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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE BAURU – ESTADO DE SÃO PAULO AÇÃO DECLARATÓRIA AUTOS DO PROCESSO Nº 0018770-71.2013.8.26.0071 ATLÂNTICO FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS NÃO PADRONIZADOS, inscrito no CNPJ sob o nº 09.194.841/0001-51, com sede na Capital do Estado de São Paulo, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, nº 3.900, 10º andar, Itaim Bibi, por seus procuradores que esta subscrevem (atos constitutivos, procuração e substabelecimento anexos, docs. 01, 02 e 03), vem respeitosamente à presença de V.Exa., nos autos da AÇÃO DECLARATÓRIA em epígrafe, que lhe é movida por FILIPE SOUZA RINO, apresentar sua CONTESTAÇÃO E aos termos que lhe são propostos, de acordo com os fatos e fundamentos a seguir expostos:

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EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CVEL DO FORO DA COMARCA DE BAURU ESTADO DE SO PAULOAO DECLARATRIA

AUTOS DO PROCESSO N 0018770-71.2013.8.26.0071

ATLNTICO FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITRIOS NO PADRONIZADOS, inscrito no CNPJ sob o n 09.194.841/0001-51, com sede na Capital do Estado de So Paulo, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, n 3.900, 10 andar, Itaim Bibi, por seus procuradores que esta subscrevem (atos constitutivos, procurao e substabelecimento anexos, docs. 01, 02 e 03), vem respeitosamente presena de V.Exa., nos autos da AO DECLARATRIA em epgrafe, que lhe movida por FILIPE SOUZA RINO, apresentar sua CONTESTAO E aos termos que lhe so propostos, de acordo com os fatos e fundamentos a seguir expostos:

PRELIMINARMENTE

DA ILEGITIMIDADE ATIVA

Da narrao dos fatos depreende-se que o Autor ingressou no judicirio em nome prprio alegando que o Ru Atlntico o vem cobrando a uma dvida referente pessoa Jurdica ROYAL CONSULTORIA LIMITADA, inscrita sob o CNPJ n 07.526.173/0001-97, ocorre que o Autor no parte legtima para figurar como polo ativo.

A legitimidade condio da ao que impe a existncia de um vnculo entre os sujeitos da demanda e a relao jurdica deduzida em juzo, ou seja, tm legitimidade para a causa os titulares da relao jurdica de direito material que ser discutida judicialmente. a pertinncia subjetiva da ao (CPC, art. 3). Exceto nos casos previstos em lei de legitimao extraordinria, no qual algum defende em nome prprio direito alheio (CPC, art. 6), somente haver legitimidade processual ativa e passiva, quando autor e ru sejam os titulares da relao jurdica substancial retratada em juzo.

O Scio administrador de sociedade limitada no ostenta legitimidade para postular em juzo em nome da pessoa jurdica detentora de personalidade e patrimnio prprios.

Neste sentido:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. COMERCIAL. CONTRATO DE LICENA DEUSO DE MARCA. ILEGITIMIDADE ATIVA DO SCIO PARA POSTULAR DIREITO DECORRENTE DE PACTO CELEBRADO COM A SOCIEDADE. AUSNCIA DE INTERESSE JURDICO. 1. A personalidade jurdica da sociedade no se confunde com a personalidade jurdica dos scios. Assim, por constiturem pessoas distintas, distintos so tambm seus direitos e obrigaes. 2. Ningum pode pleitear em nome prprio direito alheio, salvo quando autorizado por lei. Por isso, o scio no tem legitimidade para figurar no polo ativo de demanda em que se busca indenizao por prejuzos eventualmente causados sociedade de que participa. 3. Hiptese em que o scio tem interesse meramente econmico, faltando-lhe interesse jurdico a defender. 4. Recurso especial provido. Processo extinto sem julgamento demrito.

(STJ - REsp: 1188151 AM 2010/0058567-4, Relator: Ministro JOO OTVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 14/06/2011, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicao: DJe 12/04/2012)Ante o exposto, ausente essa condio da ao (a ilegitimidade passiva), o Ru requer, desde j, que seja extinto o presente feito, sem anlise do mrito, nos termos do quanto preceituam os artigos 3 e 267, inciso VI, do Cdigo de Processo Civil.

I - DOS FATOS

I.A - DA VERSO DE FATOS DO AUTOR

De acordo com o quanto narrado em sede inicial, o Autor, comeou a ser cobrado por este ru de dvida de ROYAL CONSULTORIA LIMITADA, que as cobranas foram abusivas, e que merece ser indenizado por dano moral.

Em face da situao que se apresentava, o Autor ajuizou o presente feito, no qual busca que seu nome seja retirado dos rgos restritivos de crdito, bem como a posterior declarao de inexigibilidade do dbito e, ainda, a condenao do Ru ao pagamento de indenizao pelos danos morais que suportou.

