contestação - filha solteira

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PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

[Procuradoria do processo judicial]

1[Nosso Número]

EXMO(A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) DE DIREITO DA [JUÍZO DO PROCESSO JUDICIAL] DA [ÓRGÃO DO PROCESSO JUDICIAL]

[TIPO DE AÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL] Nº [NÚMERO DO PROCESSO JUDICIAL]

[TIPO DE PARTICIPAÇÃO DA PARTE ATIVA PRINCIPAL]: [NOME DA PARTE ATIVA PRINCIPAL]

[TIPO DE PARTICIPAÇÃO DA PARTE PASSIVA PRINCIPAL]: [NOME DA PARTE PASSIVA PRINCIPAL]

[NOME DA PARTE PASSIVA PRINCIPAL], já qualificada nos autos em epígrafe, vem, à presença de Vossa Excelência, nos autos da ação em epígrafe, pelo(a) Procurador(a) do Estado que abaixo assina, apresentar sua CONTESTAÇÃO, nos termos adiante exposto.

I DO PLEITO DEDUZIDO

Trata-se de ação proposta por pensionista de militar falecido que tem por objeto a impugnação de decisão administrativa que suspendeu seu benefício em decorrência de procedimento administrativo interno instaurado para apurar a regularidade do pagamento.

Conforme será demonstrado, a ação deverá ser julgada improcedente, já que a previsão do benefício em tela não encontra amparo na legislação federal.

II MÉRITO

De início, cabe assinalar que não é possível a

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concessão de benefício previdenciário estadual não previsto no Regime Geral de Previdência Social, conforme veda expressamente o disposto no artigo 5º da Lei Federal nº 9.717/1998.

A parte contrária não pode, pois, ser beneficiada pela concessão da pensão por morte, mesmo havendo a previsão estadual na Lei nº 452/1974, dada a perda de sua eficácia a partir do advento do artigo 5º da Lei Federal nº 9.717/1998.

Com efeito, o artigo 201, V, da Constituição Federal, ao tratar da previdência social, disciplina:

“Art. 201 A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:

...

V pensão por morte do segurado, homem ou mulher, a cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º”.1

O art. 5º da Lei Federal nº 9.717, de 27/11/19982, por sua vez, estabelece:

“Art. 5º - Os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal não poderão conceder benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de Previdência Social, de que trata a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, salvo disposição em contrário da Constituição Federal.”

Ora, o art. 16 da Lei Federal nº 8.213/1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, elenca os benefícios possíveis, em rol taxativo, a saber:

“Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)

1 Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20/1998 g.n.2 Dispõe sobre regras gerais para a organização e o funcionamento dos regimes próprios de previdência

social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares

dos Estados e do Distrito Federal e dá outras providências g.n.

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II - os pais;

III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)

IV - a pessoa designada, menor de 21 (vinte e um) anos ou maior de 60(sessenta) anos ou inválida. (Revogada pela Lei nº 9.032, de 1995)

§ 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes.

§ 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997)

§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal.

§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada.”

Em outros termos, não havendo previsão na Lei Federal nº 8.213/1991 de pensão por morte a ser deferida a filhas solteiras, filhos universitários ou mesmo beneficiários instituídos, deduz-se, por força do disposto no artigo 5º, da Lei Federal nº 9.717/1998, que desde o advento deste Diploma não mais subsistem os preceitos da Lei Estadual nº 452/1974 que contemplavam tais possibilidades na seara militar paulista.

Os Regimes Próprios de Previdência Militar dos Estados estão adstritos às normas gerais de organização e funcionamento fixadas pela Lei Federal nº 9.717/1998.

Não há previsão, portanto, no Regime Geral de Previdência Social para benefício de pensão por morte a situação da parte contrária.

