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CONTÉM de ONDE VEIO

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CONTÉM de ONDE VEIO

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Contém de onde veio

Silvia Bressiani

2010

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Texto de apresentação

Maria Alice Milliet

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Texto de apresentação

Maria Alice Milliet

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Texto de apresentação

Maria Alice Milliet

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Texto de introduçãoBeá Meira

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Texto de introduçãoBeá Meira

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Texto de introduçãoBeá Meira

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na semente se encerra a mataa mata desenha suas sementes e a semente, a mata.

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As imagens que selecionei para esta publicação fazem parte da minha produção dos últimos vinte anos. O material produzido e os objetos recolhidos ao longo deste tempo formaram um conjunto aqui à minha volta. Acho que começaram a conversar entre eles. Eu tenho escutado com os olhos.

Sou arquiteta e sempre desenhei e pintei, desde pequena, assim como sempre fui dada a recolher coisas, coisas do mato: cascas, sementes, pedaços de raízes, tocos, pedras e paus.

Se sempre há de haver paixão, a minha vem do olhar.Algumas formas são capazes de me atrair com tamanha intensidade que preciso decifrá-las. Preciso desenhar. Preciso traçar esta aproximação com aquele objeto. Depois do desenho, muitas vezes, sinto vontade de pintar e também de construir objetos.

Reuni imagens destes trabalhos e as coloquei junto à fotografias que tirei de elementos naturais. Como num dominó, as peças se emparelham e aguardam novas conexões.

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Encontrei estas sementes aladas caminhando pelas ruas de São Paulo. Eram dezenas de sementes espalhadas ao redor de uma árvore, a maioria pisoteada por automóveis. Procurei por uma inteira – uau, tinha asa, es-porão e ainda espinhos na casca! Achei que eram equipamentos bastante eficazes para garantir a semente num meio hostil.Foi neste momento que comecei a pensar que a forma que eu tinha alí, na minha mão, era uma resposta. Recolhi 3 e comecei a trabalhar.

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O desenho de uma semente geralmente é muito simples, rapidamente se percorre todo seu contorno. Mas as sementes tem superfícies e profunde-zas. O traço que define o dentro e o fora não explora estas dimensões. Isso me levou a experimentar a pintura a óleo. Fui descobrindo que era possí-vel construir uma pele com contínuas sobreposições de camadas de cor e tessitura pelos movimentos do pincel. O óleo responde ao retrabalho, quer dizer, as camadas inferiores respondem às novas. Em toda esta série de pinturas fiz a figura suspensa num fundo branco. Agora procuro semeá-las em fundos fecundos.

No sítio do meu avô, além das lembranças da infância, estão espalhados muitos objetos sem uso. Gosto particularmente dos de ferro que moram ao relento, no meio do mato. São antigas ferramentas de trabalho, tanques e tambores. O tempo cresce sobre eles. Me interessa registrar esta ação.

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Hexágonos conectados são bons para criar superfícies curvas e onduladas.

Dediquei um longo período desenhando peles vegetais, gosto de fazer bro-tar, crescer, até ocupar a folha toda. Reparei que os hexágonos aparecem como padrão de crescimento em muitas superfícies. Vi em sementes espi- nhudas, na casca da jaca, também na colméia das abelhas, no pergaminho, na cerâmica, no granito...

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Manusear arames me ensinou que arame não gosta de ser hexágono, prefere se arrendodar um pouco mais, gostam mais de se dobrar em fei-jões.

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Usar fio de cobre é uma experiência a parte. O cobre é bom para tramar, para tecer. Mas não se curva bem se estiver frio, pegar um fio e forçá-lo a dobrar-se faz com que ele vinque e resista ao movimento.

Descobri que no sítio havia dezenas de equipamentos fora de uso com bo-binas. Os fios de cobre enrolados em bobinas guardam a memória deste perímetro, é preciso recondicioná-los para novas formas. Esticá-los com as mãos gera calor suficiente para que ganhem flexibilidade. O cobre gosta de se dobrar num certo ritmo, com uma certa frequência que se desenha no espaço.

