas festas o que

deixou o Irmão encabulado. Esperava uma reprimenda, o que

não ocorreu, pois a festa não passava de uma confraternização

bem simples. Como o Superior não lhe disse nada, ficou

perturbado achando que a reprimenda viria durante o retiro,

mas nada aconteceu (Lettres/Repertoires 2, 180).

Fugindo de ladrões

O Ir. Dominique fazia as suas viagens quase sempre a pé, e

eram viagens longas. Retornando certo dia à Saint-

Symphorien-Le Château encontrou dois indivíduos

confabulando e um disse ao outro referindo-se ao Irmão: "É

um pobre coitado, vamos deixá-lo passar". O Irmão chispou

transido de medo e desabalou pelo caminho. Percebendo

isso os dois indivíduos o perseguiram até a entrada da

cidade. Não se soube ao certo ser eram realmente ladrões ou

pessoas que desejaram rir às custas do Irmão.

O Ir. Dominique costumava pedir sempre o contrário do que

queria. Ele costumava reclamar sempre de seus co-irmãos.

Em Pélussin ele era diretor e lecionava na primeria série

sendo o Ir. João Maria Bonnet o titular perante a academia

sem jamais ter ali posto os pés (Lettres/Repertoires 2, 183-

184).

À força de água benta

O noviço Irineu era um simples condutor de carroça, muito

escrupuloso, mas que recebeu o hábito por conta de seu

devotamento. Durante as meditações ele se colocava ao lado

da pia de água benta na sacristia e se persignava

seguidamente. Encontrando-se um dia na horta, uma mulher

Page 32: Contos Maristas - Para rir e refletir

32

que havia errado o caminho, veio pedir-lhe informação. O Ir.

Irineu, que ainda não a tinha percebido, olhou-a, fez um

grande sinal da cruz e saiu em disparada. A pobre criatura

virou-se como pode. Este bom Irmão morreu acidentado na

Grange-Payre, sob um desbarrancamento, quando trabalhava

numa escavação a céu aberto (Avit, II, 66).

Piedosa criatividade infantil

Quando pequeno Jean Marie, (Ir. Pascal) foi com sua tia,

poucos anos mais velha que ele, levar um recado em uma

paróquia vizinha A mãe recomendou-lhe encarecidamente que

fossem rezando o terço. Os dois pequenos saíram conversando

e quando perceberam já estavam no destino, tendo esquecido o

terço. Na volta, a meio caminho, Jean Marie lembrou à

companheira o terço. Mas sua tia não tinha vontade de rezar e

retomou a conversa. Como ele insistisse, ela argumentou que o

terço que ele sabia era muito longo e lhe ensinou um mais

curto: “Eu digo benedicamus Domino e você responde Deo

Gratias enquanto vamos passando as contas do terço”. À

pergunta da mãe, se tinham rezado o terço, não foi fácil

explicar a forma como o rezaram. Nomeado para Valbenoîte,

com 18 anos, encarregou-se da primeira série que tinha uma

centena de alunos. Com medo, quis abandonar o trabalho, mas

animado pelo Diretor e por um Irmão que este escolheu para

acompanhá-lo, venceu as dificuldades (Biographies, 277).

Nos braços de uma jovem

O Ir. Francisco Regis era um fervoroso religioso, mas muito

escrupuloso. Sendo diretor em Séon-Saint-Henri,

trabalhando na cozinha, ele ia à missa das oito horas. Era a

hora em que as moças saiam para o trabalho. Para não vê-

las o bom Irmão fechava os olhos quando se aproximavam.

Uma delas percebeu isso e combinou com as colegas

darem-se os braços, ocupando toda a largura da rua;

envolveram o escrupuloso e uma delas abraçou-o sob

risadas das outras. O pobre Irmão não sabia onde se meter

(Avit, II, 98).

Habituado com os burros

O Ir. Damiano era um sujeito muito simples e de conduta

ilibada. Não era um religioso às meias. Sabia os quatro

evangelhos, as epístolas e o Ato dos Apóstolos de cor e

mesmo um pouco do Apocalipse. Entretanto, bastava ter um

tempo livre, e ei-lo lendo alguma passagem, passeando.

Podia-se ouvi-lo às vezes dizer a si mesmo: "É bem isso, eu

não tinha ainda compreendido". Ele era um pouco

encurvado e caminhava torto. Estando em Saint-Sauveur, o

prefeito animou-o a andar direito. Ele lhe disse: "Ah, senhor

prefeito, eu me habituei de tal maneira a caminhar deste

jeito conduzindo os burros de meu pai, que ser-me-ia muito

difícil andar de outra forma" (Avit, II, 105).

Fama de santidade

Page 33: Contos Maristas - Para rir e refletir

33

O Ir. Simão faleceu em 1847, aos 29 anos de idade. Quando o

povo soube de sua morte acorreu ao seu funeral, desejando vê-

lo uma última vez, pois o tinha como um bem-aventurado.

Cada um queria levar uma lembrança, chegando mesmo a

cortar seus cabelos. Seus funerais foram celebrados com

grande solenidade. Ainda em 1862, cada um considerava uma

graça especial poder ir rezar sobre seu túmulo

(Lettres/Repertories 2, 473).

Meninos salvam Irmão do inferno

No inverno de 1835 o Ir. Damiano contraiu uma febre tifóide

que quase o levou ao túmulo. Num momento de delírio

pareceu-lhe estar ante o julgamento de Deus. Apresentou-se o

demônio e recordou todas as faltas de sua vida e queria

empurrá-lo num profundo abismo de fogo. Acreditou ver

também seu anjo da guarda apresentando a Deus uma longa

lista contendo o nome de todas as crianças que ele instruíra e

preparara para a primeira comunhão. O anjo ajoelhou-se diante

do trono de Jesus Cristo e lhe ofereceu a lista dizendo:

"Deixareis Senhor perecer este Irmão, servidor de vossa divina

Mãe que vos preparou e ganhou tantas crianças?". Nosso

Senhor acolheu a lista e lançou um olhar severo para o

demônio que se precipitou incontinenti no inferno com o livro

onde tinha escrito os pecados do Irmão.

Tendo o Irmão recuperado a saúde, dobrou de zelo pelo

catecismo e fez uma lista de todos os meninos que catequizara

e preparara para a primeira comunhão. Guardou-a

cuidadosamente, pois dizia: "Ela me servirá no dia do

julgamento". Morreu com fama de santidade (Avit, II, 106).

Vocação posta a preço

O Ir. Attale era filho único e desde o momento que

manifestou o desejo de ser Irmão, seus pais opuseram-se

firmemente. A família era bem de vida. Quando foram

visitá-lo em La Côte-Saint-André, ele estava de ajudante na

cozinha. Depois de bajulá-lo bastante, insistiram para que

deixasse a vida religiosa, pois esta não convinha a uma

pessoa que tinha fortuna. Seu pai prometeu passar para ele a

sua propriedade avaliada em trinta mil francos. O Irmão

ficou indignado ao ver sua vocação posta a preço. E reagiu

com respeito, mas com firmeza. Como estivesse de avental,

disse que não o trocaria por nada. Seu pai, tocado por uma

resposta tão firme, emudeceu e retirou-se admirado com a

virtude do filho (Biographies, 364).

Almoço sem sobremesa

Na cerimônia de transladação das relíquias de São

Prisciliano, os Irmãos ofereceram um almoço solene em que

estavam presentes muitas autoridades da região. O Ir.

Estanislau providenciou doces para a sobremesa e os

guardou num armário. Os postulantes e jovens Irmãos que

serviam descobriram as guloseimas e foram se servindo até

Page 34: Contos Maristas - Para rir e refletir

34

quase acabar. À hora da sobremesa o Irmão Estanislau foi

buscar o que comprara em Saint-Chamond para o solene

momento, mas não mais os encontrou em canto algum. Como

a cidade ficava longe não era mais possível ir àquele momento

comprar. Os comensais tiveram de se contentar com o que se

ofereceu. Os Irmãos Luis Maria e Estanislau ficaram muito

chateados, mas o mal já estava feito. Os culpados foram

advertidos da gafe que provocaram com sua imoderada

gulodice (Avit, II, 117).

Incrível: castor morrer afogado

Um noviço, ao receber a batina tomou o nome de Castor.

Chorando ele foi ter com o Ir. Superior Geral rogando trocar

de nome, pois Castor, na casa de seus familiares era o nome de

um cachorro de seu pai. Latinizaram então o seu nome que

passou a ser Castorius. Tendo sido nomeado para uma região

de clima mais quente que o de sua terra natal pediu para se

banhar. Os Irmãos insistiram para que não fizesse isso.

Aproveitando a ausência do diretor, Ir. Avit, ele entrou numa

reentrância do Ródano, lugar lamacento que o deixou muito

sujo. Foi lavar-se nas águas do Rio Ródano e aí ficou (Avit, II,

164).

Metodologia fracassada

O pensionato de Grange-Payre foi supresso para dar lugar a

uma escola preparatória ao brevê. Tanto Irmãos jovens quanto

idosos eram ali aguilhoados pelo Ir. Silvestre. Aos

domingos iam passear em Hermitage. Para estimular os

Irmãos o Ir. Silvestre organizou um lindo mural onde

afixava as composições de seus alunos todos os sábados. Os

Irmãos de mais idade eram mais lentos e ficavam

espicaçados. Confabularam entre si e uma bela noite

puseram o mural no chão e o reduziram a pedaços jogando-

os depois na latrina. O professor advertiu o Ir. Luis Maria.

À hora da comunhão o Irmão proibiu os "iconoclastas" de

participar da comunhão. Todos os de Grange-Payre

permaneceram em seus lugares. Mesmo com todas as

tentativas feitas não descobriram quem era o autor da

façanha. O Ir. Silvestre já não comia, não bebia e não

dormia de tão inquieto que estava. O Ir. João Batista foi

tentar solucionar a questão. Disse que os Irmãos idosos

eram os sustentáculos do Instituto. Os Irmãos de mais idade

pensaram que o Ir. João Batista os apoiava e regozijaram-se.

Mas todos eles foram transferidos da Grange Payre e

colocados em comunidades normais. O fato se tornou muito

comentado. Interrogado sobre isso, o Ir. Dominique

esbravejou: “Esse merdinha de Irmão queria caçoar de nós.

Irmãos de mais idade. Foi-lhe dada ma lição. Bem feito”!

Acontece que o Ir. Dominique não atinou para o ato do Ir.

João Batista, que não aprovara aquilo que os Irmãos idosos

fizeram. Ele os reclamara nas comunidades porque os

julgou muito idosos para se dedicarem aos estudos com

seriedade (Bulletin de l'Institut XXIII, 176, 667-669;

Lettres/Repertoires 2, 477, Rivat, 152).

Page 35: Contos Maristas - Para rir e refletir

35

Humildade e arrogâncias

O Ir. Malaquias entrou no Instituto já com certa idade. Não

tinha lá grande ciência, mas era dotado de raras virtudes, juízo

muito certo e grande devotamento. Essas qualidades fizeram

os superiores colocá-lo à frente do noviciado de La Bégude. Aí

foi mestre por cerca de trinta anos. O Ir. Antonio Régis, diretor

de uma escola, que acabou abandonando o Instituto, era muito

pretensioso e soberbo. Observou que o Ir. Malaquias cometia

muitos erros de ortografia. Acreditando prestar-lhe um grande

serviço enviou-lhe o seguinte bilhete: "Percebi que o senhor

está desprovido de esses (s), por isso eu lhe envio uma

provisão". E preencheu três páginas de papel só com a letra S.

O Ir. Malaquias recebeu este insulto como homem ajuizado e

não respondeu uma palavra (Avit, II, 203).

Neve, pinga e lareira

O Ir. Avit, sendo Visitador, empreendeu uma viagem, a pé, é

claro, para a localidade da La Louvesc. Informaram-lhe que

não havia muita neve. Mas mais ele ia subindo, mais neve

caia. Passando em La Louvesc, acreditou ser prudente arranjar

uma garrafinha de pinga. Eram já quatro horas da tarde. Era a

primeira vez que ele andava por aquelas bandas e a neve já

cobria tudo não se podendo distinguir os caminhos. Um gélido

vento do norte apareceu súbito trazendo uma grande névoa

que, à medida que a noite se aproximava, obscurecia tudo. O

Irmão acabou logo no meio de uma grande floresta de

pinheiros e de grande camada de neve. Perdido ia daqui e

dali e acabou caindo num buraco lamacento. Suava muito.

A noite caía. Pensou na pinga e tomou um gole. Isso foi

uma grave imprudência. Ela lhe retirou o calor do interior e

esfriou-lhe muito os membros, que não podia mais se

mexer. Por três vezes rezou o ato de contrição e se resignou

a morrer aí. Logo escutou os sinos tocarem o Ângelus e

pode se orientar. Rezou esta oração Angélica e tomou a

direção que lhe parecia correta. Dentro de quinze minutos

entrou na cidade de Saint-Bonet-le-Foid. Dirigiu-se logo

para um albergue em cuja sala havia um grande número de

jovens que se alegravam num espaço bem aquecido. A

drástica mudança de temperatura fez o Irmão sentir-se mal e

os jovens disseram: "Olhem só um padre bêbado". O Irmão

lhes fez um sinal e lhes explicou o que acontecera. Os

jovens o convidaram a se aproximar da lareira e logo sua

roupa secou. A hospedeira lhe preparou uma boa cama e o

Irmão dormiu por cerca de dez horas. No dia seguinte,

munido de um guia, seguiu para o destino que ainda ficava a

duas horas de marcha (Avit, II, 205).

Deserto & deserto

A um Irmão que pedia ao Ir. Francisco um tempo e um

lugar de silêncio, ele indica com humor, mas com seriedade:

"Você quer imitar Moisés. Que ótimo! Retire-se a um

deserto para ali escutar a voz de Deus, seus oráculos,

receber suas ordens e entreter-se coração a coração com ele

para poder em seguida executar suas vontades, vencer a

Page 36: Contos Maristas - Para rir e refletir

36

cabeça dura do Faraó e sua armada e conduzir à terra

prometida o pequeno povo que está a seus cuidados. O deserto

é sua casa, a montanha o seu oratório, o tabernáculo a Igreja.

Faraó o demônio; sua armada as armadilhas para perverter as

almas; Babilônia, o mundo, a praça pública; o povo, seus

Irmãos e alunos aos quais o Senhor o estabeleceu como chefe

e que você deve conduzir ao céu pelo deserto desta vida.

Lembre-se bem da conduta de Moisés, sua assiduidade em se

entreter com Deus; suas orações pelo seu povo, seu zelo para

opor-se ao mal, sua coragem nas dificuldades, seus vitórias

sobre os inimigos" (Rivat, 156).

Harmônio dissonante

O Ir. Aidant substituiu o Ir. João Maria como mestre de

noviços em l'Hermitage. O Ir. Estanislau era então o zeloso

sacristão. Convenceu o senhor Ginot a comprar para a capela

um harmônio de quatro registros. Fez tudo em segredo,

desejando proporcionar uma agradável surpresa a todos os

Irmãos. Quando o instrumento chegou foi preciso contratar um

pianista leigo de Saint-Etienne para tocar. Precisava dar-lhe

alimentação e pagar cinco francos cada vez que vinha. Este

artista não conhecia o gregoriano. Queria um Irmão ao seu

lado para lhe dizer a primeira nota do canto a cada vez. O

harmônio não dava senão sons muito fracos com este artista. O

Ir. Estanislau ficou maluco. Em vez de elogios dos Irmãos ele

recebeu somente críticas. O Ir. Luis Maria lhe fez severas

reprimendas. Dizia que se o Irmão tivesse sabido fazer o

negócio, o senhor Ginot lhe teria comprado um órgão. Durante

a semana o harmônio ficava na sacristia. O Ir. Avit

aproveitava o momento em que todos os Irmãos estavam no

terraço e não tendo jamais tocado em teclado, percebeu que

tinha bom ouvido e as coisas iam saindo. Um Irmão ouviu

os sons e correu dizer ao superior que não havia mais

necessidade de um professor de fora. Na casa havia alguém

que tocava bem. O novo organista foi chamado pelo

Superior que o mandou tocar. O Ir. Estanislau se opunha,

dizendo que ele ia estragar seu instrumento. Mas logo

percebeu que o Irmão tocava muito bem e não poupava

louvores e incenso a ele. Isso acarretou mais trabalho ao Ir.

Avit, que era visitador. A cada grande solenidade ele devia

vir a l'Hermitage para ser o harmonista. Havia também um

outro que tocava, era o Ir. Marie-Jubin. Mas os Irmãos não

gostavam porque seus sons os faziam dormir (Avit, II, 207).

Caçando alunos

Os Irmãos de Valbenoîte estavam humilhados com a forma

que os Irmãos Lassalistas empregavam para atrair os alunos

maristas. O Diretor da escola marista resolveu um dia dar-

lhes uma lição. Instruíram a lavadeira, que por si já era de

língua bastante ferina, a fazer um contato com o diretor das

Escolas Cristãs. O recado era o seguinte: Havia uma

senhora morando na rua tal que tinha dois filhos e lhes

procurava um internato. "Eu sou sua vizinha. Como ela não

conhece ninguém, pediu-me para lhe indicar a melhor

escola da redondeza. Eu lhe falei da dos Irmãos Maristas".