Importante esclarecer novamente, portanto, que no âmbito estadual da Previdência dos Militares do Estado de São Paulo, os dispositivos da Lei Estadual nº 452/1974, que previam como dependentes os

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filhos maiores de 21 (vinte e um) anos universitários, as filhas solteiras e os beneficiários instituídos por declaração de vontade do contribuinte tiveram a sua eficácia suspensa com o advento da Lei Federal nº 9.717/1998, que “dispõe sobre regras gerais para a organização e o funcionamento dos regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal e dá outras providências” como determina o artigo 24, § 4º, da Constituição Federal, verbis:

“art. 24, § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”

O art. 24 da Constituição Federal contempla a “Previdência Social” dentre as matérias acerca das quais compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente (inciso XII). Deste modo, o seu parágrafo 4º preceitua que “a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”.

Sobre o tema, vale transcrever os ensinamentos de Raul Machado Horta:

“As Constituições federais passaram a explorar, com maior amplitude, a repartição vertical de competências, que realiza a distribuição de idêntica matéria legislativa entre a União Federal e os Estados-membros, estabelecendo verdadeiro condomínio legislativo, consoante regras constitucionais de convivência. A repartição vertical de competências conduziu à técnica da legislação federal fundamental, de normas gerais e de diretrizes essenciais, que recai sobre determinada matéria legislativa de eleição do constituinte federal. A legislação federal é reveladora, das linhas essenciais, enquanto a legislação local buscará preencher o claro que lhe ficou, afeiçoando a matéria revelada na legislação de normas gerais às peculiaridades e às exigências estaduais. A Lei Fundamental ou de princípios servirá de molde à legislação local. E a Rahmengesetz, dos alemães; a Legge-cornice, dos italianos; a Loi de cadre, dos franceses; são as normas gerais do Direito Constitucional Brasileiro”3.

A Lei Federal nº 9.717/98, editada no âmbito da legislação concorrente, vedou à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, nos seus regimes próprios de previdência, a concessão de benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de Previdência Social.

Se, como ocorre no caso em tela, a parte contrária,

3 MACHADO HORTA, Raul. Estudos de direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 1995. p. 366.

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ao tempo da edição da Lei nº 9.717/98, ainda não era pensionista uma vez que o óbito do servidor ocorreu após a edição da Lei Federal , não tem direito adquirido e sua concessão fere o disposto na referida lei federal.

Diversamente do sustentado na inicial, portanto, não há ofensa ao direito adquirido, ato jurídico perfeito, na anulação de um ato administrativo de concessão de pensão por morte que foi deferido sem observar a legislação federal a respeito.

Ao rever o próprio ato, a Administração está baseada dever da autotutela, no princípio da estrita legalidade e com amparo nas normas constitucionais que regem o regime previdenciário, não havendo que se falar em direito adquirido e nem em ato jurídico perfeito.

O entendimento de que não é possível a extensão de benefícios sem previsão no Regime Geral é corrente perante o Col. Superior Tribunal de Justiça:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. PENSÃO POR MORTE. ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO. PRORROGAÇÃO DO BENEFÍCIO ATÉ 24 ANOS DE IDADE. IMPOSSIBILIDADE. FALTA DE PREVISÃO LEGAL. PRECEDENTES DO STJ. Esta Corte Superior perfilha entendimento no sentido de que, havendo lei estabelecendo que a pensão por morte é devida ao filho inválido ou até que complete 21 (vinte e um) anos de idade, não há como, à míngua de amparo legal, estendê-la até aos 24 (vinte e quatro) anos de idade quando o beneficiário for estudante universitário. Recurso especial não provido.” (REsp 1269915/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, j. 04/10/2011, DJe 13/10/2011)

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. FUNDAMENTOS INSUFICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO AGRAVADA. ANÁLISE DE OFENSA A DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO STF. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. FILHO MAIOR DE 21 ANOS. ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO. PRORROGAÇÃO DO BENEFÍCIO ATÉ A IDADE DE 24 ANOS. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. SÚMULA 83 DO STJ. O agravante não trouxe argumentos novos capazes de infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a negativa de provimento ao agravo regimental. A análise de suposta ofensa a dispositivos constitucionais compete exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, inciso III, da Constituição da República, sendo defeso o seu exame em âmbito de recurso especial. A jurisprudência do STJ pacificou o entendimento de que a pensão por morte rege-se pela lei vigente à época do óbito do segurado. Na hipótese dos autos, o