Mantas de espuma recortadas em espiral, com um leve torcer, se trans-formam em cones. Crescem, ganham o espaço. Costurei com linha grossa este novo estado e revesti de veludo - também recortado em espiral para poder acompanhar as curvas ascendentes. Fiz uma longa cadeia de monta-nhas que chamei de Ceres.

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As sementes pintadas quiseram ganhar corpo, queriam ser tocadas. Construí algumas delas e as chamei de objetos. Começava fazendo um esqueleto de arame, sobre ele costurava pedaços de espumas recorta-das e depois revestia com os tecidos, geralmente aveludados. O objeto natural era o ponto de partida, o desenho era uma forma de aproxima-ção e o projeto dos objetos estava na pintura. Precisava realizá-los.

Ao lado do escritório tinha uma tapeçaria, o tapeceiro guardava para mim os restos de tecido que usava para revestir os sofás e poltronas. Eu gostava dos pedaços de veludo, do toque macio, da variação da cor dada pela variação da direção dos fios e pela semelhança com as su-perfícies que na época desenhava.

Entrei no corte-e-costura. Eu que nunca soube pregar um botão direito estava me metendo em grandes áreas de costura aparente... Mas meu bisavô era alfaiate e acreditei que estava no sangue. Precisava criar uma pele sob medida, modelando cada parte tridimensional. Foi uma experiência táctil bastante interessante, desde o manuseio dos mate-riais durante a execução até dos objetos prontos.

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Manusear ferro deixa a pele dolorida e seca. Já a espuma tem uma superfí-cie mais pegajosa, passar a agulha pela camada de espuma sempre provoca um barulho arrastado. Costurar espuma num arame é curioso porque cada material exige um tipo de pressão diferente. A agulha muitas vezes espeta o dedo e arde. Metálico é o barulho da tesoura entre a mesa e o tecido, correndo os traços do modelo inventado. É preciso força nos dedos para unir os gomos de tecido na posição ajustada para costurar. O veludo sobre a espuma provoca uma maciez táctil.

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Algumas pedras se parecem muito com sementes, se mostram prestes a lançar raízes em pequenos fios que crescem para baixo. Estas, com o dorso exposto ao sol, criam a condição de ex-submersas.

Certas vezes presto atenção nos tocos e ocos, nos restos vegetais descartados e secos. Nas formas, texturas, cores e circunstâncias. Outras circunstâncias. São o que ainda não é nomeável para mim. Uma coisa que já foi e que será. O que tem a condição presente de ser o que não tem nome.

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Com mais leve toque de pincel o nanquim se espalha, toma rapidamente todo o corpo que a água desenha no pires, no godê, no copo, na bandejinha de isopor, no potinho - tinge de preto todo o campo da água.Só depois, quando se espalha a tinta sobre o papel é que percebemos a transparência que a água adicionou ao preto.

Queria conseguir manter por mais tempo a cor do nanquim ainda molhado, daquela cor preta e gorda que serpenteia o papel. Experimentei a tinta acrílica em busca deste brilho aquoso, pintei raízes. Risquei fora as texturas, raspei a transparência.

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Os troncos verticais me transmitem imensa certeza. Por vezes dá para se ouvir a seiva subindo pelo tronco, já escutei no bambu.O crescimento do bambu é tão rápido que em poucos dias já alcança sua estatura final.

Na árvore a ascendência é mais lenta e são longos os desenhos da casca que descrevem o crescimento do tronco. Da árvore vemos o tronco e imaginamos as raízes. A árvore fica plantada entre o visível e invisível.

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O crescimento nas plantas frequentemente se desenha em ondas, com partes em formas ogivais. As espirais se mesclam a estas formas ondulantes, geralmente estão no centro delas, como fontes. Nos troncos de árvore enxerguei isso.

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No sítio moram e moraram muitas jabuticabeiras, cresci em cima delas, eram tratadas como entidades, tínhamos que respeitar seus momentos, na época de floração era terminantemente proibido subir por seus galhos. Só o perfume e as abelhas podiam pousá-las. Depois, com os frutos crescidos, tínhamos que ser acrobatas, os frutos maduros sempre ficam no alto, era preciso desviar dos das verdes para alcançar as pretas e ainda disputar as mais doces com as vespas.