A este nome o Diretor Lassalista ironizou dizendo que esses

Page 37: Contos Maristas - Para rir e refletir

37

Irmãos não eram bons educadores, eram ignorantes, gente rude

do interior... "Não se preocupe, eu também contei vantagens

de sua escola. Com relação ao dinheiro também não se

preocupe, a senhora pagará tudo, contanto que seus filhos

fiquem contentes". Deu ao Irmão o nome da rua e o número da

casa da senhora e escafedeu-se. Como a mãe dos candidatos a

alunos não vinha, enviou dois de seus Irmãos no endereço

indicado. Mas não encontraram nem a rua nem o número.

Mesmo com esta lição eles continuaram a assediar os alunos

maristas (Avit, II, 210).

Trabalho sem continuidade O Ir. Avit na qualidade de Visitador, tinha elaborado um plano

para todas as comunidades no sentido de organizar a prestação

de contas e a redação dos anais de cada escola. Colocou tudo

num mural. Seu sucessor no cargo achou por bem ignorar o

trabalho iniciado e nada melhor do que atirar tudo ao fogo

(Avit, II, 213).

Curioso chamamento à vocação

Certa feita um grupo de jovens Irmãos, possuidores de grandes

talentos, abandonou a vocação. Chegando à sua terra natal, um

deles passou a falar muito mal da vida religiosa e comentava-

se: “Fulano de tal saiu do convento e da maneira como fala,

aquela vida não é própria para atrair jovens a se fazer Irmãos.

Ele não deixa de lastimar o tempo que passou no convento”.

Um jovem, ouvindo isso, disse: “Pois bem, eu vou substituí-lo.

Tudo o que ele diz não me assusta. Espero que Deus me dê

a graça de perseverar até a morte”. Esse jovem veio a ser o

Ir. Antonio Pascal (Biographies, 82).

Lamentando o pouco tempo de formação

O Ir. Marie-Lin entrou no noviciado de l’Hermitage em

1834. Na escola em que era diretor era acusado de que os

alunos ali não fazam progresso. Insinuava-se mesmo que

tudo decorria da ignorância de seu diretor, Ir. Marie-Lin.

Em carta ao Ir. Francisco ele dizia que ia envelhecendo com

sua ignorância e que esta ia aumentando com a idade. E

argumentava: "Como nesta situação, se pode dar um pouco

mais? Julgue o senhor mesmo, se pelos ensinamentos que

recebi no Instituto desde o dia em que tive a felicidade de

ser membro, até o presente: apenas quatro meses de

noviciado e nada mais. Penso que eu teria o direito de lhe

pedir de fazer os vinte meses de noviciado que me restam

por fazer. Falo sem malícia, com naturalidade, mesmo

porque todos os meus lamentos lhe são conhecidos. Sei que

o senhor não pode fazer tudo o que desejaria. Espero que o

futuro seja mais feliz. Estou com trinta anos. Penso que

precisaria iniciar por me enviar a estudar. Digo mesmo que

eu estaria mais disposta ao trabalho de minha instrução do

que na idade de quinze anos. Não me deixe neste estado de

ignorância. É tempo de começar. A glória de Deus e a

salvação das almas o reclamam". Esse mesmo Irmão era

muito ardoroso no envio de jovens vocacionados. Enviava

Page 38: Contos Maristas - Para rir e refletir

38

aos magotes para o noviciado. Havia muitas observações a

esse tipo de ardor vocacional. Mas ele se defendia dizendo:

"Eu conduziria com muito gosto 50 postulantes ao noviciado,

mesmo sabendo que restaria apenas um, mas seria um bom

religioso" (Lettres/Repertoires 2, 365).

Sono profundo

A visita do Ir. Francisco à comunidade de Usson foi dramática

porque tendo ali chegado às onze horas da noite bateu,

inutilmente à porta durante duas horas. E era uma noite gélida.

O Ir. Camilo um dos que dormiam profundamente, viu em

sonhos uma mão que o tocava. O sonho lhe veio diversas

vezes. Como ele não se movia ouviu então uma voz: "Levante-

se, o Ir. Francisco está lá fora". No mesmo instante ouviu as

batidas na porta. Acordou os dois outros Irmãos que dormiam

no mesmo quarto. Com dificuldade abriu uma janela

emperrada pelo gelo e perguntou quem estava lá. Entendeu

logo que era a voz do Ir. Francisco e desceu às pressas para

abrir a porta. O Ir. Francisco explicou que batia há duas horas

e que antes de desistir e ir procurar um albergue, invocou o Pe.

Champagnat. E o Irmão logo abriu a porta (Rivat, 85; Avit, II,

221).

Receitas para curar os enfermos

O Pe. Champagnat incentivou o Ir. Francisco a estudar

medicina. Compôs enumeráveis páginas sobre o tratamento de

muitas doenças, compilando muitos manuais. Aos

portadores de cólera, por exemplo, recomenda-se o seguinte

tratamento cavalar: Aquecer o enfermo interior e

exteriormente; cobri-lo de tijolos aquecidos ao formo;

friccioná-lo com urtigas; deslizar sobre o seu corpo um

ferro de passar roupas o mais aquecido possível. Depois de

o enfermo ter vomitado, fazê-lo beber um copo de pinga

misturada com doze grãos de pimenta moídos. Quando um

Irmão caía enfermo, ele fazia um diagnóstico para ver se era

necessário chamar o médico. Mas, em geral ele mesmo

medicava o enfermo, e com sucesso (Rivat, 50, 52).

O uso de relógios em discussão Para a eleição dos capitulares em 1852 foi feita uma lista

dos 68 nomes possíveis de serem votados. Sobre essas

eleições havia sempre críticas, algumas bem intencionadas,

outras infundadas e outras, fruto de mau espírito. Assim,

dois capitulares, Irmãos Cassiano e Paulo-Mário, mais bem

intencionados e mais virtuosos do que esclarecidos,

acharam por bem declarar, um deles por escrito, que tinham

sido eleitos para escutar o Conselho Geral, sustentá-lo e

votar tudo o que desejassem. Essas declarações produziram

um resultado contrário àquele que pretendiam. O Ir.

Superior Geral fê-los notar que compreendiam mal o seu

mandato. Note-se que dois terços dos capitulares não eram

oradores. Eles escutavam as discussões, uns dormiam

seguidamente, votavam segundo sua lucidez e consciência,

mas não ousavam tomar a palavra, mesmo para encaminhar

as decisões que desejavam.

Page 39: Contos Maristas - Para rir e refletir

39

Um dos temas, por exemplo, foi a questão dos objetos e

utensílios que os Irmãos podiam ter nas casas. O projeto do

Conselho Geral suprimia os relógios e um dos Assistentes

defendia com força este projeto. A maioria estava visivelmente

contrariada e tinham os olhos fixos sobre um dos secretários.

Enfim, este se levantou e disse: "Vocês se enganam

reclamando relógios. Pode-se dispensá-los mesmo nos

passeios. Basta que um dos recreantes siga na frente com o

relógio e sua caixa nos ombros, segura por suspensórios.

Assim todos poderão ver as horas a todo instante". Essa saída

original fez rir todos os capitulares, exceto três. Posta a

questão em votação, foi aprovada com folga. Mas com o

passar do tempo houve muito abuso. E diz o analista: “É

verdade que a pobre humanidade abusa, mesmo das melhores

coisas" (Rivat, 178; Avit, II, 268).

Movimento reivindicatório

Muitos Irmãos descontentes ou de mau espírito faziam chegar

por diversas vias suas lamúrias aos capitulares. Uma delas era

por intermédio do Pe. Colin. Algumas eram inclusive

anônimas. Uma das reclamações: "Estamos entristecidos de

ver a saúde dos jovens Irmãos enfraquecer e muitos morrem

antes do tempo”. Acrescentam que isso prejudica muito a

Congregação e que muitos párocos não entusiasmam jovens

por esse motivo. Acreditam que a débil saúde deles se deve

pelo fato de não terem muito tempo para o desjejum, para o

almoço e que o passadio não é muito substancial. Eles não têm

tempo suficiente para as recreações e por isso mesmo pouco

exercício, indispensável à sua idade. Por essas cartas

percebe-se não ser difícil excitar no interior do Instituto um

movimento de reivindicações e lamúrias... Recomendava

Colin que dando uma pequena satisfação sobre essas

reclamações, haveria bom resultado.

Essa carta aborreceu muito os membros do Conselho Geral,

já abalados pelas intrigas que existiam. Claro que não eram

os Irmãos devotados que faziam circular essas cartas. Além

do mais as críticas eram exageradas e partiam dos menos

cumpridores dos deveres religiosos (Rivat, 182; Avit, II,

269).

Muitas críticas e pouca caridade O diretor de La Valla, Ir. Atanásio, era dos principais

críticos, com cartas que iam de mentiras a calúnias. Em

nome do Conselho, após o Capítulo, o Ir. Francisco dirigiu-

lhe uma carta e anunciava as penalidades, frente aos

escândalos que ele tinha provocado a muitos: supressos

todos os direitos de Irmão professo; de toda voz ativa e

passiva; de todas as orações devidas aos Irmãos professos

defuntos; proibido de levar a cruz peitoral dos professos. O

Irmão retornava assim ao noviciado para adquirir as

virtudes que lhe faltavam ou que tinha perdido. A leitura da

carta que continha essa penalidade, foi lida num momento

de forte tensão no Capítulo e provocou ainda maior mal-

estar. Para esfriar os ânimos a sessão foi suspensa. Os três

Irmãos mais implicados nessas tramóias deixaram o

Instituto alguns anos depois. Entre eles estava o Diretor de

La Valla e o Ir. Malaquias, autor da carta dos esses (s). o Ir.

Page 40: Contos Maristas - Para rir e refletir

40

Avit é muito rigoroso em seus comentários sobre o Ir.

Atanásio. Não comenta que ele pediu humildemente perdão ao

Ir. Francisco e o Irmão o acolheu com alegria. Mas dois anos

depois ele se retirou do Instituto ingressando em outra

congregação (Rivat, 190 192; Avit, II, 272).

Troca de favores

O Ir. Antonio Régis foi recebido em Hermitage em1835.

Quando trabalhava em Craponne ficou tão desgostoso que

disse que não mais ficava ali nem que fosse pregado. Dizem

que era um sujeito superficial e pretensioso. Adulou o inspetor

primário e lhe deu dinheiro. Este funcionário, por seu turno,

conseguiu para o Irmão uma medalha de bronze

(Lettres/Repertoires 2, 47).

Fabricante de camas

O Ir. Caste era geômetra, mecânico e apto a todo serviço. Foi

ele quem fabricou a maior parte das camas de ferro para os

Irmãos, durante muito tempo. E mesmo as inventou, porque

não existia em parte alguma desse tipo de camas. O ferro

vinha da usina do benfeitor Genissieux. O Ir. Caste acabou

falecendo jovem como conseqüência de uma fagulha que

atingiu seu olho (Furet, 31; Avit, I, 258).

Ousado bombeiro

O Ir. Apolinário foi recebido em Hermitage em 1832. Em

1840 trabalhava na escola de Saint-Didier-Sur-Rochefort.

Foi acusado de leviandades com jogos. Mas emendou-se.

Um incêndio que ocorreu numa casa do vilarejo fê-lo

praticar atos heróicos. Com um machado à mão, procura

salvar algo da casa, mas foi num instante cercado pelo fogo.

Na iminência de morrer queimado, saltou sobre o teto de

uma casa vizinha já com a batina em chamas. Essa atitude

do Irmão granjeou-lhe grande estima. Ele sabia lidar com as

pessoas e com as situações que se apresentavam. Era hábil

jogador de bochas. Foi nomeado visitador, e como tal não

cumpria adequadamente seu oficio, sendo pouco exigente.

Faleceu em Hermitage em 1880 (Lettres/ Repertoires 2, 49).

Entre tapas e chutes

O Ir. Avit trabalhava em Mornat quando o Ir. Crisógono

expulsou da sala de aula um aluno muito rebelde, atou-lhe

as mãos com uma fita e o mandou para o jardim. O aluno

desvencilhou-se das amarras e foi para sua casa. Durante o

almoço seu pai chega furioso. O diretor saiu ao seu

encontro, mas não conseguiu descer a escada e não soube o

que lhe dizer e ficou tolhido como uma estátua. O Ir. Avit

veio atrás e o forçou da descer. O pai começou subir a

escada e o Ir. Avit se colocou entre os dois agarrou o pai

pelo pescoço e servindo-se também dos pés, o forçou a

descer, enquanto o pai proferia grosserias. O diretor

conseguiu safar-se desta (Lettres/Repertoires 2, 63).

Page 41: Contos Maristas - Para rir e refletir

41

Excesso de amor ao papa

A guerra pela unificação italiana 1859-1864, considerada

guerra contra o papa, fez o excelente Irmão Nicéforo perder a

cabeça. Foi com muito custo que se conseguiu fazê-lo desistir

de ir cortar a cabeça do imperador. Felizmente sua loucura não

foi furiosa, mas o tornou um elemento perigoso e que forçou o

Instituto a interná-lo num sanatório (Avit, II, 279).

Fonte de recursos

O Irmão Amábile descobriu uma bebida, sob o nome de

bifosfato, que cedo adquiriu grande vulgarização e acabou

sendo uma fonte de recursos para o Instituto (Avit, II, 279).

Primeira tentativa de mudança da casa de

l'Hermitage

A casa de l'Hermitage acabou ficando pequena para acolher

todos os Irmãos nos retiros. Além do mais os médicos

sustentavam que ela era malsã e que os ventos frios noturnos,

ocasionados pelo Gier, eram prejudiciais à saúde dos Irmãos,

sobretudo dos idosos. Preocupados com esta situação os

superiores e o conselho visitaram um local vizinho e já haviam

feito alguns planos para a futura construção. Estavam

dispostos a comprar aquela propriedade. O Ir. Avit não

estava presente no Conselho que fazia aqueles

encaminhamentos. Ao seu retorno pediram sua opinião. Ele

respondeu que não poderia dar opinião sem antes visitar o

local. Depois que o fez deu o seu parecer: "Caro Ir.

Superior, não sou favorável a essa obra". "Por que?",

elevaram-se quase em uníssono as vozes. "Porque a

propriedade é muito exposta a todos os ventos, porque se

situa muito longe da estação e, sobretudo porque está muito

próxima dos centros industriais. Prefiro ainda l'Hermitage".

Não responderam nada e o projeto foi abandonado (Avit, II,

286).

Oferta de Saint-Genis-Laval

O prefeito de Saint-Genis-Laval pediu três Irmãos. O

Pároco veio a l'Hermitage discutir as condições. Vendo a

situação da casa e sabendo que os Irmãos procuravam um

local mais favorável, o pároco, senhor Magat, descreveu-lhe

a linda situação geográfica de Saint-Genis. Os Irmãos

falaram que não tinham dinheiro suficiente para comprar o

local. Um belo dia o Ir. Luis Maria foi ver a propriedade

falada por Magat. Por prudência ele a examinou de soslaio,

por sobre um muro e enamorou-se logo dela. Como estava à

venda, o negócio foi fechado entre a Sociedade Civil do

Instituto representada pelos Irmãos Boaventura, Luis Maria

e Francisco e o representante da proprietária. Tendo sido

tudo preparado, o documento foi levado para a proprietária

assinar. Assim, os Irmãos apareceram somente para assinar.

Page 42: Contos Maristas - Para rir e refletir

42

Firmado o ato, a senhora retirou-se para seus aposentos com

sua empregada e os Irmãos a escutaram dizer: "Oh

infelicidade. Se eu soubesse a quem eu estava vendendo eu

teria pedido 50 mil francos a mais. E esses senhores não

teriam recusado". Para pagar a propriedade os Irmãos

venderam a Grange-Payre, receberam algumas doações e

todos os Irmãos fizeram muitas economias.

Na Circular de 1855 o Ir. Luis Maria anunciava aos Irmãos

que as obras iriam começar logo. A maioria dos Irmãos

desejava conhecer esta bela aquisição e o Conselho favorecia

os que desejassem ir vê-la. O Ir. Avit não se apressou. Crendo

o Superior Geral que havia nisso certa malícia, fez-lhe uma

reprimenda. Mas o Visitador respondeu: "Estou persuadido,

como os demais, que a propriedade de Saint-Genis é

magnífica. Minha visita não a tornaria mais bela. Também não

faria com que o senhor se desfizesse dela. Essa visita só teria

o objetivo de satisfazer minha curiosidade. Não estou

apressado e espero ocasião favorável". Esta resposta pareceu

satisfazer ao Ir. Luis Maria (Avit, II, 300, 335).

Contando vantagens

Volta e meia os Irmãos Lassalistas se atracavam com os

Maristas. Desejando destruir a obra Marista em La Côte, eles

criaram um pensionato em Beaurepaire. Diziam que era fácil

conseguir seus objetivos. E fizeram muito barulho. O Ir.