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falecimento do pai do agravante ocorreu em 16.02.1997, na vigência da Lei 8.213/91, que prevê em seu artigo 77, § 2º, inciso II, a cessação da pensão por morte ao filho, quando completar 21 anos de idade, salvo se for inválido. A perfeita harmonia entre o acórdão recorrido e a jurisprudência dominante desta Corte Superior impõe a aplicação, à hipótese dos autos, do enunciado nº 83 da Súmula do STJ. Agravo regimental a que se nega provimento.” (AgRg no Ag 1076512/BA, Sexta Turma, Rel. Min. Vasco Della Giustina - Desembargador convocado do TJ/RS, DJe 03/08/2011).

“DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. PENSÃO POR MORTE. LEI 8.112/90. IDADE-LIMITE. 21 ANOS. ESTUDANTE. CURSO UNIVERSITÁRIO. PRORROGAÇÃO ATÉ OS 24 ANOS. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. Nos termos do art. 217, II, "a", da Lei 8.112/90, a pensão pela morte de servidor público federal será devida aos filhos até o limite de 21 anos de idade, salvo se inválido, não se podendo estender até os 24 anos para os estudantes universitários, pois não há amparo legal para tanto. Precedentes do STJ. Recurso especial conhecido e improvido.” (REsp 1008866/PR, Quinta Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 18/05/2009)

A respeito do assunto, o C. STF concedeu medida cautelar na ADI-MC nº 2311 para suspender a eficácia de lei do Mato Grosso do Sul que indicava filhos solteiros, com idade até 24 anos e freqüência a cursos superiores ou técnicos de 2º grau, como dependentes, para fins previdenciários, pela violação ao art 5º da Lei nº 9.717/1998:

“Ação direta de inconstitucionalidade. Lei Estadual n.º 2.120/99. Alegação de que a Lei Estadual violou os arts. 25, §§ 1º e 4º, 40 e 195, "caput", § 5º, da CF, ao indicar "os filhos solteiros, com idade até 24 anos e freqüência a cursos superiores ou técnico de 2º grau como dependentes, para fins previdenciários, no Estado do Mato Grosso do Sul. 2. O art. 195, da CF, na redação da EC n.º 20/98, estipula que nenhum benefício ou serviço de seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. A Lei n.º 9.717/98 dispôs sobre regras gerais para a organização e funcionamento dos regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal, dando outras providências. 3. No art. 5º, da Lei n.º 9.717/98 dispõe que "os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados, e do Distrito Federal, não poderão conceder benefícios distintos dos previstos no

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Regime Geral de Previdência Social, de que trata a Lei n.º 8.213/91. 4. Extensão do benefício impugnada se fez sem qualquer previsão de correspondente fonte de custeio. A competência concorrente dos Estados em matéria previdenciária, não autoriza se desatendam os fundamentos básicos do sistema previdenciário, de origem constitucional. 5. Relevantes os fundamentos da inicial. Medida liminar deferida. (STF, ADI-MC 2311, Rel. Min. Néri da Silveira, DJe 28/08/2002)”.

