contestação à ação de indenização por danos morais

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE ... Processo n° XXX (nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), inscrito no CPF nº (informar) e no RG nº (informar), residente e domiciliado à (endereço completo), nesta cidade, por seu procurador que esta subscreve (anexo), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar CONTESTAÇÃO na Ação de Indenização por Danos Morais que lhe move Fulano de Tal, o que faz pelos fatos e fundamentos que passa a expor. I - DO MÉRITO O autor descreveu na narrativa dos fatos que o Requerido ao estacionar seu veículo na vaga destinada à carga e descarga, excedeu o prazo de 20 minutos. Porém, não anexou aos autos prova de que tenha ocorrido o excesso de prazo. Entretanto mesmo que isto tenha ocorrido, deve ser de conhecimento do autor, já que é síndico, que no bloco C há 02 elevadores sendo um social e apenas 01 para serviço (também utilizado para carga e descarga), para o prédio com 10 andares e que cada andar tem 02 apartamentos , ou seja, apenas 01 elevador pode ser utilizado para a carga e descarga para os 20 apartamentos.

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Page 1: Contestação à Ação de Indenização por Danos Morais

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

DA COMARCA DE ...

Processo n° XXX

(nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), inscrito no CPF nº (informar) e no

RG nº (informar), residente e domiciliado à (endereço completo), nesta cidade, por

seu procurador que esta subscreve (anexo), vem respeitosamente à presença de

Vossa Excelência apresentar

CONTESTAÇÃO

na Ação de Indenização por Danos Morais que lhe move Fulano de Tal, o que faz

pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

I - DO MÉRITO

O autor descreveu na narrativa dos fatos que o Requerido ao estacionar seu veículo

na vaga destinada à carga e descarga, excedeu o prazo de 20 minutos.

Porém, não anexou aos autos prova de que tenha ocorrido o excesso de prazo.

Entretanto mesmo que isto tenha ocorrido, deve ser de conhecimento do autor, já

que é síndico, que no bloco C há 02 elevadores sendo um social e apenas 01 para

serviço (também utilizado para carga e descarga), para o prédio com 10 andares e

que cada andar tem 02 apartamentos, ou seja, apenas 01 elevador pode ser

utilizado para a carga e descarga para os 20 apartamentos.

Desta forma, ainda que o Requerido tivesse ultrapassado o prazo para permanecer

estacionada e efetuar a carga e descarga, tal fato ocorreu em razão de ter apenas

01 elevador para ser utilizados para este fim.

Logo, caberia ao autor na função de sindico, evitar confusão com os moradores, e

averiguando que o Requerido tenha cometido infração ele deveria ter aplicado uma

das penalidades descritas no artigo 99 do Regimento Interno do Condomínio. E, não

ficar procurando briga através do interfone, até porque na foto anexada pelo autor,

há duas vagas para carga e descarga, e apenas uma estava ocupada, no caso pelo

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Requerido.

Ainda pelo interfone, na segunda tentativa pelo autor em falar com o requerido, o

autor (síndico) deu inicio a agressão que supostamente teria sido cometida pelo

Requerido.

Destaca-se, que o autor é síndico do prédio onde moram as partes, e a atitude mais

esperada da pessoa que ocupa tal função é que a exerça da maneira mais coerente

possível evitando os dissabores entre os moradores e ainda, tem o dever de evitar

que eles aconteçam.

Entretanto, o autor preferiu deixar de ter atitude de sindico e aplicar a penalidade

cabível, e resolveu agir através da truculência e grosseria que lhe é peculiar,

chamando o Requerido para a briga, que se confirma pela própria Inicial.

Portanto, pela exposição fática descrita na Inicial, está demonstrado que o

Requerido em momento algum quis agredir o autor, pelo contrário, o autor é que

insitou o Requerido para ir as vias de fato.

O Requerido também não agrediu em nenhum momento o Autor com as palavras

descritas na Inicial e ainda que tenha dito alguma de tais palavras, isto ocorreu pelo

calor da discussão que se deu entre as partes, que inclusive só não foi para as vias

de fatos porque o Requerido não atendeu ao chamado do Autor para a briga.

Ademais, o autor não demonstrou o dano que supostamente tenha ocorrido.

Quanto ao ônus da prova, há que se esclarecer que cabe a parte autora provar os

fatos constitutivos de seu direito, consoante preconiza o art. 333, I do CPC, in

verbis:

Art. 333, I, CPC: O ônus da prova incumbe:

I. ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito;

Pedimos vênia para transcrevermos os ensinamentos de Cristóvão Piragibe Tostes

Malta, inseridos na sua obra Prática do Processo Trabalhista, ed. LTR, 24ª edição,

pg. 448, como segue:

"O Ônus da prova incumbe à parte que alega um fato do qual pretende que lhe

resulte um direito. Em outras palavras se o Reclamante sustenta que determinado

Page 3: Contestação à Ação de Indenização por Danos Morais

(fato constitutivo) ocorreu, desse fato lhe nascendo um direito, cumpre-lhe

demonstrar o que alegou, salvo se o Reclamado o admitir".

