conto travessia liberdade

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  • Conto: travessia e liberdade

    cRUVInel, Maria de Ftima19

    RESUMO: A prtica da leitura inegavelmente contribui para o exerccio da anlise e interpretao dos enunciados manifestos nos diferentes e variados gneros discursivos que circulam na sociedade. Na escola, por meio dessa prtica que o aluno pode ampliar sua compreenso da linguagem e do mundo, especialmente quando se trata da leitura do gnero literrio. Acreditando nessa premissa que se props investigar o po-der que a narrativa curta pode exercer sobre os jovens leitores, mediante a realizao de um curso oferecido como disciplina optativa a alunos de ensino mdio do cepae/UFG. o objetivo desse curso foi o de provocar no aluno-leitor o interesse pelo discurso ficcional, mediante uma seleo de contos da literatura universal e brasileira, com o propsito nico de ler em sala de aula para garantir o envolvimento do leitor no universo da fico. O presente trabalho ampara-se nessa prtica escolar para refletir sobre a leitura literria e a formao de leitores de um gnero que tem como marca a transgresso, dada a linguagem marcadamente desdobrada, polissmica e apta a provocaes.

    PALAVRAS-CHAVE: leitura, formao do leitor, literatura, conto.

    As motivaes para o curso

    Como tentativa de responder freqente interrogao para que serve a literatura? (talvez a pergunta

    mais comum e provocativa de nossos alunos), o semioticista Umberto Eco (2003, p.10) apresenta algumas funes que o gnero literrio assume, tanto para a nossa vida individual quanto para a social. A primeira de-las seria a de manter em exerccio a lngua como patrimnio coletivo. Autnoma em relao academia ou

    poltica (lembremo-nos do caloroso debate acerca dos estrangeirismos no Brasil), a lngua, afirma o estudioso

    italiano, vai para onde quer, mas sensvel s sugestes da literatura (Eco, 2003, p.10). Outra funo seria

    a de criar identidade e comunidade, na medida em que contribui para formar a lngua. E essa funo pode ser ilustrada, por exemplo, com a pergunta que o prprio autor se faz sobre o que teria sido a civilizao grega sem

    o grande poeta Homero. Mas se a literatura mantm viva a lngua como patrimnio de uma coletividade, assim como mantm em exerccio tambm nossa lngua individual. Para efeito de ilustrao dessa afirmativa de Eco,

    bastaria comparar, entre nossos alunos de ensino mdio, a expresso daqueles que lem um pouco mais com a

    dos que nada ou muito pouco lem do gnero literrio. Mais uma funo apontada pelo semioticista, e de interesse para nossa pesquisa, a de que a leitura

    desse gnero obriga-nos a ser fiis e a respeitar uma obra, mesmo exercendo nossa liberdade ao interpretarmos.

    A liberdade de interpretao no ocorre porque podemos atribuir qualquer sentido ao texto, observao que o

    estudioso vem fazendo ao longo de seus estudos desde que constatou que sua tese de obra aberta foi mal com-preendida. As obras literrias, afirma o autor, nos convidam liberdade de interpretao, pois propem um

    discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante das ambigidades, da linguagem e da vida (Eco, 2003, p.12). Aqui Eco chama a ateno para o que ele mesmo j havia observado: a inteno do texto. Ocor-re que, paralelamente liberdade do leitor, h as verdades do texto, ou seja, algumas proposies do mundo da literatura que no podem ser postas em dvida, uma vez que esse mundo imaginrio oferece ao leitor um modelo de verdade difcil de pr em questo. Focalizando algumas obras clssicas, o autor pondera que suas

    19 Professora Adjunto da rea de Comunicao do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada Educao da UFG. E-mail: [email protected]

  • personagens tornaram-se coletivamente verdadeiras porque a comunidade neles deps, no correr dos sculos ou dos anos, investimentos passionais (Eco, 2003, p.16).