Nesse sentido, ainda, os julgados do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que concluíram pela impossibilidade de legislação municipal instituir contribuição para a inclusão de beneficiária de pensão por morte de filhas solteiras por qualquer idade por não haver correspondência na legislação federal:

PREVIDÊNCIA SOCIAL INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA MUNICIPAL DE SÃO PAULO IPREM SEGURADOS FACULTATIVOS - Contribuição de 3% efetuada por servidor aposentado para inclusão de filha viúva economicamente dependente como beneficiária de pensão por morte. Pretensão de que o réu seja compelido a incluir a filha do autor como sua beneficiária ou alternativamente que seja determinada a devolução dos valores descontados a título complemento de pensão. ADMISSIBILIDADE EM PARTE: O benefício pretendido era previsto nas Leis Municipais nºs. 9.157/80 e 10.828/90, no entanto, com o advento da Lei Federal nº 9.717/98 o benefício perdeu seu suporte legal e foi extinto. A nova Lei proibiu a concessão de benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de Previdência Social (Lei nº 8.213/91). Os descontos efetuados até o advento da nova Lei Federal são válidos, contudo devem ser restituídos os valores descontados após a sua vigência. Sentença de procedência reformada. ... ( APELAÇÃO CÍVEL nº 994.09.306912-0 (905.445.5/7-00) SÃO PAULO, Relator: Israel Goes dos Anjos)

“PREVIDÊNCIA MUNICIPAL - São Paulo LM nº 9.157/80 e 10.828/90 - EC nº 20/98 - LF nº 9.717/98 Orientação Normativa nº 1/01 da Superintendência do IPREM Contribuição facultativa de 3% visando inclusão de filhas solteiras de qualquer idade e de viúvas, divorciadas ou separadas judicialmente como beneficiárias de pensão por morte - Suspensão da contribuição e do benefício por determinação do Superintendente da autarquia Ação ordinária visando a devolução dos descontos procedidos a esse título - Sentença de procedência - Apelo do Município provido para reconhecer sua ilegitimidade passiva e, em relação a ele, extinguir o processo sem apreciação do mérito - Apelo do Iprem provido para julgar improcedente a ação” (Apelação Cível n. 388.941-5/3 São

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Paulo, Relator: Torres de Carvalho - 18.04.05 - V.U.) .

Sobre mesmo tema já decidiu o Colendo Superior Tribunal de Justiça no AI nº 1031442, Rel. Min. LUIZ FUX, de 3.9.2008 que:

“(...)

O recurso não merece prosperar.

O Tribunal de Justiça ao decidir sobre a questão jurídica em debate fundamentou-se em matéria constitucional, ao afirmar que:

3 - Por força da Emenda Constitucional nº 20/98, ficou vedada à União, aos Estados e aos Municípios a concessão de benefícios previdenciários diversos daqueles previstos para o regime geral de previdência social.

Destarte, não poderia o IPREM, após a Emenda Constitucional nº 20 receber a contribuição mensal de 3% destinada a garantir pensão por morte do instituidor às filhas solteiras,viúvas, separadas ou divorciadas.

De rigor, assim, que as contribuiçõesrecebidas pelo IPREM a partir de 16 de dezembro de 1998 sejam restituídas aos autores, devidamente atualizadas.

Não, contudo, as contribuições que recebeu anteriormente a esta data.

Afinal, caso os autores tivessem falecido em data anterior à promulgação da referida Emenda Constitucional, a pensão por morte seria concedida às beneficiárias sem qualquer restrição. Isto porque, até a Emenda Constitucional nº 20, não existia qualquer restrição ao benefício instituído pelas partes.

(...)”.

Essa maciça jurisprudência permite concluir que a lei apenas assegura o percebimento de pensão aos filhos até que completem 21 (vinte e um) anos, não havendo que se cogitar em sua extensão a filhas solteiras, filhos universitários ou mesmo beneficiários instituídos, devendo os atos de concessão que ofendam a legislação ser anulados pela própria Administração Pública, com fundamento em seu poder de autotutela, conforme consolidaram as Súmulas nºs 346 e 473, do Col. Supremo Tribunal Federal.

O artigo 5º da Lei Federal nº 9.717/1998 estava em vigor no momento do óbito do militar e, portanto, deve reger a concessão de pensão aos seus beneficiários, nos termos da Súmula 340, do Col. Superior

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Tribunal de Justiça, verbis:

“A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do óbito do segurado.”