Diretor de Viriville, ficou de saco cheio com essa situação

humilhante e, com autorização do diretor de La Côte, escreveu

uma carta ao diretor lassalista de Beaurepaire, dizendo-se um

pai de família que desejava matricular ali seus filhos.

Esperava que eles fossem bem alimentados, educados e

instruídos. E dizia: "Nós temos um pensionato em La Côte,

dirigido pelos Irmãos Maristas. Vai muito bem, mas me

fizeram tantos elogios do vosso que estou tentado de lhes

confiar meus filhos. Queira me dar alguns detalhes sobre

sua escola". O Diretor caiu na armadilha. Respondeu ao

presumido pai de família que os Irmãos Maristas eram

incapazes de educar os jovens e fez um brilhante elogio de

seu educandário e deu-lhe a informação necessária para

matricular os filhos. E alongou-se na explicação dos

conteúdos dados aos alunos, exagerando em tudo.

Infelizmente sua carta continha treze erros de ortografia e

de redação. Os diretores de Viriville e La Côte, riram muito

desta exibição do diretor lassalista que ficou esperando

inutilmente os novos alunos. Sua pouca habilidade o levou a

fechar a escola depois de seis anos, tendo ainda a desgraça

de brigar com o pároco por uma questão financeira, antes de

partirem (Avit, II, 338).

Irmão caluniado e condenado

O Ir. Cléofas foi nomeado diretor em Lorette. Ali foi

acintosamente caluniado, arrastado perante os tribunais e

condenado a quinze anos de trabalhos forçados. Seu

principal acusador, o prefeito, confessou a calúnia, mas o

condenado, mesmo assim recebeu imerecidamente a pena

(Avit, II, 329).

Page 43: Contos Maristas - Para rir e refletir

43

Vitória de Pirro

Apesar das ponderações contrárias do Ir. Avit, Visitador, o

Instituto aceitou os pensionatos de Thizy e Beaujeu. Mas

precisou, em seguida, gastar 60 mil francos no primeiro e 80

mil no segundo, fazendo aos poucos as reformas necessárias e

não dando sossego aos Irmãos que ali trabalhavam. "Nós

julgamos que isso era a vitória de Pirro: quanto mais a gente

ganha, mais se tem a lastimar" (Avit, II, 330).

Inflexibilidade do Ir. João Batista

O Bispo Guibert escreveu aos Irmãos lamentando a situação

que se criava em sua diocese com a presença de Irmãos de

diversas congregações que acabavam fazendo concorrência

entre si. Ele recomendava aos párocos que preferissem os

Maristas, mas estes lhe respondiam que os Maristas acabaram

sendo, desde há alguns tempo, muito exigentes, que não mais

desejavam abrir comunidades com dois Irmãos, o que

convinha muito às pequenas comunidades de sua diocese. E

dizia: "Eu recebi em muitos lugares reclamações contra o Ir.

João Batista, que dizem ser rude, severo, inflexível e não se

acomoda às exigências que cada situação das paróquias exige"

(Avit, II, 340).

Viagens com desconto

Os Irmãos Maristas viajavam agraciados com um desconto

especial, assim como os Irmãos das Escolas Cristãs. Os

bilhetes tinham validade enquanto havia espaço para

colocar o carimbo, em cada viagem. Quando o seu se

esgotou, o Ir. Avit solicitou uma nova autorização. O

fornecedor pediu se o Irmão era dos Irmãos da Doutrina

Cristã. Ele respondeu: "O senhor pensa que eu ensino o

Corão?". Não sabendo o que replicar, expediu um bilhete de

meia tarifa (Avit, II, 350).

Propaganda exagerada O Ir. Gregório moveu céus e terra para dar suporte humano

ao pensionato de Digoin. Apesar de ser um Irmão

inteligente e capaz, tinha a cabeça um pouco leviana. Para

atrair alunos fez muito barulho. Para a distribuição dos

prêmios, no final do ano, estavam presentes nada mais nada

menos do que 30 padres. Pagou-se para eles, assim como

para uma quinzena de leigos, uma nababesca refeição.

Foram servidos 25 pratos, dentre eles quatro grandes pernis.

Para encerrar o festim prepararam um bolo dentro do qual

foi colocado um pouco de aguardente e na hora acendeu-se

o fogo ocasionando assim um efeito especial. Alguns

Irmãos ficaram escandalizados com esta festa e os padres à

saída comentaram: "Poderia você pagar uma festa

semelhante? E os Pequenos Irmãos de Maria fazem tal

extravagância. Enquanto seu pároco se priva do estrito

necessário para pagar a escola eles desperdiçam tolamente

suas economias" (Avit, II, 351).

Page 44: Contos Maristas - Para rir e refletir

44

Roubando a própria casa

Nomeado diretor, o Ir. Volusien teve uma idéia bem

tresloucada. Constituiu um caixa dois, rasgou diversas folhas

do livro de contas e foi dar parte ao prefeito de que o tinham

roubado. Este denunciou o roubo ao juiz-de-paz e este fez uma

sindicância. Demonstrou-se que o ladrão não era outro senão o

próprio Ir. Volusien. Teve de refugiar-se na Bélgica. Mas foi

condenado como contumaz a diversos anos de prisão. Mais

tarde pode regressar à França, mas acabou abandonando o

Instituto (Avit, II, 363).

Arrependimento de Deus

A região de Cours tinha fama de abrigar gente inconstante. Foi

assim que os sete filhos de uma senhora viúva entraram para a

vida religiosa: 5 nos Maristas e as filhas no convento. A

bondosa mãe, de pouco bom senso, disse: "O bom Deus mos

deu, ele os toma; que seu nome seja bendito". Quando todos

desertaram para retornar à casa materna ela disse: "O bom

Deus, os tinha tomado para si, ele mos devolve; que seu nome

seja bendito" (Avit, II, 373).

Irmão grã-fino

Esforçando-se por ter uma boa imagem, o Ir. Ismael acabou

sendo nomeado diretor. Logo comprou para si uma bengala,

luvas, meias tricotadas, óculos, perfume... Considerava-se

elegante. Os que o cercavam passavam logo a emitir juízos.

Foi, sem permissão, para Lião em trajes civis, envolveu-se

com um grupo de revoltosos e foi posto na prisão. Mandado

embora do Instituto, casou-se com uma corcunda filha única

de uma viúva endinheirada. Apossou-se dos seus bens,

escachou sua mulher e em seguida mandou-a embora com

sua mãe (Avit, II, 374).

Vaca apegada ao bezerro

Perante a grandiosidade da nova sede do Instituto, Saint-

Genis-Laval, o Ir. Francisco era tomado de escrúpulos. Para

tranqüilizá-lo, a planta da obra foi submetida ao Cardeal de

Bonald, que não viu nada que ferisse a pobreza. Diante

disso, o Ir. Francisco se acalmou. Mas, após a instalação da

casa ele continuou a não se sentir muito bem. Mais tarde ele

se retirou para l'Hermitage. Os Irmãos lhe perguntavam por

que o seu sucessor estava tão apegado a Saint-Genis. Ele

respondeu com simplicidade: "É muito natural que a vaca se

apegue ao seu bezerro" (Avit, II, 385).

Mudança santificada

O noviciado transferiu-se para Saint-Genis um pouco mais

tarde que a comunidade. Cada noviço e postulante teve de

carregar sua bagagem. Foi um cenário que provocou

hilaridade pelo caminho até a estação de Saint-Chamond.

Page 45: Contos Maristas - Para rir e refletir

45

No trem foram colocados em duas composições especiais e

recitaram as horas menores em coro. Eles desembarcaram na

estação de Irigny e subiram com dificuldade a colina,

carregando a bagagem (Avit, II, 386).

Amor ao Fundador?

Em La Valla era diretor o Ir. Vicente. Ele era um hábil

dentista. Exercia esta arte com zelo em La Valla, Saint-

Chamond e até em Saint-Etienne, para onde ele ia nos feriados

e nas férias. Com esse trabalho ele conseguiu uma certa

quantia de dinheiro. Com mais algum dinheiro conseguido

pelo seu predecessor, ele tinha em vista recomprar o berço do

Instituto em La Vala. Os Superiores examinaram a questão e

foram de acordo, colocando o seguinte: "Considerando que

estes imóveis foram o berço do Instituto e trazem à memória

preciosas recordações aos Irmãos; considerando a

generosidade dos habitantes de La Valla que desejam que os

ditos imóveis retornem ao Instituto para respeitar a memória

de seu antigo vigário, o Padre Champagnat..." Apesar destas

colocações, o Ir. Vicente comprou a propriedade no seu

próprio nome. Com muito custo e diplomacia se conseguiu

que ele cedesse, o que possuía indevidamente, à Congregação,

o que aconteceu pouco antes de sua morte. Quando ele

morreu encontrou-se no colchão de palha de sua cama títulos

de renda fixa ao portador, representando um capital de sis mil

francos que um de seus irmãos logo reclamou. O Ir. Avit diz

citar o caso sem fazer julgamentos (Avit, II, 391, III, 12, 394).

Quis tudo, não teve nada

O Ir. Basle dirigiu diversas escolas e mostrou-se bom

administrador. Ele tinha um certo patrimônio. Tentado em

aumentá-lo, ele fazia algumas economias em detrimento do

estômago dos outros e se apropriava delas. Confiando em

seu talento administrativo, os superiores nomearam-no

ecônomo em l'Hermitage. Provavelmente continuou ali as

suas rapinas. Pelo mesmo motivo que satã assediou Judas, o

mesmo fez ao Ir. Balse. Reunindo seu patrimônio mais o

fruto das rapinagens foi a Marselha. Mancomunou-se com

uma senhora mal intencionada que o convenceu a adquirir a

casa onde ela mantinha um armazém por um aluguel anual.

O Irmão caiu na armadilha e passou todos os seus bens a

essa criatura. Dias depois um menino entrou no comércio

dizendo: "Bom dia mamãe" o que fez o ex-irmão abrir

grandes olhos. Depois apareceu um segundo e um terceiro

filho. O ex-irmão não agüentando mais manteve com a

megera uma viva altercação. Esta, com a ajuda da petizada,

meteu o azarado na rua dizendo: "E, além de tudo, eu estou

na minha casa". O pobre coitado acabou com uma mão na

frente e outra atrás. Caiu depois enfermo e teve de se

refugiar num hospital onde faleceu (Avit, II, 305).

Situações curiosas, hoje

Na eleição para Superior Geral que elegeu o Ir. Francisco,

havia um número de capitulares que não sabia nem ler nem

Page 46: Contos Maristas - Para rir e refletir

46

escrever. Os Irmãos Luis Maria e João Maria foram

encarregados de receber os votos deles que são escritos pelo Ir.

Luis Maria na presença do Ir. João Maria (Rivat, 68).

Ser do mundo e estar no mundo

O ex Platon era tipo galã, músico, bastante capaz para seu

tempo, mas muito vaidoso. Foi no início muito edificante.

Nomeado diretor, a sensualidade fez-lhe crer que estava

doente. Não mais queria dar aula, zelar pela disciplina, fazer a

cozinha... dizendo que estava muito fatigado. Como mantinha

ligações estranhas com a sociedade acabou saindo e aceitou

um trabalho qualquer numa escola sob o jugo de um titular

leigo. A um antigo co-Irmão que se admirava de sua atual

situação, um tanto humilhante respondeu: "Na casa de vocês a

gente pode fazer o que a gente quer, mas no mundo, é preciso

se virar para ganhar o pão". Posteriormente, em outra

localidade ele se envolveu com crianças e foi obrigado a

passar a fronteira para escapar da prisão (Avit, II, 306).

Dividir para governar?

A Província do Centro tinha 215 escolas ou pensionatos.

Julgaram que era demasiado para um só visitador. Resolveu-se

ter dois Visitadores, dois assistentes. Além do mais o Ir. Luis

Maria tinha outras pesadas ocupações, como a autorização

legal do Instituto e a construção de Saint-Genis. Procurou-se

então aliviá-lo da função de visitador. Ele não gostou da idéia.

Mandou trazer um mapa da França sobre o qual ele traçou

uma linha saindo de Genebra, passando por Rhône até

Irigny, dirigindo-se depois para Montbrison e Clermont. Em

seguida disse: "A sua parte está ao Norte desta linha e a do

Ir. Callinique ao Sul". Esta fantasiosa divisão fez rir muito

o Ir. João Batista e não durou senão um ano (Avit I, 412).

Burro de saia

Em Valbenoîte era cozinheiro dos Padres o Irmão

conhecido como Joselou, e dos Irmãos o Ir. Castulo. Este

surpreendeu um dia o seu colega furtando ovos. Correu

atrás dele até conseguir que devolvesse o que não lhe

pertencia. Nomeado mais tarde diretor, o Ir. Castulo

colocou sobre um asno uma grande saia, á moda baiana e

passeou pelas ruas seguido pelos alunos que marchavam em

duas colunas e ele mesmo seguia a besta munido de uma

grande vara. Os homens morriam de rir, mas as mulheres

esconderam-se e as grandes saias desapareceram da

paróquia (Avit, II, 434).

Jimmy, the Gardener

O Ir. Michel, que não perseverou, foi enviado para as

missões da Oceania em 1836. Instalado em Kororareka, aí

trabalhou em duras lides manuais. A um missionário

protestante ele confidenciou sua amargura em não poder ser

catequista, seu ideal. Este foi, certamente um dos motivos

Page 47: Contos Maristas - Para rir e refletir

47

que o fez abandonar o Instituto. Ele se tornou muito conhecido

na região por cultivar uma espécie de melão não conhecido.

Permaneceu solteiro e tornou-se um jardineiro profissional

conhecido então pelo nome de "Jimmy, the Gardener"

(Lettres/Repertoires 2, 400).

Queijo até na cama

Houve um tempo em que era muito comum pregar peças nos

outros. Um dia os Irmãos da comunidade colocaram um

enorme queijo fresco na cama do diretor, que era muito chato,

e imagina-se o que deve ter acontecido quando ele foi deitar.

Esse mesmo diretor obrigou um dia o pequeno cozinheiro a

trabalhar na horta o dia inteiro. Em conluio com o seu vice

prepararam um almoço para os dois. Pegando, em seguida um

pão duro, disse a um aluno: "Pegue, leve isto ao Irmão que

trabalha na horta". O aluno ficou revoltado e abandonou a

idéia que tinha de entrar no noviciado (Avit, II, 436).

Aviso aos usuários

Às vezes, as pegadinhas entre os Irmãos tinham efeito

pedagógico. Em 1839 o Ir. Avit passou por Chavanay e teve

de ir à privada. Achou o local muito sujo. Tomando um papel

escreveu uma quadra:

Oh vous qui, dans ces lieux étroits

Venez décharger vos entrailles,

Vous feriez mieux de vous lécher des doigts

Que de les frotter aux murailles.

O Ir. Lourenço que era diretor fez de tudo para descobrir

quem foi o seu autor (Avit, II, 436).

Festa republicana

O Ir. Felipe ingressou em l’Hermitage no ano 1827 e

faleceu em Saint-Genis-Laval aos 79 anos. Era um Irmão

muito enérgico, com saúde de ferro. Nas aulas falava tão

alto que se podia ouvi-lo a um quilômetro de distância. Seu

saber era muito elementar e ensinava o que ele mesmo não

sabia. Não tinha diploma, e exercia a profissão de professor

com outro nome. Na escola em que trabalhava os

republicanos ameaçaram incendiar a escola. O Ir. Felipe

tinha uma fanfarra e resolveu fazer um passeio musical.

Ocorre que o mestre da fanfarra era um ardoroso

republicano. Nada mais acertada medida, pois o desfile foi

um sucesso e aproximou maristas e republicanos. O Ir.

Francisco, SG não gostou da iniciativa e transferiu o Irmão

que deixou na localidade grandes recordações. Sua morte

foi sofrida, pois seu estômago não aceitando nenhuma

alimento, pode-se dizer que morreu de fome (Lettres /

Repertoires, 2, 419).

Devolução de Irmão brincalhão

O Ir. Pio ingressou no Instituto aos 25 anos, no ano de 1831.

Escreveu diversas vezes ao Superior Geral solicitando um

Page 48: Contos Maristas - Para rir e refletir

48

Irmão, mas que respondesse à suas exigências. Numa das

vezes argumentou: "Esse Irmão que o senhor me deu é por

demais engraçado, malandro; faz rir todo mundo. O senhor

sabe que em Terrenoire as pessoas são rudes e os Irmãos têm

necessidade de muita autoridade, reputação. Assim, eu estou

lhe devolvendo o Irmão para que seja substituído por outro

que nos possa servir". Diz o Ir. Avit que o Ir. Pio, que deixou o

Instituto, não era muito capaz e grande e muito papudo

(Lettre/Repertoires 2, 422).

Dar a vida pelo Irmão

Um pavoroso fogo destruiu, em Saint-Genis-Laval, as

dependências que guardavam provisões dos Irmãos e dos

animais. Pensou-se que foi o Ir. Porfírio que botou fogo, mas

não se tem certeza, porque ele era um tanto demente. Ele foi

mandado de volta para sua família e o Instituto continuou lhe

dando auxílio. Terminado o incêndio fez-se a chamada e

percebeu-se a falta de dois Irmãos: José e Maximino.