    Assim, e aqui penso encontrar-se a sntese da ltima funo apontada pelo autor, o mundo da literatura um universo no qual possvel fazer testes para estabelecer se um leitor tem o sentido da realidade ou presa de suas prprias alucinaes (Eco, 2003, p.15). A funo de alguns contos imodificveis seria a de levar-nos a perceber a impossibilidade de mudar o destino das personagens, de forma que qualquer que seja a histria

    que estejam contando, contam tambm a nossa, por isso, conclui, esses contos nos ensinam tambm a morrer, e a educao ao Fado e morte seria uma das principais funes do gnero literrio (Eco, 2003, p.21).

    A linguagem configura-se como uma manifestao que exige a presena de no mnimo dois interlocu-tores um que codifica a mensagem, outro que a decodifica, para usar aqui o princpio da comunicao verbal de fundamento estruturalista. A linguagem literria prev, de maneira mais contundente que outras formas de linguagem, porque intensa e intencionalmente polissmica, no s a presena mas a participao efetiva

    de dois sujeitos individuais no processo interlocutivo. O crtico Wendel Santos parte desse pressuposto para formular o seguinte axioma: Literatura o lugar possvel da existncia do sujeito: o literrio no s permite

    como incentiva a manifestao do individual. (Santos, 1978, p.61). Tal manifestao possvel porque a leitura do texto literrio pressupe um trabalho de interpretao

    que depende de cada leitor, mas no se pode deixar de evidenciar que se trata de um leitor cuja individualidade

    determinada por sua memria discursiva, portanto, constituda numa trama histrico-social. Assim, esta in-vestigao parte do pressuposto de que o leitor na prtica de leitura do gnero literrio sofre uma experincia

    de subjetivao, o que por sua vez pressupe a compreenso da atividade leitora desse gnero como processo de subjetivao, mesmo se realizada na sala de aula, isto , quando o leitor se encontra inserido numa coleti-vidade.

    Em artigo intitulado Para que servem as fices?, Contardo Calligaris (2007, p.8) considera que h

    uma idia comum de que a fico nos apresenta a diversidade do mundo e constitui um repertrio do poss-vel. Ou seja, o possvel de acontecer com algum em algum tempo e lugar. E para responder ponderao de

    que essa idia valeria para outros gneros, como o documentrio ou o ensaio etnogrfico, ele acrescenta que

    a fico produz uma mgica complementar: a de inventar experincias singulares que revelam a humanidade que comum a todos, tanto aos protagonistas quanto aos leitores. O poder mgico do texto ficcional estaria

    no fato de que A fico de uma vida diferente da minha me ajuda a descobrir o que h de humano em mim.

    (Calligaris, 2007, p.8). Por mais que aceitemos, com Bakhtin (1995), a linguagem como uma manifestao social, sabe-se que ela ocorre mediante a manisfestao das singularidades dos sujeitos sociais.

    Em O sol se pe em So Paulo, mais novo romance de Bernardo Carvalho, encontra-se a seguinte afirmao: Enquanto os escritores escrevem, as histrias acontecem em outro lugar. (Carvalho, 2007, p.10).

    Aps citar esse trecho do romance, Noemi Jaffe (2007, p.1) pergunta: Ento aquilo que estamos lendo tam-bm finge ser literatura e a histria, na verdade, est acontecendo em outro lugar?. A crtica pondera que esse

    seria o tipo de dvida que mais tem importncia para o leitor. Finalizando suas consideraes sobre a obra, ela aponta uma possvel pea pregada pelo narrador/autor, com a finalidade de desviar a ateno do leitor daquilo

    que seria a principal problematizao de Carvalho: existem muito mais mentiras nos fatos e verdades nas

    narrativas do que supe a nossa astcia v. (Jaffe, 2007, p.1). Jorge Coli (2007, p.2) argumenta que a prtica de leitura tem sido substituda pela da anlise crtica, de

    forma que a obra literria tornou-se objeto de dissecao, passou a ser mero pretexto para exerccios mentais

    altamente sofisticados. Para reiterar suas consideraes, Coli cita o lingista Todorov, para quem H algum

    tempo que, na escola, pararam de refletir sobre o sentido dos textos e passaram a estudar de preferncia os

    conceitos e mtodos de anlise (Todorov apud Coli, 2007, p.2). Esse pensamento de certa forma resume a tese de seu ltimo livro la littrature en pril (A literatura em perigo). Ao que parece, o terico blgaro escreve o livro para defender o gosto pela leitura, o amor aos livros, o que, para ele, guarda relao com a prtica leitora

  • vivida na juventude. Retomando a finalidade da leitura literria, assevera que se trata de compreender o sen-tido deles e, por meio deles [dos textos], o que nos dizem da prpria condio humana (Todorov apud Coli, 2007, p.2).