Registre-se, por fim, que a Autarquia previdenciária está atrelada às normas gerais expedidas pela União, sendo que eventual descumprimento poderá acarretar a perda do Certificado de Regularidade Previdenciária CRP, além das cominações do artigo 7º, da Lei Federal n° 9.717/19984.

Portanto, de rigor a improcedência do presente feito.

III DA NÃO OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO/DECADÊNCIA PARA A ADMINISTRAÇÃO

De acordo com o princípio da autotutela administrativa, a Administração pode e deve rever seus próprios atos contaminados pelo vício da ilegalidade.

E, no caso em tela, que envolve a declaração de nulidade de ato administrativo concessivo de benefício previdenciário no âmbito da Administração Estadual de São Paulo, o prazo é de 10 anos.

Não há que se aplicar, na espécie, eventual alegação de que o ato administrativo de concessão da pensão não pode ser revisto pelo decurso de mais de cinco anos de sua edição, nos termos do Decreto nº 20.910/32.

É que, no âmbito dos benefícios previdenciários, como o caso presente, o art. 103-A , da Lei 8.213/1991, fixa em 10 anos o prazo para anulação dos atos administrativos:

Art. 103-A. O direito da Previdência Social de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os seus beneficiários decai em dez anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Mesmo que não houvesse tal previsão em lei

4 “Art. 7º O descumprimento do disposto nesta Lei pelos Estados, Distrito Federal e Municípios e pelos

respectivos fundos, implicará, a partir de 1º de julho de 1999:

I - suspensão das transferências voluntárias de recursos pela União;

II - impedimento para celebrar acordos, contratos, convênios ou ajustes, bem como receber empréstimos,

financiamentos, avais e subvenções em geral de órgãos ou entidades da Administração direta e indireta

da União;

III - suspensão de empréstimos e financiamentos por instituições financeiras federais.

IV - suspensão do pagamento dos valores devidos pelo Regime Geral de Previdência Social em razão da

Lei no 9.796, de 5 de maio de 1999. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.187-13, de 2001)”.

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Federal, o prazo para a Administração rever os próprios atos no Estado de São Paulo também é de 10 anos, nos termos do artigo 10, I, da Lei Estadual n° 10.177/98.

"Artigo 10 - A Administração anulará seus atos inválidos, de ofício ou por provocação de pessoa interessada, salvo quando:

I - ultrapassado o prazo de 10 (dez) anos contado de sua produção;."

No presente caso, foi instaurado procedimento administrativo em data anterior ao decurso de 10 anos da concessão administrativa da pensão.

Ainda que não houvesse tal previsão legal, vale acrescentar que os atos administrativos inválidos devem ser anulados pela própria Administração Pública com fundamento em seu poder de autotutela, conforme já consagrado há muito pelas Súmulas nº 346 e 473, do E. Supremo Tribunal Federal.

Assim, instaurado o devido Processo Legal, com estrita observância ao contraditório e à ampla defesa, para invalidar o ato de concessão, nos termos dos artigos 21, 22, 57 e 61 da Lei Estadual n° 10.177/98, e constatado que o benefício foi concedido com base em lei ineficaz, a improcedência do pleito é de rigor.

IV DA LEGALIDADE DA SUSPENSÃO DE OFÍCIO DO PAGAMENTO DO BENEFÍCIO ART. 60 DA LEI ESTADUAL Nº 10.177/1998.

Regularmente instaurado o procedimento administrativo de invalidação, a autarquia houve por bem suspender a execução do pagamento do benefício, conforme expressamente autoriza o art. 60 da Lei Estadual nº 10.177/1998:

Artigo 60 - No curso de procedimento de invalidação, a autoridade poderá, de ofício ou em face de requerimento, suspender a execução do ato ou contrato, para evitar prejuízos de reparação onerosa ou impossível.