I.B - DA VERDADE SOBRE OS FATOS

Ocorre, contudo, que no merecem prosperar as alegaes do Autor, uma vez que ele teve uma dvida que teve origem em um contrato estabelecido entre ele e seu antigo credor - o BANCO SANTANDER S.A. (Cedente) que, depois de inadimplido, foi legalmente cedido ao Ru.

Com efeito, o Autor foi devedor do Cedente em decorrncia da contratao uso e inadimplemento de COMPOSICAO DE DIVIDA.

Neste sentido, conforme faz prova a anexa tela extrada do sistema de gerenciamento interno do Ru (doc. 04), o contrato celebrado entre o Autor e o Cedente era dotado do nmero 922004421010263 (conforme o campo conta original).

Ao adquirir este contrato, o Ru lhe atribuiu o nmero de controle interno 16101158.

Ocorre que o autor fez acordo e no deve mais nada para o ATLNTICO, que no o est cobrando.

Pela exordial depreende-se que ocorreu erro do prprio autor, alega que o atlntico est cobrando a empresa de ROYAL CONSULTORIA LIMITADA e ajuizou a ao em nome prprio.

O Ru no possui nenhum crdito a ser cobrado do autor FILIPE SOUZA RINO, tampouco de sua empresa ROYAL CONSULTORIA, nenhum dbito que seja objeto de cesso de crdito em que o Ru tenha participado.

Com efeito, verificando-se as certides extradas junto aos rgos de proteo ao crdito (SCPC/SERASA), o Autor no est nem esteve negativado por ordem do Ru e tampouco se verifica nos autos, qualquer prova da cobrana alegada.

Ora excelncia, trata-se de um erro grosseiro que beira a litigncia de m-f, uma vez que o Ru ATLNTICO no possu nenhum tipo de dbito para ser cobrado junto ao autor, no tendo porque terem ocorrido tais ligaes.

I.B - DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DO RU

Deve-se observar, antes de se adentrar ao mrito da questo, que o Ru sequer parte legtima para figurar no plo passivo da presente ao, razo pela qual no pode integrar a lide, nem sequer suportar seus efeitos.

No captulo em que trata das condies da ao em sua obra Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Moacyr Amaral dos Santos assevera, ao analisar o conceito de legitimidade de parte, que:

So legitimados para agir, ativa e passivamente, os titulares dos interesses em conflito: legitimao ativa ter o titular do interesse afirmado na pretenso, passiva ter o titular do interesse que se ope ao afirmado na pretenso. (grifos)

Conclui-se desse conceito que a pretenso do Autor dever estar baseada em uma providncia jurisdicional possvel dentro do ordenamento jurdico, que se volte contra aquele que deva se sujeitar ao exerccio dessa mesma pretenso.

Adequando-se esta premissa tcnica ao quanto se apresenta, pode-se concluir que o Ru parte ilegtima para ser demandado, por JAMAIS ter entrada em contato com o Autor cobrando-o de suposta dvida da empresa ROYAL, vez que no adquiriu crditos em que o mesmo seja o devedor, no tendo, portanto, participado de qualquer outra pendncia que penda sobre o nome do Autor, conforme esclarecido supra, nem de qualquer outro evento que possa ter levado configurao da situao que hoje se apresenta.

Desta forma, o Ru no poder suportar eventual prejuzo por ato que sequer deu causa.

Ante o exposto, ausente essa condio da ao (a ilegitimidade passiva), o Ru requer, desde j, que seja extinto o presente feito, sem anlise do mrito, nos termos do quanto preceituam os artigos 3 e 267, inciso VI, do Cdigo de Processo Civil.

II - BREVES COMENTRIOS SOBRE A ATUAO DO RU

Como seu prprio nome diz, o Ru um Fundo de Investimento em Direitos Creditrios (FIDC).

Os FIDCs foram criados como uma forma de implementar, no Brasil, os chamados mecanismos de securitizao de recebveis. Na verdade, pela forma adotada, que a de fundos de investimento devidamente registrados na CVM e que adotam padres de transparncia diferenciados, permitiu-se, aqui, a criao da securitizao sem muitos dos riscos sofridos em outros pases, nos quais tais prticas no eram nem mesmo to rigorosamente regulamentadas quanto em territrio nacional.

A securitizao foi uma forma encontrada pelas instituies financeiras, ainda na dcada de 1970, para que elas pudessem continuar ofertando recursos ao mercado mesmo quando j contassem com uma carteira muito grande de devedores (ou seja, de tomadores de crdito).