    Essas breves consideraes certamente bastam como justificativa proposta do curso oferecido como

    disciplina acessria optativa a alunos das trs sries do ensino mdio do Cepae/UFG, nos dois primeiros se-mestres dos anos 2006 e 2007. O curso e a reflexo por ele suscitada configuram-se como uma das aes da

    pesquisa A prtica social da leitura, desenvolvida por professores da subrea de Portugus do Cepae/UFG. A pesquisa objetiva, de forma mais ampla, observar o lugar social e cultural que a leitura e associada a ela o processo de formao de leitores tem ocupado na sociedade. O propsito contribuir com a discusso sobre a leitura, para que essa atividade se constitua como uma prtica mais significativa principalmente para

    os jovens. Fundamentada na compreenso discursiva de linguagem, a pesquisa parte da concepo de leitura e

    interpretao como produo de sentidos pelo leitor, mediante a discusso de categorias como discurso, texto

    e gnero discursivo, autoria, leitor. A viso de Mikhail Bakhtin (1995; 1997) coloca-se como o matiz inicial,

    especialmente os conceitos de dialogismo e gneros discursivos, que refletem sua compreenso de linguagem

    como resultado da relao entre interlocutores que, em situao de interao e conflito, produzem sentidos.

    Tambm constituem apoio terico deste projeto alguns estudos de Michel Foucault (1995; 1992; 1999) vol-tados para o discurso, especialmente sua compreenso de linguagem como um murmrio infinito de vozes da

    histria, do que decorre a concepo de texto como um discurso que tem sua singularidade, mas que parte

    integrante de um discurso maior e coletivo, a histria da poca em que produzido.

    Para sustentar a idia da prtica de leitura como instrumento de formao e incluso social, uma vez que se trata de uma sociedade constituda de prticas determinadas preponderantemente pela palavra escrita, essa pesquisa pauta-se nas consideraes de Candido (1972; 1995), no que se refere relao leitura-formao

    e ao direito literatura. O pressuposto inquestionvel de que se parte o de que h um estreito vnculo entre lei-tura e insero social, entre o acesso aos bens da cultura letrada e a participao na construo da sociedade.

    A ao qual se liga este trabalho prope-se investigar o poder que a narrativa curta pode exercer sobre

    o processo de formao do gosto pela fico, e a conseqente formao do leitor. O propsito do curso foi o

    de provocar no aluno-leitor o interesse pelo discurso ficcional, a partir de uma seleo de contos da literatura

    universal e brasileira, com o fim especfico de ler em sala de aula para garantir o envolvimento do leitor no uni-verso da fico. A natureza do gnero, a estrutura, as influncias, a tipologia foram consideradas nas atividades

    de leitura e interpretao, mas a nfase maior foi na percepo, pelo aluno, do entrecruzamento dos discursos, conseqentemente, do imenso e sutil labirinto que a linguagem, especialmente a do discurso literrio, na constituio dos sujeitos personagens e leitores e do grande texto que o mundo. A proposta do curso reitera a discusso sobre a leitura do clssico pelo leitor pouco experiente, com o propsito de problematizar

    por que ler os clssicos, da perspectiva de Calvino (1997).

    Por que o gnero conto?

    O intuito inicialmente realar o conto, independente de sua tipologia ou temtica, como uma moda-lidade narrativa propcia ao efetivo exerccio de leitura em sala de aula, dadas as suas propriedades conden-sao, compactao, concentrao, que podem ser traduzidas por economia dos meios narrativos com vistas a um efeito nico no leitor (gotlib, 1998).