Compulsando os autos, verifica-se a ausência de prova indicativa do direito do

autor, mormente pelo fato de não ter comprovado o dano, e também o nexo causal

entre a ação do Requerido e o dano do autor. Portanto, não há que se pleitear a

quem não lhe causou a reparação de um dano que não se comprovou.

A lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo

fato lesivo. A expressão dano moral deve ser reservada exclusivamente para

designar o agravo que não produz qualquer efeito patrimonial. Se há conseqüências

de ordem patrimonial ainda que mediante repercussão, o dano deixa de ser extra-

patrimonial.

Não se trata, é claro, de fazer das audiências palco de lamentações, ou de se

esperar copioso pranto em juízo, ainda que isto possa humanamente acontecer,

principalmente com aqueles que realmente sofrem, toda vez que se “toca na

ferida”. Ainda que choro não seja prova irrefutável de infortúnio, sendo impossível

invadir o íntimo do sofredor para se saber da sua verdadeira causa e sinceridade.

Nesse aspecto – a causa do sofrimento – realmente a prova é impossível. Mas o

sofrimento em si não. O nexo causal entre o dano e ato ilícito é que deve ser

presumido, se presentes todos os demais elementos que formem um contexto

plausível: personalidade da vítima + ato ilícito + sofrimento + imediatidade entre

ato ilícito e sofrimento + inexistência de outros fatos, estranhos ao ato ilícito

tratado no processo, que podem ser a causa ou concausa da dor espiritual.

Frise-se ainda que da própria narrativa dos fatos da Inicial, está claro que a

agressão foi recíproca no calor de uma discussão, e o entendimento dos tribunais

tem sido de que não gera direito a indenização:

EMENTA – RESPONSABILIDADE CIVIL DANO MORAL – INJURIA. DISCUSSÃO QUE

CULMINA EM OFENSA RECIPROCA MERO DISSABOR DO DIA A DIA – INEXISTÊNCIA DE

DANO. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA – VALOR EXORBITANTE. ADEQUAÇÃO.

POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ/PR – Apelação nº 375.789-

3, 10ª Câmara Cível).

Ao pleitear a condenação do Requerido ao pagamento de R$ 15.200,00,

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devidamente corrigidos ao tempo da execução, a título de indenização pelo dano

moral, o Autor não se dignou a demonstrar os elementos que o levaram a essa

absurda quantia, ignorando regra insculpida no Código Civil, seguinte:

"Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia, consistirá na reparação

do dano que delas resulte ao ofendido.

Parágrafo Único. Se o ofendido não puder provar o dano material, caberá ao juiz

ficar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias

do caso.

Ignorou o autor também o entendimento doutrinário segundo o qual compete ao

juiz e não à parte a fixação do valor indenizatório. SILVIO RODRIGUES (in

"Responsabilidade Civil", 1979, p. 198/9) salienta:

"Será o juiz, no exame do caso concreto, quem concederá ou não a indenização e a

graduará de acordo com a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela

vítima."

A Professora Maria Helena Diniz, nesse sentido, destaca essa posição importante,

defendendo a sua tese a respeito do assunto:

"Na reparação do dano moral o juiz determina, por eqüidade, levando em conta as

circunstâncias de cada caso, o "quantum" da indenização devida, que deverá

corresponder à lesão, e não ser equivalente, por ser impossível tal equivalência."

E adiante conclui:

"Grande é o papel do Magistrado na reparação do dano moral competindo, a seu

prudente arbítrio, examinar cada caso, ponderando os elementos probatórios e

medindo as circunstâncias, preferindo o desagravo direto ou compensação não-

econômica à pecuniária, sempre que possível, ou se não houver risco de novos

danos."

O Autor, nos moldes em que narra a inicial, realça o seu conceito com a pureza de

um Monge Beneditino, dizendo que não respondera aos insultos que teria irrogado o

Requerido. Essa fantasia é dissipada desde logo ao saber que o próprio autor

chamou o Requerido para as vias de fato, e foi o autor quem iniciou a agressão.

Page 5: Contestação à Ação de Indenização por Danos Morais

Essas razões bem demonstram que a pretensão indenizatória, despida de qualquer

elemento ou parâmetro, é abusiva e ilegal, não podendo subsistir.

II - DO PEDIDO

Diante das razões expedidas e documentos juntados pelo Requerido, requer-se

sejam julgados totalmente improcedentes os pedidos da exordial.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos e

cabíveis à espécie.

Termos em que,

Pede deferimento.

(localidade), (dia) de (mês) de (ano).

Advogado

OAB