Entretanto viu-se o Ir. Maximino durante o incêndio. Os dois

dormiam acima da padaria. Ao que tudo indica ele fora ver se

o Ir. José tinha levantado e acabaram morrendo. Os seus

esqueletos foram encontrados abraçados e calcinados nos

escombros. Foi um terrível espetáculo para os espectadores

(Avit, III, 10).

Agindo sempre como pedreiro

O Ir. Pedro, recebido em La Valla aos 27 anos de idade, foi

logo iniciado na profissão de pedreiro. Certo dia fazendo a

culpa acusou-se de ter faltado ao silêncio em quase todo o

tempo. Era um tanto surdo. Um gaiato observou que ele

tinha o hábito de se cuspir nas mãos. O Fundador o animou

a se corrigir deste defeito. O Ir. Pedro agradeceu, cuspiu nas

mãos, beijou o assoalho levantou-se e se retirou. Ajudando

certo dia a descer um caixão na cova, ele disse um tanto

alto: "Te tigno" (Lettres/Repertoires 2, 423).

Morrendo sob o peso das dívidas

Sob o generalato do Ir. Luis Maria o Instituto ficou com

grandes dívidas. Em Aubenas gastou-se 320.000 francos e

teria sido mais se os Irmãos não tivessem trabalhado duro

para aterrar, remover e transportar cerca de 15 mil metros

cúbicos de material. Somando diversas aquisições o

Instituto gastou mais de cinco milhões de francos. É

verdade que essas aquisições e melhoramentos passaram,

em geral, a serem produtivos nos anos subseqüentes. Mas

um pouco antes de sua morte, o Superior Geral estava

horrorizado com as grandes dívidas que a Congregação

tinha. Para se ver livre de credores mais apressados fez um

empréstimo de 500 mil francos, o que fez somente postergar

as dívidas. Após a sua morte o Instituto devia pagar cerca da

metade desta dívida.

Certa feita, em conversa com o Superior dos Irmãos de

Ploërmel, o Ir. Luis Maria perguntou se a sua congregação

tinha muitas dívidas. "Eu sou muito prudente em não as

Page 49: Contos Maristas - Para rir e refletir

49

contrair; eu não faço gastos antes de ter o dinheiro na mão".

Esta resposta fez o nosso Superior enrubescer. Ele não podia

ter uma linguagem semelhante (Avit, III, 28, 176).

Uma questão de inculturação

O Ir. Procópio, Assistente das Províncias das Ilhas Britânicas,

depois de um tempo na Escócia aprendeu tão bem o inglês que

falava melhor que o francês. Naturalizou-se. E não gostava

nem um pouco que as pessoas se referissem com chacotas ao

povo inglês em sua presença, tão persuadido estava que tudo ia

bem, seja na Inglaterra seja nas colônias inglesas (Avit, III,

37).

Trabalho de inculturação

O Ir. Marie Nizier foi enviado pelo Pe. Champagnat como

missionário na Oceania. Desembarcou em Futuna. Aí

chegados os missionários foram saudados à maneira nativa,

nariz a nariz, e conversação com intérpretes. Foi servida uma

refeição: carne assada de porco, inhames, cocos. Folhas

serviam de mesa, toalha, guardanapos, pratos... Dedos serviam

de garfos e facas. "Asseguro que a minha delicadeza foi

questionada com estes novos métodos, mas atualmente tem

menos impacto", comentava o Ir. Nizier (Avit, III, 44).

Vida provada a do missionário

A vida dos primeiros missionários na Oceania foi difícil,

pois dizia o Ir. Emery, que tinha de ser compositor,

impressor, alfaiate, hortelão, lavador e passador de roupa,

ecônomo, cozinheiro, marinheiro... Outro Irmão, que fora

colega do Ir. Avit, começou a ter relações imprudentes com

o público. O bispo Pompalier julgou prudente enviá-lo de

volta para a Europa, mas ele acabou deixando o Instituto e

embarcando para a América. O Ir. Avit disse que se

surpreendeu quando soube que ele fora escolhido para ser

missionário na Oceania, pois para essa missão "necessitava

então de uma virtude sólida para poder viver no meio dos

nativos inteiramente nus, vivendo muitas vezes isolado,

privado dos sacramentos, etc" (Avit, III, 51).

Novos tempos

Em 1845 o Ir. Francisco escrevia a um Irmão Diretor

explicando que não era possível receber uma criança de 13

anos no noviciado porque não tinha maturidade. Sendo ele

de uma família virtuosa, poderia crescer ali em seu ideal

com a ajuda dos pais e quando tivesse mais idade poderia

entrar no Noviciado (Rivat, 109).

Mutações nos objetivos da escola

Em 1852 já não se estava mais no modelo de escola

evangelizadora dos primórdios. Desde o início do Instituto,

Page 50: Contos Maristas - Para rir e refletir

50

a escola era, antes de tudo, um meio de evangelização, uma

espécie de noviciado para todos, preparação à vida cristã. Mas,

pouco a pouco as exigências acadêmicas passaram a ser mais

importantes. Daí a tendência a reduzir o caráter religioso da

escola (Rivat, 193).

O peso da vocação missionária imposta

Da Oceania o Ir. Florentino dizia: "O que me faz sofrer e o

fará sempre, é de não mais poder vestir o hábito marista,

mesmo no domingo, de modo que, deixando a França, o deixei

para sempre. Foi inútil eu reclamar junto ao Bispo. Aqui eu

pensava dar o catecismo, ajudando os padres missionários.

Mas meu trabalho está reduzido ao de empregado doméstico.

Entretanto consigo fazer os exercícios que prescrevem as

Regras. Tal é a minha posição e a dos outros Irmãos. Eu não o

reclamaria se eu tivesse sabido perfeitamente a situação ao

deixar a França, de onde eu parti, vocês sabem, a contra gosto,

mais por obediência do que por livre escolha. Se fosse da

vontade de Deus que eu retornasse a l'Hermitage somente a

morte ou a obediência me prenderia aqui". O Ir. Teofânio o

encontrou em 1894, 45 anos depois, em Sidnei. O Ir.

Florentino fora enviado pelo Pe. Champagnat em 1839 a

serviço dos Padres Maristas (Avit, III, 52; Circulaires VIII,

406).

Da cozinha ao diretorado

O Ir. Francisco interessava-se muito pelos Irmãos

cozinheiros. Quase todos os Irmãos faziam um estágio de

cozinheiro antes de se encarregar de uma sala de aula. Em

geral eles acabavam de sair do noviciado ainda adolescentes

e podiam correr o risco de não ter sucesso; necessitando de

encorajamento quando eles se encarregam de um grupo de

alunos no período da tarde. Com freqüência eles também se

preparavam para conseguir um diploma. Os alunos se

acostumavam a considerar o emprego de cozinheiro como

uma parte do cursus honorum dos Irmãos. Havia mesmo

alunos que tinham prazer em varrer e arrumar as coisas

dizendo: "Eu quero aprender a ser Diretor" (Rivat, 220).

Irmão inventor

O Ir. Pémen, trabalhando no Norte, inventou um meio de

evitar os acidentes que acontecem nas estradas de ferro por

descarrilamento. Consistia num terceiro trilho, um pouco

mais elevado que os dois outros ao lado dos quais giravam

horizontalmente duas rodinhas fixadas sobre as

composições... Ele gastou certa quantia nesse invento, em

parte paga por benfeitores, e o apresentou a Napoleão II,

pelo senhor Brame, deputado do Norte. Ele enviou a Sua

Majestade o pedido: "Senhor, se o aparato que

respeitosamente submetemos à decisão de vossa Majestade,

por intermédio do senhor Brame, deputado, lhe parecer útil

a prevenir de maneira eficaz os descarrilamentos

ocasionados por velocidade excessiva nas curvas, ruptura

Page 51: Contos Maristas - Para rir e refletir

51

dos eixos etc... queira, Senhor, permitirmos homenagear vossa

Majestade, suplicando humildemente de acolher e ordenar seja

feito o experimento em algum lugar...". O pedido foi

endereçado ao ministro dos Trabalhos Públicos com ordem de

estudar a questão. O Ministro achou boa a invenção mas disse

que não poderia impor às Companhias. O Ir. Pémen tentou

então entender-se diretamente com os engenheiros das

Companhias. Estes lhe disseram que sua invenção era boa mas

acarretaria muitas despesas. Seu invento não teve

prosseguimento, e os trens continuaram descarrilando (Avit,

III, 70).

Vida austera e zelosa do Irmão

O Ir. Lourenço, de Saint-Paul, apesar de sua boa vontade, saiu-

se mal como enfermeiro e como mestre de noviços. Mas ele

era devotado e mortificado. Trabalhou sozinho em

Châteauneuf-d'Isère. O imóvel não tinha mobília e não recebia

quase nada de salário. Ele mesmo preparava seus alimentos.

Tudo o que possuía não valia mais do que 60 francos. Dormia

na sala de aula, que já era pequena. Para dar espaço aos alunos

ele amarrou sua cama em cordas suspendendo então a cama

até o teto. Engenhoca toda feita por ele. Depois das aulas da

tarde, pegava seu carrinho de mão e ia recolher esterco para

sua horta. Tinha então os seus méritos. Avit, III, 73.

Beato só no nome

O Ir. Beato foi o tipo do frade que o cargo de diretor o

arruinou. Enrolou tão bem seus quatro Irmãos ajudantes que

conseguiu fazer com que eles dependurassem a chuteira

com ele, e laicizar a escola de Unieux. O prefeito apoiava

esta traição. O pai de um dos Irmãos, fazendo-lhe uma

visita, percebeu a trama, ficou escandalizado e foi suplicar

ao Ir. Superior Geral de transferir seu filho daquele lugar

imediatamente. Com isso foi possível salvá-lo e ele foi um

excelente Irmão (Avit, III, 87).

Cenas domésticas

O Ir. Dominique, austero discípulo de Champagnat, era

diretor em Carlieu em 1840. Ali, junto com seus três

Irmãos, durante todo o ano, se contentaram com um galão

de suco de cerejas e alguns poucos litros de vinho. Em outra

ocasião, em Blanzy, depois de ter trabalhado na horta

durante toda a quinta feira, com seus coirmãos, ofereceu-

lhes uma boa refeição, fazendo batatas fritas. Ele dizia: “Se

o Ir. Luis Maria ralhar conosco, pior para ele”. Apesar de

pouco instruído, foi professor a vida inteira e morreu em

Blanzy, em plena atividade (Avit, III, 88).

Irmãos cientistas

O Ir. Emanuel dotou o Instituto de uma descoberta que o

ajudou muito na sustentação das casas de formação, então

com muitas vocações pobres, sem meios para pagar; com

Page 52: Contos Maristas - Para rir e refletir

52

dificuldades para pagar as construções incessantes que o

crescimento do Instituto exigia; de seus orfanatos; e cobrir as

pesadas taxas impostas, pela franco-maçonaria. Trata-se do

arquebuse. Este Irmão, nomeado enfermeiro, meteu-se a

estudar os livros de medicina e os que tratavam das

propriedades medicinais das plantas. Ajudado pelo Ir. Eutímio,

versado em História Natural, e à força de experimentos,

encontrou pouco a pouco a receita perfeita para a fabricação

deste licor de múltiplas propriedades. O mesmo pode-se dizer

do bifosfato, descoberta do Irmão Amábile. Os dois produtos

deram um bom rendimento ao Instituto. Estes dois Irmãos,

simples, laboriosos e despretensiosos, prestaram ao Instituto

ótimos serviços, bem mais do que certos Irmãos pretensiosos e

naturalmente melhor dotados.

Com o tempo, os Irmãos não davam conta de fabricar esses

produtos, tamanha era a demanda. O bifosfato teve sucursais

para a sua fabricação na Itália, Argélia, Turquia e América.

Quanto ao arquebuse, só em Lião e nas redondezas, em três

anos o consumo foi de 80 mil litros. Os operários e os

freqüentadores dos cafés preferiam essa bebia à outra

qualquer. Esses dois produtos ajudaram as enormes despesas

com os elevados e ruinosos impostos, novas construções,

melhoramentos nas existentes, compras de terrenos, casas de

formação, comunidades, escolas pobres, etc (Avit, III, 89,

332).

Economia demais

Os Irmãos foram chamados a trabalhar em Rives por um

pároco original, que os alojou numa biboca. A Igreja estava

situada fora da cidade sobre a vertente de uma colina. Não

era um monumento. Numa das visitas que o Ir. Avit fez, o

padre lhe disse: "O seu Instituto poderia prestar-me um

grande serviço comprando minha Igreja e alojando ali os

Irmãos, isso me ajudaria a construir uma nova na cidade".

O Ir. Respondeu-lhe: "Olhe aí uma ótima idéia que o senhor

tem. Poderíamos ter duas belas salas de aula na sua Igreja.

Quanto aos três Irmãos seriam alojados no campanário. Eles

poderiam até mesmo tocar o sino e o ângelus sem prejudicar

suas economias com um sineiro". O cura matou a charada e

mudou de assunto (Avit, III, 90).

Irmão artista Trata-se do Ir. Daciano, muito versado na mecânica. Ele

inventou e fabricou um relógio, verdadeira obra de arte, que

foi depois de sete anos desmontado, guardado e pilhado

pelos soldados indisciplinados da República. O seu engenho

marcava o movimento diário da terra, as fases da lua, a rota

de muitos planetas, o nascer do sol e seu ocaso. Um soldado

colocado sobre uma estrada de ferro retilínea indicava os

minutos com a sua espada, e voltava-se a cada hora para

recomeçar a viagem. Duas vezes ao dia, uma procissão

punha-se em marcha. Via-se a guarda, os cantores, os

padres, os fiéis e até um idoso com sua bengala. Durante a

procissão, um carrilhão tocava hinos lioneses. Cada dia

podia-se ver uma cortina vermelha elevando-se lentamente

para deixar ver um modesto quarto no qual o anjo Gabriel

Page 53: Contos Maristas - Para rir e refletir

53

saudava Maria e anunciava-lhe a encarnação do Verbo em seu

casto seio. No alto via-se o Menino Jesus, no centro de um

círculo em volta da circunferência do qual os antigos

patriarcas passavam em fila e se inclinavam diante do menino

que os abençoava, duas vezes ao dia. A destruição desta obra

de arte entristeceu muito o seu autor. E foi de fato muito

lamentável, porque esta sábia descoberta teria dado destaque

ao seu autor e ao Instituto e ter-lhe-ia trazido algum recurso

financeiro (Avit, III, 96).

Questão de estilo

O Ir. Avit diz que, quando estava em casa, passava quase

todos os recreios em conversação com o Ir. João Batista. Este

lhe disse um dia: "Rapaz, apresse-se em morrer a fim de que

eu escreva a sua biografia". - "Ela seria pouco edificante, e

diga-se, não estou assim tão apressado". "Nas biografias a

gente só coloca o que fica bem". - "Neste caso, a minha seria

muito curta e não valeria a pena o senhor escrevê-la". As

biografias seriam mais atraentes se colocassem também as

dificuldades e os defeitos de cada um. Mostraria o esforço que

a pessoa fez para se santificar, com a ajuda do alto (Avit, III,

109).

Autocracia do Ir. Luis Maria

Nas festas de fim de ano os Irmãos incrementavam o ambiente

com peças cômicas, teatros, fábulas, diálogos. O Irmão Avit,

animado pelo Ir. João Batista, escreveu muitas dessas peças.

Teve dificuldades em imprimir, porque o Ir. Luis Maria

queria a todo custo examiná-las. Aliás ele só permitia

imprimir o que ele havia visto e geralmente modificado,

retocado. O Ir. Avit lhe disse que enquanto as criações

permanecem manuscritos, pertencem a seus autores. E se

ele retocasse elas perderiam sua originalidade, que é o

mérito principal. "Nesse caso, disse o Irmão Superior, você

pode guardar seus escritos". Assim os Irmãos continuam

com pouco material para suas festas e material em geral

insosso, pouco atraente. E o Ir. João Batista continuava a

pressionar o autor...

Aliás a mania que tinha o Superior Geral de querer ler tudo,

e só assim enviar para imprimir, ocasionava prejuízos

financeiros para o Instituto, como a publicação da coleção

didática marista (clássicos). Ele mesmo queira escrever

tudo, e como o seu tempo era escasso, as obras eram

adiadas de ano para ano. Seus sucessores tiveram outra

metodologia (Avit, III, 111).

Como conservar castanhas

O Ir. Estevão era diretor, cozinheiro e encarregado da sala

de aula dos pequenos, em Bougé. Nos meses de verão

estava com um só aluno; mesmo assim, dedicava-se

inteiramente a ele na sala de aula, utilizando-se até do

signal para marcar a cadência da leitura, as pausas, o

saliêncio, etc. Certo dia foi presenteado com uma cesta de

castanhas. Queira conservá-las para oferecê-las aos

Page 54: Contos Maristas - Para rir e refletir

54

Superiores e não sabia como fazê-lo. Um gaiato ensinou-lhe o

método: colocar as castanhas num vaso, misturar com terra

seca e cada dia regar. Foi o que fez o Irmão. Como esqueceu

de por água durante alguns dias, quando foi regar percebeu

centenas de plantinhas o que o assustou e fez os Irmãos rirem.