    Subversivo em sua natureza, misto de prosa e poesia, e s vezes at drama, refratrio a conceituaes,

    o conto desde sua origem traz como marca a propriedade, exclusivamente sua, de enredar o receptor (leitor ou

    ouvinte). E esse o foco de interesse: a profunda ressonncia de que fala o contista e crtico Julio Cortazar

  • (1984, p.151), ou a impresso de vida ou ento simples emoo a ser instalada na alma do leitor, de que trata o tambm crtico Temstocles Linhares (1973, p.6). Considerando a expectativa e o envolvimento que a leitura

    de contos causa no leitor, props-se uma abordagem da recepo dessa modalidade narrativa, tendo em vista o leitor jovem.

    Pelo menos uma restrio poderia se interpor a este projeto. A primeira, porque a prtica de leitura de contos numa sala de aula contraria algumas consideraes sobre essa modalidade narrativa. Conforme gotlib (1998, p.57), h quem realce como marca do gnero, especificamente do conto moderno, a de se destinar ao

    leitor solitrio. Contudo, experincias de leitura em sala de aula levam-me a comprovar que, apesar de estar

    inserido num grupo, a identificao entre leitor e personagem ocorre de forma individualizada. Esta situao

    poderia, luz da esttica da recepo, estar associada categoria comunicativa katharsis, conforme Jauss (1979). Da no nos surpreender a ocorrncia freqente de diferentes defesas, pelos alunos-leitores, diante de um texto lido.

    O efeito da literatura na vida dos leitores o de formar, j dissera Candido (1972), mas no se trata de uma formao de cunho moralizante, isto , a funo do gnero literrio educativa mas no se reduz

    transmisso de idias morais, positivas ou negativas. Para encerrar o artigo sobre as funes da literatura, Eco aborda especificamente o conto do tipo imodificvel, sobre o qual afirma: Ler um conto tambm quer dizer

    ser tomado por uma tenso, por um espasmo, isso porque, qualquer histria que estejam contando, contam

    tambm a nossa, e por isso ns os lemos e os amamos. (Eco, 2003, p.20-21)

    Considerando a funo da literatura acima exposta, durante as aulas do curso, que consistiu basica-mente na atividade de ler os contos, alguns aspectos foram acentuados, mediante a explorao dos efeitos

    provocados nos leitores. Observou-se o poder da narrativa aspecto motivado pela leitura do episdio A tecel das noites histria da bela Sherazade de As mil e uma noites a incapacidade de o homem viver sem a narrativa, conseqentemente, sem a fico. Os elementos da narrativa foram tratados na medida de seu

    interesse para a leitura, contudo houve uma nfase n a observao do conflito nos contos, com o interesse de

    provocar o aluno a perceber se o conto traz proposta de soluo ou no e, como conseqncia, a percepo sobre a viso de homem e de mundo apresentada pelo autor.

    Contos e autores

    O objetivo de trazer o rol de contos lidos durante o curso o de dar a conhecer os ttulos escolhidos e, conseqentemente, indicar alguns pressupostos que nortearam a escolha dos textos. A seleo foi determinada

    pela professora do curso, portanto passou pela interferncia de seu perfil como professora e idealizadora da

    prtica escolar, mas no deixou de sofrer forte influncia de seu perfil como leitora.

    Diante da vasta produo da contstica brasileira, houve certamente bastante dificuldade em fazer uma

    seleo do que se pode considerar como boa literatura e ao mesmo tempo como ttulo provocador ao jovem leitor. Assim, muitos contos foram desprezados, outros foram apenas indicados para uma possvel leitura futu-ra, no mais sob a tutela do discurso pedaggico no qual se inseriu a prtica em questo.

    ANO 2006 ANO 2007

    1. A tecel das noites (Trad. R. Khawan); 1. A tecel das noites (Trad. R. Khawan);

    2.Felicidade clandestina, Clarice Lispector; 2. Uns braos, Machado de Assis;

    3.A carta roubada, Edgar A. Poe; 3. A cartomante, Machado de Assis;

  • 4. O gato preto, Edgar A. Poe; 4. A menina dos fsforos, Hans C. Andersen;

    5. Uma rvore de Natal e um casamento, Fidor

    Dostoievski;5. Negrinha, Monteiro Lobato;