Em fins da dcada de 1990, essas operaes de securitizao - que aqui seriam operacionalizadas por meio dos FIDCs - comearam a ser regulamentadas no Brasil, funcionando como uma importante forma de (i) permitir a reduo das taxas de juros nas operaes bancrias por meio de uma melhor administrao das carteiras das instituies, e, em especial, (ii) estimular a oferta de crdito ao mercado e a oferta de crdito a novas parcelas da populao, antes excludas do sistema bancrio.

Assim, os FDICs - que, a rigor, no so instituies financeiras, mas fundos especializados em adquirir os recebveis daquelas instituies e ofertar para um pblico especializado - funcionam como importantes mitigadores das altas taxas de juros praticadas no Brasil, como instrumentos que permitem a reduo do spread bancrio - e, consequentemente, dos juros e tarifas -, e que acabam permitindo, ao cabo, aumentar o acesso da populao ao crdito, em razo da ampliao da oferta de recursos.

Para tal, como explicado, os FIDCs adquirem recebveis de crdito (os direitos creditrios) de empresas de diversos segmentos, j vencidos ou com vencimento futuro, proporcionando rentabilidade aos seus cotistas por meio da cobrana desses crditos junto aos devedores originais no momento oportuno, como ocorrido no presente caso.

III - SOBRE O DANO MORAL

O Autor ainda espera ser ressarcido por supostos danos morais que diz ter sofrido em razo de supostas ligaes feitas pelo Ru.

Ao contrrio do quanto sugere o Autor, frise-se: NO houve quaisquer atos de cobrana patrocinados pelo Ru.

Partindo deste fato, ntido que - salvo qualquer anormalidade no existe nexo de causalidade entre a conduta do Ru e os supostos danos sofridos pelo Autor - e, assim, no tendo gerado qualquer abalo em sua imagem.

Assim, considerando (i) a necessria distino entre meros aborrecimentos cotidianos e efetivos abalos morais e (ii) a inexistncia de atos ilcitos supostamente praticados pelo Ru, aceitar-se como configurado o dano moral no caso que se apresenta significa no s desvirtuar totalmente o instituto como, tambm, privilegiar-se uma verdadeira indstria de indenizaes, deletria para uma correta administrao da justia.IV - CONCLUSO

Em face do quanto acima exposto, resta claro que o Autor no possui MAIS qualquer relao jurdica com o Ru e que o, bem como nunca foi cobrado pela, motivo pelo qual requer-se:

a) seja reconhecida a preliminar de ilegitimidade de parte arguida, com a consequente extino do feito sem julgamento de mrito em face do Ru ATLNTICO, nos termos do artigo 267, inciso VI, do CPC, ou, caso no seja esse o entendimento de Vossa Excelncia;

b) sejam julgados IMPROCEDENTES todos os pedidos formulados na petio inicial em face do Ru ATLNTICO, tendo em vista que nunca houve cobrana ou negativao patrocinada pelo mesmo, no havendo, portanto, nexo de causalidade em relao s outras possveis restries em nome do Autor.

Requer-se ainda que, em caso de interposio de recurso, seja a Autora condenado ao pagamento das custas judiciais, despesas processuais e honorrios advocatcios.

Protesta-se provar o alegado por todos os meios em direitos admitidos, notadamente:

- pelo depoimento pessoal do Autor;

O subscritor da presente declara a autenticidade dos documentos que guarnecem a presente Contestao e dos demais que ainda poder apresentar neste feito.

Por fim, requer-se que todas as publicaes pertinentes aos presentes autos sejam efetuadas, sob pena de nulidade, exclusivamente em nome da advogada HLIO YAZBEK OAB/SP 168.204.Nestes termos,

Pede deferimento.

So Paulo, 19 de agosto de 2013HLIO YAZBEK

OAB/SP 168.204.1 volume, Captulo XVI, p. 172.

Hoje, o modelo brasileiro de regulamentao de FIDCs vem sendo reconhecido ao redor do mundo como um dos mais avanados, capaz de impedir problemas como aqueles ocorridos no mercado norte-americano em 2007 e 2008, quando da crise dos subprime.

Um banco, a rigor, recebe depsitos de seus clientes (sendo devedor destes) e para eles faz emprstimos (sendo, ento, credor). Ocorre que, quando um banco devedor de um cliente, a sua divida vista (ele deve pagar quando requerido pelo cliente), e quando ele credor, seus crditos so a prazo (so lquidos apenas quando do seu vencimento). esse descasamento entre seus fluxos de crditos e de dbitos que torna as instituies bancrias vulnerveis quebra por corridas bancrias por exemplo (quando os clientes credores, em face de alguma incerteza, decidem retirar seus recursos) e que responde, tambm, pelas elevadas taxas de juros (uma vez que os bancos tem que se esforar para captar recursos no mercado, ofertando maiores juros aos depositantes).