Esta simplicidade o ajudou certamente a viver e a morrer

como bom religioso (Avit III, 114).

Irmão fundador

O Ir. Ponciano tinha uma sobrinha um tanto maluca, que

queria fundar uma nova congregação e um orfanato para

meninas. Consultava seguidamente o Ir. Ponciano e lhe

enviava as candidatas para fazerem direção espiritual com ele.

Elas ficavam na comunidade dos Irmãos. Ele rascunhava uma

regra para elas. Foi depois nomeado diretor em outra

localidade e proibido de se imiscuir nos projetos de sua

sobrinha. Acabou deixando o Instituto e abrigando-se na

mesma casa das novas religiosas de sua sobrinha. Passou a ter

maneiras bizarras e tomou o nome de Francisco de Jesus.

Continuou a rascunhar as regras e a fazer a direção espiritual

da moças. Tinha já um capelão. O cardeal Bonald foi colocado

a par da situação. Enviou um padre para examinar o problema.

Posteriormente reuniu as moças e fez com que elas elegessem

uma superiora, sem a voz ativa da sobrinha do Irmão. A

superiora eleita mandou embora a "fundadora" e seu tio. Mais

tarde o Irmão Ponciano pediu perdão ao Ir. Superior Geral, foi

recebido de volta e morreu no Instituto (Avti, III, 116).

Botânico envenenado

O Ir. Maximiliano era uma excelente pessoa. Gostava de

estudar botânica em l'Hermitage. Acabou colocando uma

flor de acônito na boca, distraidamente. Como a flor é

venenosa, poucas horas depois morria em meio a dores

atrozes (Avit III, 123).

Pecuária premiada

Os Irmãos Mario Amadeu e Mário Rodolfo participaram de

uma exposição agropecuária. As vacas do Ir. Amadeu foram

premiadas e o Irmão recebeu 160 francos. Também o Ir.

Rodolfo recebeu um premio com uma beterraba, que tinha

0,75m de diâmetro e um enorme melão (Avit, III, 132).

Passeios durante o sermão

O Ir. Mateus era muito amigo do bispo de Grenoble. Este

gostava de entreter-se com o Irmão. Entretanto o Irmão não

gostava dos sermões demasiadamente longos. O pároco de

Viriville, onde o Irmão era diretor, por vezes, fazia sermões

de mais de uma hora. Nessas ocasiões o Irmão atravessava

solenemente o coro, prosternava-se reverente diante do

Santíssimo, saía pela sacristia e ia passear no pátio,

esperando que o sermão terminasse. É o mesmo Irmão ao

qual o Fundador enviou um travesseiro na horta e o mesmo

Page 55: Contos Maristas - Para rir e refletir

55

que, em l'Hermitage, permitiu ao Ir. Adalberto cortar a vinha

do Padre Ruf, ocasionando um grande rebu (Avit, III, 137).

Noviço atento

Perguntaram a um noviço: “O que você faz durante a

refeição?” Respondeu: “Com os olhos, observo a comida que

tomo; com os ouvidos, escuto a leitura” (Cadernos, 16, 139)

Um grande bricoleur

O Ir. Teodósio, nascido em 1816, faleceu no Instituto em

1899. Na comunidade de Carvin correu boato de que os

Irmãos maltratavam as crianças. Depois se descobriu a causa:

eram alunos pagos para caluniar os Irmãos. O Ir. Tedósio diz

que, depois desses fatos, os alunos se tornaram arrogantes e

difíceis. O mau espírito tomou conta dos Irmãos Nizier e

Odilon: “Eles solapam a ação dele e do Ir. Anacleto, que eles

detestam. Quiseram aliciar o Ir. Martin, mas não conseguiram.

A tendência deles é de me dominar, mas eu fico esperto". Ele

continua contando a má conduta desses irmãos. Mais tarde o

Ir. Teodósio foi nomeado diretor de Viriville onde permaneceu

por 21 anos. Ele se ocupava, sobretudo na medição das terras

de proprietários particulares, a cantar a missa do convento, a

consertar os relógios da região, a fazer uma parte da secretaria

da prefeitura e exerceu até a função de prefeito por três meses.

Trabalhou ainda em muitas outras escolas antes de falecer em

Hermitage na idade de 83 anos (Lettres/Repertoires 2, p.486).

Dinheiro e distrações

O Ir. Denis foi trabalhar em Bougé-Chambalud, depois de

ter quebrado o cachimbo em Millery. O Ir. Estevão fazia a

cozinha e dirigia a primeira série. O Ir. Denis pediu que ele

se encarregasse também da venda dos livros, porque essa

atividade o distraia muito durante as orações. Deixou o

Instituto pelo final de 1843 (Répertoires, 172).

Tudo pela caridade

O Ir. Vitor foi recebido em Hermitage em 1830 e ali faleceu

em 1852. Trabalhou em La Valla onde o Irmão Pétrone

inventou brincadeiras aproveitando os fortes e freqüentes

ventos. Riam muito com esses objetos quase sempre em

movimento. O Ir. Vitor era pessoa muito alegre e seu

auxiliar, Ir. Anfião não gostava de vinho; assim sendo um

bebia água e o outro vinho. Admoestado pelo Ir. Francisco

SG, o Irmão Vitor respondeu, rindo: "Nossa necessidade é

segundo a Regra e a caridade; meu coirmão bebe água

porque não gosta de vinho e eu me privo dela para deixá-la

a ele" (Lettres/Repertoires 2, 514).

Livreiro excessivamente econômico

Page 56: Contos Maristas - Para rir e refletir

56

O Ir. Bento foi comerciante ambulante antes de ser recebido

pelo Pe. Champagnat. Ele soube permanecer firme no tempo

do Pe. Courveille que tentava desencorajar os Irmãos enquanto

o Fundador estava enfermo. Em l'Hermitage estava

encarregado da livraria. Para curar os reumatismos tomava um

copo de vinho misturado com pimenta. Tinha um caráter duro

e os Irmãos o consideravam avarento, pois não permitia o

mínimo desconto no material escolar que fornecia às escolas.

Indo a Firminy, uma carruagem o atropelou. Foi socorrido

pelos Irmãos do Sagrado Coração e pelos habitantes, mas

morreu três dias depois (Avit, III, 156).

Enfrentando amotinado, mas não como

Champagnat

No dia de Ramos o prefeito de Loire foi assassinado. Os

arruaceiros de Saint-Etienne e de Saint-Chamond

perambularam pela região e projetaram uma chegada a

l'Hermitage. O Ir. Modesto preparou longos estiletes e muniu

uma dezena de Irmãos para montar guarda. Cada janela do

dormitório foi municiada de pedras. Durante o jantar veio o

aviso de que os baderneiros estavam chegando. O Ir. Azarias

entrou na capela, fez parar a reza e comunicou o que todos

temiam. Pediu que cada um arrumasse sua trouxa, que fossem

à alfaiataria munir-se de trajes civis, que encerrassem a oração

e que fossem dormir. Todos seguiram essas instruções, não

sem um pouco de desordem. Pessoas indesejáveis passaram a

noite pelas cercanias, mas tropas enviadas de Lião

dispersaram os amotinados (Avit, III, 177).

Medindo forças

O Ir. Luis Maria chegando a l'Hermitage no dia 2 de

fevereiro, desejou que se solenizasse a festa cantando as

vésperas. O capelão, padre Chapuy, recusou dizendo-lhe:

"Isso é negócio meu". Ao se despedir, o padre reclamou de

que seu jardim estava mal cercado e queria uma proteção de

ferro. O Ir. Superior Geral recusou dizendo: "Esse é assunto

de minha competência" (Avit, III, 178).

Ativismo

O Irmão Maurício, que deixou o Instituto, foi recebido em

l’Hermitage em 1831. Depois de dirigir a escola de Lorette,

passou a dirigir a de Anse. Era um dos raros Irmãos muito

inteligentes da época. Mas, dizia-se que ele gostava mais da

cama do que da sala de aula. Esperto, abriu uma sala para

estudos mais elevados e ensinava História, Geografia,

Geometria e Desenho. Aliás, obteve sucesso, o que lhe

valeu o título de sábio. Em Digoin iniciou um pensionato

que foi interditado pelo Ministro Salvandy. Mas o Ir.

Maurício pediu auxílio ao deputado Marquês de Guichê,

que conseguiu reabri-lo. Isso exigiu a construção de novo

pavilhão e o Ir. Maurício acabou esgotado física e

espiritualmente (Répertoires, 2, 379).

Page 57: Contos Maristas - Para rir e refletir

57

Estranha doença

Quando regressou de Lourdes, o Ir. Eubert foi nomeado

secretário geral no lugar do Ir. Justo. Este ficou de tal modo

contrariado que se acamou e permaneceu na cama por seis

anos. Conseguiu-se afinal que ele se levantasse pouco a pouco,

mas ainda permaneceu na enfermaria por muito tempo (Avit,

III, 185).

Liturgia lionesa milenar

Foi no primeiro domingo do advento de 1873 que a bela e

antiga liturgia lionesa foi substituída, em Saint-Genis-Laval,

pela liturgia romana. Sem querer difamar, o Ir. Avit recorda o

provérbio: "De gostos e de cores não se discute”. Observou

ainda que as festas e solenidades nada ganharam com esta

mudança. As liturgias lionesas eram mais variadas, menos

monótonas que as romanas, que pôs de escanteio magníficos

textos e belos hinos. Mesmo diante de um movimento da

hierarquia e de leigos visando a conservação de alguns

aspectos da liturgia, a vontade de Roma acabou se impondo

(Avit, III, 187; Répertoires, 98, 167).

O marquês de Galocha

O Ir. Eudóxio envolveu-se num caso escabroso e teve de

deixar o Instituto. Depois de perambular de cá pra lá entrou

na trapa. Era um sujeito capaz, inteligente, músico. Tinha a

mania de se fazer passar por nobre (era filho de uma

lavadeira) nos deferentes lugares onde trabalhou. O Ir.

Straton, muito irônico, que também não perseverou, o tinha

apelidado de Marquês da Galocha (Avit, III, 188).

Teatro, bandas e foguetório

O pároco de Neuville denunciava energicamente as

iniciativas dos Irmãos de Neuville, recriminando, sobretudo

a desobediência acerca de suas orientações quanto às

diversões proporcionadas aos alunos: teatro e fogos de

artifício. O amigo dos Irmãos, senhor Tripier, achava a

postura do pároco excessivamente dura. O superior ficou

indeciso entre as posições do padre e do benfeitor

(Répertoires, 132).

Querendo o ovo e a galinha

O Ir. Avit foi com o Superior Geral negociar a posição

geográfica da escola de Arfeuilles, que ficava longe da

estação, e explicar as dívidas que o Instituto tinha. Não

encontrando o bispo, dirigiram-se ao Vigário Geral, um tipo

impositivo, que lhes respondeu: "Os monges são

insaciáveis. Quando eles têm o ovo querem também a

galinha. Se Arfeuilles está longe da estação, comprem um

Page 58: Contos Maristas - Para rir e refletir

58

pequeno burro para levar os Irmãos e as provisões". Esta

resposta ofendeu o Irmão Superior e eles foram embora (Avit,

III, 219).

Irmãos vereadores

A numerosa comunidade de Saint-Genis-Laval deu uma

recepção à Imperatriz e ao Impedrador, quando de sua

passagem por Lião. Os republicanos, por esse fato, sempre

olharam com maus olhos os Irmãos. Eles conseguiram do

conselho municipal a divisão da comuna, alegando que os

numerosos eleitores da casa marista faziam pesar as eleições

municipais segundo seus desejos. A região foi então dividida

em duas secções. A que compreendia a casa dos Irmãos tinha

cerca de 150 eleitores, dos quais uma centena de Irmãos e não

teve senão direito a dois conselheiros sobre 21. Essa manobra

magoou muito o Ir. Superior Geral. Seus Assistentes

sugeriram que apresentasse dois Irmãos como candidatos ao

conselho municipal. Foram indicados os Irmãos Eutimio e

Crisógono que foram eleitos quase por maioria absoluta.

Tomaram posse e ficaram no cargo por longo período. O

Ministro do Interior ao ser comunicado do caso, apenas sorriu:

"Os Irmãos aproveitaram de suas más intenções, e o fizeram

muito bem". Entretanto, em 1843 o Ir. Francisco recusou

proposta dos prefeitos de Saint-Martin e do de Izieux de os

Irmãos se apresentarem como candidatos ao Conselho

Municipal argumentando que os Irmãos não deviam se

imiscuir nos negócios da administração civil e eclesiástica,

mesmo tendo aqueles senhores boas intenções (Rivat, 197;

Avit, III, 225).

Grande escritor O Ir. Hilarião, um dos oito recebidos pelo Pe. Champagnat

em 1822, foi diretor em diversas escolas. Seu quarto era

puro amontoado de papel recortado de jornais. Ele queria

escrever a História da França em vinte volumes. Ele mesmo

fez propaganda da futura obra nos jornais. Escreveu

também uma espécie de manual para diversas profissões,

que segundo o Ir. Avit, não passava de plágio. Um

impressor aceitou editar esta obra, pensando tirar muito

proveito, mas na realidade serviu quase somente a criar

poeira. Diz o Ir. Avit que descobriram porque, em sendo

cozinheiro, ele se dizia sempre cansado e porque lhe faltava

sempre dinheiro: sendo amigo dos livros e estando sempre a

escrever, acabou tendo uma biblioteca considerável. Uma

parte de seus livros acabou sendo enviada para l’Hermitage.

Mas ele conseguiu resgatar muitos dos livros quando

passava por ali. "É difícil submeter a métodos esses

endiabrados velhos" diz o Ir. Avit (Lettres/Repertoires, 2,

276; Avit III, 232).

Envenenamento com chumbo

Vários juvenistas, postulantes e jovens Irmãos, há dois anos

apresentavam sintomas de uma doença singular, que

causava preocupação. Provocava cólicas, tremedeiras,

Page 59: Contos Maristas - Para rir e refletir

59

contrações de nervos, etc. Nesse estado, uns saltavam alto;

outros davam socos impressionantes contra as paredes,

móveis, camas; outros envergavam barras de ferro bastante

grossas, tudo isso sem se fazerem mal. Alguns ficavam tão

imóveis que pareciam estarem mortos. Muitas eram as

conjecturas sobre as causas da doença. O capelão pensava ser

possessão diabólica. Depois de minuciosas análises, feitas por

especialistas, descobriu-se que o estanho de diversos utensílios

da cozinha, continha 60% de chumbo. Segundo demonstraram

os especialistas, 4% deste metal já constituiria um lento

veneno. O fornecedor e encarregado da manutenção daqueles

utensílios foi chamado, denunciado e despedido. Submeteram

os enfermos a um regime alimentar bem sadio e leve. Todos se

recuperaram (Avit, III, 256).

Nariz comprido e fala grossa

O Ir. Anastácio tinha um nariz muito avantajado. Desde que

apareceu na sala de aula, os alunos riram. Mas o Irmão soube

controlá-los, dizendo que na sua terra natal todos os habitantes

tinham nariz maior que o dele. No tempo em que era diretor

em Marcigny a escola acabou sendo laicizada pelo prefeito,

antigo seminarista, educado sob o patrocínio da Igreja. No

clube local denunciava tudo o que era bom. Certo dia o Ir.

Anastácio foi até o local onde acontecia uma reunião. Escutou

calmamente todas as calúnias que ali se diziam. Em seguida

subiu à tribuna e confundiu os conselheiros e, sobretudo o

prefeito, que não sabia onde se esconder. Todos os ouvintes

calaram-se, convencidos de que o Irmão tinha razão (Avit,

III, 261).

Motivos de não perseverança

O Ir. Avit dá a causa da saída de numerosos Irmãos num

espaço de três anos: Gilduino fugiu da comunidade;

Antolnias fugiu depois de alguns encontros noturnos; Mario

Antelmo sem cabeça e sem talento; Leonice, viciado que

soube esconder-se durante o noviciado; Diviciano incapaz

de qualquer relacionamento; Gomer, escapou do massacre

dos inocentes; Marderniano por falta de higiene e

incapacidade; Syvien por dor de cotovelo; Emilio vencido

pela nostalgia; Auctus por escândalos, contumaz,

condenado a 20 anos de trabalhos forçados; Abias

comportamento equivocado, esperava ficar isento do

serviço militar; Panfilio levado por engano para o

noviciado; Constantino perdeu-se por excessivo orgulho;

Hilarien (não tem nada) muito bem batizado, não se viu

tanta ignorância, etc (Avit, III, 280).

Descobrindo denúncias na Cidade Eterna

O Ir. Nestor, estando em Roma, depois da audiência com o

papa, foi tomado de uma gripe que o indispôs e fê-lo

retornar. Descobriu nas secretarias da Congregação dos

Bispos e Religiosos acusações contra ele, que não o

estimulavam a continuar mais tempo em Roma. Um dos

Page 60: Contos Maristas - Para rir e refletir

60

secretários falou-lhe de uma denúncia enviada por Irmãos mal

inspirados, dizendo que o Instituto era mal governado e que

suas finanças eram imprudentemente desperdiçadas. Foi para

ele uma penosa descoberta, sobretudo porque ele tinha se

esforçado para pôr em ordem as finanças e diminuir as dívidas.