    6. Angstia, Anton Tchekov; 6. O caso da vara, Machado de Assis.;

    7. Solfieri, lvares Azevedo; 7. Pai contra me, Machado de Assis;

    8. Dois amigos, G. Maupassant; 8. Pelo Caiap Velho, Hugo C. Ramos;

    9. A causa secreta, Machado de Assis; 9. Ninho de periquitos, Hugo C. Ramos;

    10. Conto de escola, Machado de Assis;10. Nhola dos Anjos e a cheia do Corumb, Ber-nardo lis;

    11. Uns braos, Machado de Assis;11. Ontem como hoje, como amanh, como depois , Bernardo lis.;

    12. Pai contra me, Machado de Assis; 12. Frederico Pacincia, Mrio de Andrade;

    13. A menina dos fsforos, Hans C. Andersen; 13. Desenredo, Guimares Rosa;

    14. O caso da vara, Machado de Assis; 14. Sinh secada, Guimares Rosa;

    15. Negrinha, Monteiro Lobato; 15. Gaetaninho, Alcntara Machado;

    16. A touca de bolinha, Srgio Faraco; 16. Minsk, Graciliano Ramos;

    17. Biruta, Lygia F. Telles; 17. A troca e a terefa, Lygia B. Nunes.

    18. A enxada, Bernardo lis. 18. Os desastres de Sofia, Clarice Lispector.

    Avaliao do curso pelos alunos

    A transcrio de algumas das breves consideraes dos alunos-leitores sobre as experincias vividas no

    decorrer do curso tem como propsito trazer tona o prprio discurso dos jovens leitores. O intento foi o de

    faz-los falar, dar-lhes voz e ouvi-los para que suas impresses que muitas vezes so discursivizadas mas nem sempre consideradas como prtica de subjetivao.

    Ano 2006

    1. O curso Leitura pelo vis do conto foi uma disciplina de suma importncia para a minha vida;

    embora s vezes as aulas me cansassem um pouco pois essas eram as ltimas aulas da 3 feira. O curso foi

    sensacional.

    Conhecemos autores fantsticos, entendemos melhor Machado de Assis, hoje, quando penso em Dom casmurro, o livro que li do machado antes da disciplina, o compreendo de forma muito mais elaborada.

    Algo fantstico que consegui observar foi o fato de em cada conto que ou ouvia eu ter me sentido como se estivesse vendo uma vitrine do mundo ou das relaes humanas, mas o melhor de tudo foi que ao fim

    de cada conto apurvamos mais o nosso gosto, o transformando em bom gosto e deixando para trs a medio-cridade que vemos todos os dias em todos os lugares. Saber diferenciar a gua do leo para mim de suma

    importncia, e s sabendo o que bom para saber o que ruim, e Edgar Allan Poe timo, Machado tambm

    e todos os outros so bons. (R.L.E., 3 srie E.M.)

  • 2. O curso A literatura pelo vis do conto pode me ajudar bastante, pois me ensinou a ter uma viso diferente das coisas que acontecem ao nosso redor, e nem sempre estamos preparados para enfrent-las (...) me informou muito das coisas da vida como realmente so. (K. A., 3 srie E. M.)

    3. Esse curso A literatura pelo vis do conto foi muito bom e proveitoso em todos os aspectos, tanto moral, intelectual e social.

    Moral porque a maioria dos contos trabalhados nos ensinou que a amizade pode ser cultivada e ser eter-na, como fica claro no conto Dois amigos, de Guy de Maupassant, nos ensinou que devemos ajudar e olhar

    para o prximo dando-lhes ouvidos, amor, conforto, alimento e abrigo, como vimos nos contos A menina dos

    fsforos, de Andersen, Pai contra me, de machado de Assis, Negrinha, de Monteiro Lobato, A touca

    de bolinha, de Srgio Faraco etc.Intelectual, porque nunca a leitura demais, e nesse curso ns lemos muito, tanto contos nacionais e

    internacionais, ou seja, aprendemos tambm um pouco da literatura de outros povos, o que muito bom.E social porque os contos alm de nos darem lies de vida, nos ensinando a no termos preconceitos,

    racismo, discriminao etc tambm falou muito dos comportamentos humanos. Os contos falaram sobre o amor e a paixo que sentimos pelo outro, s vezes at de forma pedfila, falaram sobre os prazeres que muitos

    sentem em ver os outros sofrerem at mesmo os animais.Nunca imaginei que a leitura de contos pudesse ser to interessante e produtiva, porque antes eu no

    gostava de ler contos, agora aprendi a l-los. (J.B., aluna 2 srie E. M.)