Evidente que se encontram-se presentes os pressupostos legais para a suspensão do pagamento, já que o recebimento de pensão concedida à margem da legalidade causará prejuízos certos ao erário e quiçá irreparáveis , tanto mais em face das notórias dificuldades que a administração terá na tentativa de reposição de tal numerário.

Assim sendo, não há falar em ilegalidade na

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suspensão do pagamento do benefício, muito ao contrário. Como já dito, à Administração, adstrita ao princípio da legalidade estrita, e valendo-se de seu poder de autotutela, não restou outra alternativa senão a de suspender o pagamento.

É de rigor destacar, mais uma vez, que houve a instauração de regular procedimento administrativo de invalidação do ato de concessão de pensão, com fundamento nos artigos 21 e seguintes da Lei Estadual nº 10.177/98, no qual se garantiu à(ao) autor(a) todas as garantias inerentes ao devido processo legal, em especial o amplo contraditório e ampla defesa.

V DA IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA

Não é possível a concessão da tutela antecipada para restabelecer o pagamento, pois ausente a demonstração da verossimilhança do direito invocado.

A questão é meramente de direito e, conforme amplamente demonstrado alhures, não é possível conceder pensão por morte a filha solteira, ainda que haja previsão estadual, por ausência de correspondente em legislação federal, aplicando-se o artigo 5º da Lei Federal nº9.717/98.

Desta forma, ausente previsão legal para se manter um ato de concessão de pensão inválido, não há que se falar em direito adquirido ou ainda ato jurídico perfeito, já que o ato administrativo está eivado de nulidade.

O periculum in mora ocorre, mas em favor da ré, já que o pagamento de pensão baseada em um ato administrativo inválido trará prejuízos incalculáveis ao erário, tanto mais pelo fato de se tratar de prestação de trato sucessivo.

Além disso, incabível, por força do § 3º do art. 1º da Lei nº 8.437/92, a concessão de liminar que esgote, no todo ou em parte o objeto da ação. No caso em exame a liminar, ao arrepio do referido dispositivo legal, praticamente esgotou a matéria de fundo, consubstanciando um verdadeiro julgamento antecipado da lide, com caráter de irreversibilidade.

Requer, portanto, a revogação da tutela concedida, já que ausentes os seus pressupostos.

VI - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

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Na improvável hipótese de acolhimento do pleito inaugural, o que se admite apenas por hipótese e em razão do princípio da eventualidade, os honorários advocatícios não poderão ser fixados sobre o valor da condenação, mas em valor certo, tendo em vista a singeleza da causa, bem como o trabalho desenvolvido nos autos pelo patrono dos autores, impondo-se, assim, a adoção do critério da eqüidade, com observância da regra inserta no art. 20, § 4º do CPC, que também se aplica à autarquia que ora se defende, segundo entendeu a 1ª Turma do E. Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial nº 222.463-PR (rel. Min. Garcia Vieira, j. 7.10.99, negaram provimento, v.u., DJU 29.11.99, pág. 135 - in RSTJ 145/61)5.

Contudo, caso se entenda pela fixação da honorária com base de cálculo no valor da condenação, requer seja, subsidiariamente, observada a Súmula 111 do STJ, de modo a que não incidam honorários advocatícios sobre as parcelas vencidas após a prolação da sentença.

VII - CONCLUSÃO

Diante do exposto, requer seja revogada a tutela concedida e, no mérito, julgada a ação improcedente.

Protesta provar o alegado pelos meios de prova legalmente admitidos, em especial pela juntada de documentos e expedição de ofícios.

Termos em que,

Pede deferimento.

[Município da procuradoria], [Data do sistema por extenso]

[AGENTE DO GABINETE]Procurador(a) do Estado

[OAB do procurador do gabinete]

5 vide comentário de Theotonio Negrão e José Roberto Ferreira Gouvêa, Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor, 38ª ed., Ed. Saraiva, São Paulo, 2006, nota 34 ao art. 20, § 4º do CPC, pág. 150.