Chegando de volta a Saint-Paul, acamou-se e faleceu pouco

tempo depois. Dirigiu o Instituto durante 37 meses apenas.

Segundo o Ir. Avit, foi um Superior que promoveu muito os

estudos para os Irmãos; esforçou-se para liquidar as enormes

dívidas do Instituto o que não impediu que alguns Irmãos mal

intencionados o denunciassem a Roma como esbanjador. Ele

soube dessa denúncia durante sua permanência em Roma. Ela

o abalou muito e contribuiu para a sua morte prematura. No

Capítulo Geral, o Ir. Eutímio pôs a Assembléia a par deste

fato, o que ocasionou indignação em quase todos os

capitulares. Pediram a redação de um enérgico protesto para

enviar a Roma. Quatro capitulares não assinaram. Um deles

disse: "Se vocês tivessem nomeado tal assistente, há 10 anos,

vocês não estariam agora enrolados como estão, para eleger

um novo Superior Geral" (Avit, III, 307, 311, 315).

Pobres, economia e medo

O Ir. Agricole, que fez o noviciado em 1838, matriculou em

sua escola um número excessivo de pensionistas pobres.

Alugou um pedaço de terra, para colocar uma vaca que tinha

comprado, para fornecer-lhe o leite. Fazia economia em tudo.

Organizou uma fanfarra, que lhe deu mais problemas do que o

previsto. A guerra de 1870 e a República o assuntaram muito.

Crendo tudo estar perdido, enterrou o dinheiro que tinha no

seu jardim. Foi difícil fazê-lo entender que ele estava

enganado. Nomeado diretor em Ranchal, ao fazer uma visita

aos Irmãos de Saint-Vincent, vizinhos, faleceu a caminho

(Avit, III, 396).

Mau exemplo trabalhar nos domingos

O Ir. Fortunato, antigo cozinheiro em l'Hermitage, foi

depois diretor em diversas escolas do Sul da França.

Acreditando praticar a pobreza e fazer economia, iniciou

uma criação de coelhos. Todas as quintas-feiras e domingos

ia recolher capim pelos campos, com os outros Irmãos.

Voltavam carregando cada um, um saco de erva. Não era

coisa edificante fazer isso aos domingos (Avit, III, 398).

Entre batinas e ternos

O Ir. Hipólito foi recebido pelo Fundador em 1825 e

trabalhou na alfaiataria. Ele tinha contatos freqüentes com

os Irmãos que deixavam o Instituto, porque era ele que lhes

fornecia as roupas civis. Aliás, dizia ele, este era um dos

aspectos que mais lhe custavam: ver os jovens abandonar a

vocação. Era um Irmão que jamais foi visto enfezado. O

trabalho de alfaiate era uma das grandes responsabilidades

no Instituto. Ele confeccionou, consertou e manipulou todo

o vestiário dos Irmãos durante mais de 40 anos (Repertoires,

280).

Page 61: Contos Maristas - Para rir e refletir

61

Excesso de veneração

O Ir. João Maria foi recebido pelo Fundador em Hermitage em

1826. Foi um Irmão de destaque no Instituto. Faleceu em

Gonfaron, sua comunidade. Quando a notícia de sua morte se

espalhou uma multidão acorreu até a casa para ver e venerar o

Irmão que o tinham por santo. Mesclaram-se pobres e ricos,

conservadores e republicanos. Todos o queriam tocar e

conservar algo como lembrança. No caminho de ida ao

cemitério as pessoas iam cortando pedaços de sua batina, de

modo que se os Irmãos não intervissem, chegaria ao túmulo

sem seu hábito religioso. Os Irmãos tomaram o manto e o

retalharam para distribuir os pedaços às pessoas (R[epertoires,

297).

Recolhendo esqueletos ao luar

O Ir. Auspício era um rude trabalhador e religioso muito

mortificado. Os açougues não o atraiam pois, por mortificação,

não comia carne. Foi diretor em Joux. Ali cavoucava profundo

em seu jardim, muitas vezes ao clarão da lua. O local era um

antigo cemitério. Ele desenterrou vários metros cúbicos de

ossos humanos, que foram transferidos para o cemitério, em

outro local. Ele morreu de fome, já que seu estômago recusava

qualquer alimento (Avit, III, 398).

Gases letais

O Ir. Heralcide, antigo noviço de Vauban, foi diretor em

diversos locais. Teve morte inesperada. Para curar uma

doença de pele, tinha necessidade de banhos. Teve a

imprudência de esquentar o quarto de banho com brasas e

fechar-se ali, antes de entrar na banheira. Morreu asfixiado,

sem que ninguém o pudesse socorrer (Avit, III, 398).

Duelo

O Ir. Abel, recebido em l'Hermitage em 1824, deixou o

Instituto e abriu uma escola em Saint-Synphorien. Como as

autoridades julgassem desnecessárias duas escolas

propuseram um concurso entre um Irmão e o senhor Dumas

(ex Ir. Abel). Quem ganhasse ficaria com a escola na

localidade. O Ir. Ligório, cozinheiro representou os Irmãos

e venceu. Dumas teve de abandonar a cidade (Répertoires,

37).

Estratégia para usar óculos

Um jovem Irmão queria muito usar óculos. Foi ao médico

diversas vezes, fingindo estar mal, visando a uma receita

para comprá-los. Certo dia usou a estratégia de esfregar

tanto os olhos a ponto de inflamá-los. O novo médico achou

por bem receitá-los, e o Diretor os comprou. Depois de

certo tempo de uso, o jovem achou a coisa tão fastidiosa e

incômoda que os largou para sempre (Cadernos, 137).

Page 62: Contos Maristas - Para rir e refletir

62

Professor posto à prova

O Ir. Alexandre foi recebido em Hermitage em 1826 e

trabalhou em Semur-sur-Brionais. Ali as pessoas o julgaram

com pouca capacidade para as aulas, para disciplina, de modo

que a escola pouco progredia. Puseram-no à prova argüindo-o

sobre um cálculo geométrico. O Irmão não soube resolver a

questão. Tido como um ignorante e não sabendo se defender

foi substituído como titular na sala de aula (Répertoires, 39).

Condenado a trabalhos forçados

O Ir. Leotardo foi injustamente condenado a trabalhos

forçados pelo tribunal de Toulon. Pouco tempo depois

adoeceu e antes de morrer fez uma nova declaração da

inocência dos crimes que lhe imputavam, para honra de sua

família e do Instituto. No período em que esteve detido

edificou seus companheiros de infortúnio e não manifestou

ódio contra os que o condenaram (Cadernos, 119).

Travessia

O Ir. Amon foi recebido em Hermitage em 1837 e enviado

para as missões da Oceania em 1840. Mas não chegou ao

destino, tendo desertado do navio durante uma escala

(Répertoires, 41; Carta 318).

Porco salva vida de Irmão O Ir. Nizier, relata que a Providência se serviu um fato

insignificante na aparência, para lhe conservar a vida em

Futuna à época do assassinato do Pe. Chanel.

"Engordávamos um porco. O animal fora tomado na

pilhagem por um homem do partido dos Vencedores. Ele o

queira conservar e como sinal de posse ele o tinha atado

pelos pés. Mas o rei ordenou que o porco fosse morto e

servido para "a festa do enterro". Mas, o nosso companheiro

muito irritado, teve o pensamento de me salvar. Veio ao

meu encontro para me advertir do perigo que me esperava

se eu chegasse até o vale de Poi. Depois de me dar uma

pequena visão do que acabava de acontecer, ele me forçou a

voltar, oferecendo-se a me acompanhar até o vale dos

vencidos, onde eu estou" (Ronzon, 93).

Entre piolhos e pernilongos

O Ir. Nizier relata os revezes do quotidiano: "Não tendo

com o que me cobrir durante muitas noites, os mosquitos

me devoravam os pés, as mãos e o rosto. Isso não foi tudo;

os piolhos, companheiros indesejáveis dos autóctones,

vieram também, em incrível quantidade, fazendo-se

hóspedes em minhas vestimentas, na dobras. Uns se

distinguiam pela grossura, outros pelas cores, mas

sobretudo, pela quantidade. Era-me impossível de

Page 63: Contos Maristas - Para rir e refletir

63

exterminá-los porque meu enxoval era muito exíguo e eu não

podia trocar de roupa com freqüência" (Ronzon, 99).

Injustiça na distribuição de material

O Ir. Nizier escreve ao Ir. Francisco a dificuldade que tinha em

receber algum material: "É fato que em quase todas as

distribuições das coisas comuns à missão de Futuna como

papel, canetas, tinta etc, a minha porção foi sempre zero"

(Ronzon, 144).

BENFEITORES

Sensibilidade feminina

A condessa de Granville foi grande benfeitora marista. O

noviciado de Beaucamps, por exemplo, devia-lhe tudo. Ela

veio em peregrinação a l’Hermitage em 1854 e foi acolhida

numa sessão capitular. Interessou-se por todos os Irmãos,

perguntando pela situação de cada um. Ela faleceu em 1865. O

Ir. Luis Maria pediu aos Irmãos sufrágios para ela, o que bem

merecia. Estima-se que ela deu, em dinheiro, propriedade e

construções o equivalente a 500.000 francos cerca de 70

milhões ou mais em dinheiro atual (Rivat, 229).

Não se pode abusar dos benfeitores

A fundação da escola de Neuville se deve à generosidade do

senhor Tripier. Aliás, ele dava graças a Deus de poder bem

empregar seu dinheiro numa boa obra. Sempre que os

Irmãos precisavam recorriam a ele. O Ir. João Batista foi o

primeiro diretor. Tinha 18 anos e abusou da generosidade

do senhor Tripier. Pediu-lhe, certa feita, 50 francos. Depois

de ter contado e colocado sobre a mesa cinco maços de cem

francos cada um, o senhor Tripier elevou as mãos ao céu e

disse: "Meu Deus, eu vos agradeço a graça que o senhor me

faz de empregar em boas obras este dinheiro que me deu.

Compreendo que por mim mesmo não sou capaz de um

tamanho ato de virtude".

O Ir. João Batista recusou um tonel de bom vinho que o

benfeitor tinha mandado colocar na despensa dos Irmãos.

Mais tarde outro diretor foi pedir 200 francos e o recebeu

prontamente. E disse: "Eu recebo esses 200 francos para

mim e o senhor me dará mais 400 para a escola". E ele lhe

deu sem comentar nada. Assim ele distribuiu todos os seus

bens em boas obras a ponto de não ter com o que se pagar

seus funerais. Diante das severas repreensões do Pároco aos

Irmãos, ele teve uma atitude ponderada (Avit, I, 70;

Répertoires, 2, 113, 114, 500; Furet, 148; Cartas, 131,

Strobino, 9, 142).

Acidente bonito

Page 64: Contos Maristas - Para rir e refletir

64

Em La Valla morava o senhor Cláudio Boiron, lavrador que

emprestou dinheiro ao Pe. Champagnat. Certo dia, ele estava

levando uma carroça carregada de madeira puxada por duas

vacas. O caminho era estreito e muito inclinado. Distraído, ele

deixou passar a carroça muito perto do precipício levando o

carro a virar e se precipitar com as vacas pelo profundo vale.

Vendo o acontecido o senhor Boiron ria muito e aos gritos

chamava a mulher, que não estava longe dizendo: "Venha ver

como é bonito"! Ele foi recebido pelo Pe. Champagnat em

l’Hermitage (Répertoires, 95; Avit, I, 179).

Bem antes da doutrina social da Igreja

O senhor Génissieux era um grande amigo e benfeitor de

Champagnat. Ele tinha um cuidado especial pelos

trabalhadores de suas usinas. Mais o trabalho era penoso e

perigoso, mais atenção ele lhes dava. Tinha à disposição deles

um médico, uma farmácia e um hospital especializado. Foi

graças a ele que os Irmãos se estabeleceram em Terrenoire e

depois solicitou mais três Irmãos para La Voulte. O Fundador

não teve como negar. O ferro que os Irmãos precisavam para

fazer as camas era doado pelo senhor Génissieux. Também o

ferro usado pelo Fundador em l'Hermitage vinha de suas

usinas. Explicava-lhe que não podia fornecer gratuitamente

todo o ferro. Daria metade de graça e a outra metade por um

preço o mais módico possível (Répertoires, 2, 247).

Vocações mas pouco dinheiro

Escrevendo ao marquês de Montdragon, o Ir. Superior

aproveitou par lhe pedir também dinheiro para cobrir as

despesas da formação com postulantes pobres. Da resposta

que ele deu ao Irmão destacamos: "Quanto ao seu pedido

em favor das vocações que vêm sem dinheiro, sem querer

ofendê-lo, o senhor esquece, prezado Irmão, que há dois

anos eu lhe dei ao menos quatro mil francos nesta intenção,

depois de lhe ter dado mil, pouco tempo antes. O apetite

chega, digamos, comendo. Eu compreendo a sua situação, e

no seu lugar eu teria os mesmos sentimentos, mas

infelizmente, devo lhe dizer que não posso atendê-lo. De

todo lado chegam-me pedidos deste teor, mas os recursos

diminuem" (Avit, II, 252).

Vida religiosa e pobreza

Uma viúva piedosa e endinheirada quis destinar a sua

fortuna em boas obras. Fundou um orfanato para meninos

em Bois-Sainte-Marie assumido pelos Irmãos. Abriu um

outro para meninas e uma casa para idosos, dirigidas pelas

Irmãs do Santíssimo Sacramento de Autun. Era humilde,

piedosa e mortificada. Suas obras de caridade iam bem. Ela

tinha mais coração que cabeça. Quis, em seguida, fazer-se

religiosa do Santíssimo Sacramento e seu confessor caiu no

erro de animá-la a isso. No momento de emitir os votos, foi-

lhe apresentada a renúncia que devia fazer dos bens. Pensou

então que tinha sido recebida no convento para ser roubada.

Decepcionada, abandonou seu véu, retornou a Bois-Sainte-

Page 65: Contos Maristas - Para rir e refletir

65

Marie, mandou embora os Irmãos e as Irmãs e confiou suas

três obras a leigos e doou-as, juntamente com todas as suas

rendas, ao governo (Avit, II, 308).

Ação de graças por uma cura

Enquanto os Irmãos construíam a capela de l'Hermitage, o

senhor Thiollière trouxe nove mil francos ao piedoso

Fundador e lhe pediu uma novena de orações e missas para seu

filho Eugênio, gravemente enfermo. Terminada a novena ele

veio anunciar que o menino estava em plena recuperação e deu

mais nove mil francos para uma novena de ação de graças

(Avit, III, 7).

POLÍTICOS

Progresso não precisa de reza

O prefeito de Arbresle, um médico voltairiano não encarava

com bons olhos a escola dos Irmãos e lhes dizia: "Se vocês

fazem os alunos rezar, vocês não terão nada, porque o povo do

município e muito inteligente, progressista". O Irmão visitador

lhe respondeu: "Senhor prefeito, os alunos rezarão por aqueles

que não o fazem". Algumas semanas depois o prefeito

matriculou seu filho na escola dos Irmãos que ia de vento

em popa (Avit, II, 215).

Para o bem da educação vale a astúcia

O Ir. Lourenço foi diretor da escola de Mornant. A

comunidade estava muito mal alojada, bem como a

disposição das salas. O Irmão fez inúteis reclamações junto

às autoridades. Vendo que tudo era inútil, convidou-as certo

dia para visitar o local. Poucos minutos antes de chegaram,

ele pegou um ancinho e revolveu o lixo em putrefação. As

autoridades ao entrar ficaram sufocadas. "Que ambiente

infestado", exclamaram. E o Irmão: "Nós o suportamos,

bem como os alunos, todos os dias, durante todo o ano!"

Logo a situação da comunidade e da escola foi melhorada

(Avit. I, 70).

A ignorância dos políticos

Os Irmãos Francisco e Luis Maria deram continuidade ao

trabalho de Champagnat em vista da autorização legal do

Instituto. O Ministro da Instrução Pública, senhor

Crouzeilles, também estava envolvido bem como o Bispo

de Langres, Parisis, assim como um grande número de

deputados e até o senhor Thiers, que como ministro de Luis

Felipe, tinha recusado a autorização. Em uma visita que lhe

fizeram os superiores ele disse ao Ir. Luis Maria: "Porque

vocês se chamam de Pequenos Irmãos de Maria; todos os

Page 66: Contos Maristas - Para rir e refletir

66

membros são pequenos como vocês?". Ele mesmo era de

pouca estatura. A pergunta deste influente senhor indicava o

quanto ele estava por fora da questão religiosa (Avit, II, 235).

Procurando votos

Em 1838 o Ministro da Instrução Pública pediu Irmãos para

Saint-Pol-sur-Ternoise. Era um político inconseqüente.