    Ano 2007

    1. Quem nunca quis ser Werther? Amar incondicionalmente, vangloriar sua diva, fazer, do impossvel, o possvel, romper com as fronteiras, quebrar as correntes? Me ferrei. Sentir o amor lascivo de Incio por D. Severina, em Uns braos, de Machado, ou a felicidade de Negrinha ao brincar com as bonecas, a singulari-dade do sentimento, ou os delrios e iluses lcidas da pequena vendedora de fsforos?

    A fico de fato cria situaes peculiares mas que revelam ao leitor sentimentos incompreensveis ou

    nunca sentidos. (L. F. C.; aluno da 3 srie E. M.)

    2. Muitas vezes pensamos que sabemos muitas cosias dessa vida, no ensoberbecemos (assoberbar-se?) pensando que somos conhecedores de nossos sentimentos, mas basta ler um conto de machado do Assis ou um do Guimares Rosa para descobrirmos que h certas facetas do comportamento humano em geral que ns no conhecamos ou simplesmente fechvamos os olhos para elas. (R. A. R., 2 srie E. M.)

    3. Conheci Hugo de Carvalho ramos, saboreei Bernardo Elis, comi Machado, degustei Mrio de An-drade, me alimentei de Guimares Rosa, experimentei Lygia Bojunga... Clarice Lispector... Marina Colasanti...

    Monteiro Lobato... Alcntara Machado... (...) Descobri, atravs dos personagens fictcios, minhas potencialida-des, meus sonhos, minhas dvidas e minhas certezas; percebi que os meus sentimentos eram comuns a outros,

    mesmo que estes foram (fossem) criaes fictcias de algum escritor que queira (quisesse) transferir os seus

    sentimentos a personagens experimentais, dividindo os fardos.

    Parafraseando Rosa, era infinitamente junho e deparei comigo mesmo, me encontrei estagnado em uma

    mrbida depresso progressiva, e, em novamente Rosa descobri que o tempo engenhoso, os rduos sofrimen-

  • tos alheios revelaram a sutileza das resolues dos meus desgostos. (L. F. C.; aluno da 3 srie E. M.)

    4. Para cada conto a imaginao me permitia viver a histria de cada personagem, e nas histrias, s

    vezes matei, em outras sorri, chorei e morri. (E. A. O.; aluna da 3 srie E. M.)

    5. Esta disciplina fez com que eu me interessasse mais por leituras de contos, onde (que) eu achava uma chatice e vejo que estava errada, quando lemos contos embarcamos num mundo totalmente diferente do nosso (...). (A. C., aluna da 2 srie E. M.)

    6. Ao longo do curso aprendi a argumentar mais sobre os acontecimentos, tive uma viso mais ampla do mundo e comecei a compreend-lo melhor. (N. G., aluna da 2 srie E. M.)

    Concluses A seduo do discurso narrativo nas diversas histrias contadas pela bela Xerazade salvou-a da morte

    e a tantas outras moas que deveriam sucumbir ao decreto do rei Xeriar, nAs mil e uma noites. Penso, diante dos depoimentos de meus alunos-leitores, ser possvel concluir que eles caram na armadilha do curso: a sedu-o pelo discurso literrio. Ainda que inscrito na ordem do discurso pedaggico, uma vez que se tratou de uma

    prtica promovida e realizada pela escola, o curso cumpriu seu propsito em razo do poder de transgresso

    do discurso literrio.Mesmo correndo o risco de cometer excessos, acho possvel afirmar que esses leitores esto mais dis-

    tantes da mediocridade e mais prximos da liberdade, pois foram iniciados, pelo vis da literatura, na compre-enso da frgil natureza humana, na percepo do mundo que os rodeia e os constitui.

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