Algumas destas árvores mais antigas ainda estão lá. Tem uma em especial que está num estágio inominável, ainda é uma árvore de jabuticaba, mas não dá mais jabuticaba, não troca mais de casca e não dá mais folha. Mas é uma jabuticabeira. O tronco está à mostra, dá para ver as veias secas ondulandas e a marcação concêntrica dos botões que viraram galhos que secaram e caíram. Está tudo lá, como uma semente às avessas, a semente cumprida.

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1. Desenho em nanquim “buquê”

2. Fotografia coleção de sementes

3. Desenho de semente através de lente+ Composição de desenhos de árvores em nanquim

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5.Desenho “organela” a nanquim+ Costura de papel japonês aguado sobre papel japonês

4.Desenhos em grafite da semanteira da flor de lótus

6.Pinturas a óleo de sementes recolhidas nas ruasFotografia interior de tambor enferrujado

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7.Peça em bronze com molde de semente encaixada de “orelha de macaco” recolhidas em São Miguel das Missões +Sementes do cerrado recebida de presente+Desenho de frutos secos da Chapada Diamantina

8.Pintura a óleo de semente de “chuva de ouro”+ Semente do cerrado bem de perto

9.Pintura a óleo do germinar da semente+ Fundo de tambor enferrujado

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10.Semente pintada a óleo+ Fundo de tanque enferrujado do sítio

11.Peça cerâmica com pintura de hexágonos+ Pintura a óleo sobre papelão

12.Desenho em grafite de colméia recolhida no sitio

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14.Desenhos a carvão do crescimento de superfícies hex-agonais espinhudas

15.Desenhos a nanquim de superfícies espinhudas+ peça em arame

13.Pintura a óleo de semente espinhuda feita em três segmentos

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16.Peça em arame e aço carbono

17.Peças em fio de aço carbono+ tronco de araçá do sitio marcado por garras de aves

18.Desenho a nanquim do cacho de sementes de urucum+ Centro da peça ”Sol” feita em arame e fios de cobre+ Parte da peça “Ceres”, feita em espuma e veludo+ Tronco do Cedro centenário que mora no sítio

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19.Peça “Ceres” feita em espuma e revestida com restos de veludo

20.Peça “Sol” em arame e fios de cobre

21.Montagem “Serpente” com pedras, rolos de cobre e cristal+ Montagem “Aranha” fios de cobre e esfera cristal+ fotografia do orvalho sobre teia de aranha

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22.Peça articulada, estrutura arame, revestida de espuma e veludo

23.Objeto Semente feito com arame, espuma de revestimento de banco de carros e sobras de veludo+ Tronco de eucalipto

24.Objeto “Ouriço” feito com sobras de veludo e molas de pasta para guardar papéis: + Desenho de superfícies espinhudas

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26.Objeto constituido de espiral de cobre revestido por desenho a nanquim sobre pergaminho + fotografia folhas secas

25.Peça em estrutura de arame revestida em espuma erestos de tecido

27.Desenho em caneta “raízes”+ desenho em caneta

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23.Desenho a nanquim dos restos recolhidos dos rios na época de seca na Chapada dos Veadeiros.+ Pedra da encosta gelada do vulcão de Osorno

24.Desenho a nanquim : buques de crescimento+ tronco de jabuticabeira seca+ composição com com cascas de jabuticabeira

25.Desenho gerador a nanquim

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26.nanquim sobre papel japonês

27.Pintura acrílica de raízes ou troncos dependendo geotropismo positivo ou negativo

28.Desenho a nanquim e aguadaBambu do Jardim Botânico do Rio de Janeiro+Tronco, raiz ou galho: resto coletado nas Malvinassobre tela metálica de filtro de ar condicionado

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30.Costura papel de arroz aguado sobre papel+ Tronco do cedro do líbano do sítio+ Tronco da castanha sapucaia

31.Desenhos orgânicos em grafite+ Tronco da árvore pau-mulato do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

29.Fotografia fungo em tronco de árvore

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33.Desenho em nanquim tocos secosFotografias do tronco de uma jaboticabeira

34.Semente pintada a óleo+ Tronco seco de eucalipto

32.Desenho em grafite de modos de crescimento que al-guns querem tatuar

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