Recusava obstinadamente autorizar o Instituto e ele mesmo

pedia Irmãos. É que seus interesses pessoais estavam acima do

interesse educacional. Era necessário satisfazer seus eleitores

se quisesse ser reeleito por eles (Avit, I, 231).

Resistência ao novo

Em Pélussin, a matriz paroquial foi transferida para uma parte

nova da cidade. Os habitantes da parte antiga recusaram-se a

freqüentar a nova Igreja. O cardeal recusava-lhes um pároco.

Eles então chamaram ministros protestantes. Um notário

colocou-se à frente dos descontentes. Acabou sendo nomeado

prefeito. Desejava expulsar os Irmãos, mas a população

queria-lhes bem. Ocorre que a escola dos Irmãos estava ao

lado da nova Igreja. O prefeito proibiu que os alunos da outra

parte freqüentassem a Igreja nova. Exigiu que os Irmãos

fossem dar aulas na parte antiga e prometia maravilhas.

Tentando aclamar os ânimos, o Ir. Superior consentiu que um

Irmão fosse dar aulas ali, que ficava a 800 metros de distância.

Esse arranjo provisório durou muito tempo. A paróquia

acabou sendo dividida em duas, um pároco foi nomeado

para a parte antiga, dois Irmãos foram nomeados para esse

lugar e os protestantes tiveram que fazer suas malas (Avit,

II, 184).

Teatro é baixaria

Certo prefeito criticava duramente as representações teatrais

na escola dos Irmãos dizendo que conseguiam aplausos das

classes baixas, mas muitas críticas da alta e educada

sociedade. “Com o teatro vocês facilitam e apressam no

bom povo essa tendência à licenciosidade, presunção e

insubordinação... Inspiram sentimentos baixos, mundanos e

não religiosos” (Cadernos, 16, 164).

A tentação da facilidade

O presidente da República fez-se nomear imperador.

Desejando ser simpático e ter apoio sólido favoreceu o

clero, as Congregações ensinantes... Os professores

nomeados pelo ministro anterior, Carnot, foram despedidos

e de todos os lados vinham pedidos para os Irmãos Maristas

abrirem/assumirem escolas. O Pároco de Voiron queria

Irmãos para uma escola-fazenda; o bispo de Soissons para

os serviços da catedral... Essa conjuntura favorável às

Congregações, poderia ser fatal aos Irmãos. Os superiores

estavam sempre tentados a aceitar numerosas fundações.

Para atender a todos, começaram a empregar os noviços

Page 67: Contos Maristas - Para rir e refletir

67

antes de completar uma formação conveniente e colocar como

diretores pessoas ainda não provadas na virtude; as comissões

facilitavam a expedição de diplomas. Mas isso não era

suficiente para lhes dar nem a virtude nem a arte de

administrar. Assim, nesse ano foram abertas 22 escolas (Avit,

II, 280).

Opinião nefasta

O senhor Scipion Mourgue, Prefeito do Departamento de

Loire, disse no Conselho Geral: “A instituição dos Irmãos

Maristas é muito pouco recomendável... Os que nela terminam

o curso são deploravelmente ignorantes. São bons para fazer

perder tempo às crianças não, porém, para transmitir-lhes

conhecimentos, mesmo os mais triviais... E desejam, a todo

custo, lançar-se ao ensino...” (Furet, 321, nota 30).

Tudo por dinheiro

Em 1854, visitando as escolas de La Côte, o Ir. Avit foi visitar

o senhor Camilo Rocher, conselheiro municipal, mais que

milionário e sem filhos. Ele disse, com ar severo ao Irmão:

"Os seus superiores são muito ávidos. 50 mil francos não são

nada para eles e essa soma colocaria a cidade de La Côte num

muito bom estado". O Irmão lhe respondeu: "Eu conheço um

outro para quem 100 mil francos não são mais do que uma

moeda para nós. Ela arrumaria bem melhor a cidade de La

Côte se lha dessem." O senhor Rocher olhou o Irmão e deu

outro rumo à conversa (Avit, II, 313).

Benfeitor perseguido

Colomb de Gast foi nomeado prefeito de Saint-Sauveur-en-

Rue e foi ele quem pediu Irmãos ao Padre Champagnat.

Mas durante a revolução ele passou maus bocados. Danton

expediu mandato de prisão contra ele. Nos anos de 1792-

1793 ele precisou se esconder para não ser assassinado.

Robespierre ordenou o seqüestro de seus bens. Colomb

escondeu-se primeiro no convento das Irmãs de São José de

Sint-Sauveur e depois na casa do pároco que acabou sendo

assassinado. Quando o celerado Javoques veio prendê-lo em

sua casa sua esposa teve sangue frio fingindo não encontrar

as chaves e dando vinho em abundancia aos guardas. Com

isso Colomb conseguiu fugir pelos bosques da vizinhança

onde abriu um abrigo subterrâneo e escondeu-se. Para sua

segurança, nem os filhos sabiam o local do abrigo, se bem

que não estivesse a mais de um quilômetro de distância da

casa. Depois da queda de Robespierre conseguiu ir

readquirindo a liberdade (Répertoires 2, 145).

Efeitos maléficos da política

A administração municipal de Courpières se indispôs contra

os Irmãos e acabou suprimindo o salário de um dos quatro

Irmãos. Os vereadores queiram a todo custo a troca do

Page 68: Contos Maristas - Para rir e refletir

68

diretor, Ir. Rafael, que fora recebido pelo Pe. Champagnat, em

l'Hermitage, em 1833. Dos 16 edis, só quadro eram a favor dos

Irmãos. Um dos motivos era porque o diretor continuou a ter

boas relações com a administração anterior; outra porque o

diretor prometera trazer um irmão diplomado, o que ainda não

acontecera. O diretor acabou sendo transferido para outra

localidade, onde ali também os políticos lhe fizeram muita

oposição, mas o Irmão agia com garra e com muito

devotamento (Répertoires, 2, 440).

Problema antigo

O Prefeito de Lens, em Pas de Calais, rico proprietário, dizia

aos Irmãos: “Vocês fazem bem de não colocar tapetes em seus

apartamentos: os tapetes representam sujeira. Criam insetos

quando a cola se corrompe e cheiram mal. Não coloco nos

meus, apenas na sala de recepção” (Cadernos, 16, 141).

PADRES

Pedradas de todos os lados

Bochard fez duras reprimendas a Champagnat e ameaçou

evacuar a casa; o Pároco de Saint-Chamond também o

repreendeu duramente; o Pároco de La Valla o censurava

publicamente do púlpito e fofocava no arcebispado,

alimentando as antipatias de Bochard; até o confessor de

Marcelino o abandonou; e, com isso, o público o cobria de

injúrias (Sylvestre, 128).

Última cartada do bispo

Para a abertura da escola de Arbresle concorreram o Padre

Gervais e uma senhora viúva e, com menos recursos o

cardeal Bonald e um outro senhor influente. O Ir. Avit

conduziu os três Irmãos da nova comunidade, tendo à frente

o diretor Ir. Crisógono. Apresentou-os ao cardeal que lhes

disse: "O Ir. Diretor é muito jovem". "Eminência, respondeu

o Irmão, este é ainda o defeito de todos os Irmãos maristas,

mas eles trabalham para superá-lo. É verdade que esse

Irmão é jovem, mas é sério e já tem certa experiência". O

cardeal sorriu e acrescentou: "Tome cuidado, a fim de que a

escola progrida, é o meu derradeiro recurso. Se o

empreendimento fracassar, serei obrigado a retirar meu

clero, porque ali ele não fará mais nada" (Avit, II, 214).

As pombas tiveram de voar

O Pároco de Brandon, era homem rico, mas muito nervoso,

impositivo e de mau relacionamento com os paroquianos.

Pensou em ganhar as boas graças do povo convidando os

Irmãos para dirigir ali uma escola. Para tanto, sem dizer

Page 69: Contos Maristas - Para rir e refletir

69

nada para ninguém, fez construir uma bela casa. Àqueles que

perguntavam o que desejava com tal edifício respondia: "Vou

colocar ali um pombal". Esta resposta irritou e ofendeu os

munícipes. Os Irmãos chegaram e se saíram muito bem, mas

os edis fizeram a cabeça do povo jogando-o contra o pároco.

Contrariado, esse corajoso pároco, pediu aos Irmãos de

abandonar a obra em 1856 (Avit, II, 216).

Trágica lembrança

A relação de Courveille com a Sociedade de Maria foi

dramática. Mas findou seus dias serena e santamente na

Abadia de Solesmes. Courveille havia fundado a comunidade

de Irmãs de Santo Antonio. Mas “no final (essas Irmãs) não

queriam ter nada com Courveille, pois estavam desgostosas.

Numa manhã deixou a chave por debaixo da porta da casa e

desapareceu”. Há o relato de uma das Irmãs que com uma

escova tratou de raspar a pintura de Courveille que se

encontrava em uma das paredes do convento. Quando uma

visita lhe perguntou: “É assim que trata você a seu fundador”?

Ela respondeu: “Não me fale você dele” e continuou apagando

a sua imagem (McMahon, Viajeros en la esperança, 48)

Clausura para o sexo frágil

Por vezes houve discussões calorosas entre Colin e Chavoin.

O Pe. Colin tinha idéias muito atrasadas sobre a vida religiosa

feminina. Os conventos femininos eram, segundo sua

mentalidade, portos de segurança para o sexo frágil, exposto

a todos os perigos, se permanecessem no mundo. Ele via o

ramo marista das Irmãs uma congregação enclausurada,

encarregada essencialmente de rezar para a obra ativa dos

Padres. Colin, que tinha enorme afeição pela Virgem

Santíssima, tinha dificuldade de ter um olhar sobre as

mulheres que não fosse a antiga visão marcada pela

civilização masculina. Essa visão se confrontava com a

mentalidade muito mais aberta de Jeanne Marie. Muito

tempo depois se chegou a conclusão: "Quem tinha razão era

Jeanne-Marie Chavoin" (Forissier, 24).

Champagnat, uma inutilidade

Pompallier, mesmo vendo o crescimento do Instituto,

começou a crer que ele estava descambando. Censurava o

modo de Champagnat dirigi-lo, que o levava à ruína.

Acusou o Fundador junto ao Arcebispo, dizendo que

Marcelino não tina nenhum talento para a administração e

nem como formador e que ele só se ocupava em trabalhos

manuais (Sylvestre, 171).

Bispo mais chefe que pastor

Bataillon foi bispo da Oceania. Recebido em Roma por Pio

IX esse lhe disse: "Bataillon que muito batalhou". De fato

ele realizou uma grande obra na Oceania, mas deixou

muitos maristas, Irmãos, Padres e Irmãs em muito

Page 70: Contos Maristas - Para rir e refletir

70

sofrimento. O Padre Poupinel dizia: "Ele se mostra sem

coração, sem a mínima consideração para com a pobre senhora

Perroton durante anos a fio, ao ponto de chocar os

Wallisianos". E Perroton, escrevendo ao padre: "Você têm

muita razão de dizer que o senhor bispo tem o talento

particular de despedaçar os corações. Penso mesmo que

ninguém escapou de seus golpes mortais" (Forissier, 197/198).

Maquiagem perfeita

O jovem Ir. Francisco sabia cantar muito bem. O pároco de

Vanosc quis dar grande solenidade à festa de Natal e pediu ao

Irmão para fazer o papel de sub-diácono. O Irmão argumentou

ser muito jovem."Não se importe com isso. A Irmã São Pedro

é especialista na preparação de ofícios. Ele far-lhe-á uma boa

maquiagem e lhe dará um aspecto de pessoa mais velha". Essa

Irmã ficou muito satisfeita com a sua obra de arte que abraçou

efusivamente o pequeno Irmão que ficou muito envergonhado,

mas não impediu de desempenhar muito bem sua função. No

dia seguinte os alunos tiraram sarro do Irmão, pois o

reconheceram.

O seu Diretor, compreendendo a necessidade do jovem Irmão

de brincar, permitia que o fizesse com o filho de um benfeitor.

Durante o jogo o jovem o Irmão aprontou alguma o que lhe

mereceu um safanão e um chute de seu companheiro que ficou

muito irritado com a malandragem. O Ir. Francisco refugiou-se

na cozinha para chorar as mágoas (Rivat, 38).

Demônio invade camarote

Na viagem para a Oceania o Ir. Marie Nizier tinha de zelar

pelas coisas dos padres. Diz ele numa carta a Colin: "O Pe.

Chanel tomou o seu breviário para rezar quando percebeu

que estava um pouco rasgado. O rasgão se situava quase no

meio da página, de alto a baixo. Tinha quatro centímetros de

comprimento. Eu estava ao seu lado nesse momento. Ele me

disse: “veja o que aconteceu com o meu breviário. Não

posso pensar quem fez tal coisa, pois somente eu o uso.

Estou certo que é obra do diabo”. Ele me pediu para que o

consertasse como eu pudesse. Para impedir que o estrago

aumentasse, eu colei à margem um pedaço de papel. Creio

que era a página de Laudes, não me recordo bem" (Ronzon,

39).

Traços de inculturação

O Pe. Chanel foi um missionário bastante estimado pelo Ir.

Marie Nizier, bem como dos habitantes das ilhas. Fazia

esforço para se inculturar, como nos conta o Ir. Nizier: "Os

habitantes da ilha lhe ofereceram peixinhos crus,

convidando-o a comer. Depois de um breve instante de

hesitação, “na guerra como na guerra”, disse ele e comeu

uma certa quantidade. Vi comer outros peixes que enquanto

mantinha a cabeça entre os dentes, o rabo batia contra seu

nariz e queixo. Mais tarde ele comia certos insetos que

viviam em paus, que considerava uma delícia. Eu ainda não

Page 71: Contos Maristas - Para rir e refletir

71

tenho a coragem de fazer - mesmo estando aqui há sete anos -

o que Chanel fazia depois de alguns meses" (Ronzon, 56).

Vida oprimida dos Irmãos missionários

O Ir. Cláudio Maria, escrevendo ao Pe. Colin dizia, referindo-

se ao Pe. Servant: "Acabo de experienciar algo que me causou

muita desolação. Eu tinha uns dez livros de piedade, diversos

pequenos cadernos que eu tinha trazido da França e outros que

eu tinha, em meus momentos livres, nos domingos, escrito

aqui em maori e que eu aproveitava para ler em alguns

momentos. Mas eu não sei se o Pe. Servant temia que eu

perdesse o meu tempo livre a ler e a escrever, ele seqüestrou

todos os meus livros e cadernos e não me permite usá-los

senão no domingo e ainda tenho a necessidade de lhe pedir

permissão". O Ir. Marie Nizier contribuiu muito para que se

compreendesse que os Irmãos fariam um bem muito maior nas

missões da Oceania com casas organizadas como na França,

do que permanecendo no serviço dos Padres (Ronzon, 196,

121).

Compartilhando idéias e sofrimentos

O Ir. Marie Nizier tinha diálogos com as jovens Sara e Silenia

da ilha de Futuna, que lhe confiaram diversas situações sobre a

morte de Chanel. Elas tinham o Irmão em grande estima.

Também comentam o caráter do bispo Bataillon: "O povo de

Futuna vai muito bem, mas todo mundo lamenta muito que o

bispo troque tão freqüentemente os missionários". O

dinamismo do bispo era acompanhado de grande

autoritarismo que fazia sofrer muito os missionários,

sofrimento bem conhecido do Ir. Nizier. O Pe. Colin tentava

remediar a situação e a propósito da missão em Fidji

reclamava: "O verdadeiro zelo não consiste em querer fazer

muita coisa ao mesmo tempo, mas em fazer bem aquilo que

se inicia. Eu lhe peço, Monsenhor, de se conformar com a

nossa visão; de não cair na tentação de empreender muita

coisa, sem antes de consolidado o que foi começado".

Através de visitadores Colin procurava conciliar a situação

(Ronzon, 180, 169).

A mulher forte

Chavoin escreve que quando os padres estavam

desanimados com as contrariedades, “eu permanecia cheia

de coragem e eu os animava. Por vezes quando eles estavam

calmos era eu quem caia na fossa. Certo dia chegou pelo

correio uma notícia que os prostrou. Então eu os convidei a

ir à igreja. Aí rezamos uma hora, uma hora e maia e saímos

em paz e contentes” (Forissier, 25).

Revolução areja os conventos

A primeira idéia de Colin sobre o ramo feminino da

Sociedade era caduca. Pensava nas grandes Ordens com

votos solenes, onde as religiosas, monjas enclausuradas,

Page 72: Contos Maristas - Para rir e refletir

72

dependiam do ramo masculino dos padres. Mas depois da

Revolução Francesa essa concepção tinha mudado. Só se

permita para as mulheres o status de congregação com votos

simples sob a dependência do bispo. Portanto as Irmãs teriam

de se ater a esta fórmula e ser uma congregação diocesana

(Forissier, 41).

Um pito do padre Colin

O Pe. Colin ficou furioso com algumas despesas elevadas

feitas pelos Irmãos sem a sua consulta. "Vocês não pensam,

como, sem me consultar, com 60.000 francos e mais dívidas,

vocês iniciam uma construção que vai aumentar de 12 a 15 mil

francos... E vocês dizem que eu sou vosso superior... Irmãos,

se eu sou vosso superior, eu não quero ser um superior de

fachada apenas”. Isso se devia a uma consulta feita pelo Ir.

Luis Maria a propósito de utilizar algumas velhas construções

do senhor Patouillard, para ampliar a fabricação de panos. O

Ir. Francisco tinha boas intenções ao querer reparar velhas

construções e transformá-las em oficinas para ocupar em

trabalhos manuais os Irmãos mais idosos cansados com o

trabalho escolar e desejosos de encontrar um trabalho para não

serem pesados à comunidade. Eram imóveis situados em

propriedades vizinhas a Hermitage. É possível que ele

estivesse preocupado com a idéia emitida pelo Pe.

Champagnat, antes de morrer, a propósitos de "colônias

agrícolas". Essa idéia de colônia agrícola é oriunda de um tal

de Villeneuve-Bargemont, marginalizado pela revolução de

1830, decidiu consagrar a sua vida aos problemas sociais. Ele

tinha em mira os terrenos incultos, abandonados em muitas

partes da França e que poderiam ser divididas e doados a

famílias ou comunidades religiosas que adotariam órfãos a

fim de ocupá-los em trabalhos em vez de estarem

abandonados e entregues à miséria nas cidades. A expressão

"colônia agrícola" encontramo-la na biografia de

Champagnat. Talvez o Ir. Francisco tivesse a idéia de

ocupar também órfãos naquelas projetadas oficinas (Rivat,

91 e 93; Avit, II, 26).

O tiro saiu pela culatra

Quando o Ir. Pacômio faleceu, procurou-se um substituto na

sapataria. Foi escolhido o Ir. Espiridião. Era um senhor

idoso, sem instrução e pouco hábil que Champagnat

recebera por caridade. Seu francês era tão castiço como o de

uma vaca espanhola. Entretanto esforçava-se em fazer bem

as coisas. Certo dia o Pe. Matricon recebeu visitas. Depois

do almoço levou-as passear no grande terraço, onde os

Irmãos se distraiam. Vendo o Ir. Espiridião e querendo fazer

rir seus amigos às expensas dele disse-lhe: "Ir. Espiridião,

eu disse a esses senhores que você é capaz de adivinhação".

"O que é que eu preciso adivinhar"? "Esses senhores

gostariam de saber por que as galinhas pretas, botam ovos

brancos". "Eu responderei, quando o senhor adivinhar

porque o burro que tem o molde redondo, caga quadrado".

O pessoal tirou muito sarro do Pe. Matricon.

Page 73: Contos Maristas - Para rir e refletir

73

Aquecendo-se um dia, junto ao fogo, com o velho senhor

Boiron, disse-lhe o Ir. Espiridião: “Acho que o diabo virá

limpar o traseiro de nós dois neste inverno” (Avit, I, 280).

Irmão e pai da vaca

Em Hermitage o Ir. Doroteu estava encarregado de cuidar de

uma vaca que fornecia leite aos enfermos. Era muito simples e

piedoso. O pároco de Tarentaise veio certo dia visitar seu

amigo Champagnat. Depois do almoço foram passear pelo

jardim. Vendo o Irmão que cuidava da vaca no pasto, disse-

lhe: "Bom dia, Irmão da vaca". O Irmão julgando ser um padre

marista, respondeu-lhe com simplicidade infantil: "Bom dia,

meu pai". Champagnat riu muito, pois o trocadilho insinuava

que o pároco era o pai da vaca. O padre de Tarentaise se

propôs a não mais abusar da simplicidade dos outros (Avit, I,

179).

Eqüinocídio

O pároco de Monsols era um padre muito bom, simples e

cumpridor perfeito de seus deveres. Um comerciante de

cavalos da região comprou um cavalo muito magro,

definhando, tendo pagado 30 francos. Depois de alguns dias

soube que o pároco tinha necessidade de um cavalo e lhe

vendou por trezentos francos. O Ir. Dominique, diretor da

escola (que gostava muito de viajar) tendo de fazer uma

viagem, emprestou a cavalgadura e o conduziu de tal maneira

que ao regressar deixando a besta na estrebaria ela deitou-se

sobre a palha e não mais levantou. Felizmente o padre foi

amável para com o Irmão e não reclamou nada (Avit, II,

234).

Pão duro

A situação da escola de La Côte se arrastava desde o tempo

de Champagnat. O Ir. Visitador procurava arrumar as coisas

da melhor maneira possível. Nos debates que houve sobre

esse assunto ele se defendia com unhas e dentes. Até o

Padre Douillet, algumas vezes se pôs contra ele. Querendo

emendar-se ele propôs às pessoas uma subscrição a fim de

ajudar os Irmãos na mobília. O prefeito não era rico. O

pároco fez um grande esforço e ofereceu 50 francos. Seu

vigário prometeu algumas velhas camisas. O Padre Pion, o

mais rico de todos, num tom rude disse: "Eu, eu não dou

nada a pessoas mais ricas do que eu". "Obrigado, assim

mesmo”, responde a ele o Ir. Visitador (Avit, II, 250).

Daqui não saio, daqui ninguém, me tira

O Pe. Carle, pároco da grande cidade de Gard, decidiu ter

Irmãos. Viajou a l'Hermitage e desde a entrada deixou

entender que não sairia sem a firme promessa de que os

Irmãos abririam lá uma escola. Dizem-lhe que não era

possível. Continuam conversando e a noite chega. São

obrigados a lhe oferecer um quarto. Dono do quarto,

Page 74: Contos Maristas - Para rir e refletir

74

continua determinado em suas exigências. Toma as refeições,

passa outra noite. O que fazer com uma pessoa assim tão

bizarra? Todos acreditam que no sábado ele viajará, pois deve

rezar a missa em sua paróquia. Entretanto, domingo de manhã,

ali continua ele e por polidez o convidam a celebrar a missa.

Ele aceita, mas na hora da missa diz: "Se não tenho Irmãos

também não haverá missa solene"! O jeito foi nomear uma

comunidade para aquela localidade que tinha reputação de

excelente clima. O Ir. João Batista acumulou a sua função de

Assistente à de catequista e cozinheiro. Falava-se que o Pe.

Carle vinha sorrateiramente ouvir suas aulas pois o Irmão

tinha fama de ser excelente catequista.

Batismo com vinho

Em Arfeuilles, os Irmãos moraram no local que foi outrora um

seminário menor e tiveram que fazer reparos por sua própria

conta. Enquanto funcionava esse seminário, o bispo diocesano

o freqüentava seguidamente e tomava lições dos seminaristas.

Um dia ele interpelou um que lhe pareceu muito mundano.

Querendo pegar-lhe numa armadilha, perguntou-lhe: "Pode-se

batizar com vinho"? O ladino respondeu: "Monsenhor, eu

distingo: se for vinho servido na mesa de vossa

Reverendíssima, certamente não se poderia, mas poder-se-ia

muito bem batizar com o vinho servido aos alunos" (Avit, II,

308).

Solicitam um Irmão não casado

Um pároco muito pouco informado, da diocese de Dijon,

pediu um Irmão não casado para a sua pequena paróquia.

Este Irmão devia executar os seguintes trabalhos: professor,

secretário da prefeitura, sacristão, cantor, sineiro e coveiro.

Bem, com todos esses trabalhos, dizia o pároco, ele poderia

ganhar 500 francos. É claro que nestas circunstâncias ele

não poderia ter uma mulher e filhos. A ingenuidade desta

petição fez a comunidade de l'Hermitage rir muito e deixou

entrever que o bispo de Dijon recrutava seu clero da

maneira como podia (Avit II, 250).

Astúcia para ganhar as simpatias

Carnot, ministro da Instrução Pública, forçou os professores

a entrar na linha revolucionária. Um numeroso grupo

distinguiu-se. Houve uma reação fatal. O de Marcigny foi

removido pelo prefeito que pediu em seu lugar Irmãos

Maristas. O pároco faria todas as despesas de instalação. O

Ir. Avit foi enviado para preparar o caminho. Apesar da

oposição do pároco, o Irmão realizou a compra do

mobiliário nas casas comerciais dos que mais haviam

difamado os Maristas. O pároco acabou acompanhando o

Irmão. Uma multidão acompanhava os dois pelas ruas

comentando: “Se todos os Irmãos são como esse aí, não são

estúpidos como nos têm dito”! Retornando, o pároco nos

disse: "O senhor é mesmo corajoso. Você acaba de fazer

cair todas as prevenções que se tinham acumulado contra os

Irmãos. Pena que eu não o tomei para comprar o meu

Page 75: Contos Maristas - Para rir e refletir

75

mobiliário, você me teria economizado 1500 francos" (Avit,

II, 256).

Confessor em apuros

Os padres Maristas retiraram o capelão de Saint-Paul, pois

diziam que suas constituições não permitiam um padre ficar

sozinho. A capelania foi então confiada a um dos vigários da

paróquia. Os Irmãos não gostaram muito, porque um desses

vigários era muito escrupuloso, de memória curta e deixava

muitas vezes bruscamente os penitentes de joelhos para ir

consultar seus livros (Avit, II, 347).

Questão de poda

O pessoal de l'Hermitage não gostava de se confessar com o

Padre Ruf; ele era bom, mas rígido e original. Muitos Irmãos

preferiam ir a Saint-Chamond. Quando retornavam a ele, lhes

dizia: "Vão buscar absolvição em Saint-Chamond". Dizendo

ter necessidade de exercícios físicos, solicitou ao diretor um

pedaço de terreno para cultivar vinha. Outro Irmão, querendo

trabalhar, solicitou também um pedacinho de terra para plantar

parreiras, mas não entendia nada disso. Tempos depois suas

plantas só davam folhas, enquanto que as do Padre Ruf

estavam carregadas de cachos. Julgando que o Padre não sabia

cultivar vinha, achou que metade dos cachos deveria ser

cortada. Pediu permissão ao Diretor para fazer isso nas plantas

do padre e obteve permissão. Quando o padre percebeu a

estranha poda, saiu correndo e o levou à presença do Diretor

e fez duras reprimendas a um e a outro (Avit, II, 403).

Falta de liberdade

Os padres Maristas Devès e Carré eram cada vez mais

impositivos e tinham ares desprezíveis, mostrando-se

exigentes. Iam de cá e de lá pelos corredores e pelos

pátios, bengala na mão, ares afetados pouco preocupados

em ouvir os Irmãos que tinham necessidades de conversar

com eles e até desviavam alguns jovens de sua vocação à

hora da confissão. Isso se devia ao fato de os padres serem

exigentes quanto a abertura de consciência dos Irmãos aos

superiores; achavam que devia ser só com eles, fato que

havia acirrado os ânimos dos Superiores e dos Irmãos (Avit,

III, 54).

Bispo em formação permanente

O bispo de Grenoble, Genouilliac, do qual se dizia que

desejava morrer cardeal, substituiu o cardeal de Bonald,

mas não foi bem aceito. Desde que tomou posse foi

insultado. Ocupava-se em estudar, deixando a administração

a seus vigários gerais, tanto em Lião como em Grenoble. A

um camponês que desejava conversar com o prelado,

disseram-lhe: "Está estudando". "Diabos, respondeu o

matuto, eu pensava que nos tinham dado um bispo que já

houvesse terminado os estudos" (Avit, III, 143).

Page 76: Contos Maristas - Para rir e refletir

76

Bispo & burro

Em Futuna prepararam uma festa para receber o bispo. Foi

preparada uma bebida (kava): seis jovens mastigavam uma

raiz e cuspiam depois num recipiente de 15 litros. Um outro

lavou as mãos e depois jogou a água no mesmo recipiente.

Coada a beberagem ofereceram primeiro ao rei, depois ao

bispo e aos outros. Embarcando para outra ilha, levaram

consigo um burro. Ao chegar, uma multidão se aproximou da

margem. Pensavam que era para recepcionar o bispo Dom

Bataillon, mas na verdade era para ver o burro, pois não

conheciam este animal na região.

Em Samoa o bispo benzeu a pedra fundamental da futura

Igreja. Muita gente afluiu e à hora do almoço, o Ir. Charise

contou 270 porcos assados o que levou o Pe. Servant a

exclamar: "Que porcaria"! (Avit, III, 167, 169).

Inesperada ressurreição

Para ter fontes alternativas de recursos, o Padre Champagnat

recebia alguns pensionistas. Organizou também um ateliê para

fazer fitas no local onde existia outrora a capela provisória.

Assim ele ocupava os Irmãos e os postulantes cansados ou que

não podiam fazer outra coisa. O diácono Bourdin, Marista,

residia ali desde há uns meses antes e depois de ordenado veio

ajudar Champagnat. Ali estava o Pe. Terraillon, que um belo

dia caiu em profunda letargia. Crendo que tinha morrido,

revestiram-no de sobrepeliz e de uma estola e o colocaram

sobre uma mesa mortuária, preparando-se para enterrá-lo no

dia seguinte. Durante a noite um rato mordeu-lhe a orelha o

que o fez acordar. O fato agitou toda a comunidade.

Terraillon tinha mania de importunar os penitentes que

vinham se confessar. A cada instante ele os interrompia para

perguntar onde moravam, se davam aulas, se eram diretores,

quantos alunos tinham, como se chamava o pároco, se o

Irmão Diretor era brabo etc (Avit, I, 71).

A uma violeta

Terminamos o texto com um lindo soneto do Ir. Francisco

SG intitulado: A uma violeta

Amável filha da primavera/ tímida amiga dos bosquezinhos

Lisonjeiro é teu perfume/ Fugir pareces das homenagens.

Tal como o benfeitor que, discreto/ com sua mão socorre o indigente,

Tu me apresentas o benefício/ E temes o reconhecimento.

Vem ocupar nossos jardins/ deixa esse teu lugar solitário

Que digo? Não, em nossos bosquetes

Fica, violeta sempre querida. Feliz quem benefícios espalha

E, como tu, sua vida oculta.

A une violette

Aimaible fille Du printemps

Timide amante dês bocages

Page 77: Contos Maristas - Para rir e refletir

77

Ton doux parfin flatte nos sens

Et tu sembles fuir nos hommages.

Comme le bienfaiteur discret

Dont la main secourt l’indigence

Tu me presentes le bienfait

Et tu crains la reconnaissance.

Viens prendre place en nos jardins

Quitte ce séjour solitaire

Que dis-je? Non, dans nos bosquets

Reste, ô violette chérie.

Heureux qui répand des bienfaits

Et, comme toi, cachê as vie.

Complemento bibliográfico das citações

ALSI. Frère Jean B. Furet. Sentences, Leçons et Avir, par un

de se premiers disciples.

AVIT. Frere Henri Bilon (AVit) Annales de l’Institut. Vol I –

La Rude Montée; Vol II – L’Epanouissement;Vol III – Route

Entravée, Rome, 1993.

BIOGRAPHIES. Frère Jean B. Furet. Biographies de quelques

Frères.

BULLETIN. Bulletin de l’Institut, volumes 23 et 29.

CADERNOS. Cadernos Maristas, números 16 e 19.

CARTAS. Cartas Ativas. Edição Brasileira, São Paulo, 1997.

CIRCULAIRES. Circulaires dês Supérieurs Généraux, vols II

et VIII.

EXTRAITS. J. Coste et G. Lessard. Origines Maristes

(1786-1836). Extraits concernant les Frères Maristes, Rome,

1985.

FORISSIER. Antoine Forissier. Présences de Marie.

Fondateurs et Fondatrices Maristes, Paris, Nouvelle Cité,

1990.

FURET. Frères Jean B. Furet. Vida de São Marcelino José

Bento Champagnat, São Paulo, Loyola, 1999.

LE BOM SUPÉRIEUR. Frère Jean B. Furet. Le Bom

Supérieur.

MCMAHON. Hermano Frederick McMahon. Viajeros en la

esperanza, CEPAM, Guadalajara, 1998.

RÉPERTOIRES. R. Borne et P. Sester. Lettres de Marcellin

J. B. Champagnat, 2, Répertoires, Rome, 1987.

RIVAT. Frères Franções – Gabriel Rivat. 60 ans d’histoire

marieste (Fr. Gabriel Michel, Saint-Chamond, 1996.

RONZON. Joseph Ronzon. Jean-Marie Delorme. Frère

Marie-Nizier. Compangnon de Mission de Saint-Pierre

Chanel, prêtre mariste martyr. De Saint-Laurent d’Agny à

l’île de Futuna, Saint-Martin-em-Haut, 1996

STROBINO. Ivo Strobino. São Marcelino Champagnat.

Cartas Recebidas. Curitiba, Ed. Universitária Champagnat,

2002.

SILVEIRA. Ir. Luiz Silveira. II Capítulo Geral do Instituto

dos Pequenos Irmãos de Maria; 1852-1853-1854, Belo

Horizonte, 1994.

SYLVESTRE. Frère Sylvestre raconte Marcellin

Champagnat. Rome, 1992.

Page 78: Contos Maristas - Para rir e refletir

78

TESTIMONIOS. Aureliano Brambila de la Mora. Testimonios

mayores, menores e indirectos sobre Marcelino Champagnat,

CEPAM., Guadalajara.